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2022
UNIVERSIDADE DE LISBOA
Instituto de Geografia e Ordenamento do Território
Júri
Presidente:
Doutor Mário Adriano Ferreira do Vale, Professor Catedrático e membro do Conselho
Científico do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de
Lisboa.
Vogais:
- Doutora Claudete Carla Oliveira Moreira, Professora Auxiliar da Faculdade de
Letras da Universidade de Coimbra;
- Doutora Áurea Lucília de Oliveira Rodrigues, Professora Auxiliar da Escola de
Ciências Sociais, da Universidade de Évora;
- Doutor Jorge Manuel Rodrigues Umbelino, Professor Coordenador Principal da
Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril;
- Doutor Vítor Manuel Cadete Ambrósio, Professor Coordenador da Escola
Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril;
- Doutora Maria Alexandre Lopes Campanha Lousada, Professora Auxiliar
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, orientadora;
- Doutor Eduardo Manuel Dias de Brito Henriques, Professor Associado do Instituto
de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa.
2022
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Notas Biográficas
Ana Paula de Sousa Assunção, realizou o Ano Cívico, em 1975, com o Professor Doutor Joel
Serrão, tendo o seu nome na antologia Testemunhos sobre a Emigração Portuguesa, 1976.
Licenciou-se em História pela Universidade de Lisboa, em 1981.
Foi cooperante com a República Popular de Moçambique de 1982 a 1984, tendo sido
emulada/distinguida pela direção da Escola da Banca do Banco de Moçambique.
Foi coautora do Livro O 4 de Outubro em Loures, editado pela Câmara Municipal de Loures, em
1985.
Possui o 1º Mestrado em História Regional e Local da Universidade de Lisboa, 1995, com a
Dissertação Lugar de Trabalho, Lugar de Património. A Fábrica de Loiça de Sacavém, orientada
pelo Professor Doutor Pedro Gomes Barbosa e Professor Doutor António Ventura.
É funcionária da Câmara Municipal de Loures desde 1986 até á data presente, com a atual
categoria de Conservadora Assessora Principal.
É Museóloga e Investigadora do CLEPUL da Universidade de Lisboa e Fundação para a Ciência
e Tecnologia
Recebeu a Medalha de Mérito Municipal (Câmara Municipal de Loures) em 2002 pelo Trabalho
Cultural desenvolvido; Medalha de Mérito das Juntas de Freguesia de Bucelas e Frielas.
Ingressou em 2015/10 no Doutoramento em Turismo no IGOT.
Registou como Tese Provisória: “O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico.
Cemitério Municipal de Loures”, 2017.
Na Bolsa de Turismo de Lisboa, 2017, apresentou o projeto Turismo Cemiterial em Loures
(Pavilhão do Município de Loures).
O trabalho no Cemitério Municipal de Loures, desde abril de 2017, foi distinguido pela APOM
em 2018, na modalidade de Trabalho na área da Museologia, com uma Menção Honrosa, facto
relevante, tratando-se do primeiro cemitério a ser distinguido na sua política de patrimonialização
e acessibilidade de informação, em Portugal. O Cemitério de Loures foi distinguido entre 253
candidaturas num total de 26 prémios/modalidades.
A candidata foi distinguida pelo Rotary Clube de Loures, em 2019, como a Profissional do
Ano, pelo seu nível profissional, altruísmo e inovação-turismo cemiterial em Loures.
Publicou, no âmbito do Doutoramento, individualmente, o artigo: Assunção, Ana Paula,
Cemetery Tourism in Loures: the value of the transfiguration of a cemetery. Finisterra: Revista
Portuguesa de Geografia. ago2019, Vol. 54 Issue 111, pp.37-59.
Este artigo mereceu a distinção de Menção Honrosa no âmbito da atribuição do Melhor Artigo
da Finisterra em 2019.
Recebeu o Prémio APOM 2020, Museólogo do Ano 2020, pelo projeto de Turismo Cemiterial
que implementou no Cemitério Municipal de Loures.
Escreveu em colaboração: Assunção, A. P.; Queirós, M.: Restaurar memórias e visibilizar
identidades através do turismo cemiterial: o papel das mulheres na capela do cemitério de
Loures.
Aguarda publicação à data da apresentação da Tese.
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O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Revisora, por convite, da Revista PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural (ISSN
1695-7121).
Membro da Academia.Edu e da Association for Gravestone Studies.
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O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Agradecimentos
O meu obrigada ao Presidente da Câmara Municipal de Loures, Dr. Bernardino Soares, que me
deu confiança para pôr em prática os estudos sobre turismo cemiterial.
O Cemitério Municipal de Loures foi o laboratório que serviu de modelo para o exercício sobre
o qual elaborei conceitos e modelos, hipóteses, contando, em particular, com a sensibilidade e
sabedoria do Chefe da Divisão de Serviços Públicos Ambientais, Dr. Rui Miguel Máximo dos
Santos.
Um particular obrigado ao Professor Doutor Pedro Gomes Barbosa que me conduziu, sempre
confiante a este Doutoramento, depois de me ter orientado no Mestrado de História Regional e
Local.
Um sentido obrigado à minha Orientadora, Professora Doutora Maria Alexandre Lousada, que
desde o início me deu coragem para estudar e avançar no projeto.
Ao Professor Doutor José Manuel Henriques Simões que foi descobrindo a questão dos cemitérios
e acreditou no meu trabalho.
Ao Professor Doutor Jorge Umbelino pelas suas palavras de encorajamento.
Ao Professor Sancho Silva pelo apoio nas aulas aos meus projetos sobre Loures.
À Professora Doutora Margarida Queirós, que me reforçou na determinação de realizar a Tese .
A todos e todas, o meu profundo obrigado.
A vossa confiança foi determinante.
E em 2018, há que agradecer a confiança e elogio com que Sua Excelência o Presidente da
República, Marcelo Rebelo de Sousa, me brindou, aquando da visita ao Cemitério Municipal de
Loures no dia 4 de Outubro.
Nunca será demais dizer obrigada, a todos os amigos e amigas que embora rindo inicialmente
deste tema, foram acreditando que afinal sempre era possível falar de cemitérios sem falar de
lágrimas: permitiram-me ir amadurecendo ideias nas conversas que se faziam em torno de um
café ou de um bom Arinto.
Aos meus filhos, ao meu Companheiro, à Carla Proença, incansável revisora e profunda amiga,
à Célia Nunes Pereira, inesgotável fonte de vida, à Carla Caetano, pelas conversas e partilhas, à
Odete Lourenço, por ter aberto uma porta para o cemitério; aos meus colegas da Divisão que me
ouviram ao longo deste tempo em reuniões; à Albertina Inácio, velha amiga, pelo voluntariado e
disponibilidade para recontar histórias importantes; ao Eduardo Oliveira pelo relembrar do antigo
cemitério; à Sandra Almeida, minha querida ouvinte e apoio constante; à Conceição Serôdio,
sempre prestável para falar sobre a Fábrica ; à Laura Alves, Célia Tomás e Dora Marques, a quem
devo a atenção prestada e as respostas rápidas , minhas preciosas e pacientes amigas; ao Carlos
Cardoso que registou no jornal Noticias de Cá e de Lá, e na Newsletter de História Local,
experiências de turismo cemiterial em Loures. Ao Artur Lucena que me disponibilizou, da mesma
forma, a Revista LouresMagazine Odivelas para publicação.
Especificações circunstanciais
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O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
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O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
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O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Dedicatória
Aos meus queridos Pais
que já me deixaram,
Habituaram-se à minha linguagem sobre mortes e à beleza do que ainda não viam; aceitaram com
naturalidade as minhas visitas aos cemitérios, e finalmente, descobriram o interesse do assunto.
Encorajaram-me.
E não podia deixar de honrar este compromisso
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O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
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O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Resumo
Loures só ganhou o estatuto de concelho a 26 de julho de 1886 por extinção do último termo de
Lisboa e, portanto, com uma longa história de ligação à cidade.
Na presente Tese considera-se que todo a atividade turística no referido local se enquadra no
conceito de turismo cemiterial.
Pretende-se criar um campo de estudo, que permita viajar entre o passado do cemitério e o futuro
de atividade turística, atento ao mundo e às suas possibilidades, exigências e às atuais
disponibilidades e motivações dos turistas/visitantes de turismo de interesse especial, onde este
tipo de turismo se enquadra, um novo paradigma de desenvolvimento turístico, de nicho, com
novas potencialidades.
Os cemitérios quando abordados como documento, arte, história, vivência, quotidianos,
sensações, consubstanciam uma potencial oferta e resposta turística, uma resposta para um novo
tipo de turismo, para um novo tipo de turista/viajante do século XXI.
Ter-se-ão em atenção os princípios de ética do turismo de sustentabilidade (Conferência do Rio,
1992), valorização da identidade e autenticidade do lugar e respeito pela comunidade de destino
turístico. Acrescentam-se reflexões sobre a dimensão formativa e humana do turismo em
cemitério.
O entendimento do espaço funerário como possibilidade de prática de turismo, ultrapassando
tabus e preconceitos sobre cemitérios, foi o primeiro passo. A investigação pretende evidenciar
essa potencialidade com um conjunto de 30 cemitérios que, estudados e comparados, conduziram
a dados que, analisados, patentearam as possibilidades e oportunidades para a prática turística
cemiterial, num novo tipo de cemitério, o não romântico, não monumental.
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O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Foi utilizada uma metodologia com triangulação de métodos, tendo presente estudos que testaram
uma hipótese com o recurso a diferentes procedimentos, obtendo níveis de maior validade do que
os obtidos com o recurso de um único método, com conclusões mais holísticas e abrangentes,
situação adequada para o pretendido
A prática de turismo cemiterial como turismo de interesse especial ou de nicho, desenvolvido no
cemitério municipal de Loures, exemplifica a possibilidade de metamorfose da função primeira,
do cemitério-inumação-para a dimensão de documento, objeto patrimonial, património funerário
local in situ, alvo de prática turística.
Foi delineada uma argumentação que se conceitua pioneira, pertinente e aplicável em outros
cemitérios da mesma tipologia, tendo-se presente o estado de arte presente.
Afirma-se, portanto, existir um contexto teórico e prático disponível para esta Tese face à revisão
de literatura e estudos de campo.
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O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Abstract
This Thesis considers Tourism in the municipal cemetery of the parish of Loures. created in 1890
in Soeira or Soeiro, in the high part of Marzagão. The investigation focuses on the possibilities of
using a new tourist product, a cemetery that does not have monumental and sculptural, romantic
evidence, rather, temporary graves, with or without tombstones or vaults, built at the end of the
19th century, designating itself as a non-romantic or non-monumental cemetery.
The Municipal Cemetery of Loures was created during the administration of the president Anselmo
Braamcamp Freire of the Municipality of Loures and vice-president Joaquim José da Silva
Mendes, with the Ministry of Cemeteries, with the first burial in 1890 and Municipal Regulation
in 1893.
Loures was only elevated to municipality on July 26, 1886, with the extinction of the last
administrative term in Lisbon and therefore, still has a lasting connection to the city.
In this Thesis, all tourist activity in that place is considered to fit the concept of cemetery tourism.
The goal is to create an area that stimulates thought, which allows traveling between the cemetery's
past and the future of tourist activity, attentive to the world and its possibilities, requirements and
the current availability and motivations of tourists/visitors of special interest tourism, where this
type of tourism fits, a new paradigm of tourism development, niche, with new potential.
Cemeteries organize the imaginary field and, when approached as a document, art, history,
experience, daily life, sensations, embody a potential tourist offer and response. For a new type of
Tourism, the tourist/traveler of the 21st century.
The principles of sustainability tourism ethics will be considered (Conference of Rio, 1992),
valuing the identity and authenticity of the place and respect for the tourist destination community.
Thoughts are added on the formative and human dimension of cemetery tourism.
The understanding of the funerary area as a possibility for tourism, overcoming taboos and
prejudices about cemeteries, was the first step. The investigation intends to highlight this potential
with a set of 30 cemeteries that, analyzed, studied, and compared, led to data that showed the
possibilities and opportunities for the practice of cemetery tourism, in a new non-romantic and
non-monumental type of cemetery.
The research question of this Thesis on the value of the transfiguration of the cemetery into a
tourist product was accompanied by prudence and consideration because the cemetery is a
common and public area. Bearing in mind the notion of sustainability of tourism and of the
cemetery product: value of existence, and an irreplaceable value of singularity.
In the investigation plan, individual and comparative analysis grids of cemeteries were equated
and created; a SWOT analysis was carried out, detecting the opportunities and weaknesses,
strengths and opportunities and good practices, that romantic cemeteries present in relation to
cemetery tourism, and that, for those who are not romantic cemeteries (Assunção, 2019).
A methodology with triangulation of methods was used, bearing in mind that studies tested a
hypothesis using different methods, obtaining levels of greater validity than those obtained using a
single method, with more holistic and comprehensive conclusions, for the intended situation.
The practice of cemetery tourism as a tourism of special interest or niche, developed in the
municipal cemetery of Loures, exemplifies the possibility of metamorphosis of the first function.
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O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
From the cemetery-burial-to the perspective of a document or heritage object, local funerary
heritage in situ, target of tourist practice. In line with this, hypotheses for municipal and
interregional cemetery tourism routes were placed in non-romantic cemeteries and the introduction
of new heritage management tools, with georeferencing, QRCODE, barcode that allows access to
information quickly and virtual visits to the cemetery.
An argument was outlined that considers itself to be pioneering, relevant and applicable in other
cemeteries of the same typology, bearing art in mind. Therefore, it is said that there is a theoretical
and practical context available for this Thesis in view of field studies and literary reviews.
Finally, the intent is to highlight the potential to be explored with the touristization of territories
(Cunha, 2008:24), that is, new realities and new relationships, in which the initial vocation of the
space/cemetery is transformed to perform a new mission: cemetery tourism.
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O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Siglas e acrónimos
de Território
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O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
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O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Índice
Notas Biográficas ................................................................................................. 1
Agradecimentos.................................................................................................... 3
Especificações circunstanciais .............................................................................. 4
Dedicatória ........................................................................................................... 7
Resumo ................................................................................................................. 9
Abstract .............................................................................................................. 11
Notas prévias na redação da Tese ....................................................................... 13
Siglas e acrónimos.............................................................................................. 13
Índice de Ilustrações ........................................................................................... 19
Índice de Esquemas ............................................................................................ 23
Índice de Mapas ................................................................................................. 23
Índice de Tabelas ................................................................................................ 23
Índice de Quadros............................................................................................... 23
I CAPÍTULO - Introdução .......................................................................................... 27
1.1 Questões de partida, justificação e pertinência ..................................... 27
1.2 Nota introdutória ................................................................................... 28
1.3 Metodologia - instrumentos de investigação ......................................... 29
1.4 Descrição do Plano de Investigação ...................................................... 32
II CAPÍTULO – Território e recursos ........................................................................ 35
2.1 Localização e recursos .......................................................................... 35
2.2 Turismo sustentável, ética e turistas de nicho ....................................... 39
2.3 Cemitério e Turismo. Turismo e Turistas de nicho ............................... 43
2.4 Evolução administrativa ........................................................................ 46
III CAPÍTULO – O Cemitério como local de visita ................................................... 53
3.1 Revisão de literatura: o Cemitério como local de visita e turismo ........ 53
3.2 As transferências culturais no campo dos cemitérios ............................ 62
3.3 A dimensão de género nos cemitérios ................................................... 68
3.4 A morte no séc. XX-XXI....................................................................... 74
IV CAPÍTULO- Cemitério Municipal de Loures: a biografia do local ....................... 77
4.1 Cemitério Municipal de Loures: a biografia do local. ........................... 77
4.2 Os problemas urbanos e as moléstias .................................................... 79
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O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
4.3 Da construção do cemitério municipal na Soeira: 1890 – 2018 ............ 83
4.3.1 As origens da Capela do Cemitério Municipal de Loures ..................... 97
V CAPÍTULO- Ativação do potencial turístico do Cemitério de Loures ................ 111
5.1 E Thanatos junta-se à Polis… ............................................................. 111
5.1.1 A criação do produto turístico: território recriado e turistizado .......... 119
5.2 Turismo cemiterial: a evocação do imaterial. A mediação ................. 127
5.2.1 Os itinerários69 ..................................................................................... 132
5.2.2. As exposições ......................................................................................... 140
5.2.3 Concertos na Capela do Cemitério-Saudação da Primavera ............ 146
5.2.4 Organização de debates públicos ........................................................ 147
5.3 A georreferenciação da informação dos cemitérios e o QRCODE ..... 148
VI CAPÍTULO - Tipologia de Cemitérios ................................................................ 151
6.1 ..................................................................................................................... 151
6.2 Apresentação do universo de 30 Cemitérios ...................................... 151
6.2 Cemitérios Românticos ....................................................................... 156
6.2.1 Cemitério de Agramonte ..................................................................... 156
6.2.2 Cemitério de Nossa Senhora de Almudena ......................................... 158
6.2.3 Cemitério do Alto de S. João............................................................... 159
6.2.4 Cemitério Central de Aveiro ............................................................... 161
6.2.5 Cemitério de Monte d’Arcos – Braga ................................................. 162
6.2.6 Cemitério Britânico ou dos Ingleses, Lisboa ..................................... 163
6.2.7 Cemitério da Conchada ....................................................................... 164
6.2.8 Cemitério de Santo António do Carrascal ........................................... 167
6.2.9 Cemitério de Père Lachaise ................................................................. 168
6.2.10 Cemitério dos Prazeres ....................................................................... 169
6.2.11 Cemitério Central de Viena de Áustria ............................................... 171
6.3 Cemitérios não românticos .................................................................. 172
6.3.1 Cemitério Paroquial de Apelação ........................................................ 172
6.3.2 Cemitério Paroquial do Arneiro, Bucelas ........................................... 173
6.3.3 Cemitério Municipal de Camarate ...................................................... 174
6.3.4 Cemitério Paroquial de Camarate ........................................................ 175
6.3.5 Cemitério da Chamusca....................................................................... 176
6.3.6 Cemitério Paroquial de Fanhões .......................................................... 177
6.3.7 Cemitério Paroquial de Frielas ............................................................ 178
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O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
6.3.8 Cemitério Municipal de Loures ........................................................... 179
6.3.9 Cemitério Municipal de Loulé ........................................................... 180
6.3.10 Cemitério Paroquial de Lousa............................................................. 182
6.3.11 Cemitério Municipal da Madalena do Pico ........................................ 183
6.3.12 Cemitério Paroquial de Montelavar .................................................... 184
6.3.13 Cemitério Paroquial de Pêro Pinheiro ................................................ 185
6.3.14 Cemitério Paroquial de S. Julião do Tojal .......................................... 186
6.3.15 Cemitério Paroquial de S. João da Talha ............................................ 187
6.3.16 Cemitério Paroquial de Sacavém ....................................................... 188
6.3.17 Cemitério Paroquial de Santa Iria de Azóia ........................................ 189
6.3.18 Cemitério Paroquial de Santo Antão do Tojal .................................... 190
6.3.19 Cemitério Paroquial de Unhos ............................................................ 191
VII CAPÍTULO - Apreciação de resultados ............................................................. 193
7.1 Análise dos Cemitérios estudados ...................................................... 194
7.2 Comparação de resultados ................................................................... 197
7.3 Rota de turismo cemiterial. ................................................................. 199
7.3.1 Associação para o Desenvolvimento Sustentável da Região Saloia ... 205
VIII CAPÍTULO- Um novo produto turístico ........................................................... 207
8.1 Construção de modelo para a prática de turismo cemiterial ................ 207
8.2 A transfiguração de um cemitério não romântico em produto turístico 211
8.3 Conclusões .......................................................................................... 214
8.3.1 Remate................................................................................................. 217
Anexos ....................................................................................................................... 219
Anexo A – Declaração da C.M.Loures ............................................................ 219
Anexo B - Exemplo de guião aplicado a cemitérios ........................................ 220
Anexo C - Itinerários ........................................................................................ 220
Anexo D – Exposições ..................................................................................... 227
D.1 - Viva a República ..................................................................................... 227
D.2 - As Mulheres e a República ..................................................................... 230
Anexo E – Rota de Turismo Cemiterial ........................................................... 235
E.1 - A Arte do Ferro na Arte Funerária .......................................................... 235
E.2 - Rota da Memória da República - cemitérios não românticos .................. 248
Anexo F – Aplicação da matriz do potencial turístico ..................................... 262
Referências bibliográficas ................................................................................ 269
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O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Documentação do Arquivo Municipal de Loures ............................................ 282
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O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Índice de Ilustrações
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O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Fig. 107 - Jazigo com porta em ferro fundido. Fonte: Castro (2016:448). ............................... 163
Fig. 108 - Cabeceiras do séc. XIX. Cemitério Britânico de Lisboa, 2019. Fonte: Autora ......... 164
Fig. 109 - A mais antiga placa do Cemitério, 1724, 2019. Fonte: Autora ................................. 164
Fig. 110 - Placa na fachada do Cemitério da Conchada, 2017. Fonte: Autora. ......................... 165
Fig. 111 - Entrada do Cemitério da Conchada, 2017. Fonte: Autora......................................... 166
Fig. 112 – Pormenor da entrada do. Cemitério da Conchada, 2017. Fonte: Autora. ................. 166
Fig. 113 - Jazigo neogótico dos Condes do Ameal. Cemitério da Conchada, 2017. Fonte: Autora.
................................................................................................................................................... 166
Fig. 114 - Entrada do Cemitério de Leiria, 2017. Fonte: Autora. .............................................. 167
Fig. 115 - Jazigo da família Ataíde. Cemitério de Leiria, 2017. Fonte: Autora......................... 167
Fig. 116 - Obelisco, séc. XIX, 2017. Fonte: Autora .................................................................. 168
Fig. 117 - Campa de berço, séc. XIX, 2017. Fonte: Autora....................................................... 168
Fig. 118 - Beve história do Cemitério de Père La Chaise, 2017. Fonte: Autora ........................ 168
Fig. 119 - Jazigo do Duque de Palmela, Cemitério dos Prazeres. Fonte: C. M. Lisboa ............ 170
Fig. 120 - Jazigo de Francisco Marques de Sousa Viterbo, 2017. Fonte: Autora. ..................... 170
Fig. 121 - Mapa do Cemitério Central de Viena de Áustria, 2020. Fonte: Autora. ................... 171
Fig. 122 - Igreja de S. Borromeu, estilo Art Nouveau, 2020. Fonte: Autora. ............................ 171
Fig. 123 - Jazigo de Johann Strauss, Cemitério Central de Viena ............................................. 171
Fig. 124 - Cemitério Paroquial de Apelação. Entrada, 2019. Fonte: Autora. ............................ 172
Fig. 125 - Alameda central do Cemitério Paroquial de Bucelas, 2018. Fonte: Autora. ............ 173
Fig. 126 - Campa perpétua aludindo ao Anjo Custódio da Nação, 2018. Fonte: Autora. ......... 173
Fig. 127 - Entrada e mapa do Cemitério Municipal de Camarate, 2019. Fonte: Autora............ 174
Fig. 128 - Entrada do Cemitério Paroquial de Camarate, 2019. Fonte: Autora. ........................ 175
Fig. 129 - Modelo casa portuguesa. Cemitério Paroquial de Camarate, 2019. Fonte: Autora. .. 175
Fig. 130 - Trabalho de cantaria, com valor etnográfico, 2017. Fonte: Autora. .......................... 176
Fig. 131 - Jazigos do Cemitério da Chamusca em abandono, 2017. Fonte: Autora. ................. 176
Fig. 132 - Entrada do Cemitério, placa alusiva às Cheias de 1967, 2019. Fonte: Autora. ......... 177
Fig. 133 - Perspetivas do Cemitério Paroquial de Frielas, 2020. Fonte: Autora. ....................... 178
Fig. 134 - Jazigo de 1914-16. Cemitério Municipal de Loures, 2019.Fonte: Autora. ............... 179
Fig. 135 - Armando Carvalho Mesquita, escultor, 2019.Fonte: Autora. ................................... 179
Fig. 136 - Alameda da Redenção, Cemitério Municipal de Loures, 2018. ................................ 179
Fig. 137 - Entrada do Cemitério de Loulé, 2018. Fonte: Autora ............................................... 180
Fig. 138 - Símbolos maçónicos. Cemitério Municipal de Loulé, 2018. Fonte: Autora ............. 181
Fig. 139 - Lápide de António Aleixo, obras no Cemitério, 2018. Fonte: Autora. ..................... 181
Fig. 140 - Entrada do Cemitério Paroquial de Lousa, 2019. Fonte: Autora............................... 182
Fig. 141 - Jazigo do Cemitério Paroquial de Lousa, 2019. Fonte: Autora. ............................... 182
Fig. 142 - Campa de berço, Cemitério Paroquial de Lousa, 2019. Fonte Autora. ..................... 182
Fig. 143 - Entrada do Cemitério da Madalena com Capela, 2019. Fonte: Autora. .................... 183
Fig. 144 - Simbologias da saudade. Cemitério da Madalena, 2019. .......................................... 183
Fig. 145 - Pormenores escultóricos. Cemitério Paroquial de Montelavar, 2019. ...................... 184
Fig. 146 - Alameda de jazigos. Cemitério Paroquial de Montelavar, 2019. Fonte: Autora. ...... 184
Fig. 147 - Linguagem de arquitetura moderna, 2018.Fonte: Autora.......................................... 185
Fig. 148 - Calçada Portuguesa. Cemitério Paroquial de Pero Pinheiro, 2018. Fonte: Autora. .. 185
Fig. 149 - Jazigo de 1902, de notável arquitetura, 2019. Fonte: Autora. ................................... 186
Fig. 150 - Jazigo do Cemitério Paroquial de S. Julião, 2019. Fonte: Autora. ............................ 186
Fig. 151 - Vestígios de produção da Fábrica de Loiça de Sacavém. Fonte: Autora .................. 187
Fig. 152 - Data de fundação,1893, do Cemitério de S. João da Talha, 2019. Fonte: Autora. .... 187
Fig. 153 - Jazigo do Cemitério Paroquial de S. João da Talha, 2019. Fonte: Autora ................ 187
Fig. 154 - Um dos fundadores de A Sacavenense, 2018. Fonte: Autora. .................................. 188
Fig. 155 - Álvaro Pedro Gomes, Cemitério Paroquial de Sacavém, 2018. Fonte: Autora. ........ 188
Fig. 156 - Ingleses da F.L.S. Cemitério Paroquial de Sacavém, 2018. Fonte: Autora............... 188
Fig. 157 - Capela no Cemitério Paroquial de Santa Iria de Azóia, 2019.Fonte: Autora. ........... 189
Fig. 158 - Entrada do Cemitério Paroquial de Santa Iria de Azóia, 2019.Fonte: Autora........... 189
Fig. 159 - Reformulação do Cemitério Paroquial de Sto. Antão do Tojal, 1935,2019.Fonte:
Autora. ....................................................................................................................................... 190
Fig. 160 - Mosaico relevado, Fábrica de Loiça de Sacavém., 2019.Fonte: Autora. .................. 190
21
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Fig. 161 - Perspetiva do Cemitério Paroquial de Unhos, 2019.Fonte Autora. ........................... 191
Fig. 162 - Criação da Rota de Turismo cemiterial em Loures.2019. ......................................... 199
Fig. 163 - Rota de Turismo Cemiterial em Loures, 2019. Fonte: C.M. Loures. ........................ 202
Fig. 164 - Apresentação da Rota de Turismo Cemiterial, 2019 Fonte: C.M.Loures. ................ 203
Fig. 165 - Cemitério de Belas, 2013.Fonte: Google.com........................................................... 206
Fig. 166 - Cemitério da Azueira e cruzeiro. Mafra, 2019.Google.com ..................................... 206
Fig. 167 - Memorial/jazigo. Cemitério de Montelavar. Sintra, 2019.Fonte: Autora. ................ 206
Fig. 168 - - Elementos de arte funerária. Cemitério de Montelavar, 2018.Fonte-autora. .......... 206
Fig. 169 - Interrogações, descobertas, 2017.Fonte:C.M.Loures. ............................................... 210
22
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Índice de Esquemas
Índice de Mapas
Índice de Tabelas
Índice de Quadros
23
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
24
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
(…)
Todo o Mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades.
25
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
26
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
I CAPÍTULO - Introdução
Pretende-se apresentar o objeto da Tese, com as questões de partida, hipóteses de trabalho,
justificação, pertinência do assunto. O objetivo principal de estudo - cemitério municipal de
Loures, cemitério não romântico como produto turístico - será acompanhado por objetivos
secundários, como a revalorização dos cemitérios paroquiais, a estruturação de uma oferta em
Rota de Turismo cemiterial não romântica e a consideração do turismo cemiterial como agente de
sustentabilidade, inclusivo, e com dimensão de género.
A seleção do tema, surgiu como um desafio, após verificar que o quesito cemitério, turismo e
Loures teria um carácter inovador e, portanto, poder consubstanciar um contributo científico1.
Desde a definição provisória do assunto da Tese até ao presente momento esteve sempre presente
como a prioridade contrariar e desmistificar a ideia de que os cemitérios são apenas locais de
tristeza e dor e, não menos importante, que a prática turística feita num cemitério não romântico
poderia ter oportunidade de sucesso.
As particularidades que encerram a problemática do cemitério e turismo à luz das sociedades pós-
modernas do século XXI, foram essenciais para o estabelecimento desta investigação.
Atendeu-se ao que referiu Catroga (1991, p. 95): a morte não é um assunto ideologicamente neutro
e também se observou a experiência de Bertrand (2011, p. 2): ou seja, fizeram-se leituras
preliminares e esboçou-se a problemática, e a mesma preocupação em sair do centro para a
periferia. O cemitério contemporâneo, segundo o autor, elaborou-se, a partir de Paris e nas grandes
cidades, nas primeiras décadas do séc. XIX. Os seus principais traços são, de seguida, e
progressivamente, transferidos para o meio rural (Bertrand, 2011, p. 4). No entanto, os cemitérios
de aldeia, periféricos, paroquiais, não foram alvo de atenção ou valorizados no seu potencial
cultural e artístico, muito menos, turístico. Apesar do trabalho de Vovelle e Bertrand (1983), no
estudo dos cemitérios contemporâneos na Provença, a atenção dada academicamente em Portugal,
aos cemitérios paroquiais, foi sempre diminuta.
E esta realidade alimentou a tenacidade com que se foi evoluindo no projeto. O trabalho nasceu
primeiramente, com recusa e preconceito, mas, contudo, procurando sempre atingir o desiderato
proposto na investigação, não se desistiu.
O tema é vasto: a utilização dos espaços cemiteriais para fins de lazer é cada vez mais comum em
todas as partes do mundo e reconhecida como relevante potencial a nível europeu com a
Associação de Cemitérios Relevantes da Europa, ASCE22 - 20012, assim como na América Latina
com a Carta de Morelia, 2005.3.
1
No plano pessoal, a elaboração desta Tese surgiu como decisão de colocação de novos desafios, apesar
de uma carreia profissional já realizada no município de Loures, como conservadora assessora principal,
historiadora, museóloga.
2
http://www.significantcemeteries.org/,
Acedido em 17 de outubro de 2019.
3
https://revistas.javeriana.edu.co/index.php/revApuntesArq/article/view/9065
Acedido em 17 de outubro de 2019.
27
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Por outro lado, segundo Coelho (1991, p. 8), foi -se valorizando a consciencialização de que o
tabuda morte não é uma fatalidade: varia com o tempo, de cultura para cultura e de grupos para
grupos.Os objetos e espaços ligados, à morte, constituem recursos didáticos e outros, como o
presente estudo do cemitério municipal de Loures pretende apresentar.
Cemitério, lugar de inumações e turismo, surgem, num primeiro relance, como aparentemente
incompatíveis, mas os cemitérios são espelhos das aldeias, vilas ou cidades que os produzem
(Coelho, 1991) e, portanto, integram memórias e história, famílias e locais.
A morte faz parte da vida e, embora tenha sido evitada, presentemente, a morte tem o seu próprio
lugar na sociedade pós-moderna como uma oportunidade e descoberta de novas sensações.
E com esta afirmação recorda-se que se vive numa sociedade onde a morte, a violência e a busca
de imortalidade se procura, embora recusando sempre a morte; esta, alimenta as nossas ficções,
como refere Roche (1976, p. 135) e a sua temática e os seus registos são janelas de oportunidade.
Estudar a possibilidade de utilização do cemitério municipal de Loures, como produto turístico,
inovador e sustentável, foi a grande questão da investigação.
29
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
30
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Foi feita uma análise de conteúdos em duas categorias: método quantitativo e qualitativo. Optou-
se por uma ótica pluridisciplinar de análise e foi efetuada uma pesquisa empírica, crítica,
subjetiva, mas fiável, com colocação de teorias e hipóteses, para construção de um modelo assente
numa componente dedutiva/subjetiva. Utilizou-se uma pluralidade metodológica, visando
assegurar valor próprio, aplicabilidade, consistência e neutralidade, de forma a obter aplicação
científica. Para assegurar a validade interna, foi utilizado o recurso à triangulação dos dados.
Esquema 2 - Análise por triangulação de métodos, segundo Marcondes e Brisola (2014, p. 204).
com abordagem multimetodológica. Esta articulação entre dados empíricos e autores que tratam
da temática estudada e análise de conjuntura, apresenta-se como uma possibilidade de minimizar
o distanciamento entre a fundamentação teórica e a prática da pesquisa (Gomes, 2004, p. 69).
No I Capítulo será feita a introdução, com as questões de partida, hipóteses de trabalho, justificação,
pertinência do assunto. O objetivo principal de estudo será acompanhado por objetivos secundários,
como a revalorização dos cemitérios paroquiais, a estruturação de uma oferta em Rota de Turismo
Cemiterial não romântico e a consideração do turismo cemiterial como agente de sustentabilidade,
inclusivo.
No III Capítulo será feita a apresentação do estado de arte da literatura sobre cemitérios
românticos e não românticos. A síntese da produção científica fornece uma utensilagem
estruturante para a compreensão dos conceitos fundamentais e diferenciadores sobre turismo no
contexto de cemitério, especificamente no "ocidental". Os conceitos de transferência cultural,
sustentabilidade e género terão igual tratamento. A utilização de conceitos como turismo,
32
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
33
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
34
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
4
https://www.google.pt/maps/@38.6477264,-9.0173623,9.88z
Acedido em 14 de abril de 2021.
35
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
5
https://www.visitlisboa.com/pt-pt/locais/loures
Acedido em 23 de fevereiro de 2021.
6
https://www.visitlisboa.com/pt-pt/locais/loures
Acedido em 23 de fevereiro de 2021.
36
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Como refere Fodness (1994; citado por Cunha, 2013, p. 95), o conhecimento das motivações é
essencial para o desenvolvimento dos produtos, a avaliação da qualidade do serviço, o
desenvolvimento da imagem e produtos, algo que já se tem em Loures como preocupação.
Pine II & Gilmore (1999, p. 39) corroboram com Schmitt (2002) quando afirmam que a oferta de
experiência acontece quando se usam intencionalmente os serviços como um palco e os produtos
como suporte para atrair os consumidores de forma a criar um acontecimento memorável,
inserindo o turista como protagonista de sua própria viagem.
Neste conceito, a prática de Turismo em Loures, para além de utilizar como marketing, a
experiência e a descoberta, pode caraterizar-se como gastronómica e de eventos7, e no arco de
2018-2022, vai apostar na Região Saloia, uma opção turística, complementar e diferenciadora,
com produtos de qualidade e procurando inserir no mercado esta marca .
A promoção estratégica de Loures como destino turístico, feita na BTL, em 2019, apresentou uma
forte aposta na região demarcada de Bucelas, no turismo enológico e gastronómico, na divulgação
de grandes eventos como o Festival do Caracol Saloio, o Arinto e Sabores Saloios, a Feira
Setecentista e a Festa do Vinho e das Vindimas, e na promoção de produtos locais como o Vinho
e Gin de Bucelas, o Pão - de -Ló de Loures, a Cerveja Artesanal Saudade, o Arrobe de Arinto,
entre muitos outros produtos8.
Como nota de destaque, a solução para o Palácio do Correio-Mor, põe, de facto, Loures com uma
grande potencialidade: o projeto inclui um hotel de charme, em que 25 dos quartos serão
construídos numa das alas do palácio, salientando-se que o alojamento terá no máximo 100
quartos, o maior número permitido.
Para além deste novo hotel, o concelho de Loures terá outras 8 unidades, pelo que o número de
quartos para acolher turistas nesta localidade limítrofe da capital vai quase quintuplicar: às atuais
291 unidades (distribuídas por apenas três hotéis) irão somar-se mais cerca de 1.400.
O maior hotel está projetado para o Prior Velho, prevendo-se que tenha 300 quartos – estará
ligado ao futuro centro de congressos, com 5 mil lugares sentados. É o projeto “estrela” do Plano
de Pormenor para esta zona e vai estar implantado numa área de cerca de 200 mil m2, onde haverá
também escritórios e habitação (está prevista a construção de 856 fogos)9.
7
Esta afirmação tem presente o conceito de organização da própria Divisão de Turismo.
8
https://www.municipiosefreguesias.pt/noticia/20074/apresentacao-de-loures-como-destino-turistico.
Acedido em 23 de maio de 2019.
9
https://www.idealista.pt/news/financas/investimentos/2019/04/01/39243-turismo-ao-rubro-vao-nascer-9-
hoteis-em-loures-as-portas-de-lisboa. Acedido em 23 de maio de 2019.
37
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
teve finalmente uma resposta, por empresas locais10 e particulares, existindo um alojamento
local de qualidade11.
10
https://www.booking.com/searchresults.pt-pt.html?aid=1604629;label=metaholidu-link-MetaPT-hotel-
2476269_xqdz-9bb68523d49b0afdfd5705a1ceb999c2_dev-dsk_lang-pt_defdat.
Acedido em 23 de maio de 2019.
11
Loures: na fronteira com Lisboa entram em funcionamento dois hotéis e um espaço comercial. Já está
em pleno funcionamento a unidade hoteleira B&B Hotel, situada mesmo ao lado da antiga Triumph. Mas
em breve terá companhia: uma dezena de metros à frente, no sentido da Portela, vai começar a sua atividade
uma outra unidade, STAY Hotels, cuja construção está praticamente concluída. De referir, entretanto, que
à entrada da Portela, na fronteira com a freguesia dos Olivais, vai abrir portas dentro de dias, uma média
unidade do Continente. Os trabalhos estão praticamente prontos e incluem intervenções pontuais nos
acessos locais. Um espaço que responde à Portela, mas igualmente aos Olivais e ao próprio Prior Velho.
autarquicamente@groups.facebook.com,
Acedido em 29 de outubro de 2020.
https://estrategia.turismodeportugal.pt/sites/default/files/Turismo2020_Parte%20II_Projetos.pdf,
Acedido em 29 de outubro em 2020.
12
https://www.timeout.pt/lisboa/pt/coisas-para-fazer/caminhando-nos-trilhos-do-correio-mor-1,
Acedido em 16 de abril de 2021.
38
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
De uma forma direta, Turismo sustentável é o turismo responsável (Bramwell et al.,1996ª,p.10, p. 11).
39
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
41
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
O Código de Ética no Turismo, 1999, pode apresentar-se como um documento fundador, jurídico,
atento aos impactos registados nas comunidades naturais de humanos e animais nos quais os
indivíduos se cruzam. Este documento foi inspirado em inúmeras declarações e códigos
profissionais e incluiu novas ideias que traduzem a sociedade no final do século XX. Os membros
da Organização Mundial de Turismo, diante das previsões do crescimento exponencial do turismo
internacional, consideraram que o Guia de Ética no Turismo era vital para minimizar os efeitos
negativos no meio ambiente e no património, aumentando simultaneamente os benefícios para os
residentes nos destinos turísticos.
A reflexão desse texto permitiu realçar a importância da criação de um turismo ético responsável,
promovendo o respeito. O turismo ético, moral, responsável, sustentável, deveria acompanhar
qualquer visitante ou turista nas suas deslocações e visitas: essas viagens podem ser uma
importante ferramenta na construção de um relacionamento harmonioso entre as sociedades.
42
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Não é impossível estimular práticas turísticas éticas e sustentáveis, ou seja, práticas relacionadas
com direitos humanos, dignidade, moralidade e valorização de culturas e valores nacionais, da
paisagem local, se se considerar que a ética é um princípio regulador para o desenvolvimento de
um melhor consumo turístico e que deve constituir-se como uma tendência positiva, tendo em
vista o novo tipo de turismo, com causas, não excludentes.
Turismo ético é estar consciente de si mesmo, mas também, das suas ações, da realidade dos
países visitados, das possibilidades de uma escolha bem pensada; um turismo mais sustentável
considera os impactos no meio ambiente, mas também um marketing que integra uma perspetiva
social integrada (Jamrozi, 2007).
Novas atitudes, podem abrir caminho a novas realidades e novos resultados, novas práticas e
novas descobertas, como as ilustradas pela imagem abaixo (2018, Autora).
Como se tem vindo a referir, em termos de turismo cemiterial, a vertente turística é especialmente
verdadeira para cemitérios antigos, com grandes zonas de sepulturas e mausoléus perpétuos onde,
em alguns casos, já foi descontinuada a venda de talhões ou inumações temporárias.
Dependendo dos gostos, os visitantes encontram diferentes perspetivas de atracão, que passam
pela forte componente histórica, social e genealógica, mas também pela observação da arte, pelo
colecionismo de epitáfios ou a visita de campas de personalidades conhecidas.
O valor de caráter ambiental/urbano está relacionado com os espaços destinados aos cemitérios que,
muitas vezes, estão inseridos nos núcleos históricos das cidades e representam espaços abertos
que preservam as suas áreas verdes.
O valor artístico, é apreciado nos artefactos integrados na arquitetura tumular, pela sua riqueza de
elaboração, especialmente, em ferro fundido e forjado, cantarias.
43
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Quanto ao valor histórico, considera-se que é nesse espaço que repousam os restos mortais de
pessoas, ilustres ou não, que contribuíram de alguma forma para a história da humanidade. São
espaços de memória, onde as lápides registam dados importantes para a história – datas, nomes,
vidas.
O interesse pelos nichos de mercado não é algo de novo. A novidade está, no entanto, no aumento
da diversidade de mercados e no avanço das tecnologias que permitem novas abordagens de
marketing. A aposta em nichos de mercado parece ser um método adequado a ser utilizado neste
ambiente de mudança, à medida que se caminha para o alargamento dos espaços comuns,
globalização de mercados e criação de um Euromarketing (Dalgic & Leeuw , 1994).
Por outro lado, o estudo de nichos de mercado tem merecido a atenção por parte de diversos
investigadores. De acordo com Hooley & Saunders (1993), um nicho mais não é do que um
pequeno mercado, constituído por um cliente individual ou um pequeno grupo de clientes com as
mesmas características ou necessidades.
Em termos de marketing é, contudo, possível fazer uma dupla distinção: olhar o nicho como um
processo criativo ou abordá-lo como uma última etapa da segmentação. A reduzida dimensão do
mercado é, para Kotler (1991), um requisito para que estejamos perante um nicho, não obstante
uma possível evolução. O facto de o turismo de nicho ser uma área recente, se comparado com a
área de turismo em geral, torna particularmente pertinente o desenvolvimento de investigação
(Trauer, 2006, pp.183-200).
Como refere Rojek (1997), o turista exercita os sentidos e pode ser outra pessoa, os turistas são
semióticos, consomem signos numa sociedade de hibridismos e onde, como afirma Craik (2003)
há uma maior produção cultural e maiores oportunidades de consumo e produção cultural. E no
sentido de MacDonald (1997), o turista pode contribuir para estabelecer o significado de
experiência local.
Contudo, se no caso dos turistas institucionalizados o peso dos agentes de viagens, se impõe,
Moshin & Ryan (2003) salientam a importância das comunicações informais e o word-of-mouth
na escolha do alojamento e dos destinos por parte dos backpackers, em que os mapas e a internet
constituem as ferramentas fundamentais na sua deslocação. Por outro lado, e atendendo à
classificação dos turistas efetuada por Yu & Littrell (2003, p. 142) podemos afirmar que o grupo
dos turistas socialmente inseridos na comunidade, composto pelos wanderlust; exploradores,
turistasde elite e turistas “fora do padrão”, de acordo com as tipologias definidas por Gray (1970)
e Smith (1977), respetivamente, a que se acrescentam os alocêntricos ou quase alocêntricos, na
categorização efetuada por Plog (1974) e que apresentam características idênticas aos turistas não
institucionalizados, onde regra geral se incluem os backpackers .
Outro argumento também, o Special Interest Tourism - SIT é o oposto do turismo de massa, com
o foco em novas formas de turismo, as quais têm o potencial de atender às necessidades de turistas
e anfitriões, incluindo turismo rural, aventura e turismo baseado na natureza, cultural e
patrimonial e turismo de festivais e eventos.
Foi reconhecido que o termo "SIT" inclui dois indicadores principais: primeiro, "Interesse
especial", que sugere a necessidade de considerar o contexto de lazer; segundo, "turismo",
apontando para a comercialização de lazer (Trapor Douglas et al., 2001, p. 3) referem-se a '' novo
turismo”, como sinónimo de não padronizados serviços de lazer.
44
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
O conceito de turismo é difícil de definir devido aos seus contornos ilimitados, ao seu carácter
multidisciplinar e à interligação com diferentes sistemas, mas uma definição comum consiste em
considerá-lo como uma ocupação dos tempos livres que implica uma deslocação para
determinado local ou região por um determinado período inferior a um ano (Cunha, 2001).
Iso-Ahola (1982) refere que estas deslocações e a procura de mobilidade e vivência de novas
experiências surgem entre a necessidade de descoberta e desejo de fuga da rotina.
O turista desloca-se por diferentes e variados motivos, havendo lugares capazes de proporcionar
experiências marcantes. Há cada vez mais turistas à procura de uma experiência que se distancie
dos padrões de consumo massificado. Surgem assim cada vez mais produtos e serviços
especializados para responderem a essas exigências – mercado de nicho.
Estas mudanças nos padrões das viagens e das motivações dos turistas indicam que o turismo de
especial interesse irá constituir um segmento com potencial de crescimento no mercado turístico
nos próximos anos (Brotherton e Himmetoglu, 1997; Santos, 2014).
Acrescentamos: o Turismo de especial interesse -TIE/SIT - é, nos dias, de hoje um conceito que
se caracteriza pela singularidade, pela sofisticação e pela diferenciação, onde o turista procura
concretizar o seu desejo de viajar, aprender, participar e conhecer (Simões, 2009). Este tipo de
turismo encoraja os turistas a participarem em atividades que os introduz a outras culturas, ideais
e comunidades, enriquecendo, de forma cultural, a experiência turística (Gouveia, 2012).
De acordo com os autores anteriormente citados e também com Trauer (2006), a indústria turística
está aos poucos a mudar a sua identidade para uma indústria de experiências com os turistas
dispostos a pagar para usufruírem de experiências agradáveis num espaço de tempo limitado.
Também Opaschowski (2001) refere que os turistas procuram, atualmente, estímulos emocionais
- desejam “comprar” sensações e não produtos - e terem, assim, uma experiência mais pessoal,
com qualidades imateriais, intimistas e complexas.
45
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
No caso específico dos turismos de nicho, a escala intimista de uma boa parte deles tende a
aprofundar ainda mais essa relação, conduzindo muitas vezes à conformação e emergência do que
podemos designar como territórios turísticos de nicho (Simões, 2009).
13
Acessibilidades.
- A construção de importantes projetos rodoviários, bem como a proximidade do Aeroporto Humberto
Delgado, do Porto de Lisboa e da Gare do Oriente, que são as grandes interfaces com a Europa e com o
Mundo, conferem ao Concelho de Loures caraterísticas únicas de centralidade.
Uma localização privilegiada face a um grande conjunto de infraestruturas estruturantes da Área
Metropolitana de Lisboa: A1, que faz a ligação com o norte do país; A8 (Lisboa - Leiria); A9-CREL
(Estádio Nacional – Alverca); IC17-CRIL (Algés – Sacavém), com ligação à Ponte Vasco da Gama; IC2,
46
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Tejo, limitado pelos concelhos de Arruda dos Vinhos, Sintra, Odivelas, Lisboa, Vila Franca de
Xira e Mafra: tem uma área de 168 quilómetros quadrados e cerca de 200 mil habitantes.
Com a entrada em vigor de uma nova reforma administrativa, em 2013, o Concelho de Loures viu
as suas 18 freguesias reduzidas a apenas 10, pela agregação de várias freguesias, essencialmente
na sua zona oriental.
• Freguesia de Loures
A Freguesia de Loures tem uma área de 32,82 km2 e 26.679 habitantes 14.
O sítio de Loures é muito antigo. Surge mencionado num documento de 1118, e de novo em
1191.Terra essencialmente agrícola; aqui foram durante muito tempo produzidos alguns dos bens
alimentares que eram levados para a capital (como por exemplo as alfaces, que ainda surgem
representadas no brasão da freguesia em memória desse facto).
Desde cedo os habitantes de Loures foram apelidados de saloios.
A primeira referência a saloios que se conhece está registada num documento de 1170, assinado
por D. Afonso Henriques, no qual concede certos privilégios e regalias aos mouros forros dos
arrabaldes de Lisboa, çahroi, que progrediu para sallayo, palavra que com o decorrer do tempo
evoluiu para saloio, e passou a designar o habitante dos campos situados a norte de Lisboa.
Loures foi elevada a vila em 26 de outubro de 1926, através do decreto n.º 12 542.
O perímetro da cidade não corresponde à totalidade da extensa freguesia, mas apenas à sua parte
urbana concentrada em torno das povoações de Loures, Infantado, Mealhada e Sete Casas, onde
se concentra mais de 60% da população da freguesia (cerca de 16 mil habitantes). Sítios como A-
dos-Calvos, A-dos-Cãos, Pinheiro de Loures ou Ponte de Lousa são pequenas localidades cujo
número de habitantes é relativamente menor, e cuja distância ao centro da freguesia é
considerável.
Desta freguesia desmembraram-se as da Póvoa de Santo Adrião (então chamada Póvoa de
Loures), em meados do século XVII, Caneças, em 1915 (atualmente, ambas estão integradas no
concelho de Odivelas) e, mais recentemente, a de Santo António dos Cavaleiros (em 1989).
• Loures – Cidade
Loures, sede de Concelho, elevada a cidade em 9 de agosto de 1990, localiza-se no centro do
território concelhio. Apesar das características rurais e significativa atividade agrícola, apresenta
também uma concentração de atividades comerciais e de serviços, que lhe conferem a importância
e o estatuto de primeira cidade do Concelho.
Apresenta um núcleo urbano central e histórico que mantém ainda parte das suas características
no troço entre Santa Iria de Azóia e Sacavém, e ainda o Eixo Norte-Sul, atualmente integrado no IP7, num
troço que liga a Ponte 25 de Abril à IC17-CRIL, a nascente do Túnel do Grilo, entre as ligações com a A8,
A1 e a Ponte Vasco da Gama.
No que diz respeito aos transportes públicos, o Concelho de Loures é servido, na zona norte e oriental,
quase exclusivamente pela Rodoviária de Lisboa. A Carris opera apenas nas localidades de Moscavide,
Portela, Sacavém, Prior Velho e Camarate, estando os restantes operadores – Barraqueiro, Isidoro Duarte e
Mafrense – a servir as freguesias de Lousa e Loures, bem como a União das Freguesias de Santo António
dos Cavaleiros e Frielas.
Em termos de rede ferroviária, a zona oriental do Concelho é atravessada pela Linha do Norte (Azambuja)
dos Comboios de Portugal (CP) e a linha vermelha do Metropolitano de Lisboa estende-se de São Sebastião,
em Lisboa até Moscavide.
https://www.cm-loures.pt/Ligacao.aspx?DisplayId=455&CursorId=604
Acedido em 25 de outubro de 2021.
14
http://jf-loures.pt/Arquivo/carateriza%C3%A7%C3%A3o.html
Acedido em 26 de outubro de 2019.
47
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
mais antigas, onde se encontram edifícios como o do antigo Centro Escolar Republicano,
construído nos inícios do séc. XIX, de elevado valor histórico pois acolheu a preparação da
Implantação da República, tal como o Edifício 4 de Outubro, onde se apresentou a nova bandeira
verde e vermelha; também os Paços do Concelho (1916-1962), com um primeiro traçado de
Rosendo Carvalheira (1861-1919).
Ao longo da Rua da República, nos edifícios comerciais, mantêm-se ainda vestígios de
construções dos anos 40, do séc. XX, com recurso ao azulejo (F. Loiça de Sacavém), ao vidro, ao
ferro forjado e fundido, à pedra.
A nível de património há a referir a Igreja Matriz, seiscentista, o Palácio do Correio Mor, séc.
XVII e o cemitério municipal criado em 1890, com características históricas relevantes e o
Monumento aos Mortos da Grande Guerra, 1929 e no Largo 4 de Outubro, o chafariz de espaldar,
c.1720, restaurado em 1951.
A cidade dispõe atualmente de um conjunto significativo de equipamentos de utilização coletiva-
o Jardim Municipal Major Rosa Bastos, o Parque Adão Barata, as Piscinas Municipais, o Pavilhão
Paz e Amizade, o Museu Municipal e a Biblioteca José Saramago, o Arquivo Municipal de
Loures, para além de outros serviços fundamentais nas áreas da saúde, ensino, justiça, proteção
civil e segurança pública. Em termos de restauração, é uma cidade bem servida.
Possui espaços pedonais delimitados, ciclovias, dentro do espaço interior da cidade de Loures,
elementos fundamentais que se podem transformar em recursos turísticos.
No Plano de Ação para o Desenvolvimento do Turismo em Portugal, 2020-2024, aposta-se na
articulação de pequenos e grandes projetos, numa lógica de variedade relacionada, que promovam
a qualificação e o reforço da competitividade do turismo do país e das regiões, espaço em que
Loures pode atuar, inserindo-se ao nível das seguintes prioridades de investimento:
15
https://estrategia.turismpdeportugal.pt/sites/default/files/Turismo2020_Parte%2011_projetos.pdf,
Acedido em 23 de fevereiro de 2020
48
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Este enquadramento quanto ao Turismo que existe e é praticado em Loures, é fundamental para
embasar a reflexão quanto à questão de investigação - a transformação do cemitério municipal de
Loures em produto turístico. De facto, ao conceber-se uma inovação em termos de turismo no
território de Loures, atentou-se ao Plano de Turismo Nacional 2020 e, por outro lado, ao
importante estudo de Silva (2009), sobre o valor estratégico do turismo interno .
Portugal possui um território onde a variedade regional de recursos pode ser encarada numa
perspetiva complementar, com elementos de diferenciação evidentes ao nível das várias NUT II
(património natural e histórico-cultural, gastronomia, artesanato, entre outros), mas sempre com
o reconhecimento de aptidões inequívocas para as práticas turísticas em cada caso.
É a este último nível, que são criados postos de trabalho: é a nível local que têm de ser
equacionadas as necessidades adicionais criadas pelo desenvolvimento turístico em áreas, como
o abastecimento de água e de eletricidade, o saneamento básico, a recolha e o tratamento de lixos,
a segurança e os transportes internos (Silva, 2009, p. 61).
Em conformidade com autores como Inskeep (1991), Pearce (1989) e Costa (1996), o patamar
regional possui condições para exibir uma escala mais adequada de atuação face aos objetivos
traçados, já que considera as características da oferta e da procura dentro de cada região.
Também a problemática de ordem ambiental tem condições para se tornar mais efetiva no plano
regional, onde podem ser implementadas estratégias especiais. Desde que integradas numa macro
perspetiva nacional, as vantagens da abordagem regional parecem ser evidentes, estendendo-se à
16
https://estrategia.turismodeportugal.pt/sites/default/files/Turismo2020_Parte%20I_mercados%20-
%20SWOT.pdf, p.159.
Acedido em 23 de fevereiro de 2020.
49
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Cunha (2013) aponta a ativação do potencial turístico de uma região pela qualidade. Nesse sen
tido se trabalhou na criação do produto turístico do cemitério municipal de Loures.
“o potencial turístico pode ser entendido como a existência de condições objetivas favoráveis da
oferta turística, dos aspetos normativo-institucionais e de outrosfatores complementares capazes
de viabilizar, por meio do adequado planeamento, uma exploraçãoturística sustentável destinada
a satisfazer uma procura atual ou latente.”
E tendo presente a referida investigação de Almeida (2009-Anexo F), a matriz desenhada foi
aplicada ao Concelho de Loures e, por consequência, ao cemitério municipal de Loures, como
validação de preenchimento de requisitos e qualificações para uma exploração turística, o que é
confirmado pela pontuação recebida. Assim, não ignorando a importância da coerência das
políticas e das estratégias definidas no âmbito nacional, é concedido particular relevo à atuação
nos patamares locais.
Por outro lado, é preciso enquadrar a cidade, como é o caso de Loures. É preciso atender às
dimensões simbólicas que a cidade pode apresentar, havendo a necessidade de procurar entender
a cultura e sua importância social e política, e o espaço, aspetos indissociáveis da transmissão de
conhecimento e de experiências de pensamento nas relações sociais: a cidade é o lugar de
apropriação, onde agem forças sociais diferenciadas, construindo significações e bens simbólicos.
Lamas (2000, p. 33) considera que as cidades europeias se caracterizam pelos seus espaços
sedimentados e nas quais se concentram algumas das principais funções e utilizações urbanas,
podendo ser o lugar de reinterpretações, reutilizações e intervenções por acumulação e
qualificação.
O território local, como se pode entender o próprio cemitério, pode constituir-se como uma oferta
distinta e relevante dentro do património e do imaginário da cidade, fator que se torna relevante
quando o Plano Nacional de Turismo, 2020, e já previamente Silva (2009), repete-se,
consideraram o local, o território interno com condições apetecíveis para a inovação e
desenvolvimento de práticas turísticas.
Nesse pensamento se desenvolve o turismo em Loures; estas especificidades de paisagem e
produtos rurais, garantem uma vocação turística, e é através deste tipo de turismo que também
pode existir um processo de desenvolvimento regional. O tipicismo de Loures é importante sob o
ponto de vista etnográfico e patrimonial, mas só como turismo pode alcançar riqueza para os locais
que mantêm esse paradigma nos dias de hoje; apenas o turismo pode dar uma valência económica
a estes recursos endógenos17.
Pode-se sustentar que a opção em eventos e gastronomia, em arte urbana e paisagens,passeios de
busca de experiência e pintura de paredes/arte urbana e almoço com as comunidades(em particular
na zona de Sacavém - Terraços da Ponte), provas de vinhos, visita a quintas e
17
Situação sempre dependente do nível de penetração que o urbanismo assuma no local, na ausência de
uma clara e firme proteção do meio ambiente natural e patrimonial por parte dos municípios que detêm
esta herança.
50
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
almoço nas mesmas - é, em particular na zona norte do Concelho de Loures, a marca do turismo
de Loures.
Completa-se: possuir uma imagem de marca diferenciada (cf. I Cap.) pode representar uma fonte
natural e acrescida de valor para o território.
O reconhecimento por parte do consumidor da existência de particularidades que personalizam o
produto disponibilizado pela marca (Serra; Gonzalez , 1998), pode promover e embasar uma oferta
ainda mais consistente em termos dos patamares locais, uma ótima base para expansão,
preservando o respetivo conteúdo que atribui significado à marca.
O robustecimento da oferta turística de Loures, é possível no contexto da diferenciação, onde o
turismo cemiterial, em cemitério não romântico, é uma inovação.
Fig.Fig.
2 -2Cemitério
- CemitérioMunicipal
Municipal de Loures,
Loures,2019.
2019.Fonte:
Fonte: Autora.
Autora.
“Com amor e saudade/lembramos o teu exemplo. /Foste pilar de todos os que amaste/ e força
eternura personificada/nunca te esqueceremos/descansa na mais merecida paz/onde quer que
estejas a olhar por nós.”
51
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
52
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Fez-se um estudo reflexivo na ótica das ações que permitam estabelecer laços entre o passado do
cemitério e o presente/futuro de atividade turística, atento ao mundo e às suas possibilidades e
exigências; por outro lado, atendeu-se às atuais disponibilidades e motivações dos
turistas/visitantes, portadores de nichos de interesse (Assunção, 2019).
Há que registar como ponto de partida os conceitos de necrópole e cemitério: ambos são palavras
de origem grega, mas com inspirações contrárias: necrópole é a cidade dos mortos de nékros
(morto, cadáver) e pólis (cidade); o cemitério é o lugar onde as pessoas dormem, o antepositivo
do grego Koimétêrion (lugar para dormir) é o verbo koiman (dormir). A palavra começou a ser
usada pelos primeiros cristãos, que viam na morte um momento de descanso. O cemitério é um
lugar silencioso, um dormitório.
Estas distinções acrescentam maiores potencialidades aos cemitérios enquanto território turístico
e alargam as perspetivas de abordagem.
As mudanças nos padrões das viagens e motivações dos turistas criaram espaço para a afirmação
do Turismo de Interesse Especial, e indicam que o mesmo irá constituir um segmento com
potencial de crescimento no mercado turístico nos próximos anos (Brotherton & Himmertoglu,
1997).
Tais conceitos, por vezes têm sido usados acriticamente em contextos não ocidentais, mas é
importante reconhecer que, em outras partes do mundo, as relações entre as sociedades e os seus
mortos assumem formas muito diferentes.
O estudo foi condicionado pela metodologia que se tomou, ou seja, o início dos estudos sobre
turismo em cemitério, tendo presente alguns referenciais internacionais como a criação da
National Federation of Cemetery Friends no Reino Unido, em 1986, para conservação do
património fúnebre (limpeza, restauro) e da vida biológica existente no cemitério; I Congresso
Internacional sobre Cemitérios Contemporâneos em Sevilha, 1992; I Simpósio Internacional de
Arte Cemiterial, em Wroclaw, Polónia, 1993 e a criação da ASCE - 2001, composta por
organizações públicas e privadas que estudam os cemitérios como atrativos turísticos, também
estabelecendo redes e, finalmente, a Carta de Morelia de 2005, sobre património fúnebre.
Queiroz (2007, pp.7-12) com base na sua vasta investigação, particularmente nos cemitérios
românticos, do Norte e Centro, considera que desde a década de 1990, houve um aumento na
procura de turismo de cemitérios, de modo geral, em toda a Europa.
Não se pode ignorar o fato de o cemitério ser um local de história e cristalização da vida e, como
afirma Coelho (1991, p.8), o conhecimento de qualquer comunidade será sempre incompleto, se
o cemitério não for incluído nessa visita.
O estudo académico do turismo em contexto de cemitério conta com autores e obras que abordam
a prática turística nas suas múltiplas dimensões, matizes, intensidades, gradações, prismas de
observação mais políticos, afetos, sensibilidades e estéticas.
Cronologicamente, começou por uma vertente negra e mórbida: Rojek (1993, p.136) cunhou o
termoManchas Negras/Pontos Negros, como atividades em lugares de sepulturas e locais em que
celebridades ou um grande número de pessoas encontraram mortes súbitas e violentas. Este
conceito de turismo representa simbolicamente a morte nas suas atrações e designa a atividade
turística em locais que, acidental ou intencionalmente, se tornaram atrações turísticas e têm
ligações concretas e identificáveis com eventos ou situações de morte ou sofrimento. Mais tarde,
o autor distinguiu os locais de desastres como sendo analiticamente distintos dos Pontos Negros,
como locais de sensação (Rojek, 1997). Ou seja, estes destinos não terão necessariamente de ser
in loco, mas podem ser representações do evento, fora do local onde aconteceram, tais como os
museus e os cemitérios.
Seaton (1996, p. 240) ) encontrou uma nova definição da abordagem da morte no seu artigo From
Thanatopsis to Thanatourism, onde descreve que o thanaturismo é a
“viagem a um local, total ouparcialmente, motivada pelo desejo por encontros verdadeiros ou
simbólicos com a morte, particularmente, mas não exclusivamente com a morte violenta-os quais
poderão ser ativados, num grau variável, pelas especificidades pessoais daqueles cujo objetivo
principal de visita é a morte.”
Foley e Lennon (1996, p.198) foram os primeiros pesquisadores a usar o termo turismo negro, como
forma de descrever o fenómeno que abrange a apresentação e o consumo (pelos visitantes) de
locais reais de mortes e desastres. Stone (2006) esclarece que Negro pretende referir-se a práticas
aparentemente perturbadoras bem como a produtos e experiências mórbidos, que constituirão a
base deste tipo de turismo. Sharpley (2009) identifica a antiguidade da prática de Turismo Negro,
contrariando Rojek (1997) que defende o turismo negro como algo de prática recente, tal como
Beech (2000) que afirma que os edifícios militares são desde há muito, atrações turísticas e Stone
(2006, p. 4) novamente, remata a questão, afirmando que existe a prática de turismo negro desde
54
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
que as pessoas são capazes de viajar: elas são atraídas - propositadamente ou não - para locais,
atrações ou eventos que estão ligados de uma forma ou de outra com morte, sofrimento, violência
ou catástrofe.
Blom (2000, pp .2, 36) surgiu com o conceito de Turismo Mórbido, onde define o conceito como
a forma de turismo que se foca em morte violenta e súbita e que atrai rapidamente um largo número
de pessoas e, por outro lado, uma atração focada em turismo artificial e relacionado com o
mórbido.
Yuill (2003) propõe-se aprofundar as motivações do Turismo Negro - locais de morte e desastres
- e considera que existem benefícios da experiência do Turismo Negro.
Stone (2006, p.146) aprofundou o conhecimento do turismo Negro e apontou uma alteração ou
modificação gradual, com o turismo Sombrio, o ato de viajar para locais associados à morte,
sofrimento e ao aparentemente macabro, fenómeno pelo qual as pessoas visitam uma ampla
variedade de locais, atrações e exposições relacionadas com a representação da morte e do
sofrimento, intencionalmente ou como parte de um itinerário mais amplo.
Tunbridge & Ashworth (1996, p. 95) consideraram a atrocidade como uma atração turística e mais
adequada para nomear o turismo sombrio. Ambos consideram a dissonância como base para
desencadear emoções intensas. Os autores definem atrocidade como "especialmente chocantes",
"atos de crueldade singular”, perpetrados por pessoas contra pessoas.
Ou seja, o turismo sombrio cria uma ligação entre o observador e o observado: o visitante vê o
mundo com o olhar da vítima. O turista vive o mesmo ambiente em que alguém viveu. O Museu
Judaico de Berlim, é um exemplo: retrata a atmosfera de um campo de concentração, um lugar
frio e fúnebre.
Pereira (2012) acentua que o turismo de cemitério nasce da combinação de Turismo Negro e
Turismo Cultural, ou seja, o turismo cultural que tem como embasamento a cultura e o
património de um destino turístico, neste exemplo, os cemitérios e outros locais de morte e
desastres, unem-se na oferta. As motivações do turismo cultural estão crescentemente orientadas
para o património histórico e natureza como fruição de uma população residente e acentuadamente
dos turistas.
Richards & Bonink (1995) consideram que viajar de locais de residência para atrativos culturais
com o objetivo de aprofundar o conhecimento, pode permitir experiências diferentes e
satisfatórias, responder a necessidades intelectuais, permitir experiências diferentes, ou seja,
turismo a entrar também nos cemitérios.
Catroga (1999) considerou que os cemitérios são como museus ao ar livre. A sociedade quer ser
imortal e o céu da memória é construído quando transita entre o enterramento católico na igreja
e a secularização dos cemitérios, envolvendo monumentos/documentos construídos e fixados nos
cemitérios, os quais permitem, através da memória, que as pessoas saiam do anonimato para serem
parte de um passado registado em lápides.
Carvalho (2012, p. 44) considerou que os cemitérios-museus, são constituídos por estruturas
monumentais edificadas, que formam grandes pátios. São fechados para o exterior e abertos para
o interior através de pórticos de colunas ou de arcadas que formam claustros, onde se expõem os
monumentos funerários, e por baixo dos quais, existem caves, onde se localizam as sepulturas, de
55
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
tipo familiar. As vantagens deste tipo de cemitério têm a ver com a conservação da arte tumular
e a possibilidade de desenvolvimento do turismo cemiterial. Claro que se está num contexto
romântico e o turismo cemiterial é possível.
Paralelamente é importante destacar Cunha (1997, pp. 24, 25) um dos primeiros autores a
considerar o turismo político nos principais tipos de turismo em cemitérios ou locais de dor e
sofrimento, segundo as motivações dominantes. Trata-se de um especial tipo de turismo
cemiterial, com umforte compromisso com a sociedade visitada e a do próprio turista.
Pozzi & Martinotti (2004, p. 38) destacaram igualmente a existência do turismo político ou
turismo ativista / militante. Moynagh (2008, p.3, p. 4) retira o turismo sombrio, preferindo as
motivações políticas: o turista político “pertence a um tipo específico de viajante que visa
participar ou mostrar solidariedade a uma luta política específica que ocorre em algum lugar do
mundo”; o turismo político é uma prática cosmopolita. Este conceito pode ser aplicado a
cemitérios onde estão enterrados indivíduos que lutaram por causas sociais e políticas com as
quais o turista se identifica.
No mesmo seguimento, Housley (2008, p. 728) definiu turismo político como visitas a lugares
com significado político.
Lousada (2009, pp. 325-328) salientou que o “turismo político é parte integrante do novo
cosmopolitismo o qual tem em comum com o “clássico” o facto de os turistas políticos serem
maioritariamente oriundos do mundo rico ocidental,” e dele se distinguirem pelo apoio ativo que
dão às lutas políticas; a realização de turismo político ocorre pelo interesse pela política local ou
por certas questões internacionais. Este tipo de turismo não faz parte dos 43 tipos de turismo
declarados pela Wikipedia ; contudo, o turismo político já foi alvo de estudo e existem nos tours
turísticos com outras designações, com base em diferentes motivações: “turismo sombrio”,
“turismo de luto”, “tanaturismo”, “turismo no campo de batalha”, “turismo alternativo”, “turismo
de retorno”, “turismo de lembrança”, “tourisme solidaire”, ”turismo sombrio” e “necro-turismo”.
Mahrouse (2016) aponta os locais onde ocorreram guerras e conflitos políticos também como
locais emblemáticos do Turismo Negro. Nesses locais, os turistas tentam confirmar e verificar as
informações veiculadas pela média.
Coutinho
(2012) refere como necessário, na sociedade contemporânea, onde a morte está simultaneamente
ausente e presente no nosso dia- a- dia, identificar as principais instituições quepermitem o contato
entre indivíduos e morte e as relações que podem ser estabelecidas, entre os cemitérios e o turismo.
E reforça (2013, p. 9), que a semelhança entre o turismo negro e o lazer humanístico é o facto de
que a sua importância deve ser entendida dentro de um determinado quadro, característico da
sociedade contemporânea.
Outra perspetiva é apresentada por Afonso (2010, p. 20) que defende que o turismo em cemitérios
pode ser considerado um segmento do turismo cultural, levando em consideração as motivações
para a prática desse tipo de turismo, como contemplação de esculturas, dimensões dos espaços
ajardinados bucólicos e aconchegantes, identificação dos diferentes tempos da arquitetura.
Para Del Puerto (2015, p. 45) o cemitério não apenas abriga a morte, mas também as representações
da vida, na forma de arte rupestre, iconografia, ritos e memória ali salvaguardados. Mesmo que
exista uma tendência cultural de fugir do tema da morte e do que ele representa popularmente, o
turismo, nesse ambiente inicialmente fúnebre, pode apresentar-se como uma contrapartida da dor
e do sofrimento.
Continuando com Pécsek (2015, p. 59) esta autora considerou que cada cemitério é a expressão
da comunidade local e de sua cultura, refletindo a maneira como a comunidade lida com a vida e
56
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
a morte. O turismo no cemitério, incluindo rituais funerários, representa uma fascinante exposição
cultural para turistas, oferecendo atividades baseadas na natureza e na cultura. E Carvalho (2016,
p. 79) aprofundou: cada cemitério contém uma coleção única. É recorrente, portanto, usar a
expressão “museu ao ar livre” para definir cemitérios, devido às obras de arte e itinerários que se
podem encontrar. Light (2017, p. 296) reforçou que tem havido uma convergência crescente entre
o turismo patrimonial e o crescimento de conceitos relacionados ao património obscuro ou ao
turismo de património sombrio. A base conceitual está alinhada com o conceito de cemitério como
tendo um objetivo de património e também de turismo, uma vez que histórias de vida e histórias
sobre património, são de grande interesse para os turistas.
Na mesma linha, Marques (2018, p. 61) considerou o turismo de cemitério como parte dos
itinerários da arte funerária, que combinam produção artística com crenças sociais e religiosas no
momento das visitas. Os cemitérios podem-se tornar uma parte essencial da história local: o
turismo no cemitério não deve ser considerado como parte do turismo negro, mas como conectado
ao turismo cultural.
Contudo, toda esta atividade foi pensada, realizada em cemitérios monumentais, românticos.
Vovelle e Bertrand (1983) resumiram as características essenciais das grandes necrópoles situadas
nas penínsulas mediterrânicas, apesar dos contrastes geográficos e reflexos de heranças culturais
diversas: a existência de uma estrutura arquitetónica construída com uma lógica da cidade dos
vivos. Nos cemitérios mais pequenos e menos densos, registou-se o surgimento de habitações
funerárias verticais-jazigos - e campas individuais modestas. Surgem também
monumentos/capelas dos poderosos e como complemento à arquitetura, um grande recurso à
estatuária, desde a barroca, 1860, até ao kitsch do fim do século e também estilo moderno das
primeiras décadas do séc. XX. A profusão de figuras, é, sobretudo feminina. Estas características,
aplicáveis ao período do Romantismo, séc. XIX, começo do XX, acabam por contribuir para
aprofundar uma tipologia de cemitérios, tal como já se referiu, os que não apresentam estes
elementos, são, por exclusão, não românticos, públicos e modernos, como por exemplo,
cemitérios rurais, periféricos, paroquiais, municipais, havendo sempre lugar a exceções.
Embora não sendo uma obra com explícitas atenções às tipologias românticas e não românticas,
os estudos de Urbain (1978) analisam os cemitérios segundo a hierarquia social, contribuindo
claramente para um maior entendimento de como se elaborou o discurso funerário, o que traz uma
grande contribuição para o entendimento do que é um ou outro modelo de cemitério, e o que se
considera num e noutro modelo. A significação social do simbólico de um cemitério fica bem
clarificada, assim como com o trabalho de Thierry (1987) sobre a necrópole romântica de
Chaprais à Besançon, ca.1824, com forte influência inglesa.
Ou seja, estas obras de Urbain, Thierry, Vovelle e Bertrand, apresentam-se como referências
obrigatórias quando se aborda o estado de arte da literatura sobre cemitérios: fornecem uma
utensilagem estruturante para a análise funerária e espaço cemiterial.
Frisa-se que não se encontrou claramente enunciada nesta variada bibliografia a hipótese da
eventual possibilidade de valorização turística de cemitérios não monumentais.
Em Portugal, é importante referir que também são escassas as referências aos cemitérios não
românticos, pois, Dias (1963, p.158, p.160), refere “conforme os modelos estrangeiros se
propagaram através do país e chegaram aos cemitérios provincianos, onde se encontram
exemplos de cemitérios pobres e modestos, tal como o seu valor artístico.” Bertrand (2011)
considerou algo semelhante ao estudar os cemitérios franceses contemporâneos.
Contudo, no 1.º Encontro sobre as Atitudes perante a Morte, 1989, organizado pela autarquia da
Chamusca, Portugal, com a coordenação de Matias Coelho, registou-se uma novidade quer pela
organização do encontro, quer por ter existido a preocupação da abordagem da educação para a
57
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
morte (1991, p. 7) e do cemitério como recurso didático (1991, p. 8), enfrentando, desta forma, o
tabu da morte.
Encontro de História de Sintra com o tema A morte em Sintra no princípio do séc. XX. Figueiredo
colocou on line18 a sua intervenção. Desde as campas e jazigos perpétuos, à evolução demográfica
e mortalidade infantil, foram assuntos abordados com base em documentos fiáveis, originais,
como o Livros de Registo de Enterramentos ou os simples Bilhetes de Enterramento. Principais
problemas encontrados:
“A falta de estudos com alguma profundidade do período estudado, quer a nível nacional quer
local, foi talvez a maior dificuldade sentida. Não foi fácil, por vezes, a tarefa a que nos
propusemos. Por todo o lado e quase em tudo, carregámos com o “peso dos silêncios” e com o
espanto quase automático perante tão tétrico interesse. Sentimos bem quanto o tabu da morte é
ainda forte na nossa cultura!”
Em 2019 foi feito novo Colóquio, em Leiria, sobre Património Cemiterial, organizado pela
mesma Associação, em que se insistiu no valioso testemunho dos cemitérios para a comunidade e
se aborda a musealização dos mesmos, como forma de salvaguarda (Assunção, 2019b); aponta-se o
turismo cemiterial como forma de visitar um cemitério numa diferente dimensão: o exemplo dado
foi o Cemitério Municipal de Loures (Assunção, 2019).
A descoberta dos cemitérios locais, menos majestáticos, mas com relevância histórica como
documentos investidos de valor único, insubstituíveis como bens públicos, começa a criar o seu
lugar. Têm sido as organizações locais a promoverem o interesse e a descoberta deste outro
património.
Ao contrário dos cemitérios românticos com concessões perpétuas, nas alamedas dos cemitérios,
os cemitérios não românticos, de predominância de campas, embora com muitas perpétuas, são
cemitérios vivos, modificáveis. O’Neill (1991, p. 180) regista que as estéticas contemporâneas se
introduzem e modificam o ambiente tradicional; “a partir da década de 70, do séc. XX, assiste-se
à introdução de novas cores e materiais, jazigos brilhantes de mármore. Em setembro de 1989,
havia perto de vinte destes jazigos: estas novas sepulturas mudaram espetacularmente a fisionomia
do anterior cemitério.”
Assunção (2019) apresenta uma experiência de trabalho em cemitério não romântico, como o de
Loures, onde se tornou evidente e acessível a descoberta de personalidades ou eventos, com a
colocação de placas de inox gravadas junto às campas e/ou jazigos. Este conhecimento
acessibilizado, resulta de uma investigação feita com recursos vários, como entrevistas à
comunidade, pesquisa documental, os quais acabam por embasar a criação de itinerários de
turismo cemiterial. O cemitério é hoje, efetivamente, um repositório de uma variadapanóplia de
atitudes: a valorização turística é uma das oportunidades que se apresenta.
18
https://www.alagamares.com/a-morte-em-sintra-no-principio-do-seculo-xx/.
Acedido em 1 de dezembro de 2019.
58
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Turismo Negro
Turismo Mórbido
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O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Turismo Político
Thanaturismo
Turismo Cultural
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O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Turismo Cemiterial
Refere o autor (2013:1, 2) que a passagem de um objeto cultural para outro tem por consequência
uma transformação do seu sentido, uma dinâmica de ressemantização, que só se pode reconhecer
plenamente se se tomar em consideração os vetores históricos da passagem.
“Transferência não é transportar, mas sim metamorfosear, e o termo não se reduz de modo algum
à questão mal circunscrita dos intercâmbios culturais. É menos a circulação de bens culturais que
a sua reinterpretação que está em jogo. Mesmo quando se aborda uma transferência entre dois
espaços culturais, não se pode considerar algum como homogéneo e original; cada um tem uma
história feita de hibridações sucessivas. As áreas culturais são configurações provisórias, mas
necessárias para a compreensão dos fenómenos de circulação cultural e de transferência.
Uma transferência cultural não tem lugar apenas em duas línguas, dois países ou duas áreas
culturais: existem quase sempre terceiros implicados. Devem-se considerar as representações
culturais como interações complexas entre várias áreas, várias áreas linguísticas. A circulação
cultural de modelos culturais relativiza, pois, os centros, os pontos de partida.”
Tendo presente esta noção, os mais importantes cemitérios românticos portugueses, que
receberam influências e informações em particular de França, serviram para experimentação de
estéticas arquitetónicas e das artes aplicadas do século XIX, sendo replicadas, adequadas,
adaptadas, hibridadas pelos gostos do canteiro, ferreiro, oficina, do/a encomendador/a do jazigo,
sepultura, em cemitérios não românticos.
Aplicando esta reflexão à construção, criação de modelos, artes decorativas e ornamentos, aos
cemitérios modernos, em particular no Ocidente, românticos e não românticos, é de considerar o
papel relevante dos fatores, enunciados no Esquema 5, no que concerne a Portugal e à arte
funerária nos sécs. XV-XIX.
As campas rasas que se aberçaram com ferros forjados, imitando as cercas das capelas para
delimitar o espaço do inumado, modelo do cemitério de Père Lachaise, (Fig. 3) encontram-se
por transferência em Almudena (Fig. 4), Chamusca (Fig. 5) ou Braga (Fig. 6).
As flores esculpidas na pedra, mármore ou lioz, matérias por excelência, dos cemitérios, assim
como das igrejas, são as representações simbólicas da saudade mais comuns no universo da morte;
estão presentes em Sacavém (Fig. 7) na Madalena do Pico (Fig. 8) ou no cemitério Britânico (Fig.
9), em Lisboa.
Das diferentes tipologias de jazigos, existem sinais em Loures (Fig.10) e Montelavar, Mafra, (Fig.
11) já com portas de ferro fundido, com transferências das fábricas francesas, modelos replicados
e adaptados segundo as mãos e gostos, estéticas vindas eventualmente do Porto (Queiroz:2009) e
com soluções e modelos bem promovidos na modernização da cidade de Lisboa e no novo
mobiliário urbano (Barradas:2015).
62
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Caminho
de ferro
Lisboa- Estrangei
Terramoto rados
Industriali Anuários
zaçao comerciais
Influências na
arte de cantaria
e ferro fundido,
Invasoes, cemitérios Exposições
guerras, industriais
Obras Periódicos
públicas com
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Escolas Mobiliário
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No coração de Sacavém, Álvaro Pedro Gomes (1894-1974), aluno de Jorge Rey Colaço (1868-
1942), na Fábrica de Loiça de Sacavém produziu e concebeu, medalhões vidrados com retratos
pintados, muito divulgados pelos cemitérios do concelho de Loures e em particular no de Sacavém
(Fig. 12) e Loures (Fig. 13), um gosto que também marcou a vontade mais popular de dotar as
suas campas de solenidade e evidência, eternidade.
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O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Há que referir, neste contexto, a obra de Ferrer e Grandcoing (2000) onde se toma conhecimento
da particularidade das porcelanas funerárias desenvolvidas em Limoges e a sua influência no
espaço cemiterial local.20
As transferências culturais que possam ter ocorrido, não são, contudo, observáveis em Portugal e
nos cemitérios estudados, porque o gosto pela faiança, mais acessível em termos de custo,
predominou sobre a porcelana.
A escultura nos jazigos foi sempre um sinal de estatuto, mas os modelos foram-se acessibilizando:
uma obra única (Fig. 14) foi sendo substituída por outras já feitas por métodos de rápida
multiplicação (Fig. 15).
Finalmente, o tipo de casa concebido por Raul Lino (1879 - 1974) também se insinuou nos
cemitérios, passando-se dos jazigos mais elaborados e rendilhados dos mestres canteiros á
essência da casa onde cada um/a deseja que os seus/suas falecidos/as permaneçam e desta forma,
dos Prazeres (Fig. 16), a Camarate (Fig. 17), ou Braga (Fig. 18) a casa portuguesa é um sinal
evidente das transferências culturais do exterior nacional para o interior do espaço cemiterial.
19
Este estudo feito e divulgado na Roménia, 2014,Mementos Mori, fortaleceu a proposta de classificação
do cemitério paroquial de Sacavém, aceite unanimemente pelo Executivo e Assembleia de Freguesia. Está
em fase de organização do processo para apreciação em Assembleia Municipal de Loures.
20
Foram lidos os livros de Arquivo da Fábrica de Loiça de Sacavém e nada se encontrou quanto
a Limoges. Centro de Documentação Manuel Joaquim Afonso. C.M. Loures.
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O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
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O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
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O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
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O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Os cemitérios, como já se tem referido, são um reflexo e condição da sociedade e, enquanto objeto
de pesquisa histórica e patrimonial, constituem inestimáveis fontes de conhecimento sobre a
sacralização da morte, inscrita em símbolos, como as campas, jazigos e capelas (Pegas, 2013).
Estes espaços são, portanto, palco de crenças, representam a memória da vida, abrindo múltiplas
possibilidades para interpretar identidades, memórias e acontecimentos (André, 2006).O ambiente
cemiterial permite a perceção das construções sociais e o seu aspeto relacional.
Como aponta Colbert (2018), os cemitérios são, simultaneamente, lugares físicos e arquivos que
encerram memórias individuais, familiares e da vida em comunidade e espelham construções -
entre outros marcadores sociais - em torno da religiosidade, classe, profissão, educação e género.
Sendo a história uma construção social, influenciada pelos valores e relações de poder, incluindo
as relações de género, quando questionada em critérios de inteligibilidade histórica tem permitido
novas interpretações ao rever conceitos, categorias e fontes. A história das mulheres e das relações
de género, é um desses conceitos que tem registado progressos, fruto dos esforços dos
movimentos feministas, da renovação historiográfica, da valorização do campo cultural e das
representações sociais. Quando comparadas com os homens, as mulheres são frequentemente
omitidas na historiografia dos cemitérios.
Ismério (2016, p. 64), embora pegando num estudo localizado no Brasil, aponta a doutrina
positivistacomo responsável por ter criado um discurso simbólico que propôs a organização da
sociedade sob a perspetiva de uma moral conservadora e, portanto, atuou como agente, impondo
os conceitos de um grupo político detentor do poder.
A mesma autora (2017, p. 104) aborda as representações nos cemitérios sob a perspetiva do
imaginário feminino criado pelos positivistas. Observou e considerou que as imagens femininas
presentes nos cemitérios românticos foram criadas com o intuito de educar a população e,
principalmente, a mulher, consciencializando-a dos seus deveres e do seu lugar dentro da
sociedade, manipulando o imaginário popular por intermédio de símbolos e signos.
Se bem que as figuras femininas, ligadas a ideais e emoções (“boas esposas e mães”), surjam
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O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
representadas em espaço cemiterial, as mulheres “de carne e osso” no quotidiano da vida pública
e na representação da memória da vida nas necrópoles públicas, não têm sido suficientemente
estudadas.
Como refere Urbain (1978), a cultura material da morte reclama uma imaginação organizadora
do desaparecimento, através de figurações e símbolos, seguindo a lógica da diferença. De acordo
com o mesmo autor, o cemitério enquanto objeto funerário diferencia-se através da localização e
ocupação espacial, pela riqueza e uso dos materiais, pelo estilo e formas utilizadas, num discurso
de classe (Urbain, 1978), predominantemente masculino (Corbett, 2018), no qual falta considerar
a presença da mulher enquanto pessoa histórica (Valencia, p. 2011).
A partir da segunda metade do século XIX, o cemitério romântico, enquanto modelo social e
espelho de uma burguesia em ascensão, como atrás se considerou, enalteceu o luto e a família,
sobretudo o lado masculino da sociedade, e traduziu a condição feminina da época, ao reproduzir
a idealização do papel social da mulher. Reforça-se: esperava-se que a mulher fosse contida, com
emoções dissimuladas, voltada para a religião e a família, e assim determinada a exaltar as
conquistas masculinas, os chefes da família, uma conceção fortemente conservadora dos finais do
séc. XIX, primeiras décadas do séc. XX. São representações imbuídas de forte significação
simbólica, assim como de pressupostos ideológicos, educativos e normativos que se fazem
representar nos cemitérios.
Contudo, é nestes espaços de projeção masculina, de ligação entre o tempo quotidiano e o tempo
histórico (André, 2006, p. 68), que as mulheres foram, no séc. XIX, as principais responsáveis
pelaeleição e encomenda de túmulos-campas, jazigos e capelas. Mas tal procedimento não marcou
deforma diferenciada a obra do jazigo enquanto casa simbólica, como concluiu Queiroz (2006, p.
7), ao afirmar que a influência dos executantes devia ser esmagadora, condicionando a escolha
das encomendadoras.
21
http://www.visitgenoa.it/en/cimitero-di-staglieno-0,
Acedido em 4 de novembro de 2020.
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O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Nos cemitérios não românticos, porém, ganha protagonismo “gente comum”, com direito à
história. Nas primeiras décadas do século XX nos cemitérios não românticos, menos prestigiosos
(Urbain, 1978, p. 420), a imagem da mulher surge associada à família, onde ganha o estatuto de
campa partilhada ou jazigo e nome. Com efeito, Urbain (1978) demonstra que no cemitério
ocidental, após o Romantismo, existe uma similitude estrutural entre a família e a sociedade (Fig.
20). A realidade sociológica do fenómeno de renúncia da pessoa à expressão da sua
individualidade em proveito de expressão da homogeneidade do grupo familiar através do nome,
verifica-se facilmente através da análise sintática de numerosos epitáfios (Urbain, p. 1978).
Nele não se encontram com facilidade “mulheres célebres” ou “heroínas”; são utilizados os
epitáfios no contexto de memórias da “boa esposa” e “mãe”, e pouco mais as distingue. As
fotografias surgem muitas vezes em conjunto com o marido ou filhos.
Nos poucos contextos da vida pública, centram-se nos meios laborais e surgem associadas a
apetrechos de trabalho, como são exemplo, placas de homenagem “das suas colegas de trabalho”,
como se identificaram no cemitério municipal em Loures (Fig. 21) ou no cemitério paroquial de
Sacavém (Fig. 22).
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O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
22
https://www.zaragoza.es/sede/servicio/arte-publico/130#.
Acedido em 4 de novembro de 2020.
23
https://www.oguiademilao.com/wp-content/uploads/2014/11/o-que-fazer-em-milão-O-Cemitério-
Monumental-monumentos-gratuito-de-milão.gif .
Acedido em 24 de agosto de 2019.
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O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
No cemitério da Consolação, São Paulo, Brasil24 (Fig. 25), está em curso uma experiência de
turismo cemiterial, que procura combater o destaque dado aos homens em contexto cafeeiro, na
estrutura e artes tumulares, promovendo uma reflexão quanto ao papel das mulheres pioneiras na
história do país25.
Em Portugal, os cemitérios românticos de Lisboa, dos Prazeres e Alto de São João, apresentam
atividades onde o tema da vida de mulheres se expressa nos “Percursos no Feminino”, para que
se conheçam as memórias e histórias de algumas das mulheres que ali descansam26.
No Cemitério do Alto de S. João27(Fig. 26), mandado construir em 1833 pela Rainha Dona MariaII
foi durante mais de um século o primeiro cemitério da cidade onde a Primeira República
homenageou os seus heróis, com uma cripta. Nomes como Ana de Castro Osório, Maria Veleda,
Angelina Vidal, ali se encontram, mas pesquisando-se a Wikipédia28 sobre este mesmo Cemitério,
dos exemplos de personalidades notáveis, em 106 homens apenas 24 são mulheres
24
https://universa.uol.com.br/noticias/redacao/2019/01/29/passeio-em-cemiterio-destaca-mulheres-
pioneiras-na-historia dobrasil. htm?cmpid=copiaecola.
Acedido em 26 de agosto de 2019.
25
https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2019/01/29/passeio-em-cemiterio-destaca-mulheres-
pioneiras-na-historia-do-brasil.htm.
Acedido em 26 de agosto de 2019.
26
https://www.timeout.pt/lisboa/pt/noticias/quer-conhecer-as-historias-dos-cemiterios-dos-prazeres-e-do- alto-
de-sao-joao-020118.
Acedido em 15 de setembro de 2021.
27
http://www.lisbonne-idee.pt/p5251-visitas-guiadas-aos-cemiterios-lisboa.html.
Acedido em 15 de setembro de 2019.
28
https://pt.wikipedia.org/wiki/Cemit%C3%A9rio_do_Alto_de_S%C3%A3o_Jo%C3%A3o
Acedido em 26 de outubro de 2019.
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O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
O cemitério Monte d’Arcos tem uma biógrafa, Castro (2016), com obra exaustiva, fundamentada
e documentada sobre arte tumular e seus eméritos. Compulsando este Memorial de notáveis,
29
https://www.oportoencanta.com/2016/04/arquitetura-arte-e-sentimentos-no.html,
Acedido em 28 de agosto de 2019.
30
www.cm-porto.pt/cultura/noticias?id=35581.
Acedido em 15 de setembro de 2019.
31
https://pt.wikipedia.org/wiki/Cemitério_de_Agramonte.
Acedido em 15 de setembro de 2019.
32
www.cm-porto.pt/cultura/noticias?id=35581.
Acedido em 15 de setembro de 2019.
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O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
encontra-se uma profunda investigação onde se identificam mulheres, mas nem sempre visíveis e
distinguidas no exterior do jazigo familiar.
Assim se compreende o que é o mundo dos cemitérios românticos, da civilização ocidental, onde
o imaginário do feminino surge fortemente materializado em atributos ligados simultaneamente
ao eterno e ao símbolo da família, mas onde as vidas reais, lutas, ideais e virtudes das figuras
femininas que neles jazem têm muito menos relevância. Já em cemitérios não românticos, a
mulher, pode não ser, só por si, motivo de visita turística porque, tal como é referido, a sua
identidade simplesmente desaparece no grupo familiar: segue-se a ordem patriarcal ao mencionar
apenas o nome do marido, subtraindo a identidade feminina.
Se bem que a memória e identidade de mulheres “notáveis” seja ainda reduzida nos cemitérios
românticos, nos cemitérios não românticos quase se esvaziam, quer na dimensão do “visível”,
quer na do “invisível” da sociedade.
Mas o turismo cemiterial, quer em cemitérios românticos quer não românticos, como na presente
investigação, pode gerar um contributo para uma mudança, também no olhar do lugar da mulher.
Em alguns cemitérios portugueses já existe alguma preocupação, contudo, redutora, no dia 8 de
março; em cemitérios não românticos, como no de Loures, estando interiorizada esta dimensão
na investigação e na prática, há uma forte possibilidade de se contribuir para uma história plural
e tornar aplicável um mainstream33.
Como afirma Queirós (2007, p. 69), dando exemplos de outras formas de organização e
funcionamento de certos sistemas coletivos, é possível encontrar ao mais baixo nível de
complexidade, um contexto que desencadeia um estímulo em outros que, por sua vez, geram
novos estímulos, e assim sucessivamente, originando mapas coletivos (Moura, 2002; Moura e
Garcia Pereira, 2003). A nota mais importante deste paradigma é que ele exemplifica como
estímulos locais se organizam de modo a assegurar a emergência de uma estrutura adaptativa e
coerente, ou, como os indivíduos podem agir independentemente, respondendo, porém, a
incentivos oriundos do próprio ambiente e contexto.
Poder-se-á gerar no futuro, uma transformação inesperada nos territórios dinâmicos e abertos
(Queirós, 2007, p. 76), ou seja, utilizando reflexões em outros campos de investigação, seguindo
novas metodologias, é possível empreender mudanças e contribuir para avanços civilizacionais,
respostas que, como se referiu, emergem dos níveis mais baixos e inesperados. Quiçá, o estudo
do Cemitério Municipal de Loures, ao abordar a questão de género, possa contribuir para
influenciar caminhos, embora ainda haja muito por fazer pois, citando Joel Serrão (1987:8) faltam
monografias analíticas que permitam penetrar com maior segurança nas florestas por desbravar
das realidades femininas no contexto da História Contemporânea.
O afastamento da morte principiou no século XX, depois da grande falta de força, torpor e inação,
causados pelos milhões de mortes em duas guerras mundiais num curto espaço de tempo.
O’Neill (1991, pp. 175-203) frisa a existência de três tipos de morte: a morte física que não
coincide com morte espiritual, que por seu turno, não coincide com morte social. A morte social,
post- mortem, sugere um processo mais difuso através do qual podemos medir o grau de prestígio
socialgeral de uma personagem examinando a rapidez (ou lentidão) da sua verdadeira “morte”
social na memória da comunidade local34. Quanto mais rapidamente se esquece, menor é o
prestígio social, nada ficou para lembrar. A questão do entendimento destas três situações face
à morte
33
À data da elaboração da Tese, não se conhece o Plano para a Igualdade no Município de Loures.
34
Conclusões, relativas, que se citam partindo de estudo numa aldeia nortenha, 1970-1990.
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O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
O morrer e a morte não são um acontecimento individual: salvo raríssimos casos, a pessoa, como
ser relacional, deixa um rasto, é a pedra que cai no lago e origina círculos concêntricos de raio
crescente, que acaba por atingir as margens (Osswald, 2013, p. 44). Para o entendimento do
cemitério como repouso nessa despedida e a possibilidade de o lugar passar a ter outro valor, não
necessariamente de dor, é exigida a análise do elemento luto que cumpre um ritual catártico
coletivo e individual, de afastamento primeiro, de visita depois.
A mutação na localização do óbito, a futura hegemonia da morte hospitalar, uma distopia, um não
lugar, no que ao morrer diz respeito, traz profundas mudanças no luto. Poderíamos dizer, como
Osswald (2003, p.24) que no hospital não há espaço para morrer.
A ressocialização da morte pode fazer falta à sociedade para se humanizar. Mas, mesmo com um
manto de cuidados (cuidados paliativos e outros), não se vai impedir este crescente afastamento
do morrer. E a sociedade que se vai afastando do luto natural, da perda de alguém cria um patamar
de arrefecimento, de cadeia mais difícil para permanecer nos tradicionais rituais, porque não existe
um verdadeiro luto. Afinal, este afastamento da vivência pura e dura da morte cria possibilidades
de falar da morte como algo de natural. Mais natural.
A morte nos hospitais e o papel omnipresente das agências funerárias que substituem o individuo
de todos os procedimentos mais duros e dolorosos de vestir e compor o corpo para ser velado,
contribui para o afastamento contínuo da morte, relativiza o luto35.
De facto, todos os contatos com os cemitérios são agora perfeitamente alheios às pessoas no seu
geral. Os procedimentos de seleção de coval, campa ou cremação são contatos feitos com os
serviços municipais ou de juntas de freguesia através das empresas funerárias. Até uma
transladação pode ser feita pela agência. A intermediação veio afastar o individuo do local
cemitério, com o qual tem cada vez menos contato. Este facto tem importância num processo
longo de esquecimento.
Há uma memória difusa e a ida a um cemitério onde nada nos liga, acaba por propiciar outro olhar
sobre si próprio. Ou seja, não havendo laços, mais fácil é a entrada em qualquer cemitério: trata-
se de uma grande mudança porque é possível começar a desenhar transfigurações, onde o ócio
pode entrar, um ócio humanista, uma ocupação mental em oposição a atividade física.
35
As próprias agências funerárias, como a SERVILUSA, disponibilizam, se necessário, apoio
psicológico aquando da morte de familiar ou amigo. Abordagem feita à agência em Loures, em5 de
fevereiro de 2018.
36
https://unescoportugal.mne.gov.pt/pt/temas/proteger-o-nosso-patrimonio-e-promover-a-
criatividade/patrimonio-mundial,
Acedido em 2 de outubro de 2020.
75
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
material da Humanidade, o que também contribui para uma maior renovação do olhar sobre
espaços relacionados com a morte37, uma cidade dos mortos, seja o cemitério medieval, cristão ou
ortodoxo. Estes movimentos turísticos também confirmam outra maneira de pensar o cemitério,
e contribuem para que este espaço, em abstrato, seja apreciado, considerado e apropriado como
um bem de referência cultural dos mais singulares.
A mudança de função atesta também uma nova ordem social: o cemitério não serve apenas para
práticas de sepultamento, mas locais onde se cultua e cultiva a memória através do legado criado
e onde se exibe uma certa imortalidade, uma recusa do esquecimento, cultural e patrimonial, onde
se constrói também um espaço destinado à perpetuação e ao consumo.
37
https://www ublico.pt/2016/07/16/culturaipsilon/noticia/ha-mais-cinco-sitios-na-lista-do-patrimonio-da-
humanidade-1738.p509,
http://www.dw.com/pt-002/mbanza-congo-declarada-patrim%C3%B3nio-mundial-da-humanidade/a-
39617931,
Acedido em 28 de janeiro de 2019.
Há visitantes locais que apresentam recusa ou relutância em realizar os itinerários de turismo cemiterial
porque têm no local parentes ou amigos; para visitar outros cemitérios, já apresentam disponibilidade.
76
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
“No grande adro ex-cemitério ainda se conservam algumas antigas campas sepulchraes com a
cruz christã dos cruzados de que uzavam os Templários. No anno de 1799 ainda este grande
terreno povoado de pedras em semi-círculo com a dita cruz dos cruzados gravada mostrando
terem sido cabeceiras de sepulturas christãs (Mendes Leal, 1909, p.12).
“Em 1836 sendo prohibido no Reino enterros nas Egrejas; em Loures, somente em 1848 o foi
38
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Igreja_Matriz_de_Loures_1.JPG
Acedido em 23 abril de 2020.
77
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
dividindo o grande adro em duas partes, sendo para cemitério desde a parede final ao nascente
até meio onde se vê a porta travessa da Egreja, e para esse terreno então mudaram a cruz do
adro (Mendes Leal, 1909, p.127).
“Este baixo terreno – adro cercado por meios muros com quatro comunicações de cancellas de
ferro desde 1868, tem uma ,(mais de serviço particular) no lado da azinhaga e próxima do largo
de Sta. Maria; -duas, que foram as mais concorridas por deitarem para a estrada velha, sendo a
primeira d’ellas logo voltando a azinhaga para a estrada e a segunda no extremo oposto adiante
das seis velhas moradias que, caminhando dentro do adro obliquamente, seguia em direitura á
porta principal do Templo, tendo junto aos degraus d’essa ex-entrada oficial na estrada velha (e
ainda lá existe) a pedra, chamada da noiva, onde se apeavam os que longe vinham à Egreja;
serventias essas inúteis desde 1866 ou 1868, por causa das continuas inundações e cheias”
(Mendes Leal, 1909, p.119).
“Depois de cincoenta e dois anos, em1890 foi feito em um alto na distância de cincoenta metros
daEgreja o novo cemitério (segundo a lei) - e ahi o primeiro enterramento foi em15 de novembro
de1890 de uma defunta; -assentamento nº 154 do livro d’obitos de 1890 – sendo o ultimo coval
no cemitério do adro o nº 153” (Mendes Leal,1909, p.127).
Nada se fez pacificamente e não apenas no Minho- revolta da Maria da Fonte - porque como
refere Joaquim José da Silva Mendes Leal, em Loures a matéria dos cemitérios não foi pacífica
(Livro 26 de Atas da Reuniãode Câmara, Arquivo Municipal de Loures).
Esta recusa da morte, da finitude, esta necessidade fantasmática de a iludir, inscreve-se naquilo a
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O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
que Urbain (1978) chamou a sociedade de conservação, o que muitos epitáfios traduzem como
“Não morreste, ainda te amamos”, “Como se te tivesses ausentado” (Assunção, 2016).
Pelas palavras de Ricardo Jorge (citadas por Correia, 1938, p. 465) entende-se a dificuldade na
introduçãoplena do conceito equivalente de higiene social a saúde pública, aproveitando todas as
oportunidades de epidemias para relembrar questões importantes de modernidade de pensamento,
de abordagem da ciência, conforme ventos da Europa:
“Apesar destes e doutros levantados protestos, manter-se-ia o ridículo e pernicioso “satu quo”,
se a cólera- mórbus não invadisse Portugal, causando uma considerável mortandade; só o
aguilhão das epidemias, mas uma vez provado - é que na força a sonhar com reformas higiénicas.
A dos cemitérios incubou uma bagatela duns 50 anos, mas enfim, graças à boa providência que
nos protege, lá se soltou do apoucado ventre da mãe-governação” (Jorge, 1885, p.142).
Em 1842, surge o primeiro Código Administrativo com orientações específicas em que havia a
defesa da saúde pública, incluindo trabalhadores e alunos das escolas e colégios. Contudo, a
salubridade pública e as constantes marchas da sociedade vão tornar-se imperativas.
Os centros urbanos concentravam mais população e a restante excluía-se de serviços de água e
infraestruturas de saneamento, construindo habitações degradantes e por vezes em vilas e pátios,
habitações alugadas de baixo custo perto das fábricas, “os problemas urbanos” eram assim
considerados como fatores inimigos da saúde da comunidade.
A má alimentação como Ramalho Ortigão referiu nas suas Farpas, em 1874, a propósito de Lisboa
(e aplicava-se a muito mais território nacional): “Lisboa tem de comer. O maior dos seusmales
secretos, constantes, permanentes, é a fome crónica.”
Em Loures, o cenário é este e é agravado pelo tempo que favorece ou impede o trabalho no campo;
as cheias do Trancão, a várzea, as subidas de água do Tejo, as águas assoreadas a provocar
estragos na fraca saúde das populações.
A criação do concelho de Loures – Decreto-Lei de 22 de julho, publicado a 26 de julho de 1886
- merece uma atenta reflexão, exigida não apenas pela argumentação primacial de arrecadar mais
facilmente maior receita fiscal (Vieira da Silva, 1968, pp.41, 47, 50).
Atente-se que “da mesma sorte convém que sem demora seja suprimida a lacuna que se faz sentir
na organização do serviço de saúde e higyene, por não haver quem substitua os subdelegados de
saúde nas respetivas circumscripções sanitárias”.
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O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Em Loures, pode-se considerar como hipótese inicial, ter existido uma especial conjugação de
esforços em nome do conceito novo, o da saúde da comunidade, aquele que abrange todos e a
todos deve dar responsabilidade.
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O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
O Cemitério Municipal de Loures criado em 1890, após a votação de Anselmo Braamcamp Freire
para presidente da Câmara Municipal de Loures; um jovem concelho de 4 anos de existência,
conta com uma eminente personagem politica e cultural, municipalista arrojado39; um político
defensor dos direitos dos habitantes de Loures no acesso aos tratamentos no Hospital de S. José,
pelos muitos contributos dados à cidade e contrariando as pesadas contribuições no acesso ao
hospital central; com Joaquim da Silva Mendes Leal, possuidor de uma longa história de trabalho
no Hospital de S. José no campo das rendas e cumprimentos das capelas e misericórdia, confrarias
e doenças, homem rigoroso e conhecedor das legislações e das aplicações, no estrito cumprimento
de medidas das regras de higiene no processo de inumação, é a personagem indicada para se
conjugar com António Carvalho de Figueiredo, 1º Subdelegado de Saúde em Loures, já com
experiência em Cascais e Sintra, um ilustre médico da terra, Barro, o que tinha sempre tempo
para ver mais alguém, um bacteriologista da melhor escola de Ricardo Jorge, Câmara Pestana.
Um convicto republicano. António Carvalho de Figueiredo é um destacado médico que, após a
sua formação, continuou a sua exemplar investigação bacteriológica40, e a ser médico local e
sobretudo, levando muito a sério, a questão do contágio.
Em 1890, Loures /Concelho possuía conforme Censo de População, 20 681 pessoas, distribuídas
por quinze grandes freguesias que viriam posteriormente a ser reorganizadas; o Cemitério de
Loures, abrangia Loures, Ponte de Lousa, Frielas, parte de Caneças (Campo de Caneças, Vale
Nogueira), cerca de 5083 residentes.
Como se refere na ata da Reunião de Câmara Municipal de Loures de 1893, a Lei de 6 de agosto
de 1892, exigiu a concentração de cemitérios paroquiais em municipais e nesse sentido, são
criados um pelouro e um responsável, neste caso, o vice-presidente, Joaquim José da Silva MendesLeal,
pelouro dos Cemitérios. Procedeu a uma profunda organização, destacando erros com elevados
prejuízos na identificação de corpos, no pagamento das covatas (terreno de enterramento) que
párocos e as igrejas pretendiam que fossem feitas para a fábrica das mesmas sem que tivessem
qualquer trabalho; denunciando a falta de atenção ao papel crucial dos coveiros,ultimo contacto
com o morto e os vivos, ao amortalhar e deitar do caixão ou mortalha à cova; aproveitou para criar
o papel de vigilante do cemitério, matéria que não foi bem compreendida ádata.
Mas como respondeu Mendes Leal, “Quem peleja em favor do interesse geral dos povos honra-
se nessa luta”, a reformulação de serviços foi demorada; o mapa de experiencia comprovou que
em 13 cemitérios foram introduzidas as normas municipais do regulamento de 10 de maio de
1864, mas sobretudo porque ao adaptar aos restantes 13 cemitérios, a elaboração de um mapa
nosológico e necrológico por sexos e idades para se poder satisfazer anualmente o que nesta parte
39
A realização do primeiro congresso Municipalista, 1908, teve na pessoa de Anselmo Braamcamp Freire
a sua fonte de inspiração e prática exemplares.
40
O primeiro trabalho português sobre o agente da doença do sono foi realizado por António de Carvalho
Figueiredo, em 1889, com base em um doente internado no Hospital de São José, em Lisboa (Azevedo,
1891), que veio a falecer em menos de um mês; sendo assim, foi possível estudar culturas de
microrganismos post-mortem. Figueiredo encontrou dois tipos de bacilos, isolados e aos pares, cilíndricos,
de cadeias mais ou menos longas, semelhantes a coccus, e as cadeias, a streptococcus. Esses
microrganismos aeróbios móveis desenvolviam-se relativamente bem em caldo de carne gelose e gelatina,
mas não em meio de cultura de batata e de albumina. Coravam eficazmente na presença de anilina, e não
na presença de Gram. Tendo sido obtidos a partir de um único cadáver, esses resultados não foram
considerados significativos, mas contribuíram para a suspeição de que a doença seria de natureza
microbiana, e que o sangue e o líquido cefalorraquidiano seriam o habitat possível do agente patológico
(Cagigal, Lepierre, 1897b, pp. 470-472).
81
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
for exigido pela repartição geral de estatísticas, “Ordenei mais que para evitar duvidas futuras
seja seguido e idênticos os números postos no livro de registo e no local onde o finado esteja
sepultado, e seguindo sempre, até ao cinco ano e hajam sepulturas que devam ser abertas nestes
mapas elucidativos nele se vê que em todos os cemitérios, se segue”. (Fig. 33), (Ata da Reunião de
Câmara Municipal de Loures de 1893).
Mandou construir em cada cemitério pelo menos “uma pequena e simples casa de cinco e meio
metros de comprimento por três e meio de largo, interiormente, com um altar ou oratório na
frente que se fecha com meias portas para, com elas abertas, servir de capela para as
encomendações religiosas, e deposito de dos corpos que por chegarem depois do sol posto só
podem ser inhumados no dia seguinte e que com as portas do altar fechadas e as devidas
precauções, possa ali exercer-se qualquer averiguação cadavérica ou autopsia que por acaso se
ordene”(Ata da Reunião de Câmara Municipal de Loures de 1893).
Nessa mesma ata, 7 de dezembro de 1893, é referido um ofício do governo civil expedido pela
“1ª repartição recomendando a esta câmara haja de providenciar de forma que se evitem os
abusospraticados pelas lavadeiras41 de se servirem na lavagem de roupas de matérias corrosivas
– Resolveu a Câmara se estude a maneira prática de obstar a esse abuso.”
41
https://www.google.com/search?q=1903+Roque+Gameiro+lavadeira+saloia&source=
https://www.google.com/search?q=alberto+de+sousa,+lavadeira&source=
Acedido em 23 de abril de 2020.
82
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
No regulamento apresentado para votação e aprovado por unanimidade em 1893, Mendes Leal,
parecendo já suficiente o período de estudo para propor à Câmara o modo definitivo para pôr em
ação este serviço,” aponta que são tidas em consideração proporções de áreas para anjinhos e
adultos, e circulação. Adoptei para base de proporções para o vencimento dos guardas o já citado
ordenado para a junta de paroquia de loures pagava ao guarda do mesmo cemitério. 40 Reis por
dia correspondente a 85 reis por enterramento, 85 que elevo a 280 visto o aumento de
responsabilidades do serviço exigido agora.”
83
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Em 1924, novo alargamento: “Que tendo-lhes constado haver necessidade de ampliar novamenteo
aludido cemitério, propuseram à Câmara Municipal a cessão gratuita de mais uma porção de
referida propriedade, com a superfície de setecentos metros quadrados,700 m2, com reserva,
porém, de 26 m2 dessa porção de terreno, destinados a sepulturas e construção de jazigos deles
primeiros outorgantes e de sua família. Que na referida sessão (19) dezanove de abril do corrente
ano (1924), a Câmara deliberou aceitar aquela cedência com a indicada reserva, (…) cedem
gratuitamente à Câmara Municipal deste concelho, para ampliação do Cemitério, aquela porção
de terreno, que corresponde aproximadamente a um e doze avos (1/12) da parte da propriedade.
Testemunharam, dois amanuenses da Administração deste concelho, Manuel Marques Razo
júnior, Sete Casas, Mário João Tavares Ramos, Loures.”
“É ainda muito conveniente o estudo da ampliação do cemitério de Lousa, uma vez que este está
impossibilitado, pelas suas acanhadas dimensões, de receber as pessoas falecidas nas casas de
saúde de Montachique, causa das dificuldades impostas ao cemitério de Loures.”43
Verifica-se que:
“a) 47,5% do número total de sepulturas é de carácter perpétuo. É evidente a necessidade de
contrariar a tendência para a aquisição deste tipo de sepultura. b). Está ocupado com talhões
reservados e jazigos mais uma área correspondente a 24 sepulturas c). Com talhões dos
Combatentes e Bombeiros, 28 sepulturas.”44
O despacho de 15 de junho de 1964, assinado pelo Presidente Joaquim Dias de Sousa Ribeiro,
frisa a importância da matéria do Cemitério: “Continuando a reconhecer-se como muito
importante pelas preocupações que está causando a insuficiência do cemitério de Loures,
aguardo que os S.U.O. (Serviços de Urbanismo e Obras) me informem com brevidade sobre o
estado dos estudos quer da futura ampliação do dito cemitério, quer da construção de ossários já
prevista para o mesmo.
Os serviços apresentam na folha 55 do mesmo ano, 1965, “a verificação da área adquirida para
42
Escritura de doação de terreno de Domingos José Pereira, 22 de fevereiro de 1919, Arquivo Municipal
de Loures.
43
Processo 15.518, folha 23, Serviços Técnicos do Municipio,1962, Ampliação do Cemitério. Arquivo
Histórico Municipal de Loures.
44
Analisada a informação do guarda do Cemitério. Processo 15.518, Serviços Técnicos do
Municipio,1962. Ampliação do Cemitério, Arquivo Histórico Municipal de Loures.
45
Processo.15.518,folha 14;Livro de atas nº 56, fls,99v,100.Ampliação do Cemitério Municipal de Loures.
Arquivo Histórico Municipal de Loures.
84
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
• A área adquirida para ampliação mede 4500 m2, portanto a área total a considerar é
de 4500
• +2000=6500 m2;
• Admite-se que 10% dos óbitos serão infecto-contagiosos, com um período de rotação de
10 anos (…).
46
Processo 15.518, folha 55, Serviços Técnicos do Municipio,1962. Ampliação do Cemitério Municipal
de Loures. Arquivo Histórico Municipal de Loures.
85
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Para a entrada projetou-se um portão de grade de ferro, em que a sua abertura se faz por meio
de deslocamento para os lados, correndo sobre rodízios, facultando assim um vão de três metros
de largura.
Manteve-se a capela onde está instalada a Casa Mortuária, visto que é de construção
relativamente recente, e pela sua amplitude satisfazer às necessidades da parte antiga e da
86
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
ampliada.
47
Processo 15.518 /OM, folhas 178 a 185, 22 de outubro de 1965, Eng.º civil, Nuno José da Silveira de
Sant’Ana Mendes. Arquivo Histórico Municipal de Loures.
48
Processo 15.518 /OM, folha 215, 22 de outubro de 1965, Eng.º civil, Nuno José da Silveira de Sant’Ana
Mendes. Aquivo Histórico Municipal de Loures.
49
Processo 27.855/OM, estudo dos terrenos envolventes do Cemitério Municipal de Loures. Arquivo
Histórico Municipal de Loures.
50
Processo 27.855/OM, estudo dos terrenos envolventes do Cemitério Municipal de Loures .Arquivo Histórico
Municipal.
87
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
51
Processo nº 65/DOM,1988. Serviços Técnicos de Obras, Câmara Municipal de Loures, Arquivo
Histórico Municipal de Loures.
88
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
De modo a manter aquele local com o máximo de qualidade ambiental durante o maior intervalo
de tempo possível com uma manutenção optimizada preconiza-se um sistema de rega de aspersão
semi-automática.”52
Mapa 4 - Arranjo dos espaços exteriores do Cemitério, 1988. Fonte: Arquivo Municipal de
Loures.
Em 1996 a grande obra foram as instalações de pessoal e casa de lavagem de ossos, “localiza-se
este equipamento no topo superior direito do cemitério, sendo a sua acessibilidade por dentro do
mesmo. A construção apresenta um único piso, mantendo ligeiramente a altura dos muros
envolventes.
52
Processo 40 832/OM, fls. 282, 1988. Arquivo Histórico Municipal de Loures.
90
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Piso térreo -126 m2, com os seguintes compartimentos: -secagem (exterior); sala de lavagem;
arrecadação; átrio; balneário/vestiário/Instalações sanitárias; polivalente.”53
Em 2011, a recolha efetuada de imagens (Fig. 38), atesta o estado de abandono e degradação do
Cemitério de Loures; o Município retoma a responsabilidade do Cemitério Municipal.
53
Processo 258-A/DOM, ,fl. 168, 1996, 1º volume. Ampliação de instalações de apoio no Cemitério
de Loures. Arquivo Histórico de Loures.
91
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Em 2015 é feita nova intervenção de construção de ossários e gavetões, de ossários no Talhão dos
Bombeiros (cooperação), arranjo da calçada da entrada e arruamentos; criação de toponímia e
imagem gráfica do Cemitério Municipal de Loures.
92
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Em 2016/7, novas obras para instalação do núcleo museológico no espaço da sala das autópsias
e obras nas instalações sanitárias, separando homens e mulheres, introduzindo condições para
pessoas de mobilidade reduzida. Beneficiação do Mausoléu da República com cabeceira com
gravação de parte da ata de 4 de Outubro de 1910 e acréscimo de nome - José Ferreira Cleto.
Em 2018, intervenções nas instalações dos trabalhadores, balneários, cozinha e sala de limpeza e
secagem de ossos.
Mapa 5 - Cemitério Municipal de Loures. Fonte: Google Earth, 2020. GPS: 30º
49’ 53” N,
A primeira sensação quando se entra no Cemitério é de que existe pouco antigo. A ruína das
construções iniciais do Cemitério Municipal, depois com o surto de grande epidemia que Loures
viveu, explica, parcialmente, o desaparecimento do antigo e não apenas dos jazigos, mas também
das campas e do restante Cemitério: a própria sala para servir de oratória se arruinou: o Cemitério
antigo esgotou-se em 27 anos. 1891- 1918.
O Cemitério Municipal de Loures conta histórias da vida dos Lourenses. A Irmandade da Ordem
Terceira de São Francisco da Freguesia de Loures, depois denominada, Associação de Assistência
e Beneficência de Loures, Luíz Pereira Motta, permite ver o quadro de dificuldades da população
que vivia da terra, acrescentando-se as cheias habituais e as doenças (Assunção, 2015).
93
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
A freguesia vivia com o tempo: em 1899: “Atendendo à crise de trabalho e à estação invernosa
que se tem prolongado, lembrando a conveniência de serem distribuídas algumas esmolas a
pobres desta freguesia “54; em 1909, “Atendendo à crise de trabalho e à estação invernosa ,que
se tem prolongado” 55; em 1912, “A extraordinária a invernia que ultimamente tem assolado o
país e de que muito se tem ressentido nas mais instantes necessidades esta freguesia, ocasionando
uma extraordinária crise de trabalho”56; em 1915, ”Dada a constante invernia e crise de
trabalho”57; em 1916, “Persistência do inverno, falta de trabalho, excessivo aumento do preço
das substâncias e rigoroso inverno, privando a classe agrícola de adquirir preciosos meios para
se manter.”58
A I Grande Guerra teve também peso para muitas famílias e a epidemia da gripe espanhola59, onde
de janeiro de 1918 a dezembro de 1920, morreu cerca de um quarto da população mundial na
época, não deixou de se fazer sentir em Loures.
Casamentos e mudança de morada justificam também a dificuldade em manter as construções
funerárias ou mesmo, mandá-las reparar.
E quanto a este caso, procurando-se documentação, encontram-se informações soltas, de
prescrições, em particular na Alameda da Redenção, o princípio do cemitério; ou seja, sinais de
abandono, ruína.
Também se encontraram compras de terreno para jazigos e não se confirmou a construção, (Fig.
39) e também se verificou o abandono da capela, em mau estado (Fig. 40).
O abandono permite à Câmara reaver o espaço e vendê-lo para novo processo de inumação, seja
para jazigo, seja campa. E perante este desaparecimento do sinal antigo, só ocorre pensar como
estaria o Cemitério Municipal de Loures: esgotado e em agonia.
É acrescentado mais espaço, mas ocorre a II Guerra e a Recessão a seguir, e de novo, é preciso
aguardar pela década seguinte para reerguer o Cemitério: a construção da capela, 1958, os portões
novos, em 1965, mas com venda de espaço para jazigos, que permanecem até hoje, como 2ª
ocupação, dado o facto, não menos importante, de não ter havido continuidade de cuidado nos
jazigos: não continuidade de famílias, mudança de residência. Por outro lado, os cemitérios não
são, geralmente, uma prioridade de uma autarquia.
E por isso, lentamente, o antigo vai decaindo.
54
Assunção, A.P.( 2015, p.95).
55
Assunção, A.P.(2015, p.118).
56
Assunção, A.P.(2015, p.123).
57
Assunção, A.P.(2015, p.137).
58
Assunção, A.P.(2015, p.138, p.139).
59
A pandemia de gripe de 1918-19 foi a doença mais mortífera de todos os tempos. Poderá ter afetado um
em cada três habitantes do Planeta e, no espaço de dois anos, terá sido responsável por um número de mortes
comparável ao das duas guerras mundiais em conjunto. Em Portugal, onde se estima que terá provocado
mais de 130 mil baixas, sendo a taxa de mortalidade (22 por mil habitantes) superior à da maioria dos países
europeus. Foi uma catástrofe no seu tempo histórico, salientando as assimetrias sociais da sua ocorrência,
as dificuldades que o sistema de saúde teve para lidar com a doença, as atitudes das autoridades e o
silenciamento a que foi votada a doença na esfera pública.
Sobral ,J.M.; Lima, M.L.(2018). A epidemia da pneumónica em Portugal no seu tempo histórico, Ler
História,73/2018, pp. 45-66.
94
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Fig. 39 - Venda de terreno para jazigo, 1895. Fonte: Arquivo Municipal de Loures.
95
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Novamente em 1993, a Junta de freguesia de Loures , apresenta a questão “da regularização das
situações dos jazigos do Cemitério municipal que desde 1991 a tem preocupado, contatando os
proprietários - foram afixados avisos nas portas dos jazigos, dando aos seus proprietários um
prazo para contacto com a Autarquia para regularização de documentação, limpezas e arranjos,
etc. tudo ficou resolvido, excepto cinco (5).Dado o tempo decorrido e a ausência de resposta,
pensamos poder concluir-se que os respetivos proprietários há muito abandonaram aqueles
jazigos. Nestes termos solicito que se dê início ao processo de declaração de prescrição dos
60
Processo/Inf.35/SL/G.M. de 93.08.23, assunto: Informação s/ a concessão dos jazigos abandonados
prescritos a favor da Câmara Municipal. 1993. Arquivo Histórico Municipal de Loures.
61
Idem, ibidem.
96
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
.”De reparo a nota de que a arquitetura deve manter-se de forma idêntica aos jazigos já existentes
no local. Medidas de contenção: maior número de ossários e gavetões, libertando terra para
inumações. A venda de jazigos antigos tem sido cuidadosa e a ameaça de ruína foi a grande
questão para a prescrição. “62
Em 1997, novamente a Junta de Freguesia de Loures, coloca o aviso aos concessionários das
sepulturas perpétuas para regularizarem a situação, “problemas decorrentes também do
esgotamento das possibilidades de enterramento no cemitério de Loures- o que já está a obrigar
a encaminhar enterros para Camarate.”63
Esta data foi muito danosa para os jazigos e sepulturas mais antigos. E a Câmara delibera
prescrições em 1998, conforme deliberação de 27 de maio do referido ano. E foi a última grande
intervenção de prescrições até 2019.
Portanto, sem crescimento de espaço, a gestão do cemitério foi sendo baseado na criação de
ossários e gavetões.
Em 2011/2012, a Junta de Freguesia de Loures manifesta a falta de interesse na transferência de
titularidade do Cemitério Municipal de Loures passando o cemitério para a posse administrativa
da Câmara, Departamento do Ambiente, recursos humanos e materiais.64
Contudo, a finalizar esta história da reconstrução sucessiva do cemitério municipal de Loures,
cabe aqui referir que a questão do esgotamento do cemitério, alimentou desde 1996 um processo
de reflexão, conduzindo á possibilidade de construção de um novo Cemitério “que servisse
Loures/Santo António dos Cavaleiros, na Quinta da Caldeira.”65
Contudo, esta reflexão foi encerrada passado uma década, 2006.
A notícia do Diário Ilustrado, 2 de Maio de 1894, comprova a existência de uma casa de autópsias
e a intervenção e diagnóstico do Dr. António Carvalho de Figueiredo, Subdelegado de
Saúde da Câmara Municipal de Loures (Fig. 42). Na casa de autópsias, funcionou uma
oratória como recurso partilhado.
62
A hasta pública foi feita em setembro de 1993, edital nº 1/93, conforme 23.ª reunião ordinária da
Câmara Municipal, realizada em 9 de junho de 1993.
63
Ofício da Junta de Freguesia de Loures, Arquivo Municipal de Loures.
64
Ofício da Junta de Freguesia de Loures, Arquivo Histórico Municipal de Loures.
65
Processo de construção de Cemitério Loures/Santo António dos Cavaleiros, na Quinta da Caldeira.
Arquivo Histórico Municipal.
97
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
66
Processo/4.759, Obras da Câmara Municipal de Loures. Arquivo Municipal de Loures.
98
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
99
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
O arquiteto Luís de Castro Gentil Soares Branco (1891-1971) concebeu um conjunto assaz
harmónico, com uma visão humanizada e funcional do espaço (Fig. 45), utilizando materiais
tradicionais como o azulejo e o vitral, construção muito imbuída do espírito de Raul Lino (1879
-1974); dirige em 1956 informação ao Eng. Carvalho e Silva, chefe dos serviços de urbanização
e obras, a fim de se definir se a obra seria ou não levada a efeito.
100
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
A obra avançou. As janelas da capela foram decoradas por vitrais (Fig. 46) encomendados (Figs.
47, 48) a Ricardo Leone (1891-1971), principal responsável pela revitalização da arte do vitral
em Portugal, nas primeiras décadas do século XX (Fig. 49).
Na ausência de qualquer informação sobre a escolha de Ricardo Leone, para produção dos vitrais
da capela do cemitério, coloca-se como hipótese o arquiteto Luís de Castro Gentil Soares Branco
ser o elo de ligação a Ricardo Leone.
Trata-se de um arquiteto que segue também uma linha de revitalização da tipologia construtiva,
optando por materiais nacionais, como o azulejo, seguindo Raul Lino no tipo de arquitetura e uma
Capela com vitrais, numa obra da sua autoria, seria natural convidar o autor mais em destaque.
102
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Fig. 49 - Publicidade sobre Oficina de Ricardo Leone. Fonte: Arquivo Municipal de Loures.
Como refere o próprio vitralista (Fig. 48), desenhou os cartões de desenho para 10 vitrais numa
área de 8m2 de vitrais, com um óculo sobre a bandeira da porta, gratuito, conjugando as cores, a
luz, com a simplicidade da simbólica cristã escolhida para a vocação da capela no cemitério, com
o Alfa e o Ómega: “Eu sou o princípio e o fim ”(Apocalipse, 22:13).
E desta forma surge a Capela Mortuária, sala onde se velam os mortos antes do sepultamento,
acompanhando uma profunda transformação da realização do luto que já não ocorre em casa e
com transporte do caixão em carreta para o cemitério (Assunção, 2015) ou em Auto fúnebre a
partir de final da década de 50 do séc. XX. 67
Em final de 1958, a obra está concluída (Fig. 50) e acrescenta-se à Capela, um escritório e uma
morgue, figurando no Relatório de Atividades de 1959, como uma das grandes obras da gestão
municipal (90.329$11 escudos). E ainda se acrescenta, em 1959, um outro elemento importante:
uma eça de madeira sólida, de 1ª classe, com estrado, feitos por Tarré & Tarré, Loures (Fig. 51).
67
A primeira agência funerária de Loures surgiu com Martinho Afonso e Arnaldo Gomes em 1947/48; a
empresa Agência Funerária de Loures, Lda., foi constituída em 1951. Desde 1974 que a Agência Funerária
de Loures é liderada pelo mesmo sócio-gerente, Alcindo Manuel Almeida; atualmente é gerida pelos seus
dois filhos, Paulo Almeida e Rute Monteiro.
103
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Fig. 50 - Capela do Cemitério Municipal de Loures, 1958. Ciprestes em crescimento. Fonte: C.M.Loures.
104
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Para a identificação de estas mulheres (Fig. 52) foi realizada a leitura dos Livros de Inumação do
Cemitério de Loures e compulsada documentação no Arquivo Histórico Municipal (Fig. 43). No
caso da primeira assinante (1), com campa levantada, não se possui muita informação para além
da ficha de funcionária da C.M. Loures, assim como da catequista (9). Não se apresenta a imagem
da única mulher viva (7) por esta investigação se referir ao contexto das falecidas. Amélia Veiga
dos Santos (12) tem uma fotografia obtida na sua campa. As imagens e informações das restantes
mulheres, 5 funcionárias da Câmara Municipal, foram obtidas no Arquivo Histórico Municipal,
nos processos individuais e familiares. Quanto às restantes 4 mulheres, sem vínculo municipal, as
suas fotografias e elementos sobre a sua vida foram obtidos com o apoio de familiares e amigos.
105
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Milania Litaly Chalbert Alves Subtil (1, Figs. 52, 53), nasceu em Lisboa em 1915 e faleceu em
Loures, em 1990. Em 1947 ocupou o lugar de tesoureiro proposto na Câmara Municipal de
Loures. Tinha o 3º ano da Escola Comercial Patrício Prazeres, em Lisboa. Em 1954, tinha 39 anos
e era casada.
Isaura da Conceição Batista Esteves Maroco (2, Figs. 52, 53), nasceu em Soure, em 1923, de
família de Portalegre, onde estudou até ao 5º ano. Casada com José António Marouco, secretário
da Câmara Municipal de Loures, também vindo de Portalegre. Tinha 31 anos em 1954.
Maria Joana Guerreiro (3, Figs. 52), em 1951, tinha 23 anos, vindo da Câmara Municipal de Sines
para a Câmara de Loures. Era solteira e residia em Lisboa, tendo obtido autorização para tal. Em
1954, já vivia em Loures. Era aspirante do quadro da secretaria e em novembro de 1955 vai, como
3ª oficial de secretaria, para a Câmara Municipal de Oeiras. Tinha 26 anos, em 1954.
Ana Covas Pinto Lopes (4, Figs. 52, 53), nasceu em Loures; em 1920, faleceu em 2010 e tinha a
4ª classe. Entra para a Câmara Municipal de Loures como arrumadora do Arquivo e foi nomeada
encarregada do mesmo, desde 1970, como Técnica Auxiliar de Bibliotecas, Arquivos e
Documentação (BAD) e em 1988, quando se reforma tinha a categoria de Técnica Auxiliar
Principal. Era viúva e tinha 34 anos, em1954.
Julieta Alves Saiote Casquilho (5, Figs. 52, 53), nasceu em Loures, em 1928; fez o curso comercial
no Instituto de Odivelas, como aluna externa. Entrou para a Câmara Municipal de Loures em
1945, com 17 anos. Em 1948 era escriturária de 3ª classe. Chegou ao lugar de chefe de seção de
Contabilidade. Foi casada e faleceu em 2008. Tinha 26 anos, em 1954.
Rosa Marques Farinha (6, Figs. 52, 53), nasceu em Almoster, Alvaiázere, 1923, faleceu em 1984,
fez o curso geral dos liceus. Começou a trabalhar na Câmara de Loures em 1949 e, em 1952, já era
escriturária de 2ª classe. Morava em Loures. Em 1957 vai para a Câmara da Guarda e, em 1962,
vai para a Câmara de Faro. Regressa a Loures em 1965 e termina a atividade profissional como
tesoureira. Era solteira e tinha 32 anos, em 1954.
Maria Fernanda Esteves Boto Gomes (7, Fig. 52), natural de Loures, nasceu em 1931, tem a 4ª
classe; e foi telefonista de 1ª classe da Câmara Municipal de Loures, em 1960. Encontra-se
reformada. Tinha, em1954, 23 anos.
Ana Rosa do Carmo Canhoto (8, Fig. 52), nasceu no Alandroal, Redondo, em 1930; fez o curso
geral do 2º ciclo no Liceu Rainha Santa Isabel, no Porto. Veio para a C. M. Loures em 1949 como
escriturária de 2ª classe. Foi para a Câmara de Almeirim, em 1955. Em 1954 tinha 24 anos e era
solteira.
Josefa dos Santos (9, Fig. 52), nasceu em Loures, em 1907 (?) e faleceu em Loures em 1984. Era
solteira e foi catequista na paróquia Católica de Loures no período do Padre Antero Jacinto Marques
como Pároco. Era governanta na Quinta das Terras, Loures. Em 1954 tinha 45 anos.
Maria Emília Simões Fernandes da Mata (10, Figs. 52, 53), nasceu a 4 junho 1931, em Loures e
faleceu em 2019. Viveu um período em Lisboa, mas regressou a Loures, morando com os pais
perto de Amélia Veiga dos Santos, sua amiga e também de sua mãe, Antonieta Maria Simões
Fernandes. Tirou um curso de enfermagem na Escola de Enfermagem de São Vicente de Paulo.
Entrou em espetáculos de teatro em Loures. Era solteira e ajudava a mãe nos trabalhos de costura.
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O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Quando o pai adoeceu, ocupou o seu lugar no Grémio e deixou de trabalhar, depois de casar com
Gabriel Artur Antunes da Mata. Em 1954 tinha 23 anos.
Antonieta Maria Simões Fernandes (11, Figs. 52, 53) era natural de Lisboa, Lumiar; nasceu em
1909 e faleceu em 1997, em Loures. Sabia ler e escrever; trabalhava de costura a fazer vestidos
em Lisboa na casa da família Saraiva, onde conheceu o futuro marido, Joaquim Saraiva
Fernandes. Foi morar para Loures onde era modista de primeira e ensinou muitas raparigas a
costurar. Ficou viúva ainda nova. Em 1954 tinha 45 anos.
Amélia Veiga dos Santos (12, Figs. 52, 53), residia em Lisboa com a família; tinha casa em Loures.
Filha de José Joaquim Veiga, um dos membros da Junta Revolucionária de Loures, 4 de Outubro
de 1910. Faleceu em 1987, em Loures. Tinha 40 anos em 1954.
O abaixo-assinado surgiu de uma iniciativa conjunta onde pesou a existência de uma catequista
católica e de um conjunto de mulheres, igualmente católicas, com formação escolar acima da
média para a época, pertencentes a “boas famílias”, com emprego, na sua maioria, na função
pública e relativamente bem colocadas socialmente.
Aboim (2011) refere que em Portugal, nos anos 1950 e 1960, as mulheres começaram a entrar na
universidade e foram conduzidas a substituir a força de trabalho dos homens, emigrados na Europa
ou na guerra do ultramar em África.
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O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
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Segundo testemunho recolhido, na freguesia de Loures, até ao final de 1950, as pessoas falecidas
eram vestidas pela família e apresentadas numa sala ou quarto, tendo na parede, à sua cabeceira,
pendurado, um pano, cor roxo litúrgico e com velas acesas. Aí ficava a família, vestida de negro,
a ritualização mais antiga do luto (Ariès, 2000, p. 200) e amigos, com crianças; às 4 horas da
madrugada, eram servidos café e pão com manteiga. No dia seguinte, havia a extrema unção ainda
em casa, se solicitada, e o corpo era transportado, na carreta funerária, com um pano por cima do
caixão, puxado pela força humana ou de cavalo (serviço mais oneroso). Este trabalho era feito
pelo funcionário da Associação Luiz Pereira Motta, e o/a falecido/a ou a mulher/marido tinha de
ser associado/a da referida Associação (Assunção, 2015), por não haver outro transporte funerário.
Lentamente, as dificuldades em tomar a cargo estes rituais de final de vida tornaram-se evidentes
e, sobretudo, com o recurso aos hospitais para evitar/retardar a morte, opera-se uma transformação
no acompanhamento do/a falecido/a, no luto e no velório, na própria despedida. A extrema unção
deixou de se fazer em casa, e a missa na capela, ou sacristia e depois, à beira da cova. O velório
acaba por ser de menor tempo, as emoções contêm-se e o luto diminui. A morte deixa de ser tão
natural.
Passa-se do espaço privado da casa para o público – sacristia, igreja – com o cadáver já vestido
por profissionais, velório realizado na antiga sacristia da Igreja Matriz de Loures, de construção
seiscentista (resta ainda um lavabo com a data de 1562), espaço húmido e frio de onde, durante
muito tempo, saíram os corpos para o cemitério, a pé e pela estrada. A última despedida exigia um
local, também para pousar o caixão, e fechá-lo, finalmente tapando o rosto do /a morto/a. No
pensamento católico, faltava uma capela de despedida e de missa, se fosse a opção. Também era
necessária para a celebração do Dia dos Fiéis Defuntos.
O contexto para o abaixo-assinado pode ser entendido como a denúncia discreta de uma
necessidade que percorreria a comunidade religiosa e social da freguesia de Loures e a que este
conjunto de mulheres dá corpo ou simplesmente, e não menos importante, completar o espaço
cemiterial com a capela, introduzindo o capital religioso católico.
Para a presente pesquisa não foi fundamental a razão, mas a realização, a ousadia das 12 mulheres
ao subscreverem o abaixo-assinado. Frisa-se: não existe nenhuma referência ao documento inicial
e fundador da capela, em todo o processo da obra.
A partir de março de 2019 (Itinerário Mulheres Diferentes), os nomes das 12 mulheres e a sua
identificação preenchem uma placa de inox gravada e colocada no lado esquerdo da entrada da
capela, como distinção e direito ao nome por terem dado corpo a uma solicitação que se
concretizou com benefícios coletivos (Fig. 55): sem esta prática, esta capela não teria a sua história
completa e as 12 mulheres continuariam ignoradas.
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Alguns jazigos do princípio do séc. XX, a notável obra dos canteiros artesanais, com a
identificação das oficinas – Pero Pinheiro, Montelavar (Fig. 56), Póvoa de Santo Adrião, Vila
Franca de Xira, Freixial, Loures, Bucelas; os jazigos históricos vistos da capela (Fig. 57); os materiais
de ferro forjado e fundido, influências de gosto francês- Val D’Osne; a relevância dos medalhões
de cerâmica de A.P.G./Álvaro Pedro Gomes da Fábrica de Loiça de Sacavém (Fig. 58); a atenção
na apreensão dos vários registos - epitáfios e seus conteúdos, ornamentações, incluindo as
tradições criadas no contexto funerário, induziram ao desenvolvimento de turismo cemiterial em
Loures (Assunção, 2019).
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O Cemitério Municipal de Loures, em 2018 possuía 1,2 ha, com a seguinte distribuição:
Há que referir que se abordou para a Tese, a parte considerada histórica (talhões 1 a 6, jazigos
em paralelo aos talhões) do Cemitério Municipal de Loures (Mapa 6), onde se tenta evitar e
minimizar a entrada excessiva de contemporaneidade em novas ocupações de sepulturas ou
jazigos .68
68
Em revisão, o Regulamento Municipal de Cemitérios e Crematório.
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O cemitério de Loures, até 2015, apresentava-se como um cemitério vulgar dos arredores da
capital: a um primeiro olhar, nada parecia motivar para entrar e olhar com mais tempo.
O primeiro passo para criar o produto turístico, foi desassombrar esse estado.
Realizar obras de beneficiação (Fig. 59), criar organização toponímica com referências a
personagens que se foram erguendo conforme investigação (Assunção, 2019) e criar mapa para
orientação para quem entrasse no cemitério, foram duas das principais medidas sobre as quais se
foi erguendo um processo de comunicação e medição.
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Fig. 62 - Maquetas da linha gráfica, turismo cemiterial, 2017. Fonte: C.M. Loures
Foi criado um mapa (Fig. 63), disponível na secretaria do Cemitério Municipal e na Divisão de
Turismo do Município, com a localização no Cemitério das placas informativas, de inox, sobre 20
personagens, associações e ou eventos que são da História de Loures, marcos de memória.
(Assunção, 2019).
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O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Cada investigação, com unidade temática, permitiu a criação de itinerários de visita, pretextos
de conversa, de relações com a comunidade, a sua vida associativa, cultural, social, política. E
foram publicados desdobráveis, conforme os itinerários. Já existem 20 percursos organizados que
compõem e apresentam vidas, arte e história, com marcos de memória: criou-se um patamar de
informação suficientemente atraente para comunicação e visitas, as quais foram alvo de análise e
parecer no questionário de satisfação de visita e avaliação da prática de turismo cemiterial, no
Cemitério municipal de Loures (Fig. 64).
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O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
A inovação introduzida de acessibilidade intelectual por meios da afixação de placas de inox por
cada pessoa ou data, foi decisiva para a transfiguração do Cemitério e acrescentou, sobremaneira,
o conhecimento da História da sociedade da freguesia de Loures. Mais: apresentou uma nova
abordagem de Cemitério no século XXI.
A literatura, no geral, carateriza como fundamental e determinante para uma visita num cemitério
as descobertas imediatas de elementos escultóricos ou construções monumentais. Tal não é o caso,
em Loures.
Os jazigos do século XX, das primeiras décadas, são apenas 23 unidades no cemitério municipal
de Loures.
Por isso, a primeira consequência desta contestação da não existência de grandes jazigos foi
alargar a investigação para outros registos existentes: as sepulturas perpétuas, por concessão
municipal, campas e jazigos.
Trata-se, portanto, de um outro património que (Fig. 65) ocupa cerca de 35% da área do
cemitério de Loures, 649 sepulturas com famílias de falecidos em 4ª ou 5ª geração (Fig. 66)
,com valiosos registos em epitáfios, estética funerária (Fig. 67) e acima de tudo, com
personagens da vida social da Freguesia de Loures sobre os quais é ainda possível prestar
homenagem.
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O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Erguer do invisível e tornar acessível uma breve história, tudo através do estudo e da
comunicação, tem permitido escrever episódios de histórias que os turistas/visitantes e locais
gostam de ouvir e viver, sentir.
Propõem-se novos modos de pensar a atividade turística num território recriado, o cemitério,
particularmente, o não romântico.
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O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Ressignificar o cemitério, como já considerou, através da atividade turística (Del Puerto, Baptista,
Müller:2014), proporciona outras formas de perceção do espaço cemiterial e do mercado turístico
e, permite pensar no turismo cemiterial, com operadores turísticos particulares, e tal situação, é
algo de inovador.
Transformar o cemitério não romântico num produto apetecível, competitivo e renovado, foi o
grande desiderato. Houve que atender, primeiramente às caraterísticas do produto turístico, às
componentes tangíveis e intangíveis, portanto, às preocupações básicas desta operação.
Como refere Moesch (2002, p. 9), o turismo é uma combinação complexa, com herança histórica,
um meio ambiente diverso, cartografia natural, relações sociais de hospitalidade, troca de
informações interculturais.
Neste contexto, o cemitério pode ser um dos arquivos mais relevante de uma cidade que a todos
diz respeito, além de possuir, intrinsecamente, condições de se transformar em algo de novo como,
por exemplo, num produto turístico
O campo do turismo, é vasto, mas a ressignificação dos locais, pode permitir que o turismo em
Cemitério se concretize (Figs. 68, 69, 70, 71, 72).
Utiliza-se, portanto, uma metodologia diferente face ao atual paradigma de turismo cemiterial:
não se está perante a monumentalidade, de classe superior, mas de túmulos/campas, nomes e em
cada campa, quase sempre um micro - cemitério particular, com toda a descendência registada,
uma verdadeira genealogia das famílias locais.
Propor os cemitérios não românticos como património histórico é algo complexo: a composição da
população que possui os seus registos no Cemitério não é homogénea, antes pelo contrário e
existem patrimónios distintos e, portanto, também interesses distintos. Mas a gestão, no final, é
municipal ou paroquial e sobre elas recai a possibilidade de proteger, defender e, inclusivamente,
de classificar.
A metodologia que se seguiu foi sensibilizar a comunidade local para criar a consciência da
importância de valorizar e proteger o cemitério, em particular, a parte mais histórica e significativa.
Começou em 17 de abril de 2017, com os trabalhadores dos Cemitérios e Crematório de Loures:
Define Cunha (2013, p.188, p. 189) como produto turístico o conjunto de elementos que, podendo
sercomercializado, é, na sua essência, uma interpretação: do material e visível, do imaterial, e
invisível.
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O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
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O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
O produto turístico é o elemento de ligação entre a oferta e a procura e, como tal, constitui a figura
central de todo o processo de análise e de avaliação da qualidade percebida, tanto pelos turistas
como pelos restantes intervenientes no processo de prestação do serviço turístico.
O produto cemitério é, portanto, um produto que se assume como o resultado de uma combinação
de componentes tangíveis (físicas) e intangíveis (sensações, emoções, experiências), que
ultrapassam a especificidade e os contornos da oferta local.
A procura atual de produtos cada vez mais segmentados exige a sua diferenciação, para aumentar
capacidade competitiva: trata-se de endogeneizar os recursos por forma a que o turismo assente
em bases sólidas (Cunha, 2013, p. 231): o cemitério é o próprio produto turístico.
A diferenciação dos produtos turísticos é uma exigência do mercado para responder às solicitações
do turista e para poder ser concorrencial, por isso, a construção do produto, reforça-se, tem de ser
sólida e constituir um instrumento estratégico de desenvolvimento de turismo.
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O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Com essa base, construiu-se um produto, assente em conhecimento e estudo, (Fig. 73)
acessibilização e marketing orientados para promoção/divulgação em Escolas (11.º, 12.º anos),
Academias Séniores, Juntas e Uniões de Freguesia, Movimento Associativo, redes sociais e Bolsa
de Turismo de Lisboa, Entidade Regional de Turismo e Seminários de Turismo Cemiterial,
abrangendo toda a comunidade interessada, interna e externamente ao Concelho.
Cunha (2013, p.231) defende que é pela criação e desenvolvimento de produtos que o turismo
melhor reparte, espacialmente, os seus benefícios e mais adequadamente são valorizados os
recursos existentes localmente.
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O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Recursos
naturais
Recursos
históricos
Reforça-se: existe um todo que constitui um pacote de oferta para um turismo de segmento, que
atrai visitantes e turistas pela sua oferta diferente, mas também este completa, por exemplo, o de
uma Igreja Matriz de Loures (Fig. 75) ali perto, início do Cemitério Paroquial, ou o Monumento
aos Mortos da Grande Guerra, exemplar único a nível nacional, apresentando uma trincheira
evocativa de La Lys (Assunção, 2014), em plena cidade de Loures, em complemento, à visita ao
Talhão dos Combatentes no Cemitério Municipal de Loures.
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O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
o património existente e satisfazer o turista /visitante com uma oferta global (Figs. 75, 76).
Erguer do invisível e tornar acessível uma breve história, tem permitido escrever episódios que
os turistas/visitantes e locais gostam de ouvir e viver, sentir.
Propõem-se novos modos de pensar a atividade turística num território recriado, o cemitério não
romântico.
Fig. 76 - Monumento aos Mortos da Grande Guerra, Loures, 2014. Fonte: António Bracons.
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O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Tilden, F. (1976).
Mas a interpretação que se devolve aos turistas e visitantes é algo mais que uma simples
informação. Tilden (1976 : II , p. 9) frisa na sua obra ,um clássico, que a interpretação
/comunicaçãodeve obedecer a seis princípios :
3. Interpretação é uma arte, que combina muitas artes, quer as matérias sejam científicas,
históricas ou arquitetónicas. Qualquer arte é possível de ser transmitida
5. A interpretação deve almejar apresentar o todo e não a parte, e deve dirigir-se a cada
pessoa e não em geral.
6. Separar públicos, porque para se ser melhor, é fundamental ter programas separados.
Com engenho, inovando, do imaterial do cemitério, ergueram-se personagens cujas vidas a todos
interessam e a mediação estabelecida com o uso dos sentidos, de interação de valores emocionais,
permitiu a cada visitante, momentos de ócio (Coutinho, 2013), de gozo e de efetiva apropriação
de um testemunho de uma sociedade particular, a de Loures.
A reinterpretação de signos e símbolos, mais religiosos ou profanos, indicadores de atividades e
profissões, as placas cerâmicas de Álvaro Pedro Gomes com retratos autênticos de pessoas com
valores sociais e culturais, permitiram uma experiência única e exclusiva, em grupos de reduzida
dimensão, cuidando da carga adequada ao espaço (12 - 15 pessoas).
Foi decisiva nesta primeira mediação, a abordagem do turismo cemiterial na linha da Carta
Internacional sobre Turismo Cultural (ICOMOS, 1999), o património natural e cultural é ele
próprio um recurso material e espiritual e oferece uma perspetiva de evolução histórica.
Utilizou-se a informação/interpretação como elemento-chave para a qualidade do produto
turístico, o cemitério. Middleton (2002) considerou o turismo como um mercado totalmente
baseado no fenómeno de informações; neste caso, valorizou-se a qualidade da interpretação e o
fator de deslocação existiu, e sobretudo, o consumo do produto foi elevado. Tratou-se de uma
mediação posta em prática; com a devida consideração, com um investimento municipal,
acreditando numa linha científica de atuação e o retorno começa a emergir, validando o caminho
seguido.
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O atrás referido suporta também a construção de um produto turístico que, eventualmente ganhará
em se associar a outros programas que desta forma melhor se completam, um exemplo de turismo
de segmento.
Este produto turístico necessita de divulgação, razão pela qual os média têm aqui um papel
determinante.
Depois, a imagem publica: um Cemitério cuidado, com respeito e respeitador, que acarinha as
personagens, que lhes dá o reconhecimento post mortem e com esse mérito, somado, constrói o
produto turístico (Figs. 80, 81).
Também a arte dos vitrais de Ricardo Leone (1891-1971), a quem se deve um papel fundamental
na revitalização da arte do vitral nas primeiras décadas do séc. XX (com realização de cartões de
Abel Salazar e Almada Negreiros), acompanha esta confeção do produto turístico, mas os
patrimónios das sepulturas perpétuas promovem efetiva e seguramente o produto: pedaços de
história local.
Fig. 81 - Informação sobre um ilustre Músico e Maestro, 2018. Fonte: C.M. Loures
As caraterísticas do novo turista têm aqui a resposta à medida: sendo alocêntricos, individualistas,
gostando de experiências em pequenos grupos, o visitante/turista do cemitério acaba por dar corpo
a uma prática turística de interesse especial.
Este nicho de interesse da história de Loures cruza com itinerários da Divisão de Turismo de
Loures, assumindo-se, portanto, como um efetivo segmento turístico do Município e, finalmente,
contribuindo para o conceito de cidade sustentável, capaz de reunir condições objetivas para se
alimentar e manter, progredir.
Depois, é fundamental que no final, todos, cada um/a, levem algo, pelo menos, a essência do
lugar.
Existe um axioma que considera que um texto escrito sem entusiamo, é lido sem interesse. A
participação, o humor, a animação, a cor local ou atmosfera, nada em excesso, uma interpretação
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feita em direto, frente a frente, são condições fundamentais num processo de interpretação e
também de mediação, os quais se aplicaram em Loures.
As pessoas que se deslocam ao Cemitério Municipal de Loures para realizar itinerários, visitar
exposições ou ouvir música, entram com um espírito de descoberta, para participar em algo; nesse
sentido, a mediação provoca o desafio no ouvinte para que entre na “história”, no “momento”, se
integre no espaço, e sinta, oiça, toque, para que o que vê, o que ouve, o que sente, possa permitir
uma apreensão individual, interior, a sua própria interpretação de Belo, a sua pessoal descoberta.
E a comunicação acontece, então. O mediador apenas aposta na sua própria convicção, mas com
calor, um apelo ao coração.
Interpretar, como refere Tilden (1976) e mediar, conjugam-se: uma utiliza a outra. E quanto mais
elevada for a interpretação de algo, mais rica, interessante e motivante será a procura do produto
turístico que satisfaz os grupos.
O turismo cemiterial, em particular, o realizado em cemitério não românticos, vive desta mediação
sensível, do auscultar primeiro o que o público conhece, o que busca, para o ir satisfazendo, com
interpretação do momento histórico ou das pessoas da terra e neste trabalho, fundamental e
decisivo para a promoção do produto turístico, existe em paralelo, o desiderato de aumentar a
consciencialização pública e melhorar a compreensão do património cemiterial.
O turismo partilha os locais de memória concebidos como históricos e, por isso, os cemitérios são
visitados e procurados. Como refere Halbwachs (1994) não há memória coletiva que não se
desenvolva num quadro espacial. O desafio do mediador, neste caso, foi relacionar a perspetiva
turística do passado com o conteúdo histórico e construir uma narrativa.
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5.2.1 Os itinerários69
Os itinerários de visita em turismo cemiterial, ao Cemitério Municipal de Loures, foram uma das
possíveis opções de mediação e foram realizados, primeiramente, numa lógica de envolver, como
já se referiu, as pessoas e organizações locais.
Os 20 itinerários70foram concebidos, após investigação, entrevistas e conversas informais no
Cemitério, com desdobráveis editados e com colocação de placas de inox, com gravação de texto
a laser, acessibilizando informação sobre as pessoas, os marcos de memória. Não se realizam
visitas em agosto e dezembro; a atividade agendada ocorre por marcação prévia (48 h) por contato
telefónico, correio eletrónico ou Facebook. Mas podem ser marcadas visitas em outro calendário
ou hora, utilizando as mesmas ferramentas de contato.
A decisão de criar marcadores de memória, junto às campas perpétuas e jazigos ou talhões, criou
uma inovação na paisagem do Cemitério; criar temáticas/itinerários e com eles percorrer o
Cemitério com visitantes curiosos - locais e não locais - foi um incentivo e uma comprovação,
que se deseja continuar a fazer.
Com os itinerários, criaram-se desdobráveis de distribuição gratuita e aumentou-se, como era
propósito, o conhecimento.
Foi realizado um primeiro itinerário de apresentação dos objetivos do turismo cemiterial no
Cemitério Municipal de Loures (Fig. 82), Um olhar renovado.
A valorização de um Poeta de Loures, Manuel Francisco Soromenho (Fig. 83), de final do séc.
XIX, com direito a nome de Rua, foi pretexto para se identificar a sua obra, torná-la conhecida,
assim como a sua vida de autodidata e surdo-mudo em Loures, contextualizando as opções com
que estes cidadãos viviam, numa sociedade que os apelidava de deficientes.
A personagem Sttau Monteiro com um talhão privado de família, semicerrado, mas visível pela
linguagem inglesa do tratamento funerário (Fig. 88), e a peça Felizmente há luar, foi uma nova
aposta, com a leitura de trechos da referida peça, história da família e residência na Quinta do
Bom Sucesso, no Barro, em Loures. Este itinerário demonstrou ser possível trazer a leitura e o
teatro para este espaço.
69
Apresentam-se alguns exemplos, remetendo para anexos, os restantes itinerários.
70
Já existem mais 7 itinerários, 2020-2021.
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Outro itinerário sobre Álvaro Pedro Gomes, abreviatura A.P.G., Sacavém ou F.L. Sacavém.
Nascido em 1894 e falecido em 1974, foi trabalhador da Fábrica de Loiça de Sacavém, como
pintor de belos painéis de azulejos e de placas cerâmicas. Era também membro da Academia
Recreativa de Sacavém e do Clube de Caçadores de Sacavém. Não se conhecem as suas
habilitações literárias,mas teria a escolaridade obrigatória à data (4ª classe). Possuía competências
e capacidades de observação, e mão segura no desenho. Entrou para a secção da pintura de azulejo,
exigente nessasmatérias, mas onde o jeito, que decerto tinha, foi sendo apurado, com a prática e
o convívio comoutros pintores. A Fábrica, nesta matéria, era uma verdadeira escola de formação.
O pintor MestreJorge Colaço (1868-1942), incontornável figura da Fábrica de Loiça de Sacavém,
é referido comtendo sido seu mestre.
O trabalho de medalhões pintados à mão e cozidos na Fábrica, como encomenda ou obra
individual, marcam este Cemitério como, por exemplo e similitude, os trabalhos em Limoges
(Ferrer; Grandcoing , 2000): uma diferente forma de permitir também a uma classe social menos
favorecida registar os seus falecidos com Arte e elevação.
O retratista de Loures, Álvaro Pedro Gomes (Fig. 85) permitiu posteriormente a criação de
uma visita por outros cemitérios de Loures (Cf. .Cap. VII).
As flores na cantaria (Fig. 86) foi outro itinerário e investimento na leitura da arte da cantaria e
do conhecimento dos canteiros que neste Cemitério deixaram marca. O trabalho de inventariação
de canteiros que se está a realizar, em particular no Cemitério de Loures, com recolha de
testemunhos de familiares de antigos canteiros, permitiu conhecer a família de Guilherme Victor
– os seus filhos, Manuel e Mário Victor Primavera – e chegar até São João da Talha, onde Manuel
Silveira Alves Félix e o seu pai, Manuel Antunes Alves Félix, tiveram numa antiga vacaria, uma
oficina de cantaria.
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O antigo canteiro Manuel Félix ia confirmando o que se dizia sobre o uso da maceta, do escopro
e da beleza das flores-perpétuas, alcachofras e folhas de acanto. Esta temática foi depois
transformada em Exposição no Núcleo Museológico.
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A República foi abordada numa perspetiva de história com género, a mulher como sujeito
histórico (Fig. 87) e o itinerário As Mulheres e a I República, em Loures, foi transformada em
exposição itinerante, propiciando conversas pelas escolas secundárias de Loures e IPTRANS,
motivando visitas e a permitir desassombrar o tema do cemitério.
Esta aposta em dar visibilidade às Mulheres no turismo cemiterial, permitiu uma releitura da
história e dos acontecimentos do 4 de Outubro de 1910, em Loures.
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5.2.2. As exposições
A mediação pode também assumir o formato de exposições. A reutilização da sala de autópsias
recuperada em 1958, foi adaptada á função de núcleo museológico (Fig. 89) no seguimento do
projeto de Turismo cemiterial, em 2017.
O espaço está aberto todos os dias, assim como a Capela, o que permite que seja rentabilizado ao
olhar e à visita, havendo desdobráveis gratuitos sempre disponíveis para serem levados para
posterior leitura.
Realizam-se quatro exposições anualmente com uma comemoração de cariz especial na data
histórica de 4 de Outubro, data da declaração da República em Loures, em 1910.
Podem-se destacar alguns exemplos de exposição, como Simbologias (Fig. 90) que identifica e
atribui um significado à representação de diferentes tipos de flores, siglas - R.I.P. ou INRI;
simbologias militares da I Grande Guerra, dos Bombeiros e da própria Capela com o Α e o Ω,
“Eu Sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Derradeiro, o Princípio e o Fim.” (Apocalipse, 22:13).
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As Flores na Cantaria. Canteiros artesanais (Fig. 91); estas temáticas merecem destaque e
servem de exemplo neste capítulo, pelo impacto que obtiveram.
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A atividade de concertos comprovou que existia espaço para se apresentar concertos musicais
adequados ao contexto, com recurso a jovens músicos Lourenses.
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O I Seminário Nacional sobre Turismo Cemiterial, foi realizado no dia 27 de outubro de 2018,
em Loures (Fig. 94).
A organização de um debate público sobre a temática ainda bastante geral de Turismo Cemiterial
foi a oportunidade para uma primeira partilha de experiências, operando sob um conceito ainda
bastante desconhecido.
Foi também a oportunidade para partilhar com a Academia os avanços, progressos e dificuldades
em fazer este caminho de apostar em revalorizar os cemitérios não românticos, dentro de uma
estratégia de turismo de nicho.
Com uma participação numerosa e diversificada, com técnicos de Lisboa, Porto, Alpiarça, Arruda
dos Vinhos, Leiria, Alvaiázere, comunidade em geral e académica do IGOT - Professor Doutor
Sancho Silva e José Manuel Simões; com a presença do Presidente da APOM e Representante do
ICOM em Portugal, da DGPC e da Entidade Regional da Região de Turismo de Lisboa, este
encontro foi significativo. As experiências trazidas pela Academia - Sancho Silva e José Manuel
Henrique Simões - comprovaram que existem possibilidades para explorar os cemitérios numa
atividade turística de nicho.
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O sistema de informação geográfica com inclusão de imagens, apresenta-se como uma nova
ferramenta para a pesquisa e estruturação da oferta em turismo cemiterial, dado que os cemitérios
têm informações cristalizadas pelo tempo (Carneiro, 2012, p. 135).
É uma asserção credível, afirmar-se que existe informação dispersa que tem de ser pesquisada em
72
Em 2009, a Diretiva INSPIRE-Decreto-Lei 180/2009 de 7 de agosto, estabeleceu a Infraestrutura
Europeia de Informação Geográfica
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sucessivos suportes de informação como, por exemplo, a transmissão das propriedades desse
património. A georreferenciação permite a junção de toda essa informação.
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6.1
6.2 Apresentação do universo de 30 Cemitérios
Numa breve cronologia evolutiva, em termos de inumação, da necrópole, tumulária nas capelas
das igrejas e mosteiros, progrediu-se para os cemitérios nos adros, depois, cemitérios em espaços
vocacionados, os cemitérios oitocentistas, séc. XIX, românticos; seguiram-se os cemitérios não
românticos (Assunção, 2019), finais do séc. XIX, cemitérios modernos e contemporâneos, c.1940
(Urbain, 1989).
São os cemitérios românticos os mais valorizados quer nas perspetivas turísticas e de visitas, quer
inclusivamente, como alvo de salvaguarda ou de análise de eventuais alterações de modelos,
perspetivas de continuidade e classificação.
Foi no período do Romantismo (na Europa, últimas décadas do século XVIII e grande parte do
151
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
século XIX) que se investiu em termos de arte nos cemitérios, uma forma de afirmação social,
política e económica. Esse investimento começou pela aquisição do terreno/concessão perpétua,
normalmente, já um primeiro traço de superioridade dado o elevado preço do mesmo (Urbain,
1978, pp. 420 - 428), mas também da localização, à frente ou atrás, materiais utilizados na
construção, valores estéticos e simbólicos das obras encomendadas, com assinatura do autor ou
oficina artesanal, vestígios valiosos da cultura material da morte.
Esta obra de referência de Urbain (1978, p. 419, p. 428), na sua lógica da diferença, apresenta o
cemitério no seu global como um sistema de signos, uma organização simbólica, unitária e
hierarquizada, agrupando um certo número de unidades significantes, graças às quais, de nível em
nível, é possível criar um quadro alargado de significação.
1. superfície do solo;
2. profundidade;
3. altura;
4. espaço/volume.
Neste último conjunto é evidente a questão financeira do proprietário do objeto funerário, seja
mausoléu, jazigo-capela, seja campa perpétua. Em profundidade ou à superfície, traz também a
significação de território prestigiado e privado, inalienável, um sinal para quem observa o estatuto
social.
A altura é um dos traços mais importantes e de diferenciação mais usual. Trata-se de exibição e
de redução dos outros, enquanto no solo, existe um real afastamento.
O volume ou espaço, como traço diferenciador combina a altura e a superfície, que afasta e a
altura, reduz e tapa. A expressão mais antiga desta síntese encontra-se no encerramento do espaço,
152
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
grades, muros, muretes. A produção mais acabada encontra-se no mausoléu e sobretudo quando
este se encontra rodeado, afirmação incisiva da desigualdade e discriminação da distribuição do
espaço num cemitério.
Para os pobres fica o espaço concentracionário e miniatural (Urbain, 1978, p. 423). Também
existem outros fatores diferenciais no material e de estilo:
1. a matéria;
1.3 outros.
Quando se considera mármore, granito, pedra com corte, a lápide, clara ou escura, lisa ou rugosa,
brilhante ou baça, azulejos de faiança ou mosaico, temos traços de diferenciação.
Catroga (1991, p. 135, p. 136) cita Alexandre Herculano, o qual, na Revista Panorama, 1835,
apelava à colocação de ciprestes e de outras árvores, cuja cor lúgubre tão bem se casava com a
religiosa melancolia que devia reinar em tais lugares; também Júlio Diniz (1839-1871) se refere
à flora (AMorgadinha dos Canaviais, 2003, p. 432) numa bela descrição:
“ Imagine-se um campo plano e raso, onde vegetavam , algumas roseiras de toda a estação, e
a murta e alfazema, vivendo a custo naquele solo ingrato que havia pouco alimentava apenas
urzes, tojeiras e pinheirais. No centro desse espaço, elevava-se, singelo, mas elegante, o túmulo
da família do Mosteiro, sobre o mármore do qual pousavam tristemente os ramos flexíveis de um
salgueiro-chorão, e nos cantos principiavam a erguer-se, como obeliscos funerários, quatro
jovens ciprestes.”
Ricardo Jorge acrescentou os cedros, hera, suspiros, goivos aos ciprestes, murta e alfazema, os
elementos de uma verdadeira botânica mítica e agoureira (1885, p. 252).
Seguindo Catroga (1991, p.137), mesmo na província, o modelo monumental não deixou de
exercer influência, conquanto numa escala necessariamente mais reduzida, como já se frisou em
páginas anteriores.
“A olho nu saltam as diferenças entre os cemitérios das grandes cidades e o das pequenas aldeias,
do mesmo modo que as diversidades de natureza etnológica, religiosa e paisagística traçaram
dissemelhanças entre as necrópoles das várias regiões do país” (Catroga, 1991, p.137).
Com efeito, as diferenças existem, mas os objetivos são iguais e a questão de investigação coloca-
se: - pode existir turismo cemiterial em cemitérios não românticos?
153
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
A metodologia seguida foi a de conhecimento direto e no local, nos cemitérios, com consulta de
literatura existente sobre os mesmos, testemunhos e sítios na internet, noticias de periódicos, na
ausência de outras fontes. Tomou-se em consideração o referido por Cunha (2013, p.181, p. 182)
para o turismo, a noção de destino mais relevante é aquela que permite identificar os espaços nos
quais se operam processos de transformação que podemos designar por “turistização”,
“os quais originaram uma nova realidade e novas relações com vista à satisfação de
necessidades turísticas e que permitem uma nova organização espacial onde se concentra uma
constelação de atrações e serviços que garantem uma produção turística diversificada” (Cunha,
2013, p.182).
Foram criados critérios de visita a cemitérios no âmbito desta Tese: os não nacionais,
românticos: os de maior número de visitas, os mais antigos, os de maior dimensão, os com maior
diversidade de tipos de sepulturas, arte, património, história, inovação, religiões, arquitetura,
manutenção, forma de mediação.
Quanto aos nacionais, românticos, o critério foi geográfico, antiguidade, manutenção,
potenciação de turismo cemiterial, eventual processo de classificação e inscrição na Rota
Europeia de Cemitérios Significativos, número de visitantes, atividades, inovações, formas de
mediação.
Foi dada prioridade ao estudo de cemitérios românticos, nacionais e não nacionais, no sentido de
apreender os elementos estruturantes identificativos do modelo cemiterial e transferências
culturais.
Os dezanove cemitérios não românticos, nacionais, foram analisados numa perspetiva de
possibilidade de utilização futura como produto turístico, quer na análise de acessibilidades,
infraestruturas, acolhimento, quer nas potencialidades patrimoniais e históricas, quer na
observação de transferências culturais efetuadas entre os dois modelos de cemitérios, românticos
e não românticos.
O critério de seleção foi geográfico, dando-se prioridade aos Cemitérios Paroquiais de Loures,
onde se situa o estudo do Cemitério Municipal de Loures. O cemitério da Chamusca, em termos
de literatura era prioritário, por aí se ter realizado o I Seminário sobre Atitudes perante a Morte,
1989; Pero Pinheiro e Montelavar, pela concentração de minas de mármores, granitos,outras
rochas ornamentais, e o trabalho artístico, que fizeram destas duas freguesias de Sintra, grandes
centros de trabalhos de arte funerária, com muitos seguidores. O cemitério Loulé manteve muitas
construções transladadas (jazigos) ou ali instaladas de início, e desenvolveu-se como cemitério
municipal, não romântico, recebendo um grande volume de visitas. O cemitério na Madalena do
Pico, Açores, zona de grande Turismo, surgiu como possibilidade de confirmar ou não,
transferências culturais dentro do espaço nacional insular.
Foi criado um guião de apoio no terreno para a investigação empírica de observação direcionada
e uso de caderno de campo; sempre que possível, o guião foi aplicado a responsáveis políticos,
técnicos, encarregados, coveiros, dos respetivos cemitérios.
154
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Cemitérios analisados
Românticos Não Românticos
Agramonte, Porto Apelação, Loures
Almudena, Madrid Bucelas, Loures
Alto de S. João, Lisboa Camarate, Municipal, Loures
Aveiro Camarate, Paroquial, Loures
Braga Chamusca
Britânico, Lisboa Fanhões, Loures
Conchada, Coimbra Frielas, Loures
Leiria Loures
Père Lachaise, Paris Loulé
Prazeres, Lisboa Lousa, Loures
Viena de Áustria, Áustria Madalena do Pico, Açores
Montelavar, Sintra
Pero Pinheiro, Sintra
S. Julião do Tojal, Loures
S. João da Talha, Loures
Sacavém, Loures
Santa Iria de Azóia, Loures
Santo Antão do Tojal, Loures
Unhos, Loures
Total - 11 Total - 19
Tabela 6 - Cemitérios analisados, 2017 - 2019.
Para se simplificar a leitura dos 30 cemitérios estudados, mas mantendo as evidências de estudo
realizado e resultados da aplicação do guião, optou-se pela apresentação de notas históricas de
cada um dos cemitérios, acompanhados de 2-3 fotografias, remetendo para um quadro resumo a
avaliação final.
155
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
O mausoléu de Francisco Antunes de Brito Carneiro foi projetado em 1880 pelo arquiteto Tomás
Augusto Soller, com linhas simples, de modo a ressaltar a obra escultórica. A obra de escultura
deste mausoléu é de António Soares dos Reis, embora tenha sido executada pelo seu esboçador,
Laurentino José da Silva, que viria a manter na sua posse alguns modelos do mestre, utilizando-
os em outros túmulos da sua lavra.
Na Secção da ordem de Carmo, dois bustos, o de José António Lopes Sampaio e do Dr. José
Pereira da Costa Cardoso, obra de modelação de António Teixeira Lopes, feita na época em que
estava a estudar em Paris. O Anjo da Paz no topo de um mausoléu executado na oficina de José
Carlos de Sousa Amatucci, filho de Emídio Carlos Amatucci. A alegoria Dor, no jazigo Santos
Dumont, obra de António Teixeira Lopes e seus colaboradores da “escola” de Gaia, uma clara
filiação na Arte Nova, pela sensualidade, pela descompostura das vestes e pela sua postura
dramática e afetada, apesar da alegoria ainda se enquadrar no espírito do cemitério romântico
(Queirós, 2009, pp. 235-247). Também no cemitério de Agramonte se encontram dos primeiros
ferros fundidos da Oficina de Val D’Osne.
Em 2008, realizou-se pela primeira vez a Exposição de parte do espólio dos cemitérios
municipais, incluindo alfaias religiosas, pedras de armas, fotografias dos cemitérios, datadas do
início do século XX, livros de registo de enterramentos e os revolveres usados pelos guardas dos
cemitérios, função inexistente na atualidade.
Em junho de 2009 foi feita visita guiada inédita em Portugal, aos túmulos dos músicos inumados
73
https://pt.wikipedia.org/wiki/Cemit%C3%A9rio_de_Agramonte
Acedido em 11 de dezembro de 2019.
156
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Do mesmo modo, de forma original em Portugal, realizou-se em 2011 a primeira visita noturna
ao Cemitério de Agramonte. Outros dos objetivos destes ciclos culturais foi a extensão da
iniciativa a cemitérios não municipais da cidade, o que tem vindo a acontecer com a colaboração
das entidades gestoras, como a Comunidade Britânica da Igreja Anglicana de St. James e a
Venerável Irmandade de Nossa Senhora da Lapa.74
74
http://www.cm-porto.pt/cemiterios/cemiterio-de-agramonte,
Acedido em 11de dezembro 2019.
157
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
O Cemitério Municipal de Nossa Senhora de Almudena tem uma área de 120 hectares e mais de
130 anos de história, tornando-o um dos maiores e mais antigos da Europa Ocidental.
Inaugurado em 1884, com desenho de Fernando Arbós e José Urioste (Álvarez, 2006, p. 18), foi
oficialmente inaugurado em 1925, com a revisão do projeto pelo arquiteto Francisco Nava, que
introduziu elementos modernistas nos edifícios dos serviços, capela, com influências de Gaudí, e
arcaria do pórtico de acesso principal.
O Cemitério Municipal de Nossa Senhora de Almudena inclui três áreas de sepultamento no seu
interior: o Cemitério Civil, o Cemitério Hebraico e o Cemitério de Nossa Senhora da Almudena.,
A parte mais antiga é conhecida como "cemitério epidémico", onde também está localizado o
Jardim da Lembrança.75
Um dos pontos mais marcantes deste cemitério é o facto de ali terem sido fuziladas mais de 2.500
pessoas durante a Guerra Civil de Espanha.
75
https://sfmadrid.es/cementerio/cementerio-ntra-sra-de-la-almudena.
Acedido em 23 de agosto de 2018.
158
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
O Cemitério do Alto de São João é o maior Cemitério da cidade de Lisboa. Foi mandado construir
em 1833 pela Rainha Dona Maria II aquando da epidemia de cólera morbus que assolou a cidade
de Lisboa, servindo ainda hoje a zona oriental da cidade.
Na sua primeira fase, ocupava apenas o núcleo central do atual recinto, que se desenvolveu em
etapas, inicialmente de acordo com o modelo do parisiense Père-Lachaise.
Para além de constituir um dos mais relevantes Cemitérios da Europa em termos de valores
artísticos, o Cemitério do Alto de São João é ainda um autêntico espelho da sociedade oitocentista
e de boa parte do século XX, e um dos maiores "arquivos ao ar livre" disponíveis em Portugal,
dada a quantidade de epígrafes com informações sobre figuras de vulto dos dois últimos séculos.76
Foi durante mais de um século o primeiro Cemitério da cidade tendo sido escolhido pela Primeira
República como local para homenagear os seus heróis, com a construção de uma cripta. De realçar
também a Cripta dos Combatentes da Grande Guerra, a cargo da Liga dos Combatentes, bem
como o talhão privado de Bombeiros Voluntários, o Jazigo dos Beneméritos da Santa Casa da
Misericórdia, o Jazigo dos Viscondes de Valmor ou o Jazigo dos Beneméritos da Cidade.
Ocupava a Quinta dos Apóstolos, na altura situada fora dos limites da cidade, zona rural de
grandes quintas, passando a gestão pública apenas em 1841.
O Jazigo dos Benfeitores da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, 1905, é um monumento que se
impõe mal se entra no Cemitério. Foram vários os artistas que estiveram envolvidos, para além
de Adães Bermudes, responsável pelo projeto: João Machado esculpiu o relevo de Nossa Senhora
da Misericórdia, localizado sobre a entrada do sepulcro, no qual a Virgem do Manto protege anjos
76
http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-
patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/17126827,
Acedido em 23 de agosto de 2019.
159
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
segurando alfaias litúrgicas. Vários escultores saídos da sua oficina e ligados à Escola Livre das
Artes tomaram a seu cargo os restantes trabalhos de cantaria, sob a direção de António Joaquim
Ferreira e Cláudio Martins executou. Pese embora a sua datação, há a reter que se trata de uma
obra de arte plenamente imbuída do espírito do século XIX (Figueiredo, 2006).
O primeiro forno crematório do país foi construído neste cemitério em 1925, tendo sido
desativado alguns anos mais tarde por razões políticas, sendo reativado em 1985. É um dos
Cemitérios históricos da cidade onde se encontram inúmeros mausoléus e jazigos, ricamente
decorados com simbologia do imaginário religioso e intelectual77.
Foi proposta a classificação e a delimitação considerada para classificação respeita
essencialmente ao núcleo histórico do Cemitério, constituído pelo conjunto de jazigos que
abrangem o período de estabelecimento e
desenvolvimento do recinto entre 1841 e
as primeiras décadas do século XX, bem
como a primeira zona de expansão a
noroeste. Em 2006, no Cemitério do Alto
de S. João, dos 6660 jazigos existentes,
1157 estavam prescritos, tendo sido
arrematados em igual período, 127
túmulos.78
77
https://pt.wikipedia.org/wiki/Cemit%C3%A9rio_do_Alto_de_S%C3%A3o_Jo%C3%A3o
Acedido em 23 de agosto de 2018.
78
https://www.rtp.pt/noticias/pais/35-jazigos-dos-cemiterios-dos-prazeres-e-alto-sjoao-vao-a-hasta-
publica_n26077-2006
Acedido em 23 de agosto de 2019.
160
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
O Cemitério Central de Aveiro tem parqueamento exterior, sinalização, transportes públicos perto, está
dividido em quatro talhões, numerados e rodeado por jazigos. Possui instalações sanitárias
públicas. Não possui serviço de visitas.
Apesar de não ser um monumento classificado, o Cemitério Central de Aveiro já está de certa
forma protegido: é abrangido pela Zona Especial de Proteção da Sé de Aveiro, desde 1996,
classificada como “Imóvel de Interesse Público”, sendo a Câmara Municipal e outras entidades,
em que proceda á transferência de competências (por exemplo, a Junta de Freguesia da Glória,
onde se localiza este cemitério), responsáveis por efetuar obras de manutenção e preservação do
Cemitério.
Em Aveiro, a cholera-morbus surgiu e extinguiu-se no ano de 1855, não sem antes ter vitimado
inúmeras pessoas na cidade e área circundante. O Cemitério foi construído e começou a receber
enterros mais de uma década antes, por causa do elevado número de mortos causado pela
epidemia. Nas décadas seguintes, a Câmara Municipal foi dotando o Cemitério de melhores
condições. Uma delas foi a colocação de um portão, à entrada, em cuja parte superior se pode
ainda hoje ler: "Municipalidade 1860".
161
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
A cidade dos arcebispos foi das últimas em Portugal a ter um cemitério. E em meados do século
XIX a imprensa mostrava-se chocada: a modernidade ainda não tinha chegado à “terceira maior”
cidade do reino. O governo e a câmara trocaram correspondência inflamada durante anos e, perante
a teimosia dos bracarenses, chegou a ser emitido um decreto especial para a cidade, obrigando à
construção do espaço num prazo máximo de três meses.
O Cemitério era uma questão política. Braga, o epicentro das lutas do cabralismo, queria marcar
uma posição. Mas a 1 de Julho de 1870 o arcebispo benzia o novíssimo Cemitério, erigido no
Monte de Arcos. A Capela funerária dos arcebispos – cujos corpos foram levados, na década de
1980, para o panteão da Sé – é um dos pontos de maior interesse arquitetónico.
79
https://ionline.sapo.pt/artigo/479878/arte-f-nebre-as-casas-dos-mortos-sao-museus?seccao=B.I.
Acedido em 14 de setembro de 2018.
162
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Este é o mais antigo Cemitério da cidade de Lisboa; recua a finais do século XVIII (a lápide mais
antiga é de 1724). Foi possível construir este cemitério graças a um tratado, em 1654, entre os
governos de Oliver Cromwell e de D. João IV. Anteriormente, havia muita dificuldade em aceitar
os “hereges”.
O primeiro cônsul dos Estados Unidos, Thomas Barclay, morreu em Lisboa e foi enterrado neste
cemitério a 21 de Janeiro de 1793. Este cemitério foi construído pela comunidade anglicana que
se refugiou em Portugal por altura das Invasões Francesas e os túmulos são quase todos
subterrâneos, com os caixões colocados em buracos e assentes em travessas de ferro, depositados
uns em cima dos outros.
O Cemitério, perto do Jardim da Estrela, é pequeno, mas muito original e abrigado por árvores
centenárias. Há quem o considere um dos espaços verdes mais românticos de Lisboa e é muito
visitado por estrangeiros que veem à procura do túmulo de Henry Fielding81, pai do romance inglês
e a única personagem que tem uma placa a indicar a localização do seu túmulo, autor do romance
Tom Jones. Foi em 1754, que Fielding chegou a Lisboa, onde esperava curar-se das doenças que
o atacavam, entre as quais, gota e asma. Mas acabaria por viver aqui apenas mais dois meses e
80
https://semanariov.pt/2020/07/02/braga-cemiterio-monte-darcos-proposto-a-equipamento-de-interesse-
publico/.
Acedido em 14 de setembro de 2020.
81
https://ionline.sapo.pt/artigo/479878/arte-f-nebre-as-casas-dos-mortos-sao-museus?seccao=B.I.
Acedido em 29 de setembro de 2019.
163
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
terminar no túmulo mais grandioso do Cemitério Britânico ou dos Ingleses. Outra figura célebre
aqui enterrada é Christian August, príncipe de Waldeck, “morto ao serviço do exército
português”. Foi em 1797 que este general austríaco chegou a Portugal com a missão de comandar
o exército, mas acabou por morrer a 25 de agosto de 1798. Tem um notável túmulo.82
Nos Cemitérios para protestantes não é visível a colocação de velas ou flores pelos jazigos. Há
uma certa simplicidade com os próprios jazigos, onde se deixa crescer livremente a vegetação,
conferindo-lhes um certo romantismo. Mas existem túmulos com obelisco, cabeceiras gravadas
com perpétuas ou alcachofras, tabuletas a marcar as campas, uma linguagem cemiterial despojada.
82
https://www.publico.pt/2015/03/15/portugal/cronica_urbana/not-forgotten-1688852,
Acedido em 23 de outubro de 2019.
164
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
83
http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-
patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/19960810,
Acedido em 23 de agosto de2018.
165
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
166
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
O Bispo de Leiria, D. Manuel de Aguiar, numa iniciativa avançada para a sua época, criou em
1798, o Cemitério da Sé, localizado nas traseiras da Igreja, impedindo os enterramentos do interior
da mesma, tendo, por vontade própria, dado o exemplo. O Cemitério da Sé de Leiria manteve-se
até à construção do atual, localizado no morro de Santo António do Carrascal, inaugurado em
1871.As várias manifestações de surtos de cólera durante o século XIX, contribuíram também
para que o Cemitério fosse afastado do centro da cidade.
Este Cemitério foi alvo de várias ampliações e melhoramentos. Tem sinalização exterior, mas não
é de acesso fácil; não possui edição de material e não possui tambémserviço de visitas ao cemitério,
possui instalações sanitárias públicas.
O trabalho de cantaria tem muitas influências do Mosteiro da Batalha (Queirós, Portela, 2000).
O Cemitério possui quatro talhões à volta do arruamento, sepulturas perpétuas e em redor, são
sepulturas temporárias. Existe um talhão de crianças.
_84
https://www.cm-leiria.pt/pages/454
Acedido em 24 de setembro de 2018.
167
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Após a expulsão dos jesuítas, o terreno passou para as mãos da cidade, graças a Napoleão
Bonaparte, e assim foi construído o Cemitério, inspirado no estilo dos jardins ingleses. A conceção
do Père Lachaise foi confiada ao arquiteto neoclássico Alexandre-Théodore Brongniart em 1803
e, desde a sua abertura, o Cemitério conheceu cinco ampliações: em 1824, 1829, 1832, 1842 e
1850, passando de 17 a 44 hectares. Em 21 de maio de 1804, o Cemitério foi oficialmente aberto
para uma primeira inumação; a de uma pequena menina de cinco anos, Adélaïde Paillard de
Villeneuve. Todavia, os parisienses não aceitavam de bom grado a necrópole, localizada distante
do centro, numa zona pobre e de difícil acesso. Esta situação só mudaria quando foram
transferidas ossadas de importantes personalidades, apaziguando as críticas da elite parisiense. Ao
sul do Cemitério, encontra-se o Muro dos Federados, contra o qual 147 dirigentes da Comuna de
Paris foram fuzilados em 28 de maio de 1871.85
Tem mais de 70 mil sepulturas que são verdadeiras obras de arte erguidas em estilos Gótico,
Neoclássico e Barroco, uma espécie de museu a céu aberto que expõe de forma harmoniosa a arte
funerária do século XIX. O setor mais antigo do Cemitério, próximo da entrada principal, foi
classificado como sítio histórico e paisagístico onde 33 mil sepulturas estão identificadas como
“monumento histórico”.
Este Cemitério foi utilizado como modelo em Portugal, particularmente a partir do centro e sul.
Fig. 117 - Campa de berço, Fig. 118 - Beve história do Fig. 116 - Obelisco, séc. XIX,
séc. XIX, 2017. Fonte: Autora Cemitério de Père La 2017. Fonte: Autora
Chaise, 2017. Fonte: Autora
85
https://pt.wikipedia.org/wiki/Cemit%C3%A9rio_do_P%C3%A8re-Lachaise#Hist%C3%B3ria
Acedido em 25 de abril de 2017.
168
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Reza a história que naquele local existiu uma fonte considerada santa e milagrosa por ter aparecido
junto dela uma imagem da Virgem Maria. E logo ali se construiu uma ermida dedicadaa Nossa
Senhora dos Prazeres. A ermida deu nome a uma extensa quinta que, já no século XVI, serviu de
refúgio a muitos enfermos das várias epidemias que então assolaram a cidade de Lisboa.
Era terra de hortas, vinhas e pomares, estava abrangida pela designação de Campolide,
pertencendo à freguesia de Santos. No século XVIII (1741), o Cemitério foi integrado na freguesia
de Santa Isabel.
O Cemitério Ocidental de Lisboa dos Prazeres foi construído em 1833, na sequência de uma
violenta epidemia de cólera morbus, e destinava-se a terminar, finalmente, com os enterros nas
igrejas, nas capelas ou em claustros de conventos.
Tem parqueamento exterior, meio de transportes públicos, autocarros e os elétricos da Carris,
serviço próprio de mediação, uma Associação de Amigos do Cemitério, que também dinamizam
as visitas com os turistas. Possui catálogos impressos com as ofertas de itinerários e instalações
sanitárias públicas.
Neste Cemitério, as famílias mais ricas da cidade contrataram arquitetos, escultores e artistas para
criar mausoléus e jazigos, como o dos Duques de Palmela, construído no século XIX e com
capacidade para abrigar 200 restos mortais.
O Cemitério dos Prazeres tem de área 12 hectares; é cortado por inúmeras ruas ladeadas de
enormes ciprestes, onde o silêncio e a tranquilidade imperam.
É no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa, que se situa o Centro de Interpretação dos Cemitérios
Municipais de Lisboa, único núcleo museológico cemiterial do país. O núcleo situa-se na capela
mortuária do Cemitério dos Prazeres e está inserido no Projeto de Valorização Cultural dos
Cemitérios de Lisboa, cujo objetivo é “sensibilizar as pessoas para o valor museológico dos
cemitérios, divulgando o trabalho efetuado pela CML no sentido de preservar e estudar um
património ligado ao imaginário da Morte” (Lisboa Verde, s. d.).
O sossego convida à contemplação e todas as construções funerárias falam do passado, das
pessoas que as mandaram fazer, das que partiram para sempre, das que ficaram com a saudade.
"A fé conserva unidos os que a Morte separa", pode ler-se numa lápide. 86.
No Cemitério dos Prazeres existem 7.121 jazigos particulares, dos quais 1.962 estão prescritos,
tendo sido arrematados 160 lotes de 1990 a 2004, data da última hasta pública realizada.87
Configura hoje um espaço regular e simétrico, com um eixo central que parte da entrada
monumental traçada por Domingos Parente da Silva, dando acesso à praça central e à capela.
É constituído quase exclusivamente por jazigos particulares, distribuídos por uma mancha verde
que inclui a mais extensa e antiga concentração de ciprestes da Península Ibérica, contribuindo
para a conservação do contexto romântico de filiação francesa que presidiu à delineação do
86
https://pt.wikipedia.org/wiki/Cemit%C3%A9rio_dos_Prazeres.
Acedido em 23 de setembro de 2018.
87
https://www.rtp.pt/noticias/pais/35-jazigos-dos-cemiterios-dos-prazeres-e-alto-sjoao-vao-a-hasta-
publica_n26077 – 2006.
Acedido em 23 de setembro de 2018.
169
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Cemitério oitocentista.
A sua inspiração nos modelos franceses, e particularmente no cemitério parisiense do Père-
Lachaise, ressalta também da proporção do uso da escultura funerária, da qual reúne os mais
significativos núcleos da segunda metade do século XIX e primeiras décadas do século XX, e do
grande impacto arquitetónico dos jazigos-capela, de traça neogótica ou emulando um templo
clássico. O expoente máximo desta tendência é o jazigo da família do Duque de Palmela (1849),
o maior mausoléu privado da Europa.
Naturalmente, com as composições mais eruditas, coexistem soluções estilisticamente híbridas e
originalidades pitorescas.
Alguns jazigos destacam-se pela monumentalidade, como os do Conde de Burnay (Ernesto
Korrodi), de António Augusto Carvalho Monteiro (Luigi Manini) ou da família Valle Flor (José
Christiano da Costa), entre outros.88
88
http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-
patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/17126916.
Acedido em 13 de setembro 2019.
89
http://www.gecorpa.pt/Upload/Revistas/Rev40_Artigo%2008.pdf
Acedido em 13 de setembro 2019.
170
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
O Zentralfriedhof (Cemitério Central) foi construído em 1874 e tornou-se um dos mais famosos
Cemitérios da Europa. O Cemitério Central está afastado 20 minutos (autocarro) do centro da
cidade na direção sudeste, mas existem autocarros, comboios, espaços para parqueamento. Está
bem identificado; abre diariamente e a entrada para os vários serviços - museu, cafetaria, livraria -
é gratuita.
O atendimento é de qualidade, fornece mapas e desdobráveis com itinerários, possui instalações
sanitárias públicas. Existem edições sobre o Cemitério, em várias línguas, na livraria do
Cemitério.
Milhões de pessoas estão enterradas nesse parque de 200 hectares, e há uma seção especial para
as pessoas que tornaram a “Cidade da Música” tão famosa
pelo passado musical de Viena: Beethoven, Brahms, Schubert, Strauss e muitos outros, sob
lápides merecidamente belas. O Cemitério, a Igreja e outras construções, foram projetados no
estilo Art Nouveau pelo arquiteto Max Hegele: a graciosa estátua de uma deusa tocando harpa e a
grande abóbada da Igreja de SãoBorromeu, construída entre 1908 e 1910.
O Cemitério possui uma disposição singular única: os túmulos estão agrupados por religião, com
seções para católicos, protestantes, muçulmanos, judeus e cristãos ortodoxos russos.
Há túmulos importantes, como os dos primeiros-ministros austríacos desde 1945, bem como de
diversos arquitetos famosos;90existe também uma ala para Crianças e para Vítimas das I e II
Guerras91.
É um Cemitério onde se respira paz, se pratica corrida, Yoga e
meditação, com locais bem sinalizados e serviço de transporte
internos. Também possui um centro
de proteção a Aves.
https://www.expedia.com.br/Cemiterio-Central-Vienna.d6070493.Guia-de-Viagem
Acedido em 3 de janeiro de 2020.
91
http://www.kelypelomundo.com/austria-zentralfriedhof-um-cemiterio-cheio-de-pessoas-ilustres/
Acedido em 3 de janeiro de 2020.
171
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Este Cemitério tem sinalização exterior, transportes com horários irregulares e anúncio de horário
de funcionamento no exterior.
No chão, está escrito: “esta cruz mandou fazer o Povo no ano de 1687”, apontando para o
hipotético primeiro espaço do Cemitério que teria ido até à cruz, eventualmente criado por causa
das pestes ou outras epidemias. A entrada, de arco rebaixado, apresenta três degraus e singelos
muros, remetendo para o séc. XIX. Não tem serviço de visitas.
Sofreu alterações até 1960 pois apresenta uma cruz de pedra em que no topo se lê “J.F.1960”,
espaço raspado, como que para apagar. As campas mais antigas datam de 1945. Ossário muito
estragado.
Tem uma área adequada para Cemitério; possui outro espaço anexo, com funções de depósito
e arrumações da Junta de Freguesia de Camarate, Prior Velho e Apelação. Tem instalações
sanitárias, acessíveis ao público.
Tem campas de berço em mármore, permanência da estética do berço em ferro das primeiras
décadas do século XIX.
Apresenta trabalhos de cantaria semelhantes aos de finais do séc. XIX, mas de 1986.Apresenta
um trabalho de Álvaro Pedro Gomes, sem referência a Sacavém, de 1955.
172
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Apresenta três campas de berços com datas de 1917, 1918, com armação e cruz a encimar, e
exemplos de arte funerária ainda em ferro fundido. Possui campas perpétuas, séc. XIX, provenientes
do antigo e primeiro cemitério público, que foi abandonado por se ter esgotado.
Identificadas 4 placas cerâmicas assinadas por Álvaro Pedro Gomes no jazigo de Albertina dos
Reis e sua família, sem referência a Sacavém e sem datas.
Possui corpos em gavetas verticais e ossários. Campas perpétuas do Subdelegado de Saúde, Dr.
Barbas de Albuquerque, distinguido com Busto de Armando Mesquita no Largo da Igreja;
Filarmónicos, Maestros e Comandantes de Bombeiros, produtores e vitivinicultores. Apresenta
simbologias de trabalho muito interessantes: pedreiro, canteiro e agricultor.
É um Cemitério Paroquial muito bem organizado, limpo e estruturado. Marcação de visitas
agendadas na Biblioteca Irene Cruz, Junta de Freguesia de Bucelas.
173
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Trata-se de um Cemitério em pleno funcionamento, na gestão municipal desde 2008/9, tendo sido
anteriormente de gestão Paroquial. Apresenta no exterior, identificação e organização do
Cemitério. Instalações sanitárias públicas. Acesso de transportes públicos com horários
espaçados.
O processo de alargamento e reconstrução e construção de ossários iniciou-se em 1959 e os
primeiros desenhos são de Luís de Castro Gentil Soares Branco, arquiteto municipal (autor da
Capela do Cemitério Municipal de Loures).
A ampliação do Cemitério continuou em 1973, quando são construídos os ossários. A conclusão
do edifício administrativo e Capela no Cemitério datam de 1993.
Trata-se de um Cemitério sem jazigos, muitas campas rasas, a grande maioria, sem campa
completa, laterais de acrílico a imitar madeira; areia ou pedras pequenas, a imitar uma tampa.
Dadas as caraterísticas do solo com “grutas de água “, muitos corpos não têm sido levantados no
tempo normal.
Apresenta os gavetões e ossários em ordem, com possibilidade de crescimento e possui o
Crematório Municipal.
A linguagem das placas de mármore com imagem/retrato do/a falecido/a é despojada, simples -
“à memória de…”, “com saudades…”, em formato de janela ogival; algumas com decorações de
flores, trabalho de cantaria já industrial.
A Capela tem altar de mármore branco de Estremoz, polido; ao centro, no alto, um Cristo
Crucificado, trabalho de escultura em madeira exótica de qualidade.
Apresenta altares laterais, não considerados no projeto de arquitetura inicial, e tem uma eça de
mármore, com chão com o mesmo material. Espaço verde cuidado.
174
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
A entrada possui uma cruz que regista a data de 17 de julho de 1881, eventual data da construção
do primeiro Cemitério. Nada existe deste período.
Duas placas de cerâmica de Álvaro Pedro Gomes, 1926,1932. Campas de berço, em mármore,
datados de 1957, 1976.
A maioria das campas são perpétuas, cerca de 800. O registo mais antigo é uma campa perpétua,
nº 140, eventualmente de 1910. Houve renumeração das campas entre 1950 e 1974.
Tem uma secretaria a funcionar e um coveiro que é partilhado com outros cemitérios da Junta de
Freguesias de Camarate, Unhos e Apelação. Poucas árvores.
175
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
O Cemitério92 está colocado fora da povoação, marcado por muros e árvores, centralidade interna
organizada pela Capela, com a data de criação do Cemitério colocada de forma bem visível,
1877. Não existe promoção de visitas, mas alguns professores visitam o Cemitério com alunos.
Não tem um fácil acesso, mas possui parqueamento exterior. A alameda principal, muito humilde,
apresenta árvores que ocupam a frente dos jazigos. Existem muitos elementos de ferro fundido e
forjado nos jazigos e campas, os construtores identificados apontam para Santarém. Este
Cemitério reflete influências do Cemitério dos Prazeres, e, portanto, valiosas transferências
culturais.
É visível uma predominância de campas rasas, com epitáfios e cruzes, algumas com cabeceirase
trabalho escultórico, em cantaria.
De ambos os lados da área central da Capela, existem edifícios de apoio, secretaria, casas de banho
públicas; um outro patamar com covas comuns, somente terra, lugar de inumação dos pobres; possui
Talhão de Bombeiros e Combatentes, no outro patamar, à esquerda de quem entra de frente no
cemitério.
O núcleo de arte funerária está encerrado,93 desde 2008. Não existe qualquer trabalho de
valorização do espaço. O coveiro soube indicar onde se encontravam as campas mais interessantes
do cemitério, apresentação do/a falecido/a com a sua profissão.
92
O pretexto de visita a este cemitério no distrito de Santarém foi justificado pela importância de se
terem realizado dois Encontros com o tema Atitudes perante a Morte, 1989, 1991 e a publicação
do livro com o mesmo título, coordenado por António Matias Coelho e nesse mesmo livro se ter
dado nota de que seria criado um Núcleo museológico no cemitério da Chamusca, “o único do seu
género em Portugal” (Coelho, 1991,p. 8). O cemitério também foi apresentado no referido livro de
uma forma aliciante com ilustrações e descrição onde a morte e os seus registos cemiteriais foram
considerados como “uma imensidão de recursos didáticos” (Coelho, 1991, p. 10).
93
http://www.lazer.publico.pt/museus/11881_museu-municipal-da-chamusca-nucleo-funerario.
Última atualização em 2007.Consultado em 27 de julho de 2017.
176
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
O Cemitério está localizado desde o seu início, perto do rio, onde se encontra o mais antigo
registo, de 1896.
O Cemitério está construído em socalcos, com escadaria. Possui fácil acesso, espaço de
parqueamento, organização e limpeza. Instalações sanitárias públicas. Este Cemitério foi muito
destruído nas Cheias de 1967 e muito do seu património foi arrastado pelo rio. O Cemitério foi
reconstruído. Em 2019, a Junta de Freguesia registou a catástrofe de 1967, com a afixação de placa
no exterior.
Fig. 132 - Entrada do Cemitério, placa alusiva às Cheias de 1967, 2019. Fonte: Autora.
177
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
178
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
O Cemitério Municipal foi criado em 1890, com boa sinalética exterior, acessos com
parqueamento, paragens de camionetas de transporte público, perto.
Possui dois painéis de entrada com informação sobre a organização dos talhões, informações
históricas sobre o Cemitério e informações gerais, incluindo contatos para marcação de visitas
guiadas. Possui instalações sanitárias públicas, para cada sexo, e com atenção a pessoas portadoras
de limitações de mobilidade.
Possui jazigos de início do séc. XX: canteiros de Montelavar, Loures, Freixial, Alhandra.
Manifesta influências do Cemitério do Alto de S. João.
Capela datada de 1958, com vitrais de Ricardo Leone, Mausoléu da Junta Revolucionária da
Implantação da República em Loures a 4 de Outubro de 1910, Talhões dos Combatentes, Família
de Sttau Monteiro, Paróquia de Loures, Domingos Pereira.
179
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
O atual Cemitério Municipal de Loulé foi inaugurado em 1918, por altura da pneumónica; tem uma
larga rua central, de onde partem outras circulações. Este Cemitério Municipal tem painel de
informação sobre a organização dos talhões e serviços de visita, dentro de uma programação anual
dos serviços. Possui parqueamento e instalações sanitárias públicas. Logo à entrada, de cada lado
da rua central, estão os jazigos das duas famílias mais importantes da então vila.
«José Martins Farrajota e Maria das Dores Farrajota e Família» e «Ângelo José de Castro e
Família» são as inscrições que se podem ler na frontaria de cada um dos jazigos, decorados com
motivos maçónicos e laicos, já que ambos, além de serem abastados e influentes comerciantes,
eram também destacados republicanos.
Tanto José Martins Farrajota como Ângelo José de Castro morreram anos antes da inauguração
do atual Cemitério, mas foram trasladados para os novos jazigos. Na larga rua da direita, sucedem-
se depois os jazigos de outras famílias importantes, como o que ostenta a inscrição em pedra
«Família Magalhães» e onde está sepultado Duarte Pacheco, ministro das Obras Públicas de
Salazar.
Neste Cemitério existem inumações de muitos espanhóis. A primeira leva desses espanhóis veio
sobretudo da zona de Vila Nueva de Castelejos, na província de Huelva, no século XIX,
empurrados pelas Invasões Francesas.
Mas houve ainda outra grande chegada de espanhóis, já no século XX, de origem diferente, e que
também estão sepultados em Loulé. Noutro local do Cemitério, em campa rasa e apenas assinalada
com lápides com os nomes em latim, estão sepultados alguns dos Padres Jesuítas que, após a 2ª
República espanhola, fugiram do país vizinho.
Entre os muitos homens de cultura que por ali estão sepultados, o destaque vai para António
Fernandes Aleixo, que foi cauteleiro, guardador de rebanhos, emigrante em França, polícia e
poeta. Repousa numa campa quase rasa, coberta com uma lápide de mármore que ostenta uma
das suas quadras, na zona popular do cemitério.
E no mesmo cemitério está ainda Joaquim Magalhães, que foi professor, mas acabou por ficar
conhecido como o descobridor e “secretário” de António Aleixo, já que fixou em escrita e
organizou os seus poemas.94
Fig. 137 -
Entrada do
Cemitério de
Loulé, 2018.
Fonte: Autora
94
https://www.sulinformacao.pt/2012/04/visitar-o-cemiterio-de-loule-para-conhecer-a-historia-
contemporanea-do-pais/
Acedido em 15 de setembro de 2018.
180
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Fig. 138 - Símbolos maçónicos. Cemitério Municipal de Loulé, 2018. Fonte: Autora
181
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Existem dois acessos para este Cemitério: a entrada do corpo é feita superiormente, por uma entrada
com a referência à data de fundação - 1881 - e com trabalho de cantaria: uma alcachofra e caveira
com tíbias cruzadas. O acesso secundário é todo em escadaria, obra recente, com acesso a um
prolongamento do Cemitério.
Tem parqueamento junto à estrada principal. Tem transporte público perto. Possui ossários e
ossário comunitário de 2019, campas de berço em ferro e em mármore.
Possui 10 jazigos com interesse e qualidade, com assinatura de canteiros, um dos jazigos - Quirino
Luz António Louza - data de 1880; o de Braz Alves Barata, previsivelmente, datará de final de
século, considerando a referência á data de 1897, inscrita para Maria Leocádia Anastácio.
Limpo e organizado em talhões, espaço verde com qualidade. Possui instalações sanitárias
públicas e informação de horários, afixadas no exterior, quer na entrada antiga quer na nova na
subida da escadaria de madeira. Tem visitas mediadas, após agendamento na Junta de Freguesia.
Identificaram-se canteiros como António F. Capucho, Montelavar, jazigo de Gregório Afonso e
família; outro de 1930, jazigo da família Valério; Germano José de Sales, Rua do Arsenal,
13? 8? 6? Lisboa, no jazigo de 1880 de Quirino Luz António Louza; Francisco Martins,Lda. T.
Queimada, 36, Lisboa, no jazigo de Braz Alves Barata.
182
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Trata-se de um Cemitério de pequenas dimensões, com apenas dois jazigos e campas rasas,
maioritariamente brancas, a terra preta, de origem vulcânica.
Não se encontraram ossários, nem gavetões. Uma Capela simples, de arquitetura local. As
decorações das campas são comuns e usuais em Cemitérios, trabalho de cantaria.
183
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
184
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Este Cemitério Paroquial está bem localizado, com parque de estacionamento e informação
afixada exteriormente. Este Cemitério da Freguesia foi inaugurado em 2005.O interior do
Cemitério divide-se por dois espaços: os dos ossários/gavetões e o das campas, respetivamente à
esquerda e á direita de quem entra e circula.
A linguagem de arquitetura é moderna, madeira/contraplacado, os degraus em solipa, e as campas
de mármore, um discurso entre o horizontal e o vertical, com uma calçada a forrar o espaço de
circulação no Cemitério.
A marcação das ruas/talhões é feita seguindo o alfabeto. A cor do Cemitério divide-se entre o preto
e o branco das cantarias e figurações de maior vulto. A linguagem dos epitáfios é recorrente da
dos séculos passados e as decorações de cantaria que já não são feitas manualmente, imitam,
contudo, as escolhas de séculos anteriores. É um Cemitério recente, com espaço para crescer.
Nasceu da separação de Cemitérios, o primeiro Cemitério de Pêro Pinheiro foi em Montelavar.
185
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
O Cemitério nasceu acoplado à Igreja Paroquial de São Julião do Tojal, templo de linhas simples,
cujas origens remontam provavelmente ao século XVII, tendo sido mandado construir por
religiosos do Mosteiro de S. Vicente de Fora.
No adro, com três campas de pedra, entende-se que seja este o começo do Cemitério Paroquial
desta antiga freguesia do concelho, que se alargou e cumpriu o objetivo de Cemitério público, séc.
XIX. A parte mais antiga do Cemitério está dentro do espaço exterior dos contrafortes da Igreja e
da casa mortuária, confirmando o figurino de partilha de espaços. Possui trabalho de cantaria, com
alcachofra e cruz, a marcar a entrada do portão do cemitério, datando de 1880/1881.
Oito jazigos ladeiam a alameda, os mais antigos de 1880 e 1902, de valiosa qualidade e de
arquitetura notável. Identificadas 5 placas de cerâmicas assinadas por Álvaro Pedro Gomes:
Ernestina Victor, de 1957; Domingos Narciso Pontes de 1957; João Augusto Quintanilho de 1939;
e outro datando de1931, perto do nicho da Igreja com referência Sacavém. Junto aos jazigos, da
entrada, outra placa de cerâmica, José da Silva Torres, de 1938.
186
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Cemitério limpo e apesar de se desdobrar em cinco patamares, com muros de separação e degraus
com corrimão, todo rodeado de ossários, possui interesse. Tem instalações sanitárias públicas,
transportes públicos, perto. Possui parque de estacionamento, junto à Igreja e Cemitério.
O Cemitério nasceu acoplado às paredes do cartório da Igreja onde pontua uma bela heráldica com
coroa real e na parede, do lado direito, um azulejo assinado M Prazeres (Manuel Prazeres) e
Fábrica de Loiça de Sacavém, 1972, com cena do batismo de Jesus Cristo com S. João.
Os 6 jazigos que existem no Cemitério estão de alguma forma ordenados pela data; a porta
encerrada do cemitério, junto á parede da igreja, seria o acesso inicial do cemitério onde se
encontra, logo à entrada, em campa rasa com cruz: “Aqui jaz o padre Manoel Borges Carneiro
exemplar prior desta freguesia durante mais de vinte anos. Morreu a 20 de janeiro de
1893.”R.I.P.”
Pode-se considerar esta data ,1893, como data aproximada à fundação do Cemitério Paroquial de
S. João da Talha.
Tem à direita, uma campa de Belchior António, 1959, forrada com azulejo e trabalho de Álvaro
Pedro Gomes, Fábrica de Loiça de Sacavém, com dedicatória “Administração da F.L. Sacavém
com viva saudade do seu longo e bom colaborador”. Encontraram-se mais quatro registos de
trabalhos de Álvaro Pedro Gomes/APG, datados de 1924, 1927, 1936, 1949, respetivamente.
Os jazigos distinguem-se e dois em particular apresentam no topo do frontão, simbólicas de
trabalho rural com feixes de palhas, sacas, foices, enxadas, carros. Um jazigo foi feito por António
Polycarpo de Bucelas, Freixial, de João Nunes Rezende; perto está outro, de 1928 de Polycarpo
Machado de Guilherme Victor S.P. Loures
Muito curiosa a lápide na parede do fundo, de ex-militares do batalhão de caçadores 3886
(Moçambique e Zambézia - Guerra do Ultramar) ex.- Combatentes de S. João da Talha, 2016.
Existem lápides de associados falecidos dos grupos Desportivos da União de Freguesias e do
Partido Socialista. Os jazigos e cabeceiras com decorações de flores em cantaria, são muito
interessantes. Existem cinco trabalhos de APG/ Álvaro Pedro Gomes, vestígios de campas e a
placa exterior da Igreja como sinal da importância da Fábrica e do seu investimento na localidade.
Existem visitas mediadas, com agendamento na União de Freguesias da Bobadela, Santa Iria de
Azóia e S. João da Talha.
Fig. 151 - Vestígios de produção da Fábrica
de Loiça de Sacavém. Fonte: Autora
187
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Este Cemitério apresenta informação sobre horários à entrada; inscrita na calçada portuguesa, a
data de 1936, altura da reorganização e transladações provenientes do antigo Cemitério fundado
em 1893, perto da Capela do Santuário da Saúde, centro antigo de Sacavém. Este Cemitério tem
boa identificação no exterior e parqueamento, mas a rua é muito estreita. Existe perto paragem de
serviços públicos de transporte. Tem visitas ao Cemitério com agendamento prévio na Junta de
Freguesia de Sacavém. Possui instalações sanitárias públicas.
Encontramos no fim da calçada, um exemplo de património deslocado, um cruzeiro de 1679,
“Mandado fazer pelo Padre Manuel Nunes”, solicitando oração. Pode ser proveniente do antigo
Cemitério, mas não existe confirmação.
O Cemitério está organizado por talhões, o mais antigo fica à direita de quem entra até ao fim,
perto do cruzeiro; o segundo, começa no lado esquerdo e o terceiro fica paralelo ao talhão 1.
Depois, existem o Talhão dos Bombeiros, o Talhão dos Combatentes, espaço das inumações de
Crianças e ossários, a rodear o lugar.
São identificados muitos registos de Álvaro Pedro Gomes/ APG, cerca de quarenta; dezoito
jazigos, antigos, final do século XIX, mandados fazer em Lisboa, em oficinas no Caminho do Forno
do Tijolo e Coruche: são jazigos muito ricos de informação, decoração e simbologias.
Existem campas com azulejos da Fábrica de Loiça de Sacavém com várias técnicas - estampilha,
aerógrafo, arte nova, relevados. Também se identificam registos funerários de antigos operários
e operárias.
Este Cemitério permite um discurso patrimonial da Freguesia e vive a importância e peso da
Fábrica na vida quotidiana sacavenense. É muito interessante a identificação dos canteiros dos
jazigos e a estética presente. Este Cemitério tem muitas potencialidades para desenvolvimento de
turismo cemiterial.95
95
Foi apresentada proposta de classificação como cemitério de interesse municipal, em 2014.A proposta
foi aprovada por unanimidade em 24 de junho de 2015 na Assembleia de Freguesia. Aguarda ainda
processo de inventário na Câmara Municipal de Loures. Proposta da Autora.
188
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Está localizado junto ao parque urbano de Santa Iria de Azóia e comunga da mensagem do
ambiente com muitos ciprestes e boa apresentação do espaço, o qual é bem organizado em talhões
alfabetados e bem visíveis. Trata-se de um Cemitério recente, com campas e registos do início da
década de Noventa do Século XX. A data mais antiga que se identificou foi 1993.
Apresenta a marcação da entrada com cruz latina; tem secretaria e local para afixação de
informação, instalações sanitárias públicas. Não tem visitas organizadas.
A figuração simbólica de capela é feita com colunas em redondo, espaço aberto, com claraboia e
luzes, criando um espaço intimista, com uma eça de mármore preto, em bruto. É usada
normalmente no contexto das cerimónias de despedida e enterramento.
Tem talhão de Bombeiros, assinalado por um painel de azulejos, de 1.12.1997, sem assinatura de
autor ou fábrica. Apresenta, logo à entrada um cendrário, para adultos e possui no fundo, outro
para crianças.
É um Cemitério organizado, com corredores limpos e amplos, possui espaço para ossários. Tem
no seu interior, um armazém para uso da União de Juntas de Freguesia, mas discreto. Possui
espaço de reserva. É organizado em dois patamares e rodeado de ossários. Constata-se que as
cabeceiras, brancas na maioria, embora com a presença de outros materiais e cores, continuam a
reger-se pela mesma linha estética do século anterior, com os ornamentos de flores na pedra e
epitáfios “Á memória de…”, “Eterna saudade…”.
Fig. 157 - Capela no Cemitério Paroquial de Santa Iria de Azóia, 2019.Fonte: Autora.
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O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
O Cemitério tem horário afixado no exterior, aberto todos os dias e possui espaço para
parqueamento. Tem instalações sanitárias públicas. Tem uma pequena Capela. Possui espaços
verdes sem campas com muros cercados de ciprestes. Possui campas de berço de ferro, séc. XIX
Apresenta uma placa que refere: “Este cemitério foi retificado em Maio de 1935, iniciativa da C.
Ad. da Junta de freguesia. Presidente - Joaquim Ribeiro Realista; Sec. José da Conceição;
Tesoureiro - Francisco Maria Vieira Borges Auxiliados pelo Exmo. Presidente da C.M. de Loures,
Sr. Dario Canas. P.NAM ”.
Foi identificada uma placa de Álvaro Pedro Gomes, de 1939, na campa de Angelina Luiz. Possui
talhão de Combatentes do Ultramar. Só apresenta três jazigos; muito peculiar o de Lucas José
Venâncio e Família com elementos em figuração, bicicleta, casa, moinho, cereais, flores.
190
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Cemitério recente, com obras de 2000, com contrastes de campas brancas e mármores escuros.
Eventual esgotamento do primeiro Cemitério. No talhão A, mais antigo, foi identificada uma placa
cerâmica com retrato - Maria do Carmo Messias - com assinatura de Álvaro Pedro Gomes/APG,
1955. Não tem referência à Fábrica.
Algumas campas, da década de Cinquenta do século XX. Pouca arrumação, porta central com
indicação de horário.
Não tem atendimento no Cemitério, o qual é feito na delegação da União de Freguesia de Sacavém
em Unhos, horário afixado no exterior. Tem espaço para parqueamento.
191
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
192
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Concelho de Loures
193
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
1. O espaço de destino apresenta um papel fundamental para cada um dos agentes que
intervêm nos processos de produção e consumo turísticos: os proprietários de solo, os promotores
do espaço, os agentes do setor, os consumidores, os intermediários;
3. O processo de produção do espaço turístico envolve uma produção física, mas essa
produção é, sobretudo, de caráter simbólico, ou seja, a valorização simbólica é feita através da
valorização social da imagem.
Tal como já foi referido (Cap. IV), as características do novo consumidor turístico estão baseadas
no comportamento e nas motivações: o turista atual apresenta motivações, necessidades,
comportamentos distintos, além do elevado grau de exigência, flexibilidade e seletividade. O
consumo turístico é, antes de tudo, a procura de uma experiência, e há uma grande influência das
características psicológicas do consumidor, um sentido na busca desta experiência.
O consumo da paisagem é um dos objetivos do turismo; em seu nome são instaladas infra
estruturas turísticas para atração e manutenção de turistas, isoladamente, pequenos grupos ou em
massa, o que pode trazer danos ao ambiente recetor, mas também, com cautela, pode ser um nicho
de descoberta e de satisfação turística.
O poder da identidade local, o patamar local, vai ao encontro dos estudos de Santos (2007), Silva
(2009) e Cunha (2013) e está também presente no Plano Estratégico de Turismo, 2020-24, sendo
um dos eixos de desenvolvimento, a qualidade do território.
Desta forma, a monitorização dessas qualidades é exigida, assim como a atenção à carga de
turistas, mas, quando se realiza esta investigação de 30 Cemitérios, buscando formas de criar um
produto com inovação para Loures, tendo por base a identidade local, a singularidade do território,
a primeira conclusão que emerge é a de que o cemitério, não romântico e a prática de turismo
cemiterial, podem contribuir ativamente para a qualidade ambiental.
194
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
195
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
196
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Os quadros elaborados com base nos guiões de análise dos Cemitérios, permitiram construir uma
informação que foi depurada e afinada, com a triangulação: análises, qualitativa nos objetivos,
descritiva e bibliográfica. É sobretudo, como já foi referido, um procedimento reflexivo,crítico e de
procura de resposta para novas questões.
Quadro comparativo - potencialidades para prática de turismo cemiterial em cemitérios românticos e não românticos
Camarate Municipal
Camarate Paroquial
Madalena do Pico
Viana de Áustria
S. Antâo do tojal
S. Julião do tojal
S. João da talha
S. Iria de Azoia
Alto de S. João
Pêro Pinheiro
P. La Chaise
Montelavar
Agramonte
Almudena
Conchada
Chamusca
Apelação
Britânico
Sacavém
Prazeres
Fanhões
Bucelas
Loures
Frielas
Aveiro
Unhos
Braga
Lousa
Leiria
Loulé
11
Interesse da tutela S S S N S S S N S S S N S S S S S N S S S N S N S S S S S N
Facilidade de acessos S S S S S S S N S S S S S S S S S S S S S S S S S S S S S S
Fatores de interesse
Manutenção S N S N S N S N S S S N S S N N S N S S S N S S S S S S S N
Proteção S S S N S S S N S S S N S S N N S N S S S N S N S S S N N N
Visitas organizadas S N S N S N S N S S S N S N N N S N S N S N N N S S S N N N
Sinalização S S S S S N S N S S S S S S N S S S S S S N S S S S S N N N
Instalações sanitárias S S S S S S S S S S S S S S S S S S S S S S S S S S S S S S
Organização interna S S S S S N S S S S S S S S N S S S S S S S S S S S S N S N
Mediação S N S N S N S N S S S N S N N N S N S N S N N N S S S N N N
Registos monumentais S S S S S S S S S S S N S N S S S N S S S N S N S S S N N N
Informação disponível S S S N S N S N S S S N S N N N S N S N S N N N S S S N N N
11 8 11 5 11 5 11 3 11 11 11 4 11 7 4 6 11 4 11 8 11 3 8 5 11 11 11 4 5 2
% de potencialidades
100%
100%
100%
100%
100%
100%
100%
100%
100%
100%
100%
100%
100%
100%
73%
45%
45%
27%
36%
64%
36%
55%
36%
73%
27%
73%
45%
36%
45%
18%
para turismo cemiterial
maior que 45%.
A análise deste quadro - resumo permite verificar a existência de alguns princípios base para a
prática de turismo em Cemitérios, comuns a Cemitérios românticos e não românticos, como a
sinalética exterior, direcional e a interna; a existência de parqueamento e instalações sanitárias,
fundamentais para a introdução de visitas no espaço. Preocupações quanto á manutenção,
salvaguarda de registos monumentais, mediação, já anunciam a retirada de alguns Cemitérios não
românticos quanto às possibilidades de prática de turismo cemiterial; contudo, alguns Cemitérios
não românticos têm um conjunto de jazigos - um nicho - que são preservados, à semelhança dos
românticos e apresentam condições de manutenção nos Regulamentos de Cemitérios das Juntas
de Freguesia ou mesmo em processos de classificação.
A viagem entre estes 30 Cemitérios, analisados dentro de uma mesma grelha de questões, aponta
claramente que, existindo vontade política, investimento, limpeza e manutenção dos espaços,
alguns jazigos com transferências de modelos de Cemitérios românticos e condições para se
explorar com estudos, publicações e mediação, a realização de turismo cemiterial em Cemitérios
não românticos, é uma possibilidade.
Com este trabalho, aponta-se um novo paradigma de turismo cemiterial, com a entrada e
valorização dos Cemitérios não românticos, uma evidência de valor a ter presente em futuras
práticas de turismo cemiterial, em projetos académicos, em projetos de associações locais e
autárquicas.
197
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
fundamentalmente, a história do monumental que se frui numa visita de turismo cemiterial.
Em Cemitérios não românticos, são os residuais jazigos que ainda permanecem num espaço de
campas perpétuas ou/e temporárias, com a cor branca predominando (mas, contemporaneamente,
com a invasão do mármore preto, cinzentos ou cor -de -rosa) e sobre essas campas perpétuas,
rente ao chão, descolam-se nomes, episódios, história e organizam-se itinerários, uma oferta
turística singular, distinta, mediada com afeto e conhecimento: uma opção diferente e
possível de ler o cemitério no séc. XXI.
198
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Os Cemitérios são, numa leitura contemporânea, um potencial turístico inovador, alternativo, que
põe ao serviço da comunidade artes, histórias, sentimentos, rituais e narrativas.
Naturalmente que se está num território, concelho de Loures, com antigas caraterísticas rurais,
mas também com manchas de rural não agrícola e zona industrial
O turismo não é apenas uma das atividades mais produtivas do mundo e que contribui para a
sobrevivência de numerosos territórios na Europa e em muitos países a nível mundial; também
contraria processos de despovoamento, ao apostar nas atividades e produtos endógenos,
valorizando a diversificação e a concertação de ações.
Neste arco de reflexão, temos as comunidades patrimoniais (Martins,2020, p.56) como as das
Juntas e Uniões de Freguesias que, através de mecanismos legais ao seu dispor, podem defender
patrimónios singulares e próprios, históricos e afetivos.
Em outubro de 2019 foi lançada a construção de uma Rota de Cemitérios não românticos, em
Loures, abrangendo Cemitérios Paroquiais, depois de valorizados aspetos comuns ou díspares em
termos de património, arte funerária e história. São primeiramente abrangidos os Cemitérios
Paroquiais de Bucelas, S. Julião do Tojal, Bucelas, Sacavém S. João da Talha, para além do
Cemitério Municipal de Loures, seguindo-se em 2020, os Cemitérios Paroquiais de Lousa e
Fanhões.
Esta Rota nasceu de uma avaliação, depois de trabalho no terreno, tendo-se identificado
transferências culturais/similitudes em linguagens construtivas e ornamentais com Père Lachaise,
Prazeres e Alto de S. João, Cemitério Britânico de Lisboa. Da mesma forma se estudaram
trabalhos de cantaria, base a maior ornamentação de campas e jazigos, identificando autorias,
oficinas, já referidas anteriormente, com traços comuns e transferidos, entre Lisboa, Vila Franca
de Xira, Montelavar, Pero Pinheiro, Bucelas, Loures, Ramada.
Outro elemento comum foi a análise da arte do ferro forjado e fundido, tendo-se identificado
modelos conforme o gosto francês, promovido a norte pela Companhia de Artefactos de Metais,
com a difusão de gostos e modelos de duas principais fábricas francesas-Val d’Osne e Antoinne
Durrenne. Estas transferências culturais influenciaram o campo de trabalho funerários de uma
forma notável, juntamente com as fábricas Companhia Perseverança e Empreza Industrial
Portuguesa, em Lisboa.
Depois de uma análise do conjunto de Cemitérios Paroquiais, foi feita a apresentação aos
presidentes de Junta de Freguesia ou de Uniões de Freguesia de Loures e Vogais ou elementos do
Executivo, desta possibilidade de se trabalhar em conjunto neste projeto, da mais-valia de união
de esforços para se criar um produto novo nas respetivas Juntas ; sendo politicamente apoiada esta
hipótese de trabalho com o apoio nos transportes, edições, investigação e mediação por parte do
Município deLoures, ficando a cargo das Juntas e Uniões de Freguesia, a limpeza, a manutenção
dos Cemitérios, a divulgação da realização de itinerários, a colocação de sinalética informativa
nos respetivos Cemitérios e publicamente, assumindo-se esta nova atividade nos respetivos
Regulamentos dos Cemitérios. Foi fundamental dar nota pública da existência desta atividade que,
não estando considerada no Regulamento dos Cemitérios, no seu geral, carecia de informação e
afixação da mesma nos espaços dos Cemitérios e Juntas de Freguesia para que não pudesse ser
invocada a ilegalidade de procedimentos.
Com este empenho de parte a parte, foi possível operacionalizar a criação de produtos adequados
200
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
às características e potencialidades de cada Cemitério Paroquial.
Cunha (2013, p. 225) acrescentou que uma rota turística necessita de uma correta planificação, de
investimentos, de uma estratégia de marketing e do envolvimento das populações locais e dos
operadores turísticos. A planificação foi feita com as próprias Juntas e Uniões de Freguesia com
a aprovação da imagem gráfica comum, com os primeiros temas que se complementaram, como
o ferro fundido e forjado, as Pessoas da comunidade, o Associativismo e a República.
As especificidades e particularidades locais constituem uma atração significativa, mas careciam
de um aproveitamento turístico para se criar uma oferta suscetível de atrair turistas/visitantes e
segmentos de mercado que procuram a diferença.
Foi nestes nichos de arte e memórias que, numa política de turismo interno, se foram buscar
sinergias para a elaboração de informação valorizadora destas mais valias turísticas concelhias.
A informação criada veio robustecer o turismo municipal e erguer uma oferta com base em
informação turística pioneira e inovadora. Foi feito um pré-lançamento da Rota de Turismo
cemiterial no dia 23 de setembro de 2019 96, e no dia 23 de novembro foi feita a primeira visita
desta nova Rota Turística em Loures.
96
Por convite do Município de Loures ao IGOT, esteve presente o Professor Doutor Pedro Gomes
Barbosa.
201
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Fig. 163 - Rota de Turismo Cemiterial em Loures, 2019. Fonte: C.M. Loures.
A definição deste novo produto turístico em Loures teve em atenção, naturalmente, a preocupação
em integrar os recursos, capacidades locais e os valores existentes, como forma de fazer sobressair
a diferença, para criar uma oferta turística sólida.
202
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
O primeiro itinerário da Rota abordou a Arte do ferro na arte funerária97, ainda existente nos
Cemitérios paroquiais98 e municipal, a presença de elementos em ferro fundido, proveniente da
forte influência da indústria de Font d’Art francesa (Cf. Anexo).
O desenvolvimento da Rota de Turismo Cemiterial, teve, nas comemorações dos 110 anos da
República em Loures, 2020, um pretexto para aprofundar o discurso da preparação do dia 4 de
Outubro em 1910.
A valorização do património cemiterial, alimentado pelo estudo sistemático dos cemitérios não
românticos em Loures - Cemitério municipal de Loures, Paroquiais de São Julião do Tojal, Lousa,
Fanhões, Bucelas, São João da Talha, Sacavém - permitiu introduzir nos registos históricos mais
protagonistas, por vezes mais rostos, seguramente mais alicerces para a revisão da História e com
esta investigação criar um atrativo produto turístico.
97
https://app1.cm-loures.pt/turismocemiterial/wp-content/uploads/Brochura_Rota-Cemiterial-2019.pdf,,
Acedido em 23 de dezembro 2019.
98
https://uf-sacavemepriorvelho.pt/rota-turismo-cemiterial/
Acedido em 23 de dezembro de 2020.
203
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
A investigação realizada e a rota construída com alicerces locais nos nomes, identificados nos
Cemitérios citados, cruzou os caminhos que se fizeram e se teceram para que no dia 4 de Outubro
de 1910, em todo o Concelho todos se juntassem para “salvar a nossa querida pátria”, como se
lê na Ata redigida por Augusto Herculano Moreira Feyo 100 no Livro de Atas da Câmara Municipal
de Loures de 4 de Outubro de 1910.
99
Na presente Tese, o referido catálogo, é apresentado com a seleção da história, arte e atrativo turístico
dos Cemitérios Paroquiais não românticos e nesse conceito, as fotografias e documentos são inseridos dentro de
uma lógica ilustrativa dentro do texto da Rota. CF. Anexo
100
Assunção, A.P.(1993).Augusto Herculano Moreira Feyo, O Amigo de Loures. C.M. Loures.
101
https://www.youtube.com/watch?v=J76NKAs3qCs
Acedido em 6 de dezembro de /2020.
102
https://app.cm-loures.pt/educacao/
Acedido em 3 de dezembro de 2020.
204
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Nestes Concelhos integradores da A2S, existem potencialidades para explorar a prática de turismo
nos Cemitérios locais. Esta Associação pode ter, nesta hipótese de transfiguração do Cemitério,
mais uma oportunidade para promover o desenvolvimento local, com os seus próprios recursos.
Dado que o turismo se define pela procura, os recursos naturais ou culturais, os territórios
recriados, sofreram uma transformação/transfiguração para serem produtos turísticos,
proporcionando um valor acrescentado ao espaço local, património natural e cultural. O contributo
desta Rota para o desenvolvimento local e regional, em áreas, rurais e periurbanas, é algo
expectável.
205
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
206
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Trabalhou-se para se identificar bases e evidências que pudessem afirmar e consolidar um novo
produto turístico, uma nova proposta turística em Portugal quando se aborda o turismo cemiterial
em Cemitérios não românticos.
Há que considerar a influência francesa, com maiores simbologias e alegorias, querendo afirmar
o próprio modelo ou, por contraponto, o despojo dos Cemitérios britânicos, visíveis também nas
sepulturas rasas cobertas de natureza e estelas, paralelamente, às alamedas dos Cemitérios.
Contudo, sem vontade da governação/gestão dos Cemitérios, nada será possível (Assunção, 2019).
A divulgação e o interesse que possa existir, não impedem a tutela de ter a sua própria visão do
local e de o considerar, ou não, como recurso para essa etapa decisiva que é vender o produto -
Cemitério.
O potencial desempenho do destino tem uma série de atributos que definem uma forte influência
no comportamento do consumidor turístico (Beerli et al, 2003, citado por Cunha, 2008, p. 28).
Fez-se a avaliação das capacidades de cada Cemitério: o que atrai visitantes e determina o
potencial turístico, é a própria capacidade que cada um dos Cemitérios não românticos possui para
garantir o desenvolvimento de atividades turísticas (Cunha, 2006, p. 28): a qualidade da ofertaé
decisiva. Continuando, Cerro (1993), abordou as acessibilidades, a distância económica, a
circulação fora e dentro, o valor do próprio Cemitério, com a requalificação, sinalização,
informação e mediação, como aspetos determinantes para que o potencial turístico se cumpra.
O contraponto aos Cemitérios grandes, logo, pode concluir-se, mais ricos de vestígios, tem a
resposta na especificidade local, a mais diversa; tem também como fator positivo, a atenção ao
maior impacto a modernização de jazigos ou campas, descaraterizando e anulando o traçado
original das alamedas e ruas dos Cemitérios, prática que o turismo cemiterial pode contrariar e
contribuir para criar, inclusivamente, uma bolsa de património edificado, mantido por vontade
municipal ou paroquial, beneficiando o chamado valor histórico e patrimonial.
207
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
208
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Planeamento
Viabilidade Integração
Modelo de
desenvolvimento
sustentável
Perdurabili
dade Abertura
Participação Dimensão
A paisagem onde este património se criou (Fig. 169), faz parte do mesmo valor histórico de que o
espaço se investiu e quando se equaciona a prática turística, não é demais repetir que se torna
inevitável abordar a sustentabilidade. O turismo sustentável, dimensionado, com capacidade para
receber público, sem danos, para garantir a qualidade da experiência turística, é o procedimento
do turismo cemiterial praticado em Loures; trata-se de um turismo participativo, todos os
intervenientes no processo têm esse espaço, quer no processo de mediação, quer no próprio
processo de avaliação final.
Ser um turismo duradouro, exige compatibilizar o crescimento da atividade e dos seus resultados
com a realidade do meio ambiente e identidade local, assegurando a sua continuidade a médio e
longo prazo. A articulação entre o invisível e o objeto campa/jazigo, a colocação de informação,
cativar a atenção, transformar o Cemitério num livro de páginas abertas encontrou, na forma de
mediação a solução; a investigação, orientada pelos contextos.
209
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
O estudo dos autores locais, a documentação compulsada nos arquivos, a recolha de testemunhos
e Livros de inumação, informações nos periódicos locais e/ou nacionais, permitiram criar
Memoráveis103.
Não havia literatura produzida porque estes Cemitérios não românticos, não atraem pela
monumentalidade, mas pelo invisível que se ergue com o estudo (Assunção, 2019).
A criação de uma rota de turismo cemiterial em Cemitérios não românticos, em Loures, é/pode
103
Pediu-se emprestado à obra de Lídia Jorge, Os Memoráveis (2016), este conceito que se aplica para
destacar personagens da vida local em turismo cemiterial.
210
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
ser também uma forma de salvaguarda de outros patrimónios, os das pequenas localidades/Juntas
e Uniões de freguesia, com Cemitérios, tão ou mais valiosos que o de Loures que, sem esta corrente
de motivação, cairiam/cairão facilmente no esquecimento e ruína.
Face a uma documentação escassa sobre a matéria de Cemitérios com turismo cemiterial, em
Cemitérios não românticos, a nível nacional e internacional, abriram-se possibilidades de estudos
futuros com o exemplo apresentado no Cemitério Municipal de Loures e com as potencialidades
que se enunciaram.
Estamos numa sociedade de conservação (Urbain, 1978) mas conservar com um fim, como foi o
caso demonstrado. Pode concluir-se, pelas evidências apresentadas, que se concetualizou uma
inovação a nível de atividade turística cemiterial e que tal prática deve ser registada e considerada.
Esta inovação, uma atividade nova dentro de um Cemitério Municipal não romântico, foi e é uma
descoberta que pode configurar novos desafios.
211
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
• Promoção de investigação;
Se hoje já se equaciona, como frisou Choay (1996, p.176) um Museu Imaginário, que um Cemitério
pode sustentar, quando constitui uma aproximação estética ao património construído, é forçoso
reconhecer que numa opção-Museu da Morte ou Museu Imaginário - os Cemitérios, no seu global,
pelo que constituem, carecem de ser protegidos como monumento, como património, e por isso,
é forçoso:
• elaborar, para cada cemitério, um folheto ou guia para uma vista orientada;
Por outro lado, permite aumentar o conhecimento sobre a comunidade e as suas construções
(Corbett, 2018) e a partilha de aspetos sociais, políticos, estéticos, religiosos, que se apresentam
como atrativos e para descobertas, conduzindo a uma história diversa, plural, relacional,
socialmente diferente.
“Que faz, a bem dizer, o visitante quando se encontra num cemitério? Como se movimenta ele e
com que se ocupa? Anda devagar para cá e para lá, por entre as sepulturas, observa esta ou
aquela lápide, lê os nomes e sente-se atraído por alguns deles. Começa-se a notar há quanto
tempo já algumas pessoas ali jazem. O tempo que separa o visitante da morte delas tem algo de
tranquilizador: há tanto mais tempo que ele está neste mundo.
213
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Muita coisa do tempo que, desde então, transcorreu é do seu pleno conhecimento, graças a
tradições de todo o tipo. Acerca disso, leu-se ou ouviu-se falar, e a alguma coisa até o próprio
assistiu. Só ele, no meio dos que se encontram deitados, está de pé ” (Canetti, 2017, p.336, p.
337).
A mediação começou com a memória, na socialização dos cemitérios, nas visitas regulares; uma
ponte entre dois mundos foi feita com base e recurso ao passado que pode não ser familiar e,
portanto, pode trazer descoberta, interesse ou desinteresse, mas sempre um sentimento de
descoberta.
8.3 Conclusões
O estudo do Cemitério Municipal de Loures e a sua prática de turismo cemiterial foram analisados
e avaliados.
214
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Existe valor no turismo cemiterial, em Cemitério não romântico, retorno que foi recebido e
comprovado pelos utilizadores do Cemitério, pelos visitantes, e pelos informantes que sentiram as
visitas como algo que tornou valioso o cemitério: existe valor na mudança de entendimento de
cemitério, um modelo que procura também, com ética, a sustentabilidade ambiental.
A mediação da informação criou um cenário: as personagens que povoaram Loures e que por
razões várias não ficaram registados em documentos, agora constituem uma biblioteca com livros
abertos continuamente. E, comprovadamente, existem pessoas interessadas em aceder a esse valor
que, por seu lado, traz a mais-valia da compreensão e de um turismo sofisticado e mais
especializado. Também futuros retornos sociais e económicos são expectáveis, como já se referiu
anteriormente.
O tempo é sempre um fator determinante para uma investigação; contudo, considera-se ter
encontrado um conjunto representativo de cemitérios. As conclusões abarcam, maioritariamente,
por critério pré-definido, Cemitérios do Concelho de Loures, não românticos.
A replicabilidade em outros cemitérios não românticos tem de ser testada, nada é uniformemente
aplicável; contudo, aguardam-se experiências e novas conclusões para se progredir em
conhecimento.
Aliás, os exemplos aqui registados são apenas uma base possível de trabalho, mas a estruturação
de produto turístico feito para o Cemitério Municipal de Loures, pode servir de hipótese para
trabalhar outras, como a Associação para o Desenvolvimento Sustentável da Região Saloia-A2S;
abordar a marca Saloia, marca de Loures, marca de inovação turística, é o resultado que aqui se
apresenta após este peregrinar por Arte, História, Territórios, Poderes, produção de imagens que
também fixam entendimentos de Género; neste campo, o estudo e inventário dos contextos
sociopolíticos, artísticos, podem contribuir para a sua integração na História, como se tem
registado no Cemitério Municipal de Loures, onde esta vertente é assumida na investigação e
215
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
A presente Tese, assenta em trabalho que desde o início consubstanciou uma evidente inovação: o
projeto foi inserido na estrutura organizacional municipal e adquiriu estatuto próprio dentro da
missão alargada de um Departamento Municipal, como o Departamento do Ambiente em Loures.
Por outro lado, a investigação criou outro pilar de inovação: a sensibilização de autarcas de
freguesias com cemitérios inexplorados, com espécimes tumulares sobreviventes significativos,
com informação a aguardar ser lida.
216
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
8.3.1 Remate
Visitaram-se e estudaram-se trinta Cemitérios e compararam-se no possível; encontraram-se os
sinais de uma evidência de transformação, um outro olhar, que considerou a mudança de cenário
na prática turística: o reconhecimento da existência de modelos e, portanto, de diferentes discursos
para produtos turísticos afins, mas distintos, um turismo cemiterial em cemitério não romântico.
Acabou de se concluir uma caminhada com pesquisa e reflexão, as quais responderam às questões
de investigação, com apresentação de resultados.
Esta transfiguração operada no Cemitério Municipal de Loures é uma inovação social, cultural e
económica que enriquece a cidade e Freguesias limítrofes, as quais, despertaram para mais este
produto turístico, seja para oferta em turismo interno, inter-regiões, ou municípios, seja para a
manutenção dos seus registos cemiteriais e valorização futura como fonte local identitária.
Sustenta-se: é possível criar um produto turístico e ativar a prática de turismo, num território
turístico como aquele que um Cemitério não romântico transfigurado, permite.
217
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
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O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Anexos
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O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Anexo C - Itinerários
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Anexo D – Exposições
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O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
O espírito de associação
O espírito de associação (Lousada:2017), vivido durante o séc. XIX, teve um papel fundamental
na implantação da República. Nas mais diversas formas, nas décadas de 1860-70, criaram-se
inúmeras associações, musicais, com o nome de sociedades ou filarmónicas, associações
voluntárias de bombeiros, centros escolares, grémios, onde o ideário republicano se fazia sentir.
A associação do Registo Civil e do Livre Pensamento (1895) ou a sociedade cooperativa Teatro
Livre (1902), ou as conferências em grémios ou em casa de republicanos, uniam este espetro
social e ideológico. Apesar dos antagonismos entre republicanos, socialistas e anarquistas, livres-
pensadores, havia objetivos comuns, em torno da educação e do anticlericalismo.
Cemitério paroquial de
Sacavém, livre-pensador e
republicano. C. M. Loures
A década de 1890 marca uma nova fase das associações devido à regulamentação, quer para tornar
o associativismo popular mais viável, como é o caso das associações de socorro mútuo, quer para
248
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Todos as energias e valores sociais figuravam no novo partido: escritores, professores, advogados,
militares de graduação, proprietários, comerciantes, industriais, operários, pensamentos,
riqueza,trabalho (Basílio Teles).
104
Assunção, A.P. et al. (1985), Loures na memória da República - 4 de Outubro de 1910. C.M.
Loures, anexo XII.
105
Regulamento do Centro Escolar Republicano Dr. António José de Almeida (1907). Lisboa: Tipografia
Bayard.
249
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Rómulo de Carvalho refere claramente a funções dos centros escolares quando escreve:
“O Partido Republicano, que possuía Centros de convívio e de acção cultural espalhados por
todo o país, instituiu escolas primárias nesses Centros onde muitos beneméritos, uns, professores
de facto, outros, colaboradores animosos que supriam, com o seu entusiasmo, a falta de
preparação específica para o desempenho de tal missão, empregavam as suas horas livres
ensinando a ler, a escrever e a contar crianças e adultos. Esta atividade simpática cativou muita
gente porque foi realizada com proveito e entusiasmo. Para outras camadas
sociais, mais preparadas e mais exigentes, também o partido Republicano teve um auxílio a
prestar, um pensamento a oferecer, uma informação a comunicar, organizando sessões diversas,
promovendo conferências e dando lições pela voz de militantes prestigiados”
(Carvalho,1986:625).
Os comícios e conferências
A República chegou de comboio à Póvoa de Santa Iria, que à época pertencia ao concelho de
Loures (Lázaro:2012). Já no primeiro comboio, às 5 horas, 1908, tinham viajado vários membros
republica-nos com destino à localidade para aí receberem o candidato republicano do círculo
oriental de Lisboa, António José de Almeida; algumas reuniões decorriam em casa do republicano
Sabino Gomes, à luz de velas, outras eram comícios com palanque improvisado. Alinha férrea foi
preponderante na transmissão do fenómeno do republicanismo, aproximou operariado e
população no seu geral, as ideias circulavam, falava-se.
Os lojistas e comerciantes
No final do século XIX, os lojistas de Lisboa, parte da pequena burguesia que abrangia também
o concelho de Loures, foram determinantes para o movimento republicano. Ao longo da
identificação dos apoiantes da Republica em Loures, é percetível o número significativo de
comerciantes e lojistas que já se tinham manifestado, em Loures, no abaixo-assinado de 1896,
para a fixação do dia da feira tradicional feita em Loures, pessoas que estarão na frente de causas
republicanas.
106
Idem,ibidem
250
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Em 1907, reuniu J.J. Rodrigues da Silva no Diretório, em Lisboa, com o Dr. Augusto Lacerdade
Vasconcelos. Renasceu a atividade dos republicanos e também o Centro Escolar com umanova
designação Centro Escolar Eleitoral Republicano, 1909; em 1916 ainda existente, com uma escola
a funcionar.
Também A Sacavenense teve grande destaque político dentro da grande Fábrica de Loiça de
Sacavém, mas também com desenvolvimento de relações com outras fábricas da região de Lisboa
Afonso Henriques de
Souza Mello, um dos
fundadores da
Cooperativa A
Sacavenense.
251
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
252
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
O Centro Escolar Republicano de Loures já existia em 1883, por influência do Centro Escolar de
Sacavém; foi criado por um grupo de republicanos como Manuel Marques Razo, José Paulo
d’Oliveira e Ângelo Maria Vieira Borges; o Dr. António Carvalho de Figueiredo também
pertencia, tendo sido seu presidente, com Frederico da Serra Tarré e Amélio Augusto dos Santos.
Em 1911, Honorato José da Matta pertenceu à direção do Centro Escolar Republicano de Loures,
como membro do conselho fiscal. Este Centro tinha duas escolas a funcionar, uma noturna. E
acrescenta-se Francisco Assis Pereira Cardante.
253
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Cemitério Municipal
de Loures, jazigo de
Joaquim Saraiva.
C.M. Loures.
Jacinto Duarte,
membro da Junta
Revolucionária do
concelho de
Loures.C.M.Loures.
Em Loures, o Centro Escolar Republicano foi o local central – na sede do concelho – para unir o
ato final de tomada dos Paços do Concelho e com esse ato significar a tomada do poder, um
outro poder. Todos os elos se juntaram: a Liga Republicana das Mulheres Portuguesas também
esteve presente.
254
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Cemitério
Municipal de
Loures, Jazigo de
José Saiote e
família.
255
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Cemitério
Municipal de
Loures, Francisco
Assis Pereira
Cardante,
republicano.
C.M. Loures.
256
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Francisco Grandella:
republicano, maçon,
makavenko.
Rosendo Carvalheira,
republicano, maçon,
makavenko.
257
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Mausoléu da Junta
Revolucionário do
Concelho de Loures.
Pormenor do nome,
José Ferreira Cleto,
acrescentado em
2018. A campa, no
Cemitério Paroquial
de Fanhões, foi
levada nas Cheias de
1967.C.M. Loures
258
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Em Lousa, na casa onde morou Augusto Herculano Moreira Feyo, com farmácia, era um centro
de popularização da ideia da República. Recebia à noite António Costa e Bernardino Machado;
tinha como seu apoiante José Joaquim d’Araújo, também republicano, participante no dia 4 de
Outubro, eleito vereador para a Câmara Municipal Loures, em 1913; foi regedor de Lousa. Adrião
Coelho Novaes, industrial, acompanha a República e intervém na Tuna.
Cemitério Paroquial de
Lousa, jazigo de Adriano
Coelho Novais,
republicano.
Cemitério Paroquial de
Lousa, campa de
Joaquimd’Araújo,
republicano
259
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
Em São João da Talha encontraram-se também ligações ao Partido Republicano - João Rezende,
Polycarpo Machado, Agostinho Ferreira
Cemitério Paroquial de
São João da Talha,
jazigo de João Rezende,
republicano.
260
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
A Rota da Memória da República em Turismo Cemiterial une os laços que uniam e uniram os
republicanos e apoiantes por todo o concelho e demonstra que nada nem ninguém estaria isolado
ou só: o começo da implantação da República em Loures é concretamente registado em Sacavém
com armas apontadas para a ponte sobre o rio Trancão e termina na freguesia de Loures, sede do
concelho, com o simbolismo da leitura de ata, das janelas dos então espaços da Câmara, onde a
concentração de pessoas saudava com vivas a República, a Junta Revolucionária que acompanhou
na vigília durante a noite, aguardando-se o dia seguinte para a declaração da República em
Portugal.
261
O valor da transfiguração do cemitério em produto turístico
✓ 5 - Excelente
✓ 4 - Muito Bom
✓ 3 - Bom
✓ 2 - Suficiente
✓ 1 - Sofrível/Negativo.
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