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Rio de Janeiro
2023
Raphael Alves de Oliveira
Rio de Janeiro
2023
CATALOGAÇÃO NA FONTE
UERJ/REDE SIRIUS/BIBLIOTECA CEH/B
Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta tese
(dissertação), desde que citada a fonte.
__________________________________________ ___________________
Assinatura Data
Raphael Alves de Oliveira
_____________________________________________
Prof.ª Dra. Naira de Almeida Velozo (Orientadora)
Instituto de Letras - UERJ
_____________________________________________
Prof. Dr. Natival Almeida Simões Neto (Coorientador)
Universidade Estadual de Feira de Santana
_____________________________________________
Prof.ª Dra. Julia Scamparini Ferreira
Instituto de Letras - UERJ
_____________________________________________
Prof. Dr. João Carlos Tavares da Silva
Centro de Educação à Distância do Estado do Rio de Janeiro
Rio de Janeiro
2023
DEDICATÓRIA
OLIVEIRA, Raphael Alves de. Formações inovadoras com des- no X/Twitter: descrição e
análise pela Morfologia Cognitiva. 2023. 112 f. Dissertação (Mestrado em Letras) – Instituto
de Letras, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2023.
Este trabalho tem como objetivo investigar e descrever as operações cognitivas acionadas por
novas criações lexicais com des-+ base verbal no infinitivo a partir de análise e descrição do
comportamento semântico desse prefixo em novas palavras, tendo como foco as formações de
base verbal no infinitivo em textos veiculados à plataforma X/Twitter, como desabraçar,
desver, dessorrir entre outros. As diferentes pesquisas, no âmbito da morfologia derivacional
(Silva; Mioto, 2009, Medeiros, 2010; Rio-Torto, 2019), que analisam o prefixo, estabelecem
critérios que, em princípio, serviriam como filtros para más formações, classificando essas
palavras como agramaticais/inaceitáveis. Para Silva e Mioto (2009), o prefixo des- não se
pode combinar com verbos que não marquem processos ou que marquem processos
irreversíveis, entendendo como agramaticais exemplos como: desmorrer, deschegar,
deslavar, desdesejar entre outros. Medeiros (2010), por sua vez, afirma que o prefixo des- não
denota reversão de processo, mas sim negação ou inversão de um estado decorrente de um
processo, portanto, espera-se não encontrar construções com esse prefixo em nomes de
eventos como trabalho, dança e pulo, por entender que esses nomes denotam funções
incompatíveis com as propriedades de seleção semântica do prefixo des-. Já Rio-Torto (2019)
argumenta que esse prefixo repele verbos que denotem i) situações estativas (estar, existir), ii)
processos (chover, correr, dormir, nadar, nevar, saltar), iii) eventos pontuais (matar, morrer)
e iv) valor extrativo circunfixados em es- (desesbravejar, desesverdear). No entanto, em redes
sociais e na língua em uso, de modo geral, é comum se encontrarem todas essas formações
consideradas agramaticais por Silva e Mioto (2009), Medeiros (2010) e Rio-Torto (2019).
Considerando o córpus formado por 97 tuítes contextualizados, retirados manualmente do
X/Twitter através da #des- e des- na seção de busca dessa rede social ou a partir da leitura de
discussões em geral na mesma rede, sem utilização da ferramenta de busca, espero evidenciar
o sentido prototípico ativado pela construção des-+base verbal no infinitivo. Para esse
percurso analítico, utilizo como suporte teórico-metodológico, os pressupostos da Linguística
Cognitiva (LC), mais especificamente, do modelo de Morfologia Cognitiva (MC) postulado
por Hamawand (2011). Este modelo argumenta que as construções morfológicas devem ser
explicadas por meio das operações cognitivas: categorização, configuração e
conceitualização. Portanto, considerando que a MC envolve o exame das relações semânticas
entre as subpartes na formação de uma palavra (Hamawand, 2011), nossa intenção é aplicar
essa estrutura analítica em nossa pesquisa e, por meio de uma análise comparativa, avaliar
suas limitações, adequações à análise pretendida, além de delinear possíveis expansões dessa
abordagem.
OLIVEIRA, Raphael Alves de. Formations innovantes avec 'des-' sur X/Twitter : description
et analyse par la Morphologie Cognitive. 2023. 112 f. Dissertação (Mestrado em Letras) –
Instituto de Letras, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2023.
L'objectif de ce travail est d'étudier et de décrire les opérations cognitives déclenchées par de
nouvelles créations lexicales avec la base verbale des-+ à l'infinitif en analysant et en
décrivant le comportement sémantique de ce préfixe dans de nouveaux mots, en se
concentrant sur les formations de bases verbales à l'infinitif dans des textes publiés sur la
plateforme X/Twitter, tels que desabraçar, desver, desorrir et d'autres. Les différentes
recherches dans le domaine de la morphologie dérivationnelle (Silva ; Mioto, 2009, Medeiros,
2010 ; Rio-Torto, 2019), qui analysent le préfixe, établissent des critères qui, en principe,
serviraient de filtres pour les mauvaises formations, classant ces mots comme
agrammaticaux/inacceptables. Pour Silva et Mioto (2009), le préfixe « des- » ne peut pas se
combiner avec des verbes qui ne marquent pas de processus ou qui marquent des processus
irréversibles, considérant comme agrammaticaux des exemples tels que: «desmorrer»,
«deschegar », « deslavar », « desdesejar », entre autres. Medeiros (2010), pour sa part, affirme
que le préfixe « des- » ne signifie pas la réversion d'un processus, mais plutôt la négation ou
l'inversion d'un état découlant d'un processus. Par conséquent, on ne s'attend pas à trouver des
constructions avec ce préfixe dans des noms d'événements tels que le travail, la danse et le
saut, car ils désignent des fonctions incompatibles avec les propriétés de sélection sémantique
du préfixe « des- ». Quant à Rio-Torto (2019), elle argumente que ce préfixe rejette les verbes
qui dénotent i) des situations statiques (ser, existir), ii) des processus (chover,correr,
dormir,nadar, nevar, saltar), iii) des événements ponctuels (matar,morrer) et iv) des valeurs
extractives circonfixées en « es- » (desesbravejar, desesverdear). Cependant, sur les réseaux
sociaux et dans la langue en usage, il est courant de trouver toutes ces formations considérées
comme agrammaticales par Silva et Mioto (2009), Medeiros (2010) et Rio-Torto (2019). En
considérant le corpus composé de 97 tweets contextualisées, extraites manuellement de
X/Twitter via le hashtag #des- et des- dans la section de recherche de ce réseau social, ou à
partir de la lecture de discussions en général sur ce même réseau sans utiliser l'outil de
recherche, j'espère mettre en évidence le sens prototype activé par la construction « des- » +
base verbale à l'infinitif. Pour ce parcours analytique, j'utilise comme support théorique et
méthodologique les présupposés de la Linguistique Cognitive (LC), plus spécifiquement le
modèle de la Morfologia Cognitiva (MC) postulé par Hamawand (2011). Ce modèle soutient
que les constructions morphologiques doivent être expliquées par le biais des opérations
cognitives : catégorisation, configuration et conceptualisation. Ainsi, considérant que la MC
implique l'examen des relations sémantiques entre les sous-parties dans la formation d'un mot
(Hamawand, 2011), notre intention est d'appliquer cette structure analytique à notre recherche
et, par le biais d'une analyse comparative, d'évaluer ses limites, son adéquation à l'analyse
envisagée, ainsi que de tracer d'éventuelles extensions de cette approche.
Quadro 12- Domínios evocados pelos prefixos de- e dis- do inglês ...................... 47
GH Gramática Histórica
LC Linguística Cognitiva
MC Morfologia Cognitiva
MD Morfologia Distribuída
NEG Negação
PB Português Brasileiro
SD Sequência Discursiva
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................... 15
2 SUPORTE TEÓRICO................................................................................ 38
REFERÊNCIAS ........................................................................................... 99
INTRODUÇÃO
1
De acordo com Valente et al. (2009) “circunfixação é o mecanismo do tipo não-concatenativo, que pressupõe
não a anexação de um prefixo e um sufixo simultaneamente, mas a existência de um circunfixo, um morfema
descontínuo que se separa pela intercalação da base: (i) eN-caro-ecer (encarecer); (ii) a-podrecer (apodrecer). Em
(i., ii.), teríamos os circunfixos ‘eN...ecer’ e ‘a...ecer’ que se separam para que as bases caro e podre possam ser
inseridas em seu interior. Dessa forma, a semântica do processo de formação de palavras estaria, segundo essa
proposta, no circunfixo como um todo (e não somente no prefixo ou no sufixo isoladamente)” (Valente et al.
2009, p. 4).”
2
Ver mais no Anexo A.
16
SD 1: “Odeio acreditar em karma pq eu desejo as coisa ruim pras pessoas e daí tenho q
desdesejar se não teoricamente volta em dobro pra mim” (Anexo A: item/construção 28-
Postado em: 15.04.20, grifo meu)
SD 2: “Desde que falaram que a Billie Eilish se veste igual o Ribamar do Sai de Baixo eu
nunca mais consegui desver” (Anexo A: item/construção: 94- Postado: 25-03- 23, grifo meu)
SD 3: “hoje li que gin tem gosto de perfume no pescoço e agora, tomando gin, não consigo
dessentir” (Anexo A: item/ construção: 84-Postado em: 15.03.23, grifo meu)
informação nunca antes ocorrida na história” (Alves, 2011, p. 103). Soma-se ainda o fato de
essa plataforma possibilitar a produção de um córpus robusto.
No que concerne aos tuítes utilizados nesta pesquisa, os mesmos foram replicados tal
qual apareceram no X/Twitter. Modificamos apenas alguns espaçamentos a fim de facilitar a
leitura sem, com isso, comprometer a estrutura das enunciações. Nossos grifos destacam as
construções que aparecerão em nossos eixos analíticos. Além disso, manteremos preservada
as identidades dos usuários das postagens dessa pesquisa. Assim, os sujeitos-tuiteiros (aqueles
que realizam as postagens na plataforma digital) serão identificados como Usuários 1, 2, 3
seguindo uma sequência numérica das postagens que serão apresentadas, seguidos da sua
localização no Anexo A deste trabalho.
A base teórica adotada para a análise dos dados segue os pressupostos da Linguística
Cognitiva (LC), mais especificamente, do modelo de Morfologia Cognitiva (MC) postulado
por Hamawand (2011). Este modelo argumenta que as construções devem ser explicadas por
meio das operações cognitivas: categorização, configuração e conceitualização. Portanto,
considerando que a MC envolve o exame das relações semânticas entre as subpartes na
formação de uma palavra (Hamawand, 2011), nossa intenção é aplicar essa estrutura analítica
em nossa pesquisa e, por meio de uma análise comparativa, avaliar suas limitações,
adequações à análise pretendida, além de delinear possíveis expansões dessa abordagem.
Além deste capítulo introdutório, este trabalho se divide da seguinte forma: o próximo
capítulo, intitulado “Revisitando o prefixo des-”, destaca algumas das discussões já levantadas
sobre esse prefixo, bem como este trabalho se insere em relação aos outros. O capítulo
chamado “Suporte teórico”, apresenta o modelo da Morfologia Cognitiva de Hamawand
(2011) sob quais perspectivas analiso o meu objeto. No capítulo “Caminhos metodológicos”,
descrevo o córpus da pesquisa e as escolhas metodológicas para este estudo. O capítulo
“Análise dos dados” aborda as trajetórias percorridas na pesquisa, explorando a interseção
desse caminho com a abordagem de Hamawand (2011) e as limitações da pesquisa. Por fim,
no capítulo “Considerações finais”, encerro esta dissertação apresentando a síntese dos
objetivos deste estudo e dos resultados obtidos, bem como os objetivos futuros da pesquisa.
18
3
Rocha (2008, p.148) apresenta ainda as seguintes características dos prefixos: i) é uma sequência fônica
recorrente; ii) não é uma base; iii) coloca-se à esquerda de uma base; iv) tem como objetivo formar novas
palavras, ou seja, a presença do prefixo caracteriza uma palavra derivada; v) apresenta uma identidade fonética,
uma identidade semântica e uma identidade funcional e vi) é sempre uma forma presa.
4
No original:“le parent pauvre des processus d’analyse de la formations des mots”.
5
Sistematização de Medeiros (2010, p. 100)
19
Na posse desses esquemas em (1), Silva e Mioto defendem que o prefixo des-, por
possuir uma semântica de reversão de ação, teria como exemplificação correta da formação da
palavra desmobilização a opção (b). Contudo, como o prefixo des- também é produtivo com
bases adjetivais, a opção (a) também seria aceita. Tendo em vista esses aspectos, para validar
a hipótese de seleção rígida e lidar com as construções como “desnecessário”, “desleal”,
“desumano”, “deselegante”, “desigual”, os autores propõem a existência de um prefixo
homônimo que se une a bases adjetivais. Além de se associar a bases diferentes, esse prefixo
apresenta significado distinto.
De acordo com os autores (2009), nos casos em que os verbos não indicam processos,
haveria uma incompatibilidade semântica entre o aspecto da base e o do prefixo,
diferentemente dos que marcam processos, uma vez que “traduzem a compatibilidade
semântica entre os dois morfemas da palavra.” (Silva; Mioto, 2009, p. 20). Portanto,
neologismos como desmorrer, deschegar, deslavar, desdesejar, desnadar e dessonhar seriam
irregulares (Silva; Mioto, 2009, p. 20). Contudo, na plataforma X/Twitter, encontramos todos
esses exemplos considerados irregulares. Observemos
Medeiros (2010), por sua vez, com base no arcabouço teórico da Morfologia
Distribuída (MD), defende que o prefixo des- não realiza uma seleção categorial, contrariando
a proposta de Silva e Mioto (2009), mas uma “seleção de natureza semântica, modificando
somente verbos cujos significados envolvam um elemento com interpretação estativa”
(Medeiros, 2010, p. 96) como por exemplo, desenterrar. Nas palavras do autor (2010, p. 97),
20
o verbo desenterrar pressupõe um estado, enterrado, inteiramente coberto por terra, sob o
solo, estado alvo de um possível evento de enterrar. Ao final do evento de desenterrar, o que
estava sob o solo não mais permanece em tal estado, atinge o estado não-enterrado, ou não
mais inteiramente coberto por terra. Nessa diretriz, o autor adota a seguinte representação
semântica para o nó sintático exponencial de des-:
Desse modo, o autor rechaça a hipótese de Silva e Mioto (2009), afirmando que o
prefixo des- “não denota reversão de processo, mas nega ou inverte um estado que pode
decorrer de um processo”, por exemplo, descolar, que não pressupõe que algo tenha sido
colado ou se tenha colado” (Medeiros, 2010, p. 98). Sendo assim, o prefixo des- não pode ser
6
Medeiros (2010,2016) entende que “o prefixo des- tem a seguinte definição recursiva: [[NEG]] des-:=
λf.λs’.[~f(s)]. Ou seja, o prefixo toma um estado s e devolve o estado não-s. As propriedades de seleção
semântica do prefixo forçam uma leitura em que o sintagma raiz em (30) tenha a seguinte denotação: λs.R(s,
[[DP]]), onde [[DP]] é a denotação do DP complemento do verbo (uma entidade), s é uma variável
(davidsoniana) de estado e R traz o conteúdo lexical da raiz.” (Medeiros,2016, p.18). Assumindo o aporte
teórico da MD, o autor defende que “podemos pensar que em Forma Lógica o sintagma raiz recebe a denotação
(digamos, puramente estrutural) acima, λs.R(s, [[DP]]), por conta das propriedades de seleção do prefixo ou do
verbalizador; na interface conceitual, a lista 3 (Enciclopédia) fornece o conteúdo de R.” (Medeiros,2016, p.18).
Para uma discussão mais específica, ver mais em Borer (2005).
21
licenciado a verbos que denotam atividade; mesmo quando há um ponto final para uma
determinada ação, não o aceitam, como: *descorrer (um quilômetro), *destrabalhar (até o dia
raiar), *desdançar (a valsa), *despular, *desgritar, * desfalar (as palavras mágicas) entre
outros, pois não envolvem, não de maneira evidente, uma mudança de estado do seu
participante (agente).
No tocante às raízes adjetivais7, Medeiros constata que, por terem função de unir uma
entidade a um estado de valor-verdade, aceitam a prefixação com des-: “alguns nomes de
estado, em particular muitos nomes de estados psicológicos (afeto, amor, esperança, alento,
ânimo, estímulo, temor, etc.), também aceitam a prefixação” (Medeiros, 2010, p.116). Além
disso, o autor chama a atenção de que formações com des- de base adjetival e nominal não
pressupõem estado denotado pela raiz. Conforme essa proposta, isso reforça a ideia de que a
pressuposição não é algo associado ao prefixo, mas sim aos verbos aos quais se adjungem.
Diferente do proposto por Silva e Mioto (2009), que interpretam a adjunção à base
adjetival como um caso de homonímia, Medeiros (2010) alega que esse morfema seleciona
estados e não se detém a categorias morfossintáticas, visto que pode ocorrer com verbos,
adjetivos e nomes. A partir dessa perspectiva, o autor afirma que “conhecendo as denotações
semânticas destas classes de palavras e as estruturas de evento associadas aos verbos,
compreendemos a distribuição do prefixo des-, e chegamos à sua denotação: uma denotação
única, que evita a multiplicação de entradas lexicais para o prefixo” (Medeiros, 2010, p. 118).
Entretanto, apesar dessas postulações de Medeiros, é comum encontrarmos na
plataforma X/Twitter construções com des- com verbos que denotam atividade, mesmo
quando há um ponto final para uma determinada ação. Detemo-nos aos exemplos citados no
estudo de Medeiros (2010) produzidos na plataforma8:
7
Medeiros (2010, p. 115) ressalta que não pretende, nesse estudo, analisar com mais pormenor as possíveis
incompatibilidades de certos adjetivos com o prefixo analisado, mas apenas mostrar que a proposta apresentada
pode ocorrer com essa classe de palavras.
8
Exemplos já citados por outros autores, não serão incluídos nos próximos quadros.
22
Para Rio-Torto (2019, p. 98), o prefixo des- pode ser combinado com bases verbais,
adjetivais e, em menor caso, bases nominais. Quando anexado a cada categoria, pode denotar
valores semânticos distintos, como mostra o quadro (4):
Segundo Rio-Torto (2019, p. 99), para que o formativo des- seja anexado a bases
verbais e adjetivais, é necessário que essas bases atendam a um requisito semântico: serem
suscetíveis de reversão e/ou negação. A autora ainda pontua que:
(ii) A premissa acima não é ativada quando o prefixo des- tem valor negativo,
expresso no esquema [CAUSAR [NÃO][(X)]]], por exemplo, desobeceder
não implica que se tenha obedecido antes.
Partindo dessas pressuposições, Rio-Torto (2019, p.100-102) defende que (i) des-
verbo possui valor reversativo e seleciona predicados télicos (descoser, desintoxicar,
desmontar) e atélicos com valor negativo como desagradar, desconfiar; (ii) des-adjetivo, com
valor negativo, apenas se funcionarem como predicados de indivíduo (desleal, desonesto),
combinando preferencialmente com adjetivos qualificativos e deverbais (descartável,
desmontável); e por fim a autora cita que (iii) o prefixo des- está presente em sentido eventivo
(desarrumação, desfiliação), em propriedades/estado (desatenção, desconformidade),
sentimento (desamizade, desamor) e atitude (descaso, despropósito). Nesse último caso, de
formação nominal, há situações em que o sentido pode denotar tanto reversão quanto negação,
como demonstrado:
Apesar dessas postulações, assim como os Silva e Mioto (2009) e Medeiros (2010),
conseguimos encontrar a maior parte dos exemplos considerados por Rio-Torto como não
aceitáveis na plataforma X/Twitter. Vejamos:
Coutinho (1973) pressupõe que o prefixo des- tem origem na junção [de- + ex],
possuindo o valor semântico de separação, afastamento, ação contrária, intensidade, negação,
podendo também ser expletivo. Além disso, conforme o autor, dis- advém de “dis-, di- <dis-
“que significa dualidade, divisão entre as partes, separação, movimento, afastamento,
cessação, negação, falta e intensidade.” (Coutinho, 1973, p. 177). Já para Camara Jr. (1979, p.
229), o prefixo des- é o resultado das preposições de + ex. Contudo, o autor ressalva que
existe uma certa confusão com o prefixo latino dis-, que indica separação.
Contrariando essas visões, Said Ali (1921, p. 198) afirma que a origem da forma des-
como a combinação de- + ex é posta em dúvida por bons investigadores. Por esse motivo,
Said Ali (1964) considera que o prefixo des- não procede das junções das preposições latinas
de + ex, mas da romanização do dis-. Além disso, ressalta que:
Adotando essa perspectiva, Cunha (2011[1982] p.201) assume que o prefixo des- é
uma evolução do dis-. O mesmo posicionamento pode ser visto em Rio-Torto (2013, p.357),
que sustenta que o prefixo des- tem origem no latino dis-. Contudo, a autora ressalta que o
prefixo des- é a atual configuração produtiva no português.
Em contrapartida, Nunes (1945) postula que há duas possibilidades da formação do
prefixo des-: “(...) tanto pode resultar de dis-, como da junção das duas preposições, de- e ex-
(...)”. Segundo Carvalho (2016), o prefixo des-, provavelmente, vem do latim dis-, mas
ressalta que existe a possibilidade de ele ter originado da aglutinação de- + ex. Nessa diretriz,
Barreto (1986[1944]) alega que o prefixo des- tanto pode ser o resultado de dis- como da
junção das preposições de- e ex-:
Se des é a forma vulgar do prefixo dis (e em italiano não há des, mas sim e sempre
dis: disunire, disapprovare, disamore), e se disé o mesmo prefixo latino dis, de igual
origem que bis, ou seja, o mesmo que originou o numeral duo, dois; se é assim é DIS
com as formas DIS (dispor), DES (desigual), DI (divertir) significa originalmente
duplicidade como dissecar (cortar em dois), disjungir (separar duas coisas juntas),
depois separação ou diversidade de partes como dispor, divertir e finalmente
oposição, como desleal, desamável, desaplicado. (Barreto, 1986[1944], p. 48)
26
No que diz respeito à sua semântica, Barreto (1980, p. 59 apud Viana, 1904, p. 80)
tece a seguinte observação:
9
Neira (1976, p.312) “Enlo que sigue, trataremos de reconstruir elproceso que condujo a la diversidade de
funciones que pose hoyel prefixo /des-/ enlalenguagallego-portuguesa. No basta para ellolimitarse a indagar
elverdadero étimo latino, que unos relacionancon /dis-/ y otros com lacombinación /de-/ + /ex-/ /eks-
/.Convieneademástenerencuentalosmedios que elhablante latino utilizaba para un sistema de oposiciones que
enloesencial se ha continuado enlaslenguas românicas”.
10
Para Santos (2020, p.168) “No caso do prefixo “de-”, não se encontram dificuldades em postular a sua origem,
que surge a partir da preposição díctica homônima de uso prepositivo e pospositivo”.
27
um determinado domínio cognitivo: de-, dis- e ex- partilhariam um mesmo domínio cognitivo,
disso decorrendo a fusão de significado do formativo des-.
No que concerne aos significados, na busca de verificar as instanciações semânticas
dos prefixos de-, dis- e ex, detemo-nos, numa perspectiva etimológica, detemo-nos ao estudo
de Romanelli (1964, p. 5), que tem como objetivo principal realizar um “estudo metódico e
exauriente dos prefixos latinos e de seu papel na composição de palavras”. Dessa forma,
podemos sistematizar os sentidos, dos prefixos acima, do seguinte modo11:
Quadro 6: Extensões de significado dos prefixos de-, dis- e ex- conforme Romanelli (1964)
Prefixo Extensões de significado
de- a) movimento de cima para baixo,descida, queda; ( decurro “descer correndo, correr descendo,
precipitar-se”, decutio “ fazer cair sacudindo, fazer cair, deitar abaixo”, defigo “ enfiar, enterrar, fizar
do alto para abaixo”
b) afastamento, separação, repulsa, aversão; (decedo “ir-se embora, retirar-se”, demoveo “afastar,
desviar de deslocar, remover”, deprecor “afastar por meio de súplicas, pedir que não faça mal, pedir,
suplicar, afastar, desviar”)
c) diminuição, redução, desgaste; ( decresco “ decrescer, diminuir, tornar-se menor”, deductio “ ação
de tirar, diminuição, dedução”, detero “gastar pelo atrito ou pelo uso, gastar, tirar esfregando,
diminuir”
d) privação, negação, antonímia; dearmo “desarmar, roubar, subtrair”, debeo “ dever dinheiro ou
qualquer outro objeto, ser devedor’’, despero “desesperar, perder as esperanças”
e) acabamento, consumação; debello “terminar a guerra com a vitória, debelar, vencer”, dedoleo
“deixar de se aflingir, pôr termo à sua dor”, defungor “satisfazer completamente, desempenhar-se
completamente, cumprir inteiramente”
f) intensidade; deamo“gostar muito, amar”, delasso “cansar demasiadamente, fatigar muito, esgotar”,
delitigo “exceder em palavras, altercar”
g) sentido zero (esvaziamento de conteúdo semântico) dealbo “debalbar, branquear, cair”, deambulo
“deambular, passear, dar um passeio”, derelinquo “abandonar, desamparar”
dis- a) separação, disjunção, afastamento; diffindo “arrombar, separar, fender, dividir”, digredior “afastar-
se, retirar-se, ir-se embora”, dimoveo “afastar, separar, dividir, desviar”
b) diversidade de direção, dispersão; dido “distribuir, repartir, espalhar,”, diduco “levar, conduzir
para diversas partes, separar, dispersar”, differeo “levar de um lado e ouro, levar para diferentes partes,
dispersar”
c)negação, antonímia; diffamo “difamar, desacreditar”, difficilis “difícil, penoso, custoso”, diffido
“não se fiar em, desconfiar, não confiar em”
d) intensidade, reforço de sentido; dillapido “juncar ou cobrir de pedras”, discupio “desejar
ardentemenre”, disperdo “perder completamente, destruir, arruinar”
e) ordem, arranjo, disposição: dirigo “conduzir em diversas direções, dirigir, alinhar, dispor,
ordenar”, dispenso “pagar, distribuir, administrar, dispor, ordenar”, disponho “dispor, pôr em vários
lugares, pôr em ordem, regular, ordenar”
ex- a) movimento de dentro pra fora, saída, extração: edo “dar à luz, dar a lume, fazer sair, publicar”,
educo “levar para fora, fazer sair, tirar de”, effodio “tirar cavando, desenterrar, extrair”
b) elevação, ascensão; emineo “destacar-se em saliência, estar saliente, elevar-se”, emolior “levantar
um peso, elevar-se”, enitor “fazer esforços para sair, fazer esforços para sair, fazer esforços para se
elevar, para subir”
11
Selecionamos, para esse quadro, apenas os três primeiros exemplos de cada extensão de significado
apresentado por Romanelli (1964).
28
Para Dolinski (1993), dentre os prefixos negativos, o des- é o mais produtivo entre os
falantes do PB. Conforme o autor, isso pode ser explicado devido à “sua acepção imediata
pelo usuário, por sua variação funcional, e porque está pouco sujeito a restrições” (Dolinski,
1993, p. 141). Em seu estudo, o autor chama a atenção para analisar o significado do prefixo
considerando o contexto em que está inserido. Desse modo, partindo de um córpus coletado
de jornais, tendo como principal foco as palavras não dicionarizadas no Aurélio 12, na época de
sua análise, o Dolinski sistematiza, com exemplos, os seguintes traços semânticos do
formativo des-. Vejamos:
12
Embora tenha sinalizado que as palavras foram extraídas de jornais, Dolinski (1993) não sistematiza,
minunciosamente, como essa extração foi realizada.
29
Ainda, segundo o autor, há diversos exemplos com des- em que a carga semântica do
prefixo des- não é compreensível; em outras palavras, não corresponde exatamente à soma
das unidades que a compõe13. Nesses casos, conforme Dolinski (1993, p.11-12), “[...] há falta
13
Como exemplo, Dolinski (1993, p.62, grifos do autor) apresenta os seguintes exemplos: “desgosto não è
'falta’, 'ausência de gosto ou ‘não-gosto'. Chamamos; estas formações; de opacas. Desgosto ê palavra complexa
opaca a despeito ele no AURELIO constar que desgosto ë 'falta' „ 'ausência de gosto’. Na verdade, o significado
30
Convém também notar que as formações estranhas que violam as restrições, que
provocam espanto, que fogem à norma, mas que não se constituem desvios, são
formações anormais e a elas não se pode atribuir o conceito de certo ou errado. A
não se mostra tão transparente e o uso nos; diz que desgosto è 'pesar', 'mágoa', 'tristeza', 'descontentamento'. Na
mesma situação encontram -se: “descaso ", "desavença ","desencanto”, desgraça",” desculpa”
31
Schneider (2009, p.79) defende que, devido à sua carga semântica pré-determinada, os
prefixos selecionam a raiz com a qual se combinam. Partindo dessa premissa, ao observar o
comportamento semântico do prefixo des-, Schneider e Bidarra (2009) argumentam que esse
formativo possui uma polissemia altamente acentuada. Assim, com base em um córpus de
língua escrita14, os autores apresentam alguns teores semânticos para o prefixo des-, a ver:
14
Os autores coletaram o seu córpus da versão online do jornal “Observatório da Imprensa”.
32
(i) Naturalmente, nas críticas ao ex-presidente foram usados dois pesos e duas
medidas, pois do presidente Lula tudo que se perdoa nessas questões, como se ele
fosse o único brasileiro desobrigado de se submeter à norma culta, podendo falar
como puder ou quiser. (Observatório da Imprensa, 27/11/2007)
(ii) E espero que lá meus ossos descansem até se fundirem com a terra.
(Observatório da Imprensa, 15/01/2008) (Schneider; Bidarra, 2009, p.77)
Por meio desses exemplos, os autores destacam também que o contexto em que tais
formações são utilizadas podem ter uma semântica de positividade quanto de negatividade,
variando de acordo com a perspectiva dos participantes envolvidos na situação:
(1) Mas os preços desse conversor na faixa de 500 reais, no mínimo, significam que
o consumidor terá de desembolsar quase o valor de desembolsar dois
televisores atuais de 16 polegadas para melhorar a sua recepção. (Observatório
da Imprensa, 04/12/2007)
(2) O assunto é nosso – nos porões de uma das naus que trouxe a Corte, a Medusa,
veio uma prensa desmontada e, graças a isso, chegamos à era Gutenberg.
(Observatório da Imprensa, 04/12/2007)
(3) Segundo ela, a imprensa inventa e depois exige que se desminta o que
inventou. ta (Observatório da Imprensa, 27/11/2007) (Scheneider; Bidarra, p.78)
Conforme a análise dos autores, a palavra desembolsar (1) demonstra que há uma
possibilidade de inversão na ação previamente realizada. Já nas duas outras formações:
desmontar e desmentir, indicam uma ação que demandaria certo nível de precisão ou
qualificação.
Quanto ao teor “aumento ou intensidade”, os autores recorrem, dentre vários
exemplos, à formação desdobrar para afirmar o valor reforçativo que o prefixo des- pode
fornecer para a sua base. Vejamos:
(2) Mais tarde, foi substituído pelo espanhol zaguero, depois adaptado para o
português zagueiro, desdobrado em quarto-zagueiro desdobrado e zagueiro-central.
(Observatório da Imprensa, 22/01/2008)
(1) Alguns com três pernas, com rostos e corpos desfigurados, com membros
desproporcionais etc., para a diversão própria e de seus convivas. (Observatório da
Imprensa, 08/01/2008)
(2) As revistas coloridas alarmam-se com o degelo das calotas polares e a sorte dos
ursinhos brancos. (Observatório da Imprensa, 15/05/2008) (Scheneider; Bidarra,
p.81)
Por último, os autores apresentam o teor semântico “falta de harmonia” que é expresso
através dos itens lexicais desequilíbrio, desproporção e descontrole. Observemos os excertos
a seguir:
(1) Na retaguarda, nas equipes técnicas e de produção, também se repete o
desequilíbrio observado na tela. desequilíbrio (Observatório da Imprensa,
17/12/2007)
(2) A desproporção entre conteúdo e publicidade verifica - desproporção se
também em outros veículos de comunicação de massa. (Observatório da Imprensa,
04/12/2007)
(3) O DVD intitulado Tropa de Elite 3, que se acha há muito tempo nas ruas do Rio,
poderia ser noticiado apenas como sintoma de dois fatos sociais maiores, para os
quais só agora o poder público parece estar acordando: (1) o agravamento da
violência urbana pela progressiva falta de controle sobre o tráfico de drogas e os
assaltos; (2) a transformação desse descontrole em espetáculo. (Observatório da
Imprensa, 15/01/2008) (SCHENEIDER; BIDARRA, p. 81)
Para os autores, nos excertos acima é possível notar que o teor semântico dominante é
a falta de harmonia. Com isso, argumentam que:
Embora seja uma categoria negativa, ela enfatiza, além da negatividade, outro viés
semântico a que podemos nos remeter. Desse modo, ressalta-se a importância do
surgimento dos significados assumidos pela junção do prefixo, pois o vocábulo
assume um teor semântico movido pela junção do elemento prefixal adicionado à
base. (Scheneider; Bidarra, p. 82)
15
Segundo Schneider e Bidarra (2009, p. 81) “considera-se o prefixo de- como um processo de alomorfia do
morfema des- devido a uma acomodação fonética”.
35
não abordem os dados não dicionarizados, o posicionamento semelhante aos dos autores
poderá ser observado na seção de análise deste trabalho.
Ao realizar essa divisão, em quatro classes, Oliveira analisa o prefixo des- no que
concerne às configurações morfossintáticas e às representações estrutural e sintática das
estruturas de cada verbo, com base no arcabouço teórico da MD 16. Além disso, a autora
16
Este trabalho não tem como objetivo esmiuçar os detalhes do comportamento desse prefixo à luz da MD,
apenas informar, de modo geral, as classificações de produtividade e as restrições desenvolvidas nessa
abordagem teórica. Todavia, para um maior aprofundamento, ver mais em Oliveira (2009)
36
17
DP (DeterminerPhrase) pode ser traduzido para Sintagma Determinante.
37
Quanto às raízes com semântica não compatível com o traço semântico de des-,
Oliveira (2009, p.128) defende que:
[...] assumir uma semântica de simples negação para des-/A, o que funciona bem em
casos como desnecessário, visto que este adjetivo significa justamente ‘não
necessário’. Contudo, essa análise gera uma semântica incorreta nos casos em que a
prefixação com des- dá origem a uma oposição contrária. Assim, desagradável não
denota simplesmente ‘não agradável’. Significa algo pior; e, de fato, um indivíduo
pode ser descrito como não desagradável e, simultaneamente, não agradável, sem
que haja uma contradição.
(i) Uma questão empírica claramente visível nessa abordagem é que ela resulta no fato de
que verbos que recebem o prefixo des- seriam todos considerados télicos, levando a
um estado resultante que corresponderia à negação do estado base. Contudo, não é
difícil encontrar contraexemplos, com o verbo descongelar. Não seria claro como o
modelo de Medeiros se aplicaria na sentença: “acham que a frozen descongelou um
pouco?????” (Usuário 20- Anexo B: item/construção 3- Postado: 01-04-21).
(ii) Outra questão empírica que surge com essa análise é a previsão de que o prefixo des-
não poderia ser adicionado a substantivos que não expressam estados. No entanto, isso
é contraposto por exemplos como desabusivo, desprefeito, desgoverno, desbabaca,
desdança entre outros. Vejamos:
Isto posto, neste trabalho assumimos os passos de Dolinski (1993) ao considerar que
as formações prefixais com des- que fogem à regularidade das prescrições gramaticais não
devem ser consideradas irregulares e muito menos tratadas como desvios. Antes, o critério de
julgabilidade dessas formações deve ser a transparência semântica. Se uma formação
consegue ser depreendida com ou sem contexto, essa deve ser considerada aceita, pois
defendemos que a utilização das distintas estratégias de formação de palavras é tão natural
que o falante quase não se dá conta de que várias palavras “não estavam disponíveis para o
uso e foram formadas por nós mesmos, exatamente na hora em que a necessidade apareceu”
(Basílio, 1987, p. 5).
41
2 SUPORTE TEÓRICO
Neste capítulo, descrevo os principais conceitos que sustentam esta pesquisa. Nas
próximas subseções, apresento o modelo de Hamawand (2011), que serve de inspiração para
esta dissertação, avalio a aplicabilidade, identifico as possíveis limitações e proponho um
percurso teórico-metodológico para analisar e descrever as operações cognitivas ativadas
pelas formações inovadoras com o prefixo “des-” de base verbal no infinitivo.
uma parte de um domínio que está associada a um conceito específico. Cada faceta é
expressa por uma forma apropriada de linguagem. Um domínio compreende um
conjunto de itens linguísticos ligados de tal forma que, para compreender o
significado de qualquer item, é necessário primeiro identificar o conhecimento que
ele evoca e, em segundo lugar, relacioná-lo à faceta específica dentro dele.”5
(Hamawand, 2011, p. 46, tradução nossa).
42
Por exemplo, ao realizar um estudo sobre os sufixos -linge -ette, no inglês, Hamawand
(2011, p. 266) afirma que esses sufixos estão agrupados no domínio de 'diminuição'. Todavia,
cada um representa uma faceta distinta, uma vez que o sufixo -lingé usado para descrever
pessoas, animais ou plantas, como em princeling (principezinho) e o –ette é usado para
descrever lugares ou obras de literatura, como em kitchenette (cozinha pequena).
O modelo de Hamawand (2011) não abandona as terminologias adotadas das
formações morfológicas como: morfema, forma livre, forma presa e os processos de
derivação e composição. Além disso, como veremos na análise dos mecanismos cognitivos,
lança mão de diversos conceitos como os critérios de composicionalidade, correspondência,
dependência, determinância e constituência aproximando-se do que é aventado em outras
propostas de análise morfológica. O que muda, parafraseando Saussure (2016, p. 39), é a
perspectiva de análise das construções morfológicas, que busca respostas sob a ótica
cognitivista.
A MC se estrutura nos pressupostos teóricos da Linguística Cognitiva (doravante, LC)
e tem como objetivo fornecer respostas ou levantar hipóteses que permitam explicar certas
estruturas morfológicas utilizadas pelos falantes. Para Hamawand (2011, p. 15-16), a adoção
da LC, deve-se ao fato dessa abordagem teórica:
a) focar na linguagem como um instrumento de organização, processamento e
transmissão de informações e considera que as estruturas da linguagem estão a serviço dessa
função;
b) explicar a criação, o aprendizado e o uso da linguagem por referência a conceitos
formados na mente do/dos falante(s), uma vez que procura estabelecer padrões/ descrições
dos padrões linguísticos através de operações mentais produzidas na mente do falante;
c) ter como importância central o significado, que é corporificado na experiência
humana e explicado através da cognição. Acrescenta-se o fato de que não há uma fronteira
entre habilidades linguísticas e cognitivas, por um lado, e significado linguístico e
conhecimento geral, por outro.
Com base nessas postulações, Hamawand (2011, p. 11) defende que o léxico é uma
rede de unidades morfológicas associadas pelos falantes segundo os princípios cognitivos.
Para o autor, a morfologia é definida como “um ramo da linguística que estuda as relações
entre forma-significado, ou seja, entre unidades lexicais e sua disposição na formação de
palavras”7. E dentro dessa proposição, a palavra é vista numa perspectiva saussuriana, ou
seja, “unidade simbólica que é combinação de som e significado” 8. Para embasar a sua
43
argumentação, Hamawand cita como exemplo a palavra CAR (carro em inglês) que possui
dois aspectos que não podem ser separados: a imagem sonora /ka:/ e o conceito [CAR].
Ao buscar analisar os dados e os problemas morfológicos existentes em abordagens
tradicionais, Hamawand (2011) sistematiza a Morfologia Cognitiva através das seguintes
estruturas:
(1) pressupostos cognitivos: simbolismo, convencionalidade, criatividade,
autenticidade e semanticidade;
(2) mecanismos cognitivos: (i) integração: correspondência, dependência,
determinância e constituência; (ii) interpretação: composicionalidade e analisabilidade;
(3) operações cognitivas: categorização, configuração e interpretação.
(ii) dependência: uma das subestruturas se qualifica como autônoma (A) e a outra
dependente (D). Na formação de deslamber, o prefixo é a forma dependente, uma vez
que o seu significa precisa de uma estrutura para atualizar o seu sentido. Já o verbo
lamber é autônomo, embora, da mesma maneira que o prefixo precise de uma
construção, contudo, mais complexa para instanciar o seu significado. As duas
unidades linguísticas funcionam como gatilho para acionar uma matriz de operações
conceptuais.
(ii) determinação: corresponde à ideia de que, na formação de uma palavra, uma
subestrutura empresta o seu perfil a toda a construção. Exemplo: na palavra
desmontada, o prefixo des- empresta o sentido de reversão quando é anexado à
palavra montada, imprimindo ao verbo um novo sentido.
(iii) constituência: diz respeito à ordem em que as subestruturas são integradas para formar
uma unidade significativa, por exemplo: desgovernador forma uma unidade
significativa, ao contrário de governadordes*9, ou seja, a coesão interna. O segundo
mecanismo, a interpretação, corresponde ao pareamento forma-significado. Esse
processo é governado pela (a) composicionalidade: refere-se ao processo de inferir o
significado de uma construção através da junção de suas subestruturas. Essa
característica é essencial para a construção e compreensão de novas expressões. Ela é
subdividida em composicionalidade total: o valor semântico de uma construção é
computável a partir dos valores de seus constituintes imediatos. Exemplo: desfazer é o
ato de reverter uma ação; e composicionalidade parcial, o significado de uma
expressão é determinado tanto pela contribuição semântica de seus componentes
quanto pelo conhecimento pragmático por trás do que é realmente simbolizado. Por
exemplo, o significado desumano em “O tratamento foi desumano” não é dado apenas
pelos significados dos seus constituintes morfológicos, base e prefixo, mas também
pelo seu significado biossocial, ou seja, procedimento cruel, sem as qualidades de
bondade e piedade por qual passou uma pessoa. E (b) anasabilidade é a habilidade de
reconhecer as contribuições da forma-significado das palavras. A anasabilidade pode
ser total ou parcial. No primeiro caso, o falante reconhece as unidades mínimas da
construção, como em des + danç+ar = desdançar. Enquanto no segundo, o falante
identifica as subestruturas morfológicas, mas não é capaz de atribuir significado à
45
E, por último, (3) as operações cognitivas18, que dizem respeito aos processos que os
falantes de uma determinada língua realizam, de modo inconsciente, para produzir e
interpretar as produções morfológicas. São as seguintes, de acordo com Hamawand (2008;
2011):
18
No capítulo 4, as operações cognitivas serão detalhadas com o intuito de demonstrar, com maior elucidação, as
sistematizações analíticas de Hamawand (2011) e suas aplicabilidades em nosso trabalho.
19
Para chegar a esse resultado, Hamawand (2009, 2011) compara diversos prefixos negativos em inglês. Para
uma discussão mais profunda, ver mais em Hamawand (2009).
46
entidades em um espaço mental, que pode ser tanto objetivo, referindo-se a coisas que
realmente existem no mundo, quanto não objetivo, referindo-se a coisas que não se
relacionam com coisas do mundo real. Portanto, vincular enunciados a situações ou
características observáveis não é suficiente para contrapor diferenças semânticas. A
distinção pauta-se na interpretação dada pelo falante à situação descrita. Construal é
então uma questão de como uma situação é conceituada e como ela é codificada
linguisticamente.
2.1.1.2- Categorização
20
Em Hamawand (2009, 2011) são analisados os prefixos a(n)-, de-, dis-, in-, non-, un- entre outros, os quais são
caracterizados, segundo o autor, como negativos do inglês. Neste trabalho, apresentamos as redes semânticas dos
prefixos de- e dis-, que se alinham mais à semântica do prefixo des- do PB.
47
a) Reverter a ação descrita pela raiz22- esse sentido é observado quando raízes nominais
são abstratas. Ex: “to decontrol” (desregular) significa liberar algo de restrições.
Ainda, em outros casos, o prefixo “de-” pode ser adjungido a verbos derivados de
nomes através dos sufixos -ate (de-escalate/desescalar), -ify (declassify/desclassificar)
e -ise (demilitarize/desmitalizar) entre outros;
b) Remover a coisa descrita pela raiz23- esse sentido é observado quando as raízes
nominais são concretas. Ex: “to debug” (debugar) que denota remover defeitos de
determinado dispositivo, sistema ou plano. Outros verbos, “degas”(desgaseificar),
“de-ice”(descongelar), “demist”(desembaraçar) e assim por diante;
c) Privar da coisa descrita pela raiz 24- esse sentido se manifesta quando as nominais são
abstratas. Ex: “to deform” significa privar algo de sua forma natural ou estragar a sua
aparência. Outros verbos são: “decolour (descolorir)”, “deface (desfigurar/ danificar
a aparência)”.
21
De acordo com Hamawand (2009, p. 65), a seta sólida representa o sentido prototípico do prefixo “de-”,
enquanto as setas tracejadas representam as extensões semânticas.
22
No original: ‘reversing the action described by the root’.
23
No original: ‘removing the thing described by the root’.
24
No original: ‘depriving of the thing described by the root’.
48
No que concerne aos sentidos periféricos, o prefixo “de-” ocorre em quatro padrões
semânticos:
a) Reduzir a coisa descrita pela raiz25- esse sentido aparece quando as raízes
nominais são abstratas, implicando em uma ação não física. Ex: “to debase”
consiste em depreciar;
b) Analisar a coisa descrita pela raiz26- esse sentido se manifesta quando ele é
adjungido a raízes nominais abstratas, implicando uma ação. Ex: “to decode”
consiste em decodificar algo, mais especificamente, algo escrito em código;
c) Sair do veículo descrito pela raiz27 – esse sentido é observado quando as raízes
nominais são concretas. Ex.: “to debus” é descer do ônibus. Outros verbos
incluem “detrain” desembarcar de um trem entre outros.
d) Cancelar a coisa descrita pela raiz28 – esse sentido é constatado quando as raízes
verbais são transitivas. Ex.: “to decouple” é cancelar duas coisas.
25
No original: ‘reducing the thing described by the root’.
26
No original: ‘analysing the thing described in the root’.
27
No original: ‘getting off the vehicle described by the root’.
28
No original: ‘cancelling the thing described in the root’.
29
De acordo com Hamawand (2009, p. 65) a seta sólida representa o sentido prototípico do prefixo “de-”,
enquanto as setas tracejadas representam as extensões semânticas.
49
De acordo com a análise de Hamawand (2009, p. 65), o prefixo dis- é de origem latina
e pode, em certas construções, ser grafado como dys- em contextos médicos, como dysentery.
Para o autor, assim como os outros prefixos negativos, como na figura (2), o prefixo dis- é
adjungido a uma ampla seleção de radicais e possui como sentido mais evidente o da
distinção. Além disso, apresenta as seguintes nuances semânticas:
a) o oposto da qualidade significada pela raiz30- esse sentido emerge quando as bases
adjetivas são graduáveis, como: disobedient (desobediente) é o posto de obediente.
Outros exemplos são: disingenuous (dissimulado), disobliging (desatencioso),
dispassionate (desapaixonado), disreputable (desonroso), dissimilar entre outros.
b) não disposição a realizar a ação significada pela raiz31- esse sentido se manifesta
quando ele é anexado a raízes verbais (in)transitivas, como: disbelieve é não estar
disposto a acreditar em algo ou alguém. Outros exemplos são: disapprove
(desaprovar), dislike (não gostar), displease(desagradar), disremember (esquecer),
distrust (desconfiar).
30
No original: ‘the converse of the quality signified by the root’
31
No original: ‘unwilling to do the action signified by the root’
50
a) Inverter a ação expressa pela raiz32: esse sentido surge quando as raízes verbais são
intransitivas, como “to discharge” que consiste em liberar alguém de um dever ou
obrigação. Outros exemplos são: “disempower” (desempoderar), “disengage”
(desvincular), “disentangle” (desembaraçar) entre outros.
b) Livrar-se da coisa significada pela raiz33: esse sentido emerge quando as raízes
verbais são (in)transitivas, como: “to dispossess” é privar alguém de uma propriedade.
Outros exemplos são: “disenfranchise” (privar do direito de voto), “displace”
(deslocar), “disqualify” (desqualificar).
c) Ausência da coisa significa pela raiz34: esse sentido é observado quando as raízes
nominais são abstratas, como: “disbelief” significa falta de crença. Outros exemplos
são: “discomfort” (desconforto), “discourtesy” (falta de cortesia), “disharmony”
(desarmonia), “disobedience” (desobediência), “disrespect” (desrespeito).
2.1.1.3- Configuração
32
No original: ‘turning around the action signified by the root’.
33
No original: ‘ridding of the thing signified by the root’.
34
No original: ‘lacking the thing signified by the root’.
51
esses domínios delineiam os sentidos específicos dos prefixos e atribuem a eles papéis
definidos na linguagem.
Com base nessas premissas, o quadro 12 resume os domínios evocados pelos prefixos
negativos de- e dis- no inglês, conforme Hamawand (2009, p. 101).
2.1.1.4- Conceitualização
35
No original: “The derived word has its own distinct meaning, which is contributed partly by the attached
prefix.”
36
Para uma análise mais detalhada dos prefixos negativos dentro dessa abordagem, ver mais em Hamawand
(2009, 2011)
52
Prefixos Negativos
Distinções semânticas Representações
Descriptive (descritivo) vs. evaluative (avaliativo) non-/a- vs. dis-/un-/ in-
unfavourable (desfavorável) vs. disapproving (desaprovador) dis- vs. un-
Action (ação) vs. state (estado) dis- vs. un-
Fonte: extraído e adaptado de Hamawand (2011, p.119)
Quando associados a raízes adjetivais comuns, os prefixos non-, a-, dis-, un- e in-
formam conjuntos de adjetivos com conotação negativa. Em particular, eles evocam o
domínio da distinção, mas representam elementos variados, como38:
37
Cabe ressaltar que Hamawand (2009, 2011) não realiza uma análise comparativa dos prefixos de- e dis- do
inglês.
38
No original: “The prefixes non- and a- are descriptive, giving an account of what someone or something is
like. Non- means ‘different from the quality described by the root’. A- means ‘divergent from the quality referred
to by the root’. They are distinctly impartial in tone, and so trigger an objective description. In this function, the
words they derive acquire contradictory readings. By contrast, the prefixes dis-, un- and in- are evaluative,
judging what someone or something is. Dis- means ‘the converse of the quality signified by the root’. Un- means
‘the antithesis of what is specified by the root’. In- means ‘the opposite of the property expressed by the root’.
They are partial in flavour, and so produce a subjective evaluation. In this function, the words they derive
acquire contrary readings. Dis- represents the lowest degree of contrariety. It is unfavourable in character. In
the middle is un-, which is disapproving in character. At the highest degree of contrariety is in-, which is critical
in character.”
53
Para embasar essa análise, Hamawand (2011, p.109) utiliza o seguinte par de
exemplos:
a. The company provides training for the non-professional staff. (A empresa oferece
treinamento para a equipe não-profissional)
b. She was found guilty of unprofessional conduct by the court. (Ela foi considerada
culpada de conduta não-profissional pelo tribunal)
Quando aplicados a raízes adjetivais comuns, os prefixos dis- e un- criam conjuntos de
adjetivos com uma carga semântica negativa. Especificamente, eles introduzem ao domínio da
54
distinção, embora representem nuances sutis de significado, como explica Hamawand (2011,
p. 110, tradução nossa)39:
O prefixo dis- descreve uma entidade como sendo desfavorável, o que significa
contrário aos interesses de alguém. Ele representa 'o oposto da qualidade indicada
pela raiz'. Demonstra uma distinção em grau médio, ou seja, situado no meio da
escala de contraste. Chama a atenção apenas para a informação necessária na
contrastação. O prefixo un- descreve uma entidade como sendo desaprovadora, o
que significa não disposta a aceitar, participar ou concordar com algo. Representa 'a
antítese do que é especificado pela raiz'. Demonstra uma distinção acima do grau
médio, ou seja, situado entre o meio e o topo na escala de contraste. Joga luz sobre
parte da informação na contrastação. Uma pesquisa dos dados mostra que palavras
negadas pelos prefixos co-ocorrem com diferentes colocações. Palavras que
começam com dis- geralmente colocalizam com substantivos referentes a pessoas ou
suas ações, enquanto palavras que começam com un- geralmente colocalizam com
substantivos referentes a pessoas ou coisas.
Para fundamentar essa análise, Hamawand (2011, p. 110) emprega como ilustração o
seguinte par de exemplos:
a. They need the help of some disinterested observers. (Eles precisam da ajuda de alguns
observadores desinteressados.)
b. They are completely uninterested in such questions. (Eles estão completamente
desinteressados em tais questões)
As construções em (2) têm sua origem na base adjetival "interested", que expressa o
desejo de dedicar atenção a algo e explorá-lo mais profundamente. Contudo, para Hamawand
(2011, p. 110) cada adjetivo revela uma interpretação distinta, desempenhando assim funções
específicas na linguagem. Em (1a), a construção "disinterested" denota 'imparcialidade'. Por
exemplo: Um observador desinteressado (disinterested) é alguém isento de viés ou interesse
próprio. "Disinterested" se anexa a palavras que se referem a pessoas, como assessor,
observador, investigador, participante, pesquisador, ou ações como argumento, julgamento,
39
No original: “The prefix dis- describes an entity as being unfavourable, which means opposed to one’s
interests. It means ‘the converse of the quality signified by the root’. It shows distinction in medial degree, that
is, situated in or towards the middle on the scale of contrast. It draws attention to only the necessary information
in the contrast. The prefix un- describes an entity as being dis- approving, which means unwilling to accept,
engage in or agree to something. It means ‘the antithesis of what is specified by the root’. It shows distinction
above medial degree, that is, situated between the middle and the top on the scale of contrast. It sheds light on
some of the information in the contrast. A research of the data shows that words negated by the prefixes co-
occur with different collocations. Words beginning with dis- collocate mostly with nouns referring to people or
their acts, whereas words beginning with un- collocate mostly with nouns referring to people or things.”
55
pesquisa, bolsa, especulação, entre outras. No caso de (1b), o adjetivo "uninterested" expressa
'indiferença', como: Pessoas desinteressadas (uninterested) são aquelas que não demonstram
interesse em algo ou simplesmente ignoram. Para o autor (2011, p. 110), "uninterested"
combina com palavras que se referem a pessoas, como child (criança), lady (senhora), mother
(mãe), public (público), student (estudante), ou coisas como conversa, game (jogo), idea
(ideia), problem (problema), question (pergunta), e assim por diante. Entre os dois adjetivos,
apenas "disinterested" pode coocorrer com termos positivos, como em "Ele é desinteressado
(disinterested) e honrado em sua vida pública".
Para Hamawand (2011, p. 114) os prefixos dis- e un- podem se associar a raízes
nominais comuns. Eles agem como antônimos no domínio da privação. No entanto, cada
prefixo possui uma função específica na linguagem:
O prefixo dis- diz respeito à ação, ao processo de realizar algo com um propósito
específico. Significa 'faltar a coisa indicada pela raiz'. Ele destaca a ação
implicitamente indicada pela raiz. O prefixo un- trata do estado, a condição que
existe em um momento específico. Significa 'desprovido do que é especificado pela
raiz'. Ele destaca o estado implicitamente indicado pela raiz. Em essência, dis- é
menos forte do que un- na expressão da negação. Uma análise dos dados mostra que
palavras negadas pelos prefixos seguem padrões diferentes de colocação. Palavras
prefixadas com dis- tendem a se adjungir com expressões de desaprovação de
declarações ou de surpresa com eventos. Em contraste, palavras prefixadas com un-
tendem a se colocalizar com expressões de falta de confiança em um sistema ou de
ceticismo em relação a uma doutrina (Hamawand, 2011, p. 114, tradução nossa)40
A fim de embasar essa análise, Hamawand (2011, p. 114) faz uso do seguinte par de
exemplos como ilustração:
40
No original: “The prefix dis- concerns action, the process of doing something for a particular purpose. It
means ‘lacking the thing signified by the root’. It picks out the action that is implied by the root. The prefix un-
concerns state, the condition of being that exists at a particular time. It means ‘bereft of what is specified by the
root’. It picks out the state that is implied by the root. In essence, dis- is less powerful than un- in expressing
negation. An analysis of the data shows that words negated by the prefixes pattern with different collocations.
Words prefixed by dis- tend to collocate with expressions of disapproval of statements, or of surprise at events.
By contrast, words prefixed by un- tend to collocate with expressions of lack of faith in a system or of scepticism
of a doctrine.”
56
Os dois substantivos em (3) originam-se da base nominal "belief", que expressa 'o
sentimento de certeza de que algo existe ou é verdadeiro'. Apesar disso, segundo Hamawand
(2011, p. 11), cada substantivo representa uma concepção diferente e, portanto, desempenha
uma função específica na comunicação. No primeiro contexto (3a), o termo "disbelief" denota
‘ausência de crença'. Nesse contexto, a falta de crença implica na recusa em aceitar a
veracidade ou realidade de um relato/ história. A construção "disbelief" é associada a
expressões que indicam surpresa ou choque, tais como pedir/respirar/engasgar/rir/ouvir/ entre
outros. Já em (3b), o termo "unbelief", por sua vez, expressa a 'ausência de fé'. Nessa
sentença, segundo Hamawand (2011), a falta de fé implica relutância em acreditar na
veracidade de uma fé ou religião. A palavra "unbelief" é colocada em conjunto com
expressões que denotam atitude ou princípio, “como encher o coração com..., manifestar um
forte/fraco, em revelar o/em, e assim por diante” (Hamawand, 2011, p. 114). Para o autor, a
“comprovação dessa interpretação é evidenciada pelo fato de que em um contexto em que a
religião é o foco, somente o uso de "unbelief" é permitido” (Hamawand, 2011, p. 114,
tradução nossa)41.
Grosso modo, consoante Hamawand (2009, 2011), o terceiro eixo de análise
morfológica se concentra na interpretação das construções, abordando pares de palavras que
compartilham raízes similares, mas apresentam diferentes prefixos. Dentro dessa perspectiva,
conforme Hamawand (2009, p. 164) palavras negadas por prefixos não são consideradas
sinônimas, mesmo quando há uma relação morfológica. O contraste se manifesta na
conceitualização de como o usuário da língua concebe e expressa determinada circunstâncias.
Segundo o autor (2009), mesmo quando pares de palavras negativas têm bases em comum, as
suas diferenças semânticas tornam-se evidentes na conceitualização aplicada pelo falante.
Nessa fase, depreender o significado de determinada construção implica em considerar o
papel do falante em sua formação. Além disso, considerando o seu córpus de analise,
Hamawand defende que é crucial compreender que essas duas palavras são realizadas
morfologicamente de maneira diferente devido ao prefixo negativo que codifica a concepção
pretendida.
41
No original: “Evidence for this interpretation is provided by the fact that in a context where religion is in focus
only the use of unbelief is permissible”
57
42
COBUILD English Dictionary. 1998. Glasgow: HarperCollins Publishers.
43
LDOCE. 2003. Longman Dictionary of Contemporary English. Harlow:Longman
44
OALD. 2005. Oxford Advanced Learner’s Dictionary. Oxford: Oxford University Press.
58
a) categorização
No que tange à categorização, Para Croft e Cruse (2004, p. 107), o ato de categorizar
constitui uma das atividades cognitivas mais básicas do ser humano 46. Esse processo é tão
rotineiro que, na maioria das vezes, os indivíduos não identificam conscientemente as
estruturas a partir das quais organizam a realidade e interagem com o mundo. Em termos
técnicos, a categorização “implica a apreensão de uma entidade individual específica ou de
algum aspecto concreto da experiência como um caso particular de outra coisa, concebida de
maneira mais abstrata e que inclui, da mesma forma, outras instâncias reais ou potenciais.”
(Croft; Cruse, 2004, p. 107)47.
De acordo com Lakoff (1987), a categorização ocorre em todos os níveis, tanto para
objetos concretos quanto para entidades abstratas. As categorias são organizadas com base nas
45
É importante salientar que Hamawand utiliza essa abordagem tanto para a derivação prefixal quanto para a
análise dos compostos. Para uma análise mais detalhada dessas aplicações, ver mais em Hamawand (2011).
46
No original:“El acto de la categorización constituye uma de las actividades cognitivas humanas más básicas”
47
No original: “La categorización implica la aprehensión de una determinada entidad individual o de algún
aspecto concredo de la experiencia en tanto caso particular de otra cosa, que se concibe de un modo más
abstracto y que abarca, asimismo, otras instanciaciones reales o potenciales”
59
características gerais das entidades que compreendem funções, propriedades, relação entre
variações e semelhanças, entre outros dos mais diversos critérios. Em virtude disso, o
agrupamento das formações em categorias tem como função aliviar a sobrecarga da nossa
capacidade de armazenamento e processamento de informações (Ferrari, 2011, p. 32). Dessa
forma, nosso sistema cognitivo pode operar de maneira eficiente, conforme expresso por
Rosch (1978, p. 2, tradução nossa) para “fornecer informações máximas com o mínimo de
esforço cognitivo”48.
Em Hamawand (2011), o autor estabelece sua rede semântica considerando as bases
verbais em que esses prefixos estão adjungidos, sem considerar o contexto de uso. Neste
estudo, ao considerarmos as novas formações com des- não aceitáveis pela literatura
morfológica (Silva; Mioto, 2009; Medeiros, 2010; Rio-Torto, 2019), defendemos a
necessidade de analisar os contextos em que foram extraídas para estabelecer a categoria
semântica principal do córpus desta pesquisa. Isso decorre do fato de entendermos que:
(...) as línguas não podem ser explicadas apenas por mecanismos formais
autossuficientes. Ao contrário, é fundamental levar em consideração os processos de
pensamento subjacentes à utilização de estruturas linguísticas e sua adequação aos
contextos reais nos quais essas estruturas são construídas (Martelotta; Palomanes,
2013, p. 179).
Desse modo, esperamos identificar o sentido nuclear ativado por essas construções.
b) Configuração
48
No original: “provide maximum information with the least cognitive effor”
60
âmbito de seu estudo, a autora identifica três possibilidades para a moldagem de nossas
expressões linguísticas, cada uma direcionando-se a um domínio específico49:
Considerando o quadro acima, de acordo com Sweetser (1990), na sentença "John may
go", o falante expressa uma "obrigação, permissão ou habilidade no mundo real" (Sweetser,
1990, p.49), indicando que John tinha permissão para ir, e assim "may" está associado ao
domínio de conteúdo. No caso de "John may be there", o falante deduz a "necessidade,
probabilidade ou possibilidade" (Sweetser, 1990, p. 49) do evento, concluindo que John
poderia estar lá. Nesse contexto, "may" denota a episteme da declaração, caracterizando o
domínio epistêmico. Por fim, em "May I ask you where you are going?", é possível inferir que
o falante não está solicitando permissão, mas sim exigindo que o ouvinte o informe sobre seu
destino. Assim, a força ilocucionária dessa sentença “may” é direcional, o que, para Sweetser
(1990, p.73), expressa o domínio conversacional, ou seja, o ato de fala.
De modo geral, segundo Sweetser (1990), esses domínios não são independentes, mas
estão interligados pelo nosso sistema cognitivo, e essa conexão é estabelecida por meio da
metáfora, conforme postula a autora:
49
Para maiores detalhes, ver mais em Sweetser (1990).
50
No original: “Using the idea of systematic metaphorical structuring of one domain (e.g. the epistemic domain)
in terms of another (e.g. the sociophysical domain), cognitive semantics may well be equipped to make headway
in the murky area of meaning-change, as well as in the area of synchronic semantic structure (Sweetser,
1990:21).”
61
Portanto, os espaços contêm elementos que podem ser direcionados para a criação de
novos espaços. Consequentemente, cada novo espaço aberto herda a estrutura do espaço
anterior. De acordo com Ferrari (2009), no exemplo "No ano que vem, Maria vai viajar para
51
Ver mais em Sweetser (1990).
62
Londres", o sintagma "no ano que vem" estabelece um espaço temporal a partir do espaço
base (B), considerado a âncora discursiva. Dentro de (B), o elemento "Maria" é projetado no
espaço temporal (T). Este espaço futuro (T), por sua vez, introduz um novo elemento,
"Londres", ao mesmo tempo que herda os elementos e a estrutura do espaço anterior. Assim,
no espaço (T), a relação de "viajar" é estabelecida entre o sujeito "Maria", herdado de (B), e o
local "Londres".
Os EM gerados dessa forma são classificados parcialmente por uma relação
hierárquica. Por exemplo, um novo espaço (M)', é sempre estabelecido em conexão com um
espaço existente M que está em destaque. Portanto, (M) é denominado o espaço "pai" de (M)',
e a relação hierárquica é ilustrada por uma linha tracejada, conforme visto na figura 4:
No que diz respeito às expressões linguísticas, Fauconnier (1997) postula que elas não
representam ou codificam as construções complexas necessárias para que o ato comunicativo
ocorra. Para autor, as expressões são instruções para construir configurações cognitivas
estruturadas e interconectadas, que se desenvolvem à medida que o discurso acontece.
52
No original: “A language expression does not have a meaning in itself; rather, it has a meaning potential, and
it is only within a complete discourse and in context that meaning will be actually be produced. The unfolding of
discourse brings into play complex cognitive constructions. They include the setting up of internally structured
domains linked to each other by connectors; this is effected on the basis of linguistic, contextual and situational
clues. Grammatical clues, although crucial to the building process, are in themselves insufficient to determine
it.”
64
53
No original: “Achilles sees a tortoise. He chases it. He thinks that the tortoise is slow and that he will catch it.
But it is fast. If the tortoise had been slow, Achilles would have caught it. Maybe the tortoise is really a hare”.
65
c) Conceitualização
58
No original: “It presents the space being set up as directly contradiciting a reality that is known and cannot be
changed.”
59
No original: “the relationship between a speaker (or hearer) and a situation that he conceptualises and
portrays”.
68
envolvidas no significado de uma única expressão linguística. Isso ocorre porque o falante
possui a capacidade de interpretar uma situação de várias maneiras distintas.
Quando se trata da aplicação dessa formulação para a derivação prefixal, Hamawand
(2011, p. 108) argumenta que os prefixos, tanto positivos quanto negativos, possuem a
capacidade de se ligar à mesma raiz, criando assim um par de palavras semanticamente
distintas. Para o autor (2011), a escolha de anexar um prefixo específico à raiz de uma palavra
não está limitada apenas ao conteúdo conceitual, mas também à interpretação e codificação
desse significado. Ainda, segundo Hamawand (2009, 2011 e 2021), uma dimensão crucial da
conceitualização é a perspectiva, que se refere ao ponto de vista imposto em uma cena,
variando conforme a intenção do falante ou as demandas do discurso. A raiz, a qual o prefixo
se anexa, abarca um conteúdo conceitual com diversos significados, e cada termo derivado do
par de palavras representa uma experiência única do falante, moldando sua forma morfológica
por meio de um prefixo específico. Como resultado, “a palavra derivada possui um
significado distinto, com o qual o prefixo anexado contribui.” (Hamawand, 2011, p. 108,
tradução nossa)60.
Neste trabalho, a abordagem conceitual proposta por Hamawand (2011)61 não se
alinha ao escopo do nosso estudo. Isso se deve ao foco exclusivo de nossa análise nas
construções com o prefixo "des-", sem realizar uma comparação entre diferentes prefixos
anexados à mesma raiz, como evidenciado na comparação entre "emigrar" e "imigrar". Além
disso, não abordamos a comparação da conceitualização das construções convencionais com o
prefixo "des-", ou seja, as formações reconhecidas pela literatura morfológica, como um
método para avaliar as nuances na perspectiva conceitual. Adicionalmente, uma limitação em
nossa coleta de dados (capítulo 3) foi a coleta de apenas uma sequência discursiva para cada
construção.
Considerando que “diferentes falantes de um mesmo idioma podem possuir estruturas
mentais diversas sem pressupor uma análise única 'correta'” (Hudson, 2018, p. 87) e
reconhecendo que os “tempos e modos verbais não estabelecem espaços, mas podem dar
pistas sobre os espaços aos quais as proposições estão se referindo” (Scamparini, 2006, p. 20),
nossa proposta é analisar as projeções temporais (passado, presente e futuro) ativadas pelas
construções selecionadas neste estudo, no contexto em que são empregadas. Dessa forma,
60
No original: “The derived word has its own distinct meaning, which is contributed partly by the attached
prefix.”
61
Ver subseção 2.1.1.4
69
tomando como base a seleção de dados dessa pesquisa, buscamos os espaços temporais mais
prototípicos que o prefixo des- pode assumir.
No capítulo “Caminhos metodológicos”, apresentam-se os procedimentos teórico-
metodológicos que serão adotados/ aplicados para análise do nosso córpus.
70
3 PERCURSOS METODOLÓGICOS
De acordo com Denzin e Lincoln (2006), na década de 1990, surgiu uma fase pós-
moderna e pós-estrutural na pesquisa qualitativa, marcada por diversas maneiras de retratar o
"outro". Nesse período, o foco estava em observar o "outro" em seu ambiente natural e
compreender os fenômenos conforme as interpretações atribuídas pelas pessoas (Denzin;
Lincoln, 2006). Atualmente, a pesquisa qualitativa abraça a interdisciplinaridade entre as
ciências humanas e sociais, buscando extrair significados do diálogo entre pesquisadores e
objetos de estudo dentro de um contexto (Chizzotti, 2003).
Essa abordagem considera a relação entre o pesquisador e o objeto, junto com as
circunstâncias que moldam a investigação, concentrando-se na formação da experiência social
com uma análise minuciosa da realidade. Portanto, entende-se que a pesquisa qualitativa
engloba os cenários experienciais, nos quais se entrelaçam crenças, ações e culturas (Denzin;
Lincoln, 2006).
Essa perspectiva está em sintonia com os princípios fundamentais da LC, que
fundamentam este estudo, concebendo a linguagem como pensamento e significado
(Geeraerts, 2006). Reconhecendo que o significado é perspectivado, dinâmico e se manifesta
na linguagem, entende-se que ele se constrói por meio do uso e das experiências humanas.
Esse processo envolve o conhecimento do mundo, que está interligado com outras habilidades
cognitivas, como a categorização e a integração de conceitos (Ferrari, 2014).
71
Isto posto, considero esta investigação de natureza dedutiva e qualitativa, visto que o
processo de produção e análise dos dados envolve a minha participação. Parto da premissa
que o próprio objeto não é dado a priori, mas sim ao longo da pesquisa é que ele vai sendo
construído (Rettich, 2018, p. 87). Nesse ponto, para Passos e Barros (2015, p. 30)62:
62
Pista 1: A cartografia como método de pesquisa-intervenção (Pistas do Método da Cartografia - Vol. I).
63
Pista 6: Cartografia como dissolução do ponto de vista do observador (Pistas do Método da Cartografia - Vol.
I).
72
algo envolvendo morfologia e LC, mas não havia definido o meu objeto de estudo. Ora
pensava em estudar processos composicionais de formação de palavras, ora analisar derivação
sufixal. Entretanto, estava sempre sensível às formações de palavras produzidas pelos
usuários da língua, mas sem estar concentrado/focado em encontrar algo específico ou
urgente.
Do ponto de vista cartográfico, esse processo de atenção flutuante 64, conforme Freud
(1912, 1969 apud Kastrup, 2009), não consiste em “dirigir a atenção para algo específico”,
mas manter a atenção “uniformemente suspensa”. A respeito dessa função para Freud, como
explica Kastrup (2009, p. 35-36)65:
Nessa diretriz, Kastrup (2009, p. 42) compara a atenção do cartógrafo a uma antena
parabólica, pois ele “realiza uma exploração assistemática do terreno, com movimentos mais
ou menos aleatórios de passe e repasse, sem grande preocupação com possíveis redundâncias.
Tudo caminha até que a atenção, numa atitude de ativa receptividade, é tocada por algo.” 66.
Assim, nesse processo, notei um aumento das novas formações com des- nas redes sociais
(X/Twitter, Instagram/ WhatsApp, Facebook entre outras) das FIs com des-, como desver,
descoronar, desvacinar, desbolsonarizar e fiquei interessado em analisar esse formativo.
Com isso em mente, realizei um levantamento bibliográfico sobre como o prefixo des-
é analisado do ponto de vista da gramática histórica (GH) e da literatura morfológica, como
apresentado na subseção 1.3. Em seguida, comecei a procurar na seção de busca lexical do
X/Twitter os exemplos que Silva; Mioto (2009), Medeiros (2010) e Oliveira (2004, 2008)
apresentavam nas restrições morfossemânticas do formativo des-. Ao posso que encontrava
mais de uma construção nessa rede social, surgiu a seguinte questão: se os usuários das redes
64
Conforme Kastrup (2007, p. 16, grifo meu) “a atenção flutuante é a regra técnica que, do lado do analista,
corresponde à regra de associação livre da parte do analisando, permitindo a comunicação de inconsciente a
inconsciente (Laplanche; Pontalis, 1976). O uso da atenção flutuante significa que, durante a sessão, a atenção
do analista fica aparentemente adormecida, até que subitamente emerge no discurso do analisando a fala
inusitada do inconsciente.”
65
Pista 2: O Funcionamento do trabalho do cartógrafo (Pistas do Método da Cartografia - Vol. I).
66
Pista 2: O Funcionamento do trabalho do cartógrafo (Pistas do Método da Cartografia - Vol. I).
74
sociais estavam produzindo essas formações com des-, por que ignorar essas informações e
caracterizá-las como não viáveis?67
Assim, partindo do pressuposto de que “diferentes falantes de um mesmo idioma
podem ter diferentes estruturas mentais não supondo que haja uma única análise `correta´
(Hudson, 2018, p. 87) e que a utilização das distintas estratégias de formação de palavras é tão
natural que o falante quase não se dá conta de que várias palavras “não estavam disponíveis
para o uso e foram formadas por nós mesmos, exatamente na hora em que a necessidade
apareceu” (Basílio, 1987, p. 5), decidi realizar o levantamento dessas formações. Contudo,
tendo em mente que diferentes mídias digitais possuem padrões comunicacionais distintos,
decidi concentrar a minha pesquisa em uma das plataformas digitais mais acessíveis do ponto
de vista interacional: o X/Twitter.
O termo mídia, tradicionalmente, pode ser definido como “o conjunto dos meios de
comunicação” (Erbolato, 1985). Historicamente, esse conceito faz referências à televisão,
rádios, veículos impressos, entre outros; ou seja, ao grupo “responsável por fazer circular
informações a um grande número de pessoas” (Carneiro, 2019, p. 195). Contudo, atualmente,
essa palavra pode ser entendida como “todo suporte de difusão da informação que constitui
um meio intermediário de expressão capaz de transmitir mensagens” (Daroda, 2012, p. 84).
Tal acepção, mais profunda, se deve à revolução tecnológica – o advento da Internet - que
permitiu a formação de outros espaços de comunicação, as chamadas mídias digitais 68, como
por exemplo, o X/Twitter.
Fundado em 2006 por Jack Dorsey, Evan Williams, Noah Glass e Biz Stone, o
X/Twitter, pode ser definido como um serviço de rede social colaborativa e de informação on-
line. Em termos de funcionamento, é uma plataforma de microblogging69que permite a
publicação de mensagens curtas - os chamados “tuítes” (tweets, no original) - além de
67
Um questionamento possível, após a leitura dos estudos de Oliveira (2009), Silva e Mioto (2009), Medeiros
(2010) consiste que à época em que tais trabalhos foram feitos, muito provavelmente essas formações não
existiam, logo eram definidas como agramaticais. Contudo, os estudos de Dolinski (1993) e Santos (2016) já
apresentavam formações consideradas não aceitáveis por esses autores em uso corrente na língua.
68
Consoante Daroda (2012, p. 84), “O termo mídia digital pode ser definido como o conjunto de veículos e
aparelhos de comunicação baseados em tecnologias digitais, ou seja, que permitem a comunicação digital, entre
eles, o computador, o celular, mídias interativas, etc”.
69
De acordo com Zago (2008, p. 70), “Em uma definição sucinta, uma ferramenta de microblogging seria uma
mistura de blog com rede social e mensagens instantâneas”.
75
diversas outras funcionalidades (resposta, retweet (retuíte), hashtags, entre outros) que
possibilitam a interação dos usuários adeptos à plataforma de forma instantânea e dinâmica.
Devido a essas funções de criação, o Twitter/X se tornou um importante lugar de circulação e
disseminação de discursos, visto que o dia-a-dia de diversos sujeitos passou a ser
compartilhado na rede social com o objetivo de relatar experiências pessoais, trocar e divulgar
informações, estabelecer ou não laços afetivos e tecer seus posicionamentos políticos
(Moreira; Romão, 2011).
Para Murthy (2013), o Twitter (atual plataforma X) surgiu como uma das mais
acessíveis plataformas sociais, haja vista que ela se beneficia da necessidade humana de
organização social e dos avanços tecnológicos que propiciam a facilidade comunicacional
entre os seus usuários, independentemente de restrições. A sua estrutura simples e ao mesmo
tempo robusta tem encorajado milhões de pessoas em todo mundo a usá-lo. Tal fato
aumentou, de modo exponencial, a capacidade dos sujeitos-tuiteiros de se envolverem em
conversas não limitadas pela classe social, pelo espaço físico do mundo e/ou do tempo. Essa
possibilidade o configura como uma das principais ferramentas de ‘disseminação social’ de
informações on-line (Rieder; Smyrnaios, 2012).
Com isso, face à invisibilidade que a mídia tradicional pode criar, o X/Twitter
possibilita que o usuário dessa rede digital tenha certa visibilidade em produzir, procurar e
selecionar dados/informações sem passar por filtros jornalísticos e midiáticos que seguem
certas orientações editoriais e ideológicas. Contudo, cabe ressaltar que, há muito tempo,
existem cartas de leitores ou trocas telefônicas entre a mídia e seus "usuários-consumidores"
(Moreira; Romão, 2011, p. 82). Todavia, as mídias digitais, como o X/Twitter, facilitaram o
ato de se expressar, o que tornou muito mais difícil para qualquer empresa de mídia
tradicional direcionar a opinião de algum usuário da Internet, visto que ele pode comentar
sobre algo “sem a necessidade ou expectativa de resposta” (Shirakashi, 2007 apud Lemos,
2008, p. 2)
Fato é que a coleta, a produção e a disseminação de informações foram profundamente
transformadas pelo advento das tecnologias digitais. Essa recente realidade, também chamada
de “autocomunicação de massas” (Castells, 2009, p. 88), põe nas mãos dos usuários do
X/Twitter - através do tuíte - “o poder de transmitir e apropriar-se da informação de maneira
nunca antes ocorrida na história” (Alves, 2011, p. 103). Contudo, é importante pontuar que o
digital:
76
produz um novo tipo de relação entre o sujeito e o social, uma nova relação das
práticas políticas e discursivas que não são da ordem da banalidade. É preciso
compreendê-las para além do utilitário dos sistemas aplicativos que facilitam a vida,
a circulação dos dizeres e armazenamento das memórias (Dias, 2018, p. 170).
No que concerne ao discurso digital, pautamo-nos na reflexão proposta por Dias (2018,
2019), que argumenta em favor de uma reflexão em função de sua circulação, antes mesmo da
análise de sua constituição ou formulação. Segundo a autora, a circulação é vista como o
“ângulo de entrada” para a compreensão dos processos de produção discursiva, já que entende
que:
[...] é pela circulação (compartilhamento, viralização, comentários, postagens,
hashtags, memes, links...) que o digital se formula e se constitui. De outro modo,
diríamos que o discurso digital se formula ao circular. E isso faz diferença na
produção de sentidos. Um sentido que se produz no efêmero, no agora. E essa
mudança na ordem não quer estabelecer uma relação de anterioridade de um
momento em relação ao outro, mas de perspectiva. É esse modo de existência dos
discursos que se impõe ao pensarmos sua constituição (Dias, 2018, p. 29).
Sobre os elementos que compõe o tuíte, Paveau (2021, p. 370) argumenta que o tuíte
não se limita aos aspectos linguísticos, visto que ele explora diversas outras categorias como
tecnolinguageiras, icônicas e tecnográficas, por exemplo:
i) foto de perfil;
ii) nome ou pseudônimo do usuário;
iii) data do tuíte, relativa ou absoluta;
iv) lista de operações possíveis representadas por ícones (responder, retuitar, curtir) e,
v) botão com seta para mais opções (copiar link, incorporar tuíte, bloquear entre outros).
Frente ao exposto, entendo que o tuíte “se tornou uma unidade de informação [...]
muito comum, conhecida e reconhecida”, já pertencente “ao repertório discursivo geral das
nossas sociedades” (Paveau, 2021, p. 382), se consolidando, portanto, como um modo eficaz
de produção e reprodução “político-ideológica do discurso” (Dias, 2018, p. 28). Por essa
razão, os dados dessa pesquisa foram extraídos apenas dessa mídia digital.
Abaixo, apresento os procedimentos utilizados para a coleta dos dados desta pesquisa.
77
Os dados produzidos para essa pesquisa podem ser quantificados da seguinte forma:
386 se enquadram dentro do que chamamos de convencionais (regulares) e 363 de inovadoras
(irregulares). Classificando conforme a categoria da sua base, em termos percentuais, temos:
Com base nesses percentuais, observamos que ambas as formações prefixais com des-
(FCs e FIs) apresentam uma distribuição similar em suas categorias, com alta produtividade
da base verbal, o que sugere que as FIs seguem o mesmo padrão das FCs em sua produção.
Como já mencionado, o objetivo deste trabalho consiste em analisar as FIs com des-+
base verbal no infinitivo. Assim, considerando que des- + base verbal compreende 75% das
FIs, subclassificamos as construções verbais em dois grupos: os terminados por infinitivo (1º,
2º e 3º conjugação) e os que possuem outras formas verbais. Neste último, não se intentou
subclassificar conforme a sua forma nominal (particípio e gerúndio) ou o seu aspecto. Assim,
obtemos o gráfico (3):
80
A representação gráfica 3 evidencia que das 294 construções com des- + base verbal,
ou seja, 75% das FIs possuem as seguintes divisões: 24.7% (97 construções) corresponde a
formas verbais no infinitivo, 50,3% (197 construções) de formas verbais não subcategorizadas
e 25% compostas por outras bases (nominais e adjetivais). No tocante às formações
inovadoras de base verbal no infinitivo, objeto de análise desta pesquisa, a primeira
conjugação destaca-se em 57 (21.9%) instanciações, seguida pela segunda conjugação com 23
(6.1%) ocorrências e a terceira conjugação com 17 (4.3%) casos, como mostra o gráfico 4.
Os dados selecionados para esta pesquisa foram transferidos para uma planilha de
Word, em que mais cinco informações foram acrescentadas: a construção morfológica, a data
da postagem do tuíte, a sequência discursiva com link da postagem e a data em que a coleta
dessa construção foi realizada, conforme pode ser observado na figura 6:
Com base nessa organização do córpus (figura 6), foi possível realizar uma análise
qualitativo-interpretativa, em que pudemos analisar construção por construção, a fim de
estabelecer critérios e aplicações metodológicas dos dados. Como mencionado, embora
tenhamos derivado nossa abordagem metodológica de Hamawand (2011), neste trabalho,
realizamos certas modificações (conforme descrito na seção 2.2). Assim, inicialmente, o
aspecto que mais nos chamou a atenção foi o espaço mental (factual, contrafactual ou
hipotético) no qual tais construções foram utilizadas pelos sujeitos-tuiteiros. Desse modo,
decidimos organizar o nosso córpus seguindo os EM acionados pelas construções inovadoras.
Além disso, para atingir os propósitos desta pesquisa (seção 3.5), entendemos que não
seria apropriado analisar e descrever as operações cognitivas (seção 2.2) do nosso córpus de
modo isolado, como proposto por Hamawand (2011). Essa concepção baseia-se no
entendimento de que os falantes empregam todas essas operações simultaneamente na
produção e compreensão dos discursos. Dessa maneira, após classificar os nossos dados
conforme os EM acionados, propomos analisar cada SD buscando identificar: i) o sentido
prototípico geral de cada construção, ii) o domínio cognitivo (conteúdo e/ou epistêmico) e a
iii) perspectiva temporal (passado, presente e futuro) evocada pela FI.
No próximo capítulo (4), demonstra-se a análise realizada nesta pesquisa com base
nessa proposta de abordagem teórico-metodológica.
83
Nesta seção, descrevem-se as operações cognitivas acionadas pelas FIs de base verbal
no infinitivo (4.1), a partir da reformulação da proposta da Morfologia Cognitiva de
Hamawand (2011), apresentada na subseção (2.2). Posteriormente, apresentam-se os
resultados gerais (4.2) dessa proposta teórico-metodológica e propõe-se uma rede esquemática
para as FIs com des- inspirada no modelo de Hamawand (2011).
4.1 Descrição das operações cognitivas das FIs de base verbal no infinitivo
70
Ver seção 2.2.
71
No original: “It presents the space being set up as directly contradiciting a reality that is known and cannot be
changed”.
84
seguintes características: i) desejo de reversão de uma ação, ii) desejo de reversão de evento e
iii) desejo de reversão de um estado. Vejamos:
acontecimento
passado
desberrar 09 "silhueta parecendo uma interrogação" Reversão Epistêmico Desejo de
KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK reversão de
KKKKK o berro que eu dei ngm pode uma ação/
desberrar ' vsf, cêis são o cão, nmrl acontecimento
passado
desbrincar 10 Brinquei uns dias de ser low profile e Reversão Epistêmico Desejo de
agora não sei mais desbrincar. reversão de
Principalmente porque minhas aulas uma ação/
retornarão na próxima segunda, e acontecimento
minha vontade de existir no mundo passado
exterior só diminui. Porém, confesso
que até senti saudades de estar no meio
caótico da minha universidade.
deschegar 11 dizem que quando é o tempo de ser Reversão Epistêmico Desejo de
mamãe todas as crianças riem pra reversão de
gente, aparece grávida de tudo que é uma ação/
lado e etc. ta acontecendo comigo então acontecimento
se chegou meu tempo ele pode passado
deschegar” (Usuário 5 - Postado:
05.07.23, grifo meu)
deschorar 12 Tem lágrimas que eu desejava Reversão Epistêmico Desejo de
deschorar reversão de
uma ação/
acontecimento
passado
deschover 13 Como faz pa dar replay no fds, e Reversão Epistêmico Desejo de
deschover ele? reversão de
uma ação/
acontecimento
passado
deschutar 14 Tem como deschutar o balde ? Reversão Epistêmico Desejo de
reversão de
uma ação/
acontecimento
passado
desclicar 15 Primeira vez q cliquei p ouvir algo da Reversão Epistêmico Desejo de
MC Pipokinha. E queria desclicar reversão de
uma ação/
acontecimento
passado
descomentar 16 Odeio quando comento no status de Reversão Epistêmico Desejo de
alguém aí todo mundo começa a reversão de
comentar e chega milhares de uma ação/
notificações acontecimento
Vontade de descomentar passado
acontecimento
passado
deserrar 31 O maior erro da minha vida, me tornar Reversão Epistêmico Desejo de
noivo de uma determinada mulher em reversão de
2002. Errei e não dá para deserrar; uma ação/
mas pelo menos dá para aprender. Não acontecimento
me vinguei, não retaliei. Simples, jugo passado
desigual. Falcão, "Vida de corno".
desescovar 32 Escovei o dente mas vou desescovar e Reversão Epistêmico Desejo de
tomar uma cerveja, depois escovo de reversão de
novo uma ação/
acontecimento
passado
desesfregar 33 Parar de me responder é facin quero ver Reversão Epistêmico Desejo de
desesfregar os peito na minha cara reversão de
uma ação/
acontecimento
passado
desespirrar 34 Tem uma galera que fala uns "saúde" Reversão Epistêmico Desejo de
tão chato que tenho vontade de reversão de
desespirrar. uma ação/
acontecimento
passado
passado
desfurar 41 tem como desfurar a orelha??? Reversão Epistêmico Desejo de
reversão de
uma ação/
acontecimento
passado
desganhar 42 Meu presente de natal foi desganhar Reversão Epistêmico Desejo de
uma folga. Quero desganhar isso. reversão de
Preciso de folga uma ação/
acontecimento
passado
desgripar 43 Gente, como faz pra desgripar??? Tem Reversão Epistêmico Desejo de
1 mês q to sentindo cheiro de nada logo reversão de
uma ação/
acontecimento
passado
desgritar 44 queria desgritar os grito que dei no Reversão Epistêmico Desejo de
show de Diomedes reversão de
https://x.com/Littlepedr0/status/120307 uma ação/
6336711032833?s=20 acontecimento
passado
deslamber 45 queria tanto deslamber certas pessoas Reversão Epistêmico Desejo de
reversão de
uma ação/
acontecimento
passado
deslavar 46 “minha mãe lava a louça uma vez e faz Reversão Epistêmico Desejo de
tanta bagunça que da vontade de pedir reversão de
pra ela deslavar” (Usuário 6 - Postado: uma ação/
30.10.20, grifo meu) acontecimento
passado
desler 47 queria desler a corte de chamas Reversão Epistêmico Desejo de
prateadas só pra ler de novo e sentir reversão de
tudo de novo.............. saudades uma ação/
acontecimento
passado
deslimpar 48 tentando deslimpar minha imagem Reversão Epistêmico Desejo de
reversão de
uma ação/
acontecimento
passado
desmastigar 49 não tem como vcs desmastigar essas Reversão Epistêmico Desejo de
orelha não, gente? #UFCSPnoCombate reversão de
#ufc #ufcsp uma ação/
acontecimento
passado
desmorrer 50 Sera q dá pra tia may desmorrer em 11 Reversão Epistêmico Desejo de
minutos ? Tadinho do meu spiderman reversão de
uma ação/
acontecimento
passado
desnadar 51 hoje nadei na maior piscina do Brasil Reversão Epistêmico Desejo de
no resort Brasil Beach Home tô tão reversão de
cansado q se eu pudesse desnadar eu uma ação/
desnadaria. e olha q sou atleta acontecimento
passado
desnamorar 52 como faz pra desnamorar alguém? Reversão Epistêmico Desejo de
reversão de
uma ação/
acontecimento
89
passado
desnotar 53 notei algo como q faço pra desnotar Reversão Epistêmico Desejo de
agr to triste quero chorar reversão de
uma ação/
acontecimento
passado
desolhar 54 Cara, cada coisa que olho e que queria Reversão Epistêmico Desejo de
desolhar mds reversão de
uma ação/
acontecimento
passado
despagar 55 tem como DESPAGAR uma Reversão Epistêmico Desejo de
fatura?????? eu paguei sem querer eu reversão de
preciso na vdd continuar devendo uma ação/
acontecimento
passado
desperder 56 Quero desperder o voo. Poxa, queria Reversão Epistêmico Desejo de
ver o meu mozão hoje reversão de
uma ação/
acontecimento
passado
desprovar 56 Provei comida japonesa e quero Reversão Epistêmico Desejo de
desprovar reversão de
uma ação/
acontecimento
passado
despular 57 Se eu pudesse despular as cercas que Reversão Epistêmico Desejo de
eu pulei reversão de
uma ação/
acontecimento
passado
despuxar 58 esqueci q tava braba c meu irmão e Reversão Epistêmico Desejo de
puxei papo c ele af agora n tem como reversão de
despuxar uma ação/
acontecimento
passado
desquebrar 59 Juro gente vô desabafar aqui agora... Reversão Epistêmico Desejo de
Eu quebrei o coração do pobi de um reversão de
menino a uns mêses atrás ..e agora eu uma ação/
precisava dele acontecimento
Será que da tempo de desquebrar??? passado
Eu falei "EU NÃO QUERO
NINGUÉM """
E AGORA EU QUEROOO
acontecimento
passado
desrir 63 como faz pra desrir de uma Reversão Epistêmico Desejo de
mensagem? reversão de
uma ação/
acontecimento
passado
desriscar 64 Como desriscar os óculos q vc acabou Reversão Epistêmico Desejo de
de riscar Google pesquisar reversão de
uma ação/
acontecimento
passado
desroer 65 Ta doendo os dedo cara, como faz pra Reversão Epistêmico Desejo de
desroer reversão de
uma ação/
acontecimento
passado
desroncar 66 Me bloquear em tudo é fácil, quero ver Reversão Epistêmico Desejo de
desroncar no meu ouvido enquanto reversão de
dormia uma ação/
acontecimento
passado
desroubar 67 kkkkkkk queria desroubar uns beijos Reversão Epistêmico Desejo de
que roubei reversão de
uma ação/
acontecimento
passado
dessabotar 68 Tentei me dessabotar mas n teve jeito Reversão Epistêmico Desejo de
descobri que nunca foi sabotagem reversão de
sempre foi obrigação demais uma ação/
acontecimento
passado
destelefonar 69 "nao da para destelefonar?? se nao eu Reversão Epistêmico Desejo de
destelefonava para ele!" reversão de
uma ação/
acontecimento
passado
destirar 70 tirei um tarot aqui que sinceramente Reversão Epistêmico Desejo de
queria destirar reversão de
uma ação/
acontecimento
passado
destossir 71 P1: mano que tosse dos infernos Reversão Epistêmico Desejo de
P2: simm, tb n aguento queria reversão de
destossir tudo que tossi aaaa uma ação/
acontecimento
passado
destrabalhar 72 mdssss essa semana eu trabalhei Reversão Epistêmico Desejo de
mtttttttttt gostaria de destrabalhar reversão de
uma ação/
acontecimento
passado
destransar 73 DO Q ADIANTA VOCÊ SE Reversão Epistêmico Desejo de
ARREPENDER, E NÃO reversão de
CONSEGUIR DESTRANSAR? uma ação/
acontecimento
passado
desvacinar 74 Sou vacinada mas queria Reversão Epistêmico Desejo de
desvacinar...pode? reversão de
uma ação/
91
acontecimento
passado
desvarrer 75 Quem varreu meu pé, pode vindo Reversão Epistêmico Desejo de
desvarrer pra ontem reversão de
uma ação/
acontecimento
passado
desvotar 76 Votei errado tem como desvotar? Reversão Epistêmico Desejo de
reversão de
uma ação/
acontecimento
passado
Fonte: o autor, 2023
Como pode ser observado nas SDs do quadro 15, o falante constrói a cena como
contrafactual por meio das FIs que evocam um desejo de reversão no nível epistêmico, visto
que essas ações/acontecimentos não são possíveis de reversão no EM factual, seja por uma
atividade (física ou não) praticada por um sujeito agente que se arrepende desta ação (ex.:
SDs 48, 73 e 75) quanto por uma ação/acontecimento que foge do seu controle (SD13),
vejamos:
SD48: “queria desler a corte de chamas prateadas só pra ler de novo e sentir tudo de
novo.............. saudades” (Usuário 7 – Anexo A: item/construção 82- Postado: 12.04.17,
grifo meu)
SD73: “tirei um tarot aqui que sinceramente queria destirar” (Usuário 7 – Anexo A:
item/construção 82- Postado: 12.04.17, grifo meu)
SD13: “Como faz pa dar replay no fds, e deschover ele?” (Usuário 7 – Anexo A:
item/construção 82- Postado: 12.04.17, grifo meu)
92
Nas SDs (01- 10), as FIs desencadeiam um anseio de reverter um evento ou situação
passada que estava além do controle dos sujeitos-tuiteiros no domínio da crença (epistêmico)
e que projetam um EM contrafactual. Os sujeitos-tuiteiros, produtores dessas construções,
experimentaram/ vivenciaram eventos que os impactaram e que estavam fora de seu controle,
93
como: SD1 “ desachar” (reverter o evento de alguém ter achado o seu perfil no X/twitter),
SD2 “desacontecer” (reverter situações que aconteceram no passado”), SD3: “desnascer”
(reverter o nascimento), SD4: “desouvir” (reverter a situação de ouvir alguma coisa que não
lhe agradou), SD5: “dessaber” (reverter a situação de saber o que é viver sozinho), SD6:
“dessentir” (reverter o evento de ter lido que perfume tem gosto de gin”), SD7: “dessonhar”
(reverter o evento/situação de ter tido um sonho erótico”), SD8: “desver” (reverter o evento de
ter visto certas situações) e SD9 “desviver” (reverter certas situações vivenciadas)
O EM contrafactual reversão de estado das SDs (1-5) é ativado pelo desejo de reversão
de propriedades expressas pelas FIs, como SD1: "desdesejar (coisas ruins)", SD2: "desestar
(apaixonada)", SD3: “desexistir” (reverter a existência por um determinado tempo) e SD4:
“desquerer” (reverter o sentimento/o estado de querer). Em todas essas sequências, o prefixo
"des-" é empregado para enfatizar a vontade do indivíduo de reverter um estado, situação ou
condição no domínio epistêmico.
94
Nas SDs acima, as FIs “desabraçar” (SD1), “desrodar” (SD2), “desnoivar” (SD3) e
“desdemaiar” (SD4) sugerem cenários mentais hipotéticos que são viáveis de ocorrer. Por
exemplo, na SD1, a ação de "desabraçar" seria uma possibilidade se alguém estivesse
dormindo junto; na SD2, em caso de possuir dinheiro, a ação de "desrodar" seria factível. Na
SD3, "desnoivar", ou seja, cessar um noivado, é algo que poderia acontecer. Por fim, na SD4,
"desdesmaiar" representa a recuperação da consciência em relação a algo experimentado.
95
Quadro 20: Resultado das operações cognitivas das FIs prefixais com des-
Espaço Mental Percentual das Categorização Domínio Projeção temporal
ocorrências Cognitivo
Existem dois modelos de rede semasiológica: a rede radial, introduzida por Lakoff, e
a rede esquemática, desenvolvida por Langacker. Ambos permitem a identificação
da estrutura baseada em protótipos e das relações metafóricas e metonímicas que
ligam os diversos sentidos, mas o modelo radial focaliza a radialidade da estrutura,
ao passo que o modelo esquemático introduz a dimensão hierárquica da
esquematicidade. O modelo de rede radial descreve a estrutura da categoria na forma
de um centro prototípico do qual emanam diversos sentidos mais ou menos
próximos desse centro. O modelo de rede esquemática acrescenta ao modelo radial a
dimensão taxionómica pela qual se passa do nível mais específico ao nível mais
geral e abstrato. Desta forma, o modelo da rede esquemática combina protótipos e
esquemas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
contemplados na análise. Por exemplo, embora Hamawand aborde a sinonímia, ele não se
aprofunda nas redes polissêmicas. Quanto à metodologia, o autor afirma que seu trabalho está
fundamentado na Semântica Cognitiva e na Linguística de Córpus. Apesar de extrair dados
exclusivamente do British National Corpus, Hamawand apenas menciona que a Linguística
de Córpus fornece ferramentas para uma maior elaboração de descrições das estruturas
morfológicas do uso diário da linguagem. Por fim, apesar de formalizar uma tríade de análise
das operações cognitivas para observar estruturas morfológicas, Hamawand não demonstra de
maneira satisfatória a aplicação da última operação cognitiva, o Construal, como evidenciado
em seus trabalhos (Hamawand, 2009, 2011).
Com isso, entendendo que as operações cognitivas podem fornecer insights sobre o
comportamento morfossemântico das construções de modo geral, apresentamos modificações
com base na tríade: categorização, configuração e interpretação. Nesse estudo, observamos
as FIs nos contextos em que foram produzidas. Para esse percurso analítico, lançamos mão
dos conceitos de categorização, domínio cognitivo, espaços mentais e projeção temporal da
cena (passado, presente e futuro) de cada sequência discursiva.
Em “Percursos metodológicos”, após organizar o córpus desta pesquisa em uma
planilha de Word, contendo a construção morfológica, a data da postagem do tuíte, a
sequência discursiva com link da postagem e a data em que a coleta dessa construção foi
realizada, foi possível realizar uma análise qualitativo-interpretativa, em que pudemos
analisar construção por construção, a fim de estabelecer critérios e aplicações metodológicas
dos dados. Assim, optou-se por organizar as SDs conforme o EM (contrafactual, conteúdo e
hipotético) ativado pela construção. Em um segundo momento, procurou-se analisar cada SD
buscando identificar: i) o sentido prototípico geral de cada construção, ii) o domínio cognitivo
(conteúdo e/ou epistêmico) e a iii) perspectiva temporal (passado, presente e futuro) evocada
pela FI.
Em “Análise dos dados”, com na reformulação da proposta teórica-metodológica de
Hamawand (2011), encontramos os seguintes resultados:
Com base nessas respostas, esperamos mapear as operações cognitivas ativadas pelas
FCs e FIs do prefixo des- e trazer mais empirismo para essa proposta analítica.
103
REFERÊNCIAS
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2. desabrir 21.04.20 Tem umas nude que da vontade de desabrir né?! 26.03.23
https://twitter.com/ra_ros/status/125262421600
6033410?s=20
3. desacabar 22.10.20 webamizade muito querida quando o mundo 26.03.23
desacabar vou te convidar pra rolê presencial
https://twitter.com/tobiaseurosama/status/13415
69571099127809?s=20
4. desachar 09.09.15 - achei o seu twitter 26.03.23
- então vc vai desachar agora
https://twitter.com/JuninhoClemente/status/641
776351905730560?s=20
5. desacontecer 26.05.18 como faz o desacontecer alguns 26.03.23
acontecimentos???
https://twitter.com/_annajuliax/status/10004061
11768498177?s=20
6. desadoecer 06.03.11 Adoeci. Vou tentar desadoecer até amanhã. 26.03.23
https://twitter.com/laisdidier/status/4456491962
6117120?s=20
7. desadquirir 02.04.18 eu gostaria de desadiquirir a consciencia de 26.03.23
classe pq ta atrasando demais a minha vida eu
preciso de dinheiro pra procedimento estético
https://twitter.com/pauller_/status/98089965146
4433664?s=20
8. desassistir 05.12.22 uma série que vc queria DESASSISTIR só pra 26.03.23
assistir de novo com a sensação de primeira vez
https://twitter.com/yaahmuniz/status/163697147
3779712001?s=20
14. desbrincar 15.01.23 Brinquei uns dias de ser low profile e agora não 26.03.23
sei mais desbrincar. Principalmente porque
minhas aulas retornarão na próxima segunda, e
minha vontade de existir no mundo exterior só
diminui. Porém, confesso que até senti saudades
de estar no meio caótico da minha universidade.
https://twitter.com/TonApolinario/status/161468
4684562087938?s=20
15. deschegar 05.07.23 “dizem que quando é o tempo de ser mamãe 03.08.23
todas as crianças riem pra gente, aparece
grávida de tudo que é lado e etc. ta acontecendo
comigo então se chegou meu tempo ele pode
deschegar” (Usuário 5 - Postado: 05.07.23,
grifo meu)
https://twitter.com/Thayzita_F/status/16766665
96733886465?
16. deschorar 3.03.23 Tem lágrimas que eu desejava deschorar 26.03.23
https://twitter.com/driemeier_dani/status/16216
71399759773696?s=20
17. deschover 01.12.22 26.03.23
Como faz pa dar replay no fds, e deschover ele?
https://twitter.com/wellgustt/status/1598457134
777352194?s=20
18. deschutar 30.11.23 Se eu chutar o balde n vai ter ninguém q faça eu 26.03.23
deschutar
https://twitter.com/QuirinoDebora_/status/1597
941856285118464?s=20
19. desclicar 08.01.23 Tinha que ter como "desclicar" naqueles 26.03.23
balõeszinhos de interação do Instagram, pq eu
quase cliquei num que ia dar muita merda se eu
clicasse
https://twitter.com/VendruscoloLuiz/status/1612
057731195895815?s=20
20. descomentar 20.04.17 alguém fala pra mariah descomentar a 26.03.23
publicação, eu não quero aceitar que ela acertou
https://twitter.com/pfvrdias/status/85516468325
4472705?s=20
21. descomer 23.03.23 Como pode eu ter acabado descomer e 5 min 26.03.23
depois eu tá com fome de novo
https://twitter.com/diiimultiverse/status/163907
7741550088192?s=20
22. descomprar 04.01.22 Abri a fatura do cartão desse mês e deu vontade 26.03.23
de descomprar tudo
https://twitter.com/ricademarre/status/14784497
53449017347?s=20
23. descorrer 02.01.23 “eu juro que se eu pudesse descorrer, eu 03.08.23
descorreria a são silvestre pq até hoje as minha
pernas doem SER FITNESS NÃO É COMIGO.
Esse lance de fazer as coisas para agradar o boy
só nos fodem, meninas”
24. desdançar 01.02.21 “Queria desdançar todas as vezes que tocou 26.03.23
Jaque Patomba nas buatchy.”
25. desdar 05.10.21 desver não, mas desdar, taí um poder q eu 26.03.23
queria ter
https://twitter.com/adebadeba/status/142331680
2659135492?s=20
26. desdeitar 30.04.21 hoje eu fiquei tanto tempo deitada que já não 26.03.23
consigo desdeitar mais
110
https://twitter.com/melovivieu/status/13883156
45788528640?s=20
27. desdeixar 12.11.21 Gente, quem deixou que São Paulo viesse pro 26.03.23
RJ? Já pode desdeixar, dois meses de chuva, tô
a base de anti ferrugem.😨😓
https://twitter.com/Aleemanuel1/status/1459138
152539602948?s=20
28. desdesejar 15.04.20 “Odeio acreditar em karma pq eu desejo as 26.03.23
coisa ruim pras pessoas e daí tenho q
desdesejar se não teoricamente volta em dobro
pra mim”
https://Twitter/X.com/yorran_com_h/status/1
673141158493450241?>.
29. desdesistir 26.07.20 Desisto de vc 26.03.23
Só não manda mensagem pra eu desdesistir pfvr
https://twitter.com/gu4morim/status/128748803
6654260226?s=20
30. desdesmaiar 01.02.13 eu: mãe eu vou desmaiar
minha mãe: 3 trabalhos... desmaiar, desdesmaiar
e levantar aushauhsuahsuahshaushaush'
https://twitter.com/taiguti97/status/2973538302
51757569?s=20
31. desdormir 19.02.18 “no momento só queria desdormir o que dormi 03.08.23
de tarde pois uma da manhã e tô pronto pra
correr cinco maratona”
32. desengolir 21.11.22 Nada como uma discussão para realinhar os 26.03.23
chakras dos sapos que eu precisava desengolir.
https://twitter.com/RaissaCamara7/status/15948
04441496301568?s=20
33. desengordar 26.02.23 o processo de desengordar é uma vida, ja pra 26.03.23
engordar é 2 segundos
https://twitter.com/011_murilyn/status/1629968
614823456769?s=20
34. desentrar 26.10.10 irá, meu twitter desbugou ! KKKKKKKKKKK' 26.03.23
amém, tive que entrar e desentrar ! KKKKKKK
am ?
https://twitter.com/caiobseduction/status/190930
39490277376?s=20
35. deserrar 23.01.23 O maior erro da minha vida, me tornar noivo de 26.03.23
uma determinada mulher em 2002. Errei e não
dá para deserrar; mas pelo menos dá para
aprender. Não me vinguei, não retaliei. Simples,
jugo desigual. Falcão, "Vida de corno".
https://twitter.com/lrzaine/status/161740733186
7807744?s=20
36. desesconder 21.02.10 Acabei de lembrar que hoje é aniversário do 26.03.23
meu irmão. Vou DESesconder a primeira
temporada de Prison Break que vou dar de
presente huaeuae
https://twitter.com/iagosalest/status/9433422066
?s=20
37. desescovar 01.10.2020 Escovei o dente mas vou desescovar e tomar
uma cerveja, depois escovo de novo
https://twitter.com/vanessa_rubio/status/131150
9329850306560?s=20
https://twitter.com/LouisVuittonn_/status/13374
51618770558977?s=20
39. desespirrar 20.12.16 Tem uma galera que fala uns "saúde" tão chato
que tenho vontade de desespirrar.
https://twitter.com/marianarausch/status/811251
059872169984?s=20
41. desesverdear 05.10.21 “to que nem um cachorro faminto olhando o 26.03.23
cacho de banana desesverdear. Quero fazer
meu doce de banana”
42. desexistir 24.02.23 as vezes bate uma vontade de desexistir por um 26.03.23
tempo
https://twitter.com/_sad1996/status/1628999013
121892354?s=20
43. desfalar 04.08.23 “obrigada a quem inventou o modo cancelar 26.03.23
mensagem, o sentimento de desfalar é muito
bom”
<https://Twitter.com/ms_tai2m/status/12323232
26308632576?s=20>.
44. desficar 28.02.23 Comigo é do jeito certo. Gostou? Tmj Não 26.03.23
gostou? Pode ficar com raiva, espernear, por
mim tmj tb mas ai tu tem dois trabalhos: ficar
brabo e desficar. Podem falar a vontade que
falam mal de mim pelas costas, isso é o mais
normal por aqui. Não fujo de como sou pra
agradar ngm.
https://twitter.com/PedroLepper/status/1630698
997785526272?s=20
45. desfingir 08.02.16 Agora que o show acabou, a gente já pode 26.03.23
desfingir que curte futebol americano e ir
dormir #SuperBowl50 #SB50
https://twitter.com/desaplaudidos/status/696519
894016401409?s=20
46. desfoder 28.02.23 como desfoder a costa depois de passar o dia 26.03.23
todo sentada
https://twitter.com/0101stayc/status/163070388
0945188864?s=20
47. desfofocar 23.02.23 estou servida até demais de fofoca, tem coisa q 26.03.23
eu queria desfofoca
https://twitter.com/cianaluz/status/16289124347
13882624?s=20
48. desfumar 18.11.22 gostaria de desfumar o cigarro que fumei 26.03.23
desgraça
https://twitter.com/julhamrm/status/1593754047
961513985?s=20
49. desfurar 11.02.23 tem como desfurar a orelha??? 26.03.23
https://twitter.com/cvbzfa/status/162459223685
4771713?s=20
50. desganhar 21.12.22 Meu presente de natal foi desganhar uma folga 26.03.23
https://twitter.com/4drianoo/status/1605622094
472957952?s=20
51. desgripar 21.02.23 gripei mas tenho que desgripar logo 26.03.23
https://twitter.com/Camposs_gi/status/16281782
67084652544?s=20
112
0407168?s=20
800960?s=20
81. desroubar 14.03.23 kkkkkkk queria desroubar uns beijos que roubei 26.03.23
https://twitter.com/apolinariojsne/status/163564
3375314432003?s=20
82. dessaber 23.03.23 saber ser sozinho é libertador... 26.03.23
o problema é conseguir “dessaber” depois.
https://twitter.com/m4rtinszz/status/1639095283
060715521?s=20
83. dessabotar 19.11.21 Tentei me dessabotar mas n teve jeito descobri 26.03.23
que nunca foi sabotagem sempre foi obrigação
demais
https://twitter.com/cebejinha/status/1461758291
449683971?s=20
84. dessentir 15.03.23 hoje li que gin tem gosto de perfume no pescoço 26.03.23
e agora, tomando gin, não consigo dessentir
https://twitter.com/pierovcnz/status/1636174512
902361089?s=20
85. dessonhar 13.02.21 “sonhei com uma versão +18 de cinderella que 26.03.23
se passava em um navio ancorado em um porto
e meu deus como é que faz para dessonhar
algo?”
https://Twitter.com/eremitadosertao/status/1360
623736018198531?>.
86. destatuar 20.01.23 primeira ordem q o richarlison vai receber 26.03.23
depois do nosso casamento eh marcar um
destatuador p destatuar esta coisa horrorosa
https://twitter.com/ketinthesky/status/16166131
25410766855?s=20
87. destelefonar 27.07.14 "nao da para destelefonar?? se nao eu 26.03.23
destelefonava para ele!"
https://twitter.com/Loony_Weasley/status/4935
20578159316992?s=20
88. destirar 17.03.23 tirei um tarot aqui que sinceramente queria 26.03.23
destirar
https://twitter.com/ArthurMalala9/status/163658
2401760542720?s=20
89. destossir 06.10.22 P1: mano que tosse dos infernos 26.03.23
P2: simm, tb n aguento queria destossir tudo
que tossi aaaa
https://twitter.com/scottinho_a/status/15782162
70415151105?s=20