Você está na página 1de 8

João Victor dos Santos Gonçalves N°USP 130 126 23

Gesley Luís Ribeiro Simão Nº USP 113 496 88


Vinícius Nº USP 12256888

Trabalho Final GEN5711 - Preparação à docência na graduação


Prof° Vera Giusti

Proposta de Ensino para a Disciplina MAT1513 -Laboratório de Matemática

1. A disciplina MAT1513- Laboratório de Matemática

A disciplina escolhida pelo grupo para se analisar de forma a elaborar uma proposta
de ensino é a disciplina Laboratório de Matemática (MAT1513) ministrada para o curso de
Licenciatura em Matemática na Universidade de São Paulo. O motivo para escolha de tal
disciplina se refere ao fato de que a proposta curricular da disciplina, tal qual foi elaborada,
e para qual foi pensada, possibilita ao aluno ingressante revisitar conteúdos de Matemática
da Educação Básica com maior rigorosidade, de forma a amenizar o impacto
frequentemente causado pela transição do Ensino Médio ao Ensino Superior, tal qual é
analisado por Guzmán (1998) et al. no artigo Difficulties in the passage from Secondary to
Tertiary Education.

2. Objetivos

A disciplina tal qual está estruturada atualmente, e disponível na Plataforma Júpiter,


tem como objetivo:

● Apresentar situações-problema que desafiem e impulsionem a autonomia dos


alunos.
● Discutir tópicos relevantes do Ensino Básico, tendo em vista propiciar um
embasamento conceitual adequado.
● Favorecer a compreensão da natureza do pensamento, da linguagem e do fazer
matemáticos.

De forma a complementar os objetivos já estabelecidos pela disciplina, caso


fôssemos lecionar tal disciplina acreditamos que seria interessante acrescentar como
objetivo "Propiciar o fortalecimento e aprofundamento das bases matemáticas para melhor
aproveitamento do curso de Licenciatura em Matemática." Acreditamos que tal disciplina,
por já abordar conteúdos matemáticos da Educação Básica, poderia se propor abertamente
a trabalhar melhor as bases em Matemática de forma a suprir algumas pendências
existentes em relação ao conteúdo do Ensino Médio, assim como revisitar com mais
rigorosidade tais conteúdos. Como já apontado por Guzmán (1998) et al. no artigo
supracitado, a Matemática do Ensino Superior “é diferente, não somente porque os tópicos
nela são diferentes, mas especificamente pelo grau crescente de profundidade, tanto no
que se refere às habilidades técnicas para a manipulação de novos objetos, quanto pela
compreensão dos conceitos que existem por trás destes.”. Considerando essas diferenças,
acreditamos que tal disciplina seja de grande valia para melhor desenvolvimento de bases
matemáticas que auxiliem nesta transição entre a Educação Básica e o Ensino Superior.

3. Justificativa

A justificativa para a criação da disciplina foi encontrada em uma dissertação de um


estudante do Mestrado Profissional em Ensino de Matemática do IME-USP, intitulada Um
estudo de caso, com ingressantes de 2015 do curso de licenciatura em matemática do
IME-USP, sobre a Transição do Ensino Médio para o Superior:

O departamento de matemática do IME optou pela criação da


disciplina de Laboratório de Matemática em 1993, tentando auxiliar
os calouros e minimizar algumas dificuldades, de modo a dar
suporte a alguns alunos ingressantes que não conseguiam a
adaptação necessária no início da graduação, talvez por não
possuírem a linguagem matemática e formal necessárias para
manter o nível pretendido (Peleias, 2016)

Desta forma, podemos observar que a disciplina foi concebida na grade curricular também
com o propósito de minimizar as dificuldades existentes dos alunos ingressantes na
Licenciatura em Matemática no IME-USP. Por isso, acreditamos que a proposta de
fundamentar melhor a base matemática dos estudantes, da forma que sugerimos como
acréscimo aos objetivos da disciplina, deva ser algo explicitamente declarada no documento
oficial que caracteriza a disciplina.

4. Programa da Disciplina

O documento correspondente à disciplina, disponível na plataforma Júpiter, prevê


que seja trabalhado junto aos estudantes os seguintes tópicos:

● Noções de Lógica
● Linguagem Básica da Teoria dos Conjuntos
● Funções trigonométricas, exponenciais e logarítmicas
● Princípio da Indução Finita
● Números Complexos do ponto de vista geométrico
● Tópicos livres de matemática elementar

Ainda, o programa da disciplina prevê que para todos os itens seja proposto a resolução de
problemas aos alunos. Analisando essa proposta de programa atual para a disciplina,
acreditamos que seja adequado incluir o conteúdo “Técnicas de Demonstração em
Matemática” de forma que os alunos venham a se familiarizar melhor com o modo pelo qual
lidamos com a matemática no Ensino Superior, com sua formalização, suas premissas e
axiomas, estruturas lógicas e conclusões. É evidente que as técnicas de demonstração nem
sempre são apresentadas durante a Educação Básica. E muitas vezes ao ingressar no
Ensino Superior, essa falta de contato com as demonstrações e com o formalismo
matemático acarreta em frequentes dificuldades no acompanhamento das disciplinas do
curso. Deste modo, acreditamos que acrescentar o conteúdo de introdução às técnicas de
demonstração iria ser de grande valia para melhor aproveitamento das outras disciplinas do
curso de Licenciatura em Matemática.

5. Avaliação na disciplina

O documento referente a essa disciplina prevê que as notas relativas à avaliação


serão dadas através da “média ponderada de provas e exercícios”. Como sugestão, nosso
grupo considera como proposta que tal disciplina poderia incluir, ainda, quatro listas curtas
de exercícios, e um seminário para o qual os estudantes deverão escolher um dos
conteúdos de matemática elementar previstos na disciplina e dissertar sobre as
possibilidades para seu ensino na Educação Básica. Acreditamos que, como esta é uma
disciplina da Licenciatura, seria interessante não somente revisar os conteúdos da
educação básica previstos (como funções trigonométricas, exponenciais, etc) mas também
cogitar propostas para seu ensino na Educação Básica. Em suma, nossa sugestão para
avaliação desta disciplina segue abaixo:

● Duas provas dissertativas, versando sobre os conteúdos previstos para disciplina.


● Quatro listas (curtas) de exercícios, correspondentes aos temas tratados na
disciplina.
● Um seminário (em grupo ou individual) sobre as possibilidades ou estratégias de
ensino na Educação Básica de tais conteúdos de Ensino Médio previstos para a
disciplina.

A média final será dada pela média aritmética dos itens especificados acima.
Acreditamos que acrescentar como forma de avaliação um seminário voltado ao ensino de
tais tópicos de matemática do Ensino Médio é fundamental, visto que ao revisitar tais
assuntos em um curso de Licenciatura, os discentes devem não somente preencher
lacunas de sua formação deixadas na Educação Básica, mas também apreciar tais
conteúdos em suas possibilidades de ensino e atuação profissional.

6. Conteúdo "problemático" da disciplina

Como conteúdo da disciplina cujo aprendizado poder ser considerado "problemático"


destacamos o Princípio da Indução Finita (PIF). A problemática relacionada ao aprendizado
de tal conteúdo se deve a uma série de fatores, e gostaríamos de destacá-los mais
especificamente.

Primeiro, uma dificuldade associada ao aprendizado do PIF que pode facilmente se


manifestar, ainda que no início do Ensino Superior, se relaciona ao entendimento da
estrutura lógica do PIF enquanto método de validação utilizado em Matemática. Segundo
Iezzi (2006): "para provarmos que uma relação é válida para todo número natural utilizamos
o Princípio da Indução Finita." Seu enunciado, encontrado neste autor, pode ser
apresentado da seguinte forma:

“Uma proposição 𝑃(𝑛), aplicável aos números naturais 𝑛, é verdadeira para todo
𝑛 ∈ ℕ , 𝑛 ⩾𝑛0 , quando:

1º) 𝑃(𝑛0) é verdadeira, isto é, a propriedade é válida para 𝑛 = 𝑛0, e


2º) Se 𝑘 ∈ ℕ, 𝑘 ⩾𝑛0 e 𝑃(𝑘) é verdadeira, então 𝑃(𝑘 + 1) também é verdadeira.

Lima (2014), por outro lado, apresenta o Princípio da Indução Finita a partir da ideia de
conjunto, como um axioma:

“Se um conjunto 𝑋 ⊂ ℕ é tal que 1 ∈ 𝑋 e para todo 𝑛 ∈ 𝑋 ⇒ 𝑠(𝑛) = 𝑛 + 1 ∈ 𝑋 , então


𝑋 = ℕ. ”

Essa afirmação, que é um dos Axiomas de Peano, como destacado por Polcino (2001),
pode ser reformulada da seguinte forma:

“Se um conjunto de números naturais contém o número 1 e contém também o sucessor de


cada um dos seus elementos, então esse conjunto contém todos os números naturais”

Polcino (2001) afirma que essa caracterização axiomática de Peano, na qual se inclui o
Princípio da Indução Finita, se baseia em três conceitos primitivos: número natural, zero e
sucessor.

Como podemos observar, o PIF pode ser apresentado de diferentes formas.


Logicamente ele se justifica pela ideia de que primeiro provamos a sentença para um
número natural qualquer, em seguida mostramos que se a sentença é válida para um
número, então será válida para seu sucessor. Como conclusão, segue que a sentença vale
para todo número natural maior que o número inicial. De fato, se vale, digamos, para 𝑛 = 0,
daí consequentemente valerá para o sucessor de zero 𝑛 = 1. E recursivamente, se vale
para 𝑛 = 1 então valerá para o sucessor 𝑛 = 2, e esse processo se estende ao infinito.

Além da dificuldade de compreender a estrutura lógica do PIF, podemos ainda


destacar a dificuldade de se entender como essa estrutura lógica se apresenta a partir da
linguagem algébrica. Através do artigo de Denardi (2017), sobre a Teoria das
Representações Semióticas de Duval, podemos observar que

a principal dificuldade na aprendizagem da Matemática


decorre do fato que os objetos matemáticos não possuem
existência física e, sendo assim, o acesso a esses objetos só
é possível com a utilização de um sistema semiótico
(Denardi, 2017)

Deste modo, o sistema semiótico da linguagem algébrica, presente no PIF, pode se


apresentar como uma das dificuldades relacionadas à sua compreensão. Ainda, o Princípio
da Indução Finita pode envolver noções que se aproximam de obstáculos
epistemológicos, com base na teoria de Bachelard, como a ideia de limite e infinito, tal
qual encontramos em Moraes (2016). A noção de limite e infinito pode estar implícita no PIF
quando a sentença a ser demonstrada é escrita em função de uma variável 𝑛 natural, sendo
a sentença em questão válida para todo 𝑛 natural específico desde zero até infinito.

Por isso, ao identificar esse conteúdo "problemático" na disciplina, nós autores deste
texto pensamos que talvez fosse interessante destacar em algum momento outras possíveis
formas de se observar a representação das sentenças abertas colocadas para validação
pelo PIF. Essas outras formas de se observar as sentenças abertas se caracterizam pela
utilização de outros sistemas semióticos de representação, que podem prover novas
possibilidades de se acessar o conceito. Tomemos, por exemplo, a sentença aberta

𝑛
2 > 𝑛, ⩝ ∈ ℕ

Essa sentença, aqui representada algebricamente, denota uma desigualdade. Observe que
aqui o conceito de desigualdade, válido para todo número natural 𝑛, pode ser observado tão
somente pela linguagem algébrica enquanto sistema de representação.

Na busca de outro sistema de representação, por exemplo, através da


representação geométrica, poderíamos interpretar as sentenças à esquerda e à direita da
desigualdade como funções cujas variáveis sejam números naturais 𝑛. Neste caso, a
desigualdade expressa anteriormente poderia ser observada pela seguinte representação
geométrica

𝑛
onde para todo número natural 𝑛 pode-se observar através do gráfico que 2 será maior que
𝑛.

Outra forma de representar a desigualdade acima, por mais simplista que aparente
𝑛
ser, poderia ser dada através da representação verbal. A sentença 2 > 𝑛, ⩝ ∈ ℕ pode
ser interpretada (ainda que rudemente) pela seguinte afirmação verbal:

“Dois elevado a qualquer número natural será sempre maior que o próprio número”

Deste modo, destacamos o conteúdo Princípio da Indução Finita como um conteúdo


problemático no que se refere ao aprendizado, e observando suas possíveis dificuldades
pensamos em outras formas alternativas de se compreender algumas de suas
características através de noções da Teoria das Representações Semióticas de Duval.
Obviamente, o entendimento do PIF através de sua representação algébrica e formal, com
toda sua rigorosidade Matemática, deve ser compreendido pelos alunos. Porém isso não
nos impede, pelo menos em algum momento, de pensar em possibilidades alternativas na
busca de sua compreensão.

7. Bibliografia da Disciplina

O documento do Júpiter para essa disciplina prevê a utilização do seguintes material


bibliográfico:

● E.L. Lima et al. A Matemática do Ensino Médio. Coleção do Professor de


Matemática, SBM.
● E.L Lima. Logaritmos. Coleção do Professor de Matemática, SBM.
● M. do Carmo et al. Trigonometria e Números Complexos. Coleção do Professor
de Matemática, SBM.
● Coletânea de textos e atividades da disciplina MAT-1513.

Podemos observar que a bibliografia selecionada para a disciplina prevê a utilização de


livros e materiais que são voltados para o curso de licenciatura, o que é bastante
significativo. Todavia, como forma de contribuição à disciplina, sugerimos que sejam
acrescentados na bibliografia para sua complementação os seguintes materiais:

● G. Iezzi. C. Murakami: Fundamentos de Matemática Elementar: Conjuntos e


Funções. Atual Editora.
● G. Iezzi. Fundamentos de Matemática Elementar: Números Complexos,
polinômios e equações. Atual Editora.

Esses livros, os quais propomos ser acrescentados à bibliografia da disciplina, podem vir a
auxiliar o aluno ingressante no Ensino Superior a resgatar os conteúdos pendentes de
matemática elementar do Ensino Médio, de forma a revisitar tais conteúdos básicos com
maior profundidade e rigor.

O primeiro livro que recomendamos, Fundamentos de Matemática Elementar:


Conjuntos e Funções, além de trabalhar com profundidade a Matemática da Educação
Básica no que se refere aos conteúdos de Teoria dos Conjuntos e funções, ainda possui um
capítulo dedicado à exposição e desenvolvimento de lógica matemática, o qual acreditamos
ser imprescindível para melhor familiarização com a Matemática do Ensino Superior. Ainda,
talvez fosse interessante, dentro dos temas livres de matemática elementar que está
previsto na disciplina, trabalhar de maneira mais sólida o conteúdo de números e intervalos
reais, que vão ser de enorme importância para o estudo posterior de Cálculo. Desse modo,
essa referência sugerida pode vir a contribuir para melhor compreensão e de tal conteúdo.

O segundo livro que recomendamos, Fundamentos de Matemática Elementar: Números


Complexos, polinômios e equações, apresenta e desenvolve a teoria dos números
complexos ressaltando o número complexo em três perspectivas fundamentais: forma
algébrica, forma trigonométrica e suas representações geométricas.
Referências

[1] UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Disciplina MAT1513 Laboratório de Matemática.


Júpiter: Sistema de Gestão Acadêmica da Pró-Reitoria de Graduação. Disponível em
<https://uspdigital.usp.br/jupiterweb/obterDisciplina?nomdis=&sgldis=MAT1513>. Acesso:
nov. 2022.

[2] GUZMAN, M; HODGSON, B. Difficulties in the passage from Secondary to Tertiary


Education. Proceedings of the International Congress of Mathematicians, Berlin, v. III:
Invited Lectures, p. 747-762, 1998.

[3] PELEIAS, T. A. C. Um estudo de caso, com ingressantes de 2015 do curso de


licenciatura em matemática do IME-USP, sobre a transição do Ensino Médio para o
Superior. Dissertação de Mestrado - Instituto de Matemática e Estatística, Universidade de
São Paulo, São Paulo, 2016.

[4] IEZZI, G. MURAKAMI, C. Fundamentos de Matemática Elementar: Conjuntos e


Funções. 7. ed. São Paulo, Atual Editora, 2006.

[5] IEZZI, G. Fundamentos de Matemática Elementar: Números Complexos,


polinômios e equações. 7 ed. São Paulo: Atual Editora, 2006.

[6] LIMA, E. Análise Real: Funções de uma Variável. 1. ed. Rio de Janeiro: IMPA, 2014.

[7] POLCINO, C; COELHO, S. Números: Uma Introdução à Matemática. 3. ed. São


Paulo: Edusp, 2001.

[8] DENARDI, V. Teoria dos Registros de Representação Semiótica: contribuições para


a formação de professores em de matemática. XXI Encontro Brasileiro de Estudantes de
Pós-Graduação em Educação Matemática- EBRAPEM, Pelotas, 2017.

[9] MORAES , M; MENDES, M. Obstáculos Epistemológicos relativos ao conceito de


Limite de Função. Encontro Nacional de Educação Matemática- ENEM, 2016.

[10] LIMA, E. A Matemática do Ensino Médio. 6. ed. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira
de Matemática, 2000.

[11] LIMA, E. Logaritmos. 6. ed. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Matemática, 2000.

[12] CARMO, M. Trigonometria e Números Complexos. Coleção do Professor de


Matemática, SBM.

Você também pode gostar