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Tópico 2 O conjunto de números naturais 1

TOPICO 2

O conjunto de números naturais


Tópico 2 O conjunto de números naturais 2

2.1.Introdução

Este tópico destina-se ao estudo axiomático dos números naturais.

O número natural, segundo Calado (1969) , pode ser abordado como ordinal – quando visto como
elemento da colecção 0,1,2,3,4,…., ou cardinal – quando visto como quantidade de elementos
dum conjunto ,ou seja, cardinal de um conjunto.

As duas diferentes visões do numero natural implicaram o surgimento de duas" escolas" para
fundamenta-lo: As Escolas formalista e lógica.

A Escola formalista era representada pelos Matemáticos e Filósofos Grassman, Dedekind,Peano e


Hilbert enquanto que a escola dos lógicos era defendida pelos matemáticos Frege, Cantor e
Russel.

Os Formalistas fundamentam os números naturais como ordinais, enquanto que os lógicos


caracterizam os como números cardinais.

O uso duma ou doutra fundamentação depende do objectivo a ser alcançado. Para o nosso
objectivo,que constitui a construção algébrica de conjuntos numéricos, seguiremos a via
formalista, visto que ela não acarreta vários conceitos a aplicar nas construções algébricas que
pretendemos.

Os formalistas fundamentam os números naturais através de axiomas, por isso a construção por
eles feita chama-se construção axiomática.

Apresentemos alguns factos históricos sobre Peano,um dos percursores da escola formalista:

Giuseppe Peano

Peano nasceu no dia 27 de agosto de 1858 em Cuneo, Piemont, Itália, e


morreu em 20 de abril de 1932 em Turin, Itália. Foi o fundador da lógica
simbólica e o centro de seus interesses foram os fundamentos da
matemática e o desenvolvimento de uma linguagem lógica formal.
Peano estudou matemática na Universidade de Turin e se uniu de pessoal
lá em 1880, sendo designado a uma cadeira em 1890. Em 1889 Peano
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publicou os seus axiomas famosos, chamados axiomas de Peano, que


definiram os números naturais em termos de conjuntos. Em 1891 ele
fundou a “Rivista di matemática” um diário dedicado principalmente a
lógica e aos fundamentos da matemática.
Em 1886 Peano provou que se f(x,y) é contínua então a equação
diferencial de primeira ordem / = ( , ) tem uma solução.
A existência de soluções com fortes hipóteses em f tinha sido mais cedo
determinada por Cauchy e então Lipschitz. Quatro anos depois
Peano mostrou que as soluções não eram únicas, dando como um exemplo
a equação diferencial / =3 , (0) = 0.
Peano introduziu os elementos básicos de cálculo geométrico e deu
definições novas para o tamanho de um arco e para a área de uma
superfície encurvada. Ele inventou as curvas 'space-filling' em 1890, estas
são cartografias de [0,1] sobre a unidade quadrado. Hilbert, em 1891,
descreveu similarmente curvas 'space-filling'.
Ele produziu uma definição axiomática do sistema de número natural e
mostrou como o sistema de número real pode ser derivado destes
postulados.
Peano estava também interessado em linguagens universais, ou
internacionais, e criou a linguagem artificial Interlingua em 1903. Ele
compilou o vocabulário levando palavras de inglês, francês, alemão e
latim. Foi desenvolvido mais adiante por Alexander Gode. Porém, Peano
considerou o seu trabalho em análise matemática ser de grande significado.
Embora Peano seja um fundador de lógica matemática, o filósofo e
matemático alemão Gottlieb Frege (1848-1925) é considerado o pai de
lógica matemática.
(http://www.somatematica.com.br/biograf/peano.php)

No final deste tópico, você será capaz de :

1. Enunciar os axiomas de Peano ;

2. Demonstrar propriedades inerentes a números naturais usando o princípio da indução


matemática ;

3. Definir e aplicar propriedades de operações em ℕ.


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2.2. Construção axiomática do conjunto de números naturais

Calado (1969) afirma que o Matemático Italiano Giuseppe Peano (1858 1932), um dos
defensores da escola formalista, mostrou que o conjunto de números naturais pode ser
fundamentado através de três conceitos primitivos e cinco axiomas, para além de outras
proposições da lógica pura.

Os três conceitos são: Zero, número e sucessor.

Zero é um ente matemático, número é uma classe e sucessor uma relação.

Os cinco axiomas ,denominados Axiomas de Peano, são:

Ax1) Zero é número ;

Ax2) O sucessor dum número é número;

Ax3) Dois números não podem ter mesmo sucessor;

Ax4) Zero não é sucessor de nenhum número;

Ax5) Toda a propriedade que pertence à zero e ao sucessor dum número que goze dessa
propriedade, pertence a todos os números.

Estes cinco axiomas são as proposições que caracterizam a sucessão ordinal de números naturais

ℕ = {0,1,2,3,4,…….}.

Alguns comentários sobre estes axiomas.

Ax1) exprime que 0 é o primeiro número natural.

Ax2) O sucessor de 0 é 1,o sucessor de 1 é 2,e assim sucessivamente. Portanto existe uma função
,nomeiemo la, suc, que ordena um natural ao seu sucessor:

∶ ℕ → ℕ;

Suc(n) = n + 1

Desta função temos que : Suc(0) = 0 + 1 = 1; suc(1) = 1 + 1 = 2; Suc(2) = 2 + 1 = 3; ….

Os axiomas 2,3,4 e 5 podem ser reformulados com ajuda da função sucessor da seguinte
maneira:

Ax2) Suc(n) ∈ N ∀n ∈ ℕ;
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Ax3) A expressão "Dois números não podem ter mesmo sucessor " significa que,se Suc(n) =
Suc(m) então n = m ∀n, m ∈ ℕ,ou seja, a função Sucessor é injectiva;

Os axiomas 2 e 3 referem que cada número natural, excepto o zero, possui um e único sucessor,
que também é um número natural.

Podemos ainda observar que dados dois números naturais e tem se os seguintes casos:

a igual b ( a=b ) ou a é sucessor de b (a> b ) ou b é sucessor de a (a)

Em consequência disso ,os elementos de N estão dispostos de tal maneira que depois de um
primeiro elemento, os restantes elementos estão dispostos sucessivamente um após do outro.
Deste modo, o conjunto N é um conjunto ordenado. Esta ordenação permite –nos formular as
seguintes proposições primitivas que caracterizam os números naturais:

!1" Dados dois números naturais diferentes, um deles precede o outro e este sucede aquele;

!2" Se o natural a sucede b e este sucede c, então a sucede c ( a relação "sucessor de "é
transitiva) ;

!3" Existe um natural, o natural zero, que precede todos os outros;

!4" Todo o natural tem um único sucessor, também natural;

!5" Todo o natural, excepto o natural zero( que não tem antecessor) tem um e único antecessor,
também natural.

Os factos apresentados por estas propriedades primitivas de números naturais, justificam que a
sucessão 0,1,2,3,…,dos números naturais se chame também sucessão ordinal de números
naturais.

Ax4) Zero não é sucessor de nenhum numero natural significa que não existe algum naturaln com
Suc(n) = 0,ou seja 0 ∉ Im$Suc(n)%.

Ax5) Seja P(n) a propriedade referida neste axioma e & o conjunto de validade desta
propriedade.

Se :1.0∈ &

2. ∈&⇒ ( )∈&

Então & = (.

O conjunto & é definido por compreensão pela propriedade !( ) e esta propriedade a ser
verificada para o sucessor de n,ou seja, ao se verificar para !( + 1),então o conjunto & torna se
ℕ.
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Podemos encarar este axioma da seguinte maneira:

Seja ! uma propriedade referente a números naturais. Se 0 goza de P e se, além disso, o fato de o
natural n gozar de ! implica que seu sucessor suc(n) também goza, então todos os números
naturais gozam da propriedade P.

Este axioma constitui fundamento do principio da indução matemática completa ou


simplesmente indução matemática.

O princípio diz o seguinte:

" Se uma propriedade for valida para zero, supondo se que sua validade para um natural n
implica validade para )*+ (,), então essa propriedade será válida para todo n∈ -"

Na maioria dos casos, a validade das propriedades ( proposições ) não se verifica a partir do zero,
ou seja não iniciam com P(0), mas sim, dum certo numero natural 0 .,ou seja, iniciam com P( 0 ).

Por exemplo, a proposição 2. > 3 é válida para ≥ 2.Assim a verificação de sua validade deve
pelo menos iniciar com 0 = 2 .

2.3.Principio da indução matemática

O princípio da indução matemática serve para demonstrar propriedades envolvendo números


naturais.

O facto de alguns processos de indução iniciarem com 0 = 0 e outros com um 0 ≠ 0 faz existir
duas formulações deste princípio.

Antes de enunciarmos as duas formulações ,vamos citar o axioma do "Principio da boa ordenação
de ℕ" que é ingrediente nas demonstrações desses princípios de equivalência.

Princípio da boa ordenação em N : Todo o subconjunto não vazio & de números naturais possui
um elemento mínimo, isto é, & possui um 0 tal que 0 ≤ ∀ ∈ & .

0 chama-se elemento mínimo de & .

Exemplo: Considere o conjunto & = { 2 + 1 ∶ ∈ ℕ4 .Pela definição, & ⊂ ℕ . & não é vazio,
pois 3 ∈ & e é o mínimo elemento, isto é, 7 = 3.

Teorema 2.1 (Principio da indução matemática,1a forma):sejam 8 = { 0 , 1 , 2 , … . , 4 um


conjunto de números naturais, 0 < 1 < 2 < … . . , !( ) uma proposição que depende de ,tal
que:

a) P( 0 ) é verdadeira;

b) ∈ 8 e !( ) é verdadeira para todos ∈ 8 tal que, para < , !( ) é verdadeira;


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Então !( ) é verdadeira para qualquer ∈(.

Demonstração: por redução ao absurdo

Seja : = {; ∈ (: !(; ) é =>? >@? 4e suponhamos por absurdo que : ≠ ∅.

Pelo principio de boa ordenação, existe um ;0 ∈ :, ;0 > 0 .

( já que P( 0 ) é verdadeira ) tal que ;0 ≤ ; ∀ ; ∈ : i.é. ;0 é um elemento mínimo de B ⇒P(n)


é verdadeira para todo n∈ 8 tal que < ;0 (a não validade desta afirmação comprometeria a
minimalidade de ;0 ).

Pela hipótese b) temos que !(;0 )é verdadeira ,uma contradição.

Assim B= ∅ e P(n) verdadeira para todo n∈ 8.

Na prática, o principio da indução decorre conforme um dos algoritmos:

Seja P(n) a proposição por demonstrar.

a) Verifica se ,se!( 0 )é verdadeira para um certo 0 ∈ (;( inicio da indução ) (1)


b) Caso !( 0 )seja verdadeira ,aceita se que P(n) seja verdadeira para qualquer n;

Da validade de !( ) demonstra se que !( + 1) é verdadeira (por outros raciocínios


matemáticos) e dai conclui se que a proposição P(n) tautologia em N.

Este procedimento pode ser descrito simbolicamente da seguinte maneira:

a) P( 0 ) (inicio da indução)

b) Hipótese (H.) :!( ); ( significa P(n) aceita se verdadeira) (2)

Tese (T.) :!( + 1) (significa que queremos demonstrar que !( + 1)é verdadeira)

Demonstração da tese e depois conclusão.

Exemplo 2.1: Demonstrar que1+3+5+….+(2 1) = 2


∀ n≥ 1

Solução : designemos !( ) a proposição por demonstrar, ou seja,

!( ) : 1+3+5+….+(2 1) = 2

a) P(1): 1= 12 ;1= 1 (v);


b) Hipótese: !( )

Tese:!( + 1)

Demonstração
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1 + 3 + 5 + ⋯ . +(2 1) = 2
pela hipótese

1 + 3 + 5 + ⋯ . +(2 1) + 2 + 1 = 1 + 3 + 5 + ⋯ . +(2 1)" + 2 + 1


= + 2 + 1 = ( + 1)2 ■
2

Repare que P(n+1) é a soma de P(n) da hipótese mais um somante impar.

Teorema 2.2 (Principio de indução ,2C forma):Seja 80 = ( ∪ {04e P(n) uma proposição que
depende de ∈ ∈ 80 ,tal que:

a) P(0) é verdadeira,
b) Para cada ∈ 80 ,o facto de !( ) ser verdadeira implica !( + 1) também ser verdadeira.

Então P(n) é também verdadeira para qualquer ∈ 80 .

Demonstração: A demonstração é análoga à do principio de indução,1C forma, pondo 80 = ( ∪


{04 = 8 .

Como se pode constatar ,o inicio da indução é P(0),o que significa que a segunda formulação do
principio de indução corresponde a indução completa

Observações:

a) A 1C forma do principio de indução chama-se indução fraca, enquanto que a 2C forma ,


indução forte.

Exemplo2.2:Demonstrar que (1 + ℎ). ≥ 1 + ℎ , ∀ ∈ ( 0 , ℎ ∈ F\{ 14

( Desigualdade de Bernoulli)

Solução:

P(n) :(1 + ℎ). ≥ 1 + ℎ , ∀ ∈ ( 0 , ℎ ∈ F\{ 14

P(0): (1 + ℎ)0 ≥ 1 + 0 = 1; 1 ≥ 1 (v)

Hipótese: P(n),

Tese: P(n+1)

Demonstração(temos que demonstrar que (1 + ℎ).H1 ≥ 1 + ( + 1)ℎ

(1 + ℎ). ≥ 1 + ℎ .Multiplicando ambos os membros da igualdade por (1+h) e recorrendo à


outros raciocínios matemáticos temos sucessivamente:

(1 + ℎ). ≥ 1 + ℎ |(1+h)
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(1 + ℎ). .(1+h) ≥ (1 + ℎ). (1 + ℎ);

(1 + ℎ).H1 ≥ 1 + ℎ + . ℎ + . ℎ2 = 1 + ( + 1). ℎ + . ℎ2 ≥ 1 + ( + 1). ℎ; Assim

(1 + ℎ).H1 ≥ 1 + ( + 1). ℎ ■

2.4.Definiçoes de Operações em N

2.4.1 Adição

A adição define se pelas seguintes convenções:

(A1) n+1=Suc(n);

Exemplo: 3+1=Suc(3)=4

(A2) n+Suc(m)=Suc(n+m).

Exemplo :2+3=2+Suc(2)=Suc(2+2)=Suc(4)=5.

Vamos demonstrar as propriedades de existência ,unicidade da adição de inteiros e estabelecer


algumas propriedades operatórias. As propriedades serão demonstradas pelo método de indução
matemática.

Teorema 2.3 (existência da adição ):A adição de dois números naturais é também um número
natural.

Demonstração

Vamos utilizar a indução em b. Para tal colocamos = e teremos a proposição por demonstrar

!( ) ∶ + = número natural para todos números naturais.

a) P(1) + 1=numero natural é verdadeira pela convenção (A1) da adição;


b) H.: !( )

T.: !( + 1)

Demonstração

+ = número natural pela hipótese,

( + )=número natural pela proposição primitiva sobre naturais [P4];

+ ( )número natural pela convenção (A2) da adição.

⇒a+n = numero natural ∀ ∈ (■


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Teorema 2.4 ( unicidade da adição ):Se adicionarmos qualquer natural a ambos os termos duma
igualdade entre naturais, obtemos ainda uma igualdade:

H.(do teorema): a=b

T.(do teorema): + = + para todo natural

Demonstração( indução sobre n)

!( ) ∶ + = +

a) P(1) : pela hipótese H. a=b

Suc(a)=Suc(b) pela proposição primitiva P[4].

Então a+1=b+1 pela convenção da adição (A1)]

b) H (da indução): !( )

T. (da indução) !( + 1)

Demonstração: + = + JKL ( + )= ( + ) JKKL + ( )= + ( )


(I4) $(M2)%

Teorema 2.5 ( Propriedades operatórias da adição em N ): A adição em N,para quaisquer


números naturais l,m,n, goza das seguintes propriedades.:

a) Comutativa : + = + ;
b) Associativa : ( + ) + ; = + ( + ;);
c) Existência de elemento neutro :n+0=n;

Demonstração:

Vamos demonstrar por indução em l a propriedade associativa. As propriedades a) e b) serão


provadas nos exercícios. Para o propósito remetemos primeiro o teorema de Euclides sobre
relação de igualdade.

Teorema 2.6 (de Euclides sobre relação de igualdade):Se dois naturais são iguais a um terceiro,
então são iguais entre si:

H. : = > =

T. : =

Demonstração:

A hipótese = @ N;@ = pela transitividade da igualdade. Então temos


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= = o que mostra = ■.

Agora podemos demonstrar a propriedade associativa da adição

Seja !(;) ∶ ( + ) + ; = + ( + ;)

a)!(1) ∶ ( + )=( + )+1

( + )= + ( ).pela convenção da adição (A2)

( + )+1= + ( )

( + )+1= +( + 1) .Assim !(1) é verdadeiro;

b) H. : !(;) é verdadeiro

T.: !(; + 1)

Demonstração: ( + )+; = +( + ;) ( H.)

(( + ) + ;) = ( + ( + ;)) ( P4 )

( + )+ (;) = + ( + ;) ( (A2))

( + )+ (;) = +( + (;) ) ((A2)) ■

Outras propriedades da adição recomenda se leitura das obras indicadas e inerente a


ordem em N demonstramos a seguinte propriedade:

Teorema 2.7 ( de Arquimedes):Sejam , ∈ ( com > . Então existe um e único natural x tal
que = + .

Demonstração:

a) Existência de

Como por hipótese > então temos que = ( ) > ( );

i. Se = ( ) = + 1 ,então temos = 1 ,
ii. Se > ( ) vamos mostrar a existência de x via indução sobre a=n

H. : > implica a existência de x tal que : = + ;

T.: ( )> implica a existência de y tal que ( )= + .


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Demonstração:

= + ( H.)

( )= ( + ) ( !4)

( )= + ( ) ((82)) ⇒ = ( ) ■

b) Unicidade de

Sejam > ’ naturais ,tais que = + > = + ’,com > .

Pelo teorema 2.5 (Euclides) : + = + ’.

Exemplo 2.3 17 > 4 ,por isso existe um numero natural ,tal que 17 = 4 + , nomeadamente
= 13

Pela lei do corte ( que será provada nos exercícios): = ’o que mostra que x é único. ■

Observação 2.1:O recíproco deste teorema é válido.

2.4.2.Definição da Multiplicação em N

Para números naturais , define se a multiplicação pelas seguintes convenções:

O1) . 1 =

O2) . ( )= . + .

Exemplo 2.4:

a) 5.1 = 5;
b) 4. (3) = 4.3 + 4 = 16 .

Em analogia à adição ,vamos formular e demonstrar algumas propriedades sobre a multiplicação

Teorema 2.7 (Existência da multiplicação ):O produto de dois números naturais é um número
natural, ou seja, para quaisquer a,b∈ ( ,tem-se a.b∈N.

Demonstração: indução em b sobre !( ) ∶ . = >? P ? ;

a) !(1)é verdadeira em virtude da convenção O1) da multiplicação;


b) H : !( )
c) T. : !( ( ))

Demonstração:
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. ∈ (

. ( ) = . + (O2);

Pela hipótese e pelo teorema 2.3 conclui se que . ( ) ∈ (,o que se queria
provar.finalmente tem se que . ∈ (para quaisquer números naturais.

Teorema 2.8 ( Unicidade da multiplicação ): Se = > Pã . = . .para quaisquer naturais


, , .

Demonstração ( indução em = Q ?> !( ): . = . )

a) !(1):

@) . 1 = (O1));

@@ ) = (H. do teorema),

@@@) . 1 = ( O1);

@) + @@) + @@@) dão : . 1 = . 1 (transitividade da igualdade =) ⇒P(1) é verdadeiro

b) H.: !( )

T.: !( ( ))

Demonstração

= (H.do teorema);

. = . ( H. da indução );

. + = . + ( Unicidade da adição );

. + = . ( ) > . + = . ( ) (O2))

. ( ) = . ( ) ■

Teorema 2.9 ( Propriedades operatórias da multiplicação em N)

Para quaisquer números naturais a,b,c valem as seguintes propriedades operatórias da


multiplicação:

a) Comutativa: . = . ;
b) Associativa:( . ) = . ( . ),
c) 1 é elemento neutro da multiplicação: .1 = ;
d) 0 é elemento absorvente da multiplicação : . 0 = 0.
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A demonstração deste teorema deixa-se ao critério do Estudante.

Teorema 2.10 (Propriedade distributiva à direita ): Para quaisquer naturais , , é valida a


propriedade distributiva a direita da multiplicação em relação a adição:

( + ). = . + .

Demonstração (Indução em n )

!( ) ∶ ( + ). = . + .

!(1) ∶ ( + ).1 = + pela convenção M1) da multiplicação;

. 1 + . 1 = + também pela convenção M1).

Pelo teorema de Euclides resulta que ( + ).1 = . 1 + . 1 ,o que prova

Que !(1) é verdadeira;

H.: !( )

T.:!( + 1)

Demonstração

( + ). = . + . (H da indução);

( + ). + ( + ) = ( . + . ) + ( + ) (unicidade da adição )

( + ). ( )=( + )+( + ) (O2)+propriedade associativa da adição )

( + ). ( )= . ( )+ . ( )■

Teorema 2.11 (Monotonia da multiplicação ):Se > > Pã . > . ∀ , , ∈ (

Demonstração: > JKKKKKKKKKKKKKKKKKL ∃! ∈ ( ∶ = + . Multiplicando ambos


RSTUSVC WS MUXYZVSWS[
os membros por c a direita e aplicando a propriedade distributiva vem

. = . + . ; ? ∶ . + . > . ⇒ . > . ■

Teorema 2.12(Lei do corte da multiplicação) :Se . = . > Pã = ∀ , , ∈ (.

Demonstração:

Se , ∈ ( tem se ,por causa da tricotomia : = ; > ; < .

Por absurdo, seja ≠ ?>QP ?ã Q Q Q ∶ > ; < .


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Se : > ⇒ . > . contrariando a hipótese;

Se : < ⇒ . < . contrariando outra vez a hipótese.

Então: deve ser = .■

No conjunto de números naturais existe uma operação que decorre quando um natural a
multiplica se a si próprio n vezes.Essa operação é a Potenciação.

2.4.3 Potenciação em ℕ
.
A potencia n éssima de a∈N, ,define se recursivamente por:

[Pot1] a1 =a ;

[Pot2] aSuc(n) = an . a .

Exemplo 2.5

a) 41 = 4,
b) 34 = 3Suc(3) = 33 . 3 = 3Suc(2) . 3 = 32 . 3.3 = 3Suc(1) . 3.3 = 31 . 3.3.3 = 81.

As regras de potenciação serão enunciadas e demonstradas na ficha de exercícios

Outras propriedades sobre a multiplicação de naturais recomendamos a consulta nas obras


indicadas e noutras.
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5.Exercicios

A. introdução

1.Existiram duas escolas que se notabilizaram na fundamentação de números naturais.

Indique as escolas e seus precursores.

2.Os axiomas de Peano são o fundamento formalista de números naturais.

Justifique a afirmação supra.

3.O Matemático italiano Giuseppe Peano (1858 1932) mostrou que o conjunto de números
naturais podia ser fundamentado por três conceitos primitivos, cinco axiomas e proposições da
lógica pura.

a) Mencione os três conceitos primitivos e especifique o significado de cada um;;

b) Identifique três proposições da lógica pura que apurou durante a leitura dos apontamentos
desta unidade

4.Explique por suas palavras a relação entre o princípio de boa ordenação em ℕ e o princípio de
indução matemática.

B. Indução matemática

1.Uma propriedade chama se indutiva em N, quando é verdadeira para o inteiro 1 e sendo


verdadeira para > 1 ,é também verdadeira para ( ).

Verifique se a propriedade ^(,): ,! > _, é indutiva e caso não seja ,encontre o mínimo natural
tal que N( ) é verdadeira.

2.Demonstre que :
bc1
a) ∑.c1
bd1 $a. 2 %=1+( 1). 2. ∀ ≥ 1 ;

b) ∑ghd1 e. e! = (f + 1)! 1

c) Demonstre que 32. + 7 é múltiplo de 8.

d) Prove por indução matemática que, se um conjunto 8 tem elementos, então o número de
i(ij1)
relações reflexivas e simétricas nele definidas é 2 2 .
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3.Via indução matemática demonstrar que


1 3 5 2.c1 1
. . … ≤ ∀ ≥ 1
2 4 6 2. √3.H1

4. A sucessão . é definida recursivamente por:

7 = 12 , l = 29 , b = 5. bcl 6. bcp ,para a≥2.

Mostre por indução que . = 5. 3. + 7. 2. ,para ≥ 0 é termo geral de . .

C. Operações em N

Para demonstração das propriedades seguintes, use a indução matemática e caso necessário,
recorra à uma propriedade já demonstrada

1.Mostre que

a) +0= ;

b) +1= 1+ ;

c) + = + ;

d) + = + ⇒ = (lei de corte ou da simplificação ou de cancelamento da adição ).

2.Prove que:

a) 1. = . 1;

b) . = . ;

c) ( . ). = . ( . );( Propriedade associativa)

d). . ( + ) = . + . ( Lei distributiva a esquerda )

3. Demonstrar as seguintes regras de potências:


. s .Hs
a) . = ∀ , , N ∈ N;
. .
b) . = ( . ). ∀ , , ∈N;
V )s
c).( = ( )V.s ∀ , , N ∈N.
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Bibliografia

1 ) CALADO J.J.G. Aritmética racional. Braga, Livraria Cruz, 1969.

2) SHOKRANIAN, Salahoddin, SOARES, Marcus e GODINHO, Hemar.Teoria de


números.Editora Universidade de Brasília,2ed. Brasilia:1999

3) Obras virtuais (Internet)

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