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TOPICO 2
2.1.Introdução
O número natural, segundo Calado (1969) , pode ser abordado como ordinal – quando visto como
elemento da colecção 0,1,2,3,4,…., ou cardinal – quando visto como quantidade de elementos
dum conjunto ,ou seja, cardinal de um conjunto.
As duas diferentes visões do numero natural implicaram o surgimento de duas" escolas" para
fundamenta-lo: As Escolas formalista e lógica.
O uso duma ou doutra fundamentação depende do objectivo a ser alcançado. Para o nosso
objectivo,que constitui a construção algébrica de conjuntos numéricos, seguiremos a via
formalista, visto que ela não acarreta vários conceitos a aplicar nas construções algébricas que
pretendemos.
Os formalistas fundamentam os números naturais através de axiomas, por isso a construção por
eles feita chama-se construção axiomática.
Apresentemos alguns factos históricos sobre Peano,um dos percursores da escola formalista:
Giuseppe Peano
Calado (1969) afirma que o Matemático Italiano Giuseppe Peano (1858 1932), um dos
defensores da escola formalista, mostrou que o conjunto de números naturais pode ser
fundamentado através de três conceitos primitivos e cinco axiomas, para além de outras
proposições da lógica pura.
Ax5) Toda a propriedade que pertence à zero e ao sucessor dum número que goze dessa
propriedade, pertence a todos os números.
Estes cinco axiomas são as proposições que caracterizam a sucessão ordinal de números naturais
ℕ = {0,1,2,3,4,…….}.
Ax2) O sucessor de 0 é 1,o sucessor de 1 é 2,e assim sucessivamente. Portanto existe uma função
,nomeiemo la, suc, que ordena um natural ao seu sucessor:
∶ ℕ → ℕ;
Suc(n) = n + 1
Os axiomas 2,3,4 e 5 podem ser reformulados com ajuda da função sucessor da seguinte
maneira:
Ax2) Suc(n) ∈ N ∀n ∈ ℕ;
Tópico 2 O conjunto de números naturais 5
Ax3) A expressão "Dois números não podem ter mesmo sucessor " significa que,se Suc(n) =
Suc(m) então n = m ∀n, m ∈ ℕ,ou seja, a função Sucessor é injectiva;
Os axiomas 2 e 3 referem que cada número natural, excepto o zero, possui um e único sucessor,
que também é um número natural.
Podemos ainda observar que dados dois números naturais e tem se os seguintes casos:
Em consequência disso ,os elementos de N estão dispostos de tal maneira que depois de um
primeiro elemento, os restantes elementos estão dispostos sucessivamente um após do outro.
Deste modo, o conjunto N é um conjunto ordenado. Esta ordenação permite –nos formular as
seguintes proposições primitivas que caracterizam os números naturais:
!1" Dados dois números naturais diferentes, um deles precede o outro e este sucede aquele;
!2" Se o natural a sucede b e este sucede c, então a sucede c ( a relação "sucessor de "é
transitiva) ;
!5" Todo o natural, excepto o natural zero( que não tem antecessor) tem um e único antecessor,
também natural.
Os factos apresentados por estas propriedades primitivas de números naturais, justificam que a
sucessão 0,1,2,3,…,dos números naturais se chame também sucessão ordinal de números
naturais.
Ax4) Zero não é sucessor de nenhum numero natural significa que não existe algum naturaln com
Suc(n) = 0,ou seja 0 ∉ Im$Suc(n)%.
Ax5) Seja P(n) a propriedade referida neste axioma e & o conjunto de validade desta
propriedade.
Se :1.0∈ &
2. ∈&⇒ ( )∈&
Então & = (.
O conjunto & é definido por compreensão pela propriedade !( ) e esta propriedade a ser
verificada para o sucessor de n,ou seja, ao se verificar para !( + 1),então o conjunto & torna se
ℕ.
Tópico 2 O conjunto de números naturais 6
Seja ! uma propriedade referente a números naturais. Se 0 goza de P e se, além disso, o fato de o
natural n gozar de ! implica que seu sucessor suc(n) também goza, então todos os números
naturais gozam da propriedade P.
" Se uma propriedade for valida para zero, supondo se que sua validade para um natural n
implica validade para )*+ (,), então essa propriedade será válida para todo n∈ -"
Na maioria dos casos, a validade das propriedades ( proposições ) não se verifica a partir do zero,
ou seja não iniciam com P(0), mas sim, dum certo numero natural 0 .,ou seja, iniciam com P( 0 ).
Por exemplo, a proposição 2. > 3 é válida para ≥ 2.Assim a verificação de sua validade deve
pelo menos iniciar com 0 = 2 .
O facto de alguns processos de indução iniciarem com 0 = 0 e outros com um 0 ≠ 0 faz existir
duas formulações deste princípio.
Antes de enunciarmos as duas formulações ,vamos citar o axioma do "Principio da boa ordenação
de ℕ" que é ingrediente nas demonstrações desses princípios de equivalência.
Princípio da boa ordenação em N : Todo o subconjunto não vazio & de números naturais possui
um elemento mínimo, isto é, & possui um 0 tal que 0 ≤ ∀ ∈ & .
Exemplo: Considere o conjunto & = { 2 + 1 ∶ ∈ ℕ4 .Pela definição, & ⊂ ℕ . & não é vazio,
pois 3 ∈ & e é o mínimo elemento, isto é, 7 = 3.
a) P( 0 ) é verdadeira;
a) P( 0 ) (inicio da indução)
Tese (T.) :!( + 1) (significa que queremos demonstrar que !( + 1)é verdadeira)
!( ) : 1+3+5+….+(2 1) = 2
Tese:!( + 1)
Demonstração
Tópico 2 O conjunto de números naturais 8
1 + 3 + 5 + ⋯ . +(2 1) = 2
pela hipótese
Teorema 2.2 (Principio de indução ,2C forma):Seja 80 = ( ∪ {04e P(n) uma proposição que
depende de ∈ ∈ 80 ,tal que:
a) P(0) é verdadeira,
b) Para cada ∈ 80 ,o facto de !( ) ser verdadeira implica !( + 1) também ser verdadeira.
Como se pode constatar ,o inicio da indução é P(0),o que significa que a segunda formulação do
principio de indução corresponde a indução completa
Observações:
( Desigualdade de Bernoulli)
Solução:
Hipótese: P(n),
Tese: P(n+1)
(1 + ℎ). ≥ 1 + ℎ |(1+h)
Tópico 2 O conjunto de números naturais 9
(1 + ℎ).H1 ≥ 1 + ( + 1). ℎ ■
2.4.Definiçoes de Operações em N
2.4.1 Adição
(A1) n+1=Suc(n);
Exemplo: 3+1=Suc(3)=4
(A2) n+Suc(m)=Suc(n+m).
Exemplo :2+3=2+Suc(2)=Suc(2+2)=Suc(4)=5.
Teorema 2.3 (existência da adição ):A adição de dois números naturais é também um número
natural.
Demonstração
Vamos utilizar a indução em b. Para tal colocamos = e teremos a proposição por demonstrar
T.: !( + 1)
Demonstração
Teorema 2.4 ( unicidade da adição ):Se adicionarmos qualquer natural a ambos os termos duma
igualdade entre naturais, obtemos ainda uma igualdade:
!( ) ∶ + = +
b) H (da indução): !( )
T. (da indução) !( + 1)
a) Comutativa : + = + ;
b) Associativa : ( + ) + ; = + ( + ;);
c) Existência de elemento neutro :n+0=n;
Demonstração:
Teorema 2.6 (de Euclides sobre relação de igualdade):Se dois naturais são iguais a um terceiro,
então são iguais entre si:
H. : = > =
T. : =
Demonstração:
= = o que mostra = ■.
Seja !(;) ∶ ( + ) + ; = + ( + ;)
( + )+1= + ( )
b) H. : !(;) é verdadeiro
T.: !(; + 1)
(( + ) + ;) = ( + ( + ;)) ( P4 )
( + )+ (;) = + ( + ;) ( (A2))
Teorema 2.7 ( de Arquimedes):Sejam , ∈ ( com > . Então existe um e único natural x tal
que = + .
Demonstração:
a) Existência de
i. Se = ( ) = + 1 ,então temos = 1 ,
ii. Se > ( ) vamos mostrar a existência de x via indução sobre a=n
Demonstração:
= + ( H.)
( )= ( + ) ( !4)
( )= + ( ) ((82)) ⇒ = ( ) ■
b) Unicidade de
Exemplo 2.3 17 > 4 ,por isso existe um numero natural ,tal que 17 = 4 + , nomeadamente
= 13
Pela lei do corte ( que será provada nos exercícios): = ’o que mostra que x é único. ■
2.4.2.Definição da Multiplicação em N
O1) . 1 =
O2) . ( )= . + .
Exemplo 2.4:
a) 5.1 = 5;
b) 4. (3) = 4.3 + 4 = 16 .
Teorema 2.7 (Existência da multiplicação ):O produto de dois números naturais é um número
natural, ou seja, para quaisquer a,b∈ ( ,tem-se a.b∈N.
Demonstração:
Tópico 2 O conjunto de números naturais 13
. ∈ (
. ( ) = . + (O2);
Pela hipótese e pelo teorema 2.3 conclui se que . ( ) ∈ (,o que se queria
provar.finalmente tem se que . ∈ (para quaisquer números naturais.
a) !(1):
@) . 1 = (O1));
@@ ) = (H. do teorema),
@@@) . 1 = ( O1);
b) H.: !( )
T.: !( ( ))
Demonstração
= (H.do teorema);
. = . ( H. da indução );
. + = . + ( Unicidade da adição );
. + = . ( ) > . + = . ( ) (O2))
. ( ) = . ( ) ■
a) Comutativa: . = . ;
b) Associativa:( . ) = . ( . ),
c) 1 é elemento neutro da multiplicação: .1 = ;
d) 0 é elemento absorvente da multiplicação : . 0 = 0.
Tópico 2 O conjunto de números naturais 14
( + ). = . + .
Demonstração (Indução em n )
!( ) ∶ ( + ). = . + .
H.: !( )
T.:!( + 1)
Demonstração
( + ). = . + . (H da indução);
( + ). + ( + ) = ( . + . ) + ( + ) (unicidade da adição )
( + ). ( )= . ( )+ . ( )■
. = . + . ; ? ∶ . + . > . ⇒ . > . ■
Demonstração:
No conjunto de números naturais existe uma operação que decorre quando um natural a
multiplica se a si próprio n vezes.Essa operação é a Potenciação.
2.4.3 Potenciação em ℕ
.
A potencia n éssima de a∈N, ,define se recursivamente por:
[Pot1] a1 =a ;
[Pot2] aSuc(n) = an . a .
Exemplo 2.5
a) 41 = 4,
b) 34 = 3Suc(3) = 33 . 3 = 3Suc(2) . 3 = 32 . 3.3 = 3Suc(1) . 3.3 = 31 . 3.3.3 = 81.
5.Exercicios
A. introdução
3.O Matemático italiano Giuseppe Peano (1858 1932) mostrou que o conjunto de números
naturais podia ser fundamentado por três conceitos primitivos, cinco axiomas e proposições da
lógica pura.
b) Identifique três proposições da lógica pura que apurou durante a leitura dos apontamentos
desta unidade
4.Explique por suas palavras a relação entre o princípio de boa ordenação em ℕ e o princípio de
indução matemática.
B. Indução matemática
Verifique se a propriedade ^(,): ,! > _, é indutiva e caso não seja ,encontre o mínimo natural
tal que N( ) é verdadeira.
2.Demonstre que :
bc1
a) ∑.c1
bd1 $a. 2 %=1+( 1). 2. ∀ ≥ 1 ;
b) ∑ghd1 e. e! = (f + 1)! 1
d) Prove por indução matemática que, se um conjunto 8 tem elementos, então o número de
i(ij1)
relações reflexivas e simétricas nele definidas é 2 2 .
Tópico 2 O conjunto de números naturais 17
C. Operações em N
Para demonstração das propriedades seguintes, use a indução matemática e caso necessário,
recorra à uma propriedade já demonstrada
1.Mostre que
a) +0= ;
b) +1= 1+ ;
c) + = + ;
2.Prove que:
a) 1. = . 1;
b) . = . ;
Bibliografia