Você está na página 1de 12

Article

http://dx.doi.org/10.21577/1984-6835.20220115

Revisitando a História da Catálise: as Contribuições de


Elizabeth Fulhame e Outros Aspectos Históricos.
Universidade Federal do Paraná, Centro
Revisiting the History of Catalysis: Elizabeth Fulhame’s Contributions
a

Politécnico, Setor de Ciências Exatas,


Departamento de Química, Laboratório and Other Historical Aspects.
de Bioinorgânica e Catálise, Caixa-postal
19061, CEP 81531-980, Curitiba-PR, Murilo Gonçalves da Rocha,a,b Shirley Nakagaki,a Guilherme Sippel Machadob,*
Brasil.
b
Universidade Federal do Paraná,
Unidade Mirassol, Campus Pontal do Catalysis is one of the areas of science whose history is little explored in textbooks used in the teaching of
Paraná, Centro de Estudos do Mar, chemistry, which rarely dedicate part of the text to tell how this knowledge was built. Nowadays, catalysis
Laboratório de Bioinorgânica Marinha e is one of the most important aspects of industrial, laboratory and sustainable chemistry. This paper is meant
Química Verde, Rua Rio Grande do Norte to make a historical review of how some great names in the history of chemistry built all this knowledge,
145, CEP 83255-000, Pontal do Paraná- with special attention to the work of Elizabeth Fulhame, a British scientist, who pioneered the research in
PR, Brasil. catalytic chemical reactions. In addition, other names and contributions of several scientists to the history
and development of catalysis will be discussed, as well as the Brazilian contribution to the production of
knowledge in this field. This work aims to contribute to broaden the vision of one of the most important
*E-mail: guimachado@ufpr.br branches of modern chemistry in several fronts, including financial, environmental and social.
Keywords: Catalysis; history of chemistry; science in Brazil.
Recebido em: 2 de Julho de 2022

Aceito em: 8 de Agosto de 2022


1. Introdução
Publicado online: 26 de Outubro de 2022

Com o advento da Revolução Industrial, iniciada em meados do século 18, a humanidade


viu o desenvolvimento vertiginoso de novas técnicas de produção de bens de consumo e de
novas tecnologias, elevando consideravelmente a extensão com a qual ela (a humanidade)
consegue tirar proveito dos recursos naturais que estão a seu dispor. A industrialização e a
competição econômica impulsionaram o desenvolvimento de diversas áreas do conhecimento.
Um exemplo notável foi o advento da termodinâmica, fruto de contribuições do trabalho de
cientistas como Pierre Carnot em tentativas de se otimizar o desempenho das máquinas a
vapor,1 que representavam um grande avanço da tecnologia de produção de bens de consumo
em meados dos anos de 1800.
A subsequente expansão da indústria mundial trouxe, ao mesmo tempo, consequências
sociais e ambientais tanto boas quanto ruins. Pode ser citada como uma consequência boa a
produção mais rápida, eficiente e barata de muitos bens materiais, mas que, em contrapartida,
e ocorrendo em muitos casos, podem gerar impactos ruins no processo de produção, como
a poluição da atmosfera, contaminação de corpos d’água, o aquecimento global, e muitos
outros.2-4 Esses são aspectos negativos desafiantes a serem vencidos, sobretudo utilizando os
princípios da Química Verde.5,6
Para auxiliar na tentativa de resolução dos desafios advindos da Revolução Industrial,
pode-se citar um fenômeno químico que possui potencial para, simultaneamente, aumentar a
competitividade da produção de bens de consumo e diminuir a produção de encargos ambientais
tipicamente associados com o desenvolvimento industrial. Esse fenômeno é chamado de catálise,
cuja história será o aspecto central a ser explorado no presente artigo.
Em termos gerais, pode-se dizer que catálise é o processo pelo qual uma reação química
é acelerada por meio da adição de um composto no meio de reação, que fornece um caminho
químico alternativo para que a reação aconteça - caminho esse que requer uma energia de
ativação menor do que a reação não catalisada.7 Esse composto, chamado de catalisador,
participa da reação, mas idealmente não é consumido no processo.8 Principalmente em condições
de catálise heterogênea, o catalisador pode ser recuperado e reutilizado em novas reações.9
A Figura 1 apresenta de forma esquemática o efeito que o catalisador tem sobre uma reação
química genérica, em termos da variação da Energia Livre de Gibbs (G).
Dessa forma, por meio de estratégias catalíticas, idealmente é possível produzir uma
quantidade maior de insumos, gerando menos resíduos e potencialmente evitando a utilização
de reagentes perigosos ou nocivos ao meio-ambiente, o que pode ser usado como parte da

Rev. Virtual Quim., 2023, 15(2), 283-294 This is an open-access article distributed under the 283
©2023 Sociedade Brasileira de Química terms of the Creative Commons Attribution License.
Revisitando a História da Catálise

Figura 1. Gráfico que ilustra a ação de um catalisador sobre a energia de ativação de uma
reação química. Nesse exemplo, foi utilizada uma reação exergônica (ΔG < 0)

justificativa da presença da catálise ser o 9º Princípio da publicações do cientista anglo-irlandês Robert Boyle, após
Química Verde (Reagentes catalíticos, e de preferência a publicação de seu trabalho “The Sceptical Chymist: or
seletivos, são superiores aos reagentes estequiométricos).5,6 Chymical-Physical Doubts & Paradoxes”,14,15 no qual pela
Pode-se inclusive apontar a catálise como um dos pilares primeira vez a química com um rigor científico foi separada
fundamentais para o desenvolvimento de um processo da experimentação sem talvez um efetivo planejamento,
químico mais saudável para o meio ambiente e o homem,6 metodologia cientifica e divulgação adequada, que
sendo que o desenvolvimento de novos catalisadores e/ou ocorria muitas vezes na alquimia (Figura 2). Esse trabalho
novos sistemas catalíticos cria grandes possibilidades no apresentou também algumas ideias, como a de corpúsculos
que concerne à obtenção de produtos e/ou de processos que se rearranjavam, formando agregados com propriedades
químicos que apresentem uma formação cada vez diferentes de seus precursores - ideia essa que aos poucos
menor de subprodutos e outras substâncias nocivas,10,11 evoluiu para a noção de reação química entre átomos e
contribuindo de forma significativa para diminuição da moléculas, que temos hoje em dia. Várias ideias postuladas
poluição ambiental e maximização da utilização dos átomos por Boyle em seu livro levaram muitas pessoas a se referirem
(“Economia Atômica”) dos reagentes para transformação a ele como o “pai” da química moderna.14
nos respectivos produtos.10,11

2. Os Primórdios da Catálise: de Fulhame à


Berzelius

Como todas as ciências, a química está presente em todas


as ações e realizações do ser humano desde muito antes de
ter um nome e suas diversas subdivisões atuais. De fato, o
controle de uma série de reações químicas foi fundamental
para o desenvolvimento da civilização, como o fogo e a
fermentação de diversos tipos de alimentos, permitindo
a produção de pães, vinhos e queijos.12,13 A fermentação
dos açúcares presentes nos grãos de trigo utilizados na
fabricação dos pães depende de processos catalíticos, no
qual enzimas como a α-amilase quebram o polímero de
amido em seus monômeros de glicose, que podem então ser
fermentados. No entanto, somente muitos milhares de anos
mais tarde é que a catálise seria estudada de uma maneira
sistemática, afinal a própria química como uma ciência ainda Figura 2. Capa do livro de Robert Boyle, considerado
estava por ser estabelecida. o tratado científico que deu início à química moderna.
Muitos cientistas e historiadores, apesar deste assunto (Imagem em Domínio Público)
ainda gerar bastante discussão, consideram 1661 como o
ano em que a química, como uma ciência, foi reconhecida Embora essa distinção entre química e alquimia tenha
como tal. Esse marco é creditado principalmente as aparecido mais claramente no trabalho de Boyle, 15 a

284 Rev. Virtual Quim.


da Rocha

humanidade já havia acumulado até o momento diversos


achados científicos que hoje são estudados no âmbito da
química,16 como a metalurgia, as primeiras teorias atômicas,
métodos de separação de misturas e a síntese de diversas
substâncias. Algumas dessas sínteses, inclusive, são hoje em
dia exemplos paradigmáticos de processos catalíticos. Um
exemplo foi a produção de éter dietílico à partir de etanol,
catalisada por ácido sulfúrico, como reportado pelo alemão
Valerius Cordus em 1540.17 No entanto, naquela época, não
se tinha ideia de como a presença do ácido favorecia essa
reação química. A primeira menção de algo que lembra a
definição atual de catálise ainda demoraria mais de duzentos
anos para acontecer, com o trabalho da cientista britânica
Elizabeth Fulhame.
Com efeito, se a química moderna tem Robert Boyle
como “pai”, poderia ser dito que a catálise tem uma “mãe”,
na figura de Elizabeth Fulhame. No entanto, o nome de
Elizabeth Fulhame é muito menos conhecido atualmente
do que os nomes de seus contemporâneos que fizeram
contribuições valiosas para o avanço do conhecimento Figura 3. Capa do livro de Elizabeth Fulhame, publicado em 5 de
químico e particularmente da catálise. novembro de 1794. (Imagem em Domínio Público)
Em 5 de novembro de 1794, a química Elizabeth
Fulhame publicou de forma autônoma, em Londres, o A definição atual de catalisador está quase que contida
seu livro “An Essay On Combustion” (Um Ensaio Sobre nesse resultado impressionante,7 e que infelizmente não foi
Combustão, em tradução livre). Esse trabalho (Figura 3) bem recebido à época, contribuindo para isso provavelmente
representa um grande avanço na história da química, não o fato de Elizabeth Fulhame ser uma mulher em um meio
somente por sua contribuição para a catálise, mas também predominantemente masculino, em uma época onde o
por contribuições decisivas para a fotografia e por ser a meio acadêmico era composto por cientistas do gênero
primeira teoria publicada que contrapôs a antiga hipótese masculino, muito mais do que nos dias atuais.19-21 Não é
do flogisto.18 surpreendente que o trabalho de Fulhame tenha quase caído
Segundo a própria Fulhame, o objetivo de alguns no esquecimento. A própria cientista estava plenamente
experimentos contidos naquele livro era “mostrar que o consciente de que seu trabalho enfrentaria obstáculos que
hidrogênio na água é a única substância que retorna os os trabalhos escritos por cientistas homens certamente não
corpos oxigenados ao seu estado combustível, e que água precisariam enfrentar. Especialmente quando esse trabalho
é a única substância oxigenada que oxigena os corpos contradizia a chamada hipótese do flogisto, colocando em
combustíveis” (em tradução livre).19 Em outras palavras, xeque teorias que eram até então amplamente aceitas. Uma
o que ela estava propondo em seu trabalho é que muitas descrição concisa desse aspecto da comunidade científica
reações de combustão ocorrem somente na presença de do século 18 foi dada pela própria Elizabeth Fulhame no
moléculas de água. De fato, diversos experimentos foram prefácio de seu livro: “Mas a censura seja talvez inevitável,
rigorosamente conduzidos (e mais tarde, reproduzidos por pois alguns são tão ignorantes, tornando-se tão teimosos
outros cientistas),19 nos quais Fulhame pôde demonstrar e incomunicáveis, que ficam gelados de medo à vista de
que não somente algumas reações de combustão qualquer coisa que se pareça com aprendizado, em qualquer
somente ocorrem na presença de água, mas também que forma que este venha a ter. E se então esse fantasma
essa água era regenerada e detectada após o processo. aparecer na forma de uma mulher, as dores que eles sofrem
Adicionalmente, por meio da observação cuidadosa de seus são realmente profundas” (em tradução livre). 18,19
resultados experimentais, Fulhame foi capaz de propor um Apesar de tudo isso, os textos de Fulhame também
mecanismo de reação que justificava suas observações: “o receberam críticas positivas de alguns cientistas da época,
carbono do carvão atrai o oxigênio da água, formando incluindo alguns grandes nomes como Benjamin Thompson
ácido carbônico, enquanto o hidrogênio da água se liga e Joseph Priestley, que inclusive era amigo próximo de
ao oxigênio gasoso, formando uma nova quantidade de Fulhame e a incentivou a publicar os seus trabalhos.19
água igual àquela que foi consumida” (tradução livre).19 Nos anos que se seguiram ao lançamento do livro de
Com essa frase, é provável que Fulhame tenha sido também Fulhame, diversos cientistas reportaram transformações
a primeira cientista que fez uma tentativa de propor químicas que aparentemente dependiam de alguma entidade
um mecanismo para uma reação química. Atualmente, inerte no meio de reação, inclusive seu amigo, Joseph
mecanismos de reação são parte integral do estudo da Priestley, creditado como um dos descobridores do gás
química, dentro e fora da catálise. oxigênio. Dentre as várias contribuições de Priestley para

Vol. 15, No. 2 285


Revisitando a História da Catálise

a química, está a descoberta da reação de desidratação pudesse avançar com as teorias para explicar a catálise
de álcoois na fase gasosa, gerando alcenos, por meio do heterogênea.26
contato do vapor dos álcoois com um filamento metálico Michael Faraday, um cientista bastante conhecido na
incandescente. No entanto, Priestley achava que o único área da química e da física, foi também contemporâneo de
papel desempenhado pelo filamento era como fonte de Thénard, Dulong, Fusinieri e Davy. Faraday, avaliando os
calor para a reação.22 Similarmente, Louis Jacques Thénard achados de Fusinieri, encontrou alguns pontos delicados,
(químico francês que descobriu o peróxido de hidrogênio pois a teoria lançava mão de muitos artifícios abstratos sem
(H2O2) e escreveu um dos livros didáticos de química mais amparo científico,22,27 como o “calórico nativo”, termo que
influentes de seu século, Traité de Chimie Élémentaire, aparece entre aspas ou em itálico em trabalhos que fazem
Théorique et Pratique), reportou que a amônia gasosa (NH3) alguma referência à teoria de Fusinieri.23,27,28
sofria decomposição em nitrogênio (N2) e hidrogênio (H2) ao Faraday, em uma de suas muitas contribuições
entrar em contato com filamentos metálicos incandescentes, científicas, escreveu em 1834 em um artigo de revisão
especialmente quando compostos por ferro.22,23 sobre o assunto,27 publicado pela Royal Society, que a
O trabalho de Thénard, juntamente com seu colega reação estudada por Davy com a platina incandescente
Pierre Louis Dulong (conhecido pela lei de Dulong-Petit) e os demais gases provavelmente acontecia por meio da
foi bastante longo e detalhado, sendo que fios metálicos adsorção simultânea dos reagentes na superfície do metal.
compostos por diversos elementos químicos foram testados, Simultaneamente, foi descoberto outro processo marcante
e diferentes atividades catalíticas foram observadas. Thénard na história da catálise, que resultou na patente da produção
também notou que sua outra descoberta famosa, o H2O2, do ácido sulfúrico pelo processo de contato, inventado pelo
sofria decomposição em diversas superfícies,23 incluindo britânico Peregrine Phillips, em 1831.29 Nesse trabalho
algumas que aparentavam não ter sofrido transformação a platina era utilizada como catalisador na conversão do
química alguma ao final do processo - um outro exemplo de dióxido de enxofre (SO2) em trióxido de enxofre (SO3). Hoje
reação catalítica - embora ele nem desconfiasse que havia em dia, o pentóxido de vanádio (V2O5) cumpre a função
algo em comum entre esse fenômeno e a quebra das ligações de catalisador desse processo por ser mais barato e mais
nitrogênio-hidrogênio usando um metal incandescente. resistente ao envenenamento por arsênio, mas o processo se
Thénard e Dulong haviam construído um corpo considerável manteve basicamente o mesmo, excetuando-se esse fato. Um
de conhecimento acerca das reações em fase gasosa esquema simplificado da produção de H2SO4 pelo processo
catalisadas por diversos materiais em altas temperaturas, de contato é exibido na Figura 4.
incluindo materiais não-metálicos, como o vidro. Na etapa 1 (Figura 4), o enxofre (S) líquido e o ar, rico
Estudos similares, utilizando metais incandescentes e em oxigênio (O2), são combinados em uma câmera de
gases combustíveis foram conduzidos também por Humphry combustão, que converte o S em SO2 (Equação (1)). Na
Davy em 1817, o que resultou em um artigo publicado pela etapa 2, o gás SO2 formado passa por um leito contendo o
Royal Society,24 quando foi observado por Davy que um fio catalisador que converte o SO2 em SO3, usando O2 do ar (o
incandescente de platina, ao ser introduzido em uma mistura catalisador original era platina em pó aquecida, mas hoje
de oxigênio e diversos gases combustíveis, possibilitava que em dia, usa-se V2O5) (Equação (2)). Finalmente, na etapa 3,
o gás e o oxigênio se recombinassem sem a necessidade de o SO3 gasoso é dissolvido em ácido sulfúrico concentrado
uma chama, enquanto o calor liberado pela reação química para formar o chamado oleum (H2S2O7) (Equação (3)).30
mantinha o fio incandescente por um longo tempo. Essa Caso ainda existam moléculas de SO2 não oxidadas, estas
observação levou ao desenvolvimento de dispositivos de são devolvidas para o leito catalítico 2. A vantagem da
segurança para mineradores, sendo possível monitorar a dissolução do SO3 em H2SO4 já pronto ao final é que a
presença de gases inflamáveis no ar sem correr o risco de diluição posterior do oleum em água para formar ácido
causar uma explosão.24 sulfúrico não é tão exotérmica quanto a diluição do próprio
Esse conjunto de resultados experimentais foi alvo de H2SO4 em água, permitindo condições de trabalho que não
discussões no meio acadêmico, ocasionando o surgimento necessitam da dissipação desse calor, tornando o processo
de algumas tentativas de explicação dos fenômenos, mais barato e seguro.
incluindo a teoria de que a luz incandescente do metal quente
ofuscava a chama causada pela combustão do gás; chama (1)
essa que por acaso concentrava-se de forma compacta ao
redor do metal e desaparecia conforme os produtos da reação (2)
se afastavam da superfície. Tal teoria foi proposta pelo
químico italiano Ambrogio Fusinieri em uma publicação (3)
efetuada no ano de 1824,23,25 merecendo o crédito por ter sido
o primeiro a tentar explicar um fenômeno novo e de natureza Esse “processo de contato” e diversos outros fenômenos
elusiva.26 Todavia sua teoria apresentava alguns pontos que químicos foram revisados meticulosamente pelo químico
precisavam ser melhor discutidos, mas ela contribuiu para alemão Eilhard Mitscherlich em 1834, que também deu
que outro cientista como, por exemplo, Michael Faraday, sua própria contribuição ao desenvolvimento da catálise

286 Rev. Virtual Quim.


da Rocha

Figura 4. Esquema representativo do processo de contato proposto por Peregrine Phillips29

ao constatar e relatar que ao se produzir éter dietílico à desses fenômenos, o que de fato foi observado no período
partir de etanol em meio ácido (assim como reportado por pós-Berzelius.28 No entanto, mais recentemente o crédito
Valerius Cordus), o ácido não era de fato consumido, mas da descoberta do fenômeno tem começado a ser atribuído
era necessário para que a reação de fato acontecesse.31 a Elizabeth Fulhame,19 embora seu nome apareça com
Se considerarmos a história do processo químico em muito menos frequência do que o de Berzelius na literatura
questão levou mais de duzentos e cinquenta anos para científica.
que alguém percebesse esse fato. O químico sueco Jöns Apesar da grande contribuição que muito recentemente
Jakob Berzelius na mesma época trabalhava para a se atribui Elizabeth Fulhame na área de catálise, seu nome,
Academia de Ciências de Estocolmo e aos 57 anos, tinha em nosso conhecimento e pesquisa, não está mencionado
como uma de suas ocupações a escrita de relatórios para em nenhum livro didático de química relacionado ao tema
a Academia.22 Ao revisar inúmeros artigos e trabalhos de na língua portuguesa, e em livros didáticos de língua inglesa.
seus contemporâneos, inclusive alguns de Mitscherlich, Além disso ela é mencionado pouquíssimas vezes em textos
Berzelius notou que todos esses experimentos - a conversão na língua portuguesa em mídias digitais, mesmo tendo
do amido em açúcar mediante acidificação, a decomposição contribuído para essa e outras áreas da química.
da amônia pelo fio metálico incandescente, a oxidação de
gases de origem fóssil mediada por um pedaço de metal 3. Depois de Berzelius: Refinamento da
incandescente, a decomposição do recém-descoberto H2O2 Teoria e os Primeiros Prêmios Nobel
em determinadas superfícies e a conversão de álcoois em
éteres em meio ácido - tinham em comum a presença de
uma substância que, embora não fosse consumida, era Após o relatório de Berzelius vários pesquisadores
muitas vezes indispensável para que as reações em questão reportaram seus achados a luz do conceito de catálise.
se procedessem de maneira apreciável. No entanto, esse Justus von Liebig, um químico orgânico cujo nome hoje é
fenômeno não era estudado sistematicamente - sequer um usado para designar um tipo de condensador comum nos
nome ele tinha! Berzelius formulou então uma teoria que, de laboratórios de química, também escreveu sobre como
alguma forma, acomodasse todas essas observações, a partir catalisadores atuavam na velocidade da reação química.23
da sua publicação em 1835,28,32 o termo “força catalítica” foi Ele comentou com Berzelius por correspondência que
proposto para designar a “força”, até então desconhecida, a função dos catalisadores era “ajudar substâncias
que agia em algumas reações, sendo que estes compostos inertes a vencerem a inércia que as impedia de sofrerem
que participavam das reações eram recuperados ao final da transformações químicas” (em tradução livre).23 O químico
reação, a característica crucial de um catalisador. alemão Karl Adolf Stohmann propôs que o catalisador de
Dessa maneira, uma nova área da química acabava alguma forma liberava energia no meio de reação, energia
de ser “inaugurada” por Berzelius. Uma vez que o termo essa que era necessária para a recombinação dos reagentes,33
“catálise” foi cunhado por ele e à ele frequentemente é ideia esta que viria a ser questionada posteriormente por
creditada a descoberta do fenômeno.28 Berzelius foi o outros trabalhos, como por exemplo com os trabalhos de
primeiro a perceber uma conexão entre aquela ampla gama Christian Schönbein. Schönbein, químico alemão mais
de fenômenos que haviam sido reportados e a criação do conhecido por descobrir o ozônio (O3) e por inventar a célula
termo catálise certamente foi fundamental para que uma a combustível, propôs na primeira metade do século XIX que
experimentação mais sistemática fosse conduzida ao redor as reações químicas não aconteciam em apenas uma única

Vol. 15, No. 2 287


Revisitando a História da Catálise

etapa, mas em uma sequência de vários eventos - sendo que (o que invalida a hipótese de Stohmann). Essa equivalência
o papel do catalisador em uma reação era produzir alguns foi primeiramente formulada por Ostwald, que propôs, já
intermediários que abrissem caminhos mais fáceis para que no século 19, que provavelmente todos os tipos de reação
a reação se processasse.34 Essa ideia se aproxima muito da química podem se beneficiar da ação de um catalisador.36
definição atual de catalisador.7 Para os químicos interessados no desenvolvimento
O desenvolvimento de novas ideias que descrevessem o de processos industriais essa afirmação de Ostwald
comportamento de catalisadores não poderia ser desatrelado representava uma oportunidade bastante interessante: a
do desenvolvimento da química como um todo. Isso pôde Revolução Industrial já havia ocorrido, deixando como seu
ser observado no período pós-Berzelius, no qual uma série legado um sistema de fabricação de bens de consumo, nos
de observações levaram a um entendimento melhor de quais a busca pela produção mais rápida e barata de bens
como as reações químicas funcionam, em termos cinéticos era um objetivo constante. Diversos químicos, investigando
e termodinâmicos. Assim, convém mencionar também os uma ampla gama de fenômenos, passaram a tentar empregar
avanços acerca do entendimento das reações químicas que catalisadores em seus processos. Dentre esses processos, um
ocorreram nesse período. dos mais importante, sem dúvida, é o processo de fabricação
Uma dessas contribuições veio com o trabalho de da amônia (NH3). Não é exagero dizer que essa talvez seja
Ludwig Wilhelmy, que conseguiu demonstrar em 1851 uma das reações químicas industriais mais importante da
que a velocidade das reações químicas era proporcional história da humanidade. A produção da amônia a partir
à concentração dos reagentes. 35,36 Não muito tempo de hidrogênio (H2) e nitrogênio (N2) tornou possível a
depois, Alexander Williamson demonstrou em 1851 fabricação em grande escala de fertilizantes, aumentando
que os éteres obtidos a partir da reação entre álcoois em grandemente a produção de alimentos em todo o mundo.
meio ácido podem ser revertidos à álcoois - fato que tem Inclusive, havia na época (início do século 20) uma previsão
uma relação profunda com aspectos termodinâmicos de falta de alimentos em escala global, pois as fontes
de reações químicas, como é de conhecimento nos dias de nitrogênio para fertilizantes utilizados na agricultura
atuais.36 Fenômenos totalmente análogos com ésteres proviam até 1900 prioritariamente do salitre minerado no
foram reportados por Marcellin Berthelot e Pean de St. Chile e de excrementos de aves.37 O processo de fabricação
Gilles. Expandindo nos experimentos de Berthelot, Gilles da NH3 leva o nome dos cientistas alemães Fritz Haber e
e Wilhelmy, os cientistas Cato Maximilian Guldberg e Peter Carl Bosch, e sua história começa no início do século 20.
Waage tentaram formular uma relação matemática entre as Em 1903, Haber e Nernst investigavam a síntese de
concentrações dos reagentes e a tendência de uma reação amônia a partir de H2 e N2.36,38 A grande estabilidade
acontecer. A relação sugeria que ambas se relacionavam molécula de N2, oriunda da ligação tripla entre os átomos de
por uma constante de proporcionalidade, que deveria ser nitrogênio, faz desse gás uma espécie química notavelmente
determinada experimentalmente.36 inerte, de modo que não é nem um pouco trivial ativá-la
Pode-se dizer que a contribuição de Waage e Guldberg para uma reação de redução com o H2. No entanto, N2 é o
quase não foi aceita pela comunidade dos químicos do século gás mais abundante da atmosfera terrestre (cerca de 78%
19 não fosse pelo fato do químico holandês Jacobus Henricus da composição do gás atmosférico é N2), o que o torna um
van ’t Hoff ter reconhecido a constante de proporcionalidade insumo muito barato se puder ser aproveitado para processos
como uma constante de velocidade de reação, que media sintéticos de compostos nitrogenados, motivando essas
a taxa de transformação dos reagentes nos produtos em investigações. Como mencionado, o produto dessa reação,
função do tempo. Esses e outros trabalhos, como as famosas a amônia (NH3), poderia revolucionar o modo de vida do ser
observações de Henry Louis Le Chatelier, combinados humano, possibilitando o cultivo de áreas que antes eram
apresentavam uma forma de se descrever quantitativamente inapropriadas para esse fim, por meio do uso de fertilizantes
o andamento de uma dada reação química.36 nitrogenados, além de aumentar a produção de alimentos
No entanto, restava ainda conseguir acomodar o em terras aráveis.
efeito dos catalisadores nessa descrição. Uma importante Os primeiros cientistas a questionarem a possibilidade de
observação surgiu do trabalho do químico francês produção da NH3 a partir das duas substâncias simples foram
Clément Georges Lemoine, que em 1877 mostrou que a os irmãos Margulies.38 Eles já estavam familiarizados com
presença de um catalisador, embora aumentasse o valor a interconversão de nitretos metálicos em hidretos, quando
da constante de velocidade de uma reação, não mudava a esses eram submetidos à uma atmosfera de H2 (exemplo
posição do equilíbrio químico que seria instaurado - mas utilizando o nitreto de cálcio (Ca3N2) na Equação (4)).
tão somente fazia com que esse equilíbrio fosse alcançado Essa questão, colocada pelos irmãos Margulies, atraiu a
mais rapidamente.36 Esse é um dos preceitos fundamentais atenção de Haber, que passou a estudar os casos reportados
da química da catálise.7 Não obstante, dizer que a posição de conversão entre hidretos e nitretos, propondo que talvez
do equilíbrio químico não se desloca é absolutamente esses compostos pudessem ter algum papel intermediário
equivalente a dizer que o catalisador é incapaz de iniciar na reação entre os dois gases.38
uma reação que não procederia em sua ausência, afinal, o
catalisador não está adicionando mais energia no sistema (4)

288 Rev. Virtual Quim.


da Rocha

No entanto, já se sabia há algum tempo, desde 1877 com Nobel de Química: Haber foi laureado em 1918, pela
o trabalho de Lemoine,36 que caso fosse possível catalisar síntese de amônia, 41 e Bosch foi laureado em 1931,
a reação entre N2 e H2 para formação de NH3 (Equação 5) juntamente com Friedrich Bergius, por suas contribuições
o equilíbrio químico não seria deslocado para o lado dos ao “desenvolvimento da Química Industrial de altas
produtos mediante o emprego de um catalisador. Logo, pressões”.41
convinha determinar experimentalmente a quantidade de A premiação de Haber gerou polêmica na sociedade
NH3 presente no equilíbrio químico entre os gases, na química, visto que sua pesquisa também serviu a fabricação
presença e ausência dos hidretos e nitretos. Os resultados de explosivos para fins bélicos.36 Quando a Primeira Guerra
obtidos por Haber e outros cientistas foram desanimadores, Mundial começou, em 1914, quase toda a produção de
pois uma quantidade muito pequena de NH3 era obtida. NH3 da Europa estava sendo direcionada à produção de
No entanto, Haber foi capaz de demonstrar que o Ca3N2 explosivos e não para fins de produção de alimentos. A
realmente era capaz de catalisar essa transformação, além de utilização da NH3 na fabricação de explosivos foi possível
demonstrar que essa reação pode ser revertida (Equação (5)). também graças ao trabalho de Ostwald, que em 1902
Esse efeito somado a interpretação de Ostwald da atividade reportou um método para a oxidação da NH3 à ácido
catalítica: o catalisador não desloca o equilíbrio químico, nítrico (HNO3), um componente muito importante na
pois ele não insere energia no sistema, levou Haber a supor fabricação de compostos explosivos nitrogenados. Haber
que necessariamente o catalisador também deve catalisar o desenvolveu também diversos projetos bélicos enquanto
processo reverso, quando a reação for reversível. E de fato, chefe da Divisão de Química do Ministério da Guerra
a reação foi demonstrada pelo próprio Haber como sendo da Alemanha.40,42 Alguns desses projetos incluíam, por
reversível (Equação 5).36,38 exemplo, o desenvolvimento de bombas de gás cloro (Cl2):
Haber supervisionou pessoalmente a utilização do gás na
(5) Segunda Batalha de Ipres, resultando em quase setenta
mil mortos, evento que rendeu a Haber o apelido de “pai
Entretanto, a temperatura alta envolvida na reação das armas químicas”. A participação de Haber na Primeira
favorecia a quebra das moléculas de NH3, logo Haber Grande Guerra foi uma grande contradição ao Prêmio
deveria buscar trabalhar na temperatura mais baixa possível, Nobel recebido pelo cientista, apesar do papel fundamental
o que também representaria um gasto energético menor. que seu trabalho teve na produção de alimentos no período
No entanto, foi observado que em temperaturas muito pós-guerra.40
baixas, o equilíbrio da reação em questão não favorecia A catálise teve também importância crucial no
a produção de NH3. Haber decidiu trabalhar a 1000 °C desenvolvimento do trabalho de outro cientista que foi
com um fluxo constante de gases e uma proporção contemplado com o prêmio Nobel de Química, o francês Paul
estequiométrica dos componentes, cujas pressões parciais Sabatier. Sabatier é um nome bastante conhecido por quase
somavam aproximadamente 1 atm. Os direitos sobre o todos os químicos que trabalham na área de catálise devido
processo foram adquiridos pelo grupo BASF, que colocou ao princípio que leva seu nome e pode ser anunciado como:
um de seus colaboradores, Carl Bosch, para supervisionar “as interações entre um catalisador e o substrato devem estar
a produção industrial de NH3, transformando o processo em um ponto ótimo: nem fracas demais, nem fortes demais”.43
estabelecido por Haber em um processo de fabricação O que Sabatier expressou nesse princípio foi que caso a
contínuo, e tornando-o factível em altas pressões (que interação seja muito fraca, o catalisador e o substrato não
também favorecem a formação do produto NH3 pelo estão de fato interagindo. Caso seja muito forte, o catalisador
deslocamento do equilíbrio da reação para a direção do está sendo, na verdade, envenenado pelo substrato, que ao se
produto na Equação (5)).39 Pouco tempo depois, no mesmo ligar no sítio catalítico, desativa-o. As conclusões envolvidas
ano, o químico Alwin Mittasch desenvolveu para a BASF um no princípio são alguns dos frutos de seu trabalho extenso
novo catalisador para o processo, também baseado em ferro, em reações de hidrogenação de duplas ou triplas ligações
consistindo em um material obtido a partir da magnetita presentes em compostos orgânicos, que utilizavam níquel
(Fe3O4), que é reduzida para se formar FeO (wüstita).39,40 como catalisador.44 Os estudos de Sabatier na hidrogenação
Esse material mantém sua morfologia conforme é reduzido, catalisada foram derivados do trabalho de um químico
resultando em um sólido poroso com uma grande área estadunidense, James Boyce, que estudava a hidrogenação
superficial por unidade de volume, o que é uma característica de gorduras, reação que daria origem à substância alimentícia
bastante desejável em um catalisador. Um material similar conhecida como margarina. Paul Sabatier foi laureado com
é utilizado até hoje como catalisador nesse processo, bem o Prêmio Nobel de Química em 1912.
como a utilização de novos compressores centrífugos e Logo antes do início da Primeira Guerra Mundial e
trocadores de calor que favorecem o processo industrial.41 logo após o fim do conflito, uma nova era catalítica teve
Devido aos esforços de Haber e de Bosch no início, dessa vez fomentada pela indústria petroquímica.
desenvolvimento do processo de produção da amônia e A humanidade passou a ver a utilização de petróleo como
considerando-se os imensos impactos de seus trabalhos, matéria prima e, mais tarde, como fonte de energia e
ambos foram agraciados, separadamente, com o prêmio processos catalíticos estiveram presentes em todos esses

Vol. 15, No. 2 289


Revisitando a História da Catálise

momentos da história. Alguns deles merecem mencionados importante para o desenvolvimento científico e tecnológico
por sua extrema importância. do século 20, como também revolucionou a matriz energética
O primeiro deles é o processo de Fischer-Tropsch, de todo o planeta. Neste sentido, em relação às pesquisas
desenvolvido por volta de 1925, que leva o nome de seus na área da matriz energética, convém citar o impacto para a
dois criadores, Franz Fischer e Hans Tropsch, utilizando gás indústria petroquímica.
de carvão (uma mistura de CO e H2), esses dois cientistas O início da indústria petroquímica é datado em 1920,49
alemães foram capazes de transformá-los, em temperatura surgindo nos Estados Unidos. Na indústria petroquímica, de
ambiente, em diversos hidrocarbonetos.36 Esse processo um modo geral, utiliza-se como matéria-prima o petróleo e
é utilizado até hoje para a produção de hidrocarbonetos seus derivados. A destilação de petróleo para originar outros
e também foi adaptado para a produção de álcoois. Sua compostos remonta à 1862, buscando obter querosene, com
importância já ficou evidente na época, no entanto, uma vez subprodutos como nafta e resíduo asfáltico.50
que o uso de hidrocarbonetos como fonte de energia estava O petróleo pode ser destilado em colunas de
começando a se tornar mais comum, tornou-se mais comum fracionamento para obtenção de componentes de massas
ainda durante a Segunda Guerra Mundial. moleculares diferentes – sendo que as moléculas de
A reação de Fischer-Tropsch pode ser catalisada hidrocarbonetos de menor massa molecular (como heptano
por vários metais, como cobalto, ferro, níquel e rutênio. e octano) são destiladas em temperaturas mais baixas, e um
Diferentes metais apresentam diferentes seletividades para o resíduo contendo material orgânico de alta massa molecular
tamanho da cadeia carbônica formada.45 Foi constatado que permanece no sistema (normalmente o resíduo asfáltico).
o níquel apresenta seletividade para a produção de metano No início do século 20, com o desenvolvimento da
(CH4) (um produto indesejado nessa reação). Cobalto e indústria automobilística, baseada principalmente em
ferro são os catalisadores mais comuns, mas diferem em motores dependentes da combustão de derivados do
suas condições ótimas de reação. Rutênio é um excelente petróleo, como o octano (gasolina), gerou uma subsequente
catalisador na reação, com bons rendimentos, favorecendo maior demanda por combustível de origem fóssil à época.51
os alcanos de cadeia longa - no entanto, seu preço torna sua A demanda maior por combustível e outros derivados do
aplicação mais difícil. petróleo estimulou a indústria de transformação do petróleo
Avanços teóricos importantes também ocorreram na tentativa de aproveitar os resíduos de maior massa
nesse período da história, sendo um bastante significativo molecular que permaneciam após o primeiro tratamento
o trabalho do britânico Cyril Norman Hinshelwood e do do petróleo.50 Logo, as pesquisas foram iniciadas utilizando
soviético Nikolay Nikolaevich Semyonov. Esses dois altas temperaturas e pressões para realizar a quebra das
cientistas trabalharam na elucidação de mecanismos de moléculas de alta massa molecular em moléculas menores,
reações “em cadeia”, como a combustão explosiva do esse processo foi denominado de cracking (traduzido como
gás hidrogênio (H2). Hinshelwood também incorporou as “quebra” ou, ás vezes, como “craqueamento”).
teorias de Langmuir acerca da adsorção dos gases para O cientista francês Eugène Jules Houdry (1892-1962)
tratar de catálise heterogênea, resultando na equação de também estava interessado em novos processos para a
Hinshelwood-Langmuir, utilizada até hoje na modelagem produção da gasolina, mas por um curioso motivo: sua
matemática da cinética de reações químicas.46 Essa equação paixão por corridas de automóveis.51 Houdry recebeu
aprofundou mais ainda o conhecimento dos químicos acerca fomentos do governo da França para tentar produzir gasolina
desses sistemas, e os três cientistas envolvidos receberam a partir do lignito, uma rocha sedimentar impregnada com
o prêmio Nobel de Química: Hinselwood e Semyonov matéria orgânica, apesar de possível, esse processo não se
dividiram o prêmio em 1956 (por suas contribuições mostrou economicamente viável.51 No entanto, no final
em cinética e mecanismos de reações),47 e Langmuir o desse período de testes com o lignito, Houdry descobriu que
recebeu sozinho mais cedo, em 1932, por suas inúmeras um argilomineral bastante comum, composto por bentonita
contribuições à química de superfícies.48 e paligorsquita, era capaz de catalisar com eficiência a
Pode-se verificar que ao se observar esse histórico, que quebra dos compostos orgânicos de alta massa molecular
a catálise havia contribuído significativamente para mudar o em compostos similares à gasolina [51]. De posse desse
modo de se fazer química, especialmente no setor industrial: a conhecimento, Houdry se mudou para os Estados Unidos
catálise agora era não somente uma hipótese sobre uma “força onde seu novo projeto recebeu incentivo da empresa
desconhecida” que atuava em espécies químicas, mas sim Vacuum Oil Company. A empresa Sun Oil Company juntou-
uma parte importantíssima da química, e seu desenvolvimento se à Vacuum Oil Company e à Houdry para continuar o
nesses cerca de cem anos impulsionou muitas novas aprimoramento da técnica que foi possível de ser realizada
descobertas, que inclusive podem ter contribuído para o em processo contínuo na década de 1940.51
desfecho de conflitos mundiais; tornaram possível muitas O cracking catalítico do petróleo é um processo químico
pesquisas que resultaram em prêmios Nobel e também no muito impactante na história, pois a humanidade passou
advento do estudo dos processos químicos enzimáticos, além a ter acesso ao petróleo como uma fonte de energia em
de expandirem a possibilidade da produção de alimentos. escala global, e o comércio de petróleo e derivados passou a
Além disso, a catálise não só mostrou ser uma ferramenta constituir um dos maiores mercados financeiros do mundo,

290 Rev. Virtual Quim.


da Rocha

bem como um setor industrial importantíssimo para os abordando catálise micelar,53 e outro abordando ferro como
demais setores econômicos, podendo citar seu impacto catalisador).54
para as indústrias de fertilizantes, solventes, detergentes, Considerando este período de 1975 a 2022, a contribuição
polímeros, entre outros.49 brasileira para o total de artigos publicados no mundo sobre
As décadas que se seguiram após 1940 viram diversos catálise foi de 1,69%. À título de comparação, os cinco
acontecimentos significativos para o desenvolvimento da primeiros países com maior número de artigos publicados
química,36 como o primeiro congresso internacional sobre com catálise no período analisado são: a China, com
catálise heterogênea, organizado pela Faraday Society 110.064 artigos publicados, Estados Unidos com 74.794,
em 1950. Já na década de 1960, foi inaugurado o período Alemanha com 35.311, Japão com 30.766 e França com
internacional Journal of Catalysis, que permanece até hoje 24.001. O Brasil ocupava a posição de número 16 entre os
uma das revistas científicas de maior prestígio da área, países com maiores publicações no momento da pesquisa.
cujo escopo envolve as várias diferentes formas de catálise É possível observar uma tendência de crescimento,
(homogênea, heterogênea, fotocatálise, enzimática, etc.). como mostrado no gráfico da Figura 5, onde é exibido o
Na década de 1960 mais uma vez o prêmio Nobel número de artigos científicos produzidos no Brasil que
de Química foi concedido à um pesquisador da catálise, envolvem os termos “catalysis” ou “catálise” por ano.
Geoffrey Wilkinson, que utilizou um complexo de ródio I, Pode-se observar um crescimento consistente da produção
[RhCl(PPh3)3], para realizar a reação de hidrogenação de de artigos sobre catálise a partir de 1990, com algumas
uma grande variedade de alquenos e alquinos, em pressões pequenas oscilações entre alguns anos, mas com a tendência
baixas de hidrogênio (cerca de 1 atm),37 o catalisador é constante de crescimento. Os artigos publicados em 2022
empregado até hoje, inclusive com derivados do catalisador estão considerados apenas até o mês de junho, data de escrita
utilizando fosfinas quirais, que são empregadas em do presente artigo.
laboratório para a síntese de produtos opticamente ativos.37 Outra informação notável obtida desse levantamento
Novos catalisadores também foram desenvolvidos é o fato de que 60,27% de todo esse volume de artigos
visando o cracking catalítico do petróleo na década de brasileiros foi produzido somente nos últimos dez anos
1960, incluindo materiais derivados de zeólitas. Zeólitas (2012-2021, excluindo-se 2022), o que pode servir
são aluminossilicatos que podem apresentar diferentes como uma tendência de que o Brasil possa ser tornar
porcentagens de alumínio e silício em sua composição,37 um representante muito expressivo da catálise mundial
são empregadas na indústria petroquímica para realizar nas próximas décadas, apesar dos grandes desafios que a
diversas reações de interconversão de hidrocarbonetos, comunidade científica brasileira, bem como toda a educação
como alquilação de aromáticos com alquenos, isomerização superior brasileira, vem enfrentando, como a diminuição
do metilbenzeno, entre outras.37 A grande novidade no uso de financiamento e de bolsas de estudo para pesquisas, que
de zeólitas para a indústria petroquímica foi a sua estrutura podem ter um impacto negativo para o futuro da produção
porosa, com sítios de alumínio ácidos, proporcionando científica nacional. Adicionalmente, ainda estamos sentindo
locais ideais dentro dos poros do catalisador para aumentar os efeitos da pandemia do coronavírus SARS-CoV-2, que
a eficiência da reação.37 certamente impactou de forma negativa a produção científica
É importante salientar que as instalações das primeiras no mundo todo, com a suspensão de atividades de ensino e
indústrias petroquímicas no Brasil datam de 1960 à 1970, pesquisa presenciais em universidades e que ainda está em
surgindo esforços nesta época para que a pesquisa científica processo de ser suplantada.
em catálise fosse instituída no país.52 Pesquisa esta na área
de catálise que aumentou significativamente no Brasil com 5. Considerações Finais
o passar dos anos, como pode ser visto no próximo tópico.

4. Breve Panorama da Pesquisa e Produção Esse trabalho foi concebido com a intenção de, acima
de Artigos em Catálise no Brasil de tudo, revisitar a história da catálise de uma forma linear
e que ressaltasse aspectos sociais, políticos e econômicos
que permeavam o período da história no qual cada uma
Na data de confecção do presente trabalho, em junho de das contribuições foi efetuada. É uma história longa, sem
2022, uma busca na base de dados Web of Science (critérios dúvida - talvez por isso não seja fácil encontrá-la em livros
de busca: tópico = catalysis or catálise, país = Brasil, tipo didáticos - e é uma história frequentemente apresentada
de documento = artigo, artigo de revisão ou artigos de em textos de acesso livre na internet de uma maneira muito
conferências), foram encontrados, no período de 1975‑2022, fragmentada e que por vezes falham em mencionar aspectos
7.391 publicações. Mundialmente, foram publicados importantes dessa trajetória - como o trabalho pioneiro e
437.357 artigos, nesse mesmo período (importante salientar quase esquecido de Elizabeth Fulhame, as consequências
que mundialmente, na mesma base de dados, as publicações do processo Haber-Bosch e a ascensão da petroquímica
com o termo “catalysis” iniciam em 1945, mas para com como uma área que impulsionou ainda mais a pesquisa
o país “Brasil” iniciaram em 1975, com um trabalho nessa área - o que está diretamente relacionada à chegada

Vol. 15, No. 2 291


Revisitando a História da Catálise

Figura 5. Artigos produzidos no Brasil sobre catálise. Critérios de busca utilizados na base Web of Science:
tópico = catalysis or catálise, país = Brasil, tipo de documento = artigo, artigo de revisão ou artigos de conferências.
Pesquisa realizada em junho de 2022. Observação: os artigos publicados em 2022 estão considerados apenas até o
mês de junho, data de escrita do presente artigo

da catálise ao Brasil, na década de 1960. Até o momento, Essa constatação se torna ainda mais impressionante ao
pelo que temos de informação, essa é a primeira publicação levarmos em consideração o fato de que quase toda essa
em língua portuguesa que aborda todos esses aspectos produção aconteceu somente nas últimas duas décadas
simultaneamente, e a única na qual o nome de Elizabeth (como mencionado, 60,27% desse total foi produzido entre
Fulhame é mencionado. Espera-se que, com esse trabalho, 2012 e 2021).
as novas gerações de cientistas que busquem conhecer a A história da catálise e a história da química como
história da catálise tenham mais facilidade em encontrar, um todo sem dúvida estão intimamente atreladas ao
na literatura científica brasileira, o nome dessa cientista. desenvolvimento tecnológico, científico e social da
É também interessante ressaltar que embora a catálise humanidade, pois, como mencionado no início desse
já seja um fenômeno conhecido há 226 anos (considerando trabalho, os processos catalíticos afetam questões
como seu descobrimento a publicação do livro de Elizabeth ambientais, socioeconômicas e energéticas. Sem dúvida,
Fulhame), a catálise brasileira em termos de publicações essa história terá ainda muitos novos capítulos, muitos dos
em periódicos especializados data do seu início em 1975, quais estão sendo escritos agora mesmo, nas bancadas dos
com 47 anos de história. Uma parcela significativa da laboratórios brasileiros de pesquisa.
população do país viva nesse momento nasceu em uma Adicionalmente, na Figura 6 está representada uma linha
época onde simplesmente não existia nenhuma pesquisa em do tempo com a citação de alguns trabalhos mencionados
catálise no Brasil, e hoje em dia, o Brasil já detém 1,69% neste artigo, buscando organizar cronologicamente as
de toda a produção mundial de conhecimento nessa área. contribuições efetuadas pelos diferentes cientistas para a

Figura 6. Linha do tempo cronológica das contribuições de diferentes cientistas para a história da
catálise e da continuidade da pesquisa na área

292 Rev. Virtual Quim.


da Rocha

construção do conceito de catálise e de seu entendimento, 13. Fox, P. F.; Guinee, T. P.; Cogan, T. M.; Mcsweeney, P. L. H.;
bem como indicando também outros pontos importantes, Fundamentals of Cheese Science, 2a. ed., Springer: New York,
como as primeiras publicações com o termo “catálise” no 2017. [Crossref]
Brasil, o desenvolvimento da Química Verde e deixando o 14. Williams, K. R.; Robert Boyle: The founder of modern chemistry.
campo aberto para o futuro da catálise. Journal of Chemical Education 2009, 86, 148. [Crossref]
15. Boyle, R.; The sceptical chymist or, Chymico-physical doubts
Agradecimentos & paradoxes, 1661.
16. Chassot, A. I.; Alquimiando a Química. Química Nova na Escola
1995, 1, 20. [Link]
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e 17. Leake, C. D.; Valerius Cordus and the Discovery of Ether. Isis
Tecnológico (CNPq), a Coordenação de Aperfeiçoamento de 1925, 7, 14. [Crossref]
Pessoal de Nível Superior (CAPES), a Fundação Araucária, 18. Fulhame, E. An Essay on Combustion, 1794.
Fundação da Universidade Federal do Paraná (FUNPAR) e 19. Laidler, K. J.; Cornish-Bowden, A.; Elizabeth Fulhame and the
a Universidade Federal do Paraná (UFPR). Discovery of Catalysis: 100 years before Buchner Em New Beer
in an Old Bottle: Eduard Buchner and the Growth of Biochemical
Referências Bibliográficas Knowledge; Cornish-Bowden, A., ed.; Universitat de València:
Valencia, 1997, p. 123-126.
20. Bolzani, V. S.; Mulheres na Ciência: por que ainda somos tão
1. Kerker, M.; Sadi Carnot and the Steam Engine Engineers. Isis poucas? Ciência e Cultura 2017, 69, 56. [Crossref]
1960, 51, 257. [Crossref] 21. Silva, F. F.; Ribeiro, P. R. C.; Trajetórias de mulheres na ciência:
2. National Academy of Sciences; Climate Change: Evidence and “ser cientista” e “ser mulher”. Ciência & Educação 2014, 20,
Causes, 1a. ed., The National Academies Press: Washingto: DC, 449. [Crossref]
2014. [Crossref] 22. Robertson, A. J. B. The Early History of Catalysis. Platinum
3. Kant, R; Textile dyeing industry an environmental hazard. Metals Review 1975, 19, 64. [Link]
Natural Science 2012, 4, 22. [Crossref] 23. Roberts, M.W.; Birth of the catalytic concept (1800-1900).
4. Molina, M. J.; Molina, L. T.; Megacities and atmospheric Catalysis Letters 2000, 67, 1. [Crossref]
pollution. Journal of the Air and Waste Management Association 24. Davy, H.; Some new experiments and observations on the
2004, 54, 644. [Crossref] combustion of gaseous mixtures, with an account of a method
5. Anastas, P. T.; Bartlett, L. B.; Kirchhoff, M. M.; Williamson, of preserving a continuous light in mixtures of inflammable
T. C.; The role of catalysis in the design, development, and gases and air without flame. Philosophical Transactions Royal
implementation of green chemistry. Catalysis Today 2000, 55, Society 1817, 107, 77. [Crossref]
11. [Crossref] 25. Fusinieri, A. Sulla Causa delle Combustione di Sostanze Gasose
6. Anastas, P. T.; Kirchhoff, M. M.; Origins, Current Status, and per Mezzo delle Superfice di Alcuni Metalli. Giornali di Fisica
Future Challenges of Green Chemistry. Accounts of Chemical 1824, 7, 371.
Research 2002, 35, 686. [Crossref] 26. Farinelli, D. M.; Gale, A. L. B.; Robertson, A. J. B.; Ambrogio
7. IUPAC; Compendium of Chemical Terminology (the “Gold fusinieri and the adsorption theory of heterogeneous catalysis.
Book”), 2a. ed., Blackwell Scientific Publications: Oxford, 2014. Annals of Science 1974, 31, 19. [Crossref]
8. Atkins, P.; Jones, L.; Princípios de Química: Questionando 27. Faraday, M.; Experimental researches in electricity. Philosophical
a Vida Moderna e o Meio Ambiente, 5a. ed., Bookman: Porto Transactions Royal Society 1834, 124, 55. [Crossref]
Alegre, 2012. 28. Wisniak, J.; The History of Catalysis. From the Beginning to
9. Machado, G. S.; Arízaga, G. G. C.; Wypych, F.; Nakagaki, S.; Nobel Prizes. Educación Química 2010, 21, 60. [Crossref]
Immobilization of anionic metalloporphyrins on zinc hydroxide 29. Cook, E.; Peregrine Phillips, the inventor of the contact process
nitrate and study of an unusual catalytic activity. Journal of for sulphuric acid. Nature 1926, 117, 419. [Crossref]
Catalysis 2010, 274, 130. [Crossref] 30. Campos, V. R.; Métodos de Preparação Industrial de Solventes
10. Sheldon, R. A.; Catalysis: The Key to Waste Minimization. e Reagentes Químicos. Revista Virtual de Química 2011, 3,
Journal of Chemical Technology Biotechnology 1997, 68, 381. 210-214. [Crossref]
[Crossref] 31. Johnson, B.; Making Ammonia: Fritz Haber, Walther Nernst,
11. Lenardão, E. J.; Freitag, R. A.; Dabdoub, M. J.; Batista, A. C. and the Nature of Scientific Discovery, 1a ed., Springer Cham:
F.; Silveira, C. C.; “Green Chemistry” – Os 12 princípios da Berlim, 2022. [Crossref]
Química Verde e sua inserção nas atividades de ensino e pesquisa. 32. Berzelius, J. J.; Årsberättelsen om framsteg i fysik och kemi.
Química Nova 2003, 68, 123. [Link] Royal Swedish Academy of Sciences, 1835.
12. Arranz-Otaegui, A.; Carretero, L. G.; Ramsey, M. N.; Fuller, D. 33. Stohmann, F., Über den Wärmewerth der Bestandtheile der
Q.; Richter, T.; Archaeobotanical evidence reveals the origins Nahrungsmittel, Zeitschrift fur Biologie 1894, 31, 364.
of bread 14,400 years ago in northeastern Jordan. Proceedings 34. Darbishire, F. V.; Kahlbaum, G. W. A.; Sidgwick, N. V. The letters
of the National Academy of Sciences of the United States of of Jöns Jakob Berzelius and Christian Friedrich Schönbein,
America 2018, 115, 7925. [Crossref] 1836-1847. Kessinger Publishing: Whitefish, 2011.

Vol. 15, No. 2 293


Revisitando a História da Catálise

35. Wilhelmy, L. F.; Ueber das Gesetz, nach welchem die Einwirkung review of advanced catalyst development for Fischer-Tropsch
der Säuren auf Rohrzucker stattfindet. Poggendorff’s Annalen synthesis of hydrocarbons from biomass derived syn-gas.
der Physik und Chemie 1850, 81, 413. [Crossref] Catalysis Science & Technology 2014, 4, 2210. [Crossref]
36. Lindström, B.; Pettersson, L. J.; A brief history of catalysis. 46. Rothenberg, G.; Catalysis: Concepts and Green Applications,
CATTECH 2003, 7, 130. [Crossref] 1a. ed. Wiley: New Jersey, 2008.
37. Shriver, D. F.; Atkins, P. W.; Overton, T.; Armstrong, F.; Rourke, 47. Morange, M.; What history tells us XV. Cyril Norman
J.; Química Inorgânica, 4a. ed., Bookman: Porto Alegre, 2008. Hinshelwood (1897-1967) - A chemical dynamic vision of the
38. Haber, F.; Van Oordt, G.; Über die Bildung von Ammoniak den organic world. Journal of Biosciences 2009, 33, 669. [Crossref]
Elementen. Zeitschrift für anorganische Chemie 1905, 44, 341. 48. Langmuir, I.; Surface chemistry, Nobel Lecture 1932. [Link]
[Crossref] 49. Torres, E. M. M.; A evolução da Indústria Petroquímica
39. Bosch, C.; Process of producing ammonia. BASF SE 1908. Brasileira, Química Nova 1997, 20, 49. [Link]
(US990191A) [Link] 50. Speight, J. G.; The Chemistry and Technology of Petroleum, 4a.
40. Hager, T.; The alchemy of air: a Jewish genius, a doomed tycoon, ed., CRC Press: Boca Raton, 2007. [Crossref]
and the scientific discovery that fed the world but fueled the rise 51. Zecchina, A.; Califano, S.; The Development of Catalysis: A
of Hitler, 1a. ed., Crown: New York, 2008. History of Key Processes and Personas in Catalytic Science and
41. Chagas, A. P.; A síntese da amônia: alguns aspectos históricos. Technology, 1a. ed., Wiley: New Jersey, 2017.
Química Nova 2007, 30, 240. [Link] 52. Bernardo-Gusmão, K.; Pergher, S. B. C.; Santos, E. N.; Um
42. Harris, H. H.; Fritz Haber: Chemist, Nobel Laureate, German, panorama da Catálise no Brasil nos últimos 40 anos. Química
Jew: A Biography (Stoltzenberg, Dietrich). Journal of Chemical Nova 2017, 40, 650. [Crossref]
Education 2006, 83, 1605. [Crossref] 53. Chaimovich, H.; Blanco, A.; Chayet, L.; Costa, L. M.; Monteiro,
43. Sabatier, P.; Senderens, J. B.; Nouvelles syntheses du methane. P. M.; Bunton, C. A.; Paik, C.; Micellar catalysis of reaction of
Comptes Rendus de l’Académie des Sciences 1902, 134, 514. 2,4-dinitrofluorobenzene with phenoxide and thiophenoxide
44. Sabatier, P.; How I Have Been Led to the Direct Hydrogenation ions. Tetrahedron 1975, 31, 1139. [Crossref]
Method by Metallic Catalysts. Industrial and Engineering 54. To m a , H . E . ; I r o n ( I I ) c a t a l y s i s i n o x i d a t i o n o f
Chemistry 1926, 18, 1005. [Crossref]. aquopentacyanoferrate(II) complex by molecular-oxygen.
45. Jahangiri, H.; Bennett, J.; Mahjoubi, P.; Wilson, K.; Gu, S.; A Inorganica Chimica Acta 1975, 15, 205. [Crossref]

294 Rev. Virtual Quim.

Você também pode gostar