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135) Na perspectiva da ciência da qual o exorcista deve ser ornado, após ter
chamado a atenção para algumas noções fundamentais sobre Deus e o Seu agir
providente, o demônio e a sua ação ordinária e extraordinária, além do malefício como
instrumento peculiar do agir diabólico para causar dano ao homem, é necessário
acenar para a superstição como ato do homem.
139) Infelizmente, com a superstição (1) ou se oferece a Deus um culto que não Lhe
se deve oferecer, ou o culto Lhe é oferecido de modo indevido; (2) ou se oferece um
culto a quem não se deve oferecer.
Para este argumento reenviamos também ao Catecismo da Igreja Católica do número
2110 ao 21172.
*****
140) Há duas espécies de superstição.
a) A primeira consiste num culto inadequado ou inconveniente com o qual se
pretende honrar o verdadeiro Deus. Isso acontece quando se quer honrá-Lo com uma
1
Catecismo da Igreja Católica n. 2095.
2
Pode-se também utilmente referir-se às páginas sobre a superstição do Cardeal Pietro Palazzini no seu
Trattato di Teologia Morale (1953).
modalidade ilícita, falsa ou supérflua, ou indecente, e – seja como for – de modo
contrário ou fora dos costumes e das prescrições da Igreja.
b) A segunda é por causa da realidade que se venera e que invés não se deve
venerar. Isso acontece quando o culto devido a Deus é tributado a um falso deus ou
a uma criatura.
141) Entram na primeira espécie de superstição:
a) o venerar a Deus com cerimônias que significam que Cristo deve ainda
vir e não chegou ainda;
b) o introduzir falsas relíquias para venerar;
c) pregar ou imprimir falsos milagres;
d) fingir falsas revelações e coisas do gênero.
Em todos estes casos, quanto à matéria, a superstição inflige a Deus, Verdade
Primeira, uma grave injúria e irreverência e funda a virtude da religião na falsidade.
142) Entram ainda na primeira espécie de superstição obrigar-se nos atos de culto
a Deus a observar uma certa disposição do corpo, a fazer determinados gestos, a
recitar um preciso número de orações e outras coisas do gênero, todas além ou contra
o costume da Igreja e aquilo que vem prescrito por Ela como necessário ou útil.
146) A vã observância (ou culto vão) se funda sobre a atribuição a certas coisas de
um poder misterioso e independente da ação do homem, mas que na realidade por
natureza essas não possuem.
A vã observância é ordenada ao conhecimento prático de algo a se fazer ou a
omitir. Essa, com o escopo de obter ou de impedir algum efeito, usa meios que na
realidade são inúteis e desproporcionados, porque nem por Deus, nem pela natureza
receberam qualquer eficácia, nem pela Igreja são regulados para este fim.
Quem pratica a vã observância pensa que o simples contato com determinadas
coisas, ou o fazê-las, comporte felicidade ou infelicidade, por isso procura entrar em
contato com aquilo que traz sorte (por exemplo, um trevo de quatro folhas ou um
amuleto) e de evitar encontrar ou de fazer aquilo que dá azar (por exemplo, não
começar uma viagem em certos dias ou evitar encontrar certos animais).
148) A arte notória é a superstição pela qual, recitando algumas orações formadas
por palavras desconhecidas, praticando determinados jejuns, usando determinados
sinais e outros meios do gênero absolutamente inúteis em si, se espera a infusão ou
a aquisição de uma ciência sem algum esforço em estudá-la. Se no uso destes meios
ocorresse que a
3
Muitas espécies da adivinhação são citadas pelo Papa Sixto Vna Bula Coeli et Terrae de 5 de janeiro de 1586,
como a necromancia, a geomancia, a hidromancia, a aeromancia, a piromancia, a quiromancia, a fisiognomia, a
oniromancia, a astrologia, a pitonia, o augúrio, o omen ou presságio, o aruspício, o oráculo, o sortilégio, etc.
pessoa mostre de improviso uma ciência que antes não possuía (por exemplo, falar
línguas precedentemente ignoradas, etc.) é evidente que a arte notória foi causa
ocasional de possessão demoníaca.
149) O culto da cura é a superstição pela qual meios sem valor e de per si inúteis são
usados para conservar ou recuperar a saúde física ou psíquica dos homens. Por exemplo,
empregando e aplicando nomes desconhecidos, determinadas palavras, certos
invólucros, certos sinais, um certo número de cruzes e de orações e outras coisas
inúteis do gênero, se pretende:
a) sanar as enfermidades, curar as feridas, mitigar as dores, estancar as
hemorragias;
b) tornar a si mesmos, ou outros, invulneráveis ou impenetráveis a golpes
de armas de vários gêneros (armas de corte, armas de fogo, etc.);
c) tornarem-se imunes a possíveis danos que pessoas, tidas como hostis,
poderiam infligir.
Sendo certo que todas as coisas supracitadas e outras semelhantes, não são ordenadas
para tais fins nem por Deus, nem pela natureza, nem pela Igreja, se às vezes isso
acontece, é evidente que acontece com o concurso do demônio implicitamente
invocado.
150) Desta superstição se devem considerar culpados também aqueles que trazem
medalhas, cruzes bentas e coisas do gênero, ou recitam versos da Sagrada Escritura ou
outras orações esperando infalivelmente a saúde ou qualquer outra utilidade. A razão é
que, além dos Sacramentos e de algumas espécies de sacramentais, nenhuma coisa ou
palavra sacra produz por si mesma de modo infalível um efeito. A razão é que nenhuma
coisa ou palavra sacra produz por si mesmo de modo infalível um efeito. Portanto,
aqueles que esperam deste modo, na realidade o esperam não de Deus, mas do
demônio por meio da sua implícita invocação.
É diverso, invés, se por meio de medalhas, cruzes bentas e coisas do gênero, ou
recitando versos da Sagrada Escritura ou outras orações, se implorassem os supracitados
efeitos com confiança em Deus, confiando na Sua bondade e nas Suas promessas e sem
presunção de infalibilidade (ou seja, não considerando que o mero uso de coisas sacras
o a recitação de determinadas palavras obriguem a Deus a escutar). Em tal caso,
seria uma coisa pia e não supersticiosa.
Estes princípios o exorcista os deve sempre recordar e ensinar, sobretudo quando usa ou
aconselha usar meios como água benta, óleo ou sal exorcizado, etc.
151) O culto dos eventos é a superstição pela qual alguém, do encontro ou do esbarrão
com algo de não pertinente, prognostica a si ou a outros um futuro bom ou ruim, ou
em base a isto regula as suas ações. As coisas não pertinentes podem ser o encontro
fortuito
com determinado tipo de pessoa, cruzar-se com o cadáver de um animal, ouvir o
piado de um passarinho, escutar ao longo do caminho determinadas palavras e
tantíssimas outras coisas do gênero.
152) Exemplos de crenças supersticiosas ligadas a coisas ou fatos que trariam azar:
a) encontrar-se com um gato preto que lhe cruza o caminho (daí é necessário
não prosseguir por aquele percurso e mudar o caminho);
b) escutar o pio de uma coruja;
c) passar sob uma escada;
d) quebrar uma garrafa de óleo;
e) quebrar um espelho;
f) cruzar os braços no momento em que quatro pessoas se dão a mão;
g) abrir o guarda-chuva em casa;
h) pôr o chapéu sobre a cama;
i) receber lenços de presente;
j) numa gravidez, ter as pernas cruzadas ou pregar um botão numa roupa
estando vestido com ela;
l) comprar ou receber de presente um carrinho de bebê antes do nascimento
da criança;
m) iniciar uma atividade ou viagem ou tomar decisões em certos dias da
semana ou do mês;
n) lidar com os números 13 ou 17;
o) no jogo, mudar de lugar para evitar a má sorte;
p) ► não aceitar um convite no qual, com a própria presença, os
comensais seriam treze, pois um destes deveria morrer em breve, visto que dos treze
comensais da Última Ceia um morreu (Cristo ou Judas);
q) estar certos de que acontecerá algo de infausto a quem encontra pela rua
um sacerdote de batina.
153) Exemplos de coisas, de gestos ou de fatos que dariam sorte ou que protegeriam
do azar:
a) cruzar os dedos;
b) fazer o gesto de chifres com os dedos;
c) tocar ferro quando se fala de algo arriscado ou enquanto passa um
carro fúnebre ou também quando se escuta o som de uma sirene; ou pelas mesmas
coisas descritas, tocar-se os genitais;
d) trazer consigo um “chifre da sorte” vermelho o de ouro, pendurado por
uma correntinha ao pescoço ou no pulso ou no bolso ou pendurá-lo atrás da porta de
casa ou
no espelho retrovisor do carro;
e) ter em casa ou trazer no carro, como amuleto, um bonequinho de plástico
que representa um corcunda que traz um chapéu cilíndrico, tem numa mão uma
ferradura e na outra faz o gesto dos chifres dirigido para baixo, e na parte inferior,
invés das cochas e das pernas, acaba em forma de “chifre da sorte” vermelho;
f) encontrar um corcunda, melhor ainda se se lhe toca a corcunda;
g) pôr na entrada da própria casa ou atrás da porta de casa alho, milho ou
uma ferradura como proteção;
h) trazer no pescoço como pingentes objetos de marfim de elefante, coral,
âmbar negro, presas, mãozinhas negras, signos zodiacais, etc.;
i) vestir de proposito em momentos importantes da própria vida (um
exame escolar, um negócio, um encontro, etc.) os mesmos vestidos que se usavam em
circunstâncias particularmente positivas do próprio passado;
j) comer uva passa ou lentilha na noite da passagem do velho para o ano
novo, com a convicção que isto nos assegurará no novo ano tanto dinheiro para contar;
l) jogar uma moeda em certas fontes exprimindo um desejo;
m) encontrar um trevo de quatro folhas;
n) ter ramos de visco em casa no último dia do ano;
o) vestir indumentos íntimos de cor vermelha no último dia do ano.
e tantas outras (quase infinitas) superstições iguais.
155) Regra primeira: Quando se atribui uma importância em alguma medida mágica
a certas práticas, ainda que legítimas ou necessárias, ou se atribui apenas à
materialidade das orações ou dos sinais sacramentais a sua eficácia, prescindindo das
disposições interiores que requerem, isso é cair na superstição.4
157) Regra terceira: Sempre que orações, caracteres, sinais são empregados para
atingir determinados efeitos, se estas orações, caracteres, sinais são
a) desconhecidos (obscuros),
4
Cfr. Catecismo da Igreja Católica n. 2111.
b) ou vãos, frívolos, ou falsos,
c) ou conhecidos e em si bons e santos,
e a esses são misturadas indicações referentes ao seu uso (modos, números, tempos,
lugares, pessoas, etc.) que resultam ser vãs, inúteis e absolutamente não pertinentes a
produzir o efeito desejado, sempre é superstição.
158) Regra quarta: Todas as vezes que sobre a base de coisas, palavras, fatos, escritos,
sinais em si mesmo bons e sãos, se assegura, se promete ou se crê de dever obter
infalivelmente o efeito entendido, mas nem da parte de Deus, nem por instituição
da Igreja se encontra naquelas coisas, palavras, etc., a capacidade de fornecer
infalivelmente um tal efeito, sempre é superstição.
159) Regra quinta: Todas as vezes que as coisas sacras são usadas para efeitos vãos e
inúteis, ou são empregados sinais ou coisas vãs e inúteis para obter qualquer efeito
por si útil, é sempre superstição.
160) Regra sexta: Devem ser tidos como supersticiosos os meios empregados para
obter ou impedir algo se a esses se misturam, como necessárias, coisas vãs,
ineptas e ridículas.
Deus, de fato, não Se mistura a coisas vãs e ridículas, sejam essas na ordem do fim,
sejam essas na ordem dos meios; portanto nestas circunstâncias não se pode esperar um
efeito senão do demônio.
162) Regra oitava: Quando se está certo de que o efeito produzido por uma coisa
não pode ser atribuído a alguma força natural e, todavia, se duvida se esse venha de
Deus ou de um demônio, não se deve usar a dita coisa se não se resolve a dúvida a
favor de Deus. Valem as mesmas razões expostas no número precedente.
163) Regra nona: Quando por algum homem, de boa fama e de grande engenho, é
realizado algo de extraordinário, deve-se concluir que isso tenha sido feito ou de modo
natural ou de modo sobrenatural, antes que pensar que foi feito de modo supersticioso e,
portanto, diabólico. A razão principal é que ninguém se deve presumir ser mau, se
não se prova ser tal. Ademais, porque de quando em quando acontece realmente que
algo
seja realizado de modo sobrenatural, isto é, por milagre; Deus, com efeito, opera por
meio dos Seus santos.
164) Regra décima: Quando por algum homem, de péssima fama e de provada
maldade, é realizado algo de extraordinário, pode-se prudentemente suspeitar, até
prova contrária, que isso tenha sido feito de modo natural ou de modo supersticioso
e, portanto, diabólico. “Pode-se colher, por acaso, uva de espinhos, ou figos de
espinheiros? Assim toda árvore boa produz frutos bons e toda árvore má produz frutos
maus; uma árvore boa não pode produzir frutos maus, nem uma árvore má produzir
frutos bons… Dos seus frutos, portanto, os podereis reconhecer.” (Mt 7, 16 – 18. 20)