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Classificação e validação de soluções de

equações diferenciais

Apresentação
As equações diferenciais são extremamente importantes para a ciência, uma vez que permitem
descobrir como a variação de uma grandeza afeta outras grandezas relacionadas. Para se ter uma
ideia de sua relevância, a Segunda Lei de Newton, por exemplo, é uma equação diferencial. Em
problemas associados à Economia, à Biologia e à Física, existe a necessidade do uso de equações
diferenciais.

Para chegar ao desenvolvimento e à solução de modelos matemáticos que são construídos por
meio de equações diferenciais, é necessário conhecer seus conceitos básicos.

Para que você possa acompanhar adequadamente esta Unidade, é necessário que conheça
conceitos básicos de álgebra, equações algébricas, além de conceitos envolvendo derivadas, pois
precisará recordar algumas propriedades.

Nesta Unidade de Aprendizagem, você verá a definição de equações diferenciais e como elas
podem ser classificadas. Você verá também como proceder para saber se uma função é solução de
uma equação diferencial.

Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Definir equação diferencial.


• Classificar equações diferenciais quanto ao tipo, à ordem e à linearidade.
• Reconhecer quando uma função é solução de uma equação diferencial.
Desafio
Muitos princípios importantes das ciências físicas e sociais envolvem taxas de variação e,
portanto, podem ser modelados por equações diferenciais. A exemplo, pode-se pensar em um
modelo de crescimento populacional irrestrito, que tem aplicação na modelagem do aumento de
bactérias em uma placa de Petri se o número inicial de bactérias for pequeno.
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Assim, determine a equação diferencial que pode expressar esse modelo de disseminação da
doença.

E, em um segundo momento, suponha que o número de indivíduos afetados seja conhecido em um


certo instante, por exemplo, y = y0 em t = 0. Nesse caso, como é possível obter a fórmula geral para
y(t)?
Infográfico
Quando o assunto são equações diferenciais, é importante ficar atento às diferentes notações que
podem surgir durante os estudos e a quem é sua variável independente.

Note, por exemplo, que, ao tratar x como variável independente, y' representa , mas

representa se a variável independente for p.

Entenda, no Infográfico a seguir, essas diferentes notações.


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Conteúdo do livro
As equações diferenciais têm inúmeras aplicações práticas. Suas soluções são usadas, por exemplo,
para projetar pontes, automóveis, aviões e circuitos elétricos, para compreender e investigar
problemas envolvendo o movimento de fluidos, a dissipação de calor em objetos sólidos, o
aumento ou a diminuição de populações, entre muitas outras aplicações. Ou seja, elas são
importantes na modelagem de problemas reais com os quais nos deparamos com frequência.

No capítulo Classificação e validação de soluções de equações diferenciais, da obra Equações


diferenciais, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai conhecer desde a definição de
equações diferenciais até suas classificações e identificação de soluções. Além disso, vai
conhecer algumas das suas aplicações importantes na Física e na Biologia.

Boa leitura.
EQUAÇÕES
DIFERENCIAIS

Cristiane da Silva
Classificação e
validação de soluções de
equações diferenciais
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Definir equação diferencial.


„„ Classificar equações diferenciais quanto ao tipo, à ordem e à linearidade.
„„ Reconhecer quando uma função é solução de uma equação diferencial.

Introdução
As equações diferenciais têm vasta aplicação e podem ser abordadas de
maneiras diferentes. Sob o ponto de vista matemático, elas são utilizadas
para descrever situações do mundo real e são um elo de interação da
matemática com outras ciências, como a física, a biologia, a química,
a economia e a engenharia. Algumas das aplicações estão na modela-
gem do crescimento de populações, na descrição de forças sofridas por
corpos, na formulação de modelos acerca do mercado, em economia,
na administração de drogas, em farmacologia, entre outras.
Neste capítulo, você vai compreender a importância das equações
diferenciais, estudando a sua definição e a sua classificação. Você também
vai aprender a reconhecer uma função como solução de uma equação
diferencial. Ao longo do capítulo, você vai verificar ilustrações, exemplos
e notações variadas relacionadas ao tema, além de pontos de atenção,
a fim de facilitar a compreensão sobre o conteúdo.
2 Classificação e validação de soluções de equações diferenciais

1 Equação diferencial
Para compreender as equações diferenciais, pode-se partir do entendimento
de um tema mais abrangente. Zill e Cullen (2009) explicam que, de modo
geral, as expressões “diferencial” e “equação” sugerem algum tipo de equação
que contenha derivadas. Sabe-se que a derivada de uma função y = ϕ(x)
é, por si própria, uma função ϕʹ(x) que foi determinada a partir de uma regra
2
específica. Para ficar mais claro, tome como exemplo a função y = e0,1x , que é
2
diferenciável no intervalo (–∞, ∞), sendo sua derivada dada por = 0,2xe0,1x .
2
Substituindo-se e0,1x pelo símbolo y, obtém-se:

Dito isso, suponha que você tenha em mãos a equação = 0,2xy, mas
desconheça a forma como ela foi construída. Nesse caso, ao ser indagado
sobre qual é a função representada pelo símbolo y, você vai se deparar com
um dos problemas básicos de equações diferenciais: como resolver a equação
para a função incógnita y = ϕ(x)? Podemos encarar esse problema de maneira
semelhante ao problema inverso do cálculo diferencial, em que, dada uma
derivada, pede-se para determinar uma antiderivada (ZILL; CULLEN, 2009).
Assim, uma equação diferencial pode ser entendida como aquela que
contém as derivadas de uma ou mais variáveis dependentes em relação a uma
ou mais variáveis independentes — ou seja, uma equação cuja incógnita é
uma função que aparece na equação sob a forma das respectivas derivadas.
Essas equações têm aplicações não apenas na matemática, mas na física,
na engenharia, na biologia, entre outras áreas do conhecimento.
Classificação e validação de soluções de equações diferenciais 3

Algumas equações diferenciais envolvendo a função incógnita y são apresentadas


a seguir:

Fonte: Bronson e Costa (2008, p. 15).

Çengel e Palm III (2014) definem equação diferencial como aquela que
envolve as derivadas de uma ou mais funções. De acordo com os autores, uma
equação diferencial expressa a relação entre as funções e as suas derivadas.
Esse tipo de equação vem sendo utilizado há muito tempo por cientistas e
engenheiros, com o propósito de modelar e resolver problemas práticos.
Nem todos os problemas com os quais nos deparamos podem ser solucio-
nados com o uso de equações algébricas. Vários problemas encontrados nas
ciências e na engenharia são originados de equações diferenciais e, portanto,
dependem delas para sua solução (ÇENGEL; PALM, 2014). Veja nos Exemplos a
seguir uma aplicação das equações diferenciais no estudo de fenômenos físicos.
4 Classificação e validação de soluções de equações diferenciais

O estudo de fenômenos físicos envolve dois passos importantes, conforme mostra


a Figura 1.

Problema de física

Identificar
variáveis
importantes
Elaborar
pressuposições
e aproximações
razoáveis
Aplicar
as leis físicas
relevantes

Uma equação diferencial

Aplicar
uma técnica Aplicar as
de solução condições iniciais
e de contorno

Solução do problema

Figura 1. Modelo matemático de problemas de física.

No primeiro passo, são identificadas todas as variáveis que afetam o fenômeno e são
elaboradas as pressuposições e aproximações razoáveis sobre ele; ainda, investiga-se a
independência das variáveis. As leis e os princípios relevantes da física são empregados,
e o problema é modelado matematicamente, normalmente na forma de uma equação
diferencial. Essa equação diferencial costuma ser instrutiva e evidencia o grau de
dependência de algumas variáveis em relação a outras e a importância relativa de vários
termos. No segundo passo, a equação diferencial é resolvida por meio de um método
apropriado para sua resolução, e obtém-se uma razão entre a função desconhecida
e as variáveis independentes.
Fonte: Çengel e Palm III (2014, p. 2).
Classificação e validação de soluções de equações diferenciais 5

Nesse contexto, Boyce e Diprima (2015, p. 1) destacam que:

[...] muitos dos princípios, ou leis, que regem o comportamento do mundo


físico são proposições, ou relações, envolvendo a taxa segundo a qual as
coisas acontecem. Expressas em linguagem matemática, as relações são
equações e as taxas são derivadas. Equações contendo derivadas são equa-
ções diferenciais [...].

Veja nos Exemplos, a seguir, equações diferenciais aplicadas a problemas


reais. Não serão buscadas soluções, mas o entendimento do modelo matemático
formulado, ou seja, da equação diferencial capaz de descrever cada situação.

Exemplo 1: um objeto em queda


Suponha que um objeto está caindo na atmosfera, perto do nível do mar.
Formule uma equação diferencial que descreva o momento.

Solução:
O tempo será denotado por t, e a velocidade do objeto em queda por v. Uma
vez que a velocidade deve variar com o tempo, considere v como função de t,
ou seja, t é a variável independente e v é a variável dependente. O tempo t será
medido em segundos, e a velocidade v em metros por segundo. Além disso,
suponha que a velocidade v é positiva quando o sentido do movimento é para
baixo (quando o objeto está caindo).
A lei física que governa o movimento de objetos é a segunda lei de Newton,
que diz que a massa do objeto multiplicada por sua aceleração é igual à força
total atuando sobre o objeto. Essa lei pode ser expressa pela equação:

F = ma

Em que m é a massa do objeto (medida em quilogramas), a é a sua ace-


leração (medida em metros por segundo ao quadrado) e F (em newtons) é
a força total agindo sobre o objeto. É claro que a e v estão relacionados por
a = , de modo que
6 Classificação e validação de soluções de equações diferenciais

Agora, considere as forças que agem no objeto em queda. A gravidade exerce


uma força igual ao peso do objeto, ou mg, em que g é a aceleração por causa
da gravidade e foi determinada experimentalmente como aproximadamente
igual a 9,8 m/s2 próximo à superfície da Terra. A força devido à resistên-
cia do ar é mais difícil de modelar. Assume-se aqui que ela tem magnitude
(ou módulo) yv, em que y é uma constante chamada de coeficiente de resistência
do ar e corresponde à massa por unidade de tempo, ou seja, kg/s neste pro-
blema. Lembre-se de que yv tem que ter unidades de força, ou seja, kg · m/s2.
Ao escrever uma expressão para a força total F, deve-se lembrar que a
gravidade sempre age para baixo (no sentido positivo), enquanto a resistência
do ar age para cima (no sentido negativo), como mostra a Figura 2.

γv

mg

Figura 2. Diagrama de forças agindo


sobre um objeto em queda livre.

Logo, F = mg – yv, e a equação se torna

Essa equação é um modelo matemático de um objeto caindo na atmosfera,


perto do nível do mar. Note que o modelo contém as três constantes m, g e y.
É importante destacar que as constantes m e y dependem do objeto particular
que está caindo e será diferente, em geral, para objetos diferentes. É comum se
referir a essas constantes como parâmetros, já que podem tomar um conjunto
de valores durante um experimento. Por outro lado, g é uma constante física,
cujo valor é o mesmo para todos os objetos.
Classificação e validação de soluções de equações diferenciais 7

A proposta agora é verificar o que é possível descobrir sobre soluções sem


encontrar, de fato, qualquer uma delas. Para simplificar, atribuem-se valores
numéricos para m e y, já que, independentemente dos valores escolhidos,
o procedimento é o mesmo. Suponha que m = 10 kg e y = 2 kg/s. Então,
a equação

pode ser escrita como:

Exemplo 2: ratos do campo e corujas


Considere uma população de ratos do campo que habita certa área rural. Suponha
que, na ausência de predadores, a população de ratos cresça a uma taxa propor-
cional à população atual. Essa hipótese é uma lei física que não está muito bem
estabelecida, mas é uma hipótese inicial usual em um estudo de crescimento
populacional. Denotando-se o tempo por t e a população de ratos por p(t), então,
a hipótese sobre o crescimento populacional pode ser expressa por:

Na qual o fator de proporcionalidade r é chamado de taxa constante ou


taxa de crescimento. Suponha que o tempo é medido em meses e que a taxa
constante r tem o valor de 0,5 por mês. Então, cada uma das expressões na
equação = rp tem unidades de ratos por mês.
Agora, suponha que diversas corujas moram na mesma vizinhança e que
elas matam 15 ratos do campo por dia. Para incorporar essa informação ao
modelo, deve-se acrescentar outro termo à equação diferencial = rp, de
modo que ela se transforma em:
8 Classificação e validação de soluções de equações diferenciais

Observe que o termo correspondente à ação do predador é – 450, em vez


de −15, já que o tempo está sendo medido em meses, e o que se precisa obter
é a taxa predatória mensal.
Fonte: Boyce e Diprima (2015, p. 1-4).

Note que, para aplicar as equações diferenciais, é necessário primeiro


formular a equação diferencial que poderá adequadamente descrever, ou
modelar, o problema em questão. É importante ter em mente que cada pro-
blema é diferente e que a modelagem não se restringe a uma lista de regras.
A construção de um modelo satisfatório pode ser, muitas vezes, a parte mais
difícil de um problema (BOYCE; DIPRIMA, 2015).

2 Classificação das equações diferenciais


Conforme apontam Zill e Cullen (2009), uma equação composta apenas por deri-
vadas ordinárias de uma ou mais variáveis dependentes em relação a uma única
variável independente é denominada equação diferencial ordinária. Observe:

Por outro lado, quando uma equação envolve derivadas parciais de uma ou
mais variáveis dependentes de duas ou mais variáveis independentes, tem-se
uma equação diferencial parcial. Acompanhe:

Você poderá se deparar com notações diferentes para expressar derivadas ordinárias,
conforme mostrado a seguir.

Notação de Leibniz:
Classificação e validação de soluções de equações diferenciais 9

Notação prima:

y', y'', y''', …

Observe que, nessa última notação, as equações podem ser escritas de forma um
pouco mais compacta. Ela é utilizada para indicar apenas as primeiras três derivadas
— da quarta em diante, é escrita como y(4) — ou seja, a derivada de ordem n é expressa
por ou y(n). Cabe destacar que, embora menos compacta, a notação de Leibniz tem
vantagem sobre a de prima, por apresentar de maneira mais clara tanto as variáveis
dependentes quanto as variáveis independentes.
Fonte: Zill e Cullen (2009, p. 18).

No que se refere à classificação por ordem, seja uma equação diferen-


cial ordinária ou uma equação diferencial parcial, a ordem de uma equação
diferencial corresponde à ordem da mais alta derivada na equação (ZILL;
CULLEN, 2009). Observe:

Esse é um exemplo de equação ordinária de segunda ordem. As equações


diferenciais ordinárias de primeira ordem também podem ser escritas na
forma diferencial M(x, y)dx + N(x, y)dy = 0. Considerando-se que y representa
a variável dependente em (y – x)dx + 4xdy = 0, então, y' = , e dividindo-se
pelo elemento diferencial dx, tem-se a forma alternativa 4xy' + y = x (ZILL;
CULLEN, 2009).
Também é possível expressar uma equação diferencial ordinária de ordem
n como uma variável dependente, pela forma geral:

F(x, y, y', ..., y(n)) = 0


10 Classificação e validação de soluções de equações diferenciais

Em que F é uma função de valores reais com n + 2 variáveis: x, y, yʹ, ..., y(n).
Será adotada a hipótese de que é possível resolver uma equação diferencial
ordinária unicamente para a derivada mais elevada y(n) em termos das n + 1
variáveis restantes (ZILL; CULLEN, 2009). Assim, a equação diferencial será:

Zill e Cullen (2009) explicam que f é uma função contínua de valor real e é
referida como a forma padrão de F(x, y, y', ..., y(n)) = 0. Então, quando for mais
conveniente, serão utilizadas suas formas normais para representar equações
diferenciais ordinárias gerais de primeira e segunda ordem:

Agora, será avaliada a classificação das equações diferenciais quanto à


linearidade. Conforme Zill e Cullen (2009), uma equação diferencial ordinária
de ordem n, como F(x, y, y', ..., y(n)) = 0, será linear se F for linear em y, y', ...,
y(n). O que significa dizer que uma equação diferencial ordinária de ordem n
é linear quando F(x, y, y', ..., y(n)) = 0 puder ser escrita como an(x)y(n) + an–1(x)
y(n–1) + ... + a1(x)y' + a0(x)y – g(x) = 0, ou

Dois casos especiais dessa equação se referem às equações diferenciais


de primeira ordem linear (n = 1) e de segunda ordem linear (n = 2); são eles:

Com a combinação aditiva no lado esquerdo de


Classificação e validação de soluções de equações diferenciais 11

tem-se que as duas propriedades características de uma equação diferencial


ordinária linear são (ZILL; CULLEN, 2009):

„„ a variável dependente y e todas as duas derivadas yʹ, y'ʹ, ..., y(n) são de
primeiro grau, isto é, a potência de cada termo envolvendo y é 1; e
„„ os coeficientes a0, a1, ..., an de yʹ, y'ʹ, ..., y(n) dependem no máximo da
variável independente x.

No entanto, as equações diferenciais ordinárias nem sempre serão lineares


— elas podem ser não lineares. Vejamos, a seguir, exemplos de funções não
lineares da variável dependente ou suas derivadas.

Esses são exemplos de equações diferenciais ordinárias não lineares de primeira,


segunda e quarta ordem, respectivamente.
Fonte: Zill e Cullen (2009, p. 20).
12 Classificação e validação de soluções de equações diferenciais

Além das classificações mencionadas, você pode se deparar com as ex-


pressões “homogênea” e “não homogênea”. Confira a seguir.

Uma equação diferencial linear é denominada homogênea se g(x) = 0 para todo x


em consideração. Caso contrário, ela é não homogênea. Observe:

Equação linear não homogênea:

Equação linear homogênea:

Note que, em cada termo de uma equação linear homogênea, há a variável depen-
dente ou uma de suas derivadas após a simplificação dos fatores comuns da equação.
O termo g(x) é denominado termo não homogêneo.
Uma equação linear homogênea de ordem n pode ser expressa, de forma geral,
como:

Fonte: Çengel e Palm III (2014, p. 16-17).

3 Função solução
Quando o assunto é a solução de equações diferenciais, ao contrário das
equações algébricas com as quais estamos habituados, as equações diferenciais
geralmente são funções, em vez de valores discretos. Também é importante
destacar que não existe um único método de solução geral aplicável a qualquer
equação diferencial. Ao contrário, para diferentes classes de equações dife-
renciais, têm-se técnicas diferentes de solução, podendo, inclusive, a solução
envolver duas ou mais técnicas (ÇENGEL; PALM III, 2014).
Classificação e validação de soluções de equações diferenciais 13

Nas equações diferenciais, buscam-se funções que satisfaçam a equação


em intervalos específicos. De modo análogo ao que ocorre nas equações
algébricas, em que um valor encontrado como solução pode não ser o único,
as equações diferenciais possuem múltiplas soluções, que contêm pelo menos
uma constante arbitrária (ÇENGEL; PALM III, 2014). Sendo assim, de acordo
com Çengel e Palm III (2014), qualquer função que satisfaça uma equação
diferencial em um intervalo é chamada de solução da equação diferencial.
Já uma solução que possui uma ou mais constantes arbitrárias e representa
uma família de funções que satisfazem a equação diferencial é denominada
solução geral da equação.
Outro aspecto importante é que, em álgebra, um número é considerado
solução da equação se ele satisfaz a equação. Por exemplo, x1 = 5 é uma solu-
ção da equação x3 − 125 = 0, pois a substituição da variável x pelo número 5
resulta em um valor nulo. O mesmo raciocínio pode ser feito para as equações
diferenciais, ou seja, a função é solução de uma equação diferencial se conduz
à identidade quando a substituímos na equação diferencial (ÇENGEL; PALM
III, 2014).

Exemplo 1: solução de uma equação diferencial


Mostre que y1 = 3e–2x é solução da equação diferencial yʹʹ – 4y = 0.

Solução:
A função dada será solução da equação diferencial se sua derivada se-
gunda for subtraída do resultado do produto de 4 por essa mesma função e o
resultado for igual a zero. As derivadas primeira e segunda da função dada
são, respectivamente, yʹ1 = –6e–2x e yʹʹ1 = 12e–2x. Dessa forma, temos yʹʹ – 4y
= 12e–2x – 4(3e–2x) = 0. Com base nisso, pode-se afirmar que y1 é solução da
equação diferencial.

Exemplo 2: solução geral de uma equação diferencial


Mostre que y1 = Cxe2x + 2x – 3 é solução da equação diferencial yʹʹ – 4yʹ + 4y
= 8x – 20, independentemente do valor da constante arbitrária C.
14 Classificação e validação de soluções de equações diferenciais

Solução:
A primeira e a segunda derivadas de y1 = Cxe2x + 2x – 3 são:

Dessa forma, temos

Portanto, y1 é a solução da equação diferencial, independentemente do valor


de C. Trata-se de uma solução geral, pois ela possui uma constante arbitrária
(ÇENGEL E PALM III, 2014, p. 19).
Anton, Bivens e Davis (2014) mostram que uma função y = y(x) é uma
solução de uma equação diferencial em um intervalo aberto se a equação
estiver satisfeita identicamente no intervalo quando y e suas derivadas forem
substituídas na equação. Suponha que y = e2x é uma solução da equação
diferencial – y = e2x no intervalo (–∞, +∞), pois, substituindo-se y e suas
derivadas no lado esquerdo dessa equação, obtém-se:

com qualquer valor real de x. No entanto, essa não é a única solução em


(–∞, +∞). Observe que a função y = e2x + Cex também é uma solução com
qualquer valor real da constante C, pois
Classificação e validação de soluções de equações diferenciais 15

Sendo assim, depois de se desenvolverem algumas técnicas de solução de


equações, como a dada em – y = e2x, é possível mostrar que todas as soluções
dessa equação em (–∞, +∞) podem ser obtidas substituindo-se a constante C
em y = e2x + Cex por outros valores.
Chamamos de curva integral da equação o gráfico de uma solução de uma
equação diferencial. A Figura 3 mostra algumas curvas integrais de – y =
e2x que foram obtidas atribuindo-se valores para a constante arbitrária de
y = e2x + Cex. Como se pode perceber, a solução geral de uma equação diferen-
cial vai produzir uma família de curvas integrais correspondentes a diferentes
escolhas para as constantes arbitrárias (ANTON; BIVENS; DAVIS, 2014).

Figura 3. Curvas integrais de – y = e2x.


Fonte: Anton, Bivens e Davis (2014, p. 562).

De acordo com Anton, Bivens e Davis (2014), em se tratando de problemas


aplicados que envolvam equação diferencial, normalmente existem condições
no problema que determinam os valores específicos para as constantes arbitrá-
rias. Toma-se como regra que são necessárias n condições para determinar os
valores de todas as n constantes arbitrárias na solução geral de uma equação
diferencial de ordem n.
16 Classificação e validação de soluções de equações diferenciais

Considerando-se uma equação de primeira ordem, a única constante arbi-


trária pode ser determinada especificando-se o valor da função desconhecida
y(x) em um ponto arbitrário x0 — por exemplo, y(x0) = y0. Isso é chamado de
condição inicial, e denomina-se problema de valor inicial de primeira ordem
quando se resolve uma equação de primeira ordem sujeita a uma condição
inicial. Geometricamente, a condição inicial y(x0) = y0 tem o efeito de isolar
a família completa de curvas integrais à curva integral que passa pelo ponto
(x0, y0) (ANTON; BIVENS; DAVIS, 2014). Veja a seguir alguns dos exemplos
propostos pelos autores envolvendo problemas de valor inicial.

Exemplo 3:
Encontre a solução do problema de valor inicial – y = e2x, y(0) = 3.

Solução:
A solução pode ser obtida pela substituição da condição inicial x = 0,
y = 3 na solução geral y = e2x + Cex, para encontrar C. Obtém-se:

3 = e0 + Ce0 = 1 + C

Assim, C = 2, e a solução do problema de valor inicial, obtida substituindo-


-se esse valor de C em y = e2x + Cex, é:

y = e2x + 2ex

Geometricamente, essa solução pode ser vista como a curva integral na


Figura 3 que passa pelo ponto (0,3).

Exemplo 4: crescimento populacional irrestrito


Um dos modelos mais simples de crescimento populacional está baseado na
observação de que, quando populações (pessoas, plantas, bactérias e moscas-
-das-frutas, por exemplo) não estão restritas por limitações ambientais, elas
tendem a crescer a uma taxa proporcional ao tamanho da população — quanto
maior for a população, mais rapidamente ela cresce.
Classificação e validação de soluções de equações diferenciais 17

Para traduzir esse princípio em um modelo matemático, suponha que


y = y(t) denote a população no instante t. A cada momento, a taxa de crescimento
populacional em relação ao tempo é . Portanto, a hipótese de que a taxa de
crescimento seja proporcional à população é descrita pela equação diferencial

onde k é uma constante de proporcionalidade positiva, que pode ser usualmente


determinada experimentalmente. Assim, se a população for conhecida em
algum instante, digamos, y = y0 em t = 0, então, a fórmula geral para a popu-
lação y(t) pode ser obtida resolvendo-se o problema de valor inicial (ANTON;
BIVENS; DAVIS, 2014, p. 563).

ANTON, H.; BIVENS, I.; DAVIS, S. Cálculo. 10. ed. Porto Alegre: Bookman, 2014. v. 2.
BOYCE, W. E.; DIPRIMA, R. C. Equações diferenciais elementares e problemas de valores de
contorno. 10. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2015.
BRONSON, R.; COSTA, G. B. Equações diferenciais. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2008.
(Coleção Schaum).
ÇENGEL, Y. A.; PALM III, W. J. Equações diferenciais. Porto Alegre: AMGH, 2014.
ZILL, D. G.; CULLEN, M. R. Matemática avançada para engenharia: equações diferenciais
elementares e transformada de Laplace. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2009. v. 1.
Dica do professor
As equações diferenciais permitem desenvolver modelos para explicar diversos cenários ou
eventos, seja em Física, Engenharia, Química, Estatística, Biologia, etc. Contudo, as equações que
resultam de uma aplicação específica podem ser muito complexas e, às vezes, até não
solucionáveis.

Uma equação linear é mais fácil de resolver. Um exemplo aplicado é a Segunda Lei do Movimento
de Newton. Já as equações não lineares são difíceis de resolver. Como exemplo, podemos
mencionar a equação de Navier-Stokes, a equação de Euler na dinâmica de fluidos e as equações
de campo de Einstein de relatividade geral.

Entenda mais sobre as equações lineares e não lineares nesta Dica do Professor.

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Exercícios

1) Uma equação diferencial pode conter muitas derivadas, de várias ordens, de uma função
desconhecida. Além disso, uma equação diferencial pode ser classificada quanto ao tipo
(EDO ou EDP), à ordem (primeira, segunda, terceira, ...) e à linearidade (linear ou não linear).

Nesse contexto, determine qual das equações diferenciais dadas é de terceira ordem e não
linear, assinalando a alternativa que contém a resposta correta:

A) y'' + 3y = 0.

B) y''' + 3y = 2x + 5.

C) y'' + 3yy' = 0.

D) y''' + 2(y')2 + 3y = 5.

E) y''+ 3x4y = 0.

2) As equações diferenciais são importantes para a modelagem matemática, pois permitem


modelar determinadas situações práticas da Física, da Biologia, da Engenharia, entre outras
áreas do conhecimento.

Nesse contexto, determine qual dos modelos a seguir pode representar um modelo de
crescimento populacional, assinalando a alternativa que contém a resposta correta:

A) P'(t) = kP(t).

B) TF = 32 + 1,8TC.

C) PV = nRT.

D) Confira a alternativa d:

Clique aqui

E) Confira a alternativa e:
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3) As equações diferenciais podem ser classificadas quanto ao tipo (equação diferencial


ordinária [EDO] ou equação diferencial parcial [EDP]), à ordem (primeira, segunda, terceira,
...) e à linearidade (linear ou não linear). Assim, classifique a equação

sob esses três aspectos, assinalando a alternativa que contém a resposta correta:

A) EDO; terceira ordem; linear.

B) EDP; segunda ordem; linear.

C) EDO; segunda ordem; não linear.

D) EDO; terceira ordem; não linear.

E) EDP; segunda ordem; não linear.

4) Os modelos matemáticos podem ser imaginados como equações, e, por meio de equações
diferenciais, muitos problemas práticos podem ser solucionados. No entanto, é importante
analisar o comportamento da equação para decidir se ela atende a determinada necessidade
prática. Propõe-se, aqui, a análise do comportamento de uma equação. Considere a equação
diferencial

Quanto ao comportamento de y em y=1 e y=2, é correto afirmar que:

A) y está diminuindo.

B) y está aumentando.

C) y não existe.

D) y é indeterminado.
E) y é uma constante.

5) Uma equação diferencial ordinária de ordem n que envolva as variáveis y e x pode ser
expressa da seguinte forma:

assumindo que y = y(x). Isso mostra, genericamente, que existe relação entre as variáveis
que figuram como argumento da função real F, relação esta que constitui uma equação
diferencial. Assim, uma solução dessa equação diferencial é qualquer relação entre as
variáveis x e y que não contenha derivadas e que verifique a equação

Nesse contexto, verifique qual das equações a seguir é uma solução da equação diferencial

A) y(x) = x2 - 2.

B) y(x) = -x2.

C) y(x) = x3.

D) y(x) = x2.

E) y(x) = 2x2.
Na prática
Existem diversos problemas que podem ser solucionados por meio de equações diferenciais, como
problemas de crescimento e decaimento, de temperatura, de queda de corpos, de diluição, de
circuitos elétricos, entre vários outros. Dominar essa parte do conhecimento matemático abre um
leque de alternativas para a solução de problemas práticos dos mais variados.

Assim, o conhecimento de seus conceitos, classificações e soluções permite dar um passo à frente
para compreender as situações que surgem e que podem ter sua solução por meio de equações
diferenciais. A economia é uma área do conhecimento que faz uso constante de equações
diferenciais.

Neste Na Prática, você vai ver o estudo de um problema econômico por meio das equações
diferenciais.
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Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:

Introdução às equações diferenciais


Neste vídeo, o professor inicia definindo e classificando as equações diferenciais de acordo com
suas características principais, para que no futuro seja possível aplicar o melhor método ou a
técnica mais adequada para sua resolução. Além de apresentar os conceitos teóricos, o professor
apresenta vários exemplos para esclarecer cada um dos pontos teóricos discutidos.

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A função é solução da equação diferencial ordinária?


Neste vídeo, você verá como reconhecer se uma função dada é solução de determinada equação
diferencial. A professora inicia fornecendo dicas importantes sobre como realizar o
desenvolvimento do problema. Os cálculos são realizados em detalhes, com dicas e destaque ao
significado das etapas que vão sendo solucionadas. O exemplo é finalizado mostrando que a função
é solução da equação diferencial ordinária para quaisquer valores de constante.

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Equações diferenciais: função solução de uma ED


Neste vídeo, você verá vários exemplos em que será verificado se as funções dadas constituem
soluções das respectivas equações diferenciais. Os desenvolvimentos são realizados passo a passo,
com explicações a cada etapa, de forma que você compreenda o que está sendo feito para chegar à
resposta final. O vídeo ajuda a ampliar o conhecimento e a exercitar com exemplos bem
direcionados.
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Lista de exercícios
Para aprender equações diferenciais, é importante que você treine fazendo diversos exercícios.
Para tanto, baixe a lista de exercícios a seguir e resolva as questões.

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