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Equações diferenciais parciais

Apresentação
As equações diferenciais parciais estão presentes em muitos fenômenos que ocorrem na ótica, na
eletricidade, na ondulatória, no magnetismo, na mecânica, na biologia, entre tantos outros. Na
maioria das vezes, faz-se a tentativa de transformar a equação diferencial parcial em uma ou mais
equações diferenciais ordinárias, com a finalidade de simplificar os trabalhos na obtenção da
solução do problema.

Uma equação diferencial ordinária tem derivadas de apenas uma variável, enquanto uma equação
diferencial parcial tem derivadas parciais da função incógnita. Leis físicas como: leis de Newton
para o resfriamento dos corpos, equações de Maxwell, equações de Navier-Stokes e equações da
mecânica quântica de Schrödinger são escritas por equações diferenciais parciais que relacionam o
espaço e suas derivadas com o tempo. Cabe destacar que nem todas as equações podem ser
construídas a partir de modelos matemáticos reais, mas o estudo de modelos é fundamental para
explicar como e porquê funcionam muitas equações diferenciais parciais.

Para que você possa acompanhar adequadamente esta Unidade, é necessário que conheça
conceitos básicos de álgebra, equações algébricas, além de conceitos envolvendo
derivadas, integrais e equações diferenciais, pois precisará recordar algumas propriedades e
teoremas.

Nesta Unidade de Aprendizagem, você verá a distinção entre equações diferenciais ordinárias e
parciais, bem como problemas envolvendo tais equações.

Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Distinguir equações diferenciais ordinárias e parcial.


• Reconhecer a solução de uma equação diferencial parcial.
• Resolver problemas envolvendo equações diferenciais parciais.
Desafio
A solução de uma equação diferencial parcial em alguma região R do espaço das variáveis
independentes é uma função que tem todas as derivadas parciais envolvidas na equação diferencial
parcial em algum domínio D contendo R, e que satisfaz a equação diferencial parcial em todo ponto
de R (KREYSZIG, 2013).

As equações diferenciais parciais (EDPs) são muito importantes em dinâmica, elasticidade,


transferência de calor, teoria eletromagnética e mecânica quântica. A modelagem com EDPs é mais
abrangente que a modelagem com equações diferenciais ordinárias (EDOs). Muitas EDPs são
deduzidas a partir da Física, sendo consideradas métodos de resolução de problemas de valor inicial
e de contorno, isto é, métodos para obter soluções que satisfaçam as condições exigidas pelas
situações físicas.

Considere a situação a seguir:


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Sendo assim, você deverá determinar as soluções u da seguinte equação diferencial parcial:

a) Determine soluções uxx - u = 0 que dependam de x e y.

b) Considere uxy = -ux , e determine soluções u = u(x, y) desta EDP.


Infográfico
Equação diferencial é toda equação que contém como incógnita funções e suas respectivas
derivadas de uma ou mais variáveis dependentes, em relação a uma ou mais variáveis
independentes.

Neste Infográfico, você vai ver a definição de equação diferencial ordinária e equação diferencial
parcial, com exemplos de equações diferenciais parciais.
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Conteúdo do livro
O estudo das equações diferenciais, de modo geral, oferece ferramentas importantes para analisar
matematicamente o mundo. Elas são utilizadas para descrever o comportamento populacional,
assim como resfriamento e aquecimento, queda livre com resistência do ar, problemas financeiros e
problemas envolvendo outros fenômenos, os quais são apenas alguns poucos exemplos do que é
possível resolver por meio das equações diferenciais.

No capítulo Equações diferenciais parciais, da obra Equações diferenciais, base teórica desta
Unidade de Aprendizagem, você vai ampliar os seus conhecimentos sobre algumas técnicas do
estudo das equações diferenciais parciais. Além disso, vai conhecer algumas das suas classificações
importantes.

Boa leitura.
EQUAÇÕES
DIFERENCIAIS

Cristiane da Silva
Equações diferenciais
parciais
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Distinguir equações diferenciais ordinárias e parciais.


„„ Reconhecer a solução de uma equação diferencial parcial.
„„ Resolver problemas envolvendo equações diferenciais parciais.

Introdução
As equações diferenciais podem ser divididas em parciais e ordinárias. As
equações diferenciais parciais, especificamente, têm fundamental impor-
tância para a ciência e a engenharia, por exemplo. Além disso, existem
alguns modelos matemáticos que envolvem equações diferenciais, com
diferentes métodos de resolução.
Neste capítulo, você estudará a respeito das equações diferenciais
parciais. Além disso, conhecerá o método de separação de variáveis,
importante para resolver equações diferenciais parciais, com grande
aplicação. Por fim, verá exemplos de resoluções de problemas envolvendo
equações diferenciais parciais.

1 Equações diferenciais: ordinárias e parciais


A equação diferencial é aquela que envolve uma ou mais derivadas de uma
função desconhecida. Anton, Bivens e Davis (2014) denotam essa função
desconhecida por y = y(x). A ordem da equação diferencial é a ordem da maior
derivada que ocorre na equação, como pode ser observado no Quadro 1.
2 Equações diferenciais parciais

Quadro 1. Exemplos de equações diferenciais de acordo com a ordem da derivada de


maior grau

Equação diferencial Ordem

As equações diferenciais podem ser classificadas em ordinárias e parciais.


De acordo com Boyce e Diprima (2017), uma classificação importante con-
siste em verificar se a função desconhecida depende de uma única variável
independente ou de várias variáveis independentes. Na primeira situação,
aparecem apenas derivadas simples na equação diferencial, denominada
equação diferencial ordinária. Já na segunda situação, as derivadas são parciais,
de modo que a equação é denominada equação diferencial parcial.
Observe, a seguir, um exemplo de equação diferencial ordinária:

Para a carga Q(t) em um capacitor em um circuito com capacitância C, re-


sistência R e indutância L. Boyce e Diprima (2017) também reportam exemplos
comuns de equações diferenciais parciais, como a equação do calor:
Equações diferenciais parciais 3

E a equação da onda:

onde α2 e ∂2 são certas constantes físicas. Observe que, em ambas as equações


— do calor e da onda —, a variável dependente u depende de duas variáveis
independentes, x e t. A equação do calor descreve a condução de calor em um
corpo sólido, ao passo que a equação da onda aparece em uma variedade de
problemas envolvendo movimento ondulatório em sólidos de fluidos (BOYCE;
DIPRIMA, 2017).
Boyce e Diprima (2017) destacam outra classificação importante em equa-
ções diferenciais: se elas são ou não lineares. A equação ordinária F(t, y, y', …,
y(n)) = 0 é dita linear se F for uma função linear das variáveis y, y', …, y(n); uma
definição análoga se aplica às equações diferenciais parciais. Dessa forma, a
equação diferencial ordinária linear geral de ordem n é:

Tudo o que for diferente da forma desta equação, é dito uma equação
não linear. Já a equação é uma equação diferencial
ordinária linear, ao passo que as equações são
equações diferenciais parciais lineares (BOYCE; DIPRIMA, 2017).
Outra classificação das equações diferenciais depende do número de fun-
ções desconhecidas.

Observe o exemplo de um problema físico que leva a uma equação diferencial não
linear, o problema do pêndulo. O ângulo θ que um pêndulo de comprimento L oscilando
faz com a direção vertical, como pode ser observado na Figura 1, satisfaz a equação:
4 Equações diferenciais parciais

A presença do termo envolvendo sen θ torna a equação não linear.

Figura 1. Um pêndulo oscilando.


Fonte: Boyce e Diprima (2017, p. 18).

Enquanto a teoria matemática e os métodos para resolver equações lineares estão


bastante desenvolvidos, a teoria para equações não lineares é mais complicada, e os
métodos de resolução são menos satisfatórios. Portanto, é desejável que os problemas
levem a equações diferenciais ordinárias lineares ou que possam ser aproximados
por equações lineares. Por exemplo, para o pêndulo, se o ângulo θ for pequeno,
então sen θ ≅ θ, e a equação pode ser aproximada pela equação linear
. Esse processo de aproximar uma equação não linear por uma linear é
chamado de linearização e é extremamente útil para tratar equações não lineares
(BOYCE; DIPRIMA, 2017).

Na prática, pode-se encontrar problemas que são modelados por mais de uma equação
diferencial, os chamados sistemas de equações diferenciais. Para saber mais sobre
esse assunto, consulte o capítulo 1 da obra Equações diferenciais elementares e problemas
de valores de contorno, de Boyce e Diprima (2017).
Equações diferenciais parciais 5

Como visto, a equação diferencial parcial é uma equação que envolve duas
ou mais variáveis independentes (x, y, z, t, …) e derivadas parciais de uma
função incógnita (a variável dependente que se deseja determinar) u ≡ u(x, y,
z, t, …). Além disso, a ordem de uma equação diferencial parcial é a ordem
da derivada parcial de maior ordem que surge na equação.
A solução de uma equação diferencial parcial é uma função que verifica
identicamente essa equação. Cabe destacar que a forma geral de uma equação
diferencial parcial de segunda ordem linear em duas variáveis independentes
x e y é dada por:

onde A, B, C, D, E, F e G são funções de x e y.


Quando G(x, y) = 0, a equação é dita homogênea, caso contrário, é não
homogênea. Outro ponto importante é que, se os coeficientes A, B, C, D, E e
F são constantes reais G(x, y) = 0 a equação diferencial parcial é dita:

„„ Hiperbólica: se B2 – 4AC > 0. Um exemplo é a equação unidimensional


da onda:

„„ Parabólica: se B2 – 4AC = 0. Um exemplo é a equação do calor:

„„ Elíptica: se B2 – 4AC < 0. Um exemplo é a equação de Laplace:

Na próxima seção, você vai ver que, em diversos problemas importantes,


existem duas ou mais variáveis independentes, que levam a modelos mate-
máticos envolvendo equações diferenciais parciais, em vez de ordinárias.
6 Equações diferenciais parciais

2 Equações diferenciais parciais: integração


básica e separação de variáveis
Existem duas técnicas de solução para as equações diferenciais parciais:
a integração básica e a separação de variáveis. Observe, a seguir, alguns
exemplos envolvendo o método de resolução por integração.

Exemplo 1
Seja u = u(x, y). Por integração, determine a solução geral para ux = 0.
Determina-se a solução por integração parcial, assim como a técnica aplicada para
resolver equações exatas. Logo, u(x, y) = f(y), onde f(y) é qualquer função diferenciável
de y. Essa equação pode ser escrita simbolicamente como:

Observe que um “+C” não é necessário, pois essa constante é “absorvida” em f(y);
isto é, f(y) é a “constante” mais geral em relação a y.

Exemplo 2
Seja u(x, y, z). Por integração, determine a solução geral para ux = 0.
Aqui, observa-se, por inspeção, que a solução pode ser escrita como f(y, z).

Exemplo 3
Seja u = u(x, y). Por integração, determine a solução geral para uxy = 2x.
Ao integrar primeiro em relação a y, tem-se ux = 2xy + f(x), onde f(x) é qualquer
função diferenciável de x. Em seguida, ao integrar ux em relação a x, obtém-se
u(x, y) = x2y + g(x) + h(y), onde g(x) é uma antiderivada de f(x) e h(y) é qualquer função
diferenciável de y. Observe que, se a equação diferencial parcial for escrita como
uyx = 2x, o resultado será o mesmo.
Fonte: Bronson e Costa (2008, p. 320).

Outro método importante para resolver equações diferenciais parciais é


conhecido como método de separação de variáveis, cuja principal característica
é a substituição da equação diferencial parcial por um conjunto de equações
diferenciais ordinárias, que devem ser resolvidas sujeitas a condições iniciais
ou de contorno (BOYCE; DIPRIMA, 2017).
Equações diferenciais parciais 7

Hauser (2019) explica que, para resolver uma equação diferencial parcial
por separação de variáveis, supõe-se que uma solução pode ser expressa como
o produto de duas funções desconhecidas, em que uma delas é função de
apenas uma das variáveis independentes, e a outra, das restantes. A equação
resultante escreve-se de modo a que um dos membros dependa apenas de uma
das variáveis, e o outro, das variáveis restantes. Sendo assim, cada um dos
membros terá de ser uma constante, o que permite determinar as soluções.

Observe o detalhamento feito por Boyce e Diprima (2017).


A hipótese a considerar é a de que u(x, t) é um produto de duas outras funções, uma
dependendo somente de x e a outra dependendo somente de t. Assim,

Substituindo u, dado pela equação anterior, na equação diferencial α2uxx = ut, 0 <
x < L, t > 0, obtém-se:

onde a linha se refere à diferenciação geral em relação à variável independente, seja


ela x ou t. A equação α2 X''T = XT' é equivalente a:

onde as variáveis estão separadas, ou seja, a expressão à esquerda do sinal de igualdade


depende apenas de x, e a expressão à direita, apenas de t.
É crucial compreender que, para que a equação seja válida para 0 < x
< L, t > 0, é preciso que ambos os lados da equação sejam iguais à mesma constante.
Caso contrário, mantendo-se uma variável independente fixa (p. ex., x) e variando à
outra, um lado da equação (o esquerdo, nesse caso) permaneceria constante, ao passo
que o outro estaria variando, o que viola a igualdade. Se essa constate de separação
for denotada por –λ, então a equação fica:
8 Equações diferenciais parciais

Obtém-se, então, as duas equações diferenciais ordinárias a seguir para X(x) e T(t),
respectivamente:

A constante de separação foi denotado por –λ (em vez de λ) porque essa constante
será negativa, de modo que é conveniente exibir o sinal de menos explicitamente.
Portanto, o produto de duas soluções das equações X'' + λX = 0 e T' + α2 λT = 0, respec-
tivamente, fornece uma solução da equação diferencial parcial α2uxx = ut, 0 < x < L, t > 0.

Conforme Boyce e Diprima (2017), muitas aplicações físicas levam a um


problema no qual o valor da variável dependente y, ou de sua derivada, é
especificado em dois pontos diferentes. Essas condições são denominadas
condições de contorno. Uma equação diferencial, junto a uma condição de
contorno apropriada, forma um problema de valores de contorno com dois
pontos. Para um melhor entendimento, serão resolvidos exemplos de problemas
de contorno com equações diferenciais ordinárias antes de abordar exemplos
com parciais.

Considere a equação diferencial y'' + p(x)y' + q(x)y = g(x) com as condições de contorno
y(α) = y0, y(β) = y1. A ocorrência natural de problemas de valores de contorno envolve,
em geral, uma coordenada espacial como variável independente, de modo que se usa
x, em vez de t, nas equações y'' + p(x)y' + q(x)y = g(x) e y(α) = y0, y(β) = y1.
Para resolver o problema de valores de contorno, é preciso encontrar uma função
y = ∅(x) que satisfaça à equação diferencial no intervalo α < x < β e assuma os valores
especificados y0 e y1 nos extremos do intervalo. De modo geral, procura-se primeiro
a solução geral da equação diferencial e, depois, utiliza-se as condições de contorno
para determinar os valores das constantes arbitrárias.
Uma classificação importante de problemas de valores de contorno lineares é se estes
são homogêneos ou não. Se a função g é um valor nulo para todo x e se os valores y0
e y1 também são nulos, então o problema y'' + p(x)y' + q(x)y = g(x) e y(α) = y0, y(β) = y1
é dito homogêneo. Caso contrário, o problema é não homogêneo.
Equações diferenciais parciais 9

Cabe destacar que os problemas de valor inicial em que se utiliza apenas o valor
inicial α, sob condições relativamente fracas, têm, certamente, uma única solução. Por
outro lado, os problemas de valores de contorno em que se utiliza os extremos do
intervalo, ou seja, α e β, sob condições semelhantes, podem ter uma única solução, mas
podem, também, não ter solução ou, em alguns casos, ter uma infinidade de soluções.

Exemplo 1
Resolva o problema de valores de contorno y'' + 2y = 0, y(0) = 1, y(π) = 0. A solução
geral da equação diferencial é . Para que a primeira
condição de contorno seja satisfeita, é preciso que c1 = 1. A segunda condição de
contorno implica que:

Como c1 = 1tem-se que:

Isolando c2 tem-se que:

de modo que .
Logo, a solução do problema de valores de contorno y'' + 2y = 0, y(0) = 1, y(π) = 0 é:

Esse exemplo ilustra o caso de um problema de valores de contorno não homogêneo


com uma única solução.

Exemplo 2
Resolva o problema de valores de contorno y'' + y = 0, y(0) = 1, y(π) = a, em que a é
um número dado. A solução geral dessa equação diferencial é y = c1 cos x + c2 sen x,
e, da primeira condição de contorno, observa-se que c1 = 1. A segunda condição
de contorno requer que –c1 = a. Essas duas condições sobre c1 são incompatíveis se
a ≠ –1, de modo que o problema não tem solução nesse caso. Contudo, se a = –1, então
ambas as condições de contorno são satisfeitas, desde que c1 = 1, independentemente
do valor de c2. Nesse caso, existe uma infinidade de soluções, todas elas da forma:

onde c2 permanece arbitrário.


Esse exemplo ilustra o fato de que um problema de valores de contorno não ho-
mogêneo pode não ter solução, ou, sob condições especiais, pode ter uma infinidade
de soluções.
10 Equações diferenciais parciais

Correspondendo ao problema de valores de contorno não homogêneo y'' + p(x)


y' + q(x)y = g(x), y(α) = y0, y(β) = y1, existe um problema homogêneo, que consiste
na equação diferencial y'' + p(x)y' + q(x)y = 0 e nas condições de contorno y(α) = 0,
y(β) = 0. Observe que esse problema tem solução y = 0 para todo x, independentemente
dos coeficientes p(x) e q(x).

Exemplo 3
Resolva o problema de valores de contorno y'' + 2y = 0, y(0) = 0, y(π) = 0. A solução
geral da equação diferencial é . A primeira condição de
contorno requer que c1 = 0, ao passo que a segunda condição de contorno implica
que . Como , segue que c2 = 0. Em consequência,
y = 0 para todo x é a única solução do problema de valores de contorno y'' + 2y = 0,
y(0) = 0, y(π) = 0.
Esse exemplo ilustra o fato de que um problema de valores de contorno homogêneo
pode ter somente uma solução trivial y = 0.

Exemplo 4
Resolva o problema de valores de contorno y'' + y = 0, y(0) = 0, y(π) = 0. A solução
geral da equação diferencial é y = c1 cos x + c2 sen x. A primeira condição de contorno
requer que c1 = 0. Como sen π = 0, a segunda condição de contorno é satisfeita
independentemente do valor de c2. Logo, a solução do problema y'' + y = 0, y(0) = 0,
y(π) = 0 é y = c2 sen x, em que c2 permanece arbitrário.
Esse exemplo ilustra o fato de que um problema de valores de contorno homogêneo
pode ter uma infinidade de soluções.
Fonte: Boyce e Diprima (2017, p. 488–490).

Exemplo 5
Resolva:

Considera-se:

Então,
Equações diferenciais parciais 11

Como X é função somente da variável x, e Y, da variável y, cada termo da última


igualdade deve ser constante K, dita constante de separação. Obtém-se, então, duas
equações diferenciais ordinárias:

Assim,

Aplicando a condição u(x, 0) = 5e–x, obtém-se que:

A solução procurada é .
Fonte: Hauser (2019, documento on-line).

Exemplo 6
Um típico problema com condições iniciais e de contorno para uma equação diferencial
parcial do calor é:

Fonte: Sodré (2003, documento on-line).

Observe que os exemplos apresentados ilustram que a relação entre pro-


blemas de valores de contorno homogêneos e não homogêneos é a mesma que
existe entre sistemas algébricos lineares homogêneos e não homogêneos. Um
problema de valores de contorno não homogêneo, como visto no Exemplo 1,
tem uma única solução, ao passo que o problema homogêneo correspondente,
como visto no Exemplo 3, só tem uma solução trivial. Outro ponto a destacar é
que um problema não homogêneo, como visto no Exemplo 2, não tem solução
ou tem uma infinidade de soluções, ao passo que o problema homogêneo
correspondente, como visto no Exemplo 4, tem soluções não triviais (BOYCE;
DIPRIMA, 2017).
12 Equações diferenciais parciais

3 Problemas envolvendo equações


diferenciais parciais
Nesta seção, você verá exemplos de aplicações envolvendo equações diferen-
ciais parciais, em que há uma variedade de aplicações na física.

Antes de partir para os exemplos, convém explicar o que é a condução de calor em


regime transiente. Muitos problemas de transferência de calor são dependentes
do tempo, são problemas não estacionários ou transientes, que surgem quando as
condições de contorno de um sistema são mudadas. Por exemplo, se a temperatura
superficial de um sistema for alterada, a temperatura em cada ponto desse sistema
também começará a mudar. Essas mudanças continuarão até que uma distribuição
de temperaturas estacionárias seja alcançada (UNISINOS, 2016).
O comportamento da temperatura depende do tempo e da posição no sólido e
ocorre em muitos processos industriais de aquecimento e resfriamento. O problema
transiente pode ser resolvido por meio de duas análises, considerando-se que: a
variação de temperatura no interior do sólido é desprezível (variação com a posição)
e somente há variação com o tempo T(t); a variação da temperatura no sólido ocorre
com a posição e o tempo T(x, t) (UNISINOS, 2016).

Exemplo 1
Resolva o problema de condução de calor transiente em uma placa:

Considera-se:

Então,
Equações diferenciais parciais 13

O sinal negativo da constante de separação K2 garante que a solução T(t) decairá


com o tempo. Obtém-se, então, duas equações diferenciais ordinárias:

Assim,

Considerando A = CC1, B = CC2, escreve-se:

Contudo, aplicando as condições de contorno, obtém-se que:

Assim, é uma solução da equação dada e também é:

Ao aplicar a condição inicial u(x, 0) = 5 sen (4πx) –3 sen (8πx) + 2 sen (10πx), obtém-se
n = 12 → B12 = 5, n = 24 → B24 = –3 e, n = 24 → B30 = 2 e Bn = 0 para n ≠ 5, n ≠ 24, n ≠ 30.
Portanto, a solução do problema de condução de calor transiente dado é:

Fonte: Hauser (2019, documento on-line).


14 Equações diferenciais parciais

Exemplo 2
Resolva o problema do fluxo de calor:

A solução do problema é a seguinte:

De acordo com os dados do enunciado, β = 3, L = π e f(x) = sen (x) –7 sen (3x) + sen
(5x). Substituindo β em L, obtém-se que:

Agora, substituindo t por zero e comparando com a função do enunciado do pro-


blema, obtém-se que:

Em seguida, é preciso determinar os valores dos coeficientes Cn de modo que a


equação seja verdadeira. Ao expandir o somatório e comparar os senos de cada lado
da equação, percebe-se que as únicas constantes não nulas são C1, C3 e C5:

Portanto, C1 = 1, C3 = –7 e C5 = 1. Substituindo esses valores, obtém-se que:

Fonte: Imateel (2017, documento on-line).


Equações diferenciais parciais 15

Portanto, como visto, no contexto de equações diferenciais, o termo


“modelagem”, proveniente da matemática, significa encontrar uma equação
diferencial que descreva uma situação física dada.

ANTON, H.; BIVENS, I.; DAVIS, S. Cálculo. 10. ed. Porto Alegre: Bookman, 2014. v. 2.
BOYCE, W. E.; DIPRIMA, R. C. Equações diferenciais elementares e problemas de valores de
contorno. 10. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2017.
BRONSON, R.; COSTA, G. B. Equações diferenciais. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2008.
HAUSER, E. B. Exemplos de equações diferenciais parciais. [2019]. Disponível em: http://
www.clicmates.com.br/arquivosparadonwloads/EDP%20Exerc%C3%ADcios.pdf. Acesso
em: 17 jan. 2020.
IMATEEL. Exercícios resolvidos: equações diferenciais parciais e séries de Fourier. 2017. Dis-
ponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ixdzyPwyfTc. Acesso em: 17 jan. 2020.
SODRÉ, U. Equações diferenciais parciais. 2003. Disponível em: http://www.uel.br/projetos/
matessencial/superior/pdfs/edp.pdf. Acesso em: 17 jan. 2020.
UNISINOS. Transferência de calor: condução de calor em regime transiente. 2016. Dis-
ponível em: http://professor.unisinos.br/mhmac/Transcal/Conducao%20transiente.
pdf. Acesso em: 17 jan. 2020.

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Dica do professor
Muitos problemas físicos importantes estão associados a duas ou mais variáveis independentes, de
modo que o modelo matemático correspondente para solucionar esses problemas
envolve equações diferenciais parciais.

Nesta Dica do Professor, você vai retomar conceitos importantes sobre as EDPs.

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Exercícios

1) Em equações diferenciais parciais, o espaço das variáveis independentes é multidimensional.


Quando são impostas condições sobre o valor da solução e de suas derivadas no bordo da
região, tem-se um problema de valores de contorno, ou simplesmente problema de
contorno.

Sendo assim, considere o problema de valores de contorno y" + 2y = 0, y(0) = 0, y(π) = 0 e


encontre a solução, assinalando a alternativa que contém a resposta correta.

A) y = e2x

B) y=0

C) y=1

D) y = 2π

E) O problema não tem solução.

2) Aplicações físicas levam, muitas vezes, a um tipo de problema, no qual o valor da variável
dependente y, ou de sua derivada, é especificado em dois pontos diferentes. Tais condições
são denominadas condições de contorno, para distingui-las das condições iniciais que
especificam os valores de y e de yʹ no mesmo ponto. Uma equação diferencial junto com
uma condição de contorno apropriada forma um problema de valores de contorno com dois
pontos.

Sendo assim, considere o problema de valores de contorno y" + y = 0, y(0) = 0, y(π) = 0


e encontre a solução, assinalando a alternativa que contém a resposta correta.

A) Solução única y = 0.

B) Infinidade de soluções da forma y = c1 tan x, c1 arbitrário.

C) x = 1.

D) O problema não tem solução.

E) Infinidade de soluções da forma y = c2 sin x, c2 arbitrário.


3) Se uma função u(x, y, z, ...) for suficientemente diferenciável, é possível verificar se é uma
solução simplesmente diferenciando u o número de vezes que for necessário em relação às
variáveis apropriadas; substitui-se, então, essas expressões na equação diferencial parcial.
Se uma identidade for obtida, então u soluciona a equação diferencial parcial. Uma técnica
de solução é a integração básica.

Neste contexto, considere u = u(x, y), por integração, determine a solução geral de ux = 2x, e
assinale a alternativa que contém a resposta correta.

A)
A solução geral é .

B)
A solução geral é .

C)
A solução geral é .

D)
A solução geral é .

E) O problema não tem solução.

4) Se uma função u(x, y, z, ...) for suficientemente diferenciável, é possível verificar se é uma
solução simplesmente diferenciando u o número de vezes que for necessário em relação às
variáveis apropriadas; substitui-se, então, essas expressões na equação diferencial parcial.
Se uma identidade for obtida, então u soluciona a equação diferencial parcial. Uma técnica
de solução é a integração básica.

Neste contexto, considere u = u(x, y), por integração, determine a solução geral de ux = 2x,
u(0, y) = In y, e assinale a alternativa que contém a resposta correta.

A) A solução geral é u(x, y) = -x2 + In 1.

B) A solução geral é u(x, y) = x2.

C) A solução geral é u(x, y) = x2 + In y.

D) O problema não tem solução.

E) A solução geral é u(x, y) = 2x + In y.


5) Se uma função u(x, y, z, ...) for suficientemente diferenciável, é possível verificar se é uma
solução simplesmente diferenciando u o número de vezes que for necessário em relação às
variáveis apropriadas; substitui-se, então, essas expressões na equação diferencial parcial.
Se uma identidade for obtida, então u soluciona a equação diferencial parcial. Uma técnica
de solução é a integração básica.

Neste contexto, considere u = u(x, y), por integração, determine a solução geral de uy = 2x, e
assinale a alternativa que contém a resposta correta.

A) A solução geral é -x2y + g(x).

B) A solução geral é x2y + g(x).

C) O problema não tem solução.

D) A solução geral é 2xy + g(x).

E) A solução geral é 2y - g(x).


Na prática
A modelagem matemática pode ser definida como um processo dinâmico que envolve,
respectivamente, três estágios: um problema prático que recebe uma formulação matemática,
conhecida como modelo matemático; o modelo matemático é analisado ou resolvido usando
métodos da álgebra, do cálculo ou da estatística, entre outros, assim como métodos numéricos
baseados em calculadoras ou computadores; a solução do modelo matemático é interpretada em
termos do problema prático original. As equações diferenciais parciais têm diversas aplicações na
Física, na Engenharia, na Matemática, etc.

Neste Na Prática você vai ver o estudo de um problema da condução de calor por meio das
equações diferenciais.
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Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:

Equações diferenciais parciais elípticas são tema de pesquisa de


grupo da UFSCar
Neste vídeo, o professor explica a importância das equações diferenciais parciais elípticas na
ciência. Alguns métodos utilizados são mencionados e discutidos pelo professor de forma a
justificar seu uso. Veja a seguir.

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Equação do calor
Neste vídeo, você vai ver uma aplicação do método de separação de variáveis para resolver uma
equação diferencial parcial sujeita a condições iniciais e de contorno. O problema em questão é o
do calor em uma barra unidimensional com extremidades isoladas, isto é, não há fluxo de calor nas
suas extremidades. Assim, a solução geral tem os coeficientes de uma série de Fourier de cossenos.
Confira.

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Equações diferenciais
Neste vídeo, o professor resolve um exercício que pede para verificar se uma função é ou não
solução para uma dada equação diferencial ordinária (EDO). Acompanhe.
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Resumão de equações diferenciais


Neste vídeo, você vai ver um resumo sobre a resolução de algumas equações diferenciais ordinárias
que tem uma variável e, em seguida, problemas de contorno que tem mais de uma variável. O
professor inicia retomando conceitos importantes, com dicas e lembretes de pontos fundamentais
para avançar no estudo das equações diferenciais. Diversos exemplos resolvidos são abordados em
detalhes para que você possa ampliar o seu conhecimento.

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Lista de exercícios
Para aprender equações diferenciais parciais, é importante que você exercite o conteúdo. Para
tanto, baixe a lista de exercícios a seguir e resolva as questões.

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