Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO
Considerando que o setor agropecuário é historicamente um dos setores principais da
economia brasileira (Carrara; Barros, 2020), bem como, a expansão recente da indústria de
alimentos processados no país (Canzian, 2024). O presente trabalho objetivou avaliar a
relevância desses setores para economia brasileira a partir da aplicação de metodologia de
análise de insumo-produto, inicialmente foram gerados os multiplicadores de produção,
emprego e renda, bem como os índices de ligação para frente e para trás, de modo a se situar
os setores objetos de análise, inclusive em termos de seus encadeamentos, na economia
brasileira, concluída essa etapa, realizaram-se as extrações hipotéticas pela ópticas das
compras e vendas para os setores componentes da agropecuária e da indústria de alimentos
processados. Como resultado, encontrou-se que a indústria de processamento de alimentos
apresenta mais encadeamentos relevantes e maior potencial de geração de produto, emprego e
renda na economia brasileira em relação à agropecuária.
1. Introdução
2. Metodologia
Por sua vez o multiplicador de renda indica a alteração de R$1,00 na demanda final
do setor j sobre a receita adquirida pelos indivíduos dos demais setores na economia.O
multiplicador é obtido da seguinte forma:
𝑙𝑗
rj = 𝑥𝑗
(9)
Onde:
rj é o coeficiente de geração de renda
lj é a renda gerada no setor j
xj é o VBP do setor j
Conforme evidenciado pelo multiplicador de emprego, para uma economia com
vários setores, considerando o coeficiente de geração de renda 𝑟, é estimado o seguinte vetor
𝑛𝑥1.
r’ = [r1, r2,...,r3] (10)
Se considerarmos uma matriz R de ordem n x n, em que os componentes do vetor r
estão na diagonal principal e zeros estão fora dela, a partir de R e B , é possível gerar uma
matriz MR de mesma ordem, ou seja, n x n.
MR = RB (11)
Cada elemento da matriz MR é entendido como a quantidade de renda gerada no
setor i para atender à produção direta e indireta do setor j em resposta a uma variação de R$
1,00 na demanda final pelo setor j.
3. Bases de dados
O trabalho foi realizado a partir da Matriz de Insumo Produto elaborada pelo Núcleo
de Economia Regional e Urbana da Universidade de São Paulo (NEREUS) para a economia
brasileira referente ao ano de 2018, realizada para 68 setores e 128 produtos, a partir de dados
das Contas Nacionais segundo a metodologia de estimação proposta por Guilhoto e Sesso
(2010) , bem como, Guilhoto e Sesso (2005). Cabe mencionar que já foi divulgada uma
Matriz de Insumo Produto para economia brasileira referente a ano mais recente, 2020,
entretanto considerando a atipicidade deste ano em virtude dos efeitos pandêmicos, optou-se
pelo uso da referente de 2018.
Em complemento, deve-se destacar que uma vez que a matriz apresentava número de
setores e produtos superior ao objeto de estudo, foi realizada agregação, como recomenda
Guilhoto (2011). Em complemento, sobre o processo de agregação, deve-se enfatizar que este
se vale método matricial de simples entendimento, em que se deve pré-multiplicar a matriz a
ser agregada por uma matriz de agregação, composta apenas de zeros e uns, caso o objetivo
seja agregar linhas, e de modo análogo, deve-se pós-multiplicar a matriz a ser agregada pela
matriz de agregação, caso o objetivo seja agregar colunas (Guilhoto, 2011).
Uma vez realizada a agregação, o trabalho considerou 16 setores, quais sejam: (a)
Agricultura, inclusive o apoio à agricultura e a pós-colheita; (b) Pecuária, inclusive o apoio à
pecuária; (c)Produção florestal; pesca e aquicultura; (d) Indústria Extrativa; (e) Abate e
produtos de carne, inclusive os produtos do laticínio e da pesca; (f) Fabricação e refino de
açúcar; (g) Outros produtos alimentares; (h) Fabricação de bebidas; (i) Automóveis; (j)
Eletrodomésticos; (k) Móveis; (l) Construção; (m) Indústria da Transformação; (n) Água,
Energia e Esgoto; (o) Serviços Privados; (p) Serviços Públicos.
Cabe destacar que buscando uma análise mais criteriosa, levando em conta o objetivo
proposto, resolveu-se por não analisar a agropecuária e a indústria de alimentos processados
agregadas, dessa forma, cabe destacar que estão considerados para fins de análise, como
componentes da agropecuária, os seguintes setores: (i)Agricultura, inclusive o apoio à
agricultura e a pós-colheita; (ii) Pecuária, inclusive o apoio à pecuária; (iii)Produção florestal;
pesca e aquicultura, e como componentes da indústria de alimentos processados, os seguintes
setores: (i) Abate e produtos de carne, inclusive os produtos do laticínio e da pesca; (ii)
Fabricação e refino de açúcar; (iii) Outros produtos alimentares; (i) Fabricação de bebidas.
4. Resultados e Discussões
Pela análise da tabela, verifica-se que os 4 setores com maior potencial de geração de
produto na economia, são: (a) Abate e produtos de carne, inclusive os produtos do laticínio e
da pesca; (b)Fabricação e refino de açúcar; (c) Outros produtos alimentares; (d) Automóveis;
(e) Fabricação de bebidas. Todos setores industriais, o que ratifica a literatura econômica, na
medida em que esta enxerga a indústria como atividade de maior agregação de valor, sendo
válido mencionar, que dos 5 maiores, 4 são justamente os componentes da indústria de
processamento de alimentos, alvo da análise, o que já explicita sua relevância para a
economia, e ratifica à literatura, que como explicitado na introdução, a vê com um dos setores
industriais de maior expansão e pujança do país. Ao passo que os 5 setores de menor
potencial de geração de produto são: (a) Produção florestal; pesca e aquicultura; (b) Serviços
Públicos; (c) Serviços Privados; (d) Ind. Extrativa; (e) Agricultura, inclusive o apoio à
agricultura e a pós-colheita. Portanto, novamente tem-se a confirmação da literatura, uma vez
que foram apontados setores de serviços e setores primários, atividades de menor agregação
de valor em relação à indústria, nesse sentido, cabe destacar a presença de 2 dos 3 setores
componentes da agropecuária.
No que diz respeito ao potencial de geração de renda, os 5 setores de maior destaque
são: (a) Fabricação e refino de açúcar; (b) Abate e produtos de carne, inclusive os produtos
do laticínio e da pesca; (c) Automóveis; (d) Outros produtos alimentares; (e) Ind.
Transformação; portanto, novamente verifica-se destaque maior a segmentos industriais, com
ênfase na indústria de alimentos processados. Ao passo que, os 5 setores de menor destaque
são: (a) Produção florestal; pesca e aquicultura; (b) Serviços Públicos; c) Serviços Privados;
(d) Agricultura, inclusive o apoio à agricultura e a pós-colheita; (e) Indústria Extrativa; ou
seja, novamente notam-se setores primários e terciários, confirmando a literatura.
No que concerne ao potencial de geração de empregos, os 5 setores de maiores
multiplicadores são: (a)Automóveis; (b) Ind. Extrativa; (c)Abate e produtos de carne,
inclusive os produtos do laticínio e da pesca; (d) Fabricação e refino de açúcar; (e)
Fabricação de bebidas, ou seja, novamente o grupo é formado apenas por setores da indústria
e o processamento de alimentos ganha notoriedade, dado que dos 5 setores, 3 são
componentes desse segmento. Quanto aos setores de menores multiplicadores, nota-se a
presença de: (a) Produção florestal; pesca e aquicultura; (b) Pecuária, inclusive o apoio à
pecuária; (c) Agricultura, inclusive o apoio à agricultura e a pós-colheita; (d) Serviços
Privados; (e) Serviços Públicos. Ou seja, como esperado o grupo se forma pelos setores de
serviços e por setores primários, mais precisamente, por todos os componentes da
agropecuária, o que tem aderência teórica, quando se observa a hipótese de mecanização do
campo, amplamente defendida na literatura.
De um modo geral, então verifica-se que a indústria de alimentos processados é um
setor muito relevante da economia brasileira, tendo em vista seu potencial de geração de
produto, renda e emprego, não obstante, pode-se afirmar que os resultados vão ao encontro da
conclusão de Tazako, Cunha e Olivier (2017), qual seja, que a agropecuária com o passar do
tempo transferiu sua capacidade de estimular a economia quanto a produto, renda e emprego
para outros componentes do agronegócio.
Concluída a geração e análises dos indicadores básicos, em atenção ao objetivo e para
embasar os resultados das extrações hipotéticas, foram calculados os índices de ligação para
frente e para trás para cada setor e a partir deles realizada a classificação, expressos na Tabela
2, de modo a entender qual o papel cada segmento exerce na economia brasileira.
Tabela 7- Maiores diferenças após extração hipotética para trás da Produção Florestal
Setores Dif. M. Prod. Dif. Ger. Emp. Dif. Ger. Ren.
Produção florestal; pesca e aquicultura -0,364 -3,762 -0,178
Pecuária, inclusive o apoio à pecuária -0,004 -0,042 -0,002
Abate e produtos de carne, inclusive os produtos
do laticínio e da pesca -0,004 -0,042 -0,002
Ind. Transformação -0,002 -0,018 -0,001
Fonte: Elaborado pelos autores a partir dos dados da pesquisa.
Tabela 8- Maiores diferenças após extração hipotética para frente da Produção Florestal
Setores Dif. M. Prod. Dif. Ger. Emp. Dif. Ger. Ren.
Produção florestal; pesca e aquicultura -0,075 -1,37 -0,05
Pecuária, inclusive o apoio à pecuária -0,015 -0,28 -0,01
Abate e produtos de carne, inclusive os produtos
do laticínio e da pesca -0,015 -0,28 -0,01
Agricultura, inclusive o apoio à agricultura e a
pós-colheita -0,007 -0,12 0,00
Fonte: Elaborado pelos autores a partir dos dados da pesquisa.
Portanto, fica claro, que o setor da agropecuária como um todo tem maiores
encadeamentos com a própria agropecuária e com o setor da indústria de alimentos
processados, como esperado.
Concluídas as análises das extrações dos componentes da agropecuária, parte-se para
a análise dos componentes da indústria de alimentos processados. Assim sendo, cabe ressaltar
que no que tange ao setor de Abate e produtos de carne, inclusive os produtos do laticínio e
da pesca, como expressos na Tabelas 9 e 10, são vistas, como esperados, maiores quedas
tanto para frente quando para trás no próprio setor extraído, bem como, nos seguintes:(a)
Pecuária, inclusive o apoio à pecuária;(b) Outros produtos alimentares; (c) Serviços Privados.
Portanto o setor tem relações mais importantes com a pecuária, componente da agropecuária,
com outros componentes da indústria de processamento de alimentos e com os serviços
privados, ratificando a literatura.
Tabela 9- Maiores diferenças após extração hipotética para trás de Abate e produtos de carne
Setores Dif. M. Prod. Dif. Ger. Emp. Dif. Ger. Ren.
Abate e produtos de carne, inclusive os produtos
do laticínio e da pesca -1,432 -21,559 -0,629
Pecuária, inclusive o apoio à pecuária -0,024 -0,357 -0,010
Outros produtos alimentares -0,016 -0,236 -0,007
Serviços Privados -0,007 -0,110 -0,003
Fonte: Elaborado pelos autores a partir dos dados da pesquisa.
Tabela 10- Maiores diferenças após extração hipotética para frente de Abate e produtos de
carne
Setores Dif. M. Prod. Dif. Ger. Emp. Dif. Ger. Ren.
Abate e produtos de carne, inclusive os produtos
do laticínio e da pesca -0,202 -2,00 -0,06
Pecuária, inclusive o apoio à pecuária -0,040 -0,40 -0,01
Outros produtos alimentares -0,027 -0,26 -0,01
Serviços Privados -0,012 -0,12 0,00
Fonte: Elaborado pelos autores a partir dos dados da pesquisa.
No que concerne à Fabricação de açúcar, como esperado, nota-se nas Tabelas 11 e 12,
que este setor tem maior relevância para ele próprio e para os seguintes setores: (a) Outros
produtos alimentares; (b) Bebidas; (c) Ind. Transformação, haja vistas as maiores quedas
nesses setores, tanto quando extraídas compras, como quando extraídas vendas. Dessa vez,
portanto, verificam-se relações mais fortes com setores industrias em relação à agropecuária,
contrariando expectativas, haja vista que dado que cana é insumo primordial da cadeia
açucareira, esperava-se que fosse dos setores mais impactados com a extração das compras,
nesse sentido, cabe ressaltar, como hipótese explicativa, efeitos diz do viés de agregação.
Tabela 11- Maiores diferenças após extração hipotética para trás do setor de Açúcar
Setores Dif. M. Prod. Dif. Ger. Emp. Dif. Ger. Ren.
Açúcar -1,331 -15,397 -0,648
Outros produtos alimentares -0,016 -0,189 -0,008
Bebidas -0,015 -0,171 -0,007
Ind. Transformação -0,009 -0,105 -0,004
Fonte: Elaborado pelos autores a partir dos dados da pesquisa.
Tabela 12- Maiores diferenças após extração hipotética para frente do setor de Açúcar
Setores Dif. M. Prod. Dif. Ger. Emp. Dif. Ger. Ren.
Açúcar -0,038 -0,30 -0,01
Outros produtos alimentares -0,029 -0,23 -0,01
Bebidas -0,026 -0,21 -0,01
Ind. Transformação -0,016 -0,13 -0,01
Fonte: Elaborado pelos autores a partir dos dados da pesquisa.
Tabela 13 - Maiores diferenças após extração hipotética para trás de Outros alimentos
Setores Dif. M. Prod. Dif. Ger. Emp. Dif. Ger. Ren.
Outros produtos alimentares -1,244 -12,396 -0,571
Abate e produtos de carne, inclusive os produtos
do laticínio e da pesca -0,148 -1,473 -0,068
Pecuária, inclusive o apoio à pecuária -0,118 -1,180 -0,054
Bebidas -0,041 -0,404 -0,019
Fonte: Elaborado pelos autores a partir dos dados da pesquisa.
Tabela 14- Maiores diferenças após extração hipotética para frente de Outros Alimentos
Setores Dif. M. Prod. Dif. Ger. Emp. Dif. Ger. Ren.
Abate e produtos de carne, inclusive os produtos
do laticínio e da pesca -0,267 -1,94 -0,09
Pecuária, inclusive o apoio à pecuária -0,214 -1,56 -0,07
Outros produtos alimentares -0,211 -1,54 -0,07
Bebidas -0,073 -0,53 -0,02
Fonte: Elaborado pelos autores a partir dos dados da pesquisa.
Tabela 16- Maiores diferenças após extração hipotética para frente de Bebidas
Setores Dif. M. Prod. Dif. Ger. Emp. Dif. Ger. Ren.
Bebidas -0,180 -0,94 -0,065
Serviços Privados -0,014 -0,07 -0,005
Abate e produtos de carne, inclusive os produtos
do laticínio e da pesca -0,008 -0,04 -0,003
Outros produtos alimentares -0,006 -0,03 -0,002
Fonte: Elaborado pelos autores a partir dos dados da pesquisa.
5. Considerações Finais
Referências Bibliográficas
CORDELL, D., DRANGERT, J-O. e WHITE, S. The story of phosphorus: global food
security and food for thought. Global Environmental Change, v. 19, n. 2, p. 292- 305, 2009.
Disponível
em:<https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S095937800800099X?casa_token=jB
BLM3jISQMAAAAA:55vGZYL3CXQ03uCnHt_lywatm5cAki8hl57VLryACBfq-rqgCe6qF
vUckAPKBT-SZ488yVY42zkp>. Acessado em: 23, jan.2023.
FAO. How to feed the world in 2050. High level expert forum. Convened at FAO
Headquarters in Rome on 12-13 October, 2009.
Guilhoto, J.J.M., U.A. Sesso Filho (2010). “Estimação da Matriz Insumo-Produto Utilizando
Dados Preliminares das Contas Nacionais: Aplicação e Análise de Indicadores Econômicos
para o Brasil em 2005”. Economia & Tecnologia. UFPR/TECPAR. Ano 6, Vol 23, Out.
Guilhoto, J.J.M., U.A. Sesso Filho (2005). “Estimação da Matriz Insumo-Produto a Partir de
Dados Preliminares das Contas Nacionais”. Economia Aplicada. Vol. 9. N. 2. pp. 277-299.
Abril-Junho.
HWA, E.-C. 1988. The contribution of agriculture to economic growth: some empirical
evidence.World Development,16(11):120-140.
Rocha, Márcio. Brasil: maior fazenda e maior supermercado do mundo. JL política &
negócio. 14 dez. 2023. Disponível
em:<https://www.jlpolitica.com.br/articulista/14/brasil-maior-fazenda-e-maior-supermercado-
do-mundo>Acessado em: 23, jan.2023.