Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Natal /RN
2022
Daniel Rodrigues do Lago Moura
Natal /RN
2022
AGRADECIMENTOS
Dedico este trabalho a minha esposa Danielle Magalhães Sena e aos meus filhos
queridos, Davi Sena e Arthur Sena, motivadoras da minha persistência, resiliência de minha
alma e felicidades de minha vida.
EPÍGRAFE
The present work has Bitcoin and Blockchain as its theme, and aims to understand the Bitcoin
phenomenon through a wide bibliographical research, questioning whether cryptocurrency
can be considered currency, and how it can be classified in economic science. For that, it is
necessary to return to the concept of currency and its formation and to unravel the technology,
and after understanding what is in fact the object of study and its functioning, we analyze and
define what technology is for economic science, under the heading From the point of view of
the cartelist and metalist theory of monetary theory, after verifying how the so-called digital
currency and its Blockchain work, we conclude that Bitcoin is a digital asset differing from
currency, and that the Blockchain has several other applicability, with a focus on a
technological innovation of the 4th Industrial Revolution.
BTC - Bitcoin
1. INTRODUÇÃO…………………………………………………………………...…...….14
2. MOEDA…………………………………………………...………...…………………….16
2.1. Nem tudo são flores, a crise asiática de 1997.………………………………..……..…...16
2.2. O pesadelo da casa própria, crise do “Sub Prime”.………...………………….…….…...17
2.3. Mas afinal, o que é moeda?…………………………………………….………………...18
2.4. Moeda: Teoria e definições sobre o Bitcoin……………………….……………………..22
2.5. O papel da securitização………………………………………………………………….23
3. BITCOIN E BLOCKCHAIN………………………………….……………….…...……25
3.1. Bitcoin, o que é? Por que veio? Como funciona? Qual a novidade?…..............………...25
3.1.1. Bitcoin, o que é?……………………………………………………….………..……..25
3.1.2. Bitcoin, por que veio? Como funciona?……………………………….……..………..26
3.1.3. Bitcoin, qual a novidade?…………………………………………….……...………...27
3.1.4. Bitcoin, sob a mineração, a oferta e a demanda.……………………………....………28
3.1.6. Benefícios do Bitcoin.…………………………………………………………….……31
3.1.7. Desafios do Bitcoin.……………………………………………………………….…...31
3.2. Blockchain, pedra angular do Bitcoin…………………………………..…………...…..33
3.2.1. Teoria dos Jogos dos Generais Bizantinos.……………………………….……...……36
3.2.2. Algoritmo de Consenso.……………………………………………….………..….….37
3.2.3. Banco de Dados versus Registro.………………..……………...……….……......…...38
3.2.4. Definindo as áreas da tecnologia.…………………………………….………....……..40
3.2.5. Explicando algumas funções básicas. ………………………………….……...….…...41
3.2.6. O que um Blockchains confiável possibilita?………………………….….……......….42
4. CONCLUSÃO……………...……………………………………………………….…….44
REFERÊNCIAS………………………………………………………………….……..…...45
14
1. INTRODUÇÃO
O avançar das tecnologias e o aparecimento de diversas criptomoedas que seguiram o
protocolo Bitcoin, criado em 2008, e sua comercialização em corretoras especializadas e
investimentos no mercado financeiro baseado em índices de desempenho de Bitcoin no Brasil,
chama a atenção para diversas áreas do conhecimento, além da engenharia da computação, o direito
e as ciências econômicas. Diante de tantas matérias jornalistas desde o surgimento do Bitcoin, e
após o surgimento de mais de 10.000 ativos digitais, tendo apenas 300 com volume de negociação
de 1mercado, os criptoativos, comumente chamados, já movimentam no Brasil metade dos R$ 600
bilhões movimentados por produtos de investimento de renda variável, como ações, fundos, BDRs e
ETFs negociados na B32, e diante de trabalhos que tratam a criptomoeda e o Blockchains como um
futuro substituto da moeda fiduciária e intermediação do sistema financeiro atual, resolveu-se
abordar este tema, com o intuito de ampliar o entendimento na área das ciências econômicas e
observar se a inovação tecnológica é capaz de cumprir o que promete, ser moeda. Diante de uma
realidade cada vez mais factível da mudança de como nos relacionamos com o dinheiro em nossa
economia, um enfoque na questão das criptomoedas é necessário.
Atualmente no Brasil, orientações para declaração do imposto de renda de 2022 para quem
teve ganhos com criptomoedas foi orientado em resolução, com finalidade focada no devido
recolhimento do imposto em ganho de capital, além de um fundo em cinco fundos de ETF,
autorizado pela CVM a operar na B3. Também existem notícias negativas de inúmeras denúncias de
pirâmides financeiras contra corretoras de criptomoedas, e até operações da Polícia Federal por
crimes financeiros, conhecidos como esquema Ponzi 3, onde centenas de pessoas perdem suas
poupanças para estelionatários.
Diante dos fatos nos resta enquanto mundo acadêmico estudar os acontecimentos e
embasados cientificamente, procurar compreender o fenômeno das criptomoedas. Neste trabalho o
objetivo geral é um estudo bibliográfica a luz da nova economia global da intitulada moeda Bitcoin
e da tecnologia, onde opera, chamada Blockchain. Para tanto contextualizamos historicamente os
momentos de crise econômica de 1997 e 2008, que trouxe profunda desconfiança no sistema
econômico internacional e dos países mais afetados, passando pelo conceito da moeda.
2 Disponível em: Reportagem eletrônica da revista Exame de 01/06/2022. Acesso em: 15/12/2022
3 Esquema Ponzi: Fraude financeira onde quem paga o rendimento dos investidores iniciais são os novos entrantes,
sem novos entrantes o esquema acaba. Disponível em: https://www.infomoney.com.br/onde-investir/esquema-
ponzi-entenda-o-que-e-piramide-financeira-e-relembre-casos-famosos/. Acesso em: 15/12/2022
15
4 Nodes: clientes ou nós em inglês, se conectam em rede ponto a ponto e criptografada, criando um banco de dados
distribuído.
16
2. MOEDA
O presente capítulo tem como finalidade, analisar o fundo histórico nas crises financeiras de
1997 e 2008 do século passado, definindo quais as características e funções da moeda a luz da
teoria econômica e uma breve comparação com a moeda digital Bitcoin.
Nesta pequena contribuição científica, buscamos compreender as seguintes problemáticas: O
Bitcoin é uma moeda como o real ou o dólar? Quais condições motivaram o surgimento dessa
tecnologia?
Tabela 1 - ETFs que operam na B3
Fonte: https://www.infomoney.com.br/guias/o-que-e-etf-de-criptomoeda/
Acima verificamos uma tabela onde o Bitcoin jopera em ETF, não sendo é claro diretamente
operado, sendo ainda no Blockchain o local de operações da moeda virtual, como bem veremos nos
próximos capítulos.
Em seguida, houve uma recessão que durou de março a novembro de 2001, a recessão
aconteceu logo após o fim do enorme aumento no valor das ações que é popularmente aludido como
a bolha “ponto com” em razão de se referir a criação de empresas baseados na tecnologia de
informação sem receita corrente. Em 1999, a bolha do “ponto com” arrebentou e o valor da riqueza
do mercado das ações começou a declinar. (Farmer, 2010)
É salutar lembrar o contexto de reformas liberalizantes dos anos de 1990, envolvendo
quatro eixos, que embora interdependentes poderiam ser distinguidos, conforme citação em artigo
científico de Luís Carlos Bresser Pereira. Segue abaixo:
[…] (a) um problema econômico-político - a delimitação do tamanho do Estado; (b) um
outro também econômico-político, mas que merece tratamento especial - a redefinição do
papel regulador do Estado; (c) um econômico-administrativo - a recuperação da governança
ou capacidade financeira e administrativa de implementar as decisões políticas tomadas
pelo governo; e (d) um político - o aumento da governabilidade ou capacidade política do
governo de intermediar interesses, garantir legitimidade, e governar. (BRESSER
PEREIRA, 1998, p.01)
7 . Northern Rock: A Northern Rock (antiga London Stock) é um banco britânico, sob propriedade pública desde
2008. Em 2008 após a crise econômica mundial, foi nacionalizado pelo governo britânico.
8. Lehman Brothers Holdings Inc.: oi um banco de investimento e provedor de outros serviços financeiros, com atuação
global, sediado em Nova Iorque. Era uma empresa global de serviços financeiros
18
9 . LIBOR: Sigla do inglês London Interbank Offered Rate, a taxa interbancária do mercado de Londres (Inglaterra),
utilizada para grandes empréstimos internacionais para quem opera no mercado Londrino.
As trocas de bens realizados nas relações econômicas eram realizadas na forma de escambo,
ou troca direta. Caso um indivíduo tivesse um bem excedente, por exemplo, o feijão, e necessita-se
de milho, procuraria quem o tivesse e faria uma troca direta. Neste quadro de sociedade primitiva as
necessidades individuais deveriam coincidir, com a evolução da sociedade e o crescimento do
comércio, as trocas diretas entrariam em desuso, surgindo as trocas indiretas.
Cano (1998) ilustra com exemplo de sociedade onde não é possível a troca direta, onde a
necessidade por bens de três indivíduos não coincidem com os excedentes que possuem. Os
indivíduos A, B e C, onde o A possui sapatos(S) para cambiar, o indivíduo B possui trigo(T) para
cambiar, e o indivíduo C possui vinho(V) para realizar a troca, não obstante, suas necessidades são
diversas, segue abaixo:
Tabela 2 – Trocas indiretas em uma sociedade primitiva
Indivíduo Excesso de Bens Necessidade de bens
A S V
B T S
C V T
Conforme Cano (1998, p.157) a terceira função da moeda é o denominador comum dos
valores em uma economia, “Esta função deriva da necessidade que a economia tem de comparar as
coisas e usar um padrão de eficiência: preços, custos, vendas, lucros, salários, etc, são sempre
expressos basicamente, em termos de unidades monetárias.”
A moeda, por definição, é todo meio de pagamento universalmente aceito, onde a própria
definição é um consenso na doutrina sobre o estudo da moeda na escola austríaca, destacando que
todo bem que apresente cada vez mais liquidez, passa a ser entesourado como reserva de valor.
Menger (1892) apud Uritch (2014), afirma que a moeda é o bem mais líquido em uma
economia. E define que o Bitcoin é moeda por ter liquidez suficiente para ser universalmente aceito.
O posicionamento citado no paragrafo anterior, diverge frontalmente com Harford (2016)
afirmando em seu trabalho que a alta volatilidade do Bitcoin o desabilita como unidade de conta e
por consequência o descredencia da posição de moeda.
Harford (2016) descreve em seu trabalho um exemplo muito interessante de uma sociedade
localizada na Micronésia, no Pacífico Ocidental, que definiu como meio de troca uma moeda
conhecida como o rai. Sendo as rai rodas de pedra com um furo no meio, algumas quase que
totalmente inamovíveis. Aquela pequena sociedade localizada na ilha de Yap desenvolveu o que
Harford chama de “uma importante inovação monetária”, divorciando a posse ou propriedade da
pedra (moeda) do controle físico do objeto.
Situação muito similar ao mundo ocidental, onde os bancos surgiram com a missão de
entesourar ouro e prata, e cédulas eram expedidas comprovando a guarda desse valor, passando as
operações financeiras a operar sem a necessidade de movimentar o metal precioso.
Todavia, naquela comunidade da Micronésia para fazer uma transação bastava fazê-lo na
presença de testemunhas públicas, informando que a posse daquela “pedra - moeda” estava na
memória daquela sociedade.
O sistema monetário iniciado com o ouro também era similar, onde cabiam aos ourives
identificar e armazenar o ouro dos proprietários, que em troca de notas recebíveis cautelavam o
metal a estes profissionais.
Ammous (2020) cita o exemplo da moeda rai em seu trabalho “O Padrão Bitcoin”
destacando a perda de função monetária quando do aumento da oferta daquelas pedras na quela
comunidade da Micronésia
Harford (2016) destaca que o sistema monetário atual possui notas que não valem nada,
apenas o valor que são atribuídas a elas. Antes as notas circulavam representando algum valor em
metais de ouro e prata nos cofres de bancos. Hoje, conforme define Harford (2016), elas não são
21
créditos de nada em particular, e ao mesmo tempo crédito de alguma coisa. Destacando que a
confiança na moeda fiduciária é mantida através da operação da política monetária.
Qual função a moeda desempenha na economia, se possui valor intrínseco ou não, ou se é
uma commodity, qual é a principal questão relacionada a função da moeda na sociedade?
Vemos em Harford (2016) que é necessário que para a moeda ter valor, todos devem
acreditar que a moeda tenha valor, algo que poderia ser bem observado na comunidade da ilha de
yap, onde aquela sociedade atribuía valor as pedras rai.
Na função de meio de troca as operações são facilitadas por intermédio da moeda e Haford
(2016) traça um paralelo entre o uso das cédulas e as pedras com furos no meio da ilha na
micronésia:
“O papel moeda tornou esse banco de dados desnecessário em sociedades que eram grandes
demais para usar o sistema de yap, mas está cada vez mais espaço a um enorme banco de
dados, à medida que usamos cartões de débito e internet bank mais do que moeda e notas –
uma versão computadorizada da memória coletiva dos habitantes de Yap.” (HAFORD,
2016,p.68-69)
Na função de reserva de valor Harford (2016), cita o exemplo do homem que cria vacas para
obter o leite, onde o mesmo não guardaria latas de leite para sua aposentadoria, porém trocaria o
leite por dinheiro para guardar as unidades monetárias em uma banco ou embaixo do seu colchão.
A unidade de conta, para Harford (2016) é uma espécie de ponto de referência, ou “um
padrão de valor”. Esta última é sempre a mais estável possível em relação ao tipo de coisa que o
indivíduo quer comprar no futuro. O padrão de valor, para se ter uma ideia da situação financeira,
deve ser a unidade de medida mais estável possível.
“Se tanto a oferta como a demanda são estáveis, idem o preço e estabilidade de preço é
exatamente aquilo de que você precisa na sua unidade de conta.” (Harford, 2016, p.71)
Nesse ponto Harford (2016) aborda, como já citado anteriormente, que o Bitcoin não é
moeda, assim como o ouro, porque é volátil demais, destacando que o próprio papel moeda só é
moeda se mantiver o valor estável, como exemplo, o valor de uma moeda quando a mesma enfrenta
uma hiperinflação, com mais de 50% ao mês.
A Alemanha após a primeira guerra mundial tinha a sua moeda substituída por cigarros ou
lenha. Na hiperinflação a sociedade perde seu denominador comum, como explica Cano(1998)
sobre a unidade de conta, no início deste capítulo.
Ulrich (2014) faz uma observação sobre a alta volatilidade do Bitcoin, não obstante, afirma
que com a aceitação e aumento do uso da moeda digital pelas pessoas, esse problema se resolveria
do lado da demanda do Bitcoin, tendo em vista a oferta da moeda digital ser definida em 21 milhões
de Bitcoins que são obtidas através do processamento computacional.
22
Garófalo e Pinho (2018) em artigo para revista dizem que os economistas estão de acordo ao
mesmo pensamento de Harford (2016), e afirmam que a alta volatilidade do Bitcoin o desqualifica
como moeda.
Por cá verificamos a mesma limitação para o uso do Bitcoin como uma moeda corrente. É
importante destacar que algumas empresas em ambientes virtuais recebem a moeda virtual, não
obstante, usam como unidade de conta o dólar ou outra moeda fiduciária, convertendo em Bitcoins
no momento do pagamento.
Conclusão idêntica a Pinheiro (2019), chegamos, quanto a questão do Bitcoin ser ou não
moeda, resta-nos uma conclusão negativa.
Portanto, a crise financeira (citadas no item 2.1 e 2.2) é mais parecida com os
acontecimentos que conduziram a Grande Depressão, que as mesmas duas últimas recessões que
atingiram o mundo ocidental (1980-1990) foram causadas por tais políticas monetárias restritivas
voltadas para erradicar a inflação.
Há um fato importante, que os pós keynesianos condenam é de que ocorrem reservatórios de
fundo de empréstimos que limita o crescimento monetário. Pois, a criação de crédito depende da
preferência pela liquidez dos bancos e da confiança dos que tomam dinheiro emprestado. A
atividade bancária tem como base a fé na confiança e na noção de merecimento de crédito.
O processo se dá da seguinte maneira: As reservas de moeda também chamadas de dinheiro
de alta potência, do mesmo modo como depósitos de moeda (moeda bancária) é endógeno e
determinado pela demanda, não podendo ser arbitrariamente uma impostação pelo banco central.
De fato, o volume de dinheiro de alta potência é diretamente relacionado à oferta de moeda
bancária, por meio do divisor de crédito. A moeda bancária, por sua vez, não é função do dinheiro
de alta potência, como querem os teóricos neoclássicos. Pelo contrário o dinheiro de alta potência é
um rácio da quantidade de moeda bancária.
O debate é longo e divergente já na própria discussão da moeda fiduciária, porém, o Bitcoin
não está inserido na teoria monetária para a análise, mais posicionado em um ativo no meio digital
do que próximo a se assemelhar a moeda.
A atividade bancária teve, nos anos de 1980, uma inovação financeira chamada de
securitização, que, por sua vez, levou a uma nova forma de atividade bancária chamada de regime
original e distribuído.
Com a securitização, o banco emissor da hipoteca podia conseguir uma taxa imediata e
substancial pelo feixe de hipotecas ao vendê-las como valores mobiliários lastreados em hipotecas.
Portanto, o risco de inadimplência não era mais do banco emissor, mas sim dos investidores
que adquiriam valores mobiliários. Uma outra inovação foi o documento comercial lastreado em
ativo, e com os derivados chamados de obrigações de dívida garantida – que eram uma espécie de
valores mobiliários lastreados em hipotecas com a criação de combinações ao quadrado.
3. BITCOIN E BLOCKCHAIN
3.1. Bitcoin, o que é? Por que veio? Como funciona? Qual a novidade?
O presente capítulo tem como finalidade expor a tecnologia do protocolo Bitcoin definindo-
o, apresentando os motivos que o geraram, e quais consequências econômicas o acompanham.
13 Blockchains: Uma lista de blocos validados, cada um é ligado ao seu predecessor até chegar ao bloco gênesis.
14 Código aberto: O termo em inglês “open source” se refere ao código-fonte de um site ou aplicativo. Nesse sentido,
sua linguagem de programação pode ser vista por qualquer um, que pode adaptá-la para objetivos variados.
15 Satoshi Nakamoto: Pseudônimo utilizado pela pessoa ou pessoas que criaram a moeda virtual Bitcoin, como parte da
implementação, Nakamoto também desenvolveu o primeiro banco de dados de Blockchain.
26
system16, onde descreve a tecnologia como uma versão puramente ponto a ponto 17 de dinheiro
eletrônico, que exclui a necessidade de intermédiários de instituições financeiras, apresentado como
um sistema de pagamentos independente de terceiros.
É importante citar que o Bitcoin é inteiramente digital criado através de uma operação
matemática chamada pelos desenvolvedores do sistema de mineração³, onde se competem por
soluções do problema matemático enquanto se processam as transações. (Antonopoulos et al. 2016)
17 Ponto a Ponto: tipo de rede distribuída na qual os computadores conectados ao sistema funcionam também como
servidores.
18 Gasto Duplo: é o ato de se usar os mesmos bitcoins mais de uma vez já gastos em outras transações.
27
19 Prova de Trabalho: Na versão em inglês Proof-of-Work (PoW), é o algoritmo de consenso original em uma rede
Blockchain.
28
moeda, nós estudiosos da ciência econômica, olhamos com um olhar científico a seguinte questão:
Podemos considerar o Bitcoin moeda?
Ulrich (2014), defende em sua obra que o Bitcoin é moeda, e para isso traz elementos
básicos da teoria monetária. Destaca que o Bitcoin é uma forma de dinheiro, além de comparar as
mudanças que o e-mail fez com a informação, com o que o Bitcoin poderá fazer com o dinheiro.
Naquela obra utiliza como base teórica a escola austríaca de economia, através da teoria monetária
desenvolvida por Ludiwig Von Mises20, para analisar o que é descrito por Ulrich como “fenômeno
Bitcoin”. Trazendo como pano de fundo a liberdade monetária e o futuro da moeda.
A falta de lastro, intangibilidade, oferta inelástica, ausência de um emissor central e noção
de dinheiro são pontos importantes a serem abordados.
O Bitcoin nada mais é que uma moeda digital ponto a ponto, código aberto, não dependente
de uma unidade central. Um sistema de pagamento descentralizado, com solução para o problema
do gasto duplo. A invenção do Bitcoin resolve o problema de gasto duplo, o que significa a
ausência de necessidade de uma terceira pessoa na operação, distribuindo os registros históricos das
transações a todos os usuários do sistema, através do Blockchains, uma espécie de livro-razão
público e distribuído, onde o sistema tem como finalidade garantir que todos os Bitcoins não sejam
previamente gastos.
Os Bitcoins com sua tecnologia de Blockchains abriram caminho para milhares de outras
criptomoedas operando com base na mesma tecnologia Bitcoin.
Os Bitcoins se auto denominam como unidade de conta, ou seja, uma unidade monetária de
Bitcoin é igual a um Bitcoin (1 u.m = 1 btc), ou seja, os Bitcoins não são denominados
monetariamente em reais, dólar ou euro, são denominados como Bitcoins, com rede de pagamentos
descentralizado. Sua unidade de valor é atribuída em um mercado aberto de oferta e demanda,
similar aos mercados de taxas de câmbio, podendo ser comercializados em dólar, euro, iens e
diversas outras moedas, como unidade de troca.
20 Ludiwig Von Mises: foi um economista teórico de nacionalidade austríaca e, posteriormente, americana, de origem
judaica, que foi membro da Escola Austríaca de pensamento econômico
21 Chave pública: Identificação do usuário na rede blockchain, pelo qual é reconhecido no Blockchain.
22 Chave privada: Identificação privada na rede blockchain, somente conhecendo-a pode-se dispor dos Bitcoins.
29
descrever o uso das chaves como a utilização de um contato de e-mail, onde o endereço do correio
eletrônico é público e conhecido por todos, e a privada é o acesso restrito a quem possui a
administração da conta. A transação passa por um servidor de marca temporal que registra data e
hora da transação e exporta para um bloco público com informações da operação.
Os responsáveis em rede que entregam suas forças computacionais para realizar os registros
e reconciliações das transações no Blockchains são conhecidos como mineradores (como já citado
no capítulo passado), pois recebem os incentivos em criptomoeda, em um processo matemático
quando o algoritmo hash23 do Bitcoin é aplicado aos dados.
Figura 1 - Compactação de dados pelo algoritmo SHA-256
Fonte: https://academy.bit2me.com/pt/algoritmo-sha256-bitcoin/
Conforme citado por Laurence (2019) em seu livro Blockchain para Leigos, o algoritmo
utilizado pelo Bitcoin é o SHA-256, considerado extremamente seguro, destaca a autora:
O Secure Hash Algorithm (Algoritmo de Dispersão Seguro — SHA) é uma das funções
hash criptografadas usadas em blockchains. SHA-256 é um algoritmo comum que gera uma
hash quase única, de tamanho fixo de 256 bits (32 bytes). Para
efeitos práticos, pense em uma hash como uma impressão digital dos dados usada para
travá-la na posição correta dentro do blockchain. ( LAURENCE, 2019, p.29)
23 Hash: uma sequência única, de comprimento fixo, de dígitos aleatórios, que pode ser criada a partir de dados de
qualquer tamanho.
24 Halving: Característica do código bitcoin, onde reduz sua oferta pela metade a cada 4 anos.
30
Fonte: https://monnos.com/br/blog/proof-of-work/
Define Palheiros (2022, p.134) que o halving está encravado como característica dentro do
código do Bitcoin, e o total de criptomoedas emitidos de 12,5 a cada 10 minutos irá para 6,25
Bitcoins; fato já ocorrido em 11 de maio de 202025.
Em seu trabalho, Ulrich (2014, p.69) cita que até o ano de 2140 todos o Bitcoins serão
minerados, não obstante, em 2022 cerca de 90% estariam minerados, o que de fato já aconteceu,
citado logo acima.
Essa é a lei de oferta do protocolo, um total de 21 milhões de Bitcoins a serem disponíveis
em troca do processamento computacional distribuído e em consenso, com remuneração por
transação reduzida pela metade a cada 4 anos ou na formação de 210.000 mil blocos. (Ammous,
2020, p.267)
Tabela 3 - Oferta total x Halving (Bitcoin)
Fonte: https://buyBitcoinworldwide.com/pt/Bitcoin-clock/
25 . https://www.infomoney.com.br/guias/halving-do-Bitcoin/
31
criadas através de política monetária expansionista, gerando inflação, observamos que no Bitcoin
essa opção não existe, restando do lado da demanda a imprevisibilidade no valor da criptomoeda.
É importante destacar que no sistema monetário atual a formação da moeda é endógena,
onde a base monetária é igual as reserva monetárias dos bancos comerciais mais o dinheiro
impresso. (SILVA, 2009)
Com a oferta programada, a demanda depende do câmbio entre os usuários do protocolo
Bitcoin e os interessados em obtê-las em troca de moedas fiduciárias. Quanto maior o crescimento
da rede Bitcoin maior sua liquidez, e com isso menor sua volatilidade – parte mais preocupante – e
maior sua aceitação no mercado. (Ulrich, 2014, p.71)
Figura 3 – Máquina de mineração de Bitcoins
Ulrich (2014) cita como benefício do uso do protocolo Bitcoin o fim dos intermediários das
operações. Com a consequente diminuição dos custos, o valor dos Bitcoins não pode ser
manipulado por uma autoridade central.
O protocolo Bitcoin pode oferecer diversos outros serviços, que podem ser desenvolvidos
por programadores. Os Bitcoins são na sua essência pacotes de dados que podem ser utilizados para
transferir moedas, ações de empresas e todo tipo de informação. Podem ser oferecidos pelo
protocolo, micropagamentos, mediações de litígios, contratos de garantia e propriedade inteligente,
podendo ser utilizado para registro de propriedade e armazenamento. Entraremos no assunto
referente a propriedades digitais no capítulo de Blockchains.
O Bitcoin apresenta alta volatilidade no seu preço desde sua criação. Em 16 de novembro do
presente ano a criptomoeda estava cotada a 16.518,10 USD, chegando a ser precificado em 08 de
novembro de 2021 no valor de 68.530,00 USD. A moeda não possui lastro, e não está vinculada a
nenhum outro ativo, onde nada garante seus valores.
32
Cita Ulrich (2014) que as regulamentações legais não preveem uma tecnologia como o
Bitcoin e seus predecessores, sistemas de pagamento totalmente descentralizados baseados em redes
distribuídas em “nós”.
No Brasil alguns projetos de lei encontram-se em trâmite, colocado e discussão na casa
legislativa federal, classificando-os em ativos virtuais, não em moeda. Atualmente, existe uma
junção de projetos de lei, o projeto de lei nº 4.401/2021 26, que procura normatizar o comércio de
criptoativos.
A Receita Federal do Brasil, através da Solução de Consulta nº 6008 – SRRFOG/DISIT
define quem deverá pagar imposto de renda sobre o capital das operações de alienação de moedas
digitais acima de 35.000,00 reais.
Uma das grandes barreiras a serem enfrentadas é a do desconhecimento da tecnologia, já que
para operar diretamente na rede Bitcoin existe a necessidade de um conhecimento básico em
programação, espaço esse entre a tecnologia e os indivíduos não detentores do conhecimento na
área que as Corretoras (Exchangers) ocupam.
O mercado de ações parece-se com o mercado de Bitcoin, na bolsa de Londres, existiam
dois tipos de corretores: os “Bronkers” que eram intermediários entre o público em geral e mercado
26 Projeto de Lei n° 4401, de 2021 (nº 2.303/2015, na Câmara dos Deputados - Dispõe sobre a prestadora de serviços
de ativos virtuais; e altera o Decreto-Lei nº 2.848,de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), e as Leis nºs 7.492, de
16 de junho de 1986, e9.613, de 3 de março de 1998, para incluir a prestadora de serviços de ativos virtuais norol
de instituições sujeitas às suas disposições
33
O referido capítulo tem como objetivo definir a tecnologia do Blockchains, seu papel na
produção da moeda virtual Bitcoin, destacando duas funções básicas: propriedade inteligente e
contratos inteligentes, concluindo respondendo a seguinte pergunta: Sendo o Bitcoin moeda, será o
Blockchains um Banco Central?
Conforme citado por Mougayar (2017), o Bitcoin é uma tecnologia totalmente inovadora,
baseada na sua tecnologia principal que é o Blockchains. De acordo com Schwab:
É evidente que tratar da referida tecnologia não é algo simples, conforme mesmo relata
Mougayar (2017), ao afirmar que para um engenheiro de software seria algo simples de ligar e usar
a aplicação.
34
Em relação a tecnologia vale nos ater conforme Mongayar (2017) cita em seu trabalho como
fundamento da tecnologia Bitcoin, as transações e interações eletrônicas peer-to-peer (ponto a
ponto), sem instituições financeiras centrais intermediando para coibir o gasto duplo, onde a prova
criptográfica no lugar de confiança centralizada, lastreada na confiança em rede, em vez de em uma
instituição unificada.
A tecnologia Blockchains permite o compartilhamento de bancos de dados entre os usuários
do sistema, onde uma grande gama de aplicações podem ser criadas em diversas áreas da economia.
Além de informação compartilhada, o próprio Blockchain, em seu sistema de vários “nós”
distribuídos, trabalha em consenso na rede, permitindo a fidedignidade dos dados sem a necessidade
de um servidor ou banco de dados central, ou até quando este conjunto de informações – durante
uma atividade laboral – fosse produzida e encaminhada entre diversos setores, sendo eliminadas
informações conflitantes.
Figura 5 – Modelos de redes
Fonte: https://www.rmfais.com/rmfais/artigos/table.php?_codigo=111
Ao concluir, qualquer que seja a informação produzida, ela é assinada através de uma chave
privada e encaminhada pelo emissor ao receptor de interesse, onde a data e hora da operação é
registrada, sendo criptografada.
As inovações tecnológicas são por vezes responsáveis por mudanças de paradigmas no
sistema econômico capitalista como foi a invenção e desenvolvimento da máquina a vapor, onde a
água era aquecida pela queima do carvão criando energia e transformando-a em força motriz,
35
máquina de Thomas Newcomen27 e aprimorada por James Watt 28, que provocou grandes mudanças
nas relações de trabalho e no processo produtivo. (Dobb, 1983).
As inovações ocasionadas pelo uso do Blockchains também apresentam indicações, através
de sua aplicabilidade, nas atividades descritas no quadro abaixo:
Tabela 5: Aplicação e solução do Blockchains
APLICAÇÕES E SOLUÇÕES
Serviço de corretagem Plataforma de negociação
Trocas de criptomoeda Folha de pagamento
Carteiras digitais Seguro
Carteiras de hardware Investimentos
Serviço de comércio e varejo Empréstimos
Fornecedores de dados financeiros Serviços monetários globais/locais
Soluções de trocas financeiras Solução para mercado de capital
Identidade e compliance Caixa eletrônico
Integrações de pagamento -
Fonte: MOUGAYAR (2017)
Não nos distanciando muito no tempo a própria internet desenvolvida na década de 1980, só
teve seu impacto nas atividades e processos de trabalho a partir do advento da world wide web, que
tornou possível a aplicação das informações como a conhecemos hoje na internet.
O Blockchains é uma camada acima da internet. Mougayar (2017) explica que “É mais
como um novo protocolo que fica por cima da internet por meio de seus padrões tecnológicos.”
Conceitos básicos como hash, impressão digital única e chaves fazem parte da aplicação.
Figura 6 – Posição do Blockchain em relação a internet.
Fonte: Mongayar(2017)
27 Melhorador de máquinas nascido no século XVII, que apresentou solução para o bobeamento de minas de carvão,
o equipamento que utilizava vapor de água para criar um vácuo e bombear a água das minas foi atualizado por ele, ao
inserir um êmbolo combinado a um cilindro que propulsionava o veio de uma bomba, conhecida como Máquina
Atmosférica de Newcomen. Podia bombear até 50 metros de profundidade, antes dele o equipamento só bombeava
até 5 metros.
28 Nascido em 1736, mecânico escocês, aperfeiçoou o modelo de Newcomen. Este seu invento deflagrou a Revolução
Industrial e serviu de base para a mecanização de toda a indústria.
36
Como bem citamos no capítulo que trata do Bitcoin, uma aplicação do Blockchains, utiliza
combinação de teoria de jogos com criptografia.
O Blockchains é tratado como uma metatecnologia, segundo Mougayar (2017) “O
Blockchains é uma metatecnologia por que afeta outras tecnologias e ele próprio é feito de vários
delas. É um conjunto de computadores e redes construídos em cima da internet.”
Após a irrupção da internet, tínhamos a linguagem de marcação HTML, em 1993, logo após,
em 1995, o JAVA, uma linguagem web de programação, e o advento de um protocolo de rede de
computadores TCP/IP. Uma das grandes mudanças de paradigma da inovação (Software, Teoria dos
Jogos e Criptografia) é ter a possibilidade de ser substituto dos bancos de dados tradicionais que
conhecemos. (Mongayar, 2017)
Os campos de conhecimento que se cruzam na tecnologia de Blockchains é a da teoria dos
jogos, criptografia e engenharia de software. Ver figura abaixo:
Figura 7 – Tríade dos campos de conhecimento.
Mougayar (2017) destaca que o método PoW (proof-of-work) Prova-de-Trabalho pode ser
considerado um protocolo antigo, tendo como principal fator negativo o alto consumo de energia.
Ammous (2020) explica que após um nó resolver a operação, ele é recompensado com
criptomoedas de Bitcoins, “isso é conhecido como subsídio do bloco, e o processo de geração das
novas moedas é chamado de mineração, porque é a única maneira de aumentar a oferta de moedas,
da mesma forma que a mineração é a única maneira de aumentar a oferta de ouro.”
38
Conforme citado por Mongayar(2017) uma alternativa para uma mineração mais
ecologicamente correta seria a Prova por Participação, PoS (Proof-of-Stake), consumidora de menos
energia.
Segundo Schwab (2018) quatro pontos são revolucionários quando tratamos da tecnologia
de registro distribuído, uma das formas que podemos conceituar o Blockchains; este permite
transformar um bem digital em um objeto virtual único, impedindo cópias ou falsificações do bem
digital, onde a propriedade do bem original sempre ficará resguardada, criando o que o autor chama
de “internet de valor”; fim de intermediações para validar operações pela internet; a possibilidade
de se criar ações programáveis, conhecidos como contratos inteligentes; registros digitais seguros,
etc.
Diversas empresas utilizam a tecnologia de Blockchains, em específico o protocolo Bitcoin,
que foram cinquenta as empresas citadas pela revista Forbes Blockchains 5029 que desenvolveram
diversas aplicações com a nova tecnologia de registro distribuído, sendo cada vez mais comum o
uso de Blockchains para melhoria da produtividade no mercado, como por exemplo, a Renault que
rastreia autopeças.
Sabemos que a criptomoeda (Bitcoin) opera de maneira independente e descentralizada,
onde os pacotes de dados, que podem representar todo ou qualquer objeto que exista no mundo
físico, neste caso em formato digital, consta como um contrato ou recibo indicando propriedade,
quantidade, qualidade, rastreabilidade, com a impossibilidade de alteração ou falsificação dos
dados.
Por exemplo, uma peça de um veículo automotor, pode ser rastreado através das tecnologias
atuais, em forma de criptografia que opera em um Blockchains específico, registrando todo seu
histórico de fabricação e uso, até o seu descarte.
Podemos definir que a tecnologia de registros distribuídos apresenta um leque bastante
diversificado de implantações como inovação tecnológica, ao passo que o Bitcoin como moeda
digital representa a aplicação mais conhecida, porém não a única.
29 https://forbes.com.br/forbes-money/2022/02/forbes-top-50-blockchain-conheca-as-empresas-bilionarias-que-
utilizam-a-tecnologia/
40
Para entender ainda mais sobre essa nova tecnologia, seguimos com as dez propriedades
simultâneas do Blockchains descritas por Mougayar (2017).
Tabela 6 – Propriedades do Blockchain.
Propriedades Definições
É importante entender que após resolver o problema do gasto duplo, ele não era apenas
voltado para os incentivos monetários criptografados (Bitcoin), mas também para qualquer outro
objeto físico que poderia ser digitalizado, ou seja, um arquivo digital (músicas, obras de artes,
imagens, dinheiro, ações títulos, registros de propriedade), que poderão tornar-se um ativo digital.
42
Na figura 12 veremos uma ilustração que exemplifica diversas áreas de possível atuação do
Blockchain, entre elas: Registro de ativos (direitos, títulos e certificados), democracia digital
(ativismo civil, segurança em votações), aplicações em soluções financeiras e previdenciárias,
sistema financeiro digital (Infraestrutura de pensões), identidade digital, aviação, iniciativas
governamentais, transparência das instituições, entre outros.
30 Disponível em: Digitalização pode impulsionar desenvolvimento social e democracia Acesso em: 12 dez 22
43
No próximo capítulo faremos uma breve revisão sobre Bitcoin e Blockchain e concluiremos.
44
4. CONCLUSÃO
Com o surgimento do Bitcoin e do Blockchain, mais de uma década se passou, centenas e
até milhares de moedas digitais e diferentes Blockchains surgiram, e até alguns projetos
desapareceram. Porém, após apanhado bibliográfico de diversos trabalhos produzidos ao longo
desses anos, podemos observar que o Bitcoin e o Blockchains não são de fato moeda.
Deixamos evidenciado que a teoria mais adequada, na ótica desse trabalho, seria a cartalista,
onde o Estado seria responsável por definir o que é moeda na economia, conforme já discutido no
capítulo 2.
Quando tratamos da tecnologia que dá suporte e origem ao Bitcoin, a tecnologia
Blockchains, que cria a criptomoeda, como forma de incentivo a cessão de processamento
computacional e energia de diversos servidores distribuídos na rede, conferindo todas as transações
em rede, observamos a criação de diversos bens econômicos de caráter puramente digital, sem a
possibilidade de falsificação ou cópia do bem.
A evolução de um arquivo digital para um bem digital por meio eletrônica, sem
possibilidade de cópia ou reprodução fraudulenta, sem intermediação, através da rede distribuída,
rompe em um primeiro momento com o paradigma atual dos grandes grupos econômicos do sistema
financeiro, com suas enormes bases de dados, e a necessidade de seus serviços.
Sendo apenas uma das funções do Blockchain, e não menos importante, conforme discussão
no capítulo 3, em não sendo o Bitcoin moeda (conforme debatido no capítulo 2), não existe a
possibilidade de comparar o Blockchain a um tipo de banco, mas uma tecnologia criadora de bens
econômicos.
Apesar do Bitcoin não ser, em nosso trabalho, considerado moeda, não podemos afirmar que
ela nunca será, podendo-se observar diversas mudanças em alguns países como El Salvador 31, não
obstante, não existe aprovação mundial do Bitcoin como moeda, o que ainda descarta como um
bem universalmente aceito.
Por fim, baseados nos referenciais teóricos e bibliográficos do trabalho, podemos afirmar
que o Bitcoin não pode ser considerado moeda, mas sim um bem ou ativo digital, e o Blockchain
uma tecnologia inovadora, fomentadora de diversos bens e serviços digitais, além, é claro, da
criptomoeda objeto de estudo deste trabalho. Todos esses capítulos norteiam a reflexão do nosso
31 Em El Salvador o país criou um fundo em dólar, autorizou as empresas a receber em bitcoins e a pagar impostos na
criptomoeda, além de políticas públicas para inserir pessoas desbancarizadas no mercado de criptomoedas, criando
uma carteira virtual de nome “CHIVO”, porém, a iniciativa não chegou a ser um fracasso total, mas não chega nem
perto de ser um sucesso. Fonte: 1 ano depois de virar moeda oficial em El Salvador, bitcoin está 'esquecido' no país
Acesso: 12 de dez. 2022.
45
trabalho, e muitas outras surgirão em sua conclusão, criando portas a serem abertas por novos
trabalhos científicos.
A inovação tecnológica que acompanha o objeto de estudo em questão é gigantesco, e a
busca do entendimento real do que é ou poderá ser, utilizando-se das ferramentes científicas
necessárias, é além de um dever científico, mas também social.
46
REFERÊNCIAS
ANTONOPOULOS, Andreas M. et al. Mastering Bitcoin. 1ª. ed. [S. l.]: Andreas M. Antonopoulos
LLC, 2016. 293 p.
Disponível em: https://Bitcoinvestimento.blogspot.com/2017/01/mastering-Bitcoin-download-gratis
andreas.html. Acesso em: 13 dez. 2022.
BRESSER PEREIRA, Luiz Carlos. A reforma do estado dos anos 90: lógica e mecanismos de
controle. LUA NOVA, Scielo, ano 1998, ed. 45, p. 49-232, 4 ago. 2010. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/ln/a/xQZRPfMdrHyH3vjKLqtmMWd/?lang=pt. Acesso em: 21 dez. 2021.
BRYNJOLFSSON, Erik; MCAFEE, Andrea. A segunda era das máquinas: Trabalho, progresso e
prospreridade em uma época de tecnologias brilhantes. Rio de Janeiro: Alta Books, 2015.
CANO, Wilson. Introdução a economia: Uma abordagem crítica. 1ª. ed. São Paulo: Fundação
Editora da UNESP, 1998. 264 p.
DOBB, Maurice Herbet. A evolução do capitalismo. São Paulo, Ed. Abril Cultura, 1983. Disponível
em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5123004mod_resource/content/1/Maurice
%20Dobb.pdf. Acesso em: 23 nov. 2022
FARMER, Roger E. A. How economy works: Confidence, crashes and Self-Fulfilling Prophecies.
London, Oxford University Press, 2010.193 p.
GARÓFALO, Gilson de Lima; PINHO, Terezinha Filgueiras de. Criptomoedas e a Bitcoin. Revista
do Conselho Federal de Economia: Economistas perspectivas para 2018: Economistas debatem
conjuntura econômica, ano IX, n. 27, p. 32-38, JANEIRO/MARÇO 2018.
HARFORD, Tim. O economista clandestino ataca novamente!: Como arrumar ou arruinar uma
economia. Tradução: Pedro Sette-Câmara. 1ª. ed. Rio de Janeiro: Record, 2016. 307 p.
LAURENCE, Tiana. Blockchains para leigos. Tradução: Maíra Meyer. Rio de Janeiro: Alta Books,
2019. 240 p. Disponível em: https://elivros.love/livro/baixar-livro-Blockchains-para-leigos-tiana-
laurence-em-epub-pdf-mobi-ou-ler-online. Acesso em: 12 dez. 2022.
47
LAVOIE, Marc. La Economía post – keynesiana. Un antídoto del pensamento único. Cidade
Barcelona. Editora Icaria, 2005.144 p.
MENGER, Carl. A origem do dinheiro. [S. l.: s. n.], 1892. 42 p. Disponível em: Carl Menger, On
the origins of money. Acesso em: 12 dez. 2022.
MOHROE, Hunter; CARVAJAL, Ana; PATILLO, Catherine. Los peligros de los Ponzis. Los
reguladores deben actuar pronto para acabar com los esquemas de Ponzi antes de que prosperes.
Finanzas & Desarollo. Washington, Vol. 47, num.1, pp 37-39, mar. 2010.
NAKAMOTO, Satoshi. Bitcoin: A peer-to-peer electronic cash system. [S.l.], 2008. Disponível em:
www. Bitcoin.org/Bitcoin.pdf. Acesso em: 03 out.2022.
PALHEIROS, Yuri: Não compre Bitcoin antes de ler este livro. Porto Alegre: Citadel, 2022.
PAULA, William Ribeiro de. Blockchain e sua Correlação com Teoria dos Jogos. São Paulo: USP,
2019. 67 p. Disponível em: https://www.ime.usp.br/~map/tcc/2019/WilliamRibeiroV1.pdf. Acesso
em: 6 dez. 2022.
REIS, Tiago. Crise asiática de 1997: entenda como aconteceu a crise dos Tigres Asiáticos. [S. l.]:
Suno, 9 mar. 2019. Disponível em: https://www.suno.com.br/artigos/crise-asiatica/#:~:text=Em
%201998%2C%20a%20crise%20asi%C3%A1tica,os%20mercados%20financeiros%20desses
%20pa%C3%ADses. Acesso em: 12 dez. 2022.
SCHWAB, Klaus; NICHOLAS, Davis. Aplicando a quarta revolução industrial. Tradução: Daniel
Miranda. 1ª. ed. São Paulo: Edipro, 2018. 350 p.
SILVA, Zivanilson Teixeira. Macroeconomia internacional: para entender a crise global. Natal. Ed
ZteS, 2009, p.129.
SOBRAL, Fernando. Crise de 1997: Os tristes dias dos tigres asiáticos. [S. l.]: Jornal de Negócios,
21 jul. 2021. Disponível em: https://www.jornaldenegocios.pt/weekend/detalhe/crise-de-1997-os-
tristes-dias-dos-tigres-asiaticos. Acesso em: 12 dez. 2022.
ULRICH, Fernando. Bitcoin: a moeda na era digital. São Paulo: Instituto Ludwig von Mises, Brasil,
2014. Disponível em: https://elivros.love/livro/baixar-livro-Bitcoin-a-moeda-na-era-digital-
fernando-ulrich-em-epub-pdf-mobi-ou-ler-online. Acesso em: 03 out.2022.
SILVA, Mariana Maria. 1 ano depois de virar moeda oficial em El Salvador, bitcoin está
‘esquecido‘ no país: El Salvador foi o primeiro país a adotar uma criptomoeda como moeda oficial,
mas medida não ganhou popularidade entre habitantes. In: Exame. [S. l.], 8 set. 2022. Disponível
em: https://exame.com/future-of-money/1-ano-depois-de-virar-moeda-oficial-em-el-salvador-
bitcoin-esta-esquecido-no-pais/. Acesso em: 12 dez. 2022.