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All content following this page was uploaded by Adalberto Bono Maurizio Sacchi Bassi on 04 July 2022.
Dezembro 2021
Nota prévia
• este material pretende ser útil para um curso básico de Fı́sico-Quı́mica, em nı́vel de
graduação, ou revisão e nivelamento para pós-graduação;
• a teoria temporal exposta neste texto, assim como aquela na qual ela se inspira, a saber, a
termodinâmica de processos homogêneos em meio contı́nuo proposta por Clifford Ambrose
Truesdell, é uma radical simplificação da termodinâmica de meios contı́nuos;
• por isso, como pré-requisito ela precisa apenas dos mesmos conhecimentos de cálculo
matemático fundamental exigidos pela teoria atemporal habitualmente ensinada;
• mesmo assim, de modo não rigoroso muitos conceitos matemáticos são apresentados, sendo
fornecida bibliografia de boa qualidade para aprofundar, com segurança, tais conceitos;
• essa teoria é aderente aos conceitos e terminologia da Union of Pure and Applied Che-
mistry (IUPAC), à termodinâmica estatı́stica clássica e, também, à termodinâmica de
meios contı́nuos, sendo esta última a teoria termodinâmica mais útil, hoje em dia, para
aplicações práticas;
• como as utilidades aqui visadas são principalmente de interesse quı́mico, a teoria exposta
é uma termodinâmica quı́mica;
• neste material, o enfoque da termodinâmica quı́mica é aquele desde sempre usado para
o estudo da evolução temporal de reações quı́micas; logo, neste material didático, termo-
dinâmica e cinética quı́micas não apresentam separação conceitual.
A primeira parte do texto inclui dois capı́tulos introdutórios, cuja atenta leitura dos conceitos
apresentados é fundamental para a compreensão do restante do livro, uma vez que tais conceitos
não são aqui mostrados do modo que é costumeiro nos livros didáticos de termodinâmica. O
terceiro e último capı́tulo dessa parte contém a primeira lei da termodinâmica para sistemas
fechados. Esta é apresentada de modo a ressaltar sua significativa diferença conceitual em
relação ao princı́pio de conservação da energia, sendo ambos considerados de modo clássico, ou
seja, independentemente do também adotado princı́pio de conservação da massa.
A segunda parte, dividida em dois capı́tulos, é inteiramente dedicada ao cerne da termo-
dinâmica, portanto à sua segunda lei para sistema fechado sob processo termobaricamente e de
potencial quı́mico homogêneo (SF TµP-h). Em seu primeiro capı́tulo a segunda lei é enfocada
de acordo com uma visão muito simplificada da teoria estatı́stica e de informação criada por
Boltzmann-Gibbs-Shannon, enquanto no segundo capı́tulo considera-se a desigualdade de Clau-
sius. Todo o formalismo matemático é apresentado salientando-se sua interpretação conceitual,
em vez de algebrismos, e, por isso mesmo, ele é indissociável dos conceitos centrais em que
se baseia a termodinâmica. Aliás, deve-se destacar que a matemática não é entendida, neste
texto, como uma ferramenta, mas sim como parte estrutural dos conceitos.
A terceira parte trata de transformações quı́micas e entre estados de agregação. De modo
coerente com as duas partes anteriores, seus primeiros dois capı́tulos são dedicados à termo-
dinâmica e à cinética quı́micas. Justamente por causa da coerência com as partes anteriores,
termodinâmica e cinética quı́micas também não são mostradas do modo que é costumeiro nos
livros didáticos de termodinâmica. No terceiro e último capı́tulo a interpretação conceitual da
regra de fases tem seu enfoque dirigido ao estudo dos diagramas de fase. Ela é apresentada logo
de inı́cio, e sua dedução utiliza conceitos que foram desenvolvidos ainda no primeiro capı́tulo
da segunda parte.
A quarta parte é dedicada a conceitos que, embora fundamentais para um entendimento
mais profundo da termodinâmica e muito significativos no seu desenvolvimento histórico, podem
não ser considerados essenciais num curso de graduação. Seu primeiro capı́tulo envolve ideias
primordiais da termodinâmica, enquanto o segundo fornece o importante conceito de equação
de estado. Tais equações são experimentalmente buscadas desde que a termodinâmica existe
como ciência. Os últimos dois capı́tulos contêm um estudo especı́fico sobre soluções, gasosas e
principalmente lı́quidas, as quais são o dia a dia do quı́mico experimental. O capı́tulo final dessa
parte envolve conceitos básicos sobre as interações entre soluções aquosas e corrente elétrica.
Então, entre os doze capı́tulos mencionados, os primeiros oito formam a parte considerada
essencial para um curso de graduação, enquanto os quatro capı́tulos seguintes podem ser consi-
derados complementares. Evidentemente, ainda existe uma grande quantidade de outros temas
quimicamente muito interessantes e relacionados à termodinâmica, tanto teóricos como aplica-
dos, temas estes que não estão incluı́dos neste texto. A escolha dos temas presentes na quarta
parte obedeceu ao critério de importância, no que se refere aos conceitos mais fundamentais
da termodinâmica quı́mica. De fato, nos primeiros oito capı́tulos existem afirmações cujas ex-
plicações não são localmente fornecidas, mas são apresentadas na quarta parte, sendo nas partes
anteriores apenas informado onde elas se encontram.
Deve-se ressaltar que este material, propositalmente, não apresenta exercı́cios para resolver,
porque é muito frequente que o aluno tente aprender por meio da resolução de exercı́cios. Isso
é estimulado desde o ensino médio, é consolidado no estudo para o vestibular e continua no
ensino superior. Porém, cabe indagar quanto a resolução dos exercı́cios presentes nos livros
didáticos ensina os estudantes a respeito dos conceitos fundamentais da fı́sico-quı́mica. Ou
quão úteis tais exercı́cios serão para a posterior vida profissional dos alunos. Ou quanto tais
resoluções, memorizadas como técnicas, estimulam o senso crı́tico dos estudantes. Este texto
foi escrito após lecionar termodinâmica quı́mica, sem utilizar exercı́cios nas avaliações, ao longo
de dez semestres, os quais ocorreram depois de décadas durante as quais avaliações utilizaram
exercı́cios, parcial ou totalmente (desde março de 1970).
Nas primeiras aulas os alunos podem pedir listas de exercı́cios, pois é assim que a maioria
deles aprendeu a estudar e ser avaliado. Para suprirem essa demanda, as bibliotecas costumam
conter vasta coleção de livros didáticos, com numerosos exercı́cios disponı́veis, e, caso algum
estudante se interesse em resolvê-los e peça auxı́lio ao professor, sugere-se que ele induza o aluno
a considerar, na resolução, exclusivamente o enfoque deste texto. Garante-se que o conteúdo
aqui presente, se bem compreendido pelo estudante, permite-lhe a fácil resolução de qualquer
exercı́cio, bem formulado, que se encontre em livros didáticos.
Todavia, não se aconselha o professor a indicar exercı́cio algum. Ao contrário, propõe-se
que os estudantes fiquem bem cientes de que a resolução de exercı́cios não é obrigatória e
que as avaliações não os usarão, porque o estudo que se deseja estimular não é por resolução
de exercı́cios. Se essa clareza existir, muito raramente algum aluno perguntará ao professor
sobre uma resolução de exercı́cio. Mas, aos poucos, perguntas muito mais frutı́feras surgirão
espontaneamente, tanto conceituais como práticas. Elas podem, inclusive, ser estimuladas pelo
professor.
Porém, de inı́cio, a falta dos exercı́cios pode atemorizar alguns alunos. É por esse motivo
que a quinta parte deste texto faz-se necessária, porque é muito importante que cada estudante,
o mais cedo possı́vel, sinta-se seguro de que pode ter bom desempenho em prova exclusivamente
teórica. Apesar do susto inicial dos alunos, o ı́ndice de aprovação obtido com este material foi
superior ao anteriormente atingido, com ensino e provas tradicionais.
O único capı́tulo da quinta parte contém uma primeira seção com quatrocentos e vinte
e cinco perguntas (algumas com subitens) que acompanham sequencialmente o desenrolar da
matéria até o final da terceira parte, ou seja, sobre todo o conteúdo essencial. Sugere-se ao
professor que estimule ser consultado sobre as respostas porque, embora todas elas se encontrem
no texto, fornecê-las a quem indagar, mas em outras palavras, muito ajuda o aprendizado. São
catorze questionários, portanto praticamente um por semana ao longo do perı́odo letivo. A
segunda seção destina-se a revisões da matéria, talvez antes de provas.
Procura-se apresentar todo o conteúdo de modo lógico, cada conceito assentado sobre outros
anteriormente colocados. Um sumário inicial e um ı́ndice alfabético final estão incluı́dos, para
facilitar a localização de tópicos de interesse do leitor, e, além disso, no próprio texto, com muita
frequência (quiçá, demasiada), é informada a localização dos conceitos nos quais a argumentação
se baseia. Mesmo assim, sugere-se fortemente a leitura sequencial.
Agradecimentos são devidos ao Instituto de Quı́mica da Universidade Estadual de Campi-
nas e, em particular, ao seu Departamento de Fı́sico-Quı́mica, onde tive o prazer de lecionar
e pesquisar durante cinquenta e um anos, antes como membro do corpo docente e, após a
aposentadoria compulsória por idade, como professor colaborador. Agradecimentos especiais
são devidos aos meus ex-alunos, tanto de graduação como de pós-graduação, e aos meus ex-
orientandos do programa de estágio docente, de iniciação cientı́fica, mestrado e doutorado, bem
como aos pesquisadores doutores que participaram do grupo, por causa dos questionamentos
muitas vezes feitos, que levaram ao aprimoramento das ideias que resultaram neste texto. Mas
o maior agradecimento é, merecidamente, à minha esposa, pela compreensão quanto ao tempo
dedicado a este material, desde muito antes da sua confecção definitiva.
Campinas, setembro de 2021.
Sumário
I Sistema fechado:
conceitos introdutórios e balanceamento energético 11
1 Conceitos fundamentais I 12
1.1 Sistema, propriedade e processo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.1.1 Corpo e sistema geométrico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.1.2 Sistema geométrico clássico e de partı́culas . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
1.1.3 Associação de grandeza termodinâmica a tipo de local . . . . . . . . . . . 15
1.1.4 Propriedade e processo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1.1.5 Derivação e integração temporal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
1.2 Propriedade extensiva e intensiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1.2.1 Extensiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1.2.2 Intensiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
1.2.3 Tipos de propriedades intensivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
1.3 Equação diferencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
1.3.1 Definição de equação diferencial exata e inexata . . . . . . . . . . . . . . . 25
1.3.2 Exemplo de equação diferencial exata e inexata . . . . . . . . . . . . . . . 26
1.3.3 Abrangência de equação diferencial exata . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
2 Conceitos fundamentais II 29
2.1 Condição homogênea . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
2.1.1 Sistema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
2.1.2 Processo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
2.2 Condição estacionária . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.2.1 Sistema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.2.2 Processo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
2.3 Condição de equilı́brio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
2.3.1 Sistema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
2.3.2 Processo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
2.4 Teorias temporal e atemporal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
2.4.1 “Processo reversı́vel” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
2.4.2 Igualdade numérica e entre conjuntos de números . . . . . . . . . . . . . . 38
2.4.3 Homogeneidade absoluta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
2.4.4 Comparação entre as teorias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
2.5 Fronteiras especiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
2.5.1 Sistema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
2.5.2 Processo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
3 Primeira lei 47
3.1 Conteúdos e Trocas de Energia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
3.1.1 Convenção de sinais para trocas energéticas . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
3.1.2 Movimentos internos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
3.1.3 Energia interna . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
3.1.4 Energia de estrutura rı́gida e conteúdo energético do sistema . . . . . . . 50
3.1.5 Trabalho total e calor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
3.1.6 Balanceamento energético de SF . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
3.2 Primeira lei da termodinâmica para SF . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
3.2.1 Igualdades para diferenças finitas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
3.2.2 Abrangência da equação diferencial exata de Uq,w . . . . . . . . . . . . . . 56
3.2.3 Trabalho volumétrico e não volumétrico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
3.2.4 Expressões para trabalhos volumétricos especı́ficos . . . . . . . . . . . . . 58
3.3 Entalpia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
3.3.1 Definição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
3.3.2 Aplicação em processos especı́ficos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
3.3.3 Abrangência das equações diferenciais exatas de (wv )P V e Hq,wnv . . . . . 61
3.4 Fixação por resolução de exercı́cio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
4 Segunda lei I 66
4.1 Segunda lei da termodinâmica para SF sob processo homogêneo . . . . . . . . . . 66
4.1.1 Estado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
4.1.2 Subestado, informação faltante, determinismo e desordem . . . . . . . . . 69
4.1.3 Definições complementares para meios contı́nuos . . . . . . . . . . . . . . 70
4.1.4 Enunciado conceitual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
4.1.5 Estabilidade, metaestabilidade e instabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . 74
4.1.6 Entropia, energias de Helmholtz e de Gibbs . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
4.2 Homogeneidade TµP . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
4.2.1 Conceito de potencial quı́mico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
4.2.2 SF TµP-h . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
4.2.3 Processo TµP-h . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
4.2.4 Representação do estado de SF sob processo TµP-h . . . . . . . . . . . . 85
4.2.5 Definições incompletas: temperatura, pressão e potencial quı́mico . . . . . 88
4.2.6 Igualdades fundamentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
4.2.7 Igualdades adicionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
5 Segunda lei II 94
5.1 Capacidades térmicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
5.1.1 Definição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
5.1.2 SF contendo apenas gás perfeito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
5.1.3 Inter-relação das capacidades térmicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
5.1.4 Variação de entropia em composição constante . . . . . . . . . . . . . . . 97
5.1.5 Complemento prescindı́vel: revisão histórica . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
5.2 Propriedade parcial molar de espécie quı́mica Wj . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
6
5.3 Desigualdades diferenciais para SF sob processo TµP-h . . . . . . . . . . . . . . . 102
5.3.1 Postulado básico e expressões dele decorrentes . . . . . . . . . . . . . . . 102
5.3.2 Validade da igualdade e da desigualdade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104
5.4 Desigualdades integrais para SF sob processo TµP-h . . . . . . . . . . . . . . . 106
5.4.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106
5.4.2 Processos classificados (α), (β), (γ) e (δ) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
5.4.3 Processos classificados (1), (2), (3), (4) e (5) . . . . . . . . . . . . . . . . . 109
5.5 Segunda lei da termodinâmica para SF sob processo TµP-h . . . . . . . . . . . . 110
5.6 Fixação por resoluções de exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112
7
7.5.2 Solução gasosa perfeita . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 162
7.5.3 Solução lı́quida diluı́da . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 163
8
10.1.3 Equação de gás perfeito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 216
10.1.4 Conceito de gás perfeito em sistema de partı́culas . . . . . . . . . . . . . . 216
10.2 Equação de estado (EDE) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 217
10.2.1 Definição de EDE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 217
10.2.2 Isotermas para única espécie quı́mica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 218
10.2.3 EDE de van der Waals e de Redlich-Kwong . . . . . . . . . . . . . . . . . 223
10.3 Equação do virial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 227
10.4 Fator de compressibilidade e fugacidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 229
10.4.1 Fator de compressibilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 229
10.4.2 Fugacidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 230
10.5 Forças entre partı́culas e densidade de momento linear translacional . . . . . . . 233
9
V Autoavaliação 285
10
Parte I
Sistema fechado:
conceitos introdutórios e
balanceamento energético
Capı́tulo 1
Conceitos fundamentais I
partes finitas, que são conjuntos tridimensionais de infinitos pontos, delimitados, em todas as
direções e sentidos, por bidimensionais (sem espessura) superfı́cies matemáticas que en-
volvem tais conjuntos e a eles pertencem. Toda parte finita, portanto, contém a superfı́cie
que a delimita, a qual recebe o nome de fronteira, sendo o exterior da parte finita todo o
espaço que a ela não pertencer. Por outro lado, o interior da parte finita é todo o espaço
que a ela pertencer, menos a sua fronteira. Todo ponto interior da parte finita é adjacente,
em todas as direções e sentidos, a outros pontos interiores pertencentes à mesma parte
finita. Duas partes finitas, contenham, ou não, pontos interiores ou de fronteira comuns
a ambas, formam uma parte finita.
No espaço matemático tridimensional proposto, todo corpo corresponde a uma parte finita
que será denominada sistema geométrico. Logo, a todo sistema geométrico aplicam-se os já
colocados conceitos de fronteira, exterior e interior, referentes às partes finitas. Deste modo,
a impressão de que o corpo é finito e localizado transforma-se, para o sistema geométrico, em
definição matematicamente precisa. Como a única região que se pretende estudar, dentro do
espaço matemático antes mencionado, é aquela em que se situa o sistema geométrico,
a partir daqui, neste texto, os dois tipos de local antes mencionados passam a ser
o ponto, posicionado na fronteira ou no interior do sistema geométrico, e o próprio
sistema geométrico.
Todo sistema geométrico pode ser dividido em qualquer quantidade, dada por um real inteiro
positivo (infinito não é um real), de partes finitas, cujos pontos interiores jamais pertençam
a mais do que apenas uma delas e que, juntas, constituam o sistema. Tais partes finitas são
chamadas subsistemas geométricos. Evidentemente, o sistema é um subsistema (divisão por
1) e, reciprocamente, todo subsistema é o sistema referente à porção que lhe corresponde do
corpo, a qual também é um corpo.
Por isso, neste texto, o termo subsistema geométrico será utilizado apenas quando
houver explı́cita referência a um sistema geométrico ao qual o primeiro pertença.
1. embora todo ponto interior ao volume do sistema geométrico seja adjacente, em todas
as direções e sentidos, a outros pontos interiores ao mesmo volume, se for imposto que
o sistema contenha pelo menos um subsistema cujos pontos interiores sejam todos não
mássicos,4 o espaço ocupado pela massa do sistema geométrico será menor do que o
volume do mesmo;
Logo, sistemas geométricos clássicos são formados por meios contı́nuos e, consequentemente,
nesses sistemas o cálculo diferencial e integral é aplicável não apenas ao estudo do volume, mas
também ao estudo da massa e, portanto, de todas as grandezas termodinâmicas. Por definição,
Não há contradição alguma em, apenas por simplicidade didática, utilizar um sistema de
partı́culas para explicar o significado de grandeza termodinâmica definida em sistema geomé-
trico clássico, porque
o essencial para a adoção do sistema clássico é que ele inclua as grandezas termo-
dinâmicas e as expressões matemáticas necessárias para a confirmação experimental
de resultados,
não se exigindo que as explicações dos significados de todas essas grandezas sejam apresentadas
de modo coerente com a continuidade do meio, embora
sempre sejam possı́veis explicações mais elaboradas, que apresentem tal coerência.
Note que,
neste texto, a partir daqui os substantivos sistema e subsistema, quando não quali-
ficados, subentendem ambos os adjetivos geométrico e clássico.
ou jamais for um real (infinito não é um real, assim como não são reais os números complexos),
Convém ressaltar que basta a ocorrência de um entre esses três fatos para que a grandeza não
seja associada ao tipo de local considerado.
Conceito de função
Uma função7 yx é uma tabela yx de duas colunas onde, para cada valor8 incluı́do na coluna
referente à variável independente x, na mesma linha em que esse valor estiver, mas na coluna
referente à variável dependente y, sempre se encontra um e somente um valor, o qual é o único
valor de y que a tabela (ou função) yx atribui a determinado valor de x. Os valores presentes
na coluna referente a x formam o conjunto dos argumentos de yx , enquanto aqueles existentes
na coluna referente a y constituem o conjunto das imagens de yx .
Para indicar a imagem y correspondente a x no par, sem que seja especificada qual é
a linha considerada da tabela yx , escreve-se y(x). Para indicar a imagem correspondente a
um bem determinado valor do argumento, caracteriza-se este último de modo especial, por
exemplo grafando xa ou usando outro simbolismo, e caracteriza-se da mesma forma a imagem
7
Para aprofundar este conceito, veja, por exemplo, Halmos, Paul R., Naive set theory, Dover, 2017 (original
de 1960).
8
Infinito não é um valor.
16 Adalberto B. M. S. Bassi
condição necessária e suficiente estará satisfeita e a grandeza termodinâmica será uma proprie-
dade. Caso contrário, ela não será uma propriedade. Grandezas termodinâmicas que satisfaçam
à condição necessária antes colocada, mas não satisfaçam à condição necessária e suficiente, são
denominadas funções de processo, sendo que o processo:
1. ocorre ao longo de um intervalo temporal finito e aberto,10 t# < t < t# , chamado tempo
de existência do processo;
2. é uma sequência temporalmente ininterrupta de descrições instantâneas do sistema cha-
madas eventos, cada um deles grafado e(t), onde t# < t < t# , os quais não se alteram
temporalmente de modo descontı́nuo, nem modificam deste modo, em cada instante t,
suas tendências11 de alteração temporal, ou taxas de evolução temporal do processo, gra-
fadas de
dt (t).
12 Os eventos são conjuntos de valores apresentados, no instante t, por todas
as propriedades do sistema consideradas pela teoria adotada neste texto,13 valores estes
que podem variar de ponto para ponto do sistema. Evidentemente, assim como diferem
entre si os valores das propriedades incluı́das no conjunto e(t), também variam os valores
das respectivas tendências de alteração temporal, incluı́das em dedt (t);
de
3. ou apresenta dt (t) nula (isto implica a nulidade de todas as tendências de alteração
temporal incluı́das em de # 14 ou nunca nula durante esse
dt (t)) para todo t em t# < t < t ,
intervalo temporal. Note que essa imposição em nada restringe o conceito de processo
porque, se de
dt (t) = 0 num instante isolado, então tal momento é final de um processo e
inicial de outro temporalmente subsequente ao primeiro;
4. envolve instantes terminais t# e t# , respectivamente, inicial e final, arbitrários, porque
eles são definidos de acordo com a conveniência. A esses momentos terminais não se
aplicam as exigências, apresentadas no item 2, de continuidade temporal, nem para os
eventos, nem para as suas tendências de alteração temporal. Logo, nos instantes terminais
não precisam ser definidas as funções temporais et e de dt t (basta a indefinição de uma das
funções incluı́das para haver indefinição do conjunto), embora ambas possam ser definidas.
Grandezas termodinâmicas podem não ser propriedades, nem funções de processo, sendo este
o caso das constantes universais, como por exemplo a constante dos gases perfeitos e as massas
molares,15 estas últimas especı́ficas para cada espécie quı́mica considerada (para estes dois
10
Aberto indica que a variável (no caso, o tempo t) aproxima-se o quanto se queira de cada um dos extremos
do intervalo de variação da mesma (no caso, os instantes inicial t# e terminal t# ), sem jamais alcançar qualquer
um desses dois extremos.
11
Entende-se que uma tendência a algo não implica a efetivação desse algo. Matematicamente, ela pode ser
entendida como uma razão entre duas modificações, quando os valores de ambas tendem a zero.
12
Uma função yx é diferenciável em determinado intervalo de valores da sua única variável independente, x,
dy
quando, nesse intervalo, existir e for contı́nua sua função derivada única. A função derivada única, dx x
, para
dy
cada valor de x tem como imagem dx (x), que é a tendência (veja nota de rodapé anterior) de alteração de y(x)
com modificação de x, para o especı́fico valor x considerado.
13
A teoria neste texto adotada é apresentada na subseção 2.4.4.
14
Note que ocorrer de dt
(t) = 0 para todo t em t# < t < t# não implica desobediência à condição necessária
apresentada no inı́cio desta subseção 1.1.4, porque nada impede que o valor da grandeza termodinâmica varie
com o tempo para o tipo de local em questão, desde que o especı́fico local considerado mude para outra região
do espaço matemático tridimensional, ou tal local continue sendo o mesmo, mas o intervalo temporal mude.
15
O adjetivo molar vem de mol, que é a unidade SI para quantidade de matéria (para os significados de mol,
SI e quantidade de matéria, veja nota de rodapé da subseção 1.2.1).
18 Adalberto B. M. S. Bassi
• t → t1 é lido t tende a t1 , isso significando que, qualquer que seja o intervalo temporal
finito entre t2 e t1 , t está mais perto de t1 do que t2 está próximo de t1 ;
1.2.1 Extensiva
Propriedades extensivas são:
1. grandezas termodinâmicas que não são associadas ao tipo de local denominado ponto,
porque, em qualquer ponto, o valor delas ou sempre é nulo (logo, não pode variar no
tempo), ou nunca é um real bem definido;
As propriedades extensivas são classificadas como aditivas ou não aditivas.16 Uma propriedade
extensiva será aditiva quando,
Quando isso não ocorrer, a propriedade extensiva será não aditiva. Massa, volume e quantidade
de matéria17 são exemplos de propriedades extensivas aditivas, enquanto seus inversos são
exemplos de propriedades extensivas não aditivas. Note que, conforme esperado, os valores
dessas propriedades são sempre nulos (aditivas) ou sempre divergem (não aditivas) em todo
ponto de qualquer sistema.
1.2.2 Intensiva
Propriedades intensivas são:
3. grandezas termodinâmicas que não são associadas ao tipo de local denominado sistema
não homogêneo em relação à especı́fica propriedade intensiva considerada, porque o valor
da grandeza termodinâmica nunca é único em tal tipo de local.
16
É muito comum que a definição de propriedade extensiva coincida com aquela que, neste texto, é a de
extensiva aditiva. Aliás, isso é tı́pico de publicações que consideram apenas sistemas homogêneos, mesmo que
essa restrição não seja nelas explicitada (o conceito de sistema homogêneo pode ser visto na subseção 2.1.1 e,
parcialmente, já no primeiro destaque da próxima subseção 1.2.2). Existem diversas definições para o adjetivo
extensivo (veja, por exemplo, Mannaerts, Sebastiaan H., Extensive quantities in thermodynamics, Eur. J. Phys,
35, 3, 035017 (2014), DOI:10.1088/0143-0807/35/3/035017).
17
Por convenção internacionalmente aceita, a abreviatura SI representa La Système international d’unités,
https://www.bipm.org/utils/common/pdf/si brochure 8 fr.pdf. No SI, a quantidade de matéria é denominada,
em inglês, amount of substance, mas, em francês, quantité de matière. Em português, ambas as denominações
quantidade de substância e quantidade de matéria são usadas, prevalecendo uma ou outra de acordo com a
época. Neste texto, usa-se a tradução do francês somente porque o Bureau International des Poids et Mesures -
BIPM localiza-se em Saint-Cloud, na França, e nesse paı́s se originou. No SI, a unidade de quantidade de matéria
é o mol, cujo sı́mbolo é mol . De acordo com o SI, um mol contém exatamente 6, 022 140 76 × 1023 entidades
elementares especificadas (átomos, moléculas, ı́ons, elétrons, ou qualquer outra partı́cula ou grupo especificado
de partı́culas).
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 21
A divisão dos valores de duas propriedades extensivas aditivas é o produto do valor de uma
propriedade extensiva aditiva pelo inverso do valor de outra propriedade extensiva aditiva, que
por sua vez é o produto do valor de uma extensiva aditiva pelo valor de uma extensiva não
aditiva, cujo resultado só pode ser o valor de uma propriedade extensiva não aditiva. Este
último frequentemente recebe o nome de valor médio de alguma propriedade intensiva.
Por exemplo, a massa (extensiva aditiva) dividida pelo volume (extensiva aditiva) de um
determinado sistema produz a densidade de massa média (extensiva não aditiva) desse sistema
(densidade de massa é uma propriedade intensiva). Chamar uma propriedade extensiva não
aditiva e uma intensiva com o mesmo nome, mantendo a importante distinção entre elas apenas
por meio do adjetivo médio(a), provém do fato de que, para o limite no qual o sistema tende
a um ponto e somente para esse limite, a propriedade extensiva não aditiva transforma-se na
correspondente intensiva.
O conceito matemático de limite corresponde, neste caso, a uma extrapolação conceitual da
divisão do sistema em outros menores, porque qualquer número de divisões seguidas levará,
sempre, a um sistema cada vez menor, mas nunca a um ponto. Atingir o ponto exigiria um
número infinito de divisões; logo, o ponto é inatingı́vel mediante divisões sucessivas do sistema.
A diferença entre os sistemas cada vez menores é quantitativa. Para atingir o ponto, é necessário
extrapolar a ideia de divisões sucessivas, sendo tal extrapolação um conceito teórico, não um ato
experimental, tal como a divisão de um sistema. É por isso que existe uma diferença qualitativa
entre sistema, por menor que ele seja, e ponto.
Essa diferença qualitativa se reflete na diferença, também qualitativa, entre a propriedade
média, que é extensiva não aditiva, e a correspondente propriedade intensiva. A extrapolação
conceitual dos valores experimentais da propriedade média (extensiva não aditiva) para o valor
teórico (não mensurável) da propriedade num ponto (intensiva) pode ser representada através
de um gráfico, por meio do qual se efetua uma extrapolação matemática. Por exemplo, suponha
que o valor medido da massa de cada sistema, M , seja lançado no eixo vertical, seu volume
medido, V , apareça no eixo horizontal e os sistemas sejam esferas concêntricas, correspondendo
a origem do gráfico ao centro das esferas.
A densidade de massa média referente a cada sistema (logo, a cada esfera) é o resultado
da divisão da ordenada pela abscissa do ponto que o representa no gráfico. Ao passo que
sistemas menores sejam considerados (esferas com raios menores), os correspondentes pontos
experimentais representativos dos sistemas se aproximam da origem do gráfico. Tal aproximação
é interrompida a partir do menor raio esférico que ainda permite medidas confiáveis para massa
e volume. Interligam-se, então, os pontos experimentais por meio de uma curva, a qual é
matematicamente extrapolada até a origem.18
Note que, para qualquer volume V finito, a inclinação da curva no ponto (V, M ) não é a
densidade de massa média do correspondente subsistema, M dM
V , mas sim o valor dV (V ). Porém,
a inclinação da curva na extrapolação até a origem, (0, 0), é dM + dM
dV (0 ) = limV →0+ dV (V ) =
limV →0+ MV ,
19 onde a última igualdade é devida ao fato de que coincidem as extrapolações,
dM
ρ(~r, t) = (~r, t), (1.1)
dV
onde a densidade de massa, dM
dV (~
r, t), é a tendência de crescimento da massa com aumento do
volume no instante t, no ponto interior do sistema localizado por ~r, no qual tanto M como V
sempre são nulos.
Convencionando essa interpretação para a notação dM
dV (~r, t), torna-se redundante a
+
informação 0 , que a partir daqui não mais será utilizada neste texto.
Ressalte-se que foram mostradas a forma como se atribui o valor de uma propriedade intensiva
a um ponto (sempre por meio de extrapolação de resultados experimentais, jamais por medida
experimental direta, impossı́vel de ser efetuada em ponto) e, também, a importância de não
omitir o adjetivo médio(a), no caso da propriedade extensiva não aditiva correspondente. Além
disso, foi
dM
indicado o significado da notação dV (~
r, t).
Densidade
Se no item Propriedade intensiva e seu valor médio, da subseção 1.2.2, a propriedade exten-
siva aditiva massa, M , fosse trocada por qualquer outra propriedade extensiva aditiva ou, sob
condições especiais, também não aditiva, x, no lugar da eq. 1.1, que aparece ao final do menci-
onado item, terı́amos
dx
xv (~r, t) = (~r, t), (1.2)
dV
onde xv (~r, t) é a densidade de x. Por exemplo, se x = U , energia interna (extensiva aditiva),
ou x = S, entropia (extensiva não aditiva, mas sob condições especiais), onde U , S e as
condições especiais serão definidas posteriormente, respectivamente terı́amos a densidade de
energia interna, Uv (~r, t), e a densidade de entropia, Sv (~r, t). Note que, de acordo com essa
grafia,
para a densidade de massa dever-se-ia escrever Mv (~r, t) em vez de ρ(~r, t),
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 23
Especı́fica
No entanto, além das densidades, são também usadas as propriedades intensivas ditas es-
pecı́ficas, xw (~r, t) = xρv (~r, t) = [ dVdx dV
dM ](~
dx
r, t) = dM (~r, t), onde xw (~r, t), xv (~r, t) e ρ(~r, t) se
referem ao mesmo ponto interior do mesmo sistema, no mesmo instante. Evidentemente,
dV
Vw (~r, t) = dM (~r, t) = ρ−1 (~r, t), ou seja, o volume especı́fico é o inverso da densidade de massa.
Molar
xv dx dV
São também muito utilizadas as propriedades molares xm (~r, t) = c (~
r, t) = [ dV dN ](~
r, t) =
dx
dN (~
r, t), onde xm (~r, t), xv (~r, t) e c(~r, t) se referem ao mesmo ponto interior do mesmo sistema,
no mesmo instante. Evidentemente, Vm (~r, t) = dN dV
(~r, t) = c−1 (~r, t), ou seja, o volume molar é
o inverso da concentração. Seja um sistema contendo J espécies quı́micas distintas no instante
dN
t. Para as J quantidades de matéria (x = Nj , j = 1, . . . , J) molares, Nj m (~r, t) = dNj (~r, t),
também existem convenções especı́ficas. De fato,
20
A notação x̌ é usada para distinguir a variável de integração do limite superior de integração, x.
24 Adalberto B. M. S. Bassi
Note que, se não houvesse tal exclusão, seria necessário informar a direção e o sentido da
∂yv
mudança de ~r, porque o valor de ∂x k
(Ψv (~r, t)) dependeria dessa informação suplementar. Logo,
v
∂yv
se não houvesse a mencionada exclusão, a notação ∂xkv (Ψv (~r, t)) seria ambı́gua, portanto errada.
Embora esse tipo de propriedade intensiva tenha sido exemplificado derivando parcialmente uma
densidade em relação a outra densidade,
A eq. 1.4 será uma equação diferencial exata se e somente se, dentro do volume aberto
K-dimensional descrito no primeiro parágrafo:
dy dy
1. para K = 1, existir função diferenciável26 yx tal que f (x) = dx (x), portanto dy = dx (x) dx
(para K = 1 omite-se o ı́ndice em f1 , x1 e dx1 );
2. para K ≥ 2, forem:
(a) diferenciáveis27 todas as funções (fk )x1 ,...,xK , ou seja, existirem e não forem des-
∂fk
contı́nuas por salto todas as K 2 derivadas parciais ∂xl (x1 , . . . , xK ), para l, k =
1, . . . , K;
∂fk
(b) contı́nuas28 todas as K 2 funções derivadas parciais ∂xl x ,...,x , para l, k = 1, . . . ,
1 K
K;
(c) obedecidas todas as K(K−1)
2 igualdades, para l 6= k, decorrentes da condição de
integrabilidade de Schwarz,
∂fk ∂fl
(x1 , . . . , xK ) = (x1 , . . . , xK ), para k, l = 1, . . . , K. (1.5)
∂xl ∂xk
Se, para K = 1, a condição 1 não for obedecida ou se, para K ≥ 2, alguma entre três condições
(a), (b) ou (c) não for obedecida, a eq. 1.4 será denominada equação diferencial inexata no
volume considerado. Em analogia ao que acontece para K = 1, para K ≥ 2, se a eq. 1.4 for
uma equação diferencial exata, existirá função diferenciável yx1 ,...,xK , chamada função primitiva
(esta denominação é válida para K ≥ 1) tal que
∂y
fk (x1 , . . . , xK ) = (x1 , . . . , xK ), para k = 1, . . . , K, (1.6)
∂xk
22
Nota de rodapé da subseção 1.1.1.
23
Infinitesimal significa com módulo menor do que qualquer valor finito.
24
Veja, por exemplo, Apostol, Tom M., Calculus, Wiley, v. I, 1991, v. II, 2007.
25
Veja, por exemplo, Ince, Edward L., Ordinary Differential Equations, Dover, 1956 (original de 1926).
26
Nota de rodapé da subseção 1.1.4.
27
Nota de rodapé da subseção 1.2.3.
28
A diferenciabilidade colocada na condição (a) garante que as funções derivadas não apresentem descontinui-
dades por salto, mas permite que elas contenham descontinuidades essenciais. Veja, por exemplo, Malik, S. C.;
Arora, Savita, Mathematical Analysis, New Age International, 2017 (original 2009).
26 Adalberto B. M. S. Bassi
Logo, todas as três condições (a), (b) e (c) colocadas na subseção 1.3.1 são obedecidas. Se a eq.
1.7 for aplicada a y = sin x1 cos x2 + C, onde C é uma constante aditiva, chegar-se-á à equação
diferencial destacada no inı́cio deste exemplo. Portanto, a função yx1 ,...,xK correspondente a tal
equação diferencial é uma tabela tal que, para cada par de valores (x1 , x2 ) do argumento, a
correspondente imagem seja y = sin x1 cos x2 + C.
= − ∂f2
∂xl , portanto a condição de integrabilidade de Schwarz é desobedecida. Logo, somente as
condições (a) e (b), colocadas na subseção 1.3.1, são obedecidas. Conforme afirmado na citada
subseção, basta desobediência a uma entre as três condições (a), (b) ou (c) para que a equação
diferencial seja inexata e não exista a função yx1 ,...,xK .
2. pontual, caso em que a função yx1 ,...,xK existe somente num conjunto contável 31 de pontos
isolados, pertencentes ao citado volume K-dimensional, e, portanto, a correspondente e-
quação diferencial (eq. 1.7) não existe em ponto algum deste volume. De fato, fora dos
mencionados pontos isolados a função yx1 ,...,xK não existe; logo, suas correspondentes
funções derivadas parciais também não existem. Além disso, o valor de cada derivada
parcial, nos citados pontos isolados, é um limite matemático obtido a partir dos valores
das imagens da função yx1 ,...,xK nas vizinhanças do ponto considerado, imagens estas
inexistentes.
30
Nota de rodapé da subseção 1.3.1.
31
Um conjunto será contável quando for possı́vel contar seus elementos, independentemente do número destes
ser finito ou tender para infinito (neste último caso, contagem interminável). Esse conceito contrasta com o de
conjunto contı́nuo, no qual é impossı́vel realizar contagem, porque os elementos estão infinitamente próximos um
do outro, tornando impossı́vel a individualização dos mesmos. Para aprofundar esse conceito, veja, por exemplo,
Halmos, Paul R., Naive set theory, Dover, 2017 (original de 1960).
28 Adalberto B. M. S. Bassi
Note que, às vezes, a função yx1 ,...,xK , referente a determinado processo, é suave no mı́nimo
de segunda ordem no citado volume K-dimensional. Mas a mesma função, no mesmo volume,
é pontual quando referente a outro processo. Logo, às vezes a função yx1 ,...,xK abrange, no
mencionado volume, mais processos do que a sua correspondente equação diferencial exata.
Em outras palavras,
Conceitos fundamentais II
Em sistema homogêneo, o gráfico de massa contra volume, mencionado na subseção 1.2.2, não
mais pode apresentar qualquer forma, necessariamente assumindo a forma de uma reta que
passa pela origem. Por isso, em sistema homogêneo ρ(~r, t) = dM r, t) = M
dV (~ V (t), onde M e V se
referem ao sistema ou a qualquer subsistema dele. Analogamente,
todas as derivadas a que se referem os primeiros três tipos de propriedade intensiva
apresentados na subseção 1.2.3 transformam-se em quocientes.
De acordo com o quarto tipo de propriedade intensiva presente na subseção 1.2.3, tem-se as
∂yv dy
propriedades ∂x k
(Ψv (~r, t)), onde yv (~r, t) = dV (~r, t), xkv (~r, t) = dx
dV (~
k
r, t), para k = 1, . . . , K, as
v
propriedades y(t), x1 (t), x2 (t),. . . , xK (t) são extensivas, aditivas ou não aditivas e impõe-se a
existência da função diferenciável1 (yv )Ψv , sendo Ψv (~r, t) = (x1 v (~r, t), x2 v (~r, t), . . . , xK v (~r, t)).
Para o caso de sistema homogêneo, na expressão a seguir destacada ocorre a igualdade central
dy
∂yv ∂ dV ∂y ∂y
(Ψv (~r, t)) = dx (Ψv (~r, t)) = xVk (Ψ(t)) = (Ψ(t))
∂xkv ∂ dVk ∂V ∂xk
1
Nota de rodapé da subseção 1.2.3.
30 Adalberto B. M. S. Bassi
e existe a função diferenciável yΨ , onde Ψ(t) = (x1 (t), x2 (t), . . . , xK (t)). Esse tipo de propri-
edade intensiva que, caso a caso, recebe um nome especial, será neste texto definido somente
para sistemas homogêneos, ou seja, sempre será definido por meio de uma derivada parcial do
∂y
tipo ∂x k
(Ψ(t)), para k = 1, . . . , K.
Entretanto, a validade de cada definição desse tipo de propriedade intensiva, no presente
texto,
Por exemplo, a partir da definição de temperatura em sistema homogêneo (logo, a partir de uma
definição de temperatura que, a cada instante, pressupõe que esta seja a mesma em todos os
∂yv
pontos do sistema), a ser apresentada na subseção 4.2.5, utilizando igualdade ∂x k
(Ψv (~r, t)) =
v
∂y
∂xk (Ψ(t)), é imediata a definição de temperatura, no instante t, em cada ponto de sistema não
homogêneo.
De acordo com a definição de propriedade intensiva (subseção 1.2.2), é também possı́vel que
seja garantida a homogeneidade de apenas uma ou mais propriedades intensivas no instante t,
nada se informando sobre as outras. Por exemplo, um sistema será termicamente homogêneo,
ou baricamente homogêneo, ou termobaricamente homogêneo, respectivamente, quando a tem-
peratura, a pressão, ou ambas, forem homogêneas no instante t. Além disso, no instante t, para
a(s) propriedade(s) intensiva(s) considerada(s), cada uma delas indistintamente representada
por x, não é permitida descontinuidade no tempo, nem quanto ao seu valor, x(t), nem quanto
à tendência de alteração temporal do mesmo, dx dt (t). Nada impede que, por exemplo, seja ho-
mogêneo um sistema termicamente homogêneo. Mas, se apenas a(s) propriedade(s) intensiva(s)
considerada(s) for(em) homogênea(s), o sistema não será homogêneo.
2.1.2 Processo
Admite-se que existam processos homogêneos, durante os quais o sistema poderia variar os
valores das propriedades intensivas, mas o sistema permaneceria homogêneo em todo momento
pertencente ao tempo de existência do processo, t# < t < t# , e, também, nos instantes terminais
t# e t# . Note que essa definição exige que, neste tipo especı́fico de processo, nos instantes t# e
t# não sejam permitidas descontinuidades nas sequências de valores das propriedades intensivas,
nem nas tendências de alteração temporal dos mesmos. Mas lembre que, de um modo geral,
tais descontinuidades são permitidas, porque elas apenas são sempre proibidas durante o tempo
de existência do processo (veja o item Conceitos da subseção 1.1.4).
Quando for garantida a homogeneidade de apenas uma ou mais propriedades intensivas,
os mesmos advérbios utilizados para sistemas são também usados para processos. Tem-se,
assim, processos termicamente homogêneos, baricamente homogêneos e termobaricamente ho-
mogêneos. Note que um sistema pode ser homogêneo no instante t porque esse momento
pertence ao tempo de existência de um processo homogêneo. Mas pode, também, acontecer de
um sistema ser homogêneo no instante t sem que esse momento pertença ao tempo de existência
de um processo homogêneo, ou seja, não sendo o sistema homogêneo ao longo de algum inter-
valo aberto e finito que contenha o instante t. Analogamente, para sistemas termicamente
homogêneos, baricamente homogêneos e termobaricamente homogêneos.
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 31
Logo, em sistema estacionário no instante t, em cada um dos seus pontos localizados por vetores
~r e para todas as propriedades intensivas, cada uma delas indistintamente representada por x,
tanto x(~r, t) como ∂x r, t) são contı́nuos no tempo e, além disso, ∂x
∂t (~ ∂t (~
r, t) = 0. Então, por causa
da condição (1) colocada na definição,
se um sistema for estacionário no instante t, nesse momento também será nula a
tendência de modificação temporal para qualquer propriedade extensiva do sistema.
Os eventos mencionados na definição de processo, no item Conceitos da subseção 1.1.4, incluem
todas as propriedades do sistema consideradas pela teoria adotada neste texto. Portanto,
se um sistema for estacionário no instante t, nesse momento de dt (t) = 0, ou seja, a
taxa de evolução temporal do processo será nula, sendo o vice-versa também verda-
deiro.
É possı́vel que seja estacionária apenas uma ou mais propriedades intensivas no instante
t, nada se informando sobre as outras. Por exemplo, um sistema será termicamente es-
tacionário, ou baricamente estacionário, ou termobaricamente estacionário respectivamente
quando a temperatura, a pressão, ou ambas, forem estacionárias no instante t, o que exige con-
tinuidade no tempo, tanto no(s) valor(es) da(s) propriedade(s) considerada(s), x(~r, t), quanto
na(s) tendência(s) de alteração(ões) temporal(is) do(s) mesmo(s), ∂x ∂t (~
r, t). Mas, além disso, é
exigido que seja nula a tendência de alteração temporal, para cada ponto do espaço matemático
tridimensional, da opção de ele pertencer ao sistema (na sua fronteira ou interior), ou ao seu ex-
terior. Nada impede que, por exemplo, seja estacionário um sistema termicamente estacionário.
Mas, se apenas a(s) propriedade(s) intensiva(s) considerada(s) for(em) estacionária(s), o sistema
não será estacionário.
Note que a definição de estacionário nada afirma em relação à invariância espacial das pro-
priedades intensivas, no instante t. Logo, em sistema estacionário no instante t, o valor de cada
propriedade intensiva não precisa ser espacialmente invariante naquele momento. Entretanto,
conforme colocado na subseção 2.1.1, em sistema homogêneo no instante t o valor de cada
propriedade intensiva é espacialmente invariante naquele momento, mas não é afirmado que
precise ser nula a tendência de alteração temporal dos valores das propriedades intensivas nos
pontos do sistema, nem que seja necessário ser nula a tendência de alteração temporal, para
cada ponto do espaço matemático tridimensional, da opção de ele pertencer ao sistema, ou ao
seu exterior. Logo, essas tendências não precisam ser nulas, em sistema homogêneo no instante
t. Portanto,
o que se exige em sistema estacionário não se exige no homogêneo e vice-versa.
32 Adalberto B. M. S. Bassi
2.2.2 Processo
Num processo estacionário, todas as propriedades intensivas podem variar de um ponto para
outro do sistema, mas este permanece estacionário em todo momento pertencente ao tempo
de existência do processo t# < t < t# e, também, nos instantes terminais t# e t# . Portanto,
num processo estacionário, o sistema, que pode ser não homogêneo em relação a todas as
propriedades intensivas, para cada uma delas apresenta valor temporalmente imutável em cada
um dos seus pontos, ao longo de todo o tempo de existência do processo e nos seus instantes
terminais t# e t# . Além disso, ao longo de todo o tempo de existência do processo e nos seus
instantes terminais t# e t# , não se alteram os valores de todas as propriedades extensivas do
sistema.
Note que essa definição exige que, neste tipo especı́fico de processo, nos instantes t# e t#
não seja permitida descontinuidade nas sequências de valores das propriedades intensivas, nem
nas tendências de alteração temporal dos mesmos. Mas lembre que, de um modo geral, tais
descontinuidades são permitidas, porque elas apenas são sempre proibidas durante o tempo de
existência do processo (veja o item Conceitos da subseção 1.1.4). Quando for garantido que
apenas uma ou mais propriedades intensivas são estacionárias, os mesmos advérbios utiliza-
dos para sistemas são também usados para processos. Tem-se, assim, processos termicamente
estacionários, baricamente estacionários e termobaricamente estacionários.
Um sistema pode ser estacionário no instante t porque esse momento pertence ao tempo
de existência de um processo estacionário. Mas pode, também, acontecer de um sistema ser
estacionário no instante t sem que esse momento pertença ao tempo de existência de um processo
estacionário, ou seja, não sendo o sistema estacionário ao longo de algum intervalo aberto e
finito que contenha o instante t. Neste caso, o instante t no qual o sistema é estacionário será
o momento final de processo anterior A e inicial de processo posterior B; logo, t = t# A = tB # .
Analogamente, um sistema termicamente estacionário no instante t pode, ou não, perten-
cer a processo termicamente estacionário, um sistema baricamente estacionário pode, ou não,
pertencer a processo baricamente estacionário, e um sistema termobaricamente estacionário
pode, ou não, pertencer a processo termobaricamente estacionário. Mas, nesses três casos, na
situação de não pertencimento não é preciso que o instante t seja, conjuntamente, terminal de
um processo e inicial de outro, embora isso possa acontecer.
∂z dz
(~r, t) = 0 e (t) = 0, (2.1)
∂t dt
respectivamente sendo z(~r, t) o valor de toda propriedade intensiva não homogênea em qualquer
ponto ~r do sistema e z(t) o valor de toda propriedade intensiva homogênea, ou extensiva, ou
função de processo envolvida pela teoria neste texto adotada.3
As eqs. 2.1 podem ser escritas de modo alternativo. De fato, seja τt qualquer função suave
no mı́nimo de primeira ordem (veja a subseção 1.3.1), estritamente crescente ou decrescente4
de t. Por derivação em cadeia, ∂z
∂t (~
∂z
r, t) = ∂τ (~r, τ ) dτ dz dz dτ
dt (t) e dt (t) = dτ (τ ) dt (t). Essas derivações
dτ ∂z dz
em cadeia mostram que, como dt (t) 6= 0, necessariamente ∂τ (~
r, τ ) =0 e dτ (τ ) = 0 quando o
∂z dz
sistema estiver em equilı́brio porque, neste caso, tem-se ∂t (~
r, t) =0 e dt (t) = 0. Então, para
∂z dz
essa definição de τt , as igualdades ∂τ (~
r, τ ) =0 e dτ (τ ) = 0 são equivalentes às eqs. 2.1.
Porém,
∂z dz
(~r, τ ) = 0 e (τ ) = 0 (2.2)
∂τ dτ
também são equivalentes às eqs. 2.1 e à definição conceitual de equilı́brio. Entretanto, as eqs.
2.2 são de grande utilidade.6
As definições de equilı́brio apenas térmico, bárico ou termobárico são análogas a essa
condição para o equilı́brio, mas restritas à(s) propriedades(s) intensiva(s) correspondente(s).
Portanto, um sistema que, no momento t, seja termicamente estacionário e, além disso, não
troque potência térmica7 com seu exterior, é um sistema em equilı́brio térmico no instante con-
siderado. Ainda, um sistema que, no momento t, seja baricamente estacionário e, além disso,
3
A teoria neste texto adotada é apresentada na subseção 2.4.4.
4
Se τt for uma função crescente de t, então para t# < t1 < t2 < t# tem-se τ (t2 ) ≥ τ (t1 ). Se τt for uma função
decrescente de t, então para t# < t1 < t2 < t# tem-se τ (t2 ) ≤ τ (t1 ). Evidentemente a função identidade, cuja
imagem t = τ (t) para todo t tal que t# < t < t# , é uma função crescente de t. Aliás, a função identidade é uma
função estritamente crescente, porque τ (t2 ) > τ (t1 ).
5
O conceito de função constante, quando não explicitado o intervalo de variação do argumento no qual
a imagem da função permanece constante, subentende o inteiro intervalo de variação do argumento. Logo,
obrigatoriamente, uma função não constante não permanece constante sobre todo o intervalo de variação do
seu argumento. Mas ela pode, ou não, permanecer constante durante subintervalos finitos, ou valores isolados,
pertencentes a esse intervalo.
6
Neste texto, as eqs. 2.2 serão utilizadas no item Aplicação dos conceitos nos instantes terminais do processo
quı́mico suave da subseção 6.2.3.
7
A definição de potência térmica será fornecida na subseção 3.1.5. O adjetivo térmico significa referente à
temperatura, e a troca de potência térmica é causada por diferença de temperatura.
34 Adalberto B. M. S. Bassi
não troque potência bárica8 com seu exterior é um sistema em equilı́brio bárico, no instante con-
siderado. Evidentemente, a condição de termobaricamente estacionário, conjuntamente com a
impossibilidade de troca tanto para potência térmica, como bárica, leva o sistema ao equilı́brio
termobárico. Nesses três casos, as eqs. 2.1 e 2.2 são válidas somente para a(s) correspondente(s)
propriedade(s) intensiva(s) e potência(s) trocada(s) com o exterior.
2.3.2 Processo
Um processo que mantenha o sistema em equilı́brio ao longo de todo o tempo de existência do
processo e, também, nos seus instantes terminais é chamado processo estático. Considerando a
apresentada condição para o sistema estar em equilı́brio (subseção 2.3.1), tem-se que,
8
A potência bárica é uma especı́fica potência atérmica total, sendo esta última definida na subseção 3.1.5. O
adjetivo bárico significa referente à pressão, e a troca de potência bárica é causada por diferença de pressão.
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 35
num processo estático, ao longo de todo o tempo de existência do processo e nos seus
instantes terminais t# e t# , o sistema não troca potência alguma com seu exterior
e, além disso, é estacionário.
Mas a condição alternativa de equilı́brio, especı́fica para sistema homogêneo, indica que
Um sistema pode estar em equilı́brio no instante t porque esse momento pertence ao tempo
de existência de um processo estático. Mas pode, também, acontecer de um sistema estar em
equilı́brio no instante t sem que esse momento pertença ao tempo de existência de um processo
estático, ou seja, não ocorrendo equilı́brio no sistema ao longo de algum intervalo aberto e finito
que contenha o instante t. Neste caso, o instante t de equilı́brio do sistema será o momento final
de processo anterior A e inicial de processo posterior B; logo, t = t# A = tB # . Analogamente,
um sistema em equilı́brio térmico pode, ou não, pertencer a processo isotérmico, um sistema
em equilı́brio bárico pode, ou não, pertencer a processo isobárico e um sistema em equilı́brio
termobárico pode, ou não, pertencer a processo isotermobárico.
Definição
Por definição, em “processo reversı́vel”:
1. o sistema se encontra em equilı́brio. Sob o enfoque da teoria temporal apresentada neste
texto, sistema em equilı́brio é definido na subseção 2.3.1;
2. os valores das propriedades do sistema modificam-se continuamente, mas sempre man-
tendo o sistema em equilı́brio. Sob o enfoque da teoria temporal apresentada neste texto,
todo sistema em equilı́brio é estacionário, portanto os valores das propriedades do sistema
não se alteram no tempo;
3. trocas energéticas com o exterior podem ocorrer. Sob o enfoque da teoria temporal
apresentada neste texto, todo sistema em equilı́brio não troca potência (derivada temporal
da energia) alguma com seu exterior.
Portanto, sob o enfoque da teoria temporal apresentada neste texto, “processo reversı́vel” é algo
que não ocorre ao longo do intervalo temporal finito chamado tempo de existência do processo
(item Conceitos da subseção 1.1.4).
propriedades cujo valor seja imutável, ao longo de intervalo temporal finito, podem
alterar-se quando o lapso de tempo tender para infinito. Além disso, potências
referentes a trocas energéticas entre o sistema e seu exterior, sempre nulas durante
intervalo temporal finito, podem corresponder a trocas não nulas quando o intervalo
de tempo tender para infinito.
Atemporalidade e aspas
Porém, a imposição conjunta zb − za finito e tb − ta → +∞, logo, dz dt (t) → 0, efetuada
no item Intervalo de integração temporal infinito, implica enfoque atemporal. De fato, neste
caso zb − za deixa de ser um único valor definido pela função zt , passando a não mais ser
definido por essa função. Então, de acordo com a teoria temporal apresentada neste texto,
z também deixa de ser uma propriedade, ou função de processo (subseção 1.1.4). Porém,
a termodinâmica habitualmente ensinada exige que z seja uma propriedade, ou função de
processo, e, conjuntamente, esta última teoria não propõe a função temporal zt para definir
propriedade e função de processo.
Por desconsiderar a função zt ,
e, em enfoque atemporal:
1. o conceito de processo não mais pode ser aquele definido no item Conceitos da subseção
1.1.4, porque tal definição atribui um tempo de existência finito a qualquer processo;
3. não existe o conceito de reverso no tempo (um exemplo de uso desse conceito é a reação
quı́mica reversa, que será definida na subseção 6.2.4). Além disso, o “processo reversı́vel”
da termodinâmica habitualmente ensinada nada tem em comum com o conceito de reação
quı́mica reversı́vel, que será apresentado na subseção 6.2.5.
Neste texto, aspas sempre indicam que as expressões por elas envolvidas não apresentam os sig-
nificados atribuı́dos, neste mesmo texto, a tais expressões. Por exemplo, o conceito de “processo
reversı́vel” é uma idealização, feita pela termodinâmica habitualmente ensinada, incompatı́vel
com a realidade, que percebemos ser temporal.
“Processo”-limite
Entretanto, neste texto o “processo reversı́vel” proposto pela termodinâmica habitualmente
ensinada é muito útil e conveniente, porque ele é conceitualmente entendido como
Convém comparar esse limite ao processo estático, o qual acontece ao longo de um intervalo
finito de tempo e para o qual, conforme colocado em destaque no inı́cio da subseção 2.3.2:
38 Adalberto B. M. S. Bassi
2. o sistema em equilı́brio não troca energia com seu exterior ao longo de todo o tempo de
existência do processo e nos seus instantes terminais t# e t# .
Já no “processo”-limite:
Mas note que, assim como os conceitos de sistema em equilı́brio e processo estático (respecti-
vamente, as subseções 2.3.1 e 2.3.2),
Um conceito aritmético básico é o de que todo número contém infinitos algarismos, e a igualdade
entre dois números ocorre quando cada algarismo, presente na mesma posição em relação à
vı́rgula, for o mesmo nos dois números. Coerentemente com esse conceito,
ou seja, infinitos zeros são sempre subentendidos após o último algarismo não nulo depois da
vı́rgula ou, no caso de algum inteiro, infinitos zeros são supostos após a vı́rgula. De fato, é isso
o que se faz em qualquer operação aritmética. Aliás, é justamente por causa disso que surge
o conceito de algarismo significativo. Por exemplo, suponha que, no instante t, tenha-se um
sistema termicamente homogêneo a 298, 0 ± 0, 05 K, porque ± 0, 05 K é a precisão instrumental
disponı́vel para medir temperatura. Então,
se A e B forem dois pontos do sistema, não se poderá afirmar que TA (t) é numericamente
igual a TB (t), mas apenas que a diferença numérica entre esses valores é, no máximo, de
0, 1 K;
além disso, também não se poderá afirmar que o sistema se encontra termicamente homogêneo
em T (t) = 298 K, porque isso implica afirmar que a temperatura de todos os pontos do
sistema é de 298 K com infinitos zeros após a vı́rgula. Mas,
para uma pequena faixa de erro não explı́cita, pode-se escrever T (t) ' 298 K.
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 39
Neste texto, a não ser quando for explicitamente informado que a igualdade é
numérica, para o sinal matemático = sempre é subentendido que se trata de igual-
dade entre conjuntos de números, independentemente de quais forem as operações
algébricas ou de cálculo diferencial e integral indicadas nos dois lados da igualdade.
a não ser que alguma especificidade seja imposta. Ainda, como um conjunto de números pode
conter um único elemento,
Por esse motivo, processos reais podem, dentro do limite de precisão instrumental, ser conside-
rados:
Mas deve-se ressaltar que, partindo de um mesmo sistema no instante inicial, processos causados
pelo mesmo conjunto de imposições feitas ao sistema, salvo exclusivamente a taxa de evolução
temporal do processo a cada momento, podem corresponder a diferentes sequências temporais
de sistemas. Logo, ao aumentar o grau de homogeneidade do processo por meio de diminuição,
a cada instante, da sua taxa de evolução temporal, pode mudar a sequência temporal de sistemas
e, portanto, também pode ser outro o sistema correspondente ao instante final.
Em contraposição à homogeneidade, aparece o conceito de homogeneidade absoluta, o qual
tem fundamental importância teórica porque explicita, nessa teoria temporal, o “processo”-
limite denominado “processo reversı́vel” (item “Processo”-limite da subseção 2.4.1). Por de-
finição,
Por exemplo, ao se impor T (t) = 298 K a sistema termicamente homogêneo, essa homogenei-
dade passa a ser absoluta.
Considerando o informado nos anteriores itens 1 e 2 da presente subseção 2.4.3, bem como o
fato de que as taxas temporais de homogeneização das propriedades intensivas no sistema sem-
pre são valores reais positivos, percebe-se que, quando a homogeneidade de alguma propriedade
intensiva for absoluta, a taxa de alteração temporal no valor da propriedade considerada, em
cada ponto do sistema, deve ser nula (não, apenas, nula dentro do limite de precisão instrumen-
tal). Entretanto, para que a taxa de variação temporal no valor de uma (ou mais) propriedade
intensiva, em cada ponto do sistema, seja nula, é necessário que a taxa de evolução temporal do
processo seja nula. Mas note que, de acordo com o terceiro destaque da subseção 2.2.1 e com
a definição de processo estacionário (subseção 2.2.2), taxa de evolução temporal do processo
nula, durante todo o seu tempo de existência e nos seus instantes terminais, é o mesmo que
processo estacionário. Portanto,
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 41
porque T 00 (t) e P 00 (t) não são propriedades intensivas homogêneas do sistema (subseção 2.4.3).
é uma região espacial finita cuja forma é temporalmente fixa e cuja posição, ou
também é fixa no tempo, ou altera-se conforme movimento retilı́neo uniforme, em
relação a algum sistema inercial21 de eixos.
Entretanto, a moderna termodinâmica dos meios contı́nuos, que no quinto item inicial da Apre-
sentação deste texto foi distinguida como a teoria termodinâmica mais útil, hoje em dia, para
aplicações práticas, alternativamente fixa temporalmente uma massa, em vez de definir um vo-
lume de controle.22 Cabe lembrar que a moderna termodinâmica dos meios contı́nuos provém da
dinâmica dos fluidos, disciplina esta essencial para várias engenharias, a qual utiliza fortemente
o conceito de volume de controle.
Na última terceira parte do século passado essa disciplina foi revista nos seus prin-
cı́pios básicos,
o que conduziu à atual termodinâmica dos meios contı́nuos, conforme deixa claro, por exemplo,
o livro de Smith, Donald R., Introduction to Continuum Mechanics-after Truesdell and Noll,
Springer, 2010 (primeira edição pela Kluwer, 1993).
As fronteiras de tal massa absolutamente não são rı́gidas porque, ao longo do tempo, a região
espacial que ela ocupa pode deformar-se de modo a assumir forma irreconhecı́vel, em relação a
momentos anteriores ou posteriores. Mas, como tal massa não se altera no tempo, a ela aplicam-
se as deduções feitas no presente texto, as quais são, todas elas, efetuadas supondo um SF.
Note, porém, que a termodinâmica dos meios contı́nuos não impõe homogeneidade, enquanto,
neste texto, são tratados SF homogêneos, ou SF nos quais pelo menos algumas propriedades são
homogêneas. Contudo, na subseção 2.1.1 foi mostrado como, a partir de definições matemáticas
para propriedades intensivas em sistemas homogêneos, podem as mesmas ser definidas em não
homogêneos.
Logo, este texto pode ser considerado uma introdução à termodinâmica dos meios contı́nuos,
embora apenas sob o aspecto conceitual, porque não usa nem apresenta os conceitos ma-
temáticos absolutamente necessários para o desenvolvimento desta importante teoria, a saber,
a álgebra e o cálculo tensoriais. Portanto, mesmo não envolvendo o conceito de volume de
controle, este texto pode ser considerado uma introdução conceitual às aplicações da termo-
dinâmica em engenharia.
2.5.2 Processo
Nada impede que ocorra um processo, homogêneo ou não, em cujo tempo de existência o SF
seja diatérmico termostatizado, podendo o mesmo acontecer nos instantes terminais do processo
e, além disso, podendo a temperatura de termostatização, T 00 (t), ser temporalmente variável,
ou manter-se constante. Tal processo será denominado em SF diatérmico termostatizado. Um
caso especı́fico de processo em SF diatérmico termostatizado é o processo termostatizado, onde
o SF diatérmico é termostatizado, na temperatura T 00 temporalmente invariante, em todos os
instantes pertencentes ao tempo de existência do processo e, também, nos instantes terminais
t# e t# , portanto a constante T 00 = T 00 (t) para t# ≤ t ≤ t# . Mas, além disso, nos instantes
terminais o SF é termicamente homogêneo, então T 00 = T# = T # .
21
É adjetivado inercial todo sistema de eixos no qual a primeira lei de Newton seja válida.
22
Além das três referências sobre termodinâmica dos meios contı́nuos já citadas em nota de rodapé da subseção
2.4.4, por exemplo veja também Gurtin, Morton E.; Fried, Eliot; Anand, Lallit, The Mechanics and Thermody-
namics of Continua, Cambridge, 2013.
46 Adalberto B. M. S. Bassi
Analogamente, nada impede que ocorra um processo, homogêneo ou não, em cujo tempo
de existência o SF seja deformável barostatizado, podendo o mesmo acontecer nos instantes
terminais do processo e, além disso, podendo a pressão de barostatização, P 00 (t), ser tempo-
ralmente variável, ou manter-se constante. Tal processo será denominado em SF deformável
barostatizado. Um caso especı́fico de processo em SF deformável barostatizado é o processo
barostatizado, onde o SF deformável é barostatizado, na pressão P 00 temporalmente invariante,
em todos os instantes pertencentes ao tempo de existência do processo e, também, nos instan-
tes terminais t# e t# ; logo, a constante P 00 = P 00 (t) para t# ≤ t ≤ t# . Mas, além disso, nos
instantes terminais o SF é baricamente homogêneo, portanto P 00 = P# = P # .
Ainda, nada impede que ocorra um processo, homogêneo ou não, em cujo tempo de e-
xistência o SF seja diatérmico deformável termobarostatizado, podendo o mesmo acontecer
nos instantes terminais do processo e, além disso, podendo a temperatura de termostatização,
T 00 (t), assim como a pressão de barostatização, P 00 (t), ser, cada uma delas independentemente
da outra, temporalmente variável, ou manter-se constante. Tal processo será denominado em
SF diatérmico deformável termobarostatizado.
Um caso especı́fico de processo em SF diatérmico deformável termobarostatizado é o processo
termobarostatizado, abreviatura TBS, onde o SF é termobarostatizado na temperatura T 00 e na
pressão P 00 , ambas temporalmente invariantes, em todos os instantes pertencentes ao tempo de
existência do processo e, também, nos instantes terminais t# e t# . Mas, além disso, nos instantes
terminais o SF é termobaricamente homogêneo; logo, T 00 = T# = T # e P 00 = P# = P # .
Evidentemente, todo processo isotérmico termicamente homogêneo (subseção 2.3.2) em SF
diatérmico é um processo termostatizado, mas nem todo processo termostatizado é um processo
isotérmico termicamente homogêneo em SF diatérmico, porque o processo termostatizado pode
não ser termicamente homogêneo. Entretanto,
Primeira lei
De acordo com a mecânica, a conservação do momento linear ocorrerá quando for nula a força
exercida sobre o todo,4 enquanto a conservação do momento angular acontecerá quando for
nulo o torque exercido sobre o todo.5 Portanto, quando apenas movimentos internos ocorrerem
no todo, serão simultaneamente nulos a força e o torque exercidos sobre o todo.
Por exemplo, o movimento translacional aleatório das moléculas, ou átomos separados,
que formam um gás é um movimento interno dessa massa gasosa, considerada como o todo
constituı́do pelas moléculas ou átomos separados, porque (1) são bem estabelecidos os conceitos
de centro de massa molecular e atômico e, além disso, (2) tal movimento corresponde, por
definição, à ação de força e torque nulos sobre esse todo. Como outro exemplo, o movimento
translacional dos átomos que formam uma molécula isolada (que não interage com o ambiente
no qual ela se encontra imersa), de modo a variar comprimentos de ligações quı́micas e/ou
modificar os ângulos existentes entre elas, é um movimento interno da molécula, considerada
como o todo formado pelos átomos, também correspondendo à ação, sobre esse todo, de força
e torque nulos.6
Porém, o movimento translacional do núcleo e dos elétrons, dentro de um átomo isolado, não
é um movimento interno do átomo, considerado como o todo formado por núcleo e elétrons,
embora novamente corresponda à ação, sobre esse todo, de força e torque nulos.7 De fato,
a aplicação do conceito mecânico-clássico de centro de massa ao núcleo e, separadamente, à
distribuição espacial de massa eletrônica descrita pela mecânica quântica, não descreve ade-
quadamente o movimento eletrônico e nuclear em relação ao centro de massa atômico. Por essa
razão, quando o todo for o átomo, já não faz mais sentido a mecânico-clássica definição aqui
apresentada para movimentos internos.
Ainda para exemplificar o conceito de movimentos internos, pode-se lembrar que vento
é uma massa de ar, a qual é considerada como um todo em movimento de translação e/ou
rotação. Entretanto, tal movimento do todo corresponde à ação, sobre esse todo, de força e/ou
torque não nulos. Portanto, a causa do vento não é um movimento interno da massa gasosa
considerada.
1. do sistema, o qual é um todo cujos entes formadores são suas partı́culas. Por exemplo, as
partı́culas que constituem o sistema podem ser moléculas ou átomos separados;
2. de todas as suas partı́culas, cada uma delas sendo um todo cujos entes formadores são
suas respectivas subpartı́culas. Utilizando o mesmo exemplo, quando as partı́culas forem
moléculas, as subpartı́culas serão átomos, e, quando forem átomos separados, este item 2
será desconsiderado, por causa do colocado no penúltimo parágrafo da subseção 3.1.2, a
saber, quando o todo for o átomo, já não faz mais sentido a mecânico-clássica definição
aqui apresentada para movimentos internos.
Note que a própria existência conceitual das partı́culas e subpartı́culas consideradas no exemplo
depende do modelo teórico usado para descrever a matéria. De fato, se para as partı́culas fosse
adotado o modelo de esferas rı́gidas (ver a subseção 10.1.4), como em tal modelo moléculas,
átomos, núcleos e elétrons inexistem, a energia interna reduzir-se-ia àquela causada pelos mo-
vimentos internos mencionados no item 1.
Mas, independentemente do modelo teórico usado para descrever a matéria, neste texto
Entretanto, a não ser que uma convenção seja arbitrariamente imposta,10 o fato de o valor da
constante ser desconhecido impede o conhecimento dos valores das energias internas do SF nos
instantes considerados, Ua e Ub .
8
Neste texto, sempre que a expressão qualquer processo, ou expressões análogas forem utilizadas, subentende-
se qualquer processo cuja aplicação ao SF seja permitida.
9
Note que o sı́mbolo ∆a→b indica diferença finita (não nula, nem infinita), por maior ou menor que esta seja
em relação a alguma diferença finita referencial.
10
Por exemplo, zerar o valor da mencionada constante aditiva.
50 Adalberto B. M. S. Bassi
• do sistema, tomado como um todo formado pelas partı́culas que o constituem. Por exem-
plo, as partı́culas podem ser moléculas ou átomos separados;
• de todas as suas partı́culas, cada uma delas tomada como um todo respectivamente for-
mado pelas subpartı́culas que a constituem. De acordo com o mesmo exemplo, as sub-
partı́culas são átomos no caso de as partı́culas serem moléculas e, lembrando o penúltimo
parágrafo da subseção 3.1.2, este item 2 será desconsiderado no caso de as partı́culas
serem átomos separados.
a partı́cula, não pode envolver translação do seu centro de massa em relação ao do sistema, caso
contrário seria quebrada a estrutura rı́gida deste último. Mas, certamente, nada impede
rotação da partı́cula em torno de eixo que passe pelo seu centro de massa. Quando as
partı́culas são moléculas, a alteração de tal rotação corresponde à absorção ou emissão
de radiação eletromagnética na faixa das micro-ondas ou infravermelho longı́nquo. Os
núcleos atômicos sofrem movimento de rotação,11 o qual, de acordo com a aproximação
Born-Oppenheimer,12 é instantaneamente acompanhado pelos elétrons. No caso de as
partı́culas serem átomos separados, ou quando as subpartı́culas são átomos pertencentes
a moléculas, mudanças nas rotações nucleares também envolvem absorção ou emissão de
radiação eletromagnética.
Mas, considerando ter sido informado na subseção 3.1.3 que, neste texto, os processos
termodinâmicos não incluem emissão ou absorção de radiação eletromagnética, os movi-
mentos de estrutura rı́gida das partı́culas e, caso eles existam, também das subpartı́culas,
não alteram o momento linear, nem angular, nem a energia de estrutura rı́gida do sistema,
apenas contribuindo para essa energia por meio de uma constante aditiva.
A. os que não mudam distância alguma entre seus centros de massa, mas modificam o mo-
mento linear, ou angular, ou ambos, do sistema, sendo os responsáveis pela parte variável
da energia de estrutura rı́gida do sistema;
B. os que alteram distâncias entre seus centros de massa, mas não mudam nem o momento
linear, nem o angular do sistema, chamados seus movimentos internos, sendo os res-
ponsáveis pela parte variável da energia interna do sistema. São os movimentos mencio-
nados no item 1 da subseção 3.1.3.
O conteúdo energético do sistema é, então, a soma de duas parcelas aditivas variáveis, sendo
uma a sua energia interna, proveniente dos movimentos listados no item B, enquanto a outra é a
sua energia de estrutura rı́gida, referente aos movimentos listados no item A. Além disso, existe
uma constante aditiva presente nesse conteúdo energético, de valor desconhecido, proveniente:
2. dos movimentos que não modificam distância alguma entre os centros de massa das
partı́culas e não alteram nem o momento linear, nem o angular do sistema, os quais
contribuem para a energia de estrutura rı́gida do sistema;
5. de fontes externas ao sistema que, além de agir sobre sua fronteira, também agem dire-
tamente sobre o seu interior, tais como campo gravitacional, elétrico e magnético (ver o
primeiro destaque da subseção 2.5.1).
A partir daqui, essa constante aditiva será ignorada no presente texto. Por isso, será considerado
que
1. uma parcela corresponde a uma troca sujeita à restrição de que só pode ser efetuada entre
as energias internas do SF e do seu exterior, sendo denominada potência térmica ou ca-
R tb dq
lorı́fica e grafada dq #
dt (t). Para t# ≤ ta < t < tb ≤ t tem-se ∆a→b q = qb − qa = ta dt (t) dt,
onde qa = limt→ta q(t), qb = limt→tb q(t) e ∆a→b q é o calor trocado durante o intervalo
temporal entre os instantes ta e tb . O calor, portanto, é uma forma de transmissão de
energia; logo,
52 Adalberto B. M. S. Bassi
Na eq. 3.12 , a parcela do trabalho total que se transforma em energia interna do SF, ou dela
provém, é representada por ∆w(t) e chamada apenas trabalho, ao passo que ∆wrig (t) representa
a parcela do trabalho total que se transforma em energia de estrutura rı́gida do SF, ou dela
provém. Note que, de acordo com a subseção 3.1.3,
Note que
não há nenhuma peculiaridade fı́sica que distinga ∆wrig (t) de ∆w(t).
Em outras palavras, os diversos tipos de trabalho (bárico, elétrico, magnético, etc.) que podem
ser absorvidos ou emitidos pela energia interna do SF são os mesmos tipos de transferências
energéticas atérmicas que podem ser absorvidos ou emitidos pela energia de estrutura rı́gida do
SF, enquanto calor é uma troca energética fisicamente diferente de trabalho.
Retornando ao exemplo da bola (final da subseção 3.1.5), ∆w(t) representa o trabalho
correspondente à deformação da bola, no local do chute, sobreposta ao movimento necessário
para que tal deformação não altere os momentos linear e angular da bola. Suponha, então, o
mesmo chute, dado na mesma bola, num caso com esta bem cheia de ar e, em outro, com ela
murcha. No primeiro caso, mais energia atérmica será transferida para a energia de estrutura
rı́gida e menos para a energia interna (trabalho) do que no segundo caso. Mas, nos dois casos,
o tipo de energia atérmica transferida é o mesmo, tanto para a energia interna como para a de
estrutura rı́gida. Logo,
a separação da parcela do trabalho total trocada com a energia interna do SF, daquela
permutada com a energia de estrutura rı́gida do mesmo SF não é trivial e deve ser
decidida caso a caso,
∆Erig (t) + ∆U (t) = ∆q(t) + ∆wrig (t) + ∆w(t) (processo em SF), (3.2)
para t# < t < t# . Note que, tanto ∆Erig (t) quanto ∆U (t) são variações devidas a trocas
energéticas entre o SF e seu exterior, mas, também, a transferências diretas, no interior do
SF, de energia entre essas duas parcelas do conteúdo energético do SF. A transformação direta
de energia de estrutura rı́gida em interna apresenta igual módulo, mas sinal oposto àquela de
energia interna em energia de estrutura rı́gida. Por isso, o valor da soma ∆Erig (t) + ∆U (t) não
se altera se
54 Adalberto B. M. S. Bassi
o significado do sı́mbolo ∆Erig (t) for mudado do original, a saber, a modificação no valor
(total) da energia de estrutura rı́gida, para um novo significado, a saber, a alteração na
energia de estrutura rı́gida produzida por troca energética com o exterior do SF
e, conjuntamente,
o significado do sı́mbolo ∆U (t) for mudado do original, a saber, a modificação no valor (total)
da energia interna, para um novo significado, a saber, a alteração na energia interna
produzida por troca energética com o exterior do SF.
Aliás,
na eq. 3.2, essa mudança nos significados dos sı́mbolos ∆Erig (t) e ∆U (t) será
subentendida a partir de agora.
Note que, de acordo com o colocado na subseção 3.1.5, enquanto ∆q(t) e ∆w(t) são trocas
com o exterior do SF consideradas por ∆U (t), a única troca com o exterior que influencia
∆Erig (t) é ∆wrig (t). Então, subtraindo
Portanto, considerando as eqs. 3.3 e 3.4, o enunciado conceitual da primeira lei da termo-
dinâmica pode ser escrito:
em todo sistema fechado, a troca de energia interna com o exterior do sistema, ao
longo de determinado intervalo temporal, é a soma do calor com o trabalho que
se transforma em energia interna, ambos trocados entre o sistema e seu exterior
durante o intervalo temporal considerado. Além disso, ao longo de tal intervalo, a
troca de energia de estrutura rı́gida com o exterior do sistema é o trabalho que, ao
ser trocado, nela se transforma.
Logo, em sistema isolado (∆V = ∆wrig (t) = ∆w(t) = ∆q(t) = 0, subseção 2.5.1) tem-se
∆Erig (t) = ∆U (t) = 0.
No instante t, uma propriedade intensiva vetorial é isotrópica num ponto do sistema se,
naquele instante e ponto, seu módulo for o mesmo em todas as direções e sentidos (por exemplo,
o módulo do vetor velocidade for o mesmo em todas as direções e sentidos). Por definição,
um sistema é isotrópico no instante t se, naquele momento, forem isotrópicas todas
as propriedades intensivas vetoriais, em todos os pontos do sistema.
Em SF isotrópico cujo volume seja mantido constante, transferências diretas entre a energia
interna e a de estrutura rı́gida não ocorrem.14 Então,
tanto a energia de estrutura rı́gida quanto a interna, considerando seja a possibili-
dade de troca com o exterior, como a de transferência direta entre elas, conservam-se
em sistema isolado isotrópico.
14
Silhavy, Miroslav, On the concepts of mass and linear momentum in Galilean themodynamics, Czech. J.
Phys., B 37 (1987), 133-157 e Silhavy, Miroslav, Mass, internal energy and Cauchy’s equations in frame-indifferent
thermodynamics, Arch. Rational Mech. Anal., 107:1 (1989), 1-22.
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 55
Note que
Formas alternativas de escrever a eq. 3.4 podem ser úteis. Neste texto, por exemplo, a
partir daqui as grafias ∆U , ∆q e ∆w, em vez de, respectivamente, ∆U (t) = U (t) − U# ,
∆q(t) = q(t) − q# e ∆w(t) = w(t) − w# , indicarão que t → t# , ou seja, indicarão que
∆U = U # −U# , ∆q = q # −q# e ∆w = w# −w# , onde U # = limt→t# U (t), q # = limt→t# q(t)
e w# = limt→t# w(t) (as funções Ut , qt e wt não precisam existir no instante t# ). Tem-se assim,
para o inteiro tempo de existência do processo, t# < t < t# , em vez da eq. 3.4 a igualdade
Outra forma alternativa da eq. 3.4 é obtida considerando o intervalo temporal entre ta e
tb , sendo t# ≤ ta < t < tb ≤ t# , ∆a→b U = Ub − Ua , ∆a→b q = qb − qa , ∆a→b w = wb − wa
e, evidentemente, Ua = limt→ta U (t), Ub = limt→tb U (t), qa = limt→ta q(t), qb = limt→tb q(t),
wa = limt→ta w(t) e wb = limt→tb w(t). Neste caso,
Note que as eqs. 3.4 e 3.5 são casos particulares da eq. 3.6, sendo esta mais geral.
Embora, em cada instante, a energia interna seja conhecida a menos de uma constante somativa,
ela é uma propriedade extensiva aditiva do SF. De fato, para determinar ∆a→b U basta conhecer
informações sobre o SF nos instantes ta e tb . A energia interna, portanto, comporta-se como
se comportariam o volume, a massa e a quantidade de matéria, se desejássemos determinar
diferenças volumétricas, mássicas ou de quantidade de matéria entre os mesmos momentos. O
fato de volume, massa e quantidade de matéria serem bem determinados a cada instante, ao
contrário da energia interna, não afeta a definição desta última como propriedade. Note que é
correta a frase a energia interna do SF no momento t, analogamente à frase que seria utilizada
para o volume, a massa ou a quantidade de matéria.
Já o trabalho efetuado, até cada instante, é bem determinado, assim como ocorre com o
volume, a massa e a quantidade de matéria, em cada instante (foi ressaltada a diferença na
frase). Mas, ao contrário do que acontece com o volume, a massa e a quantidade de matéria,
para determinar ∆a→b w não basta conhecer informações sobre o SF nos instantes ta e tb .
Portanto, o trabalho é uma função de processo. Analogamente, o calor também é uma função
de processo. A expressão matemática da primeira lei da termodinâmica para SF, dada pela eq.
3.6, mostra então que, entre os mesmos dois instantes ta e tb , o trabalho e o calor ocorridos
podem assumir infinitos valores diferentes, desde que todos eles resultem na mesma alteração
de energia interna do SF. Note que isso é permitido pelo fato de, no lado direito da eq. 3.6,
haver uma soma de parcelas, mas não é devido a esse fato, uma vez que tais parcelas seriam
fixas se calor e trabalho fossem propriedades.
56 Adalberto B. M. S. Bassi
dU = dq + dw (SF), (3.8)
porque estas últimas três resultam da eq. 3.7 aplicada a intervalos de tempo, o que cancela a
desconhecida constante somativa.
Como os três diferenciais que aparecem na eq. 3.8 são respectivamente definidos, a partir do
dq
diferencial dt, por meio de dU = dU dw
dt (t)dt, dq = dt (t)dt e dw = dt (t)dt (veja o item Definição
da associação por meio do conceito de função da subseção 1.1.3), a eq. 3.8 também pode ser
escrita, para t# < t < t# ,
dU dq dw
(t) = (t) + (t) (SF). (3.9)
dt dt dt
Note que tanto a eq. 3.8 como e eq. 3.9 se referem a um único instante t, embora no SI a
primeira seja dada em joules (J), porque considera energias (que podem tender a zero, ou não,
de acordo com a definição de diferencial na subseção 1.3.1), enquanto a segunda seja fornecida
em watts (W ), porque envolve potências de valor bem definido, ao contrário dos indefinidos
valores dos diferenciais. A potência térmica ou calorı́fica dq
dt (t) foi apresentada na subseção 3.1.5,
dwtot dw
onde também foi mostrada a potência atérmica total dt (t). Já dt (t) é a potência atérmica,
dU
enquanto dt (t) é a potência interna.
P 00 temporalmente constante
SF baricamente homogêneo
17
Rt dE
rig
A potência de estrutura rı́gida é tal que t dť
(ť)dť = ∆Erig (t), sendo o significado de ∆Erig (t) dado na
#
subseção 3.1.6.
18
Nesta segunda igualdade foi usada a convenção, apresentada na subseção 3.2.1, de que a omissão da de-
pendência temporal indica que está sendo considerado o processo inteiro, porque t → t# , mas não os seus
instantes terminais.
19
Nota de rodapé da subseção 1.1.4.
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 59
Note que
o produto P V (t) é o valor de uma propriedade em SF baricamente homogêneo no
instante (t), sendo ele a imagem, no momento t, da função (P V )t , analogamente
ao que acontece com P (t).
Considerando que V é extensiva aditiva enquanto P é intensiva e homogênea no SF, (P V ) é
extensiva aditiva. Sua unidade no SI é o joule, porque20 J = Pa × m3 . Perceba, ainda, que
as expressões ∆wv (t) = −∆(P V )(t) e ∆wv = −∆(P V ) são válidas para processo isobárico
baricamente homogêneo, o qual, de acordo com o penúltimo destaque da subseção 2.5.2, é um
processo conjuntamente barostatizado e baricamente homogêneo. Mas não apenas para esse
processo, porque para se chegar a elas nada precisou ser imposto ao SF, referente aos instantes
terminais do processo. Entretanto, ao longo de todo o tempo de existência do processo o SF
encontra-se em equilı́brio bárico (subseção 2.3.1).
Processo barostatizado
Seja o processo barostatizado (subseção 2.5.2), o qual é uma particularização daquele indicado
no item P 00 temporalmente constante desta subseção 3.2.4. Neste caso são válidas as expressões
obtidas no mencionado item, a saber, ∆wv (t) = −P 00 ∆V (t) e ∆wv = −P 00 ∆V , mas, adici-
onalmente às restrições colocadas naquele item, exigem-se: (1) barostatização nos instantes
terminais do processo, na mesma pressão P 00 temporalmente constante durante o tempo de
existência do processo (P 00 = P 00 (t) para t# ≤ t ≤ t# ); (2) homogeneidade bárica nos instantes
terminais, t# e t# (P 00 = P# = P # , não precisa haver homogeneidade bárica ao longo do
tempo de existência do processo).
Com essas duas exigências adicionais, o resultado ∆wv = −P 00 ∆V , citado no parágrafo
anterior, conduz a ∆wv = −P 00 (V # − V# ) = −(P # V # − P# V# ) = −∆(P V ). Portanto, para
processo barostatizado é válida a eq. 3.152 , a seguir transcrita,
∆wv = −∆(P V ).
Note, porém, que a eq. 3.151 não é válida porque, em processo barostatizado, não precisa
ocorrer homogeneidade bárica ao longo do tempo de existência do processo.
20
Pa é o sı́mbolo da unidade de pressão no SI, denominada pascal, sendo Pa = N m−2 . Um múltiplo do pascal
muito utilizado é o megapascal, tal que 1 MPa = 1×103 KPa = 1×106 Pa. Tem-se, também, a unidade atmosfera
padrão, tal que 1 atm = 0, 101325 MPa, e a unidade denominada bar ou bária, tal que 1 bar = 0, 1 MPa, as quais
não pertencem ao SI. Neste texto, apenas unidades pertencentes ao SI são utilizadas.
60 Adalberto B. M. S. Bassi
3.3 Entalpia
3.3.1 Definição
A entalpia é matematicamente definida por
H(t) = U (t) + P (t)V (t) = U (t) + P V (t) (sistema baricamente homogêneo), (3.16)
o que indica que apenas em sistemas baricamente homogêneos (subseção 2.1.1) a entalpia é
bem definida, porque tanto P (t) quanto P V (t) (esta última definida no item P 00 temporalmente
constante e SF baricamente homogêneo da subseção 3.2.4) exigem um único valor da pressão
em todos os pontos do sistema, no instante t. Como tanto U quanto (P V ) são propriedades
extensivas aditivas, a eq. 3.16 mostra que a entalpia também é uma propriedade extensiva
aditiva. A eq. 3.16 indica, também, que no SI a unidade para entalpia, energia interna e
produto (P V ) é a mesma, a saber, o J.
Conforme mostrado no item Processo barostatizado da subseção 3.2.4, a eq. 3.152 , a saber,
∆wv = −∆(P V ), é válida para processo barostatizado. Então, substituindo-a na eq. 3.17 e
considerando a eq. 3.16, obtém-se
Note que ambas as eqs. 3.5 e 3.18 refletem a primeira lei da termodinâmica. A diferença entre
elas encontra-se, apenas, no fato de que a eq. 3.5 é aplicável a qualquer processo que ocorra
num SF (inclusive no caso especı́fico em que a eq. 3.18 também pode ser aplicada), enquanto a
eq. 3.18 só pode ser usada quando um SF deformável sofrer processo barostatizado.
Tanto na eq. 3.5 como na eq. 3.18, cada um dos termos do segundo membro da equação
pode alterar-se de acordo com o especı́fico processo ocorrido, embora a soma desses termos não
se possa alterar para igual variação da energia interna ou da entalpia, respectivamente (item
Propriedade e funções de processo da subseção 3.2.1). Evidentemente, para ∆wn v = 0 a eq.
3.18 será escrita
Este último resultado é muito usado em termoquı́mica, onde frequentemente subentende-se que
as reações ocorram em SF deformável, sob processo barostatizado que não troque potência
não volumétrica com o seu exterior. Em quı́mica, os processos barostatizados e a propriedade
entalpia são de fundamental importância.
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 61
Cabe comentar que, entre outros exemplos, as eqs. 3.152 e 3.19 igualam as variações das
funções de processo ∆wv e ∆q, respectivamente, às alterações, ou seus simétricos, de propri-
edades ∆(P V ) e ∆H. Como, ao contrário do que ocorre com alterações de propriedades, as
variações ∆wv e ∆q não dependem apenas de informações referentes ao SF nos instantes termi-
nais do processo, mas também de informações relativas ao ocorrido no SF ao longo do intervalo
t# < t < t# (item Conceitos da subseção 1.1.4), tais igualdades podem parecer incorretas.
Mas, na verdade, de acordo com a eq. 3.152 , a informação de que o processo é barostati-
zado particulariza-o suficientemente para igualar ∆wv ao simétrico da alteração de propriedade
∆(P V ). Analogamente, a informação de que o processo é barostatizado e, além disso, não
apresenta trabalho não volumétrico particulariza-o suficientemente para igualar ∆q à alteração
de propriedade ∆H. De fato,
qualquer igualdade entre variação de função de processo e alteração no valor de
propriedade só acontece quando, para efetuar a dedução da igualdade, são utilizadas
quantidades suficientes de informação sobre o que ocorre no SF ao longo de todo o
intervalo temporal correspondente.
de função da subseção 1.1.3), as eqs. 3.22 também podem ser escritas, para t# < t < t# ,
6. uma explicação sobre como seria o processo real matematicamente aproximado por aquele
descrito no cabeçalho.
Resolução 3.4.1 Respostas apresentadas na mesma ordem das perguntas.
1. Para P 00 tem-se:
00
Panterior = 0, 5MPa para o tempo anterior ao processo, t ≤ t# ;
00
P = 0, 1MPa para o tempo de existência do processo, t# < t < t# ;
P 00 posterior = 0, 3MPa para o tempo posterior ao processo, t# ≤ t.
No instante t# , o valor-limite para o tempo de existência do processo, P# 00 = lim
t→t#
P 00 (t) = 0, 1MPa, difere do valor referente ao tempo anterior ao processo, Panterior
00 =
0, 5MPa, ainda válido neste momento. Portanto, ocorre descontinuidade na pressão
de barostatização, neste instante. Analogamente, no momento t# , o valor-limite
para o tempo de existência do processo, P 00 # = limt→t# P 00 (t) = 0, 1MPa, difere do
valor referente ao tempo posterior ao processo, já válido neste instante, P 00 posterior =
0, 3MPa.
Embora P 00 seja constante no valor 0, 1MPa durante t# < t < t# e haja homo-
geneidade bárica nos instantes inicial, t# , em 0, 5MPa e final, t# , em 0, 3MPa, o
processo não é barostatizado por causa das descontinuidades (a barostatização exige
P 00 constante e única em cada instante t tal que t# ≤ t ≤ t# , sendo t# < t# e, além
disso, homogeneidade bárica nos instantes terminais.
2. Para P tem-se:
P = 0, 5MPa para o tempo anterior ao processo, t ≤ t# ;
P indeterminado para o tempo de existência do processo, t# < t < t# , porque não há
homogeneidade bárica durante esse intervalo temporal;
P = 0, 3MPa para o tempo posterior ao processo, t# ≤ t;
Por causa de ausência de homogeneidade bárica, não existem os valores P# e P # , respec-
tivamente correspondentes a t → t# e t → t# , sendo t# < t < t# . Mas existem os va-
lores referentes t# e t# , respectivamente para o tempo anterior, Panterior = 0, 5MPa,
e posterior ao processo, P posterior = 0, 3MPa.
3. Em “processo reversı́vel” o SF encontra-se sob equilı́brio. Para o caso de SF gasoso,
o equilı́brio exige homogeneidade de todas as propriedades intensivas do SF. Tal ho-
mogeneidade evidentemente não acontece em instante algum pertencente ao tempo de
existência do processo apresentado no cabeçalho deste exercı́cio. Além disso, todo “pro-
cesso reversı́vel” é atemporal, portanto não apresenta tempo de existência, ao contrário
do processo em questão. Logo, não se trata de “processo reversı́vel”.
4. O trabalho de expansão volumétrica será ∆wv = (−0, 1 × 106 ∆V ) J, se ∆V for fornecido
em m3 . Este também seria o valor do trabalho volumétrico se o processo fosse barosta-
tizado, porque a integração sempre ocorre sobre intervalo aberto (no caso, a integração
R #
da eq. 3.13, ∆wv = − tt# P 00 (t) dV
dt (t) dt). Evidentemente, não são válidas a eq. 3.152 ,
∆wv = −∆(P V ), e a 3.18, ∆H = ∆q + ∆wnv , ambas para processo barostatizado (o
processo não é barostatizado).
64 Adalberto B. M. S. Bassi
Segunda lei I
4.1.1 Estado
Estado e função de estado
A descrição do SF (subseção 2.5.1) sob processo homogêneo (subseção 2.1.2), em cada instante
t tal que t# ≤ t ≤ t# , sendo t# < t# , é fornecida por um conjunto de valores, referentes ao
momento considerado, respectivamente correspondentes a poucas propriedades do SF (como,
por exemplo, seu volume, sua temperatura etc.), os quais são independentes entre si. Supondo
que tal conjunto represente o estado do SF naquele instante, então
Além disso, o conceito de estado para SF sob processo homogêneo inclui a imposição de que
toda função de estado yx1 ,...,xK seja suave no mı́nimo de segunda ordem (veja a subseção 1.3.1);
1
Boltzmann, Ludwig E., Vorlesungen uber Gastheorie, I e II, Barth, 1896 e 1898.
2
Gibbs, Josiah W., Elementary Principles in Statistical Mechanics, developed with especial reference to the
rational foundation of thermodynamics, Dover, 1960 (original de 1902).
3
Shannon, Claude E., A Mathematical Theory of Communication, The Bell System Technical Journal, 27, 3
(1948), 379-423, DOI: 10.1002/j.1538-7305.1948.tb01338.x.
4
Brillouin, Léon N., Science and Information Theory, Academic Press, 1962.
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 67
Mas note que, embora o mesmo estado do SF possa ser representado por diversos conjuntos
diferentes de K valores independentes de propriedades,
Porém, é possı́vel a existência de equações diferenciais com a forma da eq. 1.7, para propriedades
y de interesse, em termos de conjuntos incapazes de representar o estado do SF. De fato, tais
equações diferenciais podem não ser exatas. Neste contexto, convém lembrar que a existência
da função diferenciável yx1 ,...,xK não garante que a correspondente equação diferencial seja
exata (subseção 1.3.1), enquanto tal garantia é uma condição necessária para que o conjunto
x1 , . . . , xK represente o estado do SF. Fora isso, é possı́vel que a função yx1 ,...,xK exista para
uma propriedade de interesse, mas não para outra, o que elimina a possibilidade de o conjunto
considerado representar o estado do SF sob processo homogêneo.
Ainda, perceba que, de acordo com o apresentado no item Conceitos da subseção 1.1.4,
tanto a propriedade y como aquelas incluı́das na representação do estado de um SF sob processo
homogêneo, no instante t tal que t# ≤ t ≤ t# , sendo t# < t# , pertencem a um evento que pode
ser simbolizado por e(t), sendo diferenciável a função et . Portanto, quando yx1 ,...,xK for uma
função de estado os diferenciais presentes na eq. 1.7 serão definidos pelas respectivas funções
temporais diferenciáveis, yt e (xk )t para k = 1, . . . , K, ou seja,
dy
dy = (t) dt e
dt
dxk
dxk = (t) dt, k = 1, . . . , K. (4.1)
dt
Kint
X ∂y
dy = (x1 (t), . . . , xKint (t), zKint +1 (t), . . . , zK (t))dxk +
k=1
∂xk
K
X ∂y
(x1 (t), . . . , xKint (t), zKint +1 (t), . . . , zK (t))dzk . (4.2)
k=Kint +1
∂zk
O menor valor para Kint é nulo, quando o primeiro somatório desaparece e o segundo inicia-se
em k = 1, portanto todas as variáveis na representação do estado são extensivas aditivas no
processo considerado. Já o maior valor é Kint = K − 1, quando todas as variáveis menos uma
encontram-se no primeiro somatório e há uma única variável extensiva aditiva no processo; logo,
∂y
o segundo somatório contém unicamente o termo ∂z K
(x1 (t), . . . , xK−1 (t), zK (t))dzK . Portanto,
é possı́vel que a representação do estado não contenha propriedade intensiva alguma (todas
são extensivas aditivas no processo), mas não é possı́vel que a representação do estado só
contenha propriedades intensivas, porque pelo menos uma é extensiva aditiva no processo.
Esta geralmente é N , a quantidade total de matéria no SF homogêneo.
Escrevendo zK (t) = N (t), a representação do estado (x1 (t), . . . , xK−1 (t), N (t)) é extre-
mamente útil porque, se y for extensiva aditiva no processo, a imagem da função de estado
será y(x1 (t), . . . , xK−1 (t), N (t)), mas, se y for intensiva, ela será y(x1 (t), . . . , xK−1 (t)), porque
nenhuma propriedade intensiva depende da quantidade total de matéria no SF homogêneo.
Portanto, essa representação do estado permite que, para propriedades intensivas y, a função
de estado contenha uma variável independente a menos, no seu argumento. Além disso, essa
representação para propriedades intensivas homogêneas pode ser generalizada para SF não ho-
mogêneo, o que será mostrado por meio de um exemplo.
Seja o estado de um SF sob processo homogêneo representado por (T (t), P (t), X1 (t), . . . ,
XJ−1 (t), N (t)), onde as definições da temperatura e da pressão homogêneas, respectivamente,
T (t) e P (t), serão fornecidas na subseção 4.2.5, enquanto a definição da fração em mol Xj (~r, t),
j = 1, . . . , J − 1, para SF não homogêneo aparece no item Molar da subseção 1.2.3. Neste
item também se mostra que Jj=1 Xj (~r, t) = 1, onde J é o número total de espécies quı́micas
P
yintensiva (~r, t) = yintensiva (T (~r, t), P (~r, t), X1 (~r, t), . . . , XJ−1 (~r, t)). (4.3)
y6
-
t# t# t
Figura 4.1: O segmento vertical, desde o eixo horizontal até a curva em traçado cheio, representa
o conjunto de subestados abrangido por cada estado que ocorre no SF, correspondendo cada
estado a um instante t pertencente ao intervalo t# ≤ t ≤ t# , onde t# < t# . Logo, cada ponto
do segmento vertical representa um subestado. Cada ponto da curva pontilhada indica o (na
verdade, desconhecido) subestado no qual o SF efetivamente se encontra em cada instante t. O
comprimento do segmento vertical, cujo valor é y, é proporcional à quantidade de subestados
em cada estado.
desde que a cada instante referente ao processo o sistema seja tomado como
estacionário (independentemente do fato de ele, na verdade, ser ou não esta-
cionário),8
seja um real maior do que 1 (embora no enfoque clássico o valor 1 seja permitido, de
acordo com a mecânica quântica esse valor é um limite inatingı́vel);9
desde que a cada instante referente ao processo o sistema seja tomado como
estacionário (independentemente do fato de ele, na verdade, ser ou não esta-
cionário),
seja proporcional à quantidade de subestados por ele contida. Isso acontece porque, por
definição,
8
Veja, na subseção 4.1.4, o motivo dessa afirmação destacada. Além disso, lembre que, em processo homogêneo
não estático, o estado pode, ou não, ser estacionário em t = t# e t = t# , mas não pode ser estacionário para
t# < t < t # .
9
A razão mecânico-quântica é a mesma que fez Planck perceber que a cota inferior máxima para entropia
deveria ser superior a zero; veja o último parágrafo da seção 9.3.
10
De acordo com nota de rodapé da subseção 4.1.2, como as propriedades incluı́das na representação do estado
variam de modo contı́nuo, considera-se a densidade de probabilidade, não a probabilidade.
72 Adalberto B. M. S. Bassi
desde que a cada instante referente ao processo o sistema seja tomado como
estacionário (independentemente do fato de ele, na verdade, ser ou não esta-
cionário),
seja proporcional ao logaritmo, em alguma base (não precisa ser a base dez, nem a dos
logaritmos naturais), da quantidade de subestados por ele contida. A informação faltante
é um valor positivo, porque a constante de proporcionalidade é imposta positiva, e o
logaritmo (em alguma base) da quantidade de subestados é positivo, já que esta última é
maior que a unidade (ver o anterior item 4).
De fato, sejam ηA e ςA respectivamente a quantidade de subestados e a informação
faltante do subsistema fechado A e representem ηB e ςB respectivamente as mesmas
grandezas para o subsistema fechado B. A união dos dois subsistemas fechados forma
o SF homogêneo denominado C. Percebe-se que ηC = ηA ηB , enquanto ςC = ςA + ςB .
Imponha a existência da função ςη que, aplicada ao argumento η, produz a imagem ς; logo,
imponha que para cada quantidade de subestados exista uma e somente uma informação
faltante, o que é inteiramente coerente com os dois conceitos envolvidos. Como o SF é
homogêneo, a função ςη é a mesma para o SF e seus dois subsistemas.
Portanto, ςA = ςη (ηA ), ςB = ςη (ηB ) e ςC = ςη (ηC ); logo, lembrando que ςC = ςA + ςB
e ηC = ηA ηB , tem-se ςA + ςB = ςη (ηA ηB ), ou seja, ςη é uma função proporcional à
logarı́tmica, em alguma base de logaritmos. Note que essa forma algébrica da função ςη foi
deduzida subdividindo-se o SF em subsistemas fechados. Porém, no item Pontos fechados
da subseção 4.2.2 é afirmado que todo ponto de SF homogêneo é fechado. Justifica-se,
então, o colocado no primeiro parágrafo deste item 6.
Isso ocorre porque, mantido o sistema na situação de fechado homogêneo e, também, mantido
um conjunto de restrições imposto ao sistema, o qual seja suficiente para determinar um processo
com precisão, caso no instante considerado a informação faltante ainda não se encontre no seu
11
Podem-se definir subestados que não obedeçam ao princı́pio de igual densidade de probabilidade a priori,
apresentado em nota de rodapé da subseção 4.1.2. Neste texto, porém, por definição os subestados obedecem ao
mencionado princı́pio.
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 73
valor máximo para o processo determinado, neste instante e nos seguintes o SF se modificará, de
modo a aumentar sua informação faltante. Esse processo homogêneo não estático prosseguirá
até que tal máximo seja atingido, a não ser que o processo seja interrompido antes disso,
mediante mudança no conjunto de restrições que o determina com precisão.
Dado tempo suficiente para que esse máximo seja alcançado, grafa-se t## o instante em que
isso ocorrer. A partir do momento t## o SF não mais se alterará; logo, permanecerá em processo
estático, porque qualquer modificação somente poderia ocorrer mediante mudança no conjunto
de restrições que determina, com precisão, o processo homogêneo não estático e o posterior
processo estático. Convém lembrar que os instantes inicial e final de qualquer processo são
arbitrários, sendo definidos de acordo com a conveniência (item Conceitos da subseção 1.1.4).
Portanto, para o processo homogêneo não estático tem-se t# ≤ t## .
Para o processo homogêneo não estático, o enunciado da segunda lei da termodinâmica,
bem como o destaque repetido nos itens 4, 5 e 6 da subseção 4.1.3, exige que, em todo instante
t pertencente a t# ≤ t ≤ t# , sendo t# < t# , o SF seja tomado como estacionário, embora em
todos esses momentos o SF ou não seja estacionário (t# < t < t# ), ou possa não ser estacionário
(t = t# e t = t# ). Isso provém do fato de que:
a informação faltante que ocorreria, caso tempo suficiente fosse disponı́vel, no momento
t## ;
Por causa desses dois motivos, a segunda lei da termodinâmica compara informações faltantes
de estados que ocorram em instantes diferentes do mesmo processo homogêneo, ambos com
taxa de alteração temporal nula, porque esta seria a taxa de variação temporal do estado no
momento t## , caso tempo suficiente fosse disponı́vel para que esse instante fosse atingido. Logo,
tanto o enunciado da segunda lei como a subseção 4.1.3 que prepara os conceitos necessários
ao entendimento desse enunciado incluem a exigência mencionada no inı́cio do parágrafo.
O colocado no parágrafo anterior indica que, a rigor, os conceitos de quantidade de subes-
tados, densidade de probabilidade e informação faltante de cada estado, bem como o enunciado
para a segunda lei da termodinâmica aqui apresentado, referem-se ao limite no qual o processo
homogêneo não estático tende ao “processo reversı́vel” (subseção 2.4.1). Em outras palavras,
eles se referem ao experimentalmente inatingı́vel limite atemporal ao qual tende o processo ho-
mogêneo não estático em SF quando a homogeneidade tender a ser imposta de modo absoluto
(subseção 2.4.3).
74 Adalberto B. M. S. Bassi
Entretanto, na subseção 2.4.3 foi indicado que, na teoria apresentada neste texto, a condição
estacionária é excluı́da da homogênea sem erro perceptı́vel, desde que as condições experimentais
sejam tais que a homogeneidade do processo ocorra dentro do limite de precisão instrumental.
Por isso, embora os mencionados conceitos e enunciado, a rigor, refiram-se à homogeneidade
absoluta e, portanto, a “processo reversı́vel”,
eles serão utilizados em processos que são homogêneos apenas sob o aspecto instru-
mental,
ou seja, para processos homogêneos não estáticos em SF. Isso significa que
o qual é suficiente para determinar com precisão e manter tal equilı́brio, em conformidade com
o enunciado da segunda lei da termodinâmica.
Entretanto, seja o conjunto de restrições implementado insuficiente para determinar com
precisão um processo homogêneo não estático, mas suficiente para definir uma coleção de pro-
cessos homogêneos não estáticos muito semelhantes entre si. Neste caso, pequenas mudanças
12
Existem muitos bons livros de termodinâmica estatı́stica. Para um clássico de qualidade inquestionável, veja
Tolman, Richard C., The principles of statistical mechanics, Dover, 2010, original de 1938.
13
Junto com estatı́stica e teoria da informação, desde o século passado a segunda lei da termodinâmica tem uma
forte participação na própria conceituação de tempo, a qual também envolve as bases das mecânicas quântica e
relativı́stica, a cosmologia e até mesmo filosofia e teologia. Entre vasta bibliografia, veja, por exemplo, Reichen-
bach, Hans, The direction of time, Dover, 2003, original de 1956.
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 75
nas condições experimentais, as quais podem passar despercebidas ao observador, ou ser para
ele difı́ceis de controlar, mudam levemente o processo homogêneo não estático e, assim, podem
alterar o estado de equilı́brio no instante t## , embora também possam ser insuficientes para
alterá-lo.
Sejam muito semelhantes (mas não idênticos) todos os processos permitidos pelo conjunto
de restrições implementado pelo observador, mas sejam diferentes os correspondentes estados
de equilı́brio (a diferença entre os conjuntos de restrições pode ser tão sutil que raspar um
bastão de vidro contra a parede de um béquer mude o conjunto implementado, causando a
rápida alteração no correspondente estado em t## ). Neste caso, entre os diferentes estados de
equilı́brio atingı́veis em t## , aquele que apresentar informação faltante significativamente maior
será denominado estável, caso exista, enquanto os demais serão metaestáveis. Outro modo de
afirmar o mesmo é considerar que o estado estável é mais resistente (porque a informação
faltante é significativamente maior) a leves alterações no conjunto de restrições impostas, do
que os metaestáveis.
Por exemplo, suponha que um processo homogêneo não estático que ocorra a partir de um
mesmo estado inicial do SF apresente água a 270 K e 0, 1 MPa como estado de equilı́brio no
instante t## . Tal água pode ser cristalina ou lı́quida. Sendo o conjunto de restrições imposto ao
processo suficiente para definir se, no momento t## , a água será cristalina ou lı́quida, em ambos
os casos ter-se-á equilı́brio estável em relação ao conjunto de condições imposto. Entretanto, se
o conjunto de restrições não for suficiente para este fim; se ambos os estados de agregação forem
permitidos porque o observador não consegue impor restrições suficientemente especı́ficas, água
lı́quida será metaestável e cristalina, estável. Pode-se aproveitar o exemplo para notar que
o estado estável é o cristalino, embora este possa ser considerado mais ordenado do
que o lı́quido
depende tanto do conjunto de valores que representa o estado do SF, como do con-
junto de restrições a este impostas, as quais determinam com precisão o processo
homogêneo.
(1) Para qualquer estado de qualquer SF, caso o estado se referisse a instante t pertencente ao
intervalo temporal t# ≤ t ≤ t# , sendo t# < t# , de processo homogêneo que mantivesse o
SF isolado, a quantidade de informação faltante, calculada como se SF fosse estacionário
no instante t, mantendo o seu sinal positivo seria medida pela propriedade
extensiva não aditiva (veja por que não aditiva no item Não aditividade e valores
restritos a semieixos reais desta subseção 4.1.6) entropia,
(2) Para qualquer estado de qualquer SF, caso o estado se referisse a instante t pertencente ao
intervalo temporal t# ≤ t ≤ t# , sendo t# < t# , de um processo homogêneo isotérmico a
volume constante14 em ausência de trabalho não volumétrico, a quantidade de informação
faltante, calculada como se o SF fosse estacionário no instante t, mantendo o seu sinal
positivo seria medida pelo simétrico15 da razão entre a propriedade
extensiva não aditiva (veja por que não aditiva no item Não aditividade e valores
restritos a semieixos reais desta subseção 4.1.6) energia de Helmholtz,
14
Admitir que o volume varie é muito diferente de supor que o SF troque trabalho volumétrico com seu exterior.
De fato, a eq. 3.12 mostra que a potência volumétrica trocada é nula sempre que P 00 = 0 e, também, sempre que
dV
dt
= 0; logo, se o volume não variar a potência volumétrica trocada será nula, mas é possı́vel que, mesmo com o
volume variando, a potência volumétrica trocada seja nula. Entretanto, em SF homogêneo P = P 00 e, não sendo
imposto processo homogêneo isotermobárico em pressão nula (impossı́vel em meio gasoso), potência volumétrica
nula equivale a dV dt
= 0.
15
O simétrico de x é −x, enquanto o inverso de x é x1 .
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 77
−A
T (t) não poderia diminuir, então
A
T (t) não poderia aumentar e, como T é positivo,16
(3) Para qualquer estado de qualquer SF, se o estado se referisse a instante t pertencente ao
intervalo temporal t# ≤ t ≤ t# , sendo t# < t# , de um processo homogêneo isotermobárico
sem trabalho não volumétrico, a quantidade de informação faltante, calculada como se
o SF fosse estacionário no instante t, mantendo o seu sinal positivo seria medida pelo
simétrico da razão entre a propriedade
extensiva não aditiva (veja por que não aditiva no item Não aditividade e valores
restritos a semieixos reais desta subseção 4.1.6) energia de Gibbs,
−G
T (t) não poderia diminuir, então
G
T (t) não poderia aumentar e, como T é positivo,17
onde a penúltima igualdade é devida à eq. 3.16, enquanto a última considera a eq. 4.4. Logo,
enquanto a entropia, assim como, por exemplo, a massa, o volume e a energia interna são
definidos em todo e qualquer SF, a energia de Helmholtz é definida apenas em SF termicamente
homogêneo, e a energia de Gibbs, apenas em SF termobaricamente homogêneo. Portanto, sob
esse aspecto as energias de Helmholtz e Gibbs lembram a entalpia, porque esta última é definida
apenas em SF baricamente homogêneo. Mas note que,
16
O valor da temperatura absoluta é um real positivo que, ao diminuir, tende a zero, mas jamais alcança o
valor zero (eq. 9.3). Nas expressões matemáticas da termodinâmica, usa-se somente a temperatura absoluta. No
SI, a unidade de temperatura absoluta é o Kelvin, K.
17
Veja a nota de rodapé imediatamente anterior.
78 Adalberto B. M. S. Bassi
embora a entropia seja definida em todo e qualquer SF, ela será uma medida da in-
formação faltante do estado, esta última calculada como se o SF fosse estacionário,
somente quando o SF estiver isolado e submetido a um processo homogêneo.18
Analogamente,
Ainda,
Isso acontece porque os pontos de SF homogêneo, entre outros tipos de SF, são fechados (item
Pontos fechados da subseção 4.2.2). Mas, se os pontos do SF não forem fechados, a aditividade
geralmente não acontecerá. Porém, para que uma propriedade extensiva seja aditiva a aditi-
vidade deve ser garantida sempre, para quaisquer subsistemas de qualquer sistema (subseção
1.2.1). Então,
são não aditivas propriedades extensivas que, em SF sob processo homogêneo e para
condições adicionais apropriadas, sejam capazes de medir a informação faltante.
na seção 9.3 mostra-se que, de acordo com a terceira lei da termodinâmica, S > 0
em todo SF TµP-h, enquanto na subseção 9.5.2 indica-se que G < 0 em todo SF
TµP-h.
18
Na subseção 5.3.1 será apresentada uma definição de entropia que, embora ainda não válida para qualquer
SF, é mais abrangente do que esta.
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 79
• em cada ponto ~r, instante t e em cada direção, o fluxo difusivo de Wj é positivo no sentido
em que µj (~r, t) diminui;
µj (~r, t) = µj (T (~r, t), P (~r, t), X1 (~r, t), . . . , XJ−1 (~r, t)), sendo j = 1, . . . , J;
No caso, a forma algébrica de cada função (µj )T,P,X1 ,...,XJ−1 , para j = 1, . . . , J, depende
de quais são:
4.2.2 SF TµP-h
Conceito
SF termobaricamente e de potencial quı́mico homogêneo no instante t (T , P e µj , sendo
j = 1, . . . , J, são homogêneos no instante t, mas, nesse mesmo momento, não precisam ser
homogêneas as frações em mol, assim como quaisquer outras propriedades intensivas) podem:
• ser homogêneos;
• ser não homogêneos, mas formados pela união de um número (todo número é uma quan-
tidade finita) inteiro positivo de subsistemas homogêneos, cada um deles caracterizado do
modo a ser apresentado no primeiro parágrafo do item Número de propriedades intensivas
para representar o estado de SF TµP-h da subseção 4.2.4. Além disso, esses subsistemas
homogêneos estão em contato entre si. Nesse texto, se o subsistema X (qualquer um en-
tre os subsistemas de algum SF arbitrário) e outro(s) subsistema(s) estiverem em contato
entre si, isso indica que
Convém ressaltar que todo subsistema pode conter partes disjuntas, isso significando cada
uma delas espacialmente separada de qualquer outra do mesmo subsistema. A quantidade
de partes disjuntas é arbitrária e pode, inclusive, divergir para infinito, situação em que
a quantidade de matéria de infinitas partes disjuntas deve tender para zero, porque a
quantidade de matéria de cada subsistema deve ser um real positivo (subseção 1.1.1).
Nos dois casos, neste texto o
SF termobaricamente e de potencial quı́mico homogêneo no instante t é aqui deno-
minado SF TµP-h, no momento t.
Evidentemente,
82 Adalberto B. M. S. Bassi
Pontos fechados
O último destaque da subseção 4.2.1 informa que em sistema de potencial quı́mico homogêneo
é nulo o fluxo difusivo de toda espécie quı́mica, entre quaisquer dois pontos do sistema. Além
disso, na mesma subseção sabe-se que fluxos convectivos são causados por diferenças de pressão
entre pontos distintos do SF. Portanto, em SF baricamente e de potencial quı́mico homogêneo
respectivamente não ocorrem fluxos convectivos, nem difusivos. Note que fluxo convectivo nulo
implica não transferência de massa por movimento translacional direcionado, mas difusivo nulo
da espécie quı́mica Wj , para j = 1, . . . , J, apenas indica igual transferência de Wj em dois
sentidos opostos, efetuada por meio de movimento translacional aleatório.
Porém, como as partı́culas de cada espécie quı́mica, dentro de cada subsistema homogêneo,
são indistinguı́veis sob qualquer aspecto e, ao atravessar a interface entre subsistemas, cada
partı́cula de Wj , sendo j = 1, . . . , J, assume as caracterı́sticas das partı́culas de Wj no sub-
sistema para o qual ela se dirige (subseção 1.1.1), fluxo difusivo nulo de determinada espécie
quı́mica implica não transferência de massa, por meio de difusão, da espécie quı́mica consi-
derada. Como todo SF TµP-h é baricamente e de potencial quı́mico homogêneo (além de,
adicionalmente, também termicamente homogêneo), o colocado no parágrafo anterior e neste
implica que
todos os pontos de SF TµP-h (logo, também de SF homogêneo) são fechados, inde-
pendentemente de localização geométrica,
onde se utilizou, para o adjetivo fechado, significado análogo ao que ele apresenta em SF
(subseção 2.5.1), ou seja,
em ponto fechado a densidade de massa não se altera no tempo.
por definição, todo SF estacionário TµP-h que não trocar com seu exterior, no
instante t, qualquer outra potência, além de também não trocar potência térmica e
bárica, neste momento será um SF TµP-h em equilı́brio.20
Evidentemente, sempre que a homogeneidade de qualquer propriedade intensiva for abso-
luta (subseção 2.4.3) em determinado instante, naquele momento ter-se-á um SF TµP-h em
equilı́brio.
durante todo o tempo de existência do processo TµP-h e nos seus instantes termi-
nais. Tal processo é estático TµP-h.
Já processo estacionário TµP-h no qual o SF troque com seu exterior alguma potência (que
não térmica ou bárica, cujas trocas são impedidas pela imposição de equilı́brio termobárico),
em todo instante t pertencente t# < t < t# , é denominado
Na subseção 5.4.2, será apresentada a definição de processo estacionário não estático TµP-h,
sendo agora mostrado apenas um conceito inicial.
Processos não estacionários TµP-h durante todo seu tempo de existência, mas que sejam
estacionários TµP-h nos seus instantes terminais e efetuados em SF, neste texto são denomi-
nados
Cabe ressaltar que, assim como considerado para processo homogêneo no destaque do item 1
da subseção 2.4.3, dentro da precisão instrumental
Para que isso ocorra é necessário que a taxa de evolução temporal do processo seja suficiente-
mente pequena em relação às taxas temporais de homogeneização para todas as propriedades
intensivas dentro de cada subsistema, bem como da temperatura, da pressão e dos potenciais
quı́micos no SF como um todo. Cabe, ainda, lembrar o colocado no final do primeiro parágrafo
da subseção 2.4.3, imediatamente após seus itens 1 e 2, referente à possı́vel alteração na sequência
temporal de SF, à medida que a taxa de evolução temporal do processo seja diminuı́da.
Processos efetuados em SF, não TµP-h durante todo seu tempo de existência, mas com
instantes terminais estacionários TµP-h, são chamados
Suponha, agora, que uma ou mais propriedades intensivas sejam absolutamente homogêneas
mas o SF TµP-h altere-se continuamente. Trata-se, então, de experimentalmente inalcançável
“processo”-limite, cuja taxa de evolução temporal tende a zero e, conjuntamente, o tempo de
existência tende a um intervalo infinitamente longo. Esse irrealizável processo é denominado
• estático TµP-h,
• não estacionário TµP-h (o que inclui processos não estacionários TµP-h do tipo iT-TµP-h,
iP-TµP-h e iTP-TµP-h) e
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 85
• não TµP-h,
Logo, dentro da precisão instrumental exigida, pode-se considerar que, no mesmo instante, cada
subsistema do SF TµP-h contenha um número especı́fico de espécies quı́micas.
Então, o estado de cada subsistema i do SF, no instante t pertencente ao intervalo t# ≤
t ≤ t# , onde t# < t# , de processo TµP-h, pode ser representado pelo conjunto de valores
(T (t), P (t), X1 i (t), . . . , X(J−1) i (t), Ni (t)), no qual:
Além disso, dentro da mesma precisão, nada impede Ni (t) = 0 em momentos isolados t,
ou mesmo ao longo de algum subintervalo temporal menor ou igual a t# ≤ t ≤ t# , onde
t# < t# . Mas, evidentemente,
2. em todo momento t,
Nj i
Xj i (t) = (t)
Ni
é a fração em mol da espécie quı́mica Wj i no subsistema i, sendo j = 1, . . . , J. Como são
permitidos valores nulos para Nj i (t) (item 1), sendo Ni (t) 6= 0 também Xj i (t) pode ser
Nj i
nulo. Mas note que o valor limNi (t)→0 Ni (t) não precisa ser nulo;
I(t) ≥ 1, (4.7)
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 87
I(t)
X
tot(t) = 2 + (J − 1) = 2 + (J − 1)I(t) = JI(t) + 2 − I(t), (4.8)
i=1
PI(t)
onde podem ser nulas frações em mol incluı́das na contagem de i=1 (J −1) frações, assim como
quantidades de matéria consideradas na contagem de JI(t) quantidades.
No subsistema i = m, a espécie quı́mica Wj , para j = 1, . . . , J, não precisa ser a mesma
espécie quı́mica Wj , para j = 1, . . . , J no subsistema i = n, sendo m 6= n e m, n ∈ (1, . . . , I(t)).
Por exemplo W3 , para 3 ∈ (1, . . . , J) e i = m, pode ser H2 O, enquanto W3 , para 3 ∈ (1, . . . , J)
mas i = n, pode ser HCl. Logo, quando se muda de um subsistema para outro, igualdade no
primeiro ı́ndice de Nj i (e de Xj i ) não necessariamente indica a mesma espécie quı́mica. Por
isso, em vez de Wj convém, respectivamente, escrever Wj m e Wj n ou, genericamente, Wj i .
Portanto, em geral, Wj m e Wj n são os sı́mbolos de espécies quı́micas diferentes.
Se a mesma espécie quı́mica estiver presente em dois subsistemas diferentes m e n, pode
acontecer que ela seja respectivamente representada Wp m e Wq n ,, sendo p 6= q para p, q ∈
(1 . . . , J). Note que se utilizaram p e q, em vez de j, porque na sentença são impostos dois valores
diferentes para j, embora a espécie quı́mica considerada seja a mesma; logo, Wp m = Wq n .
Para cada espécie quı́mica Wp m = Wq n simultaneamente presente nos subsistemas m e n,
onde m 6= n e m, n ∈ (1, . . . , I(t)), enquanto p, q ∈ (1 . . . , J), existe a expressão matemática
µp m (t) = µq n (t), devida à homogeneidade de potencial quı́mico no SF TµP-h (subseção 4.2.2).
A expressão matemática µp m (t) = µq n (t) torna o valor de alguma, entre as 2J propriedades
intensivas
T (t), P (t), X1 m (t), . . . , X(J−1) m (t), X1 n (t), . . . , X(J−1) n (t),
22
Veja o significado de constitutivo no item 2 da subseção 4.2.1.
88 Adalberto B. M. S. Bassi
dependente do conjunto formado pelos valores das 2J − 1 propriedades restantes. Na eq. 4.8,
J(I(t) − 1) igualdades do tipo µp m (t) = µq n (t) tornam J(I(t) − 1) propriedades intensivas
dependentes das restantes tot(t) − J(I(t) − 1) propriedades (igualdades desse tipo também
relacionam entre si experimentalmente indetectáveis traços, aos quais foi atribuı́da quantidade
de matéria nula).
Logo, nem todos os tot(t) valores devem ser considerados, porque deve ser desconsiderado
qualquer valor de propriedade, pertencente a esse conjunto, que seja dependente de outros
também pertencentes ao mesmo conjunto. Subtraindo de tot(t) o número J(I(t) − 1), tem-se
um valor menor do que tot(t) (a não ser quando I(t) = 1), grafado suf (t), o qual é um número
de propriedades intensivas suficiente para representar (salvo informar a quantidade de matéria
de cada subsistema) o estado do SF no instante t pertencente ao intervalo t# ≤ t ≤ t# , onde
t# < t# , de processo TµP-h. Tal número é
suf (t) = tot(t) − J(I(t) − 1) = J + 2 − I(t). (4.9)
Junto com o segundo destaque no item Representação do estado de cada subsistema em SF
TµP-h desta subseção 4.2.4, a explicação que leva à eq. 4.9 mostra que, embora o número tot(t)
dependa do fato de serem indetectáveis traços contados, ou não, o número suf (t) permanece o
mesmo em ambos os casos. Por isso,
indetectáveis traços são sempre excluı́dos da representação do estado de SF sob
processo TµP-h, tanto no que se refere às propriedades intensivas como extensivas.
De acordo com o item Estado e função de estado da subseção 4.1.1, a representação do estado
de todo SF no instante t pertencente ao intervalo temporal t# ≤ t ≤ t# de processo homogêneo,
sendo t# < t# , é fornecida por um pequeno número de variáveis independentes entre si, sendo
estas os valores apresentados por algumas propriedades do SF, naquele momento. A aplicação da
primeira e da segunda lei da termodinâmica a “processos reversı́veis” historicamente conduziu
à escolha do valor S da entropia, V do volume e Nj de cada quantidade de matéria, para j =
1, . . . , J, onde J é o número de espécies quı́micas distintas presentes no SF. Portanto, propõe-se
que o estado de SF submetido a processo homogêneo, no instante t, possa ser representado pelo
conjunto de J + 2 valores (S(t), V (t), N1 (t), . . . , NJ (t)). Neste caso, se z for o valor de qualquer
propriedade de interesse, a cada instante
z(t) = z(S(t), V (t), N1 (t), . . . , NJ (t)) (processo homogêneo, z intensiva ou extensiva). (4.10)
Na eq. 4.10, o argumento de z envolve só as propriedades extensivas S, V e Nj , para
j = 1, . . . , J. Lembre que V e Nj , para j = 1, . . . , J, são propriedades extensivas aditivas,
mas S é extensiva não aditiva (item Não aditividade e valores restritos a semieixos reais da
subseção 4.1.6). Mas, de acordo com o mencionado item, em SF sob processo homogêneo a
entropia comporta-se como aditiva. Portanto, em processo homogêneo todas as propriedades
incluı́das no argumento de z são extensivas aditivas. Fazendo z(t) = U (t) na eq. 4.10, obtém-se,
para a energia interna,
U (t) = U (S(t), V (t), N1 (t), . . . , NJ (t)). (4.11)
De acordo com o item Estado e função de estado da subseção 4.1.1:
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 89
∂U ∂U
dU = (S(t), V (t), N1 (t), . . . , NJ (t))dS + (S(t), V (t), N1 (t), . . . , NJ (t))dV
∂S ∂V
J
X ∂U
+ (S(t), V (t), N1 (t), . . . , NJ (t))dNj ;
j=1
∂Nj
2. a equação diferencial apresentada no item 1 é exata (veja a subseção 1.3.1), e seu diferen-
cial, dU , considera tanto alterações devidas a trocas com o exterior quanto transformações
entre energia interna e energia de estrutura rı́gida.
A equação diferencial não é representada de modo conveniente no item 1, porque tal repre-
sentação é demasiadamente longa. Poder-se-ia, então, representar o conjunto (S(t), V (t), N1 (t),
. . . , NJ (t)) por um único sı́mbolo, conforme feito, por exemplo, no item Denominada caso a
caso da subseção 1.2.3, onde se considerou Ψ = (x1 , . . . , xK ). Porém, outros conjuntos, além de
(S(t), V (t), N1 (t), . . . , NJ (t)), serão apresentados adiante neste texto, o que levaria à definição
de diversos sı́mbolos, um para cada conjunto, cuja memorização introduziria uma desnecessária
dificuldade. Por isso prefere-se,
onde os ı́ndices na base da barra vertical indicam as propriedades que são mantidas tempo-
ralmente constantes. O ı́ndice Ni indica (N1 , . . . , NJ ) temporalmente constantes, enquanto o
ı́ndice Ni6=j indica (N1 , . . . , NJ ) temporalmente constantes, salvo Nj . Cabe, ainda, lembrar que
cada um dos diferenciais que aparecem nesta equação é definido a partir de derivadas temporais
únicas, ou seja, para x = U, S, V, e Nj , onde j = 1, . . . , J, tem-se dx = dx
dt dt.
Então, para SF submetido a processo homogêneo, no instante t tal que t# ≤ t ≤ t# , sendo
t# < t# , coerentemente com o colocado no item Denominada caso a caso da subseção 1.2.3,
com a subseção 2.1.1 e, também, com Alberty, R. A.23
∂U
(t) = T (t),
∂S (V,Ni )
∂U
(t) = −P (t) e
∂V (S,Ni )
∂U
(t) = µj (t), j = 1, . . . , J, (4.13)
∂Nj (S,V,Ni6=j )
23
Alberty, R. A., Use of Legendre Transforms in Chemical Thermodynamics - International Union of Pure
and Applied Chemistry (IUPAC) Technical Report, Pure Appl. Chem., 73, 8 (2001), 1349-1380. A dependência
temporal das derivadas parciais e correspondentes propriedades intensivas não aparece neste artigo, o qual se
refere à termodinâmica atemporal.
90 Adalberto B. M. S. Bassi
onde T (t), P (t) e µj (t), para j = 1, . . . , J, são respectivamente os valores homogêneos para
temperatura absoluta, pressão e potencial quı́mico da j-ésima espécie quı́mica, representada
por Wj .
Por exemplo, pertencendo o instante t ao intervalo temporal t# ≤ t ≤ t# , onde t# <
#
t , de um processo homogêneo em SF no qual a entropia e todas as quantidades de matéria
sejam mantidas temporalmente constantes, a pressão é o simétrico da tendência de variação da
energia interna com o volume no momento t. As interpretações das definições matemáticas da
temperatura absoluta e dos potenciais quı́micos são análogas. Note que
as eqs. 4.131 , 4.132 e 4.133 respectivamente fornecem a primeira parte das definições
de temperatura absoluta, pressão e potencial quı́mico. As equações complementares
serão fornecidas somente no capı́tulo 9, porque são desnecessárias nos capı́tulos
anteriores a ele. A eq. 4.131 , complementada pelas eqs. 9.2, fornece definição de
temperatura, enquanto a eq. 4.132 , em adição às eqs. 9.7, corresponde à definição
de pressão, e a eq. 4.133 , junto com as eqs. 9.10, constitui a definição de potencial
quı́mico.
também são válidas para SF sob processo TµP-h; então, a eq. 4.14 pode ser respectivamente
reescrita
J
X
dH = T (t)dS + V (t)dP + µj (t)dNj , (4.15)
j=1
J
X
dA = −S(t)dT − P (t)dV + µj (t)dNj e (4.16)
j=1
J
X
dG = −S(t)dT + V (t)dP + µj (t)dNj . (4.17)
j=1
Evidentemente, assim como a eq. 4.14, as três eqs. 4.15, 4.16 e 4.17 também são válidas em
todo instante t pertencente ao intervalo temporal t# ≤ t ≤ t# , sendo t# < t# , de processo
TµP-h que ocorra em SF. Logo, as quatro eqs. 4.14, 4.15, 4.16 e 4.17, conjuntamente, mostram
que para SF TµP-h,
∂U ∂H
T (t) = (t) = (t), (4.18)
∂S (V,Ni ) ∂S (P,Ni )
∂A ∂G
S(t) = − (t) = − (t), (4.19)
∂T (V,Ni ) ∂T (P,Ni )
∂U ∂A
P (t) = − (t) = − (t), (4.20)
∂V (S,Ni ) ∂V (T,Ni )
∂H ∂G
V (t) = (t) = (t) e (4.21)
∂P (S,Ni ) ∂P (T,Ni )
∂U ∂H ∂A ∂G
µj (t) = (t) = (t) = (t) = (t),
∂Nj (S,V,Ni6=j )
∂Nj (S,P,Ni6=j )
∂Nj (T,V,Ni6=j )
∂Nj (T,P,Ni6=j )
(4.22)
ou seja, em vez do conjunto de variáveis (S(t), V (t), N1 (t), . . . , NJ (t)), como foi feito para a
energia interna, para a entalpia foi usado o conjunto alternativo (S(t), P (t), N1 (t), . . . , NJ (t)),
para a energia de Helmholtz (T (t), V (t), N1 (t), . . . , NJ (t)) e para a energia de Gibbs (T (t), P (t),
N1 (t), . . . , NJ (t)).
As igualdades 4.22 mostram que, sendo U (S(t), V (t), N1 (t), . . . , NJ (t)), H(S(t), P (t), N1 (t),
. . . , NJ (t)), A(T (t), V (t), N1 (t), . . . , NJ (t)) e G(T (t), P (t), N1 (t), . . . , NJ (t)), o potencial
quı́mico sempre mede a tendência de variação da energia considerada (U , H, A ou G) com uma
quantidade de matéria, mantidas fixas todas as outras variáveis. Entre as igualdades 4.22, a
∂G
expressão µj (t) = ∂Nj (T,P,N (t) é especialmente útil em quı́mica, porque se refere a processo
i6=j )
isotermobárico.
Cabe ressaltar que a validade das eqs. desde 4.14 até 4.22, para processos TµP-h, decorre
da validade delas para cada um dos subsistemas presentes no SF. Isso implica que
as propriedades mantidas constantes nas derivações parciais (eqs. desde 4.18 até
4.22) devem ser fixas em cada um dos subsistemas, não apenas no SF TµP-h como
um todo.
92 Adalberto B. M. S. Bassi
Feito esse importante alerta, tais expressões matemáticas tanto podem ser utilizadas para cada
um dos subsistemas homogêneos que constituem o SF TµP-h separadamente, quanto para o SF
TµP-h como um todo. Neste último caso por meio de adição, nas eqs. desde 4.14 até 4.17, do
valor de cada especı́fica propriedade extensiva, ou do seu diferencial, sobre todos os subsistemas,
o que evidentemente se reflete nas eqs. desde 4.18 até 4.22.
É de fundamental importância informar que, matematicamente, nada obriga as eqs. 4.15,
4.16 e 4.17 a serem equações diferenciais exatas. De fato, por causa das eqs. 4.12 e 4.13, por
definição a eq. 4.14 é diferencial exata, mas, ao somar a dU os diferenciais d(P V ) e/ou −d(T S),
matematicamente essa condição não precisa ser mantida. Então,
não por razão matemática, mas sim para refletir a realidade experimental que per-
cebemos, impõe-se que qualquer um dos quatro conjuntos de valores de propriedades
(S, V, N1 , . . . , NJ ), (S, P, N1 , . . . , NJ ), (T, V, N1 , . . . , NJ ) e (T, P, N1 , . . . , NJ ) re-
presente o estado do SF,
o que garante que as eqs. 4.15, 4.16 e 4.17 sejam diferenciais exatas, porque para qualquer
propriedade do SF, y, existem as funções de estado yS,V,N1 ,...,NJ , yS,P,N1 ,...,NJ , yT,V,N1 ,...,NJ e
yT,P,N1 ,...,NJ (item Estado e função de estado da subseção 4.1.1).
e ! !
∂ ∂y ∂ ∂y
= , para k, l = 1, . . . , K, (4.24)
∂xl ∂xk xi6=k xi6=l
∂xk ∂xl xi6=l xi6=k
devendo as derivadas na eq. 4.23 satisfazer à eq. 4.24, a qual aplica a condição de integrabilidade
de Schwarz às funções de estado.
Entre inúmeras outras possı́veis equações diferenciais termodinâmicas, evidentemente as
eqs. 4.14, 4.15, 4.16 e 4.17 são um exemplo de equações diferenciais exatas. Logo, a eq. 4.24
pode ser aplicada na eq. 4.14, produzindo
∂T ∂P
(t) = − (t) ,
∂V (S,Ni ) ∂S (V,Ni )
∂T ∂µj
(t) = (t) , j = 1, . . . , J ,
∂Nj (S,V,Ni6=j )
∂S (V,Ni )
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 93
∂P ∂µj
− (t) = (t) , j = 1, . . . , J , (4.25)
∂Nj (S,V,Ni6=j )
∂V (S,Ni )
∂µj ∂µk
(t) = (t) , j = 1, . . . , J − 1 e k = j + 1, . . . , J.
∂Nk (S,V,Ni6=k ) ∂Nj (S,V,Ni6=j )
Analogamente, a eq. 4.24 pode ser aplicada a cada uma das outras três equações listadas como
exemplo de equações diferenciais exatas produzindo, para cada uma delas, quatro equações do
tipo das eqs. 4.25. Dentre essas 16 igualdades, os livros didáticos de termodinâmica costumam
destacar o conjunto
∂T ∂P
(t) = − (t) ,
∂V (S,Ni ) ∂S (V,Ni )
∂T ∂V
(t) = (t) ,
∂P (S,Ni ) ∂S (P,Ni )
∂S ∂P
(t) = (t) , (4.26)
∂V (T,Ni ) ∂T (V,Ni )
∂S ∂V
(t) = − (t) .
∂P (T,Ni ) ∂T (P,Ni )
Note que a eq. 4.261 é a eq. 4.251 , enquanto as eqs. 4.262 , 4.263 e 4.264 são obtidas, respecti-
vamente, a partir das eqs. 4.15, 4.16 e 4.17. Note, também,
que as 16 igualdades obtidas a partir das eqs. 4.14, 4.15, 4.16 e 4.17 são válidas não
apenas para SF homogêneo, como também para SF TµP-h
Segunda lei II
J
∂U ∂U X ∂U
dU = (t)dT + (t)dV + (t)dNj e
∂T (V,Ni ) ∂V (T,Ni ) j=1
∂Nj (T,V,Ni6=j )
J
∂H ∂H X ∂H
dH = (t)dT + (t)dP + (t)dNj . (5.1)
∂T (P,Ni ) ∂P (T,Ni ) j=1
∂Nj (T,P,Ni6=j )
∂U ∂U ∂U
Ao comparar as eqs. 4.12 e 5.11 , tem-se que ∂T (V,N ) (t) 6= ∂S (V,N ) (t), ∂V (T,N ) (t) 6=
i i i
∂U ∂U ∂U
∂V (S,N ) (t) e ∂Nj (T,V,N (t) 6= ∂Nj (S,V,N (t), para j = 1, . . . , J. Considerando as eqs.
i i6=j ) i6=j )
∂U
4.13, ou comparando diretamente as eqs. 4.14 e 5.11 , pode-se então afirmar que ∂T (V,N ) (t) 6=
i
∂U ∂U
T (t), ∂V (T,N ) (t) 6= −P (t) e ∂Nj (T,V,N (t) 6= µj (t), para j = 1, . . . , J. Análoga constatação
i i6=j )
ocorre ao comparar as eqs. 4.15 e 5.12 .
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 95
Note que, embora o mesmo estado, do mesmo SF sob processo homogêneo, possa ser alter-
nativamente representado pelo conjunto de valores (S(t), V (t), N1 (t), . . . , NJ (t)) ou (T (t), V (t),
∂U
N1 (t), . . . , NJ (t)), a derivada parcial ∂V (S,N ) (t) se refere à relação entre as tendências de va-
i
riação de U (t) e V (t), nesse estado, quando o mesmo estiver incluı́do num processo em que
∂U
entropia e composição1 não se alterem, enquanto a derivada parcial ∂V (T,N ) (t) se refere à
i
mesma relação entre tendências, nesse mesmo estado, mas quando tal estado estiver incluı́do
num processo em que temperatura e composição não se alterem. Outras desigualdades, indica-
das no parágrafo anterior, também envolvem uma mesma relação entre tendências, referente a
um mesmo estado, mas para processos diferentes.
Já no caso das desigualdades ∂U∂T (t) 6= ∂U
∂S (t) e ∂H
∂T (t) 6= ∂H
∂S (t), o
(V,Ni ) (V,Ni ) (P,Ni ) (P,Ni )
estado do SF sob processo homogêneo é o mesmo e os processos não diferem, mas as relações
entre tendências não são as mesmas. Neste caso, definem-se as propriedades extensivas aditivas
∂U ∂H
Cv (t) = (t) e Cp (t) = (t), (5.2)
∂T (V,Ni ) ∂T (P,Ni )
(não são aplicáveis a processos TµP-h não homogêneos). Analogamente, a eq. 4.24 pode ser
aplicada a ambas as eqs. 5.1, porque ambas são equações diferenciais provenientes da diferen-
ciação de função de estado (veja a subseção 4.2.7). Porém,
as igualdades entre derivadas parciais daı́ resultantes podem ser aplicadas somente
a processos homogêneos
(não são aplicáveis a processos TµP-h não homogêneos). Porém, de acordo com o colocado
no parágrafo anterior, em SF TµP-h não homogêneo com composição constante em todos os
subsistemas e, no caso da eq. 5.11 desde que, adicionalmente, o volume de todos os subsistemas
seja mantido constante no processo, as eqs. 5.1 e 5.2 mostram que
∂H
dU = Cv (t)dT e dH = Cp (t)dT + (t)dP. (5.3)
∂P (T,Ni )
sendo a primeira igualdade devida à eq. 4.14, a segunda à eq. 4.263 e a terceira ao fato de que,
∂P NR PJ
em gás perfeito, ∂T (V,N ) (t) = V (t), onde N = j=1 Nj . Analogamente, utilizando a eq.
i
PJ
4.15 tem-se dH = T (t)dS + V (t)dP + j=1 µj (t)dNj ; logo, num instante t sendo t# ≤ t ≤ t# ,
onde t# < t# , de processo TµP-h que ocorra em SF, tem-se
∂H ∂S ∂V
(t) = T (t) (t) + V (t) = − T (t) (t) + V (t) = 0,
∂P (T,Ni ) ∂P (T,Ni ) ∂T (P,Ni )
sendo a primeira igualdade devida à eq. 4.15, a segunda à eq. 4.264 e a terceira ao fato de que,
∂V NR
em gás perfeito, ∂T (P,N ) (t) = P (t). Porém, deve-se lembrar que, independentemente de que
i
existam, ou não, outras razões para a homogeneidade,
todo SF TµP-h que contenha apenas gás perfeito é um SF homogêneo.
Tem-se, então,
∂U ∂H
(t) = (t) = 0 (processo homogêneo em SF de gás perfeito). (5.4)
∂V (T,Ni ) ∂P (T,Ni )
Logo, num instante t sendo t# ≤ t ≤ t# , onde t# < t# , de processo homogêneo que ocorra
em SF, para um gás perfeito as eqs. 5.11 e 5.12 serão respectivamente escritas, usando as eqs.
5.2 e 5.4,
J
X ∂U
dU = Cv (t)dT + (t)dNj e
j=1
∂Nj (T,V,Ni6=j )
J
X ∂H
dH = Cp (t)dT + (t)dNj . (5.5)
j=1
∂Nj (T,P,Ni6=j )
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 97
Note que, para gás perfeito, as eqs. 5.51 e 5.52 são obtidas sem que seja respectivamente
necessário exigir volume constante ou isobaria no processo. Note, também, que para composição
constante (N1 , . . . , NJ fixos) as eqs. 5.5 respectivamente correspondem a
Então, sendo constante a composição, para gás perfeito a eq. 5.31 é obtida sem a imposição de
que o volume de todos os subsistemas seja mantido constante no processo, enquanto a eq. 5.32
perde seu segundo termo do lado direito.
Substituindo esta última igualdade na anterior e usando a eq. 5.22 , resulta a expressão
!
∂U ∂V
Cp (t) = Cv (t) + P + (t) (t) (processo homogêneo em SF). (5.6)
∂V (T,Ni ) ∂T (P,Ni )
∂U ∂V NR
Considerando que, para gás perfeito, ∂V (T,N ) (t) = 0 (eq. 5.4) e ∂T (P,N ) (t) = P (t), onde
i i
PJ
N= j=1 Nj , tem-se
e, considerando a primeira igualdade na eq. 4.19, bem como a eq. 5.21 , tem-se
∂S
Cv (t) = T (t). (5.8)
∂T (V,Ni )
98 Adalberto B. M. S. Bassi
e, considerando a igualdade entre o membro mais à esquerda e o mais à direita na eq. 4.19, bem
como a eq. 5.22 , tem-se
∂S
Cp (t) = T (t). (5.9)
∂T (P,Ni )
Para as variações de entropia causadas por processo TµP-h que ocorra em SF cujos subsis-
temas mantenham, todos eles, composição constante, pode-se escrever S(t) = S(T (t), V (t)) ou
S(t) = S(T (t), P (t)); logo,
∂S ∂S ∂S ∂S
dS = (t)dT + (t)dV ou dS = (t)dT + (t)dP, (5.10)
∂T (V,Ni ) ∂V (T,Ni ) ∂T (P,Ni ) ∂P (T,Ni )
respectivamente. Utilizando as eqs. 5.8 e 4.263 na eq. 5.101 , bem como as eqs. 5.9 e 4.264 na
eq. 5.102 , obtém-se, então,
Cv ∂P Cp ∂V
dS = (t)dT + (t)dV ou dS = (t)dT − (t)dP. (5.11)
T ∂T (V,Ni ) T ∂T (P,Ni )
Evidentemente, para os processos mencionados, variações finitas de entropia podem ser obtidas
por meio da integração entre limites de uma entre as duas eqs. 5.11, escolhida conforme a
∂P NR ∂V
conveniência. Note que, caso o SF seja um gás perfeito, tem-se ∂T (V,N ) = V e ∂T (P,N ) =
i i
NR PJ
P , onde N = j=1 Nj ; logo, as eqs. 5.11 tomam, respectivamente, as formas especı́ficas para
processo homogêneo em SF de gás perfeito com composição constante
Cv NR Cp NR
dS = (t)dT + (t)dV e dS = (t)dT − (t)dP.
T V T P
Neste caso, se a diferença entre as temperaturas final e inicial for suficientemente pequena,
tanto Cv quanto Cp poderão ser considerados constantes no intervalo de integração, obtendo-
se, respectivamente,
T# V# T# P#
∆S = Cv ln + N R ln e ∆S = Cp ln − N R ln .
T# V# T# P#
Seja um SF sob processo homogêneo, cujo estado é representado por (T (t), V (t), N1 (t),
. . . , NJ (t)), onde t# ≤ t ≤ t# sendo t# < t# . Sejam o volume e a composição do SF temporal-
mente constantes, portanto seja a representação do seu estado reduzida a (T (t)). Esta mesma
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 99
dq dwnv
Cv (t) = (t) + (t),
dT dT
onde as duas derivadas do lado direito da igualdade podem tomar qualquer valor, de acordo
com as caracterı́sticas do processo, desde que a soma das mesmas sempre seja a capacidade
térmica a volume constante do SF no instante t, Cv (t). Evidentemente, um processo possı́vel
mantém dw dT (t) = 0, baseando-se nele (SF em processo homogêneo com volume e composição
nv
constantes, impedido de trocar trabalho não volumétrico com o exterior) a origem histórica do
conceito de capacidade térmica a volume constante.
Analogamente, seja um SF sob processo homogêneo, cujo estado é representado por (T (t),
P (t), N1 (t), . . . , NJ (t)), onde t# ≤ t ≤ t# sendo t# < t# . Sejam a pressão e a composição do
SF temporalmente constantes, portanto seja a representação do seu estado reduzida a (T (t)).
Esta mesma representação seria obtida para SF com N1 , . . . , NJ estacionários em todos os seus
subsistemas, sofrendo um processo iP-TµP-h. Para esta representação, a eq. 5.12 se reduz a
dH = Cp (t)dT , onde foi usada a eq. 5.22 .
Entretanto, de acordo com a eq. 3.232 , para este mesmo SF tem-se dH = dq + dwnv ; logo,
Cp (t)dT = dq + dwnv ou
dq dwnv
Cp (t) = (t) + (t),
dT dT
onde as duas derivadas do lado direito da igualdade podem tomar qualquer valor, de acordo
com as caracterı́sticas do processo, desde que a soma das mesmas sempre seja a capacidade
térmica a pressão constante do SF no instante t, Cp (t). Evidentemente, um processo possı́vel
mantém dw dT (t) = 0, baseando-se nele (SF em processo homogêneo com pressão e composição
nv
constantes, impedido de trocar trabalho não volumétrico com o exterior) a origem histórica do
conceito de capacidade térmica a pressão constante.
∂y
yj (t) = (t), para j = 1, . . . , J (processo homogêneo). (5.12)
∂Nj (T,P,Ni6=j )
100 Adalberto B. M. S. Bassi
espécie quı́mica quando única no SF (no caso, ym j (t) = Vm j (t), j = 1, 2 sendo, por exemplo,
j = 1 para água lı́quida e j = 2 para etanol liquido). Porém, para a mencionada solução, a
fictı́cia expressão y(t) = Jj=1 ym j Nj (t)
P
Sendo o estado do SF representado por (T (t), P (t), Nj (t)), já que só existe a espécie quı́mica
∂y
Wj no SF, a definição de propriedade molar (eq. 5.12) mostra que ym j (t) = ∂Nj T,P (t). De
acordo com esta última igualdade,
Por isso,
mas, como y(t) = y(T (t), P (t), N1 (t), . . . , NJ (t)), também se tem
J
∂y ∂y X ∂y
dy = (t)dT + (t)dP + (t)dNj .
∂T (P,Ni ) ∂P (T,Ni ) j=1
∂Nj (T,P,Ni6=j )
Então, considerando a eq. 5.12, igualando os segundos membros das duas últimas equações
destacadas e utilizando derivadas temporais em vez de diferenciais, chega-se à igualdade
J
X dyj ∂y dT ∂y dP
Nj (t) = (t) + (t), (5.14)
j=1
dt ∂T (P,Ni ) dt ∂P (T,Ni ) dt
válida para SF sob processo TµP-h somente se y = G (logo µj = Gj ), ou para SF sob processo
homogêneo se y for qualquer propriedade extensiva (aditiva ou não aditiva) do SF. Impondo
que o instante t pertença ao intervalo t# ≤ t ≤ t# , sendo t# < t# , de processo homogêneo
PJ dyj
isotermobárico que ocorra no SF, neste momento j=1 Nj dt (t) = 0. Esta última equação
indica que, no instante t,
e, somente se y = G,
conforme será discutido na seção 12.3. Lembrando que, assim como os diferenciais presentes
em todas as demais expressões diferenciais nesta subseção 5.3.1, os diferenciais presentes na
desigualdade 5.161 são definidos por meio de derivadas temporais (veja o item Definição da
associação por meio do conceito de função da subseção 1.1.3), tal desigualdade pode ser escrita
dS dq
(t) ≥ T −1 (t). (5.17)
dt dt
Logo, postula-se que, a cada instante t durante o intervalo t# ≤ t ≤ t# , sendo t# < t# , se o
SF TµP-h:
• absorver calor, sua entropia aumentará com taxa temporal no mı́nimo igual à razão entre
a taxa temporal de absorção de calor e a temperatura naquele momento t;
• não trocar calor com seu exterior, sua entropia não diminuirá naquele instante t;
• emitir calor, sua entropia poderá diminuir, mas com taxa temporal com módulo no máximo
igual à razão entre o módulo da taxa temporal de emissão de calor e a temperatura naquele
momento t.
Portanto, esse postulado indica que a entropia é um propriedade cuja taxa temporal de
alteração, em todo SF TµP-h, tem como cota5 inferior máxima, a cada instante, a razão entre
a taxa temporal de troca térmica do SF com seu exterior e a temperatura homogênea do
3
Carnot, Nicolas L. S., Réflexions sur la puissance motrice du feu et sur les machines propres à développer
cette puissance, Bachelier, 1824.
4
Clausius, Rudolf, Ueber die Wärmeleitung gasförmiger Körper, Annalen der Physik, 115, 1 (1862), 1-57, e
Clausius, Rudolf, Ueber verschiedene für die Anwendung bequeme Formen der Hauptgleichungen der mechanis-
chen Wärmetheorie, Annalen der Physik, 125, 7 (1865), 353-400.
5
Veja o significado de cota em nota de rodapé da subseção 2.4.3.
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 103
SF, naquele momento.6 Deve-se ressaltar que a expressão 5.161 é mais útil, sob o aspecto
da aplicação prática, do que o conceito de segunda lei visto na subseção 4.1.4. Essa maior
utilidade prática acontece porque, além de confirmar todas as consequências da segunda lei
decorrentes do modo como essa lei foi conceitualmente já apresentada, a desigualdade 5.161 é
mais abrangente, conforme será mostrado nesta e nas próximas subseções deste capı́tulo.
Uma imediata consequência da expressão 5.161 é que, em instante t pertencente ao intervalo
temporal t# ≤ t ≤ t# , sendo t# < t# , de processo adiabático (subseção 2.5.2) TµP-h, como
T > 0,
dS ≥ 0. (5.18)
No item Conceito da subseção 4.1.6 foi apresentada a ideia de que a entropia mede a informação
faltante de estado referente a instante t pertencente ao intervalo temporal t# ≤ t ≤ t# , sendo
t# < t# , de processo homogêneo que mantenha o SF isolado; logo, por causa da segunda lei da
termodinâmica, em tal estado tem-se dS ≥ 0. A expressão 5.18 também é válida para estado
assim descrito, porém é mais abrangente e, por isso, mais útil. De fato, ao contrário do que
ocorre na adiabaticidade, é impossı́vel qualquer interação entre SF isolado e seu exterior, e,
além disso, o conceito de processo TµP-h é mais abrangente do que o de processo homogêneo.
Para processo termicamente homogêneo, a eq. 4.4, a saber, A(t) = U (t) − T S(t), mostra
que, para SF em instante t pertencente ao intervalo temporal t# ≤ t ≤ t# , sendo t# < t# , de
processo isotérmico termicamente homogêneo (subseção 2.3.2), tem-se T (t)dS = dU −dA. Logo,
de acordo com a expressão 5.161 , num processo iT-TµP-h, que ocorra em SF, dU − dA − dq ≥ 0.
Como a eq. 3.8 mostra que dU − dq = dw, no instante t pertencente ao intervalo temporal
t# ≤ t ≤ t# , sendo t# < t# , de processo iT-TµP-h que ocorra em SF, tem-se
dA ≤ dw. (5.19)
Entretanto, num processo isotermobárico (subseção 2.3.2) TµP-h, que ocorra em SF, são
conjuntamente válidas a eq. 3.222 , a saber, dwv = −d(P V ) (processo isobárico baricamente
homogêneo), e a expressão 5.19; logo esta última pode ser escrita
dA ≤ dwnv − d(P V ),
porque dw = dwv + dwnv (eq. 3.102 ). Para processo termobaricamente homogêneo, conforme a
eq. 4.5, tem-se G(t) = A(t) + P V (t), ou
dG = dA + d(P V ).
Logo, substituindo esta segunda expressão destacada neste parágrafo, na primeira, para o ins-
tante t pertencente ao intervalo temporal t# ≤ t ≤ t# , sendo t# < t# , de processo iTP-TµP-h
que ocorra em SF,
J
X
dG ≤ dwnv , ou µj (t)dNj ≤ dwnv , (5.20)
j=1
onde a expressão 5.202 foi obtida a partir da 5.201 por meio da eq. 4.17, a saber, dG =
−S(t)dT + V (t)dP + Jj=1 µj (t)dNj , sob imposição de processo isotermobárico termobarica-
P
mente homogêneo.
6
Essa interpretação conceitual da desigualdade de Clausius foi apresentada na compacta proposição de uma
termodinâmica para processos homogêneos em meio contı́nuo, incluı́da no livro de Truesdell, Clifford A., Rational
Thermodynamics, Springer, 1984.
104 Adalberto B. M. S. Bassi
dA ≤ 0, (5.21)
J
X
dG ≤ 0, ou µj (t)dNj ≤ 0, (5.22)
j=1
o que também confirma e torna mais abrangente o colocado no item Conceito da subseção 4.1.6,
agora referente à propriedade − G
T . Ressalte-se que
2. a desigualdade se, no instante t, não for satisfeita a condição necessária e suficiente para
que ocorra a igualdade, conforme colocado no item 1.
Detalhamento da definição
Este detalhamento é leitura opcional, porque não apresenta conceitos novos, desti-
nando-se apenas à melhor fixação de importantes conceitos já apresentados.
No penúltimo parágrafo da subseção 4.2.3 foi colocado que, a partir de então, neste texto os
únicos processos considerados seriam estáticos TµP-h, estacionários não estáticos TµP-h, não
estacionários TµP-h, ou não TµP-h, sempre para SF. Foi também lembrado que tais processos
são estacionários TµP-h nos seus instantes terminais. Informou-se, ainda, que experimental-
mente inatingı́veis limites matemáticos chamados “processos reversı́veis” TµP-h, os quais são
atemporais, também seriam considerados. A não ser no caso do processo estático TµP-h, no
qual os instantes terminais estão, por definição, sob equilı́brio (assim como todos os instantes
pertencentes ao seu tempo de existência), para processos estacionários não estáticos TµP-h, não
estacionários TµP-h e não TµP-h, os instantes terminais podem, ou não, estar sob equilı́brio.
Então:
(I) uma condição necessária (ou condição somente se) para que valha a igualdade é que o SF
se encontre estacionário TµP-h. Isso ocorre quando o SF estiver submetido a processo:
(a) estático TµP-h, ou estacionário não estático TµP-h, para todos os instantes per-
tencentes ao intervalo temporal t# ≤ t ≤ t# , sendo t# < t# (SF temporalmente
imutável ao longo deste intervalo);
(b) ou não estacionário TµP-h, ou não TµP-h, somente para os instantes terminais do
processo, t# e t# ;
(II) a condição necessária e suficiente (ou condição se e somente se) para que valha a igualdade
exige que, além de satisfeito o item (a), ou (b), o SF esteja sob equilı́brio. Isso acontece:
(III) a condição necessária e suficiente para que ocorra a igualdade, colocada em (II), não será
satisfeita, portanto valerá a desigualdade se, no instante t:
Note que
106 Adalberto B. M. S. Bassi
não foram considerados momentos do tempo de existência de processo não TµP-h porque as
expressões, desde 5.161 até 5.222 , referem-se a instantes pertencentes ao intervalo temporal
t# ≤ t ≤ t# , sendo t# < t# , de processo TµP-h efetuado em SF (durante o tempo de
existência de processo não TµP-h, não são permitidos momentos em que o SF se encontre
TµP-h) e, além disso,
também não foram considerados “processos reversı́veis” TµP-h, uma vez que os SF TµP-h
que os compõem variam de modo contı́nuo, embora estejam em equilı́brio, o que exige
atemporalidade, enquanto os diferenciais incluı́dos nas expressões, desde 5.161 até 5.222 ,
são definidos por meio de derivadas temporais (veja as eqs. 4.1).
(β) ou um processo não estacionário TµP-h, quando o SF se encontra não estacionário TµP-h
durante todo este intervalo temporal,
(γ) ou um processo não TµP-h, quando o SF não se encontra TµP-h ao longo do intervalo
t# < t < t# ,
Conforme colocado na subseção 5.3.2, as expressões diferenciais desde 5.161 até 5.222 não são
aplicáveis ao tempo de existência de processo não TµP-h, nem aos “processos reversı́veis”
TµP-h. Mas, na subseção 5.4.2, será explicado por que o tempo de existência de processo não
TµP-h, assim como “processos reversı́veis” TµP-h, são considerados nas desigualdades integrais
provenientes dessas expressões diferenciais.
A cada um dos quatro tipos de processo considerados, desde (α) até (δ), pode ser associada
qualquer uma das cinco expressões integrais a seguir indicadas entre parênteses, a saber,
(4) iT-TµP-h impossibilitado de trocar qualquer trabalho com o exterior (a integral da ex-
pressão 5.21 é ∆A ≤ 0), ou
(5) iTP-TµP-h impossibilitado de trocar trabalho não volumétrico com o exterior (a integral
da expressão 5.221 é ∆G ≤ 0),
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 107
1. valerá a igualdade, na expressão integral selecionada entre as numeradas desde (1) até (5)
na subseção 5.4.1, quando toda propriedade, x, e toda função de processo, y, apresentarem
derivada temporal nula ao longo de todo o tempo de existência do processo ( dx dt (t) =
dy
= 0 para t# < t < t# ); logo, toda propriedade e toda função de processo não
dt (t)
sofrerem alteração durante esse intervalo temporal. Neste caso, a correspondente integral
de cada propriedade e de cada função de processo (respectivamente em dx e dy) na
mencionada expressão integral, se nela existir, será nula. Essa situação acontecerá quando
o SF estacionário TµP-h permanecer sob equilı́brio durante todo o tempo de existência
do processo; logo, ocorrerá para processo estático TµP-h;
2. valerá a desigualdade, na expressão integral selecionada entre as numeradas desde (1) até
(5) na subseção 5.4.1, quando:
(a) toda propriedade, x, apresentar derivada temporal nula ao longo de todo o tempo de
existência do processo ( dx #
dt (t) = 0 para t# < t < t ); logo, quando toda propriedade
não sofrer alteração durante este intervalo temporal. Neste caso, a correspondente
integral de cada propriedade (em dx) na mencionada expressão integral, se nela
existir, será nula. Essa situação acontecerá quando o SF permanecer estacionário
TµP-h durante todo o tempo de existência do processo; logo, ocorrerá para processo
estacionário (tanto estático, quanto não estático) TµP-h;
(b) mas, conjuntamente, pelo menos uma função de processo, y,
apresentar derivada temporal não nula em cada instante do tempo de existência do
processo ( dy #
dt (t) 6= 0 para t# < t < t )
e, além disso, na mencionada expressão integral existir, apresentando valor não
nulo, a integral correspondente a essa especı́fica função de processo (em dy).
A satisfação da exigência apresentada no item (b), em adição àquela do item (a), leva
à exclusão de processos estáticos TµP-h, permitidos pela imposição contida no item (a),
restando somente a possibilidade de processos estacionários não estáticos TµP-h.
Por definição,
processos estacionários não estáticos TµP-h são os que satisfazem a ambas as con-
dições (a) e (b) do item 2 e, além disso, mantêm os SF estacionários, em equilı́brio
ou não, em seus instantes terminais.
108 Adalberto B. M. S. Bassi
Essa definição complementa o já anteriormente colocado para processo estacionário não estático
TµP-h. De fato, na subseção 4.2.3, não era possı́vel apresentar a segunda exigência do item
(b), referente à expressão integral. Para exemplos de aplicação dessa definição, veja a subseção
5.4.3.
sempre tende ao seu correspondente “processo reversı́vel” TµP-h, cujo primeiro es-
tado obrigatoriamente coincide com o estado inicial do processo extrapolado, mas
os demais estados podem, ou não, coincidir,
Isso acontece porque, não obstante a extrapolação a zero da taxa de evolução temporal do
processo, a cada instante pertencente a tempo de existência do mesmo, implique dx dt → 0 e
dy
dt → 0 (veja o significado destas derivadas no item (α) Processo estacionário (estático ou não
estático) TµP-h desta subseção 5.4.2), o valor das correspondentes integrais não tende a zero,
porque a amplitude do intervalo temporal de integração tende para infinito (subseção 2.4.1).
(1) 5.18,
∆S ≥ 0. (5.23)
A igualdade refere-se a SF sob processo estático TµP-h, ou adiabático (subseção 2.5.1)
sob “processo reversı́vel” TµP-h. A desigualdade refere-se a SF adiabático sob processo
não estacionário, tanto TµP-h, quanto não TµP-h. Todo processo estacionário adiabático
TµP-h é estático, ou seja, não existe processo estacionário adiabático TµP-h que seja não
estático (ver o item Processo estacionário (estático ou não estático) TµP-h da subseção
5.4.2);
(2) 5.19,
∆A ≤ ∆w. (5.24)
A igualdade refere-se a SF sob processo estático TµP-h (∆A = ∆w = 0), ou com tempera-
tura inalterável ao longo de “processo reversı́vel” TµP-h (∆A = ∆w 6= 0). A desigualdade
refere-se a SF sob processo tanto estacionário não estático TµP-h (0 = ∆A < ∆w), quanto
não estacionário, neste caso iT-TµP-h (∆A < ∆w), ou termostatizado (subseção 2.5.2)
não TµP-h (∆A < ∆w);
110 Adalberto B. M. S. Bassi
(3) 5.201 ,
∆G ≤ ∆wnv . (5.25)
A igualdade refere-se a SF sob processo estático TµP-h (∆G = ∆wnv = 0), ou com tem-
peratura e pressão inalteráveis ao longo de “processo reversı́vel” TµP-h (∆G = ∆wnv 6=
0). A desigualdade refere-se a SF sob processo tanto estacionário não estático TµP-h
(0 = ∆G < ∆wnv ), quanto não estacionário, neste caso iTP-TµP-h (∆G < ∆wnv ), ou
TBS (subseção 2.5.2) não TµP-h (∆G < ∆wnv );
(4) 5.21,
∆A ≤ 0. (5.26)
A igualdade refere-se a SF sob processo estático TµP-h, ou impedido de trocar qualquer
tipo de trabalho com o exterior e com temperatura inalterável ao longo de “processo
reversı́vel” TµP-h. A desigualdade refere-se a SF impedido de trocar qualquer tipo de
trabalho com o exterior, sob processo não estacionário, tanto iT-TµP-h, quanto termos-
tatizado não TµP-h. Todo processo estacionário TµP-h impedido de trocar qualquer tipo
de trabalho com o exterior é estático, ou seja, não existe processo estacionário TµP-h
impedido de trocar qualquer tipo de trabalho com o exterior que seja não estático (ver o
item Processo estacionário (estático ou não estático) TµP-h da subseção 5.4.2);
(5) 5.221 ,
∆G ≤ 0. (5.27)
A igualdade refere-se a SF sob processo estático TµP-h, ou impedido de trocar trabalho
não volumétrico com o exterior e com temperatura e pressão inalteráveis ao longo de
“processo reversı́vel” TµP-h. A desigualdade refere-se a SF impedido de trocar trabalho
não volumétrico com o exterior, sob processo não estacionário, tanto iTP-TµP-h, quanto
TBS não TµP-h. Todo processo estacionário TµP-h impedido de trocar trabalho não
volumétrico com o exterior é estático, ou seja, não existe processo estacionário TµP-h
impedido de trocar trabalho não volumétrico com o exterior que seja não estático (ver o
item Processo estacionário (estático ou não estático) TµP-h da subseção 5.4.2);
4.1.6, mas expande a aplicabilidade do que lá foi afirmado, de SF homogêneo para SF TµP-h.
Note, também, que o conceito de informação faltante (item Subestado e informação faltante da
subseção 4.1.2, complementado na subseção 4.1.3) é aplicável de modo aditivo aos subsistemas
homogêneos de SF TµP-h, porque tais subsistemas atuam como se fossem fechados (item Pontos
fechados da subseção 4.2.2). Existe, portanto, a informação faltante de SF TµP-h, suposto como
um todo.
Então, considerando o SF como um todo, o enunciado conceitual da segunda lei da termo-
dinâmica pode ser ampliado, em relação ao que consta na subseção 4.1.4, passando a ser
Grafa-se t## ao instante no qual termina um processo não estacionário TµP-h, em cujo tempo
de existência a informação faltante aumenta e inicia-se aquele estacionário (estático ou não
estático) TµP-h, onde a informação faltante permanece inalterada. Este último persiste en-
quanto não for alterado o mencionado conjunto de restrições imposto ao SF durante o processo
não estacionário TµP-h. Note que, ao ser atingido o instante t## , o conjunto de restrições im-
posto ao SF ao longo do processo não estacionário TµP-h já pode ser alterado naquele mesmo
instante, substituindo-se assim o processo estacionário por um único momento t## , no qual o
SF TµP-h é estacionário, não sendo para isso exigidas descontinuidades.
Adicionalmente, pode-se afirmar que, a cada instante t tal que t# ≤ t ≤ t# , sendo t# <
t# ≤ t## :
Conforme apontado na subseção 4.1.4, o enfoque conceitual de segunda lei utilizado neste
texto tem suas raı́zes na termodinâmica estatı́stica clássica. Esta considera SF homogêneo em
equilı́brio e “processos reversı́veis”. Entretanto, a desigualdade 5.161 , utilizada para expandir
o colocado na subseção 4.1.4 e no item Conceito da subseção 4.1.6, inspira-se na desigualdade
de Clausius, que antecede em décadas o trabalho de Boltzmann, o qual pode ser considerado o
fundador da mecânica estatı́stica.
A esta desigualdade, reescrita na forma da expressão 5.17, neste texto foi dada uma
importante interpretação conceitual, escrita imediatamente após a apresentação da
mencionada expressão e inspirada em Truesdell.7
7
Truesdell, Clifford A., Rational Thermodynamics, Springer, 1984.
112 Adalberto B. M. S. Bassi
diferenciais é usada para definir valores numéricos (veja as subseções 2.4.2 e 2.4.3 para uma
discussão sobre valores numéricos, bem como a seção 12.3 para entender o porquê da mencionada
igualdade).
Exercı́cio 5.6.1 Um SF contendo 1 mol de gás perfeito quimicamente inerte que não troca
trabalho não volumétrico com seu exterior sofre um processo termostatizado a 273K até dobrar
o seu volume.
• dS = ∂P
∂T (V,N ) (t)dV e, em gás perfeito, ∂P
∂T (V,N ) (t) = NR
V (t), logo
i i
V#
∆S = N R ln V# = (1, 00)(8, 31)(ln 2) = 5, 76 J K −1 ;
• A(t) = U (t) − T S(t), logo ∆A = −T 00 ∆S = −(273)(5, 76) = −1, 57 kJ;
• G(t) = H(t) − T S(t), logo ∆G = −T 00 ∆S = −(273)(5, 76) = −1, 57 kJ.
2. De acordo com a subseção 5.4.3, item (2), tem-se que, para o SF:
e (c), os quais apresentam, respectivamente, taxa de evolução temporal nula, não nula e
tendendo para infinito. Se a proporção entre volumes fosse outra, o mesmo aconteceria,
ou seja, não é apenas o SF final que é o mesmo, mas sim a sequência de SF que é a mesma.
Exercı́cio 5.6.2 Um SF com fronteira adiabática, contendo 1 mol de gás perfeito quimicamente
inerte que não troca trabalho não volumétrico com seu exterior, termicamente homogêneo a
273K no instante inicial, expande-se até dobrar o seu volume.
1. Sabendo que R = 8, 31 J K −1 mol −1 e que Cvm = 32 R, calcule ∆q, ∆wv , ∆wnv , ∆U , ∆H,
∆S, ∆A e ∆G quando:
(a) Como o processo é homogêneo, lembrando as eqs. 5.11 e 5.21 , que o gás é perfeito,
∂U ∂H
logo, ∂V (T,N ) = ∂P (T,N ) = 0 (eq. 5.4), e que não há alteração em quantidades
i i
e P 00 (t) = P (t) (evidentemente, P 00 (t) = P (t) pode variar no tempo). Logo, tem-se
Cv dT = −P (t)dV = −N R VT (t)dV.
1
Como, neste caso, além de V , também T pode variar no tempo, escreve-se Cv T (t)dT
R T # dT R V # dV T# V#
= −N R dV
V (t)dV , ou Cv T# T = −N R V# V , ou Cv ln T# = −N R ln V# , ou
! Cv
T# NR
V#
= . (5.28)
T# V#
3
T#
Considerando os dados fornecidos, a eq. 5.28 pode ser escrita 273
2
= 12 , logo T # =
172K. Com essa informação, todas as grandezas solicitadas podem ser calculadas,
conforme mostrado a seguir.
• Tem-se ∆wv = ∆U = Cv ∆T = 3
2 (8, 31)(1, 00)(172 − 273) = −1, 26 kJ.
• Para calcular ∆H pode-se tanto usar as eqs. 5.12 , 5.22 , 5.4 e 5.7, como a eq.
3.16. Escolhendo arbitrariamente esta última opção obtém-se, para o tempo de
existência do processo, ∆H = ∆U + ∆(P V ). Como, para quantidade fixa de gás
perfeito, ∆(P V ) = N R∆T , tem-se ∆(P V ) = (1, 00)(8, 31)(172 − 273) e ∆H =
3 5
2 (8, 31)(1, 00)(172−273)+(1, 00) (8, 31)(172−273) = 2 (8, 31)(1, 00)(172−
273) = −2, 10 kJ.
• Para obter ∆S utiliza-se a eq. 5.111 , lembrando que, para gás perfeito, ∂P
∂T (V,N )
i
NR #
(t) = V (t). Tem-se, então, dS = Cv T1 (t)dT + N R V1 (t)dV , ou ∆S = Cv ln TT# +
" #
Cv
V# T# NR V#
N R ln V# ; logo, ∆S = N R ln T# V# . A eq. 5.28 mostra, então, que
∆S = 0. Note que esse resultado não depende da proporção entre os volumes
dos estados terminais do processo considerado neste item (a). Logo, qualquer
que fosse tal proporção,
no processo considerado nesse item (a) a entropia sempre permanece
constate no valor S# .
3/2
172
Evidentemente, utilizando os correspondentes valores numéricos tem-se 273
V#
= 0, 500 enquanto V# = 2, confirmando o resultado esperado, ∆S = 0.
• Pode-se calcular ∆A por meio da eq. 4.4, obtendo-se ∆A = ∆U − ∆(T S),
portanto ∆A = −1, 26 − (172 − 273)S# = (101S# − 1, 26)kJ, sendo S# dado em
kJ mol −1 .
• Analogamente, pode-se calcular ∆G por meio da eq. 4.5, obtendo-se ∆G =
∆H − ∆(T S), portanto ∆G = −2, 10 − (172 − 273)S# = (101S# − 2, 10)kJ,
sendo S# dado em kJ mol −1 .
(b) Neste caso, a integração da eq. 3.122 entre os instantes terminais do processo produz
N RT # #
∆wv = −P 00 ∆V = −P # V# = − 2V# V# = − N RT
2 . Como os estados terminais
do processo são homogêneos, estes podem ser interligados por meio de um imaginário
processo homogêneo, o qual pode ser utilizado para a obtenção da variação de valor
de qualquer propriedade (não função de processo) do SF, entre os estados terminais
116 Adalberto B. M. S. Bassi
do processo não homogêneo referente ao item (b). Portanto, usando as eqs. 5.11 e
5.21 , bem como o fato de não haver alteração em quantidades de matéria e o gás
ser perfeito, para o mencionado imaginário processo homogêneo tem-se dU = Cv dT
ou ∆U = Cv ∆T . Como dU = dwv , então ∆U = ∆wv , logo, Cv ∆T = ∆wv e,
#
3
substituindo os valores de Cv , T# e ∆wv obtém-se 2 (N R)(T # − 273) = − N RT
2 ,
ou 3(T # −273) = −T # , logo, T # = 205K. Com essa informação, todas as grandezas
solicitadas podem ser calculadas, conforme mostrado a seguir.
• ∆wv = ∆U = Cv ∆T = 3
2 (8, 31)(1, 00)(205 − 273) = −851 J.
• ∆H = ∆U +∆(P V ) = ∆U +N R∆T = 5
2 (8, 31)(1, 00)(205−273) = −1, 42 kJ.
# #
• dS = Cv T1 (t)dT + N R V1 (t)dV , ou ∆S = Cv ln TT# + N R ln VV# , logo ∆S =
3/2 3/2
T# V# 205 V#
(1, 00)(8, 31) ln T# V# , onde 273 = 0, 650 enquanto V# = 2. Por-
Cv
# V#
tanto, ∆S = 2, 17 J K −1 . Note que a eq. 5.28, a saber, T
T#
NR
= V#
, deduzida
para o caso (a), é válida exclusivamente naquele tipo de processo, portanto agora
não se aplica. De fato, no caso (a), a validade eq. 5.28 implica ∆S = 0 qualquer
que seja a proporção entre os volumes dos estados terminais do processo consi-
derado naquele item (a). Ao passo que é positiva a variação de entropia durante
o processo referente ao caso (b). Então, S # = (S# + 2, 17 × 10−3 )kJ mol −1 ,
sendo S# dado em kJ mol −1 .
• ∆A = ∆U −∆(T S), portanto ∆A = −0, 851−[205(S# +2, 17×10−3 )−273S# ] =
(68S# − 1, 296)kJ, sendo S# dado em kJ mol −1 .
• ∆G = ∆H −∆(T S), portanto ∆G = −1, 42−[205(S# +2, 17×10−3 )−273S# ] =
(68S# − 1, 865)kJ, sendo S# dado em kJ mol −1 .
(c) Utilizando o mesmo raciocı́nio feito no inı́cio do item (b), no presente caso obtém-se
T # = T# = 273K. Com essa informação, todas as grandezas solicitadas podem ser
calculadas, conforme mostrado a seguir.
• ∆wv = ∆U = ∆H = 0.
• ∆S = (1, 00)(8, 31) ln 2 = 5, 76 J mol −1 .
• ∆A = ∆G = −273∆S = −1, 57 kJ.
2. De acordo com a subseção 5.4.3, item (1), tem-se que, para o SF:
(a) ocorre um processo adiabático TµP entre dois estados terminais homogêneos do SF.
A eq. 5.28 atribui um valor numérico a T # baseado em valor, também numérico,
dado no enunciado do exercı́cio para T# , e sabida a proporção (valor numérico)
entre V # e V# . A eq. 5.28 é igualmente válida para qualquer valor real tomado pela
proporção entre volumes, ou seja, nada diferencia V # de qualquer outro volume V
tal que 0 < V < +∞, analogamente acontecendo com a consequente temperatura.
Portanto, a temperatura é, sempre, um valor numérico; logo, a homogeneidade é
absoluta no SF, disso resultando um “processo reversı́vel” (subseção 2.4.3). Por isso,
obtém-se a igualdade na expressão 5.23 (∆S = 0).
Essa variação de entropia é um limite (valor mı́nimo inatingı́vel) a que ∆S tende
na medida em que a homogeneidade seja imposta com mais rigor. Essa inatingı́vel
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 117
com os reagentes à esquerda da seta que aponta para a direita, onde estão os produtos. A reação
em sentido oposto também apresenta a seta apontando para a direita, onde se encontram os
seus produtos, que são os reagentes da primeira reação, enquanto os produtos dessa primeira
reação encontram-se à esquerda da seta referente à reação em sentido oposto, porque são os seus
reagentes. Evidentemente, é arbitrária a escolha de qual entre essas duas reações é a direta,
sendo a outra aquela reversa. Nos dois capı́tulos 6 e 7,
tudo o que for colocado neste capı́tulo e no próximo, para URQ em SF, independe
de ela ser considerada direta ou reversa.
Além disso, na definição de processo (item Conceitos da subseção 1.1.4) foi colocado que a taxa
de evolução temporal do mesmo ou sempre é nula durante seu tempo de existência, ou nunca
é nula ao longo desse intervalo temporal. Como se pretende que a URQ de fato ocorra, por
definição
1. continuidade das propriedades e de suas derivadas temporais, bem como das funções de
processo e suas derivadas temporais;
Logo, entre os processos neste texto considerados, citados no penúltimo parágrafo da subseção
4.2.3, a saber, processos estáticos TµP-h, estacionários não estáticos TµP-h, não estacionários
TµP-h e não TµP-h, além do irrealizável “processo reversı́vel” TµP-h,
apenas processos não TµP-h e não estacionários TµP-h serão considerados nos dois
capı́tulos 6 e 7.
para cada um dos elementos presentes na tabela periódica, sua quantidade de matéria
seja a mesma em cada um dos conjuntos R e P
(como as massas molares dos elementos presentes na tabela periódica são constantes universais,
especı́ficas para cada elemento considerado, isso implica que R e P tenham igual massa). Seja
|νj | =
6 0, j = 1, . . . , J − Υ, o coeficiente estequiométrico referente ao reagente ou produto
simbolizado Wjagr (leia-se ni minúsculo o sı́mbolo ν e indiquem, as duas barras verticais, módulo,
ou seja, escalar não negativo). Por definição,
Se uma grandeza for definida a menos de constante aditiva, a diferença entre valores dessa
grandeza será bem definida (veja, por exemplo, a energia interna, na subseção 3.1.3). Ana-
logamente, se ela for definida a menos de uma constante multiplicativa, será bem definido o
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 121
quociente entre valores da grandeza. De fato, ao se multiplicar o inteiro conjunto dos coefi-
cientes estequiométricos de qualquer URQ em SF por uma constante multiplicativa positiva
adimensional, não se alteram os valores das razões |ν k|
|νl | , para k, l = 1, . . . , J − Υ, os quais são
bem definidos.
Estas razões |ν k|
|νl | , para k, l = 1, . . . , J − Υ, não dependem do modo como a URQ em SF
ocorra na realidade. Aliás, tais proporções não dependem, sequer, de que a citada URQ em SF
ocorra, ou não, na realidade. Por isso, as mencionadas proporções não dependem do fato de
dmR
a taxa temporal de consumo de massa de reagentes, dt (t), em cada instante t pertencente
a t# ≤ t ≤ t# , onde t# < t# , ser, ou não, igual à taxa temporal de geração de massa de
dmP
produtos, dt (t), no mesmo instante t. O conceito de coeficiente estequiométrico, portanto,
é puramente abstrato e atemporal.
Mas, se as citadas taxas temporais forem iguais no instante t, neste momento a razão
dNk
dt dNk
dNl
(t), entre a taxa temporal, dt (t), de diminuição ou aumento da quantidade de matéria
dt
respectivamente para qualquer reagente ou produto Wkagr , em relação à taxa temporal, dNl
dt (t),
de diminuição ou aumento da quantidade de matéria respectivamente para qualquer reagente
ou produto Wlagr , será dada pela proporção entre os respectivos coeficientes estequiométricos
das duas espécies quı́micas envolvidas; logo,
dNk
|νk | dt dmR dmP
= (t), para k, l = 1, . . . , J − Υ, se (t) = (t). (6.1)
|νl | dNl dt dt
dt
A eq. 6.1 resulta de leis básicas da quı́mica desenvolvidas ao longo de aproximadamente dois
séculos (grosseiramente, desde o final do século XVII até o final do XIX). Para maior cla-
reza, algumas diferenças entre quantidades de matéria e coeficientes estequiométricos merecem
destaque:
Impõe-se que
efetuada numa atmosfera de N2 (g), tem-se ν1 = −6, W1agr = HCl (g), ν2 = −1, W2agr =
Al2 O3 (s), ν3 = 2, W3agr = AlCl3 (s), ν4 = 3, W4agr = H2 O(g), ν5 = 0 e W5agr = N2 (g).
Portanto, usando νj ao invés do coeficiente estequiométrico |νj | =
6 0, esta URQ em SF poderia
ser alternativamente representada pelo conjunto
{−6HCl (g), −Al2 O3 (s), +2AlCl3 (s), +3H2 O(g), 0N2 (g)},
toda URQ em SF poderia ser escrita sob a forma genérica {νj Wjagr }Jj=1
e, na subseção 7.4.1, será percebido que, em alguns casos, essa notação seria didaticamente
conveniente.
ter-se-á uma URQ/AI para a qual as quantidades de matéria dos seus intermediários
não precisam ser nulas, em SF sob processo ou não estacionário TµP-h, ou não
TµP-h (subseção 6.1.1).
Integrando entre quaisquer dois instantes ta e tb tais que t# ≤ ta < t < tb ≤ t# , tem-se
Z tb dNj
dt (t) Nj (tb ) − Nj (ta )
dt = . Portanto, a fração
ta νj νj
Nj (tb )−Nj (ta )
νj , para νj 6= 0 e t# ≤ ta < t < tb ≤ t# , independe de j se e somente se
o processo em SF corresponder a uma URQ/AI.
Seja ξ(t) (leia-se csi minúsculo ao sı́mbolo ξ) a extensão absoluta (em inglês, extent of reaction)2
da URQ/AI em SF considerada, no instante t. Define-se, então, a variação na extensão absoluta,
desde o instante ta até o momento tb , por meio da expressão
Nj (tb ) − Nj (ta )
ξ(tb ) − ξ(ta ) = , νj 6= 0. (6.2)
νj
Nj (t)
Evidentemente, nada exige que ξ(t) = νj , sendo falsa esta última igualdade.
A eq. 6.2 indica que, para um mesmo intervalo temporal tb − ta > 0, as variações das
quantidades de matéria dos participantes Wjagr da URQ/AI em SF, grafadas Nj (tb ) − Nj (ta ),
podem diferir em módulo e em sinal, mas a variação ξ(tb ) − ξ(ta ) independe de j. Porém, se
não houvesse a constatação de AI para a URQ em SF, ter-se-ia
Nj (tb ) − Nj (ta )
ζj (tb ) − ζj (ta ) = , νj 6= 0, (6.3)
νj
onde ζj (t) não é a extensão absoluta da URQ/AI, grafada ξ(t). Como νj é adimensional, a
unidade de ξ e ζj é a de quantidade de matéria, que no SI é o mol.
Note que, nas eqs. 6.2 e 6.3, as quantidades de matéria medidas Nj (t), j = 1, . . . , J − Υ,
respectivamente, definem as diferenças ξ(tb ) − ξ(ta ) e ζj (tb ) − ζj (ta ), mas os valores de tais
diferenças serão conhecidos somente se uma informação adicional for fornecida, a saber, qual é
o conjunto de coeficientes estequiométricos arbitrariamente escolhido para representar a URQ
em SF. No caso da eq. 6.2, essa desvantagem é compensada pelo fato de a extensão absoluta
da URQ/AI, a cada instante, independer de qual é o reagente ou produto considerado nessa
equação. Porém, essa compensação não acontece na eq. 6.3. Em termodinâmica quı́mica é
sempre imposta, a priori, a hipótese de AI para a URQ.
Entretanto, a hipótese de AI não é imposta em cinética quı́mica. Mas, em cinética quı́mica, são
definidas leis cinéticas que permitem o cancelamento dos coeficientes estequiométricos (subseção
7.1.2).
Como a eq. 6.2 não define a extensão absoluta da URQ/AI, mas apenas uma diferença
entre valores da extensão absoluta da URQ/AI, pode-se arbitrar um e apenas um valor ξ,
correspondente a determinado valor t (evidentemente, isso não ocorre com os experimentalmente
bem definidos valores Nj ). Convencionalmente, define-se então
ξ(t# ) = 0. (6.4)
onde
ξ(t) > 0 para t# < t ≤ t# . (6.6)
Note que, sendo ξ determinado a partir de algum reagente ou produto (eq. 6.2), a eq. 6.5 é
válida, inclusive, para espécies quı́micas inertes em relação à URQ/AI considerada (νj = 0),
portanto j = 1, . . . , J ao invés de j = 1, . . . , J − Υ.
A expressão 6.6 provém do fato de que, durante o processo reacional, a quantidade de
matéria dos produtos só pode aumentar com o passar do tempo, enquanto a quantidade de
matéria dos reagentes só pode diminuir, porque não se admite que a URQ/AI em SF pare em
instante algum durante o tempo de existência do processo, t# < t < t# (subseção 6.1.1). Logo,
na eq. 6.2,
Portanto, constata-se que ξ(tb ) > ξ(ta ) se tb > ta , ou seja, a convenção imposta pela eq. 6.4
implica a desigualdade 6.6.
Além disso, essa constatação também explica por que
dξ 1 dNj
(t) = (t) > 0, para t# < t < t# e j = 1, . . . , J − Υ, (6.7)
dt νj dt
onde a igualdade foi obtida por derivação temporal da eq. 6.5, e a grandeza dξ
dt (t), cuja unidade
−1
no SI é mol s , é denominada taxa de conversão (em inglês, rate of conversion)3 da URQ/AI
em SF. Como o SF encontra-se estacionário nos instantes terminais do processo (subseção 6.1.1),
tem-se que
dξ dNj dξ # dNj #
(t# ) = (t# ) = (t ) = (t ) = 0, para j = 1, . . . , J. (6.8)
dt dt dt dt
3
International Union of Pure and Applied Chemistry − IUPAC, Compendium of Chemical Therminology −
Gold Book, 2014.
126 Adalberto B. M. S. Bassi
Nr+p (t) = Nr+p (t# ) + (Nr+p (t# ) − Nr+p (t# )) α(t), para N (t) = Nr+p (t) + NΥ , (6.13)
Wjagr , tem-se
1. as quantidades totais, inicial e final, de matéria para reagentes e produtos (sem necessidade
de saber os valores individuais), além da quantidade de matéria inerte em relação a
determinada URQ/AI que ocorre em SF homogêneo;
2. as quantidades inicial e final de matéria para um determinado reagente ou produto Wjagr ,
bem como a sua fração em mol, Xj (t), num instante t tal que t# ≤ t ≤ t# , t# < t# do
processo reacional correspondente à URQ/AI considerada;
3. a extensão relativa da URQ/AI, α(t), neste mesmo momento t.
Portanto, conhecidos os valores relacionados nos primeiros dois itens, pode-se obter α(t).
Sabido o valor de α(t), os valores relacionados no primeiro item e as quantidades de matéria
inicial e final para determinado reagente ou produto Wjagr , pode-se conseguir Xj (t). A eq.
6.14, portanto, pode ser usada como alternativa na resolução de vários exercı́cios costumei-
ramente propostos em aprendizado básico, referentes à obtenção de quantidades de matéria e
composições em SF homogêneo.
para t# < t < t# , a eq. 3.231 , é aplicável somente a processo quı́mico suave.
Porém, em processo quı́mico tanto pontual quanto suave, a eq. 3.231 produz dq dwnv
dt + dt = 0 nos
instantes terminais dos processos, porque estes são estacionários, em equilı́brio ( dq dwnv
dt = dt = 0)
ou em não equilı́brio (− dq dwnv
dt = dt > 0, sendo a desigualdade justificada no final do próximo
parágrafo).
A expressão 5.25, a saber,
∆G ≤ ∆wnv ,
reflete a segunda lei da termodinâmica, sendo a desigualdade aplicável tanto para processo
TBS não TµP-h, quanto para TBS não estacionário TµP-h (logo iTP-TµP-h), ambos em SF
diatérmico deformável, portanto a desigualdade é válida para os dois tipos de processo consi-
derados para laboratório de quı́mica. Já a expressão 5.201 , a saber, dG ≤ dwnv , ou
dG dwnv
(t) ≤ (t) (6.15)
dt dt
dwnv
(porque dG = dG dt dt e dwvn = dt dt), também reflete a segunda lei da termodinâmica, sendo
a desigualdade aplicável a todo instante t pertencente ao intervalo temporal t# < t < t# de
processo iTP-TµP-h em SF diatérmico deformável, mas não a instantes pertencentes ao tempo
de existência de processo TBS não TµP-h logo,
para t# < t < t# , a expressão 6.15 é aplicável somente a processo quı́mico suave,
neste caso valendo a desigualdade.
dwnv
Porém, em processo quı́mico tanto pontual quanto suave, a expressão 6.15 produz dt ≥ 0 nos
dwnv
instantes terminais dos processos, porque estes são estacionários, em equilı́brio ( dt = 0) ou
em não equilı́brio ( dwdtnv
> 0).
Deseja-se que o processo referente a toda URQ/AI em SF diatérmico deformável seja regido,
ao longo do tempo de existência do processo, por formas diferenciais da primeira e da segunda
lei da termodinâmica, porque isso permite uma compreensão do processo bem mais aprofundada
do que aquela possı́vel quando apenas as expressões integradas são aplicáveis (sempre que as
expressões diferenciais forem utilizáveis as integradas também serão, mas o vice-versa não é
verdadeiro). Por essa razão,
a partir daqui, neste texto será considerado que o processo efetuado em laboratório
de quı́mica é quı́mico suave. Entretanto, sempre que o colocado também valer para
quı́mico pontual, isto será ressaltado,
porque este último é executado com simplicidade bem maior, ao passo que o primeiro, em
alguns casos, é bem difı́cil de efetuar.
desde que não seja esquecido que a representação escolhida para o estado é (T, P,
N1 (t), . . . , NJ−Υ (t), NJ−Υ+1 , . . . , NJ ),
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 129
pode-se escrever
Como todo processo quı́mico suave refere-se a uma URQ/AI, todas as quantidades de matéria
de reagentes e produtos (grafadas Nj (t) para j = 1, . . . , J − Υ) que estejam presentes no SF no
instante t são, por meio da eq. 6.5 a seguir transcrita,
bem determinadas pelo valor da variável ξ(t). Portanto, em processo quı́mico suave tem-se
Note que igualdades análogas às eqs. 6.16 e 6.17 poderiam ser escritas para H(t), as-
sim como para qualquer outra propriedade do SF sofrendo processo quı́mico suave. Mas,
como as propriedades do SF estão sendo consideradas funções de estado representável pelo
conjunto de valores (T, P, N1 (t), . . . , NJ−Υ (t), NJ−Υ+1 , . . . , NJ ), o valor G(t) refere-se a qual-
quer SF diatérmico deformável TµP-h, enquanto H(t), ou qualquer outra propriedade, referir-
se-ia ao caso especial no qual o SF diatérmico deformável TµP-h é homogêneo. De fato,
para que H(t) se referisse a qualquer SF diatérmico deformável TµP-h dever-se-ia utilizar
o conjunto (S(t), P, N1 (t), . . . , NJ−Υ (t), NJ−Υ+1 , . . . , NJ ) (subseções 4.2.6 e 5.1.1), ao invés
de usar (T, P, N1 (t), . . . , NJ−Υ (t), NJ−Υ+1 , . . . , NJ ), o qual foi simplificado para o conjunto
(N1 (t), . . . , NJ−Υ (t)) e, em seguida, para (ξ(t)).
Note também que, assim como foi usada a eq. 6.5, optativamente poderia ter sido utilizada
a eq. 6.10, a saber,
Entretanto, essa não é a opção geralmente adotada e, somente por esse motivo,
A(ξ) = − dG
dξ (ξ), propriedade intensiva homogênea no SF sob processo quı́mico suave,
chamada afinidade quı́mica, cuja unidade é a de energia por quantidade de matéria,
logo J mol−1 no SI.
-
- -
ξ∗∗ 0 ξ eqq ξ max ξ ∗∗ ξ r
ξ∗∗ 0 ξ reqq ξ rmax ξ r∗∗ ξ r
Figura 6.1: Curvas representativas das URQ/AI direta G × ξ e reversa Gr × ξ r . Nas curvas, são
exemplos de pontos simétricos os que formam cada um dos três pares com abscissas (0, ξ rmax ),
(ξ eqq , ξ reqq ) e (ξ max , 0), bem como os dois pontos marcados sobre as curvas por meio das duas
pequenas setas horizontais. Note que o espelho reflete uma curva sobre a outra, sem interferir
nos eixos e no que neles se encontra marcado. A escolha de qual é a URQ/AI direta é arbitrária
(subseção 6.1.1), de modo que as duas curvas poderiam ser permutadas, mantendo-se imutáveis
os eixos e a distância horizontal entre o começo da curva e o eixo vertical, assim como entre
o final da curva e o mesmo eixo, mas alterando-se as abscissas referentes ao inı́cio do processo
quı́mico suave, equilı́brio quı́mico e final do processo.
é dito exotérmico se dH dH
dt (t) < 0 e endotérmico quando dt (t) > 0.
Na curva mencionada na subseção 6.2.2, a qual é contı́nua e sem ângulos ao longo de todo o
seu comprimento, para ξ tal que ξ∗∗ < ξ < ξ ∗∗ sempre existe um mı́nimo, denominado equilı́brio
quı́mico. Lembre que, para qualquer ξ pertencente a esse intervalo aberto, a inclinação da curva
nunca é vertical e, além disso, neste texto impõe-se, a partir daqui, também a inexistência de
máximos ou inflexões, sejam estas últimas horizontais ou mesmo inclinadas, o que garante ser
único tal mı́nimo6 (veja a fig. 6.1, gráfico à esquerda). Note que
estas especificações matemáticas restringem fortemente as possı́veis formas da men-
cionada curva.
A extensão absoluta da URQ/AI em SF, no equilı́brio quı́mico, é simbolizada ξ eqq . Então,
independentemente de que ocorra, ou não, equilı́brio quando a extensão absoluta da
URQ/AI for ξ eqq ,
a igualdade
dG eqq
(ξ ) = 0 (6.18)
dξ
6
Curvas com mais do que um só mı́nimo existem, mas não são consideradas neste texto.
132 Adalberto B. M. S. Bassi
dG dG dξ
(t) = (ξ(t)) (t) para t# ≤ t ≤ t# , sendo t# < t# , (6.19)
dt dξ dt
dG dG
durante o tempo de existência do processo as derivadas dξ (ξ(t)) e dt (t)
Isso indica que G tenderá a diminuir, com o aumento da extensão da URQ/AI, em todo mo-
mento pertencente ao tempo de existência de processo quı́mico suave no qual ocorrer produção
de potência não volumétrica, ou não houver troca de tal potência com o exterior do SF. In-
dica, também, que G poderá tender a aumentar, com o aumento da extensão da URQ/AI, em
todo momento, pertencente a esse intervalo temporal, no qual haja consumo de potência não
volumétrica. Em resumo, para processo quı́mico suave,
dwn v dG
sempre que t pertencer a t# < t < t# , se dt (t) ≤ 0, ter-se-á dξ (ξ(t)) < 0; logo,
dwn v dG
A(ξ) > 0, ao passo que, se dt (t) > 0, poder-se-á ter dξ (ξ(t)) > 0, portanto
dG
A(ξ) < 0, mas também se poderá ter dξ (ξ(t)) ≤ 0; logo, A(ξ) ≥ 0.
Como, em todo instante t pertencente ao tempo de existência de processo quı́mico suave,
dwn v
tem-se dG
dt (t) <
dG dG
dt (t), e, além disso, as derivadas dξ (ξ(t)) e dt (t) não podem apresentar
sinais opostos,
a definição de SF endergônico mostra que tal SF somente ocorrerá se, no instante
t pertencente a t# < t < t# , houver uma potência dwdtn v (t) > 0.
Além disso, se ocorrer equilı́brio quı́mico durante o tempo de existência do processo (ξ eqq =
ξ(teqq )), então dG
dξ (ξ(t
eqq )) = 0, o que implica dG (teqq ) = 0 e vice-versa. Logo, como dG (t) <
dt dt
dwn v
dt (t), tem-se
dwn v eqq
dt (t ) > 0 sempre que t# < teqq < t# .
Porém,
um SF exergônico possibilitará que, no momento t em t# < t < t# que lhe corres-
ponder, dwdtn v (t) < 0, embora, neste mesmo intervalo temporal, um SF exergônico
dwn v
também possa ocorrer com dt (t) ≥ 0.
Convém exemplificar as afirmações destacadas neste parágrafo.
No caso do SF endergônico, um exemplo bem conhecido é uma eletrólise em célula ele-
trolı́tica,9 a qual somente acontece no instante t pertencente a t# < t < t# se, neste momento,
o SF absorver potência elétrica. Entretanto, um SF exergônico pode emitir potência elétrica,
como ocorre durante o funcionamento de uma pilha de lanterna, a qual é uma célula galvânica.
Um SF exergônico pode, também, não trocar potência não volumétrica alguma com seu exterior,
durante todo o tempo de existência de processo quı́mico suave, como, por exemplo, acontece
ao se misturarem reagentes lı́quidos num tubo de ensaio e uma URQ/AI suficiente lenta se
verifique.
Como outro exemplo de SF exergônico, considere um processo quı́mico que, sem intervenção
do observador, ocorreria de modo pontual, porque seria rápido demais para que a homogenei-
dade TµP fosse mantida ao longo do seu tempo de existência. Por isso, tal processo é efetuado,
pelo observador, em célula eletroquı́mica adequada, sendo injetada no SF uma potência elétrica
( dwdtn v (t) > 0) com o objetivo de retardar o processo quı́mico, de modo a garantir que este
seja suave. Mostrou-se, portanto, que em instante t pertencente a t# < t < t# apenas em SF
exergônico potência não volumétrica pode ser produzida, mas essa produção muitas vezes não
acontece (no estudo da eletroquı́mica é mostrado como potência elétrica pode ser obtida), ao
passo que, em tal momento, SF endergônico ou em equilı́brio quı́mico necessariamente absorve
potência não volumétrica.
9
Na subseção 12.2.2 é explicado o significado de célula eletrolı́tica.
134 Adalberto B. M. S. Bassi
ou dG dG max
dξ (0) > 0, bem como dξ (ξ ) < 0, dG dξ (ξ
max ) = 0 (ξ eqq = ξ max ) ou dG (ξ max ) > 0.
dξ
dG dG # dwnv
Porém, como dt (t# ) = dt (t ) = 0, de acordo com a subseção 6.2.1 ocorrerá dt (t# ) > 0 ou
dwnv #
dt (t ) > 0, respectivamente, se não houver equilı́brio no instante inicial ou final do processo
quı́mico suave. Mas acontecerá dwdtnv (t# ) = 0 ou dwdtnv (t# ) = 0, respectivamente, se houver
equilı́brio em tal instante inicial ou final.
A definição de SF em equilı́brio, apresentada no item Definição da subseção 2.3.1 e na eq.
2.2, mostra que, como ξt é uma função de t não constante e suave, no mı́nimo de primeira
ordem,
Por isso, nos instantes inicial e final de processo quı́mico suave, nos quais o SF é por definição
estacionário,
dwnv
se não houver equilı́brio, ter-se-á, respectivamente, dt (t# ) > 0 em conjunto com
dG dG
dξ (0) < 0, dξ (0) = 0 (ξ
eqq = 0) ou dG
dξ (0) > 0, bem como dwdtnv (t# ) > 0 em conjunto
com dG dξ (ξ
max ) < 0, dG (ξ max )
dξ =0 (ξ eqq = ξ max ) ou dG max
dξ (ξ )>0
(convém lembrar que, conforme colocado no item Decomposição da potência atérmica e definição
de potência volumétrica da subseção 3.2.3, também são consideradas potências não volumétricas
barreiras impostas ao SF, as quais impeçam a ocorrência de processos). Porém,
Logo,
• o SF for exergônico.
Note que a validade de cada uma dessas três afirmações implica a das outras duas e todas elas
correspondem ao conceito de URQ/AI espontânea no instante considerado.
par de pontos simétricos todo par de pontos tal que aquele sobre o segmento de curva
que representa a URQ/AI em SF reversa seja a imagem especular de ponto situado
no segmento de curva que representa a URQ/AI em SF direta.
Entretanto, as derivadas temporais das propriedades do SF podem diferir entre os dois pontos
simétricos que representam o mesmo estado do SF.
De fato, a imagem especular de todo ramo exergônico do segmento de curva que representa
a URQ/AI direta é um ramo endergônico do segmento de curva que representa a URQ/AI
reversa, bem como a imagem especular de todo ramo endergônico do segmento de curva que
representa a URQ/AI direta é um ramo exergônico do segmento de curva que representa a
URQ/AI reversa. Logo, desde que os dois pontos simétricos não sejam aqueles que representam
o SF em equilı́brio quı́mico, porque estes não pertencem a nenhum dos dois ramos do segmento
de curva, enquanto um dos dois pontos simétricos encontra-se sobre um ramo exergônico, o
outro situa-se num ramo endergônico. Portanto, fora da situação de equilı́brio quı́mico, para
ter informação completa sobre o SF é necessário escolher um entre os dois pontos simétricos.
Cabe lembrar que a escolha do segmento de curva não depende do estado do SF, mas sim
do processo quı́mico suave ao qual se considere que tal estado pertença. Isso acontece porque o
ponto (representação do estado do SF) não determina o segmento de curva (representação do
136 Adalberto B. M. S. Bassi
processo quı́mico suave imposto ao SF) a que pertence. Então, desde que o ponto não represente
o SF no equilı́brio quı́mico, se a absorção de uma potência não volumétrica for exigida para
que o processo prossiga, tal ponto pertencerá a um ramo endergônico. Porém, se a absorção
de uma potência não volumétrica não for exigida para que o processo prossiga, logo a URQ/AI
avançar espontaneamente, o ponto pertencerá a um ramo exergônico.
De acordo com o colocado na subseção 6.1.1,
porque é arbitrária a escolha de qual é a URQ/AI em SF direta e qual é a reversa. Por exemplo,
se ξ(t# ) = 0 (eq. 6.4), então ξ r (tr# ) = 0. Logo, lembrando que uma curva é a imagem especular
da outra, ξ(t# ) = ξ r (tr # ) ou, usando a eq. 6.91 , ξ max = ξ r max . Aliás, inspecionando os dois
gráficos (esquerdo e direito) da fig. 6.1 percebe-se que,
por motivo puramente geométrico, para pontos simétricos que ocorram nos instantes
tr e t,
Uma importante restrição temporal é uma evidente consequência do fato de que, por de-
finição, ocorre uma URQ/AI no SF, portanto os processos referentes às reações direta e reversa
apresentam tempos de existência distintos (subseção 6.1.1). Logo, ou tem-se
tr# ≥ t# , (6.21)
Note que
o conjunto formado pelas eqs. 6.20, 6.21 e 6.22 define completamente o conceito de
URQ/AI em SF reversa.10
Convém lembrar que, na realidade, o tempo jamais retrocede. Para mostrar um efeito desse
fato, considere que num eixo horizontal seja lançado o tempo e, num vertical, a distância de um
ponto a uma origem. À medida que o ponto se move no espaço tridimensional o tempo passa
e, ao representar o movimento espacial do ponto, a curva gráfica que o observador traça no
papel avança para cima (quando o ponto se afasta da origem) e para baixo (quando o ponto se
aproxima da origem), mas sempre para a direita (o intervalo de tempo em relação ao instante
inicial sempre aumenta), jamais para a esquerda. Se o observador deixar de registrar uma
distância em determinado instante, será impossı́vel reaver essa informação, porque o tempo não
retrocede.
Mas isso absolutamente não impede que, após traçada tal curva gráfica, que representa a
função temporal distância, ela seja cuidadosamente analisada. Por exemplo, ela não apresenta
descontinuidades, embora possa conter ângulos. Em cada ponto, a inclinação-limite à direita e
à esquerda do ponto pode ser medida e, assim, verificado se a função é derivável no instante
considerado, embora a inclinação-limite à direita do ponto seja obtida fazendo o tempo retro-
ceder (no papel, não na realidade). Aliás, se assim não fosse, nenhuma função temporal seria
derivável. Assim, convém claramente distinguir a análise de uma curva que represente uma
função temporal do fato de, na realidade experimental, o tempo não retroceder.
Considerando que, na realidade, o tempo jamais retrocede, a expressão 6.7 garante que
(a expressão 6.111 mostra que o mesmo é válido para a extensão relativa da URQ/AI). Por isso,
tanto ao traçar o segmento de curva correspondente à URQ/AI em SF direta, quanto aquele
referente à reversa, o ponto que representa o estado do SF pode permanecer parado (só nos
estados terminais isso ocorre) ou mover-se para a direita (durante o tempo de existência do
processo quı́mico suave),
para representar o processo após a conexão. De fato, evidentemente não se pode retroceder
sobre a curva já traçada, porque isso significaria diminuir a extensão absoluta da URQ/AI
direta, logo, retroceder no tempo, enquanto o tempo de existência do processo endergônico é
posterior ao do processo exergônico.
Chama-se atenção, agora, para o primeiro destaque desta subseção 6.2.4, devendo-se lembrar
que o segundo processo quı́mico suave é representado por um segmento do ramo endergônico de
uma curva total reflexa à original, onde esta última contém o segmento de ramo exergônico que
representa a URQ/AI direta que foi interrompida antes de atingir o equilı́brio quı́mico. Neste
experimento, portanto, ao se colocar um espelho vertical à direita de ξ ∗∗ , a URQ/AI reversa será
representada por um segmento do ramo endergônico da curva total reflexa à original, segmento
este que se inicia após o equilı́brio quı́mico. Algo análogo aconteceria se fosse interrompida uma
corrente elétrica que estivesse impulsionando para cima um ponto em ramo endergônico.
o quanto, para o ponto sobre a curva que representa a URQ/AI reversa, os eventos entre
partı́culas que resultam no incremento na extensão da URQ/AI em SF reversa prevalecem
sobre os que propiciam o aumento na extensão da URQ/AI direta, predominância esta
r
medida por dξ r r r
dtr (t ), onde t# ≤ t ≤ t
r # sendo tr < tr # ,
#
é igual ao quanto, para o ponto sobre a curva que representa a URQ/AI direta, os eventos entre
partı́culas que resultam no incremento na extensão da URQ/AI em SF direta prevalecem
sobre os que propiciam o aumento na extensão da URQ/AI reversa, predominância esta
medida por dξ # #
dt (t), onde t# ≤ t ≤ t sendo t# < t .
Por definição,
Porém, ao longo de todo o tempo de existência do processo quı́mico suave, de acordo com a
dξ r r
eq. 6.7 exige-se ou dξ
dt (t) > 0, ou dtr (t ) > 0, conforme o SF se encontre em processo quı́mico
suave direto ou reverso. Logo, o processo quı́mico suave apenas está em equilı́brio cinético
r
nos instantes t# , t# , tr# e tr # , porque tem-se dξ r dξ
dtr (t ) = dt (t) = 0 somente quando o par de
pontos simétricos corresponder aos instantes t# e tr # , ou t# e tr# . Nestes instantes, também
as derivadas dG dt (t) são nulas, mas, de acordo com a eq. 6.19, os valores da afinidade quı́mica
(subseção 6.2.2) podem ser positivos, nulos ou negativos, conforme indicado no item Aplicação
dos conceitos nos instantes terminais do processo quı́mico suave da subseção 6.2.3. Logo,
nada impede que haja equilı́brio cinético sem haver equilı́brio quı́mico.
nada impede que haja equilı́brio quı́mico sem haver equilı́brio cinético.
Note que equilı́brio quı́mico e equilı́brio cinético coincidirão, nas extensões absolutas ξ max da
URQ/AI direta e 0 da reversa, ou então 0 da direta e ξ r max da reversa, quando ocorrer equilı́brio
(estável, metaestável ou instável) para essas extensões absolutas da URQ/AI, conforme indicado
no item Aplicação dos conceitos nos instantes terminais do processo quı́mico suave da subseção
6.2.3.
Capı́tulo 7
A partir deste capı́tulo e até o final deste texto, a não ser em casos especı́ficos nos quais a
clareza na argumentação sugira a conveniência de explicitar a dependência temporal, esta será
omitida por motivo de simplicidade, porque já foi suficientemente ressaltada nos seis capı́tulos
anteriores. Sempre que essa omissão ocorrer subentende-se que,
em qualquer expressão matemática, todos os seus termos se referem ao mesmo ins-
tante t.
Convém lembrar que, de acordo com a subseção 6.1.4, a taxa de conversão da URQ/AI é
dξ dξ 1 dNj
dt (t). Essa taxa, cuja unidade no SI é mol s−1 , é dada por dt (t) = νj dt (t) > 0 (eq. 6.7), onde
j = 1, . . . , J − Υ e t# < t < t# ,
sendo essas duas condições também impostas à expressão 7.1.
Então, a eq. 7.2 pode ser escrita
!
1 dcj 1 dξ Nj dV
= − para URQ/AI.
±|νj | dt V dt ±|νj |V dt
1 dcj 1 dξ
= para URQ/AI, onde j = 1, . . . , J − Υ e t# < t < t# , (7.3)
±|νj | dt V dt
1 dcj
logo, nestas condições, a taxa temporal de reação, ±|ν j | dt
, não depende de qual é reagente ou
agr
produto, Wj , considerado.
Define-se, então, o processo quı́mico cinético, o qual é estacionário em seus instantes ter-
minais e é isotérmico, como acontece para o processo quı́mico suave, mas, ao contrário deste,
ele não é isobárico e mantém temporalmente fixo o volume de SF homogêneo (ao invés de SF
apenas TµP-h, como ocorre no quı́mico suave) para todo t em t# ≤ t ≤ t# , sendo t# < t# . Não
obstante existam casos especı́ficos para os quais a eq. 7.3 é válida, ressalte-se que, em geral,
num mesmo instante t admite-se poder a taxa temporal de reação assumir valores diferentes,
de acordo com qual for o reagente ou produto Wjagr considerado, porque, conforme já colocado
na subseção 6.1.4,
em cinética quı́mica a condição AI não costuma ser imposta, embora, neste texto, o
processo quı́mico cinético seja sempre imposto, independentemente
A lei cinética pode nem sequer ser uma função algébrica (ver o item Conceito de função da
subseção 1.1.3) porque, pelo menos a princı́pio, ela
Para algumas URQ (não para todas, nem para a maioria delas), os dados experimentais
satisfazem à especı́fica forma algébrica de lei cinética, que será neste texto chamada forma
padrão apenas para poder referenciá-la,
1 dcj kj J−Υ
Y dcj J−Υ
Y
= (ci )zj i ou ± = kj (ci )zj i , onde: (7.4)
±|νj | dt |νj | i=1 dt i=1
1. A eq. 7.42 é mais utilizada, porque a retirada de |νj | é muito conveniente, visto que os
coeficientes estequiométricos são definidos a menos de uma constante multiplicativa (na
subseção 6.1.4 foi antecipado que, em cinética quı́mica, costuma ser evitada a influência
de coeficientes estequiométricos nas leis cinéticas). A preferência por essa forma explica
o uso da notação alternativa ±|νj | (subseção 7.1.1) em substituição a νj (esta última em
geral mais conveniente), já que essa notação alternativa permite a simplificação que leva
à eq. 7.42 ;
porque não foi informado se a URQ em questão é, ou não, uma URQ/AI (veja, a seguir, o
item 5). Ressalte-se, ainda, que a ausência de concentrações de produtos é, apenas, uma
caracterı́stica desta especı́fica lei cinética, uma vez que produtos aparecem em outras leis
cinéticas;
PJ−Υ
3. zj = i=1 zj i é a ordem (total) da URQ, na lei cinética referente ao reagente ou produto
Wjagr ;
Experimentalmente, cBr2 e cHBr podem ser tornados quase constantes em relação a cH2 , ao
longo de todo o tempo de existência do processo quı́mico cinético e nos seus instantes terminais,
se no instante inicial existirem quantidades de matéria enormes de Br2 (g) e HBr (g), em relação
dcBr2
à quantidade de matéria de H2 (g). Note que isso não causa dt ≈ 0 e dcdtHBr
≈ 0, porque
cBr2 e cHBr não são quase constantes no sentido absoluto, mas apenas quando suas variações
percentuais forem comparadas com a variação percentual de cH2 , para um mesmo intervalo de
tempo.
3/2
kHBr 1 cBr
A já mostrada expressão kHBr 3 = 2
cBr2 +kHBr 2 cHBr indica que enormes quantidades de
matéria de Br2 (g) e HBr (g), em relação à quantidade de matéria de H2 (g), permitem que
kHBr 3 seja considerado aproximadamente constante sem que se tenha dcdt HBr
≈ 0, ou seja, per-
dcHBr
mitem que dt = kHBr 3 cH2 tenha valor não nulo sempre que cH2 6= 0. Em outras palavras,
tais enormes quantidades de matéria permitem considerar que dcdt HBr
= kHBr 3 cH2 seja uma
expressão aproximada da eq. 7.7. Note que esta seria a lei cinética experimentalmente obtida
caso, por exemplo, as condições iniciais fossem 10 mol tanto de Br2 quanto de HBr e 0,01 mol
de H2 , se houvesse condições experimentais para acompanhar a evolução da concentração de
H2 .
Chama-se método de isolamento o uso de grandes quantidades de todos os demais reagentes
e produtos, em relação a um especı́fico reagente ou produto, para se alterar a lei cinética
de modo que ela evidencie, ou isole, essa especı́fica espécie quı́mica. O isolamento de H2 (g)
destaca o seu comportamento, mas não é capaz de fornecer informação quanto a Br2 (g) e
HBr (g), porque envolve perda de sensibilidade quanto a alterações nas concentrações dessas
duas espécies quı́micas. Por isso, é correta a conclusão, obtida por isolamento de H2 (g), de que
a lei cinética exata, dada pela eq. 7.7, apresenta primeira ordem para H2 (g). Mas a aparente
conclusão de que essa mesma lei cinética apresenta ordem nula para Br2 (g) e HBr (g) é restrita
às faixas de concentração para as quais é válida a expressão dcdt
HBr
= kHBr 3 cH2 , portanto é uma
conclusão falsa.
Para conhecer as ordens referentes a Br2 (g) e a HBr (g) devem-se isolar, respectivamente,
Br2 (g) e HBr (g), obtendo-se as igualdades já apresentadas no segundo parágrafo desta subseção
7.1.3. Conforme também já colocado, o exame de tais igualdades mostra que, isolando-se Br2 (g)
ou HBr (g), não se obtém uma lei com a forma padrão dada pelas eqs. 7.4; logo, para Br2 (g)
e HBr (g), a ordem não é nula, nem nenhuma outra ordem definida. Deve-se ainda comentar
que, experimentalmente, o isolamento do Br2 (g) pode ser efetuado de modo análogo ao do
H2 (g), ou seja, cH2 e cHBr podem ser tornados quase constantes em relação a cBr2 , ao longo de
todo o processo quı́mico cinético e nos seus instantes terminais, se no instante inicial existirem
enormes quantidades de matéria H2 (g) e HBr (g), em relação à quantidade de matéria Br2 (g).
Mas, por meio da utilização, no instante inicial, de quantidades enormes da matéria H2 (g)
e Br2 (g) em relação à quantidade da matéria HBr (g), se o tempo de existência do processo
quı́mico cinético for demasiadamente longo será impossı́vel tornar cH2 e cBr2 quase constantes,
em relação a cHBr , ao longo de todo esse intervalo temporal. Essa impossibilidade ocorre porque
H2 (g) e Br2 (g) são reagentes, enquanto HBr é um produto. Portanto, para isolar experimental-
mente um produto é necessário interromper a URQ após um intervalo temporal suficientemente
pequeno para que o produto permaneça isolado durante todo o tempo de existência do processo.
Observe que, neste exemplo, partiu-se da lei cinética exata
3/2
dcHBr kHBr 1 cH2 cBr2
=
dt cBr2 + kHBr 2 cHBr
146 Adalberto B. M. S. Bassi
respectivamente correspondentes aos isolamentos de H2 (g), Br2 (g) e HBr (g). A sequência ver-
dadeira é a oposta, ou seja, a lei cinética exata é desconhecida e, obtendo-se experimentalmente
as leis cinéticas aproximadas correspondentes aos isolamentos de todos os reagentes e produtos
da URQ, consegue-se deduzir a lei cinética exata. Esta é, então, testada para quantidades
iniciais semelhantes de todos os reagentes e produtos.
Para a obtenção experimental das leis cinéticas aproximadas correspondentes aos isolamen-
tos de todos os reagentes e produtos da URQ, frequentemente se usa o método da velocidade
inicial. Este corresponde ao uso de um tempo de existência do processo quı́mico cinético su-
ficientemente curto para considerar que todas as concentrações no lado direito da lei cinética
permaneçam nos seus respectivos valores iniciais − logo, sejam constantes −, o que muito facilita
a descoberta das mencionadas leis.
Porém, o tempo de existência do processo quı́mico cinético deve ser suficientemente longo
para que se possa medir a variação finita de concentração da espécie quı́mica que aparece na
derivada temporal, variação esta que, dividida pelo intervalo de tempo correspondente, produz
um valor aproximado para a citada derivada. Evidentemente, o alerta antes colocado, referente
ao uso do método de isolamento em produtos, passa a ser desnecessário se for utilizado o método
da velocidade inicial.
Se for conhecida a concentração inicial c1# = c1 (0) (convenciona-se t# = 0), a equação integrada
fornecerá o valor c1 (t) para todo instante t tal que 0 ≤ t ≤ t# , sendo 0 < t# , do processo quı́mico
cinético (ver eqs. 7.81 e 7.91 , a seguir).
Alternativamente, seja β a fração de vida de reagente. Para 0 ≤ β ≤ β # < 1, se t1 (β) for o
tempo necessário para que a concentração do reagente W1agr se reduza a c1 (β) = (1−β)c1# , caso
seja conhecida a concentração inicial c1# a equação integrada fornecerá o valor t1 (β), sendo
t1 (0) = t# = 0 e t1 (β # ) = t# . Evidentemente, β # → 1 é a tendência ao total desaparecimento
do reagente W1agr . Isso corresponde a t# = t1 (β # → 1) → +∞ (ver eqs. 7.82 e 7.92 , a seguir).
Por exemplo, para β = 2/3 tem-se t1 (2/3), tempo este denominado dois terços de vida do
reagente W1agr , porque dois terços da concentração inicial de W1agr foram gastos ao longo do
c
intervalo temporal t1 (2/3), durante o qual a concentração de reagente se reduziu para 1# 3 , ou
seja, um terço da inicial. Analogamente, 99 centésimos de vida será representado t1 (99/100),
porque β = 99/100, sendo t1 (99/100) o intervalo temporal necessário para reduzir a concen-
c1#
tração de reagente para 100 , ou seja, um centésimo da inicial. Para o caso especı́fico em que
β = 1/2, tem-se t1 (1/2), tempo este denominado meia-vida do reagente W1agr .
A equação integrada que,
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 147
dada a concentração inicial c1# = c1 (0), para todo t tal que 0 ≤ t ≤ t# , sendo 0 < t# , fornece
o valor da concentração c1 (t) e
aquela que, dada a mesma constante c1# , para todo β tal que 0 ≤ β ≤ β # < 1, produz o valor
do instante t1 (β)
podem ser interligadas fazendo t = t1 (β); logo, c1 (t) = c1 (t1 (β)) = c1 (β) = (1 − β)c1# .
Portanto, na equação integrada que fornece c1 (t), substituindo essa imagem por (1 − β)c1# e o
argumento t por t1 (β), obtém-se a equação integrada que produz t1 (β) como imagem, sendo β
seu argumento. Então, para a URQ e a lei cinética dadas, por integração analı́tica obtém-se
c1# 1 1 ln 2
k1 t = ln e t1 (β) = ln , logo t1 (1/2) = quando z1 1 = 1, (7.8)
c1 (t) k1 1 − β k1
(1−z1 1 ) (1−z1 1 ) " (z1 1 −1) #
c1# − c1 (t) 1 1
mas k1 t = e t1 (β) = (z −1)
−1 ,
1 − z1 1 k1 (z1 1 − 1)c1#1 1 1−β
2(z1 1 −1) − 1
logo t1 (1/2) = (z −1)
quando z1 1 6= 1. (7.9)
k1 (z1 1 − 1)c1#1 1
ln y 6
y = 3z(x)
y = 2z(x)
y = z(x) -
x
Figura 7.1: Gráfico da função (ln y)x , sendo os valores do argumento x lançados no eixo hori-
zontal e os da imagem ln y no vertical. Considera-se y = az, onde ax é uma função constante
de x, enquanto zx é uma função não constante contı́nua de x. São traçadas três curvas, res-
pectivamente para a = 1, a = 2 e a = 3. Note que, para pontos sobre a mesma vertical, a
inclinação das três curvas é a mesma. Em outras palavras, para todo x, sobre as três curvas é
igual o valor, correspondente ao mesmo x, da derivada d dx ln y
(x).
Svante August Arrhenius recebeu o prêmio Nobel de Quı́mica em 1903 e foi diretor do Instituto
Nobel desde 1905 até 1927 (ano de sua morte), mas seu enfoque era fortemente matemático e
fı́sico (como, entre outros, também os de Gibbs e Planck). Sua tese de doutorado em Quı́mica,2
defendida em Uppsala no ano de 1884, foi muito criticada e quase reprovada, porque colo-
cava conceitos discordantes daqueles prevalecentes na época (foi classificada como de terceira
categoria). A partir de 1885, teve contato cientı́fico com Ostwald, Kohlrausch, van’t Hoff e
Boltzmann. Certamente, pelo menos as ideias dos dois últimos influenciaram3 fortemente a
importante proposta feita por Arrhenius em 1889, a qual pode ser considerada prodigiosa para
a época.
Então, considerando novamente a constante para taxa temporal de reação presente na lei
cinética apresentada pelas duas eqs. 7.4, define-se
EA EAj
kj = Aj exp − j , ou ln k j = ln Aj − , j = 1, . . . , J − Υ, (7.11)
RT RT
EA
onde EAj tem a unidade de RT (Jmol −1 no SI), para que a fração RTj seja adimensional, e
Aj é o adimensional valor numérico da grandeza dimensional Aj , qualquer que seja a unidade
a que esse valor numérico se refira, porque
que pode ser cortada nos dois lados da eq. 7.111 , possibilitando a aplicação da função logarı́tmica
à mencionada equação. Além disso, como a imagem de função exponencial de qualquer argu-
mento real é positiva,
2. EAj > 0, portanto impôs que a citada reta tenha inclinação negativa. Porém, embora o
gráfico indicado no item 1 muitas vezes seja aproximadamente uma reta com inclinação
Über die Reaktionsgeschwindigkeit bei der Inversion von Rohrzucker durch Säuren, Z. Phys. Chem., 4 (1889),
226-48, DOI:10.1515/zpch-1889-0116.
2
Arrhenius, Svante A., Recherches sur la conductivité galvanique des électrolytes, Norstedt & söner, 1884.
3
Para van’t Hoff, veja o item Alteração térmica de K(T ) da subseção 7.4.3. Para Boltzmann, veja a eq. 7.15.
150 Adalberto B. M. S. Bassi
a energia molar de ativação de Arrhenius pode não ser uma boa medida da
tendência de variação, com a temperatura, da constante para taxa temporal de
reação presente na lei cinética apresentada pelas eqs. 7.4, embora em muitos
casos ela possa servir para este fim;
EA = EAj , j = 1, . . . , J − Υ. (7.13)
Este item 3 será comentado na subseção 7.3.2, onde também será indicada a relação entre
as eqs. 7.11 e as ideias de Boltzmann.
(subseção 6.1.1), já que estas últimas são definidas em sistemas geométricos clássicos (subseção
1.1.2). Em RQE algumas partı́culas, ao ultrapassarem determinado nı́vel de aproximação espa-
cial, interagem de modo a se transformarem em partı́culas diferentes das iniciais. Por exemplo,
quando um átomo de hidrogênio se avizinhar suficientemente de uma molécula de flúor, é
possı́vel que desse encontro resultem um átomo de flúor e uma molécula de hidreto de flúor. A
geometria espacial do encontro capaz de desfazer-se tanto em partı́culas diferentes das iniciais
quanto nas próprias partı́culas iniciais, em vez de apenas retornar sempre às iniciais, é chamada
complexo ativado.
Para ser imediatamente distinguida das URQ, na representação gráfica de toda RQE
porque, embora possam ser estabelecidos sistemas de partı́culas que representem os diversos
estados de agregação, estes classificam sistemas ou subsistemas geométricos clássicos, não siste-
mas de partı́culas. Além disso, na representação gráfica de toda RQE os números que antecedem
os sı́mbolos correspondentes aos reagentes e produtos
(subseção 6.1.2).
De fato, convém lembrar que coeficientes estequiométricos são adimensionais que fornecem
proporções conforme as quais reagentes e produtos participam de uma URQ, motivo por que o
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 151
conjunto dos coeficientes estequiométricos referente a qualquer URQ pode ser multiplicado por
um real positivo arbitrário, sem que a URQ se altere (subseção 6.1.2). Entretanto, numa RQE
consta o
Se tais números φj fossem todos eles dobrados, o complexo ativado contaria com o dobro das
partı́culas que realmente envolve, portanto seria um outro fenômeno.
Esta última afirmação pode ser explicada lembrando que, a cada um dos dois fenômenos
em sistema de partı́culas mencionados no parágrafo anterior, associa-se uma probabilidade
de ocorrência. Aquela correspondente a um fenômeno que envolva o dobro de partı́culas do
que as existentes no complexo ativado, em relação à probabilidade de ocorrência do complexo
ativado, possivelmente seja tão pequena que o torne, na prática, irrealizável, embora o complexo
ativado seja suposto factı́vel. Eventos, em sistema de partı́culas, com diferentes probabilidades
de ocorrência são considerados fenômenos diferentes.
É denominado molecularidade o número de partı́culas reagentes que participam do complexo
ativado a que se refere a RQE considerada. Portanto,
Note que toda RQE corresponde a uma URQ, mas nem toda URQ corresponde a
uma RQE.
URQ que não correspondam a RQE são explicadas, em sistema de partı́culas, por meio
de conjuntos de RQE interligadas entre si, chamados mecanismos de reação. Tais conjuntos
frequentemente não são apenas sequenciais (produtos de uma reação são reagentes de outras),
mas apresentam reações paralelas, ramificações etc. Cada RQE pertencente ao mecanismo
corresponde a uma URQ chamada etapa do mecanismo.
A URQ que um determinado mecanismo pretenda explicar geralmente não pode ser
obtida por meio de combinação linear das etapas do mecanismo.
152 Adalberto B. M. S. Bassi
1. a forma padrão de lei cinética, dada pelas eqs. 7.4, é obedecida. Então, como se trata de
URQ/AI (subseção 7.3.1), é obedecida a eq. 7.5, a saber, zi = zj i para j = 1, . . . , J − Υ,
dc
podendo a eq. 7.42 ser escrita ± dtj = kj J−Υ zi
i=1 (ci ) , para j = 1, . . . , J − Υ. Além
Q
Note que:
• para obter o valor Jreagentes , considera-se que os reagentes são contados antes dos
produtos;
• por se tratar de uma URQ/AI, além da eq. 7.5 também é obedecida a eq. 7.6, a
saber, kkm
n
= |νm|
|νn | , onde m, n = 1, . . . , J − Υ. Esta última equação permite que, dado
um conjunto de coeficientes estequiométrico e o valor kj referente a algum reagente
ou produto, as constantes para taxa temporal de reação sejam conhecidas para todos
os reagentes e produtos.
|νm | d ln km d ln kn |νm |
2. como, de acordo com a eq. 7.6, km = |νn | kn , então d(T −1 )
= d(T −1 )
, porque |νn | independe
d ln k
de T . Logo, considerando a primeira igualdade na eq. 7.10, a saber, Ekj = −R d(T −1j) ,
tem-se Ek = Ekj para j = 1 . . . , J − Υ, ou seja, Ekj independe de j. Mas, quando isso
acontece, necessariamente cada um dos três termos no lado direito da eq. 7.12, a seguir
copiada,
3. Considerando que,
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 153
Definições
O superı́ndice significa padrão. Quando sua base for o valor de uma propriedade da espécie
quı́mica Wjagr , j = 1, . . . , J − Υ (subseção 6.1.2), esse superı́ndice indicará que o mencionado
valor se refere à situação em que Wjagr se encontra em seu estado padrão. Por definição, em
154 Adalberto B. M. S. Bassi
se encontra pura (isenta de toda e qualquer interação com outra espécie quı́mica diferente dela
própria),
o ı́ndice r indicando que a propriedade se refere à URQ representada por {νj Wjagr }J−Υ j=1 (subseção
6.1.2). Então, ∆r H (T ) é denominada entalpia padrão de reação, enquanto ∆r G (T ) é cha-
mada energia de Gibbs padrão de reação, ambas dependentes exclusivamente do valor da tem-
peratura T . Lembre que parâmetros de reação (subseção 6.1.2) são adimensionais constantes,
definidos a menos de uma constante multiplicativa real positiva, os quais, na eq. 7.16, multipli-
cam propriedades intensivas. Portanto, ∆r x (T ) é uma propriedade intensiva.
Trocar cada reagente ou produto Wjagr , na representação {νj Wjagr }J−Υ j=1 da URQ, pelo
respectivo valor xj (T ), enquanto os sinais dos νj passam a representar somas e subtrações
algébricas, ao invés de apenas indicar se a correspondente espécie quı́mica Wjagr é um reagente
ou produto, implica a alteração da notação {νj Wjagr }J−Υ
PJ−Υ
j=1 por j=1 νj xj (T ), que aparece no
lado direito da eq. 7.16. Note, também, que o sı́mbolo ∆a→b significa diferença finita entre va-
lores (nota de rodapé no inı́cio da subseção 3.1.4), a qual é uma especı́fica forma de combinação
linear de valores. Impondo este último significado mais amplo, o sı́mbolo ∆r xj (T ), no lado
esquerdo da eq. 7.16, pode ser entendido como combinação linear de valores xj (T ) referente à
URQ representada por {νj Wjagr }J−Υ
j=1 .
O ı́ndice f indica URQ de formação, sendo ∆f xj (T ) a entalpia ou a energia de Gibbs
padrão de formação do reagente ou produto Wjagr . A URQ de formação é uma especı́fica URQ,
portanto tudo o que já foi colocado nos parágrafos anteriores, válido para qualquer URQ,
também é obedecido pela URQ de formação. Por definição, a URQ de formação
usa a unidade como coeficiente estequiométrico do único produto que ela forma, o qual é Wjagr
em seu estado padrão na temperatura T e
utiliza, como reagentes, os elementos quı́micos presentes em Wjagr , cada um deles no estado
padrão da forma do elemento quı́mico que seja estável na temperatura T .
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 155
Note que essa decomposição de uma URQ em combinação linear de URQ parcelas nada tem
a ver com o conceito de mecanismo de reação, formado por RQE e apresentado na subseção
7.3.1. Em consequência, a entalpia padrão ou a energia de Gibbs padrão de URQ explicada por
meio de um mecanismo geralmente não é uma combinação linear, respectivamente, das entalpias
padrão ou energias de Gibbs padrão das etapas do mecanismo. De fato, costumeiramente a
decomposição de uma URQ em combinação linear de URQ parcelas não reflete um mecanismo
constituı́do por RQE; logo, as URQ parcelas não são etapas.
Em geral, a mencionada decomposição não passa de apenas um artifı́cio para representar
determinado parcelamento aritmético de grandezas associadas à URQ, somativo ou subtrativo
no caso das propriedades padrão de reação (ver item Definições desta subseção 7.4.1) e, con-
sequentemente, multiplicativo ou divisivo no caso da constante termodinâmica de equilı́brio
quı́mico (ver o item Parcelamento multiplicativo da subseção 7.4.3). Tal decomposição é ditada
pela acessibilidade de dados experimentais tabelados, ou por outra conveniência prática. Já as
etapas de um mecanismo pretendem explicar como a URQ ocorre na realidade e, para isto, é
informação essencial o conhecimento da rapidez de cada etapa em relação às outras, sendo este
156 Adalberto B. M. S. Bassi
J−Υ
X
∆r x (T ) = νj ∆f xj (T ). (7.17)
j=1
Variação de ∆r H com T
Para SF homogêneo de composição4 constante sofrendo processo isobárico (subseção 2.3.2), a
eq. 5.22 , a saber, Cp = ∂H
∂T , assume a forma diferencial dH = Cp (T )dT , a qual pode ser
(P,Ni )
integrada sobre o intervalo finito de temperaturas desde T0 até T , sendo T0 < T , portanto5
RT RT
T0 dH = T0 Cp (Ť )dŤ . Supondo que o intervalo de temperaturas seja suficientemente pequeno
para permitir que, nele, Cp (T ) seja considerada constante (subseção 5.1.1), a integração produz
H(T ) − H(T0 ) = Cp (T − T0 ); logo,
Hj (T ) = Hj (T0 ) + Cp m j (T − T0 ).
PJ−Υ
Substituindo Hj (T ), dado pela igualdade anterior, em ∆r H (T ) = j=1 νj Hj (T ) (eq.
7.16), obtém-se
J−Υ
X
∆r H (T ) = ∆r H (T0 ) + (T − T0 ) νj Cp m j , (7.18)
j=1
onde foi considerado que todas as capacidades térmicas molares a pressão constante, Cp m j ,
independam de T . Embora a equação diferencial se refira a processo isobárico, a equação
integral abrange processo barostatizado (na pressão padrão, P ), porque os instantes terminais
do processo barostatizado podem ser interligados por um imaginário processo isobárico. Por
isso, a eq. 7.18 pode ser utilizada para obter ∆r H (T ) sabendo-se ∆r H (T0 ), desde que a
diferença de temperaturas T − T0 seja suficientemente pequena.
Variação de ∆r G com T
Para efetuar dedução análoga àquela apresentada para a variação de ∆r H com T deve-se
∂G
considerar a eq. 4.19, a saber, ∂T (P,N ) = −S. Logo, para SF homogêneo de composição
i
4
Ver o significado da palavra composição no item Molar da subseção 1.2.3.
5
A notação x̌ é usada para distinguir a variável de integração do limite superior de integração, x.
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 157
constante sofrendo processo isobárico tem-se a forma diferencial dG = −S(T )dT . Entretanto,
∂S Cp
como ∂T (P,N ) = T (eq. 5.9), a entropia não pode ser suposta independente da temperatura,
i
nem mesmo para diferenças T − T0 tão pequenas que permitam considerar Cp (T ) independente
de T .
Para demonstrar essa afirmação, considere que, para SF homogêneo de composição constante
sofrendo processo isobárico tem-se, também, a forma diferencial dS = Cp (T ) dT
T e, se a diferença
T − T0 for suficientemente pequena que permita considerar Cp (T ) independente de T ,
Z T
dŤ
S(T ) − S(T0 ) = Cp .
T0 Ť
Porém, como exp x ≈ 1 + x se |x| 1 (expansão em série de Taylor6 da função exp x, centrada
em x = 0 e truncada no termo de primeira potência em x), então x ≈ ln(1 + x) se |x| 1. Seja
x = T −T T T −T0
T0 . Logo, porque T0 = 1 + T0 , tem-se
0
Z T
T − T0 T dŤ
≈ ln = se |T − T0 | T0 . (7.19)
T0 T0 T0 Ť
Cp
Portanto, obtém-se S(T ) − S(T0 ) ≈ Cp T −T
T0 , ou S(T ) ≈
0
T0 T + S(T0 ) − Cp .
∂H
No parágrafo anterior mostrou-se que, enquanto ∂T (P,N ) = Cp sem dúvida pode ser consi-
i
derada independente de T para |T − T0 | T0 (por exemplo, suponha T0 = 298 K e T = 300K),
∂G
para esse mesmo intervalo de temperaturas ∂T (P,N ) = −S é a imagem de uma reta com ar-
i
C
gumento T , cujo coeficiente angular é − T0p e o linear, Cp − S(T0 ). Essa constatação evidencia
o conhecido fato de que,
porque a aproximação válida num caso pode não valer no outro (por exemplo, num mesmo
intervalo de temperaturas em que Cp pode ser considerada aproximadamente constante, S não
pode).
Porém, considerando G = H − T S (eq. 4.5) e ∂G
∂T = −S, tem-se G = H + T ∂G
∂T
(P,Ni ) (P,Ni )
∂(G/T ) ∂(Gj /T ) H
ou − TH2 = 1 ∂G
T ∂T (P,N ) − G
T2
= ∂T , portanto ∂T (T ) = − Tj2 (T ) ou,
i (P,Ni ) (P,Ni )
multiplicando esta equação por νj e efetuando o somatório da expressão assim obtida para
j = 1, . . . , J − Υ,
∂(∆r G /T ) ∆r H (T )
(T ) = − .
∂T (P,N )
T2
i
Para SF de composição constante sofrendo processo homogêneo isobárico, esta equação desta-
cada pode ser reescrita
∆r G (T ) ∆r H (T )
d =− dT (7.20)
T T2
6
Veja, por exemplo, Apostol, Tom M., Calculus, Wiley, v. I, 1991, v. II, 2007.
158 Adalberto B. M. S. Bassi
ou, por integração sobre o intervalo finito de temperaturas desde T0 até T , sendo T0 < T ,
∆r G (T ) Z T
∆r G (Ť ) ∆r H (Ť )
Z
T
d =− dŤ . (7.21)
∆r G (T0 )
T0
Ť T0 Ť 2
∆r G (T ) ∆r G (T0 ) 1 1
= + ∆r H − . (7.22)
T T0 T T0
Por causa da mesma razão apresentada para a eq. 7.18, a eq. 7.22 é válida para processo ba-
rostatizado (na pressão padrão, P ); logo, a eq. 7.22 pode ser utilizada para obter ∆r G (T )
sabendo-se ∆r G (T0 ). A eq. 7.18, válida para intervalo de temperaturas suficientemente pe-
queno para que Cp possa ser considerado independente de T , indica que ∆r H depende pouco
PJ−Υ
da temperatura quando j=1 νj Cp m j também for suficientemente pequeno (lembre que νj é
negativo para reagentes e positivo para produtos). Mas, quando considerar ∆r H independente
de T introduzir erro inaceitável para faixa de temperaturas na qual Cp possa ser considerado
independente de T , a eq. 7.18 pode ser substituı́da na eq. 7.21 e a integração pode ser efetuada,
o que é matematicamente simples. Ressalte-se que,
1. do valor da inclinação dG ∗∗
dξ (ξ), no ponto (ξ, G(ξ)) da curva total G × ξ (entre ξ∗∗ e ξ )
definida na subseção 6.2.2;
• a dependência de dG
dξ em T e P foi explicitada porque, embora esses parâmetros não
variem ao longo da curva G × ξ, para um mesmo valor de ξ a derivada dG dξ se modifica
caso tais parâmetros sejam alterados, uma vez que isso indica mudança de uma curva
para outra;
• a eq. 7.231 também mostra que Q(T, P, ξ) é uma propriedade intensiva homogênea do SF
sob processo quı́mico suave, porque dG
dξ (T, P, ξ), ∆r G (T ) e T são intensivas homogêneas
neste SF, enquanto R é uma constante.
onde a constante termodinâmica de equilı́brio quı́mico, K(T ), é o especı́fico valor que Q(T, P, ξ)
assumirá quando o SF se encontrar em equilı́brio quı́mico, ou seja, quando a extensão absoluta
da URQ/AI em SF for ξ eqq . Portanto,
A eq. 7.24 mostra que, assim como acontece com ∆r G (T ), para definir K(T ) basta informar
o valor da temperatura homogênea T . De fato, considerando as eqs. 7.17 e 7.22, percebe-se que
o valor de K(T ) pode ser calculado a partir de valores tabelados para ∆f Gj (298) . Por isso,
160 Adalberto B. M. S. Bassi
na eq. 7.25, para ξ = ξ eqq foi omitida a dependência em P de Q(T, P, ξ). Como Q(T, P, ξ) > 0
e K(T ) é um especı́fico valor de Q(T, P, ξ), então
dG Q(T, P, ξ)
(T, P, ξ) = RT ln . (7.27)
dξ K(T )
Interpretação conceitual
A eq. 7.27 mostra que:
é exergônica em todo momento no qual 0 < Q(T, P, ξ) < K(T ) porque, neste caso,
dG eqq ; logo, o SF tem excesso de reagentes em relação
dξ (T, P, ξ) < 0, portanto ξ < ξ
à quantidade deles no equilı́brio quı́mico, bem como carência de produtos em com-
paração à quantidade deles no equilı́brio quı́mico,
encontra-se em equilı́brio quı́mico em todo instante no qual Q(T, P, ξ) = K(T ) porque,
neste caso, dG
dξ (T, P, ξ) = 0, portanto ξ = ξ
eqq ; logo, as quantidades de reagentes e
2. Valores de K(T ) muito altos (por exemplo, da ordem de 1018 ou mais) correspondem
a URQ/AI exergônicas irreversı́veis (subseção 6.2.5), enquanto valores de K(T ) muito
baixos (por exemplo, da ordem de 10−19 ou menos) indicam URQ/AI endergônicas irre-
versı́veis. Isso ocorre devido à inexistência de valores para Q(T, P, ξ) significativamente
maiores do que da ordem de 1018 , ou menores do que da ordem de 10−19 porque, nes-
tas condições, o SF respectivamente contém apenas traços de reagentes, ou de produtos.
Logo, as curvas obtidas lançando-se, no intervalo ξ∗∗ < 0 ≤ ξ ≤ ξ max < ξ ∗∗ , valores ξ
como abscissas e os correspondentes G(ξ) como ordenadas (subseção 6.2.2, onde T e P
são considerados parâmetros fixos) apresentam, nestes casos, um ramo com comprimento
desprezı́vel em relação ao outro.
∆r j G (T ) = α∆r i G + β∆r k G
= −RT (α ln Ki (T ) + β ln Kk (T ))
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 161
d ln K ∆r H (T )
(T ) = . (7.29)
dT RT 2
Essa expressão matemática, apresentada por Jacobus H. van’t Hoff Jr. em 1884, teve decisiva
influência histórica no desenvolvimento conceitual da termodinâmica e da cinética quı́micas.
Evidentemente, desde que ∆r H permaneça satisfatoriamente inalterada ao longo do intervalo
de temperaturas entre T0 e T , a partir da eq. 7.29 obtém-se
K(T ) ∆r H 1 1
ln = − .
K(T0 ) R T0 T
Já a outra parcela, RT ln Q(T, P, ξ), considera caracterı́sticas fı́sicas do processo quı́mico
suave que ocorre no SF, as quais são explicitadas por propriedades coerentes com um conceito
generalizado de composição, ou seja, propriedades outras que não apenas fração em mol, mas que
também reflitam proporções entre as quantidades de matéria das diferentes espécies quı́micas
presentes em cada subsistema do SF (por exemplo, molalidades, subseção 7.5.3). Mas, além
disso, essas caracterı́sticas também envolvem outros efeitos fı́sicos (considerados, por exemplo,
nos coeficientes de atividade, subseção 7.5.3), os quais dependem das composições dos subsiste-
mas a cada instante, mas, também, da temperatura e da pressão homogêneas e fixas do processo
quı́mico suave correspondente à URQ/AI.
162 Adalberto B. M. S. Bassi
Para entender esses efeitos fı́sicos convém utilizar o conceito de sistemas de partı́culas
(subseção 1.1.2) e considerar que os mencionados efeitos são causados por interações não
quı́micas entre elas. Nos estados de agregação condensados, como sólido cristalino, amorfo
e lı́quido, em todo instante as partı́culas encontram-se simultaneamente adjacentes a várias
outras, enquanto no estado gasoso isso não acontece. Por exemplo, num gás nas condições am-
bientes as partı́culas encontram-se, em média, a uma distância entre elas da ordem de 200 vezes
o diâmetro das mesmas. Então, enquanto em estados condensados as interações não quı́micas
entre partı́culas variam continuamente com a distância à partı́cula central considerada, nos ga-
ses distinguem-se claramente as interações não quı́micas causadas por choques entre partı́culas
daquelas que ocorram a distância.
Assim, em gases a pressão homogênea está diretamente relacionada às interações não quı́mi-
cas por choque, enquanto nos estados condensados a pressão muito pouco influi nas interações
entre partı́culas. Além disso, as interações não quı́micas a distância são desprezadas em gases
considerados perfeitos e, para considerá-las, é necessário introduzir o conceito de fugacidade
(subseção 10.4.2). Esta é uma pressão corrigida por um fator multiplicativo chamado coeficiente
de fugacidade, o qual representa o efeito das interações não quı́micas a distância em gases (eq.
10.29). Portanto, em gases perfeitos o coeficiente de fugacidade é igual à unidade, ou seja,
a fugacidade é igual à pressão. Evidentemente, ao contrário das caracterı́sticas da URQ/AI
representadas por ∆r G (T ) = −RT ln K(T ),
alteram-se com a extensão da URQ/AI as caracterı́sticas do processo quı́mico suave
representadas por RT ln Q(T, P, ξ).
composição dada por frações em mol e as interações não quı́micas devidas aos choques dadas
pela pressão, deve-se lembrar que, em gás perfeito, a pressão parcial é o produto dessas duas
propriedades intensivas.
Por isso, para gases perfeitos o adimensional Qgp (T, P, ξ) é expresso por meio das razões
entre as pressões parciais referentes às espécies quı́micas que são reagentes ou produtos da
reação, presentes na solução gasosa, e a pressão padrão, P , a qual é considerada na definição
das contribuições dessas mesmas espécies quı́micas para ∆r G (T ) (item Definições da subseção
7.4.1). De fato, será mostrado na seção 11.5 que
J−Υ νj J−Υ νj
Y Pj (T, P, ξ) eqq
Y Pj (T, ξ eqq )
Qgp (T, P, ξ) = e Kgp (T ) = Qgp (T, ξ )= , (7.30)
j=1
P j=1
P
onde Kgp (T ) é uma constante termodinâmica de equilı́brio quı́mico especı́fica para misturas
reacionais sob a forma de gás perfeito, na primeira igualdade da eq. 7.302 foi utilizada a eq.
7.25 e, na segunda, a eq. 7.301 .
Logo, o valor a0j , que pode ser obtido experimentalmente (por exemplo, em alguns casos a0j
pode ser medido por meio de experimentos de eletroquı́mica), depende dos mesmos fatores de
m
que depende aj . Portanto, a eq. 7.32 não indica que aj seja proporcional a m j , uma vez que
a0j não é uma constante de proporcionalidade, porque a0j depende de mj . Entretanto,
Conjuntamente, as eqs. 7.32 e 7.33 mostram que, para valores mj suficientemente baixos,
m
tem-se aj ≈ m j . Em solução aquosa na temperatura ambiente,
se Wjagr for um soluto sólido não iônico, valores mj da ordem de 10−3 mol kg −1 serão plena-
mj
mente suficientes para se considerar aj ≈ m ;
se Wjagr for um soluto sólido iônico, essa aproximação será totalmente justificada apenas para
valores mj da ordem de 10−5 mol kg −1 , ou menores.
Capı́tulo 8
relação esta independente de quaisquer outras relações entre os mesmos valores, ou previamente
utilizadas na obtenção do número suf (t),
Por exemplo, todo SF TµP-h sob equilı́brio se encontra em equilı́brio quı́mico (o vice-versa
é falso). Então, são vı́nculos as expressões matemáticas das constantes termodinâmicas de
equilı́brio quı́mico (tais como as eqs. 7.302 e 7.312 ) das correspondentes URQ/AI1 (subseção
6.1.3) reversı́veis (subseção 6.2.5), desde que sejam independentes entre si. Podem, portanto,
existir vı́nculos de equilı́brio quı́mico. Mas, neste contexto, cabe lembrar o comportamento das
reações irreversı́veis no equilı́brio quı́mico:
1
Não se exige que uma URQ apresente AI para produzir vı́nculo de equilı́brio quı́mico. Porém, como as URQ
termodinamicamente estudadas neste texto são URQ/AI, a explicação se restringe a elas.
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 167
Vı́nculos adicionais também podem existir, além daqueles provenientes de equilı́brio quı́mico
de URQ/AI reversı́veis. Por exemplo, no SF TµP-h sob equilı́brio pode haver expressões ma-
temáticas, independentes entre si, impostas ao SF por condições de contorno especı́ficas,2 tais
como condições iniciais do processo não estacionário TµP-h sofrido pelo SF antes de atingir o
equilı́brio. Entretanto, expressões matemáticas que interliguem entre si valores de propriedades
intensivas, mas que também incluam como variáveis valores de extensivas,
porque não tornam uma variável intensiva dependente das outras intensivas presentes na ex-
pressão matemática, ou seja, as variáveis intensivas continuam independentes entre si. Um
exemplo comum são expressões que interligam frações em mol de subsistemas diferentes, mas
envolvem quantidades de matéria (totais) de subsistemas.
L = C + 2 − I. (8.1)
J ≥ C ≥ 1. (8.2)
L + I = C + 2 ≥ 3. (8.3)
I≥1 e L ≥ 0. (8.4)
Em resumo,
Além disso, todo ponto do diagrama permitido ao correspondente SF TµP-h em equilı́brio não
contém informação sobre qual é a quantidade de matéria para cada subsistema no SF, porque
cada ponto representa um conjunto de coordenadas que são valores de propriedades intensivas
lançadas nos eixos do diagrama. Logo, a quantidade de matéria para cada subsistema pode ser
nula. Impõe-se, porém, que
I md = C + 2 ≥ 3, (8.5)
que
∂µ ∂µ
dµ = −Sm dT + Vm dP, logo = −Sm e = Vm . (8.7)
∂T P ∂P T
3
Veja, por exemplo, Speedy, R. J., Limits of Stability for Liquids under Tension, em Liquids Under Negative
Pressure, NATO Science Series − II. Mathematics, Physics and Chemistry − Vol. 84, A. R. Imre and H. J. Maris
and P. R. Williams ed., Kluwer, 2002.
170 Adalberto B. M. S. Bassi
Seja, também, a fig. 8.1, onde cada curva é contı́nua, sem ângulos e foi obtida a partir de um
SF do tipo mencionado, a espécie quı́mica é a mesma para as três curvas, mas o seu estado de
agregação (sólido, lı́quido ou gasoso) difere de uma para as outras duas curvas. Os valores de
potencial quı́mico são ordenadas, de temperatura são abscissas e a pressão é fixa.
Assim como colocado para a curva apresentada na subseção 6.2.2, embora as curvas na fig.
8.1 sejam experimentalmente obtidas para SF estacionário, os seus pontos podem se referir
tanto a SF estacionários como não estacionários, respectivamente correspondendo a instantes
terminais de processos (iniciais ou finais; veja o penúltimo parágrafo da subseção 4.2.3), ou a
instantes pertencentes ao tempo de existência de processos (item Conceitos da subseção 1.1.4).
Além disso, para cada um dos seus pontos o SF tanto pode trocar potência não volumétrica
com seu exterior, quanto não trocar.
Cada segmento finito de curva corresponde a um processo homogêneo isobárico entre ins-
tantes terminais em que o SF homogêneo se encontra estacionário (logo, em equilı́brio). Pontos
sobre cada uma das três curvas que se situem na mesma vertical correspondem a SF homogêneos
estacionários terminais de processos TBS não TµP-h e, impondo que o SF esteja impedido de
trocar potência não volumétrica com seu exterior, para esses processos vale a desigualdade na
expressão 5.27.
Portanto, ∆G < 0, ou seja, tais processos sempre apresentam, nos seus instantes finais,
energias de Gibbs menores do que as dos correspondentes momentos iniciais. Logo, de acordo
com a segunda lei da termodinâmica, para cada abscissa T deste gráfico
o estado de equilı́brio estável (subseção 4.1.5) sempre está situado sobre a curva
que, nesta temperatura, apresenta menor potencial quı́mico,
enquanto os pontos na mesma vertical, sobre as outras duas curvas, correspondem a equilı́brios
metaestáveis. Desde que o valor da temperatura seja suficientemente baixo, para toda pressão
fixa geralmente µ será menor no sólido;4 logo, este será o estado de agregação em equilı́brio
estável.
dµ
A eq. 8.72 mostra que, para todo ponto de cada curva, dTagr = −Sm agr , onde agr = s, l ou g
indica o estado de agregação. Portanto, em todos os estados de agregação µ diminui com
aumento de T , porque Sm é positivo (item Não aditividade e valores restritos a semieixos reais
da subseção 4.1.6), sendo a queda mais acentuada no gás (maior entropia molar). Entre o
lı́quido e o sólido, a queda é mais acentuada no lı́quido (a única exceção conhecida é o isótopo
de massa 3 do He). Por isso, uma única espécie quı́mica homogênea, em SF, pode mudar seu
estado de agregação em equilı́brio estável quando, mantendo-se constante o valor P da pressão
homogênea do SF, aumentar o valor T da sua temperatura homogênea (ver a fig. 8.1).
Mudanças no estado de agregação em equilı́brio estável de uma única espécie quı́mica cor-
respondem a interseções entre curvas. Então, a curva referente aos estados de equilı́brio estável
de uma única espécie quı́mica na pressão fixa P geralmente apresenta um ou mais ângulos,
cada ângulo correspondendo a uma descontinuidade na derivada − logo, a uma entropia de
transição (por exemplo ∆Sfus (P ), ∆Svap (P ) e ∆Ssub (P ), a serem discutidas na subseção 8.2.4,
respectivamente nas temperaturas de transição Tfus (P ), Tvap (P ) e Tsub (P )).
De fato, para água pura na pressão ambiente, em temperatura inferior à de fusão µs < µl <
µg , embora na temperatura de fusão µs = µl < µg . Em temperatura superior à de fusão mas
inferior à de ebulição, inicialmente µl < µs < µg , mas, depois, µl < µg < µs . Na temperatura
de ebulição µl = µg < µs e, em temperatura superior a esta, µg < µl < µs . Como no caso
4
Salvo para o He, em qualquer pressão o estado de agregação em equilı́brio estável de uma única espécie
quı́mica elementar será sólido, se a temperatura for suficientemente baixa.
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 171
µ
6 Sólido
Lı́quido
Gasoso
Estados estáveis 6
6
-
Tfus (P ) Tvap (P ) T
Figura 8.1: Transições de fase tı́picas de espécie quı́mica pura na pressão fixa P .
da água pura na pressão ambiente, no gráfico da fig. 8.1 a sequência de estados de equilı́brio
estável, para aumento de T mantendo-se P constante, é sólido, lı́quido, gasoso. Mas tal ordem
poderia ser outra, se a única espécie quı́mica fosse outra e/ou se a pressão fixa referente ao
gráfico fosse outra.
Note que, na curva representativa dos estados de equilı́brio estável de uma única espécie
quı́mica na pressão fixa P , cada ponto de ângulo corresponde ao fim de um processo homogêneo
e isobárico e ao começo de outro, também homogêneo e isobárico. Porém, em cada ponto de
ângulo, para a mudança de estado de agregação ocorrer em SF TµP-h impedido de trocar
potência não volumétrica com seu exterior e com temperatura e pressão fixas, como a igualdade
entre os potenciais quı́micos dos dois estados de agregação garante ∆G = 0, então a expressão
5.27 permite apenas dois tipos de processos, a saber, estático TµP-h ou “processo reversı́vel”
TµP-h. Entretanto, como há alteração na quantidade de matéria dos subsistemas, não se
trata de processo estático. Resta, então, apenas o irrealizável “processo reversı́vel” TµP-h para
satisfazer à igualdade na expressão 5.27.
Mas, se no ponto de ângulo o SF puder trocar potência não volumétrica com seu exterior,
descartando processo estático TµP-h e estacionário não estático TµP-h, novamente porque
há alteração na quantidade de matéria dos subsistemas e, também, o irrealizável “processo
reversı́vel” TµP-h, a expressão 5.25 permite, para 0 = ∆G < ∆wnv , tanto processo não esta-
cionário iTP-TµP-h quanto TBS não TµP-h. O primeiro só será realizável se a taxa de evolução
temporal do processo puder ser suficientemente reduzida em relação às de homogeneização das
propriedades intensivas, enquanto o segundo não apresenta essa exigência.
Como nada impede que no ponto de ângulo o SF possa trocar potência não volumétrica
com seu exterior, com instrumentação adequada é possı́vel efetuar a mudança de estado de
agregação sem sair deste ponto e, portanto, transitar sobre toda a curva representativa dos
estados de equilı́brio estável de uma única espécie quı́mica na pressão fixa P , à medida que T
varia.
172 Adalberto B. M. S. Bassi
µ µ
6 P2 > P1 6 P2 > P1
∆l µ − ∆s µ 6
∆l µ
?
−∆s µ
Sólido Sólido
Lı́quido Lı́quido
P1 P1
- -
Tfus (P1 ) Tfus (P2 ) T Tfus (P2 ) Tfus (P1 ) T
Vm l > Vm s Vm l < Vm s
Figura 8.2: Alteração com a pressão na temperatura de fusão para espécie quı́mica pura.
Pressão
A eq. 8.73 mostra que, numa temperatura fixa T , a diferença entre os potenciais quı́micos nas
pressões P2 e P1 , sendo P2 > P1 , é µ(T, P2 ) − µ(T, P1 ) = PP12 Vm dP > 0. Sejam as quatro
R
curvas de potencial quı́mico contra temperatura, para a mesma única espécie quı́mica, a qual
é quimicamente inerte e homogênea, traçadas na fig. 8.2 (gráfico à esquerda ou à direita, tanto
faz), duas na pressão fixa P1 e as outras na pressão constante P2 . Logo, ao contrário da
fig. 8.1, a fig. 8.2 não se refere a uma única pressão fixa, mas pode ser entendida como uma
superposição produzida pela projeção simultânea de dois gráficos sobre um mesmo anteparo,
sendo um gráfico referente à pressão constante P1 , enquanto o outro considera a pressão fixa
P2 .
Para cada pressão, refira-se uma curva ao estado sólido e a outra ao estado lı́quido. Note que,
para sólido e lı́quido, o volume molar quase independe da pressão (aproximadamente, depende
só da temperatura). Portanto, para as curvas escolhidas tem-se agr = s, l e PP12 Vm agr dP ≈
R
Vm agr (P2 − P1 ), ou seja, para a mesma diferença de pressões, a variação ∆agr µ = µagr (T, P2 ) −
µagr (T, P1 ) é proporcional ao volume molar no estado de agregação considerado. Então, con-
forme mostram os dois gráficos da fig. 8.2:
se Vm l > Vm s tem-se PP12 Vm l dP > PP12 Vm s dP e, na temperatura fixa Tfus (P1 ), o aumento de
R R
pressão desde P1 até P2 produz ∆l µ − ∆s µ > 0, o que corresponde a Tfus (P2 ) > Tfus (P1 );
R P2 R P2
se Vm l < Vm s tem-se P1 Vm l dP < P1 Vm s dP e, na temperatura fixa Tfus (P1 ), o aumento de
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 173
pressão desde P1 até P2 produz ∆l µ − ∆s µ < 0, o que corresponde a Tfus (P2 ) < Tfus (P1 )
(compare com o colocado no item Curva de equilı́brio sólido-lı́quido da subseção 8.2.4). Note
que Vm g Vm l e Vm g Vm s . Portanto, respectivamente a temperatura de ebulição e a
temperatura de sublimação de uma única espécie quı́mica sempre aumentam, fortemente, com
o aumento da pressão.
Processos
Analogamente ao colocado no segundo parágrafo do item Temperatura da subseção 8.2.1, todos
os pontos pertencentes a qualquer diagrama de fases para um só componente podem repre-
sentar tanto SF que troquem potência não volumétrica com o exterior, quanto SF que não
troquem, sendo estacionários ou não estacionários. Então, todo segmento de curva arbitrário
que interligue dois pontos distintos do diagrama,
sempre que tal segmento de curva não tenha ponto em comum com qualquer curva
delimitante de área correspondente a algum tipo de estado de agregação em equilı́brio
estável,
5
Ver o significado da expressão em contato entre si no item 2 da subseção 4.2.2.
174 Adalberto B. M. S. Bassi
representa um processo homogêneo, a não ser pelo fato de nada informar sobre a quantidade
de matéria contida no SF homogêneo.
Porém, se o mencionado segmento de curva atravessar uma curva delimitante de área cor-
respondente a algum tipo de estado de agregação em equilı́brio estável, um primeiro processo
homogêneo no SF irá se encerrar no ponto de travessia. Neste ponto, se o SF for impedido de
trocar potência não volumétrica com seu exterior, a mudança em estado de agregação corres-
ponderá a manter inalteráveis a temperatura e a pressão em irrealizável “processo reversı́vel”
TµP-h. Mas, se o SF puder absorver potência não volumétrica para efetuar a mudança em
estado de agregação, esta poderá acontecer por meio de processo não estacionário iTP-TµP-h
ou TBS não TµP-h (para mais detalhes, veja os últimos três parágrafos do item Temperatura
da subseção 8.2.1). No novo estado de agregação, do ponto de travessia partirá um terceiro
processo, novamente homogêneo no SF.
Finalmente, se o citado segmento se superpor a uma curva delimitante de área corres-
pondente a algum tipo de estado de agregação em equilı́brio estável, interligando dois pontos
distintos da mesma, ele é a representação gráfica, a não ser no que se refere à inexistência
de informação sobre as quantidades de matéria nos subsistemas do SF, de um processo não
estacionário TµP-h, geralmente não homogêneo no SF. Note que tal processo será homogêneo
somente se a quantidade de matéria, para apenas um único estado de agregação, não for nula
durante todo o tempo de existência do processo e nos seus instantes terminais.
Ponto crı́tico
Nos diagramas de fases para únicas espécies quı́micas, aparece o chamado ponto crı́tico, onde
termina a curva que separa as áreas do diagrama respectivamente correspondentes aos estados
de agregação lı́quido e gasoso, cada um formando um SF homogêneo em equilı́brio estável. Em
temperaturas e pressões ambas superiores aos seus respectivos valores crı́ticos tem-se o fluido
supercrı́tico.6 Note que diagramas de fases para um componente podem apresentar vários
pontos triplos (por exemplo, envolvendo mais do que um único estado de agregação cristalino),
além do ponto triplo referente aos estados de agregação sólido, lı́quido e gasoso (veja o final do
item Uso da regra de fases desta subseção 8.2.2), mas sempre um só ponto crı́tico.
Note, também, que não existe curva delimitante de área correspondente a algum tipo de
estado de agregação em equilı́brio estável, nem entre lı́quido e fluido supercrı́tico, nem entre
gasoso e fluido supercrı́tico. Portanto, utilizando no SF um único processo homogêneo ade-
quado, que passe pelo fluido supercrı́tico, é possı́vel transformar um SF homogêneo contendo
exclusivamente o estado de agregação lı́quido em SF homogêneo contendo exclusivamente es-
tado de agregação gasoso, bem como vice-versa. Logo, a transformação pode ser efetuada sem
que ocorra processo de transição entre estados de agregação, ou seja, sem que ocorra desconti-
nuidade em qualquer propriedade do SF.
Suponha, entretanto, um cı́rculo no diagrama de fases, cujo centro seja o ponto crı́tico.
Qualquer ponto no interior do cı́rculo ou na sua circunferência pode tender ao centro tanto
quanto desejarmos, ou seja, o SF pode aproximar-se o quanto se queira dos valores de pressão
e temperatura que definem o ponto crı́tico. Porém, os exatos valores de temperatura e pressão
crı́ticas são simultaneamente inatingı́veis pelo SF. Portanto,
2. o ponto crı́tico ocorre a Tc = 647 K e Pc = 22, 1 MPa = 218 atm. Note que, enquanto a
temperatura crı́tica é em torno de 2, 4 vezes maior do que a do ponto triplo, a pressão
crı́tica é aproximadamente 3, 6 × 104 vezes maior;
P 6 E
E
E
E
E FSC
E
S E L
E
E PC -
E
E
E S*
)L
E
E
E
E
E 6
E
S*
)G L*
)G
6
? PT
G
-
T
Figura 8.3: Caricatura do diagrama de fases para H2 O, onde S indica sólido, G, gasoso, L,
lı́quido, FSC, fluido supercrı́tico, PC, ponto crı́tico, PT, ponto triplo sólido-lı́quido-gasoso,
L* )G, curva de equilı́brio lı́quido-gasoso, S* )G, curva de equilı́brio sólido-gasoso, e S*
)L, curva
de equilı́brio sólido-lı́quido. Não são utilizadas neste texto as denominações vapor, para gás
em temperatura inferior à crı́tica, nem lı́quido compressı́vel, para lı́quido em pressão superior à
crı́tica.
Essa integral, sobre um segmento de curva no diagrama de fases de uma única espécie quı́mica,
inicia-se no ponto (T0 , P0 ), encerra-se em (T, Pα*)β ) e pode ser numericamente resolvida com
precisão. Analiticamente, porém, sua resolução costuma ocorrer de forma apenas aproximada,
de acordo com as caracterı́sticas da curva considerada, conforme a seguir exemplificado.
∆ Sm ∆ Hm
A mencionada aproximação sempre envolve considerar ∆α→β α→β Vm
, ou ∆α→β
α→β Vm
, constante no
segmento de curva entre os pontos (T0 , P0 ) e (T, Pα* )β ). Mas, a não ser que a diferença de
temperaturas T − T0 seja suficientemente diminuta, a eq. 8.10 mostra que estas duas hipóteses
são mutuamente excludentes. Em outras palavras, considerando que, no diagrama de fases, a
temperatura seja lançada no eixo horizontal e a pressão, no vertical, será indiferente considerar
a primeira fração constante, ou a segunda,
apenas quando o segmento de curva sobre o qual a integral é efetuada for suficiente-
mente próximo da vertical (sem, entretanto, ser vertical, porque neste caso as eqs.
8.9 e 8.11 não se aplicam), em relação ao seu comprimento
(quanto mais longe da vertical, mais o segmento precisa ser curto para que a indiferença seja
considerada válida).
da curva muito mais comprido do que poderia ser no caso das outras duas, para a curva de
∆ Sm
equilı́brio sólido-lı́quido supõe-se equivalente considerar, como constante de integração, ∆α→β
α→β Vm
∆α→β Hm
ou ∆α→β Vm .
∆fus Hm
De fato, supondo ∆fus Vm constante sobre o segmento de curva considerado, a eq. 8.12
produz
∆fus Hm T
P α*
)β = P0 + ln .
∆fus Vm T0
Lembrando que, a não ser para segmentos de curva extremamente longos, a diferença de tem-
peraturas é suficientemente pequena para que ocorra |T − T0 | T0 , e, utilizando a eq. 7.19, a
saber,
Z T
T − T0 T dŤ
≈ ln = se |T − T0 | T0 ,
T0 T0 T0 Ť
tem-se
∆fus Hm
) β ≈ P0 +
P α* (T − T0 ), (8.13)
T0 ∆fus Vm
∆fus Sm
que indica ser a função (Pα*
)β )T aproximadamente uma reta. Entretanto, supondo ∆fus Vm
constante sobre o segmento de curva considerado, a eq. 8.12 produz
∆fus Sm
P α*
) β = P0 + (T − T0 ),
∆fus Vm
que, comparada com a eq. 8.13, leva a ∆fus Hm ≈ T0 ∆fus Sm . Como, sobre todo o mencionado
segmento, T0 ≈ T , a eq. 8.10 mostra que é correto o resultado da citada comparação. Portanto,
∆ Sm ∆ Hm
na curva de equilı́brio sólido-lı́quido é indiferente considerar constante ∆α→β
α→β Vm
, ou ∆α→β
α→β Vm
.
fato, foi informado no final do item Pressão da subseção 8.2.1 que a temperatura de ebulição
e a temperatura de sublimação de uma única espécie quı́mica sempre aumentam, fortemente,
com o aumento da pressão. Como Vm g Vm l ≈ Vm s , então ∆vap Vm ≈ ∆sub Vm ≈ Vm g ≈ RT P .
Portanto, para essas curvas as eqs. 8.9 e 8.11 podem ser conjuntamente escritas
P α* ∆(vap ou sub) Hm
)β
ln ≈ (T0−1 − T −1 ). (8.15)
P0 R
Como as curvas de equilı́brio lı́quido-gasoso e sólido-gasoso são muito menos verticais do que
as de sólido-lı́quido, apenas quando o segmento de curva considerado for suficientemente curto
a equação acima destacada produz resultados semelhantes aos obtidos a partir da equação em
que ∆(vap ou sub) Sm é suposta aproximadamente constante, em vez de ∆(vap ou sub) Hm , a saber,
P α* ∆(vap ou sub) Sm T
)β
ln ≈ ln .
P0 R T0
−1
De fato, de acordo com a eq. 7.19, se |T − T0 | T0 , então ln TT0 ≈ T −T
T0 = T (T0 − T
0 −1 ), que
substituı́do na última equação destacada produz a eq. 8.15. Porém, se o segmento de curva
considerado não for muito curto, para uma integração aproximada deve-se, caso a caso, escolher
entre a eq. 8.15 e essa última, de acordo com qual delas produzir erro menor.
Inclinações destas duas curvas no ponto triplo: A eq. 8.14 pode ser reescrita
dP P P
= ∆ ou sub) Sm = ∆ ou sub) Hm .
dT RT (vap RT 2 (vap
Como, no ponto triplo sólido-lı́quido-gasoso, ∆sub Sm = ∆fus Sm + ∆vap Sm e ∆sub Hm =
∆fus Hm + ∆vap Hm , neste ponto a curva de sublimação é mais vertical do que a de vapo-
rização (a única exceção conhecida é o isótopo de massa 3 do He, onde ∆fus Sm e ∆fus Hm são
negativas).
um diagrama de fases para tal SF exige três eixos ortogonais e nunca inclui mais do que quatro
subsistemas homogêneos em contato entre si.11
Nesses eixos são respectivamente lançados valores das propriedades intensivas temperatura,
T , pressão, P e fração em mol de WA (é indiferente qual, entre WA e WB , é a espécie quı́mica
escolhida para ter sua fração em mol lançada no eixo). Na solução lı́quida, a fração em mol de
WA é grafada XA , enquanto a mesma fração em mol é escrita YA na solução gasosa. Como o
interesse se restringe a diagramas para solução lı́quida e/ou gasosa binária, apenas serão con-
siderados diagramas que envolvam somente esses dois subsistemas do SF TµP-h, sob equilı́brio
estável.
Cada um desses dois estados de agregação da solução binária (lı́quido ou gasoso) aparece
no diagrama de fases como um volume tridimensional (I = 1 e L = 3) cujas delimitações são
os lugares geométricos em que, no ponto que representa o estado de agregação considerado,
podem coexistir em equilı́brio estável
ou dois outros subsistemas, para curvas superficiais não planas especı́ficas, onde I = 3 e L = 1
porque duas das três variáveis independentes tornam-se dependentes da restante,
não se tangenciam,
porque para soluções lı́quida e gasosa TµP-h em equilı́brio estável, em determinada temperatura
T e pressão P , geralmente XA 6= YA .
Em outras palavras, embora os pontos (T, P, XA ) e (T, P, YA ) situem-se sobre a mesma reta
paralela ao eixo onde são lançadas as frações em mol de WA , tais pontos não coincidem. De
fato, no diagrama de fases tridimensional geralmente existem espaços, aqui adjetivados vazios,
cujos pontos não representam estados de equilı́brio estável do SF TµP-h. Existe, portanto, um
espaço vazio entre as regiões tridimensionais que correspondem às soluções lı́quida e gasosa. Isso
indica que existem pontos do diagrama − logo, conjuntos de valores para temperatura, pressão
e fração em mol de WA − para os quais não se admite a existência da solução, nem lı́quida nem
gasosa, em equilı́brio estável (veja o primeiro destaque da subseção 8.1.3). Geralmente, um
diagrama para dois componentes é representado por meio de
11
Ver o significado da expressão em contato entre si no item 2 da subseção 4.2.2.
182 Adalberto B. M. S. Bassi
cortes em temperatura constante, que são planos onde, geralmente, P é lançado como ordenada
e a fração em mol de WA como abscissa,
ou cortes em pressão constante, que são planos onde, geralmente, T é lançado como ordenada
e a fração em mol de WA como abscissa.
que é a regra da alavanca. Tanto a eq. 8.16 como a eq. 8.17 mostram que ZA = YA quando
Nl = 0, ZA = XA quando Ng = 0 e ZA apresenta valor intermediário entre XA e YA quando,
simultaneamente, Nl 6= 0 e Ng 6= 0. Isso indica que é possı́vel, no eixo do diagrama de fases
tridimensional em que são lançados os valores das frações em mol de WA , lançar os valores de
ZA .
De fato, se assim for feito, na região tridimensional correspondente apenas à solução lı́quida
em equilı́brio estável, ZA se igualará a XA e Ng será nulo, enquanto na região tridimensional
correspondente apenas à solução gasosa em equilı́brio estável, ZA se igualará a YA e Nl será nulo.
Além disso, nas duas áreas onde ambas as soluções são permitidas em equilı́brio estável, cada
área pertencente à superfı́cie que delimita uma das duas mencionadas regiões tridimensionais,
assim como no espaço vazio, também tridimensional, situado entre essas áreas, o conjunto de
valores (ZA ; XA ; YA ), substituı́do na eq. 8.17, informa se Ng é nulo (ZA = XA ), ou se Nl é nulo
(ZA = YA ), ou qual é a proporção entre Ng e Nl (ZA apresenta um valor intermediário entre
XA e YA ). Note, portanto, que, ao lançar ZA no eixo para os valores da fração em mol de WA ,
impõe-se que,
nas mencionadas áreas superficiais, seja nula a quantidade de matéria do estado
de agregação não representado pelos pontos no interior da região tridimensional
delimitada pela superfı́cie à qual a área pertence,
imposição esta não decorrente da regra de fases. Por isso,
a partir daqui, neste texto, impõe-se que sejam lançados valores de ZA no eixo das
abscissas de cortes em pressão ou em temperatura constante de diagramas de fases
tridimensionais, para soluções lı́quida e gasosa binárias sob equilı́brio estável.
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 183
Note que, de acordo com o colocado na subseção 8.1.1, as eqs. 8.16 e 8.17 não são vı́nculos entre
valores de propriedades intensivas.
Pj = Pv j Xj , para j = 1, . . . , J,
é válida para SF TµP-h na temperatura T , contendo exclusivamente duas soluções, uma gasosa
perfeita e a outra lı́quida ideal, em contato entre si12 e sob equilı́brio estável. Note que, nesta
igualdade destacada:
1. os valores envolvidos, aproximadamente, independem da pressão P do SF TµP-h em
equilı́brio estável;
2. existem as mesmas J espécies quı́micas distintas, tanto na solução de gases perfeitos como
na lı́quida ideal;
3. Xj é a fração em mol de Wj na solução lı́quida ideal;
4. Pj é a pressão parcial de Wj na solução de gasosa perfeita.
Além disso,
em SF TµP-h sob equilı́brio estável na temperatura T , formado pela única espécie
quı́mica Wj , denomina-se pressão de vapor a pressão Pv j do SF, na qual os estados
de agregação gasoso e lı́quido encontram-se em contato entre si.
Portanto, na expressão antes destacada, Pv j é a pressão de vapor de Wj na mesma temperatura
T do SF TµP-h em equilı́brio estável que contém as soluções.
Em solução gasosa perfeita, na temperatura T tem-se Pj = P Yj , para j = 1, . . . , J. Note
que, enquanto o sı́mbolo Xj continua sendo usado para a fração em mol de Wj na solução
lı́quida, Yj continua representando a fração em mol de Wj na solução gasosa. Considerando
apenas duas espécies quı́micas WA e WB , lembrando que XA + XB = YA + YB = 1 e utilizando
tanto Pj = P Yj quanto Pj = Pv j Xj , tem-se
PA PA XA Pv A
YA = = = ou,
P PA + PB XA Pv A + XB Pv B
substituindo XB = 1 − XA no denominador,
XA Pv A
P = Pv B + (Pv A − Pv B )XA e YA = . (8.18)
Pv B + (Pv A − Pv B )XA
Explicitando XA na eq. 8.182 obtém-se
YA P v B
XA = , (8.19)
Pv A − (Pv A − Pv B )YA
12
Ver o significado da expressão em contato entre si no item 2 da subseção 4.2.2.
184 Adalberto B. M. S. Bassi
P
6
Pv A (T )
r1
Apenas lı́quido
2 3
L*
)G(XA ) 4 5
L*
-
)G(YA )
6 7
Vazio
r8
Pv B (T )
Apenas gás
- ZA
0 1
Figura 8.4: Corte em T constante do diagrama de fases tridimensional para solução lı́quida
ideal. Pv A (T ) é a pressão de vapor da espécie quı́mica mais volátil WA , enquanto Pv B (T ) é a
pressão de vapor da espécie quı́mica WB . L* )G(XA ) e L* )G(YA ) são as curvas de equilı́brio
lı́quido-gás, respectivamente em termos de XA e YA .
Pv A Pv B
P = . (8.20)
Pv A − (Pv A − Pv B )YA
As eqs. 8.181 e 8.20 serão utilizadas em diagramas de fases para soluções binárias lı́quida ideal
e gasosa perfeita, sob equilı́brio estável.
Vazio
3L
L*
)G(XA ) - L*
)G(YA )
2L 1G
2G
Teb A (P )
Apenas lı́quido 1L r
ZA
0 1
Figura 8.5: Corte em P constante do diagrama de fases tridimensional para solução lı́quida
ideal. Teb A (P ) é a temperatura de ebulição da espécie quı́mica mais volátil WA , enquanto
Teb B (P ) é a temperatura de ebulição da espécie quı́mica WB . L*
)G(XA ) e L* )G(YA ) são as
curvas de equilı́brio lı́quido-gás, respectivamente em termos de XA e YA . A fina linha inclinada
pontilhada foi traçada apenas para evidenciar que, ao contrário do que acontece no corte em
T constante, mesmo para soluções binárias lı́quida ideal e gasosa perfeita nenhuma das duas
curvas traçadas é, na verdade, uma reta, não tendo essa linha qualquer outra utilidade.
a curva dada pela eq. 8.20 (curva L) *G(YA ) de condensação lı́quida da solução gasosa), nas
mesmas temperatura e pressão do ponto (T, P, XA ).
Analogamente, a curva dada pela eq. 8.20 delimita o gás, que é representado pela área
inferior a essa curva. Os pontos interiores dessa área se referem a conjuntos de valores (T, P, YA )
onde apenas a solução gasosa se encontra em equilı́brio estável, enquanto os pontos sobre a
curva representam conjuntos de valores (T, P, YA ) para os quais tanto a solução gasosa como
uma lı́quida caracterizada por (T, P, XA ) podem estar em contato entre si, sob equilı́brio estável.
O ponto (T, P, XA ) encontra-se sobre a reta dada pela eq. 8.181 , nas mesmas temperatura e
pressão do ponto (T, P, YA ).
Logo, na fig. 8.4 pontos na reta e na curva que se encontrem na mesma altura indicam
o mesmo SF TµP-h, no qual ambos os estados de agregação podem existir em contato entre
si, sob equilı́brio estável. Deve-se, porém, lembrar que as quantidades de matéria Nl e Ng ,
presentes no SF, não são informadas pela regra de fases (subseção 8.1.1), mas que, por meio
da regra da alavanca (eq. 8.17), pode-se conhecer a proporção entre Nl e Ng , quando nenhuma
destas duas quantidades de matéria for nula. Evidentemente, o ponto sobre a reta referencia
esse SF por meio de (T, P, ZA = XA ), porque, nesse ponto, a regra da alavanca impõe Ng = 0,
enquanto o ponto sobre a curva referencia o mesmo SF por meio de (T, P, ZA = YA ), porque,
nesse ponto, a regra da alavanca impõe Nl = 0.
Já a fig. 8.5 representa um corte em pressão constante P do mesmo diagrama de fases
186 Adalberto B. M. S. Bassi
os pontos mais elevados e, também, os mais baixos de todas as curvas são, obri-
gatoriamente, localizados em ZA = 0 ou ZA = 1, portanto sempre correspondem a
quando uma das duas espécies quı́micas for a única presente no SF. Além disso, em
todos os seus pontos a inclinação das duas curvas presentes no corte não altera seu
sinal; logo, ou é sempre positiva em ambas, ou negativa.
porque na fig. 8.4 ela apresenta maior pressão de vapor do que WB , enquanto na fig. 8.5 ela
mostra menor temperatura de ebulição do que WB , quando cada uma das duas espécies quı́micas
for a única presente no SF. Adicionalmente perceba que,
ao contrário do que ocorre para única espécie quı́mica (fig. 8.3 e, exclusivamente
para ZA = 0 e ZA = 1, também fig. 8.4), mantida constante a temperatura a
solução lı́quida ideal (corte em temperatura constante do seu diagrama) não vaporiza
numa única pressão, nem a solução gasosa perfeita condensa em lı́quido numa única
pressão.
Analogamente, utilizando a fig. 8.5 pode-se analisar o que ocorre ao aumentar a temperatura
de um SF TµP-h inicialmente constituı́do por um único subsistema (logo, SF homogêneo) em
equilı́brio estável, sob a forma de solução lı́quida ideal, mantendo fixa a pressão durante tal
aumento. Neste caso, será percebido que,
ao contrário do que ocorre para única espécie quı́mica (fig. 8.3 e, exclusivamente
para ZA = 0 e ZA = 1, também fig. 8.5), mantida constante a pressão, a solução
lı́quida ideal (corte em pressão constante do seu diagrama) não sofre vaporização
numa única temperatura, nem a solução gasosa perfeita condensa em lı́quido numa
única temperatura.
• os segmentos de reta verticais que interligam os pontos 1-2 e 7-8 representam dois proces-
sos isotérmicos homogêneos no SF, a não ser no que se refere à quantidade de matéria do
SF, porque esta informação não é fornecida por propriedades intensivas. O primeiro pro-
cesso utiliza as variáveis independentes (XA , P ), enquanto o segundo usa as equivalentes
variáveis (YA , P );
188 Adalberto B. M. S. Bassi
• o segmento de reta inclinado 2-6 e o de curva 3-7 representam um mesmo processo não
estacionário iT-TµP-h não homogêneo no SF, descrito em termos das propriedades in-
tensivas homogêneas independentes da solução lı́quida (XA , P ) (2-6), ou gasosa (YA , P )
(3-7). Embora, novamente, informações quanto às quantidades de matéria do SF e de
seus subsistemas não sejam fornecidas, o valor fixo ZA explicita, por meio da eq. 8.17
(regra da alavanca), a evolução da proporção entre as quantidades de matérias (totais)
dos dois subsistemas, desde ausência de gás, até de lı́quido.
Na presente subseção 8.3.5, a fig. 8.4 é utilizada para indicar como ocorre a alteração de P a
T fixo e sugerir como, na fig. 8.5, poderia ser mostrada a alteração de T a P fixo, enquanto a fig.
8.5 é usada para apresentar a destilação fracionada. Essa, embora normalmente efetuada por
meio de aquecimento da solução lı́quida, também poderia ser executada por meio de diminuição
da pressão dessa solução. Por isso, o exposto a seguir também sugere como, na fig. 8.4, poderia
ser esquematizada a destilação fracionada.
Então suponha que, mantida constante a pressão (corte em pressão fixa do diagrama de
fases tridimensional, fig. 8.5), seja aumentada a temperatura de um SF, o qual, inicialmente,
se encontra em condições tais que apenas solução lı́quida seja estável (ponto 1L). Ocorra o
aumento de temperatura até que, de acordo com a regra da alavanca (eq. 8.17), a quantidade
total de matéria nas soluções lı́quida e gasosa seja aproximadamente igual; logo, Nl ≈ Ng . Sem
que se alterem as propriedades dos dois subsistemas homogêneos, sejam estes separados em
recipientes distintos e tornados fechados os dois novos sistemas (pontos 2L e 1G).
Mantendo constante a pressão, seja esfriado o SF inicialmente representado pelo ponto 1G,
que neste ponto contém apenas solução gasosa, e aquecido o outro SF, que o ponto 2L inicial-
mente representa e que, neste ponto, contém apenas solução lı́quida. Prossiga-se o esfriamento
do SF inicialmente representado pelo ponto 1G, até que ele contenha soluções lı́quida e gasosa
com aproximadamente igual quantidade de matéria cada uma. Prossiga-se, também, o aqueci-
mento do SF inicialmente representado pelo ponto 2L, novamente até que ele contenha soluções
lı́quida e gasosa com aproximadamente igual quantidade de matéria cada uma.
No SF obtido por resfriamento daquele representado pelo ponto 1G, efetue-se a separação
proposta no fim do penúltimo parágrafo, assim obtendo o SF correspondente ao ponto 2G, o
qual contém somente solução gasosa. No SF conseguido por aquecimento daquele representado
pelo ponto 2L, também se execute a separação proposta no fim do penúltimo parágrafo, assim
atingindo o SF correspondente ao ponto 3L, o qual contém apenas solução lı́quida. Continue-se
o procedimento conforme descrito, sempre elevando a temperatura da solução lı́quida separada
e diminuindo a da gasosa. Essa sequência, chamada destilação fracionada, produz soluções
gasosas, denominadas destilados, cujas composições14 tendem em direção oposta às das soluções
lı́quidas, chamadas resı́duos.
Tanto em escala laboratorial como industrial, a destilação fracionada é utilizada para a
obtenção, a partir de alguma solução lı́quida disponı́vel, de outras soluções lı́quidas, as quais
apresentam diferentes composições. Note que, por causa das separações em recipientes distintos,
Note, também, que tanto em escala laboratorial como industrial, a destilação fracionada é
efetuada de modo contı́nuo, ou seja, não conforme as bem definidas etapas aqui descritas.
14
Veja o significado da palavra composição no item Molar da subseção 1.2.3.
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 189
T
6 Azeótropo
? Apenas gás
Teb B (P )
L*
)G(YA )
L*
)G(XA ) -
Teb A (P )
Apenas lı́quido
ZA
0 1
Figura 8.6: Corte em P constante do diagrama de fases tridimensional para azeótropo de desvio
atrativo. Teb A (P ), Teb B (P ), L*
)G(XA ) e L*
)G(YA ) são definidos como na fig. 8.5.
os desvios também podem ser suficientemente intensos para modificar esta carac-
terı́stica fundamental.
Neste caso, há formação de azeótropo, o qual pode ser causado por desvio atrativo ou repulsivo.
As figs. 8.6 e 8.7 são cortes em pressão constante do diagrama de fases tridimensional para
solução lı́quida não ideal e gasosa, com formação de azeótropo. A fig. 8.6 se refere a azeótropo de
190 Adalberto B. M. S. Bassi
T
6
Teb B (P )
Apenas gás
L*
)G(YA )
L*
)G(XA ) -
Teb A (P )
Apenas lı́quido
6
Azeótropo
ZA
0 1
Figura 8.7: Corte em P constante do diagrama de fases tridimensional para azeótropo de desvio
repulsivo. Teb A (P ), Teb B (P ), L*
)G(XA ) e L*
)G(YA ) são definidos como na fig. 8.5.
Teb B (P ) 6
Apenas gás
L*
)G(YA )
Teb A (P )
L*
)G(XA β ) - Vazio
Só
XXX
y
Apenas L. β XXX *
6 L. α
*L(XA β ) -
X Azeótropo
L)
ZA
0 1
Figura 8.8: Corte em P constante do diagrama de fases tridimensional para soluções lı́quidas
parcialmente miscı́veis α e β (intenso desvio repulsivo). Teb A (P ), Teb B (P ) e L*
)G(YA ) são
definidos como na fig. 8.5. L*)G(XA β ) é a curva de equilı́brio lı́quido β-gás, em termos de
XA β , e L*)L(XA β ) é a curva de equilı́brio lı́quido β-lı́quido α, também em termos de XA β .
As curvas L*)G(XA α ) e L* )L(XA α ) são definidas de modo análogo e encontram-se no gráfico,
mas não foram indicadas por falta de espaço. A linha horizontal pontilhada fina é utilizada
somente para mostrar que as três representações do azeótropo, respectivamente em termos de
XA β , YA e XA α (da esquerda para a direita), encontram-se na mesma temperatura.
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 191
desvio atrativo, enquanto a 8.7 mostra desvio repulsivo. Considerando relação análoga àquela
que existe entre as figs. 8.4 e 8.5, podem ser facilmente esboçados os cortes em temperatura
constante respectivamente correspondentes às figs. 8.6 e 8.7. Nestas duas últimas figuras, deve
ser ressaltado que:
1. ao contrário do que ocorre para solução lı́quida que conjuntamente apresente ZA 6= 0,
ZA 6= 1 e ZA 6= ZA azeótropo , a qual mostra uma faixa de temperaturas de ebulição e de
pressões de vapor (veja a subseção 8.3.4 para o caso de solução lı́quida ideal e gasosa
perfeita), para ZA = 0, ZA = 1 ou ZA = ZA azeótropo a solução lı́quida apresenta uma
única temperatura de ebulição para cada pressão e uma única pressão de vapor para cada
temperatura, ou seja, sob esse aspecto o azeótropo se comporta exatamente como se fosse
uma única espécie quı́mica, ao invés de uma solução;
2. os pontos mais elevados e, também, os mais baixos de todas as curvas são, obrigatoria-
mente, os azeótropos, ao contrário do colocado na subseção 8.3.4, para solução lı́quida
ideal e gasosa perfeita, para a qual os pontos mais elevados e, também, os mais baixos de
todas as curvas são localizados em ZA = 0 ou ZA = 1;
tra existir função tal que, para cada argumento (T (t), V (t), N1 (t), . . . , NJ (t)), ou ( ∂U
∂S (V,Ni )
(t), V (t), N1 (t), . . . , NJ (t)), haja imagem única e real S(t). Então, as eqs. 4.18 e 4.19 provam a
existência dos dois pares imagem/argumento, onde um é o inverso do outro,
!
∂U ∂U
(S(t), V (t), N1 (t), . . . , NJ (t)) e S (t), V (t), N1 (t), . . . , NJ (t) .
∂S ∂S (V,Ni )
Na subseção 4.2.6 ainda foi indicado que, partindo-se da propriedade H(t) = U (t) + P V (t),
atinge-se a conclusão de que, considerando U (S(t), V (t), N1 (t), . . . , NJ (t)), então H(S(t), P (t),
∂U
N1 (t), . . . , NJ (t)), sendo P (t) = − ∂V (S(t), V (t), N1 (t), . . . , NJ (t)) (eq. 4.20) e V (t) = ∂H
∂P (S(t),
P (t), N1 (t), . . . , NJ (t)) (eq. 4.21). Logo, de modo análogo obtêm-se os dois pares imagem/ar-
gumento, onde um é o inverso do outro,
!
∂U ∂U
(S(t), V (t), N1 (t), . . . , NJ (t)) e V S(t), (t), N1 (t), . . . , NJ (t) .
∂V ∂V (S,Ni )
194 Adalberto B. M. S. Bassi
Pode-se definir a propriedade Ξj (t) = U (t) − µj Nj (t),1 a qual não costuma aparecer nos
livros didáticos. Considerando U (S(t), V (t), N1 (t), . . . , NJ (t)), tem-se Ξj (S(t), V (t), N1 (t), . . . ,
∂U ∂Ξ
µj (t), . . . , NJ (t)), µj = ∂N j
(S(t), V (t), N1 (t), . . . , NJ (t)) (eq. 4.22) e Nj (t) = − ∂µjj (S(t), V (t),
N1 (t), . . . , µj (t), . . . , NJ (t)). Assim como os já colocados argumentos de U , A e H, o argumento
de Ξj , (S(t), V (t), N1 (t), . . . , µj (t), . . . , NJ (t)), também representa o estado do SF. Novamente
como para U , A e H, isso não acontece por motivo matemático, mas sim para refletir a realidade
que percebemos (ver o último parágrafo da subseção 4.2.6). Demonstra-se, então, a existência
dos dois pares imagem/argumento, onde um é o inverso do outro,
∂U
(S(t), V (t), N1 (t), . . . , Nj (t), . . . , NJ (t)) e
∂Nj
∂U
Nj S(t), V (t), N1 (t), . . . , (t), . . . , NJ (t) ,
∂Nj (S,V,Ni6=j )
estas últimas para j = 1, . . . , J. Essas funções inversas são, todas elas, derivadas parciais
de primeira ordem de funções de estado, a saber, respectivamente,
!
∂A ∂H ∂Ξj
− , , − ,
∂T T,V,N1 ,...,NJ ∂P S,P,N1 ,...,NJ ∂µj S,V,N1 ,...,µj ,...,NJ
Como a diferenciação de toda função de estado produz uma equação diferencial exata (item
Estado e função de estado da subseção 4.1.1), então todas as derivadas parciais de segunda
ordem da função de estado US,V,N1 ,...,NJ são contı́nuas (subseção 1.3.1). Logo, as funções deri-
vadas parciais de primeira ordem da função de estado US,V,N1 ,...,NJ , bem como suas respectivas
funções inversas apresentadas no fim do parágrafo anterior, são, conjuntamente, contı́nuas e
1
Alberty, R. A., Use of Legendre Transforms in Chemical Thermodynamics − International Union of Pure
and Applied Chemistry (IUPAC) Technical Report, Pure Appl. Chem., 73, 8 (2001), 1349-1380.
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 195
y6
(y3 )x
(y2 )x
x6
- -
x y
Figura 9.1: Funções com mı́nimo, (y1 )x , máximo, (y2 )x e inflexão horizontal, (y3 )x , no gráfico
da esquerda (y como ordenada e x como abcissa), todas elas representadas por curvas. Funções
inversas a (y1 )x , (y2 )x e (y3 )x , respectivamente, (x1 )y e (x2 )y , ambas pontuais e (x3 )y , repre-
sentada por curva, no gráfico da direita (x como ordenada e y como abcissa).
invertı́veis. Isso exige que, em qualquer instante t tal que t# ≤ t ≤ t# , sendo t# < t# , de
processo TµP-h em SF,
∂2U
(S(t), V (t), N1 (t), . . . , NJ (t)) =6 0,
∂S 2
∂2U
(S(t), V (t), N1 (t), . . . , NJ (t)) = 6 0 e
∂V 2
∂2U
(S(t), V (t), N1 (t), . . . , NJ (t)) 6= 0, para j = 1, . . . , J (9.1)
∂Nj2
(as derivadas parciais de segunda ordem cruzadas podem ser nulas ou não nulas).
Suponha que (y1 )x , (y2 )x e (y3 )x fossem funções derivadas parciais de primeira ordem da
função de estado US,V,N1 ,...,NJ . Para explicar as eqs. 9.1, considere inicialmente as funções
(y1 )x e (y2 )x , representadas na fig. 9.1 por curvas que respectivamente apresentam mı́nimo ou
máximo. Partem desses extremantes, onde dy 1 dy2
dx = dx = 0, dois segmentos de curva, ambos
dirigidos, respectivamente, para cima ou para baixo. Cada uma das curvas inversas a essas
duas também é formada por dois segmentos, que se encontram num ponto à esquerda de ambos
(curva inversa à que representa (y1 )x ), ou à direita (curva inversa à que representa (y2 )x ). Salvo
no ponto de encontro dos dois segmentos, em cada uma dessas duas curvas inversas todo valor
de y não corresponde a um único valor para x1 ou x2 , conforme a curva considerada, portanto
não existem as funções (x1 )y ou (x2 )y .
Assim, a curva inversa à que representa a função (y1 )x contém apenas um único ponto
representativo da função (x1 )y , enquanto a inversa àquela que representa (y2 )x inclui somente
196 Adalberto B. M. S. Bassi
nenhuma das funções (y1 )x , (y2 )x e (y3 )x é uma função derivada parcial de primeira
ordem da função de estado US,V,N1 ,...,NJ .
Logo, em vista de as derivadas parciais de primeira ordem da função de estado US,V,N1 ,...,NJ
não poderem apresentar mı́nimo (como a função (y1 )x ), máximo (como a função (y2 )x ) nem
inflexão horizontal (como a função (y3 )x ), então
Invertibilidade das funções derivadas parciais de primeira ordem das demais funções
fundamentais
Na eq. 4.14, a saber, dU = T (t)dS − P (t)dV + Jj=1 µj (t)dNj , válida para todo processo
P
Ressalte-se que o afirmado nesse destaque é válido somente para as funções fundamentais.
porque os conjuntos de variáveis independentes (Cv (t), V (t), N1 (t), . . . , NJ (t)) e (Cp (t), V (t),
N1 (t), . . . , NJ (t))
embora, matematicamente, sejam obtidos do mesmo modo como são conseguidos, a partir de
(S, V, N1 , . . . , NJ ), os demais 2J+2 − 1 conjuntos referentes às funções fundamentais.
Para perceber que os citados conjuntos não representam o estado do SF basta lembrar
que as capacidades térmicas são pouco sensı́veis à pressão de sistemas condensados, tornando
4
Poisson, Siméon D., Mémoire sur la théorie du magnétisme en mouvement, Mémoires de l’Académie Royale
des Sciences de l’Institut de France 6 (1823), 441-570. A equação de Poisson informa que o operador laplaciano
(que envolve derivadas parciais de segunda ordem em relação às coordenadas cartesianas de determinado ponto),
aplicado a um potencial (o qual é um escalar) é nulo se e somente se, no ponto a que se refere o potencial e o
operador, for nula a correspondente densidade (por exemplo, a densidade de carga elétrica para potencial elétrico
e a densidade de massa para potencial gravitacional).
198 Adalberto B. M. S. Bassi
SF isolado isotrópico TµP-h, com quantidades de matéria para todas as espécies quı́-
micas presentes temporalmente fixas, em estado representável pelo conjunto (S, V,
N1 , . . . , NJ ), encontra-se em equilı́brio e pode existir em quaisquer temperatura,
pressão e potenciais quı́micos de suas respectivas espécies quı́micas.
não há nenhuma razão matemática que, a priori, informe sobre à invertibilidade de
US,V,N1 ,...,NJ , isso dependendo da percepção que se tenha sobre a realidade existente.
A segunda lei da termodinâmica, sem dúvida, é fruto de longa (pelo menos, desde meados
do século XIX) observação da realidade existente. De acordo com a eq. 5.18, para processo
adiabático TµP-h em SF tem-se dS ≥ 0, a entropia medindo a informação faltante do estado
em que se encontra o SF (subseção 5.5). Essa expressão e sua interpretação evidentemente são
válidas para processo TµP-h em SF isolado isotrópico, no qual U e V são fixos, restando as
variáveis (S, N1 , . . . , NJ ) (subseção 9.1.3). Considerando o enunciado da segunda lei (subseção
5.5), certamente existe a função SN1 ,...,NJ nesse SF, ou seja, a variável S é dependente das J
variáveis independentes (N1 , . . . , NJ ).
O mesmo enunciado também indica que, no espaço J + 3 dimensional antes citado, a curva
que representa a função SN1 ,...,NJ , longe de ter uma forma que lembre as curvas na fig. 9.1, é
sempre estritamente crescente ou decrescente6 em relação às quantidades de matéria, até que
a entropia atinja seu valor máximo e o SF se encontre em equilı́brio no instante t## (se o
processo não for interrompido antes; veja a subseção 4.1.4). Portanto, em SF isolado isotrópico
sob processo TµP-h, a função SN1 ,...,NJ é invertı́vel. Como quaisquer valores fixos de U e V
podem ser considerados para o SF isolado isotrópico, a função SU,V,N1 ,...,NJ existe, e é invertı́vel
em relação a Nj , para j = 1, . . . , J. Logo, de acordo com a segunda lei da termodinâmica,
6
Veja nota de rodapé da subseção 2.3.1.
200 Adalberto B. M. S. Bassi
9.2 Temperatura
9.2.1 Histórico, escalas empı́ricas e adimensionais de Kelvin
Embora se considere a publicação do trabalho de Carnot, em 1824, como o marco inicial da
termodinâmica, já em 1742 Celsius publicava sua proposta de escala para temperaturas, en-
quanto a de Fahrenheit ocorreu 18 anos antes, em 1724, portanto um século antes do trabalho
de Carnot. Desde então, ao longo de muitos anos as escalas de temperaturas foram sendo aper-
feiçoadas, portanto modificadas em relação às correspondentes propostas originais, enquanto
a termodinâmica clássica foi desenvolvida somente a partir da terceira década do século XIX.
De fato, Joule apresentou seu conceito de equivalente mecânico do calor em 1844, e Clausius
propôs sua ideia de entropia em 1862-1865.
As escalas originalmente propostas por Fahrenheit e Celsius baseiam-se na ideia de pro-
priedade termométrica, cuja caracterı́stica é, dentro de uma determinada faixa de tempera-
turas, aproximadamente manter proporcionalidade entre a variação no valor da propriedade
e a alteração de temperatura. Por exemplo, sobre determinado intervalo de temperaturas o
ordenamento da escala refletiria o comprimento crescente de uma coluna de mercúrio. Kel-
vin considerou que, conceitualmente, tais escalas refletem o ordenamento de SF termicamente
homogêneos, de acordo com o valor de alguma propriedade termométrica ideal, cuja variação
manteria perfeita proporcionalidade à alteração de temperatura sobre o inteiro eixo dos reais
(inexiste tal propriedade termométrica).
Por ser entendida apenas como um ordenamento, essa escala abstrata é adimensional, sendo
aqui denominada primeira escala adimensional Kelvin. O fato de a primeira escala adimensional
Kelvin não exibir um real nem como cota7 inferior nem como cota superior faz com que, para
transformá-la de adimensional em dimensional, não baste escolher um único valor da escala
e a ele atribuir determinado SF.8 Porque, além disso, o desenvolvimento da termodinâmica
7
Veja o significado de cota em nota de rodapé da subseção 2.4.3.
8
Por exemplo, o volume apresenta cota inferior nula. Por isso, uma escala adimensional que refletisse o
ordenamento crescente de SF, de acordo com o volume que os mesmos apresentassem, poderia ser transformada
em escala dimensional ao se associar o valor 1 da escala a um SF cujo volume fosse 1 m3 .
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 201
9
Será visto, no final da subseção 9.2.3, que unidade possı́vel e bem razoável seria Jmol −1 .
10
Fourier, Joseph, Théorie analytique de la chaleur, Firmin Didot Père et Fils, 1822.
11
Na subseção 4.2.1 foi definido fluxo material. A definição de fluxo energético, como por exemplo fluxo de
calor, é análoga, mas agora em termos de energia. Logo, a unidade de fluxo energético, no SI, é J s−1 m−2 .
12
A condutividade térmica é uma constante constitutiva cuja unidade, no SI, é J s−1 m−1 K −1 .
13
Veja, por exemplo, Hirschfelder, Joseph O.; Curtiss, Charles F.; Bird Robert B., The Molecular Theory of
Gases and Liquids, Wiley, 1965.
202 Adalberto B. M. S. Bassi
a qual se refere a um SF sob processo homogêneo, generalizado para SF sob processo TµP-h pela
primeira igualdade na eq. 4.18, cujo estado, no instante t pertencente ao intervalo temporal t# ≤
t ≤ t# , sendo t# < t# , é representável pelo conjunto de valores (S(t), V (t), N1 (t), . . . , NJ (t)).
Então, em tal SF a temperatura, no mencionado instante t, é a tendência de variação da
energia interna, U , com a alteração de entropia, S, quando o volume, V, e todas as quantidades
de matéria presentes no SF, N1 , . . . , NJ , tendam a se manter temporalmente constantes.
De acordo com a primeira igualdade na eq. 4.18 e a expressão 9.11 ,
∂2U ∂T
(t) = (t) 6= 0.
∂S 2 (V,Ni )
∂S (V,Ni )
14
Carathéodory, Constantin, Untersuchungen ueber die Grundlagen der Thermodynamik, Mathematische An-
nalen, 67, 3 (1909), 355-386, DOI: 10.1007/bf01450409.
15
Maxwell, James C, Theory of Heat, Dover, 2018 (original de 1871).
16
Fowler, Ralph H.; Guggenheim, Edward A., Statistical Thermodynamics. A version of Statistical Mechanics
for Students of Physics and Chemistry, Cambridge, 1952 (original de 1939).
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 203
∂T ∂S
(t) > 0 e (t) > 0. (9.2)
∂S (V,Ni ) ∂T (V,Ni )
∂U 1 ∂S
+∞ > T = (S, V, N1 , . . . , NJ ) > 0 e + ∞ > = (U, V, N1 , . . . , NJ ) > 0. (9.3)
∂S T ∂U
De fato, a eq. 9.31 reflete a segunda escala adimensional Kelvin (subseção 9.2.1).
∂U ∂S
Note que a eq. 5.8 indica que Cv (t) = ∂T (V,N ) (t) =T ∂T (V,N ) (t). Portanto, considerando
i i
as expressões 9.22 e 9.31 , tem-se
Cv (t) > 0. (9.4)
Esta última desigualdade pode, também, ser obtida a partir de imposição da caracterı́stica ma-
temática de concavidade à função entropia.17 A expressão 9.4 mostra que a função UT,V,N1 ,...,NJ
é invertı́vel em relação a T , sendo TU,V,N1 ,...,NJ sua função inversa e reciprocamente. Porém,
convém lembrar que a função UT,V,N1 ,...,NJ não é aplicável a SF TµP-h não homogêneo (subseção
5.1.1), evidentemente o mesmo ocorrendo com sua função inversa.
17
Veja, por exemplo, Reis, Martina C.; Florindo, Caio C. F.; Bassi, Adalberto B. M. S., Entropy and its mathe-
matical properties: consequences for thermodynamics, ChemTexts, 1, 1 (2015), Article 9, DOI: 10.1007/s40828-
015-0009-x.
204 Adalberto B. M. S. Bassi
Cabe, ainda, ressaltar que as cotas18 +∞ > T e T1 > 0 não indicam que, na realidade, a
temperatura possa assumir valor tão elevado quanto se queira. De fato, certamente essa teo-
ria não é adequada para representar o comportamento da matéria em temperaturas altı́ssimas,
nem mesmo baixı́ssimas, uma vez que ela se baseia em experimentos efetuados em temperaturas
próximas da ambiente. Porém, ela indica que, em coerência com tais experimentos, a tempe-
ratura não pode apresentar valor nulo nem negativo. Além disso, essa teoria não impede que
cotas de origem constitutiva19 apareçam como superiores mı́nimas ou inferiores máximas. Por
exemplo, o estado de agregação gasoso não existe em temperaturas próximas do zero absoluto,
portanto para SF gasosos existem cotas inferiores máximas constitutivas.
Escalas de temperatura dimensionais que obedeçam à desigualdade 9.31 são denominadas
absolutas, ou termodinâmicas, ou de gás perfeito. Para obter uma escala absoluta, basta escolher
um único valor da escala adimensional e a ele atribuir um SF bem definido. Pode-se, por
exemplo, atribuir ao adimensional 1 a unidade de temperatura do SI, a qual é o Kelvin, K,
produzindo assim uma escala absoluta que, a partir daqui, será simplesmente chamada escala
1
Kelvin. O K é, por definição, 273,16 do valor da temperatura da água no seu ponto triplo
sólido-lı́quido-gasoso, o que significa que o intervalo de temperaturas entre o inatingı́vel estado
do SF correspondente ao zero e o estado da água nesse ponto triplo é 273,16 K.
Em outras palavras, o valor adimensional 273,16 foi atribuı́do a um SF que contenha água,
na situação em que são simultaneamente estáveis seus estados de agregação sólido, lı́quido
e gasoso. A escolha de um valor adimensional aparentemente tão estranho (poder-se-ia, por
exemplo, atribuir ao mencionado SF o adimensional 100) provém do fato de tanto a escala
Kelvin como a Celsius colocarem 99,9839 unidades (historicamente, cem unidades) de diferença
entre o contato sob equilı́brio estável de água lı́quida e gasosa a 0,101325 MPa (ou 1 atm) e o
contato sob equilı́brio estável de água lı́quida e sólida na mesma pressão, o que torna o tamanho
do Kelvin igual ao do grau Celsius.
Tornar o tamanho do Kelvin igual ao do grau Celsius tem, evidentemente, razões históricas
e faz o zero absoluto situar-se a −273, 15◦ C. Analogamente, na escala Rankine a unidade,
denominada grau Rankine, ◦ R, tem tamanho igual ao grau Fahrenheit, ◦ F , e o zero absoluto
situa-se a −459, 67◦ F , sendo 32◦ F = 0◦ C e 211, 97102◦ F = 99, 9839◦ C as igualdades que
permitem inter-relacionar os tamanhos dos graus Celsius e Fahrenheit (historicamente, 32◦ F =
0◦ C e 212◦ F = 100◦ C, portanto, em ambos os casos, a transformação de unidades é fornecida
por 1, 8◦ F = 1◦ C).
Na verdade, a escala Kelvin constitui-se em uma entre infinitas outras possı́veis atribuições
de inequı́vocos e diferentes significados ao número 1 da escala adimensional coerente com a
desigualdade 9.31 (logo, não existem apenas as escalas absolutas Kelvin e Rankine, mas sim
infinitas escalas absolutas). Por isso, a temperatura absoluta é definida a menos de uma cons-
tante multiplicativa positiva, que transforma o valor da temperatura, fornecido em K, numa
temperatura absoluta arbitrária, enquanto o zero absoluto é uma mesma cota inferior máxima
universal inatingı́vel, comum a todas as escalas absolutas.
Por exemplo, seja a unidade de temperatura DiCa um centésimo do valor da temperatura do
ponto triplo sólido-lı́quido-gasoso do dióxido de carbono; logo, seja igual a 100 DiCa o intervalo
de temperaturas entre o inatingı́vel estado do SF correspondente ao zero e o estado do dióxido
de carbono nesse ponto triplo. Entretanto, como esse mesmo intervalo corresponde a 216,80
18
Nota de rodapé na subseção 2.4.3.
19
Veja o significado de constitutivo no item 2 da subseção 4.2.1.
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 205
K, tem-se que 1 DiCa = 2,1680 K; logo, neste caso especı́fico a citada constante multiplicativa
1
positiva é 2,1680 DiCa K −1 e a temperatura do ponto triplo da água é ( 2,1680
1
DiCa K −1 )
(273,16 K) = 126,00 DiCa.
Como outro exemplo, associe-se ao adimensional 1 a unidade Jmol −1 . Neste caso, a men-
cionada constante é R = 8, 314472 Jmol −1 K −1 e a temperatura do ponto triplo da água é
(8,314472 Jmol −1 K −1 ) (273,16 K) = 2.271,2 Jmol −1 (note que R é, somente, um fator de
transformação entre unidades de temperatura). Sublinhe-se que
Sublinhe-se, também,
Por exemplo, se a unidade de temperatura adotada pelo SI fosse Jmol −1 em vez de K, o valor
de R seria o adimensional 1.
Analogamente ao colocado para temperatura, a cota +∞ > S não indica que, na realidade,
a entropia possa assumir valor tão elevado quanto se queira, nem S > S◦ significa que, em
qualquer material, a entropia possa aproximar-se de S◦ tanto quanto se queira.
embora ele tenha sido um dos mais notáveis alunos de Boltzmann, que foi o primeiro a associar
significado estatı́stico à entropia.
Outra grande contribuição histórica à terceira lei foi dada por Max Planck. No seu livro de
termodinâmica,21 Planck propõe o cristal perfeito, o qual seria uma espécie quı́mica sob forma
cristalina, contendo exatamente nenhuma impureza e cuja estrutura geométrica sempre repetiria
a célula cristalina básica de modo perfeito, ou seja, sem permitir a ocorrência de qualquer
deformação, por menor que fosse. Evidentemente, o cristal perfeito é um limite inalcançável na
realidade, assim como acontece para o gás perfeito. Então, de acordo com Planck, a entropia
de um cristal perfeito é a menor possı́vel, e esse valor é zero. A partir da terceira edição do seu
livro, Planck destaca a grande importância do trabalho de Nernst e conecta a sua própria visão
ao teorema do calor de Nernst.22 A terceira lei é devida, basicamente, a Nernst e Planck, e a
apresentação feita no primeiro parágrafo desta seção 9.3 difere das diversas versões originais.
Convém lembrar que Planck foi um dos criadores da mecânica quântica e analisou as con-
sequências de propor S◦ = 0 inclusive sob o enfoque dessa teoria, na época ainda nascente. De
acordo com a mecânica quântica, mesmo um cristal perfeito não apresentaria entropia nula.
Portanto, o que a teoria quântica altera, em relação à terceira lei, é que a inatingı́vel cota
inferior máxima da entropia, S◦ , em vez de ser nula, é positiva; logo, o valor zero é uma cota
inferior, mas não é a cota inferior máxima. Porém, o valor calculado para S◦ , pela mecânica
quântica, é menor do que a margem de incerteza proveniente do limite de precisão instrumental
e, por isso, pode ser desprezado. A eq. 9.5 pode, então, ser reescrita
9.4 Pressão
9.4.1 Histórico e complementação da definição de pressão
Como o conceito mecânico de pressão existe desde a colocação das bases da hidrostática por
Arquimedes (século III a.C.), sua unidade estava bem estabelecida muito antes do desenvolvi-
mento da teoria cinética dos gases e da termodinâmica. Portanto, ao contrário do que aconteceu
com a temperatura (subseção 9.2.1), para a pressão não ocorreu a desnecessária criação de uma
nova unidade. Logo, não são necessários dois distintos SF de referência para tornar dimensional
a escala de pressões, a qual será apresentada no item Conceitos da subseção 9.4.2. De fato, no
SI a unidade de pressão, a ser associada ao adimensional valor 1 da escala, é o mecanicamente
predefinido pascal, Pa. Essa unidade de pressão implica a escolha prévia de padrões reais para
determinar as unidades de massa, kg, comprimento, m, e tempo, s, porque Pa = kg m −1 s −2 ,
de acordo com a mecânica.
Além de historicamente definida, em hidrostática, como um efeito de forças aplicadas ao SF
(por exemplo, a força da gravidade aplicada a uma coluna vertical formada por material gasoso,
lı́quido ou sólido), assim como aconteceu com a temperatura, para gás perfeito a pressão também
21
Planck, Max K. E. L., Treatise on Thermodynamics, Dover, 1969 (original de 1897, em alemão, tradução
dessa primeira edição para o inglês em 1903).
22
O prefácio da primeira edição do livro mencionado na anterior nota de rodapé é datado de abril de 1897; o da
segunda, de janeiro de 1905, e o da terceira, de novembro de 1910. A última edição foi a quinta, cujo prefácio é
datado de março de 1917. Até nos prefácios da terceira e da quinta edições Planck destaca o trabalho de Nernst.
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 207
∂U
P (t) = − (t).
∂V (S,Ni )
A eq. 4.132 se refere a um SF sob processo homogêneo, generalizado para SF sob processo
TµP-h pela primeira igualdade na eq. 4.20, cujo estado, no instante t pertencente ao in-
tervalo temporal t# ≤ t ≤ t# , sendo t# < t# , é representável pelo conjunto de valores
(S(t), V (t), N1 (t), . . . , NJ (t)). Então, em tal SF a pressão, no mencionado instante t, é o
simétrico da tendência de variação da energia interna, U , com a alteração de volume, V , quando
a entropia, S, e todas as quantidades de matéria presentes no SF, N1 , . . . , NJ , tendam a se man-
ter temporalmente constantes.
De acordo com a primeira igualdade na eq. 4.20 e a expressão 9.12 ,
∂2U ∂P
(t) = − (t) 6= 0.
∂V 2 (S,Ni )
∂V (S,Ni )
essa suposição não constitui um erro conceitual. De fato, foi considerado, no último parágrafo
da subseção 9.1.4, que a função US,V,N1 ,...,NJ não é invertı́vel em relação à variável V . Portanto,
nada impõe P 6= 0; logo, a pressão pode ser negativa, nula ou positiva. Como o volume tenderá
a diminuir quando a pressão tender a aumentar e vice-versa (expressões 9.7), o volume tenderá
à sua cota inferior máxima, a qual é nula, quando a pressão tender a divergir para +∞. Mas,
como nenhum real pode alcançar +∞, a cota inferior máxima do volume também é inalcançável.
Logo, analogamente ao que acontece com a entropia (expressão 9.6), não existe SF TµP-h com
volume nulo, ou seja,
0 < V < +∞ e − ∞ < P < +∞. (9.8)
Analogamente ao colocado na subseção 9.2.3, certamente essa teoria não é adequada para
representar o comportamento da matéria em pressões altı́ssimas ou volumes baixı́ssimos, nem
mesmo em pressões baixı́ssimas ou volumes altı́ssimos, uma vez que ela se baseia em experimen-
tos efetuados em pressões e volumes próximos dos usuais. Porém, ela indica que, em coerência
com tais experimentos, o valor da pressão pode ser qualquer real, enquanto o volume é positivo.
Além disso, essa teoria não impede que cotas constitutivas apareçam como superiores mı́nimas
ou inferiores máximas. Por exemplo,
∂U
P (t) = − (t),
∂V (S,Ni )
o seu simétrico, que é o valor da tensão, mas neste texto isso não acontece, porque prefere-se
utilizar sempre a mesma propriedade, pressão, e sı́mbolo, P .
Por exemplo, para água lı́quida e sólida sob equilı́brio estável (subseção 4.1.5), a 273,15K,
tem-se, respectivamente, P ≥ 101.325Pa e 0 < 611,3Pa ≤ P ≤ 101.325Pa, porque para essa
única espécie quı́mica, nessa temperatura, o lı́quido é mais denso do que o sólido (subseção
8.2.3). Na pressão P = 611,3Pa o sólido sublima, portanto a 273,15K não existe equilı́brio
estável no qual o gelo apresente pressão negativa. Note que
o gelo pode não sublimar nem em 611,3Pa, nem em pressão positiva inferior a
611,3Pa, nula ou mesmo negativa, mas, neste caso, ele será um sólido em equilı́brio
metaestável.
Entretanto, existem sólidos que, a 273,15K, apresentam equilı́brios estáveis em pressões negati-
vas (suponha, por exemplo, um cabo de aço sob tensão). De fato, para um sólido, o movimento
translacional de suas partı́culas praticamente inexiste, comparativamente com a mesma espécie
quı́mica no estado de agregação lı́quido ou gasoso, na mesma temperatura. Isso permite que
∂2A ∂P
(t) = − (t) 6= 0.
∂V 2 (T,Ni )
∂V (T,Ni )
24
Veja, por exemplo, Debenedetti, Pablo G., Metastable Liquids, Princeton, 1996.
25
Zheng, Q.; Durben, D. J.; Wolf, G. H.; Angell, C. A., Liquids at Large Negative Pressures: Water at the
Homogeneous Nucleation Limit, Science, 254, 5033 (1991), 829-832, DOI: 10.1126/Science 254.5033.829.
210 Adalberto B. M. S. Bassi
∂P ∂V
(t) < 0 e (t) < 0. (9.9)
∂V (T,Ni ) ∂P (T,Ni )
As expressões 9.9 implicam as 9.7 e vice-versa, ou seja, tanto estas como aquelas podem,
opcionalmente, ser consideradas a segunda parte da definição de pressão. Além disso, assim
como acontece para a desigualdade 9.4, as 9.9 também podem ser obtidas a partir de imposição
da caracterı́stica matemática de concavidade à função entropia.26 Ainda, as expressões 9.9
mostram que a função PT,V,N1 ,...,NJ é invertı́vel em relação a V , sendo VT,P,N1 ,...,NJ sua função
inversa e reciprocamente.
∂U
µj (t) = (t), j = 1, . . . , J.
∂Nj (S,V,Ni6=j )
A eq. 4.133 se refere a SF sob processo homogêneo, generalizado pela primeira igualdade na eq.
4.22 para SF sob processo TµP-h cujo estado, no instante t pertencente ao intervalo temporal
t# ≤ t ≤ t# , sendo t# < t# , é representável pelo conjunto de valores (S(t), V (t), N1 (t), . . . ,
NJ (t)). Então, em tal SF e no mencionado instante t, o potencial quı́mico µj , para j =
1, . . . , J, é a tendência de variação da energia interna, U , com a quantidade de matéria Nj ,
quando a entropia, S, o volume, V , e todas as outras quantidades de matéria presentes no SF,
N1 , . . . , Nj−1 , Nj+1 , . . . , NJ , tendam a se manter temporalmente constantes.
26
Veja, por exemplo, Reis, Martina C.; Florindo, Caio C. F.; Bassi, Adalberto B. M. S., Entropy and its mathe-
matical properties: consequences for thermodynamics, ChemTexts, 1, 1 (2015), Article 9, DOI: 10.1007/s40828-
015-0009-x.
27
Gibbs, Josiah W., Scientific Papers of J. Willard Gibbs, Andesite, 2017.
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 211
∂2U ∂µj
(t) = (t) 6= 0, para j = 1, . . . , J.
∂Nj2 (S,V,Ni6=j )
∂Nj (S,V,Ni6=j )
Portanto, para entropia, volume e todas as quantidades de matéria presentes no SF, salvo
Nj , sem tendência de modificação em relação aos seus respectivos valores no instante t, ou o
potencial quı́mico sempre tenderá a aumentar quando Nj tender a crescer (e vice-versa), ou
sempre tenderá a diminuir quando houver tendência ao incremento de Nj (e vice-versa). Como,
conforme já afirmado na subseção 4.2.1 (lá com menos rigor), a opção experimentalmente correta
é a primeira, impõe-se
∂µj ∂Nj
(t) > 0 e (t) > 0, para j = 1, . . . , J. (9.10)
∂Nj (S,V,Ni6=j )
∂µj (S,V,Ni6=j )
As eqs. 9.10 completam a definição de potencial quı́mico dada pela eq. 4.133 .
Isso indica que, rigorosamente, a quantidade de matéria de qualquer espécie quı́mica presente
no sistema não pode ser nula, assim como acontece para o volume (expressão 9.8). Portanto,
é permitido que traços experimentalmente não detectáveis sejam considerados com
quantidade de matéria nula, desde que fique claro tratar-se de uma aproximação,
212 Adalberto B. M. S. Bassi
conforme foi avisado sempre que essa aproximação foi efetuada. Analogamente ao já colocado
para temperatura e pressão, cabe ressaltar que as cotas −∞ < µj , µj < 0, 0 < Nj e
Nj < +∞ não indicam que, na realidade, potencial quı́mico e quantidade de matéria possam
assumir valores tão elevados ou tão baixos quanto se queira, mas apenas que, de acordo com
a teoria neste texto apresentada, nada impede isso. Novamente, ressalta-se que essa teoria
permite que cotas constitutivas apareçam como superiores mı́nimas ou inferiores máximas. A
unidade SI de potencial quı́mico é Jmol −1 . De acordo com a eq. 5.13 e a frase que lhe segue,
J
X
G(t) = µj Nj (t) (processo TµP-h), (9.12)
j=1
portanto
Fluidos homogêneos
(P Vm )/J mol −1
6
W1
2271,1
Gás perfeito
2270,5 W2
2269,9
W3
2269,3
2268,7 W4
W5
2268,1
-
0 3 6 9 P/KPa
T = 273, 15 K
Logo, na fig. 10.1 a infinita semirreta horizontal P > 0 indica o gás perfeito. A 273,15 K
e em pressões inferiores a 12 KPa, praticamente todos os gases podem ser supostos perfeitos
dentro de uma faixa de erro de 7 J mol −1 em relação ao valor exato do produto (P Vm ) para
gás perfeito nessa temperatura, que é 2271, 1 J mol −1 . Logo, dentro de um erro que depende
da composição do gás considerado, mas que, no máximo, é da ordem de 0,3%, nessas condições
todo gás é perfeito. Em pressões da ordem de 1 MPa, porém, o uso dessa aproximação já
acarreta erros inaceitáveis.
3000 !
! !!
!
!!
! !!
!!
1000
-
-250 -200 -150 -100 -50 0 50 100 θ/◦ C
positivo, porque a pressão de um gás é sempre positiva, o mesmo ocorrendo com o volume molar
(item Conceitos da subseção 9.4.2). Logo, x apresenta uma inalcançável cota inferior máxima
real, x◦ = limy→0 x, enquanto a ≥ 0 (a > 0 se x = θ e a = 0 se x = T ).
De acordo com a subseção 9.2.1, o que caracteriza uma propriedade termométrica é, dentro
de uma determinada faixa de temperaturas, aproximadamente manter proporcionalidade entre
a variação no valor da propriedade e a alteração de temperatura. Logo, a fig. 10.2 mostra que,
porque, experimentalmente, obtém-se uma reta muito precisa. Entretanto, para SF gasoso ho-
mogêneo valores muito pequenos de y = limP →0 (P Vm ) não são experimentalmente obtenı́veis,
porque em temperaturas muito baixas nenhuma espécie quı́mica encontra-se em estado gasoso,
por menor que seja a pressão positiva. Porém, como o gráfico é retilı́neo, sua extrapolação
para a ordenada y → 0, que aparece na fig. 10.2 como linha pontilhada, pode ser efetuada com
grande precisão, obtendo-se um valor muito acurado para x◦ = limy→0 x.
Logo, o gás perfeito é representado pela infinita semirreta inclinada da fig. 10.2, não pertencendo
a ela o ponto (x◦ , 0) (é aberto em suas duas extremidades o conjunto de pontos que forma a
semirreta). Evidentemente, isso inclui seus segmentos cheio e pontilhado, bem como sua extra-
polação para temperaturas extremamente altas, onde o comportamento da matéria não obedece
às conclusões referentes a experiências efetuadas em temperaturas usuais. Portanto, seja no tre-
cho pontilhado (temperaturas muito baixas) como em temperaturas altı́ssimas o conceito de
gás perfeito não é experimentalmente aplicável, nem mesmo de modo aproximado. Aliás, a fig.
10.1 mostra que, mesmo em temperaturas usuais, esse conceito não corresponde à realidade
experimental, mas, para pressões suficientemente baixas, constitui-se em boa aproximação da
realidade.
216 Adalberto B. M. S. Bassi
qualquer distância entre eles. Isso implica que sejam totalmente elásticos os choques entre as
partı́culas. Existem modelos que admitem campos atrativos e repulsivos, ou seja, que consi-
deram a existência de interações a distância entre as partı́culas. Mas, em teoria cinética dos
gases clássica,2 geralmente se impõe que as únicas interações entre as esferas rı́gidas ocorram
por meio de choques. O gás perfeito é um caso especı́fico do gás de esferas rı́gidas, este último
mais abrangente, porque o primeiro:
1. impõe que nenhuma interação ocorra entre as partı́culas, a não ser por meio de choques
elásticos, justamente como a teoria cinética dos gases clássica;
2. adicionalmente impõe que a massa, m0 , e o volume, v 0 , de cada partı́cula tendam a zero,
e, simultaneamente, o número N 0 de partı́culas tenda a infinito, mantendo-se constante
a massa M = N 0 m0 total do gás, bem como o volume total V = N 0 v 0 ocupado pelo
gás. Note que, quando N 0 → +∞, o conjunto de partı́culas permanece contável,3 cada
partı́cula tendendo a um único ponto mássico com a mesma densidade de massa das
outras, portanto N 0 → +∞ não implica meio contı́nuo.
Convém lembrar que o valor da massa molar de cada espécie quı́mica, representado por
Mm , provém de leis básicas da quı́mica, mais especificamente do trabalho de Stanislao Can-
nizzaro, apresentado no primeiro congresso internacional de quı́mica com alcance mundial, de
3 a 5 de setembro de 1860 em Karlsruhe, Alemanha.4 Atualmente, estão tabeladas as massas
molares de todos os elementos da tabela periódica, o que permite imediato cálculo da massa
molar correspondente a qualquer espécie quı́mica, desde que conhecida a estequiometria de sua
fórmula. Se NA for a constante de Avogadro,5 ter-se-á m = M NA , onde m é a verdadeira massa
m
de cada uma das partı́culas gasosas, desde que o gás seja constituı́do por uma única espécie
quı́mica.
NA
Tem-se, ainda, N = M m = M Mm , o qual é o verdadeiro número de partı́culas no gás cons-
NA 1
tituı́do por uma única espécie quı́mica, e n = N N1A = M M m NA
= MMm , que é a quantidade de
matéria verdadeiramente presente nesse gás. Essas igualdades indicam que N e n são experimen-
NA Mm
talmente bem determinados a partir da medida de M . Além disso, N m = M M m NA = M.
Portanto, conforme colocado no item 2, a massa total do gás M = N m = N 0 m0 é constante
para todo par de valores < N 0 , m0 >, inclusive no limite N 0 → ∞ e m0 → 0, analogamente
acontecendo com o volume total.
2 3 3
PC
?
2
5
6 4 4
Pv (T2 ) T3
5 Tc
1 6
)
Pv (T1 )
L*
)G - L*
)G - iP
P T2
6 @
I
@ T1
Spinodal
1
-
0 Volume molar
Figura 10.3: Veja o item Legenda da fig. 10.3 na subseção 10.2.2.
van der Waals) ou de Redlich-Kwong (hipotético fluido que obedece exatamente à EDE de
Redlich-Kwong), sendo Tc a temperatura crı́tica do fluido e T3 > Tc > T2 > T1 . Na isoterma
para Tc , o ponto indicado pela abreviatura PC é o ponto crı́tico. A isoterma para T3 refere-se
a fluido supercrı́tico quando a pressão for superior a Pc e a gás em pressões inferiores. Ela é
interceptada pela horizontal, em pontilhado forte, que parte do ponto crı́tico e separa a área 3,
referente a fluido supercrı́tico, sempre estável, da área 4, que representa gás também estável.
Na área 2 encontra-se lı́quido estável.
O ramo esquerdo da curva L* )G, em pontilhado forte, interliga os pontos de gaseificação
dos lı́quidos estáveis correspondentes às isotermas para temperaturas subcrı́ticas, enquanto seu
ramo direito faz o mesmo com os pontos de liquefação dos gases estáveis. Essa curva apresenta
um máximo no ponto crı́tico, e todo par de pontos na mesma temperatura T , um sobre seu
ramo esquerdo e outro sobre o direito, apresenta a mesma pressão, chamada pressão de vapor
na temperatura T e grafada Pv (T ). Nas isotermas para as T1 e T2 , as horizontais em pontilhado
fraco respectivamente marcam Pv (T1 ) e Pv (T2 ).
A curva spinodal, ainda em pontilhado forte, também tem um ramo esquerdo e um direito,
apresenta seu máximo no ponto crı́tico e é envolvida pela envolvente L* )G. O ramo esquerdo
da spinodal interliga os mı́nimos a que tendem as isotermas para lı́quidos, enquanto seu ramo
direito interliga os máximos a que tendem as isotermas para gases em temperaturas subcrı́ticas.
Na área 1, entre os ramos esquerdos das curvas L* )G e spinodal, os pontos representam lı́quidos
metaestáveis, chamados superaquecidos, enquanto na área 5, entre os ramos direitos das curvas
L*)G e spinodal, os pontos representam gases metaestáveis, denominados super-resfriados.
Os pontos na área 6 e sobre a curva spinodal são termodinamicamente proibidos, ou seja,
220 Adalberto B. M. S. Bassi
Entre a pressão mı́nima a que tende a isoterma para lı́quido metaestável, para encontrar o
ramo esquerdo da spinodal, e a pressão máxima a que tende a isoterma para gás metaestável, na
mesma temperatura, para encontrar o ramo direito da spinodal, ocorre uma faixa de pressões,
constitutivamente determinada e que depende da temperatura T comum às duas isotermas.
Pertence a essa faixa uma pressão especı́fica, chamada pressão de vapor, Pv (T ),14 na qual e
acima da qual o lı́quido é estável, enquanto o gás é estável nessa pressão e abaixo dela.
Tem-se que o potencial quı́mico µ(T, Pv (T )) = Gm (T, Pv (T )) é o mesmo para o lı́quido e
o gás estáveis. Dentro da mencionada faixa de pressões, para P > Pv (T ) o potencial quı́mico
do gás, metaestável, é superior ao do lı́quido, estável. Entretanto, sempre dentro da citada
faixa, para P < Pv (T ) o potencial quı́mico do lı́quido, metaestável, é superior ao do gás,
estável (veja o item Temperatura da subseção 8.2.1). Portanto, um processo termobarostati-
zado em SF impedido de trocar trabalho não volumétrico com o exterior sempre transforma o
estado metaestável no estável. Mas a transformação entre os dois estados com igual potencial
quı́mico, ambos estáveis, ou do estado estável para o metaestável, exige absorção de trabalho
não volumétrico (veja, na subseção 5.4.3, as expressões 5.27 e 5.25, junto com seus respectivos
comentários).
Em processo barostatizado vale a eq. 3.152 (item Processo barostatizado da subseção 3.2.4),
a saber, ∆wv = −∆(P V ) = −P ∆V . Logo, se os pontos que representam os estados terminais
dos processos mencionados no parágrafo anterior forem interligados por segmento horizontal,
a área do retângulo entre o eixo horizontal e esse segmento, no gráfico, será igual ao módulo
do trabalho volumétrico efetuado durante o processo. Isso, evidentemente, é igualmente válido
para todos os processos mencionados no parágrafo anterior.
À medida que a temperatura aumenta, a faixa de pressões torna-se mais estreita, tendendo
a zero na temperatura Tc . Interligando as pressões de vapor para T < Tc , obtém-se a curva
contı́nua representada por L* )G na fig. 10.3, em pontilhado forte, novamente com máximo no
ponto crı́tico e dele partindo dois ramos descendentes, no espaço entre os quais se situam os
dois ramos da spinodal. O ramo esquerdo interliga pontos de ebulição do lı́quido em equilı́brio
estável, um para cada isoterma, enquanto o direito interliga pontos de condensação lı́quida do
gás em equilı́brio estável, de novo um para cada isoterma. Na fig. 10.3 são marcadas as pressões
de vapor Pv (T1 ) e Pv (T2 ) por meio de segmentos de reta horizontal em pontilhado fraco. Salvo
no ponto crı́tico, a representação L*)G indica a possibilidade de lı́quido e gás permanecerem
em contato entre si,15 ambos mantendo equilı́brio estável.
Na área entre a curva L* )G e a spinodal, mas sem incluir nenhuma das duas curvas,
encontram-se os estados, termodinamicamente permitidos, que são metaestáveis, enquanto so-
bre a curva L* )G e externamente a ela encontram-se estados, termodinamicamente permitidos,
que são estáveis. Note que a confirmação experimental das isotermas é muito mais fácil na
região estável do que na metaestável. Por isso, embora tanto as isotermas para fluido de van
der Waals como de Redlich-Kwong repliquem qualitativamente bem os resultados experimen-
tais, essa afirmação é garantida com segurança cada vez menor à medida que as condições do
SF homogêneo contendo uma única espécie quı́mica se aproximem da curva spinodal.
Conforme já colocado, pontos que se encontrem entre os dois ramos da spinodal, ou nela
própria, são termodinamicamente proibidos. Porém, nada impede que seja dada uma utilidade
prática a essa área do gráfico, na fig. 10.3, analogamente ao que foi feito na subseção 8.3.2.
Entretanto, naquela subseção consideraram-se espaços vazios em diagramas de fases tridimen-
sionais e, como apenas estados de equilı́brio estável eram considerados, o espaço vazio não foi
14
Veja a definição de pressão de vapor na subseção 8.3.3.
15
Veja o significado da expressão em contato entre si no item 2 da subseção 4.2.2.
222 Adalberto B. M. S. Bassi
logo, a temperatura fique indeterminada em tais pontos. Mas, evidentemente, quando se tratar
de gráfico cujos pontos são calculados a partir de determinada EDE, bastará verificar se, em tal
equação, a temperatura é explicitável em termos das demais variáveis, porque tal fato garante
a existência da função TP,V .
Por exemplo, a função TP,V existe para fluido de van der Waals, mas, no experimentalmente
mais preciso fluido de Redlich-Kwong, ela não existe. Entretanto, conforme antes colocado,
isotermas para fluido de Redlich-Kwong podem ser representadas pelas curvas presentes na fig.
10.3 porque, restringindo adequadamente as faixas de pressão e volume molar correspondentes
∂P
às curvas desenhadas, constitutivamente pode-se ter ∂T (V,N ) > 0 para a única espécie quı́mica
i
considerada, tanto para gás quanto para lı́quido ou fluido supercrı́tico.
Embora totalmente permitidos sob o aspecto termodinâmico, os livros didáticos costumam
∂P
considerar anômalos estados estáveis nos quais ∂T (V,N ) ≤ 0, sendo mais conhecida a anomalia
i
da água. De fato, entre 0 e 5◦ C, na pressão ambiente, ao se incrementar a temperatura de água
em estados lı́quidos estáveis o volume molar inicialmente diminui (a densidade de massa cresce)
e depois aumenta. Logo, existem faixas de pressões e de volumes molares onde, necessariamente,
acontece de um mesmo par (P, Vm ) corresponder a duas temperaturas distintas.16 Por isso,
2. apenas de modo muito grosseiro pode-se considerar que o valor de b seja o volume de um
mol de esferas cujo raio seja o raio cristalográfico do sólido em questão;
3. em geral, a correção introduzida por b afeta a pressão de modo mais significativo do que
aquela trazida por a, mas em alguns casos é possı́vel que considerar ambos nulos produza
erro menor do que apenas anular a, uma vez que as correções introduzidas por a e b são
em sentido oposto.17
Os parâmetros a e b são facilmente interligáveis com os valores que a EDE de van der Waals
atribui ao volume molar crı́tico, VcW , pressão crı́tica, PcW , e temperatura crı́tica, TcW . Para
17
Deduções teóricas, como, por exemplo, cálculos referentes a seções de choque em teoria cinética dos gases,
costumam propor b > 0 e a = 0, porque consideram um modelo de esferas rı́gidas sem interações a distância
entre as partı́culas (veja o primeiro parágrafo da subseção 10.1.4).
224 Adalberto B. M. S. Bassi
isso, basta derivar parcialmente, em relação a Vm , a função PT,Vm dada pela eq. 10.32 , obtendo
∂P RT 2a
(T, Vm ) = − 2
+ 3 (10.4)
∂Vm (Vm − b) Vm
∂P
e, em seguida, derivar parcialmente, em relação a Vm , a função ∂Vm T,Vm dada pela eq. 10.4,
obtendo
∂2P 2RT 6a
2
(T, Vm ) = 3
− 4. (10.5)
∂Vm (Vm − b) Vm
Como no ponto crı́tico a função PT,Vm apresenta uma inflexão horizontal (ver a fig. 10.3), os
lados direitos das eqs. 10.4 e 10.5 devem ser igualados a zero se T e Vm forem, respectivamente,
substituı́dos por TcW e VcW , obtendo-se
RTcW 2a 2RTcW 6a
W 2
= e = .
(Vc − b) (VcW )3 W
(Vc − b) 3 (VcW )4
8a a
TcW = 27Rb , PcW = 27b2
, VcW = 3b,
PcW VcW VcW RTcW
TcW
= 83 R, b= 3 , b= 8PcW
, (10.6)
27R2 (TcW )2
a = 98 RTcW (VcW ), a = 3PcW (VcW )2 , a = 64PcW
.
Cabe comentar as eqs. 10.6, que serão numeradas como os elementos de uma matriz.
Suponha-se que estejam disponı́veis valores experimentais para Tc e Pc e que se imponha
TcW = Tc e PcW = Pc . Neste caso, as eqs. 10.62,3 e 10.63,3 permitirão a obtenção dos parâmetros
b e a respectivamente. Certamente, uma EDE que considere esses parâmetros reproduzirá com
grande precisão os valores crı́ticos experimentais de temperatura e pressão. Mas, em pressões
e temperaturas distantes dos correspondentes valores crı́ticos, a precisão dessa EDE, quando
comparada com os dados experimentais, já não será tão boa.
Por outro lado, sejam os parâmetros b e a ajustados, por meio de algum algoritmo numérico,
em faixas de pressões e temperaturas distantes dos correspondentes valores crı́ticos. Certamente
a igualdade resultante será a EDE de van der Waals mais precisa possı́vel nas faixas para as
quais os parâmetros foram ajustados, mas já não será tão precisa perto do ponto crı́tico. Isso
acontecerá porque as eqs. 10.61,1 , 10.61,2 e 10.61,3 serão obedecidas e causarão TcW 6= Tc ,
PcW 6= Pc e VcW 6= Vc .
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 225
b b2 1
TR = γT RT, PR = γP P e VR = γV Vm , (10.7)
a a b
onde γT , γP e γV são arbitrárias constantes adimensionais. Lembrando que, no SI, a unidade
de b é m3 mol −1 , de a é m6 mol −2 Pa, de R é J mol −1 K −1 , de T é K e que J = Pa m3 , tem-se
que ab RT é adimensional, conforme necessário para que ambos γT e TR também o sejam, assim
2
satisfazendo às suas respectivas definições. Percebe-se imediatamente que ba P e 1b Vm também
são adimensionais, novamente permitindo que γP , PR , γV e VR satisfaçam às suas respectivas
definições, como adimensionais.
As eqs. 10.7 implicam que, ao se substituı́rem T, P e V nas eqs. 10.3 pelas correspondentes
variáveis reduzidas, obtenham-se equações independentes dos parâmetros a e b. De fato, para
a eq. 10.32 essa substituição produz
PR TR γV
= − . (10.8)
γP γV γT (VR − γV ) VR2
Por definição,
Então, são estados correspondentes de van der Waals estados de fluidos referentes a espécies
quı́micas distintas, que apresentem o mesmo conjunto de valores para as variáveis reduzidas
presentes na eq. 10.8.
Seja, por exemplo, denominado a o conjunto γT = γP = γV = 1. Neste caso, a eq. 10.8
pode ser escrita
TR a 1
PR a = − 2 .
VR a − 1 VR a
27
Mas os livros didáticos preferem escolher γT = 8 , γP = 27 e γV = 13 , aqui identificado como
conjunto b, o qual transforma a eq. 10.8 em
8TR b 3
PR b = − . (10.9)
3VR b − 1 VR2 b
27
Evidentemente, TR b = 8 TR a , PR b = 27PR a e VR b = 13 VR a . Logo, alterando as constantes
arbitrárias,
1. modifica-se a forma da equação de van der Waals em variáveis reduzidas, que não é uma
EDE, enquanto as eqs. 10.3 são uma EDE e ela apresenta uma única forma;
Porém, a razão da preferência encontrada nos livros didáticos baseia-se em que, impondo o
conjunto b, as eqs. 10.7 podem ser escritas
T P V
Tr b = W , Pr b = W e Vr b = W , (10.10)
Tc Pc Vc
conforme verificado utilizando, respectivamente, as eqs. 10.61,1 , 10.61,2 e 10.61,3 . Mas, antes de
impor TcW = Tc e PcW = Pc para dar maior significado às eq. 10.10, convém lembrar que:
• a EDE de van der Waals não é a única existente, nem é a mais precisa, embora apresente
muito significativa e interessante interpretação conceitual;
• impor TcW = Tc e PcW = Pc pode aumentar o erro em regiões distantes do ponto crı́tico,
conforme já colocado, sendo preferı́vel ajustar os parâmetros b e a de modo a obter ótimo
resultado na região de interesse.
Contudo, a imposição de TcW = Tc e PcW = Pc ainda envolve outra objeção, mais grave do
PcW VcW
que as duas reportadas no fim do parágrafo anterior. Note que o valor da fração TcW
é único
e igual a 0, 375 R (eq. 10.62,1 ). Esse fato está de acordo com o conceito de correspondência
entre estados, porque esse único resultado é coerente com PR b = TR b = VR b = 1, ou PR a =
1 8
27 , TR a = 27 , VR a = 3, para todo e qualquer fluido. Além disso, a correspondência entre
estados estaria baseada no conceito de que são correspondentes os estados crı́ticos de todos os
fluidos (sem dúvida, esta é uma ideia bem atrativa).
Porém, o valor experimental PTc Vc c não só varia de acordo com a única espécie quı́mica
considerada como, tipicamente, é inferior a 0, 3 R,18 enquanto o valor calculado, 0, 375 R, é 25%
mais elevado do que 0, 3 R. Portanto, impor TcW = Tc e PcW = Pc não garante VcW = Vc
(nenhum par dessas igualdades garante a terceira, dentro de nı́vel de precisão aceitável). Logo,
é impossı́vel impor, com precisão atualmente considerada aceitável, que conjunta-
mente ocorra TcW = Tc , PcW = Pc e VcW = Vc .
Então, a correspondência entre estados de van der Waals não é satisfeita nos pontos crı́ticos,
medidos por extrapolação, das diversas únicas espécies quı́micas.
Entretanto, deve-se ressaltar que essa não correspondência não é decorrente da forma algé-
brica especı́fica para a EDE de van der Waals. De fato, lembrando a definição apresentada para
estados correspondentes e o fato experimental de o valor para a fração PTc Vc c ser constitutivo, ou
seja, alterar-se quando muda a única espécie quı́mica considerada, percebe-se que o conceito de
estados correspondentes não é aplicável ao inatingı́vel estado da matéria denominado crı́tico.
Equação de Redlich-Kwong
Em termos de precisão experimental, a EDE de dois parâmetros preferı́vel, para descrever o
comportamento de fluidos, é a de Redlich-Kwong,19 de 1949,
RT a
P = − , (10.11)
Vm − b Vm (Vm + b)T 1/2
18
Veja, por exemplo, De Boer, Jan, Quantum theory of condensed permanent gases: the law of corresponding
P
states, Physica, 14, 2-3 (1948), 139-148. Note que, de acordo com a eq. 10.18, Z(T, P ) = RT Vm (T, P ) é o valor
Pc
experimental do fator de compressibilidade, portanto Zc = RTc Vc é o valor a que tende esse fator quando o SF se
aproxima do ponto crı́tico, o qual frequentemente é inferior a 0,3. Entretanto, ZcW = 0, 375 é um valor calculado
teoricamente, por meio da EDE de van der Waals.
19
Veja Shah, K. K.; Thodos G., A Comparison of Equations of State, Ind. Eng. Chem., 57, 3 (1965), 30-37.
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 227
onde B2 (T ), B3 (T ), B4 (T ),. . . , bem como B20 (T ), B30 (T ), B40 (T ),. . . são chamados coeficientes
do virial.20 Esses dois conjuntos de coeficientes do virial podem ser inter-relacionados. Para
isso, divida a eq. 10.121 por Vm , assim obtendo a expansão de P em série de potências de Vm .
Em seguida, substitua essa expansão em todas as potências de P que aparecem no membro da
direita da eq. 10.122 e agrupe os termos de mesma potência de Vm , colocando em evidência
cada potência de Vm . Compare, então, a expansão de P Vm em série de potências de Vm , assim
obtida, com a eq. 10.121 . Por exemplo, para B2 (T ) e B3 (T ), obtêm-se as relações
B2 (T ) = B20 (T )RT e B3 (T ) = {[B20 (T )]2 + B30 (T )}RT 2 . (10.13)
Os coeficientes do virial dependem apenas da temperatura, não da pressão nem do volume
molar. Além disso, os coeficientes do virial são constantes constitutivas cujas dimensões são tais
que cada termo dos desenvolvimentos em série de potências que formam os membros direitos
das eqs. 10.121 e 10.122 apresente como unidade, no SI, J mol −1 . Para gás em pressão inferior
à atmosférica, o uso da equação dos gases perfeitos geralmente é suficiente (truncamento das
eqs. 10.12 no termo de ordem zero).
Até poucas atmosferas, para gás e fluido supercrı́tico21 as eqs. 10.12 geralmente podem ser
truncadas no termo de primeira ordem (respectivamente os termos cujos coeficientes são B2 (T )
e B20 (T )), mas pressões de dezenas de atmosferas exigem a inclusão do termo de segunda ordem.
Em pressões mais altas, termos de ordem superior à segunda são bastante significativos para
gases e fluidos supercrı́ticos, mas, em pressões muito altas, a equação do virial falha.
Na eq. 10.32 , a saber, P = VRT m −b
− Va2 , pode-se efetuar o desenvolvimento em série de
m
Comparando a eq. 10.14 com a eq. 10.121 tem-se que, sempre que um material for bem repre-
sentado pela EDE de van der Waals, será válida a aproximação
a
B2 (T ) ≈ b −
RT
B3 (T ) ≈ b2
B4 (T ) ≈ b3
... ≈ ...; (10.15)
1. para gases e fluidos supercrı́ticos em pressões de até poucas atmosferas − logo, para con-
dições nas quais a equação do virial pode ser truncada no termo de primeira ordem −, é
válida a EDE de van der Waals;
2. truncando no termo de primeira ordem a eq. 10.122 e usando a eq. 10.131 tem-se que,
para gases e fluidos supercrı́ticos em pressões de até poucas atmosferas,
(P Vm ) = RT + B2 (T )P. (10.16)
Então, para gases e fluidos supercrı́ticos em pressões de até poucas atmosferas, de acordo com
as eqs. 10.151 e 10.16 tem-se
RT a
Vm = +b− . (10.17)
P RT
Note que as eqs. 10.31 e 10.32 , respectivamente, explicitam a temperatura e a pressão. Mas,
como a forma algébrica da EDE de van der Waals é cúbica em Vm , dependendo da temperatura
e da pressão três volumes molares diferentes são possı́veis (três raı́zes com valores diferentes
entre si), ou dois (duas raı́zes iguais e uma diferente), ou apenas um (três raı́zes de igual valor).
Porém, a eq. 10.17 faz corresponder, a cada par de valores da temperatura e da pressão, um e
apenas um valor para Vm . Essa equação, portanto, refere-se a faixas de temperatura e pressão
do gás onde as três raı́zes coincidem. Entretanto,
nem toda coincidência matemática das três raı́zes necessariamente satisfaz à eq.
10.17. É preciso que se trate de gases e fluidos supercrı́ticos em pressões de até
poucas atmosferas.
Considerando o contido no item Parâmetros de van der Waals da subseção 10.2.3, pode-se
inclusive propor uma interpretação conceitual para a eq. 10.17. A saber, dados os valores de
temperatura e pressão do gás ou fluido supercrı́tico, RT P seria o volume molar se as partı́culas
fossem pontuais (gás perfeito), o qual deve ser acrescido do volume ocupado por um mol de
partı́culas e diminuı́do da perda de volume causada pela contração, devida às forças atrativas
que agem, a distância, entre elas.
Historicamente, um dos maiores interesse em pesquisa, no que se refere à equação coerente
com o virial de um fluido, esteve no cálculo teórico dos seus coeficientes, uma vez que a própria
equação é teórica, proveniente da mecânica estatı́stica. Vários modelos foram usados para
representar as partı́culas e, entre estes, possivelmente o mais simples e utilizado tenha sido o de
esferas rı́gidas (ver a subseção 10.1.4) sem interações a distância. Nesse modelo, os coeficientes
do virial independem da temperatura (note que, na eq. 10.151 , a parte de B2 (T ) dependente de
T refere-se a interações que ocorrem a distância).
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 229
10.4.2 Fugacidade
Potencial quı́mico de única espécie quı́mica gasosa em relação ao seu valor para gás
perfeito
A eq. 8.71 indica que, para uma única espécie quı́mica homogênea e quimicamente inerte,
sofrendo um processo isotérmico em SF,
dµ = Vm (T, P )dP. (10.24)
Se tal SF for um gás perfeito, usando a eq. 10.21 tem-se dµgp = RT dP P , onde o subı́ndice gp
indica gás perfeito, ou
P
dµgp = RT d ln , (10.25)
P
onde P = 0, 1 M P a = 105 P a é a pressão padrão, introduzida para tornar P adimensional.29
28
Item Densidades da subseção 1.2.3.
29
Veja na subseção 7.2.1 as interessantes caracterı́sticas do diferencial de logaritmo.
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 231
ou seja,
30
International Union of Pure and Applied Chemistry − IUPAC, Compendium of Chemical Thermino-
logy − Gold Book, 2014.
31
De acordo com a referência mencionada na nota de rodapé imediatamente anterior a esta, para uma espécie
PB
quı́mica B em solução gasosa define-se sua fugacidade fB = ψB limP →0 ψB
, onde ψB e PB são, respectivamente,
a atividade absoluta e a pressão parcial de B na solução, enquanto P é a pressão da solução gasosa. Nesta,
PB
limP →0 ψ B
= P desde que P seja usada para tornar PB adimensional, porque limP →0 µB g = µB gp (o ı́ndice
g indica gás). Portanto, reescrevendo a definição de fugacidade fornecida pela IUPAC em termos da notação usada
neste texto, tem-se PfB = ψB . Por causa da definição de pressão parcial (seção 11.1), para única espécie quı́mica
f
gasosa tem-se, então, a igualdade entre diferenciais d(ln P
) = d(ln ψ). Note que a definição de fugacidade dada
pela IUPAC, ao contrário daquela que será mostrada neste texto, apresenta a grande vantagem de não depender
do arbitrário padrão P .
232 Adalberto B. M. S. Bassi
Mas, quando P → 0, o gás comporta-se como perfeito (veja a eq. 10.19 e a frase que a segue);
logo,
limP →0 (µg (T, P ) − µgp (T, P )) = 0. (10.30)
Considerando a eq. 10.30, as eqs. 10.25 e 10.27 mostram que, para T fixo,
Cálculo da fugacidade
Para uma única espécie quı́mica homogênea e quimicamente inerte, sofrendo um processo
isotérmico em SF, a eq. 10.24 mostra que dµg = Vm g (T, P )dP e dµgp = Vm gp (T, P )dP , por-
tanto
Z(T, P ) − 1
dµg − dµgp = (Vm g − Vm gp )(T, P )dP = (Z(T, P ) − 1)Vm gp (T, P )dP = RT dP,
P
onde se usaram a eq. 10.23 para a penúltima igualdade e a eq. 10.21 para a última. Mas, de
acordo com a eq. 10.33, como T é fixa tem-se dµg − dµgp = RT d(ln f 0 ); logo,32
Z(T, P ) − 1
d(ln f 0 ) = dP, ou
P
Z P
0 Z(T, P̌ ) − 1
ln f (T, P ) = dP̌ . (10.34)
0 P̌
Como, ao se fazer a pressão P → 0, o fator de compressibilidade, Z(T, P ), tende a 1 muito
mais rapidamente do que a própria pressão tende a zero, e, além disso, 0 < P̌ < P , então
limP →0 ln f 0 (T, P ) = 0, conforme esperado (eq. 10.32). A eq. 10.34 permite o cálculo, por meio
de integração numérica, do coeficiente de fugacidade em determinada pressão, P , e temperatura,
T , a partir do conhecimento de valores experimentais para fator de compressibilidade na mesma
temperatura, T , e em várias pressões entre zero e P .
Definições
Para obter a eq. 10.33, começou-se por efetuar a integração definida (entre limites de integração
bem definidos) da eq. 10.28, a qual envolve o coeficiente de fugacidade, mostrado na eq. 10.29.
Porém, a fugacidade não foi apresentada anteriormente à eq. 10.28, mas apenas o diferencial
do seu logaritmo (eq. 10.27), este último proveniente da definição de atividade absoluta. Seme-
lhantemente ao efetuado em livros didáticos, neste texto a definição de fugacidade é coerente
32
A notação x̌ é usada para distinguir a variável de integração do limite superior de integração, x.
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 233
com a apresentada pela IUPAC,33 mas de uso mais fácil e imediato. Portanto, ainda falta defi-
nir fugacidade e, além disso, também definir os potenciais quı́micos para única espécie quı́mica,
tanto gasosa quanto gasosa perfeita. Tais definições são arbitrárias, mas fundamentais para
o melhor entendimento dos conceitos de quociente de URQ/AI e constante termodinâmica de
equilı́brio quı́mico (respectivamente subseções 7.4.2 e 7.4.3), conforme será percebido na seção
11.5.
Tanto a integração mencionada no inı́cio do primeiro parágrafo deste item Definições quanto
aquela que conduz à eq. 10.34 e, ademais, quase todas as integrações efetuadas ao longo deste
texto são definidas. Porém, seja
f (T, P )
µg (T, P ) = RT ln +C
P
a integral indefinida da eq. 10.27 para processo isotérmico, onde C é uma constante de inte-
gração. Arbitrariamente impondo C = µg (T ), tem-se
!
f (T, P ) µg (T, P ) − µg (T )
µg (T, P ) = µg (T )+RT ln , ou f (T, P ) = P exp , (10.35)
P RT
onde as eqs. 10.351 e 10.352 são, respectivamente, as definições neste texto adotadas para
potencial quı́mico de única espécie quı́mica gasosa (real) e fugacidade. Usando a eq. 10.29 na
eq. 10.33 tem-se
f (T, P )
µg (T, P ) = µgp (T, P ) + RT ln ,
P
e, igualando o lado direito desta última equação destacada com o da eq. 10.351 , obtém-se
P
µgp (T, P ) = µg (T ) + RT ln , (10.36)
P
que neste texto é a definição para potencial quı́mico de única espécie quı́mica gasosa perfeita.
Força repulsiva
6
4. o zero de energia potencial corresponde à distância infinita entre as partı́culas. Isso indica
que tendem a não interagir partı́culas cuja distância entre elas tenda para infinito;
7. existe uma faixa de distâncias para as quais a energia potencial é negativa, mas a força
de interação entre as partı́culas é repulsiva, enquanto força atrativa sempre ocorre em
energia potencial negativa;
9. o ramo da curva à direita do seu mı́nimo, onde a força é atrativa, apresenta uma inflexão
inclinada para a direita. Para a unidade de comprimento adotada, a distância da inflexão
1/6
é 26
7 ≈ 1, 24, ou seja, é, aproximadamente 10, 9% maior do que a distância finita
correspondente à força nula;
10. a força atrativa inicia-se nula, seu módulo cresce rapidamente até atingir um máximo no
ponto de inflexão (máxima inclinação para cima) e diminui, de inı́cio acentuadamente e,
depois, de modo cada vez mais lento, tendendo novamente à força nula ao passo que a
distância tende para infinito;
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 235
11. se unidades SI de comprimento e energia fossem lançadas nos eixos ortogonais, em vez
daquelas adotadas, mas fossem mantidas a localização da curva, em relação aos dois ei-
xos ortogonais, bem como a sua forma, os correspondentes fatores de escala, horizontal e
vertical respectivamente, dependeriam de caracterı́sticas constitutivas do fluido conside-
rado.35
A pressão de um gás nas condições ambientes é positiva por causa da translação das
partı́culas, o que impede que elas se mantenham próximo da distância finita para força nula,
como exigiria a distribuição de Boltzmann se elas estivessem paradas, porque tal distância é,
também, a de menor energia potencial. Aliás, até mesmo conforme o modelo gasoso mais sim-
plificado que existe, denominado modelo do gás perfeito, no qual as partı́culas apenas interagem
mediante choques, o gás apresenta pressão positiva. Isso evidencia que a razão predominante
para justificar os valores de pressão que os gases exibem encontra-se na translação de suas
partı́culas, não nas forças que entre elas atuam fora dos instantes de colisão. A discussão a
seguir restringe-se a
fluido constituı́do por uma única espécie quı́mica em SF homogêneo.
No lı́quido o movimento das partı́culas é, em termos do módulo médio da velocidade de
translação das mesmas, comparável com o da mesma única espécie quı́mica no estado de
agregação gasoso, na mesma temperatura. Entretanto, a densidade de massa do lı́quido é muito
superior à do gás; logo, a pressão positiva causada pela densidade de momento linear transla-
cional das partı́culas é bem maior. Resta, porém, a necessidade de analisar o comportamento
das forças de interação entre as partı́culas, em estado de agregação lı́quido.
Seja então, por exemplo, a curva para potencial de Lennard-Jones da água pura. De acordo
com o item 11, mantendo-se imutável a curva neste texto apresentada, sejam portanto utilizados
fatores de escala tais que a curva represente o comportamento da água, em unidades SI. Lembre
que os pontos correspondentes à distância finita de força nula e à inflexão apresentam posições
fixas em relação à curva, ou seja, alterando-se a única espécie quı́mica (de água para outra
qualquer), as coordenadas SI desses pontos variam apenas por causa da consequente modificação
nos fatores de escala, já que forma e localização da curva não se modificam.
Porém, ao contrário do afirmado no parágrafo anterior para os pontos correspondentes à
distância finita de força nula e à inflexão, as posições dos quatro pontos LME, GME, LE e GE,
a seguir descritos nesta seção 10.5, não são fixas em relação à curva. Logo, eles não podem ser
marcados no gráfico neste texto apresentado, mas apenas na especı́fica curva que representa o
comportamento da água em unidades SI.36 Aliás, para cada única espécie quı́mica em particular,
as citadas posições ainda dependem da temperatura do SF. Portanto, mesmo tendo-se o gráfico
em unidades SI especı́fico para a única espécie quı́mica considerada, a marcação ainda depende
desta adicional informação. Seja, então, água a 373,15 K.
35
Em sistema de partı́culas, a temperatura está relacionada não apenas à translação das partı́culas, mas
também à rotovibração das mesmas. Ao interferir na rotovibração, a temperatura interfere na energia potencial
de interação entre as partı́culas. Entretanto, a principal influência da temperatura sobre a pressão, mantido
constante o volume molar, é devida à variação na velocidade média de translação das partı́culas. Por isso, na
presente discussão, a qual é puramente qualitativa, despreza-se a influência da temperatura sobre os fatores de
escala.
36
De fato, conforme colocado no item 3, a forma da curva, nas unidades consideradas no gráfico, é dada pela
equação y = 4(x−12 −x−6 ). Logo, a distância finita entre partı́culas correspondente à força nula (item 8) é obtida
dy d2 y
fazendo dx = 0, enquanto aquela referente à inflexão (item 9), impondo dx 2 = 0. Entretanto, a localização dos
pontos LME, GME, LE e GE não depende, apenas, da equação que define a curva, para as unidades consideradas
no gráfico apresentado.
236 Adalberto B. M. S. Bassi
Note que, para água pura, 373,15 K é uma temperatura subcrı́tica.37 Então, desde o ramo
correspondente à força repulsiva até a curva tender para algum ponto posterior à sua inflexão,
no ramo para força atrativa, o estado de agregação é lı́quido. Esse ponto será denominado
LME, porque próximo dele e à sua esquerda na curva, o lı́quido é metaestável (superaquecido;
veja a subseção 10.2.2). Desde LME inclusive, ao se diminuir a densidade de massa do gás
(aumentar a distância entre suas partı́culas), o aumento de pressão causado pela diminuição
na força atrativa não é menor do que a queda de pressão devida à diminuição da densidade de
momento linear translacional das partı́culas.
Portanto, desde LME inclusive, inicia-se um segmento de curva termodinamicamente proi-
∂P
bido, porque corresponde a ∂V (T,N ) ≥ 0 (ver a eq. 9.91 , equivalente à eq. 9.71 ). Mas, desde
i
o ponto GME exclusive, o qual é um ponto na curva à direita de LME, inicia-se o estado de
agregação gasoso metaestável (gás super-resfriado), porque o aumento de pressão causado pela
diminuição na força atrativa passa a ser menor do que a queda de pressão devida à diminuição
da densidade de momento linear translacional das partı́culas. Logo, o estado de agregação ga-
soso existe para toda densidade de massa inferior à de GME, ou seja, para toda distância entre
partı́culas superior à do ponto GME.
Para água lı́quida e gasosa estáveis a 373,15 K, tem-se, respectivamente, P ≥ 0, 101325
MPa e 0 < P ≤ 0, 101325 MPa. Logo, nessa temperatura, a tendência expansiva máxima
do gás estável corresponde a 0,101325 MPa, mas diminuindo a densidade de massa do gás é
possı́vel abaixar progressivamente tal tendência, causada pela translação de suas partı́culas, até
pressões próximas de zero. Analogamente, na sua densidade de massa mı́nima a 373,15 K, a
tendência expansiva do lı́quido estável corresponde a 0,101325 MPa, mas pode ser progressiva-
mente aumentada mediante incremento na densidade de massa.
Dada a temperatura 373,15 K, o valor 0,101325 MPa corresponde à única pressão em que,
para a água pura, gás e lı́quido são ambos estáveis, porque essa é a pressão na qual o aumento
de pressão causado pela translação das partı́culas em meio muito mais denso, em relação ao gás,
é compensado, precisamente, pela diminuição de pressão devida ao aumento da força atrativa,
novamente em relação ao gás. Se o lı́quido for estável até o ponto LE inclusive, enquanto o gás
a partir do ponto GE inclusive, LE encontra-se à esquerda de LME, GE à direita de GME e
tanto em LE como em GE a pressão é 0,101325 MPa.
Não existem estados de agregação estáveis nos quais, a 373,15 K e 0,101325 MPa, as
partı́culas de água apresentem distâncias intermediárias entre as exibidas por gás (distância
correspondente ao ponto GE) e lı́quido (distância correspondente ao ponto LE), nessa tempe-
ratura e nessa pressão. À medida que a temperatura cresce, aumenta a pressão em que ambos
os estados de agregação são estáveis e diminui a diferença entre as distâncias intermoleculares
no gás e no lı́quido, para a mútua estabilidade. No caso da água, assim como para qualquer
outra única espécie quı́mica, essa diferença tende a desaparecer em determinada temperatura e
pressão caracterı́sticas da espécie quı́mica considerada, para as quais a densidade de massa (e
o volume molar) do lı́quido e do gás, ambos estáveis, tende a ser igual.
Tais valores de temperatura, pressão e densidade de massa caracterı́sticos da única espécie
quı́mica considerada são inatingı́veis e denominados crı́ticos (item Ponto crı́tico da subseção
8.2.2 e subseção 10.2.2). Na temperatura crı́tica, o segmento de curva entre LME e GME se
reduz a um ponto e, para este ponto termodinamicamente proibido em que coincidem LME e
GME, tendem LE e GE. Já em temperaturas supercrı́ticas ocorre estabilidade ao longo de toda
a curva que representa o comportamento da água em unidades SI; logo, para tais temperaturas
37
A temperatura crı́tica da água é Tc = 647 K.
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 237
a curva não contém esses quatro pontos. Um destaque fundamental desta seção é que,
J P 2 Por simplicidade
é a fração em mol de Wk no gás, sendo k = 1, . . . , J e k=1 Yk = 1.
de notação, define-se o subconjunto de variáveis intensivas Ωg = (T, P, Y1 , . . . , YJ−1 ); logo,
(T, P, Y1 , . . . , YJ−1 , N ) = (Ωg , N ). O valor de toda propriedade intensiva da solução, no ins-
tante t, é função dos valores assumidos pelas propriedades incluı́das no conjunto Ωg , no mesmo
momento, não sendo função de N (t).
Seja térmica e, especificamente para a espécie quı́mica j, também de potencial quı́mico ho-
mogêneo o conjunto dos dois sistemas e, além disso, seja homogêneo cada um dos dois sistemas,
quando considerado separadamente. Então, usando a eq. 10.29 na eq. 10.351 e introduzindo
o superı́ndice ueq para indicar que o sistema referente à propriedade considerada contém uma
única espécie quı́mica, tem-se
Pj
µj g (Ωg ) = µueq
j g (Pj , T ) = µj g (T ) + RT ln + RT ln fj0 (T, Pj ), j = 1, . . . , J, (11.1)
P
onde Pj é a pressão no sistema contendo a única espécie quı́mica Wj . Por definição, a pressão
Pj é denominada pressão parcial da espécie quı́mica j na solução gasosa. Como Wj pode ser
1
Usou-se, para numerar as espécies quı́micas, o ı́ndice k, em vez do costumeiro j, porque j será utilizado logo
em seguida.
2
Neste capı́tulo, frações em mol de sistemas homogêneos serão representadas por Y no caso de o estado de
agregação ser gasoso e por X no caso de ele ser lı́quido.
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 239
qualquer uma das J espécies quı́micas presentes na solução, a eq. 11.1 é válida para j = 1, . . . , J.
É importante sublinhar que
A concentração de Wj no sistema contendo uma única espécie quı́mica é dada por cueq
j =
Njueq N
, enquanto na solução gasosa ela é cj = Vj . Apenas para gás perfeito tem-se, também,
V ueq
a exigência de que a concentração de Wj seja a mesma, tanto na única espécie quı́mica como
N ueq Nj gp
na solução;3 logo, cueq ueq j gp
j gp = cj gp onde, de acordo com a eq. 10.222 , cj gp = V ueq e cj gp = V .
Então, de acordo com as eqs. 10.21 e 10.221 , exclusivamente para gás perfeito tem-se
RT RT Ngp
Pj = RT cueq
j gp = RT cj gp = Nj gp = Yj = P Yj , j = 1, . . . , J, (11.2)
V V
N
onde a quarta igualdade provém da consideração de que Yj = Njgpgp , a segunda não seria válida
para gás real e P, Yj ∈ Ωg . Evidentemente, Pj = P Yj implica que, exclusivamente para gás
perfeito, Jj=1 Pj = P . Portanto, quando os gases tenderem ao comportamento perfeito, Pj
P
Pj
µj gp (T, P, Yj ) = µueq
j gp (Pj , T ) = µj g (T ) + RT ln , j = 1, . . . , J. (11.3)
P
Considere que a quantidade de matéria, para cada espécie quı́mica presente no solvente,
seja Nk J , onde k = 1, . . . , K, sendo K o número total de espécies quı́micas distintas que,
conjuntamente, formam o solvente. Então, NJ = K
P
k=1 Nk J é a quantidade total de matéria
presente no solvente e define-se a fração em mol da espécie quı́mica Wk J no solvente, NNkJJ . Note
Nk J Nk J NJ
que, sendo N a quantidade total de matéria presente no SF, tem-se Xk J = N = NJ N =
Nk J
NJ XJ , onde k = 1, . . . , K, o sı́mbolo Xk J representa a fração em mol de Wk J (na solução,
Nk J
conforme subentendido para os sı́mbolos X e Y) e XJ = NNJ = K
P PK
k=1 N = k=1 Xk J é
denominada fração em mol de solvente (evidentemente, também na solução).
Complementarmente, a definição de solvente exige que
o valor de cada fração NNkJJ , para k = 1, . . . , K, seja uma constante cujo valor,
conhecido, dependa de k.
Neste caso, de acordo com a igualdade Xk J = NNkJJ XJ , tem-se Xk J proporcional a XJ , e, dado
o valor da variável XJ , são conhecidos os valores de todas as variáveis Xk J , para k = 1, . . . , K.
Logo, a imposição de que NNkJJ seja uma constante cujo valor, conhecido, dependa de k implica
que a composição do solvente seja fixa e, na representação do estado da solução,
todas as espécies quı́micas presentes no solvente sejam tratadas como se fossem uma
só, WJ , cuja fração em mol é XJ .
Por exemplo, sendo Mk J , onde k = 1, . . . , K, a massa de cada espécie quı́mica presente no
solvente, a massa do solvente é MJ = K
P
k=1 Mk J e a sua massa molar é
K P PK
MJ Mk J k=1 Nk J Mmk J
MmJ = = Pk=1
K
= PK . (11.4)
NJ k=1 Nk J k=1 Nk J
Logo, a massa molar do solvente é uma média ponderada das massas molares (subseção 10.1.4),
grafadas Mmk J , sendo k = 1, . . . , K, das espécies quı́micas que formam o conjunto denominado
solvente.
Como outro exemplo, pode-se lembrar que, dada uma temperatura fixa, cada única espécie
quı́mica apresenta uma só pressão de vapor, mas soluções lı́quidas binárias não azeotrópicas
mostram faixas de valores para pressão, ao longo das quais elas gradualmente se transformam
em soluções gasosas (seções 8.3 e 8.4). Porém, o fato de o solvente não precisar ser uma única
espécie quı́mica, ou seja, poder ser uma solução, não implica que ele possa apresentar uma faixa
de pressões de vapor, porque a composição de tal solução é, por definição, fixa. Então, se o
solvente fosse uma solução lı́quida ideal representada, na fig. 8.4, pelo ponto 1, sua pressão de
vapor seria a ordenada da linha pontilhada 2-3.
Como último exemplo, considere que as três eqs. 8.7 foram deduzidas para SF contendo uma
única espécie quı́mica inerte. Porém, todas as três serão consideradas válidas para o solvente,
desde que sejam reescritas sob a forma
∂µJ ∂µJ
dµJ = −SmJ dT + VmJ dP, logo = −SmJ e = VmJ , (11.5)
∂T P ∂P T
Nas eqs. 11.6, Sk J e Vk J são, respectivamente, a entropia parcial molar e o volume parcial
molar (seção 5.2) da espécie quı́mica k no solvente J, e foi utilizada a lei de aditividade das
propriedades parciais molares (eq. 5.13).
Note que a quantidade de matéria da única espécie quı́mica dissolvida é exclusivamente aquela
que, de fato, ficou em solução, formando um só estado de agregação com o solvente (subseção
11.2.1). Analogamente, o volume da solução não inclui aquele ocupado por parte da única
espécie quı́mica que porventura não tenha se dissolvido. Por isso,
µj l (Ωl ) − µj l (T )
µj l (Ωl ) = µj l (T ) + RT ln aj (Ωl ) e aj (Ωl ) = exp , (11.8)
RT
onde as eqs. 11.81 e 11.82 são, respectivamente, as definições neste texto adotadas para po-
tencial quı́mico de soluto em solução lı́quida diluı́da e atividade de soluto na mesma solução.
m
Considerando a eq. 7.32, a saber, aj (Ωl ) = a0j (Ωl ) m j , onde a0j (Ωl ) é o adimensional coeficiente
de atividade do soluto Wj e m = 1 mol kg −1 é a molalidade padrão, usada para tornar
adimensional a molalidade mj (subseção 7.5.3) do soluto j, a eq. 11.81 pode ser reescrita
mj
µj l (Ωl ) = µj l (T ) + RT ln + RT ln a0j (Ωl ), para j = 1, . . . , J − 1. (11.9)
m
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 243
Novamente para o caso especı́fico de solução lı́quida diluı́da, mas agora para seu solvente J,
na eq. 10.26 o diferencial do logaritmo de sua adimensional atividade absoluta é o diferencial
do logaritmo da também adimensional atividade aJ (Ωl ), definida a seguir pela eq. 11.112 , ou
seja,
dµJ l = RT d(ln aJ ). (11.10)
De novo semelhantemente ao efetuado no item Definições da subseção 10.4.2, obtém-se a integral
indefinida da eq. 11.10,
µJ l (Ωl ) = RT ln aJ (Ωl ) + C
e, arbitrariamente, impõe-se C = µJ l (T ), onde µJ l (T ) é o potencial quı́mico padrão do solvente
J, o qual será definido no item Potenciais padrão da subseção 11.3.2.
Portanto,
µJ l (Ωl ) − µJ l (T )
µJ l (Ωl ) = µJ l (T ) + RT ln aJ (Ωl ) e aJ (Ωl ) = exp , (11.11)
RT
onde as eqs. 11.111 e 11.112 são, respectivamente, as definições neste texto adotadas para poten-
cial quı́mico de solvente em solução lı́quida diluı́da e atividade de solvente na mesma solução.
Em analogia à eq. 7.32, copiada no penúltimo parágrafo anterior, define-se o adimensional
coeficiente de atividade do solvente a0J (Ωl ) tal que
onde XJ é a fração em mol do solvente na solução lı́quida diluı́da, conforme colocado no primeiro
parágrafo desta subseção 11.2.3. Analogamente à eq. 7.33, a saber, limmj →0 a0j = 1, em qualquer
temperatura, tem-se
lim a0J = 1, em qualquer temperatura. (11.13)
XJ →1
Ao passo que aumentar a concentração de solvente na solução, tanto a0j (Ωl ), para j =
1, . . . , J − 1, quanto a0J (Ωl ) tenderão à unidade (o exato valor 1 corresponde ao solvente puro,
para o qual XJ = 1 e mj = 0, sendo j = 1, . . . , J − 1). Porém, os coeficientes de atividade
tenderão à unidade muito mais rapidamente do que os valores numéricos das molalidades dos so-
lutos e a fração em mol de solvente, que tenderão, respectivamente, a zero e um (subseção 7.5.3).
Logo, para uma solução lı́quida diluı́da cuja concentração de solvente seja suficientemente alta
em relação às concentrações de todos os solutos, dentro do limite de precisão instrumental, são
obedecidas as equações
mj
µj l (T, Xj ) = µj l (T ) + RT ln , para j = 1, . . . , J − 1 e (11.15)
m
µJ l (T, XJ ) = µJ l (T ) + RT ln XJ , (11.16)
em vez das eqs. 11.9 e 11.14, respectivamente (tem-se µj l (T, Xj ) porque, de acordo com a eq.
X
11.212 , mj = Mmj ). Note que, dentro do limite de precisão que permite o uso das eqs. 11.15 e
J
11.16,
a solução gasosa que, junto com essa especı́fica solução lı́quida, forma o SF TµP-h,
sempre pode ser suposta um gás perfeito.
244 Adalberto B. M. S. Bassi
2. colocando cada potencial quı́mico padrão relativo à solução lı́quida em termos do corres-
pondente potencial quı́mico padrão para a solução gasosa,
obtém-se para os solutos a lei de Henry em termos de molalidades7 e para o solvente a lei de
Raoult,8 que serão a seguir apresentadas.
Note que os potenciais quı́micos padrão para a solução gasosa aparecem na seção 11.1,
tendo sido definidos no item Potencial quı́mico de única espécie quı́mica gasosa em relação
ao seu valor para gás perfeito da subseção 10.4.2. Essa definição foi efetuada em termos da
energia de Gibbs padrão apresentada no item Definições da subseção 7.4.1. Já os potenciais
quı́micos padrão para a solução lı́quida serão definidos no item Potenciais padrão da subseção
11.3.2. Estas últimas definições ocorrerão, precisamente, em termos das leis de Henry e Raoult.
Portanto, o que foi afirmado no parágrafo anterior é consequência das definições adotadas e
vice-versa.
A lei de Henry em termos de fração em mol pode ser escrita
Xj = XJ MmJ mj (11.18)
(as molalidades mj já foram definidas na subseção 7.5.3). Considerando que a eq. 11.18 indica
que mj (Xj , XJ ), escreve-se, então, a lei de Henry em termos de molalidade
mj
Pj (T, Xj , XJ ) = κj (T, XJ ) , para j = 1, . . . , J − 1, (11.19)
m
sendo κj (T, XJ ) = κj x (T ) XJ MmJ m , onde κj (T, XJ ) é a constante de Henry para molalidade.
Note que a molalidade padrão, m = 1 mol kg −1 , foi introduzida para que κj (T, Ωl ) seja
m
expressa na mesma unidade de κj x (T ) (unidade de pressão) e m j seja adimensional, como Xj .
Note também que, a rigor, XJ varia quando mj varia, ou seja, se κj x (T ) for constante na eq.
6
Ver o significado da expressão em contato entre si no item 2 da subseção 4.2.2.
7
Henry, William, Experiments on the quantity of gases absorbed by water, at different temperatures, and under
different pressures, Phil. Trans. R. Soc. Lond. 93 (1803), 29-274.
8
Raoult, François-Marie, Loi générale des tensions de vapeur des dissolvants, Comptes rendus, 104 (1886),
1430-1433.
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 245
11.17, então κj (T, XJ ) não será constante na eq. 11.19 e vice-versa. Porém, nas diluições para
as quais a lei de Henry pode ser considerada válida, alterações proporcionalmente significativas
em mj (por exemplo, dobrar mj ) quase não modificam, proporcionalmente, XJ . Logo,
Considere, além disso, que os valores dessas constantes são obtidos experimentalmente, para
concentrações do soluto Wj tão baixas que se possa considerar κj (T, XJ ) ≈ κj (T ) e
κj (T ) = κj x (T ) MmJ m ; (11.20)
logo,
mj Xj
Pj (T, Xj ) = κj (T ) , onde mj = , para j = 1, . . . , J − 1. (11.21)
m Mm J
Os valores de κj (T ) e κj x (T ) dependem de T , de qual é a espécie quı́mica Wj e de qual é o
solvente do soluto Wj (subseção 11.2.2). Note que, como a unidade de mj é mol kg −1 e a de
MmJ é kg mol −1 , o valor numérico de mj é dezenas de vezes maior do que o de Xj , o que torna
a eq. 11.211 de uso mais prático do que a 11.17, devido às altas diluições. Além disso,
a eq. 11.211 é a forma da lei de Henry obtida por meio da igualdade de potenciais
quı́micos mencionada no primeiro parágrafo desta subseção 11.3.1.
Entretanto, as validades das eqs. 11.212 e 11.20, também existentes dentro do limite de precisão
admitido, garantem que a eq. 11.211 implica a eq. 11.17 e vice-versa.
Deve-se ainda comentar que, dentro do limite de precisão admitido, é possı́vel que a lei
de Henry (eqs. 11.21, 11.20 e 11.17) seja obedecida apenas por um ou mais solutos, sem ser
obedecida por todos. Isso é obtido não por meio do aumento da concentração de solvente, mas
sim diminuindo as concentrações dos especı́ficos solutos considerados. Então, utilizando um
sistema de partı́culas (subseção 1.1.2) para interpretar a lei de Henry, tem-se que
Conforme o primeiro parágrafo desta subseção 11.3.1, a lei de Raoult é conseguida, para o
solvente, por meio da igualdade de potenciais quı́micos lá mencionada. Entretanto, em soluções
lı́quidas ideais (primeiro parágrafo da subseção 8.3.3 e item Ideal da subseção 11.3.3) ela é
válida para todas as espécies quı́micas presentes na solução. A lei de Raoult pode ser escrita
PA 6
κA x
Pv A
0 XA 1
Figura 11.1: Solução diluı́da ideal e real. A linha pontilhada superior indica o comportamento
da espécie quı́mica WA , quando for arbitrariamente denominada soluto. A linha pontilhada
inferior mostra o comportamento da solução de composição fixa chamada solvente quando,
também arbitrariamente, este contiver exclusivamente WA . A curva cheia representa o com-
portamento experimental da espécie quı́mica WA , à medida que aumentar sua fração em mol
na solução.
11.23 mostra que, para mj = m , tem-se µdi j l (T, Xj ) = µj l (T ). Portanto, para se obter o valor
de µj l (T ) deve-se extrapolar o comportamento experimental da solução, em diluição suficiente
para obter com precisão o valor de κj x , para Xj = MmJ (eq. 11.212 ), onde MmJ é uma média
ponderada de massas molares das espécies quı́micas que constituem o solvente, conforme defi-
nido na subseção 11.3.1. Tal extrapolação corresponde a um ponto na reta pontilhada superior
da fig. 11.1.
Já a eq. 11.24 indica que µdi
J l (T, XJ ) = µJ l (T ) quando XJ = 1. De acordo com a mesma
fig. 11.1, neste caso o comportamento de µdi J l (T, XJ ) é, precisamente, aquele experimentalmente
percebido nessas condições. Em outras palavras, µJ l (T ) é o comportamento do solvente puro,
na mesma temperatura da solução (e, também, na mesma pressão, embora a influência desta
última esteja sendo desprezada). No item Solução ideal da subseção 11.3.3 será apresentado o
potencial quı́mico padrão µIj l (T ), cujo conceito é análogo ao agora mostrado para µJ l (T ).
Alterações coligativas
A fig. 11.2 é uma cópia da 8.1, porém retirando as pequenas setas verticais que indicam es-
tados estáveis e acrescentando uma segunda linha em pontilhado contı́guo, para representar
o solvente em solução lı́quida diluı́da. Ela claramente mostra a diminuição na temperatura
de fusão ∆Tfus (P ) = Tfus sp (P ) − Tfus ss (P ) > 0 e o aumento na temperatura de vaporização
∆Tvap (P ) = Tvap ss (P ) − Tvap sp (P ) > 0 que acontece quando o solvente, volátil em relação aos
solutos, considerados não voláteis, passa de puro (sp) para pertencente à solução (ss). Por isso,
essas alterações são adjetivadas coligativas.9 Em solução lı́quida diluı́da, elas são claramente
9
O adjetivo coligativo provém do verbo coligar, que significa associar. Trata-se, portanto, de mudanças
causadas pela associação do solvente aos solutos.
248 Adalberto B. M. S. Bassi
µ
6 Sólido
Lı́quidos
Gás
sp
∆ ∆ ss
-
s s sp sp ss T
Tfus (P ) Tvap (P )
Figura 11.2: ∆Tfus (P ) e Tvap (P ) na pressão fixa P , solvente volátil em relação aos solutos não
voláteis. As duas linhas em pontilhado contı́guo representam o estado de agregação lı́quido,
uma para o solvente puro (sp) e outra para o solvente em solução (ss). A linha em pontilhado
espaçado, bem como a linha cheia representam, respectivamente, o solvente puro gasoso e
sólido. A faixa de temperaturas na qual o solvente lı́quido é estável apresenta maior amplitude
em solução.
estável na temperatura Tss . Entretanto, como a pressão é fixa, usando a eq. 11.52 , a saber,
∂µJ
∂T P = −SmJ , para processo isobárico tem-se
Tss
µJ α (Tss ) − µJ l (Tss ) = −∆l→α HmJ ln ,
Tsp
porque |Tss − Tsp | Tsp . Por essa mesma razão, novamente lembrando o colocado no item
Tss −Tsp
Variação de ∆r G com T , da subseção 7.4.1, tem-se ln TTsp
ss
≈ Tsp , portanto
Tss − Tsp
µJ α (Tss ) − µJ l (Tss ) = −∆l→α HmJ . (11.26)
Tsp
J−1
X Tss − Tsp
RTsp MmJ mj = ∆l→α HmJ , ou
j=1
Tsp
2 M J−1
RTsp mJ X
Tss − Tsp = mj . (11.27)
∆l→α HmJ j=1
porque, como VmJ se refere a estado de agregação lı́quido, ele é aproximadamente independente
de P . Mas
convém lembrar que as três eqs. 11.5 consideram o solvente puro, enquanto as duas
eqs. 11.28 aplicam-se ao solvente em solução.
Logo, para a validade das eqs. 11.28 exige-se que o solvente, na solução, reaja à alteração de
pressão da mesma forma que se estivesse puro. Tal validade, portanto,
250 Adalberto B. M. S. Bassi
porque, neste caso, em qualquer concentração as partı́culas de solvente apenas interagem entre
si. Logo, a validade das eqs. 11.28 exige a extrapolação da solução real para diluı́da ideal, razão
do superı́ndice di no potencial quı́mico presente nessas equações.
Entretanto, de acordo com a eq. 11.24, µJ l (T ) − µdi
J l (T, XJ ) = −RT ln XJ e, conforme mos-
trado no segundo parágrafo deste item Alterações coligativas, ln XJ ≈ −(1 − XJ ) = − J−1
P
j=1 Xj
se XJ ≈ 1; logo,
J−1
X
µJ l (T ) − µdi
J l (T, XJ ) = RT Xj . (11.29)
j=1
Quando o lado esquerdo da eq. 11.282 for igualado ao mesmo lado da eq. 11.29, ter-se-á a
resposta à primeira sentença do parágrafo anterior, ou seja, ter-se-á a pressão osmótica, Π,
dada por
J−1
X J−1
X J−1
X
Π VmJ = RT Xj ou Π = RT ρJ mj ≈ RT cj , (11.30)
j=1 j=1 j=1
Xj
onde se usou a eq. 11.212 , a saber, mj = MmJ , e considerou-se a mesma densidade para o
solvente e a solução, devido à alta diluição necessária para que a eq. 11.24 seja experimental-
mente comprovada. De acordo com o final da subseção 7.5.3, em solução aquosa na tempera-
tura ambiente (suposta 298 K), para solutos sólidos não iônicos, tal diluição é da ordem de
PJ−1 −3 PJ−1 −3 no caso de solutos sólidos
j=1 cj ≤ 1 mol m , mas da ordem de j=1 cj ≤ 0, 01 mol m
iônicos. Esses limites correspondem, então, respectivamente a Π ≤ 2, 48×103 P a e Π ≤ 24, 8 P a.
Por exemplo, seja uma solução aquosa de solutos sólidos não iônicos colocada em contato,
por meio de uma membrana considerada permeável somente ao solvente, com seu solvente puro
na mesma temperatura. Se a concentração de solutos for 1 mol m−3 , a pressão da solução deverá
ser aumentada em 2, 48 × 103 P a, em relação à do solvente puro, para que este não flua através
da membrana, em direção à solução. Esse valor é baixo quando comparado com a pressão
atmosférica, em torno de 40 vezes maior. Mas, quando se comparam unidades do SI entre si,
uma unidade de concentração é compensada por 2, 48 × 103 unidades de pressão. Confirma-se,
portanto, o já colocado nas subseções 7.5.3 e 11.2.3, referente à pouca influência da pressão em
atividades e potenciais quı́micos no estado de agregação lı́quido.
onde ∆Imis G é a energia de Gibbs de mistura ideal, ou seja, é a diferença entre a energia de
Gibbs da solução ideal e aquela da soma dos seus constituintes, quando ainda únicas espécies
quı́micas, portanto antes de ser efetuado o ato de mistura. Evidentemente, para o diminuendo
PJ I
j=1 Nj µj l (T, Xj ) esta interpretação provém do uso da lei de aditividade das propriedades
parciais molares (eq. 5.13), uma vez que µj = Gj (seção 5.2), bem como, para o subtraendo
PJ I I
j=1 Nj µj l (T ), ela provém do conceito atribuı́do aos potenciais µj l (T ) (item Solução ideal
252 Adalberto B. M. S. Bassi
desta subseção).
A partir das eqs. 8.72 , 8.73 e da primeira igualdade na eq. 4.5, a saber, respectivamente,
∂µ ∂µ
∂T P = −Sm , ∂P T = Vm e G(t) = H(t)−T S(t), bem como da eq. 11.33, obtêm-se a entropia,
o volume e a entalpia de mistura ideal, a saber,
J
X
∆Imis S = −R Nj ln Xj , ∆Imis V = 0 e ∆Imis H = 0.
j=1
Como Jj=1 Nj ln Xj < 0, tem-se ∆Imis G < 0 e ∆Imis S > 0. Considerando que ∆Imis H = 0,
P
estes dois resultados são devidos à segunda lei da termodinâmica, porque o processo de mistura
é TBS não TµP-h em SF, sem troca de trabalho não volumétrico entre o SF e seu exterior
(expressão 5.27). A diferença entre a energia de Gibbs de mistura (real), ∆mis G, e a energia
de Gibbs de mistura ideal, ∆Imis G, é chamada energia de Gibbs de excesso,
J
X
∆ex I
mis G = ∆mis G − ∆mis G = ∆mis G − RT Nj ln Xj
j=1
PJ 0
e, se ∆mis G − ∆Imis G ∆Imis G, a eq. 11.32 indica ∆ex ≈I
mis G = RT j=1 Nj ln aj (Ωl ). Ana-
logamente, definem-se entropia, volume e entalpia de excesso, respectivamente
J
X
∆ex I
mis S = ∆mis S − ∆mis S = ∆mis S + R Nj ln Xj ,
j=1
∆ex
mis V = ∆mis V e ∆ex
mis H = ∆mis H.
Z Z
Wδ++ Wδ−− (aq) −→ δ+ W Z+ (aq) + δ− W Z− (aq), (11.34)
cuja extensão relativa (subseção 6.1.5), no instante t, é α(t). Lembre que, por definição, α(t# ) =
Z Z
0 e α(t# ) = 1. Imponha que α(t# ) = 0 corresponda a Wδ++ Wδ−− (aq) puro (soluto formado
apenas pelas moléculas reagentes) e α(t# ) = 1 indique [δ+ W Z+ (aq) + δ− W Z− (aq)] puro (soluto
constituı́do somente pelos ı́ons produtos). Tal imposição implica que o intervalo de tempo
t# ≤ t ≤ t# tenda a considerar o inteiro comprimento da curva mencionada na subseção 6.2.2,
porque apenas em α∗∗ e α∗∗ tem-se, respectivamente, reagente puro e produto puro (inatingı́veis
para o intervalo temporal t# ≤ t ≤ t# , o qual apenas pode tender a tais extremos).
Seja c◦ a concentração analı́tica comum ao reagente e aos dois produtos da URQ/AI de
ionização em SF numerada 11.34. Lembre que c◦ se refere ao equilı́brio quı́mico da dissociação
(subseção 11.2.2). Este ocorre no instante teqq , onde t# ≤ teqq ≤ t# , para o qual se define αeqq =
α(teqq ). Será considerado que a concentração inicial do reagente da URQ/AI de ionização em
SF, numerada 11.34, é c◦ . Isso corresponde a imaginar que a dissolução da única espécie quı́mica
produz o reagente (sem a presença, no SF, de partes não dissolvidas) e, numa etapa posterior,
este sofre dissociação. Na verdade, os dois processos são concomitantes, mas a imposição dessa
sequência temporal não introduz erro na formulação matemática.
Então, de acordo com a eq. 6.10, a saber, Nj (t) = Nj# + (Nj# − Nj# ) α(t), supondo
diluição suficientemente elevada para que, dentro da precisão instrumental, o volume do SF
durante a dissociação possa ser considerado fixo, em termos de concentrações (item Densidades
da subseção 1.2.3), obtém-se
ceqq eqq ◦
moléculas = [1 − α ] c ,
ceqq eqq ◦
cátions = δ+ α c ,
ceqq eqq ◦
ânions = δ− α c e
eqq eqq ◦
cı́ons = (δ+ + δ− ) α c , (11.35)
Z Z
Wδ++ Wδ−− (aq) (neste caso especı́fico, trata-se de um grau de ionização). Na subseção 12.1.4
será mostrado que, em eletrólito fraco (ver este conceito na subseção 12.1.3), medidas de con-
dutividade permitem saber como αeqq varia com c◦ .
Supondo que a concentração analı́tica apresente um valor máximo, ou seja, que a espécie
quı́mica a ser dissolvida apresente uma solubilidade (subseção 11.2.2), as eqs. 11.35 serão válidas
para 0 ≤ c◦ ≤ c◦max (T ), existindo um valor αeqq para cada valor c◦ . Além disso, para tempe-
ratura fixa
logo, na solução saturada αeqq encontra-se no seu valor menor, ou no seu valor fixo. Tem-se
ainda que, em qualquer temperatura da solução lı́quida,
α(t) = 1 para t# ≤ t ≤ t# ,
1. o conceito de equilı́brio quı́mico torna-se sem sentido, portanto o superı́ndice eqq deve ser
omitido;
2. αeqq = α(t) = 1;
3. assim como na URQ/AI numerada 11.34 e nas eqs. 11.35, a concentração analı́tica c◦
continua referindo-se ao fim do processo de dissolução, ou seja, ao instante t# deste
processo.
Obtém-se, então,
cmoléculas = 0,
ccátions = δ+ c◦ ,
cânions = δ− c◦ e
cı́ons = (δ+ + δ− ) c◦ . (11.38)
3. o valor c◦max (T ) suficientemente baixo para que o conceito de atividade do soluto seja
válido, ou seja, para que a eq. 11.9 seja correta, dentro do limite de precisão instrumental.
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 255
Para que alguma propriedade do soluto catiônico W Z+ (aq) seja transferı́vel (possa ter o seu
valor transferido) entre soluções que tenham este cátion em comum é necessário que sejam
iguais:
2. o solvente de W Z+ (aq) (veja o conceito para solvente de soluto na subseção 11.2.2, con-
siderando Wj = W Z+ (aq)) nas soluções;
embora isso não seja suficiente. Utilizando o conceito de sistema de partı́culas (subseção 1.1.2),
a condição necessária e suficiente exige, adicionalmente, que
as partı́culas de W Z+ (aq) não interajam entre si, nem com as partı́culas do soluto
aniônico W Z− (aq)
Z Z
(ambas provenientes da mesma espécie quı́mica Wδ++ Wδ−− (aq), por meio da URQ/AI de io-
Z Z
nização em SF numerada 11.34, a saber, Wδ++ Wδ−− (aq) −→ δ+ W Z+ (aq) + δ− W Z− (aq)). Ana-
logamente para que seja transferı́vel alguma propriedade do soluto aniônico W Z− (aq).
Interação eletrostática
A interação eletrostática entre ı́ons produz desvios muito superiores àqueles causados pela
mesma concentração de partı́culas neutras. De fato, numa solução aquosa de solutos exclusi-
vamente iônicos cuja molalidade total seja da ordem de 1 mmol kg −1 = 10−3 mol kg −1 , o que
corresponde a 1,77 × 10−5 de fração em mol, logo, a XJ = 0.99998 ≈ 1 (eq. 11.18), jamais
poderia ser desconsiderado o desvio em relação ao comportamento de solutos em solução diluı́da
ideal (eq. 11.23). Porém, solutos cujas partı́culas fossem eletricamente neutras, na mesma mola-
lidade total, corresponderiam a desvios, em relação ao comportamento deles em solução diluı́da
ideal, que raramente deixariam de ser desprezados. Pode-se portanto afirmar que uma solução
aquosa de solutos exclusivamente iônicos cuja molalidade total seja da ordem de 1 mmol kg −1 ,
256 Adalberto B. M. S. Bassi
para a qual é absolutamente correto supor que XJ = 1, ainda exige que se considere
m
a0j 6= limmj →0 a0j = 1 (eq. 7.33); logo, aj 6= limmj →0 aj = m j (eq. 7.32). Porém,
para tal solução tem-se Xj = MmJ mj (eq. 11.212 ), αjeqq = 1 (eq. 11.36) e κj (T ) =
κj x (T ) MmJ m (eq. 11.20), embora as eqs. 11.17 e 11.211 não sejam obedecidas,
m
portanto, respectivamente, Pj (T, Xj ) 6= κj x (T ) Xj e Pj (T, Xj ) 6= κj (T ) m j , para
j = 1, . . . , J − 1.
0
µj l (Ωl ) = µdi
j l (T, Xj ) + RT ln aj (Ωl ) para j = 1, . . . , J − 1. (11.40)
Por analogia à eq. 11.40, se Wj for o soluto W Z+ (aq), ou W Z− (aq), da URQ/AI de ionização
Z Z
em SF numerada 11.34, a saber, Wδ++ Wδ−− (aq) −→ δ+ W Z+ (aq) + δ− W Z− (aq), tem-se, então,
respectivamente,
0 0
µ+ (Ωl ) = µdi
+ (T, X+ ) + RT ln a+ (Ωl ) ou µ− (Ωl ) = µdi
− (T, X− ) + RT ln a− (Ωl ), (11.41)
0
aı́ons (Ωl ) = [a0+ (Ωl )]δ+ [a0− (Ωl )]δ− . (11.43)
Substituindo as eqs. 11.411 e 11.412 na eq. 11.42 e utilizando a eq. 11.43 tem-se, então,
0
µı́ons (Ωl ) = δ+ µdi di
+ (T, X+ ) + δ− µ− (T, X− ) + RT ln aı́ons (Ωl ). (11.44)
m+ m−
µdi
+ (T, X+ ) = µ+ (T ) + RT ln e µdi
− (T, X− ) = µ− (T ) + RT ln , (11.45)
m m
onde também são transferı́veis os valores µ+ (T ) e µ− (T ). Esses valores são tabelados, relati-
vamente a algum referencial.
Entretanto, as propriedades iônicas a 0+ (Ωl ) e a 0− (Ωl ) são intransferı́veis, o que torna im-
possı́vel conseguir valores experimentais para elas. Tal intransferibilidade provém do fato de
que a 0+ (Ωl ) e a 0− (Ωl ) se referem a uma solução onde os ı́ons W Z+ (aq) e W Z− (aq) interagem
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 257
consigo próprios e entre si, ao contrário do que ocorre em solução diluı́da ideal onde, por de-
finição, a lei de Henry é obedecida pelo soluto Wj . A intransferibilidade de a 0+ (Ωl ) e a 0− (Ωl )
produz a intransferibilidade de µ+ (Ωl ) e µ− (Ωl ), de acordo com as eqs. 11.411 e 11.412 .
Por causa disso, define-se a média geométrica entre a 0+ (Ωl ) e a 0− (Ωl ),
n o(δ+ + δ− )−1
a0± (Ωl ) = [a0+ (Ωl )]δ+ [a0− (Ωl )]δ− , (11.46)
Z Z
denominada coeficiente de atividade médio da fórmula Wδ++ Wδ−− , onde a0+ (Ωl ) 6= a0± (Ωl ) e
a0− (Ωl ) 6= a0± (Ωl ) sempre que a0+ (Ωl ) 6= a0− (Ωl ). Comparando as eqs. 11.43 e 11.46, tem-se
0 δ+ + δ−
(Ωl ) = a0± (Ωl )
aı́ons (11.47)
Porque valores a0± (Ωl ) podem ser aproximadamente calculados de modo teórico (veja a subseção
11.4.3), a eq. 11.48 é útil para a obtenção de µı́ons (Ωl ), embora não forneça os intransferı́veis
potenciais quı́micos µ+ (Ωl ) e µ− (Ωl ) que constituem µı́ons (Ωl ) (eq. 11.42).
onde foi suposto que Ion é o número total de ı́ons distintos em solução.
A lei-limite de Debye-Hückel,
1/2
I(Ωl )
ln a 0± (Ωl ) = Z− Z+ κlm (T ) , (11.50)
m
fornece, então, a 0± (Ωl ). Nela, κlm (T ) é uma constante positiva adimensional cujo valor inde-
Z Z
pende de qual seja a fórmula Wδ++ Wδ−− a que a 0± corresponder, fórmula esta que se refere à
espécie quı́mica que gera o soluto iônico Wj , mas depende do solvente de Wj (subseção 11.2.2)
e da temperatura da solução. Por exemplo, em solução aquosa tem-se κlm (298) ≈ 1, 172.
1/2
I
Note que Z+ , κlm e m são adimensionais positivos, enquanto Z− é um adimensio-
nal negativo. Portanto, ln a 0± ≤ 0 e a 0± ≤ 1, correspondendo a 0± = 1 a partı́culas neutras.
Confirma-se, assim, que a lei-limite de Debye-Hückel considera que todo desvio provém de
atrações eletrostáticas.
A lei-limite de Debye-Hückel é rigorosamente válida apenas quando for nula a concentração
analı́tica do soluto iônico Wj em questão. Ela nunca será precisa em molalidades iônicas totais
superiores a 10−2 mol kg −1 , mas, se a força iônica for grande, esse limite poderá cair para
258 Adalberto B. M. S. Bassi
10−3 mol kg −1 , ou até menos. Existem diversos aperfeiçoamentos dessa lei, cuja finalidade é
alargar a faixa de molalidades para a qual ela pode ser considerada aproximadamente válida.10
Quando diversos solutos iônicos forem misturados, obrigatoriamente todos os ı́ons em solução
deverão ser considerados no cálculo da força iônica I(Ωl ). Mas, para um mesmo ı́on, poderão ser
calculados diferentes valores para o seu coeficiente de atividade médio, a 0± (Ωl ), de acordo com
o par iônico cujos números de carga apareçam na eq. 11.50. Entretanto, a eq. 11.50 mostra que
o valor a 0± (Ωl ) correspondente a cada cátion será bem definido se todos os ânions em solução
apresentarem o mesmo Z− . Analogamente, o valor a 0± (Ωl ) correspondente a cada ânion será
bem definido se todos os cátions em solução apresentarem o mesmo Z+ .
Além disso, se um determinado ânion, embora diluı́do, apresentar molalidade muito superior
à de qualquer outro ânion em solução, evidentemente se considera esse ânion para o cálculo
referente a todo cátion em solução. Analogamente, se um determinado cátion, embora diluı́do,
apresentar molalidade muito superior à de qualquer outro cátion em solução, evidentemente se
considera esse cátion para o cálculo referente a todo ânion em solução. Os comentários colocados
nestes últimos três parágrafos deixam evidentes as fragilidades da lei-limite de Debye-Hückel.
µl (T ) = µl (T ).
µs (T ) = µs (T ).
Além disso, para o potencial quı́mico de soluto em solução lı́quida diluı́da foi deduzida a eq.
11.9, a saber,
mj
µj l (Ωl ) = µj l (T ) + RT ln + RT ln a0j (Ωl ), para j = 1, . . . , J − 1.
m
10
Veja, por exemplo, Reis, M. C., Ion Activity Models, ChemTexts, 7, 2 (2021), article 9, DOI: 10.1007/s40828-
020-00130-x.
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 259
No caso de tais solutos serem iônicos e a solução suficientemente diluı́da, a média geométrica de
coeficientes de atividade catiônico e aniônico pode ser estimada por meio do uso da lei-limite
de Debye-Hückel (subseção 11.4.3).
Foram, portanto, apresentadas expressões para os potenciais quı́micos da maioria dos rea-
gentes e produtos encontrados nas reações quı́micas usuais. Note que as igualdades destacadas
no parágrafo anterior podem ser conjuntamente representadas por
µi (Ω) = µi (T ) + RT ln ψi (Ω), (11.51)
onde:
• utilizou-se o ı́ndice i para evitar confusão com os ı́ndices presentes nas equações com as
quais a eq. 11.51 pode ser comparada, apresentadas no parágrafo anterior;
• Ω é um conjunto de propriedades intensivas a ser definido caso a caso;
• µi (Ω) é o potencial quı́mico da espécie quı́mica Wi , em qualquer estado de agregação;
• µi (T ) é o potencial quı́mico padrão correspondente a µi (Ω);
• ψi (Ω) é a atividade absoluta correspondente a µi (Ω), conforme definida no destaque do
µ
primeiro parágrafo da subseção 10.4.2, a saber, ψ = exp RT ; portanto, para T fixo,
dµ = RT d(ln ψ) (eq. 10.26), cuja integral indefinida referente à espécie quı́mica Wi , em
processo isotérmico, é µi (Ω) = RT ln ψi (Ω)+C, devendo o valor da constante de integração
C ser definido caso a caso.
Para processo TµP-h em SF é válida a eq. 4.17, a saber, dG = −S(t)dT + V (t)dP +
PJ
j=1 µj (t)dNj , a qual, em processo isotermobárico termobaricamente homogêneo, reduz-se
PJ dG PJ dNj
a dG = j=1 µj (t)dNj , ou dξ (t) = j=1 dξ µj (t) para processo quı́mico suave (subseção
dN
6.2.1). De acordo com a eq. 6.5, a saber, Nj (t) = Nj (t# ) + νj ξ(t), tem-se dξj = νj ; logo,
dG PJ dG
dξ (t) = j=1 νj µj (t). Como a afinidade quı́mica A(ξ) = − dξ (ξ) (subseção 6.2.2), tem-se,
para processo quı́mico suave,
J
dG X
A(t) = − (t) = − νj µj (t), para t# ≤ t ≤ t# , sendo t# < t# . (11.52)
dξ j=1
Substituindo i por j na eq. 11.51, em seguida utilizando-a na eq. 11.52 e omitindo a de-
pendência temporal, obtém-se
J J J
dG X X Y
(Ω) = νj µj (Ω) = νj µj (T ) + RT ln (ψj (Ω))νj . (11.53)
dξ j=1 j=1 j=1
Note que, em célula eletroquı́mica, esse eletrólito mais distante dos condutores elétricos
metálicos é, de fato, homogêneo quando comparado com os eletrólitos dos eletrodos, porque
essas células funcionam com corrente contı́nua. Já em célula de condutividade, devido ao
uso de corrente alternada com alta frequência, não há diferença de homogeneidade perceptı́vel
entre os eletrólitos próximos e distantes dos condutores metálicos, podendo o inteiro eletrólito
ser considerado homogêneo. Com a célula em funcionamento, seja ela de condutividade ou
eletroquı́mica, o eletrodo conduz eletricidade entre o exterior da célula e o eletrólito homogêneo.
Células de condutividade apresentam um eletrólito homogêneo e dois eletrodos os quais,
na situação mais simples, têm seus condutores metálicos respectivamente conectados ao polo
neutro e ao de corrente alternada com alta frequência (da ordem de 1kHz), pertencentes a
uma fonte de potencial elétrico. A corrente alternada de alta frequência destina-se a evitar a
ocorrência de
reações quı́micas, que poderiam ser produzidas pela passagem de corrente contı́nua através do
material, reações estas que, por exemplo, de fato acontecem em célula eletroquı́mica, e
polarização eletródica, também causada pela passagem de corrente contı́nua através do mate-
rial e existente em célula eletroquı́mica.
Para explicar a polarização eletródica, considere que, caso corrente contı́nua fosse utilizada,
quando a célula fosse posta em funcionamento uma modificação estrutural aconteceria no
eletrólito próximo de cada um dos condutores metálicos, portanto nos eletrólitos dos eletro-
dos, em relação aos respectivos eletrólitos para a célula desligada. Essa modificação estrutural
não envolve reação quı́mica, é denominada polarização eletródica e consiste no aparecimento de
orientação preferencial das partı́culas e, também, de alterações localizadas nas concentrações
das mesmas, quebrando a homogeneidade nos eletrólitos dos eletrodos (assim como reações
quı́micas também quebram).
Em célula de condutividade, a força propulsora de origem elétrica, que age sobre todas as
partı́culas do lı́quido, é suposta espacialmente homogênea. Mas, por causa do uso de corrente
alternada de alta frequência, o eletrólito no interior da célula de condutividade não é um SF
estacionário (subseção 2.2.1) porque, embora a direção do campo seja temporalmente constante,
seu módulo e seu sentido variam no tempo. Tal variação, porém, é tão rápida que as oscilações
induzidas nas partı́culas não ultrapassam a amplitude de 3 nm. Por isso,
se todo o meio lı́quido for homogêneo antes do inı́cio de processo TBS (subseção
2.5.2) de funcionamento da célula de condutividade, tal processo não alterará, em
termos macroscópicos, essa homogeneidade, inclusive nos eletrólitos dos eletrodos;
logo, será um processo homogêneo (subseção 2.1.2).
Assim, o uso de corrente alternada com alta frequência permite que seja medida a verdadeira
condutividade do lı́quido, sem distorções que seriam causadas pelo próprio ato de medição, caso
corrente contı́nua ou alternada de baixa frequência fosse utilizada.
5. a solução seja formada por dissolução de uma única espécie quı́mica, ou seja, todos os
solutos provenham da mesma única espécie quı́mica;
6. a dissolução da única espécie quı́mica que deu origem aos solutos tenha sido acompanhada
pela URQ/AI de ionização em SF numerada 11.34, a qual se encontre em equilı́brio
quı́mico, ou tal dissolução seja representada pela “URQ/AI” numerada 11.37.
γ ◦ = lim
◦
γ. (12.1)
c →0
Esta é o limite ao qual tenderá a condutividade da solução quando, mantendo-se fixos pressão
(influência desprezı́vel), temperatura e o solvente de Wj , a concentração analı́tica do soluto Wj
tender a zero. Note que, como todos os solutos Wj apresentam a mesma concentração analı́tica
c◦ (devido ao anterior item 5), a condutividade do solvente de todos os solutos é a mesma. A
diferença γ − γ ◦ é a parcela da condutividade da solução que pode ser atribuı́da exclusivamente
à dissolução da única espécie quı́mica que deu origem ao soluto Wj . Por isso, tal diferença é
denominada condutividade do soluto Wj . Como todos os diferentes solutos são provenientes
da dissolução da mesma única espécie quı́mica (item 5), eles apresentam igual condutividade
γ − γ◦.
De acordo com o anterior item 3, apenas solvente aquoso será considerado. Cabe, então,
informar sobre algumas caracterı́sticas da condutividade da água. Seu valor,1 a 298 K e 1 atm,
é (5, 47 ± 0, 11) × 10−10 S m−1 , mas mı́nimas impurezas o aumentam fortemente. Por exemplo,
águas destiladas consideradas quimicamente puras e normalmente utilizadas como solvente em
geral apresentam condutividades mais de dez vezes maiores do que essa, principalmente por
causa do CO2 nelas dissolvido. Aplicando-se a tais águas novas destilações, frequentemente o
valor da condutividade aumenta, ao invés de diminuir. Por isso:
• para soluções aquosas diluı́das onde os valores de γ e γ ◦ sejam comparáveis, devem ser
utilizados valores para as condutividades dos solventes de seus solutos medidos caso a
caso, em vez de algum valor tabelado para a condutividade da água.
Λ 6
Λ◦
-
c◦
Figura 12.1: Forma geral da curva Λ × c◦ .
A constatação de que Λj diminui com o aumento de c◦j será explicada utilizando, novamente,
o conceito de sistema de partı́culas. Essa constatação envolve dois motivos, numerados 1 e 2
porque respectivamente correspondentes aos itens 1 e 2 mostrados no primeiro parágrafo desta
subseção 12.1.3:
Quando um eletrólito for claramente classificado como forte ou fraco, conjuntamente por
ambos os critérios colocados nesta subseção 12.1.3, existem equações matemáticas bem conhe-
cidas, as quais são capazes de explicar seu comportamento elétrico. Porém, quando isso não
acontecer, os dados experimentais referentes ao eletrólito não serão confirmados por nenhuma
das duas equações que a seguir serão apresentadas, nas subseções 12.1.4 e 12.1.5.
concentração analı́tica, c◦ . Por isso, na presente subseção estuda-se exclusivamente este último
efeito, sobre a condutividade molar Λ do soluto Wj . Como, aproximadamente, as interações
interiônicas não interferem no valor de γ − γ ◦ , este é supostamente proporcional à concentração
eqq
de ı́ons em solução, cı́ons = (δ+ + δ− ) αeqq c◦ , em conformidade com o colocado no inı́cio do
item 2 da subseção 12.1.3. Se, incluindo δ+ + δ− , a constante de proporcionalidade for C, então
◦
Λ = γ−γc◦ = Cαeqq e, no limite limc◦ →0 Λ = limc◦ →0 (Cαeqq ) tem-se, utilizando a eq. 12.3, a
saber, limc◦ →0 Λ = Λ◦ , e a eq. 11.36, limc◦ →0 αeqq = 1, o resultado Λ◦ = C. Logo,
Λ = Λ◦ αeqq . (12.4)
Logo, para eletrólito fraco, um gráfico de αeqq (ordenada) contra c◦ (abscissa) é o gráfico de
Λ (ordenada) contra c◦ (abscissa) apresentado na fig. 12.1, após aplicação da constante multi-
plicativa (Λ◦ )−1 às ordenadas deste último (portanto, mesma forma geral da curva traçada na
mencionada figura). Como o valor Λ◦ pode ser obtido experimentalmente, isso leva à impor-
tante conclusão de que, em eletrólito fraco, medidas de condutividade permitem saber como
αeqq varia com c◦ , conforme antecipado na subseção 11.4.1.
A eq. 12.5 mostra que, se forem lançados como ordenadas valores para Λ−1 e como abs-
δ+ + δ− −1
c◦
cissas os correspondentes valores mol/L Λ , obtém-se uma reta de coeficiente angular
δ δ
δ++ δ−−
e de coeficiente linear (Λ◦ )−1 . Como a eq. 12.5 foi deduzida supondo-se XJ ≈ 1,
Kj (Λ◦ )δ+ + δ−
em gráfico experimental o comportamento retilı́neo é mais preciso nas diluições maiores e
os valores corretos dos coeficientes linear e angular devem ser obtidos fazendo-se a
extrapolação c◦ → 0.
Comentário histórico
Cabe, neste contexto, um comentário histórico, ligado às próprias origens da fı́sico-quı́mica.
Durante a sétima e a oitava décadas do século XIX foi desenvolvido, por Peter Waage e Cato
M. Guldberg, o conceito chamado lei de ação das massas. Tal lei explica a forma (seção
11.5) dos atualmente denominados quociente de reação e constante termodinâmica de equilı́brio
quı́mico. Para isso, esse conceito utiliza as desde então conhecidas leis cinéticas para URQ
correspondentes a RQE (subseção 7.3.2), sem distinguir entre os atuais conceitos de equilı́brio
quı́mico (subseção 6.2.3) e cinético (subseção 6.2.6).
Em torno de uma década após defender sua tese de doutorado, em 1878, Friedrich Wilhelm
Ostwald apresentou as ideias que conduziram à atual eq. 12.5. Ele considerou tanto a então
recentemente descoberta lei de ação das massas, como o efeito de diluições sucessivas (este
último apresentado no parágrafo final do item Cálculo do grau de ionização por medidas de
condutividade desta subseção 12.1.4). Essa é a razão histórica por que, ainda hoje, a eq. 12.5
costuma ser chamada lei de diluição (de Ostwald).
Λ2 − 2Λ◦ Λ + (Λ◦ )2
c◦ = . (12.7)
(κK )2
Num gráfico no qual valores c◦ sejam lançados como abscissas e Λ como ordenadas, as eqs. 12.6
e 12.7 correspondem a uma parábola com eixo horizontal, cuja origem situa-se no ponto (0, Λ◦ ).
Porque 0 < Λ < Λ◦ (subseção 12.1.3), apenas o ramo inferior da parábola é considerado, ou
seja, não há mais do que um só valor Λ para cada c◦ ≥ 0, portanto a função existe. Note que
a curva desse gráfico satisfaz à forma geral apresentada na fig. 12.1, a qual não foi traçada
de modo a obedecer alguma especı́fica curva matemática. Aliás, essa forma geral também é
satisfeita em eletrólito fraco (último parágrafo do item Proporcionalidade entre condutividade
molar e grau de ionização da subseção 12.1.4), cuja curva matemática é diferente.
Condutividade iônica
Z Z
A condutividade molar-limite do soluto Wj = Wδ++ Wδ−− (aq), grafada Λ◦ , pode ser separada em
parcelas iônicas somativas por causa da exigência c◦ → 0 presente na sua definição (eq. 12.3),
porque nesse limite sempre se tem αeqq = 1 (eq. 11.36) para a URQ/AI de ionização em SF
Z Z
numerada 11.34, Wδ++ Wδ−− (aq) −→ δ+ W Z+ (aq) + δ− W Z− (aq). Portanto,
Λ◦j = δ+ λ+ + δ− λ− , (12.8)
Mobilidade iônica
Define-se a mobilidade (elétrica) iônica para cátion e ânion, respectivamente por meio das
expressões
λ+ λ−
u+ = e u− = , (12.9)
F Z+ F |Z− |
onde a constante de Faraday, F = 96485, 3329 Cmol −1 , é a carga elétrica correspondente a um
mol de prótons. Portanto, a mobilidade iônica é razão entre a condutividade (molar-limite)
e o módulo da carga elétrica molar do ı́on. Porque ı́ons com igual módulo de carga elétrica
molar apresentam condutividades diferentes, a mobilidade mede a contribuição molar do ı́on à
Z Z
condutividade molar-limite do soluto Wδ++ Wδ−− (aq), por unidade de carga elétrica transportada
pelo ı́on.
O valor da mobilidade iônica depende da temperatura da solução e, também, das carac-
terı́sticas tanto do solvente do soluto iônico (subseção 11.2.2), como do próprio soluto iônico
considerado. Valores de mobilidade iônica, evidentemente, são transferı́veis desde que satis-
feitas as mesmas exigências impostas para as condutividades iônicas, citadas no anterior item
Condutividade iônica desta subseção 12.1.6. Além disso, as mobilidades iônicas são tabeladas,
sendo sua unidade no SI S m2 C −1 = m2 V −1 s−1 , porque S = C V −1 s−1 .
u+ δ+ λ+ u− δ − λ−
t+ = = e t− = = , (12.10)
u− + u+ Λ◦j u− + u+ Λ◦j
onde foram utilizadas as igualdades δ+ = |Zi− | e δ− = Zi+ (primeiro parágrafo do item Conceitos
iniciais da subseção 11.4.1), além das eqs. 12.9. Evidentemente, t+ + t− = 1. Embora t+ e
t− sejam valores-limites para c◦ → 0 (item Condutividade iônica desta subseção 12.1.6), tais
valores costumam variar pouco com c◦ . A eq. 12.8, então, explica a muito comum utilização
de t+ e t− para informar as frações de corrente transportadas, respectivamente, por cada ı́on
W Z+ (aq) e W Z− (aq), em soluções suficientemente diluı́das.
Ox + |ν| e− → Red.
270 Adalberto B. M. S. Bassi
Reações em que ocorram transferências de elétrons entre espécies quı́micas diferentes são
chamadas reações redox. Toda reação redox pode ser decomposta na subtração de duas semir-
reações de redução. Se Ox1 , do par Ox1 /Red1 , for o agente oxidante da reação redox, sendo
Red2 , do par Ox2 /Red2 , seu agente redutor, tem-se a reação redox
que é o resultado da subtração (Ox1 + |ν| e− −→ Red1 ) − (Ox2 + |ν| e− −→ Red2 ). Portanto,
a reação redox é obtida subtraindo-se a semirreação de redução referente ao par que contém o
agente redutor, daquela relativa ao par que inclui o agente oxidante.
Note que, na reação destacada, os sı́mbolos Ox1 , Red2 , Red1 e Ox2 respectivamente substi-
tuem W1 , W2 , W3 e W4 . Portanto, assim como estes últimos, eles incluem a informação sobre
o estado de agregação do reagente ou produto considerado (subseção 6.1.2), tanto em reações
como semirreações. Porém, em pares redox, não se costuma exigir que o estado de agregação
seja explicitado.
Porém, existem também células eletroquı́micas nas quais, à medida que se afasta do condu-
tor elétrico metálico, o eletrólito de cada um dos dois eletrodos transforma-se num eletrólito
homogêneo especı́fico, diferente do eletrólito homogêneo correspondente ao outro eletrodo.
Neste caso, os dois eletrólitos homogêneos distintos devem manter contato entre si3 através
de um meio no qual ı́ons se possam locomover, como, por exemplo, uma parede porosa ou uma
ponte salina. O meio de contato entre os eletrólitos homogêneos é denominado junção lı́quida.
Quando a célula eletroquı́mica estiver em funcionamento, ocorrerá uma diferença de potencial
elétrico entre os extremos da junção lı́quida, diferença esta denominada potencial de junção.
Note que, em célula eletroquı́mica, cada eletrodo corresponde a uma semirreação de redução
fixa e única que lhe é caracterı́stica, a não ser que o eletrodo sofra contaminação (logo, ele
também corresponde a um par redox fixo e único). Comparativamente ao convencionado para
os pares redox, a representação de eletrodos obedece às seguintes caracterı́sticas:
1. para pares redox usa-se uma barra inclinada, enquanto para eletrodos ela é vertical. A
barra inclinada é apenas um sı́mbolo de separação, ao passo que a vertical representa
uma interface fı́sica entre materiais distintos que compõem o eletrodo. Essas interfaces
detêm importância fundamental, porque as semirreações de redução ocorrem em regiões
interfaciais;
2. pares redox são escritos na ordem Ox/Red, enquanto eletrodos são anotados conforme
o objeto material se apresenta, a partir do seu centro interior. De fato, na extremidade
esquerda do sı́mbolo do eletrodo aparece a representação do seu conteúdo mais interno,
3
Ver o significado da expressão em contato entre si no item Conceito da subseção 4.2.2.
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 271
à direita do qual nota-se uma barra vertical que indica a interface entre esse núcleo
e a parte do eletrodo que o envolve. Ao se avançar para a direita, passando-se por
sucessivas interfaces caso existam, chega-se até o eletrólito do eletrodo, cuja representação
se encontra na extremidade direita do sı́mbolo do eletrodo;
3. conforme já colocado, não se costuma anotar o estado de agregação em pares redox, mas
isso obrigatoriamente é feito ao simbolizar eletrodos, salvo no caso de sólidos, porque a
indicação deste especı́fico estado de agregação pode ser omitida do sı́mbolo do eletrodo.
Tipos de eletrodo
Os tipos mais comuns de eletrodo são:
• eletrodo metal-ı́on metálico, por exemplo Cu|Cu2+ (aq), onde cobre sólido metálico encon-
tra-se imerso em solução aquosa de ı́ons cúpricos. Esse eletrodo corresponde à semirreação
de redução Cu2+ (aq) + 2e− −→ Cu(s), que ocorre em sua região interfacial, a qual inclui
uma única interface;
• eletrodo de gás, por exemplo P t|H2 (g)|H + (aq), onde platina sólida metálica quimicamente
inerte encontra-se imersa em solução aquosa de ı́ons hidrônio. Gás hidrogênio escoa de
baixo para cima, envolvendo o metal e formando uma pelı́cula gasosa entre este e a
solução. Tal eletrodo corresponde à semirreação de redução 2H + (aq) + 2e− −→ H2 (g),
que ocorre em sua região interfacial, a qual inclui duas interfaces;
• eletrodo metal-sal insolúvel, por exemplo Ag|AgCl|Cl− (aq), onde prata sólida metálica
recoberta por uma camada porosa do sal insolúvel cloreto de prata se encontra imersa
em solução aquosa de ı́ons cloretos. Esse eletrodo corresponde à semirreação de redução
AgCl(s) + e− −→ Ag(s) + Cl− (aq), que ocorre em sua região interfacial, a qual inclui
duas interfaces;
• eletrodo de oxirredução,4 por exemplo P t|F e2+ (aq), F e3+ (aq), onde platina sólida metá-
lica quimicamente inerte encontra-se imersa em solução aquosa de ı́ons ferrosos e férricos.
Utiliza-se vı́rgula entre os sı́mbolos F e2+ (aq) e F e3+ (aq) porque ambos os dois tipos de
ı́on se encontram no mesmo meio, ou seja, não estão separados entre si por uma interface.
Esse eletrodo corresponde à semirreação de redução F e3+ (aq) + e− −→ F e2+ (aq), que
ocorre em sua região interfacial, a qual inclui uma única interface.
Representação da célula
De acordo com o item Aplicação dos conceitos no tempo de existência do processo quı́mico suave,
da subseção 6.2.3, se em instante pertencente a esse intervalo temporal o SF for exergônico (de-
sequilı́brio quı́mico em direção aos reagentes de acordo com o parágrafo anterior ao mencionado
item), isso indicará a possibilidade de que em tal instante ocorra transmissão, para o exterior do
SF, de uma potência não volumétrica. Para a célula eletroquı́mica em funcionamento, devido
ao modo como ela foi construı́da, tratar-se-á de uma certeza, a potência será elétrica e, neste
especı́fico momento, a célula será dita galvânica. Pelo contrário, se a célula estiver em funcio-
namento e o SF for endergônico (desequilı́brio quı́mico em direção aos produtos), no instante
considerado uma potência elétrica necessariamente estará sendo consumida pela célula. Então,
a célula eletroquı́mica será, neste especı́fico momento, dita eletrolı́tica.
Considerando o apresentado na subseção 6.2.5, toda célula eletroquı́mica é classificada como
5
Em eletroquı́mica define-se o potencial eletroquı́mico iônico (veja, por exemplo, Bard, Allen J.; Faulkner,
Larry R., Electrochemical Methods: Fundamentals and Applications, Wiley, 2000), µ̄ion = µion + Zion F Φ, onde
µion é o potencial quı́mico do ı́on considerado (item Atividades e potenciais quı́micos iônicos da subseção 11.4.2),
Zion é o número de carga iônico (item Conceitos iniciais da subseção 11.4.1), a constante de Faraday, F , foi
definida no item Mobilidade iônica da subseção 12.1.6 e Φ é o potencial eletrostático que age sobre o ı́on, medido
em volt (de acordo com o SI), e produzido por fonte externa ao SF. O conceito de potencial quı́mico, apresentado
na subseção 4.2.1, passa a ser o conceito de potencial eletroquı́mico quando Φ for espacialmente variável. Porém,
como no eletrólito homogêneo Φ é espacialmente constante (em comparação com o que acontece em eletrólito
de eletrodo), neste texto o potencial eletroquı́mico iônico difere do potencial quı́mico iônico, aproximadamente,
apenas por uma constante aditiva; portanto, o potencial eletroquı́mico iônico não é utilizado.
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 273
cujas representações são imagens especulares uma da outra, o cátodo passa a trabalhar
como ânodo e vice-versa. Portanto, a semirreação de redução que antes ocorria no sentido
direto passa a acontecer no sentido reverso e vice-versa; logo, na obtenção da reação de
célula é trocada a semirreação de redução a ser subtraı́da, o que resulta na reversão da
reação de célula. O vice-versa também é verdadeiro, ou seja, a reversão da reação de
célula sempre tem como efeito que o cátodo passe a agir como ânodo e vice-versa; logo,
implica a substituição da representação da célula pela sua imagem especular;
semirreação de redução no sentido reverso, o que indica que carga positiva iônica é criada no
eletrólito presente na região interfacial, enquanto carga negativa eletrônica é criada no condutor
elétrico metálico presente na mesma região.
Movimento iônico
Sempre durante o funcionamento da célula eletroquı́mica, para compensar a anulação de carga
iônica positiva, os cátions presentes no eletrólito do cátodo são atraı́dos para a região interfacial
desse eletrodo, enquanto os ânions são por essa região repelidos. Analogamente, os cátions do
eletrólito do ânodo são repelidos pela região interfacial do ânodo, enquanto os ânions são por
ela atraı́dos. Conforme o caso, no único eletrólito homogêneo em contato elétrico com os
dois eletrodos, ou na junção lı́quida e nos dois eletrólitos homogêneos distintos que ela une,
evidentemente os cátions dirigem-se ao cátodo e os ânions, ao ânodo.
Entretanto, no caso de haver dois eletrólitos homogêneos distintos, por exemplo unidos
por meio de uma ponte salina, geralmente os ânions presentes no eletrólito homogêneo em
contato com o cátodo conseguem avançar, até o final de um tı́pico experimento, não mais do
que alguns milı́metros para dentro da ponte, analogamente ocorrendo com cátions presentes
no eletrólito homogêneo em contato com o ânodo. De fato, durante o experimento o eletrólito
presente na ponte deve liberar, no eletrólito homogêneo em contato com o cátodo, cátions que
não contaminem o cátodo, bem como deve lançar, no eletrólito homogêneo em contato com o
ânodo, ânions que não contaminem o ânodo. Portanto, a ponte não libera em uma extremidade
os cátions que absorve na outra, analogamente acontecendo com os ânions. Se assim não fosse,
ambos os eletrodos poderiam ficar contaminados após pouco tempo de funcionamento da célula
eletroquı́mica.
Esses movimentos6 iônicos, que só ocorrem durante o funcionamento da célula eletroquı́mica,
absolutamente não significam que, necessariamente, os ânions presentes no eletrólito do ânodo
reajam quimicamente ao atingir a região interfacial desse eletrodo, nem que os cátions presentes
no eletrólito do cátodo reajam quimicamente ao atingir a região interfacial desse eletrodo. De
fato, as direções dos movimentos iônicos, nos eletrólitos,
são determinadas por razões eletrostáticas, não por razões quı́micas, sendo as mes-
mas em qualquer célula eletroquı́mica,
Movimento eletrônico
Para compensar a anulação de carga eletrônica, durante o funcionamento da célula eletroquı́mica
elétrons presentes num circuito elétrico externo à célula, mas conectados ao condutor metálico
do cátodo, são atraı́dos para a região interfacial desse eletrodo. Enquanto isso, a região inter-
facial do ânodo repele elétrons para algum circuito elétrico externo à célula, mas conectado ao
condutor metálico do ânodo. Portanto, para que a célula eletroquı́mica funcione, deve existir
um circuito elétrico externo à célula que conduza elétrons para o condutor metálico do cátodo
enquanto os retire do condutor metálico do ânodo. De novo, direções do movimento eletrônico,
no circuito elétrico externo,
6
Convém preservar o termo fluxo para o significado especı́fico que lhe foi atribuı́do nas subseções 4.2.1 (ma-
terial), 9.2.1 (energético) e 9.4.1 (de momento linear), aqui utilizando o substantivo movimento, cujo significado
pode ser considerado mais amplo.
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 275
são determinadas por razões eletrostáticas, não por razões quı́micas, sendo as mes-
mas em qualquer célula eletroquı́mica,
Se, num momento em que a célula eletroquı́mica (galvânica ou eletrolı́tica) estiver em funcio-
namento, o circuito elétrico externo a ela for interrompido, quase instantaneamente o processo
reacional também se interromperá, por efeito de uma diferença de potencial elétrico (ddp) que
também quase instantaneamente aparecerá entre os condutores metálicos dos eletrodos, cujo
módulo é chamado módulo do potencial de corrente nula (ou força eletromotriz, FEM) e grafado
|E|. Em qualquer momento, o módulo da diferença de potencial elétrico entre os condutores
metálicos dos eletrodos é, esteja a célula em funcionamento ou não, denominado módulo do
potencial de célula e simbolizado |Ecel |. Logo, em qualquer instante, |E| é o especı́fico valor que
|Ecel | apresentará, desde que naquele momento a célula não esteja em funcionamento (equilı́brio
cinético da reação de célula, de acordo com a subseção 6.2.6).
Célula galvânica
De acordo com o conceito eletrostático de potencial elétrico, num circuito resistivo (que não
contenha fonte de geração de potencial elétrico) os elétrons movimentam-se da região de menor
potencial elétrico para a de maior. Portanto, já que elétrons sempre saem do ânodo e dirigem-se
para o cátodo, se for resistivo um circuito elétrico, externo à célula e que interligue as partes
metálicas dos dois eletrodos, o cátodo será mais positivo do que o ânodo. Mas, para que uma
célula eletroquı́mica funcione com um circuito externo resistivo é necessário que, no instante
considerado, sua reação de célula seja exergônica, portanto que a célula eletroquı́mica seja
galvânica.
Para a célula com circuito elétrico externo resistivo, |Ecel | tenderá a zero (polaridade do
cátodo igual à do ânodo) quando a resistência elétrica do circuito também tender a zero, a
intensidade de corrente tender a infinito e o processo tender a ser instantâneo (experimento-
limite, não factı́vel). |Ecel | aumentará (diferença de polaridade entre os eletrodos crescerá) no
instante t, pertencente ao tempo de existência do processo, com o incremento da resistência e
a diminuição da intensidade de corrente, e tenderá a uma cota superior mı́nima,7 de valor |E|
(máxima diferença de polaridade entre os eletrodos), quando a resistência tender a infinito, a
intensidade de corrente tender a zero e o instante t tender a situar-se em processo estacionário.
Logo,
sempre que a célula for galvânica, o cátodo será o polo positivo, o ânodo será o
polo negativo e 0 < |Ecel | < |E|, porque os extremos do intervalo são inatingı́veis
para a célula em funcionamento.
Pode-se interpretar que, numa célula galvânica, quando |Ecel | atingir |E|, a célula interromperá
seu funcionamento e a corrente no circuito externo será nula, porque
7
Veja nota de rodapé da subseção 2.4.3.
276 Adalberto B. M. S. Bassi
o condutor metálico do cátodo será tão positivo que impedirá a perda de elétrons necessária
para a ocorrência, na região interfacial desse eletrodo, da semirreação de redução no
sentido direto e
o condutor metálico do ânodo será tão negativo que impedirá a recepção de elétrons necessária
para a ocorrência, na região interfacial desse eletrodo, da semirreação de redução no
sentido reverso.
produza uma diferença de potencial elétrico continuamente regulável, sem flutuações ao longo
do tempo quando for comandada alguma diferença de potencial;
para qualquer diferença de potencial, permita a troca do sinal dessa diferença, ou seja, a troca
do seu polo positivo para negativo e vice-versa;
possa apresentar qualquer real não negativo como módulo da diferença de potencial produzida;
permita passagem de corrente elétrica em sentido oposto àquele da corrente gerada pela fonte;
Evidentemente, em laboratório utiliza-se uma fonte real cuja não idealidade seja aceitável pe-
rante a precisão dos demais instrumentos envolvidos no experimento.
Deve ser ressaltado que as frases
existentes nos dois itens anteriores a este, da presente subseção 12.2.4, serão definitivamente
substituı́das por
fonte produzindo diferença de potencial com módulo de valor |E|, aplicado à célula
de modo a causar anulação da corrente elétrica no seu circuito externo.
Essa substituição é muito importante para evitar possı́veis erros conceituais. Por exemplo, ao
se interromper o funcionamento de uma célula eletrolı́tica abrindo-se o circuito elétrico que
a alimenta, a reação de célula não se reverte, tornando-se exergônica até atingir o equilı́brio
quı́mico. Esse fato experimental não contraria a segunda lei da termodinâmica, já que esta exige
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 277
um gasto de potência não volumétrica para evitar a reação exergônica? A questão é análoga
a perguntar se não contraria a segunda lei o fato de não reagirem sódio metálico, devidamente
armazenado de modo a evitar contato com o ar, e gás cloro, pressurizado numa bala mantida
bem distante.
Célula eletrolı́tica
A transformação de uma célula, reversı́vel ou irreversı́vel, de galvânica para eletrolı́tica, efetuada
sem alterar a composição da célula mas por meio da reversão de sua reação de célula, difere
muito da transformação, também de galvânica em eletrolı́tica, mas exclusivamente possı́vel em
células reversı́veis, efetuada sem reversão de sua reação de célula mas por meio de alteração na
composição da célula. Porém,
sempre que a célula for eletrolı́tica, o cátodo será o polo negativo, o ânodo será o
polo positivo e 0 ≤ |E| < |Ecel |, porque é inatingı́vel para a célula em funcionamento
a cota inferior máxima de |Ecel |, grafada |E|, na qual a diferença de polaridade entre
os eletrodos é mı́nima.
nada ampère). Considerando que |Ecel (t)| seja dado na unidade SI para potencial elétrico, V ,
chamada volt, dwnv
dt (t) = |Ecel (t)| dξ
dt (t)|ν|F é o módulo da potência não volumétrica transferida
entre os eletrodos, na unidade SI de potência, W = V A, denominada watt.
dξ dwnv
Considerando as expressões 5.201 e 6.19, tem-se dG dG
dt (t) = dξ (ξ(t)) dt (t) ≤ dt (t), valendo
a desigualdade (item Definição da subseção 5.3.2) no instante t pertencente ao tempo de
existência do processo quı́mico suave, portanto para t# < t < t# . Como dξ dt (t) > 0 para
dG dξ dwnv
t# < t < t# (parágrafo anterior), dξ (ξ(t)) dt (t) < dt (t) no caso de célula eletrolı́tica
dwnv dGdξ
consumindo energia elétrica e dt (t) < dξ (ξ(t))
dt (t) para galvânica produzindo energia
elétrica. Substituindo nas duas últimas desigualdades dwdtnv (t) = |Ecel (t)| dξ
dt (t)|ν|F (parágrafo
1 dG
anterior), respectivamente tem-se |ν|F dξ (ξ(t)) < |Ecel (t)| (célula eletrolı́tica em funciona-
1 dG
mento) e |Ecel (t)| < |ν|F dξ (ξ(t)) (célula galvânica em funcionamento).
Entretanto, de acordo com o item Células eletrolı́ticas da subseção 12.2.4, para a célula
eletrolı́tica tem-se 0 ≤ |E| < |Ecel |. Além disso, considerando o item Célula galvânica da mesma
subseção, para a célula galvânica em funcionamento ocorre 0 < |Ecel | < |E|. Comparando entre
1 dG
si as expressões |ν|F dξ (ξ(t)) < |Ecel (t)| e 0 ≤ |E| < |Ecel | para célula eletrolı́tica, bem como
1 dG
|Ecel (t)| < |ν|F dξ (ξ(t)) e 0 < |Ecel | < |E| para galvânica, percebe-se que, para ambas, existe
o mesmo limite inalcançável quando a célula estiver em funcionamento, a saber,
1 dG
|E| = . (12.11)
|ν|F dξ
dG
Convenciona-se que o potencial de corrente nula tenha sinal oposto ao da derivada dξ . Portanto,
por definição,
1 dG
E(T, ξ) = − (T, ξ). (12.12)
|ν|F dξ
Cabe ressaltar que a afinidade quı́mica A(ξ) = − dGdξ (ξ) (destaque que finaliza a subseção
6.2.2 onde T é suposto constante) é proporcional a E(ξ), exibindo o mesmo sinal, ou seja,
1
E(ξ)(T, ξ) = A(T, ξ).
|ν|F
Embora o sinal da afinidade quı́mica não dependa de qual é o conjunto de coeficientes este-
quiométricos arbitrariamente escolhido para representar a reação quı́mica, o módulo do seu
valor depende dessa escolha (subseção 6.2.2). Entretanto, nem o sinal nem o módulo do valor
do potencial de corrente nula dependem da mencionada escolha, porque quando tal conjunto
for multiplicado por uma constante positiva, |ν| será multiplicado pela mesma constante. Além
disso, a eq. 12.12 indica que
2. em célula galvânica em funcionamento 0 < |Ecel | < |E| e E > 0; logo, 0 < Ecel < E;
3. sempre que Ecel = E haverá equilı́brio cinético (subseção 6.2.6); logo, a célula não estará
em funcionamento, portanto se encontrará sob processo estacionário. Equilı́brio quı́mico
(subseção 6.2.3), adicionalmente ao cinético, apenas ocorrerá quando Ecel = E = 0
porque, de acordo com a eq. 6.18, somente neste caso ter-se-á dG dξ (ξ
eqq ) = 0;
4. no equilı́brio quı́mico a célula eletroquı́mica pode estar em funcionamento (Ecel < E = 0),
mas a galvânica não pode (é impossı́vel 0 < Ecel < 0).
Para exemplificar o uso dos conceitos colocados nesses quatro itens e, também, no item Fonte
comandada em oposição à ddp de URQ/AI exergônica da subseção 12.2.4, considere os pon-
tos simétricos indicados pelas duas pequenas setas horizontais na fig. 6.1 e a possibilidade de
reversão de URQ/AI direta em reversa e reciprocamente.
De acordo com o item 4 do parágrafo anterior, é impossı́vel ter célula galvânica em funcio-
namento no equilı́brio quı́mico. Porém, o item da subseção 12.2.4 mencionado no fim do mesmo
parágrafo explica as diferenças entre células galvânica e eletrolı́tica, com igual composição, es-
tando ambas em funcionamento. Por isso, neste especı́fico exemplo será utilizado, para a célula
eletrolı́tica, Ecel < E < 0, em vez da expressão mais abrangente Ecel < E ≤ 0, apresentada no
item 1 do citado parágrafo. Então:
r < E r , mas, se for aplicado
I. para a célula galvânica em funcionamento, tem-se 0 < Ecel
00
r > E r , a reação de célula galvânica irá
no ponto sobre a URQ/AI reversa um valor Ecel
se reverter, transformando-se na URQ/AI direta de célula eletrolı́tica em funcionamento,
com Ecel = −Ecel r00 < 0 e E r
cel < E = −E < 0;
II. para a célula eletrolı́tica em funcionamento, tem-se Ecel < E < 0, mas, se for aplicado
no ponto sobre a URQ/AI direta um valor Ecel 00 tal que E < E 00 < 0, a reação de célula
cel
eletrolı́tica irá se reverter, transformando-se na URQ/AI reversa de célula galvânica em
funcionamento, com Ecel r = −E 00 > 0 e 0 < E r < E r = −E.
cel cel
Em ambos os itens I. e II. do parágrafo anterior, o potencial de célula muda sua posição
em relação ao de corrente nula, ou seja, se o primeiro era menor do que o segundo, passa
a ser maior e vice-versa. Logo, qualquer que seja a presteza com que a mudança entre as
duas células em funcionamento seja efetuada (na realidade, nada é instantâneo), ela consiste
numa alteração contı́nua do potencial de célula, a qual passa por um instante de equilı́brio
cinético (Ecel = E), no qual termina um processo quı́mico suave (exergônico ou endergônico) e
outro inicia-se (respectivamente, endergônico ou exergônico). Note que o próprio valor E sofre
diminuta variação durante a citada mudança, ou seja, afirmar que a composição não se altera
é inexato, embora possa ser correto dentro do limite de precisão instrumental.
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 281
Porém, não obstante a forte simplificação efetuada, o exemplo apresentado expõe uma im-
portante manifestação do enunciado conceitual da segunda lei da termodinâmica (seção 5.5) e
da consequente expressão 5.201 , a saber:
• se determinada diferença de potencial elétrico Ecel for imposta aos eletrodos e mantida
durante tempo suficiente, a reação de célula ocorrerá, no sentido direto ou reverso, até que
a composição do SF reacional tenda àquela que corresponde ao especı́fico valor E = Ecel ,
quando então o equilı́brio cinético será atingido e o processo passará a estacionário;
• equilı́brio quı́mico é o equilı́brio cinético que será atingido quando os eletrodos permanece-
rem tempo suficiente sem diferença de potencial elétrico entre eles, logo em curto-circuito,
o que é o mesmo que colocar o agente oxidante da reação de célula, presente na semirreação
catódica, em contato com o agente redutor da reação de célula, presente na semirreação
anódica (Ecel = E = 0).
1 RT
E (T ) = − ∆r G (T ) = ln K(T ), (12.14)
|ν|F |ν|F
onde a segunda igualdade provém de ∆r G (T ) = −RT ln K(T ) (eq. 7.24). Substituindo a eq.
12.14 na 12.13 tem-se, então,
RT RT K(T )
E(T, ξ) = E (T ) − ln Q(T, ξ) = ln , (12.15)
|ν|F |ν|F Q(T, ξ)
podendo a eq. 12.15 ser comparada com as eqs. 7.232 e 7.27. Cabe ressaltar que:
1. ao contrário de ∂G
∂ξ , ∆r G , Q e K, cujos valores dependem do conjunto de coeficientes
RT RT
estequiométricos escolhido, E, E , |ν|F ln Q e |ν|F ln K
Q não variarão quando tal
conjunto for multiplicado por uma constante positiva, porque |ν| será multiplicado pela
mesma constante;
RT
2. quando o valor de |E | for superior a aproximadamente meio volt, o valor de |ν|F ln Q
não será suficiente para produzir um valor E com sinal diferente daquele de E . Portanto,
valores positivos de E superiores a aproximadamente meio volt correspondem a células
galvânicas irreversı́veis, enquanto valores negativos de E cujos módulos sejam superiores
a aproximadamente meio volt referem-se a células eletrolı́ticas irreversı́veis (compare com
a colocação feita, no item Interpretação conceitual da subseção 7.4.3, para valores K muito
altos ou baixos). Porém, quando o valor de |E | for inferior a em torno de meio volt, a
282 Adalberto B. M. S. Bassi
célula será reversı́vel, portanto o conhecimento de valor de E será insuficiente para saber
se a célula atua como galvânica ou eletrolı́tica, porque isso dependerá da composição do
meio.
Atribui-se, portanto, um potencial padrão de redução a cada eletrodo, logo, a cada semirreação
de redução e, como a semirreação de redução anódica é subtraı́da da catódica para se chegar
na reação de célula, analogamente acontece com os potenciais padrão de redução eletródicos,
para se chegar ao potencial padrão de reação (de célula). Essa analogia também repousa no
fato de que a subtração é um tipo de combinação linear, enquanto ∆r G é uma combinação
linear de grandezas padrão (eqs. 7.16 e 7.17) e, de acordo com a eq. 12.14, o potencial padrão de
reação, E , é proporcional a ∆r G . Além disso, justamente como acontece com as grandezas
padrão que se combinam linearmente para formar ∆r G (ver comentário logo após a eq. 7.17),
somente é possı́vel obter valores relativos para os potenciais padrão de redução.
Por isso, a atribuição de valores aos potenciais padrão de redução é efetuada por meio da
arbitrária convenção de que, para
1
H + (aq) + e− −→ H2 (g), tem-se E [H + (aq)] = 0 em qualquer temperatura. (12.16)
2
Note que a eq. 12.16 é totalmente coerente com a convenção, também arbitrária, colocada no
último destaque do item Definições da subseção 7.4.1. A eq. 12.16 também mostra que os
potenciais padrão de redução dos eletrodos são representados por E , como também acontece
para os potenciais padrão de reação, embora estes últimos sempre sejam diferenças entre dois
dos primeiros. Mas, para os potenciais padrão de redução, sempre se encontra a indicação da
espécie quı́mica que, na semirreação de redução considerada, é reduzida. Costumam-se criar
tabelas onde os potenciais padrão de redução dos eletrodos são ordenados de modo decrescente.
Por isso, subtraindo-se um potencial padrão de redução listado posteriormente de outro listado
anteriormente, sempre se obtém um potencial padrão de reação positivo.
Conforme já colocado, se um valor positivo para o potencial padrão de reação for superior a
aproximadamente meio volt, tal célula será galvânica irreversı́vel. A tabela citada no parágrafo
anterior, quando restrita a metais, costuma ser chamada de série eletroquı́mica dos metais.
Evidentemente, a conhecida afirmação de que, na série eletroquı́mica dos metais, um metal
listado anteriormente sempre oxida um outro listado posteriormente exige que apenas sejam
listados metais cujos potenciais padrão de redução dos correspondentes eletrodos difiram entre
si o suficiente para garantir a irreversibilidade. É por isso que, nos livros didáticos, tão poucos
metais (em torno de uma dezena deles) costumam ser listados na série eletroquı́mica dos metais
quando, excluindo o sétimo perı́odo, na verdade existem 62 metais na tabela periódica.
Percebe-se, nesses exemplos, que a reação quı́mica espontânea (exergônica) foi, respectivamente,
substituı́da pelas tendências, também espontâneas, de as pressões se igualarem, caso fosse
retirada uma parede que separasse dois gases, bem como de as concentrações se igualarem, caso
fosse retirada uma parede que separasse duas soluções.
Evidentemente, células de concentração também podem ser galvânicas ou eletrolı́ticas. As
semirreações de redução da célula à esquerda são H + (aq) + e− −→ H2 (g, T, f2 ) (catódica) e
H + (aq) + e− −→ H2 (g, T, f1 ) (anódica), correspondentes a dois eletrodos de hidrogênio (seção
12.2.1) em fugacidades (subseção 10.4.2) diferentes, produzindo a reação de célula H2 (g, T,
f1 ) −→ H2 (g, T, f2 ). Logo, a célula será galvânica sempre que f1 > f2 , porque neste caso
gás hidrogênio desaparece da região de maior potencial quı́mico para aparecer na de menor
(subseção 4.2.1).
As semirreações de redução da célula à direita são M + (aq, a2 ) + e− −→ M (s) (catódica)
e M + (aq, a1 ) + e− −→ M (s) (anódica), correspondentes a dois eletrodos metal-ı́on metálico
(subseção 12.2.1) do mesmo metal, imersos em soluções diluı́das cujas atividades (subseções
7.5.3 e 11.2.3) do mesmo soluto são diferentes, produzindo a reação de célula M + (aq, a2 ) −→
M + (aq, a1 ). Logo, de acordo com a eq. 11.9, a célula será galvânica sempre que a2 > a1 , porque
neste caso soluto desaparece da região de maior potencial quı́mico para aparecer na de menor
(subseção 4.2.1). As células de concentração mostram que não é necessária a existência de
reação quı́mica para que tendências espontâneas possam ser utilizadas para produzir potência
elétrica, ou potência elétrica possa ser usada para reverter tendências espontâneas.
estado. Esse, por definição, fornece o valor correto de todas as propriedades de interesse, o
que justifica o conceito de função de estado (subseção 4.1.1). Por isso, tanto a eq. 4.14 quanto
todas aquelas a partir dela obtidas e apresentadas nos capı́tulos 4 e 5 referem-se à alteração de
energia interna conjuntamente causada por trocas energéticas com o exterior e, também, com
a energia de estrutura rı́gida (subseção 3.1.4). Então, se dϕ representar a transformação de
energia de estrutura rı́gida em energia interna, tem-se a eq. 5.151 , a seguir copiada,
J
X
dq + dw + dϕ = T (t)dS − P (t)dV + µj (t)dNj .
j=1
Em outras palavras, a eq. 12.18, junto com a desigualdade de Clausius, implica a afirmação
antes destacada neste parágrafo. Cabe, então, investigar a eq. 12.18.
De acordo com a subseção 3.2.4, em SF baricamente homogêneo tem-se dwv = −P (t)dV ,
que substituı́do na eq. 12.18 produz dwn v = Jj=1 µj (t)dNj . Porém, a partir da eq. 12.12,
P
utilizando a eq. 4.17 e a igualdade na expressão 6.7, facilmente se obtém que, para processo
quı́mico suave em célula eletroquı́mica,
J
X
dweltr = −E dQ = µj (t)dNj , (12.19)
j=1
onde weltr representa trabalho elétrico (unidade J no SI), E é o potencial de corrente nula
discutido nas subseções 12.2.4 e 12.2.5 (unidade V no SI), e Q é a carga elétrica (unidade C no
SI).
Note que, analogamente às igualdades T 00 = T e P 00 = P , para processo quı́mico suave
tem-se, adicionalmente, Ecel = E. De fato, se o SF,8 no instante t, apresentar potenciais
quı́micos homogêneos para todas as espécies quı́micas presentes, neste momento o potencial
elétrico também será homogêneo no SF, e seu valor será o do potencial de corrente nula. Logo,
se dwn v = dweltr , a eq. 12.18 será satisfeita. A consequente imposição de que a energia interna
não se transforme em energia de estrutura rı́gida, embora o oposto possa ocorrer, é totalmente
coerente com o enunciado conceitual da segunda lei, colocado na subseção 4.1.4, e, também,
com conceitos apresentados anteriormente a este enunciado, nas subseções 4.1.2 e 4.1.3.
De acordo com a subseção 5.3.2, apenas no equilı́brio tem-se dϕ = 0. Por isso, considerando
a subseção 5.4.2, dϕ = 0 tanto ao longo de processo estático quanto em “processo reversı́vel”,
mas somente nesses dois casos. Então, referindo-se a eq. 5.151 a conjuntos de números (primeiro
destaque do item Igualdade entre conjuntos de números da subseção 2.4.2), ela apresentará dϕ >
0 para todo processo TµP-h que não seja estático, nem um “processo reversı́vel”. Entretanto,
quando essa equação relacionar entre si valores numéricos, ocorrerá homogeneidade absoluta
(subseção 2.4.3), logo, ter-se-á processo estático ou “processo reversı́vel”, e dϕ = 0. Neste caso,
o diferencial dU, em dU = dq + dw, é o mesmo que aparece em dU = T (t)dS − P (t)dV +
PJ
j=1 µj (t)dNj .
8
Aqui, denominamos SF ao eletrólito homogêneo, comparativamente aos eletrólitos de eletrodo (o conceito
de eletrólito homogêneo foi apresentado no item Eletrodo e sua representação, junção lı́quida e seu potencial, da
subseção 12.2.1). Tal eletrólito homogêneo pode ser considerado um SF porque, a cada instante, compensam-se
entre si os fluxos iônicos que ocorrem nas interfaces entre o eletrólito homogêneo e os dois eletrólitos de eletrodo.
Parte V
Autoavaliação
Capı́tulo 13
10. Em quais situações uma grandeza termodinâmica nunca será associada a um tipo de local?
11. O que é uma função? O que é o seu argumento? O que é a sua imagem? Como ela é
representada?
14. Como, por meio do conceito de função, define-se a associação de uma grandeza termo-
dinâmica a um tipo de local?
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 287
15. Tanto propriedades como funções de processo são grandezas termodinâmicas associadas
a algum tipo de local. Qual, então, é a diferença entre propriedade e função de processo?
Exemplifique.
17. Explique o que é uma tendência instantânea de alteração temporal e como ela é matema-
ticamente representada.
18. Imagens de derivadas únicas temporais são, sempre, funções de processo. Por que isso
acontece?
19. Entretanto, a integral de derivada temporal única, sobre um intervalo de tempo perten-
cente ao tempo de existência do processo, pode produzir a diferença entre valores de uma
propriedade ou de uma função de processo. Como se pode distinguir entre si esses dois
casos?
24. O valor médio de uma propriedade intensiva é intensivo? Por quê? Explique detalhada-
mente, utilizando o conceito de limite.
25. É mensurável o valor médio de uma propriedade intensiva? É mensurável o valor de uma
propriedade intensiva, em sistema não homogêneo em relação a ela?
dy
26. Sejam x e y duas propriedades extensivas. Em geral, tem-se que dx (x) 6= xy . Explique:
dy y
(a) por que isso acontece, para isto utilizando os significados de dx (x) e x;
(a) extensiva aditiva, (1) qualquer que ela seja, (2) apenas em alguns casos, (3) ou
nunca?
(b) extensiva não aditiva, (1) qualquer que ela seja, (2) apenas em alguns casos, (3) ou
nunca?
28. Mostre como, a partir do valor da densidade, pode-se obter o valor da correspondente
propriedade especı́fica. O mesmo para propriedade molar.
29. Demonstre que, em todo ponto ~r e instante t, a soma das frações em mol de todas as
espécies quı́micas presentes no sistema é sempre igual a 1.
288 Adalberto B. M. S. Bassi
∂yv
30. Explique detalhadamente o significado de ∂xkv (Ψv (~r, t)), onde
33. Sempre que houver uma equação diferencial exata, existirá uma função diferenciável que a
gera e a equação diferencial exata poderá ser escrita em termos de derivadas dessa função
diferenciável. Escreva, então, dessa forma a equação diferencial exata.
34. Na subseção 1.3.2 é apresentado um exemplo de equação diferencial exata e outro para
inexata. Faça a demonstração detalhada para o caso da inexata, analogamente à feita na
mencionada subseção, para a exata.
35. Em termodinâmica, a função yx1 ,...,xK pode ser suave, no mı́nimo de segunda ordem, ou
pontual. Explique, detalhadamente, quais são as caracterı́sticas de cada um desses dois
tipos de função.
36. É possı́vel que a mesma função yx1 ,...,xK represente mais do que um só tipo de processo,
no mesmo volume K-dimensional definido pelos intervalos de variação dos seus argumen-
tos. É possı́vel, também, que para um tipo de processo a função yx1 ,...,xK seja suave no
mı́nimo de segunda ordem no mencionado volume, enquanto para outro tipo ela seja pon-
tual. Neste caso, o que acontece com a equação diferencial exata de yx1 ,...,xK , no volume
considerado?
2. Por que, num sistema homogêneo no instante t, neste momento densidades, propriedades
especı́ficas e propriedades molares não mais precisam ser escritas como derivadas, mas
sim apenas como quocientes? Use palavras, mais do que equações.
∂yv ∂y
(Ψv (~r, t)) = (Ψ(t)),
∂xkv ∂xk
onde Ψv (~r, t) = (x1 v (~r, t), x2 v (~r, t), . . . , xK v (~r, t)) e Ψ(t) = (x1 (t), x2 (t), . . . , xK (t))?
Use palavras, mais do que equações, e lembre-se da pergunta anterior.
4. Considerando que todas as propriedades intensivas denominadas caso a caso serão defini-
das somente em sistemas homogêneos, qual é a utilidade da expressão
∂yv ∂y
(Ψv (~r, t)) = (Ψ(t)) ?
∂xkv ∂xk
10. O que acontece com as propriedades extensivas e com a taxa de evolução temporal do
processo, num instante em que o sistema seja estacionário?
12. Pode-se afirmar que o exigido para um sistema ser homogêneo não é exigido para ele ser
estacionário e vice-versa. Explique essa afirmação.
14. O que de especial apresenta o processo estacionário em seus instantes terminais, quando
comparado com um processo qualquer?
17. Um sistema estacionário apresenta, em sua vizinhança temporal infinitesimal, só sistemas
não estacionários. Que caracterı́stica especial tem esse sistema?
19. A partir da definição conceitual, defina detalhadamente sistema em equilı́brio, por meio
de equação em derivadas temporais e não temporais.
21. Por que a homogeneidade bárica do sistema, no instante t, garante que o sistema não
troca potência bárica com o exterior, neste momento?
22. Caso o sistema esteja homogêneo no instante t, o que é necessário para que ele, além
disso, esteja sob equilı́brio neste instante?
23. Caso o sistema esteja termicamente homogêneo no instante t, o que é necessário para que
ele, além disso, esteja sob equilı́brio térmico neste instante?
25. Um processo estático pode trocar energia com seu exterior? Explique.
26. O que é necessário para que um processo homogêneo também seja estático?
27. Por que um subconjunto dos processos estáticos são os estáticos homogêneos?
32. Um sistema em equilı́brio apresenta, em sua vizinhança temporal infinitesimal, só sistemas
em não equilı́brio. Que caracterı́stica especial tem esse sistema?
2. Considerando as três caracterı́sticas pedidas na pergunta 1, forneça dois motivos por que
“processos reversı́veis” não acontecem na realidade.
3. O que aconteceria para um intervalo temporal infinito, impossı́vel no mundo real? Con-
sidere ambos os motivos pedidos na pergunta 2.
4. Por que intervalo temporal infinito correspondendo à variação finita de alguma proprie-
dade ou função de processo implica atemporalidade?
6. O conceito de reverso indica reversão no tempo; logo, não existe numa teoria atemporal.
Por exemplo, pode-se ter uma reação quı́mica que seja o reverso de outra. Então, tal
reação é um “processo reversı́vel”?
9. A homogeneidade bárica do sistema, no instante t, exige que, para quaisquer dois pontos
A e B do sistema, PA (t) = PB (t). O que significa essa igualdade?
dx
10. Qual é a relação entre as incertezas nos valores de x(t) e dt (t)?
11. O que deve acontecer para que um processo possa ser, experimentalmente, considerado
termobaricamente homogêneo não iTP?
12. O que deve acontecer para que um processo possa ser, experimentalmente, considerado
homogêneo não estático?
17. O que ocorrerá se a homogeneidade de qualquer propriedade intensiva for absoluta durante
todo o tempo de existência do processo e nos seus instantes terminais, para processo (1)
homogêneo? (2) termicamente homogêneo?
20. Qual é a relação entre a teoria utilizada no texto disponibilizado, para descrever a termo-
dinâmica e o enfoque tradicionalmente utilizado em cinética quı́mica?
21. O que é uma fronteira fechada? Lembrando que a definição de fronteira diz que ela per-
tence ao sistema e que a sua espessura é nula, explique como é possı́vel experimentalmente
impor que uma fronteira seja fechada.
22. Mencione alguns tipos especı́ficos de fronteira fechada. Quando não se especifica tipo
algum, o que isso significa?
26. Explique o que é um processo TBS. Muito cuidado em não esquecer nada!
30. Quando apenas movimentos internos ocorrerem no sistema, o que acontecerá com a força
e o torque que o exterior exerce sobre o sistema?
32. Dê exemplos, para sistemas macroscópicos, de movimentos do sistema que não sejam
internos.
34. Se a equação dos gases perfeitos for considerada válida para o SF considerado, a energia
interna do SF incluirá muito menos parcelas do que na realidade ela inclui. Por quê?
35. Em termos de energia interna, no texto apresentado qual é a limitação imposta aos pro-
cessos termodinâmicos?
36. Por que a limitação mencionada no item anterior implica que o valor da energia interna
seja conhecido a menos de uma constante aditiva?
37. Essa constante aditiva de valor desconhecido interfere na diferença entre as energias in-
ternas do SF em dois instantes distintos do tempo de existência de um processo?
2. Por que o movimento responsável pela energia de estrutura rı́gida pode, ou não, alterar
os momentos linear e/ou angular do SF?
3. As partı́culas que formam o sistema podem apresentar dois tipos distintos de movimento
capazes de alterar o conteúdo energético do sistema. Descreva tais movimentos e explique
como cada um deles influencia o conteúdo energético do sistema.
5. Uma das duas potências trocadas a cada instante está sujeita a uma restrição à qual a
outra potência não está sujeita. Qual é a restrição e qual é a parcela a ela sujeita?
6. Seja qualquer uma das duas potências no instante t, sendo t# < t < t# , representada por
dx
dt (t). Então, o que significa:
(a) ∆a→b x?
(b) ∆x(t) e x# ?
(c) ∆x(t) = x(t)?
7. Explique o significado de ∆Erig (t) = Erig (t) − Erig # e ∆U (t) = U (t) − U# , para
t# < t < t# .
9. Os tipos de trabalho que podem ser absorvidos ou emitidos pela energia interna diferem
daqueles que podem ser absorvidos ou emitidos pela energia de estrutura rı́gida?
10. Explique detalhadamente a obtenção das eqs. 3.3 e 3.4 a partir da eq. 3.2.
11. Apresente o enunciado conceitual (não alguma equação matemática) da primeira lei da
termodinâmica.
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 293
12. Explique o que é um sistema isotrópico e qual sua diferença em relação a sistema esta-
cionário.
13. Explique o que acontece com a energia de estrutura rı́gida e com a energia interna, em
sistema isolado isotrópico.
14. Escreva duas formas alternativas à eq. 3.4 e, para cada uma das três, explique detalhada-
mente em qual caso ela deve ser aplicada.
15. Nas três expressões mencionadas no item anterior, existem diferenças entre valores de
propriedades e diferenças entre valores de funções de processo. Escolha uma das três
equações e para esta:
(a) Informe quais são as diferenças entre valores de propriedades e quais são as diferenças
entre valores de funções de processo.
(b) Explique detalhadamente o motivo da classificação feita em resposta ao item anterior.
16. A partir da eq. 3.4 obtenha a eq. 3.7 e explique por que a eq. 3.7 implica a existência da
função Uq,w .
18. O que garante que exista uma equação diferencial correspondente a Uq,w e que essa equação
diferencial seja exata?
20. As equações integradas 3.4, 3.5, 3.6 e 3.7 têm, todas elas, a mesma abrangência das eqs.
3.8 e 3.9. O que garante isso?
21. As eqs. 3.8 e 3.9 referem-se, ambas, a um único instante t, enquanto as integradas se
referem a intervalos temporais. Entretanto, as equações integradas e a eq. 3.8 estão em
unidade de energia, ao contrário da eq. 3.9. Por quê?
22. Por que as eqs. 3.12 exigem que, no instante t do tempo de existência do processo ao qual
se referem, o sistema esteja deformável e barostatizado?
24. O processo mais geral ao qual é aplicável o conceito de potência volumétrica impõe,
apenas, que o SF seja deformável e barostatizado durante todo o tempo de existência do
processo. Mostre que as eqs. 3.13 e 3.14 se aplicam a tal processo.
25. A potência volumétrica pode alterar a energia de estrutura rı́gida? Por quê (considere a
eq. 3.12)?
26. A potência não volumétrica pode alterar a energia de estrutura rı́gida? Por quê?
27. Considerando a eq. 3.13, válida para SF deformável e barostatizado durante todo o tempo
de existência do processo, particularize-a, explicando tal particularização e suas con-
sequências, para os seguintes casos:
28. Considerando a definição matemática de entalpia, por que ela é bem definida exclusiva-
mente em sistema baricamente homogêneo?
29. Deduza a eq. 3.18, para processo barostatizado em SF deformável, a partir da eq. 3.14.
Compare as eqs. 3.5 e 3.18, no que se refere a:
30. Justifique o fato de as eqs. 3.152 e 3.19 igualarem variações de propriedades a alterações
de funções de processo.
31. Para processo barostatizado é válida a eq. 3.152 , mas não é correta a eq. 3.151 . Analoga-
mente, para processo barostatizado é válida a eq. 3.18, mas não é correta a eq. 3.20. Já
para processo isobárico baricamente homogêneo, tanto a eq. 3.151 quanto a eq. 3.152 são
válidas. Analogamente, para processo isobárico baricamente homogêneo, tanto a eq. 3.18
quanto a eq. 3.20 são válidas. Explique detalhadamente o porquê dessa afirmação.
32. A eq. 3.20 produz a eq. 3.211 assim como a eq. 3.151 produz a eq. 3.212 ; portanto,
respectivamente, existem as funções deriváveis no tempo Hq,wnv e (wv )P V . Demonstre
que essas funções são suaves.
33. A função Hq,wnv abrange, num conjunto contável de pontos, mais processos do que em
outros pontos do mesmo espaço matemático. Explique por quê.
34. A função (wv )P V abrange, num conjunto contável de pontos, mais processos do que em
outros pontos do mesmo espaço matemático. Explique por quê.
35. Na seção 3.4 é apresentado um exercı́cio para ajudar na fixação dos conceitos vistos nesses
primeiros três capı́tulos. Leia cuidadosa e criticamente a pergunta e a resposta.
3. O conceito de estado do SF sob processo homogêneo inclui duas importantes restrições às
funções de estado. Quais são elas?
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 295
4. Por que são equivalentes as representações para estado de SF homogêneo (T (t), P (t),
N1 (t), . . . , NJ (t)) e (T (t), P (t), X1 (t), . . . , X(J−1) (t), N (t))? Quando é mais conveniente
escolher a segunda? Por quê?
8. Explique o conceito de informação faltante e, também, por que ela aumenta quando
aumenta o número de subestados englobados pelo estado.
12. Qual o possı́vel equı́voco com as palavras ordem e desordem, tão comuns nos livros tradi-
cionais quando tratam da segunda lei da termodinâmica?
13. Dado que um e somente um estado corresponde a cada instante do processo homogêneo
em SF, por que infinitos estados correspondem a um processo?
14. Por que, ao longo do processo homogêneo em SF, os subestados contidos pelos estados
modificam-se de modo contı́nuo?
15. Por que não se deve dizer que cada estado de SF submetido a processo homogêneo contém
um número de subestados, mas sim uma quantidade deles?
16. Ao se passar dos conceitos explicados sem utilizar meios contı́nuos, para estes últimos, no
caso de
17. O que acontece no instante t## e por que, para o processo homogêneo não estático, não
se pode ter t## < t# ?
296 Adalberto B. M. S. Bassi
18. Por que, no enunciado da segunda lei, no caso de processo homogêneo não estático exige-
se que, no instante considerado pertencente ao tempo de existência do processo, o SF seja
tomado como estacionário, embora não o seja?
20. A segunda lei informa ser impossı́vel que um processo homogêneo leve o SF de um estado
de maior informação faltante para outro com menor, o que implica o fato de a informação
faltante só poder aumentar no tempo, sendo esta uma afirmação determinista. O que
justifica tal determinismo?
21. Explique como o processo homogêneo não estático em SF pode levar a estados de equilı́brio
metaestáveis. Qual a diferença entre os estados metaestáveis e o estável (caso exista)?
22. Cite um exemplo para o qual o estado de maior informação faltante pode ser considerado
o mais “ordenado”, se este adjetivo não for adequadamente definido.
24. Por que um estado de equilı́brio instável não pode ocorrer durante o tempo de existência
de qualquer processo homogêneo, seja ele estático ou não estático?
25. Por que o mesmo estado do SF pode pertencer a diferentes processos homogêneos?
26. Ao tomar o estado do SF submetido a processo homogêneo não estático como se fosse
estacionário, determina-se a sua informação faltante. Se o estado continuar sendo tomado
como se fosse estacionário, mas for alterado o processo ao qual ele pertence, mudará o
valor da sua informação faltante? Por quê?
27. A entropia S(t) é uma medida da quantidade de informação faltante de um estado, cal-
culada como se o estado fosse estacionário, desde que tal estado pertença a qual tipo de
processo em SF?
29. A entropia pode diminuir em SF isolado sofrendo processo homogêneo? Por quê?
30. A entropia pode diminuir em SF que não permita a realização de trabalho não volumé-
trico, sofrendo processo homogêneo iT a volume constante? Por quê?
31. A entropia pode diminuir em SF que não permita a realização de trabalho não volumé-
trico, sofrendo processo homogêneo iTP? Por quê?
34. Sendo G a energia de Gibbs, G pode aumentar em SF que não permita a realização de
trabalho não volumétrico, sofrendo processo homogêneo iTP? Por quê?
10. Pode haver difusão se não houver movimento aleatório das partı́culas do sistema de
partı́culas?
11. Haverá difusão sempre que houver movimento aleatório das partı́culas do sistema de
partı́culas?
13. Apresentam direção aleatória as velocidades, referentes a fluxos convectivos, das partı́culas
do sistema de partı́culas?
16. No ponto ~r e no instante t, para cada direção qual é o sentido em que o fluxo difusivo de
Wj é positivo?
18. É conveniente considerar o valor µj (~r, t) como sendo a imagem de uma função cujos
argumentos são valores referentes a outras propriedades, nos mesmos ponto e instante.
Quais são essas propriedades? Escreva a expressão matemática do valor µj (~r, t), como
sendo a mencionada imagem.
20. De que depende a forma algébrica da função constitutiva mencionada no item anterior?
22. Defina homogeneidade de potencial, no instante t. O que acontece com o fluxo difusivo,
neste instante?
26. Explique por que os subsistemas de todo SF TµP-h, embora em contato entre si, são
fechados.
27. Explique por que um SF estacionário TµP-h pode não estar em equilı́brio, enquanto todo
SF estacionário homogêneo está em equilı́brio. O que deveria ser adicionalmente imposto
para que fosse garantido o equilı́brio em SF estacionário TµP-h?
28. O que acontece com o SF TµP-h se for imposta homogeneidade absoluta de qualquer
propriedade intensiva?
31. Um processo estacionário TµP-h pode ser, ou não, estático, neste último caso não po-
dendo haver troca com o exterior de potência térmica, volumétrica ou não volumétrica
em momento algum do tempo de existência do processo, ou mesmo em seus instantes
terminais. Porém, no caso de processo estacionário TµP-h não estático, impõe-se uma
restrição. Qual é ela?
32. Explique sob quais condições processos reais em SF podem ser considerados não estacio-
nários TµP-h.
33. Liste quais são os únicos processos estudados no texto apresentado, para cada um deles
informando sobre o que ocorre durante o tempo de existência do processo e os instantes
terminais.
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 299
(a) o significado de cada uma das variáveis presentes nessa representação, incluindo seus
ı́ndices;
(b) o nome de J e o valor de sua cota inferior máxima;
(c) os valores que Xj i (t), para j = 1, . . . , J e Ni (t) podem assumir.
4. Em SF sob processo não estacionário TµP-h, dois ı́ndices são necessários para especificar,
sem ambiguidades, qual é a espécie quı́mica considerada (por exemplo, H2 O, Cl− etc.).
Explique por quê.
5. O que representa a igualdade µp m (t) = µq n (t)? Por que a imposição dessa igualdade tem,
como consequência, tornar uma entre as propriedades intensivas
6. Explique:
(a) por que se pode descontar de tot(t) o número de propriedades intensivas tornadas
dependentes das outras por causa da imposição de igualdades do tipo µp m (t) =
µq n (t);
(b) a obtenção da eq. 4.9.
sendo todas essas equações válidas para o instante t, onde t# ≤ t ≤ t# , sendo t# < t# , de
processo homogêneo em SF. Portanto, no instante t de processo TµP-h, onde t# ≤ t ≤ t# ,
sendo t# < t# , a eq. 4.14 é válida para cada subsistema homogêneo do SF. Demonstre
que, além disso, neste instante t a eq. 4.14 é válida para o SF TµP-h tomado como um
todo.
13. Por que as definições matemáticas de H, A e G são válidas (1) para cada subsistema
homogêneo pertencente a um SF TµP-h e (2) para o SF TµP-h tomado como um todo?
14. Considerando a expressão destacada na penúltima pergunta (eq. 4.14) e as três definições
mencionadas na última pergunta, demonstre que
J
X
dH = T (t)dS + V (t)dP + µj (t)dNj ,
j=1
J
X
dA = −S(t)dT − P (t)dV + µj (t)dNj e
j=1
J
X
dG = −S(t)dT + V (t)dP + µj (t)dNj .
j=1
15. Demonstre que, assim como a equação diferencial destacada na antepenúltima pergunta
(eq. 4.14), as três destacadas na última pergunta são válidas para o instante t, onde
t# ≤ t ≤ t# , sendo t# < t# , de processo TµP-h, tanto para cada subsistema do SF
quanto para o SF como um todo.
16. A equação diferencial exata referente à função de estado US,V,N1 ,...,NJ é a eq. 4.12, a seguir
transcrita,
J
∂U ∂U X ∂U
dU = (t)dS + (t)dV + (t)dNj .
∂S V,Ni ∂V S,Ni j=1
∂Nj S,V,Ni6=j
Comparando a eq. 4.12 com a eq. 4.14, obtém-se as eqs. 4.13. Analogamente:
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 301
17. No item (d) da última pergunta pede-se uma igualdade para µj (t) em termos de derivada
da energia de Gibbs, análoga à eq. 4.133 , porque esta última se encontra em termos da
energia interna. Utilizando a igualdade pedida no item (d) da última pergunta, explique
em palavras o que é o potencial quı́mico da espécie quı́mica Wj .
18. Demonstre que as eqs. 4.18, 4.19, 4.20, 4.21 e 4.22 são válidas para cada subsistema
homogêneo pertencente a um SF TµP-h e, também, para o SF tomado como um todo.
19. Se no instante t o estado de SF homogêneo for representado pelo conjunto (x1 (t), . . . ,
xK (t)) e y(t) for o valor de uma propriedade neste instante, ter-se-á y(t) = y(x1 (t), . . . ,
xK (t)), porque existirá a função de estado yx1 ,...,xK , cuja equação diferencial exata é
dada pela eq. 1.7. Esta última obedece à condição de integrabilidade de Schwarz, dada
pela eq. 1.8. As eqs. 1.7 e 1.8, reescritas por meio da notação para derivada parcial
usada em termodinâmica, são, respectivamente, as eqs. 4.23 e 4.24. Impondo U (t) =
y(t) e (S(t), V (t), N1 (t), . . . , NJ (t)) = (x1 (t), . . . , xK (t)) demonstre que, de acordo com a
condição de integrabilidade de Schwarz, tem-se
∂P ∂µj
− (t) = (t), para j = 1, . . . , J.
∂Nj (S,V,Ni6=j )
∂V (S,Ni )
20. A igualdade destacada no final da pergunta anterior é válida para SF TµP-h não homo-
gêneo, ou apenas para SF homogêneo? Por quê?
PK ∂y
21. Escreva dy = k=1 ∂xk x dxk para U (t) = y(t) e (T (t), V (t), N1 (t), . . . , NJ (t)) =
i6=k
(a) As derivadas parciais assim obtidas podem ser respectivamente igualadas a T (t),
−P (t) e µj (t), para j = 1, . . . , J? Por quê?
(b) A equação diferencial escrita é válida para SF TµP-h não homogêneo? Por quê?
(c) A equação diferencial escrita deve satisfazer à condição de integrabilidade de Schwarz
(eq. 4.24)? Por quê?
(d) Caso a equação diferencial escrita satisfaça à condição de integrabilidade de Schwarz,
as igualdades entre derivadas parciais disso resultantes seriam válidas para SF TµP-h
não homogêneo? Por quê?
PK ∂y
22. Escreva dy = k=1 ∂xk x dxk para H(t) = y(t) e (T (t), P (t), N1 (t), . . . , NJ (t)) =
i6=k
(a) As derivadas parciais obtidas podem ser respectivamente igualadas a T (t), V (t) e
µj (t), para j = 1, . . . , J? Por quê?
(b) A equação diferencial escrita é válida para SF TµP-h não homogêneo? Por quê?
(c) A equação diferencial escrita deve satisfazer à condição de integrabilidade de Schwarz
(eq. 4.24)? Por quê?
(d) Caso a equação diferencial escrita satisfaça à condição de integrabilidade de Schwarz,
as igualdades entre derivadas parciais disso resultantes seriam válidas para SF TµP-h
não homogêneo? Por quê?
25. Apresente as quatro propriedades intensivas usuais, obtidas a partir das capacidades
térmicas.
∂U
26. Em gás perfeito, qual é o valor de ∂V (T,N ) (t)?
i
∂H
27. Em gás perfeito, qual é o valor de ∂P (T,N ) (t)?
i
29. Em processo homogêneo com composição constante, para SF contendo apenas gás per-
C
feito tem-se dS = CTv (t)dT + NVR (t)dV e dS = Tp (t)dT − NPR (t)dP . Integre essas duas
equações diferenciais entre os instantes inicial e final do processo, considerando que a di-
ferença entre as temperaturas final e inicial seja suficientemente pequena para que tanto
Cv quanto Cp possam ser consideradas constantes no intervalo de integração. Essas ex-
pressões integradas resolvem quase todos os problemas sobre entropia encontráveis nos
livros tradicionais de termodinâmica.
30. Seja uma propriedade extensiva qualquer, y. Escreva a definição matemática de y parcial
molar da espécie quı́mica Wj , j = 1, . . . , J, em SF homogêneo. Interprete conceitualmente
essa definição matemática.
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 303
32. Seja uma propriedade extensiva qualquer, y. Para uma única espécie quı́mica Wj em SF
homogêneo, por que yj = ym ?
34. Escreva a lei de aditividade das grandezas parciais molares em SF homogêneo. Comente
a sua utilidade, exemplificando.
dS ≥ 0
dA ≤ dw
7. Por que os tempos de existência de processos não TµP-h e, também, os “processos re-
versı́veis” TµP-h não podem ser considerados pela desigualdade 5.161 nem, obviamente,
por qualquer uma das expressões a partir dela deduzidas?
10. Seja a expressão ∆A ≤ ∆w. Indique para quais processos TµP-h ela vale:
11. Seja a expressão ∆G ≤ ∆wnv . Indique para quais processos TµP-h ela vale:
12. Seja a expressão ∆A ≤ 0. Indique para quais processos TµP-h ela vale:
13. Seja a expressão ∆G ≤ 0. Indique para quais processos TµP-h ela vale:
14. A segunda lei da termodinâmica foi conceitualmente apresentada para processo homogê-
neo, na seção 4.1. Mostre que existe a informação faltante de SF TµP-h tomado como
um todo e, a partir desse fato, reapresente o enunciado conceitual da segunda lei, agora
para SF TµP-h. Neste novo contexto, discuta o significado do instante t## .
15. Na seção 5.6 são apresentados dois exercı́cios para ajudar na fixação dos conceitos vistos
nos capı́tulos 4 e 5. Leia cuidadosa e criticamente as perguntas e as respostas.
16. Explique detalhadamente o que é uma URQ em SF, em especial no que se refere:
18. O conceito de coeficiente estequiométrico é bem conhecido. Então, explique por que:
dNk
|νk | dt
= (t),
|νl | dNl
dt
21. Defina alteração idêntica na massa dos reagentes e produtos, abreviatura AI. Relacione
com a igualdade destacada na penúltima pergunta.
(a) havendo intermediários numa URQ, podem ser satisfeitas, dentro do limite de pre-
cisão dos instrumentos, as exigências para os instantes terminais dos processos não
estacionário TµP-h e não TµP-h;
(b) dentro do limite de precisão dos instrumentos, intermediários podem ocorrer numa
URQ/AI.
N (t )−N (t )
23. Demonstre que j b νj j a , para νj 6= 0 e t# ≤ ta < t < tb ≤ t# , independe de j se e
somente se o processo em SF corresponder a uma URQ/AI.
306 Adalberto B. M. S. Bassi
24. Para URQ/AI, defina a variação na extensão absoluta, desde o instante ta até o momento
N (t)
tb , sendo νj 6= 0 e t# ≤ ta < t < tb ≤ t# . Por que ξ(t) 6= νj j ?
25. Por que, em termodinâmica quı́mica, não se define algo análogo à variação na extensão
absoluta, mas sem a imposição de AI?
26. Qual é a convenção arbitrária que permite definir valores para a extensão absoluta, não
apenas diferenças entre seus valores?
28. Sendo α(t) a extensão relativa da URQ/AI, demonstre que, para t# ≤ t ≤ t# , onde
t# < t# :
3. Por que a eq. 3.18 é indicada para expressar a restrição, produzida pela primeira lei da
termodinâmica, aos valores totais de trocas energéticas que ocorram com o exterior ao
longo dos tempos de existência de processos quı́micos, tanto pontuais quanto suaves?
4. Por que a eq. 3.231 , que impõe restrição, devida à primeira lei da termodinâmica, às trocas
instantâneas de potência com o exterior:
5. Por que a desigualdade, na expressão 5.25, é indicada para expressar a restrição, produzida
pela segunda lei da termodinâmica, ao valor total de troca energética que ocorra com o
exterior ao longo dos tempos de existência de processos quı́micos, tanto pontuais quanto
suaves?
6. Por que a desigualdade na expressão 6.15, que impõe restrição, devida à segunda lei da
termodinâmica, às trocas instantâneas de potência com o exterior:
7. Por que, a partir do inı́cio da subseção 6.2.2, considera-se que o processo efetuado é
quı́mico suave, enquanto o quı́mico pontual é bem mais fácil de executar em laboratório?
10. A função Gξ pode ser graficamente representada por meio de uma curva. Em quı́mica,
sempre que dados experimentais precisam ser obtidos, a taxa de evolução temporal do
processo deve ser a menor possı́vel, em relação à velocidade em que a medida é efetuada,
por uma questão de precisão. O ideal é ter um sistema estacionário. Um ponto da curva
mencionada, se fosse considerado sistema estacionário, continuaria válido para sistema não
estacionário? Se fosse considerado sistema estacionário trocando potência não volumétrica
com seu exterior, continuaria válido para sistema que não trocasse tal potência? Por quê?
11. O que significam as extensões absolutas ξ∗∗ e ξ ∗∗ , tais que ξ∗∗ < 0 ≤ ξ(t) ≤ ξ max < ξ ∗∗ ,
sendo 0 < ξ max ? A função ξt existe ao longo de todo esse intervalo? Por quê?
12. Quais especificidades deve ter a curva mencionada para garantir que, para todo ξ em
ξ∗∗ < ξ < ξ ∗∗ , exista valor real para a derivada dG
dξ (ξ)?
dG
13. Qual é o nome do simétrico de dξ (ξ)?
(a) a afinidade quı́mica é positiva sempre que o SF sob processo quı́mico suave não ab-
sorver potência não volumétrica no instante considerado do seu tempo de existência;
308 Adalberto B. M. S. Bassi
(b) somente é possı́vel afinidade quı́mica negativa quando o SF sob processo quı́mico
suave absorver potência não volumétrica no momento considerado do seu tempo de
existência, embora tal absorção não garanta que a afinidade quı́mica seja negativa
neste instante;
(c) a unidade da afinidade quı́mica, no SI, é Jmol −1 .
23. No ramo da curva já citada, à esquerda do equilı́brio quı́mico o SF é sempre exergônico,
enquanto no ramo à direita ele é sempre endergônico. Por quê?
24. No que se refere à composição do SF, o que diferencia o ramo da curva à esquerda do
equilı́brio quı́mico, daquele à direita? Por quê?
25. Se nenhuma potência não volumétrica puder ser absorvida ou emitida, durante o intervalo
temporal t# ≤ t ≤ t# , sendo t# < t# , então ξ max ocorre exatamente no equilı́brio quı́mico;
logo, ξ max = ξ eqq e há equilı́brio no correspondente instante t# . Por quê?
2. Seja uma URQ/AI e sua reversa. Graficamente, qual é a relação entre as curvas G × ξ da
reação direta e Gr × ξ r da reversa?
8. A eq. 6.22 não provém nem da definição geométrica da operação de reflexão, nem da de-
finição de URQ/AI, sendo uma restrição adicional, imposta aos instantes em que ocorrem
os pontos simétricos, necessária para definir completamente a reação reversa. Conside-
rando as eqs. 6.201 , 6.202 e 6.21, junto com a eq. 6.22, demonstre que:
tr +t
(a) tr# ≥ 2 ≥ t# ;
(b) são iguais os tempos de existência das reações direta e reversa;
(c) em pontos simétricos, as taxas de conversão são iguais.
10. Descreva a representação gráfica do que ocorrerá se for interrompida uma corrente elétrica
que esteja impulsionando para cima, em ramo endergônico, o ponto que representa o SF.
13. Como diz seu nome, uma URQ/AI é uma única reação quı́mica. Como isso se compa-
tibiliza com o conceito quı́mico de que toda reação, a cada instante, acontece nos dois
sentidos opostos?
15. Defina equilı́brio cinético e explique em que momentos um processo quı́mico encontra-se
nesse tipo de equilı́brio.
16. Pode haver equilı́brio quı́mico sem que ocorra equilı́brio cinético e vice-versa? Existe a
possibilidade de que os dois equilı́brios ocorram simultaneamente? Se existir, quando isso
acontece?
18. Defina, cuidadosamente, processo quı́mico cinético. Considerando o que ocorreria com a
taxa temporal de reação para Wjagr se a URQ apresentasse AI, explique por que o processo
quı́mico cinético é preferido em cinética quı́mica.
310 Adalberto B. M. S. Bassi
19. Explique, em detalhes, o que são leis cinéticas para URQ e informe qual é a teoria na qual
tais leis se baseiam.
20. Fixados uma URQ e um processo quı́mico cinético bem definidos, a lei cinética também
está bem definida? Caso não esteja, de que ela ainda depende?
21. A eq. 7.41 fornece uma especı́fica lei cinética, e a eq. 7.42 fornece a mesma lei cinética,
agora multiplicada por |νj |. Explique:
(a) qual é a vantagem de usar a eq. 7.42 , em relação ao uso da eq. 7.41 ;
(b) o que é ordem da reação em relação à espécie quı́mica Wjagr , por que a ordem tem
dois ı́ndices e qual é o significado de cada um deles;
(c) do que a ordem da reação em relação à espécie quı́mica Wjagr depende e independe
e qual é a sua dimensão;
(d) se é necessário que a ordem da reação em relação à espécie quı́mica Wjagr coincida
com o coeficiente estequiométrico de Wjagr ;
(e) o que é a constante de velocidade e qual é o significado do seu ı́ndice;
(f) do que a constante de velocidade depende e independe e qual é a sua dimensão.
22. As duas eqs. 7.4 não exigem que a URQ apresente alteração idêntica. Mas, na hipótese
de se tratar de uma URQ/AI, algumas condições especiais são impostas. Quais são elas?
23. Existem muitas leis cinéticas cuja forma não é aquela fornecida pelas eqs. 7.4, inclusive
para reações aparentemente muito simples. Em tais reações é possı́vel definir a ordem de
um reagente ou produto? Em caso positivo, como? É possı́vel definir a ordem total da
reação? Em caso positivo, como?
24. Explique o método do isolamento e informe para que serve. Indique como tal método
pode ser utilizado para reagentes e produtos.
25. Mostre como faixas de concentração diferentes podem alterar a lei cinética.
2. A eq. 7.10 fornece a energia molar de alteração térmica, Ekj , correspondente à constante
de velocidade, kj , definida pelas eqs. 7.4. Mostre que:
(a) o termo do meio (entre as duas igualdades) da eq. 7.10 é igual ao termo da direita;
(b) kj é uma grandeza dimensional, mas k j é o correspondente valor adimensional, qual-
quer que seja a unidade (por exemplo, caso se tratasse de uma distância, seu valor
adimensional poderia ser 1, se a distância fosse dada em quilômetros, ou 1.000, se
fosse fornecida em metros). Explique por que o valor de Ekj não se altera quando se
modifica a unidade de kj ;
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 311
15. Considere uma URQ que corresponda a uma RQE, podendo tal URQ ser a etapa de
algum mecanismo, ou ocorrer sem necessariamente pertencer a mecanismo algum. Tal
URQ apresenta caracterı́sticas muito especı́ficas, quando comparada com as URQ em
geral. As especificidades são:
(a) a URQ sempre obedece à lei de velocidades dada pelas eqs. 7.4. Mas, adicionalmente,
ela obedece a uma forma muito particular dessas equações. Apresente essa forma
particular e explique o porquê dela;
(b) de acordo com as eqs. 7.6 e 7.10, tem-se Ek = Ekj para j = 1 . . . , J − Υ, ou seja,
Ekj independe de j. Explique por quê;
(c) a eq. 7.13 é satisfeita, como queria Arrhenius. Explique por quê;
(d) o fator pré-exponencial de Arrhenius obedece à igualdade
|νm |
Am = An .
|νn |
16. Qual é o sı́mbolo para o adjetivo padrão? Como esse sı́mbolo é usado?
18. O que significa o subı́ndice r? Algo a ver com o superı́ndice r utilizado para URQ/AI
reversa?
21. Qual é a energia de Gibbs padrão de formação para uma espécie quı́mica elementar em
seu estado estável?
24. Demonstre a eq. 7.18, explicitando claramente as restrições ao uso dessa expressão, devidas
a aproximações feitas na demonstração.
25. Por que a variação da energia de Gibbs padrão de reação, com a temperatura, não pode
ser obtida de modo análogo ao efetuado para a eq. 7.18, que fornece a variação da entalpia
padrão de reação, com a temperatura?
26. Demonstre a eq. 7.20, explicitando claramente as restrições ao uso dessa expressão, devidas
a aproximações feitas na demonstração.
27. A partir da eq. 7.20 demonstre a eq. 7.22. Comente a validade das aproximações feitas.
(a) é adimensional?
(b) não depende nem da pressão nem da extensão da reação?
(c) pode ser calculada, para qualquer reação, a partir de dados tabelados?
10. A separação do simétrico da afinidade quı́mica em duas parcelas somativas (eq. 7.232 ) é
muito significativa no que se refere às caracterı́sticas dessas duas parcelas, as quais são
bem distintas. Descreva detalhadamente tais caracterı́sticas.
314 Adalberto B. M. S. Bassi
(a) a definição de molalidade mj , sua unidade no SI e a razão por que ela é uma medida
mais precisa do que a concentração cj (no SI, a unidade desta última é mol × m−3 );
(b) a definição de m e a razão da sua existência, na eq. 7.32;
(c) o significado conceitual do coeficiente de atividade;
(d) as caracterı́sticas do SF das quais dependem a atividade e o coeficiente de atividade;
(e) a informação acerca da correção ou não da afirmação segundo a qual a atividade é
proporcional à molalidade;
(f) o esclarecimento de que serve a eq. 7.32, já que a atividade e o coeficiente de atividade
dependem dos mesmos fatores;
(g) a informação acerca dos casos em que é possı́vel considerar que a atividade é o valor
adimensional da molalidade.
16. Explique o que é um vı́nculo e detalhe os dois tipos mencionados na subseção 8.1.1.
17. Exemplifique algumas relações matemáticas que podem, erroneamente, ser consideradas
vı́nculos.
21. Na regra de fases, quais valores podem ser atribuı́dos a cada uma das variáveis que nela
aparecem?
23. Em diagrama de fases, cada ponto matemático obrigatoriamente representa algum estado
de equilı́brio do SF TµP?
25. Para cada ponto do diagrama que representa estado sob equilı́brio TµP, como se atribuem
os correspondentes valores I e L (sabido C)?
26. Demostre que os valores máximos de I e L, para cada ponto do diagrama que representa
estados em equilı́brio do SF TµP, são, respectivamente, I md = C +2 ≥ 3 e Lmd = C +1 ≥
2.
∂µ ∂µ
= −Sm e = Vm .
∂T P ∂P T
2. Na fig. 8.1, pontos que se situem na mesma vertical, um sobre cada uma das três cur-
vas, correspondem a SF homogêneos estacionários terminais de processos TBS não TµP.
Explique por quê.
3. Explique por que, na fig. 8.1, para cada abcissa T o estado de equilı́brio estável sempre
está situado sobre a curva que, nessa temperatura, apresenta menor potencial quı́mico,
enquanto os pontos na mesma vertical, sobre as outras duas curvas, correspondem a
equilı́brios metaestáveis. Qual imposição deve ser feita para que isso aconteça?
4. Se a imposição a que se refere a pergunta anterior fosse retirada, seria possı́vel passar de
um estado estável para um metaestável? Como?
8. Supondo SF impedido de trocar trabalho não volumétrico com seu exterior, sem sair do
ponto de interseção o processo de transição entre estados de agregação só pode ser um
irrealizável “processo reversı́vel ” TµP. Explique por quê.
10. Utilizando a fig. 8.2, explique por que a temperatura de fusão diminui quando, próximo
dessa transição, a densidade do sólido é menor do que a do lı́quido (como na água),
enquanto aumenta quando a densidade do sólido é maior do que a do lı́quido (como para
a maioria das espécies quı́micas).
11. Demonstre que, para um SF contendo uma única espécie quı́mica, seu diagrama de fases
apresenta dois eixos ortogonais e, no máximo, três subsistemas em contato entre si, em
equilı́brio estável.
13. O que é ponto crı́tico? No diagrama de fases de um componente, onde se situa o fluido
supercrı́tico?
14. De acordo com o diagrama de fases para um componente, é possı́vel efetuar uma vapo-
rização sem que ocorra a transição lı́quido-gás? Se for possı́vel, como?
16. A fig. 8.3 é uma caricatura do diagrama de fases da água. Forneça duas claras razões
para qualificar essa figura como uma caricatura.
17. Explicando o significado dos seus termos, demonstre a equação, válida para toda curva
em diagrama de fases para um componente,
18. Explicando o significado dos seus termos, demonstre a equação, válida para todo ponto
sobre curva em diagrama de fases para um componente,
∆α→β Hm (T ) = T ∆α→β Sm (T ).
20. Se forem efetuadas com precisão (geralmente, de modo numérico) as integrais na expressão
destacada na pergunta anterior, será confirmada a igualdade, conforme prevê a demons-
tração pedida naquela pergunta. Mas, se forem efetuadas de modo aproximado, isso
geralmente não acontecerá. Pergunta-se: (1) quais são as aproximações que costumam
ser feitas? (2) em qual situação essas aproximações não destroem a igualdade?
22. Para as curvas de equilı́brio sólido-gás e lı́quido-gás, por que a aproximação para inte-
gração sempre é feita a grande distância do ponto crı́tico?
(a) as curvas de equilı́brio sólido-gás e lı́quido-gás são sempre inclinadas para a direita,
enquanto na curva de equilı́brio sólido-lı́quido a inclinação pode ser tanto para a
direita como para a esquerda;
(b) as curvas de equilı́brio sólido-gás e lı́quido-gás são sempre muito menos verticais do
que a de equilı́brio sólido-lı́quido.
P α* ∆(vap ou sub) Hm
)β
ln ≈ (T0−1 − T −1 ) e
P0 R
25. No ponto triplo sólido-lı́quido-gás de diagramas de fases para um só componente, a curva
de equilı́brio sólido-lı́quido é muito mais vertical do que as outras duas. Mas, embora isso
possa ser quase imperceptı́vel, a curva de equilı́brio sólido-gás é um pouco mais vertical
do que a lı́quido-gás. Por quê?
(a) para cada uma das variáveis que aparecem nas diversas igualdades da eq. 8.16, diga
seu nome, explique o seu significado, informe sua dimensão e diga se a variável
representa propriedade intensiva, extensiva aditiva ou extensiva não aditiva;
(b) explique por que, em um dos eixos do diagrama de fases mencionado na primeira
pergunta, lançam-se os valores ZA ;
(c) a eq. 8.16, ou 8.17, pode ser considerada um vı́nculo adicional, conforme tais vı́nculos
foram definidos no estudo da regra de fases? Por quê?
5. Conceitualmente (sem usar expressões matemáticas), o que é uma solução lı́quida ideal?
7. Impondo que a temperatura seja mantida constante, também são valores constantes
pressões de vapor para espécies quı́micas únicas no SF. Neste caso, a eq. 8.181 fornece P
em função de XA , enquanto a eq. 8.20 informa o valor de P para cada YA . Comente as
formas geométricas dessas duas equações.
(a) quais são as equações matemáticas respectivamente correspondentes às curvas repre-
sentadas por L* )G(XA ) e L* )G(YA )?
(b) o que significam XA e YA , respectivamente, nas denominações das curvas L) *G
*
(XA ) e L)G(YA )?
(c) por que o lı́quido (XA ) encontra-se na área superior e o gás (YA ) na inferior, não o
contrário?
(d) o que significa a região em forma de barquinho denominada vazio?
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 319
(e) a figura mostra que WA é mais volátil do que WB ou o contrário? Por quê?
(f) qual é a relação entre pontos sobre a reta e sobre a curva que se encontram na mesma
altura?
(g) dois pontos, um sobre a reta e outro sobre a curva, estão na mesma altura e um ter-
ceiro ponto encontra-se sobre a reta pontilhada horizontal que une os dois primeiros,
dentro da região em forma de barquinho. O que representa esse terceiro ponto?
(h) o que aconteceria com o gráfico se, em vez de ser lançado ZA como abcissa, fosse
lançado ZB ?
9. A fig. 8.5 apresenta um corte em pressão constante do mesmo diagrama de fases tridi-
mensional a que se refere a pergunta anterior. Nessa figura:
(a) por que o gás (YA ) encontra-se na área superior e o lı́quido (XA ) na inferior, não o
contrário?
(b) a figura mostra que Teb A (P ) < Teb B (P ). Por quê?
(c) qual é a relação entre pontos sobre as duas curvas que se encontrem na mesma altura?
(d) dois pontos, cada um sobre uma das duas curvas, estão na mesma altura e um
terceiro ponto encontra-se sobre a reta pontilhada que une os dois primeiros. O que
representa esse terceiro ponto?
(e) o que aconteceria com o gráfico se, em vez de ser lançado ZA como abcissa, fosse
lançado ZB ?
11. Compare o processo de vaporização de uma solução lı́quida (ou de condensação de uma
solução gasosa) ao de vaporização (ou condensação) de uma única espécie quı́mica em SF.
Para isso, considere:
(a) as representações das únicas espécies quı́micas em SF, nas figs. 8.4 e 8.5;
(b) a caricatura do diagrama de fases para H2 O, fig. 8.3.
13. Explique o que são desvios atrativos e repulsivos, em relação à solução lı́quida ideal.
14. Existe uma caracterı́stica importante na forma das curvas presentes nos cortes dos diagra-
mas de fase para solução lı́quida ideal que, quando os desvios mencionados na pergunta
anterior não forem suficientemente intensos, ainda é mantida em soluções lı́quidas reais.
Qual é essa caracterı́stica?
15. O que acontece quando os desvios forem suficientemente intensos para quebrar a carac-
terı́stica a que se refere a pergunta anterior?
16. O que diferencia a ebulição de uma solução lı́quida azeotrópica da ebulição de uma solução
lı́quida não azeotrópica?
17. O que acontece com as formas das curvas nos cortes do diagrama de fases, quando o
desvio repulsivo é tão forte que existem duas soluções lı́quidas parcialmente miscı́veis?
18. Para soluções lı́quidas parcialmente miscı́veis, existe mistura azeotrópica, ou seja, uma
proporção entre as duas soluções tal que aconteça uma única temperatura de ebulição?
Explique a sua resposta.
5 Disserte detalhadamente sobre a expressão mais geral e outras especı́ficas, para determinados
processos, do trabalho volumétrico. Ainda, defina entalpia e mostre a sua aplicação em
alguns desses processos especı́ficos, explicando as funções com imagem entalpia referentes
a tais processos e suas abrangências.
6 Disserte sobre equação diferencial exata e inexata, incluindo as condições para exatidão e
o conceito de função suave. Manifeste-se, também, sobre as diferentes abrangências da
função e de sua correspondente equação diferencial exata, ao descrever processos.
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 321
7 Faça a adaptação para meios contı́nuos dos conceitos básicos de estado, subestado, pro-
babilidade de ocorrência e informação faltante de estado. Em termos dessa adaptação,
apresente o enunciado conceitual da segunda lei da termodinâmica para sistema fechado
homogêneo.
11 Explique o que causa o fato de as fronteiras terem caracterı́sticas especı́ficas, quais são tais
caracterı́sticas e quais são os correspondentes sistemas e processos, também especı́ficos.
Procure explicar os diversos casos relatados no texto.
12 Disserte sobre os conceitos de corpo e primitivo de uma teoria, bem como explique o que são
sistemas geométrico clássico e de partı́culas. Defina grandeza termodinâmica e explique
como ela se associa a cada um dos dois tipos de local geométrico.
16 Disserte sobre processo TµP-h em SF, explicando detalhadamente os diversos tipos de pro-
cesso considerados pela teoria.
17 Explique o que é um SF TµP-h (não é pedida manifestação sobre o que é processo TµP-h).
Além disso, considerando que seja representado por S(t), V (t), N1 (t), . . . , NJ (t) o estado
de SF no instante t de processo homogêneo, onde t# ≤ t ≤ t# sendo t# < t# , apresente
as definições matemáticas de temperatura, pressão e potencial quı́mico.
19 Disserte sobre capacidades térmicas, envolvendo o conceito geral, as restrição para gás
perfeito e a inter-relação entre as capacidades.
20 Explique detalhadamente o balanceamento energético de SF e apresente o enunciado concei-
tual da primeira lei da termodinâmica, mostrando suas consequências sobre o mencionado
balanceamento.
21 Disserte sobre os conceitos de sistema e processo em equilı́brio. Seja bem detalhista.
22 Considerando que seja representado por S(t), V (t), N1 (t), . . . , NJ (t) o estado de SF no
instante t de processo homogêneo, onde t# ≤ t ≤ t# sendo t# < t# , em termos das pro-
priedades molares correspondentes a essas grandezas, apresente um modo alternativo para
representar uma propriedade qualquer, tanto em SF homogêneo como não homogêneo.
Além disso, explique detalhadamente o conceito de potencial quı́mico.
23 Defina “processo reversı́vel”, comente-o à luz da termodinâmica temporal, inclusive expli-
cando por que esse conceito é atemporal e comparando-o com processo estático. Explique
por que esse conceito é útil à termodinâmica temporal.
13.2.2 Subseção 5.3.1 até seção 8.4 inclusive (segunda metade do conteúdo
essencial)
1 Disserte detalhadamente sobre a aplicação dos conceitos de exergonia, endergonia e equilı́brio
quı́mico ao tempo de existência e aos instantes terminais de processo quı́mico suave. Além
disso, explique o que é uma URQ/AI espontânea.
2 Disserte sobre quociente de reação e constante termodinâmica de equilı́brio quı́mico, incluindo
uma explicação detalhada dos significados das parcelas em que se decompõe aditivamente
o simétrico da afinidade quı́mica.
3 Disserte detalhadamente sobre as propriedades padrão das URQ, envolvendo definições e
obtenção de valores.
4 Disserte sobre a afinidade quı́mica, detalhando a representação gráfica da curva correspon-
dente. Além disso, apresente as definições de exergonia, endergonia e equilı́brio quı́mico.
5 Disserte detalhadamente sobre os conceitos de única reação quı́mica, coeficientes estequio-
métricos e parâmetros de reação.
6 Disserte detalhadamente sobre alteração idêntica e extensão absoluta de URQ/AI.
7 Disserte sobre os conceitos de processo quı́mico cinético e de leis cinéticas. Além disso,
discuta detalhadamente a lei cinética padrão, obedecida por algumas URQ.
8 Explique o que é destilação fracionada e, também, o que são desvios atrativos e repulsivos
em relação à solução lı́quida ideal. Além disso, mostre o que é um azeótropo, comente
os dois tipos existentes e ressalte as especificidades das misturas azeotrópicas. Por fim,
comente sobre lı́quidos parcialmente miscı́veis.
9 Disserte sobre a regra de fases, incluindo o conceito e os tipos de vı́nculo, a equação ma-
temática que representa essa regra e sua aplicação a diagramas de fases para equilı́brios
estáveis. Considere já conhecidos o conceito de constituinte e a expressão algébrica para
o número de propriedades intensivas suficiente para descrever o SF sob processo TµP-h.
Conceitos Fundamentais de Termodinâmica e Cinética para Reações Quı́micas 323
10 Apresente os conceitos de reação quı́mica elementar (RQE) e de mecanismo, bem como ex-
plique detalhadamente que caracterı́sticas especı́ficas apresentam as URQ correspondentes
a RQE.
13 Disserte sobre o conceito de URQ/AI reversı́vel e irreversı́vel. Além disso, também disserte
detalhadamente sobre equilı́brio cinético.
18 Disserte sobre leis cinéticas especı́ficas, que diferem da forma padrão obedecida por algumas
URQ. Além disso, explique métodos cinéticos experimentais frequentemente utilizados,
bem como mostre um caso bem simples de integração de lei cinética, envolvendo o conceito
de meia-vida.
20 No estudo das desigualdades integrais, cinco expressões foram apresentadas, as quais foram
numeradas de 1 a 5. Efetue um estudo detalhado de cada uma das cinco expressões
integrais. Após isso, apresente o enunciado da segunda lei da termodinâmica para SF sob
processo TµP-h.
22 Para soluções gasosa perfeita e lı́quida ideal, compare os cortes do diagrama de fases fei-
tos em temperatura e em pressão constantes. Num corte em pressão constante, descreva
324 Adalberto B. M. S. Bassi
minuciosamente o que acontece quando, em SF, parte-se do sistema podendo conter so-
mente solução lı́quida e, por aquecimento, chega-se a sistema podendo conter apenas
solução gasosa.
24 Disserte sobre diagrama de fases para soluções gasosa perfeita e lı́quida ideal, envolvendo
o uso da regra de fases, a dedução da regra da alavanca e a obtenção das expressões
matemáticas para as curvas presentes em corte do diagrama feitos sob temperatura cons-
tante.
Índice Remissivo
variação com conc. analı́tica, 263 SF sob processo adiabát. TµP-h, 103
do solvente do soluto, 263 SF sob processo iT-TµP-h, 103
iônica SF sob processo iTP-TµP-h, 103
definição, 268 uso da igualdade e desigualdade, 104
transferibilidade, 268 expressões integrais
molar do soluto processo estacionário TµP-h, 107
definição, 264 processo não estacion. TµP-h, 108
limite, 264 “processo reversı́vel” TµP-h, 108
variação com conc. analı́tica, 264 não TµP-h, 108
conjuntos contável e contı́nuo, 27 segundo postulado, 108
constante processo adiabático, 109
aditiva, definição a menos de, 49 processo TBS
crioscópica, 249 com trabalho não volumétrico, 110
de Avogadro, 217 sem trabalho não volumétrico, 110
de Boltzmann, 153 processo termostatizado
de célula de condutividade, 261 com trabalho, 109
de Faraday, 269 sem trabalho, 110
de gás perfeito, 216 determinismo, 70
de Kohlrausch, 268 diagrama de fases
ebulioscópica, 249 conceito, 168
multiplicativa, defin. a menos de, 120 pontos permitidos
não termodinâmica de equil. quı́mico valor para I, 168
para concentração de gás perf., 163 valor para I md , 169
para fração em mol de gás perf., 163 valor para L, 168
para pressão de gás perfeito, 163 valor para Lmd , 169
para taxa temporal de reação pontos proibidos, 168
definição, 143 sol. lı́quida ideal-gasosa perfeita
energia de alteração térmica, 147 áreas superficiais não planas, 181
energia de ativação de Arrhenius, 148 corte em pressão constante, 182, 186
energias, comparação entre elas, 149 corte em temper. constante, 182, 184
para alteração idêntica (AI), 144 curva con. sol. liq. ideal, T fixo, 184
parâmetros de Arrhenius, 149 curva vap. sol. liq. ideal, T fixo, 183
pré-exponencial de Arrhenius, 149 curvas superficiais não planas, 181
termodinâmica de equilı́brio quı́mico definição lı́quida ideal, 183
alteração térmica, 161 destilação fracionada, 188
definição, 159 espaço vazio, 181
interpretação, 160 isopleta, 186
para gás perfeito, 163 lı́quido mais volátil, 186
para solução lı́quida diluı́da, 163 média ZA entre XA e YA , 182
para única esp. qu. não gasosa, 162 pontos superficiais, 181
universal, 17 pressões de transição, 187
constitutivo, 80 pressão de vapor, 183
cota, 39 processos no diagrama, 187
regra da alavanca, 182
desigualdade de Clausius temperaturas de transição, 187
expressões diferenciais uso da média ZA , 182
primeiro postulado, 102 valores para I md e Lmd , 180
328 Adalberto B. M. S. Bassi