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DOI: 10.1590/1413-81232020258.

19742018 3227

Contribuições tecnológicas para saúde: olhar sobre a atividade

Artigo Article
física

Technological contributions for health: outlook on physical activity

Renato Henrique Verzani (https://orcid.org/0000-0002-4416-7668) 1


Adriane Beatriz de Souza Serapião (https://orcid.org/0000-0001-9728-7092) 2

Abstract The scope of this paper sought to ana- Resumo Esse artigo visou analisar o potencial
lyze the potential of using Internet technologies of envolvendo a utilização de tecnologias da Internet
wearable accessories and devices and the possible das coisas e dos dispositivos vestíveis (wearables)
interventions in physical activities, seeking im- e as intervenções nas atividades físicas, buscando
provements with respect to physical inactivity and melhorias quanto à inatividade física e às Doen-
Chronic Non-Communicable Diseases (CNCDs). ças Crônicas Não Transmissíveis (DCNTs). Por
By means of a bibliographical review, it was re- meio de uma revisão bibliográfica, foi constatada
vealed that there is great concern regarding physi- grande preocupação com relação à inatividade fí-
cal inactivity and CNCDs as well as the increasing sica e às DCNTs, além do crescente enfoque das
research focus on these technological strategies. pesquisas nestas estratégias tecnológicas. Os dados
The amount of data collected in real time is one of coletados em tempo real são um dos pontos fortes
the strengths of the devices, which can assist in lon- dos dispositivos, podendo auxiliar em pesquisas
gitudinal research, interventions in patients and longitudinais, intervenções em pacientes e tam-
also in physical activities performed, revolution- bém nas atividades físicas realizadas, revolucio-
izing relationships and interventions in the area. nando as relações e intervenções na área.
Key words Physical education and training, Tech- Palavras-chave Educação Física e treinamento,
nological Development, Human Development, Desenvolvimento Tecnológico, Desenvolvimento
Chronic Disease, Wearable Electronic Devices Humano, Doença Crônica, Dispositivos Eletrôni-
cos Vestíveis
1
Departamento de
Educação Física, Instituto
de Biociências, Universidade
Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho. Av. 24A
1515, Bela Vista. 13500-
060 Rio Claro SP Brasil.
renato_verzani@
hotmail.com
2
Departamento de
Estatística, Matemática
Aplicada e Computação,
Instituto de Geociências e
Ciências Exatas. UNESP Rio
Claro SP Brasil.
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Verzani RH, Serapião ABS

Introdução Esta revisão bibliográfica buscou em teses,


dissertações, artigos e documentos de institui-
Considerar que o avanço cada vez mais veloz das ções relacionadas ao tema analisar o potencial
tecnologias que nos rodeiam pode ser ignorado envolvendo a utilização de tecnologias da Inter-
e, desta maneira, não afetará nossas vidas, já não net das coisas e dos dispositivos vestíveis (weara-
é mais uma ideia plausível. O mundo está cada bles) e as intervenções nas atividades físicas, bus-
vez mais conectado e o contexto brasileiro tem cando melhorias quanto à inatividade física e às
apresentado aumento no uso, correspondendo a DCNTs. Foram utilizadas palavras-chave como
55% da população utilizando a internet1. Ainda “wearables”, “internet das coisas”, “inatividade fí-
de acordo com esses dados, somente entre 2011 e sica”, “atividades físicas”, dentre outras, em bases
2014, o número de acessos à internet pelo celular de dados como Lilacs, Pubmed, Scielo, Periódicos
mais que triplicou no Brasil. Há então um dire- Capes e Google Scholar. Baseadas nas informa-
cionamento para a influência crescente de tecno- ções mais relevantes selecionadas, as próximas
logias em nossas vidas2. seções discutem o que é a IoT, como ela estará
Percebe-se então que a utilização de termos incorporada no cotidiano das pessoas, quais são
como Internet das Coisas ou Internet of Things as aplicações os benefícios para a Educação Fí-
(IoT), Internet de Tudo ou Internet of Everything sica e a saúde, refletindo na busca pela redução
(IoE), computação em névoa e nuvem, ciber- da inatividade física e das DCNTs, as perspectivas
cultura, computação ubíqua, wearables ou dis- de utilização destas tecnologias (na prática e nas
positivos vestíveis, dentre outros, irá fazer parte pesquisas) e as considerações finais sobre o tema.
constantemente do nosso dia-a-dia. Assim, estes
termos representarão mudanças nas nossas vidas, Internet das Coisas e sua inserção
segundo Sri et al.3. Por isso, a discussão de ques- em nossas vidas
tões como estas pode facilitar o entendimento
deste processo que estamos vivenciando. A IoT, para CERP IOT8, pode ser vista como
Recursos como os dispositivos vestíveis (we- uma infraestrutura de rede global dinâmica com
arables), citados anteriormente, permitirão com potencial de autoconfiguração, devido a comuni-
que diversos dados sejam coletados por sensores cações padrões e interoperáveis nas quais as coi-
e viabilizem, desta maneira, uma utilização cada sas físicas e virtuais possuem identidades, atribu-
vez mais direcionada e personalizada por parte tos físicos e personalidades virtuais, além do fato
dos profissionais envolvidos para buscar as metas de usarem interfaces inteligentes, sendo assim
traçadas em atividades físicas, com um acom- pertencentes a uma rede de comunicações. Com
panhamento muito preciso, como esperado por isso, busca-se que as “coisas” sejam ativas, intera-
Piwek et al.4. Outras áreas fundamentais também gindo com o ambiente e comunicando-se entre
estão usufruindo destas possibilidades, como a si, coletando e trocando informações e dados que
saúde móvel ou m-Health, que segundo Lewis permitam reagir de forma autônoma aos eventos
et al.5 é a utilização de tecnologias móveis e sem que ocorrem no mundo real, criando situações
fio para auxiliar nos serviços e informações de que envolvam ou não a intervenção direta do ser
saúde, contando com o acesso das mais diversas humano.
especialidades profissionais a inúmeros dados in- Segundo Santos9, a IoT integra o mundo real
dividualizados, garantindo intervenções cada vez no tecnológico. Isso devido aos nossos dispositi-
mais precisas. vos e objetos que fazem parte do cotidiano pas-
Com isso, para Evans6, a IoT e os objetos co- sarem a ter sensores que os tornarão capazes de
nectados como os wearables podem levar a pra- manter uma comunicação inteligente. Para ele,
ticantes, atletas, técnicos, médicos e diversos ou- uma “coisa” poderá ser uma pessoa com monitor
tros profissionais informações que possibilitarão cardíaco durante um exercício físico, um carro
melhores resultados, menores riscos de lesões, com sensores que alertam para questões de fun-
históricos de dados que podem ser utilizados, cionamento, dentre outras possibilidades. Sri et
dentre diversos outros recursos que estão cada al.3 salientam que a IoT auxiliará na comunica-
vez mais próximos de fazer parte do cotidiano. ção que envolve as pessoas com outras pessoas, as
Além disso, uma das grandes oportunidades ge- pessoas com objetos físicos e objetos físicos com
radas é intervir nas DCNTs (Doenças Crônicas outros objetos físicos. Como é perceptível, esta
Não-Transmissíveis) relacionadas a inatividade nova possibilidade irá alterar muitos mecanis-
física, como aponta Nunes7. Assim, será possível mos que fazem parte do nosso dia-a-dia.
observar mais amplamente a seguir o potencial e Considerando o número de objetos conecta-
a importância destas mudanças. dos, em 2010 já era de 12,5 bilhões para 6,8 bilhões
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de habitantes2. Isso representa quase dois por ha- cobrir atividade fraudulenta, encontrar padrões,
bitante, com projeções de que até 2020, o número fornecer diagnósticos, prover auxílio em proces-
salte para 50 bilhões para uma população de 7,6 sos de tomadas de decisão, dentre outros. Com
bilhões, o que representará 6,58 objetos conecta- isso, Evans6 afirma que chegaremos à IoE, a qual
dos para cada habitante, ressalta Evans2. Por meio reúne as pessoas (com uma conexão mais eficaz),
deste aumento potencial do uso destes recursos processos (levando informações corretas, no mo-
tecnológicos, estaríamos mais próximos do que mento oportuno para as máquinas ou pessoas
Lemos10 denomina de mídias locativas, isto é, que que precisarem), dados (utilização inteligente na
estão presentes em diversos locais ou contextos e tomada de decisão) e as coisas (dispositivos da
permitem trocas info-comunicacionais entre eles IoT). Assim, serão milhões de “coisas” com sen-
e essas mídias (sensores, dispositivos). Destaca-se sores conectados, levando informações que o Big
assim uma finalidade de aliar a mobilidade com a Data terá como base na aquisição de sabedoria
localização, levando ao ciberespaço informações para as decisões.
que podem chegar aos dispositivos de qualquer Para Sethi e Sarangi13, a computação em né-
pessoa, em qualquer lugar, direcionando para o voa e em nuvem é fundamental nesta nova re-
que é chamado de computação ubíqua. alidade. A névoa é responsável pelo pré-proces-
Nunes7 afirma que a computação ubíqua se samento e monitoramento, antes de enviar para
beneficia do potencial de mobilidade da com- nuvem, além do armazenamento e também da
putação móvel (dispositivos como tablets, smar- segurança. Assim, questões como filtragem, aná-
tphones, dentre outros, que são móveis e permi- lise dos dados, replicação, distribuição, cripto-
tem acesso em diversos lugares) e da computação grafia, dentre diversos outros, são realizados nas
pervasiva (ou capacidade de integração de com- camadas da névoa, que estão na borda da rede.
putadores no ambiente de forma transparente Já a nuvem, segundo Sethi e Sarangi13, apresenta
para as pessoas), fazendo com que as necessida- a estrutura principal, com flexibilidade e escala-
des sejam atingidas por diversos serviços. Deste bilidade. Nesta infraestrutura, os serviços como
modo, a ideia da ubiquidade está sendo forta- plataforma, software e também o armazenamen-
lecida. Santaella11 afirma que esta é relacionada to é realizado. Com isso, é possibilitado que al-
ao princípio de presença em todos os lugares, a gumas respostas sejam dadas em tempo real pela
qualquer momento, estando sempre disponível névoa e depois que haja uma interação com a
e sendo algo persistente. Já Santaella et al.12 afir- nuvem, como no caso de uma ambulância, que
mam que diversas tecnologias estão permitindo ao ser detectada pelos sensores, tem a passagem
cada vez mais e com melhor qualidade com que liberada em semáforos inteligentes em tempo
diversas informações sejam captadas dos am- real e, posteriormente, os dados são enviados
bientes em que nos inserimos e usadas para in- para nuvem, permitindo um panorama geral do
terferir positivamente no nosso cotidiano. Para trânsito na cidade.
tanto, será necessária uma interface natural para Assim, como é viável perceber, cada vez mais
tornar a comunicação com os dispositivos mais os dispositivos relacionados à IoT irão fazer par-
sensível e fácil, usando também formas inter- te de nossa realidade, estando inseridos em nos-
pretativas comuns de interação entre as pessoas, sa rotina. Será o caso das casas inteligentes, do
como gesto, fala e visão. m-Health, do trânsito inteligente, dentre diversos
Ao levar em conta então que estas tecnolo- outros serviços que interferirão direta e indire-
gias estão aumentando exponencialmente e que tamente em nossas vidas, necessitando que haja
um grande volume de dados é coletado pelas adequação, visto que alguns serviços já não são
mesmas, chegamos a um dos grandes desafios uma realidade tão distante em alguns contextos.
da IoT, já que para ter utilidade, há necessidade
de analisá-los. Santos9 afirma que o Big Data re- Quais são as aplicações da IoT e os
presenta este imenso número de dados que são benefícios para Educação Física e saúde?
armazenados e precisam ser geridos, possibili-
tando a extração dos dados relevantes. Big Data Assim como diversas possibilidades estão
são “mega dados”, ou seja, dados coletados sobre sendo avaliadas a fim de promover maior auto-
tudo que existe, quantificando-os. Através de mação nas casas, nos transportes, na economia
registros de transações, eventos, informações de de energia, dentre outros, já é quase uma realida-
sensores e localização espacial, a analítica dos da- de o desenvolvimento de diferentes dispositivos e
dos poderá identificar (e prever) comportamento aplicativos nas áreas de saúde, fitness e até mesmo
de usuários, detectar ameaças à segurança, des- na educação. No caso da saúde e fitness, busca-se
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um acompanhamento mais contínuo por meio Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (EL-
de smartphones13, por exemplo. SA-Brasil), possibilitando um acompanhamento
Nunes7 aponta que os reflexos da inatividade longitudinal da população, o que foi um marco
física poderiam tornar-se um grande problema relacionado às DCNTs.
a nível mundial. Considerando o sedentarismo, A importância a nível mundial deste pro-
tanto nas atividades diárias como também na au- blema levou com que a Organização das Nações
sência de práticas esportivas, poderia estar ocor- Unidas (ONU) discutisse em sua Assembleia Ge-
rendo um aumento nas DCNTs, como a obesida- ral em 2011, compromissos para enfrentar esta
de, a diabetes, a hipertensão, dentre outros. Estas realidade20. A definição da meta de diminuição
doenças têm projeções alarmantes para os pró- de 25% na mortalidade por estas causas até 2025
ximos anos, de acordo com os dados da Organi- e também a busca por combater fatores de risco
zação Mundial da Saúde (OMS) destacados por como o tabagismo15,21 e a inatividade física ga-
Nunes7, podendo chegar até 44 milhões de mor- nharam destaque, dentre as medidas propostas21.
tes relacionadas até o ano de 2020, necessitando Como foi possível perceber, projeções e cons-
então de intervenções adequadas para prevenir tatações relacionadas ao tema conduziram à ne-
estes tipos de problemas. A promoção de ativi- cessidade de novos olhares, buscando alternativas
dades físicas está entre as ações com grande im- para modificar a situação. A preocupação com as
portância neste sentido, melhorando a qualidade DCNTs e fatores de risco motivaram discussões a
de vida, podendo ser auxiliada pela utilização por nível internacional e nacional, tendo destaque o
parte dos profissionais de tecnologias que favore- levantamento de dados e maior atenção quanto a
çam a gestão das informações. atividade física da população.
Doenças crônicas, como doença cardíaca, Assim, para Ruiz-Fernández et al.22, a IoT tem
diabetes, câncer, dentre outras, têm sido respon- o potencial de melhorar questões envolvendo
sáveis por aumentos de gastos em escala mundial, saúde e medicina. Isso disponibilizaria serviços
necessitando de uma ação rápida, segundo Eaton inteligentes e confiáveis para os pacientes com
et al.14. Para estes autores, ao considerar que a ex- estas doenças. A obtenção de informações e a
pectativa de vida está aumentando, estas condi- detecção de sinais importantes de modo precoce
ções crônicas deverão seguir o mesmo caminho, podem refletir em tratamentos mais eficazes. Os
aliadas a fatores como o estilo de vida não muito dados disponibilizados pelos sensores são impor-
saudável, por exemplo. tantes nos monitoramentos das doenças, o que
O Brasil também está inserido neste panora- torna as informações fundamentais na tomada
ma de envelhecimento15,16 da população, sendo de decisão, além de viabilizar o monitoramento
que as DCNTs tornam-se as principais causas de contínuo, o que normalmente é inviável.
morbidade e mortalidade, para Dresch et al.15. Esta mudança poderia contribuir para me-
Segundo o Sistema Nacional de Vigilância de lhoras nas condições de saúde e também quanto
Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vi- aos fatores de risco. Segundo Mansur e Favara-
gitel), o qual faz a vigilância quanto aos fatores de to23, por exemplo, os países mais desenvolvidos
risco das DCNTs, estas são atualmente os maio- procuraram ter maior controle quanto aos fa-
res problemas de saúde pública17. tores de risco e conseguiram diminuir os óbitos
Duncan et al.18 destacaram que no ano de por doenças cardiovasculares em cerca de 50%.
2008, 63% do total de óbitos no mundo foram Utilizar as tecnologias poderia ser uma estraté-
relacionados com DCNTs. As doenças cardiovas- gia interessante também para buscar resultados
culares, o câncer, as doenças respiratórias crô- similares.
nicas e o diabetes correspondiam à maioria dos Para Duncan et al.18, existe uma tendência na
casos15,18. Ainda segundo os mesmos, no Brasil, diminuição da mortalidade por DCNTs como
as DCNTs também são as principais causas de doenças cardiovasculares e respiratórias crôni-
óbito, correspondendo em 2009 a 72,4% do to- cas, o que pode sinalizar que o enfrentamento já
tal. Já no ano de 2011, no Brasil, 68,3% dos óbi- apresenta sinais positivos. Contudo, os autores
tos estavam diretamente relacionados com estas salientam que a sobrecarga no sistema de saúde
doenças. Destas, houve destaque para as doenças com longas filas, requerimento de exames e ou-
cardiovasculares (30,4%), neoplasias (16,4%), tros fatores relacionados estão aumentando, o
doenças respiratórias (6%) e o diabetes com que implica na necessidade de qualificação, am-
(5,3%)19. Para enfrentar esta situação, de acordo pliação e organização do atendimento.
com Duncan et al.18, os Ministérios da Saúde e É preciso destacar que os principais fatores de
também da Ciência e Tecnologia viabilizaram o risco para estas doenças são modificáveis, como
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no caso do tabagismo, da alimentação inapro- tudos relacionando doenças cardiovasculares e
priada, do alto consumo de bebidas alcoólicas e o estilo de vida. Mansur e Favarato23 citam que
da inatividade física15,24. Para WHO24, estes são a Pesquisa Nacional de Saúde (2013) apontou
os grandes responsáveis pela grande maioria das melhores diagnósticos e tratamentos dos fatores
mortes por DCNTs. Malta et al.20 salientam que de risco para doenças cardiovasculares nas regi-
as DCNTs têm diminuído a qualidade de vida, ões sul e sudeste do Brasil, bem como maiores
causado impacto econômico e social, além de índices de atividade física nestas regiões. Além
elevar as mortes prematuras. dos benefícios em questões cardiovasculares e
Duncan et al.18 relatam que a inatividade físi- metabólicas citadas, a prática de exercícios físi-
ca tem um impacto de 20% a 30% mais chances cos também tem sido relacionada com melhoras
de mortalidade. Considerando os dados do ELSA significativas na qualidade de vida de pessoas que
-Brasil, Lin et al.25 afirmam que os participantes sobreviveram ao câncer31, bem como na força
ativos apresentaram melhores perfis de frequên- muscular, resistência e função cardiopulmonar
cia cardíaca, pressão arterial e Escore de Risco em pacientes com câncer, segundo Dieli-Conwri-
de Framingham do que os inativos. Para eles, a gh e Orozco32.
atividade física está diretamente relacionada com Para Lin et al.25, na busca por melhorias na
as medidas de saúde cardiometabólica entre ho- saúde e na relação entre a eficácia e os custos, os
mens e mulheres. A base de dados utilizada conta cuidados devem ser ampliados e focarem tam-
com mais de 15 mil homens e mulheres, a maior bém nas intervenções no estilo de vida. Quanto
coorte já realizada com a população brasileira. ao uso de tecnologias como o celular, Uhm et al.33
A prática de atividade física é considerada um relatam que os aplicativos podem exercer uma
fator de proteção fundamental contra doenças função de ajudar a manter as alterações com-
cardiovasculares e metabólicas, de acordo com portamentais saudáveis e também disponibilizar
Pitanga et al.26. Considerando que existe uma materiais educativos, o que facilitaria as mudan-
alta morbimortalidade vascular e também uma ças. Este novo modo de acompanhar as pessoas
alta inatividade física na população brasileira, pode trazer contribuições em suas atividades fí-
Silva et al.27 destacam a necessidade de amplia- sicas e na alimentação realizada cotidianamente.
ção nos incentivos pelos programas públicos de
prática de atividade física regular. Segundo da- As potencialidades e a utilização dos Wea-
dos do Vigitel17, 37,6% dos brasileiros possuem rables
uma prática de atividade física semanal de 150
minutos no tempo livre, sendo que tanto os ho- A atualidade torna possível situações como as
mens quanto as mulheres tendem a diminuir essa citadas por Piwek et al.4, nas quais um terço dos
prática conforme aumentam a idade. Este fator é médicos do Reino Unido afirmam que é comum
preocupante, visto que a expectativa de vida tem a chegada de pacientes com sugestões para o tra-
aumentado, como citado anteriormente. Consi- tamento baseadas em pesquisas que os próprios
derando a prática no tempo de lazer, Pitanga et sujeitos realizaram em plataformas de busca. Os
al.28 relatam que a prática dos brasileiros é baixa, wearables, que são os grandes “astros” da IoT re-
carecendo de implementação de políticas de in- lacionados aos exercícios e atividades físicas, têm
centivo neste sentido. grande potencial de serem o “próximo Dr. Goo-
Já dados da Pesquisa Nacional de Saúde gle”, como os autores destacam.
quanto ao nível recomendado de atividade física Os wearables são dispositivos vestíveis que
no lazer apontou para prevalência de 22,5%, de possuem tecnologias que são muito importantes
acordo com Malta et al.29. Assim, ao considerar e poderão auxiliar bastante, futuramente. Santos9
que, segundo Lin et al.25, há um aumento na obe- afirma que estes recolhem informações do usuá-
sidade e também a questão que envolve os altos rio, como no caso de batimentos cardíacos, gasto
índices de ausência de atividade física, muitas das calórico, temperatura do corpo, dentre outros.
conquistas dos últimos anos também passam a Tudo que foi coletado é armazenado, poden-
estar ameaçadas. Dados do Vigitel17 apontam que do chegar aos serviços de saúde ou mesmo ser
a frequência de excesso de peso em adultos tem compartilhados, levando em conta as políticas de
subido 1,21% e de obesos 0,73% ao ano, conside- privacidade. Alguns dos principais wearables são
rando o período entre 2006 e 2016. Já entre 2009 os relógios inteligentes, os óculos, as pulseiras, os
e 2016, a prática de atividade física no tempo li- patches de monitoramento (que são como tatua-
vre tem aumentado 1,17% ao ano. gens), roupas, colares, bonés, etc. Estes permitem
Massaroli et al.30 destacam o enfoque dos es- o acompanhamento e armazenamento de dados
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de atividades diárias, exercícios, sono e muitas saúde quanto os médicos, estavam tendendo a
outras possibilidades. Um dos pontos fortes está originar um único, que monitore diversos fatores
no envio em tempo real de dados relacionados a médicos. Estes dispositivos, ainda de acordo com
estas ações. estes autores, apresentam o potencial de colocar
A representatividade do uso de sensores pode os pacientes em contato com análises individuais
ser percebida por levantamentos como os da que ajudariam em cuidados preventivos, melho-
IOT Analytics34,35, nos quais em 2014, os weara- rias na saúde e facilitar no tratamento de doen-
bles eram os segundos colocados, perdendo para ças, como poderá ser observado na Figura 2.
a casa inteligente, e passaram já em 2015 para a Os recursos apresentados na Figura 2 clarifi-
primeira colocação, como pode ser visto a seguir, cam a diversidade de informações que podem ser
na Figura 1. O ranking da IoT Analytics35 desta- percebidas por meio de diversos recursos dos re-
cou um aumento considerável dos dispositivos lógios, das roupas, ou de outros artefatos ligados
wearables, com mais de 33% de pesquisas na ao nosso corpo. Piwek et al.4 citam que oxímetros
plataforma Google, além do dobro de discussões em anéis podem detectar frequência cardíaca,
no LinkedIn, conduzindo-os para o topo deste sensores de eletromiografia nas roupas podem
ranking de popularidade. Neste período, ainda de trazer dados da atividade do músculo, o sono
acordo com estes dados, os relógios inteligentes pode ter padrões revelados por acelerômetros de
(smart watches) obtiveram destaque devido ao relógios, assim como estes também podem trazer
lançamento do “Apple Watch”. informações dos exercícios, dentre outros, reve-
Piwek et al.4, ao discutirem este aumento dos lando que as possibilidades são inúmeras, assim
dispositivos relacionados ao fitness, citaram da- como os dados disponíveis sobre o sujeito.
dos relatando que aproximadamente 19 milhões Estes wearables têm o potencial de dar um fe-
destes foram vendidos em 2016, podendo chegar edback individualizado, em tempo real e de acor-
a 110 milhões em 2018. Além disso, afirmaram do com os objetivos, tudo devido aos sensores e
que os wearables, tanto os relacionados com a suas funcionalidades, muitas vezes não necessi-

Figura 1. Principais aplicações IoT – 2015.

Fonte: IoT Analytics35.


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Figura 2. Possibilidades relacionadas aos wearables.

Fonte: Piwek et al.4.

tando de recargas continuamente, além de serem tas mais representativas. Outro dado interessante
pequenos, facilitando o uso. Ainda utilizam-se deste levantamento é que o Brasil ocupa, ao lado
muito os smartphones para processar os dados, dos Estados Unidos, a segunda colocação na uti-
mas a tendência é que em pouco tempo a auto- lização do monitoramento da saúde e condição
nomia do processamento dos wearables seja uma física, perdendo para a China e ficando a frente
realidade4. da Alemanha e França.
Dados recentes de uma pesquisa global da A saúde móvel, ou m-Health, busca melho-
GFK36 sobre wearables, envolvendo mais de 20 rias na saúde das pessoas. Dados do Research-
mil pessoas em 16 países, verificou que cerca de 2guidance37 apontam para quais serão os dis-
33% usam o rastreamento para monitorar a saú- positivos mais representativos no mercado nos
de, por meio de aplicativos, pulseiras, relógios in- próximos cinco anos, considerando a perspectiva
teligentes e clipes. Por outro lado, 18% já utiliza- do m-Health. Assim, ainda temos os smartphones
ram algum tempo atrás, 45% nunca usaram e 4% com grande representatividade dentre os disposi-
não souberam responder. Esta pesquisa revelou tivos, mas também estão aumentando os relógios
o interesse no bem estar, procurando informa- e pulseiras, enquanto que os tablets, por exemplo,
ções sobre o exercício, consumo de calorias e até tenderão a decréscimos neste período.
mesmo sobre o sono. Dos usuários, 55% procu- Para Asimakopoulos et al.38, estes dispositivos
ravam manter ou melhorar a forma física, 50% móveis são importantes e úteis para intervenções
queriam maior motivação para treinar, outros na saúde. Para a área fitness, essas ferramentas
melhorarem o nível de energia (35%), seguidos apresentam um potencial promissor na relação
por motivar a beber e comer de modo saudável do usuário com o envolvimento nas atividades,
(34%) e melhorar o sono (29%), como respos- uma vez que a maioria das pessoas têm e usam
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smartphones, o que facilita com que as informa- chance de poder mensurar diversas informações
ções ligadas ao m-Health sejam fornecidas, me- nos leva a considerar que podemos ter controle
lhorando o autoconhecimento e a saúde. sobre as mesmas, sendo que esta sensação nos co-
Com relação aos principais grupos aponta- loca no caminho da busca por melhoras, segundo
dos como usuários dos aplicativos da m-Health, Rettberg40. Fantoni41 cita que os gráficos ou mé-
temos em primeiro os doentes crônicos37, apon- dias produzidos por meio das pulseiras, colares
tando também que os principais campos com ou outros wearables conectados com smartphones
potencial para o m-Health nos próximos cinco ou sites, contribuem com esta finalidade.
anos neste grupo são a diabetes (73%), a obesi- Assim, são gerados grandes volumes de da-
dade (40%) e a hipertensão (29%). O segundo dos que acarretam no surgimento do “eu quan-
grupo mais promissor é relacionado com a saúde tificado”, uma nova tendência na qual as pessoas
e o fitness, concordando com o apontado por Asi- buscam informações em diversos níveis, desde o
makopoulos38. Fechando os cinco primeiros gru- comportamental até o biológico. Há um destaque
pos, temos os médicos, hospitais e os parentes. para questões de saúde, desde doenças até me-
Estes dados assemelham-se aos destacados lhoras nos exercícios físicos, passando também
por Nunes7, quando citou que as redes de sen- pelas alterações no sono, dietas, dentre outros41,42.
sores do corpo humano (RSCHs) auxiliam no Fantoni41 vai além, reforçando que o autoconhe-
monitoramento, podendo ser interessantes para cimento pode fazer com que as pessoas mudem
identificar anormalidades na saúde e tomar ati- a percepção sobre o próprio corpo, tendo como
tudes com tempo adequado, diminuindo custos consequência a gestão de suas ações relacionadas
não apenas para os sistemas de saúde, como tam- com a saúde. Além disso, afirma que os sensores
bém para as pessoas. que vestimos vão guardar informações (que se-
Todos estes dados destacam o quanto que es- rão visíveis pelos smartphones), mas que poderão
taremos cada vez mais envolvidos e imersos nesta ser motivos para contatos médicos quando algu-
nova realidade, a qual é permeada pelo avanço ma informação anormal for relatada, devido ao
cada vez mais representativo dos wearables no monitoramento possibilitado.
ambiente da saúde móvel (m-Health). Estes re- Os dispositivos de monitoramento vestíveis
cursos podem trazer grandes contribuições para estão se demonstrando ferramentas muito efi-
os usuários e para os profissionais envolvidos, os cazes no que diz respeito a prevenção, detecção
quais terão maiores números de informações pre- ou mesmo gerenciamento de doenças crônicas,
cisas e individuais para pautar suas intervenções. de acordo com Baig et al.43. A crescente utiliza-
ção destes sistemas irá permitir grandes fluxos
A realidade que envolve a utilização de informações e dados, os quais facilitarão o
das novas tecnologias conhecimento médico a partir da utilização des-
tes, aprimorando e complementando os registros
As pessoas que já possuem um estilo de vida em saúde44. Os dados consultados nos estudos
mais saudável são vistas, de acordo com Piwek et populacionais levarão a sintomas específicos das
al.4, como as com maior propensão de utilizar as doenças e suas progressões, desencadeando em
ferramentas portáteis para possuir dados refe- tratamentos mais precisos e médicos com possi-
rentes ao progresso nas atividades que realizam. bilidades de decisões mais seguras43.
Este fato, portanto, estaria motivando a busca Contudo, concordando com Fantoni41 e a
por parte dos desenvolvedores de criar um dis- questão envolvendo o autoconhecimento, Mi-
positivo que tenha o máximo de funções possível, lani e Franklin45 citam que estes sistemas não
melhorando o desempenho dos usuários e tam- apenas coletam dados, mas são auto envolventes
bém os hábitos. e motivam relações produtivas entre usuários e
Quanto aos usuários com doenças crônicas, médicos. Este é um dos pontos fortes desta nova
os dispositivos poderiam auxiliar por meio do realidade, como também concorda Baig et al.43,
potencial de fornecer informações detalhadas e levando o paciente para um envolvimento com
não sendo métodos mais caros e desconfortáveis, o tratamento, o que antes não era uma realidade.
isto é, seriam uma alternativa para o monitora- Talboom e Huentelman46 consideram que, com
mento de maneira a exigir menos esforços. Um um grande volume de dados coletados, associa-
exemplo estaria relacionado em entender o nível dos com o que for reunido sobre atividades físi-
de depressão com base nas interações com outras cas e dietas, podem ser valiosos na identificação
pessoas, além das atividades físicas e do sono por de baixo ou alto risco para doenças cardíacas e
meio do smartphone e de uma pulseira4,39. Ter a metabólicas. Sendo assim, com registros mais
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completos e precisos coletados, a IoT contribui- usuários param de usar os dispositivos no perí-
ria também para estudos longitudinais. odo de meio ano e metade em um ano. Outra
Quanto à utilização em pacientes, algumas pesquisa apontada por Asimakopoulos et al.38
pesquisas têm demonstrado sinais favoráveis à também destaca que um terço dos dispositivos
inclusão destas tecnologias. Thomas et al.47 ci- ficam em desuso entre seis e 12 meses.
tam que informações coletadas por esta via são Buscando entender estas questões, Harrison
válidas e confiáveis no tratamento de doença de et al.50 detectaram questões como o relato de im-
Parkinson. Já Stamford et al.48 relatam que a qua- precisão do rastreador nas atividades físicas, a
lidade de vida relacionada com a saúde pode ser necessidade de algumas vezes ter o mesmo ras-
melhorada com o auto monitoramento de pa- treador dos amigos para poder comparar, além
cientes com esta doença, ajudando a gerenciá-la. do fato de diferentes aplicativos apresentarem
Este novo tipo de abordagem pode ajudar imprecisões na concorrência entre usuários em
no incentivo e manutenção de atividades físi- um mesmo trecho de atividade física. Até mesmo
cas, auxiliando no controle de alguns sintomas a estética do dispositivo foi citada por alguns par-
e ocasionando melhorias em alguns pacientes, ticipantes como barreira. O conforto e o modo
segundo Uhm et al.33. Estes autores citam pes- como se ajusta também é importante. Por fim,
quisas em que sobreviventes de câncer de mama também foi constatado o problema com a bateria
com sobrepeso obtiveram melhorias quanto a dos smartphones. Contudo, o uso de alguns wea-
este aspecto em intervenções baseadas na saúde rables que reduzem a diminuição dos gastos do
móvel. Já Cheong et al.49 relatam que a reabili- smartphone pode ajudar.
tação também baseada neste recurso provocou Com relação aos estudos envolvendo doen-
alívio em sintomas e melhor desempenho físico ças, Talboom e Huentelman46 salientam que os
em pacientes com câncer colorretal, inclusive no dispositivos vestíveis precisam de aceitação dos
processo de quimioterapia, sendo que destacam pacientes, facilidade na utilização, coletar e usar
que exercícios individualizados utilizando m-He- os dados de acordo com recursos considerados
alth e IoT são eficazes. como “padrão ouro” (isto é, não vestíveis e de
A utilização destes recursos pode ser bastan- laboratórios), além de serem pouco invasivos e
te válida. Nunes7 relata que a OMS recomendou terem estética agradável. Como alguns avanços
que os países procurassem formas de monitora- ainda são necessários, cabe salientar que o núme-
mento, pois informações da população seriam ro de pesquisas que utilizam estes recursos está
fundamentais no direcionamento de políticas em ascensão, sendo que a possibilidade de arma-
públicas para promover a atividade física e com- zenamento em longo prazo e de forma discreta
bater DCNTs. Assim, a utilização de sistemas de por estes dispositivos nos ambientes frequenta-
informação e tecnologias foi recomendada para dos pelas pessoas possui um grande potencial
o auxílio dos profissionais de saúde. Com isso, para a ciência46.
Nunes7 buscou através da computação ubíqua Portanto, é perceptível que há uma mudança
um sistema que pudesse ser utilizado em Uni- na realidade que envolve a saúde e o contato com
dades Básicas de Saúde e Unidades de Saúde da atividades e exercícios físicos, com perspectivas
Família, visando coletar automaticamente dados de aumentos exponenciais na utilização de recur-
das atividades físicas e permitindo a vigilância sos tecnológicos relacionados a estas áreas. Estes
destes programas, o que tornaria possível men- poderão trazer diversos benefícios para as pesso-
surar a eficácia na prevenção das DCNTs. Neste as e para os profissionais envolvidos, tratando-se
sentido, encontrou-se que 75% dos profissionais de uma grande revolução que cobrará a neces-
que responderam aos questionários referentes à sidade de adquirir conhecimentos e aprofunda-
proposta concordaram que o sistema seria im- mentos, possibilitando uma utilização plena dos
portante na organização e contribuiria para a novos recursos.
promoção de saúde, facilitando inclusive estudos
longitudinais e melhorando a qualidade de vida
da população. Considerações Finais
Todavia, uma das questões que vêm sendo
bastante citadas diz respeito à aderência dos usu- Portanto, temos que a IoT está aumentando cada
ários às possibilidades. Piwek et al.4 afirmam que vez mais sua representatividade e, assim, passa-
são poucos estudos longitudinais sobre a interfe- rá trazer contribuições muito interessantes pela
rência dos wearables no modo de se comportar quantidade de dados que podem ser coletados
das pessoas, além de que cerca e um terço dos pelos sensores dos wearables, impulsionando
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Verzani RH, Serapião ABS

a m-Health e melhorando a qualidade de vida, mento individualizado mais eficaz e o registro


inclusive contribuindo em relação às DCNTs dos parâmetros fisiológicos constantes para per-
relacionadas com a inatividade física. Embora mitir uma melhor análise médica do estado de
atualmente a grande maioria dos aplicativos es- saúde do paciente. Diagnósticos mais precisos e
teja voltada para o bem estar, há um potencial redução de custos com o sistema de saúde seriam
enorme de possíveis aplicações na área da saúde contribuições imediatas do uso dessa tecnologia.
através das quais os usuários poderão conversar A regulamentação do uso dos aplicativos pelas
e trocar informações com médicos e outros pro- agências competentes é necessária para que a
fissionais. m-Health não se torne apenas uma oportunidade
No Brasil, há a necessidade da legislação mé- de negócio em um mercado emergente no país.
dica avançar para contemplar essa nova tendên- Finalizando, temos que o impacto pode ser
cia, principalmente no que tange à monitoração bastante positivo na promoção de atividades físi-
e à prevenção, visto que a realidade do sistema cas, com profissionais usufruindo de diversos da-
público de saúde nacional não permite o acom- dos que balizem a intervenção e a torne mais efi-
panhamento ambulatorial frequente dos pacien- caz e precisa e com praticantes conhecendo cada
tes, com longas filas de espera e agendamento de vez mais suas individualidades, além de que já
consultas precário. Na realidade nacional, consi- existem diversos apontamentos que podem con-
derando a alta adesão dos brasileiros aos smar- tribuir na aderência dos usuários a novas possibi-
thphones, independentemente da classe social, lidades, podendo nortear tanto o desenvolvimen-
dispositivos wearables e a m-Health poderiam to de novas ferramentas quanto a utilização por
contribuir significativamente para um atendi- parte dos profissionais envolvidos.

Colaboradores Agradecimentos

RH Verzani trabalhou na concepção, pesquisa e À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal


redação. ABS Serapião trabalhou na pesquisa e de Nível Superior (CAPES) pelo apoio financeiro.
redação final.
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