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Ramires Alsamir Tibana

ica
Ciência e Prática do Fitness Funcional •
Graduado em Educação Física (2010); Mestre (2013), com

al
período sanduíche na Western Kentucky University (Bowling

n t
Green - KY) (2011); Doutor (2017) em Educação Física pela

Fu rá
Universidade Católica de Brasília (UCB), com visita técnica

n
ao laboratório de Fisiologia do Exercício da Universidade de

cio
Nevada, em Las Vegas (2013), e Pós-doutor em Educação

P
Física (2018) e Ciências Médicas (2019) pela Faculdade de
Medicina da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
Professor Colaborador do Departamento de Ciências Médi-

ne e
cas da Faculdade de Medicina da UFMT (desde 2019).

Fit cia
Pesquisador na área do treinamento de Força e treinamento

ss
desportivo, conta com mais de 120 artigos científicos e 3 li-
vros publicados, atuando principalmente na linha de pesqui-

do iên
sa que investiga as alterações agudas e crônicas no Fitness
Funcional. Além disso, possui vasta experiência como trei-
nador no Fitness Funcional, com seus atletas participando
e conquistando diversos campeonatos na América do Sul.

C
Nuno Manuel Frade de Sousa
Graduado em Ciências do Desporto e Educação Física (2005)
pela Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física

ramires tibana - nuno sousa


(FCDEF) da Universidade de Coimbra (Portugal). Especia-
lista em Fisiologia do Exercício (2008) pela Universidade
Gama Filho. Mestre (2010) e Doutor (2013) em Ciências pela
Universidade de São Paulo (USP). Professor Auxiliar Con-
vidado e membro do Centro de Investigação do Desporto e
da Atividade Física da FCDEF-UC. Pesquisador na área de
fisiologia do exercício, investiga os efeitos agudos e crônicos
do exercício físico nos diferentes sistemas do organismo em
pessoas saudáveis e com doenças crônicas não-transmissí-
veis. Conta com diversos artigos científicos publicados em
revistas especializadas. Autor dos livros “Programas de Con-
dicionamento Extremo: Princípios e Planejamento” (2017),
“Fisiologia do Exercício” (2019) e “Aspectos básicos da teoria
e da metodologia do treinamento desportivo” (2020).
ramires tibana - nuno sousa
©
2024, Ramires Tibana - Nuno Sousa
Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998.
Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito dos autores,
poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios propagados:
eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros.

FICHA TÉCNICA
Autores
Ramires Tibana
Nuno Sousa

Edição
Livro na Mão@voceautor

Projeto gráfico e diagramação


Rodrigo Cabido

Revisão ortográfica
Cláudia Fonseca

Impressão
Rona Editora

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Tibana, Ramires
Ciência e prática do fitness funcional /
Ramires Tibana, Nuno Sousa. -- 1. ed. --
Brasília, DF : Livro na Mão, 2024.

ISBN 978-65-81531-10-2

1. Atividade física 2. Educação física


3. Exercícios físicos 4. Musculação
5. Treinamento físico I. Sousa, Nuno.
II. Título.

24-188831 CDD-613.71
Índices para catálogo sistemático:

1. Treinamento funcional : Exercícios físicos :


Educação física 613.71

Aline Graziele Benitez - Bibliotecária - CRB-1/3129


Ciência e Prática
do Fitness Funcional
ramires tibana
nuno sousa

1a edição - Brasília
COLABORADORES

Andressa Silva

Graduada em Fisioterapia pela Universidade de Cruz Alta (UNICRUZ),


especialista em Fisioterapia Musculoesquelética pela UNIMARCO e Ins-
tituto Cohen (Reabilitação e Medicina Esportiva), mestre em Ciências
pela UNIFESP, doutora em Fisioterapia pela UFSCAR e pós-doutora em
Ciências do Esporte pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Atualmente, é professora adjunta do Departamento de Esportes na Esco-
la de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Universida-
de Federal de Minas Gerais (UFMG), tendo atuado como Chefe do Depar-
tamento de Esportes da EEFFTO/UFMG (2021-2023). Lidera o Centro de
Estudos em Psicobiologia e Exercício (CEPE). É coordenadora do Setor
de Esporte Paralímpico no Centro de Treinamento Esportivo CTE/UFMG
e do Centro de Referência Paralímpico Brasileiro CTE/UFMG, sendo res-
ponsável pelo desenvolvimento do Projeto "Esporte Paralímpico de Alto
Rendimento: Formação de Atletas, Formação de Recursos Humanos e
Desenvolvimento de Pesquisa".

Bruno Fornari

Ex-presidente da Brasil F3 (Federação Brasileira de Fitness Funcional).

Caroline Romeiro

Nutricionista, especialista em Nutrição Clínica pela Universidade Gama


Filho e mestre em Nutrição Humana pela Universidade de Brasília (UnB).
Atua na área de Nutrição Esportiva há 15 anos, com foco no Fitness Fun-
cional nos últimos 6 anos. Tem experiência na docência por 12 anos, coor-
denando Ligas Acadêmicas em Nutrição Esportiva e grupos de estudo na
área. Foi presidente do Conselho Regional de Nutricionistas da 1ª Região
(CRN1). Atualmente, é coordenadora da Unidade Técnica do Conselho Fe-
deral de Nutricionistas (CFN).

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Fábio Dominski

Graduado em Educação Física pela Universidade do Estado de Santa Cata-


rina (UDESC) e doutor em Ciências do Movimento Humano. É professor uni-
versitário e pesquisador do Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exer-
cício (LAPE). Faz divulgação científica e é autor do Livro “Exercício Físico e
Ciência: Fatos e Mitos”. Atualmente, é colunista de Ciência na Tecmundo.

Gabriel Veloso Cunha

Médico residente em Anestesiologia no CET SBA Hospital Israelita Albert


Einstein (HIAE). Colaborador como aluno de iniciação científica por 4 anos
no Programa de Pós-Graduação em Educação Física da Universidade Ca-
tólica de Brasília (PPGEF-UCB), sob orientação do Dr. Ramires Tibana e Dr.
Jonato Prestes, com financiamento FAP-DF e CNPq. Durante a graduação,
teve 5 apresentações premiadas em congressos e 15 artigos publicados.
Prestou serviço militar na Força Aérea Brasileira, alocado na Unidade de
Terapia Intensiva do Hospital da Força Aérea de Brasília (HFAB).

Frederico Ribeiro Neto

Graduado em Educação Física pela Universidade de Brasília (2002), pós-


-graduado pela Universidade Gama Filho (2003) e Universidade de Bra-
sília (2011), mestre em Ciência da Reabilitação pela Universidade SARAH
(2009) e doutor em Educação Física pela Universidade de Brasília (2017).
Atualmente, é professor de Educação Física e atua como coordenador do
Projeto de Esportes Paralímpicos e da Área de Educação Física do Centro
Internacional de Neurociências e Reabilitação SARAH - Lago Norte.

Joao Henrique Falk Neto

Graduado em Educação Física pela Universidade Federal de Santa Cata-


rina (UFSC), especialista em Fisiologia do Exercício pela Faculdade Está-
cio de Sá e mestre em Educação com ênfase em treinamento esportivo
pela Universidade de Victoria (Canadá). Atualmente, está prestes a con-
cluir o Doutorado em Fisiologia do Exercício pela Universidade de Alberta
(Canadá), investigando as consequências de um pacing variável durante
eventos de endurance para fadiga e performance. É autor e coautor de
diversos artigos relacionados ao Fitness Funcional.

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Luís Fernando Deresz

Graduado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande


do Sul (2003), mestre em Ciências da Saúde: Cardiologia e Ciências Car-
diovasculares pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2008),
doutor em Ciências da Saúde pela Fundação Universidade Federal de
Ciências da Saúde de Porto Alegre (2015) e pós-doutor no PPG Ciências
de Reabilitação, na Fundação Universidade Federal de Ciências da Saú-
de de Porto Alegre. É professor adjunto do Departamento de Educação
Física, do PPG Ciências Aplicadas à Saúde e coordenador do Grupo de
Pesquisa Ciência, Saúde e Desempenho Físico na Universidade Federal
de Juiz de Fora, Campus Governador Valadares. Tem experiência na área
de Educação Física, com ênfase em treinamento físico em populações es-
peciais, investigando, especialmente, os efeitos do treinamento físico no
risco cardiovascular.

Rodrigo Rodrigues Gomes da Costa

Bacharel e licenciado em Educação Física pela Universidade Federal de


Minas Gerais (2007), especialista em Musculação e Treinamento de Força
pela Universidade de Brasília (2011), mestre em Educação Física na Uni-
versidade de Brasília (2015) e doutorando em Ciências do Movimento e
Reabilitação na Universidade Federal de São Paulo (USP). Atualmente, é
professor de Educação Física do Centro Internacional de Neurociências e
Reabilitação da Rede SARAH de Hospitais de Reabilitação, atuando prin-
cipalmente na Reabilitação em Lesão Medular e nas modalidades espor-
tivas de rugby em cadeira de rodas, halterofilismo e bocha.

Vinícius Vieira Benvindo

Graduado em Nutrição pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF,


2019), pós- graduado em Comportamento Alimentar pelo Instituto de Pes-
quisa e Gestão em Saúde - IPGS (2019), pós-graduado em Nutrição Esporti-
va e Estética pela A Plenitude Educação (2021), pós-graduado em Docência
do Ensino Superior e Metodologias Ativas de Aprendizagem pela Faculdade
Descomplica (2022), pós-graduado em Obesidade e Emagrecimento pelo
Centro Universitário União das Américas - Uniamérica (2022) e mestre em
Ciências Aplicadas à Saúde (UFJF) (2023). Atualmente, desenvolve ativida-
des em consultório particular, com atendimento focado em Nutrição Clínica,
Comportamento Alimentar e Nutrição Esportiva e Estética.

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PREFÁCIO

Fitness Funcional. Um universo de possibilidades. O mun-


do precisava do surgimento desta que é uma revolução
no fitness, uma tendência no treinamento físico que tem
contribuído significativamente tanto para aqueles com
dificuldades de levantar do sofá e praticar qualquer tipo
de exercício físico para viver mais e melhor como para os
do outro extremo: atletas de alto rendimento que dedicam
parte significativa de suas vidas à modalidade. Ambos de-
mandam orientação, prescrição e supervisão profissional.
A área ganha muito com esta obra que está em suas mãos.
É uma felicidade estudar, a cada dia, sobre esta modali-
dade, o que me possibilitou construir o prefácio do livro
organizado por Ramires Tibana e Nuno Sousa, o que me
torna igualmente feliz.

Você está entrando em um universo didático e acadêmi-


co com o que há de melhor e mais atual sobre o Fitness
Funcional, aliando ciência e prática, aspectos que são
indissociáveis. Minha percepção é de que a modalidade,
apesar de nascer empiricamente e da forma mais rudi-
mentar possível – dentro de uma garagem –, além do ca-
ráter comercial, por meio de uma empresa, também tem
se desenvolvido testada e apoiada na ciência. Esse pro-
cesso tem ocorrido, possivelmente, diante da necessidade
da própria modalidade de se defender como uma forma
segura de prática de exercícios e treinamento, visto que
mitos e crenças populares sobre lesões surgiram à medi-
da que a prática foi conquistando as pessoas e o mercado
fitness. Não vejo frase melhor do que a construída por um
dos autores deste livro em relação ao polêmico tema: “Se
você acha o fitness funcional altamente lesivo, infelizmen-
te não está baseado em evidências científicas”, comentou
Ramires Tibana, por ocasião das primeiras revisões siste-
máticas sobre a relação da modalidade com lesões.

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A desmitificação das lesões no Fitness Funcional é uma
batalha diária para o crescimento e a expansão da moda-
lidade, tema abordado no Capítulo 1 da obra. Na seção in-
trodutória, não teria como ser diferente. Mas é necessário
ir além e superar essa temática. Para tal fim, são aborda-
das as características fundamentais do programa de trei-
namento, a evolução da terminologia, culminando na que
é considerada mais adequada atualmente e que nomeia o
presente livro – sugerida inicialmente pelo próprio autor
–, a estrutura das sessões práticas de treinamento, além
dos aspectos psicológicos, especialmente a motivação,
variável primordial para qualquer comportamento. As
respostas e adaptações fisiológicas decorrentes dos pro-
gramas de fitness funcional, assim como seus benefícios
e possíveis riscos como a rabdomiólise são explorados
também no início da obra.

À medida que a modalidade foi crescendo em


popularidade e ganhando em número de praticantes,
atletas, boxes e competições, foi necessário o aumen-
to do número de profissionais envolvidos. Não obstan-
te o quantitativo por conta da demanda, é necessária a
qualificação desses profissionais – conhecidos como
coaches, na prática. Nesse sentido, precisamos da trans-
lação de conhecimento – um processo dinâmico e inte-
rativo que envolve síntese, divulgação e aplicação do co-
nhecimento. Não vejo pessoas melhores que os autores
deste livro para tal atividade. Profissionais que são tanto
pesquisadores como professores no âmbito da docência
universitária, mas também no “chão de fábrica”, ou seja,
na prática. Na ponta da profissão, com o mais alto grau de
formação científica, os autores abrem e ocupam espaços
na área de conhecimento e no cenário esportivo de alto
rendimento.

O entendimento do treinamento como um processo mul-


tifatorial, mas que pode ser abordado por meio de ade-
quado planejamento, é transmitido nas próximas pági-
nas. A base é muito bem construída pela exploração dos
princípios do treinamento no Fitness Funcional, os quais
são procedimentos básicos que nortearão a prescrição
dos estímulos para esse tipo específico de treinamento.

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Este não é o caminho absoluto, mas compõe a base, as-
sim como descreve o princípio da conscientização.

Um planejamento de treinamento, fundamentado nos


princípios básicos do treinamento esportivo e aplicado
às características específicas da modalidade, permite
maximizar o potencial de desempenho a curto, médio e
longo prazo. Isso é alcançado por meio do uso de ferra-
mentas para controle e monitoramento da carga de trei-
namento, pacing e intensidade, visando minimizar os
riscos associados ao treinamento, como o overreaching
não funcional e o overtraining. Em outras palavras, pro-
porciona maior assertividade na prescrição. Esta obra é
um guia completo para esse processo, abordando não
apenas os aspectos do treinamento em si, mas também
tratando de temas como sono, recuperação pós-treino,
periodização nutricional e tapering.

Sem traçar “receitas de bolo” para um fenômeno comple-


xo, os autores adotam uma postura científica, ponderan-
do sobre pontos positivos e negativos da periodização do
treinamento no Fitness Funcional, além do que ainda não
sabemos sobre o tema, além de possíveis caminhos a se-
rem seguidos pelos treinadores. Tão variada e completa
quanto o Fitness Funcional, caracterizado, segundo os
autores, pelo elevado volume de treinamento, com diver-
sos exercícios e aptidões, está esta obra - a consolidação
de anos de trabalho e dedicação dos autores.

Tal como em outras modalidades esportivas, o sucesso


requer uma combinação de aptidão cardiovascular, força
e potência muscular, aspectos presentes em cada capítu-
lo das próximas páginas, refletindo o fôlego intelectual,
a força e a potência nas colocações dos autores e seus
colaboradores. Este livro oferece um arcabouço teórico
com possibilidades reais de transferência para a prática.
Mergulhe ao longo dos 12 capítulos e aproveite a leitu-
ra para que isso possa impactar positivamente em sua
atuação profissional.

Fábio Dominski

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SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
INTRODUÇÃO AO FITNESS FUNCIONAL
Ramires Alsamir Tibana
Gabriel Veloso Cunha
Fábio Dominski

CAPÍTULO 2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
SISTEMAS ENERGÉTICOS NO FITNESS FUNCIONAL
Nuno Manuel Frade de Sousa
Ramires Alsamir Tibana

CAPÍTULO 3. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
PRINCÍPIOS E PERIODIZAÇÃO DO TREINAMENTO
NO FITNESS FUNCIONAL
Ramires Alsamir Tibana
Nuno Manuel Frade de Sousa

CAPÍTULO 4. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143
PERIODIZAÇÃO NUTRICIONAL E
BIOMARCADORES DE SAÚDE E DESEMPENHO –
APLICAÇÕES PARA ATLETAS DE FITNESS FUNCIONAL
Caroline Romeiro
Ramires A. Tibana
Nuno Manuel Frade de Sousa

CAPÍTULO 5. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 173
RECUPERAÇÃO PÓS-TREINO
Frederico Ribeiro Neto
Rodrigo Rodrigues Gomes da Costa

CAPÍTULO 6. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 201
TAPERING: OBJETIVO, ESTRATÉGIAS E APLICAÇÃO
Nuno Manuel Frade de Sousa
Ramires A. Tibana
CAPÍTULO 7. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 223
CARGA DE TREINAMENTO: PRÁTICAS COMUNS
DE MONITORAMENTO E UM GUIA PARA O FITNESS FUNCIONAL
Nuno Manuel Frade de Sousa
Ramires Alsamir Tibana

CAPÍTULO 8. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 261
APLICAÇÕES PRÁTICAS NO CONTROLE
DA CARGA DE TREINAMENTO
Nuno Manuel Frade de Sousa
Ramires A. Tibana

CAPÍTULO 9. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 273
OVERTRAINING NO FITNESS FUNCIONAL:
UMA ABORDAGEM PRÁTICA
Nuno Manuel Frade de Sousa
Ramires A. Tibana

CAPÍTULO 10. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 285


PACING E CONTROLE DA INTENSIDADE
DURANTE SESSÕES DE FITNESS FUNCIONAL
Joao Henrique Falk Neto
Ramires A. Tibana

CAPÍTULO 11 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 319
ASPECTOS RELACIONADOS À QUALIDADE
DO SONO EM ATLETAS
Vinícius Vieira Benvindo
Ramires Alsamir Tibana
Andressa Silva
Luís Fernando Deresz

CAPÍTULO 12. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 347


EXERCÍCIOS UTILIZADOS NO FITNESS FUNCIONAL
Bruno Fornari
14
CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO AO FITNESS FUNCIONAL


Ramires Alsamir Tibana
Gabriel Veloso Cunha
Fábio Dominski

OBJETIVOS

• Definir o que são os programas de Fitness Funcional;

• Comparar a incidência e prevalência de lesões nos programas de


Fitness Funcional com outras modalidades esportivas;

• Entender o que é a rabdomiólise;

• Compreender as respostas e adaptações fisiológicas decorrentes


dos programas de Fitness Funcional;

• Explicar os benefícios oriundos dos programas de Fitness Funcional.

INTRODUÇÃO

Uma nova tendência surgiu nos últimos anos e revolucionou a área fit-
ness, impulsionada fortemente por uma marca, para melhorar diversos
componentes da aptidão física de diferentes populações, com níveis de
condicionamento distintos. Até então, nenhum programa de treinamento
tinha incluído em uma mesma sessão de exercícios tantos componentes
diferentes, incluindo capacidade aeróbia, força e resistência muscular,
velocidade, coordenação, equilíbrio, agilidade e flexibilidade (Glassman,
2002).

A figura 1 apresenta diversos esportes e atletas relacionados com treina-


mento de força. Entre os programas, está o Fitness Funcional que é um

CIÊNCIA E PRÁTICA DO FITNESS FUNCIONAL 15


programa de condicionamento físico bem comercializado e popularizado
que continua a gerar um crescente interesse e entusiasmo entre atletas,
militares e para população no geral. Entretanto, o aumento na aceitação é
reforçado através de relatórios anedóticos de ganhos em aptidão física e
desempenho (Bergeron et al., 2011).

No campo científico, nos últimos anos foi crescente um debate a respeito


da terminologia mais adequada para descrever esse tipo de treinamento.
O termo CrossFit®, que representa uma marca, ainda é amplamente uti-
lizado na prática, fato que acaba refletindo nas pesquisas acadêmicas.
Entretanto, observamos que houve uma crescente utilização de variados
termos, às vezes utilizados para descrever a mesma coisa, mas também
para descrever diferentes tipos de programas, como high-intensity func-
tional training (HIFT), high-intensity multimodal training (HIMT), func-
tional fitness training (FFT), Mixed Modal Training e extreme conditio-
ning programs (ECP) (Dominski, Tibana, Andrade, 2022). Esse último
termo descreveu a modalidade na primeira edição dessa obra.

Figura 1. Ilustração de vários eventos/poses em esportes relacionados com o levan-


tamento de força: (a) levantamento olímpico (Jaqueline Ferreira); (b) levantamento
de peso básico ou basista (Ana Rosa Castellain); (c) Fisiculturista (Rafael Brandão)
(d) CrossFit (Rich Fronning Jr.); (e) Strongman (Mateusz Kieliszkowski); (f) Highland
Games (Emmajane Smith).

16 RAMIRES TIBANA & NUNO SOUSA


Atualmente, acreditamos que o termo que melhor descreve este tipo
abrangente de treinamento, caracterizado por uma variedade de padrões
de movimentos, atividades (que incluem levantamento de peso, força,
condicionamento ginástico, condicionamento metabólico, condiciona-
mento aeróbico) e sistemas de energia utilizados, é o Fitness Funcional.
Esse termo baseia-se em dois outros termos: treinamento funcional e
aptidão física (Dominski, Tibana, Andrade, 2022). O Fitness Funcional é
um programa de treinamento que deve desenvolver a competência das
pessoas em vários domínios, incluindo demonstrações de capacidade
aeróbica, força, resistência de peso corporal, habilidades de peso corpo-
ral e potência. Nesse sentido, o CrossFit é considerado um tipo de treina-
mento funcional.

Figura 2. Linha do tempo do aparecimento dos termos e referências. (Dominski, Ti-


bana, Andrade, 2022). HIFT = High intensity functional training; HIMT = High inten-
sity multimodal training.

O termo mais utilizado, CrossFit, descreve um método de treinamento


relativamente novo que se denomina como: “Exercícios funcionais, cons-
tantemente variados realizados em alta intensidade (Glassman, 2003).”
De acordo com Glassman (2010), o CrossFit é um programa de treina-
mento criado para “adquirir uma aptidão ampla, geral e inclusiva que
melhor preparará os praticantes para qualquer contingência física”. Esse
modelo de treinamento foi criado em 1995 e formalmente instituído no
ano 2000 por Greg Glassman, um ex-ginasta e treinador da região de
Santa Cruz na Califórnia (EUA).

CIÊNCIA E PRÁTICA DO FITNESS FUNCIONAL 17


Quadro 1 – Terminologias

Termos Definições Referências

O CrossFit é um programa de treinamento


CrossFit® Inc.
de força e condicionamento físico baseado
CrossFit®
em movimentos funcionais, feitos em alta Glassman (2007)
intensidade e constantemente variados.
O HIMT envolve programas de exercícios
que envolvem diversas modalidades de
exercícios (por exemplo, levantamento de
peso olímpico, treinamento de força, ginás-
tica, calistenia, pliometria, corrida e outros)
e treinam várias capacidades físicas ao Carnes, Mahoney
Treinamento Multimo-
mesmo tempo (por exemplo, cardiovascu- (2019)
dal de Alta Intensidade
lar, força muscular e flexibilidade)
(HIMT) Sharp et al. (2022)
O HIMT abrange todos os estilos relevantes
de treinamento aeróbico, de força e/ou de
peso corporal combinados (ou seja, HIFT,
HIIT de peso corporal, CrossFit®) realizados
em intensidade alta ou vigorosa.
Programas de treinamento com alto volu-
Programas de Condi- me que usam uma variedade de exercícios
Bergeron et al.
cionamento Extremo de alta intensidade e realizam um número
(2011)
(ECP) máximo de repetições com curtos períodos
de descanso entre as séries.
Um esporte que visa desenvolver a profi-
ciência dos atletas em uma variedade de
padrões de movimento, atividades e sis-
temas energéticos. O treinamento deve Federação Interna-
Fitness Funcional desenvolver a competência em vários do- cional de Fitness
mínios, incluindo o desenvolvimento da Funcional (iF3)
capacidade aeróbica, força, potência, re-
sistência com o peso corporal, ginástica e
capacidade modal mista.
Um estilo de treinamento [ou programa]
que incorpora uma variedade de movi-
mentos funcionais, executados em alta
intensidade [em relação à capacidade do
Treinamento Funcional
indivíduo] e projetados para melhorar os
de Alta Intensidade Feito et al. (2018)
parâmetros da aptidão física geral (por
(HIFT)
exemplo, resistência cardiovascular, força,
composição corporal, flexibilidade etc.) e
desempenho (por exemplo, agilidade, velo-
cidade, potência, força etc.).
Uma abordagem que combina várias mo-
Treinamento Multi- Marchini, Pedroso,
dalidades de treinamento físico em um úni-
modal Neto (2019)
co programa.

18 RAMIRES TIBANA & NUNO SOUSA


As sessões de treinamento de Fitness Funcional geralmente são dividi-
das em quatro partes: treinamento de força e potência, elementos gím-
nicos, condicionamento metabólico e o condicionamento cardiovascular.
(Tabela 1). O treinamento de força e potência compreende exercícios que
utilizam cargas externas que inclui os exercícios básicos, tais como o
agachamento (front squat, back squat e o overhead squat), bench press
e o deadlift, movimentos do levantamento olímpico (LPO), tais como o
snatch, clean e o jerk, e todas suas variações.

Além disso, exercícios do Strongman, tais como o uso de sandbags, yoke


carry, farmers carry etc., têm sido amplamente utilizados nas competi-
ções da modalidade. O treinamento de elementos gímnicos compreen-
de os exercícios que utilizam o peso corporal projetado para melhorar o
controle corporal e incluem, por exemplo, agachamento corporal, push-
-ups, pull-ups, subida de corda, paralelas na barra ou argolas. O condi-
cionamento metabólico é a mescla de todos os elementos, tais como os
movimentos ginásticos, os exercícios de força e potência e os exercícios
cardiovasculares que são realizados de forma rápida, com elevado núme-
ro de repetições e limitado tempo de recuperação, em formato de circuito
(Tibana et al., 2015).

Por último e geralmente realizado no final da sessão de treino (isso não


é uma regra), está o condicionamento cardiovascular, que inclui os exer-
cícios aeróbios comuns, como corrida, remo, pulo de corda simples ou
duplo, e até mesmo nadar ou andar de bicicleta.

CIÊNCIA E PRÁTICA DO FITNESS FUNCIONAL 19


Tabela 1 – Exemplo de uma semana de treinamento da modalidade do Fitness Funcional.

20
Segunda-feira Terça-feira Quarta-feira Quinta-feira Sexta-feira Sábado Domingo

Snatch High Pull + Hang Snatch


High Pull + Hang Snatch + Snatch Accessory Exercises
High Hang Clean + Hang Clean +
50%-1 Clean + Split Jerk 50%-1 EMOM 18 minutes, Power Clean + Split Jerk Accessory
rotating: 50%-3 (2x) Exercises
55%-1 55%-1
Levantamento 1) 10 GHD Hip Extension
55%-3 (2x) EMOM 18 Minutes, rotating:
Olímpico 60%-1 60%-1 2) 10 Mini Band Wall
60%-3 (2x)
65%-1 65%-1 Slides 1) 5 Single Arm Front Rack Curtsy
65%-3 (2x) Lunge
65%-1 65%-1 70%-1 3) 10 Banded Face Pulls
4) 10 Drop and catch in 2) 30m Dual KB Front Rack Carry
70%-1
90° of shoulder 3) 10 Psoas March (each side)
Front squat RDL
Bench Press abduction (R/L)
50%-3 (%1RM Front Squat) 4) 30” Glute Bridges Hold
50%-3 5) 15m Dumbbell 50%-3
60%-3 60%-3 5) 10 Rower Pike Up
Força Overhead Carry 60%-3
70%-3 70%-3
6) Rest 70%-3 6)-Rest
80%-3 80%-3 80%-3
85%-2 85%-2 Natação 85%-3
4 Sets: AMRAP 5 minutes Descanso
60 minutos
1 Bar Muscle-up 21 Burpees Reckless
2 Toes to Bar 21 Pull-ups 50 Wall Ball
3 Chest to bar Pull-ups 21 Double Dumbbell Deadlift (9/6 kg)
Ginástica - 40 Cal Row
2 Toes to Bar Rest 2 Minutes
AMRAP 4 minutes: 30 Dual Dumbbell Box Step Up
1 Bar Muscle-up (22/16 kg)
15 Burpees
Rest as little as needed between -
15 Pull-ups 30 meters Hand Stand Walking (5
unbroken sets.
15 Double Dumbbell Deadlift meters segment unbroken)
3 Rounds: “Death by Triplet”
Rest 2 Minutes
20 Toes to Bar Complete as many rounds as pos- AMRAP 3 minutes: 30 Dual Dumbbell Box Step Up
Condicionamento (22/16 kg)
sible during 20 minutes.8 Burpee
metabólico 50 Double Unders 9 Burpees 40 Cal Row
Box Jump Overs/ 8 Hang Power
Cleans (40/30 kg) / 8 Thrusters 9 Pull-ups 50 Wall Ball
(40/30 kg) 9 Double Dumbbell Deadlift
Condicionamento BikeErg Workout Rowing Workout Running Workout SkiErg Workout
cardiovascular 2 x 5,000m 2 x 3,000m 4,000m- 20 minutes

AMRAP: As many reps as possible; EMOM: Every Minute on the minute; RDL: Romanian Deadlift; KB: Kettlebells; GHD:

RAMIRES TIBANA & NUNO SOUSA


O Fitness Funcional suscita constantemente preocupações na sociedade
e futuros atletas em relação à probabilidade de lesão ou doenças, como
a rabdomiólise. Assim, é importante realizar escrutínio da literatura re-
ferente a essa temática no sentido de esclarecer coaches e atletas, bem
como praticantes e a população em geral acerca das lesões em progra-
mas do Fitness Funcional.

PREVALÊNCIA E INCIDÊNCIA DE LESÕES

O termo “prevalência” representa o número de indivíduos em uma popu-


lação (grupo) que exibe o resultado de interesse em um determinado pe-
ríodo. Por outro lado, “incidência” fornece uma medida da taxa em que as
pessoas sem uma condição desenvolvem tal condição (número de novos
casos) em um intervalo de tempo especificado (por exemplo, 1 ano). Para
examinar as taxas de incidência, precisamos do tempo total de exposição
para a condição, não apenas o total de pessoas “lesionadas” como é rea-
lizado com as taxas de prevalência. Um problema do uso da prevalência
pode ser fornecendo o número de casos existentes de uma condição (por
exemplo, 50 indivíduos dos 100 foram lesionados no Fitness Funcional),
por outro lado, as taxas de incidência nos fornecem a medida real (por
exemplo, 14 em 1.000 horas de treinamento).

Um exemplo prático foi reportado no estudo de Parkkari et al. (2004),


que comparou prevalências e incidências de lesões entre diferentes ati-
vidades físicas, sendo que as que apresentaram maior prevalência de le-
sões foram atividades como jardinagem, caminhada e reparo doméstico.
E por que isso aconteceu? Por serem praticadas tantas vezes ao longo da
análise. Por outro lado, quando analisada a taxa de incidência, essas ati-
vidades apresentaram menor taxa de incidência (número de ocorrência
por horas de prática).

Com base nessas constatações, é importante analisar sempre a taxa de


incidência ao invés da prevalência para efeito comparativo entre moda-
lidades esportivas. Apesar disso, a prevalência é o dado científico mais
presente nos estudos sobre lesões no Fitness Funcional (Dominski et al.,
2021). Nessa modalidade, observamos uma prevalência média de lesões
de 32,8%, variando de 2,4 até 60,6%.

CIÊNCIA E PRÁTICA DO FITNESS FUNCIONAL 21


Figura 3. Principais diferenças entre as medidas de frequência de ocorrência.

Prevalência Incidência
A incidência fornece
A prevalência fornece uma População População uma estimativa da taxa
estimativa da proporção de
na qual pessoas sem
indivíduos em uma população
uma determinada
que apresentam uma
condição (p. ex. lesões)
determinada condição
Resultado de desenvolvem tal condição
(p. ex. lesões) em um momento Novos casos (número de novos casos)
específico. É geralmente interesse durante um intervalo de
expressa como uma fração ou
tempo específico.
porcentagem da população
É geralmente expressa
total (p. ex. 10% dos atletas de Proporção Intervalo de como o número de novos
Fitness Funcional de uma
determinada competição de casos tempo casos por unidade de
tempo (por exemplo, lesões
sofreram uma lesão).
a cada 1000h de treino)..

A essa altura, torna-se necessária uma melhor compreensão do que vem


a ser uma lesão. De acordo com o Novo Aurélio Dicionário da Língua Por-
tuguesa (1999), a lesão pode ser entendida como qualquer doença ou mo-
léstia de um corpo. Uma pancada, contusão, equimose ou, ainda, como um
prejuízo ou danos. Isso vai ao encontro do conceito adotado por diferentes
autores, como Montalvo et al. (2017), que definem lesão como todo dano
físico que pode resultar em perda ou modificação das atividades diárias ou
do programa de treinamento físico de um indivíduo.

Moran et al. (2017) relatam como uma queixa física sustentada durante
o treinamento de Crossfit e que resultou em um participante incapaz de
completar suas atividades. Weisenthal et al. (2014) a descreveram como
dor, sentimento ou injúria musculoesquelética resultante de um treino de
CrossFit, que levou a pelo menos uma das seguintes situações: remoção
total do CrossFit ou outra atividade física por mais de uma semana, modifi-
cação da duração normal de treinamento, intensidade ou modo por tempo
maior que 2 semanas ou uma queixa física grave o suficiente para exigir
uma visita a um profissional de saúde. Por fim, Hak et al. (2013) propuse-
ram que lesão é qualquer coisa que impeça o indivíduo de treinar, trabalhar
ou competir em qualquer forma e por qualquer período. O Capítulo 7 abor-
da de forma mais detalhada a categorização dos contextos e conceitos de
lesões ou doenças no esporte.

Nesse contexto, alguns autores, como Grier et al. (2013), subdividem as


lesões, conforme suas variedades de causas/características, em 3 grupos
principais: lesões por uso excessivo (microtraumas repetitivos, fraturas,
reação de estresse, tendinites, torções e dor musculoesquelética); lesões
traumáticas (resultantes de força súbita ou de forças aplicadas sobre o cor-
po); e lesões globais (número total de lesões).

Ao considerarmos de uma maneira mais abrangente as lesões como uma


mudança no estado de saúde atual para um estado menos saudável como

22 RAMIRES TIBANA & NUNO SOUSA


resultado direto do Fitness Funcional, reunimos, por meio de uma revisão
sistemática da literatura, o maior número possível de estudos sobre lesões
no Fitness Funcional (Dominski et al., 2021). A definição citada de Weisen-
thal et al. foi a mais utilizada nos artigos.

Quadro 2 – Definição de Lesão de acordo com os estudos publicados em periódicos


internacionais com a temática do Fitness Funcional.

Referências Definições
Weisenthal et al. ; Sum- Qualquer dor, sentimento ou injúria musculoesquelética resultante de um trei-
mitt et al.; Mehrab et al.; no de CrossFit que desencadeei a pelo menos uma das seguintes situações: 1)
Feito et al.; Lima et al.; remoção total do CrossFit ou outra atividade física por mais de uma semana;
Cheng et al.; Tawfik et 2) modificação da duração normal de treinamento, intensidade ou modo por
al.; Santos da Costa et al.; tempo maior que 2 semanas ou 3) uma queixa física grave o suficiente para
Sprey et al. exigir uma visita a um profissional de saúde
A lesão foi definida como uma lesão que atendeu a um dos seguintes critérios nos
últimos 12 meses de participação no CrossFit®: 1) exigiu que o indivíduo procu-
rasse um profissional de saúde para diagnosticar/tratar a lesão; 2) modificação
Escalante et al.
das atividades normais de treinamento por mais de duas semanas; 3) afastamen-
to total do CrossFit® e outras atividades físicas por mais de uma semana; ou 4)
qualquer lesão que exigisse afastamento ou perda de tempo no trabalho.
Qualquer queixa física sustentada durante o treinamento de CrossFit e que re-
Moran et al.
sultou em um participante incapaz de completar suas atividades na modalidade.

Qualquer dano físico que pode resultar em perda ou modificação das ativida-
Montalvo et al.
des diárias ou do programa de treinamento físico de um indivíduo

Qualquer lesão que impedisse o indivíduo de treinar, trabalhar ou competir em


Hak et al.
qualquer forma e por qualquer período.

O início do dano a uma articulação, com nova lesão definida como o início do
Chachula et al.
dano a uma articulação decorrida durante os treinos de CrossFit.

Qualquer condição ou sintoma que ocorreu como resultado da prática de Cros-


sFit e teve pelo menos uma das seguintes consequências: 1) o praticante teve
que parar a atividade (treino, competição) por pelo menos um dia; 2) o prati-
cante não teve que interromper a atividade, mas sim modificá-la (para menos
Minghelli; Vicente et al.
horas de prática ou treinamento, menor intensidade de esforço, ou ser menos
capaz de realizar determinados gestos ou movimentos/técnicas); 3) o profis-
sional procurou aconselhamento ou tratamento de profissionais de saúde para
tratar da condição ou sintoma.
Uma lesão foi definida quando dois critérios estavam presentes: (1) relatar um
problema definido como dor, sensibilidade, rigidez ou inchaço em uma ou mais
Larsen et al.
regiões do corpo; (2) ser afetado pelo problema a ponto de resultar na redução
da participação no treinamento de CrossFit por pelo menos sete dias.

Qualquer condição que exija modificação ou interrupção do treinamento ou


Paiva et al.
visita a um profissional de saúde para tratamento ou diagnóstico.

Qualquer queixa física causada por uma transferência de energia que excedeu
a capacidade do corpo de manter sua integridade estrutural e/ou funcional
WILLIAMS et al. que foi sustentada por um atleta durante a competição de Fitness Funcional
e resultou em um atleta recebendo atendimento médico da equipe de apoio
médico oficial do evento.
A lesão foi definida como qualquer lesão ou dor musculoesquelética (nas arti-
Szeles et al. culações, ossos, ligamentos, tendões ou músculos) que impediram um atleta
de se exercitar por pelo menos 1 dia.

CIÊNCIA E PRÁTICA DO FITNESS FUNCIONAL 23


Figura 4 – Frequência das lesões musculoesqueléticas em praticantes de CrossFit
de acordo com o estudo de Brandsema et al. (2022).

Em média, as lesões mais frequentes em programas de Fitness Funcional


são, em primeiro lugar, as localizadas no ombro; em segundo lugar, a co-
luna vertebral, especialmente na região lombar; e as mãos e os punhos em
terceiro lugar, seguidos por joelhos e cotovelos; pé e tornozelo; quadril e
pescoço (figura 4).

Weisenthal et al. (2014) analisaram 486 participantes de CrossFit e re-


portaram as lesões de acordo com a região do corpo e a modalidade en-
volvida. Houve 84 lesões, das quais 33 envolveram o membro superior;
destas, a maioria das lesões foi causada por exercícios de ginástica e le-
vantamento olímpico (figura 5).

Figura 5. Lesões nos membros superiores de acordo com cada modalidade


do Fitness Funcional

Fonte: Weisenthal et al. (2014).

24 RAMIRES TIBANA & NUNO SOUSA


De acordo com Nicolay et al. (2022), a maior frequência de lesões no om-
bro são o resultado de três condições principais: carga excêntrica, impac-
to e movimentos supra fisiológicos.

Figura 6. Fatores associados com as lesões no membro superior, de acordo com


Nicolay et al. (2022).

Movimento
suprafisiológico

Lesões no
Membro
Superior

Carga
Impacto
excêntrica

Fonte: Adaptado de Nicolay et al. (2022).

Carga excêntrica – A carga excêntrica é uma causa comum de lesão no


tendão. A possibilidade de sobrecarregar excentricamente um músculo
até à falha é possível durante qualquer exercício; no entanto, muitos dos
movimentos realizados no levantamento olímpico, como clean and jerk,
snatch e os movimentos de ginástica, incluindo pull-ups e muscle-ups
que utilizam impulso para gerar força para completar o exercício e quan-
do combinados com alto número de repetições, fadiga, má execução, a
alta carga, dinâmica do movimento e o impulso gerado na região da arti-
culação glenoumeral durante esses exercícios, faz com que as unidades
do tendão do músculo ao redor do ombro se tornem vulnerável a lesões.

CIÊNCIA E PRÁTICA DO FITNESS FUNCIONAL 25


Figura 7. (A) O Kipping pull-up demonstrando abdução do ombro e a rotação ex-
terna; Fontes de impacto no ombro: (B) A posição final do jerk, overhead press e do
snatch; (C) A posição inicial do muscle-ups; (D) A posição do handstand.

Impacto – Tanto o impacto interno quanto o externo do ombro são preo-


cupações em muitos exercícios do Fitness Funcional. O impacto interno
do ombro em posição de abdução máxima do braço e rotação externa
leva ao contato patológico entre a glenóide superior e o tubérculo maior
no lado articular da inserção do tendão supraespinhal. Este mecanismo
de lesão leva a rupturas parciais do manguito rotador.

Historicamente, esse padrão de lesão foi visto no cenário de atletas de


arremesso. Mas certos tipos de movimentos de ginástica, principalmente
o Kipping pull-up, coloca o atleta em alto risco para este padrão de lesão
ao deixar o ombro em alto grau de abdução e rotação externa (Fig. 7).

A posição de risco para impacto externo, especificamente o impacto


subacromial, é mais difundido em exercícios do Fitness Funcional. Le-
vantamentos olímpicos como o jerk press, overhead press e snatch e
movimentos de ginástica, incluindo pull-ups, muscle-ups, handstands,
handstand pushups e handstand walks todos sobrecarregam o ombro
com o braço acima da cabeça (Fig. 7).

26 RAMIRES TIBANA & NUNO SOUSA


Dessa forma, sobrecarregar o braço nesta posição predispõe os atletas
a bursite subacromial, bem como tendinite do manguito rotador e ten-
dinopatia. Quando esses exercícios de alto risco são realizados com boa
técnica, o risco de lesão por impacto é baixo.

Movimentos supra fisiológicos – Os movimentos supra fisiológicos é o


terceiro fator que contribui para a alta taxa de lesões no ombro no Fit-
ness funcional. A arquitetura relativamente incongruente da articulação
glenoumeral proporciona uma grande amplitude de movimento, mas
também predispõe a articulação do ombro à instabilidade. A articulação
glenoumeral depende do labrum, manguito rotador e outra musculatura
circundante para manter a cabeça do úmero centrada na glenóide.

Muitos exercícios de ginástica e levantamento olímpico no Fitness Fun-


cional têm o potencial de causar os movimentos supra fisiológicos, mas
exercícios com altas cargas que usam o impulso para levar o braço em
abdução e rotação externa são os de maior risco. Jerk press, snatches,
pull-ups, muscle-ups, handstands, handstand push-ups e o handstand
walks colocam o ombro em risco de lesão devido às altas cargas que co-
locam no ombro, além do arco normal do movimento.

A segunda região mais afetada por lesões é a lombar. O condicionamen-


to metabólico é uma parte do treino no Fitness Funcional que apresenta
uma característica única associada ao levantamento de peso, em virtude,
principalmente, da grande quantidade de repetições realizadas, em sua
maioria em alta velocidade, em contraste com outras formas de treina-
mento, como por exemplo o powerlifting.

Essa forma de execução do condicionamento metabólico permite que


manobras aparentemente simples se tornem perigosas. De acordo com
Weisenthal et al. (2014), muitos participantes reduzem a curvatura fisio-
lógica da região lombar ao realizar exercícios de levantamento de peso
(por exemplo, levantamento terra e agachamento) (figura 8), o que pode
gerar sobrecarga axial nessa região. Além disso, a flexão de tronco, asso-
ciada a movimentos sucessivos e à fadiga muscular, predispõe a micro-
traumas, processos inflamatórios em tecidos moles e aumento da pres-
são intradiscal, podendo levar ao aparecimento de lombalgia e até hérnia
de disco.

CIÊNCIA E PRÁTICA DO FITNESS FUNCIONAL 27


Figura 8. (A) Deadlift; (B) Sumô-Deadlift; (C) Back Squat; (D) Front Squat. Os exercí-
cios realizados com a curvatura fisiológica normal da região lombar.

A terceira região mais afetada por lesões são os punhos. As lesões no


punho representam 3,4 a 20,4% de todas as lesões do Fitness Funcional.
Os locais das lesões na extremidade superior distal mais comum são o
punho (76,4%), o dedo (14,5%) e a mão (3,6%). Os diagnósticos mais co-
muns são: entorse, ruptura ligamentar e fratura.

Os exercícios mais comuns associados com as lesões nas mãos e nos


punhos são os de levantamento olímpico e exercícios de levantamento
básico, provavelmente por causa do peso e do punho em hiperextensão,
como no exercício do clean (Vídeo 1). As lesões comuns no punho incluem
impacto dorsal do punho, fraturas do escafoide e rupturas do comple-
xo da fibrocartilagem triangular. Dessa forma, é importante que organi-
zadores de eventos e treinadores tenha cautela na prescrição de provas
com cargas elevadas ou provas de 1RM nesse movimento, principalmen-
te para atletas iniciantes e intermediários.

28 RAMIRES TIBANA & NUNO SOUSA


Vídeo 1 – Lesão na região do punho após o complex: 3 deadlift + 3 Hang
Clean + 1 Shoulder to overhead.

Figura 9 – Fatores envolvidos na gênese e no risco de lesões nos praticantes do


Fitness Funcional.

Diversos fatores estão relacionados ao maior ou menor grau de inci-


dência das lesões (figura 9). Conseguimos dividir os fatores associados
às lesões em interno/intrínsecos (como sexo, idade e lesões prévias) e
externos/extrínsecos (os fatores relacionados às características do trei-
namento como experiência, frequência e tempo de treino, nível ou cate-
goria, participação em competições), sendo que os últimos têm apresen-
tado mais relação com as lesões.

Um fator importante associado às lesões é o tempo de prática. Mehrab et


al. (2022) constataram que a carga de treinamento e o nível de experiên-
cia com a modalidade são fatores potencialmente importantes na etiolo-
gia das lesões. Isso pode significar que os praticantes iniciantes e aque-

CIÊNCIA E PRÁTICA DO FITNESS FUNCIONAL 29


les que aumentam sua carga de treinamento devem ter uma supervisão
mais próxima por treinadores da modalidade. A sobrecarga imposta pelo
excesso de volume e intensidade de treinamento em um curto período ou
por períodos contínuos pode predispor a lesões musculoesqueléticas por
não respeitar a recuperação. A falta de descanso ou sobrecarga parecer
ficar mais evidente quando analisamos a associação entre a frequência
de treinamento e o aparecimento de lesões. Participantes que treinam
por mais de 11 horas por semana parecem se lesionar com mais frequên-
cia em comparação com aqueles que treinam por tempo menor ou igual
a 10 h/semana (Alekseyev et al., 2020).

Não obstante, Costa et al. (2021) demonstraram que a probabilidade de


lesões entre atletas de nível competitivo era aproximadamente 5 vezes
maior do que entre iniciantes. De acordo com os autores, uma explicação
possível é que os competidores precisam alcançar um nível mais elevado
de proficiência técnica e, assim, requerem um longo período de prática.
E quanto maior a exposição à atividade física, maior a probabilidade de
ocorrência de lesões. Além disso, as competições representam risco de
lesão pela necessidade de superar limites.

Alguns estudos (Elkin et al., 2019; Weisental et al., 2014) encontraram


uma incidência significativamente maior de lesões relacionadas ao Fit-
ness Funcional em homens versus mulheres e, dentre as explicações
para tal diferença, está a maior procura por auxílio dos treinadores por
parte das praticantes do sexo feminino. Fatores como utilização de carga
adequada, execução correta dos padrões de movimento e priorização da
técnica e não do desempenho a ser alcançado são citados por diferentes
autores como elementos importantes para a taxa reduzida de injúrias em
mulheres.

Diferentemente do que ocorre com o quesito sexo, as diferentes faixas


etárias não apresentam variação significativa de risco de lesões entre
si. Isso indica que, em um ambiente seguro e com o devido acompanha-
mento técnico, o programa de treino pode funcionar adequadamente
para os praticantes em todas as faixas etárias (Weisental et al., 2014). É
válido ressaltar a importância de se conhecerem as possíveis complica-
ções desse programa para melhor esclarecimento dos participantes que,
muitas vezes, são conhecedores apenas de seus benefícios. Assim, sob a
estrita supervisão de um instrutor e após a familiarização com as rotinas
do Fitness Funcional, pode-se aumentar gradativamente a intensidade
do treinamento, conforme a capacidade de cada indivíduo (De Haro et al.,
2016; Keogh et al., 2016; Kliszczewicz et al., 2015).

30 RAMIRES TIBANA & NUNO SOUSA


Figura 10. Incidência de lesões por 1.000 horas de treinamento/competição em dife-
rentes modalidades esportivas. Os resultados são oriundos de revisões sistemáticas
com meta-análise.

Rugby - Jogo 91

Hóquei sobre grama - Torneios 48.1

Corredores novatos 17.8

Futebol 8.1

Corredores recreacionais 7.7

Crossfit 3.2

Padel 3

Rugby - Treino 2.8

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Lesões/1000h de treino/competição

Keogh e Winwood (2016) analisaram a epidemiologia de lesões em dife-


rentes esportes de força. Os resultados encontrados pelos pesquisado-
res demonstraram que os fisiculturistas tiveram a menor taxa de lesões
(0,24–1 lesões por 1.000 h), e os competidores do Strongman (4,5–6,1
lesões por 1.000 h) e do Highland Games (7,5 lesões por 1.000 h) tiveram
as maiores taxas de lesões. Com relação ao Crossfit, a taxa de lesões foi
menor que os atletas do Strongman e do Highland games.

Além disso, quando comparadas todas as modalidades de força, a taxa


de lesões foi de, aproximadamente, 1–2 lesões por atletas/ano e 2–4 le-
sões por 1.000 h de treino/competições. Já nos esportes como futebol,
rugby e cricket, as taxas de lesões são de 15–81 por 1.000 h de treino/
competições. No Fitness Funcional, a incidência de lesões variou de 0,21
até 36 lesões a cada 1.000 horas de treinamento, sendo que o estudo que
reportou 36 lesões por 1.000 horas (Williams et al., 2020) foi conduzi-
do durante uma competição, o que é um fator importante associado às
lesões de acordo com a literatura prévia. Além disso, o mesmo estudo
utilizou uma definição de lesão abrangente e inclusiva.

CIÊNCIA E PRÁTICA DO FITNESS FUNCIONAL 31


Moran et al. (2017) acompanharam 117 praticantes de CrossFit durante
12 semanas e analisaram a incidência de lesões por 1.000 horas e prá-
tica. Os resultados demonstrados pelos autores foram de 2,1 lesões por
1.000 horas de prática, que são similares aos estudos de Hak et al. (2013),
Giordino e Weisenthal (2014) e Montalvo et al. (2017), que reportaram
incidências de 3,1, 2,4 e 2,3, respectivamente. Além disso, os autores
tentaram utilizar o método FMS (Functional Movement Systems) como
preditor de lesões e, infelizmente, não encontraram boas relações. Outras
revisões publicadas recentemente sobre lesões no CrossFit encontraram
resultados similares (Aune; Powers, 2016; Klimek et al., 2017).

Klimek et al. (2017) aprofundam ao afirmarem que a taxa de lesões no


CrossFit® é comparável ou até menor do que outras formas comuns de
exercício físico ou mesmo treinamento de força. Dessa forma, quando
analisada a incidência de lesões por 1.000 horas de prática através de
revisões sistemáticas com meta-análises, os resultados apresentados
no Fitness Funcional são menores que esportes como o rugby, futebol,
corrida e hóquei sobre a grama (figura 10). Entre os esportes com carac-
terísticas de força e potência, o Fitness Funcional não apresenta maiores
taxas de lesões.

32 RAMIRES TIBANA & NUNO SOUSA


Tabela 2 Sumário dos estudos publicados sobre lesões no Fitness Funcional.

Incidência de
Autores Prevalência de
Método Duração Lesões (n) lesões (Le-
Participantes lesões (%)
sões/1.000 h)

132 participantes
Hak et al. Retrospectivo Qualquer
(98 homens) 186 73,5% 3,1
(2013) On-line período
32,3 anos

Weisenthal 386 participantes Retrospectivo


6 meses 74 19,4% -
et al. (2014) (231 homens) On-line

Retrospectivo
Summitt et On-line
187 participantes 6 meses 44 23,5% 1,94
al. (2016) Apenas lesões nos
ombros

Sprey et al. 566 participantes Retrospectivo Qualquer


176 ~31% -
(2016) (323 homens) On-line período

449 participantes
Mehrab et Retrospectivo
(266 homens) 12 meses 252 56,1% -
al. (2017) On-line
31,9 ± 8.3 anos

191 participantes Retrospectivo


Montalvo et (94 homens) Questionário Face- 6 meses 62 26,2% 2,3
al. (2017)
31,7 ± 9,4 anos -a-Face

117 participantes Prospectivo


Moran et al. (66 homens) Questionário Face- 12 semanas 15 - 2,1
(2017)
35 ± 10 anos -a-Face

Retrospectivo
Hopkins et
426 pacientes repositório de dados 6 anos 523 - -
al. (2017)
clínicos hospitalar

3049 participantes
Feito et al. Retrospectivo
(1566 homens) 12 meses 931 30,5% 0,27
(2018) On-line
36,8 ± 9,8 anos

122 participantes
Elkin et al. Retrospectivo
(56% mulheres) 24 meses - 60,6% -
(2019) On-line / Papel
(37,45 anos)

414 participantes Retrospectivo


Costa TS et (243 homens) Questionário Face- 157 37,9% 3.24
al. (2019)
31 anos -a-Face

Lima et al. Retrospectivo


413 24 meses 24% 0,8
(2020) On-line

Duas compe-
Willians et Estudo de coorte tições (Stren-
1085 competidores 26 2,4% 36
al. (2020) prospectivo gth in Depth
2018-2019)

406 praticantes Estudo de coorte


Szeles et al. (51% mulheres) prospectivo 12 semanas 247 32,8% 18,9
(2020)
~32 anos. On-line

CIÊNCIA E PRÁTICA DO FITNESS FUNCIONAL 33


TRATAMENTO

Figura 11. Artigos que avaliaram o percentual e o tipo de recuperação


após o diagnóstico da lesão. *Dados coletados no hospital possuem um
viés de seleção amostral.

De acordo com Dominski et al. (2021), poucas pesquisas examinaram


formas de tratamento das lesões resultantes da prática do Fitness Fun-
cional. A prevalência de lesões que necessitaram de tratamento variou
entre 40,2% e 71,8%. Os tratamentos mais mencionados nos estudos fo-
ram fisioterapia, cirurgia, injeções de corticosteroides e anti-inflamató-
rios não esteroidais. Everhart et al. (2020) apontam que a fisioterapia é
uma forma bem estabelecida de intervenção no tratamento e prevenção
de lesões musculoesqueléticas em muitos esportes. Dentre as técnicas
fisioterapêuticas, a liberação miofascial oferece alívio da dor muscular
e aumento da amplitude de movimento devido ao aumento da liberação
de endorfinas plasmáticas e à diminuição dos níveis de hormônio do es-
tresse. Isso também pode aumentar ou diminuir a excitabilidade neural
por meio da estimulação de receptores sensoriais e da redução da tensão
muscular.

Por sua vez, para Dominski et al. (2021), a razão pela qual a fisioterapia é a
forma de intervenção terapêutica escolhida para tratar as lesões pode es-
tar associada ao tipo mais comum de lesão, que é musculoesquelética, e
à sua gravidade, que geralmente varia de moderada a leve. Além disso, a
maioria das lesões são diagnosticadas sem exames de imagem ou aten-
dimento médico, pois são autorreferidas. Essas lesões podem responder
bem a tratamentos conservadores, como terapia manual e cinesioterapia.

34 RAMIRES TIBANA & NUNO SOUSA


No entanto, é importante notar que a maioria dos estudos não especifi-
cam as modalidades de tratamento usadas pelos participantes lesiona-
dos. O tratamento adequado pode acelerar a recuperação, reduzir o risco
de reincidência, ajudar a lidar com a fadiga pós-treino e, consequente-
mente, reduzir o número de lesões. Lesões não tratadas ou tratadas de
forma inadequada podem resultar em períodos longos de afastamento
do exercício e do trabalho, além de custos maiores com procedimentos,
medicamentos e uma pior qualidade de vida para o praticante. Por isso,
é crucial que o profissional da saúde esteja atento ao padrão de lesão de-
senvolvido durante essa modalidade de exercício para fornecer um trata-
mento especializado (Dominski et al., 2021).

IMPLICAÇÕES PRÁTICAS PARA O TREINAMENTO


RELACIONADAS ÀS LESÕES

A partir da análise das evidências científicas sobre o Fitness Funcional


e lesões, considerando que existem mais de 40 artigos disponíveis na
literatura, podemos estabelecer algumas estratégias preventivas para os
atletas e coaches.

Figura 12. Fatores que podem ajudar na compreensão do porquê da ocorrência de lesões
e quais medidas podem ser desenvolvidas pelos profissionais para reduzir o risco.

CIÊNCIA E PRÁTICA DO FITNESS FUNCIONAL 35


Um primeiro passo pode ser a ênfase na execução correta dos movimen-
tos e a execução com a carga adequada, visto que, nos estudos de Sum-
mit et al. (2016), 45% dos praticantes lesionados atribuíram a esses fato-
res as lesões ocorridas durante a prática da modalidade. Dessa forma, os
coaches devem enfatizar a técnica adequada e o ajustamento da carga
deve ser gradualmente aumentado.

Não obstante, Silva et al. (2022) analisaram 79 praticantes de Fitness


Funcional que foram divididos em dois grupos conforme relataram dor
(n=29) ou sem dor (n=50) no ombro durante o treinamento da modali-
dade. Os pesquisadores realizaram diversos testes e análises que incluiu
a ativação muscular por eletromiografia de superfície dos músculos do
peitoral maior, trapézio superior e inferior. Os resultados reportados pe-
los autores indicaram que os praticantes de Fitness Funcional que rela-
tam dor no ombro durante o treinamento demonstraram menor ativação
do trapézio inferior, mas boa mobilidade e função do complexo articular
do ombro. Os autores sugeriram que o trabalho de estabilização escapu-
lar, com ênfase na ativação do trapézio inferior deve ser prioridade para
os atletas/praticantes de Fitness Funcional (figura 13).

Figura 13. 1) Análise da atividade eletromiográfica do músculo trapézio inferior entre


praticantes do Fitness Funcional com e sem dor nos ombros; 2) Exercício Band Pul-
l-Apart utilizado para o fortalecimento e prevenção de lesões.

1) 2)
Trapézio Inferior

60

50 *
sEMG (%MVC)

40

30

20

10

0
Grupo com dor Grupo sem dor

36 RAMIRES TIBANA & NUNO SOUSA


Além disso, é importante os treinadores avaliarem o número de repeti-
ções por exercício (força/potência, exercícios calistênicos e cardiovascu-
lares) e as articulações envolvidas (ombros, cotovelos, joelhos etc.). Des-
sa forma, os coaches podem evitar dias consecutivos de exercícios que
estimulem a mesma articulação (ex.: handstand push-up vs. push press;
wall ball vs. Thrusters) (figura 14).

Figura 14. Análise do controle dos exercícios utilizados durante 1 semana. Os


treinadores devem evitar trabalhar de forma consecutivas as mesmas articulações
e grupos musculares.

Considerando a carga externa, deve-se evitar um aumento abrupto no


número de repetições e, consequentemente, um aumento na probabili-
dade de lesão para seus participantes (por exemplo, o número de repeti-
ções de chest to bar pull-up na semana de treinamento atual versus nas
semanas anteriores) (leia o Capítulo 7 para mais informações).

CIÊNCIA E PRÁTICA DO FITNESS FUNCIONAL 37


38
Figura 15. Análise do volume de repetições em cada semana de treinamento. O volume da semana atual deve
acompanhar o volume das semanas anteriores (com algumas ressalvas que estão descritas no Capítulo 7).

CARDIO RESISTÊNCIA MUSCULAR LOCALIZADA (RML)

EXERCÍCIOS SEMANA 1 SEMANA 2 SEMANA 3 EXERCÍCIOS SEMANA 1 SEMANA 2 SEMANA 3

Remo Wall ball


4000 3500 4500 50 60 45
(metros) (reps)

Bike Kettlebell swing


15000 12000 13500 30 40 35
(metros) (reps)

Corrida Box Jump


5000 3000 4000 20 20 25
(metros) (reps)

Burpees Snatch
120 100 90 30 35 40
(reps) (reps)

GINÁSTICA

EXERCÍCIOS SEMANA 1 SEMANA 2 SEMANA 3

Muscle up
30 30 35
(reps)

Toes to bar
70 80 75
(reps)

HSPU
40 40 45
(reps)

Pull-ups
60 65 60
(reps)

RAMIRES TIBANA & NUNO SOUSA


RABDOMIÓLISE

A rabdomiólise é uma síndrome que tem sido cada vez mais reconhe-
cida como uma importante etiologia de morbimortalidade associada ao
esporte, com uma clara relação com exercícios extenuantes (Luetmer et
al., 2019) É caracterizada pelos sintomas clínicos e achados laboratoriais
decorrentes do extravasamento de conteúdos intracelulares dos miócitos
para a corrente sanguínea, em especial eletrólitos, mioglobina e proteínas
sarcoplasmáticas (Bosch; Poch; Grau, 2009; Panizo et al., 2015; Pearcey
et al., 2013). Geralmente, manifesta-se com fraqueza, mialgia, edema
na topografia da musculatura acometida e mioglobinúria (Scalco et al.,
2015).

Quadro 3. Rabdomiólise: definição, principais causas, possíveis complicações, diag-


nóstico e prevenção (quanto ao esforço físico) de acordo com Carneiro et al. (2021)

Rabdo: estriado; mio: músculo; lise: quebra. A rabdomiólise pode


Definição ser entendida como a degradação das células musculares resul-
tando na liberação de seus conteúdos para a circulação sistêmica.
Esforço físico, fármacos, álcool e outras drogas, condições ex-
Principais tremas de calor e umidade, desidratação, exercícios em condi-
causas ções de hipóxia, toxinas, infecções, traumas, miopatias, fatores
genéticos.
Síndrome compartimental, edemas, lesão renal aguda, coagu-
Possíveis lação intravascular disseminada, letargia, fraqueza, náuseas,
complicações tontura, sangramento inexplicável, prejuízo permanente da
função renal, óbito.
Mialgia, fraqueza muscular, urina marrom a avermelhada (ob-
servada apenas na metade dos casos), edema, câimbras e exa-
mes laboratoriais que evidenciam mionecrose. Desafios: (1)
Diagnóstico
assintomáticos e (2) níveis críticos de biomarcadores não acom-
panham, necessariamente, sinais ou sintomas clínicos do distúr-
bio e –vice-versa.
Hidratação, realização de aclimatação, conhecimento prévio so-
bre uso de drogas e estresse acumulado, planejamento e super-
Prevenção visão profissional do treinamento físico, sobrecarga progressiva,
atenção aos movimentos excêntricos, reconhecimento e
educação sobre o assunto.

Fonte: Adaptado de Carneiro et al. (2021)

CIÊNCIA E PRÁTICA DO FITNESS FUNCIONAL 39


A apresentação mais comum ocorre na forma de um quadro brando e
autolimitado, mas que eventualmente pode evoluir para um desfecho fa-
tal. Em uma série de casos, patologistas americanos encontraram sinais
de rabdomiólise em necropsias realizadas após morte súbita de etiolo-
gia não-especificada. Pacientes previamente hígidos, que haviam sido
expostos a formas diversas de esforço nos dias antecedentes ao óbito
(trabalho braçal, exercício e atividades domésticas vigorosas), que não
apresentavam quaisquer outros achados orgânicos que explicassem o
óbito, salvo pela miólise evidenciada por biópsia e as alterações renais
sugestivas de rabdomiólise (Paternoster et al., 2018).

Desta forma, acredita-se que a rabdomiólise seja um evento de incidên-


cia subestimada devido à pouca valorização dos sintomas por parte dos
atletas, sejam profissionais ou amadores. A mortalidade decorrente da
síndrome é dependente da etiologia, estado prévio de saúde e acesso ao
tratamento, sendo estimada entre 2% e 46% (Panizo et al., 2015). A dor
muscular progressiva e desproporcional ao estímulo deve levantar a sus-
peita da síndrome, bem como a mioglobinúria (macroscopicamente vista
como “urina avermelhada”). Deve-se atentar ainda que alterações da cor
urinária associadas ao exercício podem advir de etiologias alheias à lesão
muscular propriamente dita, dentre as quais merecem destaque o trau-
ma renal contuso (especialmente em esportes de contato) e a hematúria
fisiológica secundária à vasodilatação glomerular. Assim, toda alteração
da coloração urinária deve ser adequadamente avaliada clinicamente e
pelos exames complementares pertinentes (Akiboye; Sharma, 2019).

A rabdomiólise é uma resposta relativamente comum a exercícios exte-


nuantes e prolongados, sendo insuficiência renal aguda a complicação
mais temida (Chlíbková et al., 2015; Panizo et al., 2015). Um estudo recen-
te levantou o perfil mais comum de pacientes com rabdomiólise secun-
dária ao fitness-funcional (Figura 16), sendo tipicamente homens, com
idade média aproximada de 35 anos, IMC de 24,2 kg/m2 e iniciantes na
prática esportiva (Hopkins et al., 2019). Quando a internação hospitalar
é necessária, o período médio oscila entre 2 a 4,6 dias, com alterações
transitórias da função renal presentes em 7,4% dos pacientes, sendo a
ausência de lesão renal um fator protetor contra complicações e read-
missão hospitalar (Arnautovic; Tereziu, 2019; Manis; George-Varghese;
Kashani, 2019).

40 RAMIRES TIBANA & NUNO SOUSA


Figura 16: Perfil epidemiológico dos indivíduos mais acometidos por rabdomiólise
secundária ao fitness-funcional

Iniciantes no
esporte

Rabdomiólise

Sexo Masculino IMC dentro da


(~35 anos) normalidade
(~24 kg/m2)

Fonte: Adaptado de Hopkins et al. (2019).

Os níveis séricos de creatino-kinase (CK) têm sido utilizados como crité-


rio principal para o diagnóstico e seguimento laboratorial em diversos re-
latos na literatura. (Meyer; Sundaram; Schafhalter-Zoppoth, 2017; Tibana
et al., 2018). A CK é um método barato e prático para a avaliação de lesão
muscular (Lippi; Schena; Ceriotti, 2019).

Entretanto, deve-se atentar que a CK não é um marcador perfeito e pode


predispor a erros de interpretação caso seja utilizada como método úni-
co de avaliação. Discute-se que a CK possui distribuição irregular dentre
as diferentes localizações da musculatura estriada esquelética corporal,
bem como, por ser de metabolização hepática, pode sofrer depuração
lenta em portadores de hepatopatias (Delanghe et al., 2019).

CIÊNCIA E PRÁTICA DO FITNESS FUNCIONAL 41


Figura 17. Aumento e diminuição da mioglobina e da creatina quinase (CK) durante o
curso da rabdomiólise. A mioglobina é a primeira enzima que aumenta, mas retorna
aos níveis normais nas primeiras 24 horas após o início dos sintomas. A CK aumenta
algumas horas depois, atinge seu valor máximo nas primeiras 24 horas e permanece
nesses níveis por 3 dias. Embora a presença de mioglobina no soro seja a princi-
pal característica da rabdomiólise, a CK é considerada um marcador mais útil para
o diagnóstico e avaliação da gravidade da lesão muscular devido à sua depuração
tardia do plasma e à ampla disponibilidade de testes para o diagnóstico.

Mioglobina
CK

0 24 48 72 96 120
Horas

Fonte: Adaptado de Scalco et al. (2016)

A liberação de conteúdos intracelulares pode desencadear consequências


clínicas de alta morbimortalidade, tais como arritmias cardíacas, isquemia
muscular por síndrome compartimental e insuficiência renal aguda. O tra-
tamento varia a depender do grau de lesão, podendo se limitar à terapia de
hidratação endovenosa, associada ao acompanhamento clínico, bem como
incluir procedimentos hospitalares de alta complexidade, como a diálise ou
invasivos como a fasciectomia (Tietze; Borchers, 2014).

Deve-se atentar ainda que, devido à alta procura destes protocolos por
indivíduos obesos ou sobrepesados, o diagnóstico médico prévio de hi-
potireoidismo deve ser levado em consideração na prescrição do trei-
namento por parte dos profissionais de Educação Física. Reconhecida-
mente, o hipotireoidismo é causador de uma miopatia que pode reduzir

42 RAMIRES TIBANA & NUNO SOUSA


o limiar para rabdomiólise (Boryushkina et al., 2019). Em decorrência
do alto volume e intensidade, associados a pequenos intervalos de des-
canso, os programas fitness-funcional possuem características predis-
ponentes à ocorrência de eventos como a rabdomiólise. Em um relato
do acervo pessoal dos autores deste livro, um praticante previamente
hígido, com experiência na modalidade, apresentou o quadro de rabdo-
miólise após realização do murph com colete sem se hidratar durante o
exercício, conforme estava habituado, além de ingesta etílica após o trei-
namento. Os níveis de CK excederam 200.000 U/L, demandando 5 dias
de hospitalização para compensação clínica. Diversos relatos de caso têm
sido publicados quanto à ocorrência de rabdomiólise associada ao fitnes-
s-funcional, exemplificados na tabela 3.

Deve-se levar em consideração que o período relativamente longo de


internação hospitalar, necessário para a monitorização e instituição das
medidas de nefroproteção, possui importantes repercussões sociais,
profissionais e psicológicas. Além dos prejuízos da retirada do indiví-
duo da sua rotina e do potencial de morbimortalidade, eventos como a
rabdomiólise contribuem para a perda de adesão e estigmatização dos
programas do fitness-funcional. Por isso, reiteramos a obrigatoriedade
do acompanhamento destes praticantes por profissionais de educação
física com experiência na modalidade.

Após um episódio de rabdomiólise, não existe consenso quanto ao timing


apropriado para retorno à prática esportiva. Idealmente deve-se estimar
o risco de recorrência da síndrome e, então, indicar o retorno gradual,
inicialmente com exercícios de baixa intensidade. Sinais de baixo risco
de recorrência incluem: ausência de história pessoal ou familiar de rab-
domiólise, quadro desencadeado por atividade severas intensas, rápida
normalização dos níveis de CK após repouso e uso de fármacos ou suple-
mentos sabidamente predisponentes da síndrome (O’Connor et al., 2008;
Scalco et al., 2016). As principais indicações a serem dadas no retorno da
atividade física estão descritas na figura 18.

CIÊNCIA E PRÁTICA DO FITNESS FUNCIONAL 43


Figura 18. Orientações para retorno à atividade física, para pacientes com baixo risco
de recorrência, e assintomáticos após 4 semanas de repouso

Fonte: Adaptado de Scalco et al. (2016).

Em casos de suspeita de rabdomiólise, o diagnóstico precoce permite a


imediata avaliação laboratorial e instituição de medidas para a prevenção
de complicações, com comprovada redução da morbidade e mortalidade.
Praticantes com sintomas sugestivos devem ser rapidamente encami-
nhados ao pronto atendimento. Para casos recorrentes de rabdomiólise,
estará indicada a investigação de desordens neuromusculares hereditá-
rias ou adquiridas (Fernandes; Davenport, 2019; Wagner et al., 2015).

44 RAMIRES TIBANA & NUNO SOUSA


Tabela 3. Exemplos de relatos de rabdomiólise associada ao fitness-funcional.

Estudo Amostra Condição física Protocolo de treino


48 séries alternadas (duração de 60 se-
gundos) de variações de push-ups e pull-
-ups. O sujeito realizou o número máximo
de repetições possíveis de push-ups e
Atleta destreinado (apro-
pull-ups. Em cada série. A duração total do
Pearcey et ximadamente 3 meses).
Homem exercício foi de 48 minutos. O sujeito rea-
al. (2013)
lizou, aproximadamente, 400 push-ups e,
aproximadamente, 200 pull-ups em 48
minutos.
A sessão de exercício consistiu na realiza-
ção de um determinado número de push-
-ups em um minuto. O protocolo ditava 5
Uma mulher caucasia-
flexões no primeiro minuto, 10 no segundo
na saudável de 21 anos
Wagner et e adicionava 5 flexões a cada minuto até
Mulher estava participando de
al. (2015) que a participante não pudesse mais con-
uma sessão organizada
tinuar. Ela se lembra de ter completado 6
de exercícios funcionais.
séries de repetições crescentes em cada
minuto, realizando, assim, 105 flexões em
6 minutos.
Ela estava saudável e
O programa de treinamento consistiu em
participou ativamente
Uma mulher um aquecimento padrão seguido de 3 sé-
Aynardi; de vários programas de
afro-americana ries de flexões que foram realizadas até
Jones (2016) exercícios relacionados
de 43 anos. a “falha” com duração aproximada de 20
à academia nos últimos
minutos.
10 anos.
Ela se exercitava regu-
Ela negou que tenha sofrido algum trauma
larmente 4 vezes por
Meyer et al. Uma mulher de ou doença recente, mas relatou realizar
semana, realizando fle-
(2017) 31 anos. uma variedade de exercícios de alta inten-
xões, corridas e outros
sidade, como flexões.
exercícios físicos.
Ele se exercitava regu-
larmente, mas nunca O protocolo de treino incluiu 100 flexões,
Honda et al. Um homem de
havia realizado um trei- 100 exercícios com halteres de 20 kg, 50
(2017) 37 anos.
namento tão intenso levantamentos com peso de 10 kg.
antes.
Os dois casos de rabdomiólise após um
Caso 1) Mulher saudável, desafio conhecido como “Teste de Sissy”.
27 anos, com índice de Este desafio envolve até 336 repetições
massa corporal (IMC) de de kettlebell swings e 336 repetições de
Duas mulheres 22 kg/m2. Ela era uma burpees em um período de 30 minutos.
previamente corredora de longa dis- Começando com 15 movimentos de ke-
Routman et
saudáveis; 36 tância, sem histórico mé- ttlebell e 1 burpee, o desafio do treino é
al. (2018)
anos (caso 1) e dico ou cirúrgico e não repetido com um número decrescente de
37 anos (caso 2). tomava nenhum medi- movimentos de kettlebell e um número
camento; Caso 2) Mulher crescente correspondente de burpees. Isso
saudável de 26 anos com é repetido continuamente até que a série
IMC de 34 kg/m2. final de 1 repetição de kettlebell e 15 bur-
pees seja realizada.
Ela estava saudável,
Mulher de 35 praticava a modalidade Uma competição de Fitness Funcional com
Tibana et al. anos sem histó- do Fitness Funcional duração de 2 dias e composta por 5 pro-
(2018) rico médico de nos últimos 5 anos e vas. Uma prova consistiu em 60 repetições
doença. treinava entre 4 e 5 ve- para um exercício incomum (GHD).
zes por semana.
Nota: GHD, glutes-hamstring developer.

CIÊNCIA E PRÁTICA DO FITNESS FUNCIONAL 45


Nesse sentido, reitera-se a necessidade da manutenção de uma rotina
de treinos executada e periodizada de maneira adequada e específica à
capacidade física do praticante. Tendo em vista a frequência da rabdo-
miólise, seu tempo de hospitalização, potencial necessidade de procedi-
mentos hospitalares de risco e o seu caráter evitável, se faz fundamental
o acompanhamento profissional qualificado para uma prática segura.

RESPOSTAS FISIOLÓGICAS

O conhecimento das respostas fisiológicas desempenha um papel fun-


damental no contexto do Fitness Funcional, uma vez que esse modelo
de treinamento exige diferentes estímulos incorporados dentro de uma
sessão de treinamento. Compreender como o corpo responde ao estresse
induzido pelo Fitness Funcional permite aos coaches/praticantes otimi-
zar seus treinos, adaptando cargas e intensidades de maneira mais efi-
caz. Conhecer as respostas fisiológicas também contribui para a preven-
ção de lesões, uma vez que os atletas podem monitorar sinais de fadiga,
overreaching e overtraining. Além disso, a compreensão dos aspectos
fisiológicos do exercício no Fitness Funcional permite um planejamento
mais estratégico, auxiliando os praticantes a atingirem seus objetivos de
desempenho e condicionamento físico de forma segura e eficiente.

Contrações musculares repetidas e intensas resultam em danos estru-


turais na membrana da fibra muscular, levando ao vazamento de com-
ponentes intracelulares (por exemplo, a enzima creatina quinase (CK)
para a circulação (Clarkson; Hubal, 2002). Nos últimos anos, o Fitness
Funcional tem sido percebido como um programa de exercícios que pode
gerar níveis potencialmente inseguros de dano muscular devido ao alto
volume de trabalho realizado com intensidades moderadas.

De fato, como relatado anteriormente neste capítulo, diversos relatos de


casos foram publicados descrevendo pacientes que experimentaram ní-
veis elevados de marcadores indiretos de dano muscular e sintomas de
rabdomiólise após treinamento no Fitness Funcional. No entanto, como
destacado anteriormente, um dos principais fatores associados com a
rabdomiólise é o despreparo do praticante/atleta com o volume e a in-
tensidade do exercício proposto.

Na tabela 4, estão descritos os estudos publicados na literatura que in-


vestigaram o comportamento da creatina quinase após o treinamento
(24-72h). E, de forma interessante, todos os 5 artigos analisados indi-

46 RAMIRES TIBANA & NUNO SOUSA


caram uma resposta normal da CK após 24h (onde ocorreu o pico da
resposta da CK nesses estudos) e, 72h após a sessão de treinamento, os
valores tinham voltado aos níveis basais. Uma questão interessante de-
monstrada por Tibana et al. (2019) foram os valores relativamente eleva-
dos de CK nos voluntários da pesquisa antes de uma competição em trio.

É comum que, em competições de pequena magnitude e/ou competições


em times, os atletas não façam o tapering (ver Capítulo 6) e, consequen-
temente, não cheguem 100% recuperados. Por fim, outra queixa comum
entre os atletas está relacionada à preocupação dos médicos após anali-
sarem os exames bioquímicos e constatarem níveis elevados da CK, isso
acontece em virtude de os atletas não descansarem o tempo suficiente
para que os valores fiquem próximo da normalidade (~72h sem treino).

Figura 19. Resposta da creatina quinase (24h-72h) após diferentes protocolos do


Fitness Funcional.

550

512
500
Creatina Quinase (U/L)

450

400
372
350

314
300

250
241
200
Pré 24h 48h 72h

Drum et al. (2017) realizaram entrevistas com praticantes de CrossFit e


praticantes do treinamento tradicional. De acordo com os resultados, os
praticantes de CrossFit apresentavam diversos sintomas associados ao
overreaching não funcional/overtraining. Esses sintomas de overrea-
ching acontecem em virtude da alta intensidade que os treinos da mo-
dalidade são implementados para os praticantes. Já foi demonstrado que
treinamentos de alta intensidade podem levar à apoptose (morte celular)
de linfócitos, acarretando uma diminuição dos linfócitos circulantes e,
consequentemente, uma redução na imunidade, que poderá ser maior,
quanto mais intenso e frequente for o exercício.

CIÊNCIA E PRÁTICA DO FITNESS FUNCIONAL 47


Navalta et al. (2015) investigaram os efeitos de três dias consecutivos de
treinamento de alta intensidade (HIIT) até a exaustão e demonstraram
que o HIIT induziu a apoptose de linfócitos, o que pode predispor a qua-
dros de imunossupressão.

Figura 20. Análise do valor absoluto (A) e do percentual (B) da frequência cardíaca
máxima durante dois protocolos de treinamento da CrossFit®: Fran e Fight Gone Bad

200
190
180
Frequência cardíaca (bpm)

170
160
150
140
Fight gone bad
130
120 Fran

110
100
0 5 6 11 12 17
Frequência cardíaca (%FC máxima)

100

90

80

70

Fight gone bad


60
Fran
50

40
0 5 6 11 12 17

Tempo (minutos)

Fonte: Tibana et al. (2018)

Nesse aspecto, nosso grupo de pesquisa demonstrou que dois dias con-
secutivos de CrossFit® induziram um aumento da citocina inflamatória
IL-6, uma redução da citocina anti-inflamatória interleucina-10 (IL-10) e
da razão IL-10/IL-6 (~50%) ao longo de 48 horas após a última sessão
de treinamento, demonstrando que dias consecutivos de treinamento do

48 RAMIRES TIBANA & NUNO SOUSA


CrossFit® realizados em alta intensidade pode induzir uma possível imu-
nossupressão (Tibana et al., 2016).

Não obstante, estudos têm demonstrado que agudamente as sessões de


condicionamento metabólico do CrossFit® podem aumentar o estresse
oxidativo similar ao treinamento de alta intensidade realizado em estei-
ra (Kliszczewicz et al., 2016), exacerbar o aumento da concentração do
lactato sanguíneo (Heavens et al., 2014; Tibana et al., 2018) (figura 21),
da frequência cardíaca (figura 20) e da percepção subjetiva de esforço.
Essas respostas exacerbadas podem levar a uma perturbação fisiológica
ao longo de sessões consecutivas de exercícios de alta intensidade, o que
pode contribuir para um overreaching não funcional ou overtraining caso
o treinamento não tenha um correto controle na aplicação das cargas de
treinamento e da recuperação.

Figura 21. Resposta do lactato sanguíneo imediatamente após e durante 30 minutos de


acompanhamento após dois protocolos: Fran e Fight Gone Bad (Tibana et al., 2018)

*Diferente do pré-exercício (P ≤ 0,05).

†Diferença entre os protocolos (P ≤ 0,05)

Fonte: Tibana et al. (2018)

A partir dessa premissa, nosso grupo de pesquisa conduziu um proje-


to para validar a utilização da percepção subjetiva de esforço durante a
sessão do condicionamento metabólico no Fitness Funcional (Tibana et al.,

CIÊNCIA E PRÁTICA DO FITNESS FUNCIONAL 49


2019; Tibana et al., 2022). Os voluntários realizaram 3 protocolos de for-
ma randomizada: (A) controle; (B) Percepção de esforço 6 (PSE-6); (C)
All-out.

Durante o protocolo na PSE-6 os voluntários foram orientados a reali-


zarem mais quebras entre as repetições e descansarem mais durante as
quebras para que a intensidade fosse respeitada. No protocolo All-out os
voluntários foram orientados a realizarem no menor tempo possível. Os
resultados demonstraram que o treino realizado na PSE-6 induziu me-
nores respostas metabólicas, de dano muscular e perceptiva (figura 22).

Figura 22. Resposta do lactato (A), da percepção de esforço (B) e da creatina quinase
(C) durante e após dois protocolos: all-out e na percepção de esforço 6. *Diferença
significativa em relação aos protocolos (all-out vs PSE-6); #Diferença significativa
em relação aos protocolos (all-out e PSE-6 vs controle). R1-R4 = Rounds do proto-
colo Tibana test.

Assim, tanto treinadores quanto atletas que buscam reduzir os impac-


tos dos treinamentos realizados em alta intensidade podem empregar a
percepção de esforço como guia para a prescrição de treinos, evitando,
assim, possíveis consequências adversas, como o overreaching não fun-
cional e o overtraining.

50 RAMIRES TIBANA & NUNO SOUSA


Figura 23. Um exemplo da tabela de percepção subjetiva do esforço disponibilizada
aos participantes durante a sessão metabólica do treinamento de Fitness Funcional

PERCEPÇÃO SUBJETIVA DE ESFORÇO


PERCEPTÍVEL PRÓXIMO DO
LEVE PESADO MÁXIMO

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
MUITO UM POUCO MUITO MUITO,
FRACO FRACO MODERADO FORTE FORTE FORTE MUITO
FORTE

Fonte: Tibana et al (2019)

CIÊNCIA E PRÁTICA DO FITNESS FUNCIONAL 51


52
Tabela 4 – Respostas fisiológicas no Fitness Funcional

Lactato PSE FC média CK (24h)


Referências Voluntários Protocolo %FCmax CK (48h) CK (72h)
(mmol/L) (U.A) (bpm) (U/L)

7 homens e 2 mulheres
Kliszczewicz et (27,2 ± 9,6 anos) com Cindy: 20 minutos de AMRAP de 5 pull-ups, 10 push-ups
- - 170,8 ± 13,5 91 ± 4.2% - - -
al. (2014) no mínimo 3 meses de e 15 air squats. 
experiência.

Protocolo (1) 6 séries de 60 segundos all-out com inter-


valos de 3 minutos de recuperação entre eles. Cada série
consistiu em 8 repetições de bench press (~70% of 1RM),
57 participantes (38 10 pull-ups e o máximo de box jumps no tempo restante
Butcher et al. mulheres) (31,4 ± 9,5 1) 76 ± 7
dos 60 segundos. - - - - - -
(2015) anos; 16,5 ± 14,8 meses 2) 88 ± 6
de experiência). Protocolo (2) Uma sessão contínua onde os participantes
completaram o máximo de rounds possíveis em 21 minu-
tos de 5 pull-ups, 10 push-ups, and 15 agachamentos com
o peso corporal.

9 homens (26,7 ± 6,6 Protocolo (1) – 10 minutos AMRAP: 30 double-unders e 15 re-


Tibana et al. 1) 11,8 ± 1,3 1) 8,8 ± 1,2
anos) com mais de 2 petições de power snatches (34 kg); - - - - -
(2016) 2) 9,0 ± 2,5 2) 8,0 ± 1,2
anos de experiência. Protocolo (2) – 12 minutos AMRAP: Remo 250m e 25 Burpees.

Protocolo (1) – Cindy: O máximo de rounds possíveis em 20


minutos de 5 pull-ups, 10 push-ups, and 15 agachamentos
32 homens (21,7 ± 2,5 com o peso corporal.
anos) com experiência 1) 12,0 ± 2,1 1) 178 ± 9 1) 92 ± 5
Maté-Muñoz et Protocolo (2) – O máximo de pulo duplo de cordas (double-
no treinamento de força, 2) 10,4 ± 3,0 - 2) 178 ± 9 2) 92 ± 5 - -
al. (2018) -unders) em 8 séries de 20 segundos em execução com 10
mas sem experiência no 3) 11,5 ± 2,5 3) 171 ± 1 3) 89 ± 6
segundos de descanso entre eles.
CrossFit.
Protocolo (3) – O máximo de repetições de power cleans -
com a carga equivalente de 40% de 1RM durante 5 minutos.

RAMIRES TIBANA & NUNO SOUSA


3 dias de competição em trio:
Prova 1
Uma série individual para cada atleta
Atleta A: 500 metros de remo/ 30 strict handstand push-
-ups/ 15 Ring Muscle-ups.
Atleta B: 1.000 metros de remo / 24 strict handstand push-
-ups/ 12 Ring Muscle-ups.
Atleta C: 1500 metros de remo / 18 Strict handstand push-
-ups/ 9 Ring Muscle-ups.
Prova 2
Uma série para cada atleta: 15 fat bar hang power cleans
(40 kg); 20 metros de overhead walking lunges (40 kg); 25
9 atletas amadores (27,1 toes to bars; 10 fat bar shoulder to overhead (40 kg); 20
Tibana et al. metros de overhead walking lunges (40 kg).
± 4,1 anos; ~2 anos de - - - -
(2019) Prova 3
experiência)
Todos os 3 atletas deverão realizar como quiserem:
27 burpees box jump-over (60cm) + 21 legless rope climb.
Prova 4 698,7 368,8 261,2
Uma série para cada atleta com cada peso: (495,4- (277,3- (186,5 –
15 metros de handstand ife + Squat snatches† + 15 metros 971,9) IC 460,2) IC 336,0) IC
de handstand ife.
Prova 5
Todos os 3 atletas deverão dividir como quiser:
30 calorias na assault bike + 20 Thrusters (50kg) + 40 ca-

CIÊNCIA E PRÁTICA DO FITNESS FUNCIONAL


lorias na assault bike + 16 Thrusters (60kg) + 50 calorias na
assault bike + 12 Thrusters (70kg) + 60 calorias na assault
bike + 8 Thrusters (75kg)

Protocolo (1) 5 minutos de AMRAP: Burpees e toes to bar


12 homens (30.4 1) 864,0 1) 485,4
aumentando o número de repetições (1–1, 2–2, 3–3…).
Timón et al. ±5.37anos) com no 1) 13,3 ± 1,9 1) 7.2±1.3 1) 127.6±11.1 ± 369,5 ± 180,4
Protocolo (2) 3 séries no menor tempo possível de 20 re- - -
(2019) mínimo 1 ano de expe- 2) 18,4 ± 2,0 2) 8.2±0.4 2 159.8±12.1 2) 673,8 2) 410,6
riência. petições de Wall Ball (9 kg) e 20 repetições de Power Clean
± 444,1 ± 221,3
(40% 1RM).

Protocolo (1) Fran – Realizar no menor tempo possível 21-


15-9 repetições de thrusters (43 kg) e Pull-ups.
1) 176 ± 6
Tibana et al. Protocolo (2) Fight gone bad – três séries de 5 min por 1) 17,7 ± 4,2 1) 8,7 ± 0,9 1) 91 ± 4%
9 homens (27,7 ± 3,2 2) 174 ± 3 - - -
(2019) série, durante cada minuto os atletas deveriam executar o
anos; 41,1 ± 19,6 meses 2) 16,2 ± 2,9 2) 9,6 ± 0,5 2) 90 ± 3%
número máximo de repetições para cada um dos seguintes
de experiência)
exercícios: (wall ball (9 kg), sumo deadlift high-pull (34 kg),
box jump (60 cm), push-press (34 kg) e remo (calorias)

273,8 ±
181,9
14,3 ± 2,5 173,4 ± 9,5 93,1 ± 2,2
23 participantes (12 ho- Cindy – O máximo de rounds possíveis em 20 minutos de Experien-
Gomes et al. Experientes Experientes Experientes
mens) (31,0 ± 1,0 anos) 5 pull-ups, 10 push-ups, and 15 agachamentos com o peso - tes - -
(2020) 12,4 ± 5,1 170,1 ± 7,3 93,0 ± 0,8
com e sem experiência. corporal. 279,9 ±

53
Novatos Novatos Novatos 183,0
Novatos
20 participantes com 9,7 ± 0,7 169,2 ± 12,2 89,5 ± 5,6

54
experiência, 10 homens Mulheres Mulheres Mulheres
ADAMI et al. Nancy: 5 séries de 400m de corrida e 15 overhead squats
(29 ± 5,3 anos) and - -
(2021) (42,5/30 kg) 10,4 ± 0,7 - 171,1 ± 8,2 89,8 ± 5,4
10 mulheres (30 ± 3,2
-
anos). Homens Homens Homens

Protocolo (1) – 30 repetições de Clean; Jerk (135 lbs) no me-


10 homens (28,1 ± 5 nor tempo possível.
Kliszczewicz et 1) 14,3 ± 2,0
anos) com no mínimo 3 Protocolo (2) – AMRAP: 250 metros de remo (Concept 2), - - - - -
al. (2021) 2) 13,7 ± 1,5
meses de experiência. 20-kettlebell swings (16 kg) e 15 dumbbell thrusters com -
dois dumbbells (13.6 kg).

Fight gone bad – três series de 5 min por série, durante


DurkalecMi- cada minuto os atletas deveriam executar o número má-
chalski et al. ximo de repetições para cada um dos seguintes exercícios: 13,8 ± 4.6 - 171 ± 13 - - -
(2021) (wall ball (9 kg), sumo deadlift high-pull (34 kg), box jump -
(60 cm), push-press (34 kg) e remo (calorias)

Sousa Neto et 8 homens (28,4 ± 150 arremessos de bola (9 kg) em um alvo com uma altura 338,4 ± 223,5 ± 220,4 ±
17,5 ± 3,0 9,0 ± 0,8 - -
al. (2022) 6,4 anos) de 3 metros. 115,6 89,3 87,2

Protocolo (1) Fran – Realizar no menor tempo possível 21-


18 homens (24.22 ± 1)17,85 ±
15-9 repetições de thrusters (35 kg) e Pull-ups. 1) 172.8 ± 13.1
Maté-Muñoz et 2.73 anos) com no 1,28 1) 8,6 ± 1
Protocolo (2) 3 séries no menor tempo possível de 30 kcal 2) 162.3 ± - - - -
al. (2022) mínimo 1 ano de expe- 2)16,68 ± 2) 7,7 ± 1
riência. Rowing (Concept2, Inc.) + 15 kcal Assault AirBike (Assault 11.4
1,63
Fitness).

Protocolo (1) PSE 6 – 4 min de AMRAP: 5 thrusters (60 kg)


e 10 box jumps over (60 cm) (round 1); 4 min de AMRAP
de 10 power clean (60 kg) e 20 pull-ups (round 2); 4 min
de AMRAP de 15 shoulder to overhead (60 kg) e 30 toes to 1) 92,4 ± 1) 490
bar (round 3); e 4 min de AMRAP de 20 calorias de remo e 4,2*
40 wall ball (9 kg; round 4). Após cada round o atleta des- 1) 174 ± 12,1* (192–788)
IC
Tibana et al. cansava 2 minutos. 1)12,8 ± 3,2 1) 6,2 ± 0,8 2) 176,6 ± 2) 95,4 ±
(2022) 8 homens (28,1 ± 5,4 10,9* 4,0* 2) 456
Protocolo (2) All-out – 4 min de AMRAP: 5 thrusters 2)18,9 ± 3,9 2) 9,6 ± 0,7
anos) treinados. (60 kg) e 10 box jumps over (60 cm) (round 1); 4 min de (181–731) IC
AMRAP de 10 power clean (60 kg) e 20 pull-ups (round 2); - -
4 min de AMRAP de 15 shoulder to overhead (60 kg) e 30
toes to bar (round 3); e 4 min de AMRAP de 20 calorias de
remo e 40 wall ball (9 kg; round 4). Após cada round o atle-
ta descansava 2 minutos.

20 praticantes experien-
Rios et al. tes (~5 anos), sendo 16 Fran: Realizar no menor tempo possível 21-15-9 repetições
15,6 ± 3,1 - 174 ± 8 - - - -
(2023) homens: 29 ± 6 anos e 4 de thrusters (43 kg) e Pull-ups.
mulheres: 26 ± 5 anos.

RAMIRES TIBANA & NUNO SOUSA


AMRAP = As many reps as possible; *Os intervalos entre os rounds não foram contabilizados; IC = 95% Intervalo de confiança; †Snatch weights
and reps by set: Set 1 – 6 reps (60kg); Set 2 – 4 reps (70kg); Set 3 – 2 reps (85kg)
MOTIVAÇÃO E ADERÊNCIA

Revisões da literatura sobre os aspectos psicológicos demonstraram que


a aderência e manutenção da prática de Fitness Funcional estão relacio-
nadas às variáveis psicológicas como motivação e a satisfação das ne-
cessidades psicológicas básicas (NPB) (Dominski et al., 2021; Dominski
et al.; 2020).

Vídeo 2 – Aula do professor Fábio Dominski sobre o tema: Fitness Funcional,


motivação e aderência.

Em relação à motivação, quem pratica Fitness Funcional o faz devido


principalmente à motivação intrínseca (aquela caracterizada por prazer
e satisfação pela própria prática em si gerando bem-estar psicológico), à
diversão, ao desafio e à afiliação (Dominski et al., 2020). De acordo com
a principal teoria sobre comportamento humano, a Teoria da Autodeter-
minação (TAD), motivações intrínsecas são comuns nos praticantes de
exercícios em geral, e no caso da modalidade as formas mais autônomas
de motivação se destacam, como a possibilidade de melhorar as habili-
dades/habilidades físicas, os fatores relacionados à saúde e bem-estar,
e desempenho e competição. Comparado com outras formas de treina-
mento de força, às características motivacionais dos indivíduos envol-
vidos no Fitness Funcional parece ser diferente, em que os primeiros
têm apresentado um alto nível de autodeterminação, o que lhes permite
experimentar uma maior sensação de satisfação e prazer, favorecendo a
manutenção do comportamento ativo e motivados em longo prazo (Do-
minski et al., 2020).

O Fitness Funcional apresenta em sua estrutura, condições sociais e am-


bientais que favorecem o suporte e a satisfação das necessidades psico-
lógicas básicas de vínculo, autonomia e competência. Observamos que

CIÊNCIA E PRÁTICA DO FITNESS FUNCIONAL 55


estudos demonstram que a frequência semanal de treino está relaciona-
da a mais altos níveis de satisfação dessas NPB. Enquanto realizado em
um ambiente de grupo, permite o estabelecimento de conexões sociais e
relacionamento através do apoio/suporte social.

Uma pesquisa demonstrou que essa influência social é importante nos


níveis de atividade física principalmente quando há uma conexão mais
profunda entre os praticantes da turma, não apenas “treinar ao lado”
(Prochnow et al., 2022). Nos treinos, o desenvolvimento de atividades
realizadas em duplas ou trios, com o estabelecimento de objetivos co-
muns no cumprimento das tarefas compõe uma estrutura de treinamen-
to que favorece o suporte social e, consequentemente, os vínculos sociais
(Dominski et al., 2020). Além disso, é importante destacar que a marca
CrossFit fomenta um forte senso de comunidade, em que os indivíduos
ali presentes se sintam pertencentes.

A autonomia, outra necessidade psicológica básica com importante


papel na motivação, no Fitness Funcional pode ser visualizada princi-
palmente por conta da autorregulação da intensidade e da forma de se
exercitar pelo praticante, o que suporta um comportamento autônomo.
O senso de volição (escolha) é um aspecto primordial que pode satisfa-
zer essa necessidade. No Fitness Funcional os praticantes podem realizar
um movimento/exercícios de diferentes formas que compões categorias
de execução de acordo com o nível de dificuldade (do iniciante ao avança-
do): Scaled, Intermediário e RX, aspecto que caracteriza a escalabilidade
da modalidade.

Uma característica da prática que fomenta a satisfação da NPB de com-


petência, é o estabelecimento e registro dos recordes pessoais (PRs: per-
sonal records). Isso impulsiona a competitividade e o progresso de cada
indivíduo, através do aumento da carga, número de repetições dentro de
um determinado período (AMRAP) ou realizando um certo número de re-
petições no menor tempo possível (Tibana et al., 2015), permitindo que o
indivíduo compare seu desempenho com o seu próprio resultado e com
os outros praticantes/atletas.

ADAPTAÇÕES CRÔNICAS

Em relação às adaptações crônicas oriundas do Fitness Funcional, como


a modalidade engloba exercícios de força, potência e resistência muscu-
lar e cardiovascular são esperadas adaptações consistentes nessas apti-

56 RAMIRES TIBANA & NUNO SOUSA


dões. No entanto, essas adaptações são geralmente mais pronunciadas
no treinamento específico para cada uma dessas modalidades quando
comparado ao Fitness Funcional. Na figura 24 está ilustrado como o trei-
namento de força e cardiovascular impactam positivamente em diversos
componentes da saúde.

Figura 24. Adaptações crônicas resultantes da prática regular no treinamento de for-


ça (TF) versus treinamento aeróbico (AE), além dos efeitos simultâneos do AE + TF.

Fonte: Adaptado de Abou Sawan et al. (2023)

Alguns estudos realizaram comparações transversais entre praticantes


do Fitness Funcional com outras modalidades. Por exemplo, Green et al.
(2023) demonstraram que os participantes do Fitness Funcional podem
exercer potência e força absoluta semelhantes em comparação com par-
ticipantes focados na força, mas exibem resistência à fadiga e capacida-
de mitocondrial comparável a aqueles que treinam para o endurance.

CIÊNCIA E PRÁTICA DO FITNESS FUNCIONAL 57


Similarmente, Adami et al. (2022) analisaram 3 grupos, que foram dividi-
dos em: atletas do Fitness Funcional (n=10), atletas de endurance (n=10;
triatletas, n=5; corredores de longa distância, n=5) e atletas de potência
(levantadores de peso, n=10). Os atletas eram obrigados a ter prática em
seu respectivo esporte há, pelo menos, 3 anos (um mínimo de 4 sessões
de treinamento de, no mínimo, 60 minutos cada, todas as semanas) e
participar de em competições nacionais (acima do nível regional) por não
mais de 1 ano, revelando-se, assim, atletas de nível amador, nas fases ini-
ciais da sua carreira competitiva.

Com base nos resultados do estudo (tabela 5), os pesquisadores inferem


que, dado que os atletas praticantes de Fitness Funcional alcançaram
níveis aeróbicos comparáveis aos atletas de endurance e demonstra-
ram produção de potência e força semelhante aos atletas de LPO, parece
que os programas de treinamento do Fitness Funcional são eficazes na
melhoria dos componentes de aptidão física relacionados à resistência
aeróbia e potência muscular. No entanto, é importante destacar que a na-
tureza transversal do estudo possui limitações para extrapolações dos
resultados.

Em contrapartida, o estudo realizado por Feito et al. (2018) foi conduzi-


do durante 16 semanas, em 26 adultos ativos recreativamente do sexo
masculino (n = 9; 34,2 ± 9,1 anos; 91,5 ± 17,7 kg; 178,5 ± 5,4 cm) e do
sexo feminino (n = 17; 36,4 ± 7,9 anos; 91,5 ± 17,7 kg; 162,9 ± 7,0 cm),
que realizaram avaliações de composição corporal (DEXA) e medidas de
desempenho antes e depois do treinamento. O treinamento incluiu a par-
ticipação no Fitness Funcional de, no mínimo, duas vezes por semana,
durante 16 semanas.

Os resultados reportados pelos autores revelaram uma interação signifi-


cativa entre sexo e tempo no conteúdo mineral ósseo (p = 0,027), onde as
melhorias favoreceram as mulheres (1,0% ± 1,1%, p = 0,004) em relação
aos homens (-0,1% ± 0,8%, p = 0,625). Além disso, a análise específica
por região indicou que as mulheres (2,5% ± 3,0%, p < 0,005) experimen-
taram maiores melhorias no tronco em comparação aos homens (-0,3%
± 1,8%, p = 0,621), enquanto as mudanças no conteúdo mineral ósseo da
perna foram comparáveis entre mulheres (0,8% ± 1,0%, p < 0,001) e ho-
mens (0,3% ± 0,6%, p < 0,001).

Embora nenhuma outra interação tenha sido observada, melhorias signifi-


cativas na força foram notadas para todos os participantes: 5RM absoluto
(14,4% ± 9,7%) e 5RM relativo (15,4% ± 9,2%). Não obstante, Fearly et al.

58 RAMIRES TIBANA & NUNO SOUSA


(2018) analisaram durante 6 semanas o impacto do treinamento do Fit-
ness Funcional em 13 adultos com sobrepeso/obesidade e diabetes tipo
2. O programa de treinamento resultou em redução significativa da massa
gorda, pressão arterial diastólica e lipídios sanguíneos, além de melhorias
no escore Z da síndrome metabólica. Houve aumento na oxidação basal de
gordura e nos níveis de adiponectina. Notavelmente, o programa de treina-
mento também aumentou a sensibilidade à insulina, sendo correlacionado
com melhorias na adiponectina e na oxidação de gordura.

Dessa forma, esses dados indicam que, além da alta adesão ao programa
(superior a 95%) e a ausência de lesões, o treinamento crônico do Fit-
ness Funcional resulta em resultados positivos na força, desempenho de
condicionamento metabólico e composição corporal. Além disso, pode
ser eficaz no controle do diabetes do tipo 2, abordando uma deficiência
central dessa condição. Esses resultados são consistentes com melho-
rias observadas em programas de exercícios aeróbicos tradicionais para
adultos com sobrepeso/obesidade e diabetes do tipo 2.

Tabela 5 – Características antropométricas e principais resultados de testes fisioló-


gicos para os atletas endurance, Fitness Funcional e LPO.

Fitness
Endurance LPO
Funcional
(n=10) (n=10)
(n=10)
Idade 29 ± 5,8 29 ± 5,4 28 ± 3,6
Estatura (m) 1,76 ± 0,061 1,79 ± 0,043 1,75 ± 0,072
Massa corporal (kg) 71,2 ± 9,16 83,5 ± 6,95* 83,1 ± 15,35
Massa corporal gorda (%) 11,2 ± 3,42 12,6 ± 2,43 12,8 ± 4,56
Massa corporal magra (kg) 62,4 ± 5,94 72,8 ± 5,75* 71,9 ± 11,08*
VO2 pico/kg (ml•kg−1•min−1) 58,0 ± 7,53 56,0 ± 3,22 48,9 ± 5,47*†
Salto contra movimento (potência máxima)
3,2 ± 0,72 4,5 ± 0,42* 6,0 ± 1,32*†
(W•kg−1)
Força máxima de preensão manual (N•kg−1) 6,8 ± 0,73 7,3 ± 0,68 7,7 ± 1,21*
Força isométrica voluntária máxima – Pico de
9,0 ± 2,43 11,7 ± 1,43* 13,1 ± 2,27*
torque/Extensão (N•kg−1)
Força isométrica voluntária máxima – Pico de
6,7 ± 0,95 7,4 ± 1,18 7,9 ± 1,70
torque/Flexão (N•kg−1)

Nota: LPO = Levantamento de peso; *Diferença significativa em comparação com


os atletas de endurance; † Diferença significativa em comparação com os atletas do
Fitness Funcional.

Fonte: Adaptado de Adami et al. (2022).

CIÊNCIA E PRÁTICA DO FITNESS FUNCIONAL 59


Heinrich et al. (2022) conduziram o primeiro estudo que examinou a via-
bilidade e a eficácia de uma intervenção do Fitness Funcional para me-
lhorar o condicionamento físico e a participação em atividades físicas
entre idosos (71 ± 6 anos). De acordo com os resultados reportados, a in-
tervenção demonstrou viabilidade e aceitabilidade promissoras, em que
metade dos participantes forneceu feedback positivo sobre a intervenção
e sugestões úteis para aprimoramento. Além disso, após 8 semanas, uma
melhoria estatisticamente significativa foi observada em 1 dos 5 testes
de desempenho funcional. Os participantes relataram descritivamente
maior participação em atividades físicas no tempo de lazer e estrutura-
das. Dessa forma, esses dados sugerem que o Fitness Funcional pode
ter potencial para ser uma modalidade de exercício eficaz para combater
declínios na capacidade funcional e comportamento sedentário frequen-
temente associados ao processo de envelhecimento.

Não obstante, outro aspecto que tem, recentemente, despertado atenção


é o da liberação de uma proteína chamada de BDNF (Fator Neurotrófi-
co Derivado do Cérebro) durante e após o treinamento. A relação entre
BDNF e exercício físico está ligada à intensidade do treino. Durante o
exercício, especialmente em atividades de alta intensidade, os níveis de
lactato aumentam.

O lactato, por sua vez, pode influenciar o BDNF de várias maneiras. A in-
teração ocorre através de mecanismos como a inibição da adenilato cicla-
se, resultando na redução do cAMP, e a indução de vias específicas, como
PGC1α/FNDC5/BDNF, promovendo a expressão do BDNF. Essa relação
sugere que a intensidade do exercício desempenha um papel importante
na regulação do BDNF, contribuindo para benefícios neurobiológicos as-
sociados à prática física (Müller et al., 2020).

Nosso grupo de pesquisa publicou, recentemente, um estudo (Tibana


et al., 2022) demonstrando que o BDNF foi significativamente maior
(p=0,002) apenas imediatamente após a sessão de esforço máximo em
comparação com as concentrações iniciais. Isso sugere que a intensida-
de pode modular a resposta do BDNF causada pelo Fitness Funcional.
Corroborando esse achado, encontramos uma correlação positiva entre
a concentração de lactato no sangue durante as sessões e os valores de
BDNF (pós-0 h: r=0,51; p=0,01; pós-1 h: r=0,47; p=0,02).

De forma interessante, Ben-Zeev et al. (2020) demonstraram que um pro-


grama de treinamento do Fitness Funcional de três meses em adolescen-
tes do ensino médio foi capaz de aprimorar a aprendizagem espacial de

60 RAMIRES TIBANA & NUNO SOUSA


curto prazo, a separação de padrões visuais e o controle inibitório. Ao com-
parar o programa de treinamento do Fitness Funcional com uma interven-
ção de caminhada e um grupo controle, Wilke et al. (2019) sugeriram que o
treinamento do Fitness Funcional foi mais eficaz na melhoria da memória
de trabalho em comparação com o exercício cardiovascular de baixa inten-
sidade. Assim, é possível que o aumento nos níveis de BDNF após a sessão
de esforço máximo relatado no estudo (Tibana et al., 2022) seja um dos
elementos que vinculam o exercício aos benefícios cognitivos.

Figura 25. Mecanismos potenciais da interação lactato-BDNF após exercício físico.


O exercício físico está associado a um aumento intensidade dependente nos níveis
de lactato. O lactato pode atravessar a barreira hematoencefálica (BBB) por meio de
diferentes transportadores de monocarboxilatos (MCTs). Além disso, a ligação do
lactato ao receptor do ácido hidroxicarboxílico (HCAR1) na BBB pode induzir angio-
gênese. Nos neurônios, o lactato exerce vários efeitos neurotróficos e metabólicos
por meio do transporte transmembrana via MCTs e da ligação direta ao HCAR1. Em
primeiro lugar, a ligação do lactato ao HCAR1 nos neurônios inibe a adenilato ciclase
e, assim, diminui o cAMP, resultando na redução da expressão e função regulatória
do BDNF (fator neurotrófico derivado do cérebro). Em segundo lugar, o lactato pode
induzir a via PGC1α/FNDC5/BDNF através da ativação de SIRT1. Em terceiro lugar, o
lactato aumenta o NADH intracelular, resultando em níveis elevados de cálcio e ex-
pressão do gene BDNF. O BDNF liberado pode, então, aprimorar a neuroplasticidade
por meio de diferentes mecanismos neurobiológicos (por exemplo, neurogênese,
sinaptogênese, crescimento de espinhas dendríticas, potenciação de longo prazo).

Fonte: Adaptado de Müller et al. (2020) e The Cognitive Enhancement Blueprint:


A Guide to Powerful Protocols for Reducing Brain Aging

Muito utilizados no Fitness Funcional, os exercícios de levantamento


olímpico (LPO) (snatch, clean e suas variações) são comumente incorpo-
rados em uma programação para o treinamento de potência muscular de

CIÊNCIA E PRÁTICA DO FITNESS FUNCIONAL 61


atletas de diversos tipos de esportes (Cormie et al., 2011). Uma caracte-
rística dos movimentos de LPO e suas variações é requerer uma acelera-
ção do praticante/atleta ao longo de toda a fase de propulsão. E diferente
dos exercícios balísticos, que possuem a mesma similaridade, é de que
os movimentos de LPO são capazes de gerar grande potência em cargas
elevadas (70-80% de uma repetição máxima [1RM]) (Cormie et al., 2007).

Além disso, os movimentos de LPO se tornaram populares na prepara-


ção desportiva, devido ao fato de sua similaridade entre a tripla exten-
são (joelho, tornozelo e quadril) durante os movimentos de levantamento
com os movimentos atléticos de outros esportes (Hori et al., 2005). In-
teressantemente, estudos encontraram fortes correlações entre os mo-
vimentos de LPO e o sprint (Hori et al., 2008), salto vertical (Hori et al.,
2008; Carlock et al., 2004) e a habilidade em mudança de direção (Hori
et al., 2008).

Da mesma forma e não menos importante está o trabalho de força mus-


cular, como o agachamento (força de membro inferior) para a melhora
do desempenho esportivo. Nessa lógica, em grande parte dos esportes,
movimentos comuns como o salto, o sprint e tarefas com mudança rápi-
da da direção fazem parte do cotidiano de treinamento e competições dos
atletas. A capacidade de realizar estes movimentos de forma eficaz pode
determinar o resultado de certos eventos, como, por exemplo, a diferença
entre o campeão o perdedor. A força muscular pode influenciar signifi-
cativamente sobre características importantes da relação força-tempo
relacionados ao desempenho (figura 26). Em teoria, a melhora na carac-
terística da relação força-tempo deve se transferir para a capacidade de
habilidades esportivas gerais. Portanto, a influência da força máxima e
sua transferência para habilidades como o salto, o sprint e as tarefas com
mudança rápida da direção não podem ser negligenciadas na preparação
de esportistas que apresentem essas habilidades em suas rotinas de trei-
namento e competição (Suchomel et al., 2016).

Por fim, é importante frisar que, em atletas com anos de experiência,


os graus da influência na força dos exercícios básicos diminuem (figura
27); por exemplo, um atleta com anos de experiência pode não apresen-
tar ganhos em habilidades atléticas através apenas do aumento na força
de membros inferiores (p. ex. o agachamento) (Tibana et al., 2016), sen-
do necessária a utilização de movimentos como os exercícios balísticos
(pliometria, exercícios de LPO) para complementar o treinamento de for-
ça básico na melhora das habilidades esportivas (Taber et al., 2016).

62 RAMIRES TIBANA & NUNO SOUSA


Portanto, atletas de diversas modalidades podem se beneficiar do am-
biente propício encontrado no Fitness Funcional (piso apropriado, supor-
tes, barras e pesos olímpico) para a utilização do LPO e dos exercícios
básicos no treinamento, visto que é de fundamental importância para
atletas que necessitam de ganhos de força em membros inferiores e ga-
nhos de potência contra cargas leves e/ou elevadas.

Figura 26. (A) Curva da relação força e velocidade. A força pode ser expressa em
um intervalo de velocidades e cargas, existindo uma relação inversa entre força e
velocidade. Força e velocidade existem em um contínuo, com a força e a velocida-
de máxima localizadas em extremidades polares. Em uma aplicação prática, quanto
mais pesada a carga, menor a velocidade de execução, e quanto mais leve a carga,
maior a velocidade; (B) Efeitos do treinamento de força com altas cargas na mudança
da relação força-velocidade no ponto final da curva; (C) Efeitos do treinamento ba-
lístico na mudança da relação força-velocidade no ponto inicial da curva; (D) Efeitos
do treinamento de força com altas cargas e do treinamento balístico na mudança da
relação força-velocidade ao longo de toda curva.

(A) (B)
Velocidade

Velocidade

Força Força

(C) (D)
Velocidade

Velocidade

Força Força

Fonte: Adaptado de Taber et al. (2016)

CIÊNCIA E PRÁTICA DO FITNESS FUNCIONAL 63


Figura 27. Na imagem, é demonstrada a relação teórica entre a força relativa (for-
ça absoluta/massa corporal) do agachamento posterior (por quilograma de massa
corporal) com o desempenho. Deve-se notar que este modelo é específico para o
agachamento posterior, baseado nos achados da pesquisa. O modelo teórico apre-
sentado indica que existem três fases da força muscular, que incluem: (i) o déficit de
força, atletas que não treinam força muscular e, consequentemente, não possuem
transferência ao desporto; (ii) fase associativa, atletas que treinam força e apresen-
tam boa força muscular relativa, e, consequentemente, ocorre a transferência para
as habilidades esportivas; e (iii) fase da reserva de força, atletas que alcançam o pla-
tô de transferência da força muscular para as habilidades esportivas, sendo neces-
sária, a partir de então, a utilização do treinamento balístico associado com o trei-
namento de força

Déficit de Força de Força de


força associação reserva
agachamento posterior (kg.kg -1 )

2.5

2.0
Força relativa no

Ponto de maiores
1.5
benefícios para
a performance

1.0

Ponto de adicionais
0.5 benefícios

0.0
Capacidade de desempenho
Fonte: Adaptado de Suchomel et al. (2016)

64 RAMIRES TIBANA & NUNO SOUSA


Figura 28. Curva força-velocidade (potência) em relação aos exercícios derivados
do levantamento de peso. Adaptado de Suchomel et al., 2017.

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72 RAMIRES TIBANA & NUNO SOUSA

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