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RESENHA: “DA TOLERÂNCIA”

WALZER, Michel. “Da Tolerância”. Tradução Almiro Pisetta. São Paulo: Martins
Fontes, 1999.

Por: Vera Lúcia Belisário Baroni1

Michel Walzer, professor do Instituto de Estudos Avançados da Escola de


Ciências Sociais da Universidade de Princeton, apresenta, neste livro, através
de uma exposição clara e fluente, várias questões em torno da tolerância com o
objetivo de encontrar respostas para a pergunta sobre o que a sustenta e de
como ela funciona.

Parte do conteúdo desta obra originou-se de palestras proferidas pelo


autor em 1996, dentro do Programa de Ética, Política e Economia da
Universidade de Yale, e, já no prefácio, o autor nos alerta que sua abordagem
visa analisar e defender – entre algumas possibilidades de arranjos políticos
estáveis e moralmente legítimos – aquele que lhe pareça melhor adaptado à
pluralidade da sociedade norte-americana no limiar de século XXI.

A obra apresenta-se dividida em cinco capítulos e, na introdução, ao


argumentar sobre a forma como apresentará o tema da tolerância, ou da
coexistência pacífica entre grupos de pessoas com histórias, culturas e
identidades diferentes, o autor declara que não tentará uma argumentação
filosófica sistemática, porém, esclarece que, ao longo da mesma, o leitor
encontrará as características necessárias dessa argumentação, através de
indicações e premissas metodológicas genéricas na introdução, seguidas de

1
Mestra em Filosofia Social. Especialista em Psicoterapia Psicanalítica de Adultos
Crianças e Adolescentes, em Docência no Ensino Superior e Gestão de Pessoas. Graduada
em Matemática e Bacharel em Administração de Empresas. Master Coach e Mentora pelo
Instituto ISI INFINITY. Atua como Psicoterapeuta, Professora Universitária, Palestrante,
Consultora Organizacional, Analista 360 graus e Analista Comportamental.
uma ilustração ampliada com exemplos históricos e análise de problemas
práticos ao longo dos capítulos.

Walzer estabelece, como ponto de partida para sua abordagem, a


proposição de que a coexistência pacífica é sempre uma coisa boa, pelo fato de
todos sentirem-se inclinados a lhe dar valor e de justificar-se quando não agem
com tolerância. Argumentando que a coexistência pacífica pode assumir formas
políticas muito diferentes e que não existem princípios reguladores iguais para
todos os regimes de tolerância, Walzer afirma que a argumentação que
defenderá no decorrer da obra é a de uma descrição histórica e contextualizada
da tolerância e da coexistência, examinando as diferentes formas que estas
assumiram na realidade e as normas do dia a dia próprias de cada uma delas.

Ao iniciar o primeiro capítulo, o autor nos adverte que começará sua


defesa da tolerância a partir de duas distinções negativas: não tratará da
tolerância dos indivíduos dissidentes ou excêntricos no âmbito da sociedade civil
ou do Estado, pois estes são facilmente tolerados por não representarem perigo.
Também não tratará da tolerância política, quando os grupos constituem
movimentos e partidos opostos, pois a oposição é indispensável ao regime
democrático. São coparticipantes e sem eles não há jogo. Sua preocupação,
afirma, recairá sobre a questão da tolerância que se faz necessária quando os
outros não são coparticipantes e não há jogo comum.

Ainda no primeiro capítulo, ao abordar a questão da competição entre os


diversos grupos culturais dentro de sociedades pluralistas na busca por novas
adesões ou partidários, o autor irá questionar o significado de tolerar tais grupos,
descrevendo vários graus para a tolerância, através do que ele chama de
“continuum” da tolerância.

No segundo capítulo, Walzer aborda os cinco arranjos sociais


historicamente usados no Ocidente para incorporar a diferença e que, portanto,
contribuem para o exercício da tolerância. Discorrendo de maneira clara e
objetiva, ele nos apresenta as vantagens e desvantagens de cada um. São eles:
os impérios multinacionais; a sociedade internacional; as consorciações; os
estados-nações e as sociedades imigrantes.

O terceiro capítulo é reservado pelo autor para a análise do que ele chama
de “casos complicados”, assim definidos por não se enquadrarem às categorias
definidas no segundo capítulo, caracterizando-se como regimes mistos e que
exigem o exercício simultâneo de tipos diferentes de tolerância. São eles:
França, Israel, Canadá e Comunidade Europeia.

Tendo apresentado os cinco regimes de tolerância e, também, os “casos


complicados”, o autor discorre no quarto capítulo sobre as “questões práticas”
que envolvem o exercício da tolerância e os seus limites, como as questões
sobre o exercício do poder; as diferenças de classe; as questões a respeito da
organização familiar, do papel dos sexos e do comportamento sexual; da religião;
da educação; religião civil e da tolerância com intolerantes.

No quinto capítulo, Walzer discute os projetos modernistas e pós-


modernistas para o exercício da tolerância, levantando questões instigantes
quanto à tendência a uma vida sem fronteiras definidas e sem identidades
singulares e seguras, provocadas pelo aumento das imigrações num mundo
globalizado.

O epílogo é reservado a reflexões sobre o multiculturalismo norte-


americano. Nele, Walzer discute as peculiaridades da sociedade norte-
americana, formada por levas sucessivas de imigrantes, que conferiram a ela um
caráter bastante heterogêneo, obrigando todos a um convívio diário com a
diferença e, portanto, a um exercício constante de tolerância mútua. Embora o
autor enfoque os problemas e os dilemas causados por esta diversidade, é fácil
perceber que ele é um entusiasta do modelo norte-americano e, acima de tudo,
um otimista quanto à capacidade política de seu país em administrar essas
questões.

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