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A criança do nascimento aos sete anos

Tradução do capítulo 2, extraída do livro: " Conhecimento, ensinamento e a morte do


misterioso"- de Dennis Klocek ( capítulo 2) Traduzido por: Maria Cecilia Bonna

1- O que é etérico? Essa é uma questão difícil porque o nascimento da criança no mundo - o
nascimento do corpo físico- é acompanhado por forças etéricas vindas do cosmo, as quais
trabalharam durante os 9 meses de gestação para formar uma espécie de espaço, no qual todos
os padrões dos órgãos, a direção endócrina, as diferenciações entre calor e frio, as membranas,
as secreções e uma enorme complexidade de reações químicas, foram de alguma forma
coordenadas e integradas dentro desse espaço, com pouca possibilidade para erros. Se
realmente pensamos no milagre que significa trazer um embrião ao seu termo, isso é instigante.
No entanto, é uma ocorrência diária. Nós olhamos esse milagre e o tomamos quase como
prêmio.

2- Esse processo de vir a ser do ser humano, do nada para alguma coisa, é encabeçado e
sustentado por forças etéricas. Todo o ser do embrião é rodeado e permeado pelas forças do
Ego cósmico- forças de destino, carma, hereditariedade, de tornar-se uma raça em particular,
encarnar em uma área geográfica etc. Todas essas forças, são uma espécie de filtro vindo de
muito longe no cosmos e poderíamos chamá-la de princípio Egóico ou de Ego. O ego pode ser
pensado como uma se fosse uma lente, mas uma lente seletiva que traz forças da periferia e as
integra no que podemos chamar de centro relativo. Ele faz isso primeiramente pelos portões
dos sentidos. A formação da vida dos sentidos ao redor do embrião, é verdadeiramente
orquestrada pelo que mais tarde será chamado de organização do Eu - do lado físico- ou de Eu
verdadeiro- no lado cósmico. A organização do Eu no embrião, é a verdadeira responsável pela
matéria física das forças organizadoras do cosmo; mas essa responsabilidade física é baseada
em padrões de sensação que existem em potencial nos mais distantes recônditos cósmicos. Nós
poderíamos dizer que sensação é a matéria prima do cosmos. Nenhum fisiologista pode
realmente explicar o que é sensação de uma forma química ou mecânica. Mesmo conhecendo
todos os instrumentos e caminhos que a sensação tenha na fisiologia, quando isso vem à tona
relacionado com a embriologia ou perguntando como as sensações formam o embrião, ninguém
sabe responder. No entanto muitos concordam que as sensações formam o embrião.

3- Existe um artigo no Jornal Sacramento's Bee sobre uma nova teoria que diz: "Sim, os
neurônios crescem." Por muitos anos houve a crença de que o ser humano vem com um certo
número de neurônios e isso é assim para o resto da vida. Foi descoberto que nos pássaros
canoros, parte do cérebro realmente se atrofia a cada estação, mas isso ocorre de forma que um
novo canto possa ser aprendido. Os pesquisadores que há vinte anos atrás chegaram à
conclusão que os padrões de neurônios não se modificam, agora reverteram essa posição. Eles
sabem hoje em dia que os neurônios realmente podem se desenvolver até uma idade avançada,
mas isso depende dos efeitos do meio ambiente. Isso é pesquisa de ponta, mas é o que Steiner
disse a anos atrás.

4- Poderíamos dizer que o Ego atua, através do portal dos doze sentidos, como uma espécie de
filtro ou lente das forças cósmicas. No interior desse portão dos sentidos dentro do organismo,
é encontrada a ação do corpo astral cósmico, o movimento dos planetas em frente as estrelas

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fixas, movimentos que criam volteios, ângulos e formas particulares. Dentro desse reino do
Cósmico Astral está o que chamamos de "etérico pessoal" ou "etérico individualizado". É essa
força etérica individualizada a qual Steiner sempre se refere quando usa a frase""forças
formativas etéricas". São as forças que criam forma. As forças etéricas em si mesmo, são na
verdade forças cósmicas. De acordo com Steiner, se a forma do ser humano existisse no seu
estado puro, ou seja: nas forças etéricas cósmicas, ela se desintegraria; seria aniquilada.

5- Agora isso parece trazer uma perspectiva contraditória, de um lado as forças etéricas iriam
aniquilar a forma humana e de outra perspectiva as forças etéricas estão lá como a fonte de
forças esculturais, de construtoras da forma. Isso parece um paradoxo até que desenvolvamos a
visão de que todo "CORPO" tal como o Ego, o Astral e o Etérico- todo corpo sutil, tem uma
dimensão cósmica e uma dimensão terrena. Na dimensão terrena, essas forças cósmicas, as
quais verdadeiramente vivem na periferia do cosmos, vêm ao físico através de um
encantamento - poderíamos dizer assim - do Ego e ficam focadas num centro relativo. De lá,
essas forças cósmicas começam a criar forma. Elas começam a criar a possibilidade de
construção e manutenção da forma. A construção da forma é o trabalho das forças musicais.

6-As forças musicais permitem ao novo ter um lugar para manifestar-se. A criação dos padrões
previamente determinados da forma em si mesma ou também de sua ruina, do seu desintegrar-
podemos dizer - são o trabalho das forças etéricas. É quando o lado cósmico dessas forças
celestiais se submetem à influência ou "encantamento " de um Ego, que surge essa
possibilidade de acordar num corpo de carne e ossos. A criança pequena vai de uma existência
como ser espiritual, morando entre seres espirituais, isso é um Ego cósmico; e então esse Ego
começa sua jornada através das estrelas e planetas, colhendo impulsos dessas estrelas e
planetas, impulsos que eventualmente irão tornar-se as reais funções e formas dentro do seu
corpo humano. Seres humanos estão no caminho em direção à encarnação. Seres humanos
carregam essas forças celestiais e - através dos feitos de Lúcifer e Arimã - focam em tal grau
essas forças celestiais num centro relativo, que há a ilusão de que um Eu separado surge.

7- Isso não significa que o Eu de um ser encarnado não tem mais um Eu cósmico
transcendente. Isso só significa que a ilusão de um Eu separado torna-se tão presente através do
ser Ego, que os adversários ganham acesso a ele através do portão da matéria. A matéria é
incorporada a essas forças celestiais e se imprime ao pulmão, fígado, rins e coração, ossos e
sentidos e em toda a interação entre a vida dos órgãos e o sentido dos órgãos, como uma
imagem de regiões particulares do cosmos. Tudo isso dá ao ser humano a possibilidade de
tornar-se um outro pequeno Universo. O potencial humano tem um completo suprimento de
forças cósmicas, mas elas foram individualizados a tal ponto, que o ser que ocupa o novo
corpo, tem a incrível sensação de que ele é o centro do Universo.

8-Não há nada errado com isso exceto que o plano original era esse: "tão logo surgisse essa
percepção (de ser único como eu), existiria imediatamente a percepção complementar de que
nossa intrínseca unicidade é aquilo que temos em comum com todo ser humano que diz: EU.
"De acordo com Rudolf Steiner esse era o plano original. A função do ser humano era oscilar
entre esses dois estados de consciência, como uma espécie de válvula de alívio na
reciprocidade entre o Cosmos e a Terra, que permite um respirar entre o Cosmos periférico e o
Cosmos central. O corpo etérico de uma criança, sob a influência de um Eu que se encarna no
nascimento físico, torna-se então uma espécie de lente ou agente focalizador que toma parte do

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éter cósmico- podemos dizer que toma parte das estrelas ou da luz das estrelas- e colhe ainda as
qualidades terrenas da água, do ar e do fogo que existem nas várias constelações. Como o sol se
move através do zodíaco, ele traz- mês a mês- as sucessivas qualidades da terra, água, ar e
fogo, para dentro do éter ao redor da terra.

9- O Ego que se encarna, o qual é a imagem do sol movendo-se através do cosmos, foca num
centro relativo no embrião, um campo de forças dos quais o embrião participa e usufrui por
nove meses. Podemos dizer que os outros três meses que são deixados para trás, são a razão
pela qual retornamos ( reencarnamos ) porque não podemos ter verdadeiramente a imagem total
do cosmos, em somente uma encarnação. Então, quando retornamos para cada encarnação,
teremos reunidos outros três pontos de vista diferentes, que ainda não tivemos oportunidade de
vivenciar e trabalhar.

10- Essa atividade do Ego, a qual traz o total reino estelar ao centro, também traz um foco para
dentro dos outros corpos sutis. No outro corpo sutil, as forças etéricas individualizadas
poderiam ser chamadas de forças etéricas terrenas ou forças etéricas pessoais. Essas forças
pessoais etéricas têm a propriedade de ser como a vida das plantas. Plantas têm dois modos
fundamentais de ação: Crescem e decrescem ( decaem). Crescimento e queda são as
propriedades da vida. Vida é crescimento através de adicionar, adicionar e adicionar. O
paradoxo é que a vida também decai através da adição continuada ( tempo). Isso porque se nós
ficássemos só conservando essas adições, de repente as dimensões físicas do ser excederiam
sua habilidade de manter a integridade da vida.

11 - Isso é chamado na física de " lei da superfície mínima". Isso significa que se você se torna
grande demais, tem que se dividir, partir em pedaços. Pensemos numa bexiga. Enchemos a
bexiga e continuamos a encher, encher, encher. Enquanto enchemos acontece sempre o mesmo
e continua a crescer, crescer e crescer. De repente alguma outra coisa acontece. Isso porque
enquanto a massa cresce cubicamente (3 dimensões), a superfície cresce ao quadrado (2
dimensões) e alguma coisa deve ceder. A superfície da membrana então se rompe e o
organismo retorna a um estágio mais econômico. O organismo forma pequenas "comissões". É
como no organismo escola: ao invés de tentar solucionar tudo na Conferência Interna,
formamos comissões e deixamos que cresçam. É exatamente o mesmo processo. Tudo que
acontece na vida social é a lei da superfície m&i

12- Na esfera biológica, isso limita o tamanho do crescimento da célula em particular. A célula
de um elefante ou de uma baleia, têm o mesmo tamanho de uma célula de camundongo, não há
diferença. Só existem mais células. O tamanho da célula é limitado por sua habilidade de
manter integridade entre o centro da célula e a sua periferia. A imagem dos Tronos (espíritos da
vontade), dos Kiriotetes ( espíritos da forma) e dos Dynamis ( do movimento), surgem
novamente. Existe verdadeiramente um enorme crescimento que pode acontecer dentro da
célula, até que a membrana se rompa e a célula entre no processo de subdivisão celular. Então
surgem duas células de tamanho menor. Aí surgem os Exusiai e a célula pode manter sua
integridade. Essas são imagens que poderíamos chamar de leis do etérico, leis que governam
tudo, desde a célula individdual

de nosso corpo, até governos ou revoluções sociais. São imagens do mesmo princípio que vêm
da 1ª evolução no velho Saturno.

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13 - Nos ensinamentos de Rudolf Steiner, as forças etéricas têm dois parâmetros e um é o que
traz forças vitais, forças de crescimento da periferia. (Desenho de um círculo feito com linhas
tangentes em um círculo imaginário)

14 - No diagrama acima desenhei um círculo feito de linhas que representam o que Rudolf
Steiner chama de forças planas do reino etérico. Ele diz que forças etéricas chegam ao
organismo como planos de luz vindos da periferia. A vida chega ao organismo vinda da
periferia, do cosmos. O crescimento também chega para o organismo da periferia. Mas junto
com o transformado corpo etérico das forças formativas etéricas, essas forças de crescimento
tornaram-se tão individualizadas, que uniram-se até às propriedades físicas da matéria
tornando-se incorporadas a elas. O que resulta das forças cósmicas originais de crescimento é
que repentinamente a matéria empurra e expulsa as forças de crescimento agora
individualizadas, como uma onda batendo num navio. Há uma espécie de turbulência. E como
as forças de crescimento formam um espaço, a matéria vai para este espaço e o ocupa. Então o
que resulta é matéria; e as forças de crescimento se retraem para a periferia para criar outra
camada de vida na qual a matéria possa se manifestar. Essa é a forma de crescimento de uma
árvore: pelo câmbio ou troca. A troca está na periferia que é onde a vida está. No organismo
humano, os sentidos também estão na periferia: os olhos, os ouvidos, a pele, o tato. A força
vital - através dos sentidos, da sensação - chega à criança vinda da periferia; como luz estelar
espraiando-se através dos portões dos sentidos. Isso é vida cósmica. As forças vitais - vida
cósmica- formam os órgãos em padrões estelares da terra, água, ar e fogo; formam o pulmão, o
fígado, os rins e o coração. O padrão particular, de cada órgão em particular, é uma imagem do
caminho pelo qual os elementos estão trabalhando nesse reino particular. O pulmão é a imagem
da Terra, o caminho pelo qual o carbono da Terra une-se com substâncias e depois as dissolve,
por exemplo. Essas forças vitais da periferia, entram em contato com a criança pequena através
do meio ambiente, através do que eles escutam, vêem, tocam e saboreiam. O humor dos outros
seres (adultos) ao redor da criança, também carregam essa força vital na camada periférica que
os envolve ( adultos). Crianças pequenas têm uma espécie de clarividência atávica para como
os seres humanos, ou os animais, organizam essas forças cósmicas. Eles não escutam muito o
conteúdo daquele que fala, mas sim sua voz e intenção. Eles olham o modo para o qual as
curvas da face do locutor se animam ou não, o modo como seus membros refletem sua
mobilidade e daí constróem seus próprios órgãos dos 0 aos 7 anos. Esse é um pensamento
enorme: de que aquilo que está no meio ambiente da criança, do nascimento aos 7 anos, é o que
realmente forma seus órgãos vitais através dos portais dos sentidos. Esses órgãos vitais são
nutridos pelas impressões sensoriais do meio ambiente.

15 - Agora, na criança entre 0 e 7, o corpo físico nasceu e o corpo etérico foi atraído para ele
pelo Eu; mas o corpo etérico ainda não está liberto, ainda não nasceu. Ele continua trabalhando
bastante de uma forma cósmica. Podemos dizer que ele está gestando, na criança entre 0 e 7
anos. Ele está plasmando sob as impressões, a vida de impressões que chega dentro do físico e
forma os órgãos internos de acordo com os ditames do cosmos. "Agora você precisa formar um
fígado. "Ägora você precisa formar um pulmão". "Agora um coração..." E podemos pensar que
esses órgãos são criados e terminados no embrião, mas não são. Eles são como sementes no
feto que chega ao termo após nove meses. Os órgãos ainda estão se revelando. Eles precisam da
evolução terrena de forma a realmente experienciar como as forças cósmicas etéricas vêm
através do reino dos planetas para formar e criar as formas terrenas do corpo. Esse processo é
uma iniciação que a criança pequena passa antes da troca dos dentes, de forma que - mais tarde-

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quando assumirem o temperamento designado por seu carma, no nascimento do corpo etérico,
eles estarão aptos a tomar esse temperamento por um tempo e depois transformá-lo, integrando-
o com outros temperamentos. As crianças têm uma intensa iniciação na escola dos seres
elementais.

16- A iniciação elemental que eles têm, é a formadora dos seus órgãos vitais, e atua como um
processo gestacional no período de 0 a sete anos. Essa iniciação vem através das sensações que
eles recebem do meio ambiente. Como resultado, o princípio educativo nesse período é a
imitação. Crianças imitam o que está no meio ambiente ao seu redor. Ensinar através do
exemplo é a mais efetiva forma de educação do nascimento aos sete anos, porque isso é o
imperativo biológico nessa idade. As forças formativas etéricas estão impactando o corpo físico
diretamente. Não existe outro tipo de cognição acontecendo, afora o fato de que o cosmos está
trabalhando para gestar o corpo etérico. As sensações as quais as crianças experimentam, são
nutrição direta para seus órgãos vitais. ( figura de uma grande cabeça )

17 -Agora, nesse diagrama, eu tentei mostrar uma criança dos 0 aos 7 e Rudolf Steiner, em seu
livro "Balance in teaching", nos traz uma interessante imagem. Ele diz que o princípio da
cabeça é a área onde há o recebimento das forças cósmicas. Porque a cabeça é realmente onde o
portal dos sentidos é mais concentrado. Através do ouvir e ver - principalmente- há um influxo,
um constante influxo dessas forças etéricas cósmicas, sob a atividade do Ego que é unido com
elas. Uma parte do Eu cósmico está construindo a organização do Eu terreno, aquele que será
eventualmente o instrumento das forças vitais do parcial Eu cósmico encarnado. A organização
do Eu terreno, está sendo construída pelo Eu cósmico ou Eu verdadeiro, através da união de si
mesmo com parte das forças formativas etéricas e trazendo-as em contato com o físico. Existe
uma espécie de profunda impressão que o Eu verdadeiro faz; essa impressão foca as forças
etéricas no físico. Enquanto isso acontece, a atividade é primariamente focada na região da
cabeça. Por causa disso, a criança pequena tem uma grande cabeça. Poderíamos dizer de um
jeito engraçado que a cabeça são suas antenas; porque a antena ressoa com o sinal e o sinal vem
do cosmos. Isso é o que capacita a criança a atrair e captar forças cósmicas, através dos portões
dos sentidos. Essa antenas estão localizadas na cabeça- uma imagem do cosmos que se parece
mais ou menos com isso. (figura de uma grande cabeça com raios saindo dela)

18- As forças cósmicas chegam à cabeça e se derramam profundamente no resto do corpo. Elas
não estão lá presentes da mesma maneira que nas crianças mais velhas, porque nas crianças
pequenas - abaixo dos sete anos- o Eu está somente parcialmente encarnado nas forças etéricas.
As forças etéricas ainda não estão libertas porque o corpo etérico ainda não nasceu. Mas as
forças estão lá trabalhando para fazer os órgãos vitais e completar a sua formação. Assim a
imagem é essa: o cosmos - vindo da periferia- trabalhando dentro do físico através dos sentidos,
depois se aprofundando e plasmando o fígado, o pulmão, rins, coração etc. Mas fígado,
coração, rins e pulmão, estão sendo plasmados de uma maneira bem cósmica. Escondidas na
fala, na música e no que é visto no meio ambiente da criança, estão as forças que os estão
construindo, formando e estruturando. Junto com isso, essas forças etéricas que chegam ao
contato com as forças terrenas, também têm a propriedade de degenerar e destruir, porque o
corpo etérico, como já dissemos, é como a planta. A planta cresce e decai e isso é o que o corpo
etérico faz também.

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19 - Agora chegamos a uma das partes mais difíceis do "Balance in teaching", quando Rudolf
Steiner dá a imagem de que o corpo Astral, através das forças musicais, cria o processo que
chamamos "edificação". No entanto, em outros lugares, nós veremos que o corpo astral é a
fonte das doenças; e isso nos parece contraditório. Mas temos que ser bem precisos quando
usamos esses termos, porque eles não são de todo contraditórios. Esses conceitos só requerem,
antes de tudo, que se diga: "Isso é sobre o que estou falando nesse estágio em particular; em
outro estágio pode mudar algo".

20- Do nascimento aos 7 anos, o corpo etérico- o corpo etérico gestando- domina. O corpo
físico é construído de acordo com padrões gestacionais, mas existe uma turbulência nesse
mesmo corpo físico durante a gestação. As mulheres grávidas conhecem um pouco dessa
turbulência e mudanças na sua vida durante esse período. Do nascimento aos sete anos
acontece o mesmo. Há uma certa turbulência no corpo que está sendo gestado; podemos dizer:
uma turbulência etérica. Essa turbulência etérica se manifesta na oscilação entre: "Sim, eu sou
um anjo"; "Não, não sou nem um pouco anjo"; e isso ocorre entre 0 e 7 anos. Algumas vezes
toda a noite, algumas dia a dia. Outras... hora a hora. A oscilação entre as forças cósmicas
muito dinâmicas ou padrões e hábitos já encarnados e extremamente fixos, vai e volta. Isso
porque o corpo etérico, quando desce do cosmos e torna-se terreno, é a fonte dos nossos
hábitos. Quando esses padrões ou hábitos mais tarde se libertam, com o nascimento do etérico,
eles serão a fonte do temperamento. O temperamento pode então tornar-se um problema para o
Eu, porque as forças etéricas são fixadas nele pelo hábito e estes podem não ter ainda o acesso
aos padrões cósmicos, os quais são necessários para manter o organismo saudável. Quando
queremos mudar um hábito, é muito difícil fazê-lo. Isso porque o corpo etérico, bem cedo, é
formado por padrões particulares de sensação. As forças terrenas que são dadas para este novo
ser que se encarna, através das sensações provocadas pelo meio ambiente, formam padrões na
vida dos órgãos, os quais mais tarde, irão tornar-se disposição para o temperamento.

21 - Existe uma imagem disto que achei muito útil. É a diferença entre a suspensão e a solução.
Se tentamos entender as atividades das forças etéricas formativas, podemos pensar em termos
do que é a suspensão. Numa suspensão, existe a matéria suspensa num fluído. Não importa
quão física seja a matéria _ podemos pulverizar e pulverizar- se a deixamos parada por um
momento, a matéria irá "brigar" nessa suspensão e começará depois a precipitar-se no fundo do
recipiente. Essa é a oscilação entre forma e degeneração. Quando um ser está iniciando sua
manifestação, ele usa as forças periféricas como um jeito de traçar um projeto. As forças
formadoras são pura vida e ainda não foram atraídas para a matéria. Esse é o papel da água na
suspensão. Mas então, através da formação contínua e da ação do Eu focado num centro
relativo, a matéria é atraída para dentro e se torna substância. Uma vez que a matéria está
formada, fica submetida às leis terrenas ( às leis físicas). Então a matéria inicia o processo de
construir e ampliar-se, chegando até a lei da superfície mínima e à inevitável erupção da
membrana na periferia. E é a implosão dos sistemas. O sistema que foi formado quebra-se em
minúsculas e minúsculas partes. Isso é queda. Então as partes voltam para a terra. Na
linguagem alquímica isso é chamado de processo salino. O sal entra em solução aparente e
eleva-se - através da água- a um estado de leveza. Daí a água se retira e o sal retorna
exatamente ao que era. Quimicamente isso é suspensão. Numa verdadeira solução, o sal nunca
retornaria do estado líquido. Esse sal que nunca decai, seria a atividade das forças musicais.
Isso é o que Steiner chama de elevação. Isso é o que chamamos de "cozinhar". De maneira a

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fazer isso a matéria tem que ser levada a um nível mais e mais elevado de leveza. Amanhã
olharemos mais para isso.

22 - Eu quero trazer essas duas imagens - solução e suspensão- porque elas são úteis quando
tentamos imaginar a disposição da criança, o seu modo de ser dos 0 aos 7 anos. Então
poderíamos perguntar: Como educadores, o que realmente procuramos? Muito embora não
tenhamos uma resposta temperamental - até porque o temperamento ainda não foi realmente
formado- há um começo de demonstração de temperamento na formação de um órgão em
particular, durante a pré-escola. O 1º colorido do temperamento é dado pelo órgão do corpo que
olha para além da vida. Este é o fígado.

23- O fígado é conectado mais diretamente com as forças etéricas de formação e deterioração
que chegam ao ser e então retiram-se dele. Isso é a vida do fígado. No feto e durante todo o
desenvolvimento pré natal, o fígado e o thimus são - de longe - os órgãos metabólicos mais
dominantes do corpo. Se olharmos a evolução biológica dos reinos inferiores e em especial
para um animal que é essencialmente fígado, teremos que percorrer uma série de gêneros até
chegar ao crustáceo. O 1º animal em que toda a cavidade abdominal é completamente
preenchida com o fígado é o lagostim. O gesto anímico desse animal é: "agora estou
crescendo"... "agora estou me escondendo, encolhendo". Ele cresce, cresce e cresce e torna-se
tão grande que a lei da superfície mínima surge e sua pele tem que romper-se. Ela se rompe e
esse animal tão suculento, sai da pele e busca um buraco para enfiar-se até que outra "concha-
pele" se forme e ele deixe de parecer tão saboroso. Então há um lado de crescimento e
desenvolvimento e outro de encolhimento que diz: "Estou me fechando e indo para meu
buraco". Esse é o rítmo do fígado. Vem do fígado uma espécie de imagem do Sol, embora o
fígado se relacione diretamente com Júpiter. Mas o ritmo solar é dia e noite, dia e noite, dia e
noite. Isto é: deteriorar ( dia) e crescer ( noite).

24- O que podemos chamar de modo de ser do fígado ou do lagostim, é a fonte de oscilação nas
crianças pequenas. Elas são doces, delicados e gentis, e subitamente, viram-se e atingem a
cabeça da irmãzinha com sua boneca. E nos perguntamos: "Como isso pode acontecer?"
Quando o fígado domina a consciência há um tremendo crescimento e depois um completo
fechamento e um voltar-se para dentro, um descanso e um "cobrir a cabeça". Poderíamos até
chamar de depressão. Se essas forças não são encontradas e harmonizadas do nascimento aos 7
anos, se não existe um ritmo diário, então o fígado, na idade adulta, irá tentar voltar a um
estágio de desenvolvimento onde possa encontrar no meio ambiente, forças que permitam a ele
aproximar-se do arquétipo cósmico. Ele estará procurando por forças rítmicas no seu meio
ambiente, que permitam a ele, mais uma vez, entrar em contato com sua própria vida. A menos
que isso seja desenvolvido e nutrido pelo meio ambiente da criança entre 0 e 7 anos, o fígado
poderá "minar" o resto do desenvolvimento do temperamento dos 7 aos 14 anos e enfim,
irromper no Ensino médio e tornar-se depressão na época da alma do intelecto.

25- Essa é a raiz da depressão. Depressão realmente é uma espécie de urgência por sensação
rítmica, por sensação que não é ameaçadora e a qual pode ser assimilada ou, podemos dizer,
digerida na vida. Como educadores nós necessitamos ser cuidadosos para que as sensações
fortes não venham tão rápido de forma que as crianças não possam digeri-las. Sensações
também não podem chegar em conceitos abstratos para as crianças pequenas, pois tão logo os
pequeninos sejam desafiados com essas idéias abstratas, haverá uma espécie de concha que se

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formará ao redor de suas forças vitais. Até em adultos isso acontece. Assim as imagens,
movimentos e os sons do meio ambiente das crianças de 0 a 7 anos, precisam ser ritmicamente
apresentados com uma sutil percepção de dia e noite, de estação para estação, porque é esse o
tipo de força rítmica etérica que o fígado está escutando como uma espécie de digestão cósmica
da sensação.

26- Rudolf Steiner dá uma imagem de que o fígado é um órgão que é como a formação de uma
cabeça aprisionada. Ele diz isso nas palestras de fisiologia. E quando você lê isso pela primeira
vez diz: " Opa! O que significa isso?" Mas se olharmos para a imagem que eu trouxe
primeiramente, da cabeça recebendo forças cósmicas através das sensações; e agora olharmos
para o lugar em que o fígado surge no embrião nós entenderemos. O fígado surge no embrião
como um receptáculo do sistema digestivo. Ele vive na digestão recebendo impulsos do mundo,
através da comida digerida que provém da linfa. Ele escuta- por assim dizer- as sensações do
mundo nesses fluidos. O fígado repousa entre toda essa linfa, com esse conteúdo de alimento e
o recolhe para dentro. Nesse mar de linfa, existe uma tremenda sensação que está sendo
provocada e que vem através dos fluidos linfáticos para os nervos simpáticos da criança.
Rudolf Steiner conecta o nervo simpático ao corpo etérico e é nesse corpo etérico que os
impactos do sistema são registrados. O sistema nervoso simpático traz de volta o equilíbrio ao
sistema que foi sobrecarregado, impactado ou estressado. Assim, o sistema nervoso simpático,
especialmente no sistema metabólico, é conectado ao movimento dos membros. Ele reage a
abruptos movimentos da sensação, espasmódicos, duros, ameaçadores; e isso tudo é registrado
na fisiologia da criança, especialmente nos órgãos metabólicos, como uma espécie de distúrbio
etérico. O sistema metabólico então secreta linfa e todo o tipo de secreções reativas que
obrigam o fígado a questionar: " Isso está certo? O que é isso ? O que está acontecendo? Está
tudo bem? Algo está errado..."

27 - O fígado, podemos dizer, torna-se atormentado. Está constantemente pensando que algo
está errado. O que deveria ser pensado é: "O que está acontecendo em Júpiter hoje?" Isso é o
que o fígado está esperando. Se ele não capta Júpiter, acontece simplesmente que a adrenal e o
sistema nervoso simpático ficam bombeando secreções que são as respostas ao estímulo e
stress do meio ambiente, e então o fígado se incorpora a esse stress na formação das proteínas,
porque o fígado é um órgão etérico das forças formativas. Por ser um órgão etérico, é um órgão
escultural. O que ele está esculpindo é a proteína a qual mais tarde se torna fígado, rins,
pulmão, coração etc. A forma como ele faz isto é escutando a música cósmica e esculpindo as
substâncias que chegam a ele, transformando-as em formas úteis para uma fisiologia particular.
Então, de certa forma, o fígado é como uma cabeça aprisionada. O que o etérico está escutando
é a música das esferas. Ele usa essa música para criar pequenas imagens de Júpiter ( fígado), de
Saturno ( ossos), de Vênus (rins) em nosso corpo. Em " Balance in teaching" e outras
literaturas, Rudolf Steiner fala do fígado como um órgão característico que realmente precisa
ser pensado com muita profundidade pelo professor de jardim. Toda a fisiologia e toda a vida
interior da alma que a criança de 0 a sete anos está trazendo para a Terra, é baseada em uma
clarividência interior sobre o que está ocorrendo nas secreções dos fluídos do corpo.

28- O Ego move-se em direção à criança que se encarna. Em sua vida interior, a criança
principia a ter memórias de viver entre as estrelas. O meio ambiente impacta seus sentidos. As
crianças são parcialmente acordadas, mas não conscientemente acordadas, de como as
sensações do meio ambiente adentram nelas e são refletidas pelo seu corpo físico. As sensações

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do meio ambiente saltam de volta, porque o corpo etérico é muito flexível e fluido. Elas saltam
de volta ao cósmico astral. A música das esferas e o cósmico astral dizem:" Eu não reconheço
isso( as sensações), não sei o que é. Você pegue isso de volta." E reflete o meio ambiente
personalizado por padrões sensórios, de volta para o etérico. E - de repente - o etérico é tomado
nessa oscilação entre o astral cósmico e o corpo físico. O corpo etérico não sabe o que fazer
com as forças personalizadas. O que ele faz então, é tecer um modelo de movimentos
oscilatórios. Esse modelo é chamado adrenalina ou testosterona, ou secreção tireoidiana, ou
sucos digestivos. As secreções corporais são uma espécie de modelos de movimentos fixos dos
padrões de estímulo-resposta- uma só parte em um milhão de adrenalina no sangue,
proveniente dos rins: e todo o corpo estará em turbulência por 15 minutos. A secreção é um
movimento individualizado. É uma substância que é um movimento cósmico concentrado. A
criança de 0 a 7 anos, está atuando segundo os padrões de suas secreções. É isso que Rudolf
Steiner está dizendo. O meio ambiente impacta seus órgãos. O órgão vital tenta acomodar a
sensação personalizada, mas como o melhor caminho que ele conhece é criar secreção, que é
uma imagem do movimento criativo, ele a envia para o sangue como imagem desse
movimento. Por isso pode-se dizer que a criança ouve o seu próprio processo encarnatório,
através do corpo etérico. É a criança cósmica de 0 a 7 anos, e ela reproduz o que o padrão
estímulo-resposta seria no modo particular do órgão que está secretando. Isso, na linguagem
antroposófica pedagógica é chamado de fantasia.

29- A vida de fantasia da criança é dirigida pelas sensações que estão impactando o corpo
etérico; e esse corpo etérico terreno está criando secreções com imagens originadas dos padrões
cósmicos formativos. Assim, se há uma reprodução de atuação, o professor olha para o meio
ambiente e tenta criar - especialmente para o fígado - uma espécie de massagem rítmica. Dia
após dia, após dia, após dia, as coisas são apresentadas e mudadas só um pouquinho e mais um
pouquinho, sempre construindo de uma maneira rítmica e permitindo que claras imagens
entrem no sono, imagens que possam adormecer com ele. Quanto mais clara for a imagem,
mais o fígado pode captá-la. O fígado tem uma consciência um tanto embaçada. Podemos dizer
que ele não é totalmente cônscio de si mesmo. É muito mais desperto para o que está chegando
a ele. Como resultado, você pode remover ¾ do fígado e ele se regenera. Isso é uma tremenda
vitalidade. A característica da vida ( vitalidade) é que ela cresce e se degenera, mas não é
incrivelmente consciente ( ou auto-cosnciente). Então, durante a fase de 0 a 7 anos, há uma
imensa vitalidade se espraiando através dos sentidos das crianças. A fantasia surge na criança
como uma resposta para essas sensações. O educador que olha para o meio ambiente e para o
ritmo da sensação, tem que manusear esse ambiente da melhor forma, para ser capaz de curar
esse ritmo do fígado de acordar, dormir e sonhar - dia após dia, após dia.

30- Quando isto acontece no meio ambiente da criança, não haverá uma fome por fantasia
quando ele tiver 35 anos. Eles não sucumbirão à grande tentação de lutar para superar,
( sobrepujar) a pessoa que está ao seu lado de forma a inundar a ambos com excesso de
sensações. A grande luta dos adultos hoje, é transformar - de alguma forma- sua sensibilidade,
de maneira a tornarem-se mais conscientes de que são cidadãos do Cosmos, tanto quanto
cidadãos da Terra.

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