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PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA
SECRETARIA DE GESTÃO E ENSINO EM SEGURANÇA PÚBLICA
DIRETORIA DE ENSINO E PESQUISA

COORDENAÇÃO-GERAL DE ENSINO
COORDENAÇÃO DE ENSINO A DISTÂNCIA

CONTEUDISTA
Carlos Antônio Borges

REVISÃO DE CONTEÚDO
Thiago César Fagundes Santos
Victória Pereira de Vasconcelos de Abreu

COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA
Ardmon dos Santos Barbosa
Márcio Raphael Nascimento Maia

SETOR DE CRIAÇÃO E DESENVOLVIMENTO

PROGRAMAÇÃO E EDIÇÃO
Ozandia Castilho Martins
Vinícius Alves de Sousa

DESIGNER
Ozandia Castilho Martins
Vinícius Alves de Sousa
Zulmiro José Machado Filho

DESIGNER INSTRUCIONAL
Luana Manuella de Sales Mendes

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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO DO CURSO ................................................................................................................... 4
DIVISÃO DOS MÓDULOS: .......................................................................................................................... 6
OBJETIVOS DO CURSO.............................................................................................................................. 6
MÓDULO 1 – SISTEMA NACIONAL DE TRÂNSITO ................................................................................ 7
APRESENTAÇÃO DO MÓDULO ............................................................................................................................ 7
OBJETIVOS DO MÓDULO..................................................................................................................................... 8
DIVISÃO DAS AULAS ........................................................................................................................................... 9
AULA 1 – COMPOSIÇÃO DO SISTEMA NACIONAL DE TRÂNSITO .................................................. 10
AULA 2 – COMPETÊNCIAS DOS ÓRGÃOS E ENTIDADES COMPONENTES DO SISTEMA DOS
ÓRGÃOS NORMATIVOS............................................................................................................................. 12
AULA 3 – ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA ........................................... 22
FINALIZANDO .................................................................................................................................................... 23
MÓDULO 2 – INFRAÇÕES DE TRÂNSITO ............................................................................................. 25
APRESENTAÇÃO DO MÓDULO .......................................................................................................................... 25
OBJETIVOS DO MÓDULO................................................................................................................................... 25
DIVISÃO DAS AULAS ......................................................................................................................................... 26
AULA 1 – TIPIFICAÇÃO DE INFRAÇÃO DE TRÂNSITO ....................................................................... 27
AULA 2 – COMPETÊNCIAS PARA A FISCALIZAÇÃO .......................................................................... 29
AULA 3 – COMPLEXIDADE DA CARACTERIZAÇÃO DE INFRAÇÕES DE TRÂNSITO ................. 31
AULA 4 – CONEXÃO COM CRIMES DE TRÂNSITO .............................................................................. 50
AULA 5 – ESCLARECENDO OUTRAS QUESTÕES .............................................................................. 56
TRÂNSITO DE MOTOCICLETA ENTRE VEÍCULOS PARADOS .............................................................................. 58
OBRIGATORIEDADE DO TACÓGRAFO ................................................................................................. 65
PAÍSES SIGNATÁRIOS DA CONVENÇÃO DE VIENA OU COM ACORDOS DE RECIPROCIDADE ........................... 71
FINALIZANDO .................................................................................................................................................... 74
MÓDULO 3 – PENALIDADES E MEDIDAS ADMINISTRATIVAS ......................................................... 76
APRESENTAÇÃO DO MÓDULO .......................................................................................................................... 76
AULA 1 – CONCEITO DE AUTORIDADE E DE AGENTE DA AUTORIDADE .................................... 78
AULA 2 – PENALIDADES ........................................................................................................................... 79
AULA 3 – MEDIDAS ADMINISTRATIVAS ................................................................................................ 85
AULA 4 – ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA ........................................... 92
FINALIZANDO .................................................................................................................................................... 94
MÓDULO 4 – PROCESSO ADMINISTRATIVO DE TRÂNSITO ............................................................. 96
APRESENTAÇÃO DO MÓDULO .......................................................................................................................... 96
AULA 1 – DO COMETIMENTO DA INFRAÇÃO DE TRÂNSITO À IMPOSIÇÃO DA PENALIDADE98
AULA 2 - ATRIBUIÇÕES DO PROFISSIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA PARA A
EFETIVIDADE DO PROCESSO ADMINISTRATIVO............................................................................. 103
FINALIZANDO .................................................................................................................................................. 109
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................................................... 111
CRÉDITOS ................................................................................................................................................... 114

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APRESENTAÇÃO DO CURSO

A legislação de trânsito muda constantemente e envolve muitas questões,


como as que se deslocam nas vias públicas em sentidos e direções diversas. Nesse
contexto, o profissional de segurança pública na área de trânsito precisa de
conhecimentos específicos e de reciclagem de conhecimentos com frequência diante
dessas mudanças no âmbito da lei e nos diversos órgãos que atuam nessa área.
Um trânsito harmonioso e seguro depende do empenho de todos os
envolvidos nesse processo.
Os profissionais que fazem parte do Sistema Único de Segurança Pública
(Susp) necessitam de comprometimento, integração e capacitação, pois são as
pessoas responsáveis a assegurar o seguinte direito: “direito de todos e dever dos
órgãos e entidades componentes do Sistema Nacional de Trânsito” (art. 1º, § 2º do
Código de Trânsito Brasileiro – CTB).

Figura 1: Trânsito
Fonte: Do conteudista.

O propósito do presente curso é aplicar a legislação de trânsito diante das


infrações administrativas. Para isso há a necessidade de dominar conhecimentos da
estrutura e dos órgãos e entidades competentes do sistema de trânsito, dos tipos de

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condutas infratoras previstas no CTB e as providências que devem ser adotadas pelo
profissional de segurança, e por fim, do processo administrativo em todas as suas
etapas, desde a autuação à punição do infrator.

Figura 2: Estrada
Fonte: Do conteudista.

Figura 3: Vias
Fonte: Do conteudista.

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DIVISÃO DOS MÓDULOS:

Este curso é composto pelos seguintes módulos:

- Módulo 1 – Sistema Nacional de Trânsito;


- Módulo 2 – Infrações de trânsito;
- Módulo 3 – Penalidades e medidas administrativas;
- Módulo 4 – Processo administrativo de trânsito.

OBJETIVOS DO CURSO

Ao final do estudo deste curso, você será capaz de:

-Identificar a composição do Sistema Nacional de Trânsito (SNT);


-Diferenciar as competências dos órgãos e entidades componentes do SNT,
aplicando-as ao trabalho desenvolvido por sua corporação, integrante do Sistema
Único de Segurança Pública;
-Enquadrar comportamentos infratores das regras de circulação e conduta à correta
tipificação descrita nos artigos de 162 a 255 do CTB;
-Adotar medidas administrativas previstas na legislação quando da autuação de
infração de trânsito, de acordo com a competência do profissional de segurança,
diferenciando-a da que afeta à autoridade de trânsito;
-Compreender o desenvolvimento do processo administrativo de trânsito desde o
cometimento da infração até punição do infrator, bem como as atribuições do
profissional de segurança neste processo.

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MÓDULO 1 – SISTEMA NACIONAL DE TRÂNSITO

Apresentação do módulo

O Sistema Nacional de Trânsito é composto por órgãos e entidades das esferas


da administração pública Federal, Estadual e Municipal, desempenhando atribuições
integradas e harmônicas entre si, para o desenvolvimento da Política Nacional de
Trânsito objetivando a segurança, a fluidez, o conforto, a defesa ambiental e a
educação para o trânsito, bem como a fiscalização do seu cumprimento.

Figura 4: Semáforo
Fonte: Do conteudista.

De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), esse sistema pode ser
definido como:
“o conjunto de órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal
e dos Municípios que tem por finalidade o exercício das atividades de
planejamento, administração, normatização, pesquisa, registro e
licenciamento de veículos, formação, habilitação e reciclagem de condutores,
educação, engenharia, operação do sistema viário, policiamento,
fiscalização, julgamento de infrações e de recursos e aplicação de
penalidades” (CTB, art. 5º).

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Figura 5: Condução
Fonte: Do conteudista.

Cada órgão desempenha atividades específicas, de acordo com a natureza


(normativa, executiva, fiscalizadora ou recursal) e nos limites da sua competência
legal. Contudo, a legislação possibilita ampliar o alcance da fiscalização de trânsito
através da celebração de convênios de cooperação técnica entre os órgãos e
entidades executivas do Sistema Nacional de Trânsito.

Objetivos do módulo

Ao final do estudo desse módulo, você será capaz de:

- Enumerar os órgãos e entidades componentes do Sistema Nacional de


Trânsito;
- Identificar as competências de cada órgão, relacionando-as à sua atuação
como profissional de segurança pública;
- Compreender a ampliação da competência para a fiscalização de trânsito, por
meio da celebração de convênios entre os órgãos componentes do sistema, com o
objetivo de aumentar a eficiência e a segurança para os usuários da via pública.

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Divisão das aulas

Este módulo compreende as seguintes aulas:

Aula 1 – Composição do Sistema Nacional de Trânsito;


Aula 2 – Competências dos órgãos e entidades componentes do sistema;
Aula 3 – Atuação do profissional de segurança pública.

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AULA 1 – COMPOSIÇÃO DO SISTEMA NACIONAL DE TRÂNSITO

Os órgãos que compõem o Sistema Nacional de Trânsito (CTB, art. 7º) podem
ser assim apresentados, de acordo com as funções desempenhadas para alcance
dos objetivos do referido sistema:

A lei nº 9.503 no seu Art. 7º do CTB, dispõe (In verbis):

Compõem o Sistema Nacional de Trânsito os seguintes órgãos e entidades:

I - o Conselho Nacional de Trânsito - CONTRAN, coordenador do Sistema e


órgão máximo normativo e consultivo;

II - os Conselhos Estaduais de Trânsito - CETRAN e o Conselho de Trânsito do


Distrito Federal - CONTRANDIFE, órgãos normativos, consultivos e
coordenadores;

III - os órgãos e entidades executivos de trânsito da União, dos Estados, do


Distrito Federal e dos Municípios;

IV - os órgãos e entidades executivos rodoviários da União, dos Estados, do


Distrito Federal e dos Municípios;

V - a Polícia Rodoviária Federal;

VI - as Polícias Militares dos Estados e do Distrito Federal; e

VII - as Juntas Administrativas de Recursos de Infrações - JARI.

1. ÓRGÃOS NORMATIVOS E CONSULTIVOS:

a) Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN);


b) Conselhos Estaduais de Trânsito (CETRAN);
c) Conselho de Trânsito do Distrito Federal (CONTRANDIFE).

2. ÓRGÃOS EXECUTIVOS:

a) De trânsito:
a1) Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN) – União;
a2) Departamento Estadual de Trânsito (DETRAN) – Estados e DF;
a3) Superintendência Municipal de Trânsito (SMT) – municípios 1

1Nomenclatura exemplificativa, podendo sofrer alterações de acordo com a lei orgânica do município, bem como
estabelecer a sua estrutura administrativa como secretaria, superintendência, autarquia, dentre outras.

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b) Rodoviários:
b1) Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) – União;
b2) Departamento de Estradas de Rodagem (DER) 2 - Estados e DF;
b3) Órgão Rodoviário Municipal – Municípios.

3. ÓRGÃOS FISCALIZADORES

a) Polícia Rodoviária Federal (PRF) – União


b) Polícias Militares (PM) – Estados e DF

4. ÓRGÃOS RECURSAIS

Juntas Administrativas de Recursos de Infração (JARI)

Figura 6: Fotografia
Fonte: Marcelo Camargo/Agência Brasil.

https://agenciabrasil.ebc.com.br/foto/2019-06/plataforma-da-rodoviaria-e-interditada-por-
risco-de-desabamento-1581292376-1

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Nomenclatura exemplificativa, podendo sofrer alterações de acordo com a organização administrativa do
Estado da Federação. Por exemplo, em Goiás é denominado Agência Goiana de Infraestrutura e Transportes
(Goinfra).

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AULA 2 – COMPETÊNCIAS DOS ÓRGÃOS E ENTIDADES COMPONENTES DO
SISTEMA DOS ÓRGÃOS NORMATIVOS

Tanto o CONTRAN, em nível nacional, como o CETRAN/CONTRANDIFE, no


âmbito da unidade da federação brasileira em que tem sede, desempenham
harmonicamente as funções normativas, consultivas e coordenadoras para alcance
dos objetivos da Política Nacional de Trânsito (conforme Resolução nº 514/2014-
CONTRAN).

As competências do Conselho Nacional de Trânsito estão estabelecidas no


art. 12 do Código de Trânsito Brasileiro*, ou seja, o estabelecimento de normas
regulamentares expressamente delegadas pela Lei nº 9.503, de 23 de setembro de
1997 (CTB), estabelecido por meio de resoluções, tem destaque nesse meio.
Estas resoluções são resultado das constantes transformações e evoluções
dos equipamentos e dispositivos de segurança dos veículos e também a necessidade
de se adequar a sociedade em que se vive. Hoje, mais de oitocentas resoluções já
foram modificadas e encontram-se ainda dezenas que permanecem ativas desde
antes do CTB (1998) entrar em ação. Assim, torna-se mais importante perceber que
a atuação do profissional de segurança pública na área de trânsito exige constante
atualização para estar a par dessas atualizações.
O CONTRAN também é responsável por responder consultas que chegam até
ele em relação à aplicação da legislação de trânsito. A sede encontra-se em Brasília,
é comandado pelo Ministro de Estado da Infraestrutura e composto pelos seguintes
representantes:

Figura 7: Representantes
Fonte: SCD/EaD/Segen.

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Pensando no contexto de que o trânsito é um assunto completo e requer
conhecimentos específicos de quem trabalha com ele, o CONTRAN passou a
disponibilizar Câmaras Temáticas, que contam com especialistas nos assuntos
técnicos e tem como objetivo estudar o assunto e oferecer sugestões, com
fundamentos técnicos, para auxiliar na tomada de decisões do colegiado. São elas:

Figura 8: Representantes
Fonte: SCD/EaD/Segen.

As competências dos Conselhos Estaduais de Trânsito e do Conselho de


Trânsito do Distrito Federal estão estabelecidas no art. 14 do Código de Trânsito
Brasileiro e possuem as mesmas competências que o CONTRAN em nível da unidade
federativa em que têm circunscrição. Porém, com o poder normativo vinculado a ele,
a extensão é bem menor, pois as regulamentações do CONTRAN são válidas em todo
o território nacional. Com isso, o CETRAN/CONTRADIFE não tem o poder de criar
normas diferentes do que foi definido pelo CONTRAN.
O CETRAN/CONTRANDIFE também é responsável por responder questões
em relação à aplicação da legislação de trânsito e constitui-se em grau de recurso, ou
seja, a parte que perdeu a ação, não se conformou e faz o requerimento de nova
apreciação, do julgamento das penalidades aplicadas pelos órgãos executivos e
fiscalizadores dos Estados ou municípios. Ao contrário do CONTRAN, esse órgão
também julga os recursos contra decisões dos órgãos executivos de trânsito nas

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situações de inaptidão permanente, verificadas nos exames realizados para a
aquisição da Carteira Nacional de Habilitação.
Você pode conferir mais informações sobre a gestão e
operacionalização das atividades do CETRAN/CONTRANDIFE, como também
as diretrizes para produção do seu regimento interno na Resolução nº
688/2017-CONTRAN.

DOS ÓRGÃOS EXECUTIVOS DE TRÂNSITO

O Departamento Nacional de Trânsito tem as competências definidas no art.


19 do CTB, em especial na atividade de emissão dos documentos de habilitação do
condutor de veículo automotor (Permissão Para Dirigir, Carteira Nacional De
Habilitação e Permissão Internacional Para Conduzir Veículo) e dos documentos de
registro e licenciamento anual de veículo, de acordo com que o DETRAN dos
Estados/DF transmite.
Os Registros Nacionais de Carteira de Habilitação (RENACH), de
veículos (RENAVAM) e de infrações de trânsito (RENAINF) também são
atividades organizadas e mantidas pelo DENATRAN. A organização da
estatística geral de trânsito no território nacional e a organização de
projetos e programas para combater a violência no trânsito e estimular a
educação, engenharia, administração, policiamento e fiscalização de trânsito é
de responsabilidade também do mesmo órgão.
O Departamento Estadual de Trânsito tem as competências definidas no art.
22 do CTB e suas principais atribuições são:
(a) a realização do processo de concessão da CNH, desde o funcionamento
dos centros de formação de condutores (CFC), emissão das licenças de
aprendizagem para os candidatos à habilitação, realização dos exames escritos e
práticos de direção veicular, emissão da Permissão para Dirigir (PD), da Autorização
para Conduzir Ciclomotor (ACC) e da Carteira Nacional de Habilitação (CNH), desde
que atendidos os requisitos previstos na legislação de trânsito, conforme delegação
do DENATRAN, acima referida;
(b) a aplicação das penalidades de suspensão do direito de dirigir e de
cassação da CNH/PD, obedecido ao devido processo administrativo, devendo tais
medidas ser comunicadas ao DENATRAN para anotações no RENACH;

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(c) as providências relacionadas ao registro e licenciamento de veículos
automotores, conforme delegação do DENATRAN, acima referida (vistoria,
emplacamento, transferência de propriedade, verificação das condições de segurança
veicular, baixa definitiva do registro, emissão do Certificado de Registro e do
Certificado de Licenciamento Anual, dentre outras);
(d) executar a fiscalização de trânsito, autuar infrações de trânsito, aplicar
medidas administrativas e penalidades cabíveis na área de competência do Estado (a
seguir especificada).

Houve uma inovação, proposta pelo Código de Trânsito Brasileiro ao dividir a


competência da fiscalização com os municípios. Antes de 1998, o Município tinha
os encargos de pavimentação, sinalização, manutenção e operação das vias públicas
e o Estado fazia a fiscalização do seu uso e o recolhimento dos valores das multas
aplicadas, ou seja, o município tinha o ônus e o Estado, o bônus.
Com a correção dessa divergência, o CTB separou as competências da
fiscalização do Estado e do município nas vias urbanas municipais, ficando
estabelecida a competência do DETRAN para a fiscalização das infrações
relacionadas à regularidade da documentação de veículos e condutores e das
condições de segurança dos veículos. Você verá mais informações sobre essa
questão no módulo 2 – Infrações de trânsito.
O órgão executivo municipal tem as competências definidas no art. 24 do
CTB e suas atribuições de destaque são:
(a) planejar, regulamentar e operar o trânsito de pessoas, veículos e
animais nas vias públicas do município, por meio do sistema de sinalização e
dispositivos de controle viário (semáforos, reguladores de velocidade, fiscalização por
câmeras, dentre outros), podendo, inclusive, implementar sistema de
estacionamento rotativo pago;
(b) registrar e licenciar veículos de propulsão humana e de tração animal
(bicicletas, carroças e similares) e emitir autorização para conduzi-los, fiscalizando,
autuando e aplicando penalidades decorrentes de infrações de trânsito relativas a
estes veículos;
(c) executar a fiscalização de trânsito, autuar infrações de trânsito, aplicar
medidas administrativas e penalidades cabíveis na área de competência do município

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(circulação, estacionamento, parada, excesso de peso, dimensões e lotação dos
veículos).

A Resolução nº 066/1998-CONTRAN tornou mais detalhada a distribuição de


competências entre Estado e município para a fiscalização de trânsito nas vias
públicas urbanas, na qual você, profissional de segurança pública, pode separar as
infrações de trânsito que cabem originalmente ao órgão no qual você atua. Existem
algumas infrações de trânsito que são, ao mesmo tempo, de competência do Estado
e do município, por exemplo: deixar o condutor ou passageiro de usar o cinto de
segurança (CTB, art. 167); disputar corrida (CTB, art. 173); desobedecer às ordens
vindas da autoridade competente de trânsito ou de seus agentes (CTB, art. 195).

Para entender melhor:


Distribuição da competência para fiscalização em vias urbanas

ESTADO MUNICÍPIO

Regularidade da documentação de Uso da via: circulação, estacionamento e


veículos e condutores e das condições de parada, excesso de peso, dimensões e
segurança dos veículos lotação dos veículos

Ex: falta de CNH, exame médico vencido, Ex: avanço de sinal, excesso de
licenciamento atrasado, veículo sem velocidade, contramão de direção,
equipamento obrigatório. estacionamento em local proibido.

Figura 9: Fiscalização em vias urbanas


Fonte: Do conteudista.

Devido ao fato do Distrito Federal não ser dividido em territórios e


administrações municipais, ou seja, ser uma unidade de federação sui generis, o
DETRAN/DF terá competência ampla para fiscalização de trânsito, abrangendo,
também, as responsabilidades previstas no art. 24 do CTB. É o que estabelece o § 1º
do art. 24 do CTB: “As competências relativas a órgão ou entidade municipal serão
exercidas no Distrito Federal por seu órgão ou entidade executivo de trânsito”.

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Figura 10: Vagas Reservadas
Fonte: Valter Campanato/Agência Brasil

https://agenciabrasil.ebc.com.br/foto/2016-01/multa-para-quem-estaciona-em-vagas-
reservadas-aumenta-140-1581289761

DOS ÓRGÃOS EXECUTIVOS RODOVIÁRIOS

Diferentemente dos órgãos executivos de trânsito, em que a distribuição das


competências é estabelecida em artigos diferentes conforme os níveis federal,
estadual e municipal (CTB, art. 19, 22 e 24, respectivamente), a definição das
responsabilidades dos órgãos executivos rodoviários é a mesma, independente da
atuação do poder público. Isso acontece porque no que diz respeito à operação e
fiscalização de trânsito nas estradas e rodovias, as competências não são distribuídas
em mais de um órgão executivo.
Assim, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, os
Departamentos de Estradas de Rodagem (ou outra denominação similar, conforme
o Estado) e os órgãos rodoviários municipais (onde houver, pois dificilmente algum
município terá uma estrutura exclusiva para o trânsito urbano e outra para o trânsito

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rodoviário) têm as competências definidas no art. 21 do CTB. Suas atribuições de
maior destaque são:

(a) planejar, regulamentar e operar o trânsito de pessoas, veículos e


animais nas rodovias sob seu domínio, por meio do sistema de sinalização e
dispositivos de controle viário (semáforos, reguladores de velocidade, fiscalização por
câmeras, dentre outros);
(b) executar a fiscalização de trânsito, autuar infrações de trânsito, aplicar
medidas administrativas e penalidades cabíveis em sua extensão de atribuição
operacional;
(c) vistoriar veículos que necessitem de autorização especial para transitar
e estabelecer os requisitos técnicos a serem observados para a circulação (veículos
com mais de uma unidade tracionada, de dimensões excedentes à capacidade da
rodovia, dentre outros).

Figura 11: Transporte de Cargas


Fonte: Marcelo Camargo/Agência Brasil

https://agenciabrasil.ebc.com.br/foto/2021-06/caminhoes-transporte-de-cargas-
1622564437

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DAS POLÍCIAS MILITARES DOS ESTADOS E DO DISTRITO FEDERAL

A competência da Polícia Militar é estabelecida no art. 23, inciso III do


CTB, nestes termos: “executar a fiscalização de trânsito, quando e conforme
convênio firmado, como agente do órgão ou entidade executivos de trânsito
ou executivos rodoviários, concomitantemente com os demais agentes
credenciados” (grifo nosso).
Para o conhecimento de algum policial militar que cuidadosamente chegou até
este ponto do texto, podemos dizer que a Polícia Militar não tem nenhuma
competência originária para a fiscalização administrativa do trânsito em nosso
país! Além de dividir a competência do Estado para a fiscalização do trânsito com o
município nas vias urbanas, o CTB tirou essa responsabilidade da Polícia Militar.
Assim, se for conveniente e viável para a administração pública, o DETRAN e
os departamentos estaduais de estradas de rodagem estaduais podem:

(a) constituir estrutura de fiscalização própria;


(b) aproveitar as décadas de trabalho desenvolvido e de formação profissional
da Polícia Militar nesta área de atuação estatal, por meio de convênio, em razão do
qual agirá por delegação e em nome do órgão executivo responsável pela
fiscalização de trânsito, de acordo com as atribuições estabelecidas nos artigos 21
e 22 do CTB, anteriormente analisados.
Como os órgãos executivos e a corporação militar estão no mesmo campo de
atuação do Estado/DF, os recursos materiais e logísticos tornam-se convergentes em
proveito do interesse público em celebrar os convênios de cooperação técnica e
mesmo ocorrendo à celebração do convênio, nada impede que o órgão executivo
insira ou mantenha ao mesmo tempo a fiscalização por meio de agentes do próprio
órgão, como ocorre, por exemplo, no Distrito Federal.
Percebe-se a atuação de batalhões de trânsito urbano nas maiores cidades do
Brasil e a atuação de batalhões rodoviários nas rodovias e estradas estaduais por
causa dos convênios explicados acima. Isso acontece de acordo com a estruturação
orgânica da Polícia Militar.

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DA POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL

A Polícia Rodoviária Federal tem as competências definidas no art. 20 do


CTB. Destacam-se as seguintes atribuições:
(a) realizar o patrulhamento ostensivo, ou seja, de maneira evidente,
executando operações relacionadas com a segurança pública;
(b) aplicar e arrecadar as multas impostas por infrações de trânsito, as
medidas administrativas decorrentes e os valores obtidos de estada e remoção de
veículos;
(c) efetuar levantamento dos locais de acidentes de trânsito;
(d) assegurar a livre circulação nas rodovias federais.

Figura 12: Operação Policial


Fonte: Elza Fiúza/Agência Brasil

https://agenciabrasil.ebc.com.br/foto/2016-06/policia-faz-operacao-para-
desocupar-hotel-em-brasilia-1581289761-8

A PRF tem a competência procedente para a fiscalização de trânsito nas


rodovias e estradas federais por meio de convênio com o órgão executivo
rodoviário, podendo, assim, agir em nome próprio, sem a necessidade de convênio

20
com o DNIT (que também tem competência para esta fiscalização, conforme art. 21,
VI do CTB).
Também existe outra diferença em relação ao funcionamento, a polícia militar
junto ao órgão da PRF – conforme disciplinado na Portaria nº 132 de
14/02/2011/Ministério da Justiça – é responsável por atribuir penalidades.
Outra distinção da Polícia Militar está no funcionamento, junto à estrutura
organizacional da PRF, pois, quem é responsável por impor penalidades, deve
oferecer ao infrator o regular exercício do direito de defesa.

DOS ÓRGÃOS DE RECURSO

Estabelece o art. 16 do CTB:

“Junto a cada órgão ou entidade executivos de trânsito ou rodoviário


funcionarão Juntas Administrativas de Recursos de Infrações – JARI,
órgãos colegiados responsáveis pelo julgamento dos recursos
interpostos contra penalidades por eles impostas”.

As competências das Juntas Administrativas de Recursos de Infrações, que


atuam junto aos órgãos que têm atribuição legal para fiscalizar e conferir penalidades
que foram decorrentes de infração de trânsito, em grau de primeira instância
administrativa, são as seguintes:
(a) julgar os recursos que foram pedidos pelos infratores;
(b) solicitar ao órgão responsável pela aplicação da penalidade, caso
necessário, informações complementares relativas aos recursos, objetivando
uma melhor análise da situação recorrida;
(c) encaminhar aos órgãos e entidades executivas de trânsito e executivas
rodoviárias informações sobre problemas observados nas autuações e
apontados em recursos que se repitam sistematicamente (CTB, art. 17).

Caso ocorra o indeferimento do recurso e o infrator não concordar com a


decisão tomada pela JARI, ele poderá, dentro do prazo legal estabelecido, solicitar
um segundo recurso à instância administrativa superior. Você verá mais informações
sobre esse assunto no módulo 4 – Processo administrativo de trânsito.
Você pode consultar mais informações sobre a composição,
organização e funcionamento e também as diretrizes para elaboração do
regimento interno da JARI na Resolução nº 357/2010-CONTRAN.

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AULA 3 – ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA

Na aula anterior, você estudou as atribuições de cada órgão integrante do


Sistema Nacional de Trânsito e suas competências estabelecidas pelo CTB, com isso,
podemos especificar a atuação dos seguintes profissionais de segurança pública:
- Policiais rodoviários federais:
tem como função fiscalizar o trânsito de veículos, pessoas e animais nas rodovias e
estradas federais podendo ser o órgão que tem direito de autuar todas as infrações
previstas no CTB;

- Agentes municipais de trânsito:


(a) fiscalizam as vias urbanas do município onde estão lotados, principalmente as
infrações relacionadas ao uso da via (circulação, estacionamento, parada, excesso
de peso, dimensões e lotação dos veículos);
(b) fiscalizam as rodovias e estradas municipais (onde houver) com direito de autuar
todas as infrações previstas no CTB;

- Policiais militares:
(a) fiscalizam as vias urbanas do município onde estão inseridos, focando,
principalmente, nas infrações relacionadas à regularidade da documentação de
veículos e condutores e das condições de segurança dos veículos (conforme
convênio com o DETRAN);
(b) fiscalizam o trânsito de veículos, pessoas e animais nas rodovias e estradas
estaduais com direito de autuar todas as infrações previstas no CTB (conforme
convênio com o DER – ou equivalente).

O Código de Trânsito Brasileiro prevê, em seu art. 25, que os órgãos e


entidades executivos do Sistema Nacional de Trânsito poderão celebrar convênio,
delegando suas atividades, visando uma maior eficiência e segurança para os
usuários da via.
A competência para fiscalizar infrações de trânsito nas vias urbanas do
município pode ser ampliada tanto para os agentes de trânsito, como para os policiais
militares, se houver interesse dos participantes do processo. Até mesmo nos
municípios que não tenham estrutura organizacional, logística e humana, pode ser

22
feita a delegação das atribuições para a Polícia Militar, sem haver necessidade da
participação de agentes de trânsito na competência municipal.
Também é prevista a delegação de competências entre o órgão executivo
rodoviário e o de trânsito, mesmo não acontecendo com frequência, em qualquer
esfera de organização, seja federal, estadual ou municipal.
O CTB, em seu art. 7º-A, também prevê a possibilidade de convênio entre a
autoridade portuária (ou a entidade que tenha licença no porto organizado) e os
órgãos executivos do município e do Estado, juridicamente interessados, para
facilitar a autuação por descumprimento da legislação de trânsito, podendo ser
definido para toda a área física do porto organizado, inclusive, nas áreas dos terminais
alfandegados, nas estações de transbordo, nas instalações portuárias públicas de
pequeno porte e nos respectivos estacionamentos ou vias de trânsito internas.
O art. 25-A do CTB estabelece também que os agentes dos órgãos policiais da
Câmara dos deputados e do Senado Federal, se houver convênio com entidades de
trânsito que possuam demarcações sobre a via, podem aplicar a atuação de infração
e enviá-las ao órgão competente. Isso acontece nos casos em que a infração que foi
cometida nos arredores do Congresso Nacional ou nos locais que também são de sua
responsabilidade e que comprometam de alguma maneira os serviços lá prestados ou
coloque em risco a segurança das pessoas ou do patrimônio das Casas Legislativas.

Finalizando

Neste módulo, você estudou que:


- O Sistema Nacional de Trânsito é o conjunto dos órgãos e entidades da
administração pública federal, estadual e municipal que têm por finalidade alcançar os
objetivos da Política Nacional de Trânsito. Estes órgãos desempenham funções
específicas: (a) normativas (CONTRAN, CETRAN e CONTRANDIFE); (b)
executivas (DENATRAN, DETRAN, DER, dentre outros); fiscalizadoras (Polícia
Rodoviária Federal e Polícia Militar); recursais (JARI). Apesar das funções serem
específicas, são interdependentes para harmonia de todo o sistema.
- Cada órgão componente do Sistema Nacional de Trânsito tem as
competências definidas no Código de Trânsito Brasileiro (artigos de 12 a 24). A
maior dificuldade de compreensão das competências pode ocorrer nas vias urbanas
municipais, onde há atuação de mais de um órgão executivo (estadual e municipal).

23
Apesar disso, o CTB e a Resolução nº 066/1998-CONTRAN fazem o papel de
regularizar a distribuição das competências, assim sintetizada: ao Estado cabe
fiscalizar a regularidade da documentação de veículos e condutores e das condições
de segurança dos veículos e ao munícipio cabe fiscalizar o uso da via (circulação,
estacionamento e parada, excesso de peso, dimensões e lotação dos veículos).
- O profissional de segurança pública, na fiscalização de trânsito, atua de
acordo com a competência definida para o órgão no qual está inserido. Porém,
visando maior eficiência e segurança para os usuários da via, é prevista a celebração
de convênio entre os órgãos executivos de trânsito e rodoviários, o que pode tornar
mais abrangente a fiscalização à totalidade das infrações de trânsito em vias urbanas
municipais, em rodovias e estradas.

24
MÓDULO 2 – INFRAÇÕES DE TRÂNSITO

Apresentação do módulo

O profissional de segurança pública, em seu dia a dia de trabalho com a


fiscalização de trânsito encontra muitas informações que devem ser processadas para
que seu trabalho seja mais eficaz.
Você irá aprender algumas considerações pertinentes à tipificação das
condutas humanas que descumprem as normas gerais de circulação e
conduta, previstas nos artigos 26 a 67 do Código de Trânsito Brasileiro. É
importante estar atento a esse conteúdo, pois é necessário saber como
enquadrar, de modo correto e legalizado, o infrator para a sua efetiva
penalização.
Também é necessário que você tenha atenção em relação a competência do
órgão executivo, ao qual o profissional de segurança pública se vincula e pelo qual
age, se a autuação for realizada na fiscalização da via pública urbana, onde, conforme
visto na Aula 3 do módulo 1, há atuação de mais de um órgão executivo ao mesmo
tempo.
Algumas infrações de trânsito são complexas em sua distinção, o que necessita
um conhecimento adequado de outras disposições no CTB e, algumas vezes, em
resoluções do CONTRAN.
Outras infrações podem ter conexão com crimes de trânsito, o que também
exige uma análise atenciosa, para que as providências adotadas pelo profissional de
segurança pública não omitam o devido tratamento e repressão pelo sistema judiciário
nacional.

Objetivos do módulo

Ao final do estudo desse módulo, você será capaz de:


- Tipificar infrações de trânsito para correto enquadramento nos atos de seu
registro;
- Distinguir as competências para a fiscalização de trânsito, de acordo com o
órgão no qual atua o profissional de segurança pública;
- Esclarecer pontos que são complexos em relação a determinadas infrações
de trânsito e a possibilidade de existir conexão com crimes de trânsito.

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Divisão das aulas

Este módulo compreende as seguintes aulas:


Aula 1 – Tipificação de infração de trânsito;
Aula 2 – Competências para a fiscalização;
Aula 3 – Complexidade da caracterização de infrações de trânsito;
Aula 4 – Conexão com crimes de trânsito; e
Aula 5 – Esclarecendo outras questões.

26
AULA 1 – TIPIFICAÇÃO DE INFRAÇÃO DE TRÂNSITO

Toda norma geral de circulação e conduta, prevista nos artigos de 26 a 67


do CTB, quando descumprida, gera a ocorrência de infração de trânsito, prevista
nos artigos de 162 a 255 do Código de Trânsito Brasileiro. Dessa forma, quando o
condutor não cumpre a norma de conduta prevista no art. 28 do CTB (o condutor
deverá, a todo o momento, ter domínio de seu veículo, dirigindo-o com atenção e
cuidados indispensáveis à segurança do trânsito) ocorre o enquadramento na
infração de trânsito do art. 169 do CTB (dirigir sem atenção ou sem os cuidados
indispensáveis à segurança: infração – leve; penalidade – multa).
Tipificação de infração de trânsito é a exata correspondência entre
a conduta observada pelo profissional de segurança pública e a sua previsão
em dispositivo legal no CTB. Exemplo disso é a conduta de avançar o sinal
amarelo do semáforo, na direção de veículo automotor, é infração prevista no
art. 208 do CTB (avançar o sinal vermelho do semáforo: infração – gravíssima;
penalidade – multa), mas avançar sinal amarelo do semáforo é infração de
trânsito? Sim. Mas não corresponde à exata previsão do art. 208, pois o sinal
vermelho é elemento essencial para ocorrer à infração de trânsito.
Observe a seguinte pergunta: Como o condutor do veículo deve agir ao se
deparar com o sinal amarelo do semáforo? A resposta é: O condutor deve parar o
veículo. A exceção é se não for possível parar em condições seguras. O sinal
amarelo indica o término do direito de passagem, sendo permitido prosseguir em
movimento apenas quando o semáforo indica a luz verde (conforme Manual Brasileiro
de Sinalização de Trânsito, vol. V, p. 25).
Desse modo, qual será a correta tipificação da infração de trânsito quando o
condutor, ao invés de parar o veículo, acelera e avança o sinal amarelo do semáforo?
Segundo o art. 269, segunda parte, do CTB (dirigir [...] sem os cuidados
indispensáveis à segurança: infração – leve; penalidade – multa).
Neste módulo, você aprenderá sobre a caracterização das infrações de trânsito
e as providências adequadas de como registrar a infração (autuação). Você verá mais
informações sobre isso no Módulo 4 - Processo administrativo de trânsito.
Para que você possa melhor entender o conceito de tipificação de infração
de trânsito, veja abaixo um brinquedo infantil de encaixe de formas geométricas, que

27
busca desenvolver em bebês e crianças as habilidades de motricidade,
reconhecimento de cores e coordenação motora:

Figura 13: Brinquedo Infantil


Fonte: Companhia dos Brinquedos.

Observe que na tampa branca (em formato de flor), no limite superior do


recipiente azul, estão dispostas sete figuras geométricas vazadas para entrada do
correspondente bloco colorido de diferentes formas. Somente será possível a entrada
do bloco colorido ao interior do brinquedo se for exatamente encaixado na figura
geométrica vazada.
Agora imagine que as figuras geométricas vazadas que estão na tampa branca
são as infrações de trânsito previstas no CTB e considere que cada bloco colorido é
a conduta que vai ser observada pelo agente de trânsito. Assim, quando ocorre o
encaixe perfeito no bloco colorido na figura vazada, pode ser constatado que houve
ali a tipificação correta da conduta conforme está previsto na lei.

28
AULA 2 – COMPETÊNCIAS PARA A FISCALIZAÇÃO

Você estudou no conteúdo da aula 2 do módulo 1 que a Resolução nº


066/1998-CONTRAN distribuiu detalhadamente as competências entre Estado e
município para a fiscalização de trânsito nas vias públicas urbanas. Agora você verá
abaixo essa resolução, em formato de tabela, juntamente com as infrações de trânsito
previstas no CTB. Na primeira coluna encontra-se o “código de infração” (informação
essencial que o agente precisa saber para decretar o auto da infração), na segunda
coluna encontra-se a “descrição da infração” e na terceira coluna a informação de
quem é o responsável pela competência, o Estado ou o município. Veja:

TABELA DE DISTRIBUIÇÃO DE COMPETÊNCIA - FISCALIZAÇÃO DE TRÂNSITO, APLICAÇÃO DAS


MEDIDAS ADMINISTRATIVAS PENALIDADES CABÍVEIS E ARRECADAÇÃO DE MULTAS APLICADAS

CÓDIGO DESCRIÇÃO DA INFRAÇÃO COMPETÊN-


INFRAÇÃO CIA
501 - 0 Dirigir veículo sem possuir Carteira Nacional de ESTADO
Habilitação ou Permissão para Dirigir.
502 - 9 Dirigir veículo com Carteira Nacional de Habilitação ESTADO
ou Permissão para Dirigir cassada ou com suspensão
do direito de dirigir.
521 - 5 Dirigir ameaçando os pedestres que estejam ESTADO E
atravessando a via pública, ou os demais veículos. MUNICÍPIO
522 - 3 Usar o veículo para arremessar água ou detritos MUNICÍPIO
sobre os pedestres ou veículos.
523 - 1 Atirar do veículo ou abandonar na via pública objetos MUNICÍPIO
ou substâncias.

Quadro 1: Extrato de trechos da resolução nº 066/1998-CONTRAN


Fonte: Do conteudista.

É importante lembrar que quando se fala da fiscalização em rodovias e


estradas, sejam estaduais ou federais, não há distribuição dessa competência. O
responsável pela atuação das infrações de trânsito previstas no CTB poderá ser tanto
a polícia militar quanto a polícia rodoviária federal.
Foi organizado pelo CONTRAN o Manual Brasileiro de fiscalização de trânsito
– Volume I – infrações de competência municipal, nele encontram-se as normas
editadas para orientar a atuação dos agentes municipais de trânsito urbano
(competência do município).
Por meio da Resolução nº 561/2015, foi instituído o Manual Brasileiro de
Fiscalização de Trânsito – Volume II – Infrações de competência dos órgãos e
entidades executivos estaduais de trânsito, que sofrera alterações pela Resolução

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CONTRAN nº 858/2021, de 15 de outubro de 2021. Nele encontram-se as normas
que auxiliarão especialmente os policiais militares e os agentes estaduais de trânsito
na fiscalização do trânsito urbano (competência do Estado).
Já os policiais rodoviários da União e dos Estados podem consultar qualquer
um dos manuais acima, pois sua competência envolve todas as infrações de trânsito
previstas no CTB, independentemente de ser da competência estadual ou municipal.
O manual de fiscalização é importante, pois há nele todas as
informações e instruções que vão orientar o trabalho do agente na hora de
autuar condutas infratoras. Algumas dessas informações são: código de
enquadramento, tipificação, amparo legal, natureza da infração, penalidade,
pontuação, previsão ou não de medida administrativa, competência para a
fiscalização, informação de quem é o infrator e demais requisitos que garantirão
a regularidade do registro do cometimento da infração de trânsito.

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AULA 3 – COMPLEXIDADE DA CARACTERIZAÇÃO DE INFRAÇÕES DE
TRÂNSITO

GENERALIDADES

O art. 161 do Código de Trânsito Brasileiro conceitua infração de


trânsito como a inobservância de qualquer preceito do CTB ou da
legislação complementar, ou seja, qualquer falta de obediência ao que se
espera do condutor, pode levá-lo às penalidades e às medidas administrativas
indicadas em cada artigo de infração e às punições quando há crime de trânsito.
Assim, infração de trânsito é toda conduta humana, comportamento ou
omissão desenvolvida em veículo – pelo condutor ou passageiro – ou na condição de
pedestre. Desta forma, contém elementos objetivos que deverão ser analisados pelo
profissional de segurança pública para que a adequada tipificação no artigo de
infração de trânsito seja feita de modo correto.
Por serem elementos objetivos, o profissional de segurança pública não
deve questionar nunca a motivação do cometimento da infração de trânsito
(exceto que o infrator queira voluntariamente se justificar). Por exemplo, se o condutor
avançou o sinal vermelho, deve ser evitado que você faça alguma pergunta como “Por
que você avançou o sinal vermelho?”. Independente da resposta, seja por
desatenção, vontade própria ou por não ter visto o agente de trânsito, não será motivo
para interferir na autuação que você fará, nem na penalidade, pois a infração de
trânsito é comportamento e não intenção.
Ainda sobre a intenção do infrator, uma vez, em aula do Curso de Gestão de
Trânsito da Universidade Estadual de Goiás, fui questionado por uma agente
municipal de trânsito de Goiânia: “O condutor de veículo, ao se aproximar de posto de
combustível situado em esquina de cruzamento semaforizado, percebendo que o
semáforo fechará antes da sua passagem, entra no posto de combustível e sai pela
via perpendicular, está cometendo infração de trânsito?”.
Respondi: “Não. Onde no CTB é proibido entrar e sair de posto de combustível
sem abastecer?” Ela retrucou: “Mas a intenção dele não foi a de avançar o sinal
vermelho, não parando no local e no tempo apropriado?” Completei: “Mas você não
autua intenção e sim comportamento. E se o condutor quer avançar o sinal vermelho,
mas ao ver o agente de trânsito nas proximidades, resolve parar, comete infração de
trânsito também?”.

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É importante também você ter a orientação de que cada conduta
corresponde a uma infração de trânsito. A mesma conduta não pode gerar
tipificação em dois artigos diferentes de infração de trânsito. Por exemplo:
quando o veículo está estacionado na contramão de direção e com umas das
rodas sobre calçada, após a comprovação que houve infração de
estacionamento irregular, o agente de trânsito vai tipificar a mais específica à
situação, no caso art. 181, XV do CTB (estacionar o veículo na contramão de
direção). Se optar pelo art. 181, VIII do CTB (estacionar o veículo no passeio),
a autuação estará suficiente, desde que seja apenas nesta tipificação. O que
não pode ser feito é autuar nos dois artigos de infração, pois cada conduta
corresponde a uma infração de trânsito.
Em casos de infrações de trânsito em momentos diferentes, mas em sequência,
não será aplicada a regra estudada acima. Por exemplo, se a pessoa avança o sinal
vermelho e, em seguida, estaciona na área delimitada para embarque/desembarque
de transporte coletivo, isso contará como duas infrações, pois são dois
comportamentos diferentes: art. 208 (avançar o sinal vermelho do semáforo) e art.
181, XIII (onde houver sinalização horizontal delimitadora de ponto de embarque ou
desembarque de passageiros de transporte coletivo), respectivamente.

CARACTERIZAÇÃO DE INFRAÇÕES DE TRÂNSITO COMPLEXAS

Artigos 163 e 164 – entregar a direção ou permitir a posse de veículo

Estes dois artigos se referem a infrações de trânsito que não são cometidas
pelo condutor, mas sim pelo proprietário do veículo automotor fiscalizado (conforme
nome que tem no documento de licenciamento anual).
A conduta prevista no art. 163 (entregar a direção do veículo a pessoa nas
condições previstas no art. 162) exige que no momento da infração haja a presença
do proprietário dentro do veículo no momento da abordagem. Já na conduta prevista
no art. 164 (permitir que pessoa nas condições referidas nos incisos do art. 162 tome
posse do veículo automotor e passe a conduzi-lo na via), o proprietário do veículo
não está presente no momento da abordagem, mas comparece, logo em seguida, ao
local da fiscalização.

32
Estas infrações ressaltam a responsabilidade do proprietário de veículo em
verificar o atendimento das exigências legais para que seu veículo seja conduzido
na via pública por outra pessoa. É obrigação do proprietário se certificar, previamente,
se o condutor é possui CNH e se está na validade, se a categoria da habilitação
corresponde ao veículo que será dirigido, se precisa usar lentes corretivas ou óculos,
dentre outras obrigações. Não pode ser usada como justificativa para a situação
flagrada na fiscalização a desculpa: “Eu não sabia que ele não era habilitado para
dirigir”, pois é dever do proprietário se certificar.
Para a fiscalização destas duas infrações é necessário, primeiramente,
identificar em qual das situações previstas no art. 162 o condutor do veículo fiscalizado
cometeu:
-Sem possuir Carteira Nacional de Habilitação, Permissão para Dirigir ou
Autorização para Conduzir Ciclomotor (art. 162, I);
-Com Carteira Nacional de Habilitação, Permissão para Dirigir ou Autorização
para Conduzir Ciclomotor cassada ou com suspensão do direito de dirigir (art. 162,
II);
-Com Carteira Nacional de Habilitação ou Permissão para Dirigir de categoria
diferente da do veículo que esteja conduzindo (art. 162, III);
-Com validade da Carteira Nacional de Habilitação vencida há mais de trinta
dias (art. 162, V);
-Sem usar lentes corretoras de visão, aparelho auxiliar de audição, de
prótese física ou as adaptações do veículo impostas por ocasião da concessão ou
da renovação da licença para conduzir (art. 162, VI).
A autuação da infração do art. 163 – bem como do art. 164 – deve ser
realizada após a autuação do condutor do veículo na disposição específica do art.
162 que foi infringida, inclusive, quando o proprietário é autuado, deve constar a
anotação da autuação do condutor do veículo, conforme consta nas fichas do Manual
Brasileiro de Fiscalização – Volume II (Resolução nº 561/2015-CONTRAN). Nesta
situação, há duas condutas que devem ser autuadas: uma relativa ao condutor do
veículo e outra ao proprietário legal.
E se o proprietário legal (conhecedor das consequências do seu ato) não
comparecer ao local da fiscalização? Daí você deve autuar o condutor e reter o veículo
até a apresentação de condutor habilitado. É importante que você esteja atento à
identificação deste condutor habilitado, pois pode acontecer do proprietário do veículo

33
comparecer para retirar o veículo sem se identificar, e, se isso acontecer, o proprietário
pode ser autuado na disposição do art. 164 infringida.
Você também precisa observar se existem outras pessoas dentro do veículo,
pois entre essas pessoas pode ser que uma delas seja o proprietário (conhecedor das
consequências do seu ato) que se nega a dizer que é o dono para não ser punido.
Pode acontecer também da pessoa se apresentar como sendo o proprietário,
mas seu nome não constar no certificado de licenciamento anual do veículo. Nesse
caso, você faz a autuação do condutor, mas pode ocorrer de ser invalidada a autuação
do proprietário por incompatibilidade de identificação entre condutor e proprietário, em
grau de defesa prévia ou de recurso.
Também pode acontecer de o proprietário do veículo ser o próprio condutor
sem habilitação (bem como nas outras situações previstas no art. 162). Neste caso,
será autuado o condutor na disposição do art. 162, I (ou em outra disposição deste
artigo).

Artigo 165 – embriaguez ao volante

Dirigir sob a influência de álcool ou de qualquer outra substância psicoativa que


determine dependência é uma das infrações de trânsito que as consequências geram
danos severos ao condutor e a sociedade geral. *
A confirmação da alteração da capacidade psicomotora por causa do uso
de álcool, para efeito de comprovação instantânea (no momento da fiscalização),
acontece por meio de um dos seguintes procedimentos que serão realizados no
condutor de veículo automotor (conforme art. 3º, III e IV da Resolução nº 432/2013-
CONTRAN):
- Teste em aparelho destinado à medição do teor alcoólico no ar alveolar
(etilômetro ou bafômetro);
- Verificação dos sinais que indiquem a alteração da capacidade psicomotora
do condutor (em formulário impresso ou digital) que acompanhará o auto de infração
(AI).
Se não tiver como realizar algum dos procedimentos acima, também poderão
ser utilizados prova testemunhal, imagem, vídeo ou qualquer outro meio que
comprove, mas nos procedimentos de fiscalização deve ser priorizada a utilização do
teste com etilômetro.

34
Se for utilizado o bafômetro para a comprovação da infração, a autuação
deve ser feita quando as medidas forem igual ou superior a 0,05 mg/L (miligrama
de álcool por litro de sangue). Em todas as medições é descontado o erro máximo
admissível, para efeito de medição considerada para a fiscalização (previsto no Anexo
I da citada resolução - Tabela de Valores Referenciais para Etilômetro), que pode
variar de 0,04 mg/L até 0,16 mg/L. Assim, se a medição realizada pelo etilômetro for
igual ou inferior a 0,04 mg/L, não será considerada infração de trânsito, mas se a
medição for igual ou superior a 0,34 mg/L, além da infração de trânsito, haverá
também a comprovação do crime do art. 306 do CTB. Você verá mais informações
na Aula 4 – Conexão com crimes de trânsito, neste módulo.
Caso o condutor se recuse a fazer o teste do bafômetro ele estará sujeito, além
da autuação no art.165 (com suporte nos sinais que indiquem a alteração da
capacidade psicomotora do condutor, consignados em formulário específico), ao
enquadramento na disposição do art. 165-A do CTB, que prevê: “recusar-se a ser
submetidos a teste, exame clínico, perícia ou outro procedimento que permita certificar
influência de álcool ou outra substância psicoativa, na forma estabelecida pelo art.
277”.
Orientações médicas para fiscalização sem etilômetro de condutores
alcoolizados – 2007
Disponível em: https://www.gov.br/infraestrutura/pt-br/assuntos/transito/conteudo-
denatran/filmes-denatran
Nota: embora as referências legais, no filme, tratem da Resolução nº 206/2006
(revogada pela Resolução nº 432/2013, em vigor), as orientações expressas
continuam atuais, sem conflitos com a legislação em vigor.

Art. 166 – confiar ou entregar a direção de veículo a pessoa sem condições de


dirigi-lo com segurança

Assim como ocorre nas infrações dos artigos 163 e 164, este artigo se refere à
outra infração de trânsito que também não é cometida pelo condutor, mas pelo
proprietário do veículo automotor fiscalizado (conforme nome constante no documento
de licenciamento anual). O diferencial aqui é que ela está relacionada a atitude do
proprietário tanto de confiar a direção (ausente no momento da abordagem), como a
de entregar a direção (presente no veículo) a pessoa que, mesmo habilitada, por seu
estado físico ou psíquico, não estiver em condições de dirigi-lo com segurança.

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A autuação da infração do art. 166 deve ser realizada após a autuação do
condutor do veículo na disposição de um destes artigos de infração:
- Art. 165 – dirigir sob a influência de álcool ou de qualquer outra substância
psicoativa que determine dependência;
- Art. 169 – dirigir sem atenção ou sem os cuidados indispensáveis à
segurança;
- Art. 252, III – dirigir o veículo com incapacidade física ou mental temporária
que comprometa a segurança do trânsito. Exemplo: condutor com braço ou perna
imobilizados por conta de fraturas, condutor emocionalmente perturbado ou sob efeito
de medicamentos que comprometam a direção do veículo.
Quando o proprietário é autuado, deve constar a anotação da autuação do
condutor do veículo, conforme consta na ficha do Manual Brasileiro de Fiscalização
– Volume II (Resolução nº 561/2015-CONTRAN). Nesse caso, serão autuadas duas
condutas: uma relativa ao condutor do veículo e outra ao proprietário legal.
As mesmas observações relativas à identificação do proprietário de veículo,
consignadas no estudo da infração dos artigos 163 e 164, estudadas anteriormente,
são válidas para essa situação.

Art. 168 – transporte de crianças como passageiras

Estabelece o art.168 do CTB: “Transportar crianças em veículo automotor sem


observância das normas de segurança especiais estabelecidas neste Código; Infração
- gravíssima; Penalidade - multa; Medida administrativa - retenção do veículo até que
a irregularidade seja sanada”.
Para que você entenda sobre as normas de segurança relativas ao assunto é
necessário compreender a disposição do art. 64 do CTB: “As crianças com idade
inferior a 10 (dez) anos que não tenham atingido 1,45 m (um metro e quarenta e cinco
centímetros) de altura devem ser transportadas nos bancos traseiros, em dispositivo
de retenção adequado para cada idade, peso e altura, salvo exceções relacionadas a
tipos específicos de veículos regulamentados pelo Contran”.
Para que isso seja cumprido, o CONTRAN, por meio da Resolução nº 819, de
17 de março de 2021 disciplinou a matéria. Analisando o seu conteúdo podem ser
observadas as seguintes orientações:

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- Crianças com até 1 ano de idade ou com peso até 13 kg devem ser
transportadas no banco traseiro no dispositivo de retenção “bebê conforto”;
- Crianças com idade superior a 1 ano até 4 anos ou com peso entre 9 e 18
kg devem ser transportadas no banco traseiro no dispositivo de retenção
“cadeirinha”;
- Crianças com idade superior a 4 anos até 7,5 anos ou com até 1,44 m de
altura e peso entre 15 e 36 kg devem ser transportadas no banco traseiro no
dispositivo “assento de elevação”;
- Crianças com idade superior a 7,5 anos até 10 anos serão transportadas no
banco traseiro utilizando o cinto de segurança do veículo;
- As crianças com idade superior a 10 anos ou que tenham atingido 1,45 m
podem ser transportadas no banco dianteiro utilizando o cinto de segurança do
veículo;
- Ainda podem ser transportadas no banco dianteiro as crianças menores de
10 anos: (a) quando o veículo for composto exclusivamente de banco dianteiro; (b)
quando a quantidade de crianças com menos de 10 anos exceder a lotação do
banco traseiro; (c) quando o veículo for composto originalmente (fabricado) de cintos
de segurança subabdominais (dois pontos) nos bancos traseiros.
As exigências relacionadas ao sistema de retenção, no transporte de crianças
com até sete anos e meio de idade, não se aplicam aos veículos:
- De transporte coletivo de passageiros;
- De aluguel (alínea “d” do inciso III do art. 96 do CTB);
- De transporte remunerado individual de passageiros;
- De transporte de escolares;
- Demais veículos com peso bruto total superior a 3,5 t (caminhões, ônibus e
micro-ônibus).
Em caso de autuação desta infração, deverá ser anotada no campo
“observações” a ocasião em que foi comprovada a irregularidade. Por exemplo:
“criança maior de quatro anos sendo transportada em cadeirinha”. Se possível, você
deve identificar e anotar neste campo o nome da criança que estava sendo
transportada irregularmente.

37
Art. 173 – disputar corrida

O art. 173 do CTB disciplina: “Disputar corrida: Infração - gravíssima;


Penalidade - multa (dez vezes), suspensão do direito de dirigir [...]; Medida
administrativa - recolhimento do documento de habilitação e remoção do veículo”.
Para que essa infração seja autuada, tem que haver, no mínimo, dois
veículos, pois ninguém disputa consigo mesmo, sempre se precisa de outra pessoa.
Essa disputa é uma conduta eventual, aleatória, circunstancial do momento em que
um condutor é desafiado por outro, de maneira clara ou explícita. Se essa disputa
ocorrer com prévio agendamento ou organização estará caracterizada a infração em
outro artigo que será analisado em seguida.
Se a autuação for feita abordando os participantes no momento da disputa, é
preciso fazer referência no campo “observações” do AIT (Auto de Infração de Trânsito)
do auto do outro veículo que foi autuado, para que não restem dúvidas do
cometimento da infração de que havia mais de um veículo participando da disputa.
Quando a autuação for feita sem abordagem, quando os participantes saem do
lugar, é possível coletar dados de identificação de apenas um veículo envolvido.
Assim, você deverá descrever isso no campo “observações” do AI, pelo menos, alguns
dados do outro veículo envolvido, como, por exemplo, marca, modelo e cor.

Art. 174 – competição na via pública sem permissão da autoridade

Diferente da infração do artigo visto anteriormente, nesta ocorre um evento


previamente organizado, sem a permissão da autoridade competente. É o que
disciplina o art. 174 do CTB: “Promover, na via, competição, eventos organizados,
exibição e demonstração de perícia em manobra de veículo, ou deles participar, como
condutor, sem permissão da autoridade de trânsito com circunscrição sobre a via”.
Quando vai ser realizada a prática de competições esportivas ou treinos são
necessárias as seguintes formalidades legais constantes do art. 67 do CTB:
“As provas ou competições desportivas, inclusive seus ensaios, em via aberta
à circulação, só poderão ser realizadas mediante prévia permissão da
autoridade de trânsito com circunscrição sobre a via e dependerão de:
I - autorização expressa da respectiva confederação desportiva ou de
entidades estaduais a ela filiadas;
II - caução ou fiança para cobrir possíveis danos materiais à via;
III - contrato de seguro contra riscos e acidentes em favor de terceiros;
IV - prévio recolhimento do valor correspondente aos custos operacionais em
que o órgão ou entidade permissionária incorrerá”.

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É autuada nessa infração a pessoa que promove, organiza e dela participa sem
que sejam realizadas as formalidades exigidas. Porém, por se tratar de uma infração
de responsabilidade da pessoa física ou jurídica (sem relação com o veículo autuado),
os promotores e organizadores do evento, o agente não recolhe o documento de
habilitação e nem remove o veículo.

Art. 178 – Veículo envolvido em acidente de trânsito sem vítima

Esta infração de trânsito, na maioria das vezes, é cometida por incompreensão


ou interpretação errada das regras.
Prevê o art. 178 do CTB: “Deixar o condutor, envolvido em acidente
sem vítima, de adotar providências para remover o veículo do local, quando
necessária tal medida para assegurar a segurança e a fluidez do trânsito”
(grifos nossos).

A maioria das pessoas que ao conduzir o veículo se envolvem em acidente de


trânsito acha que deve manter o carro na mesma posição até que a “perícia” seja feita
e esse pensamento não procede. Só se deve manter o veículo naquela situação se
houver acidente de trânsito com vítima (seja fatal ou não). Nesse caso é necessária a
realização da perícia no local do crime para definição da responsabilidade do condutor
pelo evento ocorrido (morte ou lesão corporal). Inclusive, caso o condutor envolvido
neste evento retire o veículo do local do acidente, estará passível de ser autuado na
infração do art. 176, III do CTB.
Porém, quando é um acidente de trânsito sem vítima, não existem indícios
de cometimento de crime e, por isso, não será realizada perícia no local. O que haverá
é um ilícito civil, ou seja, uma ação culpável, que pode ter reparação ou indenização,
que interessa somente aos envolvidos e não ao meio coletivo. Existem outras formas
de garantir o exercício de seus direitos, como, por exemplo, fotos, filmagens,
testemunhas, dentre outras. Desse modo, os condutores envolvidos são obrigados a
fazer a retirada imediata dos veículos, quando estão perturbando ou
atrapalhando a fluidez normal da via, o que pode ocasionar outros acidentes.
Os condutores que não retirarem seus veículos do local em um acidente de
trânsito sem vítima estarão correndo o risco de serem autuados na infração do
art.1778 do CTB. Essa infração de trânsito só não irá ocorrer caso o acidente tenha

39
acontecido em uma via de pouco movimento e os veículos parados não interfiram na
movimentação normal do trânsito. Nessa situação os envolvidos no acidente devem
sinalizar corretamente o local com dispositivos adequados (ligar o pisca alerta e
colocar o triângulo de sinalização ou equipamento similar a uma distância mínima de
30 metros da parte traseira do veículo, conforme Resolução nº 036/1998- CONTRAN),
enquanto aguardam, por exemplo, o atendente da seguradora ou do órgão público
responsável para registrar a ocorrência.

Artigos 181 e 182 – estacionamento e parada

Em relação a este artigo, é necessário que você aprenda a conceituar e a


diferenciar o que é parada, estacionamento e operação de carga e descarga. Para
isso, vamos ao CTB, Anexo I – Dos conceitos e definições:
- Parada: imobilização do veículo com a finalidade e pelo tempo estritamente
necessário para efetuar embarque ou desembarque de passageiros;
- Estacionamento: imobilização de veículos por tempo superior ao
necessário para embarque ou desembarque de passageiros;
- Operação de carga e descarga - imobilização do veículo, pelo tempo
estritamente necessário ao carregamento ou descarregamento de animais ou
carga, na forma disciplinada pelo órgão ou entidade executivo de trânsito competente
com circunscrição sobre a via.
A diferença entre os dois primeiros conceitos, parada e estacionamento, não
tem relação com o condutor estar ou não dentro do veículo, nem se o motor está ou
não funcionando. Muitas pessoas, de modo incorreto, entendem que se o motorista
estiver dentro do veículo com o motor ligado, ele está apenas parado. Na verdade, o
que vai distinguir parada de estacionamento são a motivação e o tempo que ficou
imóvel.
Assim, a parada é quando o veículo fica imóvel na via para o embarque ou
desembarque imediato de passageiros no tempo reservado para isso. Se esse
tempo é usado para esperar o passageiro chegar, é estacionamento (sem importar
se o condutor está na direção ou o motor está ligado). Tudo o que excede o tempo de
parada, é configurado como estacionamento.
No caso de um ônibus que estivesse imóvel na via para que, por exemplo, vinte
passageiros embarquem, logo depois, após o último passageiro, saia do local,

40
configura-se que durante o tempo que ficou imóvel é considerado parada, pois o
tempo foi utilizado unicamente para embarque. Se o motorista descesse do ônibus
para ajudar alguém com necessidades especiais para embarcar, o veículo continuaria
parado e não estacionado, pois logo após o último passageiro embarcar, ele saiu da
via.
Se o veículo fica parado na via e não é para embarque ou desembarque
imediato de passageiros é considerado estacionamento irregular e é passível de ser
autuado no art. 181 do CTB, em um dos vinte pontos que disciplinam situações
específicas.

Figura 14: Uso do Farol


Fonte: José Cruz/Agência Brasil

https://agenciabrasil.ebc.com.br/foto/2016-07/uso-do-farol-baixo-durante-o-dia-sera-
obrigatorio-em-rodovia-1582359320-1

Se o veículo fica parado na via que é destinada para embarque e desembarque


imediato de passageiros é considerado parada irregular e passível de ser autuado no
art. 182 do CTB, em um dos onze incisos que disciplinam situações específicas.
O art. 47 do CTB trata de: “Quando proibido o estacionamento na via, a parada
deverá restringir-se ao tempo indispensável para embarque ou desembarque de
passageiros, desde que não interrompa ou perturbe o fluxo de veículos ou a
locomoção de pedestres”.

41
Desta forma, quando na via tiver uma placa de sinalização vertical
de “proibido estacionar”, o veículo pode fazer uma parada para embarcar
ou desembarcar passageiros e não será uma infração de trânsito prevista
no art. 181 do CTB.
Essa mesma permissão não existe se for o caso de uma operação de carga e
descarga, mesmo que seja, por exemplo, de duas caixas de produtos, pois conforme
parágrafo único do art. 47 do CTB: “A operação de carga ou descarga será
regulamentada pelo órgão ou entidade com circunscrição sobre a via e é considerada
estacionamento”, ou seja, onde é proibido o estacionamento de veículos é também
proibido carga e descarga de produtos e animais, independentemente do tempo
gasto na operação.
Já quando tiver a placa de sinalização vertical e de “proibido parar
e estacionar”, são proibidas as operações de estacionamento e de parada
no trecho que a placa se encontra. Dessa forma, se o veículo insiste em
estacionar na área, está passível de autuação no art. 181, XIX (em locais e horários
de estacionamento e parada proibidos pela sinalização / placa - Proibido Parar e
Estacionar); se o veículo insiste em parar com a função de desembarque de
passageiro estará passível de autuação no art. 182, X (em local e horário proibidos
especificamente pela sinalização / placa - Proibido Parar).
Sobre a posição do veículo ao estacionar, tratando-se de veículo motorizado
de duas rodas, será feita em posição perpendicular à guia da calçada (meio-fio) e
junto a ela, exceto quando houver sinalização que determine outra condição.

Figura 15: Alinhamento do veículo de duas rodas ao estacionar


Fonte: Do conteudista.

42
Já os demais veículos motorizados deverão ser posicionados no sentido do
fluxo, paralelo ao bordo da pista de rolamento e junto à guia da calçada (meio-
fio), admitidas as exceções devidamente sinalizadas.

Figura 16: Alinhamento dos demais veículos ao estacionar


Fonte: Do conteudista.

Dessa forma, se houver sinalização delimitando a posição do estacionamento


(por exemplo, em escama, na diagonal) esta deverá ser adotada. Não havendo
sinalização específica, as motocicletas e similares serão estacionadas na posição
perpendicular em relação ao meio-fio e os demais veículos na posição paralela
(lateral) em relação ao meio-fio.
Quem procede incorretamente em relação à sinalização do estacionamento ou,
na falta de sinalização, em posição já convencionada, o condutor estará sujeito a ser
autuado na disposição do art. 181, IV do CTB (estacionar o veículo em desacordo com
as posições estabelecidas neste Código).

Art. 218 – Excesso de velocidade

Trata o art. 218 do CTB que é infração “transitar em velocidade superior à


máxima permitida para o local, medida por instrumento ou equipamento hábil, em
rodovias, vias de trânsito rápido, vias arteriais e demais vias”.
Em seguida, o CTB traz três diferentes níveis de gradação da conduta, da
seguinte forma:

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- Quando a velocidade for superior à máxima em até 20% (vinte por cento) a
infração é de natureza média;
- Quando a velocidade for superior à máxima em mais de 20% (vinte por cento)
até 50% (cinquenta por cento) a infração é de natureza grave;
- Quando a velocidade for superior à máxima em mais de 50% (cinquenta por
cento) a infração é de natureza gravíssima, com fator multiplicador 3 sobre o valor
da multa e suspensão do direito de dirigir, independente da pontuação acumulada
até então.
A Resolução nº 798/2020-CONTRAN trata das exigências mínimas para a
fiscalização da velocidade de veículos automotores com relação aos tipos de
medidores de velocidade (requisitos metrológicos e técnicos), orientações para
instalação, operação e monitoramento, os dados necessários para ser uma infração,
os locais de fiscalização e sua prévia sinalização, bem como estabelece o erro máximo
admissível de 7% que será descontado para efeito do cálculo da velocidade
considerada para a fiscalização.
Hoje em dia, contamos com dois equipamentos medidores de velocidade: o fixo
e o portátil. O fixo pertence ao órgão executivo de trânsito ou rodoviário e o portátil é
usado por agentes de trânsito ou policiais.
Os profissionais de segurança que utilizarão o equipamento portátil para
fiscalização devem estar por dentro do conteúdo da resolução, saber como manusear
os equipamentos, que podem ser instalados em viatura caracterizada estacionada,
em tripé, suportes fixos ou manuais, utilizar como objeto de controle em via ou em
ponto específico e que tenha limite de velocidade igual ou superior a 60 km/h.
Os equipamentos portáteis só podem ser utilizados por autoridades de
trânsito ou seus agentes quando estão exercendo sua função, devidamente
uniformizados, em ações de fiscalização, o operador e o equipamento
devem estar em local visível, sem placas, árvores, postes, passarelas,
pontes, viadutos, marquises ou qualquer outro objeto que impeça sua
visibilidade.

Art. 232 – Documentos de porte obrigatório

Estabelece o art. 232 do CTB: “Conduzir veículo sem os documentos de porte


obrigatório referidos neste Código”.

44
Segundo a Resolução nº 205/2006-CONTRAN, os documentos de porte
obrigatório do condutor do veículo são:
- Autorização para Conduzir Ciclomotor (ACC), Permissão para Dirigir (PD) ou
Carteira Nacional de Habilitação (CNH), no original;
- Certificado de Registro e Licenciamento Anual (CRLV), no original.

O CTB, no parágrafo único do art. 133, afirma que o porte do CRLV será
dispensado, se no momento da fiscalização, possa ter acesso ao sistema
informatizado para verificar se o veículo está licenciado.
Existe também uma novidade na legislação, de acordo com a Resolução nº
788/2020-CONTRAN, que foi a emissão do Certificado de Registro e Licenciamento
de Veículo em meio eletrônico (CRLV-e), que substitui o CRLV em meio físico e pode
ser acessado do aparelho de telefone celular.
Para a prática de direção veicular é utilizado o veículo do Centro de
Formação de Condutores (CFC) e, além da documentação acima referida, são
necessários:
- Do instrutor: Carteira de Instrutor expedida no DETRAN vinculada ao CFC
constante no processo de habilitação;
- Do aprendiz: Licença para Aprendizagem de Direção Veicular (LADV) e
carteira de identidade (art. 8º da Resolução nº 789/2020-CONTRAN).
Se o condutor tiver tirado alguma licença em curso especializado para
condução de determinados veículos, ele deve obrigatoriamente estar com o
comprovante em sua posse, até que isso seja inserido no RENACH e na sua CNH.
Esta exigência se refere à condução dos veículos de:
- Transporte coletivo de passageiros;
- Transporte de escolares;
- Transporte de produtos perigosos;
- Emergência;
- Transporte de carga indivisível.

Art. 244 – Infrações relativas a motocicletas, motonetas e ciclomotores

O art. 244 diz respeito às infrações de trânsito específicas cometidas na


condução de motocicletas, motonetas e ciclomotores.

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É importante você saber que a distinção entre motocicleta e motoneta é apenas
em seu conceito, pois não existem variações nas penalidades.
De acordo com o Anexo I do CTB motocicleta é o “veículo automotor de duas
rodas, com ou sem side-car, dirigido por condutor em posição montada” (grifo nosso)
e a motoneta é o “veículo automotor de duas rodas, dirigido por condutor em posição
sentada” (grifo nosso). Diferente da motocicleta, a motoneta não pode carregar
agrupada a ela um carro lateral (side-car) para transportar passageiros ou cargas.
Em relação ao ciclomotor (veículo de duas ou três rodas, com motor de
combustão interna, que cilindrada não exceda a 50 centímetros cúbicos - 3,05
polegadas cúbicas - e sua velocidade máxima de fabricação não exceda a 50 km/h),
o documento de habilitação próprio para conduzi-lo é a ACC (autorização para
conduzir ciclomotor).
O CTB também estabelece para os ciclomotores alguns limites: devem ser
conduzidos pela direita da pista, de preferência no centro da faixa mais à direita ou na
margem direita. Quando não houver acostamento ou faixa exclusiva para eles, é
proibida a sua circulação nas vias de trânsito rápido e sobre as calçadas das vias
urbanas (art. 57), como também a sua circulação em rodovias sem acostamento (§ 2º
do art. 244).
A Resolução nº 453/2013-CONTRAN orienta o uso do capacete para
condutor e passageiro de motocicletas, motonetas, ciclomotores, triciclos motorizados
e quadriciclos motorizados, de acordo com a norma técnica NBR7471 do Instituto
Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (INMETRO).
Se algum condutor ou passageiro estiver sem capacete de proteção na
cabeça (ou levar pendurado no braço, ou usar capacete de ciclista ou de construção
civil) em motocicleta, motoneta ou ciclomotor podem ser autuados no art. 244, I
(condutor) e 244, II (passageiro). Nesta situação, a infração é de natureza
gravíssima, com determinação de suspensão do direito de dirigir
(independentemente da pontuação) e o veículo ficará retido até a apresentação do
capacete regulamentado.
Caso o condutor esteja utilizando capacete regulamentado, que não tenha
viseira, mas sem usar os óculos de proteção adequados (ou utilizando somente
óculos de sol ou de correção visual), também poderá ser autuado no art. 244, X. Nesta
situação, a infração é de natureza média. Caso o passageiro esteja utilizando
capacete regulamentado, que não tenha viseira, mas sem usar os óculos de

46
proteção adequados (ou utilizando somente óculos de sol ou de correção visual)
pode ser autuado no art. 244, XI. Nesta situação, a infração é de natureza média.
Se o condutor e/ou passageiro estiverem usando um capacete motociclístico
que não corresponda ao modelo regulamentado pela citada resolução (fora das
especificações regulamentadas), a autuação deverá ser feita no art. 230, X do CTB:
conduzir veículo com equipamento obrigatório em desacordo com o estabelecido pelo
CONTRAN (conforme orientação constante no art. 4º, I da Resolução nº 453/2013).
Nesta situação, a infração é de natureza grave. Será feita uma única autuação,
mesmo que os dois ocupantes estejam com o capacete fora do padrão, pois, neste
caso, não há condutas distintas para condutor e para passageiro.
Em todas as situações explicadas acima, o veículo ficará retido até a
apresentação de um capacete regulamentado e/ou óculos de proteção apropriados.
Se o condutor e/ou o passageiro estiverem utilizando um capacete, dentro do
padrão NBR7471, mas com a viseira ou óculos de proteção levantados, bem como
estiverem com o capacete na cabeça, sem a devida fixação da cinta jugular no seu
engate ou desajustada, pode ser autuado no art. 169 (segunda parte) do CTB: dirigir
[...] sem os cuidados indispensáveis à segurança (conforme orientação constante no
art. 4º, II da Resolução nº 453/2013). Nesta situação, a infração é de natureza leve e
o veículo ficará retido até o abaixamento da viseira, colocação adequada dos óculos
de proteção ou ajuste devido da cinta jugular. Será feita uma única autuação, pois,
neste caso, não há condutas distintas para condutor e para passageiro.

Art. 252 – Calçado inadequado e uso de telefone celular

O ponto IV do art. 252 do CTB estabelece a infração de trânsito de dirigir veículo


“usando calçado que não se firme nos pés ou que comprometa a utilização dos
pedais”.
Independente da forma como o veículo é conduzido, se for constatado que o
condutor utiliza calçado irregular (aqueles que não se firmem aos pés, não possuam
formato que envolva o calcanhar, como chinelos e sandálias sem alças traseiras) será
autuado.
Calçado que compromete a utilização dos pedais é aquele que, firme no pé,
por seu formato, altura ou composição, prejudica a perfeita utilização dos comandos,
como sandálias plataformas ou de salto muito fino. Nesse caso para ser constatada a

47
infração de não conduzir o veículo de forma correta, é preciso que o agente comprove
se o condutor estava cometendo freadas e arrancadas bruscas, trajetória irregular no
deslocamento, dentre outras. Se o veículo estiver sendo conduzido normalmente e
com segurança, não há como autuar a infração de trânsito.
E dirigir descalço é infração de trânsito? Não. O CTB não traz esse
elemento como infração. Se não há explicitamente uma regra proibindo o
condutor de estar descalço, entende-se por lógica que é permitido.
As motocicletas e similares, então, podem ser pilotadas pelo condutor
descalço? Não. Em relação à utilização de motocicletas, motonetas e ciclomotores,
a permissão por não haver proibição não se aplica a estes veículos. A justificativa é
que os pés descalços podem vir a tocar o motor aquecido e esse contato gerar uma
desconcentração e desequilíbrio no piloto, além de poder prender os dedos nas
engrenagens do veículo e estas situações podem provocar um acidente de trânsito.
Assim, o condutor que dirige motocicleta e afins descalços podem ser autuados por
“dirigir [...] sem os cuidados indispensáveis à segurança” (CTB, art. 169).
Com relação à infração de trânsito de dirigir veículo “utilizando-se de fones nos
ouvidos conectados a aparelhagem sonora ou de telefone celular” (grifos nossos –
inciso VI do art. 252) há algumas particularidades pra você observar.
Partindo de uma análise gramatical na lei, pode-se perceber que estão
indicadas duas condutas diferentes no mesmo artigo: (a) dirigir o veículo utilizando-se
de fones nos ouvidos conectados a aparelhagem sonora (cd-player, gravador,
rádios e outros aparelhos, móveis ou instalados no veículo) e (b) dirigir o veículo
utilizando-se de telefone celular.
Em relação à primeira situação, é considerada infração se o condutor transita
com os dois fones de ouvidos conectados a um aparelho sonoro que não seja
um celular. Se for utilizado apenas um fone, não é infração. Para que você faça a
autuação correta é necessária à abordagem do infrator, conforme procedimentos
definidos no Manual Brasileiro de Fiscalização de Trânsito – Volume I, código de
enquadramento 736-61.
Já em relação a segunda situação, é proibido utilizar o telefone celular em
qualquer uma das situações a seguir: (a) o condutor atende o telefone celular,
retirando a mão do volante ao levá-lo ao ouvido; (b) o passageiro atende o telefone
celular e leva o aparelho ao ouvido do condutor; (c) o condutor utiliza fone ou fones
conectados ao telefone celular; (d) o condutor utiliza o telefone celular no viva-voz ou

48
em equipamento sonoro com transferência da ligação via bluetooth; (e) o condutor
utiliza o telefone celular em qualquer das opções de mensagem, vídeo ou fotografia,
bem como em outros aplicativos.
Mesmo assim, nem todas as formas acima são possíveis do agente averiguar.
O Manual Brasileiro de Fiscalização de Trânsito, na ficha de orientação referente ao
código de enquadramento 736-62, estabelece a necessidade de abordagem do
infrator quando for visualizado o uso do fone para comprovar se está conectado ao
aparelho de telefone celular. Também não consta como infração se o aparelho de
telefone celular for utilizado com o veículo momentaneamente parado ou estacionado.

49
AULA 4 – CONEXÃO COM CRIMES DE TRÂNSITO

Existem infrações de trânsito que estão conectadas com crimes de trânsito,


conforme consta nos artigos de 302 a 312 do CTB. Essa relação pode ser direta, se
houve infração, ocorreu o crime e de forma indireta, ou seja, em algumas
circunstâncias, pode haver também um crime.
Você verá abaixo a relação das infrações com os crimes de trânsito:

Dirigir sem possuir habilitação

A infração de trânsito do art. 162, I do CTB (dirigir veículo sem possuir


Carteira Nacional de Habilitação, Permissão para Dirigir ou Autorização para
Conduzir Ciclomotor) nem sempre terá incidência no crime do art. 309 do
CTB (dirigir veículo automotor, em via pública, sem a devida Permissão para
Dirigir ou Habilitação [...], gerando perigo de dano).

Isso acontece porque para ser crime tem que gerar algum perigo de dano.
No caso de o condutor sem habilitação, por não ter conhecimentos e habilidades
suficientes para conduzir, coloca em risco a segurança e o patrimônio de outras
pessoas. Geralmente pode ser com arrancadas ou freadas bruscas, a realização de
manobras de forma errada, curvas e conversões perigosas, subindo na calçada ou no
canteiro central, avançando o sinal vermelho, comprovando, assim, sua falta de
domínio e colocando em risco a integridade dele e de outras pessoas. Ao ser
abordado, o condutor, será autuado na infração de trânsito do art. 162, I e
conduzido à delegacia de polícia competente para as providências de natureza
criminal, pois a autuação administrativa não elimina as providências de natureza
criminal (CTB, art. 256, § 1º).
Se o condutor dirige sem habilitação, mas conduz de forma adequada, com
domínio sobre as normas de circulação, não colocando em risco a segurança e o
patrimônio de outras pessoas, não estará cometendo crime e sim apenas infração
de trânsito do art. 162, I.

Dirigir com o documento de habilitação cassado

A infração de trânsito do art. 162, II do CTB (dirigir veículo com Carteira


Nacional de Habilitação, Permissão para Dirigir ou Autorização para Conduzir

50
Ciclomotor cassada [...]) nem sempre terá incidência no crime do art. 309 do CTB
(dirigir veículo automotor, em via pública, [...]se cassado o direito de dirigir, gerando
perigo de dano).
As regras orientadas no tópico anterior, de gerar perigo de dano, se aplicam a
esta situação também. Perceba que dificilmente alguém que tenha carteira de
habilitação, mas tenha sido cassado, perderá a capacidade e domínio de conduzir o
veículo, pois suas experiências continuam as mesmas. Quem tem a CNH cassada
perde definitivamente o direito de dirigir e, como tal, é considerado inabilitado, e
será crime se for percebido que sua condução está gerando perigo de dano. Já quem
foi autuado neste mesmo art. 162, II por ter o documento de habilitação suspenso
pode incidir em outro tipo penal, que você verá abaixo.

Dirigir com o documento de habilitação suspenso

A infração de trânsito do art. 162, II (dirigir veículo com Carteira Nacional de


Habilitação [...] ou Autorização para Conduzir Ciclomotor [...] com suspensão do direito
de dirigir) terá incidência direta no crime do art. 307 do CTB (violar a suspensão
[...] para dirigir veículo automotor imposta com fundamento neste Código).
Neste caso, a situação de gerar perigo de dano não é o elemento que irá
transformas a infração em crime de trânsito, conforme é tratado no art. 309 do CTB.
Quem for autuado no art. 162, II, do CTB por dirigir com a habilitação suspensa,
deve ser conduzido à delegacia de polícia competente para as providências em
relação ao seu crime.
Você estudará melhor a distinção entre cassação e suspensão de habilitação
no Módulo III – Penalidades e medidas administrativas.

Entregar ou permitir a direção de veículo em determinadas circunstâncias

As infrações de trânsito do art. 163 c/c (combinado com) art. 162, I (entregar
a direção do veículo a pessoa que não possui CNH, PD ou ACC), do art. 163 c/c art.
162, II (entregar a direção do veículo a pessoa com CNH, PD ou ACC cassada ou
com suspensão do direito de dirigir), do art. 164 c/c art. 162, I (permitir que pessoa
que não possui CNH, PD ou ACC tome posse do veículo automotor e passe a conduzi-
lo na via), do art. 164 c/c art. 162, II (permitir que pessoa com CNH, PD ou ACC
cassada ou com suspensão do direito de dirigir tome posse do veículo automotor e

51
passe a conduzi-lo na via), do art. 166 (confiar ou entregar a direção de veículo a
pessoa que, mesmo habilitada, por seu estado físico ou psíquico, não estiver em
condições de dirigi-lo com segurança), todos do CTB, terão incidência direta no
crime do art. 310 do CTB (permitir, confiar ou entregar a direção de veículo automotor
à pessoa não habilitada, com habilitação cassada ou com o direito de dirigir suspenso,
ou, ainda, a quem, por seu estado de saúde, física ou mental, ou por embriaguez, não
esteja em condições de conduzi-lo com segurança).
As infrações citadas no parágrafo acima já foram discutidas na Aula 3 deste
módulo. Qualquer dúvida retorne à aula para esclarecer melhor o assunto.

Dirigir sob a influência de álcool ou de qualquer outra substância psicoativa

A infração de trânsito do art. 165 do CTB (dirigir sob a influência de álcool ou


de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência) nem sempre
terá incidência no crime do art. 306 do CTB (conduzir veículo automotor com
capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de outra
substância psicoativa que determine dependência).
No caso do condutor fazer o teste do bafômetro para comprovar a infração
e a medida do aparelho for igual ou superior a 0,34 mg/L, vai ser autuado por
infração de trânsito do art. 165 e será conduzido a delegacia de polícia. Se a
medição for entre 0,05 mg/L e 0,33 mg/L, o condutor está cometendo apenas
infração de trânsito conforme o mesmo artigo e o veículo será retido até que tenha
um condutor com habilitação para retirar o carro e a habilitação do infrator é recolhida
pelo agente.
Em caso de recusa do condutor em realizar o teste do bafômetro, o infrator,
além da autuação no art. 165-A, será conduzido à delegacia de polícia, no caso de
apresentar sinais de alteração da capacidade psicomotora do condutor, conforme
Resolução nº 432/2013-CONTRAN, feito em formulário específico* e com o relato de
testemunhas para o procedimento policial.
Pode ser realizado um exame clínico feito pelo médico perito avaliador ou
testes laboratoriais feitos pelo Instituto Médico Legal, em caso de ser constatada a
embriaguez ou uso de substâncias psicoativas, também pode ser confirmado por
imagens de vídeo, pela prova testemunhal ou por outros meios admitidos
legalmente, dando o direito à contraprova do infrator.

52
Disputar corrida ou promover ou participar de competição

As infrações de trânsito do art. 173 (disputar corrida) e do art. 174 (promover,


na via, competição, eventos organizados, exibição e demonstração de perícia em
manobra de veículo, ou deles participar, como condutor, sem permissão da autoridade
de trânsito com circunscrição sobre a via), ambos do CTB, nem sempre terão
incidência no crime do art. 308 do CTB (participar, na direção de veículo automotor,
em via pública, de corrida, disputa ou competição automobilística ou ainda de exibição
ou demonstração de perícia em manobra de veículo automotor, não autorizada pela
autoridade competente, gerando situação de risco à incolumidade pública ou
privada).

Figura 17: Faixa de Pedestres


Fonte: Marcelo Camargo/Agência Brasil.

https://agenciabrasil.ebc.com.br/foto/2021-04/pedestres-atravessam-faixa-em-brasilia-ha-
24-anos-capital-1618947377

O que acontece é que para ser crime tem que haver risco à segurança pública
ou privada. Tem relação com garantir o bem-estar e segurança de pessoas ou de bens

53
em situação que possa ameaçar essa seguridade, o que pode acontecer com corridas
e competições em via pública.
Então se a conduta dos infratores coloca em risco outras pessoas que estejam
nas proximidades, seja assistindo o evento ou que estejam se deslocando em via
pública, o crime é constatado, mesmo que não haja danos físicos ou materiais. Os
participantes, ao serem abordados, serão autuados na infração de trânsito do art.
173 ou 174 e serão conduzidos à delegacia de polícia.

Acidente de trânsito com vítimas

A infração de trânsito do art. 176, I do CTB (deixar o condutor envolvido em


acidente com vítima de prestar ou providenciar socorro à vítima, podendo fazê-lo) terá
incidência direta no crime do art. 304 do CTB (deixar o condutor do veículo, na
ocasião do acidente, de prestar imediato socorro à vítima, ou, não podendo fazê-lo
diretamente, por justa causa, deixar de solicitar auxílio da autoridade pública).
Assim, quem é autuado no art. 176, I do CTB deve ser, em seguida, conduzido
à delegacia de polícia competente para as providências de natureza criminal.
Já a infração de trânsito do art. 176, III do CTB (deixar o condutor envolvido em
acidente com vítima de preservar o local, de forma a facilitar os trabalhos da polícia e
da perícia) nem sempre terá incidência no crime do art. 312 do CTB (inovar
artificiosamente, em caso de acidente automobilístico com vítima, na pendência do
respectivo procedimento policial preparatório, inquérito policial ou processo penal, o
estado de lugar, de coisa ou de pessoa, a fim de induzir a erro o agente policial, o
perito, ou juiz). A não ser que os envolvidos tentem adulterar o local e alterar a
dinâmica dos fatos e as conclusões a que se possam chegar a respeito da
responsabilidade pela ocorrência dos danos causados, à vida e ao patrimônio. Neste
caso, a conduta, além de infração de trânsito, configura o crime do art. 312 do CTB.
Em relação ao condutor do outro veículo, que não esteja envolvido no acidente
de trânsito, mas que se recuse a prestar socorro, quando o agente de trânsito solicitar,
está passível a ser autuado na infração do art. 177 do CTB (deixar o condutor de
prestar socorro à vítima de acidente de trânsito quando solicitado pela autoridade e
seus agentes) e de ser conduzido à delegacia de polícia em razão do crime previsto
no art. 135 do Código Penal (deixar de prestar assistência quando possível fazê-lo
sem risco pessoal, [...] a pessoa inválida ou ferida [...], ou não pedir, nesses casos, o
socorro da autoridade pública).

54
Figura 18: Forte Chuva
Fonte: Fernando Frazão/Agência Brasil.

https://agenciabrasil.ebc.com.br/foto/2019-12/forte-chuva-fez-cidade-do-rio-entrar-em-
estagio-de-atencao-1582308267

55
AULA 5 – ESCLARECENDO OUTRAS QUESTÕES

Vale lembrar que a legislação de trânsito muda constantemente, como


também sempre estão passando por mudanças a circulação de pessoas e
veículos nas vias públicas.

O conhecimento das pessoas também passa por transformações,


principalmente com as informações que recebemos diariamente de diversos meios de
comunicação, principalmente com a internet, que hoje acaba sendo uma forma muito
prática de estar por dentro da legislação de trânsito. Também podemos nos
aperfeiçoar em relação às mudanças nos noticiários da TV, nos jornais diários e
revistas que sempre estão se atualizando para levar informações e discussões sobre
o direito fundamental de ir e vir. Estudar o Código de Trânsito Brasileiro e sua
legislação complementar deve fazer parte da busca por conhecimento do profissional
de segurança pública.

Figura 19: Circulação de Pessoas


Fonte: Marcelo Camargo/Agência Brasil.

Pensando na quantidade de informações vindas de diversos veículos


comunicativos, algumas questões em relação ao funcionamento da legislação podem

56
gerar dúvidas e o profissional de segurança pública precisa estar atento para que seu
trabalho esteja sempre atualizado. Veja abaixo algumas dessas dúvidas:

Autuação em trânsito

Quais as infrações previstas no CTB que podem ser autuadas em trânsito


(sem que o agente precise abordar o infrator)?
As infrações são aquelas que não foram estabelecidas uma medida
administrativa que tenha “por objetivo prioritário a proteção à vida e à
incolumidade física da pessoa” (CTB, art. 269, § 1º). Se tiver no CTB uma medida
corretiva, como, por exemplo, não utilizar o cinto de segurança (art.167), o agente não
pode autuar a infração para depois penalizar o condutor, pois o que é previsto nesse
caso é reter o veículo até que o infrator coloque o cinto.
Desta forma, podem ser autuadas em trânsito, dentre outras infrações: a
utilização do telefone celular pelo condutor na direção do veículo (art. 252, VI); o
avanço do sinal vermelho (art. 208); os excessos de velocidade em via pública
previstos no art. 218; as ultrapassagens, conversões e retornos indevidos (arts. 202,
203, 205, 206, 207 e 211). Isto porque, nestes casos, não se encontram previstas no
CTB medidas administrativas de caráter corretivo.
No entanto, o ideal é que o agente de trânsito aborde o condutor do veículo
para constatar a infração de trânsito, pois a abordagem é uma atitude pedagógica
para o infrator, com o intuito de gerar uma reflexão ao ser autuado, prevenindo que
ele tenha a mesma conduta mais de uma vez.
O profissional de segurança pública, além de estar por dentro das medidas
administrativas de cada infração, precisa estar atento ao que diz o Manual Brasileiro
de Fiscalização de Trânsito (Volumes I e II). Nele estão todos os procedimentos
específicos que deve tomar em casos de: possível sem abordagem, mediante
abordagem e os procedimentos. Você verá mais informações sobre isto no Módulo 4.
A conclusão é: Podem ser autuadas em trânsito todas as infrações que não
tenham previsão de medida administrativa corretiva da conduta do infrator, mas se no
artigo da infração houver uma medida administrativa com o objetivo de proteger a vida
e a segurança física da pessoa, esta medida deve ser adotada obrigatoriamente.

57
Trânsito de motocicleta entre veículos parados

Ao motociclista é permitido percorrer entre veículos parados no trânsito?


Analisando o art. 211 do CTB, pode-se, de modo errado, pensar que não, pois
ele diz: “Ultrapassar veículos em fila, parados em razão de sinal luminoso, cancela,
bloqueio viário parcial ou qualquer outro obstáculo, com exceção dos veículos não
motorizados: Infração – grave; Penalidade – multa”.
Porém, um estudo feito do CTB nesse ponto, nos leva ao art. 56 que foi vetado,
mas estabelecia que “É proibida ao condutor de motocicleta, motonetas e ciclomotores
a passagem entre veículos de filas adjacentes ou entre a calçada e veículos de fila
adjacente a ela”. O artigo foi vetado pelo Presidente da República justificando que “ao
proibir o condutor de motocicletas e motonetas à passagem entre veículos de filas
adjacentes, o dispositivo restringe sobremaneira a utilização deste tipo de veículo que,
em todo o mundo, é largamente utilizado como forma de garantir maior agilidade de
deslocamento (...)”. Então, não é infração de trânsito a motocicleta ou motoneta
transitar entre veículos parados em fila ou entre os veículos e a calçada.
Se fosse proibido, os congestionamentos se tornariam ainda maiores, pois os
veículos de duas rodas não poderiam trafegar entre os carros parados, ocupariam o
espaço para um automóvel, perdendo a capacidade fluidez das vias públicas urbanas.
Em relação aos motociclistas transitarem entre veículos em movimento, há um
descumprimento do que estabelece no § 1º do art. 29 do CTB: “As normas de
ultrapassagem prevista nas alíneas ‘a’ e ‘b’ do inciso X e ‘a’ e ‘b’ do inciso XI aplicam-
se à transposição de faixas, que pode ser realizada tanto pela faixa da esquerda como
pela da direita”. Se isso ocorrer, o condutor pode ser enquadrado na infração prevista
no art. 169: “dirigir [...] sem os cuidados indispensáveis à segurança”. Desta forma,
são aplicáveis às motocicletas e motonetas as regras de ultrapassagem de veículo e
de transposição de faixas de circulação previstas no art. 29, incisos X, XI, XII e seu §
1º.
A conclusão é que é permitida a condução de motocicleta e motoneta entre
veículos parados no trânsito. Com relação aos ciclomotores há que ser observada a
regra do art. 57, ou seja, conduzi-los no bordo direito da pista de rolamento.

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Motocicletas lado a lado

Duas motocicletas transitando lado a lado, na mesma faixa de trânsito,


cometem infração do art. 188 do CTB (transitar ao lado de outro veículo,
interrompendo ou perturbando o trânsito)?
Não. Para que haja esta infração é necessário que, além de estarem lado a
lado, haja a interrupção ou perturbação do fluxo de trânsito da via.
Desta forma, duas motocicletas podem transitar uma ao lado da outra,
respeitada a devida distância de segurança lateral entre elas, tanto em rodovias
quanto em via urbana, desde que estejam na mesma faixa de trânsito.
A ultrapassagem de um motociclista isolado ou de uma dupla de motociclistas,
por parte de outros veículos, irá obedecer às disposições dos incisos X e XI do art. 29
do CTB.
Porém, três motocicletas deslocando na mesma faixa de trânsito caracterizam
a infração de “dirigir [...] sem os cuidados indispensáveis à segurança” (art. 169), pois,
neste caso, haverá um necessário descuido da distância de segurança lateral entre
estes veículos em deslocamento.
A conclusão é que duas motocicletas que transitam lado a lado, na mesma faixa
de circulação, em via urbana ou em rodovia, não cometem infração de trânsito.

Autuação de embriaguez ao volante sem disponibilidade de bafômetro

O agente de trânsito pode autuar a infração do art. 165 do CTB por meio do
relatório de comprovação da alteração da capacidade psicomotora do condutor (termo
de constatação de alcoolemia), sem primeiro solicitar a submissão ao teste do
bafômetro?
No ano de 2006, quando o condutor de veículo automotor que estivesse
envolvido num acidente de trânsito ou que durante a fiscalização levantasse suspeita
por estar dirigindo alcoolizado, se recusava a fazer os testes de alcoolemia previstos
na vigência da Resolução nº 081/1998-CONTRAN, não eram penalizados com
consequências administrativas previstas na legislação de trânsito (art. 165 do CTB).
Porém, o CTB sofreu mudanças para que evitasse essa impunidade, por meio
da Lei nº 11.275, de 06 de fevereiro de 2006 – reafirmada depois pela Lei nº 12.760,
de 20 de dezembro de 2012 - ao estabelecer que o condutor de veículo automotor,
naquelas situações, poderá ser submetido a teste, exame clínico, perícia ou outro

59
procedimento que, por meios técnicos ou científicos, permita certificar se o condutor
ingeriu álcool ou outra substância psicoativa que determine dependência. Também
previu que a infração do art. 165 poderá ser certificada com outras provas, como
imagem, vídeo, constatação de sinais que indiquem alteração da capacidade
psicomotora ou produção de outras provas em direito admitidas (CTB, art. 277 e § 2º).
Com base na disposição de lei, o Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN),
por meio da Resolução nº 432/2013, determinou que a confirmação da alteração da
capacidade psicomotora, em razão da influência de álcool ou de outra substância
psicoativa que determine dependência, teria constatação por, pelo menos, um dos
seguintes procedimentos a serem realizados no condutor de veículo automotor:
a) exame de sangue;
b) exames realizados por laboratórios especializados, indicados pelo órgão ou
entidade de trânsito competente ou pela Polícia Judiciária, em caso de consumo de
outras substâncias psicoativas que determinem dependência;
c) teste em aparelho destinado à medição do teor alcoólico no ar alveolar
(etilômetro);
d) verificação dos sinais que indiquem a alteração da capacidade psicomotora
do condutor.

A mesma resolução estabeleceu um relatório que serve de guia para


constatação dos sinais de alteração da capacidade psicomotora pelo agente da
autoridade de trânsito, onde estão descritos aspectos relativos à aparência, atitude,
orientação, memória, capacidade motora e verbal (previstos no anexo II da citada
resolução).
Existe uma polêmica em relação à necessidade de haver recusa do condutor
à realização do teste do bafômetro, para, assim, buscar outras formas de poder
caracterizar a infração. Fazendo uma análise do § 2º do art. 3º da resolução, é
indicado que existe essa necessidade quando fala: “nos procedimentos de
fiscalização deve-se priorizar a utilização do teste com etilômetro”.
Em relação a caracterização do crime que consta no art. 306 do CTB, foram
acrescentados como prova, sinais que indiquem alteração da capacidade psicomotora
mediante exame clínico, perícia, vídeo, testemunhas ou outros meios admitidos
legalmente, dando o direito à contraprova. Antes apenas eram considerados para
comprovação de concentração igual ou superior a 0,34mg de álcool por litro de ar

60
alveolar (teste etilômetro) ou de 6 decigramas de álcool por litro de sangue (exame
sanguíneo).
A conclusão é que na apuração do cometimento da infração do art. 165 do CTB,
o agente de trânsito deve proporcionar, inicialmente, os meios necessários para a
realização do teste do bafômetro. Havendo recusa do infrator e caso exista um
conjunto de sinais que denote a alteração da capacidade psicomotora, será
preenchido o devido relatório de constatação de embriaguez, que caso seja
comprovado cabem todas as consequências legais, tal como se fosse aplicado o teste
do bafômetro.

Segunda via de auto de infração

A segunda via do auto de infração de trânsito (AIT) deve ser entregue ao


condutor/proprietário quando ele comete infração e se recusa a assinar?
A assinatura do condutor/infrator, devidamente identificado no auto de infração,
constitui, além de notificação da autuação, recibo da segunda via a ser entregue.
Mesmo quando o condutor/infrator se recusar a assinar o auto de infração de
trânsito ele terá direito de receber a segunda via. É preciso colocar no campo
ASSINATURA DO CONDUTOR/INFRATOR a expressão “recusou-se a assinar” ou
“optou por não assinar”.
Além do mais, é importante a entrega da segunda via principalmente nestas
situações: a) os casos de autuação de infração de estacionamento (CTB, art. 181),
em que o condutor não é identificado (ausente), devendo a segunda via ser colocada
junto ao veículo; b) as autuações em que houver recolhimento de documentação de
veículo e/ou de seu condutor, nas quais a segunda via servirá como contrarrecibo,
sendo entregue ao condutor mesmo se houver recusa de sua assinatura.
Podemos notar que existe uma má interpretação do usuário do sistema de
trânsito em relação a sua assinatura do auto de infração. Ao contrário do que se
pensa, ela não representa uma admissão de culpa ou confissão que cometeu a
infração e também não impede que os recursos legais cabíveis sejam tomados. Na
verdade, é uma garantia para o infrator, pois quando assina e recebe a segunda via,
terá a segurança que impede a inovação no auto de infração ou mesmo a correção
de uma irregularidade formal que venha a ser constatada depois.
A conclusão que se pode tirar é que uma via do AIT será utilizada pelo órgão
ou entidade de trânsito para os procedimentos administrativos de aplicação das

61
penalidades previstas no CTB e a outra via deverá ser entregue ao condutor, quando
se tratar de autuação com abordagem, ainda que este se recuse a assiná-lo
(Resolução nº 561/2015-CONTRAN, item 7. Autuação).

Viseira escura no capacete motociclístico

Ao condutor de motocicleta é permitido o uso de viseira escura?


Sim, desde que utilizada durante o dia e que nela não tenha qualquer tipo de
película. A Resolução nº 203/2006-CONTRAN, art. 3º, § 4º, estabelece que “no
período noturno, é obrigatório o uso de viseira padrão cristal”. Se a viseira do capacete
é escura e utilizando a noite, o condutor deve utilizar os óculos de proteção
apropriados sem lentes escuras e mantendo a viseira (escura) do capacete totalmente
levantada.
Quanto à aposição de película na viseira do capacete ou nos óculos de
proteção, este procedimento é totalmente proibido, nos termos do § 5º do art. 3º da
citada resolução.
Com relação aos condutores que têm restrição de correção visual, devidamente
anotada na Carteira Nacional de Habilitação, estes deverão ser utilizados
simultaneamente com os óculos de proteção. Da mesma forma, se o condutor optar
por utilizar óculos de sol durante o dia, estes deverão ser utilizados simultaneamente
com os óculos de proteção ou utilizados com a viseira do capacete totalmente
abaixada. Porém, se a viseira escura, sem nenhuma película, é utilizada à noite, fica
comprovada a infração prevista no art. 169 do CTB: “dirigir [...] sem os cuidados
indispensáveis à segurança”.
A conclusão é que ao condutor de motocicleta é permitido o uso de viseira
escura, sem colocação de película, durante o dia, sendo incorreta autuação de
infração de trânsito neste caso.

Remoção de veículos

Como deve ser efetivada a remoção de veículos conforme previsão do CTB?


O Código de Trânsito Brasileiro decreta no art. 271 que “o veículo será
removido, nos casos previstos neste código, para o depósito fixado pelo órgão ou
entidade competente [...]”, não tratou a forma que esta medida administrativa deve ser
feita. Em relação a isso, no parágrafo único do artigo, tem referência somente a

62
“despesas com remoção”, do que se conclui a possibilidade de guinchamento, por
meio de caminhão guincho.
Entendemos que esta remoção pode ser feita de acordo com o poder conferido
ao agente do poder público, realizando-a através de guincho ou por intermédio do
condutor/infrator, se ele se propõe a fazê-la e se houver certeza de que ele irá
conduzir o veículo ao pátio do órgão competente. Para isto, o condutor deve ser
habilitado, estar com a CNH dentro do prazo e possuir também o certificado de registro
e licenciamento do veículo. Os documentos ficam provisoriamente com o agente de
trânsito até que o veículo chegue ao pátio do órgão e sejam devolvidos.
É necessário esclarecer que, em situações normais, o agente de trânsito não
deve dirigir o veículo removido para o pátio do órgão, pois, desta forma, estará
assumindo a responsabilidade civil e administrativa por danos ou acidentes
eventualmente ocorridos no trajeto entre o local da fiscalização e o pátio do órgão. O
agente também não deve acompanhar a remoção dentro do veículo, mesmo com
o consentimento do condutor/infrator, e sim acompanhá-lo com o seu veículo de
fiscalização.
Dessa forma, a conclusão é que fica a critério do agente de trânsito fiscalizador
da remoção, quando determinada pelo CTB, e poderá ser realizada por guincho ou
através do próprio condutor/infrator, quando habilitado e quando demonstrada a
certeza de que ele conduzirá o veículo ao pátio do órgão competente.

Prazo de carência da carteira provisória

A carência de trinta dias do vencimento da CNH, para a caracterização da


infração do art. 162, V do CTB, também se aplica à Permissão para Dirigir?
Conforme infração prevista no art. 162, V do CTB (dirigir veículo com validade
da Carteira Nacional de Habilitação vencida há mais de trinta dias), ocorre quando
chega o 31º dia de vencimento do documento. A lei concedeu o prazo de trinta dias
para que a CNH seja renovada, prazo também que se encerra a validade do exame
de aptidão física e mental do condutor. O período é de dez anos para condutor com
menos de 50 anos, de cinco anos para condutor com mais de 50 anos e menos de 70
anos e de três anos para o condutor com 70 anos ou mais (CTB, art. 147, § 2º).
Se analisarmos ao pé da letra a lei, essa carência de 30 dias é aplicada
somente em relação à CNH e não em relação à Permissão para Dirigir. Porém, o
CONTRAN, pacificando esta discussão, na Resolução n.º 789, de 18 de junho de

63
2020 ampliou o prazo também de 30 dias para essa situação, mas é importante saber
que conforme § 5º do art. 28: “Para efeito de fiscalização, dirigir veículo portando PPD
vencida há mais de trinta dias constitui infração de trânsito prevista no inciso I do art.
162 do CTB” (grifo nosso).
A conclusão é que o condutor que tenha CNH ou Permissão para dirigir vencida
há mais de 30 dias, comete infração de trânsito capitulada no art. 162, I e no art. 162,
V do CTB.

Prática de direção em rodovia

O candidato à habilitação pode ter aulas de prática de direção em rodovias?


Sim, pois não há proibição expressa no Código de Trânsito Brasileiro
quanto à realização destas aulas em rodovias, o qual, no seu art. 158 estabelece
que “a aprendizagem só poderá realizar-se: I – nos termos, horários e locais
estabelecidos pelo órgão executivo de trânsito [...]”.
A Resolução nº 789/2020-CONTRAN, que trata das normas sobre o processo
de formação de condutores de veículos automotores e elétricos, não foi categórica em
proibir a prática de direção veicular em rodovias.
Cabe ao Departamento Estadual de Trânsito (DETRAN) estabelecer condições
para o processo de formação de condutores no Estado em que atua, conforme
estabelecido no art. 22, II do CTB: “realizar, fiscalizar e controlar o processo de
formação, de aperfeiçoamento, de reciclagem e de suspensão de condutores e
expedir e cassar Licença de Aprendizagem, Permissão para Dirigir e Carteira
Nacional de Habilitação, mediante delegação do órgão máximo executivo de trânsito
da União”. Desse modo, cada órgão executivo de trânsito pode elaborar os termos
e condições para a realização da instrução de prática de direção veicular em
rodovias, inclusive nas federais, pois não cabe ao órgão executivo rodoviário da
União tratar de assuntos relativos ao processo de habilitação, nem estabelecer
normas pertinentes à aprendizagem.
Porém, os agentes que fiscalizam o cumprimento da legislação de trânsito em
relação à aprendizagem – seja em rodovias ou vias urbanas – devem exigir:
1) Do aprendiz condutor: licença de aprendizagem de direção veicular
(LADV) e documento de identidade com foto;
2) Do instrutor: credencial de instrutor emitida pelo órgão executivo de
trânsito;

64
3) Do veículo: identificação conforme o art. 154 do CTB e atendimento de
outras exigências legais (CRLV em dia, duplo comando de freios e embreagem e
demais equipamentos obrigatórios).
A conclusão é que não existe, na legislação de trânsito em vigor, proibição
expressa quanto à realização da instrução de prática de direção veicular em rodovias.
Ao contrário, esta instrução deve ser incentivada, pois a formação do futuro condutor
exige experiências de aprendizagem também na via rural, capacitando o motorista
para bem dirigir neste ambiente.

Obrigatoriedade do tacógrafo

Quais os veículos que, obrigatoriamente, devem utilizar tacógrafo?


As informações em relação à obrigatoriedade do uso de registrador
instantâneo inalterável de velocidade e tempo (tacógrafo) estão presentes em
artigo do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), da legislação complementar e na
Resolução nº 014/1998-CONTRAN e podem ser resumidas nas seguintes situações:
1) Para veículos de transporte e condução de escolares e nos de
transporte de passageiros com mais de dez lugares que realizem transporte
remunerado de pessoas (CTB, art. 105, II e Res. 014/1998, art. 1º, I, 21);
2) Para veículos de transporte de carga (caminhão e caminhão-trator) com
peso bruto total (PBT) superior a 4.536 kg fabricados a partir de 01/01/1999 (CTB,
art. 105, II e Res. 014/1998, art. 6º, II);
3) Para veículos de transporte de carga que conduzem produtos
perigosos, independentemente do peso bruto total ou da capacidade máxima de
tração do veículo (Decreto n.º 96.044/1988, art. 5º).
Assim, não estão obrigados a instalar tacógrafo os veículos de transporte de
passageiros ou de uso misto, registados na categoria particular e que não
realizem transporte remunerado de pessoas (Res. 014/1998, art. 2º, III, “b”), como
também os veículos de carga com capacidade máxima de tração (CMT) inferior a
19 toneladas fabricados até 31/12/1990 (Res. 014/1998, art. 2º, III, “a”).
A conclusão é que a exigência do tacógrafo se faz nos veículos de transporte
de carga com PBT superior a 4.536 kg fabricados a partir de 1999, aos veículos de
transporte de escolares, aos veículos de transporte de passageiros com mais de dez
lugares e aos veículos de transporte de carga que conduzem produtos perigosos.

65
Prazo de carência do licenciamento anual

Quando que o veículo não se encontra “devidamente licenciado” (art. 230, V do


CTB)?
Da mesma forma que acontece com os documentos de habilitação em que há
o período de 30 dias para a renovação, a legislação de trânsito também estabeleceu
um prazo para o licenciamento anual de veículos.
A Resolução n.º 664/86-CONTRAN, em seu art. 11, estabelece que “será
também considerado ‘sem estar devidamente licenciado’ o veículo encontrado
circulando com o CRLV sem o lançamento da liquidação integral da obrigação
tributária [...] quando decorridos 10 (dez) dias do prazo fixado para vencimento da 3ª
cota ou equivalente [..]”.
Se o IPVA for parcelado, para efeito de fiscalização do art. 230, V do CTB,
considera-se o prazo final de vencimento da última parcela, mais os dez dias
seguintes. Desta forma, não comete infração, por exemplo, o veículo que está com a
segunda parcela atrasada, pois ela pode ser paga juntamente com a terceira parcela,
quitando sua dívida.
Porém, se a primeira parcela não for paga (demonstrando o atraso do
licenciamento do ano anterior), essa carência não é considerada e fica comprovada a
infração, fazendo com o que o infrator responda administrativamente, sofrendo
autuação de natureza gravíssima e tendo o veículo removido para que a regularização
seja efetuada.
A conclusão é que comete infração de trânsito (capitulada no art. 230, V do
CTB) o veículo que esteja circulando com mais de dez dias do vencimento do
licenciamento ou do vencimento da última cota (quando o IPVA for parcelado).

Tolerância em autuação de embriaguez ao volante

Existe tolerância em relação aos limites que caracterizam a infração de trânsito


do art. 165 do CTB (dirigir sob a influência de álcool ou de qualquer outra substância
psicoativa que determine dependência) e o crime de trânsito do art. 306 do CTB
(conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da
influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência)?
É importante esclarecer que o § 1º do art. 306 do CTB fala das circunstâncias
que caracterizam o crime de embriaguez ao volante e estabeleceu que as condutas

66
devem ser constatadas quando há concentração igual ou superior a 6 decigramas
de álcool por litro de sangue ou igual ou superior a 0,3 miligrama de álcool por
litro de ar alveolar. O § 3º do mesmo artigo estabeleceu que o CONTRAN resolverá
sobre a equivalência entre os distintos testes de alcoolemia ou toxicológicos para
efeito de caracterização do crime tipificado.
A Resolução nº 432/2013-CONTRAN, que tratou sobre os procedimentos a
serem adotados pelas autoridades de trânsito e seus agentes na fiscalização do
consumo de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência,
para aplicação do disposto nos arts. 165, 276, 277 e 306 da Lei nº 9.503, de 23 de
setembro de 1997, estabeleceu no seu art. 6º, II que a infração de trânsito do art. 165
do CTB será caracterizada por “teste de etilômetro com medição realizada igual ou
superior a 0,05 miligrama de álcool por litro de ar alveolar expirado (0,05 mg/L),
descontado o erro máximo admissível [...]” (grifo nosso) e no seu art. 7º, II, definiu
que o crime previsto no art. 306 do CTB será caracterizado por “teste de etilômetro
com medição realizada igual ou superior a 0,34 miligrama de álcool por litro de ar
alveolar expirado (0,34 mg/L), descontado o erro máximo admissível [...]” (grifo
nosso).
Desta forma, o erro máximo admissível (ou margem de erro) é a variação na
medição realizada, uma vez que não é praticada com a máxima precisão possível.
Não se trata de tolerância, como liberalidade da lei ou da autoridade administrativa,
mas sim de aspectos relativos à normatização metrológica feita em nosso país pelo
Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (INMETRO).
Existe um erro máximo admitido nas medições de velocidade, de peso, de
transmitância luminosa de vidros e outros materiais aplicados nas áreas envidraçadas
de veículos e de níveis de embriaguez, dentre outros.
Assim, a resolução, no parágrafo único do art. 4º esclareceu que “do resultado
do etilômetro (medição realizada) deverá ser descontada margem de tolerância, que
será o erro máximo admissível, conforme legislação metrológica, de acordo com a
“Tabela de Valores Referenciais para Etilômetro” constante no Anexo I” (conforme
tabela abaixo).
No tocante ao erro máximo admissível, conforme Regulamento Técnico
Metrológico (Portaria n.º 06/2002 do INMETRO), deverão ser descontados do valor
medido pelo aparelho etilômetro (bafômetro) os seguintes referenciais:
a) 0,032 mg/L para as medições realizadas inferiores a 0,40 mg/L;

67
b) 8% para as medições realizadas entre 0,40 mg/L e 2,000 mg/L, inclusive;
c) 30% para medições maiores que 2,000 mg/L.

TABELA DE ERRO MÁXIMO E VALOR A SER DESCONTADO

Valor medido Erro máximo

De 0,01 a 0,50 mg/L 0,04

De 0,51 a 0,63 mg/L 0,05

De 0,64 a 0,75 mg/L 0,06

De 0,76 a 0,88 mg/L 0,07

De 0,89 a 1,00 mg/L 0,08

De 1,01 a 1,13 mg/L 0,09

De 1,14 a 1,25 mg/L 0,10

De 1,26 a 1,38 mg/L 0,11

De 1,39 a 1,50 mg/L 0,12

De 1,51 a 1,63 mg/L 0,13


De 1,64 a 1,75 mg/L 0,14

De 1,76 a 1,88 mg/L 0,15

De 1,89 a 2,00 mg/L 0,16

De 2,01 a 2,03 mg/L 0,61

De 2,04 a 2,06 mg/L 0,62

Assim, será aplicada a seguinte fórmula:

Valor medido – erro máximo = valor considerado

Quando o valor considerado for positivo (a partir de 0,01 mg/L) estará


caracterizada a infração de trânsito, nos termos do art. 276 do CTB, alterado pela Lei
nº 12.760/2012: “qualquer concentração de álcool por litro de sangue ou por litro
de ar alveolar sujeita o condutor às penalidades previstas no art. 165 deste Código”
(grifos nossos). É o que ocorre nos valores medidos a partir de 0,05 mg/L, com a
aplicação da referida fórmula: 0,05 – 0,04 = 0,01 mg/L.

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Quando o valor medido for igual ou superior a 0,35 mg/L estará caracterizado,
além da infração de trânsito, o crime previsto no art. 306 do CTB: 0,34 – 0,04 = 0,30
mg/L.
A conclusão é que na verificação do índice de alcoolemia do condutor, o agente
deve diminuir da medição realizada pelo bafômetro o erro máximo admitido pela
legislação metrológica. Se o resultado da operação for positivo (igual ou maior que
0,01) estará caracterizada a infração de trânsito do art. 165 do CTB. Se o resultado
da operação for igual ou superior a 0,30 mg/L, estará caracterizado também o crime
de embriaguez ao volante (art. 306 do CTB).

Habilitação de estrangeiro

Como proceder com relação ao documento de habilitação do estrangeiro ou


do brasileiro habilitado em outro país?
A Resolução nº 360/2010, de 29 de setembro de 2010, do CONTRAN,
estabelece as situações em que o condutor de veículo automotor natural de país
estrangeiro com habilitação em seu país, quando amparado por convenções ou
acordos internacionais ratificados e aprovados pelo governo brasileiro ou pela
adoção do Princípio da Reciprocidade (conforme relação abaixo), desde que possa
ser passível de responsabilização, está autorizado a dirigir veículo automotor no
Brasil.
O estrangeiro poderá dirigir no território nacional, pelo prazo máximo de 180
dias, portando a carteira de habilitação estrangeira dentro do prazo de validade,
acompanhada de documento de identificação. Após o prazo de 180 (cento e oitenta)
dias de presença regular no Brasil, pretendendo continuar a dirigir veículo automotor
no âmbito territorial brasileiro, deverá submeter-se aos Exames de Aptidão Física e
Mental e Avaliação Psicológica, nos termos do artigo 147 do CTB, respeitada a sua
categoria, com vistas à obtenção da Carteira Nacional de Habilitação. Os países
signatários, ou seja, assinantes, da Convenção de Viena sobre Tráfego Rodoviário
também podem emitir a Permissão Internacional para Dirigir (ou Licença
Internacional de Condução), documento que, por si só, possibilita dirigir veículo
automotor nas vias públicas brasileiras (Figura 20).
O condutor de veículo automotor, nativo de país estrangeiro e nele habilitado,
em estadia regular, desde que penalmente condenável no Brasil, detentor de

69
habilitação não reconhecida pelo Governo brasileiro (países que não constam na
relação abaixo), poderá dirigir no território nacional mediante a troca da sua
habilitação de origem pela habilitação nacional junto ao órgão ou entidade executiva
de trânsito dos Estados ou do Distrito Federal e ser aprovado nos Exames de Aptidão
Física e Mental, Avaliação Psicológica e de Direção Veicular, respeitada a sua
categoria de habilitação, com vistas à obtenção da Carteira Nacional de Habilitação.
Ao cidadão brasileiro habilitado no exterior serão aplicadas as regras
estabelecidas para os estrangeiros habilitados em países signatários de acordos
internacionais ou habilitados em país cuja habilitação não é reconhecida pelo governo
brasileiro, respectivamente, comprovando que mantinha residência normal naquele
país por um período não inferior a 06 (seis) meses, quando do momento da expedição
da habilitação.
O estrangeiro não habilitado, com estadia regular no Brasil, pretendendo
habilitar-se para conduzir veículo automotor no Território Nacional, deverá satisfazer
todas as exigências previstas na legislação de trânsito brasileira em vigor.

Figura 20: Permissão Internacional de Direção


Fonte: Detran.

70
Países signatários da Convenção de Viena ou com acordos de reciprocidade

País Reconhecimento
África do Sul Convenção de Viena
Albânia Convenção de Viena
Alemanha Convenção de Viena
Anguilla Reciprocidade
Angola Reciprocidade
Arábia Saudita Convenção de Viena
Argélia Reciprocidade
Argentina Outros tratados
Armênia Convenção de Viena
Austrália Reciprocidade
Áustria Convenção de Viena
Azerbaijão Convenção de Viena
Bahamas Convenção de Viena
Barém Convenção de Viena
Bélgica Convenção de Viena
Bermudas Reciprocidade
Bielo-Rússia (Belarus) Convenção de Viena
Bolívia Outros tratados
Bósnia-Herzegovina Convenção de Viena
Bulgária Convenção de Viena
Cabo Verde Reciprocidade
Canadá Reciprocidade
Catar Convenção de Viena
Cazaquistão Convenção de Viena
Cayman Reciprocidade
Ceuta e Melilha Reciprocidade
Chile Outros tratados
Cingapura Reciprocidade
Colômbia Reciprocidade
Congo Convenção de Viena
Coréia do Sul Reciprocidade
Costa do Marfim Convenção de Viena
Costa Rica Reciprocidade
Croácia Convenção de Viena
Cuba Convenção de Viena
Dinamarca Convenção de Viena
El Salvador Reciprocidade
Emirados Árabes Unidos Convenção de Viena
Equador Reciprocidade

71
Escócia Reciprocidade
Eslovênia Convenção de Viena
Espanha Reciprocidade
Estados Unidos Reciprocidade
Estônia Convenção de Viena
Filipinas Convenção de Viena
Finlândia Convenção de Viena
França Convenção de Viena
Gabão Reciprocidade
Gana Reciprocidade
Geórgia Convenção de Viena
Gibraltar Reciprocidade
Grã-Bretanha Reciprocidade
Grécia Reciprocidade/Convenção de Viena
Groenlândia Convenção de Viena
Guadalupe Convenção de Viena
Guatemala Reciprocidade
Guiana Convenção de Viena
Guiana Francesa Convenção de Viena
Guiné-Bissau Reciprocidade
Haiti Reciprocidade
Holanda Reciprocidade/Convenção de Viena
Honduras Reciprocidade
Hungria Convenção de Viena
Ilha de Pitcairn Reciprocidade
Ilha Norfolk Reciprocidade
Ilhas Aland Convenção de Viena
Ilhas Cayman Reciprocidade
Ilhas Cocos (Keeling) Reciprocidade
Ilhas Cook Reciprocidade
Ilhas do Canal Reciprocidade
Ilhas Geórgia e Sandwich do Sul Reciprocidade
Ilhas Virgens (Gb) Reciprocidade
Ilhas Wallis e Futuna Convenção de Viena
Indonésia Reciprocidade
Inglaterra Reciprocidade
Ira ou Iran Convenção de Viena
Iraque Convenção de Viena
Iria Ocidental Convenção de Viena
Irlanda do Norte Reciprocidade
Israel Convenção de Viena
Itália Convenção de Viena

72
Kuwait Convenção de Viena
Letônia Convenção de Viena
Libéria Convenção de Viena
Líbia Reciprocidade
Lituânia Convenção de Viena
Luxemburgo Convenção de Viena
Macedônia Convenção de Viena
Malvinas ou Ilhas Falkland Reciprocidade
Marrocos Convenção de Viena
Martinica Convenção de Viena
Mayotte Convenção de Viena
México Reciprocidade
Moçambique Reciprocidade
Moldávia (Moldova) Convenção de Viena
Mônaco Convenção de Viena
Mongólia Convenção de Viena
Montenegro Convenção de Viena
Montserrat Reciprocidade
Namíbia Reciprocidade
Nicarágua Reciprocidade
Níger Convenção de Viena
Niue Reciprocidade
Noruega Convenção de Viena
Nova Caledônia Convenção de Viena
Nova Zelândia Reciprocidade
Nueva Esparta Reciprocidade
País de Gales Reciprocidade
Panamá Reciprocidade
Paquistão Convenção de Viena
Paraguai Outros tratados
Peru Outros tratados/Convenção de Viena
Polinésia Francesa Convenção de Viena
Polônia Convenção de Viena
Porto Rico Convenção de Viena
Portugal Reciprocidade/Convenção de Viena
Quênia Convenção de Viena
Quirguízia Convenção de Viena
Reino Unido Reciprocidade
República Centroafricana Convenção de Viena
República Democrática do Congo Convenção de Viena
República Dominicana Reciprocidade
República Eslovaca Convenção de Viena

73
República Tcheca Convenção de Viena
Reunião Convenção de Viena
Romênia Convenção de Viena
Rússia Convenção de Viena
Saara Ocidental Convenção de Viena
Saint-Pierre e Miquelon Convenção de Viena
San Marino Convenção de Viena
Santa Helena Reciprocidade
São Tomé e Príncipe Reciprocidade
Seicheles (Seychelles) Convenção de Viena
Senegal Convenção de Viena
Sérvia Convenção de Viena
Suécia Convenção de Viena
Suíça Convenção de Viena
Svalbard Convenção de Viena
Tadjiquistão Convenção de Viena
Terras Austrais e Antártica Reciprocidade
Território Britânico na Antártica Reciprocidade
Território Britânico no Oceano Indico Reciprocidade
Timor Convenção de Viena
Toquelau Reciprocidade
Tunísia Convenção de Viena
Turcas e Caicos (Turks e Caicos) Reciprocidade
Turcomenistão (Turcomênia) Convenção de Viena
Turquia Convenção de Viena
Ucrânia Convenção de Viena
Uruguai Outros tratados/Convenção de Viena
Uzbequistão Convenção de Viena
Venezuela Reciprocidade
Vietnam Convenção de Viena
Zimbábue Convenção de Viena

Finalizando

Neste módulo, você estudou que:


- Cada infração de trânsito prevista nos artigos de 162 a 255 do CTB equivale
a cada norma geral de circulação e conduta prevista nos artigos de 26 a 67.
Tipificação de infração de trânsito é a relação direta entre a conduta que o agente
percebeu e o que é previsto no CTB.

74
- A Resolução nº 066/1998-CONTRAN detalhou a distribuição de
competências entre Estado e município em relação à fiscalização de trânsito em
vias públicas urbanas. Quando se fala de fiscalizar rodovias e estradas, federais ou
estaduais, o profissional de segurança pública pode agir levando em conta todas as
infrações de trânsito que o CTB prevê. Para orientar melhor o trabalho que será
desenvolvido pelo profissional de segurança pública, direcionando como devem ser
feitas as autuações, por exemplo, existe o Manual Brasileiro de Fiscalização de
Trânsito (Volumes I e II), instituídos por meio das Resoluções nº 389/2011 e nº
561/2015, que aborda diversas instruções e informações detalhadas para cada
infração de trânsito. Consulte sempre que necessário.
- Infração de trânsito é conduta humana, isto é, o comportamento que tem o
condutor, passageiro ou pedestre. Você, profissional de segurança pública, deve
analisar todos os elementos objetivos para tipificar as infrações de trânsito. Você
também estudou as análises de cada infração de trânsito detalhadamente.
- Algumas infrações de trânsito se conectam com crimes de trânsito,
previstos nos artigos de 302 a 312 do CTB. O profissional de segurança pública deve
agir para penalizar administrativamente o infrator e dar o encaminhamento ao sistema
policial e judiciário para tratar das condutas que são crimes de trânsito.

75
MÓDULO 3 – PENALIDADES E MEDIDAS ADMINISTRATIVAS

Apresentação do módulo

O profissional de segurança pública no exercício de suas funções de


fiscalização de trânsito, após constatar o cometimento da infração, precisa tomar as
providências que a legislação determina.
Com isso, as consequências, que podem ser imediatas ou posteriores, serão
geradas para o infrator e o profissional além de autuar, precisa tomar providências
corretivas (se o CTB indicar) e providências posteriores relacionadas à
penalização pelo órgão responsável.
Para isto, a legislação estabeleceu, como consequências da infração,
providências que a autoridade de trânsito irá tomar para punir a conduta infratora
e dos agentes de trânsito responsáveis pela fiscalização, que “terão por objetivo
prioritário a proteção à vida e à incolumidade física da pessoa” (CTB, art. 269, § 1º).
Neste contexto, você irá analisar neste módulo as penalidades e
medidas administrativas previstas nos artigos de 256 a 279 do CTB, para que
perceba as atribuições do dirigente do órgão de trânsito e se situe da
responsabilidade do profissional de segurança pública ao identificar o
cometimento da infração de trânsito com providências corretivas e preventivas.

Objetivos do módulo

Ao final do estudo desse módulo, você será capaz de:


- Conceituar autoridade e agente da autoridade de trânsito;
- Diferenciar as providências que são do órgão de trânsito e do agente da
autoridade de trânsito diante do cometimento de infração de trânsito tipificada no CTB;
- Compreender a responsabilidade do profissional de segurança pública para a
efetiva punição do infrator e das outras ações que lhe cabem para proteção da vida e
da segurança pública dos usuários das vias públicas do país.

76
Divisão das aulas

Este módulo compreende as seguintes aulas:


Aula 1 – Conceito de autoridade e de agente da autoridade;
Aula 2 – Penalidades;
Aula 3 – Medidas administrativas;
Aula 4 – Atuação do profissional de segurança pública.

77
AULA 1 – CONCEITO DE AUTORIDADE E DE AGENTE DA AUTORIDADE

Para compreender a abrangência e a finalidade das penalidades e medidas


administrativas previstas no CTB é necessário sabermos os seus conceitos, conforme
o Anexo I – Dos conceitos e definições.
Autoridade de trânsito é o dirigente máximo de órgão ou entidade
executivo integrante do Sistema Nacional de Trânsito ou pessoa por ele
expressamente credenciada.
São autoridades de trânsito os presidentes do CONTRAN, do DENATRAN, do
DNIT, do órgão executivo de trânsito municipal, do órgão executivo rodoviário
estadual, dentre outras. Estes dirigentes são os responsáveis pela aplicação da
penalidade relacionada à infração de trânsito cometida pelo infrator. Porém, nem
todos os órgãos de trânsito aplicam penalidades, como, por exemplo, JARI,
CONTRAN, DENATRAN, CETRAN.
A aplicação da penalidade é atribuição do órgão de trânsito que tem
domínio sobre a via para exercer a fiscalização de trânsito.
Agente da autoridade de trânsito é a pessoa, civil ou policial militar,
credenciada pela autoridade de trânsito para o exercício das atividades de
fiscalização, operação, policiamento de trânsito ou patrulhamento.
Assim, todos os servidores, civis e militares que atuam diretamente ou por
meio do competente convênio, junto a órgão ou entidade, componente do Sistema
Nacional de Trânsito, exercendo atividades de fiscalização do cumprimento das
disposições da legislação de trânsito, que podem gerar atribuição de penalidades
a condutas infratoras, são agentes da autoridade de trânsito.
Estes servidores são encarregados das autuações por cometimento de
infração de trânsito e a adoção das providências determinadas pela legislação
(você verá adiante) no exercício da fiscalização de trânsito.
Esta distinção entre autoridade e agente é apenas conceitual, no sentido de
definir a competência para adoção de penalidades e de medidas administrativas
previstas no CTB. Não pode ser confundido (e nem tem intervenção) com o conceito
de autoridade de polícia administrativa (civil, militar, sanitária, de postura).
Em resumo, ao órgão de trânsito compete a penalização do infrator; ao agente
da autoridade de trânsito compete a fiscalização e suas providências imediatas.

78
AULA 2 – PENALIDADES

Disposições gerais

O art. 256 do CTB estabelece que a autoridade de trânsito, dentro das suas
competências e áreas de domínio, deverá aplicar às infrações previstas no CTB as
seguintes penalidades:

Figura 21: Art. 256 CTB


Fonte: SCD/EaD/Segen.

O CTB também definiu a responsabilidade pelo cometimento da infração de


trânsito:
- O proprietário sempre é o responsável pela infração referente a prévia
regularização e preenchimento das formalidades e condições exigidas para o
trânsito do veículo, conservação e manutenção de suas características,
componentes, agregados, habilitação legal e compatível de seus condutores, quando
for exigido. Também devem ser observadas outras disposições (§ 3º do art. 257):
como conduzir veículo com licenciamento atrasado (art. 230, V), transitar com o
veículo emitindo excesso de fumaça (art. 231, III), transitar com o veículo com falta de
simbologia necessária à sua identificação, quando exigida pela legislação (art. 237 –
de transporte de produto perigoso);

79
- O condutor é responsável pelas infrações em consequência de atos
praticados na direção do veículo (§ 3º do art. 257), como, por exemplo, avançar o
sinal vermelho do semáforo (art. 208), estacionar em local proibido (art. 181), transitar
com velocidade superior à estabelecida para a via (art. 218).

Advertência por escrito

A advertência por escrito é a forma mais branda de punição do infrator.


Antes das alterações legislativas na Lei nº 14.071/2020, a advertência por escrito era
tida como uma medida mais educativa, considerando o histórico do infrator, dentro do
previa o CTB.
Nos termos em vigor (CTB, art. 267), “deverá ser imposta a penalidade de
advertência por escrito à infração de natureza leve ou média, passível de ser punida
com multa, caso o infrator não tenha cometido nenhuma outra infração nos últimos 12
(doze) meses”.
Desta forma, os critérios passaram a ser mais objetivos, caso o infrator não
tenha histórico de infração nos últimos doze meses e que a infração cometida seja de
natureza leve ou média. O infrator que recebe uma advertência por escrito não tem
obrigação de pagar valor da multa nem recebe a pontuação da infração cometida em
sua habilitação.

Multa

A penalidade de multa é o pagamento em dinheiro do valor da infração de


trânsito que foi cometida, de acordo com sua gravidade e nos termos do art. 258 do
CTB:
- Infração de natureza gravíssima, punida com multa no valor de R$ 293,47
(duzentos e noventa e três reais e quarenta e sete centavos);
- Infração de natureza grave, punida com multa no valor de R$ 195,23 (cento
e noventa e cinco reais e vinte e três centavos);
- Infração de natureza média, punida com multa no valor de R$ 130,16 (cento
e trinta reais e dezesseis centavos);
- Infração de natureza leve, punida com multa no valor de R$ 88,38 (oitenta e
oito reais e trinta e oito centavos).
Todas as infrações de trânsito têm a previsão de pagamento de multa como
penalidade. Algumas infrações de natureza gravíssima, a lei prevê o fator

80
multiplicador, pois entende como necessário elevar o valor a ser pago como forma
de reprimir o infrator a cometer condutas que causem danos perigosos à sociedade
(§ 2º do art. 258). Exemplos: dirigir veículo de categoria diferente da CNH (art. 162,
III) – multa (2 vezes) = R$ 586,94; dirigir sem CNH (art. 162, I) – multa (3 vezes) =
R$ 880,41; deixar o condutor envolvido em acidente com vítima de prestar ou
providenciar socorro à vítima, podendo fazê-lo (art. 176, I) – multa (5 vezes) = R$
1.476,35; dirigir veículo sob influência de álcool (art. 165) – multa (10 vezes) = R$
2.934,70.
O CTB oferece ao infrator a possibilidade de desconto de 20% do valor da
multa, caso ela seja paga até a data do vencimento (CTB, art. 284). Este pagamento
não significa reconhecimento de culpa pelo infrator, pois mesmo paga com desconto,
pode acontecer de ter devolução em caso de provimento do recurso à JARI ou a
instância superior.

Suspensão do direito de dirigir

Em relação à penalidade que suspende o direito de dirigir, o que ocorre é que


para cada infração de trânsito cometida é computado os seguintes números de pontos
na habilitação (CTB, art. 259):
- Gravíssima - 7 pontos;
- Grave - 5 pontos;
- Média - 4 pontos;
- Leve - 3 pontos.
A suspensão do direito de dirigir será aplicada por acúmulo de pontos (art.
261, I) sempre que o infrator atingir, nos últimos 12 meses:
- 20 pontos, caso constem duas ou mais infrações gravíssimas no seu
prontuário;
- 30 pontos, caso conste uma infração gravíssima no seu prontuário;
- 40 pontos, caso não conste infração gravíssima no seu prontuário ou se
trate de condutor que exerce atividade remunerada ao veículo,
independentemente da natureza das infrações cometidas.
Nestes casos, o prazo de suspensão pode variar de seis meses a um ano,
ao final do processo administrativo, de acordo com a decisão da autoridade de
trânsito, assegurado ao infrator amplo direito de defesa (CTB, art. 265). Se no período

81
de 12 meses após a suspensão o infrator novamente vier a ter seu direito de dirigir
suspenso, o prazo pode variar de oito meses a dois anos.
A suspensão do direito de dirigir também pode ser aplicada,
independentemente do acúmulo de pontos, quando o infrator comete uma infração
de trânsito que tem previsão específica da penalidade de suspensão do direito
de dirigir (art. 261, II). Exemplos: dirigir veículo sob influência de álcool (art. 165),
dirigir ameaçando os pedestres que estejam atravessando a via pública (art. 170),
disputar corrida (art. 173), utilizar-se de veículo para demonstrar ou exibir manobra
perigosa, mediante arrancada brusca (art. 175). Neste caso, não serão contabilizados
os pontos destas infrações para uma contagem posteriormente. Se o infrator cumprir
a penalidade dessas infrações, está livre dos pontos.
Nestes casos, o prazo de suspensão pode variar de dois a oito meses
(exceto para as infrações que têm previsão de prazo definido), ao final do processo
administrativo, assegurado ao infrator amplo direito de defesa. Se no período de 12
meses após esta suspensão, o infrator vier a ter uma nova suspensão (reincidência),
o prazo pode variar de oito meses a dois anos.
Infrações de trânsito que têm previsão de prazo definido no CTB:
-Dirigir veículo sob influência de álcool (art. 165) – 12 meses;
-Recusar-se a ser submetido a teste, exame clínico, perícia ou outro
procedimento que permita certificar influência de álcool ou outra substância psicoativa
(art. 165-A) – 12 meses;
-Conduzir veículo para o qual seja exigida habilitação nas categorias C, D ou E
sem realizar o exame toxicológico (art. 165-B) – 3 meses;
-Usar qualquer veículo para, deliberadamente, interromper, restringir ou
perturbar a circulação na via sem autorização do órgão ou entidade de trânsito com
circunscrição sobre ela (art. 253-A) – 12 meses.
Quando ocorrer a suspensão do direito de dirigir, a Carteira Nacional de
Habilitação será devolvida a seu titular imediatamente após cumprida a penalidade
e o curso de reciclagem do infrator (§ 2º do art. 261). O início do prazo de
suspensão começa a contar quando o infrator entrega a Carteira Nacional de
Habilitação ao órgão executivo de trânsito do Estado ou do Distrito Federal (DETRAN).
Se um infrator tem a suspensão do direito de dirigir por acúmulo de pontos, são
eliminados os pontos computados para uma contagem posteriormente, porém se a
suspensão foi aplicada por causa do cometimento de infração com previsão

82
específica, a pontuação das infrações anteriores não é eliminada, elas ficam sendo
computados pelos últimos 12 meses (§ 3º do art. 261).
A Resolução nº 723/2018-CONTRAN (com as alterações implementadas pela
Resolução nº 844/2021-CONTRAN) tratam sobre a padronização do procedimento
administrativo para imposição das penalidades de suspensão do direito de dirigir e de
cassação do documento de habilitação, bem como sobre o curso preventivo de
reciclagem, para a qual você deve recorrer para maiores informações sobre o assunto.

Cassação do documento de habilitação

Segundo o art. 263 do CTB, a cassação do documento de habilitação (CNH e


ACC) acontecerá:
- Quando, suspenso o direito de dirigir, o infrator conduzir qualquer veículo;
- No caso de reincidência, no prazo de doze meses, das infrações previstas no inciso
III do art. 162 e nos artigos 163, 164, 165, 173, 174 e 175;
- Quando condenado judicialmente por delito de trânsito (artigos 302 a 312 do
CTB).
Após dois anos da cassação da CNH/ACC, o infrator poderá solicitar sua
reabilitação, submetendo-se a todos os exames necessários à habilitação, na
forma estabelecida pelo CONTRAN (conforme Resolução nº 789/2020). Já a
cassação da Permissão para Dirigir (carteira provisória) será efetivada se, no seu
período de validade (um ano), o condutor tiver cometido uma infração de natureza
grave ou gravíssima ou for reincidente em infração de natureza média. Em caso
de ser efetivada a cassação da PD, o candidato deverá reiniciar todo o processo de
habilitação (§§ 2º, 3º e 4º do art. 148 do CTB).

Entenda melhor...
Diferenças entre suspensão e cassação do direito de dirigir
Característica Suspensão Cassação

Perda do direito de
Temporária Definitiva
dirigir

Prazo da penalidade Variável: de 2 meses a 2 anos Fixo: 2 anos

Passagem do prazo e curso de Novo processo de


Retomada do direito
reciclagem habilitação

Figura 22: Suspensão e cassação


Fonte: Do conteudista.

83
Frequência obrigatória em curso de reciclagem

Conforme art. 268 do CTB, o infrator será submetido a curso de reciclagem, na


forma estabelecida pelo CONTRAN:
- Quando suspenso do direito de dirigir;
- Quando se envolver em acidente grave para o qual tenha contribuído,
independentemente de processo judicial;
- Quando condenado judicialmente por delito de trânsito;
- A qualquer tempo, se for constatado que o condutor está colocando em risco
a segurança do trânsito.
A Lei nº 14.071/2020 inovou o CTB, pois estabeleceu para o condutor que
exerce atividade remunerada ao veículo, a possibilidade de frequentar curso
preventivo de reciclagem do infrator quando atingida a contagem de 30 pontos
no período de doze meses (§ 5º do art. 261). Após concluir o curso, o condutor terá
seus pontos eliminados, para fins da contagem posteriormente (§ 6º do art. 261), não
podendo mais pelos próximos doze meses escolher fazer o curso (§ 7º do art. 261). A
medida impede, preventivamente, o alcance de 40 pontos no período de doze meses,
com a suspensão do direito de dirigir e a perda das condições de sustento
proporcionada pela atividade remunerada.
A Resolução nº 789/2020-CONTRAN consolida normas sobre o processo de
formação de condutores de veículos automotores e elétricos, inclusive dos cursos de
reciclagem do infrator (ordinário e preventivo), para a qual você deve recorrer para
maiores informações sobre o assunto.
Antes da criação da Lei nº 13.281/2016, havia previsão da penalidade
“apreensão do veículo”, quando este poderia ficar imobilizado em pátio do
órgão competente por até 30 dias, independentemente de regularização de
suas pendências. A citada lei revogou as disposições desta penalidade,
anteriormente prevista no art. 262 do CTB. Contudo, não foi feita a devida
supressão da penalidade nos seguintes artigos de infração do CTB: 173, 174,
175, 184-III, 210, 229, 230-I a VI, 231-VI, 234, 238, 239, 244-VI a IX e 253
(razão pela qual devem ser desconsideradas estas referências por perda de
sua eficácia).

84
AULA 3 – MEDIDAS ADMINISTRATIVAS

Disposições gerais

O art. 269 do CTB estabelece que a autoridade de trânsito ou seus agentes,


nas competências estabelecidas e dentro de sua limitação, deverão adotar as
seguintes medidas administrativas:

Figura 23: Art. 269 CTB


Fonte: SCD/EaD/Segen.

As medidas administrativas, normalmente adotadas por agentes da


autoridade de trânsito (embora também possam ser realizadas pelo dirigente do
órgão), são atividades essencialmente desenvolvidas durante a fiscalização de
trânsito e têm “por objetivo prioritário a proteção à vida e à incolumidade física da
pessoa” (§ 1º do art. 269).
Quando adotadas, as medidas administrativas não impedem a aplicação das
penalidades impostas por infrações de trânsito estabelecidas no CTB, possuindo
caráter complementar a estas (§ 2º do art. 269).

85
Retenção do veículo

Retenção do veículo é a ação de impedir a circulação do veículo autuado


por infração de trânsito (no próprio local da fiscalização ou em pátio específico) até
que seja providenciada a regularização do que motivou a infração. O veículo
poderá ser retido nos casos expressos no CTB. Exemplos: art. 162, I (dirigir veículo
sem possuir CNH), art. 165 (dirigir sob a influência de álcool), art. 168 (transportar
criança em veículo automotor sem cumprimento das normas de segurança especiais
estabelecidas no CTB), art. 221 (portar no veículo placas de identificação que não
estejam de acordo com as especificações e modelos estabelecidos pelo CONTRAN).
Quando a irregularidade puder ser resolvida no local da infração, o veículo
será liberado assim que regularizada (§ 1º do art. 270). Exemplo: o veículo em que
criança de 9 anos é transportada no banco dianteiro, será liberado quando a criança
for devidamente acomodada no banco traseiro.
Quando não for possível resolver a falha no local da infração, o veículo,
deverá ser liberado para condutor regularmente habilitado, mediante recolhimento do
Certificado de Licenciamento Anual, contra apresentação de recibo, assinalando-se
ao condutor prazo razoável, em no máximo 30 dias, para regularizar a situação (§
2º do art. 270). Não sendo apresentado condutor habilitado no local da infração, o
veículo será removido ao depósito do órgão, ficando o responsável sujeito ao
pagamento de taxas e despesas com remoção e estada (§ 2º do art. 270).
O Certificado de Licenciamento Anual será devolvido ao condutor no órgão
ou entidade aplicadores das medidas administrativas, tão logo o veículo seja
apresentado à autoridade devidamente regularizado (§ 3º do art. 270).
Se não for feita a regularização dentro do prazo estabelecido será registrada
uma restrição administrativa no Registo Nacional de Veículos Automotores pelo
órgão responsável. Essa restrição será retirada após ser comprovada a regularização
(§ 6º do art. 270). Se o veículo for flagrado nas ruas mesmo com o registro de restrição,
o veículo será recolhido no depósito do órgão (§ 7º do art. 270).
O agente da autoridade pode não reter o carro imediatamente, quando for
veículo de transporte coletivo que esteja com passageiros no seu interior ou veículo
que esteja transportando produto perigoso ou perecível, caso ofereça condições
seguras de circular em via pública (§ 5º do art. 270).

86
Remoção do veículo

Remoção do veículo é a ação de retirar o veículo de um local e levá-lo a outro,


para não bloquear a via, quando o veículo estiver estacionado de modo irregular ou
para regularizar alguma situação no veículo. Conforme art. 271 do CTB, o veículo
será removido, nos casos previstos, para o depósito fixado pelo órgão
competente que tenha domínio sobre a via. Exemplos: art. 181, I (estacionado na
esquina), art. 230, VI (conduzir veículo com qualquer uma das placas de identificação
sem condições de legibilidade e visibilidade), art. 233 (deixar de efetuar o registro de
veículo no prazo de trinta dias, junto ao órgão executivo de trânsito). Não caberá
remoção nos casos em que a irregularidade for resolvida no local da infração (§ 9º do
art. 271).
A devolução do veículo removido só acontecerá com o pagamento de
multas, taxas e despesas com remoção e estada, além de outras taxas previstas
na legislação específica (§ 1º do art. 271) e só pode ser devolvido se for feito reparo
de qualquer componente ou equipamento obrigatório que não esteja em perfeito
estado de funcionamento (§ 2º do art. 271). Se este reparo precisar de algo que não
possa ser realizado no depósito, a autoridade responsável pela remoção liberará o
veículo, na forma transportada, por meio de autorização, marcando prazo para
reapresentação (§ 3º do art. 271).
O proprietário ou o condutor deverá ser notificado, no momento da
remoção do veículo, sobre como deve proceder para ter o veículo devolvido e que
pode ser levado a leilão caso não procurado ou não regularizada a situação (§ 5º do
art. 271). Se o proprietário ou condutor do veículo não esteja presente no momento
da remoção, a autoridade de trânsito tem que enviar notificação para o proprietário do
veículo no prazo de até dez dias (§ 6º do art. 271).
O pagamento das despesas de remoção e estada será pago pelos dias
contados em que o veículo permanecer no depósito, tendo como prazo máximo seis
meses.
O veículo removido que o proprietário não for buscá-lo no prazo de sessenta
dias, contados a partir do dia da remoção, será avaliado e levado a leilão, que
acontece, de preferência, por meio eletrônico (CTB, art. 328).

87
A única situação de estacionamento irregular que não tem previsão da
medida administrativa “remoção do veículo” é a de estacionar na contramão
de direção (art. 181, XV)?
Isto porque o caminhão guincho para remover o veículo irregularmente
estacionado, estaria também com a direção e o estacionamento do veículo de
reboque na mesma irregularidade, com potencial risco de acidente de trânsito.

Recolhimento da CNH/PD

O art. 272 do CTB estabelece: “O recolhimento da Carteira Nacional de


Habilitação e da Permissão para Dirigir dar-se-á mediante recibo, além dos casos
previstos neste Código, quando houver suspeita de sua inautenticidade ou
adulteração” (grifo nosso). Inautêntico é o documento falso; adulterado é o
documento autêntico (verdadeiro) que sofreu algum acréscimo ou mudança de uma
informação que não consta no cadastro de condutores habilitados.
Os casos previstos de recolhimento da CNH/PD são: art. 162, V (dirigir veículo
com validade da Carteira Nacional de Habilitação vencida há mais de trinta dias), art.
165 (dirigir sob a influência de álcool), art. 165-A (recusar-se a ser submetido a teste
que permita certificar influência de álcool), art. 170 (dirigir ameaçando os pedestres
que estejam atravessando a via pública), art. 173 (disputar corrida), art. 176, I (deixar
de prestar socorro à vítima (quando possível) se o condutor estiver envolvido em
acidente de trânsito), art. 244, I (Conduzir motocicleta sem usar capacete de
segurança).

Recolhimento do Certificado de Registro e do Certificado de Licenciamento


Anual

De acordo com o art. 273 do CTB, o recolhimento do Certificado de Registro


pode acontecer por meio de recibo, além dos casos previstos, quando:
- Houver suspeita de inautenticidade ou adulteração;
- Se, alienado o veículo, não for transferida sua propriedade no prazo de
trinta dias (veículo alienado é quando uma pessoa oferece o veículo como garantia
de um empréstimo ou financiamento).

88
Caso previsto de recolhimento do certificado de registro: art. 240 (quando o
responsável deixa de promover a baixa do registro de veículo irrecuperável ou
definitivamente desmontado).
Contudo, estas situações dificilmente serão constatadas na fiscalização de
trânsito porque o certificado de registro não é documento de porte obrigatório
definido pela Resolução nº 205/2006-CONTRAN.
Com relação ao Certificado de Licenciamento Anual, documento de porte
obrigatório, estabelece o art. 274 do CTB que este será recolhido, por meio de recibo,
além dos casos previstos, quando:
- Houver suspeita de inautenticidade ou adulteração;
- Se o prazo de licenciamento estiver vencido (art. 230, V);
- No caso de retenção do veículo, se a irregularidade não puder ser resolvida
no local.
Caso previsto de recolhimento do certificado de licenciamento anual: art. 240
(o responsável deixar de promover a baixa do registro de veículo irrecuperável ou
definitivamente desmontado).
No caso de documento em meio digital (CRLV-e), a medida administrativa
será realizada por meio de anotação no Registro Nacional de Veículos Automotores
(§ 5º do art. 269 do CTB).

Transbordo do excesso de carga

O art. 275 do CTB estabelece que com o transbordo da carga com peso
excedente (constatada nas autuações do art. 231, V), o veículo pode seguir
normalmente e serão efetuadas as despesas ao proprietário do veículo, sem
prejuízo de multa aplicável. A comprovação do excesso de peso pode ser feita pela
balança rodoviária ou também pela nota fiscal ou manifesto de carga.
O veículo será recolhido ao depósito do órgão competente caso não possa
atender a esta necessidade e será liberado após resolver a irregularidade e pagar as
despesas com remoção e estada.

Realização de teste de dosagem de alcoolemia

O art. 276 do CTB estabelece que qualquer concentração de álcool por litro de sangue
ou por litro de ar alveolar pode penalizar o condutor, conforme previsto no art. 165.

89
O condutor de veículo automotor envolvido em acidente de trânsito ou que
for alvo de fiscalização de trânsito poderá ser submetido a teste, exame clínico,
perícia ou outro procedimento que, por meios técnicos ou científicos, na forma
disciplinada pela Resolução nº 432/2013-CONTRAN, permita comprovar a influência
de álcool ou outra substância psicoativa que determine dependência (CTB, art. 277).
Você estudou anteriormente, na aula 3 do Módulo 2 todas as disposições
referentes a essa questão. Caso ainda reste dúvida, você pode voltar e revisar o
conteúdo.

Recolhimento de animais

O inciso X do art. 269 do CTB estabelece o recolhimento de animais que se


encontrem soltos nas vias e na faixa de domínio das vias de circulação, devolvendo-
os aos seus proprietários após o pagamento devido de multas e encargos.
Esta medida tem como objetivo prevenir a ocorrência de acidentes de
trânsito, incluindo a proteção destes animais, prevenção de prejuízos materiais e a
proteção da segurança dos usuários da via pública. Aos animais que forem recolhidos
aplicam-se as mesmas condições relacionadas à remoção de veículos (pagamento
das despesas com o recolhimento, multa e estada), às questões sanitárias e também
a possibilidade de leilão, caso não seja buscado resolução pelo proprietário no prazo
de 60 dias (§ 4º do art. 269).

Realização de exames

O inciso XI do art. 269 do CTB prevê a possibilidade de realização dos exames


de aptidão física, mental, de legislação, de prática de primeiros socorros e de direção
veicular. Os exames do candidato à Carteira Nacional de Habilitação poderão ser
reaplicados em caso de indícios de fraude ou outras irregularidades no processo.
A Resolução nº 789/2020-CONTRAN trata das questões relativas à aplicação
dos exames e outros requisitos necessários ao processo de habilitação do condutor
de veículo automotor.
Apesar de esta medida administrativa ser da competência do agente da
autoridade, não tem como ser aplicada em situações reais, pois não é previamente
listada como providência a ser tomada em nenhum dos artigos de infração de
trânsito, como também não tem condições de ser aplicada no ambiente da

90
fiscalização. Esse processo administrativo será estabelecido de modo correto na
habilitação do futuro condutor (ou em outra situação que seja necessária), por meio
de decisão da autoridade responsável.

91
AULA 4 – ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA

Em relação às aulas 2 e 3 desse módulo, você verá um resumo das diferenças


entre penalidades e medidas administrativas no gráfico abaixo:

Entenda melhor...
Distinção entre penalidade e medida administrativa

Referencial Penalidade Medida administrativa

Procede de atividade Procede de atividade


Ocasião
administrativa do órgão operacional

Autoridade de trânsito ou
Competência Autoridade de trânsito (órgão)
agente da autoridade

Finalidade Punitiva Preventiva, corretiva

Em todos os artigos de Em alguns artigos de infração


Previsão
infração de trânsito de trânsito

Figura 24: Suspensão e cassação


Fonte: Do conteudista.

O profissional de segurança pública, lotado no órgão de trânsito integrante


da estrutura do Sistema Nacional de Trânsito (CTB, art. 7º) ou credenciado pela
autoridade de trânsito para o exercício das atividades de fiscalização, operação,
policiamento de trânsito ou patrulhamento, em resultado de convênio apropriado, não
tem atribuição para a aplicação de penalidades. Em resumo, o profissional de
segurança pública, não pode aplicar penalidades. Ele desenvolve uma atividade
preliminar na fiscalização, que vai dar início ao procedimento administrativo de
aplicação da penalidade ao infrator: a autuação da infração de trânsito. Essa
atribuição será melhor analisada no Módulo 4 deste curso – Processo administrativo
de trânsito.
Desta forma, sua atuação estará definida nas prescrições de cada artigo de
infração de trânsito do CTB (artigos de 162 a 255 do CTB), detalhadas nas fichas de
procedimentos definidas no Manual Brasileiro de Fiscalização de Trânsito –
Volume I (infrações de competência municipal - Resolução nº 389/2011-CONTRAN)
e no Manual Brasileiro de Fiscalização de Trânsito – Volume II (infrações de
competência dos órgãos e entidades executivos estaduais de trânsito - Resolução nº
561/2015-CONTRAN), relacionadas à previsão de medidas administrativas.

92
Se no artigo de infração não houver indicação de medida administrativa que
tenha o objetivo de correção da irregularidade, o profissional de segurança pública
fará apenas a autuação da infração de trânsito (registro do seu cometimento), mas
se houver previsão de medida administrativa, é necessário estar atento ao que
prescreve cada ficha de procedimentos.
Se o infrator constatar que a autuação da infração foi realizada em trânsito
(sem abordagem do condutor), quando a legislação determinava abordagem do
condutor, estará comprovado irregularidade na autuação, o que pode gerar o
cancelamento do seu registro, em grau de defesa prévia ou de recurso apropriado (à
JARI ou à instância superior).
Em resumo, os artigos de infração de trânsito que não têm previsão de
medida administrativa podem ser autuados sem abordagem do condutor
(autuação em trânsito); os artigos com previsão de medida administrativa devem
ser autuados de acordo com os procedimentos definidos no Manual Brasileiro
de Fiscalização de Trânsito (abordagem do condutor).
Desse modo, fica claro que a fiscalização de trânsito não tem o objetivo apenas
de punir o infrator, mas também de garantir um trânsito seguro para condutores,
passageiros e pedestres.

O profissional de segurança pública deve estar atento à adoção da medida


administrativa prevista em cada artigo de infração de trânsito, principalmente
para os iniciantes nesta função. Vale relembrar que a legislação de trânsito
sofre mudanças constantemente, o que exige que o profissional esteja sempre
se atualizando. Isso vale para quem já experiente na função exercida.

E com relação à autuação de estacionamento irregular (art. 181 do CTB), em


que é prevista a medida administrativa de remoção do veículo (exceto inciso XV – na
contramão de direção), a autuação da infração de trânsito sem a remoção do veículo
é irregular? Não. No caso de veículo estacionado sem a presença do condutor,
normalmente, não há necessidade de medida corretiva com o objetivo de proteger a
vida e a segurança física da pessoa. Além do mais, se não remover o veículo não
estará causando nenhum prejuízo ao condutor, pelo contrário, estará isentando- o das
despesas de remoção e estada, sendo considerada injusta qualquer alegação (em

93
grau de recurso ou defesa prévia) de que o seu veículo deveria ser removido da via,
conforme previa o CTB, mas não foi.
Da mesma forma acontece nas autuações de estacionamento irregular em que
o condutor está dentro do veículo ou nas proximidades e pode retirá-lo do local
estacionado, logo após ser autuado, sem que o veículo precise obrigatoriamente ser
removido. Nesse caso também não faz sentido que ele argumente (e seja deferido em
grau de recurso ou defesa) que seu veículo não foi removido como é previsto no CTB.

Finalizando

Neste módulo, você estudou que:

- Autoridade de trânsito é o chefe máximo de órgão ou entidade executivo


integrante do Sistema Nacional de Trânsito, a quem cabe tomar providências com o
objetivo de penalizar efetivamente quem comete infração de trânsito. Ao agente da
autoridade de trânsito (profissional de segurança pública) cabe realizar atividades
de fiscalização, operação, policiamento ostensivo de trânsito ou patrulhamento e
também tomar às medidas para garantir proteção à vida e à segurança física dos
usuários das vias públicas nacionais.
- As penalidades por infração de trânsito, a cargo da autoridade de trânsito,
estão previstas nos artigos de 256 a 268 do CTB. São elas: advertência por escrito,
multa, suspensão do direito de dirigir, cassação do documento de habilitação e
frequência obrigatória em curso de reciclagem.
- As medidas administrativas, a cargo da autoridade de trânsito ou de seus
agentes, são decorrentes das atividades de fiscalização de trânsito e, por isto, na
maioria das vezes são adotadas por eles. Sua finalidade principal é a proteção à vida
e à segurança física da pessoa. Estão previstas nos artigos de 269 a 279 do CTB:
remoção e retenção do veículo, recolhimento dos documentos de habilitação do
condutor e de registro/licenciamento de veículo, transbordo de carga excedente, teste
de alcoolemia, recolhimento de animais e realização de exames.
- O profissional de segurança pública não pode aplicar penalidades. Sua
atuação está definida nas prescrições de cada artigo de infração de trânsito
relacionadas à previsão de medidas administrativas. Para isto, deverá se atentar às
fichas de procedimentos definidas no Manual Brasileiro de Fiscalização de
Trânsito. Se no artigo de infração não houver previsão de medida administrativa

94
para a correção de irregularidade, o profissional de segurança pública realizará
apenas a autuação da infração de trânsito. Se houver previsão de medida
administrativa, é necessário estar atento às prescrições determinadas em cada ficha
de procedimentos, de acordo com o artigo de infração autuado.

95
MÓDULO 4 – PROCESSO ADMINISTRATIVO DE TRÂNSITO

Apresentação do módulo

O profissional de segurança pública é responsável por adotar as providências


que a legislação de trânsito determinada ao ser cometida alguma infração de trânsito.
Para que o trabalho de punição do infrator seja feito de modo correto como
previsto no CTB, o profissional de segurança pública tem que seguir um
roteiro que começa com o registro da infração de trânsito. Depois da autuação,
os passos seguintes são necessários para que o infrator tenha seu direito de
defesa e acompanhe todo o processo administrativo, do começo ao fim, ou
seja, da autuação até a penalidade que será imposta pelo órgão competente.
Neste caminho a ser percorrido serão analisadas questões relativas à
regularidade do auto de infração, à correta tipificação da infração de trânsito e
adoção de providências prescritas pela legislação, dentre outras questões. Isto
reforça a importância do trabalho do profissional de segurança pública para que, ao
final do caminho, a legislação de trânsito seja efetivamente aplicada. Caso contrário,
se forem notadas irregularidades do processo de autuação que foi feito pelo
profissional de segurança pública ou nos procedimentos feitos pelos órgãos de
trânsito, todo o trabalho desenvolvido pode ser invalidado, fazendo com que os
esforços tenham sido em vão, perdendo recursos materiais para alcançar os objetivos
da Política Nacional de Trânsito.

Objetivos do módulo

Ao final desse módulo, você será capaz de:


- Compreender todo o desenvolvimento do processo administrativo de
penalização do infrator: desde o registro do cometimento da infração de trânsito, o
processamento dos recursos apropriados até a efetiva aplicação da penalidade;
- Identificar os requisitos indispensáveis para preenchimento do auto de
infração de trânsito, para evitar o seu cancelamento em grau de defesa prévia ou
recursos apropriados;
- Compreender a responsabilidade do profissional de segurança pública para a
efetiva aplicação da legislação de trânsito para alcançar os objetivos da Política
Nacional de Trânsito.

96
Divisão das aulas

Este módulo compreende as seguintes aulas:

Aula 1 – Do cometimento da infração de trânsito à imposição da penalidade;


Aula 2 – Atribuições do profissional de segurança pública para a efetividade do
processo administrativo.

97
AULA 1 – DO COMETIMENTO DA INFRAÇÃO DE TRÂNSITO À IMPOSIÇÃO DA
PENALIDADE

Autuação

É o início do processo para efetuar a penalidade devida ao infrator. É o ato


administrativo de registro do cometimento da infração, formalizado por meio da
lavratura do Auto de Infração de Trânsito (AIT).
O AIT é a ferramenta que permite que a autoridade de trânsito aplique a
penalidade, portanto precisa estar perfeitamente preenchida de acordo com as
disposições do art. 280 do CTB e outras disposições regulamentares, contendo todo
o registro dos fatos que aconteceram para fundamentar a escrita do auto. Você verá
melhor todos os elementos que são indispensáveis na hora de preencher na aula
seguinte.
De acordo com o § 2º do art. 280 do CTB, a infração de trânsito deverá ser
comprovada por declaração do agente da autoridade de trânsito (por meio
do preenchimento do auto de infração em formulário de papel ou dispositivo
tecnológico apropriado – talão eletrônico), por aparelho eletrônico (medidores
e controladores de velocidade, fotossensores em semáforo), por equipamento
audiovisual (câmeras de vídeo monitoramento) ou qualquer outro meio
tecnologicamente disponível, previamente regulamentado pelo CONTRAN.
O agente da autoridade de trânsito competente, para emitir corretamente o
auto, pode ser servidor civil, estatuário ou celetista, também pode ser policial militar
designado pela autoridade de trânsito que tem domínio sobre a via. Deve estar
devidamente uniformizado, conforme padrão da instituição e no regular exercício de
suas funções. O veículo utilizado na fiscalização também deverá estar
caracterizado. Essas diretrizes são baseadas na disposição do § 4º do art. 280 do
CTB e regulamentação constante do Manual Brasileiro de Fiscalização de Trânsito –
Volume II.

Notificação da autuação

Após a autuação, o passo seguinte é a notificação da autuação. É o ato


administrativo que informa ao proprietário do veículo que foi emitido um AIT por
causa da infração de trânsito cometida e que ele poderá ser penalizado de acordo
com a legislação em vigor.

98
O órgão de trânsito competente, após verificar a regularidade e a
consistência do auto de infração irá emitir a notificação da autuação ao
proprietário do veículo em até 30 dias após a infração (CTB, art. 281, II). Este
prazo é contado pela data da entrega da notificação e não pela data que o
infrator recebeu.

Com a notificação da autuação, o proprietário do veículo tem a


possibilidade de indicar o real infrator, caso a infração tenha sido cometido por
outra pessoa que não o proprietário. Esse procedimento é feito em formulário
específico na própria notificação, dentro do prazo estabelecido, acompanhado do
documento de habilitação do condutor infrator e do documento de identificação do
proprietário do veículo.
Com a notificação da autuação, o proprietário do veículo ou o condutor infrator
pode apresentar defesa prévia (ou defesa da autuação, conforme conceituação na
Resolução nº 619/2016-CONTRAN). O prazo para isso não pode passar de 30 dias
contando da data de emissão da notificação de autuação (CTB, art. 281-A).
O auto de infração de trânsito valerá como notificação da autuação quando
for assinado pelo condutor e este for o proprietário do veículo ou o principal condutor
identificado. Isso acontece quando está presente a data do término do prazo para a
apresentação da defesa da autuação, conforme § 5º do art. 3º da Resolução nº
619/2016-CONTRAN.

É preciso você saber que a defesa da autuação não é recurso contra a


imposição de penalidade. A defesa é apresentada no órgão responsável por
aplicar a penalidade, onde será analisada de acordo com os requisitos de
consistência e regularidade do auto de infração (nos termos do art. 281, I do
CTB), como correta tipificação, presença das informações indispensáveis,
endereço completo, ausência de rasuras no preenchimento, dentre outros.

Caso a defesa prévia não seja apresentada no prazo estabelecido, será


aplicada a penalidade e emitida uma notificação ao proprietário do veículo ou ao
infrator, no prazo máximo de 180 dias, contado da data do cometimento da infração,
por remessa postal ou por qualquer outro meio tecnológico que assegure que a
pessoa está ciente da penalidade que sofrerá (CTB, art. 282). Em caso de

99
apresentação da defesa prévia em tempo hábil, o prazo para a notificação da
penalidade será de 360 dias (§ 6º do art. 282).
O auto de infração de trânsito será cancelado caso a defesa da autuação seja
aceita, o registro será arquivado e a autoridade de trânsito comunicará ao proprietário
do veículo a decisão (§ 1º do art. 9º da Resolução nº 619/2016-CONTRAN).

Notificação da penalidade

Caso não seja apresentada nenhuma defesa de autuação no prazo


estabelecido, o processo administrativo segue com o próximo passo que é a
notificação da penalidade. É o ato administrativo que informa ao proprietário do
veículo que foi aplicada uma penalidade pela infração cometida.
Após o proprietário do veículo ou condutor infrator receber a notificação da
penalidade ele pode apresentar recurso à JARI competente. Na notificação que ele
recebe deve ter a datado prazo final para que o recurso seja apresentado, em geral
de até 30 dias a partir da data da notificação da penalidade (§ 4º do art. 282 do CTB).
No mesmo prazo para apresentação do recurso à JARI, o CTB prevê a possibilidade
de pagamento do valor da multa por 80% do seu valor (art. 284). Este pagamento
não funciona como uma renúncia ao recurso (apenas garante o desconto), que poderá
ser apresentado no prazo estabelecido na notificação da penalidade (§ 2º do art. 284
do CTB). Se o recurso for aceito, o valor pago é devolvido.

Recurso à JARI

Recurso é um pedido formal em que o infrator apresenta ao órgão recursal


(JARI) suas argumentações querendo justificar sua conduta ou apresentar razões
quanto a possível irregularidade na autuação ou no desenvolvimento do
processo administrativo de penalização do infrator, com o objetivo de invalidar o
registro do AIT.

O CTB estabelece que o recurso será interposto perante a autoridade que


impôs a penalidade (art. 285), dentro do prazo estabelecido na notificação de
penalidade. Recebido o pedido, a autoridade o enviará ao órgão julgador,
dentro dos 10 dias úteis seguintes à sua apresentação e assinalará o fato no
despacho de encaminhamento (§ 2º do art. 285). Não é necessário fazer o
pagamento do valor da multa para apresentação do recurso (art. 286).

100
No recurso à JARI, a critério da pessoa que está recorrendo, poderão ser
alegadas as mesmas questões discutidas na defesa da autuação, quanto à
regularidade e consistência do auto de infração de trânsito (erro de
enquadramento, rasuras, endereço insuficiente, omissão de dado indispensável,
dentre outros), bem como questões de mérito (justificativas para o cometimento da
infração) e procedimentais (excesso de prazo para realização da notificação ou para
julgamento da defesa da autuação, falta de notificação ou irregularidade na sua
realização, descumprimento de ato normativo legal, falta de providência estabelecida
no Manual Brasileiro de Fiscalização de Trânsito).
Junto do pedido podem ser reunidos documentos e informações que sustentem
seus argumentos e também fundamentações no CTB ou em resoluções do
CONTRAN. Se por algum motivo o recurso não for julgado dentro do prazo de 30 dias,
a autoridade que impôs a penalidade poderá conceder efeito suspensivo (§ 3º do
art. 285).

Recurso à segunda instância

Após a JARI emitir sua decisão, ainda cabe recurso no prazo de 30 dias,
contados a partir da notificação da decisão (CTB, art. 288).

Normalmente, o infrator que está recorrendo, se tiver indeferido seu recurso


pode ir atrás da instância superior. O mesmo direito é concedido também à autoridade
que impôs a penalidade, mostrando que discorda da decisão de deferimento do
recurso do infrator. O prazo nos dois casos é de 30 dias (§ 1º do art. 288).
Se for o caso de recurso contra penalidade imposta por órgãos da União
(DNIT ou PRF), o recurso será apreciado por um Colegiado Especial (composto pelo
Coordenador-Geral da JARI, pelo Presidente da Junta que apreciou o recurso e por
outro Presidente de Junta), conforme art. 289, I do CTB.
Se for o caso de recurso contra penalidade imposta pelo DETRAN, DER (ou
órgão equivalente executivo rodoviário estadual) ou órgão executivo municipal, ou
do Distrito Federal, o recurso será apreciado pelo CETRAN ou CONTRANDIFE,
respectivamente (CTB, art. 289, II).

Veja a Resolução nº 299, de 04 de dezembro de 2008 que Dispõe sobre a


padronização dos procedimentos para apresentação de defesa de autuação e
recurso, em 1ª e 2ª instâncias, contra a imposição de penalidade de multa de trânsito.

101
Clique em: Resolução 299.2008 (www.gov.br)

A decisão tomada e registrada pelo Colegiado Especial e pelo CETRAN


(CONTRANDIFE) encerra todo o processo administrativo de julgamento de infrações
e penalidades (CTB, art. 290).

102
AULA 2 - ATRIBUIÇÕES DO PROFISSIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA PARA
A EFETIVIDADE DO PROCESSO ADMINISTRATIVO

Você estudou no início deste módulo que o processo de punição do infrator


começa com o registro do cometimento da infração de trânsito, que é feita pelo
profissional de segurança pública. Para esse registro é importante que o
preenchimento do auto de infração seja feito da maneira correta para que os próximos
passos do processo administrativo sejam efetivamente realizados. Esse auto será
analisado pelo órgão responsável por aplicar a penalidade, pelo infrator ou o seu
representante e pelos integrantes da junta de recurso e da instância superior.
Se houver alguma falha ou irregularidade no preenchimento do auto de
infração e for comprovado, acarretará o julgamento de insubsistência do seu
registro e consequente arquivamento, com perda das providências e dos custos
despendidos pela administração pública.
Para que o trabalho desenvolvido pelo profissional de segurança pública
alcance seus objetivos de um trânsito seguro e harmonioso para todos os usuários
das vias públicas do país, é necessário estar atento às disposições regulamentares
que precisam estar corretas no auto de infração. Veja a seguir:
No CTB, estabelece o art. 280:
“Ocorrendo infração prevista na legislação de trânsito, lavrar-se-á auto de
infração, do qual constará:
I - tipificação da infração;
II - local, data e hora do cometimento da infração;
III - caracteres da placa de identificação do veículo, sua marca e espécie, e
outros elementos julgados necessários à sua identificação;
IV - o prontuário do condutor, sempre que possível;
V - identificação do órgão ou entidade e da autoridade ou agente autuador ou
equipamento que comprovar a infração;
VI - assinatura do infrator, sempre que possível, valendo esta como
notificação do cometimento da infração”.

A Portaria nº 59 do DENATRAN, de 25 de outubro de 2007, estabeleceu um


processo unificado em todo o território nacional em relação às informações que devem
constar obrigatoriamente no auto de infração, os campos que são facultativos e a
orientação do seu preenchimento.

103
De acordo com o Anexo I da portaria, o auto de infração deve conter os
seguintes campos:

BLOCO 1 – IDENTIFICAÇÃO DA AUTUAÇÃO

CAMPO 1 – ‘CÓDIGO DO ÓRGÃO AUTUADOR’


Campo obrigatório.

CAMPO 2 – ‘IDENTIFICAÇÃO DO AUTO DE INFRAÇÃO’ – campo que será utilizado


para identificação exclusiva de cada autuação.

Campo obrigatório.

BLOCO 2 – IDENTIFICAÇÃO DO VEÍCULO

CAMPO 1 – ‘PLACA’
Campo obrigatório.

CAMPO 2 – ‘MARCA’
Campo obrigatório.

CAMPO 3 – ‘ESPÉCIE’
Campo obrigatório.

CAMPO 4 – ‘PAÍS’
Campo facultativo.

BLOCO 3 – IDENTIFICAÇÃO DO CONDUTOR

CAMPO 1 – ‘NOME’ – campo para registrar o nome do condutor do veículo.


Campo facultativo para infrações registradas por sistemas automáticos metrológicos
e não metrológicos.

CAMPO 2 – ‘Nº DO REGISTRO DA CARTEIRA DE HABILITAÇÃO OU DA


PERMISSÃO PARA DIRIGIR’ – campo para registrar o nº da CNH ou da Permissão
para Dirigir do condutor do veículo.

Campo facultativo para infrações registradas por sistemas automáticos metrológicos


e não metrológicos.

CAMPO 3 – ‘UF’ – campo para registrar a sigla da UF onde o condutor está registrado.
Campo facultativo para infrações registradas por sistemas automáticos metrológicos
e não metrológicos.

CAMPO 4- ‘CPF’ – campo para registrar o nº do CPF do condutor do veículo.


Campo facultativo para infrações registradas por sistemas automáticos metrológicos
e não metrológicos.

104
BLOCO 4 – IDENTIFICAÇÃO DO LOCAL, DATA E HORA DO COMETIMENTO DA
INFRAÇÃO

CAMPO 1 – ‘LOCAL DA INFRAÇÃO’ – campo para registrar o local onde foi


constatada a infração (nome do logradouro ou da via, número ou marco quilométrico
ou, ainda, anotações que indiquem pontos de referência).

Campo obrigatório.

CAMPO 2 – ‘DATA’ - campo para registrar o dia, mês e ano da ocorrência.


Campo obrigatório.

CAMPO 3 – ‘HORA’ – campo para registrar as horas e minutos da ocorrência.


Campo obrigatório.

CAMPO 4 – ‘CÓDIGO DO MUNICÍPIO’ – campo para registrar o código de


identificação do município onde o veículo foi autuado. Utilizar a tabela de órgãos e
municípios (TOM), administrada pela Receita Federal – MF.

Campo obrigatório, exceto para o Distrito Federal.

CAMPO 5 – ‘NOME DO MUNICÍPIO’ – campo para registrar o nome do Município


onde foi constatada a infração.

Campo obrigatório, exceto para o Distrito Federal.

CAMPO 6 – ‘UF’ – campo para registrar a sigla da UF onde foi constatada a infração.
Campo obrigatório.

BLOCO 5 – TIPIFICAÇÃO DA INFRAÇÃO

CAMPO 1 – ‘CÓDIGO DA INFRAÇÃO’ – campo para registrar o código da infração


cometida.
Campo obrigatório.

CAMPO 2 – ‘DESDOBRAMENTO DO CÓDIGO DE INFRAÇÃO’ - campo para


registrar os desdobramentos da infração.

Campo obrigatório.

CAMPO 3 – ‘DESCRIÇÃO DA INFRAÇÃO’ – campo para descrever de forma clara a


infração cometida.

Campo obrigatório.

CAMPO 4 – ‘EQUIPAMENTO/INSTRUMENTO DE AFERIÇÃO UTILIZADO’ – campo


para registrar o equipamento ou instrumento de medição utilizado, indicando o
número, o modelo e a marca.

105
Campo obrigatório para infrações verificadas por equipamentos de fiscalização.

CAMPO 5 – ‘MEDIÇÃO REALIZADA’ – campo para registrar a medição realizada


(velocidade, carga, alcoolemia, emissão de poluentes, etc).

Campo obrigatório para infrações verificadas por equipamentos de fiscalização.

CAMPO 6 – ‘LIMITE REGULAMENTADO’ – campo para registrar o limite permitido.

Campo obrigatório para infrações verificadas por equipamentos de fiscalização.

CAMPO 7 – ‘VALOR CONSIDERADO’ – campo para registrar o valor considerado


para autuação.

Campo obrigatório para infrações verificadas por equipamentos de fiscalização.

CAMPO 8 – ‘OBSERVAÇÕES’ – campo destinado ao registro de informações


complementares relacionadas à infração.

Campo obrigatório.

BLOCO 6 – IDENTIFICAÇÃO DA AUTORIDADE OU AGENTE AUTUADOR

CAMPO 1 – ‘NÚMERO DE IDENTIFICAÇÃO’ – campo para identificar a autoridade


ou agente autuador (registro, matrícula, outros).
Campo obrigatório.

CAMPO 2 – ‘ASSINATURA DA AUTORIDADE OU AGENTE AUTUADOR’


Campo facultativo para infrações registradas por sistemas automáticos metrológicos
e não metrológicos.

BLOCO 7 – IDENTIFICAÇÃO DO EMBARCADOR OU EXPEDIDOR

CAMPO 1 – ‘NOME’ – campo para registrar o nome do embarcador ou expedidor


infrator.

Campo facultativo.

CAMPO 2 – ‘CPF’ ou ‘CNPJ’

Campo facultativo.

BLOCO 8 – IDENTIFICAÇÃO DO TRANSPORTADOR

CAMPO 1 – ‘NOME’ – campo para registrar o nome do transportador infrator.


Campo facultativo.

CAMPO 2 – ‘CPF’ ou ‘CNPJ’

106
Campo facultativo.

BLOCO 9 - ASSINATURA DO INFRATOR OU CONDUTOR

CAMPO 1 – ‘ASSINATURA’ – campo para assinatura do infrator ou condutor.


Campo facultativo para infrações registradas por sistemas automáticos metrológicos
e não metrológicos.

Se na hora do preenchimento do auto de infração o profissional de segurança


pública deixa de anotar um ou mais campos que a portaria considera como
obrigatório, esse documento pode ser invalidado por inconsistência.

A Resolução nº 561/2015-CONTRAN (Manual Brasileiro de Fiscalização de


Trânsito – Volume II) estabelece as seguintes orientações que os profissionais que
exercem a fiscalização de trânsito devem exercer:
- Não é permitida a lavratura do AIT por solicitação de terceiros. A única
exceção é se o órgão ou entidade de trânsito que esteja fiscalizando as normas de
circulação e conduta identifique a infração e informe ao agente que está fazendo a
abordagem. Neste caso, o agente que verificou a infração deverá confirmar a
autuação no AIT.
- O AIT traduz um ato vinculado na forma da Lei, não havendo limitações com
relação a sua lavratura.
- O agente de trânsito deve priorizar suas ações no sentido de não permitir que
aconteçam infrações de trânsito, devendo tratar a todos com educação e respeito,
sem que deixe de tomar as providências que a lei determina.
- No AIT não poderá conter rasura, emenda, uso de corretivo ou qualquer
tipo de adulteração. O seu preenchimento se dará com letra legível,
preferencialmente, com caneta esferográfica de tinta azul.
- Poderá ser utilizado o talão eletrônico para o registro da infração conforme
regulamentação específica.
- O agente só poderá registrar uma infração por auto. Se for constatada mais
de uma infração que possua em seu código a mesma raiz (três primeiros dígitos),
considerar apenas uma infração, como, por exemplo, veículo sem equipamento
obrigatório e com equipamento obrigatório ineficiente/inoperante, utilizar o código 663-
71 e descrever no campo ‘Observações’ a situação constatada (sem o pneu de estepe
e com o extintor de incêndio vazio).

107
- As infrações podem ser concorrentes ou concomitantes. As infrações
concorrentes são aquelas que ao cometer uma infração já imagina o cometimento
de outra, como, por exemplo, veículo sem as placas (art. 230, IV), por falta de registro
(art. 230, V). Nesse caso, o agente deve fazer um único AIT com base no art. 230, V.
Já as infrações concomitantes são aquelas em que ao cometer uma infração não
exige que outra tenha sido cometida, como, por exemplo, dirigir veículo com a CNH
vencida há mais de trinta dias (art. 162, V) e de categoria diferente para a qual é
habilitado (art. 162, III). Nesses casos, o agente deverá emitir dois AIT diferentes.
-O agente de trânsito, sempre que possível, deverá abordar o condutor do
veículo para constatar a infração. A exceção são os casos que a infração pode ser
comprovada sem precisar da abordagem. Para isto, o Manual estabelece três
situações: a primeira é a “possível sem abordagem” que significa que a infração
pode ser constatada sem a abordagem do condutor; o segundo caso é “mediante
abordagem” que significa que a infração só pode ser constatada se houver a
abordagem do condutor; e por fim, o caso três é “vide procedimentos” que significa
que, em alguns casos, existem situações específicas para abordagem do condutor.
Se o profissional de segurança pública no momento da abordagem deixar de
adotar uma providência para abordagem do condutor e estiver no Manual Brasileiro
de Fiscalização de Trânsito que precisa ser feita a abordagem, o AIT pode ser
invalidado por irregularidade.
O trabalho de registro do cometimento de infração de trânsito pelo profissional
de segurança pública deve ser embasado nas disposições do CTB, das resoluções
do CONTRAN e nas orientações constantes do Manual Brasileiro de Fiscalização de
Trânsito (volumes I e II).

Para a tipificação da infração, a Portaria nº 59/2007-DENATRAN estabelece


o registro do código da infração e seu desdobramento (que podem ser
coletados na citada portaria ou no Manual Brasileiro de Fiscalização de Trânsito
na ficha de procedimentos para cada infração relatada) e a descrição da
infração.

Embora a portaria não tenha estabelecido o enquadramento no dispositivo do


CTB infringido, o art. 280, I do CTB se refere à tipificação como a exata
correspondência entre a conduta observada pelo agente e a sua previsão no CTB.

108
Por isto, caso não haja campo específico para anotação do dispositivo do CTB no auto
de infração utilizado por sua corporação, é conveniente anotar no campo “observação”
o artigo da infração constatada, porque de acordo com a hierarquia das leis, uma
portaria ou resolução não pode desobrigar prescrição estabelecida em lei federal.
Se o preenchimento do AIT for feito manualmente em formulário de papel,
deve ser observado um cuidado especial na grafia das seguintes letras na hora de
registrar a placa do veículo: D, O e Q; U e V; I e L; M e W; E e F; Y, K e R; S e Z. O
mesmo cuidado deve ser observado no preenchimento do código da infração e seu
desdobramento, pois um erro na sequência da numeração pode gerar a inconsistência
entre o código/desdobramento, a descrição e a tipificação da infração. O mesmo
cuidado também tem que ter na hora de escrever o nome e o código do município de
cometimento da infração.
As infrações de estacionamento devem ser registradas com o local exato:
nome da rua, quadra/lote (ou número) e setor. As infrações de avanço de sinal
vermelho precisam da indicação das ruas que compõem o cruzamento e do setor. As
infrações de excesso de velocidade necessitam, além do trecho da via em que foi
medida, o sentido de circulação (norte-sul, por exemplo).

Quando são utilizados os talões eletrônicos, fica mais fácil para o profissional
de segurança pública, pois os dados já estão registrados no aparelho e pode
ser programado para encerrar o procedimento e lançar todos os dados que são
obrigatórios numa autuação e também ajuda na questão de erros e rasuras,
porque as informações não são escritas e sim digitadas.

Finalizando

Neste módulo, você estudou que:


- Processo administrativo de trânsito é o caminho a ser percorrido desde o
cometimento da infração de trânsito até a efetiva punição do infrator. Ele se inicia
com a autuação, que é o registro do cometimento da infração pelo profissional de
segurança pública, passa pelas notificações de autuação e de penalidade, com as
quais são abertos os acessos à defesa da autuação e o recurso à JARI,
respectivamente. Por fim, caso o infrator não tenha recorrido, ainda lhe resta o recurso

109
à segunda instância, com o qual se encerra o processo administrativo de julgamento
de infrações e penalidades. Esgotados os recursos, a penalidade será aplicada.
- A efetiva punição do infrator se inicia com o registro do cometimento da
infração de trânsito pelo profissional de segurança pública. O preenchimento do auto
de infração de trânsito é de fundamental importância para que as outras etapas
aconteçam. Portanto, é importante estar atento às disposições regulamentares que
orienta a lavratura do AIT para que todo o processo administrativo alcance seu
objetivo, em especial as disposições do art. 280 do CTB, a Portaria nº 59/2007-
DENATRAN e as prescrições para fiscalização de trânsito constantes no Manual
Brasileiro de Fiscalização de Trânsito (volumes I e II).

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Lei n° 9.503, de 23 de setembro de 1997. Institui o Código de Trânsito


Brasileiro. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9503Compilado.htm. Acesso em 24 de maio
de 2021.

BRASIL. Lei nº 13.675, de 11 de junho de 2018. Disciplina a organização e o


funcionamento dos órgãos responsáveis pela segurança pública, nos termos do § 7º
do art. 144 da Constituição Federal; cria a Política Nacional de Segurança Pública e
Defesa Social (PNSPDS); institui o Sistema Único de Segurança Pública (SUSP);
altera a Lei Complementar nº 79, de 7 de janeiro de 1994, a Lei nº 10.201, de 14 de
fevereiro de 2001, e a Lei nº 11.530, de 24 de outubro de 2007; e revoga dispositivos
da Lei nº 12.681, de 4 de julho de 2012. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/L13675.htm. Acesso em
12 de abril de 2021

CONTRAN. Resolução nº 66, de 23 de setembro de 1998. Institui tabela de


distribuição de competência dos órgãos executivos de trânsito. Disponível em:
https://www.gov.br/infraestrutura/pt-br/assuntos/transito/conteudo-
denatran/resolucoes-contran. Acesso em 20 de abril de 2021.

CONTRAN. Resolução n° 205, de 20 de outubro de 2006. Dispõe sobre os


documentos de porte obrigatório e dá outras providências. Disponível em:
https://www.gov.br/infraestrutura/pt-br/assuntos/transito/conteudo-
denatran/resolucoes-contran. Acesso em 04 de maio de 2021.

CONTRAN. Resolução n° 299, de 04 de dezembro de 2008. Dispõe sobre a


padronização dos procedimentos para apresentação de defesa de autuação e
recurso, em 1ª e 2ª instâncias, contra a imposição de penalidade de multa de trânsito.
Disponível em: https://www.gov.br/infraestrutura/pt-br/assuntos/transito/conteudo-
denatran/resolucoes-contran. Acesso em 19 de maio de 2021.

CONTRAN. Resolução n° 357, de 02 de agosto de 2010. Estabelece diretrizes para a


elaboração do Regimento Interno das Juntas Administrativas de Recursos de
Infrações – JARI. Disponível em: https://www.gov.br/infraestrutura/pt-
br/assuntos/transito/conteudo-denatran/resolucoes-contran. Acesso em 21 de abril de
2021.

CONTRAN. Resolução n° 389, de 14 de junho de 2011. Referenda a deliberação nº


112 de 28 de junho de 2011, do Presidente do Conselho Nacional de Trânsito -
CONTRAN, publicada no Diário Oficial da União de 29 de junho de 2011, que altera o
prazo estipulado no art. 3º da Resolução nº 371, de 10 de dezembro de 2010, que
aprova o Manual Brasileiro de Fiscalização de Trânsito – Volume I – Infrações de
competência municipal, incluindo as concorrentes dos órgãos e entidades estaduais

111
de trânsito e rodoviários. Disponível em: https://www.gov.br/infraestrutura/pt-
br/assuntos/transito/conteudo-denatran/resolucoes-contran. Acesso em 22 de abril de
2021.

CONTRAN. Resolução n° 432, de 23 de janeiro de 2013. Dispõe sobre os


procedimentos a serem adotados pelas autoridades de trânsito e seus agentes na
fiscalização do consumo de álcool ou de outra substância psicoativa que determine
dependência, para aplicação do disposto nos arts. 165, 276, 277 e 306 da Lei nº 9.503,
de 23 de setembro de 1997 – Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Disponível em:
https://www.gov.br/infraestrutura/pt-br/assuntos/transito/conteudo-
denatran/resolucoes-contran. Acesso em 25 de abril de 2021.

CONTRAN. Resolução n° 453, de 26 de setembro de 2013. Disciplina o uso de


capacete para condutor e passageiro de motocicletas, motonetas, ciclomotores,
triciclos motorizados e quadriciclos motorizados. Disponível em:
https://www.gov.br/infraestrutura/pt-br/assuntos/transito/conteudo-
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CONTRAN. Resolução n° 514, de 18 de dezembro de 2014. Dispõe sobre a Política


Nacional de Trânsito, seus fins e aplicação, e dá outras providências. Disponível em:
https://www.gov.br/infraestrutura/pt-br/assuntos/transito/conteudo-
denatran/resolucoes-contran. Acesso em 14 de abril de 2021.

CONTRAN. Resolução n° 561, de 15 de outubro de 2015. Aprova o Manual Brasileiro


de Fiscalização de Trânsito, Volume II – Infrações de competência dos órgãos e
entidades executivos estaduais de trânsito e rodoviários. Disponível em:
https://www.gov.br/infraestrutura/pt-br/assuntos/transito/conteudo-
denatran/resolucoes-contran. Acesso em 22 de abril de 2021.

CONTRAN. Resolução n° 619, de 06 de setembro de 2016. Estabelece e normatiza


os procedimentos para a aplicação das multas por infrações, a arrecadação e o
repasse dos valores arrecadados, nos termos do inciso VIII do art. 12 da Lei nº 9.503,
de 23 de setembro de 1997, que institui o Código de Trânsito Brasileiro – CTB, e dá
outras providências. Disponível em: https://www.gov.br/infraestrutura/pt-
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CONTRAN. Resolução n° 688, de 15 de agosto de 2017. Estabelece diretrizes para a


elaboração do Regimento Interno, gestão e operacionalização das atividades dos
Conselhos Estaduais de Trânsito (CETRAN) e do Conselho de Trânsito do Distrito
Federal (CONTRANDIFE). Disponível em: https://www.gov.br/infraestrutura/pt-
br/assuntos/transito/conteudo-denatran/resolucoes-contran. Acesso em 18 de abril de
2021.

112
CONTRAN. Resolução n° 723, de 06 de fevereiro de 2018. Referendar a Deliberação
CONTRAN nº 163, de 31 de outubro de 2017, que dispõe sobre a uniformização do
procedimento administrativo para imposição das penalidades de suspensão do direito
de dirigir e de cassação do documento de habilitação, previstas nos arts. 261 e 263,
incisos I e II, do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), bem como sobre o curso
preventivo de reciclagem. Disponível em: https://www.gov.br/infraestrutura/pt-
br/assuntos/transito/conteudo-denatran/resolucoes-contran. Acesso em 10 de maio
de 2021.

CONTRAN. Resolução n° 788, de 18 de junho de 2020. Referenda a Deliberação


CONTRAN nº 180, de 30 de dezembro de 2019, que dispõe sobre os requisitos para
emissão do Certificado de Registro e Licenciamento de Veículo em meio eletrônico
(CRLV-e). Disponível em: https://www.gov.br/infraestrutura/pt-
br/assuntos/transito/conteudo-denatran/resolucoes-contran. Acesso em 05 de maio
de 2021.

CONTRAN. Resolução n° 789, de 18 de junho de 2020. Consolida normas sobre o


processo de formação de condutores de veículos automotores e elétricos. Disponível
em: https://www.gov.br/infraestrutura/pt-br/assuntos/transito/conteudo-
denatran/resolucoes-contran. Acesso em 11 de maio de 2021.

CONTRAN. Resolução n° 798, de 02 de setembro de 2020. Dispõe sobre requisitos


técnicos mínimos para a fiscalização da velocidade de veículos automotores, elétricos,
reboques e semirreboques. Disponível em: https://www.gov.br/infraestrutura/pt-
br/assuntos/transito/conteudo-denatran/resolucoes-contran. Acesso em 03 de maio
de 2021.

CONTRAN. Resolução n° 819, de 17 de março de 2021. Dispõe sobre o transporte de


crianças com idade inferior a dez anos que não tenham atingido 1,45 m (um metro e
quarenta e cinco centímetros) de altura no dispositivo de retenção adequado.
Disponível em: https://www.gov.br/infraestrutura/pt-br/assuntos/transito/conteudo-
denatran/resolucoes-contran. Acesso em 28 de abril de 2021.

DENATRAN. Portaria nº 59, de 25 de outubro de 2007. Estabelece os campos de


informações que deverão constar do Auto de Infração, os campos facultativos e o
preenchimento, para fins de uniformização em todo o território nacional. Disponível
em: https://www.gov.br/infraestrutura/pt-br/assuntos/transito/conteudo-
denatran/portarias-2007-denatran. Acesso em 21 de maio de 2021.

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CRÉDITOS

Carlos Antonio Borges

Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Goiás – 1994. Especialista em


Educação pela Academia de Polícia Militar de Goiás – 1989. Foi Comandante do
Batalhão de Trânsito em Goiânia – 2004/2007, Comandante da Academia de Polícia
Militar – 2007/2008 e 2015/2016, Comandante do Policiamento Rodoviário –
2013/2015, Conselheiro Representante da PMGO no Conselho Estadual de Trânsito
– 2009/2012, Subcomandante Geral da PMGO – 2016/2018 e Superintendente da
Academia Estadual de Segurança Pública / SSPGO – 2018.

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