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DIREITO PENAL DO TRÂNSITO

Autoria: Iverson Kech Ferreira

1ª Edição
Indaial - 2021

UNIASSELVI-PÓS
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090

Reitor: Prof. Hermínio Kloch

Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol

Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD:


Carlos Fabiano Fistarol
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Jóice Gadotti Consatti
Norberto Siegel
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Marcelo Bucci
Jairo Martins
Marcio Kisner

Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais

Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Copyright © UNIASSELVI 2021


Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
UNIASSELVI – Indaial.

F383d

Ferreira, Iverson Kec

Direito penal do trânsito. / Iverson Kech Ferreira – Indaial:


UNIASSELVI, 2021.

167 p.; il.

ISBN 978-65-5646-451-0
ISBN Digital 978-65-5646-452-7
1. Crimes de trânsito. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo
da Vinci.

CDD 341
Impresso por:
Sumário

APRESENTAÇÃO.............................................................................5

CAPÍTULO 1
DIREITO PENAL DE TRÂNSITO......................................................9

CAPÍTULO 2
DIREITO PENAL DE TRÂNSITO....................................................51

CAPÍTULO 3
A CONDUTA PARA O CRIME....................................................... 113
APRESENTAÇÃO
Falar sobre o trânsito e suas perspectivas é sempre muito necessário.
Estudar as suas nuances e atributos é atividade de grande importância, não
apenas para o desenvolvimento profissional, mas para apresentar o sentido mais
potencial do significado da palavra cidadania.

Por toda a história da civilização, entendemos que o ser humano, em
constante evolução desde seus primeiros passos, necessita movimentar-se para
sua própria sobrevivência e foi com a convivência e os encontros sociais que
estabeleceram uma vida em comunhão, definindo o início das sociedades a partir
da necessidade de integração humana. A revolução agrícola, a revolução industrial
e agora a revolução tecnológica, elevaram o conhecimento das sociedades que
atingem níveis de desenvolvimento surpreendentes, mas ainda o movimentar-se
possui fundamental importância, e seja de qual forma que esse movimento ocorra,
ele faz parte da urbanidade e sociabilidade das pessoas das cidades.

Parte então de uma formação cultural e tradicional, os caminhos que
tomam os moradores de uma sociedade, para seus afazeres diários, com o
desenvolvimento tecnológico, o progresso das indústrias e a necessidade de
locomover-se de maneira mais ágil, o cidadão assegura o crescer das cidades, a
partir de seu próprio movimento, que muitas vezes toma novos caminhos.

As transformações sociais ocorridas, junto aos paradigmas que são alterados


vez ou outra, revelam padrões que devem ser analisados e regulados, por isso,
os transportes de tração animal que à sua época eram evidenciados como
padrão, hoje são decididos em projetos de lei e em normas que os proíbem.
Essas mudanças são essenciais, mas elaboram gradativamente uma cultura
nova. A maneira de preconizar o novo ambiente, a partir de suas qualidades,
é normatizando seu uso e seus atributos, como hoje, os veículos automotores,
bicicletas, motocicletas e outros meios de transporte, tomaram o lugar das antigas
charretes, também passam por uma adaptação legal para caminharem livremente
por nossas ruas e avenidas. Isso envolve todos os atores pertencentes nas
sociedades em geral, que precisam além de conviver, entender que os espaços
que devem ser divididos entre todos, estão cada vez mais apertados. Isso nos
remete que além do acentuado crescimento populacional das sociedades, do
envolvimento tecnológico e seu substancial desempenho, há também a questão
da mobilidade e da acessibilidade. Essas são questões que se relacionam
aos direitos humanos da pessoa e aos direitos fundamentais, declarados por
importantes pactos internacionais e pela nossa Constituição maior também.
Como vamos ver, o aspecto da mobilidade importa não apenas para a livre
e saudável movimentação de pessoas presentes nas cidades, mas também se
relaciona diretamente às questões que envolvem a ampla cidadania e a promoção
humana. O que as leis de trânsito podem fazer por isso? Podem realizar muita
coisa, principalmente em seu aspecto mais importante, que é o pedagógico.
Instruir e educar seja talvez o mais importante recado que políticas públicas
que se inserem na norma maior do trânsito tenham para transmitir, tanto que a
lei prevê situações de ensino e formação não apenas de condutores, mas de
cidadãos capacitados que convivam em um ambiente harmônico. No entanto, a
mobilidade está destacada em planos nacionais, o que revela sua real importância
no ambiente cívico e legal. Sua norma maior destaca que somente pela fruição
salutar de todos os componentes que fazem parte do mecanismo do trânsito,
que poderemos alcançar um melhor desempenho em busca do equilíbrio. Assim,
você verá que realmente há uma importância maior nos debates, discussões e
discursos acerca da mobilidade urbana, ressaltando a importância de seu debate
frequente em todos os níveis sociais, políticos e legais.

Uma política nacional de trânsito deve estar de olho em tudo isso,


sua importância cresce conforme a população das sociedades, e assim a
responsabilidade de políticas públicas no trânsito que revelem soluções aos
problemas mais essenciais na área, é cada vez maior.

O trânsito não é um tema que se possa simplesmente normatizar com


normas e leis, é necessário mais, pois envolve a cultura, os trejeitos e maneiras
de cada sociedade. Reflete a educação de cada pessoa, e faz parte essencial
do desenvolvimento pessoal de cada um, como do progresso da sociedade
inteira, por esse motivo, você verá a princípio, a importância da formação, das
campanhas e políticas de qualidade sobre o tema.

O trânsito no Brasil ainda é considerado como uma batalha sangrenta, que


estamos perdendo. Os números da violência refletem o quanto é necessário mais
envolvimento do poder público e das pessoas ao redor. Devido aos inúmeros
crimes cometidos no trânsito, em que é possível enxergar a estupidez humana
em suas devidas proporções, não há espaço para o meio termo, mas sim da
punição que advém da norma penal. Veremos como a norma penal de trânsito
age na sua concepção mais especial, e qual é a forma de resposta que ela dá a
toda sociedade pelos atos criminosos cometidos no trânsito, mas vemos também
que falhamos em algum ponto, pois se o trânsito tem uma ligação intrínseca
com a educação e com a convivência, então não fomos capazes de garantir a
convivência e a ampla cidadania, por intermédio do conhecimento.
Então vamos analisar nesse estudo sobre a lei penal de trânsito no Brasil,
num primeiro momento a história do Código de Trânsito Brasileiro, com o devido
enfoque na mobilidade urbana e acessibilidade. A política nacional e o sistema
nacional de trânsito também serão estudados aqui, é importante entender as
possibilidades que existem para que se possa contemplar a evolução e mudanças
positivas.

No segundo capítulo, trataremos sobre os crimes e as infrações penais de


trânsito, bem como, identificaremos os elementos do crime, as contravenções,
infrações, e quais as medidas cabíveis para esse tipo de desvio.

Por fim, iremos analisar se é possível o concurso de agentes em crimes de


trânsito, a imputabilidade penal e a extinção da punibilidade no âmbito dos crimes
de trânsito. Vamos lá!
C APÍTULO 1
DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes


objetivos de aprendizagem:

Saber:
• Conhecer por intermédio da História, o nascimento das normas de trânsito no
Brasil e como o Código de Trânsito Brasileiro influenciou na criação da Política
Nacional de Trânsito.
• Examinar os antecedentes ao CTB e prescrever a importância da legalização
de normas especializadas para a mobilidade urbana e trânsito.
• Analisar como as normas de trânsito são entendidas pelas autoridades
brasileiras. Entender o sistema Nacional de Trânsito a partir da Política
Nacional.
• Observar as fontes que originaram as políticas públicas de trânsito no Brasil.

Fazer:
• Interpretar a origem do direito penal de trânsito.
• Entender o que significa o trânsito para a mobilidade urbana e quais os motivos
para legalizar um código nacional de trânsito.
• Analisar por meio de estudos específicos a legislação da área.
• Definir a importância de uma política para o trânsito nacional.
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

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Capítulo 1 DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Prezado leitor! Seja muito bem-vindo nessa jornada sobre as leis de trânsito
no Brasil! Vamos começar nossos estudos em tempos anteriores à atual legislação
que normatiza os eventos relacionados à mobilidade urbana e ao trânsito.

Serão com as normas que antecedem o atual código, que poderemos ter
uma visão ampliada dos motivos que transformaram a legislação nacional e todo
o seu arcabouço. Mais que isso, veremos que no Brasil as primeiras normas que
manifestaram a cultura do trânsito no século passado, foram tomando cada vez
mais proporções evolutivas, que se reinterpretavam a cada passo, provocada por
mudanças tão vorazes, como a tecnologia, e tais regras irromperam pelo tempo
até alcançar os dias atuais, que são estruturados pela Constituição de 1988.
Dessa forma, você verá que todos os direitos fundamentais e direitos humanos
devem ser também considerados pelas normas de trânsito atuais, seguindo os
preceitos básicos da Carta Constitucional.

Entretanto, a necessidade de uma legislação que refletisse os modernos


princípios referentes à mobilidade, advinha de um sentido de mudanças nas
ocupações dos espaços públicos, que surgiram com a alta rotatividade tanto de
pedestres, como de veículos automotores ou não, mas também foi necessário
tratar a índole do homem, que por trás de volantes conduzem máquinas que
possuem o sentido da locomoção, e que se utilizadas de forma errada, podem ser
fatais.

Aprofundar um estudo sobre o trânsito e suas normas reguladoras, significa


determinar os direitos e deveres do homem em sociedade, levando sempre em
consideração o outro, o próximo, o vizinho e se a convivência social é objeto de
estudo de diversas pesquisas sociológicas, filosóficas e da criminologia, também
faz sua aparição quando tratamos de um assunto que por sua importância
demonstra a sociabilidade. No entanto, essa civilidade ainda precisa de reparos e
normas que mostrem os caminhos para uma melhor mobilidade urbana.

Veremos aqui, neste capítulo, outro ponto que define as ações penais,
consideradas pelo Código de Trânsito Brasileiro, o CTB, e qual a sua visão ao que
ficou definido como crime e desvio, ou infração de trânsito. Para isso, a influência
da política nacional de trânsito é muito importante. As políticas públicas, de fato,
acabam incentivando as ações dentro do seu universo aplicável, definem o
caminho a se tomar, realçam estratégias e planejamentos, mas o seu legado que
mais importa está intimamente ligado ao amplo conceito de cidadania. A formação,
a educação e a convivência de pedestres, veículos diversos e motoristas somente
pode se dar através de uma promoção humana que considere a qualificação

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DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

de seus cidadãos, através de instrução e das políticas públicas de qualidade


que demonstrem sua efetiva importância na ascensão e no estímulo da ampla
cidadania.

Dessa forma, convidamos você, a acompanhar neste capítulo, um enfoque


especial sobre a história da lei maior do trânsito nacional, naquilo que chamamos
de antecedentes do Código de Trânsito Brasileiro. Veremos também a importância
da mobilidade urbana e sua normatização pelo Plano Nacional de Mobilidade
Urbana, de 2012, alertando para uma saudável convivência no sentido de
locomoção nos centros urbanos e rurais. A legislação do trânsito será vista pelo
acompanhamento do CTB e de seus capítulos, bem como, das competências de
seus entes mais importantes, espalhados Brasil afora.

Por fim, veremos ainda neste capítulo, qual a importância da Política


Nacional de Trânsito, junto com o Sistema Nacional de Trânsito, dentro de toda
essa estrutura legal, e qual sua real influência para mudanças efetivas contra a
crescente violência no trânsito. Será o código penal de trânsito ou uma política
pública de qualidade, capaz de causar essa mudança?

2 ANTECEDENTES E HISTÓRIA DO
CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO
Com o passar do tempo, a legislação de trânsito no Brasil e no mundo evoluiu
conforme o desenvolvimento das sociedades. O progresso socioeconômico
definido pela ampla globalização do capital, fez com que até comunidades de
países considerados emergentes, migrassem para os novos aparatos tecnológicos
que chegavam. O transporte da charrete, da movimentação e empuxo por tração
animal, foi ficando obsoleto, em seu lugar, motores com potência pré-definida
passaram a movimentar a vida de alguns, até que se tornaram muitos. A população
mundial cresceu, nessas últimas décadas que iniciam o século XX, de uma forma
estonteante, e com essa expansão a movimentação também exerceu um papel
importante nos estudos das cidades e nos seus planejamentos.

Fazer fluir essa onda civilizatória crescente era o desafio, junto disso, prezado
leitor, você pode perceber que há diferentes modos de transitar: pedestres,
motoristas, condutores, ciclistas, todos em uma relação de convívio na mesma
sociedade, motivados pelo mesmo objetivo de movimentar-se.

Contudo, ao se revelar mais que uma condição de urbanidade e civilidade,


mas também, de comércio, emprego e agilidade nos afazeres, essa atividade
precisava ser regulamentada por um código de leis que, nos dias atuais, pudessem

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Capítulo 1 DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

fazer valer a experiência adquirida pelos tempos passados. Esse processo de


regularização se iniciou por volta de 1910, com o Decreto de outubro daquele
ano, estabelecendo regras para o serviço de motorneiro, que devem zelar pela
segurança de todos.

Esse trabalho que se iniciava no ano de 1900, levou muito tempo para ser
normatizado pelos procedimentos regulamentares de seu trabalho, e devido a
inúmeras queixas de pedestres e passageiros quanto ao serviço do condutor,
surgiu a norma. Veja, prezado estudante, que seu primeiro intuito foi confabular
um problema cívico, para depois preocupar-se com as tecnicidades da tecnologia
que era utilizada (DAMATTA, 1997).

Dessa forma, a norma regula uma mudança cultural, envolvendo mais um


personagem na trama do trânsito que se formava então.

Convidamos você a pesquisar e conhecer um pouco mais da


história dos primeiros atos regulamentadores dos motorneiros e
condutores profissionais, conhecido como Ato 600 de abril de 1934,
que pode ser encontrado no site de documentação do Estado de
São Paulo. Ali você poderá notar, prezado estudante, como eram
realizados os pedidos de inscrição para o exame de habilitação
na época, bem como, a própria diferença cultural e cognitiva
daquele tempo: http://documentacao.saopaulo.sp.leg.br/iah/fulltext/
atosgovernoprovisorio/AGP0600-1934.pdf

Já em janeiro de 1922, um decreto legislativo (n° 4.460) abarcou a mudança


das estruturas e também da cultura de então, quando proíbe a circulação de
carros de boi nas vias públicas, informando a carga máxima a ser considerada,
bem como, proibindo a construção de qualquer instalação que proíba o livre fluir
do trânsito nas vias públicas. Naquela época em vias afastadas, hoje nas rodovias
federais, era comum que proprietários de animais instalassem pequenas porteiras
para dificultar a fuga de seus animais. Sabia que esse decreto se utilizou, pela
primeira vez, da expressão rural “mata-burros” para identificar os impeditivos
que queria proibir? Aqui, a mudança era também cultural, além de demonstrar a
identificação dos veículos automotores como o futuro no país, já naquela época.

Em 1927, a preocupação com a construção, conservação e delineamento das


estradas de rodagem federais, determinou a criação do Decreto Legislativo 5.141

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DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

de 5 de janeiro, que iniciava a se importar com a tributação de veículos importados,


considerando essa verba na melhoria e conservação das vias rodoviárias. O fator
tributo aos proprietários de autos que se utilizavam das malhas viárias passou
então a ter um respaldo da União.

Após o decreto 18.323 de junho de 1928, estabelecia-se as competências


entre a União, os Estados e os Municípios, acerca de diversas ordens de
origem tributária, de conservação das estradas, vias, canteiros e de sinalização.
A competência aqui se valia pela titularidade da estrada ou via, ou seja: a qual
desses entes ela pertencia, pertenciam também seus tributos devidos. Neste
decreto, você encontra pela primeira vez, além da distribuição das competências,
um regulamento para o tráfego de veículos de fora do país, normas para a
efetiva participação da polícia nas estradas, e para os importantes avisos dos
sinalizadores nas estradas e vias diversas.

Veja, prezado estudante, que o Decreto 18.323 de junho


de 1928 trazia em sua redação uma influente questão: além da
obrigatoriedade do condutor pagar uma licença prévia para o
município de origem para trafegar em suas vias, permitia a curiosa
situação de que qualquer pessoa do povo que possuísse “notória
idoneidade”, poderia ratificar e reconhecer as infrações que
presenciasse, encaminhando-as às autoridades competentes, e
ainda, recebendo metade da multa aplicada ao suposto infrator.
Para o sociólogo Raimundo Faoro, essa situação representa traços
muito fortes na cultura nacional do patrimonialismo brasileiro e
da representação de autoridade certificada a alguns cidadãos
considerados ilustres (FAORO, 2001). Aqui então, o código também
servia para conferir importância às elites e classes estabelecidas,
considerados mais cidadãos que outros, pela própria norma.

Foi somente em 1941, mais de dez anos passados da última norma conferida
ao trânsito, que surgiu o primeiro Código Nacional de Trânsito, pelo Decreto Lei
2.994. Porém, sua vida foi muita curta, sendo revogado pelo Decreto Lei 3.651,
que confirmava e determinava a competência dos Estados para a regulamentação
do trânsito de veículos em suas rodovias e estradas, desde que respeitando
o decreto que institui a legislação nacional. Essa possibilidade iniciava a
descentralização da administração e da legislação das normas, que poderiam ser
realizadas também nos Estados.

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Capítulo 1 DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

Veja que essas normas que são mais antigas que o atual CTB possuem
fundamental importância na criação da própria lei maior do trânsito, uma vez que
dispuseram subsídios culturais e históricos para sua criação.

O segundo Código Nacional de Trânsito surgiu com a Lei 5.108 de


setembro de 1966, adotando novas formas de controles sobre a propriedade e
o uso de veículos automotores. Atribui competência aos Estados para que esses
confirmassem regras que respeitassem as particularidades e idiossincrasias
locais.

Essas normas complementam a legislação nacional criada no código,


que estabeleceu as competências nacional, estadual, distrital e municipal. Foi
função dele também, a criação do Registro Nacional de Veículos Automotores, o
RENAVAN, obtendo o Estado um maior controle sobre a utilização dos veículos
pelos particulares.

Foi nessa época, prezado estudante, que houve a extinção dos


Conselhos Municipais de Trânsito, que passaram a ser gerenciados então
por um departamento nacional, o Conselho Nacional de Trânsito, conhecido
por CONTRAN. Era função desse departamento determinar quais seriam os
equipamentos obrigatórios para os veículos circularem com segurança, criando a
Junta Administrativa de Recursos de Infração (JARI), caso essas recomendações
não fossem seguidas pelos proprietários de veículo automotor.

Entre tantos decretos, normas e sanções, finalmente em 1997 o Código de


Trânsito Nacional foi sancionado (CTB), instituído pela Lei 9.503 daquele ano.

Note que, o novo código de normas nacionais recepcionou todas as


resoluções anteriores do Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN), e ainda,
designou a esse órgão que fizesse uma revisão das resoluções produzidas
anteriormente, afastando aquelas que por ventura entrassem em conflito com
a nova lei, e expedindo novas deliberações que pudessem ampliar a perfeita
execução do Código que surgia.

2.1 MOBILIDADE URBANA E O


TRÂNSITO
Uma das questões mais influentes acerca da mobilidade urbana é como fazer
fluir a movimentação de um grande número de pessoas e veículos nas sociedades.
O dilema é cada vez mais interligado à educação e às políticas públicas, quando
numa coletividade devem ser considerados direitos diversos para um melhor

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DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

convívio. Direitos como os direitos fundamentais elencados na Constituição de


1988, que revelam a educação, saúde, saneamento básico, segurança e entre
outros, inspiram, uma vez respeitados pelos nossos governantes, para uma
sociedade mais saudável. Por esse motivo, políticas públicas de qualidade, tão
necessárias em qualquer ramificação social, também fazem parte do Direito no
Trânsito, da mobilidade e das normas que a regularizam.

É por essa perspectiva que todas as normas, desde normas escritas antes
da confecção da Constituição, devem seguir os seus parâmetros e princípios
basilares, norteadores de seus conceitos. As regras anteriores precisam entrar
em conexão aos ditames legais constitucionais, sendo destituídas normas
de caráter conflitantes. Esse processo é conhecido por Constitucionalização
do Direito. Aquelas normas conflitantes são consideradas inconstitucionais, e por
isso, desligadas de todos os aparatos legais.

Assim, se resolve os problemas das normas muito antigas, como algumas


disposições que podem ser encontradas no CTB, no Código Penal ou até mesmo,
no Código Tributário, que são anteriores à Carta Magna.

Entretanto, resolver o problema no âmbito legal não significa a resolução das


adversidades sociais diversas, e entre elas a mobilidade. As políticas públicas de
qualidade, incentivadoras da educação e da promoção humana, influenciam muito
nas atitudes que as pessoas têm, hora ou outra no trânsito, bem como, na vida
diária.

Constitucionalizar o direito significa também atentar a essas atividades tão


essenciais de nossos governantes, referentes à organização social.

Veja que atitude interessante e muito intuitiva do site smartkids, ou


crianças inteligentes. Como se trata de um sítio de internet direcionado
às crianças e ao seu desenvolvimento, utiliza-se de linguagem inclusiva
especialmente desenvolvida para esse público. Na página podem ser
encontradas dicas de como a criança precisa se comportar no trânsito,
além de inúmeros ensinamentos acerca dos cuidados no trânsito, a
interpretação dos sinais que envolvem a mobilidade no trânsito e dos
direitos e deveres dos cidadãos, desde motorista a pedestres. O site
apresenta uma série de atividades lúdicas como o famoso “jogo dos
sete erros”, desenhos para colorir e adivinhação quanto aos sinais de
trânsito apresentados. É, certamente, desde pequeno que se ensina a
criança a compreender o seu lugar no mundo, seus direitos e deveres

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Capítulo 1 DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

para que se torne um cidadão consciente e um futuro motorista


reflexivo. O conteúdo pode ser acessado no site: http://www.smartkids.
com.br/especiais/transito.html

Note, prezado estudante, que trânsito e mobilidade cada vez mais recebem
um maior espaço nas discussões e debates que afirmam as prioridades no país,
que advertem sobre as essenciais melhorias na infraestrutura das estradas e
suas sinalizações, na estruturação da segurança pública, no transporte público de
qualidade.

A mobilidade também nos faz refletir em acessibilidade, isso porque, quando


se pensa em trânsito, devem ser incluídos todos os seus personagens e atores
que participam dessa atividade. Ciclistas, pedestres, motoristas, os trens, metrôs
e o transporte público, todos fazem parte desse convívio, e aqui as pessoas
precisam de um melhor acesso aos seus itinerários mais comuns. Desenvolver
esses acessos significa pensar em políticas de inclusão, bem como em cidadania.
A atividade da segurança pública é outra que agradece uma melhor acessibilidade,
pela sua indicação dos caminhos mais seguros a serem atravessados, diminuindo
assim índices de acidentes e criminalidade ocorridos em locais como becos,
propícios a essa atividade ilícita.

Por esse motivo, prezado estudante, em janeiro de 2012 foi sancionada a


Lei n° 12.587 dispondo sobre a movimentação urbana. A Política Nacional de
Mobilidade Urbana (PNMU) segue o planejamento constitucional, tanto a redação
do artigo 21, como do artigo 182 da CF/1988:

Art. 21. Compete à União:


XX - Instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano,
inclusive habitação, saneamento básico e transportes
urbanos;
Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo
Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas
em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento
das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus
habitantes. (BRASIL, C.F. 1988) (Grifo nosso).

Ambos os artigos objetivam a criação de normas e políticas públicas de


desenvolvimento da mobilidade urbana pela CF/1988, que projeta a melhoria na
acessibilidade e mobilidade de todos, e são por esses objetivos que chegamos
aos princípios mais elementares do Plano, que tem como propósito principal
garantir o bem-estar dos cidadãos e o desenvolver de suas atividades e funções
sociais, realçando o aspecto da ampla cidadania. Nesse sentido, o PNMU:

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DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

FIGURA 1 – FINALIDADE DO PNMU

FONTE: PNMU (2012)

A PNMU é organizada a partir de determinados princípios básicos, elencados


em seu artigo 5°:

I - acessibilidade universal;
II - desenvolvimento sustentável das cidades, nas dimensões
socioeconômicas e ambientais;
III - equidade no acesso dos cidadãos ao transporte público
coletivo;
IV - eficiência, eficácia e efetividade na prestação dos serviços
de transporte urbano;
V - gestão democrática e controle social do planejamento e
avaliação da Política Nacional de Mobilidade Urbana;
VI - segurança nos deslocamentos das pessoas;
VII - justa distribuição dos benefícios e ônus decorrentes do
uso dos diferentes modos e serviços;
VIII - equidade no uso do espaço público de circulação, vias e
logradouros;
IX - eficiência, eficácia e efetividade na circulação urbana
(PNMU, p.3, 2012).

Esses princípios elencados demonstram que o embasamento de qualquer


lei de trânsito deve incentivar a mobilidade e seu importante contexto na vida das
pessoas, e ainda, propiciar uma melhor convivência entre todos que se utilizam
dos espaços públicos. Significa que as áreas de movimentação dos cidadãos são
interpretadas como locais de promoção humana e de convivência, devendo ser
adaptadas para o encontro de pessoas diversas.

Para que surta efeito, a democratização dos espaços deve ser entendida
como fonte para a ampla cidadania, diminuindo empecilhos para a sadia
convivência entre os diversos tipos de transporte e os pedestres, e para isso
deve haver o envolvimento prático das instituições nos afazeres e no dia a dia do
trânsito, e o empenho da sociedade em geral. Isso significa que a participação das
organizações diversas da sociedade civil, presentes nas cidades, devem amplificar
o debate e a discussão acerca das atividades relacionadas à mobilidade, que é
um direito de todos.

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Capítulo 1 DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

Indicação de Documentário: Perrengue, O desafio da


mobilidade urbana, de 2013, sob a direção de Murilo Azevedo,
trata do grande problema da metrópole paulista: o seu trânsito e sua
falta de mobilidade. Perrengue nasce da indignação com o problema
que virou marca registrada da cidade de São Paulo: o trânsito. No
documentário, quatro personagens de pontos distintos da região
metropolitana apresentam os próprios dramas diários. Superlotação,
estresse e perda de tempo. Além da rotina de uma cidade em plena
crise de mobilidade, Perrengue discute a formação da metrópole,
o papel do carro no planejamento urbano das grandes cidades
brasileiras e os interesses por trás da promoção de um modelo de
transporte insustentável. O documentário pode ser encontrado no
site do youtube: https://www.youtube.com/watch?v=o53FSMNfDio

As diretrizes políticas do PNMU elaboram o potencial caminho que deve


seguir a política pública. Todavia, será apenas pela legítima participação da
sociedade, enfatizando sua cidadania, que podemos todos cobrar o poder público
para a efetivação daquilo que está detalhado nos planejamentos, e pondo em
prática de fato as políticas que considerem os princípios e diretrizes do plano
nacional. São objetivos essenciais para o PNMU:

FIGURA 2 – OBJETIVOS DO PNMU

FONTE: PNMU (2016)

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DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

A importância das diretrizes é definida através do rumo que se deseja tomar,


em qualquer planejamento que venha a ser realizado. Dessa forma, é função de
uma diretriz assegurar uma orientação centrada nos objetivos principais, bem
como, nas fontes que estruturam os princípios. Veja, prezado leitor, que esses
princípios devem estar coadunados à Constituição Federal de 1988, pois é ela
quem ordena as diretrizes na ordem das normas nacionais. Assim, o PNMU
reflete a consciência das políticas públicas, realizadas ou aquelas que ainda serão
oportunizadas. As diretrizes do PNMU são as seguintes:

• Planejamento Integrado (desenvolvimento urbano, habitação,


saneamento básico, planejamento e gestão do uso do solo);
• Integração entre modos e serviços;
• Mitigação dos custos ambientais, sociais e econômicos;
• Desenvolvimento científico-tecnológico:
• Energias renováveis e menos poluentes;
• Projetos de transporte público coletivo estruturadores do
território e indutores do desenvolvimento urbano integrado
(PNMU, 2012, p. 6).

No planejamento das políticas acerca da mobilidade urbana, ainda há a


reflexão da legislação específica para o trânsito e qual será a sua aplicação na
prática, em prol da boa convivência e da cidadania.

É claro que normas devem ser efetivadas e ações distintas do esperado


conhecidas por desvios e infrações, e aquelas consideradas criminosas devem
ser punidas, para asseverar a norma e demonstrar que a proteção da sociedade
depende também que as regras de trânsito sejam cumpridas. Nesse ponto, o
Código de Trânsito Brasileiro, que veremos em seguida, especifica os crimes,
infrações e suas punições. Já o PNMU atribui aos Estados e Municípios, que
esses, dentro de suas especificidades, criem seu planejamento sobre a mobilidade
e garanta a sua execução, desde que mantidos os princípios da Constituição
de 1988 e da Política Nacional de Trânsito. O quadro a seguir demonstra as
atribuições de cada ente, desenvolvido pelo PNMU:

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Capítulo 1 DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

QUADRO 1 – OS ENTES FEDERATIVOS E SUAS ATRIBUIÇÕES NO PNMU

FONTE: PNMU (2012)

Veja, prezado leitor, que o Plano distingue os afazeres e atribuições de


cada ente federativo, desenvolvendo um ponto muito importante que devemos
considerar: a capacitação das pessoas e a promoção das instituições que laboram
diretamente com os sistemas de mobilidade, como as áreas de segurança pública
e aquelas que prestam seu serviço direto ao trânsito.

É muito importante o fortalecimento dos programas educativos, no sentido


de transmissão dos valores praticados pelo plano, que se espalham por toda
política nacional de trânsito. Isso vai ao encontro da ordem de importância
hierárquica apregoada pelo PNMU, pois posiciona pedestres, ciclistas e usuários
do transporte público, em um patamar hierárquico superior aos motoristas de
veículos automotores, veja:

21
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

FIGURA 3 – A HIERARQUIA DOS ATORES NO TRÂNSITO

FONTE: PNMU (2012)

Significa que são considerados em primeira ordem de importância, para a


mobilidade, a acessibilidade, às pessoas e aos ciclistas. Isso se define por dois
aspectos: o primeiro vai de encontro ao número de transeuntes muito superior
ao de automóveis nas ruas dos centros urbanos, e no crescimento da utilização
das bicicletas como transporte (PNMU, 2012). O segundo nos remete à ideia de
hipossuficiência desses dois grupos distintos perante os automóveis, devendo
existir coesão entre o seu encontro em âmbito social, nas vias diversas do
país. Para que haja essa possibilidade, programas educativos hasteados pelas
políticas públicas de inclusão, acessibilidade e mobilidade devem ser cada vez
mais difundidos.

O Plano também destaca e prevê a responsabilidade dos Municípios


enquanto garantidores de uma melhor urbanidade em questão da mobilidade de
seus moradores. Isso desenvolve o dever de diversos municípios espalhados pelo
Brasil, a concretizarem as principais diretrizes que o plano visa assegurar.

Veja que, em seu artigo 24, parágrafo 1°, a redação de que “em Municípios
acima de 20.000 (vinte mil) habitantes e em todos os demais obrigados, na
forma da lei, deverá ser elaborado o Plano de Mobilidade Urbana, integrado e

22
Capítulo 1 DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

compatível com os respectivos planos diretores ou neles inseridos”, assegura a


responsabilidade de todos os entes (PNMU, 2012).

O Plano ainda alertava que os municípios obrigados ao desenvolvimento


de um planejamento local, pelo número de cidadão alcançar ou ultrapassar
o solicitado pelo PNMU, caso não entregassem até abril do ano de 2015 um
plano próprio de mobilidade urbana, ficariam impedidos de receber da União os
recursos orçamentários federais destinados ao tema. Os projetos, elaborados
pelos municípios devem estar compatíveis com o planejamento sistêmico da
mobilidade urbana nacional, referenciada pelo PNMU. Isso significa uma ordem
e o estabelecimento de um engajamento, que possui uma forte referência e uma
liderança em comum. Serve também como um real instrumento de efetivação das
próprias políticas públicas de trânsito e acessibilidade que se deseja implantar no
País.

No Brasil, 2044 municípios são obrigados a desenvolver e entregar um Plano


de Mobilidade Urbana, segundo estudos do PNMU. Destes, apenas 173, até o ano
de 2012, possuíam algum tipo de planejamento urbano no tocante à mobilidade,
ou seja, apenas 8,5% do total:

FIGURA 4 – A ELABORAÇÃO DO PNMU

FONTE: PNMU (2012)

O plano também visa assegurar uma política tarifária nacional, ao determinar


que o preço pago pelo usuário de transporte público em sua tarifa, deve ter formas
de subsídios advindos da União e dos Estados, que devem manter os valores
em um patamar aceitável dentro da realidade social e urbana de cada Estado e
Município, segundo a PNMU:

23
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

Art. 9º O regime econômico e financeiro da concessão e o


da permissão do serviço de transporte público coletivo serão
estabelecidos no respectivo edital de licitação, sendo a tarifa
de remuneração da prestação de serviço de transporte público
coletivo resultante do processo licitatório da outorga do poder
público:
§ 1º A tarifa de remuneração da prestação do serviço de
transporte público coletivo deverá ser constituída pelo preço
público cobrado do usuário pelos serviços somado à receita
oriunda de outras fontes de custeio, de forma a cobrir os reais
custos do serviço prestado ao usuário por operador público ou
privado, além da remuneração do prestador. (2012)

FIGURA 5 – CONCESSÃO DO TRANSPORTE PÚBLICO A DO PNMU

FONTE: PNMU (2012)

A tarifa do transporte público, que é paga pelo usuário, bem como o transporte
de qualidade, são muito importantes para a mobilidade no trânsito, pois, por esses
fatores também podemos definir as escolhas dos cidadãos pelo uso do serviço, o
que auxilia na movimentação menor de veículos particulares nas vias das cidades.

Prezado leitor, vamos analisar no próximo ponto, a legislação específica para


o trânsito, que é o Código de Trânsito Brasileiro.

24
Capítulo 1 DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

Agora que vimos sobre a mobilidade no trânsito e os antecedentes da


Lei de Trânsito atual, que tal praticar um pouco o conhecimento?

1- Sobre a mobilidade urbana, há a afirmação de que o amplo


envolvimento dos cidadãos indica que a cidadania deve ser
assegurada por políticas que realcem as suas possibilidades.
As políticas públicas de acessibilidade e mobilidade são grandes
instrumentos para que esse objetivo seja alcançado. Nesse
sentido, assinale a assertiva verdadeira:

a) ( ) Não há, nos conceitos integrados do PNMU, diferenças entre


os personagens envolvidos pelo direito de trânsito, realçando o
princípio da isonomia.
b ( ) Cidades e municípios com mais de vinte mil habitantes estão
obrigados a realizar o planejamento desde que sigam o plano
nacional, caso seja essa a opção do governo local.
c ( ) O novo Código de Trânsito, a partir de seu histórico, declinou
das resoluções do CONTRAN, definindo que normas anteriores a
ele deveriam ser reescritas.
d ( ) Estados e Municípios devem criar suas normas essenciais de
trânsito, conforme peculiaridade de cada região.

2 - As normas passaram a seguir, a partir da constitucionalização


do direito, os comandos da CF/1988. Por esse motivo,
as normas que entrassem em conflito com os princípios
constitucionais devem ser descartadas. Sobre a legalidade
das leis em face constitucional, assinale a questão que
identifica a assertiva verdadeira:

A- Normas de trânsito surgiram a princípio com o CTB de 1997,


portanto não devem ser analisadas sua questão constitucional,
uma vez tendo sido elaborada depois da CF/1988.
B- As normas anteriores ao CTB são conhecidas por normas
antecedentes ao código atual, pois formaram as particularidades
do atual código ao longo da história.
C- A competência para regular normas de trânsito dos Estados
e Municípios foi considerada a partir da titularidade da estrada
sobre a qual se deseja regular.
D- Estados e Municípios não possuem titularidade para cobrar
normas que envolvam a conservação e sinalização de suas
estradas de rodagens, uma vez sendo o titular para isso a União
e o CTB.
25
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

Estão corretas as alternativas:

a( ) As alternativas A e B estão corretas.


b( ) As alternativas B e C estão corretas.
c( ) As alternativas B e D estão corretas.
d( ) As alternativas A e C estão corretas.

3 - A respeito do PNMU e suas atribuições, assinale a alternativa


correta:

a) Todas as cidades e municípios devem elaborar o plano de


mobilidade urbana. Os municípios que não o fizerem não
receberam os recursos orçamentários federais da União.
b) Não são atribuídos subsídios advindos da União para as tarifas
para o transporte público, somente são concedidos subsídios
estaduais.
c) A acessibilidade possui sua lei própria, a Lei nº 10.098 de 2000
e para não haver conflitos entre está e o PNMU, ela não é
considerada pelo Plano nacional de Mobilidade Urbana.
d) Políticas Públicas que enfoquem a situação educacional e
pedagógica do cidadão é a perspectiva do PNMU.

3 LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA PARA O


TRÂNSITO: O CTB
Em 1997 ficou instituído um código para as questões de trânsito e mobilidade,
com a intenção de interpretar os novos desafios e transformações que estavam
ocorrendo. Sob o número 9.503, a lei divide-se em 20 capítulos e dois anexos,
desenvolvendo temas específicos sobre a matéria, sinalização e estrutura.

Você viu que a hierarquia de importância para a mobilidade, trazida pelo


Plano Nacional de Mobilidade Urbana, decretava que cidadãos e ciclistas
possuíam uma condição de cuidado especial, a partir de seu desprovimento frente
aos veículos automotores. Fato que o CTB demonstra em sua primeira redação, já
que se atenta para a criação de uma política nacional de trânsito e de mobilidade
urbana, quando aponta em seu artigo 6° estabelecer as diretrizes do sistema
nacional. Após todas as leis que antecederam o novo CTB, pode-se dizer que ele
surgiu a partir de análises dialéticas, relevando a qualidade dos seus anteriores,

26
Capítulo 1 DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

produzindo normas modernas e descartando o que deveria ser desconsiderado.

Algumas dessas regras ainda precisam de um olhar mais atento de nossas


políticas públicas, como é o caso da educação no trânsito, na formação dessa
instrução e na capacitação dos profissionais que atuam no trânsito.

O CTB, que teve sua última alteração em outubro de 2020, foi considerado
uma evolução entre os códigos, através de sua formação histórica. Dos 131
artigos que foram dispostos no antigo Código Nacional de Trânsito, o CTB passou
dos mais de 340 artigos para fiscalizar e normatizar a mobilidade brasileira.

Vamos nos ater aqui, prezado leitor, às normas que dizem respeito ao direito
penal, e como interpretar leis penalizadoras de trânsito, estudo esse que será
amplamente discutido nos dois próximos capítulos. Ainda assim, é importante
que você consiga identificar no CTB, as normatizações acerca de sua atividade,
enquanto detentor do direito de fiscalizar e punir.

Já em suas disposições preliminares, informa através de quatro artigos a


definição de trânsito, as atribuições dos institutos responsáveis, determinando as
vias terrestres e a quem devem ser aplicadas as disposições contidas em todo o
código. Define assim, os atores principais e os palcos mais importantes para sua
atuação.

A seguir, vamos apresentar a você, um resumo dos capítulos e seus


assuntos tratados, para facilitar a localização no código de cada uma de suas
normatizações, incluindo, as normas de direito penal:

● II- Do Sistema Nacional de Trânsito: aqui entendemos o Sistema


Nacional de Trânsito, importante para a aplicação das atividades
relacionadas ao trânsito. É ele que apresenta e regula os órgãos e
entidades que desempenham funções relativas ao tema, que veremos
mais detalhadamente no capítulo porvir.
● III - Das normas gerais de circulação e conduta: iniciando no artigo
26 e indo ao artigo 67, se trata da forma ideal de se transitar pelas vias
terrestres, bem como, estabelece normas de segurança, identificando
condutas proibidas e permitidas pela lei, como a forma correta de
ultrapassagem, as luzes do veículo, a buzina e seu uso, velocidades
permitidas, cinto de segurança, informando a conduta permitida aos
motoristas para trafegar com segurança.
● III-A – Da condução de veículos por motoristas profissionais:
estabelece as normas para a conduta de veículos manejados por
motoristas profissionais. Lembra do caso do motorneiro e o Ato 600
de 1934, que vimos anteriormente? Agora a regulamentação para o
motorista profissional é realizada por esse dispositivo.
27
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

● IV – Dos pedestres e condutores de veículos não motorizados: aqui a


norma estabelece os deveres e direitos de pedestres e motoristas, como
a forma correta de se utilizar de faixas de trânsito, além de normatizar a
circulação de passantes e condutores.
● V – Do cidadão: uma tentativa de estabelecer o conceito cidadania em
sua amplitude, se dá ao demonstrar ao cidadão que ele pode e deve
requerer melhorias no trânsito, participar dos pleitos sobre o tema.
Informa também sobre as campanhas de trânsito realizadas pelo Sistema
Nacional de Trânsito (SNT) e seus institutos.
● VI – Da educação para o trânsito: há aqui a obrigatoriedade dos órgãos
de trânsito, componentes do SNT, promoverem campanhas anuais
e locais acerca de uma promoção educativa para o trânsito, visando
orientar, conscientizar e colaborar para a sociabilidade entre pedestres,
ciclistas, motoristas etc.
● VII – Da sinalização de trânsito: aqui há a definição sobre a sinalização
viária, a responsabilidade dos entes federativos sob esse prisma.
● VIII – Da engenharia de tráfego: trata da fiscalização dos agentes
profissionais de segurança pública do trânsito e seu policiamento
ostensivo, sua fiscalização e procedimentos, apontando o CONTRAN e
sua responsabilidade para o assunto.
● IX – Dos veículos: as três seções em que se dividem, o capítulo
descreve a categoria dos veículos, sua tração e funcionalidade, a
segurança inerente aos automóveis para a rodagem, e a identificação
dos veículos, normatizando o registro e emplacamento.
● X – Dos veículos em circulação internacional: determina a
competência nacional sobre os veículos internacionais que transitam em
solo brasileiro, passando a estar sob as normas do CTB.
● XI – Do registro de veículos: em regra, confirma os documentos que
devem ser expedidos para a rodagem dos veículos, que devem possuir
registros, orienta também como esses registros devem ser realizados
pelos particulares.
● XII – Do licenciamento: destaca a importância da expedição do
Certificado de Licenciamento Anual para veículos que devem ser
licenciados, como carros de grande transporte.
● XIII – Da condução de escolares: seus artigos abordam temas relativos
à segurança do transporte escolar, mediando regras que devem ser
seguidas, para a circulação dos veículos escolares.
● XIII-A – Da condução de motofrete: a Lei 12.619/2012 regula a profissão
de motorista profissional de motofrete, e passou a ser referenciada no
capítulo acerca dos condutores.
● XIV – Da habilitação: seus vinte artigos realçam o direito do cidadão em
obter a Carteira Nacional de Habilitação e os requisitos essenciais para
isso.

28
Capítulo 1 DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

● XV – Das infrações: como você já poderia imaginar, prezado leitor, esse


é o maior capítulo que existe no CTN, que contempla os artigos 161 a
255, ocupando-se de todas as infrações e suas punições em relação aos
personagens que fazem parte da atividade no trânsito.
● XVI – Das penalidades: números de pontos perdidos na CNH,
advertências por escrito, multa, cassação no direito de dirigir, cursos de
reciclagem, identificação dos infratores, valores de multas, entre outros,
podem ser encontrados aqui. As infrações do capítulo anterior vão desde
a suspensão do direito de dirigir até a cassação da CNH, e são previstas
neste tópico.
● XVII – Das medidas administrativas: se trata dos casos em que
é possível a apreensão do veículo, desde a constatação de álcool no
sangue e sua quantidade, até o excedente ao que é permitido no peso
da carga de transporte. Também relata os equipamentos que os oficiais
de segurança devem possuir para o registro das infrações.
● XVIII – Do processo administrativo: aborda os temas referentes ao auto
de infração e sua consistência, ao julgamento e os recursos diversos, ao
pagamento da multa.
● XIX- Dos crimes de trânsito: os crimes cometidos na direção de veículo
automotor, a proibição/suspensão ou permissão para a habilitação,
as penalidades de multas reparatórias às vítimas, as circunstâncias
agravantes do crime, prestação de socorro, omissão e as penas
atribuídas são versadas neste capítulo.
● XX – Das disposições finais e transitórias: dispõe sobre os membros
do CONTRAN, prazos diversos para revisão de resoluções internas,
conteúdo acerca da educação para o trânsito, prazos para notificação de
auto de infração, valores de multas entre outras normatizações.

A partir da estruturação apresentada sobre os capítulos e seus temas do CTB,


você pode notar que a organização da lei de trânsito envolve desde pedestres,
ciclistas, motoristas, conteúdo administrativo e burocrático, além das normas de
direito penal do trânsito. Isso é decorrente de uma centralização das normas, que
devem possuir uma representação que possa ser direcionada a todos os Estados
da União.

Para conferir os temas do direito penal sobre a matéria, devemos ter em


mente os significados mais arraigados do sistema penal, que possui seu próprio
código de normas, à Lei 2.848 de 1940. Nela estão contidas algumas definições
acerca do crime, de seu resultado e o nexo entre ações ou omissões diversas e o
fato desviante ocorrido. Trataremos desse assunto mais adiante, por ora, vamos
nos ater à atual Política de Trânsito Nacional e o Sistema Nacional de Trânsito,
que regulam aspectos definidores sobre o serviço da segurança de trânsito e
cada uma de suas competências no âmbito penal.

29
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

É certo afirmar que o direito de trânsito possui uma ligação muito tênue com
o direito penal, pois acidentes de trânsito estão também envolvidos, muitas vezes,
ao descumprimento de regras de condutas.

Muitas atividades ilegais, como a direção imprudente, embriaguez na direção


e a alta velocidade fazem do Brasil um dos países mais violentos do mundo,
transformando o quesito segurança no trânsito em um verdadeiro desastre.

Para minimizar, tanto seus impactos como sua ocorrência, as normas


penais influenciam o poder de polícia do Estado a desempenhar suas funções
tanto restritivas quanto penalizadoras. Por esse motivo o CTB possui previsão
de normatizações inerentes ao Direito Penal, pois estabelece as infrações penais
(artigos 291 ao 299) e os crimes cometidos no trânsito, que estão previstos nos
artigos 302 ao 312 do CTB.

Veja no quadro a seguir as estatísticas entre os anos de 2011 até 2019,


das mortes atribuídas ao trânsito no País, o que indica um número muito alto da
violência no trânsito:

QUADRO 2 – MORTES NO TRÂNSITO ENTRE 2011/2019

FONTE: Portal do Trânsito (2020)

30
Capítulo 1 DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

O site Estradas traz uma conversa com uma especialista em


questões de segurança no trânsito, que afirma sobre a necessidade de
projetos educacionais referente à matéria veja:

Especialista fala sobre a insegurança do trânsito


brasileiro. Por Redação 24/12/2020
De acordo com Roberta Torres, os mais afetados pela violência
no trânsito são os jovens com idades entre 18 anos e 34 anos

Em 10 anos, o trânsito brasileiro matou mais que a Guerra da Síria:


foram mais de 480 mil indenizações pagas pelo Seguro DPVAT para a
cobertura de morte, de acordo com levantamento da Seguradora Líder.
Para comentar esse cenário alarmante, o sétimo episódio do podcast “A
Voz do Trânsito” contou com uma entrevista inédita de Roberta Torres,
especialista em Gestão, Segurança e Educação no Trânsito. Para
ela, não há fórmula imediata que consiga reduzir de forma significativa
as fatalidades nas vias brasileiras:

“Precisamos de um conjunto de ações de vários setores, que


começa com a coleta de dados estatísticos para identificar o real
problema de cada lugar, passando pela manutenção e fiscalização de
vias e veículos, pela construção de leis mais efetivas e que busquem a
preservação da vida e, ainda, por ações educativas tanto nas escolas
como por meio de campanhas ao longo da vida dos cidadãos. ”,
comentou.

Neste contexto, os mais afetados pela violência no trânsito são


os jovens. A faixa etária entre 18 a 34 anos já representa 48% do
total de beneficiários do Seguro DPVAT em 2020. De acordo com a
especialista, o alto índice pode ser justificado pela falta de maturidade
e experiência dessa parcela da população, pois muitos deles
possuem habilitação há pouco tempo. E reforça: “Os jovens têm como
característica a impulsividade e a imprudência. Muitas vezes se deixam
levar, principalmente quando se trata de álcool e de velocidade. ”

E, ao analisar os dados de veículos, observa-se que o perfil de


condutor mais impactado é o motociclista. De janeiro a novembro
de 2020, as ocorrências envolvendo motocicletas representaram
79% do total de pagamentos do DVPAT. “Hoje o processo de formação
de condutor, especialmente de motociclista, está muito aquém do ideal.
A carga horária prática é insuficiente, não existem objetivos claros de

31
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

como cada conteúdo deve ser ensinado, a avaliação não é padronizada.


O motorista é formado apenas por um circuito fechado, sem sequer
andar em uma via pública”, lamenta Roberta.

Por fim, Roberta Torres também alerta para a necessidade da


implementação de projetos educativos que envolvam todos os membros
do sistema de trânsito desde a fase escolar: “Imagina se há 20 anos
tivéssemos colocado em prática tudo aquilo que está no Código de
Trânsito Brasileiro, quantas vidas não teríamos salvado até agora?
A percepção de risco leva tempo para ser assimilada. Por isso, se
as crianças tiverem esses conceitos em sua idade escolar, quando elas
chegarem à adolescência, juventude e vida adulta, isso vai ficar mais
claro. E, certamente, se tornarão motoristas, pedestres, passageiros e
ciclistas mais conscientes”.

FONTE: https://estradas.com.br/especialista-fala-sobre-a-
inseguranca-do-transito-brasileiro/

As informações contidas no quadro 3, de 2007 ao ano de 2018, revelam que


mesmo havendo uma baixa na quantidade estatística dos números de mortos no
trânsito no País em alguns anos, seja qual for a causa do acidente ocorrido, ainda
são muito altas, ultrapassando trinta mil mortes por ano, acompanhe:

QUADRO 3 – AS ESTATÍSTICAS NACIONAIS: NÚMEROS QUE DEVEMOS BAIXAR

FONTE: Datasus/Vias Seguras 2018.

32
Capítulo 1 DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

Veja, prezado leitor, que ainda com normas que asseguram a punição
de crimes e infrações, a violência no trânsito é um fenômeno em constante
crescimento. Isso nos faz considerar que tanto a educação quanto a formação
de nossos condutores, devem ser vistas como essenciais para uma diminuição
nessa barbárie.

A penalização e o poder persecutório do direito penal não afastam o crime


de trânsito, pelo motivo desse tipo de ação contrária ao bem-estar social está
intimamente condicionada ao aspecto educacional e pedagógico do próprio
cidadão, desde pedestres, ciclistas e motoristas (BEM, 2015).

Trabalhar a educação no trânsito, desde sua formação, faz parte das políticas
públicas de qualidade, que devem ser pensadas a partir de uma política nacional
que perceba sua real importância para os problemas de trânsito.

Indicação Documentário: aqui ressaltamos uma importante


pesquisa acerca dos crimes de trânsito no Brasil e sua crescente
violência. Luto em luta, de 2012, dirigido por Pedro Serrano,
expõe, por meio de depoimentos de vítimas, familiares e imagens
de acidentes, a tragédia diária do trânsito de São Paulo, que chega
a matar todos os anos mais do que guerras e desastres naturais.
Ao buscar todas as facetas deste tema, o diretor ouviu especialistas
em trânsito, médicos, psicanalistas, jornalistas, juristas, políticos e
cidadãos comuns. Entre os participantes do documentário destacam-
se Ricardo Young, Gilberto Dimenstein, Heródoto Barbeiro, José
Gregori, Floriano Pesaro e Rafael Baltresca, que perdeu a mãe
e a irmã atropeladas e hoje segue na luta com o movimento “Não
Foi Acidente''. O documentário pode ser visto no site: https://www.
youtube.com/watch?v=6vG4NXgdJA8

O CTB traz, em seu artigo 74, influente destaque para a criação de


mecanismos que possam fazer a diferença enquanto provedores da educação no
trânsito, para toda a sociedade:

Art. 74. A educação para o trânsito é direito de todos e constitui


dever prioritário para os componentes do sistema Nacional de
Trânsito.
§1º É obrigatória a existência de coordenação educacional em
cada órgão ou entidade componente do sistema Nacional de
Trânsito.
33
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

§2º Os órgãos ou entidades executivos de trânsito deverão


promover, dentro de sua estrutura organizacional ou mediante
convênio, o funcionamento de Escolas Públicas e Trânsito, nos
moldes e padrões estabelecidos pelo CONTRAN (CTB, 2020).

No próximo ponto veremos como o Sistema Nacional de Trânsito elabora


e desenvolve a questão da importante Política Nacional de Trânsito, que deve
confabular e engendrar os aspectos mais essenciais de cidadania e promoção
humana, em um tema tão complexo e tão abrangente. Vamos lá!

3.1 A POLÍTICA NACIONAL E O


SISTEMA NACIONAL DE TRÂNSITO
Pode-se entender a Política Nacional de Trânsito como uma nova política.
Isso, prezado leitor, confabula com o sentido que você vivencia todos os dias, que
é a evolução. A partir dela, havia necessidade de uma organização e planejamento
que enfrentasse as situações e as adversidades do novo mundo da tecnologia e
da globalização.

A abordagem integrada das políticas nacionais intenta integrar a proteção da


integridade humana e o desenvolvimento socioeconômico do país.

Toda política nacional de trânsito está diretamente ligada às políticas


públicas, e é o Sistema Nacional de Trânsito (SNT) o órgão capaz de unir
as forças nacionais para a produção de princípios e políticas que regem o
universo do trânsito brasileiro.

Podemos então definir que o SNT é todo o conjunto de órgãos e entidades


que fazem parte da União, Estados, Distrito Federal e Municípios que possui
finalidades diversas, conforme artigo 5° do CTB:

Art. 5º O Sistema Nacional de Trânsito é o conjunto de órgãos


e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios que tem por finalidade o exercício das atividades de
planejamento, administração, normatização, pesquisa, registro
e licenciamento de veículos, formação, habilitação e reciclagem
de condutores, educação, engenharia, operação do sistema
viário, policiamento, fiscalização, julgamento de infrações e de
recursos e aplicação de penalidades (CTB, 2020).

Veja que foi somente com a criação do atual Código de Trânsito Brasileiro
que se iniciou a base estrutural para o SNT, quando foi criada uma coordenação
planejada entre todos os entes do País, que passaram a estudar o mesmo objeto,

34
Capítulo 1 DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

com um objetivo proposto em comum. Quem preside o STN é o Ministério das


Cidades e seu órgão normativo e também consultivo é o Conselho Nacional de
Trânsito, conhecido por CONTRAN.

Entretanto, na divisão e descentralização de suas entidades, a partir das


atividades de cada um, há o Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN)
que atua como órgão máximo executivo da União. Pelo fato do Ministério
das Cidades não apenas arguir ou assegurar interesses relativos apenas à
mobilidade, acessibilidade e ao trânsito, o conselho especializado realizado pelo
CONTRAN irá apenas influenciar e tratar os assuntos pertinentes a sua área
de estudos, a partir de seu objeto específico, que é o trânsito. É a mesma coisa
que o DENATRAN faz, só que ele atua dentro dos Estados diversos da União,
por intermédio do DETRAN (Departamento de Trânsito), presente em todos os
Estados, num sentido de descentralizar a atribuição do DENATRAN, fato que
resolve os problemas locais e culturais de cada região do Brasil.

São objetivos básicos do Sistema Nacional de Trânsito, dispostos no


artigo 6° do CTB:

I - estabelecer diretrizes da Política Nacional de Trânsito, com


vistas à segurança, à fluidez, ao conforto, à defesa ambiental e
à educação para o trânsito, e fiscalizar seu cumprimento;
II - fixar, mediante normas e procedimentos, a padronização
de critérios técnicos, financeiros e administrativos para a
execução das atividades de trânsito;
III - estabelecer a sistemática de fluxos permanentes de
informações entre os seus diversos órgãos e entidades, a fim
de facilitar o processo decisório e a integração do Sistema
(CTB, 2020).

Através dessa disposição legal, você pode notar que as diretrizes


estabelecidas para uma Política Nacional de Trânsito evidenciam a segurança,
a mobilidade urbana e a educação. Da mesma forma, assegura que os fluxos de
informações sejam descentralizados a partir de seus diversos órgãos, sejam do
Estado ou Município.

Esse movimento descentralizador é muito importante para que cada região


possa determinar, a partir de seus próprios modelos e padrões, atividades que
envolvam programas diversos de orientação à população, no que se refere ao
trânsito e mobilidade.

Nota-se também que as práticas referidas no PNMU estão realçadas na


normatização legal do CTB, quando este refere-se ao aspecto mobilidade e
fluidez, destaque essencial para a organização urbana nacional.

35
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

Como podemos perceber, os objetivos principais do SNT é instituir uma


política nacional e uniforme em todo o território, que traga normas e regras gerais
comuns. Isso significa atestar a segurança jurídica em todos os pontos do País.

Os órgãos que compõem e estruturam o Sistema Nacional de Trânsito


estão todos elencados, prezado estudante, no artigo 7° da lei maior de trânsito:

Art. 7º Compõem o Sistema Nacional de Trânsito os seguintes


órgãos e entidades:
I - o Conselho Nacional de Trânsito - CONTRAN, coordenador
do Sistema e órgão máximo normativo e consultivo;
II - os Conselhos Estaduais de Trânsito - CETRAN e o
Conselho de Trânsito do Distrito Federal - CONTRANDIFE,
órgãos normativos, consultivos e coordenadores;
III - os órgãos e entidades executivos de trânsito da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;
IV - os órgãos e entidades executivos rodoviários da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;
V - a Polícia Rodoviária Federal;
VI - as Polícias Militares dos Estados e do Distrito Federal; e
VII - as Juntas Administrativas de Recursos de Infrações -
JARI. (CTB, 2020).

Veja que a coordenação principal do Sistema fica ao encargo do Conselho


Nacional de Trânsito, vinculado diretamente ao Ministério das Cidades. O SNT
estabelece todo o conjunto de competências estatais dos diversos órgãos.

Os principais intuitos do SNT são:

“A realização de atividades de planejamento, administração,


normatização, pesquisa, registro e licenciamento de veículos,
formação, habilitação e reciclagem de condutores, educação,
engenharia, operação do sistema viário, policiamento,
fiscalização, julgamento de infrações, aplicação de penalidades
e julgamento de recursos” (RIZZARDO, 2007, p. 43).

Todas estas atividades estão definidas como competências legais daqueles


órgãos diversos e entidades que compõem o sistema como um todo.

Veja no quadro a seguir a disposição de todos os órgãos que fazem parte do


Sistema:

36
Capítulo 1 DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

QUADRO 4 – OS ÓRGÃOS QUE COMPÕEM O SNT

FONTE: Ministério das Cidades (2018)

Como você pode ver no Quadro 4, o Conselho Nacional de Trânsito,


CONTRAN, é o órgão maior desse sistema. A ele compete coordenar políticas de
trânsito com a cooperação dos outros membros, tendo sua competência disposta
no artigo 12° do CTB:

Compete ao CONTRAN:
I - estabelecer as normas regulamentares referidas neste
Código e as diretrizes da Política Nacional de Trânsito;
II - coordenar os órgãos do Sistema Nacional de Trânsito,
objetivando a integração de suas atividades; (CTB, 2020).

O CONTRAN está sob a coordenação do Ministério das Cidades, que


dispõe também da orientação e planejamento do Sistema Nacional de Trânsito.
Dessa forma, o órgão máximo federal, que trata os assuntos referentes às
normas que regulamentam o trânsito e coordena o próprio SNT, está vinculado ao
Ministério das Cidades, que adota o PNMU como diretriz básica para a políticas
públicas.

O CONTRAN possui sua sede no Distrito Federal, e também delibera


sobre assuntos relacionados ao SNT por meio de resoluções e pareceres, que
são instruídas por maioria dos votos dos seus membros presentes em cada
deliberação.

37
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

O site do DETRAN de São Paulo disponibiliza os órgãos e entidades


executivos rodoviários da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

● Na União: o Departamento Nacional de Estradas de


Rodagem (DNER), que tem a responsabilidade de construir,
manter e sinalizar as rodovias federais e fiscalizar aquelas
concedidas à iniciativa privada; e a Polícia Rodoviária Federal,
que tem a responsabilidade de fiscalizar o cumprimento das
normas de trânsito pelo patrulhamento ostensivo das rodovias
federais;
● Nos Estados e do Distrito Federal: o Departamento de
Estradas e Rodagem (DER), responsável pela construção,
manutenção e sinalização das rodovias estaduais e que
tem como agentes a Polícia Rodoviária Estadual; e as
Polícias Militares dos Estados e do Distrito Federal, que são
responsáveis por executar a fiscalização de trânsito, a partir do
momento em que é firmado convênio e, de acordo com este,
como agentes do órgão ou entidades executivas de trânsito
ou executivas rodoviárias, concomitantemente com os demais
agentes credenciados (DETRAN SP, 2020, p. 1).

As Juntas Administrativas de Recursos e Infrações (JARIs), são conhecidas


por órgãos de proteção dos direitos do cidadão, possibilitando-lhes a defesa nos
casos em que estes se sentirem inconformados com as infrações que lhes são
atribuídas, e também tem a função de ser órgãos julgadores das infrações, estão
presentes em todos os Estados.

Vamos analisar o artigo 22, 23 e 24 do CTB, que trata das


competências?

Capítulo II - DO SISTEMA NACIONAL DE TRÂNSITO

Compete aos órgãos ou entidades executivos de trânsito dos


Estados e do Distrito Federal, no âmbito de sua circunscrição:

I- cumprir e fazer cumprir a legislação e as normas


de trânsito, no âmbito das respectivas atribuições;

II - realizar, fiscalizar e controlar o processo de formação,


aperfeiçoamento, reciclagem e suspensão de condutores,
expedir e cassar Licença de Aprendizagem, Permissão
para Dirigir e Carteira Nacional de Habilitação,
mediante delegação do órgão federal competente;

38
Capítulo 1 DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

III - vistoriar, inspecionar quanto às condições de segurança


veicular, registrar, emplacar, selar a placa, e licenciar veículos,
expedindo o Certificado de Registro e o Licenciamento
Anual, mediante delegação do órgão federal competente;

IV - estabelecer, em conjunto com as Polícias Militares, as


diretrizes para o policiamento ostensivo de trânsito;

V- executar a fiscalização de trânsito, autuar e aplicar as medidas


administrativas cabíveis pelas infrações previstas neste
Código, excetuadas aquelas relacionadas nos incisos VI e VIII
do art. 24, no exercício regular do Poder de Polícia de Trânsito;

VI - aplicar as penalidades por infrações previstas neste Código, com


exceção daquelas relacionadas nos incisos VII e VIII do art. 24,
notificando os infratores e arrecadando as multas que aplicar;

VII - arrecadar valores provenientes de


estada e remoção de veículos e objetos;

VIII - comunicar ao órgão executivo de trânsito da União


a suspensão e a cassação do direito de dirigir e o
recolhimento da Carteira Nacional de Habilitação;

IX - coletar dados estatísticos e elaborar estudos


sobre acidentes de trânsito e suas causas;

X- credenciar órgãos ou entidades para a execução


de atividades previstas na legislação de trânsito,
na forma estabelecida em norma do CONTRAN;

XI - implementar as medidas da Política Nacional de


Trânsito e do Programa Nacional de Trânsito;

XII - promover e participar de projetos e programas


de educação e segurança de trânsito de acordo
com as diretrizes estabelecidas pelo CONTRAN;

XIII - integrar-se a outros órgãos e entidades do Sistema Nacional


de Trânsito para fins de arrecadação e compensação
de multas impostas na área de sua competência, com
vistas à unificação do licenciamento, à simplificação e à
celeridade das transferências de veículos e de prontuários

39
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

de condutores de uma para outra unidade da Federação;

XIV - fornecer, aos órgãos e entidades executivos de trânsito


e executivos rodoviários municipais, os dados cadastrais
dos veículos registrados e dos condutores habilitados,
para fins de imposição e notificação de penalidades e de
arrecadação de multas nas áreas de suas competências;

XV - fiscalizar o nível de emissão de poluentes e ruído produzidos


pelos veículos automotores ou pela sua carga, de acordo
com o estabelecido no art. 66, além de dar apoio, quando
solicitado, às ações específicas dos órgãos ambientais locais;

XVI - articular-se com os demais órgãos do Sistema Nacional de


Trânsito no Estado, sob coordenação do respectivo CETRAN
(CTB 2020).

Note que a disposição do artigo estudado anteriormente


demonstra que a atuação que cabe ao DETRAN é realizada em três
áreas principais que são: o registro, emplacamento de veículos e
licenciamento. O essencial processo de condutores e a concessão
da Carteira Nacional de Habilitação (CNH), e a fiscalização de
trânsito, podendo exercer também a atividade fiscalizadora. O artigo
23 do CTB explana a competência da Polícia Militar na fiscalização
de trânsito.

Art. 23

Compete às Polícias Militares dos Estados e do Distrito Federal:

III - executar a fiscalização de trânsito, quando e conforme convênio


firmado, como agente do órgão ou entidade executivos de
trânsito ou executivos rodoviários, concomitantemente com os
demais agentes credenciados (CTB 2020).

Veja que a Polícia Militar, no âmbito do trânsito, compete sua


ação de manutenção da segurança pública, mas também age
conforme as diretrizes do DETRAN Estadual, assegurando sua
presença ostensiva em atividades planejadas pela instituição.

40
Capítulo 1 DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

Art. 24

Compete aos órgãos e entidades executivos de trânsito dos


Municípios, no âmbito de sua circunscrição:

I-cumprir e fazer cumprir a legislação e as normas de trânsito, no


âmbito de suas atribuições;
II-planejar, projetar, regulamentar e operar o trânsito de veículos, de
pedestres e de animais, e promover o desenvolvimento da circulação
e da segurança de ciclistas;
III-implantar, manter e operar o sistema de sinalização, os dispositivos
e os equipamentos de controle viário;
IV–coletar dados estatísticos e elaborar estudos sobre os acidentes
de trânsito e suas causas;
V-estabelecer em conjunto com os órgãos de polícia ostensiva de
trânsito, as diretrizes para o policiamento ostensivo de trânsito;
VI-executar a fiscalização de trânsito, autuar e aplicar as medidas
administrativas cabíveis, por infrações de circulação, estacionamento
e parada previstas neste Código, no exercício regular do Poder de
Polícia de Trânsito;
VII-aplicar as penalidades de advertência por escrito e multa, por
infrações de circulação, estacionamento e parada previstas neste
Código, notificando os infratores e arrecadando as multas que aplicar;
VIII-fiscalizar, autuar e aplicar as penalidades e medidas
administrativas cabíveis relativas a infrações por excesso de peso,
dimensões e lotação dos veículos, bem como, notificar e arrecadar
as multas que aplicar;
IX-fiscalizar o cumprimento da norma contida no art. 95, aplicando as
penalidades e arrecadando as multas nele previstas;
X-implantar, manter e operar sistema de estacionamento rotativo
pago nas vias;
XI-arrecadar valores provenientes de estada e remoção de veículos
e objetos, e escolta de veículos de cargas superdimensionadas ou
perigosas;
XII-credenciar os serviços de escolta, fiscalizar e adotar medidas de
segurança relativas aos serviços de remoção de veículos, escolta e
transporte de carga indivisível;
XIII- integrar-se a outros órgãos e entidades do Sistema Nacional
de Trânsito para fins de arrecadação e compensação de multas
impostas na área de sua competência, com vistas à unificação do
licenciamento, à simplificação e à celeridade das transferências de
veículos e de prontuários dos condutores de uma para outra unidade
da Federação;

41
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

XIV-implantar as medidas da Política Nacional de Trânsito e do


Programa Nacional de Trânsito;
XV-promover e participar de projetos e programas de educação e
segurança de trânsito de acordo com as diretrizes estabelecidas pelo
CONTRAN;
XVI-planejar e implantar medidas para redução da circulação de
veículos e reorientação do tráfego, com o objetivo de diminuir a
emissão global de poluentes;
XVII-registrar e licenciar, na forma da legislação, ciclomotores,
veículos de tração e propulsão humana e de tração animal,
fiscalizando, autuando, aplicando penalidades e arrecadando multas
decorrentes de infrações;
XVIII-conceder autorização para conduzir veículos de propulsão
humana e de tração animal;
XIX- articular-se com os demais órgãos do Sistema Nacional de
Trânsito no Estado, sob coordenação do respectivo CETRAN;
XX-fiscalizar o nível de emissão de poluentes e ruído produzidos
pelos veículos automotores ou pela sua carga, de acordo com o
estabelecido no art. 66, além de dar apoio às ações específicas de
órgão ambiental local, quando solicitado;
XXI- vistoriar veículos que necessitem de autorização especial para
transitar e estabelecer os requisitos técnicos a serem observados
para a circulação desses veículos:
§ 1º As competências relativas a órgão ou entidade municipal serão
exercidas no Distrito Federal por seu órgão ou entidade executivos
de trânsito.
§ 2º Para exercer as competências estabelecidas neste artigo, os
Municípios deverão integrar-se ao Sistema Nacional de Trânsito,
conforme previsto no art. 333 deste Código. (CTB, 2020).
Veja, prezado leitor, houve aqui uma municipalização do controle
de trânsito, o que evidencia que o poder público municipal
deve atender às suas demandas sobre o tema, identificando e
considerando a realidade de cada localidade.

FONTE: BRASIL, 1997.

42
Capítulo 1 DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

Quanto à Nova Política Nacional de Trânsito (PNT), ela foi aprovada pela
Resolução do CONTRAN n° 514 de dezembro de 2014, reafirmando e ampliando
as diretrizes da resolução N°166 de 2004, que aprovou os primeiros critérios de
uma Política Nacional sobre o tema.

Como vimos anteriormente, o artigo 6° do CTB confirma entre os objetivos


do Código estabelecer de fato as condutas de uma política nacional nos aspectos
do trânsito, que tutelam a ampla cidadania, dentro do Estado Democrático
de Direito. Isso significa, que todas as suas prioridades e diretrizes devem
estar em coadunação às políticas públicas sociais de inclusão e aos princípios
constitucionais de direito.

Portanto, entre seus objetivos, a implementação de políticas sociais nos


setores do trânsito, indica bem a responsabilidade do Estado na harmonização do
setor (BEM, 2015).

Ocorre que para isso, temos que entender o assunto trânsito com o especial
destaque ao direito de todos os cidadãos, e aos seus deveres também. Nesse
ponto, prezado estudante, veja que todos fazemos parte desse emaranhado
chamado mobilidade urbana, de forma que não apenas o Estado possui essa
responsabilidade perante a harmonia no trânsito, mas cabe a todas as pessoas
da sociedade.

A mudança de consciência e a convivência pacífica se perfaz como amplo


benefício, em todos os sentidos:

Assim, o trânsito passa a ser visto como um bem social que


pertence a todos. Todos têm direito ao trânsito, que não
pertence somente a um ou a outro. Se alguém tem direito,
também tem deveres em relação aos outros, e vice-versa. Teria
que haver uma mudança de consciência de que o trânsito é de
todos e para todos. Aí ocorreria uma tentativa de todo mundo
permanecer vivo, alcançar seu destino e ninguém se ferir ou
morrer. Seria um benefício para todos na sociedade e, nesse
sentido, o trânsito deveria ser um exercício de convivência
pacífica (ROZESTRATEN, p. 37, 2012).

É claro que o Estado possui uma imensa responsabilidade, pois ao orquestrar


a PNT, sob a coordenação do Sistema Nacional de Trânsito, intenta na mobilização
social através de direitos e deveres que são apontados nas normas legais.

A partir de suas bases, tais quais a CF/1988 e o CTB, a Política Nacional


específica para a área estabelece determinadas diretrizes e conceitos básicos que
denotam um amplo caráter preventivo, em detrimento de uma índole punitivista.

43
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

Veja que seus princípios asseguram o desenvolvimento socioeconômico e a


integridade humana:

a) assegurar ao cidadão o pleno exercício do direito de


locomoção;
b) priorizar ações à defesa da vida, incluindo a preservação da
saúde e do meio ambiente;
c) incentivar o estudo e a pesquisa orientada para a segurança,
fluidez, conforto e educação para o trânsito (PNT, 2014).

Nesse cenário, podemos notar que a PNT foi estabelecida como garantidora
da cidadania em seu essencial aspecto locomoção das pessoas, uma das
essenciais bases comunitárias para o envolvimento dos seus cidadãos.

Ao priorizar a defesa à vida e ao meio ambiente, contribui para que seja


realizada uma política voltada para o incentivo maior de proteção aos bens
mais essenciais do homem, não se apresentando como uma doutrina apenas
patrimonialista, mas envolvida nos principais destaques que elevam a promoção
humana.

Incentivar o estudo e pesquisas dirigidas à segurança no trânsito, significa


angariar forças para o incentivo de promoção humana na urbanidade das cidades,
e também o envolvimento de sociedades civis diversas no âmbito educacional e
das pesquisas. Basta, é claro, colocar tudo isso em prática, sempre.

Veja que as definições mais comuns que o Código de Trânsito Brasileiro


englobam vão de vias comuns de acesso, terrestres e urbanas, até ruas,
estradas e rodovias. Assim, o objetivo principal deverá atingir o que foi priorizado
pela norma, na busca de uma melhor prática da fluidez e da vida no trânsito,
multiplicando seus efeitos através das políticas públicas diversas sobre o tema.
Dessa forma, os principais objetivos da Nova Política Nacional de Trânsito são:

a) Priorizar a preservação da vida, da saúde e do meio ambiente,


visando à redução do número de vítimas, dos índices e da
gravidade dos acidentes de trânsito e da emissão de poluentes
e ruídos, por meio de ações de segurança veicular;
b) Efetivar a educação contínua para o trânsito, de forma
a orientar cada cidadão e toda a comunidade, quanto a
princípios, valores, conhecimentos, habilidades e atitudes
favoráveis e adequadas à locomoção no espaço social, para
uma convivência no trânsito de modo responsável e seguro;
c) Promover o exercício da cidadania, incentivando o
protagonismo da sociedade com sua participação nas
discussões dos problemas e das soluções, em prol da
consecução de um comportamento coletivo seguro, respeitoso
e não agressivo no trânsito, de respeito ao cidadão, considerado
como o foco dos esforços das organizações executoras da
Política Nacional de Trânsito;

44
Capítulo 1 DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

d) Promover a qualificação contínua de gestão dos órgãos


e entidades do SNT, aprimorando e avaliando a sua gestão
(PLANO PPA, 2014).

O planejamento da nova política afirma ser:

“Fundamental avançar no aprimoramento das condições


de segurança e educação de trânsito e no fortalecimento do
Sistema Nacional de Trânsito, fomentando a municipalização
e realizando investimentos em planejamento, administração,
normatização, pesquisa, registro e licenciamento de veículos,
formação, habilitação e qualificação de condutores, educação,
engenharia, policiamento, prevenção e fiscalização, no
aprimoramento e implementação dos marcos normativos e no
fortalecimento institucional dos seus agentes” (PLANO PPA,
2014).

Assim, todos os objetivos e diretrizes elaborados pela PNT devem


harmonizar-se aos aspectos mais influentes que denotam a importância do
desenvolvimento urbano regional, realizado em cada parte do país, mas com uma
sensível conexão ao aprimoramento e incremento nacional. A sintonia entre os
planejamentos e a sociedade civil que se organiza também leva em consideração
os ambientes em que estão todos, da mesma forma, inseridos. Para Rozestraten
(2003), é muito importante que qualquer atividade seja relacionada com a afeição
ao ambiente natural e ao ambiente social dos atores participantes.

Você percebeu, em nossos estudos aqui nesse primeiro capítulo, que a


matéria Trânsito e Direito tem ampla conexão com outros ramos do direito. É
tênue a sua conexão com o Direito Penal, com o Direito Administrativo, com o
Direito Civil e Tributário, realçando uma questão multidisciplinar e eclética da
norma maior do trânsito nacional. Por esse motivo, para que possamos definir um
princípio básico para o direito de trânsito, a própria relação com outras matérias
de direito já segmenta esses princípios, que são iguais em todas as áreas. Se
podemos definir algum princípio categoricamente, acolhemos o pensamento de
Rizzardo (2007), quando identifica o princípio da confiança mútua ou princípio
da presunção de que todos ajam atentamente no trânsito, uma vez que é a
atitude esperada de condutores e pedestres, zelando intermitentemente pela
segurança de todos.

No capítulo porvir, iremos analisar detalhadamente as infrações penais e o


crime no trânsito, mas antes vamos nos deter em todos os elementos que tornam
possível o crime de trânsito, ao diferenciá-lo das infrações.

Para isso será necessário um recorte especial no direito penal, acerca de


suas atribuições mais elementares do que seja crime.

45
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

Agora vamos afinar mais ainda nosso conhecimento adquirido?

1 – As competências do STN, dispostas nos artigos 21 a 24 definem


todos o âmbito de atuação de todos os institutos que fazem parte
do sistema. Nesse sentido, é correto afirmar que:

a) ( ) A atuação do DETRAN, além de fiscalizadora, também


se realiza por três áreas específicas, são elas: o processo de
condutores, a concessão ou não da CNH, a fiscalização dos
poluentes emitidos pelos veículos automotores.
b) ( ) O artigo 23 do CTB normatiza o que compete à Polícia Militar,
no sentido de afirmar a segurança no trânsito.
c) ( ) O capítulo que trata das competências do STN indica a
capacidade dos órgãos ou entidades executivos de trânsito dos
Estados e do Distrito Federal, no âmbito de sua circunscrição.
Isso quer significar a centralização uniforme dos atos que são
realizados apenas pela União.
d) ( ) Ao DETRAN compete, em nível estadual, apenas assegurar
a proposta pedagógica em relação ao trânsito.

2 – Assinale a alternativa que corresponde a assertiva correta:

a) O meio ambiente deixou de ser assunto das políticas de trânsito


ao ser tratado com ênfase e destaque nas leis do Novo Código
Florestal Brasileiro, Lei 12.651/2012 e na Lei de Crimes
Ambientais, Lei 9.605 – 1998.
b) Juntas Administrativas de Recursos e Infrações tem a função
exclusiva de julgar as infrações, mas não compete a elas análises
de recursos diversos.
c) As JARIs não se fazem presentes em todos os Estados pela
sua natureza de sua atuação ser exclusiva na fiscalização
e coordenação do trânsito, por intermédio do Ministério das
Cidades.
d) Cabe ao Ministério das Cidades adotar o PNMU como diretriz
essencial para qualquer política pública que venha a analisar.

3 – Qual dessas é a alternativa correta, quando pensamos no


CONTRAN:

a) ( ) O Conselho Nacional de Trânsito é definido como o órgão


maior do sistema nacional de trânsito brasileiro, e a ele cabe

46
Capítulo 1 DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

estabelecer normas regulamentares e a Política Nacional de


Trânsito, além de coordenar os órgãos do Sistema nacional de
Trânsito, segundo artigo 12 do CTB.
b) ( ) O CONTRAN coordena também o Ministério das Cidades,
função que assegura a orientação e o planejamento do SNT.
c) ( ) Pelo artigo 7° do CTB podemos identificar que o CONTRAN
e o DENATRAN são os órgãos máximos normativos e consultivos
do trânsito.
d) ( ) Não é função do CONTRAN a elaboração de normas no
tema abordado nem revisar e alterar as resoluções necessárias
para melhor aplicação.

4 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Prezado leitor! Chegamos ao fim do Capítulo 1, em que acompanhamos a
evolução da lei de trânsito até o Código de Trânsito Brasileiro, veja que de 1910
para cá, ano esse que iniciou o regulamento da área no País, muitas situações
foram acontecendo, desde o advento tecnológico das grandes empresas e
indústrias de automóveis que entram no Brasil a partir de 1919, até o grande
crescimento populacional que se avolumou a partir do final do século XX.

É nesse sentido que você percebeu que a importância da história da


legalização/normatização do trânsito nacional vai de encontro a estruturação do
próprio CTB, em 1997. Por essa razão, temos uma política nacional voltada ao
trânsito que deve se atentar às estruturas mais elementares dessa que é uma
área muito abrangente.

Como somos um país de enormes proporções territoriais, a conduta


elementar de cada região definida por sua cultura, deve também ser adaptada
por uma política pública de qualidade na área do trânsito e da mobilidade. Nesse
sentido, não existe uma maneira de compreensão das normas de trânsito que
não estejam evidenciadas na educação e na transformação dos personagens
envolvidos na trama.

Isso ocorre devido às circunstâncias que envolvem o tema trânsito, como


uma ordem de proporções que eleva o aspecto mais intrínseco da sociabilidade
e urbanidade. Pode-se dizer, como vimos nas páginas anteriores, que esse tema
se refere mais à educação, à instrução e à disciplina do que até mesmo às mais
invasivas normas penais de punição. Por isso, a importante presença de uma
política pública de qualidade na área, se define como perpetuadora da busca pela
melhor formação de nossos condutores e pedestres, baseada na educação.
47
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

O Sistema Nacional de Trânsito, que ampara a Política Nacional de Trânsito


e tem como responsável o Ministério das Cidades, age com uma vasta gama
de instituições, espalhadas Brasil afora, para garantir a boa fruição do trânsito
em todas as suas particularidades, definindo também as competências de cada
instituto diretamente ligado a ele. Isso nos faz perceber que a rede que concatena
os órgãos diversos que versam sobre a matéria é muito ampla, mas ainda assim é
garantida por uma coordenação central.

Nesse sistema, o projeto de mobilidade urbana jamais poderia ficar de fora.


Como você viu, um dos mais importantes planejamentos para a mobilidade e
acessibilidade criados, a PNMU, direciona toda a sua potencialidade normativa
para o amplo conceito de cidadania, quando afirma a movimentação, o
deslocamento e a efetiva construção de discursos acerca da transitabilidade,
uma potencial fonte de promoção humana nos ambientes sociais, mas isso de
nada adianta se não tivermos políticas públicas que confirmem as atividades
anunciadas pelos planos e suas diretrizes aqui analisadas.

O direito de trânsito, mesmo possuindo seu aspecto pedagógico, precisa


muitas vezes direcionar sua força penalizadora ao praticante de atos criminosos e
infracionais, por intermédio da persecução penal.

Ainda, em épocas que afirmamos uma onda civilizatória com toda a instrução
que as tecnologias e as facilidades de busca das informações diversas nos trazem,
a violência no trânsito brasileiro é uma das mais marcantes características da
incivilidade e da estupidez que se apresenta nas estradas e nas ruas das cidades.
Contra essa falta de capacidade de harmonizar-se com o outro, o direito penal de
trânsito age coercitivamente, e isso é o que veremos no nosso próximo capítulo.

REFERÊNCIAS
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Sociologia do Direito Penal. 6. ed. Rio de Janeiro: Revan, 2011

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planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9503compilado.htm Acesso em 11 ago. 2021

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de


outubro de 1988. 29. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2002.

BRASIL. Departamento Nacional de Trânsito. 100 anos de Legislação de


Trânsito no Brasil: 1910 – 2010. Brasília: Ministério das Cidades, 2010.

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Capítulo 1 DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

BRASIL. Plano Nacional de Mobilidade Urbana: Disponível em: http://www.


emdec.com.br/eficiente/repositorio/6489.pdf. Acesso em: 10 mar. 2021.

BRASIL. Departamento Nacional de Trânsito – DENATRAN. Ministério das


Cidades – Código de Trânsito Brasileiro. Lei nº 9.503 de 23 de setembro de
1997, em vigor em 22 de janeiro de 1998. Brasília, DF, 1998.

BRASIL. Estatuto da cidade: guia para implementação pelos municípios e


cidades. 2. ed. Brasília: Câmara dos Deputados. Coordenação de Publicações,
2002.

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(DENATRAN). Municipalização do trânsito: roteiro revisado. Brasília. Ministério
das Cidades, 2003.

BRASIL. Ministério da Justiça. Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN).


Municipalização do Trânsito: roteiro para implantação. Apresentação do
Ministro da Justiça José Gregori. DENATRAN, 2000.

BEM, L. S. de. Direito Penal de Trânsito. São Paulo, Saraiva, 2015.

BERWIG, A. Direito do Trânsito. Ijuí : Ed. Unijuí, 2013. Coleção educação a


distância. Série livro-texto.

DAMATTA, R. Carnavais, malandros e heróis: para uma sociologia do dilema


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FAORO, R. Os donos do poder: formação do Patronato Político Brasileiro. Rio


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POLASTRI, M. Crimes de trânsito: Aspectos penais e processuais. 2. ed. São


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PLANO PPA 2014. Planejamento Urbano Nacional 2014. Disponível


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RIZZARDO, A. Comentários ao Código de Trânsito Brasileiro. São Paulo: Ed.


Revista dos Tribunais, 2007.

49
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

ROZESTRATEN, R. J. A. Ambiente, trânsito e Psicologia. In: HOFFMANN,


M. H.; CRUZ, R. M.; ALCHIERI, J. C. Comportamento humano no trânsito. São
Paulo: Casa do Psicólogo, 2003.

OLIVEIRA, R. Código de Trânsito (CTB) em detalhes. Notícias Automotivas.


Disponível em: https://www.noticiasautomotivas.com.br/codigo-de-transito-ctb-
em-detalhes/. Acesso em: 15 mar. 2021.

50
C APÍTULO 2
DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes


objetivos de aprendizagem:

Saber:
• Favorecer a compreensão do significado de infração, contravenção, medidas
administrativas, penalidades e crimes de trânsito.
• Diferenciar as infrações por intermédio do aparato legal.
• Conhecer os crimes de trânsito e os elementos do crime.
• Identificar a consumação e tentativa em crimes de trânsito, analisar desistência
voluntária e arrependimento eficaz.
• Identificar dolo, culpa, fato típico, nexo causal, resultado e tipicidade para o
direito penal.

Fazer:
• Analisar a forma e a essência dos crimes de trânsito, bem como compreender
as Contravenções, Infrações, Medidas Administrativas e Penalidades.
• Refletir sobre as excludentes de ilicitude e culpabilidade, entender a
consumação e a tentativa do crime ou contravenção no trânsito.
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

52
Capítulo 2 DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

1 CONTEXTUALIZAÇÃO - INFRAÇÃO
PENAL DE TRÂNSITO
Prezado pós-graduando, ao iniciar este segundo capítulo sobre a matéria
penal de trânsito no Brasil, você vai notar que toda ação no trânsito molda reações
diversas. Algumas dessas condutas, que conseguem afetar as ações no trânsito
e saem da normalidade e da convivência saudável, são tipificadas pelo Código
de Trânsito Brasileiro (CTB) como crimes, contravenções e infrações. É por essa
carta de leis que entendemos as diferentes formas de identificar o ato desviante
no trânsito, e a partir dela, obtemos um norte para a normatização das condutas
diversas.

Como vimos no capítulo anterior, questões de trânsito trazem consigo, em um


primeiro plano, o coeficiente de educação e convivência saudável. A mobilidade
significa a salutar locomoção de todos os personagens do cotidiano, em todas
as vias e estruturas criadas para isso. E é nesse sentido que a lei de trânsito
comanda desde regramentos acerca da segurança de veículos e treinamentos
aos motoristas, até sanções penais contra condutas tipificadas como crime.

Serão essas condutas as que encontraremos nesse capítulo, iniciando-se


com os elementos do crime. Se no capítulo anterior você analisou os antecedentes
históricos da legislação de trânsito, os conceitos de mobilidade urbana e os
princípios das políticas públicas para o trânsito, agora verá a aplicação da norma
quando alguma conduta considerada ilegal ocorre e para isso, é importante definir
os fatores que evidenciam o crime, em seus elementos mais intrínsecos, como a
sua definição e concepção acerca do que seja o crime de fato. Todo esse estudo
será visto no capítulo inicial dessa segunda unidade.

Em um segundo momento, vamos juntos analisar os crimes de trânsito


em si, e o que o Código Brasileiro de Trânsito considera para diferenciar os
inúmeros desvios que possam acontecer, como o crime, as infrações e as
medidas administrativas. Nesse sentido, as penalidades para cada uma dessas
nomenclaturas e atos serão analisados a partir do prisma constitucional, adotado
pelo CTB.

Veremos então em pontos distintos, primeiro os crimes e, em segundo


plano, as infrações. Essa divisão epistemológica é segura, pois entende-se que o
melhor conceito pode ser aplicado quando dois institutos são analisados de forma
independente, quando se fazem presentes num mesmo código de leis.

Importante sempre lembrar que a matéria trânsito brasileiro envolve

53
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

conexões, culturas e diversas situações que somente podem ocorrer em um


país com imenso espaço territorial como o Brasil. Através do desenvolvimento da
estrutura para o trânsito o Estado deve produzir facilidades para a mobilidade,
seja urbana ou rural, em todas as vias que geram o fluxo no país, mas é essencial
a capacitação constante de nossos motoristas e cidadãos, demonstrando que
todos fazem parte de uma interação social, mesmo no trânsito.

A educação e qualificação é significativa, para deixar o direito penal cada


vez mais afastado de uma relação que, através da conscientização e prevenção
de todos, pode ser conduzida pelo engenhoso talento humano da interação e
empatia, mas enquanto não chegamos a esse tão almejado aspecto, o direito
penal pune os atos considerados desviantes no trânsito, e é a partir dele que
entenderemos quais os crimes tipificados, em suas diversas formas.

Vamos lá!

2 OS ELEMENTOS DO CRIME
Prezado pós-graduando, você já deve ter refletido acerca dos crimes
diversos que ocorrem, causados por inúmeros fatores, e nessa reflexão o
desenvolvimento do que seja crime passa pelo crivo do senso comum, que com
frequência associa o crime a uma conduta reprovável e a violação da norma legal.

Entretanto, outros são os subsídios trazidos pela doutrina, para que


possamos entender o conceito mais utilizável do significado de crime. O direito
e a penalização de atos considerados criminosos partem de pressupostos
identificados ao longo dos anos nas sociedades e principalmente, na convivência
humana. Para o jurista italiano Paulo Grossi “o ponto de referência necessário
do direito é somente a sociedade” (GROSSI, 2006, p. 37). Isso significa que
o trato social, em toda a sua construção, é hábil para originar o direito. Nesse
sentido, o conceito de crime somente pode ser definido a partir das construções
sociais ao entorno do ato delituoso, daquilo que a sociedade considera o que
seja crime (CHRISTIE, 2011). Portanto, o próprio direito é adaptável à sociedade,
uma vez sendo criado por sua cultura e história, ainda mais quando tratamos da
penalização de condutas interpretadas por criminosos. É aqui que nos deparamos
com o fenômeno social do crime, definido por Magalhães Noronha como ato
intrínseco da humanidade, que pode apenas ser realizado pelo ser humano: "A
história do direito penal é a história da humanidade. Ele surge com o homem e o
acompanha através dos tempos, isso porque o crime, qual sombra sinistra, nunca
dele se afastou” (NORONHA, 2003, p. 57).

54
Capítulo 2 DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

Mesmo que ainda se define como fenômeno social, interligado à história


humana e ao conceito de trato social, o conceito do que seja crime não foi definido
pelo próprio direito, em seu braço mais atuante nessa área que é o direito penal,
e ainda que seja estudado por vários segmentos, como a criminologia, essa é
uma construção fundamentalmente jurídico penal, não sendo tão fácil assim
determinar a sua interpretação. E ainda mais em crimes de trânsito, em que junto
à ação estão interligados conceitos importantes como a destreza, a prudência e
até mesmo, o respeito ao outro.

Entender o crime diferencia-se de entender a criminalidade. Crime possui


suas características exegéticas complexas quando se interpreta que suas causas
diversas variam de tempo e cultura, de interesses e propensões. Criminalidade
é a prática daquilo que se observa como ato tido como criminoso. Se atitudes
desviantes são consideradas crimes natos, é necessário então que haja um rol
que as defina dessa forma (FERREIRA, 2020).

O Código Penal, aberto e característico, traz a listagem daquilo considerado


crime em sociedade, que quando colocado em prática, desestabiliza algum
setor da convivência em comum, efetivando o desvio. Só que crime pode ser
interpretado e reinterpretado. Traz em sua lista de “atos falhos; furto, tráfico,
estelionato, calúnia, difamação, entre outros típicos, antijurídicos e culpáveis”,
todavia, muitos não puníveis (BITENCOURT, 2012, p. 321).

Veja que no Brasil, a infração penal comporta duas espécies de ato desviante:
o crime ou delito e a contravenção penal, considerada pelo seu aspecto de menor
potencial ofensivo. A diferença das sanções se dá pela possibilidade da privação
ou não da liberdade do indivíduo. Assim, quando tratamos de penas privativas de
liberdade, significa que os delitos são punidos pela reclusão e detenção. Quando
há a reclusão, sentenciada pelo magistrado, significa que a pena é mais severa,
que tem em seu cumprimento o regime fechado, semiaberto ou aberto, cumprida
em estabelecimento de segurança máxima. Já quando tratamos de detenção,
entende-se que é a aplicação da pena para delitos consideravelmente menos
gravosos, o que admite condenações mais leves, não admitindo então o regime
fechado como início do cumprimento da pena. Aqui há a prisão simples e a pena
de multa, o que ocorre em casos de contravenção penal (BITENCOURT, 2012).

Esse critério bipartite de ações típicas no Código Penal (crime e contravenção


penal) pode ser diferenciado na qualidade e quantidade da pena, ou multa no
caso das contravenções.

Para que exista um crime ou contravenção, há a necessidade de três


fatores influentes, considerados como elementos do crime:

55
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

1 O fato típico;
2 O fato ilícito;
3 A culpabilidade do agente causador do desvio;

Nesse sentido, no fato típico é preciso analisar a conduta, nexo causal,


resultado e se há previsão legal. Na ilicitude será analisado se o agente não
atuou em legítima defesa, estado de necessidade, estrito cumprimento do dever
legal, exercício regular do direito ou consentimento do ofendido. Por último, na
culpabilidade, será analisada a imputabilidade, a potencial consciência da ilicitude,
a exigibilidade de conduta diversa. Tudo isso será visto no Capítulo 3, quando
iremos tratar das condutas para o crime.

Nucci traz uma definição para os atos considerados criminosos, que realça
uma conduta que considera típica, antijurídica e culpável, veja:

… ação ou omissão ajustada a um modelo legal de conduta


proibida (tipicidade), contrária ao direito (antijurídica) e sujeita
a um juízo de reprovação social incidente sobre o fato e seu
autor, desde que existam imputabilidade, consciência potencial
da ilicitude e exigibilidade e possibilidade de agir conforme o
direito (NUCCI, 2014, p. 120).

É sobre esses fatores que iremos tratar neste capítulo, começando pelo fato
considerado típico.

2.1 FATO TÍPICO


Por mais que possam ter semelhanças entre seus significados, fato típico
e tipicidade são diferentes em seus conceitos, e entendê-los torna mais fácil a
interpretação da teoria adotada no Brasil, para o estudo da ação considerada
como criminosa (BITENCOURT, 2012).

O fato típico nada mais é do que a confirmação da norma escrita (positivada)


no código de direito penal. Então, se a ação da pessoa surtiu algum efeito na
vida real, e se essa ação está contemplada no código de leis, significa dizer
que a pessoa confirmou a regra. Um exemplo disso pode ser evidenciado pelo
artigo 303 do CTB, veja: “Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo
automotor: Penas - detenção, de seis meses a dois anos e suspensão ou
proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor”
(BRASIL, 1997). Então, se o autor da ação praticou alguma lesão em outrem, na
direção de veículo automotor, essa ação passa a ser considerada um fato típico,
pois evidenciou a norma, realizando aquilo que ela entende como atitude a ser
penalizada (BITENCOURT, 2012).

56
Capítulo 2 DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

Sendo assim, o fato típico é o primeiro requisito para se considerar o crime,


ou o seu elemento essencial. Deve consistir em uma conduta que produza um
resultado que se ajuste ao direito penal. Aquele fato humano descrito de maneira
abstrata na lei como uma transgressão da norma penalizadora é o fato típico, que
quando ocorre, confirma a norma penal e a ação do direito penal e sua persecução
ao autor dos fatos transgressores.

Considera-se elementos do fato típico a conduta, o resultado, o nexo


causal entre a conduta e o resultado e a tipicidade. Na falta de qualquer destes
elementos, o fato passa a ser atípico e sendo assim, não há crime.

2.1.1 DoLo E CuLPA


O fato para ser considerado típico, precisa então de uma ação que se molde
à norma, tornando possível a penalização do direito ao autor do fato. Ocorre que,
mesmo esse fato sendo realizado pela vontade do autor, ou por sua imperícia,
imprudência ou negligência, ele deverá ser considerado pelo direito penal como
uma ação que confirma a norma legal. Assim, aqui o direito irá apenas analisar
se houve vontade do agente em causar o dano, ou outro elemento que não
caracterize uma ação volitiva e cognitiva, pautada pelo ânimo de causar dano a
outrem (BITENCOURT, 2012).

Em outras palavras, para interpretação do que seja crime, uma vez não
havendo uma definição legal em códigos legais, a seguinte análise deve ser
realizada: se alguma pessoa deseja cometer um delito ou assume o risco de
cometê-lo, por sua ação ou omissão, ele estará agindo dolosamente, ou com dolo,
mas se cometeu o crime por negligência, imprudência ou imperícia, ele estará
agindo culposamente, evidenciando a culpa. Aqui então se analisa a conduta
do agente (BITENCOURT, 2012).

O artigo 18, inciso I do nosso Código Penal considera o crime “doloso,


quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo” (CÓDIGO
PENAL, 1940, p. 774). Nesse sentido, entendemos que o dolo ocorre quando o
agente teve a vontade e a plena consciência de seus atos, intencionando realizar
os elementos do tipo incriminador. Obtendo então pleno conhecimento de que
suas ações são consideradas criminosas e ainda possuindo plena consciência
intelectual disso, incorre no crime, então o dolo se caracteriza. Veja que a vontade
aqui é preponderante para que uma ação seja considerada dolosa. A potencial
consciência da ilicitude do ato a ser realizado é importante no sentido de que o
agente possuía condições psicológicas e cognitivas para entender suas ações e
prever também seu resultado (BRANDÃO, 2010).

57
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

A partir disso temos o dolo direto, que ocorre quando o agente prevê o
resultado e põe em prática seus atos para esse fim previsto. Nesse caso temos
dois tipos de dolo, o direto de primeiro grau, que é quando a ação é visada, tendo
o autor vontade de concretizar os requisitos objetivos do tipo, age diretamente e
obtém o resultado pretendido.

Já o dolo direto de segundo grau é quando a ação criminosa é planejada,


mas em sua execução outro resultado não pretendido acontece. É o exemplo
que a doutrina demonstra de alguém que deseja matar um inimigo definido
e para esse fim instala uma bomba dentro do avião em que se encontra essa
pessoa. Certamente, ao explodir o artefato, outras vítimas fatais surgirão, e esses
passageiros perfazem o dolo direto de segundo grau.

Para os crimes de trânsito, existe uma especial atenção a duas nomenclaturas


que você já deve ter ouvido falar por aí, em colisão de veículos que acabam
ocasionando a morte de alguém: o dolo eventual e a culpa consciente.

● Dolo Eventual: esse tipo de infração ocorre quando o agente prevê


o resultado que suas ações podem causar, mas ainda assim, assume
o risco de que sua atitude é capaz de matar alguém. Aqui, existe a
indiferença do autor em relação ao resultado. Veja o eficaz exemplo do
trânsito, de alguém que acelera para testar seu veículo em uma via repleta
de escolas e travessia de crianças. Sua ação pode trazer consequências
desastrosas, mas o autor não se perturba por isso, e mesmo assim,
acelera ao máximo que pode. Ao atingir um infante levando-o à morte
por atropelamento, o dolo eventual existiu pelo fato de que o agente tinha
potencial consciência do que o seu ato poderia causar, e não tomou o
devido cuidado para evitá-lo.
● Culpa Consciente: por mais que culpa, como veremos logo mais, seja
situação diversa de dolo, aqui ela ocorre mais interligada ao próprio
ato doloso do que mesmo culposo (quando não há intenção de matar).
Em casos de culpa consciente, o agente consegue prever o resultado,
assumindo os riscos, mas acredita que por conta de sua habilidade, ou
em virtude de sua capacidade pessoal, conseguirá evitar resultados
danosos. Um exemplo disso é o do exímio atirador de facas que tem
certeza de suas habilidades, mas um dia acaba errando, ferindo alguém,
responderá pelo instituto da culpa. Então temos o seguinte, quando
tratamos do dolo:

58
Capítulo 2 DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

QUADRO 5 – DOLO E CULPA


Dolo direto de Dolo direto de Culpa Cons-
Dolo Direto Dolo Eventual
primeiro grau segundo grau ciente
Art. 18, I, CP: Há previsão do Há previsão do
Há previsão do Há previsão do
Vontade e resultado – mas resultado – mas
resultado – há resultado – porém
Conhecimento outro resultado há indiferença
vontade do pensa que pode
de produzir o não pretendido quanto ao resul-
resultado evitar o resultado.
resultado. ocorre. tado.
FONTE: O autor

No caso da culpa, importante salientar que seu instituto vem bem definido no
mesmo artigo 18 do Código Penal, em seu inciso II: “Diz-se o crime: II - culposo,
quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou
imperícia” (CÓDIGO PENAL, 1940, p. 774). Nesse sentido, não há vontade nem
intenção de praticar a ação ilícita, mas apenas consequência de determinadas
inaptidões ou falta de cuidado. Assim, quando o crime culposo ocorre, em geral
a atitude do autor não se coaduna com o dolo, pois não há nem desejo, nem
preparação para o injusto penal, mas ainda assim, ele ocorreu, e pode ocorrer de
três formas:

● Imprudência: considera-se imprudência pela atitude realizada sem


nenhuma cautela, e como a própria palavra demonstra em seu sinônimo,
o agente foi descuidado, mas ainda assim, não quis cometer o crime. É o
caso da ultrapassagem insegura.
● Negligência: a desatenção ou o desleixo em algo que se deve ter grande
atenção e mesmo assim foi negligenciado. Típico exemplo do motorista
que não trocar seus pneus carecas, ou não verificar os freios do veículo
antes da viagem. Ao ocorrer o crime culposo por atropelamento, que
poderia ter sido evitado caso se constate as falhas nos freios, ou nos
pneus que deveriam ter sido verificados antes, somente aconteceu pelo
descuido que teve o motorista.
● Imperícia: aqui tratamos da inabilidade e falta de conhecimento para
a ação, que se deslinda em um fato típico. Se um mecânico arrumar
de forma descuidada o freio de um carro, e esse instrumento falhe
por conta da imperícia do mecânico, atropelando alguém, estando o
motorista seguindo todas as normas de precaução e leis de trânsito,
então o profissional mecânico é responsável pelo crime culposo, uma
vez não tendo vontade de incorrer em crime algum, mas o fez por sua
incompetência.

Para Bitencourt a culpa é a “inobservância de um dever objetivo de cuidado


manifestada numa conduta produtora de um resultado não querido, mas

59
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

objetivamente previsível” (BITENCOURT, 2012, p. 445). Dessa forma, quando


entendemos a culpa:

QUADRO 6 - CULPA
Culpa Imprudência Negligência Imperícia
Art. 18, II CP: Não há
Descuido Desatenção Inabilidade
vontade em produzir
Irresponsabilidade Desleixo Incapacidade
o resultado, mas há
Insensatez Distração Incompetência
falta de determinados
Inadvertência Omissão Inexperiência
cuidados.
FONTE: O autor

O dever de cuidado objetivo é imposto a todos, e significa que devem agir


empregando todas as cautelas necessárias com intuito de que suas ações não
resultem em nenhum tipo de dano a bem jurídico alheio. A punibilidade para esses
crimes tem o intuito de tornar as pessoas mais atentas, obtendo uma função
pedagógica.

Quanto à culpa, vamos analisar melhor os seus institutos? Há


o ato praticado ou não praticado, por imprudência, negligência ou
imperícia, nesse sentido observe a explicação a seguir para nunca
mais esquecer:

● Imprudência: é quando faço algo que não deveria ser feito.


● Negligência: é quando não faço o que deveria ser feito.
● Imperícia: é quando alguém que deveria dominar determinada
técnica ou ter determinada habilidade que não domina ou não
tem. Uma inobservância/descuido por parte do profissional na sua
profissão.

2.1.2 RESuLTADo
Considera-se resultado para o direito penal toda e qualquer ação que
modifique a natureza do bem jurídico tutelado, de forma a degradar a sua
substância, por intermédio de uma conduta. Para isso, havendo ou não vontade
de gerar dano causado pela atividade humana, o resultado sempre será avaliado
pela sua modificação causada no bem.
60
Capítulo 2 DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

Veja que quando há dolo na ação, o resultado ocorre, pois, o agente


assim quis. Quando não houve a ação dolosa, mas sim, culposa, o autor não
desejou causar o resultado, mas agiu por circunstâncias alheias à sua vontade. A
modificação causada deve ocorrer em algum objeto ou valor jurídico protegido por
lei, e ocasionar a confirmação da norma penal escrita, na vida real.

De qualquer forma, a ação terá algum tipo de punição, pois o dano deverá
ser reposto ao proprietário, através de reparação monetária.

2.1.3 NEXo CAuSAL


O nexo causal ou também chamado de relação de causalidade refere-
se à conduta do agente que deu causa ao dano, seja por sua ação voluntária
(dolosa), ou motivado pela imprudência, negligência ou imperícia. Nesse sentido,
é importante definir que determinada ação, seja qual for seu motivo, causou o
dano específico (BITENCOURT, 2012).

Entretanto, para que exista o fato típico a mera constatação do nexo de


causalidade não basta, é importante que o autor dê causa ao fato agindo com
dolo ou com culpa para que exista o fato típico. Como vimos, para que ocorra
então o fato considerado típico, é necessário que haja um nexo normativo (o bem
é protegido pela norma) e a alteração do bem tutelado, que consideramos nexo
causal físico.

2.1.4 TiPiCiDADE
Lembra, prezado estudante, do fato típico estudado anteriormente? A
tipicidade nada mais é do que a pura adequação de uma conduta a uma norma,
ao fato típico, determinado por lei penal. Então tomemos por exemplo um
motorista que, mesmo dirigindo em velocidade baixa, atentando-se a todos os
cuidados necessários na direção de veículo automotor, atropele alguém o levando
a morte. Ainda com todo cuidado e zelo a ação do condutor causou um dano, a
um bem jurídico tutelado por lei e a uma norma típica, ou seja, matar alguém.
Para que exista a tipicidade, deve existir o crime em lei. Dessa forma, a conduta
encontra previsão na norma incriminadora, mas se não houver tipicidade, ou seja,
não estiver descrito em lei, não há crime. Então é válida a máxima nulla poena
sine crimen lege, que ressalta não haver pena, quando não há previsão legal de
crime. Veja o que nos diz a Constituição Federal de 1988 nesse sentido:

61
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de


qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade,
nos termos seguintes:
XXXIX – não há crime sem lei anterior que o defina, nem
pena sem prévia cominação legal. (BRASIL, 2002, p. 47,
grifo nosso).

O Código Penal ocupa-se de analisar a ação tipificada como crime, a partir


da lei, que deve ser anterior ao fato entendido como criminoso. Deve, dessa
forma, a lei designar o que é ato criminoso, mesmo antes que ele ocorra, havendo
o princípio da Anterioridade da Lei: Art. 1º – “Não há crime sem lei anterior que o
defina. Não há pena sem prévia cominação legal”. (CÓDIGO PENAL, 1940, p. 38).
Note, prezado pós-graduando, que o tipo é composto por alguns elementos, como
a designação sempre feita por um verbo, por exemplo: matar alguém, constranger,
subtrair, expor, entre outros encontrados na norma penal. Quando o sujeito traz
esse verbo para a realidade, tanto por uma ação ou uma omissão sua, então
há o que conhecemos por tipicidade. Isso explica a Tipicidade Formal, que é
a mera adequação da conduta do agente ao tipo penal, devendo a adequação ser
perfeita ao tipo.

Há também a tipicidade material, importante critério para considerar se o


direito penal deve ser chamado à causa e desenvolver a sua persecução. Aqui
observa-se a relação do dano ao bem, e se esse dano realmente causou
alguma intervenção ao bem jurídico tutelado de fato. A tipicidade formal
relaciona-se com o princípio da insignificância e com a mínima intervenção do
fato ao objeto tutelado. Vejamos como um influente exemplo, o caso de alguém
que sem querer, ou seja, sem dolo algum, age com imperícia e risca a porta de
outro automóvel estacionado, sem causar grandes lesões. A lesividade pode ser
considerada pequena e resolvida fora do âmbito penal, sendo solucionado entre
as partes.

Então veja que, para haver o crime, são necessários os seguintes elementos:

● Ação típica – Ilícita/Antijurídica – Culpável (passível de penalização)

No próximo tópico, iremos tratar especificamente dos crimes de trânsito,


causados algumas vezes por culpa, e outras tantas por dolo. Veremos a
importância de entendermos dolo e culpa, para a análise dos crimes e infrações
de trânsito.

Vamos lá!

62
Capítulo 2 DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

Antes de passarmos ao próximo ponto de estudos, que tal


testarmos nosso conhecimento?

1 – É correto dizer que:


a) A ação dolosa é advinda de requisitos exteriores à vontade do
agente.
b) A ação culposa é considerada pelo ato cognitivo e volitivo para
causar dano.
c) Ação culposa necessariamente prevê certos requisitos como a
imprudência.
d) Dolo e culpa são determinados apenas a partir do ânimo subjetivo
do agente.

2 – É correto afirmar que, na culpa consciente, o agente:


a) Prevê o resultado e, conscientemente assume o risco de produzi-
lo.
b) Prevê o resultado, mas espera sinceramente que ele não ocorra.
c) Não possui previsão quanto ao resultado, mas apenas à
previsibilidade do mesmo.
d) Não tem previsão quanto ao resultado, mas, conscientemente, o
considera previsível.

3 – Assinale V para as Verdadeiras e F para as questões consideradas


Falsas:
( ) Tipicidade nada mais é do que a conformação de determinada
conduta a uma norma penal.
( ) Para a Tipicidade Formal é preciso que a ação contra o bem
jurídico tutelado seja relevante.
( ) Conduta típica é toda a ação voltada a um resultado doloso.
( ) Considera-se resultado qualquer ação praticada por atos
culposos, mas não dolosos.

3 OS CRIMES DE TRÂNSITO
Prezado pós-graduando, você pode observar que para que o crime ocorra
algumas condicionantes devem estar presentes. Ocorre que se tratando de
trânsito, vários são os aspectos que devem ser analisados, entre eles, o que é
crime de trânsito de fato e o que costuma ser identificado como uma infração

63
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

de trânsito. Essa definição é importante, para avaliarmos qual a penalização


para cada tipo de infração ou crime, seja ela uma medida administrativa contra o
agente, ou uma penalidade aos moldes do direito penal de trânsito.

Conforme vimos há algumas páginas, o trânsito envolve educação e


sociabilidade, além de normas que devem ser cumpridas para uma melhor
mobilidade. Todas essas regras de circulação e conduta estão previstas no
Capítulo 3 do CTB, e por elas é definido o caráter orientador, educativo e
pedagógico do código, que intenta estabelecer um comportamento geral por
intermédio de aplicações práticas.

Normas como: I – “a circulação far-se-á pelo lado direito da via, admitindo-


se as exceções devidamente sinalizadas”; ou como: b) “os pedestres, ao ouvirem
o alarme sonoro ou avistarem a luz intermitente, deverão aguardar no passeio
e somente atravessar a via quando o veículo já tiver passado pelo local”;
indicam o teor instrutivo do Código, mas com a intenção essencial de prevenção
(BRASIL, 1997). Normas para transposição de faixa, prerrogativas para veículos
de emergência, preferência em cruzamentos, simbolizam o caráter diligente do
legislador que, ao incluir regras básicas de conduta, não estipuladas em nenhum
outro código de leis penalizadoras no País, abrange mais por intermédio das
Políticas Públicas de Trânsito, governadas pelo Sistema Nacional de Trânsito do
que pela força penalizadora da persecução penal.

Entretanto, ainda que por intermédio de políticas públicas para o tema


venham a ser instruídas a partir do caráter educativo e da prevenção, os crimes de
trânsito ocorrem tanto por culpa do agente, como do dolo. Começaremos a tratar
dos crimes mais essenciais para o código de direito penal de trânsito, inserido no
próprio CTB, envolvendo os artigos 291 a 312.

3.1 CRIMES
O Código de Trânsito Brasileiro apresenta suas disposições gerais
antes mesmo de delinear o crime e suas penas, em um sentido de regrar as
determinantes do crime, como as majorantes (fatos que aumentam a pena), a
suspensão e a proibição para dirigir, entre outros. Isso se dá pois é pelo CTB que
temos as regras de um processo penal de trânsito, que representam quais as
normas a serem seguidas em uma investigação penal, bem como, no deslinde do
processo em si.

Veja, que antes mesmo de tratar os atos tipificados como crime, as


disposições norteiam a própria penalização do ato desviante no trânsito, através
de seus mandamentos, como a reincidência e até mesmo a possibilidade da
prisão em flagrante, imposta ao condutor que incorra em crime.
64
Capítulo 2 DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

Vamos dar uma olhada nos artigos constantes nas Disposições


Gerais nos crimes de trânsito? Elas são muito importantes, pois
irão definir a persecução penal e como se dará a competência para
julgamento, em cada tipo de crime, bem como, a ação do magistrado
nas causas apresentadas a ele. Fique atento aos comentários após
cada artigo:

Art. 291. Aos crimes cometidos na direção de veículos automotores,


previstos neste Código, aplicam-se as normas gerais do Código Penal e
do Código de Processo Penal, se este Capítulo não dispuser de modo
diverso, bem como a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, no que
couber. § 1o Aplica-se aos crimes de trânsito de lesão corporal culposa
o disposto nos arts. 74, 76 e 88 da Lei no 9.099, de 26 de setembro
de 1995, exceto se o agente estiver: I - sob a influência de álcool ou
qualquer outra substância psicoativa que determine dependência;
II - participando, em via pública, de corrida, disputa ou competição
automobilística, de exibição ou demonstração de perícia em manobra
de veículo automotor, não autorizada pela autoridade competente;
III - transitando em velocidade superior à máxima permitida para a
via em 50 km/h (cinquenta quilômetros por hora). § 2o Nas hipóteses
previstas no § 1o deste artigo, deverá ser instaurado inquérito policial
para a investigação da infração penal. § 4º O juiz fixará a pena-base
segundo as diretrizes previstas no art. 59 do Decreto-Lei nº 2.848, de
7 de dezembro de 1940 (Código Penal), dando especial atenção à
culpabilidade do agente e às circunstâncias e consequências do crime.

Comentário: o artigo aqui relata a possibilidade de competência


para julgamento da lei dos Juizados Especiais, 9.099/95, em casos de
lesão corporal se o agente NÃO estiver sob influência de algum tóxico.

Art. 292. A suspensão ou a proibição de se obter a permissão ou


a habilitação para dirigir veículo automotor pode ser imposta isolada ou
cumulativamente com outras penalidades.

Comentário: a penalização criminal para os crimes cometidos no


trânsito pode ser cumulativas às penas de infração, como a suspensão
do direito de dirigir, a pontuação na carteira.

Art. 293. A penalidade de suspensão ou de proibição de se obter a


permissão ou a habilitação, para dirigir veículo automotor, tem a duração
de dois meses a cinco anos. § 1º Transitada em julgado a sentença

65
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

condenatória, o réu será intimado a entregar à autoridade judiciária,


em quarenta e oito horas, a Permissão para Dirigir ou a Carteira de
Habilitação. § 2º A penalidade de suspensão ou de proibição de se
obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor não se
inicia enquanto o sentenciado, por efeito de condenação penal, estiver
recolhido a estabelecimento prisional.

Comentário: aplicada pelo magistrado, a pena é a retirada dos


direitos de forma temporária, quando há sentença condenatória por
crimes de trânsito.

Art. 294. Em qualquer fase da investigação ou da ação penal,


havendo necessidade para a garantia da ordem pública, poderá o juiz,
como medida cautelar, de ofício, ou a requerimento do Ministério Público
ou ainda mediante representação da autoridade policial, decretar, em
decisão motivada, a suspensão da permissão ou da habilitação para
dirigir veículo automotor, ou a proibição de sua obtenção. Parágrafo
único. Da decisão que decretar a suspensão ou a medida cautelar, ou
da que indeferir o requerimento do Ministério Público, caberá recurso
em sentido estrito, sem efeito suspensivo.

Comentário: o juiz pode decretar de ofício medida cautelar, ou


seja, movido por sua própria decisão, ou atender o membro do Ministério
Público ou ao Delegado. De toda forma, é um ato discricionário do
magistrado.

Art. 295. A suspensão para dirigir veículo automotor ou a proibição


de se obter a permissão ou a habilitação será sempre comunicada pela
autoridade judiciária ao Conselho Nacional de Trânsito - CONTRAN, e
ao órgão de trânsito do Estado em que o indiciado ou réu for domiciliado
ou residente.

Comentário: vincula-se domicílio, residência, todas as informações


acerca do penalizado por crime de trânsito, e relatado ao CONTRAN.

Art. 296. Se o réu for reincidente na prática de crime previsto


neste Código, o juiz aplicará a penalidade de suspensão da permissão
ou habilitação para dirigir veículo automotor, sem prejuízo das demais
sanções penais cabíveis.

Comentário: veja que não é um ato discricionário do juiz, quando a


lei determina que ele aplique a penalidade de suspensão.

66
Capítulo 2 DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

Art. 297. A penalidade de multa reparatória consiste no pagamento,


mediante depósito judicial em favor da vítima, ou seus sucessores, de
quantia calculada com base no disposto no § 1º do art. 49 do Código
Penal, sempre que houver prejuízo material resultante do crime. §
1º A multa reparatória não poderá ser superior ao valor do prejuízo
demonstrado no processo. § 2º Aplica-se à multa reparatória o disposto
nos arts. 50 a 52 do Código Penal. § 3º Na indenização civil do dano, o
valor da multa reparatória será descontado.

Comentário: a reposição em pecúnia para a vítima será depositada


em conta judicial, quando ficar determinada culpa ou dolo do condutor
em ação criminal, a quantia será entregue.

Art. 298. São circunstâncias que sempre agravam as penalidades


dos crimes de trânsito ter o condutor do veículo cometido a infração:
I - com dano potencial para duas ou mais pessoas ou com grande
risco de grave dano patrimonial a terceiros; II - utilizando o veículo sem
placas, com placas falsas ou adulteradas; III - sem possuir Permissão
para Dirigir ou Carteira de Habilitação; IV - com Permissão para Dirigir
ou Carteira de Habilitação de categoria diferente da do veículo; V -
quando a sua profissão ou atividade exigir cuidados especiais com o
transporte de passageiros ou de carga; VI - utilizando veículo em que
tenham sido adulterados equipamentos ou características que afetem
a sua segurança ou o seu funcionamento de acordo com os limites de
velocidade prescritos nas especificações do fabricante; VII - sobre faixa
de trânsito temporária ou permanentemente destinada a pedestres.

Comentário: as situações que agravam a pena e auxiliam o juiz


na fixação da penalidade estão elencadas aqui nesse dispositivo, que
realça os limites mínimos e máximos que podem ser utilizados pelo
magistrado.

Art. 301. Ao condutor de veículo, nos casos de acidentes de


trânsito de que resulte vítima, não se imporá a prisão em flagrante, nem
se exigirá fiança, se prestar pronto e integral socorro àquela.

Comentário: é o óbice para que o condutor seja imediatamente


preso, o pronto auxílio à vítima. Após, haverá a investigação, e caso
verifique-se a conduta delituosa, aí teremos a sentença, que pode vir a
ser de detenção como nos casos de homicídio no trânsito.

FONTE: BRASIL, 1997

67
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

3.2 DOS CRIMES EM ESPÉCIE


No próximo quadro estudaremos os crimes em espécie, ou seja, o que o CTB
interpreta como ato criminoso no trânsito. Atente-se aos comentários na coluna ao
lado:

QUADRO - 7 COMENTÁRIOS SOBRE OS CRIMES EM ESPÉCIE


Seção II
DOS CRIMES EM ESPÉCIE COMENTÁRIOS
Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção Aqui o legislador considerou envolver crimes cul-
de veículo automotor: Penas - detenção, de dois posos no fato de matar alguém. Veja, prezado
a quatro anos, e suspensão ou proibição de se estudante, que o Código Penal, em seu artigo
obter a permissão ou a habilitação para dirigir 121 determina: matar alguém. Dessa forma,
veículo automotor. quando existe o crime no trânsito, que vitimou
§ 1º No homicídio culposo cometido na direção fatalmente alguém, deve se verificar a intenção
de veículo automotor, a pena é aumentada de do agente. Se o homicídio culposo, sem inten-
1/3 (um terço) à metade, se o agente: ção de matar, seja por imperícia, imprudência
I - não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira ou negligência ocorrer, devem ser verificadas
de Habilitação; as majorantes para a pena, que são normas de
II - praticá-lo em faixa de pedestres ou na cal- conduta. Atropelar alguém na faixa, não prestar
çada; socorro quando possível ou dirigir sob efeito de
III - deixar de prestar socorro, quando possível substância psicoativa, são causas de aumento
fazê-lo sem risco pessoal, à vítima do acidente; da pena (NUCCI, 2014).
IV - no exercício de sua profissão ou atividade, Mas, note que, se o agente teve a real intenção
estiver conduzindo veículo de transporte de pas- de matar, utilizando para isso como arma veículo
sageiros. automotor, então esse deverá ser julgado atra-
§ 3º Se o agente conduz veículo automotor sob vés do Código Penal, pelo artigo 121, em que
a influência de álcool ou de qualquer outra subs- tratamos o homicídio, a reclusão é de 6 a 20
tância psicoativa que determine dependência. anos, mais as qualificantes do crime, que podem
Penas - reclusão, de cinco a oito anos, e sus- aumentar a pena.
pensão ou proibição do direito de se obter a A suspensão ou proibição do direito de se obter
permissão ou a habilitação para dirigir veículo a permissão para dirigir não se confunde com a
automotor. penalização administrativa. Aqui ela é aplicada
pelo magistrado, julgador da causa, enquanto lá
é aplicada por órgão administrativo de trânsito.

68
Capítulo 2 DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

Art. 303. Praticar lesão corporal culposa na di- Da mesma forma que a norma acima, se a lesão
reção de veículo automotor: penas - detenção, corporal for cometida por negligência, imperícia
de seis meses a dois anos e suspensão ou proi- ou imprudência, a pena base para o crime será
bição de se obter a permissão ou a habilitação a do artigo 303 do CTB. Entretanto, se houver
para dirigir veículo automotor. dolo, vontade de lesionar outrem, então é o ar-
§ 1º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) à me- tigo 129 do Código Penal quem deverá ser cha-
tade, se ocorrer qualquer das hipóteses do § 1º mado para o processo.
do art. 302. Todas as sanções descritas são operadas e
§ 2º A pena privativa de liberdade é de reclusão praticadas pelo poder judiciário, uma vez não se
de dois a cinco anos, sem prejuízo das outras estabelecem aqui sanções administrativas.
penas previstas neste artigo, se o agente conduz
o veículo com capacidade psicomotora alterada
em razão da influência de álcool ou de outra
substância psicoativa que determine dependên-
cia, e se do crime resultar lesão corporal de na-
tureza grave ou gravíssima.
Art. 304. Deixar o condutor do veículo, na oca- A prestação de auxílio da vítima representa,
sião do acidente, de prestar imediato socorro à nesse caso, a omissão do agente causador do
vítima, ou, não podendo fazê-lo diretamente, por acidente. Nesse caso, se o autor fugir do local
da colisão, não prestando auxílio nenhum, há o
justa causa, deixar de solicitar auxílio da autori-
dade pública: Penas - detenção, de seis meses crime previsto no artigo, mas veja que, mesmo o
a um ano, ou multa, se o fato não constituir ele- agente fugindo por receio de sua própria segu-
mento de crime mais grave. rança, do local do crime, ele peca por omissão
Parágrafo único. Incide nas penas previstas ao não avisar as autoridades públicas sobre o
neste artigo o condutor do veículo, ainda que a crime e sobre a vítima. Não pode haver inércia
sua omissão seja suprida por terceiros ou que do autor, que ao menos deve avisar as autori-
se trate de vítima com morte instantânea ou com dades (ambulância, polícia). Nesse sentido, tam-
ferimentos leves. bém comete o tipificado no artigo. O agente do
crime é o condutor apenas, excluindo transeun-
tes que passam pelo local.
Art. 305. Afastar-se o condutor do veículo do Interpreta-se aqui o verbo afastar-se pela ex-
local do acidente, para fugir à responsabilidade pressão de não ser responsabilizado o agente,
penal ou civil que lhe possa ser atribuída: Penas pelo ato cometido. Nesse caso, foge do local
- detenção, de seis meses a um ano, ou multa. para evitar punições quanto ao acidente que
cometeu, e evitar indenizações devidas. Ocorre
que esse fugir deve ser entendido pelo sentido
que o agente não quis ser reconhecido e sim-
plesmente, se evadiu do local.

69
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

Art. 306. Conduzir veículo automotor com capa- Embora o artigo contemple embriaguez ao vo-
cidade psicomotora alterada em razão da influ- lante, não versa sobre embriaguez de fato, mas
ência de álcool ou de outra substância psicoativa sim, capacidade alterada por influência de álcool
que determine dependência: Penas - detenção, ou substância diversa. A alteração pela Lei n.
de seis meses a três anos, multa e suspensão 12.760/12, retirou a mensuração por quantidade
ou proibição de se obter a permissão ou a habili- de álcool no organismo, sendo punidos aqueles
tação para dirigir veículo automotor. condutores flagrados sob a influência visível do
§ 1º As condutas previstas no caput serão cons- álcool. Devido às diversas negativas dos condu-
tatadas por: tores de se submeterem ao teste do bafômetro,
I - concentração igual ou superior a 6 decigra- com a nova redação da norma, apresentar sinto-
mas de álcool por litro de sangue ou igual ou mas de embriaguez já é causa do tipo.
superior a 0,3 miligrama de álcool por litro de ar
alveolar; ou
II - sinais que indiquem, na forma disciplinada
pelo Contran, alteração da capacidade psicomo-
tora.
§ 2º A verificação do disposto neste artigo po-
derá ser obtida mediante teste de alcoolemia ou
toxicológico, exame clínico, perícia, vídeo, prova
testemunhal ou outros meios de prova em direito
admitidos, observado o direito à contraprova.
§ 3º O Contran disporá sobre a equivalência
entre os distintos testes de alcoolemia ou toxi-
cológicos para efeito de caracterização do crime
tipificado neste artigo.
§ 4º Poderá ser empregado qualquer aparelho
homologado pelo Instituto Nacional de Metrolo-
gia, Qualidade e Tecnologia - INMETRO - para
se determinar o previsto no caput.
Art. 307. Violar a suspensão ou a proibição de A violação de que trata o artigo seria a qualquer
se obter a permissão ou a habilitação para diri- sanção de proibição de se obter a permissão
gir veículo automotor imposta com fundamento para a direção de veículos automotores, seja ela
neste Código: Penas - detenção, de seis meses uma sanção administrativa (art. 265 do CTB) ou
a um ano e multa, com nova imposição adicional em medida judicial, mediante sentença transita-
de idêntico prazo de suspensão ou de proibição. da em julgado. (art. 292 a 296). As penas aqui
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre o são cumulativas à pena já imposta.
condenado que deixa de entregar, no prazo es-
tabelecido no § 1º do art. 293, a Permissão para
Dirigir ou a Carteira de Habilitação

70
Capítulo 2 DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

Art. 308. Participar, na direção de veículo au- Pelo artigo 67 do próprio CTB, “as provas ou
tomotor, em via pública, de corrida, disputa ou competições desportivas, inclusive seus en-
competição automobilística ou ainda de exibição saios, em via aberta à circulação, só poderão
ou demonstração de perícia em manobra de ve- ser realizadas mediante prévia permissão da
ículo automotor, não autorizada pela autoridade autoridade de trânsito com circunscrição sobre
competente, gerando situação de risco à incolu- a via e dependerão de autorização da respec-
midade pública ou privada: Penas - detenção, de tiva federação automobilística, entre outros''.
6 (seis) meses a 3 (três) anos, multa e suspen- Significa que quem esteja participando de qual-
são ou proibição de se obter a permissão ou a quer tipo de competição não oficial, comumente
habilitação para dirigir veículo automotor. conhecido por racha, envolve-se nesse tipo. O
§ 1º Se da prática do crime previsto no caput dano à incolumidade pública ou privada aqui é a
resultar lesão corporal de natureza grave, e as essência do tipo normativo, uma vez que o fato
circunstâncias demonstrarem que o agente não ocorra em via pública.
quis o resultado nem assumiu o risco de produ-
zi-lo, a pena privativa de liberdade é de reclusão,
de 3 (três) a 6 (seis) anos, sem prejuízo das ou-
tras penas previstas neste artigo.
Art. 309. Dirigir veículo automotor, em via públi- Para que exista essa conduta, deve haver o
ca, sem a devida Permissão para Dirigir ou Ha- perigo de dano. Esse risco não pode ser pre-
bilitação ou, ainda, se cassado o direito de dirigir, sumido, mas sim, comprovado, através de uma
gerando perigo de dano: Penas - detenção, de condução irresponsável. Caso o agente seja pa-
seis meses a um ano, ou multa. rado em uma blitz, e verifique que não possui a
permissão para dirigir, não há pena nem multa
a ser aplicada, essa somente será determinada
caso exista o perigo de dano, conforme a reda-
ção da norma.
Art. 310. Permitir, confiar ou entregar a direção Aqui há o crime que não precisa que um resulta-
de veículo automotor a pessoa não habilitada, do típico ocorra, mas consideramos como crime
com habilitação cassada ou com o direito de diri- de mera conduta. A conduta não permitida é
gir suspenso, ou, ainda, a quem, por seu estado simplesmente entregar a direção do veículo às
de saúde, física ou mental, ou por embriaguez, pessoas descritas na norma. Se deve averiguar
não esteja em condições de conduzi-lo com se- quem é o dono (responsável) pelo veículo. É so-
gurança: Penas -detenção, de seis meses a um mente a ação dele que essa norma tipifica.
ano, ou multa.

71
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

Art. 311. Trafegar em velocidade incompatível A possibilidade de gerar o perigo de dano aqui
com a segurança nas proximidades de escolas, é normatizada, pois ao não atentar-se aos ris-
hospitais, estações de embarque e desembar- cos que a ação de dirigir com velocidade alta em
que de passageiros, logradouros estreitos, ou locais incompatíveis com isso pode causar, já
onde haja grande movimentação ou concentra- é uma atitude considerada criminosa. Escolas,
ção de pessoas, gerando perigo de dano: Penas hospitais, terminais públicos, embarque e de-
-detenção, de seis meses a um ano, ou multa. sembarque de passageiros, são locais que não
permitem alta velocidade. E nem há necessida-
de de placas determinando qual a velocidade
correta aqui, mas se o motorista aplicar veloci-
dade incompatível, já incorre na possibilidade de
gerar o perigo de dano, e assim, incorre também
no tipo.
Art. 312. Inovar artificiosamente, em caso de Estamos tratando de fraude processual no
acidente automobilístico com vítima, na pen- trânsito aqui. Deve haver a vontade e intenção
dência do respectivo procedimento policial pre- evidente de ludibriar a investigação acerca do
paratório, inquérito policial ou processo penal, o acidente. É clara a intenção do agente de atra-
estado de lugar, de coisa ou de pessoa, a fim de palhar a investigação policial e pericial.
induzir a erro o agente policial, o perito, ou juiz:
Penas -detenção, de seis meses a um ano, ou
multa.
Art. 312-A. Para os crimes relacionados nos Essas são as situações em que o juiz pode apli-
arts. 302 a 312 deste Código, nas situações em car medida diversa a de prisão, ao apenado por
que o juiz aplicar a substituição de pena privativa crimes de trânsito. A substituição da pena priva-
de liberdade por pena restritiva de direitos, esta tiva de liberdade por outra restritiva de direitos,
deverá ser de prestação de serviço à comunida- resolve que trabalhos desenvolvidos pelos agen-
de ou a entidades públicas, em uma das seguin- tes causadores de crimes de trânsito, que estão
tes atividades: tipificados do artigo 302 ao 312 do CTB, são
I - trabalho, aos fins de semana, em equipes de válidos se assim o juiz determinar. Os serviços
resgate dos corpos de bombeiros e em outras podem ser prestados em clínicas, instituições re-
unidades móveis especializadas no atendimento lacionadas ao acidente de trânsito, bem como no
a vítimas de trânsito; auxílio ao corpo de bombeiros no que necessitar.
II - trabalho em unidades de pronto-socorro de Aqui há o instituto da despenalização no direito
hospitais da rede pública que recebem vítimas penal de trânsito, podendo o autor realizar tra-
de acidente de trânsito e politraumatizados; balhos para a comunidade ao invés do cárcere,
III - trabalho em clínicas ou instituições espe- mas isso vai depender do julgamento do juiz da
cializadas na recuperação de acidentados de causa.
trânsito;
IV – outras atividades relacionadas ao resgate,
atendimento e recuperação de vítimas de aci-
dentes de trânsito.

72
Capítulo 2 DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

Art. 312-B. Aos crimes previstos no § 3º do art. Desde 12 abril de 2021 estamos sob a égide do
302 e no § 2º do art. 303 deste Código não se novo CTB. O artigo 312 B é uma novidade. A
aplica o disposto no inciso I do caput do art. 44 nova norma diz que em casos de lesão corporal
do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de ou de homicídio que foram causados por em-
1940 (Código Penal). (BRASIL, s.p., 1997). briaguez ao volante, ainda que sem a intenção
(dolo), a pena que seria de reclusão não pode
ser mais substituída por uma pena restritiva de
direitos.
FONTE: O autor

Cuidado com as terminologias. Não confunda crime de trânsito


com crime em trânsito. Crimes de trânsito são exatamente esses
que estamos estudando agora, que vão dos artigos 302 ao 312 do
CTB.

Já crime em trânsito é uma nomenclatura trazida pelo Código


Penal, em seu artigo 6° define o conceito da extraterritorialidade, que
dispõe que o crime pode percorrer territórios de mais de dois países
soberanos, gerando conflitos internacionais de jurisdição.

No próximo tópico veremos as infrações no trânsito. Você irá observar


que o número de infrações é muito maior que o de crimes tutelados no direito
nacional. Todas as infrações podem causar perda de pontos na CNH, que são
considerados como uma espécie de marcação no prontuário do motorista, que
fica disponível no Detran.

Vamos lá!

73
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

Vamos praticar?

1) Sobre as Disposições Gerais, assinale a alternativa correta:


a) O réu, sendo reincidente na prática de crime previsto no CTB,
sofrerá a sanção penal aplicada pelo juiz, que não poderá determinar
a acumulação de outras penas cabíveis.
b) O magistrado não poderá decretar ofício, mas é possível
atender o membro do Ministério Público ou as partes, em caso de
crimes de trânsito.
c) A multa será depositada em conta judicial, e ao ficar
determinado culpa ou dolo do condutor, retornará a ele ao fim do
processo.
d) O condutor que prestar auxílio imediato à vítima não pode ser
imediatamente preso.

2) Assinale a alternativa correta, a respeito dos crimes de


trânsito:
a) As Políticas Públicas para o trânsito são tratadas pelo Detran.
b) Os crimes de trânsito são considerados pelo seu alto potencial
ofensivo, não pela norma positivada que diz o que é crime punível no
CTB. Portanto, se a lesão for considerada grande, é crime.
c) Crime de trânsito, elencado nos artigos 291 e 312, dispõe ao
magistrado os atos considerados pelo direito penal de trânsito.
d) Não podem ser cumulativas as penas aos crimes de trânsito,
com as sanções administrativas, pois fere um princípio basilar do
direito penal, que é a dupla penalização por um mesmo delito.

4 AS INFRAÇÕES NO TRÂNSITO
Consideradas menos gravosas que o crime, infrações nos remetem aos
desvios com menor potencial ofensivo, devido a sua baixa lesividade ao bem
jurídico tutelado. Aqui consideramos que a inobservância das normas de trânsito,
sejam elas de conduta ou não, podem ser causadas tanto por um ato doloso ou
culposo.

74
Capítulo 2 DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

4.1 AS INFRAÇÕES DE TRÂNSITO


As infrações que o CTB descreve podem ser classificadas em infrações
administrativas, civis e penais. Entende-se por infração administrativa aquelas
que não são derivadas de crimes e por esse mesmo motivo, o agente responsável
pelo trânsito pode imputar a penalização ao condutor, devido ao baixo potencial
ofensivo de sua conduta.

As infrações penais são resultantes de atitudes que o próprio direito penal,


ou o CTB, considerem delituosas, todavia, o deslinde do processo será realizado
pelo Código de Processo Penal, e podem ser aplicadas tanto às penas criminais
ao infrator, quando as medidas administrativas, mesmo que cumulativamente
nesse caso.

Como vimos nas Disposições Gerais anteriormente, no artigo 291, § 1º, a


ação poderá ser desenvolvida pelos Juizados Especiais, ou seja, pela Lei 9099/95,
em condutas que não sejam causadas sob a influência de álcool ou qualquer outra
substância psicoativa. Nos outros casos, o instituto despenalizador dos Juizados
Especiais pode ser aplicado ao caso, como a conversão das penas por prestação
de serviços à comunidade.

O quadro a seguir demonstrará as normas contidas neste capítulo, bem


como, os comentários acerca da lei:

QUADRO 8 – COMENTÁRIOS ACERCA DAS INFRAÇÕES NO CTB


CAPÍTULO XV
Comentários
DAS INFRAÇÕES
Art. 161. Constitui infração de trânsito a inobser- É certo que para essa penalização deve existir
vância de qualquer preceito deste Código ou da o crime prescrito em lei. Lembre-se do artigo 5°
legislação complementar, e o infrator sujeita-se inciso XXXIX “não há crime sem lei anterior que
às penalidades e às medidas administrativas o defina, nem pena sem prévia cominação legal”
indicadas em cada artigo deste Capítulo e às pu- da CF (BRASIL, 2002, p. 47).
nições previstas no Capítulo XIX deste Código.

75
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

Art. 162. Dirigir veículo: Aqui há a infração com medida administrativa a


I - sem possuir Carteira Nacional de Habilitação, quem incorrer em seu tipo. Quem trafegar nas
Permissão para Dirigir ou Autorização para Con- condições que o artigo descreve, estará envolvi-
duzir Ciclomotor: Infração - gravíssima; Penalidade do no tipo. Veja, que se a pessoa, proprietária do
- multa (três vezes); Medida administrativa - reten- veículo, emprestar seu carro a quem não possui
ção do veículo até a apresentação de condutor condições de direção, seja física ou documen-
habilitado; tal, o proprietário incorrerá no crime do artigo
II - com Carteira Nacional de Habilitação, Per- 310, visto anteriormente. Porém se na falta de
missão para Dirigir ou Autorização para Conduzir habilitação o motorista estiver ou na habilitação
Ciclomotor cassada ou com suspensão do direito cassada o motorista estiver conduzindo seu veí-
de dirigir: Infração - gravíssima; Penalidade - multa culo de maneira imprópria e anormal, incorre no
(três vezes); Medida administrativa - recolhimento crime do artigo 309.
do documento de habilitação e retenção do veículo O artigo 162 é válido somente para penalidades
até a apresentação de condutor habilitado; administrativas. Já os artigos 310 e 309 são cri-
III - com Carteira Nacional de Habilitação ou Per- mes que envolvem a pena de detenção.
missão para Dirigir de categoria diferente da do ve-
ículo que esteja conduzindo: Infração - gravíssima;
Penalidade - multa (duas vezes); Medida adminis-
trativa - retenção do veículo até a apresentação de
condutor habilitado;
V - com validade da Carteira Nacional de Habilita-
ção vencida há mais de trinta dias: Infração - gra-
víssima; Penalidade - multa; Medida administrativa
- recolhimento da Carteira Nacional de Habilitação
e retenção do veículo até a apresentação de con-
dutor habilitado;
VI - sem usar lentes corretoras de visão, aparelho
auxiliar de audição, de prótese física ou as adap-
tações do veículo impostas por ocasião da con-
cessão ou da renovação da licença para conduzir:
Infração - gravíssima; Penalidade - multa; Medida
administrativa - retenção do veículo até o sanea-
mento da irregularidade ou apresentação de con-
dutor habilitado.
Art. 163. Entregar a direção do veículo a pessoa Somente o proprietário do veículo incorre nes-
nas condições previstas no artigo anterior: In- se tipo de infração, pois somente ele poderá
fração - as mesmas previstas no artigo anterior; emprestar ou ceder o seu carro. O agente de
Penalidade - as mesmas previstas no artigo an- trânsito, muitas vezes, precisa lavrar dois autos
terior; Medida administrativa - a mesma prevista de infração, um para aquele que emprestou seu
no inciso III do artigo anterior. veículo a quem não tinha condições de direção,
e outro, para o próprio motorista na direção, que
incorre no tipo do artigo 162.

76
Capítulo 2 DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

Art. 164. Permitir que pessoa nas condições referi- O verbo aqui é permitir Assim, se o proprietá-
das nos incisos do art. 162 tome posse do veículo rio do veículo permite (empresta seu carro ou
automotor e passe a conduzi-lo na via: Infração - as moto), ele incorre também na infração.
mesmas previstas nos incisos do art. 162; Penalida-
de - as mesmas previstas no art. 162; Medida admi-
nistrativa - a mesma prevista no inciso III do art. 162.
Art. 165. Dirigir sob a influência de álcool ou de É uma das três infrações que preveem a pena-
qualquer outra substância psicoativa que determi- lidade de suspensão do direito de dirigir. Não
ne dependência: Código de Trânsito Atualizado (lei há tolerância para a quantidade de álcool no
14.071/20) Infração - gravíssima; Penalidade - multa organismo, o condutor que demonstre estar sob
(dez vezes) e suspensão do direito de dirigir por 12 os efeitos de substâncias psicoativas ou álcool,
(doze) meses. Medida administrativa - recolhimento será punido por esse artigo.
do documento de habilitação e retenção do veículo,
observado o disposto no § 4o do art. 270 da Lei no
9.503, de 23 de setembro de 1997 - do Código de
Trânsito Brasileiro. Parágrafo único. Aplica-se em
dobro a multa prevista no caput em caso de reinci-
dência no período de até 12 (doze) meses.
Art. 165-A. Recusar-se a ser submetido a tes- Àquele que se recusar a cooperar com a segu-
te, exame clínico, perícia ou outro procedimento rança pública na aferição da substância ilegal
que permita certificar influência de álcool ou outra em seu organismo, ao estar na ação da direção,
substância psicoativa, na forma estabelecida pelo terá a mesma punição do condutor que se en-
art. 277: Infração - gravíssima; Penalidade - multa contra sob o estado dessas substancias.
(dez vezes) e suspensão do direito de dirigir por 12 Essa é uma norma que gera bastante discussão
(doze) meses; Medida administrativa - recolhimento doutrinária.
do documento de habilitação e retenção do veículo,
observado o disposto no § 4º do art. 270. Parágra-
fo único. Aplica-se em dobro a multa prevista no
caput em caso de reincidência no período de até 12
(doze) meses.
Art. 165-B. Conduzir veículo para o qual seja exigi- Há a necessidade da realização de exames toxi-
da habilitação nas categorias C, D ou E sem realizar cológicos aos condutores profissionais.
o exame toxicológico previsto no § 2º do art. 148-A
deste Código, após 30 (trinta) dias do vencimento
do prazo estabelecido: Infração - gravíssima; Pena-
lidade - multa (cinco vezes) e suspensão do direito
de dirigir por 3 (três) meses, condicionado o levan-
tamento da suspensão à inclusão no Renach de
resultado negativo em novo exame.
Parágrafo único. Incorre na mesma penalidade o
condutor que exerce atividade remunerada ao ve-
ículo e não comprova a realização de exame toxico-
lógico periódico exigido pelo § 2º do art. 148-A deste
Código por ocasião da renovação do documento de
habilitação nas categorias C, D ou E.
77
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

Art. 166. Confiar ou entregar a direção de veí- Mais uma vez, somente é punível aqui o proprie-
culo a pessoa que, mesmo habilitada, por seu tário do veículo que emprestou o bem.
estado físico ou psíquico, não estiver em condi-
ções de dirigi-lo com segurança: Infração - gra-
víssima; Penalidade - multa.
Art. 167. Deixar o condutor ou passageiro de A norma prevê penalidades a quem deixar de
usar o cinto de segurança, conforme previsto usar o cinto de segurança. Para isso, o uso do
no art. 65: Infração - grave; Penalidade - multa; cinto deve ser obrigatório. E o artigo 65 do CTB
Medida administrativa - retenção do veículo até nos diz que: “É obrigatório o uso do cinto de se-
colocação do cinto pelo infrator. gurança para condutor e passageiros em todas
as vias do território nacional, salvo em situações
regulamentadas pelo Contran” (BRASIL, 1997).
Art. 168. Transportar crianças em veículo au- O 64 do CTB, que assim estabelece que “as
tomotor sem observância das normas de segu- crianças com idade inferior a dez anos devem
rança especiais estabelecidas neste Código: In- ser transportadas nos bancos traseiros, salvo
fração - gravíssima; Penalidade - multa; Medida exceções regulamentadas pelo CONTRAN”, e
administrativa - retenção do veículo até que a aqui temos a penalidade para esse ato. É pre-
irregularidade seja sanada. ciso que o veículo que não possua acento para
a instalação da cadeirinha, seja adaptado para
recebê-la.
Art. 169. Dirigir sem atenção ou sem os cuida- A norma aqui se faz genérica, uma vez que qual-
dos indispensáveis à segurança: Infração - leve; quer atitude que causa uma infração, pode ser
Penalidade - multa. considerada pela falta de atenção de uma das
partes envolvidas. Segue os preceitos do artigo
28 que diz: “O condutor deverá, a todo momen-
to, ter domínio de seu veículo, dirigindo-o com
atenção e cuidados indispensáveis à segurança
do trânsito” (BRASIL, 1997).
Art. 170. Dirigir ameaçando os pedestres que Esses dois tipos de comportamentos agressivos
estejam atravessando a via pública, ou os de- podem ser considerados quando o motorista,
mais veículos: Infração - gravíssima; Penalidade não estando sob influências de álcool ou outro
- multa e suspensão do direito de dirigir; Medida componente psicoativo, age com intuito de as-
administrativa - retenção do veículo e recolhi- sustar ou ameaçar alguém no trânsito. Assustar
mento do documento de habilitação. pedestres com a aceleração do carro, acelerar
intimidando o veículo da frente, perseguir veícu-
lo diverso, são exemplos dessas ações.
Art. 171. Usar o veículo para arremessar, sobre A norma faz jus às normas gerais de circulação e
os pedestres ou veículos, água ou detritos: Infra- conduta no trânsito, mas para isso, é necessário
ção - média; Penalidade - multa. que se comprove a intenção (dolo) do motorista
em agir daquela maneira.

78
Capítulo 2 DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

Art. 172. Atirar do veículo ou abandonar na via O artigo 26, inciso II, das normas gerais de con-
objetos ou substâncias: Infração - média; Pena- duta de trânsito, dispostas no CTB dispõe o se-
lidade - multa. guinte: “Os usuários das vias terrestres devem:
... abster-se de obstruir o trânsito ou torná-lo pe-
rigoso, atirando, depositando ou abandonando
na via objetos ou substâncias, ou nela criando
qualquer outro obstáculo” (BRASIL, 1997.)
Art. 173. Disputar corrida: Infração - gravíssima; Muito parecido com o racha, mesmo não tendo
Penalidade - multa (dez vezes), suspensão do o legislador utilizado essa nomenclatura, aqui é
direito de dirigir e apreensão do veículo; Medida preciso que o verbo disputar venha de forma re-
administrativa - recolhimento do documento de pentina e sem nenhuma preparação.
habilitação e remoção do veículo. Parágrafo úni-
co. Aplica-se em dobro a multa prevista no caput
em caso de reincidência no período de 12 (doze)
meses da infração anterior.
Art. 174. Promover, na via, competição, eventos Já nesse artigo é necessária uma prévia com-
organizados, exibição e demonstração de perí- binação entre os condutores de que, naquele
cia em manobra de veículo, ou deles participar, dia, local e horário, sem prévia autorização dos
como condutor, sem permissão da autoridade de poderes públicos relativos a essa atividade,
trânsito com circunscrição sobre a via: Infração passem a promover competição em um evento
- gravíssima; Penalidade - multa (dez vezes), organizado. O artigo 67 do CTB já nos diz que
suspensão do direito de dirigir e apreensão do para isso, é preciso a autorização da autoridade
veículo; Medida administrativa - recolhimento do competente, caso não haja, tanto participantes
documento de habilitação e remoção do veículo. quanto promotores do evento incidem no tipo
§ 1º As penalidades são aplicáveis aos promoto- penal descrito neste artigo.
res e aos condutores participantes.
§ 2º Aplica-se em dobro a multa prevista no
caput em caso de reincidência no período de 12
(doze) meses da infração anterior.
Art. 175. Utilizar-se de veículo para demonstrar Aqui há a tentativa, por via legal, de desencorajar
ou exibir manobra perigosa, mediante arranca- e punir, a direção perigosa, quando o condutor
da brusca, derrapagem ou frenagem com des- utiliza seu veículo para se exibir em via pública.
lizamento ou arrastamento de pneus: Infração
- gravíssima; Penalidade - multa (dez vezes),
suspensão do direito de dirigir e apreensão do
veículo; Medida administrativa - recolhimento do
documento de habilitação e remoção do veícu-
lo. Parágrafo único. Aplica-se em dobro a multa
prevista no caput em caso de reincidência no
período de 12 (doze) meses da infração anterior.

79
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

Art. 176. Deixar o condutor envolvido em acidente São cinco infrações consideradas gravíssimas
com vítima: as elencadas no artigo, mas veja, prezado pós-
I - de prestar ou providenciar socorro à vítima, po- -graduando, que essas condutas podem tanto
dendo fazê-lo; interferir na área administrativa, quanto na área
II - de adotar providências, podendo fazê-lo, no penal também. Veja o caso da omissão de so-
sentido de evitar perigo para o trânsito no local; corro, prevista no artigo 304, rol de crimes vistos
III - de preservar o local, de forma a facilitar os tra- anteriormente.
balhos da polícia e da perícia; Outro importante fato é a preservação do local
IV - de adotar providências para remover o veículo de crime, que se torna conduta indispensável
do local, quando determinadas por policial ou agen- para qualquer acidente com vítimas, até a
te da autoridade de trânsito; apuração do ocorrido pelo agente de segurança
V - de identificar-se ao policial e de lhe prestar in- pública capaz.
formações necessárias à confecção do boletim de
ocorrência: Infração - gravíssima; Penalidade - mul-
ta (cinco vezes) e suspensão do direito de dirigir;
Medida administrativa - recolhimento do documen-
to de habilitação.
Art. 177. Deixar o condutor de prestar socorro à Aqui não se trata do motorista que causou o aci-
vítima de acidente de trânsito quando solicitado dente, mas aquele que estava próximo, e sem
pela autoridade e seus agentes: Infração - grave; qualquer perigo a sua saúde, não ajudou. Ocorre
Penalidade - multa. em casos excepcionais (que fogem à regra), da
autoridade pública solicitar o auxílio de algum parti-
cular que esteja próximo, e esse se negar.
Esse artigo se envolve com o artigo 5º, inciso XXV,
da Constituição Federal, estabelece expressamen-
te que “no caso de iminente perigo público, a au-
toridade competente poderá usar de propriedade
particular, assegurada ao proprietário indenização
ulterior, se houver dano”.
Lembre-se que ao motorista que negar auxílio pelo
acidente provocado por ele, este incorre no crime
do artigo 304.
Art. 178. Deixar o condutor, envolvido em aci- A única e grande diferença deste artigo com a re-
dente sem vítima, de adotar providências para dação do estudado no artigo 176 é que aqui o pro-
remover o veículo do local, quando necessária tal prietário do veículo colidido, caso seu carro esteja
medida para assegurar a segurança e a fluidez em posição que causam insegurança aos outros,
do trânsito: Infração - média; Penalidade - multa. e não haja vítimas no acidente, não remover o
veículo, incorre nessa infração.

80
Capítulo 2 DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

Art. 179. Fazer ou deixar que se faça reparo em A via pública não deve ser utilizada para local
veículo na via pública, salvo nos casos de impedi- de reparação do veículo. Se este se demons-
mento absoluto de sua remoção e em que o veículo trar possível de ser movido a outro local mais
esteja devidamente sinalizado: seguro, e o proprietário assim não o fizer, incorre
I - em pista de rolamento de rodovias e vias de nessa falta. Porém veja que, não se trata de uma
trânsito rápido: Infração - grave; Penalidade - multa; penalidade, mas de uma medida administrativa.
Medida administrativa - remoção do veículo;
II - nas demais vias: Infração - leve; Penalidade -
multa.
Art. 180. Ter seu veículo imobilizado na via por A conhecida pane seca é culpa do motorista, que
falta de combustível: Infração - média; Penalida- por imperícia, imprudência ou negligência não
de - multa; Medida administrativa - remoção do verificou as condições mínimas para a rodagem.
veículo.
Art. 181. Estacionar o veículo: Estas são normas de conduta. Dissemos no
I - nas esquinas e a menos de cinco metros do início do capítulo que o CTB possui um motiva-
bordo do alinhamento da via transversal: Infração dor pedagógico e educacional. Ainda assim, foi
- média; Penalidade - multa; Medida administrativa necessário que o legislador tivesse que compre-
- remoção do veículo; ender que determinadas condutas não serão
II - afastado da guia da calçada (meio-fio) de cin- aceitas, por desestruturarem a normalidade das
quenta centímetros a um metro: Infração - leve; Pe- ações no trânsito. Isso inibe a mobilidade, consi-
nalidade - multa; Medida administrativa - remoção derada pelo PNMU, que estudamos no capítulo
do veículo; anterior.
III - afastado da guia da calçada (meio-fio) a mais
de um metro: Infração - grave; Penalidade - multa;
Medida administrativa - remoção do veículo;
IV - em desacordo com as posições estabelecidas
neste Código: Infração - média; Penalidade - multa;
Medida administrativa - remoção do veículo;
V - na pista de rolamento das estradas, das rodo-
vias, das vias de trânsito rápido e das vias dotadas
de acostamento: Infração - gravíssima; Penalidade
- multa; Medida administrativa - remoção do veícu-
lo; VI - junto ou sobre hidrantes de incêndio, registro
de água ou tampas de poços de visita de galerias
subterrâneas, desde que devidamente identifica-
dos, conforme especificação do CONTRAN: Infra-
ção - média; Penalidade - multa; Medida adminis-
trativa - remoção do veículo;
VII - nos acostamentos, salvo motivo de força
maior: Infração - leve; Penalidade - multa; Medida
administrativa - remoção do veículo;

81
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

VIII - no passeio ou sobre faixa destinada a pe-


destre, sobre ciclovia ou ciclofaixa, bem como nas
ilhas, refúgios, ao lado ou sobre canteiros centrais,
divisores de pista de rolamento, marcas de canali-
zação, gramados ou jardim público: Infração - gra-
ve; Penalidade - multa; Medida administrativa - re-
moção do veículo;
IX - onde houver guia de calçada (meio-fio) rebai-
xada destinada à entrada ou saída de veículos:
Infração - média; Penalidade - multa; Medida admi-
nistrativa - remoção do veículo;
X - impedindo a movimentação de outro veículo:
Infração - média; Penalidade - multa; Medida admi-
nistrativa - remoção do veículo;
XI - ao lado de outro veículo em fila dupla: Infração
- grave; Penalidade - multa; Medida administrativa
- remoção do veículo;
XII - na área de cruzamento de vias, prejudicando a
circulação de veículos e pedestres: Infração - gra-
ve; Penalidade - multa; Medida administrativa - re-
moção do veículo;
XIII - onde houver sinalização horizontal delimitado-
ra de ponto de embarque ou desembarque de pas-
sageiros de transporte coletivo ou, na inexistência
desta sinalização, no intervalo compreendido entre
dez metros antes e depois do marco do ponto: In-
fração - média; Penalidade - multa; Medida admi-
nistrativa - remoção do veículo;
XIV - nos viadutos, pontes e túneis: Infração - gra-
ve; Penalidade - multa; Medida administrativa - re-
moção do veículo;
XV - na contramão de direção: Infração - média;
Penalidade - multa;
XVI - em aclive ou declive, não estando devida-
mente freado e sem calço de segurança, quando
se tratar de veículo com peso bruto total superior a
três mil e quinhentos quilogramas: Infração - grave;
Penalidade - multa; Medida administrativa - remo-
ção do veículo;

82
Capítulo 2 DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

XVII - em desacordo com as condições regulamen-


tadas especificamente pela sinalização (placa - Es-
tacionamento Regulamentado): Infração - grave;
Penalidade - multa; Medida administrativa - remo-
ção do veículo;
XVIII - em locais e horários proibidos especifica-
mente pela sinalização (placa - Proibido Estacio-
nar): Infração - média; Penalidade - multa; Medida
administrativa - remoção do veículo;
XIX - em locais e horários de estacionamento e
parada proibidos pela sinalização (placa - Proibido
Parar e Estacionar): Infração - grave; Penalidade -
multa; Medida administrativa - remoção do veículo.
XX - nas vagas reservadas às pessoas com defici-
ência ou idosos, sem credencial que comprove tal
condição: Infração - gravíssima; Penalidade - mul-
ta; Medida administrativa - remoção do veículo.
§ 1º Nos casos previstos neste artigo, a autoridade
de trânsito aplicará a penalidade preferencialmente
após a remoção do veículo.
§ 2º No caso previsto no inciso XVI é proibido aban-
donar o calço de segurança na via.
Art. 182. Parar o veículo: Podemos entender, por analogia que, nos locais
I - nas esquinas e a menos de cinco metros do em que é proibido parar, também é proibido es-
bordo do alinhamento da via transversal: Infra- tacionar. Há semelhança ao artigo 181 em todos
ção - média; Penalidade - multa; os incisos, uma vez que regulamentam a mesma
II - afastado da guia da calçada (meio-fio) de cin- conduta, mas por verbos diferentes. Para não
quenta centímetros a um metro: Infração - leve; haver discordâncias interpretativas, o legislador
Penalidade - multa; criou o artigo movido pelo verbo “parar”.
III - afastado da guia da calçada (meio-fio) a
mais de um metro: Infração - média; Penalida-
de - multa; IV - em desacordo com as posições
estabelecidas neste Código: Infração - leve; Pe-
nalidade - multa; V - na pista de rolamento das
estradas, das rodovias, das vias de trânsito rápi-
do e das demais vias dotadas de acostamento:
Infração - grave; Penalidade - multa;
VI - no passeio ou sobre faixa destinada a pe-
destres, nas ilhas, refúgios, canteiros centrais
e divisores de pista de rolamento e marcas de
canalização: Infração - leve; Penalidade - multa;

83
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

VII - na área de cruzamento de vias, prejudican-


do a circulação de veículos e pedestres: Infração
- média; Penalidade - multa;
VIII - nos viadutos, pontes e túneis: Infração -
média; Penalidade - multa;
IX - na contramão de direção: Infração - média;
Penalidade - multa;
X - em local e horário proibidos especificamente
pela sinalização (placa - Proibido Parar): Infra-
ção - média; Penalidade - multa.
XI - sobre ciclovia ou ciclofaixa: Infração - grave;
Penalidade - multa.”
Art. 183. Parar o veículo sobre a faixa de pe- O artigo 45 do CTB diz que: “Mesmo que a indi-
destres na mudança de sinal luminoso: Infração cação luminosa do semáforo lhe seja favorável,
- média; Penalidade - multa. nenhum condutor pode entrar em uma interse-
ção se houver possibilidade de ser obrigado a
imobilizar o veículo na área do cruzamento,
obstruindo ou impedindo a passagem do trânsito
transversal”. Então o artigo 183 surge para im-
por multa a uma ação ou conduta inapropriada,
que é parar em cima da faixa de pedestres, em
frente ao sinal fechado.
Art. 184. Transitar com o veículo: Aqui, somente se aplica o artigo quando há o
I - na faixa ou pista da direita, regulamentada uso indevido das faixas exclusivas de circula-
como de circulação exclusiva para determinado ção. Para isso, a comprovação deve ser feita por
tipo de veículo, exceto para acesso a imóveis intermédio de câmeras de segurança, ao longo
lindeiros ou conversões à direita: Infração - leve; do caminho.
Penalidade - multa;
II - na faixa ou pista da esquerda regulamentada
como de circulação exclusiva para determinado
tipo de veículo: Infração - grave; Penalidade -
multa.
III - na faixa ou via de trânsito exclusivo, regula-
mentada com circulação destinada aos veículos
de transporte público coletivo de passageiros,
salvo casos de força maior e com autorização do
poder público competente: Infração - gravíssima;
Penalidade - multa e apreensão do veículo; Me-
dida Administrativa - remoção do veículo

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Capítulo 2 DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

Art. 185. Quando o veículo estiver em movimen- O artigo 29 em seu inciso IV, dispõe que “quan-
to, deixar de conservá-lo: do uma pista de rolamento comportar várias fai-
I - na faixa a ele destinada pela sinalização de xas de circulação no mesmo sentido, são as da
regulamentação, exceto em situações de emer- direita destinadas ao deslocamento dos veículos
gência; II - nas faixas da direita, os veículos len- mais lentos e de maior porte, quando não houver
tos e de maior porte: Infração - média; Penalida- faixa especial a eles destinada, e as da esquer-
de - multa. da, destinadas à ultrapassagem e ao desloca-
mento dos veículos de maior velocidade”. As
normas para o trânsito dos veículos mais lentos
independem então de qualquer sinalização de
trânsito (BRASIL, 1997).
Art. 186. Transitar pela contramão de direção O artigo 29 incisos I, estabelece que “a circula-
em: I - vias com duplo sentido de circulação, ção far-se-á pelo lado direito da via, admitindo-
exceto para ultrapassar outro veículo e apenas -se as exceções devidamente sinalizadas”, sen-
pelo tempo necessário, respeitada a preferência do que qualquer das condutas similares típica do
do veículo que transitar em sentido contrário: In- artigo 186 (BRASIL, 1997).
fração - grave; Penalidade - multa;
Art. 187. Transitar em locais e horários não per- A autoridade competente aqui se aplica às atri-
mitidos pela regulamentação estabelecida pela buições dos órgãos competentes de trânsito, em
autoridade competente: I - para todos os tipos de cada uma de suas circunscrições.
veículos: Infração - média; Penalidade - multa;
Art. 188. Transitar ao lado de outro veículo, in-Aqui, prezado estudante, é necessário a presen-
terrompendo ou perturbando o trânsito: Infração ça de dois veículos que emparelham. Ocorre na
- média; Penalidade - multa. troca de informações entre caminhoneiros, ou
na conversa entre dois conhecidos, ambos com
veículos automotores.
Art. 189. Deixar de dar passagem aos veículos A prioridade dos veículos de socorro deve ser
precedidos de batedores, de socorro de incêndio respeitada, por se tratar de uma norma de huma-
e salvamento, de polícia, de operação e fiscali- nidade, e agora, regulada pelo artigo 189.
zação de trânsito e às ambulâncias, quando em
serviço de urgência e devidamente identificados
por dispositivos regulamentados de alarme so-
noro e iluminação vermelha intermitentes: Infra-
ção - gravíssima; Penalidade - multa.
Art. 190. Seguir veículo em serviço de urgên- Se trata de tirar vantagem da situação. Apenas
cia, estando este com prioridade de passagem possui prioridade de utilizar-se do sinal sonoro
devidamente identificada por dispositivos regula- os agentes públicos de segurança. Essa condu-
mentares de alarme sonoro e iluminação verme- ta pode causar acidentes, e aqui por dolo even-
lha intermitentes: Infração - grave; Penalidade tual, que é quando o agente assume o risco e
- multa. mesmo assim, continua em sua conduta.

85
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

Art. 191. Forçar passagem entre veículos que, Ao obrigar o condutor do veículo que está sen-
transitando em sentidos opostos, estejam na do ultrapassado, numa ultrapassagem indevida,
iminência de passar um pelo outro ao realizar a frear seu veículo, o agente pode causar um
operação de ultrapassagem: Infração - gravíssi- acidente pela sua ação precipitada, agora com-
ma; Penalidade - multa (dez vezes) e suspensão batida pelo artigo 191.
do direito de dirigir. Parágrafo único. Aplica-se
em dobro a multa prevista no caput em caso de
reincidência no período de até 12 (doze) meses
da infração anterior.
Art. 192. Deixar de guardar distância de segu- Não há uma recomendação do que seja distân-
rança lateral e frontal entre o seu veículo e os cia adequada no código de leis de trânsito. Por
demais, bem como em relação ao bordo da pis- esse motivo, aqui interpretamos a direção defen-
ta, considerando-se, no momento, a velocidade, siva, e essa distância é avaliada pelo agente de
às condições climáticas do local da circulação e trânsito.
do veículo: Infração - grave; Penalidade - multa.
Art. 193. Transitar com o veículo em calçadas, Calçadas são as partes da via apenas para pe-
passeios, passarelas, ciclovias, ciclofaixas, destres, passeios são considerados o espaço
ilhas, refúgios, ajardinamentos, canteiros cen- entre a calçada e a rua, separadas por uma mar-
trais e divisores de pista de rolamento, acosta- cação feita a tinta, como uma linha. Ciclofaixa é
mentos, marcas de canalização, gramados e jar- o local de rolamento apenas de ciclos (bicicletas,
dins públicos: Infração - gravíssima; Penalidade triciclos) delimitada por sinalização, já a ciclovia
- multa (três vezes). é propriamente para ciclos, separada fisicamen-
te do tráfego normal. Ilha é uma sinalização para
o trânsito e se interpreta refúgio a parte pintada
na via, de acesso apenas para pedestres, muito
utilizada ao atravessar a rua.
Art. 194. Transitar em marcha à ré, salvo na Aqui deve o agente anotar o espaço percorrido
distância necessária a pequenas manobras e de pelo motorista, que deve ser maior que aquele
forma a não causar riscos à segurança: Infração necessário para manobras menores.
- grave; Penalidade - multa.
Art. 195. Desobedecer às ordens emanadas da A ordem dada pelo agente de trânsito deve ser
autoridade competente de trânsito ou de seus decorrente de uma imposição normativa, sendo
agentes: Infração - grave; Penalidade - multa. agente de trânsito aqui considerado todos os
membros da segurança pública fiscalizadoras
do trânsito.
Art. 196. Deixar de indicar com antecedência, Para a segurança da mobilidade viária, deve o
mediante gesto regulamentar de braço ou luz in- motorista indicar seus movimentos de manobra,
dicadora de direção do veículo, o início da mar- que podem vir a ser imprevistos aos outros con-
cha, a realização da manobra de parar o veículo, dutores.
a mudança de direção ou de faixa de circulação:
Infração - grave; Penalidade - multa.

86
Capítulo 2 DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

Art. 197. Deixar de deslocar, com antecedência, Essa norma de conduta e de segurança traduz
o veículo para a faixa mais à esquerda ou mais como o CTB influencia as boas maneiras no
à direita, dentro da respectiva mão de direção, trânsito, principalmente na indicação de mano-
quando for manobrar para um desses lados: In- bras que podem causar algum transtorno.
fração - média; Penalidade - multa.
Art. 198. Deixar de dar passagem pela esquer- Dar passagem, seria o correto. Aqui movimen-
da, quando solicitado: Infração - média; Penali- ta-se de faixa quando há a sinalização de um
dade - multa. outro veículo, logo atrás, que queira ultrapassar.
Portanto, ceder a passagem, mudando de faixa,
é a conduta apropriada trazida pelo CTB.
Art. 199. Ultrapassar pela direita, salvo quan- É pelo artigo 29, inciso IX que vemos que “a
do o veículo da frente estiver colocado na faixa ultrapassagem de outro veículo em movimen-
apropriada e der sinal de que vai entrar à es- to deverá ser feita pela esquerda, obedecida a
querda: Infração - média; Penalidade - multa. sinalização regulamentar e as demais normas
estabelecidas neste Código, exceto quando o
veículo a ser ultrapassado estiver sinalizando o
propósito de entrar à esquerda”(BRASIL, 1997).
Art. 200. Ultrapassar pela direita veículo de Aqui trata-se do mesmo tipo do artigo anterior,
transporte coletivo ou de escolares, parado para mas a infração se faz gravíssima pois o ato pode
embarque ou desembarque de passageiros, colocar as vidas das pessoas que desembarcam
salvo quando houver refúgio de segurança para e embarcam do transporte.
o pedestre: Infração - gravíssima; Penalidade -
multa.
Art. 201. Deixar de guardar a distância lateral É uma regra de comportamento, mas que agora
de um metro e cinquenta centímetros ao passar passa a ser tipificada como infração, sendo obri-
ou ultrapassar bicicleta: Infração - média; Pena- gatória seu cumprimento.
lidade - multa.
Art. 202. Ultrapassar outro veículo: Aqui devemos explicar três coisas:
I - pelo acostamento; ACOSTAMENTO – é a parte da via que se dife-
II - em interseções e passagens de nível; Infra- rencia da pista de rolamento, sendo destinada à
ção - gravíssima; Penalidade - multa (cinco ve- parada ou estacionamento de veículos, em caso
zes). de emergência, e à circulação de pedestres e
bicicletas, quando não houver local apropriado
para esse fim.
INTERSEÇÃO – significa qualquer cruzamento,
entroncamento ou bifurcação, o que inclui áreas
formadas pelos cruzamentos em si, como os en-
troncamentos ou bifurcações.
PASSAGEM DE NÍVEL – significa todo cruza-
mento de nível entre uma via e uma linha férrea
ou trilho de bonde com pista própria. Qualquer
ultrapassagem nas condições citadas, identifica
o tipo e a infração gravíssima.

87
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

Art. 203. Ultrapassar pela contramão outro veí- São em cinco incisos que o artigo estabelece as
culo: I - nas curvas, aclives e declives, sem visi- condições para a ultrapassagem, em rodovias
bilidade suficiente; II - nas faixas de pedestre; III que possuam duas vias. A passagem na con-
- nas pontes, viadutos ou túneis; IV - parado em tramão aqui, tenta estabelecer os limites para
fila junto a sinais luminosos, porteiras, cancelas, aquilo que conhecemos como ultrapassagem
cruzamentos ou qualquer outro impedimento à forçada. Nesse caso, o legislador entende ser
livre circulação; V - onde houver marcação viária esse um dos maiores fatores para acidentes de
longitudinal de divisão de fluxos opostos do tipo trânsito no Brasil.
linha dupla contínua ou simples contínua ama-
rela: Infração - gravíssima; Penalidade - multa
(cinco vezes). Parágrafo único. Aplica-se em
dobro a multa prevista no caput em caso de rein-
cidência no período de até 12 (doze) meses da
infração anterior.
Art. 204. Deixar de parar o veículo no acosta- A norma de conduta obriga o condutor que pare
mento à direita, para aguardar a oportunidade de no acostamento ao lado direito antes de realizar
cruzar a pista ou entrar à esquerda, onde não uma manobra de mudança de direção, em vias
houver local apropriado para operação de retor- públicas.
no: Infração - grave; Penalidade - multa.
Art. 205. Ultrapassar veículo em movimento O inciso VII do artigo 29 “os veículos precedi-
que integre cortejo, préstito, desfile e formações dos de batedores terão prioridade de passagem,
militares, salvo com autorização da autoridade respeitadas as demais normas de circulação”
de trânsito ou de seus agentes: Infração - leve; (BRASIL, 1997, p. 58), traz a prioridade desses
Penalidade - multa. veículos em relação aos outros, tipificada como
infração a partir do artigo 205, aqui previsto.
Art. 206. Executar operação de retorno: O Anexo I do CTB, diz que operação de retorno
I - em locais proibidos pela sinalização; é o “movimento de inversão total de sentido da
II - nas curvas, aclives, declives, pontes, viadu- direção original de veículos”. Então, será penali-
tos e túneis; I zado o condutor que manobrar de forma a inver-
II - passando por cima de calçada, passeio, ilhas, ter o seu veículo em uma ação imediata.
ajardinamento ou canteiros de divisões de pista
de rolamento, refúgios e faixas de pedestres e
nas de veículos não motorizados;
IV - nas interseções, entrando na contramão de
direção da via transversal;
V - com prejuízo da livre circulação ou da segu-
rança, ainda que em locais permitidos: Infração
- gravíssima; Penalidade - multa.
Art. 207. Executar operação de conversão à Para que exista essa infração, deve haver a
direita ou à esquerda em locais proibidos pela sinalização. Por mais que o condutor cause al-
sinalização: Infração - grave; Penalidade - multa. guma outra infração em sua ação, para o artigo
207 necessita da sinalização feita pelos órgãos
responsáveis pelo trânsito.

88
Capítulo 2 DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

Art. 208. Avançar o sinal vermelho do semáforo Essa é mais uma novidade trazida pela Lei
ou o de parada obrigatória, exceto onde houver 14.071/20. O texto do artigo dispõe a desobedi-
sinalização que permita a livre conversão à di- ência pela sinalização, causadores de diversos
reita prevista no art. 44-A deste Código: Infração acidentes com vítimas fatais no País. O Anexo
- gravíssima; Penalidade - multa. II do CTB, em seu item 4.1, demonstra como é
realizado o controle de trânsito através das indi-
cações dos semáforos.
Art. 209. Transpor, sem autorização, bloqueio vi- Pedágios e áreas destinadas à pesagem de veí-
ário com ou sem sinalização ou dispositivos au- culos são de parada obrigatória.
xiliares, deixar de adentrar às áreas destinadas
à pesagem de veículos ou evadir-se para não
efetuar o pagamento do pedágio: Infração - gra-
ve; Penalidade - multa.
Art. 210. Transpor, sem autorização, bloqueio Há aqui a multa do trânsito para quem irromper
viário policial: Infração - gravíssima; Penalidade barreira policial, mas também pode ser retido
- multa, apreensão do veículo e suspensão do o veículo no caso de fuga à ação policial, para
direito de dirigir; Medida administrativa - remo- averiguação dos fatos.
ção do veículo e recolhimento do documento de
habilitação.
Art. 211. Ultrapassar veículos em fila, parados Mais uma norma de conduta que se torna típica
em razão de sinal luminoso, cancela, bloqueio infracional, é aquela em que o condutor, ao des-
viário parcial ou qualquer outro obstáculo, com respeitar filas, as ultrapassa de maneira errada
exceção dos veículos não motorizados: Infração e consciente, utilizando qualquer das faixas para
- grave; Penalidade - multa. isso.
Art. 212. Deixar de parar o veículo antes de O artigo 29 do CTB, em seu inciso XII, diz que
transpor linha férrea: Infração - gravíssima; Pe- os veículos que trafegam sobre os trilhos terão
nalidade - multa. prioridade sobre os outros. Nesse caso, a norma
de conduta busca a segurança dos motoristas e
usuários de transporte.
Art. 213. Deixar de parar o veículo sempre que a Manifestações realizadas por grupos de pesso-
respectiva marcha for interceptada: as, deve o motorista, tomar todas as precauções
I - por agrupamento de pessoas, como préstitos, devidas. Como no artigo 205, se o motorista
passeatas, desfiles e outros: Infração - gravíssi- resolver ultrapassar os grupos identificados no
ma; Penalidade - multa. inciso II, incorre em infração grave.
II - por agrupamento de veículos, como cortejos,
formações militares e outros: Infração - grave;
Penalidade - multa.

89
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

Art. 214. Deixar de dar preferência de passa- O artigo 29, § 2º do CTB estabelece que: “Res-
gem a pedestre e a veículo não motorizado: peitadas as normas de circulação e conduta es-
I - que se encontre na faixa a ele destinada; tabelecidas neste artigo, em ordem decrescente,
II - que não haja concluído a travessia mesmo os veículos de maior porte serão sempre res-
que ocorra sinal verde para o veículo; ponsáveis pela segurança dos menores, os mo-
III - portadores de deficiência física, crianças, torizados pelos não motorizados e, juntos, pela
idosos e gestantes: Infração - gravíssima; Pena- incolumidade dos pedestres” (BRASIL, 1997, p.
lidade - multa. 48). A partir do artigo 214, essa norma de condu-
IV - quando houver iniciado a travessia mesmo ta passa a ser uma infração grave.
que não haja sinalização a ele destinada;
V - que esteja atravessando a via transversal
para onde se dirige o veículo: Infração - grave;
Penalidade - multa.
Art. 215. Deixar de dar preferência de passa- Atender as sinalizações e dar preferência de
gem: passagem àquele motorista que transita na
I - em interseção não sinalizada: a) a veículo que preferencial, é uma norma educativa e agora,
estiver circulando por rodovia ou rotatória; b) a pedagógica, pois seu cometimento envolve uma
veículo que vier da direita; infração grave.
II - nas interseções com sinalização de regula-
mentação de Dê a Preferência: Infração - grave;
Penalidade - multa.
Art. 216. Entrar ou sair de áreas lindeiras sem O Anexo I do CTB define como áreas lindeiras
estar adequadamente posicionado para ingres- “aquele situado ao longo das vias urbanas ou
so na via e sem as precauções com a segurança rurais e que com elas se limita” (BRASIL, 1997,
de pedestres e de outros veículos: Infração - mé- p. 350). Significa qualquer imóvel com acesso
dia; Penalidade - multa. direto para a via pública.
Art. 217. Entrar ou sair de fila de veículos es- A preferência é dada a pedestres e outros veícu-
tacionados sem dar preferência de passagem a los, antes de estacionar ou de sair/entrar numa
pedestres e a outros veículos: Infração - média; fila de veículos. É uma norma de conduta que
Penalidade – multa. virou uma infração de trânsito.
Art. 218. Transitar em velocidade superior à máxi- Mais uma infração que tem como penalidade a
ma permitida para o local, medida por instrumento suspensão do direito de dirigir. Todas as velo-
ou equipamento hábil, em rodovias, vias de trânsito cidades estão dispostas na Resolução do Con-
rápido, vias arteriais e demais vias: tran.
I - quando a velocidade for superior à máxima em
até 20% (vinte por cento): Infração - média; Pena-
lidade - multa;
II - quando a velocidade for superior à máxima em
mais de 20% (vinte por cento) até 50% (cinquenta
por cento): Infração - grave; Penalidade - multa;
III - quando a velocidade for superior à máxima em
mais de 50% (cinquenta por cento): Infração - gra-
víssima; Penalidade - multa (três vezes) e suspen-
são do direito de dirigir.
90
Capítulo 2 DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

Art. 219. Transitar com o veículo em velocidade O artigo 62 do CTB estabelece que “a velocida-
inferior à metade da velocidade máxima esta- de mínima não poderá ser inferior à metade da
belecida para a via, retardando ou obstruindo o velocidade máxima estabelecida, respeitadas
trânsito, a menos que as condições de tráfego e as condições operacionais de trânsito e da via”
meteorológicas não o permitam, salvo se estiver (BRASIL, 1997, p. 78). Porém será considerada
na faixa da direita: Infração - média; Penalidade típica e irregular somente conduta que de fato
- multa. obstrua ou retarde o tráfego.
Art. 220. Deixar de reduzir a velocidade do ve- Velocidade compatível com a segurança pode
ículo de forma compatível com a segurança do ser considerada aquela em que o motorista age
trânsito: I - quando se aproximar de passeatas, de forma defensiva, em que o motorista possui
aglomerações, cortejos, préstitos e desfiles: In- domínio completo do veículo, a fim de obter su-
fração - gravíssima; Penalidade - multa; cesso em ações como um desvio ou a freada
II - nos locais onde o trânsito esteja sendo con- necessária.
trolado pelo agente da autoridade de trânsito,
mediante sinais sonoros ou gestos;
III - ao aproximar-se da guia da calçada (meio-
-fio) ou acostamento;
IV - ao aproximar-se de ou passar por interseção
não sinalizada;
V - nas vias rurais cuja faixa de domínio não es-
teja cercada;
VI - nos trechos em curva de pequeno raio;
VII - ao aproximar-se de locais sinalizados com
advertência de obras ou trabalhadores na pista;
VIII - sob chuva, neblina, cerração ou ventos
fortes;
IX - quando houver má visibilidade;
X - quando o pavimento se apresentar escorre-
gadio, defeituoso ou avariado;
XI - à aproximação de animais na pista;
XII - em declive; Infração - grave; Penalidade -
multa;
XIII - ao ultrapassar ciclista: Infração - gravíssi-
ma; Penalidade - multa;
XIV - nas proximidades de escolas, hospitais,
estações de embarque e desembarque de pas-
sageiros ou onde haja intensa movimentação de
pedestres: Infração - gravíssima; Penalidade -
multa.

91
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

Art. 221. Portar no veículo placas de identifica- O Conselho Nacional de Trânsito estabelece por
ção em desacordo com as especificações e mo- intermédio da Resolução 231/07 o sistema de
delos estabelecidos pelo CONTRAN: Infração placas para identificação. Placas sem tarjetas
- média; Penalidade - multa; Medida administra- que identificam o fabricante não são permitidas.
tiva - retenção do veículo para regularização e Da mesma forma são punidos aqueles que ofe-
apreensão das placas irregulares. recem essas marcações.
Parágrafo único. Incide na mesma penalidade
aquele que confecciona, distribui ou coloca, em
veículo próprio ou de terceiros, placas de iden-
tificação não autorizadas pela regulamentação.
Art. 222. Deixar de manter ligado, nas situações Os órgãos de segurança pública que estão des-
de atendimento de emergência, o sistema de critos no artigo 144 da Constituição Federal de
iluminação vermelha intermitente dos veículos 1988, devem ao atender em alguma emergên-
de polícia, de socorro de incêndio e salvamento, cia, manter ligado a iluminação intermitente para
de fiscalização de trânsito e das ambulâncias, aviso geral, evitando assim acidentes paralelos.
ainda que parados: Infração - média; Penalida-
de - multa.
Art. 223. Transitar com o farol desregulado ou A luz baixa é um respeito ao veículo da frente,
com o facho de luz alta de forma a perturbar a devendo ser utilizada apenas em situações de
visão de outro condutor: Infração - grave; Pena- risco, como em situação de neblina e fortes chu-
lidade - multa; Medida administrativa - retenção vas.
do veículo para regularização.
Art. 224. Fazer uso do facho de luz alta dos O correto é o uso da luz baixa, a não ser no estri-
faróis em vias providas de iluminação pública: tamente necessário. Não havendo necessidade,
Infração - leve; Penalidade - multa. pois a via se faz segura, há a multa.
Art. 225. Deixar de sinalizar a via, de forma a Aplica-se esse artigo a norma geral de circula-
prevenir os demais condutores e, à noite, não ção e conduta trazida pelo artigo 46: “Sempre
manter acesas as luzes externas ou omitir-se que for necessária a imobilização temporária de
quanto a providências necessárias para tornar um veículo no leito viário, em situação de emer-
visível o local, quando: gência, deverá ser providenciada a imediata si-
I - tiver de remover o veículo da pista de rola- nalização de advertência, na forma estabelecida
mento ou permanecer no acostamento; pelo CONTRAN” (BRASIL, 1997). Os conduto-
II - a carga for derramada sobre a via e não pu- res devem ser avisados por sinalização quando:
der ser retirada imediatamente: Infração - grave; 1ª) tiver de remover o veículo da pista de rola-
Penalidade - multa. mento ou permanecer no acostamento; e 2ª) a
carga for derramada sobre a via e não puder ser
retirada imediatamente.
Art. 226. Deixar de retirar todo e qualquer objeto Enquanto o artigo anterior determina a sinaliza-
que tenha sido utilizado para sinalização tempo- ção, aqui obriga a retirada desta quando os fatos
rária da via: Infração - média; Penalidade - multa. forem alterados, ou, seja, voltarem à normali-
dade. Deve então retirar a sinalização uma vez
posta para orientar os motoristas.

92
Capítulo 2 DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

Art. 227. Usar buzina: Ensinar como usar a buzina é uma das normas
I - em situação que não a de simples toque bre- de condutas que, sofrem penalização, de infra-
ve como advertência ao pedestre ou a conduto- ção leve, de três pontos na CNH.
res de outros veículos;
II - prolongada e sucessivamente a qualquer
pretexto;
III - entre as vinte e duas e às seis horas;
IV - em locais e horários proibidos pela sinali-
zação;
V - em desacordo com os padrões e frequências
estabelecidas pelo CONTRAN: Infração - leve;
Penalidade - multa.
Art. 228. Usar no veículo equipamento com som O som, independente de volume ou frequência,
em volume ou frequência que não sejam autori- desde que passível de perturbação do sucesso
zados pelo CONTRAN: Infração - grave; Penali- alheio, é punido por uma infração grave. Sons
dade - multa; Medida administrativa - retenção altos nos veículos, como uso de caixa de som,
do veículo para regularização. configuram também contravenção penal.
Art. 229. Usar indevidamente no veículo apare- A norma realça a perturbação do sucesso alheio,
lho de alarme ou que produza sons e ruído que mas por intermédio de alarmes de segurança ou
perturbem o sossego público, em desacordo com outros ruídos emitidos que causem transtorno.
normas fixadas pelo CONTRAN: Infração - mé-
dia; Penalidade - multa e apreensão do veículo;
Medida administrativa - remoção do veículo.

93
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

Art. 230. Conduzir o veículo: Este é o mais extenso artigo sobre infração de
I - com o lacre, a inscrição do chassi, o selo, a trânsito no CTB, que regula a condução do veí-
placa ou qualquer outro elemento de identifica- culo. Há a violação do chassi ou placa do veícu-
ção do veículo violado ou falsificado; lo, assim, o inciso I pune quem viola ou falsifica
II- transportando passageiros em compartimento os números que identificam o bem, e todos os
de carga, salvo por motivo de força maior, com incisos seguintes irão tratar do tema alterações
permissão da autoridade competente e na forma nas características originais, seja do próprio
estabelecida pelo CONTRAN; equipamento que compõe o veículo, ou da sua
III - com dispositivo anti-radar; identificação.
IV - sem qualquer uma das placas de identifica-
ção;
V - que não esteja registrado e devidamente
licenciado;
VI - com qualquer uma das placas de identifica-
ção sem condições de legibilidade e visibilidade:
Infração - gravíssima; Penalidade - multa e apre-
ensão do veículo; Medida administrativa - remo-
ção do veículo;
VII - com a cor ou característica alterada;
VIII - sem ter sido submetido à inspeção de se-
gurança veicular, quando obrigatória;
IX - sem equipamento obrigatório ou estando
este ineficiente ou inoperante;
X - com equipamento obrigatório em desacordo
com o estabelecido pelo CONTRAN;
XI - com descarga livre ou silenciador de motor
de explosão defeituoso, deficiente ou inoperan-
te;
XII - com equipamento ou acessório proibido;
XIII - com o equipamento do sistema de ilumina-
ção e de sinalização alterados;
XIV - com registrador instantâneo inalterável de
velocidade e tempo viciado ou defeituoso, quan-
do houver exigência desse aparelho;
XV - com inscrições, adesivos, legendas e sím-
bolos de caráter publicitário afixados ou pintados
no para-brisa e em toda a extensão da parte tra-
seira do veículo, excetuadas as hipóteses pre-
vistas neste Código;
XVI - com vidros total ou parcialmente cobertos
por películas refletivas ou não, painéis decorati-
vos ou pinturas;

94
Capítulo 2 DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

XVII - com cortinas ou persianas fechadas, não


autorizadas pela legislação;
XVIII - em mau estado de conservação, compro-
metendo a segurança, ou reprovado na avalia-
ção de inspeção de segurança e de emissão de
poluentes e ruído, prevista no art. 104;
XIX - sem acionar o limpador de para-brisa sob
chuva: Infração - grave; Penalidade - multa; Me-
dida administrativa - retenção do veículo para
regularização;
XX - sem portar a autorização para condução
de escolares, na forma estabelecida no art. 136:
Infração – gravíssima; Penalidade – multa (cin-
co vezes); Medida administrativa – remoção do
veículo;
XXI - de carga, com falta de inscrição da tara e
demais inscrições previstas neste Código;
XXII - com defeito no sistema de iluminação, de
sinalização ou com lâmpadas queimadas: Infra-
ção - média; Penalidade - multa.
XXIII - em desacordo com as condições esta-
belecidas no art. 67-C, relativamente ao tempo
de permanência do condutor ao volante e aos
intervalos para descanso, quando se tratar de
veículo de transporte de carga ou coletivo de
passageiros: Infração - média; Penalidade - mul-
ta; Medida administrativa - retenção do veículo
para cumprimento do tempo de descanso apli-
cável. § 1o Se o condutor cometeu infração igual
nos últimos 12 (doze) meses, será convertida,
automaticamente, a penalidade disposta no inci-
so XXIII em infração grave. § 2o Em se tratando
de condutor estrangeiro, a liberação do veículo
fica condicionada ao pagamento ou ao depósito,
judicial ou administrativo, da multa.

95
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

Art. 231. Transitar com o veículo: Danos como o previsto no inciso I trata de estra-
I - danificando a via, suas instalações e equipa- gos que podem ser feitos pelos carros em vias
mentos; públicas, na altura para que não estraguem os
II - derramando, lançando ou arrastando sobre a fios de telefone, internet e energia, placas e o
via: a) carga que esteja transportando; b) com- próprio asfalto em caso de veículos com proble-
bustível ou lubrificante que esteja utilizando; c) mas em sua carroceria. Pelo inciso II, qualquer
qualquer objeto que possa acarretar risco de aci- objeto que seja lançado do veículo, e que possa
dente: Infração - gravíssima; Penalidade - multa; causar danos às pessoas ou a bens diversos,
Medida administrativa - retenção do veículo para são passíveis de verificação e punição do con-
regularização; dutor. Os próximos incisos trataram, da mesma
III - produzindo fumaça, gases ou partículas em forma, de condutas de zelo do veículo, como
níveis superiores aos fixados pelo CONTRAN; o problema com escapamento, ou excesso de
IV - com suas dimensões ou de sua carga su- peso permitido, que pode ser verificado pela
periores aos limites estabelecidos legalmente Resolução 803/20 do CONTRAN. As dimensões
ou pela sinalização, sem autorização: Infração - excedentes dos carros, também podem ser veri-
grave; Penalidade - multa; Medida administrativa ficadas, na Resolução 210/06 do Contran.
- retenção do veículo para regularização;
V - com excesso de peso, admitido percentual
de tolerância quando aferido por equipamento,
na forma a ser estabelecida pelo CONTRAN:
Infração - média; Penalidade - multa acrescida
a cada duzentos quilogramas ou fração de ex-
cesso de peso apurado, constante na seguinte
tabela: a) até 600 kg (seiscentos quilogramas)
- R$ 5,32 (cinco reais e trinta e dois centavos);
b) de 601 (seiscentos e um) a 800 kg (oitocentos
quilogramas) - R$ 10,64 (dez reais e sessenta
e quatro centavos); c) de 801 (oitocentos e um)
a 1.000 kg (mil quilogramas) - R$ 21,28 (vinte
e um reais e vinte e oito centavos); d) de 1.001
(mil e um) a 3.000 kg (três mil quilogramas) - R$
31,92 (trinta e um reais e noventa e dois centa-
vos); e) de 3.001 (três mil e um) a 5.000 kg (cin-
co mil quilogramas) - R$ 42,56 (quarenta e dois
reais e cinquenta e seis centavos); f) acima de
5.001 kg (cinco mil e um quilogramas) - R$ 53,20
(cinquenta e três reais e vinte centavos); Medida
administrativa - retenção do veículo e transbordo
da carga excedente;
VI - em desacordo com a autorização especial,
expedida pela autoridade competente para tran-
sitar com dimensões excedentes, ou quando a

96
Capítulo 2 DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

mesma estiver vencida: Infração - grave; Pena-


lidade - multa e apreensão do veículo; Medida
administrativa - remoção do veículo;
VII - com lotação excedente;
VIII - efetuando transporte remunerado de pes-
soas ou bens, quando não for licenciado para
esse fim, salvo casos de força maior ou com
permissão da autoridade competente: Infração
– gravíssima; Penalidade – multa; Medida admi-
nistrativa – remoção do veículo;
IX - desligado ou desengrenado, em declive:
Infração - média; Penalidade - multa; Medida
administrativa - retenção do veículo;
X - excedendo a capacidade máxima de tração:
Infração - de média a gravíssima, a depender da
relação entre o excesso de peso apurado e a ca-
pacidade máxima de tração, a ser regulamenta-
da pelo CONTRAN; Penalidade - multa; Medida
Administrativa - retenção do veículo e transbor-
do de carga excedente. Parágrafo único. Sem
prejuízo das multas previstas nos incisos V e
X, o veículo que transitar com excesso de peso
ou excedendo à capacidade máxima de tração,
não computado o percentual tolerado na forma
do disposto na legislação, somente poderá con-
tinuar viagem após descarregar o que exceder,
segundo critérios estabelecidos na referida le-
gislação complementar.
Art. 232. Conduzir veículo sem os documentos Pela regra existem dois documentos reconheci-
de porte obrigatório referidos neste Código: In- dos legalmente como obrigatórios:
fração - leve; Penalidade - multa; Medida admi- I) o Certificado de Licenciamento Anual (artigo
nistrativa - retenção do veículo até a apresenta- 133); e
ção do documento. II) a Carteira Nacional de Habilitação ou Permis-
são para Dirigir (artigo 159, § 1º).
Art. 233. Deixar de efetuar o registro de veículo As hipóteses mencionadas no 123 do CTB, ao
no prazo de trinta dias, junto ao órgão executivo qual se refere este dispositivo legal, são:
de trânsito, ocorridas as hipóteses previstas no a – transferência de propriedade;
art. 123: Infração - média; Penalidade - multa; b – mudança de Município de domicílio ou resi-
Medida administrativa - remoção do veículo. dência do proprietário;
c – alteração de qualquer característica do ve-
ículo; e
d – mudança de categoria.

97
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

Art. 234. Falsificar ou adulterar documento de A apreensão do veículo é possível nessa infra-
habilitação e de identificação do veículo: Infra- ção, e o uso de documento falsificado é crime
ção - gravíssima; Penalidade - multa e apreen- previsto no artigo 237 e 304 do Código Penal,
são do veículo; Medida administrativa - remoção tendo uma pena de reclusão de dois a seis anos.
do veículo.

Art. 235. Conduzir pessoas, animais ou carga Não se fala aqui em carroceria, em que é pos-
nas partes externas do veículo, salvo nos casos sível o transporte de animais e objetos, mas de
devidamente autorizados: Infração - grave; Pe- partes externas do veículo, como o capô. Porém
nalidade - multa; Medida administrativa - reten- o transporte de pessoas é proibido nas caçam-
ção do veículo para transbordo. bas das caminhonetes, mesmo essas fornecen-
do uma pequena proteção.
Art. 236. Rebocar outro veículo com cabo fle- Somente podem exercer essa atividade os ve-
xível ou corda, salvo em casos de emergência: ículos destinados ao guincho, não podendo o
Infração - média; Penalidade - multa. particular, para sua própria segurança, abster-se
dessa ação. Mesmo que a norma não determi-
ne o que seja emergência, na segunda parte do
artigo, podem ser rebocados veículos que deter-
minem perigo imediato, como aqueles que pa-
ram no meio da rodovia, ou em lugares de baixa
visibilidade.
Art. 237. Transitar com o veículo em desacordo Tanto veículos particulares como de transporte,
com as especificações, e com falta de inscrição públicos ou da mesma forma privada, devem
e simbologia necessárias à sua identificação, estar identificados conforme ordena a legislação
quando exigidas pela legislação: Infração - gra- de trânsito.
ve; Penalidade - multa; Medida administrativa -
retenção do veículo para regularização.
Art. 238. Recusar-se a entregar à autoridade Norma diferente daquela que diz que o motorista
de trânsito ou a seus agentes, mediante recibo, não portava os documentos, é essa que con-
os documentos de habilitação, de registro, de li- sidera o fato do condutor se negar a atender a
cenciamento de veículo e outros exigidos por lei, ordem do agente e não entregar seus documen-
para averiguação de sua autenticidade: Infração tos para verificação. O termo “mediante recibo”
- gravíssima; Penalidade - multa e apreensão significa o auto lavrado pelo oficial de trânsito, no
do veículo; Medida administrativa - remoção do ato da recusa.
veículo.

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Capítulo 2 DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

Art. 239. Retirar do local veículo legalmente re- Diferente do desacato (art.195), aqui o condutor
tido para regularização, sem permissão da auto- em infração não aguarda a liberação pelo agente
ridade competente ou de seus agentes: Infração de trânsito, e sai do local. A falta é considerada
- gravíssima; Penalidade - multa e apreensão gravíssima.
do veículo; Medida administrativa - remoção do
veículo.
Art. 240. Deixar o responsável de promover a O veículo que se enquadra na categoria dano
baixa do registro de veículo irrecuperável ou de grande monta deve ser considerado como
definitivamente desmontado: Infração - grave; irrecuperável.
Penalidade - multa; Medida administrativa - Re-
colhimento do Certificado de Registro e do Certi-
ficado de Licenciamento Anual.
Art. 241. Deixar de atualizar o cadastro de re- Há a punição da omissão do proprietário em cer-
gistro do veículo ou de habilitação do condutor: tificar-se dos documentos válidos para rodagem,
Infração - leve; Penalidade - multa. tanto documentos do bem quanto os seus pró-
prios certificados de habilitação.
Art. 242. Fazer falsa declaração de domicílio Omitir documentos para fins diversos também
para fins de registro, licenciamento ou habilita- podem ser considerados crimes pelo Código Pe-
ção: Infração - gravíssima; Penalidade - multa. nal, artigo 299. Para isso, deve existir o dolo do
condutor, em evitar multas ou que encargos em
seu nome cheguem até ele.
Art. 243. Deixar a empresa seguradora de co- Essa responsabilidade é da empresa segura-
municar ao órgão executivo de trânsito compe- dora, não do condutor, pois após o veículo ser
tente a ocorrência de perda total do veículo e de assegurado, passa a ser responsável por sua
lhe devolver as respectivas placas e documen- autenticação a seguradora.
tos: Infração - grave; Penalidade - multa; Medida
administrativa - Recolhimento das placas e dos
documentos.

99
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

Art. 244. Conduzir motocicleta, motoneta ou ci- Específicas para motocicleta, motoneta e ciclo-
clomotor: motor, o artigo visa a segurança dos conduto-
I - sem usar capacete de segurança ou vestuário res desses itens, mas para isso, foi necessário
de acordo com as normas e as especificações a alteração realizada pela Lei 14.071/2020, que
aprovadas pelo Contran; alterou o CTB, incluindo treze condutas consi-
II - transportando passageiro sem o capacete de deradas ilegais. A Resolução 453/13 versa so-
segurança, na forma estabelecida no inciso an- bre o capacete, que deve proteger toda a caixa
terior, ou fora do assento suplementar colocado craniana, e toda forma de uso do item tanto pelo
atrás do condutor ou em carro lateral; condutor ou pelo seu passageiro. Itens como fa-
III - fazendo malabarismo ou equilibrando-se róis para esses tipos de transportes e o mototáxi
apenas em uma roda; irregular são indispensáveis para pensar uma
IV - (revogado); política de segurança no trânsito.
V - transportando criança menor de 10 (dez)
anos de idade ou que não tenha, nas circuns-
tâncias, condições de cuidar da própria seguran-
ça: Infração - gravíssima; Penalidade - multa e
suspensão do direito de dirigir; Medida adminis-
trativa - retenção do veículo até regularização e
recolhimento do documento de habilitação;
VI - rebocando outro veículo;
VII - sem segurar o guidom com ambas as mãos,
salvo eventualmente para indicação de mano-
bras; VIII – transportando carga incompatível
com suas especificações ou em desacordo com
o previsto no § 2o do art. 139-A desta Lei;
IX – efetuando transporte remunerado de mer-
cadorias em desacordo com o previsto no art.
139-A desta Lei ou com as normas que regem a
atividade profissional dos mototaxistas: Infração
– grave; Penalidade – multa; Medida administra-
tiva – apreensão do veículo para regularização.
X - com a utilização de capacete de segurança
sem viseira ou óculos de proteção ou com visei-
ra ou óculos de proteção em desacordo com a
regulamentação do Contran;
XI - transportando passageiro com o capacete
de segurança utilizado na forma prevista no in-
ciso X do caput deste artigo: Infração - média;
Penalidade - multa; Medida administrativa - re-
tenção do veículo até regularização;
§ 1º Para ciclos aplica-se o disposto nos incisos
III, VII e VIII, além de: a) conduzir passageiro

100
Capítulo 2 DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

fora da garupa ou do assento especial a ele


destinado; b) transitar em vias de trânsito rápi-
do ou rodovias, salvo onde houver acostamento
ou faixas de rolamento próprias; c) transportar
crianças que não tenham, nas circunstâncias,
condições de cuidar de sua própria segurança.
§ 2º Aplica-se aos ciclomotores o disposto na
alínea b do parágrafo anterior: Infração - média;
Penalidade - multa.
§ 3º A restrição imposta pelo inciso VI do caput
deste artigo não se aplica às motocicletas e mo-
tonetas que tracionem semirreboques especial-
mente projetados para esse fim e devidamente
homologados pelo órgão competente.
Art. 245. Utilizar a via para depósito de merca- Apenas não haverá punição se houver autoriza-
dorias, materiais ou equipamentos, sem auto- ção das entidades de trânsito para essa ação.
rização do órgão ou entidade de trânsito com Observação: interpreta-se a calçada nesse
circunscrição sobre a via: Infração - grave; Pena- caso, parte da via, portanto, também evidencia o
lidade - multa; Medida administrativa - remoção tipo utilizar o calçamento da mesma forma ilegal.
da mercadoria ou do material. Parágrafo único.
A penalidade e a medida administrativa incidirão
sobre a pessoa física ou jurídica responsável.
.
Art. 246. Deixar de sinalizar qualquer obstácu- Não há em nenhuma norma descrição de como
lo à livre circulação, à segurança de veículo e se dará a sinalização, mas apenas que ela deve
pedestres, tanto no leito da via terrestre como ser realizada, caso cause risco a alguém. A in-
na calçada, ou obstaculizar a via indevidamente: vestigação do caso de obstrução irá apurar a
Infração - gravíssima; Penalidade - multa, agra- responsabilidade penal do autor da obstrução,
vada em até cinco vezes, a critério da autoridade que deve tomar os cuidados descritos no artigo.
de trânsito, conforme o risco à segurança. Pará-
grafo único. A penalidade será aplicada à pessoa
física ou jurídica responsável pela obstrução, de-
vendo a autoridade com circunscrição sobre a
via providenciar a sinalização de emergência, às
expensas do responsável, ou, se possível, pro-
mover a desobstrução

101
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

Art. 247. Deixar de conduzir pelo bordo da pista Veja, prezado estudante, que este se configura
de rolamento, em fila única, os veículos de tra- como o único artigo do CTB que trata de veí-
ção ou propulsão humana e os de tração animal, culos de tração animal ou propulsão humana,
sempre que não houver acostamento ou faixa a que devem ser conduzidos pela borda ou acos-
eles destinados: Infração - média; Penalidade - tamento da pista. Carro de mão e bicicleta são
multa. considerados de tração humana. Charrete e car-
roça funcionam pela tração animal.
Art. 248. Transportar em veículo destinado ao O artigo 109 do CTB diz o seguinte: "O transpor-
transporte de passageiros carga excedente em te de carga em veículos destinados ao transporte
desacordo com o estabelecido no art. 109: Infra- de passageiros só pode ser realizado de acordo
ção - grave; Penalidade - multa; Medida adminis- com as normas estabelecidas pelo CONTRAN”.
trativa - retenção para o transbordo. Assim, havendo descumprimento das regras de
transporte do Conselho Nacional de Trânsito, há
o fato típico descrito na norma.
Art. 249. Deixar de manter acesas, à noite, as A recomendação do farol alto serve para iden-
luzes de posição, quando o veículo estiver para- tificar o veículo em casos que este tenha que
do, para fins de embarque ou desembarque de permanecer parado, ou em baixa velocidade,
passageiros e carga ou descarga de mercado- em locais de pouca visibilidade. Embora seja re-
rias: Infração - média; Penalidade - multa. comendada como boa conduta, a não aplicação
das luzes acessas nos termos do artigo prevê
uma infração média.
Art. 250. Quando o veículo estiver em movimen- O item em negrito é uma novidade que veio com
to: a lei 14.071/2020, que altera o CTB, retirando a
I - deixar de manter acesa a luz baixa: a) duran- exigência de se manter luz baixa com os faróis
te a noite; b) de dia, em túneis e sob chuva, do veículo, quando este possuir o farol de roda-
neblina ou cerração; c) de dia, no caso de gem diurno, conhecido por luz DRL.
veículos de transporte coletivo de passa-
geiros em circulação em faixas ou pistas a
eles destinadas; d) de dia, no caso de moto-
cicletas, motonetas e ciclomotores; e) de dia,
em rodovias de pista simples situadas fora
dos perímetros urbanos, no caso de veículos
desprovidos de luzes de rodagem diurna;
II - deixar de manter acesas pelo menos as luzes
de posição sob chuva forte, neblina ou cerração;
III - deixar de manter a placa traseira iluminada,
à noite; Infração - média; Penalidade - multa.

102
Capítulo 2 DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

Art. 251. Utilizar as luzes do veículo: A exceção a essa regra está disposta no artigo o
I - o pisca-alerta, exceto em imobilizações ou si- artigo 40, inciso III, que estabelece que “a troca
tuações de emergência; de luz baixa e alta, de forma intermitente e por
II - baixa e alta de forma intermitente, exceto curto período de tempo, com o objetivo de adver-
nas seguintes situações: a) a curtos intervalos, tir outros motoristas, só poderá ser utilizada para
quando for conveniente advertir a outro condutor indicar a intenção de ultrapassar o veículo que
que se tem o propósito de ultrapassá-lo; b) em segue à frente ou para indicar a existência de
imobilizações ou situação de emergência, como risco à segurança para os veículos que circulam
advertência, utilizando pisca-alerta; c) quando a no sentido contrário” (BRASIL, 1997).
sinalização de regulamentação da via determi-
nar o uso do pisca-alerta: Infração - média; Pe-
nalidade - multa.
Art. 252. Dirigir o veículo: Por certo, o bom senso deve ser utilizado na
I - com o braço do lado de fora; aplicação desta norma. O motorista que está
II - transportando pessoas, animais ou volume à dando passagem, ou que sinalize algo, retirando
sua esquerda ou entre os braços e pernas; a mão do volante, não será passível da penali-
III - com incapacidade física ou mental tempo- dade. Da mesma forma, o transporte de animal
rária que comprometa a segurança do trânsito; deve ocorrer de forma a atrapalhar o condutor,
IV - usando calçado que não se firme nos pés ou criando empecilho na questão da direção. Todas
que comprometa a utilização dos pedais; são normas de conduta, mas que estão adverti-
V - com apenas uma das mãos, exceto quando das pela penalização administrativa.
deva fazer sinais regulamentares de braço, mu-
dar a marcha do veículo, ou acionar equipamen-
tos e acessórios do veículo;
VI - utilizando-se de fones nos ouvidos conecta-
dos a aparelhagem sonora ou de telefone celu-
lar; Infração - média; Penalidade - multa.
VII - realizando a cobrança de tarifa com o veícu-
lo em movimento: Infração - média; Penalidade
- multa. Parágrafo único. A hipótese prevista no
inciso V caracterizar-se-á como infração gravís-
sima no caso de o condutor estar segurando ou
manuseando telefone celular.
Art. 253. Bloquear a via com veículo: Infração O artigo visa punir aquele que impede a passa-
- gravíssima; Penalidade - multa e apreensão gem em via pública de forma proposital. Por sua
do veículo; Medida administrativa - remoção do ação, o motorista impossibilita a fruição normal
veículo. da via, utilizando seu veículo. Note que essa
ação pode ser constatada tanto pela parada total
ou parcial da via.

103
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

Art. 253-A. Usar qualquer veículo para, delibe- Muitas greves ou mesmo sindicâncias reali-
radamente, interromper, restringir ou perturbar a zadas por motoristas profissionais, como os
circulação na via sem autorização do órgão ou caminhoneiros, utilizavam-se de seus veículos
entidade de trânsito com circunscrição sobre ela: para impor sua vontade e desígnios para cha-
Infração - gravíssima; Penalidade - multa (vinte mar atenção do setor público ou até mesmo da
vezes) e suspensão do direito de dirigir por 12 empresa às quais se cobra algo. Então, utilizar
(doze) meses; Medida administrativa - remoção caminhões ou ônibus para cessar o trânsito, ou
do veículo. impedir que outros carros similares passem pelo
§ 1º Aplica-se a multa agravada em 60 (sessen- local, é uma infração tipificada neste artigo.
ta) vezes aos organizadores da conduta prevista
no caput.
§ 2º Aplica-se em dobro a multa em caso de rein-
cidência no período de 12 (doze) meses. § 3º
As penalidades são aplicáveis a pessoas físicas
ou jurídicas que incorram na infração, devendo
a autoridade com circunscrição sobre a via res-
tabelecer de imediato, se possível, as condições
de normalidade para a circulação na via.
Art. 254. É proibido ao pedestre: As más condutas dos pedestres são analisadas
I - permanecer ou andar nas pistas de rolamen- e tipificadas aqui, sendo aplicada a multa de na-
to, exceto para cruzá-las onde for permitido; tureza leve a essas infrações. O grande, porém,
II - cruzar pistas de rolamento nos viadutos, pon- é quanto a aplicação dessa penalidade pelo
tes, ou túneis, salvo onde exista permissão; agente de trânsito ao pedestre, uma vez que o
III - atravessar a via dentro das áreas de cru- regramento de trânsito visa a penalidade ligada
zamento, salvo quando houver sinalização para ao registro do veículo, mas não há ainda, norma-
esse fim; IV - utilizar-se da via em agrupamentos tização para penalizar pelo cadastro de pessoa
capazes de perturbar o trânsito, ou para a práti- física do pedestre.
ca de qualquer folguedo, esporte, desfiles e simi- • Por esse motivo, essa é mais uma norma edu-
lares, salvo em casos especiais e com a devida cativa do que penalizadora.
licença da autoridade competente; V - andar fora
da faixa própria, passarela, passagem aérea ou
subterrânea;
VI - desobedecer à sinalização de trânsito es-
pecífica; Infração - leve; Penalidade - multa, em
50% (cinquenta por cento) do valor da infração
de natureza leve.

104
Capítulo 2 DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

Art. 255. Conduzir bicicleta em passeios onde Para condução das bicicletas, o artigo 59 do
não seja permitida a circulação desta, ou de CTB dispõe que “desde que autorizado e de-
forma agressiva, em desacordo com o disposto vidamente sinalizado pelo órgão ou entidade
no parágrafo único do art. 59: Infração - média; com circunscrição sobre a via, será permitida a
Penalidade - multa; Medida administrativa - re- circulação de bicicletas nos passeios” (BRASIL,
moção da bicicleta, mediante recibo para o pa- 1997). Deve haver então, autorização do órgão
gamento da multa. (BRASIL, s.p., 1997). responsável por aquela competência, naque-
la via. Veja, que o artigo evidencia o parágrafo
único do artigo 59, todavia esse parágrafo não
existe, ficando apenas o artigo 255 como norte
para a penalidade administrativa.
FONTE: O autor

Importante salientarmos que as Resoluções de Trânsito são realizadas pelo


Conselho Nacional de Trânsito, CONTRAN. Essas deliberações servem para
que o legislador tenha um norte quanto ao número de passageiros possíveis e
permitidos no veículo, possa definir o peso e altura dos automóveis considerados
legais, até mesmo interprete o que são estradas rurais e urbanas, marcação e
sinalização nas pistas, etc. É pela Resolução que podemos identificar as atitudes,
direitos e deveres dos pedestres e condutores, entre outras situações.

Quer ficar a par de todas as Resoluções de Trânsito do


CONTRAN? Então acesse o site https://www.gov.br/infraestrutura/
pt-br/assuntos/transito/conteudo-denatran/resolucoes-contran
e verifique todas as deliberações do órgão para o trânsito! Lá você
verá desde normas para circulação de pedestres, uso de capacetes
e equipamentos de proteção individual pelos motoristas e ciclistas,
o que é considerada como estrada rural e urbana, entre outras
curiosidades.

4.2 MEDIDAS ADMINISTRATIVAS E


PENALIDADES
As infrações de trânsito (art. 161 a 255) processam-se no âmbito
administrativo, abertos pelo DETRAN e julgado por uma comissão interna, tendo
penalidades que vão de multas, suspensão, a cassação da CNH, até a apreensão
do veículo.
105
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

Por outro lado, os crimes de trânsito (art. 302 ao 312) evidenciam um


processo judicial criminal, julgado por magistrado competente, podendo até
causar a detenção do autor de um crime de trânsito, pelo potencial ofensivo de
sua conduta frente ao bem jurídico tutelado.

As multas são consideradas penalidades administrativas, que ficam


registradas no prontuário do condutor, sendo o valor a ser pago interligado à
natureza da infração causada. Nesse caso, se o condutor acumular 40 pontos em
seu prontuário, advindos de multas infracionais, ele poderá perder a sua CNH.

Quanto aos pontos na Carteira Nacional de Habilitação, veja qual a natureza


e a pontuação devida às infrações pertinentes, que mesmo sendo medidas
administrativas, ainda são consideradas medidas restritivas de direitos:

QUADRO 9 – INFRAÇÃO E PONTUAÇÃO


Natureza da infração: Pontuação no prontuário do condutor:
LEVE 3 pontos
MÉDIA 4 pontos
GRAVE 5 pontos
GRAVÍSSIMA 7 pontos
FONTE: BRASIL, 1997.

São infrações leves, que consideram uma pontuação de 3 pontos: Art.


169; art. 179 inciso II; art. 181 incisos II, VII, XVII; art. 182 incisos II, IV, VI; art.
184 inciso I; art. 205; art. 224; art. 227 inciso I até V; art. 232; art. 24; art. 254.

São infrações de natureza média, que consideram 4 pontos: Artigo 171;


art. 172; art. 178; art. 180; art. 181 incisos I, IV, VI, IX, X, XIII, XV e inciso XVIII;
art. 182 incisos I, III, VII, VIII, IX, X; art. 183; art. 185; art. 187; art. 188; art. 197;
art. 198; art. 199; art. 201; art. 216; art. 217; art. 219; art. 221; art. 222; art. 226;
art. 229; art. 230 incisos XXI e XX, art. 231 incisos V, VIII, IX, X, art. 236; art. 244
incisos VI a VIII; art. 247; art. 249; art. 250, incisos I ao III; art. 251, incisos I e II;
art. 252, incisos I ao IV e finalmente o art. 255.

Já as infrações de natureza grave, de 5 pontos são: art. 167; art. 177;


art. 179; art. 181 incisos III, VIII, XI, XII, XIV, XVI, XIX; art. 182 inciso V; art. 184,
II; art. 186 inciso I; art. 190; art. 192; art. 194; art. 195; art. 196; art. 202; art. 204;
art. 209; art. 211; art. 213 inciso II; art. 214 incisos IV e V; art. 215 incisos I e II;
art. 218 inciso I a e inciso II a; art. 220 incisos I ao XIII; art. 223; art. 225; art.228;
art.230 incisos VII ao inciso XIX; art. 230 inciso XX; art. 231 incisos III, IV, VI e
inciso X; art. 233; art. 235; art. 237; art. 240; art. 243; art. 245; e finalmente temos
o art. 248.

106
Capítulo 2 DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

As infrações de natureza gravíssima, que consideram 7 pontos são as


seguintes: art. 162, incisos I, II, III, V e VI; art. 165; art. 166; art. 168; art.170; art.
173; art. 174; art. 175; art. 176; art. 181 inciso V; art. 186 inciso II; art. 189; art.
191; art. 193; art. 200; art. 203; art. 208; art. 210; art. 213; art. 214; art. 218 incisos
I b e II b; art. 220 incisos I e inciso XIV; art. 230; art. 231; art. 234; art. 238; art.
242; art. 244; art. 246; e, por fim; o art. 253.

Lembrando que todos esses artigos estão descritos na Tabela 3, no que diz
respeito às infrações de trânsito.

Portanto, as diferenças entre os tipos de penalidades e medidas


administrativas são as seguintes:

QUADRO 10 – DAS PENALIDADES E MEDIDAS ADMINISTRATIVAS


PENALIDADES Art. 256 CTB MEDIDAS ADMINISTRATIVAS Art. 269 CTB
Advertência escrita Retenção do veículo
Suspensão do direito de dirigir Remoção do veículo
Ter frequência em curso de reciclagem Recolhimentos da documentação do veículo
Multa Excesso de carga/Retenção do veículo e carga
Cassação da permissão para dirigir Recolhimento da CNH
Cassação da CNH Realização de teste de dosagem de alcoolemia
FONTE: BRASIL, 1997

Então observe que as penalidades administrativas estão dispostas todas


no artigo 256 do CTB, apresentadas no Quadro 10, a serem aplicadas diretamente
às infrações, somente pelas autoridades de trânsito competentes.

O artigo 269 que apresenta as medidas administrativas, que podem ser


vistas também no Quadro 10, são aplicadas tanto pela autoridade competente
de trânsito, quanto pelos seus agentes civis contratados para que exerçam essa
função. Lembramos que se o caso envolver o dolo, ou a vontade do agente
em praticar o crime, como o homicídio tendo como arma veículo automotor, ou
a lesão corporal, então o agente será julgado pelo Código Penal, que possui a
competência para isso.

107
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

Vamos entender a diferença entre permissão e habilitação


para dirigir veículo automotor. A permissão para dirigir é aquela
primeira licença que o motorista recebe logo após aprovado nos
exames oficiais de direção, tendo esse documento a validade de
um ano. Findado esse prazo sem ter cometido nenhuma infração de
cunho grave ou gravíssima, ou mesmo, não sendo reincidente em
infração média (não podendo ter 2 infrações médias) nesse espaço
de tempo, receberá o condutor a Carteira de Habilitação, possuindo
assim o direito da habilitação para a direção.

Dessa forma, ficou estabelecido que se na penalidade estiver envolvido


algum crime descrito no CTB como crimes de trânsito com maior potencial
ofensivo, a persecução penal, como vimos, também irá agir contra o agente.

Vamos pôr em prática o conhecimento adquirido?

1) Assinale a assertiva correta, a respeito da Lei 9099/95 e sua


utilização nos crimes de trânsito:
a) São competentes para julgar os crimes de trânsito apenas os
tribunais especiais da Lei 9099/95.
b) São competentes para julgar os crimes de trânsito somente os
tribunais especiais da Lei 9099/95
c) A lei dos Juizados Especiais não se aplica aos crimes de lesão
corporal culposa no trânsito, quando o condutor causa o acidente
estando sob a influência do álcool.
d) Os Juizados Especiais conflitam com o Processo Penal, não
podendo ser utilizados como competência habitual nesses
crimes.

2) A respeito das infrações de trânsito, assinale V para


Verdadeiro e F para falso:
a) A remoção do veículo garante a penalidade acerca de atos de
infração contra os comandos do CTB.
b) Infração média garante a perda de 4 pontos na CNH, anotados
em prontuário.

108
Capítulo 2 DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

c) Podemos definir a infração como atos no trânsito que causem


danos e ofensas potenciais no bem jurídico tutelado.
d) Infrações de trânsito evidenciam a abertura de um processo
criminal.
A) ( ) V – V – F – F
B) ( ) V –V – V –V
C) ( ) F – V – F – F
D) ( ) F – F – V – V

3) Assinale a alternativa correta:


a) Não se pode, sob nenhuma circunstância, dirigir o veículo com o
braço fora da janela.
b) Penalidades são reservadas apenas aos crimes de trânsito, não
havendo nenhuma infração que seja acometida por penalidade,
mas sim por medidas administrativas apenas.
c) Infrações de trânsito são abertas pelas varas criminais
competentes e julgadas por elas.
d) As Resoluções do Contran não possuem apenas caráter
pedagógico, mas resultam em deliberações de normas que
devem ser utilizadas pelo direito penal do trânsito.

No capítulo porvir, iremos estudar quais as principais condutas para o crime,


analisando alguns casos de possíveis crimes de trânsito, tanto dolosos quanto
culposos.

5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Você estudou como o ato pode ser considerado crime, sendo ele doloso ou na
modalidade culposa, mas ainda assim, percebeu que o crime deve estar previsto
em lei, que demonstra qual a conduta considerada errada perante a sociedade. A
razão disso serve ao princípio da legalidade, pois somente pode ser considerado
desviante de um comportamento não aceito pela maioria, se sua conduta estiver
tipificada como crime ou infração. A partir disso, se discute dolo ou culpa.

É nesse sentido que o CTB apresenta um rol de crime e outro de infrações, e


como estudamos, cada um demonstra penalidades e medidas administrativas que
são determinadas a partir das variações entre crime e infração. Mas, como vimos,
o magistrado ainda pode, dependendo das circunstâncias do ocorrido, penalizar

109
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

e ao mesmo tempo manter medidas administrativas contra o agente causador do


desvio. Essa é uma das diferenças entre o CTB e o direito penal, pois a partir da
divisão epistêmica entre infração e crime, é possível a aplicação dos dois tipos de
sanções.

Outra curiosa intervenção do CTB no trânsito é o seu sistema de pontuação,


em que define através de pontos que são computados no prontuário do condutor,
a possibilidade de retirar sua CNH, caso atinja os quarenta pontos especificados
em lei. Isso nos permite afirmar que o CTB possui uma ideologia tanto pedagógica,
quanto instrutiva, mas também utiliza de sua força punitiva quando necessário.

A diversidade de infrações e crimes vistas neste capítulo, devidamente


analisadas a partir das últimas alterações legais realizadas pelo poder legislativo,
pressupõe um direito presente, mas que precisa de seus agentes e pessoal
capacitado na averiguação e segurança do trânsito, para fazer valer a sua força.
Cada vez mais, as infrações de trânsito crescem, bem como crimes no volante,
que ocorrem muitas vezes pela imprudência do condutor, e outras, pela falta de
consideração pela vida humana e as normas sancionatórias nos demonstram
os casos em que cada uma dessas situações ocorrem, e cada uma delas
infelizmente, se tornam cada vez mais recorrentes, dia a dia.

No Capítulo 3, iremos notar como os crimes contra a paz e incolumidade no


trânsito são entendidos pela autoridade judiciária, a partir da persecução penal,
trazendo estudos acerca dos crimes e infrações, a partir dos atos dolosos e
culposos.

O mais influente caráter das leis e normas de trânsito, tanto educadoras


como penalizadoras, é que elas estão presentes em nossa sociedade, em prol da
mobilidade urbana e de sua saudável execução. Ainda sendo o direito de trânsito
um agente capaz de penalização, necessitamos de cada vez mais educação e
políticas públicas de qualidade que sejam eficientes de motivar uma real mudança
nas ações de condutores e pedestres.

REFERÊNCIAS
BARATTA, A. Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal. Introdução à
Sociologia do Direito Penal. 6. ed. Rio de Janeiro: Revan, 2011.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de


outubro de 1988. 29. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2002.

110
Capítulo 2 DIREITO PENAL DE TRÂNSITO

BRASIL. Departamento Nacional de Trânsito. 100 anos de Legislação de


Trânsito no Brasil: 1910 – 2010. Brasília: Ministério das Cidades, 2010.

BRASIL. Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997. Disponível em: http://www.


planalto.gov.br. Acesso em: 25 mar. 2021.

BEM, L. S. de. Direito Penal de Trânsito. São Paulo, Saraiva, 2015.

BITENCOURT, C. R. Tratado de direito penal: parte geral. 17. ed. rev. e atual.
São Paulo: Saraiva, 2012.

BRANDÃO, C. Curso de direito penal: parte geral. 2. ed. Rio de Janeiro:


Forense, 2010.
CHRISTIE, N. Uma razoável quantidade de crime. Rio de Janeiro: Revan,
2011.

CÓDIGO PENAL. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Vade


mecum. São Paulo: Saraiva, 2008.

FERREIRA, I. K. O papel do judiciário na construção do desviante: a


influência da sociedade complexa. Florianópolis: Ed. Habitus, 2020.

GROSSI, P. Primeira lição sobre direito. Ed. Forense, São Paulo, 2006.

NORONHA, E. M. Direito Penal. São Paulo: Saraiva, 2003.

NUCCI, G. de S. Manual de Direito Penal. 10. ed. Rio de Janeiro:


Forense, 2014.

111
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

112
C APÍTULO 3
A CONDUTA PARA O CRIME

A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes


objetivos de aprendizagem:

Saber:
• Identificar o crime de concurso de agentes nos crimes específicos do trânsito.
• Explicar a imputabilidade penal e a imputabilidade em casos referentes aos
crimes no trânsito.
• Referenciar a extinção de punibilidade e analisar suas causas.
• Identificar os autores dos crimes de trânsito, os coautores e os participantes.

Fazer:
• Refletir sobre os diversos tipos de crimes envolvendo o concurso de agentes
nos crimes de trânsito.
• Entender a imputabilidade penal e seus institutos.
• Compreender a extinção da punibilidade em crimes de trânsito.
• Esclarecer as diferenças formas de observação do CTB para a imputabilidade
penal.
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

114
Capítulo 3 A CONDUTA PARA O CRIME

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Agora que você já estudou a respeito das políticas públicas, de urbanidade e
os diversos planejamentos e órgãos que compõem o sistema de trânsito nacional,
bem como os crimes e as infrações, verá também que apesar da vontade do
agente definida pelo dolo ou pela culpa, outras condicionantes existem para que
um crime de trânsito realmente ocorra. Existe a possibilidade da desistência do
desvio ilícito ou de seu arrependimento, que uma vez ocorrendo de forma eficaz,
fará toda diferença na persecução penal e no julgamento.

Assim, a conduta ou os passos tomados para a realização do ato criminoso


são muito importantes para que possamos definir a atuação do agente e as
proporções de seus atos. Isso é o que você irá estudar nesse primeiro tópico, do
Capítulo 3, do Direito Penal de Trânsito.

Em um segundo momento, veremos a autoria do crime de trânsito e o


concurso de pessoas, institutos importantes para que possamos identificar as
ações criminosas e suas motivações, mesmo quando há a presença de vários
autores.

Já no terceiro tópico, trataremos de um assunto que vem gerando polêmicas


no direito penal, que é a imputabilidade penal. Nele também será estudado a
extinção de punibilidade para os crimes de trânsito.

Como já visto, o Código de Trânsito Brasileiro possui seus limites muito


próximos das políticas públicas que tentam melhorar a urbanidade e a civilidade
nesse universo que cada dia que passa fica mais espesso e inquietante. O trânsito
vem, com o passar dos tempos e em ampla evolução, figurando-se como uma
grande preocupação do direito moderno, a partir de suas possibilidades, como o
crime.

2 CONDUTA PARA O CRIME


Como vimos no Capítulo 2 deste livro, para que o crime ocorra, existem
determinados elementos que servem para identificar o ato que se considera
desviante. A conduta para o crime deve absorver determinadas formas de ação,
ou até mesmo de omissão, para que se identifique o crime e a partir disso realizar
a subsunção da norma. Isso significa que, havendo alguma atitude considerada
típica para o direito, alguma norma provavelmente se encaixa a essa conduta.

115
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

Dessa maneira enxergamos que para que exista uma conduta considerada
ilegal, o bem penal protegido pelo direito deve vir a ser maculado por essa ação.
Temos então o bem que é defendido pelo direito penal de um lado, e de outro
a ação que venha a ofender esse bem tutelado. Mesmo em crimes de trânsito
podem existir ações sem vontade alguma de atingir um resultado considerado
criminoso, mas ainda assim, elas ocorrem devido a determinadas situações, que
identificam o agente como o autor de algum delito.

Como para o direito e seus estudos existem determinadas maneiras de


se apontar a conduta e sua finalidade, iremos aqui tratar da teoria adotada
pelo Código Penal Brasileiro, estudada pelos seus doutrinadores e criada por
Hans Welzel, conhecida por Teoria Finalista que entende a conduta como
um comportamento humano voluntário psiquicamente dirigido a um fim
(WELZEL, 2001). A finalidade, portanto, é a nota distintiva entre esta teoria e as
que lhe antecedem. É ela que “transformará a ação num ato de vontade com
conteúdo, a partir da premissa de que toda conduta é orientada por um querer”
(CUNHA, p. 183, 2016). Significa então que caso não exista o dolo ou a culpa,
institutos estes que já analisamos no capítulo anterior, o fato será entendido como
atípico para o direito, por ausência de conduta.

Assim, entende-se que a conduta ou mesmo a omissão devem,


necessariamente, e para todos os sentidos, estar abastecida por uma finalidade,
que pode ser lícita ou ilícita.

Considerar-se-á ilícita aquela ação movida a um crime doloso, querendo


o agente praticar o ato com a intenção de cometer o crime. Mas observe que
o fato ainda poderá ser considerado típico, mesmo que a finalidade da conduta
seja lícita, o que ocorre na culpa (crimes culposos) quando o agente age com
negligência, imperícia ou imprudência (CUNHA, 2016). Dessa forma:

Se, num crime doloso, a finalidade da conduta não esteja


dirigida ao resultado lesivo, o agente pratica ato típico, por
não ter levado em conta, no seu comportamento, os cuidados
necessários para evitar o fato. Para a teoria finalista, se o agente
aperta o gatilho voluntariamente e atinge uma pessoa que vem
a morrer, somente terá praticado um fato típico se tinha, como
finalidade, tal resultado, ou se assumiu, conscientemente, o
risco de produzi-lo (homicídio doloso), ou se não tomou as
cautelas necessárias ao manejo da arma (homicídio culposo)
(ACQUAVIVA, 2011, p. 833).

Por todo o exposto, concluímos a teoria adotada pelo sistema penal nacional,
em seu código penalizador, que “conduta é a ação ou a omissão, que seja causada
de forma voluntária e consciente implicando em um comando de movimentação
ou inércia do corpo humano, voltado a uma finalidade” (NUCCI, 2014, p. 198).

116
Capítulo 3 A CONDUTA PARA O CRIME

Vamos analisar os casos de consumação e tentativa, desistência voluntária


e o arrependimento eficaz, as excludentes de ilicitude e da culpabilidade, nos
crimes e desvios de trânsito apontados pelo CTB.

2.1 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA


O nosso Código de Trânsito (Lei n° 9.503/1997) evidencia as normas
contrárias aos atos delituosos, externando a preocupação do legislador com os
crimes praticados no volante de veículos automotores. Assim, mesmo os crimes
cometidos sem o dolo, mas somente culpa, já são processados baseados como
se um ato doloso houvesse, quando o agente age sobre a influência de bebida
alcoólica ou qualquer outra substância que cause efeitos psicoativos, se estiver
em uma velocidade acima da máxima permitida ou participando de rachas ou
corridas sem autorização dos setores públicos responsáveis.

Isso porque, como vimos, o constante crescimento de desvios no trânsito por


conta de condutores que tomam por vezes atitudes irresponsáveis, incorre em um
número impressionante de vítimas e atendimentos nos ambulatórios das cidades,
ainda mais sobrecarregados dessa forma.

Nos crimes específicos de trânsito, temos uma classificação bem definida


quanto à sua forma, que os caracterizam como crimes de dano e de perigo. A
modificação da natureza e normalidade de algum bem, diminuindo seu valor
ou destruindo-o, a partir da ação humana, qualifica o crime de dano. Por outro
lado, o crime de perigo pode ser definido como a provável situação que pode
se deslindar, enquanto continuarem os fatos. Sob o ângulo jurídico significa as
circunstâncias capazes de realizar o dano, que pode ser determinável a partir de
situações específicas, como a de dirigir embriagado. É provável que essa ação
venha a causar algum dano, mas enquanto não houver o dano concreto em si,
existe apenas o perigo, e isso também é punido pelo CTB (FRAGOSO, 1985).

Como você analisou, a legislação de trânsito ao tratar os crimes, identifica


os crimes de dano na modalidade culposa. Um exemplo disso são os artigos 302
e 303, que expõem os homicídios e as lesões corporais nas formas culposas,
bem como, os crimes de perigo em concreto nos artigos 304 e 312, que vimos
no quadro referente aos crimes no capítulo anterior. A diferença entre eles é que
enquanto os primeiros artigos (302/303) são tratados de forma culposa, quando
não há intenção de causar o crime, mas ainda assim ele ocorre por imperícia,
imprudência ou negligência, nos artigos seguintes (304/312) o fato é considerado
doloso.

117
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

● Assim, se o agente quis propositadamente atropelar e matar algum


desafeto seu, ou causar lesão corporal, será então julgado pelo homicídio
doloso, nos moldes do direito penal, em seu artigo 121, ou lesão corporal
dolosa, pelo artigo 129. Acredita-se que os crimes de lesão e homicídio,
figurados no CTB, versam sobre a culpa, mas não o dolo.

Entretanto, outros crimes como entregar deliberadamente veículo automotor


nas mãos de quem se sabe não possuir habilitação para dirigir, trata-se da
vontade livre e consciente do agente na ação (NUCCI, 2014), que pode vir a
causar algum dano maior, considerado como um perigo de forma abstrata. Para
explicar o perigo abstrato, Nucci compreende que:

Constitui-se de perigo abstrato a figura típica penal cuja


probabilidade de ocorrência do dano (perigo) é presumida pelo
legislador, independendo de prova no caso concreto. Exemplo:
entregar direção de veículo automotor a pessoa não habilitada
(art. 310) é crime de perigo abstrato. Basta a prova da conduta
e presume-se o perigo. Por outro lado, considera-se crime
de perigo concreto a figura típica que, fazendo previsão da
conduta, exige prova da efetiva probabilidade de dano a bem
jurídico tutelado. Exemplo: dirigir veículo automotor sem estar
devidamente habilitado, gerando perigo de dano (art. 309). É
indispensável que a acusação, além de descrever na denúncia
ou queixa a conduta (dirigir o veículo), faça menção à concreta
possibilidade de dano (invadindo a contramão ou subindo na
calçada e quase atingindo pedestres, por exemplo) (NUCCI,
2014, p. 98).

Entretanto, para que isso tudo ocorra, devemos entender que crimes de
diferentes formas, ou condutas diversas, podem ser punidas a partir de sua
simples tentativa, e não por sua consumação, quando de fato essa não ocorre.
Vejamos os crimes considerados de omissão. Quando o agente se omite por
vontade própria em ajudar ou prestar socorro de alguma forma à vítima, então
não há tentativa uma vez não ser possível tentar o que nem foi começado, que é o
caso do artigo 304 do CTB, que trata da omissão.

Por outro lado, também não existe tentativa em crimes culposos. Isso
devido ao próprio ânimo do agente, que não era desde o início, causar qualquer
tipo de dano ou crime com seu veículo automotor.

Para que exista a tentativa, deve haver a vontade e a potencial consciência


da ilicitude do que se comete, e isso nos remete unicamente ao dolo.

118
Capítulo 3 A CONDUTA PARA O CRIME

Você sabia que não se pune a tentativa, quando o objeto


utilizado para o crime for ineficaz para causar os danos desejados?
É o que diz o artigo 17 do nosso Código Penal. Assim, quando
por impropriedade do objeto é impossível se consumar o crime, não
há crime de tentativa. É o caso hipotético da pessoa que, querendo
envenenar outrem, utiliza pó de suco normal, acreditando estar lhe
entregando veneno, ou da mesma forma, alguém tentando atropelar
seu desafeto, com intenção de matar, com um triciclo quebrado que
mal sai do lugar.

Um exemplo influente a respeito da tentativa é o artigo 306 do CTB, que versa


sobre o ato de dirigir com a capacidade psicomotora alterada, por substância
como o álcool. A tentativa aqui pode ser punível, pois pode ocorrer de o agente
ligar seu veículo para rumar à sua casa, embriagado, e o carro não funcionar
por qualquer motivo. Ao ser flagrado tentando reiniciar a ignição pelo agente de
segurança pública, mesmo que não funcione, esse pode identificar o artigo 306
como fundamental para o caso, enquadrando o autor nessa tipificação.

Assim, se um crime somente pode ser tentado quando houver o dolo, ele
pode ser consumado tanto havendo culpa ou o próprio dolo.

Você ouviu falar aqui em crimes de mera conduta. Para o


direito penal, para que crimes de mera conduta ocorram, é necessário
apenas a simples realização da conduta. Esses crimes também são
considerados crimes formais, pois quando se dá forma à conduta
considerada errada pelos costumes, experiência e maneiras normais
da própria sociedade, já se tem o crime. Veja que o ato de rumar ao
veículo e tentar dar a partida estando sob efeitos tóxicos ou álcool,
já se perfaz no crime de mera conduta, pois não se considera um
ato aceitável pela sociedade dirigir embriagado. Pune-se inclusive
a tentativa, uma vez ser o ato tão reprovável a ponto de que seja
penalizado, até mesmo de forma pedagógica.

119
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

A consumação ocorre quando o fato realizado atinge o verbo delitivo tipificado


na lei, sendo que a partir de seus elementos constitutivos, como a ação para a
causa do crime, há a consumação. O artigo 14 do Código Penal diz o seguinte:

Art. 14 - Diz-se o crime:


Crime consumado:
I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de
sua definição legal;
Tentativa:
II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por
circunstâncias alheias à vontade do agente.
Pena de tentativa.
Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a
tentativa com a pena correspondente ao crime consumado,
diminuída de um a dois terços (CÓDIGO PENAL, 1940).

Ao tratar o crime consumado, o agente deve realizar aquilo que está descrito
no Código Penal, e que se identifica como crime. Para Damásio de Jesus a “total
conformidade do fato praticado pelo agente com a hipótese abstrata descrita pela
norma penal incriminadora” (JESUS, 2014, p. 583). Estando o ato fora dessa
realidade, então temos a hipótese de crime tentado ou simplesmente preparatório.

O artigo 14, II do CP, visto anteriormente, entende que para o crime


consumado deve-se apurar os atos até a composição dos requisitos legais,
componentes do tipo penalizador. Assim, na consumação de um crime de fraude
processual, previsto no artigo 312 do CTB, é preciso apenas causar a indução ao
erro do agente policial na averiguação de acidente de trânsito com vítima, tendo a
intenção de ludibriar a investigação.

Vejamos no Quadro 11, que identifica os artigos referentes ao crime no


trânsito, as situações quanto à tentativa e a consumação, mas veja que trazemos
no quadro apenas a redação original do artigo, sem suas penalizações, uma vez
que já foram analisados detalhadamente no capítulo anterior:

QUADRO 11 – CONSUMAÇÃO E TENTATIVA NOS CRIMES DE TRÂNSITO


Dos Crimes em Espécie
Tentativa Consumação
(Parte Especial)
Art. 302 Praticar homicídio Por ser considerado crime A morte é o resultado.
culposo na direção de veículo culposo, não há tentativa.
automotor.
Art. 303 Praticar lesão corporal Não há tentativa em crimes O ato é consumado pela lesão
culposa na direção de veículo culposos. à saúde ou integridade física.
automotor.

120
Capítulo 3 A CONDUTA PARA O CRIME

Art. 304 Deixar o condutor do Não existe tentativa em crime Consuma-se o crime com a
veículo, na ocasião do aciden- omissivo próprio, ou seja, na vontade de não socorrer a
te, de prestar imediato socorro omissão do agente. vítima, nem avisar alguém que
à vítima, ou, não podendo o possa fazer.
fazê-lo diretamente, por justa
causa, deixar de solicitar auxí-
lio da autoridade pública.
Art. 305 Afastar-se o condutor A tentativa é punível com a ini- O crime é produzido quando
do veículo do local do acidente, ciativa de tentar deixar o local. há o afastamento do agente
para fugir à responsabilidade causador do acidente do local.
penal ou civil que lhe possa ser
atribuída.
Art. 306 Conduzir veículo Pune-se a tentativa de tentar A condução é o próprio ato,
automotor com capacidade se evadir do local, mesmo não em consonância com os sinais
psicomotora alterada em razão conseguindo pôr em funciona- visíveis de embriaguez.
da influência de álcool ou de mento o veículo.
outra substância psicoativa que
determine dependência.
Art. 307 Violar a suspensão Admite-se a tentativa quando Consuma-se o crime violando a
ou a proibição de se obter a mesmo suspenso o direito de suspensão de dirigir.
permissão ou a habilitação direção, ainda assim o motoris-
para dirigir veículo automotor ta tenta ligar o automóvel, mas
imposta com fundamento neste é impedido.
Código.
Art. 308 Participar, na direção Há a tentativa e é punível O crime se consome com a
de veículo automotor, em via a partir da participação no participação no evento não
pública, de corrida, disputa ou evento, mesmo que tenha sido autorizado.
competição automobilística cancelado pela segurança
não autorizada pela autoridade pública.
competente, gerando situação
de risco à incolumidade pública
ou privada.
Art. 309 Dirigir veículo auto- Pune-se a tentativa, se ficar Consuma-se o crime com a
motor, em via pública, sem a provado que não havia condi- direção ilegal em via pública.
devida permissão para dirigir ções legais de direção, e ainda
ou habilitação ou, ainda, se assim, o agente tenta ligar o
cassado o direito de dirigir, veículo mas antes é flagrado
gerando perigo de dano. por policial ou agente compe-
tente.

121
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

Art. 310 Permitir, confiar ou Pune-se a tentativa quando, Diz-se consumado o crime
entregar a direção de veículo por exemplo, o veículo não quando o inabilitado assume
automotor à pessoa não habili- funciona ao ser ligado. o volante, ou quando se flagra
tada, com habilitação cassada o ato de entregar veículo ao
ou com o direito de dirigir incapaz de direção.
suspenso, ou, ainda, a quem,
por seu estado de saúde, física
ou mental, ou por embriaguez,
não esteja em condições de
conduzi-lo com segurança.
Art. 311 Trafegar em velo- Pune-se a tentativa, quando Consumado o crime em que o
cidade incompatível com a antes mesmo de entrar no local motorista dirige com velocidade
segurança nas proximidades controlado, o agente demons- incompatível ao local.
de escolas, hospitais, estações tra estar em alta velocidade,
de embarque e desembarque e que não irá reduzir sua
de passageiros, logradouros velocidade. Entretanto, alguns
estreitos, ou onde haja grande doutrinadores excluem a puni-
movimentação ou concen- ção da tentativa para esse tipo
tração de pessoas, gerando por tratar de crime que exige
perigo de dano. perigo concreto para que exista
sua consumação.
Art. 312 Inovar artificiosa- Pune-se a tentativa, quando A desconfiguração do lugar
mente, em caso de acidente há o ato inicial, observado e exato em que ocorreu o aci-
automobilístico com vítima, na testemunhado pelo agente dente, com intuito de esconder
pendência do respectivo pro- responsável. do agente policial o ocorrido.
cedimento policial preparatório, Fraude processual.
inquérito policial ou processo
penal, o estado de lugar, de
coisa ou de pessoa, a fim de
induzir a erro o agente policial,
o perito, ou juiz.
FONTE: O autor

Como vimos, em geral a tentativa é punida, excetuando nos artigos 302 e


303, em que o CTB considera como sendo crimes culposos, uma vez que se
dolosos fossem, seriam julgados pelo Código Penal, no âmbito do Tribunal do
Júri.

No próximo tópico iremos analisar se a desistência de um crime considerado


pela legislação, é possível de ser realizada por vontade própria do agente, ou
mesmo, se existe arrependimento que seja considerado decisivo para a não
ocorrência do crime.

122
Capítulo 3 A CONDUTA PARA O CRIME

Lembre-se que estamos tratando dos casos que o CTB considera crimes de
trânsito, o que difere de delitos mais leves.

2.2 DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E


ARREPENDIMENTO EFICAZ
O artigo 15 do Código Penal traz a seguinte ilustração, para a desistência
voluntária: “Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na
execução ou impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já
praticados” (CÓDIGO PENAL, 1940, p. 35).

Pela redação do artigo 15, vemos que se observa a desistência voluntária


quando se tem o início da execução de um fato considerado pela lei como
criminoso, mas sem ter acontecido ainda a consumação do ato, o agente decide
não ir em frente, por sua própria vontade (NUCCI, 2010). Assim, não podemos
considerar a tentativa, estudada no tópico anterior, nem mesmo de crime
consumado, pois este não ocorreu.

Consideramos a desistência voluntária como “a atitude do agente que,


podendo chegar à consumação do crime, interrompe o processo executivo por
sua própria deliberação” (DOTTI, 2010, p. 413). Também pode ser considerado
como arrependimento eficaz, pois o agente aqui ao não dar continuidade aos
seus atos dispostos de realizar o tipo, cessa suas ações, respondendo apenas
pelos danos que porventura venha a ter causado (NUCCI, 2010).

Veja o exemplo do motorista que é flagrado entregando sua habilitação para


alguém que sabe não ter condições de direção, por estar visivelmente sob o
efeito de álcool. Ao invés de continuar com a entrega do veículo arrepende-se,
não continuando seu ato criminoso e assim, desistindo dele. Se essa atitude de
retomada da moral ou da reconsideração de sua ação se deu antes da advertência
legal de algum agente de segurança pública, então temos a desistência voluntária

Devemos verificar que a desistência voluntária, como do caso hipotético


analisado anteriormente, afasta a reprovabilidade social da conduta do agente,
excluindo qualquer possibilidade de punição.

Ocorre que o arrependimento eficaz irá entrar na segunda parte do artigo


15 do CP, quando o agente só irá responder pelos atos já praticados. Vamos
agora esclarecer a diferença entre esses dois institutos!

123
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

Um exemplo para isso, é o do ladrão que resolve furtar os itens que estão no
interior do veículo, mas quando chega próximo à porta, desiste por completo, indo
embora. Essa sua ação ficou clara pelos exemplos trazidos anteriormente, que se
referem à desistência voluntária (NUCCI, 2010).

Entretanto, se essa situação hipotética se deslindar até que o agente arrombe


a porta do veículo, mas nesse ínterim em que já tem em alcance os bens que
deseja furtar, interrompe sua ação não furtando, há o arrependimento eficaz, em
que serão puníveis apenas seus atos já praticados, como diz o artigo. Então
estamos diante do crime de dano material, causado pelo agente ao arrombar a
porta do veículo, punível pelo artigo 163 do Código Penal.

O artigo 16 do Código Penal versa sobre outro instituto do direito penal, que
ocorre quando o agente comete o fato criminoso, mas antes do recebimento da
denúncia, busca reparar o dano causado restituindo o que havia sido furtado.
Trata-se do arrependimento posterior. É uma forma de arrependimento que é
capaz de reduzir a pena de um a dois terços:

Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave


ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até
o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do
agente, a pena será reduzida de um a dois terços (CÓDIGO
PENAL, 1940, p. 35).

Entende-se aqui que para que exista o arrependimento posterior os crimes


cometidos não podem envolver violência ou grave ameaça, o que implica que os
crimes que podem ser compostos pelo instituto são os de natureza patrimonial
(NUCCI, 2010).

Assim, se em algum crime de dano, tutelado pelo artigo 163 do Código Penal,
o agente restituir o valor causado por sua ação, até o recebimento da denúncia,
então há a aplicação do artigo 16, sendo a pena reduzida de um a dois terços, e
até mesmo, a suspensão do processo. No CTB, esse instituto não possui muito
uso, por sua própria natureza, diferente dos outros dois institutos estudados
anteriormente.

Portanto veja no Quadro 12 as diferenças entre eles:

124
Capítulo 3 A CONDUTA PARA O CRIME

QUADRO 12 – DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA, ARREPENDIMENTO


EFICAZ E ARREPENDIMENTO POSTERIOR
Desistência Voluntária Arrependimento Eficaz Arrependimento Posterior
Art. 15 CP – Cessa o ato Art. 15 CP Segunda parte – O Art. 16 – Antes de alguma acu-
criminoso antes mesmo da agente se arrepende da ação sação formal, o agente decide
consumação do crime, por elaborada e cessa seu ato reparar ou restituir a coisa. O
vontade própria, evitando o iniciado, sendo punido apenas crime deve ter ocorrido sem
resultado desistindo do crime. pelos atos já praticados. violência ou ameaça, usual-
mente em crimes de dano ao
patrimônio.
FONTE: O autor

O Tribunal de Justiça do Distrito Federal deu seu voto contrário ao uso do


arrependimento eficaz em casos de crimes no trânsito, julgando um caso de lesão
corporal culposa causada por embriaguez ao volante, em um julgamento de 2017.

Mesmo o agente tendo auxiliado a vítima, pagando despesas diversas em seu


tratamento, ainda assim o seu crime é considerado, como vimos, de mera conduta
(NUCCI, 2010). Então por ser socialmente reprovável o ato de dirigir embriagado,
e de justamente o CTB possuir em seus conceitos o próprio sentido pedagógico,
será punido da mesma forma não podendo se falar em arrependimento posterior:

APELAÇÃO CRIMINAL. CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO.


LESÃO CORPORAL CULPOSA. EMBRIAGUEZ AO VOLANTE.
ARREPENDIMENTO POSTERIOR. IMPOSSIBILIDADE.
CONCURSO MATERIAL. RECURSO DESPROVIDO.
1. É assente na jurisprudência deste Tribunal e do
colendo Superior Tribunal de Justiça, que o benefício do
arrependimento posterior só se aplica em caso de crimes
patrimoniais.
2. Os crimes de lesão corporal culposa (art. 303, CTB) e
embriaguez na direção de veículo automotor (art. 306, CTB)
são crimes autônomos, tutelam bens jurídicos diferentes e se
consumam em momento distinto. Assim, quando consumado o
crime de lesões corporais, o delito de embriaguez na direção
de veículo automotor já havia se consumado, razão pela qual
se impõe o implemento do concurso material.
3. Recurso desprovido.
(TJ-DF 20140710332937 DF 0032535-04.2014.8.07.0007,
Relator: SILVANIO BARBOSA DOS SANTOS, Data de
Julgamento: 05/10/2017, 2ª TURMA CRIMINAL, Data de
Publicação: Publicado no DJE: 11/10/2017. Pág.: 126/138)
(JUSBRASIL, Jurisprudência, acesso em maio de 2021) (Grifo
do autor).

É com os julgados reiterados dos tribunais superiores, conhecidos como


jurisprudência, que se alastram os usos ou não dos institutos estudados.

125
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

Notou que para os três itens analisados neste tópico é necessário a presença
do dolo do agente, para que venham a surtir efeito? Dessa maneira, explica
Masson:

Não é possível que se abandone a execução ou mesmo


o resultado de uma conduta que não se tinha a intenção de
produzir. Da mesma forma, crimes culposos não admitem a
tentativa, uma vez não se consolidarem na vontade do agente
(MASSON, 2017, p. 391).

Agora iremos passar à averiguação das excludentes de ilicitude e


culpabilidade, voltadas para o crime de trânsito.

2.3 AS EXCLUDENTES DE CUIUS,


EXCLUDENTES DE CULPABILIDADE E
ILICITUDE
Vamos começar analisando as excludentes de culpabilidade, um instituto
muito discutido no direito penal, que abarca os estudos da teoria do delito. Ainda
que esteja presente em vários artigos e dispositivos legais da lei penal, não existe
um conceito próprio para o que seja tal excludente.

Para entendermos melhor a exclusão de culpabilidade, devemos analisar o


significado de culpabilidade, uma vez que essa é uma das principais estruturas da
norma penal e da identificação do ato criminoso:

● Podemos identificar a culpabilidade na ação do sujeito, que é culpável a


partir de seus danos causados, sejam eles culposos ou dolosos.

Veja que para definir a culpabilidade de um indivíduo, que identifica a


possibilidade de uma punição pelo Estado e suas normas, devemos observar o
seguinte:

● A imputabilidade: se o agente era imputável na época do crime, era


maior de idade, possuía desenvolvimento mental completo, estava em
um estado de embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou força
maior? Se sim, então era inimputável. Veremos pormenorizadamente no
Tópico 3 sobre esse instituto.
● A potencial consciência da ilicitude: o agente tem condições de
compreender que a sua conduta é ao menos reprovável?
● A exigibilidade de conduta diversa: era capaz ao agente agir de forma

126
Capítulo 3 A CONDUTA PARA O CRIME

diferente no momento da ação? Ele estava sob a condição de coação


moral irresistível (art. 22 CP, logo a seguir), ou coação física irresistível?

Assim, quando o agente comete um crime, em algumas situações podem ser


afastadas a culpa e o dolo de ter cometido o fato delituoso.

Então, dessa maneira, mesmo existindo um ato ilícito típico pela lei como
crime, o autor pode não ser responsabilizado por tal ato. Isso ocorre sob algumas
circunstâncias apontadas pelo CP, como as que estão dispostas no artigo 22 do
Código Penal, que versa a respeito da coação moral irresistível: “Art. 22 - Se o
fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não
manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou
da ordem” (CÓDIGO PENAL, 1940, p. 37).

Aqui o legislador exime de culpa ou dolo o agente que realiza um ato


considerado ilícito sob a coação irresistível ou em estrita obediência ao seu
superior hierárquico. Nesse caso, o autor não dispõe de liberdade para tomar suas
decisões, mas há uma coação moral irresistível, e não se espera dele, autor, uma
tomada de decisão diferente da ordem comandada pelo seu superior hierárquico.

Numa hipotética situação, um delegado de polícia determina que seu agente


investigador efetue a prisão de um desafeto seu. Ao cumprir a ordem, que não se
representa como manifestadamente ilegal ao agente policial, esse age em estrito
cumprimento do dever legal. Entretanto, tal ordem é ilegal, mas somente será
responsabilizado pelo fato delituoso o delegado, que conhecia os pormenores
do procedimento e entendia estar errado, perante as normas legais do processo
penal (MASSOM, 2017).

No entanto se essa ordem for manifestamente ilegal, então tanto delegado


quanto subordinado irão responder pela infração, isso é determinado por ambos
terem consciência da ilicitude do ato. Imagine um general do exército mandar um
subordinado hierárquico atropelar os manifestantes de algum protesto, estando
os dois em veículo automotor. Caso esse superior ameace com uma arma o
seu motorista, este se encontra sob uma coação física irresistível, causada
pela grave ameaça contra sua própria vida, não sendo punível pelo seu ato
(BITENCOURT, 2012). Caso contrário, ambos serão punidos por suas condutas.

127
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

No direito penal existe a coação física irresistível, mas também a


coação moral irresistível, como você viu anteriormente versada pelo
artigo 22 do Código Penal. Ambas podem ser suficientes para retirar
a culpabilidade do autor do fato ilícito, mas com algumas ressalvas.
● Portanto, a obediência hierárquica somente será suficiente
para isso quando a ordem do superior não for manifestamente ilegal.
● A coação física irresistível somente ficará caracterizada
para excluir a culpabilidade do autor quando seu esforço físico
é insuficiente para repelir a injusta ameaça. Um exemplo muito
utilizado é o do motorista que está dirigindo com seu sequestrador
ao seu lado e se vê impelido, à força, a atropelar um inimigo do seu
malfeitor (MASSON, 2017).
● Já, a coação moral irresistível se trata de ameaça feita por
alguém ao autor, que é obrigado a participar da ação, sob a pena
de ter que suportar um prejuízo maior. Esse é o caso de alguém
reconhecido por suas habilidades no trânsito como bom motorista, se
encontra obrigado pelos coautores desse crime, que é leva-los numa
fuga após o assalto de alguma agencia bancária. Depois de presos,
a polícia descobre que a família do motorista que auxiliou na fuga
estava sob grave ameaça, sendo acompanhada pelos bandidos,
retirando assim a livre vontade do motorista em decidir não agir no
crime, mas colocando em seu lugar uma coação que lhe é impossível
de resistir (MASSON, 2017).

Uma outra possibilidade que exclui a culpabilidade, trazida pelo Código


Penal, pode ser encontrada no artigo 26 do CP:

Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental


ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era,
ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo
com esse entendimento.
Redução de pena
Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois
terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental
ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não
era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou
de determinar-se de acordo com esse entendimento (CÓDIGO
PENAL, 1940, p. 38).

128
Capítulo 3 A CONDUTA PARA O CRIME

Se podemos definir a culpabilidade como um juízo de reprovação pessoal


da conduta ilícita realizada pelo agente, então àqueles que não possuem
discernimento para que entendam esse juízo não lhes podem ser atribuídos o fato
ilícito.

Pela primeira parte do artigo anterior (caput), identificamos que para isso deve
haver a existência de doença mental ou de desenvolvimento mental incompleto
ou retardado, conhecido como um critério biológico, e, a absoluta incapacidade ao
tempo da ação ou da omissão, de entender o caráter ilícito do fato ou determinar-
se de acordo com esse entendimento, em um critério considerado psicológico
(CÓDIGO PENAL, 1940).

Ainda complementa Masson que a “imputabilidade deve ser analisada ao


tempo da ação ou omissão. Considerar-se-á, portanto, a prática da conduta e o
momento da ação. Qualquer alteração posterior nela não interfere” (MASSON,
2017, p. 390).

Assim, em seu parágrafo único, tratando do caráter biopsicológico, há a


figura do semi-imputável, sendo necessário perícia judicial para constatar que à
época dos fatos, o agente possuía alguma perturbação mental que o fazia não
compreender por completo a sua ação.

Ao inimputável não cabe a penalização penal, mas sim medida de


segurança que deve ser cumprida em institutos do Estado para a terapia e
tratamento.

Por outro lado, aos semi-imputáveis haverá a condenação em que


o magistrado considera algumas opções para a penalização, entre elas, a
redução da pena ou a substituição da pena por uma medida de segurança, em
que pode entender o julgado que agente semi-imputável precisa de tratamento e
deve se submeter à terapia, conforme o artigo 98 do CP:

Art. 98 - Na hipótese do parágrafo único do art. 26 deste


Código e necessitando o condenado de especial tratamento
curativo, a pena privativa de liberdade pode ser substituída pela
internação, ou tratamento ambulatorial, pelo prazo mínimo de 1
(um)a 3 (três) anos, nos termos do artigo anterior e respectivos
§§ 1º a 4º. (CÓDIGO PENAL, 1940, p. 58).

Por sua vez, o artigo 27 do Código Penal traz o seguinte: “Art. 27 - Os


menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às
normas estabelecidas na legislação especial” (CÓDIGO PENAL, 1940, p. 39).

129
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei 8.069/1990 dispõe que


aos menores de 18 anos serão tutelados pela norma especial, pois não possuem
plena capacidade para o entendimento de seus atos.

Esse entendimento os torna inimputáveis, quando há a prática de um fato


ilícito e típico na norma, encontrando previsão constitucional no artigo 228 da
Constituição Federal que dispõe: “são penalmente inimputáveis os menores de
dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial” (BRASIL, 2002, p. 138).

Como estudamos no Capítulo 2, o artigo 291 do CTB determina que


aos crimes cometidos na direção de veículos automotores as normas a serem
aplicadas serão as do Código Penal e do Processo Penal, bem como a lei n°
9.099/95 (Juizados Especiais Criminais), quando a lei não dispuser de forma
diversa. Assim, os crimes considerados dolosos terão a competência do Direito
penal e todo o seu processo.

E quando o agente se embriaga por vontade própria e ainda assim


assume a direção de veículo automotor?

O homicídio culposo previsto no artigo 302 do CTB, versa sobre a


possibilidade da pessoa, após consumir bebida alcoólica, assumir a direção de
algum veículo. Este não possui a intenção de matar, mas a doutrina versa que o
agente agiu com dolo eventual, ou seja, assumiu a intenção de matar alguém ao
ingerir a bebida e atuar logo após ao volante. Entretanto, segundo julgados do
Supremo Tribunal Federal, o dolo eventual (quando há previsão do resultado –
mas há indiferença quanto ao resultado) somente pode ser utilizado quando
o agente quis se embriagar para causar dano a alguém. Isso define-se pelo
dolo do condutor, que queria, previu e causou o resultado atípico, no caso, matar
alguém.

Segundo a Ministra Carmen Lúcia:

A embriaguez alcoólica que conduz à responsabilização a


título doloso é apenas a preordenada, comprovando-se que
o agente se embebedou para praticar o ilícito ou assumir o
risco de produzi-lo. 4. In casu, do exame da descrição dos fatos
empregada nas razões de decidir da sentença e do acórdão
do TJ/SP, não restou demonstrado que o paciente tenha
ingerido bebidas alcoólicas no afã de produzir o resultado
morte (STF – HC: 107801 SP, Relator: Min. CÁRMEN LÚCIA,
Data de Julgamento: 06/09/2011, Primeira Turma, Data de
Publicação: DJe-196 DIVULG 11-10-2011 PUBLIC 13-10-
2011) (Grifo nosso).

130
Capítulo 3 A CONDUTA PARA O CRIME

Da mesma forma, observa o Ministro Luiz Fux, no mesmo julgamento,


prevendo que o acusado não tinha a intenção de matar alguém, ao misturar
bebida e direção, afirmando que somente existiria o dolo, mesmo eventual, se
houvesse a prévia intenção de matar ou causar o dano a alguém:

A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) concedeu,


na tarde de hoje (6), o Habeas Corpus (HC 107801) a L.M.A.,
motorista que, ao dirigir em estado de embriaguez, teria
causado a morte da vítima em acidente de trânsito. A decisão
da Turma desclassificou a conduta imputada ao acusado de
homicídio doloso (com intenção de matar) para homicídio
culposo (sem intenção de matar) na direção de veículo, por
entender que a responsabilização a título “doloso” pressupõe
que a pessoa tenha se embriagado com o intuito de praticar o
crime. Ao expor seu voto-vista, o ministro Fux afirmou que “o
homicídio na forma culposa na direção de veículo automotor
prevalece se a capitulação atribuída ao fato como homicídio
doloso decorre de mera presunção perante a embriaguez
alcoólica eventual”. Conforme o entendimento do ministro, a
embriaguez que conduz à responsabilização a título doloso
refere-se àquela em que a pessoa tem como objetivo encorajar
e praticar o ilícito ou assumir o risco de produzi-lo. O ministro
Luiz Fux afirmou que, tanto na decisão de primeiro grau quanto
no acórdão da Corte paulista, não ficou demonstrado que o
acusado teria ingerido bebidas alcoólicas com o objetivo de
produzir o resultado morte (STF, 2011, Site Oficial: www.stf.
gov.br).

Dessa forma, o agente é culpável e punível no sentido de sua culpa,


cometendo o homicídio culposo e não doloso, previsto no artigo 302 do CTB.

Isso significa que ao agente é imputável o crime em sua forma culposa,


pois tinha conhecimento do seu ato e era imputável, o que evidencia a sua
culpabilidade.

● Então o autor era imputável, pois possuía discernimento de seus atos,


era maior de idade, tinha formação mental completa e saudável, e era,
ao tempo da ação livre para escolher, sendo exigível que tomasse uma
conduta diversa. Todavia, não quis o crime, sendo seu ato considerado
culposo.

Considere a seguinte questão: imagine que em um outro caso hipotético,


um agente revoltado com o término de seu namoro passe a dirigir seu veículo em
frente ao local de moradia de sua ex-namorada, realizando manobras radicais em
alta velocidade, alertando às pessoas que tranquem seus filhos em casa, pois
não se importaria de atropelar alguém. De fato, isso ocorre, matando uma criança
que brincava nos arredores. Ao descer do carro e ver o resultado de sua ação,
o agente ainda teria dito, “mas eu avisei”. Nesse caso em análise, há então o

131
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

homicídio por dolo eventual, sendo o autor julgado pelo Tribunal do Júri, nos
ritos do Direito Processual Penal (MACIEL, 2011).

● Então o autor era imputável, pois possuía discernimento de seus atos,


era maior de idade, tinha formação mental completa e saudável, e era,
ao tempo da ação livre para escolher, sendo exigível que tomasse uma
conduta diversa. Todavia, assumiu o risco de produzir o crime, tendo
potencial consciência de suas ações, sendo seu ato considerado doloso.

No próximo tópico vamos analisar o concurso de agentes ou de pessoas, em


crimes de trânsito, bem como a autoria do crime.

Vamos testar nosso conhecimento?

1 – Assinale a alternativa que corresponde a afirmativa correta:

I – Adotada pelo Código de Direito Penal Brasileiro, a teoria finalista


entende a conduta como um comportamento humano voluntário
psiquicamente dirigido a um fim.
II – A conduta deve estar carreada pela vontade de causar o ato
ilícito, para que seja considerada típica.
III – A Conduta é a ação que causada voluntariamente e
conscientemente, implica em um comando de movimento, que
pode causar danos e riscos no bem tutelado pelo direito penal,
não avaliando os atos omissivos.
IV – A teoria finalista irá ponderar a conduta de forma dolosa e
culposa em sua ação, para considerar a vontade do agente.

Está correta a alternativa:


a) ( ) As alternativas I e II estão corretas.
b) ( ) As alternativas II e III estão corretas.
c) ( ) As alternativas I e IV estão corretas.
d) ( ) As alternativas II e IV estão corretas.

2 – Ao tratarmos de consumação e tentativa, assinale a alternativa


verdadeira:

a) ( ) É punida a tentativa mesmo quando o objeto para o crime


seja insuficiente para causar qualquer tipo de dano.

132
Capítulo 3 A CONDUTA PARA O CRIME

b) ( ) Crimes de diferentes formas, ou condutas diversas, podem


ser punidas a partir de sua simples tentativa, e não por sua
consumação.
c) ( ) Para a consumação, o agente deve realizar aquilo que está
descrito no Código Penal, e que se identifica como crime.
d) ( ) Não existe consumação em crimes de omissão do agente.

3 – Considere as afirmações a seguir e assinale verdadeiro ou falso:

( ) O arrependimento posterior nos indica que o autor do crime se


arrepende da ação cessando os seus atos iniciados.
( ) Quando o agente cessa o ato criminoso antes mesmo
da consumação do crime e desiste por completo, há o
arrependimento posterior.
( ) A restituição ou reparação dos valores causados pelo crime por
parte do agente, quando ocorrido sem violência ou grave ameaça,
antes da denúncia, é considerada causa de diminuição da pena.
( ) A desistência voluntária, confirmada pelo artigo 15 do CP, não
produz penalização ao agente, somente se este tiver praticado
algum ato criminoso que deva ser considerado pelo direito.

Assinale a alternativa correta:


a) V – V – V – F
b) V – V – F – V
c) V – V – F – F
d) F – F – V – V

4 – A respeito das excludentes de culpabilidade e ilicitude, assinale a


alternativa correta:

a) ( ) O artigo 22 estabelece que o agente que tem condições de


compreender que a sua conduta era reprovável, age pela coação
física irresistível, não podendo ser imputado nenhum crime a ele.
b) ( ) Imputabilidade penal é alastrada para todas as pessoas da
sociedade, exceto aos menores de 18 anos, conforme artigo 26
do Código Penal.
c) ( ) O agente que possui condições de compreender que sua
conduta é ao menos reprovável possui potencial consciência
de sua ilicitude, sendo assim penalizado por seu ato, mesmo
desconhecendo a lei penal.
d) ( ) Exige-se que o autor do ilícito conheça a lei penal, sabendo
que o ato praticado é considerado crime pela norma penalizadora.

133
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

3 CONCURSO DE AGENTES
Também reconhecido por concurso de pessoas, é definido pela participação
de duas ou mais pessoas que coincidem para o crime, de uma forma cognitiva e
volitiva. Sabe-se pela doutrina, que essa é uma forma que exige que o autor tome
decisões voluntárias para o cometimento do ilícito penal (MIRABETE, 2012).

Esse importante instituto do direito penal está descrito no artigo 29 de seu


código de leis:

Art. 29. Concurso de pessoas:


Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide
nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade.
§ 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode
ser diminuída de um sexto a um terço.
§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime
menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será
aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o
resultado mais grave (CÓDIGO PENAL, 1940, p. 40).

Pelo artigo exposto, você pode perceber que o legislador distingue as


pessoas que participaram de um ato criminoso, a partir de sua ação no crime.
Dessa forma, na medida de sua culpabilidade, cada participante terá sua pena
que reflete pelo seu ato (MIRABETE, 2012). Isso significa que a penalização
sempre virá a partir da medida da culpabilidade da pessoa envolvida.

Quando se tem o concurso de agentes (pessoas), poderão os autores


responder pelo mesmo crime, mas na medida de sua participação no ato
reprovável.

3.1 AUTOR, COAUTOR E


PARTICIPANTE
A convergência de vontades é pressuposto para o crime, entretanto, mesmo
que inexista acordo prévio entre os autores, estes devem estar em anuência no
momento do ilícito. A figura do coautor do crime, fica destacado nessa situação.

Perceba que pela redação do artigo 29, interpretamos que aquele que
concorre para o crime, provavelmente detenha o domínio do fato, e sobretudo, a
potencial consciência da ilicitude de seu ato. Assim, ao contribuir para a ação, age
em conformidade ao previamente planejado, tendo uma função definida. Assim,
aquele que apenas dirige o automóvel, em uma situação hipotética, para auxiliar

134
Capítulo 3 A CONDUTA PARA O CRIME

a fuga em um empreendimento criminoso de um assalto qualquer, é considerado


coautor, por determinar-se em meio ao crime, que sabia que iria ocorrer, desde o
seu início (MIRABETE, 2012).

O ato de participar de um crime também é versado pelo legislador, que ao


apresentar o § 1º do artigo que estamos analisando, identifica a presença do
partícipe.

Diferentemente do coautor, que possui domínio do fato, a figura que


participa sem ter nenhuma conduta no delito principal, mas que de alguma forma,
facilita, auxilia ou produz condições positivas para que o crime seja realizado,
é considerada partícipe. Assim, se alguém emprestar seu veículo para algum
assalto, sabendo do uso de seu bem e do momento do crime, incorre no crime na
situação delineada anteriormente.

Você sabia? Para crimes considerados culposos não é


admitida a participação, uma vez que não existe a preparação ou
a vontade essencial para causar danos ao bem jurídico tutelado.
Imagine que um pedestre desavisado, acompanhado de um amigo
seu, não queira atravessar o sinaleiro que está prestes a abrir, mas
sempre incentivado por seu amigo a atravessar correndo a avenida,
são atropelados. A ação do amigo não possui dolo, muito menos a
ação daquele que estava reticente, portanto, por imprudência eles
agiram, não havendo como realçar nenhum tipo de participação, pois
não há um ato doloso.

Não havendo possibilidade de partícipes em crimes


culposos, quando o pedestre atravessa a rua de forma
imprudente, este, entretanto também pode ser punido, mesmo
tendo sido atropelado. Veja, que se em determinada ocorrência, o
pedestre descumpriu as normas de segurança no trânsito, o condutor
do veículo não responderá por qualquer dano causado ou qualquer
lesão corporal atribuída ao atropelamento, pois não deu causa ao
acontecimento. Pode ser possível que o Poder Judiciário determine
ao pedestre o dever de indenização aos danos ocorridos no veículo,
bem como atribuir responsabilidades administrativas.

● O artigo 69, que pode ser encontrado no Capítulo IV, versa sobre
a responsabilidade de quem caminha pelas ruas e que suas
tomadas de decisões devem ser feitas a partir de precauções de
segurança:
135
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

Art. 69. Para cruzar a pista de rolamento o pedestre


tomará precauções de segurança, levando em
conta, principalmente, a visibilidade, a distância e
a velocidade dos veículos, utilizando sempre as
faixas ou passagens a ele destinadas sempre que
estas existirem numa distância de até cinquenta
metros dele, observadas as seguintes disposições:
I - onde não houver faixa ou passagem, o cruzamento da via
deverá ser feito em sentido perpendicular ao de seu eixo;
II - para atravessar uma passagem sinalizada para
pedestres ou delimitada por marcas sobre a pista:
a) onde houver foco de pedestres,
obedecer às indicações das luzes;
b) onde não houver foco de pedestres,
aguardar que o semáforo ou o agente de
trânsito interrompa o fluxo de veículos;
III - nas interseções e em suas proximidades,
onde não existam faixas de travessia, os
pedestres devem atravessar a via na continuação
da calçada, observadas as seguintes normas:
a) não deverão adentrar na pista sem antes se certificar
de que podem fazê-lo sem obstruir o trânsito de veículos;
b) uma vez iniciada a travessia de uma pista, os pedestres
não deverão aumentar o seu percurso, demorar-se ou
parar sobre ela sem necessidade (BRASIL, 1997, p. 68).

Nesses casos, o CTB admite ainda a responsabilidade


administrativa ao pedestre, quando prescreve no artigo 254 as
seguintes condutas proibidas aos pedestres:

Art. 254. É proibido ao pedestre:


I - permanecer ou andar nas pistas de rolamento, exceto
para cruzá-las onde for permitido;
II - cruzar pistas de rolamento nos viadutos, pontes, ou
túneis, salvo onde exista permissão;
III - atravessar a via dentro das áreas de cruzamento,
salvo quando houver sinalização para esse fim;
IV - utilizar-se da via em agrupamentos capazes de
perturbar o trânsito, ou para a prática de qualquer folguedo,
esporte, desfiles e similares, salvo em casos especiais e
com a devida licença da autoridade competente;
V - andar fora da faixa própria, passarela, passagem aérea
ou subterrânea;
VI - desobedecer à sinalização de trânsito específica
(BRASIL, 1997, p. 138).

Assim, a infração, considerada leve, é de multa em cinquenta


por cento do valor da infração de natureza leve, ou seja, em torno de
45 reais. Entretanto, ainda não existe no trânsito brasileiro e em sua
configuração legal e penalizadora, uma sistemática que permita ao
infrator que trafega a pé, a entrega a aplicação da multa (BEM, 2015).

136
Capítulo 3 A CONDUTA PARA O CRIME

Veja, prezado pós-graduando, que de qualquer forma, a pena a ser aplicada


ao partícipe será medida através de sua culpabilidade e de sua real influência no
ato, conforme prevê o caput do artigo 29.

Então temos:

QUADRO 13 – AS DIFERENÇAS ENTRE AUTOR, COAUTOR E PARTICIPE.


Aquele que possui o domínio e controle da ação típica.
Autor: Ex: o motorista que acelera o veículo para assassinar seu desafeto - art.
121, CP, julgado pelos ritos do Tribunal do Júri.
Quem contribui para a prática da infração, no momento infracional, participando
voluntariamente do crime.
Coautor:
Ex: aquele que está sentado ao lado do motorista, no mesmo carro, e que
avisa que seu desafeto está a caminho.
Quem auxilia de alguma forma ao crime, mesmo não possuindo participação ne-
nhuma em seu ato.
Partícipe:
Ex: aquele que empresta o veículo, sabendo da intenção do agente de matar
seu desafeto com o carro emprestado.
FONTE: O autor

Outro exemplo influente em crimes de trânsito, é o do pai que mesmo


sabendo que seu filho não possui habilitação para dirigir, ainda assim empresta
seu veículo, vindo o motorista depois de beber, a matar alguém.

Não há que se falar em crime de partícipe por parte do pai, pois não houve
dolo em sua ação, nem mesmo conhecimento da conduta do menor. Aqui, ao autor
do atropelamento com vítima fatal cabe o homicídio culposo, tipificado no artigo
302 do CTB, com o aumento de pena do § 3º que diz que “se o agente conduz
veículo automotor sob a influência de álcool ou de qualquer outra substância
psicoativa que determine dependência”, apontando a reclusão, de “cinco a oito
anos, e suspensão ou proibição do direito de se obter a permissão ou a habilitação
para dirigir veículo automotor” (BRASIL, 1997, p. 78).

Nesse caso, ao pai, pela sua negligência, deverá ser condenado pela
entrega de veículo a menor, constante no artigo 163 do CTB, estudado no capítulo
anterior, mas não como partícipe, muito menos coautor, conforme os recentes
julgados pelos nossos tribunais superiores. Isso ocorre porque a responsabilidade
dos pais perante os erros penais dos filhos, mesmo menores, recai ao âmbito civil,
mas não ao penal (MASSON, 2017).

137
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

● A responsabilidade penal não pode ser atribuída a outra pessoa, que não
seja o autor ou que não esteja participando ou em coautoria no crime em
concreto.

Entretanto, apenas a reparação de dano pode ser suportada por terceiro,


mas não a responsabilidade penal, o que fica evidente no artigo 5°, XLV da
Constituição Federal de 1988:

Art. 5º XLV. Nenhuma pena passará da pessoa do condenado,


podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do
perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos
sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do
patrimônio transferido (BRASIL, 2002, p. 41).

Então, há aqui a responsabilização do pai do menor, pelos danos


causados pelo filho, em uma possível reparação voltada aos âmbitos do
direito civil. Isso destaca bem as diferenças entre a responsabilidade civil e a
responsabilidade penal, em casos de direito no trânsito como o visto no exemplo
anterior.

Pai que entrega veículo a adolescente não pode


ser condenado por homicídio culposo

Por: Redação do Migalhas

Em 1ª instância o pai foi absolvido por falta de provas, mas foi


condenado pelo crime de entrega de veículo a pessoa não habilitada
e por coautoria em crime de homicídio culposo no trânsito.

O pai que entrega ou permite que o filho menor de idade dirija


seu carro não pode ser condenado por homicídio culposo. Para a 5ª
turma do STJ, não se pode presumir a culpa nem implicar penalmente
o pai pela conduta do filho, em razão de responsabilidade reflexa.

O pai do adolescente foi denunciado em virtude de ter autorizado


seu filho, menor de idade, a conduzir seu carro, resultando em
acidente de trânsito que levou à morte de uma pessoa.

Em 1ª instância o pai foi absolvido por falta de provas, mas foi


condenado pelo crime de entrega de veículo a pessoa não habilitada
e por coautoria em crime de homicídio culposo no trânsito, à pena de

138
Capítulo 3 A CONDUTA PARA O CRIME

dois anos e quatro meses de detenção em regime aberto, além de ter


suspensa sua carteira de habilitação por um ano.

Em HC impetrado no STJ, o pai alegou que sua condenação em


coautoria pelo crime de homicídio no trânsito não pode se ancorar
na suposta "anuência tácita e permanente". Entende, dessa forma,
que poderia ser responsabilizado apenas pelo delito de entrega de
veículo automotor a pessoa não habilitada.

Culpa

Segundo o relator, ministro Marco Aurélio Bellizze, "a culpa não


se presume". "Deve ser demonstrada e provada pelo órgão acusador.
Da leitura das decisões proferidas pelas instâncias ordinárias,
verifica-se, num primeiro momento, que não há qualquer elemento
nos autos que demonstre que o pai efetivamente autorizou o filho a
pegar as chaves do carro na data dos fatos, ou seja, tem-se apenas
ilações e presunções, destituídas de lastro fático e probatório",
completou.

Responsabilidade

Quanto à responsabilização de forma reflexa, o ministro salientou


que "nem ao menos na seara cível é possível responsabilizar-se
alguém por dano reflexo, mas apenas pelo dano direto e imediato
causado".

Quanto à responsabilidade penal, o relator afirmou que "a


conduta do pai não teve relevância causal direta para o homicídio
culposo na direção de veículo automotor". "Não podendo, por
conseguinte, atribuir-se a pai e filho a mesma infração penal praticada
pelo filho", ressaltou.

A 5ª turma não conheceu do HC, mas concedeu ordem de ofício


para restabelecer sentença absolutória quanto ao delito de homicídio
culposo na direção de veículo automotor, mantendo a condenação
quanto ao delito do art. 310 do CTB, pois "se imputa ao paciente não
apenas o fato de ter permitido, confiado ou entregue a direção de
veículo automotor a pessoa não habilitada, na data em que ocorreu o
homicídio culposo no trânsito, mas também durante o ano de 2006".

139
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

● Processo relacionado: HC 235827

FONTE: Site Migalhas: ttps://www.migalhas.com.br/


quentes/186732/pai-que-entrega-veiculo-a-adolescente-nao-
pode-ser-condenado-por-homicidio-culposo Acesso em: 15 maio
2021.

Vamos ver um pouco mais sobre isso tudo no próximo tópico.

3.2 CONCURSO DE AGENTES EM


CRIMES DE TRÂNSITO
Como você estudou anteriormente, quando há pessoas envolvidas em um
mesmo ato criminoso, podemos considerar o concurso de agentes. Cada um
responderá a partir de sua própria participação no ato, o que revela a importância
da ação de cada pessoa no crime.

Entretanto, quando falamos em crime, seja ele culposo ou doloso, como


fica a coautoria e a participação? A doutrina estabelece essa resposta através
da teoria monista, adotada no Brasil, que antevê a punição do agente pelos seus
próprios méritos no caso concreto.

Assim, admite-se a coautoria nos crimes considerados culposos, entretanto,


como vimos, não se admite a participação, conforme o julgado pelo Superior
Tribunal de Justiça, no habeas Corpus n° 40.474:

HABEAS CORPUS. PENAL E PROCESSUAL PENAL.


HOMICÍDIO CULPOSO. DELITO DE TRÂNSITO. COAUTORIA.
POSSIBILIDADE. ALEGAÇÃO DE INEXISTÊNCIA DE
NEXO CAUSAL ENTRE O COMPORTAMENTO DO
PACIENTE E O EVENTO DANOSO. NECESSIDADE
DE DILAÇÃO PROBATÓRIA. VIA INADEQUADA.
1. É perfeitamente admissível, segundo o entendimento
doutrinário e jurisprudencial, a possibilidade de
concurso de pessoas em crime culposo, que ocorre
quando há um vínculo psicológico na cooperação
consciente de alguém na conduta culposa de
outrem. O que não se admite nos tipos culposos,
ressalve-se, é a participação. Precedentes desta Corte.
2. Afigura-se inviável, conforme pretende o Impetrante,
reconhecer, na via estreita do writ, a ausência, por falta de
provas, do nexo causal entre o comportamento culposo do

140
Capítulo 3 A CONDUTA PARA O CRIME

paciente – reconhecido na sentença – ao acidente em questão,


uma vez que demandaria, necessariamente, a análise
aprofundada do conjunto probatório dos autos (STJ, 2006, p.
832, grifos nossos).

Para Nucci essa visão do julgador fica bem evidenciada quando há o


entendimento doutrinário de que é impossível a participação, mas possível a
coautoria em crimes culposos de trânsito:

Admite-se, no contexto do delito culposo, a coautoria, mas


não a participação. Sendo o tipo do crime culposo aberto,
composto sempre de “imprudência, negligência ou imperícia”,
segundo o disposto no art.18, II, do Código Penal, não é
aceitável dizer que uma pessoa auxiliou, instigou ou induziu
outrem a ser imprudente, sem ter sido igualmente imprudente.
Portanto, quem instiga outra pessoa a tomar uma atitude
imprudente está inserido no mesmo tipo penal. Exemplo: A
instiga B a desenvolver velocidade incompatível em seu veículo,
próximo a uma escola. Caso haja atropelamento, respondem A
e B como coautores de um crime culposo (NUCCI, 2014, p.
367, grifo nosso).

Então, o concurso de pessoas admite mesmo em um delito considerado


culposo, uma ou mais pessoas, em crimes culposos abertos, ou seja, aqueles
caracterizados pela imprudência, imperícia ou pela negligência, bem como em
delitos dolosos. Imagine, em um exemplo hipotético, três pessoas em um carro,
todas participando de um racha que sabem que é ilegal, pelo artigo 308 do CTB.
Nesse caso, se incentivando em comum para a participação e aceleração do
veículo, temos um crime doloso que gera riscos alheios, com a participação de
dois ou mais agentes, por vontade e conhecimento próprio, em que cada um
assume a coautoria do delito em casos dolosos.

Entretanto, observe a situação abaixo, trazida pelo Tribunal de Justiça do Rio


Grande do Sul:

“No entanto, se em outra hipotética situação dois veículos,


um atrás do outro em uma pista, com a velocidade baixa,
agem sem tomar as devidas cautelas ao conduzir seus
veículos, o primeiro, atravessando a pista de rolamento para
acessar estrada lateral à esquerda, obstruindo a passagem
da motocicleta da vítima, que vinha em sentido contrário, não
conseguindo evitar a colisão; o segundo, que vinha atrás do
primeiro, não tomando a devida distância do veículo da frente
e sem prestar a devida atenção na pista, passando por cima da
vítima, que estava caída na via, o que, também, contribuiu para
sua morte, agindo em coautoria” (TJRS, 2017).

Dessa forma, então, conforme nos demonstra a jurisprudência acima, é


possível a coautoria em casos culposos.

141
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

O concurso de pessoas, na prática para Mirabete, “é a ciente e voluntária


participação de duas ou mais pessoas na mesma infração penal” (MIRABETE,
2012, p. 68).

Essa distinção é muito importante, principalmente em eventos no trânsito,


considerados a partir da culpa do agente. Por certo, crimes de trânsito dolosos,
descritos nos artigos 304 a 312 poderão possuir coautores, partícipes e toda
a pluralidade do concurso de pessoas, pois os agentes assumem o risco pelo
resultado, mas os crimes considerados culposos, como a lesão corporal (Art. 303
CTB) e o homicídio culposo (Art. 302 CTB), admitem o mesmo? Como vimos,
estes não admitem a participação, mas sim a coautoria. Isso fica evidente em
alguns exemplos: o motorista que não tem intenção de matar alguém, atropela um
pedestre que trafegava em uma conduta considerada correta, é o autor da lesão
culposa. Imagine que ao seu lado no veículo, um amigo antes da colisão com o
andante, lhe mostra um artigo seu que fora publicado em alguma revista, tirando
a atenção do condutor, que veio a atropelar alguém. Nesses casos, a coautoria do
crime culposo ocorreu de forma inconteste.

Da mesma forma, em um crime culposo de atropelamento e morte, esses


amigos que estiverem no veículo e que agem culposamente, podem agir
dolosamente quando omitem socorro à vítima. Assim, se fugirem do local não
prestando auxílio ou socorro, ou não avisando autoridade competente,
então assumindo o dolo descrito no artigo 304 do CTB, estando em comum
acordo para isso, tendo uma majorante que qualifica o magistrado a aumentar a
pena dos indiciados por homicídio culposo, pela fuga do local sem prestar auxílio
à vítima.

O artigo 308 é dos crimes do CTB que em qualquer de suas formas, é


considerado um crime de concurso necessário, sendo então preciso a participação
de outros agentes em sua realização, não podendo ser efetivado por uma pessoa
apenas. Se trata daquele que organiza ou promove corridas ou competições
ilegais e não autorizadas, que responde isoladamente pela sua conduta ilegal, na
medida de sua culpabilidade conforme o artigo 29 do CP visto, sendo o autor do
crime, mas no caso do artigo 308, o verbo apresentado pelo legislador é participar,
sendo então um crime considerado plurissubjetivo, que é aquele que precisa da
participação de mais de uma pessoa para ser realizado, como participar de uma
corrida:

Na modalidade corrida o crime é unissubjetivo, podendo,


portanto, ser praticado por um único sujeito; mas a nosso
ver, como o tipo fala em "participar de corrida", afigurasse-
nos implícita a ideia de mais de um "participante”, a revelar
estarmos diante de crime de concurso necessário; ou seja,
plurissubjetivo (NUCCI, 2006, p. 863).

142
Capítulo 3 A CONDUTA PARA O CRIME

Dessa forma, a doutrina nacional admite a coautoria em crimes culposos,


como vimos anteriormente, afastando a participação. Pode vir a existir um vínculo
subjetivo que caracteriza a realização da conduta que se torna típica, mas esse
mesmo vínculo não possui relação com a vontade de produzir o resultado.

Portanto, aqueles que de alguma forma cooperam para o ato, demonstra


a falta de dever objetivo de cuidado e atenção devidas, agem na forma de
coautores. Assim, prezado pós-graduando, Welzel define que a “coautoria é uma
forma independente de autoria. Coautoria é autoria, por isso, cada coautor há de
ser autor, isto é, deve possuir as qualidades pessoais de autor” (WELZEL, 1997,
p. 419).

Vamos observar o quadro a seguir e analisar todos os contextos estudados


até aqui?

QUADRO 13 – ANALISANDO OS PERSONAGENS E SUA


PARTICIPAÇÃO NOS CRIMES EM ESPÉCIE
Dos Crimes em
Admite concur- Admite a partici-
Espécie (Parte Quem é o autor? Admite coautoria?
so de pessoas? pação?
Especial)
Crimes culposos
Art. 302 Crime
O condutor Sim Sim não admitem a
Culposo
participação.
Crimes culposos
Art. 303. Crime
O condutor Sim Sim não admitem a
Culposo
participação.
Art. 304 Crime
O condutor Sim Sim Sim
Doloso
Sim. O ato pode
Art. 305. Crime Não. O ato é do con- ser incentivado
O condutor Sim
Doloso dutor do veículo. por outras pes-
soas.
Não. Considera-se
Art. 306 Crime crime de mão própria,
O condutor Não Não
Doloso causado pelo próprio
agente.
Não. Considera-se
Art. 307. Crime crime de mão própria,
O condutor Não Não
Doloso causado pelo próprio
agente.
Art. 308 Crime
O condutor Sim Sim sim
Doloso

143
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

Não. Considera-se
Art. 309. Crime crime de mão própria,
O condutor Não Não
Doloso causado pelo próprio
agente.
Não. Considera-se
Art. 31. Crime crime de mão própria,
O proprietário Não Não
Doloso causado pelo próprio
agente.
Não. Considera-se
Art. 311. Crime crime de mão própria,
O condutor Não Não
Doloso causado pelo próprio
agente.
O condutor ou o
Art. 312. Crime agente que realiza o
Sim Sim Sim
Doloso verbo inovar (pode
ser seu carona).
FONTE: O autor

Você avaliou os crimes de trânsito, considerando que a morte


causada no trânsito por motorista que esteja sob o efeito de álcool
(embriagado), é punido como homicídio culposo, pois é considerado
pelo direito brasileiro a culpa e o dolo, não possuindo vontade
presumida (dolo), em matar alguém na direção do veículo.

Exige-se nesses casos, que o agente possua real intenção de


matar alguém, e para isso, embriagou-se e assumiu o volante rumo
ao ato típico. Comprovando essa vontade, teremos o homicídio
doloso. Pode ocorrer também, do motorista agir com intenção
de assumir o risco, produzindo então o dolo eventual, que você
estudou no capítulo anterior, que ocorre quando o agente assume
a possibilidade de matar alguém com sua ação, mas não se importa
com isso.

Nesses casos, comprovando que houve o dolo e que o


motorista realmente queria matar seu desafeto e para tomar coragem
precisou beber, ou, se o motorista bebeu e não se importou se
matasse alguém, o crime será tipificado e considerado pelo artigo
121 do Código Penal, sendo responsável pelo julgamento os ritos do
Tribunal do Júri. Aqui a pena então seria de reclusão, de seis a vinte
anos, conforme o caso apresentado.

144
Capítulo 3 A CONDUTA PARA O CRIME

No entanto, se tratamos de crime culposo, mesmo com a


capacidade do condutor alterada pela bebida alcoólica, porém sem
a intenção de matar ou de assumir o risco volitivamente, o condutor
será julgado pelo artigo 302 do CTB, como homicídio culposo,
sentenciado por juiz singular, tendo uma pena de reclusão de cinco
a oito anos e a suspensão ou proibição do direito de dirigir ou de
obter a permissão ou habilitação para dirigir veículo, dependendo do
magistrado e do caso concreto.

Entretanto, o Superior Tribunal de Justiça decidiu recentemente


que “o mero fato de o motorista estar embriagado, por si só,
não revela que ele assume o risco de causar um acidente com
resultado morte” (STJ, 2017). Assim, exige-se que o agente adote
uma postura que demonstre que queria matar alguém, ou que
assumiu de fato o risco de matar alguém.

Imagine, numa situação hipotética, um motorista que além de


embriagado, decide trafegar em altíssima velocidade na contramão,
em local de grande tráfego, próximos a escolas e atropela alguém o
levando a morte. Aqui resta comprovado que assume o autor do fato
o risco e nada faz para evitá-lo, tendo o dolo eventual, veja:

[...] 5. É possível, em crimes de homicídio na direção


de veículo automotor, o reconhecimento do dolo
eventual na conduta do autor, desde que se justifique tal
excepcional conclusão a partir de circunstâncias fáticas
que, subjacentes ao comportamento delitivo, indiquem
haver o agente previsto e anuído ao resultado morte. 6.
A embriaguez do agente condutor do automóvel, sem o
acréscimo de outras peculiaridades que ultrapassem a
violação do dever de cuidado objetivo, inerente ao tipo
culposo, não pode servir de premissa bastante para a
afirmação do dolo eventual. Conquanto tal circunstância
contribua para a análise do elemento anímico que move
o agente, não se ajusta ao melhor direito presumir o
consentimento do agente com o resultado danoso
apenas porque, sem outra peculiaridade excedente ao
seu agir ilícito, estaria sob efeito de bebida alcoólica ao
colidir seu veículo contra o automóvel conduzido pela
vítima (REsp1689173/SC, Rel. Ministro ROGERIO
SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em
21/11/2017, DJe 26/03/2018). (STJ, 2017).

A polêmica aqui se evidencia quando a vítima não contribuiu


de forma alguma para o crime, causado por alguém que ao menos
deveria possuir consciência de que não é correto beber e assumir o
volante do veículo.

145
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

Para esses casos, o Senado aprovou recentemente a PLS


32/2016, que segue seu trâmite para a aprovação também da
Câmara dos Deputados, que responsabiliza civilmente o motorista
embriagado a ter que ressarcir as despesas hospitalares do SUS,
no caso de vítimas em sua ação. Veja na íntegra o artigo do Senado:

Motorista alcoolizado terá que ressarcir o SUS as despesas


hospitalares de vítima
Da Redação | 27/04/2021, 20h35

Em votação simbólica, o Senado aprovou nesta terça-feira (27)


o Projeto de Lei do Senado (PLS) 32/2016, que obriga o motorista
alcoolizado ou sob efeito de outra substância psicoativa envolvido
em acidente de trânsito a ressarcir as despesas com assistência
hospitalar das vítimas ao Sistema Único de Saúde (SUS). A proposta,
de autoria do senador Wellington Fagundes (PL-MT), foi aprovada
na forma de substitutivo apresentado pelo relator, senador Fabiano
Contarato (Rede-ES).

Pelo PLS 32/2016, que segue para análise da Câmara dos


Deputados, o condutor responderá civilmente pelas despesas do
tratamento médico de terceiros quando for enquadrado penalmente
pelos crimes de homicídio e lesão corporal em acidente de trânsito
motivado por embriaguez ou consumo de outras drogas. Wellington
justificou seu projeto ao vincular os desastres com milhares de mortos
e feridos, com grande custo para o Estado, aos atos “irresponsáveis”
de motoristas sob efeito de álcool e de drogas ilícitas.

Em seu parecer do Plenário, Contarato avalia que a iniciativa


procura fazer justiça, impondo ao motorista criminoso um ônus
suportado hoje por toda a sociedade através dos gastos do SUS. Ele
citou dados de 2013 do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea) segundo os quais os acidentes de trânsito matam cerca de 45
mil pessoas por ano e deixam mais de 160 mil pessoas com lesões
graves.

Dados do Ministério da Saúde apontam que cerca de 70% a


80% das vítimas de acidentes de trânsito são atendidas pelo SUS e
os acidentes de trânsito são o segundo maior tipo de ocorrência que
gera atendimento nos serviços públicos de urgência e emergência
em todo o Brasil", revela o relator no parecer.

146
Capítulo 3 A CONDUTA PARA O CRIME

Contarato ofereceu emenda que eliminou do texto a previsão


de que o motorista também fosse obrigado a pagar pelo tratamento
médico-hospitalar prestado pelo SUS a ele ou a seus dependentes
em decorrência do acidente. No entendimento do relator, o direito ao
atendimento universal e gratuito vale para todos aqueles que batem
às portas do SUS. Já o ressarcimento do atendimento médico público
a outras vítimas do acidente seria legítimo, por não representar
violação ao princípio da gratuidade e universalidade do atendimento.

O substitutivo — que acolhe seis emendas — também esclarece


que o prazo prescricional só passará a correr do trânsito em julgado
da sentença final definitiva, e explicita que o ressarcimento não se
aplica sobre as consequências de entorpecimento involuntário ou
efeito de doença considerada como tal na Classificação Internacional
das Doenças (CID).

Antes da análise do Plenário, o projeto tinha sido aprovado na


Comissão de Assuntos Sociais (CAS), sob a relatoria da senadora
Mailza Gomes (PP-AC), e submetido à Comissão de Constituição e
Justiça (CCJ), onde a relatoria também coube a Contarato. Porém,
com a crise da covid-19, o texto foi submetido ao rito abreviado de
tramitação legislativa.

Fonte Disponível: Agência Senado https://www12.senado.


leg.br/noticias/materias/2021/04/27/motorista-alcoolizado-tera-que-
ressarcir-o-sus-as-despesas-hospitalares-de-vitima - Acesso em
Maio de 2021.

• O projeto de lei identificado, se for aprovado, abre precedentes


e possibilidades de que, mesmo a vítima, após o atendimento ao
SUS seja encaminhada ao hospital particular, deva ser ressarcida
pelo ato imprudente do motorista, que deve arcar com as despesas
hospitalares.

No próximo tópico iremos estudar mais a fundo a imputabilidade penal e a


extinção da punibilidade para os crimes de trânsito.

147
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

Vamos praticar?

1) Entendemos por crime tentado, aquele que não chega à


consumação de fato, mas que suas investidas podem alterar o
bem jurídico tutelado. Por outro lado, a consumação ocorre com o
crime possuindo todas as suas propriedades, inclusive causando
danos ao bem jurídico. Nesse sentido, analise as questões a
seguir:
I – Em crimes de trânsito não há a tentativa, mas sim o fato
consumado dolosa ou culposamente, que se amolda ao tipo
penal.
II – É punível a tentativa por total ineficácia do objeto ao crime, uma
vez que na conduta ainda persiste o dolo.
III– Quando no crime são reunidos todos os essenciais elementos
para sua definição, há o crime consumado, que não precisa
necessariamente dos atos preparatórios para que seja assim
definido.
IV– Crime tentado não se consome por aspectos inerentes à vontade
do agente, uma vez iniciada a sua execução.

Assinale a alternativa correta:


a) As alternativas III e I estão corretas.
b) As alternativas II e III estão corretas.
c) As alternativas III e IV estão corretas.
d) As alternativas I e IV estão corretas.

2) A respeito da autoria, coautoria e participação em crimes de


trânsito, assinale a alternativa correta:
a) O coautor não precisa do conhecimento sobre o crime para ser
assim definido, basta que sua coautoria seja suficiente para o ato
criminoso.
b) Ao autor se entende por aquele que diretamente participou de um
crime, contribuindo para a prática da infração.
c) A participação não é admitida em crimes culposos, mas a
coautoria sim.
d) A coautoria não é admitida em crimes culposos, somente admite-
se a participação.

148
Capítulo 3 A CONDUTA PARA O CRIME

3) Observe as questões a seguir:


I) O artigo 69 do CTB trata de regras de convivência no trânsito,
sendo também um determinante pedagógico.
II) Aguarda-se ainda, na questão do direito do trânsito, normas que
venham a responsabilizar pedestres por seu comportamento
indevido que pode causar acidentes inadvertidamente.
III) A multa para pedestres é mera formalidade, aplicada ao
transeunte por profissional de segurança no trânsito.
IV) O artigo 154 do CTB relaciona determinadas condutas
consideradas infracionais, que podem ser ocasionadas por
transeuntes.

Identifique a sequência correta:


A) ( ) F – V – F – F
B) ( ) V – F – F – V
C) ( ) V – V – F – V
D) ( ) F – V – V – F

4 IMPUTABILIDADE PENAL E
EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE
Analisamos nos tópicos anteriores um pouco acerca da imputabilidade penal
e suas consequências, entretanto, como é matéria de vital importância para o
direito de trânsito, vale destacar aqui seus pontos mais influentes no assunto.

O instituto, trazido no direito penal em seu código de leis de 1940 no artigo


26, traz a figura do semi-imputável, do inimputável e por analogia a esses casos,
determina que todos os outros que possuem higidez psíquica e possibilidade de
autodeterminação, que não seja menor de idade, são imputáveis.

Analisaremos também quando é possível a extinção da punibilidade no


direito penal, em consonância com o direito de trânsito.

Vamos lá!

149
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

4.1 IMPUTABILIDADE PENAL


A qualidade de ser imputável ou alguém a quem se possa atribuir determinada
coisa ou fator, é o sentido mais literal da imputabilidade. Quando se trata da
grande área de estudos da ciência do direito, essa aplicação passa a ser distinta
para apenas algumas pessoas, que possuem características especiais, como os
menores de idade.

É dessa maneira que o verbo imputar, para o direito, se refere à atribuição


de alguma responsabilidade a alguém, por alguma atitude típica conceituada no
código de leis nacional.

Para o direito penal, que é a sua área de estudo aqui neste livro, você vai
perceber que para atribuir algo a alguém, no sentido de responsabilizá-lo por um
fato cometido de maneira típica, esse personagem deve ser imputável. É dessa
forma que se entende isento de pena pessoas incapazes de compreender a
ilicitude de sua ação, a partir de um desenvolvimento biológico mental incompleto,
por exemplo, mas, note também que a imputabilidade está sempre interligada, de
forma direta, ao tempo da conduta, uma vez que deve ser examinada no tempo
em que a ação ou a omissão ocorreram (MASSON, 2017).

É assim que se interpreta diversos casos que vemos por aí, que consideram
a imputabilidade penal ao sujeito que compreende as situações diversas,
possui cognição apurada, mas no momento do ato criminoso, era totalmente ou
parcialmente inimputável. Esse é o caso da embriaguez acidental completa e da
embriaguez patológica, que veremos adiante.

Veja que não se pode imputar um ato que à primeira vista é considerado
criminoso, de um motorista dirigindo em alta velocidade que atropela
inadvertidamente crianças na porta de uma escola, quando se percebe que ao
volante o agente teve um ataque epiléptico, do qual nunca antes teria sido vítima
na vida, porém, o afligiu naquele exato momento. Portanto, somos dependentes de
uma análise mais apurada em toda a situação envolvente de dolo e culpa, dentro
dos âmbitos penais, para conferir a imputabilidade a alguém. Essa não se refere
apenas à consciência ou à mente, mas também a fatos que são relacionados ao
físico e ao corpóreo.

Para o Código Penal, a disposição legal no tocante à imputabilidade, revela


que a prática da conduta, ao ser analisada no momento em que ocorre, é a única
a ter importância, o que indica que as ações posteriores ao crime (o que o agente
fez ou deixou de fazer) não são estudadas pelo direito:

150
Capítulo 3 A CONDUTA PARA O CRIME

Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental


ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era,
ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo
com esse entendimento. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)
Redução de pena
Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois
terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental
ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não
era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou
de determinar-se de acordo com esse entendimento (BRASIL,
1940, p. 39).

Veja que quando nos referimos à imputabilidade penal, estamos tratando


diretamente da culpabilidade do indivíduo. Segundo Masson, o nosso Código
Penal acompanhou as mais modernas legislações que tratam do assunto de
maneira a definir apenas as hipóteses onde exista a inimputabilidade, definindo
a importância do momento da ação, bem como, a ausência de dolo do agente
(MASSON, 2017). Não estando no campo do dolo, mas sim da culpa, o agente é
considerado inculpável, quando inimputável.

● Dessa maneira, considera-se imputável aquele que, no momento da


ação ou da omissão, possuía capacidade de entendimento ético jurídico
e de autodeterminação (vontade de agir e conhecimento de sua ação,
bem como a previsão do resultado) (REALE, 2013).

Massom (2017) invoca dois elementos essenciais para que o agente possa
entender o caráter ilícito do fato que comete, que podem ser definidos como
o intelectivo e o volitivo. Note que esses elementos conseguem transmitir a
natureza da imputabilidade, a partir de seus dados, que são determinantes para
a averiguação da imputação ou não, devem estar presentes de forma simultânea,
para que se averigue se o agente era ou não imputável, à época dos fatos:

● Caráter Intelectivo: condiz ao consciente e a uma salubridade mental e


psicológica que conceda ao autor do fato a consciência
● Caráter Volitivo: concernente à vontade da pessoa, essa consegue
determinar sua ação a partir do controle que consegue ou não exercer
em diversas situações, compreendendo que uma ação sua pode ser
lícita ou ilícita, e que pode vir a ocorrer por algum ato ou omissão que
venha a ocasionar, por sua própria vontade.
○ Possuindo essas duas determinações, o agente é imputável.

Aos imputáveis maiores de dezoito anos de idade não cabe a condenação


penal, mas mesmo assim serão julgados pela jurisdição penal, e pela sua

151
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

condição que retira toda a culpabilidade, não há penalização, ainda que exista
vínculo direto ao fato ilícito, serão absolvidos da mesma forma (MASSON, 2017).
Entretanto, havendo o julgamento e a sentença, teremos a absolvição imprópria,
uma vez que se absolve o inimputável da pena, e no lugar aplica-se uma medida
de segurança, conforme reza o artigo 386 em seu parágrafo único, inciso III do
Código de Processo Penal.

O artigo 26 pode ser interpretado a partir de duas distinções que o próprio


legislador trouxe na norma, ao adicionar o parágrafo único que diz que se não
era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se
de acordo com esse entendimento, sua pena terá redução de um a dois terços.
Temos aqui a figura do agente considerado semi-imputável.

4.2 SEMI-IMPUTÁVEL
A semi-imputabilidade deve ser interpretada a partir da capacidade
de entendimento e determinação que é parcialmente acrescida ao agente,
o que envolve doença mental e psicológica, e por esse motivo possuem a
responsabilidade diminuída (MASSON, 2017).

Não se trata de “doença mental, mas, todavia, de uma perturbação de ordem


mental, uma falha no caráter portador de personalidade psicopática, anormal mas
que apresenta certo grau de inteligência ao mesmo tempo em que apresenta
ausência de arrependimento” (REALE, 2000, p. 87).

Assim, conforme Zaffaroni nos explica que, para a imputabilidade é


necessário que haja capacidade psíquica e que o agente possa agir com um grau
de capacidade dispondo de sua autodeterminação, para os semi-imputáveis essa
capacidade é reduzida por desenvolvimento mental incompleto ou retardado,
o que reduz também a sua pena, pois possuem a responsabilidade diminuída
(ZAFFARONI, 2006).

Veja que o desenvolvimento mental incompleto ou retardado é capaz de


identificar a inimputabilidade da mesma forma que pode caracterizar a semi-
imputabilidade, mas o que irá diferenciar os dois é a “ausência ou não de
entendimento do caráter ilícito da ação, ou, de se autodeterminar segundo o
entendimento, possuindo assim capacidade plena ou não para isso” (REALE,
2013, p. 89). Possuindo capacidade diminuída de compreensão, temos o
semi-imputável.

Ensina o jurista Miguel Reale que não há a penalização criminal para o

152
Capítulo 3 A CONDUTA PARA O CRIME

inimputável, mas existe a medida de segurança, cumprida em estabelecimento


médico e psiquiátrico penal. Para os semi-imputáveis irá depender de análises
periciais para que o magistrado considere o que seja melhor ao agente:

Com a Reforma de 1984 alterou o tratamento que era dado


ao semi-imputável, que era chamado de duplo binário, ou
duplo trilho, aplicava-se pena mais medida de segurança, com
prejuízo para o condenado, pois se cumpria antes a medida
de segurança curativa, depois desperdiçaria o tratamento com
o aprisionamento; se cumpria antes a pena, a periculosidade
existente só se agravaria no meio prisional, tornando mais
difícil o tratamento posterior. Após, a reforma aplica-se ao
semi-imputável pena ou medida de segurança, ficando a
cargo do juiz escolher a sanção mais condizente com o réu
(REALE, 2013, p. 91) (Grifo nosso).

Vamos ver no quadro a seguir as diferenças entre os personagens analisados


até aqui:

QUADRO 15 – AS DIFERENÇAS ENTRE O IMPUTÁVEL,


O INIMPUTÁVEL E O SEMI-IMPUTÁVEL
Imputável Inimputável Semi-imputável
Indivíduo com desenvolvimento Pessoa inteiramente incapazAparentemente em sanidade,
completo, inteiramente capaz esse indivíduo não possui a
de reconhecer a ilicitude de
de entender e determinar-se de plena capacidade de entender
sua ação e de determinar-se de
acordo com seu entendimento. acordo com esse entendimento.
a ilicitude de sua ação, ou de
determinar-se conforme esse
entendimento.
Pena: sujeito à pena conforme Pena: sujeito à Medida de Se- Pena: definição ao critério do
o tipo cometido. gurança. magistrado, se pena ou medida
de segurança.
FONTE: O autor

Aos menores, a legislação nacional apresenta o critério cronológico que


determina o início de uma completa imputabilidade penal, que se inicia aos
18 anos de idade: “Art. 27. Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente
inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial”
(BRASIL, 1940, p. 48).

O Estatuto da Criança e do Adolescente será a legislação especial para


os menores de dezoito anos, criado em 1990, a Lei n° 8069 determina a proteção
integral à criança e ao adolescente. Por esse caso, na situação hipotética
trazida anteriormente, do menor que pega as chaves do carro do pai e atropela
alguém, levando-o à morte, seu julgamento será realizado pelo ECA, havendo a

153
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

responsabilização penal ao pai pelo empréstimo do veículo, ou pela negligência


de cuidado com as chaves do automóvel, bem como, a responsabilidade civil de
reparar o dano se houver.

● Assim, se um menor ou adolescente dirige o veículo de seu pai, sem que


esse tenha conhecimento, ao menor caberá o ECA em caso de algum
ilícito penal na direção, que vá além de dirigir veículo automotor sem
possuir a capacidade para isso, e recairá ao pai, a responsabilidade civil
sobre os danos causados pela direção do menor. De outra forma, caso
o pai entenda que seu filho, mesmo sendo menor e sem permissão ou
habilitação para dirigir, utilize seu automóvel, será punido também pelo
artigo 310 do CTB.

4.3 EMBRIAGUEZ COMO


EXCLUDENTE DE IMPUTABILIDADE
Chegamos, prezado pós-graduando, a um ponto de discussão permanente
no direito penal, que é a embriaguez. Algumas alterações na redação normativa
original do CTB, que foram realizadas pela Lei 12.760/2012, indicaram que o
legislador entendeu o caráter de urgência em identificar um crime que cresce em
números no país, trazendo uma maior possibilidade de interpretar a frase dirigir
sob influência de álcool ou qualquer outra substância. Veja novamente o que diz o
artigo 306 do CTB:

Art. 306. Conduzir veículo automotor com capacidade


psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de
outra substância psicoativa que determine dependência:
Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão
ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para
dirigir veículo automotor.
§ 1º. As condutas previstas no caput serão constatadas por:
I - concentração igual ou superior a 6 decigramas de álcool por
litro de sangue ou igual ou superior a 0,3 miligrama de álcool
por litro de ar alveolar; ou
II - sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran,
alteração da capacidade psicomotora.
§ 2º. A verificação do disposto neste artigo poderá ser obtida
mediante teste de alcoolemia ou toxicológico, exame clínico,
perícia, vídeo, prova testemunhal ou outros meios de prova em
direito admitidos, observado o direito à contraprova.
§ 3º. O Contran disporá sobre a equivalência entre os
distintos testes de alcoolemia ou toxicológicos para efeito de
caracterização do crime tipificado neste artigo.
(Redação dada pela Lei nº 12.971, de 2014)

154
Capítulo 3 A CONDUTA PARA O CRIME

§ 4º. Poderá ser empregado qualquer aparelho homologado


pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia
- INMETRO - para se determinar o previsto no caput (BRASIL,
1997, p. 135).

Pela nova redação é possível verificarmos que o crime passa a acontecer


com a direção sob o efeito de álcool ou outra droga, que altere a capacidade
psicomotora, não importando a quantidade do produto no organismo. Como a
redação antiga do CTB determinava a quantidade mínima considerada de 0,6
decigramas de álcool por litro de sangue, exigia-se que fosse mensurada essa
quantidade no corpo do condutor para a caracterização do tipo penalizador, com
aparelhos ou exames diversos que nem sempre eram possíveis de se realizar
no momento da apreensão, ou até mesmo, eram negados pelo próprio condutor,
como o bafômetro. Com a alteração, é possível a punição criminal de condutores
que trafegam sob influência de álcool e que se recusam a realizar os testes de
alcoolemia. Nesse ponto é admissível que se constate a condição do agente
apenas por “sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, alteração
da capacidade psicomotora” (BRASIL, 1997, p. 135). A verificação para isso está
no parágrafo segundo do artigo 306, que diz que pode “ser obtida mediante teste
de alcoolemia ou toxicológico, exame clínico, perícia, vídeo, prova testemunhal
ou outros meios de prova em direito admitidos, observado o direito à contraprova”
(BRASIL, 1997, p. 135). Motoristas flagrados bêbados podem ser criminalizados
por prova testemunhal tanto do agente de segurança de trânsito ou qualquer outro
cidadão que tenha presenciado sua ação.

A política de tolerância zero no trânsito no que se refere à embriaguez no


volante, mesmo o condutor não causando danos a nenhum patrimônio tutelado
por lei, mas assumindo o risco de poder vir a causá-los pelo seu estado de
ebriedade, surgiu com a incumbência de desestimular essa atitude de risco e
diminuir acidentes causados por esses agentes.

Entretanto, será que existe a possibilidade de alguém que esteja sob o efeito
de álcool ou outra substância psicoativa ver excluída a sua culpabilidade e assim,
tornar-se inimputável?

A resposta para esse questionamento pode ser encontrada na leitura atenta


do parágrafo primeiro do artigo 28 do Código Penal:

Art. 28. Não excluem a imputabilidade penal: (Redação dada


pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
I - a emoção ou a paixão;
Embriaguez
II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou
substância de efeitos análogos.
§ 1 º - É isento de pena o agente que, por embriaguez

155
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

completa, proveniente de caso fortuito ou força maior, era,


ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de
acordo com esse entendimento.
§ 2 º - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o
agente, por embriaguez, proveniente de caso fortuito ou
força maior, não possuía, ao tempo da ação ou da omissão,
a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento (CÓDIGO
PENAL, 1940, p. 40) (Grifo nosso).

Considera-se a embriaguez uma intoxicação em virtude de bebidas


alcoólicas ou outra substância que possua efeitos similares ao agente, que pode
causar desde uma excitação moderada até chegar a uma paralisia ou mesmo,
ao coma. Pode ser que essa intoxicação por álcool seja causada de uma forma
acidental, por um caso fortuito, ou por força maior, e é isso que irá determinar a
imputabilidade do agente.

Entretanto, caso a pessoa cometa o crime sob o estado de drogas ilícitas, o


artigo 45 da Lei 11.343/2006, considerada Lei de Drogas, exclui a imputabilidade
do agente, que não pode receber pena em virtude de dependência ou sob o efeito
que seja proveniente de caso fortuito ou força maior da droga.

● Dessa forma, para os crimes de trânsito causados por embriaguez no


volante, somente será punido o agente que se embriagou de forma
preordenada (quando se embriaga para tomar coragem e assim cometer
o crime), causa de agravante para a penalização. Para Souza e Japiassú
a embriaguez preordenada incide em uma reprovabilidade acentuada do
agente perante a sociedade:

No caso, o agente se embriaga deliberadamente para praticar


o crime. Trata-se de situação de maior reprovabilidade da
embriaguez voluntária, visto que o agente, por intermédio do
consumo de álcool ou substância de efeito análogo, objetiva
não somente ficar bêbado, mas romper os freios inibitórios ou
preparar uma escusa ao delito. (...)
Como visto, para a incidência da agravante, pouco importa
se a embriaguez preordenada foi completa ou incompleta,
contentando-se, a lei penal, com a ação finalista que motivou a
ingestão de álcool ou substância de efeito análogo (SOUZA e
JAPIASSÚ, 2015, p. 501-502).

● Voluntária - se embriaga por vontade própria com o intuito de ficar


bêbado.
● Culposa - quando a pessoa não possui intenção de se embriagar, mas
mesmo assim se embriaga.
○ Em todos esses casos não existe nenhuma exclusão da imputabilidade,
havendo uma pena criminal.

156
Capítulo 3 A CONDUTA PARA O CRIME

Somente a embriaguez causada de forma acidental ou de caso fortuito


ou força maior, ou se for uma causa patológica do organismo do agente, será
excluída a imputabilidade, sendo considerado inimputável.

A embriaguez acidental que exclui a punibilidade, é dividida em duas


interpretações:

● Caso fortuito: ocorre quando o agente ignora a natureza inebriante da


substância ingerida.
● Força Maior: o agente é obrigado por outrem, a ingerir a bebida.

Para Bitencourt, embriaguez acidental que provém de um caso fortuito


que:

"ocorre quando o agente ignora a natureza tóxica do que está


ingerindo, ou não tem condições de prever que determinada
substância, na quantidade ingerida, ou nas circunstâncias que
o faz, poderá provocar a embriaguez” (BITENCOURT, 2012,
p. 98).

Como exemplo, imagine uma pessoa que esteja tomando um determinado


antibiótico para alguma doença, que consome o produto alcoólico sem saber que
isso poderá fazer com que perca o controle físico e a compreensão da realidade
ao redor.

No caso da embriaguez por força maior, “é algo que independe do controle


ou vontade do agente. Ele sabe o que está acontecendo, mas não consegue
impedir" ((BITENCOURT, 2012, p. 98). Essa então, pode ocorrer com a presença
de uma força irresistível externa ao indivíduo, que é obrigado a beber álcool,
estando sob coação física ou até mesmo, sob coação moral irresistível, que
estudamos nos tópicos anteriores.

Há também o caso da embriaguez patológica e habitual, que em muito


difere das anteriores, que já analisamos. Enquanto aquelas não envolvem
conceitos de saúde física ou mental, essa deve ter uma relação entre o uso
de álcool, mesmo que em pequenas quantidades, e a doença preexistente no
indivíduo, ou do vício habitual.

A embriaguez patológica se trata da ingestão de pequenas doses, com


manifestações intempestivas, que “surpreendem pela desproporção entre a
quantidade ingerida e a intensidade dos efeitos.” (FRANÇA, 1998, p. 138).
Entretanto, não se pode confundir a embriaguez habitual com a embriaguez
patológica, pois seus institutos são diferidos pelo Código Penal, em seu artigo
26, caput, que versa sobre os inimputáveis, trazendo as condições para que a

157
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

embriaguez causada por uma doença preexistente ou mesmo que se torne vício
com o passar do tempo, podem ser consideradas para a inimputabilidade. Então
veja:

● Embriaguez patológica: para Bitencourt, manifesta-se “em pessoas


predispostas, e se assemelha à verdadeira psicose, devendo ser
tratada, juridicamente, como doença mental, nos termos do art. 26 e seu
parágrafo único” (BITENCOURT, 2012, p. 78). É uma condição física
em que uma dose de qualquer produto alcóolico é capaz de causar
alterações sensíveis na cognição do indivíduo, portanto, considerada
uma doença da mente.
● Embriaguez habitual: é o vício no álcool, em que a pessoa está
habitualmente em estado de embriaguez, considerado uma doença.

Veja que, julgamentos que possuem a embriaguez patológica de condutores


de veículos não geram a aplicação de medida de segurança, mas sim uma
absolvição imprópria, em que dependendo da decisão do magistrado, o agente
deverá realizar seu tratamento em clínicas especializadas, mas não em complexos
médicos penais.

A embriaguez habitual, causada pelo vício crônico pelo produto pode gerar
a inimputabilidade do agente. Ela difere da doença preexistente que a embriaguez
patológica causa, mas se ficar comprovado que o agente não possui capacidade
de compreensão causado por seu vício, que é considerado como doença, então é
isento de pena, mas se essa privação cognitiva for incompleta, ou seja, a pessoa
possuía ao menos um entendimento mínimo da realidade, o agente sofrerá a
pena imposta pelo direito penal, mas com a redução de 1/3 a 2/3 da pena que
será aplicada (GRECO, 2008).

Assim, vamos verificar o quadro a seguir para entender melhor os dispositivos


estudados:

QUADRO 15 – ENTENDENDO A IMPUTABILIDADE NA EMBRIAGUEZ

FONTE: O autor

158
Capítulo 3 A CONDUTA PARA O CRIME

4.4 A EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE


Exclui-se a punibilidade do agente quando são verificadas algumas hipóteses
extintivas de punibilidade que são previstas nas normas legais nacionais, não
havendo mais condições de se impor ao réu ou ao condenado uma sentença, ou
que a pena seja aplicada. Não há mais o interesse do Estado em punir o indivíduo,
que a partir de determinadas regras não pode mais sofrer a punição:

Há situações, no entanto, que extinguem a punibilidade,


fazendo desaparecer a pretensão punitiva ou o direito subjetivo
do Estado à punição. Subsiste nesses casos, a conduta
delituosa. O que desaparece é a possibilidade jurídica de
imposição de pena (FRAGOSO, 1985, p. 182).

Essas normas estão descritas no artigo 107 do Código Penal e apontam


legalmente quais as formas de extinção de punibilidade ao agente que, mesmo
tendo cometido um crime, pode não precisar cumprir a pena:

Art. 107. Extingue-se a punibilidade:


I - pela morte do agente;
II - pela anistia, graça ou indulto;
III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato
como criminoso;
IV - pela prescrição, decadência ou perempção;
V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito,
nos crimes de ação privada;
VI - pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite;
IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei. (BRASIL,
1940, p. 127).

Em crimes de trânsito, pode ocorrer a extinção da punibilidade do agente por


diversas formas, entre elas é a própria morte do agente, identificada pelo inciso I do
artigo 107. Como nossa Constituição de 1988 garante ao acusado a pessoalidade
da pena, ou seja, a penalização criminal não pode passar da pessoa do acusado,
pela morte do agente investigado ou condenado, há a extinção da punibilidade,
mas, verificando a responsabilidade indenizatória há a possibilidade do pai que
emprestou seu veículo ao filho menor de idade também ser responsabilizado
pelos danos causados pelo menor, mesmo se esse venha a falecer no acidente
que causou.

Pela legislação brasileira, excetuando crimes que são considerados


hediondos (Lei 8.072/90), os outros crimes podem ser passíveis de anistia, que
se refere a uma transigência do Estado ao ato delituoso. A anistia extingue os
efeitos penais, não havendo mais a intenção punitiva do Estado, mas ainda
pode subsistir os efeitos civis, como os de indenização. É concedida por lei
do Congresso Nacional, e está presente no artigo 48, VIII, da CF, devendo ser
aplicada somente pelo Poder Judiciário.
159
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

O indulto é um perdão da pena que pode ser concedido somente pelo


Presidente da República, destinado a sentenciados que estão sob o cumprimento
de uma pena privativa de liberdade, sendo um ato cedido a um grupo, em coletivo.

Considera-se graça o perdão à pessoa que cometeu um crime, devendo ser


individualizada ao proponente, não tendo conexão nenhuma com o fato delituoso
cometido, concedido pelo líder do Executivo. Para Nucci, é “a clemência destinada
a uma pessoa determinada, não dizendo respeito a fatos criminosos” (NUCCI,
2006, p. 97). Bitencourt afirma que:

Anistia, graça e indulto constituem uma das formas mais antigas


de extinção da punibilidade, conhecidas como clemência
soberana - indulgência princípios -, e justificavam-se pela
necessidade, não raro, de atenuar os rigores exagerados das
sanções penais, muitas vezes desproporcionais aos crimes
praticados (BITENCOURT, 2012, p. 95).

A diferença entre os institutos é muito bem explicada pelo professor Damásio


de Jesus:

a) A anistia exclui o crime, rescinde a condenação e extingue


totalmente a punibilidade; a graça e o indulto apenas extingue
a punibilidade, podendo ser parciais; b) A anistia, em regra,
atinge crimes políticos; a graça e o indulto, crimes comuns; c)
A anistia pode ser concedida pelo poder legislativo; a graça
e o indulto são de competência exclusiva do Presidente da
República; d) A anistia pode ser concedida antes da sentença
final ou depois da condenação irrecorrível; a graça e o indulto
pressupões o trânsito em julgado da sentença condenatória
(JESUS, 2014, p. 604).

A lei não permite a retratação do agente em crimes de trânsito, somente é


utilizado o inciso IV nos casos admitidos em lei, e são eles a difamação, a injúria,
calúnia e o crime de falso testemunho.

Também há o perdão judicial, considerado no inciso IX do artigo analisado,


que é quando o juiz, ao julgar determinado caso extingue a punibilidade do autor
do crime, que já está sendo atingido e penalizado pela sua própria ação. É o caso
do homicídio culposo na direção de veículo automotor, quando o agente atropela
por imperícia ou imprudência, algum familiar seu, levando-o à morte ou à lesão
corporal grave/gravíssima. A previsão está no artigo 121 do CP, § 5º:

Art. 121, § 5º, CP § 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o


magistrado poderá deixar de aplicar a pena se as consequências
da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que
a sanção penal se torne desnecessária (CÓDIGO PENAL,
1940, p. 138).

160
Capítulo 3 A CONDUTA PARA O CRIME

Nesses casos, o magistrado deixa de aplicar a pena, não havendo efeitos


condenatórios.

Veja o fatídico caso ocorrido em 2016 no Amazonas, onde o réu


foi agraciado pelo perdão judicial:

Juiz concede perdão judicial a réu que, ao dar marcha


à ré em carro, matou filha de dois anos de idade

No processo, réu narrou que, sem saber que a filha se


encontrava próxima ao veículo, acabou atropelando criança

A Justiça do Amazonas concedeu perdão judicial a um réu


que respondia por homicídio culposo (sem intenção de matar) por
um crime de trânsito que vitimou a própria filha. A decisão foi do juiz
Yuri Caminha Jorge, titular da Comarca de Itamarati e respondendo,
cumulativamente, pela Vara Especializada em Crimes de Trânsito da
Comarca de Manaus.

O réu narrou, durante o processo, narrou que, ao dar marcha à


ré em seu veículo, sem perceber que a filha se encontrava próximo
ao carro, acabou por atropelá-la. O fato ocorreu no ano de 2016 e a
criança, à época, com dois anos de idade, morreu.

O réu foi denunciado pelo Ministério Público pela suposta


imprudência que vitimou a criança, no entanto, no entendimento do
juiz, a maior punição (sentimento de culpa pelo falecimento de sua
filha) já assola o réu e a sanção penal mostra-se desnecessária. “O
réu vai conviver pelo resto da vida com a culpa e o remorso de ter,
infelizmente, tirado nesse acidente a vida da própria filha”, afirmou o
magistrado.

Ainda de acordo com o juiz Yuri Caminha Jorge, a sentença


acolheu as alegações finais do Ministério Público (MPE-AM) e da
Defensoria Pública Estadual (DPE-AM), pela extinção da punibilidade
do acusado, em razão da aplicação do perdão judicial.

FONTE: G1.globo. https://glo.bo/3jEv9cz. Acesso em Maio


de 2021.

161
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

Veja, prezado pós-graduando, que como estamos tratando de crimes de


trânsito, esses que diferem das infrações de menor potencial lesivo, também são
referidos de forma especial pelo legislador. Na construção de uma sociedade
disposta nos princípios da urbanidade e da civilidade, as normas de trânsito
envolvem um sentido pedagógico, que, como vimos, realçam as bases mais
importantes dos valores que possui uma sociedade.

Dessa forma, não é comum vermos anistia, indultos ou graça em crimes de


trânsito, bem como o retroagir da lei para fato que não considera mais crime,
descrito no inciso III do artigo 107 do CP. Considera-se esses crimes por seu amplo
caráter danoso e causado na maioria das vezes pelo dolo, como em entregar
veículo para aquele que se sabe não possuir condições de dirigir, ou culposo,
daquele que ingere bebida alcoólica e pode causar danos consideráveis a partir
de sua negligência. Portanto, em regra os crimes de trânsito não sofrem anistia,
graça ou indulto, mas podem sofrer influências para a extinção da punibilidade pela
morte do agente, pelo cumprimento total da pena, pela prescrição, decadência
ou perempção; ou pelo perdão judicial, como nos casos como o relatado no Léo
anterior.

Vamos exercitar o que estudamos neste capítulo? Então fique atento


aos questionamentos a seguir!

1 – Assinale a alternativa correta:

a) O agente imputável, no momento da ação, deve possuir o caráter


intelectivo e volitivo de seu ato. Entretanto, como a omissão não
admite tentativa, não incide na putabilidade/imputabilidade do
agente.
b) A vontade da pessoa, que condiz ao consciente e real saúde
mental e psicológica do agente é importante referencial para a
imputabilidade.
c) Imputar refere-se à atribuir a alguém alguma responsabilidade
considerada típica no código de leis e normas penais, tanto de
trânsito, quanto de direito penal.
d) o agente não precisa compreender todos os atos cometidos,
desde que possua intelecção para entender que seu ato é
considerado criminoso, considera-se punível.

2. Referente à imputabilidade, semi-imputabilidade e inimputabilidade


do agente, assinale V para Verdadeiro e F para Falso:

162
Capítulo 3 A CONDUTA PARA O CRIME

( ) Não possuir plena capacidade para entender a ilicitude de sua


ação ou de sua omissão refere-se ao semi-imputável, que terá a
pena definida pelo magistrado conforme o caso concreto.
( ) Ao imputável cabe a medida de segurança, uma vez que possuía
o conhecimento e plana capacidade acerca de seus atos
criminosos, definida pelo juiz no caso concreto.
( ) O semi-imputável não pode receber pena criminal, pois ao
momento da ação ou omissão não possuía plena capacidade ou
condições de entender seu ato ou sua omissão.
( ) O inimputável está sempre sujeito a uma medida de segurança,
para o tratamento de sua condição e saúde, em estabelecimento
médico penal.

3. Sobre a embriaguez como excludente de imputabilidade, analise


as questões a seguir:

I – A Lei 12.760/2012 alterou a redação original do CTB para afirmar


o crescimento de um crime no País, que precisa ser combatido,
trazendo a tolerância zero em assuntos sobre embriaguez no
trânsito.
II – Para que se considere embriaguez no trânsito é necessário que
haja uma concentração de 0,6 decigramas de álcool por litro de
sangue que deve ser mensurada, como vimos.
III – Provas testemunhais não são válidas para confirmar a
embriaguez, mas vídeos e o relato do agente de trânsito são
confirmados como legais.
IV – É ainda possível, pelas normas nacionais, que mesmo que o
agente seja flagrado bêbado ao volante, não seja indiciado ou
culpado pelo ato considerado criminoso pelo direito de trânsito.

Estão corretas as questões:

a) As questões I e II estão corretas.


b) As questões I e III estão corretas.
c) As questões II e IV estão corretas.
d) As questões I e IV estão corretas.

163
DirEiTo PENAL Do TrÂNSiTo

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o desenvolvimento dos meios de transporte no País, tanto coletivo como
individual, em um exponencial crescimento das tecnologias que envolvem todos
os tópicos que compreendam o trânsito, precisamos pensar mais em políticas
públicas de qualidade para esse setor. Políticas que envolvam a evolução dos
espaços públicos e sua ocupação, em um planejamento capaz de solucionar os
problemas causados pelo impacto da grande movimentação iniciada nos últimos
anos, são essenciais para a influência da urbanidade e civilidade nos meios
coletivos.

Os problemas de mobilidade urbana não se trata apenas de educação


e instrução dos cidadãos, mas também de uma mobilização consciente dos
obstáculos que existem na infraestrutura acerca da mobilidade e trânsito, em
todos os seus setores.

Com o amplo desenvolvimento devemos também enxergar soluções


conscientes para o alto nível de circulação nas vias e rodovias espalhadas
Brasil afora, que se demonstram despreparadas para receber o alto número de
movimentação, o que vemos nos enormes congestionamentos dia após dia.

Com toda essa evolução, desde tecnológica e o aumento do número de


usuários dos transportes diversos, a expansão das cidades modelou um novo
olhar para a movimentação urbana e rural, a partir de suas dificuldades causadas
pela falta de infraestrutura. Junte a isso uma falta de urbanidade causada pelo
estresse no trânsito e seu entulhamento, a falta de prudência de alguns motoristas
e a velocidade abismal de nossa modernidade, que temos a perfeita combinação
para a desestruturação do sistema existente. Contra os problemas encontrados
no trânsito e seus motivadores, somente políticas de qualidade acerca da matéria
e a educação dos condutores podem vir a causar efeitos a curto prazo. A melhoria
da infraestrutura é uma constante evolução, que encontra no desenvolvimento
e crescimento tecnológico e populacional justamente a sua incumbência em
continuar persistindo e realizando caminhos mais fáceis para o livre trafegar.

Vimos nos estudos aqui realizados, que o Código de Trânsito Brasileiro e


as suas normas possuem uma tendência instrutiva e pedagógica, ao discernir
condutas que são apropriadas à uma civilidade na mobilidade das pessoas. Essa
particularidade demonstra o intuito civilizador e instrutório da norma, mas que
também vigora em punições contra personagens que se envolvem em conflitos
aos seus ditames.

164
Capítulo 3 A CONDUTA PARA O CRIME

Entretanto, como vimos prezado pós-graduando, o aspecto trânsito se


desenvolve pela educação e preparo das pessoas que protagonizam seu dia
a dia, desde transeuntes à motoristas. Uma sociedade civilizada se amolda
nas condutas não apenas por elas estarem tipificadas como ato desviante ou
criminoso, mas pelo próprio conceito de sociabilidade, em todos os seus setores,
em todos os níveis. No entanto, como estudamos, se faz por intermédio de
ensinamentos constantes aos novos condutores, aos pedestres e suas atitudes,
que são mobilizados através das políticas públicas de qualidade, no âmbito do
trânsito e todas as suas nuances.

A mudança de um trânsito que se desenvolve em constante violência deve


partir de reflexões de toda a sociedade e seus institutos mais essenciais, para a
contribuição de mudanças significativas que estimulem a promoção humana, mas
isso, porém, surge a partir das discussões, do diálogo e de enfatizar o problema,
para obtermos a participação de todos em um discurso democrático e participativo
que promova alterações e mudanças na fonte, que são as próprias pessoas.

No entanto, você analisou que crimes de trânsito com a mistura de drogas


como o álcool e direção ocorrem por diversos fatores, e isso é algo intrínseco à
educação e aos bons costumes da convivência social, que deve ser manejada
tanto pelo sistema penalizador, quanto pela efetividade pedagógica do Código de
Trânsito. Não se pode, todavia, haver impunidade para crimes que poderiam ser
evitados, a partir da consciência e da razão.

O trânsito é o lugar de convivência de todos, em que a mobilidade deve vir


a ser refletida pelas políticas públicas de qualidade, educativas, mas também
transformadoras do próprio ser humano, que precisa objetivar em ser sempre
o melhor que pode. Isso nos demonstra que o crescimento e o reconhecimento
da responsabilidade de cada um, perante os outros em um respeito mútuo;
é o condicionador da efetiva promoção humana que tanto desejamos em uma
sociedade, e por que não começarmos no trânsito nosso de cada dia?

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