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ESTUDO DO EFEITO DA QUANTIDADE DE NAFION EM MEAS DE

50 CM2 UTILIZADAS EM CÉLULA A COMBUSTÍVEL TIPO PEM


OPERANDO COM H2/AR

DEMETRIUS PROFETI (1)


FLAVIO COLMATI (1)
ADÃO A. J. CARLINDO (1)
VALDECIR A. PAGANIN (1)
ERNESTO R. GONZALEZ (1)
EDSON A. TICIANELLI (1)
(1)
Instituto de Química de São Carlos – USP, São Carlos-SP, Brasil

RESUMO
O desempenho de células a combustível de membrana trocadora de prótons (PEMFC) foi
investigado com o objetivo de caracterizar o efeito da carga de Nafion na ampliação de escala de
eletrodos de 5 para 50 cm2. É observada uma queda no desempenho de células unitárias quando
2
a área do eletrodo aumenta de 5 para 50 cm . Os testes conduzidos com diferentes cargas de

Nafion , e com célula e umidificadores na mesma temperatura (Tcélula=TH2=Tar=70 °C) mostra um
pequeno decréscimo no desempenho da célula comparada ao teste em diferentes temperaturas
(Tcélula=70 °C, TH2=85° C, Tar=75 °C). No estudo da variação da carga de Nafion o melhor
desempenho, é observado com 35,5% em massa de Nafion, para valores de densidades de
-2
corrente de até 0,8 A cm . Por outro lado, em maiores valores de densidades de corrente o
desempenho da célula é muito similar para as cargas de 31, 35,5 e 39,4%.

ABSTRACT
The performance of a proton exchange membrane fuel cell (PEMFC) was investigated with the aim
at characterizing the effects of the Nafion content on the scale-up of the electrodes from 5 to 50
2
cm . It is observed that a diminution of the single cell performance occurred when the electrode
2
area is increased from 5 to 50 cm . The tests carried out with different Nafion contents, and fuel
cell and humidifiers at the same temperature (Tcell=TH2=Tair=70 °C) showed a slightly decrease of
the fuel cell performance compared to the tests performed at different temperatures (Tcell=70 °C,
TH2=85° C, Tair=75 °C). In the study of the variation on the Nafion contents, the higher
performance up to a current density of 0.8 A cm-2 is obtained with the 35.5 wt.% Nafion. On the
other hand, at higher current densities values, the performance of the fuel cells is very similar for
the 31.0, 35.5 and 39.4 wt.% Nafion contents.

PALAVRAS CHAVE
Célula a combustível; ampliação de escala; variação na carga de Nafion; membrana trocadora de
prótons.

1. INTRODUÇÃO
Atualmente há um crescente interesse no desenvolvimento de dispositivos de conversão
de energia, tais como as células a combustível que utilizam membranas trocadoras de prótons

1
Correspondência deverá ser enviada a Demetrius Profeti:
Tel.: (16) 3373-8042; fax: (16) 3373-9952; e-mail: dprofeti@iqsc.usp.br
1
como eletrólito (PEMFC). Este tipo de célula a combustível pode operar com bom desempenho em
baixas temperaturas, o que a torna uma ótima opção para aplicações portáteis e veiculares. O
sistema mais promissor até o momento é o sistema hidrogênio-oxigênio, onde o oxigênio é
reduzido no cátodo, enquanto que o hidrogênio é oxidado no ânodo. O íons H+ gerados no ânodo
atravessam a membrana (Nafion) em direção ao cátodo e se combinam com os íons de oxigênio
reduzidos formando água. Contudo, uma célula a combustível operando com hidrogênio-ar seria
mais interessante em aplicações práticas, pois elimina a necessidade de recarregar o sistema com
oxigênio puro, o que também diminui o custo. Apesar das vantagens da utilização de ar em
relação ao oxigênio do ponto de vista prático e econômico, o ar possui aproximadamente 21% de
oxigênio em sua composição, o que causa uma perda na densidade de potência da célula a
combustível. Esta perda de potência pode ser compensada parcialmente com a alimentação de ar
pressurizado e/ou com a otimização das variáveis de operação do sistema.

A maioria dos estudos de otimização das variáveis de operação das células a combustível
2
são normalmente realizados em células de 5 cm de área. Para aplicações práticas destes
dispositivos, o desenvolvimento de PEMFC passa necessariamente por uma etapa de ampliação
de escala e por estudos de minimização do custo de produção dos módulos e aumento do tempo
de vida destes sistemas. Os estudos realizados mostram que a célula de pequeno porte pode não
ser significativamente sensível como a de maior porte em relação à uniformidade de distribuição
de corrente, temperatura, concentrações dos reagentes e água. Estes fatores são primordiais não
somente para produzir altas densidades de potência, mas também para garantir maior tempo de
vida dos componentes [1]. Ainda dentro deste contexto, é necessário aperfeiçoar os parâmetros
de operação da célula a combustível utilizando-se ar na alimentação do cátodo em vez de
oxigênio, dispensando assim a utilização de gás oxigênio com maior grau de pureza.

2. OBJETIVOS
Neste trabalho foi realizada uma otimização da quantidade de Nafion aplicada na camada
2
catalisadora dos eletrodos de difusão de gás de 50 cm , preparados com catalisador de 30% Pt/C
e alimentadas com H2/ar.

3. METODOLOGIA
2
Os experimentos foram realizados em uma célula a combustível unitária de 50 cm . A
célula é composta de duas placas de alumínio (coletores de corrente) e duas placas de grafite que
além de atuarem como condutoras de corrente, também distribuem uniformemente o fluxo de
gases aos eletrodos, através de sulcos contidos em seu interior. A alimentação da célula foi feita
usando-se saturadores com controle de temperatura contendo água para a umidificação dos
gases, os quais foram introduzidos na célula com fluxo constante de 400 e 1000 mL min-1 para H2
e ar, respectivamente. Os experimentos foram realizados de duas diferentes maneiras. Na
primeira delas a temperatura da célula foi fixada em 70° C e a temperatura de umidificação dos
gases hidrogênio e ar foram fixados em 85 °C e em 75 °C, respectivamente. No segundo tipo de
experimento a temperatura da célula e dos umidificadores dos gases hidrogênio e ar foram fixados
em 70 °C. A pressão dos gases reagentes foi variada de 1 a 3 atm.

A parte principal da célula a combustível é formada pelos eletrodos e pela membrana de


eletrólito suporte, conhecido como MEA (membrane & electrodes assembly), e é disposto da
seguinte maneira: ânodo/membrana/cátodo. Para a montagem da parte central da célula os
eletrodos são prensados a quente (125 °C, 5 MPa por 2 minutos) contra a membrana (Nafion
1135) de forma que a face que contém o catalisador fique voltada para a membrana. Esta etapa
de prensagem a quente permite obter um melhor contato entre os eletrodos e a membrana
causando um melhor aproveitamento do catalisador.

Os eletrodos foram preparados por pincelamento de uma suspensão contendo catalisador


+ Nafion em isopropanol (com várias quantidades em massa de Nafion) sobre uma camada
difusora de gás. A suspensão contendo o catalisador foi dispersa em um banho ultra-sônico e
posteriormente depositada de forma quantitativa sobre a camada difusora. A quantidade de platina
2
-2
foi de 0,4 mg cm . Após a deposição do catalisador, o solvente foi evaporado em estufa a 80 °C
por 1 hora. A camada difusora de gás foi preparada por filtração a vácuo sobre ambos os lados
de um tecido de carbono (PWB-3, Stackpole) de uma suspensão formada por pó de carbono
(Vulcan XC-72R, Cabot) e PTFE (Teflon T306A, Dupont) na proporção de 85:15 (% em massa),
respectivamente. A massa da mistura C + PTFE depositada de cada lado da camada difusora foi 3
-2
mg cm . Após a completa deposição da camada difusora, a mesma foi tratada a 280 ºC por 30
minutos para eliminar o dispersante e finalmente 330 ºC por mais 30 minutos para que ocorra a
sinterização do Teflon.
As curvas de polarização foram obtidas no modo galvanostático ponto a ponto após um
pré-condicionamento da célula por um período de 2 horas em densidade de corrente de 300 mA
-2
cm , mantido por uma carga eletrônica HP modelo 6050A.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Figura 1 são mostradas as curvas de potencial da célula vs. densidade de corrente
2 -
para células unitárias de 5 e 50 cm alimentas com H2/ar. Nestas células foram usados 0,4 mg cm
2 -2  
de catalisador 30% em massa de Pt/C (E-TEK) + 0,87 mg cm de Nafion , membrana Nafion
1135, TCEL=70° C, TH2=85° C, Tar=75° C, PH2/ar=0,2/0,3 MPa. Pode-se observar uma perda de
atividade da célula de 50 cm2 quando comparada com a de 5 cm2. Em células maiores é esperado
que o gás reagente saturado com vapor d’água sofra um resfriamento e se condense, durante seu
percurso, no interior dos canais de distribuição de gás localizados nas placas de grafite. Água
líquida dentro dos canais da célula pode causar uma umidificação menos eficiente do Nafion
contido na camada catalisadora e também bloquear parcialmente o fluxo de gás reagente na
região do eletrodo em contato com a água [1,2].

1000
2
5 cm
2
800 50 cm

600
E/V

400

200

0
0,0 0,3 0,6 0,9 1,2 1,5 1,8
-2
i / A cm
2
Figura 1 – Potencial vs. densidade de corrente para células a 70 °C, com MEAs de 5 e 50 cm ,
30% Pt/C, 0,4 mg cm-2 de Pt e 0,87 mg cm-2 (39,4% em massa) de Nafion, membrana de Nafion
1135, TH2=85° C, Tar=75° C, PH2/ar=0,2/0,3 MPa.

Como observado na Figura 1, há necessidade de uma otimização das variáveis de


preparação e condições de operação de células de maior porte. Neste sentido, foi investigada a
variação da quantidade de Nafion na camada catalisadora. Um aumento de Nafion na camada
catalisadora pode aumentar a área eletroquimicamente ativa do eletrodo e melhorar a
condutividade iônica total da camada. Entretanto, existe uma carga ótima de Nafion, pois cargas
muito altas podem dificultar a difusão do gás na região eletrólito/catalisador, consequentemente
causando limitação por transporte de massa [3].

3
A Figura 2 mostra curvas de potencial da célula vs. densidade de corrente obtidas com
diversas porcentagens em massa de Nafion para células unitárias de 50 cm-2. Exceto pela
quantidade de Nafion que foi variada, as condições de operação são idênticas as de
anteriormente. Na Figura 2a pode-se observar que há um aumento do desempenho da célula com
a diminuição da quantidade de Nafion em altas densidades de corrente, o qual é explicado pela
facilitação no transporte de massa em camadas contendo menor carga de Nafion. Contudo, na
região de baixa densidade de corrente, como pode ser visto na Figura 2b, exceto pela curva que
contém 31% de Nafion, o perfil das curvas está o inverso do esperado. Com maiores quantidades
de Nafion seria esperado que uma maior quantidade de partículas metálicas do catalisador fosse
recoberta pelo eletrólito causando um aumento na área ativa do eletrodo. Uma provável
explicação para isto seria um encharcamento de água nos MEAs que contém maior carga de
2
Nafion. A quantidade ótima para células de 5 cm foi definida em 35,5% em massa de Nafion
2
[4]. A Figura 2 mostra que para os MEAs de 50 cm , a quantidade ótima de Nafion ficou entre 31
-2
e 39,4% para células operando na região de 0,3 a 0,8 A cm . Este resultado mostra que a
quantidade de Nafion não é o principal fator que contribui para a perda de desempenho da
ampliação de escala de 5 para 50 cm2.

(a) (b)
1,0 0,95

0,8
0,90
E/V

E/V
% em massa de Nafion
0,6 31,0
35,5 0,85
39,4
0,4 42,9
45,5
0,80
0,0 0,4 0,8 0,01 0,1
-2 -2
i / A cm i / A cm
2
Figura 2 – Potencial vs. densidade de corrente para células a 70 °C, com MEAs de 50 cm , 30%
-2
Pt/C, 0,4 mg cm de Pt com variação na quantidade de Nafion (31,0 a 45,5% em massa),
membrana de Nafion 1135, TH2=85° C, Tar=75° C, PH2/ar=0,2/0,3 MPa.

Nas curvas de potencial vs. densidade de corrente das Figuras 1 e 2, as condições de


temperatura da célula e de umidificação dos gases foram diferentes (Tcélula=70 °C, TH2=85° C,
Tar=75 °C), o que garante um melhor desempenho da célula. Entretanto, em aplicações práticas, o
ideal é que um módulo de células opere com a mesma temperatura da umidificação dos gases,
isto diminui o número de dispositivos de controle do sistema. A Figura 3 mostra curvas de
potencial vs. densidade de corrente dos mesmos MEAs da Figura 2, porém operando com
temperatura de umidificação dos gases e da célula a 70 °C. Pode-se observar um comportamento
próximo ao das curvas com temperatura de umificação dos gases mais elevada. Novamente os
melhores resultados estão entre as cargas de 35,5 e 39,4% de Nafion. A curva do eletrodo que
contém 31% de Nafion apresentou um desempenho similar as de 35,5 e 39,4% a partir de 0,8 A
-2
cm .

4
wt. % Nafion
1,0 31,0
35,5
39,4
0,8 42,9
45,5

E/V 0,6

0,4

0,0 0,2 0,4 0,6 0,8


-2
i / A cm 2
Figura 3 – Potencial vs. densidade de corrente para células a 70 °C, com MEAs de 50 cm , 30%
-2
Pt/C, 0,4 mg cm de Pt com variação na quantidade de Nafion (31,0 a 45,5% em massa),
membrana de Nafion 1135, TH2=70° C, Tar=70° C, PH2/ar=0,2/0,3 MPa.

5. CONCLUSÕES
O aumento de escala de 5 para 50 cm2 provocou uma pequena diminuição no desempenho
da célula, corroborando com resultados encontrados na literatura, e isto está provavelmente
associado ao balanço de água. Os testes realizados com as diferentes porcentagens de Nafion
com a célula e os umidificadores na mesma temperatura (Tcélula=TH2=Tar=70 °C) mostraram que
ocorreu uma pequena diminuição do desempenho da célula comparado aos testes realizados com
celula e umidificadores em temperaturas diferentes (Tcélula=70 °C, TH2=85° C, Tar=75 °C). No estudo
da variação da quantidade de Nafion, o melhor desempenho para densidade de corrente de até 0,8
-2
A cm foi obtido utilizando 35,5% em massa de Nafion, porém a curva de 39,4% apresentou
desempenho semelhante. Por outro lado, para maiores valores de densidade de corrente, as curvas
com 31, 35,5 e 39,4% de Nafion apresentaram o mesmo comportamento. Este resultado mostra
que a quantidade de Nafion não é o principal fator que contribui para a perda de desempenho da
ampliação de escala de 5 para 50 cm2.

6. AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à CNPq, FINEP, FAPESP e CAPES pelo apoio financeiro.

7. REFERÊNCIAS
[1] PAGANIN; V.A., TICIANELLI; E.A., GONZALEZ; E.R., “Development of small polymer
electrolyte fuel cell stacks”, J. Power Sources; Vol.70; Num.55; Ano1998.

[2] WAKIZOE; M., VELEV; O.A., SRINIVASAN; S., “Analysis of proton exchange membrane fuel
cell performance with alternate membranes”, Electrochim. Acta; Vol.40; Num.335; Ano 1995.

[3] GODÊ; P., JAOUEN; F., LINDBERGH; G., LUNDBLAD; A., SUNDHOLM; G., “Influence of the
composition on the structure and electrochemical characteristics of PEFC cathode”,
Electrochim. Acta; Vol.48; Num.4175; Ano 2003.

[4] PAGANIN; V.A., TICIANELLI; E.A., GONZALEZ; E.R., “Development and electrochemical
studies of gas diffusion electrodes for polymer electrolyte fuel cells”, J. Appl. Electrochem.;
Vol.26; Num.297; Ano 1996.

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