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TEORIA DAS

ESTRUTURAS

Rossana
Piccoli
Revisão técnica:

André Luís Abitante


Mestre em Engenharia e Ciência dos Materiais,
ênfase em Controle de Processos
Engenheiro Civil
Rossana Piccoli
Mestre em Engenharia Civil
Engenheira Civil

T314 Teoria das estruturas / Douglas Andrini Edmundo


... [et al.] ; [revisão técnica: André Luís Abitante, Rossana
Piccoli]. – Porto Alegre : SAGAH, 2018.
392 p. : il. ; 22,5 cm.

ISBN 978-85-9502-354-3

1. Engenharia civil. I. Edmundo, Douglas Andrini.

CDU 624.01

Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin CRB-10/2147


Fundamentos do
processo de Cross
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste capítulo, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Definir o funcionamento do método de Cross.


„„ Reconhecer fisicamente o processo de Cross.
„„ Identificar como funciona a distribuição dos momentos fletores em
um nó.

Introdução
O processo de Cross é usado para o cálculo de momentos fletores em
vigas contínuas, pórticos planos, grelhas e até em pórticos espaciais. Este
processo é baseado no método dos deslocamentos e só se aplica para
estruturas sem deslocabilidades externas (do tipo translação). É aplicável
a elementos rígidos que possuem continuidade e nós indeslocáveis.
Neste capitulo você verá as etapas que dever ser seguidas para aplicar
o processo de Cross em diferentes estruturas hiperestáticas.

Definição do funcionamento do método de


Cross
O processo de Cross consiste em um método iterativo para o cálculo de mo-
mentos fletores em vigas contínuas e pórticos planos. Esse processo baseia-se
originalmente no método dos deslocamentos e aplica-se somente a estruturas
nas quais não haja deslocabilidade externa, ou seja, somente pode ser aplicado
em estruturas que contenham deslocabilidades do tipo rotação.
278 Fundamentos do processo de Cross

Supõe-se, então, que os nós da estrutura estão, de certa forma, bloqueados


ou travados e que não podem sofrer qualquer tipo de rotação. Após a aplicação
das cargas atuantes na estrutura, liberam-se gradativamente os nós, fazendo
com que venham sofrer rotações um a um. O nó liberado é então bloqueado
novamente antes da passagem ao próximo nó. Deve-se repetir esse processo
até que as liberações não ocasionem mais rotações, alcançando o equilíbrio
estático da estrutura, conforme a Figura 1.

Figura 1. Bloqueio dos nós para equilibrar as rotações.

O processo de Cross depende fundamentalmente da solução de 3 problemas:


a determinação dos momentos de engastamento perfeito, da rigidez de cada
viga e do fator de distribuição em cada membro da estrutura.
Onde:
O momento de engastamento perfeito é definido pelas condições de
contorno da estrutura, conforme o Quadro 1.
Fundamentos do processo de Cross 279

Quadro 1. Momentos de engastamento perfeito para vigas com inércia constante.

Fonte: Adaptado de Sussekind (1977).

A rigidez da viga é definida pelo momento que deve ser aplicado a esse
nó, capaz de provocar nele um giro unitário, conforme mostra o Quadro 2.
280 Fundamentos do processo de Cross

Quadro 2. Grandezas auxiliares para barras com inércia constante.

Fonte: Adaptado de Sussekind (1977).

O fator de distribuição se dá devido à atuação do momento na estrutura.


As barras se deformarão e os esforços internos na estrutura serão proporcionais
à rigidez da mesma, de modo que:
Fundamentos do processo de Cross 281

O módulo de elasticidade, apesar de ser constante ao longo da barra, pode variar de


uma barra para a outra. Isso afeta diretamente o comportamento da estrutura. A inércia
da barra também é um fator importante, pois algumas barras têm inércia variável.

Interpretação física do processo de Cross


Como já mencionado anteriormente, o processo de Cross pode ser interpretado
como uma aplicação de sucessivas liberações e bloqueios das rotações dos
nós. Entende-se então que, dessa forma, libera-se somente um nó por vez,
mantendo as rotações fixas nos demais nós.
Quando um nó é equilibrado a partir da liberação de sua rotação, há uma
consequente deformação nas barras periféricas ao nó, ou seja, os momentos
fletores dessas barras se redistribuem, fazendo com que haja desequilíbrio
nos outros nós, conforme mostra a Figura 2.

Figura 2. Rotação do nó e deformação nas barras adjacentes.

No passo seguinte, o próximo nó deve ser equilibrado, distribuindo os


momentos fletores nele localizados proporcionalmente às barras adjacentes
e segundo a sua rigidez. O processo deve ser repetido até que haja atenuação
dos momentos nos nós e que o desequilíbrio inicialmente encontrado venha
a convergir para zero, tornando assim a estrutura estaticamente equilibrada
(Figura 3).
282 Fundamentos do processo de Cross

Figura 3. Rotação do nó seguinte e princípio de atenuação do desequilíbrio.

A liberação e o travamento dos nós permite que de certa forma a estrutura


seja particionada e analisada por trechos, visando o equilíbrio das partes entre si.

Quando os momentos fletores adjacentes ao nó estão em equilíbrio não é necessário


travar o nó. Nesses casos, não há momentos externos exercidos pela trava.

Descrição da distribuição dos momentos


fletores em um nó
Considere o pórtico da Figura 4, com todas as barras com o mesmo valor de rigidez.

Figura 4. Aplicação de momento em um nó com rotação liberada.


Fundamentos do processo de Cross 283

Com o travamento do nó impedindo a rotação, pode-se verificar como


os momentos se distribuem nas adjacências desse nó e sua relação com o
coeficiente de rigidez das barras, como demonstrado na Figura 5.

Figura 5. Deformação da estrutura devido a rotação do nó.

Observa-se então que o momento aplicado ao nó tem influência em to-


das as barras adjacentes a esse nó, transferindo sua magnitude de maneira
proporcional à rigidez das barras. Como nesse caso os valores de rigidez são
constantes entre as barras, o momento exerce influência de maneira igualitária
em todas elas. Isso porque

A determinação dos momentos fletores finais nas barras é definida através


de uma sobreposição de efeitos entre o sistema principal (sem o travamento
do nó) e o sistema secundário (onde o nó é travado), ou seja, o momento fletor
no nó será definido pelo somatório das parciais de equilíbrio obtidas ao longo
do modo iterativo mais o necessário para o equilíbrio inicial do nó.
284 Fundamentos do processo de Cross

Determine os momentos fletores nos nós A e B, levando em consideração que EJ=2J


Cross.

1º Passo: determinação dos momentos de engastamento perfeito conforme a


figura anterior.
Deve-se dividir a estrutura em trechos conforme as figuras abaixo.

M = -10 kNm M = 60 kNm M = -60 kNm M = 10 kNm


Fundamentos do processo de Cross 285

2º Passo: determinação do coeficiente de rigidez conforme a figura 03, segundo a


tabela de Sussekind.
Para uma barra biengastada, deve-se fazer J/L = 2/6 = 0,333.
Para uma barra apoiada-engastada, deve fazer 3/4 × J/L = 3/4 × 2/2 = 0,75.
Para uma barra biengastada, deve-se fazer J/L = 2/4 = 0,5.

3º Passo: determinação do fator de distribuição.


Levando-se em consideração que o somatório dos coeficientes de rigidez em cada
nó é igual a 1,58, proporcionalmente tem-se então:

Tem-se então a seguinte distribuição:


286 Fundamentos do processo de Cross

Sabe-se que o desequilíbrio nos nós é a soma dos momentos de engastamento


perfeito nos nós, ou seja, -10 +60 = 50, então multiplica-se o desequilíbrio pelos
coeficientes de rigidez de cada parte no nó e tem-se, no nó A:
50 × 0,48 = 24
50 × 0,32 = 16
50 × 0,20 = 10
No nó B, repete-se o mesmo processo.
Fazendo-se uma iteração de 0,5, o desiquilibrio foi para 55. Dessa forma, multiplica-se
de novo todos os coeficientes de rigidez.
55 × 0,48 = 26,4
55 × 0,32 = 17,6
55 × 0,20 = 11
Faz-se outra iteração de 0,5.
5,5 × 0,48 = 2,64
5,5 × 0,32 = 1,76
5,5 × 0,20 = -1,1
Faz-se outra iteração de 0,5.
0,55 × 0,48 = 0,264
0,55 × 0,32 = 0,176
0,55 × 0,20 = 0,11
Utilizando esses coeficientes para distribuir proporcionalmente os desequilíbrios
dos nós, podemos chegar aos seguintes valores:
Fundamentos do processo de Cross 287

Onde pode-se observar que, com os valores encontrados no método iterativo


somados aos momentos de engastamento perfeito, tem-se aproximadamente os
momentos fletores da estrutura.
Assim, somam-se aos valores de engastamento perfeito os valores obtidos pelo
desequilíbrio dos nós, então:
-10-26,4 = -36,4
60-5,55 = 54,1
288 Fundamentos do processo de Cross

Referência

SUSSEKIND, J. C. Curso de análise estrutural: método das deformações, processo


de Cross. Porto Alegre: Globo, 1977. v. 3.

Leituras recomendadas
GUEDES, J. M. Método de Cross. Porto: Universidade do Porto, 2001/2002. Engenharia
Civil, Teoria de estruturas II. Disponível em: <http://civil.fe.up.pt/pub/apoio/ano3/
te/te2/aulas_teoricas/acetatos/metodo_cross_1.pdf>. Acesso em: 21 dez. 2017.
MARTHA, L. F. Análise de estruturas: conceitos e métodos básicos. Rio de
Janeiro: Campus, 2010.
MELLO, T. Teoria das estruturas: método de Cross. Talles Mello, Campo Grande,
2017. Disponível em: <http://www.tallesmello.com.br/wp-content/
uploads/2017/03/Metodo-de-Cross.pdf>. Acesso em: 21 dez. 2017.

PEREIRA, O. J. B. A. Análise de estruturas I: introdução ao método de Cross. Lisboa:


Téc-nico Lisboa, 2016. Disponível em: < http://www.civil.ist.utl.pt/~orlando/ae1/
MCross. pdf>. Acesso em: 21 dez. 2017.

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