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Ainda conforme Sabourin (2007), houve no governo de Lula, uma repartição de poder,

em que as três secretarias do MDA que foram delegadas ao PT, foram divididas entre equipes
e representantes de movimentos sociais e sindicais concorrentes entre elas ou ligadas a
correntes diferentes do partido. Na divisão, a Secretaria de Reordenamento Agrário – SRA
para a CONTAG, A Secretaria de Agricultura Familiar para a Federação dos Trabalhadores
da Agricultura Familiar e o INCRA para o MST e Secretaria do Desenvolvimento Territorial
para às cooperativas da agricultura familiar.
Ainda que benéfica essa divisão po

Como os camponeses estavam a mais tempo naquelas terras, isto gerou uma revolta
camponesa que ocasionou no tensionamento no conflito existente e desencadeou na
mobilização pela terra.

A situação restritiva gerada pelo conflito “roça x gado”, somado ao pagamento da


renda muito alta e além dessas, corria a notícia de que uma parcela das terras do fazendeiro
era devoluta, deram origem a uma revolta dos camponeses posseiros e foreiros, que
desencadeou na mobilização pela terra. A notícia sobre as terras devolutas dentro da
propriedade era verdadeira, uma vez que foi agendada uma visita de um oficial de justiça na
comunidade Pucunzal, em maio de 1989. Sabendo disso, os camponeses que trabalhavam
dentro da propriedade do fazendeiro se reuniram na referida comunidade para reivindicar a
posse das terras devolutas. Neste período, o conflito foi intensificado, resultando na morte de
dois, dos três homens que eram encarregados de vigiar as famílias da Comunidade Centro dos
Carneiros.
Dado o ocorrido, o fazendeiro acionou a polícia e retirou as famílias da comunidade Centro
dos Carneiros, muitos camponeses se esconderam na mata por medo de represálias, ou até
mesmo da morte, pois sabiam que em outras regiões do estado, muitas pessoas haviam
morrido em decorrência da disputa pela terra.

A condição para o não cultivo da mandioca, era dada por conta da criação de gado do
fazendeiro. Os camponeses mais antigos do assentamento, relatam que o cultivo do arroz,
feijão e milho não demorava até a colheita, por isso era permitido, já o da mandioca é
demorado, varia de 10 a 20 meses. O gado era criado solto e o fazendeiro, não se
responsabilizava pela destruição das roças, e para que isto não ocorresse, o fazendeiro cedia,
arame farpado para os camponeses cercarem as roças. Ressalta-se que era proibido aos
camponeses comprarem arame, somente podia ser usado o arame cedido pelo proprietário,
ainda assim, haviam casos em que o gado invadia os cercados. Este processo caracterizou o
primeiro conflito dos camponeses com o ex-proprietário, “roça x gado”.
Segundo Almeida e Mourão (2017), este tipo de conflito é característico do latifúndio
tradicional, que do ponto de vista jurídico,

Após a incorporação das terras pela fazenda, os camponeses passaram a trabalhar para o
fazendeiro, o qual permitia a produção de roça pelos campônios. Nesta comunidade, havia a
presença de três homens, a serviço do proprietário, encarregados de vigiar as ações das
pessoas ali residentes, devido às restrições impostas pelo fazendeiro.
Com a territorialização da fazenda São Bartolomeu, as terras, que antes eram usadas
pelos camponeses para a produção de cultivos de subsistência, passaram a ser de uso
exclusivo do agropecuarista proprietário. Além da comunidade Centro dos Carneiros, era
permitido a produção de roças para comunidades camponesas localizadas no entorno da
fazenda1, esses últimos, camponeses foreiros, pois trabalhavam em regime de pagamento de
renda2. A permissão do proprietário para o cultivo da roça, visava a derrubada da mata, que
após a colheita da roça dos camponeses, semeava o capim.

Como as contradições antigas se manifestam nas áreas novas, a frente de expansão que
se instalou, na década de 1950, onde hoje está situado o assentamento São
Bartolomeu/Luzilândia, tempos depois, após a abertura das matas realizadas pelos campônios
e valorização das terras, devidos as construções de rodovias (BR-316 e BR-222), foi
alcançada pela frente pioneira, chegou a figura do grileiro, cercou e vendeu a propriedade,
como o camponês

1
Trabalhavam em regime de pagamento de renda as comunidades Sapucainha, Sumaúma, Francilina, Três
Satubas, Campo Novo, Pucunzal, Centro do Antonio Branco, Panela Furada e outras
2
O pagamento da renda era alto, segundo os relatos, o camponês tinha que pagar com a produção, no caso do
arroz, 105kl por linha plantada.
Ao se referir sobre a frente de expansão agrícola da Pré-Amazônia Maranhense, Arcangeli
(1987), afirma que ela se constituiu de uma economia camponesa não capitalista e não
homogênea, que se diferencia conforme a relação dos produtores, com seu principal meio de
produção, a terra. Para o autor, três categorias de produção não capitalista estão presentes em
todo o Maranhão, são elas:
a) pequenos produtores proprietários, que adquiriram título propriedade da pequena
gleba que trabalham; b) pequenos produtores arrendatários (ou “foreiros”), que
trabalham em terra alheia, de terceiros, aos quais pagam a renda fundiária, ou em
dinheiro produto ou em trabalho; c) pequenos produtores posseiros, que ocupam
terras devolutas, livres e que, em sua atividade produtiva, apresentam grande
mobilidade espacial (ARCANGELI, 1987, pp. 113-114)

A produção camponesa, da frente de expansão, não capitalista, se articula com a frente


pioneira, de lógica capitalista, na medida que o camponês não produz tudo o que precisa para
sua reprodução. O camponês produz, tão somente aquilo que é necessário para a reprodução
da sua família. Nessa via, que uma parcela de sua produção adquire o uso como valor e a
outra parcela, o excedente, alcança o mercado, e adquire valor de troca, tornando-se
mercadoria. Este fator, sugere que o campesinato, estando subordinado ao modo capitalista de
produção, não constitui uma sociedade em particular, mas está inserido dentro da sociedade
capitalista.
Na medida em que a frente pioneira alcança a frente de expansão, a primeira incorpora
as terras antes livres, da frente de expansão, resultando na concentração da propriedade
privada das terras. No caso do Maranhão, a outra frente, também de lógica capitalista, a
monopolista, avança com mais rapidez e atinge as duas frente, expansão e pioneira.
A figura do posseiro, segundo Martins (1981), é característica da frente de expansão.
No entanto, esses posseiros não constituem uma sociedade em particular, diferente da
sociedade capitalista presente na frente pioneira.
A maioria dos municípios que constituem a microrregião do Pindaré, se caracterizaram
por esse tipo de ocupação (frentes de expansão), são eles: Santa Luzia, Lago da Pedra, Bom
Jardim, Alto Alegre do Pindaré, Paulo Ramos, Nova Olinda do Maranhão, São João do Caru,
Araguanã, Lagoa Grande, Governador Newton Bello, Brejo de Areia, Altamira do Maranhão
e Marajá do Sena. Outros municípios foram constituídos a partir da abertura das rodovias
federais (BR-316 e BR-222), associadas aos projetos de colonização dirigida dos governos
federais e estaduais: Buriticupu (COMARCO)
Na década de 1970, outro fator motivador da ocupação da microrregião do Pindaré, foi
a abertura das rodovias (BR-316 e BR-222), as quais associadas a política de reforma agrária,
do governo federal, deram origem, as margens das estradas, de novos centros, por meio da
distribuição de lotes, pelo INCRA, para as famílias que já estavam ocupando as terras e de
trabalhadores ocupados na construção das rodovias. A política de distribuição dos lotes,
também foi motivada pelos conflitos que a cada ano se tornavam mais expressivos naquela
região, daí que o governo do Maranhão, também subsidiou políticas de reforma agrária para
amenizar as tensões geradas em torno da propriedade da terra, na microrregião do Pindaré,
principalmente nos municípios de Pindaré-Mirim, Santa Luzia e Vitorino Freire.

Isto pode ser evidenciado pelos nomes dos municípios que constituem a microrregião
do Pindaré, dos quais citamos como exemplo: Santa Inês (antiga Aldeia dos Pretos), Santa
Luzia, Lagoa Grande do Maranhão, Brejo de Areia, Centro dos Boas (atual Vitorino Freire),
Governador Newton Bello.

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A origem da estrutura agrária maranhense está inserida no processo de ocupação da
região Nordeste do Brasil. Nesse estado, a expansão da monocultura da cana-de-açúcar e
pecuária extensiva, constituíram-se nas atividades que incorporaram enormes extensões de
terras, no contexto do desenvolvimento do capitalismo comercial. Desse processo, resultou na
atualidade uma estrutura agrária extremamente concentrada, na qual o movimento do capital
se expande vorazmente, monopolizando o território.
O Maranhão, é o estado brasileiro com o maior número de conflitos pela terra no
período contemporâneo. Os conflitos que ocorrem no estado, estão historicamente atrelados
ao movimento do capital que se expande por todo o território. Para entender o cenário atual
conflitivo do Maranhão, retornaremos à década de 1970, para compreender os eventos que
ocorreram na história do estado e que refletem sua realidade hoje. Importante salientar que a
atuação do Estado do Maranhão nessa década, deve ser compreendida no contexto da política
de segurança nacional do regime militar, que oferecia condições favoráveis para a reprodução
do capital no estado.
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A origem da estrutura agrária maranhense está inserida no processo de ocupação da
região Nordeste do Brasil. Nesse estado, a expansão da monocultura da cana-de-açúcar e
pecuária extensiva, constituíram-se nas atividades que incorporaram enormes extensões de
terras, no contexto do desenvolvimento do capitalismo comercial. Desse processo, resultou na
atualidade uma estrutura agrária extremamente concentrada, na qual o movimento do capital
se expande vorazmente, monopolizando o território.
O Maranhão, é o estado brasileiro com o maior número de conflitos pela terra no
período contemporâneo. Os conflitos que ocorrem no estado, estão historicamente atrelados
ao movimento do capital que se expande por todo o território. Para entender o cenário atual
conflitivo do Maranhão, retornaremos à década de 1970, para compreender os eventos que
ocorreram na história do estado e que refletem sua realidade hoje. Importante salientar que a
atuação do Estado do Maranhão nessa década, deve ser compreendida no contexto da política
de segurança nacional do regime militar, que oferecia condições favoráveis para a reprodução
do capital no estado.

Importante frisar que no Maranhão, na década de 1970, nas áreas de ocupação antiga,
relata Mattos Junior (2010), que havia uma convivência “harmoniosa”, entre grandes
proprietários fundiários e trabalhadores rurais. Os fatores responsáveis por essa convivência
“harmoniosa”, segundo o autor, destacam-se: as relações de compadrios entre os proprietários
de terras e camponeses; desconhecimento da legitimidade da posse das terras pelos posseiros;
índices de analfabetismo elevados; e a falta de uma organização representativa no campo. A
comunidade Centro dos Carneiros, de certa forma, vivia dentro da propriedade da Fazenda
São Bartolomeu, por tanto, existia uma certa convivência “harmoniosa” com o proprietário.
Ressalta-se ainda que na década de 1980, tanto os Sindicatos de Trabalhadores Rurais
como a Igreja, por meio de denúncias contra proprietários de grandes extensões de terras e
mobilização de massas camponesas para reivindicar um pedaço de terra, foram essenciais na
luta contra o movimento do capital. É nesse contexto, que a Paróquia de Vitorino Freire vai
articular os camponeses da

o importante papel exercido pelos Sindicatos de Trabalhadores Rurais e pela Igreja, na


mobilização de camponeses sem terra contra proprietários de terras, abriu caminhos para a
ação das comunidades camponesas que visavam a desapropriação da Fazenda São
Bartolomeu.

da Comunidade Centro dos Carneiros e demais comunidades


as ações dos camponeses
Porém, a partir das insatisfações dos camponeses, gerada pelas restrições impostas
pelo fazendeiro, foi iniciada a articulação para desapropriação da área. Tendo em vista a
conjuntura pela qual passavam na década de 1980, na qual, os Sindicatos de Trabalhadores
Rurais e a Igreja, foram importantes na articulação de trabalhadores contra grandes
proprietários de terras, objetivando desapropriar áreas de tensão social. Os camponeses,
sabendo do papel que a Igreja exercia, recorreram a ela.

Nas áreas de ocupação mais recentes, entretanto, verifica-se um acirramento nos


conflitos pela terra, uma vez que a frente pioneira, ao alcançar a frente de expansão se
apropria das terras, já trabalhadas pelos camponeses, acarretando a sua expulsão. Uma tática
usada por “proprietários” grileiros de terras, era se apropriar das terras onde o camponês já
havia posto a roça. Quando se encerra o ciclo da roça, que vai desde o plantio até a colheita, o
campônio seleciona nova área para devastar e colocar uma nova roça. As terras deixadas para
trás são incorporadas pelos grileiros. Dessa forma Segundo Andrade (1973, p.238) “o que se
observa é que o agricultor pobre prepara a área para o pecuarista rico ocupar. Os títulos de
propriedade dificilmente existem, ficando as terras com o pecuarista”.
Em decorrência desses processos de mobilização de massas de camponeses posseiros,
pela Igreja e pelos Sindicato dos Trabalhadores Rurais, inúmeras fazendas foram
desapropriadas entre o início da década de 1970 e final da década de 1980, e que acarretou na
criação de 65 assentamentos de reforma agrária na Microrregião do Pindaré, porém, ressalta-
se que este processo se caracterizou mais como regularização fundiária, pois, em muitas das
fazendas desapropriadas, haviam famílias já apossadas nas terras.

Andrade (1991) nos levou a compreender como os fazendeiros usavam a solta do gado nas lavouras
de arrendatários, posseiros e pequenos sitiantes, a fim de expulsá-los da área. Essa prática era usada
como forma de coerção para que desanimassem e viessem a abandonar as terras de onde retiravam
a sua subsistência.

Entre as décadas de 1940 a 1970, segundo Mattos Júnior (2010), havia uma
convivência “harmoniosa”, entre grandes proprietários fundiários e trabalhadores rurais. Os
fatores responsáveis por essa convivência “harmoniosa”, segundo o autor, destacam-se: as
relações de compadrios entre os proprietários de terras e camponeses; desconhecimento da
legitimidade da posse das terras pelos posseiros; índices de analfabetismo elevados; e a falta
de uma organização representativa no campo. Para Mattos Júnior (2010, p. 96)
É a partir das insatisfações com o pagamento da renda, dos conflitos e expulsão dos
trabalhadores rurais das áreas que já eram ocupadas por seus familiares que se
verificou o processo de articulação para a desapropriação de áreas e criação dos
assentamentos rurais. Enfatiza-se que é na década de 1980 que se tem um
incremento no número de denúncias feitas pelo Sindicato de Trabalhadores Rurais
contra proprietários de terra e há a mobilização dos trabalhadores feita pela Igreja e
pelo próprio sindicato para iniciar o diálogo com o INCRA com o objetivo de forçar
a desapropriação das áreas em litígio.

A discussão presente no capítulo, parte das narrativas feitas por moradores das
comunidades Centro dos Carneiros, Alto Brasil, Brejo das Flores e Farusa, as quais
comparadas à bibliografia consultada, permitiu a interpretação que subsidiou esta escrita
acadêmica.
Entre os entrevistados estão
Na comunidade Brejo das Flores, o antigo e o atual presidente da associação de
moradores, além de outros camponeses da comunidade
Na comunidade Centro dos Carneiros, moradores da comunidade, entre eles, dois que
participaram do processo de constituição do assente

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