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MARABÁ
2023
INTRODUÇÃO
O livro "O Cativeiro da Terra", escrito pelo sociólogo brasileiro José de Sousa Martins, é
uma obra fundamental para se compreender a problemática agrária no Brasil. Publicado
originalmente em 1981, o livro apresenta uma análise histórica, sociológica e antropológica da
relação entre a terra e o trabalho no país, desde o período colonial até a época contemporânea.
Martins parte da ideia de que a concentração de terras e a exploração do trabalho rural são
fundamentais para se entender a dinâmica social e econômica do país. Para isso, ele realiza uma
análise cuidadosa das estruturas agrárias no Brasil, desde a formação das grandes propriedades
rurais no período colonial até a modernização agrícola promovida pelo Estado na década de
1960. Ao longo do livro, o autor utiliza uma ampla base de dados e informações para sustentar
suas argumentações, incluindo estatísticas, documentos históricos e relatos de campo. Ele
apresenta uma série de casos concretos que ilustram a situação de exploração e opressão a que
são submetidos os trabalhadores rurais no país, evidenciando a violência e a injustiça que
marcam as relações de poder no campo. Martins faz uma crítica contundente ao modelo de
desenvolvimento adotado pelo Brasil, que privilegia o agronegócio em detrimento da agricultura
familiar e camponesa. Ele denuncia a concentração de terras, a expropriação dos camponeses e a
exploração do trabalho rural como elementos centrais dessa dinâmica, que gera uma série de
desigualdades sociais e econômicas no país. Além disso, Martins mostra que a luta pela terra e
pela reforma agrária é uma questão fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e
igualitária no Brasil.
A seguir apoiando-se nas ideias de Jose de Souza Martins, abordarei no primeiro
momento como se dá, a produção capitalista de relações não capitalista de produção: o regime do
colonato nas fazendas de café, no segundo momento, abordarei como se deu a imigração
espanhola e italiana para o brasil e a formação da força de trabalho na economia cafeeira entre
1880 – 1930, já no terceiro e último momento, abordarei como se deu a gênese da
industrialização em São Paulo apoiado na economia do café.
Aos olhos de um dos colonos, tais fatos significavam que "o colono europeu só vale mais do
que os negros africanos pelo fato de proporcionar lucros maiores e de custar menos dinheiro".
O colono Thomas Davatz, em suas conhecidas memórias, infere daí toda a problemática
realização do trabalho livre nas condições da economia brasileira. O princípio da propriedade
tendia a dominar todos os fatores envolvidos no processo produtivo: "o solo é propriedade do
patrão e os moradores o são de certo modo". Isso se devia basicamente a que, tendo feito
despesas na importação da mão de obra, o fazendeiro sentia-se impelido a desenvolver
mecanismos de retenção dos trabalhadores em suas terras, como se fosse seus donos: "os
patrões [...] quase não dão dinheiro aos seus colonos, a fim de prendê-los ainda mais a si ou às
fazendas". Desse modo, o trabalhador não entrava no mercado de trabalho como proprietário
da sua força de trabalho, como homem verdadeiramente livre. Quando não estava satisfeito
com um patrão, querendo mudar de fazenda, só podia fazê-lo procurando "para si próprio um
novo comprador e proprietário", isto é, alguém que saldasse seus débitos com o fazendeiro
JOSE DE SOUSA MARTINS
Nessa relação o colono ficava responsável pela limpeza do terreno, o plantio do café, seus
cuidados até os 4 (quatro) anos de vida da planta, a primeira colheita dos pês de café
normalmente ficavam para o colono, durante esses 4 (quatro) anos, em meio as ruas entre os
cafezais, o colono era permitido cultivar alguns gêneros alimentícios como por exemplo; Arroz,
Mandioca, Milho, Legumes, Feijão e entre outros, após o final desses 4 (quatro) anos, o cafezal
era entregue ao proprietário da fazenda e ai sim ele começava a obter lucros exorbitantes daquela
plantação – já que o solo daquela região era extremamente fértil – em muitos casos o dono da
fazenda preferia que aquele colono permanecesse na propriedade para executar a colheita
daquele cafezal, que daí começou a prática do sistema salarial de (terça, ou quarta) e no caso da
Amazônia o sistema de Aviamento. “durante os 4 ou 5 anos do contrato, os colonos vivem
principalmente do produto do milho (além do feijão, o arroz e batata etc. em menor escala),
cultivados, conforme dissemos, entre os cafeeiros e que, graças à fertilidade do solo, oferece
abundantes colheitas, vendidas diretamente ou utilizadas na criação e engorda de suínos e aves
domésticas” MARTINS (2013).
contudo, o livro relata que para os trabalhadores rurais e para o meio ambiente essa
riqueza veio a um custo muito alto. A exploração dos trabalhadores nas fazendas de café, muitos
dos quais eram escravos até a abolição da escravatura em 1888, foi brutal e muitas vezes resultou
em mortes e doenças. Também houve um enorme impacto ambiental causado pelo
desmatamento e pela monocultura do café. O autor verifica o papel dos intermediários no
comércio de café, como os comissários e negociantes, que controlavam os preços e tiravam
proveito da produção das fazendas. Ele relata também a importância do café para a construção de
grandes cidades, como São Paulo e Rio de Janeiro, que se tornaram centros urbanos e comerciais
valorosos. Além do mais, Martins acentua que o café era considerado um produto de luxo, que
era consumido por pessoas de elite em todo o mundo. Ele argumenta como o comércio do café
ajudou a consolidar as relações de poder globais, e lastima que a maior parte do lucro tenha ido
para outros países e para as mãos de uma minoria.
Com relação ao café e a gênese da industrialização em São Paulo o autor faz uma análise
minuciosa em relação ao papel do café na formação econômica, social e cultural da cidade de
São Paulo. O autor fala a respeito do processo de expansão do café no país, demonstrando como
essa cultura foi responsável pela transformação do Brasil em um grande produtor de café
durante o século XIX. Ele enfatiza que o café foi um dos principais agentes da economia
brasileira durante esse período, gerando capital para as elites agrárias no país.
Em sequência, Martins fala sobre o papel dos imigrantes italianos na formação da classe
trabalhadora em São Paulo, expondo como eles eram incumbidos por grande parte da mão-de-
obra nas fábricas de São Paulo. Ele argumenta que esses trabalhadores eram explorados pelos
empresários brasileiros, que ofereciam salários muitos baixos e situações precárias de trabalho. O
autor então avalia o vínculo entre os empresários brasileiros e os imigrantes italianos,
demostrando como esses últimos foram hábeis em fazer suas próprias empresas e concorrer com
os empresários nativos. Ele argumenta que muitos imigrantes italianos se encontravam propensos
a trabalhar duro e arriscar tudo para fundar um negócio próprio, o que levou a uma fortificação
da concorrência no mercado. Por fim, o Martins discute a herança dos imigrantes italianos na
indústria paulista, destacando como eles foram responsáveis por muitas inovações na produção
de tecidos, alimentos e outros produtos manufaturados. Ele argumenta que a herança desses
imigrantes continua viva em São Paulo até hoje, e que eles são uma parte fundamental da história
da cidade.
No geral, a segunda parte do livro é uma leitura fascinante e detalhada sobre o comércio
de café no Brasil e suas consequências sociais, econômicas e ambientais. É uma leitura essencial
para quem deseja entender a história econômica do Brasil e as lutas sociais que surgiram como
resultado do desenvolvimento desigual do país e também para quem deseja compreender as
relações de poder no Brasil e a forma como a ideologia do trabalho foi usada para controlar a
população trabalhadora. O autor faz uma síntese crítica sobre a história do trabalho no Brasil e
como essa história é usada para justificar a desigualdade social e as relações de exploração
presente no país. É de suma importância para quem quer compreender a formação da economia
brasileira e o processo de industrialização em São Paulo. O autor faz um diagnóstico sobre a
relação entre a produção de café, a industrialização e as relações de classe no Brasil. Por fim, o
livro é um estudo detalhado e bem escrito sobre a imigração italiana no país e seu papel no
desenvolvimento da indústria paulista. O autor oferece uma perspectiva crítica e bem
fundamentada sobre a relação complexa entre empresários e trabalhadores na economia
brasileira.
REFERENCIAS E BIBLIOGRAFIA;
MARTINS, José de Souza. O cativeiro da terra. 9ª ed. São Paulo: Hucitec, 2013.
https://brasil500anos.ibge.gov.br/estatisticas-do-povoamento/evolucao-da-populacao-
brasileira.