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TERRAS":
CONFLITOS FUNDIÁRIOSE
RESISTÈNCIA CAMPONESA
MARANHÃOCONTEMPORÂNEO NO
Roberval Amaral Neto'
O INÍCIODO CATIVEIRO DA TERRA NO
MARANHÃO
E quanto àexperiência
fomos levados a reexaminar todos
esses sistemas densos, complexos e
a vida familiar e social elaborados pelos quais
encontra realização e expressão
(THOMPSON, 1981, p.188).
A extrema violência social praticada contra os
trabalhadores rurais
tem sua raiz histórica na Lei de Terras de 1850, que criou o fundamento
daterra-mercadoria, onde énecessário o uso do dinheiro para possui-la.
Pode-se observar pelos desdobramentoseconômicos estruturais do sécu
lo XIX, como a passagem do trabalho escravo para o livre e a transição da
Monarquia para a República, que a implantação do trabalho livre assala
riado noBrasil se deu apartir de um direcionamentoconservador da eli
te brasileira,alocada noParlamento Imperial e orquestrada pelo partido
Conservador, sob aregência de Dom Pedro II, que visava a manutenção
privlegios da aristocracia brasileira; ocasionando, assim, a exclusão
dos
do escravo liberto. Portanto, a premissa do
trabalho era liberal, acompa
seus desdobramentos
nnando a tendência do capitalismo nascente, mas os
com Caio
Conservadores e autoritários. Nesse sentido, concordo
aln
Federal do Pará(UFPA).
1
Doutorando em História Social pela Universidade
pois "a grande propriedade, ea
Prado Júnior (2000. p. 75).
mercial em larga escala
progresso
(...]não sãoresponsáveis apenas
quantitativo da pequena propriedade" peloexsploobsracotánukst,
opostos ao mazelas sociaise econômicas mas um dos
elementos estruturais das do
brasileiro.
estado do Maranhão. assim como Orestante do
campesinat,
"O não fog:
àlógica da grande concentraçãofundiária. Latifúndio. grilagem. expuls Brasil.
de camponeses e superexploraçãode trabalhados
e assassinatos
verdadeiro filme de terror, sendo os camponeses
constitui o enredo de um
um dos sujeitos mais penalizados e injustiçados na sociedade brasilerz
piorados após a lei do
Esses conflitos agrários citados alhures, foram
de 1969, conhecida comels
tado do Maranhão N° 2.979 de 17 de junho
e especiíficos da guesr~
Sarney de Terras. Assim, os contornos próprios fund.
dos vetores aconcentracão
agrária maranhense, que tem Comoum
estruturantes deste artigo.
ária, constituen-se um dos elementos
éo resultado de encaminha
A manutenção histórica do latifúndio
elite brasileira, num contexto de
mentos econômicos conservadores da
proprietários rurais
lutas políticas polarizadas de um lado pelos grandes
Maranhão: e do outro, os
autoridades do
que contam com oapoio das
como a Comissão Pzs
camponeses brasileiros auxiliados por entidades
Rurais Sem Tera
toral da Terra (CPT), Movimento dos Trabalhadores
Comunidades Qu
(MST) emovimnentos sociais como o Movimento das Comunidades
lombolas do Maranhão (MOQUIBOM) e Teia dos Povos e
espa
Tradicionais do Maranhão (Teia); ambos em permanente luta por
ços, sendo que estes apenas lutam por direitos constitucionais e jus
de classe.
social, enquanto aqueles lutam para manter seus privilégios
área
Dessa forma, mesmo o Maranhão possuindo uma
331.937,450 km', sendo o oitavo estado brasileiro e o segundo do Nordes mot-
te em extensão territorial, a cobiça por um dos elementos
terras é quantidade
vadores da elite maranhense; pois, apesar de possuir grande
e des
2 Acitação apresentada foi
extraida do texto A questão fundiáia no Maranh£o:implc.ações
mim,Roberval
dobrarnentos da "Lei Sarney de Terras" na década de 1970", .página 03,enviado por julhode
Amaral Neto, para publicação no XXIX Simpósio de realizado em
2017 em História da ANPUH,
Brasílla. Entretanto, o texto em questão foi publicado pela
3 Por questões ANPUH Se a porLeide
metodológicas,
Terras do Maranhão e/ou Lei de
a partir deste momento, irei me referi a essa lei apenas
Terras.
74
de terras agricultáveis, os conflitos fundiários envolvendo camponeses e
latifundiários é uma das marcas profundas da sua história.
76
Thompson (1981) o que move todas as categorias, instâncias e instituições
( a luta de classe, ouseja, o seu resultado se manifesta de diferentes ma
neiras epodem aparecer, também,como histórias distintas, destaque para
a micro-história onde atotalidade é articulada com suas partes.
78
organizar a ocupação das terras livres do Maranhão etitular áreas reser-
vadas àcolonização.
Aimensa maioria das terras devolutas do estado foram destinadas
aos grupOS empresariais que formaram grandes latifúndios, o que levou
milhares de maranhenses a migrarem para outros estados", motivados
pelosconflitos fundiários nas décadas de 1970 e 1980.
Nesse contexto, Os 90.000 km de terras devolutas da Amazônia
oranhense e 100.000 km de terras livres de outras regiões do estado
AI MEIDA; MOURAO, 1976) eram vistas pela classe dominante como a
solucãopara modernizar o setor agrário e deveriam funcionar como polo
de atração aos grupos empresariais nacionais que alavancariam a econo
mia doestado a partir do setor agrário. Assim, "...]incorporar as terras
lheres do Maranhão ao modelo de propriedade da sociedade capitalista
tornou-se uma tareta urgente e pioritaria a ser executada pelo governo,
a nartir da década de 1960" (ASSELIN, 1982, p. 23)visando a expansão do
capital agrário no estado.
A questão descrita em linhas anteriores casa perfeitamente com a
análise de Karl Marx (2001) a respeito da acumulação primitiva de capi
tais, poisoprogresso do "século XVIII consisteem ter tornadoa própria
lei veículo do roubo das terras pertencentes ao povo, embora os grandes
arrendatários empregassem simultânea eindependentemente seus peque
nos métodos particulares" (MARX, 2001, p. 838). Assim, o roubo assume
a forma legislativa que lhe dão as "leis relativas ao cercamento das terras
comuns, ou melhor, os decretos com que os senhores das terras se presen
Lelam com os berns que pertencem ao povo, tornando-os sua propriedade
particular, decretos de expropriação do povo" (Tbid.).
Na década de 1970, a mesorregiäo oeste'l maranhense, composta
Na concepção do Direito Positivo, as terras não tituladas estavam vazias. Esse tipo de Direito
oconsegue perceber a dinâmica social e cultural das populações camponesas, muito menos os
marcadores que definem fronteiras e linhas de ocupação do espaço geogranco.
origináios
Jundo o governo do Estado do Maranhão em 1975, havia cerca de cem mil peões
dO estado trabalhando nas fazendas da Amazônia (MARTINS, 2009, p. 77).
do
esOrregião do oeste Maranhense é uma das cinco mesorregiões do estado brasileiro
atanhao. Eformada pela uni·o de 52 municipios agrupados em três microrregiöes. Atualmente,
87.042 km²; População: 1.361.681
apresenta os seguintes dados geográficos e econômicos: "Área:limítrofes:
hab.; PIB per Centro Maranhense, Sul
capita: RS 2.408,96" (IBGE, 2010). Mesorregiões
Sudeste Paraense (PA), Ocidental do
Maranhernse, Norte Maranhense, Nordeste Paraense (PA),
79
pelas microrregiões Gurupi, Pindaré eImperatriz, foi
conflitos fundiáriOs, numa cmpreitada sem tréguase dos grandes
camponescs. Tais
tários rurais contra os regiõcs tornaram
aos
dos conflitos devido, principalmente, fluxos migratórios de
estado, bem como de
ses expulsos de outras regiõesdo
outras recgóesarnpn d,
Nordeste devido aquestões climáticas, Sociais e econômicas.
do Maranhão criou vários projetos de colonização, objetivando asSertar
milhares de famílias camponesas na região centro-oeste do
bando parte dos municípios de Grajaú, Lago da Pedra,
estado, engr,
Pindaré-Mirim, Santa Luzia, Amarante do Maranhão e Barra do
Vitorino Freire
deles nn Corda
como era previsto pela Lei de Terras, porém a maioria
do papel.
cee
Grandes empresas, mediante anúncios de terras baratíssimas
com.
concorrência poblica e sem leiãoe financiadas por bancos estatais,
grupos empres.
praram grande parte das terras do Maranhão. Alguns
hectares, organizaram
riais, objetivando comprar maior quantidade de
propriedades de até 100 mi
várias empresas de fachada para conseguir Lei
completada pela
hectares. Logo, ainstitucionalização da grilagem promoveu, dentre
Federal N° 6.383 /76,Lei das Ações Discriminatórias
ruralde famíilias camponesas que nao
outras questões, um imenso êxodo
posses, devido principalmente
Conseguiram permanecer nas suas antigas administrativos, editais ep0r
jurídicos e
aonão cumprimento dos prazos
disciplinadas por essa peça jurídica que concedia certos direitos a0s
tarias
posseiros.
de exclusão docampons
Visando acelerar ainda mais esse processo atravésdaLei N°
dezembro de 1971,
Ogoverno do estado criouem 06 de (COMARCO) que
ime-
Tocantins (TO).
80
culoXVIll. passou por um duro processo de mudança no regime de pro-
priedade, devido aos interesses econômicos e políticos de uma minoria
privilegiada detentora de poder. Nesse sentido, E.P Thompson assevera
ae "Nesse contexto. podemos ver a aprovaçãoda LeiNegra como uma
severa medida dos negócios do Governo, servindo acima de tudo ao inte-
rCSse dos seus próprios defensores mais próximos" (THOMPSON, 1987,
p.281)'2 Isso representou "um passo a mais na ascensão dos duros Whigs
hanoverianos, eem particular na carreira pessoal de Walpole. Dessa for
ma. oque vemos ésua evolução contingente"(bid.). Mas, tal peça juridica
não seria possível "sem um consenso anterior sobre os valores da proprie-
dade na mente de toda a classe dirigente. Como observou Radzinowicz,
aaprovação da Lei Negra coincidiucom a ascendência da doutrina da re
ribuiçãocrua e indiscriminada"(Ibid.). Com ou semoPrimeiro-Ministro
Walpole, a Lei Negra foi constantemente renovada e ampliada, tantoa
nivel legislativo quanto juridico.
E no Maranhão após a homologação da Lei de Terras, foi criada a
burocracia administrativa para executar os principais pontos dessa peça
juridica. Assim, além da COMARCO foram criados os seguintes órgãos:
em 1972, a Companhia de Colonização do Nordeste (COLONE); alguns
anos depois, em abril de 1979, aCompanhia de Terras do Maranho (Co
TERMA); em 1980, oInstituto de Terras do Maranhão (ITERMA) e o
Grupo Executivo de Terras do Araguaiae Tocantins (GETAT), os quais
complementariam o trabalho do INCRA no Maranhão (ASSELIN, op.
cit., p. 135), colocando, dessa forma, milhares de trabalhadores rurais na
rota da concentração fundiária, grilagem e marginalizaço social. Dos
1.700.000 hectares administrados pela COMARCO 300.000 seriam desti
nados àdez mil familias camponesas e o restante seria vendido às grandes
empresas, que deveriam modernizaro setor agrário utilizando, para isso,
mão de obra barata de milhares de trabalhadores rurais sem-terra.
Se fizermos uma comparação de temporalidades distintas, obser
Va-se que os impactos sociais que resultaram da Lei Negra, da Revolução
Industrial e da Lei de Terras do Maranhão "não transformou sÏ a cidade
eNegra toi aprovada na Câmara dos Comuns,em maio de 1723, sob o pretexto de com
bater os Negros (receberam esse nome por causa das máscaras efuligem que usavam no rosto)
mentalidade de
h r a s e parques reais. Todavia, os motivos foram outros associados ànova
POpiedade capitalista que iniciara com a consolidação do capitalismo.
81
bascaram numcapitalismo agrário
eo
campo: elasse
vovido" (WILLIAMS,
aprofundando outros já
1980, p. 12),
gerando
novos conflitos
existentes; ou seja, classe
a de altamente ladten
mesmotempo sendo moldada e moldando o sistema capitalista, que
formaavassaladora transformou campo e cidade. Tanto no Maranhän d,
Inglaterra do século XVIlI, OS
século quanto na camponeses foranm
XX e excluídos, mas não aceitaram passivarmente tais manobr
perseguidos
da elite dominante.
82
o descontrole ea convulsão social foram de tal ordem que houve
Pindaré"o
episódio onde um lavrador foii preso e o povo invadiu a delegacia, que-
um
broutudo etirou o preso de lá. Opróprio Vila Nova sofreu três atentados"
vida.
Tbid.)contrasua
Nesse contexto, os trabalhadores rurais criaram a nível estadual a
Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras do Esta-
Maranhão (FETAEMA)" objetivando expandiro movimento sindi-
do do
cal no estado. Desde então ela se destaca nos debates, em nível estadual
e nacional, sobre temas de interesse do campesinato: agricultura familiar,
previdênciasocial, trabalhador assalariado rural, conflitos agrários, etc.
Como forma de prejudicar Os camponeses e favorecer os empresá
dos os editais da COMARCOdestinados aos posseiros eram divulgados
em iornais de São Luís e/ou afixados nos murais da sede da empresa, o
que levou milhares de camponesas a perderem os prazos legais para a
compra de suas posses; Ou seja, ela criou um ardil meticuloso com uma
única finalidade: expulsar os trabalhadores de suas terras e vendê-las aos
grupos econômicos. Assim, contraditoriamente, a Lei de Terras aduz que:
"Não serão alienadas nem concedidas terras a quem for proprietário rural
no Estado, cuja área ou áreas de sua posse ou domínio não sejam devi
damente utilizadas com explorações de natureza agropecuáia, extrativa
beneficiava
ou industrial"1", Pelo exposto, percebe-se que a letra fria da lei
necessário aos
apenas os proprietáriosrurais detentores de grande capital,
nvestimentos principalmente de natureza agropecuária. E quando a lei
jurisprudência
não beneficiava as elites, a justiça se encarregava de criar a
necessária aos seus interesses.
do capitalismo no
No intuito de melhor compreender o avanço
trabalhadores, taz-se
Maranhão e, consequentemente, a expropriação dos elemen
maranhense e inglesa buscando
uina analogia entre as realidades
tos comuns que ajude compreender a progressiva mudança no regime
capitalista. Pois, se-
de
propriedade comunal para a propriedade privadada autoridade, e não
deslocamento
gundo E.PThompson (1987) foi "o constituía uma enmergência aos
Oantigo delito de roubo de cervos, que
ago.
<htto://fetaema.org/sobre-nos>, Acessoem: 21de
2019rElAEMA. Disponível em:
Art. 14, p. 01.
14 dezembro de 1969. Caput. III,
MARANHÃO, Lei N° 22.969, de 10 de
83
olhos do Governo'" (THOMPSON, 1987. p. 246) que
de leis contra o direito paternalista. Esse
Lei Negra em 1723, sendo os maiores fenômenooslevou a
que acabaram com os direitos costumeiros beneficiadosdos Whigs
e criaram o
ainsurgência de movimentos sindicais e socias
trabalhadornoMes
moderno regime de propriedade capitalista
E
expansão capitalista na Amazônia. constituiam
Assim como aconteceu na Inglaterra
georgiana, guardando,
as singularidades temporais eespaciais, o Maranhão foi
pela aprovação da Lei de Terras. De um ano para outro.
res. quilombolas, ribeirinhose indigenas tiveram suas
meiro vendidas de forma fraudulenta einvadidas por
posseirs
terras de e
84
ncgócio
",(Ihid). Mas, ocapital que pretendia se alojar na Amazónia nã
qucria
saber disso, visava apenas aincorporação das prosses carnponesas
instalação de unidades agropecuárias e cxtrativas ou
sCja
para sirnples
cspeculação fundiária.
mente para
Nas palavras de Karl Marx (2001, p. 827) a acumulação prirnitiva
de capitais desempenha na economia política um papel análogo ao do
pecadooiginal na teologia. Adão mordeu a maçã e, por isso, o pecado
contaminou alhumanidade inteira".Tomoemprestada esta
metáfora para
explicar oprocesso de acumulação de capitais através da Lei de Terras do
Maranhão.
86
vidos em n0me da propriedade capitalista, vêm de longa data e re
do século XVII; ou seja,
montann à Europa constata-se que OS mesmos
proccssos de expropriação de trabalhadores ingleses foram observados no
Maranho nasegunda metade doséculo XX.
Ao fazer tal constatação, pretendo evidenciar que, mesmo distantes
no tenmpo e no espaço, trabalhadores ingleses e maranhenses foramn ex-
proprados pelo capitalismo. Dessa forma, os cercamentos e o fim do di
reito paternalista assim como a grilagem, a violência e ofim do direito de
posse dos camponeses são fenômenos historicamente assimétricos, mas
constituem efazem parte da longa marcha de avanço do capitalismo, seja
nas áreas politicamente centrais ou periféricas do mundo.
87
quebradeiras de coco babaçu, ficando à
cargo dos
bitrar sobre o'coco preso ou coco livre'
através de municipiose
coco são legislação esadiS
(Ibid.). Por isso, "muitas quebradeiras de
donos dosobrigadas a
de meeiras e vender asua produção aos
ciantes de babaçu` (bid.).
babaçuai s tr abesap
le
hch
ara
e
Os embates pela terra fizeranm as
se aglutinaram em volta da Associação comunidades
das
elo u C
negras maranhe'
om
Quilombolas (ACONERUQ). movimnento social Comunidades
e conquista dos direitos quilombolas. A pioneiro naNegras ura
ACONERUQ
enquanto representação quilombola, "associada tem suaorganizar
ção do movimento negro no Maranhão a partir da processo deforTmar
ao
surgimento do CCN/MA". (SOUSA, BLOG década de organiD:
KADILA 1970, com.,
DA
teve
TRANSUMÂNCIA, 2017). Apartir da sua formacão
início estudos e pesquisas de comunidades
os e
quilombolas,
-OBSERVATÓRI
consolidac~,
por pesquisadores e militantes ligados às
comunidades;
destacam os estudos antropológicos realizados nas décadas
,realizados
entre oS quais se
sob a influência de Maria
1970 t
Raimunda Araújo (ou Mundinha Araúio coms
muitos a denominam). "Tal iniciativa
consistia na documentacão de ma.
mórias do pós-escravidão, formas de posse da terra,
turais e religiosas no interior do estado, em meio às manifestações cu.
comunidades ruras
principalmente" (bid. ).
O referido projeto foi
apresentado ao CCN/ MA como ponto dt
partida para olevantamento de material antropológico das comunidades
quilombolas. Todavia, devido àfalta de recursos financeiros para custea
as pesquisas e estudos não houve continuidade sistemática, mas apena
um arremedo de execução do projeto, por meio de trabalhos voluntint
ea tentativa de organização de dados empíricos a partir de vis1tas a
madas comunidades negras, precarizando-o sobremaneita.
Dessa forma, a movimento neg
ACONERUQ foi concebida pelo era
maranhense como portadora de uma pauta social legítima, pois
derada Por representantes das próprias comunidade quilombolas."Nesedk
efetivação
sentido, a ACONERUQ teve para
articulação fundiários, prt
importante
garantias territoriais" (Ibid.) junto aos diferentes órgãos (ITERMA
cipalmente ao Instituto de
Colonização e Terras do Maranhão
88
Nacional de Agrária (INCRA), ambos
Colonização e Reforma
eInstituto
responsáveis pelas titulações de territórios quilombolas em nível federal e
estadual.
89
revela o depoimento de Dona Menina
públicas. Ëo que da
camponesaForquilha,
teve sua
no município maranhense de Benedito
residência violada por policiais militares de
com
forma ilegal
uma
Segundo seu relato ol uma e
Vez.
u
Leir
ti
ed, ad e
que
ue não possuíam mandato judicial.
menina estava com um mês
tudo aqui em casa, minha que
neném e cles a interrogararm, perguntaram se a gente não tinha medo de tinha ganhado
MINARD, 2017).
morrer" (BLOG DO
táticas individuais e coletivas
Ao narrar as estratégias e dos trabalha
palavras de Gerson Rodrigues a
dores do campo, faço minhas as respeitona
desses sujeitos de baixo: "Não posso deixar de considerar. que ao entrar
vida social desses trabalhadores da mata, dialogando com os significados
de suas práticas, saberes, tradições e valores (ALBUQUEROUE. 200s
34), negando muitospressupostos da historiografia tradicional "caminho
no sentido da formulação de uma história em aberto, em construcão.
atenta àglobalidade das ações humanas e àdinâmica das relações sociais"
Ou seja, "Uma história posicionada em que concepções e categorias que
suscitam mais indagações do que produzem certezas (Ibid.). E também
"Uma história que não estápreocupada em explicar tudo, porque nada
explica tudo, nada é finito (Ibid.,).
Assim como "As modalidades do agir e do pensar, como escreve
Paul Ricoeur, devem ser sempre remetidas para os laços de interdepen
dência que regulam as relações entre os indivíduos e que são moldados,
de diferentes maneiras em diferentes situações, pelas estruturas do poder
(CHARTIER, 1990, p. 34), os trabalhadores rurais vêm empreendendo
sua maneira de vivere lutar a partir de sua cultura, ora conquistando im
Portantes vitórias para a sua categoria, ora enfrentadodoloridas derrota
mas igualmente inmportantes no processo de democratização da sociedade
brasileira.
ÚLTIMAs PALAVRAS
Entre as décadas de 1970 a 1990, um bom termômetro para Se com-
preender a situação social maranhense é a comparação da distribuiçãoda
riqueza do estado nesse período (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEO.
GRAFIAE ESTATÍSTICA, 2003, 2010), pois isso nos ajuda Compreendera
luta de classes entre
ricos e pobres.
Em 1970, os 10 % mais ricos
detinham
cerca de 48% das riquezas do estado: já em 1990 detinham 54,7%. Ain
da segundo o TBGE, nesse mesmo período, oMaranhão aumentou ex
ponencialmente sua concentração fundiária, Oque originou e sustentou
numerosos conflitos agrários. Daí, é possível concluir que os mecanismos
riados c sustentados pelo Estado garantiramn as condicões econômicas e
políticas para oennquecimento de sua elite
Apesar de mudanças ocorridas nas últimas décadas, desenvolvidas
aravésde política públicas federais, elas atingiram, na maioria dos casos,
apenas as pequenas e medias propriedades, fato que revela a proteção ao
larifindio. Dessa forma, no início da década de 1970 o grupo de proprie
dades de até 10 hectares compunha aproximadamente 87.6% dos estabe
lecimentos rurais, pertazerndo cerca de 5.6% da área total do estado. Já na
década de 1990, como resultado dos desdobramentos agráios das décadas
grupo caiu
anteriores, a proporção do número de estabelecimentos desse
das terras mara
Dara 76.9% da área total do estado, 3.1% da área total
nhenses.
camponeses, mas
A Lei de Terras não alterou apenas a vida dos
de todas as comunidades tradicionais
como as dos quilombolas. Assim,
aprovação, ela continua impondo
passados quarenta e nove anos da sua
restrições às comunidades negras que lutam pela demarcação e
grandes
seus territórios, o que demonstra a resistência quilombola
titulação de
imposta por tal lei(CRUZ, 2012).
contra o regime de propriedade
denúncia contra os direitos das comunidades e
Outro exemplo de divulgada em 09 de
São Luís,
tradicionais estáexpresso na Carta de
povos
do Seminário Internacional Carajás 30 anos, dis
maio de 2014 por ocasião Maranhão.
aprovação da Lei de Terras do
tante quarenta e quatro anos da agronegocio e
carta-denúncia de São Luís aduz que "O mo-
Nesse sentido, a destrutivas da natureza e dos
práticas
inimigo da sociedade, com suas dos povos das florestas,
camponesa e
dos de vida da agricultura familiar 2014, p. 19). E acrescenta
cidades"(CARTA DESÃO LUÍS, uma
das aguas e das criminalização e violência é
formas,
mais: "Esse processo de espionagem, expressa, dentre outras
que se
do capital (1bid., p. 20). Ef-
manifestação da ditadura
manipulação da grande
imprensa"
camponesas,
através da censura e
mais emblemáticas lideranças
nalizo com a vOz de uma das
fome haverá
luta!" (Tbid., p. 21).
houver
Manoel da Conceição, "Enquanto
91
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