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Genealogia das elites imobiliárias na fronteira amazônica: o caso dos grupos Buriti e Alta

Ville Empreendimentos.

Raul Ventura
Brenda Santos
Tatiana Carepa
Bianca

Resumo

Palavras-Chave

Abstract

Key-words
Introdução

Urbanização e cidades na fronteira: o caso de Redenção e Alta Floresta.

Proveniente do lugar de fala colonialista/imperialista, o conceito de fronteira “consagrou a


ideia de ocupação de novas áreas ou novas regiões ainda desocupadas ou subocupadas,
periféricas ao sistema econômico dominante em um território com limites políticos já
definidos” (CRISPIM, 2019, p. 105), estando intimamente relacionado, no caso amazônico,
aos processos de acumulação primitiva e às especificidades de nossa estrutura social.
À título de introdução, é válido resgatar o surgimento do conceito de fronteira como um mito
de formação ideológica dos EUA e do Brasil. No caso norte americano, Frederick Jackson
Turner figura como principal teórico da fronteira, a partir da conferência The Significance of
Frontier in American History, realizada no final do século XIX, onde o conceito é
apresentado sob dois sentidos: como “linha de encontro entre terra povoada e terra livre” e na
qualidade de “ponto de encontro entre o primitivo e o civilizado” (CRISPIM, 2019, p. 105),
no contexto dos movimentos de interiorização das regiões a oeste do país, no que ficou
conhecido como Marcha para o Oeste. É entendido enquanto mito de formação da sociedade
estadunidense pois esta Marcha representa o momento para a ascensão de uma nova
identidade cultural e social, “americanizada”, não eliminando o legado europeu mas
dinamizando-o em uma relação ideológica entre democracia e fronteira como alicerces dos
valores pátrios (CRISPIM, 2019, apud VELHO, 1979).
No contexto brasileiro, o jornalista, poeta e ensaísta Cassiano Ricardo aplica a tese de Turner
à conjuntura então vigente do Estado Novo varguista, como intelectual de seu tempo. É
considerado conservador, reforçando o papel do autoritarismo e da fronteira na formação
cultural e política brasileira, seu mito criador. Partindo da ideia de que os bandeirantes,
procedendo de São Paulo em sua marcha para o sertão do país, haviam delimitado os marcos
políticos da nação, enquanto agentes “construtores da nacionalidade”, cabia ao então governo
ditatorial conquistar as regiões “vazias” ou “não ocupadas" remanescentes, interiorizando o
movimento da fronteira a fim de se consolidar uma unidade nacional territorial, econômica e
política, sem considerar as particularidades locais e regionais (CRISPIM, 2019, apud
VELHO, 1979 e LENHARO, 1986). O deslocamento leste-oeste - afastando-se do litoral
(“conservador”), parte mais ocupada do território, com estreitos vínculos com a metrópole
colonial, em direção ao sertão (“democrático”) ainda não “desbravado”- coaduna-se
analogamente com a hipótese de Turner quando da “ruptura dos laços coloniais e na abertura
do caminho para a construção da história do Brasil” (CRISPIM, 2019, p. 110). No caso do
Estado Novo, os ideais bandeirantes se revestiam do nacionalismo, autoritarismo e da “luta”
ideológica contra a “ameaça” do comunismo soviético (CRISPIM, 2019).
Conforme interpretação da professora Virgínia Fontes (TV BOITEMPO, 2020), o conceito de
acumulação primitiva em Karl Marx é uma ferrenha crítica à esta noção na Economia
Neoclássica (este capítulo de sua magnum opus, O capital, é denominado pelo próprio Marx
como “A assim chamada acumulação primitiva”). Para Marx, tal conceito se refere sobretudo
a um processo histórico social violento, o que pode ser exemplificado pelos eventos
sucessores aos Grandes Descobrimentos, como o saque colonial, a escravização, a
expropriação dos trabalhadores diretos, os quais com o acesso à terra bloqueado, somente
possuíam sua própria força de trabalho para sobreviver (TV BOITEMPO, 2020).
A acumulação primitiva, conforme leitura de Fontes (TV BOITEMPO, 2020), é, por um lado,
a expropriação dos trabalhadores diretos (do campo ou urbanos) e por outro a conversão dos
meios de vida destes trabalhadores em capital, o que acontece quando eles são privados de
suas propriedades (que estavam diretamente ligadas a seus trabalhos, sendo assim
expropriados e necessitando vender sua força de trabalho a qualquer custo, fato este que
facilmente pode transformar-se em espoliação de direitos para os trabalhadores). Desta forma,
tem-se a criação de “mais valor”, ou seja, a expansão do sistema capitalista não está mais
voltada para a vida do trabalhador mas para a valorização do valor, acarretando no
aprofundamento destas expropriações (conversões dos meios de vida em capital). Fontes (TV
BOITEMPO, 2020), afirma ainda que, para se expandir, o capitalismo precisa produzir mais
trabalhadores, expropriar os que estão no campo, convertendo os meios de vida em capital…
Esta seria a condição sine qua non e definição sumária de acumulação primitiva em Marx.
Segundo revisão bibliográfica empreendida por Crispim (2019) acerca do entendimento do
conceito de fronteira como forma de discutir os processos de acumulação primitiva na
Amazônia, abordado a partir de cientistas sociais brasileiros consagrados como Otávio Velho
e José de Souza Martins, tem-se uma análise das transformações ocorridas na região durante
as décadas de 1960 a 1980, no contexto dos governos militares e do novo paradigma de
expansão do capital no país. Em comum, estes teóricos abordam a interpretação de que “a
‘modernização’ da vida econômica e social na Amazônia” (CRISPIM, 2019, p. 112) durante
este período esteve vinculada a um processo de acumulação primitiva estrutural possibilitado
pelo estágio de crescimento do capitalismo no Brasil e no mundo, sob o qual a Amazônia era
vista enquanto região promissora para a expansão da fronteira.
1.1. Otávio Guilherme Velho
Este autor é considerado o pioneiro a elaborar uma interpretação no estudo dos “processos de
‘desenvolvimento’” (CRISPIM, 2019, p. 112) na época de vigência dos governos militares
como sinônimo de “fronteira em movimento” tanto no Brasil como na região amazônica. Nos
idos de 1970, em meio à proeminência que as discussões acerca da ocupação de novas áreas
no Brasil estava ganhando, Velho define preliminarmente o conceito de “frente de expansão”,
importante para o debate proposto neste artigo, qual seja, o de entender o processo das
fronteiras nas cidades, principalmente do Sudeste Paraense.
As frentes de expansão seriam “constituídas dos segmentos extremos da sociedade brasileira
que se internavam em áreas antes não exploradas, e apenas ocupadas por sociedades
indígenas” (CRISPIM, 2019, p. 112, apud VELHO, 1972). Apreende-se desta definição que
essas fronteiras demarcariam espaços até então não incorporados de fato à dinâmica
econômica e social brasileira, áreas outrora à margem da inserção no mercado. A
diferenciação entre as várias frentes de expansão se dá de acordo com as relações que as
sociedades travam com a natureza e os vínculos de produção e trabalho que se sobressaem
em cada uma. É de natureza dinâmica, o que implica em dizer que dois aspectos se
sobressaem: o da mobilidade, pois dependendo da região onde atuam, as frentes de expansão
são diferenciadas; e o da dinâmica na conjuntura social, quando da mudança do perfil de seus
protagonistas, passando de uma estrutura agrária tradicional para o sistema de facilidade de
acesso à terra e à exploração de recursos naturais, o que permite que o movimento de
ocupação de novas terras continue seu percurso (CRISPIM, 2019).
Analisando precisamente a microrregião de Marabá - composta pelos municípios de Brejo
Grande do Araguaia, Marabá, Palestina do Pará, São Domingos do Araguaia e São João do
Araguaia -, constituinte da mesorregião do Sudeste Paraense (na qual o município de
Redenção se faz presente), Velho caracteriza o trajeto econômico desta região, desde o
sistema agricultor extensivo, de baixa qualificação tecnológica, até a sua transformação ao
alcançar destaque no mercado nacional de alimentos. O autor conclui que nesta conjuntura há
o surgimento de um tipo de trabalhador camponês que teria passado de uma condição de
marginalidade (ou seja, isolamento e falta de integração com o mercado) para “a situação de
oscilação entre marginalidade e submarginalidade” (CRISPIM, 2019, p. 113), pois, neste
contexto de regime militar, na interpretação de Otávio Velho, as grandes obras de
infraestrutura, a exemplo das rodovias Belém-Brasília (BR 0-10) e Transamazônica (BR
230), personificaram forças que pareciam fortalecer os trabalhadores diretos do campo, ao
passo que na região outros eventos expropriaram-os (CRISPIM, 2019), como ocorre no
processo de acumulação primitiva.
A ocupação e migração para novas terras em regiões periféricas, sinônimo de movimento de
fronteira, é essencial para compreender o desenvolvimento do capitalismo, da sociedade
agrária e do campesinato, particularmente, no contexto brasileiro, conforme o autor. Para a
fronteira se destinam os camponeses pobres, tornando-se ela o locus promissor das
transformações engendradas pelo capitalismo. Ainda segundo Velho, “o enfraquecimento da
subordinação do modo de produção camponês promove o surgimento da ‘face burguesa’ do
camponês”, ou seja, paripassu à acumulação primitiva que destitui a terra do trabalhador do
campo ocorreria, em certo grau, a alienação consequente da ascensão social desta classe
(CRISPIM, 2019, p. 117).
Momentos de movimento “espontâneo” em direção à fronteira são especialmente
interessantes de serem mencionados como síntese do pensamento de Otávio Guilherme Velho
apresentado até aqui para entender a dinâmica econômica atuante no sudeste paraense. O
primeiro diz respeito ao deslocamento de um certo “campesinato marginal” (CRISPIM, 2019,
p. 119), atraído pelas possibilidades de terras livres e alternativas de sobrevivência pela
agricultura, o qual teria alcançado a região Amazônica na primeira metade do século XX,
antes mesmo do advento das grandes obras de infraestrutura durante o governo militar, como
a Rodovia Transamazônica. Esse deslocamento teria sido o primeiro a criar um movimento
de fronteira com ocupação permanente, e não como mera frente de expansão em direção à
exploração dos recursos da floresta. Tal ocupação, entretanto, provocou litígios entre os
camponeses e pecuaristas, resultando na expulsão daqueles (CRISPIM, 2019).
2.2. José de Souza Martins
A conceituação de fronteira em José de Souza Martins está alicerçada na noção de zona
pioneira do teórico alemão Leo Waibel. Sumariamente, esta definição de Waibel diz respeito
ao elemento de modernização que inaugura a cidade, trazendo consigo inovações nas relações
sociais e econômicas, em contraposição à zona antiga, onde a terra é empobrecida e as
condições de trabalho não são promissoras, acarretando na emigração de indivíduos rumo à
zona pioneira (CRISPIM, 2019).
Para Martins, o conceito de frente pioneira está intimamente ligado à ideia de fronteira
econômica, pois denota “um movimento social cujo resultado imediato é a incorporação de
novas regiões pela economia de mercado” (MARTINS, 1975, p. 45, apud CRISPIM, 2019, p.
120). Esta fronteira não corresponde necessariamente à fronteira demográfica, sendo que
entre estas está a frente de expansão, a qual não é regida pelas leis de mercado. Ela é
primordialmente uma economia de excedente em que os trabalhadores buscam em primeiro
lugar a subsistência e, secundariamente, estabelecer relações de troca (CRISPIM, 2019).
Neste sentido, a propriedade privada da terra torna-se sinônimo de capital no âmbito da frente
pioneira - além de representar a penetração do capitalismo no campo -, o que significa que as
relações entre homem, sociedade e terra passam a ser mediadas pela renda fundiária. O uso
da terra é estabelecido, deste momento em diante, em virtude da lucratividade. No caso da
expansão da fronteira amazônica, o trabalho escravo foi amplamente utilizado, sendo o
conflito social a característica sociológica mais relevante para a definição de fronteira,
conforme Martins (CRISPIM, 2019).
Desta forma, segundo o pensamento de José de Souza Martins, alicerçado em uma
“sociologia da fronteira”, o movimento da fronteira é dirigido por uma relação contraditória,
mas complementar, entre frente pioneira e frente de expansão, na qual a propriedade da terra
é o item principal. Todavia, de acordo com este autor, a ideia de frente de expansão é mais
adequada para esta reflexão, uma vez que nela estariam mais evidentes as relações de conflito
e alteridade (CRISPIM, 2019).

Genealogia das elites imobiliárias do Sudeste paraense e do Norte Mato Grossense.

No que tange às empresas imobiliárias que atuam na região sudeste do Pará (especialmente
nos municípios de Marabá e Parauapebas), destaca-se o grupo Buriti Empreendimentos,
presente em 11 estados brasileiros, espalhados nas regiões Norte, Nordeste, Sudeste e
Centro-Oeste, cujo escopo é dirigido à criação e implementação de loteamentos urbanos e
condomínios fechados, possuindo um portfólio de mais de 143 mil terrenos lançados.
Atuante no mercado imobiliário desde 2003, partindo de Redenção, importante município do
sudeste paraense, este grupo é oriundo de dinâmicas econômicas estimuladas pelo governo
federal desde a época da ditadura militar e dos grandes projetos expansionistas para a
Amazônia, especialmente via política de investimentos fiscais da SUDAM (Superintendência
do Desenvolvimento da Amazônia) como a indústria madeireira e a agropecuária, atividades
estas que pressupõem a propriedade privada da terra. A Buriti Empreendimentos é uma das
diversas esferas de atuação de uma entidade maior, representada pelo grupo NB, o qual, por
sua vez, é vinculado diretamente à Madeireira Jatobá/Juary, sediada também em Redenção
(MELO, 2015).
O Grupo NB é composto por estabelecimentos presentes em diversos ramos de atuação, a
saber, nas esferas imobiliária (Buriti Empreendimentos Imobiliários, MSL
Empreendimentos), comunicação (Grupo NB Comunicações e suas subdivisões em
NBTV/Globo, Jornal Folha de Carajás e Rádio Oriente), varejista e de comércio (NB
Concessionária de Veículos e Autopeças - NB Automóveis). A gênese do grupo está
relacionada à exploração madeireira - principalmente do mogno - e ao agronegócio nas
regiões sul e sudeste do Pará (MELO, 2015).
A trajetória da Buriti encontra paralelos com outra potência regional, da cidade de Marabá:
trata-se do Grupo Leolar (presidido à época pelo falecido fundador, Leonildo Borges Rocha,
importante nome na dinâmica do sudeste paraense), com o qual se associou em 2010. Este,
semelhantemente, possui amplo repertório de atuação vinculado aos setores econômicos
fomentados a partir dos anos 1960, sobretudo relativos à atividade mineradora. O surgimento
deu-se por meio da rede de varejo Leolar, fundada em 1984. Da década de 1990 em diante,
outras esferas de operação de investimentos emergem, como as empresas Borges Informática,
Vertical Mineração, Magyr Mineração, indústrias Maragusa (Marabá Gusa Siderúrgica Ltda -
fabricante de aço), Marabá Reflorestadora e a Leoforte Climatizadores (MELO, 2015).
Atualmente, o conglomerado possui filiais no Maranhão e no Tocantins.
Recentemente, no ano de 2012, foi inaugurado o Shopping Pátio Marabá, cuja participação
integral foi adquirida pelo Grupo Partage. Além do centro de compras, o empreendimento
abrange também uma torre de escritórios e rede hoteleira. Pertencente à Parkway, empresa
formada pelos grupos Dan Hebert Engenharia S/A (construtora, prestadora de serviços de
engenharia e gestão imobiliária, fundada em 1991 em Brasília, com sede em Goiânia/GO) e
Leolar, a implantação do shopping na cidade é ressaltada pelos diversos atrativos e
potencialidades que a região oferece, como o destaque nas atividades mineradora e
pecuarista. A localização dá-se em um ponto estratégico (ver Figura 01), situado na Rodovia
Transamazônica (a qual chega à cidade em 1971), na região da Nova Marabá, núcleo urbano
implantado a partir dos anos 1970 com o objetivo de preparar o município para o crescimento
populacional iminente com o advento dos grandes projetos mineradores e “resolver” os
problemas de alagamentos que os moradores enfrentavam no núcleo da Marabá Pioneira
(SHOPPING PÁTIO MARABÁ, S/D) (SOUZA, 2015).

Figura 01: Shopping Pátio Marabá. Fonte: Portal Pebinha de Açúcar, 2020. Disponível em:
https://pebinhadeacucar.com.br/shopping-patio-maraba-volta-a-funcionar-a-partir-desta-segu
nda-22/. Acesso em 12 de fevereiro de 2021, às 15:02.

O Grupo Partage Empreendimentos e Participações S/A, é uma Sociedade Anônima Fechada,


atuante no ramo imobiliário com sede em São Paulo/SP. O capital social declarado das
empresas constituintes da Partage é da ordem de R$ 491.403.094,20. A primeira sociedade
foi estabelecida no ano de 1989. O grupo é sócio de empresas nos estados do Rio Grande do
Norte, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul (CONSULTA CNPJ, S/D).
O Partage Shopping é uma das frentes de investimento da sociedade, cuja propriedade e
administração se faz presente em 9 shopping centers distribuídos pelas regiões Norte,
Nordeste, Sudeste e Sul. Além do empreendimento em Marabá, no Pará, atua também em
Parauapebas. Os serviços se dão nas esferas do planejamento, gerência, marketing,
operacionalização e comercialização destes centros de compras (PARTAGE SHOPPING,
2017). Ademais, a grupo Partage desenvolve e administra empreendimentos imobiliários
classificados como Triplo-A, os quais traduzem-se no “topo da escala, compreendendo os
empreendimentos que apresentam a mais alta qualidade, no que se refere aos padrões
construtivos e de tecnologia de sistemas prediais” (NÚCLEO DE REAL STATE DA
POLI/USP, S/D). É imprescindível, ainda, para edifícios deste porte, que a localização dos
mesmos seja privilegiada dentro da malha urbana, no contexto regional (NÚCLEO DE REAL
STATE DA POLI/USP, S/D), o que confere especial importância quanto aos modos de uso e
ocupação do solo nas regiões centrais e de expansão das cidades no que se refere à aferição
da renda fundiária.
A trajetória do grupo Alta Ville Empreendimentos está intimamente relacionada à expansão
da cidade mato grossense de Alta Floresta e à figura do empresário Abdo Alhaquim Assaf,
mais conhecido como Abud, persona de alto prestígio na política do município, apesar de
nunca ter estado à frente de um cargo público. Abud é natural de Miraselva-PR e chegou na
cidade de Alta Floresta por volta dos anos 1980, inicialmente trabalhando no comércio do
ouro. No início da década de 2000 abriu uma empresa de revenda de veículos, denominada
Alta Veículos (ALTA EMPREENDIMENTOS, S/D).
No âmbito da política local, na Câmara Municipal, o vereador Charles Miranda Medeiros
teve papel importantíssimo para o impulsionamento do setor imobiliário em Alta Floresta ao
ser autor do projeto de Lei nº 012/2014 que permite a construção de edifícios com até 20
pavimentos, tornando lícito desta forma o empreendimento Alta Ville - condomínio
residencial vertical de 14 andares e 52 apartamentos, de 183m², dos quais 4 são coberturas
com suíte. Desta forma, há alteração nos limites anteriormente previstos na legislação do
município, quando o gabarito das edificações estava limitado a 3 pavimentos (LEAL, S/D).
Em suma, o Projeto de Lei n. 012/2014 modifica os parâmetros da Lei Municipal n. 026/83
(parágrafo 5º do artigo 6º), a qual versa acerca do uso e ocupação do solo urbano, além de
instituir os recuos das edificações de Alta Floresta. Ao alterar uma diretriz do zoneamento
urbano, o vereador Medeiros apresentou como justificativa a seguinte proposição:
(...) É preciso permitir aos investidores interessados a aperfeiçoar os espaços que hoje temos
disponíveis e, assim, promover o desejado desenvolvimento, possibilitando a ocupação do
mesmo espaço territorial, por mais pessoas ao mesmo tempo.
O presente pedido, que será efetivado através do presente Projeto de Lei, representa os
anseios de alguns empresários altaflorestenses que acreditam no potencial de Alta Floresta e
desejam investir cada vez na cidade (...). (C MARA MUNICIPAL DE ALTA FLORESTA,
2014, p. 2, grifo nosso)
Percebe-se, no trecho supracitado, que a noção de desenvolvimento predominante na política
municipal está relacionada ao discurso neoliberal, à livre ação dos investidores na paisagem
urbana; desta forma, a visão de progresso se embasaria na expansão da cidade como uma
máquina de crescimento local (LOGAN e MOLOTCH, 1987). Isto encontra paralelos no
embate entre as ideias de Borja e Castells (1996) e Carlos Vainer (2000) acerca do papel da
cidade enquanto representante das articulações entre sociedade, iniciativa privada e Estado
(BORJA e CASTELLS, 1996).
Os teóricos espanhóis utilizam o conceito de “cidades como atores políticos” para se
referirem ao protagonismo assumido por elas ao articularem as esferas das “administrações
públicas (...), agentes econômicos públicos e privados, organizações sociais e cívicas, setores
intelectuais e profissionais e meios de comunicação social” (BORJA e CASTELLS, 1996, p.
153). Este entendimento é o alicerce para a concepção do marketing urbano, na maneira
como as cidades se promovem no competitivo âmbito da globalização, “vendem-se”,
semelhantemente a uma mercadoria, para “visitantes e usuários solventes” (VAINER, 2000).

Padrão de transformação no espaço urbano.

Identificar padrões de mudanças no espaço urbano das cidades que mais receberam
empreendimentos das empresas.

Considerações finais

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