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Universidade Federal do Rio de Janeiro

Instituto de História
História da América Colonial
Docente: Gabriel Aladren
Discente: Ana Luísa Candal Laurindo
DRE: 121040210

Resistência indígena e identidades

No que tange os estudos a respeito das sociedades indígenas através de uma ótica
social e cultural, tem se feito presente, em que se faz necessário a ligação entre a história e a
antropologia. Através disso, o ponto de vista dos povos indígenas, a cultura imposta pelo
Ocidente e os processos de mestiçagem e etnogênese passaram a ser levados em conta nas
pesquisas, com o intuito de romper com a historiografia tradicional ocidental.
Guillaume Boccara em seu texto “COLONIZACIÓN, RESISTENCIA Y MESTIZAJE EN
LAS AMÉRICAS (SIGLOS XVI-XX)” aborda, em sua opinião, as três novas formas que
estão presentes nos estudos histórico-antropológico americanista, sendo o primeiro acerca da
história das sociedades sem escrita, em como a maneira desses povos apresentaram suas
interpretações a respeito ao impacto do colonizador, a segunda questão tange na
continuidade, que traz indagações no que se refere ao uso da mestiçagem e a permanência ou
não de tradições puras, a terceira questão levantada pelo autor é sobre a maneira como o
ocidente estuda as outras civilizações, partindo da ideia do “outro”.
A respeito da etnicidade, tem se buscado com o intuito de se ter uma melhor
compreensão sobre a questão das identidades se desligar de falsos arcaísmos,

“Se desprende de esto la necesidad para los antropólogos de estudiar las entidades
culturales en su contexto y de prestar una muy especial atención a lo que
podríamos llamar «el comercio de identidades», las gestiones flexibles e
«interdigitadas» de las identidades y los mestizajes de diversa naturaleza. En
resumen, la etnia no sale de sí misma. Y si para algunos es una evidencia, es
sobre todo en el sentido en que la evidencia salta a la vista.Existe, de hecho, una
enorme dificultad para desligarse del imperio de un pasado que sobrevive en el
presente incorporado en forma de estructuras objetivas y mentales
(Bourdieu,1982), al igual que la transposición al pasado de realidades actuales
contribuye a alimentar los anacronismos.” (BOCCARA, 2002, p. 51)

Sobre os estudos americanos relacionados à conquista, a ideia de fronteira foi levada


sem objeções, essa ideia se refere a divisão realizada para distinguir o continente americano
entre conquistados e conquistadores.
Para o autor, a melhor palavra para definir essa questão seria limite, visto que:

“... porque el límite es cronológicamente y por lógica lo primero, en el sentido


de que los elementos que habitaban a los dos lados del límite son concebidos
como heterogéneos y en la medida en que todo el trabajo de sometimiento
consiste, precisamente, en transformar este límite en frontera, es decir, para
introducir mecanismos de inclusión a través de «un trabajo sobre la liminalidad
dirigido a incorporar al Otro»” (Molinie, 1999, apud, Boccara).

Portanto é necessário pensar o limite e fronteira como uma área de transição, visto
que a divisão feita pelos colonizadores se baseavam em um lado de povoado pelos civilizados
e o outros pelos não-civilizados, dessa maneira, esses espaços se tornam simbólicos de
fronteira que vai de encontro com os limites entre civilizados e selvagens.

Como exemplo de uma nova configuração étnica nas fronteiras americanas é possível
usar o exemplo do povo Reche-Mapuche, que demonstraram ser um povo resistente, sendo
necessário uma outra modalidade de conquista, em que os jesuítas tinham a missão de
“civilizar” os “selvagens”, após a pacificação foram feitos acordos políticos e econômicos,
essa forma de conquista foi mantida até o final do período colonial. Para se ter um melhor
entendimento sobre os processos de etnicidade e etnogênese é necessário se atentar às
mudanças que ocorreram entre os séculos XVI e XVIII. No começo da conquista, uma das
principais características da organização indígena era a sua dispersão, ou seja, não existia
uma unidade central ou um chefe, no entanto, já no final do período colonial passou a ser
presente nas organizações indígenas a presença de chefes e caracterizadas pela sua
permanência.
Dessa forma, observa-se uma grande mudança nas organizações indígenas feita por
intervenções externas, que, quando combinadas caminham para o surgimento de uma nova
etnia, fazendo com que se crie novas identidades,“Son estas adaptaciones y resistencias
creadoras de transformaciones que trascienden a menudo las conciencias individuales, las que
llamo etnogénesis” (BOCCARA, 2002, p.71). Portanto, é importante se atentar aos contextos
sócio-históricos dessas sociedades, para que não seja repetido análises etnocêntricas e
ocidentais, uma vez que essas novas etnias nunca teriam surgido se não fosse a intervenção
dos colonizadores,dessa maneira, é possível evitar falsos questionamentos a respeito dessas
sociedades.

Referências Bibliográficas

Guillaume Boccara. “Colonización, resistencia y etnogénesis en las fronteras americanas”. In:


Guillaume Boccara (org.). Colonización, resistencia y mestizaje en las Américas (siglos
XVI-XX). Quito: Abya-Yala, 2002, pp. 47-82.

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