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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS

INSTITUTO DE FILOSOFIA, CIÊ NCIAS HUMANAS E SOCIAIS DH DEPARTAMENTO DE


HISTÓ RIA.

DISCIPLINA: História Amazônia III


DOCENTE: Anderson
DISCENTE: Kamila Mota de Araújo
DATA: 02 de Abril de 2023.
FICHAMENTO:

A Ocupação Dos “Espaços Vazios” No Governo Vargas: Do “Discurso Do Rio


Amazonas” À Saga Dos Soldados Da Borracha

Um marco na história da Amazônia foi a Revolução Industrial. Com fábricas operando,


a Inglaterra encontrava na floresta brasileira uma importante matéria-prima: a borracha,
também chamada na época de “ouro negro”. Este termo traduz a riqueza e valorização
que o líquido extraído da seringueira carregava. A seiva, se manejada corretamente,
serve de subsidio para fabricação de pneus, que por sua vez, fazem parte dos
automóveis. Um mundo com traços de revolução, chamas, vapores e carros, emergia e
se concretizava, assim como um novo cenário político, industrial e social.

Incentivados pelo governo, milhares de brasileiros e estrangeiros são persuadidos a


migrar para a região. Os imigrantes eram recrutados para trabalhar nos seringais, mas
não tinham direito às terras. Os seringais eram administrados por famílias tradicionais
locais, que lidavam diretamente com as exportadoras inglesas instaladas na região,
observa-se o ardiloso cotidiano dos trabalhadores que almejavam construir uma vida
digna, porém, foram peças de um jogo de poderes, nos quais, eles perdem não só os
seus anseios e sonhos, mas enfrentam também, dores e doenças reais, que jamais
respingaram na elite consumidora.

Na década de 1940, com a Segunda Guerra Mundial, os aliados perdem acesso ao


produto asiático, colocando o Brasil novamente na rota do comércio mundial. O então
presidente Getúlio Vargas defende a “Marcha para o Oeste”. esforço de seu governo
para atrair trabalhadores à floresta surte efeitos. Nas principais capitais do país,
especialmente no Nordeste, são instalados postos de recrutamento. Nesse contexto, era
estimulado expandir conquistas e surgem diversas lendas para incentivar essas
imigrações.
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Os governos anteriores a Getúlio desconheciam os espaços naturais e suas riquezas,


principalmente as regiões amazônicas. A intervenção do governo Vargas nos territórios
amazônicos derivava do regime centralizador que visava integrar economicamente o
Brasil estabelecendo uma unidade nacional, mas priorizando os interesses do Estado
acima dos interesses dos cidadãos, pois não se considerava o indivíduo isolado, mas sim
enquanto representante do coletivo. Contudo, deve-se compreender que esses
investimentos, medidas e campanhas, não são de caráter heroico. Vargas não deve ser
retratado de maneira caricata ou caridosa. Apesar da visibilidade concedida, é
importante atentar-se aos processos e métodos realizados nesse período para empregar
as medidas de povoamento.

Um dos motivos que levaram Getúlio Vargas ao poder, foi justamente a insatisfação
com as oligarquias da época. A Amazônia era a região mais apartada nesse sistema. O
Brasil vivia uma espécie de “política do café com leite” – termo esse, muito utilizado
didaticamente, para fazer alusão entre as duas potências nacionais da época tanto de São
Paulo como Minas Gerais – portanto, quem estivesse fora desta relação, ficava distante
da realidade das potencias. A região Norte estava distante das decisões políticas e pode-
se dizer que era uma região com pouca visibilidade. Com os ideais de acabar com as
oligarquias e finalizar essas relações estreitas, Getúlio aplica seu golpe visando
exterminar o poder concentrado em pequenos grupos, ou seja, um antagonista das
oligarquias. A política era muito centralizada no Sul e no Sudeste, foram cerca de 20
anos de uma política segregacionista, que favorecia as regiões de São Paulo e Minas
Gerais.

O governo Vargas, com fortes tendências para políticas econômicas autárquicas,


favoreceu o desenvolvimento da indústria da borracha, pois estava atento à necessidade
de satisfazer a maior demanda de matérias-primas que disso resultaria.

O boom da borracha e o auge do café contaram com grandes levas de trabalhadores


nordestinos. Mas também o governo fez uso desse caudal de mão de obra barata,
formidável exército de reserva para as grandes obras públicas. Do Nordeste vieram,
transportados como gado, os homens. A estes, estava destinado um turvo caminho, os
quais, os aguardavam desde a febra à mísera rotina do trabalho precarizado. Na floresta,
também aguardava um regime de trabalho muito semelhante à escravidão. O trabalho
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era pago em espécie – carne seca, farinha de mandioca, rapadura, aguardente – até que o
seringueiro saldasse suas dívidas (milagre que só raras vezes acontecia) havia um
acordo entre empresários para não dar trabalho a quem tivesse dívidas pendentes; os
guardas rurais, postados nas margens dos rios, disparavam contra os fugitivos. Dívidas
se somavam às dívidas. À dívida original, pelo transporte do trabalhador desde o
Nordeste, agregava-se a dívida pelos instrumentos de trabalho, facão, faca, baldes, e
como o trabalhador comia, e sobretudo bebia, pois no seringal nunca faltava a
aguardente, quanto mais antigo ele fosse, maior era a dívida que acumulara.
Analfabetos, os nordestinos eram vítimas indefesas dos passes de mágica da
contabilidade dos administradores.

Mesmo tendo promovido riqueza e desenvolvimento parcial, a ocupação e exploração


dos recursos desencadeou consequências negativas. A destruição do território florestal e
os problemas sociais oriundos das problemáticas políticas, caracterizam os ecos do
período da borracha e das politicas ocupacionais. Mesmo assim, o processo de ocupação
dos ditos “espaços vazios” demarca um momento de conflitos enfrentados pelo
território brasileiro que buscar se integrar, mesmo que isso custe vidas humanas ou seu
próprio bioma. O debate não se reduz a Vargas ou a borracha, mas sim, a medidas não
pensadas e ao descaso governamental que maneja, muitas vezes, uma sociedade voltada
aos seus interesses.
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