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Bom amigos, essa primeira parte do Guia Avançado de Recarga será para aqueles que

desejam extrair o máximo de precisão e desempenho do rifle. Vale lembrar que nem todas
as técnicas que serão mostradas ou discutidas terão uso, ou serão indicadas, para todas as
situações. Há casos em que tais técnicas inclusive são contra indicadas, como na caça de
animais que podem atacar, pois a precisão vêm em segundo lugar: a alimentação e extração
são prioridades nesses casos. Portanto, cabe a cada um decidir o uso e aplicação das
técnicas para usá-las, ou não, nas suas recargas.

Tampouco o que irei escrever é uma verdade absoluta! Há várias formas de se recarregar,
vários métodos e mesmo a ordem das operações pode ser diferente. O que está escrito aqui
funciona para mim, hoje. Amanhã, posso descobrir ou aprender uma nova técnica, uma
nova forma de se fazer uma operação, ou mesmo deixar de fazê-la, uma nova teoria ou
entendimento etc. Portanto, testem as técnicas aqui mencionadas e vejam se funcionam para
vocês, para seu equipamento e para o seu uso.

Novamente, se preocupem com a segurança na recarga para não haver acidentes. Sigam as
recomendações de segurança dos manuais de recarga! Aliás, nem comece a recarregar se
não possuir um bom manual de recarga de marcas consagradas (Speer, Lyman, Sierra etc).

Essa parte Avançada do Guia Prático de Recarga é mais voltada para competições de
precisão, como por exemplo nas competições de F-Class. Nesse tipo de competição no
Brasil, os alvos estão a 200 e 300 metros e o tamanho do 10 é de 1 MOA (minuto de ângulo
que dá aprox. 2,1 polegadas a 200metros e 3,2 polegadas a 300 metros).

Com certeza, muito do que está aqui pode ser usado para munições de caça, plinking etc.
Entretanto, como cada atividade possui sua prioridade, deve-se pesar bem se vale a pena
sacrificar facilidade de extração e alimentação (no caso de caça) por um ganho de 0,2
polegadas na precisão, por exemplo. Bom senso, prudência e antes de tudo, pensar e
examinar cada etapa para entender o que se busca em cada operação.

Infelizmente, não terei como fazer essa parte Avançada em uma única vez, pois ela é muito
grande. Farei-a em partes e as irei postando a medida que ficarem prontas. Será um trabalho
de amor ao tiro de rifle, pois descrever e explicar por escrito cada etapa da recarga, toma um
tempo enorme... Espero que o trabalho não seja em vão e sirva para atrair novos atiradores
de rifle no Brasil!

Peço desculpas antecipadas por eventual má qualidade das fotos ou mesmo sua falta. Se
alguém sentir que a explicação não ficou clara, só avisar que procurarei tirar a dúvida ou
mesmo encontrar uma foto ou desenho esquemático para explicar a operação.

Antes de entrarmos realmente na parte prática da Recarga, cabe um parênteses para


discutirmos alguns assuntos e conceitos importantes para o Tiro de Precisão com Rifle e sua
Recarga.
- Observações sobre Precisão e Recarga de Rifle de Precisão:

MOA: Em geral, essa é a medida usada para se averiguar a precisão dos rifles. Muito
embora o MOA (minuto de ângulo) seja um ângulo (que a 100 metros corresponde a aprox.
1,0 polegada, arredondando para fins didáticos), e portanto ele aumenta ou diminui
proporcionalmente em função da distâncias (logo, 1 MOA= 1,0 polegada a 100metros, 2
polegadas a 200metros e 3 polegadas a 300m), o fato é que é muito mais fácil um
rifle/munição/atirador fazer um "grupo" de 1 MOA a 100 metros do que a 300 metros! Isso
se dá basicamente por 3 fatores:

1- Com o alvo a 300 metros, a influência do vento é muito maior do que se o alvo estiver a
100 metros. Logo, uma brisa transversal de 5 km/h em um alvo a 300 metros é capaz de
jogar o projétil 168gr. Matchking de um .308win a 2.600fps a quase 3 polegadas para o
lado! Ou seja, se o tiro iria acertar no X, agora ele vai para o 9 ou mesmo um 8 no alvo. Se
o alvo estivesse a 100 metros, esse desvio laterial seria de meros 0,3 polegadas, ou seja,
ainda no 10 do alvo!

2- Outro fator é que é mais fácil para o atirador mirar e manter parado o rifle (mesmo
apoiado) em um alvo a 100 metros do que a 300 metros! Quanto menor a distância, melhor
enxergamos o alvo, mais conseguimos nos focar em manter o retículo (o rifle) parado e
centrado, e eventuais erros de posição, são atenuados. Quem já competiu com luneta a 300
metros sabe que enxergar bem o alvo as vezes pode ser um desafio, independente da luneta
usada. Um dos fatores prejudiciais é a miragem.

3- A curta distância, eventuais variações na velocidade do projétil são pouco sentidas no


alvo. Já a 300 metros (e especialmente acima de 600 metros), qualquer variação na
velocidade entre um disparo e outro, acarretará uma grande variação vertical nos impactos
no alvo! Embora a 300 metros, isso não seja tão acentuado, é possível perceber com
facilidade ao se observar os impactos em um alvo de prova de 300m de F-Class, quando a
carga está completamente desajustada (out of tune) ou com grande variação de velocidade
(grupo vertical no alvo) ou quando é o vento que está agindo.
Esquema mostrando que 1 MOA é igual a 1 polegada (aprox.) a 100 metros, 2 polegadas a
200 metros etc.

Afora esses aspectos, que são reais, físicos e que são obstáculos à precisão (que devem ser
entendidos pelo atirador para poder atirar bem), há ainda uma questão subjetiva que é como
cada um "entende" e mede a precisão do seu rifle/munição.

Eu entendo como uma medida ou referência válida para averiguar a precisão do


rifle/munição/atirador dois métodos principais:

- Média de Grupos, e;

- Pontuação em competição de F-Class.

Média de Grupos para mim significa pelo menos 3 grupos (sendo ideal ao menos 5 grupos)
de 5 disparos a 100 metros. Mede-se a dispersão máxima dos impactos em cada grupo e faz-
se a média. Eu uso a medida em polegadas. Logo, uma média de um rifle para ser usado em
competições, com precisão sofrível é de no mínimo de 0,75 polegadas (em geral essa é a
média dos rifles de fábrica do tipo varmint). Uma boa precisão é de aprox. 0,60 polegadas.
Abaixo de 0,50 (de média !!!!) é ótimo e em rifles custom de competição é a partir daí para
baixo que considero bom. Abaixo de 0,40 para mim é excelente. E abaixo de 0,30 é a glória,
uma grande satisfação.

Para rifles que não sejam de Benchrest short range (100 e 200m), esses são os meus
parâmetros. Rifles específicos de Benchrest shor range possuem um nível de precisão muito
maior (ao menos nos EUA, com pólvora VV e Hogdon, aqui no Brasil com CBC 102 não
sei...). Nessa classe de rifles de BR, se ele fizer um Agregado (média de 5 grupos de 5
disparos a 100 jardas/metros) de 0,35 é um rifle ruim... Para ser competitivo, em geral é
preciso um Agregado de 0,25 para baixo!

Acreditem-me: encontrar um rifle de fábrica que faça MÉDIA abaixo de 0,50 polegadas é
muito, muito raro! Em geral, no máximo eles ficam ao redor de 0,75 polegadas.

Em rifles de caça (big game), os parâmetros de precisão são completamente diferentes.


Primeiro porque eu só testo em grupos de 3 disparos. Com canos finos de caça, a cada
disparo eles esquentam bastante e em geral depois de 3 disparos acabam "derivando" o
ponto de impacto. E como em situações de caça é raro dar mais do que 3 disparos seguidos,
acredito que é suficiente. Portanto, a precisão necessária também é diferente do que em
competição. Para mim um rifle com precisão sofrível de caça faz média de 3 grupos de 3
disparos em 1,5 polegadas. Uma boa precisão seria média de 1,0 polegada. Média de 0,75
polegadas seria uma ótima precisão. E abaixo de 0,75 polegadas de MÉDIA, seria um rifle
de caça com excelente precisão.

Apesar do que se escuta e se lê por aí, independende do rifle (custom ou de fábrica),


conseguir manter MÉDIAS abaixo de 0,40 polegadas é bem difícil, pois há inúmeros
fatores agindo sobre o tiro. Também por causa da alta precisão envolvida, eles agem de
forma mais determinante para prejudicar seu grupo (afinal, um desvio laterial pelo vento de
0,3 polegadas em um grupo de 1,0 polegada é um aumento de 30%. Já em um grupo de 0,25
polegadas é um aumento de mais de 100%!).

Aliás um conselho para quem quiser diminuir com certeza o agrupamento do seu
rifle/munição, sem precisar gastar dinheiro, mudar equipamentos de recarga etc.: atirem
com bandeiras de vento!!! Como o vento é o fator externo que mais influencia a
precisão em competições (e em muitos testes de tiro), ao se colocar bandeiras de vento, o
atirador passa a ter o conhecimento da direção e intensidade do vento, podendo agir de
acordo no tiro (compensar, não atirar, atirar etc). Uma das formas mais baratas e eficientes é
com fitas sintéticas do tipo usadas em surveyor (a venda na Sinclair) ou do tipo de
isolamento de lugar (em geral usadas pela defesa civil, polícia etc). Em geral a cor é laranja
ou amarela. Prenda-a no suporte do alvo, ou em qualquer pedaço de pau ou ferro na altura
do alvo (se ele tiver a forma de um L invertido, melhor). Para 100 metros, procure colocar
no mínimo 2 bandeiras (uma a 50m e outra a 100m). Se colocar 3 ou 4, melhor ainda. A 200
metros, no mínimo 4 bandeiras.

Só por atirar usando bandeiras, eu afirmo com segurança que a média dos grupos irá
diminuir entre 10 e 20% (dependendo da distancia).

Quando comecei no tiro de rifle, confesso que achava ridículo o pessoal falar em precisão
de 1,5 ou 1,0 polegada e afirmarem que o primeiro grupo era ruim e que o de 1,0 polegada
era bem melhor. Para mim não fazia sentido qualquer diferença: um grupo maior em aprox.
1,5 cms (=0,5 polegadas a 100 metros) do que outro?!?! Afinal, são somente 1,5cms de
diferença a 100 metros!!!!

Entretanto, o que não entendia, pois atirávamos somente a 100 metros, é que essa pequena
diferença de 0,5 MOA é cumulativa a medida que a distância aumenta! Logo, 0,5 polegadas
a 100metros se transforma em 1 polegada a 200 metros (ainda continua 0,5 MOA, que é um
ângulo) e a 300 metros vira 1,5 polegadas a mais no grupo. Isso em tese... pois como vimos,
atirar a 100m é mais fácil do que a 300 metros. Na prática, um rifle que faça um grupo de
1,5 polegada a 100m, acaba virando um grupo de aprox. 7,0 ou 8,0 polegadas a 300 metros,
e não um grupo de 4,5 polegadas!!! E agora, a diferença era muito grande... de aprox.3 a 4
polegadas do que deveria ser.

Por isso, ao se atirar com um rifle muito preciso, não importa o seu uso, o atirador "ganha"
uma margem de erro maior (de outros fatores, como vento, má puxada de gatilho etc) ao
efetuar o disparo, especialmente em distancias maiores do que 100 metros. Na prática,
como fala o Glen Zediker (autor do excelente livro Handload for Competition), um rifle e
munição muito precisos tornam o alvo maior...

O segundo critério que considero útil para se medir a precisão é a pontuação em prova de F-
Class. Nessas competições se dá 30 disparos no alvo (10 a 200m e 20 a 300m) e os disparos
não tem que fazer exatamente um "gupo", mas sim acertar o máximo de vezes no "10" do
alvo (1,0 MOA de tamanho, ou aprox. 3 polegadas) e de preferência no X (0,5 MOA, aprox.
1,5 polegadas). Somente um rifle bem preciso consegue fazer pontuação acima de 295
pontos.

Testes de Grupos feitos com um rifle com cano fino, calibre .30BR, com projéteis de
chumbo de 180gr. Como seu uso é em provas que não exigem absoluta precisão, uma média
de 1,0 polegada (ou MOA) está satisfatório. Ainda mais que com o uso de projéteis de
chumbo e cargas reduzidas, o desgaste do cano e do atirador é muito menor.

Claro que em uma prova há outras fatores, como o vento, cansaço do atirador, miragem,
consistencia da carga com cano quente/sujo etc. Por isso digo que uma pontuação de 295
para cima indica um rifle/munição muito preciso (e em geral um bom atirador!)! Mas uma
pontuação de, digamos 285 pontos, não indica necessariamente, um rifle/munição ruim ou
impreciso, pois as condições da prova podem ser tais (vento, miragem etc) que mesmo com
um rifle preciso, o atirador lute para conseguir fazer mais de 285 pontos.

Mas um rifle/munição (e atirador) que constantemente está entre os primeiros colocados nas
competições, com certeza diz muito sobre sua (boa) precisão!

No fim, o quanto de precisão satisfará o Atirador ou Caçador, dependerá na prática do


tamanho do alvo e da distância. Cada atividade terá suas necessidades.

Os alvos de uma prova de F-Class: 300-18X. Um rifle muito preciso em um calibre muito
preciso (6mmBR)

Bom, voltando a nossa realidade da recarga e tiro de rifle no Brasil, temos que trabalhar
mesmo é com os componentes nacionais, sempre que for impossível conseguir material
importado.

No tocante à estojos, o ideal é que sejam Lapua, Norma ou Nosler. Pelo menos no calibre
.308win, não vejo muita diferença entre os estojos CBC, Winchester e Remington.
Especialmente depois da preparação deles, nunca vi um ser melhor ou pior do que o outro.
E também não acho que algum atirador esteja em desvantagem significativa em usar um
estojo CBC contra estojos Lapua, se ele fez uma criteriosa preparação do estojo, eliminando
o máximo de inconsistências. Eu mesmo, já ganhei inúmeras provas usando estojos CBC
preparados (como falam os americanos: full prep)

Quanto aos projéteis, não tem jeito: ou são importados ou então... ( ). Nem perca muito
tempo com projéteis CBC. Quando agrupam muito bem, fazem aprox. 1,5 polegadas de
média (!!!), com eventuais flyers que abrem o grupo para mias de 2,0 polegadas!. Há outras
marcas nacionais, como Bufalo, Karol e Marcondes, ao qual tenho pouca experiência, mas
para F-Class e provas de precisão, elas provavelmente não terão precisão suficiente. Já para
provas do tipo NRA Sporting Rifle, onde o nível de precisão é menor, elas podem ser uma
excelente opção!

Dentre os projéteis importados, os mais conhecidos (e melhores) são: Sierra Matchking,


Lapua Match/Scenar e Berger.

Há inúmeros outros fabricantes que também fazem projéteis Match, como Norma,
Remington, Speer, Winchester etc. Entretanto, tenho pouca experiência com esses projéteis
e, sinceramente, após todo o trabalho, dinheiro e aporrinhação de importar projéteis, não
desejo ser a "cobaia" que irá importá-los, uma vez que 99% dos competidores no mundo
usam projéteis Sierra, Lapua ou Berger. Logo, fico com essas três marcas e projéteis.

Espoletas nós não temos escolha: usamos a CBC e pronto... Até 2010 sempre tive grande
satisfação com as espoletas da CBC. Me pareciam consistente e nunca havia tido falhas.
Entretanto, no meio de 2010 adquiri um lote péssimo. Além de falhas (na média de 1 a 2 a
cada 100), percebe-se que elas não são consistentes. Uma pena...

Um único aviso: use sempre espoletas para RIFLES!!! Não as substitua por espoletas de
armas curtas, pode ser perigoso para o rifle e para você.

A pólvora CBC é razoável. O problema mesmo é a imensa variação a cada lote. Eu


tenho/tive lotes de CBC 102 na década de 90 que eram excelentes e parecidas com a H322
em queima/velocidade/pressão. Mais recentemente, os lotes são bem mais lentos (maior
quantidade de pólvora para a mesma velocidade). E nos últimos dois anos, o que se viu foi
um aumento do volume da pólvora! Ou seja, se antes 42gr. chegavam até o início do ombro
no estojo, agora, os mesmos 42gr. de pólvora chegam até o meio do ombro! E isso com a
mesma velocidade.

Portanto, os testes e cargas feitos com um lote de CBC 102 em geral não valem
integralmente para outros lotes de CBC 102. Como exemplo, eu tenho um resto de Lote
1419 maravilhoso (que saudades...) que quando comparado ao 2091, precisa de menos 1,0
grain de pólvora para a mesma velocidade no meu 6mmBR... e com mais precisão!

Enfim, quando adquirirem pólvora de rifle (CBC 102 e CBC 126 em 99% dos casos),
adquiram uma grande quantidade!!! Eu sempre tento comprar o máximo da cota permitida.
Mesmo que esse lote não seja bom para seu rifle/munição, você ainda poderá troca-lo com
outro atirador em que esse lote funcione para ele. Como a pólvora CBC, estando lacrada,
não perde seu valor, a troca entre atiradores em geral se dá sem qualquer problema e por
isso, seu "investimento" não é perdido.
Bom, afora essas observações, cabe aqui um aviso especial sobre segurança na recarga e no
tiro. Os principais conselhos e avisos são: sigam o que os manuais de recarga e de
funcionamento dos equipamentos de recarga indicam! E sigam todas as Leis, Portarias e
demais normas pertinentes a atividade de tiro, caça e recarga!

Se tiver qualquer dúvida entre o que escrevi e o que você leu no manual de recarga, siga o
que diz o manual! Posteriormente, tire sua dúvida com Atiradores mais experientes ou em
outras publicações idôneas.

Se você ainda não possui um bom manual de recarga, mas quer iniciar na recarga de rifles,
compre um manual de recarga antes!!! Eu gosto do Speer, Lyman e Sierra. Em todo
manual, há um passo a passo de recarga que é eficiente e seguro.

E se você possui qualquer dúvida sobre a legalidade ou não de determinada conduta sua,
consulte o SPFC, o Clube, a Federação, a Confederação ou Atiradores idôneos e mais
experientes para saber se o que você quer é permitido ou não pela legislação.

Manual de Recarga da Speer. Ter um ou alguns manuais é essencial para a segurança e uma
boa base técnica na recarga.

Lembrem-se: cada um de nós temos a responsabilidade e dever de representar em alto nível


todos os Atiradores, Caçadores e Colecionadores do Brasil. Se fizermos tudo direito, ótimo.
Se fizermos algo errado, todos irão sofrer as consequências. Logo, façam somente o que a
lei não vedar, ou seja, o que é lícito. Inclusive, recarregar munições para uso próprio em
treinamentos, competições e testes de tiro.
Um último conselho: use luvas e óculos de proteção. As luvas de latex, do tipo cirurgicas,
custam aprox. R$12,00 uma caixa com 100 luvas. E um óculos qualquer de tiro, custa uns
U$15,00 nos EUA (compre com outros produtos e acaba chegando aqui por uns U$20 ou
U$25). As luvas o protegerão de contaminação e sujeira e são muito práticas quando se tem
que parar de recarregar para fazer outras coisas (ex: jantar, cuidar de filho etc). Só tirar a
luva e pronto! Se tem mãos limpas (embora lavar as mãos seja aconselhável também!).

Quanto aos óculos, eu uso um barato (e bom) da Radians Revelation. Custa uns U$10,00
nos EUA e são muito leves e confortáveis. O risco na recarga, a meu ver, são dois:
detonação de espoletas e detritos ou peças voarem (especialmente molas).

Eu não uso óculos de grau, portanto para mim, usar óculos é um incômodo, tanto na recarga
quanto no tiro, mas tento me obrigar e fazer disso um hábito, pois só tenho um par de olhos
e até agora, eles me guiam muito bem em direção ao 10 do alvo...

A RECARGA DE RIFLE PARA PRECISÃO

1- Faça um Plano!

Eu sei que já disse isso na parte do Guia Básico. Mas nunca é demais lembrar: antes de
sequer pegar qualquer equipamento, pesquise o que irá fazer, defina o uso e emprego da
munição, em que rifle etc.

Escreva tudo em um papel e mantenha-o com você durante todas as etapas da recarga.
Nesse papel, escreva os passos que você irá fazer na recarga. E a cada passo feito, risque-o
para você saber que já fez aquela operação.

Como uma preparação de munição recarregada para precisão consome bastante tempo se
iniciado do zero (como iremos fazer aqui), é muito provável que ela seja feita em várias
etapas, demorando alguns dias. E um papel lembrando-o do que já foi feito (e as medidas
tiradas) irão servir como um ótimo guia!!!

Além de fazer um plano, anote!

Tenha guardado os dados sobre a munição e também o resultado dos testes. Eu uso uma
tabela de Excel. Eu não sei usar bem o Excel, então a tabela é mais uma forma de ter um
"caderno de notas" no meu computador do que propriamente usar as funções do Excel.
Nessa tabela eu anoto os seguintes dados:

- No cabeçalho: Rifle, Calibre, tamanho do cano, passo de raia e peso do rifle e do gatilho;

Nas colunas da tabela:

- Peso, Marca e Tipo do projétil;

- Peso, tipo de polvora e lote;

- OAL (Overall Lenght = comprimento total do cartucho), DTL (Distance To Land =


distancia até a raia, que não é a real, mas sim a medida da minha rosca Sinclair, conforme
mostrado no Guia Básico);

- Nº de tiros dado no teste (em geral X3 ou X5 disparos);

- Velocidade média (é uma das poucas vezes que uso uma função do Excel. A função da
média é: "=Média(num1,num2,num3,num4,num5)". Selecione a célula da velocidade, digite
isso na barra lá em cima e substitua cada "num1" pela velocidade obtida com o cronógrafo.
Ao terminar, o Excel mostrará na célula a média da velocidade).

- Tamanho do grupo: em polegadas e até a segunda casa decima. Ex: 0,43.

- Data;

- Luneta usada;

- Tipo de resize. Ex: Full Lenght Redd .336.

- Observação; Ex: muito vento. Flyer 4 shots= 0,35. etc

- Tipo de apoio: bipé Harris, Front Rest Sinclair etc.

- Outros dados: em geral na linha acima das linhas onde irão começar os testes de um
determinado projétil, eu coloco a verdadeira distância do projétil até a raia (medida com a
ferramenta de varetas da Sinclair), medido em OAL e DTL (agora pela rosca da Sinclair).

Infelizmente, não sei como colocar uma tabela do Excel aqui, mas quem souber, me
contacte que a gente tenta!

Nesse caso, o meu plano é preparar 50 estojos para o ano de 2011 para meu Remington
custom AICS .308win. O objetivo é ter 50 estojos 100% prontos para as provas de F-Class.
Ainda não decidi exatamente qual será a carga, mas ao final do processo isso já estará
decidido.
Apesar de possuir estojos Lapua novos, usarei o que provavelmente muitos também usarão:
estojos Lapuas disparados uma vez em outro rifle.

Como não sei que rifle é esse onde eles foram disparados, terei que fazer certas operações e
utilizar alguns equipamentos que provavelmente não são necessários para estojos zero.

Ao mesmo tempo, tentarei deixar 5 estojos sem qualquer preparação, para compararmos ao
final, nos testes, se há e o quanto há de benefício todo o trabalho de preparação. Até eu
estou curioso, pois nunca fiz isso antes.

Quanto à carga em si, deixarei para ver isso um pouco mais adiante, pois quero usar esses
estojos preparados agora, para uma competição e não sei quando ocorrerão as provas em
2011.

Portanto, agora que temos um plano, mãos a obra!

2- Selecionando os Estojos:

Muitos aqui podem se encontrar na mesma situação que eu, ou seja, ganhou de presente um
punhado de estojos Lapua disparados uma vez, em geral de armas de competição. É sem
dúvida, um bom presente, mas também apresenta alguns desafios, sendo o principal deles,
tentar selecionar se todos os estojos são do mesmo lote.

Se quem nos deu o presente não souber se todos os estojos são do mesmo lote (em geral,
quando disparados da mesma arma, ou ao menos no mesmo evento competitivo), teremos
que tentar identificar quem é quem...

Algumas vezes, isso é fácil, pois em determinados anos, a inscrição na base dos estojos é
diferente (a forma da letra, o tipo usado ou mesmo o que está inscrito).

Observando a espoleta, em particular a marca do persussor (firing pin), pode ser possível
identificar se o estojo foi disparado da mesma arma.

Na foto abaixo, pode-se ver claramente que o tipo da letra e impressão das inscrições são
diferentes entre esses dois estojos, sendo o tipo da letra do estojo à esquerda, mais fino do
que o traço das letras à direita.

Outro ponto é a localização da marca do firing pin, onde no estojo da esquerda ele está
descentralizado e no da direita ele está mais centralizado.
Ao analisar a foto acima, eu logo suspeitei que, além de lotes diferentes (por conta da
diferença no tipo/traço das inscrições), provavelmente eles foram disparados em rifles
distintos.

O fato do lote do estojo/munição serem distintos, não irá fazer muita diferença se o atirador
fizer uma preparação total dos estojos. Entretanto, para aquele que só irá fazer a recarga
básica, pode haver diferenças significativas, em especial no tocante à volume interno e
espessura da parede do pescoço.

E se todos forem do mesmo lote, o trabalho de preparação será mais fácil.

Para acabar de vez com a dúvida, examinei os estojos sob outro ângulo e nota-se uma
diferença clara na linha do annealing (um aquecimento que é feito perto do ombro dos
estojos na fábrica) entre eles e uma marca na junção do ombro com o pescoço, que indica
terem sido disparados de armas diferentes.
E para que não sobre dúvidas, procedi a uma medição em dois pontos nos estojos: perto da
base e do pescoço.

E os resultados falam por si só...

Estojo nº1
Estojo nº2

Portanto, está claro que temos dois lotes diferentes e disparados de armas diferentes. O que
temos que fazer (é opcional, mas eu faço...) é separar por lote, até termos aprox. 50 estojos
de um lote (na medida do possível).

Se seu objetivo é ter uma caixa com 50 estojos preparados, pegue ao menos 53 estojos, pois
no neck turning, em geral, acaba-se desperdiçando um ou dois estojos para regular o
aparelho. Esses estojos excedentes eu uso como fouling shots(disparos para sujar o cano) ou
mesmo para testes de cargas máximas. E se sobrar uns dois estojos (vai que conseguimos
regular o neck turning com um só estojo...) em condições identicas aos demais, eles podem
servir como estojos reservas.
55 estojos selecionados. Bandeja, paquimetro e dies. Tudo pronto para começarmos a
preparação dos estojos!

3- Limpeza dos Estojos:

Como os estojos não eram novos, uma boa limpeza inicial é fundamental. Até mesmo para
tornar mais claros os sinais para selecionarmos pelo lote. Portanto, essa limpeza pode ser
feita antes da separação por lotes.

A primeira parte da limpeza eu faço com um tamboreador com mídia seca. Meu
tamboreador é um VibraShine, comprado na Sinclair vários anos atrás. Ele é bem
silenciosos, dura uma eternidade e faz um ótimo serviço.
Como mídia eu compro a mídia preparada da Sinclair. Sei que muitos começarão a pensar
que é loucura comprar mídia (que pode ser casca de noz, milho etc) dos EUA e mandar vir
pelos correios. Porém eu acho que vale a pena sim. Ela custa uns U$15,00 por 8 libras
(aprox. 4 kgs). Eu uso aprox. 2kgs por vez (não vejo sentido em encher o tamboreador até a
boca). O frete (shipping) dos EUA para cá custa uns U$25,00. Logo, por U$50,00 eu tenho
uns 3 anos de mídia preparada a minha disposição! Acho cômodo e acima de tudo, seguro
usar essa mídia nos meus estojos.
Outro ponto é que algumas mídias e/ou produtos químicos, acabam por deixar resíduos no
estojo (em geral um pó), inclusive na parte interna. Em boa parte isso é feito de abrasivos e
quando você disparar a munição, esses abrasivos irão percorrer e se chocar com as paredes
do seu cano! Abrasivos e canos não são uma boa combinação se somados as palavras
"repetidas vezes", que é o que ocorre se você limpar seus estojos no tamboreador a cada
recarga.

Além disso, há resíduos de espoleta, que também são muito abrasivos, que se desprenderão
e ficarão misturadas com a mídia. E em última instância, ficarão depositadas nas paredes
internas do estojo e serão disparadas pelo seu cano.

Essa é uma das razões em que eu só tamboreio meus estojos a cada 5 a 8 recargas e
SEMPRE com as espoletas detonadas no lugar. Só vou despoletar após tamboreados, pois
não quero resíduos de espoleta misturados à mídia.

Hora da limpeza!!!
Reparem que não deixo o tamboreador muito cheio com mídia. Em geral só encho até a
metade e substituo a mídia a cada um ou dois anos.

Com uma boa mídia, em geral 1 a 2 horas tamboreando é o suficiente para deixar os estojos
limpos. Lembrem-se que limpo é igual a não estar sujo. Limpo não é sinônimo de polido.
Apesar de ser bem legal ter estojos brilhantes de novos, o uso continuado do tamboreador
até polir os estojos acaba por enfraquecê-los com o tempo (muito pouco é verdade, mas
como não se consegue estojo nas lojas no Brasil...).

Em geral, o corpo do estojo fica bem limpo, mas o pescoço por vezes ainda retém alguma
sujeita, especialmente perto da junção com o ombro. Nesse caso, recomendo passar uma
palha de aço muito fina (não existe no Brasil, tem que comprar nos EUA. Na Sinclair tem...)
ou o Crazy Cloth (também na Sinclair), conforme mostrado no Guia Básico.

Estando o estojo limpo externamente, iremos limpa-los também internamente com uma
escova. Atualmente estou usando uma nova escova de nylon da Sinclair especialmente feita
para limpeza interna do pescoço. Até agora, estou gostando muito!

Pode-se usar também uma escova de bronze, mas já aviso que ela irá durar muito pouco (em
geral após uns 150 estojos ela já estará com os fios tortos)...
Na foto a boca do estojo está para cima, mas eu sempre a coloco para baixo, para que
resíduos saiam do estojo.

Nessa fase, eu também inspeciono os estojos em busca de anormalidades. O que estou


buscando são amassados grandes (que formam vinco), fissuras ou qualquer coisa do gênero
que seja impossível corrigir.

Bocas de estojos amassados são relativamente comuns, especialmente se os estojos foram


disparos de armas semi automáticas. Dependendo do amassado, dá para corrigir
tranquilamente, mas se ele formar um vinco, a coisa é mais difícil. E nesse caso, eu descarto
esse estojo. Ao menos para uso em precisão. Em provas tipo NRA Sporting Rifle ele atende
bem, embora sua vida útil vá ser menor.

.
4- Resize Inicial do Estojo:

Essa é uma das partes mais "polêmicas" do meu método de recarga para Precisão. Para
mim, seja com um estojo zero ou com um estojo de um tiro (em outra arma), a completa
preparação do estojo exige que ele seja disparado ao menos uma vez na minha arma.

A lógica para isso é a seguinte: quando você pega um estojo, ele está resizeado pela fábrica
(no caso de zero) ou expandido (no caso de disparado). Em ambos os casos as dimensões
dele estão completamente diferentes das que você as quer (que é o mais próximo possível
das dimensões da suas câmara). Para isso você terá que fazer um full lenght resize (resize
total ou integral). O problema é que dependendo da câmara no qual o rifle foi disparado,
mesmo usando um die Full Lenght normal ou de bushing, ele pode não entrar na câmara do
seu rifle, ou seja, o ferrolho não irá fechar ou poderá fechar somente após grande força.
Diferenças nas câmaras podem ocasionar esse fenônomeno.

E mesmo em estojos zero, o resize da fábrica pode ser tão grande que tornou o estojo menor
do que o seu die full lenght o tornaria e portanto, o volume interno pode ser bem menor do
que ele será nas recargas seguintes, invalidando eventuais testes de precisão e precisão.

Por causa do exposto, a primeira recarga que faço com um estojo, seja ele novo ou usado, é
sempre com um Small Base Die (um die base pequena de resize total). Esse die resizea o
estojo para as dimensões mínimas da SAAMI. Enquanto que para armas semi e full auto, o
uso desses dies é fortemente recomendado (para auxiliar na alimentação e na extração), em
rifles de ferrolho eu só os uso para esse resize inicial.

Com isso eu sei que todos os estojos foram resizeados para a mesma dimensão (mínima da
SAAMI). Eu os terei uniformizado (na medida do possível até o momento) e isso me dará
uma margem de segurança nos testes das cargas, pois o estojo poderá expandir um pouco
mais na câmara, dando tempo de eventual carga muito quente, da pressão se diluir pelo
tempo da queima (não conto com isso, mas é um benefício adicional que eu agradeço).

Para regular o die Small Base Full Lenght, é bem simples. Levante o ram (eixo da prensa)
com o shell holder apropriado ao calibre .308win (se esse for o seu calibre). Solte o anel de
contenção do die e vá enroscando o die na prensa até que ele encoste no shell holder. Se
quiser retirar o conjunto do expander/despoletador do die, ajuda na visualização.

Uma vez encostado no die, abaixe um pouco o ram para afastar o shell holder e dê mais 1/8
à 1/4 de volta no die para baixo! Levante o ram e sentirá que ele encosta no die. Aumente a
pressão e verá que o shell holder cederá um pouco e a alavanca (o ram) irá até o final do
curso. O que queremos é exatamente isso, forçar o shell holder contra o die para que eles
fiquem com uma pressão um contra o outro, forçando o estojo o mais para dentro possível!

Claro que com isso estaremos resizeando o headspace de uma forma excessiva
(provavelmente), mas isso é necessário para termos a consistância e uniformidade para fazer o
neck turning. Essa é uma das razões da preparação do estojo exigir que ele seja disparado no
seu rifle uma vez para completar o processo de preparação para a recarga de precisão, pois
com o estojo disparado, pode-se medir o headspace e ajustar do die de full lenght resize (vide
Guia Básico).

Detalhe mostrando que o shell holder e o die estão firmemente encostados um contra o outro
quando a alavanca chega ao final do curso.

Agora, insira o conjunto de firing pin/despoletador no die e abaixe-o até que ele passe um
pouco da abertura do shell holder para poder despoletar o estojo.

Ainda com o die e o shell holder pressionados um contra o outro, enrosque o anel de
contenção do die até encostar na prensa e aperte o parafuso para que o die não se movimente
mais.

Cabe aqui um parênteses sobre os anéis de contenção.

Existem vários tipos, como pode-se ver na foto abaixo.


O anel do die da esquerda é RCBS. Nele há um parafuso transversal ao die que aperta uma
bolinha de chumbo contra a rosca do die. Eu não gosto desse sistema, pois com o tempo (e
apertos e desapertos) o chumbo acaba migrando para fora do die e em breve será o próprio
parafuso apertando a rosca do die, o que não é nada bom. Um ponto positivo é que o anel é
sextavado.

O anel original da Redding é semelhante ao RCBS com o parafuso contra a rosca, o que não
me agrada, e tampouco é sextavado, mas sim redondo.

O die da direita (Sinclair expander die) é um C, onde um parafuso liga a duas pontas abertas
do anel. É um bom sistema, pois não há aperto direto contra as roscas do die.

O die do meio possui um anel de contenção da Hornady (mesmo o die sendo da Redding), que
junto com o anel da Forster, são os melhores na minha opinião!

Além do parafuso ligar as duas pontas do anel (em forma de C), ele é chanfrado, o que facilita
muito na hora de apertar ou tirar o die da prensa. Há até mesmo uma chave própria (da
Hornady e da Sinclair) para auxiliar esse tirar e colocar.

Eu compro vários desses anéis Hornady (aprox. U$1,50 cada) e instalo em praticamente todos
os meus dies. Recomendo!

Agora é hora de lubrificar os estojos para o resize. Como já falei no Guia Básico, eu uso o
Imperial Sizing Wax e não há lubrificante melhor do que esse. Talvez, se morássemos nos
EUA, um lubrificante em Spray, como o vendido pela Hornady, seria mais prático e rápido para
essa operação de resize com o Small Base Die, mas como não temos esse tipo de produto
aqui...
Tudo pronto para começarmos o resize com o Small Base die.

A lubrificação é feita com os dedos. Passe um pouco na cera e espalhe com os dedos por todo
o estojo externamente (com exceção da base, ou seja, do culote onde há as inscrições),
inclusive ombro e pescoço. A quantidade é pouca, sendo praticamente invisível a olho nu, mas
o estojo deve ficar completamente lubrificado, ainda mais porque o resize no Small Base Die é
mais intenso do que em um die full lenght comum.

Agora, raspe o dedo pela borda do pescoço e verá que acumulará uma pequena quantidade de
cera na parede interna. Essa cera será útil para a lubrificar a parede interna do estojo na
passagem do expander do die.

O ideal é que borda interna fique ela toda com uma camada de cera para tornar a passagem
do expander uniforme.

Eu penei bastante tirar uma foto que mostrasse a quantidade de cera. O que consegui está
abaixo: o estojo da esquerda tem cera e o da direita não. Espero que dê para ver...
Estando todo o estojo lubrificado, internamente e externamente, insira-o no shell holder e
abaixe a alavanca (ram) para o estojo entrar no die. Com o Small Base Die, a força necessária
para o resize é maior do que em um die full lenght comum, por isso, recomendo um pouco mais
de Imperial Sizing Wax do que o normal, especialmente nos primeiros estojos que irão lubrificar
as paredes do die.

De qualquer forma, deve-se sentir que o estojo está "deslizando" pelo interior do die, mesmo
que exija um pouco mais de força em algum momento. Se sentir uma parada forte, como um
degrau ou um batente, pare! Algo está errado. Abaixe o ram e veja se está tudo ok. Verifique o
pino despoletador, se ele está reto ou torto (ele pode estar batendo no fundo do estojo, fora do
buraco da espoleta). Se estiver tudo ok, continue. Caso contrário, identifique o problema e
corrija-o.

Essa operação de full lenght resize com o Small Base die deve ser feita em todos os estojos.

Caso não se tenha o Small Base Die, pode-se usar o die Full Lenght normal, ajustado da
mesma forma. Corre-se o risco do die full lenght normal não conseguir fazer um resize
suficiente para "apagar" as dimensões da câmara do rifle em que o estojo foi disparado,
podendo ocasionar o não fechamento do ferrolho nesse estojo, mesmo após o full lenght
resize. Por isso recomendo a todos que tenham um die Small Base.

Atenção: se for fazer o neck turning, o die Full Lenght com bushing NÃO SERVE! Como esse
tipo de die deixa uma parte do pescoço sem resizear (perto do ombro), na hora do neck
turning, ele "come" muito do pescoço nessa parte, enfraquecendo o estojo e tornando o neck
turning inconsistente.

Para se ter uma idéia do tipo de amassado que pode ser corrigido, encontrei um estojo
amassado na boca. Como não havia vinco formado no pescoço, passei uma boa quantidade de
lubrificante na parte interna do pescoço, na borda..
E após passar pelo Small Base die, ficou assim, perfeito!

Após resizear (e despoletar ao mesmo tempo) com o Small Base die, é hora de limpar os
estojos.
Eu uso um pano que não solta fios para limpar a parte externa.

E para limpar a parte interna do pescoço eu uso cotonetes. Em geral dá um cotonete para cada
10 estojos (5 para cada lado do cotonete). Ele sairá sujo com certeza, especialmente se a
cabeça do cotonete chegar até a junção do pescoço com o ombro, onde se acumula mais
lubrificante.

Continua no próximo post...

Continuando...

Com isso, o 1º resize e a limpeza dos estojos está pronta.

Para vermos que o trabalho não foi perdido, podemos comparar as medidas tomadas antes
de resizear, com as após resizear, dos mesmos estojos...
Estojo nº1 (esquerda) antes tinha 0.4715
Estojo nº2 (da direita) antes tinha 0.4735
Estojo nº1 (da esquerda) tinha 0.3435
Estojo nº2 (da direita) tinha 0.348

Essa diferença pequena entre um pescoço e outro provavelmente é decorrente de variação


da espessura do pescoço, o que vai ser corrigido quando fizermos o neck turning.

Portanto, vimos que a operação de full lenght resize com o Small Base Die foi um sucesso.
Nesse ponto, podemos testar o estojo no rifle, para ver se o ferrolho fecha sem qualquer
resistencia do estojo (é o que deve ocorrer).

No próximo post, iremos trabalhar para uniformizar outras dimensões do estojos. Até lá...

5- Uniformização do Bolso da Espoleta e Limpeza:


Essa etapa é igual a descrita no Guia Básico. Uso uma ferramenta da Sinclair de
uniformização do bolso da espoleta, acoplada a uma aparafusadeira elétrica. Cada bit da
Sinclair é para uma categoria de espoletas. Eu uso a LR, Large Rifle. As outras são Small
Rifle, Large e Small Pistol e Small Rifle PPC/BR, estas últimas especialmente feitas para
esses calibres e usando estojos Lapua.

Pode-se optar por ir uniformizando aos poucos, a cada vez que se recarrega (pois é a mesma
ferramenta que uso para limpar) ou fazer tudo de uma só vez, se o estojo já foi disparado
(em qualquer arma). Eu não gosto de uniformizar bolso de espoleta em estojos novos.
Acredito que após o primeiro disparo, ele se expande um pouco. Portanto, só uniformizo se
o estojo já foi disparado. Como esse estojo é de um tiro, ele já pode ser uniformizado.

Para quem não tem essa ferramenta, eu acho ela muito boa, tanto para uniformizar, mas
especialmente, para limpar o bolso da espoleta! Compre (na Sinclair, é claro...) o adaptador
para a aparafusadeira. Após fazer na mão uns 20 estojos, vocês entenderão porque
recomendo o adaptador...

Muitos atiradores não fazem essa operação, por temer que isso pode acabar enfraquecendo
o estojo e até ocasionando falhas de ignição.

Até certo ponto é compreensível esse entendimento. De certa forma, qualquer material que
se retire do estojo o fará menos resistente. E se essa uniformização do bolso da espoleta (a
profundidade) for excessiva, poderá ocorrer misfires(negas de fogo), pois ficando a espoleta
mais fundo no bolso, alguns firing pins (percussores) podem não ter curso ou força para
atingir com eficiência a espoleta.

Entretanto, apesar de possuir alguma lógica, esses receios me parecem infundados pois na
prática não conheço qualquer falha de estojo/espoleta/rifle nesse sentido.
Primeiramente, a ferramenta da Sinclair não tem regulagem de profundidade, portanto, ela
só vai aprofundar o bolso da espoleta até um ponto e nunca além dele. Na minha
ferramenta, ela só vai até 0,1295 de profundidade e a profundidade média dos bolsos das
espoletas dos estojos Lapua que tenho é de 0,1285. Portanto, ela só vai retirar aprox. 0,001
de material, o que é muito pouco.

Como a ferramenta só vai retirar 0,001 no máximo, essa é a diferença que o firing pin terá
que percorrer a mais até bater na espoleta. Sinceramente, isso não significa nada para o
firing pin que percorre muito mais do que isso após passar da face do ferrolho. E tendo a
profundidade das espoletas a mesma medida, irá aumentar a consistência do impacto do
firing pin, gerando detonações mais consistentes da espoleta.

Para finalizar, eu nunca tive qualquer nega de fogo por causa de uniformização do bolso da
espoleta e tampouco qualquer problema com resistencia do estojo no bolso da espoleta.

Trabalho quase pronto: com exceção dos estojos à esquerda, todos os outros já tiverem seus
bolsos da espoleta uniformizados/limpos.
Alguns conselhos: na hora de utilizar essa ferramenta de uniformização do bolso da
espoleta, tenha a mão uma escovinha (escova de dentes serve) para limpar
o cutter (cortador) da ferramenta. Dê umas poucas voltas, retire a ferramenta e limpe (nas
primeiras voltas o que mais sai são residuos de espoleta). Insira novamente e dê mais
algumas voltas e sentirá que ela está raspando o fundo do bolso. Terminado um estojo,
passe novamente a escova para limpar das limalhas do estojo. Pronto, já pode partir para o
próximo estojo. Com prática, essa operação demora uns 30 segundos por estojo.

6- Uniformização do Comprimento do Estojo, é hora de trimar:

Essa operação até pode ser feita antes de uniformizar o bolso da espoleta, mas como é no
bolso da espoleta onde ficam os resíduos mais perigosos para o equipamento de recarga
(são resíduos muito abrasivos), prefiro me livrar deles o quanto antes.

Já de fábrica, especialmente em estojos que não sejam Lapua, Norma ou Nosler, sempre
haverá uma diferença de comprimento entre os estojos. Essa diferença pode ser muito
pequena, na faixa de 0,001 ou 0,002 polegadas. Mas pode ser também bem grande, de mais
de 0,008 polegadas.

Nesse caso é chegada a hora de uniformizar o comprimento total do estojo, ou seja, trimar.
Nos manuais, a medida recomendada (é o trim to lenght) para o .308win é 2.005 polegadas.
Nos estojos que possuo, nenhum tem 2.005 polegadas, todos são bem acima disso.
Encontrei de 2.011 até 2.019 polegadas. Portanto, temos uma variação de 0,007 polegadas.
O maior estojo do meu lote...
E o menor... ainda maiores do que o desejável.

O que se deve fazer é pegar o estojo de menor comprimento, no meu caso 2.011 polegadas e
usá-lo para referência. A idéia é trimar todos os estojos para uma medida de 2.005 ou
mesmo 2.004. Não tem problema ficar um pouco abaixo do recomendável, até porque com
os disparos subsquentes, ele tende a "encompridar" novamente.

Pegue um estojo com um comprimento maior do que o objetivo, no caso peguei um com
2.013, e coloque no trimer. Deixa a regulagem de forma a que a boca do estojo encoste o
mais leve possível no cutter (cortador) do trimer. Aperte o parafuso de regulagem e gire a
manivela do trimer, verificando se o cutter irá cortar algo do estojo. Se cortar, dê apenas
uma volta, retire o estojo e tire sua medida. Ela não poderá passar de 2.005 (por isso deixei
a medida de 2.004 como uma margem de segurança). Se ficou em 2.004, solte o parafuso de
regulagem e aumente a distancia do cutter até que ele não toque na boca do pescoço.
O Wilson Trimer em ação. Regulando com o parafuso micrométrico até obtermos 2.005
polegadas de comprimento total.

O que estamos tentando fazer é ajustar o cutter para que ele corte até o comprimento exato
de 2.005. Todo trimer tem uma marcação na regulagem. Cada traço em geral corresponde a
0.001 polegadas. Portanto, se o estojo ficou com 2.007 após as primeiras voltas, regule dois
traços a mais no cutter para perto do estojo e trave. Gire a manivela do trimer e veja se o
estojo ficou com 2.005 polegadas.
Apesar de parecer complicado, é um procedimento bem simples e com um pouco de prática,
em 3 minutos a regulagem é feita.

Ao se girar a manivela, dá para sentir o cutter retirando material da boca do estojo. Quando
o corte já foi feito até a medida de 2.005 polegadas (que foi a regulagem feita por mim), a
manivela parece ficar solta, "avisando" que já cortou tudo que devia.

Repita a operação em todos os estojos.

Normalmente, após essa operação, faríamos o chamfer and deburring (chanfro interno e
externo) na boca dos estojos para eliminar as quinas e/ou rebarbas que tenham ficado. Mas
como vamos fazer o neck turning, esse passo é dispensável, por hora, uma vez que a
ferramenta do neck turning retirará as rebarbas externas.

Ao mesmo tempo, uma borda bem grossa e definida (reta) é melhor para servir
como stop (batente) ao se fazer o neck turning.

Portanto, vamos pular essa operação para fazê-la mais tarde...


O que devemos fazer agora é limpar novamente o interior do pescoço dos estojos, pois eles
ficam cheio de limalhas/rebarbas de estojo provenientes do cutter. Uma ou duas voltas com
a escova de nylon e pronto.

Estojos perfeitamente trimados, porém ainda com limalhas no interior do pescoço. Hora de
limpá-los com uma escova.

7- Neck Turning... essa é a hora da verdade:

Antes de começarmos a operação, é preciso entende-la bem. O neck turning é um


equipamento que possui uma lâmina que "raspa" a parte externa do pescoço, visando: A)
Uniformizar sua espessura, e/ou; Permitir que o estojo entre em câmaras do tipo tight
neck (pescoço apertado), comum em rifles de competição, diminuindo a espessura da
parede do pescoço e, consequentemente, seu diâmetro total quando carregado.

Ao se fazer o neck turning, o principal benefício é uniformizar o grip (ou neck tension) do
pescoço do estojo no projétil. Se uma parte da parede do pescoço estiver mais grossa do que
o resto, háverá uma pressão maior nesse lado do projétil, podendo desviá-lo ainda no estojo
(prejudicando a concentricidade) e, poderá haver uma liberação do projétil de forma
desigual (a parede mais fina de um lado "soltaria" o projétil primeiro do que a parte da
parede mais grossa), desalinhando-o um pouco.

Entretanto, para rifles que não sejam de Benchrest (com sua exigência de precisão
altíssima), e nesse caso incluo os rifles de F-Class, do tipo Tactical/Sniper, Varmint, de
competições de 3 posições etc, o maior benefício do neck turning pode ser medido pela
melhora (ou seja, a diminuição), da variação da velocidade, entre os disparos,
proporcionando velocidades mais uniformes a cada disparo.

Portanto, mesmo em rifles de caça, a melhora na precisão geral pode ser dramática. Pela
minha experiência, em rifles de fábrica ou de caça, não é raro obter-se uma melhora de 25%
na precisão. Em rifles de competição, essa melhora é menor, mas ainda assim, como essa
operação é feita somente uma vez na vida útil do estojo, qualquer 5 ou 10% de melhora é
sempre bem vinda!

Um aviso de amigo é para não se desesperarem com a quantidade de números na terceira e


quarta casa decimais e alguns cálculos. Eles parecem ser muito mais complicados
escrevendo (e lendo) do que falando. Não fiquem intimidados (especialmente os
marinheiros de primeira viagem) e façam uma leitura calma e cuidadosa. Qualquer dúvida,
só postar que tentarei responder o mais breve possível, ok?

Eu tenho dois tipos de equipamentos de Neck Turning, ambos da Sinclair. O NT-3000 e o


NT-4000. Ambos cumprem muito bem sua função, mas o NT-4000 é muito mais fácil de
operar pois possibilita a regulagem do corte por clicks, ao invés da rosca sem fim do NT-
3000 (e a consequente perda de tempo e estojo, baseado na tentativa e erro).

Minha opção de uso atualmente é sempre pelo NT-4000, mas como o NT-3000 ainda é o
mais comum por aqui e sendo mais difícil de regulá-lo, usarei o NT-3000 para ilustrar
melhor a operação de neck turning.
Meu equipamento de neck turning: o NT-3000 com o handle (para segurar os estojos se
fosse fazer na mão, em vez da aparafusadeira). Nota-se ainda na foto as lâminas de
espessura (em polegadas) e os Skip Otto die shims, também com espessuras entre 0,004 e
0,020 polegadas. Eles serão úteis para a regulagem "grossa" do cortador (cutter) do neck
turning.

O primeiro passo na operação é passar cada estojo pelo Expander Die que deve ser
adquirido junto com o neck turning. Esse die possui um mandrel para expandir o pescoço
0,001 polegadas a mais do que o mandrel do aparelho de neck turning, permitindo que o
estojo possa ser inserido no neck turning. Caso contrário, o pescoço ficaria tão apertado que
não seria possível inserí-lo no neck turning, ou ele agarraria no mandrel.

Essa operação poderia ter sido feita imediatamente após o resize inicial do estojo,
aproveitando que o interior do pescoço já estava lubrificado. Para quem tem uma prensa do
tipo torre (como a minha Redding T7) ou mesmo progressiva, expandir o estojo para o neck
turning logo após o resize é uma boa economia de tempo!
O único senão é que alguns trimers (como o RCBS) se utilizam de mandrels (ou pilots) para
alinhar o estojo e se a boca do estojo estiver muito aberta (expandida), isso pode causar um
dealinhamento do estojo e o cutter poderá fazer um trimer desalinhado, inclinado. Nos
trimers da Wilson, como não há mandrels ou pilots, esse problema não existe.

O Expander Die, que deve ser comprado junto com o Neck Turning. O mandrel (expander)
é vendido separadamente e é específico para cada calibre (esse é para os calibres .30).

A instalação e regulagem desse die na prensa é a mais simples de todas: com o estojo já no
shell holder e com o ram na posição mais alta, só ir rosqueando o die até sentir uma leve
resistência indicado que o expander está em contato com a boca do estojo. Agora é só medir
o tamanho do pescoço no estojo (comprimento de aprox. 0,32 polegadas) e descer o die em
aprox. 0,50 polegadas (para termos certeza que o expander irá passar por todo o pescoço).
Lubrifique com um pouco de Imperial Sizing Wax o mandrel do Expander Die e,
novamente, a borda interna do pescoço dos estojos (igual quando do full lenght resize). Não
é preciso lubrificar externamente o estojo, pois somente o expander é que entrará em
contato com o estojo.
Estojo já lubrificado internamente no pescoço, pronto para ser inserido no Expander Die.

Como falei anteriormente, a função do Expander die é aumentar em 0,001 a "boca" do


estojo. As vezes, um expander do próprio die full lenght acaba sendo suficiente para
expander o pescoço a ponto dele entrar tranquilo no mandrel do neck turning. Se esse for o
seu caso, não precisa passar o estojo novamente pelo Expander Die. Embora não faça mal
algum e talvez ele (o Expander Die) eventualmente endireite um pescoço torno (coisa que o
expander do die as vezes pode ocasionar).
Antes do Expander Die.
Depois do Expander Die.

Em geral eu costumo fazer uma medição da espessura do pescoço, até mesmo para saber
quanto aproximadamente irei tirar com o Neck Turning. Após medir alguns estojos vi que a
espessura das paredes variam de 0,014 até 0,016 polegadas.

Como a câmara do meu rifle é padrão SAAMI (na verdade, um pouquinho menor do que o
máximo), com pescoço de 0,343 polegadas, não tem sentido em retirar muito da espessura,
mas tão somente raspar o suficiente para uniformizar no máximo possível. Digo possível,
pois com uma variação tão grande de 0,002 polegadas nas paredes, eu teria que deixar as
paredes com 0,014 polegadas, o que daria uns 0,336 carregado com o projétil (0,014 X 2
paredes + .308 do projétil = 0,336). Nesse caso eu teria que usar um bushing de 0,334
polegadas para dar um grip/neck tension de 0,002 e um espaço de aprox. 0,0035 polegadas
para cada lado, um pouco mais do que gostaria.

Prefiro deixar as paredes com aprox. 0,0145 ou mesmo 0,015 de espessura, pois assim, o
cartucho carregado ficará com aprox. 0,3375 o que dá um espaço de 0,0055, ou seja, 0,0027
para cada lado.
Os atiradores de Benchrest costumam deixar um espaço entre o pescoço e a câmara de
aprox. 0,0005 (!!!) somente. Atiradores de rifle de outras modalidades (F-Class, ISSF 300m,
NRA Highpower etc) por atirarem em ambientes abertos e sujeitos a ventos e poeira, ou
mesmo dependendo de alimentação e extração rápidas e garantidas, preferem tolerâncias
bem maiores, na faixa de 0,002 de cada lado.

Pela minha experiência com o calibre .308win, ele é bem tolerante com relação a essas
dimensões e não é preciso que seja algo do tipo tight neck ou mesmo match
chamber (câmara match) para eles atirarem com muita precisão.

Estojo com parede do pescoço com 0,015 polegadas, nesse ponto. Se girarmos o estojo,
teremos uma leitura de 0,0145 à 0,016 em outras partes da parede do pescoço.

Bom, deixando a matemática de lado, peguei um estojo com 0,015 de parede e vou usá-lo
como referência. Pegue algumas lâminas de espessura que aparece na foto (vende em lojas
de peças. Ainda pretendo comprar um kit da Starret...) que vende na Sinclair. Usarei a de
0,015 polegadas de espessura para fazer a regulagem grossa do neck turning.

Não vou aqui explicar detalhadamente o funcioamento do neck turning, pois é preciso ter o
equipamento e o manual de instruções em mãos para isso. Portanto, direi o que fazer e ao
atirador caberá, lendo o manual de instruções, aprender o como fazer.

Colocando a lâmina de 0,015 entre o cutter e o mandrel, vá apertando o cutter


(aproximando-o do mandrel) até que ele pare ao encostar na lâmina. Volte um "quase nada"
na regulagem somente até o ponto de conseguir retirar a lâmina sem que o cutter a corte.
O mandrel e o cutter do neck turning. Aqui, eles estão com aprox. 0,025 polegadas de
afastamento. Precisamos que eles fiquem com aprox. 0,015.

As regulagens do NT-3000 são MUITO sensíveis e feitas por parafusos allen. Insira a chave
Allen com a parte mais curta, para se ter melhor noção do quanto ela deve se mexer. A
regulagem que devemos fazer é tão pouca que muitas vezes basta sentir que a chave mal se
mexeu. Nem dá para explicar o quanto, mas para se ter uma idéia, se a chave se mover entre
12 e 1 hora (usando um relógio do tipo de parede como referência), provavelmente o cutter
andou uns 0,010 polegadas e se ele estava perto do corte ideal (0,015), você pode arruinar
um estojo!
Fazendo a regulagem grossa com a lâmina de 0,015 polegadas de espessura.

A mesma regulagem pode ser feita com os Skip Otto Die Shims (que comentei no Guia
Básico de Recarga). Abaixo: usando os Die Shims para faazer a regulagem, nesse caso
estou medindo dois shims juntos (um de 0,008 e outro de 0,006) para chegar até 0,014
polegadas, e depois voltar um pouco o cutter do neck turning (que não aparece na foto).
Na foto seguinte, estou usando os Die Shims acima (com 0,014 de espessura) para servir
como conferidor de que eles passarão entre o cutter e o mandrel (após o ajuste com a lâmina
para um espaço de 0,015 polegadas).

Como os Die Shims entraram e saíram tranquilamente, sei que há mais de 0,014 e menos de
0,015 polegadas entre o cutter e o mandrel. Meu objetivo é cortar os estojos para uma
medida aprox. de 0,0145 polegadas.
O passo seguinte é testa em um estojo para ver como está o corte. Passe um pouco de
Imperial Sizing Wax no mandrel do neck turning. Insira o estojo na ferramenta apropriada
para segurá-lo (manual ou o adptador para a aparafusadeira, que é como eu uso e
recomendo muito!!!).

Segure o neck turning com uma mão e com a outra vá inserindo o estojo no mandrel. Faça
esse movimento enquanto o estojo gira e avance aos poucos até que o cutter comece a pegar
no pescoço. Esse primeiro corte deve ser bem inconsistente no pescoço, raspando algumas
áreas e deixando outras intocadas. É normal e esperado que seja assim!

O meu objetivo é "raspar" aprox. 80 a 90% do pescoço, ou seja, quero ver ele "polido" pelo
cutter em 80 a 90% de sua área. Com isso, terei uma uniformidade quase perfeita.

A hora da verdade!!!
O Estojo inserido no neck turning. A base prateada é o adaptador da aparafusadeira, que
segura o estojo.

Na foto dá para ver claramente o cutter em ação "raspando" o pescoço do estojo.

Quando o cutter chegar perto da junção do pescoço com o ombro, ajuste a profundidade do
mandrel para que o cutter "raspe" um pouco do ombro, bem pouco. Isso evitará o doughnut
(calombo), que pode ser formado depois de vários disparos em virtude do deslocamento de
material do ombro para o pescoço (por isso que temos que trimar de vez em quando o
estojo, pois o estojo "estica").
Acima: Resultado da primeira passagem pelo neck turning. Pode-se notar que o cutter
raspou aprox. 50% da parede do estojo. Sua profundidade está boa, pegando um pouco do
ombro.

Preciso agora, ajustar um quase nada o cutter para que raspe um pouco mais. Essa é a
regulagem mais problemática, pois ela é feita através de uma chave allen girando-a, em vez
de clicks (como é com o NT-4000). Deve-se girá-la com o menor movimento que se
conseguir fazer. Comparando-se com um relógio, imaginando-se que o ponteiro seja a
chave allen, seria como movimentar o ponteiro em apenas um minuto!

Felizmente, minha tentativa foi um sucesso e consegui exatamente o ajuste pretendido!


Agora, o cutter está raspando aprox. 85% do pescoço.

Veja na foto seguinte o quanto o cutter deve avançar sobre o ombro:


O neck turning deve ser feito com calma, inserindo-se o estojo e retirando-o bem aos
poucos. Eu diria que demora aprox. uns 30 segundos para o cutter percorrer todo o pescoço
até o ombro, ficar lá raspando até não ter mais material para raspar, e voltar devagar até o
cutter sair do pescoço.

Após cada estojo, deve-se passar uma escova no cutter e no mandrel do neck turner para
limpar das limalhas do estojo. Aplica-se novamente um pouco de Imperial Sizing Wax, se
necessário, e passa-se ao estojo seguinte.

Neck turning é um processo lento, desde a regulagem até o seu final, com os estojos com os
pescoços uniformizados. Se a bateria da aparafusadeira elétrica durasse, eu diria que eu
demoraria aprox. 2 horas para fazer os 50 estojos.

Outro ponto importante é não "prender" o neck turning e a aparafusadeira. Eu seguro a


aparafusadeira com a mão direita, firme. E o neck turning eu seguro bem leve, com a mão
esquerda. Durante o neck turning, você irá sentir que o neck turning quer "sambar" na mão.
Deixe! Esse "jogo" é benéfico para o neck turning, pois permite que eventuais folgas do
adaptador na aparafusadeira não sejam transferidas para o corte. Por alguma outra estranha
razão, o neck turning meio solto na mão funciona melhor. Tanto assim que dificilmente um
neck turning feito no torno, com o estojo e o neck turner firmemente presos, proporciona
um resultado tão bom.

Uma mão segura firme a aparafusadeira e a outra segura "de leve" o neck turning. E a lata
de lixo no colo para coletar as limalhas.

Justamente por causa da dificuldade de se regular esse modelo de neck turning, muitos
atiradores americanos preferem o neck turning da K&M ou mesmo o Pumpkins, pois ambos
possuem ajustes por clicks (aprox. 0,00025 por click).

Entretanto, quando comprei meu primeiro Neck Turner, a K&M não tinha website e
tampouco aceitavam encomendas on line. Era preciso ligar e pedir um catálogo e depos
ligar novamente para encomendar. Pensei que o Neck Turner da Sinclair não poderia ser
ruim e por isso comprei. E realmente ele não é ruim, na verdade é muito bom! O que mata é
esse processo de regulagem de tentativa e erro. Se você só recarrega um calibre de rifle,
basta regulá-lo uma vez que as outras são muito mais fáceis, pois já se parte de uma pré-
regulagem feita. Porém, como eu recarrego vários calibres de rifle, era tedioso e cansativo
regular a cada vez que ia fazer o neck turning. Diante disso, comprei um segundo neck
turner NT-3000 um ano depois, que deixei regulado para o calibre 6mmBR.

Portanto, quando a Sinclair lançou o NT-4000, não resisti e o adquiri, pensando em vender
os outros Neck Turners, mas acabou que fiquei com três, um para cada calibre. Porém, sem
dúvida, a melhor opção hoje, é pagar um pouco mais caro e adquirir o NT-4000 em kit, já
com o expander die, os mandrels de tungstenio, as placas de espessura etc. Tem até um
estojo para guardar todo esse equipamento de forma organizada e profissional!
Detalhe do corte (raspagem) do pescoço do estojo pelo neck turning. O corte já está no meio
do pescoço, porém uma parte no início do pescoço ficou sem corte, devido a diferenças na
espessura da parede do pescoço (a parte sem corte se mostrou mais fina do que a parte do
pescoço onde é feito o corte. Por isso há a uniformização das paredes!).

Observação: em geral, eu acabo preferindo fazer o neck turning de um estojo já disparado


uma vez no meu rifle. Ou seja, faço a preparação do estojo como apresentei aqui. Então,
recarrego para uma prova (ou testes), disparo, limpo e faço o full lenght resize usando um
die normal Full Lenght (não é o die com bushing Full Lenght Match Type S, é o die
normal) e depois faço o neck turning.

A razão para isso é o corte do neck turning perto do ombro (logo abaixo no pescoço, na sua
junção com o ombro) parecer ficar mais uniforme com um estojo disparado no meu rifle.

O ponto negativo é que, dessa forma, eu atiro 2 vezes com o estojo (uma sem neck turning e
a segunda com die full lenght normal) sem usar minha técnica de recarga de competição
(Full Lenght resize o Neck Only resize usando dies com bushing). Em 50 estojos, isso quer
dizer 100 projéteis e aprox. 20% da vida útil do estojo.

Quando o estojo é para um rifle em que já conheço bem a carga a ser usada e sei que ela é
precisa, eu as vezes uso essa técnica de fazer o neck turning após disparar do meu rifle, pois
mesmo uma carga que não é exatamente igual na forma de recarregar, mas que é precisa no
meu rifle, irá me dar uma boa precisão. Portanto, uso esses disparos "preparatórios" em
competições locais, menos importantes.

Não sei se isso acarreta efetivamente uma diferença na qualidade da munição e/ou sua
performance no alvo, mas fica aqui o registro.

Alguns equipamentos ajudam muito na hora de se fazer o neck turning. Além de um bom
neck turner (NT-4000), um micrômetro de bola (para medição da espessura da parede do
pescoço), um jogo de placas de espessura (já vem com o NT-4000, mas também tem da
Starret: produto #52-6650 na Sinclair) e, claro, o acessório mais fundamental de todos, o
adaptador para a aparafusadeira com o shell holder da Leee correspondente (creia-me: você
vai querer comprar esse acessório!!!). Se você já tem ou prefere comprar o NT-3000, sugiro
adquirir junto o Sinclair Neck Turning Tool Adjustment Fixture com o dial de 0,001
polegadas. Eu não o tenho porque quando ia comprar, lançaram o NT-4000. Mas é provável
que eu ainda vá comprar pois com ele você tem um dial para mostrar exatamente a
regulagem do cutter.

Por fim, mais recentemente a Sinclair lançou o NT-1500 que é uma versão mais simples (e
bem mais barata) do NT-4000 que possui graduações no parafuso de regulagem de
profundidade do cutter, facilitando muito a vida! Com isso, o NT-3000 ficou totalmente
obsoleto para o futuro comprador.

8- Chanfro interno e externo:

Bem, com os 50 estojos com o neck turning feitos, agora é a hora de fazer o chanfro externo
e o interno.

Eu prefiro fazer o chanfro externo primeiro. A razão é que ao se olhar bem de perto a borda
de um estojo após o trimer, ela possui uma quina reta tanto interna quanto externa. As
vezes, até mesmo uma rebarba externa aparece. O objetivo é fazer abaular essas bordas para
ao final, ela ter a forma de um U invertido. Muita gente pensa que o objetivo é fazer um V
invertido, mas isso é completamente equivocado!

A questão em se fazer o chanfro extreno é retirar qualquer rebarba da parte externa do


pescoço e ao mesmo tempo "adoçar" a borda para que a mesma não raspe na câmara ao
entrar. E a razão do chanfro interno é retirar a quina que rasparia a jaqueta do projétil ao
assentá-lo com o die, prejudicando a precisão. Não queremos nada afiado como um V
invertido pronto para raspar ou cortar qualquer coisa, seja a câmara, o projétil ou nossos
dedos!

Para fazer essa operação em geral vemos as pessoas usarem somente uma ferramenta, um
case mouth deburring tool, que tem de todas as marcas (RCBS, LEE, Wilson, Forster,
Redding etc). De um lado se tem o chanfro externo e do outro o interno.

Bem, isso pode servir para o atirador e caçador casual, mas para nós, só usaremos essa
ferramenta para o chanfro externo.

Basta uma leve volta ou duas (no máximo) para retirar a borda afiada externa.

Qualquer deburring tool de marca conhecida (RCBS, Redding, Lee etc) serve para essa
operação de chanfro externo. Basta uma volta de leve para eleminar a quina da borda.

Agora é hora do chanfro interno e vamos usar outra ferramenta, que é feita para quem usa
projéteis do tipo VLD (Very Low Drag, ou de Muito Pouco Arrasto). Os projéteis VLD são
muito afilados (secantes, tecnicamente falando) em comparação com os projéteis normais
(que são tangentes). Na prática o que essa ferramenta de chanfro faz é um chanfro mais
agudo, ameno, para que o projétil entre mais suave no estojo.

Sinclair VLD chanfrer tool em ação. Uma ou duas voltas de leve e também é o suficiente
para tirar a quina da borda interna e deixar um ângulo bem suave para a entrada do projétil.

Para quem usa projéteis de chumbo, essa ferramenta de chanfro VLD é essencial!

Novamente, basta umas duas voltas com uma leve pressão para tirar a quina interna do
estojo.

Aqui está um estojo completamente preparado, com o chanfro interno e externo. É possível
ver que o topo da boca do estojo não foi tocado pelos chanfros, deixando esta com a forma
de um U invertido.

Após essa operação, limpe o interior do pescoço com uma escova (primeiro) para retirar as
limalhas da operação de chanfro e (em seguida) um cotonete para retirar a lubrificação
interna quando do neck turning.

9- Uniformização do Evento da Espoleta:

Como agora os estojos estão com os comprimentos idênticos, é possível fazer uma
cuidadosa uniformização do buraco (evento) da espoleta.

Em geral, nos estojos americanos (Win, Rem etc) o evento da espoleta é feito através de um
pino giratório que literalmente arromba o bolso da espoleta, fazendo o buraco por onde a
fagulha (ignição) da espoleta irá promover a ignição da pólvora. Com isso, é comum
encontrarmos rebargas no lado de dentro desse evento, como uma flor. Essas rebargas
podem prejudicar a ignição homogênea da pólvora de um estojo para o outro, pois elas
podem efetivamente diminuir o buraco da espoleta (rebargas internas fechando o evento),
direcionar a ignição para um lado do estojo (rebargas internas em um dos lados do evento),
dentre outras coisas.

Nos estojos europeus, notadamente nos Lapua e Norma, o buraco da espoleta é feito por um
pino e também por uma broca, o que diminui efetivamente a ocorrência de rebarbas
prejudiciais. No entanto, elas ainda permancem, especialmente na parte interna, que fica em
contato com a pólvora.

Outro problema é a inconsistência do diâmetro desse buraco, o que, obviamente, também


levam a inconsistências na ignição.

O problema de uniformizar 100% esse buraco é que na prática, teríamos que aumentá-lo!
Afinal, se o maior buraco for (por exemplo) 0,063 polegadas, só se pode uniformizar os
demais se aumentarmos para esse diametro de 0,063 polegadas... E nem sempre isso é uma
boa coisa.

Portanto, o objetivo aqui são dois: uniformizar na medida do possível (e não 100%) o
diâmetro do buraco (evento) da espoleta e retirar as rebarbas internas.
Há diversas ferramentas para isso. Desde as que somente uniformizam o buraco da espoleta
(Sinclair por exemplo) usando uma ferramenta que entra por baixo do estojo. Quanto
também outra ferramenta (mais comum) em que se insere uma pequena broca pela boca do
estojo, que possui um cortador para atuar na parte superior do buraco da espoleta (que fica
em contato com a polvora) de forma a fazer um chanfro e retirar eventuais rebargas.

É justamente essa segunda ferramenta a que possuo e prefiro (apesar da contrariedade de


alguns amigos meus americanos), por dois motivos: ela sendo ajustável, posso ajustar a
profundidade (e diametro) da broca do buraco da espoleta e também da aba.

Como não quero nem gosto de alterar muito o buraco da espoleta, meu objetivo é somente
fazer uma "limpeza" e não efetivamente uniformizar de forma integral (de forma
semelhante ao neck turning, onde não busco uniformizar 100%, mas sim algo como 80%).

Para isso, deve-se soltar o parafuso de regulagem (no caso da ferramenta da Sinclair) de
forma a regular que a broca fica ajustada para somente aparar as bordas do evento internas,
sem fazer um chanfro que avançe pela parede interna do estojo onde está o buraco.
Acreditem-me, isso é mais difícil de explicar do que fazer e entender quando se vê um corte
lateral do estojo... Ah, encontrei uma foto na internet que mostra exatamente o que estou
dizendo:

Á esquerda, estojo original. Note na seta, o pequeno triangulo representando a rebarba (bur
left from drilling or punching operation). No estojo da direita, o buraco da espoleta foi
retificado/uniformizado (repare como agora ele tem um chanfro interno). Na minha forma
de ver, esse chanfro está muito exagerado e pode enfraquecer o estojo nessa área crítica. O
que pretendo é fazer um chanfro mínimo, só para retirar a rebarga.
Não há uma forma perfeita para se regular essa ferramenta. É preciso sensibilidade.

Ferramenta da Sinclair para uniformização do buraco da espoleta.

Primeiramente, deve-se soltar o parafuso que prende o "cone" da ferramenta (que serve
como batente para a regulagem da profundidade) Insere-se a ferramenta por dentro do
estojo até o fundo. Uma vez lá chegando, deve-se inserir com cuidado a broca no buraco da
espoleta. No começo é um pouco mais difícil, mas com o passar dos estojos e tempo, acha-
se o buraco facilmente, "tateando no escuro" por assim dizer (esse parágrafo está quase com
duplo sentido... mas esse não é o objetivo!!!).

Feito isso, gira-se a ferramenta para sentir se há alguma rebarba. Acredite-me, com uma
leve pressão na ferramenta contra o estojo, se há alguma rebarba, isso fica evidente pois a
ferramenta não gira "redondo", mas sim aos pulos pois está cortando as rebarbas. Use um
estojo CBC para testes. Há muitas rebarbas para pegar o feeling da coisa...

Uma vez que a ferramenta está girando redonda, a rebarba foi eliminada. Olhando-se pelo
fundo do estojo é possível ver a ponta da broca no buraco da espoleta, praticamente sem
sair, só no mesmo nível.

Regulada a ferramenta é hora de inserí-la no estojo, entrar com a broca no buraco e girá-la,
de leve, sem muita pressão.

Trave o cone da ferramenta, para travar a regulagem e pegue outro estojo. Deve-se sentir ele
aparar levemente as rebarbas. Se não tiver rebarbas, a ferramenta vai girar redonda e quase
sem resistencia, pois estará encostando na borda interna, lisa do buraco da espoleta. Se
estiver tudo ok, deve-se sentir que se está somente aparando as rebarbas internas, sem
chanfrar o buraco (ou fazendo um chanfro mínimo). Agora faça a operação nos estojos
restantes.

Uma recomendação é para não aplicar muita força na ferramenta, pois o batente é a boca do
estojo já 100% pronta para ser carregada e a última coisa que se quer agora é deformar a
boca do estojo.

- Considerações finais da Preparação do Estojo:


Pessoal, essa é a primeira parte desse Guia Avançado. Com isso, terminamos a preparação
completa do estojo. Dá muito trabalho, com certeza, mas isso é feito somente uma vez na
vida do estojo (com exceção do trimer, que pode ser feito mais vezes).

As etapas seguintes serão para definir a carga, espoletar, colocar a pólvora e assentar o
projétil. Com isso teremos 50 cartuchos com estojo preparados, mas não a carga!

Como disse no início, para mim o estojo somente estará pronto após ser disparado no meu
rifle, pois somente assim eu conseguirei ajustar o Full Lenght die para o headspace correto e
eficiente no meu rifle.

Do jeito que o estojo está, o headspace está muito acima do ideal, ainda mais porque
usamos o Small Base Die, que faz um resize mais intenso no estojo.

Essa é a grande desvantagem do meu método, ter que disparar uma vez o estojo no meu
rifle. Mas essa é a única forma que eu conheço de se conseguir ajustar corretamente o
headspace na hora do full lenght resize.

Entretanto, se pensarmos bem, isso não é uma grande desvantagem. Se o rifle é


desconhecido (acabou de comprar, por exemplo), esses primeiros disparos servirão para
"sentir" o rifle, regular a luneta, fazer o break in do cano e, especialmente, testar algumas
cargas para ver velocidade e pressão (máxima, inclusive). Logo, não é tempo e tampouco
disparos perdidos...

Por outro lado, se o rifle já é conhecido, como é o meu caso, já se sabe quais são as boas
cargas. Portanto, não há nada que impeça ou contra-indique que se carregue esses estojos
com uma carga já consagrada no seu rifle! Claro que o headspace não será tão justo e
preciso quanto em um estojo já disparado e o neck tension (a tensão do pescoço no projétil,
o grip) tampouco será igual (a não ser que se faça agora um neck size only, usando um die
neck size). Portanto, não espere desses estojos, ainda, a mesma precisão. Mas tampouco o
resultado será um desastre.

Para esses estojos, penso em carregá-los com um projétil e carga já consagrados no meu
rifle como bem precisos. Não os mais precisos, mas consistentemente precisos. E usarei-os
em uma prova de F-Class!

Ao mesmo tempo, irei separar uns 5 cartuchos desse lote preparado e compará-los com
outros 5 cartuchos, do mesmo lote, mas sem preparação alguma, mas com o mesmo full
lenght resize do Small Base Die. Assim, terei uma amostra de eventual diferença na
precisão entre os cartuchos totalmente preparados e os sem preparação alguma.

Claro que, estatisticamente, isso não terá validade alguma, pois será somente uma amostra
(um grupo) por variável. Mas para mim, será suficiente para saciar minha curiosidade.

Diante do exposto e do tempo que preparar um trabalho assim exigiu de mim, é provável
que o teste final só se complete em algumas semanas por causa de dois fatores: não há
competição de F-Class até final de fevereiro e minha GTE vence em janeiro e não sei
quanto tempo demorará para tirar outra (em geral, entre 15 ou 30 dias).

Os procedimentos seguintes serão montagem da munição, dispará-las (para fazer o


fireforming dos estojos) e aí sim recarregá-las com os ajustes otimizados para o rifle em
particular.

Enquanto eu não faço a segunda parte desse Guia Avançado, com a montagem final da
munição, qualquer dúvida, comentário, sugestão ou crítica, serão bem vindas e, se me for
possível (tanto em tempo quanto em conhecimento) as responderei o mais breve possível.

Deixo aqui uma simples lista dos passos que demos na recarga, até agora:

1- Faça um Plano!

2- Selecionando os Estojos;

3- Limpeza dos Estojos;

4- Resize Inicial do Estojo;

5- Uniformização do Bolso da Espoleta e Limpeza;

6- Uniformização do Comprimento do Estojo, é hora de trimar;

7- Neck Turning... essa é a hora da verdade;

8- Chanfro interno e externo;

9- Uniformização do Evento da Espoleta;

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