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OK, pessoal, retomando o tópico e acrescentando mais algumas etapas...

Bom, agora que já fizemos a preparação do estojo (veja observação/atualização no ponto


nº7 sobre neck turning), é a hora de começarmos a carregá-lo.

Mas antes, gostaria de salientar uma operação a qual para ser bem feita é necessário
equipamento apropriado, bastante conhecimento e principalmente, atenção para que dela
não resulte acidentes. É o annealing (recozimento).

Annealing é uma operação na qual se aquece o ombro e pescoço do estojo em uma alta
temperatura (aprox. 370ºC, ou 700ºF) para que o mesmo retorne às propriedades elásticas
"originais". Apesar do que se fala, o objetivo não é aumentar a vida útil dos estojos, mas
sim dois:

A) Dar consistência ao neck tension (grip do pescoço no projétil) para melhorar a precisão.

B ) Em calibres wildcats (transformados, ex: expandir um estojo .243win para 7mm, ao se


"fazer" estojos para o 7-08rem), como o "trabalho" do pescoço é muito grande (ao abrir de
6mm para 7mm) ele pode ficar quebradiço (perdeu parte da elasticidade) e portanto rachar
com um ou dois disparos. O annealing serve par retornar as propriedades elásticas do estojo
para que ele não rache.

Eu não faço annealing (ainda, mas um dia...) e não sou químico ou engenheiro para entrar
em detalhes das mudanças moleculares que ocorrem com o estojo a cada vez que ele é
trabalhado (disparado, resize etc), portanto, não esperem que eu explique de forma 100%
exata e técnica, mas sim de uma forma que eu entendo como e o porquê o annealing é feito.

Algumas marcas de estojo já vêm com annealing feito de fábrica, como é o caso dos estojos
Lapua e... CBC (!!!). A foto de dois estojos na parte I, quando falei de seleção e separação
de estojos, mostra claramente a marca do annealing.

Entretanto, a cada vez que se dispara e resizea o estojo, ou seja, se trabalha o metal com
movimento (aperta, puxa, dobra etc) ele vai perdendo aos poucos sua propriedade elástica e
vai se tornando quebradiço. Mais ou menos como ocorre com um clips: se dobrá-lo várias
vezes para um lado e para o outro, ele dobra, mas depois de algumas vezes, o metal perde a
propriedade elástica e o clips se parte, quebra. Com o estojo ocorre algo bem similar.
M€quina de annealing fazendo o recozimento do ombro/pesco•o de estojos.

Para a precis‚o, isso quer dizer que apƒs algumas recargas, a propriedade el€stica do
pesco•o (€rea mais trabalhada no tiro e na recarga) „ menor do que no in…cio, com o estojo
"zero". Portanto, o neck tension (grip) do pesoco•o „ diferente de quando se come•ou a
recarregar o estojo e, muito importante para a precis‚o, o neck tension de um estojo pode
ser diferente do neck tension de outro estojo, causando varia•‚o na velocidade, combust‚o
etc... resultando em piora na precis‚o.

Os atiradores de Benchrest de Long Range (longa dist†ncia, 800 a 1.000 metros) em sua
maioria fazem o annealing dos estojos, pois a consist‡ncia na velocidade (Extreme Spread –
SD – Varia•‚o de Velocidade entre M€ximo e M…nimo) possui influ‡ncia expressiva na
precis‚o a essas dist†ncias. Muitos atiradores de Highpower Rifle Long Range (Palma, F-
Class etc) tamb„m fazem o annealing. Novamente, a busca nesses casos „ pela consist‡ncia
na velocidade.

Para o pessoal de Medium Range (300-600 metros), alguns fazem annealing, outros n‚o.
V€rios campe‰es j€ disseram que fazem annealing e v€rios campe‰es j€ disseram que n‚o
fazem annealing.

J€ o pessoal de Short Range (100-300 metros) em quase sua totalidade, n‚o fazem
annealing.

Bem, e nƒs?

A princ…pio eu n‚o vejo necessidade. O annealing „ uma opera•‚o bem complicada e at„
certo ponto perigosa. Š preciso que a temperatura do estojo alcance uma "janela" bem
espec…fica. Se a temperatura ficar acima ou abaixo, pode ocorrer a inutiliza•‚o do estojo e
acidentes s„rios.
Eu j€ fui mais radical em rela•‚o ao annealing, a ponto de ter afirmado que o annealing
(para nƒs, aqui no Brasil) era um problema em busca de uma solu•‚o... Atualmente, apƒs
identificar e presenciar alguns problemas decorrentes de varia•‰es no neck tension do
pesco•o, come•o a pensar que sim, ele tem alguma utilidade para nƒs, embora o custo e a
periculosidade dessa opera•‚o a torne n‚o recomend€vel.
Entretanto, com o advento da modalidade de F-Class no Brasil e a realização de algumas
competições de rifle com distâncias maiores do que 300 metros, a tendência é que aos
poucos, essa operação se torne mais comum e/ou indicada para certos casos.

Hoje, eu aindo a considero uma operação complicada, perigosa e, sem os equipamentos


adequados (diga não à Gambiarra Tabajara quando o assunto é annealing...), com grandes
chances de inserir inconsistências no desempenho do conjunto arma/munição.

Outra observação diz respeito a pesar os estojos.


Eu não peso!
Primeiro porque o peso em si não diz muita coisa, só que em um estojo há mais material do
que no outro. Mas não diz aonde...
Segundo porque eu só acho que há alguma lógica se for para pesar estojos o mais idênticos
possível, ou seja, após uma preparação e uniformização cuidadosa, pois assim saberemos
onde NÃO está o eventual excesso ou falta de material: pescoço, buraco da espoleta, evento
da espoleta etc.

Logo, o local mais provável é perto da base do estojo, onde a parede do estojo é mais
grossa. Sendo assim, em tese, um estojo mais pesado possuirá menor volume interno do que
um estojo mais leve e uma segregação por peso poderá ajudar em um resultado mais
uniforme da velocidade.
Mas após pesar 100 estojos e ver que a diferença entre eles fica na faixa de no máximo
2,5grains eu, sinceramente, não vi motivo para segregar.
Acho que há outros razões que influenciam mais a velocidade do que uma ínfima diferença
no volume interno.

CARREGANDO OS ESTOJOS –

Agora chegou a hora de realmente recarregarmos!

10- Pensando e Decidindo a Carga!

Primeiramente precisamos verificar o que queremos fazer: testar um projétil? Verificar as


velocidades de várias cargas de pólvora? Verificar a precisão em uma carga? Carregar para
uma competição?

Na foto abaixo está o que eu "pretendia" ( ) fazer: alguns testes com dois projéteis .308
de 155grains: Berger Full Bore e Sierra Matchking.
Entretanto, no meio do caminho, acabei mudando de id„ia na forma de testar e alterei um
pouco o esquema de testes: em vez de v€rios testes de 5 disparos, resolvi diminu…-los e fazer
tamb„m dois testes a 200m com 2 grupos de 10 disparos.
A raz‚o para isso „ que al„m da precis‚o m€xima a 100m (menor influ‡ncia do vento) eu
queria ver como esses proj„teis e cargas se comportam em uma s„rie de F-Class a 200m,
visando futuro uso em competi•‚o.

Outra modifica•‚o „ que como queria carregar para uma competi•‚o (2‹Dan ) com
proj„teis 155gr. Berger VLD, usei esses proj„teis em vez dos proj„teis Sierra 155gr.
Matchking (#2155).

Mas nada disso alterou na pr€tica o processo de recarga.

Uma vez estabelecido o que se pretende fazer com a muni•‚o recarregada, chega a hora de
escrever exatamente o que se ir€ fazer!
No meu caso, apesar de no papel estar escrito outra coisa, acabei fazendo o seguinte:

- 10 X Berger 155.5gr. Full Bore, 43,5gr. CBC 102, DTL/OAL=3.045/2.842: teste 200m

- 10 X Berger 155gr. VLD Target, 43,5gr. CBC 102. DTL/OAL=3.110/2.840: teste


200m

- 5 X Berger 155.5gr. Full Bore, 43,0gr. CBC 102, DTL/OAL 3.045/2.842: teste 100m

- 5 X Berger 155.5gr. Full Bore, 43,5gr. CBC 102, DTL/OAL 3.045/2.842: teste 100m

- 5 X Berger 155gr. VLD Target, 43,5gr. CBC 102, DTL/OAL=3.110/2.840: teste 100m

O objetivo aqui „ verificar se essas cargas, prƒximas do m€ximo em press‚o e velocidade,


ir‚o se sair bem. Como a prova em quest‚o seria em dist†ncias variadas (e algumas at„
desconhecidas) at„ uns 600metros, eu queria uma trajetƒria tensa e com proj„teis que
fossem o menos poss…vel influenciados pelo vento. Da… minha escolha nesses dois proj„teis,
com alto Coeficiente Bal…stico (Ballistic Coeficient – BC).
Até fiquei em dúvida em usar uns projéteis 175gr. que são hiper precisos, mas comparando
as tabelas de trajetória, eu iria sacrificar um pouco essa parte (trajetória mais tensa implica
em permitir ao atirador maior margem de erro nas estimativas de distâncias...) e sendo
minha primeira prova desse tipo, queria o máximo de vantagens que o equipamento me
permitisse.
Como se percebe acima, o ideal é que o equipamento seja o máximo possível adequado à
atividade pretendida! Seja essa atividade competições, caça e também no uso tático real por
forças de segurança e militares.

No tipo de prova que iria competir, para mim os quesitos mais importantes eram trajetória
tensa, precisão e alto BC (=bom design para "driblar" o vento). Daí a escolha nos projéteis
155gr. Match.

(continua...)

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.

11- Conhecendo o DTL e sua relação com o OAL

Na ficha acima onde escrevi o que iria carregar, há a mencão ao DTL e ao OAL.

DTL é a distância do projétil até as raias (em que encosta) e o OAL é o comprimento total
do cartucho carregado.

Vamos começar pelo DTL (Distance to Land).

A distância do projétil até o início das raias com o cartucho carregado é importante por 3
motivos: precisão, pressão e alimentação/extração.

A distancia do projétil até as raias possui uma boa influência na precisão. Em determinados
calibres, a precisão máxima só é obtida com o projétil "dentro" das raias, em geral entre
0,005 à 0,020 (nesse ponto é chamado de "hard jam"). Os calibres de Benchrest short range
em geral são assim, como o 6PPC, 22PPC, 30WolfPup, 30BR etc.
Para o .308win, ocorre o inverso: a precisão máxima ocorre com os projéteis bem fora das
raias (jump).

A pressão também é bastante alterada em virtudo do projétil estar "jam" nas raias ou
"Jump". Quando o projétil entra nas raias, a pressão no momento do disparo aumenta
significativamente, o que pode ocasionar excesso de pressão com consequências
imprevisíveis de danos ao equipamento ou mesmo danos ao atirador. Portanto, ao se testar
qualquer cartucho com "jam" nas raias (encostando), deve-se diminuir a carga de pólvora de
forma significativa!

E por último, há a questão da alimentação e extração do cartucho. Um cartucho carregado


com forte jam (projétil dentro das raias) torna o fechamento do ferrolho mais duro. Mas o
maior problema está mesmo na extração, pois se for preciso extrair o cartucho sem ter
disparado, é muito provável que o projétil fique preso dentro do cano e o estojo saia da ação
jogando pólvora em tudo quanto é lugar! Eu sei disso pois já me ocorreu duas vezes, sendo
uma em uma prova de NRA Sporting Rifle onde uma espoleta CBC falhou no tiro rápido e
mês esqueci que esses cartuchos estavam com forte jam... na hora de extrair o cartucho
defeituoso, voou pólvora para tudo quanto é lado e o projétil ficou preso no cano!!! Além da
sujeira e de ter finalizado minha participação na prova (pois tive que retirar com cuidado o
projétil preso no cano e limpar a ação), custou um provável recorde brasileiro na
modalidade pois até o momento só havia dado dois tiros no 9, todos os outros 26 foram no
10...

Portanto, eu não recomendo carregar com projéteis entrando nas raias (jam) em 99,9% dos
casos.
Agora que sabemos um pouco sobre o DTL, devemos estabelecer sua medida, que será
única para cada tipo de projétil para aquele rifle. Um bom método para medir o DTL é um
equipamento da Sinclair chamado de Sinclair Bullet Seating Depth Tool, que consiste em
uma vareta com alguns acessórios. Além de barato, esse equipamento permite medir o DTL
de todo tipo de calibre centerfire. Recomendo!

Sinclair Bullet Seating Depth Tool, um equipamento barato e fácil de usar para medir o
DTL do seu rifle com seus projéteis. Recomendo muito que todo muito adquira o seu!

O OAL é o Overall Lenght, ou seja, o comprimento total do cartucho carregado. Nos


manuais, essa é a medida que se encontra para indicar o quanto para dentro ou para fora do
estojo o projétil deve ser assentado.

Embora essa medida funcione razoavelmente bem para a maioria das situações, para rifles
de competição ou uma recarga mais avançada, há um problema em medir o comprimento
total do cartucho carregado: os projéteis não são uniformes, uns são mais compridos do que
os outros, mesmo sendo do mesmo tipo, marca e mesma caixa!

Repare nas fotos abaixo a medida do comprimento total desses projéteis Sierra Matchking
155gr. (#2155):
Como se vê, mesmo em projéteis Match de alta qualidade há variação no comprimento
total, especialmente por causa da ponta, seja ela open tip ou soft point.

Repare que quando o projétil é assentado pelo Seater Die, ele "empurra" o projétil pela
ogiva, ou seja, não é pela ponta e portanto, os projéteis são assentados sempre na mesma
medida (pela ogiva), apesar do comprimento total acabar sendo diferente se medirmos pela
ponta do projétil.

Como comparação, usando um Sinclair Hex Bullet Comparator, ou simplesmente a


ROSCA, pode-se ver como se medindo os projéteis pela ogiva (que é como o seater die
funciona) obtem-se uma medida mais precisa e uniforme, com os mesmos projéteis...
Então, podemos pensar que o OAL é inútil, já que sua medida é inexata e inconsistênte,
certo?
Não... pois além dele nos dar uma idéia muito próxima da medida dos cartuchos nos
manuais de recarga, ele também serve como parâmetro para saber se o cartucho carregado
irá entrar no carregador do rifle!

No caso do calibre .308win, a maioria dos carregadores possui um comprimento interno


máximo de 2.800 polegadas, ou seja, esse é o maior comprimento possível do cartucho para
entrar nesses carregadores.
Por sorte, em geral o calibre .308win possui maior precisão justamente ao redor dessa
medida... 2.800 polegadas.
Alguns carregadores, como os do AICS, possuem um comprimento interno máximo de
2.860, o que permite usar cartuchos com os projéteis mais "para fora", observando-se
sempre a distancia do projétil até a raia, o DTL!

Logo, o ideal é usar o DTL para saber até onde o projétil pode ficar para "fora" do estojo,
ou seja, qual o comprimento máximo até o ponto onde ele encosta nas raias e o OAL para
saber até onde poderemos chegar com o cartucho para ele entrar no carregador.
.

Após essas considerações, voltemos ao Sinclair Bullet Seating Depth Tool para medirmos
no meu rifle em questão, qual o DTL em que o meu projétil irá enconstar nas raias do meu
cano.

Não vou entrar em detalhes no funcionamento desse equipamento, mas em linhas gerais é
bem simples: primeiro se mede o comprimento total (pode ser pela ponta ou usando A
ROSCA para medir pela ogiva) do projétil, depois se insere o projétil no cano e com a
vareta montada no lugar do ferrolho, se ajusta um batente na própria vareta. Retira-se o
projétil e insere-se um estojo já disparado e espoletado na câmara, coloca-se novamente a
vareta e se ajusta um segundo batente. Retira-se a vareta e mede-se a distância entre esses
batentes e soma-se ao comprimento do projétil: pronto! Se obtem o DTL REAL, ou seja, a
Distância Em Que Esse Projétil Encosta na Raia do Seu Rifle. No caso em tela, o DTL
REAL foi de OAL=2.957 ou 3.203 medido pela ROSCA.

Primeira etapa, insere-se o projétil pela câmara até ele encostar nas raias do cano.
Segunda etapa, insere-se uma das varetas e ajusta-se um batente.
Retira-se o projétil e insere-se um estojo já disparado. Coloca-se o segundo batente e o
ajusta da mesma forma.

Mede-se o espaço entre os batantes e soma-se ao comprimento do projétil (medido pela


ponta ou pela ROSCA, tanto faz).

Aqui cabe um parênteses... embora saibamos que o DTL REAL corresponde à um


comprimento total do cartucho carregado de 2,957 polegadas, já vimos que os projéteis
possuem variação no comprimento em virtude das suas pontas. Portanto, a melhor maneira
de se medir é pela ogiva, usando a ROSCA da Sinclair. Essa medida usando a ROSCA da
Sinclair eu chamo também de DTL, mas É FATO que esssa medida não é a mesma do
DTL REAL.
Na verdade, eu não deveria fazer isso, pois cada câmara é diferente da outra e apesar da
ROSCA da Sinclair ser feita com um reamer de câmar de rifles, com certeza ela é diferente
do reamer usado no meu rifle, como também será em todos os outros rifles.

O que importa para mim é eu saber usando MINHA MEDIDA qual é o DTL REAL, ou
seja, eu sei que quando eu carregar um cartucho .308win usando projéteis Sierra Matchking
155gr. (#2155) o comprimento máximo até o projétil encostar nas raias será de 3.203
polegadas usando a ROSCA da Sinclair (o que eu chamo de DTL) ou 2.957 polegadas se eu
medir com um paquímetro o comprimento total do cartucho, ou seja, o OAL (sabendo que
pode haver variações de até 0,010 polegadas em virtude da diferença das pontas em cada
projétil).

Portanto, me desculpem ( ) essa minha confusão com as nomenclaturas, olhando minha


ficha do que eu farei de recarga, percebam que está anotado "DTL/OAL=3.045/2.842", ou
seja, usando minha ROSCA o comprimento total do cartucho é de 3.045, ou 2.843 se medir
da base do estojo até a ponta do projétil.

Infelizmente, tentar explicar isso tudo escrevendo é muito mais complicado do que explicar
ao vivo, em palavras e mostrando as etapas, onde em 5 minutos está tudo aprendido e
entendido.

Essa etapa basta fazer uma vez para cada TIPO E MARCA de projétil, ou seja, após essa
medida para o projétil Sierra Matchking 155gr. (#2155), eu anoto e pronto. Só daqui uns
1.000 ou 2.000 disparos é que eu irei medir novamente pois nesse ponto é provável que
tenha havido algum desgaste das raias no seu início e o DTL REAL seja um pouco maior.

Mas para todos os efeitos, isso só é preciso fazer uma única vez para um tipo e marca de
projétil.

12- Espoletando

O espoletamento do estojo, estando ele preparado, não implica em maiores segredos, como
já explicado no Guia Básico de Recarga.

O objetivo é assentar a espoleta de modo que a mesma fique com uma "profundidade"
aproximada entre 0,002 e 0,004 do fundo do estojo. É aí que se paga aquela uniformização
do bolso da espoleta, pois se todos os estojos estiverem com o bolso na mesma
profundidade, fica mais fácil assentar a espoleta de forma uniforme.

Praticamente toda prensa de recarga possui um sistema de espoletamento. Eu tenho


experiência com o sistema da RCBS Rock Chuker e da Redding T7.

O sistema espoletador básico da RCBS Rock Chuker é excelente! Carreguei (e ainda o faço)
durante anos usando o espoletador da prensa e além de fácil, permite grande precisão com
um pouco de prática.
Já o espoletador da Redding T7 eu não gosto, pois ao contrário da Rock Chuker, ele insere a
espoleta com a alavanca sendo levada para cima, em vez de para baixo como é com a Rock
Chuker. O sistema da Redding T7 não é tão preciso ou prático, embora funcione também.
Em qualquer caso, é possível fazer um upgrade nos sistemas das prensa de forma a torná-los
mais rápido, com acessórios da própria marca.

Outra opção é usar um espoletador manual. Muitos atiradores preferem esse outro sistema,
em particular o Lee Auto Loader, que é realmente prático, barato e rapidíssimo.
As grandes marcas de recarga possuem cada uma um espoletador manual e todos são
razoáveis.

Após vários anos usando o sistema que já vem na prensa, eu adquiri o espoletador manual
da Sinclair e não me arrependo!
Ele é caro, feito de aço inox e muito, muito preciso!!!
Embora não tão rápido quanto os da Lee e RCBS, ele é rápido o suficiente e com a precisão
e robustez, o assentamento da espoleta é feito de uma forma impecável! Quem o uso pela
primeira vez fica impressionado com a suavidade em que a espoleta é assentada no estojo.

O espoletador Sinclair. As espoletas já estão na bandeja da RCBS, evitando que elas rolem
pela bancada.
Espoleta no espoletador, agora é só colocar o estojo no shell holder do espoletador.
Estojo no lugar, aperta-se a alavanca (pode-se regular para ser um aperto até o batente, que
eu prefiro, ou pode-se deixar regulado para a sensibilidade de cada um) e pronto, estojo
perfeitamente espoletado.

Uma dica para quem não usa espoletador automático, ou seja, um a um: após apertar a
espoleta no estojo, gire o estojo meia volta e aperte novamente. Com isso, assegura-se que a
espoleta ficou 100% uniforme no fundo do bolso da espoleta do estojo.
Não sei se ajuda efetivamente, mas me dá tranquilidade, logo vai da cabeça de cada um...
O importante é que a espoleta esteja assentada na profundidade recomendada e de maneira
uniforme.

13- Colocando a Pólvora... na medida certa!

A princípio, essa fase é uma das mais simples: basta medir a quantidade/peso de pólvora e
colocar dentro do estojo.
Mas é aí onde mora o perigo... pois saber exatamente a quantidade/peso de pólvora para
determinado calibre, projétil e DTL é que exige algum conhecimento e bom senso.
Então, vamos começar do início...

Manual de Recarga. Se você ainda não tem um, trate de comprá-lo imediatamente, antes
sequer de pensar em adquirir o equipamento de recarga! Na verdade, compre uns dois ou
três!!!
Os melhores, na minha opinião, são Speer, Lyman e Sierra. Embora outros também sejam
bons, como os da Hornady, Nosler, Barnes etc.

Os manuais de recarga em geral são divididos em 3 seções básicas: Como Recarregar a


Munição, Tabela de Recarga por Calibre e Assuntos Diversos.
Portanto, TODO manual de recarga já possui um passo a passo de como recarregar
cartuchos de Rifle e de Armas Curtas. Só por essa parte, já valeria a pena comprar os
manuais!
Claro que alguns se atém ao básico da recarga. Mas mesmo assim, é ótimo para quem está
começando, pois será uma recarga segura, boa e consistente. Pode até não ganhar provas de
F-Class, mas sem dúvida poderá ser usada com boa margem de sucesso em quase todas as
atividades do tiro.
Alguns manuais ainda possuem uma parte com técnicas avançadas! Sei que o meu manual
Speer é assim, já o Lyman se concentra também em projéteis de chumbo e por aí vai.

A parte das tabelas de recarga são divididas por calibre. A cada calibre em geral há umas 2
a 6 páginas com tabelas de quantidade de pólvora para cada tipo e peso de projétil para
aquele calibre! Em geral há outras informações, como velocidade, pressão, OAL
(comprimento total do cartucho montado) etc.
È aí, nessas tabelas que iremos ESTIMAR o quanto de pólvora CBC iremos colocar nos
nossos estojos, pois como só temos pólvora CBC e elas não fazem parte dos manuais de
recarga no resto do mundo, teremos que aprender a fazer uma estimativa baseando-se em
pólvoras estrangeiras como comparação.

O que é ESSENCIAL de todo modo é baixar no site da CBC a tabela (pequena e


incompleta) de recarga que ela disponibiliza para alguns calibres comuns por aqui no Brasil.
Ela serve como boa referência para os calibres mais comuns, como o .223re, .308win, 30-06
Sprfg, 300 WinMag etc.
O ruim dessa tabela é que ela só dá uma única carga (peso) para cada calibre, que em geral
é o máximo, ou ao menos, o que a própria CBC carrega nos cartuchos. Enfim, é uma ótima
referência para termos um ponto de partida.

Outro grande problema da CBC é que suas pólvoras possuem muita variação de lote para
lote. Em outras palavras: se você tem um pote de CBC 102 lote 1363 e adquiriu um pote
recente da mesma CBC 102 mas do lote 2250, tenha CERTEZA que as pólvoras possuem
características levemente DIFERENTES. No caso em tela, o lote 2250, mais novo, possui
maior volume e menor velocidade: 43,5gr. desse lote de CBC 102 ocupa mais espaço no
estojo .308win e produz um pouco menos de velocidade!!!
Coisas da CBC...

No caso do .308win em geral eu me baseio na pólvora IMR 3031 nos Manuais de Recarga
estrangeiros. A correlação em geral é perto o suficiente para eu começar a recarga de forma
segura.
Ao mesmo tempo, observo o que diz o manual da CBC.
Nosso objetivo aqui é produzir um tiro com projéteis Match e trajetória tensa, logo,
precisamos de velocidade alta e boa precisão! Isso quer dizer cargas perto do máximo e
ótima precisão.
O meu manual da Sierra e um pouco antigo e portanto, não possui projéteis 155gr. na
tabela. Mas possui projéteis 150gr. e 165gr. e ambos com pólvora IMR3031:

- 150gr. IMR 3031, carga máxima de 43,8gr. a 2.800fps.


- 165gr. IMR 3031, carga máxima de 41,2gr. a 2.600fps.

Entretanto, eu sei que atualmente, a CBC 102 está mais rápida do que a IMR3031 (no
sentido de produzir maior velocidade). E como já carreguei os projéteis 155gr. eu sei qual o
limite máximo dele. Mas para quem não conhece, recomendo, nesse caso como exemplo,
começar com uns 40gr. de CBC 102 e ir subindo aos poucos, de 0,5gr. em 0,5gr. e ir
observando os sinais de excesso de pressão (espoleta achatada, cratering, dificuldade de
abrir o ferrolho, marca do ejetor na base, bolso da espoleta expandido etc).

Portanto, decidi que irei carregar com 43,0 e 43,5grs de CBC 102, lote 2091, pois sei que
conseguirei boas velocidades (entre 2.800 e 2.900fps) e sem excesso de pressão.

Agora vem a pergunta de 1 milhão de dólares: o que é melhor, usar o polvorímetro ou a


balança?
Eu já usei os dois! E tive sucesso com ambos também!!
É fato que em Benchrest, no mundo todo a grande maioria dos atiradores usa polvorímetro,
ou seja, carregam por VOLUME. E Benchrest é o esporte de tiro que é a verdadeira fórmula
1 da precisão absoluta!
Logo, se eles usam polvorímetro, isso deve ser o melhor, certo?
Não...
Polvorímetro ou balança? Ou ambos?
Acima, polvorímetro Harrel sendo enchido com pólvora CBC 102

Os calibres e pólvoras usados em Benchrest são bem diferentes das nossas pólvoras: os
nossos grãos de pólvora são cilíndricos e os americanos em geral esfericos ou lenticulares, o
que favorece muito o uso de polvorímetro, por medir melhor o volume.
Outro ponto é que somente os atiradores de Benchrest Short Range, 100 à 300 jardas, usam
polvorímetro. Os atiradores de Benchrest de Medium Range (600jardas) e Long Range
(1.000 jardas) utilizam... a balança!!
Já fiz e usei cargas em provas de F-Class com o polvorímetro e obtive resultados
espetaculares (inclusive o recorde de 300-18X). E o mesmo já ocorreu quando utilizei
balança.

Hoje, eu acho que carregar pela balança, ou seja, por peso, tem uma discreta melhora na
precisão e consistência da velocidade da carga nos calibres até .308win. Acima disso,
acredito que eventual diferença seja muito pequena (já que um "erro" de 0,2grs sobre uma
quantidade total de pólvora de 55grs. é mais significativo do que em um estojo onde só
entram 28grs de pólvora) e o uso do polvorímetro e da balança se igualem na precisão e
consistência de velocidade.

Entretanto, não posso deixar de destacar que não estou falando de polvorímetros do tipo
RCBS Uniflow e mesmo o Redding 3BR, que não possuem precisão suficiente para tiro de
precisão. Mas sim de polvorímetros tops, como os Harrels, Bruno, KDF etc, que custam ao
redor de U$300,00 e são máquinas precisas e excepcionalmente bem construídas.
Logo, o mais sensato, seguro e preciso, em 90% dos casos é usar realmente as balanças e
pesar cada carga de pólvora!

Ou então, usar o polvorímetro para "jogar" na panela da balança uma carga bem próxima
dos 43,0grs. E usar o powder trickler para chegar até os 43,5gr. por exemplo. Isso agiliza
bastante o processo de recarga, tomando menos tempo na bancada
!

Zerando a balança antes de pesar as cargas!

A primeira providência a se fazer é zerar a balança, ou seja, certificar-se que ela vazia,
mantém a seta medidora no ZERO. Para isso, deve-se colocar a balança em uma superfície
plana e reta, aprumada, sem desníveis. E não mudar mais a balança de lugar durante todo o
processo de recarga!
Ajusta-se o polvorímetro para "jogar" uma carga bem próxima da pretendida, por exemplo
43,2gr. e com o powder trickler, acrescenta-se os 0,3gr. restantes para uma carga final de
43,5gr.
Polvorímetro com aprox. 43,3grs. de pólvora...
...e chega-se aos 43,5gr. com o powder tricker.

Alguns atiradores usam balanças eletrônicas. Eu não as uso, porque até hoje não encontrei
uma que fosse consistente na minha casa!
Segundo os entendidos, eu precisaria isolar a fiação elétrica, não usar lâmpadas frias, deixar
a balança ligada uma hora antes de usar, afastar todo equipamento eletrônico dela etc. Ou
seja, um trabalhão imenso para me econimizar talvez uns 5 segundos na medição da carga
de pólvora... para mim não vale a pena esse trabalhão todo!!! Eu teria que praticamente
fazer uma obra na minha casa só para ela funcionar!!!
Mas reconheço que algumas parecem funcionar muito bem para alguns atiradores. Em
especial os sistemas em que a balança é acoplada a um polvorímetro e powder trickler,
como o RCBS Charge Master.
Até agora, como ainda não fui convencido (embora reconheça que o futuro está nesses
sistemas eletrônicos de pesagem e dosagem de pólvora), continua usando meu polvorímetro
e minha balança...
Usando o funil para encher os estojos coma pólvora medida pela balança (43,5gr.)

O funil e uma boa bandeja são itens simples, mas essenciais para a recarga! As bandejas da
RCBS e Hornady (que são as que conheço) são muito rasas e as vezes, os estojos tombam,
derramando pólvora e fazendo uma sujeira incrível pela bancada de trabalho.
Prefira as bandejas da Sinclair! Além de serem muito bem construídas, elas são divididas
por famílias de calibres e os estojos entram em cada furo de forma bem justa, impedindo
que eles tombem. Eu uso as heavy duty que são ainda mais fundas, como se pode ver na
foto acima.
O funil, eu uso o comum da RCBS, mas há um funil melhor, que ligeralmente fica engatado
no pescoço do estojo e é feito de alumínio, da marca Satern (é vendido na Sinclair) e são
também específicos para cada calibre. Todos funcionam bem.

Agora é só repetir esse mesmo procedimento, tomando cuidado com duas coisas: não fazer
carga dupla e não derramar a pólvora por engano.

Em rifles, é difícil fazer uma carga dupla sem percebermos, pois a primeira coisa que ocorre
é que vai transbordar pólvora pelo estojo (que só comporta aprox. 50grs de pólvora). Além
da sujeira e bagunça, que nos força a para a recarga e limpar a bancada, não há outras
consequências... com uma exceção!
Essa exceção é quando a pólvora excedente derrama e cai dentro de outro estojo! Essa é
uma situação potencialmente perigosa, pois pode ocorrer de cair somente uns 3 ou 5 grains
de pólvora, que não será facilmente detectável, e podemos acabar assentando o projétil sem
nos darmos conta dessa situação, gerando um cartucho com excesso de pressão que pode,
ao ser disparado, ocasionar danos ao rifle ou ao atirador!
Esse é mais um motivo para uma boa bandeja! Como a bandeja da Sinclair é branca, é fácil
identificar qualquer grão de pólvora derramado ao mesmo tempo em que os estojos ficam
firmes em seus buracos e com uma boa distância entre eles.

Alguns estojos já carregados com pólvora e outros aguardando na fila.


Repare que há alguns cartuchos prontos na caixa. Eu coloco pólvora em cada
tipo/peso/marca de projétil de uma só vez e aí assentos aqueles projéteis. Quando mudo o
projétil, inicio novamente com a colocação da pólvora. É uma forma de eu não me "perder"
no meio de 50 estojos.

Quando falo em derramar pólvora por engano, me refiro tanto nas cargas duplas, pois as
vezes vamos colocar pólvora em um estojo que já contém pólvora, mas também no trajeto
da panela da balança até o estojo. Por vezes, esbarramos em alguma coisa, espirramos,
tossimos ou nos distraímos e pode ocorrer de balançarmos a mão e derramarmos algns
grains de pólvora antes de colocarmos no estojo. Se esses grains de pólvora caírem sobre a
bancada somente, o máximo de consequência será um estojo com uma carga um pouco mais
fraca. Chato, mas nada grave.
Porém, se esses grains de pólvora caírem dentro de outros estojos, aí temos uma situação
potencialmente perigosa! Portanto, atenção nessa fase para evitar esse tipo de problema!

14 - Assentando os Projéteis

Lembram-se daquela história toda de OAL e DTL? Pois é, aqui é que aquelas medidas
ganham uso prático!

O assentamento do projétil no estojo deve obedecer algumas regras para alcançarmos uma
ótima precisão: suavidade no assentamento, ferramenta de assentamento pela ogiva,
concentricidade no assentamento e consistência no assentamento (altura e neck tension).
Eu uso e recomendo os Dies Seaters Match type "S" da Redding! Eles possuem uma espécie
de camisa que envolve o estojo e o guia dentro do die para que o projétil entre no estojo de
forma retilínea e centrado, promovendo uma boa concentricidade.
Se você não possui esse tipo de die, mas sim aqueles normais, sem problema: após assentar
o die, gire o estojo entre 90º e 180º e "assente" novamente o projétil. Isso em geral melhora
a concentricidade.
Outra solução é usar um o-ring entre o die e a prensa, de forma a que o die tenha um certo
"jogo" e possa se auto alinhar com o estojo.

Por último, o parafuso micrométrico de regulagem do Seater Die é muito útil no ajuste da
profundidade do projétil, especialmente quando se usa vários tipos de projéteis diferentes.

Tem atiradores que a cada estojo preenchido com pólvora, assenta o projétil. Eu prefiro
preencher todos os estojos com pólvora e depois assentar o projétil em todos, de uma vez.

O primeiro método tem a vantagem de ser mais seguro, pois o estojo fica pouco tempo
"aberto" com pólvora, o que evita acidentes com derrames de pólvora acidentais, ou mesmo
eventuais tombamento dos estojos por esbarrão ou coisa parecida. Acreditem-me: quem
nunca derrubou estojos com pólvora ou pólvora por toda a bancada é porque recarregou
pouco. Isso COM CERTEZA irá ocorrer com você, no mínimo, uma vez... E esse método
diminui essa ocorrência desagradável ao mínimo.
Por outro lado, da forma como eu faço, me permite sentir no assentamento do projétil, o
neck tension de cada estojo e as vezes eu detecto que um estojo, apesar de preparado e
resizeado igual aos outros, possuir um neck tension bem maior do que os demais! Nesse
caso eu imediatamente separo esse cartucho para usar como fouling shot (disparo para sujar
o cano).
Um neck tension muito diferente significa que o grip do estojo no projétil está muito mais
forte ou mais fraco do que os outros, o que vai significar uma pressão interna maior ou
menor na queima da pólvora, ou seja, uma velocidade maior ou menor do que os outros
cartuchos, o que logicamente não é bom para a precisão.

Recomendo que, se optar pelo meu método de colocar pólvora por lotes e assentar todos
desse lote de uma vez, se presta muita atenção para não have confusão entre os estojos, pois
as vezes, eu coloco 5 estojos com 42,0gr., outros 5 estojos com 42,5gr., mais 5 com 43,0 e
assim por diante. Nesse caso, toda atenção é pouca!!! Escreva ou desenhe em um papel a
posição de cada estojo com sua carga, para não se "perder" e acabar sem saber na hora do
teste de tiro, qual estojo é qual carga... Alguns atiradores usam uma caneta marcadora para
pintar a ponta do projétil como referência, escrevem no corpo do estojo, fazem marcas na
base etc. Eu uso um pedaço de papel com o desenho onde cada estojo está na caixa. Não é o
melhor método, pois uma vez, derrubei uma caixa no chão (achei que ela estava fechada e
não estava) e os cartuchos se misturaram e eu fiquei sem saber quem era quem... tive que
usar os cartuchos em treinos e fouling shots, um desperdício!

Tudo pronto para iniciar o assentamento dos projéteis! Estojos cheios de pólvora e Seater
Die ajustado.

A regulagem do Seater die já foi mostrada no Guia Básico, logo, somente se faz necessário
dizer que é bom anotar a medida do Seater die ou "zerá-lo" para uma carga padrão.
É justamente isso o que fiz no meu, onde zerei o die para os projéteis 155gr. Berger VLD
com DTL de 3.110 polegadas. Isso é feito na tentativa e erro, ao colocar o micrometro no
zero e soltar o anel de contenção, girar o die um pouco, apertar e medir o assentamento do
projétil. E repetir a operação até que o projétil fique na medida exata.

Com o zero estabelecido, é fácil agora trocar de projétil e voltar para a medida original.
Assim, eu sei que no ZERO eu estou "no ponto" para o projétil Berger 155gr. VLD com
DTL de 3.110 polegadas. E para ajustar para o projétil Sierra 155gr. Matchking (#2155) eu
tenho que girar o parafuso micrométrico em 0,036 para ficar com um DTL de 3.146, que é o
meu padrão para esse projétil Sierra Matchking.
Seater Die Match type "S" ajustado e "zerado" para o projétil Berger 155gr. VLD.

Na hora de inserir o estojo com o projétil no Seater Die, não seja rápido! Mas sim use uma
suavidade de forma a não "bater" a ferramenta assentadora no projétil, mas sim enconstar na
ogiva do projétil e ir empurrando suavemente até o final do curso da alavanca da prensa.
Essa suavidade no manejo da alavanca da prensa colabora para uma assentamento mais
concêntrico, evita deformações no projétil, melhora a precisão na altura do assentamento
evita que a jaqueta seja "raspada" pela borda do estojo e, finalmente, permite sentir o neck
tension de cada estojo!
Suavidade e consistência no manejo da alavanca da prensa: receita para um bom
assentamento do projétil!

Nesse primeiro estojo, use-o para ajustar o die e depois de pronto, para ser o primeiro ou
segundo tiro de ensaio. Como iremos ajustar diversas vezes até encontrarmos o ponto certo
de assentamento, é melhor que esse cartucho seja usado em alguma tarefa menos importante
na competição e ser usado como fouling shots é perfeito!

Como disse antes, eu prefiro medir meus estojos usando a ROSCA (ou como prefere o
Perito, a PORCA) da Sinclair. Com isso eu chamo minhas medidas de DTL, que não é a
DTL Real, conforme explicado anteriormente, mas serve bem aos meus propósitos que é ter
uma medida de referência.
Nesse primeiro estojo, a medida de DTL que obtive foi de 3.1505, ou seja, como meu
objetivo é um DTL de 3.110, para o Berger VLD 155gr., é só girar o parafuso micrométrico
em menos 40 marcas, ou seja, abaixo o parafuso micrométrico em 40 graduações (cada
graduação no die é igual a 0,001 polegadas) e pronto, um cartucho carregado com 3.110
polegadas de DTL e OAL de 2.830 polegadas.
Cartucho carregado ainda um pouco mais comprido do que desejo. Repare que a medida
DTL que uso é com a ROSCA/PORCA da Sinclair. Logo, é só ajustar o die mais 40 marcas
e pronto, terei um cartucho carregado com 3.110 polegadas de DTL.

Agora é aplicar isso para todos os estojos/projéteis iguais (mesmo tipo, peso e marca). Ao
se alterar qualquer um desses pontos (tipo, peso e marca), deve-se verificar e anotar a
medida do assentamento do projétil.
Projéteis carregados e prontos para serem usados nos testes de precisão!

Próximo passo... os testes de precisão e tunning da munição/rifle!!!

15- Testes de Recarga: a busca da precisão ao ler o alvo!

Agora que os cartuchos já estão recarregados, com o que de melhor pudemos produzir (seja
qual for seu nível de conhecimento e equipamento), é chegada a hora de produzir, ver e
interpretar o resultado!
Para competições de precisão, como é o caso de F-Class, o mais importante atributo da
munição é a Precisão.
Para competições mais dinâmicas, como o DAN e Sniper Hide Cup, há um balança entre
confiabilidade na alimentação e extração e precisão.
Para quem vai caçar, provavelmente o mais importante atributo seja a confiabilidade da
alimentação e extração, seguido da balistica terminal.
Já para quem quer somente se divertir, sem grandes compromissos, provavelmente é o custo
o maior atributo.

O que estou querendo dizer é que em geral, para podermos interpretar, analisar e concluir
algo sobre nossa munição recarregada é preciso definir o que mais queremos dela!
Seria ótimo se conseguíssemos que os principais atributos (precisão, confiabilidade,
balistica terminal, preço, energia etc) pudessem ser reunidos em uma única carga ou
recarga! Mas na prática isso é impossível, portanto, temos que definir o que realmente
importa para nós, para o fim ao qual a munição foi recarregada.
No meu caso específico estou procurando os seguintes atributos em ordem de preferência:
precisão inerente, ótima velocidade (o que vai influenciar na capacidade do projétil de
"driblar" o vento e ainda possuir uma trajetória mais tensa), consistência da precisão (ou
seja, prefiro 5 grupos de 0,45 polegadas do que um de 0,25, outro de 0,70, seguido de um de
0,30 e outro de 0,65 etc) e boa alimentação e extração.
Esses atributos para mim são importantes pois pretendo usar esse tipo de projétil em
competições mais dinâmicas e, secundariamente, em F-Class. Logo, preciso de ótima
precisão inerente e constante, trajetória tensa e boa capacidade de driblar o vento e uma boa
alimentação e extração (o que significa Full Lenght resize) pois nas provas dinâmicas, há
muita poeira, detritos, areia, vento etc.

Portanto, decidi testar esses dois projéteis carregados (Berger 155gr. VLD Target e Berger
155.5gr. Full Bore) fazendo uns dois ou três grupos de 5 disparos a 100 metros e duas séries
de 10 disparos a 200m.

O equipamento usado foi:


- Rifle: Remington 700 custom "F/TR"
- Calibre: .308win
- Apoio dianteiro: Bipé Atlas V7
- Apoio traseiro: Tac Ready Gear Tac Ball
- Luneta: Leupold VX-III 8.5-25X50mm Varmint Hunters Reticle
- Condições atmosféricas: dia chuvoso, pouco vento (0-5km/h), temperatura aprox. 25ºC.
- Posição de tiro: deitado, piso de cimento.

Para testes de precisão a 100m eu gosto de usar alvos de Benchrest Short Range. Além de
oferecer uma ótima visada para colocar o retículo exatamente no centro dos círculos, ainda
oferece um quadrado de 1 polegada (medindo pela parte externa preta) para quando usamos
lunetas com pouco aumento. Outro ponto positivo é que este alvo é fácil de tirar cópias
xerox (portanto não precisa ficar importando a toda hora) e como em cada folha A4 há 10
alvos, basta colocar umas 2 ou 3 folhas e teremos aprox. 30 alvos de prática/testes.

Já a 200m, eu prefiro colocar o alvo oficial de F-Class 200m, pois com ele eu tenho uma
ótima referência do que a carga faz a essa distância, pois comparo com os resultados das
provas. Por vezes, eu atiro sem me preocupar em fazer pontos (como foi o caso nesse teste)
mas sim no tamanho e forma do grupo, já outras vezes, eu somente me preocupo em acertar
o X do alvo, fazendo o máximo de pontos. Em geral, treino dessa última forma para as
competições, pois nelas o que importa não é o tamanho do grupo, mas sim onde CADA
disparo impactou, ou seja, de preferência, no X do alvo!

Antes do início dos testes eu passo uns 3 patches secos no cano para retirar o óleo deixado
no cano, após a limpeza, na última sessão de tiro. Diferente dos canos de fábrica, os canos
custom cobream e sujam muito pouco. Aliado aos solventes mais modernos (como o
BoreTech Eliminator), limpar completamente o cano após uma sessão de tiro toma somente
uns 15 minutos. Deixando o rifle pronto para o próximo uso, em um outro dia.

Após me certificar que estou na posição de tiro de forma correta (ou o mais correta possível
), verifico o Natural Point of Aim (posição natual de visada) e faço alguns disparos em seco,
para me "aquecer" para a sessão de tiro.
Quando me dou por satisfeito, observo as condições atmosféricas (leia-se: vento!), através
de bandeiras (fitas laranjas) colocadas a 50, 100 e 150m, quando possível. Se não houver
bandeiras de vento (como foi o caso do teste), procuro observar a vegetação ao redor e no
estande.
O principal, ao menos no estande onde estava, é observar a direção geral do vento. No caso,
como tinha pouco vento, em alguns momentos foi possível detectar que o mesmo soprava
da esquerda para a direita (9 às 3 horas).
Não posso deixar de salientar o quanto o vento influencia na precisão do tiro! Um dos
primeiros conselhos que dou para quem quiser atirar com PRECISÃO é colocar umas
bandeiras de vento! Podem ser somente tiras de plástico penduradas (a Sinclair vende rolos
de fitas de surveyor, valem cada centavo e são muito baratas!), que o resultado é imediato:
seus grupos irão diminuir entre 10 e 20% só em usar bandeiras de vento!

Visto posição, vento e feito alguns tiros em seco, iniciei a sessão de testes dando alguns
tiros de aquecimento, fazendo dois grupos de 3, que na verdade, eu chamo de tiros para
sujar o cano. Esse primeiro disparo é o conhecido Cold Bore Shot. Em alguns rifles, ele
pode impactar até 1 MOA (ou 1 polegada) fora do restante dos disparos subsequentes. Em
outros, parece não haver qualquer variação. Bem, no meu rifle, o CCB em geral está bem no
ponto de visada, ou seja, não observo variação significativa de ponto de impacto entre ele e
os disparos subsequentes.

Já com o cano "sujo" e satisfeito com meu tiro, iniciei o primeiro grupo com os projéteis
Berger 155gr. VLD Target com 43,5grs de CBC 102. O resultado foi muito bom, com um
grupo de 0,55 polegadas, sendo um flyer. Sem esse flyer, o grupo ficaria com 0,19
polegadas!
Primeiros disparos no centro e a direita, com Berger 155gr. Target VLD: dois grupos de 3
disparos para "aquecer" o atirador e "sujar" o cano. Ambos os grupos medem aprox. 0,46
polegadas.
Na esquerda, o primeiro grupo de teste de precisão, com 5 disparos, medindo 0,55
polegadas. Não fosse o flyer à esquerda, o grupo mediria 0,19 polegadas!

Com esse flyer foi o último disparo, provavelmente ele foi causado pela ansiedade do
atirador querendo que o "grupo acabe logo" e acelerando indevidamente o processo de
disparo, uma vez que ele foi "contra o vento".

Animado por esse resultado promissor e após uma pequena pausa para que o cano não
esquentasse muito (em geral após 10 disparos eu faço uma pausa para que a temperatura do
cano abaixe um pouco), procedi a fazer outros dois grupos de 5 disparos, porém, desta vez
com o projétil 155.5gr. Full Bore com 43,0 e 43,5gr. de CBC 102.
Os resultados estão abaixo:
Na esquerda, grupo de 0,30 polegadas com 43,5gr. A direita, grupo de 0,56 polegadas.
Ambos com projéteis Berger 155.5gr. Full Bore.

Apesar de ambos os grupos serem bons, é óbvio que o grupo de 43,5gr. parece muito
superior ao de 43,0gr.
O grupo de 43,5gr. está com 0,30 polegadas e seu único "defeito" é esse pouco de
componente vertical. Mas sob qualquer ângulo que se analise é um excelente grupo.

Já o grupo de 43,0gr., parece que fui pego pelo vento com o disparo a direita as 2horas, que
abriu um grupo de aprox. 0,35 para 0,56 polegadas. Esse flyer a direita foi o segundo
disparo, sendo que o primeiro foi a marca que aparece bem no centro do grupo as 12 horas,
me levando a acreditar que a culpa foi do vento (claro que a culpa final é minha, que não
identifiquei essa brisa de 5km/h...).
Porém, mesmo sem esse flyer no grupo de 43,0gr., ainda assim o grupo seria maior e mais
"aberto" do que o de 43,5gr. E sabendo que a Berger VLD Target é muito precisa com
43,5gr., creio que essa seja a carga ótima para esse projétil.

Ainda assim, gostei dos resultados dos grupos a 100m, pois estavam bem consistentes e os
disparos que "abriram" os dois grupos, foram identificados, o que exclui eventual "culpa"
da carga.
Na verdade, meu sentimento na hora foi de que essas Bergers 155.5gr. Full Bore estavam
"querendo" atirar muito bem... tão bem quanto as VLDs, e que talvez elas me
proporcionassem um pouco mais de tolerância em relação ao DTL REAL (pois é sabido que
os projéteis VLD são muito temperamentais quanto a variação de DTL REAL).

Mas para ter certeza, só mesmo um teste mais longo e a maior distância e, portanto,
coloquei dois alvos de F-Class a 200 metros e procedi a duas séries, de 10 disparos cada
uma, com a Berger VLD Target e outro com a Berger Full Bore.
Minha impressão, antes de atirar, seria de que ambos os projéteis (e cargas em 43,5grs. de
CBC 102) iriam atirar muito parecido. E em mais alguns minutos, eu teria a confirmação
desse palpite...

200m, 10 disparos: Berger 155.5gr. Full Bore. 43,5gr. CBC 102.


200m, 10 disparos: Berger 155gr. VLD Target, 43,5gr. CBC 102

Como se pode observar, ambos os alvos estão bem parecidos no tamanho dos grupos!!!
Eu cliquei a luneta para que os impactos fossem um pouco ao lado do X, uma vez que eu
não queria obliterar o X com os impactos, pois assim eu perderia meu ponto de visada.

Em uma análise visual, no estande, achei os impactos dos projeteis Berger VLD Target
(foto de baixo) um pouco mais consistentes, pois há somente 3 disparos que fugiram do
"furo grande". Acredito que esses 3 disparos foram um pouco para a direita em função
daquele vento de 5km/h que as vezes soprava no estande.

Já no alvo dos projéteis Berger Full Bore (primeiro, de cima), se percebe que se formou
dois grupos, um acima a esquerda e outro mais abaixo. Pelo que pude observar, foram 4
disparos no grupo de baixo e 6 no grupo de cima.
Ainda assim, em uma análise preliminar, eu diria que ambos as cargas, se comportaram
muito bem!

Ao chegar em casa é que realmente começa uma análise mais detalhada e nesse caso,
recomendo a todos que LEVEM SEUS ALVOS PARA CASA!
Além de anotar a velocidade e impacto de cada disparo, a análise detalhada feita em casa se
mostra muito mais útil para tentarmos extrair todas as informações possíveis de cada
disparo, afinal, projéteis Berger Match não se acham a cada esquina, certo?
Portanto, vamos a uma análise mais profundo de cada grupo:

BERGER 155.5gr. FULL BORE, 43,5gr. de CBC 102.

Tamanho máximo do grupo: 1,38 polegadas.


Vertical: 0,92 polegadas
Horizontal: 1,24 polegadas.
Flyer: não
Velocidade média: 2.830 fps

BERGER 155gr. VLD Target, 43,5gr. de CBC 102.

Tamanho máximo do grupo: 1,24 polegadas.


Vertical: 0,96 polegadas
Horizontal: 1,16 polegadas.
Flyer: não
Velocidade média: 2.870 fps.

Tamanho máximo do grupo: em geral é essa a medida que usamos para medir a precisão
da arma/munição. Entretanto, ela sozinha somente conta uns 50 ou 60% da história, ainda
mais em um grupo de 10 disparos e a 200 metros.
O tamanho máximo do grupo é a medida dos disparos mais extremos, ou mais distantes.
Um grupo pequeno, em geral quer dizer que a munição é muito precisa e constante.
Mas um grupo grande quer dizer que a munição não é precisa?

R: Não necessariamente... pois podemos ter, por exemplo, um grupo de 1,25 polegadas a
100 metros, que é acima do mínimo necessário para ser competitivo em F-Class, mas ao
analisarmos o grupo, vemos que 4 disparos estão em uma linha mais ou menos horizontal e
medem juntos 0,60 polegadas e que um único disparo, na mesma linha, só que bem mais
para o lado (um flyer), aumentou ou grupo para os 1,25 polegadas. E mais, no dia do teste,
havia vento entre 10 e 20km/h em rajadas alternadas.
Ora, nessas condições, fica fácil entender o grupo, com os 4 disparos mais ou menos em
linha (vento atuando sobre o projétil) que foram disparados em um vento relativamente
constante. E o quinto disparo, o flyer, provavelmente foi pego por uma rajada de vento mais
forte não detectada pela atirador!
Nesse caso hipotético, eu com certeza iria querer repetir o teste em um dia com condições
mais favoráveis, pois apesar do tamanho do grupo, pela análise dele e das condições
atmosféricas, acho que é uma carga muito promissora!

Mas voltemos aos nossos testes reais! E nesse momento serei obrigado abordar alguns
aspectos que serão melhor explorados na prática, no capítulo de "Ajustando a Munição:
tunning!", mas que será de grande valia agora...

O tamanho máximo do grupo de ambos os alvos são muito, muito próximos, de 1,38 e 1,24
polegadas. Como não há um flyer que possa alterar significativamente o tamanho do grupo,
eu diria que há um empate técnico nesse quesito.
Entretanto, conforme falei antes, pela forma e disposição dos disparos, me parece que o
grupo dos Berger VLD Target parece um pouco mais consistente. O que não é surpresa,
pois essa carga já é testada em provas e sempre se mostrou MUITO precisa.

O componente Vertical é a medida do grupo utilizando um vetor vertical, ou seja, a "altura"


do grupo.
Esse componente Vertical é extremamente importante, especialmente em distâncias acima
de 300 metros!
Em um grupo de disparos, tirando erros do atirador, em geral consideramos que o
componente Horizontal é causado pelo vento. Já o componente Vertical é causado por
variação de velocidade e carga "out of tune" ou, desajustada, fora do nó harmônico
(alteraçaõ na empunhadura do rifle, visada em sombra etc, mas que dizem respeito ao
atirador e não à carga em si).
A curtas distâncias, até uns 200 ou mesmo 300 metros, é mais difícil e de menor
importância, que variações pequenas na velocidade (20 ou 30 fps) causem uma alteração
radical no ponto de impacto no componente vertical, ou seja, para cima ou para baixo.
Entretanto, uma carga "out of tune", facilmente provoca variações grandes no componente
vertical!!!

Embora não seja o objeto desse capítulo (mais propício aos apreciadores da física
envolvidas no tiro no sistema de arma), o efeito "mangueira" do cano é um dos principais
fatores para essa variação vertical "out of tune" da carga, pois nesse caso, cada disparo está
ocorrendo com o cano, ora apontado para cima, ora apontado mais para baixo. Em termos
simples e rápido, essa é a explicação básica. O que queremos no tunning da carga pela
velocidade (quantidade de pólvora também) é fazer com que o disparo saia do cano quando
ele estiver no ponto mais acima ou no mais abaixo, pois qualquer variação de velocidade
será menos sentida (igual na pausa respiratória natural do atirador! De fato, os gráficos até
são semelhantes...). E isso será sentido (e medido) principalmente pelo componente
Vertical.
11/09/2009 Prova de F-Class, 1ª e 2ª Séries de 300m, 10 disparos cada. Rifle Remington
custom .308win.
Exemplo de munição "out of tune" com grande componente vertical. Repare que o
Componente Vertical é o dobro do componente Horizontal (pouco vento).
Eu tentei corrigir na segunda série essa variação Vertical, mas acabei piorando as coisas,
pois ora a tendência dos disparos era para subir e hora para descer... Lição aprendida!

Logo, eu dou bastante importância a esse componente Vertical, pois ele me sugere se a
carga está Out of Tune ou Tunned!
Nos nossos alvos de testes, os componentes Verticais estão em 0,92 e 0,98, para a Full Bore
e a VLD Target, respectivamente.
Tais valores são aprox. 1/3 a menos do que o Tamanho Máximo do Grupo, em uma relação
que considero bastante boa!
Para se ter uma idéia, imagine um grupo de 0,50 polegadas. Agora imagine um Vertical de
apenas 0,33 polegadas (1/3 menor do que o tamanho do grupo). Difícil imaginar que a carga
esteja "out of tune" ou fora de um nó harmônico do cano, certo?

Portanto, acredito que ambas as cargas estão no, ou bem próximo do, nó harmônico ideal do
cano. Talvez em testes futuros (no capítulo de Ajustando a Munição: tunning!) eu faça
alguma variação de carga para mais ou menos para tirar a prova real e ver se consigo
diminuir ainda mais esse componente Vertical. Mas para enquanto, já estou satisfeito!
Agora, vamos ao componente Horizontal. Como dito anteriormente, esse componente
vertical mede especialmente o vento (e problemas de gatilho e Natural Point of Aim, mas
esses são problemas do atirador e não da carga em si...). E claro que sendo o vento um dos
componentes que mais influencia o tiro de precisão (especialmente em competições com
distâncias conhecidas), devemos dar uma grande importância a esse componente
Horizontal.
Nos nossos alvos, temos um componente Horizontal de 1,24 e 1,16 polegadas,
respectivamente para os projéteis Full Bore e VLD Target.
Reparem que essas medidas são bem próximas ao tamanho máximo do grupo, o que
significa que o vento (ou o gatilho ou o natural point of aim) podem ter contribuído bastante
para esse grupo não ter sido MENOR do que efetivamente o foi.
Aí, cabe o auto questionamento se em alguns disparos foi erro do atirador...?

R: Penso que pode ter havido algum erro meu sim, no caso de NPA, em espcial no alvo dos
projéteis Full Bore, em virtude da formação de dois grupos em diagonal e também esse
grupo ter sido feito já no final da sessão de tiro (atirei também com outro rifle nesse dia,
ajudando um amigo...), o que significa que a força que estava usando (sem perceber) para
manter o retículo no centro, falhava em alguns disparos devido ao (inconsciente) cansaço do
atirador.
Já no caso do alvo dos projéteis VLD Target, talvez por causa de uma carga mais
"acertada", essa falha no NPA ficou amenizada ou errei menos...

O fato é que, apesar de eu ter ficado satisfeito com os grupos em geral, eles suscitaram um
AVISO sugerindo que eu treine melhor o NPA, dando mais atenção a esse fator no tiro.
24/10/2010 Prova de F-Class, 1ª e 2ª Séries de 300m, 10 disparos cada. Rifle Remington
custom .308win.
Exemplo de componente Horizontal. Reparem que na primeira série, o vento "me pegou" de
jeito, levando 4 disparos para a esquerda! Infelizmente as condições de miragem eram tão
severas que não consegui visualizar os impactos até ser tarde demais.
Já na 2ª Série, com a miragem um pouco menor, e já conseguindo observar alguns
impactos, consegui manter todos os disparos centrados, embora com um pouco mais de
variação Vertical.

Um aspecto que até agora não mencionei, diz respeito à Velocidade.


Claro que a velocidade irá influenciar em alguns pontos, notadamente no ponto de impacto
a maiores distâncias (= maior influência) e até no tamanho do grupo (novamente, em
distâncias maiores, a partir de 300 metros...).

Outro ponto importante na verificação da velocidade diz respeito à pressão e segurança da


carga. Não adianta eu querer achar que com esse projétil no .308win eu irei chegar aos
3.200 fps de velocidade, pois não vou! E se eu ler isso no meu cronógrafo, das duas uma: ou
ele não está funcionamento corretamente, ou estou prestes a sofrer um acidente por excesso
de pressão!!!
Portanto, recomendo medir a velocidade nos testes. Eu coloco meu cronógrafo no chão
(pois atiro deitado) e ao mesmo tempo que faço os testes de precisão, eu anota a velocidade
de CADA disparo.
Com isso eu sei que estou dentro da margem de segurança (um dos elementos indicativos),
sei se a queima e/ou neck tension está constante e, principalmente, me permite fazer uma
tabela balística usando programas de computador, mesmo que eu não tenha um estande para
checar em maiores distâncias!
Na verdade, para uma recente competição em São Paulo, com distâncias desconhecidas até
600 metros, eu fiz exatamente isso! Como não tenho disponível estande com mais de 300m,
eu cliquei meus tiros em 50, 100, 150, 200, 250 e 300m e completei as distâncias restantes
(até 800m) usando o JBM on line. Não vou dizer que isso é o ideal, pois não é! Mas deu
para o gasto, atingindo alvos até os 520 metros de distância (o segundo disparo mais longo
da prova. O mais longo, a 550 metros, eu errei por pouco ).

Em resumo: ambos os projéteis e suas cargas tiveram um ótimo desempenho e merecem


outros testes!

Conclusão -

Como se pode ver, temos que buscar um EFETIVO feedback, um retorno de informações,
dos nossos alvos! E para isso, temos que trazê-los para casa, medí-los e analizá-los para
extrairmos informações para nos tornarmos melhores atiradores e recarregadores!

SE eu tivesse um coach (um Lowlight por exemplo) ao meu lado, claro que esses pontos e
erros seriam imediatamente identificados e corrigidos na hora. Mas como não tive um
Lowlight do meu lado (e o mais próximo disso aqui no RJ estava ocupado com seu próprio

super hyper mega rifle ), a análise teve que ficar para depois, no recanto do lar.

Mas ela não acabou! Guarde o alvo em arquivo fotográfico, ou seja, tire umas fotos,
coloque uma legenda (para saber depois qual a carga, tamanho, condições etc) e armazene
no seu micro. Esse arquivo pessoal de alvos de treinos e testes será valiosíssimo como fonte
de consulta! Quase tão valioso como um Log Book. Aliás, ele é uma espécie de Log Book,
pois será a fonte de informações dos seus treinos, testes, impressões, análises, conclusões
etc!!!

Essa talvez seja uma boa hora para falar em um aspecto do tiro no Brasil (e também no
mundo...) que é a falta de HUMILDADE dos atiradores. Não estou tratando da humildade
externa, aquela que falamos que não somos bons atiradores, que ainda temos muito o que
aprender etc. Mas sim da HUMILDADE ÚTIL, ou seja, na prática: pegue seus alvos e
mostre a quem você considera um melhor atirador! Peça para ele lhe acompanhar ao
estande para verificar seu posicionamento! Peça para ele lhe criticar, opinar e sugerir
melhorias! Enfim, mostre o seu TIRO a quem possa lhe AJUDAR a ser um melhor atirador
ou recarregador!!!
Ficar "escondendo o jogo", sem mostrar aos outros (ou pior: escondendo) seus alvos, seus
treinos, seus resultados, suas opiniões, suas técnicas etc, não vai fazer de VOCÊ um atirador
melhor... E com certeza, não irá contribuir para o Tiro na sua região, no seu clube e no
Brasil!
Ninguém nasce sabendo! O que eu sei é que pouco sei, mas quero aprender cada vez mais!
E acredito realmente que é assim, trocando informações, uma das melhores formas de se
aprender.
Aqui no Brasil é muito difícil termos instrução formal de qualidade (posso contar nos dedos
de uma mão os bons que conheço!), ainda mais com a escassez de estandes de Rifle, de
equipamentos etc. Quanto mais informação circular, maior a troca de experiências, mais
atiradores empolgados estarão na linha de tiro e frequentando o clube, o nível das
competições aumentarão etc. É um ciclo em que, cada um contribuindo um pouco, todos
irão sair ganhando.

Próximo e Último Capítulo: Ajustando a Munição: tunning!

15- Testes de Recarga: a busca da precisão ao ler o alvo!

Agora que os cartuchos já estão recarregados, com o que de melhor pudemos produzir (seja
qual for seu nível de conhecimento e equipamento), é chegada a hora de produzir, ver e
interpretar o resultado!
Para competições de precisão, como é o caso de F-Class, o mais importante atributo da
munição é a Precisão.
Para competições mais dinâmicas, como o DAN e Sniper Hide Cup, há um balança entre
confiabilidade na alimentação e extração e precisão.
Para quem vai caçar, provavelmente o mais importante atributo seja a confiabilidade da
alimentação e extração, seguido da balistica terminal.
Já para quem quer somente se divertir, sem grandes compromissos, provavelmente é o custo
o maior atributo.

O que estou querendo dizer é que em geral, para podermos interpretar, analisar e concluir
algo sobre nossa munição recarregada é preciso definir o que mais queremos dela!
Seria ótimo se conseguíssemos que os principais atributos (precisão, confiabilidade,
balistica terminal, preço, energia etc) pudessem ser reunidos em uma única carga ou
recarga! Mas na prática isso é impossível, portanto, temos que definir o que realmente
importa para nós, para o fim ao qual a munição foi recarregada.
No meu caso específico estou procurando os seguintes atributos em ordem de preferência:
precisão inerente, ótima velocidade (o que vai influenciar na capacidade do projétil de
"driblar" o vento e ainda possuir uma trajetória mais tensa), consistência da precisão (ou
seja, prefiro 5 grupos de 0,45 polegadas do que um de 0,25, outro de 0,70, seguido de um de
0,30 e outro de 0,65 etc) e boa alimentação e extração.
Esses atributos para mim são importantes pois pretendo usar esse tipo de projétil em
competições mais dinâmicas e, secundariamente, em F-Class. Logo, preciso de ótima
precisão inerente e constante, trajetória tensa e boa capacidade de driblar o vento e uma boa
alimentação e extração (o que significa Full Lenght resize) pois nas provas dinâmicas, há
muita poeira, detritos, areia, vento etc.

Portanto, decidi testar esses dois projéteis carregados (Berger 155gr. VLD Target e Berger
155.5gr. Full Bore) fazendo uns dois ou três grupos de 5 disparos a 100 metros e duas séries
de 10 disparos a 200m.

O equipamento usado foi:


- Rifle: Remington 700 custom "F/TR"
- Calibre: .308win
- Apoio dianteiro: Bipé Atlas V7
- Apoio traseiro: Tac Ready Gear Tac Ball
- Luneta: Leupold VX-III 8.5-25X50mm Varmint Hunters Reticle
- Condições atmosféricas: dia chuvoso, pouco vento (0-5km/h), temperatura aprox. 25ºC.
- Posição de tiro: deitado, piso de cimento.

Para testes de precisão a 100m eu gosto de usar alvos de Benchrest Short Range. Além de
oferecer uma ótima visada para colocar o retículo exatamente no centro dos círculos, ainda
oferece um quadrado de 1 polegada (medindo pela parte externa preta) para quando usamos
lunetas com pouco aumento. Outro ponto positivo é que este alvo é fácil de tirar cópias
xerox (portanto não precisa ficar importando a toda hora) e como em cada folha A4 há 10
alvos, basta colocar umas 2 ou 3 folhas e teremos aprox. 30 alvos de prática/testes.

Já a 200m, eu prefiro colocar o alvo oficial de F-Class 200m, pois com ele eu tenho uma
ótima referência do que a carga faz a essa distância, pois comparo com os resultados das
provas. Por vezes, eu atiro sem me preocupar em fazer pontos (como foi o caso nesse teste)
mas sim no tamanho e forma do grupo, já outras vezes, eu somente me preocupo em acertar
o X do alvo, fazendo o máximo de pontos. Em geral, treino dessa última forma para as
competições, pois nelas o que importa não é o tamanho do grupo, mas sim onde CADA
disparo impactou, ou seja, de preferência, no X do alvo!

Antes do início dos testes eu passo uns 3 patches secos no cano para retirar o óleo deixado
no cano, após a limpeza, na última sessão de tiro. Diferente dos canos de fábrica, os canos
custom cobream e sujam muito pouco. Aliado aos solventes mais modernos (como o
BoreTech Eliminator), limpar completamente o cano após uma sessão de tiro toma somente
uns 15 minutos. Deixando o rifle pronto para o próximo uso, em um outro dia.

Após me certificar que estou na posição de tiro de forma correta (ou o mais correta possível
), verifico o Natural Point of Aim (posição natual de visada) e faço alguns disparos em seco,
para me "aquecer" para a sessão de tiro.
Quando me dou por satisfeito, observo as condições atmosféricas (leia-se: vento!), através
de bandeiras (fitas laranjas) colocadas a 50, 100 e 150m, quando possível. Se não houver
bandeiras de vento (como foi o caso do teste), procuro observar a vegetação ao redor e no
estande.
O principal, ao menos no estande onde estava, é observar a direção geral do vento. No caso,
como tinha pouco vento, em alguns momentos foi possível detectar que o mesmo soprava
da esquerda para a direita (9 às 3 horas).
Não posso deixar de salientar o quanto o vento influencia na precisão do tiro! Um dos
primeiros conselhos que dou para quem quiser atirar com PRECISÃO é colocar umas
bandeiras de vento! Podem ser somente tiras de plástico penduradas (a Sinclair vende rolos
de fitas de surveyor, valem cada centavo e são muito baratas!), que o resultado é imediato:
seus grupos irão diminuir entre 10 e 20% só em usar bandeiras de vento!

Visto posição, vento e feito alguns tiros em seco, iniciei a sessão de testes dando alguns
tiros de aquecimento, fazendo dois grupos de 3, que na verdade, eu chamo de tiros para
sujar o cano. Esse primeiro disparo é o conhecido Cold Bore Shot. Em alguns rifles, ele
pode impactar até 1 MOA (ou 1 polegada) fora do restante dos disparos subsequentes. Em
outros, parece não haver qualquer variação. Bem, no meu rifle, o CCB em geral está bem no
ponto de visada, ou seja, não observo variação significativa de ponto de impacto entre ele e
os disparos subsequentes.

Já com o cano "sujo" e satisfeito com meu tiro, iniciei o primeiro grupo com os projéteis
Berger 155gr. VLD Target com 43,5grs de CBC 102. O resultado foi muito bom, com um
grupo de 0,49 polegadas, sendo um flyer. Sem esse flyer, o grupo ficaria com 0,19
polegadas!

Primeiros disparos no centro e a direita, com Berger 155gr. Target VLD: dois grupos de 3
disparos para "aquecer" o atirador e "sujar" o cano. Os grupos de 3 disparos medem 0,40 e
0,38 polegadas (esq.para direita).
Na esquerda, o primeiro grupo de teste de precisão, com 5 disparos, medindo 0,49
polegadas. Não fosse o flyer à esquerda, o grupo mediria 0,19 polegadas!

Com esse flyer foi o último disparo, provavelmente ele foi causado pela ansiedade do
atirador querendo que o "grupo acabe logo" e acelerando indevidamente o processo de
disparo, uma vez que ele foi "contra o vento".

Animado por esse resultado promissor e após uma pequena pausa para que o cano não
esquentasse muito (em geral após 10 disparos eu faço uma pausa para que a temperatura do
cano abaixe um pouco), procedi a fazer outros dois grupos de 5 disparos, porém, desta vez
com o projétil 155.5gr. Full Bore com 43,0 e 43,5gr. de CBC 102.
Os resultados estão abaixo:

Na esquerda, grupo de 0,30 polegadas com 43,5gr. A direita, grupo de 0,57 polegadas.
Ambos com projéteis Berger 155.5gr. Full Bore.

Apesar de ambos os grupos serem bons, é óbvio que o grupo de 43,5gr. parece muito
superior ao de 43,0gr.
O grupo de 43,5gr. está com 0,30 polegadas e seu único "defeito" é esse pouco de
componente vertical. Mas sob qualquer ângulo que se analise é um excelente grupo.

Já o grupo de 43,0gr., parece que fui pego pelo vento com o disparo a direita as 2horas, que
abriu um grupo de aprox. 0,35 para 0,57 polegadas. Esse flyer a direita foi o segundo
disparo, sendo que o primeiro foi a marca que aparece bem no centro do grupo as 12 horas,
me levando a acreditar que a culpa foi do vento (claro que a culpa final é minha, que não
identifiquei essa brisa de 5km/h...).
Porém, mesmo sem esse flyer no grupo de 43,0gr., ainda assim o grupo seria maior e mais
"aberto" do que o de 43,5gr. E sabendo que a Berger VLD Target é muito precisa com
43,5gr., creio que essa seja a carga ótima para esse projétil.

Ainda assim, gostei dos resultados dos grupos a 100m, pois estavam bem consistentes e os
disparos que "abriram" os dois grupos, foram identificados, o que exclui eventual "culpa"
da carga.
Na verdade, meu sentimento na hora foi de que essas Bergers 155.5gr. Full Bore estavam
"querendo" atirar muito bem... tão bem quanto as VLDs, e que talvez elas me
proporcionassem um pouco mais de tolerância em relação ao DTL REAL (pois é sabido que
os projéteis VLD são muito temperamentais quanto a variação de DTL REAL).

Mas para ter certeza, só mesmo um teste mais longo e a maior distância e, portanto,
coloquei dois alvos de F-Class a 200 metros e procedi a duas séries, de 10 disparos cada
uma, com a Berger VLD Target e outro com a Berger Full Bore.
Minha impressão, antes de atirar, seria de que ambos os projéteis (e cargas em 43,5grs. de
CBC 102) iriam atirar muito parecido. E em mais alguns minutos, eu teria a confirmação
desse palpite...

200m, 10 disparos: Berger 155.5gr. Full Bore. 43,5gr. CBC 102.

200m, 10 disparos: Berger 155gr. VLD Target, 43,5gr. CBC 102


Como se pode observar, ambos os alvos estão bem parecidos no tamanho dos grupos!!!
Eu cliquei a luneta para que os impactos fossem um pouco ao lado do X, uma vez que eu
não queria obliterar o X com os impactos, pois assim eu perderia meu ponto de visada.

Em uma análise visual, no estande, achei os impactos dos projeteis Berger VLD Target
(foto de baixo) um pouco mais consistentes, pois há somente 3 disparos que fugiram do
"furo grande". Acredito que esses 3 disparos foram um pouco para a direita em função
daquele vento de 5km/h que as vezes soprava no estande.

Já no alvo dos projéteis Berger Full Bore (primeiro, de cima), se percebe que se formou
dois grupos, um acima a esquerda e outro mais abaixo. Pelo que pude observar, foram 4
disparos no grupo de baixo e 6 no grupo de cima.
Ainda assim, em uma análise preliminar, eu diria que ambos as cargas, se comportaram
muito bem!

Ao chegar em casa é que realmente começa uma análise mais detalhada e nesse caso,
recomendo a todos que LEVEM SEUS ALVOS PARA CASA!
Além de anotar a velocidade e impacto de cada disparo, a análise detalhada feita em casa se
mostra muito mais útil para tentarmos extrair todas as informações possíveis de cada
disparo, afinal, projéteis Berger Match não se acham a cada esquina, certo?
Portanto, vamos a uma análise mais profundo de cada grupo:

BERGER 155.5gr. FULL BORE, 43,5gr. de CBC 102.

Tamanho máximo do grupo: 1,27 polegadas.


Vertical: 0,89 polegadas
Horizontal: 1,16 polegadas.
Flyer: não
Velocidade média: 2.830 fps

BERGER 155gr. VLD Target, 43,5gr. de CBC 102.

Tamanho máximo do grupo: 1,16 polegadas (o paquímetro saiu da medição na hora da


foto).
Vertical: 0,94 polegadas
Horizontal: 1,06 polegadas.
Flyer: não
Velocidade média: 2.870 fps.

Tamanho máximo do grupo: em geral é essa a medida que usamos para medir a precisão
da arma/munição. Entretanto, ela sozinha somente conta uns 50 ou 60% da história, ainda
mais em um grupo de 10 disparos e a 200 metros.
O tamanho máximo do grupo é a medida dos disparos mais extremos, ou mais distantes.
Um grupo pequeno, em geral quer dizer que a munição é muito precisa e constante.
Mas um grupo grande quer dizer que a munição não é precisa?

R: Não necessariamente... pois podemos ter, por exemplo, um grupo de 1,25 polegadas a
100 metros, que é acima do mínimo necessário para ser competitivo em F-Class, mas ao
analisarmos o grupo, vemos que 4 disparos estão em uma linha mais ou menos horizontal e
medem juntos 0,60 polegadas e que um único disparo, na mesma linha, só que bem mais
para o lado (um flyer), aumentou ou grupo para os 1,25 polegadas. E mais, no dia do teste,
havia vento entre 10 e 20km/h em rajadas alternadas.
Ora, nessas condições, fica fácil entender o grupo, com os 4 disparos mais ou menos em
linha (vento atuando sobre o projétil) que foram disparados em um vento relativamente
constante. E o quinto disparo, o flyer, provavelmente foi pego por uma rajada de vento mais
forte não detectada pela atirador!
Nesse caso hipotético, eu com certeza iria querer repetir o teste em um dia com condições
mais favoráveis, pois apesar do tamanho do grupo, pela análise dele e das condições
atmosféricas, acho que é uma carga muito promissora!

Mas voltemos aos nossos testes reais! E nesse momento serei obrigado abordar alguns
aspectos que serão melhor explorados na prática, no capítulo de "Ajustando a Munição:
tunning!", mas que será de grande valia agora...

O tamanho máximo do grupo de ambos os alvos são muito, muito próximos, de 1,27 e 1,16
polegadas. Como não há um flyer que possa alterar significativamente o tamanho do grupo,
eu diria que há um empate técnico nesse quesito.
Entretanto, conforme falei antes, pela forma e disposição dos disparos, me parece que o
grupo dos Berger VLD Target parece um pouco mais consistente. O que não é surpresa,
pois essa carga já é testada em provas e sempre se mostrou MUITO precisa.

O componente Vertical é a medida do grupo utilizando um vetor vertical, ou seja, a "altura"


do grupo.
Esse componente Vertical é extremamente importante, especialmente em distâncias acima
de 300 metros!
Em um grupo de disparos, tirando erros do atirador, em geral consideramos que o
componente Horizontal é causado pelo vento. Já o componente Vertical é causado por
variação de velocidade e carga "out of tune" ou, desajustada, fora do nó harmônico
(alteraçaõ na empunhadura do rifle, visada em sombra etc, mas que dizem respeito ao
atirador e não à carga em si).
A curtas distâncias, até uns 200 ou mesmo 300 metros, é mais difícil e de menor
importância, que variações pequenas na velocidade (20 ou 30 fps) causem uma alteração
radical no ponto de impacto no componente vertical, ou seja, para cima ou para baixo.
Entretanto, uma carga "out of tune", facilmente provoca variações grandes no componente
vertical!!!

Embora não seja o objeto desse capítulo (mais propício aos apreciadores da física
envolvidas no tiro no sistema de arma), o efeito "mangueira" do cano é um dos principais
fatores para essa variação vertical "out of tune" da carga, pois nesse caso, cada disparo está
ocorrendo com o cano, ora apontado para cima, ora apontado mais para baixo. Em termos
simples e rápido, essa é a explicação básica. O que queremos no tunning da carga pela
velocidade (quantidade de pólvora também) é fazer com que o disparo saia do cano quando
ele estiver no ponto mais acima ou no mais abaixo, pois qualquer variação de velocidade
será menos sentida (igual na pausa respiratória natural do atirador! De fato, os gráficos até
são semelhantes...). E isso será sentido (e medido) principalmente pelo componente
Vertical.
11/09/2009 Prova de F-Class, 1ª e 2ª Séries de 300m, 10 disparos cada. Rifle Remington
custom .308win.
Exemplo de munição "out of tune" com grande componente vertical. Repare que o
Componente Vertical é o dobro do componente Horizontal (pouco vento).
Eu tentei corrigir na segunda série essa variação Vertical, mas acabei piorando as coisas,
pois ora a tendência dos disparos era para subir e hora para descer... Lição aprendida!

Logo, eu dou bastante importância a esse componente Vertical, pois ele me sugere se a
carga está Out of Tune ou Tunned!
Nos nossos alvos de testes, os componentes Verticais estão em 0,94 e 0,89, para a Full Bore
e a VLD Target, respectivamente.
Tais valores são aprox. 1/3 a menos do que o Tamanho Máximo do Grupo, em uma relação
que considero bastante boa!
Para se ter uma idéia, imagine um grupo de 0,50 polegadas. Agora imagine um Vertical de
apenas 0,33 polegadas (1/3 menor do que o tamanho do grupo). Difícil imaginar que a carga
esteja "out of tune" ou fora de um nó harmônico do cano, certo?

Portanto, acredito que ambas as cargas estão no, ou bem próximo do, nó harmônico ideal do
cano. Talvez em testes futuros (no capítulo de Ajustando a Munição: tunning!) eu faça
alguma variação de carga para mais ou menos para tirar a prova real e ver se consigo
diminuir ainda mais esse componente Vertical. Mas para enquanto, já estou satisfeito!

Agora, vamos ao componente Horizontal. Como dito anteriormente, esse componente


vertical mede especialmente o vento (e problemas de gatilho e Natural Point of Aim, mas
esses são problemas do atirador e não da carga em si...). E claro que sendo o vento um dos
componentes que mais influencia o tiro de precisão (especialmente em competições com
distâncias conhecidas), devemos dar uma grande importância a esse componente
Horizontal.
Nos nossos alvos, temos um componente Horizontal de 1,16 e 1,06 polegadas,
respectivamente para os projéteis Full Bore e VLD Target.
Reparem que essas medidas são bem próximas ao tamanho máximo do grupo, o que
significa que o vento (ou o gatilho ou o natural point of aim) podem ter contribuído bastante
para esse grupo não ter sido MENOR do que efetivamente o foi.
Aí, cabe o auto questionamento se em alguns disparos foi erro do atirador...?

R: Penso que pode ter havido algum erro meu sim, no caso de NPA, em espcial no alvo dos
projéteis Full Bore, em virtude da formação de dois grupos em diagonal e também esse
grupo ter sido feito já no final da sessão de tiro (atirei também com outro rifle nesse dia,
ajudando um amigo...), o que significa que a força que estava usando (sem perceber) para
manter o retículo no centro, falhava em alguns disparos devido ao (inconsciente) cansaço do
atirador.
Já no caso do alvo dos projéteis VLD Target, talvez por causa de uma carga mais
"acertada", essa falha no NPA ficou amenizada ou errei menos...

O fato é que, apesar de eu ter ficado satisfeito com os grupos em geral, eles suscitaram um
AVISO sugerindo que eu treine melhor o NPA, dando mais atenção a esse fator no tiro.
24/10/2010 Prova de F-Class, 1ª e 2ª Séries de 300m, 10 disparos cada. Rifle Remington
custom .308win.
Exemplo de componente Horizontal. Reparem que na primeira série, o vento "me pegou" de
jeito, levando 4 disparos para a esquerda! Infelizmente as condições de miragem eram tão
severas que não consegui visualizar os impactos até ser tarde demais.
Já na 2ª Série, com a miragem um pouco menor, e já conseguindo observar alguns
impactos, consegui manter todos os disparos centrados, embora com um pouco mais de
variação Vertical.

Um aspecto que até agora não mencionei, diz respeito à Velocidade.


Claro que a velocidade irá influenciar em alguns pontos, notadamente no ponto de impacto
a maiores distâncias (= maior influência) e até no tamanho do grupo (novamente, em
distâncias maiores, a partir de 300 metros...).

Outro ponto importante na verificação da velocidade diz respeito à pressão e segurança da


carga. Não adianta eu querer achar que com esse projétil no .308win eu irei chegar aos
3.200 fps de velocidade, pois não vou! E se eu ler isso no meu cronógrafo, das duas uma: ou
ele não está funcionamento corretamente, ou estou prestes a sofrer um acidente por excesso
de pressão!!!
Portanto, recomendo medir a velocidade nos testes. Eu coloco meu cronógrafo no chão
(pois atiro deitado) e ao mesmo tempo que faço os testes de precisão, eu anota a velocidade
de CADA disparo.
Com isso eu sei que estou dentro da margem de segurança (um dos elementos indicativos),
sei se a queima e/ou neck tension está constante e, principalmente, me permite fazer uma
tabela balística usando programas de computador, mesmo que eu não tenha um estande para
checar em maiores distâncias!
Na verdade, para uma recente competição em São Paulo, com distâncias desconhecidas até
600 metros, eu fiz exatamente isso! Como não tenho disponível estande com mais de 300m,
eu cliquei meus tiros em 50, 100, 150, 200, 250 e 300m e completei as distâncias restantes
(até 800m) usando o JBM on line. Não vou dizer que isso é o ideal, pois não é! Mas deu
para o gasto, atingindo alvos até os 520 metros de distância (o segundo disparo mais longo
da prova. O mais longo, a 550 metros, eu errei por pouco ).

Em resumo: ambos os projéteis e suas cargas tiveram um ótimo desempenho e merecem


outros testes!

Conclusão -

Como se pode ver, temos que buscar um EFETIVO feedback, um retorno de informações,
dos nossos alvos! E para isso, temos que trazê-los para casa, medí-los e analizá-los para
extrairmos informações para nos tornarmos melhores atiradores e recarregadores!

SE eu tivesse um coach (um Lowlight por exemplo) ao meu lado, claro que esses pontos e
erros seriam imediatamente identificados e corrigidos na hora. Mas como não tive um
Lowlight do meu lado (e o mais próximo disso aqui no RJ estava ocupado com seu próprio

super hyper mega rifle ), a análise teve que ficar para depois, no recanto do lar.

Mas ela não acabou! Guarde o alvo em arquivo fotográfico, ou seja, tire umas fotos,
coloque uma legenda (para saber depois qual a carga, tamanho, condições etc) e armazene
no seu micro. Esse arquivo pessoal de alvos de treinos e testes será valiosíssimo como fonte
de consulta! Quase tão valioso como um Log Book. Aliás, ele é uma espécie de Log Book,
pois será a fonte de informações dos seus treinos, testes, impressões, análises, conclusões
etc!!!
Essa talvez seja uma boa hora para falar em um aspecto do tiro no Brasil (e também no
mundo...) que é a falta de HUMILDADE dos atiradores. Não estou tratando da humildade
externa, aquela que falamos que não somos bons atiradores, que ainda temos muito o que
aprender etc. Mas sim da HUMILDADE ÚTIL, ou seja, na prática: pegue seus alvos e
mostre a quem você considera um melhor atirador! Peça para ele lhe acompanhar ao
estande para verificar seu posicionamento! Peça para ele lhe criticar, opinar e sugerir
melhorias! Enfim, mostre o seu TIRO a quem possa lhe AJUDAR a ser um melhor atirador
ou recarregador!!!
Ficar "escondendo o jogo", sem mostrar aos outros (ou pior: escondendo) seus alvos, seus
treinos, seus resultados, suas opiniões, suas técnicas etc, não vai fazer de VOCÊ um atirador
melhor... E com certeza, não irá contribuir para o Tiro na sua região, no seu clube e no
Brasil!
Ninguém nasce sabendo! O que eu sei é que pouco sei, mas quero aprender cada vez mais!
E acredito realmente que é assim, trocando informações, uma das melhores formas de se
aprender.
Aqui no Brasil é muito difícil termos instrução formal de qualidade (posso contar nos dedos
de uma mão os bons que conheço!), ainda mais com a escassez de estandes de Rifle, de
equipamentos etc. Quanto mais informação circular, maior a troca de experiências, mais
atiradores empolgados estarão na linha de tiro e frequentando o clube, o nível das
competições aumentarão etc. É um ciclo em que, cada um contribuindo um pouco, todos
irão sair ganhando.

Próximo e Último Capítulo: Ajustando a Munição: tunning!

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