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RECARGA BÁSICA PARA RIFLES

1- Faça um Plano!

A primeira providência antes de sequer tocar em algum equipamento de recarga é


estabelecer alguns objetivos para a recarga que irá ser feita. Ela visa a testar algum
componente novo (projétil, pólvora etc)? Ela será recarregada para uma competição de
precisão (F-Class, ISSF 300m etc)? Será uma munição para caça? Será uma munição para
plinking ou provas em que a precisão exigida não é tão grande (NRA Sporting Rifle por
exemplo)?

No meu caso, irei testar alguns projéteis no meu rifle .308win visando comparar a precisão
desse rifle usando uma coronha McMillan A5. Até então, meu rifle Remington custom
F/TR .308win estava com uma coronha AICS 2.0. Entretanto, como não sabia na época se
eu iria me adaptar a essa coronha, pedi para o armeiro preparar uma coronha McMillan A5
para o mesmo rifle (com carregador destacável Surgeon/AICS, pillar bedded etc). Apesar de
conseguir precisão excelente com a coronha AICS, descobri recentemente que ela é um
pouco desconfortável para o tiro de posição (joelho, deitado sem apoio etc) e fiquei
pensando se a McMillan A5 não seria mais adequada....

Como conheço a precisão do rifle com a coronha AICS, resolvi fazer uns testes com
algumas munições que já são boas, nesse rifle com a coronha McMillan A5.

Por esse motivo, os estojos já foram disparados nesse rifle, o neck turning e outras
preparações já foram feitas (em geral, somente uma vez na vida do estojo) e já sei alguns
parâmetros da recarga.

Para aqueles que irão fazer a recarga pela primeira vez (em estojos novos), o procedimento
é praticamente o mesmo. E quando não o for, irei explicar métodos alternativos, ok?

Portanto, meu plano é o seguinte: tenho 25 estojos para testar 5 cargas diferentes (5 disparos
para cada grupo), a 100 metros e 2 disparos de fouling (para "sujar" o cano). As cargas
serão (atenção: essas cargas são seguras somente no meu rifle. Não tente copiá-las. Siga as
recomendações dos Manuais de Recarga impressos):

- Sierra 155gr. Matchking (#2155), CBC 102 #2091 43,5grains X5


OAL aprox.= 2.800 polegadas e DTL=3.150 polegadas.

- Berger 155gr. VLD Target, CBC 102#2091 43,5grains X5 e 43,0grains X5


OAL aprox.= 2.815 e DTL=3.100

- MKS 175gr. BT, CBC 102#2091 40,5gr. X5 e 41,5gr. X5


OAL= 2.810 e DTL=3.085.
- 2X fouling shots: um de Berger 155gr. VLD e outro de MKS 175gr.BT

Essa é a forma que escrevo minhas recargas, enquanto recarrego. Aliás, recomendo a todos
que escrevam todos os detalhes da carga que se está fazendo e deixe essa anotação dentro
da caixa de munições respectiva. E depois de testá-las ou usá-las, anote todos os dados
(inclusive da performance da munição) em um caderno ou faça um arquivo no computador
(eu uso uma tabela básica do Excel).

Para mim, um pedaço de papel pequeno, daqueles de anotar recados, funciona bem e cabe
tranquilo dentro da caixa de munição. No verso do papel eu faço um desenho da caixa de
forma a mostrar onde está cada carga, para não misturar na hora de atirar.

2- Limpe e Examine os Estojos:

Uma vez decidido exatamente o que vai se recarregar (pois já se tem um plano...), agora é a
hora de colocar realmente a mão na massa.
Com os estojos a serem recarregados, eu os limpo de duas formas: no tamboreador quando
eles estão muito sujos ou então só o pescoço, se eles ainda estiverem razoavelmente limpos.

Como pode-se ver pela foto abaixo, eles já estão razoavelmente limpos e portanto, eu uso
uma esponja de aço ultra fina, comprada na Sinclair (nos EUA) para dar uma limpada no
pescoço e retirar o carbono que fica impregnado ali após o disparo.

Uma lata de lixo logo embaixo é bem útil para pegar os micro filamentos de esponja de aço
e o carbono que caem do estojo. Basta um giro rápido com leve pressão e o pescoço fica
limpo!

Não usem as palhas de aço nacionais, pois são muito grossas. Compre da Sinclair e mande
entregar aqui.

Outro produto que funciona muito bem também é o Crazy Cloth, também vendido na
Sinclair e bem barato (aprox. U$3,00). É um pano embebido em uma substancia que me
lembra o Silvo para lustrar metais. Ele limpa o pescoço dos estojos de uma forma
sensacional e fácil. Mas ele resseca bem as mãos, portanto, também é recomendável que se
use luvas.
Falando em luvas, reparem que eu uso luva nas mãos (no caso só estava usando luva em
uma das mãos para poder operar direito a câmera fotográfica). Isso traz alguns benefícios
nessa etapa: evita que se suje muito os dedos (com resíduos de carbono, chumbo, metais
etc) e, principalmente, evita-se contaminação desses resíduos nos equipamentos de recarga
nas etapas seguintes, o que pode danificá-los (ex: arranhar o die, desgastar a prensa etc).

Quanto recarrego projéteis de chumbo (em geral para as provas de Silhueta Metálica e NRA
Sporting Rifle), eu uso luvas em todas as etapas (com exceção da lubrificação dos estojos).

Use luvas de latex, são muito baratas (aprox. R$12,00 o cento de luvas). Seu equipamento e
sua saúde agradecem!

Passe também uma escova no interior do pescoço, pela boca. Em geral eu uso escovas de
latão, compradas na Sinclair. Basta uma volta entrando e saindo reto, para retirar resíduos
grossos de carbono e dar uma uniformidade na parede interna do estojo, aumentando assim,
a consistência do grip do pescoço no projétil, mas principalmente, facilitando o trabalho do
expander do die (se usado).

O problema da escova de latão é que nesse tipo de operação ela acaba rápido. Dá para
limpar bem no máximo uns 200 estojos, depois disso ela fica danificada a ponto de não
mais limpar muito bem. Uma solução recente e que ainda estou testando são as novas
escovas de nylon da Sinclair especialmente para a limpeza do pescoço (não é a escova para
limpeza do cano!). Até agora, me parecem ser um pouco menos eficientes, mas duram
quase uma eternidade...

Nessa etapa eu também faço uma inspeção prévia dos estojos. O que estou procurando são
anormalidades, como rachaduras no pescoço, amassados na boca do estojo etc.

Estando tudo OK e limpo, passemos a fase seguinte.

3- Despoletar:

Em geral, a maioria das pessoas faz essa operação juntamente como resize, pois os dies já
vem com o pino despoletador. Entretanto, eu a faço em duas operações: despoleto e depois
faço o resize.

A razão para isso não está na munição em si, mas sim na manutenção e conservação das
minhas prensas de recarga. Despoletar é a maior causa de desgaste e danos nas prensas e
dies. Os resíduos das espoletas deflagradas são altamente abrasivos e se acumulam nas
junções das prensas, funcionando como uma lixa. Esses mesmos resíduos, se entram em
contato com as paredes dos dies, ocasionam riscos.

Por esses motivos, uso um die despoletador Redding na minha prensa Redding T7, que é
muito robusta e possui 7 estações de dies. O die despoletador Redding Small Primer
PPC/BR fica permanentemente nela.
Estojo no die despoletador Redding (ao lado um outro die despoletador RCBS). Ao fundo,
um anti umidade EVA DRY (reutilizável e eficaz para armários e gavetas. Presente do meu
amigo SigSauer! ).

Apesar de possuir dois dies depoletadores (um Large e outro Small primer) eu optei por
usar somente o Small, pois com isso, há menos chances de danos no buraco da espoleta
(evento) quando dessa operação. Eu já praticamente inutilizei 50 estojos quase novos de 30-
06 por conta de um pino despoletador Large primer levemente desalinhado: ele batia na
borda do buraco, tornando-o oval.
4- Limpeza e Uniformização do bolso da espoleta:

Até uns 3 anos atrás eu usava um limpador do bolso da espoleta da Lee e depois da Dewey.
Eles cumpriam bem sua missão e custam bem baratos (menos de U$5,00). Entretanto, após
uma conversa com o Boris, decidi adquirir o uniformizador do bolso da espoleta da Sinclair.

O que essa ferramenta faz é cortar o fundo do bolso da espoleta até uma medida padrão de
profundidade. Na prática, a cada vez que se usa (e não se alcança a profundidade padrão)
ela limpa completamente o bolso da espoleta. E quando se alcança a profundidade padrão,
ela não corta mais o fundo do bolso, mas continua a limpa-lo! O fato de poder usar essa
ferramenta com uma aparafusadeira manual torna todo o trabalho muito mais rápido!

Notem a ferramenta da Sinclair (Primer Pocket Uniformer tool + adapter for cordless drill)
com o adaptador para a aparafusadeira e o bolso da espoleta sujo.
Na foto seguinte, o bolso da espoleta já limpo (como é um estojo já usado, a profundidade
já está no padrão).

Novamente, recomendo fazer essa operação com uma lata de lixo por baixo, para não sujar
o local da recarga.

5- Full Lenght Resize:

Para esse teste que escolhi fazer, utilizarei um resize integral do estojo, ou Full Lenght
Resize. Eu poderia utilizar a técnica de resizear somente o pescoço (Neck Size), mas como
os testes anteriores foram feitos com full lenght resize, farei-os da mesma forma.

Para isso, é preciso, claro, um die Full Lenght.

Existem alguns tipos. Para estojos novos (nunca disparados) ou que foram disparados em
outro rifle (especialmente os rifles de competição da AMAN, da AFA ou da EM), eu uso o
Small Base Die. Esse é um die feito nas medidas mínimas da SAAMI e resolvem eventuais
problemas de alimentação na câmara de estojos disparados em câmaras muito folgadas ou
com dimensões não SAAMI.
Um die Full Lenght normal, em geral costuma resizear esses estojos disparados em outras
armas de forma eficiente. Mas eu já tive muitos casos em que eles não foram suficientes e
para isso tenho também o Small Base Die. Pode-se passar o estojo somente uma vez nesse
die e pronto. Dali em diante, pode-se usar os dies normais que o problema já foi resolvido.
Os dies normais também são essenciais para se fazer um neck turning de qualidade, mas
isso é assunto para o módulo Avançado...

Como meu objetivo nessa recarga é ver a precisão da munição, usarei um die Redding
Competition com bushings.

Na foto acima, pode-se ver um jogo de dies Redding Match Type "S" com (da esquerda
para a direita) o die Seater, o Neck Size e fora da caixa o bushing .335 (dourado), o
headspace gauge e o die Full Lenght.

Obs: no pedaço de papel estão anotadas as operações que já fiz ou que ainda precise
fazer. Muitas vezes, começo alguma parte da recarga e continuo outro dia, logo, deixar
anotado o que já se fez é bem útil para evitar confusões.

Na foto abaixo, pode-se ver como funciona o bushing no die. No meu caso, eu utilizo
um bushing com a medida de .335 (para fins de foto, peguei um bushing .336, como
pode-se ver escrito nele), ou seja, ele irá "apertar" o pescoço até .335 polegadas de
diâmetro. Após inserir o projétil, o diametro do pescoço ficará em .337, ou seja, com
uma tensão/grip de 0.002 polegadas, o que é adequado e evita que o projétil se mova
dentro do estojo no carregador, mesmo com o recúo da arma.

Insere-se o bushing dentro do die, pois é ele que irá resizear o pescoço. O corpo será
resizeado pela parte maior do die, de aço. Após inserir o bushing, coloca-se o conjunto
despoletador/expander do die e enrosca-se até o fim e volta-se de ¼ a ½ volta para
deixar o bushing "solto" no interior do die, de forma a que ele não promova qualquer
efeito "banana" (torça) no pescoço.
Sobre o expander do die...

O expander do die serve para, na saída do estojo, aumentar o diâmetro interno do


pescoço (que foi apertado na entrada) para uma medida padrão, que em geral é algo
como 0.304 à 0.306 polegadas. Por isso nos manuais se diz para lubrificar internamente
o pescoço. Mas mesmo com lubrificação, essa passagem do expander pode "puxar "
todo o pescoço para cima, carregando junto o ombro e com isso, alterando o headspace
do estojo. E isso não costuma ser bom para extrema precisão...

Ao se fazer o neck turning, ou seja, uniformizar a parede do pescoço, usando uma


espécie de cortador/raspador do pescoço, consegue-se que as paredes do pescoço fiquem
com uma medida exata em todo sua extensão. Dessa forma, usando-se um bushing com
o tamanho apropriado (no meu caso .335), ao se resizear (apertar) o pescoço do estojo
por fora (com o bushing), o diametro interno também será apertado na mesma
proporação. Com isso, não é preciso o uso do expander do die e tampouco qualquer
lubrificação interna do pescoço do estojo, pois nada irá passar por ali.
Nos dies comuns, sem bushing, deve-se usar o expander!

Nos dies com bushings ou dies custom (feitos com uma medida especial do pescoço), e
após o neck turning ter sido feito, não é preciso usar o expander do die.

Bem, agora vamos ajustar o die de Full Lenght na prensa.

O objetivo básico do Full Lenght resize é, além de uniformizar o pescoço, uniformizar o


headspace. Em linguagem mais simples: apertar o ombro para baixo.

Em geral os manuais recomendam ir girando o die na prensa até que ele encoste no shell
holder (com o eixo da prensa, ram, levantado). E além disso, dê mais 1/8 à 1/4 de volta!

Esse método irá garantir (em 99,9% dos casos) que o estojo será resizeado e entrará em
todas as câmaras de rifles de fábrica existentes. Mas ao mesmo tempo, poderá resizear
em excesso, o que não é bom para a precisão e, mais grave, encurta muito a vida útil do
estojo, podendo em casos extremos gerar o case head separation, a ruptura da base do
corpo do estojo durante o disparo e/ou extração.

Portanto, devemos proceder a uma melhor regulagem do die para que ele faça o resize
do estojo na medida exata em que ela é necessária, entre 0,001 e 0,002 polegadas. E
como fazer esse ajuste?

Há algumas formas e eu conheço e faço duas. Aqui, só comentarei e demonstrarei uma,


pois é a mais correta, fácil e segura. Para isso, precisa-se de um paquímetro e um
headspace gage, que pode ser feito por algum armeiro (de preferência com o reamer
usado na sua arma) com um pedaço de cano de 1 polegada de comprimento. Ou
compra-se uma ferramenta adequada que irá fazer a mesma coisa. Para variar, a Sinclair
vende uma muito boa...
Na foto acima, pode-se ver o headspace gage. Ele nada mais é do que um pedaço de
cano onde se usou o reamer que abriu a câmara do seu rifle, portanto é uma "parte da
câmara" da sua arma, pegando-se o pescoço e o ombro. Insere-se o estojo já disparado
na sua arma nele e mede-se o comprimento total (lembre-se que o headspace gage
encosta somente no ombro do estojo).

No meu caso, o comprimento total foi de 2.176 polegadas.

Lembram-se que falei que o ideal é que o resize do headspace fosse de 0,001 à 0,002?
Pois é, portanto nosso objetivo ao regular o die será "abaixar" o ombro para que quando
medirmos novamente o resultado seja até 2.174 polegadas.
Agora que já temos uma medida e um objetivo (diminuí-la em até 0,002 polegadas), é hora
de instalar o die na prensa. A princípio, enrosque o die até que ele encoste no shell holder. E
dê uma ou duas voltas inteiras para cima, afastando o die do shell holder.

Agora, pegue o estojo e lubrifique-o. Eu uso Imperial Sizing Wax e recomendo a todos!!!
Vem em uma latinha pequena e dura uma eternidade. A latinha da foto foi a primeira que
comprei, cerca de 4 anos atrás e ainda não acabou.

Passe o dedo na cera (nessa hora é que tem que tirar a luva, pois caso contrário não se tem a
sensibilidade para saber o quanto de cera tem no dedo) e junto verá que vem um pouqinho
de cera. Passe com o dedo em todo o estojo, até que ele fique completamente lubrificado. A
quantidade é pequena, o suficiente para "melar" o estojo, mas sem que se possa ver a cera.
Nos primeiros estojos a quantidade de cera exigida é um pouco maior do que os seguintes,
pois o die acaba retendo um pouco da cera.

Além de durar uma eternidade, ser barata e muito eficiente, a grande vantagem, para
mim, é que, diferente dos outros produtos do tipo RCBS e LEE, a cera não é baseada
em água e portanto não enferruja os dies, como ocorre com esses outros produtos.
Se o die usado for comum, com o expander, deve-se lubrificar internamente o pescoço.
Pode-se usar uma escova de nylon com Imperial Sizing Wax ou pode-se passar a cera
raspando a borda com o dedo. Dessa forma, dá para verificar que há cera acumulada nas
bordas internas. Só um pouco é suficiente.

Com o estojo lubrificado, coloque-o no shell holder apropriado (existem vários shell
holders para diferentes tipos de calibres. Por sorte, o shell holder do .308win é o mesmo
do 30-06, 6mmBR, 7-08rem, .260rem etc) e abaixe a alavanca da prensa, inserindo o
estojo no die. Fique atento com a força empregada. Usando o Imperial Sizing Wax a
força exigida é bem menor. Se tiver que fazer uma força excessiva (alterando a posição
da mão ou do braço na alavanca ou, pior ainda, tendo que "subir" na alavanca para
resizear), pare imediatamente. Volte e verifique o estojo, se tem lubrificação (externa e
interna), se o die é realmente do mesmo calibre ou mesmo se o pino despoletador está
empenado. Em geral essas são as causas para um Full Lengh Resize muito duro.
Se tudo estiver indo bem, vá até o fim do curso da alavanca e volte. Retire o estojo e tire
novamente a medida com o headspace gage. Na minha primeira medição, a medida
ainda estava em 2.176. Portanto, dei mais 1/4 de volta para colocar o die mais para
baixo. Lubrifiquei e novamente fiz o resize e medi mais uma vez: ainda 2.176. Como o
die já estava quase encostando no shell holder, passei a dar somente 1/8 de volta no die.
Após a terceira tentativa, ao medir, lá estava o resultado que eu desejava: 2.1745,
bingo!!!

Fiz o resize dentro da medida pretendida, de 0,0015.


Com essa regulagem, eu tenho absoluta certeza que estou fazendo Full Lenght Resize na
medida exata (0,0015) que o estojo precisa para o meu rifle, de forma a ter a maior
precisão e maior vida útil do estojo, com total segurança!

O ajuste do die, da forma como relatei, é feito na base da tentativa e erro. E ajustes
muito pequenos devem ser feitos para não "passar do ponto". Mesmo que isso ocorra, o
estojo continua utilizável. Separe esse estojo para usar como fouling shot, ou seja, para
sujar o cano, e na próxima vez, faça o resize normalmente, com a medida correta.

Uma outra forma de se fazer essa regulagem é usando os Skipp Otto Die Shims, que são
nada mais do que uns discos de metal muito finos (quase um papel laminado) cortados
em variadas espessuras (de 0,003 até 0,020) que devem ser colocados entre o die e a
prensa. Combinando esses shims pode-se regular o die para se afastar ou aproximar do
shell holder sem mexer no anel de fixação do die na prensa. Com isso, o ajuste do die é
muito mais simples. E, claro, esses die shims são vendidos na Sinclair... (e olha que não
trabalho nem ganho comissão da Sinclair!!!)

Com o die regulado, é só uma questão de lubrificar, resizear o estojo e passar um pano
para limpar o Imperial Sizing Wax do estojo. Se foi usado a expander do die, deve-se
passar um cotonete no interior do pescoço para retirar a cera.

6- Verificar Comprimento do Estojo e Trimar:

Muita gente faz esse passo antes de resizear. Eu faço depois. Na minha opinião, acho mais
lógico uniformizar o comprimento do estojo após suas outras dimensões estarem
uniformizadas (com o resize).

Talvez, trimar o estojo antes do resize seja melhor para quem usa o expander do die, pois
ele pode "puxar" o pescoço para cima, alterando o comprimento do estojo após o resize.

A verificação do comprimento é bem simples, feita com um paquímetro em um estojo sem


espoleta. O ideal é que seja feito um a um, mas por vezes uma pesquisa por amostragem já é
suficiente, especialmente se verificar alguns estojos com dimensões bem diferentes.

E foi esse justamente o meu caso, ao descobrir alguns estojos com comprimento muito
acima dos outros (na faixa de 2,008 polegadas). Esse daí foi o maior que encontrei, com
2,015 polegadas. Portanto, já é a hora de trimar...
Eu uso um Wilson Trimmer com micrometro e base. Ele é muito preciso e possui uns
cilindros que seguram o estojo (em geral, um cilindro/gage serve para uns 2 ou 3 calibres
diferentes. Ex: .308win+243win+358win).

Há outros trimes no mercado que também são muito bons. Eu tive um trimmer RCBS e
gostava muito dele também. Um Redding e Forster também são ótimos.

E aqui, percebe-se claramente o cutter do trimer em ação, retirando material da boca do


estojo.
O resultado final, são estojos com comprimentos iguais de 2,005 polegadas:
Após trimar, devemos fazer um chanfro na boca do estojo, externamente e internamente.
Para o chanfro externo, uso um Chanfrer Tool da Wilson (mas qualquer marca serve,
RCBS, LEE, Hornady etc), que foi feito para o chanfro interno também.

Basta uma leve volta para fazer o chanfro externo.


E para o chanfro interno, embora a mesma ferramente possa ser usada, eu prefiro usar uma
da Sinclair para projéteis VLD. Essa ferramenta faz um chanfro com um ângulo mais suave,
evitando que a boca do estojo raspe a jaqueta do projétil.
Ferramenta da Sinclair para chanfro (Sinclair VLD Chanfrer Tool):

Novamente, basta uma volta ou duas de leve e pronto!

Com isso, nossos estojos estão 100% prontos para receber os demais componentes:
espoleta, pólvora e projétil!

8- Espoletar:

Com os estojos já totalmente preparados, agora chegou a hora de efetivamente montar a


munição e o primeiro passo e colocar as espoletas.

Eu uso uma ferramenta da Sinclair (pois é...) que é excelente, cara e muito precisa. Eu só
vejo vantagem em usar essa ferramenta se o bolso da espoleta for uniformizado. Com isso, a
sensibilidade e a fluidez são impressionantes ao se usar a ferramenta da Sinclair!
Se optar por não uniformizar o bolso da espoleta, pode-se usar o espoletador que as
prensas possuem. Eu já usei os da prensa Rock Chucker (o melhor) e da Redding T7
(não gostei muito pois move-se a alavanca para cima para espoletar). E com um pouco
de prática, se consegue chegar a resultados muito uniformes no assentamento da
espoleta.

Acima, bandeja com as espoletas e o espoletador da Sinclair.

De fato, a consistência na profundidade e orientação (desnível) da espoleta influencia


diretamente na ignição, que por sua vez, influencia na velocidade e precisão.

Portanto, há dois pontos a se observar. O primeiro é a profundidade da colocação da


espoleta. Em geral, ela deve ficar aprox. 0,002 à 0,004 abaixo da linha da base do
estojo. É o suficiente para sentir com o dedo que a espoleta está mais abaixo.

A ferramenta da Sinclair tem um conjunto de shims que permite regular a profundidade


da espoleta. E a cada operação, eu giro o estojo 1/4 de volta para que eventual desnível
seja corrigido.

Abaixo, pode-se ver como funciona o espoletador da Sinclair: coloca-se uma espoleta
nele, insere-se o estojo, aperta-se a alavanca até o final do curso, solta, gira 90%, aperta
novamente e pronto. Apesar de mais lenta do que as ferramentas da Lee, por exemplo,
eu espoleto 50 estojos em uns 5 minutos, se tanto.

9- Colocação da Pólvora:

A primeira providência é verificar se estamos usando a pólvora correta! Acidentes


ocorrem nessa hora, ao se usar uma pólvora diferente da pretendida. Na hora de apertar
o gatilho... bum!!!

Verificada ser a pólvora que se quer efetivamente usar, eu sempre anoto o lote.
Especialmente no caso da CBC 102, onde cada lote pode ser uma pólvora diferente (!!!).
No meu caso, o lote é o #2091 da pólvora CBC 102.

A segunda providência é "zerar" a balança, seja ela eletrônica (não gosto, embora tenha
convicção de que elas são o futuro...) ou mecânica. Eu uso uma RCBS 505 e gosto
muito. Já tive outros tipos e, sinceramente, não vi muita diferença entre elas. A melhor
(e bem cara) mecanica que tive foi uma RCBS 1010 e é bem robusta, com uma
cobertura acrílica transparente para transporte e armazenagem.

Para se zerar uma balança é só colocá-la em uma superfície plana, nivelada, e ajusta-la
de modo a que com o pan (a panelinha) vazia, a marcação do peso seja igual a zero.
Embora muito já se tenha dito e discutido (inclusive por mim) entre os métodos de pesar
a carga ou "lançá-la" do polvorímetro, aqui vou me ater ao que é mais seguro e comum,
que é pesar a carga. Usarei o polvorímetro, portanto, para lançar uma carga bem
próxima da desejada e com um powder trickler (gotejador), adicionar os grãos
necessários para a medida exata pretendida.

Na foto abaixo, já despejei uns 43,2grs de polvora. Agora é só acrescentar 0,3grs. com o
gotejador.
Acrescentando a pólvora que falta para os 43,5grs., com o gotejador RCBS:
O passo seguinte é transferir a pólvora para o estojo, usando a panelinha da balança e um
funil RCBS:
Nesse ponto, pode-se optar por, a cada vez que se colocar pólvora, já assentar um projétil.
Em geral, eu prefiro colocar pólvora em vários ou todos os estojos e, em uma outra fase,
assentar os projéteis.

Mas para que isso funcione, deve-se usar as anotações para não se perder com as diferentes
cargas. No meu caso, eu faço um desenho simples da caixa de munição no verso do papel
onde anotei as cargas que iria fazer e o coloco na parte interna da tampa da caixa de
munição, para me servir de guia e lembrete de qual carga é aquele cartucho. Isso me ajuda
no processo de recarga e também na hora de testar no estande, em saber quais cargas estão
naqueles cartuchos.
No meu exemplo acima, os cartuchos da esquerda (25 unids) já foram disparados e não
serão recarregados. Portanto no papel, só desenhei a localização dos cartuchos que irei
recarregar e testar, que ficarão na parte direita da caixa. Em cada fileira, estará uma carga
diferente.

Uma vez terminada a tarefa de colocar as pólvoras nos estojos, prestando muita atenção
para se colocar a quantidade correta de pólvora (especialmente quando se faz várias cargas
diferentes, como foi o meu caso), deve-se pegar uma lanterna ou uma luz direta e verificar
se realmente todos os estojos estão com pólvora e se não há algum estojo com uma
quantidade anormal de polvora, para mais ou para menos. Na dúvida, despeje a pólvora na
panela da balança e pese novamente.
Todas os estojos estão com pólvora e nenhum aparenta estar com uma carga anormal. Uma
lanterna é bem útil nessa hora, para iluminar o interior dos estojos.

Bem, agora é hora de assentar o projétil!

10- Assentamento do Projétil:

Novamente, peço que prestem bastante atenção em qual estojo estão assentando o projétil!
Ele deve estar de acordo com a carga! Especialmente se em uma mesma sessão de recarga,
for fazer várias cargas, como eu fiz...

Eu uso o die Redding Match, com micrômetro, para fazer o assentamento. Ele é um die
assentador normal, com duas características especiais: possui uma espécie de luva que desce
do die e direciona o projétil, evitando que (em especial nos projéteis flat base) ele entre no
estojo "torto". E também possui uma regulagem de assentamente milimétrica.

Em tese, basta inserir o die na prensa, e ir rosqueando até que fique a uma distância
razoável do shell holder. O melhor para regulagem é usar um cartucho carregado de fábrica
como "dummy", ou seja, coloque o cartucho carregado no shell holder, mova-o para cima
com a alavanca e vai rosqueando o die sem a parte do seater! Quando sentir que o corpo do
die encostou no estojo, pare!!! Dê uma ou duas voltas completas para cima no die (para
afastá-lo do shell holder e do cartucho) e trave-o. Agora insira o conjunto do "seater"
(assentador) do die até sentí-lo encostar no projétil e pare!

Se você, nesse ponto, abaixar mais o corpo do die, você vai crimpá-lo. O crimp só é
recomendável para calibres de caça muito fortes, pois essa "dobra" na boca do estojo segura
mais o projétil no recúo. Eu particularmente nunca crimprei cartuchos para rifles, até porque
o crimp é prejudicial à precisão. E mesmo com munição de caça e com seu uso em caçadas,
não crimpei.

Com o seater, você pode regular o assentamento do projétil para cima ou para baixo.

A questão então, é como medir a altura do projétil?


Die Redding Match com regulagem micrométrica.

Em geral, os manuais dão a medida em OAL, ou OverAll Length (comprimento total do


cartucho). Essa medida não é muito boa, pois se baseia no comprimento total do cartucho
carregado com o projétil. O problema é que a ponta dos projéteis possuem variações,
especialmente nos projéteis do tipo Match Open Tip. Portanto, a melhor forma de medir o
assentamento dos projéteis é pela ogiva.

Para isso, há uma ferramenta simples e muito eficiente da Sinclair (olha ela aí de novo...)
que é basicamente uma porca com furos feitos para diversos calibres. Eu chamo essa
medida de Distance To Land, ou DTL, mas sei que na verdade ela não representa a
distancia até a raia do meu rifle. De todo modo, essa medida servirá como uma referência
(da mesma fora que a medida do headspace).
Para se saber exatamente a medida correta da distancia até as raias, ou o comprimento
máximo do cartucho em que o projétil encosta na raia, é preciso uma ferramenta, e
novamente, a Sinclair disponibiliza uma muito boa e não é cara, composta de uma vareta,
uma guia e dois "stops". Simples e eficiente!

Entretanto, essa medida de distancia até a raia, ou "na raia" do projétil montado no cartucho
pode ser limitada pelo tamanho do carregador do rifle. Para o .308win em geral o
carregador possui um espaço de 2.800 polegadas (no caso de rifles Remington). Nos
Mausers, essa distância é muito maior pois o calibre original, o 7x57mm é bem mais longo.

Assentando o projétil.
No meu rifle em particular, com carregador AI (Accuracy International), o comprimento
m€ximo total • de aprox. 2.850 polegadas. O que me permite, na pr€tica, cartuchos com at•
uns 2.840 polegadas.

Como eu j€ conhe‚o meu rifle e suas cargas, sei que a carga que quero fazer (no caso do
proj•til MKS 175gr. BT) com um OAL de 2.810 e que isso representa com a minha "rosca
da Sinclair" uma medida de DTL=3.085.

Sei tamb•m que meu die est€ regulado para "zero" com essa medida. Logo...

OAL =2.810 (eu dou um desconto por hoje ser dia 31 de dezembro...e por conta de
varia‚ƒes na ponta – meplat – do proj•til).

Que representa em DTL (ou pela minha "rosca da Sinclair")...


DTL= 3.085, a exata medida que buscava.

Com isso, deu para perceber que o OAL não é muito confiável como medida. E daí, o uso
do DTL (rosca Sinclair) ser bem mais preciso.

Para quem não tem a ferramenta da Sinclair para ver o comprimento máximo do cartucho
até encostar na raia, há uma forma alternativa, usando-se o ferrolho sem o conjunto do
firing pin (percussor). Mas isso é uma operação para a parte Avançada desse "guia", uma
vez que esse "jump" (pulo) ou "into the land" (na raia) do projétil é usado para fazer um
tunning (ajuste) fino na carga para competição.

Se seguir o que consta no manual do fabricante do projétil, é quase certo de que ficará o
projétil fora da raia (jump) e com isso, evitar eventual excesso de pressão. Nesse ponto e
fase da recarga (Básica), proceder dessa forma, como indicam os manuais, é o mais
recomendável!
E para provar que mesmo assim se consegue excelente precisão, em todas as cargas que fiz
aqui, os projéteis tem "jump", ou seja, são distantes da raia entre 0,20 e 0,70 polegadas.
Aliás, esse é um ótimo início para se saber como o rifle e a carga se comportam, de forma
segura. E posteriormente, ir variando esse "jump" para ajustar a precisão.

No caso do meu rifle eu sei que o DTL máximo até que o projétil encoste na raia, no caso
do projétil MKS 175gr. BT, é de 3.135 polegadas. Logo, estou com um jump de 0,050
polegadas.

No caso dos projéteis Berger 155gr. VLD Target, por possuírem uma ogiva mais
"afilada/pontuda/reta", essas medidas serão totalmente diferentes.

Aliás, para cada tipo e peso de projétil, háverá uma medida de DTL diferente! Portanto, é
bom anotar muito bem para futura referência.

Feito o ajuste para aquele projétil/carga, repita a operação para os outros projéteis de mesma
marca e tipo.

Para outros projéteis, de marcas, pesos e/ou formatos diferentes, deve-se proceder a novo
ajuste do assentador do die. Nesse ponto é que o ajuste micrométrico se mostra de grande
valia, pois basta anotar e da próxima vez colocar o seater naquele número anotado no ajuste
micrométrico.

Finalmente, temos portanto os nossos cartuchos recarregados, de forma precisa, segura e


consistente.

Agora é a hora de testá-los! E planejo fazer isso nos próximos dias.... aguardem os
resultados.
Pessoal, é isso.

Espero que esse guia seja útil a todos que gostam de rifle. Mesmo os que já recarregam,
quanto aqueles que estão iniciando e, principalmente, aqueles que tem receio de iniciar...

Qualquer dúvida, comentário ou mesmo correção (afinal, posso ter escrito alguma
bobagem...), serão muito bem vindos!!!

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