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Fevereiro 2024

— Tempo Comum
Apresentação do Senhor
Cinco Chagas do Senhor

— Tempo da Quaresma
Cinzas

Gonçalo Miller Guerra, sj (Semanas)


Nelson Faria, sj (Domingos)
Tempo Comum O Senhor (…) é o Rei da glória. (Salmo)
––––––––––––––––––––––––––––––––
Dia 1 | Quinta-Feira «O Senhor forte e poderoso».
Semana IV Israel concebia Deus com algu-
do Tempo Comum mas das caraterísticas de um rei
–––––––––––––––––––––––––––––––– humano, mas todo-poderoso. Ge-
1 Reis 2, 1-4.10-12 / 1 Cr 29, 10-13 / ralmente, ainda temos essa ideia.
Mc 6, 7-13 Gostamos de acalentar o pensa-
Segue os seus caminhos [de Deus], mento de que Deus nos vai fazer
cumprindo os seus preceitos (…). Assim aquele milagre raríssimo – «mas
serás bem-sucedido em todas as tuas que pode acontecer», pensamos
obras. (1.ª Leitura) – de nos curar o parente. A ora-
–––––––––––––––––––––––––––––––– ção de muitíssimas pessoas é
Hoje em dia já sabemos que esta quase só pedir. E devemos pedir
frase espelha apenas o pensamento sem cessar, mas a fusão com Ele
(errado) do povo hebraico daquela e não tanto benefícios. O Rei da
altura. Nem podia ser de outra ma- Glória deu a vida desprezivelmen-
neira. Se tudo corresse bem às pes- te e ensinou-nos um amor sem
soas que amam muito Deus, o seu limites à Trindade, ao outro e a
semelhante e elas mesmas, as pes- nós mesmos.
soas estariam como que compradas
por Deus. Algumas (muitas?) pessoas Dia 3 | Sábado
só fingiriam amar (porque não seria Semana IV
amor verdadeiro) para que tudo lhes do Tempo Comum
corresse bem. Peçamos, antes, força, 1.º Sábado
coragem e alegria. Muita alegria. ––––––––––––––––––––––––––––––––
1 Reis 3, 4-13 / Slm 118 (119), 9-14 /
Dia 2 | Sexta-Feira Mc 6, 30-34
Apresentação do Senhor E compadeceu-se de toda aquela gente,
(Festa) porque eram como ovelhas sem pastor.
Dia dos Consagrados / 1.ª Sexta-Feira (Evangelho)
–––––––––––––––––––––––––––––––– ––––––––––––––––––––––––––––––––
Mal 3, 1-4 / Slm 23 (24), 7-10 / Às vezes, assim parece-
Hebr 2, 14-18 / Lc 2, 22-40 ou 2, 22-32 mos. Lembro-me de um dia, em
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1986, hesitar no que havia de fa- para estar «ocupado», como se fos-
zer, subia e descia escadas cons- se pecado ou desperdício de tempo
tantemente, com ideias diversas não ter sempre «coisas para fazer».
sobre o que fazer… Por fim, fui Infelizmente, parecemos uma ge-
à capela e saiu-me: «Pai, assim ração de Job’s, insatisfeitos com a
não». (Digo «saiu-me» porque foi velocidade dos dias, como ouvi-
sem pensamento prévio e nunca mos na primeira leitura, quando
tinha rezado ao Pai). Fiquei logo deveríamos parecer Paulo, cujo en-
muito mais calmo e este episódio tusiasmo pelo que faz é palpável. O
foi o começo de uma relação com anúncio do Evangelho, ainda que
o Pai. Às vezes, basta pararmos e imposto como obrigação, como
entregarmo-nos. Mas, claro, o lei- diz Paulo na segunda leitura, faz
tor é que vê se isso acontece na com que este corra cheio de vida,
sua vida. contando como recompensa não o
resultado do trabalho, mas o privi-
Dia 4 | Domingo légio de anunciar.
Domingo V Quão diferentes seriam as nos-
do Tempo Comum – Ano B sas vidas se olhássemos para as
Dia da Universidade Católica tarefas que temos pela frente como
Portuguesa a nossa oportunidade de dar tes-
–––––––––––––––––––––––––––––––– temunho do Evangelho. Para viver
Job 7, 1-4.6-7 / Slm 146 (147), 1-6 / desta forma, mais do que vontade
1 Cor 9, 16-19.22-23 / Mc 1, 29-39 de o fazer, temos de aprender com
–––––––––––––––––––––––––––––––– Jesus a viver centrados, pois é aí
Quando nos encontramos com que se encontra o segredo do seu
alguém na rua e perguntamos dinamismo, algo que o Evangelho
«como está?», a resposta mais co- deste domingo insinua.
mum é «ocupado». Já nem nos Entremos no Evangelho deste
referimos à saúde que temos ou domingo com atenção ao muito
não temos; o que nos angustia é que está a acontecer. Jesus cura
a quantidade de tarefas que estão a sogra de Pedro assim que entra
por fazer, a enormidade de solicita- em casa, quando era expetável que
ções às quais temos de dar respos- pudesse descansar um pouco, já
ta. E há mesmo uma pressão social que vinha de curar pessoas e de
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ensinar na sinagoga. Nessa mes- tantas solicitações que a poderiam
ma noite, mal o sol se põe, trazem- dispersar? Como se pode estar sem-
-lhe doentes e possessos para que pre em ação, sempre presente, sem
os cure, o que Ele faz. São Marcos se perder?
acrescenta que toda a cidade de O segredo de Jesus está na fi-
Cafarnaum está reunida à frente delidade à oração. Não é difícil
da casa, muitos seriam curiosos, imaginar que a vontade de Jesus
enquanto outros queriam mesmo para se levantar cedo, depois de
falar com Ele, o que indica que a uma noite tão cheia, fosse pouca.
noite será longa. Mas foi falar com o Pai para escu-
De madrugada, Jesus levanta-se tar o que Ele lhe pedia. E foi isso
e sai para ir rezar. Ele esteve a curar que lhe permitiu ver que, existin-
noite dentro, deve ter tido imen- do ainda muita gente a procurá-lo,
sas conversas, e no dia seguinte estava na hora de partir para ou-
levanta-se cedo para rezar. Deverá tra povoação.
ter dormido muito pouco. Segu- É para cumprir a vontade do Pai
ramente sente-se consolado pela que Ele vem. É à escuta do Pai que
quantidade de pessoas que pôde Ele vive. É esse o centro de uma
ajudar, mas é inevitável que este- vida que não se dispersa no meio
ja cansado. Ainda assim, quando da ação, que ilumina mesmo quan-
Pedro o encontra e lhe aponta as do há tanta dispersão.
pessoas que o esperam, Ele tem a
presença de espírito para dizer que Dia 5 | Segunda-Feira
é necessário ir a outros lugares, Santa Águeda (Memória)
quando teria sido mais fácil ficar ––––––––––––––––––––––––––––––––
na urgência do momento presente, 1 Rs 8, 1-7.9-13 / Slm 131 (132), 6-10 /
num ambiente familiar e no qual Mc 6, 53-56
foi bem acolhido. (…) não afasteis o rosto do vosso
Esta passagem do Evangelho Ungido. (Salmo)
está cheia de ação e de movimento. ––––––––––––––––––––––––––––––––
E o centro de tudo é Jesus, presença Conheço uma senhora que, du-
luminosa no meio de tanto bulício. rante o começo do namoro, esta-
Como é possível que a sua presen- va sempre a perguntar se o rapaz
ça inunde tudo de luz quando há gostava mesmo dela, ou se dizia
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que sim só para não a magoar, se Eu fui cruel e marquei-o. Quan-
não a ia deixar, se não a ia deixar to do nosso dinheiro não pode-
MESMO, chegando inclusivamen- ria ser dado a uma instituição de
te a perguntar se ele se importaria caridade? É crueldade não o dar.
que ela arranjasse outro namora- Só que nem nos passa pela ca-
do! (Para o experimentar.) Comen- beça que somos cruéis. Vivemos
tários à parte, pedir a Deus que anestesiados.
não nos abandone ainda é mais
insensato. Mas, às vezes, quando Dia 7 | Quarta-Feira
a vida corre mal, perguntamos a Cinco Chagas do Senhor
Deus coisas parecidas. Hoje peça- (Festa)
mos uma fé impermeável aos re- ––––––––––––––––––––––––––––––––
vezes da vida. Is 53, 1-10 / Slm 21 (22), 7-8.15.17-
18.22-23 / Jo 19, 28-37 ou 20, 24-29
Dia 6 | Terça-Feira E, inclinando a cabeça, expirou.
Santos Paulo Miki e (Evangelho)
Companheiros, mártires ––––––––––––––––––––––––––––––––
(Memória) O termo «expirou», noutras
–––––––––––––––––––––––––––––––– traduções, é substituído por
1 Reis 8, 22-23.27-30 / Slm 83 (84), «entregou o Espírito». Tradução
3-5.10-11 / Mc 7, 1-13 eventualmente mais precisa que,
Se alguém (…) declarar (os bens segundo alguns, significa o Pente-
que tinha para ajudar os pais) costes em João. Assim, Jesus esta-
como oferta sagrada, (…) fica ria a entregar o seu espírito, isto
dispensado de ajudar o pai ou a mãe. é, o Espírito Santo. Fazê-lo na cruz
(Evangelho) tem muito significado, porque o
–––––––––––––––––––––––––––––––– fez no preciso momento em que
Esta lei era cruel. Mas eu tam- morria de amor, como que dizen-
bém o fui há pouco. Há dias, um do: «Entrego-vos o meu Espírito
mendigo pediu-me uma cigarrilha, para que vocês também morram
pareceu-me que convencido que de amor». Não da mesma maneira
era um charro. Avancei sempre, que Jesus, mas edificando o bem-
evitando-o. Ele teve uma fúria -estar do próximo e o do leitor até
educada; só me chamou cínico. à exaustão.
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Dia 8 | Quinta-Feira quando morreu na cruz. E saben-
Semana V do-se como era a crucifixão, per-
do Tempo Comum cebe-se que os apóstolos tenham
–––––––––––––––––––––––––––––––– fugido e até o tenham traído. A cru-
1 Reis 11, 4-13 / Slm 105 (106), cifixão, mesmo para os romanos,
3-4.35-37.40 / Mc 7, 24-30 era tão horrível que praticamente
Acolhei docilmente a palavra em vós não há descrições. Os pássaros car-
plantada. (Aleluia) nívoros vinham tirar bocados dos
–––––––––––––––––––––––––––––––– moribundos e os olhos eram es-
Imagine a história da viúva que pecialmente apreciados. Nós não
deu todo o dinheiro que tinha para queremos amar como Jesus. Deus
o templo, em que Jesus critica os ri- nos livre. Mas talvez possamos fu-
cos por só darem as sobras. Algumas rar a bolha do nosso comodismo
pessoas só dão aos pobres a roupa já encorajados pelo sofrimento por
usada. As sobras. Mas fariam isso em que Jesus passou, que é uma lição
relação a uma pessoa com poder e di- de como amar.
nheiro? Estamos a dizer ao pobre que
ele não tem grande dignidade, que Dia 10 | Sábado
não é nosso irmão. É em Cristo, mas Santa Escolástica
isso não tem nenhum valor. Valor têm (Memória)
os amigos ricos. É só uma frase bonita ––––––––––––––––––––––––––––––––
que não transformamos em amor. 1 Reis 12, 26-32; 13, 33-34 /
Slm 105 (106), 6-7a.19-22 / Mc 8, 1-10
Dia 9 | Sexta-Feira Quantos pães tendes? (…) Sete. (…) Dos
Semana V bocados que sobraram encheram sete
do Tempo Comum cestos. (Evangelho)
–––––––––––––––––––––––––––––––– ––––––––––––––––––––––––––––––––
1 Reis 11, 29-32; 12, 19 / Slm 80 (81), Jesus disse que o verdadeiro
10-11ab.12-15 / Mc 7, 31-37 pão era Ele. Há escritos sobre a
Diziam: «Tudo o que faz é admirável». Missa que nos dizem que temos
(Evangelho) fome da Eucaristia. Teremos? O
–––––––––––––––––––––––––––––––– leitor sente uma necessidade da
Diziam-no porque Jesus os Eucaristia que não seja cumprir
curava. Já não foi tão admirável um hábito? Se tirar a homilia
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– muitas pessoas vão onde gos- onde cada qual é precioso e nin-
tam da homilia –, e o hábito, que guém deve ser descartado».
necessidade é que a Eucaristia Cuidar de quem está doente é,
preenche? Se preenche uma ne- ainda hoje, um desafio. Era-o ainda
cessidade real, devia haver uma mais no tempo de Jesus, em que se
diferença entre antes e depois da vivia sob as instruções do livro do
Eucaristia, espiritualmente falan- Levítico que escutámos na primei-
do, como antes e depois de comer ra leitura, em que se determinava
comida. Há? que quem tivesse doenças de pele
tinha de viver fora do acampamen-
Dia 11 | Domingo to dos que atravessavam o deserto,
Domingo VI vestir-se de forma andrajosa e gritar
do Tempo Comum – Ano B «impuro, impuro», para anunciar a
Dia Mundial do Doente sua passagem e evitar contaminar
–––––––––––––––––––––––––––––––– outros. É por isso que o leproso do
Lev 13, 1-2.44-46 / Slm 31 (32), Evangelho de hoje procura Jesus
1-2.5.7.11 / 1 Cor 10, 31 – 11, 1 / buscando a cura, consciente de que
Mc 1, 40-45 quer mais do que a cura: quer re-
–––––––––––––––––––––––––––––––– gressar à comunidade.
Hoje é Dia Mundial do Doente. Por vezes, esperamos e pe-
Se não fosse domingo, a Igreja fa- dimos milagres fantásticos para
ria memória de Nossa Senhora de aqueles que nos rodeiam, quan-
Lourdes, cujo santuário é procura- do podíamos celebrar o milagre
do por muitas pessoas em busca de do acolhimento todos os dias.
cura. Este santuário, como nos diz Quantos idosos povoam os nossos
o Papa Francisco, «aparece ao nos- hospitais, em quartos ou em ma-
so olhar como uma profecia, uma cas nos corredores, porque foram
lição confiada à Igreja no coração abandonados? Quantos dos nossos
da modernidade. Não tem valor anciãos vivem votados a uma vida
só o que funciona, nem conta só de solidão porque os familiares já
quem produz. As pessoas doentes não os visitam e eles já não conse-
estão no âmago do povo de Deus, guem sair?
que avança juntamente com elas Precisamos de criar, neste tem-
como profecia duma humanidade po de uma grande frieza em que
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parece que tudo é tarefa dos outros agora uso para quando emagre-
ou do Estado, equipas de visitado- cesse. Nossa Senhora de Lourdes,
res nas nossas paróquias, cuja mis- onde fui, tirou-me a imensa ansie-
são seja simplesmente estar com dade que sentia ao começar a co-
os esquecidos, os descartados, os mer menos. E, sem essa ansiedade,
negligenciados, principalmente os fui capaz de passar a fome necessá-
idosos. Precisamos de recordar- ria. Porque nunca tinha desistido.
-nos, e de recordar os outros atra-
vés de gestos, que a vida humana Dia 13 | Terça-Feira
tem valor em todos os seus mo- Semana VI
mentos. É assim que, como Jesus, do Tempo Comum
responderemos a quem estende a ––––––––––––––––––––––––––––––––
mão à procura de alguém e dize- Tg 1, 12-18 / Slm 93 (94), 12-15.18-19 /
mos: «Quero: fica curado». Mc 8, 14-21
Cada um é tentado pelos seus maus
Dia 12 | Segunda-Feira desejos, que o arrastam e seduzem.
Semana VI (1.ª Leitura)
do Tempo Comum ––––––––––––––––––––––––––––––––
–––––––––––––––––––––––––––––––– Às vezes, quando vencemos um
Tg 1, 1-11 / Slm 118 (119), 67-68.71- defeito, ou um vício, tornamo-nos
72.75-76 / Mc 8, 11-13 arrogantes. Já vi pessoas chama-
A constância (…) deve ser exercida rem preguiçosos a outros, não sa-
plenamente para serdes (…) bendo que estes não trabalhavam
irrepreensíveis. (1.ª Leitura) mais porque tinham um problema
–––––––––––––––––––––––––––––––– mental. Temos sempre tendên-
Para muitos, a constância mais cia a querer que os outros reajam
difícil é a luta contra o falhanço. como nós queremos, algumas ve-
Nunca se pode desistir. Durante zes achando mesmo que é para
quarenta anos quis perder quaren- bem do outro. Mas não estamos
ta quilos. Quase todos os dias dizia a respeitar a sua liberdade como
que aquela seria a última gran- Deus respeita a nossa liberdade
de (monstra) refeição. Mas nunca de nos prejudicarmos. O que Deus
perdi a fé de que emagreceria. Fui não sofrerá com os nossos peca-
comprando parte das camisas que dos! (Mas compreende-os.)
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Tempo da Quaresma comodismo, refrigerantes, etc., etc.
Daí que tenhamos de conversar
Dia 14 | Quarta-Feira com essa voz que nos impele e
Quarta-Feira de Cinzas arranjar estratégias. Por exemplo,
–––––––––––––––––––––––––––––––– eu tenho tendência a comprar um
Joel 2, 12-18 / Slm 50 (51), 3-5.6a.12- livro assim que me desperta o inte-
14.17 / 2 Cor 5, 20 – 6, 2 / Mt 6, 1-6.16-18 resse. Conversei com a voz que me
Quando deres esmola, não toques a impelia e disse-lhe que só o ia com-
trombeta. (Evangelho) prar se esse desejo se mantivesse
–––––––––––––––––––––––––––––––– ao longo de vários meses. O leitor
Jesus dirigia-se aos fariseus, hipó- precisa de decisão, de uma data de
critas. Entre nós, às vezes, é melhor começo bem definida, de imagina-
tocar a trombeta. Há fundações com ção e habilidade. De uma estraté-
o nome de quem as financia. Tocar a gia, em suma. Cerrando os dentes
trombeta pode orientar outros. Tudo não chega lá.
está em para que é que se toca a trom-
beta. Santa Teresa de Lisieux, depois Dia 16 | Sexta-Feira
de hesitar, entendeu que a sua vida Féria depois das Cinzas
podia servir de estímulo e guia para ––––––––––––––––––––––––––––––––
o caminho de união com Deus de Is 58, 1-9a / Slm 50 (51), 3-6a.18-19 /
outras pessoas e deu-a a conhecer. Mt 9, 14-15
Uma pessoa que tem um bom rela- O jejum que me agrada não será antes
cionamento pode mostrar aos outros (…) repartir o teu pão com o faminto.
como se relacionar santamente. (1.ª Leitura)
––––––––––––––––––––––––––––––––
Dia 15 | Quinta-Feira Há tempos, uma pessoa acusava
Féria depois das Cinzas outra, em público, de não ter ido à
–––––––––––––––––––––––––––––––– Missa no dia 8 de dezembro. O «in-
Deut 30, 15-20 / Slm 1, 1-4.6 / Lc 9, 22-25 frator», que era eu, retorquiu que se a
Se o teu coração se desviar e não Missa lhe servia para se sentir supe-
quiseres ouvir… (1.ª Leitura) rior e acusar os outros, mais valia não
–––––––––––––––––––––––––––––––– ir. Para esta pessoa, a Missa servia-
O nosso coração desvia-se -lhe para humilhar o próximo. Ora,
atraído pelo prazer. Comida, roupa, o objetivo da Missa é impelir-nos a
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amar mais a Deus e aos outros como Gen 9, 8-15 / Slm 24 (25), 4bc-5ab.
a nós mesmos. Se com isso ficamos 6-7bc.8-9 / 1 Pe 3, 18-22 / Mc 1, 12-15
arrogantes, o melhor é não irmos an- ––––––––––––––––––––––––––––––––
tes de nos modificarmos. O Evangelho do primeiro domin-
go da Quaresma é-nos bastante fa-
Dia 17 | Sábado miliar: as tentações de Jesus no de-
Féria depois das Cinzas serto. A versão que hoje escutamos
–––––––––––––––––––––––––––––––– é bastante mais breve e simples que
Is 58, 9-14 / Slm 85 (86), 1-6 / as de São Mateus e São Lucas, pois
Lc 5, 27-32 São Marcos é bastante parco em
Se (…) matares a fome ao indigente… detalhes. Diz-nos apenas que Jesus
(1.ª Leitura) foi até ao deserto, onde viveu entre
–––––––––––––––––––––––––––––––– feras, era tentado por Satanás e os
«... brilhará na escuridão a tua anjos serviam-no.
luz». Faz-me sempre impressão quan- Há algo curioso nos relatos das
do, no supermercado, se pede comi- tentações que tendemos a ignorar:
da para quem pode vir a não ter ne- todos eles, sem exceção, fazem
nhuma e as pessoas vêm com muito referência ao papel do Espírito,
mais coisas para si do que para amar aquele que guiou Jesus ao deser-
o seu irmão (que acham, na prática, to. Quando rezamos as tentações,
que não é irmão nenhum). «Amar o tendemos a «separá-las» do res-
outro COMO NOS AMAMOS A NÓS tante corpo do Evangelho, como
PRÓPRIOS» (Mt 22, 39). Dá menos se existisse aqui uma resignação
coisas do que compra para si? O po- à inescapável necessidade de atra-
bre é menos do que o leitor? Porque vessar os desertos da nossa vida
é que dá menos do que compra para ou, por outro lado, como se Jesus
si? Se o faz, incorre no pecado da ava- entrasse no deserto como um he-
reza, que é um pecado grave. Reze rói, que vai enfrentar Satanás no
sobre isso. meio da aridez. Contudo, não é
preciso ir ao deserto para enfren-
Dia 18 | Domingo tar Satanás, nem parece muito
Domingo I evangélico este baixar de braços
da Quaresma – Ano B diante da inevitabilidade do de-
–––––––––––––––––––––––––––––––– serto, da provação.
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O episódio que antecede as ten- em Oseias, é o encontro com Deus.
tações no deserto – nos três Evan- Deixemo-nos guiar até ao coração
gelhos que as relatam – é o batis- do deserto da Quaresma, para que
mo de Jesus. Nele, o Espírito Santo aí Deus se possa encontrar com o
desce sobre Jesus a pique, como nosso coração.
uma pomba, e então ouve-se uma
voz que rasga os céus e diz: «Tu és Dia 19 | Segunda-Feira
o meu filho muito amado, fonte de Semana I da Quaresma
toda a minha alegria». ––––––––––––––––––––––––––––––––
Que Jesus vai até ao deserto? Lev 19, 1-2.11-18 / Slm 18 B (19),
Não um Jesus resignado à aridez 8-10.15 / Mt 25, 31-46
da existência humana e à inevita- Não ficará contigo até ao dia seguinte o
bilidade do deserto, nem um Jesus salário do teu jornaleiro. (1.ª Leitura)
que entra como herói nas batalhas ––––––––––––––––––––––––––––––––
difíceis. É o Filho, consciente e con- Conheço muitos casos de pes-
fiante no amor do Pai, que vai até ao soas que não pagam as dívidas. E
deserto, guiado pelo Espírito. Quase muitas que não são generosas com
que conseguimos tocar, neste rela- o salário da empregada doméstica.
to, o cumprimento da profecia de (Pagar a tabela ou um bocadinho
Oseias, no seu capítulo 2: «Hei de mais não é ser generoso, não é amar
conduzir Israel ao deserto e falar- a empregada doméstica. Se se con-
-lhe ao coração». trata uma empresa, pode dar-se
Nestes primeiros dias da tra- uma gorjeta decente à senhora que
vessia do grande deserto da Qua- vem.) Ao mesmo tempo que, natu-
resma, dispensemos as atitudes de ralmente, se lhes deve exigir que
resignação ou heroicas. Entremos façam um trabalho muito bem feito,
na Quaresma como filhos muito porque isso também é amá-las. É
amados do Pai, fonte da sua alegria, ajudá-las a não pecar.
cheios da sua graça, e deixemo-nos
guiar pelo Espírito. Dia 20 | Terça-Feira
O deserto tem a sua prova, mas Semana I da Quaresma
o lugar da prova é qualquer um dos ––––––––––––––––––––––––––––––––
da nossa vida. Se há algo que cara- Is 55, 10-11 / Slm 33 (34), 4-7.16-19 /
teriza o deserto, como escutamos Mc 6, 7-15
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Libertou-me de toda a ansiedade. da Editorial AO (Padres Jesuítas),
(Salmo) que desbravem caminho para que
–––––––––––––––––––––––––––––––– a Teologia comece a refletir sobre a
Este verso é uma profecia. Deus inteligência emocional, a começar
livra-nos da nossa ansiedade atra- pela do clero. Os filhos do mundo
vés do nosso amor por nós mesmos, são (muitíssimo) mais espertos e
pelos outros, e da nossa capacidade esforçados que nós! Já há dezenas
de criar. Quer dizer, Deus – o Amor de anos que fazem esta reflexão,
e o espírito criativo – deu-nos psicó- porque assim vendem mais. Mas
logos e psiquiatras. O que temos de como o nosso amor não dá lucro…
pedir é que os doentes mentais não
tenham vergonha de si mesmos, Dia 22 | Quinta-Feira
logo, de pedir ajuda. As pessoas Cadeira de São Pedro,
não têm vergonha de ter pedras nos Apóstolo (Festa)
rins, mas têm muito medo que lhes ––––––––––––––––––––––––––––––––
chamem doentes mentais. E nós 1 Pedro 5, 1-4 / Slm 22 (23), 1-6 /
temos de contribuir para que essa Mt 16, 13-19
doença deixe, cada vez mais, de ser Tudo o que ligares na terra será ligado
um estigma. nos Céus e tudo o que desligares
na terra será desligado nos Céus.
Dia 21 | Quarta-Feira (Evangelho)
Semana I da Quaresma ––––––––––––––––––––––––––––––––
–––––––––––––––––––––––––––––––– Porque o Céu acompanha a nossa
Jon 3, 1-10 / Slm 50 (51), 3-4.12- evolução. À medida que uma pessoa
13.18-19 / Lc 11, 29-32 se ama a si própria mais íntegra, mais
Quando Deus viu as suas obras (…), inteira, mais ligada. E claro que Deus,
desistiu do castigo. (1.ª Leitura) que dirige o Céu diretamente, porque
–––––––––––––––––––––––––––––––– lá o nosso livre arbítrio só o quer a
Ao longo de vinte séculos, a Ele, nos acompanha. Mas se peca-
doutrina da Igreja deu mais atenção mos, se fazemos mal a nós próprios,
ao amor para com grupos de des- se nos esquartejamos, o Céu não faz
validos. Devemos rezar por ideias um remendo. Respeita. Do mesmo
pioneiras e geniais, como vem na modo, na relação com o outro, se nos
crítica a um livro para este Natal ligamos ou desligamos dele.
12 Boa Nova - fevereiro 2024
Dia 23 | Sexta-Feira é um cumprimento que muitas
Semana I da Quaresma pessoas fazem com alguma faci-
–––––––––––––––––––––––––––––––– lidade, portanto, só com aquela
Ez 18, 21-28 / Slm 129 (130), 1-8 / parte do coração que está em pilo-
Mt 5, 20-26 to automático. Mas o que é que o
Se o pecador se arrepender de todas leitor cumpre com todo o seu co-
as faltas que cometeu, (…) certamente ração? O que é que o leitor cumpre
viverá. (1.ª Leitura) entusiasmado e tendo de empre-
–––––––––––––––––––––––––––––––– gar todas as suas forças? Se o faz é
Porque será que tantas pes- porque está a evoluir. Se não nota
soas dizem «os meus pecados são esforço na sua vida espiritual é…
sempre os mesmos»? Pode ser por mau sinal.
falta de orientação. Pode ser por
não serem cristãs, apesar de irem à Dia 25 | Domingo
Missa. «Quem diz que ama a Deus e Domingo II
não ama o seu irmão é mentiroso» da Quaresma – Ano B
(São João). Uma pessoa que quer ––––––––––––––––––––––––––––––––
deixar de dizer – e ouvir dizer – Gen 22, 1-2.9a.10-13.15-18 /
mal depara-se, pelo menos, com Slm 115 (116), 10.15-19 / Rom 8,
o esforço de contrariar o hábito e 31b-34 / Mc 9, 2-10
de ser um desmancha-prazeres pe- ––––––––––––––––––––––––––––––––
rante os amigos. Ser cristão exige Neste segundo domingo da
muita coragem. Quaresma escutamos o relato da
Transfiguração do Senhor segundo
Dia 24 | Sábado São Marcos. A história é sobejamen-
Semana I da Quaresma te conhecida: Jesus pede a Pedro,
–––––––––––––––––––––––––––––––– Tiago e João que o acompanhem
Deut 26, 16-19 / Slm 118 (119), 1-2.4- até ao cimo de um monte para rezar.
5.7-8 / Mt 5, 43-48 Aí chegados, Jesus ganha uma nova
Tu os cumprirás com todo o teu «figura», torna-se luz, e fala com
coração. (1.ª Leitura) Moisés e Elias.
–––––––––––––––––––––––––––––––– Os discípulos veem isto e estão
Talvez o leitor não mate nem cheios de medo. É inevitável: o seu
roube, não engane o cônjuge. Isso Mestre brilha com a intensidade
Boa Nova - fevereiro 2024 13
do sol diante de Moisés e Elias, fi- sombra, e dessa nuvem brota a voz
guras maiores da história de Israel do Pai, a mesma que Jesus ouve no
e que morreram há muito. O que Batismo e que hoje ecoa na Transfi-
estará a acontecer? guração. E o Pai diz: «Este é o meu
A descrição de São Marcos é de- Filho muito amado: escutai-o».
liciosa, porque em lugar de mostrar Ao excesso de luz, com o qual
os discípulos como bons alunos, os discípulos não conseguem li-
plenamente conscientes e bem dar, segue-se a nuvem e a sombra
preparados para esta visão, prefe- de Deus, que repõe o mistério, que
re mostrar-nos o seu desconcerto, oculta a relação de Jesus com o Pai
dizendo que Pedro sugere montar e com a corte celestial. E a sua voz
três tendas porque não sabia o que transmite o mandamento mais sim-
dizer. Pedro balbucia algo, porque ples e essencial: não tentes domes-
não sabe o que fazer diante do que ticar Jesus construindo-lhe tendas,
vê. Simplesmente sente-se perdido, aprisionando-o nos lugares que
sem direção. preparaste para Ele; vive à sua escu-
De certa forma, a construção ta, deixa que seja Ele a guiar-te.
das três tendas vem suprir a neces- Aquela luz da Transfiguração
sidade básica que temos quando brilha hoje em toda a terra graças
o chão parece escapar-nos debai- à Ressurreição de Jesus, o destino
xo dos pés: ocupar-nos com algo, do nosso caminhar quaresmal.
para recuperar algum sentido de Não a escondamos com os nossos
controlo sobre a situação. E não é medos e os nossos pecados. Apro-
para menos, pois aquela luz tornou veitemos a Quaresma para afinar
branco todo o entorno. Conseguem os nossos ouvidos, sem medo,
imaginar luz tão potente? Seria o para a escuta do Bom Mestre, Jesus,
equivalente a um foco, tão intenso cuja luz brilha no coração de todos
como o sol. os batizados.
Jesus, ao brilhar como o sol,
mostra que é a luz do mundo. Mas Dia 26 | Segunda-Feira
aquela luz era demasiado forte e os Semana II da Quaresma
discípulos ficaram atemorizados. ––––––––––––––––––––––––––––––––
E então o Pai estende uma nuvem Dan 9, 4b-10 / Slm 78 (79), 8-9.11.13 /
sobre a cena, cobre todos com a sua Lc 6, 36-38
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Sobre nós (…) recai a vergonha. difíceis. Mas também devemos
(1.ª Leitura) esforçar-nos por melhorar as re-
–––––––––––––––––––––––––––––––– lações que já são boas. Também
Há pessoas que não se con- podemos fazer isso com os psi-
fessam porque têm vergonha dos cólogos, etc. Devemos pôr todos
seus pecados. Hoje vamos rezar os meios para sermos capazes de
por essas pessoas. Vamos rezar amar cada vez mais, porque, sendo
por todas as pessoas que têm o amor infinito, é desejável, é uma
vergonha de si perante o confes- obrigação cuidarmos do bem-estar
sor. Dizem que se confessam di- do outro cada vez mais.
retamente a Deus. Estas pessoas
vivem torturadas pelo remorso. Dia 28 | Quarta-Feira
Vivem num beco para o qual não Semana II da Quaresma
veem saída. E vamos também re- ––––––––––––––––––––––––––––––––
zar pelas pessoas inconscientes Jer 18, 18-20 / Slm 30 (31), 5-6.14-16 /
do seu pecado. Nós não temos Mt 20, 17-28
consciência nenhuma de muitos Para deles afastar a vossa ira. (1.ª Leitura)
dos nossos pecados por omissão. ––––––––––––––––––––––––––––––––
Peçamo-la e pensemos neles. Só Jesus pediu isto na cruz. E antes,
pedir não serve de nada. um general grego, no fim de uma
batalha marítima, no contexto das
Dia 27 | Terça-Feira Guerras do Peloponeso, já tinha
Semana II da Quaresma pedido aos deuses que poupassem
–––––––––––––––––––––––––––––––– os conterrâneos que o iam executar
Is 1, 10.16-20 / Slm 49 (50), 8-9.16bc- injustamente. Este homem tinha o
17.21.23 / Mt 23, 1-12 Deus do Amor dentro dele. «O ven-
Aprendei a fazer o bem. (1.ª Leitura) to sopra onde quer; ouves-lhe o
–––––––––––––––––––––––––––––––– ruído, mas não sabes de onde vem,
Há estratégias para lidar com nem para onde vai. Assim acontece
a família, os amigos, etc. Há acon- com aquele que nasceu do Espí-
selhamento matrimonial, há psi- rito» (Jo 3, 8). Se não discernimos
cólogos, há sacerdotes, há om- o Espírito (o Amor) nos nossos ir-
bros em que podemos encostar a mãos menos «simpáticos», não
cabeça. Isto no caso de relações amamos toda a gente.
Boa Nova - fevereiro 2024 15
Dia 29 | Quinta-Feira nos morre alguém muito chegado
Semana II da Quaresma ficamos arrasados. Mas há pessoas
–––––––––––––––––––––––––––––––– – que eu conheço – que amam tanto
Jer 17, 5-10 / Slm 1, 1-4.6 / outras que não se importavam com
Lc 16, 19-31 a dor que teriam se estas morres-
Maldito o homem que (…) nem percebe sem, porque a pessoa falecida rece-
quando chega a felicidade. (1.ª Leitura) beria a felicidade eterna. Sofreriam
–––––––––––––––––––––––––––––––– muito, mas seria um sofrimento
Há pessoas muitíssimo resilien- consentido para o bem da pessoa
tes e positivas. Outras têm um es- que amam. Seria uma grande dor
pecial talento para ver as desgraças causada por um amor enorme. A re-
sob o seu lado mais negro. Quando siliência pode treinar-se.

16 Boa Nova - fevereiro 2024

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