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O livro “São João de Sene: 100 anos depois do fim do aldeamento” Tem um
inestimável valor histórico-cultural, pois relata desde fatos ocorridos há mais de 200 anos
até fatos recentes preenche uma lacuna muito reclamada por diversas pessoas, pelo
registro da nossa história.
Nas narrativas da obra, os autores transmitem para os leitores as dificuldades
vividas pelos índios e sertanejos em solo piauiense com um pouco mais de detalhes sobre
os índios que foram aldeados em São João de Sende, atualmente denominada São João
de Sene.
Fazem um breve relato de como ocorreu a ocupação do Piauí, que foi diferente dos
outros estados nordestinos, pois se deu do interior para o litoral. Um fato digno de nota é
que as suas capitais, Oeiras até 1852 e Teresina até os dias de hoje, estão localizadas no
interior do Estado. a região de Oeiras foi um grande Polo de pecuária bovina, que fornecia
gado vacum para as diversas cidades nordestinas.
Descrevem como foi criado o aldeamento de São João de Sene, bem como seu
fechamento.
Explanam com detalhes fatos do folclore local e até mesmo regional que precisam
ser preservados.
Relatam A Saga de um barbeiro que com amizade, simplicidade e humildade
conquistou a confiança e simpatia de todos.
Comentam como eram comercializados os produtos locais nas diversas feiras, assim
como era feita a aquisição de produtos que não eram produzidos localmente.
Os autores informam como apareceu a Feira do Salobro, a mais antiga da área rural
do nordeste brasileiro.
Falam das secas que assolaram a região Nordeste da dificuldade para se obter a
água em algumas localidades.
Narram a saga de uma família tradicional de Oeiras, antiga capital do Estado do
Piauí. trata-se da família Araújo Costa, que tem no Padre Marcos de Araújo Costa sua
maior expressão.
Em um trabalho de fôlego, relatam também os feitos de outro Araújo Costa, o
Petrônio, filho caçula de Raimundo de Araújo Costa, o Mundoco de São João de Sene, que
aos nove anos de idade ficou cego após pegar uma chuva.A história de Petrônio de Araújo
Costa é um conto de um Vencedor. filho do popular Mundoco do São João de Sene,
advogado rábula de grande respeito, até certo ponto comparável a José Quintino da Cunha,
célebre advogado rábula do Ceará.
Chamam a atenção para a obra do mestre Pedro de Chiquinho e sobre a
necessidade da criação de um museu para preservar a sua obra de importância local e
estadual.
Historiam como as crianças das áreas da área rural eram tratadas por professores
itinerantes, geralmente contratados temporariamente para alfabetizar os filhos dos
fazendeiros nas próprias casas das fazendas.
Não se esquecem dos professores que se popularizaram, como José Alves da
Anunciação, conhecido como professor Zezinho, que atuou durante décadas como
educador Itinerante. este, além de professor, era pregador evangélico, muito conhecido em
toda região e sempre ouvido na Secular Festa do Salubro.
Não deixam de lembrar do primeiro professor contratado pelo Município de Oeiras,
para dar aulas na escola Manoel Osório em São João de Sene, que de fato funcionava na
casa de Francisco de Araújo Costa, o Fico, neto do Capitão Marcos de Araújo Costa, que,
inobstante não tem recebido seus salários, sempre atuou com desempenho. no caso o
professor Antônio Sarmento de Araújo Costa, intimado pelos autores para fazer a
apresentação, recebe essa missão com gratidão por sua passagem ordeira e profícua,
embora é efêmera, naquela terra querida, berço de grande parte dos Araújos Costa.
Não se esquecem ainda de destacar a professora Maria da Conceição Souza Nunes
Costa, Ceiça. a última professora da Escola Manuel Osório de São João de Sene,
atualmente fechada, o que entristece a comunidade.
A professora Ceiça criou o prêmio Bertoldo Nunes para agraciar, anualmente, os
cinco melhores alunos. Todos os premiados recebiam uma pasta para transportar livros,
diploma e um valor em dinheiro. A estratégia trouxe grande reflexo, pois a competição
aumentou e alguns alunos foram condecorados várias vezes. Um fato importante que
merece ser destacado foi o aumento da autoestima dos alunos e familiares. Os pais sempre
relatavam feitos de seus filhos para vizinhos, parentes e amigos. Com isso, todos os pais
passaram a incentivar seus filhos para que procurassem estudar mais e serem premiados.
Este prêmio foi concedido durante 12 anos consecutivos, 1997 a 2009, e ajudou na
melhoria do nível de ensino. Hoje temos notícia de que vários alunos foram aprovados em
vestibulares e cursaram, ou estão cursando, universidades, o que é motivo de muito
orgulho para os moradores de São João de Sene.
Os autores concluem destacando o potencial turístico da região nos talhadas e
encostas, bem como na exploração de minas de águas para fins comerciais e de outros
possíveis minerais, além da exploração turística das ruínas franciscanas, a mais antiga
existente em solo piauiense.
Para finalizar, nos resta agradecer a delicadeza dos autores desta obra histórica,
diga-se de passagem, de um local pouco ou não divulgado, dada a sua importância como
marco para o registro de nascimento do Piauí, Sebastião Carvalho e o professor Romão da
Cunha Nunes. o primeiro, filho de São João de Sene e descendente dos Araújo Costa,
embora não ostente no seu nome. e, o segundo, conterrâneo da Passagem da Inhuma,
descendente de uma família não menos ilustre, de importância histórica para o Piauí:os
Nunes.
xxxx
*disponível em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Sarmento>;<http://wikipedia.org/wiki/Casimiro_Jos%C3%A9_de_
Morais_Sarmento>.
Casou-se com Arlinne Vieira de Araújo Costa, com quem tem quatro filhos: Antônio
Sarmento de Araújo Costa Junior, bacharel em direito, analista judicial da Justiça Federal do
Piauí, Carlaile Antônio de Araújo Costa, médico, cardiologista e emodinamicista, Arlitônio
Sarmento de Araújo Costa, médico cirurgião-plástico e Igor Sarmento de Araújo Costa,
bacharel em Direito, funcionário da Justiça do Estado do Maranhão.
Antenor relatou que ouviu de seu pai, o Fico, que o pai de Marcos de Araújo Costa,
Francisco Clementino de Sousa Martins, o avô Mundoco do São João, já bem debilitado e
com idade avançada, pediu para o seu filho, o Dr. Carlos Francisco de Araújo Costa, que
mandasse chamar o Marcos do São João. Isso porque segundo ele, em tal dia iria morrer e
precisava muito conversar com o filho, que morava distante. Já próximo do dia da
presumível morte, chamou o Dr. Carlos e lhe perguntou se ele havia mandado comunicar
para o Marcos. Ele disse que não, pois acreditava que ele não morreria. O velho ficou
aborrecido, e o Dr. Carlos disse que mandaria um portador urgentemente. Mas ele disse
que não daria mais tempo. E no dia previsto por ele, todos os filhos estavam lá, exceto o
Marcos. Ele se despediu de cada um, fazendo diversas recomendações, e pouco tempo
depois morreu.
PETRÔNIO DE ARAÚJO COSTA
Petrônio de Araújo Costa foi um dos mais extraordinários homens que nasceram em
São João de Sene. Filho caçula do Mundoco, numa viagem ao 9 meses de idade, com
muita febre e tendo tomado uma chuva, pois não tinha onde se abrigar, amanheceu cego no
dia seguinte.
Petrônio casou-se com sua prima Maria Nerinda de Araújo Costa, que era irmã da
mulher de seu irmão Gregório. Tiveram dois filhos: Gonçalo de Araújo Costa e Maria
Nerinda de Araújo Costa.
Dona Maria Nerinda também ficou cega aos 30 anos de idade, o que dificultou ainda
mais a vida do casal.
Como a falta da visão, Petrônio desenvolveu a audição e o olfato de maneira
extraordinária. Às vezes, quando as crianças da região notavam a sua aproximação, elas se
escondiam. E quando ele chegava próximo ao local, pergunta: “Quem está escondido?”.
Tinha boa noção de direção e distância e percorria com uma bengala e sozinho as estradas
acidentadas que levavam às residências vizinhas. Ele era figura obrigatória em todos os
acontecimentos, pois a sua conversa fácil e variada era apreciada por todos.
Aconteceu um fato que até hoje é lembrado. É o caso de um rapaz, vizinho de
Petrônio, que, tendo se escondido quando já se encontrava a poucos metros dele, teria
ouvido: “Você é do lugar.. Pensa que não sei que está querendo me enganar? Diga o seu
nome”. Seu olfato era muito apurado.
A cegueira privou o nosso ilustre Petrônio de trabalhar nas atividades rurais.
Começou então a comprar e vender mercadorias. Em pouco tempo tinha uma bodega
bastante sortida. Às vezes saía a comercializar ouro, porcelana e outros produtos pelas
regiões próximas à sua propriedade, para melhorar o seu ganho. Depois que passou a
contar com uma maior quantidade de recursos, resolveu ir a Recife, PE, comprar tecidos em
uma grande atacadista, onde tornou-se amigo do gerente. Todo mês de Julho ele
aguardava a vinda do cliente ilustre para comprar mercadorias. No dia em que Petrônio
chegava à atacadista, seu amigo gerente ficava por conta dele. Depois de alguns anos de
convivência e vendo a sabedoria do comerciante piauiense, falou que Petrônio foi o homem
mais inteligente que ele conhecera. Além de tecidos, adquirir ferramentas, medicamentos,
utensílios domésticos, perfumes entre outras mercadorias, diversificando seus produtos. De
Recife até Oeiras, no Piauí, as mercadorias eram transportadas em caminhão. De Oeiras
até São João de Sene, em tropa de burros e jumentos, o que exigia de um a dois dias de
viagem.
Depois de muitos anos e sempre trazendo novidades para os seus clientes, passou
a trazer também caderno de capa dura, bonito e com espiral de arame, entre outras coisas.
a notícia da chegada dos cadernos se espalhou que nem fogo em pólvora, todos os
estudantes queriam adquirir um. Um jovem que residia há mais de 20 km do comércio, lá
chegando foi logo perguntando pelo caderno de arame, ao que ele respondeu prontamente
sem titubear: “ Caderno de arame não é caderno escolar, pois acidente pode causar".
Certo dia, Petrônio recebeu um cliente de Várzea Grande, PI, que fica a pouco
mais de 10 km de São João de Sene, para comprar um medicamento. A pessoa que lhe
ajudava na venda procurou o produto, mas não o encontrou. Petrônio foi procurar,
encontrando-o rapidamente, pois, apesar da cegueira, ele era quem arrumava todas as
mercadorias na prateleira e sempre as contava para saber o momento de adquirir novos
produtos.
Posteriormente, Petrônio montou uma farmácia na cidade de Várzea Grande.
Trabalhou lá por um bom período, até adoecer. seu coração dilatou, e mesmo com todo
esforço médico, acabou morrendo de infarto, consequência da doença de Chagas. As
áreas rurais do Piauí tinham grandes infestações de barbeiros, o transmissor da doença de
Chagas.Hoje, em função do combate ao barbeiro transmissor, a doença reduziu.
São João de Sene fica na costa negra da Chapada Grande, na parte sul, entre as
regiões de regeneração e Oeiras. Petrônio, nas suas perambulações, trazia mudas e
sementes para serem plantadas no quintal da sua casa, localizada na confluência de dois
córregos, um dos quais tinha água durante todo o ano, o que facilitou a implantação de um
pomar diversificado. Atualmente este córrego está sem água, motivado em parte pelas
secas, e, em parte, pelo desmatamento nas nascentes.
Nas festas realizadas em São João de Sene e imediações, até hoje as pessoas
lembram-se do Petrônio e relatam a grande falta que ele faz. Muitos questionam: "Como
uma pessoa que nunca enxergou, nunca estudou e nasceu na roça tinha tantos
conhecimentos?".
O pai de Petrônio, o Mundoco de São João de Sene, era cego de um olho. Rábula
afamado, tinha grande conhecimento e se preocupou em alfabetizar Petrônio. Para tanto,
confeccionou as letras do alfabeto e os números com cera de abelhas. O aprendizado foi
rápido, inclusive da tabuada. Quanto Petrônio vendia suas mercadorias, fazia todas as
contas. Certa vez, numa feira, ele corrigiu uma pessoa que estava fazendo uma conta
errada. Esse fato contribuiu para que essa pessoa, a todo instante, pedisse: "Ceguinho,
faça essa conta". Depois do terceiro pedido, Petrônio, que tinha muita noção de cidadania,
lhe falou: "Amigo, eu não fui batizado com o nome de ceguinho, mas sim como Petrônio de
Araújo Costa". O companheiro ficou desconcertado e pediu-lhe desculpa várias vezes.
MESTRE PEDRO CHIQUINHO