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São João de Sene: 100 anos depois do fim do aldeamento

Romão da Cunha Nunes


Sebastião Rodrigues de Carvalho

O livro “São João de Sene: 100 anos depois do fim do aldeamento” Tem um
inestimável valor histórico-cultural, pois relata desde fatos ocorridos há mais de 200 anos
até fatos recentes preenche uma lacuna muito reclamada por diversas pessoas, pelo
registro da nossa história.
Nas narrativas da obra, os autores transmitem para os leitores as dificuldades
vividas pelos índios e sertanejos em solo piauiense com um pouco mais de detalhes sobre
os índios que foram aldeados em São João de Sende, atualmente denominada São João
de Sene.
Fazem um breve relato de como ocorreu a ocupação do Piauí, que foi diferente dos
outros estados nordestinos, pois se deu do interior para o litoral. Um fato digno de nota é
que as suas capitais, Oeiras até 1852 e Teresina até os dias de hoje, estão localizadas no
interior do Estado. a região de Oeiras foi um grande Polo de pecuária bovina, que fornecia
gado vacum para as diversas cidades nordestinas.
Descrevem como foi criado o aldeamento de São João de Sene, bem como seu
fechamento.
Explanam com detalhes fatos do folclore local e até mesmo regional que precisam
ser preservados.
Relatam A Saga de um barbeiro que com amizade, simplicidade e humildade
conquistou a confiança e simpatia de todos.
Comentam como eram comercializados os produtos locais nas diversas feiras, assim
como era feita a aquisição de produtos que não eram produzidos localmente.
Os autores informam como apareceu a Feira do Salobro, a mais antiga da área rural
do nordeste brasileiro.
Falam das secas que assolaram a região Nordeste da dificuldade para se obter a
água em algumas localidades.
Narram a saga de uma família tradicional de Oeiras, antiga capital do Estado do
Piauí. trata-se da família Araújo Costa, que tem no Padre Marcos de Araújo Costa sua
maior expressão.
Em um trabalho de fôlego, relatam também os feitos de outro Araújo Costa, o
Petrônio, filho caçula de Raimundo de Araújo Costa, o Mundoco de São João de Sene, que
aos nove anos de idade ficou cego após pegar uma chuva.A história de Petrônio de Araújo
Costa é um conto de um Vencedor. filho do popular Mundoco do São João de Sene,
advogado rábula de grande respeito, até certo ponto comparável a José Quintino da Cunha,
célebre advogado rábula do Ceará.
Chamam a atenção para a obra do mestre Pedro de Chiquinho e sobre a
necessidade da criação de um museu para preservar a sua obra de importância local e
estadual.
Historiam como as crianças das áreas da área rural eram tratadas por professores
itinerantes, geralmente contratados temporariamente para alfabetizar os filhos dos
fazendeiros nas próprias casas das fazendas.
Não se esquecem dos professores que se popularizaram, como José Alves da
Anunciação, conhecido como professor Zezinho, que atuou durante décadas como
educador Itinerante. este, além de professor, era pregador evangélico, muito conhecido em
toda região e sempre ouvido na Secular Festa do Salubro.
Não deixam de lembrar do primeiro professor contratado pelo Município de Oeiras,
para dar aulas na escola Manoel Osório em São João de Sene, que de fato funcionava na
casa de Francisco de Araújo Costa, o Fico, neto do Capitão Marcos de Araújo Costa, que,
inobstante não tem recebido seus salários, sempre atuou com desempenho. no caso o
professor Antônio Sarmento de Araújo Costa, intimado pelos autores para fazer a
apresentação, recebe essa missão com gratidão por sua passagem ordeira e profícua,
embora é efêmera, naquela terra querida, berço de grande parte dos Araújos Costa.
Não se esquecem ainda de destacar a professora Maria da Conceição Souza Nunes
Costa, Ceiça. a última professora da Escola Manuel Osório de São João de Sene,
atualmente fechada, o que entristece a comunidade.
A professora Ceiça criou o prêmio Bertoldo Nunes para agraciar, anualmente, os
cinco melhores alunos. Todos os premiados recebiam uma pasta para transportar livros,
diploma e um valor em dinheiro. A estratégia trouxe grande reflexo, pois a competição
aumentou e alguns alunos foram condecorados várias vezes. Um fato importante que
merece ser destacado foi o aumento da autoestima dos alunos e familiares. Os pais sempre
relatavam feitos de seus filhos para vizinhos, parentes e amigos. Com isso, todos os pais
passaram a incentivar seus filhos para que procurassem estudar mais e serem premiados.
Este prêmio foi concedido durante 12 anos consecutivos, 1997 a 2009, e ajudou na
melhoria do nível de ensino. Hoje temos notícia de que vários alunos foram aprovados em
vestibulares e cursaram, ou estão cursando, universidades, o que é motivo de muito
orgulho para os moradores de São João de Sene.
Os autores concluem destacando o potencial turístico da região nos talhadas e
encostas, bem como na exploração de minas de águas para fins comerciais e de outros
possíveis minerais, além da exploração turística das ruínas franciscanas, a mais antiga
existente em solo piauiense.
Para finalizar, nos resta agradecer a delicadeza dos autores desta obra histórica,
diga-se de passagem, de um local pouco ou não divulgado, dada a sua importância como
marco para o registro de nascimento do Piauí, Sebastião Carvalho e o professor Romão da
Cunha Nunes. o primeiro, filho de São João de Sene e descendente dos Araújo Costa,
embora não ostente no seu nome. e, o segundo, conterrâneo da Passagem da Inhuma,
descendente de uma família não menos ilustre, de importância histórica para o Piauí:os
Nunes.

Antônio Sarmento, advogado e professor aposentado.


O ALDEAMENTO

A história indígena do Piauí é repleta de fatos tristes descrevendo massacres em


praticamente todas as localidades que abrigavam índios. Luiz Mott, no texto "Conquista,
aldeamento e domesticação dos índios gueguês do Piauí: 1764-1770", publicado na revista
de Antropologia (v. 30-31-32, 1987 - 1988 - 1989, p 58), que em 1679, no fim da guerra
contra os índios Tremembés da Barra do Rio Parnaíba, eles foram atacados por 140
soldados e 470 índios aliados que pegaram a aldeia de surpresa, seguindo-se um terrível
massacre, e dos mais de 300 índios daquela localidade, restaram apenas 37 inocentes. fato
alarmante é que os índios Aliados ajudaram a matar as crianças índias de maneira muito
cruel. relata ainda que em 1759, João Pereira Caldas, primeiro governador do Piauí, toma
Posse e acata as ordens do Marquês de Pombal para expulsar os jesuítas, herdeiros das
inúmeras fazendas de Domingos Afonso Mafrense.
Reginaldo Miranda da Silva, em Ferro e Fogo: vida e morte de uma Nação Indígena
no sertão do Piauí, citado por Natanael Sales no artigo "aldeamento do São João de Sene
em Tanque do Piauí", informa que o nome São João de Sende foi escolhido pelo
Governador João Pereira Caldas. O objetivo foi homenagear o padroeiro do aldeamento
escolhido por ele e pôr o seu nome e do santo de sua devoção, São João Batista. dessa
forma homenagearia também a região de Sende, localizada no concelho de Monção,
distrito de Viana do Castelo, Província do Minho, Portugal.
Luiz Mott, no mesmo texto mencionado anteriormente (p. 690), informa que a
missão de São João teve como patrono São João Batista e denominação São João de
Sande. O nome São João de Sande aparece também na obra do mesmo autor intitulada
Piauí Colonial: População, Economia e Sociedade (p. 24).
Moysés Castello Branco Filho destaca, em sua obra O índio no Povoamento do
Piauí (p.12), que o Governador João Pereira Caldas mandou fazer um arrolamento geral da
população em 1762 e que, naquela época, havia 12.746 pessoas, sendo 8.102 livres e
4.644 escravos. Oeiras tinha 1.120 habitantes, dos quais 655 livres e 465 escravos. Nas
demais áreas do município havia 2.496 homens, sendo 1.411 livres e 1.084 escravos, dos
quais 354 índios das aldeias dos Jaicós e 337 das Nações Gueguês e Acoroá e da Aldeia
de São João de Sene. Segundo o citado autor, o nome que era inicialmente São João de
Sande, passou para São João de Sende.
João Gabriel Batista conta, em Etnohistória Indígena Piauiense (p.40), que os índios
de São João de Sene, depois da extinção do aldeamento, foram transferidos para São
Gonçalo de Amarante, pois as suas terras foram desocupadas em 1789, em virtude de não
serem apropriados para agricultura.
Vamos encontrar na obra O Índio no Solo Piauiense, monografia histórica do
Monsenhor Joaquim Chaves (p.5l), que os índios partidos foram aldeados em São João de
Sende. para saírem de lá precisavam ter ordem expressa do Juiz de Órfãos. Vale dizer
que, para um tipo de escravidão, o cidadão que necessitasse de pessoas para trabalhar de
graça as requeria ao juiz, que autorizava, com a condição de que os índios receberem
orientações doutrinárias, alimentação e vestimentas.
O breve registro de alguns fatos envolvendo os índios piauienses deixa claro o nível
de crueldade com que eles eram tratados, sendo massacrados e até extintos. Isso é motivo
de vergonha para todos nós. As sociedades piauiense e brasileira precisam pedir desculpas
e perdão ao povo indígena.
Finalmente, é bom ressaltar que existe uma nascente de água bem ao pé da serra
onde estava edificado o aldeamento, conhecido como Vai-Não-Torna. De acordo com as
pessoas mais antigas do lugar, o nome foi motivado pelo fato de os índios mataram
pessoas e animais que iam lá naquela mina d’água. Depois o problema passou a ser outro,
pois a região dispõe de pouca água, especialmente entre os anos de seca, como ocorreu de
2010 a 2015, em que foram muito escassas as chuvas da região. As aves e outros animais
silvestres tinham de ir diariamente a tal mina para beber água, muitos deles percorrendo
alguns quilômetros e se tornando presas fáceis para os caçadores. A maioria não voltou
mais para seu habitat, o que provavelmente contribuiu bastante para se reduzir e até
extinguir algumas espécies de animais.
AS MURALHAS DE PEDRAS DE SÃO JOÃO DE SENE

Algumas propriedades rurais do interior do Piauí possuem cerca de pedras feitas


pelos escravos, porém são de pequena extensão. A maioria não atinge dez quilômetros.
Em São João de Sene existe uma parede de pedra que se estende por dezenas de
quilômetros. E uma obra que exigiu o trabalho de centenas de homens durante alguns anos.
A muralha de São João de Sene é tão monumental que todos que a visitam
perguntam quem teria feito tal obra, por quais motivos e em que época. Podemos supor que
o motivo da obra era o de criar uma atividade programada para ocupar todos os índios
aldeados daquela localidade, afinal, manter um grande contingente de pessoas sem ter um
trabalho seria o motivo de tédio, estresse e revolta, o que poderia levar a que procurassem
um jeito de fugir.
É bom lembrar que um dos motivos citados para o encerramento das atividades do
aldeamento foi em função de as terras não serem propícias para agricultura, atividade que
naquela época era uma das poucas existentes no meio Rural. Mas há controvérsias quanto
a este motivo. Segundo alguns estudiosos, o fechamento do aldeamento e a transferência
dos índios se deram mais por motivos econômicos, pois reduziria os cargos em cerca de
50% e colocar os índios numa área mais propícia para agricultura, atividade que aceitariam
com mais facilidade. A desocupação total da área de São João de Sene ocorreu em 1789.
Durante 21 anos de funcionamento do aldeamento de São João de Sene,
provavelmente a atividade de quebrar, transportar e confeccionar cerca de pedras tenha
sido a única atividade que poderia empregar centenas de índios, para que quando
chegasse a noite, eles estivessem cansados e sem muita motivação para fugirem.
Existem várias cercas de pedras em propriedades próximas a São João de Sene,
porém de pequena extensão. Provavelmente seus proprietários, vendo que não era difícil
fazer tal empreendimento, e vendo que haviam muitas pedras nas imediações, resolveram
fechar suas propriedades daquela maneira. Deve ser lembrado que naquela época, ainda
não se dispunha de arame farpado nem arame liso para isso.
AS FEIRAS DOS COMPADRES

Os moradores da região de São João de Sene e adjacências até 1970 dependiam


de algumas feiras para venda de seus produtos e aquisição dos que lá não existiam. As
principais feiras eram do Riacho Pequeno, Cajazeiras, Santa Rosa, Várzea Grande, Oeiras,
Arraial e posteriormente a do povoado do Tanque.
O transporte das mercadorias era feito no lombo de burros e jumentos. Os produtos
locais eram redes artesanais feitas nos teares, cordões para redes, cordas para arrumar as
redes, azeite de coco babaçu, de pequi e de mamona, carne de suínos, caprinos e ovinos,
aves vivas, ovos, raspa e doce de Buriti, rapaduras, alfenins, batidas, farinha de mandioca
e tapioca.
Quando a feira era realizada na antiga capital, Oeiras, os mercadores adquiriam
café, rapadura, tecidos para confeccionar roupas, medicamentos e utensílios domésticos.
De Santa Rosa, eles traziam vasilhas artesanais feitas de argila, ótimas para fazerem
sembereba de buriti e coalhada de leite. Adquiriam também as chamadas cuscuzeiras, onde
preparavam o cuscuz de milho e de arroz.
Quando era realizada em Várzea Grande e no final da feira ainda restavam muitas
mercadorias e seus proprietários estavam apertados, estes vendiam os produtos por
preços bastante vantajosos, aí era hora de comprar barato e vender caro em Oeiras e
vice-versa, com um ganho vantajoso.
No ano de 1969, ocorreu um desentendimento entre o prefeito de Várzea Grande e
os feirantes, pelo fato de o prefeito ter transferido a feira de segunda-feira para sábado.
Como os feirantes não concordaram com a atitude do prefeito, levaram-na para o povoado
do Tanque. Assim, a primeira feira que ocorreu nessa localidade foi no dia 29 de setembro
de 1969, no terreiro da casa do Senhor Né Filisminda, debaixo de um pé de Oiti. É esta,
portanto, a data oficial da 1ª feira e fundação do povoado do Tanque. Tempos depois a
feira de Várzea Grande voltou a ser realizada às segundas-feiras, e os feirantes
regressaram para aquela cidade.
Próximo a à cidade do Tanque do Piauí, existia um vilarejo chamado de Tanque
Velho. Esse nome foi motivado pela construção de um tanque para armazenar água da
chuva, feito pelo senhor João Marinho, que posteriormente mudou-se para o local onde foi
erguida a cidade do Tanque do Piauí, mantendo-se o nome Tanque.
Com o passar do tempo, o comércio entre estes feirantes, que eram compadres,
passou a se chamar de Feira dos Compadres. Eram eles: João, Jaca, Antenor, Álvaro, Jó
e Fico, entre outros. Quando se deslocavam para as feiras, às vezes era necessário
utilizar de 20 a 40 animais, entre cavalos, jumentos e burros.
No período da seca, os deslocamentos eram mais fáceis, pois os rios estavam
secos ou com pouca água. No período chuvoso, existia uma dificuldade a mais, que era
atravessar a pé os animais e depois as cargas na cabeça, pois não havia pontes. E quando
a água passava do peito, a travessia ficava muito perigosa.
Com o passar do tempo, os compadres passaram a levar alguns dos seus filhos.
Afinal, seriam eles no futuro os comerciantes. Para tanto, observavam neles habilidades
como a aptidão para o comércio, obediência e discrição.
Após alguns anos de feira, apareceu um novo feirante que começou a fazer parte do
grupo. Ele era cheio de conversas, meu repentista, que Logo no início de seu trabalho
recebeu a visita do fiscal da Prefeitura Municipal de Oeiras, que ele falou: “Seu Avelino, O
senhor ainda não pagou as taxas". No que ele refutou: “É melhor que o senhor cobre
primeiro dos outros e depois passe aqui”. Ao que o fiscal respondeu: “Seu Avelino, deixe de
brincadeiras, vamos logo, fale o seu nome”. Ele retrucou:
JOÃOZINHO, O BARBEIRO

João Rodrigues de Carvalho, conhecido como Joãozinho, morava numa localidade


próxima a Oeiras denominada Olho D’água Grande. Ficou órfão de mãe ainda criança e ao
ficar órfão de pai, na juventude, foi residir com duas irmãs, Antônia Nunes Costa e
Raimunda Carvalho Silva, e sua madrasta Benedita Monteiro Nunes, esposa de seu
falecido pai, Antônio Alves de Carvalho, apelidada de Menininha. Menininha, ao ficar viúva,
se casou novamente com Francisco de Araújo Costa, o Fico. Esse casamento selou o
início da união das famílias Araújo Costa e Nunes. Posteriormente o filho do Fico, chamado
Antenor de Araújo Costa, casou-se com a irmã mais nova da Menininha, Maria do Socorro
Costa, gerando um fato inusitado, pois os filhos de Francisco de Araújo Costa (Fico) eram
tios e primos dos filhos do Antenor. Os casamentos inusitados não pararam por aí, pois
Manoel Augusto Soares, o Manoel do Tino, também dos Araújo Costa, casou-se com
Expedita Nunes de Carvalho, outra filha de Manoel Antônio Nunes, também viúva. O irmão
de Manoel do Tino, o José de Araújo Costa, o Zé do Tino, casou-se com uma filha de
Expedita, Teresa Nunes Carvalho Costa.
João Rodrigues de Carvalho, Joãozinho, era filho de Antônio Alves de Carvalho e
Vitória Rodrigues de Carvalho, e casou-se com Eloísa Augusta Carvalho, uma das filhas de
Justino Augusto Soares, o Tino, e Maria da Conceição Miranda Costa, pertencentes a uma
das famílias mais tradicionais de São João de Sene.
Joãozinho era um lavrador de muitas características. Constituiu uma família
numerosa de dezenove filhos: Antônio Alves de Carvalho Neto, Francisco Rodrigues de
Carvalho, Maria da Paz Rodrigues de Carvalho Lima, Sebastião Rodrigues de Carvalho,
Raimundo Rodrigues de Carvalho, José Rodrigues de Carvalho, Justino Augusto Soares
Neto, João Rodrigues de Carvalho Filho, Renato Rodrigues de Carvalho, Maria da
Conceição Rodrigues de Carvalho, Lorimar Rodrigues de Carvalho e mais 9 anjinhos que
faleceram ainda bebês.
Em São João de Sene era costume as pessoas mais velhas mediarem conflitos
entre os moradores. Raimundo de Araújo Costa, o Mundoco, era um exemplo de
mediador, o que o levou a se tornar um advogado rábula.
Joãozinho, o Barbeiro, foi logo se adaptando aos costumes locais e sempre
participava das conciliações ao lado do Francisco de Araújo Costa, o Fico, e outros
moradores mais velhos, aprimorando ainda mais o seu espírito fraterno e amigo.
Por volta de 1960, aos 30 anos de idade, ele pegava uma mula ou um jumento,
colocava-lhe uma cangalha e dois jacás, enchia os com os filhos e os levava para uma
localidade chamada Barriga, povoado próximo a São João de sene, para cortarem os
cabelos.
Joãozinho era um homem de poucas posses. Portanto, no mês em que ia ao
barbeiro com as crianças, suas economias ficavam bastante comprometidas. Por esta
razão, e percebendo também que o maior número de crianças onde residia a era do sexo
masculino, decidiu por se tornar barbeiro. Começou aparando os seus cabelos com uma
navalha que herdará do pai, Antônio Alves de Carvalho.
Passado um tempo, Joãozinho resolveu dedicar parte do seu tempo, que era para
a lavoura, cortando os cabelos de seus filhos, que já eram muitos, para fazer o cabelo de
seus amigos, dos filhos de seus amigos, de parentes e compadres. Em função de seu
espírito fraterno e humanitário, decidiu que não cobraria de ninguém pelo serviços. Atendia
as pessoas mais importantes, ou seja, os patriarcas da família mais tradicional de toda a
região, os Araújo Costa, como Gregório de Araújo Costa, Francisco de Araújo Costa, o
Fico, Petrônio de Araújo Costa e seus descendentes, e os Nunes, entre outros.
Petrônio, deficiente visual, era contemplado com corte de cabelo e barba.
Manuel António Nunes, Patriarca de uma grande e tradicional família da região conhecida
como Chapada dos Nunes, também era seu cliente e amigo.

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Em 1988 quase todos os seus filhos estavam residindo em Teresina, Joãozinho e


sua esposa, Eloísa, passaram a ter muitos problemas de saúde por conta da idade.
resolveram então se mudar para Teresina com o seu filho caçula, Lorimar, E lá se juntaram
aos outros sete.
Com o falecimento da esposa, no dia 9 de Abril de 2003, Joãozinho ficou bastante
abalado, pois era um casal muito amoroso. E sua saúde foi ficando cada vez mais
fragilizada, em virtude de um problema na coluna cervical. No dia 30 de outubro de 2007,
João Rodrigues de Carvalho, o Joãozinho barbeiro, faleceu aos 76 anos, sendo sepultado
no cemitério da família Augusto Soares e Araújo Costa, em São João de Sene, ao lado de
sua esposa.
AS FAMÍLIAS ARAÚJO COSTA E NUNES

Araújo Costa pertencia a uma família originalmente piauiense, descendente do


ouvidor-geral Capitão Marcos Francisco de Araújo Costa, casado com Maria Rodrigues de
Santana, primo do Visconde da Parnaíba, o brigadeiro Manoel de Souza Martins, pai de
Padre Marcos de Araújo Costa, grande defensor da independência do Piauí. Fez parte da
Junta Governativa de 1824. Foi deputado da primeira legislatura e depois vice-presidente da
Província do Piauí. Posteriormente mudou-se para sua fazenda, Boa Esperança, onde
desenvolveu um trabalho educacional fantástico, tendo sido reconhecido até na Inglaterra,
no livro Viagem ao interior do Brasil, de George Gardner, publicado pela Editora da
Universidade de São Paulo. O Padre Marcos recebia nos prédios de sua fazenda dezenas
de jovens para estudar português, , matemática, latim, francês, inglês, filosofia entre outras
matérias, sem nenhum custo, apenas pelo gosto de servir e pelo amor que tinha pelo
próximo.
O padre Marcos de Araújo Costa nasceu em 1778 no arraial de Paulistana, naquela
época pertencente a Oeiras. O nascimento foi na casa do avô, o capitão Valério Coelho
Rodrigues. O seu pai, o Capitão Marcos Francisco de Araújo Costa, era homem de muitas
posses, que se casou com uma mulher de família rica, a Dona Maria Rodrigues de Santana,
Donana, filha de Valério Coelho Rodrigues, irmã de Ana Rodrigues de Santana, mãe do
Visconde de Parnaíba, Manoel de Sousa Martins, que administrou o Piauí de 1823 a 1843,
com algumas interrupções.
Em 1786, o Capitão Marcos Francisco de Araújo Costa, dois anos após deixar o
cargo de ouvidor-geral e a junta governativa (1784-1786), mudou-se com a esposa, Dona
Maria Rodrigues Santana e os filhos, Inácio Francisco, Antônia, Francisco Manoel, Josefa,
Maria, Ana e Marcos, para a Fazenda Boa Esperança. O capitão Marcos foi o primeiro
professor do Padre Marcos, que vendo o bom desempenho do filho, leva-o para Oeiras,
depois para o Maranhão e posteriormente para Pernambuco, matriculando-o no Seminário
de Olinda, tendo como um de seus mestres o Padre João Ribeiro, um dos líderes da
Revolução de 1817, que lhe preparou no civismo e no nacionalismo.
O padre Marcos foi ordenar-se em Coimbra, Portugal, mas antes da ordenação seu
pai morreu, o que contribuiu para que ele não aceitasse o convite para um curso de
Teologia no Seminário Romano.
O padre Marcos tinha um sonho, que era fundar uma escola na Fazenda Boa
Esperança, relato feito na primeira missa que celebrou no dia 15 de agosto de 1805.
Permaneceu em Recife de 1805 a 1811, depois foi para o interior do Rio Grande do Norte,
permanecendo até 1813, e em Oeiras, em 1820.
Voltando à Fazenda Boa Esperança, o Padre Marcos realizou seu antigo sonho e
fundou uma escola, onde lecionava as primeiras letras, latim, francês, teologia retórica,
filosofia, totalmente gratuito, conforme registra o Monsenhor Cícero Nunes, em “Notas para
a História Religiosa do Piauhy”, editado pelo Almanach Piahuyense. em 1937.
O padre Marcos de Araújo Costa foi membro da Junta Defensiva no decorrer da
Conferência do Equador de 20 de setembro de 1824 e do Conselho de Governo, conforme
Decreto de 20 de outubro de 1823. Foi vice-presidente e deputado da Assembleia Provincial
do Piauí, instalado em 1835, sendo que, para o período de 1835-1839, se recusou a
continuar, segundo o historiador pernambucano Francisco Augusto Pereira da Costa, em a
Cronologia Histórica do Estado do Piauí.
Dentre os membros da família Araújo Costa, vale destacar também o Capitão
Marcos de Araújo Costa, neto do Tenente-Coronel Inácio Francisco de Araújo Costa, por ter
sido o primeiro morador e dono de São João de Sene. Casado com Carlota de Araújo
Costa, tiveram os filhos: Raimundo de Araújo Costa, conhecido popularmente por Mundoco
de São João de Sene,casado com Mariquinha Soares Porto. Contam os mais velhos que,
em uma das viagens que o capitão Marcos, à época viúvo, levando uma boiada para o
Ceará, onde sempre vendia bois da própria criação ou comprados para revenda, se
hospedou na fazenda do pai de Mariquinha, dela se interessou e, à noite, confidenciou para
o filho Mundoco que iria pedi-la em casamento no retorno da viagem. Mas Mundoco
também, em silêncio, estava interessado pela moça. E planejou a trama. E no dia seguinte,
após o farto café com muito leite, coalhada, rapadura e carne de sol assada na brasa, em
ação. Tendo deixado de propósito seu chapéu de boiadeiro no alpendre, a certa distância
falou para o pai que iria retornar para pegá-lo, ao que o pai retrucou: “Deixe para pegar no
retorno”. Mas o filho Mundoco voltou em galope acelerado até a casa de Mariquinha, que o
recebeu na frente da casa, e sem perda de tempo pediu a sua mão em casamento ao pai
dela, no que foi logo ali aceito com o consentimento da moça.
Ao se encontrar com o pai, nada lhe disse. No retorno, se hospedam na fazenda do
pai de Mariquinha, que era cearense. E em determinada hora da noite, o Capitão Marcos
pede a mão da moça em casamento. Este recebe como resposta que seria de muito seu
agrado, mas que já tinha prometido a mão da moça para seu filho, Mundoco. Indagando
quando, pois mal se conheciam, assim como ele, soube que foi no retorno de Mundoco para
pegar o chapéu. Foi daí que o velho Capitão Marcos começou a conhecer as espertezas de
seu filho.
Mundoco (Raimundo de Araújo Costa) e Mariquinha casaram-se e tiveram seis
filhos: Ana Maria Miranda de Araújo Costa, conhecida por Cocota, Grigório de Araújo Costa,
Maria Emília de Araújo Costa, conhecida por Nenzinha, Guilherme de Araújo Costa,
Lutigarra de Araújo Costa, Petrônio de Araújo Costa e Maria da Conceição Miranda Costa.
Mundoco, algumas vezes, acompanhava parentes e amigos que tinham alguma pendência
com a justiça, sempre fazendo a defesa deles. Isso o notabilizou como rábula.
Em seguida chegou a São João de Sene a família Augusto Soares, cujo patriarca
era Manoel Augusto Soares conhecido como Keka, casado com Maria Emília de Araújo
Costaa, irmã de Raimundo de Araújo Costa, o Mundoco.Keka morava em um povoado
próximo denominado Ferreiro. Após a morte de Keka, seus filhos mais velhos, Francisco de
Araújo Costa, o Fico, e Justino Augusto Soares, decidiram vender as terras do Ferreira e se
mudaram para São João de Sene, onde morava seu sogro Mundoco e assumir sua herança
após a morte de Keka, juntando-se aos filhos de Mundoco, que eram primos. Pelo que se
vê então, foi uma união que deu certo.
Os cunhados Keka e Mundoco tiveram outros irmão que moravam em povoados
próximos, o Manoel Augusto Soares, o Keka,e sua esposa, Maria Emília de Araújo Costa,
tiveram cinco filhos: Francisco de Araújo Costa, conhecido por Fico, Justino Augusto
Soares, conhecido por Tino, Carlota Augusta Soares, Marcus Augusto Soares, Josias de
Araújo Costa, conhecido por Lula, que era o caçula.
Josias de Araújo Costa, o Lula, casou-se com Carolina de Araújo Costa e tiveram os
filhos: Gustavo de Araújo Costa, o Netinho; José de Araújo Costa, o Cazuza; Antônio de
Araújo Costa; Emília de Araújo Costa, a Milé; Manoel de Araújo Costa e Onias de Augusto
Soares.
Marcos de Araújo Costa do Olho d’água de Pedra, outro filho de Keka, foi casado
com Maria de Jesus de Araújo Costa e teve a filha Luiza de Araújo Costa. Ficou viúvo e se
casou com a irmã da sua primeira esposa. Teresa de Jesus de Araújo Costa, e tiveram os
filhos: Onias de Araújo Costa, Manoel de Araújo Costa, Expedito de Araújo Costa,
Raimundo de Araújo Costa, Francisco de Araújo Costa e José de Araújo Costa. Ao ficar
viúvo novamente, casou-se com Onorina Rodrigues Ramos e tiveram os filhos José
Augusto de Araújo Costa, Maria Emília de Araújo Costa e Armínio de Araújo Costa.
Marcos e Josias residiram e criaram suas famílias em Itaueiras, PI..
Márcia Carlota Soares de Souza, uma das filhas de Keka, permaneceu no Ferreiro,
casou-se com Antônio Rodrigues de Souza, conhecido por Teotônio, e tiveram doze filhos,
Manoel Rodrigues da Costa, conhecido como Nenzinho, Maria Emília Rodrigues da Costa,
Benedito Rodrigues da Costa, Luís Rodrigues da Costa, Rosa Rodrigues da Costa, Noêmia
Rodrigues da Costa, Florisbela Rodrigues da Costa, Nenoza, Eriolina Rodrigues da Costa,
Laurita Rodrigues da Costa, Angelita Rodrigues da Costa, Maria Rodrigues da Costa,
conhecida como Mariquinha e Raimundo Rodrigues da Costa.
Todos os filhos de Mundoco permaneceram em São João de Sene.
Ana Maria Miranda Costa, a filha mais velha de Mundoco, era conhecida como
Cocota das Casas Almadas. Ela casou-se com Juscelino de Souza, que morava em um
povoado que fica bem próximo, de nome Junco e tiveram seis filhos: Antônio de Souza
Costa, Josefina Miranda de Souza Costa, José de Souza Costa, Joaquina de Souza Costa,
Maria de Souza Costa, a Mariquinha, Joaquinha de Souza Costa e Francisco de Souza
Costa.
Guilherme de Araújo Costa, outro filho de Mundoco, casou-se com a Ana Maria
Nunes, mais conhecida por Anaçucar, e passaram a residir em São João de Sene. Tiveram
cinco filhos: Maria Deusa Nunes Costa, Helena Nunes Costa, Joaquim Nunes Costa,
Antônio Nunes Costa e Benedito Nunes Costa.
Maria Emília Miranda Costa, a outra filha de Mundoco, conhecida por Nenenzinha,
casou-se com Francisco de Araújo Costa, conhecido como Fico, filho de Manoel Augusto
Soares, conhecido como Keka. Tiveram cinco filhos: Antenor de Araújo Costa, Expedito de
Araújo Costa, Álvaro Araújo Costa, Atalá Miranda Costa, Manoel de Araújo Costa e Vinício
de Araújo Costa, que foi picado por uma cascavel e morreu aos 20 anos de idade. Manoel
de Araújo Costa e Maria de Araújo Costa morreram em janeiro de 1943, vitimados pelo
sarampo, e no mês de fevereiro morreram D. Maria Emília Miranda Costa, durante o parto,
o seu filho Francisco de Araújo Costa no sétimo dia de vida, motivado pelo sarampo.
Após o falecimento de sua esposa, Fico se casou com Benedita Monteiro Nunes,
gerando outra família de quatro filhos: Aurino Nunes de Araújo Costa, Manoel Nunes de
Araújo Costa, João Batista de Araújo Costa e Antônio Nunes de Araújo Costa.
Conceição de Miranda Costa, filha de Mundoco, casou-se com Justino Augusto Soares, o
Tino, também filho de Keka, e tiveram doze filhos: Otacílio Augusto Soares, Francisco de
Araújo Costa, Onias Augusto Soares, Constância Miranda Costa, Doninha, Deusdeth de
Araújo Costa, Manoel Augusto Soares, o Manoel do Tino, Eloísa Augusta de Carvalho,
Jaime de Araújo Costa, Emília da Costa Silva, conhecida por Miler, Raimundo José Augusto
Soares e José Augusto Soares, o Zé do Tino.
Justino Augusto Soares, o Tino, serviu ao exército em Teresina e alguns meses
depois seu pai mandou um vaqueiro para ver como ele estava. Como já tinha dado baixa do
exército, resolveu acompanhar o vaqueiro a pé, por mais de duzentos quilômetros.
Lá pelos idos de 1920, o Tino foi acometido por uma doença conhecida como
quebra-cangote, o que exigiu que fosse levado para Teresina. Para tanto, a sua mãe
colocou uma carga de mala e improvisou uma pequena cama. Poucos dias depois,
chegaram a Teresina, sendo logo atendido por um médico, que alertou que, se a criança
ficasse boa, poderia ficar surda, cega ou louca. Ao final do tratamento, Tino estava surdo e
no final da vida cegou. A comunicação com ele era escrevendo no seu braço. Quanto mais
rápido, melhor era o entendimento.
Justino Augusto Soares, o Tino, era considerado um dos maiores vaqueiros da
região de Oeiras e Valença. Todos queriam ouvir seus ensinamentos para ser um bom
vaqueiro. Raimundo de Araújo Costa, primo de Justino e irmão do Dr. Sarmento, diz que ele
fez muitos vaqueiros comerem poeira e até mesmo se perderem numa pega de boi. Dizia
ele: “Triste do boi que ele decidisse pegar. Às vezes o cavalo cansava e ele continuava a
tarefa a pé”. A região no final do século IXX e XX ainda tinha caatinga e matas fechadas.
Justino era um homem muito forte. Foi um excelente pai.
Numa de suas andanças e ao chegar numa roça que acabara de queimar, resolveu
pegar uma lata d’água para beber, mas o cavalo deu um pulo e ele ficou bastante molhado,
provocando uma doença conhecida como quebra-cangote, provavelmente pelo choque
térmico.
Ficando incapaz para a lida com o gado e agricultura, resolveu atuar na área de
artesanato, fazendo utensílios para guardar roupas e mantimentos, e na produção da
farinha de mandioca.
Eloísa, a filha mais nova do Tino, cuidou dele na velhice e relatou o seu lema: “Só
compre se tiver dinheiro. Comprar não tendo dinheiro é porque você não merece. Para se
safar de um problema, só existem duas palavras - sim ou não - o resto é silêncio”.
Além de surdo e mudo, no final da vida teve um AVC, mas quando alguém escrevia
no seu braço dizendo quem era, ele ficava alegre. Aprendeu isto com seu cunhado e primo
Petrônio de Araújo Costa.
Gregório de Araújo Costa, também filho de Mundoco, casou-se com sua prima Maria
Josina de Araújo Costa, que também era neta de Marcos de Araújo Costa, passando a
morar em São João de Sene após o casamento. Tiveram seis filhos: Raimundo de Araújo
Costa, Elesbão de Jesus de Araújo Costa, Maria de Jesus de Araújo Costa, Benedito de
Araújo Costa, conhecido por Ditinho, Lúcia de Araújo Costa e Nonato de Araújo Costa.
Lutigarra de Araújo Costa casou-se com Augusto do Ferreiro e não tiveram filhos.
O filho caçula de Mundoco era Petrônio de Araújo Costa, que se casou com sua
prima Maria Nerinda de Araújo Costa, irmã da mulher de seu irmão Grigório. Eles tiveram
dois filhos: Gonçalo de Araújo Costa e Maria Amélia de Araújo Costa.
Gustavo de Araújo Costa, outro filho de Marcos do São João, casou-se com Rosa de Araújo
Costa e residiram numa localidade denominada de várzea localizada a cinco quilômetros da
sede do município de Tanque do Piauí, PI. Tiveram os filhos Carlota de Araújo Costa,
Carolina de Araújo Costa, conhecida por Caluzinha, Carlos de Araújo Costa e Emília de
Araújo Costa, conhecida por Nenenzinha, que foi casada com Raimundo Rodrigues de
Sousa e tiveram os filhos: Carlota de Araújo Costa, Benedito de Araújo Costa, Francisca de
Araújo Costa, Rosa de Araújo Costa, Antônio de Araújo Costa, José de Araújo Costa,
Raimundo Nonato de Araújo Costa, Luzia de Araújo Costa, Maria de Araújo Costa, Maria do
Socorro de Araújo Costa (conhecida por Conceição) e Maria das Dores de Araújo Costa.
Marcos do São João casou-se novamente em idade avançada e teve três filhos:
Adelaide de Araújo Costa, Ladislau de Araújo Costa e Isabel de Araújo Costa (Isabelinha).
Adelaide de Araújo Costa casou-se com José Moreira da Silva e tiveram os filhos: Carminha
de Araújo Costa, Pedro Moreira da Silva, Otília de Araújo Costa, Lardislau de Araújo Costa
e Isabel de Araújo Costa.
Carminha de Araújo Costa casou-se com Miguel Levino Rodrigues de Sousa e
residiram num povoado chamado Junco. Tiveram os filhos Eliza Rodrigues da Silva, Antônio
Rodrigues de Sousa, José Rodrigues da Silva Neto, João Rodrigues de Sousa, Francisco
Rodrigues de Sousa, Maria Rodrigues de Sousa I, Maria Rodrigues de Sousa II, Maria da
Conceição de Sousa Ferreira, Maria de Jesus Rodrigues de Sousa.
Pedro Moreira da Silva casou-se com Celina Maria Ferreira da Silva e tiveram os
filhos: Mário Moreira da Silva, Joaquim Moreira da Silva, Antônio Moreira da Silva,
Francisco Moreira da Silva, Maria Adelaide Moreira da Silva, Rosa Moreira da Silva, Maria
da Paixão Moreira da Silva, Emilia Moreira da Silva, Maria do Espirito Santo Moreira da
Silva, José Moreira da Silva Neto.
Otília de Araújo Costa casou-se com João Leite Batista. Não tiveram filhos.
Lardislau de Araújo Costa, conhecido como Lau, casou-se com Hosana Antônia de
Oliveira e tiveram os filhos: Job de Araújo Costa, Joana de Deus Costa, Antônia de Oliveira
França, Sevéria de Araújo Costa e Francisco de Araújo Costa.
Isabel de Araújo Costa, Isabelinha, casou-se com Joaquim Moreira da Silva e
tiveram os filhos, Antônio Moreira da Silva, Francisco Moreira da Silva, José Moreira da
Silva Neto, Moisés Moreira da Silva, Vicente Moreira da Silva, Josina Moreira da Silva,
Maria de Araújo Costa, Maria de Araújo Costa II, a Marieta*.

*disponível em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Sarmento>;<http://wikipedia.org/wiki/Casimiro_Jos%C3%A9_de_
Morais_Sarmento>.

Breve resumo histórico dos Morais Sarmento e Araújo Costa na pessoa de um de


seus descendentes ilustres, Antônio Sarmento de Araújo Costa.

Remonta há mais de duzentos anos que os Morais Sarmentos se estabeleceram em


Oeiras, mesmo antes de ser a capital da província, hoje tendo como expoente o advogado
Antônio Sarmento de Araújo Costa, professor e auditor fiscal do Estado do Piauí,
aposentado, que também descende e representa os Araújo Costa, outra família com
destaque no povoamento e independência do Piauí e na política até a mudança da capital
de Oeiras para Teresina em 1852.
Os Morais Sarmento e os Araújo Costa são descendentes de portugueses que
chegaram ao Brasil entre 1549 e 1815. Na sua maioria, vieram com a família real entre os
anos de 1808 e 1820. Alguns retornaram a Portugal com a Corte em 26 de abril de 1821,
mas outros fixaram residência em solo brasileiro.
O mais eminente Morais Sarmento no Piauí, de que se tem conhecimento, foi
Casimiro José Morais Sarmento, natural de Oeiras, PI, nascido em 13 de agosto de 1813,
filho do Tenente-Coronel Joaquim Antônio de Morais e Ana Carolina de Morais e Silva,
naturais de Cachoeira, BA. Bacharel em direito pela faculdade de Direito de Olinda, em 21
de outubro de 1836, em 6 de março de 1840 recebeu o grau de doutor, com aprovação
plena. Foi o primeiro piauiense a alcançar tão elevado grau e o primeiro advogado do Piauí.
Dr. Casimiro José de Morais Sarmento foi advogado, professor e político. Presidiu a
província do Rio Grande do Norte, nomeado pela Corte em 4 de abril de 1845. Assumiu o
cargo em 28 de abril de 1845 e deixou o mandato em 9 de outubro de 1847 para assumir a
presidência da província do Ceará, de 14 de outubro de 1847 para assumir a Presidência da
Província para assumir o mandato de deputado na Assembleia-Geral do Império, sendo
reeleito em 1850 e 1852. Depois atuou como Inspetor-Geral da Instrução e da Fazenda
Pública do Maranhão. Retornou a sua terra natal, Oeiras, onde exerceu a advocacia e
redigiu o jornal Oeirense. Retornou a Corrente em 1857, militando na advocacia e como
redator do jornal Correio Mercantil.
Em 1858 foi designado lente catedrático de Direito das Gentes da Escola Militar e de
Aplicação do Exército Brasileiro, cargo que exerceu até falecer em Angra dos Reis, RJ, no
dia 1º de fevereiro de 1860, aos 47 anos de idade. Deixou viúva D. Isabel de Morais
Sarmento. Não tiveram filhos.
Como expoente dos Araújo Costa, família genuinamente piauiense, descendente da
nobreza portuguesa, destaca-se o Pe. Marcos de Araújo Costa, patrono da cidade de Padre
Marcos, então Fazenda Boa Esperança, de seu pai, o Ouvidor-Geral Capitão Marcos
Francisco de Araújo Costa. Foi membro da Junta Governativa da Capitania do Piauí entre
1784 e 1786. Casou-se com Maria Rodrigues de Santana.
Hoje, pode-se dizer que essas duas ilustres famílias, os Morais Sarmento e os
Araújo Costa, estão representadas na pessoa do advogado militante Antônio Sarmento de
Araújo Costa, conselheiro da Seccional da OAB/PI no triênio 2013-2015, professor e auditor
fiscal do Estado do Piauí, aposentado. Foi Subsecretário do Meio Ambiente e Secretário de
Administração no ano de 2002, no 2º Governo Hugo Napoleão.
Os Araújo Costa, no Piauí, tem como tronco comum o Ouvidor-Geral Capitão
Marcos Francisco de Araújo Costa, casaco com Maria Rodrigues de Santana, filho de João
Francisco de Paiva e Antônia do Espírito Santo, esta filha dos portugueses Manuel
Francisco de Araújo Costa e Ana de Oliveira, chegados ao Piauí em 1697, sendo Manuel
filho de Gaspar da Costa e de Serafina de Araújo que, juntando os sobrenomes, deram
origem aos Araújo Costa no Piauí.
O Ouvidor-Geral Capitão Marcos Francisco fez parte da junta de governo em 1784.
Tendo abandonado a política, por decisão pessoal, deixou a Capital da Província, Oeiras, e
foi morar na sua Fazenda da Boa Esperança, hoje cidade de Padre Marcos, em
homenagem a seu filho caçula Padre Marcos de Araújo Costa.
Pelo lado paterno, Antônio Sarmento de Araújo Costa descende do primogênito do
Ouvidor-Geral Capitão Marcos Francisco, o Tenente-Coronel Inácio Francisco de Araújo
Costa. Capitão-Mor de Oeiras (1823), comandante da polícia da província Tenente-Coronel
(1824), membro da Junta Governativa da Província de 24 de janeiro de 1823 a 19 de
setembro de 1824 e presidente da província do Piauí entre 9 de dezembro de 1826 e 13 de
fevereiro de 1829, foi Deputado provincial do Piauí por dois mandatos, 1835-1837 e
1842-1843, sua última atividade polícia. Faleceu quando estava prestes a ser titulado Barão
do Estreito, nome de sua principal fazenda, onde nasceu o advogado Antônio Sarmento.
Em resumo, Antônio Sarmento de Araújo Costa, pelo lado paterno, é tetraneto do
Comendador da Ordem de Cristo Francisco José de Araújo Costa, casado com Emília
Carlota Barbosa Dantas Soares da Silva, natural da Fazenda Estreito, nasceu em 1808 e
faleceu em Valença em 1894. Foi Vice-Presidente da Província do Piauí.
É bisneto do Capitão da Milícia Imperial Marcos de Araújo Costa, o Marcos do São
João de Sene, casado com sua prima Carlota Francisca de Macedo, e neto de Maria de
Jesus de Araújo Costa (Maroca), casada em primeiras núpcias com Arlindo Augusto
Soares.
Pelo lado materno, Antônio Sarmento de Araújo Costa é tetraneto do Coronel das
Milícias Imperiais Manoel Inácio de Araújo Costa, casado com Maria Bárbara da Purificação
Osório, e bisneto de Manoel Osório de Araújo Costa e Cornélia Cândida Avelino (irmã do
primeiro juiz federal do Piauí, Demóstenes Constâncio Avellino, pai do também juiz federal
assassinado em 11 de novembro de 1927, a facadas dentro de sua casa, Lucrécio Dantas
Avellino, que antes foi Secretário de Fazendo do Governo João Luís Ferreira e
Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Piauí).
É também neto de Anfrísio Avellino de Moraes Sarmento (nascido em 18 de
novembro de 1877 e falecido em 16 de julho de 1926) e Maria Bárbara de Araújo Costa
(nascida em 21 de abril de 1878 e falecida em 26 de julho de 1971).
É filho de Arlindo de Araújo Costa (nascido em 18 de janeiro de 1897 e falecido em 8
de agosto de 1989), casado com sua prima Cordélia Sarmento de Araújo Costa (nascida em
24 de fevereiro de 1908 e falecida em 4 de setembro de 1997). Ambos são descendentes
do tronco comum Tenente-Coronel Inácio Francisco de Araújo Costa, presidente da
província do Piauí de 9 de dezembro de 1826 a 13 de fevereiro de 1829. Ele do lado do
Comendador Francisco José de Araújo Costa e ela do seu irmão Coronel Manoel Inácio de
Araújo Costa. É o décimo terceiro de quinze irmãos:

01. Benedita Sarmento de Araújo Costa (Cavalcante, após casada);


02. Maria de Araújo Costa (Soares, após casada);
03. Maria da Assunção de Araújo Costa (Weyde, após casada);
04. José de Araújo Costa;
05. Anfrisina de Araújo Costa (Rodrigues após casada);
06. Neusa de Araújo Costa (Desidério, após casada)
07. Raimundo de Araújo Costa;
08. Maria de Jesus de Araújo Costa (Coelho, após casada);
09. Teresinha de Araújo Costa;
10. Dulce Maria de Araújo Costa;
11. Rita de Cássia de Araújo Costa;
12. Onélia Sarmento de Araújo Costa;
13. Antônio Sarmento de Araújo Costa;
14. Arlindo Sarmento de Araújo Costa;
15. Maria das Graças Sarmento de Araújo Costa (Castro, após casada).

Casou-se com Arlinne Vieira de Araújo Costa, com quem tem quatro filhos: Antônio
Sarmento de Araújo Costa Junior, bacharel em direito, analista judicial da Justiça Federal do
Piauí, Carlaile Antônio de Araújo Costa, médico, cardiologista e emodinamicista, Arlitônio
Sarmento de Araújo Costa, médico cirurgião-plástico e Igor Sarmento de Araújo Costa,
bacharel em Direito, funcionário da Justiça do Estado do Maranhão.
Antenor relatou que ouviu de seu pai, o Fico, que o pai de Marcos de Araújo Costa,
Francisco Clementino de Sousa Martins, o avô Mundoco do São João, já bem debilitado e
com idade avançada, pediu para o seu filho, o Dr. Carlos Francisco de Araújo Costa, que
mandasse chamar o Marcos do São João. Isso porque segundo ele, em tal dia iria morrer e
precisava muito conversar com o filho, que morava distante. Já próximo do dia da
presumível morte, chamou o Dr. Carlos e lhe perguntou se ele havia mandado comunicar
para o Marcos. Ele disse que não, pois acreditava que ele não morreria. O velho ficou
aborrecido, e o Dr. Carlos disse que mandaria um portador urgentemente. Mas ele disse
que não daria mais tempo. E no dia previsto por ele, todos os filhos estavam lá, exceto o
Marcos. Ele se despediu de cada um, fazendo diversas recomendações, e pouco tempo
depois morreu.
PETRÔNIO DE ARAÚJO COSTA

Petrônio de Araújo Costa foi um dos mais extraordinários homens que nasceram em
São João de Sene. Filho caçula do Mundoco, numa viagem ao 9 meses de idade, com
muita febre e tendo tomado uma chuva, pois não tinha onde se abrigar, amanheceu cego no
dia seguinte.
Petrônio casou-se com sua prima Maria Nerinda de Araújo Costa, que era irmã da
mulher de seu irmão Gregório. Tiveram dois filhos: Gonçalo de Araújo Costa e Maria
Nerinda de Araújo Costa.
Dona Maria Nerinda também ficou cega aos 30 anos de idade, o que dificultou ainda
mais a vida do casal.
Como a falta da visão, Petrônio desenvolveu a audição e o olfato de maneira
extraordinária. Às vezes, quando as crianças da região notavam a sua aproximação, elas se
escondiam. E quando ele chegava próximo ao local, pergunta: “Quem está escondido?”.
Tinha boa noção de direção e distância e percorria com uma bengala e sozinho as estradas
acidentadas que levavam às residências vizinhas. Ele era figura obrigatória em todos os
acontecimentos, pois a sua conversa fácil e variada era apreciada por todos.
Aconteceu um fato que até hoje é lembrado. É o caso de um rapaz, vizinho de
Petrônio, que, tendo se escondido quando já se encontrava a poucos metros dele, teria
ouvido: “Você é do lugar.. Pensa que não sei que está querendo me enganar? Diga o seu
nome”. Seu olfato era muito apurado.
A cegueira privou o nosso ilustre Petrônio de trabalhar nas atividades rurais.
Começou então a comprar e vender mercadorias. Em pouco tempo tinha uma bodega
bastante sortida. Às vezes saía a comercializar ouro, porcelana e outros produtos pelas
regiões próximas à sua propriedade, para melhorar o seu ganho. Depois que passou a
contar com uma maior quantidade de recursos, resolveu ir a Recife, PE, comprar tecidos em
uma grande atacadista, onde tornou-se amigo do gerente. Todo mês de Julho ele
aguardava a vinda do cliente ilustre para comprar mercadorias. No dia em que Petrônio
chegava à atacadista, seu amigo gerente ficava por conta dele. Depois de alguns anos de
convivência e vendo a sabedoria do comerciante piauiense, falou que Petrônio foi o homem
mais inteligente que ele conhecera. Além de tecidos, adquirir ferramentas, medicamentos,
utensílios domésticos, perfumes entre outras mercadorias, diversificando seus produtos. De
Recife até Oeiras, no Piauí, as mercadorias eram transportadas em caminhão. De Oeiras
até São João de Sene, em tropa de burros e jumentos, o que exigia de um a dois dias de
viagem.
Depois de muitos anos e sempre trazendo novidades para os seus clientes, passou
a trazer também caderno de capa dura, bonito e com espiral de arame, entre outras coisas.
a notícia da chegada dos cadernos se espalhou que nem fogo em pólvora, todos os
estudantes queriam adquirir um. Um jovem que residia há mais de 20 km do comércio, lá
chegando foi logo perguntando pelo caderno de arame, ao que ele respondeu prontamente
sem titubear: “ Caderno de arame não é caderno escolar, pois acidente pode causar".
Certo dia, Petrônio recebeu um cliente de Várzea Grande, PI, que fica a pouco
mais de 10 km de São João de Sene, para comprar um medicamento. A pessoa que lhe
ajudava na venda procurou o produto, mas não o encontrou. Petrônio foi procurar,
encontrando-o rapidamente, pois, apesar da cegueira, ele era quem arrumava todas as
mercadorias na prateleira e sempre as contava para saber o momento de adquirir novos
produtos.
Posteriormente, Petrônio montou uma farmácia na cidade de Várzea Grande.
Trabalhou lá por um bom período, até adoecer. seu coração dilatou, e mesmo com todo
esforço médico, acabou morrendo de infarto, consequência da doença de Chagas. As
áreas rurais do Piauí tinham grandes infestações de barbeiros, o transmissor da doença de
Chagas.Hoje, em função do combate ao barbeiro transmissor, a doença reduziu.
São João de Sene fica na costa negra da Chapada Grande, na parte sul, entre as
regiões de regeneração e Oeiras. Petrônio, nas suas perambulações, trazia mudas e
sementes para serem plantadas no quintal da sua casa, localizada na confluência de dois
córregos, um dos quais tinha água durante todo o ano, o que facilitou a implantação de um
pomar diversificado. Atualmente este córrego está sem água, motivado em parte pelas
secas, e, em parte, pelo desmatamento nas nascentes.
Nas festas realizadas em São João de Sene e imediações, até hoje as pessoas
lembram-se do Petrônio e relatam a grande falta que ele faz. Muitos questionam: "Como
uma pessoa que nunca enxergou, nunca estudou e nasceu na roça tinha tantos
conhecimentos?".
O pai de Petrônio, o Mundoco de São João de Sene, era cego de um olho. Rábula
afamado, tinha grande conhecimento e se preocupou em alfabetizar Petrônio. Para tanto,
confeccionou as letras do alfabeto e os números com cera de abelhas. O aprendizado foi
rápido, inclusive da tabuada. Quanto Petrônio vendia suas mercadorias, fazia todas as
contas. Certa vez, numa feira, ele corrigiu uma pessoa que estava fazendo uma conta
errada. Esse fato contribuiu para que essa pessoa, a todo instante, pedisse: "Ceguinho,
faça essa conta". Depois do terceiro pedido, Petrônio, que tinha muita noção de cidadania,
lhe falou: "Amigo, eu não fui batizado com o nome de ceguinho, mas sim como Petrônio de
Araújo Costa". O companheiro ficou desconcertado e pediu-lhe desculpa várias vezes.
MESTRE PEDRO CHIQUINHO

O município do Tanque do Piauí tem um dos grandes santeiros do Estado. O


assunto é tão importante que o ilustre escritor piauiense, médico, historiador e membro da
Academia Piauiense de Letras, cadeira 25, Dagoberto de Carvalho Jr, publicou o livro A Arte
Sacra Popular e Resistência Cultural, afirmando que o Mestre Pedro Chiquinho era um
santeiro oeirense. Hoje podemos dizer um santeiro tanquense, pois sua propriedade era
localizada no Salobro, o da Festa, que atualmente pertence ao município de Tanque do
Piauí.
Pedro Xavier Nunes, o nosso Pedro de Chiquinho, nasceu no dia 15 de agosto de
1907, Filho de Francisco Xavier da Silva e Maria Nunes da Silva.
Pedro de Chiquinho, lavrador da Chapada dos Nunes, como de costume era
apenas alfabetizado, mas acompanhou algumas caravanas de romeiros até o Juazeiro do
Padre Cícero e as festas de São Francisco das Chagas, em Canindé, o que contribuiu para
despertar o pendor para as atividades de escultor. Cada vez que ele participava de uma
nova romaria, aproveitava para observar ainda mais os detalhes das imagens. E depois de
algum tempo, o nosso mestre já tinha gravado na sua cabeça os detalhes para atuar
também nesta área. Iniciou suas atividades produzindo a imagem de São Pedro. Mesmo
sem ter feito curso ou recebido orientações, produzir uma obra de boa qualidade. Atuou
também na produção de utensílios domésticos, em sua oficina de fundição,
comercializando-os em feiras, especialmente a do Arraial. Mesmo vários anos após a sua
morte, ainda encontramos muitos utensílios domésticos produzidos por ele. Hoje, se
fizermos um levantamento, encontraremos muitas peças dele na região circunvizinha a
Chapada dos Nunes.
O mestre Pedro Chiquinho é da família Nunes, cujo reduto maior ficava na Chapada
dos Nunes. entre os familiares se destacaram: seu Nunes, no século passado, que
trabalhava com couro, ferro e alumínio, e Antônio João, que fabricava bacamarte e outras
armas, afinava sanfona e produzia qualquer peça de ferro. A obra desses homens foi
bastante relevante. Consideramos que a genialidade de Antônio João se deve ao que disse
durante a década de 70: "Agora é que eu devia ter nascido, o mundo agora me oferece
condições para colocar em ação todo meu potencial".
O Mestre Pedro Chiquinho ficou famoso por produzir imagens esculpidas de São
Pedro, São Francisco, Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora da Guia, o Divino
Espírito Santo, entre outras.
O lançamento do livro Arte Sacra e Resistência Popular, no município do Tanque do
Piauí e a exposição de parte da obra do mestre Pedro Chiquinho contribuíram para que
fosse enviado um pedido de criação do Museu Mestre Pedro Chiquinho, viabilizado pelo
autor do livro, Dagoberto de Carvalho Jr.
Passados mais de sete anos, ainda não se tem notícia a respeito da apreciação do
tema, se foi aprovado ou não, ou se foi aprovado, mas não implantado. O certo é que um
assunto de tamanha envergadura deveria ser tratado com urgência.
A preocupação em se implantar o Museu é para que não se perca tão valioso
patrimônio do povo tanquense e do povo piauiense.

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