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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

CAMPUS ARAPIRACA
CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

AMANDA ALENCAR SANTOS

DIRETRIZES PROJETUAIS PARA ESPAÇOS DE ATENDIMENTO E APOIO


A CRIANÇA AUTISTA

ARAPIRACA
2020
AMANDA ALENCAR SANTOS

DIRETRIZES PROJETUAIS PARA ESPAÇOS DE ATENDIMENTO E APOIO


A CRIANÇA AUTISTA
.
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao
Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Federal de Alagoas – UFAL, Campus de Arapiraca,
como requisito final para obtenção do título de
Graduação.

Orientadora: Profª Ma. Simone Carnaúba Torres.

ARAPIRACA
2020
AGRADECIMENTOS

Agradeço meus primeiros professores na arte da vida, meus pais: Luciana e


Ademir, responsáveis não apenas pela consolidação desta formação, mas por mesmo
muitas vezes sem entender, me ajudarem, sempre com muito apoio e incentivo, todos
os dias desta jornada.
Agradeço também aos meus irmãos Daví e Matheus, pela paciência, por
estarem sempre à disposição, me apoiarem e ajudarem sempre que precisei.
A todos os professores do campus Arapiraca, com que tive o prazer de
aprender, por repassarem tantos conhecimentos valiosos.
A minha professora e orientadora, Simone Torres, pelo conhecimento,
paciência e orientação, a qual tenho grande gratidão, respeito e admiração.
RESUMO

Segundo a Academia Americana de Pediatria (2020), uma em cada 59 crianças nasce


com autismo, cerca de 1,7% da população mundial, sem distinção nenhuma de etnia
e grupo social. A criança autista apresenta como uma de suas principais
características uma limitação em sua percepção e relações sociais, demonstrando
também indiferença ou excesso de atenção aos estímulos que se apresentam ao seu
redor. Assim, o déficit para integrar as informações ocorre de forma complexa, fazendo
com que o envolvimento ocupacional seja altamente prejudicado. A arquitetura como
objeto construído quando aliada a psicologia ambiental é capaz de produzir efeitos na
percepção da mente humana. Nesse sentido, o presente trabalho surge de uma
inquietação pessoal sobre como o ambiente projetado pode influenciar no
desenvolvimento e no tratamento de crianças com autismo, logo, através de revisão
bibliográfica, pretende identificar e propor diretrizes para centros de tratamento e
apoio do autismo a partir de uma análise dos problemas sensoriais enfrentados pelas
crianças autistas e das necessidades dos profissionais de atendimento. Os resultados
encontrados na análise corroboram a expectativa inicial da necessidade de um estudo
aprofundado sobre os comportamentos e respostas sensoriais dos autistas para assim
pensar na arquitetura como agente terapêutico. A partir desse estudo, foram
propostas recomendações projetuais, baseadas nos aspectos físicos, sensoriais e de
conforto ambiental, a serem aplicadas nos ambientes de terapia e estimulação
sensorial que atendem crianças autistas. Com isso, pretende-se, a partir do enfoque
da arquitetura, promover uma melhora no desenvolvimento físico e comportamental
dessas crianças, contribuindo também com sua qualidade de vida.

Palavras-chave: Autismo. Transtorno do Espectro Autista. Centro de tratamento.


Arquitetura Sensorial. Psicologia Ambiental.
ABSTRACT

According to the American Academy of Pediatrics (2020), one in 59 children is born


with autism, about 1.7% of the world population, regardless of ethnicity or social group.
The autistic child presents, as one of its main characteristics, a limitation in its
perception and social relations, also demonstrating indifference or excessive attention
to the stimuli that are present around it. Thus, the deficit in integrating information
occurs in a complex way, making occupational involvement highly impaired.
Architecture as an object built when combined with environmental psychology is
capable of producing effects on the perception of the human mind. In this sense, the
present work arises from a personal concern about how the projected environment can
influence the development and treatment of children with autism, therefore, through
bibliographic review, it intends to identify and propose guidelines for treatment and
support centers for autism from an analysis of the sensory problems faced by autistic
children and the needs of care professionals. The results found in the analysis
corroborate the initial expectation of the need for an in-depth study on the behaviors
and sensory responses of autists in order to think of architecture as a therapeutic
agent. From this study, design recommendations were proposed, based on physical,
sensory and environmental comfort aspects, to be applied in the environments of
sensory therapy and stimulation that assist autistic children. With this, it is intended,
from the focus of architecture, to promote an improvement in the physical and
behavioral development of these children, also contributing to their quality of life.

Keywords: Autism. Autistic Spectrum Disorder. Treatment center. Sensory


Architecture. Environmental Psychology.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Breve Histórico do Autismo ....................................................................... 19


Figura 2 - Uma em cada 59 crianças possui autismo no mundo. .............................. 21
Figura 3 - Estimativa da quantidade de pessoas com autismo em cada continente. 21
Figura 4 - Classificação do autismo ao longo da história. ......................................... 22
Figura 5 - Manifestações clínicas do autismo............................................................ 23
Figura 6 - Graus do autismo ...................................................................................... 24
Figura 7 - 1 a cada 150 pessoas são autistas no Brasil. ........................................... 30
Figura 8 - Aporte ao Autismo..................................................................................... 31
Figura 9 - Visão geral do Espaço TRATE Arapiraca. ................................................ 34
Figura 10 - Sala de Integração Sensorial e sala de atendimento psicológico. .......... 35
Figura 11 - Salas de Espera e Corredores dos edifícios do Trate. ............................ 36
Figura 12 - Exemplo de percepção do espaço pelo indivíduo com TEA. .................. 37
Figura 13 - Percepção do sentidos e integração sensorial. ....................................... 38
Figura 14 - Percepção do sentidos e integração sensorial. ....................................... 39
Figura 15 - QR Code com link direcionável para vídeo de realidade virtual em 360°,
com o filme produzido pela National Autistic Society sobre o autismo, disponível no
Youtube. .................................................................................................................... 42
Figura 16 - A ambiência aliada a psicologia ambiental e a integração sensorial tem o
poder de desenvolver diversas habilidades e potenciais do indivíduo com TEA....... 54
Figura 17 - Fachada o Centro para o Autismo e Desenvolvimento do Cérebro. ....... 56
Figura 18 - “Casinhas da Vila” no Centro do Autismo e Desenvolvimento do Cérebro.
.................................................................................................................................. 57
Figura 19 - Formas e cores utilizadas no Centro do Autismo e Desenvolvimento do
Cérebro. .................................................................................................................... 57
Figura 20 - Salas de atendimento no Centro do Autismo e Desenvolvimento do
Cérebro. .................................................................................................................... 58
Figura 21 - Salas de atendimento no Centro do Autismo e Desenvolvimento do
Cérebro. .................................................................................................................... 59
Figura 22 - Recepção e espaço da família, no Centro do Autismo e Desenvolvimento
do Cérebro. ............................................................................................................... 59
Figura 23 - Planta baixa do residencial e escola Sunfield. ........................................ 60
Figura 24 - Planta baixa do residencial e escola Sunfield. ........................................ 60
Figura 25 - Corte do residencial e escola Sunfield. ................................................... 61
Figura 26 - Espaços de circulação do residencial. .................................................... 61
Figura 27 - Fachada da escola Hazelwood. .............................................................. 62
Figura 28 - Escola Hazelwood, vista de cima. ........................................................... 62
Figura 29 - Escola Hazelwood, planta baixa. ............................................................ 63
Figura 30 - Escola Hazelwood e seus corredores sensoriais. ................................... 64
Figura 31 - O arquiteto além de criar uma parede sensorial, utilizou da mesma com
armários "invisíveis". ................................................................................................. 64
Figura 32 - Escola Hazelwood, área de alimentação. ............................................... 65
Figura 33 - Salas em sequência com espaços de transição e interação social......... 68
Figura 34 – Sala de espera com espaços para interação social das crianças e suas
famílias. ..................................................................................................................... 69
Figura 35 - Sala para atividades em grupo com janela de observação para terapia
assistida. ................................................................................................................... 70
Figura 36 - Planta baixa com compartimentação de atividades através do mobiliário.
.................................................................................................................................. 71
Figura 37 - Sala de Terapia com brinquedos e mobiliário flexível para diferentes
atividades, foi utilizado também scape spaces (espaços de fuga) para uma possível
calibração sensorial. .................................................................................................. 72
Figura 38 - Sala de terapia com layout flexível......................................................... 73
Figura 39 - Sala de Terapia em grupo. ...................................................................... 74
Figura 40 - Recepção com uso de identidade visual com formas orgânicas, materiais
e tons utilizados em todas as imagens produzidas. .................................................. 75
Figura 41 - Espaço para terapias em grupo, foram utilizados tons de rosa e azul com
fundo acinzentado para ter o equilíbrio entre estimulante (rosa) e calmo (azul). ...... 79
Figura 42 - Paleta de cores escolhidas como "friendly" (amigáveis), em pesquisa feita
pela GA Archtects e a Universidade de Kignston. ..................................................... 80
Figura 43 - Sala com hiper estimulação estratégica, os materiais escolhidos tem a
função de maneira equilibrada oferecer estímulos a criança: a parede pode ter
desenhos com giz ou não, com o controle do profissional, os quadros coloridos são
também armários, possibilitando seu uso controlado. ............................................... 81
Figura 44 - Sala de música com estratégias acústicas para uma boa absorção do
som: painéis acústicos, paredes com preenchimento interno, forro acústico e piso
emborrachado de PVC. ............................................................................................. 83
Figura 45 - Corredor com uso de Iluminação natural, com cortinas, e iluminação
artificial com distribuição variada de forma a possibilitar controle dependendo de quais
serão ligadas. ............................................................................................................ 84
Figura 46 - Sala Snoezelen de integração sensorial. ............................................... 85
Deve ser feito o uso de ventilação higiênica de forma cruzada (ver figura 47), para a
maior parte dos ambientes, ela renova o ar dos espaços, e traz relaxamento e bem-
estar aos autistas, além de manter a qualidade do ambiente. Figura 47 - Fluxo de
ventilação higiênica com o uso de janelas altas. ....................................................... 85
Figura 48 - Planta baixa com esquema de ventilação cruzada. ................................ 86
Figura 49 - Sala de Psicomotocidade: deve ser projetada de forma a atender todos
as recomendações de segurança devido seu alto grau de atividade. ....................... 88
Figura 50 - Sala de atendimento em grupo lúdica e com móveis montessorianos. ... 89
Figura 51 - Corredor curvo. ....................................................................................... 90
Figura 52 - Sala para terapias em grupo controladas, com grande janela e cortinas,
com vista para o jardim sensorial, nesse ambiente foram utilizados materiais naturais
e cores que lembram o ambiente externo, propiciando uma integração quando
necessária. ................................................................................................................ 91
Figura 53 - Sala de terapia neutra e de baixo estímulo, as “árvores” tem intenção
lúdica mas podem ser desencaixadas (sem oferecer riscos as crianças), caso o
profissional prefira. .................................................................................................... 93
Figura 54 - Sala de Arte terapia e de alto estímulo. .................................................. 93
Figura 55 - Corredor que funciona também como zona de transição entre salas de alto
e baixo estímulo. ....................................................................................................... 94
Figura 56 - Scape space entre salas. ........................................................................ 95
Figura 57 - Corredor com espaços de socialização e estímulo. ................................ 96
Figura 58 - Sala de terapia com luzes e temperatura controláveis. ........................... 97
Figura 59 - Espaço de espera e descanso para a família do autista. ........................ 98
Figura 60 - Sala de descompressão.......................................................................... 99
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Principais métodos, terapias e profissionais da equipe terapêutica


responsáveis pelo atendimento a crianças com Transtorno do Espectro
Autista. ................................................................................................. 26
Quadro 2 - Critérios finais para o diagnóstico pelos profissionais. ............................ 27
Quadro 3 - O impacto de ter deficiência no Brasil. .................................................... 29
Quadro 4 - Instituições de apoio ao autismo por região. .......................................... 32
Quadro 5 - Distribuição de CER em Alagoas ............................................................ 33
Quadro 6 - Percepção sensorial quanto a Hipo ou Hipersensibilidade no TEA. ....... 41
Quadro 7 - Recomendações projetuais para espaços de tratamento e apoio ao
autismo............................................................................................... 100
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 13

1.1 Objetivos do trabalho ................................................................................. 15

1.1.1 Objetivo Geral ............................................................................................... 15

1.1.2 Objetivos Específicos ................................................................................... 15

1.1.3 Estrutura do trabalho .................................................................................... 15

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS...................................................... 17

3 ENTENDENDO O AUTISMO ........................................................................ 18

3.1 O Autismo – Um breve histórico ............................................................... 18

3.2 Transtorno do Espectro Autista - TEA...................................................... 20

3.3 Epidemiologia ............................................................................................. 20

3.4 Classificação ............................................................................................... 22

3.5 Diagnóstico ................................................................................................. 25

3.6 Autismo no Brasil ....................................................................................... 29

3.7 Autismo em Alagoas .................................................................................. 32

4 AUSTISMO E PERCEPÇÃO ........................................................................ 37

4.1 Percepção sensorial ................................................................................... 37

4.2 O Autismo na perspectiva autista ............................................................. 43

4.3 Autismo e integração multissensorial ...................................................... 45

4.4 Abordagens e intervenções ....................................................................... 45

5 ARQUITETURA INCLUSIVA ........................................................................ 48

5.1 Arquitetura e o Transtorno do Espectro Autista...................................... 48

5.1.1 Teoria do Design Neurotípico ....................................................................... 49

5.1.2 Teoria do Design Sensorial .......................................................................... 50

5.2 Psicologia Ambiental .................................................................................... 52

6 REFERÊNCIAS PROJETUAIS ..................................................................... 56

6.1 Centre for Autism and the Developing Brain – Nova York, EU. .............. 56
6.2 Sunfield Residential School – Clent, U.K. ................................................ 60

6.3 Hazelwood School – Glasgow, Escócia .................................................... 62

7 DIRETRIZES PROJETUAIS PARA ESPAÇOS DE TRATAMENTO DO


AUTISMO ...................................................................................................... 66

7.1 Sequenciamento Espacial ......................................................................... 67

7.2 Interação Social .......................................................................................... 68

7.3 Compartimentação ..................................................................................... 69

7.4 Mobiliário Flexível....................................................................................... 71

7.5 Layout .......................................................................................................... 72

7.6 Distância Interpessoal................................................................................ 74

7.7 Identidade Visual ........................................................................................ 75

7.8 Espaços Externos....................................................................................... 76

7.9 Volumetria ................................................................................................... 78

7.10 Cor ............................................................................................................... 78

7.11 Materiais ...................................................................................................... 80

7.12 Conforto Acústico ...................................................................................... 81

7.13 Conforto Luminoso .................................................................................... 83

7.14 Conforto Térmico........................................................................................ 85

7.15 Segurança ................................................................................................... 87

7.16 Escala .......................................................................................................... 89

7.17 Design Curvilíneo ....................................................................................... 90

7.18 Interno x Externo ........................................................................................ 90

7.19 Zoneamento Sensorial ............................................................................... 91

7.20 Zonas De Transição.................................................................................... 94

7.21 Escape Spaces............................................................................................ 95

7.22 Circulação ................................................................................................... 96

7.23 Controle ....................................................................................................... 97


7.24 Família ......................................................................................................... 98

7.25 Profissionais Terapêuticos ........................................................................ 99

7.26 Síntese das Recomendações .................................................................... 99

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................ 104

REFERÊNCIAS .......................................................................................... 106

ANEXO A - Indicadores do desenvolvimento e sinais de alerta de acordo com


a idade da criança. ...................................................................................... 115
13

1 INTRODUÇÃO

Fornecer meios de inclusão na sociedade, através da arquitetura é uma


abordagem capaz de produzir grandes efeitos, principalmente em indivíduos com
necessidades especiais. Nesse sentido, a psicologia ambiental afirma que a partir de
estímulos multissensoriais controlados, o ambiente pode modificar as redes neurais e
consequentemente, a estruturação de novos comportamentos humanos
O ambiente, que significa não só o meio em que se vive, mas também o efeito
moral que induz através do meio físico, é percebido de forma diferente do espaço
físico, essa constatação é importante visto que na arquitetura a idealização dos
espaços sempre tem uma função específica. O espaço e a mente humana possuem
uma relação única, tanto para os indivíduos comuns e sobretudo para indivíduos com
autismo devido suas habilidades sensoriais e espaciais se apresentarem
insatisfatórias e com uma percepção do espaço ainda mais particular (AYRES;
ROBBINS, 2005).
O meio ambiente é construído utilizando-se valores objetivos como forma,
função, cor, textura, ventilação, temperatura, iluminação, sonoridade e
simbologia. Cada um desses valores objetivos compõe o espaço
dimensionado e funcional, resultando no espaço da arquitetura e
determinando o nível de bem-estar de seus ocupantes. Há, porém, valores
subjetivos que são adquiridos culturalmente, de acordo com a experiência de
vida, estabelecendo significados, positivos ou negativos, em relação aos
estímulos do ambiente (BESTETTI, 2014, p. 601).

O Transtorno do Espectro do Autista (TEA) é um transtorno do desenvolvimento


que se manifesta na infância e tem como principais características dificuldades na
interação social e na comunicação e um repertório restrito de atividades e interesses.
As manifestações do transtorno variam imensamente, dependendo do nível de
desenvolvimento e da idade (ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE AUTISMO, 2016).
Indivíduos com TEA têm necessidades e desenvolvimento perceptivo
diferentes, isso faz com que não se sintam seguras em muitos ambientes
considerados comuns, como shoppings, supermercados, igrejas e até mesmo em
suas próprias casas. Um ambiente despreparado provoca medo e muitas vezes até
um desconforto físico, uma vez com que o indivíduo não consegue se adaptar e ter
segurança. Com isso, um ambiente terapêutico com o fim de atender esse nicho
necessita compreender e atender essas necessidades afim de proporcionar um
trabalho eficiente, promovendo aspectos sensoriais e de percepção, auxiliando assim
14

no desenvolvimento e aprendizagem do autista a partir da interação do meio em que


ele se insere (EPIFANIO, 2018, p. 5).
A percepção espacial de uma criança comum difere muito de outras
especiais, principalmente entre os portadores de transtorno do espectro
autista (TEA). Mesmo dentro do espectro existe uma enorme pluralidade de
crianças com diferentes níveis de comportamento, levando a aplicação de
terapias específicas para cada caso, em um cuidadoso trabalho
individualizado de inclusão. (JESUS FILHO, 2017. p. 8).

As características ambientais, como a luminosidade das fontes de luz, a


natureza, o nível de ruído e a acústica, a presença de odores específicos, cores e
matizes, materiais e também temperatura e umidade, geram uma entrada sensorial
interativa a quem as observa e seu impacto sobre os comportamentos, logo, o espaço
como promotor de práticas terapêuticas com o fim de tratar transtornos
neurobiológicos do desenvolvimento é possível a partir de um estudo e o emprego de
conceitos psicológicos e fenomenológicos da arquitetura, ou seja, a eficiência da
intervenção é condicionada no desenvolvimento de espaços específicos que
contemplem as individualidades refletidas em cada caso clínico.
Crianças com Autismo ao interpretar a entradas sensoriais se comportam de
forma bem diferente das neurotípicas, ruídos ao fundo em um ambiente, uma cor
brilhante ou o excesso de informações em um local pode torna-lo confuso e
angustiante para um autista (NAGIB, 2014).
Por meio da compreensão do transtorno e suas consequentes necessidades, é
possível desenvolver diretrizes que se adequem a maior parte das necessidades das
crianças com o Transtorno do Espectro Autista independentemente de seu grau.
Essa percepção sensorial alterada, pode oferecer soluções de projeto criativas
que devem incluir um programa que de forma fluida e lúdica atenda de forma integrada
todas as terapias necessárias, com ambientes preparados, simplificando seu
atendimento e obtendo melhores resultados, visto que os indivíduos com TEA não se
adaptam bem com trocas de rotinas e ambientes novos, respondendo melhor com
tratamentos em um só ambiente, assim como um ambiente lúdico e confortável gera
um incentivo e amplia a possibilidade de desenvolvimento, induzindo a criança a
formar novos padrões que enriquecem sua percepção e estimula sua adaptação ao
mundo. Forgus afirma que “A medida que o conjunto perceptivo vai sendo ampliado,
tornando-se mais complexo e rico de padrões através da experiência, mais capaz se
torna o indivíduo a extrair informações do ambiente” (FORGUS, 1971, p. 3).
15

O presente trabalho se justifica pela necessidade de que mais estudos e


projetos pensem a arquitetura como agente terapêutico, criando espaços que não
somente abriguem os usuários, mas que tenham poder de trazer conforto mental e
desenvolver novas capacidades no cérebro.

1.1 Objetivos do trabalho

1.1.1 Objetivo Geral

O objetivo geral do trabalho é a discussão e identificação de diretrizes


projetuais e sua aplicação em espaços de suporte e apoio ao autista que busquem
suprir as necessidades na área comportamental, da comunicação das crianças
autistas e seus familiares, onde elas, em seus primeiros anos de vida, possam se
desenvolver em um local propício. Assim como auxilie os profissionais da área a
realizar suas atribuições de forma confortável e adequada.

1.1.2 Objetivos Específicos

 Identificar diretrizes para espaços de tratamento para o autismo a partir


de uma análise dos problemas sensoriais enfrentados pelos autistas e
das necessidades dos profissionais de atendimento e demonstrar
através de sua aplicação;
 Estimular a construção de espaços terapêuticos lúdicos, que estimulem
as crianças e suas famílias a estarem nos ambientes com segurança e
suas necessidades atendidas.
 Contribuir com um retorno social para a comunidade, estimulando novos
projetos e pesquisas sobre o tema.

1.1.3 Estrutura do trabalho

O primeiro capítulo abordará um breve histórico do Autismo Infantil desde seu


reconhecimento inicial até suas recentes descobertas. Também serão abordados os
graus presentes no espectro, suas causas, como o autismo é classificado, as formas
16

de diagnóstico e o crescimento no número de casos no mundo, no país e no estado


de Alagoas
No segundo capitulo é feita uma imersão no mundo autista, como o indivíduo
com TEA percebe o espaço, sob uma perspectiva médica, a partir dos conhecimentos
de profissionais e sob a perspectiva do próprio autista. Por fim, serão explanadas
algumas formas de tratamento.
O terceiro capítulo irá tratar a arquitetura como forma de inclusão e teorias
sobre como o espaço pode auxiliar no tratamento do autista, serão ainda
apresentadas as diretrizes Projetuais com foco nos ambientes de tratamento
destinados ao TEA.
O capítulo 4 apresentará uma pesquisa tipológica com projetos feitos
especificamente para o tratamento e diagnóstico do autismo infantil.
No quinto capítulo serão apresentadas as diretrizes projetuais com base na
bibliografia especializada.
E por fim, o capítulo 6 apresentará as considerações finais deste trabalho.
17

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para elaboração das diretrizes projetuais com o intuito de promover a


concepção e adequação arquitetônica de Centros de Tratamento e Suporte da criança
Autista, serão realizados os seguintes procedimentos metodológicos:
 Revisão e levantamento bibliográfico aprofundado acerca do tema em questão,
fundamentada na relação entre a Arquitetura, psicologia e o Transtorno do
Espectro Autista;
 Análise de referências de projeto a partir da descrição de espaços/ projetos
adequados para o tratamento de crianças autistas, da mesma maneira analisar
a humanização das construções, entre outros aspectos de conforto térmico,
funcionalidade, eficiência, conforto psicológico e qualidade estética;
 Realizar um roteiro de Diretrizes para elaboração de Centros de Tratamento e
Apoio para crianças com autismo com base na bibliografia aprofundada
apresentando soluções e demonstrando através de imagens.
18

3 ENTENDENDO O AUTISMO

3.1 O Autismo – Um breve histórico

Criado em 1906 por Plouller, quando estuda o processo do pensamento de


pacientes com diagnóstico de demência, o termo autismo só foi disseminado em 1911,
pelo psiquiatra suíço Eugen Bleuler que o identificou como um tipo de esquizofrenia,
afim de categorizar alguns de seus pacientes com comportamentos retraídos e
estereotipados (DIAS, 2015).
Os critérios identificados no autismo foram inicialmente estabelecidos pelo
psiquiatra austríaco Leo Kanner em 1943, quando publicou seu artigo “Distúrbios
Autísticos do Contato afetivo” (Autistic disturbances of affective contact), na revista
Nervous Children, onde ressaltava o caso de onze crianças apresentando
semelhanças patológicas relativas a inabilidade no relacionamento interpessoal e
deficiência no desenvolvimento da linguagem e habilidades motoras, assim como
muitas estereotipias.
Hans Asperger, outro psiquiatra austríaco de destaque na história do autismo,
que trabalhava de forma diferente em suas pesquisas com crianças autistas, já usava
o termo autismo e estava convencido de que o mesmo era resultado de uma relação
entre fatores biológicos, genéticos e ambientais. (GRINKER, 2010, p. 68).
De acordo com a maioria dos profissionais da área que trabalham com
autismo, Kanner e Asperger tratavam de tipos diferentes de pacientes. O
nome de Kanner é associado ao autista clássico (grave), enquanto o de
Asperger é relacionado ao autismo moderado, condição em que o indivíduo
é dotado de grande inteligência e capacidade mental. A Síndrome de
Asperger denotaria [...] não somente uma forma mais leve do autismo, mas
um tipo distinto de autista altamente funcional [...]. (GRINKER, 2010, p. 69).

A psiquiatra inglesa Lorna Wing, na década de 70, foi responsável pelo


pensamento de que o conceito de autismo se tratava de um espectro de condições.
Lorna possibilitou uma revolução na forma com que o autismo era considerado e
tratado, bem como uma condição e compreensão quando formulou a “ Tríade de
deficiências” também conhecida como “Tríade de Wing”, para definir as dificuldades
que os autistas têm nas áreas de imaginação, socialização e comunicação, quando
fez o estudo de um grupo de crianças apresentando características que ainda não
haviam sido descritas.
19

Surgiram então inúmeras pesquisas acerca dessa nova síndrome apontada por
Kanner e Asperger, onde se buscava comprovar a influência do ambiente e das
interações sociais no desenvolvimento infantil. Novas publicações foram e são feitas
até os dias atuais, o autismo é uma síndrome complexa e que não tem cura, em 2007,
ganhou um dia mundial de conscientização (Figura 1), instituído pela ONU –
Organização das Nações Unidas, afim de chamar atenção acerca de sua importância.

Figura 1 - Breve Histórico do Autismo

Fonte: ANDRADE, 2016, adaptado pela autora (2019).


20

3.2 Transtorno do Espectro Autista - TEA

Derivado do termo grego “autos”, a palavra autismo significa “de si mesmo”, o


que remete a uma condição de isolamento, desligamento e solidão da realidade. O
autismo é classificado como um transtorno global do desenvolvimento e se caracteriza
principalmente com uma atípica evolução da interação social e das habilidades de
comunicação assim como a presença de um repertório restrito de atividades e
interesses (CAMARGO; BOSA, 2009).
O transtorno do espectro autista possui inúmeras definições e a ausência de
uma causa concreta aliada aos diversos sintomas e aspectos que o englobam fez com
que por muito tempo essa fosse uma doença “invisível” e sua falta de clareza nos
diagnósticos levou aos primeiros especialistas a um conceito de esquizofrenia,
psicose infantil, entre outros distúrbios (GRINKER, 2010).
“Espectro” é incorporado ao transtorno devido ao seu quadro clínico apresentar
diferentes classificações, onde o portador não precisa ter todos os sintomas para ser
diagnosticado com o autismo. A identificação precoce do TEA é fundamental pois
possibilita resultados positivos as terapias trazendo a criança um crescimento mais
saudável (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2014). Pois apesar dos diversos tratamentos e
terapias que amenizam os sintomas do transtorno, não há cura para o autismo.
Segundo Hyman, Levy e Myers (2020, p. 41), a identificação precoce através
da triagem e vigilância dos sinais de alerta é fundamental para a então implementação
de intervenções com base nas evidencias e características da criança.

3.3 Epidemiologia

Segundo a Academia Americana de Pediatria (2020), uma em cada 59 crianças


nasce com autismo (cerca de 1,7%), sem distinção nenhuma de etnia e grupo social
(figura 2). No ano de 2000 o Centro de Controle e Prevenção de Doenças – CDC
fundou a Rede de Monitoramento de Autismo e Deficiências do Desenvolvimento
(ADDM), a fim de fornecer estimativas comparáveis, baseadas na população de ASD
e outras deficiências de desenvolvimento, que hoje estimam que cerca de 1 a 2% da
população mundial possua TEA e seu diagnóstico é mais comum no sexo masculino
(1 em cada 42) do que no feminino (1 em cada 189) (HYMAN; LEVY; MYERS, 2020).
21

Figura 2 - Uma em cada 59 crianças possui autismo no mundo.

Fonte: Autora desta monografia (2019).

Grinker (2010, p. 184), aponta que o aumento no número de diagnósticos para


o Transtorno do Espectro Autista teve como razão as “[...] modificações nas práticas
clínicas, códigos administrativos e métodos epidemiológicos [...]”. Para o autor, outro
fator de destaque foi o trabalho em conjunto de uma equipe de profissionais como
psicólogos, fonoaudiólogos, especialistas em intervenção comportamental, entre
outros, a fim de melhor diagnosticar promoveram uma maior visibilidade ao autismo
em suas pesquisas, descobertas e luta pela causa.
Nos últimos 15 anos o índice de pessoas diagnosticadas com o TEA cresceu
cerca de 50% segundo o CDC (Centro de controle e prevenção de Doenças), o que
também se deve ao maior número de diagnósticos devido ao crescente número de
estudos com base em evidencias sobre o tema (figura 3).

Figura 3 - Estimativa da quantidade de pessoas com autismo em cada continente.

Fonte: SOARES, 2017.


22

3.4 Classificação

A nomenclatura do Autismo infantil se modificou e tem mudado bastante desde


sua descrição inicial (figura 4), existem hoje, dois principais sistemas de diagnóstico
que classificam o autismo dentro dos conceitos dos transtornos mentais do
comportamento: o CID – Código Internacional de Doenças (The International Statistcal
Classication of Diseases and Related Health Problems – ICD), que insere o Autismo
na classificação dos transtornos mentais e de comportamento; e o DSM – Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (Diagnostic and Statistical Manual
for Mental Disorders).

Figura 4 - Classificação do autismo ao longo da história.

Fonte: GRINKER, 2010.


23

Já de acordo com o CID-10 o autismo é classificado como um dos transtornos


invasivos do desenvolvimento (TID), já o DSM-V o define como um grupo de
transtornos caracterizado por alterações qualitativas das interações sociais,
dificuldades de comunicação e por um repertório de interesses e atividades restrito,
estereotipado e repetitivo.
O CIF (Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde)
pertencente a Organização Mundial da Saúde (OMS), é outro órgão que auxilia e
complementa os já mencionados, no diagnóstico do autismo e com foco na
particularidade do TEA, o classifica diferentemente, visando uma nova forma de
pensar o transtorno, com ênfase nas condições ambientais e funcionalidade dos
espaços, assim como aspectos externos, assim como o envolvimento do indivíduo no
contexto social em que está inserido.
O DSM-V também estabelece que o diagnóstico do autismo deve ser feito por
profissionais especializados e deve contar com no mínimo uma equipe de pediatra
ou/e psiquiatra, neurologista, psicólogo e fonoaudiólogo, podendo variar a depender
do caso. A viabilização da identificação por esses profissionais é também definida pelo
manual com três principais manifestações clínicas:

Figura 5 - Manifestações clínicas do autismo.

Fonte: CASTRO, 2018, adaptado pela autora (2019).

Segundo KLIN (2006), os portadores comumente apresentam um certo nível


das dificuldades citadas, porém sua variação assim como grau de acometimento é
alta. Os graus do autismo são também classificados pelo DSM-V (Manual do
Diagnóstico e Estatística da Sociedade Norte Americana de Psiquiatria) e pelo CID-
10 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à
Saúde), com base neles é possível distinguir o Autismo Clássico, Síndrome de
Asperger e Distúrbio global do desenvolvimento sem outra especificação (ver figura
6).
24

Figura 6 - Graus do autismo

Fonte: ANDRADE, 2016.


25

3.5 Diagnóstico

Identificar os sinais iniciais de problemas possibilita a instauração de imediatas


intervenções de extrema importância, em especial ao TEA, uma vez que os resultados
terapêuticos positivos são muito mais significativos ao longo da vida do autista quando
precocemente instituídos.
A maior plasticidade das estruturas anátomo-fisiológicas do cérebro nos
primeiros anos de vida e o papel fundamental das experiências de vida de um
bebê, para o funcionamento das conexões neuronais e para a constituição
psicossocial, tornam este período um momento sensível e privilegiado para
intervenções. Assim, as intervenções em casos de sinais iniciais de
problemas de desenvolvimento que podem estar futuramente associados aos
TEA podem ter maior eficácia, devendo ser privilegiadas pelos profissionais”
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2014. 16 p.).

O manual de Diretrizes de Atenção a Reabilitação da Pessoa com Transtorno


do Espectro do Autismo (2014) aponta que o autismo é estabelecido para fins de
diagnóstico, com manifestações do quadro sintomatológico até os 3 anos de idade,
mas já no primeiro ano é possível identificar alguns sinais na criança.
Mesmo com uma detecção precoce, através dos sinais de alerta em bebês, não
se deve fazer um diagnóstico precipitado. Quanto mais nova é a criança, mais
inespecíficos são os indícios dos problemas de desenvolvimento e as consequências
de um diagnóstico temerário podem vir a ser ruins para família e desenvolvimento do
bebê (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2014).
Um acompanhamento e atenção especializada por profissionais competentes
é fundamental desde a detecção dos sinais até o diagnóstico final. O diagnóstico é
basicamente feito através da avaliação do quadro clínico da criança (quadro 1). Até
hoje, não existem exames laboratoriais específicos para diagnosticar o autismo, ou
algum outro transtorno de desenvolvimento, por não apresentar nenhum marcador
biológico comprovado cientificamente. Esse é um processo que pode durar vários
meses, devido as complexidades dos sintomas presente no TEA (HYMAN; LEVY;
MYERS, 2020).
Normalmente, o que chama a atenção dos pais inicialmente é que a criança
é excessivamente calma e sonolenta ou então que chora sem consolo
durante prolongados períodos de tempo. Uma queixa frequente dos pais é
que o bebê não gosta do colo ou rejeita o aconchego. Mais tarde os pais
notarão que o bebê não imita, não aponta no sentido de compartilhar
sentimentos ou sensações e não aprende a se comunicar com gestos
comumente observados na maioria dos bebês, como acenar as mãos para
cumprimentar ou despedir-se. (MELLO, 2007, p. 18).
26

Quadro 1 - Principais métodos, terapias e profissionais da equipe terapêutica responsáveis pelo


atendimento a crianças com Transtorno do Espectro Autista.

Fonte: JESUS FILHO, 2017.

O diagnóstico clínico tem como base entrevistas com os pais da criança, porém,
o médico inicialmente solicita exames para investigar condições (possíveis doenças)
que tem causas identificáveis e que podem apresentar um quadro de autismo infantil,
como a síndrome do X-frágil, fenilcetonúria ou esclerose tuberosa (MELLO, 2007).
Para melhor instrumentalizar e uniformizar o diagnóstico foram criadas escalas,
critérios e questionários que auxiliam os profissionais a de forma abrangente, fazer
uma triagem dos sintomas relacionados ao espectro. A partir da identificação dos
sinais de alerta, podem ser iniciadas a intervenção e monitoramento dos sinais e
sintomas ao longo do tempo, pois mesmo a criança apresentando-os é necessário o
acompanhamento por uma equipe interdisciplinar treinada e com experiência para
então um diagnóstico final (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2014).
De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais
(DSM-5, 2014), os critérios de diagnóstico, para pessoas com Transtornos do
Espectro Autista, estão entre os seguintes:
27

Quadro 2 - Critérios finais para o diagnóstico pelos profissionais.

Fonte: LAUREANO, 2017.

Apesar de o DSM-V fornecer os critérios necessários para o diagnóstico da


criança com autismo, em termos práticos, no processo de diagnóstico existe uma
28

diversidade de manifestação dos sintomas e também uma grande variedade em


relação ao momento em que a criança começa a exibir cada um deles, bem como
diferenças individuais no perfil de desenvolvimento de cada criança e das
comorbidades que podem estar presentes em diferentes casos (PESSIM; FONSECA,
2015).
Há algumas divergências em relação à identificação prematura do autismo e o
surgimento do mesmo. Para o CID-10 e o DSM-V a criança com autismo deve ser
diagnosticada até os 3 anos de idade. Porém, com o acompanhamento adequado da
criança, aos 2 anos já é possível realizar um diagnóstico com segurança. Os
pesquisadores têm buscado sinais ainda mais precoces para que o diagnóstico seja
feito já no primeiro ano, assim sendo, a intervenção e estimulação precoce resultarão
em um melhor acompanhamento e intervenções futuras no tratamento da criança
(PESSIM; FONSECA, 2015).
O diagnóstico deve ser relatado a família de forma cuidadosa, pois seu impacto
afeta diretamente a adesão ao tratamento da criança, ao mesmo tempo deve-se tirar
todas as dúvidas dos pais e complementando, devem ser apresentadas de imediato
todas as sugestões de tratamento e atividades no projeto terapêutico.
O diagnóstico é uma tarefa multidisciplinar. Porém, a comunicação à família
deve ser feita por apenas um dos elementos da equipe, preferencialmente
por aquele que estabeleceu o vínculo mais forte e que, de certa forma, vai
funcionar como referência na coordenação do projeto terapêutico indicado
pela equipe para o caso. Ele deverá ter uma postura ética e humana, além
de ser claro, conciso e disponível às perguntas e às dúvidas dos familiares.
Mais ainda: o local utilizado deverá ser reservado e protegido de interrupções,
já que a privacidade do momento é requisito básico para o adequado
acolhimento do caso (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2014, p.61).

É de grande importância esclarecer que o TEA é uma “síndrome”, um conjunto


de sinais clínicos que define uma condição de vida diferente com cuidados e rotinas
diferenciadas, com uma nova rotina compartilhada com o centro de apoio e a equipe
profissional responsável pelo tratamento do autista e a família (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2014).
29

3.6 Autismo no Brasil

Um dos principais empecilhos a realização de um prognóstico exato e eficiente


do transtorno é a demora no processo de intervenção e detecção, enquanto a
recomendação médica é a realização do diagnóstico até os 36 meses de vida, a média
nacional situa-se entre cinco e sete anos de idade, o que ocorre devido um panorama
histórico nacional de desenvolvimento tardio de espaços destinados a identificar e
acolher portadores do espectro e a falta de profissionais preparados para lidar com as
crianças (OLIVEIRA et al., 2017).
No livro “ Retratos do Autismo no Brasil”, lançado em 2013, com orientações
acerca do autismo, mas que teve como principal foco uma pesquisa feita pela
Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Brasil
em parceria com a Associação amigos do autista (AMA), e outras 106 instituições,
entre elas escolas, clínicas e órgãos públicos como CAPS, onde foram respondidas
questões sobre inclusão, diagnósticos, tratamentos e números de assistidos por
região, estimou-se que existem cerca de 1,2 milhões de pessoas com autismo no
Brasil e que seriam necessárias 40 mil instituições para atender essa demanda
(MELLO et al., 2013, p. 63).

Quadro 3 - O impacto de ter deficiência no Brasil.

Fonte: Tabulação especial sobre equidade da Amostra do Censo Demográfico 2000 (IBGE) Unicef,
jun. 2003 apud JESUS FILHO, 2017.
30

Figura 7 - 1 a cada 150 pessoas são autistas no Brasil.

Fonte: Autora desta monografia (2019).

Essa mesma pesquisa, constatou que o diagnóstico dos transtornos do


espectro autista – TEA, tem sido feito cada vez mais cedo no Brasil, mais ainda sim é
uma barreira que ainda precisa ser derrubada. Segundo o psiquiatra Estevão Vadaz,
coordenador do Programa de Transtornos do Espectro Autista do Instituto de
Psiquiatria do HC de São Paulo estima-se que 90% dos brasileiros com autismo não
tenham sido diagnosticados, assim como nunca foi feita nenhuma campanha de
conscientização no país, continua a ser comum que as famílias procurarem
explicações para a dificuldade de seus filhos e não encontrarem essas respostas com
os profissionais de saúde (MELLO et al., 2013, p. 37).
31

Figura 8 - Aporte ao Autismo

Fonte: ANDRADE, 2016.


32

3.7 Autismo em Alagoas

A Fila de espera para atendimento gratuito nos poucos centros existentes é


uma realidade em todo país. Entre 2011 e 2012, em uma pesquisa feita pela
Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Brasil
em parceria com a Associação amigos do autista (AMA), observou-se que o número
de instituições existentes no país não chega nem próximo do necessário para atender
a demanda adequadamente (quadro 4). Pode-se observar na tabela que no Nordeste
que seriam necessárias 3254 para atender os quase 100 mil autistas estimados na
época (MELLO et al., 2013, p. 42).

Quadro 4 - Instituições de apoio ao autismo por região.

Fonte: MELLO et al., 2013.

Segundo SILVA (2018), apesar de existirem 55 CAPS (Centro de Atenção


Psicossocial), distribuídos por todo o estado de Alagoas, apenas um, na capital, é
33

destinado ao público infantil. Os CAPS são unidades especializadas em saúde mental


para tratamento e reinserção social de pessoas com transtorno mental grave e
persistente” (RIO DE JANEIRO, 2016, apud SILVA, 2016, p.48).
A autora pontua ainda que dos Centros Especializados em Reabilitação (CER)
presentes no estado, apenas alguns possuem tratamento especializado no autismo e
entre eles apenas três são de iniciativa governamental (Quadro 5).

Quadro 5 - Distribuição de CER em Alagoas

Fonte: Supervisão de Cuidados à Pessoa com Deficiência (SUPED), Alagoas, 2017. Apud, SILVA,
2018.
34

Dos 13 CER existentes, grande parte se localiza em Maceió, com isso as


pessoas que moram no interior do estado precisam se deslocar aos centros das
cidades mais próximas, dificultando seu acesso.
Essa deficiência repercute diretamente na sobrecarga de atendimentos da
rede pública: uma vez indicada a possibilidade do transtorno pelo profissional
de saúde, a família do paciente é submetida a longas filas de espera, que
podem durar vários anos, para a consulta com o psiquiatra infantil (CASTRO,
2018, p. 32).

Arapiraca, conta com cinco centros de atendimento ao autismo: Pestalozzi, a


APAE, CEMFRA, o Complexo Multidisciplinar de Equoterapia Tarcizo Freire e o Trate
Autismo (SILVA, 2018).
O Centro de Atendimento Multidisciplinar Trate Autismo, surgiu em 2011, e
atende de forma gratuita pelo Sistema Único de Saúde – SUS. O espaço se localiza
entre outros edifícios voltados para a saúde e faz parte do Centro Especializado em
Reabilitação Física e Intelectual de Arapiraca (SILVA, 2016).
Em visita ao local, pude conhecer um pouco sobre o espaço, que se esconde
entre o estacionamento e os muros dos outros edifícios (figura 9).
O acesso ao local é confuso e não existe nenhuma placa de indicação. Dentro
do espaço, que é composto por dois edifícios um em frente ao outro, o que torna
também confusa a tarefa de encontrar a entrada para a recepção.

Figura 9 - Visão geral do Espaço TRATE Arapiraca.

Fonte: Autora desta monografia (2020).


35

Segundo a Psicóloga com quem conversei, o espaço atende com horários


programados para evitar um grande fluxo nos espaços de espera, que são pequenos,
e também pelo barulho que isso ocasionaria, pois dentro da recepção é possível ouvir
quem está dentro da sala e vice-versa.

Figura 10 - Sala de Integração Sensorial e sala de atendimento psicológico.

Fonte: Autora desta monografia (2020).

Durante a visita guiada, a profissional pontuou os problemas com mofo nas


salas, uma delas, estava interditada devido o cheiro forte. A maioria das salas só
possui mesa e cadeira, com exceção da sala de integração sensorial, terapia
ocupacional e psicologia, (figuras 10 e 11), apesar de serem ambientes destinado ao
uso de crianças, apenas a sala de integração sensorial lembra um ambiente lúdico e
infantil.
Apesar das dificuldades apontadas pela profissional nos espaços de
atendimento, como a má distribuição dos espaços nos prédios, falta de jardim e
espaços projetados para os atendimentos, os profissionais encontrados no local no
horário da visita foram bastante solícitos e em conversa com a mãe de uma das
crianças na sala de espera pude confirmar o quanto o atendimento no local é
humanizado.
Durante a visita foi possível observar o quanto um ambiente despreparado pode
dificultar a vida do autista, seus familiares e dos profissionais. Se eu como neurotípica
tive uma experiência confusa ao conhecer o espaço com os autistas isso é ainda mais
acentuado. A falta da acústica no ambiente de tratamento pode trazer grandes
36

desconfortos a criança, assim como torna difícil a terapia nas salas ao lado, a medida
que tudo pode ser ouvido entre elas, outro problema é o despreparo no que se refere
a iluminação, um ponto de luz único sem uma iluminação difusa pode trazer
desconforto para algumas crianças.

Figura 11 - Salas de Espera e Corredores dos edifícios do Trate.

Fonte: Autora desta monografia (2020).

Com isso conhecer essas associações e sua realidade é fundamental para


traçar linhas e perspectivas para de entender e trilhar caminhos para esses espaços
e consequentemente elucidar possíveis mudanças afim de garantir os direitos das
pessoas com autismo.
37

4 AUSTISMO E PERCEPÇÃO

4.1 Percepção sensorial

Segundo Gibson (1966, p.59), existem cinco sistemas básicos de percepção:


orientação, visual, auditivo, tátil gustativo e háptico. O autor ainda determina que a
percepção é a detecção de estruturas invariantes no fluxo de informação do estimulo,
o qual é ativado quando o indivíduo entra em um ambiente.
A criança com TEA, tem a recepção dos sentidos diferente quando comparada
a uma criança neurotípica (figura 12), seja nas relações sociais ou em contato com
informações. Enquanto para uma criança normal consegue perceber o espaço de
forma coletiva, os autistas não, pois possuem essa percepção de forma fragmentada.

Figura 12 - Exemplo de percepção do espaço pelo indivíduo com TEA.

Fonte: EPIFANIO, 2018, adaptado pela autora (2019).


38

A capacidade de perceber os sentidos, como olfato, visão, paladar som, tato,


os movimentos (vestibular) e o senso do corpo no espaço (propriocepção) de forma
conjunta é uma capacidade conhecida como integração sensorial (figura 13).
No TEA, o déficit para integrar as informações ocorre de forma complexa,
fazendo com que o envolvimento ocupacional dessas pessoas seja altamente
prejudicado. Comportamentos como busca constante por movimento
corporal, busca visual por objetos em movimento, evitar comer certos
alimentos, vestir certas roupas ou andar descalço, dificuldade em iniciar,
planejar e realizar sequência das atividades simples ou complexas, ou ainda
dificuldade em focar atenção em alguma demanda diária, entre outras
dificuldades, podem ter sua origem em uma disfunção de integração sensorial
(MENDES; COSTA, 2017, p. 2).

Jean Ayres, terapeuta ocupacional norte-americana, foi pioneira nos estudos


referentes a integração sensorial, no sentido em que hoje ele é utilizado nas
abordagens terapêuticas. Ayres (1972), define a integração sensorial como um
processo neurobiológico que promove as sensações do próprio corpo e do ambiente,
permitindo a organização do comportamento e o uso do corpo nas ações e atividades
que fazemos todos os dias (MAGALHÃES, 2008).

Figura 13 - Percepção do sentidos e integração sensorial.

Fonte: EPIFANIO, 2018, adaptado pela autora (2019).

O autista possui a capacidade de interação, porém a qualidade dessa ação é


feita de forma diferente da não autista, pois realizam tarefas de forma desconexa as
funções perceptivas e sensoriais do corpo, que ao fazer uma relação entre informação
39

e reação, as conexões se tornam confusas e excessivas, logo, o corpo responde a


determinados estímulos de forma involuntária (LAUREANO, 2017).
Devido as dificuldades de gerenciamento dos sentidos de uma só vez,
indivíduos com TEA costumam possuir hiperatividade ou distração, problemas com
comportamento, dificuldades no desenvolvimento da linguagem e ainda dificuldade no
tônus muscular e na coordenação motora (GRANDIN, 1997).
A manifestação relacionada a esses sintomas é feita de forma hipersensível ou
hiposensível, ou seja, pelo excesso ou falta de estímulos (figura 14).

Figura 14 - Percepção do sentidos e integração sensorial.

Fonte: EPIFANIO, 2018, adaptado pela autora (2019).


40

Segundo Gaines et al. (2016), as crianças hiposensíveis irão criar ou gerar


experiências sensoriais próprias por prazer ou como forma de bloquear estímulos
desagradáveis, já as hipersensíveis podem ser facilmente sobrecarregadas por
informações sensoriais recebidas.
Essas dificuldades são determinantes para que o indivíduo tenha ou não a
geração de comportamentos repetitivos, compulsivos e até auto lesivos, que são
gerados a partir de uma tentativa de ter uma experiência sensorial ou manter o
controle após uma sobrecarga sensorial (EPIFANIO, 2018, p.4).
Essas reações sensoriais atípicas sugerem pouca integração sensorial no
sistema nervoso central e podem explicar prejuízos na atenção e na excitação
(Baranek, 2002; Tomchek & Dunn, 2007). Comportamentos auto
estimuladores, definidos como movimentos repetitivos que não servem a
nenhum objetivo perceptível no ambiente (Smith et al., 2005), podem ter
consideráveis implicações sociais, pessoais e educacionais e, muitas vezes,
limitam a capacidade de participar de rotinas normais da vida (Smith et al.,
2005). Comportamentos como movimentos motores estereotipados, corrida
sem objetivo, agressão e comportamentos auto lesivos foram
correlacionados com essas anormalidades do processamento sensorial
(Case-Smith & Bryan, 1999; Dawson & Watling, 2000; Linderman & Stewart,
1999; Watling & Dietz, 2007). Cada comportamento interfere na capacidade
de uma criança se envolver ou aprender com atividades terapêuticas
(PFEIFFER et al., 2011, p. 76-77, tradução nossa1).

Ayres e Tickle (1980) realizaram um estudo com 10 crianças autistas, com


idades entre 3 até 13 anos, a fim de investigar seu processamento sensorial, a partir
da abordagem de integração sensorial na terapia ocupacional. Os resultados do
estudo concluíram que apesar de que o nível de resposta em cada criança é variado
de acordo com as deficiências sensoriais que possui, todavia, os resultados mais
efetivos foram mais observados nos hipersensíveis que nos hiposensíveis (Quadro 6),
as atividades feitas durante as terapias conseguiram estimular a organização e
integração das informações percebidas no ambiente, resultando em futuras respostas
adaptativas (AYRES; TICKLE, 1980).

1 These atypical sensory reactions suggest poor sensory integration in the central nervous system and
could explain impairments in attention and arousal (Baranek, 2002; Tomchek & Dunn, 2007). Self-
stimulatory behaviors, defined as repetitive movements that serve no perceptible purpose in the
environment (Smith et al.,2005), can have considerable social, personal, and educational implications
and often limit the ability to participate in normal life routines (Smith et al., 2005). Behaviors such as
stereotypic motor movements, aimless running, aggression, and self-injurious behaviors have been
correlated with these sensory processing abnormalities (Case-Smith & Bryan, 1999; Dawson & Watling,
2000; Linderman & Stewart, 1999; Watling & Dietz, 2007). Each behavior interferes with a child’s ability
to engage in or learn from therapeutic activities (PFEIFFER et al., 2011, v. 65, p. 76-77).
41

Quadro 6 - Percepção sensorial quanto a Hipo ou Hipersensibilidade no TEA.

Fonte: GAINES, Kristi et al. Desingning for autism spectrum disorders. Routledge, New York. p. 1-205,
2016, apud, SOARES, 2017, adaptado pela autora (2019).

Segundo a National Autistic Society, mais de 90% da população do mundo já


ouviu falar de autismo, porém apenas 16% das pessoas entende o que significa ser
42

autista realmente, em uma campanha feita no ano de 2015 no Reino Unido, com base
na consulta e experiências reais de pessoas com espectro foi produzido o Too Much
Information Film¹2, em apenas dois minutos, com um cenário comum de uma ida ao
shopping center, é possível ver o quanto o ambiente pode ser “esmagador” para a
criança com autismo hipersensível, o filme consegue, com a câmera em primeira
pessoa, trazer a um indivíduo neurotípico como é fazer parte do espectro (NATIONAL
AUTISTIC SOCIETY, 2016).

Figura 15 - QR Code com link direcionável para vídeo de realidade virtual em 360°, com o filme
produzido pela National Autistic Society sobre o autismo, disponível no Youtube.

Fonte: Autora desta monografia (2019).

O filme resultou no aumento de 26% da conscientização do autismo no país,


logo mais tarde foi criada uma versão de realidade virtual, disponível hoje no Youtube
afim de levar essa conscientização em todo mundo.
O sistema nervoso das crianças com TEA, quando estimulado tem a
capacidade natural de desenvolver essa integração dos sentidos, através de
atividades sensório-motoras. Por essas questões, a necessidade da compreensão
dos sentidos para a criança autista é tão importante ao desenvolver um ambiente
adaptado as suas necessidades (BARANEK, 2002).

2
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=DgDR_gYk_a8&t=30s
43

4.2 O Autismo na perspectiva autista

Muito se fala a respeito das características, problemas e tratamentos acerca do


autismo, mesmo entendendo o transtorno é importante pensar e entender o autista,
não só como paciente, mas também na sua perspectiva de entender o mundo.
Temple Grandin, Ph.D. em zootecnia e professora de ciência animal na
Universidade de Colorado, escreveu diversos livros sobre o autismo com sua
experiência e mostrando diversas pesquisas feitas através de diversos tipos de
exames em que foi analisada. Nascida em 1947 quatro anos depois em que Kanner
descreve o transtorno pela primeira vez - Temple (2015) só ouviu sobre o assunto
muitos anos depois, por volta dos 12 anos de idade (NUNES, 2017).
Em seu livro denominado, O cérebro Autista – Pensando Através do Espectro
(2015), Tample fala abertamente em como se sente em ser autista, a falta da fala por
exemplo, explica que não ser capaz de falar era uma completa frustração.
Se os adultos falassem diretamente comigo eu podia entender tudo o que
eles me falavam, mas eu não conseguia colocar as palavras para fora. Era
como se fosse um balbucio ou uma grande gagueira. Se eu era colocada
numa situação de leve "stress", as palavras às vezes superavam a barreira e
conseguiam sair. Minha fonoaudióloga sabia como penetrar no meu mundo.
Ela me segurava pelo queixo, me fazia olhar em seus olhos e dizer "bola"
(GRANDIN, 1992, p.65).

Tample (2015), explica que seu pensamento é visual, para compreender


qualquer conceito precisa pensar em imagens que transmitam a mensagem
especificamente.
Quando eu era pequena, eu precisava visualizar a oração do "Pai Nosso’ para
compreendê-la. O "poder e a glória" eu via como torres elétricas de alta
tensão e um imenso arco-íris brilhante formando um sol. A palavra
"transgressão" era visualizada como um sinal de "proibido traspassar" preso
na árvore do meu vizinho. Algumas partes da oração eram simplesmente
incompreensíveis para mim (GRANDIN, 1992, p.n).

Durante estudos feitos com seu cérebro, através de ressonâncias magnéticas,


Tample junto ao Centro de Excelência em Autismo, soube que seu cerebelo,
responsável pela coordenação motora, é 20% menor que o normal, seu ventrículo
esquerdo é 57% mais longo que o direito, que quando comparado a uma pessoa
neurotípica a diferença só chega a 15%, junto a outros estudos, a autora concluiu que
seus comportamentos, assim como os de outros autistas tem correlações com as
funções cerebrais, logo, cada autista possui características diferentes. (GRANDIN;
PANEK, 2015, apud NUNES, 2017);
44

O que uma pessoa neurotípica sente quando alguém não faz contato visual
pode ser o que uma pessoa com autismo sente quando alguém faz contato
visual. E vice-versa: o que um neurotípico sente quando alguém faz contato
visual pode ser o que um autista sente quando alguém não faz contato visual
(GRANDIN; PANEK, 2015, p. 41, apud NUNES, 2017).

No que diz respeito a sons, Tample (2015, p. 78-79) relata odiar alarmes,
descrevendo que seu cérebro interpreta o som de maneira diferente. “Cerca de noves
entre dez pessoas com autismo apresentam um ou mais transtornos sensoriais”,
descreve. Comenta ainda sobre a escassez de pesquisas sobre o assunto:
Suspeito que os pesquisadores simplesmente não entendem a urgência do
problema. Eles não conseguem imaginar um mundo onde roupas que pinicam
o fazem sentir-se pegando fogo, ou onde uma sirene soa “como se alguém
estivesse perfurando meu crânio com uma furadeira”, como alguém
descreveu. A maioria dos pesquisadores não consegue imaginar uma vida
em que cada situação nova, ameaçadora ou não, vem com uma descarga de
adrenalina, como um estudo indica suceder com muitas pessoas com
autismo. Porque a maioria dos pesquisadores são pessoas normais, criaturas
sociais, então, do ponto de vista deles, faz sentido se preocupar em socializar
autistas (GRANDIN; PANEK, 2015, p. 80-81, apud NUNES, 2017).

Comenta ainda sobre como o excesso de estímulos tornam doloroso o processo


de entender, fazendo o cérebro se fechar em rotinas obsessivas. Tample (2015) conta
que “Comportamentos que parecem antissociais para quem está de fora podem, na
verdade, ser uma expressão do medo” (NUNES, 2015, p.13).
Na linguagem, necessita que as palavras sejam pronunciadas devagar, na
infância, conseguia entender o que os outros diziam, mas não reproduzia a própria
fala, para ela, os autistas parecem confundir os estímulos visuais com os auditivos,
por isso o atraso na aprendizagem ou a falta de fala (NUNES, 2015).
Dentre outros aspectos do autismo na sua experiência, a autora conclui
pontuando que o que os autistas necessitam é que os pontos fortes em cada indivíduo
dentro do espectro sejam descobertos e valorizados. Argumenta ainda sobre o
diagnóstico, a pessoa com autismo não é menos humana e apesar de perceber o
mundo de forma diferente, não deve ser definida por isto (NUNES, 2015).
Toda sua vida começa a girar em torno do que ela não pode fazer, e não do
que ela pode fazer, ou pelo menos do que ela pode tentar melhorar
(GRANDIN; PANEK, 2015, p. 80-81, apud NUNES, 2017).

A partir desses pensamentos, pensar no autista de forma humana e entender o


quanto a arquitetura pode influenciar em suas vidas é essencial. Tample hoje tem uma
carreira bem-sucedida e em seu livro e palestras descreve o quanto a ajuda de
programas e terapias com variadas abordagens ainda na infância, pensadas de
45

acordo com suas necessidades pelos profissionais junto a seus familiares fizeram toda
diferença.

4.3 Autismo e integração multissensorial

Não existem medicamentos específicos ou cura para o autismo. Porém,


existem várias formas de tratamento, que durante a maior parte da vida do autista,
devem ser realizados pelas equipes multidisciplinares. As terapias e seus métodos
podem ser utilizadas isoladamente ou em conjunto, a depender dos resultados em
cada criança. Um método pode trazer grandes resultados em uma criança, mas em
outra não, logo, cada caso é único, apesar de possíveis casos semelhantes
(COMISSÃO DE DEFESA DOS DIRETOS DA PESSOA COM AUTISMO, 2015).
Mesmo sem cura, os tratamentos trazem a criança uma melhora no
desenvolvimento de suas características e também na qualidade de vida,
principalmente quando as intervenções são feitas na infância.
Não há um consenso sobre o melhor tipo de tratamento para crianças
autistas. É importante que o método adotado seja elaborado juntamente com
a família do pequeno paciente, porque é ela que dará continuidade as
recomendações recebidas no projeto terapêutico. É comum falar a respeito
da criança com autismo, mas é necessário esclarecer que o autismo não tem
cura. O autismo é uma síndrome presente em todas as fases de vida do
indivíduo, sendo assim, o tratamento deve ser contínuo, de modo que a
pessoa com TEA possa se desenvolver ao máximo, dentro de suas limitações
(SILVA, 2015, p.23).

Mesmo com muitas abordagens possíveis, SILVA (2016, p. 23, apud AMORIM,
2012), faz o destaque de alguns pontos importantes em qualquer tratamento: estímulo
do desenvolvimento social e comunicativo; aperfeiçoamento do aprendizado e
capacidade de solucionar problemas; diminuição dos comportamentos prejudiciais ao
aprendizado e acesso as oportunidades e experiências cotidianas assim como apoiar
aos familiares a lidarem como o autismo.

4.4 Abordagens e intervenções

No contexto de intervenções sensoriais e terapias de integração sensorial, no


quadro abaixo, são apresentadas as principais possibilidades de tratamento utilizadas
pelos profissionais especializados atualmente, visando melhorar a vida do autista.
46

Quadro 6 - Principais tratamentos para o indivíduo no espectro autista. (continua)


47

(conclusão)

Fonte: SILVA, 2017, adaptado pela autora (2019).


48

5 ARQUITETURA INCLUSIVA

5.1 Arquitetura e o Transtorno do Espectro Autista

A arquitetura tem o poder de interferir e atuar em diversos campos, engenharia,


arte, física e também a neurociência. Sua influência no processamento sensorial das
pessoas dentro do espectro do autismo e é alvo de diversos estudos desde que as
pesquisas sobre percepção sensorial do autista surgiram.
Em 2002, a arquiteta Magda Mostafa, pioneira no que diz respeito em
arquitetura e design para o TEA, fazia o projeto do Centro de Educação Especial
Avançada de Maadi, no Cairo, Egito, o primeiro centro voltado ao autismo no país, em
suas buscas acerca de diretrizes e códigos, se deparou com sua escassez e então
deu início, com ajuda de professores, pais e cuidadores o trabalho intitulado: “The
Autism Aspects of Design Index”, um documento com diretrizes para execução de
projetos arquitetônicos com base nas reais necessidades do autista, a partir de um
método com base em evidências (EBD- Evidence-Base Design) (SOUZA, 2019).
Chistopher Beaver, em 2006, escrevia sobre a construção de espaços
amigáveis para o autismo, com base em pesquisa feita com clientes e estudos de
projetos já executados (SOUZA, 2019, p.54).
Em 2008, Simon Humphreys destaca a importância de aplicar os conceitos de
“calma, ordem e simplicidade” como pontos essenciais ao promover um espaço
destinado ao público dentro do espectro (SOUZA, 2019, p.54).
Muitos outros estudos surgiram nos anos seguintes e diversos pensamentos
sobre o tema entraram em discussão, apesar dos diferentes modos de ver o problema,
é possível dividir e discutir o tema através de duas abordagens que são quase
opostas: A abordagem intitulada Design Neurotípico (Neuro-Typical Design), tem foco
nos tratamentos que se concentram na adaptação do autista aos cenários do dia a
dia; já a de Design Sensorial (Sensory Design), é centrada na aquisição de
habilidades, sendo esta última a mais adotada pelos especialistas atualmente
(SOUZA, 2019).
[...] a abordagem neurotípica se concentra na capacidade das pessoas
autistas em se adaptarem a diferentes cenários da vida urbana e pública,
enquanto a abordagem da integração sensorial está centrada na promoção
de um ambiente sensorial controlado, confortável para os autistas e no
desenvolvimento de habilidades úteis (SOUZA, 2019, p.54).
49

5.1.1 Teoria do Design Neurotípico

O Design Neurotípico tem seu como base a integração do indivíduo com TEA,
porém como o foco nas atividades diárias do mesmo. Com isso, se concentra mais
nas habilidades gerais, com a criação de ambientes físicos que o autista entrará em
contato em situações reais, na vida cotidiana, com ambientes hiper estimulantes e que
tem a força de desenvolver um senso de familiaridade com as diferentes
circunstancias que serão enfrentadas em espaços urbanos públicos comuns.
A teoria do Design Neurotípico concentra-se em melhorar as habilidades das
pessoas autistas para generalizar o espaço e sua função. Ao criar ambientes
com a mesma função, mas com características sensoriais diferentes, os
pacientes devem desenvolver a capacidade de se adaptar às variações do
mesmo tipo de espaço. Além disso, como o ambiente é semelhante aos locais
urbanos e públicos, as pessoas autistas tendem a se adaptar ao longo do
tempo a esse tipo de contexto altamente estimulante. Como resultado, as
instituições de tratamento têm áreas projetadas de forma a imitar os espaços
externos habituais: as áreas de trânsito parecem ruas e becos, as salas de
terapia parecem salas de aula ou bibliotecas, a cafeteria parece um
restaurante e assim por diante (POMANA, 2014, p.2, tradução nossa 3).

Defensores desse método classificam os ambientes sensorialmente sensíveis


como locais limitantes devido à pouca e até nenhuma habilidade de generalização dos
autistas de adaptar os conhecimentos adquiridos em espaços confortáveis em outros
não (SOUZA, 2019).
Dessa forma, instituições que seguem os preceitos desse método
apresentam espaços que se assemelham à vida cotidiana: as áreas de
trânsito parecem ruas e becos, salas de terapia se parecem com salas de
aula ou bibliotecas, a cafeteria parece um restaurante e assim por diante.
(HENRY, 2011, p.55, apud SOUZA, 2019).

Henry (2011) compara essa abordagem "neurotípica” com a responsabilidade


da sociedade aos indivíduos com deficiência.
Os indivíduos com deficiência devem se habituar ao padrão 'típico' se
quiserem acesso e aceitação à sociedade em geral? Por exemplo, se o
ambiente 'típico de ambulante' consiste principalmente de escadas, os
arquitetos devem forçar os indivíduos com mobilidade limitada a aprender a
navegar no ambiente sem rampas, elevadores ou cortes no meio-fio? Essa é
uma pergunta retórica. Talvez ambientes "neuro-típicos" devam ser mais
confortáveis para indivíduos com autismo. Exigimos que seja para indivíduos

3The Neuro-Typical Design Theory focuses on improving autistic people’s skills to generalize space
and its function. By creating environments that have the same function but have different sensory
characteristics, patients should develop the capacity to adapt to variations of the same kind of space.
Also, because the environment is similar to usual urban and public places, autistic people are bound to
adapt over time to this kind of highly stimulating context. As a result, treatment institutions have areas
designed in such a manner that they mimic usual outside spaces: transit areas look like streets and
alleys, therapy rooms look like classrooms or libraries, the cafeteria looks like a restaurant and so on
(POMANA, 2014, p.2).
50

com mobilidade limitada, por que não autismo? (HENRY, 2011, p.n, tradução
nossa4).

Em paralelo as diretrizes do Design Sensorial, a abordagem em questão,


apesar de adotada por alguns profissionais, ainda não possui nenhuma evidencia
empírica de efetividade, devido à dificuldade e em alguns casos inabilidade de
acomodar casos de autismo severo dentro dessa abordagem (POMANA, 2014).

5.1.2 Teoria do Design Sensorial

Soluções Arquitetônicas que levam em consideração o desenvolvimento


sensorial dos pacientes tem tido uma alta taxa de sucesso. A teoria do Design
Sensorial explora a manipulação do ambiente para o benefício das pessoas com
autismo. Com base nas teorias de Rimland (1964), Delacato (1974) e Anderson
(1998), onde o mau funcionamento sensorial é a base do comportamento autista, a
teoria se concentra no raciocínio de que o espaço sensorial tem influência no controle
e variação sensorial do autista (SOUZA, 2019).
Foi desenvolvida pela arquiteta Magda Mostafa, o alvo deste método é criar um
ambiente apropriado para as terapias autistas alterando o espaço de forma que os
pacientes se sintam seguros e confortáveis, com alto nível de foco e concentração,
fazendo com que as terapias sejam mais eficientes. Logo, fazendo com que a
aquisição de novas habilidades seja beneficiada por esse tipo de ambiente controlado
(POMANA, 2014).
Aplicar essa teoria para um centro de tratamento para o TEA, significa distribuir
os espaços em áreas distintas, com espaços de alto estímulo e baixo estímulo a
depender da atividade a ser exercida em cada espaço. Este método tem a intenção
de prover as melhores situações para as mais variadas formas dentro do espectro do
autismo, por isso, o espaço deve possuir a habilidade de se adaptar as necessidades
do paciente, provendo a sensação de segurança e conforto, mas ao mesmo tempo o
forçando a adaptar a situações necessárias conforme o tipo de terapia.

4 Should individuals with disabilities be required to habituate themselves to the ‘typical’ standard if
they want access and acceptance into the larger society? For example, if the ‘ambulant-typical’
environment consists of mainly stairs should architects force individuals with limited mobility to learn to
navigate the environment without ramps, lifts, or curb cuts? That’s a rhetorical question. Perhaps
‘neuro-typical’ environments should be more accommodating for individuals with autism. We demand it
to be for individuals with limited mobility, why not autism? (HENRY, 2011, n.p,)
51

Ao alterar as características do espaço, como cor, textura, perspectiva, som,


orientação, iluminação etc., para acomodar os requisitos de cada indivíduo, a
terapia provou ser mais eficaz, especialmente ao lidar com acústica. A Teoria
do Design Sensorial também implica uma análise mais profunda do contexto
e da comunidade, navegação espacial e sequenciamento espacial, espaços
de sala de aula, espaços de terapia e áreas de aprendizagem ao ar livre.
Todos esses aspectos vêm apoiar as diferentes sessões terapêuticas para
aquisição de habilidades, contexto e comunidade, sendo a única parte que se
concentra diretamente nas capacidades das pessoas com autismo de se
adaptarem e se integrarem à sociedade (POMANA, 2014, p.2, tradução
nossa5).

Ponama (2014), aponta as habilidades absorvidas pelo autista em um espaço


dentro de sua “zona de conforto”, não necessariamente serão também utilizadas em
qualquer outro ambiente. Em contraponto Laura Klinger e Geraldine Dawson
realizaram uma pesquisa no Centro de Autismo da Universidade de Washington,
demonstrando que crianças com autismo se esforçam para aplicar conceitos
aprendidos anteriormente em novas situações. Por exemplo, se um indivíduo aprende
a usar o banheiro em um ambiente específico, pode não generalizar esse conjunto de
habilidades para outros banheiros. Essa luta expõe uma diferença intrigante entre a
ligação de um cérebro "típico" e um cérebro autista (HENRY, 2011).
Apesar de alguns pontos da abordagem neurotípica serem utilizáveis em
alguns casos, como por exemplo, salas para uso controlado que tirem o autista da
zona de conforto, em outros é impraticável, não utilizar métodos de conforto acústico
ou luminoso para “simular situações reais”, pois traria total distração, insegurança e
até desconforto físico consequentemente resultando nenhum aproveitamento do
espaço.
Digo-lhes que considerem esta possibilidade: “Talvez aquela criança esteja
tendo um ataque no meio do Walmart porque se sente como se estivesse
dentro de uma caixa de som num concerto de rock. Você também não teria
um ataque se estivesse dentro de uma caixa de som num concerto de rock?
Alguns pesquisadores chegaram a retrucar: “Se a criança está gritando
porque é sensível aos sons, então será se não é aquele som que a incomoda?
Não se ela for sensível a apenas certos tipos de sons. As vezes o som não
precisa nem ser alto para incomodar. (GRANDIN; PANEK, 2015, p.81).

5 By altering space characteristics such as color, texture, perspective, sound, orientation, lighting etc.,
to accommodate each individuals’ requirements, therapy has proven to be more effective, especially
when dealing with acoustics. The Sensory Design Theory also implies a deeper analysis into context
and community, navigation and spatial sequencing, classroom spaces, therapy spaces and outdoor
learning areas. All these aspect come to support the different therapeutic sessions for skill acquirement,
context and community being the only part that focuses directly on capacities of people with autism to
adapt and integrate in society (POMANA, 2014, p.2).
52

Nesse sentido, quando o ambiente se torna hostil para a criança com autismo
é resultado de um projeto arquitetônico não adequado. A arquitetura tem o papel de
ser um “abrigo” proporcionando conforto e bem-estar aos usuários e por isso tem a
função de ser pensado como tal (NEUMANN, 2017, p.123).
Em ambas as hipóteses aqui abordadas, existem argumentos válidos, mas até
o momento não há estudos comparando e mostrando a eficácia entre um e outro.
Quando se trata de crianças com autismo a variabilidade de sintomas é vasta, com
isso, definir uma só abordagem seria a melhor solução somente para alguns usuários,
com isso, é necessário fazer uma análise do local a ser projetado e seus custos e
assim definir as prioridades que melhor atendem a maior parte das dificuldades
presentes na vida do autista.

5.2 Psicologia Ambiental

O teórico italiano Bruno Zevi (1977) aponta a relação do espaço arquitetônico


e usuário como algo que vai muito além da concretude espacial, mas que possua um
significado além disso, cheio de intenções que não se pode alcançar sem envolver-se
numa intensa experiência de percepção e apropriação. É no contexto de valorização
dessa relação que se introduz a abordagem da percepção e da psicologia ambiental
(NIEMEYER, 2018).
A psicologia ambiental é uma área de estudo da psicologia que faz a união e
análise da transação e inter-relacionamento entre o indivíduo e o ambiente físico
(tanto o ambiente natural quando o construído). Envolve estudos da percepção do
usuário para com o ambiente e sua cognição, ou seja, como o mesmo reage e modifica
o espaço (MELLO, 1991).
O indivíduo que a Psicologia descreve é o ser humano dotado de contextos
culturais, sociais, que se relacionam de forma mútua. Assim, a Psicologia Ambiental
não tem como objetivo a resolução dos problemas ambientais e sim a crise das
pessoas no ambiente (PINHEIRO, 1997).
A interferência do espaço sobre o indivíduo ocorre a partir da captação de
estímulos ambientais, de natureza físico-química, pelos sistemas sensoriais.
São em seguida, transformados em impulsos nervosos e, após serem
processados pelo sistema nervoso central, desencadeiam determinadas
respostas adaptativas. Considerando-se o cérebro humano como um sistema
adaptativo complexo – isto é, que permite a manifestação de respostas
psicomotoras inicialmente não esperadas – conclui-se que os estímulos
53

ambientais constantes e repetitivos podem ser utilizados na geração de novos


processos cognitivos (CASTRO, 2018, p. 45).

Os espaços, sejam eles construídos ou não, podem nos agradar ou


desagradar, gerando até sensações de desconforto se existir grande disparidade com
os limites do nosso corpo. Desta forma, explorar esse campo de conhecimento da
psicologia ambiental, tende a estabelecer o meio físico como uma ferramenta capaz
de influenciar no tratamento dos portadores do Transtorno do Espectro Autista.
O termo ambiência tem origem do francês “ambiance” e pode ser também
traduzido como meio ambiente. O estudo da ambiência ideal para cada espaço, em
qualquer escala, traz contribuições para o entendimento das condições físicas e
emocionais do bem-estar, implicando em estímulos ao comportamento dos sujeitos
inseridos nesse contexto, aprimorando seu relacionamento (BESTETTI, 2014).
A Secretaria de Atenção à Saúde, Núcleo Técnico da Política Nacional de
Humanização do Ministério da Saúde, dentro do programa denominado “Humaniza
SUS”, criou um grupo especialmente voltado a discutir e difundir diretrizes relativas ao
estudo da ambiência nos equipamentos de saúde. De acordo com a Cartilha de
Ambiência, devemos considerar que o espaço visa o conforto e os componentes que
atuam como modificadores e qualificadores do espaço, estimulando a percepção
ambiental, valorizando assim elementos do ambiente que interagem com as pessoas
e garantindo conforto aos usuários (BESTETTI, 2014).
Assim, essa comunicação entre ambiente e indivíduo (figura 16), nos ambientes
terapêuticos sensoriais, torna capaz a proporção de estimulo e/ou equilíbrio da
integração sensorial.
54

Figura 16 - A ambiência aliada a psicologia ambiental e a integração sensorial tem o poder de


desenvolver diversas habilidades e potenciais do indivíduo com TEA.

Fonte: EPIFANIO, 2018, adaptado pela autora (2019).

Com isso, a ambiência se torna um fenômeno importante para relacionar esses


atributos, pois ela é responsável pelos sentidos por meio das texturas, iluminação,
sons e cores relacionados a dimensão cultural do usuário (EPIFANIO, 2018, p. 13).
Pellicano e Burr (2012) descrevem como a experiência perceptiva de pessoas
autistas é menos influenciada pelo conhecimento prévio sobre o mundo sensorial.
Como resultado, as pessoas autistas tendem a perceber o mundo com mais precisão
do que imbuídas de experiências anteriores. Portanto, no contexto da interação de
uma pessoa autista com o meio ambiente, a dificuldade de uma pessoa em criar ou
usar conhecimentos anteriores sobre o meio ambiente pode levar a um conjunto
idiossincrático de possibilidades.
55

Desta forma é notório que o entorno e a configuração dos espaços construídos


influenciam de maneira significativa acerca da percepção do indivíduo, principalmente
no que diz respeito à criança com TEA, objeto de estudo do presente trabalho.
O arquiteto pode projetar a partir das sensações que um ambiente pode
causar nas pessoas, embutindo informações neste ambiente. Estas
informações surgem a partir da manipulação de cores, texturas, luz, forma,
temperatura, cheiros, entre outros atributos que possam ser sentidos, e
interpretados de maneiras distintas, dependendo, da cultura, estado de
espírito, experiências prévias, entre outras condições de quem vivencia o
espaço (RASMUSSEN, 1998, p. 22).

Assim, podemos concluir que quando o projeto de ambientes terapêuticos para


crianças com TEA assimila aspectos relacionais pessoa-ambiente tende a oferecer
um impacto emocional bastante positivo as crianças, famílias e profissionais,
contribuindo indiretamente para uma adaptação mais envolvente ao espaço de
tratamento, estimulando seu aprendizado.
56

6 REFERÊNCIAS PROJETUAIS

As obras apresentadas neste capítulo foram selecionadas


criteriosamente a fim de demonstrar e fornecer embasamento teórico projetual tendo
em vista os aspectos arquitetônicos, criativos e as técnicas utilizadas para melhor
atender seus usuários, auxiliando na vida dos pacientes e profissionais.

6.1 Centre for Autism and the Developing Brain – Nova York, EU.
Desenvolvido pelo escritório DaSilva Archtects, o Centro para o Autismo e
Desenvolvimento do Cérebro, foi um projeto de reforma de um antigo ginásio (figura
17), dentro do Presbyterian Hospital, em uma nova instalação, destinada para
diagnósticos, avaliações e tratamentos de crianças com Transtorno do Espectro
Autista.

Figura 17 - Fachada o Centro para o Autismo e Desenvolvimento do Cérebro.

Fonte: Disponível em: https://www.architetturaecosostenibile.it/architettura/progetti/progettare-centro-


autismo-652. Acesso em: 11 ago. 2019.

Como resultado surgiu uma colorida vila, com salas flexíveis para atividades e
consultas, com espaços de atividades organizados em grupos de casas com formas
diferentes, com portas e janelas que se abrem para as zonas de circulação com luz
natura, elementos pensados especialmente para as crianças.
Cor, luz, formas e outros elementos criativos foram utilizados para criar espaços
de interação social, o próprio teto do ginásio foi transformado em céu, com a pintura
de nuvens e em tons de azul, além disso, foram criados pequenos jardins e espaços
57

para sentar e brincar (figura 18), detalhes que trazem não só divertimento as crianças,
como também um link para suas casas fora do centro, subjetivamente estimulando
sua autonomia. Além disso, o projeto consegue se distinguir de clinicas e hospitais,
que para os autistas é um ambiente confuso e desnorteador (FASTCOMPANY, 2016).

Figura 18 - “Casinhas da Vila” no Centro do Autismo e Desenvolvimento do Cérebro.

Fonte: Disponível em: https://www.architetturaecosostenibile.it/architettura/progetti/progettare-centro-


autismo-652. Acesso em: 11 ago. 2019.

O segredo do sucesso do projeto foi a atenção a três aspectos: a acústica, a


luz e a forma, com um uso sábio dos materiais (figura 19).

Figura 19 - Formas e cores utilizadas no Centro do Autismo e Desenvolvimento do Cérebro.

Fonte: Disponível em: https://www.architetturaecosostenibile.it/architettura/progetti/progettare-centro-


autismo-652. Acesso em: 11 ago. 2019.
58

Do ponto de vista acústico, truques foram utilizados para tornar o ambiente


mais confortável. As salas de tratamento foram concebidas para ser tão à prova de
som quanto possível, com carpete de absorção para amortecer gritos e painéis de
amortecimento de som nas paredes. Em áreas onde o chão não poderia ser
acarpetado, como em áreas próximas a pias, DaSilva usou piso de borracha macia
para conseguir um efeito similar. Quanto aos espaços públicos, os arquitetos
especificaram pisos de cortiça para amortecer o som de pessoas caminhando pelo
chão. Black e sua equipe ainda mudaram todos os condicionadores de ar do edifício,
caldeiras e ventilação para uma cabana ligada ao edifício principal, eliminando
totalmente seus ruídos (FASTCOMPANY, 2016).
As luzes fluorescentes foram eliminadas, elas emitem um zumbido irritante e
geralmente abalam as pessoas com autismo.

Figura 20 - Salas de atendimento no Centro do Autismo e Desenvolvimento do Cérebro.

Fonte: Disponível em: https://www.architetturaecosostenibile.it/architettura/progetti/progettare-centro-


autismo-652. Acesso em: 11 ago. 2019.

Para tentar minimizar o efeito perturbador causado pelo barulho e distrações


externas, DaSilva Architects incluiu materiais que tornam as salas à prova de som,
usando painéis de carpete e de absorção de som nas paredes (figura 20).
Na iluminação, foi feita uma mistura de fontes naturais e artificiais (figura 21).
Embora a literatura adverte contra muita luz natural em ambientes dedicados ao
autismo, para não distrair o usuário, as enormes janelas do prédio do Ginásio Rogers,
no entanto, eram mais altas que o piso do observador, e isso não perturba os usuários,
59

beneficiando-se de uma luz não direta sem distrair os pacientes com o que acontece
lá fora. Para iluminação artificial, foram utilizadas uma variedade de fontes, instalando
luzes de teto e faróis que iluminam lateralmente. Todas essas lâmpadas podem ser
escurecidas se um paciente for incomodado (FASTCOMPANY, 2016).

Figura 21 - Salas de atendimento no Centro do Autismo e Desenvolvimento do Cérebro.

Fonte: Disponível em: https://www.architetturaecosostenibile.it/architettura/progetti/progettare-centro-


autismo-652. Acesso em: 11 ago. 2019.

No que diz respeito aos materiais, assim como com som, ruído e luz, o escritório
pensou em contemplar a mais ampla gama de possibilidades, logo, a estrutura do
Centro do Autismo e Desenvolvimento do Cérebro apresenta o uso de tecidos e
materiais naturais, como cortiça, borracha, porcelana e lã (FASTCOMPANY, 2016).

Figura 22 - Recepção e espaço da família, no Centro do Autismo e Desenvolvimento do Cérebro.

Fonte: Disponível em: https://www.architetturaecosostenibile.it/architettura/progetti/progettare-centro-


autismo-652. Acesso em: 11 ago. 2019.
60

6.2 Sunfield Residential School – Clent, U.K.

O Residencial e Escola Sunfield (figura 23), é um edifício residencial para 12


crianças de idades entre 5 e 12 anos com autismo severo, localizado na cidade de
Clent, no Reino Unido.

Figura 23 – Fachada da escola Sunfield.

Fonte: Disponível em: https://www.architecture.com/find-an-architect/ga-architects/london/sunfield-


residential-school. Acesso em: 12 ago. 2019.

É composto por quartos, salas, banheiros, cozinhas, salas de jogos, salas


sensoriais e lavanderias (ARCHDAILY, 2011).

Figura 24 - Planta baixa do residencial e escola Sunfield.

Fonte: Disponível em: https://www.archdaily.com/179359/designing-for-autism-spatial-


considerations/z622-sunfield-old-watchdrawingssunfield-promotion-drwgssunfield-a4-booklet-
dwg-proposed-1. Acesso em: 12 ago. 2019.
61

Projetado pelo escritório GA Architects o projeto é referência entre os centros


e edifícios destinados ao tratamento de crianças com necessidades especiais, devido
seu design eficiente e especifico para as necessidades dos autistas e seus familiares.

Figura 25 - Corte do residencial e escola Sunfield.

Fonte: Disponível em: https://www.archdaily.com/179359/designing-for-autism-


spatial-considerations/sunfield-section1. Acesso em: 12 ago. 2019.

O edifício possui uma atenção especial para os materiais, cores, iluminação


através de janelas altas e design (figuras 25 e 26), assim como para a integração entre
os ambientes onde as crianças vivem e são assistidas pelos profissionais
(ARCHDAILY, 2011).

Figura 26 - Espaços de circulação do residencial.

Fonte: Disponível em: https://www.architecture.com/find-an-architect/ga-architects/london/sunfield-


residential-school. Acesso em: 12 ago. 2019.
62

6.3 Hazelwood School – Glasgow, Escócia

A escola Hazelwood tem como conceito uma aprendizagem alternativa, para


crianças e jovens, de 2 a 18 anos, com cerca de 60 alunos, cada um deles apresenta
uma combinação de duas ou mais deficiências graves, sejam elas auditivas, visuais,
físicas e ainda todas apresentam algum grau de comprometimento cognitivo
(HUNDRED, 2018).

Figura 27 - Fachada da escola Hazelwood.

Fonte: Disponível em: https://architizer-prod.imgix.net/mediadata/projects/022011/8f71b93b.jpg.


Acesso em: 12 ago. 2019.

Projetada pelo arquiteto Alan Dunlop, do escritório Alan Dulop Archtects, a


escola tem ênfase no atendimento das reais necessidades das crianças e aspirações
de seus familiares, com um local seguro longe da cidade e com o suporte necessário
aos professores e alunos (figura 28) (HUNDRED, 2018).

Figura 28 - Escola Hazelwood, vista de cima.

Fonte: Disponível em: https://architizer-prod.imgix.net/mediadata/projects/022011/2100cd50.jpg.


Acesso em: 12 ago. 2019.
63

A planta sinuosa (figura 29), se estende sobre todo o terreno criando uma
destacada circulação interna que abriga 10 salas de aula com volumes salientes
voltados para o norte, também dispõe de salas de música, artes e biblioteca para o
sul, ligados por uma circulação aberta e com jardins (figura 30).

Figura 29 - Escola Hazelwood, planta baixa.

Fonte: Disponível em: https://aasarchitecture.com/2016/09/hazelwood-school-glasgow-alan-dunlop-


architect.html/ Acesso em: 20 jan. 2019.

A navegação e a orientação através do edifício foram de importância máxima


e o objetivo fundamental era incentivar a independência das crianças. O conceito de
trilha foi desenvolvido na área de circulação como um conceito inicial chave, que
também funciona como uma parede de armazenamento para lidar com requisitos
específicos (figura 30), mas que também se estabeleceu como uma ferramenta de
navegação no prédio, que permite que as crianças se movimentem pela escola com
um nível de liberdade. A parede é revestida com cortiça, que possui qualidades de
calor e tátil e fornece significantes mensagens ao longo do percurso para confirmar a
localização das crianças na escola (HUNDRED, 2018).
64

A escolha dos materiais foi de grande importância para a criação de um design


que fosse adequado no contexto sensorial para o usuário.

Figura 30 - Escola Hazelwood e seus corredores sensoriais.

Fonte: Disponível em: https://architizer.com/projects/hazelwood-school/. Acesso em: 12 ago. 2019,


adaptado pelo autor, 2019.

O arquiteto desenvolveu uma paleta de cores e de materiais naturais altamente


texturizados que seriam estimulantes ao toque e ao cheiro (figura 31).

Figura 31 - O arquiteto além de criar uma parede sensorial, utilizou da mesma com armários
"invisíveis".

Fonte: Disponível em: https://hundred.org/en/innovations/hazelwood-school/ Acesso em: 20 jan.


2019.
65

O uso de madeira natural, os ladrilhos de ardósia recuperados e o zinco foram


escolhidos para uso externo para dar variedade e contraste ao edifício (figura 32 e
33).

Figura 32 - Escola Hazelwood, área de alimentação.

Fonte: Disponível em: https://architizer-prod.imgix.net/mediadata/projects/022011/9f23c3ee.jpg


Acesso em: 12 ago. 2019.

Dadas as preocupações de mobilidade do programa, o foco do projeto foi em


criar espaços seguros e estimulantes, que eliminasse a sensação de deficiência e
incapacidade, ciando soluções sob medida para os requisitos do projeto e
desenvolvendo um edifício totalmente incorporado as necessidades dos usuários
(HUNDRED, 2018).
Projetada para lidar com questões muito específicas, a escola foi feita não
apenas para ajudar na estimulação dos sentidos, mas como um ambiente que
estimula a imaginação.
Pensar em soluções que não só abrigam, mas que tem o poder se facilitar a
vida do usuário são diretrizes para qualquer projeto na arquitetura.
Todos projetos aqui explanados têm algo em comum, destacaram-se
internacionalmente e pela contratação de arquitetos que buscaram criar uma ponte
entre Arquitetura e o Autismo ou Deficiente físico, buscando soluções que podem ser
referência não só para projetos similares, mas para outras áreas também.
66

7 DIRETRIZES PROJETUAIS PARA ESPAÇOS DE TRATAMENTO DO


AUTISMO

A partir do referencial teórico e das referências projetuais, foram elaboradas


sugestões de projeto, como diretrizes projetuais para Centros de Suporte e
Tratamento do Autismo, considerando que as características das crianças em seus
mais diversos aspectos e aliando aos métodos terapêuticos e sensoriais devem refletir
no espaço arquitetônico, de forma a complementar o significado e amplificar seu
funcionamento de forma mais efetiva.
Se utiliza como base, o referencial teórico acerca dos prejuízos neurobiológicos
dos portadores do TEA para definir-se os princípios de composição necessários à
criação de um espaço em harmonia com as necessidades das crianças, famílias e
equipe multidisciplinar usuária. Nesse contexto, devem ser levados em consideração
critérios como quantidade de crianças a serem atendidas no local, familiares e
relevância entre os graus de autismo, profissionais especializados em suas
determinadas áreas e as especificidades de cada uma delas.
[...] Apesar de cada grau de autismo e cada indivíduo ter necessidades um
pouco diferentes, existem algumas em comum, no projeto sugere-se que
cada autista tenha suas necessidades atendidas, e o mesmo tem como
essência trazer a cada indivíduo espaços reconfortantes, de forma que o
autista se sinta seguro em ter seus momentos sozinho e em grupo. Quando
uma criança pode entender o seu ambiente, a segurança emocional aumenta
e ela sente maior confiança e, com isso, sensação de controle. Acresce ela
que não é só as crianças que tiram proveitos dessas ambientações, mas as
pessoas em geral. Assim, ambientes acolhedores ajudarão as crianças para
relaxar e reter mais informações (CRUZ; ABDALA; ANTUNES, 2015, p. 11).

Nesse sentido, serão base para esse trabalho, diretrizes apontadas nos
estudos realizados por diversos autores como Richer and Nicoll 6 (1971), Beaver 7
(2003, 2006), Whitehurst8 (2007), Mostafa9 (2008, 2015), Ahrentzen10 (2009), Brand11
(2010), Rowell e Braddock12 (2011), Leestma13 (2015) e Owen14 (2016) abordando

6 John Richer e Nicoll Stephen, “A Playroom for Autistic Children, and Its Companion Therapy Project.”
7 Christopher Beaver, “Designing Environments for Children and Adults with ASD.”
8 Teresa Whitehurst, “The Impact of Building Design on Children with Autistic Spectrum Disorders.”
9 Magda Mostafa, “Architecture for autism: Built environment performance in accordance to the autism

ASPECTSS™.”
10 Sherry Ahrentzen, ‘At Home with Autism: Designing Housing for the Spectrum.”
11 Andrew Brand, “Living in the Community Housing Design for Adults with Autism.”
12George Braddock e John Rowel, “Making homes that work”.
13 David Paul Leestma, “DESIGNING FOR THE SPECTRUM: An. Educational Model for the Autistic

User.”
14 Ceridwen Owen, “Supporting Students with Autism Spectrum Disorder in Higher Education.”
67

recomendações e diretrizes acerca da concepção de espaços destinados aos


indivíduos com TEA.

7.1 Sequenciamento Espacial

A arquiteta Magda Mostafa (2008, 2015) desenvolveu em seu índice “Autism


ASPECTSS™ Design Index”, o primeiro conjunto de diretrizes de design para
ambientes terapêuticos destinados a crianças com autismo, onde a autora propõe o
uso das salas de atendimento em sequência onde se baseia na tendência dos autistas
por rotinas e previsibilidade. (MOSTAFA, 2015).
[...] O Sequenciamento Espacial exige que as áreas sejam organizadas em
uma ordem lógica, com base no uso programado típico desses espaços. Os
espaços devem fluir o mais perfeitamente possível de uma atividade para a
outra através da circulação unidirecional sempre que possível, com
perturbações e distrações mínimas, usando as zonas de transição
(MOSTAFA, 2015, p. 147, tradução nossa15).

Essa ordem pode ser definida com base no roteiro de atividades a serem
desenvolvidas pela criança autista mais comumente, como por exemplo, se após o
atendimento psicológico as crianças vão a psicopedagogia e em seguida a terapia
ocupacional, essas salas podem ser implantadas no projeto em sequência de forma a
não só a ter seu acesso mais rápido mais também produzindo uma familiaridade ao
autista, o trazendo mais segurança.
A Sequência espacial dos ambientes internos deve ser adotada de forma a
promover as atividades intelectuais de forma fluída, natural e tranquila, isso requer
uma organização espacial de forma lógica e baseada na agenda de uso desses
espaços (ver figura 33).

15[…] Spatial Sequencing requires that areas be organized in a logical order, based on the typical
scheduled use of such spaces. Spaces should flow as seamlessly as possible from one activity to the
next through one-way circulation whenever possible, with minimal disruption and distraction, using
Transition Zones (MOSTAFA, 2015, p.147).
68

Figura 33 - Salas em sequência com espaços de transição e interação social.

Fonte: Autora desta monografia (2020).

7.2 Interação Social

Um dos maiores desafios aos indivíduos dentro do espectro é o da


comunicação e socialização. Uma variedade de espaços destinados a esse fim, de
diferentes formas (grandes e pequenos, externos e internos, mais e menos isolados),
permite a oportunidade desses indivíduos interagir, dentro de seus níveis de conforto
e escolha (figura 34).
Oportunidades de interação social precisam ser estruturadas para crianças
com TEA. No entanto, isso precisa ser equilibrado com oportunidades para
ficar sozinho. É particularmente importante ao projetar espaços de recreação
para considerar a necessidade de que as crianças com TEA tenham um
tempo limite, o que contrasta com as expectativas neurotípicas da
socialização (OWEN et al., 2016, p. 55, tradução nossa16).

16 Opportunities for social interaction need to be structured for children with ASD. However, this needs
to be balanced with opportunities to be alone. It is particularly important when designing play spaces to
consider the need for children with ASD to have time out, which contrasts with the neurotypical
expectations of socializing (OWEN et al., 2016, p. 55).
69

Figura 34 – Sala de espera com espaços para interação social das crianças e suas famílias.

Fonte: Autora desta monografia (2019).

7.3 Compartimentação

Consiste em definir e limitar os espaços sensoriais para cada atividade, os


organizando nas salas e até mesmo em todo edifício em compartimentos é uma forma
de instigar a aprendizagem e autonomia sensorial dos autistas. Cada compartimento
deve ter uma clara e definida função e sua separação deve ser feita de forma leve e
previsível.
A separação entre esses compartimentos não precisa ser dura, mas pode ser
através do arranjo de móveis, diferença de piso, diferença de nível ou mesmo
através de variações na iluminação. As qualidades sensoriais de cada espaço
devem ser usadas para defina sua função e separe-a do compartimento
vizinho. Isso ajudará a fornecer dicas sensoriais sobre o que é esperado do
usuário em cada espaço, com ambiguidade mínima (MOSTAFA, 2015, p.
147, tradução nossa17).

17 The separation between these compartments need not be harsh, but can be through furniture
arrangement, difference in floor covering, difference in level or even through variances in lighting. The
sensory qualities of each space should be used to define its function and separate it from its neighboring
compartment. This will help provide sensory cues as to what is expected of the user in each space, with
minimal ambiguity (MOSTAFA, 2015, p.147).
70

Precisa haver um limite para a entrada sensorial dentro de cada espaço ou


ambiente. Cada compartimento deve incluir uma função única e claramente definida
e consequente qualidade sensorial, durante a terapia e uso do espaço.
No ambiente de terapia por exemplo, pode-se utilizar da compartimentação
para definir diferentes atividades para a criança no mesmo ambiente de forma que a
mesma transite entre elas de forma intuitiva (figura 35).

Figura 35 - Sala para atividades em grupo com janela de observação para terapia assistida.

Fonte: Autora desta monografia (2019).

Essa divisão pode ser feita de diversas formas, como por cores, iluminação,
mobiliários, pisos distintos, entre outras formas criativas, que permitam que as
qualidades sensoriais de cada espaço sejam distintas (figura 36). Essas diferenças,
para a criança com TEA, produzem pistas sensoriais do que os espera no uso de cada
espaço, o trazendo tranquilidade e segurança (LEESTMA, 2015).
71

Figura 36 - Planta baixa com compartimentação de atividades através do mobiliário.

Fonte: Autora desta monografia (2020).

7.4 Mobiliário Flexível

O mobiliário contribui, com a questão da ergonomia, mas também é importante


que tenha a possibilidade de dificultar o acesso de alguns equipamentos para os
usuários ou favorecer percursos bem definidos e unidirecionais.
Khare e Mullick (2009) definem a flexibilidade dos mobiliários como uma forma
de promover nichos ou barreiras com muita facilidade, destacando assim o espaço
pessoal, seja individual ou coletivo. O uso de elementos flexíveis (figura 37), como
almofadas para sentar por exemplo, pode oferecer diversas possibilidades de para
que nas terapias sejam exploradas atividades táteis, de equilíbrio e atenção.
72

Figura 37 - Sala de Terapia com brinquedos e mobiliário flexível para diferentes atividades, foi
utilizado também scape spaces (espaços de fuga) para uma possível calibração sensorial.

Fonte: Autora desta monografia (2019).

É recomendado o uso de equipamentos e mobiliários que possam ser


modificados ou transportados: cadeiras leves, pufes, futons, colchonetes, etc. Esses
elementos flexíveis devem tem boa fixação e ser de materiais resistentes,
dependendo do comportamento da criança, um móvel solto pode vir a pôr a segurança
dela em risco.

7.5 Layout

Beever (2006) acredita que um layout simples, com poucos detalhes, materiais
e cores de fácil compreensão, é o mais recomendado. O reconhecimento de espaços
e salas para cada tipo de atividade é essencial e isso pode ser determinado pelas
cores do tapete e pela maneira como os espaços estão organizados e como fluem de
um para outro.
O layout do edifício facilita a navegação, como o reconhecimento de sua
"casa" por sua cor. Os espaços de aprendizado do estúdio internos e externos
fornecem áreas de aprendizado que permitem movimento e exploração
(LEESTMA, 2015, p. 147, tradução nossa18).

18The layout of the building makes it easy for them to navigate such as recognizing their “house” by its
color. The studio’ inside and outside learning spaces provide areas of learning that allow for movement
and exploration (LEESTMA, 2015, p.147).
73

Um layout flexível dos ambientes oferece a criança um espaço seguro e


funcional. Essas possibilidades são importantes para que a partir da necessidade de
uso de cada criança ou o uso coletivo durante as terapias, assim como por diferentes
profissionais e atividades, possa se ter o melhor uso do ambiente possível (figura 38).

Figura 38 - Sala de terapia com layout flexível.

Fonte: Autora desta monografia (2020).


74

7.6 Distância Interpessoal

Segundo Gifford (1997), um ambiente confortável é aquele possibilita o


equilíbrio das nossas tendências de afastamento e aproximação, podendo-se assim
inferir um ambiente amplo, que permite o ajuste das distâncias dependendo das
circunstâncias e, assim, sua apropriação pelo usuário, assim, um mesmo ambiente
pode transmitir diferentes comportamentos.
Khare e Mullick (2009) apontam a necessidade do autista quando junto a outras
crianças terem a necessidade de um espaço pessoal amplo.
O autista muitas vezes necessita de distâncias adequadas para o contato e
não-contato, pois distâncias muito curtas podem causar a sensação de invasão e
quando muito longas podem fazer com que a criança se sinta abandonada. Logo,
recomenda-se para salas de grande fluxo o uso de escala ampla, possibilitando a
estimulação auditiva, visual e proprioceptiva das crianças (figura 39).

Figura 39 - Sala de Terapia em grupo.

Fonte: Autora desta monografia (2020).


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Utilizar ambientes amplos possibilita a adaptabilidade do ambiente e permite o


ajuste das distâncias interpessoais. Essa flexibilidade pode ser feita de diversas
formas como pela iluminação, materiais, mobiliário, altura do pé direito, etc.

7.7 Identidade Visual

Estimular a independência da criança com TEA através da identidade visual é


essencial, a maior parte dos autistas possui grande adaptabilidade a estímulos
visuais, logo, promover esse tipo de elemento adequadamente pode orientar a criança
e incentivar a autonomia dela, além de ser um ótimo recurso de orientação para as
famílias e usuários do edifício (figura 40).
A estrutura visual deve incorporar informações visuais concretas no ambiente
para utilizar a capacidade de reconhecimento visual dos indivíduos com
autismo e torná-los mais independentes. Instruções visuais permitem dar
instruções necessárias ou sequência de passos para seguir uma atividade
(CRUZ, ABDALA, ANTUNES, 2015, n. p.).

Recomenda-se que se organize o ambiente visual por meio de dicas visuais


concretas. Isso incluiria aspectos como código de cores, números, sinais, etiquetas
etc. (KHARE E MULLICK, 2009).

Figura 40 - Recepção com uso de identidade visual com formas orgânicas, materiais e tons
utilizados em todas as imagens produzidas.

Fonte: Autora desta monografia (2019).


76

7.8 Espaços Externos

Promover a consciência ambiental através dos espaços ao ar livre pode


proporcionar a sensação de independência da criança e relações sensoriais através
das paisagens naturais, ambientes de descanso e exploração do espaço com
brincadeiras.
Moore (1997) descobriu que o som da água corrente, flores silvestres e a
natureza têm grandes efeitos sobre os comportamentos sociais e psicológicos em
crianças. Assim, é muito importante que crianças com TEA entrem em contato com a
natureza, pois os benefícios são cognitivos, de saúde mental, saúde física, social e
emocionais.
Owen (et al., 2016) em seu livro Design across the Spectrum: Play spaces
(Projetando além do Espectro: Espaços para brincar), pontua que a brincadeira é
importante para o desenvolvimento social, físico e cognitivo de todas as crianças. Para
crianças com TEA, a oportunidade de participar de brincadeiras em um ambiente
compartilhado é vital para o desenvolvimento de futuras habilidades para a vida. O
autor define ainda uma série de diretrizes para elaboração de jardins e playgrounds
sensoriais para autistas:
 Excesso de espaço pode não agradar a maioria dos autistas;
 O zoneamento dos espaços deve ser claro: Espaços para os sentidos,
para brincadeiras e jogos, jardinagem, entre outros;
 Uso de triagem visual, as zonas que não estão em uso devem ficar
“escondidas”, para evitar distrações;
 Devem existir transições graduais entre os espaços, para prevenir o
choque ou hiperestimulação dos sentidos da criança;
 Equilíbrio e transição gradual entre os espaços, como por exemplo
mudanças do nível do piso ou materiais e cores.
Além disso, podem existir zonas de diferentes tipos e níveis de interações que
incorporam plantas de diferentes cheiros, cores e padrões, assim como árvores
frutíferas ou não, que podem ser aliados a esculturas, painéis, fontes de água e poços
de areia, promovendo a criança com TEA uma experiência de muitos benefícios, de
forma controlada (ver figuras 41 e 42).
77

Figura 41 - Jardins sensoriais com experiências de toque, cor e cheiro.

Fonte: Behance e Autism Parenting Magazine. Disponível em:


https://www.behance.net/gallery/19831839/Therapy-garden-for-people-with-
ASD?tracking_source=search-all%7Casd e https://www.autismparentingmagazine.com/sensory-
gardens-can-help-autism/. Acesso em: 18 jan. 2020.
78

Figura 42 – Projeto de jardim sensorial.

Fonte: Behance, disponível em: https://www.behance.net/gallery/59693725/graduation-project-


sensory-garden-design-autism-cente?tracking_source=search%7Cautism. Acesso em: 18 jan. 2020.

7.9 Volumetria

O volume arquitetônico pode ser construído de forma livre, desde que sejam
seguidos os conceitos sensoriais como cores, texturas e acessibilidade, sempre
buscando formas neutras e simples que estimulem a autonomia dos indivíduos com
TEA, objetiva ou subjetivamente.

7.10 Cor

As paletas de cores para indivíduos dentro do espectro devem ser planejadas


de forma a trazer os efeitos desejados ao ambiente em que aplicadas (figura 41).
O uso das cores estratégico deve ser feito através do conhecimento do
ambiente e qual finalidade do mesmo, se deve estimular a criatividade ou a atenção
da criança pelos profissionais e até mesmo como são as características das crianças
a utilizarem o mesmo, com esses conhecimentos, deve-se fazer um estudo de cor, da
luz presente no espaço e como ela pode afetar essas cores, evitando ainda a mistura
de muitas cores no mesmo ambiente, afim de ter um equilíbrio no espaço.
79

Figura 41 - Espaço para terapias em grupo, foram utilizados tons de rosa e azul com fundo
acinzentado para ter o equilíbrio entre estimulante (rosa) e calmo (azul).

Fonte: Autora desta monografia (2019).

Segundo GA Archtects, escritório especializado em design de ambientes para


autistas, em pesquisa sobre a paleta de cores para ambientes destinados a pessoas
com TEA, em colaboração com a Universidade de Kingston, cores fortes como
vermelho e amarelo, podem trazer ansiedade e inquietude para os autistas, logo,
podem ser usados estrategicamente com fundo acinzentado, evitando sua matiz mais
viva, enquanto verde e azul trazem calma e tranquilidade, o laranja aumenta os níveis
de excitação e o roxo tende a estimular diversos sentimentos (ASSIRELLI, 2011).
Segundo Owen (et al., 2016) as cores menos vibrantes e com fundo cinza, que
se apresenta como neutro para os autistas, geralmente tons pasteis (ver figura 42),
são as melhores escolhas para uma carga emocional controlada.
80

Figura 42 - Paleta de cores escolhidas como "friendly" (amigáveis), em pesquisa feita pela GA
Archtects e a Universidade de Kignston.

Fonte: ASSIRELLI, 2011, disponível em:


https://issuu.com/gaarchitects4/docs/mla_presentation_seminar_june_2011_. Acesso em: 18 jan.
2020.

Apesar do branco ser uma cor neutra, deve-se evitar seu uso em excesso, além
de lembrar um ambiente hospitalar, a cor branca reflete muita luz o que pode
ocasionar hiperestimulação pelo excesso de luz a algumas crianças.
Estampas devem ser evitadas nos ambientes terapêuticos, pois desenhos
tendem a chamar muita atenção da criança, em outros espaços podem ser usadas
com muita cautela, pois padrões confusos podem trazer desconforto as crianças,
durante uma tentativa falha de entende-los.

7.11 Materiais

Materiais com boa qualidade, bem-acabados, duráveis e não tóxicos são um elemento
importante no ambiente pensado para o autista, patologias e defeitos construtivos
podem trazer ansiedade e inquietação para a criança.
As escolhas de materiais são extremamente importantes ao projetar para
crianças com TEA, pois fornecem muitas formas de estímulos sensoriais,
incluindo a aparência, a sensação, o som e o cheiro. Eles devem ser
cuidadosamente selecionados para equilibrar a sensibilidade hiper e hipo a
diferentes formas de estímulos sensoriais(OWEN et al., 2016, p. 49, tradução
nossa19).

19 Material choices are extremely important when designing for children with ASD as they provide many
forms of sensory input including the way they look, feel, sound and smell. They must be carefully
selected to balance hyper and hypo sensitivity to different forms of sensory input. (OWEN et al., 2016,
p. 49).
81

Nas paredes e tetos, o uso de superfícies lisas é o ideal, no caso do uso de


texturas, devem ser pensadas para passar sensações preestabelecidas, nos pisos,
sempre antiderrapantes, materiais emborrachados e vinílicos resistentes ao tipo de
fluxo e a umidade fornecem segurança e conforto (ver figura 43).
Cada material provoca uma sensação ao ambiente e com isso seu uso
estratégico se torna imprescindível, os amadeirados tendem a trazer uma sensação
de aconchego e segurança, assim como tecidos.

Figura 43 - Sala com hiper estimulação estratégica, os materiais escolhidos tem a função de
maneira equilibrada oferecer estímulos a criança: a parede pode ter desenhos com giz ou não,
com o controle do profissional, os quadros coloridos são também armários, possibilitando seu uso
controlado.

Fonte: Autora desta monografia (2019).

7.12 Conforto Acústico

Atentar-se em proteger e estimular quando ao ruído produzido é um dos pontos


mais importantes a se considerar no projeto, no caso dos autistas com
82

hipersensibilidade, o som pode causar desconforto e dependendo do nível de ruído


até extrema dor.
A qualidade do som dentro do ambiente depende da absorção do som
produzido no edifício pelos materiais nas mesmas, evitando que esse som reflita e
rebata no ambiente, ou seja, reverberação elevada.
Pesquisas empíricas posteriores mostraram que, ao reduzir os níveis de ruído
e eco nos espaços para crianças com autismo, sua atenção se estende, os
tempos de resposta e o temperamento comportamental - medidos por
instâncias de comportamento auto estimulador - melhoram. Essa melhoria
alcançou, em alguns casos, um triplo do tempo de atenção, uma diminuição
de 60% no tempo de resposta e uma diminuição de 60% nos casos de
comportamento auto estimulador (Mostafa 2008, p. 203, tradução nossa 20).

Logo, é necessário, nos ambientes internos, controlar e minimizar os sons, ecos


e reverberações para que o autista tenha foco e tranquilidade. Ao mesmo tempo, em
salas em que o som é necessário (ver figura 44) deve existir boa absorção do som
pela superfície dos materiais do ambiente aliando isso a possibilidade de controle de
acordo com o usuário ou grupo da vez, de forma a trazer o melhor benefício em
conformidade com o grau de autismo da criança (BEAVER, 2006).
Para proteger os autistas dos sons externos, devem-se usar estratégias
construtivas como paredes de alvenaria ou divisórias duplas com preenchimento
interno próprio para isolamento acústico.

20 Further empirical research has shown that by reducing noise levels and echo in spaces for children
with autism, their attention spans, response times and behavioural temperament- as measured by
instances of selfstimulatory behaviour-improved. This improvement reached in some instances a
tripling of attention span, a 60% decrease in response time and a 60% decrease in instances of
selfstimulatory behaviour (Mostafa 2008, p. 203).
83

Figura 44 - Sala de música com estratégias acústicas para uma boa absorção do som: painéis
acústicos, paredes com preenchimento interno, forro acústico e piso emborrachado de PVC.

Fonte: Autora desta monografia (2019).

7.13 Conforto Luminoso

Brownlee (2016), recomenda que a incidência de luz natural deve ser


trabalhada de forma muito cuidadosa, grandes janelas nos ambientes causam aos
hipersensíveis uma resposta ruim e quando não existe o uso de cortinas os autistas
tendem a perder a atenção (ver figura 45).
Já a iluminação artificial, deve ser planejada para atender os diversos usos de
forma variável e controlada fazendo o uso de dimmers e iluminação de foco. A
distribuição de luminárias deve ser feita de forma regular pelo teto, evitando um só
ponto central, além da iluminação geral pontos de luz direcionados com foco em
objetos, espaços e áreas de interesse (BROWNLEE, 2016).
84

Figura 45 - Corredor com uso de Iluminação natural, com cortinas, e iluminação artificial com
distribuição variada de forma a possibilitar controle dependendo de quais serão ligadas.

Fonte: Autora desta monografia (2020).


85

Deve-se evitar o uso de luminárias florescentes tubulares, pois com o tempo,


elas começam a piscar e produzem um som que incomoda os indivíduos com
hipersensibilidade, lâmpadas incandescentes, alógenas e de LED são as mais
indicadas (BEAVER, 2006).
Martins (2011) refere-se a abordagem Snoezelen como uma essência que
procura oferecer ao indivíduo a possibilidade de usufruir de forma livre deste espaço,
em segurança. O autor, define a abordagem como sendo uma sala nomeadamente
projetada para proporcionar estimulação sensorial, com condições apropriadas e
equipamentos especiais, onde o tipo de iluminação indicado é o sistema óptico de
fibras, esse, com feixes de fibras ópticas e luzes de cores diversas, é produzido em
diversos tipos, reproduzindo cascatas de luz, estrelas quando colocado no forro, entre
outros (figura 46). Esse tipo de luz oferece ao autista conforto visual, descontração e
estimulação do sistema sensório visual e tátil, o sistema é utilizado como terapia
devido seus inúmeros benefícios para as crianças dentro do espectro.

Figura 46 - Sala Snoezelen de integração sensorial.

Fonte: Especial Needs. Disponível em: https://www.especialneeds.com/premium-multi-sensory-room-


bundle.html Acesso em: 18 jan. 2020.

7.14 Conforto Térmico

Deve ser feito o uso de ventilação higiênica de forma cruzada (ver figura 47),
para a maior parte dos ambientes, ela renova o ar dos espaços, e traz relaxamento e
bem-estar aos autistas, além de manter a qualidade do ambiente.
86

Figura 47 - Fluxo de ventilação higiênica com o uso de janelas altas.

Fonte: Pinterest. Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/614389574145449129/. Acesso em: 18


jan. 2020.

Para salas de atendimento terapêutico direcionadas a crianças autistas, o uso


de ventilação natural é feito através de janelas altas (ver figura 48), assim promovendo
uma ventilação leve e trazendo conforto aos usuários sem que exista a necessidade
do uso de cortinas para bloqueio da visão externa, que distrai o autista durante as
terapias.

Figura 48 - Planta baixa com esquema de ventilação cruzada.

Fonte: Autora desta monografia (2020).


87

O uso de ventilação artificial nos espaços terapêuticos é a melhor opção, devido


trazer a possibilidade de controle pelo profissional e o poder de escolha da
temperatura ideal para a criança, porém é essencial a escolha de modelos silenciosos,
os aparelhos split, por exemplo, pois o barulho pode distrair e a incomodar as crianças
hipersensíveis, que tem a audição sensível.

7.15 Segurança

Para as crianças com Transtorno do Espectro autista a segurança é um dos


pontos mais importantes, devido a sua percepção do ambiente e de auto localização
no mesmo ser diferente, assim, devido sua baixa consciência corporal, podem andar
batendo e até mesmo caindo em todos os obstáculos, muito próximo de pessoas e
objetos por dificuldades na percepção das distâncias dentro do espaço, muitos ainda,
devido essas características hiposensíveis, possuem alta resistência a dor, fazendo
com que se machuquem e sequer notem o que aconteceu.
A segurança é mais uma preocupação para as crianças com autismo do que
as neurotípicas, devido ao fato de que as pessoas com autismo podem ter
uma sensação alterada de seu corpo dentro do ambiente e podem machucar-
se facilmente ao correr contra paredes e cair escadas (LEESTMA, 2015, p.
38, tradução nossa21).

Logo, são possíveis fazer algumas recomendações acerca de ações de


segurança preventivas:
 Uso de bordas arredondadas;
 Películas em espelhos e vidros resistentes;
 Tomadas embutidas com mecanismo de segurança, para o uso dos
profissionais;
 Quando possível fugir do uso de degraus e escadas, mas caso
necessário, observar a possibilidade de troca por rampas com pisos
antiderrapantes;
 Uso de móveis flexíveis que sejam macios e seguros, evitando que a
criança possa se machucar ao mover;

21Safety is more of a concern for children with autism than their neurotypical peers, due to the fact
that those with autism may have an altered sense of their environment and could easily injure
themselves by running into walls to falling down stairs (LEESTMA, 2015, p.38).
88

 É uma estratégia interessante o uso de armários embutidos a parede,


ou que tomem toda a parede, de forma a prevenir que as crianças
possam subir nos mesmos;
 Evitar o uso de portas sem chave ou fácil abertura, pois a criança pode
prender os dedos;
 Evitar o uso de cordas e semelhantes em locais inadequados (exceto
para terapias com observação) e fechamento de cortinas;
 Não utilizar de materiais escorregadios;
 Deve-se evitar o uso de materiais que possuam cheiros ou possam
absorver odores com facilidade;
Esses são alguns dos pontos importantes no projeto arquitetônico e de
interiores que podem evitar acidentes, porém é importante que seja feita uma análise
em cada ambiente e da melhor forma de aplicação, além da observação de novas
considerações em cada situação (figura 49) (MOSTAFA, 2014).

Figura 49 - Sala de Psicomotocidade: deve ser projetada de forma a atender todos as


recomendações de segurança devido seu alto grau de atividade.

Fonte: Autora desta monografia (2019).


89

7.16 Escala

Conhecido como método montessoriano, o uso de escala reduzida, mais


precisamente com elementos posicionados a altura dos olhos da criança, como em
mobiliários e objetos, prioriza a autonomia e dá segurança para que a criança explore
os espaços (figura 50). A proposta educacional desenvolvida por Maria Montessori é
a educação sensorial.
Em primeiro lugar, pense-se em criar um ambiente adequado, onde a criança
possa agir tendo em vista uma série de interessantes objetivos, canalizando,
assim, dentro da ordem, sua irreprimível atividade, para o próprio
aperfeiçoamento. A criança vai, assim a pouco e pouco, formando sua própria
‘massa encefálica’, servindo-se de tudo que a rodeia. Esta forma de espírito
é comumente denominada ‘espírito absorvente’. É difícil de se imaginar o
poder de absorção do espírito da criança. Tudo que a rodeia penetra nela:
costumes, hábitos, religião. (MONTESSORI, 1965, p.58).

De acordo com Montessori (1965), tudo que é ensinado à criança deve ter uma
ligação com a vida. O enquadramento oportuno dos gestos e ações que a criança
aprendeu, na prática, será um dos maiores esforços que fará.

Figura 50 - Sala de atendimento em grupo lúdica e com móveis montessorianos.

Fonte: Autora desta monografia (2019).


90

7.17 Design Curvilíneo

O uso de paredes curvas (figura 51), para autistas, promove a sensação de


independência e facilita a movimentação aos proprioceptivos, que devido a suas
dificuldades de processamento espacial, possuem problemas em relacionar o próprio
corpo ao espaço e saber onde estão (BEAVER, 2006).

Figura 51 - Corredor curvo.

Fonte: Autora desta monografia (2019).

Por possuírem constância na forma, as curvas, mesmo ao entrar em outro


corredor, não promovem uma quebra abrupta da continuidade como as paredes retas,
trazendo muito mais conforto e direcionamento ao autista.

7.18 Interno x Externo

A relação interno e externo deve promover diferentes percepções e relações


de familiaridade entre o meio e o usuário através da integração entre a paisagem
91

urbana e entorno de forma balanceada, segura e assistida (figura 52).

Figura 52 - Sala para terapias em grupo controladas, com grande janela e cortinas, com vista para
o jardim sensorial, nesse ambiente foram utilizados materiais naturais e cores que lembram o
ambiente externo, propiciando uma integração quando necessária.

Fonte: Autora desta monografia (2019).

7.19 Zoneamento Sensorial

O zoneamento deve ser simples e de fácil compreensão e pode ser dividido de


acordo com o nível de estímulo que pode provocar ao usuário (MOSTAFA, 2014).
Os espaços devem ser organizados de acordo com a qualidade sensorial, e
não com a função programática, típica do projeto arquitetônico. Agrupando
espaços de acordo com seu nível de estímulo permitido, os espaços são
organizados em zonas de alto estímulo e baixo estímulo (LEESTMA, 2015,
p. 37, tradução nossa22).

22 Spaces should be organized in accordance with their sensory quality rather than their programmatic

function, which is typical in architectural design. Grouping spaces according to their allowable stimulus
level, spaces are organized into zones of high-stimulus and low stimulus. (LEESTMA, 2015, p.37).
92

Os estímulos sensoriais devem ser aplicados conforme a necessidade do


ambiente. Para isso, além das necessidades apresentadas pela bibliografia existente,
deve-se ser feita ainda uma entrevista com os profissionais especialistas no
tratamento do autismo, considerando suas estratégias de tratamento para cada
espaço, para assim entender as prioridades de cada ambiente e realizar as melhores
escolhas para o projeto.
Deve-se considerar ainda que os estímulos são percebidos diferentemente
entre hipersensíveis e hiposensíveis, o que pode ser muito estimulante para um, para
o outro não, quando se considera ainda que as crianças com TEA não
necessariamente se encaixam somente em um perfil, podendo ser hiper visuais e hipo
auditivos ao mesmo tempo, ou seja, sensíveis a luzes fortes, porém com pouca
sensibilidade quanto aos sons, criar um ambiente que atenda a estimulação de cada
criança se torna difícil, por isso, trazer a estimulação necessária para a terapia e
atendimento em consenso com o profissional se torna uma boa solução pois o
ambiente se torna terapêutico quando auxilia no tratamento da criança.
O alto estimulo está relacionado ao número de elementos estimulantes em um
só ambiente, causando ao autista uma sobrecarga durante a tentativa de processar o
que está acontecendo. Criar ambientes estimulantes traz benefícios a criança, desde
que sejam aplicados de maneira correta, esse recurso diminui o risco de sobrecarga
sensorial no autista e possibilita o melhor aproveitamento dos recursos como
iluminação, acústica, materiais e cores, além da melhor aprendizagem dos indivíduos
de acordo com suas necessidades.
Se definem como salas onde pode se usar um estimulo mais alto (ver figura
54): salas de dança, cantina, setores de serviço, áreas externas, etc. Já as áreas de
baixo estímulo são as salas de terapia, fonoaudiologia, sala de musicoterapia e outros
ambientes com atividades que exigem foco no profissional e na atividade desenvolvida
(ver figura 53).
93

Figura 53 - Sala de terapia neutra e de baixo estímulo, as “árvores” tem intenção lúdica mas
podem ser desencaixadas (sem oferecer riscos as crianças), caso o profissional prefira.

Fonte: Autora desta monografia (2019).

Figura 54 - Sala de Arte terapia e de alto estímulo.

Fonte: Autora desta monografia (2019).


94

7.20 Zonas De Transição

Segundo Mostafa (2014), as zonas de transição devem estar presentes entre a


passagem de um nível de estimulação para o outro (figura 55).

Figura 55 - Corredor que funciona também como zona de transição entre salas de alto e baixo
estímulo.

Fonte: Autora desta monografia (2019).

Podendo ser feitas através de salas, diferenciação de luz, piso e cores, entre
outras formas criativas, essas “zonas” tem o poder de recalibrar os sentidos do autista,
durante a mudança de um estímulo para o outro, o trazendo segurança e conforto.
Por exemplo, elas sentem maior conforto e controle quando têm uma zona
de transição entre os espaços públicos e privados. Assim como uma varanda
separa a casa da rua, um espaço de transição na forma de um nicho ou
corredor diferenciado separa a sala de aula a partir do corredor principal,
fornecendo informações importantes do ambiente a partir de uma posição
segura e defensiva informações (CRUZ; ABDALA; ANTUNES, 2015, p. 11).
95

7.21 Escape Spaces

As salas ou espaços de fuga são ambientes para que o autista possa ter uma
pausa e descansar após uma hiperestimulação sensorial. Esses espaços devem
fornecer um estímulo sensorial neutro ou baixo (figura 56), ou até ter a possibilidade
de um estímulo personalizável, caso o usuário as forneça (MOSTAFA, 2014).

Figura 56 - Scape space entre salas.

Fonte: Autora desta monografia (2020).

Os espaços de fuga podem ser aplicados de variadas formas, salas em anexo


a ambientes de hiperestimulação, corredores, e até mesmo através de mobiliários
projetados e tendas infantis dentro de qualquer espaço.
96

7.22 Circulação

Nos ambientes de circulação, devem-se evitar o uso e conceito de corredores,


de forma a eliminar o estímulo para que o autista se sinta confuso e corra nesses
espaços (BEAVER, 2006).
Os corredores devem ser projetados de forma que não sejam mais meros
espaços dedicados apenas à circulação. Eles podem ser usados para brincar
ou descansar. Essa abordagem apropria o espaço para as necessidades dos
alunos (LEESTMA, 2015, p.34, tradução nossa23).

Figura 57 - Corredor com espaços de socialização e estímulo.

Fonte: Autora desta monografia (2020).

Espaços para socializar e ficar sozinho (também scape spaces), devem ser
integrados a essas circulações, esses pontos devem ser reconhecíveis e
interessantes para os autistas, estimulando-os ao seu uso (figura 57).

23 Corridors should be designed in such a way that they are not any longer mere spaces dedicated just

to circulate. They can be used for play or rest, this approach appropriates the space for the students’
needs (LEESTMA, 2015, p.34)
97

7.23 Controle

Com base nas diretrizes de Beaver (2006) e Mostafa (2014) pode-se observar
que o controle dos espaços destinados a crianças com TEA é crucial, a equipe
multidisciplinar necessita sempre da flexibilidade nos ambientes, e isso está presente
em quase todas as diretrizes aqui já apontadas.
No layout do projeto pode-se fazer uso de painéis ou divisórias móveis possam
trazer versatilidade ao uso do espaço. Deve-se ainda prever o controle de brinquedos
e elementos de formas criativas como com painéis que os escondam ou armários com
acesso apenas dos profissionais, porém é também válido o uso de nichos e armários
livres, para o uso livre quando necessário (figura 58).
Como já abordado, o controle dos elementos de conforto: luminoso e térmico,
devem ser previstos de forma que seus elementos como luminárias, portas e janelas,
entre outros, com a gerência do profissional propiciem a melhor adaptação da criança
ou terapia durante o seu uso.

Figura 58 - Sala de terapia com luzes e temperatura controláveis.

Fonte: Autora desta monografia (2020).


98

7.24 Família

Além de se pensar espaços para os pacientes e profissionais, em especial no


caso do TEA, é importante prever ambientes para os familiares, esses que tem fator
fundamental no tratamento devem ser bem recebidos e se sentirem tranquilos e
seguros dentro do edifício.
Devem ser projetados espaços de espera e lazer externos e internos amplos,
que podem ter espaços para computadores para trabalhar, brinquedos para outras
crianças e espaços de relaxamento e conversa para que os pais possam se conhecer
e compartilhar experiências com outras famílias (ver figura 59).

Figura 59 - Espaço de espera e descanso para a família do autista.

Fonte: Autora desta monografia (2019).


99

7.25 Profissionais Terapêuticos

Assim como é necessário pensar nos familiares, pensar nos profissionais que
todos os dias lidam com desafios é essencial para seu bem-estar e consequentemente
para o atendimento a criança autista.
A sala de descompressão é um espaço que geralmente grandes empresas
oferecem aos colaboradores para que eles se desconectem um pouco do trabalho.
Seu principal objetivo é promover uma pausa para o relaxamento fazendo com que
voltem às suas atividades revigorados. As salas podem possuir elementos do gosto
dos funcionários, mesas de sinuca, espaços com sofás, jogos, mesas para comer,
rede, entre outros, desde que auxiliem no relaxamento do usuário (figura 60).

Figura 60 - Sala de descompressão.

Fonte: Office Snapshots, disponível em: https://officesnapshots.com/photos/52815/, acesso em: 25 jan.


2020.

7.26 Síntese das Recomendações

O universo lúdico infantil aliado aos princípios da psicologia ambiental,


amparam diretrizes com uma abordagem sensorial, assim como são base para
concepção dos projetos apresentados com sistemas espaciais com diversas
particularidades assim como o Transtorno do Espectro Autista - TEA.
100

Afim de sintetizar as diretrizes aqui explanadas, foi elaborado um quadro


(quadro 7) com as recomendações citadas na pesquisa e com os estímulos
perceptivos que podem ser acionados com elas.
Quadro 7 - Recomendações projetuais para espaços de tratamento e apoio ao autismo.
(continua)
101

(continua)
102

(continua)
103

(conclusão)

Fonte: Autora desta monografia (2020).

Nesse contexto, é importante destacar que o Autismo permanece ainda em


processo de descoberta, e que devido os seus diversos graus e diferentes
características pessoais de cada indivíduo com autismo, as diretrizes aqui apontadas
adquirem um caráter mutável, considerando a possibilidade de futuras mudanças nos
modelos de intervenções adotados, à medida que novos estudos e medidas
terapêuticas avançam afim de um tratamento mais eficaz.
104

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados obtidos nessa pesquisa apontam para a necessidade de um


maior aprofundamento das diretrizes aqui apresentadas. Devido aos diversos graus e
particularidades de cada autista, apesar de existirem características gerais, ainda
assim é necessário pensar em soluções que possam auxiliar os mais diversos casos.
Portanto, além de realizar uma investigação acerca do quanto a arquitetura
pode auxiliar no tratamento e vida da criança autista, a intenção deste trabalho é
também despertar sua continuidade e até mesmo facilitar novas investigações acerca
do tema, além disso abre espaço para que novos direcionamentos do tema possam
surgir, as crianças autistas se tornarão adultos e idosos autistas e com isso surgem
novas necessidades que precisam ser investigadas.
São sugestões para novas pesquisas relacionadas ao autismo dentro do âmbito
da arquitetura e design:
 Avaliação Pós Ocupação de ambientes segundo as teorias do design
neurotípico e do design sensorial;
 Avaliação Pós Ocupação de espaços de tratamento, escolas e moradias
para autistas;
 Recomendações projetuais acústicas para espaços de tratamento e
residenciais para o autismo;
 Avaliações e recomendações acerca dos níveis de estimulação ideais
direcionados a projetos de ambientes de tratamento do autismo;
 Projetos e recomendações projetuais com foco nas terapias para
crianças mais utilizadas hoje, como por exemplo, os métodos ABA e
TEACCH;
 Projetos de arquitetura e recomendações para escolas para crianças
com autismo;
 Projetos de arquitetura e recomendações para espaços amigáveis aos
autistas, dentro de universidades e ambientes comuns como
supermercados, shoppings centers, restaurantes, cinemas, entre outros;
 Projetos de arquitetura e recomendações de hospitais e alas pediátricas
com ambientes amigáveis ou direcionados ao autistas;
 Projetos de jardins e praças sensoriais direcionadas ao público autista;
 Projetos arquitetônicos de clinicas e espaços de tratamento do TEA;
105

 Projetos e recomendações projetuais para habitações de adultos com


autismo;
 Projetos e recomendações projetuais para clínicas, residências e
espaços para idosos autistas;
 Conjuntos e condomínios residenciais para indivíduos com TEA;
As diretrizes aqui apontadas podem demonstrar que mesmo que os
desconfortos que o ambiente causa na mente dos autistas não possam ser
eliminados, pelo menos, concentrando a atenção em estratégias que os beneficiarão
dentro dos edifícios em que moram e serão tratados, pode-se ao menos, tornar o
espaço mais confortável e agradável de ser estar.
Dessa forma, o real partido do trabalho está embasado em preceitos que
podem garantir uma melhor qualidade no espaço arquitetônico para ambientes
terapêuticos e com isso facilitar a idealização de novos projetos, adaptações e
reformas de espaços de tratamento para o autismo.
106

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115

ANEXO A - Indicadores do desenvolvimento e sinais de alerta de acordo com a idade


da criança.
(continua)
116

(continua)
117

(continua)
118

(continua)
119

(continua)
120

(continua)
121

(conclusão)

Fonte: MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2014.

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