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DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO
ROBERTO SBRAGIA
FEA-USP
IVETE RODRIGUES
PGT –FIA
FABIO GONZÁLES
Ivete Rodrigues
Fabio Gonzáles
Roberto Sbragia
Apresentação
Este artigo é composto por cinco capítulos. No capítulo 1 – introdução - é feita uma
contextualização do problema em estudo e são apresentados os objetivos, a questão chave a
ser respondida e as contribuições esperadas. O capítulo 2 traz esclarecimentos sobre o
planejamento e condução do estudo, detalhados nos seguintes aspectos: escolha do método,
modelo de pesquisa, identificação dos estudos de caso e procedimentos de coleta e análise dos
dados. No Capítulo 3 são sumariadas as contribuições recolhidas na literatura disponível sobre
o assunto, com a finalidade de dar sustentação teórica aos casos estudados. São apresentados
temas como evolução da disciplina gerenciamento de projetos; evolução do Escritório de
Gerenciamento de Projetos (EGP); conceito de EGP; fatores motivadores da implementação
de EGPs; papel, benefícios, funções e porte do EGP; modelos de EGP; fatores de sucesso e
fatores restritivos na Implementação do EGP; e, finalmente, a própria implantação do EGP.
Por sua vez, o capítulo 4 faz a análise dos estudos de caso frente a cada uma das variáveis
selecionadas para estudo. No capítulo 5 são apresentadas as conclusões do estudo e tecidas
algumas recomendações para empresas que almejam a implementação de um EGP
1. Introdução
Projetos são os veículos necessários para as mudanças organizacionais empreendidas pelas
empresas a fim de competir num mundo de permanentes desafios e de novas oportunidades.
Exigem o envolvimento de profissionais técnicos que, não raro, possuem formação
insatisfatória em gerenciamento de projetos. Na verdade, grande parte destes profissionais são
envolvidos com as operações rotineiras da empresa e exercem a função de gerentes de projetos
apenas com base em experiência técnica prévia bem sucedida. A implementação do
gerenciamento de projetos (GP) nas empresas, contudo, requer o reconhecimento da disciplina
como algo que demanda do praticante habilidades, atitudes e comportamentos específicos. A
abordagem de gerenciamento de projetos necessita, então, de uma amplitude profissional.
Como indivíduo, o gerente de projetos necessita conhecer e saber usar as ferramentas de
gestão do tempo, custo, escopo e outras. Ao nível organizacional, é imprescindível conhecer o
ambiente do projeto e realizar os esforços necessários para que os recursos humanos e
materiais estejam disponíveis.
Este tem sido o cenário para o crescimento vertiginoso da área de gerenciamento de projetos.
Frame (2001), em palestra proferida no Seminário Internacional “O desafio da competência
em gerenciamento de projetos”, realizado em São Paulo, em 27/11/02, trouxe números
recentes que apontam que em junho de 2001 o PMI – Project Management Institute –
associação que congrega profissionais de gerenciamento de projetos do mundo todo - já
possuía 80.000 membros e contava com 32.000 profissionais certificados. Estes números
ganham relevância quando comparados com aqueles verificados nas décadas de 80 e 90 que
registravam, respectivamente, 8.000 e 25.000 sócios do PMI (Block & Frame, 1998).
Assim como a prática do gerenciamento de projetos tem crescido, há também uma demanda
significativa por um método sistemático de implantação das metodologias, técnicas e
ferramentas de GP no seio das organizações. A demanda por um gerenciamento eficaz, a
multiplicação do número de projetos, bem como a crescente complexidade dos mesmos, são
aspectos que justificam a implementação do Project Management Office (PMO), aqui
traduzido como Escritório de Gerenciamento de Projetos (EGP). Porém, enquanto o interesse
na implantação de EGPs tem crescido, há pouco conhecimento sobre as empresas que já o
fizeram, como eles são configurados e os resultados que têm proporcionado. Esta situação
acima motivou os autores deste trabalho a pesquisar o assunto, a fim de trazer novos
elementos para uma melhor compreensão do que é o Escritório de Gerenciamento de Projetos
e como esse órgão pode ajudar as organizações a obter sucesso nos projetos e nos negócios.
Este trabalho procura responder à seguinte questão chave: como planejar, estruturar e facilitar
a implementação de EGPs nas empresas? Os objetivos específicos do trabalho são: a) estudar
as várias possibilidades de estruturação e implantação de EGPs, observando os fatores de
sucesso e aspectos críticos; b) propor recomendações para empresas que venham a trabalhar
com o planejamento, estruturação e implementação de EGPs, a fim de que essa prática seja
bem sucedida no seio das organizações que atuam no ambiente de projetos.
Espera-se elaborar uma série de recomendações para implementação de EGP que sirvam de
parâmetro para empresas onde o gerenciamento de projetos seja fator de sucesso para o
negócio ou em empresas que precisam administrar a complexidade de conduzir múltiplos
projetos simultaneamente.
2. Metodologia
Foi adotada uma abordagem qualitativa, que pareceu especialmente útil frente à s seguintes
características dentre aquelas destacadas por Merriam (1998): a) o estudo qualitativo baseia-se
na ótica da realidade construída por indivíduos interagindo nos seus mundos sociais; b) é um
esforço para entender situações únicas como parte de um contexto particular e suas interações;
c) a preocupação básica é entender o fenômeno sob a perspectiva dos atores e não do
pesquisador; d) usualmente envolve pesquisa de campo; e) emprega estratégia indutiva de
pesquisa; e (f) é ricamente descritiva, pois enfoca processos, sentidos e conhecimentos.
O estudo de caso foi a opção dos autores em termos de estratégia de pesquisa, pois, de acordo
com Yin (2001, p. 28), esta é a estratégia mais adequada quando “faz-se uma questão do tipo
“como ou por que” sobre um conjunto contemporâneo de acontecimentos sobre o qual o
pesquisador tem pouco ou nenhum controle”. Estas condições parecem perfeitamente
aplicáveis ao presente trabalho tendo em vista que o objeto de estudo é o entendimento de
como um fenômeno recente (o EGP) está sendo implementado nos seios das organizações.
O estudo de caso tem sido extensivamente usado na pesquisa social, especialmente nas
disciplinas que possuem uma forte orientação para a prática como a Administração. Todavia, é
preciso registrar que o método tem algumas limitações, especialmente quanto ao fato de
fornecer pouca base para generalizações científicas uma vez que, por estudar um ou alguns
casos, não se constitui em amostra da população e, por isso, não há possibilidade de
generalizações.
No que diz respeito à seleção dos casos estudados, Merriam (op.cit.) enfatiza que, ao se tratar
de uma pesquisa qualitativa, o uso de amostra não probabilística é o mais indicado. Portanto,
foi usada uma amostra intencional, que consistiu em identificar e selecionar uma amostra onde
fosse possível obter as informações necessárias para o estudo. Desta forma, a pesquisa foi feita
junta a quatro empresas previamente identificadas pelos autores do presente trabalho como
possuidoras de EGP ou estrutura similar, em diferentes setores da economia (tabela 1). Os
participantes da pesquisa foram selecionados em função dos conhecimentos sobre a
metodologia de gerenciamento de projetos, bem como das informações de que dispunham
sobre a implantação da metodologia e do EGP na empresa. A identidade dos entrevistados,
bem como das empresa, foi protegida, não sendo registrada no presente estudo. Tal medida é
uma prática amplamente adotada em estudos qualitativos.
3. Revisão Bibliográfica
Necessidades do Produtos do
Negócio Negócio
Relatórios e Estação
Acompanhamento de Metereológica
Indicadores
De acordo com Rad & Raghavan (2000), quanto mais complexo o modelo adotado,
obviamente maior será a lista de atribuições do EGP. Porém, em geral, os EGPs são
responsáveis por: a) prestar serviços internos em gerenciamento de projetos (treinamento e
desenvolvimento dos profissionais, consultoria interna, acompanhamento de projetos críticos,
etc.), b) desenvolvimento/implementação de métodos, processos e medidas de avaliação (é o
guardião da metodologia de gerenciamento de projetos), c) análise de melhores práticas
(documentação dos sucessos e fracassos, pesquisa externa sobre as melhores práticas) e, d)
repositório da memória técnica dos projetos para que modelos e estimativas possam ser usadas
pelos gerentes de projetos. Além destas funções básicas, há uma tendência de que o EGP deva
estabelecer uma ponte entre a alta administração e os gerentes de projetos, de tal forma a
alinhá-los com as estratégias do negócio.
Os dados coletados parecem indicar uma relação direta entre o grau de sensibilização da
empresa em relação ao tema EGP e o quanto projetos são atividade fim para as organizações
pesquisadas. Ou seja, quanto maior o grau de dependência financeira da empresa em relação
aos seus projetos, maior a preocupação com a eficiência dos processos de gerenciamento dos
mesmos. Empresas como a Gama-Telecom e a Delta T.I. parecem estar em um patamar acima
em termos de integração entre os projetos, mediante a utilização do EGP, exatamente pelo fato
de existir uma grande dependência entre os resultados dos projetos e os resultados dos
negócios.
Além deste aspecto, há vários outros fatores motivadores identificados junto à s empresas
estudadas a seguir relacionados:
• Necessidade de garantia da utilização de uma metodologia de GP e necessidade de
padronização do método de gerenciamento de projetos. O EGP está sempre relacionado à
difusão dos conceitos e da cultura do Gerenciamento de Projetos. Nos casos estudados e na
literatura são freqüentes as referências ao EGP como meio para desenvolvimento de uma
metodologia de GP na empresa.
• A consolidação dos resultados de vários projetos foi uma motivação encontrada muito
mais na literatura do que nos casos estudados. No caso da Alfa-Aéreo é citada uma relação
direta entre a necessidade de um EGP e a otimização dos processos de negócio e dos
resultados da empresa, mas o EGP ainda é embrionário. Na Delta T.I. os indicadores dos
projetos são consolidados pelo EGP, mas isto é mais uma atribuição operacional que surge do
desdobramento do desenvolvimento do EGP do que um motivador para a sua implementação.
Disto pode-se inferir que a quantificação dos benefícios de um EGP e do seu impacto na
racionalização dos recursos de projetos não é comum na prática, apesar de ser considerado
importante pela literatura.
• A necessidade de controlar vários projetos simultâneos é um motivador importante, tanto
para a literatura quanto nos casos onde projetos são diretamente responsáveis pelas receitas da
empresa.
• Tanto do ponto de vista da literatura quanto dos casos estudados, o gerenciamento do
conhecimento em GP é considerado uma atribuição importante do EGP, uma vez que esse tipo
de estrutura facilita a troca de experiências entre projetos e documenta as lições aprendidas.
Esse fator está diretamente relacionado ao grau de sensibilização do tema na organização.
• Um dos motivadores que aparecem com freqüência na literatura é o papel de mediador do
EGP na possível racionalização dos recursos da empresa. No caso da Gama-Telecom, apesar
de os recursos serem administrados/alocados pelo EGP, este benefício não é claramente
percebido. Também não foi percebido nos demais casos, onde os EGPs são mais enxutos.
Talvez esta preocupação pertença a um estágio mais avançado do EGP, onde ele venha a
determinar os recursos dos projetos. Este benefício é percebido de forma indireta, denunciando
que decisões sobre implementação de EGP podem ser tomadas sem um análise de viabilidade
e retorno (business case) convincente, o que de certa forma pode levar a uma implementação
ad hoc ou a uma posição politicamente mais fraca do EGP na empresa.
• Em um dos casos, Gama-Telecom, o EGP foi motivado pela necessidade de padronização
de metodologia para a execução de projetos. A literatura sobre o tema não recomenda essa
abordagem devido ao potencial de resistências que ela pode trazer, frente à percepção de
intervenção do EGP no projeto. A distinção entre as metodologias de implementação do
projeto e de gerenciamento de projetos é importante para o sucesso do EGP. É importante,
ainda, reconhecer as práticas já existentes, aperfeiçoando-as. Ou seja, no que diz respeito à
metodologia, uma estratégia bottow-up é mais recomendada.
O porte do EGP varia conforme a necessidade e a complexidade dos projetos, bem como de
acordo com as funções e responsabilidades a ele designadas. Nos casos estudados foram
encontrados EGPs com 60 funcionários (Alfa-Aéreo); 34 funcionários (Beta-Química); 94
funcionários (Gama-Telecom) e 6 funcionários (Delta T.I.), demonstrando que não há
nenhuma convergência quanto a este aspectos nos casos estudados. Gama-Telecom e Delta
T.I. são pólos opostos, apesar de possuírem modelos de EGP conceitualmente similares. O
porte é maior quando os Gerentes de Projetos são vinculados ao EGP, como no caso da Gama-
Telecom, mas neste ponto não existe uma melhor prática devido à variedade de alternativas
como as apresentadas pela literatura e confirmadas pelos casos estudados.
5. Conclusões
A partir da comparação entre a literatura e a prática verificada nos casos estudados, foi
possível tecer uma série de análises apresentadas no capítulo anterior. As conclusões obtidas e
que ora são relatadas revelam o que foi possível compreender à respeito do fenômeno EGP.
A demanda por um gerenciamento eficaz, a multiplicação do número de projetos, bem como a
crescente complexidade dos mesmos são aspectos que justificam a implementação de um
EGP. Mas como planejar, estruturar e facilitar a implementação de EGPs nas empresas? Para
responder a esta questão, os autores, além da realização de pesquisa bibliográfica, estudaram
quatro empresas previamente identificadas como possuidoras de EGP ou estrutura similar, em
diferentes setores da economia: aeroespacial, telecomunicações, tecnologia da informação e
indústria química.
Tanto na literatura quanto na pesquisa, constatou-se uma grande diversidade de modelos e
funções que o EGP pode assumir, dependendo do estágio de evolução da disciplina de gestão
de projetos na empresa, do quão intensiva a empresa é em desenvolvimento de projetos, do
tipo de estrutura organizacional, dentre outros fatores. Há desde EGPs que têm a única função
de reportar a performance dos projetos até aqueles que participam da definição das estratégias
empresariais e são responsáveis pelo corpo de profissionais da área. O EGP pode ter um foco
apenas em processos internos (planejamento, gerenciamento de pessoas, execução, controle de
mudanças, etc.), mas também pode se responsabilizar pelas interfaces externas (satisfação do
cliente, comunicação com os stakeholders, etc.).
Apesar dessa variedade, pode-se dizer que, em geral, os EGPs são responsáveis por: a) prestar
serviços internos em gerenciamento de projetos (treinamento e desenvolvimento dos
profissionais, consultoria interna, etc.); b) desenvolvimento/implementação de métodos,
processos, ferramentas e medidas de avaliação de projetos; c) análise de melhores práticas
(documentação dos sucessos e fracassos, pesquisa externa sobre as melhores práticas); d)
repositório da memória técnica dos projetos e das lições aprendidas para que modelos e
estimativas possam ser usadas pelos gerentes de novos projetos.
Tão importantes quanto o formato, funções ou organização do EGP parecem ser as barreiras
políticas a serem superadas, principalmente as referentes a conflitos típicos da estrutura
matricial, como o duplo comando. A adoção do EGP passa por definição de padrões,
procedimentos, processos, formatos comuns a diversos projetos. Isto implica em elaboração e
utilização de meios formais de comunicação e documentação. Resistências podem vir daí se os
benefícios não forem bem compreendidos. Diante deste quadro, a questão do patrocínio da alta
administração passa a ter papel fundamental na implementação do EGP.
A implementação de um EGP em uma organização deve estar alinhada com as estratégias de
negócios da empresa, pois projetos são formas de implementação destas estratégias e, quanto
mais eficaz sua administração, mais cedo os benefícios esperados para o negócio poderão ser
atingidos, e com o menor gasto de recursos. É consenso entre as empresas pesquisadas e a
literatura que alguma área dentro da empresa deva ser responsável por introduzir e garantir a
utilização de metodologia de GP. Cada caso requer um estudo de viabilidade que considere o
grau de maturidade em gerenciamento de projetos, impacto dos projetos nos resultados do
negócio, complexidade dos projetos, graus de suporte na organização, expectativas com
relação ao EGP e os benefícios que ele pode gerar. Com a clara demonstração de benefícios e
uma abordagem planejada como um projeto, os conceitos envolvidos podem ser melhor
compreendidos e os conflitos na implementação do EGP podem ser minimizados ou melhor
administrados.
O EGP traz uma necessidade de maior transparência no gerenciamento de projetos e uma
relativa perda de poder por parte dos gerentes de projetos. No entanto, é também uma forma
de valorização da carreira do gerente de projetos, que passa a ser reconhecida e a receber um
tratamento que considera a sua especificidade. Também está presente uma noção de que há
uma maior burocratização dos processos de gerenciamento. A medida certa entre
balanceamento de poder e normalização de procedimentos deve ser alcançada.
Porém, na maioria dos casos observados não existe, ainda, um histórico comprovando a
eficácia do EGP, pois os resultados ainda não puderem ser quantificados de maneira
sistemática. Um ponto chave, portanto, parece ser a necessidade de criação de um método para
desenvolvimento de justificativas econômicas e demonstração dos benefícios do EGP que dê
suporte à s empresas que o vêem como forma de melhorar a eficácia do gerenciamento de
projetos.
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