INTERSECÇÕES ENTRE CONHECIMENTO E PODER EM

MOÇAMBIQUE: EXPLORANDO AS DINÂMICAS SOCIAIS,

POLÍTICAS E CULTURAIS.

INTERSECTIONS BETWEEN KNOWLEDGE AND POWER IN

MOZAMBIQUE: EXPLORING SOCIAL, POLITICAL AND CULTURAL
DYNAMICS.

INTERSECCIONES ENTRE CONOCIMIENTO Y PODER EN

MOZAMBIQUE: EXPLORANDO LAS DINÁMICAS SOCIALES,
POLÍTICAS Y CULTURALES.
Deve, Luís Benedito
Doutorando em Estudos de Desenvolvimento
Universidade Politécnica
Moçambique
luisdeve@gmail.com
https://orcid.org/0000-0002-5859-7255

RESUMO Moçambique. Diante dessas constatações, é

O presente estudo, intitulado "Intersecções Entre
Conhecimento e Poder em Moçambique:
Explorando as Dinâmicas Sociais, Políticas e
Culturais.’’ realizado como avaliação no módulo
Epistemologias I, buscou-se analisar as
complexas relações entre conhecimento e poder
no contexto moçambicano. Adoptou-se uma
abordagem qualitativa fenomenológica para
compreender essas interações. A amostra incluiu
35 participantes, e a colecta de dados ocorreu
por meio de um questionário no Google Forms,
cujo link foi compartilhado. Os resultados
revelaram que aproximadamente 70% dos
participantes ainda consideram um desafio
significativo o acesso ao conhecimento. Além
disso, cerca de 60% identificaram questões
culturais como um desafio, juntamente com a
falta de inclusividade na política educacional.
Surpreendentemente, aproximadamente 80% dos
participantes perceberam a persistente influência
do colonialismo na gestão do poder em
crucial a reformulação do modelo de gestão do
conhecimento e poder, priorizando a inclusão e a
expansão desses elementos para agregar valor ao
bem-estar comum em Moçambique,
promovendo uma abordagem mais inclusiva e
democrática.
Palavras Chave: Conhecimento, Moçambique,
Poder.
ABSTRACT
The present study, entitled "Intersections
Between Knowledge and Power in
Mozambique: Exploring Social, Political and
Cultural Dynamics." carried out as an evaluation
of the Epistemologies I module, sought to
analyze the complex relationships between
knowledge and power in the Mozambican
context. a qualitative phenomenological
approach was used to understand these
interactions. The sample included 35
participants, and data collection occurred
through a questionnaire on Google Forms, the
link to which was shared. The results revealed
that approximately 70% of participants still
consider it a significant challenge access to
knowledge. Furthermore, around 60% identified
cultural issues as a challenge, along with the
lack of inclusivity in educational policy.
Surprisingly, approximately 80% of participants
perceived the persistent influence of colonialism
in the management of power in Mozambique.
Based on these findings, it is crucial to
reformulate the knowledge and power
management model, prioritizing the inclusion
and expansion of these elements to add value to
common well-being in Mozambique, promoting
a more inclusive and democratic approach.
Keywords: Knowledge, Mozambique, Power.
RESUMEN
El presente estudio, titulado "Intersecciones
entre conocimiento y poder en Mozambique:
exploración de las dinámicas sociales, políticas
y culturales", realizado como evaluación en el
módulo de Epistemologías I, buscó analizar las
complejas relaciones entre conocimiento y poder
en el contexto mozambiqueño. Para comprender
estas interacciones se utilizó un enfoque
fenomenológico cualitativo. La muestra estuvo
compuesta por 35 participantes, y la recolección
de datos se produjo a través de un cuestionario
en Google Forms, cuyo enlace se compartió. Los
resultados revelaron que aproximadamente el
70% de los participantes aún consideran un
desafío importante el acceso. Además, alrededor
del 60% identificó las cuestiones culturales
como un desafío, junto con la falta de inclusión
en la política educativa. Sorprendentemente,
aproximadamente el 80% de los participantes
percibió la influencia persistente del
colonialismo en la gestión del poder en
Mozambique. , es crucial reformular el modelo
de gestión del conocimiento y el poder,
priorizando la inclusión y expansión de estos
elementos para agregar valor al bienestar común
en Mozambique, promoviendo un enfoque más
inclusivo y democrático.
Palabras clave: Conocimiento, Mozambique,
Poder.
INTRODUÇÃO
Moçambique, uma nação de rica diversidade
cultural e desafios socioeconómicos
complexos, é um cenário onde as
intersecções entre conhecimento e poder
desempenham um papel destacável. O
conhecimento não é apenas uma ferramenta
de transformação individual, mas também
um elemento que molda as estruturas
sociais, a tomada de decisões políticas e a
distribuição de recursos. Uma compreensão
aprofundada de como o conhecimento é
adquirido, disseminado e aplicado em
Moçambique é fundamental para abordar
questões críticas de desigualdade, exclusão
social e crescimento sustentável.
Esta pesquisa analisa como as diferenças
culturais desempenham um papel nas esferas
de poder, avaliar o impacto duradouro da
história colonial na configuração das
relações contemporâneas e examinar
criticamente as políticas educacionais em
vigor, avaliando sua eficácia na promoção
da igualdade de acesso ao conhecimento.
Outro aspecto importante da pesquisa é a
análise do papel crescente da tecnologia e da
internet na distribuição do conhecimento em
Moçambique, considerando como essas
ferramentas podem ser alavancadas para
superar barreiras geográficas e
socioeconómicas.
Problema da pesquisa
Em Moçambique, as relações entre
conhecimento e poder desempenham um
papel fundamental nas dinâmicas sociais,
políticas e culturais do país. No entanto, a
compreensão completa dessas interações
complexas e suas implicações ainda é
limitada. O problema central deste estudo
reside na necessidade de investigar e
analisar as intersecções entre conhecimento
e poder em Moçambique, identificar como
essas interações moldam e são moldadas
pelas dinâmicas sociais, políticas e culturais.
Especificamente, é crucial examinar como o
acesso ao conhecimento é influenciado por
relações de poder, como o conhecimento é
utilizado como uma ferramenta política e
como as crenças culturais afectam a
transmissão e a apropriação do
conhecimento. O centro do problema é a
interação complexa entre conhecimento e
poder em Moçambique, influenciando e
sendo influenciado pelas dinâmicas sociais,
políticas e culturais do país.
Objectivos do estudo
Este estudo aprofunda a compreensão das
complexas relações entre conhecimento e
poder em Moçambique, focando nas
dinâmicas sociais, políticas e culturais.
Analisa o impacto do poder no acesso ao
conhecimento, pesquisa as implicações
políticas dessas relações e explora as
interações entre conhecimento e cultura.
Intersecções de Conhecimento e Poder
As interseções entre conhecimento e poder
em Moçambique têm implicações
significativas nas dinâmicas sociais e
políticas. Segundo Foucault (1977, p. 65),
esses pontos de encontro ocorrem quando o
conhecimento se entrelaça com as estruturas
de poder, moldando e sendo moldado por
elas. Isso reflete como o conhecimento, seja
cultural, acadêmico ou prático, é utilizado
para consolidar ou desafiar as relações de
poder no país. Santos (2006, p. 45) propõe
uma epistemologia do Sul, e desafia a
hegemonia do conhecimento ocidental, o
que pode ser relevante para Moçambique ao
valorizar o conhecimento local e contestar
hierarquias impostas. Em síntese, as
intersecções entre conhecimento e poder em
Moçambique não são neutras, sendo
influenciadas pelo poder e impactando
profundamente as relações sociais e políticas
(Foucault, 1977; Santos, 2006).
Conhecimento
Locke (1690) define conhecimento como a
percepção da concordância ou discordância
entre as ideias, destacando a influência da
experiência sensorial e do processamento
mental das ideias. Por outro lado, Gettier
(1963, pp. 121-123) questiona a definição
tradicional de conhecimento, apresentando
casos nos quais crenças verdadeiras e
justificadas não garantem conhecimento
genuíno. Essas perspectivas ilustram
abordagens filosóficas distintas, abordar
desde a justificação da crença até a análise
das ideias. Cada autor contribui para a
compreensão em constante evolução do
conceito de conhecimento (Locke, 1690;
Gettier, 1963).
Poder
Weber (1978) define o poder como a
capacidade de um indivíduo ou grupo impor
sua vontade sobre outros, mesmo contra
resistência, abrangendo formas políticas,
econômicas e sociais. Destaca a autoridade
como poder legítimo, contrastando com o
coercitivo. Já Foucault (1980) concebe o
poder como uma rede de relações e
estruturas sociais, moldando o
comportamento através de mecanismos de
controle e disciplina. Ele explora como o
poder se manifesta nas normas sociais,
regulando áreas como a sexualidade. Essas
perspectivas divergentes, de Weber e
Foucault, enriquecem a compreensão do
poder na teoria social e política.
A Epistemologia das Relações entre
Conhecimento e Poder em Moçambique
O impacto da colonização na transmissão e
valorização do conhecimento em
4
Moçambique é evidenciado por Thiong'o
(1986, p. 35), destaca a interligação entre
língua, sistema educacional e poder. Santos
(2006:72) propõe uma epistemologia do Sul,
e desafiar a hegemonia do conhecimento
ocidental, relevante em Moçambique para
valorizar abordagens locais e indígenas. A
perspectiva decolonial, de autores como
Quijano (2007, p. 34), sugere descolonizar o
conhecimento, com implicações
significativas para Moçambique, uma nação
pós-colonial. Através da lente
epistemológica, é possível desvendar as
complexas maneiras pelas quais o poder
influenciou o conhecimento em
Moçambique, instiga também reflexões
sobre a redefinição das estruturas
epistemológicas para uma sociedade mais
justa e inclusiva.
Dinâmicas Sociais em Moçambique
O sistema educacional colonial em
Moçambique favoreceu a língua portuguesa,
gerando desigualdades linguísticas e sociais
significativas (Medeiros, 2005, pp. 45-62).
Essa abordagem contribuiu para uma divisão
entre aqueles com acesso à educação em
língua portuguesa e os que não tinham,
impactando profundamente a estrutura social
do país. A rica diversidade cultural
moçambicana, embora enriquecedora, pode
ser fonte de tensões e conflitos, e destaca a
importância de compreender as identidades
culturais em constante evolução para
promover a coexistência pacífica (Macamo,
2008, pp. 91-109). Esses elementos
históricos e culturais são fundamentais para
entender as complexidades sociais em
Moçambique.
Dinâmicas políticas em Moçambique
O estudo recorreu à fábula O Lobo e o
Cordeiro para explicar como funciona a
política, o conhecimento e o poder em
Moçambique.
Fábula: O Lobo e o Cordeiro
Um cordeiro estava bebendo água num riacho. O
terreno era inclinado e por isso havia uma
correnteza forte. Quando ele levantou a cabeça,
avistou um lobo, também bebendo da água.
- Como é que você tem a coragem de sujar a água
que eu bebo - disse o lobo, que estava alguns dias
sem comer e procurava algum animal apetitoso para
matar a fome.
- Senhor - respondeu o cordeiro - não precisa ficar
com raiva porque eu não estou sujando nada. Bebo
aqui, uns vinte passos mais abaixo, é impossível
acontecer o que o senhor está falando.
- Você agita a água - continuou o lobo ameaçador -
e sei que você andou falando mal de mim no ano
passado.
- Não pode - respondeu o cordeiro - no ano passado
eu ainda não tinha nascido.O lobo pensou um pouco
e disse:
- Se não foi você foi seu irmão, o que dá no mesmo.
- Eu não tenho irmão - disse o cordeiro - sou filho
único.
- Alguém que você conhece, algum outro cordeiro,
um pastor ou um dos cães que cuidam do rebanho, e
é preciso que eu me vingue. Então ali, dentro do
riacho, no fundo da floresta, o lobo saltou sobre o
cordeiro, agarrou-o com os dentes e o levou para
comer num lugar mais sossegado.
MORAL: A razão do mais forte é
aparentemente a melhor.
La Fontaine, J. (Fonte:
[https://www.pensador.com/frase/ODEwMzk1/] )
A fábula do cordeiro e do lobo pode ser
relacionada a questões de conhecimento,
poder e política em Moçambique. O lobo,
como figura de poder, usa seu poder para
manipular o cordeiro e justificar suas ações
injustas, reflectindo como o poder
frequentemente distorce o conhecimento
para servir a seus interesses. O uso do medo
e da intimidação para controle, a falta de
5
transparência e justiça, a manipulação da
verdade e a necessidade de empoderamento
e conscientização são temas evidentes na
fábula, ela destaca a importância de uma
sociedade informada, transparente e justa
para equilibrar as dinâmicas de poder
desiguais.
Dinâmicas Culturais em Moçambique
Couto (2013) explora a intersecção entre
conhecimento e cultura na literatura
moçambicana contemporânea, destacando
como os escritores abordam questões
culturais e identitárias em suas obras. Ele
enfatiza a literatura como uma ferramenta
poderosa para explorar as ricas heranças
culturais de Moçambique, assim promove a
conscientização sobre a complexidade da
identidade moçambicana. Por outro lado,
Patraquim (2000) utiliza a poesia para
explorar as dinâmicas culturais
moçambicanas, focando na experiência da
diáspora e na busca da identidade cultural
em contextos de deslocamento. Ambos os
autores oferecem perspectivas valiosas sobre
como conhecimento, cultura e identidade se
entrelaçam em Moçambique, contribuindo
significativamente para a compreensão da
sociedade moçambicana contemporânea.
A Importância das Intersecções entre
Conhecimento e Poder em Moçambique
Segundo Machel (2001), "a educação é a
chave para desbloquear o potencial humano
e construir sociedades mais justas e
equitativas". Graça Machel tem sido uma
voz incansável na promoção do acesso à
educação como um direito fundamental para
todas as crianças, contribuindo
significativamente para a melhoria das
condições sociais e culturais em
Moçambique. Suas ações e palavras
inspiram um compromisso contínuo com a
construção de um futuro mais igualitário e
capacitado por meio do conhecimento.. Por
outro lado, Costa (2016) oferece uma análise
profunda das influências coloniais nas
dinâmicas sociais moçambicanas,
explorando como o conhecimento foi usado
para perpetuar o poder colonial e impactou o
processo de descolonização. Esses autores,
representando diversas perspectivas,
contribuem para a compreensão das
complexas interações entre conhecimento e
poder em Moçambique, abordando questões
fundamentais como educação, identidade e o
legado colonial no contexto moçambicano.
MATERIAIS E MÉTODOS
A pesquisa adoptou uma abordagem
qualitativa fenomenológica, centrada na
compreensão das experiências subjectivas
das pessoas, influenciada pela perspectiva de
Husserl (1913). A amostra de 35
participantes foi selecionada com base em
critérios relevantes para o tópico, visando
atingir a saturação de dados. O questionário
fechado no Google Forms, com questões
abertas, foi utilizado para colectar dados,
permitindo uma análise mais rica das
respostas. A análise dos dados, organizados
em categorias e temas comuns,
proporcionou uma compreensão
aprofundada do fenômeno, revelando
informações valiosas (Creswell, 2013;
Manen, 1990; Patton, 2015).
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS
RESULTADOS
Distribuição Desigual do Acesso ao
Conhecimento em Moçambique
O estudo identificou uma notável
disparidade na distribuição do conhecimento
entre áreas urbanas e rurais em
Moçambique, influenciada por factores
como tecnologia, políticas governamentais,
qualidade das fontes de conhecimento,
infraestrutura educacional e diferenças
culturais. A análise comparativa entre alunos
6
de escolas primárias urbanas e rurais revelou
que os primeiros geralmente têm acesso a
um conhecimento mais amplo e actualizado.
Freire (1970) destaca a importância da
educação na libertação das pessoas da
opressão, enfatizando a necessidade de um
sistema educacional inclusivo. A
distribuição desigual do acesso à educação
em Moçambique pode ser interpretada como
uma forma de opressão que perpetua as
desigualdades sociais. Sen (1999) argumenta
que a educação é essencial para expandir as
capacidades e liberdades das pessoas, e a
disparidade no acesso à educação no país
representa uma restrição significativa das
liberdades e oportunidades, especialmente
para grupos marginalizados.
Gráfico 1:Distribuição Desigual do Acesso ao
Conhecimento em Moçambique
Avaliação das Políticas Educacionais em
Moçambique para Promover a Igualdade
no Acesso ao Conhecimento
Os entrevistados (94%) expressaram críticas
às políticas educacionais em Moçambique,
destacando a falta de inclusividade e
eficácia. As lacunas na utilização da
tecnologia, alfabetização e na qualidade dos
profissionais da educação foram apontadas
como obstáculos ao desenvolvimento do
país e prejudiciais à promoção da igualdade
no acesso ao conhecimento. Portanto, há um
apelo para a revisão das políticas
educacionais, priorizando a inclusão e a
qualidade da educação para impulsionar o
desenvolvimento sustentável. Illich (1970)
questiona o modelo convencional de
educação, defendendo uma abordagem mais
autônoma na busca do conhecimento.
Mbembe (2001) destaca a conexão entre o
poder político e o controle das estruturas do
Estado, e é relevante para a análise das
políticas educacionais em um contexto pós-
colonial como Moçambique.
Gráfico 2: Políticas Educacionais em Moçambique
para Promover a Igualdade no Acesso ao
Conhecimento
O Papel da Tecnologia e da Internet na
Distribuição do Conhecimento em
Moçambique
O avanço da tecnologia e da internet em
Moçambique oferece oportunidades
significativas para aprimorar o acesso ao
conhecimento, especialmente em áreas
urbanas e regiões mais desenvolvidas.
Contudo, é crucial reconhecer que a
distribuição desigual de recursos
tecnológicos e a falta de infraestrutura em
áreas rurais podem criar disparidades no
acesso ao conhecimento. Nesse contexto,
políticas e estratégias inclusivas são
essenciais para garantir que a tecnologia e a
internet beneficiem toda a população
moçambicana. Castells (1996) destaca o
papel fundamental da tecnologia da
informação e da internet na transformação
da sociedade contemporânea, sendo
elementos-chave no contexto moçambicano,
especialmente em áreas urbanas. Unwin
(2009) enfatiza como as Tecnologias de
Informação e Comunicação (TIC) podem ser
poderosas para alcançar metas de
desenvolvimento, incluindo o acesso à
educação e ao conhecimento.
7

Gráfico 3: Papel da Tecnologia e da Internet na
Distribuição do Conhecimento em Moçambique
Influência Contínua da História Colonial
nas Relações de Poder em Moçambique
O estudo utilizou a música "As Mentiras" de
Azagaia, do álbum "Babalaza" de 2007,
como meio para ilustrar a influência da
história colonial na gestão do poder em
Moçambique. Cerca de 88,6% dos
participantes reconheceram a relevância
desse legado colonial nas dinâmicas de
poder do país. A letra da música, que aborda
desigualdades e dependência, espelha as
preocupações dos participantes sobre a
relação entre conhecimento e poder,
conectando-as ao impacto duradouro do
colonialismo.
A música faz críticas contundentes à
desigualdade, ao subdesenvolvimento e à
dependência, todos os quais estão
intrinsecamente ligados às dinâmicas de
conhecimento e poder em Moçambique e em
toda a África. Azagaia destaca a importância
de questionar essas desigualdades e desafiar
a narrativa das "mentiras" que muitas vezes
permeiam as questões de conhecimento e
poder no continente africano.
Trechos da música "As Mentiras" de
Azagaia:
"Quando um branco compra uma bicicleta, o outro
branco compra uma mota / E depois outro branco
compra um carro e o outro depois compra um avião /
Mas quando um negro compra uma bicicleta / Sabem
o que faz o outro negro? / Fura o pneu dessa
bicicleta he he he"
"E adoramos ser patrões, negros adoram mandar /E
é só pra ter dinheiro que a juventude está a estudar"
"E quanto mais branco parecer, mais esse negro se
orgulha / Acredita se o branco prometer meter um
camelo pela agulha / Porque o branco para o negro
está acima de qualquer suspeita"
Azagaia (2007). "As Mentiras" do álbum
"Babalaza".
Gráfico 4: Influência Contínua da História Colonial
nas Relações de Poder em Moçambique
Desafios para Superar as Desigualdades
de Poder Relacionadas ao Conhecimento
em Moçambique
Os dados revelam preocupações
significativas em relação ao acesso à
educação de qualidade, com cerca de 70%
dos participantes identificando problemas
nessa área. Além disso, a discriminação
cultural e étnica é destacada como um
obstáculo à inclusão e ao processo de
aquisição de conhecimento entre os
entrevistados. Isso ressalta a necessidade
urgente de políticas educacionais que
abordem essas disparidades e promovam um
ambiente mais inclusivo e equitativo para
todos os aprendizes.
8
Gráfico 5:Desafios para Superar as Desigualdades
de Poder Relacionadas ao Conhecimento em
Moçambique
O que vai ao encontro dos argumentos de
Fanon (1963), que diz que o colonialismo
impôs uma visão de mundo eurocêntrica
sobre as sociedades colonizadas,
perpetuando desigualdades de poder. A
perspectiva de Fanon é relevante para
entender como o conhecimento e o poder se
entrelaçam em Moçambique.
Complementado por Said (1978), dizendo
que essa construção de conhecimento serviu
para justificar a dominação ocidental sobre
as regiões orientais, incluindo partes da
África. A perspectiva de Said ajuda a
elucidar como o conhecimento é
frequentemente usado como uma ferramenta
de poder.
Comparação da Situação de Moçambique
com Outros Países Africanos nas
Interseções entre Conhecimento e Poder
A pesquisa indicou que aproximadamente
82% dos entrevistados percebem a situação
de Moçambique em relação ao
conhecimento e poder como menos
favorável em comparação com outros países
africanos. Embora essa percepção possa ser
influenciada pela falta de conhecimento
detalhado sobre outras nações africanas, ela
reflete uma insatisfação significativa com a
actual condição do país. Essa constatação
destaca a urgência de políticas e estratégias
que busquem uma distribuição mais
equitativa do conhecimento e poder em
Moçambique, visando melhorar as
condições sociais, políticas e culturais.
Mbembe (2003) destaca a relação entre
poder político e controle sobre a vida e a
morte, aplicável para entender como o poder
é exercido por meio do acesso ao
conhecimento, educação e saúde em
Moçambique e outros países africanos.
Autores contemporâneos, como Rose (2019)
e Ramphele (2013), destacam a falta de
acesso à educação de qualidade como um
desafio comum que afeta o poder das
pessoas em adquirir conhecimento e
melhorar suas vidas, possibilitando a
identificação de semelhanças nas questões
educacionais ao serem comparadas com
outros países africanos.
Gráfico 6:Comparação da Situação de Moçambique
com Outros Países Africanos nas Interseções entre
Conhecimento e Poder
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dados indicam desigualdade na distribuição
do conhecimento entre áreas urbanas e rurais
perpetua desigualdades sociais.
Os participantes da pesquisa indicam que às
políticas educacionais evidenciam
deficiências em tecnologia, alfabetização e
qualidade dos profissionais da educação,
ligando conhecimento, poder e políticas
educacionais.
Questões culturais, como discriminação
étnica, são obstáculos à inclusão e aquisição
de conhecimento, exigindo abordagem para
promover acesso.
Desafios no acesso ao conhecimento,
políticas educacionais e influências culturais
em Moçambique destacam a necessidade de
reformulação no modelo de gestão do
conhecimento e poder para promover
igualdade na sociedade.
Limitações do estudo
9
O estudo, embora valioso, tem limitações,
como a amostra pequena, foco nas
percepções dos participantes, falta de
comparação internacional detalhada e
dependência da tecnologia.
Impactos Acadêmico, Científico e Social
Contribuição Científica: Este estudo
acrescenta significativamente ao
conhecimento acadêmico, oferecendo uma
abordagem fenomenológica valiosa para
entender as complexas interações entre
conhecimento e poder.
Importância Acadêmica: Ao enriquecer os
estudos africanos, o trabalho destaca a
necessidade de investigações aprofundadas
sobre as disparidades no acesso ao
conhecimento, contribuindo para um corpo
de conhecimento mais abrangente.
Relevância Social: O estudo aponta
questões críticas nas políticas educacionais e
nas influências culturais, destacando áreas
de melhoria para promover equidade social e
fortalecer as comunidades em Moçambique.
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