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Alguns de nós muitas vezes pensamos que carisma é algo restrito a outra
pessoa, ou que está ligado ao que a pessoa faz, “porque fulano prega bem, canta ou
dança etc”. Na verdade, o carisma não está ligado ao que a pessoa faz, mas ao que a
pessoa é. O carisma é um chamado especial e único que Deus coloca em nós desde o
momento em que nos dá vida, por isso podemos dizer que o carisma faz parte da
nossa vida. Cada um de nós traz em si, na sua essência mais profunda, um carisma
que dá sentido a nossa existência, um chamado a ser de determinado modo e de
realizar algo, isso é carisma. A vocação de ser chamado à liberdade.
O carisma nos toca no modo (forma) como devemos viver nossa vida cristã. O
carisma é o caminho que Deus quis nos presentear para estarmos ainda mais perto
d’Ele. Todos nós somos convidados a descobrir o carisma pelo qual somos chamados,
alguns de nós já casados e sentimos falta de algo, nesse caso o carisma (carimbo) que
todos nós temos, outros que ainda estão discernindo seu estado de vida para então
assumir seu “lugar” nesta missão, pode haver também no meio de nós consagrados
celibatários, e isso só é possível discernir com um caminho claro do carisma e
intimidade com Deus e posteriormente na direção espiritual junto com um caminho
vocacional específico. Muitos de nós ouvimos falar de carisma já depois de adultos e
às vezes ainda nem entendemos direito. Aqueles que ainda são jovens, não tem seu
estado de vida definido (se casa ou compra bicicleta), é aconselhável que primeiro
busque se encontrar dentro do carisma, entendendo a sua identidade e depois junto
com um diretor espiritual possa discernir a sua vocação de estado de vida (matrimônio,
celibato e etc).
Importante entender que o carisma atinge ainda de modo mais profundo a vida
de cada um de nós. Deus quer fazer de cada filho seu uma obra de arte e obra de arte
é coisa única. A partir do momento em que nós descobrimos nosso carisma, o nosso
lugar e a maneira com que Deus nos quer, dentro deste chamado específico
encontraremos um chamado mais profundo que revela algo de muito pessoal sobre
como esse carisma deve ser e agir na sua própria vocação, ou seja, cada um de nós
teremos um chamado específico dentro desta realidade, algo de único e irrepetível;
também um leigo consagrado seja no matrimônio ou no celibato terá um chamado
pessoal específico na vivência da sua consagração que só ele poderá realizar; o
mesmo se dá para o religioso ou sacerdote. Por isso precisamos entender que o
carisma não está relacionado unicamente a um grupo de pessoas, pois carisma é
individual. Exemplo disso é se numa cidade não se tem uma comunidade de aliança
(um grupo propriamente dito, com as estruturas, com coordenações e etc), mas tem
uma pessoa vocacionada ao carisma da aliança de misericórdia, tem um missionário
de
aliança naquela cidade, significa que o carisma existe na cidade, e que aquele
missionário de aliança é responsável por propagar o carisma sendo expressão viva da
misericórdia. Ou seja, o carisma é individual, de dentro da fora, não depende daquilo
que faço e sim daquilo que eu sou. Essência.
Além de ser único para cada pessoa o carisma é capaz de dar sentido à nossa
vida, significa que a realização plena de cada um e a nossa felicidade dependem da
vivência deste carisma na vocação que somos chamados.
Muitas vezes encontramos pessoas que vivem frustradas, sem sentido, sem
realização porque se deixaram levar pela vida e não chegaram a fazer essa descoberta
do próprio carisma. Alguns até fizeram, mas pararam aí sem chegar a aprofundar a
descoberta para encontrar o seu chamado único e irrepetível, o que também gera
frustração e desilusão. A realização plena verdadeira é aquela que coincide com o
projeto de Deus para a nossa vida, pois só assim podemos compreender e dar o
melhor de nós mesmos, e assim alcançar o grau de santidade que Ele mesmo sonhou
para nós.
Descobrir o próprio carisma implica em viver o seu mistério de modo
autêntico. “O mistério de cada pessoa é concomitantemente aberto ao infinito e
encarnado no tempo e no espaço por meio de formas e limites que a história
original de cada indivíduo contribui para traçar e fixar”. (2)
Neste processo, para ouvir o chamado é preciso estar atento como Samuel que
repousava junto à arca. Faz-se necessário estar na presença de Deus, o que acontece
por uma vida de oração fecunda. Também é preciso desejar acolher a vontade de Deus
para poder ouvi-lo. “Fala, Senhor, que teu servo escuta”. (I Sam 3, 9b)
Por isso não adianta eu dizer que tenho um carisma, que amo meu carisma, que
já o descobri, que sou aliança e misericórdia se eu não vivo diariamente uma
experiência pessoal com Deus. Assumir um carisma para nossa vida precisa ser
consequência da nossa vida de intimidade com Deus. É algo a mais, é ir além, é
desejar avançar ara aguas mais profundas. Diante de um chamado tão grande desses
é natural ter dúvidas, não querer assumir compromissos, medo das consequências e
tentar fugir. Moisés também passou por isso, isso é natural porque somos humanos e o
carisma é sobrenatural. É à força da experiência de Deus que nos dá coragem para
vencer o medo e responder. Se formos à Palavra veremos que Pedro também teve
medo das consequências de seguir Jesus e por isso O negou três vezes (Jo 18,17. 25-
26), mas depois da experiência do olhar de Jesus entendeu o Seu amor e, então, deu
sua resposta assumindo sua missão pessoal, sua vocação. (Jo 21, 15-19).
O carisma nos é dado como presente, como caminho para vivermos melhor
nossa missão pessoal aqui na terra onde somos estrangeiros, enquanto caminhamos
para nossa morada (céu). A nossa adesão ao carisma é o resultado de autêntica
gratidão, não é uma iniciativa nossa, mas de Deus.
Todos nós que estamos aqui no mesmo coração, desejamos por entender, sentir
e viver esse carisma, para isso precisamos romper com os limites que a sociedade
coloca em nós, romper com os nossos próprios pensamentos de termos sempre de
acertar senão, não posso viver esse carisma, romper com a ideia “orgulhosa” de que
estou aqui por ser melhor que o outro, não há outra forma de viver bem o carisma se
não nos lançarmos nesse amor que é Jesus que coloca no nosso coração. Jesus
caminha conosco, ele nos pede uma resposta não exigindo, mas por um gesto de amor
por nós, Ele não nos força a nada, muito pelo contrário, não toca nossa liberdade, nos
deixa livres para viver o carisma que implantou em nós.
Infelizmente perdemos tempo demais nos nossos próprios pensamentos,
deixamos de viver o momento presente e acabamos por não fazer nada, seja por medo
de errar, seja por medo de não dar conta, sempre colocamos barreiras para não viver o
momento presente que tem feito a nossa vida. Não assumimos compromissos, por
consequência não assumimos a vida dos irmãos e a Palavra de Deus não chega às
pessoas e aos lugares que Deus nos pede. É um ato de humildade vivermos o
momento presente confiando no amor de Deus que nos chama nesse carisma, nos
abandonar n’Ele para que tudo seja realizado por Ele em nós e através de nós, para
assim sermos instrumentos na vida dos irmãos. Perdemos tempo achando que não
temos dons, que não cantamos bem, não sabemos pregar para várias pessoas, ao
contrário devemos nos deixar levar pela voz de Deus que se nos pede de varrermos o
chão faremos isso com Alegria crendo que isso nos leva a Santidade.
Em um diálogo com Jesus, Santa Faustina diz que se sente fraca, que não dá
conta, que se sente menor que as outras irmãs, Jesus prontamente a responde logo
após a comunhão confirmando que de fato ela é sim a mais fraca, porém que ela
fizesse o possível para que Deus fizesse o impossível e entanto Jesus diz a ela: “Não
tenhas medo, Eu mesmo completarei tudo que te falta” (3)
Temos de ter a clareza que cada um de nós, é o carisma, não são os outros, é
aqui agora cada um de forma específica. Um é imã do outro que quando nos juntamos
e nos tornamos o arco-íris, a partir do momento que realizamos nossa missão pessoal
no carisma, automaticamente Deus fará acontecer o movimento todo onde estamos
através dos ministérios e pastorais. Isso fará com que as pessoas ao olharem para o
amor entre nós se aproximaram para também fazer parte do carisma, seja como
missionários de aliança, seja como amigos ou como participantes, não importa a forma,
o que importa é o amor. Precisamos ser fiéis HOJE, porque senão perderemos o
essencial e por consequência percebemos também o chamado para esse carisma que
Deus colocou em nós. Precisamos discernir bem o nosso chamado para esse carisma,
porque é muito fácil voltarmos atrás. Hoje precisamos crescer no carisma, para viver
bem. Não podemos nos permitir de olhar atrás, porque isso nos faz perder o carisma
dado por Deus para nós.
Somos convidados a voltar à raiz do carisma para entender como podemos viver
de forma ainda mais fecunda nossa vida no carisma que escolhemos. Não podemos
nos permitir de pautar nossa vida na dos outros, porque para cada um Deus faz um
convite pessoa e intransferível para segui-lo. Lutemos para não deixar se perder a
grandeza desse carisma que se manifesta na pobreza, seja na nossa fraqueza, na
fraqueza dos outros que encontramos, nos pecadores, nos mais pobres. O que vale na
verdade é lutarmos para tornarmos cada dia mais o corpo místico de Cristo, onde cada
um tem sua função que é vital para que a humanidade experimente a graça do coração
misericordioso de Jesus.
“Não fostes vós que me escolhestes, mas eu vos escolhi e vos designei para
que vades e produzais fruto, e o vosso fruto permaneça”. (Jo 15, 16)
Não é uma coisa que se adquire com o decorrer do tempo, é desde a eternidade
que Deus sonhou conosco nesse carisma, Ele nos chama a ter essa clareza de que é
natural, que nos realiza que nos faz encontrar sentido de continuar, de seguir. Isso não
é
nós esse carisma e, por tanto nos sentimos completos meio que “achados”
(encontrados), como se no nosso coração estivesse à frase “este é meu lugar”, aqui
está à certeza de que esse é sim o carisma o qual Deus nos chama para servi-lo. O
carisma que está no nosso ser é dom de Deus, algo que Ele nos dá de graça não por
méritos, mas por necessidade nossa, para nossa salvação. “Não fostes vós que me
escolhestes, mas eu vos escolhi e vos designei para que vades e produzais fruto,
e o vosso fruto permaneça”. (Jo 15, 16)
Agora falamos numa parte fundamental dos nossos vínculos, porque muitos de
nós que nos preparamos, pode passar por nossas cabeças que não somos dignos, que
somos fracos, não nos sentimos capazes. Nesse momento se não temos nenhum
“empecilho” grave que a direção espiritual diga ou que nossos formadores nos digam,
nessa hora aí que temos de dar o passo, exatamente por se sentir menor. Quando
professamos os vínculos não estamos dando nada a Deus, nós estamos recebendo
de Deus o que é dom e graça, porque ele é quem nos consagra, e então ele nos dá
força para cumprir o que me pede. Sem a comunidade talvez alguns de nós íamos nos
perder. Não podemos confiar nas nossas forças senão usamos as fraquezas como
desculpas para não dar passos concretos rumo a um caminho mais estreito de amor e
santidade.
Nós temos hoje que agradecer muito a Deus pela vida dos que deram os
primeiros SIM, aos que se entregaram desde o inicio para que hoje estivéssemos em
tantos lugares, cidades, países. O Movimento está presente em mais de 40 cidades do
Brasil e outros 7 países (Bélgica, Itália, Polônia, Portugal, República Dominicana,
Venezuela e África), através da adesão dos membros a um dos Elos de pertença. E se
amarmos com a potência do Espírito, provavelmente iremos para outros lugares para
levar esse amor de Deus que nos move cada dia para construir essa obra que é de
Deus. “Deus precisa de testemunhas da sua Misericórdia” (Profecia sobre a nossa
comunidade proclamada por Pe. Jonas Abib)
Deus tem realizado uma obra independente de nós, porque não temos
capacidade de tanto. Sem medo avançamos para águas mais profundas. Vamos
contemplar a graça que Deus nos dá nesse dia, porque não podemos nos acostumar
com as coisas que Ele nos presenteia e por Sua fidelidade que é sem fim. Portanto não
importa o tamanho do nosso SIM, importa a nossa fidelidade. Àquele que não falta
conosco. Perante a fidelidade de Deus, as nossas escolhas devem ser coerentes,
porque senão tudo é perda tempo, somos convidados a corresponder esse Amor que é
sem fim.
REFERÊNCIAS: