Você está na página 1de 12

ECOPEDAGOGIA NO ENSINO FUNDAMENTAL - ANOS FINAIS COMO

TEMA TRANSVERSAL CONTEMPORÂNEO


Compreensão sobre a ecopedagogia e a possibilidade de trabalho no ensino formal

HANSSEN, Beatriz de Aguiar


Licenciando em Geografia no Centro
Universitário Internacional Uninter
FANTIN, Maria Eneida orientadora
convidada.

RESUMO
Os desafios impostos pela crise socioambiental têm levado a busca por ações que
sejam sustentáveis, que promovam a cidadania, a democracia e as relações mais
justas. Pensando nisso, esse artigo foi desenvolvido a partir de uma revisão
bibliográfica sobre a ecopedagogia, movimento que defende uma educação
transformadora e emancipatória. Para compreender esse movimento o estudo tem
como foco as contribuições do educador Moacir Gadotti, que aponta a importância
da educação formal para uma consciência planetária. Neste trabalho, a fase da
educação básica estudada é o ensino fundamental – anos finais, momento de
grande desenvolvimento da autonomia dos estudantes. Para compreender a
possibilidade de implementar a ecopedagogia no ensino fundamental – anos finais
foi realizada um estudo de documentos legais, com foco nos PCNS – Parâmetros
Curriculares Nacionais e na BNCC – Base Nacional Comum Curricular por trazerem
temas importantes para a contemporaneidade. O artigo descreve de forma breve o
surgimento da ecopedagogia e sua relação com a educação. Na sequência são
apontadas algumas características básicas do ensino fundamental com foco nos
anos finais. Depois, são analisados os temais transversais dos PCNs – Parâmetros
Curriculares Nacionais e os temas transversais contemporâneos da BNCC – Base
Nacional Comum Curricular. Com base na pesquisa foi possível apontar caminhos
para uma escola pública que considere o cotidiano dos estudantes e suas reais
necessidades, tal como aponta a ecopedagogia.
Palavras-chave: Ecopedagogia. Temas Transversais. Ensino Fundamental.

1. Introdução
A interferência humana tem modificado os ecossistemas e colocado em risco
diversas espécies do planeta Terra, inclusive a humana. Todos os seres vivos se
relacionam com o seu meio, mas as Revoluções Industriais, atreladas a lógica do
sistema capitalista, pautadas na produção e consumo, levaram a humanidade a
modificar o planeta de forma tão intensa que para Paul Crutzen e Eugene F.
Stoermer consideram que a atualidade está em outro período geológico, o
Antropoceno.
No Brasil, a grande interferência ambiental teve início com a chegada dos
portugueses e outros colonizadores europeus, no século XVIII, que escravizaram e
mataram diversos povos tradicionais, e invisibilizaram as formas sustentáveis de
relação com a natureza. Eles implementaram a monocultura, a plantação de uma
única espécie de produto em uma vasta área. Dessa forma, esse sistema é
responsável por queimadas, desmatamento e mineração, ações que têm esgotado
os recursos naturais do planeta, alterado a química da atmosfera, aumentado a
acidez dos solos e a poluído as águas dos rios, dos lagos e dos oceanos. Essa
degradação ambiental tem aprofundado as crises econômicas e climáticas e levado
muitas pessoas e organizações a pensarem numa forma alternativa de estar no
mundo.
A ecopedagogia, ou Pedagogia da Terra, é um movimento pedagógico que
nasce dessa demanda, advinda da educação ambiental crítica, pensa no planeta de
forma holística. Ela considera a escola como um espaço que deve desenvolver a
consciência crítica e a autonomia dos estudantes para que possam agir de forma
cidadã e modificar o mundo a sua volta. Para esse fim, os PCNs e a BNCC podem ser
vistos como maneira de trabalhar a ecopedagogia na escola. Os PCNs indicam os
temas transversais que podem ser trabalhados e recentemente, para garantir que
temas importantes para a sociedade contemporânea sejam trabalhados na escola, a
BNCC – Base Nacional Comum Curricular trouxe os Temas Transversais
Contemporâneos como referencial obrigatório para a construção dos documentos
curriculares e pedagógicos. As questões socioambientais são um tema transversal
contemporâneo, portanto, atualmente, além de importante, as questões
socioambientais devem ser trabalhadas no Ensino Fundamental – Anos Finais.
Considerando a importância da ecopedagogia e dos temas transversais
contemporâneos esse artigo traz questões sobre como trabalhar a Ecopedagogia, a
partir dos Temas Transversais Contemporâneos no Ensino Fundamental – Anos
Finais e quais os caminhos apontados para esse trabalho. Portanto, o intuito deste
trabalho é reconhecer a ecopedagogia como um movimento para educação de uma
consciência planetária e compreender os Temas Transversais Contemporâneos da
BNCC – Base Nacional Comum Curricular como documento que possibilita a
introdução da ecopedagogia, e outros temas importantes para atual sociedade no
ensino formal, com foco no Ensino Fundamental – Anos Finais. Para isso, o educador
Moacir Gadotti foi a principal fonte de pesquisa além dos documentos como PCNs e
BNCC. Para isso o artigo traz os seguintes temas, além da metodologia:
Ecopedagogia; Ensino Fundamental – Anos Finais; Temais Transversais
Contemporâneos; Considerações Finais; Referências.

2. Metodologia
A metodologia utilizada para desenvolver esse artigo foi a pesquisa
bibliográfica. Os textos utilizados na pesquisa foram pautados em estudiosos que
fizeram uma análise sobre a ecopedagogia, os temas transversais e o ensino
fundamental.
Sobre a ecopedagogia foi preciso compreender seu conceito, sua
importância na educação e as dificuldades de sua implementação no ensino formal.
O principal autor estudado para esse entendimento foi Moacir Gadotti.
Para compreender a importância do ensino fundamental – anos finais, e
saber para quem ele é ofertado, foi utilizada principalmente a LDB – Lei de
Diretrizes e Bases entre outros documentos legais.
Em relação aos temas transversais mais relevantes para a sociedade atual,
que devem ser desenvolvidos no ensino fundamental, foram analisados dois
instrumentos legais, os PCNs – Parâmetros Curriculares Nacionais e a BNCC – Base
Nacional Comum Curricular. Esses documentos possibilitam compreender como é
possível a implantação de temas importantes para a sociedade contemporânea a
partir dos temas transversais.
Dessa forma, a partir dessas análises foi possível entender como a
ecopedagogia pode ser atrelada aos temas transversais contemporâneos e
desenvolvida no ensino fundamental - anos finais.

3. Ecopedagogia
A educação ambiental nasce quando diversas ciências passam a ter um olhar
integrador e holístico sobre o mundo e suas relações. Essa nova forma de lidar com
as ciências combate o paradigma cartesiano e exige uma maneira de observar a
ligação das coisas. Foi a partir dessa educação ambiental crítica que surge a
ecopedagogia:
(...) durante a realização do Fórum Global 92, no qual se discutiu muito a
educação ambiental, que se percebeu a importância de uma pedagogia
do desenvolvimento sustentável e de uma ecopedagogia. Hoje, porém, a
ecopedagogia tornouse um movimento e uma perspectiva da
educação maior do que uma pedagogia do desenvolvimento
sustentável. (...) A educação sustentável não se preocupa apenas com
uma relação saudável com o meio ambiente, mas com o sentido mais
profundo do que fazemos com a nossa existência, a partir da vida
cotidiana (GADOTTI, 2009, p. 2)

A ecopedagogia pensa na relação intrínseca dos diversos fatores do


universo. Considera o planeta como superorganismo vivo e em evolução que abriga
diversos seres que devem ser respeitados em sua pluralidade. Como aparece na
teoria do pensamento complexo de Edgar Morin, quando ele critica a ciência
moderna e aponta como coisas diversas estão interligadas:

(...) os processos de todas as ordens, econômicos, ideológicos, sociais


estão de tal maneira imbricados e são tão complexos que é um
verdadeiro desafio para o conhecimento. Já é difícil saber o que acontece
no plano imediato. (...) é necessário ensinar que não é suficiente reduzir a
um só a complexidade dos problemas importantes do planeta como a
demografia, ou a escassez de alimentos, ou a bomba atômica ou a
ecologia. Os problemas estão todos amarrados uns aos outros (MORIN,
2012, p. 10).

Dessa forma a ecopedagogia, ou Educação Sustentável, aponta a


necessidade de educar para a consciência planetária, “cósmica e cosmológica”. Seu
objetivo é desenvolver uma percepção profunda da relação de cada ser humano
com o mundo, a partir de sua vida cotidiana e das coisas ao seu redor (GADOTTI,
2009).
Foi com o educador Francisco Gutiérrez que surgiu inicialmente o conceito
ecopedagogia que hoje está relacionado aos princípios da Carta da Terra. A Carta
da Terra teve seu primeiro rascunho realizado no “Fórum Global 92”, que ocorreu
no Rio de Janeiro, no Brasil. Esse fórum foi organizado “pelas entidades da
sociedade civil”, com participação de “mais de dez mil representantes de
organizações não governamentais (Ongs) das mais variadas áreas de atuação de
todo o mundo”. Em 1999 foi publicado o “Rascunho de Referência II da Carta da
Terra”. Esse documento, lançado formalmente em junho de 2020, orienta “os
princípios fundamentais para o desenvolvimento sustentável” (CARTA DA TERRA,
2010).
Esses dezesseis princípios da Carta da Terra precisam ser refletidos e
trabalhados em diversas instituições, entre elas as escolas. São eles:
interdependência da vida; amor e responsabilidade; democracia e liberdade; justiça
entre gerações; proteger a diversidade da Terra; prevenir o dano ecológico; estilo
de vida sustentável; compartilhar o conhecimento; erradicar a pobreza;
desenvolvimento humano e equitativo; igualdade e equidade de gênero; dignidade,
inclusão e bem-estar; transparência e participação; integrar valores na educação;
respeitar todos os seres vivos (CARTA DA TERRA, 2010).
A importância da escola formal para o desenvolvimento da ecopedagogia da
“Carta da Ecopedagogia”. Esta carta escrita por Moacir Gadotti, se baseou na obra
de Francisco Gutierrez e nos apontamentos de membros do Instituto Paulo Freire.
No I Encontro Internacional da Carta da Terra na Perspectiva da Educação, saiu uma
nova versão, mas ainda é um documento em desenvolvimento que aponta alguns
caminhos para o trabalho com a ecopedagogia, como o item 7:
As exigências da sociedade planetária devem ser trabalhadas
pedagogicamente a partir da vida cotidiana, da subjetividade, isto é, a
partir das necessidades e interesses das pessoas (...). Essas capacidades
devem levar as pessoas a pensar e agir processualmente, em totalidade e
transdisciplinarmente (GADOTTI, 2001, p.125).

Esse item pontua a necessidade de trabalhar com o cotidiano do estudante e


que o ensino deve ocorrer de forma transdisciplinar e que seja um espaço para o
exercício da democracia e da escuta empática. Assim, as futuras gerações poderão
combater a crise socioambiental, fruto de relações políticas, sociais, econômicas e
ambientais, das gerações passadas e da atual. Gadotti afirma que: “Não se pode
mudar o mundo sem mudar as pessoas: mudar o mundo e mudar as pessoas são
processos interligados” (GADOTTI, 2011, p. 98). Para mudar as pessoas e o mundo é
preciso que instituições como as escolas não sejam espaços que auxiliem na
alienação e na perpetuação das relações verticais. Por isso, com aponta Paulo
Freire, em seu livro, Pedagogia do Oprimido (1994), a educação precisa dar voz aos
educandos para que eles possam compreender sua relação com o mundo e para
que consigam atuar e modificar o seu meio:

Já agora ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a si


mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo.
Mediatizados pelos objetos cognoscíveis que, na prática “bancária”, são
possuídos pelo educador que os descreve ou os deposita nos educandos
passivos (FREIRE, 1994, p. 46).

Nessa perspectiva o educador deve ser a pessoa que valoriza o


conhecimento de cada estudante e que entende o aprendizado como um processo
que acontece em comunhão. Os estudantes devem compreender que são seres
pertencentes ao planeta, que vivem e atuam nele, e que essa atuação deve ocorrer
em prol da diversidade e da vida. Para isso é preciso “reencantar as crianças,
adolescentes, jovens e adultos (...) Não se aprende a amar a Terra apenas lendo
livros ou ouvindo palavras que destacam sua beleza e importância; a experiência
própria é fundamental” (GADOTTI, 2010, p. 8/9). Portanto, é preciso pensar em uma
educação que desenvolva o senso de pertencimento ao planeta, que conscientize as
relações de produção e consumo, que compreenda o outro e a si, que seja pautada
no amor ao mundo e a vida. A ecopedagogia é uma proposta de vivência
harmoniosa com a pluralidade de animais e culturas existentes no planeta.

4. Ensino Fundamental Anos Finais


O ensino fundamental faz parte da educação básica brasileira junto ao ensino
infantil e médio, e de acordo as Diretrizes Curriculares Nacionais é direito de todo o
cidadão. Durante a história da educação, o ensino fundamental passou por
mudanças, entre elas, em 2001, a duração se estendeu de 8 para 9 anos, tendo o
ano de 2006 como prazo limite para sua implementação em todo o território
nacional. Dessa forma, o ensino fundamental é a parte mais longa da educação
básica. A justificativa para tal mudança foi a melhoria do ensino, mas essa
modificação gerou críticas, e alguns estudiosos apontam que essa alteração ocorreu
para que o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental
(FUNDEF) fosse direcionado para os estudantes de 6 anos (MEDEIROS, LIRA, 2016).

Atualmente, as crianças de 6 anos devem ser matriculadas no ensino


fundamental, sendo o corte etário os “6 (seis) anos completos ou a completar até o
dia 31 de março do ano em que ocorrer a matrícula, nos termos da Lei e das normas
nacionais vigentes” (BRASIL, 2018). Ele é dividido em “anos iniciais”, do primeiro ao
quinto ano, e “anos finais” do sexto ao nono ano. A passagem do quinto para o
sexto ano é marcada por algumas mudanças. A partir do sexto ano ocorre a
pluridocência, ou seja, muitos professores diferentes, o aumento de disciplinas e o
estudante passa a desenvolver mais sua autonomia. Espera-se que no ensino
fundamental – anos finais o estudante já esteja alfabetizado, é um momento de
aprofundamento dos conhecimentos e transição da infância para a adolescência.

Ao longo do Ensino Fundamental – Anos Finais, os estudantes se deparam


com desafios de maior complexidade, sobretudo devido à necessidade de
se apropriarem das diferentes lógicas de organização dos conhecimentos
relacionados às áreas (...). Nesse sentido, também é importante fortalecer
a autonomia desses adolescentes, oferecendo-lhes condições e
ferramentas para acessar e interagir criticamente com diferentes
conhecimentos e fontes de informação (BNCC, 2018, p. 60).

A BNCC – Base Nacional Comum Curricular é um documento normativo com


referência obrigatória para a educação básica. Para os anos finais do ensino
fundamental a BNCC se organiza em 5 áreas: linguagens - língua portuguesa, arte,
educação física, língua estrangeira (língua inglesa); matemática; ciências da
natureza – ciência; ciências humanas – geografia e história; ensino religioso. Seu
objetivo é a formação integral dos estudantes.

Nos anos finais do ensino fundamental, momento de maior autonomia, é


imprescindível que a escola seja um lugar de ações democráticas e que permitam
que os estudantes ajam de forma ativa em sua comunidade, que intervenham em
seu cotidiano.

[5.] Temas Transversais Contemporâneos


A escola do ensino formal é uma instituição que tem como objetivo garantir
o acesso aos conhecimentos, às competências e às habilidades necessárias para que
o estudante possa exercer sua cidadania de forma ativa e consciente. É nesse
espaço que deve ocorrer um “processo de desenvolvimento do potencial humano
que garante o exercício dos direitos civis, políticos e sociais” (MEC, 2013, p. 105).
Para isso foram criados diversos documentos legais que definem o que é essencial
para a sociedade atual. Essa pesquisa tem como foco dois documentos, os
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e a Base Nacional Comum Curricular
(BNCC, 2018).
Os PCNs são diretrizes que tem como intuito nortear o trabalho da equipe
pedagógica. Ao trazer os Temas Transversais, assuntos importantes para a
sociedade atual, os PCNs, dispuseram uma possibilidade de diminuir a fragmentação
curricular, dividida em disciplinas:

O compromisso com a construção da cidadania pede necessariamente


uma prática educacional voltada para a compreensão da realidade social e
dos direitos e responsabilidades em relação à vida pessoal e coletiva e a
afirmação do princípio da participação política. Nessa perspectiva é que
foram incorporadas como Temas Transversais as questões da Ética, da
Pluralidade Cultural, do Meio Ambiente, da Saúde, da Orientação Sexual e
do Trabalho e Consumo (MEC, 1998).

Como o documento aponta, os Temas Transversais foram criados para ajudar


a desenvolver a compreensão da realidade, da vida cotidiana e para a efetivação da
cidadania. Por não serem novas disciplinas, esses temas deveriam ser trabalhados
durante o ano escolar de forma transversal, ou seja, que atravessa as disciplinas,
como o próprio nome designa. Mas os Temais Transversais nos PCNs eram apenas
referenciais e não obrigatórios.
A BNCC também apresenta um documento dividido em conteúdo
disciplinares e aponta as competências, as habilidades e os objetos de
conhecimentos que devem ser desenvolvidos em cada ano. O site do MEC
disponibiliza acesso à BNCC e possibilita baixar planilhas com os conteúdos
(unidades temáticas) e as habilidades que cada disciplina deve trabalhar, do Ensino
Infantil ao Médio (BNCC, 2021). Mas a BNCC traz uma característica importante para
os temas que vão além das disciplinas tradicionais, ela aponta os Temas Transversais
Contemporâneos. Diferente dos PCNs, na BNCC esses temas devem ser trabalhados
obrigatoriamente, tendo que fazer parte do Projeto Político Pedagógico (PPP) das
escolas, documento que deve ser desenvolvido de forma conjunta com toda a
comunidade escolar (BNCC, 2019).
Além dos PCNs e da BNCC existem outras leis, como a Lei 9795/99, que
define que todos têm direito à educação ambiental e que ela deve ser trabalhada
nas instituições educativas. Portanto, trabalhar as questões ambientais dentro da
escola formal é possível e obrigatório. Assim, a ecopedagogia atende os
documentos que orientam a educação brasileira e pode ser um caminho para uma
educação que tenha sentido e que se relacione com a vida dos estudantes.
A ecopedagogia se encaixa com os Temas Transversais Contemporâneos, e
para Moacir Gadotti, ela deveria reorientar os currículos e possuir materiais
específicos que defenda diversos de seus princípios:
Estes princípios deveriam, por exemplo, orientar a concepção dos
conteúdos e a elaboração dos livros didáticos. (...) Os conteúdos
curriculares têm que ser significativos para o aluno, e só serão
significativos para ele, se esses conteúdos forem significativos também
para a saúde do planeta, para o contexto mais amplo. Sem dúvida, a
ecopedagogia também deverá influenciar a estrutura e o funcionamento
dos sistemas de ensino. (GADOTTI, 2000, p. 7).

Ainda que não existam materiais específicos, o Projeto Político Pedagógico –


PPP deve ser estruturado pensando também nos Temas Transversais
Contemporâneos, obrigatórios pela BNC, entre eles a temática ambiental, o que
oportuniza que a ecopedagogia esteja presente nas escolas formais.

5.[6.] Considerações finais


A educação formal brasileira foi utilizada durante anos para atender os
interesses dos que possuíam poder político e econômico. Essa educação era
verticalizada, eurocêntrica, calcada em uma história única (olhar dos vencedores),
com intuito de garantir a permanência do status quo e preparar as grandes massas
para servir de mão-de-obra barata. Muitos educadores questionaram esse tipo de
educação, e com organização, estudo e luta foram surgindo documentos legais que
permitiram a criação de escolas inovadoras, que tem como foco o desenvolvimento
de uma consciência crítica e de uma postura cidadã.
Entre os documentos que possibilitam o trabalho além das disciplinas estão
os PCNs e a BNCC, que apontam temas necessários para o desenvolvimento
humano e que buscam um mundo mais justo, saudável, tolerante e diverso. A BNCC
traz a obrigatoriedade de trabalhar esses temas e possibilita que a ecopedagogia
faça parte do Projeto Político Pedagógico das instituições escolares.
A Pedagogia da Terra defende uma escola libertadora e holística, que tem o
objetivo de desenvolver a cidadania planetária. Esses princípios da ecopedagogia
são de extrema importância para a contemporaneidade que tem vivido em uma
sociedade do consumo, da falta de pertencimento e identidade e que coloca a vida
no planeta em risco, porque tem extinguido diversos seres da fauna e da flora
mundial em ritmo acelerado. Para facilitar e capacitar o trabalho dos professores é
importante que sejam desenvolvidos materiais que auxiliem na inserção da
ecopedagogia nos projetos educacionais e na transversalidade das disciplinas. No
entanto, a ecopedagogia é de fundamental importância e deve ser trabalhada no
Ensino Fundamental – Anos Finais.

6.[7.] Referências
Brasil. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais:
terceiro e quarto ciclos: apresentação dos temas transversais. Secretaria de
Educação Fundamental - Brasília: MEC/SEF, 1998. 436 p

____________. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da


Educação Básica/ Ministério da Educação. Secretária de Educação Básica. Diretoria
de Currículos e Educação Integral. Brasília: MEC, SEB, DICEI, 2013.

____________. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara de


Educação Básica. Resolução nº 2, de 9 de outubro de 2018. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/docman/outubro-2018-pdf-1/98311-rceb002-18/file. Acesso
em: 10 ago. 2021.
____________. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília:
MEC/SEC, 2017. Disponível em: <
http://download.basenacionalcomum.mec.gov.br/>. Acesso em: 19 set. 2021.

____________. Ministério da Educação. Resolução nº 2, de 9 de outubro de 2018


Brasília: MEC/SEF. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/docman/outubro-2018-
pdf-1/98311-rceb002-18/file>. Acesso em 24 nov 2021.

____________. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC/SEC, 2017. Disponível


em: <
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site
.pdf>. Acesso em: 19 set. 2021

____________. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC/SEC. Disponível em:


< http://basenacionalcomum.mec.gov.br/abase/> Acesso em: 10 set. 2021

____________. Ministério da Educação. Temas Contemporâneos


Transversais na BNCC: Contexto Histórico e Pressupostos Pedagógicos. Disponível
em:
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/implementacao/contextualizacao_te
mas_contemporaneos.pdf. Acesso em: 05 ago. 2021.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17 ed., 23 reimp. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1994. Disponível em:
<https://cpers.com.br/wp-content/uploads/2019/10/Pedagogia-do-Oprimido-
Paulo-Freire.pdf>. Acesso em: 05 jul. 2021.

GADOTTI, Morin. Ecopedagogia, Pedagogia da terra, Pedagogia da


Sustentabilidade, Educação Ambiental e Educação para a Cidadania Planetária.
Instituto Paulo Freire, 2009. Disponível em:
<http://www.acervo.paulofreire.org:8080/xmlui/bitstream/handle/7891/3397/
FPF_PTPF_01_0420.pdf>. Acesso em 15 de setembro de 2021.

GADOTTI, Moacir. Boniteza de um sonho: ensinar-e-aprender com sentido. São


Paulo: Editora e Livraria Instituto Paulo Freire, 2011.
_______________. A Carta da Terra na educação. São Paulo: Editora e Livraria
Instituto Paulo Freire, 2010.

_______________. Pedagogia da terra: Ecopedagogia e educação sustentável.


Bibliotecas Virtuales de CLACSO, 2001. Disponível em:
<http://biblioteca.clacso.edu.ar/clacso/gt/20101010031842/4gadotti.pdf>. Acesso em
15 de setembro de 2021.

MEDEIROS, Michele Hirsch de; LIRA, Aliandra Cristina Mesomo. O ensino


fundamental no Brasil: breves reflexões sobre a trajetória histórica, as razões
implícitas e implicações práticas para o ensino de 9 anos. Atos de Pesquisa em
Educação - ISSN 1809-0354 Blumenau, v. 11, n.1, p.159-178, jan./abr. 2016. Disponível
em: <DOI: http://dx.doi.org/10.7867/1809-0354.2016v11n1p159-178>. Acesso em: 16 de
maio de 2021.

MORIN, Edgar. Os sete Saberes Necessários à Educação do Futuro. Disponível em:


<http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/EdgarMorin.pdf. Acesso em 15 de
setembro de 2021.

Você também pode gostar