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Pequena coreografia
do adeus
Capa
Julia Masagão
Imagem de capa
© The Easton Foundation/ autvis, Brasil, 2021. Louise Bourgeois, Etats modifiés, 1992.
Aquarela, grafite e esferográfica sobre papel, 48 cm × 60,5 cm.
Centre Pompidou, Paris.
Foto: © Jean-Claude Planchet — Centre Pompidou, mnam-cci/Dist. rmn-gp
Preparação
Ciça Caropreso
Revisão
Marise Leal
Camila Saraiva
Bei, Aline
Pequena coreografia do adeus / Aline Bei. — 1ª‑ ed.
— São Paulo : Companhia das Letras, 2021.
isbn 978‑65-5921-041-1
21-57408 cdd‑b869.3
[2021]
Todos os direitos desta edição reservados à
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Juan Gelman
no Ar
eu levantei timidamente
a minha boneca Nádia M
imaginei que era o dia do batismo dela.
eu não queria ser uma mãe como a minha, gostaria de ser
mais parecida com a mãe da Tetê. por isso fiquei olhando
o vento agraciar o cabelo da dona Sandra e também as
folhas do seu jornal.
depois levantei o rosto
e deixei que o vento agraciasse
a minha vida
estava fazendo nascer
uma boa mãe
em mim.
o meu Pai.
ele caminhava
a dois palmos do chão.
continuei usando
o cabelo da Nádia M como escudo.
reparei que
a Mulher tinha sardas
no colo
e segurava a mão do meu pai, entrelaçada, tão bonita
quanto uma atriz de cinema.
— Júlia, Júlia! olha o meu Castelo, olha! — minha amiga
tagarelou.
— Shiu. — avisei, Imponente
os dois Sorriram
sumiram ensolarados
eu invisível
mas
mastigar
aquela felicidade
pois eu Tiraria
soltei a Nádia M
parti
pra cima dela
— você não cala a boca (soco) não cala essa boca (soco)
eu também sangraria
em breve
quando a minha mãe tirasse a Cinta
do armário.
sabe, Pai
te ver andando com aquela Mulher na praça
me fez entender
que você saiu de casa porque a nossa casa
ou seja a Mãe
Ela ouviu
imóvel
e a rua ficou
em Silêncio, alheia a tudo.
os Passos
ouvi
o barulho do fogão ligando
e Foi,
Anos depois.
encontrei ao acaso
a Mulher de sardas
em frente a uma floricultura.
dei a volta
no quarteirão, correndo e
fingi trombar
com ela:
e eu?