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Concurso Nacional Unificado — CNU

Conteúdo Complementar
Bloco 6 - Setores Econômicos e Regulação
Conhecimentos Específicos
Obra

CNU - Concurso Nacional Unificado


Bloco 6 - Setores Econômicos e Regulação
Conhecimentos Específicos

Autores

EIXO 1 — GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA • Caroline Matos, Nágila Vilela, Renato
Philippini e Ricardo Reis

EIXO 2 — POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS • Ana Philipphini, Caroline Matos, Ednilson Silva,
Fernando Zantedeschi, Herbet Ferreira, Isadora Terra, Kairton Batista, Leandro Campos, Márcio
Ferreira Neves, Rafael Ferreira Cardoso, Renato Philippini, Ricardo Reis e Vitor Augusto Grimaldi

EIXO 3 — ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL • Felipe Pacheco, Fernando


Zantedeschi, Gustavo Muzy, Jean Talvani, Kamilla Lazarini, Vinícius Bernardo e Zé Soares

EIXO 4 — ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO • Alexandre Amui, Ana Julia Kachan,
Caroline Matos, Fernando Zantedeschi, Leandro Campos, Marcel Ramalho, Ricardo Reis e Ronaldo
Nagai

EIXO 5 — INGLÊS 1 • Rebecca Soares

ISBN: 978-65-5451-292-3

Edição: Janeiro/2024

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SUMÁRIO

EIXO 1 — GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA.............15


PLANEJAMENTO E GESTÃO ESTRATÉGICA ................................................................................... 15

CONCEITOS .......................................................................................................................................................15

PRINCÍPIOS .......................................................................................................................................................15

ETAPAS, FERRAMENTAS E MÉTODOS.............................................................................................................15

NÍVEIS.................................................................................................................................................................16

ESTABELECIMENTO DE OBJETIVOS E METAS ORGANIZACIONAIS.............................................................16

BALANCED SCORECARD (BSC)......................................................................................................... 17

MATRIZ SWOT...................................................................................................................................................18

FERRAMENTAS DE GESTÃO.............................................................................................................................19

METODOLOGIAS PARA MEDIÇÃO DE DESEMPENHO..................................................................... 24

INDICADORES DE DESEMPENHO ....................................................................................................................25

Conceito .........................................................................................................................................................25
Formulação ....................................................................................................................................................25
Análise............................................................................................................................................................25

DETALHAMENTO DA FERRAMENTA DE AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO: OKR.............................................25

GESTÃO DE PESSOAS......................................................................................................................... 26

LIDERANÇA E MOTIVAÇÃO...............................................................................................................................28

GERENCIAMENTO DE CONFLITOS...................................................................................................................30

GESTÃO DO DESEMPENHO...............................................................................................................................32

SISTEMAS DE INCENTIVO E RESPONSABILIZAÇÃO......................................................................................33

PROGRAMA DE GESTÃO DO DESEMPENHO.................................................................................... 34

TELETRABALHO.................................................................................................................................. 36

TRABALHO EM EQUIPE...................................................................................................................... 38

GESTÃO DE REDES ORGANIZACIONAIS........................................................................................... 40

COMUNICAÇÃO NA GESTÃO PÚBLICA............................................................................................................40

COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL..........................................................................................................43

CULTURA ORGANIZACIONAL...........................................................................................................................45
GESTÃO DE PROJETOS: CONCEITOS BÁSICOS, MODELOS E ETAPAS......................................... 47

ELABORAÇÃO, TÉCNICAS DE ANÁLISE E AVALIAÇÃO DE PROJETOS.........................................................48

PROCESSOS DO PMBOK.................................................................................................................... 53

GERENCIAMENTO DA INTEGRAÇÃO................................................................................................ 57

Do Escopo.......................................................................................................................................................58
Do Tempo........................................................................................................................................................58
De Custos........................................................................................................................................................58
Da Qualidade..................................................................................................................................................58
De Recursos Humanos..................................................................................................................................58
De Comunicações..........................................................................................................................................58
De Riscos........................................................................................................................................................58
De Aquisições.................................................................................................................................................58
De Partes Interessadas..................................................................................................................................58

METODOLOGIAS ÁGEIS...................................................................................................................... 60

CONCEITOS DA ABORDAGEM POR PROCESSOS............................................................................ 67

TÉCNICAS DE MAPEAMENTO, ANÁLISE E MELHORIA DE PROCESSOS.......................................................73

NOÇÕES DE ESTATÍSTICA APLICADA AO CONTROLE E À MELHORIA DE PROCESSOS.............................75

GESTÃO DE RISCOS............................................................................................................................ 77

PRINCÍPIOS........................................................................................................................................................77

OBJETOS............................................................................................................................................................78

MODELOS NACIONAIS E INTERNACIONAIS ...................................................................................................78

INTEGRAÇÃO AO PLANEJAMENTO.................................................................................................................78

PROCESSO DE GESTÃO DE RISCOS: TÉCNICAS.............................................................................................78

Comunicação .................................................................................................................................................79
Consulta .........................................................................................................................................................79
Contextualização ...........................................................................................................................................79
Identificação ..................................................................................................................................................80
Análise ............................................................................................................................................................80
Tratamento.....................................................................................................................................................80
Monitoramento e Retroalimentação.............................................................................................................80

BOAS PRÁTICAS DE GESTÃO DE RISCOS........................................................................................................80

INOVAÇÃO NA GESTÃO PÚBLICA..................................................................................................... 86

GOVERNO ELETRÔNICO..................................................................................................................... 86
TRANSPARÊNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA......................................................................... 88

ACCOUNTABILITY.............................................................................................................................................89

CONTROLE SOCIAL E CIDADANIA.................................................................................................... 89

ARTICULAÇÃO VERSUS A FRAGMENTAÇÃO DE AÇÕES GOVERNAMENTAIS............................. 93

DIMENSÕES DA COORDENAÇÃO: INTRAGOVERNAMENTAL, INTERGOVERNAMENTAL


E GOVERNO-SOCIEDADE.................................................................................................................... 94

ANÁLISE DE CENÁRIOS...................................................................................................................... 96

IMPLEMENTAÇÃO DE ESTRATÉGIAS............................................................................................... 98

MÉTODOS DE DESDOBRAMENTO DE OBJETIVOS E METAS E ELABORAÇÃO DE


PLANOS DE AÇÃO E MAPAS ESTRATÉGICOS................................................................................. 99

INDICADORES DE GESTÃO DE PESSOAS E FLEXIBILIDADE ORGANIZACIONAL.......................100

COMPRAS GOVERNAMENTAIS: SUSTENTABILIDADE DAS CONTRATAÇÕES..........................101

PROCESSOS DE COMPRAS ............................................................................................................104

GESTÃO DE CONTRATOS.................................................................................................................111

COMPRAS CENTRALIZADAS...........................................................................................................117

ORGANIZAÇÃO SISTÊMICA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA FEDERAL.....................................118

SISTEMAS ESTRUTURANTES E ESTRUTURADORES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA FEDERAL.............119

CONTROLES INTERNO E EXTERNO................................................................................................119

LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS PESSOAIS – LGPD (LEI Nº 13.709, DE 2018 E


SUAS ALTERAÇÕES).........................................................................................................................122

PROCESSOS PARTICIPATIVOS DE GESTÃO PÚBLICA: CONSELHOS DE GESTÃO,


ORÇAMENTO PARTICIPATIVO, PARCERIA ENTRE GOVERNO E SOCIEDADE.............................140

EIXO 2 – POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS................................. 151


IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS: PROBLEMAS, DILEMAS E DESAFIOS...............151

ARRANJOS INSTITUCIONAIS PARA IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS..................................152

INSTRUMENTOS E ALTERNATIVAS DE IMPLEMENTAÇÃO, COMO FUNDOS, CONSÓRCIOS


E TRANSFERÊNCIAS OBRIGATÓRIAS............................................................................................152

AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS...........................................................................................153

PRINCIPAIS COMPONENTES DO PROCESSO DE AVALIAÇÃO.....................................................................153

CUSTO-BENEFÍCIO, ESCALA, EFETIVIDADE, IMPACTO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS.................................154


REGIME DE CONCESSÃO E PERMISSÃO DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS
(LEI Nº 8.987/1995 E ALTERAÇÕES)..............................................................................................................154

NORMAS PARA OUTORGA E PRORROGAÇÕES DAS CONCESSÕES E PERMISSÕES DE SERVIÇOS


PÚBLICOS (LEI Nº 9.074, DE 1995, E ALTERAÇÕES).....................................................................................167

POLÍTICAS PÚBLICAS DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO.................................................169

MARCO LEGAL DE CT&I (LEI Nº 13.243, DE 2016, CONSTITUIÇÃO FEDERAL — ART. 218 A 219-B)........169

LEI Nº 11.540, DE 2007 E ALTERAÇÕES (DISPÕE SOBRE O FUNDO NACIONAL DE


DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO – FNDCT)....................................................................170

INCENTIVOS À INOVAÇÃO E PESQUISA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA – LEI Nº 10.973, DE 2004,


E ALTERAÇÕES ...............................................................................................................................................172

DECRETO Nº 9.283, DE 2018..........................................................................................................................179

LEI DO BEM — LEI Nº 11.196, DE 2005, E ALTERAÇÕES...............................................................................184

AGENDA 2030: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO DO BRASIL NOS OBJETIVOS DE


DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (ODS)..................................................................................................186

CONVENÇÃO QUADRO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE MUDANÇA DO CLIMA (UNFCCC) .........................189

LEI Nº 8.248, DE 1991, E ALTERAÇÕES (LEI DAS TIC)..................................................................................190

LEI COMPLEMENTAR Nº 182, DE 2021 (MARCO LEGAL DAS STARTUPS).................................................191

CRITÉRIOS ASG (AMBIENTAL, SOCIAL E GOVERNANÇA)...........................................................................194

LEGISLAÇÃO SOBRE DIREITOS AUTORAIS, PROPRIEDADE INTELECTUAL E


INDUSTRIAL ......................................................................................................................................196

LEI Nº 9.279, DE 1996......................................................................................................................................196

LEI Nº 9.609, DE 1998......................................................................................................................................200

LEI Nº 9.610, DE 1998......................................................................................................................................202

ESTATÍSTICA DESCRITIVA E ANÁLISE EXPLORATÓRIA DE DADOS: GRÁFICOS,


DIAGRAMAS, TABELAS, MEDIDAS DESCRITIVAS (POSIÇÃO, DISPERSÃO, ASSIMETRIA
E CURTOSE).......................................................................................................................................211

PROBABILIDADE — DEFINIÇÕES BÁSICAS E AXIOMAS...............................................................................224

PROBABILIDADE CONDICIONAL E INDEPENDÊNCIA...................................................................................225

TÉCNICAS DE AMOSTRAGEM: AMOSTRAGEM ALEATÓRIA SIMPLES, ESTRATIFICADA,


SISTEMÁTICA E POR CONGLOMERADOS.....................................................................................................226

INFERÊNCIA DE INTERVALOS DE CONFIANÇA.............................................................................................229

TESTES DE HIPÓTESES PARA MÉDIAS E PROPORÇÕES.............................................................................230

CORRELAÇÃO E REGRESSÃO LINEAR SIMPLES...........................................................................................232

ENTIDADES DISCRETAS E CONTÍNUAS.........................................................................................................235


ALGORITMOS...................................................................................................................................................236

OPERAÇÕES LÓGICAS....................................................................................................................................238

ARITMÉTICAS..................................................................................................................................................241

TRIGONOMÉTRICAS.......................................................................................................................................247

DIVULGAÇÃO E COMPARTILHAMENTO DE DADOS: EQUIPAMENTOS E DISPOSITIVOS,


ALTA E BAIXA TIRAGENS.................................................................................................................250

REPRODUÇÃO ANALÓGICA E DIGITAL...........................................................................................251

DISSEMINAÇÃO DE INFORMAÇÕES...............................................................................................251

EIXO 3 –ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO


INTERNACIONAL............................................................................................................. 261
MICROECONOMIA............................................................................................................................261

CONCEITOS BÁSICOS ....................................................................................................................................261

DEMANDA E OFERTA: ELASTICIDADES.........................................................................................................261

EQUILÍBRIO DE MERCADO..............................................................................................................................269

Perda de Peso Morto....................................................................................................................................271

TEORIA DO CONSUMIDOR...............................................................................................................273

MERCADOS COMPETITIVOS...........................................................................................................279

CONCORRÊNCIA PERFEITA............................................................................................................................279

ANÁLISE DE MERCADOS COMPETITIVOS E MAXIMIZAÇÃO DE LUCROS ................................................281

PODER DE MERCADO........................................................................................................................282

EFICIÊNCIA ECONÔMICA ................................................................................................................286

EFICIÊNCIA NAS TROCAS, LIVRE COMÉRCIO, VANTAGEM COMPARATIVA, FRONTEIRAS DE


POSSIBILIDADES DE PRODUÇÃO...................................................................................................................286

FALHAS DE MERCADO .....................................................................................................................292

ASSIMETRIA DE INFORMAÇÃO, RISCO MORAL, SELEÇÃO ADVERSA........................................................292

BENS PÚBLICOS, SEMIPÚBLICOS, BENS PRIVADOS...................................................................................294

INFORMAÇÃO ASSIMÉTRICA.........................................................................................................................295

EXTERNALIDADES...........................................................................................................................................296

PAPEL DO GOVERNO NA ECONOMIA: ESTABILIZAÇÃO ECONÔMICA, PROMOÇÃO DO


DESENVOLVIMENTO E REDISTRIBUIÇÃO DE RENDA...................................................................298
MACROECONOMIA...........................................................................................................................299

CONTAS NACIONAIS, AGREGADOS MACROECONÔMICOS, PRODUTO, RENDA E DESPESA,


DIFERENTES CONCEITOS DE PRODUTO, CONSUMO, INVESTIMENTO, POUPANÇA..................................299

EXPORTAÇÕES E IMPORTAÇÕES, BALANÇO DE PAGAMENTOS E TAXAS DE CÂMBIO...........304

CICLOS ECONÔMICOS, ESTABILIZAÇÃO ECONÔMICA, O MODELO IS-LM, PLANOS DE


ESTABILIZAÇÃO NO BRASIL, PLANO REAL...................................................................................307

DÉFICIT ORÇAMENTÁRIO E DÍVIDA PÚBLICA, TETO DE GASTOS...............................................321

ECONOMIA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA: ORIGENS DA INDUSTRIALIZAÇÃO


BRASILEIRA ......................................................................................................................................329

O BRASIL NO PERÍODO ENTRE GUERRAS — A INDUSTRIALIZAÇÃO RESTRINGIDA:


CRESCIMENTO E ESTAGNAÇÃO NOS ANOS 20, A CRISE DE 29 .................................................331

A ECONOMIA BRASILEIRA NO PERÍODO DE 30-45: O AVANÇO DA INDUSTRIALIZAÇÃO .......332

DESENVOLVIMENTO NO 2° PÓS-GUERRA (45 A 64): O DEBATE SOBRE


INDUSTRIALIZAÇÃO E ESTABILIZAÇÃO; SUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÕES..........................333

A CRISE POLÍTICA, REFORMAS INSTITUCIONAIS PÓS 64 E O PERÍODO EXPANSIVO


DE 68/73.............................................................................................................................................334

A CRISE EXTERNA E A RESPOSTA BRASILEIRA NOS ANOS 70 — O 2° PND..............................336

BRASIL NA DÉCADA DE 80: CHOQUES EXTERNOS, CRISE E POLÍTICAS DE


AJUSTAMENTO RELATIVAS À DÍVIDA EXTERNA, INFLAÇÃO, TENTATIVAS DE
ESTABILIZAÇÃO ...............................................................................................................................337

REFORMAS ECONÔMICAS A PARTIR DOS ANOS 90: ABERTURA, REDEFINIÇÃO DOS


PAPÉIS DO ESTADO E POLÍTICAS DE ESTABILIZAÇÃO ...............................................................338

SISTEMA DE PAGAMENTOS BRASILEIRO .....................................................................................339

A TRAJETÓRIA RECENTE DA ECONOMIA BRASILEIRA................................................................344

ECONOMIA E SUSTENTABILIDADE.................................................................................................346

CONCEITOS FUNDAMENTAIS: BALANÇO ENERGÉTICO E USOS E FONTES, MATRIZ ENERGÉTICA.......346

PETRÓLEO, GÁS NATURAL E ENERGIA ELÉTRICA .......................................................................................347

POLÍTICA AMBIENTAL .....................................................................................................................347

AQUECIMENTO GLOBAL.................................................................................................................................349

MUDANÇAS CLIMÁTICA ................................................................................................................................349

DOENÇA HOLANDESA ....................................................................................................................................350

INDUSTRIALIZAÇÃO, INOVAÇÃO E COMPETITIVIDADE..............................................................................350

TRANSIÇÃO DA MATRIZ ENERGÉTICA..........................................................................................................351


CONCEITOS FUNDAMENTAIS E PRINCÍPIOS DA ECONOMIA SOLIDÁRIA.................................351

DIFERENÇAS ENTRE ECONOMIA SOLIDÁRIA E ECONOMIA TRADICIONAL...............................................352

HISTÓRIA E CONTEXTO DO SURGIMENTO DA ECONOMIA SOLIDÁRIA.....................................................352

POLÍTICAS PÚBLICAS E APOIO À ECONOMIA SOLIDÁRIA..........................................................353

PROGRAMAS GOVERNAMENTAIS DE FOMENTO À ECONOMIA SOLIDÁRIA.............................................353

MECANISMOS DE FINANCIAMENTO E CRÉDITO PARA EMPREENDIMENTOS SOLIDÁRIOS....................354

REDES DE APOIO E PARCERIAS ENTRE ATORES SOCIAIS...........................................................................354

AS FUNÇÕES ECONÔMICAS DO ESTADO: ALOCATIVA, DISTRIBUTIVA E


ESTABILIZADORA.............................................................................................................................355

ORÇAMENTO PÚBLICO E OS PARÂMETROS DA POLÍTICA FISCAL NO BRASIL.......................357

RESPONSABILIDADE FISCAL E REGRAS FISCAIS.........................................................................362

INGRESSOS PÚBLICOS: CONCEITO, CLASSIFICAÇÃO, TIPOS.....................................................387

FONTES DE FINANCIAMENTO PÚBLICO........................................................................................388

TRIBUTAÇÃO: PREÇOS E EFICIÊNCIA ECONÔMICA, INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA.......................388

CARGA TRIBUTÁRIA: CONCEITO, COMPOSIÇÃO E EVOLUÇÃO NO BRASIL..............................397

PRINCÍPIOS DE DESCENTRALIZAÇÃO FISCAL: TRANSFERÊNCIAS


INTERGOVERNAMENTAIS: CLASSIFICAÇÃO E CRITÉRIOS.........................................................398

POLÍTICAS COMERCIAIS, PROTECIONISMO E LIVRE-CAMBISMO.............................................399

A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO (OMC) E ORGANIZAÇÃO PARA


COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO (OCDE): COMPETÊNCIAS,
ESTRUTURA E PROCESSO DECISÓRIO..........................................................................................403

MERCOSUL: OBJETIVOS E ESTÁGIO ATUAL DE INTEGRAÇÃO COMERCIAL.............................404

COOPERAÇÃO MULTILATERAL EM COMÉRCIO INTERNACIONAL: G20, BRICS........................410

EVOLUÇÃO DO SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL...........................................................411

SISTEMA DE BRETTON WOODS: INSTITUIÇÕES E FUNCIONAMENTO.......................................................412

BANCOS REGIONAIS E MULTILATERAIS DE DESENVOLVIMENTO..............................................................412

BANCO INTERAMERICANO DE DESENVOLVIMENTO (BID)..........................................................................413

NOVO BANCO DE DESENVOLVIMENTO (NDB)..............................................................................................413

BALANÇA COMERCIAL BRASILEIRA: CONCEITOS E METODOLOGIA DE


CONTABILIZAÇÃO............................................................................................................................414

SISTEMA ADMINISTRATIVO E INSTITUIÇÕES INTERVENIENTES NO COMÉRCIO


EXTERIOR NO BRASIL......................................................................................................................415
INSTITUIÇÕES INTERVENIENTES NO COMÉRCIO EXTERIOR NO BRASIL..................................................416

Receita Federal do Brasil.............................................................................................................................417


Ministério das Relações Exteriores (Mre)...................................................................................................418

A CÂMARA DE COMÉRCIO EXTERIOR (CAMEX)...........................................................................................418

SECRETARIA DE COMÉRCIO EXTERIOR (SECEX)..........................................................................................419

BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN).........................................................................................................419

EIXO 4 – ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO........ 431


ORÇAMENTO PÚBLICO: HISTÓRIA, EVOLUÇÃO E NATUREZA JURÍDICA..................................431

A RELAÇÃO DO ORÇAMENTO COM AS POLÍTICAS FISCAL, TRIBUTÁRIA E CAMBIAL.............................442

ORÇAMENTO NA CONSTITUIÇÃO DE 1988...................................................................................442

LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS: CARACTERIZAÇÃO, CONTEÚDO E PRAZOS................................444

LEI ORÇAMENTÁRIA ANUAL: CARACTERIZAÇÃO, CONTEÚDO, PRAZOS, CLASSIFICAÇÕES..................445

ELABORAÇÃO E APROVAÇÃO DAS LEIS DE MATÉRIA ORÇAMENTÁRIA: PROPOSTA


ORÇAMENTÁRIA E SUA INTEGRAÇÃO COM PPA E LDO..............................................................449

AS INTERFACES ENTRE LDO, LOA, LEI N° 4.320, DE 1964 E LEI COMPLEMENTAR


N° 101, DE 4 DE MAIO DE 2000........................................................................................................451

CRÉDITOS ADICIONAIS...................................................................................................................................454

CONCEITOS E ELEMENTOS BÁSICOS DO ORÇAMENTO PÚBLICO, ORÇAMENTO


TRADICIONAL, ORÇAMENTO DE BASE ZERO, ORÇAMENTO DE DESEMPENHO,
ORÇAMENTO-PROGRAMA, ORÇAMENTO PARTICIPATIVO.........................................................454

CLASSIFICAÇÕES ORÇAMENTÁRIAS DA RECEITA E DA DESPESA PÚBLICA:


UTILIZAÇÃO, ORIGENS, FUNDAMENTAÇÃO ECONÔMICA...........................................................455

RECEITA PÚBLICA: CONCEITO, CLASSIFICAÇÕES, ESTÁGIOS, TRIBUTOS,


CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS...............................................................................................................458

FONTE DE RECEITA E FONTE DE RECURSOS.................................................................................464

DESPESA PÚBLICA: CONCEITO, CLASSIFICAÇÕES E ESTÁGIOS................................................465

RECEITA ORÇAMENTÁRIA E DESPESA ORÇAMENTÁRIA DA UNIÃO..........................................469

FIXAÇÃO DA DESPESA E EMPENHO, LIQUIDAÇÃO E PAGAMENTO............................................474

OPERAÇÃO DE CRÉDITO..................................................................................................................477

RESTOS A PAGAR.............................................................................................................................480

SUPRIMENTO DE FUNDOS...............................................................................................................481
PRESTAÇÃO E TOMADA DE CONTAS.............................................................................................483

DESPESAS DE EXERCÍCIOS ANTERIORES.....................................................................................485

SISTEMAS DE PLANEJAMENTO, DE ORÇAMENTO E DE ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA.......485

RELATÓRIOS .....................................................................................................................................490

RESUMIDOS DA EXECUÇÃO ORÇAMENTÁRIA, DE AVALIAÇÃO DO CUMPRIMENTO DAS


METAS FISCAIS E DE GESTÃO FISCAL — FINALIDADE, ESTRUTURA E COMPOSIÇÃO.............................490

OBJETIVOS DA CONTABILIDADE REGULATÓRIA.........................................................................492

APRESENTAÇÃO GERAL DE NECESSIDADES DE INFORMAÇÃO; LIMITAÇÕES DE CONTABILIDADE


TRADICIONAL E GERENCIAL DA EMPRESA REGULADA..............................................................................492

CONSISTÊNCIA ENTRE CONTAS ESTATUTÁRIAS E CONTAS REGULATÓRIAS.........................................493

COMPORTAMENTO DOS REGULADORES E PRINCÍPIOS A SEREM SEGUIDOS..........................................493

UTILIZAÇÃO DE CUSTOS CONTÁBEIS NA DEFINIÇÃO DE TARIFAS ...........................................................494

CONTABILIDADE GERAL..................................................................................................................494

O SISTEMA DE INFORMAÇÃO CONTÁBIL: ENTENDIMENTO, PROBLEMAS E ALTERNATIVAS.................495

PRINCÍPIOS E CONVENÇÕES CONTÁBEIS; OBJETIVIDADE; CONSERVADORISMO;


MATERIALIDADE; CONSISTÊNCIA.................................................................................................................496

PRINCIPAIS REGISTROS DE TRANSAÇÕES PELO SISTEMA CONTÁBIL; APLICAÇÕES


FINANCEIRAS; INVESTIMENTOS; IMOBILIZADO; DIFERIDO.......................................................................496

AVALIAÇÃO DE ATIVOS ..................................................................................................................................496

RECONHECIMENTO DE RECEITAS.................................................................................................................497

APROPRIAÇÃO DE DESPESAS .......................................................................................................................497

ELABORAÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS....................................................................................497

AUDITORIA DE ENTIDADES REGULADAS PELA CONTABILIDADE REGULATÓRIA....................497

CONTEÚDO DE DIRETRIZES DE CONTABILIDADE REGULATÓRIA...............................................................498

PROCESSOS DE INTERCÂMBIO DE INFORMAÇÕES.....................................................................................498

AS CONCESSÕES DE SERVIÇOS PÚBLICOS E AS AGÊNCIAS REGULADORAS NO BRASIL......................499

INTRODUÇÃO GERAL AOS PROBLEMAS ECONÔMICOS: ESCASSEZ E ESCOLHA....................499

CURVA DE POSSIBILIDADE DE PRODUÇÃO, FATORES DE PRODUÇÃO, OFERTA, DEMANDA


E EQUILÍBRIO DE MERCADO...........................................................................................................................499

CONCEITOS BÁSICOS: EFICIÊNCIA ECONÔMICA, EXTERNALIDADES, BENS PÚBLICOS,


ASSIMETRIA DE INFORMAÇÃO (RISCO MORAL, SELEÇÃO ADVERSA E ANTISSELEÇÃO)......509

DIVERSIFICAÇÃO INDUSTRIAL E INTEGRAÇÃO VERTICAL.........................................................509


ESTRUTURA DE MERCADO: MERCADOS PERFEITOS E IMPERFEITOS, FALHA DE
MERCADO..........................................................................................................................................510

AS AGÊNCIAS REGULADORAS E O PRINCÍPIO DA LEGALIDADE................................................511

ÓRGÃOS REGULADORES NO BRASIL: HISTÓRICO E CARACTERÍSTICA DAS


AUTARQUIAS.....................................................................................................................................520

ABORDAGENS: TEORIA ECONÔMICA DA REGULAÇÃO, TEORIA DA CAPTURA,


TEORIA DO AGENTE PRINCIPAL .....................................................................................................521

FORMAS DE REGULAÇÃO................................................................................................................522

REGULAÇÃO DE PREÇO..................................................................................................................................522

REGULAÇÃO DE ENTRADA.............................................................................................................................522

REGULAÇÃO DE QUALIDADE..........................................................................................................................522

O ESTADO REGULADOR E A DEFESA DA LIVRE CONCORRÊNCIA...............................................522

DEFESA DA CONCORRÊNCIA ..........................................................................................................522

ANÁLISE DE MERCADO ..................................................................................................................................523

PRÁTICAS DESLEAIS ......................................................................................................................................523

POSIÇÃO DOMINANTE ...................................................................................................................................523

INFRAÇÕES À ORDEM ECONÔMICA: CARTEL, MONOPÓLIO, TRUSTE, PRÁTICAS RESTRITIVAS E


OLIGOPÓLIO.....................................................................................................................................................523

CONCEITOS DE BOAS PRÁTICAS REGULATÓRIAS: ANÁLISE DO IMPACTO REGULATÓRIO,


DO RESULTADO REGULATÓRIO, DECRETO N° 10.411, DE 2020, E ALTERAÇÕES; LEI DA
AGÊNCIAS (LEI N° 13.848, DE 2019)...............................................................................................524

REGULAÇÃO EM SAÚDE NO BRASIL...............................................................................................533

REGULAÇÃO NO SETOR AQUAVIÁRIO NO BRASIL.......................................................................534

REGULAÇÃO NO SETOR ELÉTRICO NO BRASIL............................................................................543

REGULAÇÃO DO SETOR DE SAÚDE SUPLEMENTAR NO BRASIL.................................................543

DEFESA DA CONCORRÊNCIA: LEI N° 12.529, DE 2011, E ALTERAÇÕES.....................................544

DIREITO DO CONSUMIDOR: LEI N° 8.078, DE 1990 E ALTERAÇÕES............................................563

AVALIAÇÃO DOS BENEFÍCIOS SOCIAIS E ECONÔMICOS, ÍNDICE DE VIABILIDADE,


DIAGNÓSTICOS, ESTUDO E IMPACTO/RISCO SOCIAL, IMPACTO/RISCO AMBIENTAL............588

ANÁLISE DE MERCADO...................................................................................................................................590

REEQUILÍBRIO ECONÔMICO E FINANCEIRO..................................................................................590

A PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR NO BRASIL: REGRAMENTO CONSTITUCIONAL,


LEIS COMPLEMENTARES N° 108 E 109, DE 2001.........................................................................591
PLANOS DE BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS DE ENTIDADES FECHADAS: MODALIDADES
E PATROCÍNIO...................................................................................................................................604

ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA DE PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR, ÓRGÃOS


REGULADORES E SUPERVISORES..................................................................................................625

AS ENTIDADES FECHADAS DE PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR: CLASSIFICAÇÃO,


COMPOSIÇÃO, ATRIBUIÇÕES E A AÇÃO DO ESTADO...................................................................638

EIXO 5 — INGLÊS ............................................................................................................. 649


COMPREENSÃO DE TEXTOS ESCRITOS EM LÍNGUA INGLESA, VOCABULÁRIO, COESÃO E
COERÊNCIA.......................................................................................................................................649
definição de indicadores, medição de resultados e
implementação de melhorias.
Portanto, de maneira simplificada, a junção das
duas funções é como fazer um bolo, no qual o plane-

EIXO 1 — GESTÃO jamento consiste nos ingredientes e a gestão, por sua


vez, no modo de fazer.

GOVERNAMENTAL E PRINCÍPIOS

GOVERNANÇA PÚBLICA Os princípios norteadores do planejamento e


gestão estratégica são os critérios e diretrizes que
orientam o processo de elaboração, implementação
e avaliação das estratégias organizacionais. Assim,
pode haver a variação de acordo com o modelo, meto-
PLANEJAMENTO E GESTÃO dologia e cultura de cada organização, mas alguns
ESTRATÉGICA exemplos de princípios gerais e específicos. Vejamos:

CONCEITOS z Orientação para o futuro: o planejamento deve


ser voltado para o futuro, buscando identificar
O planejamento e a gestão estratégica tratam-se tendências e oportunidades;
de processos que são fundamentais para o sucesso z Consistência: o planejamento deve ser consisten-
de qualquer organização, seja ela pública ou priva- te com os valores e objetivos da organização;
da, grande ou pequena, nova ou consolidada. Nesse z Flexibilidade: para que funcione, é necessário
sentido, envolvem a definição de objetivos, análise que haja flexibilidade, permitindo adaptações às
do ambiente interno e externo, formulação de estra- mudanças do ambiente;
tégias, implementação de ações e monitoramento de z Participação: envolvimento de todos os interessa-
resultados. dos (stakeholders) da organização.
Diante disso, neste conteúdo explicaremos sobre
os tópicos, qual a importância, como aplicá-los na prá- ETAPAS, FERRAMENTAS E MÉTODOS
tica e quais são as principais ferramentas utilizadas
nesse processo. A aplicação, tanto do planejamento como da ges-
tão estratégica, deve seguir etapas básicas que podem
Planejamento Estratégico variar de acordo com o modelo adotado pela organi-
zação. De maneira geral, as etapas figuram em diag-
De maneira inicial, cabe a explanação de modo nóstico estratégico; definição da missão, visão e dos
separado acerca dos dados assuntos. Sendo assim, de valores; formulação de objetivos e estratégias; imple-
acordo com Chiavenato (2023), planejamento estratégi- mentação de planos e ações; monitoramento e avalia-
co é “o processo de elaborar a estratégia, com o propó- ção de resultados.
sito de orientar e apoiar o desempenho organizacional”. Observemos a seguir o que concerne aos tópicos
Em outras palavras, planejamento estratégico mencionados anteriormente.
define-se como o processo em que há o estabelecimen-
to de objetivos e estratégias para alcançar o sucesso de Diagnóstico Estratégico

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


uma organização a longo prazo, bem como os meios
para alcançá-los, levando em conta condições inter- Como primeiro motor, o objetivo é realizar uma
nas e externas, oportunidades, ameaças, forças, fra- análise do ambiente interno e externo da organiza-
quezas, missão, visão e valores organizacionais. ção, bem como da situação atual e futura. Para isso,
Posto isso, trata-se de um processo contínuo, dinâ- poderá usar ferramentas que facilitam o entendimen-
mico e participativo, que envolve todos os níveis da to. Vejamos:
organização, desde a alta direção até os colaboradores
operacionais, de forma que deve ser revisado perio- z Matriz SWOT: permite identificar as forças, fra-
dicamente para adaptar-se às mudanças do contexto. quezas, oportunidades e ameaças da organização,
bem como as suas implicações estratégicas;
Gestão Estratégica z Análise PESTEL: viabiliza a análise de fatores
políticos, econômicos, sociais, tecnológicos, ecoló-
A gestão estratégica, segundo o autor Antonio gicos e legais que afetam o ambiente externo da
Cury (1983), configura-se como o conjunto de decisões organização;
e ações estratégicas que determinam o desempenho z Análise das cinco forças de Porter: permite ava-
de uma organização no longo prazo. Ou seja, é o pro- liar o grau de competitividade e de atratividade do
cesso de colocar em prática as estratégias definidas setor em que a organização atua, considerando as
no planejamento estratégico, bem como de acompa- forças de rivalidade, de ameaça de novos entran-
nhar, avaliar e corrigir o seu desdobramento, visando tes, de produtos substitutos, de barganha com os
garantir o alcance dos objetivos organizacionais. fornecedores e clientes;
Ainda nesse viés, a gestão estratégica é o processo z Análise de stakeholders: é a permissibilidade de
integrado, sistêmico e alinhado, que envolve a coorde- identificação dos grupos de interesse que influen-
nação, comunicação, motivação e controle das ativi- ciam ou são influenciados pela organização, bem
dades estratégicas, bem como a alocação de recursos, como as suas necessidades e expectativas. 15
Definição da Missão, Visão e Valores Demais Ferramentas

Nesta etapa, tem-se como objetivo a definição da Além das ferramentas já mencionadas, existem
razão de ser, o propósito, a identidade e os princípios outras que podem auxiliar o planejamento e a gestão
da organização. Para isso, podem ser utilizados con- estratégica, tais como a Matriz BCG, a qual permite a
ceitos como: análise do portfólio de produtos ou serviços da organi-
zação, classificando-os em categorias, de acordo com o
z Missão: de forma a declarar o que expressa a seu crescimento de mercado e sua participação relativa.
razão de ser da organização, o seu negócio, o seu Ainda, como um instrumento de auxílio, pode-se
público-alvo e o seu diferencial competitivo; envolver a Matriz Ansoff, que, por sua vez, permite
z Visão: é a manifestação que explana o futuro dese- a análise das opções de crescimento da organização,
jado pela organização, o seu sonho, sua ambição e considerando quatro estratégias, como a inserção no
sua direção; mercado, desenvolvimento de produto e diversifica-
z Valores: como os princípios éticos e morais orien- ção, de acordo com o grau de novidade dos produtos
tam o comportamento da organização e dos seus e dos mercados.
membros, refletindo a sua cultura e a sua filosofia. Ademais, o balanced scorecard permite traduzir a
estratégia da organização em um conjunto de objeti-
Formulação de Objetivos e Estratégias vos, indicadores, metas e iniciativas, organizados em
perspectivas, tais como a financeira, clientela, proces-
Neste momento, a finalidade é definir o que a orga- sos internos, aprendizado e crescimento.
nização quer alcançar e como vai fazer isso. Para isso, Encaminhando para finalizarmos o assunto acerca
podem ser utilizados conceitos como: de ferramentas, outras duas que podem ser apresenta-
das são o mapa estratégico e a 5W2H. O primeiro, res-
z Objetivos: resultados esperados pela organização, pectivamente, representa e permite a visualização da
que devem ser dispostos observando metas especí- estratégia da organização em um diagrama que mostra a
ficas, mensuráveis, alcançáveis, relevantes e tem- relação de causa e efeito entre os objetivos, perspectivas,
porais (SMART); temas e iniciativas desejadas pelo balanced scorecard.
z Estratégias: cursos de ação escolhidos pela organi- Ainda nesse viés, a segunda, 5W2H, trata-se da
zação para alcançar os seus objetivos, consideran- possibilidade de elaborar uma ação de planos simples
do as suas forças, suas fraquezas, as oportunidades
e eficientes, respondendo a sete perguntas básicas
e ameaças.
(motivo pelo qual se leva a sigla): o que (what), quem
(who), quando (when), onde (where), por que (why),
Implementação de Planos e Ações
como (how) e quanto (how much).
Objetiva-se colocar em prática as estratégias defi-
NÍVEIS
nidas, transformando-as em planos e ações concretas.
Para isso, podem ser utilizados conceitos como:
O planejamento e gestão estratégica dividem-se em
níveis, de forma que configuram-se, pelo nível estraté-
z Planos: documentos que detalham as estratégias,
gico, como o mais alto de planejamento, envolvendo os
objetivos, metas, atividades, responsáveis, recur-
objetivos e estratégias da organização como um todo; o
sos, prazos e indicadores de cada área ou projeto
tático, como nível intermediário, envolvendo os obje-
da organização;
z Ações: tarefas realizadas pelos membros da tivos e estratégias de unidades menores da organiza-
organização para executar os planos, seguindo ção, como departamentos ou equipes; e o operacional,
as orientações, os procedimentos e os padrões sendo o mais nível mais baixo de planejamento, envol-
estabelecidos. vendo as tarefas e atividades específicas que devem ser
realizadas para atingir os objetivos da organização.
Monitoramento e Avaliação de Resultados
ESTABELECIMENTO DE OBJETIVOS E METAS
Visa-se, pelo acompanhamento, à possibilidade de ORGANIZACIONAIS
mensurar o desempenho da organização, bem como
corrigir eventuais desvios e implementar melhorias, Os objetivos, bem como as metas, são as decla-
utilizando ferramentas como: rações gerais sobre o que uma organização deseja
alcançar. Nesse espectro, como já mencionado ante-
z Monitoramento: o processo de coleta, análise e riormente, devem ser definidos de forma específica,
comunicação de informações sobre o andamento delimitando o que especificamente se busca; men-
dos planos e das ações, bem como dos problemas e surável, podendo verificar qual o tamanho do passo
das soluções encontradas; que se deseja dar; atingível, considerando que deve
z Avaliação: qualifica-se como o processo de com- ser algo possível de se alcançar com o tempo; relevan-
paração entre os resultados obtidos e os resultados te, de modo que vise qual a validade para o negócio;
esperados, bem como de identificação das causas e e temporais, possibilitando vislumbrar o prazo para
dos efeitos, dos desvios e das melhorias; executar o que se deseja.
z Correção: o processo de ajuste dos planos e das Para tanto, a importância de estabelecer dadas
ações, bem como de implementação de medidas condições é essencial para o sucesso de uma organi-
preventivas e corretivas, visando garantir o alcan- zação, uma vez que os objetivos fornecem direção e
ce dos objetivos. foco para a organização; as metas, por sua vez, permi-
tem que a organização monitore seu progresso e tome
16 medidas corretivas, se necessário.
Portanto, o processo de estabelecimento de objetivos e metas organizacionais, geralmente, envolve as etapas
ora apresentadas, vislumbrando o encontro entre planejamento e gestão de forma satisfatória.

REFERÊNCIAS

AAKER, D. A. Administração Estratégica: Planejamento e Implantação da Estratégia. 15ª ed. São Paulo: Atlas,
2017.
CHIAVENATO, I.; SAPIRO, A. Planejamento Estratégico. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2010.
CURY, A. Organização e Métodos: uma visão holística. 8ª ed. São Paulo: Atlas, 2008.

BALANCED SCORECARD (BSC)


No passado, toda organização procurava fazer uma avaliação competitiva levando em conta apenas os aspec-
tos financeiros, avaliando seus resultados e decidindo sobre os investimentos a longo prazo.
Atualmente, na era do conhecimento, as organizações convivem no seu dia a dia em um ambiente complexo e
dinâmico, no qual não é mais eficaz depender de sistemas de controle que somente focalizam o aspecto financeiro
das atividades. O aumento da competitividade entre as empresas fez nascer a necessidade de se medir os demais
fatores envolvidos nas atividades principais da organização, visto que o diferencial competitivo é alcançado atra-
vés de diversos indicadores existentes nos processos organizacionais.
Dessa maneira, os professores Robert Kaplan e David Norton inovaram ao criar um sistema de gestão estraté-
gica no qual perpassam por todos os indicadores essenciais para o sucesso da organização.
De acordo com os autores, para que a empresa obtenha a tão sonhada vantagem competitiva, é fundamental o
monitoramento não somente dos dados financeiros do passado, mas também das perspectivas que buscam medir
os fatores que levarão a empresa a ter sucesso no futuro.
O Balanced Scorecard (BSC) permite o alinhamento do planejamento estratégico com o operacional, inte-
grando todos os níveis hierárquicos e áreas da organização em torno de metas organizacionais gerais, a partir da
utilização equilibrada de indicadores financeiros e não financeiros.
Seu foco principal é o equilíbrio organizacional, com o alinhamento da organização, das pessoas e das inicia-
tivas aos objetivos globais da empresa, ou seja, de forma equilibrada e organizada de indicadores financeiros e
operacionais.
Essa técnica é pautada em quatro dimensões (também chamadas de perspectivas) importantes para a maxi-
mização do desempenho das organizações, cada uma das quais se desdobra em medidas específicas, podendo ser
divididas em indicadores.

Perspectiva dos
Clientes

Aprendizado e VISÃO E Processos


Crescimento ESTRATÉGIA Internos

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


Perspectiva
Financeira

PERSPECTIVA DOS CLIENTES

Nessa dimensão, busca-se identificar os clientes e mercados nos quais a organização atuará, além de definir as
medidas de desempenho que serão aceitas.
Normalmente envolve indicadores como: participação no mercado, aquisição de clientes, lucratividade dos
clientes e satisfação dos clientes.
Deve-se buscar a resposta da seguinte pergunta: como o cliente nos enxerga?

PERSPECTIVA DOS PROCESSOS INTERNOS

Nesta perspectiva, deve-se mapear os processos críticos, ou seja, aqueles que podem causar grande impacto
nos resultados da organização. Visa também o aprimoramento desses processos através de uma análise minucio-
sa, permitindo assim aos gestores a escolha de novos caminhos, com o objetivo de melhorar os resultados.
São indicadores dessa perspectiva: eficiência dos processos operacionais, desenvolvimento de novos produtos,
eficiência dos serviços pós-vendas.

17
Deve-se buscar a resposta da seguinte pergunta: O BSC contribui para que a nova Administração
em quais processos precisamos ser eficientes? Pública melhore o seu sistema de avaliação de quali-
dade e a satisfação do cliente-usuário, proporcionan-
PERSPECTIVA DO APRENDIZADO E DO do uma maior integração do orçamento na elaboração
CRESCIMENTO dos planos e um ganho substancial no foco, na motiva-
ção e responsabilidade no Poder Público.
Refere-se à essência da organização, sob o ponto
de vista daquilo que é essencial para a empresa cres- MATRIZ SWOT
cer com sucesso no futuro.
São os famosos “ativos intangíveis”, tais como: A ferramenta mais utilizada, e também a mais
pessoas, expertise, procedimentos organizacionais. cobrada em concursos, é a famosa matriz (análise)
Neste sentido, para o sucesso da organização no futu- SWOT (Strengths, Weaknesses, Opportunities and
ro, deve-se treinar seu pessoal, desenvolver sistemas Threats), em português, FOFA (Forças, Oportunida-
melhores e implantar procedimentos que levem à des, Fraquezas e Ameaças).
evolução da empresa. A matriz SWOT divide as variáveis em duas dimen-
Exemplos de indicadores desta dimensão: satis- sões, observe a seguir:
fação dos funcionários, retenção de funcionários e
lucratividade por funcionário. Análise do Ambiente Interno
Deve-se buscar a resposta da seguinte pergunta:
como podemos continuar a melhorar e a criar valor Consiste na análise das condições internas que a
agregado? organização possui naquele momento, além de iden-
tificar as práticas atuais da organização e o seu modo
PERSPECTIVA FINANCEIRA de operar. É realizado por meio do mapeamento dos
pontos fortes e dos pontos fracos.
Envolve os indicadores financeiros e contábeis, É o processo que examina os recursos disponíveis,
objetivando criar valor duradouro e sólido para a sejam financeiros, produtivos e humanos da empresa,
organização, além de indicar se a estratégia adotada verificando quais são suas forças e fraquezas e como
está se traduzindo em resultados financeiros. a empresa pode explorar as oportunidades e defron-
São exemplos de indicadores desta perspectiva: tar-se com as ameaças que o ambiente externo lhe
retorno sobre investimento, lucratividade, aumento apresenta.
do mix da receita e redução de custos/aumento da Percebemos, assim, que a análise do ambiente
produtividade. interno é restrita (dentro da organização) e controlá-
Deve-se buscar a resposta da seguinte pergunta: vel (possibilidade de tomar ações para melhoria).
como atendemos aos interesses dos acionistas?
z Pontos fortes: são características internas posi-
Dica tivas que a organização possui e favorecem o
cumprimento de seus objetivos, deixando-a em
O Balanced Scorecard é um modelo de gestão
vantagem perante seus concorrentes. Exemplifi-
estratégica e representa algo muito além de um cando: equipe qualificada, logística eficiente, agi-
mero sistema de medidas e indicadores. lidade na tomada de decisão;
z Pontos fracos: são as deficiências, os fatores e as
Em breve síntese, o BSC permite o alinhamento características negativas que se encontram pre-
de estratégias, ações e indicadores aos objetivos da sentes e de algum modo prejudicam o alcance dos
empresa, integrando, de forma balanceada, as estra- objetivos da organização, mantendo a empresa
tégias de longo prazo com as de curto prazo e, assim, em desvantagem em relação a seus concorrentes.
proporcionando uma ampla visão do desempenho da Exemplificando: equipe com pouca qualificação,
organização. equipe desmotivada, produto desatualizado, alto
Como vimos, o Balanced Scorecard foi desenvolvi- custo, pouco capital para investimento.
do para servir como um sistema de gestão estratégi-
ca nas empresas privadas. A seguinte pergunta deve
estar na sua cabeça: é possível a utilização do BSC nas Importante!
organizações públicas?
A resposta é sim. Conforme os próprios autores, as Uma das ferramentas para identificar os pontos
perspectivas do BSC devem funcionar como um mode- fortes e fracos é a avaliação do desempenho,
lo e não como uma camisa de força. Dessa maneira, é podendo ser segmentada de acordo com as
possível alterar ou inserir perspectivas de acordo com áreas funcionais da organização.
a natureza de cada órgão Público.
A adaptação mais visível é o deslocamento da
perspectiva financeira para a base do BSC, visto que, Análise do Ambiente Externo
na Administração Pública, é condição indispensável,
e não resultado final. Ainda nesse quesito, normal- Consiste no mapeamento ambiental das variáveis
mente é alterada a nomenclatura financeira para externas e não controláveis, como as oportunidades
orçamentária. — que criam situações favoráveis — e as ameaças —
Portanto, se sua prova afirmar que o BSC é incom- que criam situações desfavoráveis. Dessa forma, ela é
patível com a Administração Pública, pode assinalar ampla e incontrolável, sendo indispensável na esco-
sem nenhuma dúvida que a assertiva está errada. lha da estratégia a ser utilizada pela organização.
18
Quanto mais competitivo, instável e complexo for o ambiente externo, maior a necessidade dessa análise.

z Oportunidades: são os fatores externos que podem beneficiar a organização no alcance de seus objetivos.
Exemplificando: crescimento do mercado consumidor, câmbio valorizado (para empresas que exportam),
quebra de um concorrente;
z Ameaças: são os fatores externos que podem atrapalhar a organização na sua sobrevivência. Em regra, é
tudo aquilo que influência em seu desempenho de forma negativa, sem que ela possa fazer algo para mudar
a variável estabelecida. Exemplificando: um novo concorrente, aumento de impostos, uma nova legislação,
câmbio valorizado (para empresas que importam produtos).

Na figura abaixo, temos a representação gráfica da matriz SWOT:

Fatores Positivos Fatores Negativos

S W
Fatores Internos

Strengths Weaknesses
(forças) (fraquezas)

O T
Fatores Externos

Opportunities Threats
(oportunidades) (ameaças)

Analisando a matriz SWOT, inferimos que as forças e fraquezas representam os fatores internos (controlá-
veis). Já as oportunidades e ameaças retratam os fatores externos (incontroláveis).
Internalizando o conhecimento, e unindo a teoria com a prática, vamos desenhar a matriz SWOT de uma loja
que comercializa telefones celulares.

Fatores Positivos Fatores Negativos


Fatores Internos

Forças: Fraquezas:

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


z vendedores inovadores z e-commerce instável
z produtos inovadores z baixo caixa para
z logística eficiente investimento
Fatores Externos

Oportunidades: Ameaças:

z mercado em expansão z câmbio instável


z “quebra” do principal (tendência de alta)
concorrente z pandemia (lockdown)

Portanto, a loja em questão deve aproveitar as oportunidades do mercado externo, maximizando seus pontos
fortes e trabalhando para minimizar os seus pontos fracos, sempre atenta para as ameaças que podem se concre-
tizar do ambiente externo.
A partir da análise SWOT, analisando-se as oportunidades e ameaças ambientais de um lado e as potencia-
lidades (pontos fortes) e vulnerabilidades (pontos fracos) internas de outro, o administrador tem em mãos um
balizamento que o auxilia a redefinir as alternativas estratégicas em relação à ação futura.

FERRAMENTAS DE GESTÃO

As ferramentas da qualidade são técnicas e/ou instrumentos que possibilitam ao administrador monitorar
(controlar) e melhorar o fluxo de trabalho de cada processo, permitindo assim correções para a maximização do
trabalho. 19
Cada uma das ferramentas foi desenvolvida para uma função específica, mas nada impede a utilização delas
em conjunto, dependendo do caso concreto. A seguir, elencamos as principais ferramentas cobradas nos mais
diferentes certames e suas funções:

FERRAMENTAS PRINCIPAL FUNÇÃO


Diagrama espinha de peixe Representar os relacionamentos com efeito

Folha de verificação Coletar dados relativos à não conformidade

Identificar a frequência que certo dado aparece em um


Histograma
conjunto

Gráfico de Pareto Distinguir, entre os fatores, as prioridades

Diagrama de correlação Estabelecer correlação entre duas variáveis

Fluxograma Descrever processos

Gráfico de controle Analisar a variabilidade dos processos

A seguir, estudaremos cada uma das ferramentas, com ênfase no que é mais cobrado nas provas de concursos.

Diagrama Espinha de Peixe

Criado em 1943 pelo químico japonês Kaoro Ishikawa (um dos principais expoentes da qualidade total) com
o intuito de fornecer uma ferramenta poderosa que facilmente pudesse ser usada por não especialistas para ana-
lisar e resolver problemas, revolucionou a busca das causas relevantes na gestão da qualidade.
O diagrama que tem a forma de uma espinha de peixe representa graficamente os relacionamentos entre um
efeito e a sua causa, e tem por finalidade organizar o raciocínio e a discussão sobre as causas de um problema,
possibilitando entender melhor seu processo.

Mão de obra Máquinas


Por que ocorrem os
problemas na produção?
Métodos Materiais

Causas Efeitos

O diagrama espinha de peixe também é conhecido como diagrama de Ishikawa ou diagrama de causa e efeito.
Ele parte da premissa de que para solucionar os problemas é fundamental conhecer quais são as suas causas
geradoras. Assim, o processo é a causa e o produto é o efeito ou consequência.
Esse tipo de diagrama apresenta quatro possíveis tipos de causas normalmente encontradas nos problemas de
fábrica; por isso, alguns autores denominam-no também de Diagrama 4 M:

z mão de obra;
z método;
z materiais;
z máquinas.

Alguns autores acrescentam ainda mais uma ou duas variáveis, tornando assim o diagrama “5 M” ou “6 M”, a
depender do número de variáveis utilizadas. As novas variáveis são “meio ambiente” e “medida”.
Assim, estrutura-se e hierarquiza-se as principais causas que podem estar gerando um determinado efeito. De
forma didática e simples, Chiavenato conceitua o diagrama como uma ferramenta usada para que se identifique
as causas geradoras dos efeitos.
A grande vantagem desta ferramenta é a possibilidade de utilizá-la para qualquer situação, identificando, a
partir de seus efeitos, as causas de qualquer tipo de problema.
Unindo a teoria com a prática, Daniel H. Hunt1, de forma clara e simples, exemplifica a utilização da ferramen-
ta na “produção” de pipoca.
Cada um dos fatores que podem contribuir para que o milho não estoure é considerado uma espinha de peixe,
isto é, uma entrada cuja influência deve ser avaliada no problema.

20 1 HUNT, D. H. Gerenciamento para a qualidade. ITC, 1994.


Pessoas Ferramentas
treinamento panelas
motivação
fogão
Idade O milho
Tipo não estoura
Qualidade agitação
milho calor
tempo
óleo

Materiais Método

Causas Efeitos

Folha de Verificação

A folha de verificação, também conhecida como folha de coleta de dados, é uma ferramenta simples, mas efi-
caz, de coleta de dados úteis acerca de uma situação específica (problema/defeito a ser sanado).
Atenção: em regra, a folha de verificação é o ponto inicial da gestão da qualidade, pois os dados coletados
podem ser utilizados pelas demais ferramentas.
Sua construção e sua aplicação são simples: na primeira coluna, relaciona-se os itens a serem observados, e
nas colunas seguintes, os erros e problemas (defeitos) ocorridos em um determinado período.
Para facilitar o entendimento, analisemos um caso prático:
Você, como consultor de qualidade, precisa analisar o processo de fabricação de um automóvel em uma indús-
tria automobilística. Para iniciar seus trabalhos, primeiramente é necessário identificar as atividades que estão
“atrapalhando” na qualidade desejada.
Utilizando a folha de verificação, vamos coletar esses dados:

PROBLEMAS (DEFEITOS) SEMANA 1 SEMANA 2 SEMANA 3 TOTAL

Falta de componente do motor 1 2 1 4

Cor errada (pintura) 3 3 2 8

Defeito no chassi 1 2 4 7

Pneus com outras especificações 2 2 2 6

Percebemos, ao analisar a tabela acima, que o setor com mais problemas (defeitos) é o de pintura; assim, já
poderíamos buscar as causas do problema.

Histograma

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


Histograma é o famoso gráfico de barra, que auxilia a análise da frequência dos dados. É uma ferramenta de
fácil utilização e visualização que funciona como uma fotografia do processo em um determinado período. Sua
principal vantagem é proporcionar uma visualização mais intuitiva em formato de gráfico do que seria em uma
lista de resultados.
Vamos ao exemplo prático para um melhor entendimento:
Vamos medir a quantidade de pesquisas (pessoas) atendidas por um agente censitário em uma semana.

PESSOAS ATENDIDAS QUANTIDADE


Dia 1 8

Dia 2 7

Dia 3 5

Dia 4 9

Dia 5 10

Dia 6 5

Dia 7 3

21
Pessoas atendidas — Semana 1 Na figura a seguir, elencamos as principais carac-
12 terísticas do princípio de Pareto:
10
20% dos eventos causam 80% dos problemas
8 Gráfico
de
6
Pareto Técnica de priorização
4

2 Nem todos os problemas merecem a


mesma atenção
0 Princípio
Dia 1 Dia 2 Dia 3 Dia 4 Dia 5 Dia 6 Dia 7 Identificar e priorizar os problemas mais
80/20
importantes
O histograma permite uma melhor visão dos dados
do que a simples lista de resultados, facilitando a iden- Diagrama de Correlação
tificação de uma tendência em um processo. Nesse
caso, ao olhar rapidamente para o histograma, con- Diagrama de correlação, também chamado de dia-
cluímos que nos dias 4 e 5 o agente censitário foi mais grama de dispersão, é uma ferramenta da qualidade
produtivo. que possibilita analisar uma possível correlação entre
duas variáveis.
Gráfico de Pareto Segundo Maranhão e Macieira (2010):

O gráfico de Pareto (também chamado de princí- Diagrama de Dispersão é uma ferramenta para
verificar a correlação ou dependência entre duas
pio de Pareto ou princípio 80/20) é uma ferramenta/
quaisquer variáveis de processos, dentre as várias
técnica muito utilizada na gestão da qualidade; ele possíveis. A ferramenta permite identificar o sen-
permite classificar e priorizar uma variável seguindo tido de variação de uma das variáveis, quando a
a regra 80/20, ou seja, 80% das consequências de um outra varia (aumentando ou diminuindo)2.
fenômeno provêm de 20% de causas.
O nome “Pareto” vem de uma homenagem ao eco- Essa ferramenta é construída através de um sis-
nomista italiano Vilfredo Pareto que, em seu estudo, tema cartesiano — pares ordenados (x,y) — que visa
observou que 80% da riqueza da Itália estava nas demonstrar como a alteração sofrida por uma variá-
vel correlaciona-se com a alteração da outra variável.
mãos de 20% da população.
Simplificando: o gráfico de correlação permite a
Sintetizando: o princípio de Pareto significa que
visualização de como uma mudança ocorrida em um
80% dos problemas são ocasionados por 20% de cau- fator (variável) pode afetar outro fator (outra variável).
sas, o quer dizer que são poucas causas que originam Para facilitar o entendimento, observemos um
a maioria dos problemas. caso prático. Verificar a correlação entre horas de
Nesse sentido, o diagrama de Pareto serve justa- estudos e a aprovação em concurso:
+ Horas de estudo
mente para identificar esses aspectos de melhorias + Aprovação
que oferecem maior potencial de resultados para a
organização.
Esquematizando:
Horas de Estudo

POUCAS 20% das 80% dos


CAUSAS causas defeitos
(Menos) horas de estudo
(Menos) aprovação
MUITAS 80% das 20% dos
CAUSAS causas defeitos
Aprovação em Concurso

Fonte: Maximiano, 2011 (Adaptado).

O gráfico acima demonstra uma correlação entre


Chiavenato define o princípio como uma forma horas estudadas com índice de aprovação em um
de comparação, a qual possibilita a análise de grupos concurso. Quanto mais horas de estudos, maior a sua
de informações ou, ainda, de problemas, verificando chance de aprovação.
a localização daqueles mais significativos ou que exi-
gem prioridade. Fluxograma
Portanto, focalizar as poucas causas significativas Fluxograma (flowchart, em inglês) é a ferramenta
permite resolver a maioria dos problemas. Conclui- mais tradicional e utilizada de mapeamento e desenho
-se, assim, que no primeiro problema a ser resolvido de processos, e consiste em um conjunto de notações
deve-se encontrar as prioridades. (símbolos padronizados) que representa a sequência
lógica de um processo ou atividade.
22 2 MARANHÃO, M.; MACIEIRA, B. E. M. O processo nosso de cada dia, modelagem de processos de trabalho. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2010.
Sua principal vantagem é a simplificação, de modo gráfico, de como os processos e as atividades funcionam, o
que permite obter uma visão de conjunto e integrada de cada passo do processo.
As principais notações utilizadas na construção de fluxogramas são:

Indica o início ou fim do processo

Atividade a ser executada

Ponto de tomada de decisão

Direção de fluxo

Espera / atraso

Documentos

Gráfico de Controle

Gráfico de controle, também chamado de carta de controle, é uma ferramenta da qualidade utilizada para
medir a variabilidade de um processo através de seu desempenho estatístico, quantificando a frequência de cer-
tos eventos em um determinado período.
Conforme Paladini (2002):

As cartas de controle fornecem um diagnóstico da atual situação do processo (como se obtivesse uma fotografia
objetiva dele), como analisam como se comportará em futuro próximo, isto é, quais são suas tendências3.

Para a construção do gráfico, são atribuídos limites de especificações superior e inferior que refletem, respec-
tivamente, os valores máximos e mínimos permitidos. Há, também, a linha central, que representa a média.
Essa ferramenta permite identificar pontos ou padrões incomuns que necessitam de correção; possibilita tam-
bém monitorar a estabilidade e o controle do processo.
Vamos analisar um exemplo prático para entender como essa ferramenta funciona.
No gráfico a seguir, temos o número de defeitos no primeiro semestre do ano 2020 no processo de fabricação
de sapatos da empresa X:

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


Processo “fora
de controle”

600 Limite superior

500

400

300

200 Limite inferior

100
iro

iro

ço

il

o
r

ai

nh
Ab
ar
re
ne

Ju
M
ve
Ja

Fe

Analisando o gráfico, percebemos que, nos meses de março e maio, tivemos um comportamento atípico do
processo. Dessa maneira, é necessário verificar os fatores que influenciaram essa ocorrência.
Em relação ao mês de março, deve-se verificar o fator positivo pelo baixo número de defeitos e assim replicá-lo
para os outros meses.
Já em relação ao mês de maio, pode-se dizer que o processo está “fora de controle” (defeitos acima do limite
máximo aceitável); deve-se, assim, identificar e corrigir o que está errado no processo.
3 PALADINI, E. P. Avaliação Estratégica da Qualidade. São Paulo: Atlas, 2002. 23
Programa Seis Sigmas

O programa Seis Sigmas (Six Sigma) é uma metodologia de redução de desperdícios por meio da eliminação de
produtos defeituosos, desenvolvida nos anos 1980 pela empresa Motorola.
O nome da metodologia advém da medida estatística da variação de produtos (desvio-padrão de uma amostra),
representada pela letra grega sigma. Dessa maneira, para alcançar os seis sigmas, um processo não pode produzir
mais de 3,4 defeitos por milhão de oportunidades (de defeitos), ou seja, quase zero defeito.
Os Seis Sigmas popularizaram-se como ferramenta de uso universal, tanto na fabricação de produtos quanto
na prestação de serviços. Para a implementação desse programa, normalmente é utilizada uma ferramenta de
desenvolvimento de melhoria de processos denominada DMAIC.
DMAIC é o acrônimo (abreviatura) de: Define (definir), Measure (medir), Analyse (analisar), Improve (aprimo-
rar) e Control (controlar); cada letra representa uma etapa do processo de evolução.

Define
Selecionar o processo a ser aprimorado
(Definir)
Measure Fazer o levantamento sistemático dos dados de
(Medir) desempenho do processo a ser aprimorado
Analyse Avaliar os dados para identificar as possibilidades de
(Analisar) aprimoramento
Improve Criar e implantar soluções para os problemas
(Aprimorar) identificados
Control
Acompanhar o desempenho do novo processo
(Controlar)

Programa 5S

O programa 5S é uma técnica desenvolvida no Japão utilizada para estabelecer e manter a qualidade ambien-
tal na organização, a partir do fortalecimento de valores, ideias e crenças que proporcionam a melhoria na pro-
dutividade, segurança, arrumação, limpeza e eliminação de desperdícios.
Trata-se de uma técnica simples que tem sido amplamente utilizada no Japão, objetivando não apenas melho-
rar o local físico do trabalho, mas também aprimorar a organização das ideias.
Seu nome vem da abreviatura de 5 palavras no idioma japonês: seiri, seiton, seiso, seiketsu e shitsuke. Os “S”
foram traduzidos para o português e significam:

TERMO EM JAPONÊS SIGNIFICADO EXEMPLO


Seiri Utilização Eliminar aquilo que não é usado

Seiton Ordenação Rapidez para encontrar uma informação

Seiso Limpeza Responsabilidade individual pela limpeza

Seiketsu Saúde e Higiene Visibilidade e transparência do local

Shitsuke Autodisciplina Executar os 5S a todo momento

A implementação do programa 5S requer comprometimento da alta direção da organização e participação de


todos os colaboradores; assim, sendo bem executado, tem o potencial de transformar o ambiente de trabalho em
um local mais “leve”.

METODOLOGIAS PARA MEDIÇÃO DE DESEMPENHO


CONCEITO

Metodologias para medição de desempenho são processos que permitem avaliar o quanto uma organização,
uma equipe ou um colaborador está atingindo os seus objetivos e entregando os resultados esperados. Dessa
forma, estas são importantes para identificar pontos fortes e fracos, oportunidades e ameaças, necessidades e
expectativas dos stakeholders, e implementar melhorias contínuas.
Existem diversas metodologias para medição de desempenho, que podem variar de acordo com o tipo, o tama-
nho, o setor e a cultura da organização. Algumas das principais são:

z Autoavaliação: o próprio colaborador analisa o seu desempenho, identificando os seus pontos fortes e os seus
pontos a serem melhorados, de acordo com critérios predefinidos;
z Avaliação 360º: o colaborador é avaliado por todos os que se relacionam com ele, como gestores, líderes, cole-
24 gas, clientes e fornecedores, e, também, avalia a si mesmo e aos outros;
z Avaliação por objetivos: o desempenho do colabo- Formulação
rador é medido de acordo com o grau de alcance
dos objetivos estabelecidos em conjunto com o ges- A formulação de indicadores de desempenho deve
tor, que devem seguir a linha “SMART” (específicos, seguir os passos de definir os objetivos que serão ava-
mensuráveis, alcançáveis, relevantes e temporais); liados pelos indicadores, bem como deve-se identifi-
z Avaliação por competências: o desempenho do car os KPIs que serão usados no processo.
colaborador é avaliado de acordo com o conjun- Por conseguinte, a definição de metas para cada
to de conhecimentos, habilidades e atitudes que um dos indicadores, tal qual a coleta e análise de
se demonstram no exercício de suas funções, uma dados, são passos sucessivos para a visualização dos
vez que devem se alinhar com a missão, visão e indicadores, identificando, sempre que possível, as
valores da organização; tendências e áreas de melhoria.
z Avaliação por escala gráfica: haverá a classifi-
Análise
cação do colaborador de acordo com uma escala
numérica ou verbal, que varia de excelente a insu- A análise de indicadores de desempenho deve
ficiente, por exemplo, em relação a diversos fato- seguir os passos de comparação de metas, tanto as
res, como qualidade, produtividade, pontualidade, definidas quanto as concorrentes. Dessa forma, os
criatividade etc. KPIs devem ser analisados para identificar tendên-
cias, bem como as causas das variações dentro dos
OBJETIVOS próprios indicadores.

Destarte, o objetivo da medição de desempenho Outras Considerações


relaciona-se com a avaliação do progresso em direção
a objetivos, de modo que haja a medição de desempe- Com a finalidade de trazer à consciência um exem-
nho com o fornecimento de informações sobre o quão plo ilustrativo, consideremos uma empresa de tec-
bem uma organização está se saindo em relação aos nologia que deseja aumentar a satisfação do cliente.
seus objetivos. A empresa poderia usar os seguintes indicadores de
Ainda nesse viés, vislumbra-se identificar as áreas desempenho para avaliar o seu desempenho:
de melhoria, de modo que haja a possibilidade de aju-
dar as organizações a identificar áreas onde precisa- z Taxa de satisfação: é uma medida de quanto os
-se de melhoria. clientes estão satisfeitos com a empresa. Assim,
Por fim, também figura-se como objetivo a tomada calcula-se dividindo o número de clientes satisfei-
de decisões informadas, posto que, a partir disso, as tos pelo número total de clientes;
organizações poderão tomar melhores decisões que z Números de reclamações: é a “régua” de quantos
colaborem com o progresso diário. clientes estão insatisfeitos com a empresa;
z Tempo de resposta ao cliente: observa-se quanto
INDICADORES DE DESEMPENHO tempo leva para a empresa responder às solicita-
ções dos clientes.
Conceito
A empresa, para tanto, poderia comparar esses
indicadores de desempenho com as metas definidas
Indicadores de desempenho (KPIs) são medidas
para identificar áreas de melhoria. Por exemplo, se a
específicas que são usadas para avaliar o desempenho
meta de satisfação do cliente for de 90%, a empresa
de uma organização, unidade ou indivíduo. Assim, os
poderia comparar a taxa de satisfação atual com a

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


indicadores visam verificar se os objetivos e as metas
meta posicionada. Se a taxa de satisfação estiver abai-
estabelecidas estão sendo alcançados, bem como pre-
xo desses 90%, a empresa poderia identificar as cau-
tendem identificar pontos fortes e fracos, oportunida-
sas dessa variação e tomar ações corretivas.
des e ameaças, e implementar melhorias contínuas.
Portanto, os indicadores de desempenho são ferra-
mentas essenciais para a gestão de organizações, posto
Tipos de Indicadores
que fornecem informações valiosas sobre o desempe-
nho da organização, o que poderá ser usado para ava-
Nesse sentido, os KPIs podem ser financeiros, ope-
liar o progresso em direção aos objetivos, identificar
racionais, de clientes ou de aprendizado e crescimen-
áreas de melhoria e tomar decisões informadas.
to. Vejamos a subdivisão:
DETALHAMENTO DA FERRAMENTA DE AVALIAÇÃO
z KPIs financeiros: medem o desempenho finan- DE DESEMPENHO: OKR
ceiro de uma organização, como, por exemplo, a
receita, lucro líquido, custo de mercadorias vendi- Os objetivos e resultados-chave (OKR — objectives
das e margem de lucro; and key results) são uma metodologia de gestão que
z KPIS operacionais: fiscalizam o desempenho ope- se concentra na definição de objetivos ambiciosos,
racional, como o tempo de resposta ao cliente, qua- porém alcançáveis, acompanhados de resultados-cha-
lidade do produto, produtividade e eficiência; ve que medem o progresso em direção aos objetivos.
z KPIs de clientes: controlam a organização na Assim, os OKR oferecem uma série de vantagens,
satisfação do cliente, como retenção de clientes e incluindo o foco, uma vez que ajudam a concentrar a
recomendações; atenção nos objetivos mais importantes; a transparên-
z KPIs de aprendizado e crescimento: visualizam cia, que ajuda a garantir que todos estejam alinhados
como está o andamento da inovação e capacidade com os objetivos da organização; e a responsabilida-
de adaptação da organização, como o treinamento de, que auxilia na responsabilização das pessoas pelo
de funcionários. progresso em direção aos objetivos. 25
Destarte, a aplicação dos mencionados OKRs dá-se em diferentes níveis de uma organização, desde o nível
estratégico até o nível operacional. Assim, no nível estratégico, os OKRs são usados para definir os objetivos de
médio prazo de uma organização, os quais devem estar alinhados com a sua missão e visão.
Em nível tático, os OKRs são usados para definir os objetivos de médio prazo, uma vez que devem se alinhar
aos objetivos estratégicos da organização. E, de modo final, em nível operacional, usam-se os OKRs para definir os
objetivos de curto prazo, os quais devem estar alinhados com os objetivos táticos da organização.

GESTÃO DE PESSOAS
CONCEITO

As organizações estão em constante crescimento e desenvolvimento. Quanto maior o número de produtos/


serviços oferecidos e abrangência de mercado, maior a necessidade de ter pessoas qualificadas e competentes
para manter e aumentar a competitividade organizacional.
Sendo assim, toda organização necessita de pessoas para a sua sobrevivência e sucesso, ainda que em menor
escala. E é justamente porque as organizações dependem das pessoas que existe a necessidade de gerenciar e
orientar o comportamento desses indivíduos no ambiente de trabalho.
Isso significa que o comportamento dos trabalhadores deve ser coerente com os objetivos e valores da organi-
zação. A área/departamento que atua sobre o comportamento das pessoas é chamada de Gestão de Pessoas (GP).
Hoje, a GP é responsável por diversas funções, tais como recrutamento, seleção, treinamento, desenvolvimen-
to, oferta de benefícios e serviços sociais, implementação de programas de incentivos, remuneração, avaliação
do desempenho, atenção a questões de saúde, segurança e qualidade de vida no trabalho, entre outros. Mas nem
sempre foi assim.
Fischer (2002) aponta para quatro correntes que correspondem a períodos históricos diferentes na GP. Uma
síntese das características dessas correntes é apresentada no quadro a seguir.

DEPARTAMENTO PESSOAL GESTÃO DO COMPORTAMENTO HUMANO

Período: 1890–1930 Período: 1930–1970

Trabalhadores vistos como fatores de produção. Os cus- Surgimento da Escola de Relações Humanas. O homem
tos desses devem ser administrados de forma racional passa a ser visto como ser social e não mais como ho-
e lógica mem econômico

O departamento de pessoal lida com as questões bu-


A psicologia é utilizada para entender e interferir nas
rocráticas associadas aos trabalhadores, basicamente
organizações
contratação e desligamento

O departamento de gestão de pessoas lida com trei-


O gerente de pessoal tem a função principal de selecio-
namento, relações interpessoais, avaliação de de-
nar os candidatos mais eficientes, ou seja, aqueles que
sempenho, entre outras funções com vistas a obter
são capazes de produzir mais a um custo baixo
trabalhadores satisfeitos e motivados

GESTÃO ESTRATÉGICA VANTAGEM COMPETITIVA

Período: 1970–1980 Período: a partir de 1980

Os trabalhadores devem estar alinhados à estratégia da


empresa. Abandono do modelo comportamental. O fato O aumento da competitividade exige das organiza-
de os trabalhadores estarem felizes e satisfeitos não ções um modelo de gestão de pessoas com base em
necessariamente indica que estão contribuindo para os competências
objetivos organizacionais

As funções de gestão de pessoas não são genéricas Necessidade de desenvolver competências humanas
para todos os tipos de organizações, mas associadas às para que, consequentemente, as competências organiza-
diretrizes estratégicas de cada uma cionais sejam asseguradas

Temáticas predominantes: estratégia competitiva, rees-


Forte vinculação entre gestão de pessoas e estratégias
truturação, competências essenciais, reengenharia, rein-
organizacionais
venção do setor

Fonte: adaptado de Fischer (2002).

Ainda no que diz respeito à evolução da GP, cabe destacar a visão de Chiavenato (2014). O autor destaca que a
partir da Revolução Industrial surgiu o conceito atual de trabalho e que, ao longo do século XX, algumas mudan-
ças ocorreram, podendo ser divididas em três eras organizacionais: Era da Industrialização Clássica, Era da Indus-
26 trialização Neoclássica e Era da Informação.
A Era da Industrialização Clássica compreende o transações comerciais, que antes aconteciam apenas
período após a Revolução Industrial (meados de 1840) no âmbito local, passaram a ser regionais e interna-
até 1950. Chiavenato (2014) aponta que as principais cionais, o que contribuiu para a expansão da competi-
características dessa era são a intensificação da indus- ção entre as organizações.
trialização a nível mundial e o advento dos países A estrutura organizacional burocrática da Era da
desenvolvidos. Nesse contexto, as organizações ado- Industrialização Clássica deixou de ser suficiente para
tavam a estrutura organizacional burocrática, confor- acompanhar as mudanças externas. Para esse contex-
me figura a seguir. to, a estrutura matricial, exibida na figura a seguir, foi
adotada.

A estrutura burocrática possui um formato pira-


midal e centralizador, ou seja, poucas pessoas detêm A divisão, nesse tipo de estrutura, deixa de ser ape-
o poder e a possibilidade de tomada de decisões na nas funcional e passa a ser funcional e de produto/
organização. Essas pessoas estão no topo da hierar- serviço. A estrutura matricial é caracterizada pela
quia. A divisão de departamentos era feita de acordo possibilidade de dupla interação, isto é, os trabalhado-
com as funções, tais como produção, contabilidade, res podem se reportar a dois gerentes: o de projeto e
recursos humanos, entre outros. o de produto. Com a coordenação um pouco mais des-
Esse tipo de estrutura “funcionava” para aquela centralizada, cresce a capacidade de mudanças, ino-
época, pois tratava-se de um ambiente estável, em vações e processamento de informações. Além disso,
que as mudanças externas eram previsíveis. Assim, as atividades dos cargos tornam-se mais complexas.
as organizações preocupavam-se mais com seus pro- As diferenças com a era anterior também incluem,
blemas internos de produção — em busca sempre da conforme Chiavenato (2014), a forma de visualizar os
maior eficiência — do que com as situações externas. trabalhadores. Eles passam a ser considerados recur-
A eficiência seria alcançada por meio da padronização sos vivos e dotados de inteligência, ao mesmo tempo
e simplificação das tarefas, bem como pela especiali- em que o setor de GP ganha notoriedade nas organiza-
zação da mão de obra. A execução de tarefas extre- ções. Apesar disso, as pessoas ainda eram tratadas de
mamente simples, repetitivas e monótonas, permitia forma padronizada, como se todas tivessem as mes-
grandes escalas de produção a um custo menor. mas motivações e necessidades.
Ainda, de acordo com Chiavenato (2014), na Era Por último, a Era da Informação teve início na
da Industrialização Clássica os trabalhadores eram década de 1990 e se estende aos dias atuais. A prin-
vistos como meros recursos produtivos, tais como as cipal característica ressaltada por Chiavenato (2014)
máquinas e os equipamentos industriais. Portanto, é a imprevisibilidade das mudanças, visto que a tec-

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


aqueles que não se adequavam às atividades ou não nologia da informação possibilitou uma globalização
eram suficientemente rápidos na execução de suas da economia. As transações econômicas são realiza-
tarefas deveriam ser “substituídos” por outros mais das a nível mundial e as informações chegam até as
eficientes. pessoas em um período surpreendentemente curto,
Por fim, não havia nenhuma possibilidade de contribuindo para a grande competitividade entre as
mudanças e inovações nas fábricas, especialmente organizações.
em razão da cultura organizacional, que era bastante A estrutura organizacional que se adequa a tais
conservadora e prezava pela manutenção do status
características é a estrutura em rede, demonstrada na
quo.
figura a seguir.

Dica
A expressão “status quo” é latina e significa “o
estado das coisas”. Manter o status quo em
uma organização significa, portanto, manter as
atividades funcionando exatamente como elas
estão. Logo, não há possibilidade de adaptar ou
substituir os processos por outros, ainda que
sejam mais viáveis. A ideia é: se deu certo no
passado, por que mudar?
Nesse tipo de estrutura, há uma grande interação
A Era da Industrialização Neoclássica compre- e interdependência entre as diversas equipes. É notó-
ende o período entre 1950 e 1990. De acordo com ria também a ênfase no conhecimento e nas possibi-
Chiavenato (2014), nessa época as mudanças come- lidades de inovação. A responsabilidade dos gerentes,
çaram a ocorrer de forma progressiva. Além disso, as como afirma Chiavenato (2014), é fazer com que o 27
conhecimento seja útil e produtivo para as organi- IMPORTÂNCIA
zações. A cultura organizacional deixa de conside-
rar apenas os aspectos internos e passa a focar no A importância da GP é evidenciada pela relação
ambiente externo e nas oportunidades de mudança. entre indivíduos e organizações. Pense sobre quanto
Diferentemente das duas eras anteriores, aqui o tempo as pessoas despendem, por dia, no ambiente
capital intelectual ganha destaque e as pessoas tor- organizacional ou em atividades de trabalho. 6 horas?
nam-se parceiras da organização. A inteligência, 8 horas? Agora multiplique por cinco (ou seis) dias na
habilidades e personalidade dos trabalhadores são os semana. Imagine a quantidade de horas por ano. As
recursos mais importantes da organização, pois é por pessoas vivem grande parte de suas vidas no trabalho
meio deles que é possível enfrentar e superar os desa- e, por isso, a importância de que ele não seja um “fardo”
fios organizacionais. ou um grande “aborrecimento” para os trabalhadores.
Essas três eras apresentam diferentes abordagens Por outro lado, conforme discutido anteriormente,
sobre como lidar com os trabalhadores, podendo ser as organizações precisam das pessoas para conduzir
caracterizadas da seguinte maneira: suas atividades e obter sucesso. Por isso, “as organi-
zações jamais existiriam sem as pessoas que lhes dão
z Relações Industriais na Era da Industrialização vida, dinâmica, energia, inteligência, criatividade e
Clássica; racionalidade” (CHIAVENATO, 2014, p. 6).
z Recursos Humanos na Era da Industrialização
Neoclássica; RELAÇÃO COM OUTROS SISTEMAS DE
z Gestão de Pessoas na Era da Informação. ORGANIZAÇÃO

Apresentado o contexto histórico da gestão de pes- Para finalizar, é importante destacar que o setor
soas, vamos tratar sobre seu conceito. A forma como de Gestão de Pessoas se relaciona com os demais siste-
mas da organização. Não apenas esse setor, mas toda
as organizações administram os seus recursos huma-
a organização está interligada. Isso significa que é a
nos vem mudando ao longo dos anos. Tais mudanças
soma de todas as partes organizacionais que possibili-
são refletidas nas nomenclaturas dadas à área, tais
ta o bom desempenho e sucesso.
como administração de recursos humanos, departa-
Vamos pensar em um exemplo. O departamen-
mento de pessoal, administração de pessoal, gestão do
to de produção é importante, mas se houver apenas
capital humano, entre outros. Neste material, utiliza-
ele, quem desempenhará as vendas? Quem cuidará
remos sempre o termo “Gestão de Pessoas”.
da logística e da distribuição do que for produzido?
De acordo com Fischer (2002, p. 12),
Quem avaliará o desempenho e a produtividade dos
trabalhadores? Quem será responsável por gerenciar
[...] entende-se por modelo de gestão de pessoas a
as remunerações dos trabalhadores? Portanto, é fun-
maneira pela qual uma empresa se organiza para
damental que todas as áreas da organização realizem
gerenciar e orientar o comportamento humano no
as suas atividades com sinergia.
trabalho. Para isso, a empresa se estrutura definin-
Em uma situação mais específica, vamos imaginar
do princípios, estratégias, políticas e práticas ou
que uma das vendedoras da Empresa Alfa está grá-
processos de gestão.
vida e ficará ausente por um tempo devido à licença
maternidade. O supervisor de vendas deve encami-
Complementarmente, de acordo com Chiavenato
nhar para a administração da empresa a necessidade
(2014), a GP pode assumir três significados diferentes:
de contratação temporária de outro profissional. Logo
função ou departamento, conjunto de práticas e pro-
que a administração concordar com a contratação, o
fissão. Acompanhe:
setor de GP deve ser informado, a fim de iniciar os
processos de recrutamento, seleção e treinamento (se
z A GP como departamento é área da organiza- necessário). No processo de recrutamento, o departa-
ção responsável por funções como recrutamento, mento de marketing pode ser envolvido para tornar a
seleção, treinamento, desenvolvimento, oferta de vaga mais atrativa aos possíveis candidatos. Os recur-
benefícios e serviços sociais, implementação de sos financeiros também devem ser gerenciados, já que
programas de incentivos, remuneração, avalia- pelo menos durante os 120 dias da licença maternida-
ção do desempenho, atenção a questões de saúde, de a empresa terá que pagar um funcionário “a mais”.
segurança e qualidade de vida no trabalho, entre Caso esses departamentos não trabalhem em sin-
outros; cronia e em prol de um objetivo comum — a contra-
z A GP como conjunto de práticas indica como a tação de um novo profissional — a equipe de vendas
organização realiza as atividades associadas a pode ficar defasada, podendo gerar, inclusive, insa-
recrutamento, seleção, treinamento, desenvolvi- tisfação dos clientes da Empresa Alfa. Por isso, é fun-
mento, benefícios e serviços sociais, programas de damental pensar na organização como um todo e em
incentivos, remuneração, avaliação do desempe- como as atividades de cada um dos departamentos
nho, saúde, segurança e qualidade de vida no tra- são essenciais.
balho, entre outros;
z A GP como profissão inclui aqueles indivíduos LIDERANÇA E MOTIVAÇÃO
que atuam em profissões estritamente associadas
aos recursos humanos, tais como os recrutadores, Liderança
selecionadores, treinadores, gestores de remu-
neração, profissionais de segurança do trabalho, A liderança, conforme apresentada por Robbins
entre outros. (2005), indica traçar metas, comunicar e engajar
os trabalhadores de forma que os objetivos sejam
28 alcançados. Os líderes inspiram os empregados e os
auxiliam na superação dos obstáculos e dificuldades. Motivação
Posto de uma forma bastante direta, a liderança é a
capacidade de um indivíduo influenciar um grupo no A motivação é o “[...] processo responsável pela
alcance de objetivos preestabelecidos. intensidade, direção e persistência dos esforços de
A liderança pode ser formal ou informal (ROB- uma pessoa para o alcance de uma determinada
BINS, 2005). Na liderança formal, a influência sobre meta” (ROBBINS, 2005, p. 132). A intensidade diz res-
um grupo é exercida por alguém que tem um cargo peito ao esforço empregado por uma pessoa na rea-
mais alto na hierarquia da organização. Visto que car- lização de um objetivo. A direção indica “para onde
gos mais elevados indicam certo grau de autoridade, vamos”. Não adianta o trabalhador empregar esforço
o líder consegue a adesão dos subordinados devido se não souber em que direção deve caminhar. Por últi-
ao cargo que ocupa. Alguns exemplos de liderança mo, a persistência indica quanto tempo um indivíduo
formal incluem: gestor de projetos, administrador de consegue manter seu esforço, isto é, por quanto tempo
recursos humanos, gerente de compras etc. consegue ficar motivado. A motivação e o desempe-
Por outro lado, a liderança informal surge na orga- nho estão intimamente relacionados, pois um pro-
nização informal. Robbins afirma que a liderança não fissional motivado tende a ter melhores resultados e
sancionada, isto é, que surge fora da organização formal, bom desempenho em suas tarefas.
é tão ou até mais importante que a liderança formal. Apesar de muitos líderes buscarem formas de
Independentemente do tipo de liderança (formal motivar os trabalhadores por meio de palestras e trei-
ou informal), é importante destacar que os indiví- namentos, por exemplo, a motivação é intrínseca, ou
duos não devem exercer seus papéis de líderes sem seja, está no interior dos indivíduos. É impossível, por-
considerar os aspectos éticos. Enquanto líderes éticos tanto, que um gestor ou líder seja capaz de motivar os
incentivam os trabalhadores e cobram resultados, colaboradores.
líderes antiéticos podem praticar agressões verbais/ A teoria mais conhecida sobre motivação é Teoria
morais com os subordinados. da Hierarquia das Necessidades de Abraham Maslow.
William Hitt (1990 apud MATTAR, 2010) identifica De acordo com o autor, as necessidades dos indivíduos
quatro estilos de liderança, que corresponderiam a estão dispostas como que em uma pirâmide, de forma
sistemas éticos distintos, conforme apresentado no que, em um primeiro momento, busca-se atender aos
quadro a seguir. objetivos da base da pirâmide e, em seguida, as neces-
sidades vão aumentando. A figura a seguir demonstra
TIPO DE LÍDER CARACTERÍSTICAS as necessidades propostas por Maslow.

Os meios justificam os fins


Preocupa-se meramente com os Autorrealização
Crescimento, autocontrole
resultados
Manipulador
A autoridade está baseada no poder Autoestima
Respeito dos autores, confiança, conquista
Seus subordinados devem ser passi-
vos, dependentes e submissos Social
Família, amizade, amor
Principal função: comunicar e fazer
cumprir regras Segurança
Emprego, saúde, propriedade
Preocupação com a eficiência
Administrador Racionalização das funções de liderança e Fisiológica
Burocrático Respirar, comer, dormir

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


da administração (Max Weber)
As regras são a autoridade, e não os
líderes (estabilidade para a organização De acordo com Maslow, o ser humano tem a carac-
independentemente do líder) terística de sempre desejar algo. Por isso, à medida que
Procura conseguir que as coisas se- satisfaz uma necessidade, outra passa a ser priorida-
jam feitas com o propósito de atingir de. Uma observação importante é que uma necessida-
os objetivos organizacionais de de nível mais alto só surge quando as necessidades
Seu papel é: planejar, organizar, dos níveis inferiores são atingidas. Portanto, um indi-
Administrador
Profissional comunicar, motivar e mensurar os víduo não possui necessidade de autorrealização se
resultados não se tem o que comer, por exemplo.
Enxerga seu trabalho como uma car-
reira e profissão Dica
Por meio da motivação, procura reti- Outras teorias de motivação também receberam
rar o melhor de cada pessoa destaque ao longo dos anos e ainda hoje são
estudadas, tais como: teoria dos dois fatores, de
A liderança é menos um atributo/fun- Frederick Herzberg, teoria da determinação de
ção e mais uma relação entre líderes metas, de Edwin Locke, teoria da equidade, de
Transformador e colaboradores
Stacy Adams, e teoria X e teoria Y, de Douglas
Enxerga o potencial das pessoas e McGregor.
tem prazer no seu crescimento
É um bom treinador e ajuda os outros
a se tornarem líderes

Fonte: Hitt (1990 apud MATTAR, 2010). 29


GERENCIAMENTO DE CONFLITOS

Para falarmos sobre gerenciamento de conflitos é necessário antes definir conflito. Robbins (2005) considera
que o conflito envolve duas partes e ocorre quando uma parte percebe que a outra o afeta ou pode afetar de forma
negativa em algo que a primeira considera importante. Trata-se, portanto, de perceber que existe algum grau de
divergência entre as partes.
O conflito possui três características principais, de acordo com McIntyre (2007):

z Deve ser percebido pelas partes envolvidas, caso contrário, não há conflito;
z Tem que existir uma interação. Por exemplo: o simples fato de André ter uma opinião sobre um assunto e Jorge
ter uma opinião contrária, não indica um conflito. O conflito só ocorrerá se André e Jorge interagirem. Se cada
um deles mora em uma parte do país e não se conhecem, não há que se falar em conflito;
z Tem que haver uma incompatibilidade entre as partes. Só existe conflito se tiver oposição ou incompatibilida-
de de objetivos/ideias das partes.

Dica
O conflito pode ser de três tipos (ROBBINS, 2005):
� Conflito de tarefa: está associado ao conteúdo e aos objetivos do trabalho.
� Conflito de relacionamento: está associado com as relações entre as pessoas no trabalho.
� Conflito de processo: está associado com a forma que o trabalho é realizado.

De acordo com Robbins (2005) o conflito pode ser funcional ou disfuncional. Os conflitos funcionais são cons-
trutivos porque ajudam a resolver o problema ou a chegar em uma solução comum para o grupo. Esse tipo de
conflito contribui para um clima de trabalho autocrítico e inovador. Já os conflitos disfuncionais são destrutivos,
pois em nada contribuem para o desenvolvimento do grupo. Nesse caso, quando existem poucos conflitos, o cli-
ma de trabalho pode ser estagnado e avesso a mudanças e novas ideias. Quando há um alto nível de conflitos, o
ambiente de trabalho tende a ser caótico e pouco cooperativo. Os conflitos funcional e disfuncional impactam no
desempenho das organizações. A figura abaixo ilustra esses impactos.

alto

Desempenho da
unidade

A B C
baixo

baixo Nível de conflito alto

SITUAÇÃO NÍVEL DE CONFLITO TIPO DE CONFLITO CLIMA DE TRABALHO DESEMPENHO

Estagnado, insensível a mudanças,


A Baixo ou nenhum Disfuncional Baixo
ausência de novas ideias

B Ótimo/apropriado Funcional Viável, autocrítico, inovador Alto


C Alto Disfuncional Caótico, não cooperativo Baixo
Fonte: Adaptado de Robbins (2005, p. 343).

McIntyre (2007) aponta cinco formas de gerir os conflitos:

Evitamento

Nesse caso, há uma baixa preocupação consigo mesmo e com os outros. Busca-se evitar ou adiar o conflito a
todo custo. O evitamento ocorre principalmente quando:

z O problema não tem importância: por exemplo, apesar de torcer para o Time X, não me importo se o time
perdeu a partida de futebol no jogo de ontem;
z Não há uma possibilidade de ganhar: por exemplo, sei que apesar de gostar de peixe, as outras cinco pessoas
que estão comigo no restaurante preferem carne, portanto, vão pedir carne para o almoço;
z É necessário mais tempo para obter informações: por exemplo, apesar de ter preferência pelo candidato Y,
preciso colher mais informações sobre as propostas políticas dele e dos demais candidatos antes de defendê-lo
na roda de amigos;
z A incompatibilidade pode ser perigosa ou gerar algum tipo de custo: por exemplo, nas vésperas das eleições,
30 pode ser perigoso defender um candidato, pois as pessoas estão com as emoções à flor da pele.
Acomodação Por último, Chiavenato (2014) indica três aborda-
gens para o gerenciamento de conflitos: abordagem
Nesse caso, há uma baixa preocupação consigo estrutural, abordagem mista e abordagem de proces-
mesmo e uma alta preocupação com os outros. Para so. Essas abordagens são apresentadas de acordo com
acabar com o conflito, é mais importante satisfazer as as ideias do autor.
ideias da outra parte. A acomodação ocorre quando:
Abordagem Estrutural
z O assunto é de extrema relevância para a outra
pessoa: por exemplo, mesmo considerando que o Nessa abordagem, considera-se que o conflito sur-
Whatsapp é a melhor forma de divulgar os produ- ge em razão das condições de diferenciação, escassez
tos de uma loja de roupas, concordo com o colega de recursos e interdependência. Caso seja possível
profissional da área de marketing que diz que o atuar sobre essas três fontes, os conflitos podem ser
Instagram é mais adequado para isso; controlados. A abordagem estrutural, portanto, atua
z Busca-se “acumular créditos” com a outra parte: antes da ocorrência do conflito e busca enfrentar as
por exemplo, ainda que eu discorde das ideias do condições que predispõem ao conflito:
meu chefe, não demonstro, pois espero que futura-
mente ele me ofereça uma promoção; z Reduzir a diferenciação dos grupos: é possível
z Manter a harmonia é o mais importante: por exem- minimizar a diferença entre os grupos ao identifi-
plo, pode ser melhor acomodar-se e não gerar dis- car objetivos que podem ser compartilhados pelos
cussão no ambiente de trabalho para manter um grupos. Quando os grupos percebem que possuem
clima de respeito e amizade. interesses em comum, a incompatibilidade de
objetivos pode ser reduzida. Outra forma de redu-
Dominação zir a diferenciação é reagrupando os grupos confli-
tantes para que participem de uma unidade maior
Nesse caso, há uma alta preocupação consigo mes- e com objetivos comuns.
mo e uma baixa preocupação com os outros. Caracte- z Interferir nos recursos compartilhados: uma for-
riza-se pela imposição dos próprios objetivos e ideais ma de reduzir os conflitos é alterando os meca-
sem levar em consideração as necessidades da outra nismos de remuneração e recompensa dos grupos
parte. A dominação ocorre quando:
conflitantes. Uma opção é criar objetivos compar-
tilhados e remunerar o desempenho conjunto.
z Uma ação decisiva deve ser imposta o mais rápi- Assim, ambos os grupos percebem a vantagem do
do possível: por exemplo, um sócio pode tomar a
trabalho em equipe e eliminação das desavenças.
decisão de vender algumas ações da empresa sem
z Reduzir a interdependência: se os grupos são sepa-
consultar os colegas ao perceber que os preços das
rados, tanto fisicamente quanto estruturalmente,
ações estão caindo rapidamente.
é possível que a pouca interdependência em suas
atividades torne a interferência mais difícil e, con-
Concessão Mútua
sequentemente, reduza o conflito.
Nesse caso, há uma média preocupação consigo
Abordagem de Processo
mesmo e com os outros. As partes cedem em alguns
aspectos e “ganham” em outros. Por isso, nenhuma
parte fica completamente satisfeita e novos conflitos Nessa abordagem, busca-se reduzir o conflito ao
podem surgir. A concessão mútua ocorre quando: modificar os processos que interferem no conflito.
Diferentemente da abordagem estrutural, a aborda-

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


gem de processo atua em um conflito já existente.
z Ambas as partes têm o mesmo poder: por exemplo,
o gestor de GP quer que a arte de divulgação do Pode ser utilizada por uma das partes conflitante ou
recrutamento esteja pronta em 14 dias e que o ges- por terceiros. A modificação do processo pode ocorrer
tor de marketing faça de acordo com as especifi- de três formas:
cações impostas. O gestor de marketing, por outro
lado, consegue fazer a arte solicitada em 21 dias z Desativação do conflito: ocorre quando uma das
ou pode fazer uma arte mais simples em 14 dias. partes age de forma cooperativa, desencorajando
Ambos concordam com uma arte mais simples que o conflito ou eliminando-o;
deverá ficar pronta em 14 dias. z Reunião de confrontação entre as partes: ocorre
z Ambas as partes buscam minimizar as diferenças; quando a desativação do conflito já foi ultrapassa-
z É necessária uma solução temporária. da. É uma forma de os grupos conflitantes se enca-
rarem frente a frente e apresentar seus pontos de
Integração vista. Nesse momento, podem ser propostas solu-
ções do tipo ganha-ganha para as partes;
Nesse caso, há uma alta preocupação consigo mes- z Colaboração: ocorre quando a desativação do con-
mo e com os outros. As informações são discutidas de flito e a reunião de confrontação já foram ultra-
forma aberta e as partes colaboram entre si. Como o passadas. Na colaboração, os grupos trabalham
foco da integração é resolver os problemas, as partes em conjunto para obter soluções que atendem aos
entram em um acordo que seja bom para ambas, ou objetivos de ambas as partes.
seja, é um ganha-ganha. A integração ocorre quando:
Abordagem Mista
z Os interesses de ambas as partes são relevantes;
z Os interesses de ambas as partes podem ser combi- Consiste na administração do conflito em ter-
nados para chegar em uma melhor solução; mos estruturais e de processo. Pode ocorrer de duas
z A decisão requer consenso. formas: 31
z Adoção de regras para resolução de conflitos: Escalas Gráficas
regras e regulamentos são prefixados com vistas
a definir os procedimentos e os limites para traba- De acordo com Robbins (2005), a escala gráfica é
lhar o conflito. Assim, o conflito pode ser contro- um dos métodos mais antigos e populares. Consiste
lado e ambas as partes podem contribuir para a em determinar uma série de fatores relacionados ao
resolução do problema; trabalho, tais como quantidade de trabalho realizado,
z Criação de papéis integradores: incluem os papéis relacionamento interpessoal e capacidade de inovar,
daqueles que buscam coordenar os grupos con- e classificar o trabalhador nesses fatores. A classifica-
flitantes a fim de que possam atingir os objetivos ção pode ser, por exemplo, por critérios como: ótimo,
da organização. Os gestores, por exemplo, podem bom, regular, sofrível e fraco.
assumir papéis integradores quando houver Para Chiavenato (2014) a desvantagem desse méto-
necessidade de intervir no conflito. do é a incapacidade de coletar informações aprofun-
dadas a respeito do desempenho do trabalhador. Os
GESTÃO DO DESEMPENHO resultados são superficiais, além de conter a subjeti-
vidade do avaliador. Por outro lado, a vantagem está
As organizações frequentemente avaliam seu na rapidez e facilidade em desenvolver e aplicar as
desempenho financeiro, operacional, em vendas, de escalas gráficas. Também é fácil comparar os resulta-
marketing, entre outras áreas. Na área de GP não é dos de diversos funcionários, bem como apresentar os
diferente. O desempenho dos trabalhadores deve ser resultados para eles.
satisfatório para que as atividades da empresa sejam
realizadas com eficiência e eficácia e, consequentemen- Escolha Forçada
te, para que a empresa seja competitiva no mercado.
As avaliações de desempenho podem ser realizadas Nesse método, são apresentadas algumas frases que
pelo próprio trabalhador (autoavaliação), pelo gerente descrevem o comportamento do trabalhador. Essas
ou líder, pelo trabalhador em conjunto com o líder, pela frases ficam dispostas em blocos de questões e em
equipe de trabalho, ou por todas as pessoas que lidam cada bloco o avaliador deve escolher a frase que mais
diretamente com o trabalhador, tais como os colegas se aplica ao desempenho do empregado. Em alguns
de trabalho, os subordinados, os gerentes, entre outros. casos, o avaliador também pode ter que escolher a fra-
se que menos se aplica ao desempenho do trabalhador.
OBJETIVOS Alguns exemplos incluem: é muito sociável, não supor-
ta pressão, conhece o trabalho e tem boa memória.
São vários os objetivos da avaliação de desempe- Dentre as vantagens, Chiavenato (2014) cita que a
nho. Robbins (2005) e Chiavenato (2014) destacam escolha forçada evita que a avaliação seja generaliza-
que a partir dessa avaliação é possível: da, além de ser reduzida a subjetividade do avaliador.
Apesar disso, as desvantagens são: dificuldade em
z Identificar necessidades de treinamento e desen- construir o instrumento, não há participação ativa do
volvimento. Se o trabalhador não tem um bom trabalhador e não permite realizar comparações.
resultado na avaliação de desempenho, pode ser
interessante buscar um programa de treinamento Pesquisa de Campo
ou desenvolvimento para que novas habilidades e
competências sejam desenvolvidas; Trata-se de um método de avaliação mais completo
z Apresentar feedback aos trabalhadores sobre as ati- que os anteriores, fundamentado em entrevistas entre
vidades realizadas. As pessoas têm necessidade de os especialistas e os gerentes para que o desempenho
saber como estão desempenhando o seu trabalho: dos funcionários seja avaliado (Chiavenato, 2014). A
se acima, abaixo ou na média. Os próprios trabalha- pesquisa de campo é composta de quatro etapas: ava-
dores podem buscar formas de aperfeiçoamento liação inicial, análise complementar, planejamento e
com base no feedback recebido pela organização; acompanhamento.
z Recompensar de forma justa os trabalhadores. Por Os benefícios desse método incluem a possibilidade
meio das avaliações de desempenho a GP pode de planejar ações como treinamento e orientação aos
conceder aumentos salariais, promoções, transfe- trabalhadores, profundidade nas análises e ênfase no
rências e até demissões de empregados; atingimento de resultados. Por outro lado, esse tipo de
z Melhorar o relacionamento com aquelas pessoas avaliação tem um alto custo, é demorado e não inclui o
com quem o trabalhador lida frequentemen- avaliado no momento de avaliação (Chiavenato, 2014).
te. Quando é feita a avaliação 360º, aqueles com
quem o trabalhador tem mais contato, participam Método dos Incidentes Críticos
da avaliação. A partir disso, é possível que o indiví-
duo melhore seus relacionamentos ao saber como Nessa avaliação, o avaliador descreve os aspectos
foi avaliado pelos pares. especialmente eficazes/positivos e os aspectos espe-
cialmente ineficazes/negativos (Robbins, 2005). Chia-
MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO: venato (2014) afirma que o desempenho normal não
CARACTERÍSTICAS, VANTAGENS E é avaliado, mas sim o desempenho excepcional, inde-
DESVANTAGENS pendentemente se indicam sucesso ou fracasso.
O instrumento pode ser facilmente construído e
De acordo com Chiavenato (2014), os métodos utilizado, o que é uma vantagem. No entanto, visto
tradicionais de avaliação de desempenho incluem: que apenas alguns aspectos do desempenho são consi-
escalas gráficas, escolha forçada, pesquisa de campo, derados, o método pode ser tendencioso e parcial nos
incidentes críticos e listas de verificação. Os métodos resultados apresentados (Chiavenato, 2014).
mais modernos são: avaliação participativa por obje-
32 tivos e avaliação 360º.
Listas de Verificação

Trata-se de uma simplificação das escalas gráficas. A diferença é que os fatores são avaliados quantitativa-
mente, podendo variar, por exemplo, de 1 a 5 em que 5 indica que o trabalhador possui desempenho excelente no
fator avaliado. Alguns exemplos de áreas de avaliação de desempenho abrangem: aceita responsabilidades, adota
práticas de segurança e tem cuidado com o patrimônio (Chiavenato, 2014). As vantagens e desvantagens são as
mesmas do método de escalas gráficas.

Avaliação Participativa por Objetivos

Nesse tipo de avaliação, o trabalhador e o seu gerente desenvolvem, em conjunto, os objetivos que devem
ser alcançados pelo colaborador. Já que o colaborador participa da determinação das metas, existe um maior
comprometimento em alcançá-las, pois sabe-se que não se trata de metas irrealistas. De acordo com Chiavenato
(2014), esse tipo de avaliação é composto por seis etapas:

z O trabalhador e o gerente definem objetivos consensuais;


z Comprometimento pessoal de ambos para o alcance dos objetivos;
z Negociação sobre os recursos necessários para que os objetivos sejam atingidos;
z Desempenho, isto é, estratégia pessoal do trabalhador para alcançar os objetivos;
z Acompanhamento dos resultados e comparação com os objetivos previamente estabelecidos;
z Feedback e avaliação contínua envolvendo o trabalhador e o gerente.

O processo da avaliação participativa por objetivos pode ser visualizado na figura a seguir.

Retroação Ação individual do gerente:


proporcionar apoio, direção, orientação e recursos Avaliação conjunta
Formulação conjunta
Gerente e subordinado do alcance dos
de objetivos
se reúnem objetivos
consensuais
Ação individual do subordinado:
Retroação desempenhar as tarefas

Fonte: Adaptado de Chiavenato (2014, p. 226).

Avaliação 360º

Esse tipo de avaliação é circular, isto é, todas as pessoas que estão ao redor do trabalhador ou que possuem
algum tipo de interação com ele participam da avaliação. Envolve a avaliação de gerentes, executivos, colegas
do mesmo nível, subordinados, entre outros. Na avaliação 360º, busca-se identificar os pontos positivos e nega-
tivos do comportamento do trabalhador. No entanto, para que seja eficaz, a organização deve ter uma cultura
de comunicação e participação. Caso contrário, o avaliado pode se sentir ofendido ou até mesmo atacado pelos
avaliadores.

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


Chiavenato (2014) destaca os prós e contras desse tipo de avaliação. Os prós abrangem: qualidade das infor-
mações; avaliações advindas de diversas pessoas, o que proporciona maior validade das informações; a partir do
feedback, o trabalhador pode procurar se autodesenvolver. Já os contras incluem: dificuldade e complexidade de
reunir todas as avaliações; o feedback pode intimidar o avaliado; é necessário que os avaliadores sejam treinados
sobre como deve ser realizada a avaliação; as pessoas podem se reunir e combinar avaliações negativas para
determinado trabalhador.

SISTEMAS DE INCENTIVO E RESPONSABILIZAÇÃO

Objetivos

Os sistemas de incentivo e responsabilização são ferramentas de gestão que buscam motivar os indivíduos e
organizações a alcançarem seus objetivos.

Incentivos

Os incentivos são estímulos positivos que são usados para motivar as pessoas a agirem de uma certa forma.
Assim, podem ser financeiros, não financeiros ou uma combinação dos dois.
São exemplos de incentivos financeiros os salários, bônus e participação nos lucros. Como exemplo de incenti-
vos não financeiros estão o reconhecimento, a promoção e as oportunidades de desenvolvimento.

Responsabilizações

Por sua vez, as responsabilizações são mecanismos que são utilizados para garantir que as pessoas sejam res-
ponsáveis por suas ações, de modo que podem ser formais ou informais. 33
De maneira ilustrativa, são exemplos de responsa- z Implementação do sistema: a quarta etapa é imple-
bilizações formais a avaliação de desempenho, as polí- mentar o sistema de incentivo e responsabilização;
ticas e procedimentos, assim como as sanções. Como z Monitoramento e avaliação: a quinta etapa é
exemplos de responsabilizações informais, podemos monitorar e avaliar o sistema de incentivo e res-
citar os feedbacks, monitoramento e confiança. ponsabilização para garantir que ele esteja funcio-
nando conforme o planejado.
Vantagens
Os sistemas de incentivo e responsabilização são
Os sistemas de incentivo e responsabilização
ferramentas importantes de gestão que podem aju-
podem oferecer uma série de vantagens, incluindo:
dar as organizações a alcançarem seus objetivos. No
entanto, é importante projetar e implementar esses
z Motivação: os incentivos podem motivar as pes-
sistemas com cuidado para evitar os potenciais riscos.
soas a trabalharem mais e melhor;
z Melhoria do desempenho: os sistemas de incenti-
vo e responsabilização podem ajudar a melhorar o
desempenho das organizações;
z Redução de custos: os sistemas de incentivo e res- PROGRAMA DE GESTÃO DO
ponsabilização podem ajudar a reduzir os custos, DESEMPENHO
por exemplo, por meio da redução da rotatividade
de funcionários. DO GOVERNO DIGITAL

Desvantagens Acerca do Programa de Gestão de Desempenho,


conhecido como PGD, iremos estudar as regras gerais
Os sistemas de incentivo e responsabilização também
estabelecidas pelo Decreto nº 11.072, de 2022, e, quan-
podem apresentar algumas desvantagens, incluindo:
do cabíveis, as especificações feitas pela IN SGP-SE-
GES/MGI nº 24, de 2023.
z Desvio de foco: os incentivos podem levar as pes-
Importante ressaltar que serão abordados apenas
soas a concentrarem-se em objetivos que não são
os tópicos mais relevantes e mais cobrados nos últi-
importantes para a organização;
mos certames, para otimizar seus estudos.
z Injustiça: os sistemas de incentivo e responsa-
Preliminarmente, é importante trazer o conceito
bilização podem ser injustos, se não forem bem
projetados; de PGD. Vejamos:
z Custos: a implementação e mantimento dos siste-
mas de incentivo e responsabilização podem ter Decreto nº 11.072, de 17 de maio de 2022
Art. 1º Este Decreto dispõe sobre o Programa de
um custo elevado.
Gestão e Desempenho - PGD da administração
pública federal direta, autárquica e funcional.
Aplicação
Parágrafo único. O PGD é instrumento de ges-
tão que disciplina o desenvolvimento e a men-
Os sistemas de incentivo e responsabilização
suração das atividades realizadas pelos seus
podem ser aplicados em diferentes contextos, desde o
participantes, com foco na entrega por resul-
nível individual até o nível organizacional. tados e na qualidade dos serviços prestados à
No nível individual, os referidos sistemas podem sociedade.
ser usados para motivar os funcionários a alcança-
rem metas de desempenho, por exemplo, por meio de
Segundo o referido decreto, pode-se concluir que
bônus ou promoções.
PGD é uma ferramenta de gestão que orienta o desen-
No nível organizacional, os sistemas de incentivo
volvimento e avaliação das atividades feitas pelos
e responsabilização podem ser usados para motivar
seus participantes.
as organizações a alcançarem objetivos estratégicos,
Desta forma o foco principal do PGD é o cumpri-
por exemplo, por meio de participação nos lucros ou
mento dos objetivos e a asseguração da qualidade dos
políticas de responsabilidade social.
serviços oferecidos à sociedade. Neste sentido, o PGD
Processo de Implementação aplica-se tanto à administração pública federal direta
como à autárquica e fundacional.
O processo de implementação de sistemas de
incentivo e responsabilização pode ser dividido nas Âmbito de Aplicação
seguintes etapas:
De acordo com o disposto no art. 2º do aludi-
z Definição dos objetivos: a primeira etapa é defi- do decreto, o PGD aplica-se aos seguintes agentes
nir os objetivos que o sistema de incentivo e res- públicos:
ponsabilização deve alcançar;
z Seleção dos incentivos: a segunda etapa é selecio- z servidores ocupantes de cargo efetivo;
nar os incentivos que serão usados para motivar z servidores ocupantes de cargo em comissão;
as pessoas; z empregados públicos;
z Definição das responsabilizações: a terceira z servidores contratados por tempo determinado;
etapa é definir as responsabilizações que serão z estagiários.
usadas para garantir que as pessoas sejam respon-
34 sáveis por suas ações;
Importante! z servidores públicos federais efetivos, ou seja, aque-
les que já tiverem concluído o estágio probatório;
Saiba que o PGD não se aplica aos militares das z servidores em regime de execução integral;
Forças Armadas. z servidores que atuam no interesse da
administração;
z caso haja PGD instituído na unidade de exercício
Instituição e Manutenção do PGD
do servidor;
z mediante autorização específica da autoridade
A instituição do PGD dar-se-á no âmbito de cada
de que trata o caput, art. 3º (ministros de Estado ou
órgão, por meio de portaria da autoridade máxima, dirigentes máximos dos órgãos);
sendo vedada a delegação. Deve-se prever os seguin- z nos casos em que o servidor prestará trabalho no
tes requisitos elencados no rol do art. 4º do referido exterior por prazo determinado;
decreto, vejamos: z mediante pagamento de vantagens, remunerató-
rias ou indenizatórias, como se estivesse em exer-
Decreto nº 11.072, de 17 de maio de 2022 cício no território nacional, ou seja, a remuneração
Art. 4º A instituição do PGD se dará no âmbito de
deverá seguir as leis brasileiras;
cada autarquia, fundação pública ou unidade da
z quando for necessário o teletrabalho do servidor
administração direta de nível não inferior ao de
no exterior em razão de:
Secretaria ou equivalente, por meio de portaria da
autoridade máxima, vedada a delegação, e preverá,
no mínimo: „ afastamento para estudo no exterior previsto
I - os tipos de atividades que poderão ser incluídas no art. 95, da Lei nº 8.112, de 11 dezembro de
no PGD; 1990, quando o estudo puder ocorrer simulta-
II - o quantitativo de vagas; neamente com o exercício do cargo, sem prejuí-
III - as vedações à participação, se houver; zo ao desempenho de suas funções;
IV - o eventual nível de produtividade adicional exi- „ para o exercício provisório de que trata o § 2º,
gido para o teletrabalho; art. 84, da Lei nº 8.112, de 1990, no que se refere
V - o conteúdo do termo de ciência e responsabilida- à licença por afastamento de cônjuge;
de a ser firmado entre o participante e a sua chefia „ nos casos que for necessário o acompanhamen-
imediata; e to de cônjuge afastado nos termos do disposto
VI - a antecedência mínima nas convocações para o nos arts. 95 e 96, da Lei nº 8.112, de 1990 (como,
agente público comparecer à sua unidade. por exemplo, estudo ou missão no exterior);
[…] „ nos casos de remoção de que trata a alínea
“b”, inciso III, parágrafo único, art. 36, da Lei
Ademais, de acordo com o art. 6º, o PGD poderá nº 8.112, de 1990 (por exemplo, nos casos de
ser adotado na modalidade presencial ou também na motivo de saúde), quando o tratamento médico
modalidade de teletrabalho. necessitar ser realizado no exterior;
Acerca das modalidades previstas, a Instrução „ quando for necessária a licença para acompa-
Normativa nº 24, de 2023, afirma que todos os partici- nhamento de cônjuge que não seja servidor
pantes, independentemente da modalidade adotada, público deslocado para trabalho no exterior,
não precisarão registrar o horário de entrada e saída, nos termos do disposto no caput, art. 84, da Lei
durante toda a execução do trabalho. nº 8.112, de 1990.
No que se refere ao teletrabalho, só poderão ingres-

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


sar nessa modalidade os servidores efetivos, ou seja, Objetivos do PGD
aqueles que já tenham cumprido um ano de estágio
probatório. Veremos agora os objetivos do PGD e os conceitos
Neste sentido, a modalidade de teletrabalho pode- apresentados pela instrução normativa.
rá ser executada em dois regimes: o regime de execu- No que se refere aos objetivos, vejamos:
ção parcial e regime de execução integral, conforme
prevê o art. 10, da instrução normativa. Vejamos: IN nº 24, de 28 de julho de 2023
Art. 2º São objetivos do PGD:
IN nº 24, de 28 de julho de 2023 I - promover a gestão orientada a resultados, basea-
Art. 10 Na modalidade de teletrabalho: da em evidências, com foco na melhoria contínua
I - em regime de execução parcial, parte da jor- das entregas dos órgãos e entidades da administra-
nada de trabalho ocorre em locais a critério do ção pública federal;
participante e parte em local determinado pela II - estimular a cultura de planejamento institucional;
administração pública federal; e III - otimizar a gestão dos recursos públicos; IV -
II - em regime de execução integral, a totalidade incentivar a cultura da inovação; V - fomentar a
da jornada de trabalho ocorre em local a critério transformação digital;
do participante. VI - atrair e reter talentos na administração pública
federal;
VII - contribuir para o dimensionamento da força
Diante disso, retornando ao disposto no Decreto
de trabalho;
nº 11.072, de 2022, vejamos que o aludido documento VIII - aprimorar o desempenho institucional, das
legal traz requisitos para que o agente público exerça equipes e dos indivíduos;
o teletrabalho mesmo que residindo no exterior. IX - contribuir para a saúde e a qualidade de vida
Nesse caso, conforme disposto no art. 12 do decre- no trabalho dos participantes; e
to anteriormente citado, será admitido o teletrabalho X - contribuir para a sustentabilidade ambiental na
no exterior apenas para os seguintes servidores: administração pública federal. 35
Por fim, no que se refere aos conceitos, temos que: Art. 3º […]
XV - unidade de execução: qualquer unidade da
Art. 3º Para os fins do disposto nesta Instrução estrutura administrativa que tenha plano de entre-
Normativa Conjunta, considera-se: gas pactuado.
I - atividade: o conjunto de ações, síncronas ou
assíncronas, realizadas pelo participante que visa Por fim, importante ressaltar que tanto os concei-
contribuir para as entregas de uma unidade de tos como os objetivos do PGD são autoexplicativos,
execução; porém possuem grande incidência de cobrança nos
II - atividade síncrona: aquela cuja execução se certames, em sua literalidade, sendo necessária uma
dá mediante interação simultânea do participante leitura com muita atenção dos conceitos anteriormen-
com terceiros, podendo ser realizada com presença te abordados.
física ou virtual;
III - atividade assíncrona: aquela cuja execução
se dá de maneira não simultânea entre o participan-
te e terceiros, ou requeira exclusivamente o esforço
do participante para sua consecução, podendo ser TELETRABALHO
realizada com presença física ou não;
IV - demandante: aquele que solicita entregas da O teletrabalho se tornou uma tecnologia de pres-
unidade de execução; tação de serviços amplamente utilizada quando o
V - destinatário: beneficiário ou usuário da entre- mundo precisou parar para agir contra a COVID-19.
ga, podendo ser interno ou externo à organização; Neste tempo, inúmeros trabalhadores deixaram suas
VI - entrega: o produto ou serviço da unida- obrigações presenciais para desempenhá-las em
de de execução, resultante da contribuição dos ambientes domésticos, prática esta que, popularmen-
participantes;
te, chamamos de home office.
VII - escritório digital: conjunto de ferramentas
digitais definido pelo órgão ou entidade para pos-
sibilitar a realização de atividades síncronas ou Caro(a) estudante,
assíncronas;
Vale ressaltar que o teletrabalho é disposto
VIII - participante: o agente público previsto no
§1º do art. 2º do Decreto nº 11.072, de 17 de maio de
em forma de lei especial, cuja está disposta no
2022, que tenha Termo de Ciência e Responsabilida- decorrer deste tópico. Porém, devemos consi-
de - TCR assinado; derar que a Consolidação das Leis Trabalhistas
(CLT), também dispõe sobre o mesmo assunto.
Importante destacar que os participantes aqui Bons estudos!
elencados se referem aos agentes públicos a quem se
aplica o PGD, conforme visto anteriormente. Considera-se teletrabalho, ou trabalho remoto,
o serviço que é prestado fora do ambiente presen-
Art. 3º […] cial determinado pelo empregador, mas que não
IX - plano de entregas da unidade: instrumento se configura como trabalho externo, mesmo que
de gestão que tem por objetivo planejar as entregas sejam utilizadas tecnologias de comunicação e contro-
da unidade de execução, contendo suas metas, pra- le. Aqueles que trabalham em regime de home office,
zos, demandantes e destinatários; portanto, não podem ser equiparados aos operadores
X - plano de trabalho do participante: instru- de telemarketing ou teleatendimento.
mento de gestão que tem por objetivo alocar o per- Basicamente, o teletrabalho permite ao trabalha-
centual da carga horária disponível no período, de dor que execute suas funções noutro lugar que não o
forma a contribuir direta ou indiretamente para o
ambiente empresarial, podendo este ser um café, uma
plano de entregas da unidade;
praça, um parque, uma sala alugada e até mesmo sua
XI - Rede PGD: é o grupo de representantes de
órgãos e entidades da administração pública fede-
própria residência.
ral junto ao Comitê de que trata o art. 31 desta Ins- Observemos o que diz a lei.
trução Normativa Conjunta;
XII - Termo de Ciência e Responsabilidade (TCR): Art. 75-B Considera-se teletrabalho ou trabalho
instrumento de gestão por meio do qual a chefia da remoto a prestação de serviços fora das depen-
unidade de execução e o interessado pactuam as dências do empregador, de maneira prepon-
regras para participação no PGD; derante ou não, com a utilização de tecnologias
XIII - time volante: é aquele composto por partici- de informação e de comunicação, que, por sua
pantes de unidades diversas com objetivo de atuar natureza, não configure trabalho externo.
em projetos específicos;
XIV - unidade instituidora: a unidade adminis- O dispositivo, em nenhum momento, afirma que,
trativa prevista no art. 4º do Decreto nº 11.072, de para ser considerado teletrabalho, as atividades
2022; e precisam ser exclusivamente desenvolvidas em um
ambiente que não o espaço formal da empresa. Nesse
As unidades administrativas instituidoras aqui sentido, se, em determinado emprego, é exigido que
descritas referem-se às autarquias, fundações públi- o funcionário compareça, frequentemente, à sede
cas ou unidade da administração direta não inferior empresarial, não necessariamente haverá descaracte-
à secretaria, sendo importante este conhecimento na rização do trabalho remoto, desde que este seja desen-
hora de realização do exame. volvido conforme os ditames da lei.

36
§ 1º O comparecimento, ainda que de modo desde que estejam caracterizados os pressupostos
habitual, às dependências do empregador da relação de emprego.
para a realização de atividades específicas Parágrafo único. Os meios telemáticos e informati-
que exijam a presença do empregado no esta- zados de comando, controle e supervisão se equipa-
belecimento não descaracteriza o regime de ram, para fins de subordinação jurídica, aos meios
teletrabalho ou trabalho remoto. (Incluído pessoais e diretos de comando, controle e supervi-
pela Lei nº 14.442, de 2022) são do trabalho alheio.
§ 2º O empregado submetido ao regime de teletra- […]
balho ou trabalho remoto poderá prestar serviços
por jornada ou por produção ou tarefa. (Incluído Art. 62 Não são abrangidos pelo regime previsto
pela Lei nº 14.442, de 2022) neste capítulo:
§ 3º Na hipótese da prestação de serviços em regime […]
de teletrabalho ou trabalho remoto por produção III - os empregados em regime de teletrabalho que
ou tarefa, não se aplicará o disposto no Capítulo II prestam serviço por produção ou tarefa.
do Título II desta Consolidação. (Incluído pela Lei
nº 14.442, de 2022) É importante ressaltar, também, que o tempo de
§ 4º O regime de teletrabalho ou trabalho remoto uso de equipamentos tecnológicos e de infraestrutu-
não se confunde nem se equipara à ocupação de ra para a realização diária do teletrabalho, mas fora
operador de telemarketing ou de teleatendimento. da jornada de trabalho normal, não constitui tempo
(Incluído pela Lei nº 14.442, de 2022) à disposição ou regime de prontidão ou de sobreavi-
§ 5º O tempo de uso de equipamentos tecnológicos so, exceto se houver previsão em acordo individual
e de infraestrutura necessária, bem como de sof- ou se estiver de acordo com a convenção coletiva de
twares, de ferramentas digitais ou de aplicações de trabalho. Em síntese, se a empresa forneceu ao tele-
internet utilizados para o teletrabalho, fora da jor- trabalhador, por produção ou tarefa, um celular, e o
nada de trabalho normal do empregado não cons- empregado utiliza este celular fora do expediente, isso
titui tempo à disposição ou regime de prontidão ou não significa dizer que ele está em sobrejornada.
de sobreaviso, exceto se houver previsão em acordo
Ademais, o teletrabalho, obrigatoriamente, deve
individual ou em acordo ou convenção coletiva de
ser precedido de contrato escrito, inclusive em caso de
trabalho. (Incluído pela Lei nº 14.442, de 2022)
alterações, seja de regime presencial para teletraba-
lho ou o inverso. Contudo, atente-se: A alteração do
De acordo com a lei, permite-se que estagiários e
regime presencial para o teletrabalho deve ser bilate-
aprendizes desenvolvam suas atividades em regime
ral, sob pena de nulidade. Já a alteração do regime de
de teletrabalho, bem como que empregados com defi- teletrabalho para o presencial pode ser unilateral (jus
ciência, ou que tenham filhos/crianças (as últimas, sob variandi), mas com o direito de o empregado usufruir
guarda judicial, até quatro anos de idade) também de 15 dias de adaptação, sem que lhe sejam impostas
cumpram sua jornada de trabalho remotamente. penalidades por algum atraso. Veja:
§ 6º Fica permitida a adoção do regime de teletra- Art. 75-C A prestação de serviços na modali-
balho ou trabalho remoto para estagiários e apren- dade de teletrabalho deverá constar expressa-
dizes. (Incluído pela Lei nº 14.442, de 2022) mente do instrumento de contrato individual
§ 7º Aos empregados em regime de teletrabalho de trabalho. (Redação dada pela Lei nº 14.442,
aplicam-se as disposições previstas na legislação de 2022)
local e nas convenções e nos acordos coletivos de § 1° Poderá ser realizada a alteração entre regime
trabalho relativas à base territorial do estabeleci- presencial e de teletrabalho desde que haja mútuo

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


mento de lotação do empregado. (Incluído pela Lei acordo entre as partes, registrado em aditivo
nº 14.442, de 2022) contratual.
§ 8º Ao contrato de trabalho do empregado admiti- § 2° Poderá ser realizada a alteração do regime de
do no Brasil que optar pela realização de teletraba- teletrabalho para o presencial por determinação do
lho fora do território nacional aplica-se a legislação empregador, garantido prazo de transição mínimo
brasileira, excetuadas as disposições constantes da de quinze dias, com correspondente registro em
Lei nº 7.064, de 6 de dezembro de 1982, salvo dis- aditivo contratual.
posição em contrário estipulada entre as partes.
(Incluído pela Lei nº 14.442, de 2022) Os instrumentos necessários para a realização do
§ 9º Acordo individual poderá dispor sobre os horá- trabalho em teletrabalho nem sempre serão forneci-
rios e os meios de comunicação entre empregado dos pelo empregador, pois isso depende de previsão
e empregador, desde que assegurados os repousos
contratual. Inclusive, caso o empregador forneça
legais. (Incluído pela Lei nº 14.442, de 2022)
estes instrumentos, ou resolva custear despesas do
empregado para o teletrabalho (tais como energia,
O teletrabalhador que desempenhe suas atividade água, telefone e internet, por exemplo), estes valores
por produção ou tarefa, em tese, não terá sua jorna- não comporão o salário do funcionário, pois possuem
da obrigatoriamente controlada pelo empregador. natureza meramente indenizatória. Confira:
Inclusive, o simples fornecimento de meios telemáti-
cos (computador, tablet e celular) não configura, por Art. 75-C […]
si só, este controle de jornada, dependendo de outra § 3º O empregador não será responsável pelas
circunstância que imponha esta condição. Vejamos o despesas resultantes do retorno ao trabalho pre-
disposto na CLT. sencial, na hipótese de o empregado optar pela rea-
lização do teletrabalho ou trabalho remoto fora da
Art. 6º Não se distingue entre o trabalho realizado localidade prevista no contrato, salvo disposição
no estabelecimento do empregador, o executado no em contrário estipulada entre as partes. (Incluído
domicílio do empregado e o realizado a distância, pela Lei nº 14.442, de 2022) 37
Art. 75-D As disposições relativas à responsabilidade pela aquisição, manutenção ou fornecimento dos equipamen-
tos tecnológicos e da infraestrutura necessária e adequada à prestação do trabalho remoto, bem como ao reembolso
de despesas arcadas pelo empregado, serão previstas em contrato escrito.
Parágrafo único. As utilidades mencionadas no caput deste artigo não integram a remuneração do empregado.

Por fim, para evitar acidentes de trabalho, e para resguardar o empregador de ser responsabilizado caso estes
aconteçam, o segundo deverá instruir os primeiros, de maneira clara, expressa e ostensiva, sobre os cuidados com
o ambiente laboral e com a saúde, higiene e segurança individual, inclusive com treinamentos, se for o caso, além
de obter a assinatura do funcionário em um termo de compromisso. Veja:

Art. 75-E O empregador deverá instruir os empregados, de maneira expressa e ostensiva, quanto às precauções a
tomar a fim de evitar doenças e acidentes de trabalho.
Parágrafo único. O empregado deverá assinar termo de responsabilidade comprometendo-se a seguir as instruções
fornecidas pelo empregador.

A Lei nº 14.442, de 2022, incluiu o art. 75-F na CLT, de modo a estabelecer prioridade na alocação de vagas para
atividades realizadas por meio do teletrabalho ou trabalho remoto aos empregados com deficiência e aos que
possuem filhos ou criança sob guarda judicial até 4 anos de idade. Vejamos:

Art. 75-F Os empregadores deverão dar prioridade aos empregados com deficiência e aos empregados com filhos
ou criança sob guarda judicial até 4 (quatro) anos de idade na alocação em vagas para atividades que possam ser
efetuadas por meio do teletrabalho ou trabalho remoto. (Incluído pela Lei nº 14.442, de 2022)

No momento da prova, é sempre importante lembrar dos detalhes do teletrabalho, em especial das questões
que envolvem a jornada de trabalho e as alterações do contrato. De toda a sorte, este material está atualizado com
as modificações introduzidas pela Lei nº 14.442, de 2022.

TRABALHO EM EQUIPE
Primeiramente, é importante diferenciar o conceito de equipe de trabalho para grupo de trabalho.
O grupo de trabalho é o agrupamento de pessoas com papéis previamente definidos trabalhando com o mes-
mo objetivo, mas com uma comunicação deficiente, faltando alinhamento e clareza do todo organizacional. Neste
sentido, não há cooperação entre os membros e os líderes ficam isolados.
Já na equipe de trabalho existe uma maior sinergia entre os membros, alta colaboração, transparência e con-
tribuição de maneira coesa para que se alcance os objetivos. Neste sentido, todos os participantes assumem riscos
de forma conjunta em prol do resultado almejado.
Importante: pode-se dizer que toda equipe é um grupo, mas não que todo grupo é uma equipe!
As organizações optam pela formação de equipes de trabalho quando as atividades exigem múltiplas habilida-
des, julgamentos e experiências, tendo como objetivo a maximização da competitividade da organização.
Por outro lado, quando a atividade é simples e repetitiva, o mais adequado é a opção pelo trabalho individual
ou então pela formação de pequenos grupos.
Na figura abaixo, podemos perceber as diferenças entre o trabalho individual, o trabalho em grupo e o traba-
lho em equipe:

Trabalho em grupo: Trabalho em equipe:


Trabalho � Indivíduos juntos � Trabalho coletivo
Individual � Informação compartilhada � Esforço conjunto
� Resultado é a soma dos indivíduos � Resultado sinérgico

Neste sentido, as equipes são formas mais flexíveis e que reagem melhor às mudanças do que os tradicionais
grupos, além de facilitar a participação dos membros nos processos decisórios, aumentando, assim, a motivação.
Outra característica importante nas equipes de trabalho é a sua capacidade de gerar uma sinergia positiva por
meio do esforço coordenado de seus participantes, contribuindo assim para um melhor desempenho.

Dica
38 Sinergia é quando a soma do esforço simultâneo e coletivo é maior do que a soma das partes.
Na figura abaixo, sintetizamos as principais diferenças entre equipe e o grupo de trabalho:

Grupo Equipe

Meta

Compartilha informações Desempenho coletivo


Sinergia
Neutra (ou negativa) Positiva
Responsabilidades
Individual Individual e mútua

Casuais e variadas Habilidades Complementares entre si

PERSONALIDADE E RELACIONAMENTO

Atualmente, a ênfase nas relações humanas no ambiente de trabalho tornou-se assunto central no cotidiano
das organizações, muito devido à real necessidade de construir uma organização a qual comporte uma diversida-
de cultural e, assim, possibilite a maximização dos resultados organizacionais.
Para alcançar o alto desempenho da equipe, é fundamental a escolha certa de seus integrantes, levando em
conta a personalidade e a capacidade de se relacionar de cada um.
Atualmente, as organizações valorizam a habilidade do colaborador em criar relacionamentos duradouros
pautados na confiança com outros funcionários da empresa, criando uma cultura organizacional de colaboração.
Neste sentido, com o objetivo de descrever e explicar o comportamento dos membros de grupos de trabalho, o
psicólogo Bruce W. Tuckman desenvolveu um modelo de formação de equipes.
No modelo de Tuckman, as equipes perpassam por 5 fases de desenvolvimento, são elas:

z Formação: fase inicial, caracterizada pela incerteza. Inicia-se a definição de propósito, da estrutura e da lide-
rança. Os membros começam a se reconhecer como participantes;
z Conflito (agitação, tormenta, ebulição): é a fase de ajustes e de resistência ao controle e aos limites impostos
pelo grupo. O líder passa a coordenar os trabalhos, negociando e ajustando as disputas e as responsabilidades
de cada um;
z Normalização (acordo, estabilização, confiança): nesta fase desenvolvem-se os relacionamentos, a coesão
e os papeis são definidos;

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


z Desempenho (execução): é a fase da produtividade, a energia se move para a tarefa e para o trabalho. Cria-se
uma grande sinergia entre os membros;
z Desintegração (dispersão): com a conclusão das atividades e a entrega do trabalho, a equipe é desfeita. Ini-
cia-se um novo processo.

� Fase inicial de conhecimento dos


Formação
membros

� Fase de ajustes dos


Conflito
relacionamentos

� Desenvolvimento dos relacionamentos


Normatização
(coesão)

Desempenho � Fase de alta produtividade

� Término da equipe (após a


Desintegração
finalização dos trabalhos)

39
EFICÁCIA NO COMPORTAMENTO INTERPESSOAL Muito da administração privada é aproveitado na
gestão pública para dar foco no resultado e no usuário
O comportamento interpessoal eficaz é quando as do serviço estatal.
pessoas compreendem a importância de suas habili- Para fins de concurso, é essencial estudar os
dades em prol da reciprocidade dos outros colabora- elementos estruturais de forma objetiva e treinar o
dores, criando assim uma cultura colaborativa. máximo possível até o dia da prova!
Neste sentido, o comportamento interpessoal
funciona como um dos pilares dos relacionamentos COMUNICAÇÃO NA GESTÃO PÚBLICA
diante a própria organização, aos colegas de trabalho,
clientes, parceiros e a sociedade. z Conceito: processo relacionado às habilidades
Nessa época de grande complexidade da socieda- humanas de envio e recebimento de pensamentos,
de, cada vez mais é exigido das pessoas um compor- informações, atitudes e sentimentos;
tamento interpessoal de excelência, não sendo mais z Comunicação formal: de caráter oficial. Encon-
aceitas atitudes e ações individualistas, que podem tra-se nas organizações, com respeito à burocracia
desintegrar o clima organizacional. padrão para transmitir a mensagem por meio de
Sabemos que para o sucesso das organizações é algum canal de comunicação;
indispensável encontrar, contratar e gerir pessoas que z Comunicação informal: convive à margem da
tenham facilidade no relacionamento interpessoal! E comunicação formal. A sua diferença reside na
como encontrar essas habilidades nos colaboradores? forma paralela, pois ocorre, por exemplo, na con-
Hoje em dia, a busca pelo talento ideal dotado de versa entre líderes ou gestores de forma não ofi-
uma alta competência individual e interpessoal envol- cial. O seu problema é evidenciado no alto risco de
ve 3 aspectos essenciais: ruído na mensagem, por meio de informações não
verídicas, como boatos;
z Conhecimento: é o saber. É a busca contínua do z Comunicação instrumental: sua finalidade é
aprendizado, capacidade de aprender. É adquirido orientar o destinatário da mensagem e divulgar o
seu conteúdo. Por isso a expressão “instrumento”.
por meio da formação educacional;
A comunicação é o instrumento pelo meio do qual
z Habilidade: é o saber fazer. É a transformação do
há a transmissão da informação;
conhecimento em resultado por meio da utilização
z Comunicação participativa: requer a participação
e aplicação do conhecimento para resolver proble-
de mais sujeitos, com opiniões, propostas e críticas.
mas e/ou inovar. É conquistada por meio da expe-
riência profissional;
Direcionamento
z Atitude: é saber fazer acontecer. É a busca pela
autorrealização do seu potencial com determina-
Fluxo vertical: é o mais comum, pois observa uma
ção, responsabilidade, comprometimento, motiva-
linha de cunho hierárquico.
ção, confiança e iniciativa. São os atributos pessoais,
intrínsecos a cada indivíduo.
do nível mais alto para o mais bai-
FLUXO xo. Exemplo: um e-mail da direção
VERTICAL geral aos demais funcionários
DESCENDENTE subordinados

Conhecimentos
(Saber) do nível mais baixo para o mais
FLUXO alto. Exemplo: colheita de opiniões
VERTICAL por meio de caixas de feedback, re-
ASCENDENTE latórios de desempenho e pesqui-
sa de clima organizacional

é a comunicação entre os sujeitos


do mesmo grupo ou do mesmo
COMPETÊNCIA
FLUXO nível (por exemplo: de uma mesma
HORIZONTAL repartição de um órgão público).
É nesse fluxo onde há o risco de
Habilidades Atitudes boatos e rumores.
(Saber Fazer) (Querer Fazer)
marcado pela flexibilidade, pois a
comunicação acontece em dife-
FLUXO rentes direções. É verificada em
TRANSVERSAL organizações que estimulam a ino-
vação, trabalho em equipe e com-
partilhamento de tarefas

GESTÃO DE REDES ORGANIZACIONAIS utiliza-se de todos os demais


FLUXO fluxos, sem adotar um como pa-
CIRCULAR dronizado, e é observado em orga-
A comunicação é instrumento essencial para trans-
nizações informais
missão de informações relevantes, especialmente no
âmbito da administração pública, considerando que
40 o destinatário final do serviço prestado é o cidadão.
Partes do Processo de Comunicação Na gestão pública, refere-se ao espaço de comuni-
cação entre as entidades governamentais e não gover-
z Emissor ou fonte: o sujeito que transmite a namentais, assim como com a população em geral, a
mensagem; partir de algum tema de interesse público (por exem-
z Canal ou transmissor: meio de ligação entre o plo: moradia).
agente transmissor e o sujeito receptor;
z Codificação: transformar a ideia (ou pensamento) GOVERNABILIDADE
em forma simbólica, por exemplo, por meio de texto;
z Mensagem: conjunto de símbolos transmitido Conceito
pelo sujeito;
z Meio: canais de comunicação; Diante de períodos de enfraquecimento econômi-
z Decodificação: o processo realizado pelo receptor co e aumento das demandas populares recorrentes na
a fim de dar significado à mensagem recebida; Europa, América do Norte e Japão, os debates sobre a
governabilidade passaram a tomar conta das pautas
z Receptor: o sujeito que recebe a mensagem;
dos governos.
z Resposta: reação do receptor ao receber a mensagem;
A governabilidade é o poder político, legitimado e
z Feedback: reação do sujeito receptor à mensagem
que detém o apoio da sociedade. Logo, um Governo
recebida. Por meio dele, o sujeito emissor pode
só possui governabilidade se os seus representantes
avaliar como a mensagem foi recebida; tiverem o apoio político necessário ao exercício da
z Ruído: alteração no recebimento da mensagem pelo sua atividade.
sujeito não receptor, de forma não planejada. Por Do lado contrário, a ingovernabilidade é eviden-
exemplo: a falta de atenção do receptor pode alterar ciada em momentos de quebra da relação acima indi-
sua percepção acerca do real significado da mensagem. cada, em razão de crises fiscais, excesso de demandas,
crise de legitimidade do chefe de governo, sobre-
Comunicação no Ambiente Público carga nas atividades, crises políticas ou, ainda, crise
democrática.
A democracia inclui o direito do cidadão ao acesso
à informação e à participação popular, com a garantia Governança
inerente de atuação e interferência na gestão dos bens
e serviços públicos. Governança é o sistema para direção, monitora-
O § 1º, do art. 37, da Constituição da República mento e incentivo das organizações, envolvendo os
Federativa do Brasil, assim prevê: relacionamentos entre sócios, conselho de adminis-
tração, diretoria, órgãos de fiscalização e controle e
Art. 37 […] demais partes interessadas.
§ 1º A publicidade dos atos, programas, obras, No Brasil, o Instituto Brasileiro de Governança
serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá Corporativa (IBGC) é a entidade competente para
ter caráter educativo, informativo ou de orientação desenvolver práticas inovadoras para governança
social, dela não podendo constar nomes, sím- (IBGC, 2022).
bolos ou imagens que caracterizem promoção
pessoal de autoridades ou servidores públicos. Princípios da Governança Corporativa

Logo, a publicidade é a regra na gestão pública e a z Transparência: é ampla e não inclui somente a
atuação do gestor deve ser impessoal, sendo vedada a transparências de informações sobre a qual a Lei

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


utilização de meios de identificação e promoção pes- exige, mas de outras que sejam de interesse daqueles
soal dos agentes. interessados pela atividade da organização;
z Equidade: princípio da igualdade, com tratamen-
Espécies de Comunicação no Ambiente Público to isonômico dos sócios e interessados;
z Prestação de Contas: apresentação dos demons-
z Comunicação pública: espaço para debate. Envol- trativos que indiquem a alocação dos valores
ve a discussão relacionada à gestão, fiscalização, administrados pela organização, de forma clara e
tempestiva;
controle e solução de conflitos do Estado;
z Responsabilidade corporativa: muito comum
z Comunicação governamental: envolve a men-
atualmente, conhecida também como “complian-
sagem transmitida pelo Ente Público à população
ce”. É uma atuação ativa dos agentes para reduzir
com a finalidade de divulgar as ações do governo
os riscos externos do negócio, analisando constan-
(ex.: campanha de vacinação, construção de uma temente a viabilidade econômica da organização.
quadra esportiva, reforma de um posto de saúde);
z Comunicação política: envolve o marketing da Governança Pública
administração pública com a finalidade de trans-
mitir uma imagem satisfatória da Administração, A governança pública é o instrumento para garan-
da sua atividade e do interesse público. tir a gestão. Envolve arranjos sobre como as decisões
são tomadas.
Redes Organizacionais É diferente de governabilidade, na medida que
esta envolve o cenário (se favorável ou desfavorável),
As redes são estruturas formadas por pessoas ou enquanto a governança pública requer a estruturação
organizações que se conectam em razão de um inte- das ações e capacidade técnica do governo.
resse ou atividade em comum.
41
Pilares da Governança Pública c) Parceiros e fornecedores: garantem políti-
cas, padrões e iniciativas que integrem as ações
Conforme o Referencial Básico de Governança do dos vários níveis de governo e dos três Poderes,
Tribunal de Contas da União, a governança na gestão sempre pensando na melhoria da prestação de
pública deve observar 4 pilares (BRASIL, 2014): serviço e no compartilhamento de recursos entre
órgãos públicos, relacionados ao desenvolvimento
z Padrões de Comportamento: relacionados ao e disponibilidade de soluções, compartilhamento
exercício de liderança para a determinação de de equipamentos, desenvolvimento colaborativo de
valores, padrões de comportamento e cultura da ambientes virtuais e recursos humanos – integração.
organização;
z Estruturas e Processos Organizacionais: relacio- DIRETRIZES DO E-GOV
nados à forma como a alta gestão é indicada, as
responsabilidades são definidas e a organização se As diretrizes gerais servem de referência para
torna confiável; estruturar as estratégias de intervenção em todas as
z Controle de Risco: relacionados à instituição esferas de governo. São 7 diretrizes (BRASIL, 2019):
dos controles de forma a subsidiar o alcance dos
objetivos da entidade, a eficiência a efetividade a) A prioridade do Governo Eletrônico é a pro-
das operações, a confiabilidade dos relatórios e moção da cidadania
a conformidade com relação à aplicação de leis e O governo eletrônico tem como referência os direi-
regulamentos; tos coletivos e uma visão de cidadania. Incorpora
z Relatórios Externos: relacionados à forma como a promoção da participação e do controle social e
a alta gestão da organização demonstra sua res- a indissociabilidade entre a prestação de serviços
ponsabilização pela administração das finanças e sua afirmação como direito dos indivíduos e da
públicas e desempenho no uso dos recursos. sociedade.
b) A Inclusão Digital é indissociável do Gover-
Princípios da Governança Pública no Eletrônico
Vincula-se à necessidade da inclusão digital, para
O Banco Mundial elenca 7 princípios para a gover- que o cidadão exerça a sua participação política
efetiva na sociedade do conhecimento. Deve ser tra-
nança pública, hoje contidas no Decreto n. 9.203, de 22
tada como um elemento constituinte da política de
de novembro de 2017 (BRASIL, 2017):
governo eletrônico e, portanto, objeto de políticas
públicas para sua promoção.
z Legitimidade: básico nas democracias, envolve o
c) O Software Livre é um recurso estratégico
Poder legítimo do gestor; para a implementação do Governo Eletrônico
z Equidade: relacionado à igualdade, requer que o O software livre é a opção tecnológica do governo
interesse público seja observado para alcançar um federal. Sempre que possível, deve ser promovida
bem comum; sua utilização. Para tanto, deve-se priorizar solu-
z Responsabilidade: grau de zelo do gestor; ções, programas e serviços baseados em software
z Eficiência: executar as ações com qualidade e livre que promovam a otimização de recursos e
menor custo; investimentos em tecnologia da informação.
z Probidade: atuação do gestor na medida da lei, d) A gestão do conhecimento é um instrumento
com zelo na administração da coisa comum; estratégico de articulação e gestão das políti-
z Transparência: conceder acesso à informação cas públicas do Governo Eletrônico
para sociedade civil; A Gestão do Conhecimento é compreendida, no
z Accountability: responsabilidade do gestor pelas âmbito das políticas de governo eletrônico, como
despesas assumidas na sua gestão. um conjunto de processos sistematizados, arti-
culados e intencionais, capazes de assegurar a
Governo Eletrônico (e-Gov) habilidade de criar, coletar, organizar, transferir
e compartilhar conhecimentos estratégicos que
Com a massificação das ciências sobre Tecnologia podem servir para a tomada de decisões, para a
da Informação e Comunicação (TIC), a internet alte- gestão de políticas públicas e para inclusão do cida-
rou o relacionamento da Administração Pública com dão como produtor de conhecimento coletivo.
a sociedade (BRASIL, 2022). e) O Governo Eletrônico deve racionalizar o
No Brasil, o Portal do Governo Eletrônico, possui 3 uso de recursos
eixos (BRASIL, 2022): O governo eletrônico não deve significar aumento
dos dispêndios do governo federal na prestação
a) Cidadão: poderá conhecer instrumentos e polí- de serviços e em tecnologia da informação. Ain-
ticas de governo eletrônico para melhorar a rela- da que seus benefícios não possam ficar restritos
ção e o diálogo com o cidadão, para a eliminação a esse aspecto, é inegável que deve produzir redu-
de barreiras na Web, o aumento da transparência, ção de custos unitários e racionalização do uso de
o controle social das ações e a promoção da cidada- recursos.
nia - participação cidadã. f) O Governo Eletrônico deve contar com um
b) Governo: o Governo Federal disponibiliza aos arcabouço integrado de políticas, sistemas,
órgãos ferramentas e iniciativas para o desenvolvi- padrões e normas
mento de sistemas e informações aliadas à padro- Definição e publicação de políticas, padrões, nor-
nização, integração e interoperabilidade, com o mas e métodos para sustentar as ações de implan-
objetivo de democratizar o acesso à informação tação e operação do Governo Eletrônico que
nos sites e portais governamentais, reduzir custos cubram uma série de fatores críticos para o sucesso
e melhorar a qualidade dos serviços prestados à das iniciativas.
42 sociedade - gerenciamento interno do Estado.
g) Integração das ações de Governo Eletrônico associados à estrutura formal, às tecnologias e aos
com outros níveis de governo e outros poderes procedimentos, saber administrar os trabalhadores é
Cabe ao Governo Federal um papel de destaque nes- uma das condições para garantir o bom desempenho
se processo, garantindo um conjunto de políticas, organizacional.
padrões e iniciativas que garantam a integração
O comportamento das pessoas no trabalho con-
das ações dos vários níveis de governo e dos três
tribui para o aumento da produtividade, redução do
Poderes.
absenteísmo e da rotatividade, melhora no clima de
trabalho, entre outras vantagens. Para isso, os admi-
nistradores devem buscar entender4: (1) as atitudes
Importante!
dos funcionários em relação ao seu trabalho; (2) suas
E-Gov tem muita chance de ser cobrada em sua características psicológicas, isto é, sua personalidade;
prova! É o tema do momento! (3) a percepção que os trabalhadores têm do ambiente
de trabalho; e (4) a forma como eles aprendem novas
habilidades e competências.
REFERÊNCIAS
O estudo do comportamento organizacional signi-
fica o estudo de três determinantes do comportamento
BRASIL. Referencial Básico de Governança
nas organizações: os indivíduos (a partir dos valores,
– aplicável a órgãos e entidades da administra-
atitudes, satisfação com o trabalho, motivação, entre
ção pública. Brasília: TCU, 2014. Disponível em:
outros), os grupos (a partir da comunicação, lideran-
<https://portal.tcu.gov.br/data/files/FA/B6/EA/85/
1CD4671023455957E18818A8/Referencial_basico_ ça e conflitos, por exemplo) e a estrutura (a partir da
governanca_2_edicao.PDF>. Acesso em 14 mar. 2022. estrutura, cultura e clima organizacional).
BRASIL. Governo Digital. Disponível em: < https:// Veremos agora alguns dos aspectos que influen-
www.gov.br/governodigital/pt-br >. Acesso em: 15 ciam o comportamento organizacional.
mar. 2022.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da VALORES
República Federativa do Brasil. Brasília, DF:
Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. Disponível Os valores indicam aquilo que é importante para
em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/consti- o indivíduo ou para uma organização, ou seja, podem
tuicao/constituicaocompilado.htm >. Acesso em 15 ser pessoais ou organizacionais. Tomamos uma deci-
mar. 2022. são e escolhemos a opção 1 ao invés da opção 2 porque
BRASIL. Do eletrônico ao digital. 2019. Dispo- a opção 1 nos é mais valiosa, ou seja, está de acordo
nível em: < https://www.gov.br/governodigital/ com nossos princípios. Assim, os valores possuem um
pt-br/estrategia-de-governanca-digital/do-ele- elemento de julgamento com base naquilo que o indi-
tronico-ao-digital#:~:text=No%20Brasil%2C%20 víduo considera ser correto5.
a%20pol%C3%ADtica%20de,integra%C3%A7%- Sobral (2013) afirma que os valores possuem atri-
C3%A3o%20com%20parceiros%20e%20fornece- butos de conteúdo e de intensidade:
dores.>. Acesso em: 15 mar. 2022.
BRASIL. Decreto n 9.203, de 22 de novembro de z Conteúdo: define que uma conduta é importante,
2017. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ correta, desejável;
ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Decreto/D9203.htm z Intensidade: indica o quanto a conduta é impor-
>. Acesso em: 15 mar. 2022. tante, correta, desejável.
DIAS, H. Comunicação Integrada e Organiza-

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


ções Públicas Federais. São Bernardo do Campo:
Compreender os valores individuais é essencial
Umesp, 2005.
no estudo do comportamento organizacional, pois a
IBGC. Instituto Brasileiro de Governança Corpo-
partir deles é possível entender por que as pessoas se
rativa. Disponível em: < https://www.ibgc.org.br/
>. Acesso em: 15 mar. 2022. comportam de determinada forma e o que as motiva.
PALUDO, A. V. Administração pública. 5.ed. rev., Sobral apresenta duas abordagens para classifica-
atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: ção dos valores:
Método, 2016.
z Levantamento de Valores de Rokeach: Milton
Rokeach desenvolveu um levantamento de valo-
COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL
res composto por dois conjuntos e com 18 itens
em cada conjunto. Os valores podem ser terminais
O comportamento organizacional é uma área de
ou instrumentais. Enquanto os valores terminais
conhecimento que envolve a Psicologia, Sociologia,
Antropologia, Ciência Política, entre outras áreas de dizem respeito a condições de existência desejá-
estudo, e busca compreender as ações e comporta- veis, os valores instrumentais tratam das preferên-
mentos individuais e grupais nas organizações. cias em termos de comportamento ou meios para
Conforme Sobral, compreender o comportamento alcançar as metas dos valores terminais. Alguns
organizacional é fundamental para que os adminis- exemplos de valores terminais incluem: liberdade,
tradores possam lidar com as pessoas na organização, segurança, respeito por si próprio, um mundo em
bem como entender e prever seus comportamen- paz e segurança nacional. Dentre outros, são valo-
tos. Os recursos humanos são imprescindíveis para res instrumentais: responsabilidade, autocontrole,
o sucesso da empresa e, para além dos aspectos perdão, honestidade e coragem;
4 SOBRAL, F. PECI, A. Administração: teoria e prática no contexto brasileiro. São Paulo: Pearson, 2013.
5 ROBBINS, S. P. Comportamento Organizacional. São Paulo: Pearson, 2005. 43
z Geração Contemporânea de Trabalhadores: Outra forma de classificar os valores é por meio da
nessa abordagem, os valores são classificados de tipologia proposta por Schwartz. O autor propôs uma
acordo com as diferentes gerações de trabalhado- tipologia de valores com base na literatura sobre as
res presentes na força de trabalho. Quatro grupos necessidades básicas dos indivíduos. Os 10 tipos moti-
principais podem ser destacados: veteranos, baby vacionais propostos são6:
boomers, geração X e geração da tecnologia. Os
veteranos fazem parte da força de trabalho desde z Poder: indica ter uma posição e prestígio social
1950 e 1960, tendo sido influenciados pela Gran- em uma comunidade/sociedade. Envolve ainda a
de Depressão e pela Segunda Guerra Mundial. busca por ter controle e autoridade sobre outras
Eles valorizam o trabalho árduo, o status quo e as pessoas e recursos, bem como alcançar riqueza;
autoridades. A lealdade aos patrões também é uma z Realização: busca pelo sucesso pessoal por meio
característica dessa geração, que pretende perma-
da demonstração de competência segundo as
necer trabalhando em uma única empresa até a
regras sociais. Inclui a ambição e a vontade de
sua aposentadoria. Considerando os valores ter-
obter êxito em suas atividades;
minais, os veteranos provavelmente julgam mais
z Hedonismo: prazer e gratificação para si próprio.
importante ter uma vida confortável e segurança
Em outras palavras, busca-se desfrutar da vida ao
familiar.
máximo;
Os baby boomers começaram a trabalhar entre z Estimulação: ter novidades e estímulos na vida,
1960 e 1980, sendo influenciados pelos movimentos tais como mudar de vida, ter uma vida diferente e
de direitos civis e a Guerra do Vietnã. Quanto aos estimulante/excitante;
valores, os baby boomers desconfiam das autorida- z Autodireção: ser autodirigido e independente
des, buscam realização pessoal, sucesso material e em relação aos pensamentos e a tomadas de deci-
são pragmáticos. No que diz respeito aos valores ter- são. Independência e liberdade são associadas à
minais de Rokeach, eles provavelmente consideram autodireção;
mais importante o sentido de realização e o reconhe- z Universalismo: compreensão e proteção do bem-
cimento social. -estar de todos e da natureza. Busca por um mun-
A geração X ingressou na força de trabalho entre do em paz, com igualdade e justiça social;
1980 e 2000 e, portanto, vivenciou o início da era dos z Benevolência: preocupação com o bem-estar
computadores. O dinheiro deixa de ser central para daqueles com quem se tem um contato mais próxi-
a geração X, que busca flexibilidade, equilíbrio entre mo e frequente, ajudando-os em suas necessidades;
vida pessoal e profissional e satisfação no trabalho. z Tradição: respeito e compromisso com os costu-
Visto que preferem ter mais tempo para lazer, esses mes e ideais de uma cultura ou religião. Associa-se
trabalhadores não se sacrificam tanto para os seus com devoção, honra aos mais velhos, humildade e
empregadores quanto as gerações anteriores. Consi- vida espiritual;
derando os valores terminais de Rokeach, a geração X z Conformidade: limitação de ações e impulsos que
provavelmente julga mais importante a amizade ver- podem prejudicar, magoar ou violar as expectati-
dadeira, a felicidade e o prazer. vas sociais e normas. Autodisciplina, obediência
Por último, a geração da tecnologia ingressou mais e bons modos fazem parte do tipo motivacional
recentemente no mercado de trabalho, isto é, a par-
conformidade;
tir de 2000. Esses trabalhadores são mais otimistas
z Segurança: segurança, harmonia e estabilidade
quanto à economia, bem como acreditam nas suas
na sociedade, nos relacionamentos interpessoais e
possibilidades de sucesso, especialmente de sucesso
no self, isto é, na própria pessoa. Preocupação com
financeiro. A valorização do dinheiro é grande para
a ordem social e segurança familiar e nacional.
a geração X, já que eles querem obter tudo aquilo que
o dinheiro é capaz de comprar. Os valores terminais
mais enfatizados são liberdade e vida confortável. ATITUDES

As atitudes são afirmações, positivas ou negativas,


Dica a respeito de uma situação, um objeto ou uma pes-
A expressão “status quo” é latina e significa “o soa7. Trata-se, portanto, de uma avaliação que indi-
estado das coisas”. Manter o status quo em ca como o indivíduo se sente em relação a alguma
uma organização, significa, portanto, manter as coisa. Quando alguém diz: “gosto das atividades que
atividades funcionando exatamente como elas desempenho no meu trabalho”, está expressando sua
estão. Logo, não há possibilidade de adaptar ou atitude positiva em relação às atividades do trabalho.
substituir os processos por outros, ainda que Em uma outra situação, quando o indivíduo diz “não
sejam mais viáveis. A ideia é: se deu certo no tenho paciência com pessoas que fazem fofoca”, está
passado, por que mudar? expressando sua atitude negativa em relação às pes-
soas fofoqueiras.
A partir dessa abordagem, percebe-se que apesar Robbins afirma que apesar de as atitudes serem
das diferenças de valores individuais, as característi- diferentes dos valores, os dois estão relacionados.
cas da sociedade em que os indivíduos foram criados A atitude pode ser compreendida a partir de três
e começaram a trabalhar influenciam seus valores. componentes:
6 GOUVEIA, V. V; MARTÍNEZ, E.; MEIRA, M. e MILFONT, T. L. A estrutura e o conteúdo universais dos valores humanos: análise fatorial
confirmatória da tipologia de Schwartz. Estudos de Psicologia, n. 6, v. 2, 2001, p. 133-142. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1413-
294X2001000200002. Acesso em: 31 out. 2022.
44 7 ROBBINS, S. P. Comportamento Organizacional. São Paulo: Pearson, 2005.
z Componente Cognitivo z Comprometimento organizacional: indica o quan-
to um indivíduo se identifica com os valores e os obje-
„ Está relacionado a conhecer, de forma cons- tivos da organização. Quanto maior a identificação,
ciente, determinado fato. Quando alguém tem mais o trabalhador se empenhará para continuar
convicção de que o ato de discriminar é errado, sendo parte da organização. Assim, o trabalhador
temos um exemplo do componente cognitivo. comprometido é aquele que “veste a camisa”, vibra
Esse componente serve de base para o compo- com as conquistas da organização e se solidariza
nente afetivo. com as dificuldades enfrentadas. O comprometi-
mento pode ser afetivo, instrumental ou normativo.
z Componente Afetivo
O comprometimento afetivo decorre de um tipo
„ Refere-se aos sentimentos e emoções associa- de afeto, apego, carinho com a organização. Os traba-
dos a uma atitude. Considerando o exemplo lhadores com esse tipo de comprometimento gostam
anterior, poderíamos descrever o componente e querem permanecer na organização porque se iden-
afetivo a partir da afirmação “Carlos não gosta tificam com os valores e metas ou porque se envol-
de José porque ele discrimina as minorias no veram fortemente com as atividades de trabalho e o
ambiente de trabalho”. papel desempenhado. Esse comprometimento é esti-
mulado por experiências anteriores de trabalho, prin-
z Componente Comportamental cipalmente aquelas que satisfazem as necessidades
psicológicas do trabalhador e o fazem se sentir bem
„ Diz respeito à intenção de comportar-se de no ambiente de trabalho.
determinada forma perante alguém ou algu- O comprometimento instrumental decorre das
ma coisa. No caso do exemplo de José, Carlos recompensas e dos custos associados ao trabalho. Esse
poderia decidir evitá-lo (não ficando no mesmo tipo de comprometimento ocorre porque o trabalha-
ambiente que ele ou ignorando-o) devido aos dor investiu significativamente seu tempo e esforços
seus sentimentos em relação a ele. na organização e porque não existem oportunidades
“melhores” no mercado de trabalho. Portanto, os tra-
Apesar da relevância em considerar os três compo- balhadores avaliam os custos associados a abandonar
nentes da atitude, Robbins afirma que frequentemente a organização ao mesmo tempo em que percebem que
o termo “atitude” se refere à parte afetiva. É relevante precisam da remuneração recebida na organização e,
analisar as atitudes dos trabalhadores no ambiente por isso, preferem continuar no trabalho. O compro-
organizacional, pois elas afetam a forma como as pes- metimento organizacional pode ser caracterizado por
soas se comportam. As pesquisas de comportamento uma constante análise da relação entre os custos e os
organizacional se concentram em três tipos de atitu- benefícios da saída da organização.
des: satisfação com o trabalho, envolvimento com tra- Por último, o comprometimento organizacional
balho e comprometimento organizacional8. normativo está associado a um sentimento de obriga-
ção em permanecer na empresa. Isso pode acontecer
z Satisfação com o trabalho: indica a atitude de porque a organização possui estratégias para garantir
uma pessoa em relação ao trabalho que realiza. que os trabalhadores considerem que a organização
Assim, pessoas que têm um alto nível de satisfação precisa deles para a continuidade de suas atividades.
com o trabalho, isto é, que se sentem felizes e reali- A oferta de benefícios “generosos” e o contato intenso
zadas com o trabalho que desempenham, possuem entre os membros da organização podem contribuir
atitudes positivas em relação a ele. Ao contrário, para que os trabalhadores se sintam parte de uma

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aqueles que estão insatisfeitos com o trabalho têm família. Nesse caso, a possibilidade de sair da organi-
atitudes negativas. zação provoca um sentimento de culpa no trabalha-
z Envolvimento com trabalho: indica o quanto o dor, pois ele não acha certo abandonar a organização
trabalhador se identifica psicologicamente com o que o proporciona tantos privilégios.
trabalho e considera que a forma como desempe-
nha suas atividades é fonte de realização pessoal. Os CULTURA ORGANIZACIONAL
trabalhadores que têm maior envolvimento preo-
cupam-se com questões de responsabilidade social A cultura pode ser compreendida como uma
e cidadania organizacional, além de terem menores construção coletiva que direciona as ações e compor-
índices de absenteísmo e demissão voluntária. tamentos dos indivíduos na sociedade e nas organiza-
ções9. Você provavelmente já deve ter ouvido alguém
Atenção: o índice de absenteísmo diz respeito a dizer em uma organização algo como “o final de ano
um padrão de ausências do funcionário ao trabalho. está chegando. Vamos começar a preparar o amigo
As causas podem ser variadas, incluindo problemas oculto porque a festa de Natal já faz parte da cultura
pessoais, desavenças com os colegas de trabalho ou da empresa”. Ou ainda: “a reunião começa às 8h, mas
chefe e até mesmo dependência química. O alto índice já é cultural os 10 minutos de atraso de todos”. Esses
de absenteísmo pode prejudicar o alcance dos obje- exemplos combinam com a definição de que a cultu-
tivos da empresa, já que as tarefas sob responsabili- ra é um sistema de significados aceito publicamente
dade dos trabalhadores faltantes ficarão atrasadas ou e coletivamente por um determinado grupo em certo
pendentes. momento10.
8 ROBBINS, S. P. Comportamento Organizacional. São Paulo: Pearson, 2005.
9 SOUZA, C. P. S. Cultura e clima organizacional: compreendendo a essência das organizações. Curitiba: Editora Intersaberes, 2014.
10 Pettigrew, A. On Studying Organizational Cultures. Administrative Science Quarterly, n. 4, v. 4, 1979, p. 580-571. Disponível em: https://doi.
org/10.2307/2392363. Acesso em: 01 nov. 2022. 45
A cultura organizacional é frequentemente defini- Dica
da como:
Os valores e princípios da Magazine Luiza estão
[...] o padrão de suposições básicas que um determi- disponíveis em seu site11 e incluem:
nado grupo inventou, descobriu ou desenvolveu ao Respeito, Desenvolvimento e Reconhecimen-
aprender a lidar com seus problemas de adaptação to: colocamos as pessoas em primeiro lugar,
externa e integração interna, e que funcionou bem o porque elas são a força e a vitalidade da nossa
suficiente para ser considerado válido e, portanto, ser organização;
ensinado aos novos membros como a maneira corre-
Ética: nossas ações e relações são baseadas na
ta de perceber, pensar e sentir em relação a esses pro-
blemas [tradução nossa]. (SCHEIN, 2004, p. 17)
verdade, integridade, honestidade, transparên-
cia, justiça e bem comum;
A partir da definição apresentada anteriormente, Simplicidade e Liberdade de Expressão: bus-
é possível compreender que a cultura é formada pelas camos a simplicidade em nossas relações e
suposições, crenças e valores dos membros da organiza- processos, respeitamos as opiniões de todos e
ção. Ao longo do tempo as pessoas desenvolvem certos estamos abertos a ouvi-las, independentemente
padrões de comportamentos associados com determina- da posição que ocupam na Companhia;
dos eventos. Quando o comportamento é aceito coletiva- Inovação e Ousadia: cultivamos o empreendedo-
mente, ele se torna a forma de correta de fazer as coisas. rismo na busca de fazer diferente, com iniciati-
Assim, sempre que surgir aquela situação novamente, vas inovadoras e ousadas;
os trabalhadores já sabem como “devem” agir. E aqueles Regra de Ouro: faça aos outros o que gostaria
que entram na organização posteriormente vão apren- que fizessem a você.
dendo com os veteranos como devem se comportar. Em
resumo, podemos dizer que a cultura é a maneira tra- O último nível, das suposições ou pressupostos
dicional/costumeira de fazer as coisas na organização,
básicos, diz respeito às verdades inquestionáveis da
sendo compartilhada por seus membros.
organização. Isto é, aquilo que é tido como certo, já
A cultura organizacional é manifestada em três
que é resultado de um aprendizado contínuo.
níveis: (1) artefatos visíveis, (2) valores, e (3) pres-
É importante destacar também os elementos da
supostos básicos, conforme apresentado na figura a
cultura organizacional. Tais elementos têm o papel de
seguir.
disseminar a cultura da organização:

Artefatos
z Valores: indicam aquilo que é importante para a
Visíveis, mas empresa, ou seja, aquilo que é considerado funda-
Tecnologia frequentemente não
Arte mental para o sucesso organizacional;
decifráveis
Padrões de comportamento visíveis e z Normas: buscam controlar o comportamento das
audíveis pessoas na organização, restringindo o que pode e
o que não pode ser feito;
z Comunicação: é a forma como a comunicação
Valores Maiores níveis de é realizada na organização, seja ela formal ou
consciência informal;
z Ritos e cerimônias: os ritos ocorrem quando
há contratação, promoção de um funcionário ou
outra situação específica. Por exemplo, pode ser
Suposições básicas
que a entrada de um novo funcionário seja sem-
Tidos como certos,
invisíveis e pré- pre seguida da apresentação do mesmo a todos
Relação com o ambiente
Natureza da atividade humana conscientes os departamentos. As cerimônias são eventos que
Natureza das relações humanas ocorrem costumeiramente nas organizações, tais
como celebrações de Natal, comemoração ao Dia
das Mães ou dos pais, entre outras;
Fonte: Adaptado de Schein (2004, p. 26). z Tabus: dizem respeito àquilo que não pode ser
O nível dos artefatos é fácil de ser observado, mas feito na organização, mas que não é amplamente
difícil de ser compreendido. Os artefatos incluem as comentado. Os tabus são aqueles assuntos discu-
características visíveis da cultura, tais como a tecnolo- tidos nos corredores, mas que ninguém tem cora-
gia, o layout, as vestimentas, a arquitetura etc. gem (ou abertura) para falar publicamente;
Para compreender os artefatos, pode ser necessá- z Histórias e mitos: as histórias dizem respeito a
rio investigar os valores da organização. Apesar de situações que realmente aconteceram na organi-
inacessíveis pela observação, os valores podem ser zação, enquanto os mitos não são baseados na rea-
obtidos a partir de conversas com os membros. Além lidade. Ambos, histórias e mitos, buscam reforçar
disso, grandes empresas geralmente divulgam sua a cultura da organização;
missão, visão e valores na Internet, seja em sua página z Sagas e heróis: as sagas são os relatos sobre pes-
institucional ou redes sociais. Um ponto a destacar é soas que se destacaram na organização. Os heróis
que geralmente os trabalhadores costumam falar dos são as próprias pessoas que ganharam destaque,
valores que são mais nítidos na organização, ou seja, seja porque fundaram a empresa, contribuíram
aquilo que é mais reforçado pela cultura. No entanto, significativamente pelo seu crescimento ou outro
os valores implícitos podem continuar inexplorados. motivo;
46 11 Disponível em: https://ri.magazineluiza.com.br/ShowCanal/Nossa-Cultura--Missao-e-Valores. Acesso em: 31 out. 2022.
z Crenças e pressupostos: são as verdades inques- z PMI (Project Management Institute): associa-
tionáveis presentes na organização e, por isso, não ção sem fins lucrativos dos profissionais de gestão
se modificam com frequência. de projetos;
z PMBOK (Project Management of Knowledge):
Por fim, ressalta-se que a cultura não é perma- guia de boas práticas de gestão de projetos publi-
nente ou inalterável. No entanto, também não é cado pelo PMI;
possível alterá-la da noite para o dia. A mudança da z PMP (Project Management Professioanl): prin-
cultura organizacional é viável, mas requer planeja- cipal certificação em gestão de projetos. Validade
mento e envolvimento de todas as áreas e níveis da pelo PMI, que certifica a competência para traba-
organização. lhar com projetos.

Feitas essas explicações, detalharemos o conceito


de projeto. Como vimos, projeto é um esforço tempo-
rário, ou seja, com início, meio e fim. É algo que terá
GESTÃO DE PROJETOS: CONCEITOS um tempo determinado de duração. Entretanto, isso
BÁSICOS, MODELOS E ETAPAS não significa que tenha uma curta duração, podendo
ser de longo prazo, mas deve sempre ter o término
CONCEITOS INICIAIS bem definido.
Outra característica importante é a sua exclusivi-
Para adentrarmos em nosso estudo de gestão de dade, ou seja, projetos são iniciados para resultar em
projetos, é importante que se saiba com clareza, pri- um produto, serviço ou resultado único, respeitando
meiramente, o que é um projeto. Conforme Vargas determinadas restrições conflitantes, como escopo,
(2009)12, um dos maiores especialistas brasileiros em tempo e orçamento.
gerenciamento de projetos, pode-se definir projeto
como Esforço Início e término
temporário bem definidos
PROJETO
[...] um empreendimento não repetitivo, caracteri- Resultado Resultado único
zado por uma sequência clara e lógica de eventos, exclusivo e duradouro
com início, meio e fim, que se destina a atingir um
objetivo claro e definido, sendo conduzido por pes-
soas dentro de parâmetros predefinidos de tempo, Os projetos atingem todos os níveis da organização
custo, recursos envolvidos e qualidade. (VARGAS, e podem ser aplicados em praticamente todas as áreas
2009, p. 23) do conhecimento, incluindo os trabalhos administra-
tivos, estratégicos e operacionais, bem como a vida
Já o guia Project Management Body of Knowledge pessoal de cada um.
(Guia PMBOK) de 2017 (6ª edição) foi mais sucinto em sua Nesse sentido, os projetos podem envolver um
definição dada na página 3, descrevendo “projeto” como pequeno número de pessoas ou milhares delas.
“[...] um esforço temporário empreendido para criar um Podem ser de curto prazo (dias) ou longo prazo (anos),
produto, serviço ou resultado exclusivo”13. e, em regra, extrapolam as fronteiras da organização,
Antes de explicarmos detalhadamente a defini- impactando clientes, fornecedores, governo etc.
ção de projeto, é preciso entender do que se trata o Para facilitar o entendimento, podemos citar como
exemplos de projetos:
Guia PMBOK, pois a grande maioria das questões dos

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concursos é retirada dele! Trata-se de um conjunto de
z lançamento de um novo produto;
boas práticas no gerenciamento de projetos publica-
z construção de uma casa;
do pelo Project Management Institute (PMI), a maior
z reestruturação de um departamento;
associação sem fins lucrativos dedicada à promoção
z planejamento dos jogos olímpicos;
do uso de técnicas e das melhores práticas em gestão
z campanha política;
de projetos. Assim, o Guia PMBOK é considerado a
z exploração dos campos de petróleo;
“bíblia” do gerente de projetos. z desenvolvimento de um aplicativo;
O PMI criou uma certificação para reconhecer a z realização de uma viagem.
importância do gerenciamento de projetos e atestar
que o gerente de projetos possui o que é necessário Dessa maneira, percebemos que os projetos fazem
para atuar como gestor; o interessado deve passar por parte do nosso dia a dia. A sua decisão de estudar e
um exame e, caso aprovado, utilizará como título a passar em um concurso público é um projeto. Tem iní-
sigla PMP (Project Management Professional). cio (no momento da decisão de começar a estudar),
A certificação PMP (Project Management Professio- tem meio (seus árduos estudos diariamente) e término
nal) é a mais reconhecida mundialmente pelo merca- bem definidos (com sua nomeação no cargo público),
do e atesta que o profissional possui os conhecimentos além de o resultado ser exclusivo, único e duradouro
necessários para liderar um projeto. (sua estabilidade como servidor público).
Sintetizando: o Guia PMBOK é o conjunto de boas Para alcançar os objetivos do projeto, utilizamos
práticas no gerenciamento de projetos, sendo publica- as melhores práticas de gerenciamento de projetos,
do pelo PMI, que certifica os profissionais através do também chamadas de gestão de projetos. A gestão de
PMP. Em suma, temos: projetos tem como propósito estabelecer um processo
12 VARGAS, R. V. Gerenciamento de Projetos: Estabelecendo Diferenciais Competitivos. 7ª ed. Rio de Janeiro: Brasport, 2009.
13 PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE (PMI). Guia do Conhecimento em Gerenciamento de Projetos (Guia PMBOK). 6ª ed. Newton Square,
2017. 47
estruturado e lógico capaz de lidar com eventos que Sintetizando: os projetos entregam produtos e/ou
se caracterizam pela novidade, complexidade e dinâ- serviços exclusivos que são mantidos pelas atividades
mica ambiental. funcionais. Como exemplo, podemos citar o projeto de
Diante da pressão do mundo globalizado, cada construção de um hospital (esforço temporário com
vez mais é necessário que as organizações consigam resultado único: o prédio); para manter a rotina de aten-
resultados com menos recursos e tempo e com cada dimento desse hospital, são necessárias diversas ativida-
vez mais qualidade; essa competitividade impulsiona des funcionais (operações/processos), pois não adianta
a escolha pelo gerenciamento de projetos. ter a estrutura física e não ter o atendimento propriamen-
te dito (médicos, enfermeiros, suprimentos, logística etc.).
Diferenças Entre Projetos e Atividades Funcionais No fluxograma a seguir, demonstramos como essa
(Processos) relação funciona:

O trabalho em uma organização é dividido em duas


Projeto A Projeto B Projeto C
categorias: projetos e atividades funcionais. Como já
visto, os projetos caracterizam-se por serem únicos e
temporários. Já as atividades funcionais (processos/
operações) tendem a ser contínuas e, normalmente, Os projetos entregam produtos e/ou serviços
seguem uma sequência lógica repetitiva.
Nessa esteira, as operações realizam processos de
Produtos Serviços
trabalhos repetitivos e contínuos, que fazem parte da
rotina da organização.
Mantidos através das
operações/atividades funcionais
Importante!
Atividades funcionais também são chamadas de
operações ou processos. Operações
Atividades Funcionais

Este caráter repetitivo das atividades funcionais


permite um planejamento mais detalhado, reduzindo ELABORAÇÃO, TÉCNICAS DE ANÁLISE E
as incertezas existentes sobre o trabalho, os prazos e AVALIAÇÃO DE PROJETOS
os custos. Como exemplo, podemos citar a rotina do
setor de recursos humanos na elaboração da folha de Grupos de Processos e Áreas de Conhecimento
pagamento dos funcionários; em todos os meses do
ano, o trabalho se repete sem muitas modificações, Detalhando, o Guia PMBOK (6ª edição) consiste em
seguindo a mesma sequência lógica. Outro exemplo uma base de boas práticas sobre a qual as organiza-
trazido pela literatura especializada é a operação ções, baseadas em técnicas e em ferramentas descri-
tivas, e não prescritivas, podem criar procedimentos
diária de distribuição de alimentos em uma empresa
para a prática do gerenciamento de projetos.
alimentícia.
Neste sentido, de acordo com o guia, o “Geren-
No entanto, existem características comuns dos
ciamento de projetos é a aplicação do conhecimen-
projetos e das operações. Ambos os tipos têm um obje-
to, habilidades, ferramentas e técnicas às atividades
tivo bem definido, utilizam recursos escassos e exi-
do projeto para atender aos seus requisitos”14. Esse
gem planejamento, execução e controle. No quadro
gerenciamento é realizado através de aplicação e
a seguir, elencamos as principais diferenças e seme-
integração apropriadas dos 49 processos de geren-
lhanças entre os projetos e as operações. ciamento, integrantes das 10 áreas de conhecimento,
logicamente agrupados em cinco grupos de processos.
PROJETO PROCESSO Atenção! Conhecimentos, habilidades e ferramen-
tas e técnicas são aplicados para atingir os requisitos
Contínuo do projeto.
Temporário
(permanente) Cada um dos 49 processos possui entradas, ferra-
mentas (e técnicas) e saídas específicas, pertencente
Resultados
Resultado único a um, e apenas um, dos cinco grupos de processos, e
padronizados
a uma, e apenas uma, das 10 áreas de conhecimento.
Fortemente Normalmente, os processos são realizados em
Elaborado progressivamente sequência, de forma que a saída de um processo pode
definidos
ser a entrada de outros processos. Desta maneira,
CARACTERÍSTICAS COMUNS: para o gerenciamento eficaz do projeto, é fundamen-
� realizados por pessoas tal conhecer os cinco grupos de processos expostos no
� restringidos por recursos limitados Guia PMBOK. São eles:
� planejados, executados e controlados
z Grupo de processos de iniciação: inclui os pro-
Agora, conhecendo suas diferenças, podemos rela- cessos necessários para autorizar o início do pro-
cionar o fluxo dos resultados dos projetos com as ati- jeto ou fase, permitindo uma visão comum sobre
vidades funcionais. o projeto.

48 14 Ibid. p. 10.
Os processos executados para definir um novo Todos os processos listados no Guia PMBOK per-
projeto ou uma nova fase de um projeto existente tencem a somente uma área de conhecimento.
através da obtenção de autorização para iniciar o As áreas de conhecimento descrevem o gerencia-
projeto ou fase15; mento de projetos conforme seus processos integran-
tes, organizados em 10 áreas integradas. Cada um
z Grupo de processos de planejamento: consiste nos desses processos tem um detalhamento e uma abran-
processos necessários para a definição e formaliza- gência própria, porém, com a integração, forma-se um
ção dos objetivos, tal como planejar as ações indis- todo único e organizado.
pensáveis para atingi-los. De acordo com o Guia PMBOK, são áreas de
Os processos necessários para definir o escopo do conhecimento:
projeto, refinar os objetivos e definir a linha de ação
necessária para alcançar os objetivos para os quais z Gerenciamento da integração do projeto: área
o projeto foi criado16; que inclui as atividades necessárias para asse-
gurar que todos os elementos do projeto sejam
z Grupo de processos de execução: inclui os pro- adequadamente coordenados e integrados, garan-
cessos necessários para executar o plano, realizar tindo que o seu todo seja sempre beneficiado. O
as entregas de projeto e coordenar os recursos. “Os gerenciamento da integração deve ser realizado
processos realizados para executar o trabalho definido continuamente, por todo o projeto, interligando as
no plano de gerenciamento do projeto para satisfazer demais áreas para alcançar os objetivos propostos;
as especificações do projeto”17; z Gerenciamento do escopo do projeto: engloba os
z Grupo de processos de monitoramento e con- processos necessários para assegurar que o trabalho
trole: consiste nos processos para comparar o requerido, e somente ele, seja concluído de maneira
desempenho real com o desempenho planejado, bem-sucedida. É responsável por planejar os traba-
identificar possíveis desvios, tomar ações correti- lhos que correspondam aos requisitos do cliente e
vas e gerenciar as mudanças. verificar se todo o trabalho planejado será realizado;
z Gerenciamento do cronograma do projeto: área
Os processos exigidos para acompanhar, analisar
responsável por criar condições adequadas para
e controlar o progresso e desempenho do projeto,
terminar o projeto no prazo estipulado (previsto). É
identificar quaisquer áreas nas quais serão neces-
uma das áreas mais sensíveis do projeto, definindo
sárias mudanças no plano, e iniciar as mudanças
as atividades e seus respectivos cronogramas;
correspondentes18;
z Gerenciamento dos custos do projeto: área respon-
z Grupo de processos de encerramento: inclui sável pelo gerenciamento dos recursos financeiros
todas as atividades necessárias para o encerra- envolvidos no projeto, determinando o orçamento e
mento de forma controlada do projeto e/ou fase. seu controle e permitindo que o projeto seja concluí-
“Os processos executados para finalizar todas as do de acordo com o orçamento previsto;
atividades de todos os grupos de processos, visando z Gerenciamento da qualidade do projeto: inclui
encerrar formalmente o projeto ou fase”19. os processos requeridos para assegurar que os pro-
dutos e/ou serviços do projeto estarão em confor-
Não se deve confundir os grupos de processos com midade com a qualidade requisitada pelo cliente;
as fases do ciclo de vida do projeto. É possível (e pro- z Gerenciamento dos recursos do projeto: respon-
vável) que todos os grupos de processos possam ser sável pelo uso mais efetivo dos recursos disponí-
conduzidos dentro de uma única fase. veis e envolvidos no projeto. Inclui as atividades

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de gerenciamento da equipe e de definição dos
papéis e das responsabilidades;
z Gerenciamento das comunicações do projeto:
PLANEJAMENTO ENCERRAMENTO
engloba os processos necessários para identificar,
coletar, processar e distribuir as informações do
projeto e garantir que sejam adequadamente dis-
seminadas entre os participantes;
INICIAÇÃO EXECUÇÃO
z Gerenciamento dos riscos do projeto: reúne
Monitoramento todas as atividades necessárias para conhecer e
e influenciar os fatores de risco do projeto, maximi-
Controle zando os riscos favoráveis e minimizando os riscos
desfavoráveis;
Já uma área de conhecimento representa um z Gerenciamento das aquisições do projeto: área
conjunto completo de conceitos, termos e atividades responsável pela aquisição de bens e serviços de
que compõem um campo profissional, um campo de fora da organização, bem como pela administra-
gerenciamento de projetos ou uma área de especia- ção dos contratos ou acordos associados a essas
lização. É uma organização lógica de processos de aquisições. É também responsável pelos supri-
gerenciamento de projeto. mentos dos materiais necessários;
15 PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE (PMI). Um Guia do Conhecimento em Gerenciamento de Projetos (Guia PMBOK). 5ª ed. Newton Squa-
re, 2013. p. 48.
16 Ibid. p. 49.
17 Ibid. p. 49.
18 Ibid. p. 49.
19 Ibid. p. 49. 49
z Gerenciamento das partes interessadas do projeto: as partes interessadas são indivíduos ou grupos que podem
influenciar ou serem influenciados pelo projeto. O gerenciamento das partes interessadas inclui os processos reque-
ridos para que o projeto corresponda às expectativas desses grupos.

Dica
Normalmente, as bancas examinadoras utilizam a nomenclatura em inglês stakeholders para se referir às
partes interessadas.

ESCOPO
PARTES
INTERESSADAS CRONOGRAMA

AQUISIÇÕES
CUSTOS
INTEGRAÇÃO

RISCOS QUALIDADE

COMUNICAÇÕES RECURSOS

Entenderemos, agora, como é realizada a integração desses componentes no gerenciamento do projeto. Os


projetos são gerenciados através do inter-relacionamento dos componentes-chave expostos no Guia PMBOK: ciclo
de vida do projeto, fases, cinco grupos de processos e 10 áreas de conhecimento.
Ademais, vale destacar que, para um gerenciamento de projetos eficaz, é necessária a integração de todos os com-
ponentes-chave em prol dos objetivos do projeto.

PROJETOS E SUAS ETAPAS

Portfólios, Programas e Projetos

Em regra, as organizações realizam diversos projetos simultaneamente, alinhados a um plano estratégico. Assim,
deve-se estabelecer prioridades para que os projetos mais importantes tenham a máxima oportunidade de sucesso. A
integração do gerenciamento de projetos permite criar maior valor empresarial em suas iniciativas.
Nesse sentido, os projetos são alinhados conforme o plano estratégico, da seguinte forma:

z Portfólio: conjunto de projetos e programas e operações relacionados a um objetivo estratégico. Os projetos


e programas inseridos dentro de um portfólio podem não ser necessariamente diretamente relacionados. A
seguir, segue a definição literal de portfólio segundo o Guia PMBOK: “Um portfólio é definido como projetos,
programas, portfólios subsidiários e operações gerenciados em grupo para alcançar objetivos estratégicos”20;
z Programa: conjunto de projetos relacionados, gerenciados de modo coordenado a fim de obter benefícios
disponíveis, se gerenciados individualmente. Conforme o Guia PMBOK, podemos conceituar o gerenciamento
de programas

[...] como a aplicação de conhecimentos, habilidades e princípios a um programa para atingir os objetivos do progra-
ma e obter benefícios e controle que de outra forma não estariam disponíveis através do gerenciamento individual
dos componentes do programa21.

Do ponto de vista organizacional, de forma didática, é importante conhecer a diferença entre gerenciamen-
to de portfólios e gerenciamento de programas: no gerenciamento de portfólios, o foco é fazer os programas e
projetos “certos”. Já no gerenciamento de programas, o foco é fazer os programas e projetos da “maneira certa”;

z Projetos: como visto, eles são temporários e empreendidos para criar produto, serviço ou resultado únicos;
z Subprojetos: divisão de um projeto em componentes menores e mais facilmente gerenciáveis. Normalmente,
em projetos complexos, essa desagregação é realizada para gerenciar uma grande entrega, fase ou bloco do
projeto.

20 PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE (PMI). Guia do Conhecimento em Gerenciamento de Projetos (Guia PMBOK). 6ª ed. Newton Square, 2017. p. 15.
50 21 Ibid. p. 14.
Na figura a seguir, percebemos de maneira gráfica a inter-relação entre os institutos:

PORTFÓLIO

PROGRAMAS

PROJETOS

SUBPROJETOS

Ciclo de Vida do Projeto

O ciclo de vida do projeto consiste no conjunto de fases que o projeto atravessa, desde o início até o seu tér-
mino. Essas fases normalmente são sequenciais, mas nada impede que ocorra alguma sobreposição entre elas.
Ao final de cada fase, ocorre uma entrega, e, após a sua aprovação, inicia-se uma nova fase. Não existe apenas
um modo de executar um ciclo de vida: dependendo do setor, produto ou risco, esse ciclo de vida pode se adaptar.
Conforme o Guia PMBOK, o ciclo de vida do projeto pode ser assim descrito:

z Início do projeto: identificação de uma necessidade (problema ou oportunidade);


z Organização e preparação: desenvolvimento e planejamento da solução;
z Execução do trabalho do projeto: implementação da solução;
z Encerramento do projeto: finalização do projeto.

Observe os detalhes do esquema abaixo:

Ciclo de vida do projeto

Início Organização Execução e Terminar


Fases do projeto e preparação trabalho o projeto

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


Grupos de
Grupo de processos
processos
Integração
Processos de Processos de Processos de
Processos de
Processos de Escopo
iniciação monitoramento
planejamento execução
e controle
encerramento Cronograma
Custos
Qualidade
Recursos
Comunicações
10 Áreas de Conhecimento
Riscos
Aquisições
Partes interessadas
Revisão Fase do Uso Linha do
CHAVE:
de fase projeto potencial tempo

Independentemente de seu tamanho ou de sua complexidade, a maioria dos projetos segue um padrão gené-
rico de ciclo de vida, apresentando as seguintes características:

z os custos e a utilização de pessoal são baixos no início, atingem um valor máximo (pico) na execução e dimi-
nuem drasticamente conforme o projeto é finalizado; 51
z por outro lado, os riscos e incertezas são maiores Restrições aos Projetos
no início do projeto, diminuindo conforme a sua
progressão; A complexidade é inerente ao gerenciamento dos
z a capacidade de influenciar das partes interessa- projetos, muito devido ao alto grau de incerteza, mas
das também é maior no início do projeto, dimi- também das limitações com as quais toda organização
nuindo à medida que o projeto progride para o convive no dia a dia. Essas limitações dizem respeito a
término. certas variáveis que muitas vezes são difíceis de con-
trolar, tornando-se assim verdadeiras restrições que
Para entender melhor essas características, veja- podem atrapalhar o sucesso do projeto.
mos como elas funcionam na prática. Imagine o proje- Até a 3ª edição do Guia PMBOK, as restrições a
to de construção de uma casa. No início do projeto, na serem enfrentadas eram mapeadas em três frentes:
fase do desenvolvimento do desenho de como a casa
vai ser, os custos e a utilização de pessoal são baixos z Tempo: cronograma para terminar um projeto, ou
(nesse momento, somente a Arquiteta está trabalhan- uma fase dele;
do no projeto). Por outro lado, nessa fase, o risco de o z Custo: orçamento alocado para finalizar o projeto;
projeto não sair do papel é grande, pois ainda é neces- z Escopo: o que deve ser alcançado com o projeto.
sário alocar tempo, dinheiro, alvarás de construção etc.
Levando em conta que a parte interessada é você, nes- Devido ao fato de que a alteração de uma dessas
se primeiro momento, sua capacidade de alterar algo restrições automaticamente alteraria as demais, essas
no projeto é grande e não demandaria muitos custos. três restrições são denominadas de “triângulo das res-
Ao iniciar a execução, propriamente dita, da cons- trições” ou “restrição tripla”.
trução da casa, os custos e a utilização de pessoal vão
crescendo até um valor máximo; nesse momento, são
diversos Pedreiros, Engenheiros, Mestres de Obras, ter- Se um fator é alterado,
ceirizados etc. Percebemos que, conforme as paredes um ou mais fatores
são levantadas, o risco e as incertezas vão diminuindo, poderão ser
pois a casa vai se concretizando. Consequentemente, impactados
com a obra em andamento, fica cada vez mais difícil a
alteração do projeto (a capacidade de influenciar).
No final da obra, com a casa quase pronta, ocorre Escopo
uma desmobilização da mão de obra, diminuindo, assim,
drasticamente o custo e a utilização do pessoal. Assim, o Qualidade
risco e a incerteza desaparecem, pois a casa está quase
pronta.
Para uma melhor compreensão, vejamos grafica-
mente essas variações22:
Tempo Custo
Alto Risco e incerteza
Percebemos na figura acima que os três atribu-
tos de restrição representam cada um dos vértices, e
que a qualidade figura como objeto central, podendo
sofrer limitações pelas restrições impostas ao projeto,
diminuindo assim as opções no seu gerenciamento.
Grau

Exemplificando: na construção de um estádio de


futebol para abrigar partidas da Copa do Mundo,
Custos das mudanças temos como restrição a necessidade de respeitar o
cronograma (tempo) para que ele fique pronto para o
início da competição. Assim, para acelerar a execução
Baixo
é necessário aumentar o orçamento e, muitas vezes,
Tempo do projeto
diminuir o escopo. Portanto, a restrição “tempo” afeta
diretamente os custos e o escopo.
Valor máximo (pico)
A partir da publicação da 4ª edição do Guia PMBOK,
Custos e utilização de pessoas

foram adicionadas mais três restrições na análise e


execução do projeto:

z Qualidade: padrão de qualidade requerido pelo


cliente;
z Recursos: gerenciar os recursos disponíveis para
a execução do projeto;
z Riscos: mapear possíveis situações que possam
impactar o projeto.

Tempo

52 22 Fonte: Guia PMBOK (5ª edição), p. 40.


QUALIDADE

CRONOGRAMA ORÇAMENTO

ESCOPO RECURSOS

RISCOS

Dica
A satisfação do cliente também pode ser vista como uma restrição.

Seguindo a mesma lógica, esses novos fatores relacionam-se de tal forma que, se algum deles mudar, pelo
menos um outro fator provavelmente será impactado.
Quem é o responsável pelo gerenciamento das restrições? Em regra, o gerente de projetos desempenha um
papel crítico para equilibrar as restrições que atuam sobre o projeto, devendo alocar os recursos disponíveis e
estabelecer limites reais e alcançáveis para que os objetivos do projeto sejam alcançados. Dessa forma, é funda-
mental o balanceamento do conhecimento técnico com o conhecimento gerencial.
É importante ter em mente que todos os projetos são impactados pelas restrições. Na prática, não existe pro-
jeto sem restrições.

PROCESSOS DO PMBOK
O Project Management Body of Knowledge (PMBOK) é um guia reconhecido internacionalmente para a gestão
de projetos. Este, por sua vez, define os processos e atividades que devem ser realizados para gerenciar um pro-
jeto de forma eficaz.
Nesse espectro, os processos do PMBOK são divididos em cinco outros grupos. Vejamos como eles se dispõem
a seguir.

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


INICIAÇÃO

Os processos do grupo de iniciação definem o escopo do projeto, os objetivos e os resultados esperados. Neste
momento inicial, busca-se estabelecer a necessidade do projeto e definir seus objetivos, incluindo a definição do
seu escopo, a elaboração de um plano de projeto e a criação de uma equipe de projeto.

Processos de
Monitoramento e Controle

Processos de
Planejamento

Processos Processos de
de Iniciação Encerramento

Processos de
Execução

Fonte: Devmedia, 2013.


53
Na figura apresentada é possível verificar os cinco mencionados grupos de processos de gerenciamento, que,
para tanto, encontram-se dentro de um desses grupos de processos, ou seja, um processo de gerenciamento pode
ser encontrado em outros tipos, de acordo com a imagem.
Ainda nesse viés, o processo de iniciação envolve dois outros processos principais, que são o de desenvolver o
termo de abertura do projeto, consistindo em documentar as justificativas, requisitos, objetivos, riscos, premissas e
restrições do projeto, bem como designar o gerente de projeto e obter a autorização formal para iniciar o projeto.
Consoante a isso, identificar as partes interessadas (stakeholders) é o segundo processo que se qualifica como
principal, de modo que consiste em identificar as pessoas, grupos ou as organizações que podem afetar ou serem
afetados pelo projeto, assim como analisar as suas expectativas, necessidades, interesses e influências.

PLANEJAMENTO

Os processos do grupo de planejamento definem como o projeto será executado, controlado e encerrado. Veja-
mos um exemplo na tabela a seguir:

GRUPOS DE PROCESSOS DE GERENCIAMENTO DE PROJETOS


Processos de área de
Grupos de Grupos de processos Grupos de
conhecimento Grupos de proces- Grupos de processos
processos de de monitoramento e processos de
sos de iniciação de planejamento
execução controle encerramento
Desenvolver o ter-
Monitorar e controlar
mo de abertura do Orientar e
o trabalho do projeto
4. Integração do projeto 3.2.1.1 (4.1) Desenvolver o plano gerenciar a
3.2.4.1 (4.5) Encerrar o projeto
gerenciamento de Desenvolver a de- de gerenciamento do execução
Controle integrado 3.2.5.1 (4.7)
projetos claração do escopo projeto 3.2.2.1 (4.3) do projeto
de mudanças 3.2.4.2
preliminar do proje- 3.2.3.1 (4.4)
(4.6)
to 3.2.1.2 (4.2)
Planejamento do
escopo 3.2.2.2 (5.1) Verificação do escopo
5. Gerenciamento do Definição do escopo 3.2.4.3 (5.4)
escopo do projeto 3.2.2.3 (5.2) Controle do escopo
Criar EAP 3.2.2.4 3.2.4.4 (5.5)
(5.3)
Definição da ativida-
de 3.2.2.5 (6.1)
Sequenciamento de
atividades 3.2.2.6
(6.2)
Estimativa de re-
6. Gerenciamento do cursos da atividade Controle do cronogra-
tempo do projeto 3.2.2.7 (6.3) ma 3.2.4.5 (6.6)
Estimativa de du-
ração da atividade
3.2.2.8 (6.4)
Desenvolvimento do
cronograma 3.2.2.9
(6.5)
Estimativa de custos
7. Gerenciamento de 3.2.2.10 (7.1) Controle de custos
custos do projeto Orçamento 3.2.2.11 3.2.4.6 (7.3)
(7.2)
Realizar a
Realizar o controle da
8. Gerenciamento da Planejamento de qua- garantia da
qualidade 3.2.4.7
qualidade do projeto lidade 3.2.2.12 (8.1) qualidade
(8.3)
3.2.3.2 (8.2)
Contratar
ou mobilizar
a equipe
9. Gerenciamento de Planejamento de do projeto
Gerenciar a equipe do
recursos humano do recursos humanos 3.2.3.3 (9.2)
projeto 3.2.4.8 (9.4)
projeto 3.2.2.13 (9.1) Desenvolver
a equipe
do projeto
3.2.3.4 (9.3)
Relatório de desempe-
Distribuição
10. Gerenciamento Planejamento de co- nho 3.2.4.9 (10.3)
das informa-
das comunicações do municações 3.2.2.14 Gerenciar as partes
ções 3.2.3.5
projeto (10.1) interessadas 3.2.4.10
(10.2)
(10.4)
54
Planejamento do
gerenciamento de
riscos 3.2.2.15 (11.1)
Identificação de ris-
cos 3.2.2.16 (11.2)
Análise qualitativa de Monitoramento e
11. Gerenciamento de
riscos 3.2.2.17 (11.3) controle de riscos
riscos do projeto
Análise quantitativa 3.2.4.11 (11.6)
de riscos 3.2.2.18
(11.4)
Planejamento de
respostas a riscos
3.2.2.19 (11.5)
Solicitar
respostas de
Planejar compras e
fornecedores
aquisições 3.2.2.20 Encerramento de
12. Gerenciamento de 3.2.3.6 (12.3) Administração de con-
(12.1) contrato 3.2.5.2
aquisições do projeto Selecionar trato 3.2.4.12 (12.5)
Planejar contratações (12.6)
fornecedores
3.2.2.21 (12.2)
3.2.3.7
(12.4)

A fase de planejamento dentro do PMBOK possui o intuito de detalhar o escopo, cronograma, orçamento, quali-
dade, recursos, comunicações, riscos, aquisições e os stakeholders do projeto, com base no seu termo de abertura.
O processo de planejamento envolve 10 áreas de conhecimento e 24 processos envolvidos. Cada área possui
um ou mais planos ou documentos que compõem o plano de gerenciamento do projeto, que é o principal resul-
tado dessa fase.

z Desenvolver o plano de gerenciamento do projeto: consiste em integrar e consolidar os planos e documen-


tos das demais áreas de conhecimento em um plano único e coerente, que orientará a execução, o monitora-
mento e o controle do projeto;
z Coletar os requisitos: definir e documentar as necessidades e as expectativas dos stakeholders em relação ao
escopo do projeto, utilizando técnicas como entrevistas, questionários, brainstorming etc.;
z Definir o escopo: consiste em detalhar e documentar as características e os limites do produto ou serviço a ser
entregue pelo projeto, bem como os critérios de aceitação e de exclusão;
z Criar a estrutura analítica do projeto (EAP): subdividir o escopo do projeto em componentes menores e
mais gerenciáveis, chamados de pacotes de trabalho, que facilitam o planejamento, a execução e o controle
do projeto;
z Definir as atividades: consiste em identificar e documentar as ações necessárias para realizar os pacotes de
trabalho da EAP, bem como os seus relacionamentos lógicos;
z Sequenciar as atividades: determinar e documentar a ordem em que as atividades devem ser realizadas,
considerando as dependências, os recursos e os prazos;
z Estimar os recursos das atividades: estimar e documentar os tipos e as quantidades de recursos humanos,
materiais, equipamentos e serviços necessários para cada atividade;
z Estimar as durações das atividades: consiste em estimar e documentar o tempo necessário para completar

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


cada atividade, considerando os recursos, as restrições e as premissas;
z Desenvolver o cronograma: analisar e documentar as datas de início e de término de cada atividade, bem
como os marcos e as linhas de base do projeto, utilizando técnicas como diagramas de rede, método do cami-
nho crítico, método da corrente crítica etc.;
z Estimar os custos: consiste em estimar e documentar os custos necessários para realizar cada atividade, bem
como o orçamento total do projeto, utilizando técnicas como análise de reservas, análise paramétrica, análise
de valor agregado etc.;
z Determinar o orçamento: agregar e documentar os custos estimados de cada atividade, bem como as reservas
de contingência e de gerenciamento, para estabelecer a linha de base dos custos do projeto;
z Planejar a qualidade: definir e documentar os padrões de qualidade e os critérios de aceitação do produto ou
serviço do projeto, bem como os métodos e as ferramentas para garantir e controlar a qualidade;
z Planejar os recursos humanos: consiste em definir e anotar os papéis, as responsabilidades, as habilidades
e as relações entre os membros da equipe do projeto, bem como os métodos e as ferramentas para mobilizar,
desenvolver e gerenciar a equipe;
z Planejar as comunicações: definir e documentar as necessidades, os meios, os momentos e os responsáveis
pela coleta, armazenamento, distribuição e controle das informações do projeto, bem como os métodos e as
ferramentas para gerenciar as comunicações;
z Planejar os riscos: definir e formalizar os processos e as ferramentas para identificar, analisar, priorizar,
responder e monitorar os riscos do projeto, bem como os métodos e as ferramentas para gerenciar os riscos;
z Identificar os riscos: identificar e documentar os eventos incertos que podem afetar positiva ou negativamente
o projeto, bem como as suas causas e fontes, utilizando técnicas como análise SWOT, análise PESTEL, análise das
cinco forças de Porter etc.;
z Realizar a análise qualitativa dos riscos: avaliar e documentar a probabilidade e o impacto de cada risco
identificado, bem como a sua urgência e a sua importância para o projeto, utilizando técnicas como matriz de
probabilidade e impacto, matriz de urgência e importância etc.; 55
z Realizar a análise quantitativa dos riscos: estimar e documentar o efeito numérico de cada risco identifi-
cado, bem como o efeito combinado de todos os riscos sobre os objetivos do projeto, utilizando técnicas como
árvore de decisão, simulação de Monte Carlo, análise de sensibilidade etc.;
z Planejar as respostas aos riscos: definir e documentar as estratégias e as ações para prevenir, minimizar,
transferir, aceitar ou explorar os riscos do projeto, de acordo com a sua prioridade e o seu efeito;
z Planejar as aquisições: definir e documentar as necessidades, os critérios, os processos e os contratos para
adquirir produtos ou serviços de fornecedores externos para o projeto, bem como os métodos e as ferramentas
para gerenciar as aquisições;
z Planejar o gerenciamento dos stakeholders: definir e documentar os processos e as ferramentas para iden-
tificar, analisar, envolver e satisfazer as partes interessadas do projeto, bem como os métodos e as ferramentas
para gerenciar as expectativas e as influências dos stakeholders.

EXECUÇÃO

Os processos do grupo de execução colocam o plano em ação. Nesta etapa o objetivo é realizar as atividades
planejadas para atingir os objetivos do projeto, seguindo o seu plano de gerenciamento.
O processo de execução envolve oito áreas de conhecimento: integração, escopo, tempo, custos, qualidade,
recursos humanos, comunicações e riscos. Cada área possui um ou mais processos específicos que devem ser
executados, totalizando 10 processos. Vejamos:

z Orientar e gerenciar o trabalho do projeto: consiste em coordenar e liderar as atividades do projeto, de


acordo com o seu plano de gerenciamento;
z Realizar a garantia da qualidade: auditar e monitorar os processos e os resultados do projeto, de acordo com
os padrões de qualidade definidos;
z Mobilizar a equipe do projeto: obter e alocar os recursos humanos necessários para o projeto, de acordo com
o plano de gerenciamento dos recursos humanos;
z Desenvolver a equipe do projeto: capacitar, motivar e avaliar o desempenho dos membros da equipe do
projeto, de acordo com o plano de gerenciamento dos recursos humanos;
z Gerenciar a equipe do projeto: consiste em orientar, apoiar e resolver conflitos entre os membros da equipe
do projeto, de acordo com o plano de gerenciamento dos recursos humanos;
z Gerenciar as comunicações: coletar, armazenar, distribuir e controlar as informações do projeto, de acordo
com o plano de gerenciamento das comunicações;
z Realizar as aquisições: contratar e administrar os fornecedores e os produtos ou serviços adquiridos para o
projeto, de acordo com o plano de gerenciamento das aquisições;
z Gerenciar as expectativas dos stakeholders: identificar, envolver e satisfazer as necessidades e as expecta-
tivas dos grupos de interesse do projeto, de acordo com o plano de gerenciamento dos stakeholders;
z Conduzir as partes interessadas: gerenciar e influenciar as partes interessadas do projeto, de acordo com o
plano de gerenciamento dos stakeholders;
z Implementar as respostas aos riscos: executar as ações planejadas para prevenir ou minimizar os riscos do
projeto, de acordo com o plano de gerenciamento dos riscos.

MONITORAMENTO E CONTROLE

Os processos desse grupo garantem que o projeto esteja dentro do escopo, cronograma e orçamento. O gráfico
a seguir apresenta a incidência de cada processo ao longo do tempo. Observe:

Grupo de Grupo de Grupo de Grupo de Grupo de


Processos de Processos de Processos de Processos de Processos de
Iniciação Planejamento Execução Monitoramento e Encerramento
Controle

Nível de
esforço

Início Tempo Fim

Exemplo de interações entre os grupos de processos de gerenciamento de projetos (Fonte: PMBOK,2017)

56 Fonte: Euax Consulting, 2019.


Nesse espectro, o processo de monitoramento e Aqui, envolve-se no processo duas áreas de conhe-
controle tem a função de acompanhar, medir e ajus- cimento e dois processos. Cada área possui um proces-
tar o desempenho do projeto, de acordo com o seu pla- so específico que deve ser executado, para encerrar
no de gerenciamento. formalmente o projeto ou uma fase deste.
Assim, o processo de monitoramento e controle Posto isso, o processo de encerramento visa encerrar
envolve 10 áreas de conhecimento e 12 processos, o projeto ou a fase, uma vez que consiste em finalizar
de modo que cada área possui um ou mais processos e documentar todas as atividades, entregas, contratos e
específicos que devem ser executados, para verificar pendências do projeto ou da fase, bem como arquivar
se o projeto está cumprindo os requisitos de escopo, todos os registros e documentos do projeto.
tempo, custo, qualidade, recursos, comunicações, ris- Ainda nesse viés, busca-se encerrar as aquisições,
cos, aquisições e stakeholders. de modo que finalize e documente todas as aquisições
Diante disso, os processos são: do projeto, bem como avaliar o desempenho dos for-
necedores e liberar os recursos contratados.
z Monitorar e controlar o trabalho do projeto: con- Portanto, os processos do PMBOK são uma fer-
siste em coletar, analisar e comunicar as informações ramenta essencial para a gestão de projetos efica-
sobre o progresso e o desempenho do projeto, bem zes, uma vez que, ao compreender os processos do
como solicitar e aprovar as mudanças necessárias; PMBOK, os gerentes de projetos podem garantir que
z Realizar o controle integrado de mudanças: ava- eles sejam bem-sucedidos.
liar e gerenciar as mudanças solicitadas ou ocorri-
das no projeto, de forma a garantir que somente as REFERÊNCIAS
mudanças aprovadas sejam implementadas;
z Verificar o escopo: formalizar a aceitação das GUIMARÃES, A. C. C.; FILHO, A. L. S.; CARVALHO,
entregas do projeto pelos stakeholders, de acordo M. M. Gestão de Projetos: uma abordagem práti-
com os critérios de qualidade definidos; ca. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2021.
z Controlar o escopo: monitorar e controlar as HIGOR. Grupos de Processos segundo o PMBOK.
mudanças no escopo do projeto, de forma a evitar Devmedia, 2013. Disponível em: https://www.dev-
o aumento ou a redução indevida do escopo; media.com.br/grupos-de-processos-segundo-o-pm-
z Controlar o cronograma: monitorar e controlar bok/27106. Acesso em: 23 jan. 2024.
as mudanças no cronograma do projeto, para evi- JUSTO, A. S. Processos de Gerenciamento de Proje-
tar atrasos ou antecipações indesejados; tos: Saiba Quais São os 5 Grupos Elencados pelo Guia
z Controlar os custos: monitorar e controlar as PMBOK. Euax Consulting, 2019. Disponível em:
mudanças nos custos do projeto, evitando estouros https://www.euax.com.br/2019/04/processos-de-ge-
ou economias desnecessárias; renciamento-de-projetos/. Acesso em: 21 jan. 2024.
z Realizar o controle da qualidade: monitorar e KERZNER, H. Project Management: A Systems
controlar a qualidade do projeto, garantindo que Approach to Planning, Scheduling, and Control-
os requisitos de qualidade sejam atendidos e que ling. 12ª ed. New Jersey: John Wiley & Sons, 2022.
as não conformidades sejam corrigidas; PROJECT Builder. Quais são os grupos de processos
z Controlar os recursos humanos: monitorar e segundo o PMBOK? Project Builder, 2017. Dispo-
controlar o desempenho, o desenvolvimento e a nível em: https://www.projectbuilder.com.br/blog/
satisfação da equipe do projeto, de forma a assegu- quais-sao-os-grupos-de-processos-segundo-o-pm-
rar que os recursos humanos sejam utilizados de bok/. Acesso em: 21 jan. 2024.
forma eficaz e eficiente; PROJECT Management Institute. A Guide to
z Controlar as comunicações: monitorar e contro- the Project Management Body of Knowledge

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


lar as comunicações do projeto, para garantir que (PMBOK Guide). 7ª ed. Newtown Square, PA: Pro-
as informações sejam coletadas, armazenadas, dis- ject Management Institute, 2022.
tribuídas e controladas adequadamente; RAMOS, R. G. G. Gestão de Projetos: O Monitora-
z Controlar os riscos: monitorar e controlar os mento e Controle nos Processos de Desenvolvimen-
riscos do projeto, de forma a garantir que as res- to de Software. Dissertação — PUC-SP. São Paulo, [n.
postas aos riscos sejam implementadas e que os p.], 2014. Disponível em: https://repositorio.pucsp.br/
riscos sejam identificados, analisados e prioriza- bitstream/handle/18141/1/Rommel%20Gabriel%20
dos continuamente; Goncalves%20Ramos.pdf. Acesso em: 21 jan. 2024.
z Controlar as aquisições: monitorar e controlar as
aquisições do projeto, para que os contratos sejam
cumpridos e que os produtos ou serviços adquiri-
dos sejam entregues conforme o esperado; GERENCIAMENTO DA INTEGRAÇÃO
z Controlar o gerenciamento dos stakeholders:
consiste em monitorar e controlar o envolvimento DEFINIÇÕES GERAIS
e a satisfação dos stakeholders do projeto, buscan-
do garantir que as suas expectativas e necessida- Gestão de projetos é a aplicação de conhecimen-
des sejam atendidas. tos, habilidades, ferramentas e técnicas às atividades
do projeto, para atender aos seus requisitos. Um pro-
ENCERRAMENTO jeto, para tanto, trata-se de um esforço temporário
empreendido para criar um produto, serviço ou resul-
Os processos do grupo de encerramento forma- tado exclusivo. A gestão de projetos envolve o plane-
lizam o término do projeto. Neste momento final, o jamento, a execução, o monitoramento, o controle e
objetivo é finalizar todas as atividades e entregas do o encerramento do projeto, de forma a alcançar os
projeto, bem como registrar as lições aprendidas e objetivos definidos, dentro das restrições de escopo,
obter a aceitação formal do cliente. tempo, custo e qualidade. 57
Nesse sentido, a gestão de projetos é a disciplina De Custos
que se aplica a diversos tipos de projetos, de diferen-
tes setores e tamanhos, que podem ser gerenciados Gerenciar os custos é fazer o planejamento e con-
por diferentes metodologias, como as tradicionais, as trole dos recursos financeiros do projeto, ou seja, o
ágeis, as híbridas, entre outras. Ademais, configura-se orçamento que é necessário para executar o projeto e
como uma competência estratégica para as organiza- entregar o valor esperado. O gerenciamento de custos
ções, pois permite que elas realizem suas iniciativas envolve os processos de estimar os custos, determinar
de forma eficaz e eficiente, gerando valor para os o orçamento e controlar os custos.
clientes e para o negócio.
O principal referencial teórico e prático para a Da Qualidade
gestão de projetos é o Guia PMBOK® (Project Mana-
gement Body of Knowledge), publicado pelo Project Por sua vez, o gerenciamento da qualidade trata-se
Management Institute (PMI), que é a maior associação da área que planeja e controla os padrões de qualidade
profissional de gestores de projetos do mundo. O Guia do projeto, ou seja, o grau de conformidade e de satis-
PMBOK® apresenta as boas práticas, os processos, as fação dos requisitos do produto, serviço ou resultado.
ferramentas e as técnicas para a gestão de projetos, Envolve os processos de planejar o gerenciamento da
bem como as áreas de conhecimento, que são os domí- qualidade, gerenciar e controlar a qualidade.
nios que compõem a gestão de projetos.
De Recursos Humanos
ÁREAS DE CONHECIMENTO DA GESTÃO DE
PROJETOS É de suma importância, também, que haja o geren-
ciamento de recursos humanos, de modo que consiste
As áreas de conhecimento da gestão de projetos na área que planeja e controla os recursos humanos
são os aspectos que devem ser considerados e geren- do projeto, ou seja, as pessoas que fazem parte da
ciados durante o ciclo de vida do projeto. Cada área de equipe do projeto e que realizam o trabalho. O geren-
conhecimento possui seus próprios processos, entra-
ciamento de recursos humanos envolve os processos
das, saídas, ferramentas e técnicas, que devem ser
de planejar, adquirir, desenvolver e gerenciar a equi-
integrados e alinhados com os demais.
pe do projeto.
A disposição dos subtópicos a seguir exemplifica
cada uma das áreas de conhecimento da gestão de
De Comunicações
projetos, por isso, atente-se à explicação.
Planejar e controlar as comunicações do projeto
Integração
são as funções do gerenciamento das comunicações, ou
seja, trata-se do fluxo de informações entre os envolvi-
O gerenciamento da integração é a área que
dos no projeto, como a equipe, o cliente, o patrocinador,
coordena e unifica as demais áreas de conhecimen-
os fornecedores, entre outros. Envolve os processos de
to, garantindo que o projeto seja realizado de forma
planejar, gerenciar e monitorar as comunicações.
consistente e coerente. Envolve os processos de desen-
volver o termo de abertura, desenvolver o plano de
gerenciamento, orientar e gerenciar o trabalho, moni- De Riscos
torar e controlar o trabalho, realizar o controle inte-
grado de mudanças e encerrar o projeto ou fase. Os eventos incertos que podem afetar positiva
ou negativamente o projeto são previstos a partir do
Do Escopo gerenciamento dos riscos, uma vez que envolve os
processos de identificar os riscos, realizar a análise
O escopo, por sua vez, consiste no gerenciamen- qualitativa e quantitativa dos riscos, planejar as res-
to da área que define e controla o que está e o que postas a eles e monitorar e controlar os riscos.
não está incluído no projeto, ou seja, o trabalho que
deve ser realizado para entregar o produto, serviço ou De Aquisições
resultado.
O gerenciamento do escopo envolve os processos Os contratos e as compras de produtos, serviços
de planejar esse gerenciamento, coletar os requisitos, ou resultados de fornecedores externos ao projeto
definir o escopo, criar a estrutura analítica do projeto estão ligados ao gerenciamento de aquisições. Nes-
(EAP), validar e controlar o escopo. se sentido, há o envolvimento dos processos de pla-
nejar as aquisições, realizar, controlar e encerrar as
Do Tempo aquisições.

O controle do tempo consiste no planejamento e De Partes Interessadas


controle dos prazos do projeto, ou seja, o tempo que
leva para realizar as atividades e entregar os entregá- As partes interessadas são as pessoas ou organi-
veis. Envolve os processos de planejar o gerenciamen- zações que podem afetar ou ser afetadas pelo proje-
to do cronograma, definir e sequenciar as atividades, to, e que têm expectativas e interesses em relação ao
estimar os recursos das atividades, estimar as suas projeto. Assim, o gerenciamento das partes interes-
durações, desenvolver e controlar o cronograma. sadas envolve identificá-las, planejar o gerenciamen-
to, gerenciar e monitorar o engajamento das partes
58 interessadas.
EXEMPLOS DE APLICAÇÃO DA GESTÃO DE é o plano de gerenciamento do projeto, que conso-
PROJETOS lida todos os planos de gerenciamento das áreas
de conhecimento e serve como a base para a exe-
A gestão de projetos já foi aplicada com sucesso cução, o monitoramento e o controle do projeto;
por diversas organizações, de diferentes setores e z Execução: fase em que o projeto é realizado, ou
tamanhos, que conseguiram realizar seus projetos de seja, o trabalho é feito e os entregáveis são produ-
forma eficaz e eficiente, gerando valor para os clientes zidos, de acordo com o que foi planejado. Nesta
e para o negócio. Alguns exemplos são: fase, são mobilizados e coordenados os recursos
humanos, materiais, financeiros e tecnológicos,
z Projeto da vacina contra a covid-19: o desenvol- para realizar as atividades do projeto, seguindo os
vimento da vacina contra a covid-19 foi um dos padrões de qualidade, segurança e ética estabeleci-
mais importantes projetos da história da huma- dos. O principal entregável desta fase é o produto,
nidade, que envolveu a colaboração de diversos serviço ou resultado do projeto, que deve atender
países, instituições, empresas e profissionais, em aos requisitos e às expectativas dos clientes e das
um cenário de alta incerteza e urgência. A gestão partes interessadas;
de projetos foi fundamental para planejar, execu- z Encerramento: o projeto é finalizado, ou seja, o tra-
tar, monitorar e controlar as atividades do projeto, balho é concluído e os entregáveis são entregues, de
desde a pesquisa científica até a produção e a dis- acordo com o que foi acordado. Realiza-se os pro-
tribuição da vacina, seguindo os padrões de quali- cessos de verificação, validação, aceitação e trans-
dade, segurança e eficácia exigidos; ferência dos entregáveis, bem como a avaliação do
z Projeto do metrô de São Paulo: o metrô de São desempenho, do valor e da satisfação do projeto. O
Paulo é um dos maiores e mais complexos sistemas principal entregável desta fase é o termo de encer-
de transporte público do mundo e atende milhões ramento do projeto, que formaliza o fim do projeto
de pessoas todos os dias, em uma das maiores e registra as lições aprendidas, as melhores práticas
metrópoles do mundo. A gestão de projetos foi e as recomendações para projetos futuros.
essencial desde a concepção até a operação do
metrô, considerando os aspectos técnicos, finan- FERRAMENTAS DA GESTÃO DE PROJETOS
ceiros, ambientais, sociais e políticos envolvidos;
z Projeto do filme Avatar: o filme Avatar foi um As ferramentas da gestão de projetos são os instru-
dos mais inovadores projetos cinematográficos mentos que auxiliam o gerente de projetos e a equipe
de todos os tempos, pois revolucionou a indústria do projeto a planejar, executar, monitorar e controlar
do cinema com seus efeitos visuais, sua tecnologia as atividades do projeto, de forma a facilitar o trabalho,
3D e seu roteiro original. A gestão de projetos foi a comunicação, a colaboração e a tomada de decisão.
imprescindível desde o desenvolvimento do rotei- Existem diversas ferramentas da gestão de proje-
ro até a edição e a divulgação do filme. tos, que podem ser classificadas em diferentes catego-
rias. Vejamos.
CICLO DE VIDA DO PROJETO
Ferramentas de Planejamento
O ciclo de vida do projeto é a sequência de fases
que um projeto passa desde o seu início até o seu fim. Ajudam a definir e a organizar o escopo, o tempo,
Cada fase do projeto tem um conjunto de atividades, o custo, a qualidade, os recursos, as comunicações, os
entregáveis, recursos e responsáveis, que devem ser riscos, as aquisições e as partes interessadas do projeto.
planejados, executados, monitorados e controlados, Algumas das ferramentas de planejamento mais

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


de acordo com os objetivos e as restrições do projeto. utilizadas são a declaração de escopo, matriz de ras-
Assim, pode variar de acordo com o tipo, o tama- treabilidade de requisitos, estrutura analítica do pro-
nho, a complexidade e a metodologia do projeto, mas jeto (EAP), diagrama de rede, cronograma, orçamento,
geralmente segue uma estrutura básica, composta por matriz de responsabilidades, matriz de comunicação,
quatro fases principais: iniciação, planejamento, exe- registro de riscos, plano de respostas aos riscos, pla-
cução e encerramento. no de gerenciamento das aquisições, matriz de partes
interessadas, entre outras.
z Iniciação: é a fase em que o projeto é concebido,
autorizado e alinhado com as estratégias e as neces- Ferramentas de Execução
sidades da organização e dos clientes. Nesta fase,
são definidos o propósito, o escopo, os objetivos, os Auxiliam na realização e na coordenação do traba-
requisitos, as premissas, as restrições, os riscos e as lho e dos entregáveis do projeto, de acordo com o que
partes interessadas do projeto. O principal entregá- foi planejado.
vel desta fase é o termo de abertura do projeto, que Algumas das ferramentas de execução mais utili-
formaliza o início do projeto e define o seu patroci- zadas são os softwares de gerenciamento de projetos,
nador, o seu gerente e o seu escopo; de colaboração, de gestão de documentos, de gestão
z Planejamento: aqui o projeto é detalhado, estru- de tarefas, de gestão de qualidade, de gestão de recur-
turado e organizado, de forma a estabelecer o sos, de gestão de aquisições, de gestão de partes inte-
caminho a ser seguido para alcançar os objetivos ressadas, entre outros.
definidos. São elaborados os planos de gerencia-
mento das áreas de conhecimento, que definem Ferramentas de Monitoramento e Controle
como o projeto será gerenciado em termos de inte-
gração, escopo, tempo, custo, qualidade, recursos Acompanham e avaliam o desempenho e o pro-
humanos, comunicações, riscos, aquisições e par- gresso do projeto, em relação ao que foi planejado, e
tes interessadas. O principal entregável desta fase identificam os desvios e as variações. 59
Algumas das ferramentas de monitoramento e controle mais utilizadas são software de gerenciamento de
projetos, de análise de dados, de gestão de mudanças, de gestão de problemas, de gestão de incidentes, de gestão
de lições aprendidas, de gestão de benefícios, entre outros.
De maneira geral, a gestão de projetos é a aplicação de conhecimentos, habilidades, ferramentas e técnicas às
atividades do projeto, para atender aos seus requisitos. Assim, trata-se de uma competência estratégica para as
organizações, pois permite que elas realizem suas iniciativas de forma eficaz e eficiente, gerando valor para os
clientes e para o negócio.
A gestão de projetos baseia-se nas áreas de conhecimento, que são os aspectos que devem ser considerados
e gerenciados durante o ciclo de vida do projeto. Utiliza, ainda, as ferramentas, que são os instrumentos que
auxiliam o gerente de projetos e a equipe do projeto a planejar, executar, monitorar e controlar as atividades do
projeto.

REFERÊNCIAS

CAMERON, J. Avatar. Estados Unidos: 20th Century Fox, 2009. Filme.


FIUZA, A. L. et al. Gestão de projetos: da academia à sociedade. São Paulo: Saraiva, 2016.
KERZNER, H. Gestão de projetos: as melhores práticas. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2017.
PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE. Um guia do conhecimento em gerenciamento de projetos (Guia
PMBOK®). 6. ed. Newtown Square: PMI, 2017.
SANTOS, A. R. Gestão de projetos na prática. São Paulo: Atlas, 2017.
VARGAS, R. V. Manual prático do plano de projeto: utilizando o PMBOK® Guide. 6. ed. Rio de Janeiro: Bras-
port, 2018.

METODOLOGIAS ÁGEIS
DEFINIÇÃO

As metodologias ágeis são um conjunto de abordagens para a gestão de projetos que se baseiam na flexibilida-
de e na capacidade de adaptação às mudanças. São frequentemente utilizadas em projetos de desenvolvimento
de software, mas também podem ser aplicadas em outros tipos de projetos, como marketing, design e engenharia.

CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS

As metodologias ágeis possuem como características principais o rol demonstrativo a seguir:

z Foco no cliente: enfatiza a importância de concentrar-se nas necessidades do cliente e de entregar valor de
forma rápida e contínua;
z Iteratividade e incrementalidade: são divididos em ciclos curtos, chamados de sprints, que permitem que o
produto, ou serviço, seja desenvolvido e entregue de forma incremental;
z Autonomia das equipes: são autogerenciadas e têm autonomia para tomar decisões e resolver problemas;
z Comunicação e colaboração: são essenciais para o sucesso dos projetos ágeis.

Nesse sentido, existem várias metodologias ágeis, sendo algumas consideradas mais conhecidas. Observemos
a disposição que será demonstrada ao decorrer do material.

SCRUM

O Scrum é uma estrutura (framework) usada para gerenciar projetos complexos, baseada em princípios ágeis,
que busca entregar valor ao cliente de forma rápida e contínua, por meio de ciclos curtos de trabalho chamados
de sprints. Busca adaptar o produto às mudanças do mercado e às necessidades do usuário, por meio de feedbacks
frequentes e melhoria contínua.
Também se baseia em valores como a transparência, inspeção, adaptação, colaboração e entrega de valor, e
propõe uma estrutura simples e flexível para organizar e executar o trabalho em equipe.
O contexto histórico do Scrum é de 1995, quando foi criado pelos desenvolvedores Ken Schwaber e Jeff Suther-
land, inspirados em um artigo da Harvard Business Review chamado “The New New Product Development Game”
(1986). O artigo comparava o desenvolvimento de produtos a um jogo de rugby, em que os jogadores se organizam
em equipes autogerenciadas e multidisciplinares, que trabalham de forma colaborativa e iterativa para alcançar
um objetivo comum.
Para tanto, o Scrum não é uma metodologia prescritiva, ou seja, ele não define como as coisas devem ser feitas,
mas sim o que deve ser feito. Assim, há o oferecimento de um conjunto de papéis, eventos, artefatos e regras, que
servem como um guia para as equipes se auto-organizarem e gerenciarem o seu trabalho. Cabe às equipes defini-
60 rem as melhores práticas, ferramentas e técnicas para aplicar o Scrum em seus contextos específicos.
Retrospectiva
do sprint
Meta de
produto

Refinamento Scrum
do Product diário
Backlog
Definição de
Pronto
Meta de
sprint

Dev SM
Planejamento Revisão do
de sprint sprint

PO
Product Sprint Incremento
Backlog Backlog

Time de Scrum

Fonte: Scrum.org, [s.d.].

Como Funciona o Scrum na Prática

O Scrum funciona na prática por meio de um ciclo iterativo e incremental, que se repete a cada sprint — perío-
do fixo, geralmente entre uma e quatro semanas, em que a equipe se compromete a entregar um incremento de
produto potencialmente entregável, ou seja, um tipo de produto que agrega valor ao cliente e que está pronto
para ser usado.
Cada sprint é composto por quatro eventos principais: planejamento do sprint, reunião diária, revisão do
sprint e retrospectiva do sprint. Esses eventos servem para planejar, executar, revisar e melhorar o trabalho da
equipe, respectivamente.
Além dos eventos, o Scrum também define três papéis principais: product owner, scrum master e time de
desenvolvimento. Esses papéis representam as responsabilidades e as funções de cada membro da equipe, que
devem trabalhar de forma colaborativa e complementar.
Ademais, nesta metodologia também se utiliza três artefatos principais: product backlog, sprint backlog e
incremento. Esses artefatos representam as listas de requisitos, as tarefas e os resultados do trabalho da equipe,
respectivamente.
A seguir, vamos detalhar cada um desses elementos do Scrum e ver como eles se relacionam entre si.

Eventos do Scrum

Os eventos do Scrum são reuniões que ocorrem dentro de cada sprint, com o objetivo de organizar e gerenciar
o trabalho da equipe. Os eventos do Scrum são:

z Planejamento do sprint: evento que marca o início de cada sprint, em que a equipe define o objetivo, o esco-

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


po e o plano de trabalho para o sprint. O planejamento envolve duas partes: na primeira, o product owner
apresenta as prioridades do product backlog e a visão do produto, e a equipe seleciona as funcionalidades
que serão desenvolvidas no sprint; já a segunda, por sua vez, é o momento em que a equipe detalha as tarefas
necessárias para realizar as funcionalidades escolhidas, e estima o tempo e os recursos necessários para cada
tarefa. O resultado do planejamento do sprint é o sprint backlog, que é a lista de tarefas que a equipe se com-
promete a entregar no final do sprint;
z Reunião diária: deve ocorrer todos os dias, uma vez que a equipe se reúne por cerca de 15 minutos para sin-
cronizar o trabalho e resolver os problemas. É conduzida pelo scrum master, que facilita a comunicação e a
colaboração entre os membros da equipe. A reunião diária segue um formato simples, em que cada membro
da equipe responde a três perguntas: “o que fiz ontem?”; “o que vou fazer hoje?”; e “quais são os impedimen-
tos que eu estou enfrentando?”. A reunião diária serve para monitorar o progresso do trabalho, identificar os
riscos e as dependências e alinhar as expectativas e as prioridades da equipe;
z Revisão do sprint: marca o fim de cada sprint, haja vista que a equipe apresenta o incremento de produto
que foi desenvolvido no sprint e recebe o feedback do cliente e dos demais stakeholders. A revisão do sprint
é conduzida pelo product owner, que valida o incremento de produto e verifica se ele atende aos critérios de
aceitação e aos objetivos do sprint. Serve para avaliar a qualidade do produto, medir o valor entregue ao clien-
te e coletar as sugestões de melhoria e as novas demandas para o próximo sprint;
z Retrospectiva do sprint: ocorre após a revisão do sprint, em que a equipe reflete sobre o processo de trabalho
e identifica os pontos fortes e os pontos fracos do sprint. A retrospectiva do sprint é conduzida pelo scrum mas-
ter, que estimula a equipe a compartilhar as suas opiniões, experiências e sentimentos sobre o sprint. Segue
um formato simples, em que a equipe responde a três perguntas: “o que funcionou bem?”; “o que não funcio-
nou bem?” e “o que podemos fazer para melhorar no próximo?”. Serve para promover a melhoria contínua do
trabalho da equipe e definir as ações de melhoria para o próximo sprint.

61
Papéis do Scrum

Os papéis do Scrum são as funções que cada membro da equipe desempenha dentro do projeto, de acordo com
as suas responsabilidades e competências. Os papéis dentro do Scrum são:

z Product owner: é o responsável por definir a visão, o escopo e as prioridades do produto, representando a voz
do cliente e dos demais stakeholders. O product owner é o dono do product backlog, que é a lista de requisitos
e funcionalidades que devem ser desenvolvidas no produto. Assim, deve garantir que o product backlog esteja
claro, ordenado e atualizado, e que a equipe entenda o que deve ser feito em cada sprint. Também deverá
validar o incremento de produto entregue pela equipe em cada sprint e fornecer o feedback necessário para
a melhoria do produto;
z Scrum master: responsável por facilitar e orientar a aplicação do Scrum pela equipe, removendo os obstá-
culos e os impedimentos que possam atrapalhar o trabalho. O scrum master é o guardião do Scrum e deve
assegurar que a equipe siga os valores, princípios e práticas do Scrum, respeitando os papéis, eventos e arte-
fatos definidos. Ademais, também deverá apoiar o product owner na gestão do product backlog e promover a
melhoria contínua do processo de trabalho da equipe;
z Time de desenvolvimento: são os responsáveis por planejar, executar, testar e entregar o incremento de
produto em cada sprint, de forma auto-organizada e multidisciplinar. O time de desenvolvimento é composto
por profissionais com as habilidades e as competências necessárias para desenvolver o produto, como
programadores, analistas, testadores, designers etc. Assim, o time deve estimar e priorizar as tarefas do sprint
backlog e comprometer-se a entregar o incremento de produto com qualidade e no prazo definido.

Artefatos do Scrum

Os artefatos do Scrum são as listas que representam o que deve ser feito, o que está sendo feito e o que foi feito
pela equipe, em relação ao produto. Os artefatos do Scrum são:

z Product backlog: lista de requisitos e funcionalidades que devem ser desenvolvidas no produto, ordenada
por prioridade e valor. Por sua vez, o artefato é dinâmico e pode ser alterado a qualquer momento, de acordo
com as mudanças do mercado e as necessidades do usuário. Além disso, o product backlog é a fonte de onde a
equipe seleciona as funcionalidades que serão desenvolvidas em cada sprint;
z Sprint backlog: lista de tarefas que a equipe se compromete a entregar no final do sprint, derivada das
funcionalidades escolhidas do product backlog. Nesses moldes, o sprint backlog é definido pela equipe no
planejamento do sprint, e deve conter as tarefas necessárias para realizar as funcionalidades, bem como o
tempo e os recursos estimados para cada tarefa. Este artefato, para tanto, é gerenciado pela equipe, que deve
mantê-lo atualizado e transparente e que pode adicionar, remover ou modificar as tarefas durante o sprint,
desde que não altere o objetivo e o escopo inicial;
z Incremento: resultado do trabalho da equipe em cada sprint, que consiste em um pedaço de produto que agre-
ga valor ao cliente e está pronto para ser usado. O incremento deve atender aos critérios de aceitação definidos
pelo product owner e aos padrões de qualidade definidos pela equipe. Ademais, apresenta-se pela equipe na
revisão do sprint, e recebe o feedback do cliente e dos demais stakeholders. O incremento é acumulativo, ou
seja, a cada sprint a equipe entrega um incremento que contém todas as funcionalidades desenvolvidas até o
momento.

Exemplos de Aplicação do Scrum em Diferentes Contextos

O Scrum é uma estrutura versátil e adaptável, que pode ser aplicada em diferentes contextos e tipos de proje-
tos, desde que sejam complexos e incertos e que demandem criatividade e inovação. A seguir, vamos ver alguns
exemplos de como o Scrum pode ser aplicado em diferentes contextos:

z Desenvolvimento de software: contexto mais comum e tradicional de aplicação do Scrum, em que a equipe
desenvolve um software ou um aplicativo, seguindo as funcionalidades e os requisitos definidos pelo product
owner, e entregando um incremento de produto a cada sprint. Nesse contexto, a equipe pode usar ferramentas
e técnicas específicas para o desenvolvimento de software, como linguagens de programação, frameworks,
testes automatizados, integração contínua etc.;
z Desenvolvimento de produto: a equipe desenvolve um produto físico ou digital, seguindo as necessidades e
as expectativas do cliente e do mercado, e entregando um protótipo ou um modelo de produto a cada sprint.
Nesse contexto, a equipe pode usar ferramentas e técnicas específicas para o desenvolvimento de produto,
como design thinking, Lean Startup, canvas etc.;
z Gestão de projetos: a equipe gerencia um projeto de qualquer natureza, seguindo os objetivos e os escopos
definidos pelo cliente e pelos demais stakeholders, e entregando um resultado ou um benefício a cada sprint.
Nesse contexto, a equipe pode usar ferramentas e técnicas específicas para a gestão de projetos, como PMBOK,
PRINCE2, EVM etc.;
z Educação: há o desenvolvimento, por parte da equipe, de um curso ou um programa educacional, seguindo as
necessidades e os interesses dos alunos e dos educadores, e entregando um conteúdo ou uma atividade a cada
sprint. Nesse contexto, a equipe pode usar ferramentas e técnicas específicas para a educação, como pedago-
62 gia, andragogia, heutagogia etc.
Vantagens e Desafios do Scrum

O Scrum é uma estrutura que oferece diversas vantagens para equipes que trabalham com projetos comple-
xos, mas também apresenta alguns desafios que devem ser superados. Entre as vantagens e os desafios do Scrum,
podemos citar:

z Vantagens:

„ aumenta a satisfação do cliente, pois entrega valor de forma rápida e contínua, e adapta-se às suas
necessidades e expectativas;
„ aumenta a qualidade do produto, pois utiliza feedbacks frequentes e melhoria contínua, e segue padrões
de qualidade definidos pela equipe;
„ maximiza a produtividade da equipe, pois utiliza ciclos curtos de trabalho, focados em um objetivo e um
escopo claros, e elimina os desperdícios e as burocracias;
„ aumenta a motivação da equipe, pois promove a auto-organização, a colaboração, a autonomia e a respon-
sabilidade dos membros da equipe, e reconhece os seus esforços e resultados;
„ aumenta a inovação, pois estimula a criatividade, a experimentação e a aprendizagem da equipe, e permite
a incorporação de novas ideias e soluções ao produto.

z Desafios:

„ exige uma mudança de cultura e de mentalidade, tanto da equipe quanto do cliente e dos demais stakehol-
ders, que devem adotar os valores, os princípios e as práticas do Scrum, e adaptar-se às mudanças e às
incertezas do projeto;
„ demanda um comprometimento e uma comunicação efetiva da equipe, do cliente e dos demais stakehol-
ders, que devem estar envolvidos e alinhados com o projeto, e comunicar-se de forma clara, frequente e
transparente;
„ exige uma capacitação e uma qualificação constante de todos os envolvidos, que devem estar preparados e
atualizados para aplicar e utilizar o Scrum, e para desenvolver e entregar o produto;
„ demanda uma gestão e uma liderança adequada, tanto da equipe quanto do cliente e dos demais stakehol-
ders, que precisam gerenciar e liderar o projeto de forma ágil, flexível e colaborativa, e resolver os conflitos
e os problemas que possam surgir.

O Scrum, portanto, é uma estrutura para gerenciar projetos complexos, baseada em princípios ágeis, que
busca entregar valor ao cliente de forma rápida e contínua, por meio de ciclos curtos de trabalho chamados de
sprints. O Scrum também busca adaptar o produto às mudanças do mercado e às necessidades do usuário, por
meio de feedbacks frequentes e melhoria contínua.

KANBAN

O Kanban é outra metodologia ágil, mais simples e mais utilizada atualmente para gerenciar o fluxo de tra-
balho de equipes que lidam com projetos completos e dinâmicos. Assim, baseia-se em princípios como a visuali-

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


zação, limitação, colaboração e melhoria contínua, e propõe uma forma de organizar e executar o trabalho em
equipe de forma eficiente e adaptável.

QUADRO DE KANBAN

Backlog Fazendo Revisão Pronto

Fonte: Wikipedia, 2023.


63
Nesse mesmo viés, o Kanban é uma palavra japo- z expande o nível de colaboração do trabalho, pois
nesa que possui significado de “cartão” ou “sinaliza- permite que a equipe trabalhe de forma auto-orga-
ção”, e foi originalmente usada para descrever um nizada e multidisciplinar, e se comunique de for-
sistema de controle de produção criado pela Toyota ma clara, frequente e transparente. A colaboração
na década de 1950, inspirado no modelo de abasteci- faz com que os membros compartilhem conheci-
mento dos supermercados. mentos, experiências e ideias, e resolvam os pro-
O sistema Kanban consistia em usar cartões colo- blemas de forma conjunta e criativa.
ridos para sinalizar a demanda e a capacidade de
cada etapa do processo produtivo, de forma a evitar Funcionamento na Prática
o excesso ou a falta de estoque, e a otimizar o fluxo de
trabalho. Posto isso, a metodologia foi adaptada para O Kanban funciona na prática por meio de um
o contexto de desenvolvimento de software na década ciclo iterativo e incremental, que se repete a cada flu-
de 2000, por David J. Anderson, que criou o próprio xo. Um fluxo é um período variável em que a equipe
método Kanban, configurando como uma estrutura se compromete a entregar um incremento de produ-
para gerenciar projetos complexos, baseada em prin- to potencialmente entregável, ou seja, um pedaço de
cípios ágeis, que busca entregar valor ao cliente de produto que agrega valor ao cliente e que está pronto
forma rápida e contínua, por meio de ciclos curtos de para ser usado.
trabalho chamados de fluxos. Ademais, ainda se busca Ademais, o Kanban é composto por quatro elemen-
por adaptar o produto às mudanças do mercado e às tos principais: quadro, cartões, colunas e limites. Esses
necessidades do usuário, por meio de feedbacks fre- elementos servem para visualizar, organizar e geren-
quentes e melhoria contínua. ciar o trabalho da equipe, respectivamente. Vejamos:
No entanto, o Kanban não é uma metodologia
prescritiva, ou seja, ele não define como as coisas z Quadro: ferramenta física ou digital que repre-
devem ser feitas, mas sim o que deve ser feito. Nesses senta o fluxo de trabalho da equipe e contém os
moldes, é capaz de oferecer um conjunto de práticas, cartões, as colunas e os limites. O quadro pode ser
ferramentas e técnicas, que servem como um guia personalizado de acordo com as necessidades e
para as equipes se auto-organizarem e gerenciarem as preferências da equipe, mas geralmente segue
o seu trabalho. Cabe às equipes, para tanto, definirem um formato simples, com três ou mais colunas que
as melhores práticas, ferramentas e técnicas para representam as etapas do processo de trabalho,
aplicar o Kanban em seus contextos específicos. como “a fazer”, “fazendo” e “feito”;
z Cartões: elementos que representam as tarefas ou
Benefícios do Kanban as funcionalidades que devem ser desenvolvidas
pela equipe, e que se deslocam pelo quadro, de
O método criado para o toyotismo oferece diversos acordo com o seu status. Os cartões podem conter
benefícios para as equipes que trabalham com proje- informações como o título, a descrição, a priorida-
tos complexos, mas também apresenta alguns desa- de, o responsável, o prazo etc. Podem ser coloridos
fios que devem ser superados. Entre os benefícios do ou etiquetados para facilitar a identificação e a
Kanban, podemos citar: categorização das tarefas;
z Colunas: representam as etapas ou os estados do
z aumento da transparência do trabalho, pois per- processo de trabalho da equipe e contêm os cartões.
mite que todos os envolvidos no projeto tenham As colunas podem variar de acordo com o tipo e a
acesso às informações relevantes sobre o anda- complexidade do projeto, mas geralmente seguem
mento do trabalho, o estado do produto, os requi- uma sequência lógica, como “a fazer”, “fazendo”
sitos, os riscos, as dependências, os problemas, as e “feito”. As colunas podem ser subdivididas em
soluções etc. A transparência permite que todos outras colunas, para representar subetapas ou
tenham uma visão compartilhada do projeto e pos- subprocessos, como “análise”, “desenvolvimento”,
sam tomar decisões informadas e alinhadas com “teste” etc.;
os objetivos; z Limites: explanam a capacidade máxima de tra-
z aumento da eficiência do trabalho, porque a equi- balho que a equipe pode realizar em cada etapa ou
pe se concentra nas tarefas mais importantes e estado do processo de trabalho e limitam a quanti-
urgentes, e evita o desperdício de tempo e recur- dade de cartões que podem estar em cada coluna.
sos com tarefas desnecessárias ou de baixo valor. Os limites podem ser definidos de acordo com o
A eficiência permite entregar mais valor ao cliente tempo, o recurso, o esforço etc. Servem para evitar
em menos tempo, e aumente a sua produtividade o acúmulo ou a escassez de trabalho e para otimi-
e qualidade; zar o fluxo de trabalho.
z possibilita a flexibilidade do trabalho, pois permi-
te que a equipe se adapte às mudanças do mercado Exemplos de Aplicação do Kanban em Diferentes
e às necessidades do usuário, e altere o plano, o Contextos
escopo, o cronograma, o orçamento, o produto etc.,
sempre que necessário, com base nos resultados e O Kanban, por ser uma metodologia ágil que pode
nos feedbacks. A flexibilidade permite que a equi- ser aplicada em diferentes contextos e tipos de pro-
pe responda às mudanças de forma rápida e eficaz, jetos, presume que haja a aplicação sobre projetos
e entregue um produto que atenda às expectativas complexos e incertos, de modo que sua função será
do cliente; viabilizar a agilidade e a flexibilidade.

64
Vejamos a seguir alguns exemplos de como o Kanban pode ser aplicado em diferentes contextos:

z Desenvolvimento de software: é o contexto mais comum de aplicação do Kanban, em que a equipe desen-
volve um software ou um aplicativo, seguindo as demandas e os requisitos de cada cliente, entregando um
incremento ao produto a cada ciclo. Nesse contexto, a equipe pode usar ferramentas e técnicas específicas
para o desenvolvimento de software;
z Desenvolvimento de produto: a equipe desenvolve um produto físico ou digital, seguindo as necessidades e
as expectativas do mercado e do usuário, e entregando um protótipo ou um modelo de produto a cada ciclo.
Pode-se usar ferramentas e técnicas específicas para o desenvolvimento de produto;
z Gestão de projetos: os encarregados da equipe gerenciam um projeto de qualquer natureza, seguindo os obje-
tivos e os escopos definidos pelo cliente e pelos demais stakeholders, e entregam um resultado ou um benefício
a cada ciclo. É possível usar ferramentas e técnicas específicas para a gestão de projetos;
z Educação: a equipe fica incumbida de desenvolver um curso ou um programa educacional, seguindo as neces-
sidades e os interesses dos alunos e dos educadores, e entregando um conteúdo ou uma atividade a cada ciclo.
Aqui, pode-se usar ferramentas e técnicas específicas para a educação.

Para tanto, conclui-se que a dada metodologia ágil permite a melhor gestão de tarefas e a otimização do fluxo
de trabalho, de forma que se baseará no controle visual para o acompanhamento dos processos, utilizando um
quadro com cartões que representam as tarefas em diferentes estágios.
Ademais, o Kanban oferece benefícios para as equipes que trabalham com projetos complexos e incertos que
demandam agilidade e flexibilidade; assim, pode ser implementado na equipe de forma mais simples e rápida,
seguindo alguns passos básicos.

LEAN STARTUP

O Lean Startup é uma abordagem para o desenvolvimento de produtos e serviços inovadores baseada nos
princípios da mentalidade enxuta (lean) e das metodologias ágeis.
O objetivo é validar as hipóteses sobre o problema, o cliente e o mercado, por meio de experimentos rápidos
e baratos, que geram aprendizado e feedback. Assim, é possível reduzir os riscos, os desperdícios e o tempo de
lançamento de um produto ou serviço.
A historicidade da metodologia é de 2011, quando foi proposta por Eric Ries, em seu livro The Lean Startup.
Ries, por sua vez, inspirou-se em sua experiência como empreendedor e consultor de startups, bem como nas
ideias de Steve Blank, autor do livro The Four Steps to the Epiphany, que introduziu o conceito de customer develo-
pment, e de Taiichi Ohno, criador do Sistema Toyota de Produção, que originou a filosofia lean.
Assim, o Lean Startup aplica-se a qualquer tipo de organização, desde pequenas empresas até grandes corpo-
rações, que buscam criar algo novo sob condições de incerteza. Ademais, não se trata de uma fórmula ou um con-
junto de regras, mas sim de uma forma de pensar e agir que pode ser adaptada a diferentes contextos e situações.

Princípios do Lean Startup

A metodologia baseia-se em cinco princípios fundamentais que orientam as decisões e ações dos empreende-
dores e inovadores. Vejamos:

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


z Empreendedores: o conceito de empreendedorismo não se limita aos fundadores de startups, mas se estende
a qualquer pessoa que trabalha em um ambiente de incerteza, buscando criar algo inovador e de valor;
z Inovação gerenciada: o processo de inovação pode ser sistematizado e gerenciado por meio de ferramentas e
métodos que permitem testar as hipóteses, medir os resultados e aprender com os erros;
z Aprendizado validado: o verdadeiro progresso não é medido pelo volume de produção ou pela receita, mas
sim pelo aprendizado validado, que é a evidência empírica de que se está criando valor para os clientes e para
o negócio;
z Construir — medir — aprender: o ciclo fundamental do Lean é construir um produto ou serviço mínimo
viável (MVP), que se trata da versão mais simples e rápida de testar uma hipótese, medir as reações e o com-
portamento dos clientes, bem como aprender com os dados e os feedbacks, para somente então decidir se deve
perseverar ou pivotar, ou seja, mudar de direção ou estratégia;
z Contabilidade da inovação: é proposta uma forma de contabilidade específica para a inovação, uma vez que
consiste em definir as métricas que importam (aquelas que refletem o valor para o cliente e para o negócio),
assim como acompanhar os indicadores de desempenho, que são os números que mostram se as hipóteses
estão sendo validadas ou não.

65
EXECUTIVOS
Executivos tomam decisões do tipo “pivot-
persevere-kill” (mudar algo-continuar-
interromper) em intervalos regulares

FINANCIAMENTO MEDIDO
APRENDIZADO VALIDADO
O financiamento é desbloqueado ao
O aprendizado é baseado em
demonstrar-se progresso ao invés
evidências reais ao invés de
de financiamento total adiantado
suposições sobre o futuro

TIMES
Os times comandam loops “build-measure-learn”
(construir-medir-aprender) para alcançar aprendizado validado

Fonte: Lean Startup Co, [s.d.].


Relação com as Metodologias Ágeis

As metodologias ágeis são abordagens para o desenvolvimento de software e outros tipos de trabalho, que se
baseiam nos princípios do Manifesto Ágil, publicado em 2001.
Diante disso, há a afirmação de que elas valorizam os indivíduos e interações mais que os processos e ferra-
mentas, os softwares em funcionamento mais que a documentação abrangente, bem como a colaboração com o
cliente mais que negociação de contratos e resposta a mudanças mais que seguir a um plano.
Algumas das metodologias ágeis mais conhecidas já foram, por ora, apresentadas, porém existem outras, tais
como a XP, FDD, DSDM, entre outras. Cada uma delas tem suas próprias características, práticas e artefatos, mas
todas compartilham da mesma filosofia de entregar valor de forma rápida, frequente e adaptativa, envolvendo o
cliente e a equipe em um processo colaborativo e iterativo.
Ademais, o Lean Startup tem uma forte relação com as metodologias ágeis, pois ambos buscam reduzir os
desperdícios, aumentar a eficiência e a qualidade e responder às mudanças e às necessidades dos clientes. Nesse
espectro, dada metodologia pode ser vista como uma extensão das metodologias ágeis que foca não apenas no
desenvolvimento, mas também na validação do produto ou serviço, por meio de experimentos e aprendizado.
Portanto, o Lean Startup e as metodologias ágeis complementam-se e reforçam-se, pois ambos seguem um
ciclo de feedback contínuo que permite aprimorar o produto ou serviço de acordo com os resultados obtidos.
Além disso, ambos utilizam ferramentas e técnicas similares, como MVP, testes A/B, prototipação, retrospectivas,
entre outras.

Exemplos de Aplicação do Lean Startup

O Lean Startup já foi aplicado com sucesso por diversas organizações, de diferentes setores e tamanhos, que
conseguiram criar produtos e serviços inovadores, com menos riscos e mais agilidade. Alguns exemplos são:

z Dropbox: a startup de armazenamento e compartilhamento de arquivos na nuvem utilizou o Lean Startup


para validar sua ideia antes de desenvolver seu produto. Em vez de criar um MVP funcional, a empresa criou
um vídeo simples, que mostrava como o serviço funcionaria, e divulgou-o em um fórum de tecnologia. O vídeo
gerou milhares de inscrições e feedbacks positivos, o que confirmou a demanda pelo serviço e incentivou a
empresa a continuar o desenvolvimento;
z GE: a gigante da indústria utilizou o Lean Startup para inovar em seus negócios, por meio de um programa
chamado FastWorks, que capacitou mais de 40 mil funcionários em todo o mundo para aplicar os princípios e
as práticas do Lean Startup em seus projetos. Um dos resultados foi o desenvolvimento de uma nova turbina a
66 gás, que levou apenas dois anos, em vez de 10, e custou 40% menos do que o previsto;
z Governo brasileiro: o governo federal utilizou o REFERÊNCIAS
Lean Startup para criar o Portal de Serviços, que
reúne informações e acesso aos serviços públicos BECK, K. et al. Manifesto para Desenvolvimento
oferecidos aos cidadãos. O projeto seguiu o ciclo Ágil de Software. Agile Manifesto, 2001. Disponí-
construir-medir-aprender, e lançou um MVP em vel em: https://agilemanifesto.org/iso/ptbr/ mani-
apenas quatro meses, com 50 serviços disponíveis. festo.html. Acesso em: 28 jan. 2024.
O MVP foi testado com usuários reais que deram BLANK, S. The four Steps to the Epiphany: suc-
feedbacks e sugestões de melhoria. O projeto con- cessful strategies for products that win. 2ª ed. Pes-
tinuou evoluindo, e hoje o portal conta com mais cadero: K&S Ranch, 2013.
de 4 mil serviços e atende mais de 100 milhões de COHN, M. Desenvolvimento de software com
pessoas. Scrum: aplicando métodos ágeis com sucesso. São
Paulo: Bookman, 2011.
VANTAGENS E DESVANTAGENS DAS KANBAN: conceito, vantagens e como implemen-
tar o método ágil. Brain Blog, 2022. Disponível em:
METODOLOGIAS ÁGEIS
https://inovacaobrain.com.br/kanban/. Acesso em:
28 jan. 2024.
As metodologias ágeis oferecem uma série de van- KANBAN: a metodologia ágil mais simples e mais uti-
tagens, incluindo: lizada atualmente. Inovação Sebrae, 2021. Disponí-
vel em: https://inovacaosebraeminas.com.br/artigo/
z Maior flexibilidade e adaptabilidade: as metodo- kanban-a-metodologia-agil-mais-simples-e-mais-uti-
logias ágeis permitem que os projetos sejam adap- lizada-atualmente. Acesso em: 28 jan. 2024.
tados às mudanças de requisitos ou de contexto; KNIBERG, H. Scrum e XP direto das trincheiras.
z Maior foco no cliente: enfatizam a importância Porto Alegre: Casa do Código, 2014. Disponível em:
de se concentrar nas necessidades do cliente; 2. Acesso em: 30 nov. 2021.
z Maior probabilidade de sucesso: estudos mos- LEAN STARTUP CO, [s.d.]. Disponível em: https://
tram que os projetos ágeis têm maior probabilida- leanstartup.co/. Acesso em: 28 jan. 2024.
de de sucesso do que os projetos tradicionais. LEFFINGWELL, D. SAFe: Guia de referência do
Scaled Agile Framework para Lean Enterprises. 5.
No entanto, as metodologias ágeis também apre- ed. Boulder: Scaled Agile, 2020.
sentam algumas desvantagens, incluindo: MAURYA, A. Running lean: iterate from plan A to
a plan that works. 2ª ed. Sebastopol: O’Reilly, 2012.
z Requerem uma mudança de cultura: as meto- OHNO, T. O Sistema Toyota de Produção: além da
dologias ágeis requerem uma mudança de cultu- produção em larga escala. Porto Alegre: Bookman,
ra nas organizações, pois exigem que as equipes 1997.
sejam autogerenciadas e colaborativas; OUR story. Dropbox, [s.d.]. Disponível em: https://
z Podem ser mais complexas do que as metodo- www.dropbox.com/about. Acesso em: 28 jan. 2024.
logias tradicionais: as metodologias ágeis podem RADIGAN, D. Kanban. Como a metodologia Kan-
ser mais complexas do que as metodologias tradi- ban é aplicada ao desenvolvimento de software.
cionais, pois requerem um maior nível de coorde- Atlassian, 2024. Disponível em: https://www.atlas
nação e comunicação. sian.com/br /agile/kanban. Acesso em: 28 jan. 2024.
RIES, E. A startup enxuta: como os empreendedo-
APLICAÇÕES DAS METODOLOGIAS ÁGEIS res atuais utilizam a inovação contínua para criar
empresas extremamente bem-sucedidas. São Pau-

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


As metodologias ágeis podem ser aplicadas em lo: Leya, 2012.
uma ampla variedade de projetos, incluindo: SABINO, R. Kanban: o que é, o Método Kanban,
principais conceitos e como funciona no dia a dia.
z Desenvolvimento de software: as metodologias Alura, 2023. Disponível em: https://www.alura.
ágeis são amplamente utilizadas no desenvolvi- com.br/ artigos/metodo-kanban. Acesso em: 28 jan.
mento de software, pois permitem que os produ- 2024.
tos sejam entregues de forma mais rápida e com SCHWABER, K.; SUTHERLAND, J. Guia do Scrum:
Um guia definitivo para o Scrum: as regras do jogo.
maior qualidade;
2020.
z Marketing: podem ser usadas para desenvol-
SUTHERLAND, J. Scrum: a arte de fazer o dobro
ver campanhas de marketing mais eficazes, pois
do trabalho na metade do tempo. Rio de Janeiro:
permitem que as campanhas sejam adaptadas às
Sextante, 2016.
mudanças de comportamento dos clientes;
WHAT is Scrum? Scrum.org, [s.d.]. Disponível em:
z Design: podem ser usadas para desenvolver produ-
https://www.scrum.org/resources/ what-scrum-
tos e serviços mais inovadores, pois permitem que
-module. Acesso em: 28 jan. 2024.
os designers experimentem e iterem rapidamente;
z Engenharia: podem ser usadas para desenvolver
projetos de engenharia mais eficientes, pois per-
mitem que os engenheiros se concentrem nas tare- CONCEITOS DA ABORDAGEM POR
fas mais importantes. PROCESSOS
Portanto, as metodologias ágeis são uma aborda- Primeiramente, vamos entender a diferença entre
gem eficaz para a gestão de projetos que pode ajudar processos e projetos, pois o trabalho em uma organi-
as organizações a entregar valor de forma mais rápi- zação é dividido nestas duas categorias.
da e com maior qualidade. 67
Assim, os projetos caracterizam-se como únicos e temporários. Já os processos (atividades funcionais/opera-
ções) tendem a ser contínuos e normalmente seguem uma sequência lógica repetitiva.
Nesta esteira, as operações realizam processos de trabalhos repetitivos e contínuos, que fazem parte da rotina
da organização.

Dica
Processos também são chamadas de operações.

Este caráter repetitivo dos processos permite um planejamento mais detalhado, reduzindo as incertezas exis-
tentes sobre o trabalho, os prazos e os custos. Como exemplo, podemos citar a rotina do setor de recursos huma-
nos na elaboração da folha de pagamento dos funcionários: em todos os meses do ano, o trabalho se repete sem
muitas modificações, seguindo a mesma sequência lógica. Outro exemplo trazido pela literatura especializada, é
a operação diária de distribuição de alimentos em uma empresa alimentícia.
No entanto, existem características comuns entre os projetos e processos. Ambos os tipos têm um objetivo bem
definido, utilizam de recursos escassos e exigem planejamento, execução e controle.
No quadro abaixo, elencamos as principais diferenças e semelhanças entre os projetos e operações.

PROJETO PROCESSO

Temporário Contínuo (permanente)

Resultado único Resultados padronizados

Elaborado progressivamente Fortemente definidos

CARACTERÍSTICAS COMUNS

z Realizado por pessoas


z Restringido por recursos limitados
z Planejado, executado e controlado

Conhecendo as diferenças, agora podemos relacionar o fluxo dos resultados dos projetos com os processos.
Sintetizando: os projetos entregam produtos e/ou serviços exclusivos os quais são mantidos pelos processos.
Como exemplo podemos citar o projeto de construção de um hospital (esforço temporário com resultado úni-
co: o prédio), mas para manter a rotina de atendimento deste hospital são necessárias diversas atividades funcio-
nais (operações/processos) — pois nada adianta ter a estrutura física e não ter o atendimento propriamente dito
(médicos, enfermeiros, suprimentos, logística, etc.).
No fluxograma abaixo, demonstramos como essa relação funciona:

Projeto A Projeto B Projeto C

Os projetos entregam produtos e/ou serviços

Produtos Serviços

Mantidos por meio de operações/atividades funcionais

Operações
Atividades Funcionais

Diante do exposto, conhecendo as diferenças e a interligação dos projetos e processos, vamos adentrar ao
estudo da gestão de processos.
Para quem não é da área de administração ou iniciou os estudos há pouco tempo, ao se deparar com o tópi-
co de gestão de processos, logo vem à cabeça a gestão de processos judiciais. Vamos desmitificar essa primeira
impressão e demonstrar que a gestão de processos nada se assemelha com os processos judiciais.
Atualmente, todas as organizações, privadas ou públicas, podem ser vistas como um conjunto de processos.
A gestão de processos tornou-se uma filosofia de gestão organizacional neste novo século. Esse modelo de gestão
tem como objetivo descobrir o que é feito pela organização, de modo a desenvolver formas de otimização das
atividades. Os modelos de gestão são aplicados diretamente na operação.
68 A fim de compreender melhor o que é gestão de processos, vamos entender o que é um processo.
De acordo com Hammer e Champy (1993), “processo é um grupo de atividades realizadas numa sequência lógica
com o objetivo de produzir um bem ou um serviço que tem valor para um grupo específico de clientes”. Nesse sentido,
para os mesmos autores, os clientes não estão preocupados e/ou interessados em saber como a organização está
estruturada, mas sim nos resultados dos produtos ou serviços oriundos dos processos.
Na figura abaixo, temos os elementos dos processos organizacionais e sua sequência:

Processamento
(Throughput)
Entrada (Input) Saída (Output)

Atividades e tarefas
z Insumos
z Informação z Produtos
z Energia z Serviços

z Transformação
z Agregação de valor

Retroação
(Feedback)

Entrada

Trata-se de todo e qualquer recurso que alimenta o sistema e que provém do meio ambiente. São basicamente
os insumos que o sistema obtém do meio ambiente para poder funcionar.
Ex.: matérias-primas, informação e energia.

Processador

É o próprio funcionamento interno do sistema. No processamento é onde ocorre a transformação sobre as


entradas para proporcionar as saídas. É no processador que encontramos os diversos subsistemas trabalhando
com relações de interdependência.
Ex.: recursos tecnológicos, equipamentos, métodos de gestão e organização do trabalho.

Saídas

Representa os produtos e/ou serviços que saem do sistema para o ambiente, ou seja, tudo que é produzido pela
organização como resultado de seu processamento.
Ex.: produto acabado, serviço prestado, lucro das operações, tributos pagos ao governo.

Retroação

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


Também chamado de realimentação, é um mecanismo de equilíbrio do sistema, com o objetivo de regular e
ajustar o bom funcionamento. Na prática, é o pós-venda do produto e/ou serviço, captando as informações (posi-
tivas e/ou negativas) e realimentando as entradas do sistema para correição.
Dessa maneira, as organizações funcionam como sistemas abertos, recebendo do ambiente os recursos neces-
sários, processando-os em seus subsistemas e devolvendo-os ao ambiente em forma de produtos e serviços para
o consumidor final.

Importante!
As atividades e tarefas estão concentradas no “Processamento” (Throughput).

Traduzindo o conceito para o nosso cotidiano: é quando você resolve fazer um almoço de domingo para a sua
família. As entradas são os insumos (matéria-prima) do seu prato, nesse exemplo: o macarrão, o molho de tomate,
a carne moída, queijo ralado. Com os ingredientes em mãos, encontra-se o momento da transformação (agregar
valor): é a preparação, conforme a receita da “nona”. Preparar significa: cozinhar o macarrão, ralar o queijo, refo-
gar a cebola, temperar, etc. Como resultado (saída do processo), temos uma macarronada para servir. Mas não
para somente na conclusão do processo, após todos se deliciarem com a macarronada — chega a oportunidade de
avaliação do prato: momento de receber as críticas e elogios (feedback). No próximo domingo, com essas informa-
ções, será possível melhorar o banquete.
Percebemos que todas essas atividades (de preparo) não significam nada para quem vai comer a macarrona-
da. O que os familiares realmente querem é a macarronada saborosa, quentinha e na hora certa — ou seja, o foco
é nos desejos e necessidades dos clientes (nesse caso, a família). 69
Diante do exposto, podemos afirmar que toda vez que tivermos um conjunto de atividades sendo executadas
de forma integrada e organizada com o objetivo de fornecer um serviço e/ou produto que satisfaça as necessida-
des do cliente, teremos um processo.
Para internalizar o conhecimento, vamos para mais um exemplo prático. Dessa vez, analisaremos o processo
simplificado de produção de vinho:

Insumo Processamento Produto final Satisfação do cliente

Uva Vinho

Meio de produção Resultado pretendido

Na figura acima, inicia-se com a entrada (uva — insumo), perpassa pela transformação (agrega valor), saída
(vinho — produto final) e alcança o objetivo principal (satisfação do cliente).
Assim, podemos sintetizar o conceito de gestão de processos como sendo a metodologia na qual possibilita a
estruturação da sequência de trabalhos com o intuito de simplificar as atividades, facilitar a análise e, sobretudo,
melhorar os processos, como forma de promover a permanente busca da melhoria de desempenho.

TIPOS DE PROCESSOS

As empresas, com intuito de refinar sua gestão, classificam os processos de acordo com seu resultado. Dessa
maneira, é possível alocar os recursos necessários e priorizar os processos que agregam valor ao produto final.
Portanto, em termos de capacidade de geração de valor, os processos podem ser assim classificados:

Processos Primários

São aqueles que entregam algum bem ou serviço ao cliente final, representam as atividades essenciais que a
organização executa no cumprimento de sua missão.
Normalmente, são processos interfuncionais ou interorganizacionais, fornecendo uma visão completa de
ponta a ponta e que no final transformam os recursos em serviços ou produtos para o consumidor final. Nesse
aspecto, seu modelo de serviço é orientado ao cliente com uma visão outside in (necessidades do cliente para orga-
nização, ou seja, de fora para dentro).
Como exemplo, podemos citar a entrega de um veículo (produto final) da montadora para o consumidor final.
Para fixar, lembre-se que os processos primários também são chamados de processos finalísticos, ou ainda,
processos chaves, processos essenciais, processos principais e processos básicos.

Processos de Suporte

São os processos internos indispensáveis para que os processos primários possam ser executados, ou seja,
auxiliam a execução dos processos primários contribuindo para o sucesso da organização.
Em regra, não geram valor direto para os clientes, e sim, entregam valor para outros processos. Normalmente,
são associados às áreas funcionais da organização, fornecendo e gerenciando recursos.
Como exemplo, podemos citar os processos de recursos humanos em uma montadora.

Dica
Os processos de suporte também são conhecidos por processos secundários, ou ainda, processos meios,
processos auxiliares e processos de apoio.

Processos Gerenciais

São aqueles responsáveis por medir, monitorar e controlar as atividades. São ligados às estratégias e utilizados
na tomada de decisão; seu papel principal é o de coordenar as atividades de apoio e as finalísticas. Normalmente,
são executados pela alta administração da organização.
Como exemplo, podemos citar o planejamento estratégico de uma montadora de veículos.
Vale ressaltar que os processos gerenciais são responsáveis pelas decisões no presente e elas irão impactar o
70 futuro da organização.
No quadro abaixo, sintetizamos os principais pontos dos tipos de processos:

Primários

Atividades que agregam valor para clientes


Ex.: produção de bens e serviços.

De suporte

Fornecem condições necessárias para os processos


primários
Ex.: gestão de pessoas, compras.

Gerenciais

Ligados às diretrizes estratégicas


Ex.: planejamento estratégico, gestão da
informação.

Os processos acima mencionados também podem ser analisados conforme os seus níveis de detalhamento, em
forma de hierarquias.

NÍVEIS DE DETALHAMENTO DOS PROCESSOS

O nível de detalhamento de um processo é inerente à análise de complexidade do processo.


Nesse sentido, quanto maior a complexidade de um processo, maior será a necessidade de dividi-los em partes
menores (subprocessos, atividades, tarefas) e, consequentemente, facilitar a gestão.
Normalmente, nas organizações baseadas em processos, vão existir todos os tipos de processos: do mais com-
plexo até o mais simples. Dessa maneira, essa classificação abaixo, em forma de hierarquia, é demasiadamente
útil no tratamento das prioridades.
A divisão dos processos segue a seguinte lógica:

z Gera um impacto considerável na organização e normalmente envolve mais


Macroprocesso de uma área

Processo z Atividades relacionadas e sequenciais: entradas + transformação + saída

Subprocesso z Processo inserido em um processo maior

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


Atividade z Trabalhos executados nos processos

z Menor elemento de um processo:


Tarefa
subdivisão de uma atividade

z Macroprocesso: normalmente, abrange mais de uma área da organização e compreende a visão geral dos
processos. Em regra, é composto por diversos processos principais e de suporte;
z Processo: tem seu foco no atendimento das necessidades do cliente final (interno e externo), é o conjunto de
atividades relacionadas e sequenciais em que recebem entradas (insumos), agregam valor e transformam em
produtos e/ou serviços finais;
z Subprocesso: refere-se a uma parte específica de um processo, auxiliando o alcance do objeto do processo
maior. Pode ser considerado um processo dentro de outro processo maior;
z Atividade: é o conjunto de tarefas que descreve o passo a passo para a execução. A cada atividade executada,
o processo deve agregar valor. A responsabilidade de execução da atividade pode ser atribuída a uma pessoa
ou departamento;
z Tarefa: é a menor divisão de trabalho no processo. Pode ser uma parte específica da atividade ou uma subdi-
visão de algum trabalho.

71
Dica
A tarefa é sempre atribuída e executada por uma pessoa.

Para facilitar o entendimento desta classificação, vamos ver como funciona na prática.
Na figura abaixo, escalonamos o macroprocesso de recursos humanos e qualidade de vida no trabalho em
processos menores para facilitar e refinar a gestão, e ainda analisar possíveis gargalos.

Macroprocesso z Política geral de Recursos Humanos e Qualidade de vida no trabalho

Processo z Recrutamento e Seleção de novos colaboradores

Subprocesso z Divulgação das vagas para o mercado

Atividade z Análise dos candidatos a seleção

Tarefa z Entrar em contato para marcar entrevista

Analisando a figura acima, percebemos que ao “descer” a escada da classificação dos processos, encontramos
processos mais claros e com melhor definição. Assim, no topo da escada encontra-se o macroprocesso (mais gené-
rico) e no último degrau encontra-se a tarefa (mais específica, realizada por uma pessoa).
Como já estudamos, o objetivo principal de um processo é agregar valor ao cliente final. Com isso, torna-se
importante conhecer como podemos analisar e melhorar cada processo, e essa análise é realizada pelo estudo da
cadeia de valor.

CADEIA DE VALOR

Desenvolvido por Michael Porter, a cadeia de valor é o conjunto de atividades primárias e secundárias que
uma organização utiliza para entregar produtos e serviços para seu consumidor final.
A cadeia de valor permite identificar os principais fluxos de processos, sendo possível um exame das ativida-
des executadas e de como ocorrem a interação entre elas.
De acordo com Porter (1990, p. 31):

A cadeia de valores desagrega uma empresa nas suas atividades de relevância estratégica para que se possa com-
preender o comportamento dos custos e as fontes existentes e potenciais de diferenciação. Uma empresa ganha
vantagem competitiva, executando estas atividades estrategicamente importante de uma forma mais barata ou
melhor do que a concorrência.

Nesse sentido, a atuação na maximização da cadeia de valores é essencial na diferenciação entre as organiza-
ções e seus processos, estabelecendo assim a tão aguardada vantagem competitiva.
Desse modo, cada uma dessas atividades deve, ao final, entregar (agregar) valor aos processos da organização.
Quanto maior o valor agregado entregue, maior será a competitividade da empresa.
Na figura abaixo, adaptado de Porter, percebemos a interdependência entre as atividades de apoio com as
atividades primárias, tendo como resultado “as margens” (valor agregado ofertado ao cliente, ou seja, o lucro
esperado).

Infraestrutura
Atividades de Apoio

Gestão de Recursos Humanos

Desenvolvimento Tecnológico
MARGENS

Aquisição e Compras

Logística Operações Markenting e Serviços


Vendas

Atividades Primárias
72
A utilização da metodologia da cadeia de valor possibilita à organização a melhora da análise sobre seus pro-
cessos, alcançando as seguintes vantagens:

z possibilidade de verificar os valores agregados em cada um dos seus processos;


z a importância das atividades de apoio na execução das atividades primárias;
z a integração dos objetivos da estratégia organizacional nos processos de execução operacional.

Neste momento vamos entender o passo a passo de como é colocar em prática a gestão de processos.

TÉCNICAS DE MAPEAMENTO, ANÁLISE E MELHORIA DE PROCESSOS

Adentramos agora no trabalho propriamente dito: implantar uma gestão de processos na organização.
Para que seja possível a melhoria do processo, o primeiro passo é conhecê-lo.
Dessa maneira, precisamos entender como é o fluxo de trabalho de cada processo e sua interrelação entre os
setores e pessoas envolvidas, para que possamos decidir em que pontos e quais decisões necessitam ser tomadas.
Esse é o trabalho do mapeamento dos processos: visualizar e entender os caminhos do processo de trabalho e
seus pontos críticos.
Assim, o mapeamento é responsável pela descrição bem detalhada das atividades e tarefas, contendo seus
inter-relacionamentos de forma a retratar todo o ambiente organizacional.

Importante!
O mapeamento de processo é uma representação gráfica que provê uma perspectiva ponta a ponta dos pro-
cessos finalísticos, de suporte ou de gerenciamento.

Para realizar o trabalho de mapeamento do processo, normalmente, é utilizada a ferramenta chamada de


fluxograma (desenho gráfico do processo que demonstra o fluxo das atividades e tarefas).
Para a compreensão do processo como um todo e a elaboração do fluxograma, o gestor pode utilizar diversas
técnicas, tais como:

z entrevistas e reuniões;
z observação das atividades in loco;
z análise da documentação;
z coleta de dados e evidências.

O mapeamento por meio do fluxograma deve conter a essência do processo, demonstrando como os elemen-
tos se relacionam, as entradas e saídas, quem executa as atividades, os pontos de decisão e os atores envolvidos
(fornecedores, clientes).
Com o mapeamento em mãos, o próximo passo é a análise do processo.
A análise do processo visa entender o estado atual do processo e suas atividades (análise AS-IS, ou em portu-

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


guês, “como está”) e mensurar quais pontos estão beneficiando e/ou atrasando o alcance dos objetivos do negócio.
Essa análise do processo atual permite iniciar a definição do desenho do novo processo, adotando o que está
funcionando e eliminando as rupturas que interferem no desempenho do processo.
De acordo com o BPM CBOK V3.0 — Business Process Management/Common Body of Knowledge Versão 3.0, ou
em português, Guia para Gerenciamento de Processos de Negócio (considerado a “bíblia” para a gestão de proces-
sos), a informação gerada a partir da análise de processos inclui:

z o discernimento da estratégia, meta e objetivos da organização;


z o espaço de negócio e a conjunção do processo (pois há processo);
z uma compreensão do processo segundo a ótica interfuncional;
z fornecedores e clientes, na chegada e partida do processo;
z os papéis e handoffs cada âmbito funcional no processo;
z uma análise da escalabilidade, manuseio e qualificação de recursos;
z uma percepção das normas de negócio que controlam o processo;
z indicações de desempenho que podem ser usadas para acompanhar o processo;
z sintetização das oportunidades assinaladas para aumentar a eficiência e a eficácia.

Tenha atenção ao conteúdo que segue. Um conceito crucial na análise do processo, e também bastante explo-
rado pelos examinadores, é o do handoff. O handoff é qualquer ponto em um processo em que o trabalho ou
informação passa de uma função para outra. Essa transferência pode resultar em desconexões, atrasos, gargalos,
ineficiência, rupturas e, em razão disso, devem ser analisadas com cuidado.

Dica
Em regra, quanto menor for o número de handoffs, menor será a vulnerabilidade do processo. 73
Simplificando o conceito: handoff pode ser entendido como a passagem de uma atividade para a próxima ati-
vidade. Nesse ponto, é onde ocorrem os atrasos e as desconexões, devido à falta de comunicação entre as equipes
envolvidas.
Na figura abaixo, temos uma representação gráfica do handoff:

Evento de Atividades Handoff Atividades Handoff Atividades Saída do


iniciação 1 2 3 processo

Ponto de passagem
entre as atividades

Com os processos mapeados (detalhados) e analisados (estudados), é o momento de desenhar o novo processo,
propondo melhorias na sua execução.
É importante lembrar que a análise de processos é a base para o desenho de processos.
O intuito do desenho de processos é a transformação da situação atual em um novo processo contendo todos
os pontos que podem ser melhorados, eliminando as atividades e tarefas que não agregam valor.
Nesse sentido, é o redesenho do processo original com as possíveis melhorias propostas a partir de sua análise.
Para o sucesso no desenho do novo processo, é fundamental por parte do gestor a atenção nas seguintes
atividades:

z desenhar o novo processo nos diversos níveis de detalhe;


z identificar o fluxo de trabalho futuro com as definições das novas atividades;
z minimizar os efeitos do handoff;
z definir indicadores e métricas;
z realizar simulações e testes;
z elaborar um plano de implementação.

Esse novo processo a ser implementado é chamado de TO-BE, ou seja, a visão do processo futuro. É nesse
momento que o estado desejado é desenvolvido, seja para um redesenho de processo ou para o desenvolvimento
de um novo processo.
Portanto, a análise AS-IS é a visão do processo no momento atual. Já a análise TO-BE, é a visão do processo
futuro com as melhorias a serem implementadas.

AS - IS TO - BE

“Como está” melhorias


“Como vai ser”

Para facilitar o entendimento, na figura abaixo, sintetizamos o caminho a ser percorrido para a implantação
da melhoria dos processos de uma organização:

Mapeamento Análise Desenho

Detalhar as atividades Identificar os pontos


Propor melhorias
e tarefas atuais críticos

GESTÃO DE PROCESSOS E OS CUSTOS

A importância do custo como fator de competitividade coloca a gestão de processos na lista das prioridades
da administração da organização.
Essa competitividade, utilizando a gestão de processos, pode ser obtida com a eliminação de desperdícios,
74 racionalização do trabalho e reengenharia de processos.
A ideia é a reinvenção da empresa.
Gestão ✓ Eliminação de desperdícios
de ✓ Racionalização do trabalho NOÇÕES DE ESTATÍSTICA APLICADA AO
Processos ✓ Reengenharia de processos
CONTROLE E À MELHORIA DE PROCESSOS

Cada vez mais, a utilização das técnicas estatísti-


Eliminação de Desperdícios cas, destinadas à análise de situações complexas ou
não, tem aumentado e fazem parte do cotidiano do
Eliminar desperdícios significa otimizar os proces- administrador.
sos, com isso, reduzindo ao mínimo a atividade que Neste sentido, a estatística é ferramenta essencial
não agrega valor ao produto ou serviço. Nesse sentido, na análise e na melhoria dos processos organizacio-
a agregação de valor é a contrapartida da eliminação nais, permitindo ao administrador obter informações
de desperdícios. por meio de uma análise baseada em dados e indica-
dores de desempenho.
Agregação de Valor Desperdício Segundo os autores Magalhães e Lima, podemos
Atividade que conceituar estatística como: “um conjunto de técnicas
Atividade que que permite, de forma sistemática, organizar, descre-
transforma recursos
consome recursos, ver, analisar e interpretar dados oriundos de estudos
para atender a
mas não agrega valor ou experimentos, realizados em qualquer área do
necessidades de
ao produto ou serviço conhecimento”.
clientes
Assim, a palavra-chave da conceituação acima é
“de forma sistemática”, ou seja, faz com que o admi-
O desperdício ocorre quando são utilizados mais nistrador consiga tomar a melhor decisão baseado em
recursos do que os necessários para realizar um obje- fatos estudados, afastando assim o “achômetro” e opi-
tivo, consumem-se recursos em atividades que não niões subjetivas.
agregam valor e quando objetivos desnecessários são Estudaremos, então, diversos conceitos de ferra-
realizados. mentas estatística que podem auxiliar o administra-
Com a eliminação total dos desperdícios, o que res- dor a tomar a melhor decisão cotidianamente.
ta são as atividades que agregam valor ao produto ou Para possibilitar uma melhor análise dos proces-
serviço, consequentemente diminuindo os custos de sos, é importante conhecermos os seguintes conceitos
produção, sem que a qualidade seja comprometida. de estatística:
Como resultado, a eliminação de desperdícios
diminui os custos de produção, sem que o valor do População e Amostra
produto para o cliente fique comprometido.
A população é o conjunto de todos os elementos
Racionalização do Trabalho que possuem determinada característica. Por sua vez,
amostra é qualquer subconjunto não vazio da popu-
A racionalização do trabalho é uma técnica essen- lação (parte não nula da população).
cial na busca da melhoria contínua dos processos, Vejamos como esse assunto é utilizado na prática.
consiste na maximização da eficiência por meio da Em uma pesquisa de satisfação de um produto, o
simplificação dos movimentos e minimização do tem- ideal seria que todos os compradores e usuários des-
po necessário para realizar a tarefa. te produto fossem consultados, mas isso é impossível,

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


As atividades de racionalização do trabalho são seja por não conhecer todos os usuários, seja pelo
realizadas por meio de um procedimento com três tempo que seria necessário para isso.
passos: Diante disto, as pesquisam baseiam-se em amos-
tras, ou seja, uma parcela que seria representativa da
z uma tarefa é observada e estudada crítica e sis- população total.
tematicamente, para permitir a identificação de
aprimoramentos necessários;
z com base na análise crítica, entendimento de sua População
lógica e eventual comparação com outras formas
mais eficientes de fazê-la, desenvolve-se uma
alternativa mais racional e eficiente;
z a alternativa mais eficiente é implantada, por meio
da alteração dos movimentos e eventualmente da Amostra
substituição de máquinas e equipamentos.

Reengenharia de Processos

Enquanto a racionalização do trabalho e a elimi-


nação de desperdícios procuram melhorar continua- Neste exemplo, a população seria composta por
mente um processo existente, a fim de aumentar sua todos os usuários, enquanto a amostra seriam os indi-
eficiência, a reengenharia de processos procura criar víduos entrevistados pela pesquisa quanto à sua satis-
um processo totalmente novo e mais eficiente, com o fação do produto.
uso inteligente da tecnologia da informação.
75
Organização de Dados z Medidas de Tendência Central

Na organização de dados temos: „ Média: a média aritmética dos dados é a soma


dos valores observados, dividida pelo total de
z Frequência e representação gráfica: para auxi- observações. Essa medida é a mais comum e
liar na análise de um processo organizacional, também uma das mais utilizadas na análise de
uma informação bastante útil é o de quantas vezes processos.
uma variável aparece. Esse é o conceito de fre-
quência, ou seja, é o número de vezes em que uma Exemplo: qual é a média de salários dos diretores
variável assume um determinado valor. da empresa X, de acordo com o rol a seguir?

Para facilitar o entendimento, vamos analisar um DIRETORES DA


exemplo hipotético de uma pesquisa sobre o número SALÁRIOS
EMPRESA X
de defeitos na produção de um automóvel:
Recursos Humanos R$ 30.000,00

FREQUÊNCIA (N° DE Financeiros R$ 20.000,00


DEFEITOS
DEFEITOS
Produção R$ 40.000,00
Defeitos nas Rodas 50 = Soma dos salários/n°
Defeitos no Estofado 30 Média Aritmética de diretores
90.000,00/3= 30.000,00
Defeitos no Chassi 20
z Moda: a moda é o termo que mais se repete em
Total 100 uma sequência de dados.

A tabela apresentada é uma forma de represen-


tação dos dados chamada de agrupamento simples, Importante!
e está mostrando quantas vezes a variável “defeito”
assume determinados valores, ou melhor, a frequên- Lembre-se do uso comum da palavra: o que está
cia absoluta de cada um dos “defeitos” na montagem na moda, é o que se usa mais entre as pessoas.
do automóvel; Simplificando: é o resultado mais frequente, o
que mais aparece.
z Frequência absoluta x frequência relativa: a
frequência absoluta, como vimos, apresenta a
Vamos a um exemplo prático: imagine que esta-
quantidade que uma variável aparece em um pro-
mos analisando o tempo de produção, em horas, de
cesso. Já a frequência relativa (ou proporção) leva
um automóvel. Os resultados percebidos são: 3, 4, 4,
em conta o quanto cada valor assumido pelas
4, 5, 5, 6, 8.
variáveis representa do total.
Observe que o resultado que apareceu com maior
frequência é o de 4 horas, assim, essa seria a moda
FREQUÊNCIA (N° DE FREQUÊNCIA desse rol de dados;
DEFEITOS
DEFEITOS RELATIVA

Defeitos nas Rodas 50 50/100 = 50%


„ Mediana: a mediana é uma medida de posição,
na qual divide a sequência em duas partes com
Defeitos no a mesma quantidade de dados. Assim, simpli-
30 30/100 = 30%
Estofado
ficando, é o termo do meio de uma sequência
Defeitos no Chassi 20 20/100 = 20% de dados.

Total 100 100/100 = 100% Dessa maneira, se o rol analisado apontar nove
dados, a mediana é o 5º elemento (posição central).
Dessa maneira, a frequência relativa permite reali- Exemplo: em uma grande empresa, com nove
zar comparações entre tabelas com diferentes quanti- filiais, temos respectivamente no rol a seguir a repre-
dades de dados analisados para uma mesma variável. sentação dos números de funcionários: (40, 45, 50, 55,
A comparação das frequências absolutas entre 70, 80, 80, 90, 110). Portanto, a mediana que represen-
duas tabelas não faz sentido, pois estaríamos compa- ta o rol acima é de 70 funcionários.
rando dois números absolutos sem conhecer o quan- Caso ocorra de o número de variáveis de um rol
titativo total. Por outro lado, na frequência relativa, ser par (não tem um termo que seja do meio), tome-
estaríamos comparando dois percentuais. mos os dois termos centrais (meio) e fazemos a média
entre eles.
Medidas Estatísticas na Análise de Processos
Medidas de Variabilidade
Para uma melhor análise com o intuito de aperfei-
çoar os processos, o administrador utiliza-se de dois As medidas de variabilidade são utilizadas para
tipos de medidas estatísticas que são essenciais: medi- apontar quanto que os dados estão dispersos em rela-
das de tendência e medidas de variabilidade. Vamos ção à média. Neste sentido, quanto mais espalhados,
76 entender a sua aplicação. maior será a sua variabilidade.
Essas medidas visam tornar a avaliação do conjunto É válido salientar que o principal objetivo da
de dados mais próximas da realidade, facilitando assim implementação da gestão de riscos é aumentar o grau
a observação e entendimento na tomada de decisão. de certeza na consecução dos objetivos, o qual tem
As medidas de variabilidade mais utilizadas na impacto direto na eficiência.
análise de processos são a amplitude, variância e o Este tópico tem seu alicerce no “Manual de Gestão
desvio padrão. de Riscos — Um Passo Para a Eficiência23” publica-
do pelo Tribunal de Contas da União. Primeiramente,
Melhoria dos Processos Utilizando a Estatística vamos entender o conceito de risco!
O administrador, utilizando as ferramentas da Risco é a possibilidade de ocorrência de um even-
estatística, tem como objetivo melhorar a média, to, um incidente de fontes internas ou externas à
aumentar ou diminuir de acordo com o caso concreto organização, o qual pode afetar adversamente a rea-
e sempre reduzir sua variabilidade. lização de objetivos. Por outro lado, uma oportunida-
Vamos entender melhor como essas medidas esta- de é a possibilidade de ocorrência de um evento que
tísticas podem auxiliar na melhoria de processos ana- pode afetar positivamente a realização de objetivos.
lisando um caso prático. Neste sentido, percebemos que o risco está presen-
Ao analisar um processo de fabricação de um auto- te em todas as atividades humanas, em todos os cam-
móvel, o administrador coletou os seguintes dados, em pos. Em relação à gestão de riscos na esfera pública,
horas, para o término da produção: 4 + 3 + 10 + 8 + 6 + 8. o risco pode estar presente tanto nas atividades que
Calculando o tempo médio, temos: envolvem a aplicação desses recursos, quanto naque-
las que envolvem a fiscalização e o controle da sua
total 39 boa e regular aplicação.
Média = =
número de variáveis 6
PRINCÍPIOS
Média = 6,5
Alguns princípios regem a gestão de riscos na
Assim, é função do administrador adotar medidas Administração Pública, a saber:
para que o valor da média diminua e, consequente-
mente, o tempo médio de fabricação seja reduzido, Fomentar a inovação e a ação empreendedora
maximizando a eficiência. responsáveis
Um exemplo prático para alcançar esse resultado Ao realizar algo que nunca foi feito antes ou que impli-
é contratar mais trabalhadores para a execução dos que riscos, identificar, avaliar e tratar esses riscos
processos. Outro fator a ser analisado é a redução da aumenta a chance de sucesso. Mesmo que a iniciativa
variabilidade, pois não adianta ter uma boa média se não tenha sucesso por algum motivo, estará documen-
os resultados variam a cada unidade. Neste sentido, tado que o gestor tinha consciência dos riscos e ado-
a variabilidade do tempo de produção proporcionará tou as providências necessárias para mitigá-los, o que
uma maior previsibilidade, auxiliando, assim, no pro- demonstra uma gestão responsável.
cesso de planejamento.
Percebemos que a gestão de processos funciona Considerar riscos e, também, oportunidades
como uma cadeia, com a melhora de um elemento, os
seguintes vão se beneficiando e no final ocorre uma A oportunidade é também chamada de risco positivo,
melhoria geral e contínua. pois constitui a possibilidade de um evento afetar posi-
Sintetizando o exemplo: tivamente os objetivos. A boa gestão de riscos deve,
também, considerar as oportunidades, pois o gestor

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


precisa estar preparado para aproveitá-las.

Aplicar-se a qualquer tipo de atividade ou projeto


Produção
Melhoria no Média
Média planejamento Diminui o tempo A gestão de riscos pode ser aplicada a qualquer ação
Variabilidade de entrega para o organizacional que tenha um objetivo claro ou da qual
Maior previsibilidade consumidor resulte um produto ou serviço definido.

Aplicar-se de forma contínua e integrada aos


Diante do exposto, inferimos que a moderna gestão
processos de trabalho
de processos tem como foco a busca pela qualidade e
satisfação do cliente, tendo a aplicação dos ensinamen- Gerir riscos não pode ser uma atividade esporádica e
tos da estatística como parte essencial nesta busca. descasada do dia a dia do trabalho. Deve ser uma atitu-
de permanente, parte integrante do processo decisório,
desde que apresente relação custo-benefício favorável.
GESTÃO DE RISCOS Ser implantada por meio de ciclos de revisão e
melhoria contínua
O gerenciamento de riscos é um dos assuntos mais
atuais na Administração Pública brasileira. Com o intuito A implantação da gestão de riscos deve ser um proces-
de convergir com as boas práticas internacionais e con- so gradual e progressivo, com revisões periódicas, a
solidar a eficiência na gestão pública, os diversos órgãos partir de mudanças organizacionais e/ou no ambiente
governamentais publicaram manuais (roteiros) de externo e dos resultados das avaliações do funciona-
gerenciamento de riscos nas suas atividades precípuas. mento do sistema de gestão de riscos.

23 BRASIL. TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO. Manual de Gestão de Riscos do TCU: um passo para a eficiência. 2020. Disponível em: https://por-
tal.tcu.gov.br/data/files/46/B3/C6/F4/97D647109EB62737F18818A8/Manual_gestao_riscos_TCU_2_edicao.pdf. Acesso em: 27 dez. 2022. 77
Considerar a importância dos fatores humanos Modelo Britânico
e culturais
O HM Treasury (similar ao Ministério da Economia)
A percepção sobre os riscos e seus impactos no alcance do Governo Britânico elaborou e publicou um documen-
dos objetivos depende das características das pessoas to denominado The Orange Book Management of Risk
responsáveis pela gestão desses riscos e da cultura de — Principles and Concepts (Gerenciamento de riscos —
determinado órgão ou área da instituição em que esses princípios e conceitos) em 2001, sendo referência para
riscos são avaliados. as organizações públicas e privadas do Reino Unido.
Nesse sentido, uma boa gestão de riscos deve consi- De acordo com esse documento, a gestão de riscos
derar a influência dos fatores humanos e da cultura deve ser gerenciada em três níveis: nível estratégi-
organizacional na identificação, na avaliação e no tra- co, nível programa e nível projetos e atividades; e
tamento dos riscos. O sucesso ou fracasso da gestão de evidencia que a comunicação deve fluir tanto de cima
riscos depende da cultura organizacional. para baixo, quanto debaixo para cima.
Ser dirigida, apoiada e monitorada pela alta
administração
ABNT NBR ISO 31000
A alta administração tem a responsabilidade de con-
duzir o processo de implantação, de manter o sistema
funcionando com eficiência e economicidade, de geren-
A Associação Brasileira de Normas Técnicas
ciar os riscos-chave liderar pelo exemplo, demonstran- (ABNT) é a entidade responsável pela normatização
do efetivo compromisso com a gestão de riscos.24 técnica no território brasileiro. Assim, baseada na
norma ISO 31000:2009 (Internacional Organization for
OBJETOS Standardization), publicou sua versão nacional idênti-
ca em conteúdo técnico, estrutura e redação.
Neste sentido, a norma em tela fornece princípios
São considerados objetos do gerenciamento de
e diretrizes genéricas para auxiliar na implementação
riscos toda variável que seja possível gerenciar com
da gestão de riscos, seja em empresas privadas, ou em
o intuito de aplicar as boas práticas preconizadas no
organizações públicas.
mercado, a saber: resultados, metas, atividades, pro-
Conforme a ISO 31000, se a gestão de riscos for imple-
jeto, informações, dados, integridade e ética, iniciati-
mentada e mantida conforme suas diretrizes, pode tra-
va ou ação de plano institucional, além dos recursos zer os seguintes benefícios para as organizações:
empregados nas unidades organizacionais.
z facilitar e aumentar a probabilidade de atingir as
MODELOS NACIONAIS E INTERNACIONAIS metas e objetivos;
z identificar facilmente as oportunidades e riscos;
Com a entrada da gestão de riscos na agenda das z criar uma cultura de gestão ativa;
organizações, foram desenvolvidos diversos mode- z melhorar a governança;
los de gerenciamento de riscos, nos quais alinham as z estreitar a confiança com as partes interessadas;
boas práticas internacionais e estabelecem critérios z maximizar a eficácia operacional;
para a sua implementação. z melhorar a aprendizagem organizacional.
Os mais utilizados e conhecidos que podem ser
cobrados em sua prova são: INTEGRAÇÃO AO PLANEJAMENTO

The Comitee of Sponsoring Organizations (COSO) Como podemos perceber, o gerenciamento de ris-
cos não pode ser um setor (área) estanque, ou seja,
The Comitee of Sponsoring Organizations (COSO) fazer uma gestão isolada. Mas, sim, é de suma impor-
é uma associação Estadunidense sem fins lucrativos, tância a sua integração com todos os setores da organi-
especializada no estudo da melhoria dos relatórios zação, transformando em uma cultura da organização
financeiros, com ênfase no caráter ético, governança e responsabilidade de todos.
corporativa e aprimoramento dos controles internos.
Suas recomendações são publicadas no manual PROCESSO DE GESTÃO DE RISCOS: TÉCNICAS
Internal Control — Integrated Framework (Controles
Internos — Um Modelo Integrado), cuja referência é O processo de gestão de riscos é um conjunto de ati-
mundial na temática de controle interno e gerencia- vidades que visa identificar, avaliar, tratar e monito-
mento de riscos. rar os riscos de um projeto, programa ou organização.
De acordo com a entidade, o controle interno pode O objetivo da gestão de riscos é reduzir a probabili-
ser definido como: dade e o impacto dos eventos negativos e aumentar a
probabilidade e o impacto dos eventos positivos.
Um processo conduzido pela estrutura de gover- Assim, vale como definição, também, firmar que
nança, administração e outros profissionais da se trata da aplicação de políticas, procedimentos e
entidade, desenvolvido para proporcionar segu- práticas de gestão para as atividades de comunicação,
rança razoável com respeito à realização dos consulta, estabelecimento do contexto, e na identifica-
objetivos relacionados a operações, divulgação e ção, análise, avaliação, tratamento, monitoramento e
conformidade.25 análise crítica dos riscos. Um risco, por exemplo, é o
efeito da incerteza nos objetivos, que pode ser positi-
vo ou negativo.
24 Ibidem (p. 17 e 18).
25 Controle Interno – Estrutura Integrada. Maio de 2013. Instituto dos Auditores Internos do Brasil. Disponível em: https://auditoria.mpu.mp.br/
78 pgmq/COSOIICIF_2013_Sumario_Executivo.pdf. Acesso em: 28 dez. 2022.
A gestão de riscos, para tanto, visa aumentar a probabilidade e o impacto dos eventos favoráveis e reduzir a
probabilidade e o impacto dos eventos adversos. Nesse sentido, a disciplina se aplica a qualquer tipo de organiza-
ção, setor ou tamanho, que pode ser gerenciada por diferentes metodologias, como as tradicionais, ágeis, híbridas,
entre outras.
O principal referencial teórico e prático para a gestão de riscos é a norma ISO 31000:2018 — Gestão de riscos —
Princípios e diretrizes, publicada pela International Organization for Standardizartion (ISO), que é a maior organi-
zação internacional de padronização do mundo. Nesse estandarte, a mencionada norma apresenta os princípios,
a estrutura e o processo para a gestão de riscos, bem como as diretrizes para a sua implementação e melhoria
contínua.

OS PROCESSOS DA GESTÃO DE RISCOS

O processo de gestão de riscos é o conjunto de atividades coordenadas para dirigir e controlar uma organi-
zação no que se refere aos riscos. Assim, trata-se de uma gestão interativa, dinâmica e adaptável, e envolve as
seguintes etapas:

Comunicação

Nessa etapa há o envolvimento do intercâmbio oportuno e significativo de informações entre os tomadores de


decisão, os responsáveis pela gestão de riscos e as demais partes interessadas, internas e externas à organização,
sobre o escopo, plano, papel, responsabilidade, desempenho, resultado e a revisão do processo de gestão de riscos.

Estabelecer o contexto

Monitoramento e análise crítica


Comunicação e consulta

Processo de avaliação
Identificação do risco

do risco
Análise do risco

Avaliação do risco

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


Tratamento do risco

Adaptado de: Rosa e Toledo (2015).

Dessa forma, a comunicação é essencial para o sucesso da gestão, uma vez que deve haver a troca de infor-
mações a respeito dos riscos de maneira eficaz a todas as partes interessadas, incluindo a alta administração, a
equipe do projeto e os stakeholders externos.

Consulta

A consulta é um processo importante para identificar e avaliar os riscos. Assim, as partes interessadas devem
ser consultadas para obter informações sobre os riscos que podem afetar o projeto, programa ou organização.
Tal qual a comunicação, a consulta deve ocorrer em todas as etapas do processo de gestão de riscos, uma vez
que visa garantir a transparência, confiança, participação e a colaboração entre os envolvidos.

Contextualização

Nesse momento, há o envolvimento da definição dos parâmetros externos e internos, bem como dos critérios de
risco, que serão considerados na gestão de riscos.
Assim, há os contrapontos entre os contextos interno e externo, de modo que, o primeiro, respectivamente,
inclui os fatores estratégicos, operacionais, organizacionais, humanos e culturais que caracterizam a organização.
Em continuidade, o segundo envolve fatores ambientais, legais, políticos, sociais, econômicos, tecnológicos e cul-
turais que podem influenciar ou ser influenciados pela organização. 79
Identificação O processo de gestão de riscos para o TCU contou
com o envolvimento de todos os procedimentos pre-
Nesse momento, há o envolvimento do reconheci- vistos dentro do mesmo instrumento, de forma que
mento e da descrição dos riscos que podem afetar os houve o cuidado para seguir as diretrizes da norma
objetos da organização, de forma a possibilitar a sua ISO 31000:2018 e do Guia de Auditoria da Natureza
análise e avaliação. Operacional do TCU.
Posto isto, a identificação deve ser sistemática, Portanto, a implementação do processo resultou
abrangente, estruturada e documentada, de forma em benefícios, como aumento da eficiência, redução
que haja a utilização das fontes de informação confiá- de custos, melhoria da qualidade, alinhamento estra-
veis e atualizadas, como dados históricos, estatísticos, tégico e transparência.
científicos, entre outros.
Portanto, deverá haver a consideração tanto dos REFERÊNCIAS
riscos existentes quanto os emergentes, assim como
dos riscos inerentes e, também, residuais. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS.
NBR IEC 31010:2021 — Gestão de Riscos: Técnicas
Análise
para o Processo de Avaliação de Riscos. ABNT. 2021.
Nessa etapa, envolve-se a determinação da probabi- ______. NBR ISO 31000:2018 — Gestão de Riscos:
lidade e do impacto dos riscos identificados, de forma a Princípios e Diretrizes. ABNT. 2018.
estimar o nível de risco e a sua natureza, causa e fonte. BRASIL. Ministério da Economia. Secretaria de
A análise, para tanto, poderá ser realizada de Gestão do Patrimônio da União. Guia de Gestão
maneira qualitativa, quantitativa ou mista, depen- de Riscos. 1ª ed. Brasília: SGP/ME, 2022.
dendo da disponibilidade e da qualidade dos dados, ______. Tribunal de Contas da União. Referencial
complexidade e criticidade dos riscos, bem como dos Básico de Gestão de Riscos. [On-line]: Tribunal
recursos e tempo disponíveis. de Contas da União, 2018. Disponível em: http://
Dessa forma, a análise deverá considerar os fato- tinyurl.com/3jmun5my. Acesso em: 25 jan. 2024.
res de incerteza, interdependências, correlações, ten- ROSA, G. M.; TOLEDO, J. C. Gestão de riscos e a nor-
dências, cenários e hipóteses que podem se envolver ma ISO 31000: importância e impasses rumo a um
com os riscos em si. consenso. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGE-
NHARIA DE PRODUÇÃO, 5., 2015, Ponta Grossa.
Tratamento Anais [...]. Ponta Grossa, 2015.
Como o ponto que se encaminha para o final, o
BOAS PRÁTICAS DE GESTÃO DE RISCOS
tratamento envolve a seleção e a implementação de
medidas para modificar o nível de risco, visando à sua
Introdução
redução, eliminação, transferência, compartilhamen-
to, aceitação ou exploração.
Diante disso, o tratamento deve ser proporcional, Riscos são inerentes a praticamente quaisquer ati-
viável, efetivo e eficiente, considerando as opções, vidades. A vida humana por si só é incerteza e “estar
recursos, responsabilidades, prazos, planos e as con- vivo” já pressupõe uma dose de risco. Não seria dife-
tingências envolvidas no tratamento dos riscos. rente nas organizações. Por isso que, conforme afir-
ma a Metodologia de gestão de riscos do Ministério
Monitoramento e Retroalimentação da Ciência, Tecnologia e Inovações — MCTI (BRASIL,
2022, p. 7), “lidar com as inúmeras incertezas decorren-
De maneira final, há o acompanhamento e a ava- tes dos vários fatores (econômicos, sociais, legais, tec-
liação contínua do desempenho e eficácia do processo nológicos, operacionais, dentre outros)” é fundamental
de gestão de riscos, de forma a identificar e incorpo- para o atingimento dos objetivos almejados.
rar as mudanças, melhorias, lições aprendidas e as Logo, saber identificar os potenciais eventos que
boas práticas no processo de gestão de riscos. poderão se materializar em riscos e comprometer o
Nesse sentido, o monitoramento e retroalimen- alcance dos objetivos é um pressuposto essencial para
tação devem ser sistemáticos, periódicos, documen- eficácia da gestão.
tados e comunicados, considerando bem os seus Nesse sentido, o próprio governo brasileiro vem
indicadores, relatórios, auditorias, revisões e atuali- alocando esforços significativos na direção da criação
zações envolvidos no processo de gestão de riscos. de uma cultura de governança e de gestão de riscos de
Exemplo de Aplicação forma estruturada no Poder Executivo Federal.
Em um contexto mais amplo, é importante que as
O processo de gestão de riscos detém aplicações organizações, sejam públicas ou privadas, busquem
de sucesso por diversas organizações e, diante do que entender quais são os riscos associados às suas ope-
necessitavam, conseguiram gerenciar seus riscos de rações, processos e atividades, com o objetivo de evi-
forma eficaz e eficiente, gerando valor para os clientes tar prejuízos e promover as melhorias necessárias ao
e para o negócio. aprimoramento do seu sistema de gestão de riscos.
Segundo o Guia de Gestão de Riscos do Ministério
z Processo de Gestão de Riscos do Tribunal de da Economia (BRASIL, 2021, p. 9):
Contas da União (TCU)
O gerenciamento de riscos é o processo conduzido
O TCU utilizou o processo de gestão de riscos para pela alta administração e pelos demais servidores e
planejar e melhorar os seus processos de controle colaboradores em que são estabelecidas as estraté-
externo, que envolvem a fiscalização, auditoria, ava- gias de prevenção e controle de riscos que possam
80 liação e o julgamento das contas públicas. impactar os objetivos da organização.
Ou também, conforme define a Política de Gestão de Art. 14 O trabalho administrativo será racionaliza-
Riscos do ME (III, art. 4º), gerenciamento de riscos é a: do mediante simplificação de processos e supressão
de controles que se evidenciarem como puramente
[...] aplicação sistemática de políticas, procedimen- formais ou cujo custo seja evidentemente superior
tos e práticas de gestão de riscos, para identificar, ao risco.
analisar, avaliar, tratar, comunicar e monitorar
potenciais eventos ou situações de risco, bem como A Instrução Normativa Conjunta MP/CGU nº 01, de
fornecer segurança razoável no alcance dos obje- 2016, prevê em seu art. 1º:
tivos relacionados a processos, projetos e demais
objetos avaliados. Art. 1º Os órgãos e entidades do Poder Executivo
Federal deverão adotar medidas para a sistemati-
É aí que entra, justamente, a função controle: para zação de práticas relacionadas à gestão de riscos,
responder aos riscos! Ainda segundo o Guia (2021, p. aos controles internos e à governança.
9): “A função dos controles é dar tratamento à probabi-
lidade ou ao impacto da materialização de um risco em O Decreto nº 9.203, de 2017, estabeleceu a política
relação a um objetivo fixado.” de governança da administração pública direta, indi-
A gestão de riscos pode trazer inúmero benefícios, reta, autárquica e fundacional. Seu art. 17 esclarece:
quando implementada de forma adequada e contí-
nua. Vamos ver o que diz o Guia de Gestão de Riscos do Art. 17 A alta administração das organizações da
Ministério da Economia (BRASIL, 2021, p. 9-10) sobre administração pública federal direta, autárquica e
o assunto: fundacional deverá estabelecer, manter, monitorar
e aprimorar sistema de gestão de riscos e controles
z mais segurança para que a alta administração internos com vistas à identificação, à avaliação, ao
tome decisões consistentes; tratamento, ao monitoramento e à análise crítica
z contribui para assegurar a comunicação eficaz, de riscos que possam impactar a implementação da
melhorando as bases ao direcionamento estratégi- estratégia e a consecução dos objetivos da organi-
co e à tomada de decisões; zação no cumprimento da sua missão institucional,
z contribui com o cumprimento das leis e regulamentos; observados os seguintes princípios:
z ajuda a mitigar possíveis riscos que possam preju- I - implementação e aplicação de forma sistemáti-
dicar o cumprimento dos objetivos e a reputação ca, estruturada, oportuna e documentada, subordi-
da organização; nada ao interesse público;
z promove o desenvolvimento de um ambiente éti- II - integração da gestão de riscos ao processo de pla-
co, com papéis e responsabilidades bem definidos; nejamento estratégico e aos seus desdobramentos, às
z contribui para a entrega de serviços dentro do pra- atividades, aos processos de trabalho e aos projetos
zo e com a qualidade esperada, e sem desperdício em todos os níveis da organização, relevantes para a
de recursos. execução da estratégia e o alcance dos objetivos insti-
z minimiza a ocorrência de imprevistos para o Governo tucionais; III - estabelecimento de controles internos
no momento de implementar suas políticas públicas; proporcionais aos riscos, de maneira a considerar
z ajuda a evitar crises e contratempos (há maior pre- suas causas, fontes, consequências e impactos, obser-
visibilidade dos resultados esperados); vada a relação custo-benefício; e
z ajuda na transparência e na accountability (presta- IV - utilização dos resultados da gestão de riscos
ção de contas); para apoio à melhoria contínua do desempenho e
z possibilita a identificação de oportunidades de dos processos de gerenciamento de risco, controle e

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


melhoria (inclusive a redução e otimização de governança.
controles já existentes), e ajuda a gerar ganhos de
produtividade; Já o Guia de Gestão de Riscos do Ministério da Eco-
z promove melhorias no ambiente ético (trata de nomia (BRASIL, 2021, p. 11) especifica que são princí-
questões relacionadas aos valores da instituição e pios da gestão de riscos:
ao cumprimento das leis e regulamentos);
z previne diversos desvios (inclusive a corrupção). i. agregação e proteção do valor público gerado;
ii. promoção do uso eficiente e integrado dos recur-
Em suma, como afirma o MCTI (BRASIL, 2022, p. 9), sos disponíveis, sejam financeiros, humanos, mate-
riais ou tecnológicos;
[...] a incorporação da gestão de riscos como um iii. abordagem explícita da incerteza e de sua
processo contínuo estabelecido para identificar, natureza;
responder e monitorar eventos que possam afetar iv. comprometimento da alta administração, lide-
o alcance dos objetivos [...], auxiliará os tomadores rança de todos os níveis de gestão e engajamento
de decisão a realizarem escolhas mais assertivas, de todo o corpo funcional;
de forma a priorizar e distinguir as melhores alter- v. transparência;
nativas de ações. vi. uso efetivo das melhores informações disponíveis;
vii. sinergia e apoio da tecnologia da informação;
Legislação Aplicável e Princípios viii. consideração dos fatores culturais, humanos e
sociais;
O Decreto-Lei nº 200, de 1967, definiu a necessida- ix. dinamismo, iteração e capacidade de reagir a
de de gerir riscos na administração pública, e já em mudanças; e
seu art. 14 destacava: x. melhoria institucional contínua.

81
Modelos e Metodologias (Nacionais e Internacionais) Objetos e Integração ao Planejamento

Além disso, existem diversos modelos e metodolo- O Guia de Gestão de Riscos do Ministério da Econo-
gias, mundialmente conhecidos, com foco no geren- mia (BRASIL, 2021, p. 14) afirma que “Mesmo que qual-
ciamento de riscos, por exemplo: quer ato de ação ou de omissão possa ser objeto para
a gestão de riscos, tipicamente uma organização prio-
z Orange Book, do Tesouro Britânico (2001); rizará a gestão de riscos sobre [seus] projetos e proces-
z Os manuais do Committee of Sponsoring Organiza- sos” (e até mesmo “outra ações”, que não se encaixem
tions of the Treadway Commission — COSO (2004 e nem em projetos, nem em processos).
2017); Logo, “a primeira etapa para a definição de objetos
z E as normas ISO 31000 (2009 e 2018). para a gestão de riscos deve ser o mapeamento de ini-
ciativas que tenham relevância nos resultados” (BRA-
O manual Gerenciamento de Riscos Corporativos — SIL, 2021, p. 14).
Estrutura Integrada (Enterprise Risk Management — No caso do Guia de Gestão de Riscos do Ministério
Integrated Framework) publicado pelo COSO, em 2004, da Economia (BRASIL, 2021, p. 14), por exemplo:
trouxe para organizações um “norte” para a estrutu-
ração da gestão de riscos, apresentando princípios, Uma vez que a unidade setorial tenha definido seu
diretrizes e padrão de linguagem comum. portfólio de objetos relevantes para os resultados
almejados pelo Ministério e os tenha classificado
Em 2017, o COSO atualizou o Manual de 2004, o
por projeto, processo ou iniciativa, sobre esse port-
COSO e publicou o manual Gerenciamento de Riscos
fólio ela aplicará um conjunto de parâmetros que
Corporativos — Integração com Estratégia e Desem- a permitirá, de forma justificada, escolher quais
penho (Enterprise Risk Management - Integrating with objetos serão alvo da análise de riscos e avaliação
Strategy and Performance), que basicamente buscou de apetite a riscos.
esclarecer a importância das organizações se aterem
aos riscos no processo de elaboração da estratégia, na É importante notar que a própria
sua execução e na busca pelo desempenho almejado.
Já a Norma ABNT NBR 31000 trouxe princípios, [...] unidade setorial tem autonomia para definir
diretrizes e conceitos sobre gestão de riscos, além de seus critérios, mas é importante que esses critérios
propor estrutura e processos para um gerenciamento sejam comunicados à alta administração (Comitê
integrado de riscos nas organizações, com o intuito de Ministerial de Governança — CMG), para que ela
criar valor. ratifique aquele plano de priorização de objetos.
Na edição de 2018, a norma traz uma proposta que (BRASIL, 2021, p. 14)
integra “princípios, sistema e o processo” de gerencia-
mento de riscos: Os objetos escolhidos vão compor o “Plano de
Priorização de Objetos para a Gestão de Riscos”, até
z o sistema proposto articula integração, concepção, que esse processo aconteça novamente. Além disso, é
implementação, avaliação e melhoria do gerencia- importante manter em guarda todos os documentos
mento de riscos na organização; gerados ao longo do processo de escolha desses obje-
z o processo envolve as etapas de: tos prioritários, para eventual futura auditoria.
O Guia de Gestão de Riscos do Ministério da Econo-
„ definição de escopo, contexto e critérios; mia (BRASIL, 2021, p. 15) traz até um exemplo sobre
„ processo de avaliação de riscos (identificação esse processo de priorização:
de riscos, análise de riscos, avaliação de riscos);
[...] imagine que uma unidade setorial do ME
„ tratamento de riscos;
[Ministério da Economia], ao levantar seu portfólio
„ registro e relato;
de objetos, identificou quatro projetos, quatro pro-
„ monitoramento e análise crítica;
cessos e duas iniciativas [outras ações], totalizando
„ comunicação e consulta. dez objetos.

A Metodologia de gestão de riscos do MCTI (BRASIL, Imagine também que essa unidade tenha valida-
2022, p. 15) afirma que existe um desafio na “adapta- do no CMG (Comitê Ministerial de Governança) cinco
ção desses modelos para a realidade da administração parâmetros para priorização dos objetos.
pública.” Porém, existem esforços feitos nesse sentido Assim, “a autoridade máxima da unidade setorial,
desde 2016, realizados por diversos órgãos, a exem- após consultar suas áreas técnicas, pode definir notas
plo das diversas iniciativas pioneiras, que orientam de 1 a 5 para cada parâmetro de cada objeto, obten-
diversos órgãos. Por exemplo: do uma média ponderada para cada objeto analisado”
(BRASIL, 2021, p. 15).
z Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e A unidade setorial pode classificar os objetos a
Gestão (atual Ministério da Economia); partir da média ponderada obtida e pode chegar a
z Controladoria-Geral da União (CGU). uma tabela, excluindo, por exemplo, 60% dos objetos
com menor média ponderada.
Ainda de acordo com o MCTI, ambos “coordenam Além disso, de acordo com o Guia de Gestão de Ris-
sistemas estruturantes do Governo Federal responsá- cos do Ministério da Economia (BRASIL, 2021, p. 17), a
veis por orientarem os órgãos e entidades nessa temáti- unidade setorial pode designar os responsáveis pelo
ca” (BRASIL, 2022, p. 16). detalhamento de cada objeto, que deverá trazer:

82
a) Breve descrição do objeto; � Forças � Fraquezas
b) Como o objeto impacta o planejamento estratégi-
co do Ministério;
c) Áreas do Ministério envolvidas na execução do S W
objeto, com as suas devidas responsabilidades;
d) Cronograma com apontamento de prazos para o
mapeamento do objeto; a análise de riscos do obje-
to; a definição da resposta aos riscos; a definição do
plano de ações mitigadoras decorrentes da respos-
O T
ta ao risco; e a definição mecanismos de controle
do risco, com eventuais medidas de contingência.
� Oportunidades � Ameaças
Uma vez inserido o objeto no processo de gestão de
riscos, ele deve ser acompanhado pelo tempo que o obje- Fonte: baseado Kotler e Keller (2012). Adaptado.
to permanecer ativo. Além disso, “a cada execução de pla-
no de priorização, novos objetos podem ser agregados ao „ Os pontos fracos (fraquezas) são elementos
portfólio monitorado.” (BRASIL, 2021, p. 17). internos que podem interferir negativamen-
Após essa priorização, será aplicada uma Metodolo- te na capacidade da empresa de atingir seus
gia de Gestão de Riscos. No caso do Ministério da Eco- objetivos;
nomia, por exemplo, essa metodologia é baseada nos „ Os pontos fortes (forças) representam van-
fundamentos da ABNT NBR ISO 31000 e COSO ERM e se tagens que interferem positivamente na
divide em seis etapas: capacidade da empresa atingir seus objetivos.
Também são elementos internos;
Análise de contexto; „ As oportunidades são situações externas que
Identificação de riscos; interferem positivamente;
Avaliação de riscos; „ As ameaças são situações externas que colo-
Resposta aos riscos (evitar, aceitar, reduzir,
cam a empresa diante de dificuldades.
compartilhar);
Comunicação; e
Em resumo, pontos fortes e fracos são elementos
Monitoramento. (BRASIL, 2021, p. 18)
internos.
Oportunidades e ameaças são elementos externos.
Vamos ver cada uma delas:
Alguns exemplos:
z Análise do Contexto
„ Oportunidades: crescimento econômico do
país, poucos concorrentes, investidores interes-
Nesta etapa são explicitadas as informações sobre o
sados em capitalizar a empresa etc.;
objeto da gestão de riscos (processo, projeto, ações, ati-
„ Ameaças: falta de profissionais no mercado de
vidades etc.) que está sob análise, com o intuito de com-
trabalho que dominem as habilidades necessá-
preender o ambiente externo e interno no qual esse
rias para o trabalho, elevação na taxa de juros,
objeto está inserido (compreender o contexto, ou seja, concorrência elevada, nova legislação restriti-
fazer uma contextualização). va etc.;
As informações produzidas nessa etapa também são „ Forças: boa estrutura, localização, funcioná-

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


importantes para subsidiar as etapas posteriores. rios engajados etc.;
Em relação ao contexto externo, é possível citar: „ Fraquezas: colaboradores desmotivados, falta
informações sobre o cenário político, social, legal, de especialistas etc.
econômico e financeiro, tecnológico, ambiental (em
um contexto nacional, regional ou local ou até mesmo Quando esses itens são combinados entre si,
internacional), relações com as partes interessadas temos o seguinte:
externas, dentre outros aspectos;
O ambiente interno, segundo o Ministério da Eco- „ Forças + oportunidades = melhor cenário,
nomia (BRASIL, 2021, p. 18-19), envolve aspectos como: hora da alavancagem;
“governança, estrutura organizacional, funções, alçadas „ Fraquezas + oportunidades = existem
e responsabilidades, políticas, estratégias, capacidades, limitações;
competência, sistemas de informação, processos decisó- „ Forças + ameaças = existem vulnerabilidades;
rios, cultura organizacional.” „ Fraquezas + ameaças = pior cenário, existem
Nessa análise de contexto, é possível a aplicação da problemas.
matriz SWOT.
A matriz SWOT é uma ferramenta amplamente uti- Para cada uma dessas combinações existem possí-
lizada no planejamento estratégico, pois ela faz a ava- veis estratégias:
liação global das forças, fraquezas, oportunidades e
ameaças de uma empresa (dos termos em inglês: stren- „ Força + oportunidade = o melhor cenário
gths, weaknesses, opportunities, threats). É um meio de (desenvolvimento);
monitorar os ambientes externo e interno. „ Fraqueza + oportunidade = existem oportu-
Essa análise acontece através de uma matriz, nidades, mas a empresa precisa diminuir seus
que representa cada um dos elementos mencionados pontos fracos para aproveitá-la (estratégia de
acima: crescimento); 83
„ Força + ameaça = a empresa precisa man- É importante fazer uma avaliação quantitativa,
ter-se firme perante ameaças (estratégia de com base nos dados estatísticos de eventos de riscos
manutenção); já materializados ou com base numa média histórica
„ Fraqueza + ameaça = pior cenário, indica disponível. Mas nem sempre esses dados estão dispo-
que a empresa está “lutando para sobreviver” níveis. Nesse caso, é suficiente realizar uma avaliação
(estratégia de sobrevivência). qualitativa.
O impacto tem a ver com as consequências, em
z Identificação de Riscos determinado âmbito. Por exemplo: desperdício de
recursos, desconformidade legal, danos ao Erário e
Segundo o Guia de Gestão de Riscos do Ministério danos à imagem etc.
da Economia (BRASIL, 2021, p. 20), “a etapa de identi- Uma forma de se estimar o nível do risco é por
ficação de riscos envolve o reconhecimento, descrição e meio de uma “matriz impacto x probabilidade”.
registro do evento de risco, com a identificação das suas Por fim, “A análise da eficácia dos controles exis-
causas (fontes) e consequências (efeitos).” tentes objetiva aferir se o risco residual se encontra
Nessa etapa, é possível estabelecer “uma lista de even- dentro do nível de risco aceitável” (BRASIL, 2021, p. 23).
Lembrando que, conforme aponta o Guia de Ges-
tos de riscos que podem constranger (impactar) os resul-
tão de Riscos do Ministério da Economia (BRASIL,
tados e o alcance dos objetivos, afetando o valor público a
2021, p. 23):
ser entregue à sociedade” (BRASIL, 2021, p. 20).
Como fonte de informação para identificação dos riscos, Risco inerente: é o risco a que uma organiza-
é importante checar se existe algum Acórdão ou Recomen- ção está exposta sem considerar quaisquer ações
dação dos órgãos de controle (TCU e CGU, por exemplo) ou gerenciais que possam reduzir a probabilidade de
se existem processos judiciais e até mesmo reclamações na sua ocorrência ou seu impacto. [...]
Ouvidoria relacionados ao processo sob análise. Risco residual: é risco a que uma organização
“Para cada evento de risco identificado, deve-se espe- está exposta após a implementação de ações geren-
cificar, explorar e ressaltar suas prováveis causas e possí- ciais para o tratamento do risco. [...]
veis consequências” (BRASIL, 2021, p. 20). O risco deve ser
Os controles devem ser analisados em relação ao
descrito de forma precisa!
custo x benefício. “O custo de um controle não deve
Um exemplo trazido pelo documento (BRASIL, 2021,
superar seu benefício gerado” (BRASIL, 2021, p. 24).
p. 21):
Esse é o momento também para verificar se existem
controles onerosos (caros) e desnecessários, ou seja,
Devido a tais “causas ou fontes” se existem controles que podem ser simplificados.
poderá acontecer tal “evento de risco” Por fim, cabe ressaltar que avaliação dos riscos
o que poderá levar a determinados “impactos, oferece subsídios (material) para a tomada de deci-
efeitos ou consequências” são, mas não é um fator exclusivo para eventual trata-
constrangendo o “objetivo definido” mento do risco. O gestor do risco pode utilizar outros
recursos ou insumos para definir as estratégias de tra-
Por fim, vale ressaltar que “é imprescindível o tamento do risco.
envolvimento dos servidores responsáveis pela gestão
do processo de trabalho” e que “poderão ser utilizadas z Resposta aos Riscos (Evitar, Aceitar, Reduzir,
técnicas como Brainstorming, Diagrama de Ishikawa Compartilhar)
(espinha de peixe), Bow-Tie, entrevista com especialis-
tas, análise de cenários” (BRASIL, 2021, p. 21). Essa é a etapa em que, para cada risco identificado
Por fim, observe o que diz a ISO 31000 (ASSOCIA- e avaliado, podem ser elaboradas medidas (respos-
tas ao risco) para mitigação do risco, na forma de um
ÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2009, p. 17):
Plano de Tratamento.
Existem quatro possíveis tipos de respostas quan-
A finalidade desta etapa é gerar uma lista abran-
gente de riscos baseada nestes eventos que possam
to aos riscos, segundo o Guia de Gestão de Riscos do
criar, aumentar, evitar, reduzir, acelerar ou atrasar Ministério da Economia (BRASIL, 2021, p. 24):
a realização dos objetivos. É importante identificar
z Evitar: não iniciar ou parar (descontinuar) a ativi-
os riscos associados com não perseguir uma opor-
dade que origina o risco;
tunidade. A identificação abrangente é crítica, pois
z Aceitar: deixar a atividade como está, não “fazen-
um risco que não é identificado nesta fase não será
do nada”, nem adotando qualquer medida;
incluído em análises posteriores.
z Reduzir: desenvolver ações para mitigar o risco,
por exemplo, remover suas fontes ou reduzir a
z Avaliação de Riscos
probabilidade e/ou o impacto do risco;
z Compartilhar: distribuir parte do risco para
Após analisar a probabilidade da ocorrência do
outros atores (terceiros). Exemplo das seguradoras.
risco e o nível do seu impacto, vem a etapa de avalia-
ção riscos identificados. É possível também estabelecer controles. Alguns
Segundo o documento Guia de Gestão de Riscos exemplos trazidos pelo Guia de Gestão de Riscos do
do Ministério da Economia (BRASIL, 2021, p. 22), essa Ministério da Economia (BRASIL, 2021, p. 25):
etapa de avaliação de riscos “visa promover o enten-
dimento do nível do risco e de sua natureza”. Aqui z Controles preventivos: previnem a materializa-
também é possível estimar qual a sua probabilidade ção do evento de risco. Costumam atuar sobre a
de ocorrência, o seu impacto e a eficácia dos controles causa do evento de risco (exemplo: verificação da
que já existem para mitigar esses riscos. credencial das pessoas antes de entrarem no pré-
84 dio do Ministério);
z Controles corretivos: buscam mitigar falha que reporte sobre os riscos, sobre o progresso do plano
já ocorreu. Atuam sobre a consequência do evento de gestão de riscos e como a política de gestão de
(exemplo: identificação, pela vigilância, das pes- riscos está sendo seguida; e
soas que estão no prédio, mas sem credencial). analise criticamente a eficácia da estrutura da ges-
tão de riscos. (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NOR-
MAS TÉCNICAS, 2009, p. 13)
Quanto à natureza, os controles podem ser:
O monitoramento constante dos eventos de riscos
z Manuais: controle realizado por pessoa (exemplo: identificados contribui para neutralizar ameaças e
conferência de assinatura); possibilita aproveitar as oportunidades.
z Automático: controle processado por um sistema Vale ressaltar que o gerenciamento de riscos cor-
(exemplo: senha de e-mail); porativos de uma organização não é sempre o mesmo.
z Híbrido: controle que mescla atividades automá- As respostas a risco que se mostravam eficazes podem
ticas e manuais. tornar-se obsoletas e acabar não servidos mais aos
seus propósitos. É por essa razão que as atividades de
Quanto à frequência, o controle pode ser anual, controle podem sim perder a eficácia ou deixar de ser
semestral, bimestral, mensal, diário ou outra frequên- executadas e os objetivos podem mudar.
cia adequada ao desenho do controle. Por isso a importância do monitoramento: a admi-
nistração pode verificar se o funcionamento do geren-
z Comunicação ciamento de riscos corporativos permanece eficaz. É
um processo que se retroalimenta (passa por uma
retroalimentação — um feedback — retorno de infor-
A comunicação é a etapa em que as instâncias envol-
mações ao processo).
vidas com Gestão de Riscos interagem. É uma etapa
Além disso, o Guia de Gestão de Riscos do Minis-
contínua, que “abrange a coleta e a disseminação de infor- tério da Economia (BRASIL, 2021, p. 27) afirma que
mações e iniciativas a fim de assegurar a compreensão “a compreensão do papel de primeira linha também é
suficiente a todos os agentes envolvidos dos riscos existen- essencial.”
tes em cada decisão” (BRASIL, 2021, p. 25-26). A primeira linha é formada pelos “gestores dos
Segundo o Guia de Gestão de Riscos do Ministério processos” — “são os proprietários dos riscos e os res-
da Economia (BRASIL, 2021, p. 26), é importante que ponsáveis pela implementação de ações corretivas” — e
as informações tenham: tem como objetivo manter um controle interno eficaz
no cotidiano. Logo, “monitora continuamente seus pro-
Relevância: a informação deve ser útil para o obje- cessos, assegurando que os riscos sejam mantidos nos
tivo do trabalho; níveis aceitáveis (tolerância a risco) e que os controles
Integralidade: as informações importantes e sufi- permaneçam eficazes” (BRASIL, 2021, p. 27).
cientes para a compreensão devem estar presentes; O Guia também afirma que “As atividades de moni-
Adequação: o volume de informação deve ser ade- toramento são originárias das atividades de gestão e
quado e suficiente; podem incluir:”
Concisão: a informação deve ser apresentada de
forma compacta; confrontação de informações oriundas de fontes
Consistência: as informações apresentadas devem diversas;
ser compatíveis; identificação de comportamentos fora do padrão; e
Clareza: a informação deve ser facilmente com- variações cujos percentuais não estejam dentro dos
limites estabelecidos. (BRASIL, 2021, p. 27)

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


preensível; e
Padronização: a informação deve ser apresenta-
da no padrão aceitável. REFERÊNCIAS

Assim, o acesso a informações confiáveis, íntegras ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS.


ABNT NBR ISO 31000: gestão de riscos: princípios
e tempestivas é vital (fundamental) para a eficiência
e diretrizes. Rio de Janeiro: ABNT, 2009.
da gestão e para o alcance dos objetivos.
______. ABNT NBR ISO 31000: gestão de riscos:
diretrizes. Rio de Janeiro: ABNT, 2018.
z Monitoramento BRASIL. Ministério da Ciência, Tecnologia e Inova-
ções. Metodologia de gestão de riscos / Ministério
A ISO 31000 afirma que, “a fim de assegurar que a da Ciência, Tecnologia e Inovações. 1. ed. Brasília:
gestão de riscos seja eficaz e continua a apoiar o desem- Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, 2022.
penho organizacional, convém que a organização:” ______. Ministério da Economia. Guia de Gestão
de Riscos do Ministério da Economia. Comitê de
meça o desempenho da gestão de riscos utilizando Gestão de Riscos, Transparência, Controle e Inte-
indicadores, os quais devem ser analisados criti- gridade do Ministério da Economia — CRTCI, 2021.
camente, de forma periódica, para garantir sua ______. Ministério da Economia. Comitê de Gestão
adequação; de Riscos, Transparência, Controle e Integridade
meça periodicamente o progresso obtido, ou o des- — CRTCI. Resolução nº 3, de 27 de junho de 2019.
vio, em relação ao plano de gestão de riscos; Dispõe sobre o primeiro levantamento de Riscos à
analise criticamente de forma periódica se a políti- Integridade no âmbito do Ministério da Economia,
ca, o plano e a estrutura da gestão de riscos ainda e sobre os Agentes de Integridade. 2019.
são apropriados, dado o contexto externo e interno KOTLER, P.; KELLER, K. L. Administração de Mar-
das organizações; keting. Tradução de Sônia Midori Yamamoto. 14.
ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2012. 85
z Dimensão externa: serviços públicos prestados e
INOVAÇÃO NA GESTÃO PÚBLICA ofertados pela internet. Logo, a internet vem a ser
um dos instrumentos para essa modernização.
Bergue (2010, p. 18) define a gestão de pessoas no
setor público como um “[...] esforço orientado para o LINHAS DE AÇÃO
suprimento, a manutenção e o desenvolvimento de pes-
soas nas organizações públicas, em conformidade com Segundo Lenk & Traunmüllerv (2001), são 4 (qua-
os ditames constitucionais e legais, observadas as neces- tro) as linhas de atuação do Governo Eletrônico26:
sidades e condições do ambiente em que se inserem”.
Os fatores principais e algumas tendências podem
z Voltadas ao cidadão: oferecem informações e
ser destacadas para a GP no setor público: inovação,
gestão da diversidade, QVT, visão sistêmica, gestão serviços aos cidadãos em geral, com qualidade e
participativa, valorização das pessoas, gestão do agilidade. Propiciam, também, um canal para a
conhecimento e foco em resultados (MARQUES, 2015). participação dos cidadãos nas decisões públicas;
z Voltadas à eficiência interna: relativas ao fun-
INOVAÇÃO cionamento interno dos órgãos de governo, com
destaque para sua utilização nos processos de lici-
Marques (2015) aponta que no serviço público, tações e contratações em geral;
cada vez mais vem sendo adotadas práticas inovado- z Voltadas à cooperação: tem finalidade de inte-
ras de gestão. Esse tipo de prática indica que os ser- grar os diversos órgãos governamentais, assim
viços públicos são produzidos com qualidade, com o como promover a integração com outras organiza-
menor custo possível e geram satisfação para a socie- ções públicas, púbicas não estatais e privadas;
dade. Essa preocupação com a inovação dos processos z Voltadas à gestão do conhecimento: visam
é resultado da possibilidade de acesso à informação gerar e manter um banco de dados atualizado dos
nos dias de hoje, o que contribui para que os cidadãos conhecimentos do Governo, para servir como fon-
saibam sobre seus direitos.
te de informação e inovação a gerar melhorias nos
No serviço público, a inovação é fundamental para
processos em geral;
manter as atividades públicas funcionando de acor-
do com as necessidades dos cidadãos. Como vivemos
em um ambiente instável e em constante mudança, as DIRETRIZES DO GOVERNO ELETRÔNICO
necessidades e desejos da população também são alte-
rados com frequência, demandando uma atualização No Brasil, o Comitê Executivo do Governo Eletrô-
constante do Estado. A importância da inovação, por- nico instituiu diretrizes gerais para alinhar o Comitê
tanto, pode ser considerada fundamental para que o Executivo do Governo Eletrônico, com as seguintes
Estado sobreviva frente às mudanças externas (MAR- orientações, que estão publicadas no portal do Gover-
QUES, 2015). no Digital:

z A prioridade do governo eletrônico é a promo-


ção da cidadania: a nova diretriz reformula a
GOVERNO ELETRÔNICO visão que vinha sendo adotada e que apresenta-
va o cidadão usuário como “cliente” dos serviços
CONCEITO públicos para incorporar a promoção da participa-
ção e do controle social, além da indissociabilida-
Governo eletrônico relaciona-se ao uso das Tecnolo- de entre a prestação de serviços e sua afirmação
gias da Informação e Comunicação (TICs) na adminis- como direito dos indivíduos e da sociedade;
tração pública, somado com alterações organizacionais z A inclusão digital é indissociável do governo
e práticas inovadoras, a fim de melhorar os serviços eletrônico: a inclusão digital deve ser tratada
públicos, os processos democráticos e fortalecer o como um elemento constituinte da política de
suporte às políticas públicas. Envolve, também, a for- governo eletrônico para que esta possa configurar-
ma como o Estado se utiliza do uso da internet para dar -se como uma política universal. Nesse contexto, a
publicidade e transparência de sua atividade. inclusão digital é entendida como direito de cida-
O uso das TICs garante agilidade na troca de infor- dania e, portanto, objeto de políticas públicas para
mações entre bases eletrônicas e na busca de acesso a sua promoção;27
pelo cidadão às informações de seu interesse, amplian- z O software livre é um recurso estratégico para
do a possibilidade de participação popular (cidadania). a implementação do governo eletrônico: devem-
A doutrina apresenta 2 dimensões do governo -se priorizar soluções, programas e serviços basea-
eletrônico: dos em software livre que promovam a otimização
de recursos e investimentos em tecnologia da
z Dimensão interna: os TICs modernizam a admi- informação, além de garantir ao cidadão o direito
nistração pública e melhoram a eficiência da de acesso aos serviços público sem obrigá-lo ao uso
administração pública; de plataformas específicas28;

26 LENK, K.; TRAUNMULLER, R. “Broadening the Concept of Electronic Government”, In: PRINS, J. E. J. (Ed.). Designing E-Government.
[S. l.]: Kluwer Law International, 2001, p. 63-74.
27 LOPES, Francisco Cristiano. Princípios e diretrizes gerais de implantação e operabilidade do governo eletrônico no Brasil.
Disponível em: <https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-87/principios-e-diretrizes-gerais-de-implantacao-e-operabilidade-do-go-
verno-eletronico-no-brasil/.> Acesso em: 16 mar. 2022.
28 LOPES, Francisco Cristiano. Princípios e diretrizes gerais de implantação e operabilidade do governo eletrônico no Brasil.
Disponível em: <https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-87/principios-e-diretrizes-gerais-de-implantacao-e-operabilidade-do-go-
86 verno-eletronico-no-brasil/>. Acesso em: 16 mar. 2022.
z A gestão do conhecimento é um instrumento Dica
estratégico de articulação e gestão das políticas
públicas do governo eletrônico: conjunto de pro- Trata-se de uma Lei consideravelmente nova,
cessos sistematizados, articulados e intencionais, por isso, atente-se a ela.
capazes de assegurar a habilidade de criar, coletar,
organizar, transferir e compartilhar conhecimen- A Lei de Governo Digital, entrou em vigor em agos-
tos estratégicos que podem servir para a tomada to de 2021, entre seus princípios e diretrizes podemos
de decisões, para a gestão de políticas públicas e destacar:
para inclusão do cidadão como produtor de conhe-
cimento coletivo;29 � a desburocratização, a modernização, o forta-
z O governo eletrônico deve racionalizar o uso lecimento e a simplificação da relação do poder
de recursos: a implementação das políticas de público com a sociedade, mediante serviços digi-
promoção do governo eletrônico não deve signi- tais, acessíveis;
ficar aumento dos dispêndios do Governo Fede- � a disponibilização em plataforma única do
ral na prestação de serviços e em tecnologia da acesso às informações e aos serviços públicos;
informação; � a interoperabilidade de sistemas e a promoção
z O governo eletrônico deve contar com um arca- de dados abertos;
bouço integrado de políticas, sistemas, padrões � o incentivo à participação social no controle
e normas: o sucesso da política de governo eletrô- da administração;
nico depende da definição e publicação de políti- � a eliminação de exigências e formalidades;
cas, padrões, normas e métodos para sustentar as � o apoio técnico aos entes federados para
ações de implantação e operação do governo ele- implantação e adoção de estratégias que visem à
trônico que contemplem uma série de fatores críti- transformação digital da administração pública.
cos para o sucesso das ações; (BRASIL, 2021).
z Integração das ações de governo eletrônico com
outros níveis de governo e outros poderes: a Esta lei define, também, os direitos dos usuários
implantação do governo eletrônico não pode ser da prestação digital de serviços públicos e cita os ins-
vista como um conjunto de ações de diferentes trumentos necessários para as plataformas de governo
atores governamentais que podem manter-se iso- digital de uso de cada ente federativo. (BRASIL, 2021).
ladas entre si. Por sua própria natureza, o governo A Lei de Governo Digital determina que,
eletrônico não pode prescindir da integração de
ações e de informações. [...] a administração pública participará, de manei-
ra integrada e cooperativa, da consolidação da
Estratégia Nacional de Governo Digital, editada
pelo Poder Executivo federal, que observará os
princípios e as diretrizes desta Lei. (BRASIL, 2021).
GOVERNANÇA ELETRÔNICA (E-GOVERNANCE)
Importante destacar que até o fim de 2022, o Bra-
A Organização das Nações Unidas para a Educa-
sil pretende oferecer digitalmente 100% dos mais de
ção, a Ciência e a Cultura (UNESCO) defendem que:
3 mil serviços da União, todos disponíveis no portal
gov.br. Com isso, o Brasil estará entre os 15 países
[...] a governança eletrônica pode ser entendida
mais desenvolvidos do mundo em serviços públicos
como o desempenho dessa governança por meio
eletrônico, a fim de facilitar um processo eficiente, digitais, o que é medido a cada dois anos pela ONU

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


rápido e transparente de disseminar informações como parte do Índice de Desenvolvimento de Governo
ao público e a outras agências e para executar ati- Eletrônico.
vidades de administração governamental. (UNES-
CO, 2011) MAPEAMENTO DA ONU — GOVERNO ELETRÔNICO

A governança eletrônica, então, é um conceito A Organização das Nações Unidas possui uma pla-
mais amplo que o governo eletrônico, pois provoca taforma para aferir o processo de modernização dos
uma mudança no relacionamento do cidadão com países. Veja o que consta em sua literalidade:
os governos e entre si. A governança eletrônica pode
transformar os conceitos de cidadania. Seu objetivo é O Banco de Dados foi criado pela Divisão de Institui-
envolver, capacitar e emponderar o cidadão. ções Públicas e Governo Digital (DPIDG) do Departa-
Portanto, Governança Eletrônica é um elemento- mento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações
-chave para a existência de um governo eletrônico, Unidas (UNDESA) para fornecer aos governos e a
pois, sem aquela, o que existe é apenas a informatiza- todos os membros da sociedade civil acesso fácil a
essas informações valiosas para pesquisa, educação
ção de alguns serviços públicos (o que poderia ser con-
e planejamento propósitos. [...] A Pesquisa de Gover-
siderado uma “versão restrita” de Governo Eletrônico).
no Eletrônico das Nações Unidas apresenta uma
avaliação sistemática do uso e do potencial das tec-
LEI DO GOVERNO DIGITAL nologias de informação e comunicação para trans-
formar o setor público, aumentando a eficiência,
Está disposta na Lei Federal n° 14.129, de 29 de eficácia, transparência, prestação de contas, acesso
março de 2021. Esta lei dispõe acerca dos princípios, a serviços públicos e participação cidadã nos 193
regras e instrumentos para o Governo Digital e para o Estados Membros da Nações Unidas e em todos os
aumento da eficiência pública (BRASIL, 2021). níveis de desenvolvimento. (UN, 2022).

29 Ibid. 87
Em 2020, última data de publicação, o Brasil figu- A pressão, neste modelo, é o que conhecemos por
rou na 54ª colocação. incentivo ou motivação; é a variável que leva o indi-
víduo a praticar o ato criminoso. Normalmente, trata-
REFERÊNCIAS -se de algum problema financeiro do agente público,
que na incapacidade de resolver por meios legítimos,
BRASIL. Do eletrônico ao digital. 2021. Disponí- resolve cometer uma ilegalidade.
vel em: <https://www.gov.br/governodigital/pt-br/ Os principais exemplos desta variável são o vício
estrategia-de-governanca-digital/do-eletronico-ao- em jogo, vício em drogas, problemas de saúde na
-digital.>. Acesso em: 14 mar. 2022. família, dificuldade de pagar suas dívidas pessoais e o
BRASIL. Lei do Governo Digital. 2021. Disponí- desejo por um padrão de vida superior.
vel em: <https://www.gov.br/governodigital/pt-br/ A oportunidade, como o próprio nome nos ensi-
legislacao/lei-do-governo-digital>. Acesso em: 14 na, é a possibilidade de o indivíduo explorar uma
mar. 2022. determinada situação na qual viabiliza tirar proveito
BRASIL. Lei federal n° 14.129, de 29 de março para ganhos próprios. Dessa maneira, a oportunidade
de 2021. Disponível em: <http://www.planalto.gov. definirá o método com que a corrupção será cometida
br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/lei/l14129.htm>. e demonstra uma fraqueza do sistema.
Acesso em: 15 mar. 2022. A oportunidade é criada por falhas nos sistemas
DINIZ, E. H; et al. O governo eletrônico no Bra- de controle e governança, possibilitando o indivíduo
sil: perspectiva histórica a partir de um modelo a perceber que dificilmente será pego.
estruturado de análise. Revista de Administração
Pública. Rio de Janeiro: 43(1):23-48, Jan./Fev. 2009. Dica!
LENK, K.; TRAUNMULLER, R. “Broadening the Con-
cept of Electronic Government”, In: PRINS, J. E. J. Mesmo que a motivação (incentivo) seja extre-
(Ed.). Designing E-Government. [S. l.]: Kluwer ma, a corrupção não ocorre se a oportunidade
Law International, 2001, p. 63-74. não aparecer.
PALUDO, Augustinho Vicente. Administração
Pública, 8ª edição. Rio de Janeiro, Editora Método: A racionalização é a suposta justificativa moral-
2019. p. 219. mente aceita pelo indivíduo para tolerar a conduta e
UN. UN e-government knowledgebase. Disponí- comportamento antiético; em outras palavras, é ten-
vel em: <https://publicadministration.un.org/ego- tar justificar o injustificável.
vkb/en-us/>. 2022. Acesso em: 14 mar. 2022. É comum entre os transgressores a ideia de estar
UNESCO. E-Governance. 2011. Disponível em: fazendo a coisa errada para ajudar alguma situação
<http://portal.unesco.org/ci/en/ev.php-URL_ extrema, por exemplo, “estou desviando o dinheiro
ID=3038&URL_DO=DO_TOPIC&URL_SECTION=201. para ajudar minha família”, ou “eu não recebo o salá-
html>. Acesso em: 14 mar. 2022. rio que mereço”.

Op
TRANSPARÊNCIA DA ADMINISTRAÇÃO or
o

PÚBLICA Triângulo
tu
es

nid
de fraude
Pr

ad
FATORES QUE INFLUENCIAM A INCIDÊNCIA DE
e

CORRUPÇÃO E FATORES QUE PROMOVEM A


QUALIDADE DAS POLÍTICAS PÚBLICAS

A corrupção é um fenômeno de fácil identificação Racionalização


e imediata repulsa na sociedade. Sabemos que a cor-
rupção enfraquece de forma sistêmica a democracia, Para facilitar o entendimento, vamos analisar os
a justiça e a igualdade social. fatores em um caso prático:
De forma didática, entende-se como corrupção João, policial rodoviário federal, exerce suas fun-
toda ação que busca vantagens privadas em detri- ções de forma exemplar fiscalizando os caminhões
mento do interesse público. Em outras palavras, é um em uma rodovia federal. Em seus dias de folga, João
tipo de abuso do poder público para vantagens pes- gosta de jogar Poker em um clube clandestino fre-
soais, violando as regras. quentada por pessoas “duvidosas”. No último mês, o
E quais são os motivos (fatores) que influenciam a vício da jogatina saiu de seu controle e acabou per-
incidência de corrupção? dendo 20 mil reais em um único dia. Como não tinha
De acordo com a literatura especializada, a corrup- dinheiro para pagar, pegou emprestado com um agio-
ção não pode ser explicada levando em conta somente ta, prometendo o pagamento na próxima semana. No
uma variável, devido a sua complexidade. É um fenô- dia seguinte, ao fiscalizar um caminhão, descobriu
meno multicausal, ou seja, é a união de diversos fato- que a carga continha uns 30 quilos de pasta base de
res (variáveis) que possibilitam este delito. cocaína. Ao dar voz de prisão ao motorista, recebeu
Um dos principais estudos que explicam os fato- uma proposta de propina no valor de 40 mil, em con-
res da corrupção ficou conhecido como triângulo da trapartida liberava a carga. João hesitou em aceitar,
fraude, realizado por Cressey. Este estudo nos ensina mas após pensar que poderia resolver seu problema
que para ocorrer a corrupção (fraude) é necessário pessoal e que seria somente aquela única vez, pegou o
a existência de três fatores: pressão, oportunidade e dinheiro e liberou o motorista.
88 racionalização.
Analisando conforme o triângulo da fraude, temos: z Posterior: avaliação dos resultados por meio de
relatórios.
z Pressão (motivação): João precisava pagar suas
dívidas com o agiota, sob risco de sofrer ameaças O controle social é materializado por meio de
mais sérias; espaços previstos na Lei, como por exemplo, Conse-
z Oportunidade: João estava na fiscalização sozi- lhos Gestores, ou por meio de organizações informais,
nho e percebeu que ao aceitar a propina, ninguém como um grupo de moradores interessados em deter-
ficaria sabendo; minado projeto do Estado.
z Racionalização: João justificou (para si mesmo)
que sua transgressão seria somente daquela vez, CONTROLE SOCIAL — RESPONSABILIDADE DO
por estar precisando muito do dinheiro e que essa PODER PÚBLICO
conduta não iria se repetir.
Audiência Pública
ACCOUNTABILITY A Audiência Pública visa a participação do cida-
dão, de forma prévia, nas decisões da Administração.
A corrupção é um mal para toda sociedade; corrói Possui sua previsão na Constituição Federal de 1988
todo um sistema de proteção social, inviabilizando, e é complementada pela legislação local de cada ente
assim, o desenvolvimento de políticas públicas. da Federação (Estados, Distrito Federal e Municípios).
Portanto, para minimizar e combater a corrupção,
Considerando que se trata de controle social pré-
é de suma importância criar fatores que promovem a
vio, os Poderes (Executivo, Legislativo, Judiciário ou
qualidade das políticas públicas, tais como a transpa-
o Ministério Público) apresentam a pauta de debate
rência e accountability.
Em uma sociedade onde a regra é a transparência, para a população, a fim de transformar as manifes-
sua exceção é o sigilo. Logo, permite maior engaja- tações e propostas em políticas públicas ou projetos
mento e controle sociais e, assim, possibilita visualizar de lei, assim como autorizar ou não a construção de
o problema da corrupção para mitigá-lo e aperfeiçoar empreendimento com impactos locais (ex.: uma mine-
as ações governamentais. radora na margem do rio do município) na saúde e
Já a accountability é o termo no idioma inglês que bem-estar da comunidade (BRASIL, 2015a, p. 9).
entrou em pauta na administração pública a partir A audiência pública também é local para discussão
dos anos 80, na necessidade de aumentar a responsa- dos resultados (e não somente de projetos) das políticas
bilização dos governantes perante os cidadãos. Desse públicas instituídas pela Administração, os efeitos das
modo, o termo é inerente a preocupação da utilização Leis vigentes (como ocorreu no caso da Lei Maria da
dos recursos públicos voltados para a prestação de Penha, Lei n° 11.340, de 2006 — MATO GROSSO, 2006).
contas, fortalecendo o controle e a transparência das
ações governamentais.
Importante!
Dica! Para prova, lembre-se que a Audiência Pública é
Em uma livre tradução, accountability seria simi- uma consulta da Administração Pública, a fim de
lar a responsabilização. Accountability ocorre colher as demandas da sociedade sobre deter-
por meio da transparência. minado tema. Lembre-se também que o cidadão
tem voz ativa na condução das conversas rela-
De maneira clara e didática, podemos conceituar cionadas a pauta definida pelo Gestor.

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


accountability como a obrigação da prestação de con-
tas do gestor, de forma transparente, a todos os inte-
ressados das organizações da administração pública, Importante destacar quais são as principais
tanto do ponto de vista da legalidade (conformidade) audiências públicas previstas na Constituição e nas
quanto do desempenho (gestão). Leis Infraconstitucionais (como Leis Complementa-
res, Leis Ordinárias etc.). A Escola Nacional de Admi-
nistração Pública (ENAP) elenca quais são (BRASIL,
2015a, p. 9-11):
CONTROLE SOCIAL E CIDADANIA
z Poder Executivo: durante o planejamento munici-
CONCEITO pal (orçamento participativo, prestação de contas,
elaboração de Plano Diretor), “na gestão da seguri-
Controle social é a posição ativa dos cidadãos na fis- dade social, na gestão da saúde pública, na formula-
calização e acompanhamento dos atos da Administração ção de políticas e controle das ações na assistência
Pública, ou seja, da aplicação dos recursos e na execução social, e na defesa e preservação do meio ambiente”
das políticas públicas. Pode ocorrer também a atuação (BRASIL, 2015a, p. 9);
da sociedade na formulação de políticas públicas. z Poder Legislativo: por meio das comissões temáti-
Há 3 (três) momentos para o controle social (BRA-
cas do Legislativo Local (Senado Federal, Câmara
SIL, 2015a, p. 6):
de Deputados, Assembleia Legislativa Estadual ou
z Prévio: participação em audiências públicas e dis- Câmaras de Vereadores) para aprovar uma pro-
cussões sobre planejamento de projetos; posta de Lei (BRASIL, 2015a, p. 9). Por exemplo:
z Concomitante: acompanhamento, fiscalização e A Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo
denúncia durante a execução dos gastos da Admi- convoca a população para participar da elabora-
nistração Pública; ção do orçamento (SÃO PAULO, 2022); 89
z No processo de licitação, antes da disponibilização Conselhos Gestores de Políticas Públicas
do Edital, caso o valor do empenho financeiro da
Administração seja estimado em valor superior a A Constituição Federal prevê a participação do cida-
100 vezes o limite previsto pela mesma lei (art. 39 dão na formulação, implementação e controle social
da Lei n° 8.666, de 1993): das políticas públicas. Dentre essas participações, os
arts. 198, 204 e 206, estabelecem a criação de determi-
Art. 39 Sempre que o valor estimado para uma lici- nados Conselhos nas áreas da Saúde, Assistência Social
tação ou para um conjunto de licitações simultâ- e Educação, em nível Nacional, Estadual e Municipal.
neas ou sucessivas for superior a 100 (cem) vezes o O Conselho é um instrumento de controle concomi-
limite previsto no art. 23, inciso I, alínea “c” desta tante, pois atua na linha de frente da execução dos atos
Lei, o processo licitatório será iniciado, obrigatoria- governamentais. A sua composição democrática — com
mente, com uma audiência pública concedida pela
participação de membros da Administração Pública e da
autoridade responsável com antecedência mínima
Sociedade Civil Organizada — interfere no processo deci-
de 15 (quinze) dias úteis da data prevista para a
publicação do edital [...]
sório do Gestor no implemento das políticas públicas.
Os conselhos são classificados de acordo com as
funções que exercem. A ENAP cita 4 tipos de funções:
z Quando há pedido de licenciamento ambiental
de alguma atividade que tenha potencial risco de
provocar impacto ao meio ambiente (seja natural, � Mobilizadora: estímulo à participação popular
na gestão pública e às contribuições para a formu-
como social), como, por exemplo, “para a cons-
lação e disseminação de estratégias de informação
trução de hidrelétricas ou presídios”, quando o
para a sociedade sobre as políticas públicas.
órgão ambiental julgar essencial. Como por exem-
� Fiscalizadora: pressupõe o acompanhamento e o
plo: ICMBIO ou Iphan (Resolução nº 009/1987 do
controle dos atos praticados pelos governantes. Esse
CONAMA — Conselho Nacional do Meio Ambien- é um dos temas principais do nosso curso, especial-
te), (BRASIL, 2015a, p. 10); mente na parte prática, em que atuais e potenciais
z Antes de decidir processo administrativo relevan- conselheiros poderão exercitar ações de controle,
te (art. 32 da Lei Federal n° 9.784, de 1999): que depois podem ser continuadas e disseminadas.
� Deliberativa: refere-se à prerrogativa dos conse-
Art. 32 Antes da tomada de decisão, a juízo da lhos de decidir sobre as estratégias que serão utili-
autoridade, diante da relevância da questão, pode- zadas nas políticas públicas de sua área, bem como
rá ser realizada audiência pública para debates de avaliar e deliberar sobre a execução das ações
sobre a matéria do processo. de governo e as prestações de contas periódicas.
� Consultiva: relaciona-se à emissão de opiniões
Conferência de Política Pública e sugestões sobre assuntos que lhes são correlatos.
(BRASIL, 2015a, p. 12)
A Conferência de Política Pública busca eleger as
prioridades para o Gestor nos próximos anos da sua A composição dos Conselhos observa um número
administração, com auxílio da sociedade civil. par de membros, sendo que, para cada conselheiro
Em nível Federal, o Brasil possui o portal “Participa + representante do Estado, haverá um representante
Brasil”, no qual há uma agenda de conferências nacionais. da sociedade civil. Por exemplo: se um Conselho, no
Em relação a sua realização, ela Estado de São Paulo tiver 20 membros, 10 serão repre-
sentantes do Estado e os outros 10 da sociedade civil.
[...] é definida pelo conselho nacional de cada políti-
ca pública (geralmente bianual), o que não impede Dica
que os conselhos estaduais e municipais realizem,
também, conferências em outros momentos” (BRA- Exceção importante!
SIL, 2015a, p. 11). Conselho da Saúde ou Segurança Alimentar é divi-
do em 25% representantes de entidades governa-
Para que seja alcançado o seu objetivo, é necessá- mentais, 25% representantes de entidades não
rio que os segmentos influenciados pelo assunto, com governamentais e 50% usuários dos serviços de
representantes de diferentes entidades e regiões do saúde do SUS (BRASIL, 2015a, p. 13).
Brasil, estejam presentes na conferência e participem
de seu processo. O documento final, com a compilação Após o Conselho ser formalizado, cabe ao Chefe do
dos debates realizados integrará o conjunto de metas e Poder Executivo (Presidente, Governador ou Prefeito)
as prioridades ali estabelecidas (BRASIL, 2015a, p. 11). nomear os Conselheiros, segundo as regras definidas
A convocação para as conferências ocorre por ato na Lei aplicável.
do Poder Executivo, por meio de Decreto ou por Por-
taria da Secretaria ou Ministério competente. Como Ouvidoria
exemplo, citamos o Decreto Federal n° 10.757, de 29 de
julho de 2021, que convoca a 5ª Conferência Nacional A Ouvidoria é o canal de manifestação do cidadão
dos Direitos da Pessoa Idosa (BRASIL, 2021). A mesma que está em busca de uma resposta da Administração.
lógica se estende para os demais entes da federação: É o espaço que garante o direito de todo cidadão de
Estados, Distrito Federal e Municípios. se manifestar e de receber resposta do Estado. Possi-
A responsabilidade pela regulamentação e finan- bilita também, o exercício do direito de propor ações
ciamento da sua conferência é de cada ente federativo. de participação coletiva, garante o processo de trans-
A Conferência representa uma resposta da Admi- parência das informações (não sigilosas), bem como
nistração pública à alguma reivindicação da socieda- atua como instrumento de recebimento dos elogios,
de civil, incluindo tais manifestações nas agendas de críticas, denúncias ou propostas relacionadas à atua-
90 políticas públicas. ção da Administração Pública.
O funcionamento da ouvidoria nas repartições Portal da Transparência
públicas, independentemente do órgão em questão,
indica o comprometimento do Estado no incentivo à É regulada pela Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei
gestão democrática, pois é o canal direto entre o usuá- Complementar n° 101, de 2000), no seu art. 48, que a
rio do serviço público (conceito amplo) e a Adminis- transparência será assegurada mediante a
tração no exercício da cidadania.
[...] liberação ao pleno conhecimento e acompanha-
mento da sociedade, em tempo real, de informações
Lei de Acesso à Informação
pormenorizadas sobre a execução orçamentária e
financeira, em meios eletrônicos de acesso público”
A Lei de Acesso à Informação (Lei n° 12.527/2011) (BRASIL, 2000).
materializa o direito constitucional de acesso à infor-
mação, previsto no inciso XXXIII, art. 5º, da CF, de O tema se confunde com a LAI, pois ela também
1988: prevê que as informações relacionadas à gestão finan-
ceira e orçamentária devem estar disponíveis. O § 1º
Art. 5º [...] do art. 8º, da Lei n° 12.527, de 2011, prevê que devem
XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos estar disponíveis as seguintes informações:
públicos informações de seu interesse particular,
ou de interesse coletivo ou geral, que serão presta- Art. 8º […]
das no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, § 1º Na divulgação das informações a que se refere
ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível o caput, deverão constar, no mínimo:
à segurança da sociedade e do Estado. I - registro das competências e estrutura organiza-
cional, endereços e telefones das respectivas unida-
A LAI, como é conhecida a Lei de Acesso à Informa- des e horários de atendimento ao público;
II - registros de quaisquer repasses ou transferên-
ção, regula a prestação das informações requeridas
cias de recursos financeiros;
pelo cidadão e prevê que todos os Entes da Federação, III - registros das despesas;
assim como seus Poderes e Órgãos estão obrigados a IV - informações concernentes a procedimentos
observar os seus preceitos. licitatórios, inclusive os respectivos editais e resul-
Importante destacar que a LAI é uma Lei Federal e, tados, bem como a todos os contratos celebrados;
para atender as características dos Estados e Municí- V - dados gerais para o acompanhamento de pro-
pios, cada um deve regulamentar o acesso à informa- gramas, ações, projetos e obras de órgãos e enti-
dades; e
ção de forma local.
VI - respostas a perguntas mais frequentes da
A LAI dá ênfase ao que é assegurado no acesso à
sociedade.
informação. Observe o art. 9º da Lei n° 12.527, de 2011:
O objetivo primordial é aumentar a transparência
Art. 9º O acesso a informações públicas será asse- da gestão pública, de modo que os cidadãos acompa-
gurado mediante: nhem a utilização de recursos públicos, e por conse-
I - criação de serviço de informações ao cidadão, guinte, ajudem a realizar a fiscalização.
nos órgãos e entidades do poder público, em local Desde 28 de maio de 2013, os municípios, inclusive
com condições apropriadas para: os de pequeno e médio porte disponibilizam, em meio
a) atender e orientar o público quanto ao acesso a eletrônico e em tempo real, suas informações (BRASIL,
informações; 2015a, p. 20).

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


b) informar sobre a tramitação de documentos nas
suas respectivas unidades; CONTROLE SOCIAL DE INICIATIVA DA SOCIEDADE
c) protocolizar documentos e requerimentos de
acesso a informações; e Para melhor compreender, dividiremos primeiro
II - realização de audiências ou consultas públicas, os atores e depois as espécies de controle.
incentivo à participação popular ou a outras for-
mas de divulgação (BRASIL, 2011). Os Atores do Controle Social

Atenção: Grave os itens do art. 9º, da LAI, pois é z Cidadão: Ações Individuais
possível que sejam cobrados em sua prova!
O cidadão tem o poder de realizar o acompanha-
Em suma: mento da gestão pública de forma individual, espe-
cialmente em razão dos controles disponibilizados
[...] a LAI “garante ao cidadão o direito de obter pelo Ente, como Portal da Transparência, Ouvidoria,
informações - exceto informações sigilosas - de Audiência Pública etc.
qualquer órgão da administração direta dos Pode-
res Executivo, Legislativo, incluindo as Cortes de z A Sociedade: Manifestações Coletivas
Contas, e Judiciário e do Ministério Público, das
autarquias, das fundações públicas, das empre- Ocorre pelo agrupamento de pessoas com o mesmo
sas públicas, das sociedades de economia mista e interesse a fim de aumentar a probabilidade de serem
demais entidades controladas direta ou indireta- ouvidas pelas autoridades com relação a determina-
mente pela União, estados, Distrito Federal e muni- do tema. Tal direito é salvaguardado na Constituição
cípios. (BRASIL, 2015a, p. 18) Federal (inciso XVI, artigo 5º) como direito de reunião,
para fins pacíficos, em locais abertos. Com base nela
as manifestações coletivas não podem ser proibidas. 91
As redes sociais e os portais de abaixo-assinado são Assim como nas redes sociais, quando uma notícia
espaços onde o cidadão pode, em associação a outros é publicada sobre um recurso público que não foi cor-
com opiniões similares, ganhar voz para ser ouvido retamente aplicado, todo um arranjo é formado com
pelas autoridades. a finalidade de fiscalizar aquela demanda e oportuni-
zar que o agente envolvido possa, igualmente, ter voz
ativa na sua defesa.
Importante! A Escola Nacional de Administração Pública
(ENAP) destaca que as notícias que
É necessário ressaltar que a influência das mani-
festações coletivas vem ganhando força no meio
[...] revelam situações que influenciam mais a vida
digital, em plataformas como o Twitter, com alta dos cidadãos são as que acabam chamando mais
capilaridade de usuários. a atenção de todos. E as notícias de problemas na
gestão dos recursos públicos fazem parte desse
grupo. [...] (BRASIL, 2015b).
z Grupos Sociais Organizados
Ou seja, a partir do acesso a tal denúncia pela
Mais uma vez, a Constituição garante a atividade
imprensa, é desejável que vire notícia e que passe a
de reunião, porém, agora, de forma organizada, com
ser de conhecimento de popular, transformando a
a plena liberdade de associação (inciso XVII, artigo 5º,
opinião pública com relação às pessoas envolvidas
da CF/1988).
ou forma de gerir o problema identificado. É o instru-
A organização popular em grupos ocorre em razão
mento de cobrança por modificações.
de interesses comuns, que se transformam em deman-
das coletivas. Portanto, a atuação desse grupo sinérgi-
REFERÊNCIAS
co se organiza em prol de tais objetivos ou agendas
para chamar atenção e mobilizar mais pessoas em
torno delas (BRASIL, 2015b, p. 11). BRASIL. Constituição da República Federativa
do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui-
Instrumentos de Controle Utilizados pela Sociedade
Civil caocompilado.htm>. Acesso em: 15 mar. 2022.
BRASIL. Decreto n. 10.757, de 29 de julho de 2021.
z Redes sociais Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/>.
Acesso em: 15 mar. 2022.
BRASIL. Escola Nacional de Administração
As redes sociais digitais, além de fomentar o enga-
jamento no relacionamento entre os seus usuários, é Pública. Controle Social e Cidadania I, 2015. Dis-
um canal para ampliação do entendimento e partici- ponível em: <https://repositorio.enap.gov.br/
pação do cidadão da gestão da máquina pública. Tra- bitstream/1/2719/4/MODULO%203_CONTROLE_
ta-se de uma ferramenta de grande importância para SOCIAL.pdf>. Acesso em: 14 mar. 2022.
a integração do cidadão com o Estado. BRASIL. Escola Nacional de Administração
A facilidade no seu uso a diferencia dos demais Pública. Controle Social e Cidadania I, 2015a.
meios institucionais, pois as redes sociais são marca- Disponível em: <https://repositorio.enap.gov.br/
das pela informalidade, já que o texto é redigido no bitstream/1/2719/4/MODULO%203_CONTROLE_
momento que o cidadão precisa e também contém um SOCIAL.pdf>. Acesso em: 14 mar. 2022.
alcance maior. BRASIL. Escola Nacional de Administração
A partir da postagem, as impressões populares Pública. Controle Social e Cidadania II, 2015b. Dis-
começam, o que pode fazer com que a questão seja ponível em: <https://repositorio.enap.gov.br/hand-
monitorada pelo agente público. É possível, por exem- le/1/2718>. Acesso em: 14 mar. 2022.
plo, que a postagem viralize e a atuação do gestor seja BRASIL. Fala.BR - Plataforma Integrada de Ouvi-
imediata a fim de conter os efeitos negativos. doria e Acesso à Informação. Disponível em: <
As redes sociais possibilitam o empoderamento social https://falabr.cgu.gov.b>. Acesso em: 14 mar. 2022.
e o engajamento popular. Ela pode ser utilizada por meio BRASIL. Lei Complementar n° 101, de 4 de maio
de uma página particular, assim como pode ser utilizada de 2000. Disponível em: < http://www.planalto.gov.
pela própria Administração, em página institucional, na br/ccivil_03/leis/lcp/lcp101.htm >. Acesso em: 15
qual o cidadão pode interagir de forma direta. mar. 2022.
Trata-se da possibilidade de retirar do mundo off- BRASIL. Lei n° 9.784 , de 29 de janeiro de 1999.
-line a demanda popular e trazê-la para o mundo on-li- Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/cci-
ne, com exposição geral. Esse é o principal elemento: vil_03/leis/l9784.htm>. Acesso em: 15 mar. 2022.
postagens de interesse geral terão a chance de receber BRASIL. Lei n° 12.527, de 18 de novembro de
maior engajamento de pessoas com interesses simila- 2011. Disponível em: <http://www.planalto.gov.
res ou simpatizantes com a causa, sem a necessida- br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12527.htm>.
de de métodos comuns, como a panfletagem, sites de Acesso em: 15 mar. 2022.
eventos, sites de reclamações etc. MARANHAO, A.C.T.T. Conferências de Políticas
Públicas. 2020. Disponível em: <https://polis.org.
z Imprensa br/publicacoes/conferencias-de-politicas-publi-
cas/>. Acesso em: 14 mar. 2022.
A imprensa é peça fundamental para o fortaleci- MATO GROSSO. Lei Maria da Penha é debatida
mento da democracia, haja vista ser o principal meio em audiência pública. Disponível em: < http://
de informação da população, bem como o local de www.controladoria.mt.gov.br/noticias>. Acesso
92 manifestação e formação de opinião. em: 14 mar. 2022.
SÃO PAULO. Audiências Públicas debaterão, e a efetividade das políticas públicas. A gestão
com a participação da população paulista, o pública, para tanto, envolve um conjunto de prin-
Orçamento Estadual para 2022. 2022. Disponível cípios, normas, métodos e técnicas, que podem ser
em: <https://www.al.sp.gov.br/alesp/audiencia-pu- de natureza tradicional, burocrática, gerencial,
blica/?id=200>. Acesso em: 15 mar. 2022. democrática, participativa etc.; e
VAZ, José Carlos. Como incorporar a transparên- z Governança pública: relaciona-se à capacida-
cia em um modelo de gestão municipal? 2000. de do governo de formular e implementar polí-
Disponível em: <https://polis.org.br/publicacoes/ ticas públicas de forma legítima, transparente,
como-incorporar-a-transparencia-em-um-modelo- responsável, participativa e colaborativa, com o
-de-gestao-municipal/>. Acesso em: 14 mar. 2022. envolvimento e a articulação de diversos atores
e instituições, públicos e privados, que compar-
tilham interesses, objetivos e responsabilidades.
A governança pública envolve um conjunto de
ARTICULAÇÃO VERSUS A mecanismos, processos e relações, que podem ser
FRAGMENTAÇÃO DE AÇÕES de natureza hierárquica, horizontal, em rede etc.
GOVERNAMENTAIS DESAFIOS E PERSPECTIVAS
DEFINIÇÃO O mencionado tema deste material apresenta
diversos desafios e perspectivas para a gestão, gover-
A articulação e a fragmentação são duas tendên- nança e políticas públicas no Brasil, de forma que
cias opostas que podem ser observadas nas ações precisa superar os obstáculos e aproveitar as potencia-
governamentais. lidades que marcam a sua realidade e a sua história.
Diante disso, a articulação é a capacidade de inte- Alguns desses desafios e perspectivas serão apre-
grar, coordenar e harmonizar as ações governamen- sentados a seguir, portanto atenção à explicação.
tais, de forma a garantir a coerência, consistência e
efetividade das políticas públicas. Federalismo
Ademais, há o envolvimento da comunicação, coo-
peração, negociação e participação entre os diferentes O federalismo é a forma de organização política
órgãos, entes, setores e níveis de governo, bem como que divide o poder entre a União, os estados, o Distrito
entre o governo e a sociedade civil. Federal e os municípios, uma vez que estes possuem
Por outro lado, a fragmentação se trata da falta ou autonomia política, administrativa e financeira.
deficiência da articulação entre as ações governamen- Nesse sentido, há a implicação da necessidade de
tais, posto que visa gerar a incoerência, inconsistência articulação entre os entes federados para garantir a
e ineficiência das políticas públicas. harmonia, a cooperação e a coordenação das políticas
Ainda nesse viés, a fragmentação envolve a desarti- públicas, especialmente as de competência comum ou
culação, descoordenação, desintegração e competição concorrente.
entre os diferentes órgãos, entes, setores e níveis de No entanto, o federalismo também pode gerar a
governo, bem como entre o governo e a sociedade civil. fragmentação das ações governamentais em razão
Portanto, a articulação, de maneira simplificada, de conflitos, disputas, desequilíbrios ou divergências
se refere à coordenação e cooperação entre diferentes entre os entes federados, que podem comprometer a
órgãos e entidades do governo com o intuito de alcan- efetividade das políticas públicas, especialmente as de
çar objetivos comuns. interesse nacional ou regional.
A fragmentação, por outro lado, se destina à

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


separação e descoordenação entre diferentes órgãos e Intersetorialidade
entidades do governo, o que pode levar à ineficiência
A intersetorialidade é a capacidade de integrar,
e incoerência nas políticas públicas.
coordenar e harmonizar as ações governamentais
entre os diferentes setores ou áreas de atuação, como
CONCEITOS BÁSICOS
saúde, educação, assistência social, segurança, meio
ambiente, entre outros.
Para compreender melhor a articulação versus a Assim, age na articulação entre os setores para
fragmentação de ações governamentais, é importan- garantir a complementaridade, a sinergia e a trans-
te conhecer alguns conceitos básicos, que são utiliza- versalidade das políticas públicas, especialmente as
dos para analisar e avaliar as relações e as interações de caráter multidimensional ou multifacetado.
entre os atores e as instituições envolvidos nas políti- Contudo, também pode gerar a fragmentação das
cas públicas.
ações governamentais em razão de isolamento, com-
Alguns desses conceitos são:
petição, resistência ou incompatibilidade entre os
setores, que podem vir a comprometer a eficiência,
z Políticas públicas: são as ações e as decisões do eficácia e qualidade das políticas públicas, especial-
governo, em conjunto ou isoladamente, que visam mente as de caráter integrado ou holístico.
solucionar ou minimizar os problemas públicos,
atender às demandas sociais e promover o bem-es- Participação Social
tar coletivo. Assim, se envolvem em um ciclo com-
posto por diversas fases, como a agenda, formulação, Além disso, a participação social se configura como
implementação, avaliação e retroalimentação; a capacidade de envolver, mobilizar e empoderar
z Gestão pública: trata-se da atividade que visa os cidadãos e as organizações da sociedade civil nas
planejar, organizar, dirigir e controlar os recursos diversas fases do ciclo das políticas públicas, como
humanos, materiais, financeiros e tecnológicos do a agenda, formulação, implementação, avaliação e
Estado, de forma a garantir a eficiência, a eficácia retroalimentação. 93
Destarte, é necessária a articulação entre o gover- COORDENAÇÃO INTRAGOVERNAMENTAL
no e a sociedade para a garantia da legitimidade,
transparência, responsabilidade e colaboração das É a capacidade de articular e integrar diferentes
políticas públicas, especialmente as de caráter demo- órgãos, setores e níveis hierárquicos dentro de um mes-
crático ou popular. mo governo, seja ele federal, estadual ou municipal.
No entanto, a participação social também pode Essa dimensão envolve aspectos como a definição
gerar a fragmentação das ações governamentais em de prioridades, a alocação de recursos, a distribuição
razão de conflitos, divergências, desigualdades ou de competências, a comunicação interna, a padroni-
zação de procedimentos, a prestação de contas etc.
exclusões entre os atores e as instituições sociais, que
podem comprometer a representatividade, a diversi-
Mecanismos de Coordenação Intragovernamental
dade e a inclusão das políticas públicas, especialmen-
te as de caráter plural ou universal.
Os mecanismos de coordenação intragovernamen-
tal são ferramentas e estratégias que visam integrar e
CONCLUSÃO
articular diferentes órgãos e entidades que compõem
a estrutura interna do Estado.
O tema abordado se refere à capacidade de inte- Essa integração é fundamental para garantir
grar, coordenar e harmonizar as ações governamen- a coerência, a eficiência e a efetividade das ações
tais, de forma a garantir a coerência, a consistência e governamentais, especialmente em um país como o
a efetividade das políticas públicas. Brasil, que possui um sistema federativo complexo e
Pode se referir, ainda, à falta ou deficiência dessa fragmentado.
capacidade — de forma a gerar a incoerência, a incon- Eles podem ser:
sistência e a ineficiência das políticas públicas.
A articulação versus a fragmentação de ações z Planejamento estratégico: a definição de objeti-
governamentais é um tema relevante e atual, que vos e metas comuns para o governo como um todo
reflete os desafios e as oportunidades da gestão públi- é fundamental para orientar as ações dos diferen-
ca, especialmente em um contexto de complexidade, tes órgãos e entidades;
diversidade e pluralidade da sociedade brasileira. z Comitês interministeriais: esses comitês reúnem
representantes de diferentes ministérios e órgãos
REFERÊNCIAS para discutir e deliberar sobre temas de interesse
comum;
GUERREIRO, R. A. Articulação e fragmentação de z Sistemas de informação: a integração dos sis-
políticas públicas: um estudo sobre a política de temas de informação do governo facilita o com-
partilhamento de dados e informações entre os
assistência social no Brasil. Revista de Adminis-
diferentes órgãos, o que contribui para a tomada
tração Pública, v. 56, n. 2, p. 523-544, 2022.
de decisões mais eficientes.
OLIVEIRA, F. A fragmentação das políticas públi-
cas no Brasil. In: CUNHA, M. P. M. (Org.). Políticas
Acerca desses mecanismos, vejamos alguns exemplos:
públicas: conceitos, instrumentos e avaliação. São
Paulo: Elsevier, 2016. p. 151-168. z Plano plurianual (PPA): instrumento de plane-
LUCHESI, M. Articulação e intersetorialidade no jamento estratégico que define as prioridades e
SUAS, na prática. Gesuas, 2022. Disponível em: os recursos para o governo federal durante um
https://blog.gesuas.com.br/articulacao-interseto período de quatro anos. O PPA exige a articulação
rialidade-suas/. Acesso em: 25 jan. 2024. entre os diferentes ministérios e órgãos da Admi-
nistração Pública federal para garantir a coerência
das ações e o alinhamento com as prioridades do
governo;
DIMENSÕES DA COORDENAÇÃO: z Ministério da Economia: responsável pela coor-
denação das políticas macroeconômicas e pela
INTRAGOVERNAMENTAL, gestão dos recursos públicos do governo federal. O
INTERGOVERNAMENTAL E Ministério da Economia se articula com os demais
GOVERNO-SOCIEDADE ministérios e órgãos da Administração Pública
federal para garantir a coerência das políticas e a
eficiência na gestão dos recursos públicos;
Coordenação é a capacidade de articular e integrar
z Sistema Integrado de Administração de Pessoal
diferentes atores, recursos e interesses em torno de
(SIAPE): plataforma digital que integra os pro-
objetivos comuns, visando melhorar a eficiência, a efi-
cessos de gestão de pessoal do governo federal,
cácia e a legitimidade da ação pública. como folha de pagamento, concursos públicos e
A coordenação é um desafio constante para os desenvolvimento profissional. O SIAPE facilita a
governos, especialmente em contextos de complexi- comunicação interna entre os diferentes órgãos da
dade, diversidade e fragmentação, como é o caso do Administração Pública federal e promove a padro-
nosso país. A coordenação pode ser analisada em três nização dos processos de gestão de pessoal.
dimensões principais, que se referem aos diferen-
tes níveis ou esferas de atuação dos governos e da
sociedade:
94
Desafios de Coordenação Intragovernamental Eles podem ser divididos em três esferas:

Os desafios da coordenação intragovernamental z Mecanismos institucionais: são aqueles que se


são obstáculos que dificultam a integração e a arti- baseiam em normas legais, constitucionais ou
culação entre diferentes órgãos e entidades que com- infraconstitucionais, que definem as competên-
põem a estrutura interna do Estado. cias, as responsabilidades, os recursos e as regras
Esses desafios podem ser relacionados a: de funcionamento dos órgãos e entidades envol-
vidos na coordenação. Esses mecanismos tendem
z Fragmentação da estrutura administrativa: a a ser mais formais, centralizados e abrangentes,
existência de um grande número de ministérios, pois estabelecem padrões e critérios gerais para
órgãos e agências dificulta a articulação entre as a atuação dos governos. Exemplos de mecanis-
diferentes áreas do governo; mos institucionais são os fundos de participação
z Falta de cultura de colaboração: ainda há uma dos estados e dos municípios (FPE e FPM), os con-
cultura de “cada um por si” entre os diferen- sórcios públicos, os convênios e os contratos de
tes órgãos do governo, o que dificulta o trabalho repasse;
conjunto; z Mecanismos políticos: são aqueles que se baseiam
z Burocracia excessiva: os processos administra- em acordos, pactos, protocolos ou compromissos
tivos muitas vezes são lentos e complexos, o que voluntários entre os governos, que definem as
dificulta a implementação de ações coordenadas. metas, as prioridades, os planos e as ações con-
juntas a serem realizadas na coordenação. Esses
A coordenação intragovernamental é um proces- mecanismos tendem a ser mais flexíveis, descen-
so contínuo que deve ser constantemente aprimora- tralizados e específicos, pois permitem a negocia-
do para garantir a eficiência e a efetividade da gestão ção e a adaptação dos governos às demandas e aos
pública. contextos locais. Exemplos de mecanismos políti-
Superar os desafios da coordenação intragoverna- cos são as câmaras setoriais, os fóruns, as redes e
mental é fundamental para que o Estado possa ofere- as comissões intergovernamentais;
cer serviços de qualidade à população. z Mecanismos financeiros: são aqueles que se
baseiam em instrumentos econômicos, fiscais
ou orçamentários, que definem os incentivos,
Importante! as transferências, as compensações e as sanções
financeiras relacionadas à coordenação. Esses
Na coordenação intragovernamental, deve-se mecanismos tendem a ser mais variados, mistos
sempre buscar: e dinâmicos, pois combinam elementos de forma-
� a simplificação da estrutura administrativa; lização e de flexibilização, de centralização e de
� a promoção da cultura de colaboração; descentralização, de abrangência e de especifici-
� a desburocratização; dade, conforme as características e os objetivos de
� o investimento em recursos; e cada política. Exemplos de mecanismos financei-
� a implementação de sistemas de avaliação e ros são os fundos de financiamento, as emendas
monitoramento. parlamentares, os impostos compartilhados e as
condicionalidades.

COORDENAÇÃO INTERGOVERNAMENTAL Atenção! Os grandes desafios para a coordenação


intergovernamental são:

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


É a capacidade de articular e integrar diferentes
governos, seja entre os mesmos níveis (horizontal) ou z a falta de recursos financeiros;
entre diferentes níveis (vertical), sendo estes: União, z a falta de capacidade técnica;
estados, Distrito Federal e municípios, sempre respeitan- z divergências políticas;
do a autonomia e a diversidade de cada ente federado. z a burocracia excessiva; e
Essa dimensão envolve aspectos como a coope- z a falta de monitoramento e avaliação.
ração, a negociação, a pactuação, a transferência de
recursos, a harmonização de normas, a fiscalização, Um exemplo prático de coordenação intergover-
o controle etc. namental é o Sistema Único de Saúde (SUS), que é o
Atenção! Essa articulação é essencial para garan- conjunto de ações e serviços de saúde prestados por
tir a coerência das políticas públicas, a otimização dos órgãos e instituições públicas federais, estaduais e
recursos públicos e a efetividade da ação governa- municipais, que devem atuar de forma integrada e
mental em todo o território nacional. descentralizada, seguindo os princípios de universa-
lidade, equidade e integralidade.
Mecanismos de Coordenação Intergovernamental O SUS envolve a cooperação, a negociação e a pac-
tuação entre os três níveis de governo, que devem
Mecanismos de coordenação intergovernamental compartilhar responsabilidades, recursos e normas
são instrumentos ou arranjos que visam facilitar a para garantir o direito à saúde da população.
articulação e a integração entre diferentes governos, A coordenação intergovernamental é um processo
respeitando a autonomia e a diversidade de cada ente. contínuo que deve ser constantemente aprimorado
Esses mecanismos são importantes para garan- para garantir a efetividade da gestão pública em um
tir a eficiência, a eficácia e a legitimidade das polí- país federativo como o Brasil.
ticas públicas que envolvem a cooperação entre os Superar os desafios existentes exige um esforço
governos. conjunto dos diferentes entes federativos, com o apoio
da sociedade civil e do setor privado. 95
COORDENAÇÃO GOVERNO-SOCIEDADE Exemplos de Coordenação Governo-Sociedade

É a capacidade de articular e integrar diferentes Um exemplo prático de coordenação governo-so-


atores sociais, como organizações não governamentais, ciedade é o Programa Bolsa Família (PBF), programa
movimentos sociais, empresas, sindicatos, universida- de transferência condicionada de renda que beneficia
des, mídia etc., na formulação, na implementação e na famílias em situação de pobreza e de extrema pobre-
avaliação das políticas públicas, promovendo a partici- za, que devem cumprir condicionalidades nas áreas
pação, a transparência, a accountability, a responsivi- de educação, saúde e assistência social.
dade, entre outros aspectos. O PBF envolve a participação e a integração de
A coordenação entre o governo e a sociedade é fun- diversos atores sociais, como conselhos, comitês,
damental para a construção de políticas públicas efica- fóruns, redes, organizações etc., que devem atuar na
zes e para o desenvolvimento sustentável de um país. gestão, no controle, na fiscalização e na avaliação do
Essa coordenação se manifesta em diversas for- programa, promovendo a transparência, a accounta-
mas, desde a participação da sociedade civil na for- bility e a responsividade.
mulação de políticas públicas até a colaboração entre
os diferentes setores na implementação e avaliação REFERÊNCIAS
dessas políticas.
Atenção! Os maiores desafios para a coordenação ABRUCIO, F. L. A coordenação federativa no Bra-
governo-sociedade são: a falta de confiança da socie- sil: a experiência do período FHC e os desafios do
dade, a falta de representatividade e atividade social governo Lula. Revista de Sociologia e Política,
e a falta de cultura de diálogo. 2005.
ARRETCHE, M. Federalismo e relações intergo-
Mecanismos de Coordenação Governo-Sociedade vernamentais no Brasil: a reforma de programas
sociais. Dados, 2002.
Mecanismos de coordenação governo-sociedade BRASIL. Ministério da Economia. Plano Pluria-
são instrumentos ou arranjos que visam facilitar a nual 2020–2023. Brasília, 2019.
articulação e a integração entre diferentes segmentos DIAS, M. H. T. Coordenação intergovernamental no
sociais, anteriormente mencionados, em face às polí- Brasil: desafios e perspectivas. Revista Brasileira
ticas públicas. de Administração Pública, v. 44, n. 6, p. 1.025-
Esses mecanismos são importantes para garantir a 1.047, 2010.
eficiência, a eficácia e a legitimidade da ação pública, FARIA, C. A. P. A política da coordenação: dilemas e
bem como para fortalecer a democracia, a cidadania e desafios da gestão pública contemporânea. Revis-
o controle social, sendo eles: ta de Administração Pública, 2009.
GRAU, N. C. Coordenação e integração de políticas
z Mecanismos de participação social: são aqueles públicas: conceitos, modelos e desafios. Cadernos
que se baseiam na consulta, na deliberação ou na Gestão Pública e Cidadania, 2014.
representação dos atores sociais nos processos de JORGE, M. J. G. A coordenação de políticas públicas
decisão das políticas públicas por meio de espa- no Brasil: desafios e perspectivas. Revista Admi-
ços institucionalizados ou não institucionalizados, nistração Pública, v. 48, n. 2, p. 275-301, 2014.
como conselhos, conferências, audiências, consul-
tas, plebiscitos, referendos etc. Esses mecanismos
tendem a ser mais formais, abrangentes e influen-
tes, pois permitem que os atores sociais expressem
suas demandas, opiniões e propostas e que tenham ANÁLISE DE CENÁRIOS
poder de veto ou de aprovação sobre as políticas;
z Mecanismos de parcerias e convênios: são aque- A análise de cenários é uma técnica sistemática
les que se baseiam na cooperação, na colaboração usada para avaliar o ambiente externo e interno de
ou na complementação entre os atores sociais e os uma empresa. Ela visa identificar oportunidades e
governos na execução das políticas públicas por ameaças que podem afetar a organização e seu desem-
meio de acordos, contratos, termos de cooperação penho. Nesse sentido, trata-se de uma ferramenta
etc., que definem as responsabilidades, os recursos estratégica que permite explorar diferentes futuros
e as regras de funcionamento das ações conjuntas. possíveis, avaliar riscos e tomar decisões embasadas.
Esses mecanismos tendem a ser mais flexíveis,
específicos e operacionais, pois permitem que os CONCEITOS
atores sociais contribuam com suas capacidades,
experiências e recursos e que tenham acesso aos Segundo Godet, a análise de cenários é o processo de
benefícios e aos resultados das políticas; construção e avaliação de cenários, que são descrições
z Mecanismos de transparência e acesso à infor- qualitativas e quantitativas de situações futuras plausí-
mação: são aqueles que se baseiam na divulgação, veis que refletem diferentes hipóteses sobre as variáveis
na disponibilização ou na solicitação de informa- que influenciam o ambiente de uma empresa. Assim, a
ções sobre as políticas públicas por meio de canais, ferramenta visa responder às seguintes questões:
plataformas, portais, sistemas etc., que permitem
o acesso, a consulta, a análise e o uso das infor- O Que Pode Acontecer?
mações pelos atores sociais. Esses mecanismos
tendem a ser mais variados, dinâmicos e indiretos, Refere-se às tendências, aos eventos e aos fatores
pois permitem que os atores sociais acompanhem, que podem ocorrer no futuro, de forma provável, pos-
fiscalizem, avaliem e cobrem as políticas e que sível ou improvável, e que podem ter impactos positi-
96 tenham subsídios para a participação e a parceria. vos ou negativos sobre a empresa.
O Que Deve Acontecer? simplificado para a realização da análise de cenários,
baseado em Godet.
A pergunta busca atender aos objetivos, às metas
e às expectativas que a empresa deseja alcançar no Definição do Tema e do Horizonte Temporal
futuro, de forma desejável, viável ou inviável.
Consiste em delimitar o foco e o escopo da análi-
O Que Pode Ser Feito? se, especificando o tema, o objetivo, o público-alvo e
o horizonte temporal da análise. Por exemplo, o tema
A questão está relacionada às estratégias, ações e pode ser o impacto da pandemia de covid-19 no setor
decisões que a empresa pode adotar no presente, de de turismo; o objetivo pode ser identificar oportuni-
forma preventiva, reativa ou proativa. dades e ameaças para as empresas do setor; o público-
-alvo pode ser os gestores e os investidores do setor e
TIPOS DE ANÁLISE DE CENÁRIOS o horizonte temporal pode ser de cinco anos.

A análise de cenários pode apresentar-se de dife- Identificação das Variáveis-Chave


rentes maneiras que podem ser classificadas de
acordo com os seus critérios, métodos, abordagens e A identificação busca levantar e selecionar as
finalidades. Vejamos a seguir alguns dos principais variáveis-chave que podem influenciar o tema da aná-
tipos, segundo Godet: lise, considerando os aspectos políticos, econômicos,
sociais, tecnológicos, ambientais e legais do ambiente.
z Análise de cenários normativos: é aquela que Assim, dadas variáveis-chave devem ser rele-
parte de um cenário desejado, que representa a vantes, mensuráveis e independentes entre si. Por
visão, a missão e os valores da empresa, e busca exemplo, algumas delas, para o tema do impacto da
identificar os meios e as condições para alcançá-lo, pandemia no setor de turismo, podem ser a taxa de
considerando as restrições e as oportunidades do vacinação, restrições de viagem, demanda por via-
ambiente; gens, oferta de hospedagem, inovação tecnológica,
z Análise de cenários exploratórios: inicia-se a sustentabilidade ambiental, regulamentação sanitá-
partir de um cenário atual, que representa a situa- ria, entre outras.
ção, o desempenho e os problemas da empresa,
e busca identificar os cenários alternativos, que Construção dos Cenários
representam as possibilidades, os riscos e as incer-
tezas do ambiente; Consiste em combinar as variáveis-chave em dife-
z Análise de cenários quantitativos: utiliza-se de rentes cenários plausíveis que representam situações
dados, números, cálculos e estatísticas para cons- futuras possíveis para o tema da análise.
truir e avaliar os cenários por meio de métodos Os cenários, para tanto, devem ser coerentes, con-
matemáticos, como a análise de séries temporais, sistentes e contrastantes entre si. Por exemplo, alguns
análise de regressão e análise de sensibilidade; cenários possíveis para o tema do impacto da pande-
z Análise de cenários qualitativos: usufrui das mia no setor de turismo podem ser: cenário otimista,
palavras, textos, imagens e sons para construir e em que a vacinação é rápida e eficaz, as restrições de
avaliar os cenários por meio de métodos intuitivos, viagem que se tornam flexibilizadas, a demanda por
como a análise de tendências, análise de impactos viagens que volta a ser alta, a oferta de hospedagem
cruzados e análise morfológica; diversificada, entre outros que vislumbram um cená-
z Análise de cenários preditivos: busca prever o rio progressivo e positivo.

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


que vai acontecer no futuro com base em dados
históricos, evidências empíricas e modelos teóri- Avaliação dos Cenários
cos, considerando as probabilidades e as causali-
dades dos cenários; A avaliação dos cenários, por sua vez, busca rea-
z Análise de cenários prospectivos: vislumbra lizar a comparação e análise dos cenários construí-
antecipar o que pode acontecer no futuro com base dos, considerando os seus impactos, probabilidades e
em dados prospectivos, opiniões de especialistas e implicações para o tema da análise.
visões de futuro, considerando as possibilidades e Nesse sentido, os cenários devem ser avaliados de
as contingências dos cenários; forma qualitativa e quantitativa, utilizando dados,
z Análise de cenários estratégicos: busca definir o informações, evidências e feedbacks disponíveis ou
que deve ser feito no presente com base nos objetivos, estimados. Por exemplo, a avaliação dos cenários para
nas metas e nas expectativas da empresa, consideran- o tema do impacto da pandemia no setor de turismo
do as oportunidades e as ameaças dos cenários; pode envolver:
z Análise de cenários criativos: empenha-se em
imaginar o que poderia ser feito no futuro com z estimar o crescimento ou a queda do faturamen-
base na criatividade, na inovação e na ousadia da to, do lucro, do emprego, do investimento, do setor
empresa, considerando as surpresas e as rupturas em cada cenário;
dos cenários. z atribuir uma probabilidade de ocorrência para
cada cenário, com base em dados históricos, ten-
ETAPAS dências, pesquisas;
z identificar as oportunidades e as ameaças para as
A análise de cenários pode ser realizada seguindo empresas do setor em cada cenário, com base em
algumas etapas básicas que podem variar de acor- análises SWOT, PESTEL, Porter etc.
do com o método, a abordagem e a finalidade esco-
lhidos. A seguir, observe um exemplo de um roteiro 97
Elaboração de Estratégias em conta as características, as necessidades e as expec-
tativas de cada caso. Vejamos algumas melhores prá-
Vislumbra-se definir e implementar as estratégias ticas para a análise de cenários, baseadas em Godet e
adequadas para cada cenário, considerando os objeti- Schoemaker:
vos, metas e expectativas da empresa.
Assim, as estratégias devem estar alinhadas e ser z Definição do propósito e do escopo da análise:
adaptáveis e flexíveis, de forma a aproveitar as opor- consiste em estabelecer e comunicar o propósito e
tunidades e minimizar as ameaças em cada cenário. o escopo da análise, que são os motivos, os objeti-
Por exemplo, algumas estratégias possíveis para as vos, os públicos-alvo e os horizontes temporais da
empresas do setor de turismo em um cenário otimista análise, de forma clara, específica e mensurável,
podem ser: investir em expansão, diversificação, pro- que orientam e motivam os envolvidos na análise;
moção, fidelização da clientela. Já no cenário pessimis- z Coleta e validação de dados e informações:
ta, pode-se buscar investir em redução, concentração, busca obter e verificar os dados e as informações
proteção e sobrevivência financeira. Por fim, em um sobre as variáveis-chave que influenciam o tema
cenário intermediário, pode-se revestir de adaptações, da análise, de forma sistemática, abrangente e
segmentações, diferenciações, inovações etc. diversificada, utilizando múltiplas fontes, técnicas
e instrumentos de coleta que sejam adequados,
VANTAGENS E DESVANTAGENS DA ANÁLISE DE pertinentes e representativos das variáveis-chave;
CENÁRIOS z Construção e avaliação de cenários: vislum-
bra combinar e comparar as variáveis-chave em
Assim como todo instrumento administrativo que diferentes cenários plausíveis que representam
visa ao melhoramento organizacional e contextual, situações futuras possíveis para o tema da análi-
a análise de cenários apresenta vantagens e desvan- se, de forma coerente, consistente e contrastante,
tagens para as empresas que dela usufruem. Assim, buscando utilizar métodos, ferramentas e técnicas
vejamos algumas delas a seguir. de construção e avaliação que sejam apropriados,
Vantagens eficazes e eficientes para os cenários.

De maneira inicial, a ampliação da visão qualifica- CONCLUSÃO


-se como uma vantagem, pois, ao realizar a análise de
A análise de cenários é uma técnica sistemática
cenários, a empresa pode ampliar a sua visão sobre
usada para avaliar o ambiente externo e interno de
o ambiente externo e interno, considerando diferen-
uma empresa. Ela visa identificar oportunidades e
tes perspectivas, possibilidades e contingências que
ameaças que podem afetar a organização e seu desem-
poderão enriquecer o seu planejamento estratégico.
penho. Assim, trata-se de uma ferramenta estratégica
Ainda nesse viés, a antecipação de riscos visa fazer
que permite explorar diferentes futuros possíveis,
com que a empresa seja capaz de antecipar os riscos
avaliar riscos e tomar decisões embasadas.
que podem afetar o seu desempenho e o seu resultado,
considerando diferentes situações futuras que poderão REFERÊNCIAS
permitir o seu gerenciamento preventivo ou reativo.
Por fim, a identificação de oportunidades diante ANÁLISE de Cenários: O que é, como fazer e sua
da análise de cenários busca fazer a empresa identifi- importância para empresas. Econsult, 2023. Dispo-
car as oportunidades que podem favorecer o seu cres- nível em: https://econsult.org.br/blog/analise-de-ce-
cimento e o seu diferencial, considerando diferentes narios-o-que-e-como-fazer/. Acesso em: 29 jan. 2024.
situações futuras que poderão permitir o seu aprovei- GODET, M. Manual de prospectiva estratégica:
tamento proativo ou adaptativo. uma abordagem prática. 2. ed. Lisboa: Instituto
Piaget, 2006.
Desvantagens RABELLO, G. Siteware, 2023. Como fazer análise
Por outro lado, a análise de cenários pode gerar estratégica de cenários + 3 ferramentas. Disponível
desconfortos e desvantagens para a empresa, de forma em: https://www.siteware.com.br/blog/gestao-es-
que diante da complexidade de alguns processos — que trategica/analise-de-cenarios-planejamento-estra-
possuem variáveis, etapas, cenários, técnicas e critérios tegico/. Acesso em: 29 jan. 2024.
diferentes — pode ser que erros e inconsistências na SCHOEMAKER, P. J. H. Scenario planning: a tool for
construção e na avaliação de cenários sejam gerados. strategic thinking. Sloan Management Review, v.
Ademais, pode ser que, ao visualizar o cenário, a 36, n. 2, p. 25-40, 1995.
empresa possa enfrentar a incerteza do futuro; envol-
ve-se diversos fatores imprevisíveis, incontroláveis
e mutáveis, de modo a gerar surpresas, rupturas e
mudanças nos cenários. IMPLEMENTAÇÃO DE ESTRATÉGIAS
Dessa forma, também, a limitação da informação
pode envolver a escassez, inadequação ou inacessibi- INTRODUÇÃO
lidade de dados, informações, evidências e feedbacks
que podem comprometer a validade, confiabilidade e A implementação de estratégias é fundamental
objetividade dos cenários. para garantir que a organização se adapte às mudan-
ças do ambiente, se diferencie dos concorrentes, satis-
MELHORES PRÁTICAS faça as necessidades dos clientes e stakeholders e gere
valor para a sociedade.
Para que a análise de cenários traga benefícios Sendo a etapa final do processo de gestão estra-
para as empresas, é preciso que ela seja realizada de tégica, envolve a análise do ambiente, a formulação
98 forma estratégica, participativa e adaptativa, levando da estratégia, a avaliação dos resultados e o conjunto
de ações e decisões que visam colocar em prática a O desdobramento de objetivos e metas permite
estratégia definida pela organização, seja ela pública que todos os colaboradores compreendam como seu
ou privada, para alcançar seus objetivos e sua missão. trabalho contribui para os resultados esperados pela
organização e sejam responsáveis pelo cumprimento
das metas estabelecidas.
Importante!
Existem diversos métodos de desdobramento de
Alguns erros recorrentes no processo de imple- objetivos e metas, cada um com suas vantagens e des-
mentação de estratégias são: vantagens, dependendo do tipo, do tamanho e da cul-
� a falta de planejamento; tura da organização.
� a falta de comunicação;
MÉTODOS MAIS UTILIZADOS
� a falta de recursos; e
� a falta de acompanhamento. Balanced Scorecard (BSC)

EXEMPLOS É um método que utiliza quatro perspectivas


(financeira, clientes, processos internos e aprendiza-
� Implementação de um novo sistema de gestão do e crescimento) para definir e medir os objetivos e
pública: o governo federal brasileiro está imple- as metas da organização, alinhando-os com a missão,
mentando um novo sistema de gestão pública para a visão e os valores da organização.
melhorar a eficiência e a qualidade dos serviços O BSC permite que a organização monitore e avalie
públicos; seu desempenho em relação aos seus objetivos estra-
z Implementação de um programa de educação tégicos, bem como identifique e implemente ações de
ambiental: uma empresa privada está implemen- melhoria contínua.
tando um programa de educação ambiental para
Objectives and Key Results (OKR)
conscientizar seus colaboradores sobre a impor-
tância da preservação do meio ambiente. É um método que utiliza dois elementos (objetivos
e resultados-chave) para definir e medir os objetivos e
CONCLUSÃO
as metas da organização, alinhando-os com a visão e a
A implementação de estratégias é um processo estratégia da organização.
essencial para o sucesso das organizações, pois permi- Tem como objetivos, que devem ser inspiradores,
te que elas transformem seus planos em ações e alcan- desafiadores e qualitativos, as declarações de intenção.
cem seus resultados desejados. Os resultados-chave são as métricas, que devem
Para implementar uma estratégia, é preciso ali- ser específicas, mensuráveis, alcançáveis, relevantes
nhar, envolver, comunicar, definir, monitorar, apren- e temporais.
der e melhorar continuamente. O OKR permite que a organização acompanhe e
Além disso, é preciso utilizar métodos e ferramen- comunique seu progresso em relação aos seus objeti-
tas adequados para cada situação e contexto. vos estratégicos, bem como promova a autonomia e a
Assim, a organização poderá, como destacamos inovação dos colaboradores.
no início, adaptar-se às mudanças, se diferenciar dos
Hoshin Kanri
concorrentes, satisfazer os clientes e stakeholders e
gerar valor para a sociedade. É um método que utiliza sete passos (definir a
visão, desenvolver os objetivos de longo prazo, desen-
REFERÊNCIAS

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


volver os objetivos anuais, implementar os planos de
CHIAVENATO, I. Administração: teoria e prática. ação, executar os planos de ação, revisar os resulta-
7ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. dos e padronizar os processos) para definir e medir
MINTZBERG, H. Mintzberg on management: insi- os objetivos e as metas da organização, alinhando-os
de our strange world of organizations. Berrett- com sua visão e com sua estratégia.
-Koehler Publishers, 2013. O hoshin kanri permite que a organização plane-
PORTER, M. E. Competitive strategy: techniques je e execute seus objetivos estratégicos, bem como
for analyzing industries and competitors. Free envolva e capacite os colaboradores.
Press, 1980.
PLANOS DE AÇÃO E MAPAS ESTRATÉGICOS

Para elaborar planos de ação e mapas estratégicos,


MÉTODOS DE DESDOBRAMENTO DE é preciso seguir alguns passos, como:
OBJETIVOS E METAS E ELABORAÇÃO z definir os objetivos e as metas da organização,
DE PLANOS DE AÇÃO E MAPAS utilizando um dos métodos de desdobramento de
ESTRATÉGICOS objetivos e metas mencionados anteriormente;
z identificar as ações necessárias para atingir os
INTRODUÇÃO objetivos e as metas, considerando os recursos, os
prazos, os responsáveis e os riscos envolvidos;
Desdobramento de objetivos e metas é uma téc- z elaborar os planos de ação (que são documentos
nica de gestão que visa traduzir a visão e a estraté- que detalham as ações, os recursos, os prazos, os
gia da organização em objetivos e metas específicos, responsáveis e os riscos de cada objetivo ou meta)
mensuráveis, alcançáveis, relevantes e temporais utilizando ferramentas como o 5W2H (What, Why,
(SMART) para cada nível hierárquico, área ou equipe Who, When, Where, How, How much) ou o PDCA
da organização. (Plan, Do, Check, Act); 99
z elaborar os mapas estratégicos (que são diagra- NONATO, L. Desdobramento de metas: o que é,
mas que ilustram a relação entre os objetivos e as como fazer e ferramentas. AEVO, 2023. Disponível
metas da organização, bem como os indicadores em: https://blog.aevo.com.br/desdobramento-de-
e as iniciativas para alcançá-los) utilizando ferra- -metas/. Acesso em: 27 jan. 2024.
mentas como o BSC ou o OKR. RABELLO, G. Desdobramento de metas: o que é e quais
ferramentas usar? Siteware, 2024. Disponível em:
Por fim, é importante monitorar e avaliar os pla- https://www.siteware.com.br/blog/gestao- estrategica/
nos de ação e os mapas estratégicos, verificando o desdobramento-de-metas/. Acesso em: 27 jan. 2024.
cumprimento das metas, o desempenho dos indica-
dores e a efetividade das iniciativas, utilizando ferra-
mentas como o dashboard ou o scorecard.

EXEMPLO DE APLICAÇÃO (UTILIZANDO UM OKR)


INDICADORES DE GESTÃO DE
PESSOAS E FLEXIBILIDADE
z Visão: ORGANIZACIONAL
„ ser a melhor empresa de tecnologia do Brasil.
INDICADORES DE GESTÃO DE PESSOAS
z Estratégia:
Os indicadores de gestão de pessoas são ferramen-
„ oferecer produtos e serviços inovadores, de tas que permitem às organizações medir o desempe-
alta qualidade e com foco no cliente. nho de seus funcionários e seus sistemas de gestão de
pessoas. Dados indicadores podem ser usados para
z Objetivos e resultados-chave: avaliar a eficácia da gestão de pessoas, identificar
áreas de melhoria e tomar decisões informadas, bem
„ aumentar a receita em 50% até o final do ano;
como podem ser divididos em três categorias princi-
„ aumentar o número de clientes em 30%.
pais. Vejamos:
z Planos de ação:
z Indicadores de desempenho: medem o desempe-
„ iniciativa; nho dos funcionários, como produtividade, quali-
„ ação; dade do trabalho, satisfação do cliente e retenção
„ recurso; de funcionários;
„ prazo; z Indicadores de processos: são capazes de verificar
„ responsabilidade; a eficácia dos processos de gestão de pessoas, como
„ risco. recrutamento e seleção, treinamento e desenvolvi-
mento, avaliação de desempenho e remuneração;
z Mapas estratégicos: z Indicadores de clima organizacional: fiscalizam
„ perspectiva; o clima organizacional, como satisfação dos fun-
„ objetivo; cionários, motivação e engajamento.
„ indicador;
„ iniciativa. Diante disso, os indicadores devem ser ilustrados e
exemplificados a fim de contextualizar em quais oportu-
CONCLUSÃO nidades se destacam de acordo com cada classificação.
Nesse sentido, de maneira primordial, os indicado-
O domínio dos métodos de desdobramento de obje- res de desempenho podem se demonstrar por meio
tivos e metas, elaboração de planos de ação e mapas da produtividade, de forma que se fiscaliza através do
estratégicos é fundamental para o sucesso do seu pla- número de produção de cada funcionário, por hora
no de gestão, fornecendo uma base sólida para a imer- ou por dia; a qualidade de trabalho é, também, um
são nas etapas, com foco nos processos que levem a exemplo de indicador, pois por meio da taxa de erros
bons resultados. ou de retrabalho é possível visualizar a forma que se
desempenha cada função; e, por fim, a satisfação dos
REFERÊNCIAS clientes, que é calculada por meio do índice de satisfa-
ção com os serviços ou produtos da organização.
AKAO, Y. Hoshin Kanri: policy deployment for suc- De maneira contínua, os indicadores de processos
cessful TQM. Cambridge: Productivity Press, 1991. demonstram-se por meio do tempo de recrutamen-
DESDOBRAMENTO de metas: como fazer. SSG to e seleção de cada organização, calculando-se pelo
Resultados, [s.d]. Disponível em: https://ssgresul- tempo médio para preencher uma vaga; da taxa de
tados.com.br/blog/desdobramento-de-metas-co- aproveitamento do treinamento, que, por sua vez,
mo-fazer/. Acesso em: 27 jan. 2024. também é um indicador, por tratar-se da proporção
DESDOBRAMENTO de Objetivos e Metas. Ótima, [s.d.]. de funcionários que utilizam o que aprenderam no
Disponível em: https://www.otimaeg.com.br/desdobra- treinamento; dos efeitos da avaliação de desempenho,
mento-objetivos-metas. Acesso em: 27 jan. 2024. cujo impacto da avaliação se dá em conformidade ao
DOERR, J. A arte de medir o que importa: como desempenho dos funcionários; e da satisfação com a
o Google, Bono Vox e a Fundação Gates sacudiram remuneração, uma vez que se configura mediante a
o mundo com os OKRs. São Paulo: Sextante, 2018. satisfação dos funcionários com a remuneração como
KAPLAN, R. S.; NORTON, D. P. A estratégia em ação: contraprestação ao serviço prestado.
100 balanced scorecard. Rio de Janeiro: Campus, 1997.
Ainda nesse viés, de modo final, os indicadores de Ou seja, o tempo todo a organização precisa lidar
clima organizacional relacionam-se com a satisfação com recursos. Seja na entrada, por meio dos forne-
dos funcionários, posto que a verificação é possível de cedores, no processo de transformação ou na saída,
acordo com o índice de satisfação destes com o tra- durante o envio/distribuição:
balho, organização e colegas; a motivação, que se tra-
ta do índice de motivação dos funcionários, e com o Entrada de Processamento Saída de
engajamento dos trabalhadores daquela organização. recursos de recursos recursos

FLEXIBILIDADE ORGANIZACIONAL É aí que entra a administração de materiais e


patrimônio, como grande responsável por obter e
A flexibilidade organizacional, para tanto, é a gerenciar os recursos processados pela organização.
capacidade de uma organização se adaptar às mudan- Segundo Razzolini (2013), os recursos materiais são,
ças do ambiente interno e externo, de forma que por exemplo: as matérias-primas, os materiais auxilia-
possuem a capacidade de responder rapidamente às res e os insumos utilizados nos processos produtivos, os
mudanças, sem perder a eficiência ou a eficácia. materiais de escritório, materiais de higiene ou limpeza
Assim, dado contexto poderá ser obtido por meio etc. Em geral, esses recursos materiais encontram-se no
de uma série de ações, tais como a descentralização de chamado “Ativo Circulante” das organizações e rece-
decisões — dando aos funcionários mais autonomia bem o nome genérico de “estoques”.
para tomar decisões —, a tecnologia, de forma que O autor divide os estoques em:
auxilia as organizações a adaptar-se às mudanças por
meio de sistemas de informação que permitem que z de materiais auxiliares (materiais de higiene, de
os funcionários acessem informações e trabalhem de escritório);
forma remota. z matérias-primas (insumos);
z produtos em processo (WIPs — Work in Process);
RELAÇÃO ENTRE INDICADORES DE GESTÃO DE z e produtos acabados (é o produto final, que será
PESSOAS E FLEXIBILIDADE ORGANIZACIONAL entregue ao consumidor).
A convergência entre os pontos é de que os indi-
Cada um desses materiais vai requerer um tipo de
cadores de gestão de pessoas podem ser usados para
cuidado e atenção diferenciada para que os objetivos
avaliar a flexibilidade organizacional. Por exemplo,
da organização possam ser atingidos.
os indicadores de desempenho podem ser utilizados
A correta gestão desse estoque é a “essência” da
para avaliar a capacidade da organização de se adap-
administração de materiais.
tar às mudanças nas necessidades dos clientes.
Já os recursos patrimoniais são aqueles que com-
Por sua vez, os indicadores de processos podem
põem o “Imobilizado” das organizações e são repre-
ser usados para avaliar a capacidade da organização
sentados por máquinas, equipamentos, veículos,
de se adaptar às mudanças nas regulamentações ou
móveis, utensílios e demais itens necessários ao fun-
nas tecnologias. E, finalmente, os indicadores de clima
cionamento da organização.
organizacional podem ser usados para avaliar a capa-
O patrimônio, para contabilidade, é constituído
cidade da organização de se adaptar às mudanças nas
por um conjunto de bens, direitos e obrigações de
expectativas dos funcionários.
uma pessoa ou empresa.
Portanto, os indicadores de gestão de pessoas são
Como o nosso foco aqui são as organizações, pode-
ferramentas importantes que podem ajudar as orga-
mos dizer que o patrimônio, no âmbito organiza-

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


nizações na melhoria de seu desempenho e na sua fle-
cional, diz respeito ao conjunto de bens, direitos e
xibilidade organizacional.
obrigações que uma organização possui, que não se
confunde com os patrimônios individuais dos sócios.
O senso comum costuma enxergar o patrimônio
como tão somente os bens (imóveis, terrenos, veícu-
COMPRAS GOVERNAMENTAIS: los, estoque etc.), mas para contabilidade, ele engloba
SUSTENTABILIDADE DAS também os direitos (contas a receber, aluguéis, dupli-
catas etc.) e as obrigações (salários, impostos etc.).
CONTRATAÇÕES O Balanço Patrimonial representa justamente
todos esses bens, direitos e obrigações. É uma das
INTRODUÇÃO
principais demonstrações financeiras quando fala-
mos em patrimônio.
As organizações, de maneira geral, possuem um
É um “balanço” justamente porque equilibra as três
conjunto de atividades que vão desde as relações
partes essenciais que mencionamos anteriormente.
com os fornecedores, passam pelos ciclos de produção
Observe sua estrutura básica:
e vão até as vendas e fase final de distribuição.
Ou seja, as organizações possuem uma cadeia de
valor. Passivo
Elas obtêm recursos de entrada junto a fornece- Ativo
dores (recursos materiais, recursos humanos; recur- Patrimônio Líquido
sos energéticos, recursos tecnológicos, equipamentos
etc.), agrupa esses recursos e, por meio dos seus pro- O Ativo, ao lado esquerdo, engloba os bens e direitos.
cessos internos, transforma-os em recursos de saí- Já ao lado direito temos o Passivo, com recursos de tercei-
da, destinados aos seus clientes. ros, e o Patrimônio Líquido, com recursos próprios.
101
Os Ativos são as aplicações de recursos e esses COMPRAS GOVERNAMENTAIS
recursos podem ser:
Segundo o Caderno do Brasil na OCDE (Organiza-
z Ativo Circulante (AC): são aqueles, em geral, de ção para Cooperação e Desenvolvimento Econômico)
curto prazo, como os valores em caixa, os esto- sobre Compras Públicas (THORSTENSEN e GIESTEI-
ques, os valores a receber de curto prazo; RA, 2021, p. 8), as compras governamentais podem ser
z Ativo Não Circulante (ANC): abrange os realizá- definidas como:
veis a longo prazo, os investimentos, o imobiliza-
do e os intangíveis. Aquisições de bens e serviços, levadas a cabo por enti-
dades do setor público de um país, em suas diferen-
tes esferas. Tais aquisições destinam-se às diferentes
Veja que aqui o nosso foco é administração de áreas do governo e estão associadas a bens e servi-
materiais. Por isso, vamos tratar dos materiais rela- ços simples e de baixo custo (como lápis e serviço de
cionados ao estoque (Ativo Circulante) e dos recursos impressão), mas envolve também a compra de bens e
chamados de “patrimoniais” (mais especificamente os serviços de maior custo e complexidade (como satéli-
recursos do imobilizado (Ativo Não Circulante). tes, aeronaves, plataformas petrolíferas etc.).
Vejamos alguns conceitos de administração de
materiais, em sentido amplo: As compras públicas são tidas como elemento fun-
Razzolini (2013, p. 17) define a administração de damental da governança estratégica, ou seja, é um
materiais como sendo elemento fundamental na capacidade estatal de rea-
lizar seus objetivos.
[...] o conjunto de regras, ou normas, que visam O caderno também traz a posição de Arrowsmith
ordenar os processos organizacionais relacionados (2011) sobre o processo de compras governamentais.
com os materiais à disposição da organização, com O autor afirma que ele é composto de três fases:
produtividade e eficiência, de forma a atingir obje-
tivos preestabelecidos. z “Decisão do gestor público de quando e quais bens e
serviços precisam ser adquiridos – trata-se da etapa
Para Arnold (1999, p. 26) apud Razzolini (2013, p. em que é feito o planejamento das compras”;
17), a administração de materiais é a função “respon- z “Realização do processo licitatório, a partir do
sável pelo fluxo de materiais a partir do fornecedor, qual será definido fornecedor do bem ou serviço
passando pela produção até o consumidor” ou, ainda, demandado”;
“planejamento e controle da distribuição e administra- z “Gestão do contrato para assegurar que os objeti-
vos da aquisição sejam alcançados” (THORSTEN-
ção da logística”.
SEN e GIESTEIRA, 2021, p. 8).
Para Martins e Alt (2000, p. 5) apud Razzolini (2013,
p. 17),
Além disso, o caderno afirma que, em geral, tem-se
como orientação primária para os processos de com-
[...] a administração dos recursos materiais engloba a
pras governamentais a busca pela:
sequência de operações que tem seu início na identifi-
cação do fornecedor, na compra do bem, em seu rece-
z eficiência econômica;
bimento, transporte interno e acondicionamento, em
z qualidade;
seu transporte durante o processo produtivo, em sua
z celeridade;
armazenagem como produto acabado e, finalmente,
z responsabilidade;
em sua distribuição ao consumidor final.
z transparência.
Em suma, uma boa administração dos recursos
Já os objetivos secundários (também de grande
materiais é capaz de prover o material certo, no
importância) seriam as perspectivas de “promoção dos
local certo, no momento correto e em um custo razoá- desenvolvimentos econômico, social, industrial, tecnológi-
vel (ou seja, de forma eficiente e econômica). co, ambiental etc., por meio das políticas de compras públi-
Para isso, de acordo com Dias (2010), a administração cas” (THORSTENSEN e GIESTEIRA, 2021, p. 8).
de materiais engloba uma série de atividades “espalha- A própria Lei nº 14.133, de 2021 (Lei de Licitações
das” nos mais diversos departamentos (áreas): e Contratos Administrativos), traz em seu art. 5º uma
série de princípios:
z compras;
z transportes; Art. 5º Na aplicação desta Lei, serão observados
z controle matérias-primas; os princípios da legalidade, da impessoalidade, da
z armazenagem de matérias-primas; moralidade, da publicidade, da eficiência, do interes-
z previsão de necessidades de materiais; se público, da probidade administrativa, da igualda-
z controle de estoque nos centros de distribuição, de, do planejamento, da transparência, da eficácia,
da segregação de funções, da motivação, da vincula-
dentre outros.
ção ao edital, do julgamento objetivo, da segurança
jurídica, da razoabilidade, da competitividade, da
Aqui o nosso foco será gestão de compras, em proporcionalidade, da celeridade, da economicidade
específico, as compras governamentais, que envol- e do desenvolvimento nacional sustentável [...].
vem as compras de insumos realizadas no próprio
país (mercado interno) e as compras realizadas for O caderno também menciona que a própria OCDE
(importações). E envolvem também as relações com os traz uma série de recomendações (normas de cará-
fornecedores, a gestão das licitações e dos contratos, o ter não vinculante), com o objetivo de orientar os
102 recebimento da mercadoria, dentre outras atividades. países-membros:
z transparência; O Caderno do Brasil na OCDE (2021) também afir-
z integridade; ma que
z facilitação ao acesso;
z equilíbrio; [...] a Lei de Licitações foi elaborada tendo como
z transparência dos órgãos que promovem licitações; enfoque a seleção da proposta mais vantajosa para
z eficiência; a administração pública brasileira, ao mesmo tem-
z políticas de digitalização; po que exige uma série de procedimentos com foco
z capacitação de funcionários públicos; em evitar desvios e ilícitos em geral. (THORSTEN-
z avaliação de resultados; SEN e GIESTEIRA, 2021, p. 27)
z gestão de risco;
z responsabilização dos agentes envolvidos; Por isso o alto grau de burocratização que, por
z integração das licitações no orçamento geral estatal. vezes, acaba prejudicando, em muitos casos, a “efi-
ciência da aquisição, tornando-a alvo de contumazes
Por exemplo, algumas recomendações para críticas dos gestores de compras” (THORSTENSEN e
integridade: GIESTEIRA, 2021, p. 27).
Nesse sentido, em 2002 foi criado o pregão
“Altos padrões de integridade para todos os envolvi- eletrônico,
dos em processos licitatórios”, com “códigos de con-
dutas aplicáveis para todos os funcionários públicos [...] modalidade licitatória em que empresas ofer-
dispondo sobre questões como sigilo de informações tam bens comuns, ou seja, bens de qualidade e espe-
relevantes, comportamento profissional e conflito de cificações objetivamente definidos (por exemplo,
interesses” (THORSTENSEN e GIESTEIRA, 2021, p. 19). material de escritório, ar-condicionado, veículos
etc.), e a administração pública seleciona a oferta
Algumas recomendações para a transparência mais vantajosa (Lei nº 10.520/2002). (THORSTEN-
dos órgãos que promovem licitações: SEN e GIESTEIRA, 2021, p. 27)

A administração pública deve elaborar normas que E, em 2004, surgiram as chamadas parcerias públi-
disciplinem as alterações nas leis e nos regulamen- co-privadas (PPP),
tos que envolvam compras públicas. Essas normas
devem incluir sempre mecanismos de participação [...] que permitem a contratação de empresas priva-
da sociedade civil, envolvendo consultas e debates das por parte da administração pública, com a fina-
públicos. (THORSTENSEN e GIESTEIRA, 2021, p. lidade de prover um bem ou serviço internamente
20) para a população em geral (Lei nº 11.079/2004)
(THORSTENSEN e GIESTEIRA, 2021, p. 27).
Algumas recomendações para as políticas de
digitalização: Tudo isso com o intuito de facilitar o processo de
compras no setor público.
[...] a administração pública e seus órgãos licitan- Outro ponto que facilitou muito a eficiência (além
tes devem sempre empregar as tecnologias mais da economia, agilidade e rapidez) nas compras públicas
recentes no campo da informação e comunicação”, foi o “Portal de Compras do Governo Federal (Compras-
visando “garantir a maior transparência e aces- net)”, que é basicamente “um sistema web destinado à
so para potenciais competidores, cortando custos realização de licitações, contratações e aquisições pro-
e integrando o processo licitatório ao orçamento movidas pelas instituições do governo federal.”30 O portal

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


público (THORSTENSEN e GIESTEIRA, 2021, p. 20). foi desenvolvido pelo então Ministério do Planejamento,
Orçamento e Gestão e funciona desde 2001.
No Brasil, a Lei nº 8.666, de 1993, a chamada Lei de
Licitações, foi por muitos anos SUSTENTABILIDADE NAS CONTRATAÇÕES

[...] o principal marco normatizador das compras Como vimos, a própria Lei nº 14.133, de 2021 (Lei
realizadas pelas entidades governamentais, estabe- de Licitações e Contratos Administrativos), trouxe, em
lecendo “normas gerais sobre licitações e contratos seu a art. 5º, como um de seus princípios o “desenvol-
administrativos pertinentes a obras, serviços, inclu-
vimento nacional sustentável”.
sive de publicidade, compras, alienações e locações
Além disso, afirma em seu art. 11 que:
no âmbito dos poderes da União, dos estados, do
Distrito Federal e dos municípios” [...]. (THORSTEN-
Art. 11 O processo licitatório tem por objetivos:
SEN e GIESTEIRA, 2021, p. 26)
I - assegurar a seleção da proposta apta a gerar o
resultado de contratação mais vantajoso para a
Agora temos a Lei nº 14.133, de 2021 (comumente
Administração Pública, inclusive no que se refere
chamada de NLLP — Nova Lei de Licitações Públicas). ao ciclo de vida do objeto;
Em geral, quando as bancas falam em “compras II - assegurar tratamento isonômico entre os lici-
públicas”, as leis de licitações estão entre os assuntos tantes, bem como a justa competição;
mais promissores (o nosso foco aqui neste tópico é III - evitar contratações com sobrepreço ou com
entender o processo de compras em uma perspectiva preços manifestamente inexequíveis e superfatura-
mais ampla, mas veja que estudar as legislações apli- mento na execução dos contratos;
cáveis às licitações é de fundamental importância). IV - incentivar a inovação e o desenvolvimento
nacional sustentável.

30 COMPRASNET. SERPRO, [s.d.]. Disponível em: http://intra.serpro.gov.br/linhas-negocio/catalogo-de-solucoes/solucoes/principais-solucoes/


comprasnet. Acesso em: 20 dez. 2022. 103
Ou seja, um dos objetivos do processo licitatório é
justamente incentivar a inovação e o desenvolvimen- PROCESSOS DE COMPRAS
to nacional sustentável.
Além disso, lá no art. 144, temos o seguinte: ADMINISTRAÇÃO DE COMPRAS E MATERIAIS:
PROCESSOS DE COMPRAS GOVERNAMENTAIS E
Art. 144 Na contratação de obras, fornecimentos GERENCIAMENTO DE MATERIAIS E ESTOQUES
e serviços, inclusive de engenharia, poderá ser
estabelecida remuneração variável vinculada ao Na Administração Pública (Administração Direta,
desempenho do contratado, com base em metas, Empresas Estatais e Autarquias) em geral, ao contrá-
padrões de qualidade, critérios de sustentabilidade rio da iniciativa privada, as aquisições de qualquer
ambiental e prazos de entrega definidos no edital de natureza obedecem a Lei Geral de Licitações e Con-
licitação e no contrato. tratos (Lei nº 14.133, de 2021), motivo pelo qual se tor-
nam totalmente transparentes.
Ou seja, existem também critérios de sustentabi- Desse modo, é possível concluir que a diferença
lidade ambiental. entre os tipos de compras é o formalismo no serviço
Veja que há uma incorporação da agenda da sus- público e a informalidade na iniciativa privada. Essa
tentabilidade nas compras governamentais. formalidade no setor público se deve ao respeito do
Existe inclusive o Decreto nº 7.746, de 2012, que princípio da Legalidade.
regulamenta o art. 3º, da Lei nº 8.666, de 1993,
[...] a legalidade, como princípio de administração,
[...] para estabelecer critérios e práticas para a pro- significa que o administrador público está, em toda
moção do desenvolvimento nacional sustentável sua atividade funcional, sujeito aos mandamentos da
nas contratações realizadas pela administração lei, e às exigências do bem comum, e deles não se pode
pública federal direta, autárquica e fundacional e afastar ou desviar, sob pena de praticar ato inválido e
pelas empresas estatais dependentes, e institui a expor-se à responsabilidade disciplinar, civil e crimi-
Comissão Interministerial de Sustentabilidade na nal, conforme o caso. (MEIRELLES, 2005)
Administração Pública - CISAP.
Independente a essa particularidade, os demais
O decreto afirma, em seu art. 4º, que são considera- procedimentos de compras são praticamente idênti-
dos critérios e práticas sustentáveis, entre outras: cos tanto na esfera pública, quanto na privada.
E qual o procedimento que a Administração Públi-
Art. 4º Para os fins do disposto no art. 2º, são con- ca deve utilizar para realizar suas compras? Esse pro-
siderados critérios e práticas sustentáveis, entre cedimento é denominado de licitação.
outras: O tema de licitações públicas é aprofundado na
I - baixo impacto sobre recursos naturais como flo- disciplina de Direito Administrativo e dessa forma,
ra, fauna, ar, solo e água; cobrado pelos examinadores de maneira mais por-
II - preferência para materiais, tecnologias e maté- menorizada. Em suma, as questões deste tema na
rias-primas de origem local; disciplina de gestão de materiais são em relação aos
III - maior eficiência na utilização de recursos natu- aspectos gerais inerentes às compras públicas.
rais como água e energia;
IV - maior geração de empregos, preferencialmente LICITAÇÃO
com mão de obra local;
V – maior vida útil e menor custo de manutenção A Administração Pública, em regra, para comprar
do bem e da obra; qualquer material e/ou celebrar qualquer contrato
VI - uso de inovações que reduzam a pressão sobre administrativo, é obrigada a realizar um procedimen-
recursos naturais; to administrativo formal pelo qual é possível selecio-
VII - origem sustentável dos recursos naturais utili- nar a proposta mais vantajosa entre as oferecidas,
zados nos bens, nos serviços e nas obras; e respeitando os princípios da isonomia e da compe-
VIII - utilização de produtos florestais madeireiros titividade. Esse procedimento nada mais é do que a
e não madeireiros originários de manejo florestal Licitação Pública.
sustentável ou de reflorestamento. Nesse sentido, a natureza jurídica da licitação é de
procedimento administrativo formal, pois envolve um
Ou seja, ser sustentável significa promover o encadeamento de atos cronologicamente ordenados e
desenvolvimento, mas não esgotar os recursos para que objetivam chegar na celebração da aquisição do
o futuro. O intuito é promover um equilíbrio entre o bem pretendido. Portanto, para qualquer aquisição, a
uso dos recursos disponibilizados e a preservação do regra é licitar.
meio ambiente, por exemplo, sem comprometer o uso Entretanto, toda regra tem a sua exceção, principal-
desses recursos pelas próximas gerações. mente no ramo jurídico. Dessa forma, a Lei Geral de
Licitações e Contratos Administrativos (Lei nº 14.133,
REFERÊNCIAS de 2021) ensina acerca das possibilidades de afastar o
procedimento licitatório e realizar a compra de forma
DIAS, M. A. P. Administração de Materiais: uma direta, ou seja, são circunstâncias excepcionais de con-
abordagem logística. São Paulo: Atlas, 2010. tratação direta (hipóteses de dispensa e inexigibilidade).
RAZZOLINI FILHO, E. Administração de material e Diante do exposto, a licitação pode ser definida
patrimônio. 1. ed., rev. Curitiba: IESDE Brasil, 2013. como sendo o procedimento administrativo formal
THORSTENSEN, V.; GIESTEIRA, L. F. Cadernos em que a Administração Pública convoca, através da
Brasil na OCDE (Organização para Cooperação abertura de um edital, todos os interessados na apre-
e Desenvolvimento Econômico). Compras Públi- sentação de propostas para oferecimento de bens e
104 cas. Brasília: Ipea, 2021. serviços.
Esquematizando:

Sucessão de atos, relacionados


Procedimento
racionalmente, almejando a celebração
Administrativo
de um contrato administrativo
LICITAÇÃO
Para que todos tenham a possibilidade
Formal de acompanhar a licitação
(Transparência)

E quem pode instituir “as regras” do procedimento licitatório? Conforme o texto constitucional (inciso XXVII,
art. 22), é competência privativa da União legislar sobre normas gerais de licitação em todas as modalidades.
Entende-se por normas gerais aquelas que veiculam princípios, diretrizes e que padronizam os procedimentos.
Deste modo, a União promulgou a Lei nº 14.133, de 2021, também chamada de Lei Geral de Licitações e Contratos,
instituindo as normas gerais sobre licitações e contratos administrativos de aplicabilidade obrigatória às Administra-
ções Públicas Diretas, Autárquicas e Fundacionais da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
Atenção! A Lei n° 14.133, promulgada em 1° de abril de 2021, substitui a Lei n° 8.666, de 1993, trazendo (ou
tentando trazer) aspectos mais modernos para as compras governamentais.

Finalidades da Licitação

Como vimos, a regra é realizar o procedimento licitatório. Assim, ao ordenar a necessidade de licitação, a Cons-
tituição Federal busca assegurar a igualdade de condições a todos os concorrentes (inciso XXI, art. 37, CF, de 1988).
Já a Lei Geral de Licitações e Contratos foi mais detalhista, ordenando que o procedimento licitatório atendesse os
princípios da isonomia e da competitividade.
Nesse sentido, nos termos do art. 11, da Lei nº 14.133, de 2021, o procedimento licitatório tem por objetivos:

Art. 11 O processo licitatório tem por objetivos:


I - assegurar a seleção da proposta apta a gerar o resultado de contratação mais vantajoso para a Administração
Pública, inclusive no que se refere ao ciclo de vida do objeto;
II - assegurar tratamento isonômico entre os licitantes, bem como a justa competição;
III - evitar contratações com sobrepreço ou com preços manifestamente inexequíveis e superfaturamento na execu-
ção dos contratos;
IV - incentivar a inovação e o desenvolvimento nacional sustentável.

Destarte, infere-se que “assegurar a seleção da proposta apta a gerar o resultado de contratação mais vantajoso para
a Administração Pública”, nada mais é do que encontrar maior qualidade na prestação e/ou maior benefício econômico.
Percebemos que, nesse quesito, o poder público analisa a relação custo-benefício para decidir qual é mais vantajoso, ou
seja, realiza uma ponderação entre o custo e a qualidade do produto.
Exemplificando, esse objetivo pode ser relacionado ao momento em que a Administração Pública vai adquirir cane-
tas de tinta azul, por exemplo. Nesse âmbito, ao elaborar o edital de licitação inserem-se quesitos de qualidade para que
quando forem ser analisadas as propostas seja possível escolher a mais vantajosa. É preferível a compra de uma caneta

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


com o preço de R$ 1,00 (um real), mas com a usabilidade de 1 ano, do que a de uma caneta com o preço de R$ 0,10 (dez
centavos), cuja durabilidade é de apenas 1 dia.
Já o princípio da isonomia e da competitividade, “assegurar tratamento isonômico entre os licitantes, bem como a
justa competição”, é proporcionar a igualdade de oportunidades para todos que queiram contratar com o poder público.
Desse modo, afasta-se o arbítrio e o favorecimento infundado nos contratos firmados entre os particulares e a Adminis-
tração Pública.
O objetivo de evitar contratações com sobrepreço ou com preços manifestamente inexequíveis e superfatura-
mento na execução dos contratos foi uma das novidades desta nova lei de licitações. Dessa maneira, a Administração
Pública demonstra sua preocupação na qualidade de suas aquisições a fim de comprar com um preço justo de forma
transparente.
Por fim, o último objetivo é o de incentivar a inovação e o desenvolvimento nacional sustentável. A preocupação
com a sustentabilidade nas licitações objetiva conduzir o poder de compra governamental à indução de comportamen-
tos sustentáveis na produção do mercado nacional.

Dica
A inserção do vocábulo “sustentável” como um dos objetivos abriu caminho para as compras verdes (com-
pras sustentáveis), denominação empregada para as licitações com critérios e exigências de sustentabilida-
de ambiental.

Contratação Direta

Como já visto, o inciso XXI, art. 37, da Constituição Federal, estabelece a obrigatoriedade de licitar em casos de
obras, serviços e alienações, “ressalvados os casos específicos na legislação”. No trecho grifado, o constituinte
permitiu que o legislador infraconstitucional estabelecesse casos de contratação direta, ou seja, sem licitação. 105
Nesse sentido, inferimos que a regra é a licitação, enquanto a exceção abarca os casos de contratação direta
previstos em lei. Os casos em que a licitação não é obrigatória estão previstos na Lei nº 14.133, de 2021, mais espe-
cificamente nos arts. 74 e 75, que são classificados em duas hipóteses: dispensa e inexigibilidade.

Contratação Pública
Regra Licitação Pública
(obras, serviços,
compras
e alienações) E XC

ÃO

CONTRATAÇÃO DIRETA

Dispensa Inexigibilidade

z Inexigibilidade

A licitação tem como premissa a disputa entre concorrentes. Existem casos em que ocorre a inviabilidade de
licitar, sendo a doutrina denominada de hipóteses de inexigibilidade.
E quais são essas hipóteses? Elas ocorrem quando o objeto a ser contratado for único, sem equivalente e/ou
disponível para somente um fornecedor. Nesses casos, estamos diante das situações denominadas de produto ou
fornecedor exclusivo, em que não há opção de escolher a proposta mais vantajosa, pois só existe a possibilidade
de contratar e/ou comprar com aquele fornecedor único no mercado.
Esses casos não podem ser chamados de dispensa de licitação, pois só se dispensa algo que é possível escolher.
A inexigibilidade de licitar está prevista no art. 74, da Lei nº 14.133, de 2021, que revela ser inexigível a licitação
quando houver inviabilidade de competição, em especial nos casos elencados de forma exemplificativa em seus
incisos, desde que haja justificativa.
As hipóteses de inexigibilidade, à luz do que determina os incisos do art. 74, Lei nº 14.133, de 2021, são:

I - aquisição de materiais, de equipamentos ou de gêneros ou contratação de serviços que só possam ser fornecidos
por produtor, empresa ou representante comercial exclusivos;
II - contratação de profissional do setor artístico, diretamente ou por meio de empresário exclusivo, desde que con-
sagrado pela crítica especializada ou pela opinião pública;
III - contratação dos seguintes serviços técnicos especializados de natureza predominantemente intelectual com pro-
fissionais ou empresas de notória especialização, vedada a inexigibilidade para serviços de publicidade e divulgação.

Internalizando, tem-se que:


O inciso I corresponde às situações em que só é possível a contratação de um único fornecedor ou produtor,
pois este detém a exclusividade do objeto. Exemplificando: a aquisição de medicamentos e vacinas. Caso uma far-
macêutica tenha desenvolvido uma vacina única e sem similares para combater um vírus, o poder público pode
realizar a aquisição através da inexigibilidade.
O inciso II refere-se à contratação de profissional de qualquer setor artístico, mas nesse caso é necessário que
seja consagrado pela crítica ou pela opinião pública. Exemplificando: é quando o prefeito resolve contratar a can-
tora Anitta para celebração do aniversário da cidade. Veja que neste exemplo, o profissional contratado é consa-
grado pela crítica e pela opinião pública. Se o mesmo prefeito, por gosto próprio e peculiar, resolvesse contratar o
“Zezinho dos teclados”, um grande tecladista, mas conhecido somente no seu bairro e sem nenhum disco lançado,
não seria possível (correto) a opção pela inexigibilidade.
O inciso III diz respeito às situações das contratações dos serviços técnicos profissionais especializados, que
são os trabalhos relativos a:

„ estudos técnicos, planejamentos, projetos básicos ou projetos executivos;


„ pareceres, perícias e avaliações em geral;
„ assessorias ou consultorias técnicas e auditorias financeiras ou tributárias;
„ fiscalização, supervisão ou gerenciamento de obras ou serviços;
„ patrocínio ou defesa de causas judiciais ou administrativas;
„ treinamento e aperfeiçoamento de pessoal;
„ restauração de obras de arte e de bens de valor histórico;
„ controles de qualidade e tecnológico, análises, testes e ensaios de campo e laboratoriais, instrumentação e
monitoramento de parâmetros específicos de obras e do meio ambiente e demais serviços de engenharia
que se enquadrem no disposto neste inciso.

Atenção! É proibido contratar por inexigibilidade os serviços de publicidade e divulgação.

Dispensa de Licitação

Na dispensa de licitação há a possibilidade de competição entre os licitantes, mas, por opção do legislador, em
determinadas razões de interesse público existe a permissão para que o poder público realize a contratação sem
106 a prévia licitação.
Para tanto, as hipóteses de dispensa de licitação encontram-se nos 16 incisos, do art. 75, da Lei Geral de Licita-
ções, em um rol taxativo, ou seja, estabelece uma lista determinada não cabendo margem para uma interpretação
extensiva.
O gestor público, antes de decidir por alguma das hipóteses de contratação direta, deve percorrer o caminho
abaixo, a fim de verificar se a contratação se enquadra em inexigibilidade ou dispensa:

SIM SIM
A competição é Está autorizada à Dispensa de
viável? contratação direta? licitação

NÃO NÃO

Inexibilidade de LICITAÇÃO
licitação

Modalidades de Licitação

As modalidades de licitação dizem respeito aos procedimentos e formalidades, os quais deverão ser observa-
dos pelo poder público em cada licitação. Em outras palavras, é como se fosse o passo a passo (manual) de como
operacionalizar o procedimento licitatório.
As modalidades licitatórias estão previstas no art. 28, da supracitada lei, sendo elas:

z Pregão: a modalidade de licitação para aquisição de bens e serviços comuns, tendo como finalidade incremen-
tar a competitividade e a agilidade nas contratações públicas, independentemente do valor estimado do futuro
contrato. Atente-se: o pregão não se aplica às contratações de serviços técnicos especializados de natureza
predominantemente intelectual e de obras e serviços de engenharia;
z Concorrência: a modalidade de licitação que possui maiores formalidades, pois é exigida, normalmente, para
contratações de grande vulto;
z Concurso: a modalidade de licitação para escolha de trabalho técnico, científico ou artístico, mediante a insti-
tuição de prêmios ou remuneração aos vencedores, conforme critérios constantes de edital;
z Leilão: a modalidade de licitação adotada para alienação (venda) dos seguintes bens:

„ bens móveis inservíveis;


„ produtos legalmente apreendidos ou penhorados;
„ alienação de bens imóveis adquiridos em procedimentos judiciais ou mediante dação em pagamento.

z Diálogo Competitivo: essa modalidade de licitação é restrita a contratação na qual envolva inovação tecnoló-
gica ou técnica e necessite de algum tipo de adaptação de soluções disponíveis no mercado ou especificações
técnicas especiais para a Administração.

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


De acordo com o parágrafo 2º, art. 28, da Lei Geral de Licitação e Contratos, é vedado ao gestor público a cria-
ção de outras modalidades licitatórias ou a combinação das modalidades previstas. O referido § 2° é de grande
incidência em provas de concursos e normalmente cobrado na sua literalidade. Assim, segue abaixo:

Art. 28 [...]
§ 2º É vedada a criação de outras modalidades de licitação ou, ainda, a combinação daquelas referidas no caput
deste artigo.

Gerenciamento de Materiais e Estoque

Administrar materiais é uma atividade que vem sendo realizada pelas organizações desde as origens da ciên-
cia da administração. Ela tomou um grande impulso a partir do momento em que foi possível mensurar o seu
impacto nos custos da empresa. Nesse viés, se os investimentos em estoque forem otimizados, as negociações e
aquisições bem administradas e o sistema de distribuição bem estruturado, serão feitas contribuições significati-
vas para a redução dos custos e, consequentemente, o aumento dos lucros.
Apenas recentemente é que a administração de materiais emergiu como área estratégica na vida das empre-
sas, requerendo técnicas e métodos próprios em busca de uma gestão eficiente e eficaz para maximizar a compe-
titividade da organização.
De acordo com Dias (2009), nessa evolução, o enfoque da administração de materiais mudou o tradicional
“produção, estoque, venda” para um conceito mais atualizado, que envolve “definição de mercado, planejamento
do produto, apoio logístico”.

107
Como dito, todas as organizações em busca de seus objetivos administram recursos (que são escassos); decor-
rente dessa premissa, é cada vez maior a necessidade de maximizar seus processos de gestão para o alcance da
famosa vantagem competitiva.
Atualmente, verificamos que os recursos materiais são responsáveis por uma grande fatia dos custos de uma
organização, desse modo uma gestão bem-estruturada permite a obtenção de vantagens competitivas por meio da
redução de custos, da redução de investimentos em estoques, das melhorias do setor de compras e, consequente-
mente, na maior satisfação dos consumidores finais — no caso da Administração Pública: os cidadãos.
Outro fator que reforça a importância da administração de materiais é a grande interface que esta área tem
com os outros departamentos da empresa, tais como: área financeira, produção, vendas, recursos humanos,
informática.

Área
Financeira

Recursos Administração Área de


Humanos de Vendas
Materiais

Área de
Produção

Seguindo o entendimento do mestre Gonçalves (2020), autor do livro “Administração de Materiais” e também
considerado um dos maiores especialistas do assunto na atualidade, a gestão de materiais pode ser estudada divi-
dindo em 3 grandes especialidades (nichos):

z Gestão de Estoques;
z Gestão de Compras;
z Gestão dos Centros de Distribuição.

Controle
De quem e
físico dos materiais na
com quais condições
organização
comprar
Gestão dos
Centros Gestão de
de Distribuição Compras
Gestão de
Estoques

O que, quanto e
quando comprar

Atenção: essas três especialidades se complementam entre si, num ciclo contínuo e com frequente feedback
(retroalimentação).

z Gestão de Compras

Seu principal objetivo é assegurar o suprimento dos bens e serviços necessários, tanto para a produção quanto
para as demais atividades da empresa. Atividades relacionadas: cadastro de fornecedores, negociação e gestão
de contratos.
Sintetizando: realiza as licitações, decide as aquisições, negocia condições de fornecimento, fecha os contra-
tos com fornecedores.

z Gestão de Estoques

Responsável por garantir o suprimento dos materiais necessários ao bom funcionamento da organização,
evitando faltas, paralisações e satisfazendo às necessidades dos clientes internos e externos. Atividades relacio-
nadas: previsão de demanda, redução dos tempos de reposição (lead time) e implementação do Just in Time (JIT).

108
Sintetizando: examina os estoques para decidir a Por que devemos cobrar da Administração Públi-
necessidade de reposição, indica as quantidades e os ca a adoção de políticas ambientais sustentáveis? A
prazos de entrega. resposta dessa pergunta podemos perceber em nosso
cotidiano, em que cada vez mais são visíveis os proble-
z Gestão dos Centros de Distribuições mas ambientais locais, regionais e globais, tais como:

Seu objetivo é receber os materiais adquiridos z aquecimento global e mudanças climáticas;


pelo setor de compras e planejados pelo setor de esto- z chuva ácida;
ques, além de efetuar sua guarda e atender às soli- z acumulação de substancias perigosas no ambiente;
citações dos usuários desses materiais, suprindo-os z degradação das florestas;
nas quantidades requeridas e no momento oportuno. z perda da biodiversidade;
Atividades relacionadas: localização dos centros de z poluição e a escassez de água.
distribuição, arranjo físico (layout) e equipamentos de
movimentação e transporte. Meio Ambiente Problemas
Sintetizando: realiza o controle físico dos mate- Sustentável Ambientais
riais, recebe, armazena e fornece os materiais.

Aquecimento
SUSTENTABILIDADE DAS CONTRATAÇÕES
Global

Atualmente, a preocupação na preservação do meio Degradação das


ambiente, a responsabilidade social e as boas práticas florestas
corporativas tornaram-se assunto central no cotidiano
das organizações, muito devido à real necessidade de Perda da
construir uma organização que agregue valor à socieda- biodiversidade
de, mas também por uma enorme pressão da sociedade Compras
(mercado). Públicas Poluição e
Sustentáveis escassez de
Esse novo paradigma de organização, além do águas
objetivo de gerar renda para seus acionistas, tem seu
foco na sustentabilidade, ou seja, a necessidade de
se garantir a disponibilidade dos recursos da Terra
hoje, assim como para nossos descendentes, por meio
de uma gestão que contemple a proteção ambiental, a
justiça social e o desenvolvimento econômico equili-
brado de nossas sociedades.
Em todo mundo, existe a consciência de que o Com o objetivo de minimizar os problemas apre-
ambiente é uma questão sistêmica, a qual envolve não sentados acima, a Administração Pública percebeu a
só a participação dos governos, mas também de toda importância das compras públicas sustentáveis como
a sociedade, pois sabemos que todas as necessidades ferramenta essencial na idealização de uma socieda-
humanas precisam ser atendidas por algum tipo de de mais justa que respeite o meio ambiente para hoje
produto e serviço que cobra um preço da natureza. e para o futuro.
Neste sentido, a Administração Pública Federal Neste sentido, as compras públicas sustentáveis
elaborou e publicou um guia de compras públicas sus- (CPS) são:
tentáveis com o objetivo de orientar todos os gestores

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


públicos na inserção de critérios que coadunam com […] uma solução para integrar considerações
a responsabilidade ambiental. ambientais e sociais em todas as fases do proces-
Inferimos do conceito de sustentabilidade que não so de compra e contratação de governos, visando
basta somente a preocupação com a preservação dos reduzir impactos sobre a saúde humana, o meio
recursos naturais, mas também proporcionar a todos ambiente e os direitos humanos31.
os cidadãos a igualdade de oportunidades, criando
assim uma cultura de desenvolvimento equilibrado Assim, as compras públicas sustentáveis pressu-
para hoje e para as futuras gerações. põem na adoção de quatro ações que somadas podem
É sabido que as compras públicas representam realmente fazer a diferença, são elas:
uma grande parcela nos mercados, assim, torna-se
ferramenta essencial na consolidação e fomentação Responsabilidade de consumidor
das melhores práticas nas aquisições seguindo os
parâmetros da sustentabilidade e influenciando todos Os consumidores têm uma grande influência na
economia. Se os consumidores estivessem somente
os atores participantes tanto na produção quanto no
interessados em pagar o menor preço possível, isto
consumo.
poderia conduzir a uma espiral descendente com
condições cada vez piores da saúde, danos ambien-
Dica tais e da qualidade dos produtos. Quando os con-
sumidores demandam produtos de alta qualidade
A compra pública sustentável também é
e alto desempenho, produzidos em circunstancias
conhecida pela literatura especializada como: justas e com impactos ambientais menores, a com-
“ecoaquisição”, “compras verdes”, “compra petição global é afetada positivamente, pois os
ambientalmente amigável”, “licitação positiva” e fornecedores concorrem baseando-se na sustenta-
“licitação sustentável”. bilidade, ao invés de se orientar pelo menor preço.

31 BRASIL. Ministério da Fazenda. Orientações: contratações sustentáveis. Brasília: Coordenação-Geral de Recursos Logísticos/SPOA, 2014, p. 8. 109
Comprando somente o necessário conceitos em somente uma expressão, foi denomina-
da a sigla no idioma inglês ESG — Environmental,
A melhor maneira para evitar os impactos nega- Social and Governance — ou, em português, ASG,
tivos associados às compras de produtos e à referindo-se a Ambiental, Social e Governança.
contratação de serviços, é limitar o consumo ao
atendimento de necessidades reais, sem desperdí-
cio, por exemplo, adotando a reutilização para pro-
longar a vida útil do produto.

Promovendo a inovação
Environmental Governance
Determinados produtos e serviços são absoluta-
mente imprescindíveis. A solução mais inteligente é
comprar um produto com menor impacto negativo
e utilizá-lo de maneira eficiente, impedindo ou mini-
mizando a poluição ou a pressão sobre os recursos
naturais, desenvolvendo, por sua vez, produtos e Social
serviços inovadores.

Abordagem do ciclo de vida

Para evitar a transferência de impactos ambien- z Environmental (Fatores Ambientais): consiste


tais negativos de um meio ambiente para outro, e no uso sustentável dos recursos naturais. Inclui
para incentivar melhorias ambientais em todos os práticas como o uso de recursos naturais, uso de
estágios da vida do produto, é preciso que todos os fontes renováveis de energia, diminuição das
impactos e custos de um produto, durante todo seu emissões de gases de efeito estufa, capacidade
ciclo de vida (produção, distribuição, uso e dispo- energética, gerenciamento de resíduos, poluição,
sição), sejam levados em conta na tomada de deci- desenvolvimento de tecnologias limpas, regula-
sões sobre as compras.32
mentação ambiental;
z Social (Fatores Sociais): consiste em práticas
que potencializam a inclusão social. Por exemplo:
diversidade, inclusão social, políticas de trabalho,
Responsabilidade direitos humanos, mobilidade, relações com a
de Consumidor comunidade, qualidade de emprego, diversidade
social e direitos sociais;
Compras Públicas Sustentáveis

z Governance (Fatores de Governança): consiste


em ações que priorizam a transparência e a inte-
Comprando
somente o gridade na gestão das organizações. Por exemplo:
necessário ética e transparência, participação popular, acessi-
bilidade nas decisões governamentais e indepen-
dência dos conselhos administrativos.

Promovendo Diante do exposto, inferimos que o conceito apre-


a Inovação
sentado é a tentativa de equilibrar a busca pelo equilí-
brio ambiental, social e corporativo, proporcionando
a todos os cidadãos a igualdade de oportunidades, um
meio ambiente preservado e o desenvolvimento sus-
Abordagem do tentável como sociedade.
Cliclo de Vida
Seguindo a tendência do mercado e pressiona-
do pela sociedade, a Administração Pública instituiu
diversas políticas que coadunam com a necessidade
de uma maior responsabilidade ambiental e social.
Adotando plenamente as boas práticas das com- Como exemplo dessas políticas, encontramos na
pras públicas sustentáveis, como benefício ocorrerá legislação pátria critérios e práticas sustentáveis que
uma significativa melhora na imagem do governo devem ser adotadas por toda a administração públi-
perante a sociedade, além de induzir a adoção destas ca com o objetivo de promover o desenvolvimento
práticas também na esfera privada, consequentemen- nacional sustentável e assim transformar a sociedade
te, criando assim uma sociedade que realmente se em um lugar mais justo e menos desigual, entre elas
preocupa com a responsabilidade ambiental. temos:
Atualmente, foi introduzida na agenda tanto públi-
ca, quanto privada, a expressão ESG. Vamos entender z baixo impacto sobre recursos naturais como flora,
melhor esse conceito adiante. fauna, ar, solo e água;
Devido a esse paradoxo entre as necessidades z preferência para materiais, tecnologias e maté-
humanas e a escassez dos recursos naturais, a susten- rias-primas de origem local;
tabilidade é vista como fator crucial para o desenvolvi- z maior eficiência na utilização de recursos naturais
mento da sociedade, e assim para agrupar todos esses como água e energia;
32 Guia de Compras Públicas Sustentáveis para Administração Federal, 2010. Disponível em: https://bibliotecadigital.economia.gov.br/bits-
110 tream/777/617/1/guias_de_compras_publicas_sustentaveis_para_apf.pdf. Acesso em: 22 dez. 2022.
z maior geração de empregos, preferencialmente Nesse sentido, a manifestação da vontade da Admi-
com mão de obra local; nistração Pública para desempenhar as atividades
z maior vida útil e menor custo de manutenção do administrativas e atender o interesse público pode ser
bem e da obra; classificada como: unilateral (atos administrativos),
z uso de inovações que reduzam a pressão sobre bilateral (Contratos administrativos) ou plurilateral
recursos naturais; (consórcios e convênios).
z origem sustentável dos recursos naturais utiliza-
dos nos bens, nos serviços e nas obras; ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
z utilização de produtos florestais madeireiros e não (MANIFESTAÇÃO DA VONTADE)
madeireiros originários de manejo florestal sus-
tentável ou de reflorestamento.
Unilateral Bilateral Plurilateral
Você pode se perguntar como a Administração
Pública pode pôr em prática todos esses conceitos
referentes a sustentabilidade. Sabemos que um gran- Ato Contratos Consórcios e
de percentual das compras e contratação de serviços é Administrativo Administrativo convênios
realizado por instituições públicas (Federal, Estadual
e Municipal), tornando a licitação uma excelente fer- O objeto de estudo deste tópico é a relação bilateral
ramenta na consolidação e fomentação das melhores entre a Administração Pública e terceiros, ou seja, o
práticas ambientais e sociais, seguindo os parâmetros famoso Contrato Administrativo.
da sustentabilidade e influenciando todos os atores A relação unilateral (ato administrativo) e a rela-
participantes tanto na produção quanto no consumo. ção plurilateral (consórcios e convênios) são estu-
Por fim, concluímos que o alinhamento com as dadas em profundidade pela disciplina de Direito
premissas do ESG deve ser entendido como um pro- Administrativo.
cesso participativo que cria e almeja uma visão de Os contratos administrativos são manifestações de
comunidade que respeita e utiliza com a máxima pru- vontades bilaterais, entre um terceiro e a Administra-
dência todos os recursos (naturais, sociais, culturais). ção Pública. E, como regra, os contratos que envolvam
Para finalizar este assunto de suma importância obras, serviços, compras e alienações são resultantes
para toda a sociedade e também para as provas de de um processo licitatório, que assegura igualdade de
concursos, veja um trecho da Declaração da Confe- condições a todos os concorrentes (art. 37, inciso XXI
rência da ONU sobre o meio ambiente, em Estocolmo da Constituição Federal). O que permite a observância
(1972): “Defender e melhorar o meio ambiente para
do Princípio da Isonomia e a garantia da ampla con-
atuais e futuras gerações se tornou uma meta funda-
corrência, prevalecendo o interesse público.
mental para a Humanidade.” (parágrafo 6º)
A principal norma que trata dos contratos adminis-
trativos é a Lei 8.666/1993, que regulamenta o art. 37,
inciso XXI, da Constituição Federal e institui normas
GESTÃO DE CONTRATOS para licitações e contratos da Administração Pública.
Veja que alguns requisitos serão obrigatórios para
A gestão dos contratos administrativos é um dos que o contrato seja considerado um “contrato admi-
assuntos essenciais à gestão pública, esse tema vai nistrativo”, são eles:
estar presente no seu dia a dia como servidor.
Para o desenvolvimento de suas atividades e o z Participação da Administração Pública em pelo
pleno funcionamento da máquina pública, a Adminis- menos uma das partes;

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


tração Pública precisa contratar bens e/ou serviços de z Existência de cláusulas que coloquem a Adminis-
terceiros e o instituto que formaliza essa contratação tração em posição de superioridade (cláusulas
é o famoso contrato administrativo. exorbitantes);
Ao completar o estudo deste tópico, você será
z Reciprocidade nas obrigações, que devem ser per-
capaz de compreender os seguintes assuntos: concei-
tinentes a obras, serviços, compras;
to e a natureza jurídica, características, as famosas
z Reequilíbrio Econômico-Financeiro.
cláusulas exorbitantes, gestão dos contratos admi-
nistrativos (gerenciamento, fiscalização e acompa-
nhamento), recebimento do objeto e a extinção do Regido precipuamente por normas de Direito
contrato administrativo. Público, nele estão previstas prerrogativas especiais
Sem mais delongas, vamos ao estudo! para a Administração Pública, o que a doutrina deno-
mina “cláusulas exorbitantes”.
DEFINIÇÃO E NATUREZA JURÍDICA DO Dos requisitos acima elencados, as cláusulas exor-
CONTRATO ADMINISTRATIVO bitantes compõem os assuntos mais debatidos pela
doutrina e, por essa razão, tornam-se bastante explo-
Para desenvolver suas atividades cotidianas, a radas pelos examinadores nas questões.
Administração Pública necessariamente realiza negó- E o que se entende por Cláusulas Exorbitantes?
cios com terceiros. São verdadeiras cláusulas de privilégio conferidas
Quando precisa contratar um serviço de vigilân- a Administração Pública, que as colocam em um pata-
cia ou limpeza, construir um novo prédio, adquirir mar de relativa superioridade na relação contratual
bens para seu funcionamento, em todos esses casos, com terceiros.
a Administração Pública precisará formalizar uma Essas cláusulas se justificam, pois, a Administração
relação negocial com terceiros, através de um contra- Pública age em nome de toda a coletividade, de forma
to administrativo, influenciado por normas de Direito que tais poderes são indispensáveis em busca do inte-
Público. resse público na contratação. 111
São exemplos de cláusulas exorbitantes, à luz do Vamos agora estudar as principais características
artigo 58 da Lei nº 8.666/1993, aquelas que possibili- do contrato administrativo!
tam a Administração:
CARACTERÍSTICAS DO CONTRATO
z Modificação unilateral dos contratos, para melhor ADMINISTRATIVO
adequação às finalidades de interesse público, res-
Primeiramente, vamos relembrar as duas prerro-
peitados os direitos do contratado;
gativas que estarão presentes em todos os contratos
z Rescisão unilateral dos contratos; administrativos:
z Fiscalizar a execução do contrato;
z Participação da Administração Pública em uma
z Aplicações de sanções motivadas pela inexecução das partes;
total ou parcial; z Objeto sempre atrelado a uma finalidade pública,
z Ocupação provisória, no caso de serviços essên- destinado a atender a coletividade.
cias, de bens móveis, imóveis, pessoal e serviços
vinculados ao objeto do contrato. Devido ao seu caráter público e respeitando o
dever de transparência, todo contrato administrativo
deve conter cláusulas que expressem com clareza e
Administração objetividade as condições da contratação, definindo
Terceiros
Pública os direitos, os deveres e as responsabilidades das par-
tes, seguindo os mandamentos da lei.
A maioria das características dos contratos admi-
nistrativos encontramos dispersas nos artigos da Lei
Cláusulas
Exorbitantes
nº 8.666/1993, que nos ensina que todo contrato admi-
(Privilégios) nistrativo deve ser:

Cláusulas z Formal: Todos os contratos administrativos devem


Cláusulas
contratuais
contratuais ser formais, produzidos por escrito no idioma por-
tuguês. É nulo e de nenhum efeito o contrato ver-
bal com a Administração Pública.

Vale ressaltar que de acordo com o artigo 60, pará-


grafo único, da Lei nº 8.666, de 1993, existe apenas
Percebemos, na figura acima, que as cláusulas exor- uma única exceção: para pequenas compras de pron-
bitantes são as prerrogativas que alteram a relação da to pagamento.
Administração Pública com os terceiros, conferindo
verdadeiros privilégios em prol do interesse da coleti- z Oneroso: A Administração Pública deve remune-
vidade, pois o contrato administrativo vai atender as rar o contratado (particular) pela contraprestação
necessidades de todos, e assim, deve estar em um pata- do objeto do contrato;
mar mais elevado do que os contratos privados. z Comutativo: As partes do contrato são compensa-
das reciprocamente. Cabe a Administração Pública
o cumprimento do contrato, já ao particular, rece-
Importante! ber pela execução;
z Mutabilidade: Os contratos administrativos
As cláusulas exorbitantes são estabelecidas podem ser frequentemente alterados em prol do
pela Lei, em favor da Administração Pública, e interesse público;
não cabe ao gestor sua ampliação arbitrária. z Cumulatividade: Prerrogativa da possibilidade de
contratar com diferentes partes para a execução
das mesmas atividades. Não existe a obrigatorie-
Já o reequilíbrio Econômico-Financeiro funcio- dade de exclusividade;
na como uma restrição a atuação da Administração z Intuitu Personae: Os contratos administrativos
Pública, pois garante ao particular que, caso haja algu- são contratos pessoais, com isso, exige que a execu-
ma alteração unilateral que implique maiores ônus ao ção do contrato seja efetuada pela mesma pessoa
contrato, a Administração Pública deverá ajustar eco- (pessoa física ou jurídica) que aceitou a obrigação
nomicamente o acordo. perante a Administração Pública. Em regra, não se
É importante lembrar que é possível a alteração pode subcontratar;
unilateral das cláusulas regulamentares ou de servi- Exemplificando: Caso uma empresa seja vencedo-
ço, por outro lado, as cláusulas inerentes aos aspec- ra de uma licitação para fornecimento de mate-
tos econômico financeiros não podem ser alteradas riais de escritório, não poderá subcontratar outra
unilateralmente. empresa para o fornecimento.
Exemplificando: Caso a Administração Pública assi- z Finalidade pública: O objeto do contrato admi-
ne um contrato prevendo o pagamento de R$10.000,00 nistrativo será sempre um bem, direito ou serviço
ao mês para uma empresa de vigilância, não é permi- destinado a atender uma necessidade pública;
tido a Administração no mês seguinte “querer” (alte- z Contratos de adesão: Embora o contrato admi-
rar) pagar R$6.000,00 pelo mesmo serviço. nistrativo seja consensual na opção de aceitar ou
Nesse sentido, apesar de o contrato administrativo não a sua assinatura, não há espaço para discutir
ter como objetivo o interesse público, há também de as cláusulas impostas previamente (na licitação).
ser interessante financeiramente ao particular, sob o A Administração Pública impõe a outra parte o
risco de não encontrar nenhuma empresa que queira contrato final, cabendo somente a opção de aderir
112 contratar com o poder público. (assinar) ou rejeitar o contrato;
z Precedidos de licitação: Em regra, todos os con- z Designação dos fiscais responsáveis pelo gerencia-
tratos administrativos são precedidos de um proce- mento dos contratos, respeitando a sua expertise;
dimento licitatório em que devem ser respeitados z Designar comissões de recebimento dos objetos
os princípios da Administração Pública; contratados;

Vale ressaltar que as contratações diretas (dispen- A estruturação de um bom sistema de gerencia-
sa e inexigibilidade) são exceção a esta característica. mento de contratos é condição essencial na busca pela
Nesse caso, a contratação não é precedida de uma otimização do dinheiro público, sendo capaz de evi-
licitação. tar possíveis danos e garantindo a continuidade dos
serviços.

CONTRATOS ADMINISTRATIVOS ACOMPANHAMENTO E FISCALIZAÇÃO DA


EXECUÇÃO DOS CONTRATOS
Formais Onerosos Comutativos
Após a contratação, inicia-se a execução do contra-
to. Nessa fase, é dever da Administração Pública o seu
Cumulatividade Mutabilidade Intuitu
acompanhamento e fiscalização.
Personae
Entende-se por acompanhamento o monitoramen-
to em tempo real da execução, ou seja, estar presente
GESTÃO DE CONTRATOS na sua execução.
Já a fiscalização significa verificar se os requisitos
Analisando os artigos referente ao contrato admi- contratados estão sendo obedecidos em sua execução.
nistrativo (artigo 54 até artigo 80) da Lei Geral de Lici- A fiscalização da execução dos contratos é uma
tações e Contratos, de forma implícita, o legislador obrigação da Administração Pública, não cabe ao ges-
impôs a Administração Pública o dever de organizar e tor a escolha se deve ou não fiscalizar. É um dever
implantar um eficiente sistema de gestão de contratos, imposto pela Lei e pelos princípios da Administração
que compreende o gerenciamento, o acompanhamen- Pública.
to e a fiscalização de sua execução, e o recebimento do É importante registrar que para aquelas pequenas
objeto contratado. compras ou simples contratações de serviços, com
entrega única, em que não demandam maiores cuida-
dos, o acompanhamento e fiscalização terá um papel
Gerenciamento
mais simples, possibilitando o ateste do objeto com
uma simples conferência.
Por outro lado, nas contratações que demandam
Recebimento GESTÃO DE um maior cuidado, seja por envolverem um grande
CONTRATOS Acompanhamento
do Objeto volume de recursos ou devido a sua complexidade,
a execução do contrato deverá ser acompanhada e
fiscalizada por um representante da Administração
especialmente designado. Esse é o teor do artigo 67 da
Fiscalização Lei nº 8.666, de 1993, transcrito abaixo:

Art. 67 A execução do contrato deverá ser acom-


O sistema de gestão de contratos constitui em um panhada e fiscalizada por um representante da

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


planejamento. Ele deve conter de forma clara os obje- Administração especialmente designado, permitida
tivos, processos, responsabilidades, competências e a contratação de terceiros para assisti-lo e subsi-
atores responsáveis destinados em acompanhar e diá-lo de informações pertinentes a essa atribuição.
fiscalizar o contrato, garantindo assim o alcance dos
resultados pretendidos. O artigo acima citado é de grande incidência nas
Desse modo, entende-se como gerenciamento o provas de concurso, em que o examinador explora se
dever da Administração Pública de estruturar uma é possível a contratação de terceiros para a fiscaliza-
supervisão responsável pelas atribuições gerais ine- ção contratual.
rentes aos contratos, tais como: controlar prazos, A resposta é clara: não é permitido a contratação
atualizar os documentos, prorrogações, estabelecer o de terceiros para exercer o papel de fiscal do contrato,
reequilíbrio econômico-financeiro, auditar pagamen- e sim somente para auxiliar a fiscalização.
tos, entre outros. Internalizando o conhecimento e para você nunca
Essa atribuição de responsabilidades pode recair mais errar na sua prova, temos o esquema abaixo:
sobre um setor específico, ou até mesmo um único
servidor designado, a depender do tamanho e com- z Representante da Administração Pública
FISCAL DO
plexidade da gestão. (servidor público)
CONTRATO
Outras providências de suma importância para o z Fiscalização do objeto
bom gerenciamento dos contratos devem ser adota-
das pela Administração Pública são: AUXILIAR DE z Permitida a contratação de terceiros
FISCALIZAÇÃO z Assistência e subsídios de informações
z Capacitação dos servidores responsáveis pela ges-
tão, com vistas a assegurar o entendimento das
normas legais; Após a sua posse e entrada em exercício, caso você
z Elaboração, em forma de manual, das orientações seja alocado no setor administrativo, é bem provável
gerais para gerenciamento dos contratos; sua designação para ser gestor (fiscal) de contratos. 113
Assim, esse assunto, além de despencar nas provas, vai ser de extrema utilidade nas suas atribuições como ser-
vidor público (somente por curiosidade, foi o que aconteceu comigo quando tomei posse no meu primeiro cargo
público: após 1 mês de entrar em exercício, fui designado como fiscal de contrato).
Portanto, vamos entender as atribuições e competências da figura do fiscal de contrato!
Como já vimos, é obrigação da Administração manter, desde o início até o final do contrato, servidor público
especialmente designado com conhecimentos e experiência suficientes para o acompanhamento e fiscalização do
objeto contratado. Assim, é de responsabilidade da autoridade competente verificar se o servidor escolhido para
este mister tem um perfil adequado, competência e responsabilidade para exercer essa importante função.

Dica
A designação do fiscal do contrato normalmente é realizada através de portaria publicada no boletim de ser-
viços local do próprio órgão.

Muito se debatia se essa designação para exercer a função de fiscal de contrato era passível de recusa por parte
do servidor, para dirimir essa dúvida o Tribunal de Contas da União se debruçou sobre o tema e decidiu:
A designação como fiscal de contrato, conforme jurisprudência do TCU, não pode ser recusada por não tratar
de ordem manifestamente ilegal.
É o teor do Acórdão nº 2.917, de 2010 – Plenário TCU (Tribunal de Contas da União):

5.7.7 O servidor designado para exercer o encargo de fiscal não pode oferecer recusa, porquanto não se trata de
ordem ilegal. Entretanto, tem a opção de expor ao superior hierárquico as deficiências e limitações que possam
impedi-lo de cumprir diligentemente suas obrigações. A opção que não se aceita é uma atuação a esmo (com impru-
dência, negligência, omissão, ausência de cautela e de zelo profissional), sob pena de configurar grave infração
à norma legal (itens 31/3 do voto do Acórdão nº 468/2007-P).” (Trecho do Relatório do acórdão do Min. Valmir
Campelo)

Entretanto, ainda que não possa ser recusada, o fiscal pode solicitar a capacitação para as atividades, além de
solicitar que exista uma avaliação da compatibilidade da sua qualificação com aquela exigida para a atividade:

5.7.6 Acerca das incumbências do fiscal do contrato, o TCU entende que devem ser designados servidores públicos
qualificados para a gestão dos contratos, de modo que sejam responsáveis pela execução de atividades e/ou pela
vigilância e garantia da regularidade e adequação dos serviços (item 9.2.3 do Acórdão nº 2.632/2007-P).

Esquematizando:

Autoridade Não!
Portaria
máxima

designação cabe recusa?


×

Fiscal do contrato
Verificar perfil:
z Competência
z Responsabilidade

Outra figura de destaque na gestão de contratos é o representante da empresa contratada denominado de pre-
posto. Essa pessoa junto à contratante será o elo entre o fiscal do contrato e a empresa contratada.
É o que diz o art. 68, da Lei n° 8.666, de 1993:

Art. 68 O contratado deverá manter preposto, aceito pela Administração, no local da obra ou serviço, para repre-
sentá-lo na execução do contrato.

O preposto indicado pela empresa poderá ser aceito ou não pela Administração Pública!
Já em relação de contratação de serviços sob o regime de execução indireta, devido a sua alta complexidade, a
Administração Pública Federal refinou a sua fiscalização inovando em alguns pontos específicos.
Entende-se como execução indireta aqueles serviços que em vez de executar diretamente por seus servidores
(admitidos por meio de concursos público), contrata empresa para que esta os realize, com o seu pessoal e sob a
sua responsabilidade. Os exemplos mais frequentes são: serviço de limpeza e serviço vigilância patrimonial. No
âmbito federal, temos a Instrução Normativa do Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão n.º 05 de
26 de maio de 2017, a qual dispõe sobre as regras e diretrizes do procedimento de contratação de serviços sob o
regime de execução indireta.
Tal normativa deve ser observada para fins da adequada gestão e fiscalização contratual, fixando regras de
suma importância para aqueles que têm a responsabilidade sobre contratos de serviços para a realização de tare-
fas executivas sob o regime de execução indireta. Isto com o objetivo de verificar o cumprimento dos resultados
114 previstos pela Administração para os serviços contratados, a regularidade das obrigações previdenciárias, fiscais
e trabalhistas, eventual aplicação de sanções, extinção
FISCAL ADMINISTRATIVO
dos contratos, visando assegurar o cumprimento das
cláusulas avençadas e a solução de problemas relati- z Avalia aspectos administrativos
vos ao objeto. z Obrigações previdenciárias, fiscais e trabalhistas
Para permitir uma gestão e fiscalização efetiva são
nomeados fiscais e gestores para que acompanhem de FISCAL SETORIAL
perto cada momento da execução contratual. De for-
ma didática, a Instrução Normativa nº 05/2017 (Minis- z Avalia aspectos técnicos e administrativos
tério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão)
traz quais são as atribuições de cada um deles: Prestação ocorre simultaneamente:

Art. 40 O conjunto de atividades de que trata o z Setor distintos


artigo anterior compete ao gestor da execução dos z Unidades desconcentradas
contratos, auxiliado pela fiscalização técnica, admi-
nistrativa, setorial e pelo público usuário, confor-
PÚBLICO USUÁRIO
me o caso, de acordo com as seguintes disposições:
I - Gestão da Execução do Contrato: é a coordenação z Avalia aspectos qualitativos do objeto por meio de
das atividades relacionadas à fiscalização técnica, pesquisa de satisfação junto ao usuário
administrativa, setorial e pelo público usuário, bem
como dos atos preparatórios à instrução proces-
Para auxiliar, aos fiscais e gestores são previstos
sual e ao encaminhamento da documentação perti-
nente ao setor de contratos para formalização dos instrumentos de controle que auxiliam na análise da
procedimentos quanto aos aspectos que envolvam execução dos contratos e compreendem a mensuração
a prorrogação, alteração, reequilíbrio, pagamento, do alcance dos resultados, dos recursos humanos dispo-
eventual aplicação de sanções, extinção dos contra- nibilizados, dos recursos materiais utilizados, da ade-
tos, dentre outros; quação dos serviços prestados, da satisfação do público
II - Fiscalização Técnica: é o acompanhamento com usuário e outras obrigações decorrentes do ajuste.
o objetivo de avaliar a execução do objeto nos mol- Diante do exposto, percebemos que para o sucesso
des contratados e, se for o caso, aferir se a quan- da gestão contratual é necessário o conhecimento da
tidade, qualidade, tempo e modo da prestação dos legislação e o comprometimento de todos os atores da
serviços estão compatíveis com os indicadores de fiscalização mencionados, além do suporte necessário
níveis mínimos de desempenho estipulados no ato que deve prover a Administração Pública.
convocatório, para efeito de pagamento conforme
o resultado, podendo ser auxiliado pela fiscalização RECEBIMENTO DO OBJETO CONTRATADO
de que trata o inciso V deste artigo;
III - Fiscalização Administrativa: é o acompanha- A etapa final da execução do contrato administra-
mento dos aspectos administrativos da execução tivo se concretiza com o recebimento do objeto con-
dos serviços nos contratos com regime de dedica- tratado. Esse recebimento é de responsabilidade do
ção exclusiva de mão de obra quanto às obrigações servidor ou comissão e deve atender requisitos de
previdenciárias, fiscais e trabalhistas, bem como
conhecimento, responsabilidade, competência e fami-
quanto às providências tempestivas nos casos de
liaridade com o bem ou serviço entregue.
inadimplemento;
O recebimento do objeto, conforme especificado
IV - Fiscalização Setorial: é o acompanhamento
no artigo 73 da Lei nº 8.666, de 1993, pode ser provisó-
da execução do contrato nos aspectos técnicos ou
rio ou definitivo.

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


administrativos quando a prestação dos serviços
ocorrer concomitantemente em setores distintos ou O recebimento provisório, como o próprio nome
em unidades desconcentradas de um mesmo órgão diz, atesta apenas que o objeto foi entregue e que o
ou entidade; mesmo será submetido à verificação dos requisitos
V - Fiscalização pelo Público Usuário: é o acom- expostos no edital de licitação, termo de referência e
panhamento da execução contratual por pesquisa no próprio contrato.
de satisfação junto ao usuário, com o objetivo de Caso o objeto esteja em desacordo com o contrata-
aferir os resultados da prestação dos serviços, os do, a Administração Pública poderá rejeitá-lo, no todo
recursos materiais e os procedimentos utilizados ou em parte. Por outro lado, caso o objeto esteja em
pela contratada, quando for o caso, ou outro fator acordo com o especificado, a Administração deverá
determinante para a avaliação dos aspectos quali- lavrar o termo do recebimento definitivo.
tativos do objeto. O fiscal do contrato (ou comissão designada) é res-
ponsável pelo ateste do recebimento definitivo, que
No quadro abaixo, sintetizamos os principais se tratando de um bem, poderá ser incorporado ao
pontos: patrimônio.
Resta claro na Lei Geral de Licitação e Contratos
(Lei nº 8.666/1993) a diferenciação do recebimento em
FISCAL TÉCNICO casos de obras e serviços com o recebimento de com-
Avalia a execução do objeto: pras ou locação de equipamentos.
Em se tratando de obras e serviços:
z Quantidade, qualidade, tempo e modo z Devem ser recebidos provisoriamente, mediante
z Indicadores de desempenho termo circunstanciado, pelo responsável por seu
z Subsidia pagamento com base no resultado acompanhamento e fiscalização, assinado pelas
partes em até 15 dias da comunicação escrita do
contratado; 115
z Devem ser recebidos definitivamente, por servidor
ou comissão designada pela autoridade competen- RECEBIMENTO DO OBJETO CONTRATADO
te, mediante termo circunstanciado, assinado pelas DISPENSA O RECEBIMENTO PROVISÓRIO
partes, após o decurso de observação, ou vistoria
que comprove a adequação do objeto ao contrato. z Gêneros perecíveis
z Serviços profissionais
Em se tratando de compras ou de locação de equi- z Obras e serviços de pequeno vulto
pamentos:
z Devem ser recebidos provisoriamente, para verifi- EXTINÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS
cação da conformidade do material com a especi-
ficação, ou seja, na linguagem popular, atestar se O contrato administrativo, em regra, tem uma
não “comprou gato por lebre”. sequência lógica: início – meio - fim. Mas, como quase
z Devem ser recebidos definitivamente, após verifi- tudo na vida, existe a possibilidade de ocorrer impre-
car se qualidade e quantidade do material coadu- vistos e seu término ser antecipado ou até mesmo
nam com o especificado no contrato. anulado.
Vamos agora estudar as formas possíveis de extin-
Tanto no recebimento provisório, quanto no rece- ção do contrato administrativo!
bimento definitivo, não exclui a responsabilidade O contrato administrativo pode ser extinto em
civil do contratado pela solidez e segurança da obra decorrência da conclusão de seu objeto, rescisão uni-
ou serviço, nem a responsabilidade ético-profissional lateral, rescisão bilateral, rescisão judicial ou median-
pela perfeita execução do contrato. te anulação motivada por defeito.
Outro ponto interessante exposto na Lei nº 8.666,
de 1993 é a possibilidade de dispensar o recebimen-
to provisório nos casos de compras de gêneros pere- EXTINÇÃO CONTRATUAL
cíveis, serviços profissionais e obras e serviços de
Conclusão Rescisão Rescisão Rescisão
pequeno vulto. Anulação
do objeto Unilateral Bilateral Judicial
Nestes casos, prevaleceu o bom senso do legislador,
pois tornaria impossível o recebimento provisório de
um bem ou serviço que já fosse consumido no mesmo A forma mais natural da extinção dos contratos
momento. Exemplificando: o recebimento da merenda administrativos é pela conclusão do objeto ou o fim
escolar para pronto consumo, ao receber e servir o ali- do período de contratação. Esse tipo de extinção ocor-
mento para os estudantes, tornaria impossível a verifi- re automaticamente, dispensado qualquer ato formal,
cação da qualidade e quantidade posteriormente. pois uma vez cumprido o contrato e entregue, o objeto
do contrato se encerra.
Exemplificando: é quando a Administração Públi-
Importante!
ca contrata uma empresa para a construção de uma
O recebimento provisório é dispensado, mas o escola; após finalizada a obra, ocorre o recebimento
recebimento definitivo é obrigatório, mesmo em definitivo por parte da Administração e o pagamento,
se tratando de gêneros perecíveis, serviços pro- com isso, o contrato se encerra automaticamente.
fissionais e em compras de pequeno vulto. Já a rescisão unilateral é uma prerrogativa da
Administração Pública, sem a necessidade de autori-
zação judicial, decorre do descumprimento de obri-
Para facilitar a memorização, acompanhe um
gações contratuais pelo contratado, por motivo de
esquema com os principais pontos do recebimento do
interesse público, ou quando se tratar de caso fortuito
objeto contratado:
ou força maior.
RECEBIMENTO DO OBJETO CONTRATADO Havendo culpa do contratado, não é devida a
indenização e ainda deve-se aplicar as sanções cabí-
OBRAS E SERVIÇOS veis. Por outro lado, se não houver culpa do contra-
tado, por razões de interesse público, é devida a justa
Provisório:
indenização.
z Responsável pela fiscalização Exemplificando: é quando a Administração Públi-
z Prazo: até 15 dias ca contrata uma empresa para iniciar as obras em
Definitivo: setembro, contra as enchentes de final de ano. Em
novembro, constatou que as obras ainda não foram
z Servidor ou comissão
iniciadas, nesse caso concreto, a Administração Públi-
z Prazo máximo: 90 dias
ca deverá rescindir o contrato unilateralmente (pelo
descumprimento de cláusulas contratuais) sem a
RECEBIMENTO DO OBJETO CONTRATADO necessidade de indenizar, e ainda passível de aplica-
ção de sanções pelo descumprimento.
COMPRAS E LOCAÇÃO DE EQUIPAMENTOS No caso de rescisão unilateral pelo descumprimen-
to de cláusulas contratuais, a doutrina denomina de
Provisório:
rescisão com culpa.
z Para verificação da conformidade do material
Outro exemplo de rescisão unilateral é quando
Definitivo: após contratar uma empresa para execução de uma
obra, constatou que não havia mais a necessidade,
z Após verificar: qualidade + quantidade
116 pois, o problema já tinha sido resolvido.
Assim, por interesse público, cabe à Administração rescindir unilateralmente, mas, nesse caso em tela, é devida
a justa indenização. Essa decisão obrigatoriamente deve ser motivada e assegurada a prévia defesa do contratado.
Outra forma de rescisão contratual é a bilateral, também chamada de rescisão amigável ou ainda consensual,
ocorre mediante acordo entre as partes, quando for conveniente à Administração fazê-lo. Em regra, não gera
indenização.
Exemplificando: é quando na execução do contrato administrativo de prestação de serviços de segurança, as
partes em comum acordo, por motivo de conveniência da Administração (ex: o posto de serviços vai ser desativa-
do) e com concordância da parte contratada, resolvem que a partir da data X não mais haverá qualquer obrigação
entre elas.
Já a rescisão judicial, como o próprio nome nos indica, é determinada pelo poder judiciário em razão do ina-
dimplemento do contratante (Administração Pública) ou contratado.
Normalmente, essa rescisão se dá mediante ação ajuizada pelo contratado (particular) em face à Administra-
ção Pública por descumprimento de cláusulas contratuais.
Exemplificando: é quando a Administração Pública atrasa os pagamentos devidos ao serviço prestado por
mais de 90 dias, nesse caso, cabe ao particular ajuizar ação de rescisão contratual.
Por último, como forma de extinção do contrato administrativo, temos a anulação.
A anulação implica desconstituição do contrato e suspensão dos seus efeitos. Nesse caso de extinção, os efeitos
operam retroativamente, impedindo os efeitos jurídico que ainda iriam produzir (para frente), além de descons-
tituir os já produzidos (para trás).
Esse é o teor do artigo 59 da Lei nº 8.666, de 1993, transcrito abaixo:

Art. 59 A declaração de nulidade do contrato administrativo opera retroativamente impedindo os efeitos jurídicos
que ele, ordinariamente, deveria produzir, além de desconstituir os já produzidos.
Parágrafo único - A nulidade não exonera a Administração do dever de indenizar o contratado pelo que este houver
executado até a data em que ela for declarada e por outros prejuízos regularmente comprovados, contanto que não
lhe seja imputável, promovendo-se a responsabilidade de quem lhe deu causa.

Entretanto, percebemos no parágrafo único acima citado, que a Administração Pública tem o dever de indeni-
zar o contratado pelo que já foi executado até a data em que foi declarada a nulidade, exceto se o contratado deu
causa ao vício.
Exemplificando: após o início do contrato administrativo cujo objeto é a construção da nova sede, foi consta-
tado que a licitação que resultou o contrato foi fraudada. Assim, como a licitação foi declarada nula, por conse-
quência, o contrato também será nulo.
Sintetizando o entendimento geral do contrato administrativo, percebemos, que em prol do interesse público,
todo o ajuste celebrado entre o Poder Público e o particular deve ser pautado nos Princípios da Administração
Pública, fazendo com que os objetivos sejam alcançados da melhor forma e com o menor custo.
Tudo isso permite que sempre o interesse público seja o carro chefe de toda conduta da Administrativa Públi-
ca, não incidindo em qualquer ilegalidade ou inconstitucionalidade.

COMPRAS CENTRALIZADAS

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


As compras centralizadas são um modelo de gestão de compras públicas que consiste em concentrar as aquisi-
ções de bens e serviços em um único órgão ou entidade, responsável por planejar, licitar, contratar e fiscalizar as
compras de interesse comum dos demais órgãos ou entidades da administração pública.
Nesse sentido, a dada maneira visa otimizar os recursos públicos, aumentar a eficiência e a transparência das
compras, reduzir os custos e os riscos e melhorar a qualidade dos bens e serviços adquiridos. Diante disso, as com-
pras centralizadas são capazes de trazer benefícios para a administração pública, tais como economia de escala,
padronização, simplificação e inovação de processos. Vejamos a tabela a seguir:

ECONOMIA DE ESCALA PADRONIZAÇÃO SIMPLIFICAÇÃO INOVAÇÃO


Ao reduzir o número de
Ao definir especificações Ao acompanhar as
processos licitatórios,
Ao comprar em grandes técnicas, critérios de tendências do mercado, as
contratos e fornecedores,
quantidades, o órgão qualidade e requisitos demandas da sociedade e
o órgão centralizador
centralizador pode de sustentabilidade as necessidades dos órgãos
simplifica as rotinas
obter melhores preços, para os bens e serviços demandantes, o órgão
administrativas, evita a
condições e descontos adquiridos, o órgão centralizador pode introduzir
duplicidade de esforços
dos fornecedores, centralizador garante, inovações nas compras
e a dispersão de
gerando uma economia para tanto, uma públicas, como o uso de
informações e libera os
significativa para o padronização que facilita tecnologias, metodologias e
órgãos demandantes para
orçamento público o controle, a gestão e soluções mais modernas e
dedicarem-se às suas
fiscalização de compras eficazes
atividades-fim

117
Vejamos, a seguir, alguns exemplos de compras
centralizadas realizadas pelo governo federal. ORGANIZAÇÃO SISTÊMICA DA
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA FEDERAL
CENTRAL DE COMPRAS
A Administração Pública federal é o conjunto de
Trata-se de uma unidade da Secretaria de Gestão órgãos e entidades que exercem as funções adminis-
do Ministério da Economia responsável por reali- trativas do Poder Executivo federal sob a direção do
zar compras centralizadas de bens e serviços de uso presidente da República.
comum dos órgãos e entidades da administração Ela se divide em Administração direta, formada
pública federal. Assim, a central utiliza-se de instru- pelos órgãos integrantes da presidência da República
mentos como o Sistema de Registro de Preços (SRP), e dos ministérios, e Administração indireta, forma-
o Catálogo Eletrônico de Padronização (CEP), o Pai- da pelas entidades vinculadas aos ministérios, como
nel de Preços, o “Comprasnet” e o Portal de Compras autarquias, fundações, empresas públicas e socieda-
Governamentais. des de economia mista.
Alguns exemplos de compras centralizadas reali- Além disso, é o conjunto de normas e procedimen-
zadas pela Central de Compras são serviços de nuvem, tos que regulam a estruturação, as atribuições e o fun-
serviços de apoio administrativo, passagens aéreas, cionamento dos órgãos e entidades da Administração
combustíveis, veículos etc. Pública federal, visando à eficiência, à eficácia e à efe-
tividade da gestão pública. Ela se baseia nos princí-
EMPRESA BRASILEIRA DE SERVIÇOS pios da legalidade, da impessoalidade, da moralidade,
da publicidade e da racionalidade.
HOSPITALARES (EBSERH)
Ademais, é composta por sistemas estruturadores
e sistemas estratégicos. Os sistemas estruturadores
A referida empresa é de cunho público, vinculada
são aqueles previstos no Decreto-Lei nº 200, de 1967,
ao Ministério da Educação e responsável por admi-
que estabelecem as atividades essenciais da Adminis-
nistrar 40 hospitais universitários federais. A EBSERH
tração Pública, como planejamento, orçamento, pes-
realiza compras centralizadas de medicamentos,
soal, serviços gerais, controle interno etc.
materiais médico-hospitalares, equipamentos, insu- Eles são formados por órgãos e entidades que
mos e serviços para os hospitais que integram a sua desempenham funções específicas sob a coordenação
rede. de um órgão central e a supervisão de um órgão seto-
Assim, a dada empresa utiliza instrumentos tais rial ou seccional.
quais o Sistema de Gestão de Materiais e Serviços Os sistemas estratégicos são aqueles criados pos-
(Sigems) e o Sistema de Gestão de Contratos (Sigec). teriormente, que estabelecem as atividades comple-
Para ilustrar, visualizamos as compras centralizadas mentares da Administração Pública, como gestão de
realizadas no que concerne à compra de testes para projetos, gestão de riscos, gestão de processos etc. Eles
covid-19, equipamentos de proteção individual (EPIs), são formados por órgãos e entidades que comparti-
ventiladores pulmonares, entre outros. lham objetivos comuns sob a orientação de um órgão
gestor e a participação de um órgão executor.
CENTRAL DE SERVIÇOS COMPARTILHADOS (CSC) A organização sistêmica da Administração Pública
federal é regulada por diversos instrumentos norma-
É uma unidade da Secretaria de Gestão do Minis- tivos, como leis, decretos, portarias, instruções nor-
tério da Economia responsável por prestar serviços mativas etc. Alguns desses instrumentos são:
compartilhados aos órgãos e entidades da administra-
ção pública federal. z Decreto nº 9.739, de 2019, que dispõe sobre os cri-
Dessa forma, o CSC também recruta recursos tais térios, as normas e os procedimentos para a estru-
quais o Sistema de Gestão de Serviços Compartilhados turação, a restruturação, o estatuto e o regimento
(SGSC), o Sistema de Gestão de Frotas (SGF) e o Sis- dos órgãos e das entidades da Administração Públi-
tema de Gestão de Almoxarifado (SGA). Assim, como ca federal direta, autárquica e fundacional;
z Decreto nº 9.745, de 2019, que aprova a estrutura
alguns exemplos de serviços compartilhados presta-
regimental e o quadro demonstrativo dos cargos
dos temos o “TáxiGov”, o Almoxarifado Virtual Nacio-
em comissão e das funções de confiança do Minis-
nal e a Gestão de Frotas.
tério da Economia e remaneja e transforma cargos
em comissão e funções de confiança;
REFERÊNCIAS
z Portaria nº 6.032, de 2018, que institui o Sistema
de Gestão de Projetos do Poder Executivo Federal
BOLETIM de Serviço nº 1556, de 17 de maio de 2023. (SisGP) e estabelece as suas diretrizes, os seus obje-
Gov.br, 2023. Disponível em: https://www.gov.br/ tivos, a sua abrangência, a sua estrutura, as suas
ebserh/pt-br/acesso-a-informacao/boletim-de-servi- competências e as suas responsabilidades;
co/sede/2023/boletim-de-servico-no-1556-17-05-2023. z Instrução Normativa nº 5, de 2017, que dispõe
Acesso em: 4 fev. 2024. sobre as regras e diretrizes do procedimento de
DINIZ, J. Compras centralizadas e descentraliza- contratação de serviços sob o regime de execução
das: tudo que você precisa saber. Pipefy, 2024. indireta no âmbito da Administração Pública fede-
Disponível em: https://www.pipefy.com/pt-br/blog/ ral direta, autárquica e fundacional.
compras-centralizadas-descentralizadas/. Acesso
118 em: 4 fev. 2024.
Portanto, a organização sistêmica da Administra- Alguns exemplos de sistemas estratégicos são:
ção Pública federal é o conjunto de normas e proce-
dimentos que regulam a estruturação, atribuições e z Sistema de Gestão de Projetos do Poder Exe-
funcionamento dos seus órgãos e entidades, visando à cutivo Federal (SisGP): responsável pela gestão
eficiência, à eficácia e à efetividade da gestão pública. integrada de projetos estratégicos, abrangendo o
Ela se divide em sistemas estruturadores e estra- planejamento, a execução e o monitoramento dos
tégicos, que estabelecem as atividades essenciais e resultados, bem como a gestão de portfólios e pro-
complementares da Administração Pública. Assim, é gramas. O órgão gestor é a Secretaria Especial de
regulada por diversos instrumentos normativos, que Relações Governamentais da Casa Civil da Presi-
definem os critérios, as normas e os procedimentos dência da República;
para a organização sistêmica da Administração Públi- z Sistema de Gestão de Riscos do Poder Executivo
ca federal. Federal (SisGR): responsável pela gestão de riscos
corporativos, abrangendo a identificação, a análi-
SISTEMAS ESTRUTURANTES E ESTRUTURADORES se, a avaliação, o tratamento, o monitoramento e a
revisão dos riscos que possam afetar o alcance dos
DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA FEDERAL
objetivos institucionais. O órgão gestor é a Contro-
ladoria-Geral da União.
Conforme destacado, os sistemas estruturantes e
estruturadores da Administração Pública federal são
Portanto, os sistemas estruturantes e estruturado-
conjuntos de normas e procedimentos que regulam
res da Administração Pública federal são conjuntos de
a estruturação, as atribuições e o funcionamento dos
normas e procedimentos que regulam a estruturação,
órgãos e entidades que exercem as funções adminis-
as atribuições e o funcionamento dos órgãos e entida-
trativas do Poder Executivo federal sob a direção do des que exercem as funções administrativas do Poder
presidente da República. Executivo federal.
Ressaltando novamente, eles visam à eficiência, à Em suma, eles se dividem em sistemas estrutura-
eficácia e à efetividade da gestão pública, baseando-se dores, que estabelecem as atividades essenciais da
nos princípios da legalidade, da impessoalidade, da Administração Pública, e sistemas estratégicos, que
moralidade, da publicidade e da racionalidade. estabelecem suas atividades complementares. Eles
Assim, conforme apontamos, são aqueles previs- são regulados por diversos instrumentos normativos,
tos no Decreto-Lei nº 200, de 1967, que estabelecem as que definem os critérios, as normas e os procedimen-
atividades essenciais da Administração Pública. Eles tos para a organização sistêmica da Administração
são formados por órgãos e entidades que desempe- Pública federal.
nham funções específicas sob a coordenação de um
órgão central e a supervisão de um órgão setorial ou REFERÊNCIAS
seccional.
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Sub-
z Sistema de Planejamento e Orçamento Federal: chefia para Assuntos Jurídicos. Manual de Reda-
responsável pela elaboração, execução e avaliação ção da Presidência da República. 6ª ed. Brasília:
do plano plurianual, da Lei de Diretrizes Orçamen- Diário Oficial da União, 2023.
tárias e da Lei Orçamentária Anual, bem como ______. Presidência da República. Decreto-Lei nº
pelo acompanhamento e controle dos gastos públi- 200, de 25 de fevereiro de 1967. Dispõe sobre a
cos. O órgão central é a Secretaria de Orçamento organização da Administração Federal, estabe-
Federal do Ministério da Economia; lece diretrizes para a Reforma Administrativa e

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


z Sistema de Pessoal Civil da Administração Fede- dá outras providências. Brasília: Diário Oficial da
ral (SIPEC): responsável pela gestão de recursos União, 1967.
humanos, abrangendo o planejamento, a execu-
ção e o controle das atividades de recrutamento,
seleção, desenvolvimento, remuneração, benefí-
cios, movimentação, avaliação, desempenho etc. O
CONTROLES INTERNO E EXTERNO
órgão central é a Secretaria de Gestão e Desempe-
nho de Pessoal do Ministério da Economia; CONCEITO
z Sistema de Serviços Gerais (SISG): responsável
pela gestão de serviços administrativos, abran- Em termos gerais, na administração o termo con-
gendo o planejamento, a execução e o controle trolar significa certificar-se de que a execução está
das atividades de compras, licitações, contratos, de acordo com os métodos estabelecidos, e segundo o
patrimônio, transporte, comunicação administra- plano previsto. O controle, segundo Chiavenato (2003)
tiva etc. O órgão central é a Secretaria de Gestão do envolve:
Ministério da Economia.
z definição de padrões;
Os sistemas estratégicos são aqueles criados poste- z monitoramento;
riormente, estabelecendo atividades complementares z avaliação de desempenho;
da Administração Pública, como gestão de projetos, z ações corretivas.
gestão de riscos, gestão de processos etc. Eles são
formados por órgãos e entidades que compartilham Tudo isso com o intuito de assegurar (verificar)
objetivos comuns sob a orientação de um órgão gestor se os resultados estão de acordo com o que foi pre-
e a participação de um órgão executor. viamente estabelecido (planejado). O objetivo é ave-
riguar o cumprimento do que já foi predeterminado. 119
Vejam que, em suma, é um processo de compara- Segundo Guerra (2007), o controle da Admi-
ção entre o plano (o padrão) e o que de fato aconte- nistração Pública consolida um “poder-dever” de
ceu na prática (resultado). Assim, quando um órgão verificação (inspeção, exame) feito pela própria admi-
fiscaliza uma obra pública, ele verifica, por exemplo, nistração, por outros Poderes ou por qualquer outro
se ela cumpre todos os requisitos necessários e se está cidadão. Portanto, uma obrigação.
em conformidade com os parâmetros estabelecidos A própria Constituição Federal, de 1988, no caput
na legislação. do art. 71 traz que a incumbência do controle externo
Esse processo de comparação visa avaliar o desem- fica a cargo do Congresso Nacional, com auxílio do
penho da obra, sanar irregularidades, propor melho- Tribunal de Contas da União (TCU).
rias, responsabilizar os envolvidos etc. O controle não
é um fim em si, mas sim um meio para: Art. 71 O controle externo, a cargo do Congresso
Nacional, será exercido com o auxílio do Tribunal
z melhorias; de Contas da União, ao qual compete: [...]
z ajudar nos objetivos;
z evitar desvios e irregularidades; Nesse contexto, existem poderes e órgãos “espe-
z diminuir as chances de erros, omissões, desperdí- cializados” no controle, mas os demais ainda podem
cios etc. exercê-los, quando necessários.

Por isso, os custos de controle não podem ser CLASSIFICAÇÃO – CONTROLE INTERNO E
maiores que os seus benefícios. Por exemplo, vamos EXTERNO
imaginar que para controlar a obra mencionada,
anteriormente haja um grande dispêndio de dinhei- A doutrina traz diversas classificações acerca do
ro. Nesse caso, é natural que o órgão (ou empresa) controle. Uma delas diz respeito à localização (alcan-
responsável pelo controle questione se vale a pena ce ou extensão) do órgão que faz o controle. Essa loca-
dispender tantos recursos para sua realização ou, se lização pode ser: interna; externa.
o custo de não fazer nada será mais proveitoso den- Observem o que diz a CF, de 1988:
tre os procedimentos de controle. Para tanto, faz-se
necessário considerar que: os benefícios do “contro- Art. 70 A fiscalização contábil, financeira, orça-
le” devem superar os seus custos. mentária, operacional e patrimonial da União e
Nesse contexto, existem diferentes critérios que das entidades da administração direta e indireta,
podem ser observados: quanto à legalidade, legitimidade, economicidade,
aplicação das subvenções e renúncia de receitas,
z conformidade com a lei; será exercida pelo Congresso Nacional, median-
z eficácia (critério: se o objetivo foi atingido ou não); te controle externo, e pelo sistema de controle
z eficiência (critério: a adequação dos meios aos fins); interno de cada Poder.
z economicidade (critério: o custo).
Controle Interno
Com intuito de obter um melhor custo-benefício, o
órgão responsável pelo controle pode considerar ape- Segundo Cyonil et al (2017, p. 757), o controle
nas um desses aspectos e verificar uma única par- interno, como o nome sugere, é aquele exercido pela
te da operação (da obra, por exemplo), como se fosse própria Administração sobre os seus atos. Em geral,
uma amostra (não precisa, necessariamente, verifi- são os atos de natureza administrativa. Por exemplo,
car item por item, critério por critério). quando a Controladoria-Geral da União, órgão inte-
Até aqui falamos em termos gerais de controle. grante da estrutura do Executivo Federal, fiscaliza o
Mas, e para a Administração Pública em específico, Executivo.
como isso funciona?
Vejamos o que diz a CF, DE 1988 a respeito do con-
O princípio da indisponibilidade do interesse
trole interno:
público explica sobre isso.
Meirelles (2016, p. 113) afirma que o interes-
Art. 74 Os Poderes Legislativo, Executivo e Judi-
se público é indisponível porque a Administração ciário manterão, de forma integrada, sistema de
Pública não pode dispor desse interesse geral da controle interno com a finalidade de:
coletividade ou renunciar a poderes que lhes foram I - avaliar o cumprimento das metas previstas no
garantidos pela lei para tutela. Desse modo, ela não é plano plurianual, a execução dos programas de
titular do interesse público, pois o titular é o próprio governo e dos orçamentos da União;
Estado, representante da coletividade. Não obstan- II - comprovar a legalidade e avaliar os resultados,
te, somente a coletividade, por meio de seus repre- quanto à eficácia e eficiência, da gestão orçamentá-
sentantes eleitos, pode autorizar a disponibilidade ou ria, financeira e patrimonial nos órgãos e entidades
a renúncia de interesse. da administração federal, bem como da aplica-
Ou seja, o administrador apenas administra o ção de recursos públicos por entidades de direito
bem público, de forma que o verdadeiro titular desses privado;
bens é o povo. III - exercer o controle das operações de crédito,
Destarte, como esse administrador não é “dono” avais e garantias, bem como dos direitos e haveres
do patrimônio público, deve prestar contas sobre da União;
a sua utilização. Isto posto, caso ocorra desvio ou IV - apoiar o controle externo no exercício de sua
atuação em desacordo com a lei, ele deverá ser missão institucional.
responsabilizado.
120
Desse modo, cada poder tem o seu controle inter- na administração direta e indireta, incluídas as funda-
no particular, que não é isolado, mas interage com os ções instituídas e mantidas pelo Poder Público, exce-
demais. Em resumo, algumas das principais atribui- tuadas as nomeações para cargo de provimento em
ções do controle interno são: comissão, bem como a das concessões de aposenta-
dorias, reformas e pensões, ressalvadas as melho-
Avaliar o cumprimento de
rias posteriores que não alterem o fundamento legal
metas previstas no PPA do ato concessório;
IV - realizar, por iniciativa própria, da Câmara dos
Comprovar legalidade e avaliar Deputados, do Senado Federal, de Comissão técnica
resultados
ou de inquérito, inspeções e auditorias de nature-
Avaliar aplicação de recursos za contábil, financeira, orçamentária, operacional e
Controle interno por entidades de direito privado patrimonial, nas unidades administrativas dos Pode-
Controle das operações de res Legislativo, Executivo e Judiciário, e demais enti-
crédito, avais e garantias, + dades referidas no inciso II;
direitos e haveres da União V - fiscalizar as contas nacionais das empresas
supranacionais de cujo capital social a União parti-
Apoiar o controle externo cipe, de forma direta ou indireta, nos termos do trata-
do constitutivo;
VI - fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos
Agora, analise o que dizem os parágrafos § 1º e §
repassados pela União mediante convênio, acordo,
2º, do art. 74 da CF, de 1988:
ajuste ou outros instrumentos congêneres, a Estado,
ao Distrito Federal ou a Município;
§ 1º Os responsáveis pelo controle interno, ao
VII - prestar as informações solicitadas pelo Con-
tomarem conhecimento de qualquer irregularida-
gresso Nacional, por qualquer de suas Casas, ou por
de ou ilegalidade, dela darão ciência ao Tribunal
qualquer das respectivas Comissões, sobre a fiscaliza-
de Contas da União, sob pena de responsabilidade
ção contábil, financeira, orçamentária, operacional e
solidária.
patrimonial e sobre resultados de auditorias e inspe-
§ 2º Qualquer cidadão, partido político, associação
ções realizadas;
ou sindicato é parte legítima para, na forma da lei,
VIII - aplicar aos responsáveis, em caso de ilegali-
denunciar irregularidades ou ilegalidades perante
dade de despesa ou irregularidade de contas, as san-
o Tribunal de Contas da União.
ções previstas em lei, que estabelecerá, entre outras
cominações, multa proporcional ao dano causado ao
Controle Externo erário;
IX - assinar prazo para que o órgão ou entidade
É exercido quando o órgão não integra a mesma adote as providências necessárias ao exato cumpri-
estrutura organizacional do órgão fiscalizado. mento da lei, se verificada ilegalidade;
X - sustar, se não atendido, a execução do ato impug-
z em sentido amplo podemos dizer que o controle nado, comunicando a decisão à Câmara dos Deputa-
externo ocorre quando um poder fiscaliza o outro dos e ao Senado Federal;
(tem fundamento no sistema de freios e contrapesos); XI - representar ao Poder competente sobre irre-
z já o controle externo em sentido estrito é aquele gularidades ou abusos apurados. (grifos nossos)
realizado pelo Poder Legislativo com o auxílio dos
Tribunais de Contas. Por fim, tem-se algumas outras classificações
acerca do controle na Administração Pública:
Quanto ao órgão do controlador:

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


Por exemplo, quando o TCU aprecia as contas pres-
tadas anualmente pelo Presidente da República, ou
quando um juiz anula um ato do Poder Executivo. z administrativo (seria o controle interno da admi-
nistração por autotutela);
Art. 71 O controle externo, a cargo do Congresso z legislativo (controle parlamentar: direito ou
Nacional, será exercido com o auxílio do Tribu- indireto);
nal de Contas da União, ao qual compete: z judicial.
I - apreciar as contas prestadas anualmente pelo
Presidente da República, mediante parecer prévio Quanto ao momento ou oportunidade:
que deverá ser elaborado em sessenta dias a contar
de seu recebimento;
z prévio (preventivo, perspectivo ou a priori) - acon-
tece antes;
Vamos ver na íntegra a continuação do art. 71, com
z concomitante (prospectivo) – acontece durante;
as demais atribuições do controle externo exercido
z posterior (corretivo, retrospectivo) – acontece
pelo Congresso Nacional, mediante auxílio do Tribu-
depois.
nal de Contas da União (TCU), cobradas em provas:
Quanto à natureza:
II - julgar as contas dos administradores e
demais responsáveis por dinheiros, bens e valores
públicos da administração direta e indireta, incluídas z controle de legalidade (exercido por todos os
as fundações e sociedades instituídas e mantidas pelo poderes com objetivo de buscar verificar a confor-
Poder Público federal, e as contas daqueles que derem midade do ato com as leis/normas);
causa a perda, extravio ou outra irregularidade de que z controle de mérito (por juízo de conveniência
resulte prejuízo ao erário público; e oportunidade, dentro da margem de liberdade
III - apreciar, para fins de registro, a legalidade prevista em lei – é uma prerrogativa da própria
dos atos de admissão de pessoal, a qualquer título, Administração Pública). 121
Quanto ao âmbito: DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

z por subordinação (é hierárquico); A legislação que será estudada teve, como refe-
z por vinculação ou finalístico (por supervisão ou rência, o Regulamento Geral de Proteção de Dados
tutela – não há hierarquia ou subordinação. É rea- (GDPR), o qual foi instituído pela União Europeia. Em
lizado por pessoa jurídica distinta, por exemplo, âmbito nacional, a Lei Geral de Proteção de Dados
quando a Administração Direta controla a Admi- (LGPD) tutela somente a proteção de dados pessoais,
nistração Indireta). sendo compreendidos, dentre eles, os disponíveis em
meios físicos e digitais.
Quanto à iniciativa:
Art. 1º Esta Lei dispõe sobre o tratamento de
z de ofício ou ex officio (realizado independente- dados pessoais, inclusive nos meios digitais, por
mente de solicitação); pessoa natural ou por pessoa jurídica de direito
z por provocação (ocorre por meio de uma “provo- público ou privado, com o objetivo de proteger os
cação” feita por um terceiro, que pode ser um par- direitos fundamentais de liberdade e de priva-
ticular ou um interessado na matéria através de cidade e o livre desenvolvimento da personali-
recurso, denúncia etc.). dade da pessoa natural.
Parágrafo único. As normas gerais contidas nesta
REFERÊNCIAS Lei são de interesse nacional e devem ser obser-
vadas pela União, Estados, Distrito Federal e
BRASIL. Técnica de auditoria: indicadores de Municípios.
desempenho e mapa de produtos. Brasília: TCU,
Coordenadoria de Fiscalização e Controle, 2000. O art. 2º traz os fundamentos da LGPD, quais sejam:
BAHIA, B. J. Introdução à Comunicação Empre-
sarial. Rio de Janeiro: Mauad, 1995. Art. 2º A disciplina da proteção de dados pessoais
CAMPOS, V. F. TQC: Controle da qualidade total (no tem como fundamentos:
estilo japonês). Nova Lima: Editora FALCONI, 2014. I - o respeito à privacidade;
CHIAVENATO, I. Introdução à Teoria Geral da II - a autodeterminação informativa;
III - a liberdade de expressão, de informação, de
Administração. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier,
comunicação e de opinião;
2003.
IV - a inviolabilidade da intimidade, da honra e da
CYONIL, B.; SÁ, A. Manual de Direito administra-
imagem;
tivo facilitado. 2. ed. Juspodivm, 2017.
V - o desenvolvimento econômico e tecnológico e a
DIAS, M. A. P. Administração de Materiais: uma
inovação;
abordagem logística. São Paulo: Atlas, 2010. VI - a livre iniciativa, a livre concorrência e a defesa
GUERRA, E. M. Os controles externo e interno do consumidor;
da Administração Pública. 2ª Ed. Belo Horizonte: VII - os direitos humanos, o livre desenvolvimento
Fórum, 2007. da personalidade, a dignidade e o exercício da cida-
KUNSCH, M. M. K. Planejamento de relações dania pelas pessoas naturais.
públicas na comunicação integrada. São Paulo:
Summus, 2003. Logo em seguida, temos a regulação da aplicação
MEIRELLES, H. L. Direito administrativo brasi- da legislação. Vejamos:
leiro. 42. ed. São Paulo: Malheiros, 2016.
MARTINS, P. G. Administração de Materiais e Art. 3º Esta Lei aplica-se a qualquer operação de
Recursos Empresariais. São Paulo: Saraiva, 2000. tratamento realizada por pessoa natural ou por
MELLO, C. H. P. Gestão da qualidade. São Paulo: pessoa jurídica de direito público ou privado, inde-
Pearson Education do Brasil, 2011. pendentemente do meio, do país de sua sede ou do
RAZZOLINI FILHO, E. Administração de material país onde estejam localizados os dados, desde que:
e patrimônio. 1. ed., rev. Curitiba: IESDE, 2013. I - a operação de tratamento seja realizada no ter-
RAZZOLINI FILHO, E. Administração de Material ritório nacional;
e Patrimônio. Curitiba: IESDE, 2012.
ROBBINS, S. P. Comportamento Organizacional. Assim, mesmo que a empresa seja estrangeira, ten-
11. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009. do a operação de dados sido realizada dentro do terri-
tório brasileiro, a LGPD será aplicada.

Art. 3º […]
LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS II - a atividade de tratamento tenha por objetivo a
oferta ou o fornecimento de bens ou serviços ou o
PESSOAIS – LGPD (LEI Nº 13.709, DE tratamento de dados de indivíduos localizados no
2018 E SUAS ALTERAÇÕES) território nacional; ou

LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS Nessa hipótese, tem-se que, mesmo que a sede da
empresa seja localizada em outro país, a LGPD será
Neste material, faremos apontamentos sobre os aplicada, já que existe o tratamento de dados de pes-
artigos mais relevantes da Lei nº 13.709, de 14 de agos- soas situadas dentro do território nacional.
to de 2018, os quais serão abordados de forma que
seja apresentada a letra seca da lei. Cabe deixar claro Art. 3º […]
que a leitura dos demais artigos é de suma importân- III - os dados pessoais objeto do tratamento tenham
122 cia para os seus estudos. sido coletados no território nacional.
§ 1º Consideram-se coletados no território solicitar aos responsáveis relatórios de impacto à
nacional os dados pessoais cujo titular nele se proteção de dados pessoais.
encontre no momento da coleta. § 4º Em nenhum caso a totalidade dos dados pes-
§ 2º Excetua-se do disposto no inciso I deste arti- soais de banco de dados de que trata o inciso III
go o tratamento de dados previsto no inciso IV do do caput deste artigo poderá ser tratada por pes-
caput do art. 4º desta Lei. soa de direito privado, salvo por aquela que
possua capital integralmente constituído pelo
poder público.
Dica
Veja que, em todos os casos, é imprescindível O art. 5º é uma espécie de dicionário para a legisla-
que haja relação com o território brasileiro. Por- ção, portanto sua leitura é de grande importância. Os
tanto, caso alguma questão da sua prova traga termos próprios utilizados ao longo da Lei nº 13.709,
assertivas que tratem de operação de tratamen- de 2018, são conceituados nos seus incisos; assim, caso
haja algum termo cujo significado tenha sido esqueci-
to exclusivo de âmbito estrangeiro, tenha em
do, recorra a esse dispositivo. Vejamos, na íntegra, o
mente que a LGPD não será aplicada.
referido artigo.
Vistas as hipóteses de aplicação, segue, agora, o Art. 5º Para os fins desta Lei, considera-se:
contrário: a vedação à aplicação. I - dado pessoal: informação relacionada a pessoa
natural identificada ou identificável;
Art. 4º Esta Lei não se aplica ao tratamento de II - dado pessoal sensível: dado pessoal sobre
dados pessoais: origem racial ou étnica, convicção religiosa, opi-
I - realizado por pessoa natural para fins exclusiva- nião política, filiação a sindicato ou a organização
mente particulares e não econômicos; de caráter religioso, filosófico ou político, dado
II - realizado para fins exclusivamente: referente à saúde ou à vida sexual, dado genético
a) jornalístico e artísticos; ou ou biométrico, quando vinculado a uma pessoa
b) acadêmicos, aplicando-se a esta hipótese os arts. natural;
7º e 11 desta Lei; III - dado anonimizado: dado relativo a titular
III - realizado para fins exclusivos de: que não possa ser identificado, considerando a uti-
a) segurança pública; lização de meios técnicos razoáveis e disponíveis
b) defesa nacional; na ocasião de seu tratamento;
c) segurança do Estado; ou IV - banco de dados: conjunto estruturado de
d) atividades de investigação e repressão de infra- dados pessoais, estabelecido em um ou em vários
ções penais; ou locais, em suporte eletrônico ou físico;
IV - provenientes de fora do território nacional e V - titular: pessoa natural a quem se referem os
que não sejam objeto de comunicação, uso compar- dados pessoais que são objeto de tratamento;
tilhado de dados com agentes de tratamento brasi- VI - controlador: pessoa natural ou jurídica,
leiros ou objeto de transferência internacional de de direito público ou privado, a quem competem
dados com outro país que não o de proveniência, as decisões referentes ao tratamento de dados
pessoais;
desde que o país de proveniência proporcione grau
VII - operador: pessoa natural ou jurídica, de direi-
de proteção de dados pessoais adequado ao previs-
to público ou privado, que realiza o tratamento de
to nesta Lei.
dados pessoais em nome do controlador;
VIII - encarregado: pessoa indicada pelo controla-
Vemos que, nas situações acima descritas, não será dor e operador para atuar como canal de comuni-
aplicada a Lei Geral de Proteção de Dados. Assim, a

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


cação entre o controlador, os titulares dos dados e a
norma tem como objetivo principal limitar a aplica- Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD);
ção da lei, excluindo, assim, as hipóteses em que o (Redação dada pela Lei nº 13.853, de 2019) Vigência
tratamento de dados pessoais não afetará os direitos IX - agentes de tratamento: o controlador e o
e garantias dos titulares dos dados, ou, também, os operador;
casos em que a proteção de dados estará sujeita a nor- X - tratamento: toda operação realizada com
mas específicas. dados pessoais, como as que se referem a cole-
ta, produção, recepção, classificação, utilização,
acesso, reprodução, transmissão, distribuição,
Art. 4º […]
processamento, arquivamento, armazenamento,
§ 1º O tratamento de dados pessoais previsto no
eliminação, avaliação ou controle da informação,
inciso III será regido por legislação específica,
modificação, comunicação, transferência, difusão
que deverá prever medidas proporcionais e estri-
ou extração;
tamente necessárias ao atendimento do interesse XI - anonimização: utilização de meios técnicos
público, observados o devido processo legal, os razoáveis e disponíveis no momento do tratamento,
princípios gerais de proteção e os direitos do titular por meio dos quais um dado perde a possibilidade
previstos nesta Lei. de associação, direta ou indireta, a um indivíduo;
§ 2º É vedado o tratamento dos dados a que se refe- XII - consentimento: manifestação livre, informa-
re o inciso III do caput deste artigo por pessoa de da e inequívoca pela qual o titular concorda com o
direito privado, exceto em procedimentos sob tratamento de seus dados pessoais para uma finali-
tutela de pessoa jurídica de direito público, dade determinada;
que serão objeto de informe específico à autoridade XIII - bloqueio: suspensão temporária de qualquer
nacional e que deverão observar a limitação impos- operação de tratamento, mediante guarda do dado
ta no § 4º deste artigo. pessoal ou do banco de dados;
§ 3º A autoridade nacional emitirá opiniões técni- XIV - eliminação: exclusão de dado ou de conjunto
cas ou recomendações referentes às exceções pre- de dados armazenados em banco de dados, inde-
vistas no inciso III do caput deste artigo e deverá pendentemente do procedimento empregado; 123
XV - transferência internacional de dados: z Prevenção: adoção de medidas para prevenir a
transferência de dados pessoais para país estran- ocorrência de danos em virtude do tratamento de
geiro ou organismo internacional do qual o país dados pessoais;
seja membro; z Não discriminação: impossibilidade de realiza-
XVI - uso compartilhado de dados: comunicação, ção do tratamento para fins discriminatórios ilíci-
difusão, transferência internacional, interconexão tos ou abusivos;
de dados pessoais ou tratamento compartilhado de z Responsabilização e prestação de contas:
bancos de dados pessoais por órgãos e entidades demonstração, pelo agente, da adoção de medidas
públicos no cumprimento de suas competências
eficazes e capazes de comprovar a observância e
legais, ou entre esses e entes privados, reciproca-
o cumprimento das normas de proteção de dados
mente, com autorização específica, para uma ou
pessoais e, inclusive, a eficácia dessas medidas.
mais modalidades de tratamento permitidas por
esses entes públicos, ou entre entes privados;
XVII - relatório de impacto à proteção de dados TRATAMENTO DE DADOS PESSOAIS
pessoais: documentação do controlador que con-
tém a descrição dos processos de tratamento de Com a modernização e o fácil acesso às informa-
dados pessoais que podem gerar riscos às liberda- ções que a constante evolução do mundo vem trazen-
des civis e aos direitos fundamentais, bem como do, as principais empresas do mundo têm nos dados
medidas, salvaguardas e mecanismos de mitigação pessoais o seu principal negócio. Por isso, os dados
de risco; pessoais são conhecidos como o “novo petróleo” dian-
XVIII - órgão de pesquisa: órgão ou entidade da te de sua importância. Dessa forma, é necessário que
administração pública direta ou indireta ou pessoa o tratamento de dados seja feito com as devidas regu-
jurídica de direito privado sem fins lucrativos legal- lamentação e proteção à privacidade.
mente constituída sob as leis brasileiras, com sede e
foro no País, que inclua em sua missão institucional Seção I — Dos Requisitos para o Tratamento de
ou em seu objetivo social ou estatutário a pesquisa Dados Pessoais
básica ou aplicada de caráter histórico, científico,
tecnológico ou estatístico; e
Os requisitos apresentados no art. 7º, da LGPD, são
XIX - autoridade nacional: órgão da administra-
indispensáveis para a compreensão a respeito do tra-
ção pública responsável por zelar, implementar e
tamento de dados pessoais.
fiscalizar o cumprimento desta Lei em todo o terri-
Podemos observar as 10 hipóteses, também conhe-
tório nacional.
cidas como bases legais, que legitimam o tratamento
dos dados pessoais. É importante ressaltar que se tra-
Alguns princípios, além do princípio da boa-fé (já
ta de um rol taxativo, não existindo nenhuma outra
que se trata de dados pessoais), são expressamente
hipótese possível além das descritas no art. 7º.
previstos na LGPD, havendo, inclusive, suas defini-
ções (art. 6º). Vejamos:
Art. 7º O tratamento de dados pessoais somente
poderá ser realizado nas seguintes hipóteses:
z Finalidade: realização do tratamento para propó- I - mediante o fornecimento de consentimento
sitos legítimos, específicos, explícitos e informados pelo titular;
ao titular, sem possibilidade de tratamento poste-
rior de forma incompatível com essas finalidades; A primeira e mais conhecida das hipóteses é o con-
z Adequação: compatibilidade do tratamento com sentimento, que consiste na manifestação livre, infor-
as finalidades informadas ao titular, de acordo mada e inequívoca do titular para que seja realizado
com o contexto do tratamento; o tratamento dos seus dados pessoais.
z Necessidade: limitação do tratamento ao mínimo A hipótese de consentimento não é aplicável a
necessário para a realização de suas finalidades, todos os casos; as demais bases legais permitem o
com abrangência dos dados pertinentes, propor- tratamento de dados pessoais independentemente do
cionais e não excessivos em relação às finalidades consentimento do titular.
do tratamento de dados; O consentimento não é obrigatório em todos os
z Livre acesso: garantia, aos titulares, de consulta casos: a LGPD busca um equilíbrio entre os interesses
facilitada e gratuita sobre a forma e a duração do do titular e as necessidades dos controladores ao exer-
tratamento, bem como sobre a integralidade de cerem suas atividades. É importante ressaltar, ainda,
seus dados pessoais; que não há hierarquia entre tais bases legais.
z Qualidade dos dados: garantia, aos titulares, de
exatidão, clareza, relevância e atualização dos Art. 7º […]
dados, de acordo com a necessidade e para o cum- II - para o cumprimento de obrigação legal ou
primento da finalidade de seu tratamento; regulatória pelo controlador;
z Transparência: garantia, aos titulares, de infor-
mações claras, precisas e facilmente acessíveis A segunda base legal da LGPD encontra-se no cum-
sobre a realização do tratamento e os respectivos primento de obrigação legal ou regulatória pelo con-
agentes de tratamento, observados os segredos trolador, que ocorre quando há determinação legal,
comercial e industrial; disposta em lei federal, estadual ou municipal ou em
z Segurança: utilização de medidas técnicas e admi- demais normas, decretos ou resoluções, regulamen-
nistrativas aptas a proteger os dados pessoais de tando que o controlador poderá realizar o tratamento
acessos não autorizados e de situações acidentais de dados pessoais com fundamento nessa base legal.
ou ilícitas de destruição, perda, alteração, comuni-
124 cação ou difusão;
Art. 7º […] Art. 7º […]
III - pela administração pública, para o trata- VIII - para a tutela da saúde, exclusivamente, em
mento e uso compartilhado de dados necessá- procedimento realizado por profissionais de saúde,
rios à execução de políticas públicas previstas serviços de saúde ou autoridade sanitária;
em leis e regulamentos ou respaldadas em contra-
tos, convênios ou instrumentos congêneres, obser- Nessa base legal, fica determinado que profissio-
vadas as disposições do Capítulo IV desta Lei; nais da saúde, além de outras entidades e estabele-
cimentos, inclusive estaduais e municipais, poderão
Na terceira base legal da LGPD, a Administração fazer uso da base legal para o tratamento de dados,
Pública poderá fazer o uso compartilhado de dados, desde que com o objetivo específico de tutela da saú-
desde que isso ocorra com o objetivo de executar de, sendo vedado o desvio dessa finalidade.
políticas públicas. Como exemplo, podemos citar os
programas Bolsa Família e Auxílio Emergencial, que Art. 7º […]
fizeram uso da presente base legal. IX - quando necessário para atender aos interesses
legítimos do controlador ou de terceiro, exceto no
Art. 7º […] caso de prevalecerem direitos e liberdades funda-
IV - para a realização de estudos por órgão de mentais do titular que exijam a proteção dos dados
pesquisa, garantida, sempre que possível, a anoni- pessoais; ou
mização dos dados pessoais;
O inciso IX dispõe que o tratamento de dados poderá
Essa hipótese dispõe sobre o tratamento de dados ser realizado quando for preciso para atender a interes-
para estudos feitos por órgãos de pesquisa. Esses ses legítimos do controlador ou de terceiros. O inciso ain-
órgãos, sejam entidades públicas ou privadas, pode- da traz a exceção de que isso não poderá ser feito quando
rão realizar, com o uso de dados pessoais, pesquisas prevalecerem direitos e liberdades fundamentais dos
de caráter histórico, tecnológico ou estatístico. titulares que exijam a proteção dos dados pessoais.
É importante ressaltar que, sempre que possível,
tais órgãos deverão priorizar a anonimização dos Art. 7º […]
dados pessoais. X - para a proteção do crédito, inclusive quanto ao
disposto na legislação pertinente.
Art. 7º […]
V - quando necessário para a execução de contra- Nessa hipótese, será possível verificar os dados
to ou de procedimentos preliminares relacio- acerca da adimplência e inadimplência do titular para
nados a contrato do qual seja parte o titular, a analisar uma possível concessão ou não de crédito.
pedido do titular dos dados; Observamos, até aqui, a imposição às empresas de
requisitos não cumulativos — visto que é suficiente o
A quinta base legal ocorrerá em casos nos quais os atendimento a, pelo menos, um deles — para o trata-
dados pessoais precisem ser tratados para a execução mento de dados pessoais. Trata-se, portanto, da base
de obrigações contratualmente pactuadas, havendo legal para a atividade.
pedido do titular para que isso ocorra.
Art. 7º […]
Art. 7º […] § 1º (Revogado).
VI - para o exercício regular de direitos em processo § 2º (Revogado).
judicial, administrativo ou arbitral, esse último nos § 3º O tratamento de dados pessoais cujo acesso
termos da Lei nº 9.307, de 23 de setembro de 1996 é público deve considerar a finalidade, a boa-

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(Lei de Arbitragem) ; -fé e o interesse público que justificaram sua
disponibilização.
Na sexta base legal da LGPD, é apresentada a pos-
sibilidade para o tratamento de dados pessoais em Mesmo que os dados se encontrem disponíveis de
razão dos direitos exercidos em contratos ou proces- forma pública, eles somente poderão ser tratados se
sos, sejam eles judiciais, administrativos ou arbitrais. seguirem os princípios da finalidade, da boa-fé e do
Desse modo, os dados pessoais poderão ser armaze- interesse público.
nados, desde que para essa única e exclusiva finalida- O princípio da finalidade afirma que deverá ser res-
de, enquanto persistir a necessidade de discussão da peitada a finalidade pela qual os dados foram tornados
demanda. públicos, em eventual uso consecutivo por terceiros.
Já o princípio da boa-fé afirma que não deverá
Art. 7º […] haver utilização desvirtuando as legítimas expectati-
VII - para a proteção da vida ou da incolumida- vas dos titulares dos dados.
de física do titular ou de terceiro; O princípio do interesse público legitima que
deverá ser identificado o interesse público que baseou
Essa base legal visa à proteção da vida e da inte- a disponibilização dos dados. É evidente que o amplo
gridade do titular de dados que possa estar exposto a acesso aos dados não retira a proteção que a eles deve
questões graves que coloquem em risco a sua vida. Por ser concedida.
isso, trata-se de um critério restritivo utilizado quan-
do constatada a situação de fato, como, por exemplo, Art. 7º […]
no caso de usar os dados do celular de alguém que § 4º É dispensada a exigência do consentimen-
tenha sido sequestrado a fim de localizar o titular e to previsto no caput deste artigo para os dados
salvar sua vida. tornados manifestamente públicos pelo titular,
resguardados os direitos do titular e os princípios
previstos nesta Lei. 125
Quando o titular dos dados pessoais tornar públi- Art. 8º […]
cos seus próprios dados, não será necessário obter § 1º Caso o consentimento seja fornecido por escri-
o seu consentimento para o tratamento de dados; to, esse deverá constar de cláusula destacada
porém, mesmo diante dessa situação, não será total- das demais cláusulas contratuais.
mente livre a sua utilização, a qual somente poderá
ocorrer desde que sejam resguardados os direitos do Quando o consentimento for obtido por escrito, a
titular. lei determina que a cláusula seja inserida de forma
destacada, para que seja facilmente identificada pelo
Art. 7º […] titular. Isso se dá pois usualmente o usuário não lê as
§ 5º O controlador que obteve o consentimento refe- cláusulas dos termos de uso; deste modo, é necessário
rido no inciso I do caput deste artigo que necessitar que o titular tenha total clareza sobre o que está con-
comunicar ou compartilhar dados pessoais sentindo, devendo a cláusula de consentimento ficar
com outros controladores deverá obter con- separada das demais.
sentimento específico do titular para esse fim,
ressalvadas as hipóteses de dispensa do consenti- Art. 8º […]
mento previstas nesta Lei. § 2º Cabe ao controlador o ônus da prova de que o
consentimento foi obtido em conformidade com o
Quando o controlador desejar comunicar ou com- disposto nesta Lei.
partilhar os dados com outro, sendo a base legal para
tratamento dos dados o consentimento, ele deverá Nesse caso, há a inversão do ônus da prova, pois,
ter o consentimento específico para isso. Desse modo, se o titular dos dados ingressar com uma ação judicial,
caso o controlador queira utilizar os dados que já não precisará fazer prova acerca do não consentimen-
possui para tipo diverso de tratamento, é necessário to, visto que seria de notória dificuldade a produção
pedir o consentimento novamente. da prova negativa.
Assim, para a coleta de consentimento, cabe ao con-
Art. 7º […] trolador utilizar os mecanismos devidos que permi-
§ 6º A eventual dispensa da exigência do consen- tam a geração de evidências acerca da sua obtenção,
timento não desobriga os agentes de tratamento uma vez que tais fundamentos devem ficar armaze-
das demais obrigações previstas nesta Lei, espe- nados durante todo o período em que os dados esti-
cialmente da observância dos princípios gerais e da verem guardados, independentemente da finalidade.
garantia dos direitos do titular.
Art. 8º […]
Quando for realizado o tratamento dos dados pes- § 3º É vedado o tratamento de dados pessoais
soais, deverão ser respeitados os princípios e direitos mediante vício de consentimento.
dos titulares dos dados, previstos na LGPD, indepen-
dentemente da base legal que venha a ser escolhida Caso não haja nenhuma outra base legal que legi-
para o tratamento dos dados. time o tratamento dos dados pessoais e o consenti-
mento tiver algum vício, o tratamento dos dados não
Art. 7º […] poderá prosseguir.
§ 7º O tratamento posterior dos dados pessoais a Vejamos, portanto, os seguintes vícios de consenti-
que se referem os §§ 3º e 4º deste artigo poderá ser mento expostos no CC:
realizado para novas finalidades, desde que obser-
vados os propósitos legítimos e específicos para o z Erro: cometido sem influência externa; ocorre
novo tratamento e a preservação dos direitos do em decorrência de percepção errônea da própria
titular, assim como os fundamentos e os princípios pessoa;
previstos nesta Lei. z Dolo: é o ato de enganar alguém; neste caso, é um
erro induzido por terceiro;
Para flexibilizar o uso de dados pessoais cujos z Coação Moral: espécie de pressão, como, por
acessos são públicos ou tornados públicos pelo titular, exemplo, uma ameaça potencial;
inclusive para novas finalidades, devem ser respeita- z Estado de perigo: é quando uma pessoa impõe a
dos os demais pontos relevantes da LGPD, incluindo si mesma uma obrigação excessivamente onerosa
os fundamentos e os princípios. em decorrência de um perigo; nesse caso, é neces-
O art. 8º dispõe sobre o consentimento do titular sário que a parte beneficiada tenha conhecimento
de dados. Vejamos: da situação;
z Lesão: desproporção entre as obrigações em razão
Art. 8º O consentimento previsto no inciso I do de necessidade (excetuada a decorrente de perigo)
art. 7º desta Lei deverá ser fornecido por escrito ou inexperiência.
ou por outro meio que demonstre a manifesta-
ção de vontade do titular. Art. 8º […]
§ 4º O consentimento deverá referir-se a finali-
Esse artigo trata da forma com que o controlador dades determinadas, e as autorizações genéricas
deve solicitar o consentimento do titular. Esse consenti- para o tratamento de dados pessoais serão nulas.
mento deve ser realizado por escrito ou por outro meio
que demonstre a manifestação de vontade do titular. O consentimento somente será permitido confor-
O fato consolidado que temos diante do consenti- me os propósitos legítimos, específicos, explícitos e
mento é que ele jamais será considerado válido se for informados ao titular, sendo vedadas autorizações
feito de forma genérica, não atendendo à boa-fé e à universais para o tratamento dos dados, bem como
transparência, podendo ser obtido por qualquer meio tratamento posterior que seja incompatível com essas
126 que evidencie a manifestação do titular. finalidades.
Art. 8º […] de finalidade, podendo o titular revogar o consenti-
§ 5º O consentimento pode ser revogado a mento, caso discorde das alterações.
qualquer momento mediante manifestação § 3º Quando o tratamento de dados pessoais for
expressa do titular, por procedimento gratuito condição para o fornecimento de produto ou de
e facilitado, ratificados os tratamentos realizados serviço ou para o exercício de direito, o titular será
sob amparo do consentimento anteriormente mani- informado com destaque sobre esse fato e sobre os
festado enquanto não houver requerimento de eli- meios pelos quais poderá exercer os direitos do titu-
minação, nos termos do inciso VI do caput do art. lar elencados no art. 18 desta Lei.
18 desta Lei.

O consentimento poderá ser revogado a qualquer Importante!


momento e com muita facilidade, devendo ser gratui- Ocorrendo alteração quanto às previsões dos
to e exercido a qualquer período. Porém, a revogação incisos I, II, III ou V, o controlador é obrigado a
do consentimento não significará a automática elimi-
informar ao titular dos dados.
nação dos dados pessoais, pois esta somente será fei-
ta quando também for realizado pedido expresso do
titular. O titular dos dados deve ter acesso às informações
Portanto, não há empecilho para a revogação, bas- atualizadas, claras e adequadas sobre o tratamento
tando a vontade do titular dos dados tratados e a for- dos seus dados pessoais, de modo a atender o princí-
malização da revogação. pio do livre acesso.
A LGPD apresenta um rol exemplificativo das
Art. 8º […] informações que devem ser prestadas pelos agentes
§ 6º Em caso de alteração de informação referida de tratamentos de dados aos titulares. Acompanhe o
nos incisos I, II, III ou V do art. 9º desta Lei, o con- fluxograma a seguir:
trolador deverá informar ao titular, com destaque
de forma específica do teor das alterações, podendo Finalidade específica do
o titular, nos casos em que o seu consentimento é tratamento
exigido, revogá-lo caso discorde da alteração.
Forma e duração do tratamento

Não será necessário obter novo consentimento do Identificação do controlador


titular de dados, basta informá-lo das alterações rea-
INFORMAÇÕES QUE Informações acerca do
lizadas nas situações em que houver alguma modi- DEVEM SER PRESTADAS compartilhamento de dados pelo
ficação no que se trata da finalidade do tratamento PELOS AGENTES DE controlador e a finalidade
dos dados, da forma e duração do tratamento e da TRATAMENTO DE Informações de contato do
identificação do controlador ou, ainda, sobre infor- DADOS AOS TITULARES controlador
mações acerca do uso compartilhado de dados pelo
Responsabilidade dos agentes de
controlador.
tratamento
Conforme disposto na parte principiológica da
Direitos do titular com menção
LGPD, o art. 9º reforça a ideia de facilitação de acesso
expressa aos dispostos no art. 18,
pelo titular dos dados tratados.
da LGPD

Art. 9º O titular tem direito ao acesso facilitado às


informações sobre o tratamento de seus dados, que Caso o consentimento tenha algum vício ou tenha

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deverão ser disponibilizadas de forma clara, ade- sido obtido sem que tenha havido prévia e extensa
quada e ostensiva acerca de, entre outras carac- informação ao titular acerca dos propósitos da LGPD,
terísticas previstas em regulamentação para o será considerado nulo.
atendimento do princípio do livre acesso: Ademais, quando houver modificação da finalida-
I - finalidade específica do tratamento; de pela qual os dados foram obtidos que não seja com-
II - forma e duração do tratamento, observados os patível com o consentimento já manifestado, o titular
segredos comercial e industrial; deve ser informado acerca disso, não sendo necessá-
III - identificação do controlador; rio renovar o seu consentimento. É importante lem-
IV - informações de contato do controlador; brar que o titular poderá revogar o consentimento nas
V - informações acerca do uso compartilhado de situações em que não concordar com a nova situação.
dados pelo controlador e a finalidade; Quando o tratamento de dados pessoais for condi-
VI - responsabilidades dos agentes que realizarão o ção para o fornecimento de produto ou de serviço ou
tratamento; e para o exercício de direito, o titular deve receber de
VII - direitos do titular, com menção explícita aos forma clara e destacada todas as informações para tal.
direitos contidos no art. 18 desta Lei.
§ 1º Na hipótese em que o consentimento é requeri- Art. 10 O legítimo interesse do controlador somen-
do, esse será considerado nulo caso as informações te poderá fundamentar tratamento de dados pes-
fornecidas ao titular tenham conteúdo engano- soais para finalidades legítimas, consideradas a
so ou abusivo ou não tenham sido apresentadas partir de situações concretas, que incluem, mas não
previamente com transparência, de forma clara e se limitam a:
inequívoca. I - apoio e promoção de atividades do controlador; e
§ 2º Na hipótese em que o consentimento é reque- II - proteção, em relação ao titular, do exercício
rido, se houver mudanças da finalidade para o tra- regular de seus direitos ou prestação de serviços
tamento de dados pessoais não compatíveis com que o beneficiem, respeitadas as legítimas expecta-
o consentimento original, o controlador deverá tivas dele e os direitos e liberdades fundamentais,
informar previamente o titular sobre as mudanças nos termos desta Lei. 127
O legítimo interesse encontra limites que estão Seção II — Do Tratamento de Dados Pessoais
previstos na própria LGPD, que determina que ela Sensíveis
somente poderá servir de fundamento para o trata-
mento de dados pessoais quando baseado em finali- Dados pessoais sensíveis são aqueles que têm rela-
dades legítimas. ção com origem racial ou étnica, convicção religiosa,
As finalidades legítimas refletem que somente os opinião política, filiação a sindicato ou a organizações
propósitos legítimos e também específicos, explícitos religiosas, filosóficas ou políticas, relação com fatores
e informados ao titular justificarão o fundamento do referentes à saúde e vida sexual, dados genéticos ou,
interesse legítimo. ainda, dados biométricos. Essas características justifi-
Já na existência de situação concreta, o titular de cam a proteção extra que foi inserida pelo legislador,
dados deverá ter a efetiva expectativa de que seus uma vez que o seu vazamento ou mau uso pode cau-
sar prejuízos irreparáveis ao titular dos dados.
dados serão tratados, em razão da existência de rela-
O tratamento de dados pessoais sensíveis é mais
ção prévia entre ele e o controlador.
restritivo, possuindo menos bases legais.
A LGPD apresenta um rol exemplificativo de situa-
ções que podem configurar o legítimo interesse do
Art. 11 O tratamento de dados pessoais sensíveis
controlador no tratamento de dados: somente poderá ocorrer nas seguintes hipóteses:
I - quando o titular ou seu responsável legal con-
sentir, de forma específica e destacada, para finali-
SITUAÇÕES QUE PODEM
dades específicas;
CONFIGURAR O LEGÍTIMO
INTERESSE DO CONTROLADOR DE
Vejamos que a regra para o tratamento de dados
DADOS
pessoais sensíveis é que tal procedimento tenha o
devido conhecimento do titular ou responsável legal e
Apoio e promoção de Proteção em relação para finalidades específicas, porém, há casos em que o
atividades do controlador ao titular do exercício consentimento do titular poderá ser dispensado; veja-
regular de seus direitos ou
prestação de serviços que o
mos as hipóteses legais:
beneficiem, respeitadas as
legítimas expectativas deles Art. 11 […]
e os direitos e liberdades II - sem fornecimento de consentimento do titular,
fundamentais
nas hipóteses em que for indispensável para:
a) cumprimento de obrigação legal ou regulatória
Art. 10 […] pelo controlador;
§ 1º Quando o tratamento for baseado no legítimo b) tratamento compartilhado de dados necessários
interesse do controlador, somente os dados pes- à execução, pela administração pública, de políti-
soais estritamente necessários para a finalidade cas públicas previstas em leis ou regulamentos;
pretendida poderão ser tratados. c) realização de estudos por órgão de pesquisa,
garantida, sempre que possível, a anonimização
dos dados pessoais sensíveis;
Conforme o legítimo interesse do controlador,
d) exercício regular de direitos, inclusive em con-
somente os dados que forem compatíveis e estrita-
trato e em processo judicial, administrativo e arbi-
mente necessários para o cumprimento das finalida- tral, este último nos termos da Lei nº 9.307, de 23 de
des poderão ser objeto de tratamento. setembro de 1996 (Lei de Arbitragem);
e) proteção da vida ou da incolumidade física do
Art. 10 […] titular ou de terceiro;
§ 2º O controlador deverá adotar medidas para f) tutela da saúde, exclusivamente, em procedimen-
garantir a transparência do tratamento de to realizado por profissionais de saúde, serviços de
dados baseado em seu legítimo interesse. saúde ou autoridade sanitária; ou
g) garantia da prevenção à fraude e à segurança do
O tratamento de dados com base no legítimo inte- titular, nos processos de identificação e autentica-
resse deverá ser executado com transparência, diante ção de cadastro em sistemas eletrônicos, resguar-
dados os direitos mencionados no art. 9º desta Lei
da confiança do titular de que seus dados sejam trata-
e exceto no caso de prevalecerem direitos e liberda-
dos para a finalidade específica. des fundamentais do titular que exijam a proteção
dos dados pessoais.
Art. 10 […] § 1º Aplica-se o disposto neste artigo a qualquer
§ 3º A autoridade nacional poderá solicitar ao con- tratamento de dados pessoais que revele dados pes-
trolador relatório de impacto à proteção de dados soais sensíveis e que possa causar dano ao titular,
pessoais, quando o tratamento tiver como funda- ressalvado o disposto em legislação específica.
mento seu interesse legítimo, observados os segre-
dos comercial e industrial. As disposições desse artigo se aplicam amplamen-
te, inclusive nas situações em que o tratamento de
O referido documento trata-se dos processos de dados pessoais puder revelar dados sensíveis, salvo se
tratamento de dados que podem gerar riscos aos titu- houver disposição em contrário em lei específica.
lares, identificando o que pode ser feito para mitiga-
Art. 11 […]
ção desses riscos, uma vez que a autoridade poderá § 2º Nos casos de aplicação do disposto nas alíneas
solicitar ao contador. A doutrina e a boa governança “a” e “b” do inciso II do caput deste artigo pelos
em proteção de dados indicam que esse documento órgãos e pelas entidades públicas, será dada publi-
deve sempre estar pronto, o que tornará o tratamento cidade à referida dispensa de consentimento, nos
128 de dados mais seguro. termos do inciso I do caput do art. 23 desta Lei.
As entidades públicas que realizarem o tratamen- Na presente temática, muito se fala sobre a trata-
to de dados sensíveis para cumprimento de obrigação tiva feita de forma anônima. Isso quer dizer que os
legal ou regulatória, bem como para a execução de dados pessoais sensíveis serão tratados sem a especi-
política pública, deverão dar ampla publicidade à dis- ficação da titularidade.
pensa de consentimento. Sobre os dados anonimizados, tem-se o seguinte:

Art. 11 […] Art. 12 Os dados anonimizados não serão conside-


§ 3º A comunicação ou o uso compartilhado de rados dados pessoais para os fins desta Lei, salvo
dados pessoais sensíveis entre controladores quando o processo de anonimização ao qual foram
com objetivo de obter vantagem econômica submetidos for revertido, utilizando exclusivamen-
poderá ser objeto de vedação ou de regulamen- te meios próprios, ou quando, com esforços razoá-
tação por parte da autoridade nacional, ouvidos veis, puder ser revertido.
os órgãos setoriais do Poder Público, no âmbito de
suas competências.
A anonimização dos dados pessoais é o proces-
so pelo qual se retira dos dados pessoais qualquer
A comunicação ou o uso compartilhado de dados
elemento que possa conectá-lo ao seu titular. Assim
pessoais sensíveis entre controladores com o objetivo
sendo, o dado anonimizado é aquele que não pode
de obter vantagem econômica poderá sofrer vedações.
ser identificado, considerando a utilização de meios
técnicos razoáveis e disponíveis em seu tratamento.
Art. 11 […]
§ 4º É vedada a comunicação ou o uso compar- Portanto, quando estivermos diante de dados não
tilhado entre controladores de dados pessoais identificáveis de uma pessoa natural, eles não serão
sensíveis referentes à saúde com objetivo de tidos como dados pessoais.
obter vantagem econômica, exceto nas hipóte-
ses relativas a prestação de serviços de saúde, Art. 12 […]
de assistência farmacêutica e de assistência § 1º A determinação do que seja razoável deve levar
à saúde, desde que observado o § 5º deste artigo, em consideração fatores objetivos, tais como cus-
incluídos os serviços auxiliares de diagnose e tera- to e tempo necessários para reverter o processo de
pia, em benefício dos interesses dos titulares de anonimização, de acordo com as tecnologias dispo-
dados, e para permitir: níveis, e a utilização exclusiva de meios próprios.
I - a portabilidade de dados quando solicitada
pelo titular; ou Para a determinação do esforço razoável, serão
II - as transações financeiras e administrati- levados em consideração o custo e o tempo neces-
vas resultantes do uso e da prestação dos serviços sários para reversão do processo, considerando a
de que trata este parágrafo.
tecnologia e o uso exclusivo de meios próprios para
reverter o processo de anonimização.
Via de regra, os dados de saúde não poderão ser
compartilhados entre controladores em casos nos
Art. 12 […]
quais o objetivo seja de vantagem econômica. Entre-
§ 2º Poderão ser igualmente considerados como
tanto, há algumas exceções que permitem o uso des- dados pessoais, para os fins desta Lei, aqueles utili-
tes dados para fins econômicos, desde que isso ocorra zados para formação do perfil comportamental de
com o objetivo de prestação de serviços de saúde e de determinada pessoa natural, se identificada.
assistência farmacêutica e de saúde e que se dê em
benefício dos titulares.
Existe também a hipótese em que os dados colhi-
Também são trazidas outras duas situações em

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dos foram utilizados para a formação de um perfil
que os dados de saúde poderão ser comunicados ou
comportamental de determinada pessoa; assim, caso
compartilhados: casos de portabilidade de dados e em
essa pessoa seja identificada, os dados poderão ser
transações financeiras e administrativas resultantes
considerados como dados pessoais.
do uso e da prestação dos serviços.
Art. 12 […]
Art. 11 […]
§ 3º A autoridade nacional poderá dispor sobre
§ 5º É vedado às operadoras de planos privados de
assistência à saúde o tratamento de dados de saúde padrões e técnicas utilizados em processos de ano-
para a prática de seleção de riscos na contratação nimização e realizar verificações acerca de sua
de qualquer modalidade, assim como na contrata- segurança, ouvido o Conselho Nacional de Prote-
ção e exclusão de beneficiários. ção de Dados Pessoais.

As operadoras de planos de saúde não poderão A Autoridade Nacional de Proteção de Dados tam-
tratar dados para a prática de seleção de riscos na bém terá a função de dispor sobre padrões e técnicas
contratação, assim como na contratação e exclusão de acerca da anonimização, determinando o que deverá
beneficiários. Isso foi feito para evitar o cruzamento ser entendido como esforço razoável.
de informações para práticas que possam ser enten- O art. 13 dispõe sobre o tratamento de dados pes-
didas como injustas, algo que já é consolidado nesse soais por órgãos de pesquisa no que tange a questões
tipo de mercado. de saúde pública. Nesses casos, os órgãos de pesquisa
Conforme disposto no art. 12, da referida Lei Geral poderão ter acesso ao banco de dados pessoais, desde
de Proteção de Dados, tem-se a tratativa dos dados que a sua finalidade seja estudo e pesquisa. Os dados
sensíveis, sendo encaixados, aqui, os dados sobre ori- serão tratados exclusivamente dentro do órgão e
gem racial ou étnica, convicção religiosa, opinião polí- mantidos em ambiente controlado e seguro. Vejamos:
tica, filiação a sindicato ou à organização de caráter
religioso, filosófico ou político, entre outros. 129
Art. 13 Na realização de estudos em saúde públi- outras atividades ao fornecimento de informa-
ca, os órgãos de pesquisa poderão ter acesso ções pessoais além das estritamente necessárias à
a bases de dados pessoais, que serão tratados atividade.
exclusivamente dentro do órgão e estritamen- § 5º O controlador deve realizar todos os esforços
te para a finalidade de realização de estudos razoáveis para verificar que o consentimento a que
e pesquisas e mantidos em ambiente contro- se refere o § 1º deste artigo foi dado pelo respon-
lado e seguro, conforme práticas de segurança sável pela criança, consideradas as tecnologias
previstas em regulamento específico e que incluam, disponíveis.
sempre que possível, a anonimização ou pseudo- § 6º As informações sobre o tratamento de dados
nimização dos dados, bem como considerem os referidas neste artigo deverão ser fornecidas de
devidos padrões éticos relacionados a estudos e maneira simples, clara e acessível, consideradas as
pesquisas. características físico-motoras, perceptivas, senso-
§ 1º A divulgação dos resultados ou de qualquer riais, intelectuais e mentais do usuário, com uso de
excerto do estudo ou da pesquisa de que trata o recursos audiovisuais quando adequado, de forma
caput deste artigo em nenhuma hipótese poderá a proporcionar a informação necessária aos pais
revelar dados pessoais. ou ao responsável legal e adequada ao entendimen-
§ 2º O órgão de pesquisa será o responsável pela to da criança.
segurança da informação prevista no caput deste
artigo, não permitida, em circunstância alguma, a Veja que a LGPD autoriza o tratamento de dados
transferência dos dados a terceiro. pessoais de crianças e adolescentes desde que isso
§ 3º O acesso aos dados de que trata este artigo seja realizado em seu melhor interesse, sendo neces-
será objeto de regulamentação por parte da autori- sário o consentimento inequívoco de um dos pais ou
dade nacional e das autoridades da área de saúde e responsáveis, vez que a proteção integral é um dos
sanitárias, no âmbito de suas competências. fundamentos do Estatuto da Criança e do Adolescente.
§ 4º Para os efeitos deste artigo, a pseudonimiza-
Em relação ao tratamento de dados de crianças e
ção é o tratamento por meio do qual um dado
adolescentes, preceitua-se que deverá ser feito em seu
perde a possibilidade de associação, direta ou
melhor interesse, havendo, no entanto, algumas pecu-
indireta, a um indivíduo, senão pelo uso de infor-
mação adicional mantida separadamente pelo con- liaridades. Vejamos:
trolador em ambiente controlado e seguro.
z o tratamento de dados pessoais de crianças deve-
O artigo trata ainda da pseudonimização de forma rá ser realizado com o consentimento específico e
expressa, recomendando o seu uso nos estudos em em destaque dado por, pelo menos, um dos pais ou
saúde pública que tratam de dados sensíveis. Neste pelo responsável legal;
mesmo artigo, a lei conceitua que a pseudonimização z com relação ao exposto no item anterior, os con-
é o meio pelo qual “um dado perde a possibilidade de troladores deverão manter pública a informação
associação, direta ou indireta, a um indivíduo, senão sobre os tipos de dados coletados, a forma de sua
pelo uso de informação adicional mantida separa- utilização e os procedimentos para o exercício dos
damente pelo controlador em ambiente controlado e direitos a que se refere o art. 18, da lei em estudo;
seguro”, sendo relevante a leitura dos parágrafos do z poderão ser coletados dados pessoais de crianças
referido artigo para melhor fixação dos seus estudos. sem o consentimento, a que se refere o primeiro
item, quando a coleta for necessária para contatar
Seção III — Do Tratamento de Dados Pessoais de os pais ou o responsável legal, utilizados uma úni-
Crianças e de Adolescentes ca vez e sem armazenamento, ou para a sua pro-
teção e, em nenhum caso, poderão ser repassados
Art. 14 O tratamento de dados pessoais de a terceiro sem o consentimento dos responsáveis
crianças e de adolescentes deverá ser realiza- pelo menor;
do em seu melhor interesse, nos termos deste z o controlador deve realizar todos os esforços
artigo e da legislação pertinente. razoáveis, para verificar que o consentimento a
§ 1º O tratamento de dados pessoais de crianças que se refere o primeiro item foi dado pelo res-
deverá ser realizado com o consentimento espe- ponsável pela criança, consideradas as tecnologias
cífico e em destaque dado por pelo menos um disponíveis;
dos pais ou pelo responsável legal. z as informações sobre o tratamento de dados de
§ 2º No tratamento de dados de que trata o § 1º des- crianças e adolescentes deverão ser fornecidas de
te artigo, os controladores deverão manter pública maneira simples, clara e acessível, consideradas as
a informação sobre os tipos de dados coletados, a características físico-motoras, perceptivas, senso-
forma de sua utilização e os procedimentos para o riais, intelectuais e mentais do usuário, com uso de
exercício dos direitos a que se refere o art. 18 desta recursos audiovisuais quando adequado, de forma
Lei. a proporcionar a informação necessária aos pais
§ 3º Poderão ser coletados dados pessoais de
ou ao responsável legal e adequada ao entendi-
crianças sem o consentimento a que se refere o
mento da criança.
§ 1º deste artigo quando a coleta for necessária
para contatar os pais ou o responsável legal,
utilizados uma única vez e sem armazenamen- Embora o consentimento seja regra, há duas exce-
to, ou para sua proteção, e em nenhum caso ções, previstas no § 2º, do art. 14, em que o consenti-
poderão ser repassados a terceiro sem o con- mento não é exigido:
sentimento de que trata o § 1º deste artigo.
§ 4º Os controladores não deverão condicionar z quando houver a necessidade de entrar em conta-
a participação dos titulares de que trata o § 1º to com os pais ou com o responsável pela criança
130 deste artigo em jogos, aplicações de internet ou ou adolescente;
z quando os dados forem necessários para proteger Cumprimento de obrigação legal
o titular menor de idade. ou regulatória pelo controlador

Ademais, há um grande cuidado em garantir que Estudo por órgão de pesquisa,


os dados pessoais de crianças e adolescentes não garantida, sempre que possível, a
anonimização dos dados pessoais
sejam coletados além do estritamente necessário. Nos HIPÓTESES EM QUE
dias atuais, é comum que aplicativos e jogos possuam É AUTORIZADA A
Transferência a terceiro, desde
“termos de uso” para que sejam utilizados. Neste caso, CONSERVAÇÃO DOS
que respeitados os requisitos de
o compartilhamento de dados não essenciais não DADOS APÓS O TÉRMINO
tratamento de dados dispostos
pode ser requisito para que o titular possa utilizá-los. DO TRATAMENTO
na LGPD

Seção IV — Do Término do Tratamento de Dados O uso exclusivo do controlador,


vedado seu acesso por terceiro, e
Art. 15 O término do tratamento de dados pes- desde que anonimizados os dados
soais ocorrerá nas seguintes hipóteses:
I - verificação de que a finalidade foi alcançada
ou de que os dados deixaram de ser necessários DIREITOS DO TITULAR
ou pertinentes ao alcance da finalidade específica
almejada; Os direitos do titular dos dados tratados são regu-
II - fim do período de tratamento; lamentados pelos artigos compreendidos entre o 17 e
III - comunicação do titular, inclusive no exercício o 22. Neste capítulo, disciplina a LGPD que:
de seu direito de revogação do consentimento con-
forme disposto no § 5º do art. 8º desta Lei, resguar- Art. 17 Toda pessoa natural tem assegurada a
titularidade de seus dados pessoais e garantidos
dado o interesse público; ou
os direitos fundamentais de liberdade, de inti-
IV - determinação da autoridade nacional, quando
midade e de privacidade, nos termos desta Lei.
houver violação ao disposto nesta Lei.
Ademais, o titular dos dados poderá requisitar ao
A LGPD elenca as hipóteses de término do trata- controlador:
mento de dados pessoais. Para melhor fixação deste
conteúdo, observe o fluxograma a seguir: z confirmação da existência de tratamento;
z acesso aos dados;
z correção de dados incompletos, inexatos ou
A finalidade foi alcançada ou os
desatualizados;
dados deixaram de ser necessários ou
z anonimização, bloqueio ou eliminação de dados
pertinentes ao alcance da finalidade
específica almejada
desnecessários, excessivos ou tratados em descon-
formidade com o disposto nessa lei;
z portabilidade dos dados a outro fornecedor de
Com o fim do tratamento de dados
HIPÓTESES DO serviço ou produto, mediante requisição expres-
TÉRMINO DO O titular comunicou, exercendo o seu
sa, de acordo com a regulamentação da autorida-
TRATAMENTO DE direito de revogação do consentimento de nacional, observados os segredos comercial e
DADOS conforme disposto no § 5º, art. 8º, industrial;
dessa lei, resguardado o interesse z eliminação dos dados pessoais tratados com o con-
público sentimento do titular, exceto nas hipóteses previs-

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tas no art. 16, desta lei;
Por determinação da autoridade z informação das entidades públicas e privadas com
nacional, quando houver violação ao
as quais o controlador realizou uso compartilhado
disposto na LGPD
de dados;
z informação sobre a possibilidade de não forne-
Art. 16 Os dados pessoais serão eliminados após cer consentimento e sobre as consequências da
o término de seu tratamento, no âmbito e nos limi- negativa;
tes técnicos das atividades, autorizada a conserva- z revogação do consentimento.
ção para as seguintes finalidades:
I - cumprimento de obrigação legal ou regulatória Os dados fornecidos pelo titular não poderão ser
pelo controlador; usados em seu prejuízo, conforme o art. 21. Vejamos:
II - estudo por órgão de pesquisa, garantida, sempre
que possível, a anonimização dos dados pessoais; Art. 21 Os dados pessoais referentes ao exercício
III - transferência a terceiro, desde que respeitados regular de direitos pelo titular não podem ser utili-
os requisitos de tratamento de dados dispostos nes- zados em seu prejuízo.
ta Lei; ou
IV - uso exclusivo do controlador, vedado seu aces- Por fim, cumpre salientar que as ações que tenham,
so por terceiro, e desde que anonimizados os dados.
por mérito, a defesa dos direitos elencados neste capí-
tulo, poderão ser propostas tanto de forma individual
O cuidado com a proteção dos dados pessoais quanto de forma coletiva:
deve seguir desde a coleta até o seu encerramento;
por isso, a eliminação dos dados deve ser realizada Art. 22 A defesa dos interesses e dos direitos dos
com muita cautela, tanto com dados físicos quanto titulares de dados poderá ser exercida em juízo,
com os digitais, sendo permitida a conservação nas individual ou coletivamente, na forma do disposto
hipóteses elencadas no fluxograma a seguir, trazido na legislação pertinente, acerca dos instrumentos
para auxiliar nos seus estudos: de tutela individual e coletiva. 131
DO TRATAMENTO DE DADOS PESSOAIS PELO Para maior compreensão do artigo acima, acompa-
PODER PÚBLICO nhe a seguir o mencionado parágrafo único, do art. 1º,
da Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011:
A atividade administrativa realizada pelo Estado
está atrelada à gestão de uma série de dados sensí- Art. 1º (Lei nº 12.527, de 2011) [...]
veis. Desta forma, tanto a coleta e o tratamento de Parágrafo único. Subordinam-se ao regime desta
Lei:
dados pessoais quanto a execução de políticas públi-
I - os órgãos públicos integrantes da administração
cas decorrentes das relações entre Estado e cidadãos direta dos Poderes Executivo, Legislativo, incluindo as
foram temas abordados pela LGPD. Cortes de Contas, e Judiciário e do Ministério Público;
Neste sentido, o Capítulo IV regulamenta o trata- II - as autarquias, as fundações públicas, as empre-
mento de dados pessoais pelo poder público, determi- sas públicas, as sociedades de economia mista e
nando as hipóteses legais em que o Estado pode tratar demais entidades controladas direta ou indire-
dos dados pessoais. tamente pela União, Estados, Distrito Federal e
Municípios.
Seção I — Das Regras
Voltando ao estudo da LGPD:
Art. 23 O tratamento de dados pessoais pelas pes-
soas jurídicas de direito público referidas no pará- Art. 23 […]
§ 1º A autoridade nacional poderá dispor sobre as
grafo único do art. 1º da Lei nº 12.527, de 18 de
formas de publicidade das operações de tratamento.
novembro de 2011 (Lei de Acesso à Informação),
§ 2º O disposto nesta Lei não dispensa as pes-
deverá ser realizado para o atendimento de sua soas jurídicas mencionadas no caput deste artigo
finalidade pública, na persecução do interesse de instituir as autoridades de que trata a Lei nº
público, com o objetivo de executar as compe- 12.527, de 18 de novembro de 2011 (Lei de Acesso
tências legais ou cumprir as atribuições legais à Informação).
do serviço público, desde que: § 3º Os prazos e procedimentos para exercício dos
direitos do titular perante o Poder Público observa-
As pessoas jurídicas aqui mencionadas são as inte- rão o disposto em legislação específica, em especial
grantes da Administração Direta (União, estados e as disposições constantes da Lei nº 9.507, de 12 de
municípios) e Indireta (autarquias, fundações públi- novembro de 1997 (Lei do Habeas Data), da Lei nº
9.784, de 29 de janeiro de 1999 (Lei Geral do Pro-
cas, empresas públicas e sociedades de economia
cesso Administrativo), e da Lei nº 12.527, de 18 de
mista). novembro de 2011 (Lei de Acesso à Informação).
§ 4º Os serviços notariais e de registro exercidos em
Art. 23 […] caráter privado, por delegação do Poder Público,
I - sejam informadas as hipóteses em que, no exer- terão o mesmo tratamento dispensado às pessoas
cício de suas competências, realizam o tratamento jurídicas referidas no caput deste artigo, nos ter-
de dados pessoais, fornecendo informações claras e mos desta Lei.
atualizadas sobre a previsão legal, a finalidade, os § 5º Os órgãos notariais e de registro devem for-
procedimentos e as práticas utilizadas para a exe- necer acesso aos dados por meio eletrônico para a
cução dessas atividades, em veículos de fácil aces- administração pública, tendo em vista as finalida-
so, preferencialmente em seus sítios eletrônicos; des de que trata o caput deste artigo.
II - (VETADO);
III - seja indicado um encarregado quando realiza- Para proceder ao tratamento de dados, as pessoas
rem operações de tratamento de dados pessoais, jurídicas de direito público devem, no exercício de
nos termos do art. 39 desta Lei. suas competências, informar de modo claro e atuali-
IV - (VETADO). zado qual a base de dados que autoriza o tratamento,
bem como os procedimentos e as práticas utilizadas
Os dados tratados pelas pessoas jurídicas de direi- para isso, vez que também a autoridade nacional
to público somente poderão ser fornecidos à pessoa (ANPD) poderá dispor sobre as formas de publicidade
jurídica de direito privado, havendo comunicação à das operações de tratamento de dados.
É importante ressaltar que as pessoas jurídicas
autoridade nacional e com o consentimento do titular
de direito público deverão indicar um encarregado
dos dados.
quando realizarem o tratamento de dados, um DPO,
Entretanto, como toda regra tem suas exceções,
que fará a ponte com o controlador, os titulares de
poderá haver o compartilhamento sem que haja o dados e a ANPD, sendo fundamental a leitura do art.
consentimento do titular nos casos de dispensa de 23 para compreensão deste conteúdo.
consentimento prevista na LGPD, nos casos de uso
compartilhado de dados e nas exceções previstas no Art. 24 As empresas públicas e as sociedades de
§ 1º, do art. 26. economia mista que atuam em regime de concor-
O referido dispositivo de lei não faz menção ao rência, sujeitas ao disposto no art. 173 da Constitui-
compartilhamento de dados, tampouco alude a dados ção Federal, terão o mesmo tratamento dispensado
sensíveis (dados que informem raça, etnia, dados às pessoas jurídicas de direito privado particulares,
genéticos ou biométricos etc.). O art. 23, da LGPD, nos termos desta Lei.
Parágrafo único. As empresas públicas e as socie-
aborda o tratamento dos dados pessoais dos cida-
dades de economia mista, quando estiverem ope-
dãos pelo poder público, considerando que isso pode racionalizando políticas públicas e no âmbito da
ser realizado quando existir finalidade de interesse execução delas, terão o mesmo tratamento dispen-
público. sado aos órgãos e às entidades do Poder Público,
132 nos termos deste Capítulo.
Acompanhe a seguir o art. 173, da CF, de 1988, § 1º É vedado ao Poder Público transferir a entida-
mencionado no art. 24, da LGPD: des privadas dados pessoais constantes de bases de
dados a que tenha acesso, exceto:
Art. 173 (CF, de 1988) Ressalvados os casos pre- I - em casos de execução descentralizada de ativida-
vistos nesta Constituição, a exploração direta de de pública que exija a transferência, exclusivamente
atividade econômica pelo Estado só será permitida para esse fim específico e determinado, observado
quando necessária aos imperativos da segurança o disposto na Lei nº 12.527, de 18 de novembro de
nacional ou a relevante interesse coletivo, confor- 2011 (Lei de Acesso à Informação);
III - nos casos em que os dados forem acessíveis
me definidos em lei.
publicamente, observadas as disposições desta Lei.
§ 1º A lei estabelecerá o estatuto jurídico da empre-
IV - quando houver previsão legal ou a transferên-
sa pública, da sociedade de economia mista e de
cia for respaldada em contratos, convênios ou ins-
suas subsidiárias que explorem atividade econômi-
trumentos congêneres; ou
ca de produção ou comercialização de bens ou de
V - na hipótese de a transferência dos dados obje-
prestação de serviços, dispondo sobre: tivar exclusivamente a prevenção de fraudes e
I - sua função social e formas de fiscalização pelo irregularidades, ou proteger e resguardar a segu-
Estado e pela sociedade; rança e a integridade do titular dos dados, desde
II - a sujeição ao regime jurídico próprio das empre- que vedado o tratamento para outras finalidades.
sas privadas, inclusive quanto aos direitos e obri- § 2º Os contratos e convênios de que trata o § 1º
gações civis, comerciais, trabalhistas e tributários; deste artigo deverão ser comunicados à autoridade
III - licitação e contratação de obras, serviços, nacional.
compras e alienações, observados os princípios da
administração pública; Diante da possibilidade de compartilhamento de
IV - a constituição e o funcionamento dos conselhos dados pessoais entre as bases de dados sob controle
de administração e fiscal, com a participação de do poder público entre entes públicos, a LGPD afirma
acionistas minoritários; que todas as operações devem seguir os principais
V - os mandatos, a avaliação de desempenho e a requisitos já estudados anteriormente, sendo eles:
responsabilidade dos administradores.
a existência de finalidade, a existência de base legal
§ 2º As empresas públicas e as sociedades de econo-
para os entes envolvidos e a validação do comparti-
mia mista não poderão gozar de privilégios fiscais
lhamento. Isso posto, é fundamental a leitura do art.
não extensivos às do setor privado.
26 para a complementação dos seus estudos.
§ 3º A lei regulamentará as relações da empresa
pública com o Estado e a sociedade.
Art. 27 A comunicação ou o uso compartilhado de
§ 4º A lei reprimirá o abuso do poder econômico que
dados pessoais de pessoa jurídica de direito público
vise à dominação dos mercados, à eliminação da
a pessoa de direito privado será informado à auto-
concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros.
ridade nacional e dependerá de consentimento do
§ 5º A lei, sem prejuízo da responsabilidade indivi- titular, exceto:
dual dos dirigentes da pessoa jurídica, estabelecerá I - nas hipóteses de dispensa de consentimento pre-
a responsabilidade desta, sujeitando-a às punições vistas nesta Lei;
compatíveis com sua natureza, nos atos praticados II - nos casos de uso compartilhado de dados, em
contra a ordem econômica e financeira e contra a que será dada publicidade nos termos do inciso I do
economia popular. caput do art. 23 desta Lei; ou
III - nas exceções constantes do § 1º do art. 26 desta
Retomando o estudo dos artigos da LGPD, acompa- Lei.
nhe o art. 25: Parágrafo único. A informação à autoridade nacio-

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nal de que trata o caput deste artigo será objeto de
Art. 25 Os dados deverão ser mantidos em formato regulamentação.
interoperável e estruturado para o uso comparti- Art. 28 (Revogado)
lhado, com vistas à execução de políticas públicas, Art. 29 A autoridade nacional poderá solicitar, a
à prestação de serviços públicos, à descentraliza- qualquer momento, aos órgãos e às entidades do
ção da atividade pública e à disseminação e ao poder público a realização de operações de trata-
acesso das informações pelo público em geral. mento de dados pessoais, informações específicas
sobre o âmbito e a natureza dos dados e outros
detalhes do tratamento realizado e poderá emi-
Conforme a LGPD determina, os dados devem
tir parecer técnico complementar para garantir o
ser armazenados de forma interoperável, ou seja, cumprimento desta Lei.
em formato aberto, que permita o seu consumo por Art. 30 A autoridade nacional poderá estabele-
outros órgãos ou entes públicos, inclusive mediante cer normas complementares para as atividades
a integração de sistemas, devendo ser observadas as de comunicação e de uso compartilhado de dados
premissas técnicas viabilizando as finalidades especí- pessoais.
ficas, previstas no rol taxativo: a execução de políticas
públicas, a prestação de serviços públicos, a descen- Para ocorrer a transferência de dados de um ente
tralização da atividade pública, a disseminação e o público para um particular, basta estabelecer que nas
acesso das informações pelo público em geral. hipóteses de uso compartilhado de dados entre o ente
público e o privado na transferência, a LGPD exige,
Art. 26 O uso compartilhado de dados pessoais como regra, a obtenção do consentimento do titular
pelo Poder Público deve atender a finalidades espe- dos dados pessoais.
cíficas de execução de políticas públicas e atribui- O consentimento para compartilhamento de dados
ção legal pelos órgãos e pelas entidades públicas, pessoais deve ser específico para essa finalidade, não
respeitados os princípios de proteção de dados pes- bastando ao controlador tê-lo colhido para outras
soais elencados no art. 6º desta Lei. modalidades de tratamento. 133
A comunicação ou o uso compartilhado de dados VI - quando a transferência resultar em com-
pessoais de pessoa jurídica de direito público à pes- promisso assumido em acordo de cooperação
soa de direito privado será informada à autoridade internacional;
nacional e dependerá de consentimento do titular. As VII - quando a transferência for necessária para a
exceções estão previstas no art. 27, sendo também os execução de política pública ou atribuição legal do
arts. 29 e 30 autoexplicativos acerca das atuações da serviço público, sendo dada publicidade nos termos
ANPD nesses aspectos. do inciso I do caput do art. 23 desta Lei;
VIII - quando o titular tiver fornecido o seu con-
sentimento específico e em destaque para a trans-
Seção II — Da Responsabilidade ferência, com informação prévia sobre o caráter
internacional da operação, distinguindo claramen-
Quanto à responsabilidade do poder público, dis- te esta de outras finalidades; ou
põem os arts. 31 e 32 o seguinte: IX - quando necessário para atender as hipóteses
previstas nos incisos II, V e VI do art. 7º desta Lei.
Art. 31 Quando houver infração a esta Lei em Parágrafo único. Para os fins do inciso I deste arti-
decorrência do tratamento de dados pessoais por go, as pessoas jurídicas de direito público referidas
órgãos públicos, a autoridade nacional poderá no parágrafo único do art. 1º da Lei nº 12.527, de
enviar informe com medidas cabíveis para fazer 18 de novembro de 2011 (Lei de Acesso à Informa-
cessar a violação. ção), no âmbito de suas competências legais, e res-
ponsáveis, no âmbito de suas atividades, poderão
Destaca-se que a ANPD possui poder normativo, requerer à autoridade nacional a avaliação do nível
o que implica que o órgão pode emitir regulamentos de proteção a dados pessoais conferido por país ou
complementares — informes, contendo as medidas organismo internacional.
cabíveis, para fazer cessar a violação.
Em suma, vemos que a sociedade se encontra em
Art. 32 A autoridade nacional poderá solicitar a constante mudança, sendo cada vez mais rápida a
agentes do Poder Público a publicação de relatórios comunicação entre pessoas. Diante disso, a Lei Geral
de impacto à proteção de dados pessoais e sugerir a de Proteção de Dados tem como escopo consolidado
adoção de padrões e de boas práticas para os trata- no dispositivo acima descrito a garantia de segurança
mentos de dados pessoais pelo Poder Público. jurídica para as partes, em que somente será possível
a transferência internacional de dados pessoais em
Diante da constatação da ocorrência de infração casos específicos descritos pela própria lei.
por órgão ou ente do poder público, a ANPD pode
enviar um documento chamado relatório de impac- DA SEGURANÇA E DAS BOAS PRÁTICAS
to, com medidas cabíveis para fazer cessar a violação.
Porém, é importante destacar que não há previsão em Os controladores e operadores (agentes de trata-
qualquer dispositivo da LGPD sobre possibilidade de mento) deverão pautar-se nas medidas de segurança
a ANPD enviar semelhante relatório para as pessoas de natureza técnica e administrativas, preservando,
jurídicas de direito privado. assim, a segurança dos dados, inclusive após o térmi-
no do tratamento.
TRANSFERÊNCIA INTERNACIONAL DE DADOS
Art. 46 Os agentes de tratamento devem adotar
Os dados pessoais não poderão, em regra, ser sub- medidas de segurança, técnicas e administrativas
metidos à transferência internacional. Entretanto, o aptas a proteger os dados pessoais de acessos não
art. 33 estabelece que: autorizados e de situações acidentais ou ilícitas de
destruição, perda, alteração, comunicação ou qual-
Art. 33 A transferência internacional de dados pes- quer forma de tratamento inadequado ou ilícito.
soais somente é permitida nos seguintes casos: 1º A autoridade nacional poderá dispor sobre
I - para países ou organismos internacionais que padrões técnicos mínimos para tornar aplicável
proporcionem grau de proteção de dados pes- o disposto no caput deste artigo, considerados a
soais adequado ao previsto nesta Lei; natureza das informações tratadas, as caracterís-
II - quando o controlador oferecer e compro- ticas específicas do tratamento e o estado atual da
var garantias de cumprimento dos princípios, tecnologia, especialmente no caso de dados pes-
dos direitos do titular e do regime de proteção de soais sensíveis, assim como os princípios previstos
dados previstos nesta Lei, na forma de: no caput do art. 6º desta Lei.
a) cláusulas contratuais específicas para determi- § 2º As medidas de que trata o caput deste artigo
nada transferência; deverão ser observadas desde a fase de concepção
b) cláusulas-padrão contratuais; do produto ou do serviço até a sua execução.
c) normas corporativas globais; Art. 47 Os agentes de tratamento ou qualquer
d) selos, certificados e códigos de conduta regular- outra pessoa que intervenha em uma das fases
mente emitidos; do tratamento obriga-se a garantir a segurança
III - quando a transferência for necessária para a da informação prevista nesta Lei em relação aos
cooperação jurídica internacional entre órgãos dados pessoais, mesmo após o seu término.
públicos de inteligência, de investigação e de per-
secução, de acordo com os instrumentos de direito Caso haja risco ou dano relevante, dispõe o art. 48
internacional; que:
IV - quando a transferência for necessária para a
proteção da vida ou da incolumidade física do titu- Art. 48 O controlador deverá comunicar à autori-
lar ou de terceiro; dade nacional e ao titular a ocorrência de incidente
V - quando a autoridade nacional autorizar a de segurança que possa acarretar risco ou dano
134 transferência; relevante aos titulares.
§ 1º A comunicação será feita em prazo razoável, garantias dos titulares, bem como a cumprir as obri-
conforme definido pela autoridade nacional, e deve- gações legais e regulamentares impostas aos controla-
rá mencionar, no mínimo: dores e operadores.
I - a descrição da natureza dos dados pessoais
afetados; DA FISCALIZAÇÃO
II - as informações sobre os titulares envolvidos;
III - a indicação das medidas técnicas e de seguran-
Em caso de infringência das disposições contidas
ça utilizadas para a proteção dos dados, observa-
na LGPD, os agentes de tratamentos estarão sujeitos
dos os segredos comercial e industrial;
IV - os riscos relacionados ao incidente;
a sanções administrativas, em conformidade ao art.
V - os motivos da demora, no caso de a comunica- 52, da referida legislação:
ção não ter sido imediata; e
VI - as medidas que foram ou que serão adotadas Art. 52 Os agentes de tratamento de dados, em
para reverter ou mitigar os efeitos do prejuízo. razão das infrações cometidas às normas previstas
[…] nesta Lei, ficam sujeitos às seguintes sanções admi-
nistrativas aplicáveis pela autoridade nacional:
(Vigência)
Cumpre ressaltarmos que o controlador dos dados
I - advertência, com indicação de prazo para ado-
pessoais, descrito no caput, do art. 48, poderá ser a
ção de medidas corretivas;
pessoa natural ou jurídica, de direito público ou pri-
II - multa simples, de até 2% (dois por cento) do
vado, a quem competem todas as decisões referentes faturamento da pessoa jurídica de direito privado,
ao tratamento de dados pessoais do agente. grupo ou conglomerado no Brasil no seu último
Assim, tal comunicação tem como objetivo per- exercício, excluídos os tributos, limitada, no total,
mitir que a autoridade nacional possa tanto fiscali- a R$ 50.000.000,00 (cinquenta milhões de reais) por
zar como também aplicar as sanções previstas na lei, infração;
além de garantir também que os titulares dos dados III - multa diária, observado o limite total a que se
pessoais possam tomar as devidas providências cabí- refere o inciso II;
veis para proteção de seus direitos. IV - publicização da infração após devidamente
apurada e confirmada a sua ocorrência;
Art. 48 […] V - bloqueio dos dados pessoais a que se refere a
§ 2º A autoridade nacional verificará a gravidade infração até a sua regularização;
do incidente e poderá, caso necessário para a sal- VI - eliminação dos dados pessoais a que se refere
vaguarda dos direitos dos titulares, determinar ao a infração;
controlador a adoção de providências, tais como: VII - (VETADO);
I - ampla divulgação do fato em meios de comuni- VIII - (VETADO);
cação; e IX - (VETADO).
II - medidas para reverter ou mitigar os efeitos do X - suspensão parcial do funcionamento do banco
incidente. de dados a que se refere a infração pelo período
§ 3º No juízo de gravidade do incidente, será avalia- máximo de 6 (seis) meses, prorrogável por igual
da eventual comprovação de que foram adotadas período, até a regularização da atividade de tra-
medidas técnicas adequadas que tornem os dados tamento pelo controlador; (Incluído pela Lei nº
pessoais afetados ininteligíveis, no âmbito e nos 13.853, de 2019)
limites técnicos de seus serviços, para terceiros não XI - suspensão do exercício da atividade de trata-
autorizados a acessá-los. mento dos dados pessoais a que se refere a infração
Art. 49 Os sistemas utilizados para o tratamento pelo período máximo de 6 (seis) meses, prorrogável
de dados pessoais devem ser estruturados de forma por igual período; (Incluído pela Lei nº 13.853, de

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a atender aos requisitos de segurança, aos padrões 2019)
de boas práticas e de governança e aos princípios XII - proibição parcial ou total do exercício de ativi-
gerais previstos nesta Lei e às demais normas dades relacionadas a tratamento de dados. (Incluí-
regulamentares. do pela Lei nº 13.853, de 2019)

Importante ressaltar que os requisitos de seguran- Em continuidade, ainda no art. 52, seus parágra-
ça são todas as medidas técnicas e também adminis- fos dispõem sobre a aplicação das sanções depois que
trativas que têm como objetivo a proteção integral dos o procedimento administrativo possibilitar a ampla
dados pessoais contra possíveis acessos não autoriza- defesa, de forma gradativa, isolada ou cumulativa,
dos, que venham acarretar a perda, destruição, alte- seguindo os parâmetros elencados a seguir:
ração, divulgação ou qualquer forma de tratamento
inadequado ou ilícito. Art. 52 [...]
Já os padrões de boas práticas e de governança § 1º As sanções serão aplicadas após procedimen-
são todas as normas de condutas e procedimentos to administrativo que possibilite a oportunidade
que buscam garantir a eficiência, a confiabilidade e da ampla defesa, de forma gradativa, isolada ou
cumulativa, de acordo com as peculiaridades do
a transparência do tratamento dos dados; por fim, os
caso concreto e considerados os seguintes parâme-
princípios gerais são todos os valores que orientam o
tros e critérios:
tratamento de dados pessoais, tais como o respeito à I - a gravidade e a natureza das infrações e dos
privacidade, a liberdade de expressão, a inviolabilida- direitos pessoais afetados;
de da intimidade, dentre outros. II - a boa-fé do infrator;
Portanto, garantir que o sistema utilizado para o III - a vantagem auferida ou pretendida pelo
tratamento de dados atenda aos requisitos de segu- infrator;
rança, boas práticas, governança e princípios gerais IV - a condição econômica do infrator;
dessa lei é também garantir aos titulares que os dados V - a reincidência;
serão operados de forma a respeitar os direitos e VI - o grau do dano; 135
VII - a cooperação do infrator; § 1º As metodologias a que se refere o caput des-
VIII - a adoção reiterada e demonstrada de meca- te artigo devem ser previamente publicadas, para
nismos e procedimentos internos capazes de mini- ciência dos agentes de tratamento, e devem apre-
mizar o dano, voltados ao tratamento seguro e sentar objetivamente as formas e dosimetrias para
adequado de dados, em consonância com o dispos- o cálculo do valor-base das sanções de multa, que
to no inciso II do § 2º do art. 48 desta Lei; deverão conter fundamentação detalhada de todos
IX - a adoção de política de boas práticas e os seus elementos, demonstrando a observância
governança; dos critérios previstos nesta Lei.
X - a pronta adoção de medidas corretivas; e § 2º O regulamento de sanções e metodologias cor-
XI - a proporcionalidade entre a gravidade da falta respondentes deve estabelecer as circunstâncias e
e a intensidade da sanção. as condições para a adoção de multa simples ou
§ 2º O disposto neste artigo não substitui a aplica- diária.
ção de sanções administrativas, civis ou penais defi- Art. 54 O valor da sanção de multa diária aplicável
nidas na Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, e às infrações a esta Lei deve observar a gravidade
em legislação específica. (Redação dada pela Lei nº da falta e a extensão do dano ou prejuízo causado e
13.853, de 2019) ser fundamentado pela autoridade nacional.
§ 3º O disposto nos incisos I, IV, V, VI, X, XI e XII do Parágrafo único. A intimação da sanção de multa
caput deste artigo poderá ser aplicado às entidades diária deverá conter, no mínimo, a descrição da
e aos órgãos públicos, sem prejuízo do disposto na obrigação imposta, o prazo razoável e estipulado
Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990, na Lei nº pelo órgão para o seu cumprimento e o valor da mul-
8.429, de 2 de junho de 1992, e na Lei nº 12.527, de ta diária a ser aplicada pelo seu descumprimento.
18 de novembro de 2011. (Redação dada pela Lei nº Art. 55 (VETADO)
13.853, de 2019)
§ 4º No cálculo do valor da multa de que tra-
Da Autoridade Nacional de Proteção de Dados
ta o inciso II do caput deste artigo, a autoridade
(ANPD)
nacional poderá considerar o faturamento total
da empresa ou grupo de empresas, quando não
dispuser do valor do faturamento no ramo de ati- O art. 55-A estabelece a criação da Autoridade
vidade empresarial em que ocorreu a infração, defi- Nacional de Proteção de Dados (ANPD) como sendo
nido pela autoridade nacional, ou quando o valor uma autarquia de natureza especial, dotada de auto-
for apresentado de forma incompleta ou não for nomia técnica e decisória, com patrimônio próprio e
demonstrado de forma inequívoca e idônea. com sede e foro no Distrito Federal.
§ 5º O produto da arrecadação das multas aplica- Além disso, os demais artigos dispõem sobre:
das pela ANPD, inscritas ou não em dívida ativa,
será destinado ao Fundo de Defesa de Direitos Difu- z composição do conselho e como ela se dará;
sos de que tratam o art. 13 da Lei nº 7.347, de 24 de z situação de perda do cargo;
julho de 1985, e a Lei nº 9.008, de 21 de março de z estrutura regimental;
1995. (Incluído pela Lei nº 13.853, de 2019) z remanejamento interno para ocupar os cargos de
§ 6º As sanções previstas nos incisos X, XI e XII do
confiança;
caput deste artigo serão aplicadas: (Incluído pela
z competência da ANPD;
Lei nº 13.853, de 2019)
I - somente após já ter sido imposta ao menos 1 z aplicação das sanções;
(uma) das sanções de que tratam os incisos II, III, z constituição do patrimônio.
IV, V e VI do caput deste artigo para o mesmo caso
concreto; e (Incluído pela Lei nº 13.853, de 2019) Todo o apresentado está firmado nos seguintes
II - em caso de controladores submetidos a outros artigos:
órgãos e entidades com competências sanciona-
tórias, ouvidos esses órgãos. (Incluído pela Lei nº Art. 55-B (VETADO);
13.853, de 2019) Art. 55-C A ANPD é composta de:
§ 7º Os vazamentos individuais ou os acessos não I - Conselho Diretor, órgão máximo de direção;
autorizados de que trata o caput do art. 46 desta II - Conselho Nacional de Proteção de Dados Pes-
Lei poderão ser objeto de conciliação direta entre soais e da Privacidade;
controlador e titular e, caso não haja acordo, o con- III - Corregedoria;
trolador estará sujeito à aplicação das penalidades IV - Ouvidoria;
de que trata este artigo. (Incluído pela Lei nº 13.853, V - (revogado);
de 2019) V-A - Procuradoria; e
VI - unidades administrativas e unidades especia-
Prosseguindo, os arts. 53 e seguintes determinam lizadas necessárias à aplicação do disposto nesta
que a autoridade nacional, responsável pela aplica- Lei.
ção da lei em questão, deve estabelecer, por meio de
um regulamento específico, as sanções administrati- Quanto à composição do conselho diretor, vejamos
vas para as infrações cometidas em relação à presen- as disposições pertinentes:
te legislação, que também passarão pelo processo de
consulta pública. Para tanto, Art. 55-D O Conselho Diretor da ANPD será
composto de 5 (cinco) diretores, incluído o
Art. 53 A autoridade nacional definirá, por meio Diretor-Presidente.
de regulamento próprio sobre sanções administra- § 1º Os membros do Conselho Diretor da ANPD
tivas a infrações a esta Lei, que deverá ser objeto serão escolhidos pelo Presidente da República e
de consulta pública, as metodologias que orienta- por ele nomeados, após aprovação pelo Senado
rão o cálculo do valor-base das sanções de multa. Federal, nos termos da alínea ‘f’ do inciso III do
136 (Vigência) art. 52 da Constituição Federal, e ocuparão cargo
em comissão do Grupo-Direção e Assessoramento a) prestar, direta ou indiretamente, qualquer tipo
Superiores - DAS, no mínimo, de nível 5. de serviço a pessoa física ou jurídica com quem
§ 2º Os membros do Conselho Diretor serão esco- tenha estabelecido relacionamento relevante em
lhidos dentre brasileiros que tenham reputação razão do exercício do cargo ou emprego;
ilibada, nível superior de educação e elevado con- b) aceitar cargo de administrador ou conselheiro
ceito no campo de especialidade dos cargos para os ou estabelecer vínculo profissional com pessoa físi-
quais serão nomeados. ca ou jurídica que desempenhe atividade relacio-
§ 3º O mandato dos membros do Conselho Diretor nada à área de competência do cargo ou emprego
será de 4 (quatro) anos. ocupado;
§ 4º Os mandatos dos primeiros membros do Con- c) celebrar com órgãos ou entidades do Poder Exe-
selho Diretor nomeados serão de 2 (dois), de 3 cutivo federal contratos de serviço, consultoria,
(três), de 4 (quatro), de 5 (cinco) e de 6 (seis) anos,
assessoramento ou atividades similares, vincula-
conforme estabelecido no ato de nomeação.
dos, ainda que indiretamente, ao órgão ou entidade
§ 5º Na hipótese de vacância do cargo no curso do
em que tenha ocupado o cargo ou emprego; ou
mandato de membro do Conselho Diretor, o prazo
d) intervir, direta ou indiretamente, em favor de
remanescente será completado pelo sucessor.
interesse privado perante órgão ou entidade em
que haja ocupado cargo ou emprego ou com o qual
Importante atentar-se para o dispositivo acima
tenha estabelecido relacionamento relevante em
elencado, haja vista que se refere à criação da Auto-
razão do exercício do cargo ou emprego.
ridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD). Assim,
podemos dizer que a ANPD é um órgão da Adminis-
Portanto, a Lei Geral de Proteção de Dados tem
tração Pública Federal, integrante da presidência da
República, que será responsável por zelar, imple- também como objetivo evitar que, após destituição do
mentar e fiscalizar o cumprimento da LGPD em todo respectivo cargo, os membros do Conselho Diretor da
o território nacional, mediante as atribuições acima ANPD possam se valer de informações privilegiadas
elencadas. ou da influência que obtiveram com o cargo, resultan-
do em vantagens indevidas ou conflitos de interesses.
Art. 55-E Os membros do Conselho Diretor
somente perderão seus cargos em virtude de renún- Art. 55-G Ato do Presidente da República disporá
cia, condenação judicial transitada em julgado ou sobre a estrutura regimental da ANPD.
pena de demissão decorrente de processo adminis- § 1º Até a data de entrada em vigor de sua estru-
trativo disciplinar. tura regimental, a ANPD receberá o apoio técnico
§ 1º Nos termos do caput deste artigo, cabe ao e administrativo da Casa Civil da Presidência da
Ministro de Estado Chefe da Casa Civil da Presidên- República para o exercício de suas atividades.
cia da República instaurar o processo administra- § 2º O Conselho Diretor disporá sobre o regimento
tivo disciplinar, que será conduzido por comissão interno da ANPD.
especial constituída por servidores públicos fede- Art. 55-H Os cargos em comissão e as funções de
rais estáveis. confiança da ANPD serão remanejados de outros
§ 2º Compete ao Presidente da República determi- órgãos e entidades do Poder Executivo federal.
nar o afastamento preventivo, somente quando Art. 55-I Os ocupantes dos cargos em comissão e
assim recomendado pela comissão especial de que das funções de confiança da ANPD serão indica-
trata o § 1º deste artigo, e proferir o julgamento. dos pelo Conselho Diretor e nomeados ou designa-
Art. 55-F Aplica-se aos membros do Conselho dos pelo Diretor-Presidente.
Diretor, após o exercício do cargo, o disposto no
art. 6º da Lei nº 12.813, de 16 de maio de 2013.
Em relação às competências da Agência Nacional

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Parágrafo único. A infração ao disposto no caput
deste artigo caracteriza ato de improbidade de Proteção de Dados, façamos uma leitura breve
administrativa. quanto ao dispositivo:

Conforme já estudado, o conselho diretor acima Art. 55-J Compete à ANPD:


descrito é o órgão máximo de direção da ANPD, o qual I - zelar pela proteção dos dados pessoais, nos ter-
será composto por cinco membros que serão nomea- mos da legislação;
dos pelo presidente da República, devendo observar II - zelar pela observância dos segredos comercial e
que os mandatos dos membros do conselho diretor industrial, observada a proteção de dados pessoais
não deverão coincidir com o mandato do presidente e do sigilo das informações quando protegido por
da República. lei ou quando a quebra do sigilo violar os funda-
Assim, após o exercício do cargo, será aplicado aos mentos do art. 2º desta Lei;
membros do conselho o disposto no art. 6º, da Lei nº III - elaborar diretrizes para a Política Nacional de
12.813, de 16 de maio de 2013, vejamos: Proteção de Dados Pessoais e da Privacidade;
IV - fiscalizar e aplicar sanções em caso de trata-
Art. 6º Configura conflito de interesses após o exer- mento de dados realizado em descumprimento à
cício de cargo ou emprego no âmbito do Poder Exe- legislação, mediante processo administrativo que
cutivo federal: assegure o contraditório, a ampla defesa e o direito
I - a qualquer tempo, divulgar ou fazer uso de infor- de recurso;
mação privilegiada obtida em razão das atividades V - apreciar petições de titular contra controlador
exercidas; e após comprovada pelo titular a apresentação de
II - no período de 6 (seis) meses, contado da data reclamação ao controlador não solucionada no
da dispensa, exoneração, destituição, demissão ou prazo estabelecido em regulamentação;
aposentadoria, salvo quando expressamente auto- VI - promover na população o conhecimento das
rizado, conforme o caso, pela Comissão de Ética normas e das políticas públicas sobre proteção de
Pública ou pela Controladoria-Geral da União: dados pessoais e das medidas de segurança; 137
VII - promover e elaborar estudos sobre as práticas XXIII - articular-se com as autoridades reguladoras
nacionais e internacionais de proteção de dados públicas para exercer suas competências em seto-
pessoais e privacidade; res específicos de atividades econômicas e governa-
VIII - estimular a adoção de padrões para serviços mentais sujeitas à regulação; e
e produtos que facilitem o exercício de controle dos XXIV - implementar mecanismos simplificados,
titulares sobre seus dados pessoais, os quais deve- inclusive por meio eletrônico, para o registro de
rão levar em consideração as especificidades das reclamações sobre o tratamento de dados pessoais
atividades e o porte dos responsáveis; em desconformidade com esta Lei.
IX - promover ações de cooperação com autorida- […]
des de proteção de dados pessoais de outros países,
de natureza internacional ou transnacional; Além disso, a ANPD deverá observar os fundamen-
X - dispor sobre as formas de publicidade das ope- tos da mínima intervenção e da constituição federal
rações de tratamento de dados pessoais, respeita- para aplicação de condicionantes administrativas,
dos os segredos comercial e industrial; vejamos:
XI - solicitar, a qualquer momento, às entidades
do poder público que realizem operações de trata- Art. 55 J […]
mento de dados pessoais informe específico sobre o § 1º Ao impor condicionantes administrativas ao
âmbito, a natureza dos dados e os demais detalhes tratamento de dados pessoais por agente de tra-
do tratamento realizado, com a possibilidade de tamento privado, sejam eles limites, encargos ou
emitir parecer técnico complementar para garantir sujeições, a ANPD deve observar a exigência de
o cumprimento desta Lei; mínima intervenção, assegurados os fundamentos,
XII - elaborar relatórios de gestão anuais acerca de os princípios e os direitos dos titulares previstos no
suas atividades; art. 170 da Constituição Federal e nesta Lei.
XIII - editar regulamentos e procedimentos sobre § 2º Os regulamentos e as normas editados pela
proteção de dados pessoais e privacidade, bem ANPD devem ser precedidos de consulta e audiên-
como sobre relatórios de impacto à proteção de cia públicas, bem como de análises de impacto
dados pessoais para os casos em que o tratamen- regulatório.
to representar alto risco à garantia dos princípios § 3º A ANPD e os órgãos e entidades públicos res-
gerais de proteção de dados pessoais previstos nes- ponsáveis pela regulação de setores específicos da
ta Lei; atividade econômica e governamental devem coor-
XIV - ouvir os agentes de tratamento e a sociedade denar suas atividades, nas correspondentes esferas
em matérias de interesse relevante e prestar contas de atuação, com vistas a assegurar o cumprimento
sobre suas atividades e planejamento; de suas atribuições com a maior eficiência e promo-
XV - arrecadar e aplicar suas receitas e publicar, no ver o adequado funcionamento dos setores regula-
relatório de gestão a que se refere o inciso XII do dos, conforme legislação específica, e o tratamento
caput deste artigo, o detalhamento de suas receitas de dados pessoais, na forma desta Lei.
e despesas; § 4º A ANPD manterá fórum permanente de comu-
XVI - realizar auditorias, ou determinar sua rea- nicação, inclusive por meio de cooperação técnica,
lização, no âmbito da atividade de fiscalização de com órgãos e entidades da administração pública
que trata o inciso IV e com a devida observância do responsáveis pela regulação de setores específicos
disposto no inciso II do caput deste artigo, sobre o da atividade econômica e governamental, a fim de
tratamento de dados pessoais efetuado pelos agen- facilitar as competências regulatória, fiscalizatória
tes de tratamento, incluído o poder público; e punitiva da ANPD.
XVII - celebrar, a qualquer momento, compromisso § 5º No exercício das competências de que trata o
com agentes de tratamento para eliminar irregula- caput deste artigo, a autoridade competente deverá
ridade, incerteza jurídica ou situação contenciosa zelar pela preservação do segredo empresarial e do
no âmbito de processos administrativos, de acor- sigilo das informações, nos termos da lei.
do com o previsto no Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de § 6º As reclamações colhidas conforme o disposto
setembro de 1942; no inciso V do caput deste artigo poderão ser ana-
XVIII - editar normas, orientações e procedimen- lisadas de forma agregada, e as eventuais provi-
tos simplificados e diferenciados, inclusive quanto dências delas decorrentes poderão ser adotadas de
aos prazos, para que microempresas e empresas de forma padronizada.
pequeno porte, bem como iniciativas empresariais
de caráter incremental ou disruptivo que se autode- Ademais, será de competência exclusiva da ANPD
clarem startups ou empresas de inovação, possam a aplicação de sanções previstas na lei geral de prote-
adequar-se a esta Lei; ção de dados, atendendo aos seguintes requisitos:
XIX - garantir que o tratamento de dados de idosos
seja efetuado de maneira simples, clara, acessível Art. 55-K A aplicação das sanções previstas nesta
e adequada ao seu entendimento, nos termos des- Lei compete exclusivamente à ANPD, e suas compe-
ta Lei e da Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003 tências prevalecerão, no que se refere à proteção de
(Estatuto do Idoso); dados pessoais, sobre as competências correlatas
XX - deliberar, na esfera administrativa, em cará- de outras entidades ou órgãos da administração
ter terminativo, sobre a interpretação desta Lei, as pública.
suas competências e os casos omissos; Parágrafo único. A ANPD articulará sua atuação
XXI - comunicar às autoridades competentes as com outros órgãos e entidades com competências
infrações penais das quais tiver conhecimento; sancionatórias e normativas afetas ao tema de
XXII - comunicar aos órgãos de controle interno o proteção de dados pessoais e será o órgão central
descumprimento do disposto nesta Lei por órgãos e de interpretação desta Lei e do estabelecimento de
entidades da administração pública federal; normas e diretrizes para a sua implementação.
138 Art. 55-L Constituem receitas da ANPD:
I - as dotações, consignadas no orçamento geral I - serão indicados na forma de regulamento;
da União, os créditos especiais, os créditos adicio- II - não poderão ser membros do Comitê Gestor da
nais, as transferências e os repasses que lhe forem Internet no Brasil;
conferidos; III - terão mandato de 2 (dois) anos, permitida 1
II - as doações, os legados, as subvenções e outros (uma) recondução.
recursos que lhe forem destinados; § 4º A participação no Conselho Nacional de Prote-
III - os valores apurados na venda ou aluguel de ção de Dados Pessoais e da Privacidade será consi-
bens móveis e imóveis de sua propriedade; derada prestação de serviço público relevante, não
IV - os valores apurados em aplicações no mercado remunerada.
financeiro das receitas previstas neste artigo;
V - (VETADO); Em relação às competências do conselho nacio-
VI - os recursos provenientes de acordos, convênios nal de proteção dos dados pessoais e da privacidade,
ou contratos celebrados com entidades, organis- vejamos:
mos ou empresas, públicos ou privados, nacionais
ou internacionais; Art. 58-B Compete ao Conselho Nacional de Prote-
VII - o produto da venda de publicações, material ção de Dados Pessoais e da Privacidade:
técnico, dados e informações, inclusive para fins de I - propor diretrizes estratégicas e fornecer subsí-
licitação pública. dios para a elaboração da Política Nacional de Pro-
teção de Dados Pessoais e da Privacidade e para a
Portanto, tais receitas têm como principal objetivo atuação da ANPD;
garantir a autonomia financeira e administrativa da II - elaborar relatórios anuais de avaliação da exe-
ANPD, bem como o seu funcionamento e desempenho cução das ações da Política Nacional de Proteção
de suas atribuições de forma adequada. de Dados Pessoais e da Privacidade;
III - sugerir ações a serem realizadas pela ANPD;
Art. 55-M Constituem o patrimônio da ANPD os IV - elaborar estudos e realizar debates e audiên-
bens e os direitos: cias públicas sobre a proteção de dados pessoais e
I - que lhe forem transferidos pelos órgãos da Presi- da privacidade; e
dência da República; e V - disseminar o conhecimento sobre a proteção de
II - que venha a adquirir ou a incorporar. dados pessoais e da privacidade à população.
Art. 56 (VETADO) Art. 59 (VETADO).
Art. 57 (VETADO)
DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
Do Conselho Nacional de Proteção de Dados
Pessoais e da Privacidade Neste capítulo há a definição sobre as demais dis-
posições da legislação. Diante disso, o art. 60 estabele-
A seção é reservada para tratar sobre a política e ce a alteração do inciso X, do art. 7º, e do inciso II, do
composição do mencionado conselho. Nesse aspecto, art. 16, da Lei nº 12.965, que trata sobre as regras do
os dispositivos tratam de dada forma: uso da internet no Brasil.
Quanto às disposições acerca das empresas estran-
Art. 58 (VETADO) geiras, haverá a notificação e intimação à pessoa
Art. 58-A O Conselho Nacional de Proteção de (agente, representante ou responsável), de todos os
Dados Pessoais e da Privacidade será composto de atos processuais previstos nesta lei, ainda que não
23 (vinte e três) representantes, titulares e suplen- haja uma procuração ou disposição contratual ou
tes, dos seguintes órgãos: estatutária específica para este fim. Posto isto, haverá
a edição de regulamentos, mediante o INEP (Instituto

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I - 5 (cinco) do Poder Executivo federal;
II - 1 (um) do Senado Federal; Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
III - 1 (um) da Câmara dos Deputados; Teixeira), no âmbito de suas competências.
IV - 1 (um) do Conselho Nacional de Justiça;
V - 1 (um) do Conselho Nacional do Ministério Art. 60 A Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014 (Mar-
Público; co Civil da Internet), passa a vigorar com as seguin-
VI - 1 (um) do Comitê Gestor da Internet no Brasil; tes alterações:
VII - 3 (três) de entidades da sociedade civil com “Art. 7º [...]
atuação relacionada a proteção de dados pessoais; X - exclusão definitiva dos dados pessoais que tiver
VIII - 3 (três) de instituições científicas, tecnológi- fornecido a determinada aplicação de internet, a
cas e de inovação; seu requerimento, ao término da relação entre as
IX - 3 (três) de confederações sindicais representati- partes, ressalvadas as hipóteses de guarda obriga-
vas das categorias econômicas do setor produtivo; tória de registros previstas nesta Lei e na que dis-
X - 2 (dois) de entidades representativas do setor põe sobre a proteção de dados pessoais;” (NR)
empresarial relacionado à área de tratamento de “Art. 16 [...]
dados pessoais; e II - de dados pessoais que sejam excessivos em rela-
XI - 2 (dois) de entidades representativas do setor ção à finalidade para a qual foi dado consentimento
laboral. pelo seu titular, exceto nas hipóteses previstas na
§ 1º Os representantes serão designados por ato do Lei que dispõe sobre a proteção de dados pessoais.”
Presidente da República, permitida a delegação. (NR)
§ 2º Os representantes de que tratam os incisos I, Art. 61 A empresa estrangeira será notificada e
II, III, IV, V e VI do caput deste artigo e seus suplen- intimada de todos os atos processuais previstos
tes serão indicados pelos titulares dos respectivos nesta Lei, independentemente de procuração ou
órgãos e entidades da administração pública. de disposição contratual ou estatutária, na pessoa
§ 3º Os representantes de que tratam os incisos do agente ou representante ou pessoa responsável
VII, VIII, IX, X e XI do caput deste artigo e seus por sua filial, agência, sucursal, estabelecimento ou
suplentes: escritório instalado no Brasil. 139
Art. 62 A autoridade nacional e o Instituto Nacio- Aqui, cabe fazer uma diferenciação entre partici-
nal de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio pação social e controle social. O controle social é
Teixeira (Inep), no âmbito de suas competências, um tipo de participação. Ou seja, a participação social
editarão regulamentos específicos para o acesso a é algo mais amplo que o controle social. Segundo
dados tratados pela União para o cumprimento do Bobbio (apud Paludo, 2010, p. 331), o controle social
disposto no § 2º do art. 9º da Lei nº 9.394, de 20 de é o conjunto de meios de intervenção acionado pelos
dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Edu- cidadãos ou grupos sociais com vistas a impedir e
cação Nacional), e aos referentes ao Sistema Nacio- desestimular os comportamentos contrários às nor-
nal de Avaliação da Educação Superior (Sinaes), de mas, ou restabelecer as condições de conformação. O
que trata a Lei nº 10.861, de 14 de abril de 2004.
controle externo popular (ou social) compreende jus-
Art. 63 A autoridade nacional estabelecerá normas
tamente os mecanismos de controle que a sociedade
sobre a adequação progressiva de bancos de dados
dispõe para fiscalizar a atuação do Estado.
constituídos até a data de entrada em vigor desta
Como dito anteriormente, a CF, de 1988, em diver-
Lei, consideradas a complexidade das operações de
tratamento e a natureza dos dados.
sos artigo, fomenta e incentiva o controle externo
Art. 64 Os direitos e princípios expressos nesta Lei popular.
não excluem outros previstos no ordenamento jurí- Observem o que diz Paludo (2010, p. 332):
dico pátrio relacionados à matéria ou nos tratados
internacionais em que a República Federativa do O controle social fortalece o controle formal-legal
Brasil seja parte. realizado pelos órgãos competentes, e leva o cida-
dão a participar ativamente da vida pública, não só
fiscalizando a atuação dos governos e combatendo a
REFERÊNCIAS
corrupção, mas também como forma de reduzir a dis-
tância entre o discurso e o desempenho do Governo e
GONZÁLEZ, M. LGPD Comentada. Guia LGPD, as reais necessidades dos cidadãos e da comunidade.
2019. Disponível em: https://guialgpd.com.br/lgpd-
-comentada/. Acesso em: 3 jan. 2021. O povo, o cidadão, é o titular da coisa pública,
logo, não tem somente a faculdade de fiscalização,
mas a obrigação de fiscalizar a atuação da Adminis-
tração Pública.
PROCESSOS PARTICIPATIVOS DE Um dos principais objetivos dos regimes democrá-
ticos é justamente esse: fomentar a accountability
GESTÃO PÚBLICA: CONSELHOS DE
e um dos seus pilares, a responsabilização. Assim, os
GESTÃO, ORÇAMENTO PARTICIPATIVO, políticos devem estar permanentemente prestando
PARCERIA ENTRE GOVERNO E contas aos cidadãos.
Quanto mais clara, íntegra e tempestiva for a res-
SOCIEDADE ponsabilização do político perante os cidadãos, mais
democrático será o regime. O controle social exerce
Os Processos Participativos são, como o próprio
importante papel nesse contexto.
nome já sugere, parcerias fundamentais entre gover-
no e sociedade. A própria CF, de 1988, trouxe diversas
CONSELHOS DE GESTÃO
possibilidades de participação social na administra-
ção pública como, por exemplo, conferências, audiên-
Segundo Rua (2014, p. 46):
cias, consultas públicas, orçamentos participativos,
conselhos de gestão e políticas públicas, dentre outros.
Os conselhos são espaços públicos (não estatais) que
Segundo Paludo (2010, p. 98), com a retomada da sinalizam a possibilidade de representação de interes-
democratização, em 1985, diversos segmentos sociais ses coletivos na cena política e na definição da agenda
passaram a pressionar por participação política e por pública, apresentando um caráter híbrido, uma vez que
direitos negados no período ditatorial, o que acabou são, ao mesmo tempo, parte do Estado e da sociedade.
gerando uma incompatibilidade entre o modelo cen-
tralizador e autoritário vigente e as novas demandas Ou seja, segundo a autora, os conselhos são canais:
sociais. Tanto é que houve uma demanda por um novo
Texto Constitucional em 1988. z de participação política;
Esse processo de democratização após a década z de controle público sobre a ação governamental;
de 1980, de certa forma, proporcionou uma alteração z de deliberação legalmente institucionalizada;
na configuração da gestão pública. Diversas organi- z de publicização das ações do governo.
zações sociais, associações, conselhos surgiram nessa
época com o intuito de promover a participação. Lembrando que publicização é uma das estraté-
A participação popular é algo inerente à democra- gias da nova gestão pública, que tem como base as
cia. A própria palavra “democracia” significa “gover- alianças entre o Estado e a sociedade (o Estado pas-
no do povo” ou “governo da maioria”. sa de executor ou prestador direto de serviços para
Além disso, o terceiro estágio (Public Service regulador, provedor ou promotor desses serviços,
Orientation — PSO) do Modelo Gerencial de Admi- em especial, os serviços que impactam mais direta-
nistração Pública agregou princípios mais ligados à mente a sociedade, como educação e saúde).
cidadania, como accountability e equidade, com o Os conselhos têm poder de “agenda”, ou seja, eles
intuito superar a ideia de que a Administração Pública podem interferir, de forma significativa, nas ações e
deve tratar os administrados somente como clientes. metas dos governos e em seus sistemas administra-
O PSO inclui a participação do cidadão e da socieda- tivos. Eles formam “vontades” e opiniões, mas tam-
140 de nas decisões públicas. bém são mecanismos de ação, que podem inserir
na agenda governamental certas demandas e certos z são criados por lei, costumam ser permanentes e
temas de interesse público, que, por sua vez, podem colegiados;
ser articulados politicamente e implementados sob a z possuem um maior poder deliberativo (de decisão);
forma de políticas públicas. z podem propor diretrizes, fiscalizar, controlar e
Rua e Romanini (2013) trazem o conceito de “con- avaliar os resultados;
selhos temáticos institucionalizados”, que podem ser: z em geral, são vinculados ao Poder Executivo, mas
podem atuar nas três esferas;
z Conselhos de categorias sociais: são divididos z podem ser consultivos (o cidadão é consultado),
por categorias sociais (categoria das crianças, dos deliberativos (focam na tomada de decisão), nor-
idosos, dos indígenas, das mulheres etc.); mativos (focam em estabelecer normas e diretrizes)
z Conselhos de áreas (conselhos de gestão ou con- e fiscalizadores (focam em fiscalizar a implementa-
selhos gestores): podem estar na área de transpor- ção de uma política pública, por exemplo).
te, saúde, educação etc.;
z Conselhos tarifários: aqueles envolvidos no Outra forma de participação social que as bancas
âmbito das agências regulatórias e em outras ins- costumam cobrar é chamada de “audiências públi-
tituições do tipo. cas”. Alguns pontos importantes sobre elas são:

Alguns exemplos de outros tipos de conselhos são: z essas audiências funcionam como “ponte” para
um diálogo;
z Conselho da República; z é uma forma de interação entre o legislativo e a
z Conselho de Defesa Nacional; sociedade civil, por exemplo;
z Conselho Monetário Nacional (CMN); z é um debate;
z Conselho Nacional de Justiça (CNJ); z não são vinculantes, ou seja, a sociedade participa
z Conselhos profissionais ou de classe (CREA, CRA, do debate, mas a autoridade não está “obrigada” a
CRM, OAB, dentre outros). seguir o que foi proposto.

Existem também os conselhos tutelares, criados ORÇAMENTO PARTICIPATIVO


em 1990, com a publicação do Estatuto da Criança e
do Adolescente (ECA), objetivando zelar pelo cumpri- Essas audiências são mencionadas na LRF, em
mento dos direitos da criança e do adolescente. seu art. 48, trazendo à tona o tal do orçamento
Conselhos gestores de Políticas Públicas, que são participativo:
os mais comuns em concursos públicos. São compos-
tos por representantes do poder público e da socieda- Art. 48 São instrumentos de transparência da
de civil organizada. Seria o conselho “raiz”, digamos, gestão fiscal, aos quais será dada ampla divul-
que atua na formulação, na implementação e na ava- gação, inclusive em meios eletrônicos de acesso
liação de políticas pública, por exemplo. público: os planos, orçamentos e leis de diretrizes
A Lei nº 101 — Lei de Responsabilidade Fiscal orçamentárias; as prestações de contas e o respec-
(LRF) prevê a criação dos “Conselhos de Gestão Fis- tivo parecer prévio; o Relatório Resumido da Exe-
cal”. Vejamos: cução Orçamentária e o Relatório de Gestão Fiscal;
e as versões simplificadas desses documentos.
§ 1º A transparência será assegurada também mediante:
Art. 67 O acompanhamento e a avaliação, de for-
I - incentivo à participação popular e realização de
ma permanente, da política e da operacionalidade
audiências públicas, durante os processos de elabo-
da gestão fiscal serão realizados por conselho de
ração e discussão dos planos.

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


gestão fiscal, constituído por representantes
de todos os Poderes e esferas de Governo, do
Ministério Público e de entidades técnicas represen- Segundo Paludo (2010, p. 209):
tativas da sociedade, visando a:
I - harmonização e coordenação entre os entes da O orçamento participativo é uma técnica orça-
Federação; mentária em que a alocação de alguns recursos
II - disseminação de práticas que resultem em contidos no orçamento público é decidida com a
maior eficiência na alocação e execução do gasto participação direta da população, ou através de
público, na arrecadação de receitas, no controle do grupos organizados da sociedade civil, como a
endividamento e na transparência da gestão fiscal; associação de moradores.
III - adoção de normas de consolidação das contas
públicas, padronização das prestações de contas e Os municípios pioneiros nessa técnica foram Porto
dos relatórios e demonstrativos de gestão fiscal de Alegre-RS e Santo André-SP, na gestão 1989-1992.
que trata esta Lei Complementar, normas e padrões Segundo Santos (2002, p. 467), o orçamento parti-
mais simples para os pequenos Municípios, bem cipativo é:
como outros, necessários ao controle social;
IV - divulgação de análises, estudos e diagnósticos. Uma estrutura e um processo de participação
comunitária baseado em três princípios e num con-
Resumindo alguns pontos importantes: junto de instituições que funcionam como mecanis-
mos ou canais para assegurar a participação no
z os conselhos, em geral, são paritários (compostos por processo decisório do governo municipal.
representantes do poder público e da sociedade civil
organizada, em uma proporção de 50% / 50%); Os três princípios acima referidos são:
z são de composição plural;
z são colegiados (há representações diversas e as z participação aberta a todos os cidadãos;
decisões são tomadas em grupos); z combinação de democracia direta e representativa; 141
z alocação dos recursos para investimento de acordo Sobre as Organizações Sociais (OS), especificamente,
com uma combinação de critérios gerais e técnicos. o surgimento delas se deu por volta de 1995, no contexto
da reforma do Estado, no Programa Nacional de Publici-
Em resumo, o orçamento participativo é um rele- zação, regulamentado pela Lei nº 9.637, de 1998.
vante espaço de debate e de decisão política. É por Para o Caderno 2 do MARE (1997, p. 13):
meio dele que a população interessada elenca prio-
ridades de investimentos (seja em obras ou serviços, Organizações Sociais (OS) são um modelo de organi-
por exemplo) que são passíveis de realização com os zação pública não-estatal destinado a absorver ativi-
recursos do orçamento. Essa participação contribui dades publicizáveis mediante qualificação específica.
com o exercício da cidadania, e aumenta compromis- Trata-se de uma forma de propriedade pública não-
so da população com o bem público. -estatal, constituída pelas associações civis sem fins
É uma forma de gerar “corresponsabilização” lucrativos, que não são propriedade de nenhum indi-
sobre os recursos públicos (ambos são responsáveis, víduo ou grupo e estão orientadas diretamente para o
tanto o governo quanto a sociedade). Ou seja, o cida- atendimento do interesse público.
dão não é um simples coadjuvante nesse processo, ele
é também protagonista da gestão pública (um prota- Atenção: as atividades estatais publicizáveis são
gonista ativo). Esse é justamente o principal benefício aquelas não exclusivas de Estado (correspondem aos
do orçamento participativo: fortalecer a democracia. setores onde o Estado atua simultaneamente com outras
Por fim, temos as ouvidorias, que são basicamen- organizações privadas, tais como educação, saúde, cultu-
te canais de comunicação e participação popular. Por ra e proteção ambiental). Importante dizer também que
meio desses canais, o cidadão pode receber, encami- a publicização é justamente esse processo de transferir
nhar, acompanhar e responder: para o setor público não estatal (terceiro setor), a produ-
ção dos serviços competitivos ou não exclusivos de Esta-
z denúncias; do, estabelecendo, assim, um sistema de parceria entre
z elogios; Estado e sociedade.
z reclamações; Ou seja, as OS são um modelo de parceria entre o
z solicitações; Estado e a sociedade, que ocorre por meio do contrato
z sugestões. de gestão. O Estado fomenta as atividades publicizadas e
exerce sobre elas um controle estratégico, demandando
Esses canais podem ser: telefone, e-mail, site do resultados necessários ao atingimento dos objetivos das
órgão, dentre outros. Em suma, a ouvidoria nada mais políticas públicas.
é que uma forma de aproximação e de comunicação Ou seja, o Estado não deixa de controlar a aplicação
entre o cidadão (ou as partes interessadas) e o Estado. dos recursos ao transferi-los a essas instituições, mas o
Essas denúncias, elogios, sugestões etc. são filtra- faz por meio do controle por resultados, estabelecidos no
dos e encaminhados às pessoas ou aos setores que contrato de gestão.
podem decidir sobre o assunto. Algumas vantagens segundo o próprio Caderno 2 do
MARE (1997), do ponto de vista da gestão de recursos,
ORGANIZAÇÕES SOCIAIS as Organizações Sociais não estão sujeitas às normas que
regulam a gestão de recursos humanos, orçamento e
Antes de falarmos das organizações sociais propria- finanças, compras e contratos na Administração Pública.
mente ditas, vamos fazer algumas contextualizações: Isso provoca um ganho de agilidade e qualidade.
Além disso, do ponto de vista da gestão orçamentá-
z o primeiro setor seria o próprio Estado; ria e financeira, os recursos consignados no Orçamento
z o segundo setor seria o mercado; Geral da União, para execução do contrato de gestão com
z e o terceiro setor são as entidades que não se enqua- as Organizações Sociais, constituem receita própria da
dram nem no primeiro setor, nem no segundo setor. Organização Social (OS), cuja alocação e execução não se
sujeitam aos ditames da execução orçamentária, finan-
O terceiro setor é composto pelos serviços sociais ceira e contábil governamentais, que são operados no
autônomos (SSA), pelas entidades de apoio (fundações âmbito do SIAFI.
privadas, associações, cooperativas), organizações No que se refere à gestão organizacional, uma van-
sociais, organizações sociais de interesse público e tagem evidente nesse modelo é o estabelecimento de
pelos diversos tipos de ONGs. mecanismos de controle finalísticos, ao invés de mera-
Paludo (2010) define o terceiro setor como um mente processualísticos, como no caso da Administra-
espaço público não estatal em que ocorre a participa- ção Pública. A avaliação da gestão de uma Organização
ção privada em assuntos de interesse público. Social ocorre mediante a avaliação do cumprimento das
São as “entidades paraestatais” que, muito embo- metas estabelecidas no contrato de gestão.
ra possuam personalidade de Direito Privado, não são Observe o que diz o art. 1º, da Lei nº 9.637, de 1998,
entidades públicas nem privadas. Veja: que dispõe sobre a qualificação das entidades como
organizações sociais:
z não são públicas, porque não são pessoas de Direito
Público; Art. 1º O Poder Executivo poderá qualificar como
z não são privadas, porque não visam ao lucro. organizações sociais pessoas jurídicas de direito
privado, sem fins lucrativos, cujas atividades sejam
Elas estariam ali no “caminho do meio”, colaboran- dirigidas ao ensino, à pesquisa científica, ao desen-
do com o Estado e desenvolvendo atividades de interesse volvimento tecnológico, à proteção e preservação
público. É justamente por isso que essas entidades con- do meio ambiente, à cultura e à saúde, atendidos
142 tam com a proteção, com o apoio e com o fomento. aos requisitos previstos nesta Lei.
Em resumo, alguns pontos importantes sobre a Não podem virar OSCIP:
Organizações Sociais (OS), que já caíram em prova:
z sociedades comerciais;
z surgem por meio de ato discricionário; z sindicatos e afins;
z voltadas ao ensino, à pesquisa científica, ao desen- z instituições religiosas e afins;
volvimento tecnológico, à proteção e preservação z organizações partidárias;
do meio ambiente, à cultura e à saúde; z organizações sociais (OS);
z é uma qualificação que ocorre por aprovação pelo z entidades de benefício mútuo a associados;
Ministro de Estado ou órgão superior/regulador da z entidades que comercializem plano de saúde;
área; z instituições hospitalares privadas;
z a desqualificação ocorre por meio de processo z escolas privadas;
administrativo (assegurada ampla defesa); z cooperativas;
z o contrato de gestão estabelece metas, prazos e z fundações públicas;
indicadores; z organizações creditícias.
z há dispensa de licitação para o poder público nas
atividades contempladas no contrato; Segundo Maria Sylvia Di Pietro (2007), a grande
z possui conselho administrativo obrigatório (conselho diferença entre OS e OSCIP é que a OS recebe delegação
fiscal não é obrigatório), não remunerado e com par- para prestar serviços públicos, enquanto a OSCIP exerce
ticipação de representantes do poder público; atividade privada com a ajuda do Estado.
z não podem virar Organização da Sociedade Civil
de Interesse Público (OSCIP);
AGÊNCIA REGULADORA
z prestam contas ao TCU;
z não podem ter finalidade lucrativa (é social);
Agências Reguladoras são autarquias especiais
z é vedada a aplicação dos excedentes de recursos
criadas para exercer as funções de regulação e fiscali-
em atividades distintas;
zação, sujeitas à supervisão ministerial (é um controle
z ao poder executivo é facultada a cessão de servi-
finalístico, por vinculação).
dor, com ônus para origem;
Segundo Hely Lopes Meirelles (2016, p. 448), autar-
z podem pagar, com recursos próprios, vantagens
quia de regime especial é:
pecuniárias a servidores que lhe forem cedidos.
Toda aquela a que a lei instituidora conferir privi-
Organização da Sociedade Civil de Interesse Público
légios específicos e aumentar sua autonomia com-
(OSCIP)
parativamente com as autarquias comuns, sem
infringir os preceitos constitucionais pertinentes a
As Organizações da Sociedade Civil de Interes- essas entidades de personalidade pública.
se público também surgiram no âmbito da reforma
do Estado (1995), por meio da lei nº 9.790, de 1999, e
Ou seja, a lei criadora confere certas regalias para
desempenham atividades de interesse público com
o pleno desempenho de suas finalidades específicas,
ajuda (fomento) do Estado, nas áreas de Saúde, Edu-
observadas as restrições constitucionais. Um exemplo
cação, Cultura, Meio Ambiente etc.
clássico é o próprio BACEN (Banco Central do Brasil).
As OSCIP abrangem uma série de áreas, mas exis-
Agora voltemos às agências reguladoras. Com a
tem diversas restrições em relação aos candidatos,
transferência da execução de serviços públicos ao setor
conforme veremos logo à frente.
privado, o Estado acabou ficando com a regulamenta-

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


Conforme menciona a lei nº 9.790, de 1999, o ins-
ção, o controle e a fiscalização desses serviços. Sugiram,
trumento passível de ser firmado entre o Poder Públi-
assim, as agências especiais destinadas a esse fim.
co e as entidades qualificadas como Organizações
da Sociedade Civil de Interesse Público, destinado à Elas desempenham atividades típicas de Estado,
formação de vínculo de cooperação entre as partes, é na área de regulação e fiscalização. Podem ser classi-
chamado de “termo de parceria”. ficadas em duas espécies:
Para resumir, veja alguns pontos importantes
sobre a Organização Da Sociedade Civil De Interesse z as que “exercem o Poder de Polícia” como: Anvisa,
Público (OSCIP) que já caíram em prova: ANS, ANA;
z as que “controlam as atividades” que constituem
z é ato vinculado; objeto de concessão, permissão ou autorização,
z celebra termo de parceria; por exemplo.
z qualificação por meio do Ministério da Justiça;
z deve ter conselho fiscal; São criadas por lei de iniciativa do Chefe do Poder
z é permitida participação de servidores públicos Executivo, e seus diretores são nomeados pelo próprio
na composição de conselho ou diretoria da OSCIP Presidente da República, após aprovação pelo Senado
(facultativo); Federal.
z desqualificação pode ser a pedido da própria enti- As atividades desempenhadas são típicas de Esta-
dade, de qualquer cidadão ou do próprio Ministé- do, e ainda que sejam independentes em relação ao
rio Público (processo administrativo ou judicial); Poder Executivo, estão sujeitas aos princípios admi-
z existe um rol taxativo de “quem” não pode virar nistrativos e à supervisão ministerial, além de estarem
OSCIP (listado a seguir). sujeitas também à vigilância do Legislativo quanto ao
exercício do poder regulamentar, e, também, ao con-
trole via Judiciário, mediante ação específica.
143
Alguns exemplos trazidos pelo autor: Confira as etapas do procedimento de qualificação
de Agências Executivas:
z a Lei nº 9.427, de 1996, que instituiu a Agência
Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), para regu- z decisão inicial do órgão/entidade interessado;
lar e fiscalizar o setor de geração, transmissão e z assinatura de Protocolo de Intenções, no qual
distribuição de energia elétrica; constará um plano de ação, em que são definidas
z a Lei nº 9.472, de 1997, que criou a Agência Nacio- as etapas do plano de reestruturação estratégica;
nal de Telecomunicações (ANATEL), com o mesmo z assinatura de Contrato de Gestão;
objetivo em relação ao setor de telecomunicações. z Decreto de qualificação.

Por exemplo, as agências reguladoras criadas no CONSÓRCIOS PÚBLICOS


âmbito da Administração Federal possuem privilégios
caracterizados por: Segundo Hely Lopes Meirelles (2016, p. 473), os
consórcios públicos são pessoas de direito público,
z independência administrativa; quando associação pública, ou de direito privado,
z estabilidade de seus dirigentes (mandato fixo e decorrentes de contratos firmados entre entes federa-
ausência de subordinação hierárquica), autono- dos, após autorização legislativa de cada um dele, para
mia financeira (renda própria e liberdade em rela- a gestão associada de serviços públicos e de objetivos
ção à sua aplicação); de interesse comum dos consorciados, por meio de
z poder normativo (regulamentação das matérias delegação e sem fins econômicos.
de sua competência). É uma gestão associada (ou cooperação associativa)
entre entes federativos, com o intuito de reunir recur-
É indispensável a outorga desses poderes mais sos financeiros, técnicos e administrativos e ampliar as
amplos justamente por conta da enorme relevância funções que, isoladamente, cada um deles teria. O objeti-
dos serviços por elas regulados e fiscalizados, e por- vo é executar empreendimento desejado e ser utilidade
que há todo um envolvimento de grandes grupos eco- geral, para ambas as partes.
nômicos (nacionais e estrangeiros) nessas atividades. O próprio art. 241, da CF, de 1988, dispõe que os entes
federativos disciplinarão por meio de lei os consórcios e
AGÊNCIA EXECUTIVA os convênios de cooperação entre si, autorizando a ges-
tão associada de serviços públicos, bem como a transfe-
rência total ou parcial de encargos, serviços, pessoal e
A lei que dispõe sobre a organização administra-
bens essenciais à continuidade dos serviços transferidos.
tiva federal, a Lei nº 9 .649, de 1998, em seu art. 51,
Ou seja, é uma modalidade de delegação de serviços
estabelece que o Poder Executivo poderá se qualificar
públicos distinta da autorização, permissão ou conces-
como agência executiva autarquia ou fundação que
são, acontecendo por meio de contrato.
tenha em andamento um plano estratégico de rees-
Para o Decreto nº 6.017, de 2007, trata-se de pessoa
truturação e desenvolvimento institucional e celebre
jurídica, formada exclusivamente por entes da Federa-
com o Ministério supervisor um contrato de gestão.
ção, para estabelecer relações de cooperação federativa,
Ou seja, são dois requisitos básicos:
inclusive a realização de objetivos de interesse comum,
constituída como associação pública, com personalida-
z ter celebrado contrato de gestão com o respectivo
de jurídica de Direito Público e natureza autárquica,
Ministério supervisor; ou como pessoa jurídica de Direito Privado sem fins
z ter um plano estratégico de reestruturação e de econômicos.
desenvolvimento institucional, voltado para a Somente as pessoas políticas de Direito Público
melhoria da qualidade da gestão e para a redução Interno poderão constituir consórcio. Ou seja, os con-
de custos, já concluído ou em andamento. sórcios são formados, exclusivamente, por entes da
Federação, com a finalidade de realizar a gestão associa-
Veja que não ocorre a instituição de uma nova da dos serviços públicos.
figura jurídica na Administração Pública, mas é con- O representante legal do consórcio será, necessa-
cedida uma qualificação, que proporcionará a essas riamente, um dos chefes do Poder Executivo de ente
agências maior flexibilidade e autonomia, por meio integrante do consórcio, que será eleito pelos próprios
de um regime jurídico especial. consorciados.
A qualificação da autarquia ou fundação como Esses entes consorciados possuem liberdade em
agência executiva (efetuada por ato específico do Pre- relação à definição dos objetivos do consórcio público,
sidente da República) vai permitir que ela ingresse observados os limites constitucionais.
em um regime especial, usufruindo de determinadas Vale ressaltar que nenhum ente da Federação
vantagens previstas em leis ou decretos. poderá ser obrigado a se consorciar ou a permanecer
O objetivo é aumentar a eficiência da autarquia consorciado.
ou fundação, mediante a ampliação de sua autono- Além disso, outro ponto importante: a União somen-
mia, assim como ampliação da responsabilidade de te participará de consórcios em que participem todos os
seus administradores. O controle acontece por meio estados em cujos territórios estejam situados os municí-
do contrato de gestão, que deverá prever a fixação de pios consorciados.
metas de desempenho para a entidade. Embora os consórcios possam ser associações públi-
O contrato de gestão não é fonte de direitos. Ele é cas ou privadas, segundo o Decreto nº 6.017, de 2008, a
simplesmente um fato jurídico que permite a aplica- partir de 2008, a União somente poderá celebrar convê-
ção de determinados benefícios previstos em lei. nios com consórcios públicos constituídos sob a forma
144 de associação pública.
O contrato de rateio é o meio pelo qual os entes vin- a) ênfase no desempenho por meio de mensuração
culados entregarão os recursos financeiros relacionados de indicadores de custos, processos e resultados/
aos compromissos assumidos, e o contrato de progra- impactos.
ma é que estabelece as obrigações de cada ente. b) constituição de grandes organizações multifuncionais
centralizadoras.
REFERÊNCIAS c) preferência por formas organizacionais mais enxutas
e especializadas.
BRASIL. Ministério da Administração Federal e d) foco no tratamento de usuários de serviços como
Reforma do Estado (MARE) / Secretaria da Refor- clientes.
ma do Estado Organizações Sociais. Secretaria da e) compartilhamento de responsabilidades e remunera-
Reforma do Estado. Brasília: Ministério da Admi- ção por desempenho.
nistração e Reforma do Estado, 1997.
MEIRELLES, H. L.; FILHO, J. E. B. Direito adminis- 3. (CESGRANRIO — 2018) Diversas empresas, inclusive
trativo brasileiro. 42. ed. São Paulo: Malheiros, as de petróleo, utilizam no seu planejamento estraté-
2016. gico, ferramentas e técnicas para identificar forças,
PALUDO, A. V. Administração pública: teoria e oportunidades, fraquezas e ameaças.
questões. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
RUA, M. G. Políticas públicas. 3. ed. Florianópolis: Uma dessas ferramentas é
Departamento de Ciências da Administração —
UFSC. Brasília: CAPES: UAB, 2014. a) CRM
RUA, M. G.; ROMANINI, R. Para aprender políti- b) MRP I
cas públicas. Brasília: IGEPP, 2013. c) MRP II
SANTOS, B. S. Orçamento participativo em Porto d) Matriz BCG
Alegre: para uma democracia redistributiva. In: e) Matriz SWOT
SANTOS, B. S. (org.). Democratizar a democracia:
os caminhos da democracia participativa. Rio de 4. (CESGRANRIO — 2018) Para o adequado desempe-
janeiro: Civilização Brasileira: 2002. nho da metodologia BSC, é necessário que todos, em
todos os níveis hierárquicos,compreendam a estra-
tégia da empresa. Assim, o desenvolvimento do BSC
deve
HORA DE PRATICAR!
a) ser precedido de uma ampla discussão das estraté-
1. (CESGRANRIO — 2023) A diretoria da empresa X se gias com os colaboradores.
reuniu para conhecer mais detalhadamente o método b) ser resultado de um consenso de todos os envolvidos.
utilizado na implantação do novo modelo de proces- c) ser decidido pelo presidente e comunicado a cada
so produtivo. Depois de discutirem os custos do novo nível.
modelo, o cumprimento de prazos e a alocação de ati- d) começar pela equipe executiva.
vidades materiais, solicitaram ao analista de OSM que e) começar pela base e se consolidar até a diretoria.
ele apresentasse a frequência com que os instrumen-
tos de avaliação e controle seriam utilizados. Adicio- 5. (CESGRANRIO — 2019) Na liderança de vinte funcio-
nalmente, o analista de OSM chamou a atenção dos nários, um administrador busca aumentar a eficácia
diretores para verificação de compliance. da equipe com três ações: (i) atribuindo-lhes tarefas
que eles considerassem valiosas e recompensadoras;

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


Com isso, o analista de OSM está apontando a neces- (ii) incentivando-os a se esforçarem para a conquista
sidade de verificar se as atividades da organização de objetivos relacionados a essas tarefas; e (iii) vincu-
lando recompensas extrínsecas à conquista de objeti-
a) estão de acordo com as leis, padrões éticos e regula- vos relacionados a essas tarefas.
mentos internos e externos.
b) são avaliadas por profissionais certificados de outros Esse administrador fundamenta suas ações na seguin-
setores produtivos bem-sucedidos. te teoria da liderança:
c) podem ser revertidas sem prejuízos aos acionistas em
caso de não serem adequadas. a) Autêntica
d) geram lucros e dividendos aos acionistas maiores do b) Árvore de decisão
que as demais empresas do mesmo ramo. c) Caminho-meta
e) geram produtos e serviços com qualidade e preços d) LPC (least-preferred coworker)
comparáveis ou superiores aos da concorrência. e) Troca entre líderes e liderados (LMX)

2. (CESGRANRIO — 2019) Um governante, defensor da 6. (CESGRANRIO — 2014) A cultura organizacional apre-


Nova Gestão Pública, decidiu que implementaria um senta aspectos formais e informais, escritos e não
plano de gestão voltado à convergência da gestão escritos, sendo que os aspectos formais são relati-
pública à gestão privada. Para tal, aprovou um conjun- vos aos aspectos visíveis da organização, enquan-
to de orientações de gestão alinhadas à gestão priva- to os aspectos informais se referem ao seu aspecto
da. Entretanto, uma das orientações aprovadas estava invisível.
equivocada por não permitir essa convergência.
Constitui-se aspecto invisível da cultura organizacional:
A orientação equivocada do governante era a que dizia
respeito à(ao) a) descrição de cargos
b) estrutura organizacional 145
c) autoridade e responsabilidade definidas O conjunto desses sinais e termos, tanto explícitos
d) percepção e atitudes das pessoas quanto implícitos é definido como:
e) políticas e diretrizes estratégicas
a) aceitação mútua
7. (CESGRANRIO — 2023) Com a parceria consultiva da b) vadiagem social
FGV Energia, a Transpetro consolidou um novo Plano c) contrato psicológico
Estratégico, no qual, além de iniciativas estratégicas d) dissonância cognitiva
voltadas diretamente aos negócios e aos clientes, e) administração da impressão
formalizou a estratégia de transformação digital e
inovação que perpassa toda a companhia. A empre- 9. (CESGRANRIO — 2015) Um administrador foi con-
sa acredita que transformar digitalmente uma orga- tratado para desenvolver as atividades voltadas para
nização é pensar não só em termos operacionais, atrair, desenvolver e manter uma força de trabalho efi-
mas também promover uma cultura ágil no que tan- caz dentro de uma organização.
ge à percepção sobre o que é valor para o mercado,
estruturando a capacidade de antecipação e ação, Essas atividades referem-se ao desenvolvimento da
em um mindset inovador. Com base nessas constata- administração de
ções, é possível afirmar que uma cultura adaptativa é
caracterizada a) operações
b) conhecimento
a) pelo foco interno e pela orientação consistente para c) recursos humanos
um ambiente estável, apoiando uma abordagem d) cadeia de suprimentos
metódica de fazer negócios, seguindo políticas e prá- e) ciclo de vida do produto
ticas estabelecidas como meio de atingir as metas e
obtendo sucesso devido ao alto grau de integração e 10. (CESGRANRIO — 2016) As empresas podem oferecer
eficiência. seus produtos ou serviços no mercado porque contam
b) pela combinação de alto grau de risco no negócio com com os recursos humanos que são os responsáveis
rápida velocidade de feedback, na qual se assumem pela execução das atividades necessárias para a pro-
altos riscos e se recebe um rápido feedback sobre dução dos mesmos. Por isso, hoje existe uma grande
suas ações, se possui uma; é orientação para o curto preocupação das empresas na gestão de seu pessoal.
prazo com forte competição interna, gerando falta de
cooperação entre os membros. Em relação à Administração de Recursos Humanos,
c) por pressupostos de estabilidade e formalidade no as empresas devem estar atentas ao fato de que
processo informacional, na qual a documentação, as
regras e os regulamentos são usados para a obtenção a) a rotatividade de pessoal significa o número de vezes
da estabilidade e continuidade da organização, que em que o empregado foi promovido na empresa duran-
evita o risco e enfatiza prioritariamente os problemas te sua carreira profissional.
operacionais. b) a política de recursos humanos adotada pela organi-
d) pela baixa sociabilidade e alta solidariedade, pelo zação refere-se às obrigações legais que a empresa
foco na estratégia de vencer o mercado, por pessoas precisa cumprir para ter suas atividades regularizadas.
direcionadas por objetivos comuns, que, ao mesmo c) as habilidades que os empregados deverão ter em fun-
tempo são unidas por fortes laços sociais, alto grau ção das necessidades que a empresa terá para operar
de comprometimento nos resultados e na lealdade à no futuro devem ser consideradas no planejamento de
organização. recursos humanos.
e) pela colocação do foco estratégico no ambiente d) as suas atividades são centralizadas para que as polí-
externo através da flexibilidade e de mudanças para ticas e diretrizes estabelecidas para essa área sejam
satisfazer as necessidades do cliente, encorajando cumpridas por chefes e subordinados, de acordo com
valores de empreendedorismo, normas e crenças que a hierarquia da empresa.
sustentam a capacidade da organização em detectar, e) os benefícios concedidos aos empregados pela
interpretar e traduzir sinais do ambiente em novos empresa são todos de caráter voluntário.
comportamentos reativos.
11. (CESGRANRIO — 2019) Em uma Universidade pública,
8. (CESGRANRIO — 2018) Quando uma determinada com um modelo organizacional orgânico, foi imple-
funcionária foi contratada pela empresa X, ela possuía mentada uma gestão de RH na qual o processo de
várias expectativas em relação à organização, que recrutamento e seleção de pessoal, além de preencher
incluíam os itens negociados como salário, benefícios, os requisitos e qualificações do cargo, busca pessoas
direitos trabalhistas, horário de expediente, desem- que: (i) se tornem capital intelectual da empresa, (ii) se
penho mínimo, e outros termos explícitos da relação comprometam a alcançar os objetivos empresariais e
trabalhista. No entanto, a relação entre o empregado (iii) saibam trabalhar em equipe e compartilhar seus
e a organização é muito mais complexa e dinâmica conhecimentos.
do que os acordos trabalhistas contratuais e envolve
também uma grande quantidade de termos subjeti- As características desse modelo organizacional são
vos, que são promessas feitas entre empregados e as de um RH
empregadores, as quais são muitas vezes realizadas
de maneira implícita. a) controlador
b) estratégico
c) tradicional
d) mecanicista
146 e) burocrático
12. (CESGRANRIO — 2019) Quando se analisa o que dis- b) permitir o anonimato dos avaliadores, favorecendo a
tingue a área de RH de outras áreas de uma organi- predisposição de realizar uma avaliação honesta.
zação, identifica-se que ela é, ao mesmo tempo, uma c) inibir a participação dos níveis mais altos de liderança
responsabilidade de linha e uma função de staff, o que do sistema, aumentando sua credibilidade.
significa que essa área d) apoiar a concentração de esforços limitados à partici-
pação do mercado, colocando em risco a competitivi-
a) atua em ambientes e em condições que ela mesma dade da empresa.
determinou, sobre os quais possui um alto grau de e) aumentar a resistência à mudança, incentivando o tra-
poder e controle. balho em equipe dentro da organização.
b) lida diretamente com os resultados organizacionais,
evitando decisões contingenciais ou situacionais. 16. (CESGRANRIO — 2023) Um gestor buscou implantar
c) lida diretamente com fontes de receita e, por isso, é um programa de remuneração que pagasse os fun-
alocada nos orçamentos da organização, ao mesmo cionários em função de padrões, metas e objetivos a
tempo, como centros de custos e de lucros. serem atingidos pela organização.
d) é um fim em si mesma, controlando os eventos e
as condições que produzem a eficácia e a eficiência Para tanto, ele estabeleceu um
organizacionais.
e) não concentra todos os recursos humanos dentro a) plano de remuneração por competências
de sua área, já que estes são alocados nos diversos b) plano de remuneração por habilidades
órgãos da organização, sob a autoridade de diversas c) plano de remuneração pelos resultados
chefias. d) sistema de remuneração funcional
e) sistema de distribuição forçada
13. (CESGRANRIO — 2014) Um processo de decisão na
seleção de pessoal envolve diferentes comportamen- 17. (CESGRANRIO — 2018) A empresa X adota uma políti-
tos por parte do órgão encarregado dessa seleção, em ca de relações trabalhistas caracterizada pela aceita-
função do número de candidatos e das diferentes for- ção fácil e rápida das reivindicações dos empregados,
mas de tratamento ou resoluções. Em um processo na qual o sindicato se fortalece por meio do esforço
seletivo que envolve somente um candidato e somen- positivo, e a cada necessidade satisfeita surge outra
te uma vaga a ser preenchida, a decisão a ser adotada maior com a expectativa de ser atendida. Nessa polí-
estará baseada no modelo tica, a visão global das necessidades e aspirações
do empregado é substituída pelo casuísmo e pelo
a) institucional imediatismo para resolver cada reivindicação que for
b) de seleção surgindo.
c) de colocação
d) de comparação Dessa forma, essa empresa adota uma política de
e) de classificação relações de trabalho

14. (CESGRANRIO — 2019) Um funcionário da área de RH a) participativa


de uma organização pública disse: “Não sei para que b) paternalista
fazemos avaliação de desempenho do nosso quadro c) de reciprocidade
administrativo. Não podemos despedir ninguém por- d) autocrática
que todos têm estabilidade de emprego”. e) de advertência

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


Outro funcionário contestou-o e observou que a ava- 18. (CESGRANRIO — 2018) A qualidade de vida no ambien-
liação de desempenho é um elemento integrador das te de trabalho visa a
práticas de RH porque complementa o trabalho dos
processos de a) analisar o desempenho de cada funcionário em fun-
ção das atividades que ele desempenha, das metas e
a) aplicação de pessoas, no sentido de monitorar e loca- resultados a serem alcançados por ele e do seu poten-
lizar as pessoas com as características adequadas cial no exercício dessas atividades.
para os negócios da organização. b) facilitar e satisfazer as necessidades do trabalha-
b) manutenção de pessoas, proporcionando-lhes dor ao desenvolver suas atividades na organização
retroação a respeito de seu desempenho e de suas através de ações para o desenvolvimento pessoal e
potencialidades. profissional.
c) monitoração e controle de pessoas, ao indicar o c) garantir que os protagonistas da organização desem-
desempenho e os resultados alcançados. penhem seus papéis de forma eficiente, alcançando a
d) desenvolvimento de pessoas, ao indicar os pontos for- eficácia organizacional.
tes e fracos, as potencialidades a serem ampliadas e d) promover a satisfação das necessidades da empresa
as fragilidades a serem corrigidas. ao provocar atitudes que resultam no aumento da pro-
e) provisão de pessoas, no sentido de indicar se elas dutividade do trabalhador.
estão bem integradas em seus cargos e tarefas. e) promover e aumentar o aprendizado entre os funcio-
nários de uma empresa, visando, particularmente, à
15. (CESGRANRIO — 2018) No Brasil, o sistema de fee- aquisição de habilidades para um determinado cargo.
dback 360º tem sido empregado com êxito por algu-
mas empresas por apresentar a seguinte vantagem:

a) favorecer a avaliação de pessoas exageradamente crí-


ticas ou muito benevolentes. 147
19. (CESGRANRIO — 2014) Atualmente, com a utilização e) estabelece que a revogação do consentimento é
da tecnologia de informação, as organizações empre- sumária, e que os dados não devem ser mantidos,
sariais se utilizam de sistemas de informações que mesmo que anonimizados e para fins de pesquisa.
as possibilitam gerir de maneira mais eficiente seus
recursos disponíveis. 23. (CESGRANRIO — 2021) Uma administradora de
empresas é responsável por organizar os formulários
Os sistemas de informações gerenciais (SIG) são ins- utilizados pela instituição financeira onde atua. Ao
trumentos muito benéficos para o processo decisório criar novo formulário para seguir comandos legais,
institucional porque possibilitam depara-se com novos conceitos de dados pessoais
que devem ser aplicados.
a) relatórios mais precisos e rápidos, com menor esfor-
ço, melhorando o acesso às informações. Sendo assim, ela precisa saber que, nos termos da Lei
b) informações utilizadas pelo nível operacional, para a nº 13.709/2018, dados pessoais sensíveis estão rela-
tomada de decisões institucionais. cionados a
c) interações da empresa com o ambiente externo, sen-
do assim classificados como sistemas fechados. a) opção desportiva
d) a inobservância da confiabilidade das informações b) convicção religiosa
que são inseridas no sistema. c) escolha de lazer
e) a atuação do nível operacional da organização na defi- d) método de trabalho
nição das funções estratégicas do sistema. e) hábito alimentar

20. (CESGRANRIO — 2014) Os sistemas de informações 24. (CESGRANRIO — 2023) Segundo a Lei Geral de Pro-
que atendem às necessidades do nível operacional da teção de Dados Pessoais, Lei nº 13.709, de 2018, em
organização e são utilizados pelos profissionais da relação aos requisitos para o tratamento de dados
empresa em todos os níveis de execução são conheci- pessoais, o tratamento desses dados somente poderá
dos como sistemas ser realizado nas seguintes hipóteses, EXCETO:

a) de automação a) para a tutela da saúde, exclusivamente, em procedi-


b) de apoio à decisão mento realizado por profissionais de saúde, serviços
c) especialistas de saúde ou autoridade sanitária.
d) gerenciais b) para a realização de estudos por órgão de pesquisa,
e) transacionais garantida, sempre que possível, a anonimização dos
dados pessoais.
21. (CESGRANRIO — 2016) Na implementação da gestão c) para a proteção da vida ou da incolumidade física do
participativa numa instituição educacional pública, é titular ou de terceiros.
necessário um ambiente democrático e a instituciona- d) mediante o fornecimento de consentimento pelo titu-
lização dos seguintes instrumentos e mecanismos: lar por escrito ou por outro meio.
e) mediante autorizações genéricas expressas em
a) projeto pedagógico elaborado pelo gestor, avaliação destaque.
quantitativa da produção docente e heterogestão
b) convivência nos conselhos, heterogestão e financia- 25. (CESGRANRIO — 2021) Um cliente comparece ao
mento privado banco em que possui conta salário para compro-
c) financiamento privado, indicadores de eficiência e vação de vida, seguindo norma legal sobre o tema.
meritocracia e convivência nos conselhos Aproveitando sua presença na instituição financeira,
d) eleição do gestor, estabelecimento de metas e projeto resolve agendar reunião com o gerente de relaciona-
pedagógico elaborado pelo gestor mento, que, com toda presteza, combina recebê-lo em
e) projeto pedagógico elaborado coletivamente, com- meia hora. Após as conversas iniciais, ele questiona
posição representativa dos conselhos e eleição do o gerente sobre os melhores investimentos disponí-
gestor veis. Algumas opções são apresentadas, e o interesse
final é dirigido a dois novos produtos. O gerente, então,
22. (CESGRANRIO — 2023) A necessidade de proteção comunica ao cliente a necessidade de atualização de
de dados gerou a necessidade de legislação sobre o sua ficha cadastral, pois surgiu nova legislação sobre
assunto por todo o mundo. No Brasil, a Lei Geral de proteção de dados. Diante da aquiescência, o gerente
Proteção de Dados (LGPD) regulamenta esse tema. apresenta formulário padronizado para o correntista
autorizar, expressamente, o compartilhamento dos
A respeito da LGPD, tem-se que ela seus dados com integrantes do grupo econômico do
banco (corretoras, entre outras).
a) é aplicada apenas a empresas localizadas no Brasil,
não tendo extraterritorialidade. Nos termos da Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018,
b) é aplicada ao tratamento de dados pessoais coletados essa autorização
tanto por pessoas físicas quanto por pessoas jurídi-
cas em território nacional. a) seria desnecessária, por ser decorrente do contrato
c) é aplicada ao tratamento de dados pessoais, incluindo originário.
aqueles coletados por pessoa natural, para fins exclu- b) está correta, se considerado o claro consentimento do
sivamente particulares e não econômicos. correntista.
d) exige o consentimento do titular apenas para trata- c) seria exigível para quebra de sigilo bancário por ordem
mento dos dados pessoais sensíveis. judicial.
148
d) deve ser ponderada com as necessidades negociais b) o foco é a realização das atividades do nível opera-
do banco. cional que, por envolver o pessoal técnico, pode ser
e) decorre da novidade dos produtos apresentados, não otimizada, minimizando os custos de produção e de
se aplicando a produtos já constantes da carteira do admissão de pessoal.
banco. c) uma metodologia que preconiza a execução das ati-
vidades operacionais por meio de tecnologia de auto-
26. (CESGRANRIO — 2023) Um funcionário de uma insti- mação é estabelecida, minimizando a necessidade de
tuição financeira responsável pelo setor de cartões de mão de obra.
crédito recebe a solicitação de um cliente para a emis- d) uma metodologia para a criação de um produto ou ser-
são de cartão para ele, titular, e para uma amiga, que viço com escopo variável, porém de natureza cíclica, é
ficaria como sua dependente econômica. Uma sema- estabelecida, possibilitando a utilização dos recursos
na após o pedido, compareceu à agência a esposa do existentes na empresa.
correntista, indagando sobre a emissão de cartões e) um esforço temporário para criar um produto, serviço
de crédito do seu esposo. Não sabendo o que fazer, ou resultado exclusivo é realizado, tendo sido estabe-
o funcionário consulta a gerência. Consoante a Lei nº lecido um período para sua execução, com início e tér-
13.709, de 14 de agosto de 2018, o pedido da esposa mino definidos.
deve ser indeferido, pois deve ser preservada ao cor-
rentista a sua 29. (CESGRANRIO — 2023) Durante o desenvolvimento de
um projeto, seu gestor pediu para que fosse desenvol-
a) negociação vida toda a estratégia de gerenciamento de riscos. Em
b) privacidade uma certa etapa desse gerenciamento, deveriam ser
c) liberdade criadas estratégias para que, dado um determinado ris-
d) incomunicabilidade co, fosse informado se esse risco deveria estar mapeado
e) independência em contrato. Nesse mapeamento, é necessário prever,
dentre outras possibilidades, se o risco deve:
27. (CESGRANRIO — 2023) Diretores de uma empresa de
software perceberam como era difícil planejar todo o (i) ser transferido ao cliente;
desenvolvimento do projeto antes de iniciá-lo e decidi- (ii) ser explorado como uma oportunidade;
ram adotar métodos de gestão de projetos que enfati- (iii) ser ignorado, não se tomando nenhuma providência
zam o desenvolvimento e a entrega do produto. Dessa para lidar com tal ocorrência.
forma, os membros do time passaram a deixar de lado
documentação e planejamento do projeto e passaram A atividade descrita deve ser feita na seguinte etapa
a se preocupar em manter uma comunicação constan- do processo de gerenciamento de riscos:
te da equipe com clientes e gestores, sempre com o
foco na entrega do produto esperado. a) Análise de Riscos
b) Identificação de Riscos
Os métodos de gestão de projeto adotados nesse c) Monitoramento e Controle
caso são classificados como d) Planejamento de Respostas
e) Implementação das Respostas
a) métodos ágeis
b) métodos Kanban 30. (CESGRANRIO — 2018) No contexto de Gerenciamen-
c) métodos preditivos to de Projetos, segundo o PMBOK (6ª edição), o pro-
cesso de Monitorar e Controlar o Trabalho do Projeto
d) métodos sobrepostos
pode incluir como suas entradas

GESTÃO GOVERNAMENTAL E GOVERNANÇA PÚBLICA


e) métodos experimentais
a) Entregas aceitas
28. (CESGRANRIO — 2014) Uma empresa de eventos está b) Registro dos riscos
procurando melhorar seus sistemas e processos para se c) Solicitações de mudança
tornar mais competitiva e rentável. Porém, são muitas as d) Solicitações de mudança aprovadas
demandas e, a cada vez que firma um contrato, as espe- e) Integração das estimativas de duração de atividades
cificações são diferentes dos outros que realizou ante-
riormente. Isso torna a administração da empresa mais
difícil e obriga que sempre sejam contratados novos 9 GABARITO
recursos para cada contrato que precisa ser cumprido.
Um dos diretores, avaliando a situação atual da empresa, 1 A
propôs que se utilize, na gestão dos contratos da empre-
sa, os princípios da gestão de projetos. 2 B

3 E
A proposta do diretor pode auxiliar a empresa na ges-
tão de seus contratos porque, no gerenciamento de 4 D
projetos,
5 C
a) a sistematização das atividades para a produção de
6 D
um serviço de natureza contínua e que tem como obje-
tivo utilizar os recursos físicos existentes na organiza- 7 E
ção é realizada.
8 C

9 C
149
10 C

11 B

12 E

13 C

14 D

15 B

16 C

17 B

18 B

19 A

20 E

21 E

22 B

23 B

24 E

25 B

26 B

27 A

28 E

29 D

30 B

ANOTAÇÕES

150
Assim, os governantes são capazes de determi-
nar quais questões serão priorizadas e discutidas,
influenciando a alocação de recursos e esforços
governamentais.

EIXO 2 – POLÍTICAS Importante também saber que as políticas públi-


cas são categorizadas em diferentes tipos, cada qual

PÚBLICAS E ANÁLISE DE
com objetivos e características específicas, conforme
discriminadas a seguir:

DADOS z Política pública regulatória: são as medidas


adotadas pelo governo para estabelecer normas,
regras e padrões, ou seja, para regular o compor-
tamento de agentes econômicos, organizações ou
cidadãos em determinados setores. Essa regulação
IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS pode ser financeira, ambiental, da saúde, de teleco-
PÚBLICAS: PROBLEMAS, DILEMAS E municações, de energia, educacional ou qualquer
DESAFIOS outro setor que necessite de ser regularizado. É
importante lembrar que essas políticas podem ser
Política pública refere-se a ações, planos, progra- implementadas por meio de agências reguladoras,
mas e medidas adotadas pelo setor público para solu- tais como ANVISA, ANATEL, ANAC e entre outras;
cionar problemas, atender necessidades coletivas e z Política pública distributiva: são aquelas que
promover o bem-estar da sociedade, podendo surgir buscam direcionar os recursos governamentais
no âmbito federal, estadual, municipal ou distrital. para grupos específicos, alocando de forma mais
Quando um Estado cria uma política pública, seu equitativa, promovendo a inclusão e proporcio-
principal objetivo é responder uma demanda específi- nando acesso a vantagens e serviços a grupos que
ca da sociedade, visando à promoção de justiça social, historicamente podem ter sido excluídos. Um gran-
igualdade, desenvolvimento econômico e melhoria de exemplo de política pública distributiva são as
das condições de vida da população. ações afirmativas, tema que estudaremos a seguir;
Segundo a professora Andréia R. Schneider Nunes, z Política pública redistributiva: têm como obje-
tivo alterar a distribuição de recursos, renda ou
[...] política pública consistente em programa de oportunidades na sociedade, buscando reduzir as
ação governamental, do qual se extrai a atuação desigualdades econômicas e sociais. Em síntese,
do Estado na elaboração de metas, definição de
essas políticas têm o objetivo de transferir recur-
prioridades, levantamento do orçamento e meios
sos de grupos mais favorecidos para aqueles que
de execução para a consecução dos compromissos
constitucionais, que se exterioriza mediante arran- estão em situação de desvantagem; um exemplo
jos constitucionais. seria a isenção de imposto de renda para pessoas
que recebam um baixo salário;
O ciclo de uma política pública geralmente envol- z Política pública constitutiva: desempenham o
ve várias etapas, como o diagnóstico de problemas e papel de estabelecer as definições e requisitos
elaboração de propostas; o planejamento da política; específicos, moldando a dinâmica política ao defi-
a execução das ações; a avaliação dos resultados; e nir competências e jurisdições. Essas políticas fre-
a fiscalização constante. Elas podem abranger áreas quentemente geram conflitos entre entes e atores
diversas, como saúde, educação, segurança, habita- interessados, impactando o equilíbrio de poder
ção, meio ambiente, entre outras. existente. Em outras palavras, são políticas que
estruturam as regras para a criação e implementa-
ção dos demais tipos de políticas.

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


Elaboração Planejamento
Essas classificações oferecem uma visão abran-
gente das diversas abordagens das políticas públicas,
destacando suas características e impactos específicos
na sociedade.
Execução A fase de implementação em políticas públicas
é aquela em que os planos e decisões são postos em
prática, convertendo intenções em ações concretas.
Durante esse estágio, a Administração Pública executa
as políticas públicas, produzindo resultados tangíveis.
Fiscalização Avaliação Nessa implementação, duas abordagens predo-
minantes são frequentemente destacadas: o modelo
top-down, que opera de cima para baixo, e o modelo
Tendo em vista que as políticas públicas surgem bottom-up, que opera de baixo para cima.
com a ideia de solucionar um problema que a socieda- O modelo top-down caracteriza-se pela formula-
de esteja enfrentando, é essencial que antes da elabo- ção centralizada de políticas, com decisões e diretrizes
ração da proposta haja uma identificação do problema emanando dos escalões superiores do governo. Espe-
para que se forme a agenda. Mas atenção! O termo cialistas e gestores elaboram estratégias que são pos-
“agenda”, nesse contexto, não se refere a um documen- teriormente implementadas através das hierarquias
to formal, mas, sim, à lista de questões que estão em administrativas.
foco na sociedade em um determinado momento. 151
Embora esse modelo ofereça eficiência e controle
centralizado, pode carecer de flexibilidade e consi- INSTRUMENTOS E ALTERNATIVAS DE
deração das nuances locais, além de envolver menos IMPLEMENTAÇÃO, COMO FUNDOS,
participação da comunidade na fase de formulação.
Por outro lado, o modelo bottom-up inicia-se com CONSÓRCIOS E TRANSFERÊNCIAS
a participação ativa da comunidade ou dos níveis OBRIGATÓRIAS
inferiores da administração. Nesse modelo, ideias,
necessidades e soluções são geradas a partir da base Os diversos modelos de implementação debatidos
da sociedade ou de organizações locais. O processo desde a década de 1960, a forma de pensar em arran-
é descentralizado, envolvendo colaboração com a jos que permitem a solução de múltiplas questões e a
comunidade desde a identificação de problemas até a participação de outras organizações no processo, tudo
implementação de soluções. isso faz com que a ciência das políticas públicas viva
Essa abordagem promove maior aceitação pela em constante transformação. Essa é uma ciência que
comunidade, adaptação às condições locais e um permanece sempre evoluindo seus componentes, pois
engajamento cívico mais robusto. No entanto, pode necessita adaptar-se aos anseios da população neces-
ser mais demorada e enfrentar desafios na coordena- sitada. Logo, é correto afirmar que até hoje busca-se
ção centralizada. novos modelos e alternativas de implementação de
Uma terceira possibilidade é uma abordagem políticas públicas.
híbrida, que combina elementos de ambos os mode- Por ser um assunto mais recente, não temos um
los. Essa abordagem busca integrar a participação vasto debate sobre esses meios alternativos de imple-
da comunidade na identificação de problemas com mentação na literatura nacional. Para tanto, preci-
diretrizes e recursos do nível central do governo, bem samos utilizar algumas noções mais jurídicas para
como a combinação de aspectos positivos de ambas as evidenciar essas formas alternativas de implementa-
abordagens, permitindo flexibilidade e alinhamento
ção dessas políticas, sobretudo buscando alguns insti-
com políticas nacionais. No entanto, requer habilida-
tutos corolários de direito administrativo.
des de gestão complexas para integrar efetivamente
Como uma primeira alternativa, não poderíamos
ambas as perspectivas.
deixar de mencionar a participação dos fundos e seus
A escolha entre uma abordagem top-down, bottom-
entes criadores: as fundações. As fundações são pes-
-up ou uma combinação de ambas depende do contex-
soas jurídicas de direito público ou privado, criadas
to específico, da natureza do problema a ser abordado
mediante autorização legislativa para o desenvolvi-
e das características da comunidade envolvida. A fle-
mento de atividades que não exijam execução por
xibilidade e a adaptabilidade são cruciais para encon-
órgãos ou entidades de direito público, com autono-
trar a abordagem mais eficaz, garantindo ao mesmo
mia administrativa, patrimônio próprio e geridas
tempo a consistência com os objetivos gerais do gover-
no e a satisfação das necessidades e expectativas da pelos seus respectivos órgãos de direção.
comunidade. O aspecto mais relevante para nossos estudos não
diz respeito à fundação em si, mas a sua forma de
ARRANJOS INSTITUCIONAIS PARA atuação. As fundações, para realizar os objetivos de
IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS interesse público que não exigem execução por enti-
dade do Estado, arrecadam recursos financeiros de
Além das políticas públicas, o Estado conta com diversas fontes para custear a elaboração de projetos
instrumentos alternativos, como fundos, consórcios específicos.
e transferências obrigatórias, como forma de alcan- Esses recursos ficam guarnecidos nos fundos, que
çar objetivos específicos e atender às necessidades da são praticamente contas monetárias onde o capital
sociedade. Vamos aos conceitos de cada um deles: de diversos investidores permanece, sendo utilizado
apenas para a consecução dos objetivos da fundação.
z Fundos: são mecanismos de financiamento que Sobre a arrecadação de dinheiro público, a fundação é
agregam recursos de várias fontes para serem alo- custeada exclusivamente pela União, mas essa restri-
cados em áreas específicas ou para a realização de ção não atinge os fundos privados, os quais poderão
projetos específicos. Essas fontes podem ser gover- ser custeados por diversas fontes.
nos, empresas, organizações não governamentais Sejam públicos ou privados, é evidente que os
(ONGs) ou até mesmo doações privadas; fundos podem ser utilizados para custear as políticas
z Consórcios: são formas de cooperação entre enti- públicas que estejam alinhadas com os objetivos prin-
dades públicas, como municípios, estados ou mes- cipais daquela fundação. A legislação não estabelece
mo países, para resolver problemas comuns ou um limite sobre os valores os quais uma fundação
alcançar objetivos compartilhados, permitindo pode almejar, motivo pelo qual seus fundos pode-
uma união de esforços, recursos e competências rão custear questões voltadas para a saúde, educa-
técnicas para enfrentar desafios que ultrapassam ção, assistência social, meio ambiente, cultura, lazer,
as fronteiras administrativas individuais; esporte, entre outras atividades de interesse público.
z Transferências obrigatórias: as transferências A única ressalva que se pode fazer é de atribuir um
obrigatórias ocorrem quando há alocação de recur- fundo para custear um programa ou uma obra perten-
sos financeiros de uma entidade governamental cente a outra fundação: seria considerado no mínimo
para outra, de acordo com regras estabelecidas curioso que recursos sejam injetados para promover
por lei ou regulamentação. Essas transferências maior proteção à população indígena, mas tais recur-
podem ser feitas entre diferentes níveis de gover- sos advenham de uma fundação diferente da Funai
no (por exemplo, do governo federal para os esta- (Fundação Nacional dos Povos Indígenas). Essa situa-
dos ou municípios) ou entre diferentes setores ção de natureza duvidosa poderia transformar-se em
152 dentro do mesmo nível de governo. um esquema de desvio de dinheiro público.
Outro instituto de direito administrativo o qual grande parte dos modelos alternativos apresentados
também ganha posição de destaque como método buscam promover a sinergia entre a participação
alternativo de implementação de políticas públicas popular e a estrutura institucional, o que pode gerar
é a figura dos consórcios. Na verdade, utilizamos o efeitos bastante positivos tais como o desenvolvimen-
termo “consórcio” para designar duas coisas distintas: to sustentável da gestão pública e a consolidação de
o consórcio pode ser compreendido como um acordo uma sociedade engajada na construção de um futuro
de cooperação elaborado entre diferentes entes da mais promissor.
Federação (União com estados, União com municípios,
estado com municípios etc.) e que tem por escopo a REFERÊNCIAS
realização de atividades de interesse comum.
O ponto mais característico desse acordo é que dele BAUMGARTNER, F. R.; JONES, B. D. From there to
pode resultar a criação de uma nova pessoa jurídica, here: Punctuated Equilibrium to the General Punc-
cujo único objetivo é coordenar a execução dessas ati- tuation Thesis to a Theory of Government Infor-
vidades de interesse comum dos entes consorciados. mation Processing. The Journal of Politics, v. 60,
A essa nova pessoa jurídica também se dá o nome de p. 1-33, 1998.
consórcio, podendo ser de direito público ou de direi- FERNANDES, I.; ALMEIDA, L. Teorias e modelos
to privado. A criação dessa nova pessoa jurídica, bem
de políticas públicas: uma revisão das abordagens
como a delimitação das ações dos entes consorciados,
sobre o processo de políticas. Revista Teoria &
deve estar prevista em contrato.
Pesquisa, v. 28, n. 1, p. 122-146, 2019.
Utilizando a lógica do consórcio nas políticas
KINGDON, J. Agendas, Alternatives, and Public
públicas, percebemos que essa é outra excelente alter-
Policies. The Book Service Ltd, 2003.
nativa para sua implementação: por ser um acordo de
LOTTA, G. S.; VAZ, J. C. Arranjos institucionais de
cooperação, o consórcio pode otimizar a captação de
políticas públicas: aprendizados a partir de casos
recursos de múltiplos entes da Federação, além de
de arranjos institucionais complexos no Brasil.
melhor repartir as responsabilidades na execução
de projetos. A pessoa jurídica consorciada também Revista do Serviço Público, nº 66, Brasília, 2015.
contribuiria para coordenar todas as etapas de imple- Lowi, T. J. American Business, Public Policy, Case
mentação das políticas públicas de comum interesse. Studies, and Political Theory. World Politics 16:
Por último, também podemos mencionar as trans- 687-91, 713, 1964.
ferências obrigatórias previstas em texto de lei. MARTINELLI, M. E. A deterioração dos direitos
Sabemos que a implementação de políticas públicas de igualdade material no neoliberalismo. São
exige uma grande movimentação de recursos, princi- Paulo: Editora Milennium, 2009.
palmente os recursos financeiros. As transferências SABATIER, P. A.; JENKINS-SMITH, H. The advocacy
obrigatórias são formas compulsórias de repasse do coalition framework: an assessment. Theories of
dinheiro público de uma entidade para outra. Essa é the Policy Process, v. 118, p. 188, 1999.
uma exigência oriunda da lei, logo o administrador é SIMON, H. A. Administrative behavior: a study of
compelido a vincular-se ao comando legal e realizar decision-making processes in administrative orga-
esses repasses compulsórios para abastecer uma enti- nizations. 4 ed. New York: Free Press, 1945.
dade que se encontra em condições precárias. WEIBLE, C. M.; SABATIER, P. A. Theories of Policy
Podemos citar como exemplo os Fundos de Par- Process. 5 ed. Editora Routledge, 2023.
ticipação dos Municípios (FPM), em que temos o
repasse de recursos financeiros da União para os
municípios para que eles possam contar com um
pequeno auxílio de uma entidade mais vultosa para
AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS
realizar suas atividades precípuas. Esses municípios
com menor capacidade financeira, dessa forma, pas-
PRINCIPAIS COMPONENTES DO PROCESSO DE
sam a receber uma parcela justa dos recursos arre-

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


AVALIAÇÃO
cadados pelo governo federal. Existem Fundos de
Participação dos Estados (FPE) também, os quais fun-
O processo de avaliação de políticas públicas é
cionam da mesma maneira.
Sob a ótica das políticas públicas, é possível ima- essencial para mensurar o impacto, a eficácia e a
ginar que as transferências obrigatórias em âmbito efetividade das ações governamentais. Em sua com-
administrativo sejam realizadas para garantir o cum- plexidade, este processo abrange várias etapas, cujas
primento de determinadas políticas ou etapas de sua abordagens podem variar, mas que, geralmente,
implementação, sem que elas sejam paralisadas pela incluem uma série de passos fundamentais.
falta de verbas. Primeiramente, é crucial definir claramente os
Lembre-se de que as transferências obrigatórias objetivos da política pública a ser avaliada, estabe-
objetivam a redistribuição de recursos e a consequen- lecendo critérios que serão utilizados para avaliar
te redução das desigualdades regionais enfrentadas seu sucesso ou falha. A coleta de dados é um passo
pelos estados e municípios. Esses objetivos estão ali- subsequente, envolvendo a obtenção de informações
nhados com a noção de arranjo transversal das polí- relevantes por meio de métodos quantitativos e qua-
ticas públicas, e a sua adoção para incrementar tais litativos, abrangendo desde dados demográficos até
programas traria mais benefícios. indicadores econômicos.
Em conclusão, os modelos alternativos de imple- Além disso, a análise do contexto no qual a polí-
mentação de políticas públicas apresentados repre- tica foi implementada é um componente importante,
sentam um caminho promissor para a construção de considerando fatores políticos, econômicos, sociais e
uma sociedade mais inclusiva e democrática. Embo- culturais que possam influenciar os resultados.
ra diferentes em alguns aspectos, percebemos que 153
A avaliação do processo de implementação visa Uma política pública de combate à pobreza tem
analisar a eficiência dos procedimentos e a qualida- como objetivo reduzir a desigualdade social. A efetivi-
de da execução, assegurando que os recursos tenham dade da política pode ser medida pelo índice de Gini,
sido alocados de maneira adequada. que mede a desigualdade de distribuição de renda.
A avaliação de resultados, especialmente no que
diz respeito ao impacto direto e indireto da política, IMPACTO
é crucial. Isso envolve medir as mudanças nas condi-
ções sociais, econômicas ou ambientais resultantes da O impacto de uma política pública é o efeito que a
implementação da política, identificando tanto efeitos política causa na sociedade. O impacto pode ser posi-
positivos quanto negativos. tivo, negativo ou neutro. Vejamos agora um exemplo
Outro aspecto importante é a avaliação de custos sobre impacto.
e benefícios, que busca analisar os custos financeiros Uma política pública de desoneração fiscal para
da política e compará-los aos benefícios obtidos, ava- empresas pode gerar impacto positivo na economia,
liando a eficiência econômica da política e sua relação aumentando o emprego e a renda. No entanto, a polí-
custo-benefício. tica também pode gerar impacto negativo nos cofres
Ademais, a participação ativa de partes interes- públicos, diminuindo a arrecadação de impostos.
sadas durante o processo de avaliação é uma prática
recomendada. Isso inclui ouvir os participantes desse CONSIDERAÇÕES FINAIS
processo, a comunidade, beneficiários diretos, espe-
cialistas e outros envolvidos, garantindo uma pers- A avaliação de políticas públicas é uma ferramenta
pectiva abrangente.
importante para a gestão pública. Portanto, ela forne-
Por fim, a avaliação de políticas públicas não deve
ce informações para a tomada de decisão sobre a con-
ser vista como um processo pontual, mas, sim, como
tinuidade, revisão ou extinção de políticas públicas.
um ciclo contínuo, e os seus resultados devem ser uti-
lizados para ajustar políticas existentes, informar o
REFERÊNCIAS
desenvolvimento de novas políticas e promover um
aprendizado institucional contínuo, visando à melho-
AGÊNCIA BRASILEIRA DE AVALIAÇÃO DE POLÍTI-
ria constante das ações governamentais.
CAS PÚBLICAS (ABAP). Manual de Avaliação de
CUSTO-BENEFÍCIO, ESCALA, EFETIVIDADE, Políticas Públicas. Brasília: ABAP, 2023.
IMPACTO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA
(IPEA). Relatório de Avaliação de Políticas Públi-
CUSTO-BENEFÍCIO cas. Brasília: IPEA, 2022.
ORGANIZAÇÃO PARA A COOPERAÇÃO E DESEN-
A análise custo-benefício é uma técnica de avalia- VOLVIMENTO ECONÔMICO (OCDE). OECD Guide
ção que compara os custos e benefícios de uma polí- to Cost-Benefit Analysis of Public Investment.
tica pública. Dessa forma, o custo-benefício é positivo Paris: OECD, 2021.
quando os benefícios excedem os custos. Assim, torna-
-se negativo quando os custos excedem os benefícios. REGIME DE CONCESSÃO E PERMISSÃO DA
Vejamos agora um exemplo que aborda a temática.
PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS (LEI Nº
O governo federal implanta um programa de distri-
8.987/1995 E ALTERAÇÕES)
buição de cestas básicas para famílias de baixa renda.
O custo do programa é de R$ 1 bilhão por ano. O pro-
A presente lei trata do regime de concessão e per-
grama estima que irá beneficiar 10 milhões de famílias,
missão na prestação de serviços públicos.
cada uma recebendo uma cesta básica no valor de R$
Antes de tomarmos nota sobre os institutos da con-
100 por mês. O custo-benefício do programa é positivo,
cessão e da permissão, é importante destacar que tais
pois os benefícios (100 milhões de cestas básicas por
regimes são estabelecidos pelo art. 175, da Constitui-
ano) excedem os custos (R$ 1 bilhão por ano).
ção Federal, que dispõe:
ESCALA
Art. 175 (Constituição Federal, de 1988) Incum-
be ao Poder Público, na forma da lei, diretamente
A escala de uma política pública é o tamanho da ou sob regime de concessão ou permissão, sem-
população ou área geográfica que é afetada pela política. pre através de licitação, a prestação de serviços
Assim, a escala pode ser local, regional, nacional ou inter- públicos.
nacional. Vejamos agora um exemplo sobre a escala. Parágrafo único. A lei disporá sobre:
Uma política pública de vacinação contra a I - o regime das empresas concessionárias e
covid-19 tem escala nacional, pois atinge toda a popu- permissionárias de serviços públicos, o caráter
lação brasileira. Ainda, uma política pública de cons- especial de seu contrato e de sua prorrogação, bem
trução de uma escola tem escala local, pois atinge como as condições de caducidade, fiscalização e
apenas uma comunidade específica. rescisão da concessão ou permissão;
II - os direitos dos usuários;
EFETIVIDADE III - política tarifária;
IV - a obrigação de manter serviço adequado.
A efetividade de uma política pública é a capacida-
de da política de atingir seus objetivos. Desse modo, Assim, a prestação do serviço público pode ser fei-
a efetividade pode ser medida de diversas formas, ta de duas maneiras diferentes:
como por meio de indicadores sociais, econômicos ou
ambientais. Veja a seguir um exemplo que aborda o z a primeira delas é a prestação direta pelo próprio
154 assunto. poder público por meio das instituições públicas;
z a segunda, por sua vez, é a prestação do serviço e amortizado mediante a exploração do serviço ou
público de maneira indireta, ou seja, quando rea- da obra por prazo determinado;
lizada por meio da contratação de particular para IV - permissão de serviço público: a delegação,
executar o serviço por um determinado período, a título precário, mediante licitação, da prestação
mediante concessão ou permissão. de serviços públicos, feita pelo poder concedente à
pessoa física ou jurídica que demonstre capacidade
Ademais, a lei que o parágrafo único, do art. 175, para seu desempenho, por sua conta e risco.
menciona é a Lei nº 8.987, de 1995, ora em comento,
à qual cabe regulamentar os assuntos trazidos pelos A concessão de serviço público, que pode ou não
incisos do preceito constitucional. ser precedida de execução de obra pública, acontece
Tanto no regime de concessão de serviço público por meio de contrato administrativo feito pelo poder
(maior volume de capital empregado) quanto no regi- concedente junto à pessoa jurídica ou ao consórcio de
me de permissão de serviço público (menor volume empresas.
de capital empregado), haverá a delegação a parti- Além disso, é realizado mediante licitação, na
culares apenas da execução desse serviço, não sen- modalidade concorrência ou diálogo competitivo,
do transferida a titularidade, que permanece com o de acordo com os incisos II e III, do art. 2º, da Lei nº
poder concedente.
8.987, de 1995.
Desse modo, a Administração Pública continua sen-
do a titular da prestação do serviço público, podendo
alterar, unilateralmente, suas regras, não importando
quem esteja executando o serviço.
Importante!
É importante ressaltar que a Lei nº 8.987, de 1995, Atenção máxima à modalidade de licitação na
é norma geral sobre concessões e permissões. Assim, concessão, pois foi acrescentada à Lei nº 8.987,
cabe à União, aos estados, ao Distrito Federal e aos de 1995, em 2021, a modalidade “diálogo com-
municípios promoverem a revisão e as adaptações
petitivo” através da Nova Lei de Licitações nº
necessárias para as suas próprias legislações, às pres-
crições dessa lei de base. Vejamos o art. 1º, da Lei nº 14.133, de 2021. Desse modo, atualmente a
8.987, de 1995: concessão de serviço público conta com duas
modalidades possíveis de licitação: a “concor-
Art. 1º As concessões de serviços públicos e de rência” e o “diálogo competitivo”.
obras públicas e as permissões de serviços públi-
cos reger-se-ão pelos termos do art. 175 da Cons-
tituição Federal, por esta Lei, pelas normas legais Por sua vez, a permissão é delegação, a título pre-
pertinentes e pelas cláusulas dos indispensáveis cário da prestação de serviço público, feita pelo poder
contratos. concedente à pessoa física ou jurídica, por sua conta
Parágrafo único. A União, os Estados, o Distrito e risco.
Federal e os Municípios promoverão a revisão
A permissão também será precedida de licitação,
e as adaptações necessárias de sua legislação
porém o legislador não impôs uma modalidade obri-
às prescrições.
gatória, podendo ser realizada através de qualquer
Outra determinação constitucional é a de que a modalidade prevista em lei, em consonância com o
delegação (concessão ou permissão) dos serviços públi- inciso IV, art. 2º, da Lei nº 8.987, de 1995.
cos a particulares seja realizada através de licitação. Quanto à expressão “a título precário”, de acordo
O art. 2º, da Lei nº 8.987, de 1995, estabelece con- com Celso Antônio Bandeira de Mello (2009),
ceitos importantes para sua prova. Veja:
A precariedade significa, afinal, que a Administra-
Art. 2º Para os fins do disposto nesta Lei, ção dispõe de poderes para, flexivelmente, estabe-
considera-se: lecer alterações ou encerrá-la, a qualquer tempo,

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


I - poder concedente: a União, o Estado, o Distri- desde que fundadas razões de interesse público o
to Federal ou o Município, em cuja competência se aconselhem, sem obrigação de indenizar o permis-
encontre o serviço público, precedido ou não da sionário. (Mello, 2009)
execução de obra pública, objeto de concessão ou
permissão; No tocante à fiscalização, a Lei nº 8.987, de 1995,
II - concessão de serviço público: a delegação
estabelece, no seu art. 3º, “[...] que as concessões e as
de sua prestação, feita pelo poder concedente,
permissões sujeitar-se-ão à fiscalização pelo poder con-
mediante licitação, na modalidade concorrência
ou diálogo competitivo, a pessoa jurídica ou con- cedente responsável pela delegação, com a cooperação
sórcio de empresas que demonstre capacidade para dos usuários”.
seu desempenho, por sua conta e risco e por prazo Assim, se um determinado município, por exem-
determinado; plo, delegou a execução de um serviço, esse mesmo
III - concessão de serviço público precedida município irá fiscalizar a delegação. Além disso, os
da execução de obra pública: a construção, próprios usuários do serviço poderão cooperar.
total ou parcial, conservação, reforma, ampliação Cumpre salientar que a Lei nº 8.987, de 1995,
ou melhoramento de quaisquer obras de interesse
determina, no seu art. 4º, que a concessão de serviço
público, delegados pelo poder concedente, median-
te licitação, na modalidade concorrência ou diálo- público, precedida ou não de execução de obra públi-
go competitivo, a pessoa jurídica ou consórcio de ca, será formalizada mediante contrato, nada mencio-
empresas que demonstre capacidade para a sua nando a respeito da permissão nesse preceito citado.
realização, por sua conta e risco, de forma que o
investimento da concessionária seja remunerado 155
Art. 4º A concessão de serviço público, precedida z Atualidade significa estar fazendo uso das melho-
ou não da execução de obra pública, será forma- res tecnologias disponíveis no mercado;
lizada mediante contrato, que deverá observar z Generalidade diz respeito à quantidade de pes-
os termos desta Lei, das normas pertinentes e do soas a serem abrangidas pela prestação do serviço,
edital de licitação. devendo ser o máximo possível;
z Cortesia na sua prestação diz respeito à urbanida-
No entanto, o art. 40 da mesma lei determina que a de, respeito e educação que a empresa concessio-
permissão de serviço público seja formalizada através nária ou permissionária e seus funcionários devem
de contrato de adesão, nos termos seguintes: ter com relação ao usuário e demais pessoas;
z Modicidade das tarifas se refere a um valor
Art. 40 A permissão de serviço público será for-
razoável de tarifa a ser cobrado dos usuários para
malizada mediante contrato de adesão [...].
a utilização do serviço;
z Continuidade significa que o serviço deve ser
Atenção! Contrato de adesão é aquele em que as
prestado de maneira contínua, ou, em outras pala-
cláusulas já estão prontas, criadas unilateralmente
vras, sem interrupções.
pelo poder público, sem que a outra parte possa modi-
ficar ou discutir.
No tocante à continuidade, é importante ficar
atento, pois muitas questões de prova surgem desse
Art. 5º O poder concedente publicará, previamente
ao edital de licitação, ato justificando a conveniên-
tema. No entanto, prestar o serviço sem interrupções
cia da outorga de concessão ou permissão, caracte- é a regra geral, sendo que a Lei nº 8.987, de 1995, no §
rizando seu objeto, área e prazo. 3º, de seu art. 6º, admite, excepcionalmente, interrup-
ção no serviço nas seguintes situações:
Para facilitar seu estudo, veja o quadro compara-
tivo a seguir: § 3º Não se caracteriza como descontinuidade
do serviço a sua interrupção em situação de emer-
gência ou após prévio aviso, quando:
CONCESSÃO PERMISSÃO I - motivada por razões de ordem técnica ou de
segurança das instalações; e,
Maior volume de capital Menor volume de capital II - por inadimplemento do usuário, considerado o
Beneficia pessoa jurídica Beneficia pessoa física ou interesse da coletividade.
jurídica § 4º A interrupção do serviço na hipótese previs-
ta no inciso II do § 3º deste artigo não poderá
Licitação nas modalida- Licitação sob qualquer iniciar-se na sexta-feira, no sábado ou no
des concorrência ou diá- modalidade domingo, nem em feriado ou no dia anterior a
logo competitivo feriado. (Incluído pela Lei nº 14.015, de 2020)

Direito à indenização na Sem direito à indenização Com o intuito de evitar maiores prejuízos ou trans-
extinção antecipada na extinção antecipada
tornos para os usuários inadimplentes, a lei estabele-
(precária)
ce que a interrupção desses serviços, decorrente da
falta de pagamento ou de alguma obrigação contra-
DO SERVIÇO ADEQUADO tual, não poderá iniciar na sexta-feira, no sábado, no
domingo, em feriado ou em véspera de feriado.
A Lei nº 8.987, de 1995, estabelece, no art. 6º, que Isso decorre do disposto no § 4º, do art. 6º, da Lei
o serviço prestado deve ser adequado, ou seja, deve nº 8.987, de 1995, que estabelece justamente que a
satisfazer as condições de regularidade, continuidade, interrupção do serviço na hipótese de inadimplemen-
eficiência, segurança, atualidade, generalidade, corte- to do usuário “[...] não poderá iniciar-se na sexta-feira,
sia na sua prestação e modicidade das tarifas. Veja: no sábado ou no domingo, nem em feriado ou no dia
anterior a feriado”. Atenção a esse ponto: ele foi fruto
Art. 6º Toda concessão ou permissão pressupõe a
de alteração mais recente na Lei nº 8.987, de 1995, que
prestação de serviço adequado ao pleno atendimen-
ocorreu no ano de 2020.
to dos usuários, conforme estabelecido nesta Lei,
nas normas pertinentes e no respectivo contrato.
Portanto, analise o fluxograma a seguir para
§ 1º Serviço adequado é o que satisfaz as condi- entender bem em que situações o serviço poderá ser
ções de regularidade, continuidade, eficiência, interrompido sem qualquer ônus para a concessioná-
segurança, atualidade, generalidade, cortesia ria ou permissionária:
na sua prestação e modicidade das tarifas.
§ 2º A atualidade compreende a modernidade das Motivada por
técnicas, do equipamento e das instalações e a sua Em situação de razões de ordem
emergência técnica ou de
conservação, bem como a melhoria e expansão do NÃO SE
CARACTERIZA COMO segurança das
serviço. DESCONTINUIDADE instalações
DO SERVIÇO A SUA
INTERRUPÇÃO Por inadimplemen-
z Regularidade é relacionada ao atendimento das Após prévio aviso
to do usuário, consi-
regras, normas e condições; quando:
derado o interesse
z Eficiência é alcançar o resultado com o menor da coletividade
custo possível;
z Segurança significa não ameaçar a vida ou a saú-
156 de das pessoas, usuárias ou não;
DOS DIREITOS E OBRIGAÇÕES DOS USUÁRIOS Outro ponto que merece relevância é a existência
ou não de serviço público alternativo e gratuito para
Com relação aos direitos e obrigações dos usuários, o usuário.
basta uma leitura dos incisos, do art. 7º, que seguem: A Lei nº 8.987, de 1995, estabelece, no § 1º, do art.
9º, que apenas em casos expressamente previstos em
Art. 7º Sem prejuízo do disposto na Lei nº 8.078, de lei é que a cobrança será condicionada à existência de
11 de setembro de 1990, são direitos e obrigações serviço alternativo gratuito.
dos usuários: Assim, por exemplo, se a lei assim estabelecer, uma
I - receber serviço adequado; via pública somente pode ser delegada à iniciativa pri-
II - receber do poder concedente e da concessioná- vada através da concessão ou da permissão de serviço
ria informações para a defesa de interesses indivi- público se houver outra via alternativa, que seja gratui-
duais ou coletivos; ta para o usuário e que o leve ao mesmo destino.
III - obter e utilizar o serviço, com liberdade de esco- Do contrário, se a lei nada disser, então será per-
lha entre vários prestadores de serviços, quando for mitida a delegação, mesmo sem a existência de outra
o caso, observadas as normas do poder concedente.
via alternativa. Segue o § 1º, do art. 9º, da Lei nº 8.987,
IV - levar ao conhecimento do poder público e da
de 1995:
concessionária as irregularidades de que tenham
conhecimento, referentes ao serviço prestado;
V - comunicar às autoridades competentes os atos § 1º A tarifa não será subordinada à legislação
específica anterior e somente nos casos expressa-
ilícitos praticados pela concessionária na presta-
mente previstos em lei, sua cobrança poderá ser
ção do serviço;
condicionada à existência de serviço público alter-
VI - contribuir para a permanência das boas condi-
nativo e gratuito para o usuário.
ções dos bens públicos através dos quais lhes são
prestados os serviços.
A Lei nº 8.987, de 1995, traz importantes normas
Apenas mais dois detalhes a serem considerados, acerca da manutenção do equilíbrio econômico-fi-
além desses incisos previstos na lei: nanceiro do contrato. Trata-se de manter o retorno
financeiro para o particular delegatário com o passar
z um deles é a obediência à Lei nº 8.078, de 1990, que do tempo, retornando as perdas inflacionárias, de
é o Código de Defesa do Consumidor, legislação aumento no custo de manutenção, de alteração unila-
teral do contrato etc.
também aplicável ao usuário do serviço público,
Nesse ponto, é estabelecido que os mecanismos de
até porque, em muitas situações, haverá uma rela-
revisão dos contratos já poderão ser previstos no pró-
ção de consumo. Assim, tanto a lei de concessões
prio contrato (§ 2º, art. 9º).
e permissões quanto a lei do consumidor deverão
Para exemplificar, podem ficar estabelecidos os
ser aplicadas conjuntamente;
momentos em que a tarifa poderá ser revista, a fim
z outro detalhe é a obrigatoriedade que as conces-
de adequá-la aos custos atuais de manutenção do ser-
sionárias têm de oferecer ao consumidor e ao
viço. Igualmente, fica determinado que os tributos
usuário, dentro do mês de vencimento, o mínimo
incidentes poderão fazer com que a tarifa seja revista,
de seis datas opcionais para escolherem os dias de
para cima ou para baixo, com exceção do imposto de
vencimento de seus débitos. Veja sua previsão no
renda (§ 3º, art. 9º). Seguem os preceitos citados:
art. 7º-A, da Lei nº 8.987, de 1995:
Art. 9º [...]
Art. 7º-A As concessionárias de serviços públicos,
§ 2º Os contratos poderão prever mecanismos de
de direito público e privado, nos Estados e no Dis-
revisão das tarifas, a fim de manter-se o equilíbrio
trito Federal, são obrigadas a oferecer ao consumi-
econômico-financeiro.
dor e ao usuário, dentro do mês de vencimento, o
§ 3º Ressalvados os impostos sobre a renda, a cria-
mínimo de seis datas opcionais para escolherem os
ção, alteração ou extinção de quaisquer tributos ou
dias de vencimento de seus débitos.

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


encargos legais, após a apresentação da proposta,
Parágrafo único. (Vetado)
quando comprovado seu impacto, implicará a revi-
são da tarifa, para mais ou para menos, conforme
DA POLÍTICA TARIFÁRIA o caso.
§ 4º Em havendo alteração unilateral do contrato
De início, cabe esclarecer que a tarifa cobrada do que afete o seu inicial equilíbrio econômico-finan-
usuário não possui natureza tributária, mas, sim, de ceiro, o poder concedente deverá restabelecê-lo,
preço público. Portanto, não se aplica qualquer prin- concomitantemente à alteração.
cípio de natureza tributária. § 5º A concessionária deverá divulgar em seu sítio
Dito isso, a Lei nº 8.987, de 1995, determina que o eletrônico, de forma clara e de fácil compreensão
valor da tarifa seja definido já na proposta vencedora da pelos usuários, tabela com o valor das tarifas pra-
licitação, conforme previsão expressa no caput, art. 9º. ticadas e a evolução das revisões ou reajustes reali-
Ou seja, o preço a ser cobrado do usuário é o mes- zados nos últimos cinco anos.
mo estabelecido no certame de escolha do concessio-
nário ou permissionário, não cabendo a qualquer um Dica
desses estabelecer o valor que bem entenderem. Veja
O poder concedente pode prever a possibilidade
o art. 9º:
de outras fontes de receitas para o concessio-
Art. 9º A tarifa do serviço público concedido será nário, visando favorecer a modicidade de tarifas.
fixada pelo preço da proposta vencedora da licita- Por exemplo, publicidade paga por terceiros em
ção e preservada pelas regras de revisão previstas outdoor de rodovia concedida, cuja receita é
nesta Lei, no edital e no contrato. revertida para a concessionária. 157
DA LICITAÇÃO VII - melhor oferta de pagamento pela outorga
após qualificação de propostas técnicas.
A Lei nº 8.987, de 1995, traz importantes preceitos
acerca de licitação, algumas vezes apenas transpor- Ressalta-se que o poder concedente recusará pro-
tando o que a Lei de Licitações já determina, mas, em postas manifestamente irrealizáveis ou financeira-
outros momentos, criando regras específicas. mente incompatíveis com os objetivos da licitação.
É importante lembrar que a Lei nº 8.666, de 1993 Assim, propostas com valores muito baixos ou muito
(Lei de Licitações), serviu de base para a criação da lei acima dos preços que se aplicam no mercado serão
em estudo. recusadas.
Já a Nova Lei de Licitações nº 14.133, de 2021,
trouxe apenas o acréscimo referente à modalidade de Art. 15 […]
licitação para a concessão de serviço público: agora, § 1º A aplicação do critério previsto no inciso III só
além da concorrência, também é possível o diálogo será admitida quando previamente estabelecida no
competitivo. edital de licitação, inclusive com regras e fórmulas
precisas para avaliação econômico-financeira.
No mais, a Lei nº 14.133, de 2021, não trouxe qual-
§ 2º Para fins de aplicação do disposto nos incisos IV,
quer alteração na Lei nº 8.987, de 1995.
V, VI e VII, o edital de licitação conterá parâmetros
e exigências para formulação de propostas técnicas.
Princípios Aplicáveis na Licitação § 3º O poder concedente recusará propostas
manifestamente inexequíveis ou financeiramen-
Art. 14 Toda concessão de serviço público, precedi- te incompatíveis com os objetivos da licitação.
da ou não da execução de obra pública, será objeto
de prévia licitação, nos termos da legislação pró- Desempate de Propostas em Igualdade de Condições
pria e com observância dos princípios da legali-
dade, moralidade, publicidade, igualdade, do
Quanto ao critério de desempate de propostas em
julgamento por critérios objetivos e da vincu-
igualdade de condições, a Lei nº 8.987, de 1995, estabe-
lação ao instrumento convocatório.
lece preferência à proposta apresentada por empresa
brasileira. Contudo, não podemos deixar de citar as
Por princípio do julgamento objetivo, entende-se
preferências já estabelecidas na Lei nº 8.666, de 1993,
que os critérios de escolha da melhor proposta são
que estabelece mais critérios de desempate além des-
apenas aqueles previstos no edital de licitação.
se, devendo ser estudados conjuntamente.
Assim, não são permitidos julgamentos pessoais
ou subjetivos, olhando apenas para a pessoa. É neces-
Art. 15 […]
sário verificar se a pessoa cumpre os requisitos e se a § 4º Em igualdade de condições, será dada pre-
proposta dela é realmente a melhor de acordo com os ferência à proposta apresentada por empresa
critérios estabelecidos. brasileira.
Outra determinação é a obediência ao princípio
da vinculação ao instrumento convocatório — tanto Existência de Subsídios ou Vantagens
a Administração Pública licitante quanto os particu-
lares que participam do certame deverão respeitar, Outro ponto que merece atenção é a existência de
para todas as fases da licitação, exatamente as regras subsídios ou vantagens que podem ser previstos no edi-
previstas no edital. tal de licitação: podem ser qualquer tipo de tratamento
tributário diferenciado ou valores a serem repassados
Critérios de Licitação pelo poder concedente ao licitante vencedor.
No entanto, é importante ressaltar que esses sub-
No tocante aos critérios de licitação, ou tipos de sídios ou vantagens deverão estar previstos, expres-
licitação, a Lei nº 8.666, de 1993, nos fornece o seguin- samente, no edital. Além disso, também têm de estar
te: menor preço, melhor técnica, técnica e preço e à disposição de todos os concorrentes. Ou seja, não
maior lance ou oferta. podem ser oferecidos apenas para um ou para alguns
Por sua vez, a Lei nº 8.987, de 1995, traz critérios licitantes em detrimento de outros.
próprios, no seu art. 15, para concessões de serviços Além disso, as vantagens e subsídios aqui descri-
públicos, criando regras específicas, que são: tos dizem respeito apenas à esfera de competência
do poder concedente, não ultrapassando para outra
Art. 15 No julgamento da licitação será considera- esfera estatal. Por exemplo, se é o município que está
do um dos seguintes critérios: licitando, ele poderá estabelecer isenção de IPTU
I - o menor valor da tarifa do serviço público a (Imposto sobre a Propriedade Predial Urbana), posto
ser prestado; que este é de sua alçada, mas não poderá conceder
II - a maior oferta, nos casos de pagamento ao vantagens a título de ICMS (Imposto sobre Circulação
poder concedente pela outorga da concessão; de Mercadorias e Serviços), uma vez que este é de
III - a combinação, dois a dois, dos critérios referi-
competência do estado.
dos nos incisos I, II e VII;
IV - melhor proposta técnica, com preço fixado
no edital; Edital de Licitação
V - melhor proposta em razão da combina-
ção dos critérios de menor valor da tarifa do O art. 18, da Lei nº 8.987, de 1995, estabelece que
serviço público a ser prestado com o de melhor o edital de licitação deverá observar os critérios e as
técnica; normas gerais aplicáveis a toda licitação. Além disso,
VI - melhor proposta em razão da combinação prevê que esse edital de licitação deve conter critérios
dos critérios de maior oferta pela outorga da específicos para concessão ou permissão de serviço
158 concessão com o de melhor técnica; ou público, conforme:
Art. 18 O edital de licitação será elaborado pelo mais bem classificado, para verificação do atendi-
poder concedente, observados, no que couber, mento das condições fixadas no edital;
os critérios e as normas gerais da legislação II - verificado o atendimento das exigências do edi-
própria sobre licitações e contratos e conterá, tal, o licitante será declarado vencedor;
especialmente: III - inabilitado o licitante melhor classificado,
I - o objeto, metas e prazo da concessão; serão analisados os documentos habilitatórios do
II - a descrição das condições necessárias à presta- licitante com a proposta classificada em segundo
ção adequada do serviço; lugar, e assim sucessivamente, até que um licitante
III - os prazos para recebimento das propostas, jul- classificado atenda às condições fixadas no edital;
gamento da licitação e assinatura do contrato; IV - proclamado o resultado final do certame, o
IV - prazo, local e horário em que serão forneci- objeto será adjudicado ao vencedor nas condições
dos, aos interessados, os dados, estudos e projetos técnicas e econômicas por ele ofertadas.
necessários à elaboração dos orçamentos e apre-
sentação das propostas;
Seguindo essa opção pelo poder concedente, que
V - os critérios e a relação dos documentos exigidos
é a ordem normal das fases prevista na Lei de Lici-
para a aferição da capacidade técnica, da idonei-
dade financeira e da regularidade jurídica e fiscal; tações, acontecerá, primeiro, a habilitação, para,
VI - as possíveis fontes de receitas alternativas, somente depois, haver o julgamento das propostas.
complementares ou acessórias, bem como as pro- Tal ordem, no entanto, pode ser invertida na licitação
venientes de projetos associados; para concessão de serviço público.
VII - os direitos e obrigações do poder concedente e Sendo assim, se for o caso de sua previsão no edi-
da concessionária em relação a alterações e expan- tal, encerrada a fase de classificação das propostas ou
sões a serem realizadas no futuro, para garantir a o oferecimento de lances, será aberto, para verifica-
continuidade da prestação do serviço; ção do atendimento das condições fixadas no edital,
VIII - os critérios de reajuste e revisão da tarifa; o invólucro com os documentos de habilitação do lici-
IX - os critérios, indicadores, fórmulas e parâme- tante mais bem classificado.
tros a serem utilizados no julgamento técnico e eco-
Se o licitante vencedor não for habilitado, acon-
nômico-financeiro da proposta;
tecerá análise dos documentos habilitatórios do lici-
X - a indicação dos bens reversíveis;
XI - as características dos bens reversíveis e as tante com a proposta classificada em segundo lugar, e
condições em que estes serão postos à disposição, assim sucessivamente até que se encontre um licitan-
nos casos em que houver sido extinta a concessão te que atenda aos requisitos.
anterior; Essa inversão da ordem é importante para ganhar
XII - a expressa indicação do responsável pelo ônus tempo, pois evita a análise de vários documentos para
das desapropriações necessárias à execução do ser- habilitar todos os licitantes e, só então, checar suas pro-
viço ou da obra pública, ou para a instituição de postas. Com a inversão dessa ordem, a Administração
servidão administrativa; Pública analisa apenas os documentos de habilitação do
XIII - as condições de liderança da empresa respon- vencedor — ou dos seguintes, se ele não foi habilitado
sável, na hipótese em que for permitida a participa- —, o que resulta em um procedimento mais célere.
ção de empresas em consórcio;
XIV - nos casos de concessão, a minuta do respec-
Participação de Empresas em Consórcio
tivo contrato, que conterá as cláusulas essenciais
referidas no art. 23 desta Lei, quando aplicáveis;
XV - nos casos de concessão de serviços públicos Consórcio de empresas é a associação de várias
precedida da execução de obra pública, os dados companhias feita por meio de contrato com o fim
relativos à obra, dentre os quais os elementos do específico de participar da licitação. Saindo vencedor
projeto básico que permitam sua plena caracteriza- o consórcio, é ele que irá executar o serviço público
ção, bem assim as garantias exigidas para essa par- por meio das empresas consorciadas.
te específica do contrato, adequadas a cada caso e O poder concedente pode permitir, no edital de
limitadas ao valor da obra;

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


licitação, a participação de empresas em consórcio, o
XVI - nos casos de permissão, os termos do contra- que pode traduzir em propostas melhores e mais van-
to de adesão a ser firmado. tajosas para a Administração Pública.

Inversão na Ordem das Fases de Habilitação e Art. 19 Quando permitida, na licitação, a partici-
Julgamento pação de empresas em consórcio, observar-se-ão as
seguintes normas:
Outra regra específica prevista na Lei nº 8.987, I - comprovação de compromisso, público ou parti-
de 1995, estabelecida para licitações, é a inversão da cular, de constituição de consórcio, subscrito pelas
ordem das fases de habilitação e julgamento, que pode consorciadas;
estar prevista no edital, de acordo com o art. 18-A. II - indicação da empresa responsável pelo consórcio;
A previsão dessa inversão não é regra obrigatória, III - apresentação dos documentos exigidos nos
mas discricionária, a depender da conveniência do incisos V e XIII do artigo anterior, por parte de cada
poder concedente em assim estabelecer. consorciada;
Segue o citado dispositivo legal: IV - impedimento de participação de empresas con-
sorciadas na mesma licitação, por intermédio de
Art. 18-A O edital poderá prever a inversão da mais de um consórcio ou isoladamente.
ordem das fases de habilitação e julgamento, hipó- § 1º O licitante vencedor fica obrigado a promover,
tese em que: antes da celebração do contrato, a constituição e
I - encerrada a fase de classificação das propostas registro do consórcio, nos termos do compromisso
ou o oferecimento de lances, será aberto o invólu- referido no inciso I deste artigo.
cro com os documentos de habilitação do licitante 159
§ 2º A empresa líder do consórcio é a responsável Cláusulas Essenciais
perante o poder concedente pelo cumprimento do
contrato de concessão, sem prejuízo da responsabi- Além das cláusulas exorbitantes e demais cláu-
lidade solidária das demais consorciadas. sulas previstas na Lei nº 8.666, de 1993, e na Lei nº
14.133, de 2021, que devem constar em todo e qual-
Uma vez constituído o consórcio entre as empresas quer contrato administrativo, a Lei nº 8.897, de 1993,
“A”, “B” e “C”, por exemplo, estas estarão impedidas de estabelece cláusulas específicas para o contrato de
participar de outras empresas consorciadas na mes- concessão previstas no seu art. 23:
ma licitação, por intermédio de mais de um consórcio
ou isoladamente. Art. 23 São cláusulas essenciais do contrato de con-
Desse modo, no exemplo citado, se a empresa “A” cessão as relativas:
integra um consórcio para participar da licitação, ela I - ao objeto, à área e ao prazo da concessão;
não o poderá fazer sozinha, tampouco poderá fazer II - ao modo, forma e condições de prestação do
parte de outro consórcio nessa mesma licitação, con- serviço;
correndo consigo mesma, direta ou indiretamente. III - aos critérios, indicadores, fórmulas e parâme-
O consórcio deverá ser constituído e assinado tros definidores da qualidade do serviço;
pelas empresas consorciadas por meio de um com- IV - ao preço do serviço e aos critérios e procedi-
promisso público ou privado, com a indicação de uma mentos para o reajuste e a revisão das tarifas;
dessas empresas que ficará responsável perante o V - aos direitos, garantias e obrigações do poder
concedente e da concessionária, inclusive os rela-
poder concedente pelo cumprimento do contrato de
cionados às previsíveis necessidades de futura
concessão, sem prejuízo da responsabilidade solidá-
alteração e expansão do serviço e consequente
ria das demais consorciadas.
modernização, aperfeiçoamento e ampliação dos
Assim, uma das empresas ficará como líder nesse equipamentos e das instalações;
consórcio, responsabilizando-se pelo contrato, porém VI - aos direitos e deveres dos usuários para obten-
as demais continuam respondendo solidariamente, ção e utilização do serviço;
ou seja, todas as empresas consorciadas ficam res- VII - à forma de fiscalização das instalações, dos
ponsáveis pelo cumprimento integral do contrato de equipamentos, dos métodos e práticas de execução
consórcio. do serviço, bem como a indicação dos órgãos com-
Torna-se importante ressaltar que o consórcio de petentes para exercê-la;
empresas não constitui personalidade jurídica pró- VIII - às penalidades contratuais e administrativas
pria, permanecendo as empresas consorciadas com a que se sujeita a concessionária e sua forma de
suas próprias personalidades. aplicação;
No entanto, a previsão contida no art. 20, da Lei nº IX - aos casos de extinção da concessão;
8.987, de 1995, faculta ao poder concedente exigir que X - aos bens reversíveis;
o consórcio vencedor se constitua em empresa, antes XI - aos critérios para o cálculo e a forma de paga-
da celebração do contrato, desde que previsto no edi- mento das indenizações devidas à concessionária,
tal de licitação. quando for o caso;
XII - às condições para prorrogação do contrato;
Segue o artigo legal mencionado:
XIII - à obrigatoriedade, forma e periodicidade da
prestação de contas da concessionária ao poder
Art. 20 É facultado ao poder concedente, desde
concedente;
que previsto no edital, no interesse do serviço a ser
XIV - à exigência da publicação de demonstrações
concedido, determinar que o licitante vencedor, no
financeiras periódicas da concessionária; e
caso de consórcio, se constitua em empresa antes
XV - ao foro e ao modo amigável de solução das
da celebração do contrato.
divergências contratuais.

TÍTULO VI — DO CONTRATO DE CONCESSÃO


Ademais, de acordo com o parágrafo único, do
mesmo art. 23, anteriormente citado, para os contra-
A Lei nº 8.987, de 1995, trata de diversos pontos
tos de concessão precedida de obra pública deve-se
relacionados ao contrato firmado entre o poder con-
colocar mais duas cláusulas, além de todas já mencio-
cedente e o particular.
nadas, que são:
Trata-se de um contrato administrativo, isto é,
avença pactuada entre o Estado e o particular, com Art. 23 [...]
determinado propósito e período de tempo, ao qual Parágrafo único. Os contratos relativos à conces-
se aplicam regras de direito público, que preveem são de serviço público precedido da execução de
a supremacia do interesse público sobre o interesse obra pública deverão, adicionalmente:
particular. I - estipular os cronogramas físico-financeiros de
Torna-se importante lembrar que existem duas execução das obras vinculadas à concessão; e
normas, em vigor, que tratam de contrato adminis- II - exigir garantia do fiel cumprimento, pela con-
trativo: a Lei nº 8.666, de 1993, e a Lei nº 14.133, de cessionária, das obrigações relativas às obras vin-
2021, ambas trazendo as normas gerais sobre con- culadas à concessão.
tratos administrativos, as quais se aplicam de forma
genérica aos contratos de concessão, tratados na Lei Mecanismos Privados de Solução de Litígios
nº 8.987, de 1995.
Assim, a referida Lei de Concessões estabelece É possível que existam disputas decorrentes ou
regras específicas sobre o contrato de concessão, relacionadas ao contrato, ocorridas entre o poder con-
porém aplicando-se como regra geral esses dois diplo- cedente e o particular contratado.
160 mas normativos citados.
Se tais disputas não forem solucionadas amigavel- concedido, bem como a implementação de projetos
mente, ainda existe o Poder Judiciário para resolver associados. (Vide ADC 57)
conflitos litigiosos, inclusive em função de contratos § 2º Os contratos celebrados entre a concessionária
administrativos, tais como o contrato de concessão de e os terceiros a que se refere o parágrafo anterior
serviço público. reger-se-ão pelo direito privado, não se estabelecen-
Diante disso, o art. 23-A prevê a possibilidade de do qualquer relação jurídica entre os terceiros e o
poder concedente.
inserir nesse contrato mecanismos privados para
§ 3º A execução das atividades contratadas com ter-
a resolução de tais disputas, inclusive a arbitragem.
ceiros pressupõe o cumprimento das normas regu-
Segue: lamentares da modalidade do serviço concedido.

Art. 23-A O contrato de concessão poderá prever o Além disso, é importante frisar que a responsabi-
emprego de mecanismos privados para resolução
lidade do concessionário é objetiva por se tratar de
de disputas decorrentes ou relacionadas ao contra-
uma pessoa jurídica de direito privado prestadora de
to, inclusive a arbitragem, a ser realizada no Brasil
serviço público. Assim, sua responsabilidade indepen-
e em língua portuguesa, nos termos da Lei nº 9.307,
de 23 de setembro de 1996.
de da comprovação de dolo ou de culpa.
Art. 24 (Vetado) Outro ponto que merece relevância é o atual enten-
dimento do Supremo Tribunal Federal determinando
que tanto os prejuízos causados a usuários quanto
Com efeito, a Lei nº 8.987, de 1993, deixa aberta
aqueles que atingem terceiros não usuários deverão
a possibilidade de se resolver contendas existentes
ser indenizados objetivamente pela concessionária.
entre o ente contratante e o particular contratado sem
Atenção! A responsabilidade do Estado, nesse
que haja a necessidade de deságue no Judiciário —
caso, é subsidiária. De tal modo, o concessionário é
mas, sim, com resolução definitiva entre eles.
quem deve ser acionado diretamente pelo prejudica-
A arbitragem é uma opção deixada na lei, que é
do, somente respondendo o Estado pelo pagamento
prevista no Código de Processo Civil e na sua lei pró-
da indenização se, nessa situação, o concessionário
pria, em que as partes nomeiam um árbitro para solu-
não tiver patrimônio suficiente para o total ressarci-
cionar a disputa.
mento da vítima pelos danos causados.
Caso a contenda seja solucionada, dentro do que
Ademais, a ADC (Ação Declaratória de Constitu-
permite a Lei de Arbitragem e desde que cumprida
cionalidade) nº 57 reconheceu a constitucionalidade
nos exatos termos do que prevê o contrato, não caberá da possibilidade da contratação de terceiros pela con-
às partes ingressarem perante o Poder Judiciário para cessionária desde que sejam observados os requisitos
que se analise a mesma disputa objeto de arbitragem, legais, sendo que o contrato que formalizar tal situa-
momento em que o processo judicial, se assim existir, ção será regido pelas normas de direito privado.
será extinto sem análise de seu mérito.
Subconcessão
Dica
É o instrumento por meio do qual uma par-
Arbitragem ou qualquer outro mecanismo pri-
te da prestação do serviço é terceirizada a outro
vado de solução de litígios somente serão apli-
concessionário.
cados se houver cláusula no contrato nesse Nesse caso, o concessionário terceiriza parte do
sentido. Se no contrato não existir essa cláusula, serviço a um subconcessionário, que ficará respon-
então o Poder Judiciário poderá ser demandado. sável (sub-rogará) por todos os direitos e obrigações
decorrentes da subconcedente dentro dos limites da
Responsabilidade do Concessionário pela Execução subconcessão.
do Serviço Por exemplo, em aeroporto concedido o concessio-
nário pode subconceder a um terceiro a limpeza dos
O concessionário assume a prestação do serviço

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


banheiros, motivo pelo qual a subconcedente fica res-
público por sua conta e risco, conforme o art. 25, da ponsável pelos direitos e obrigações que decorrerem
Lei nº 8.987, de 1995, cabendo a ele responder por dessa subconcessão.
todos os prejuízos causados ao poder concedente, aos O art. 26, da Lei nº 8.987, de 1995, impõe que a sub-
usuários ou a terceiros, sem que a fiscalização exer- concessão deve ser precedida de expressa autorização
cida pelo órgão competente exclua ou atenue essa do poder concedente para que exista. Do contrário,
responsabilidade. não será possível sua existência. Vejamos:
Assim, todos os prejuízos ocasionados pela presta-
ção do serviço concedido são de responsabilidade do Art. 26 É admitida a subconcessão, nos termos pre-
concessionário. vistos no contrato de concessão, desde que expres-
Veja o artigo legal: samente autorizada pelo poder concedente.
§ 1º A outorga de subconcessão será sempre prece-
Art. 25 Incumbe à concessionária a execução do dida de concorrência.
serviço concedido, cabendo-lhe responder por § 2º O subconcessionário se sub-rogará todos os
todos os prejuízos causados ao poder concedente, direitos e obrigações da subconcedente dentro dos
aos usuários ou a terceiros, sem que a fiscalização limites da subconcessão.
exercida pelo órgão competente exclua ou atenue
essa responsabilidade. A outorga de subconcessão será sempre precedida
§ 1º Sem prejuízo da responsabilidade a que se refe- de concorrência, de acordo com o § 1º, do art. 26, da
re este artigo, a concessionária poderá contratar Lei nº 8.987, de 1995, anteriormente citado. Assim, a
com terceiros o desenvolvimento de atividades ine- nova modalidade de licitação “diálogo competitivo” é
rentes, acessórias ou complementares ao serviço possível apenas na concessão, e não na subconcessão. 161
A Transferência da Concessão ou do Controle Importante!
Societário da Concessionária
A administração temporária autorizada, na forma
Determina o art. 27, da Lei nº 8.987, de 1995, que a do citado art. 27-A, não acarretará responsabilida-
transferência de concessão ou do controle societário de aos financiadores e garantidores em relação a
da concessionária, sem prévia anuência do poder con- tributação, encargos, ônus, sanções, obrigações
cedente, implicará a caducidade da concessão. Segue: ou compromissos com terceiros, inclusive com o
poder concedente ou empregados.
Art. 27 A transferência de concessão ou do controle
societário da concessionária sem prévia anuência
Art. 27-A […]
do poder concedente implicará a caducidade da
§ 1o Na hipótese prevista no caput, o poder conce-
concessão.
dente exigirá dos financiadores e dos garantidores
que atendam às exigências de regularidade jurídi-
Transferência da concessão é colocar uma outra pes- ca e fiscal, podendo alterar ou dispensar os demais
soa para executar totalmente o serviço. A transferência requisitos previstos no inciso I do parágrafo único
é diferente da subconcessão, uma vez que esta é referen- do art. 27.
te a apenas uma parte da execução, e não ao todo. § 2o A assunção do controle ou da administração
Por sua vez, a transferência do controle societá- temporária autorizadas na forma do caput deste
rio é a alteração na composição do capital social da artigo não alterará as obrigações da concessio-
empresa concessionária, que implica mudança no seu nária e de seus controladores para com terceiros,
controle societário, passando para outros sócios. poder concedente e usuários dos serviços públicos.
A Lei de Concessões não proíbe nenhuma das § 3º Configura-se o controle da concessionária,
situações acima, mas deixa claro que tais transferên- para os fins dispostos no caput deste artigo, a
propriedade resolúvel de ações ou quotas por seus
cias devem acontecer com anuência prévia do poder
financiadores e garantidores que atendam os requi-
concedente. Do contrário, implicará caducidade.
sitos do art. 116 da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro
Caducidade é uma das formas de extinção da con- de 1976.
cessão, ocorrendo na inexecução total ou parcial do
contrato ou pelo descumprimento de obrigações a Conforme elencado anteriormente, a lei permite
cargo da concessionária. que as exigências acerca da capacidade técnica e ido-
Para obter a anuência referida, o § 1º, do art. 27, neidade financeira dos financiadores e garantidores
determina algumas regras: sejam flexibilizadas pelo poder concedente.
É importante frisar que tal flexibilização somente
Art. 27 [...] poderá acontecer nos casos em que não venha a com-
§ 1º Para fins de obtenção da anuência de que trata prometer a qualidade e a segurança do serviço que
o caput deste artigo, o pretendente deverá: fora concedido.
I - atender às exigências de capacidade técnica, ido- No que se refere à administração temporária pelos
neidade financeira e regularidade jurídica e fiscal
financiadores e garantidores das concessionárias de
necessárias à assunção do serviço; e
serviços públicos, vejamos o que dispõe a lei:
II - comprometer-se a cumprir todas as cláusulas
do contrato em vigor.
Art. 27-A […]
§ 2º Revogado. (Redação dada pela Lei nº 13.097, de 2015)
§ 4º Configura-se a administração temporária da
§ 3º Revogado. (Redação dada pela Lei nº 13.097, de 2015)
concessionária por seus financiadores e garanti-
§ 4º Revogado. (Redação dada pela Lei nº 13.097, de 2015)
dores quando, sem a transferência da propriedade
de ações ou quotas, forem outorgados os seguintes
Ainda nesse ponto, o art. 27-A, da Lei de Conces- poderes:
sões, prevê que o poder concedente pode autorizar I - indicar os membros do Conselho de Administra-
a transferência ou administração temporária, por ção, a serem eleitos em Assembleia Geral pelos acio-
seus financiadores e garantidores, com quem não nistas, nas sociedades regidas pela Lei 6.404, de 15
mantenha vínculo societário direto, para promover de dezembro de 1976; ou administradores, a serem
sua reestruturação financeira e assegurar a continui- eleitos pelos quotistas, nas demais sociedades;
dade da prestação dos serviços mediante prazo esta- I - indicar os membros do Conselho Fiscal, a serem
belecido pelo poder concedente. eleitos pelos acionistas ou quotistas controladores
em Assembleia Geral;
Trata-se de uma medida que visa resgatar a empre-
III - exercer poder de veto sobre qualquer proposta
sa concessionária que esteja com saúde financeira
submetida à votação dos acionistas ou quotistas da
comprometida, priorizando a prestação contínua do concessionária, que representem, ou possam repre-
serviço público. Vejamos: sentar, prejuízos aos fins previstos no caput deste
artigo;
Art. 27-A Nas condições estabelecidas no contra- IV - outros poderes necessários ao alcance dos fins
to de concessão, o poder concedente autorizará a previstos no caput deste artigo.
assunção do controle ou da administração tem- § 5º A administração temporária autorizada na
porária da concessionária por seus financiadores forma deste artigo não acarretará responsabilida-
e garantidores com quem não mantenha vínculo de aos financiadores e garantidores em relação à
societário direto, para promover sua reestrutura- tributação, encargos, ônus, sanções, obrigações ou
ção financeira e assegurar a continuidade da pres- compromissos com terceiros, inclusive com o poder
tação dos serviços. concedente ou empregados.
§ 6º O Poder Concedente disciplinará sobre o prazo
162 da administração temporária.
Dessa forma, os financiadores e garantidores Ademais, nos contratos mútuos de longo prazo os
durante a administração temporária não serão res- concessionários poderão ceder parcela de seus crédi-
ponsabilizados pelos custos, tributos ou ônus, seja tos operacionais futuros, ou seja, créditos que ainda
com o poder concedente, seja com os demais usuários nem receberam, mas que, quando recebidos, servirão
e fornecedores. para o pagamento do financiamento.

Garantia TÍTULO VII — DOS ENCARGOS DO PODER


CONCEDENTE
Os arts. 28 e 28-A, da Lei de Concessões, estabele-
cem que o concessionário pode colocar como garantia Trata-se de deveres que o poder concedente deve
em contrato de financiamento os direitos emergentes cumprir quando houver a prestação de serviço públi-
da concessão até o limite que não comprometa a ope- co por meio de concessão. Estão previstos no art. 29,
racionalização e a continuidade da prestação do ser- da Lei nº 8.987, de 1995, que segue:
viço. Veja:
Art. 29 Incumbe ao poder concedente:
Art. 28 Nos contratos de financiamento, as conces- I - regulamentar o serviço concedido e fiscalizar
sionárias poderão oferecer em garantia os direitos permanentemente a sua prestação;
emergentes da concessão, até o limite que não com- II - aplicar as penalidades regulamentares e
prometa a operacionalização e a continuidade da contratuais;
prestação do serviço. III - intervir na prestação do serviço, nos casos e
Parágrafo único. Revogado pela Lei nº 9.074, de condições previstos em lei;
1995 IV - extinguir a concessão, nos casos previstos nes-
Art. 28-A Para garantir contratos de mútuo de ta Lei e na forma prevista no contrato;
longo prazo, destinados a investimentos relaciona- V - homologar reajustes e proceder à revisão das
dos a contratos de concessão, em qualquer de suas tarifas na forma desta Lei, das normas pertinentes
modalidades, as concessionárias poderão ceder e do contrato;
ao mutuante, em caráter fiduciário, parcela de VI - cumprir e fazer cumprir as disposições regula-
seus créditos operacionais futuros observadas as mentares do serviço e as cláusulas contratuais da
seguintes condições: concessão;
I - o contrato de cessão dos créditos deverá ser VII - zelar pela boa qualidade do serviço, receber,
registrado em Cartório de Títulos e Documentos apurar e solucionar queixas e reclamações dos
para ter eficácia perante terceiros; usuários, que serão cientificados, em até trinta
II - sem prejuízo do disposto no inciso I do caput dias, das providências tomadas;
deste artigo, a cessão do crédito não terá eficácia VIII - declarar de utilidade pública os bens neces-
em relação ao Poder Público concedente senão sários à execução do serviço ou obra pública,
quando for este formalmente notificado; promovendo as desapropriações, diretamente ou
III - os créditos futuros cedidos nos termos des- mediante outorga de poderes à concessionária,
te artigo serão constituídos sob a titularidade do caso em que será desta a responsabilidade pelas
mutuante, independentemente de qualquer forma- indenizações cabíveis;
lidade adicional; IX - declarar de necessidade ou utilidade pública,
IV - o mutuante poderá indicar instituição finan- para fins de instituição de servidão administrativa,
ceira para efetuar a cobrança e receber os paga- os bens necessários à execução de serviço ou obra
mentos dos créditos cedidos ou permitir que a pública, promovendo-a diretamente ou mediante
concessionária o faça, na qualidade de represen- outorga de poderes à concessionária, caso em que
tante e depositária; será desta a responsabilidade pelas indenizações
V - na hipótese de ter sido indicada instituição cabíveis;
financeira, conforme previsto no inciso IV do caput X - estimular o aumento da qualidade, produtivida-
deste artigo, fica a concessionária obrigada a apre- de, preservação do meio-ambiente e conservação;

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


sentar a essa os créditos para cobrança; XI - incentivar a competitividade; e
VI - os pagamentos dos créditos cedidos deverão XII - estimular a formação de associações de usuá-
ser depositados pela concessionária ou pela insti- rios para defesa de interesses relativos ao serviço.
tuição encarregada da cobrança em conta corrente
bancária vinculada ao contrato de mútuo; TÍTULO VIII — DOS ENCARGOS DA
VII - a instituição financeira depositária deverá CONCESSIONÁRIA
transferir os valores recebidos ao mutuante à medi-
da que as obrigações do contrato de mútuo torna- São deveres da concessionária, de acordo com o
rem-se exigíveis; e art. 31, da Lei nº 8.987, de 1995:
VIII - o contrato de cessão disporá sobre a devo-
lução à concessionária dos recursos excedentes, Art. 31 Incumbe à concessionária:
sendo vedada a retenção do saldo após o adimple- I - prestar serviço adequado, na forma previs-
mento integral do contrato. ta nesta Lei, nas normas técnicas aplicáveis e no
Parágrafo único. Para os fins deste artigo, serão contrato;
considerados contratos de longo prazo aque- II - manter em dia o inventário e o registro dos bens
les cujas obrigações tenham prazo médio de vinculados à concessão;
vencimento superior a 5 (cinco) anos. III - prestar contas da gestão do serviço ao poder
concedente e aos usuários, nos termos definidos no
O dispositivo anterior aduz acerca da possibilida- contrato;
de de as concessionárias transferirem aos credores, IV - cumprir e fazer cumprir as normas do serviço e
como forma de garantia, uma parte do seu direito de as cláusulas contratuais da concessão;
receber pelos serviços prestados. 163
V - permitir aos encarregados da fiscalização livre Cessada a intervenção, se não for extinta a con-
acesso, em qualquer época, às obras, aos equipa- cessão, a execução do serviço deverá ser devolvida à
mentos e às instalações integrantes do serviço, bem concessionária.
como a seus registros contábeis;
VI - promover as desapropriações e constituir ser- Art. 34 Cessada a intervenção, se não for extinta a
vidões autorizadas pelo poder concedente, confor- concessão, a administração do serviço será devol-
me previsto no edital e no contrato; vida à concessionária, precedida de prestação de
VII - zelar pela integridade dos bens vinculados à contas pelo interventor, que responderá pelos atos
prestação do serviço, bem como segurá-los adequa- praticados durante a sua gestão.
damente; e
VIII - captar, aplicar e gerir os recursos financeiros
necessários à prestação do serviço. Importante!
Parágrafo único. As contratações, inclusive de
Quanto aos prazos, vale destacar que a instaura-
mão-de-obra, feitas pela concessionária serão regi-
ção do procedimento deverá ocorrer no prazo de
das pelas disposições de direito privado e pela legis-
30 dias após a declaração da intervenção e ser
lação trabalhista, não se estabelecendo qualquer
concluída no prazo de até 180 dias, sob pena de
relação entre os terceiros contratados pela conces-
sionária e o poder concedente. ser considerada inválida.
� Instauração do procedimento: prazo de 30 dias;
TÍTULO IX — DA INTERVENÇÃO � Conclusão do procedimento: prazo de 180 dias.

O poder concedente poderá decretar a interven- TÍTULO X — DA EXTINÇÃO DA CONCESSÃO


ção na concessionária, assumindo temporariamente a
gestão da empresa, até a normalização da prestação. É importante ressaltar que, havendo a extinção
A medida visa assegurar a adequada prestação do ser- da concessão por qualquer motivo que a lei prevê,
viço público e o fiel cumprimento da lei e do contrato. haverá a imediata assunção do serviço pelo poder
Essa intervenção deverá ocorrer mediante decre- concedente.
to do poder concedente, tratando-se, portanto, de um Assumindo o serviço, a lei autoriza a ocupação das
ato administrativo. Tal decreto deverá conter a desig- instalações e a utilização, pelo poder concedente, de
nação do interventor, do prazo da intervenção, dos todos os bens reversíveis.
limites e dos objetivos da medida, conforme prevê o Nesse caso, os bens reversíveis são todos os bens
parágrafo único, do art. 32, da Lei nº 8.987, de 1995: móveis e imóveis vinculados à prestação do serviço.
A reversão ocorre quando esses bens passam para o
Art. 32 O poder concedente poderá intervir na con- poder concedente a fim de que o serviço continue sen-
cessão, com o fim de assegurar a adequação na do prestado.
prestação do serviço, bem como o fiel cumprimento São formas de extinção da concessão, de acordo
das normas contratuais, regulamentares e legais com o art. 35, da Lei de Concessões:
pertinentes.
Parágrafo único. A intervenção far-se-á por decre- Art. 35 Extingue-se a concessão por:
to do poder concedente, que conterá a designa- I - advento do termo contratual;
ção do interventor, o prazo da intervenção e os
objetivos e limites da medida. Refere-se ao fim do prazo do contrato de conces-
são, correspondendo à sua extinção natural.
A lei ainda determina que deverá ser instaura-
Art. 35 […]
do um procedimento administrativo para compro-
II - encampação;
var a causa determinante da intervenção e apurar
responsabilidade. Trata-se dos casos em que o poder conceden-
Se, por outro lado, a intervenção não obedecer à te venha a retomar o serviço que fora concedido,
lei, ela deverá ser declarada nula, sendo devolvida a por motivos de interesse público e mediante prévia
execução do serviço para a concessionária, que pode- indenização.
rá pretender indenização se houver dano decorrente
de tal medida irregular. Art. 35 […]
III - caducidade;
Art. 33 Declarada a intervenção, o poder conceden-
te deverá, no prazo de trinta dias, instaurar proce- Trata-se da extinção do contrato decorrente de
dimento administrativo para comprovar as causas eventual descumprimento das normas contratuais
determinantes da medida e apurar responsabilida- pela concessionária — após decorrido o processo
des, assegurado o direito de ampla defesa. administrativo para apurar tal situação.
§ 1º Se ficar comprovado que a intervenção não
observou os pressupostos legais e regulamentares Art. 35 […]
será declarada sua nulidade, devendo o serviço ser IV - rescisão;
imediatamente devolvido à concessionária, sem
prejuízo de seu direito à indenização. Rescisão é a possibilidade de extinção do contra-
§ 2º O procedimento administrativo a que se refere to por iniciativa da concessionária, sendo decorrente
o caput deste artigo deverá ser concluído no prazo de eventuais prejuízos acarretados ao poder conce-
de até cento e oitenta dias, sob pena de considerar- dente. Dessa forma, a rescisão será mediante prévia
164 -se inválida a intervenção. indenização.
Art. 35 […] Por exemplo, determinado tipo de transporte
V - anulação; e público não atende mais à população, cabendo, por-
tanto, sua encampação. Não cabe sanção ao concessio-
Haverá anulação sempre que for verificada qual- nário, até porque não há culpa da parte dele.
quer espécie de vício ou ilegalidade na formatação ou
execução do contrato. Art. 37 Considera-se encampação a retomada do
serviço pelo poder concedente durante o prazo da
Art. 35 […] concessão, por motivo de interesse público, median-
VI - falência ou extinção da empresa concessionária te lei autorizativa específica e após prévio paga-
e falecimento ou incapacidade do titular, no caso de mento da indenização, na forma do artigo anterior.
empresa individual.
§ 1º Extinta a concessão, retornam ao poder con- Caducidade
cedente todos os bens reversíveis, direitos e privi-
légios transferidos ao concessionário conforme
Decorre da inexecução total ou parcial do contrato
previsto no edital e estabelecido no contrato.
por parte da concessionária. Acarretará, a critério do
§ 2º Extinta a concessão, haverá a imediata assun-
ção do serviço pelo poder concedente, proceden- poder concedente, a declaração de caducidade da con-
do-se aos levantamentos, avaliações e liquidações cessão ou a aplicação das sanções contratuais.
necessários.
§ 3º A assunção do serviço autoriza a ocupação das Art. 38 A inexecução total ou parcial do contrato
instalações e a utilização, pelo poder concedente, acarretará, a critério do poder concedente, a decla-
de todos os bens reversíveis. ração de caducidade da concessão ou a aplicação
§ 4º Nos casos previstos nos incisos I e II deste arti- das sanções contratuais, respeitadas as disposições
go, o poder concedente, antecipando-se à extinção deste artigo, do art. 27, e as normas convenciona-
da concessão, procederá aos levantamentos e ava- das entre as partes.
liações necessários à determinação dos montantes
da indenização que será devida à concessionária, Em consonância com o § 1º, art. 38, da Lei nº 8.987,
na forma dos arts. 36 e 37 desta Lei. de 1995, a caducidade será declarada, mediante decre-
to, pelo poder concedente, nos termos seguintes:
Para auxiliar na memorização das formas de extin-
ção da concessão, vejamos o fluxograma a seguir: § 1º A caducidade da concessão poderá ser declara-
da pelo poder concedente quando:
I - o serviço estiver sendo prestado de forma ina-
Advento do termo contratual
EXTINÇÃO DA CONCESSÃO

dequada ou deficiente, tendo por base as normas,


Encampação critérios, indicadores e parâmetros definidores da
qualidade do serviço;
Caducidade II - a concessionária descumprir cláusulas contra-
Rescisão tuais ou disposições legais ou regulamentares con-
cernentes à concessão;
Anulação III - a concessionária paralisar o serviço ou concor-
Falência ou extinção
rer para tanto, ressalvadas as hipóteses decorren-
tes de caso fortuito ou força maior;
IV - a concessionária perder as condições econômi-
Advento do Termo Contratual cas, técnicas ou operacionais para manter a ade-
quada prestação do serviço concedido;
Pode acontecer, ainda, a extinção automática do V - a concessionária não cumprir as penalidades
contrato após o seu prazo de vigência, sem a neces- impostas por infrações, nos devidos prazos;

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


sidade de qualquer declaração do poder concedente VI - a concessionária não atender a intimação do
nesse sentido. poder concedente no sentido de regularizar a pres-
tação do serviço; e
Art. 36 A reversão no advento do termo contratual VII - a concessionária não atender a intimação do
far-se-á com a indenização das parcelas dos inves- poder concedente para, em 180 (cento e oitenta)
timentos vinculados a bens reversíveis, ainda não dias, apresentar a documentação relativa a regula-
amortizados ou depreciados, que tenham sido rea- ridade fiscal, no curso da concessão.
lizados com o objetivo de garantir a continuidade e
atualidade do serviço concedido. A Lei de Concessões determina que a caducida-
de seja declarada após um processo administrativo,
Encampação assegurada a ampla defesa da concessionária, que
deve ser instaurado para verificar e comprovar o
É a retomada do serviço pelo poder concedente inadimplemento.
durante o prazo da concessão, por motivo de interes- Entretanto, antes de ser instaurado o referido
se público, mediante lei autorizativa específica e após processo, o poder concedente deve comunicar à
prévio pagamento da indenização. concessionária sobre eventuais descumprimentos,
O importante na encampação é entender que ela oferecendo um prazo para que o problema seja solu-
não ocorre por descumprimento de dever contratual cionado. Não sendo resolvido o problema, instaura-se
por parte da empresa concessionária, mas, sim, por o processo administrativo.
razões de interesse público.
165
Art. 38 […] Portanto, deve instaurar o processo judicial e
§ 2º A declaração da caducidade da concessão esperar o Judiciário decidir de forma definitiva para,
deverá ser precedida da verificação da inadimplên- somente então, parar o serviço e obter a rescisão e a
cia da concessionária em processo administrativo, indenização cabível.
assegurado o direito de ampla defesa. Nesse sentido, segue o art. 39, da Lei de Concessões:
§ 3º Não será instaurado processo administrativo
de inadimplência antes de comunicados à conces-
Art. 39 O contrato de concessão poderá ser res-
sionária, detalhadamente, os descumprimentos
cindido por iniciativa da concessionária, no caso
contratuais referidos no § 1º deste artigo, dan-
do-lhe um prazo para corrigir as falhas e trans- de descumprimento das normas contratuais pelo
gressões apontadas e para o enquadramento, nos poder concedente, mediante ação judicial especial-
termos contratuais. mente intentada para esse fim.
Parágrafo único. Na hipótese prevista no caput des-
te artigo, os serviços prestados pela concessionária
Torna-se importante salientar que a caducidade
não poderão ser interrompidos ou paralisados, até
poderá ser declarada por decreto, independentemen-
a decisão judicial transitada em julgado.
te de indenização; poderá ser apurada e verificada
posteriormente, sendo descontado o valor das multas
contratuais e dos danos causados pela concessionária. Anulação

Art. 38 […] Acontece quando são verificados defeitos ou ilega-


§ 4º Instaurado o processo administrativo e com- lidades no contrato. Devem ser verificados o contra-
provada a inadimplência, a caducidade será ditório e a ampla defesa. Pode ser declarada de ofício
declarada por decreto do poder concedente, inde- (autotutela) ou mediante ação judicial, promovida
pendentemente de indenização prévia, calculada no pelo contratado.
decurso do processo.
§ 5º A indenização de que trata o parágrafo ante- Falência ou Extinção da Empresa Concessionária e
rior, será devida na forma do art. 36 desta Lei e do Falecimento ou Incapacidade do Titular, no Caso de
contrato, descontado o valor das multas contra-
Empresa Individual
tuais e dos danos causados pela concessionária.
§ 6º Declarada a caducidade, não resultará para o
poder concedente qualquer espécie de responsabili- Nesses casos, acontece o desaparecimento do con-
dade em relação aos encargos, ônus, obrigações ou tratado, o que gera a extinção do contrato, uma vez
compromissos com terceiros ou com empregados que possui natureza personalíssima.
da concessionária.
TÍTULO XI — DAS PERMISSÕES
Pela ordem:
A concessão não é o único instrumento capaz de
z prazo para a concessionária resolver o problema;
delegar ao particular a execução de serviço público. A
z se não resolver, instaura-se processo administrati-
permissão também é prevista no caput, do art. 175, da
vo, com ampla defesa;
Constituição Federal, que diz:
z havendo a necessidade de declaração de caducida-
de, assim será feito, mediante decreto;
Art. 175 (Constituição Federal, de 1988) Incum-
z a indenização pode ser apurada após a declaração
be ao Poder Público, na forma da lei, diretamente
de caducidade.
ou sob regime de concessão ou permissão, sem-
Atenção! Determina o § 6º, art. 37, da Lei de Con- pre através de licitação, a prestação de serviços
cessões, que: públicos.
[…]
Art. 37 [...]
§ 6º Declarada a caducidade, não resultará para o De acordo com Hely Lopes Meirelles (2020):
poder concedente qualquer espécie de responsabili-
dade em relação aos encargos, ônus, obrigações ou Permissão é ato administrativo negocial, discricio-
compromissos com terceiros ou com empregados nário e precário, pelo qual o Poder Público faculta
da concessionária. ao particular a execução de serviços de interesse
coletivo, ou o uso especial de bens públicos, a título
Assim, havendo a caducidade, a concessionária
gratuito ou remunerado, nas condições estabeleci-
fica responsável pelo pagamento de dívidas trabalhis- das pela Administração. (Meirelles, 2020)
tas e contratuais com terceiros, não cabendo a cobran-
ça contra o Estado.
No entanto, mesmo a doutrina considerando ser a
Rescisão (Culpa do Poder Concedente) permissão um ato administrativo, a Lei nº 8.987, de
1995, estabelece que a permissão é contrato de ade-
Havendo o descumprimento de normas contratuais são, aplicando a ele todas as demais disposições legais
pelo poder concedente, o concessionário poderá promo- referentes ao contrato de concessão.
ver ação judicial para conseguir a rescisão contratual. Vale destacar que contrato de adesão é aquele
É muito importante compreender que, havendo em que as cláusulas não são negociadas previamen-
o descumprimento por parte do poder concedente, te entre as partes. Sendo de adesão, as cláusulas são
o contratado somente poderá deixar de executar o trazidas por apenas uma das partes contratantes — à
serviço após a decisão judicial transitada em julgado, outra só resta aceitar. Na permissão, quem estabelece
em nome da continuidade da prestação do serviço as cláusulas é o poder público.
166 público.
Lembre-se: em concurso público, o candidato deve Para que ocorra a concessão ou a permissão de ser-
ficar atento a algum questionamento referente à per- viços públicos, há a necessidade de lei que autorize
missão, uma vez que a doutrina entende ser ato admi- e fixe seus termos, assim processando-se para União,
nistrativo negocial, mas a Lei de Concessões entende Estados, Municípios e Distrito Federal.
ser contrato de adesão. Preste atenção ao enunciado No entanto, tratando-se de saneamento básico e
da questão para saber do que se trata, afinal. limpeza urbana, a Lei nº 9.074, de 1995, dispensa a
necessidade de norma autorizativa. Vejamos:
REFERÊNCIAS
Art. 2º É vedado à União, aos Estados, ao Distrito
MEIRELLES, H. L. Direito Administrativo Brasi- Federal e aos Municípios executarem obras e servi-
leiro. Salvador: Editora Juspodivm, 2020. ços públicos por meio de concessão e permissão de
MELLO, C. A. B. Curso de Direito Administrativo. serviço público, sem lei que lhes autorize e fixe os
São Paulo: Malheiros, 2009. termos, dispensada a lei autorizativa nos casos de
saneamento básico e limpeza urbana e nos já refe-
NORMAS PARA OUTORGA E PRORROGAÇÕES ridos na Constituição Federal, nas Constituições
DAS CONCESSÕES E PERMISSÕES DE SERVIÇOS Estaduais e nas Leis Orgânicas do Distrito Federal
PÚBLICOS (LEI Nº 9.074, DE 1995, E ALTERAÇÕES) e Municípios, observado, em qualquer caso, os ter-
mos da Lei nº 8.987, de 1995.

TÍTULO I – DAS DISPOSIÇÕES INICIAIS Além disso, nos casos de contratação dos serviços
e obras públicas resultantes de processos iniciados
A Lei nº 9.074, de 1995, estabelece normas para entre a data de publicação da Lei nº 8.987, de 1995,
outorga de concessões e de permissões que acrescen- e a data de publicação da presente Lei nº 9.074, de
tam às demais normas previstas na Lei nº 8.987, de 1995, também não há necessidade de regulamento
1995. Assim, o ideal é estudar conjuntamente ambas autorizativo. Observemos o que dispõe o § 1º, do art. 2º:
as leis, posto que uma complementa a outra.
Cabe ressaltar que o Capítulo II desta Lei (art. 4º a 25) Art 2º [...]
diz respeito às concessões, permissões e autorizações § 1º A contratação dos serviços e obras públicas
dos serviços de energia elétrica, tema que interessa à resultantes dos processos iniciados com base na Lei
ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) e não é nº 8.987, de 1995, entre a data de sua publicação e a
pertinente para o estudo aqui proposto. Deste modo, os da presente Lei, fica dispensada de lei autorizativa.
dispositivos não serão estudados neste material.
Independem de Concessão, Permissão ou Autorização
Sujeitam-se à Concessão ou Permissão
O art. 2º também determina as situações que inde-
O art. 1º estabelece espécies de serviços e obras pendem de concessão, permissão ou autorização, nos
públicas de competência da União que estarão sujei- termos que seguem:
tos ao regime de concessão ou, quando couber, de per-
missão. Vejamos: Art. 2º [...]
§ 2º Independe de concessão, permissão ou autori-
Art. 1º Sujeitam-se ao regime de concessão ou, zação o transporte de cargas pelos meios rodo-
quando couber, de permissão, nos termos da Lei nº viário e aquaviário.
8.987, de 13 de fevereiro de 1995, os seguintes servi- § 3º Independe de concessão ou permissão o
ços e obras públicas de competência da União: transporte:
I - (VETADO) I - aquaviário, de passageiros, que não seja
II - (VETADO) realizado entre portos organizados;
III - (VETADO) II - rodoviário e aquaviário de pessoas, reali-

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


IV - vias federais, precedidas ou não da execução de zado por operadoras de turismo no exercício
obra pública;
dessa atividade;
V - exploração de obras ou serviços federais de bar-
III - de pessoas, em caráter privativo de orga-
ragens, contenções, eclusas ou outros dispositivos de
nizações públicas ou privadas, ainda que em
transposição hidroviária de níveis, diques, irrigações,
forma regular.
precedidas ou não da execução de obras públicas;
§ 4º A outorga para exploração indireta de ferrovias
VI - estações aduaneiras e outros terminais alfan-
degados de uso público, não instalados em área de em regime de direito privado será exercida median-
porto ou aeroporto, precedidos ou não de obras te autorização, na forma da legislação específica.
públicas.
VII - os serviços postais. Vejamos que o § 3º aduz sobre as possibilidades
em que não será necessária a delegação da prestação
Dica dos serviços de transportes elencados nos incisos que
seguem o referido parágrafo.
O prazo das concessões e permissões para esta- Por fim, o § 4º trata da possibilidade de delegação
ções aduaneiras e outros terminais alfandegados da prestação de serviços públicos de transporte ferro-
de uso público (inciso VI, acima) será de vinte e cin- viário, pelo poder concedente a um terceiro, a qual se
co anos, podendo ser prorrogado por dez anos, con- dará mediante autorização e desde que tal delegação
soante o disposto no § 2º, art. 1º. Para as demais, a atenda às condições previamente estabelecidas pelo
lei não estabelece prazo para contratação (conces- poder concedente.
são ou permissão). Mas, havendo a necessidade
de prorrogação, esta será de dez anos. 167
DA REESTRUTURAÇÃO DOS SERVIÇOS PÚBLICOS § 4º A prorrogação de que trata este artigo está
CONCEDIDOS sujeita às condições estabelecidas no art. 25.

A lei aqui estudada determina que as cisões, DAS DISPOSIÇÕES FINAIS


fusões, incorporações ou transformações societárias
dos concessionários de serviços públicos, sob o con- Art. 31 Nas licitações para concessão e permissão
trole direto ou indireto da União Federal, serão por ela de serviços públicos ou uso de bem público, os auto-
promovidas. Além disso, estas deverão ser aprova- res ou responsáveis economicamente pelos projetos
das pela União Federal, sob pena de caducidade. básico ou executivo podem participar, direta ou
Importante! Na primeira situação, a União “pro- indiretamente, da licitação ou da execução de obras
move”, ou seja, é ela quem fará a cisão, fusão, incor- ou serviços.
Art. 32 A empresa estatal que participe, na quali-
poração ou transformação. Na segunda situação,
dade de licitante, de concorrência para concessão e
a União “aprova” o que será feito, como requisito
permissão de serviço público, poderá, para compor
essencial de validade.
sua proposta, colher preços de bens ou serviços for-
Além disso, a União Federal é autorizada a cobrar
necidos por terceiros e assinar pré-contratos com
pelo direito de exploração de serviços públicos, nas
dispensa de licitação.
condições preestabelecidas no edital de licitação. § 1º Os pré-contratos conterão, obrigatoriamente,
cláusula resolutiva de pleno direito, sem penalida-
Art. 26 Exceto para os serviços públicos de teleco-
des ou indenizações, no caso de outro licitante ser
municações, é a União autorizada a:
I - promover cisões, fusões, incorporações ou trans- declarado vencedor.
formações societárias dos concessionários de ser- § 2º Declarada vencedora a proposta referida nes-
viços públicos sob o seu controle direto ou indireto; te artigo, os contratos definitivos, firmados entre a
II - aprovar cisões, fusões e transferências de con- empresa estatal e os fornecedores de bens e servi-
cessões, estas últimas nos termos do disposto no ços, serão, obrigatoriamente, submetidos à apre-
art. 27 da Lei nº 8.987, de 1995; ciação dos competentes órgãos de controle externo
III - cobrar, pelo direito de exploração de serviços e de fiscalização específica.
públicos, nas condições preestabelecidas no edital Art. 33 Em cada modalidade de serviço público, o
de licitação. respectivo regulamento determinará que o poder
Parágrafo único. O inadimplemento do disposto no concedente, observado o disposto nos arts. 3º e 30
inciso III sujeitará o concessionário à aplicação da da Lei nº 8.987, de 1995, estabeleça forma de parti-
pena de caducidade, nos termos do disposto na Lei cipação dos usuários na fiscalização e torne dispo-
nº 8.987, de 1995. nível ao público, periodicamente, relatório sobre os
Art. 27 Nos casos em que os serviços públicos, pres- serviços prestados.
tados por pessoas jurídicas sob controle direto ou Art. 34 A concessionária que receber bens e insta-
indireto da União, para promover a privatização lações da União, já revertidos ou entregues à sua
simultaneamente com a outorga de nova concessão administração, deverá:
ou com a prorrogação das concessões existentes a I - arcar com a responsabilidade pela manutenção e
União, exceto quanto aos serviços públicos de tele- conservação dos mesmos;
comunicações, poderá: II - responsabilizar-se pela reposição dos bens e
I - utilizar, no procedimento licitatório, a modali- equipamentos, na forma do disposto no art. 6º da
dade de leilão, observada a necessidade da venda Lei nº 8.987, de 1995.
de quantidades mínimas de quotas ou ações que Art. 35 A estipulação de novos benefícios tari-
garantam a transferência do controle societário; fários pelo poder concedente, fica condicionada
II - fixar, previamente, o valor das quotas ou ações à previsão, em lei, da origem dos recursos ou da
de sua propriedade a serem alienadas, e proceder a simultânea revisão da estrutura tarifária do con-
licitação na modalidade de concorrência. cessionário ou permissionário, de forma a preser-
§ 1º Na hipótese de prorrogação, esta poderá ser var o equilíbrio econômico-financeiro do contrato.
feita por prazos diferenciados, de forma a que os Parágrafo único. A concessão de qualquer benefício
termos finais de todas as concessões prorrogadas tarifário somente poderá ser atribuída a uma clas-
ocorram no mesmo prazo que será o necessário à se ou coletividade de usuários dos serviços, vedado,
amortização dos investimentos, limitado a trinta sob qualquer pretexto, o benefício singular.
anos, contado a partir da assinatura do novo con- Art. 36 Sem prejuízo do disposto no inciso XII do
trato de concessão. art. 21 e no inciso XI do art. 23 da Constituição Fede-
§ 2º Na elaboração dos editais de privatização de ral, o poder concedente poderá, mediante convênio
empresas concessionárias de serviço público, a de cooperação, credenciar os Estados e o Distrito
União deverá atender às exigências das Leis nºs Federal a realizarem atividades complementares de
8.031, de 1990 e 8.987, de 1995, inclusive quanto à fiscalização e controle dos serviços prestados nos
publicação das cláusulas essenciais do contrato e respectivos territórios.
do prazo da concessão. Art. 37 É inexigível a licitação na outorga de
§ 3º O disposto neste artigo poderá ainda ser apli- serviços de telecomunicações de uso restrito do
cado no caso de privatização de concessionário de outorgado, que não sejam passíveis de exploração
serviço público sob controle direto ou indireto dos comercial.
Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios, no
âmbito de suas respectivas competências.
168
§ 1º Na hipótese de instrumento celebrado com pes-
POLÍTICAS PÚBLICAS DE CIÊNCIA, soa física, os bens serão incorporados ao patrimô-
nio da ICT à qual o pesquisador beneficiado estiver
TECNOLOGIA E INOVAÇÃO vinculado.
§ 2º Quando adquiridos com a participação de fun-
MARCO LEGAL DE CT&I (LEI Nº 13.243, DE 2016, dação de apoio, a titularidade sobre os bens obser-
CONSTITUIÇÃO FEDERAL — ART. 218 A 219-B) vará o disposto em contrato ou convênio entre a
ICT e a fundação de apoio.
O material a seguir aborda a Lei nº 13.243, de 2016,
a qual dispõe sobre estímulos ao desenvolvimento Em regra, os bens gerados ou adquiridos no âmbi-
científico, à pesquisa, à capacitação científica e tecno- to dos projetos serão incorporados ao patrimônio da
lógica e à inovação. entidade recebedora dos recursos. Em questão de pro-
A presente lei surgiu no denominado Marco Legal va, a banca tende a afirmar que os bens serão de pro-
da Ciência, Tecnologia e Inovação, em um combo for- priedade do ente financiador.
mado por ela, pela Emenda Constitucional nº 85, de Caso seja celebrado com pessoa física, o bem ficará
2015, e pelo Decreto nº 9.283, de 2018. incorporado ao patrimônio da instituição a qual o pes-
A função dessa lei é, principalmente, alterar diver- quisador estiver vinculado. Note que o bem ou produ-
sas outras leis, ou seja, possui pouco conteúdo autôno- to não serão de propriedade do pesquisador, mas da
mo. Portanto, o presente material será mais enxuto, ICT (instituição científica, tecnológica e de inovação).
pois as alterações são estudadas já no texto atualizado O poder público manterá mecanismos de fomento,
das respectivas legislações — como, por exemplo, a apoio e gestão adequados à internacionalização das
Lei nº 10.973, de 2004, a qual consta em alguns editais. ICTs públicas, que poderão exercer fora do território
Nesse contexto, é de suma importância que o estu- nacional atividades relacionadas com ciência, tecno-
do da Lei nº 10.973, de 2004, seja realizado antes da logia e inovação. O fomento inclui, até mesmo, o inter-
lei ora estudada. Pelo fato de mais alterar leis do que câmbio de profissionais, sejam eles servidores civis ou
apresentar um conteúdo autônomo, os dispositivos militares.
são “avulsos” caso estudados sem o conhecimento da Dito isso, como mencionado anteriormente, a
Lei nº 10.973, de 2004. Emenda Constitucional nº 85, de 2015, que inseriu o
Vejamos, então: Capítulo IV na Constituição Federal, de 1988, também
é considerada como um marco legal para a ciência, a
Art. 11 Os processos de importação e de desemba- tecnologia e a inovação. Sendo assim, vejamos alguns
raço aduaneiro de bens, insumos, reagentes, peças dispositivos do mencionado capítulo:
e componentes a serem utilizados em pesquisa
científica e tecnológica ou em projetos de inovação Constituição Federal, de 1988
terão tratamento prioritário e observarão procedi- CAPÍTULO IV - DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA E
mentos simplificados, nos termos de regulamento, e INOVAÇÃO
o disposto no art. 1º da Lei nº 8.010, de 29 de março Art. 218 O Estado promoverá e incentivará o
de 1990, e nas alíneas “e” a “g” do inciso I do art. 2º desenvolvimento científico, a pesquisa, a capacita-
da Lei nº 8.032, de 12 de abril de 1990. ção científica e tecnológica e a inovação.
Art. 12 Em atendimento ao disposto no § 5º do art. § 1º A pesquisa científica básica e tecnológica rece-
167 da Constituição Federal , as ICTs e os pesqui- berá tratamento prioritário do Estado, tendo em
sadores poderão transpor, remanejar ou transfe- vista o bem público e o progresso da ciência, tecno-
rir recursos de categoria de programação para logia e inovação.
outra com o objetivo de viabilizar resultados de § 2º A pesquisa tecnológica voltar-se-á prepon-
projetos que envolvam atividades de ciência, tec- derantemente para a solução dos problemas
nologia e inovação, mediante regras definidas em brasileiros e para o desenvolvimento do sistema
regulamento. produtivo nacional e regional.
§ 3º O Estado apoiará a formação de recursos

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


O art. 11 visa facilitar a importação de produtos humanos nas áreas de ciência, pesquisa, tecnolo-
relacionados à pesquisa científica e tecnológica. Mui- gia e inovação, inclusive por meio do apoio às ati-
tos insumos relacionados ao tema são produzidos fora vidades de extensão tecnológica, e concederá aos
do país, necessitando de importação, procedimento, que delas se ocupem meios e condições especiais de
trabalho.
porém, moroso e complicado.
§ 4º A lei apoiará e estimulará as empresas que
Nesse sentido, a presente lei determina que seja
invistam em pesquisa, criação de tecnologia ade-
simplificada e desembaraçada a importação de pro-
quada ao País, formação e aperfeiçoamento de
dutos relacionada ao seu objeto, possuindo, inclusive, seus recursos humanos e que pratiquem sistemas
prioridade de tramitação. No entanto, não são deter- de remuneração que assegurem ao empregado,
minadas as facilidades ou a forma pela qual se efeti- desvinculada do salário, participação nos ganhos
vará o disposto no artigo. econômicos resultantes da produtividade de seu
trabalho.
Art. 13 Nos termos previamente estabelecidos em § 5º É facultado aos Estados e ao Distrito Fede-
instrumento de concessão de financiamentos e ral vincular parcela de sua receita orçamentária a
outros estímulos à pesquisa, ao desenvolvimento e entidades públicas de fomento ao ensino e à pesqui-
à inovação, os bens gerados ou adquiridos no âmbi- sa científica e tecnológica.
to de projetos de estímulo à ciência, à tecnologia § 6º O Estado, na execução das atividades previstas
e à inovação serão incorporados, desde sua aqui- no caput, estimulará a articulação entre entes, tan-
sição, ao patrimônio da entidade recebedora dos to públicos quanto privados, nas diversas esferas
recursos. de governo.
169
§ 7º O Estado promoverá e incentivará a atuação Os dispositivos anteriores repassam a ideia de que
no exterior das instituições públicas de ciência, tec- o incentivo na área não ocorrerá apenas no âmbito
nologia e inovação, com vistas à execução das ati- público, mas também no setor privado, o qual é de
vidades previstas no caput. suma importância para o crescimento tecnológico.

O Estado (poder público em geral) promoverá e Art. 219-A A União, os Estados, o Distrito Fede-
incentivará o desenvolvimento científico, a pesquisa, ral e os Municípios poderão firmar instrumentos
a capacitação científica e tecnológica e a inovação, de cooperação com órgãos e entidades públicos e
assegurando tratamento prioritário sobre o tema. com entidades privadas, inclusive para o compar-
As pesquisas devem se voltar aos problemas nacio- tilhamento de recursos humanos especializados e
nais, preponderantemente. capacidade instalada, para a execução de projetos
de pesquisa, de desenvolvimento científico e tec-
nológico e de inovação, mediante contrapartida
Dica financeira ou não financeira assumida pelo ente
beneficiário, na forma da lei.
Atenção para a expressão “preponderantemen-
Art. 219-B O Sistema Nacional de Ciência, Tecno-
te”, pois ela indica sentido de preferência, mas logia e Inovação (SNCTI) será organizado em regi-
não de obrigação ou exclusividade. Portanto, me de colaboração entre entes, tanto públicos
eventual questão de prova tende a afirmar que quanto privados, com vistas a promover o desen-
a pesquisa se voltará, obrigatoriamente, aos pro- volvimento científico e tecnológico e a inovação.
blemas nacionais, o que estará incorreto. § 1º Lei federal disporá sobre as normas gerais do
SNCTI.
Entre os incentivos listados, tem-se a formação § 2º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios legis-
de recursos humanos, investindo não apenas na pes- larão concorrentemente sobre suas peculiaridades.
quisa em si, mas na formação de pesquisadores e
profissionais da área (com cursos específicos em uni- Os entes federados poderão firmar instrumentos
versidades públicas ou privadas). Além disso, haverá de cooperação com instituições públicas ou privadas,
incentivos ao mercado de trabalho. reforçando que os objetivos, para serem alcançados,
Não adianta o país investir em tecnologia se não dependem tanto do setor público quanto da iniciativa
possuir mão de obra interna; por tal motivo, o inves- privada. O artigo permite que haja compartilhamen-
timento na formação de profissionais na área é de to, inclusive, de recursos humanos, podendo o ente
suma importância para o sucesso a longo prazo do público ceder servidor às instituições privadas.
objetivo estipulado. As normas gerais sobre o SNCTI (Sistema Nacional
O § 5º faculta aos estados e ao Distrito Federal vin- de Ciência, Tecnologia e Inovação) serão estabeleci-
cular parcela do orçamento a investimentos na área. das em lei federal, competindo, todavia, aos demais
Para fins de provas, os detalhes são mais importan- entes que legislem concorrentemente sobre o tema.
tes do que as informações em si. Perceba que a CF, de Legislar concorrentemente significa que, embora as
1988, estipula uma faculdade, não uma obrigatorieda- normas gerais sejam dispostas pela União (lei federal),
os estados e o Distrito Federal podem complementar,
de, de modo que, em prova, a alteração tende a ocor-
instituindo leis de interesse regional, permitindo aos
rer na expressão “é facultado”, trocada por expressões
municípios que suplementem a legislação federal e
que afirmem ser obrigatória a vinculação, o que torna
estadual com objetivos e interesses locais.
incorreta a afirmativa.
As competências dos estados, do DF e dos municí-
pios são complementares e não podem contrariar as
Art. 219 O mercado interno integra o patrimô-
nio nacional e será incentivado de modo a viabili-
disposições da lei federal. Caso a lei federal seja omis-
zar o desenvolvimento cultural e socioeconômico, o sa em determinada situação, podem os estados e o DF
bem-estar da população e a autonomia tecnológica legislar sobre o assunto; contudo, sobrevindo na legis-
do País, nos termos de lei federal. lação federal dispositivos sobre o tema, caso as leis
Parágrafo único. O Estado estimulará a forma- estaduais sejam contrárias à nova disposição federal,
ção e o fortalecimento da inovação nas empresas, ficarão sem eficácia os dispositivos das leis estaduais
bem como nos demais entes, públicos ou privados, que contrariem a legislação federal.
a constituição e a manutenção de parques e polos
tecnológicos e de demais ambientes promotores da LEI Nº 11.540, DE 2007 E ALTERAÇÕES (DISPÕE
inovação, a atuação dos inventores independentes SOBRE O FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO
e a criação, absorção, difusão e transferência de CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO – FNDCT)
tecnologia.
O material a seguir aborda a Lei nº 11.540, de 2007,
O mercado interno será incentivado a auxiliar a qual dispõe sobre o Fundo Nacional de Desenvolvi-
no desenvolvimento tecnológico do país. O incentivo mento Científico e Tecnológico.
ocorrerá em “lei federal”, merecendo atenção o tre- Trata-se de lei pequena, mas, por sua natureza de
cho destacado, pois, ao se referir à lei, apenas, trata de instituir uma entidade (FNDCT), possui muitos artigos
lei ordinária, não necessitando de lei complementar, listando competências e afins, o que torna o estudo de
“pegadinha” típica de concurso público. extrema memorização.
Um exemplo de incentivo é a Lei de Licitação, a A grande maioria dos artigos possuem pouca pro-
qual traz margem de preferência e critério de desem- babilidade de cobrança em provas, motivo pelo qual
pate favorável a produtos desenvolvidos no país, ou a o presente material, embora ilustre a maioria, dará
empresas que invistam em cultura e desenvolvimento maior ênfase aos dispositivos que tendem a ser explo-
tecnológico. rados, indicando ao aluno quais dispositivos devem
170 receber mais foco, atenção e energia.
DA LEI DE ORÇAMENTO Os representantes da comunidade científica e tecno-
lógica serão escolhidos em lista tríplice, uma indicada
Dos Objetivos pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
e outra indicada pela Academia Brasileira de Ciências.
Art. 1º O Fundo Nacional de Desenvolvimento Cien- No que diz respeito aos representantes do setor
tífico e Tecnológico (FNDCT), instituído pelo Decre- empresarial, será realizada lista sêxtupla indicada
to-Lei nº 719, de 31 de julho de 1969, e restabelecido pela Confederação Nacional da Indústria — CNI, den-
pela Lei nº 8.172, de 18 de janeiro de 1991, é um tre os quais o Ministro de Estado da Ciência e Tecnolo-
fundo especial de natureza contábil e financei- gia designará para compor o conselho.
ra e tem o objetivo de financiar a inovação e Os mandatos dos representantes da comunidade
o desenvolvimento científico e tecnológico com científica e dos empresários será de dois anos, per-
vistas a promover o desenvolvimento econômi- mitida uma recondução, contabilizando, no máximo,
co e social do País. quatro anos de função. A presidência do conselho é
Parágrafo único. O FNDCT não se caracteriza exercida pelo ministro da ciência e tecnologia e, por
como fundo de investimentos e não se vincula ser um órgão colegiado, decidirá mediante delibera-
ao sistema financeiro e bancário nacional. ções, com quórum de maioria simples.

O art. 1º e seu parágrafo único são os típicos dispo- Da Aplicação dos Recursos
sitivos a serem explorados em relação a leis como a
ora estudada. O FNDCT é um fundo contábil e financei- Art. 11 Para fins desta Lei, constitui objeto da
ro que visa financiar a inovação e o desenvolvimento destinação dos recursos do FNDCT o apoio a
científico e tecnológico, promovendo o desenvolvi- programas, projetos e atividades de Ciência,
mento econômico e social do país. Tecnologia e Inovação (C,T&I), compreendendo a
O referido fundo não possui natureza de investi- pesquisa básica ou aplicada, a inovação, a transfe-
mentos, assim como não integra o Sistema Financei- rência de tecnologia e o desenvolvimento de novas
ro e Bancário Nacional. É de suma importância que tecnologias de produtos e processos, de bens e de
o aluno memorize as informações acima, pois são os serviços, bem como a capacitação de recursos
dispositivos com maior probabilidade de serem explo- humanos, o intercâmbio científico e tecnológico e
a implementação, manutenção e recuperação de
rados em prova.
infraestrutura de pesquisa de C,T&I.
§ 1º Os créditos orçamentários programados no
Do Conselho Diretor FNDCT não serão objeto da limitação de empenho
prevista no art. 9º da Lei Complementar nº 101, de
Art. 2º O FNDCT será administrado por 1 (um) Con- 4 de maio de 2000.
selho Diretor vinculado ao Ministério da Ciên- § 2º É vedada a imposição de quaisquer limi-
cia e Tecnologia e integrado: tes à execução da programação financeira
I - pelo Ministro de Estado da Ciência e Tecnologia; relativa às fontes vinculadas ao FNDCT, exce-
II - por 1 (um) representante do Ministério da to quando houver frustração na arrecadação
Educação; das receitas correspondentes.
III - por 1 (um) representante do Ministério do § 4º A aplicação dos recursos referidos no caput
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; deste artigo contemplará o apoio a programas,
IV - por 1 (um) representante do Ministério do Pla- projetos e atividades de C,T&I destinados à neutra-
nejamento, Orçamento e Gestão; lização das emissões de gases de efeito estufa
V - por 1 (um) representante do Ministério da do Brasil e à promoção do desenvolvimento do
Defesa; setor de bioeconomia.
VI - por 1 (um) representante do Ministério da
Fazenda; Os recursos do fundo serão destinados ao apoio
VII - pelo Presidente da Financiadora de Estudos e de projetos, programas e atividades de ciência, tec-

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


Projetos - FINEP; nologia e inovação, sendo vedada a imposição de
VIII - pelo Presidente do Conselho Nacional de limites à execução de tal programação financeira,
Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq; ressalvada a situação em que houver falta de dotação
IX - pelo Presidente do Banco Nacional de Desenvol- orçamentária.
vimento Econômico e Social - BNDES; Dentre os setores que receberão os repasses do
X - por 3 (três) representantes do setor empresarial, fundo, há destaque expresso para as atividades des-
preferencialmente ligados à área tecnológica, sen- tinadas à neutralização das emissões de gases de efei-
do 1 (um) representativo do segmento de microem-
to estufa, além das voltadas à promoção do setor de
presas e pequenas empresas;
bioeconomia, demonstrando um interesse do poder
XI - por 3 (três) representantes da comunidade
público sobre o setor.
científica e tecnológica;
XII - por 1 (um) representante dos trabalhadores da
Art. 13 As despesas operacionais, de planeja-
área de ciência e tecnologia; e
mento, prospecção, acompanhamento, avaliação e
XIII - pelo Presidente da Empresa Brasileira de Pes-
divulgação de resultados, relativas ao financiamen-
quisa Agropecuária - EMBRAPA.
to de atividades de pesquisa científica e desenvol-
vimento tecnológico das Programações Específicas
O Conselho Diretor do FNDCT é vinculado ao do FNDCT não poderão ultrapassar o montan-
Ministério da Ciência e Tecnologia, sendo composto te correspondente a 5% (cinco por cento) dos
na forma do artigo acima, contudo, não é necessário recursos arrecadados anualmente nas respec-
que o aluno memorize sua composição. tivas fontes de receitas, observado o limite fixado
anualmente por ato do Conselho Diretor. 171
Art. 14 Os recursos do FNDCT poderão financiar as ações transversais, identificadas com as diretrizes da Polí-
tica Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação e com as prioridades da Política Industrial e Tecnológica Nacional.
§ 1º Para efeito do disposto no caput deste artigo, consideram-se ações transversais aquelas que, relaciona-
das com a finalidade geral do FNDCT, são financiadas por recursos de mais de um Fundo Setorial, não
necessitando estar vinculadas à destinação setorial específica prevista em lei.
§ 2º Os recursos de que trata o caput deste artigo serão objeto de programação orçamentária em categorias espe-
cíficas do FNDCT.

Assim como o art. 1º, os dispositivos acima possuem maior probabilidade de serem cobrados em provas de
concurso.
As despesas operacionais não poderão ultrapassar 5% da arrecadação do FNDCT, evitando um dispêndio com
custos de manutenção em prol de que os valores sejam direcionados às atividades e pesquisas em si.
É possível que o FNDCT financie ações transversais, assim consideradas aquelas que recebam verbas de mais
de um fundo. Atividades transversais são aquelas que dizem respeito a mais de uma área de atuação, são inter-
disciplinares, de modo que, ainda que o objetivo principal não seja a ciência e tecnologia, encontra-se interligada,
sendo possível que receba verbas do FNDCT.

INCENTIVOS À INOVAÇÃO E PESQUISA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA – LEI Nº 10.973, DE 2004, E ALTERAÇÕES

A Lei nº 10.973, de 2004, que dispõe sobre incentivos à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambien-
te produtivo e dá outras providências, tem o intuito de promover maior desenvolvimento científico e tecnológico
do país por meio de, por exemplo, um ambiente de parceria entre as empresas e as ICTs (Instituição Científica,
Tecnológica e de Inovação).
Em 2016, essa lei foi amplamente alterada pela Lei nº 13.243, de 2016, que dispõe sobre estímulos ao desenvol-
vimento científico, à pesquisa, à capacitação científica e tecnológica e à inovação.
Os motivos que conduziram à elaboração das leis supracitadas envolvem diversas constatações sobre o núme-
ro reduzido de investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D) e em patentes no país.
Vamos ver parte por parte da Lei nº 10.973, de 2004, começando pelo art. 1º:

Art. 1º Esta Lei estabelece medidas de incentivo à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente
produtivo, com vistas à capacitação tecnológica, ao alcance da autonomia tecnológica e ao desenvolvimento do
sistema produtivo nacional e regional do País, nos termos dos arts. 23, 24, 167, 200, 213, 218, 219 e 219-A da Cons-
tituição Federal.

Esquematizando:

Incentivo à inovação e à
pesquisa científica e tecnológica

Capacitação tecnológica

Autonomia tecnológica

Desenvolvimento do sistema
produtivo nacional e regional do
país

Para facilitar seu estudo, vejamos alguns dos artigos mencionados pelo art. 1º.
O inciso V, art. 23, da Constituição Federal, de 1988, traz algumas competências comuns da União, dos Esta-
dos, do Distrito Federal e dos Municípios, dentre elas:

Art. 23 […]
V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação, à ciência, à tecnologia, à pesquisa e à inovação;

Já o IX, art. 24, diz o seguinte:

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
[...]
IX - educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecnologia, pesquisa, desenvolvimento e inovação;

O art. 167 traz algumas vedações relacionadas aos orçamentos e uma das exceções é justamente (XIV, § 5º, art.
172 167):
Art. 167 […] Art. 1º […]
§ 5º A transposição, o remanejamento ou a transfe- Parágrafo único. As medidas às quais se refere o
rência de recursos de uma categoria de programa- caput deverão observar os seguintes princípios:
ção para outra poderão ser admitidos, no âmbito I - promoção das atividades científicas e tecno-
das atividades de ciência, tecnologia e inova- lógicas como estratégicas para o desenvolvimento
ção, com o objetivo de viabilizar os resultados de econômico e social;
projetos restritos a essas funções, mediante ato do II - promoção e continuidade dos processos de
Poder Executivo, sem necessidade da prévia autori- desenvolvimento científico, tecnológico e de
zação legislativa prevista no inciso VI deste artigo. inovação, assegurados os recursos humanos, eco-
nômicos e financeiros para tal finalidade;
O art. 200 fala sobre as competências do sistema III - redução das desigualdades regionais;
único de saúde (SUS), dentre elas: IV - descentralização das atividades de ciência,
tecnologia e inovação em cada esfera de governo,
com desconcentração em cada ente federado;
Art. 200 Ao sistema único de saúde compete, além
V - promoção da cooperação e interação entre os
de outras atribuições, nos termos da lei:
entes públicos, entre os setores público e privado e
[…]
entre empresas;
V - incrementar, em sua área de atuação, o desen-
VI - estímulo à atividade de inovação nas Institui-
volvimento científico e tecnológico e a inovação.
ções Científica, Tecnológica e de Inovação (ICTs)
e nas empresas, inclusive para a atração, a cons-
Já o art. 213 fala sobre os recursos públicos desti- tituição e a instalação de centros de pesquisa,
nados às escolas públicas: desenvolvimento e inovação e de parques e polos
tecnológicos no País;
Art. 213 Os recursos públicos serão destinados às VII - promoção da competitividade empresarial nos
escolas públicas, podendo ser dirigidos a escolas mercados nacional e internacional;
comunitárias, confessionais ou filantrópicas, defi- VIII - incentivo à constituição de ambientes favo-
nidas em lei, que: ráveis à inovação e às atividades de transferência
[…] de tecnologia;
§ 2º As atividades de pesquisa, de extensão e de IX - promoção e continuidade dos processos de for-
estímulo e fomento à inovação realizadas por mação e capacitação científica e tecnológica;
universidades e/ou por instituições de educação X - fortalecimento das capacidades operacional,
profissional e tecnológica poderão receber apoio científica, tecnológica e administrativa das ICTs;
financeiro do Poder Público. XI - atratividade dos instrumentos de fomento e
de crédito, bem como sua permanente atualização
O art. 218 diz: e aperfeiçoamento;
XII - simplificação de procedimentos para ges-
Art. 218 O Estado promoverá e incentivará o desen- tão de projetos de ciência, tecnologia e inovação e
volvimento científico, a pesquisa, a capacitação adoção de controle por resultados em sua avaliação;
científica e tecnológica e a inovação. XIII - utilização do poder de compra do Estado
para fomento à inovação;
XIV - apoio, incentivo e integração dos inventores
Por fim, o art. 219 e art. 219-A nos dizem o seguinte:
independentes às atividades das ICTs e ao sistema
produtivo.
Art. 219 O mercado interno integra o patrimônio
nacional e será incentivado de modo a viabilizar
o desenvolvimento cultural e sócio-econômico, o
Algumas definições importantes trazidas nessa lei
bem-estar da população e a autonomia tecnoló- estão no art. 2º:
gica do País, nos termos de lei federal.
Parágrafo único. O Estado estimulará a formação e Art. 2º Para os efeitos desta Lei, considera-se:
o fortalecimento da inovação nas empresas, bem I - agência de fomento: órgão ou instituição de

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


como nos demais entes, públicos ou privados, a cons- natureza pública ou privada que tenha entre os
tituição e a manutenção de parques e polos tecnológi- seus objetivos o financiamento de ações que visem
cos e de demais ambientes promotores da inovação, a estimular e promover o desenvolvimento da ciên-
a atuação dos inventores independentes e a criação, cia, da tecnologia e da inovação;
absorção, difusão e transferência de tecnologia. II - criação: invenção, modelo de utilidade, dese-
Art. 219-A A União, os Estados, o Distrito Fede- nho industrial, programa de computador, topogra-
ral e os Municípios poderão firmar instrumentos fia de circuito integrado, nova cultivar ou cultivar
de cooperação com órgãos e entidades públicos e essencialmente derivada e qualquer outro desen-
com entidades privadas, inclusive para o compar- volvimento tecnológico que acarrete ou possa acar-
retar o surgimento de novo produto, processo ou
tilhamento de recursos humanos especializados e
aperfeiçoamento incremental, obtida por um ou
capacidade instalada, para a execução de projetos
mais criadores;
de pesquisa, de desenvolvimento científico e
III - criador: pessoa física que seja inventora,
tecnológico e de inovação, mediante contraparti-
obtentora ou autora de criação;
da financeira ou não financeira assumida pelo ente
III-A - incubadora de empresas: organização ou
beneficiário, na forma da lei.
estrutura que objetiva estimular ou prestar apoio
logístico, gerencial e tecnológico ao empreendedo-
Vejam que diversos artigos da Constituição Fede- rismo inovador e intensivo em conhecimento, com
ral, de 1988, respaldam o apoio tecnológico e científico. o objetivo de facilitar a criação e o desenvolvimento
Agora voltemos à Lei nº 10.973, de 2004, propria- de empresas que tenham como diferencial a realiza-
mente dita. As medidas citadas no art. 1º, mencio- ção de atividades voltadas à inovação;
nado anteriormente, devem observar os seguintes IV - inovação: introdução de novidade ou aper-
princípios: feiçoamento no ambiente produtivo e social que 173
resulte em novos produtos, serviços ou processos humanos, laboratórios e equipamentos organiza-
ou que compreenda a agregação de novas funciona- dos e com predisposição ao intercâmbio entre os
lidades ou características a produto, serviço ou pro- entes envolvidos para consolidação, marketing e
cesso já existente que possa resultar em melhorias comercialização de novas tecnologias; (Incluído
e em efetivo ganho de qualidade ou desempenho; pela Lei nº 13.243, de 2016)
V - Instituição Científica, Tecnológica e de Inovação XII - extensão tecnológica: atividade que auxilia no
(ICT): órgão ou entidade da administração públi- desenvolvimento, no aperfeiçoamento e na difusão
ca direta ou indireta ou pessoa jurídica de direito de soluções tecnológicas e na sua disponibilização
privado sem fins lucrativos legalmente constituí- à sociedade e ao mercado;
da sob as leis brasileiras, com sede e foro no País, XIII - bônus tecnológico: subvenção a microem-
que inclua em sua missão institucional ou em seu presas e a empresas de pequeno e médio porte,
objetivo social ou estatutário a pesquisa básica ou com base em dotações orçamentárias de órgãos
aplicada de caráter científico ou tecnológico ou o e entidades da administração pública, destina-
desenvolvimento de novos produtos, serviços ou da ao pagamento de compartilhamento e uso de
processos; infraestrutura de pesquisa e desenvolvimento tec-
nológicos, de contratação de serviços tecnológi-
Dica cos especializados, ou transferência de tecnologia,
quando esta for meramente complementar àqueles
É considerada ICT (Instituição Científica, Tecno- serviços, nos termos de regulamento;
lógica e de Inovação) qualquer órgão ou entida- XIV - capital intelectual: conhecimento acumula-
de pública ou privada, sem fins lucrativos, que do pelo pessoal da organização, passível de apli-
inclui, na respectiva missão, a pesquisa básica cação em projetos de pesquisa, desenvolvimento e
inovação.
ou aplicada e o desenvolvimento tecnológico
de novos produtos, serviços ou processos. Esse
Outro ponto semelhante, que já caiu em prova,
tema já foi objeto de cobrança em prova.
diz sobre as modificações sofridas pelo conceito de
ICT. Antes da mudança, a ICT era definida como órgão
[…]
ou entidade da administração pública que tivesse
VI - Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT): estru-
tura instituída por uma ou mais ICTs, com ou sem
por missão institucional, dentre outras, executar ativi-
personalidade jurídica própria, que tenha por fina- dades de pesquisa básica ou aplicada, de caráter cien-
lidade a gestão de política institucional de inovação tífico ou tecnológico. Porém, após a mudança, passou
e por competências mínimas as atribuições previs- a ser:
tas nesta Lei;
z Órgão ou entidade da administração pública dire-
Vale destacar que a principal finalidade do NIT é ta ou indireta;
apoiar a gestão política de inovação da ICT Pública. z Pessoa jurídica de direito privado sem fins lucra-
tivos legalmente constituídas sob as leis brasilei-
[…] ras (esse ponto foi adicionado na mudança);
VII - fundação de apoio: fundação criada com a fina- z Que inclua em sua missão institucional ou em seu
lidade de dar apoio a projetos de pesquisa, ensino e objetivo social ou estatutário o desenvolvimento
extensão, projetos de desenvolvimento institucio- de novos produtos, serviços ou processos.
nal, científico, tecnológico e projetos de estímulo à
inovação de interesse das ICTs, registrada e creden- Quanto ao capítulo II, que fala sobre do estímulo à
ciada no Ministério da Educação e no Ministério da construção de ambientes especializados e cooperati-
Ciência, Tecnologia e Inovação, nos termos da Lei vos de inovação, observe o que diz o art. 3º:
nº 8.958, de 20 de dezembro de 1994, e das demais
legislações pertinentes nas esferas estadual, distri- Art. 3º A União, os Estados, o Distrito Fede-
tal e municipal; ral, os Municípios e as respectivas agências de
VIII - pesquisador público: ocupante de cargo públi- fomento poderão estimular e apoiar a constitui-
co efetivo, civil ou militar, ou detentor de função ção de alianças estratégicas e o desenvolvimen-
ou emprego público que realize, como atribuição to de projetos de cooperação envolvendo empresas,
funcional, atividade de pesquisa, desenvolvimento ICTs e entidades privadas sem fins lucrativos volta-
e inovação; (Redação pela Lei nº 13.243, de 2016)
dos para atividades de pesquisa e desenvolvimento,
IX - inventor independente: pessoa física, não ocu-
que objetivem a geração de produtos, proces-
pante de cargo efetivo, cargo militar ou emprego
sos e serviços inovadores e a transferência e a
público, que seja inventor, obtentor ou autor de
difusão de tecnologia.
criação.
Parágrafo único. O apoio previsto no caput poderá con-
X - parque tecnológico: complexo planejado de
templar as redes e os projetos internacionais de pesquisa
desenvolvimento empresarial e tecnológico, pro-
tecnológica, as ações de empreendedorismo tecnológico
motor da cultura de inovação, da competitividade
e de criação de ambientes de inovação, inclusive incuba-
industrial, da capacitação empresarial e da promo-
doras e parques tecnológicos, e a formação e a capacita-
ção de sinergias em atividades de pesquisa científi-
ção de recursos humanos qualificados.
ca, de desenvolvimento tecnológico e de inovação,
entre empresas e uma ou mais ICTs, com ou sem
vínculo entre si; (Incluído pela Lei nº 13.243, de Esse apoio poderá contemplar:
2016)
XI - polo tecnológico: ambiente industrial e tecno- z As redes e os projetos internacionais de pesqui-
lógico caracterizado pela presença dominante de sa tecnológica;
micro, pequenas e médias empresas com áreas cor- z As ações de empreendedorismo tecnológico e
relatas de atuação em determinado espaço geográ- de criação de ambientes de inovação, inclusive
174 fico, com vínculos operacionais com ICT, recursos incubadoras e parques tecnológicos;
z E a formação e a capacitação de recursos huma- Art. 3º-D A União, os Estados, o Distrito Federal,
nos qualificados. os Municípios e as respectivas agências de fomento
manterão programas específicos para as microem-
Além disso, é possível a celebração de convênios presas e para as empresas de pequeno porte, obser-
e contratos. Vejamos: vando-se o disposto na Lei Complementar nº 123,
de 14 de dezembro de 2006.
Art. 3º-A A Financiadora de Estudos e Projetos -
FINEP, como secretaria executiva do Fundo Nacio- Nos termos do caput, do art. 4º, a ICT pública
nal de Desenvolvimento Científico e Tecnológico poderá, mediante contrapartida financeira ou não
- FNDCT, o Conselho Nacional de Desenvolvimen- financeira e por prazo determinado, compartilhar
to Científico e Tecnológico - CNPq e as Agências e permitir a utilização de laboratórios, equipamentos,
Financeiras Oficiais de Fomento poderão celebrar instrumentos, entre outros materiais. Atenção ao que
convênios e contratos, nos termos do inciso XIII determina o art. 4º:
do art. 24 da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993,
por prazo determinado, com as fundações de Art. 4º A ICT pública poderá, mediante contrapar-
apoio, com a finalidade de dar apoio às IFES tida financeira ou não financeira e por prazo deter-
e demais ICTs, inclusive na gestão administrativa minado, nos termos de contrato ou convênio:
e financeira dos projetos mencionados no caput do I - compartilhar seus laboratórios, equipamentos,
art. 1º da Lei nº 8.958, de 20 de dezembro de 1994, instrumentos, materiais e demais instalações com
com a anuência expressa das instituições apoiadas. ICT ou empresas em ações voltadas à inovação
tecnológica para consecução das atividades de
Ademais, a União, os Estados, o Distrito Federal, os incubação, sem prejuízo de sua atividade finalística;
Municípios, as respectivas agências de fomento e as II - permitir a utilização de seus laboratórios,
ICTs poderão apoiar a criação, a implantação e a con- equipamentos, instrumentos, materiais e demais
instalações existentes em suas próprias dependên-
solidação de ambientes promotores da inovação,
cias por ICT, empresas ou pessoas físicas volta-
incluídos parques e polos tecnológicos e incubadoras
das a atividades de pesquisa, desenvolvimento
de empresas, como forma de incentivar o desenvolvi- e inovação, desde que tal permissão não interfi-
mento tecnológico, o aumento da competitividade e a ra diretamente em sua atividade-fim nem com ela
interação entre as empresas e as ICTs. conflite;
III - permitir o uso de seu capital intelectual em
Dica projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação.
Parágrafo único. O compartilhamento e a permis-
Lembrem-se: ambientes promotores da inova- são de que tratam os incisos I e II do caput obede-
ção incluem parques tecnológicos, polos tecno- cerão às prioridades, aos critérios e aos requisitos
lógicos e incubadoras de empresas. aprovados e divulgados pela ICT pública, observa-
das as respectivas disponibilidades e assegurada a
Outrossim, a União, os Estados, o Distrito Federal, igualdade de oportunidades a empresas e demais
os Municípios, as respectivas agências de fomento e as organizações interessadas.
ICTs públicas poderão (§ 2º, art. 3º-B):
Esquematizando o exposto:
Art. 3-B […]
§ 2º Para os fins previstos no caput, a União, os Compartilhar Com ICT
Estados, o Distrito Federal, os Municípios, as res- seus
laboratórios,
pectivas agências de fomento e as ICTs públicas
equipamentos, Ou empresas
poderão: instrumentos, em ações
I - ceder o uso de imóveis para a instalação e a con- materiais voltadas à
solidação de ambientes promotores da inovação, e demais inovação

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


diretamente às empresas e às ICTs interessadas ou instalações tecnológica
por meio de entidade com ou sem fins lucrativos que
A ICT PÚBLICA, Permitir a
tenha por missão institucional a gestão de parques utilização
Por ICT,
POR PRAZO empresas
e polos tecnológicos e de incubadora de empresas, de seus
DETERMINADO, ou pessoas
mediante contrapartida obrigatória, financeira ou PODERÁ: laboratórios,
físicas voltadas
não financeira, na forma de regulamento; equipamentos,
a atividades
II - participar da criação e da governança das instrumentos,
de pesquisa,
entidades gestoras de parques tecnológicos ou de materiais
desenvolvimento
e demais
incubadoras de empresas, desde que adotem meca- instalações
e inovação
nismos que assegurem a segregação das funções de
financiamento e de execução. Em projetos
Permitir o uso
de pesquisa,
de seu capital
desenvolvimento
Além do mais, vejamos outros dispositivos: intelectual
e inovação

Art. 3º-C A União, os Estados, o Distrito Federal e


os Municípios estimularão a atração de centros de Outro artigo muito importante e que pode vir
pesquisa e desenvolvimento de empresas estran- como pegadinha é o seguinte:
geiras, promovendo sua interação com ICTs e
empresas brasileiras e oferecendo-lhes o acesso aos Art. 5º São a União e os demais entes federa-
instrumentos de fomento, visando ao adensamento tivos e suas entidades autorizados, nos termos
do processo de inovação no País. de regulamento, a participar minoritariamente
do capital social de empresas, com o propósito de 175
desenvolver produtos ou processos inovadores O art. 12 traz uma vedação muito importante:
que estejam de acordo com as diretrizes e priorida-
des definidas nas políticas de ciência, tecnologia, Art. 12 É vedado a dirigente, ao criador ou a
inovação e de desenvolvimento industrial de cada qualquer servidor, militar, empregado ou pres-
esfera de governo. tador de serviços de ICT divulgar, noticiar ou
publicar qualquer aspecto de criações de cujo
desenvolvimento tenha participado diretamente ou
Importante! tomado conhecimento por força de suas atividades,
sem antes obter expressa autorização da ICT.
União, demais entes federativos e suas enti-
dades são autorizados a participar, minorita- Outro ponto importante:
riamente, do capital social de empresas, com o
propósito de desenvolver produtos ou proces- Art. 13 É assegurada ao criador participação míni-
sos inovadores. ma de 5% (cinco por cento) e máxima de 1/3 (um
terço) nos ganhos econômicos, auferidos pela ICT,
resultantes de contratos de transferência de tecno-
§ 1º A propriedade intelectual sobre os resultados logia e de licenciamento para outorga de direito de
obtidos pertencerá à empresa, na forma da legisla- uso ou de exploração de criação protegida da qual
ção vigente e de seus atos constitutivos. tenha sido o inventor, obtentor ou autor.
§ 2º O poder público poderá condicionar a partici- […]
pação societária via aporte de capital à previsão § 2º Entende-se por ganho econômico toda forma
de licenciamento da propriedade intelectual para de royalty ou de remuneração ou quaisquer
atender ao interesse público. benefícios financeiros resultantes da exploração
§ 3º A alienação dos ativos da participação societá- direta ou por terceiros da criação protegida, deven-
ria referida no caput dispensa realização de licita- do ser deduzidos:
ção, conforme legislação vigente. I - na exploração direta e por terceiros, as despesas,
§ 4º Os recursos recebidos em decorrência da alie- os encargos e as obrigações legais decorrentes
nação da participação societária referida no caput da proteção da propriedade intelectual;
deverão ser aplicados em pesquisa e desenvolvi- II - na exploração direta, os custos de produção
mento ou em novas participações societárias. da ICT.
§ 5º Nas empresas a que se refere o caput, o estatu-
to ou contrato social poderá conferir às ações ou Em resumo, ganho econômico (royalty, remune-
quotas detidas pela União ou por suas entidades ração ou quaisquer benefícios financeiros):
poderes especiais, inclusive de veto às deliberações
dos demais sócios nas matérias que especificar. z (-) Encargos e as obrigações legais;
§ 6º A participação minoritária de que trata o caput
z (-) Custos de produção da ICT.
dar-se-á por meio de contribuição financeira ou não
financeira, desde que economicamente mensurável,
Outro ponto que também já apareceu em prova:
e poderá ser aceita como forma de remuneração
pela transferência de tecnologia e pelo licenciamento
Art. 14 Para a execução do disposto nesta Lei, ao
para outorga de direito de uso ou de exploração de
pesquisador público é facultado o afastamen-
criação de titularidade da União e de suas entidades.
to para prestar colaboração a outra ICT, nos
termos do inciso II do art. 93 da Lei nº 8.112, de 11
O capítulo III trata do estímulo à participação
de dezembro de 1990, observada a conveniência da
das ICTs no processo de inovação. Observe alguns ICT de origem.
pontos importantes: § 1º As atividades desenvolvidas pelo pesquisador
público, na instituição de destino, devem ser com-
Art. 6º É facultado à ICT pública celebrar con- patíveis com a natureza do cargo efetivo, cargo
trato de transferência de tecnologia e de licen- militar ou emprego público por ele exercido na ins-
ciamento para outorga de direito de uso ou de tituição de origem, na forma do regulamento.
exploração de criação por ela desenvolvida isola- § 2º Durante o período de afastamento de que trata
damente ou por meio de parceria. o caput deste artigo, são assegurados ao pesquisa-
[…] dor público o vencimento do cargo efetivo, o soldo
Art. 7º A ICT poderá obter o direito de uso ou de do cargo militar ou o salário do emprego público
exploração de criação protegida. […] da instituição de origem, acrescido das vantagens
Art. 8º É facultado à ICT prestar a instituições pecuniárias permanentes estabelecidas em lei, bem
públicas ou privadas serviços técnicos espe- como progressão funcional e os benefícios do plano
cializados compatíveis com os objetivos desta de seguridade social ao qual estiver vinculado.
Lei, nas atividades voltadas à inovação e à pesqui- § 3º As gratificações específicas do pesquisador
sa científica e tecnológica no ambiente produtivo, público em regime de dedicação exclusiva, inclusive
visando, entre outros objetivos, à maior competiti- aquele enquadrado em plano de carreiras e cargos
vidade das empresas. de magistério, serão garantidas, na forma do § 2º
Art. 9º É facultado à ICT celebrar acordos de deste artigo, quando houver o completo afastamen-
parceria com instituições públicas e privadas to de ICT pública para outra ICT, desde que seja de
para realização de atividades conjuntas de pesqui- conveniência da ICT de origem.
sa científica e tecnológica e de desenvolvimento de § 4º No caso de pesquisador público em instituição
tecnologia, produto, serviço ou processo. militar, seu afastamento estará condicionado à auto-
rização do Comandante da Força à qual se subordine
176 a instituição militar a que estiver vinculado.
O art. 14 afirma que, ao pesquisador público, é Sobre o Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT):
facultado o afastamento para prestar colaboração a
outra ICT, observada a conveniência da ICT de origem. Art. 16 Para apoiar a gestão de sua política de ino-
O art. 14-A, por sua vez, fala sobre como se dará a vação, a ICT pública deverá dispor de Núcleo de
participação em projetos daqueles pesquisadores com Inovação Tecnológica, próprio ou em associação
vínculo nas instituições públicas. Vale destacar que com outras ICTs.
este artigo já caiu em prova, portanto, observe: § 1º São competências do Núcleo de Inovação Tec-
nológica a que se refere o caput, entre outras:
Art. 14-A O pesquisador público em regime de I - zelar pela manutenção da política institucional de
dedicação exclusiva, inclusive aquele enquadra- estímulo à proteção das criações, licenciamento, ino-
do em plano de carreiras e cargos de magistério, vação e outras formas de transferência de tecnologia;
poderá exercer atividade remunerada de pesquisa, II - avaliar e classificar os resultados decorrentes
desenvolvimento e inovação em ICT ou em empre- de atividades e projetos de pesquisa para o atendi-
sa e participar da execução de projeto aprovado ou mento das disposições desta Lei;
III - avaliar solicitação de inventor independente
custeado com recursos previstos nesta Lei, desde
para adoção de invenção na forma do art. 22;
que observada a conveniência do órgão de origem
IV - opinar pela conveniência e promover a prote-
e assegurada a continuidade de suas atividades de
ção das criações desenvolvidas na instituição;
ensino ou pesquisa nesse órgão, a depender de sua
V - opinar quanto à conveniência de divulgação das
respectiva natureza.
criações desenvolvidas na instituição, passíveis de
proteção intelectual;
Outro ponto importante: VI - acompanhar o processamento dos pedidos e a
manutenção dos títulos de propriedade intelectual
Art. 15 A critério da administração pública, na for- da instituição.
ma do regulamento, poderá ser concedida ao pes- VII - desenvolver estudos de prospecção tecnológi-
quisador público, desde que não esteja em estágio ca e de inteligência competitiva no campo da pro-
probatório, licença sem remuneração para cons- priedade intelectual, de forma a orientar as ações
tituir empresa com a finalidade de desenvolver ati- de inovação da ICT;
vidade empresarial relativa à inovação. VIII - desenvolver estudos e estratégias para a
§ 1º A licença a que se refere o caput deste artigo transferência de inovação gerada pela ICT;
dar-se-á pelo prazo de até 3 (três) anos consecuti- IX - promover e acompanhar o relacionamento da
vos, renovável por igual período. ICT com empresas, em especial para as atividades
previstas nos arts. 6º a 9º ;
O art. 15-A nos diz que a ICT de direito público X - negociar e gerir os acordos de transferência de
deverá instituir sua política de inovação, em con- tecnologia oriunda da ICT.
sonância com as prioridades da política nacional de § 2º A representação da ICT pública, no âmbito de
ciência, tecnologia e inovação e com a política indus- sua política de inovação, poderá ser delegada ao
trial e tecnológica nacional. Veja: gestor do Núcleo de Inovação Tecnológica.
§ 3º O Núcleo de Inovação Tecnológica poderá ser
Art. 15-A A ICT de direito público deverá instituir constituído com personalidade jurídica própria,
sua política de inovação, dispondo sobre a orga- como entidade privada sem fins lucrativos.
nização e a gestão dos processos que orientam a § 4º Caso o Núcleo de Inovação Tecnológica seja
transferência de tecnologia e a geração de inova- constituído com personalidade jurídica própria, a
ção no ambiente produtivo, em consonância com as ICT deverá estabelecer as diretrizes de gestão e as
prioridades da política nacional de ciência, tecnolo- formas de repasse de recursos.
gia e inovação e com a política industrial e tecno- § 5º Na hipótese do § 3º , a ICT pública é autorizada
lógica nacional. a estabelecer parceria com entidades privadas sem
Parágrafo único. A política a que se refere o caput fins lucrativos já existentes, para a finalidade pre-
deverá estabelecer diretrizes e objetivos: vista no caput.

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


I - estratégicos de atuação institucional no ambien-
te produtivo local, regional ou nacional; Por fim, o art. 17 diz o seguinte:
II - de empreendedorismo, de gestão de incubado-
ras e de participação no capital social de empresas; Art. 17 A ICT pública deverá, na forma de regula-
III - para extensão tecnológica e prestação de ser- mento, prestar informações ao Ministério da Ciên-
viços técnicos; cia, Tecnologia e Inovação.
IV - para compartilhamento e permissão de uso
por terceiros de seus laboratórios, equipamentos, O capítulo IV fala sobre o estímulo à inovação nas
recursos humanos e capital intelectual; empresas. Observe na íntegra o art. 19:
V - de gestão da propriedade intelectual e de trans-
ferência de tecnologia; Art. 19 A União, os Estados, o Distrito Federal, os
VI - para institucionalização e gestão do Núcleo de Municípios, as ICTs e suas agências de fomento pro-
Inovação Tecnológica; moverão e incentivarão a pesquisa e o desenvolvi-
VII - para orientação das ações institucionais de mento de produtos, serviços e processos inovadores
capacitação de recursos humanos em empreende- em empresas brasileiras e em entidades brasileiras
dorismo, gestão da inovação, transferência de tec- de direito privado sem fins lucrativos, mediante a
nologia e propriedade intelectual; concessão de recursos financeiros, humanos, mate-
VIII - para estabelecimento de parcerias para riais ou de infraestrutura a serem ajustados em
desenvolvimento de tecnologias com inventores instrumentos específicos e destinados a apoiar ati-
independentes, empresas e outras entidades. vidades de pesquisa, desenvolvimento e inovação,
para atender às prioridades das políticas industrial
e tecnológica nacional 177
§ 1º As prioridades da política industrial e tecno- § 7º A União, os Estados, o Distrito Federal e os
lógica nacional de que trata o caput deste artigo Municípios poderão utilizar mais de um instrumen-
serão estabelecidas em regulamento. to de estímulo à inovação a fim de conferir efetivi-
§ 2º-A. São instrumentos de estímulo à inova- dade aos programas de inovação em empresas.
ção nas empresas, quando aplicáveis, entre § 8º Os recursos destinados à subvenção econômica
outros: serão aplicados no financiamento de atividades de
I - subvenção econômica; pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação
II - financiamento; em empresas, admitida sua destinação para despe-
III - participação societária; sas de capital e correntes, desde que voltadas pre-
IV - bônus tecnológico; ponderantemente à atividade financiada.
V - encomenda tecnológica;
VI - incentivos fiscais; O capítulo V fala sobre o estímulo ao inventor
VII - concessão de bolsas; independente. Observe o art. 22:
VIII - uso do poder de compra do Estado;
IX - fundos de investimentos; Art. 22 Ao inventor independente que comprove
X - fundos de participação; depósito de pedido de patente é facultado solicitar
XI - títulos financeiros, incentivados ou não; a adoção de sua criação por ICT pública, que deci-
XII - previsão de investimento em pesquisa e desen- dirá quanto à conveniência e à oportunidade da soli-
volvimento em contratos de concessão de serviços citação e à elaboração de projeto voltado à avaliação
públicos ou em regulações setoriais. da criação para futuro desenvolvimento, incubação,
§ 3º A concessão da subvenção econômica previs- utilização, industrialização e inserção no mercado.
ta no § 1º deste artigo implica, obrigatoriamente,
a assunção de contrapartida pela empresa benefi- Sobre o apoio ao inventor independente:
ciária, na forma estabelecida nos instrumentos de
ajuste específicos.
Art. 22-A A União, os Estados, o Distrito Federal, os
§ 4º O Poder Executivo regulamentará a subvenção
Municípios, as agências de fomento e as ICTs públi-
econômica de que trata este artigo, assegurada a
cas poderão apoiar o inventor independente que
destinação de percentual mínimo dos recursos do
comprovar o depósito de patente de sua criação,
Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e
entre outras formas, por meio de:
Tecnológico - FNDCT.
I - análise da viabilidade técnica e econômica do
§ 5º Os recursos de que trata o § 4º deste artigo
objeto de sua invenção;
serão objeto de programação orçamentária em
II - assistência para transformação da invenção em
categoria específica do FNDCT, não sendo obriga-
produto ou processo com os mecanismos financei-
tória sua aplicação na destinação setorial originá-
ros e creditícios dispostos na legislação;
ria, sem prejuízo da alocação de outros recursos do
III - assistência para constituição de empresa que
FNDCT destinados à subvenção econômica.
produza o bem objeto da invenção;
§ 6º As iniciativas de que trata este artigo poderão
IV - orientação para transferência de tecnologia
ser estendidas a ações visando a:
para empresas já constituídas
I - apoio financeiro, econômico e fiscal direto a
empresas para as atividades de pesquisa, desenvol-
vimento e inovação tecnológica; O capítulo VI fala sobre os fundos de investimento:
II - constituição de parcerias estratégicas e desen-
volvimento de projetos de cooperação entre ICT e Art. 23 Fica autorizada a instituição de fundos
empresas e entre empresas, em atividades de pes- mútuos de investimento em empresas cuja ativi-
quisa e desenvolvimento, que tenham por obje- dade principal seja a inovação, caracterizados
tivo a geração de produtos, serviços e processos pela comunhão de recursos captados por meio do
inovadores; sistema de distribuição de valores mobiliários, na
III - criação, implantação e consolidação de incuba- forma da Lei nº 6.385, de 7 de dezembro de 1976,
doras de empresas, de parques e polos tecnológicos destinados à aplicação em carteira diversificada de
e de demais ambientes promotores da inovação; valores mobiliários de emissão dessas empresas.
IV - implantação de redes cooperativas para inova-
ção tecnológica; Por fim, o art. 27 afirma que, na aplicação do
V - adoção de mecanismos para atração, criação e disposto nessa Lei, serão observadas as seguintes
consolidação de centros de pesquisa e desenvolvi- diretrizes:
mento de empresas brasileiras e estrangeiras;
VI - utilização do mercado de capitais e de crédito Art. 27 Na aplicação do disposto nesta Lei, serão
em ações de inovação; observadas as seguintes diretrizes:
VII - cooperação internacional para inovação e I - priorizar, nas regiões menos desenvolvidas
para transferência de tecnologia; do País e na Amazônia, ações que visem a dotar a
VIII - internacionalização de empresas brasileiras pesquisa e o sistema produtivo regional de maiores
por meio de inovação tecnológica; recursos humanos e capacitação tecnológica;
IX - indução de inovação por meio de compras II - atender a programas e projetos de estímulo à ino-
públicas; vação na indústria de defesa nacional e que ampliem
X - utilização de compensação comercial, industrial a exploração e o desenvolvimento da Zona Econômi-
e tecnológica em contratações públicas; ca Exclusiva (ZEE) e da Plataforma Continental;
XI - previsão de cláusulas de investimento em pes- III - assegurar tratamento diferenciado, favorecido
quisa e desenvolvimento em concessões públicas e e simplificado às microempresas e às empresas de
em regimes especiais de incentivos econômicos; pequeno porte;
XII - implantação de solução de inovação para IV - dar tratamento preferencial, diferenciado e favo-
apoio e incentivo a atividades tecnológicas ou de recido, na aquisição de bens e serviços pelo poder
inovação em microempresas e em empresas de público e pelas fundações de apoio para a execu-
178 pequeno porte. ção de projetos de desenvolvimento institucional da
instituição apoiada, nos termos da Lei nº 8.958, de CAPÍTULO I — DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
20 de dezembro de 1994, às empresas que invistam
em pesquisa e no desenvolvimento de tecnologia no Art. 2º Para os fins do disposto neste Decreto,
País e às microempresas e empresas de pequeno considera-se:
porte de base tecnológica, criadas no ambiente das I - entidade gestora - entidade de direito público
atividades de pesquisa das ICTs. ou privado responsável pela gestão de ambientes
V - promover a simplificação dos procedimentos promotores de inovação;
II - ambientes promotores da inovação - espa-
para gestão dos projetos de ciência, tecnologia e ino-
ços propícios à inovação e ao empreendedorismo,
vação e do controle por resultados em sua avaliação;
que constituem ambientes característicos da econo-
VI - promover o desenvolvimento e a difusão de tec- mia baseada no conhecimento, articulam as empre-
nologias sociais e o fortalecimento da extensão tec- sas, os diferentes níveis de governo, as Instituições
nológica para a inclusão produtiva e social. Científicas, Tecnológicas e de Inovação, as agências
de fomento ou organizações da sociedade civil, e
envolvem duas dimensões:
Esquematizando em palavras-chave: a) ecossistemas de inovação - espaços que agre-
gam infraestrutura e arranjos institucionais e
culturais, que atraem empreendedores e recursos
Priorizar regiões menos desenvolvidas financeiros, constituem lugares que potencializam
do País e na Amazônia o desenvolvimento da sociedade do conhecimento
e compreendem, entre outros, parques científicos e
Ampliação a exploração e o
tecnológicos, cidades inteligentes, distritos de ino-
desenvolvimento da Zona Econômica
Exclusiva (ZEE) e da Plataforma
vação e polos tecnológicos; e
Continental b) mecanismos de geração de empreendimen-
DIRETRIZES tos - mecanismos promotores de empreendimen-
Tratamento diferenciado à tos inovadores e de apoio ao desenvolvimento de
Microempresas e às empresas de empresas nascentes de base tecnológica, que envol-
pequeno porte vem negócios inovadores, baseados em diferenciais
tecnológicos e buscam a solução de problemas ou
Simplificação dos procedimentos desafios sociais e ambientais, oferecem suporte
para transformar ideias em empreendimentos de
Inclusão produtiva e social sucesso, e compreendem, entre outros, incubado-
ras de empresas, aceleradoras de negócios, espa-
ços abertos de trabalho cooperativo e laboratórios
DECRETO Nº 9.283, DE 2018
abertos de prototipagem de produtos e processos;
III - risco tecnológico - possibilidade de insucesso
Vamos ao estudo do Decreto nº 9.283, de 2018, que no desenvolvimento de solução, decorrente de pro-
regulamenta a Lei nº 10.973, de 2004, e a Lei nº 13.243, cesso em que o resultado é incerto em função do
de 2016, além de outros atos normativos que extrapo- conhecimento técnico-científico insuficiente à épo-
lam o conteúdo de alguns editais. ca em que se decide pela realização da ação;
IV - Instituição Científica, Tecnológica e de Ino-
O presente decreto se insere nos diplomas que
vação pública - ICT pública - aquela abrangida
compõem o Novo Marco Legal da Ciência, Tecnologia pelo inciso V do caput do art. 2º da Lei nº 10.973,
e Inovação, demonstrando a sua importância para o de 2004 , integrante da administração pública dire-
certame. ta ou indireta, incluídas as empresas públicas e as
Embora o decreto seja extenso, não é todo o con- sociedades de economia mista; e
teúdo relevante para a prova. Os de maior relevância V - Instituição Científica, Tecnológica e de Ino-
vação privada - ICT privada - aquela abrangida
são os dispositivos que regulamentam as leis citadas
pelo inciso V do caput do art. 2º da Lei nº 10.973, de
no primeiro parágrafo, as quais estão inseridas em

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


2004 , constituída sob a forma de pessoa jurídica de
alguns editais. direito privado sem fins lucrativos.
Decretos regulamentares não são tão simples de
serem estudados, por possuírem muita definição de Definições previstas em atos normativos são de
termos, competências e afins, listados em róis que exi- suma importância não apenas para a prova, mas tam-
gem memorização do aluno. Entretanto, não possuem bém para a compreensão dos demais dispositivos do
jurisprudência ou questões doutrinárias a serem ana- decreto. Perceba que alguns dispositivos remetem à
Lei nº 10.973, de 2004, definindo e diferenciando as
lisadas, apenas o texto normativo, o que é uma vanta-
ICTs (instituições científicas, tecnológicas e de inova-
gem, principalmente aos que não possuem formação
ção) públicas e privadas.
jurídica, pois basta que se memorize o conteúdo para
realizar as questões. CAPÍTULO II — DO ESTÍMULO À CONSTRUÇÃO DE
É muito comum decretos regulamentares repe- AMBIENTES ESPECIALIZADOS E COOPERATIVOS
tirem o conteúdo das leis que regulamentam, o que DE INOVAÇÃO
gera uma leitura repetitiva e, muitas vezes, desneces-
sária. Os conteúdos das leis e desse decreto são com- Art. 3º A administração pública direta, autár-
plementares, motivo pelo qual o aluno, ao resolver a quica e fundacional, incluídas as agências regula-
doras, e as agências de fomento poderão estimular
questão, não precisa, necessariamente, se preocupar
e apoiar a constituição de alianças estratégicas e
com o diploma citado no enunciado: basta lembrar do o desenvolvimento de projetos de cooperação que
conteúdo em si. envolvam empresas, ICT e entidades privadas
sem fins lucrativos destinados às atividades de 179
pesquisa e desenvolvimento, que objetivem a gera- de incentivar o desenvolvimento tecnológico, o
ção de produtos, processos e serviços inovadores e aumento da competitividade e a interação entre as
a transferência e a difusão de tecnologia. empresas e as ICT.
§ 1º O apoio previsto no caput poderá contemplar: [...]
I - as redes e os projetos internacionais de pesquisa
tecnológica; A criação, implementação e consolidação de
II - as ações de empreendedorismo tecnológico e ambientes promotores da inovação (termo definido
de criação de ambientes promotores da inovação, no inciso II, art. 2º) ficam por conta da Administração
incluídos os parques e os polos tecnológicos e as
pública direta, das agências de fomento e das ICTs.
incubadoras de empresas; e
Perceba que, nesse artigo, a referência é à Adminis-
III - a formação e a capacitação de recursos huma-
nos qualificados.
tração Pública direta, não sendo citadas as entidades
da Administração Pública indireta, devendo o aluno
tomar muito cuidado com alterações nas expressões.
Conforme dito na introdução, o decreto acaba
O apoio citado pode ocorrer de várias formas,
repetindo conteúdos previstos nas leis as quais regu-
lamenta. Citamos o artigo anterior para que o aluno como, por exemplo:
perceba essa repetição e entenda que, ao realizar
questões, pode focar no conteúdo exigido, não se z pela cessão do uso de imóveis, sob o regime de ces-
preocupando, necessariamente, com a lei ou decreto são de uso de bem público;
de enunciado. z pela participação da criação e governança das
entidades gestoras dos ambientes promotores da
inovação;
Dica z pela concessão de financiamento, subvenções,
Atente-se para o fato de que o artigo não cita incentivos fiscais e tributários, entre outras for-
todas as entidades da Administração indire- mas de repasse econômico.
ta, mas apenas as autárquicas e fundacionais,
excluindo as empresas públicas e sociedades de Art. 10 Na hipótese de ambientes promotores
economia mista. da inovação que se encontrem sob a gestão de
órgãos ou entidades públicas, a instituição ges-
tora divulgará edital de seleção para a disponi-
O cerne acerca do tema é sempre a possibilidade de
bilização de espaço em prédios compartilhados
parcerias, seja com as empresas privadas que visam com pessoas jurídicas interessadas em ingressar
ao lucro, seja com as sem fins lucrativos. Além disso, nesse ambiente.
também há possibilidade de parcerias internacionais § 1º O edital de seleção deverá dispor sobre as
e do investimento na formação de recursos humanos regras para ingresso no ambiente promotor da ino-
qualificados, haja vista que não adianta investir em vação e poderá:
tecnologia se não existir mão de obra interna apta I - ser mantido aberto por prazo indeterminado; e
para os trabalhos. II - exigir que as pessoas jurídicas interessadas
apresentem propostas a serem avaliadas com
Art. 4º Ficam as ICT públicas integrantes da admi- base em critérios técnicos, sem prejuízo da rea-
nistração pública indireta, as agências de fomento, lização de entrevistas ou da utilização de métodos
as empresas públicas e as sociedades de economia similares.
mista autorizadas a participar minoritariamente
do capital social de empresas, com o propósito de Os ambientes promotores da inovação podem ser
desenvolver produtos ou processos inovadores que geridos por entidades privadas ou públicas. Nos casos
estejam de acordo com as diretrizes e as priorida- em que a gestão seja pelo poder público, a seleção
des definidas nas políticas de ciência, tecnologia,
para disponibilizar espaço em prédios públicos deve
inovação e de desenvolvimento industrial.
ser publicada em edital, com a publicação mantida
[...]
por prazo indeterminado e com as propostas sendo
As ICTs públicas que integram a Administração analisadas por critérios técnicos.
indireta, juntamente com as agências de fomento, as Em regra, editais possuem prazo determinado de
empresas públicas e as sociedades de economia mista, fixação, de modo que a banca pode alterar a expres-
poderão participar de capital social de empresas do são “indeterminado”, prevista no inciso I, por “deter-
ramo. Mas atenção: essa participação é minoritária. minado”, alteração sutil que passa despercebida ao se
Para fins de prova, detalhes podem ser até mais realizar a prova.
importantes que o conteúdo, pois as questões alteram
pequenos trechos da lei para induzir o candidato ao CAPÍTULO III — DO ESTÍMULO À PARTICIPAÇÃO
erro. Note que o artigo trata apenas das ICTs públicas DA INSTITUIÇÃO CIENTÍFICA, TECNOLÓGICA E DE
da Administração indireta, não incluindo as ICTs da INOVAÇÃO NO PROCESSO DE INOVAÇÃO
Administração direta na possibilidade citada.
Os investimentos podem ser realizados de forma Art. 11 A ICT pública poderá celebrar contrato de
direta (com ou sem coinvestimento) com investidor transferência de tecnologia e de licenciamento para
privado, ou de forma indireta, por meio de fundos de outorga de direito de uso ou de exploração de cria-
investimento constituídos de recursos próprios ou de ção por ela desenvolvida isoladamente ou por meio
terceiros para essa finalidade. de parceria.
§ 1º O contrato mencionado no caput também
Art. 6º A administração pública direta, as poderá ser celebrado com empresas que tenham,
agências de fomento e as ICT poderão apoiar em seu quadro societário, aquela ICT pública ou o
a criação, a implantação e a consolidação de pesquisador público daquela ICT, de acordo com o
180 ambientes promotores da inovação, como forma disposto na política institucional de inovação.
§ 2º A remuneração de ICT privada pela transferên- VI - a geração de conhecimentos e tecnologias ino-
cia de tecnologia e de licenciamento para outorga vadoras para o desenvolvimento nacional;
de direito de uso ou de exploração de criação por VII - participação institucional brasileira em insti-
ela desenvolvida e oriunda de pesquisa, desenvolvi- tuições internacionais ou estrangeiras envolvidas
mento e inovação não impedirá a sua classificação na pesquisa e na inovação científica e tecnológica; e
como entidade sem fins lucrativos. VIII - a negociação de ativos de propriedade intelec-
tual com entidades internacionais ou estrangeiras.
As criações desenvolvidas pelas ICTs públicas, de
forma isolada ou em parceria, poderão ser outorga- Os incentivos à ciência, tecnologia e inovação não
das para que outras entidades, públicas ou privadas, se restringem ao território nacional, até porque o Bra-
explorem a tecnologia desenvolvida. sil não é um país de destaque nas questões tecnoló-
A transferência dessa tecnologia para terceiros gicas. Inclusive, as leis estudadas para alguns editais
pode ser realizada mediante dispensa de licitação ou compõem a política pública exatamente para o cres-
diante de outra modalidade de oferta, inclusive con- cimento tecnológico.
corrência pública. Dessa forma, o intercâmbio internacional é de
É interessante destacar o conteúdo estabelecido na suma importância, tanto para a criação de tecnologias
Lei nº 10.973, de 2004, e que é reiterado no presente quanto para a formação de recursos humanos qualifi-
decreto, em que se estipula que a concessão ou licen- cados. Essa cooperação internacional deve ser regula-
ciamento do produto ao pesquisador ou criador da mentada para que seja benéfica para ambas as partes
inovação pode ocorrer de forma não onerosa, entre- envolvidas.
tanto, se direcionada a terceiros que não contribuíram A ICT pública poderá enviar maquinário ou recursos
para sua criação, deve ser exclusivamente onerosa. humanos para o exterior, desde que documentados os
prazos de permanência, as normas, as formas de paga-
Art. 15 A administração pública poderá conceder mento e o retorno do maquinário (caso seja viável).
ao pesquisador público que não esteja em estágio
probatório licença sem remuneração para consti- CAPÍTULO IV — DO ESTÍMULO À INOVAÇÃO NAS
tuir, individual ou associadamente, empresa com EMPRESAS
a finalidade de desenvolver atividade empresarial
relativa à inovação. Art. 20 A concessão da subvenção econômica
§ 1º A licença a que se refere o caput ocorrerá pelo implicará, obrigatoriamente, a assunção de con-
prazo de até três anos consecutivos, renovável por trapartida pela empresa beneficiária, na forma
igual período. estabelecida em termo de outorga específico.
[...] § 1º A concessão de recursos financeiros sob a for-
ma de subvenção econômica, financiamento ou
A disposição do art. 15 também encontra corres- participação societária, com vistas ao desenvolvi-
pondência na Lei nº 10.973, de 2004, dispondo sobre mento de produtos ou processos inovadores, será
a licença não remunerada, pelo prazo de três anos, precedida de aprovação do projeto pelo órgão ou
concedida ao pesquisador público que já seja servidor pela entidade concedente.
§ 2º Os recursos destinados à subvenção econômica
estável. Todavia, o presente decreto prevê que a licen-
serão aplicados no financiamento de atividades de
ça pode ser interrompida a qualquer tempo a pedido
pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação
do pesquisador. em empresas, admitida sua destinação para despe-
Outro ponto é a possibilidade de a ICT contratar sas de capital e correntes, desde que destinadas à
servidor temporário para substituir o licenciado, nos atividade financiada.
termos da CF, de 1988, a qual permite contratação [...]
temporária para atender a necessidade excepcional
da Administração Pública. A concessão de recursos mediante subvenção eco-
nômica possui regras específicas, as quais possuem

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


Art. 18 O poder público manterá mecanismos de grande probabilidade de serem cobradas em ques-
fomento, apoio e gestão adequados à internacio- tões. A concessão de recursos será precedida de apro-
nalização das ICT públicas, que poderão exercer vação do projeto pelo órgão ou autoridade que darão
fora do território nacional atividades relacionadas a subvenção.
com ciência, tecnologia e inovação, respeitado o
Ao afirmar que “será” precedida, o texto impõe uma
disposto em seu estatuto social ou em norma regi-
obrigação, e não mera faculdade, ou seja, sem aprova-
mental equivalente, inclusive com a celebração de
ção do projeto não haverá subvenção. Outra obrigação
acordos, convênios, contratos ou outros instrumen-
tos com entidades públicas ou privadas, estrangei-
prevista: haverá contrapartida da empresa que rece-
ras ou organismos internacionais. ber subvenção. Alterar “obrigatoriamente” por “pre-
§ 1º A atuação de ICT pública no exterior considera- ferencialmente”, ou por outra expressão que expresse
rá, entre outros objetivos: faculdade (escolha), é típica “pegadinha” em prova.
I - o desenvolvimento da cooperação internacional No termo de outorga, haverá, obrigatoriamente, a
no âmbito das ICT públicas, incluídas aquelas que descrição do projeto a ser executado, o valor total a ser
atuam no exterior; aplicado no projeto, o cronograma de desembolso e a
II - a execução de atividades de ICT pública nacio- estimativa de despesas, além da forma de execução do
nal no exterior; projeto e de cumprimento das metas a ele atreladas.
III - a alocação de recursos humanos no exterior;
IV - a contribuição no alcance das metas institucio- Art. 26 O bônus tecnológico é uma subvenção a
nais e estratégicas nacionais; microempresas e a empresas de pequeno e médio
V - a interação com organizações e grupos de exce- porte, com base em dotações orçamentárias de
lência para fortalecer as ICT públicas nacionais; órgãos e entidades da administração pública, 181
destinada ao pagamento de compartilhamento e adicionais associadas ao alcance de metas de
ao uso de infraestrutura de pesquisa e desenvol- desempenho no projeto, nos termos desta Subseção.
vimento tecnológicos, de contratação de serviços § 1º Os órgãos e as entidades da administração
tecnológicos especializados ou de transferência pública poderão utilizar diferentes modalidades
de tecnologia, quando esta for meramente comple- de remuneração de contrato de encomenda para
mentar àqueles serviços. compartilhar o risco tecnológico e contornar a
[...] dificuldade de estimar os custos de atividades de
pesquisa, desenvolvimento e inovação a partir de
O bônus tecnológico representa uma forma par- pesquisa de mercado, quais sejam:
ticular de subvenção voltada para microempresas, I - preço fixo;
pequenas e médias empresas. Nesse formato, não são II - preço fixo mais remuneração variável de
disponibilizados recursos financeiros diretamente, incentivo;
III - reembolso de custos sem remuneração
contudo, existe o compromisso de custear a provisão
adicional;
de tecnologia para essas empresas.
IV - reembolso de custos mais remuneração variá-
Assim como na subvenção anterior, também será
vel de incentivo; ou
obrigatória a contrapartida das empresas beneficia- V - reembolso de custos mais remuneração fixa de
das, podendo ser uma contraprestação financeira ou incentivo.
não financeira a critério da entidade concedente da [...]
subvenção.
As beneficiadas deverão utilizar o bônus tecnológi- O pagamento do contrato de encomenda será feito
co em até 12 meses da liberação, sob pena de perda ou de acordo com os trabalhos realizados, dentro do cro-
restituição do benefício. Ao final, haverá prestação de nograma previamente estabelecido no contrato.
contas simplificada. Visando compartilhar o risco, o contratante pode
estabelecer diversas formas de pagamento, desde que
Art. 27 Os órgãos e as entidades da administra- estipuladas em contrato — estão listadas no § 1º. O
ção pública poderão contratar diretamente ICT intuito é evitar despender valores sem ter o retorno,
pública ou privada, entidades de direito privado
dividindo o risco com a contratada. A modalidade pre-
sem fins lucrativos ou empresas, isoladamente ou
ço fixo é a “pior” modalidade para esse intuito, pois a
em consórcio, voltadas para atividades de pesqui-
contratada receberá um valor não variável.
sa e de reconhecida capacitação tecnológica no
setor, com vistas à realização de atividades de pes-
Nas demais modalidades, há um valor menor pre-
quisa, desenvolvimento e inovação que envolvam determinado, sendo o restante pago de acordo com
risco tecnológico, para solução de problema téc- os resultados obtidos, o que incentiva a contratada a
nico específico ou obtenção de produto, serviço ou alcançar os resultados almejados.
processo inovador, nos termos do art. 20 da Lei nº
10.973, de 2004 , e do inciso XXXI do art. 24 da Lei CAPÍTULO V — DOS INSTRUMENTOS JURÍDICOS DE
nº 8.666, de 1993 . PARCERIA
[...]
No presente capítulo, o decreto traz os instru-
O art. 27 trata da “encomenda tecnológica”, em que mentos jurídicos utilizados para cada caso específico,
há contratação direta (sem licitação) de ICT, empresas devendo o aluno se atentar para as hipóteses de apli-
e afins para o desenvolvimento de solução ou produto cação e suas peculiaridades, pois a banca tende a alte-
específico. Há, literalmente, uma encomenda de um rar umas pelas outras nas questões.
serviço tecnológico.
Na contratação da encomenda tecnológica, pode Art. 34 O termo de outorga é o instrumento jurídi-
haver a inclusão de valores para testes, protótipos, co utilizado para concessão de bolsas, de auxílios,
entre outros gastos necessários para a implementação de bônus tecnológico e de subvenção econômica.
ou iniciação das pesquisas. Perceba que o caput reco- [...]
nhece que é uma situação de risco tecnológico, ou seja,
pode não dar certo, motivo pelo qual esses valores pré- O instrumento denominado “termo de outorga” é o
vios se incluem no risco de a solução não ser alcançada. meio hábil para a concessão de bolsas, auxílios, bônus
Embora haja contratação direta, sem licitação, a tecnológico e subvenção econômica, devendo o aluno
escolha deve ser transparente, orientada para aquele memorizar a informação.
que possua maior probabilidade de êxito na solução, Bolsa é o aporte de recursos financeiros, em bene-
não podendo o contratante averiguar apenas o menor fício de pessoa física, que não importe contrapresta-
preço ofertado, mas, sim, competência técnica e capa- ção de serviços. É destinada à capacitação de recursos
cidade de gestão dos concorrentes. humanos ou à execução de projetos de pesquisa cien-
Se, ao decorrer das atividades, concluir-se pela tífica e tecnológica e de desenvolvimento de tecno-
inviabilidade técnica ou econômica, poderá haver a logia, produto ou processo, bem como às atividades
rescisão do contrato por ato unilateral do contratan- de extensão tecnológica, de proteção da propriedade
te ou por ato de vontade das partes envolvidas. Para intelectual e de transferência de tecnologia.
que se comprove a inviabilidade, deverá ser realizada Por outro lado, auxílio é o aporte de recursos
avaliação técnica e financeira. financeiros, em benefício de pessoa física, para pro-
jetos, participação de estudantes e pesquisadores em
Art. 29 O pagamento decorrente do contrato de eventos, editoração de revistas científicas e atividades
encomenda tecnológica será efetuado proporcio- acadêmicas em programas de pós-graduação.
nalmente aos trabalhos executados no projeto, con- No que diz respeito às subvenções econômicas e
soante o cronograma físico-financeiro aprovado, aos bônus tecnológicos, suas definições já foram anali-
182 com a possibilidade de adoção de remunerações sadas nos artigos anteriores. O aluno deve memorizar
as hipóteses em que se usará o termo de outorga, § 1º Incumbe ao convenente aplicar os recursos
assim como deve ser capaz de associar corretamente financeiros repassados por meio do convênio para
as definições de bolsa, auxílio, bônus e subvenções. pesquisa, desenvolvimento e inovação na consecu-
ção de seus objetivos e para pagamento de despesas
Art. 35 O acordo de parceria para pesquisa, previstas nos instrumentos celebrados, e será veda-
desenvolvimento e inovação é o instrumento jurí- da, em qualquer hipótese, a incorporação de tais
dico celebrado por ICT com instituições públi- recursos financeiros ao patrimônio da ICT públi-
cas ou privadas para realização de atividades ca ou privada, os quais não serão caracterizados
conjuntas de pesquisa científica e tecnológica e de como receita própria.
desenvolvimento de tecnologia, produto, serviço ou § 2º Os recursos de origem pública poderão ser
processo, sem transferência de recursos finan- aplicados de forma ampla pelos convenentes para
ceiros públicos para o parceiro privado, obser- execução do projeto aprovado, inclusive para a
vado o disposto no art. 9º da Lei nº 10.973, de 2004. aquisição de equipamentos e materiais permanen-
[...] tes, a realização de serviços de adequação de espaço
físico e a execução de obras de infraestrutura des-
O segundo instrumento jurídico previsto é o acor- tinada às atividades de pesquisa, desenvolvimen-
do de parceria, utilizado nas hipóteses de acordo to e inovação, observadas as condições previstas
entre ICTs e instituições públicas e privadas em prol expressamente na legislação aplicável e no termo
de atividades realizadas em conjunto, sem que haja de convênio e os princípios da impessoalidade, da
transferência de recursos financeiros para o parceiro. moralidade, da economicidade e da eficiência.
O aluno pode associar parceria ao fato de não
haver transferência de valores — ou seja, são parcei- O art. 45 ainda trata do convênio, mas se volta
ros nas atividades de pesquisa, não havendo contra- às responsabilidades do convenente (aquele que faz
tante e contratado e, por consequência, não havendo convênio), o que recebeu as transferências de valo-
pagamento ou transferência de valores, mas a união
res para a atividade de pesquisa. Para exemplificar,
de esforços.
no convênio há o concedente (o poder público que
O acordo de parceria não necessita de licitação ou
repassará os valores) e o convenente (que receberá os
de processo simplificado, haja vista ser parceria, sem
valores).
repasse de valores, o que torna um tanto óbvia a dis-
O dispositivo determina que as responsabilidades
pensa de licitação.
civis e trabalhistas serão exclusivas do convenente,
Art. 38 O convênio para pesquisa, desenvolvimento afastando qualquer responsabilidade do concedente.
e inovação é o instrumento jurídico celebrado entre Ademais, o artigo afasta, expressamente, qualquer
os órgãos e as entidades da União, as agências de responsabilidade do concedente por inadimplência
fomento e as ICT públicas e privadas para execu- do convenente, seja subsidiária ou solidária.
ção de projetos de pesquisa, desenvolvimento e ino- Sendo assim, o aluno deve ficar atento ao tema,
vação, com transferência de recursos financeiros pois a banca tende a afirmar que o concedente terá
públicos, observado o disposto no art. 9º-A da Lei responsabilidade conjunta ao convenente.
nº 10.973, de 2004.
[...]
CAPÍTULO VII — DA PRESTAÇÃO DE CONTAS
O convênio é o oposto do acordo de parceria no
Art. 47 A prestação de contas observará as seguin-
que diz respeito à existência de repasse de valores.
tes etapas:
Enquanto a parceria busca atividade de pesquisa em
I - monitoramento e avaliação por meio de formu-
conjunto sem transferir valores, no convênio, embora lário de resultado; e
haja atuação conjunta, haverá repasse ao parceiro. II - prestação de contas final por meio da apresen-
Por haver repasse de valores, necessita-se de pro- tação de relatório.

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


cesso seletivo promovido pela concedente nos casos § 1º O disposto neste Capítulo aplica-se aos seguin-
em que o parceiro seja entidade privada. Caso seja ICT tes instrumentos:
pública, poderá ser iniciado por apresentação de pro- I - convênio para pesquisa, desenvolvimento e
posta de projeto por iniciativa de ICT pública. inovação;
Essa diferenciação (dispensar o processo simplifi- II - termo de outorga para subvenção econômica;
cado) é permitida por se tratar de entidade pública, e
ou seja, o repasse é de verba pública para entidade III - termo de outorga de auxílio.
pública, dispensando procedimentos que visem à iso- [...]
nomia, haja vista que os valores não saem da esfera
do poder público. A prestação de contas deverá ocorrer no convênio,
termo de outorga para subvenção e termo de outorga
Art. 45 O convenente terá responsabilidade exclusi-
de auxílio. O decreto não elenca o bônus tecnológico e
va pelo gerenciamento administrativo e financeiro
dos recursos recebidos, inclusive quanto às despe-
a bolsa na prestação de contas.
sas de custeio, de investimento e de pessoal, e pelo
pagamento dos encargos trabalhistas, previden-
ciários, fiscais e comerciais relacionados à execu- Importante!
ção do objeto previsto no convênio para pesquisa,
Atenção para os instrumentos que são sujeitos
desenvolvimento e inovação, hipótese em que a ina-
dimplência do convenente em relação ao referido à prestação de contas, nos termos do art. 47, e
pagamento não implicará responsabilidade solidá- para os que não se incluem na obrigação ante-
ria ou subsidiária do concedente. riormente apontada. 183
Art. 49 O monitoramento e a avaliação deverão O concedente irá disponibilizar os meios para a
observar os objetivos, o cronograma, o orçamen- prestação de contas, de modo que, preferencialmen-
to, as metas e os indicadores previstos no plano de te, seja por meio eletrônico. Atenção para afirmações
trabalho. de que “obrigatoriamente” a prestação de contas será
Art. 50 O responsável pelo projeto deverá apresen- por meio eletrônico.
tar formulário de resultado parcial, anualmente, Conforme já dito, é extremamente comum “pega-
durante a execução do objeto, conforme definido dinhas” envolvendo alteração das expressões “prefe-
no instrumento de concessão, ou quando solicitado rencialmente” e “obrigatoriamente”.
pela instituição concedente.
§ 1º Caberá ao responsável pelo projeto manter Art. 58 A prestação de contas será simplificada,
atualizadas as informações indicadas no sistema privilegiará os resultados obtidos e compreenderá:
eletrônico de monitoramento do órgão ou da enti- I - relatório de execução do objeto, que deverá
dade, se houver. conter:
§ 2º No formulário de que trata o caput , constarão a) a descrição das atividades desenvolvidas para o
informações quanto ao cumprimento do cronogra- cumprimento do objeto;
ma e à execução do orçamento previsto, hipótese b) a demonstração e o comparativo específico das
em que deverão ser comunicadas eventuais altera- metas com os resultados alcançados; e
ções necessárias em relação ao planejamento ini- c) o comparativo das metas cumpridas e das metas
cial para a consecução do objeto do instrumento. previstas devidamente justificadas em caso de dis-
crepância, referentes ao período a que se refere a
O art. 49 traz o procedimento para a fase de moni- prestação de contas;
toramento e avaliação da prestação de contas. O resul- II - declaração de que utilizou os recursos exclusi-
tado parcial será demonstrado anualmente durante a vamente para a execução do projeto, acompanhada
execução do projeto. É muito comum a banca alterar a de comprovante da devolução dos recursos não uti-
expressão que indica a periodicidade, afirmando que lizados, se for o caso;
será semestralmente, bimestralmente etc., tornando a III - relação de bens adquiridos, desenvolvidos ou
produzidos, quando houver;
questão incorreta.
IV - avaliação de resultados; e
Compete ao concedente acompanhar e monitorar
V - demonstrativo consolidado das transposições,
a execução do projeto mediante comissão de avalia- dos remanejamentos ou das transferências de
ção composta por especialistas e por, no mínimo, um recursos efetuados, quando houver.
servidor de cargo efetivo, caso seja da Administração
direta, ou empregado público do quadro permanente, Embora a prestação de contas seja simplificada,
no âmbito da Administração indireta. deverá conter as informações anteriormente aponta-
das. Não se trata de dispositivo com alta probabilida-
Art. 57 Encerrada a vigência do instrumento, o res- de de ser cobrado em provas de concurso, porém é
ponsável pelo projeto encaminhará à concedente a necessária a leitura dos aspectos dispostos para que
prestação de contas final no prazo de até sessenta
o aluno saiba dos requisitos da prestação de contas.
dias.
§ 1º O prazo a que se refere o caput poderá ser
LEI DO BEM — LEI Nº 11.196, DE 2005, E
prorrogado por igual período, a pedido, desde que
o requerimento seja feito anteriormente ao venci-
ALTERAÇÕES
mento do prazo inicial.
§ 2º A concedente dos recursos financeiros dispo- O material a seguir aborda a Lei nº 11.196 de 2005,
nibilizará, preferencialmente, sistema eletrônico a qual institui o REPES, o RECAP e o Programa de
específico para inserção de dados com vistas à pres- Inclusão Digital (entre outros).
tação de contas, ou, na hipótese de não o possuir, a Trata-se de legislação “colcha de retalhos”, típi-
prestação de contas ocorrerá de forma manual, de ca lei brasileira que trata de muitos assuntos em um
acordo com as exigências requeridas nesta Seção. mesmo diploma legislativo, mas ao mesmo tempo não
§ 3º Se, durante a análise da prestação de contas, trata “de nada”, pois torna-se bagunçada, com inú-
a concedente verificar irregularidade ou omissão meros dispositivos revogados e assuntos que às vezes
passível de ser sanada, determinará prazo compa- sequer são conexos.
tível com o objeto, para que o beneficiário apresen- Há diversos temas na lei que não se relacionam ao
te as razões ou a documentação necessária. concurso, ligados à área tributária em diversas ativi-
§ 4º Transcorrido o prazo de que trata o § 3º, se dades. Outro fato que enseja a redução de dispositivos
não for sanada a irregularidade ou a omissão, a passíveis de cobrança é que a lei, por ser um conjunto
autoridade administrativa competente adotará as de temas desconexos, possui dispositivos que remetem
providências para a apuração dos fatos, nos termos a leis que não se encontram no edital e fogem do tema.
da legislação vigente. Portanto, o número de dispositivos que de fato
§ 5º A análise da prestação de contas final deverá interessam ao concurso são poucos, somente os pri-
ser concluída pela concedente no prazo de até um meiros capítulos interessam ao aluno, além do fato de
ano, prorrogável por igual período, justificadamen-
que muitos artigos não revogados não possuem mais
te, e, quando a complementação de dados se fizer
aplicação, por já terem sido exauridos.
necessária, o prazo poderá ser suspenso.
1- DO REGIME ESPECIAL DE TRIBUTAÇÃO PARA
A prestação de contas final será realizada em até A PLATAFORMA DE EXPORTAÇÃO DE SERVIÇOS
60 dias do término da execução, com possibilidade DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO – REPES
de prorrogação do prazo, desde que a solicitação e Art. 2º É beneficiária do Repes a pessoa jurídica
prorrogação sejam realizadas antes do término dos 60 que exerça preponderantemente as atividades
dias. de desenvolvimento de software ou de presta-
184 ção de serviços de tecnologia da informação e
que, por ocasião da sua opção pelo Repes, assuma aquisição de bens e não, necessariamente, para a
compromisso de exportação igual ou superior exportação. O intuito é facilitar a aquisição de bens de
a 50% (cinquenta por cento) de sua receita bruta empresas exportadoras; não visa redução de impos-
anual decorrente da venda dos bens e serviços de tos na exportação em si, além de não exigir atividade
que trata este artigo. específica, como ocorre no REPES.
§ 1º A receita bruta de que trata o caput deste arti-
go será considerada após excluídos os impostos e Art. 14 No caso de venda ou de importação de
contribuições incidentes sobre a venda. máquinas, aparelhos, instrumentos e equipamen-
tos, novos, fica suspensa a exigência:
O REPES visa facilitar e incentivar a exportação de I - da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins
serviços tecnológicos. Ao aderir ao regime, a empre- incidentes sobre a receita bruta da venda no merca-
sa compromete-se a possuir, pelo menos, 50% de sua do interno, quando os referidos bens forem adquiri-
receita bruta em exportação, não considerando os dos por pessoa jurídica beneficiária do Recap para
impostos e contribuições que incidem no valor para incorporação ao seu ativo imobilizado;
atingir o limite mínimo. II - da Contribuição para o PIS/Pasep-Importação
Atenção para o fato de que o regime é disponível e da Cofins-Importação, quando os referidos bens
a empresas que “preferencialmente” exerçam ativi- forem importados diretamente por pessoa jurídica
dades de desenvolvimento de software ou de presta- beneficiária do Recap para incorporação ao seu ati-
ção de serviços de tecnologia da informação. A banca vo imobilizado.
§ 1º O benefício de suspensão de que trata este arti-
tenderá a afirmar que o regime é para empresas que
go poderá ser usufruído nas aquisições e impor-
obrigatoriamente desenvolvam software, tornando a
tações realizadas no período de 3 (três) anos
questão incorreta.
contados da data de adesão ao Recap.
É vedada a adesão ao Repes de pessoa jurídica
optante do Sistema Integrado de Pagamento de Impos-
Importante! Entre os principais benefícios estão
tos e Contribuições das Microempresas e das Empre-
a suspensão dos tributos acima, por ocasião de aqui-
sas de Pequeno Porte — Simples —, não importando a
sições e importações. O § 1º possibilita uma excelente
atividade desempenhada.
“pegadinha” em prova, pois, conforme dito anterior-
mente, embora o regime se volte para empresas de
Art. 8º A pessoa jurídica beneficiária do Repes terá
exportação, os benefícios voltam-se para as aquisi-
a adesão cancelada:
ções, inclusive importações de máquinas e produtos.
I - na hipótese de descumprimento do compro-
misso de exportação de que trata o art. 2º desta Nesse sentido, a banca pode alterar “importação”
Lei; por “exportação” e induzir o aluno ao erro, pois asso-
II - sempre que se apure que o beneficiário: ciará o RECAP à exportação e tende a levar-se para
a) não satisfazia as condições ou não cumpria os afirmações de que os benefícios incorrerão nas expor-
requisitos para a adesão; ou tações das empresas que aderirem ao regime.
b) deixou de satisfazer as condições ou de cumprir As empresas optantes pelo Simples também são
os requisitos para a adesão; vedadas de aderirem ao RECAP, nos mesmos moldes
III - a pedido. do que ocorre com o REPES.

O art. 8º elenca as hipóteses em que haverá o can- 3- DOS INCENTIVOS À INOVAÇÃO TECNOLÓGICA
celamento da empresa ao REPES, perdendo os bene- Art. 17 A pessoa jurídica poderá usufruir dos
fícios que o regime oferece. Não há muito o que se seguintes incentivos fiscais:
debater, trata-se de dispositivo que o aluno deve ter I - dedução, para efeito de apuração do lucro líqui-
em mente, pois uma eventual questão indagará quais do, de valor correspondente à soma dos dispêndios
as formas de cancelamento do REPES. realizados no período de apuração com pesquisa
tecnológica e desenvolvimento de inovação tecno-
lógica classificáveis como despesas operacionais
2- DO REGIME ESPECIAL DE AQUISIÇÃO DE

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


pela legislação do Imposto sobre a Renda da Pes-
BENS DE CAPITAL PARA EMPRESAS EXPORTA-
soa Jurídica - IRPJ ou como pagamento na forma
DORAS – RECAP
prevista no § 2º deste artigo;
Art. 13 É beneficiária do Recap a pessoa jurídica
II - redução de 50% (cinqüenta por cento) do Impos-
preponderantemente exportadora, assim consi-
to sobre Produtos Industrializados - IPI incidente
derada aquela cuja receita bruta decorrente de
sobre equipamentos, máquinas, aparelhos e instru-
exportação para o exterior, no ano-calendário
mentos, bem como os acessórios sobressalentes e
imediatamente anterior à adesão ao Recap, houver
ferramentas que acompanhem esses bens, destina-
sido igual ou superior a 50% (cinquenta por cen-
dos à pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico;
to) de sua receita bruta total de venda de bens
III - depreciação integral, no próprio ano da aqui-
e serviços no período e que assuma compromis-
sição, de máquinas, equipamentos, aparelhos e
so de manter esse percentual de exportação
instrumentos, novos, destinados à utilização nas
durante o período de 2 (dois) anos-calendário.
atividades de pesquisa tecnológica e desenvolvi-
§ 1º A receita bruta de que trata o caput deste arti-
mento de inovação tecnológica, para efeito de apu-
go será considerada após excluídos os impostos e
ração do IRPJ e da CSLL;
contribuições incidentes sobre a venda.
IV - amortização acelerada, mediante dedução
como custo ou despesa operacional, no período
O RECAP é um regime que facilita a aquisição de de apuração em que forem efetuados, dos dispên-
bens para empresas exportadoras, considerando dios relativos à aquisição de bens intangíveis, vin-
como preponderantemente exportadora a que possui culados exclusivamente às atividades de pesquisa
mais de 50% da receita bruta oriunda de exportação. tecnológica e desenvolvimento de inovação tecno-
Embora a porcentagem seja a mesma do regime lógica, classificáveis no ativo diferido do beneficiá-
anterior, perceba que o regime institui situação para rio, para efeito de apuração do IRPJ; 185
VI - redução a 0 (zero) da alíquota do imposto de pleno gozo dos direitos e garantias inerentes ao ser
renda retido na fonte nas remessas efetuadas para humano, é necessário um contexto ambiental sadio.
o exterior destinadas ao registro e manutenção de Consequentemente, existe uma clara inter-relação
marcas, patentes e cultivares. e interdependência entre os direitos humanos e o
direito ambiental.
Embora o art. 17 possua redação incompleta, os Cumpre mencionar que a preocupação com o meio
incentivos fiscais listados são para empresas que ambiente é um tema recente, uma vez que, até o final
desenvolvam pesquisa e inovação tecnológica. Não do século XIX, não havia consciência desta necessi-
necessariamente necessitam ser empresas voltadas à dade de preservação da natureza e dos seus recursos
pesquisa, mas que criem inovações tecnológicas aos naturais.
produtos que comercializem. Inicialmente, esse sistema de proteção começou a
Considera-se inovação tecnológica, para enqua- ser desenhado com a finalidade estritamente econô-
drar-se nos benefícios listados, a concepção de novo mica, desconsiderando as relações ecológicas sistê-
produto ou processo de fabricação, bem como a agre- micas e a conservação ambiental. Por esta razão, as
gação de novas funcionalidades ou características ao primeiras regulamentações tinham por objetivo a
produto ou processo que implique melhorias incre- proteção dos estoques de recursos naturais, não
mentais e efetivo ganho de qualidade ou produtivida- com vistas à proteção do meio ambiente, mas à sua
de, resultando maior competitividade no mercado. utilização econômica e comercial.

Art. 21 A União, por intermédio das agências de


fomento de ciências e tecnologia, poderá sub- Importante!
vencionar o valor da remuneração de pesqui-
sadores, titulados como mestres ou doutores, Essa despreocupação com a questão ambiental
empregados em atividades de inovação tecnológica é fruto de fatores de diversas matrizes, como
em empresas localizadas no território brasileiro, a científica, política, econômica e sociológica.
na forma do regulamento.
Além disso, até o início do século XX, existia
Parágrafo único. O valor da subvenção de que trata
o caput deste artigo será de:
o entendimento generalizado de que o meio
I - até 60% (sessenta por cento) para as pessoas ambiente seria capaz de absorver todos os resí-
jurídicas nas áreas de atuação das extintas Sudene duos industriais sem que a natureza sofresse
e Sudam; qualquer consequência.
II - até 40% (quarenta por cento), nas demais
regiões.
Com o surgimento dos primeiros casos concretos
Nos termos dos dispositivos acima, a União irá sub- de degradação ambiental, já nas primeiras décadas
vencionar a remuneração de pesquisadores com títu- do século XX, foi necessário implementar medidas de
lo de mestrado ou doutorado que exerçam atividade forma conjunta com outros Estados. Surgem, então,
em empresas privadas, constituindo mais um incen- as primeiras tentativas de consolidar um sistema jurí-
tivo para o investimento em pesquisas de inovação. dico internacional de proteção do meio ambiente. No
Nas empresas do Nordeste e da Região da Ama- entanto, até o final da Segunda Guerra Mundial, fal-
zônia, a subvenção chega a 60% (SUDENE e SUDAM), tava um conjunto coerente e sólido de regras sobre o
enquanto nas demais regiões será de 40%. A Região meio ambiente no âmbito internacional.
da Amazônia não se confunde com a região Norte A ameaça nuclear no período pós-Segunda Guerra
(divisão em regiões geográficas), compreendendo os Mundial fez surgir alguns tratados neste sentido:
estados Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Rondô-
nia, Roraima, Tocantins, Pará e parte do Maranhão, os z o Tratado de Moscou (1963);
quais eram abarcados pela extinta SUDAM. z a Convenção do Espaço Cósmico (1967);
z o Tratado sobre a Não Proliferação de Armas
AGENDA 2030: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E Nucleares (1968);
INOVAÇÃO DO BRASIL NOS OBJETIVOS DE z o Tratado de Proibição de Colocação de Armas
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (ODS) Nucleares e outras Armas de Destruição Maciça no
Leito do Mar e do Oceano e nos Respectivos Sub-
O Sistema de Proteção Internacional dos Direitos solos (1971).
Humanos foi, aos poucos, incorporando ações especí-
ficas em diversos campos, como o direito à educação, Entretanto, o marco para o movimento em busca
à saúde, à moradia, ao meio ambiente, à cultura, ao de um desenvolvimento sustentável foi a Conferên-
lazer, entre outras. cia de Estocolmo, também denominada Conferência
É fato que a Declaração Universal dos Direitos das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, realizada
Humanos foi o ponto de partida do processo gra- no ano de 1972. O Programa das Nações Unidas para
dual de formação, consolidação, expansão e aper- o Meio Ambiente (PNUMA) teve início com a Confe-
feiçoamento da proteção internacional dos direitos rência de Estocolmo, além de ter sido criada a Comis-
humanos, e, em face das necessidades de proteção, são Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
os tratados de direitos humanos foram aumentando Humano (WCED).
conforme se revelavam as necessidades inerentes aos Como o pensamento havia mudado e o meio
seres humanos. ambiente não era mais visto como fonte inesgotável
Entre essas necessidades, encontra-se a prote- de recursos, a conferência teve como objetivo discutir
ção do meio ambiente, desenvolvimento sustentá- as consequências da degradação ambiental. Entraram
vel e proteção aos bens culturais, temáticas cada vez em discussão os seguintes temas: mudanças climáticas,
186 mais entrelaçadas. Há de se consignar que, para o qualidade da água, uso de pesticidas na agricultura,
quantidade de metais pesados na natureza, além das jurisdição, ou sob seu controle, não prejudiquem o
possibilidades de se reduzir os desastres naturais e a meio ambiente de outros Estados ou de zonas situa-
modificação da paisagem, com o escopo de traçar as das fora de toda jurisdição nacional.
bases para o desenvolvimento sustentável.
O resultado da Convenção de Estocolmo foi a Princípio 22
elaboração da Declaração de Estocolmo sobre o Os Estados devem cooperar para continuar desenvol-
Ambiente Humano, representando um manifesto vendo o direito internacional no que se refere à res-
com as bases para a nova agenda ambiental do Siste- ponsabilidade e à indenização às vítimas da poluição
e de outros danos ambientais que as atividades reali-
ma ONU de proteção.
zadas dentro da jurisdição ou sob o controle de tais
Os 26 princípios contidos na declaração tratam
Estados causem à zonas fora de sua jurisdição.
dos direitos e obrigações dos Estados e dos indivíduos
no que se refere à preservação do meio ambiente. Outra conferência que se destacou por trazer de
Destacam-se: volta o tema do meio ambiente com a mesma preo-
cupação da necessidade de ação global foi a Confe-
z o art. 1º, que traz expresso o direito ao meio rência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente
ambiente de qualidade que permita aos seres e Desenvolvimento (CNUMAD), realizada na cidade
humanos uma vida digna com liberdade, igualda- do Rio de Janeiro em 1992. A conferência ficou conhe-
de e condições adequadas de vida; cida pelos seguintes nomes: Cúpula da Terra, ECO 92
z os arts. 2º e 5º, que tratam das responsabilidades ou Rio 92, e teve como objetivo reconciliar o impac-
em relação às gerações; to das atividades socioeconômicas humanas no meio
z o art. 21, que diz respeito ao direito de um Estado ambiente.
explorar seus recursos de acordo com suas políti- Com foco para o desenvolvimento sustentável,
cas ambientais, bem como à obrigação de não pro- os Estados envolvidos detalharam o programa deno-
vocar prejuízos transfronteiriços; e minado Agenda 21 para direcionar suas ativida-
z o art. 22, que traz a obrigação dos Estados de coo- des de modo a protegerem e renovarem os recursos
perarem para desenvolver uma legislação interna- ambientais.
cional que trate de responsabilidade e indenização Eram ações voltadas à proteção da atmosfera e ao
por prejuízos extraterritoriais. combate ao desmatamento, à perda de solo e à deserti-
ficação, bem como à prevenção da poluição da água e
Vejamos: ar e à promoção da gestão segura dos resíduos tóxicos.
Para revisar a Agenda 21, foi realizada uma ses-
Declaração de Estocolmo sobre o Ambiente
são especial na Assembleia Geral da ONU em 1997.
Humano, de 1972
Esta sessão foi chamada de Cúpula da Terra +5, cujo
documento final recomendou a adoção de algumas
Princípio 1
metas juridicamente vinculativas, com o objetivo
O homem tem o direito fundamental à liberdade, à
de reduzir as emissões de gases de efeito estufa,
igualdade e ao desfrute de condições de vida ade-
quadas em um meio ambiente de qualidade tal que bem como para implementar uma maior movimen-
lhe permita levar uma vida digna e gozar de bem-es- tação dos padrões sustentáveis de distribuição de
tar, tendo a solene obrigação de proteger e melho- energia, produção e uso. Teve também como foco a
rar o meio ambiente para as gerações presentes e erradicação da pobreza como pré-requisito para o
futuras. A este respeito, as políticas que promovem desenvolvimento sustentável.
ou perpetuam o apartheid, a segregação racial, a Na sequência, no ano 2000, teve destaque a Cúpu-
discriminação, a opressão colonial e outras formas la do Milênio, realizada na cidade de Nova York, com
de opressão e de dominação estrangeira são conde- o objetivo de garantir a sustentabilidade ambiental.
nadas e devem ser eliminadas. Com o escopo de transformar as metas, promes-
sas e compromissos assumidos pela Agenda 21 em
Princípio 2 ações concretas, foi realizada, em 2002, em Johanes-

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


Os recursos naturais da terra incluídos o ar, a água, burgo, a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento
a terra, a flora e a fauna e especialmente amostras Sustentável, também conhecida como Rio+10, Rio
representativas dos ecossistemas naturais devem Mais 10, por ter ocorrido após 10 anos da CNUMAD,
ser preservados em benefício das gerações presen- ou, ainda, Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento
tes e futuras, mediante uma cuidadosa planificação Sustentável.
ou ordenamento. Como resultado, foram elaborados dois documen-
[...]
tos: a Declaração de Johanesburgo sobre Desenvol-
vimento Sustentável e o Plano de Implementação,
Princípio 5
detalhando as prioridades para as ações.
Os recursos não renováveis da terra devem empre-
Após 10 anos da Cúpula Mundial sobre Desenvol-
gar-se de forma que se evite o perigo de seu futuro
vimento Sustentável (Rio+10) e vinte da Conferência
esgotamento e se assegure que toda a humanidade
compartilhe dos benefícios de sua utilização. das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desen-
[...] volvimento (Rio 92), o Rio de Janeiro voltou a ser sede
de uma conferência para definir uma agenda para o
Princípio 21 desenvolvimento sustentável para as próximas déca-
Em conformidade com a Carta das Nações Unidas e das: a Conferência das Nações Unidas sobre Desen-
com os princípios de direito internacional, os Esta- volvimento Sustentável (CNUDS), de 2012, também
dos têm o direito soberano de explorar seus pró- conhecida como Rio+20, com o objetivo de renovar os
prios recursos em aplicação de sua própria política compromissos com o desenvolvimento sustentável,
ambiental e a obrigação de assegurar-se de que tratar da economia verde no contexto do desenvolvi-
as atividades que se levem a cabo, dentro de sua mento sustentável e da erradicação da pobreza. 187
No ano de 2015, os 193 Estados-Membros da ONU se reuniram para reconhecer que o maior desafio global para
o desenvolvimento sustentável é a pobreza, em todas as suas formas e dimensões.
Neste contexto, adotaram o documento “Transformando o Nosso Mundo: A Agenda 2030 para o Desen-
volvimento Sustentável”. Assim sendo, a Agenda 2030 é um plano de ação para promover o desenvolvimento
sustentável nos próximos 15 anos, ou seja, dos anos de 2016 a 2030.
A Agenda 2030 combina os processos dos objetivos do milênio e os resultantes da Rio+20, de modo a inaugurar
uma nova fase para o desenvolvimento por integrar todos os componentes do desenvolvimento sustentável e o
engajamento de todos os países.
Como plano de ação, a Agenda 2030 indica 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e 169 metas
para erradicar a pobreza e promover vida digna para todos.
É importante memorizar os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Vejamos:

1. Erradicação da pobreza - Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares.
2. Fome zero e agricultura sustentável - Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutri-
ção e promover a agricultura sustentável.
3. Saúde e bem-estar - Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades.
4. Educação de qualidade - Assegurar a educação inclusiva, e equitativa e de qualidade, e promover oportunida-
des de aprendizagem ao longo da vida para todos.
5. Igualdade de gênero - Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas.
6. Água limpa e saneamento - Garantir disponibilidade e manejo sustentável da água e saneamento para todos.
7. Energia limpa e acessível - Garantir acesso à energia barata, confiável, sustentável e renovável para todos.
8. Trabalho de decente e crescimento econômico - Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e
sustentável, emprego pleno e produtivo, e trabalho decente para todos.
9. Inovação infraestrutura - Construir infraestrutura resiliente, promover a industrialização inclusiva e susten-
tável, e fomentar a inovação.
10. Redução das desigualdades - Reduzir as desigualdades dentro dos países e entre eles.
11. Cidades e comunidades sustentáveis - Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros,
resilientes e sustentáveis.
12. Consumo e produção responsáveis - Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis.
13. Ação contra a mudança global do clima - Tomar medidas urgentes para combater a mudança climática e
seus impactos.
14. Vida na água - Conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares, e dos recursos marinhos para o desen-
volvimento sustentável.
15. Vida terrestre - Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de for-
ma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da Terra e deter a perda da
biodiversidade.
16. Paz, justiça e instituições eficazes - Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sus-
tentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em
todos os níveis.
17. Parcerias e meios de implementação - Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global
para o desenvolvimento sustentável. (ONU, n.p.)

Esses 17 objetivos são integrados e indivisíveis, além de abrangerem as três dimensões do desenvolvimento
sustentável, ou seja, social, ambiental e econômico, podendo ser implementados pelos governos, pela sociedade
civil, pelo setor privado e por todos os seres humanos comprometidos com as presentes e futuras gerações.
Memorize:

ERRADICAÇÃO FOME ZERO BOA SAÚDE EDUCAÇÃO DE IGUALDADE ÁGUA LIMPA E


DA POBREZA E BEM-ESTAR QUALIDADE DE GÊNERO SANEAMENTO

ENERGIA EMPREGO DIGNO INDÚSTRIA, REDUÇÃO DAS CIDADES E CONSUMO E


ACESSÍVEL E E CRESCIMENTO INOVAÇÃO E DESIGUALDADES COMUNIDADES PRODUÇÃO
LIMPA ECONÔMICO INFRAESTRUTURA SUSTENTÁVEIS RESPONSÁVEIS

COMBATE ÀS VIDA DEBAIXO VIDA SOBRE A PAZ, JUSTIÇA E PARCERIAS


ALTERAÇÕES D'ÁGUA TERRA INSTITUIÇÕES EM PROL DAS
CLIMÁTICAS FORTES METAS
OBJETIVOS DE
DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL

Fonte: ONU.

188
CONVENÇÃO QUADRO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE MUDANÇA DO CLIMA (UNFCCC)

Os países membros da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (United Nations Frame-
work Convention on Climate Change — UNFCCC), base de cooperação internacional, buscam estabelecer políticas
para reduzir e estabilizar as emissões de gases de efeito estufa em um nível no qual as atividades humanas não
interfiram seriamente nos processos climáticos.
Vale ressaltar que a primeira reunião aconteceu em 1992 durante a Eco 92, Conferência Internacional sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento no Rio de Janeiro. O texto da Convenção foi assinado e ratificado por 175 paí-
ses, os quais reconheceram a necessidade de um empenho global para o enfrentamento das questões climáticas.
Após seu estabelecimento e entrada em vigor, os representantes dos diferentes países passaram a se reu-
nir anualmente, a fim de discutir a sua implementação. Tais reuniões são chamadas de Conferências das Partes
(COPs).
Desta forma, os países desenvolvidos, por serem responsáveis históricos das emissões e por terem mais condi-
ções econômicas para arcar com os custos, seriam os primeiros a assumir as metas de redução até 2012 (NAHUR;
GUIDO; SANTOS, 2015; MMA, 2021; WWF, 2021).
No ano de 2012, durante a COP 18, em Doha, estava prevista a finalização do Protocolo de Quioto. Porém,
observou-se que diversos países não atingiram as metas e o Protocolo foi prorrogado até 2020.
Atenção: o Protocolo de Quioto constituiu um tratado internacional que estipulou as metas de reduções obri-
gatórias dos principais gases de efeito estufa para o período de 2008 a 2012. Embora tenha havido resistência por
parte de alguns países desenvolvidos, foi acordado o princípio da responsabilidade comum.
Essa é uma ferramenta de mercado que possibilita, aos países que tenham a obrigatoriedade de reduzir suas
emissões, a compra de créditos de carbono de um país que já tenha atingido a sua meta e, portanto, possui crédi-
tos excedentes para vender.
O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) é um instrumento que integra o Protocolo de Quioto e permite
que os países desenvolvidos invistam em projetos para a redução de emissões de gases em países em desenvolvi-
mento. As emissões reduzidas são contabilizadas e geram créditos de carbono, que podem ser comercializadas no
comércio de emissões. O MDL inclui, ainda, a implantação de atividades para a redução dos gases do Efeito Estufa.
Cabe ressaltar que esses projetos são baseados em fontes renováveis e alternativas de energia, eficiência e
conservação de energia ou reflorestamento. Todos com o foco nas reduções de emissões adicionais àquelas que
ocorreriam na ausência do projeto, garantindo benefícios reais, mensuráveis e de longo prazo para a mitigação
da mudança do clima.
A Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal (REDD) é um plano de incentivo desenvolvi-
do no âmbito da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, em 2013, durante a Conferência
das Partes em Bali, na Indonésia. Seu principal objetivo é indenizar os países em desenvolvimento pela redução
de emissões dos GEE provenientes do desmatamento e da degradação florestal. Ou seja, a cada ano, caso o país
diminua significativamente suas emissões relativas a desmatamentos e degradações florestais, ele terá o direito
de receber uma indenização da UNCCC.
Além disso, leva-se em consideração o papel da conservação de estoques de carbono florestal, manejo sustentá-
vel de florestas e aumento de estoques de carbono florestal denominado REED+ (REED plus, em inglês) (MMA, 2016).
Felizmente, existe uma série de iniciativas sendo aplicadas tendo em vista tais mecanismos. No Brasil, o World
Wide Fund for Nature (WWF), organização não governamental internacional que atua nas áreas da conservação,
investigação e recuperação ambiental, em parceria com o governo do Acre, vem apoiando a construção do REDD
no âmbito do programa de pagamentos por serviços ambientais.
Neste sentido, pode-se concluir que o REDD é uma importante ferramenta para os países com florestas nativas,
a qual busca contribuir para a conservação, redução do desmatamento e das emissões de gases de efeito estufa
(figura a seguir).

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


Outras
UNFCCC GCF
Internacional fontes

Compensação
Pagamentos por por resultados
resultados de REDD+ Resultados (tCO2e) nacionais
(USD/tCO2e)

Nacional Comissão Nacional para REDD+

Benefícios (recursos, Informação, metas


Doméstico investimentos, direitos institucionais,
de captação etc desembolso etc Distribuição de benefícios
de acordo com regras
definidas nacionalmente
Estados Fundo Políticas e
Amazônia iniciativas

Figura: Distribuição de benefícios REDD+1

1 MMA, 2016. Disponível em: https://www.bio3consultoria.com.br/o-que-e-redd/. Acesso em: 11 maio 2021. 189
Em suma, a distribuição de benefícios do REDD+ da Lei nº 10.520, de 17 de julho de 2002, poderá
tem início assim que o país em desenvolvimento apre- ser realizada na modalidade pregão, restrita às
senta à UNFCCC todos os elementos para a obtenção do empresas que cumpram o Processo Produtivo Bási-
reconhecimento de seus resultados de REDD+. Quando co nos termos desta Lei e da Lei nº 8.387, de 30 de
o processo é finalizado, os resultados de REDD+ medi- dezembro de 1991.
dos em tCO2 serão inseridos no Lima Information Hub.
Na decisão 9, da CP 19, a COP decidiu estabelecer Muita atenção aos dispositivos acima, pois são
o Lima REDD+ Information Hub na REDD+ Web Plat- apostas de questões em prova, haja vista que o tema é
form, como um meio para publicar informações sobre inerente a várias outras legislações.
os resultados das atividades de REDD+ e os correspon- A Administração Pública dará preferência à aqui-
dentes pagamentos baseados em resultados. O Lima sição de bens e serviços com tecnologia desenvolvida
REDD+ Information Hub visa aumentar a transparên- no país. Em regra, os procedimentos de aquisição de
cia das informações sobre ações baseadas em resulta- bens e demais licitações são pautados no princípio da
dos de REDD+. isonomia; todavia, há ações afirmativas que visam
Assim, quando o país está apto a captar recursos privilegiar pequenas empresas, produtos desenvolvi-
de pagamentos por resultados, os pagamentos são efe- dos no país entre outros.
tuados por diversas fontes internacionais, em parti- Tal preferência não viola o princípio da isonomia,
cular do Fundo Verde para o Clima (GCF na sigla em por visar à faceta material do princípio, proporcio-
inglês). nando competitividade a empresas locais em face de
A distribuição de benefícios, portanto, ocorre de empresas e produtos estrangeiros.
acordo com regras definidas nacionalmente. Não há O § 2º faz a ressalva de que a preferência observará
regras e/ou exigências quanto ao uso desse recurso, algumas condições, como prazo de entrega, qualidade
uma vez que o pagamento se deu por ações executa- e afins. O que o dispositivo elenca é que a preferência
das no passado (MMA, 2016). não pode ocasionar prejuízo à Administração Públi-
ca; não adianta privilegiar o produto e a empresa não
LEI Nº 8.248, DE 1991, E ALTERAÇÕES (LEI DAS TIC) conseguir entregar no prazo.
Permite-se a modalidade do pregão para a aquisi-
O material a seguir aborda a Lei nº 8.248 de 1991, a ção dos bens. Atenção para o fato de que a lei “permi-
qual dispõe sobre a capacitação e competitividade do te” a modalidade, não elenca uma obrigação.
setor de informática e automação.
A presente lei possui muitos dispositivos revo- Art. 4º As pessoas jurídicas que exerçam ativida-
des de desenvolvimento ou produção de bens de
gados, o que é comum em legislações que tratam de
tecnologias da informação e comunicação que
temas concretos, como competitividade de setor eco-
investirem em atividades de pesquisa, desenvol-
nômico, pois uma lei de 1991 não mais satisfaz as vimento e inovação nesse setor farão jus, até
necessidades do setor. 31 de dezembro de 2029, a crédito financeiro
O que prejudica o ordenamento jurídico e, conse- decorrente do dispêndio mínimo efetivamente
quentemente, o aluno, é que as leis não são revogadas aplicado nessas atividades.
por completo e substituídas por outra mais moderna [...]
e que aborde todo o assunto, pelo contrário, são revo- § 2º O Ministério da Economia e o Ministério da
gadas e alteradas ao mesmo tempo em que surgem Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações esta-
novas leis, o que torna a legislação pátria extrema- belecerão os processos produtivos básicos de ofício
mente confusa e “embolada”. ou no prazo de 120 (cento e vinte) dias, contado da
Nesse sentido, não se preocupe com a numeração data da solicitação fundamentada da interessada.
não ordinária dos dispositivos elencados neste mate-
rial; quando, por exemplo, passa-se do § 1º para o § 3º, O art. 4º foi inserido em 2019, portanto é disposi-
é porque o § 2º foi revogado ou não possui relevância tivo atualizado, o qual revogou inúmeros dispositivos
para fins de prova. da lei, concentrando o conteúdo no art. 4º e § 2º.
Prevê o direito a crédito financeiro às empresas pri-
Art. 3º Os órgãos e entidades da Administração vadas que exerçam a atividade de pesquisa e desenvol-
Pública Federal, direta ou indireta, as fundações vimento de tecnologia, tratando-se de uma subvenção
instituídas e mantidas pelo Poder Público e as às empresas para que invistam, ainda mais, na área.
demais organizações sob o controle direto ou indi- O processo produtivo básico que trata o § 2º é
reto da União darão preferência, nas aquisições referente ao inciso II, do art. 3º, o qual estipula como
de bens e serviços de informática e automa- preferência as empresas que cumprem o processo
ção, observada a seguinte ordem, a: produtivo. Conforme dito anteriormente, há prefe-
I - bens e serviços com tecnologia desenvolvida rência para os produtos e serviços produzidos com
no País; tecnologia desenvolvida no país e para as empresas
II - bens e serviços produzidos de acordo com pro-
que seguem o processo produtivo básico.
cesso produtivo básico, na forma a ser definida pelo
Para fazer jus ao benefício do art. 4º, a empresa deve
Poder Executivo.
investir, anualmente, 5% do seu faturamento bruto em
[...]
§ 2º Para o exercício desta preferência, levar-se- atividades relacionadas à pesquisa, desenvolvimento e
-ão em conta condições equivalentes de prazo inovação, sob pena de ter suspenso o benefício.
de entrega, suporte de serviços, qualidade, O investimento citado pode ocorrer mediante con-
padronização, compatibilidade e especifica- vênio com ICTs, com instituições de ensino, depósitos
ção de desempenho e preço. trimestrais no Fundo Nacional de Desenvolvimento
§ 3º A aquisição de bens e serviços de informática Científico e Tecnológico (FNDCT) e aplicação em pro-
e automação, considerados como bens e serviços gramas e projetos de interesse nacional nas áreas de
190 comuns nos termos do parágrafo único do art. 1º tecnologias da informação e comunicação.
Art. 8º São isentas do Imposto sobre Produtos II - gravadores de suportes magnéticos e outros apa-
Industrializados (IPI) as compras de máquinas, relhos de gravação de som, mesmo com dispositivo
equipamentos, aparelhos e instrumentos produ- de reprodução de som incorporado, da posição 8520;
zidos no País, bem como suas partes e peças de III - aparelhos videofônicos de gravação ou de repro-
reposição, acessórias, matérias-primas e produtos dução, mesmo incorporando um receptor de sinais
intermediários realizadas pelo Conselho Nacio- videofônicos, da posição 8521;
nal de Desenvolvimento Científico e Tecnológi- IV - partes e acessórios reconhecíveis como sendo
co (CNPq) e por entidades sem fins lucrativos exclusiva ou principalmente destinados aos apare-
ativas no fomento, na coordenação ou na execu- lhos das posições 8519 a 8521, da posição 8522;
ção de programa de pesquisa científica ou de ensino V - suportes preparados para gravação de som ou
devidamente credenciadas naquele conselho. para gravações semelhantes, não gravados, da posi-
Parágrafo único. São asseguradas a manutenção e ção 8523;
a utilização do crédito do Imposto sobre Produtos VI - discos, fitas e outros suportes para gravação
Industrializados (IPI) a matérias-primas, produtos de som ou para gravações semelhantes, gravados,
intermediários e material de embalagem emprega- incluídos os moldes e matrizes galvânicos para
dos na industrialização dos bens de que trata este fabricação de discos, da posição 8524;
artigo. VII - câmeras de vídeo de imagens fixas e outras
câmeras de vídeo (camcorders), da posição 8525;
A concessão do IPI, nos termos da lei, volta-se, VIII - aparelhos receptores para radiotelefonia,
apenas, aos produtos adquiridos pelo CNPq, ou inter- radiotelegrafia, ou radiodifusão, mesmo combina-
mediado por ele, e pelas empresas sem fins lucrativos dos, num mesmo gabinete ou invólucro, com apare-
que atuem no fomento do setor. lho de gravação ou de reprodução de som, ou com
O aluno deve focar o estudo desta lei em associar, relógio, da posição 8527, exceto receptores pessoais
corretamente, os benefícios elencados. Por exemplo, a de radio mensagem;
isenção de IPI não se estende a todas as empresas do IX - aparelhos receptores de televisão, mesmo incor-
setor, assim como não faz exigências além de a empre- porando um aparelho receptor de radiodifusão ou
sa ser sem fins lucrativos. um aparelho de gravação ou de reprodução de som
Por outro lado, o crédito estudado anteriormente é ou de imagens; monitores e projetores, de vídeo, da
aplicado a todas as empresas que façam jus à previsão posição 8528;
em lei e que invistam 5% do faturamento bruto anual X - partes reconhecíveis como exclusiva ou princi-
em desenvolvimento tecnológico do país. palmente destinadas aos aparelhos das posições
Em suma, cada dispositivo elenca um benefício 8526 a 8528 e das câmeras de vídeo de imagens fixas
diferente e em pró de beneficiários distintos, devendo e outras câmeras de vídeo (camcorders) (8525), da
posição 8529;
o aluno conseguir diferenciá-los.
XI - tubos de raios catódicos para receptores de tele-
O poder público fiscalizará se as obrigações são
visão, da posição 8540;
cumpridas pelos beneficiários, mediante análise de
XII - aparelhos fotográficos; aparelhos e dispositi-
relatórios descritivos anuais, os quais apresentarão
vos, incluídos as lâmpadas e tubos, de luz-relâmpa-
os demonstrativos do ano anterior. O descumprimen-
go (flash), para fotografia, da posição 9006;
to das obrigações enseja a suspensão do benefício XIII - câmeras e projetores cinematográficos, mes-
relacionado. mo com aparelhos de gravação ou de reprodução de
som incorporados, da posição 9007;
Art. 16-A Para os fins desta Lei, consideram-se XIV - aparelhos de projeção fixa; aparelhos fotográ-
bens e serviços de tecnologias da informação e ficos, de ampliação ou de redução, da posição 9008;
comunicação: XV - aparelhos de fotocópia, por sistema óptico ou
I - componentes eletrônicos a semicondutor, optoele- por contato, e aparelhos de termocópia, da posição
trônicos, bem como os respectivos insumos de natu- 9009;
reza eletrônica; XVI - aparelhos de relojoaria e suas partes, do capí-
II - máquinas, equipamentos e dispositivos basea-

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


tulo 91.
dos em técnica digital, com funções de coleta, trata-
mento, estruturação, armazenamento, comutação,
transmissão, recuperação ou apresentação da infor- Ao longo da lei, muito se falou sobre bens e servi-
mação, seus respectivos insumos eletrônicos, partes, ços de tecnologias da informação e comunicação, de
peças e suporte físico para operação; modo que o art. 16-A estipula o que será considerado
III - programas para computadores, máquinas, equi- como tais bens e serviços, devendo o aluno memori-
pamentos e dispositivos de tratamento da informa- zar o rol do caput.
ção e respectiva documentação técnica associada O rol do § 1º é bastante extenso, mas é de suma
(software); importância que o aluno leia e tente memorizar os
IV - serviços técnicos associados aos bens e serviços produtos que não serão inclusos nos benefícios desta
descritos nos incisos I, II e III. lei. O rol do caput é inclusivo aos temas da lei, enquan-
§ 1º O disposto nesta Lei não se aplica às merca- to o rol do § 1º lista os produtos que não são abarcados
dorias dos segmentos de áudio; áudio e vídeo; e pela presente lei.
lazer e entretenimento, ainda que incorporem tec-
nologia digital, incluindo os constantes da seguinte
LEI COMPLEMENTAR Nº 182, DE 2021 (MARCO
relação, que poderá ser ampliada em decorrência de
inovações tecnológicas, elaborada conforme nomen- LEGAL DAS STARTUPS)
clatura do Sistema Harmonizado de Designação e
Codificação de Mercadorias - SH: O material a seguir aborda a Lei Complementar nº
I - toca-discos, eletrofones, toca-fitas (leitores de cas- 182, de 2021, a qual institui o Marco Legal das Startups
setes) e outros aparelhos de reprodução de som, sem e do Empreendedorismo Inovador.
dispositivo de gravação de som, da posição 8519; 191
Trata-se de lei com muita definição e rol de objeti- III - importância das empresas como agentes centrais
vos, diretrizes e afins, o que torna o estudo cansativo do impulso inovador em contexto de livre mercado;
e, basicamente, de memorização. Não se tem muita IV - modernização do ambiente de negócios brasi-
complexidade na lei, o que é um ponto positivo, mas, leiro, à luz dos modelos de negócios emergentes;
por se tornar estudo de memorização, requer uma lei- V - fomento ao empreendedorismo inovador como
tura repetitiva dos dispositivos. meio de promoção da produtividade e da compe-
titividade da economia brasileira e de geração de
postos de trabalho qualificados;
DAS DEFINIÇÕES, DOS PRINCÍPIOS E DAS
VI - aperfeiçoamento das políticas públicas e dos
DIRETRIZES FUNDAMENTAIS
instrumentos de fomento ao empreendedorismo
inovador;
Art. 1º Esta Lei Complementar institui o marco legal
VII - promoção da cooperação e da interação entre
das startups e do empreendedorismo inovador.
os entes públicos, entre os setores público e priva-
Parágrafo único. Esta Lei Complementar:
do e entre empresas, como relações fundamentais
I - estabelece os princípios e as diretrizes para a atua-
para a conformação de ecossistema de empreende-
ção da administração pública no âmbito da União,
dorismo inovador efetivo;
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;
VIII - incentivo à contratação, pela administração
II - apresenta medidas de fomento ao ambiente de
pública, de soluções inovadoras elaboradas ou
negócios e ao aumento da oferta de capital para
desenvolvidas por startups, reconhecidos o papel
investimento em empreendedorismo inovador; e
do Estado no fomento à inovação e as potenciais
III - disciplina a licitação e a contratação de solu-
oportunidades de economicidade, de benefício e de
ções inovadoras pela administração pública.
solução de problemas públicos com soluções inova-
doras; e
O artigo inicial apresenta os assuntos que a lei IX - promoção da competitividade das empresas
abordará; não há muita celeuma em seu conteúdo, brasileiras e da internacionalização e da atração
apenas para introduzir o aluno aos temas que serão de investimentos estrangeiros.
observados.
Mais um dispositivo de leitura obrigatória e de
Art. 2º Para os efeitos desta Lei Complementar, máxima memorização pelo aluno, tratando-se das
considera-se: diretrizes e objetivos da presente lei complementar.
I - investidor-anjo: investidor que não é consi- Questões sobre o artigo irão explorar no aluno a capa-
derado sócio nem tem qualquer direito a gerência
cidade de reconhecer, entre as assertivas, quais são
ou a voto na administração da empresa, não res-
princípios e diretrizes da lei.
ponde por qualquer obrigação da empresa e é
remunerado por seus aportes;
II - ambiente regulatório experimental (san- DO ENQUADRAMENTO DE EMPRESAS STARTUPS
dbox regulatório): conjunto de condições especiais
simplificadas para que as pessoas jurídicas parti- Art. 4º São enquadradas como startups as organi-
cipantes possam receber autorização temporária zações empresariais ou societárias, nascentes
dos órgãos ou das entidades com competência de ou em operação recente, cuja atuação caracteriza-
regulamentação setorial para desenvolver mode- -se pela inovação aplicada a modelo de negócios
los de negócios inovadores e testar técnicas e tec- ou a produtos ou serviços ofertados.
nologias experimentais, mediante o cumprimento § 1º Para fins de aplicação desta Lei Complementar,
de critérios e de limites previamente estabelecidos são elegíveis para o enquadramento na modalida-
pelo órgão ou entidade reguladora e por meio de de de tratamento especial destinada ao fomento de
procedimento facilitado. startup o empresário individual, a empresa indivi-
dual de responsabilidade limitada, as sociedades
Questões de provas costumam gostar de explorar empresárias, as sociedades cooperativas e as socie-
dades simples:
definições de termos técnicos previstos em lei; dessa
I - com receita bruta de até R$ 16.000.000,00 (dezes-
forma, o aluno deve memorizar o conceito de investi-
seis milhões de reais) no ano-calendário anterior
dor-anjo e de ambiente regulatório experimental.
ou de R$ 1.333.334,00 (um milhão, trezentos e
Atente-se aos detalhes, principalmente do concei- trinta e três mil trezentos e trinta e quatro reais)
to de investidor-anjo, o qual não é sócio da empresa multiplicado pelo número de meses de atividade
e não responde por obrigações desta, embora receba no ano-calendário anterior, quando inferior a 12
valores em face de seus investimentos. Associe anjo (doze) meses, independentemente da forma societá-
com imunidade, memorizando que não responderá ria adotada;
por obrigações da empresa, nem de forma solidária, II - com até 10 (dez) anos de inscrição no Cadastro
nem subsidiária. Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) da Secretaria
Especial da Receita Federal do Brasil do Ministério
Art. 3º Esta Lei Complementar é pautada pelos da Economia; e
seguintes princípios e diretrizes: III - que atendam a um dos seguintes requisitos, no
I - reconhecimento do empreendedorismo inovador mínimo:
como vetor de desenvolvimento econômico, social a) declaração em seu ato constitutivo ou alterador
e ambiental; e utilização de modelos de negócios inovadores
II - incentivo à constituição de ambientes favorá- para a geração de produtos ou serviços, nos termos
veis ao empreendedorismo inovador, com valoriza- do inciso IV do caput do art. 2º da Lei nº 10.973, de
ção da segurança jurídica e da liberdade contratual 2 de dezembro de 2004; ou
como premissas para a promoção do investimento b) enquadramento no regime especial Inova Sim-
e do aumento da oferta de capital direcionado a ini- ples, nos termos do art. 65-A da Lei Complementar
192 ciativas inovadoras; nº 123, de 14 de dezembro de 2006.
§ 2º Para fins de contagem do prazo estabelecido no programa de ambiente regulatório experimental e
inciso II do § 1º deste artigo, deverá ser observado estabelecerá:
o seguinte: I - os critérios para seleção ou para qualificação do
I - para as empresas decorrentes de incorporação, regulado;
será considerado o tempo de inscrição da empresa II - a duração e o alcance da suspensão da incidên-
incorporadora; cia das normas; e
II - para as empresas decorrentes de fusão, será III - as normas abrangidas.
considerado o maior tempo de inscrição entre as
empresas fundidas; e A definição de “sandbox regulatório”, ou ambiente
III - para as empresas decorrentes de cisão, será regulatório experimental, já foi apresentada no início
considerado o tempo de inscrição da empresa cin-
do material, mas os dispositivos anteriores demons-
dida, na hipótese de criação de nova sociedade, ou
tram como será, na prática, esse ambiente.
da empresa que a absorver, na hipótese de transfe-
rência de patrimônio para a empresa existente. Os setores da economia e demais atividades pos-
suem regulamentações rígidas, as quais poderão ser
O art. 4º expressa quais empresas a lei considerará afastadas no âmbito das startups e não precisarão
como startup, devendo o aluno memorizar o conceito obedecer às regras regulamentares, mas apenas as
estipulado. A expressão chave que classifica as empre- afastadas pelos órgãos competentes.
sas como startup é “cuja atuação caracteriza-se pela A medida visa facilitar a atividade e fomentar a
inovação”, pois não há estipulação de um setor espe- inovação no setor produtivo. Compete ao órgão espe-
cífico, mas apenas que se volte à inovação das formas cificar como selecionará as empresas que poderão ser
de produção dos produtos ou serviços. beneficiadas com o sandbox, o período que as regras
Visando a uma nota máxima, os dispositivos que ficarão suspensas e quais serão tais regras.
realizam enquadramento das startups baseado em
receitas e outros requisitos são de leitura e memori- DA CONTRATAÇÃO DE SOLUÇÕES INOVADORAS
zação importantes, todavia, possuem menor probabi- PELO ESTADO
lidade de cobrança.
Art. 12 As licitações e os contratos a que se refere
DOS INSTRUMENTOS DE INVESTIMENTO EM este Capítulo têm por finalidade:
INOVAÇÃO I - resolver demandas públicas que exijam solução
inovadora com emprego de tecnologia; e
Art. 5º As startups poderão admitir aporte de capi- II - promover a inovação no setor produtivo por
tal por pessoa física ou jurídica, que poderá meio do uso do poder de compra do Estado.
resultar ou não em participação no capital Art. 13 A administração pública poderá contratar
social da startup, a depender da modalidade de pessoas físicas ou jurídicas, isoladamente ou em con-
investimento escolhida pelas partes. sórcio, para o teste de soluções inovadoras por elas
desenvolvidas ou a ser desenvolvidas, com ou sem
Tanto pessoas físicas quanto jurídicas podem
risco tecnológico, por meio de licitação na moda-
investir em startup, o que não impõe, necessariamen-
lidade especial regida por esta Lei Complementar.
te, a denominação de sócio da empresa. É possível que § 1º A delimitação do escopo da licitação pode-
o investidor apenas repasse valores e possua partici- rá restringir-se à indicação do problema a
pação nos lucros ou retribuição predefinida, não pos- ser resolvido e dos resultados esperados pela
suindo nome no contrato social, não participando de administração pública, incluídos os desafios
votos ou administração, apenas fazendo aporte finan- tecnológicos a serem superados, dispensada a des-
ceiros e receba retribuição, situação em que fica isen- crição de eventual solução técnica previamente
to de quaisquer obrigações da empresa. mapeada e suas especificações técnicas, e caberá
Contudo, é possível que o investidor entre como aos licitantes propor diferentes meios para a reso-
sócio, nos moldes comuns nas demais empresas, cons- lução do problema.

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


tando como sócio, situação em que terá responsabili-
dade pelas obrigações das empresas. A presente lei cria uma modalidade especial de
licitação, voltada, exclusivamente, para os fins que
DOS PROGRAMAS DE AMBIENTE REGULATÓRIO a lei se propõe. Em provas de concurso, as questões
EXPERIMENTAL exploram mais os detalhes do que a informação em
si, motivo pelo qual o aluno deve se atentar ao fato de
Art. 11 Os órgãos e as entidades da administração que a licitação especial pode ser para contratar pes-
pública com competência de regulamentação seto- soas físicas ou jurídicas; isoladamente ou em consór-
rial poderão, individualmente ou em colaboração,
cio; com ou sem risco tecnológico.
no âmbito de programas de ambiente regu-
A banca tende a excluir uma das possibilidades,
latório experimental (sandbox regulatório),
afastar a incidência de normas sob sua com- afirmando que só poderão ser contratadas pessoas
petência em relação à entidade regulada ou jurídicas, ou somente por convênio, o que torna a
aos grupos de entidades reguladas. questão incorreta.
§ 1º A colaboração a que se refere o caput deste
artigo poderá ser firmada entre os órgãos e as enti- Art. 14 Após homologação do resultado da licita-
dades, observadas suas competências. ção, a administração pública celebrará Contrato
§ 2º Entende-se por ambiente regulatório experi- Público para Solução Inovadora (CPSI) com as
mental (sandbox regulatório) o disposto no inciso proponentes selecionadas, com vigência limita-
II do caput do art. 2º desta Lei Complementar. da a 12 (doze) meses, prorrogável por mais um
§ 3º O órgão ou a entidade a que se refere o caput período de até 12 (doze) meses.
deste artigo disporá sobre o funcionamento do § 1º O CPSI deverá conter, entre outras cláusulas: 193
I - as metas a serem atingidas para que seja possí- [...] necessidade de se garantir a disponibilidade dos
vel a validação do êxito da solução inovadora e a recursos da Terra hoje, assim como para nossos des-
metodologia para a sua aferição; cendentes, por meio de uma gestão na qual contemple
II - a forma e a periodicidade da entrega à adminis- a proteção ambiental, a justiça social e o desenvolvi-
tração pública de relatórios de andamento da exe- mento econômico equilibrado de nossas sociedades.2
cução contratual, que servirão de instrumento de
monitoramento, e do relatório final a ser entregue Em todo o mundo, existe a consciência de que o
pela contratada após a conclusão da última etapa ambiente é uma questão sistêmica, a qual envolve não
ou meta do projeto; só a participação dos governos, mas também de toda
III - a matriz de riscos entre as partes, incluídos os a sociedade, pois sabemos que todas as necessidades
riscos referentes a caso fortuito, força maior, ris- humanas precisam ser atendidas por algum tipo de
co tecnológico, fato do príncipe e álea econômica produto e serviço que cobra um preço da natureza.
extraordinária; Devido a esse paradoxo entre as necessidades
IV - a definição da titularidade dos direitos de proprie- humanas e a escassez dos recursos naturais, a sus-
dade intelectual das criações resultantes do CPSI; e tentabilidade é vista como fator crucial para o desen-
V - a participação nos resultados de sua explora- volvimento da sociedade. Assim, para agrupar todos
ção, assegurados às partes os direitos de explora- esses conceitos em somente uma expressão, foi cria-
ção comercial, de licenciamento e de transferência da a sigla no idioma inglês ESG — Environmental,
da tecnologia de que são titulares. Social and Governance — ou, em português, ASG,
§ 2º O valor máximo a ser pago à contratada referindo-se a Ambiental, Social e Governança.
será de R$ 1.600.000,00 (um milhão e seiscentos
mil reais) por CPSI, sem prejuízo da possibilida-
de de o edital de que trata o art. 13 desta Lei Com-
plementar estabelecer limites inferiores.
§ 3º A remuneração da contratada deverá ser fei-
ta de acordo com um dos seguintes critérios:
I - preço fixo; Environmental Governance
II - preço fixo mais remuneração variável de incentivo;
III - reembolso de custos sem remuneração adicional;
IV - reembolso de custos mais remuneração variá-
vel de incentivo; ou
V - reembolso de custos mais remuneração fixa de
incentivo. Social

O procedimento licitatório fulmina na realização


do contrato com a empresa escolhida, o qual recebe a
nomenclatura de “Contrato Público para Solução Ino- ENVIRONMENTAL (FATORES AMBIENTAIS)
vadora (CPSI)”, cujo prazo máximo será de 12 meses,
permitindo prorrogação pelo mesmo prazo. Consiste no uso sustentável dos recursos naturais.
Inclui práticas como o uso de recursos naturais, uso
Estipula como valor máximo do contrato a quantia
de fontes renováveis de energia, diminuição das emis-
de R$ 1.600.000, mas perceba que o valor estipulado é
sões de gases de efeito estufa, capacidade energética,
o máximo, e nada impede que o edital preveja valores
gerenciamento de resíduos, poluição, desenvolvimento
inferiores, pois o que se veda é valor acima do previs-
de tecnologias limpas, regulamentação ambiental.
to em lei.
As formas de remuneração da contratada, previs-
SOCIAL (FATORES SOCIAIS)
tas no § 3º, são importantes para a prova, pois critérios
e modalidades acerca do tema licitação costumam ser
Consiste em práticas que potencializam a inclusão
muito cobrados. Fica a dica ao aluno de que as leis
social.
do edital que preveem licitações ou procedimentos de Por exemplo: diversidade, inclusão social, políticas
incentivos e afins estipulam os mesmos critérios lista- de trabalho, direitos humanos, mobilidade, relações
dos acima. com a comunidade, qualidade de emprego, diversida-
de social e direitos sociais.
CRITÉRIOS ASG (AMBIENTAL, SOCIAL E
GOVERNANÇA) GOVERNANCE (FATORES DE GOVERNANÇA)

Atualmente, a preocupação na preservação do Consiste em ações que priorizam a transparência e


meio ambiente, a responsabilidade social e as boas a integridade na gestão das organizações.
práticas corporativas tornaram-se assunto central Por exemplo: ética e transparência, participação
no cotidiano das organizações, muito devido à real popular, acessibilidade nas decisões governamentais
necessidade de construir uma organização que agre- e independência dos conselhos administrativos.
gue valor à sociedade, mas também por uma enorme Diante do exposto, inferimos que o conceito apresen-
pressão da sociedade (mercado). tado é a busca pelo equilíbrio ambiental, social e corpo-
Esse novo paradigma de organização, além do rativo, proporcionando a todos os cidadãos a igualdade
objetivo de gerar renda para seus acionistas, tem seu de oportunidades, um meio ambiente preservado e o
foco na sustentabilidade, ou seja, a desenvolvimento sustentável como sociedade.
2 COGO, G. A. da R.; OLIVEIRA, L. de O.; TESSER, D. P. Agenda Ambiental na Administração Pública (A3P) — um instrumento a favor da sustentabi-
194 lidade na administração pública. XXXII Encontro Nacional de Engenharia de Produção. Bento Gonçalves, out. 2012, p. 2.
Seguindo a tendência do mercado e pressionadas INVESTIMENTO, FINANCIAMENTO E MERCADO
pela sociedade, as organizações públicas e privadas PESSOA JURÍDICA
elaboraram diversas políticas as quais coadunam
com a necessidade de uma maior responsabilidade Esse novo paradigma verde transformou o mer-
ambiental e social. cado financeiro, e assim o fez criar novas soluções
Como exemplo dessas políticas, o Banco do Brasil (investimentos e financiamentos) as quais priorizam
apresentou a denominada “Agenda 30 BB — Nosso as organizações que consideram importantes os fato-
Plano de Ação para um Futuro Sustentável”, enfati- res ambientais, sociais e de governança.
zando os critérios e práticas sustentáveis que devem Atualmente, seguindo a tendência mundial, os
ser priorizadas com o objetivo de promover o desen- investidores nacionais buscam cada vez mais o rela-
volvimento nacional sustentável e assim transformar cionamento com organizações sustentáveis. Desse
a sociedade em um lugar mais justo e menos desigual. modo, as empresas verdes costumam ter mais facili-
Neste sentido, demonstrando o alinhamento às dade na atração de capitais e com isso apresentam um
tendências da gestão integrada e à importância na melhor desempenho financeiro.
promoção da transição para uma economia verde e Nesta esteira, o Banco do Brasil aumentou suas
inclusiva, o Banco do Brasil propôs alguns compro- soluções no mercado de pessoa jurídica com ênfase
missos em sua atividade financeira, a saber: neste novo modelo verde, ofertando diversos produ-
tos que vão ao encontro desse anseio da sociedade,
z Negócios Sustentáveis: facilitar a transição para são eles:
um portfólio mais sustentável, através do fomen-
to à energia renovável, agricultura sustentável e z BB Financiamento PJ: consiste em uma linha de
fomento ao empreendedorismo; financiamento de pessoa jurídica específica para
z Investimento Responsável: contribuir para que equipamentos para geração de energia renovável
os investidores direcionem recursos em organiza- (economia verde);
ções que entregam externalidades socioambien- z Consórcio Placas Fotovoltaicas: consiste em um
tais positivas; consórcio voltado para aquisição e instalação de siste-
z Gestão ASG: aumentar a matriz energética limpa mas de energia solar novos, com condições especiais;
e assim reduzindo emissões de poluentes; além de z Apoio ao Empreendedorismo: as mais diversas
promover uma maior diversidade entre colabora- soluções de apoio ao micro e pequeno empresário;
dores e incentivar práticas de governança. z Agricultura de Baixa emissão de Carbono —
ABC: incentivo da redução da emissão de gases de
efeito estufa na atividade agropecuária;
z Programa Agroenergia: soluções para o produtor
Negócios rural na busca pela produção de energia limpa e
sustentáveis renovável;
z FCO Rural — Investimento Agropecuário:
consiste no financiamento de materiais e equi-
pamentos de uso destinados à armazenagem, a
Investimento barragens, obras civis, máquinas, implementos,
responsável
energia, irrigação.

Ao fim e ao cabo, a economia verde é um caminho


sem volta, e uma nova chance para que o mercado
Gestão ASG financeiro (e seus atores) repensem uma sociedade
mais justa com um aumento da consciência global

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


sobre o impacto das mudanças climáticas e da perda
da biodiversidade sobre as populações mais vulnerá-
veis. Por fim, é a busca de um crescimento econômico
Dessa forma, as organizações modernas possuem sustentável para a nossa e futuras gerações.
grandes questões econômicas, sociais e ambientais as
quais precisam ser enfrentadas e geridas com o intui- ECONOMIA CIRCULAR
to de evitar e/ou reduzir possíveis impactos na geração
de valor, tanto para o negócio quanto para a sociedade. Conceito
Assim, é imprescindível o foco nos seguintes temas:
Economia circular é um conceito que propõe uma
z mudanças climáticas; mudança no modelo econômico atual, baseado na
z diversidade; extração, produção e descarte de recursos naturais.
z risco socioambiental; Assim, transfere para um modelo que valoriza a reuti-
z ética e governança; lização, a reciclagem e a regeneração desses recursos,
z sustentabilidade; reduzindo o impacto ambiental e social do consumo.
z respeito com os recursos humanos; Desse modo, se inspira na lógica da natureza, onde
z proteção dos dados (privacidade); tudo é aproveitado em um ciclo contínuo de vida,
z respeito aos Direitos Humanos; morte e renascimento. Nesse sentido, a economia cir-
z saúde e segurança do trabalho; cular busca eliminar o conceito de resíduo, transfor-
mando-o em insumo para novos processos produtivos
ou devolvendo-o ao meio ambiente de forma segura. 195
Princípios o governo, as empresas e os consumidores trabalhem
juntos para promover a adoção de práticas de econo-
A economia circular se baseia em alguns princí- mia circular.
pios. São eles:
REFERÊNCIAS
z Redução: minimizar a produção de resíduos
e poluição, desde a concepção dos produtos e BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Economia
serviços; circular: conceitos, oportunidades e desafios. Bra-
z Reutilização: prolongar o ciclo de vida dos produ- sília: MMA, 2022.
tos, reparando, revendendo ou doando;
ELLEN MACARTHUR FOUNDATION. A economia
z Reciclagem: transformar os resíduos em novos
circular: um manual para a transição. Londres:
produtos ou materiais;
Ellen MacArthur Foundation, 2013.
z Compostagem: transformar os resíduos orgânicos
em adubo. UNEP. A economia circular: um guia para a tran-
sição. Genebra: UNEP, 2018.
Vantagens

A economia circular oferece uma série de vanta-


gens, tanto ambientais quanto econômicas. No contex- LEGISLAÇÃO SOBRE DIREITOS
to ambiental, reduz o consumo de recursos naturais,
pois diminui a necessidade de extração de recursos
AUTORAIS, PROPRIEDADE
naturais, como minérios, petróleo e água. Isso ajuda a INTELECTUAL E INDUSTRIAL
proteger o meio ambiente e a reduzir a pressão sobre
os recursos naturais. LEI Nº 9.279, DE 1996
Também há redução da poluição do ar, da água e
do solo. Isso é feito por meio da redução do uso de A livre concorrência é uma das bases da economia
recursos naturais e da eliminação de resíduos. Ainda, moderna e globalizada. A proibição de condutas ilíci-
melhoria da qualidade do ar e da água — a redução da tas por empresas concorrentes protege não apenas as
poluição do ar e da água melhora a qualidade de vida empresas que trabalham corretamente, mas o sistema
das pessoas. Além disso, a conservação da biodiversi- econômico como um todo.
dade, pois reduz a necessidade de desflorestamento e
A Constituição Federal de 1988 prevê, no inciso
destruição de habitats naturais.
XXIX do art. 5º, a proteção da propriedade industrial
Já no âmbito econômico, proporciona o seu cres-
cimento, pois cria novos empregos e oportunidades dentre as garantias fundamentais:
de negócios. Ainda, aumenta a competitividade, pois
as empresas que adotam práticas de economia cir- Art. 5º [...]
cular tornam-se mais competitivas, reduzindo seus XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos
custos e aumentando a eficiência. Também reduz cus- industriais privilégio temporário para sua utiliza-
tos, uma vez que diminui a necessidade de comprar ção, bem como proteção às criações industriais, à
novos materiais e produtos. Gera, ainda, melhoria da propriedade das marcas, aos nomes de empresas e
imagem corporativa, pois as empresas que adotam a outros signos distintivos, tendo em vista o inte-
práticas de economia circular são vistas como mais resse social e o desenvolvimento tecnológico e eco-
sustentáveis e responsáveis. nômico do País;

A ECONOMIA CIRCULAR NO BRASIL O texto constitucional prevê, ainda, a livre concor-


rência como um dos princípios que orientam a ativi-
O Brasil tem um potencial significativo para a dade econômica, inciso IV do art. 170 da CF.
implementação da economia circular. O país possui Com a finalidade de dar efetividade aos manda-
uma grande biodiversidade, que pode ser utilizada mentos constitucionais e coibir práticas de concorrên-
para a produção de matérias-primas renováveis e cia desleal, a Lei nº 9.279, de 1996, Lei de Propriedade
sustentáveis. Além disso, o tem uma população jovem Industrial (LPI), foi promulgada, regulando direitos e
e empreendedora, que pode contribuir para o desen- obrigações relativos à propriedade industrial e esta-
volvimento de novos modelos de negócios circulares. belecendo uma série de condutas delituosas que atin-
Veja, a seguir, alguns exemplos de economia circular: gem o concorrente de forma direta ou que incidem
sobre o ambiente concorrencial.
z empresas de cosméticos que reutilizam embalagens; A Lei nº 9.279, de 1996 é, portanto, uma lei de
z empresas de roupas que oferecem serviços de
repressão à concorrência desleal. Vamos estudá-la!
reparo e customização;
A propriedade intelectual é um gênero que com-
z empresas de alimentos que utilizam resíduos para
porta duas espécies: a propriedade industrial e o
produzir energia ou adubo;
z cidades que investem na coleta seletiva e na direito autoral. A propriedade industrial é protegida
compostagem. pelos crimes previstos na Lei nº 9.279, de 1996; já os
crimes contra o direito autoral são definidos no art.
CONCLUSÃO 184 e seguintes do Código Penal. Completam a prote-
ção à propriedade intelectual a Lei nº 9.609, de 1998,
A economia circular é um modelo econômico pro- que cuida de proteção da propriedade intelectual de
missor que pode trazer diversos benefícios para o programa de computador, e a Lei nº 9.610, de 1998,
196 meio ambiente e para a economia. É importante que que consolida a legislação de direitos autorais.
CRIMES CONTRA A PROPRIEDADE INDUSTRIAL O titular da patente tem o direito de exclusivida-
de sobre o objeto de sua invenção, em todo o territó-
Os crimes contra a propriedade industrial encon- rio nacional. Constitui o crime previsto no art. 183 a
tram-se no Título V da Lei nº 9.279, de 1996, do art. 183 fabricação de produto ou o uso de meio ou processo,
a 210. São dispostos em 5 capítulos: protegido por patente, sem a autorização do titular. O
delito é apenado com pena privativa de liberdade de
z Capítulo I: Dos crimes contra as patentes (arts. 183 detenção de 3 meses a um ano mais multa.
a 186);
z Capítulo II: Dos crimes contra os desenhos indus-
triais (art. 187 a 188); Fabricar produto
z Capítulo III: Dos crimes contra as marcas (art. 189
QUE SEJA OBJETO DE
a 190); PATENTE DE INVENÇÃO,
z Capítulo IV: Dos crimes cometidos por meio de SEM AUTORIZAÇÃO DO
marca, título, de estabelecimento e sinal de propa- TITULAR
ganda (art. 191); Usar meio ou processo
z Capítulo V: Dos crimes contra indicações geográfi-
cas e demais indicações (art 192 a 194);
z Capítulo VI: Dos crimes de concorrência desleal
(art. 195); Patente de invenção é o registro de algo inédito,
z Capítulo VII: Das disposições gerais (arts. 196 a revolucionário (imagine a invenção do band-aid ou da
210). primeira lâmpada).
Patente de modelo de atividade é o registro de um
DOS CRIMES CONTRA AS PATENTES aperfeiçoamento, do acréscimo de uma qualidade a
algo que já existe (por exemplo, o aperfeiçoamento de
Bem jurídico é tudo o que merece a proteção do uma lâmpada para se tornar mais econômica e eficaz).
direito. Atente-se ao bem jurídico protegido em cada
um dos crimes: patentes, marcas, desenho industrial Exploração Comercial de Produto com Violação de
etc. Algumas questões de concurso relacionadas à Patente
Lei nº 9.279, de 1996 podem questionar qual é o bem
Art. 184 Comete crime contra patente de invenção
jurídico protegido (se determinado crime é um crime ou de modelo de utilidade quem:
contra as patentes ou contra concorrência desleal, por I - exporta, vende, expõe ou oferece à venda, tem
exemplo). em estoque, oculta ou recebe, para utilização com
O primeiro bem jurídico protegido pela Lei nº fins econômicos, produto fabricado com violação
9.279, de 1996 são as patentes. de patente de invenção ou de modelo de utilidade,
De acordo com o Instituto Nacional da Proprieda- ou obtido por meio ou processo patenteado; ou
II - importa produto que seja objeto de patente de
de Intelectual – INPI – (2020), patente: “[...] é um título
invenção ou de modelo de utilidade ou obtido por
de propriedade temporária sobre uma invenção ou meio ou processo patenteado no País, para os fins
modelo de utilidade, outorgado pelo Estado aos inven- previstos no inciso anterior, e que não tenha sido
tores ou autores ou outras pessoas físicas ou jurídicas colocado no mercado externo diretamente pelo
detentoras de direitos sobre a criação. Com este direi- titular da patente ou com seu consentimento.
to, o inventor ou o detentor da patente tem o direi- Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) meses, ou
to de impedir terceiros, sem o seu consentimento, de multa.
produzir, usar, colocar a venda, vender ou importar
O art. 184 vem complementar o artigo anterior,
produto objeto de sua patente e/ou processo ou produ-
tratando das condutas relacionadas à exploração
to obtido diretamente por processo por ele patentea-
comercial de produto protegido por patente ou pro-

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


do. Em contrapartida, o inventor se obriga a revelar cesso patenteado. Trata-se de um tipo misto alternati-
detalhadamente todo o conteúdo técnico da matéria vo; se o sujeito ativo pratica um ou vários dos verbos,
protegida pela patente.” no mesmo contexto fático e contra a mesma vítima,
De forma mais simples, pode-se dizer que é uma responde por um só crime. Exportar significa enviar
troca: o inventor apresenta uma novidade útil à socie- para fora do país; importar é trazer de outro país.
dade (um remédio, uma máquina etc.) e o Estado
garante a ele o direito de exclusividade temporário, Contribuição para a Exploração do Objeto da Patente
que impede que terceiros explorem a invenção sem
autorização. Art. 185 Fornecer componente de um produto paten-
teado, ou material ou equipamento para realizar um
processo patenteado, desde que a aplicação final
Exploração Indevida de Objeto Protegido por Patente do componente, material ou equipamento induza,
necessariamente, à exploração do objeto da patente.
Art. 183 Comete crime contra patente de invenção Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) meses, ou
ou de modelo de utilidade quem: multa.
I - fabrica produto que seja objeto de patente de
invenção ou de modelo de utilidade, sem autoriza- O art. 185 visa punir quem contribui para a prá-
ção do titular; ou tica dos crimes anteriores mediante o fornecimento
II - usa meio ou processo que seja objeto de patente de algum componente de um produto patenteado ou
de invenção, sem autorização do titular. material ou equipamento a ser usado com a finalidade
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou de que tais elementos fornecidos possibilitem a viola-
multa. ção de patente de algum objeto. Para que se configure 197
o delito do art. 185, o agente deve, necessariamente, ter O art. 188 pune, no inciso I, a exploração comer-
conhecimento de que o componente, material ou equi- cial (exportação, venda, exposição ou oferecimento
pamento fornecido será utilizado para violar a patente. à venda, manutenção em estoque, ocultação ou rece-
bimento para fins econômicos) de objeto fabricado
Infração por Equivalência com violação de registro de desenho industrial ou de
imitação que possa induzir em erro ou confusão. No
Art. 186 Os crimes deste Capítulo caracterizam-se inciso II, pune a importação de produto que incorpore
ainda que a violação não atinja todas as reivindica- desenho industrial, sem a autorização de seu titular,
ções da patente ou se restrinja à utilização de meios ou a importação de imitação que possa induzir o con-
equivalentes ao objeto da patente. sumidor em erro.
O art. 186 da Lei nº 9.279, de 1996 introduziu uma CRIMES CONTRA AS MARCAS
novidade no ordenamento jurídico brasileiro: a infra-
ção por equivalência. A regra é que a violação de
Marca, de acordo com o INPI, é todo sinal distin-
patentes é constatada quando ocorre a violação literal
tivo que tem por finalidade principal identificar a
do que consta no documento de patente (chamado de
Carta-Patente). O que o art. 186 traz é uma exceção: origem e distinguir produtos ou serviços de outros
ocorrem os crimes previstos nos arts. 184 a 185 ainda idênticos, semelhantes ou afins de origem diversa. As
que a patente não tenha sido violada em sua integra- marcas são protegidas pelos tipos penais dos arts. 189
lidade, mas desde que tenha ocorrido a violação com e 190 da LPI.
a substituição de certos elementos por outros, tecnica-
mente equivalentes. Reprodução, Alteração, Imitação de Marca sem
Autorização
CRIMES CONTRA OS DESENHOS INDUSTRIAIS
Art. 189 Comete crime contra registro de marca
quem:
A definição de desenho industrial encontra-se no
I - reproduz, sem autorização do titular, no todo
art. 95 da LPI:
ou em parte, marca registrada, ou imita-a de modo
que possa induzir confusão; ou
Art. 95 Considera-se desenho industrial a forma II - altera marca registrada de outrem já aposta em
plástica ornamental de um objeto ou o conjunto produto colocado no mercado.
ornamental de linhas e cores que possa ser aplica- Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou
do a um produto, proporcionando resultado visual multa.
novo e original na sua configuração externa e que
possa servir de tipo de fabricação industrial.
A primeira conduta, prevista no inciso I, pune
a reprodução de marca (no todo ou em parte) sem
Os delitos contra os desenhos industriais estão pre- autorização ou a imitação que possa levar à confusão
vistos nos arts. 187 e 188 da LPI. (no caso da imitação só vai haver crime se a imitação
puder confundir).
Incorporação de Desenho Industrial sem Autorização Já a segunda conduta, prevista no inciso II, trata
ou Imitação de Desenho com fim de Induzir em Erro da adulteração de marca de produto já colocado no
ou Confusão mercado.

Art. 187 Fabricar, sem autorização do titular, pro- Exploração de Produto com Violação a Registro de
duto que incorpore desenho industrial registrado,
Marca
ou imitação substancial que possa induzir em erro
ou confusão.
Art. 190 Comete crime contra registro de marca
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou
quem importa, exporta, vende, oferece ou expõe à
multa.
venda, oculta ou tem em estoque:
I - produto assinalado com marca ilicitamente
O tipo penal do art. 187 visa punir duas condutas reproduzida ou imitada, de outrem, no todo ou em
distintas. A primeira é de fabricar produto que incor- parte; ou
pore (contenha) desenho industrial registrado sem a II - produto de sua indústria ou comércio, contido
autorização de seu titular. A segunda conduta consis- em vasilhame, recipiente ou embalagem que conte-
te na imitação de desenho que tenha a capacidade de nha marca legítima de outrem.
confundir o consumidor. Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) meses, ou
multa.
Art. 188 Comete crime contra registro de desenho
industrial quem: De acordo com o art. 190, comete crime quem
I - exporta, vende, expõe ou oferece à venda, tem em explora economicamente (importa, exporta, vende,
estoque, oculta ou recebe, para utilização com fins oferece ou expõe à venda, oculta ou tem em estoque):
econômicos, objeto que incorpore ilicitamente dese-
nho industrial registrado, ou imitação substancial z Produto com marca reproduzida ou imitada de
que possa induzir em erro ou confusão; ou
forma ilícita;
II - importa produto que incorpore desenho indus-
z Produto próprio em recipiente de marca de produ-
trial registrado no País, ou imitação substancial
que possa induzir em erro ou confusão, para os
to original.
fins previstos no inciso anterior, e que não tenha
sido colocado no mercado externo diretamente pelo CRIMES COMETIDOS POR MEIO DE MARCA, TÍTULO
titular ou com seu consentimento. DE ESTABELECIMENTO E SINAL DE PROPAGANDA
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) meses, ou
198 multa. O Capítulo V traz apenas o tipo penal do art. 191.
Reprodução ou Imitação não Autorizada de Símbolos Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) meses, ou
Oficiais multa.
Art. 194 Usar marca, nome comercial, título de
Art. 191 Reproduzir ou imitar, de modo que pos- estabelecimento, insígnia, expressão ou sinal de
sa induzir em erro ou confusão, armas, brasões ou propaganda ou qualquer outra forma que indique
distintivos oficiais nacionais, estrangeiros ou inter- procedência que não a verdadeira, ou vender ou
nacionais, sem a necessária autorização, no todo expor à venda produto com esses sinais.
ou em parte, em marca, título de estabelecimento, Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) meses, ou
nome comercial, insígnia ou sinal de propaganda,
multa.
ou usar essas reproduções ou imitações com fins
econômicos.
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) meses, ou CRIMES CONTRA A CONCORRÊNCIA DESLEAL
multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem ven- O art. 195, último dos tipos penais previstos na LPI,
de ou expõe ou oferece à venda produtos assinala- cuida dos crimes de concorrência desleal. Concorrên-
dos com essas marcas. cia desleal pode ser entendida, genericamente, como
qualquer ato contrário às boas normas da concorrên-
De acordo com o inciso I do art. 121 da LPI, é proi- cia comercial, praticado com a finalidade de desviar a
bido o registro de marca que reproduza ou imite clientela de um ou mais concorrentes, causando-lhes
símbolos oficiais (brasão, armas, medalha, bandeira, prejuízo. É o mais extenso dos tipos penais previstos
emblema, distintivo e monumento oficiais, públicos, na LPI, trazendo 14 incisos contendo condutas que
nacionais, estrangeiros ou internacionais, bem como configuram crime de concorrência desleal.
a respectiva designação, figura ou imitação).
Caso seja utilizado símbolo oficial sem autorização Art. 195 Comete crime de concorrência desleal
em marca, título de estabelecimento, nome comer- quem:
cial, insígnia ou sinal de propaganda, ou, ainda, sejam I - publica, por qualquer meio, falsa afirmação,
utilizadas essas reproduções com fins econômicos, em detrimento de concorrente, com o fim de obter
de modo que possa induzir o consumidor em erro, vantagem;
o agente vai incidir no tipo penal do art. 191 (dando II - presta ou divulga, acerca de concorrente, falsa
a ideia, por exemplo, de que determinado produto é informação, com o fim de obter vantagem;
“oficial” ou “indicado pelas autoridades”).
Por força do parágrafo único do art. 191, responde Os incisos I e II tratam da concorrência desleal
pelo mesmo crime quem vende ou coloca à venda os mediante à divulgação de falsas informações. É a
produtos assinalados com essas marcas. famosa conduta de quem divulga informações falsas
afirmando que o produto do concorrente causa pre-
CRIMES CONTRA INDICAÇÕES GEOGRÁFICAS E juízos à saúde, visando que os consumidores deixem
DEMAIS INDICAÇÕES de adquirir tal produto e busquem pelo seu.

Determinados produtos tradicionais possuem uma Art. 195 [...]


classificação ou certificação oficial que os reconhecem III - emprega meio fraudulento, para desviar, em
como característicos de determinada origem regional proveito próprio ou alheio, clientela de outrem;
ou da maneira de fazer (como as cachaças de Paraty, no
Rio de Janeiro, o queijo Canastra, de Minas Gerais e o O inciso III apresenta uma fórmula genérica, de
cacau do Sul da Bahia, por exemplo). Tais indicações são caráter residual: se a conduta não se enquadrar em
protegidas pelos arts. 192 a 194 da Lei nº 9.279, de 1996. nenhum outro inciso, pode haver o enquadramen-
to da concorrência desleal em “emprego de meio
Exploração Econômica de Produto com Falsa fraudulento”.
Indicação Geográfica

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


Art. 195 [...]
Art. 192 Fabricar, importar, exportar, vender, expor IV - usa expressão ou sinal de propaganda alheios,
ou oferecer à venda ou ter em estoque produto que ou os imita, de modo a criar confusão entre os pro-
apresente falsa indicação geográfica. dutos ou estabelecimentos;
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) meses, ou
multa. O inciso IV pune o uso indevido de expressão ou
sinal de propaganda que cria confusão entre produtos
O art. 192 pune a exploração econômica (fabri- ou estabelecimentos.
cação, importação, exportação, venda, exposição ou
oferecimento à venda ou manutenção em estoque) de Art. 195 [...]
produto que apresente falsa indicação geográfica. V - usa, indevidamente, nome comercial, título de
Os arts. 193 e 194 trazem condutas que comple- estabelecimento ou insígnia alheios ou vende, expõe
mentam o art. 192, no sentido de impedir que se frau- ou oferece à venda ou tem em estoque produto com
de a verdadeira procedência do produto: essas referências;

Art. 193 Usar, em produto, recipiente, invólucro, Completando a proteção do inciso anterior, o inci-
cinta, rótulo, fatura, circular, cartaz ou em outro so V pune a exploração comercial (vender, expor,
meio de divulgação ou propaganda, termos reti- oferecer à venda ou ter em estoque) com a utilização
ficativos, tais como “tipo”, “espécie”, “gênero”, indevida de nome comercial, título de estabelecimen-
“sistema”, “semelhante”, “sucedâneo”, “idêntico”, to ou insígnia.
ou equivalente, não ressalvando a verdadeira pro-
cedência do produto. 199
Art. 195 [...] DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
VI - substitui, pelo seu próprio nome ou razão
social, em produto de outrem, o nome ou razão Os arts. 196 a 210 da Lei tratam de uma série de
social deste, sem o seu consentimento; disposições gerais que se aplicam aos crimes previstos
na Lei. Merecem destaque as seguintes:
O inciso VI pune a adulteração do nome ou razão
social em produto de terceiro.
z Causa de aumento para as penas de detenção (art.
Art. 195 [...] 196), de 1/3 até a metade se o agente é ou foi repre-
VII - atribui-se, como meio de propaganda, recom- sentante, mandatário, preposto, sócio ou emprega-
pensa ou distinção que não obteve; do do titular da patente ou do registro, ou, ainda,
do seu licenciado; ou se a marca alterada, reprodu-
O inciso VII pune a conduta de falsa atribuição zida ou imitada for de alto renome, notoriamente
de recompensa ou distinção como, por exemplo, de conhecida, de certificação ou coletiva;
empresa que diz falsamente ter ganhado prêmio de z Ação penal nos crimes previstos na Lei, exce-
melhor empresa no ramo, atraindo de forma engano- to quanto ao crime do art. 191, que se procede
sa os consumidores. mediante queixa. Os demais crimes são de ação
penal pública (procedem independentemente da
Art. 195 [...] manifestação da vítima).
VIII - vende ou expõe ou oferece à venda, em recipien-
te ou invólucro de outrem, produto adulterado ou fal-
LEI Nº 9.609, DE 1998
sificado, ou dele se utiliza para negociar com produto
da mesma espécie, embora não adulterado ou falsifi-
cado, se o fato não constitui crime mais grave; A proteção da propriedade imaterial engloba uma
série de normas: além dos crimes contra o direito
autoral, definidos no art. 184 e seguintes do Código
O inciso VIII pune a adulteração do conteúdo do
Penal, algumas outras leis tutelam outros aspectos da
produto, caso não configure crime mais grave (como propriedade intelectual, como a Lei nº 9.279, de 1996,
crime contra a saúde pública, por exemplo). que cuida da propriedade intelectual; a Lei nº 9.609,
de 1998, que trata da violação da propriedade intelec-
Art. 195 [...] tual de programas de computador e a Lei nº 9.610, de
IX - dá ou promete dinheiro ou outra utilidade a empre- 1998, sobre direitos autorais.
gado de concorrente, para que o empregado, faltando Vamos estudar agora a Lei nº 9.609, de 1998, conhe-
ao dever do emprego, lhe proporcione vantagem; cida como Lei do Software.
X - recebe dinheiro ou outra utilidade, ou aceita
promessa de paga ou recompensa, para, faltando PROGRAMA DE COMPUTADOR
ao dever de empregado, proporcionar vantagem a
concorrente do empregador;
A Lei nº 9.609, de 1998 dispõe sobre a proteção da
XI - divulga, explora ou utiliza-se, sem autorização,
propriedade intelectual de programa de computador,
de conhecimentos, informações ou dados confiden-
sua comercialização no país, e dá outras providências.
ciais, utilizáveis na indústria, comércio ou pres-
A Lei regula a proteção aos direitos de autor e
tação de serviços, excluídos aqueles que sejam de
do registro do programa de computador, cuida das
conhecimento público ou que sejam evidentes para
garantias aos usuários de programa, dos contratos de
um técnico no assunto, a que teve acesso mediante
licença e, por fim, estabelece infrações e penalidades.
relação contratual ou empregatícia, mesmo após o
O conceito de programa de computador encontra-
término do contrato;
-se logo em seu art. 1º:
XII - divulga, explora ou utiliza-se, sem autoriza-
ção, de conhecimentos ou informações a que se
Art. 1º Programa de computador é a expressão de
refere o inciso anterior, obtidos por meios ilícitos
um conjunto organizado de instruções em linguagem
ou a que teve acesso mediante fraude; ou
natural ou codificada, contida em suporte físico de
XIII - vende, expõe ou oferece à venda produto, qualquer natureza, de emprego necessário em máqui-
declarando ser objeto de patente depositada, ou nas automáticas de tratamento da informação, dis-
concedida, ou de desenho industrial registrado, que positivos, instrumentos ou equipamentos periféricos,
não o seja, ou menciona-o, em anúncio ou papel baseados em técnica digital ou análoga, para fazê-los
comercial, como depositado ou patenteado, ou funcionar de modo e para fins determinados.
registrado, sem o ser;
XIV - divulga, explora ou utiliza-se, sem autoriza- PROTEÇÃO AOS DIREITOS DE AUTOR E DO
ção, de resultados de testes ou outros dados não REGISTRO
divulgados, cuja elaboração envolva esforço consi-
derável e que tenham sido apresentados a entida- De acordo com o art. 2º, o regime de proteção à
des governamentais como condição para aprovar a propriedade intelectual de programa de computador
comercialização de produtos. é o mesmo conferido às obras literárias pela legisla-
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa. ção de direitos autorais e conexos vigentes no país,
observado o disposto nesta Lei.
Para que haja a aprovação da comercialização de
No entanto, há limitações: não se aplicam ao pro-
certos produtos, como alguns farmacêuticos ou agrí- grama de computador as disposições relativas aos
colas, as empresas precisam apresentar resultados direitos morais, a não ser que eventual alteração não
de testes a um órgão regulador (como a ANVISA, por autorizada no programa afete a honra ou a reputação
exemplo). O conteúdo de tais testes contém informa- do autor (nesse caso, o autor pode, a qualquer tempo,
ções sobre a tecnologia do produto ou da empresa, de reivindicar a paternidade do programa de computador
forma que a divulgação, exploração ou utilização de e o direito do autor de opor-se a alterações não autori-
tais informações por outra empresa configura concor- zadas, quando estas impliquem deformação, mutilação
200 rência desleal, punida pela Lei. ou outra modificação do programa de computador).
Os direitos relativos a programa de computado- informações tecnológicas, segredos industriais e de
res são protegidos pelo prazo de 50 anos, contados a negócios, materiais, instalações ou equipamentos do
partir de 1º de janeiro do ano subsequente ao da sua empregador, da empresa ou entidade com a qual o
publicação (na ausência desta, do ano de sua criação). empregador mantenha contrato de prestação de ser-
Os direitos atribuídos pela Lei nº 9.609, de 1998 são viços ou assemelhados, do contratante de serviços ou
assegurados aos estrangeiros domiciliados no exte-
órgão público. (§ 2º do art. 4º).
rior, desde que o país de origem do programa conce-
da direitos equivalentes aos brasileiros e estrangeiros
domiciliados no Brasil (§ 4°, art. 2°). Violação aos Direitos do Titular do Programa de
Computador

Importante! Art. 6º Não constituem ofensa aos direitos do titu-


lar de programa de computador:
A proteção aos direitos de propriedade intelec- I - a reprodução, em um só exemplar, de cópia legi-
tual, pela Lei nº 9.609, de 1998, independe de timamente adquirida, desde que se destine à cópia
registro do programa de computador. Caso quei- de salvaguarda ou armazenamento eletrônico,
ra, o autor pode registrar, mas o registro não é hipótese em que o exemplar original servirá de
necessário para a defesa dos direitos. salvaguarda;
II - a citação parcial do programa, para fins didáti-
cos, desde que identificados o programa e o titular
Caso o autor opte por registrar o programa, deve dos direitos respectivos;
informar os seguintes dados: III - a ocorrência de semelhança de programa a outro,
preexistente, quando se der por força das caracterís-
Art. 3º [...] ticas funcionais de sua aplicação, da observância de
§ 1º O pedido de registro estabelecido neste preceitos normativos e técnicos, ou de limitação de
artigo deverá conter, pelo menos, as seguintes forma alternativa para a sua expressão;
informações: IV - a integração de um programa, mantendo-se
I - os dados referentes ao autor do programa de suas características essenciais, a um sistema apli-
computador e ao titular, se distinto do autor, sejam
cativo ou operacional, tecnicamente indispensável
pessoas físicas ou jurídicas;
às necessidades do usuário, desde que para o uso
II - a identificação e descrição funcional do progra-
exclusivo de quem a promoveu.
ma de computador; e
III - os trechos do programa e outros dados que se
considerar suficientes para identificá-lo e caracteri- Não configura violação aos direitos do titular do
zar sua originalidade, ressalvando-se os direitos de programa de computador uma única cópia de backup
terceiros e a responsabilidade do Governo. (cópia de segurança), assim como a citação parcial do
programa para fins didáticos.
As informações constantes no pedido de registro
têm caráter sigiloso, não podendo ser reveladas, sal- Garantias aos Usuários de Programas de Computador
vo por ordem judicial ou a requerimento do próprio
titular. A Lei também estabelece algumas garantias ao
usuário do programa. O prazo de validade deve cons-
Direitos do Desenvolvedor Empregado tar de forma clara. Dentro de tal prazo, quem comer-
cializar o programa fica obrigado a assegurar aos
Desenvolvedor empregado é a pessoa contratada usuários a prestação de serviços técnicos complemen-
para desenvolver programa de computador. A Lei nº tares relativos ao adequado funcionamento do pro-
9.609, de 1998 estabelece diretrizes acerca dos direitos grama, consideradas suas especificações (ainda que o
desse tipo de empregado. programa seja retirado de circulação durante o prazo

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


Salvo estipulação em contrário: de validade, salvo no caso de indenização ao usuário).

z Pertencerão exclusivamente ao empregador, con- Contratos de Licença de Uso, de Comercialização e


tratante de serviços ou órgão público, os direitos
de Transferência de Tecnologia
relativos ao programa de computador, desenvolvi-
do e elaborado durante a vigência de contrato ou
De acordo com o art. 9º da Lei n° 9.609, de 1998, o
de vínculo estatutário, expressamente destinado à
uso de programa de computador, no Brasil, será obje-
pesquisa e desenvolvimento; em que a atividade
to de contrato de licença. Na falta de tal contrato, o
do empregado, contratado de serviço ou servidor,
seja prevista, ou ainda, que decorra da própria documento fiscal relativo à aquisição ou licenciamen-
natureza dos encargos concernentes a esses víncu- to de cópia servirá para comprovação da regularidade
los (art. 4º); do seu uso. Ou seja, na ausência de contrato, a nota
z A compensação do trabalho ou serviço prestado fiscal da aquisição do software é prova da regularida-
limitar-se-á à remuneração ou ao salário combina- de de seu uso.
do (§ 1º do art. 4º).
DAS INFRAÇÕES E DAS PENALIDADES
Pertencem com exclusividade ao empregado, con-
tratado de serviço ou servidor, os direitos concernen- As infrações e as penalidades previstas pela Lei nº
tes a programa de computador gerado sem relação 9.609, de 1998 encontram-se nos seus arts. 12 a 14.
com o contrato de trabalho, prestação de serviços ou
vínculo estatutário, e sem a utilização de recursos, 201
Violação de Direitos Autorais de Programa de Para que se comprove a violação ao direito do
Computador autor de programa de computador, é necessária a bus-
ca e a apreensão do software para fins de perícia que
Art. 12 Violar direitos de autor de programa de vai demonstrar ou não a ocorrência da violação.
computador:
Pena - Detenção de seis meses a dois anos ou multa. Responsabilização Cível
§ 1º Se a violação consistir na reprodução, por qual-
quer meio, de programa de computador, no todo A Lei nº 9.609, de 1998 prevê ainda, em seu art. 14,
ou em parte, para fins de comércio, sem autoriza- a possibilidade do autor que tiver seu direito violado
ção expressa do autor ou de quem o represente:
de ingressar com ação cível para impedir o infrator de
Pena - Reclusão de um a quatro anos e multa.
continuar a praticar a violação, podendo tal ação ser
§ 2º Na mesma pena do parágrafo anterior incor-
cumulada com perdas e danos pelos prejuízos decor-
re quem vende, expõe à venda, introduz no País,
adquire, oculta ou tem em depósito, para fins de rentes da infração. Em tal ação, o juiz pode conceder
comércio, original ou cópia de programa de com- liminar determinando ao infrator que pare de prati-
putador, produzido com violação de direito autoral. car a violação.
Havendo informações confidenciais, o juiz deter-
O caput do art. 12 traz uma fórmula genérica, minará que o processo siga em segredo de justiça (as
punindo qualquer forma de violação ao direito auto- partes não podem usar as informações que constam
ral do autor do programa de computador. Os parágra- no processo para outros fins).
fos 1º e 2º apresentam modalidades qualificadas que Por fim, a Lei também prevê a responsabilização
se configuram quando a reprodução ilegal se dá para cível daquele que, agindo de má-fé ou por espírito
fins comerciais. de emulação (disputa) , capricho ou erro grosseiro,
requerer ou promover as medidas previstas nos arts.
Ação Penal 12 e 13 (comunicar crime de violação de programa e/
ou requerer busca e apreensão).
Art. 12 [...]
§ 3º Nos crimes previstos neste artigo, somente se LEI Nº 9.610, DE 1998
procede mediante queixa, salvo:
I - quando praticados em prejuízo de entidade de A proteção da propriedade imaterial compreende uma
direito público, autarquia, empresa pública, socie- série de normas constitucionais e infraconstitucionais.
dade de economia mista ou fundação instituída O art. 5º, da Constituição Federal de 1988 (CF), asse-
pelo poder público; gura a liberdade de expressão da atividade intelectual,
II - quando, em decorrência de ato delituoso, resul- artística, científica e de comunicação, independente-
tar sonegação fiscal, perda de arrecadação tribu- mente de censura ou licença (Inc. IX). O mesmo artigo
tária ou prática de quaisquer dos crimes contra a afirma o caráter patrimonial dos direitos autorais e a
ordem tributária ou contra as relações de consumo. proteção aos direitos do autor (Inc. XXVII). Ainda, asse-
§ 4º No caso do inciso II do parágrafo anterior, a gura o direito à fiscalização ao aproveitamento econô-
exigibilidade do tributo, ou contribuição social e
mico das obras autorais (Inc. XXVIII).
qualquer acessório, processar-se-á independente-
Por sua vez, o art. 220, da CF, garante a liberdade de
mente de representação.
criação. No plano infraconstitucional, a proteção aos
direitos autorais encontra-se:
A regra é que ação penal nos crimes de violação de
direito autoral de programa de computador é privada,
z No Código Penal, que prevê crimes contra o direito
ou seja, se procede mediante queixa que é apresenta-
autoral nos arts. 184 e seguintes;
da por um advogado contratado pela vítima. Excep-
z Na Lei nº 9.279, de 1996, que cuida da propriedade
cionalmente, a ação é pública, sendo procedida pelo
intelectual;
representante do Ministério Público, independente-
z Na Lei nº 9.609, de 1998, que trata da violação da pro-
mente da vontade da vítima.
priedade intelectual de programas de computador;
O § 4º afirma que, resultando sonegação fiscal,
z Na Lei nº 9.610, de 1998, Lei de Direitos Autorais (LDA),
os crimes contra a ordem tributária vão se apurar
que alterou, atualizou e consolidou a legislação sobre
mediante ação pública incondicionada (o Ministério
direitos autorais, além de dar outras providências.
Público atuará sem necessidade de manifestação da
vítima).
É sobre essa última que focalizaremos nossos
estudos.
Busca e Apreensão
A propriedade intelectual é um gênero que com-
porta duas espécies: a propriedade industrial e o
Art. 13 A ação penal e as diligências preliminares
de busca e apreensão, nos casos de violação de
direito autoral. A propriedade industrial é protegida
direito de autor de programa de computador, serão pelos crimes previstos na Lei nº 9.279, de 1996; já os
precedidas de vistoria, podendo o juiz ordenar crimes contra o direito autoral são definidos nos arts.
a apreensão das cópias produzidas ou comer- 184 e seguintes do Código Penal. Completam a prote-
cializadas com violação de direito de autor, ção à propriedade intelectual, a Lei nº 9.609, de 1998,
suas versões e derivações, em poder do infrator ou que cuida da proteção da propriedade intelectual de
de quem as esteja expondo, mantendo em depósito, programa de computador e a Lei nº 9.610, de 1998,
reproduzindo ou comercializando. que consolida a legislação de direitos autorais.

202
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES DA LEI Nº 9.610, DE II - transmissão ou emissão - a difusão de sons
1998 ou de sons e imagens, por meio de ondas radioe-
létricas; sinais de satélite; fio, cabo ou outro con-
Antes de mais nada, vale mencionar que existem dutor; meios óticos ou qualquer outro processo
eletromagnético;
dois sistemas principais de proteção ao direito do
III - retransmissão - a emissão simultânea da trans-
autor: o copyright, que é o sistema anglo-americano e o missão de uma empresa por outra;
droitd’auteur, o sistema francês ou continental. O siste- IV - distribuição - a colocação à disposição do públi-
ma de copyright preocupa-se com a exploração econô- co do original ou cópia de obras literárias, artísti-
mica da obra e visa proteger, basicamente, o direito à cas ou científicas, interpretações ou execuções
reprodução de cópias; já o sistema do droitd’auteur se fixadas e fonogramas, mediante a venda, locação
preocupa com a figura do autor e protege tanto os direi- ou qualquer outra forma de transferência de pro-
tos patrimoniais quanto os direitos morais do autor da priedade ou posse;
V - comunicação ao público - ato mediante o qual
obra. O Brasil adota esse último sistema.
a obra é colocada ao alcance do público, por qual-
Os direitos morais dizem respeito aos direitos de quer meio ou procedimento e que não consista na
personalidade do autor e asseguram que, indepen- distribuição de exemplares;
dentemente de quem exerça os direitos patrimoniais, VI - reprodução - a cópia de um ou vários exem-
o autor será sempre creditado como o criador da obra. plares de uma obra literária, artística ou científica
Por outro lado, os direitos patrimoniais são os direitos ou de um fonograma, de qualquer forma tangível,
econômicos sobre a obra, isto é, os direitos que autori- incluindo qualquer armazenamento permanente
zam o seu titular a explorá-la comercialmente. ou temporário por meios eletrônicos ou qualquer
A Lei nº 9.610, de 1998 regula os direitos autorais. outro meio de fixação que venha a ser desenvolvido;
VII - contrafação - a reprodução não autorizada;
A denominação direitos autorais abrange não só os
VIII - obra:
direitos do autor, mas também os direitos conexos ao
a) em co-autoria - quando é criada em comum, por
autor, isto é, os direitos daqueles que acrescentam valor
dois ou mais autores;
à obra, como é o caso dos intérpretes, executantes, pro-
b) anônima - quando não se indica o nome do autor,
dutores fonográficos etc. Os direitos conexos são inde- por sua vontade ou por ser desconhecido;
pendentes e não prejudicam os direitos dos autores. c) pseudônima - quando o autor se oculta sob nome
A Lei assegura, também, a proteção aos estrangei- suposto;
ros domiciliados no exterior, que gozam da proteção d) inédita - a que não haja sido objeto de publicação;
assegurada nos acordos, convenções e tratados em e) póstuma - a que se publique após a morte do
vigor no Brasil. Neste sentido, pode-se entender que o autor;
disposto na Lei nº 9.610, de 1998 é aplicado, de acordo f) originária - a criação primígena;
com o parágrafo único, do art. 2º, aos nacionais ou pes- g) derivada - a que, constituindo criação intelectual
soas domiciliadas em país que assegure aos brasileiros nova, resulta da transformação de obra originária;
ou pessoas domiciliadas no Brasil a reciprocidade na h) coletiva - a criada por iniciativa, organização e
proteção aos direitos autorais ou equivalentes. Ou seja, responsabilidade de uma pessoa física ou jurídica,
se determinado país proteger os direitos autorais ou que a publica sob seu nome ou marca e que é consti-
equivalentes de brasileiros ou de pessoas aqui domi- tuída pela participação de diferentes autores, cujas
ciliadas, por reciprocidade, será aplicado o que prevê contribuições se fundem numa criação autônoma;
a Lei nº 9.610, de 1998 aos nacionais daquele país ou i) audiovisual - a que resulta da fixação de imagens
às pessoas que nele tenham domicílio. com ou sem som, que tenha a finalidade de criar,
São protegidos pela lei os seguintes sujeitos: por meio de sua reprodução, a impressão de movi-
mento, independentemente dos processos de sua
z O nacional (brasileiro); captação, do suporte usado inicial ou posterior-
z O estrangeiro domiciliado no Brasil; mente para fixá-lo, bem como dos meios utilizados
z O estrangeiro domiciliado no exterior, desde que para sua veiculação;
haja reciprocidade. IX - fonograma - toda fixação de sons de uma execu-
ção ou interpretação ou de outros sons, ou de uma

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


representação de sons que não seja uma fixação
Apenas para efeitos legais, o direito autoral é con-
incluída em uma obra audiovisual;
siderado bem móvel. Nos termos do art. 3º desta Lei. Já
X - editor - a pessoa física ou jurídica à qual se atri-
o art. 4º dispõe que os negócios jurídicos sobre direi- bui o direito exclusivo de reprodução da obra e o
tos autorais são interpretados restritivamente. Por dever de divulgá-la, nos limites previstos no contra-
exemplo, um contrato sobre direito autoral celebrado to de edição;
antes do surgimento da internet não pode presumir XI - produtor - a pessoa física ou jurídica que toma
que seu uso alcance a rede mundial de computadores. a iniciativa e tem a responsabilidade econômica da
primeira fixação do fonograma ou da obra audio-
Art. 4º Interpretam-se restritivamente os negócios visual, qualquer que seja a natureza do suporte
jurídicos sobre os direitos autorais. utilizado;
XII - radiodifusão - a transmissão sem fio, inclusi-
Conceitos ve por satélites, de sons ou imagens e sons ou das
representações desses, para recepção ao público
O art. 5º apresenta uma série de conceitos: e a transmissão de sinais codificados, quando os
meios de decodificação sejam oferecidos ao públi-
Art. 5º Para os efeitos desta Lei, considera-se: co pelo organismo de radiodifusão ou com seu
I - publicação - o oferecimento de obra literária, consentimento;
artística ou científica ao conhecimento do público, XIII - artistas intérpretes ou executantes - todos os
com o consentimento do autor, ou de qualquer outro atores, cantores, músicos, bailarinos ou outras pes-
titular de direito de autor, por qualquer forma ou soas que representem um papel, cantem, recitem,
processo; declamem, interpretem ou executem em qualquer 203
forma obras literárias ou artísticas ou expressões IV - as obras coreográficas e pantomímicas, cuja
do folclore. execução cênica se fixe por escrito ou por outra
XIV - titular originário - o autor de obra intelectual, qualquer forma;
o intérprete, o executante, o produtor fonográfico e V - as composições musicais, tenham ou não letra;
as empresas de radiodifusão. VI - as obras audiovisuais, sonorizadas ou não,
inclusive as cinematográficas;
Obras Subvencionadas VII - as obras fotográficas e as produzidas por qual-
quer processo análogo ao da fotografia;
O Estado brasileiro, por força do mandamento VIII - as obras de desenho, pintura, gravura, escul-
constitucional previsto no art. 216, § 3º, da CF, tem o tura, litografia e arte cinética;
dever de garantir o incentivo da cultura por meio de IX - as ilustrações, cartas geográficas e outras
obras da mesma natureza;
incentivos para a produção e a divulgação de bens
X - os projetos, esboços e obras plásticas concer-
e valores culturais. Uma das formas de realizar esse
nentes à geografia, engenharia, topografia, arquite-
incentivo é por meio da subvenção (patrocínio) de
tura, paisagismo, cenografia e ciência;
obras, como livros, peças teatrais e filmes. Nesses XI - as adaptações, traduções e outras transforma-
casos, a LDA estabelece, em seu art. 6º, que as obras ções de obras originais, apresentadas como criação
subvencionadas (produtos de incentivo governamen- intelectual nova;
tal) não pertencem ao domínio da União, dos Estados, XII - os programas de computador;
do Distrito Federal ou dos Municípios. XIII - as coletâneas ou compilações, antologias, enci-
clopédias, dicionários, bases de dados e outras obras,
Art. 216 (CF, de 1988) [...] que, por sua seleção, organização ou disposição de
§ 3º A lei estabelecerá incentivos para a produção e seu conteúdo, constituam uma criação intelectual.
o conhecimento de bens e valores culturais.
Art. 6º (Lei nº 9.610)Não serão de domínio da União,
dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios Importante!
as obras por eles simplesmente subvencionadas.
Os programas de computador são objeto de
Dica: é possível que a Administração venha a legislação específica, observadas as disposições
obter a titularidade dos direitos patrimoniais sobre desta Lei que lhes sejam aplicáveis (§ 1º, art. 7º).
uma obra protegida, adquirida mediante contrato. A proteção aos programas de computador não
Nesse caso, conforme apontou o Tribunal de Contas abrange os dados ou materiais em si mesmos
da União (TCU), por meio do Acórdão TCU 883, de e se entende sem prejuízo de quaisquer direitos
2008-Plenário, o contrato firmado com o criador da autorais que subsistam a respeito dos dados ou
obra deverá expressamente prever a transmissão materiais contidos nas obras.
desses direitos. Não havendo a previsão expressa de
transmissão dos direitos patrimoniais, eles permane-
cem sob a titularidade do autor, sendo indiferente o Por outro lado, o art. 8º trata das obras não protegi-
fato de a obra ter sido custeada com dinheiro público, das pela Lei de Direitos Autorais. Vejamos:
sob encomenda da Administração.
Art. 8° [...]
Obras Intelectuais I - as idéias, procedimentos normativos, sistemas, méto-
dos, projetos ou conceitos matemáticos como tais;
Art. 7º São obras intelectuais protegidas as cria- II - os esquemas, planos ou regras para realizar
ções do espírito, expressas por qualquer meio ou atos mentais, jogos ou negócios;
fixadas em qualquer suporte, tangível ou intangí- III - os formulários em branco para serem preenchi-
vel, conhecido ou que se invente no futuro. dos por qualquer tipo de informação, científica ou
não, e suas instruções;
O art. 7º da LDA aponta quais obras são protegidas IV - os textos de tratados ou convenções, leis, decre-
pelo direito autoral. Por obra intelectual, entende-se tos, regulamentos, decisões judiciais e demais atos
toda criação do intelecto humano que contenha traços oficiais;
de originalidade e criatividade e que esteja expressa V - as informações de uso comum tais como calen-
por qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte, dários, agendas, cadastros ou legendas;
VI - os nomes e títulos isolados;
tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no
VII - o aproveitamento industrial ou comercial das
futuro.
idéias contidas nas obras
Da leitura do caput do art 7º, é possível notar a
preocupação da Lei em ser a obra uma criação do
Caso a obra se encontre entre as hipóteses previs-
intelecto humano e ter sido exteriorizada (ideias não
tas, não se aplicam os dispositivos da LDA.
são protegidas), destacando a importância do meio
utilizado para expressá-la.
Os incisos do art. 7º apontam, de forma exemplifi- Proteção aos Títulos das Obras
cativa, as obras intelectuais a serem protegidas pela
Lei. Certamente, você já deve ter assistido a filmes que
possuem títulos iguais, mas que relatam histórias com-
Art. 7º [...] pletamente diferentes. O longa-metragem animado,
I - os textos de obras literárias, artísticas ou “Frozen”, por exemplo, nada tem a ver com o drama
científicas; “Frozen”, de 2010, que conta a história de três esquia-
II - as conferências, alocuções, sermões e outras dores presos em uma montanha. Sobre isso, a LDA
obras da mesma natureza; aponta que só ocorrerá a proteção se o título for origi-
204 III - as obras dramáticas e dramático-musicais; nal e inconfundível com o de obra do mesmo gênero.
Assim, títulos, como o do faroeste “Meu ódio será Art. 13 Considera-se autor da obra intelectual, não
tua herança” ou o do filme de terror “Eu ainda sei o havendo prova em contrário, aquele que, por uma
que vocês fizeram no verão passado” têm a proteção das modalidades de identificação referidas no artigo
da Lei, enquanto títulos, como “Amor” ou “Romance” anterior, tiver, em conformidade com o uso, indicada
não recebem o mesmo tratamento. Esse entendimento ou anunciada essa qualidade na sua utilização.
é retirado da leitura conjunta dos arts. 10 e 8º da Lei.
O art. 10, determina que a proteção à obra intelec- É, também, titular de direitos de autor quem adap-
tual inclui seu título se original e inconfundível com o ta, traduz, arranja ou orquestra obra caída em domí-
de obra do mesmo gênero, divulgado anteriormente nio público. Vejamos:
por outro autor. Já o art. 8 º, o qual dispõe sobre obras
não protegidas por direitos autorais, afirma que não Art. 14 É titular de direitos de autor quem adapta,
são objeto de proteção os nomes e títulos isolados. traduz, arranja ou orquestra obra caída no domí-
nio público, não podendo opor-se a outra adapta-
Art. 10 A proteção à obra intelectual abrange o seu títu- ção, arranjo, orquestração ou tradução, salvo se
lo, se original e inconfundível com o de obra do mesmo for cópia da sua.
gênero, divulgada anteriormente por outro autor.
Parágrafo único. O título de publicações periódicas, Dica
inclusive jornais, é protegido até um ano após a De acordo com o art. 41, da LDA, os direitos
saída do seu último número, salvo se forem anuais,
patrimoniais do autor duram por setenta anos, a
caso em que esse prazo se elevará a dois anos
contar de 1º de janeiro do ano seguinte ao do
falecimento do autor; passado esse prazo, a obra
Autor das Obras Intelectuais
cai em domínio público, isto é, não recai sobre tal
Art. 11 Autor é a pessoa física criadora de obra lite- obra restrição quanto ao seu uso.
rária, artística ou científica.
Parágrafo único. A proteção concedida ao autor Pensando nas novelas e nos filmes, situações nas
poderá aplicar-se às pessoas jurídicas nos casos quais é normal a coautoria, a LDA assegurou, tam-
previstos nesta Lei. bém, a proteção às participações individuais em obras
coletivas. É o que prevê o art. 17. Vejamos:
É importante deixar clara a distinção entre autor
e titular de direitos autorais. Apenas a pessoa física Art. 17 É assegurada a proteção às participações
pode ser autora, uma vez que somente o ser humano individuais em obras coletivas.
é capaz de criar. Neste sentido, o autor é a pessoa físi- § 1º Qualquer dos participantes, no exercício de
ca que exterioriza o pensamento, a manifestação do seus direitos morais, poderá proibir que se indique
espírito, de natureza artística, literária ou científica. ou anuncie seu nome na obra coletiva, sem prejuízo
do direito de haver a remuneração contratada.
Já a titularidade para exercer os direitos sobre a obra
§ 2º Cabe ao organizador a titularidade dos direitos
pode ser tanto de uma pessoa física quanto jurídica.
patrimoniais sobre o conjunto da obra coletiva.
Via de regra, a titularidade é do autor, mas ele pode
§ 3º O contrato com o organizador especificará a
transferi-la para terceiros (pessoa física ou jurídica). contribuição do participante, o prazo para entrega
O autor de um livro pode, por exemplo, transferir ou realização, a remuneração e demais condições
os direitos econômicos de uma obra para a editora res- para sua execução.
ponsável pela publicação. Nessa hipótese, o escritor será
sempre o autor da obra, mas a legitimidade para exercer Uma obra coletiva é aquela que resulta da fusão de
os direitos patrimoniais sobre ela será da editora. vários elementos que vão formar uma criação intelec-
O art. 12 da LDA afirma que o autor não precisa tual nova, possuindo um organizador, que é o titular
se identificar com seu nome verdadeiro, podendo uti- dos direitos patrimoniais sobre o conjunto da obra.
lizar o nome civil, completo ou abreviado (inclusive

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


Imagine um livro, por exemplo, escrito em conjunto
apenas pelas iniciais, como o escritor britânico H. G. por cinco escritores: todos têm seu direito protegido,
Wells), um pseudônimo (como no caso de Stephen podendo, cada um deles, de forma individual, socor-
King, autor do best-seller “O Iluminado”, que escreveu rer-se da Lei para proteger seus direitos morais de
o livro “A Metade Negra”, utilizando o nome de Richard autor.
Bachman) ou mesmo qualquer outro sinal convencio-
nal (o cantor estadunidense Prince, em determinado Art. 15 A co-autoria da obra é atribuída àqueles em
ponto de sua carreira, identificava-se apenas por um cujo nome, pseudônimo ou sinal convencional for
símbolo impronunciável, formado pela junção dos
símbolos masculino – ♂ – e feminino – ). ♀ utilizada.
§ 1º Não se considera co-autor quem simplesmen-
te auxiliou o autor na produção da obra literária,
Art. 12 Para se identificar como autor, poderá o artística ou científica, revendo-a, atualizando-a,
criador da obra literária, artística ou científica bem como fiscalizando ou dirigindo sua edição ou
usar de seu nome civil, completo ou abreviado até apresentação por qualquer meio.
por suas iniciais, de pseudônimo ou qualquer outro § 2º Ao co-autor, cuja contribuição possa ser uti-
sinal convencional lizada separadamente, são asseguradas todas as
faculdades inerentes à sua criação como obra indi-
No entanto, conforme o art. 13, a identificação vidual, vedada, porém, a utilização que possa acar-
do autor não é obrigatória, bastando que o autor de retar prejuízo à exploração da obra comum.
determinada obra se apresente como tal. Art. 16 São co-autores da obra audiovisual o autor
do assunto ou argumento literário, musical ou líte-
ro-musical e o diretor. 205
Parágrafo único. Consideram-se co-autores de dese- Direitos Morais do Autor
nhos animados os que criam os desenhos utilizados
na obra audiovisual. Conforme vimos, os direitos autorais têm natureza
dúplice (ou, como preferem alguns autores, natureza
As obras audiovisuais têm uma regra diferenciada
híbrida), uma vez que o autor é titular de dois conjun-
quanto à indicação dos autores, conforme consta no
tos de direitos, os morais e os patrimoniais. De acordo
art. 16, da LDA: são coautores da obra audiovisual o
com a LDA, são direitos morais do autor os indicados
roteirista e o diretor. No entanto, conforme o art. 25,
em seu Art. 24. Vejamos:
cabe ao diretor a titularidade única sobre os direitos
morais da obra.
Art. 24 São direitos morais do autor:
Art. 25 Cabe exclusivamente ao diretor o exercício I - o de reivindicar, a qualquer tempo, a autoria da
dos direitos morais sobre a obra audiovisual. obra;
II - o de ter seu nome, pseudônimo ou sinal con-
Do Registro das Obras Intelectuais vencional indicado ou anunciado, como sendo o do
autor, na utilização de sua obra;
Art. 18 A proteção aos direitos de que trata esta Lei III - o de conservar a obra inédita;
independe de registro. IV - o de assegurar a integridade da obra, opondo-
Art. 19 É facultado ao autor registrar a sua -se a quaisquer modificações ou à prática de atos
obra no órgão público definido no caput e no § 1º do que, de qualquer forma, possam prejudicá-la ou
art. 17 da Lei nº 5.988, de 14 de dezembro de 1973. atingi-lo, como autor, em sua reputação ou honra;
V - o de modificar a obra, antes ou depois de
De acordo com a LDA, a proteção aos direitos auto- utilizada;
rais independe de registro. Dessa forma, os autores VI - o de retirar de circulação a obra ou de sus-
podem ou não registrar suas obras, sendo o registro, pender qualquer forma de utilização já autoriza-
desse modo, uma faculdade e, não, uma obrigação. da, quando a circulação ou utilização implicarem
afronta à sua reputação e imagem;
VII - o de ter acesso a exemplar único e raro da
Importante! obra, quando se encontre legitimamente em poder
de outrem, para o fim de, por meio de processo foto-
Os direitos de autor protegidos pela Lei nº 9.610, gráfico ou assemelhado, ou audiovisual, preservar
de 1998 independem de registro, no entanto, o sua memória, de forma que cause o menor incon-
mesmo não ocorre com a propriedade industrial. veniente possível a seu detentor, que, em todo caso,
A criação intelectual (incluindo-se os programas será indenizado de qualquer dano ou prejuízo que
de computador, protegidos pela Lei nº 9.609, de lhe seja causado.
1998) não necessita de registro como prova da
titularidade; já os direitos relativos à propriedade Pode-se concluir que os direitos morais visam
industrial, como as patentes e registros de mar- proteger a relação do autor com a própria obra. Tais
ca, tratados pela Lei nº 9.279, de 1996, requerem direitos podem ser organizados conforme o esquema
a seguir:
registro no órgão competente, que é o Instituto
Nacional da Propriedade Industrial (INPI).
Indicação de Autoria
(inc. I e II)
Caso o autor queira registrar sua obra, pode ser
cobrado um valor para o registro (Art. 20).
DIREITOS MORAIS Circulação de Obra
Art. 20 Para os serviços de registro previstos nesta (ART. 24) (inc. III e VI)
Lei será cobrada retribuição, cujo valor e processo de
recolhimento serão estabelecidos por ato do titular do
órgão da administração pública federal a que esti- Alteração de Obra
ver vinculado o registro das obras intelectuais. (IV e V)

Vale lembrar que, muito embora seja facultativo o


registro, ele é importante para que o autor possa pro- Assim, a LDA garante ao autor o direito de ter o seu
var a anterioridade da obra. No caso de uma possível nome vinculado à sua criação, de manter a obra inédi-
disputa judicial para, por exemplo, decidir sobre a ta ou retirá-la de circulação, bem como de modificá-la
titularidade de um livro, o autor pode usar o registro sempre que quiser ou vetar qualquer modificação.
na Biblioteca Nacional para demonstrar que escreveu
a obra antes.
Importante!
Dos Direitos do Autor Os direitos dos incisos I a IV são transmitidos
para os sucessores no caso da morte do autor.
Art. 22 Pertencem ao autor os direitos morais e
patrimoniais sobre a obra que criou.
Cabe ao Estado a defesa da integridade e autoria
São do autor os direitos morais (previstos nos arts. da obra caída em domínio público.
24 a 27, da LDA) e patrimoniais (dispostos nos arts.
28 a 45, da LDA). Em caso de coautoria os direitos Art. 24 [...]
serão exercidos em comum acordo, salvo ajuste em § 2º Compete ao Estado a defesa da integridade e
206 contrário. autoria da obra caída em domínio público.
Os direitos morais do autor, uma vez que são clas- h) emprego de satélites artificiais;
sificados como direitos da personalidade (inerentes i) emprego de sistemas óticos, fios telefônicos ou
à própria condição de pessoa humana, como nome, não, cabos de qualquer tipo e meios de comunica-
imagem, dignidade etc.), são inalienáveis e irrenun- ção similares que venham a ser adotados;
j) exposição de obras de artes plásticas e figurativas;
ciáveis. Com inalienável, quer-se dizer que esse direi-
IX - a inclusão em base de dados, o armazenamento
to não pode ser vendido ou cedido a terceiros, uma
em computador, a microfilmagem e as demais for-
vez que faz parte da essência da pessoa; por sua vez, mas de arquivamento do gênero;
quando se diz que esses direitos são irrenunciáveis, X - quaisquer outras modalidades de utilização
significa que, ainda que se queira, por vontade pró- existentes ou que venham a ser inventadas.
pria, a pessoa não pode perdê-los. Vejamos o exposto
na legislação: Dentre essas hipóteses, merecem destaque a questão
da utilização de fonogramas e das obras audiovisuais
Art. 25 Cabe exclusivamente ao diretor o exercício em locais de frequência coletiva, tendo em vista serem
dos direitos morais sobre a obra audiovisual. as mais recorrentes no dia a dia. Tais situações mere-
Art. 26 O autor poderá repudiar a autoria de projeto ceram um regramento especial por parte da LDA, entre
arquitetônico alterado sem o seu consentimento duran- seus arts. 68 a 76, os quais serão analisados mais adiante.
te a execução ou após a conclusão da construção.
Parágrafo único. O proprietário da construção res- Prazo da Proteção
ponde pelos danos que causar ao autor sempre que,
após o repúdio, der como sendo daquele a autoria Art. 41 Os direitos patrimoniais do autor perdu-
do projeto repudiado. ram por setenta anos contados de 1° de janeiro do
Art. 27 Os direitos morais do autor são inaliená- ano subseqüente ao de seu falecimento, obedecida a
veis e irrenunciáveis. ordem sucessória da lei civil.
Dos Direitos Patrimoniais do Autor Parágrafo único. Aplica-se às obras póstumas o
prazo de proteção a que alude o caput deste artigo.
Como vimos, os direitos patrimoniais consistem,
resumidamente, nos direitos relativos à exploração Os direitos patrimoniais do autor são protegidos
econômica da obra, ou seja, relacionam-se ao seu por 70 anos, a contar de 1º de janeiro do ano poste-
aspecto econômico. rior ao da sua morte. Havendo coautores, a contar da
De acordo com o art. 28, da LDA: morte do último.
Esse prazo de 70 anos aplica-se aos direitos patri-
Art. 28 Cabe ao autor o direito exclusivo de utilizar, moniais. Os direitos morais em relação à obra são
fruir e dispor da obra literária, artística ou científica. imprescritíveis (nunca se perdem).
O prazo, à primeira vista, pode parecer muito lon-
Por sua vez, o art. 29 afirma que depende de auto- go. No entanto, a ideia da Lei é proteger, também,
rização prévia e expressa do autor a utilização da os sucessores dos autores, evitando que outras pes-
obra, por qualquer meio. soas lucrem com obras de autores famosos falecidos
Os incisos do art. 29 indicam algumas hipóteses de enquanto a família passa por dificuldades (nos Esta-
utilização que requerem tal autorização. dos Unidos, desde 1998, esse prazo é de 90 anos).
Após esse prazo, a obra cai em domínio público
Art. 29 Depende de autorização prévia e expressa (Art. 45), ou seja, pode ser usada de forma livre, mes-
do autor a utilização da obra, por quaisquer moda- mo para fins econômicos, sem que seja necessário
lidades, tais como: pedir autorização (por exemplo, grande parte da obra
I - a reprodução parcial ou integral;
de Walt Disney foi feita sobre criações de terceiros caí-
II - a edição;
das em domínio público, como a Branca de Neve e os
III - a adaptação, o arranjo musical e quaisquer
outras transformações; sete anões dos contos dos Irmãos Grimm).
IV - a tradução para qualquer idioma; Ainda de acordo com o art. 45, além das obras em
V - a inclusão em fonograma ou produção relação às quais decorreu o prazo de proteção aos

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


audiovisual; direitos patrimoniais, pertencem ao domínio público:
VI - a distribuição, quando não intrínseca ao con-
trato firmado pelo autor com terceiros para uso ou Art. 45 [...]
exploração da obra; I - as de autores falecidos que não tenham dei-
VII - a distribuição para oferta de obras ou produ- xado sucessores;
ções mediante cabo, fibra ótica, satélite, ondas ou II - as de autor desconhecido, ressalvada a prote-
qualquer outro sistema que permita ao usuário rea- ção legal aos conhecimentos étnicos e tradicionais.
lizar a seleção da obra ou produção para percebê-
-la em um tempo e lugar previamente determinados
por quem formula a demanda, e nos casos em que o Importante!
acesso às obras ou produções se faça por qualquer
sistema que importe em pagamento pelo usuário; O fato de uma obra encontrar-se na internet, como,
VIII - a utilização, direta ou indireta, da obra literá- por exemplo, um livro escrito online, não implica
ria, artística ou científica, mediante: na sua transformação em domínio público.
a) representação, recitação ou declamação;
b) execução musical;
c) emprego de alto-falante ou de sistemas análogos;
Limitações aos Direitos Autorais
d) radiodifusão sonora ou televisiva;
e) captação de transmissão de radiodifusão em
locais de freqüência coletiva; A LDA, em seu art. 46, apresenta algumas exceções
f) sonorização ambiental; que limitamos direitos autorais. Ou seja, são autori-
g) a exibição audiovisual, cinematográfica ou por zações para uso de obras de terceiros sem que seja
processo assemelhado; necessária autorização. Vejamos: 207
Art. 46 Não constitui ofensa aos direitos autorais: Além das hipóteses do art. 46, a LDA permite, em
I - a reprodução: seu art. 47, a liberdade de paráfrases e paródias, des-
a) na imprensa diária ou periódica, de notícia ou de de que não consistam em verdadeiras reproduções da
artigo informativo, publicado em diários ou perió- obra original e não tiverem o intuito de desacreditá-la
dicos, com a menção do nome do autor, se assina- (um exemplo é o filme Austin Powers, que faz uma
dos, e da publicação de onde foram transcritos; paródia sobre os filmes de James Bond).
b) em diários ou periódicos, de discursos pronun-
ciados em reuniões públicas de qualquer natureza; Transferência dos Direitos do Autor
c) de retratos, ou de outra forma de representação
da imagem, feitos sob encomenda, quando realiza- A partir do art. 49, a LDA passa a tratar da transfe-
da pelo proprietário do objeto encomendado, não rência de direitos autorais a terceiros, afirmando que
havendo a oposição da pessoa neles representada os direitos autorais podem ser objeto de exploração
ou de seus herdeiros; total ou parcial por terceiros, mediante meios de ces-
d) de obras literárias, artísticas ou científicas, para são admitidos pelo direito patrimonial (licenciamen-
uso exclusivo de deficientes visuais, sempre que a to, cessão, concessão etc.).
reprodução, sem fins comerciais, seja feita median-
te o sistema Braille ou outro procedimento em qual- Art. 49 Os direitos de autor poderão ser total ou
quer suporte para esses destinatários; parcialmente transferidos a terceiros, por ele ou
II - a reprodução, em um só exemplar de pequenos por seus sucessores, a título universal ou singular,
trechos, para uso privado do copista, desde que fei- pessoalmente ou por meio de representantes com
ta por este, sem intuito de lucro; poderes especiais, por meio de licenciamento, con-
III - a citação em livros, jornais, revistas ou qual- cessão, cessão ou por outros meios admitidos em
quer outro meio de comunicação, de passagens de Direito, obedecidas as seguintes limitações:
qualquer obra, para fins de estudo, crítica ou polê- I - a transmissão total compreende todos os direitos
mica, na medida justificada para o fim a atingir, de autor, salvo os de natureza moral e os expressa-
indicando-se o nome do autor e a origem da obra; mente excluídos por lei;
IV - o apanhado de lições em estabelecimentos de II - somente se admitirá transmissão total e defini-
ensino por aqueles a quem elas se dirigem, vedada tiva dos direitos mediante estipulação contratual
sua publicação, integral ou parcial, sem autoriza- escrita;
ção prévia e expressa de quem as ministrou; III - na hipótese de não haver estipulação contra-
V - a utilização de obras literárias, artísticas ou tual escrita, o prazo máximo será de cinco anos;
científicas, fonogramas e transmissão de rádio e IV - a cessão será válida unicamente para o país
televisão em estabelecimentos comerciais, exclusi- em que se firmou o contrato, salvo estipulação em
vamente para demonstração à clientela, desde que contrário;
esses estabelecimentos comercializem os suportes V - a cessão só se operará para modalidades de uti-
ou equipamentos que permitam a sua utilização; lização já existentes à data do contrato;
VI - não havendo especificações quanto à modali-
VI - a representação teatral e a execução musical,
dade de utilização, o contrato será interpretado
quando realizadas no recesso familiar ou, para fins
restritivamente, entendendo-se como limitada ape-
exclusivamente didáticos, nos estabelecimentos de
nas a uma que seja aquela indispensável ao cumpri-
ensino, não havendo em qualquer caso intuito de lucro; mento da finalidade do contrato.
VII - a utilização de obras literárias, artísticas
ou científicas para produzir prova judiciária ou
Essa transmissão, que pode ser feita pelo próprio
administrativa;
autor ou por seus sucessores, inclui todos os direitos
VIII - a reprodução, em quaisquer obras, de peque-
do autor, exceto os de natureza moral e aqueles que a
nos trechos de obras preexistentes, de qualquer
lei expressamente proibir (Art. 49, I).
natureza, ou de obra integral, quando de artes
A transmissão total e definitiva dos direitos somen-
plásticas, sempre que a reprodução em si não seja
te pode ser feita mediante contrato por escrito (Art.
o objetivo principal da obra nova e que não prejudi-
que a exploração normal da obra reproduzida nem
50). Caso haja transmissão de direitos de forma não
cause um prejuízo injustificado aos legítimos inte- escrita, o prazo máximo admitido será de 5 (cinco)
resses dos autores. anos (Art. 49, inc. III).
Exceto se estipulada de forma diferente, a cessão
de direitos vale somente no país onde foi firmado o
Note que a ideia das exceções que constam no art.
contrato.
46 tem cunho social, objetivando permitir o acesso à
Somente se admite a transferência de modalidades
informação e à educação. Veja, também, que, via de de utilização para as obras já existentes; aquelas que
regra, a intenção não é permitir o uso comercial da vierem a ser criadas no futuro, ficam de fora. Lem-
obra, muito embora os inc. III e VIII permitem a explo- bre-se da interpretação restritiva, prevista no art. 4º
ração da nova obra na qual se introduzem trechos da da Lei.
obra protegida.
Vale mencionar um ponto interessante, que diz DA UTILIZAÇÃO DE OBRAS INTELECTUAIS E DOS
respeito às cópias reprográficas de obras. A regra FONOGRAMAS
anterior, prevista na Lei nº 5.988, de 1973, previa a
possibilidade de se reproduzir a obra em sua inte- O Título IV, da Lei, que compreende os arts. 53 a
gralidade, com a condição de que não fosse realizada 88, trata de particularidades acerca da utilização de
com a finalidade de obtenção de lucro, prática muito obras intelectuais e fonogramas, de acordo com o tipo
comum entre estudantes. No entanto, com a vigência de obra, estando assim subdividido:
da LDA, a reprodução ficou restrita a apenas alguns
trechos (na letra da Lei, “pequenos trechos”, no entan- z Capítulo I – Da Edição;
to, sem definir quanto da obra se pode copiar). z Capítulo II – Da comunicação ao público;
208 z Capítulo III – Da utilização da obra de arte plástica;
z Capítulo IV – Da utilização de obra fotográfica; estatais, meios de transporte de passageiros terres-
z Capítulo V – Da utilização de fonograma; tre, marítimo, fluvial ou aéreo, ou onde quer que se
z Capítulo VI – Da utilização da obra audiovisual; representem, executem ou transmitam obras literá-
z Capítulo VII – Da utilização de bases de dados; rias, artísticas ou científicas
z Capítulo VIII – Da utilização da obra coletiva.
Dentre esses locais, interessa tratar da questão da
Vemos, então, que o referido Título apresenta um exibição de audiovisuais, tais como programas tele-
conjunto de regras específicas voltadas a determina- visivos, em ambientes de frequência coletiva, como
dos direitos do autor, tendo em vista as suas peculia- quartos de clínicas, hotéis, academias, bares, restau-
ridades. Vale destacar, em primeiro lugar, o Capítulo I rantes, entre outros. De acordo com o entendimento
(Arts. 53 a 67) que trata do contrato de edição. do Superior Tribunal de Justiça, firmado no julgamen-
Por meio de um contrato de edição, o editor se obri- to do Recurso Especial nº 742.426-RJ (2005/00611323-
ga a reproduzir e a divulgar a obra literária, artística 8), relatado pelo Ministro Aldir Passarinho Junior,
ou científica, passando a poder, com exclusividade, ainda que não haja a aferição de lucro direto com a
publicá-la ou explorá-la pelo prazo e sob as condições exibição, há benefício indireto para a atividade desen-
estabelecidas com o autor. volvida (conforto propiciado aos pacientes, o que aca-
Conforme o art. 53, parágrafo único, da LDA, cada ba por valorizar os serviços que são cobrados), de
exemplar da obra editada deve conter: modo que são devidos direitos autorais decorrentes
da veiculação desses programas em locais de frequên-
cia coletiva. Nesse recurso, em especial, tratava-se de
Art. 53 [...]
I - o título da obra e seu autor;
uma clínica médica que discutia a cobrança de direi-
II - no caso de tradução, o título original e o nome tos autorais relativos à disponibilização de programas
do tradutor; exibidos por TV a cabo em sala de espera de pacientes.
III - o ano de publicação; No mesmo sentido, o STJ entendeu, no julgamento
IV - o seu nome ou marca que o identifique. do Recurso Especial nº 1.589.598-MS, em 13 de junho
de 2017, que a simples disponibilização de apare-
Se o contrato não mencionar, expressamente, a lhos radiofônicos e televisores em quartos de hotéis,
motéis, clínicas e hospitais autoriza a cobrança, pelo
possibilidade, o contrato de edição diz respeito ape-
Escritório Central de Arrecadação e Distribuição
nas a uma, conforme prevê o art. 56:
(ECAD), dos direitos autorais.
Art. 56 Entende-se que o contrato versa apenas
sobre uma edição, se não houver cláusula expressa Dica
em contrário.
O ECAD é um escritório privado responsável pela
Parágrafo único. No silêncio do contrato, con-
sidera-se que cada edição se constitui de três mil
arrecadação e distribuição de direitos autorais
exemplares de obras musicais. É o responsável pelo con-
trole e fiscalização da utilização de músicas em
Outro conjunto de regras que merece destaque diz locais de frequência coletiva. Foi, originalmente,
respeito àquelas contidas no Capítulo II (Arts. 68 a 76) criado pela Lei nº 5.988, de 1973 e, hoje, é disci-
que trata da representação e exibição pública. plinado pela LDA.
Conforme vimos anteriormente, no texto do art.
29, depende de autorização prévia e expressa do autor Em ambas as decisões, o STJ confirmou o entendi-
a utilização, por qualquer meio, da obra protegida. mento antigo firmado na Súmula 63 (editada em 1992):
Como decorrência dessa obrigação, a LDA, dentro do
Título IV, prevê normas específicas, tendo em vista a Súmula 63 (STJ): São devidos direitos autorais
pela retransmissão radiofônica de músicas em
natureza da obra. Dentre elas, tem especial relevância
estabelecimentos comerciais.
para o dia a dia a questão da execução pública de com-
posições musicais ou lítero-musicais ou a utilização de
O emprego de novas tecnologias gerou recen-
fonogramas e obras audiovisuais.

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


tes discussões sobre a cobrança de direitos autorais
decorrente da execução musical via internet. Den-
Art. 68 Sem prévia e expressa autorização do autor tre elas, a discussão sobre o streaming (plataformas,
ou titular, não poderão ser utilizadas obras teatrais,
como o Deezer e o Spotify por exemplo).
composições musicais ou lítero-musicais e fonogra-
O streaming consiste na tecnologia que possibilita
mas, em representações e execuções pública
a transmissão de dados e informações de modo contí-
nuo, por meio da internet, sem necessidade de down-
Nos termos do art. 68, § 2º, entende-se por execu- load dos arquivos a serem executados.
ção pública a utilização de tais obras em locais de fre- No julgamento do Recurso Especial nº 1.559.264-RJ
quência coletiva, por quaisquer processos, inclusive a (2013/0265464-7), o STJ decidiu que a tecnologia strea-
radiodifusão ou transmissão por qualquer modalida- ming enquadra-se nos requisitos do art. 29, incisos VII,
de e a exibição cinematográfica. VIII, “i”, IX e X, da Lei nº 9.610, de 1998, configuran-
Locais de frequência coletiva, por sua vez, são os do modalidade de exploração econômica das obras
elencados no § 3º do art. 68: musicais (fonogramas) que exige autorização prévia e
expressa dos titulares dos direitos autorais. Dentro do
Art. 68 [...] mesmo processo, o STJ decidiu, ainda, que:
§ 3º Consideram-se locais de freqüência coletiva
os teatros, cinemas, salões de baile ou concertos, [...] que é irrelevante a quantidade de pessoas que se
boates, bares, clubes ou associações de qualquer encontram no ambiente de execução musical para
natureza, lojas, estabelecimentos comerciais e a configuração de um local como de frequência
industriais, estádios, circos, feiras, restaurantes, coletiva. Relevante, assim, é a colocação das obras
hotéis, motéis, clínicas, hospitais, órgãos públicos ao alcance de uma coletividade frequentadora do
da administração direta ou indireta, fundacionais e ambiente digital, que poderá, a qualquer momento, 209
acessar o acervo ali disponibilizado. Logo, o que como a comunicação ao público, pela televisão,
caracteriza a execução pública de obra musical em locais de freqüência coletiva, sem prejuízo dos
pela internet é a sua disponibilização decorrente direitos dos titulares de bens intelectuais incluídos
da transmissão em si considerada, tendo em vista na programação.
o potencial alcance de número indeterminado de
pessoas.
Duração dos Direitos Conexos
Desse modo, firmou-se o entendimento de que,
Art. 96 É de setenta anos o prazo de proteção aos
muito embora a LDA não mencione, expressamente,
direitos conexos, contados a partir de 1º de janeiro
todas as formas de mídia por meio das quais as obras do ano subseqüente à fixação, para os fonogramas;
são utilizadas, ela disciplina as diretrizes necessárias à transmissão, para as emissões das empresas de
para abranger todas as modalidades de utilização radiodifusão; e à execução e representação pública,
atualmente disponíveis no meio virtual, bem como as para os demais casos.
que venham a ser inventadas. O que importa, portan-
to, é o fato de a obra ter sido difundida e, não, de que Anteriormente, vimos que é de 70 (setenta) anos
maneira isso ocorreu. o prazo de proteção aos direitos conexos, contados a
partir de 1º de janeiro do ano subsequente:
DOS DIREITOS CONEXOS
z À fixação (gravação), para os fonogramas;
Art. 89 As normas relativas aos direitos de autor
z À transmissão, para as emissões das empresas de
aplicam-se, no que couber, aos direitos dos artistas
radiodifusão;
intérpretes ou executantes, dos produtores fono-
gráficos e das empresas de radiodifusão. z À execução e representação pública, para os de-
Parágrafo único. A proteção desta Lei aos direitos mais casos.
previstos neste artigo deixa intactas e não afeta as
garantias asseguradas aos autores das obras lite- Das Associações de Titulares de Direitos de Autor e
rárias, artísticas ou científicas. dos que lhe são Conexos

A Lei de Direitos Autorais dispõe que, aos direi- Art. 97 Para o exercício e defesa de seus direitos,
tos conexos, aplicam-se as mesmas normas relativas podem os autores e os titulares de direitos conexos
aos direitos do autor, no que forem compatíveis. Os associar-se sem intuito de lucro.
direitos conexos são, também, conhecidos por direitos
vizinhos (droits voisins), por serem próximos, asseme- Os arts. 97 a 100-B disciplinam as regras relativas a
lhados aos direitos autorais. Basicamente, consistem tais associações. Os dispositivos são extensos e há pou-
na difusão da obra por meio da interpretação, execu- ca probabilidade de serem abordados em prova. Sugi-
ção ou difusão. ro apenas a leitura dos dispositivos em sua íntegra.

Art. 90 Tem o artista intérprete ou executante o DAS SANÇÕES ÀS VIOLAÇÕES AOS DIREITOS
direito exclusivo de, a título oneroso ou gratuito, AUTORAIS
autorizar ou proibir:
I - a fixação de suas interpretações ou execuções; A Lei de Direitos Autorais não traz tipos penais.
II - a reprodução, a execução pública e a locação Os crimes relativos à violação dos direitos autorais
das suas interpretações ou execuções fixadas;
encontram-se no Código Penal, na Lei do Software e
III - a radiodifusão das suas interpretações ou exe-
na Lei de Propriedade Industrial. No entanto, a LDA
cuções, fixadas ou não;
IV - a colocação à disposição do público de suas
dispõe sobre sanções civis, a partir de seu art. 101, que
interpretações ou execuções, de maneira que qual- são aplicáveis independentemente das penas previs-
quer pessoa a elas possa ter acesso, no tempo e no tas nos tipos penais.
lugar que individualmente escolherem;
V - qualquer outra modalidade de utilização de Das Sanções Civis
suas interpretações ou execuções.
§ 1º Quando na interpretação ou na execução parti- Art. 102 O titular cuja obra seja fraudulentamente
ciparem vários artistas, seus direitos serão exerci- reproduzida, divulgada ou de qualquer forma utili-
dos pelo diretor do conjunto. zada, poderá requerer a apreensão dos exempla-
§ 2º A proteção aos artistas intérpretes ou execu- res reproduzidos ou a suspensão da divulgação,
tantes estende-se à reprodução da voz e imagem, sem prejuízo da indenização cabível.
quando associadas às suas atuações.
Art. 93 O produtor de fonogramas tem o direito No caso de edição de obra sem autorização, os
exclusivo de, a título oneroso ou gratuito, autori- exemplares apreendidos serão perdidos para o titular
zar-lhes ou proibir-lhes:
e o editor deve pagar o preço dos que já tiver vendido;
I - a reprodução direta ou indireta, total ou parcial;
no entanto, caso não se saiba a quantidade de exem-
II - a distribuição por meio da venda ou locação de
exemplares da reprodução; plares editados sem autorização, o falsificador deve
III - a comunicação ao público por meio da execu- pagar, a título de multa, o valor correspondente a
ção pública, inclusive pela radiodifusão; três mil exemplares, além dos que forem apreendidos
IV - (VETADO) (Art. 103).
V - quaisquer outras modalidades de utilização,
existentes ou que venham a ser inventadas. Art. 103 Quem editar obra literária, artística ou
Art. 95 Cabe às empresas de radiodifusão o direi- científica, sem autorização do titular, perderá para
to exclusivo de autorizar ou proibir a retransmis- este os exemplares que se apreenderem e pagar-lhe-
210 são, fixação e reprodução de suas emissões, bem -á o preço dos que tiver vendido.
Parágrafo único. Não se conhecendo o número de Por sua vez, o art. 107 busca proteger os disposi-
exemplares que constituem a edição fraudulenta, tivos tecnológicos que têm a finalidade de restringir
pagará o transgressor o valor de três mil exempla- as cópias não autorizadas (como as travas anticópias
res, além dos apreendidos. de DVDs e CDs por exemplo). Além da perda dos equi-
pamentos utilizados para realizar as cópias, responde
O pagamento das três mil unidades é controverso: por perdas e danos (em valores nunca inferiores ao da
na vigência da Lei nº 5.988, de 1973, que regulava a multa do art. 103) quem:
proteção aos direitos autorais antes da Lei nº 9.610, de
1998, a previsão era de pagamento de dois mil exem- Art. 107 [...]
plares e, mesmo assim, com um valor menor que o I - alterar, suprimir, modificar ou inutilizar, de qual-
atual, a jurisprudência sinalizava no sentido de que, quer maneira, dispositivos técnicos introduzidos
quando não fosse possível conhecer o valor das cópias nos exemplares das obras e produções protegidas
realizadas, deveria se estabelecer uma quantidade para evitar ou restringir sua cópia;
II - alterar, suprimir ou inutilizar, de qualquer
razoável a qual não precisava alcançar o limite pre-
maneira, os sinais codificados destinados a restrin-
visto no art. 12, da Lei nº 5.988, de 1973. Esse entendi-
gir a comunicação ao público de obras, produções
mento, seguido pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, ou emissões protegidas ou a evitar a sua cópia;
pautava-se no fato de que a multa (na época, de dois III - suprimir ou alterar, sem autorização, qualquer
mil exemplares) era desproporcional e abusiva com informação sobre a gestão de direitos;
pequenas empresas que possuíam poucos emprega- IV - distribuir, importar para distribuição, emitir,
dos e não tinham condições de produzir tantas cópias comunicar ou puser à disposição do público, sem
não licenciadas. autorização, obras, interpretações ou execuções,
Ainda em relação à multa prevista no art. 103, exemplares de interpretações fixadas em fonogra-
cabe frisar que, segundo o entendimento consolidado mas e emissões, sabendo que a informação sobre
no STJ (Recurso Especial 18773336-RJ, publicado em a gestão de direitos, sinais codificados e dispositi-
18/09/2020), ela só é cabível se houver má-fé, ou seja, vos técnicos foram suprimidos ou alterados sem
o deliberado propósito de contrafação. autorização.
Nos termos do art. 104, além do contrafator (falsifi-
cador), respondem solidariamente com ele O art. 110 dispõe que, caso a violação de direitos
autorais ocorra em locais de frequência coletiva, cum-
Art. 104 Quem vender, expuser a venda, ocultar, pre-se a responsabilidade solidária dos proprietários,
adquirir, distribuir, tiver em depósito ou utilizar diretores, gerentes, empresários e arrendatários com
obra ou fonograma reproduzidos com fraude, com os organizadores dos espetáculos.
a finalidade de vender, obter ganho, vantagem, De acordo com o art. 113,
proveito, lucro direto ou indireto, para si ou para
outrem, será solidariamente responsável com o Art. 113 Os fonogramas, os livros e as obras audio-
contrafator, nos termos dos artigos precedentes, visuais sujeitar-se-ão a selos ou sinais de identifica-
respondendo como contrafatores o importador e o ção sob a responsabilidade do produtor, distribui-
distribuidor em caso de reprodução no exterior. dor ou importador, sem ônus para o consumidor,
com o fim de atestar o cumprimento das normas
Por força desse artigo, os comerciantes de rua legais vigentes, conforme dispuser o regulamento.
(camelôs) que vendem obras pirateadas estão sujeitos
às sanções da LDA. São considerados contrafatores, Dica
também, o importador e o distribuidor em caso de
reprodução no exterior. Vale lembrar que a responsabilização penal pela
O art. 105, por sua vez, trata da suspensão ou inter- violação dos direitos autorais e conexos se dá
rupção judicial da transmissão ou retransmissão de pelo art. 184 do Código Penal.
obras sem a devida licença:

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


Art. 105 A transmissão e a retransmissão, por ESTATÍSTICA DESCRITIVA E ANÁLISE
qualquer meio ou processo, e a comunicação ao
público de obras artísticas, literárias e científicas, EXPLORATÓRIA DE DADOS: GRÁFICOS,
de interpretações e de fonogramas, realizadas me- DIAGRAMAS, TABELAS, MEDIDAS
diante violação aos direitos de seus titulares, deve-
rão ser imediatamente suspensas ou interrompidas
DESCRITIVAS (POSIÇÃO, DISPERSÃO,
pela autoridade judicial competente, sem prejuízo ASSIMETRIA E CURTOSE)
da multa diária pelo descumprimento e das demais
indenizações cabíveis, independentemente das san- A estatística é a parte da matemática que se dedica
ções penais aplicáveis; caso se comprove que o in- à análise, apresentação e interpretação de dados cole-
frator é reincidente na violação aos direitos dos ti- tados. Esses dados são coletados dentro de uma popu-
tulares de direitos de autor e conexos, o valor da lação, que é o conjunto total dos elementos a serem
multa poderá ser aumentado até o dobro. estudados (podem ser pessoas, objetos etc.). Dessa popu-
lação, podemos coletar os dados de duas maneiras:
De acordo com art. 106, da LDA, a sentença conde-
natória poderá determinar a destruição de todos os � Censo: quando são coletados os dados de toda a
exemplares ilícitos, bem como as matrizes, moldes, população; e
negativos e demais elementos utilizados para praticar � Mostra: é um subconjunto da população, da qual
o ilícito civil, assim como a perda de máquinas, equi- são coletados dados para, posteriormente, fazer
pamentos e insumos destinados a tal fim ou, servindo uma inferência sobre a população (inferência
eles unicamente para o fim ilícito, sua destruição. estatística). 211
Ex.: na eleição, todas as pessoas aptas a votar são z Contínuos: que são aqueles que possuem uma
a população. Quando uma empresa é contratada para escala contínua de valor como tempo, compri-
fazer uma pesquisa de intenção de voto, eles selecio- mento etc. Ex: vamos considerar a variável altura.
nam uma amostra dessa população, fazem as pergun- Entre os dados 1,70m e 1,71m existe uma infinida-
tas predeterminadas pela pesquisa, e com os dados de de números.
das respostas fazem uma inferência de como a popu-
lação toda irá votar. NORMAS DE APRESENTAÇÃO TABULAR
Um dos ramos da estatística é a estatística descri-
tiva, onde estudaremos 4 tipos de medidas descritivas: Modelo de uma Tabela

z As medidas de tendência central que são medi- Já mostramos algumas tabelas ao longo do mate-
das que indicam a posição dos dados, como média, rial, mas afinal, para que serve, e como montar uma
mediana, moda e quartis (também chamadas de tabela?
medidas de posição); Uma tabela deve ser composta por diversas linhas
z As medidas de dispersão que medem o grau de e colunas, sendo que devemos ter um título (normal-
variabilidade dos elementos de um conjunto, como
mente na primeira linha da tabela), e vários dados
desvio-padrão, variância, amplitude;
organizados nas linhas e colunas seguintes.
z A assimetria da curva; e
Geralmente, na primeira linha, depois do título,
z O achatamento da curva, chamado de curtose.
teremos as classes que serão retratadas nas linhas,
ex.: Estados, Siglas, População, Área, etc. Nas linhas
seguintes teremos os dados da tabela, onde teremos
Importante!
em uma mesma linha o Estado, relacionando sua
Essas duas últimas (assimetria e curtose) também sigla, sua população, sua área etc. Vejamos o exemplo
são conhecidas como medidas de distribuição. dessa tabela citada.

INFORMAÇÕES DOS ESTADOS DA REGIÃO


Os dados de uma amostra podem ser qualitati-
SUDESTE
vos, que são aqueles dados não numéricos como sexo,
nacionalidade, avaliação nominal (bom, regular, ÁREA
ruim) etc., ou quantitativos, que são dados expres- ESTADO SIGLA POPULAÇÃO
(KM2)
sos em números, que podem ser objeto de contagens,
medições como altura, peso etc. Minas Gerais MG 21.292.666 586.522
Cuidado, não necessariamente dados expressos
Espírito Santo ES 4.064.052 46.095
em números serão quantitativos, eles podem também
ser qualitativos, como RG, CPF, CNPJ, CEP, CNAE (clas- Rio de
RJ 17.366.189 43.780
sificação nacional de atividades econômicas), geral- Janeiro
mente esse tipo de código ou classificação é feito em
números. Ex: queremos saber a quantidade de empre- São Paulo SP 45.919.049 248.222
sas que atuam em cada setor, podemos usar a CNAE,
que é um número, para separar a quantidade de mer- Analisando a tabela acima, podemos concluir que
cados, farmácias, postos de combustíveis etc. Minas Gerais (MG) é o maior estado da Região Sudeste,
Os dados qualitativos podem ser: pois tem a maior área, mas que o estado de São Paulo
é o mais populoso, por ter uma população maior que
z Ordinais: são aqueles que podem ser ordenados, os outros.
como mês, nível de escolaridade, tamanho de rou-
O importante é olhar uma tabela e entender quais
pa (P, M, G) entre outros. Ex: o nível de escolari-
dados podemos extrair com o que está apresentado
dade pode ser dividido em ensino fundamental,
nela.
ensino médio, ensino superior, pós graduação. Por
As tabelas mais utilizadas na estatística são as
mais que seja um dado qualitativo, a gente conse-
tabelas de frequência, conforme apresentamos no
gue colocar isso em ordem, pois sabemos que pri-
item de média aritmética para dados agrupados.
meiro vem o ensino fundamental, depois o ensino
médio e assim por diante. Da mesma forma o mês,
sabemos que primeiro vem janeiro, depois feverei- Tipos de Séries Estatísticas
ro até chegar em dezembro;
z Nominais: que são aqueles que não podem ser As séries estatísticas são as diversas maneiras de
ordenados, como sexo, estado civil entre outros. Ex: apresentar os dados desejados em forma de tabela, o
podemos dividir os estados civis em casado, união objetivo das séries estatísticas é organizar os dados
estável, solteiro, viúvo... claramente não temos uma observados e mostrá-los de maneira organizada, faci-
ordem entre essas opções. litando sua compreensão.
Temos vários tipos séries estatísticas, mas vamos
Os dados quantitativos podem ser: destacar algumas mais importantes:

z Discretos: são aqueles dados que possuem um z Séries Temporais: é um conjunto de observações
conjunto finito de valores, como a quantidade de de uma variável ao longo do tempo, ou seja, uma
acertos em uma prova de múltipla escolha, a quan- sequência de dados numéricos em ordem sucessi-
tidade será apenas números inteiros, 0, 1, 2, 3 e va. Nesse tipo de série o que varia é o tempo, mas o
212 assim por diante, ou fato e o local de observação são fixos;
z Séries Geográficas: é um conjunto de observações Podemos definir exemplos de séries temporais e
de uma variável em diferentes locais. Nesse tipo de de séries não temporais:
série o que varia é o local (região) da observação,
mas o tempo e o fato observado são fixos. Ex.:
SÉRIES NÃO
SÉRIES TEMPORAIS
TEMPORAIS
POPULAÇÃO DOS ESTADOS DA REGIÃO SUDESTE
Série diária da temperatu- Temperaturas de várias ci-
ESTADO POPULAÇÃO ra na cidade de São Paulo dades em um mesmo dia,
ao longo de um ano ou períodos diferentes
Minas Gerais 21.292.666
Quantidade de furtos no
Espírito Santo 4.064.052 Quantidade de furtos
ano de 2018 nas diferen-
anuais em Cuiabá
Rio de Janeiro 17.366.189 tes capitais do país

São Paulo 45.919.049 Salários dos funcionários


Salário de um funcionário
de uma empresa no mes-
ao longo do ano
mo mês
z Séries Específicas: é um conjunto de observações
de uma variável com diferentes categorias (espé-
cies). Nesse tipo de variável o que varia são as cate- As séries temporais são importantes para identifi-
gorias observadas, mas o tempo e o local são fixos. car padrões de variáveis no tempo, para que se possa
Ex.: queremos analisar a quantidade de animais tentar prever possíveis danos no futuro. Para descre-
diferentes que habitam uma certa região de prote- ver séries temporais, são utilizados modelos de pro-
ção florestal. Nesse caso a tabela será classificada cessos estocásticos, que são processos controlados por
pelas espécies observadas na região de interesse leis probabilísticas.
em um mesmo intervalo de tempo. Uma série temporal pode ser decomposta em três
séries temporais: tendência, sazonalidade e uma com-
ponente aleatória (nível).
ESPÉCIES QUE HABITAM A REGIÃO EM 2020
z Tendência: é o comportamento de longo prazo na
QUANTIDADE série, podendo ser determinístico (quando os valo-
ESPÉCIE
OBSERVADA res da série podem ser descritos por uma função
Onça 45 matemática) e podendo ser estocástico (aquele
cujo estado é indeterminado, com origem em even-
Tamanduá 75 tos aleatórios). Ex.: Quando analisamos a popu-
lação brasileira ao longo dos anos (vamos supor
Lobo 107 uma série com 100 anos), vemos que a cada ano
Anta 90 esse valor aumenta, nem sempre em uma mesma
proporção, mas podemos notar uma tendência de
crescimento;
z Séries Conjugadas (Mistas): nesse tipo de séries
z Sazonalidade: é um padrão regular que ocorre
vamos conjugar dois tipos de séries em uma mes-
na série temporal. Uma série temporal é sazonal
ma tabela. Ex.: vamos conjugar a tabela específi-
quando fenômenos que ocorrem durante o tempo
ca acima, com uma série temporal, mostrando a
se repetem em um mesmo período de tempo, ou
quantidade de cada espécie observada ao longo
seja, ocorrem sempre em uma mesma hora, todos
dos últimos 3 anos.
os dias, ou em um mesmo mês, todos os anos. Ex.:
um aumento nas vendas de uma loja de roupas em
ESPÉCIES QUE HABITAM A REGIÃO – dezembro em todos os anos (período do Natal);

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


ÚLTIMOS 3 ANOS z Aleatório: é o que não pode ser explicado pela ten-
QUANTIDADE OBSERVADA dência e sazonalidade, ou seja, é o resíduo, sendo
ESPÉCIE que a aleatoriedade não pode ser determinística
2018 2019 2020 (descrito por uma função matemática) e será sem-
Onça 30 38 45 pre estocástico;
z Ciclo: Longas ondas, mais ou menos regulares, em
Tamanduá 60 65 75
torno de uma linha de tendência.
Lobo 30 90 107
Anta 50 80 90 Outro ponto importante é a estacionariedade da
série temporal.
Séries Temporais Dizemos que uma série temporal é estacionária
quando suas observações no tempo se posicionam
De todas as séries, uma das mais importantes é a aleatoriamente ao redor de uma média constante,
série temporal, que corresponde a um conjunto de transparecendo um equilíbrio estável.
observações de uma variável ao longo do tempo, ou
seja, uma sequência de dados numéricos em ordem
sucessiva, que geralmente (mas não necessariamente)
ocorre em intervalos uniformes. Ex.: uma série que
mostra a quantidade de picolés vendidos por uma sor-
veteria mensalmente ao longo de um ano.
213
Série Temporal Estacionária MEDIDAS DE POSIÇÃO

Média

Existem 3 tipos de média: a mais cobrada é a média


aritmética (simples ou ponderada), mas temos tam-
Observações

bém a média geométrica e a média harmônica.


Como veremos na parte de distribuição de pro-
babilidade, a média é o primeiro momento de uma
distribuição.
Temos duas formas de apresentação de dados para
que seja calculada a média, a mais comum é a apre-
sentação de vários dados não agrupados, onde são
listados vários valores. Por exemplo, em uma prova a
lista de notas de todos os alunos separadamente são
dados não agrupados. A outra forma de apresenta-
Podemos notar que uma série estacionária se man- ção é através de dados agrupados, nesse caso, vamos
tém sempre em torno de uma média, que representa- pensar no mesmo exemplo, mas, ao invés de termos
mos pela linha preta central na figura a seguir. todas as notas diretamente, receberemos uma lista
dizendo que, 5 pessoas tiraram de 0 a 2, outras 7 tira-
Série Temporal Estacionária ram de 2 a 4, mais 15 tiraram de 4 a 6, outras 10 de 6 a
8 e os 3 restantes tiraram de 8 a 10, normalmente isso
é apresentado em uma tabela.

NOTA QUANTIDADE DE ALUNOS


Observações

0–2 5

2–4 7

4–6 15

6–8 10

8 – 10 3

Quando estamos tratando de média de dados de


Uma série pode ser estacionária por um período uma população representamos pela letra grega μ
curto, ou por um período longo, o modelo ARIMA (mi), já quando estamos tratando de média de dados
pode descrever séries estacionárias e séries não esta- de uma amostra, representamos por x.
cionárias que não apresentam um comportamento
totalmente aleatório, ou seja, uma não estacionarie- Média Aritmética Simples
dade homogênea, que é quando uma série é estacio-
nária, flutuando ao redor de um nível, por um certo A média aritmética simples é a que estamos mais
tempo, depois muda de nível e flutua ao redor desse acostumados no dia a dia, ela é dada pela soma dos
novo nível, e depois muda novamente de nível e assim valores dos dados que queremos saber, dividido pela
por diante. quantidade desses dados.

Série Temporal Estacionária


Soma
Média =
Quantidade

Soma = Média x Quantidade


Observações

Em linguagem matemática isso é dado por:

xi
x= / para dados de uma amostra.
N
Ou:

xi
μ= / para dados de uma população.
N
Onde: Ʃxi é o somatório dos dados X1, X2, X3...XN, e N
é a quantidade de dados da amostra/população. Cada
dado é representado por Xi.
Vamos supor que, na faculdade, teremos 4 provas
da disciplina de Estatística. Para calcular a média final
214 basta somar as 4 notas e dividir por 4.
Supondo que as notas tenham sido na ordem: 6,0; Média Aritmética Ponderada
7,0; 5,0; 8,0.
A média ponderada é muito parecida com a média
simples, mas nela são colocados pesos diferentes para
Soma
alguns dados. Essa média é muito utilizada em provas.
Média =
Quantidade Vamos pensar no mesmo exemplo da média sim-
ples. Supondo que, na faculdade, teremos 4 provas
de Estatística, mas a prova 3 tem peso 2 e a prova 4
6+7+5+8 tem peso 3. Para calcular a média ponderada temos
Média =
4 que somar todas as notas, mas, as notas que têm pesos
devem ser somadas conforme seu peso, ou seja, se
for peso 2 temos que multiplicar essa nota por 2, se
26 for peso 3 temos que multiplicar essa nota por 3. E na
Média = quantidade temos que considerar o peso também.
4
Supondo que as notas tenham sido na ordem: 6,0;
7,0; 5,0 (peso 2); 8,0 (peso 3). Nesse caso, a quantidade
Média = 6,5 de notas que vamos considerar deve ser 7, pois as pro-
vas 1 e 2 têm peso 1, a prova 3 é peso 2, e a prova 4 é
Ex: em uma faculdade a quantidade de alunos peso 3. Portanto: 1 + 1 + 2 + 3 = 7.
matriculados em cada curso está apresentado na tabe-
la a seguir: Soma
Média =
Quantidade
CURSO QUANTIDADE DE ALUNOS

Direito 55 6 + 7+ 2 · 5 + 8 · 3
Média =
Contabilidade 24 7
Estatística 35
6 + 7 + 10 + 24
Física ? Média =
7
A média do número de alunos matriculados por
curso é 38,5. Nesse caso, qual a quantidade de alunos 47
Média =
matriculados em Física? 7
A média de alunos matriculados por curso é dada
pela soma dos alunos de cada curso dividido pela Média = 6,71
quantidade de cursos, onde a média foi dada, e é 38,5,
e o total de cursos é 4. Média Aritmética para Dados Agrupados
Sabemos que a fórmula da média é:
Podemos ter duas formas de apresentação de
dados, uma que nos traz o dado e a frequência que
Soma esse dado ocorre, e outra que dá um intervalo (que
Média = chamamos de classe) e a frequência de dados dessa
Quantidade
classe, ambas apresentadas no formato de tabela.
Vamos mostrar um exemplo para cada tipo de apre-
Soma sentação de dados:

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


38,5 =
4
z Ex: em um evento foram compradas 4 marcas dife-
rentes de água, conforme a tabela.
Soma = 38,5 · 4
Soma = 154 QUANTIDADE DE
TIPOS PREÇO UNITÁRIO
GARRAFAS
A soma dos alunos matriculados é 154, e vamos A 5 R$ 3,80
chamar o número de alunos matriculados em Física
B 8 R$ 6,00
de X.
C 15 ?
55 + 24 + 35 + X = 154 D 6 R$ 5,00
114 + X = 154
O preço médio do total de garrafas compradas foi
X = 154 – 114 de R$ 5,50. Qual o valor unitário da garrafa da marca C?
Para achar a média, temos que somar o valor de
X = 40 todas as garrafas, sendo que para cada marca foram
compradas uma quantidade diferente de garrafas.
Portanto, são 40 alunos matriculados em Física. Para resolver esse tipo de questão vamos incluir mais
uma coluna na tabela, que é a multiplicação do valor
unitário com a quantidade de garrafas. 215
QUANTIDADE PREÇO 2+4
TIPOS QXP
DE GARRAFAS UNITÁRIO z Classe 2: =3
2
A 5 R$ 3,80 5 · 3,8 = 19
B 8 R$ 6,00 8 · 6 = 48 4+6
C 15 ? 15 · X z Classe 3: =5
2
D 6 R$ 5,00 6 . 5 = 30
6+8
z Classe 4: =7
19 + 48 + 15 · x + 30 2
Média =
5 + 8 + 15 + 6
8 + 10
z Classe 5: =9
Sabemos que a média dos valores foi R$ 5,50, 2
portanto:

97 + 15 · x QUANTIDADE DE PONTO MÉDIO


NOTA
5,5 = ALUNOS DA CLASSE
34
0 |– 2 5 1
5,5 · 34 = 97 + 15 · X
2 |– 4 7 3
187 = 97 + 15 · X
4 |– 6 15 5
15 · X = 187 – 97
6 |– 8 10 7
15 · X = 90
8 |– 10 3 9
90
X= Agora basta fazer a coluna da multiplicação da frequên-
15
cia (quantidade de alunos) pelo ponto médio da classe.
X=6
PONTO QUANT.
Logo o Preço Unitário da Marca C é R$ 6,00. QUANTIDADE
NOTA MÉDIO DA X PONTO
DE ALUNOS
CLASSE MÉDIO
Agora vamos ver um exemplo em que os dados
são dados em classes. Vamos pensar no exemplo que 0 |– 2 5 1 5x1=5
demos lá em cima, das notas dos alunos, sendo que
2 |– 4 7 3 7 x 3 = 21
5 pessoas tiraram de 0 a 2, outras 7 tiraram de 2 a 4,
mais 15 tiraram de 4 a 6, outras 10 de 6 a 8 e os 3 res- 4 |– 6 15 5 15 x 5 = 75
tantes tiraram de 8 a 10.
6 |– 8 10 7 10 x 7 = 70

NOTA QUANTIDADE DE ALUNOS 8 |– 10 3 9 3 x 9 = 27

0 |– 2 5
Como temos toda a sala, estamos falando de popu-
2 |– 4 7
lação, e a média é dada por μ.
4 |– 6 15
6 |– 8 10 5 + 21 + 75 + 70 + 27
8 |– 10 3 μ=
5 + 7 + 15 + 10 + 3

A barra (|) normalmente mostra que o dado limite


entre as classes pertence àquela classe, ou seja, a nota 198
2, estaria no limite entre a 1ª e a 2ª classe, nesse caso μ=
40
por conta da barra vamos considerar que a nota 2 per-
tencente à 2ª classe.
μ = 4,95
Para achar a média nesse caso vamos fazer pra-
ticamente a mesma coisa do exemplo acima, mas o
Portanto, a nota média da classe foi 4,95.
valor da classe que iremos usar é o ponto médio de
cada classe, ou seja, basta fazer a média da classe. A frequência apresentada em um exercício pode
Cada classe tem uma variação de 2 pontos, portan- ser absoluta ou relativa. A frequência absoluta é a
to a média de cada classe será: quantidade total, no nosso exemplo é a quantidade de
alunos que tiraram tais notas. A frequência relativa
0+2 é a razão ou percentual entre a quantidade daquele
z Classe 1: =1 dado e o total, portanto a soma da frequência relativa
2
216 de todas as classes resulta sempre em 1.
Para dados não agrupados é tranquilo de achar a
QUANTIDADE
NOTA FREQ. RELATIVA moda, mas quando temos dados agrupados com inter-
DE ALUNOS
valos de classes não sabemos exatamente qual valor
0 |– 2 5 5÷40 = 0,125 = 12,5% dentro daquela classe mais se repete, para isso temos
3 métodos para achar a moda: moda bruta, moda de
2 |– 4 7 7÷40 = 0,175 = 17,5% Pearson e moda de Czuber.
4 |– 6 15 15÷40 = 0,375 = 37,5% A moda bruta, nada mais é que o valor médio da
classe modal.
6 |– 8 10 10÷40 = 0,250 = 25% Ex:
8 |– 10 3 3÷40 = 0,075 = 7,5%
QUANTIDADE DE
TOTAL 40 1 = 100% NOTA
ALUNOS

Média Geométrica 0 |– 2 5

2 |– 4 7
A média geométrica, μG, é dada por:
4 |– 6 15
N
μG = √ X1 · X2 · X3 ..... XN 6 |– 8 10

Fazendo um paralelo com a média aritmética, na 8 |- 10 3


média geométrica ao invés de somarmos os dados,
vamos multiplicar, e ao invés de dividirmos pela A classe modal é a que tem a maior frequência, ou
quantidade de dados observados (N) vamos fazer a seja, a que possui 15 alunos, que é a classe que vai de
raiz enésima dessa quantidade. 4 a 6. Assim, pelo método da moda bruta, a moda será
a média da classe, ou seja, a média entre os limites da
Média Harmônica classe (4 e 6):

A média harmônica, μH, é dada por:


4+6
Mo =
N 2
μH = / 1 , ou seja:
X1
N 10
μH = Mo =
1 1 1 1 2
+ + + ....+
X1 X2 X3 XN Mo = 5

Fazendo um paralelo com a média aritmética, na A moda de Pearson é dada pela fórmula:
média harmônica vamos inverter os termos, a quantida-
de de dados observados (N) fica no numerador (em cima) Mo = 3 · Md – 2 · x
e a soma fica no denominador (embaixo). A diferença
é que a soma não é dos dados propriamente, e sim, do Portanto, para achar a moda pelo método de Pear-
inverso dos dados, ou seja, um sobre o valor observado. son, é preciso achar a mediana (Md) e a média arit-
Dificilmente vemos uma questão cobrar o cálculo mética (x).
das médias geométrica e harmônica, mas, uma pro- A moda de Czuber é dada pela Fórmula de Czuber:

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


priedade que é mais cobrada, é a comparação das
médias aritmética, geométrica e harmônica. Precisa- d1
mos saber que a média aritmética é a maior, depois a Mo = L + h ·
média geométrica e, por fim, a média harmônica que d1 + d2
é a menor.
Onde: L é o limite inferior da classe modal (classe
μA > μG > μH com maior frequência);
h é a amplitude da classe (diferença entre os extre-
Moda, Mediana e Quartis mos da classe);
d1 é a diferença entre a frequência da classe modal
Moda com a classe anterior;
d2 é a diferença entre a frequência da classe modal
Quando dizemos que uma roupa está na moda, isso com a classe posterior.
quer dizer que muita gente está usando esse tipo de Veja que na fórmula de Czuber a classe anterior é
roupa. A moda (Mo) na estatística é exatamente isso, mais importante que a classe posterior à classe modal,
é aquele dado que mais se repete na população ou na pois d1 aparece em baixo e em cima, e o L é o limi-
amostra, ou seja, o dado com maior frequência. te inferior da classe modal. Vamos entender com um
Ex: dado os valores observados: 3, 4, 5, 6, 6, 8, 8, 8, exemplo:
9, 10. A moda é o 8 pois aparece 3 vezes. Dada a distribuição de frequência.
217
3, 4, 5, 6, 6,/8, 8, 8, 9, 10
QUANTIDADE DE
NOTA
ALUNOS 6+8 14
Md = = =7
0 |– 2 5 2 2
2 |– 4 7
Para dados não agrupados é tranquilo de achar a
4 |– 6 15
mediana, mas quando temos dados agrupados com
6 |– 8 10 intervalos de classes não sabemos exatamente qual
valor dentro daquela classe será o central, para isso
8 |- 10 3
vamos fazer uma regra de três para achar esse valor,
esse método é chamado de interpolação linear.
Para achar a moda vamos usar a Fórmula de Czu- Dada a distribuição de frequência:
ber. A classe modal é a classe com maior frequência,
portanto das notas entre 4 e 6, que tem 15 alunos.
Portanto: NOTA QUANTIDADE DE ALUNOS
L = 4 (limite inferior) 0 |– 2 5
h = 2 (intervalo da classe: 6 – 4 = 2)
d1 = 8 (diferença de frequência entre a classe 2 |– 4 7
modal e a classe anterior: 15-7 = 8)
d2 = 5 (diferença de frequência entre a classe 4 |– 6 15
modal e a classe posterior: 15-10 = 5) 6 |– 8 10

8 |- 10 3
d1
Mo = L + h ·
d1 + d2 O total de observações nessa população é 40. Portan-
to, a mediana estará entre o 20 e o 21, mas para fazer a
8 conta vamos usar o termo inferior, portanto o 20º.
Mo = 4 + 2 · A mediana estará na terceira classe, pois até a
8+5 segunda temos 12 alunos (5 + 7), e ao final da terceira
já teremos 27 alunos, portanto o 20º termo estará den-
8 tro da 3ª classe (4 a 6).
Mo = 4 + 2 · Como disse acima, até a classe anterior temos 12
13 alunos, para chegar a nossa mediana, que é o 20º ter-
mo, faltam 8 alunos. Portanto, vamos fazer uma regra
16 de 3, onde a classe mediana tem 15 alunos em uma
Mo = 4 + variação de 2 pontos, portanto para 8 alunos a varia-
13
ção de pontos será X.
Mo = 4 + 1,23
VARIAÇÃO DENTRO DA
Mo = 5,23 FREQUÊNCIA (ALUNOS)
CLASSE

Mediana 15 2

8 X
A mediana (Md) é o valor que divide os dados em
duas partes iguais, ou seja, ao relacionar os dados em
ordem crescente é o dado que fica na posição central. 15 · X = 2 · 8
Ex: Dado os valores observados: 3, 4, 5, 6, 6, 8, 8, 8,
15 · X = 16
9, 10, 14.
Temos 11 dados nessa amostra, portanto o 6º valor 16
é o valor central, pois, temos 5 valores antes dele e 5 X=
depois, portanto a mediana é 8. 15

3, 4, 5, 6, 6, 8, 8, 8, 9, 10, 14 X = 1,06

Quando temos número ímpar de observações, a Portanto o 8º termo da 3ª classe (que é a nossa me-
mediana será o próprio valor, mas quando tivermos diana) está 1,06 acima do limite inferior da classe me-
uma quantidade par de dados, não teremos um valor diana, que é 4.
central, nesse caso vamos fazer a média entre os dois
valores centrais. Md = 4 + 1,06 = 5,06
Vamos pensar nos seguintes dados: 3, 4, 5, 6, 6, 8,
8, 8, 9, 10. Quartis
Aqui temos 10 dados, e para dividirmos nossa
amostra em duas partes iguais vamos separar entre Assim como a mediana divide os dados em duas
o 6 e o 8, restando 5 dados para cada lado. Portanto, a partes iguais, os quartis dividem em 4 partes iguais.
218 mediana será a média entre 6 e 8. Portanto, teremos 3 quartis (Q1, Q2 e Q3).
O primeiro quartil (Q1) divide 25% dos dados antes O desvio em si não diz muita coisa e nunca é cobra-
dele e 75% dos dados depois, o segundo quartil (Q2) do, mas é importante para entendermos o desvio
divide 50% dos dados de um lado e 50% de outro, e o médio e o desvio padrão (esse sim muito cobrado).
terceiro quartil (Q3) divide 75% dos dados antes dele
e 25% depois. Entre cada quartil temos 25% dos dados. Desvio Médio
Alguém mais atento pode me falar, “mas se o Q2
divide os dados restando 50% para cada lado ele é a A soma de todos os desvios de uma amostra resulta
em 0, vejamos o exemplo a seguir, de uma amostra
mediana!”. Exatamente isso, o Q2 é a própria mediana.
com 4 dados: 4, 6, 8, 10
Vamos supor uma amostra com 20 dados:

(5) (5) (5) (5) 4 + 6 + 8 + 10 28


x= =
1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20 4 4
Q1 Q2 Q3
5,5 10,5 15,5 x=7

Portanto os desvios são:


Existem ainda os: 4: D = 4 – 7 = -3
6: D = 6 – 7 = -1
z Decis, que tem essa mesma ideia dos quartis, mas 8: D = 8 – 7 = 1
divide a população/amostra em 10 partes iguais, 10: D = 10 – 7 = 3
portanto teremos 9 decis, ficando 10% da amostra Soma dos desvios: - 3 – 1 + 1 + 3 = 0
em cada parte, e Portanto, para acharmos o desvio médio vamos
z Percentis, que divide a população amostra em 100 utilizar o somatório dos módulos dos desvios e dividir
partes iguais, portanto teremos 99 percentis, fican- pela quantidade de dados. Utilizamos os módulos por-
do 1% da amostra em cada parte. Por exemplo, o que se usássemos os valores normais a soma daria 0.
P10 significa que temos 10% dos dados à esquerda,
/ Xi - X para dados de uma amostra.
e o restante (90%) à direita. DM = n

MEDIDAS DE DISPERSÃO Ou:

Amplitude DM =
/ Xi - n para dados de uma população.
n
A amplitude é a diferença entre o maior valor e o
menor valor da lista de dados, vamos supor a lista: 3, Ex: Vamos usar o mesmo exemplo:
6, 10, 12, 14, 20. A amplitude será: 4: D = 4 – 7 = -3
6: D = 6 – 7 = -1
8: D = 8 – 7 = 1
Ampl = Xmáx – Xmín
10: D = 10–7 = 3
Ampl = 20 – 3 = 17 Os módulos serão: 3, 1, 1 e 3.

Desvio Quartílico 3+1+1+3


DM =
O desvio quartílico, que também podemos chamar 4
de amplitude semi-interquartílica é a diferença entre
8

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


o 3º quartil e o 1º quartil dividido por 2.
DM =
4
Q3 - Q1
DQ = DM = 2
2
Variância
Intervalo Quartílico
Falamos que a média é o primeiro momento de
O intervalo quartílico é diferente do desvio quartí- uma distribuição, já a variância é chamada do segun-
lico (intervalo semi-interquartílico), o intervalo quartí- do momento de uma distribuição.
lico é apenas a diferença entre o quartil 3 e o quartil 1. A variância é uma medida de dispersão que mostra o
quão distante cada valor desse conjunto está da média.
Na variância teremos pela primeira vez uma dife-
IQ = Q3 – Q1
rença na fórmula quando consideramos uma popu-
Desvio lação e uma amostra. Até agora, as fórmulas eram
sempre iguais, mudávamos apenas a representação
Desvio é a diferença entre um dado qualquer de da média (de μ para x ).
uma amostra/população (Xi) e a média desses dados Em uma população a variância é representada por
(μ/ x). σ2 (sigma ao quadrado), já para uma amostra a variân-
cia é representada por S2.
D = Xi - x 219
Para uma amostra: Em uma população, o desvio padrão é representa-
da por σ (sigma), já para uma amostra o desvio padrão
/ ^Xi - X h2 é representado por S.
S2 = n-1 Para uma amostra:

Para uma população: / ^Xi - X h2


s= n -1
/ _Xi - n i2
σ2 = n Para uma população:

Podemos perceber que para uma amostra vamos / _Xi - ni2


dividir por “n-1” e para uma população vamos dividir σ= n
por N. Usamos N (maiúsculo e minúsculo) para ilus-
trar que em uma população a quantidade de dados Quando tivermos dados agrupados, basta multipli-
é maior que na amostra, mas os dois “enes” querem car cada parênteses pela frequência da classe.
dizer a mesma coisa, ou seja, a quantidade de dados.
Quando temos a variância populacional, podemos / f^Xi - X h2
calcular a variância amostral aplicando um fator de s= n -1
correção, que é:

n Ou

n-1
σ= / faXi -n k2
n
n
S2 = σ2 ·
n-1 Coeficiente de Variação

O coeficiente de variação (ou coeficiente de varia-


Quando tivermos dados agrupados, basta multipli- ção de Pearson) é a divisão do desvio padrão pela
car cada parênteses pela frequência da classe. média.
Pra uma amostra:
/ f^Xi - X h2
S2 = S
n -1 CV =
X
Ou
Para uma população:

/ f_Xi - n i2 v
σ2 = CV = n
n -1

Existe uma outra forma de calcular a variância, Propriedades


que em boas partes dos casos é mais rápida, que é a
diferença entre a média dos quadrados e o quadra- Vamos pensar num conjunto de dados do salário
de uma determinada empresa. Com esses valores
do da média.
podemos calcular a média, mediana, desvio padrão,
variância etc.
σ2 = x2 – (x)2
Em determinado momento o dono da empresa
resolve dar um aumento de 10% para todos os fun-
Ou seja, basta elevar todos os dados ao quadrado cionários, ou seja, multiplicando o salário de todos
e calcular a média desses valores, e subtrair disso a por 1,1. Nesse caso, o que acontecerá com esses dados
média dos dados ao quadrado. estatísticos? Ou então, o dono resolve aumentar R$
100,00 no salário de cada um, ou seja, somar 100,00
Desvio Padrão em todos os dados, o que acontecerá com esses dados
estatísticos?
O desvio padrão nos dá a noção de quão disper- Quando multiplicamos todos os salários por uma
sos são os dados da amostra, quanto menor o desvio constante qualquer (1,1 por exemplo), a média será
padrão, mais concentrado em torno da média aritmé- alterada na mesma ordem, ou seja, para achar a nova
tica estão os dados, quanto maior o desvio padrão, média multiplicaremos a média anterior pela mesma
constante (1,1). A mesma coisa ocorre para a mediana,
mais dispersos esses dados.
a moda e o desvio padrão. A única grandeza diferen-
O desvio padrão é a raiz da variância, portanto a
te é a variância, que será multiplicada pelo quadrado
fórmula e as considerações sobre população e amos- dessa constante, pois lembremos que ela é o quadrado
tra são as mesmas, apenas vamos fazer a raiz do do desvio padrão.
resultado. Em resumo, ao multiplicar os dados por uma cons-
tante k, os dados estatísticos irão alterar da seguinte
220 Desvio padrão = √Variância maneira:
DADO ESTATÍSTICO FORMA DE CHEGAR AO NOVO VALOR

Média (µ) µ.k

Mediana (Md) Md . k

Moda (Mo) Mo . k

Desvio padrão (σ) σ. k

Variância (σ2) σ2 . k2

Quando somamos todos os salários por uma constante qualquer (100 por exemplo), a média será alterada na
mesma ordem, ou seja, para achar a nova média somaremos a média anterior pela mesma constante. A mesma
coisa ocorre para a mediana e a moda. Entretanto as medidas de dispersão, desvio padrão e variância não serão
alteradas pela soma de uma constante.
Assim o resumo dos valores, após a soma dos dados pela constante k são:

DADO ESTATÍSTICO FORMA DE CHEGAR AO NOVO VALOR

Média (µ) µ+k

Mediana (Md) Md + k

Moda (Mo) Mo + k

Desvio padrão (σ) Não muda

Variância (σ2) Não muda

Resumindo, quando somamos k a todos os elementos de uma série de dados, e/ou quando multiplicamos por
k todos os elementos de uma série de dados:

MULTIPLICAÇÃO DE UMA
SOMA DE UMA CONSTANTE K
CONSTANTE K

NOVA MÉDIA/
Soma k Multiplica por k
MEDIANA/MODA

NOVO DESVIO PADRÃO Não altera Multiplica pelo módulo de k

NOVA VARIÂNCIA Não altera Multiplica por k2

Vantagens e Desvantagens da Média Aritmética

A média aritmética é, com certeza, o parâmetro estatístico mais conhecido pela grande maioria das pessoas,
pois é muito usada desde os primeiros anos de escola, e em muitos casos no dia a dia da população, até pela faci-
lidade de ser calculada.
Entretanto, levando em conta que a média aritmética é uma medida estatística (medida de tendência central),

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


assim como a mediana e a moda, por exemplo, ela tem suas vantagens e desvantagens, ao compararmos com
essas outras duas medidas.

VANTAGENS DESVANTAGENS

Extremamente indicada para dados em que os valores se- É muito influenciada pelos valores extremos, podendo
jam simétricos em relação ao valor central (Curva Normal) causar uma distorção caso a distribuição seja assimétrica

Não traz informações sobre a quantidade de dados acima


Indicada para comparar conjuntos de dados que guardem
ou abaixo da média, bem como não é possível saber o valor
semelhança entre si
mais frequente

GRÁFICOS E DIAGRAMAS

Para representar os dados coletados existem vários tipos de gráficos usados na estatística. Muitos deles são
conhecidos e sempre aparecem em reportagens, jornais etc. Vamos mostrar alguns dos principais tipos de gráficos:

221
Caixa box-plot No gráfico de colunas o eixo horizontal traz os
dados qualitativos, ou quantitativos discretos, e o eixo
A caixa box-plot (muito cobrado) é um gráfico que vertical traz as frequências (quantidades) de cada
nos mostra a distribuição de frequência, e é formado categoria. Já no gráfico de barras o eixo vertical traz
pelos quartis e pelos valores extremos. os dados qualitativos ou quantitativos discretos, e o
eixo horizontal traz as frequências de cada categoria.
Mediana Valor máximo Vamos supor um gráfico de colunas, onde quere-
Valor mínimo Q1 (Q2) Q3
(limite inferior) (limite superior) mos saber a quantidade de pessoas com diferentes
graus de escolaridade em um determinado concurso.
Dados
discrepantes
Grau de Instrução dos Candidatos
-20 -10 0 10 20 30 40 50
600
Vemos que a caixa é formada pelos 3 quartis, que 500
no caso seriam aproximadamente: Q1 = 0, Q2 = 20 e Q3 400
= 30. Os dados extremos seriam aproximadamente -15 300
e 40, portanto amplitude seria: 40 – (–15) = 40 + 15 = 55. 200
As duas bolinhas significam dados discrepantes 100
(outliers), que seriam dados que fogem do padrão do 0
l
restante dos dados. Os dados discrepantes são aqueles ta r
en io rio ão
am éd e aç
que superam em 1,5 vezes o intervalo interquartílico d M up du
(diferença entre Q3 e Q1). oF
un in
o oS -G
ra
s in s
No nosso exemplo: sin En En
s

En

Q3 – Q1 = 30 – 0 = 30

1,5 · 30 = 45 Nesse tipo de gráfico vemos que não é possível


falar em média ou mediana, mas podemos usar como
Os dados discrepantes serão aqueles que forem medida de tendência central a moda, que nesse caso
inferiores a 45 unidades de Q1, ou superiores a 45 seria o Ensino Superior, que é o grau de instrução que
unidades de Q3. mais se repete no gráfico.
Limite inferior: 0 – 45 = - 45
Limite superior: 30 + 45 = 75 Gráfico de Dispersão
Portanto, serão dados discrepantes os que tiverem
valores inferiores a “–45” ou os superiores a 75. Estudaremos melhor esse tipo de gráfico quando
falarmos de correlação, mas, irei apresentar como ele
Gráfico de Barras e Colunas
é feito, e quando é usado.
Esses dois tipos de gráficos na verdade são basica- O gráfico de dispersão, ou diagrama de dispersão, é
mente os mesmos, a diferença é que no gráfico de bar- uma associação entre pares de dados quantitativos, nor-
ras, as barras/colunas são horizontais e no gráfico de malmente são usados para entender a correlação entre
colunas, as barras/colunas são verticais. Normalmen- duas variáveis. Nele, vamos verificar as duas variáveis
te esses gráficos são usados para representar dados e colocar esses pontos em um plano cartesiano.
qualitativos ordinais e quantitativos discretos. Vamos fazer um gráfico de dispersão com as variá-
veis peso e altura de um grupo de 6 pessoas:

5
4 ALTURA 1,7 1,72 1,9 1,56 1,64 1,82
3
PESO 75 81 87 52 70 90
2
1
0 Altura x Peso

ri a1 a2 3 4 100
o ori
oria ria 90
t eg t eg eg go
Ca
t te
Ca Ca Ca 80
70
60
50
40
1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 2
Categoria 4
Categoria 3
Podemos ver que cada ponto representa o par
Categoria 2 peso/altura de um indivíduo, mas discutiremos isso
mais profundamente posteriormente.
Categoria 1
0 2 4 6
222
Gráfico de Setores (pizza) Gráfico Pictórico

O gráfico de setores normalmente é usado para apre- O gráfico pictórico não é propriamente um tipo
sentar dados qualitativos como setores de um círculo específico de gráfico. Na verdade, o gráfico pictórico
(pedaços de uma pizza). Normalmente os dados são apre- pode ser representado por um gráfico de barras, de
sentados em percentuais, sendo que o total é 100% (360º). colunas, de linhas, entre outros. A grande caracte-
rística desse gráfico é que, para chamar mais a aten-
Grau de Instrução ção, são usadas figuras (imagens) na composição do
gráfico.
Esse tipo de gráfico é muito usado em jornais e tele-
Pós-Graduação jornais, pois proporcionam uma comunicação mais
6% rápida e com precisão de entendimento. Nesse tipo de
gráfico as figuras são, ao mesmo tempo, os dados esta-
Ensino tísticos e indicam a proporcionalidade desses dados.
Ensino
Superior
Fundamental
25%
38%

Ensino
Médio
31%

Ensino Fundamental Ensino Médio Ensino Superior

Pós-Graduação 6%

Podemos notar que esse gráfico nada mais é que


Desse gráfico, podemos ver que, na pesquisa, o um gráfico de barras, mas, pelo fato de o gráfico mos-
grau de instrução predominante é o Ensino Funda- trar a quantidade de consumo anual de sorvete em
mental, com 38%, e o mais raro é a Pós-Graduação, diferentes países, ao invés de se colocar as barras,
com 6%. Também é um gráfico em que temos a moda foi colocada uma espátula de tomar sorvete, em um
como medida de tendência central. tamanho proporcional ao da barra, e ao lado do gráfi-
co foi colocada uma imagem de sorvetes.
Histograma
MEDIDAS DE DISTRIBUIÇÃO
O histograma é um dos principais gráficos da esta-
tística, ele é muito utilizado para demonstrar a distri- Assimetria
buição de frequência de dados quantitativos contínuos.
O histograma é formado por colunas ou barras
Associado ao histograma podemos fazer uma cur-
(retângulos) de um conjunto de dados e dividido em
va tangente aos dados do nosso histograma, e muitas
classes uniformes ou não uniformes. Sendo que a base
vezes representamos nossa distribuição, resumida-
do retângulo representa uma classe e a altura do retân-
gulo representa a quantidade ou a frequência absoluta mente, apenas por essa curva.

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


com que o valor da classe ocorre no conjunto de dados.
Peso de bagagens despachadas
Peso de bagagens despachadas no Voo X da Companhia Aérea
no Voo X da Companhia Aérea Alfa
30
Alfa
30 25
25 20
Frequência

20 15
Frequência

15 10
10 5
5
0
10 20 30 40 50 60
0
10 20 30 40 50 60
Peso, em Kg
Peso, em Kg
Dizemos que uma distribuição é simétrica quando
A tabela mostra-nos que a maior parte das baga- ao dividirmos a curva na metade, a parte da direita
gens possui entre 30 e 35 kg, mas existem malas desde seja exatamente um espelho da parte da esquerda, e
0 a 60 kg. nesse caso, a média, a moda e a mediana são iguais. 223
Em outros casos a distribuição pode ser assimétri- O coeficiente percentílico de curtose é dado por:
ca, e aí teremos dois tipos: assimetria direita (positiva)
e assimetria esquerda (negativa). Q3 - Q1
A assimetria é o terceiro momento da distribuição. Cp =
Para não confundir vamos olhar sempre para o 2 · (P90 - P10)
lado que a curva se “arrasta”, lembrando que em um Onde:
gráfico quanto mais à esquerda nós vamos menor Q3 = 3º Quartil;
será nosso valor (tendendo a ir para o lado negativo), Q1 = 1º Quartil;
e quanto mais à direita nós vamos maior será o nosso P90 = 90º percentil, ou 9º decil;
valor (tendendo a ir para o lado positivo). Assim: P10 = 10º percentil, ou 1º decil
O CP da Curva de Gauss é de aproximadamente
f 0,263. Nesse caso podemos classificar a distribuição
de 3 formas:
CP < 0,263 – Leptocúrtica (curva menos achatada e
Curva Assimétrica mais concentrada)
Á Direita CP = 0,263 – Mesocúrtica (igual a Normal)
Mo Md X
CP > 0,263 – Platicúrtica (curva mais achatada e
menos concentrada)
Mo < Md < X Dados
Leptocúrtica ( C < 0,263)
O arrastado da curva é na parte direita dela, por- Leptocúrtica ( C = 0,263)
tanto essa é a assimetria direita (ou positiva), pois é
Leptocúrtica ( C > 0,263)
para o lado positivo da curva.

Curva Assimétrica
Á Esquerda
X Md Mo

X < Md < Mo Dados Além desse coeficiente, temos também o coefi-


ciente de momento de curtose (CM), que é dado pelo
quociente:
O arrastado da curva é na parte esquerda dela,
portanto essa é a assimetria esquerda (ou negativa),
M4
pois é para o lado negativo da curva. CM =
S4
Curtose
Onde:
A curtose é a medida que busca nos mostrar o grau M4 = Quarto momento central (que é a curtose –
de concentração de valores em torno do centro da dis- não precisamos saber calcular);
tribuição, isso é mais fácil de entender como o “grau s4 = Variância (s2) ao quadrado, ou seja, desvio
de achatamento” da curva. Usamos como base a curva padrão elevado a quatro.
de Gauss, que falaremos melhor em outro tópico, mas O coeficiente de momento de curtose da curva de
é basicamente no seguinte formato. Gauss é 3, portanto a classificação será em função do
3. Quanto maior o CM mais concentrada a curva.
CM > 3 – Leptocúrtica (curva menos achatada e
mais concentrada)
CM = 3 – Mesocúrtica (igual a Normal)
CM < 3 – Platicúrtica (curva mais achatada e menos
concentrada)
Cuidado para não confundir, quanto menor o CP
maior a concentração da curva, e quanto maior o CM
maior a concentração da curva.

PROBABILIDADE — DEFINIÇÕES BÁSICAS E


Curva de Gauss (Distribuição Normal) AXIOMAS

Quanto maior for a concentração de dados no cen- A probabilidade é a parte da Matemática que cal-
tro da curva, ou seja, quanto menos achatada for a cula a “chance” (probabilidade) de que algo aconteça,
curva, menor será o coeficiente percentílico de cur- como, por exemplo, jogar na Mega-Sena e ganhar, ou
tose (CP). então, de chutar uma questão no concurso e acertar.
224
Para iniciar essa teoria, vamos partir de alguns AXIOMAS DA PROBABILIDADE
conceitos importantíssimos para a probabilidade:
Axiomas são verdades inquestionáveis, ou seja,
z Experimento aleatório: é o evento que pode ter conceitos fundamentais da probabilidade, também
diferentes resultados, quando repetidos nas mes- conhecido como axiomas de Kolmogorov.
mas condições, ou seja, não sabemos o resultado, Os axiomas da probabilidade são 3:
mas podemos saber quais são os resultados pos-
síveis de serem obtidos. Ex.: o lançamento de um z A probabilidade de um evento acontecer está entre
dado é um experimento aleatório, sabemos que 1 (evento certo – 100%) e 0 (evento impossível –
pode cair 1,2, 3, 4, 5 ou 6, mas não sabemos qual 0%); ≤ P(A) ≤ 1;
exatamente irá cair naquele lançamento específico. z A soma das probabilidades de todos os eventos do
z Ponto amostral: é qualquer um dos resultados
espaço amostral é igual a 1: P(S) = P(A) + P(B) + P(C)
possíveis no experimento aleatório. Ex.: No lança-
= 1 para um espaço amostral onde os únicos even-
mento do dado, se o dado cair com a face 1 para
tos possíveis são A, B e C;
cima é um ponto amostral, assim como todas as
Ex.: No lançamento de uma moeda, são dois even-
outras faces, 2, 3, 4, 5 e 6;
z Espaço amostral: é o conjunto de todos os resul- tos possíveis, podendo sair cara ou sair coroa. A
tados possíveis do experimento aleatório, é dado probabilidade de cada um dos eventos é ½, portan-
pela letra S. Ex.: No lançamento do dado, o espaço to, a soma entre eles é ½ + ½ = 1;
amostral é: S = {1, 2, 3, 4, 5, 6}. Nesse caso, dizemos z Se A e B forem eventos mutuamente excluden-
que o número de elementos do espaço amostral é tes, ou seja, se um ocorre o outro não ocorre, não
dado por n(S), portanto, nesse exemplo n(S) = 6. havendo intersecção entre eles, a soma das pro-
A definição do espaço amostral é um passo muito babilidades de cada evento é a probabilidade da
importante na resolução dos exercícios de proba- união dos dois eventos, que será 1.
bilidade. Em muitas questões, para definirmos o
espaço amostral será usada a análise combinatória; P(AB) = P(A) + P(B), quando AB é vazio (θ).
z Evento: é um subconjunto do espaço amostral. O
evento será representado por uma letra maiúscula, A, Ex.: Quando temos dois eventos complementares,
e o número de elementos do evento é dado por n(A). isso sempre acontece, pois a probabilidade de um
Ex.: No lançamento do dado, se quisermos um evento acontecer somado com a probabilidade des-
resultado ímpar, temos 3 opções: 1, 3 e 5. Portanto, se evento não acontecer será sempre 1. Você fez uma
representamos isso da seguinte maneira: A = {1, 3, aposta na vitória do seu time, temos apenas dois even-
5} e n(A) = 3, pois o conjunto A possui 3 elementos. tos possíveis, ou seu time ganha, ou seu time não ganha
Quando temos um subconjunto vazio (), dizemos (perde ou empata), é impossível acontecer as duas coi-
que é um evento impossível, já que ele nunca sas. Esses eventos, portanto, são complementares.
poderá ocorrer. Já quando temos o subconjunto
S, ele é igual ao espaço amostral e chamamos de
PROBABILIDADE CONDICIONAL E INDEPENDÊNCIA
evento certo, pois ele, com certeza, irá ocorrer.
Em probabilidade e estatística, duas variáveis alea-
Resumindo:
tórias X e Y descritas em um mesmo espaço amostral
são distribuídas condicionalmente, tal que a proba-
z Experimento aleatório: lançamento do dado;
bilidade condicional de Y ocorre dado que X ocorreu
z Ponto amostral: a face que caiu virada pra cima; é esboçada por:
z Espaço amostral: S = {1, 2, 3, 4, 5, 6} e n(S) = 6;
z Evento A: obter um resultado maior que 4: A = {5,
P (X=x,Y=y)
6} e n(A) = 2; P (Y=y│X=x) =
P (X=x)
, se P (X=x) > 0

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


z Evento impossível: obter o resultado 7. B = {} e
Se P (X=x) = 0, então a probabilidade condicional
n(B)=0;
poderá ser obtida por P (Y = y │ X = x). O valor espe-
z Evento certo: obter resultado maior que 0 e menor rado na condicional será então fornecido pela relação
que 7; C = {1, 2, 3, 4, 5, 6} e n(C)=6. a seguir:

A probabilidade de ocorrer o evento A, representa-


da por P(A), em um experimento aleatório é a divisão
E (Y│X = x) = / yP (Y = y ; X = x)
y
entre número de elementos de A, n(A), pelo núme-
ro de elementos do espaço amostral n(S). Em outras
palavras, dizemos que é a divisão do número de casos Com relação à independência de variáveis alea-
favoráveis, n(A), pelo número de casos possíveis, n(S). tórias, elas não estão condicionadas, ou seja, a ocor-
rência de uma não depende e não influencia na
ocorrência de outra. Para tanto, dizemos que, nestes
n (A)
P(A) = casos, a covariância entre as variáveis aleatórias
n (S) estudadas é nula, ou seja, Cov (X,Y) = 0. Logo, o valor
esperado do produto entre elas será o próprio produto
Onde: dos respectivos valores esperados de cada uma delas.
P(A) é a probabilidade de acontecer o evento A;
n(A): é o número de elementos favoráveis que E (XY) = E (X) E (Y)
fazem parte do evento A;
n(S): é o número de elementos do espaço amostral S. 225
Intersecção de Eventos (regra do E) Agora, vamos pensar no nosso exemplo do tópico
anterior, retirando dois ases de um baralho.
Quando um exercício pede a probabilidade de
acontecer um evento E um outro evento qualquer, z Se tirarmos duas cartas em sequência, sem repo-
temos a probabilidade da intersecção de dois eventos sição da carta retirada, a probabilidade de retirar
P(A⋂B). A fórmula é dada por: um ás na segunda tentativa é diferente da primei-
ra, uma vez que já foi retirada uma carta, mudan-
P(A e B) = P(A) · P(B|A) do o nosso espaço amostral e mudando o número
total de eventos favoráveis, portanto, esses even-
Onde:
tos são dependentes;
P(B|A) significa a probabilidade de ocorrer B, sen-
z Se retirarmos duas cartas em sequência, com repo-
do que A já ocorreu.
Ex.: qual a probabilidade de retirar dois ases de um sição da carta retirada, a probabilidade de retirar
baralho de cartas, sem que haja reposição das cartas. um ás na segunda tentativa é a mesma que na
Apesar de o exercício não colocar o “e”, temos uma primeira, pois o total de cartas não foi alterado
intersecção de eventos aí, já que queremos retirar nem o total de ases, portanto, esses eventos são
uma ás (A1), E depois, mais um Ás (A2). O total de car- independentes.
tas do baralho é 52 e o total de ases é 4.
A probabilidade de sair o primeiro ás é: Na maioria dos casos conseguimos concluir se os
eventos são independentes ou dependentes, mas em
alguns casos, pelo relato, não é possível sabermos.
4 Nesse caso, sabemos que quando os eventos são inde-
52 pendentes, a probabilidade de B ocorrer, sabendo que
A já ocorreu “P(B|A)”, é igual a probabilidade de B
ocorrer: “P(B)”.
Pois o total de eventos possíveis é 52, e o total de
eventos favoráveis é 4.
P(B|A) = P(B).
A probabilidade de sair o segundo ás, dado que já
saiu um ás, é:
Da mesma forma, P(A|B) = P(A).
3 Portanto, podemos dizer que os eventos A e B são
independentes se, e somente se, ocorrer:
51
P(A e B) = P(A) . P(B)
Pois agora temos apenas 3 ases e 51 cartas.
Portanto, a probabilidade de sortear dois ases é TÉCNICAS DE AMOSTRAGEM: AMOSTRAGEM
ALEATÓRIA SIMPLES, ESTRATIFICADA,
P(A1 e A2) = P(A1) · P(A2|A1) SISTEMÁTICA E POR CONGLOMERADOS
4 3
P(A1 e A2) = · Amostra
52 51
É comum ouvirmos por aí pessoas que dizem não
Simplificando o 4 com o 52, e o 3 com 51) acreditar em pesquisas como Ibope, Datafolha entre
outras, com o argumento de que nunca foi entrevis-
1 1 tado por esses órgãos e que não conhecem nenhuma
P(A1 e A2) = ·
13 17 pessoa que tenha sido consultada também. Ora, con-
sultar a população toda acerca de algum assunto é
muito custoso e demandaria um tempo muito grande.
1 Por isso, para se chegar a essa estimativa, esse tipo de
P(A1 e A2) =
221 pesquisa é realizado em parte da população.
Para analisar parâmetros estatísticos de uma popu-
Logo, a probabilidade de retirar dois ases é: lação é necessário selecionar uma amostra a partir de
técnicas de amostragem. Dessa amostra são extraídos
1 dados estatísticos, que serão estudados e analisados, e
então, generalizados para toda a população por meio
221 da Inferência Estatística.

AMOSTRAGEM
Eventos Independentes

Dizemos que dois eventos são independentes POPULAÇÃO

quando a ocorrência de um não interfere na probabi-


lidade do outro. AMOSTRA
Um exemplo fácil de assimilar é no lançamento
sucessivo de um dado. Se no primeiro lançamento eu AMOSTRA
tiro 3, quando vou lançar o segundo dado, a probabili-
dade de tirar qualquer coisa foi alterada? Não. A pro-
babilidade de tirar qualquer número específico será
sempre 1/6, logo, podemos dizer que esses eventos são
226 independentes. INFERÊNCIA
Quando vamos tratar de inferência estatística, o nosso conjunto de dados a ser analisado são os dados extraí-
dos das amostras da população. Para isso, a amostra selecionada deve ser representativa da população.
Uma amostra não representativa é uma amostra viciada, que chamamos de vício de amostragem. Utilizan-
do esse tipo de amostra chegaríamos a um resultado que não corresponde à realidade.
Ex.: queremos saber a quantidade de torcedores de cada time na cidade de São Paulo, portanto nossa popu-
lação é o total de habitantes de São Paulo. Vamos supor que a amostra selecionada para responder fosse feita na
porta do estádio do Palmeiras em dia de jogo. Nesse caso, praticamente 100% dos entrevistados se declarariam
palmeirenses, o que, claramente, está incorreto, pois a escolha da amostra foi realizada de forma incorreta.
Conceitos importantes:

z População objeto: é a população total que temos o interesse de obter informações;


z Unidade elementar (unidade amostral): é a unidade (indivíduo) da população que será observada (analisa-
da), pode ser uma pessoa, uma peça de uma produção etc.;
z Amostra: é o subconjunto da população;
z Censo: análise de todos os elementos da população;
z Erro amostral: é a diferença entre o resultado amostral para o resultado populacional.

Existem várias formas de se determinar uma amostra da população a ser estudada, que se dividem em dois
grandes grupos:

PROBABILÍSTICAS NÃO PROBABILÍSTICAS


Quando todos os elementos da população possuem a mes- Quando os elementos da população não possuem a mes-
ma probabilidade de serem selecionados. Só nas amostras ma probabilidade de serem escolhidos, pois dependem do
probabilísticas podem ser utilizados os métodos de infe- critério do pesquisador. Esse método tem uma desvanta-
rência. Alguns exemplos são a amostra aleatória simples, gem por não ser possível fazer inferências sobre a popu-
a sistemática, a estratificada e amostra por conglomerado lação. Apesar disso, ainda é um método muito utilizado.
Alguns exemplos são a amostra por conveniência, inten-
cional, amostra por cotas e voluntários

AMOSTRAS PROBABILÍSTICAS

Aleatória Simples

É o método mais utilizado, que consiste na escolha aleatória dos indivíduos de uma determinada população
que formarão a amostra, um detalhe importante desse método é que é preciso conhecer os dados de toda a popu-
lação para, a partir de uma listagem, por exemplo, sejam definidos aleatoriamente os indivíduos estudados.
Ex.: em uma sala de aula com 100 alunos queremos escolher 15 para responderem a uma pesquisa de satisfa-
ção dos professores. Portanto, a partir da lista dos 100 alunos da sala, selecionamos 15 aleatoriamente, enumeran-
do cada aluno e fazendo um sorteio, como um bingo, por exemplo, ou até por algum sistema específico randômico,
como a funcionalidade Random do Excel.

Sistemática

É uma variação da amostragem aleatória simples, na qual a partir da população ordenada (lista) escolhemos
um critério para fazer a seleção.
Ex.: Em uma fábrica que produz um certo objeto, a cada 10 peças produzidas retiramos uma para compor
nossa amostra, a fim de detectar possíveis erros de produção.

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


Estratificada

Consiste em dividir a população em grupos menores homogêneos, que chamamos de estratos, de forma que os
elementos de cada estrato sejam mais homogêneos (pouca variabilidade) e os estratos sejam mais heterogêneos
(grande variabilidade). Os estratos devem ser mutuamente exclusivos, ou seja, cada indivíduo deverá estar em
apenas 1 estrato. Esses estratos podem ser divididos em idade, renda mensal, classe social, sexo, entre outros.
Dividida a população em estratos, são selecionados de forma aleatória simples parte dos elementos de cada
estrato.
Essa escolha dos elementos de cada estrato pode ser feita de maneira:

z Uniforme: escolhendo, por exemplo, 10 pessoas de cada estrato, ou;


z Proporcional: obedecendo a representatividade de cada estrato na população, por exemplo, dividindo os
estratos entre homem e mulher, se 30% da minha população é mulher e 70% de homens, minha amostra será
formada por 30% de mulheres e 70% de homens.

Conglomerado

Consiste em dividir uma população em conglomerado (subgrupos) como: quarteirões, famílias, organizações,
agências, edifícios etc., selecionar de forma aleatória simples alguns dos conglomerados e analisar todos os ele-
mentos do subgrupo escolhido. Nesse tipo de amostra as pessoas de cada conglomerado não necessariamente
precisam ter características comuns, como na estratificada. 227
Importante! Vamos considerar uma população, de tamanho N
(que pode ser uma população infinita), representada
As bancas geralmente tentam confundir as por uma variável X. Dessa população será sorteada
amostras estratificada e por conglomerado, mas uma amostra aleatória simples de tamanho “n”. Cada
é bem fácil de diferenciar as duas. Na amostra sorteio de um elemento dá origem a uma variável
estratificada, a população é dividida em grupos aleatória que chamaremos de Xi, sendo que todos os
e, de todos os grupos, são selecionados alguns sorteios são independentes e possuem a mesma dis-
elementos de forma aleatória. Já na amostra tribuição de X.
por conglomerado, a população é dividida em Portanto, uma amostra aleatória simples da variá-
grupos, e são selecionados alguns grupos, que vel X é um conjunto de variáveis aleatórias X1, X2, ...,
terão todos os elementos analisados. Xn, identicamente distribuídas.
Os valores da população são chamados de parâ-
metros, já os valores encontrados nas amostras são
AMOSTRA NÃO PROBABILÍSTICAS chamados de estimadores. Portanto, quando falar-
mos de um estimador, estaremos nos referindo a um
Aleatória Acidental ou por Conveniência
valor amostral, já quando falarmos em parâmetros,
estaremos nos referindo a um valor populacional.
Esse tipo de amostra é a menos rigorosa de todas,
Os parâmetros da população podem ser vários,
usado nas pesquisas de opinião, quando os entrevista-
dores ficam em lugares com grande fluxo de pessoas, mas, os mais comuns são a média, a variância, o
como mercado, metrô e calçadões, para fazer teste de desvio-padrão e a proporção. Vamos simbolizar um
produtos, entrevistando pessoas ao acaso de forma parâmetro qualquer por θ. Já os estimadores são as
acidental. estimativas para esses parâmetros, e, para simbolizar
que estamos tratando de um estimador, colocamos
Intencional um ^ sobre o símbolo do parâmetro (θ).̂
Quando vamos usar os valores encontrados em
São selecionadas pessoas que os pesquisadores jul- uma amostra aleatória, podemos ter erros em relação
gam ser relevantes para a pesquisa, como no caso da ao parâmetro populacional, portanto definimos esse
amostra aleatória, mas com alguns filtros. Ex: Em uma erro como a diferença do estimador para o parâmetro
pesquisa sobre conforto de bonés, o entrevistador real da população.
conversa apenas com pessoas que usam boné na rua.
e = θ̂ – θ
Por Cotas
Chamamos esse erro de viés, ou vício, portanto,
Essa amostra é parecida com as probabilísticas
quando temos um estimador não viesado, esse erro
estratificada e conglomerado, pois é necessário divi-
dir a população em grupos e determinar a proporção é 0, portanto: θ̂ = θ. Isso significa que um estimador
da população de cada grupo, e fixar cotas que serão não viesado é igual ao parâmetro populacional.
extraídas de cada grupo proporcionalmente às classes Nas distribuições amostrais, assim como nas
consideradas. A diferença é que usamos esse tipo de estimativas de máxima verossimilhança, a média
amostra quando não existe uma listagem da popula- populacional (parâmetro) pode ser dada pela média
ção alvo. amostral (estimador), isso está associado ao Teorema
Ex: pesquisa eleitoral, no caso definem o percen- Central do Limite, ou seja, podemos dizer que esses
tual de pessoas em cada faixa de idade a ser entre- parâmetros são não viesados. Assim como a propor-
vistada, e escolhem as pessoas de forma acidental até ção amostral também é um parâmetro não viesado,
completar cada grupo de idade. e podem ser usados como proporção populacional.
Portanto:
Voluntários
E(X) = µ
São pessoas que se voluntariam a participar da
pesquisa. Ex.: teste de novos remédios, que pessoas se
Já a variância do estimador é dada pela variância
voluntariam para serem cobaias.
populacional dividido pelo tamanho da amostra.
DISTRIBUIÇÕES AMOSTRAIS 2
v
Var(X) =
Após a realização das amostragens, e das pesquisas n
que queremos realizar, teremos amostras com dados
sobre os assuntos de interesse da pesquisa. Com esses Sendo uma amostra aleatória simples (X1, X2, ...,
dados das amostras em mãos, faremos a inferência Xn), de tamanho n, de uma população representada
sobre os dados da população. Os dados extraídos das por uma variável aleatória normal X (ou seja, com
pesquisas podem ser: média, desvio-padrão, variân- média µ e variância σ2, simbolizada por N(µ,σ2)), então
cia, proporção dentre outros valores. a distribuição amostral da média amostral X também
Conforme vimos nas distribuições de probabilida- será normal, e sua média será µ e sua variância será:
des das variáveis aleatórias (discretas e contínuas),
esses modelos probabilísticos são baseados em alguns 2
parâmetros (como exemplo, o λ na distribuição de v
Poisson) que na prática são desconhecidos, assim pre- n
cisamos estimar esses parâmetros com base nessas
228 amostras aleatórias.
Simbolicamente temos: é um bom parâmetro para definirmos a média popu-
lacional, mas a média amostral encontrada não será
2
totalmente idêntica à populacional, sempre teremos
X ∼ N(µ; σ2) ⇒ X ∼ N(µ; v )
n um erro aleatório. Nesse caso temos que quantificar o
erro construindo um intervalo de confiança.
O desvio padrão da distribuição amostral é cha-
mado de erro padrão (EP(X) ou s), e o erro padrão da x=μ±e
média é dado por:
Encontrando esse intervalo de confiança defi-
v
2
niremos um grau de incerteza associado a nossa
EP(X) =
n estimativa.
Para achar os intervalos de confiança, vamos con-
siderar variáveis que possuem distribuição normal, e
Já o erro padrão da proporção amostral é dado por:
vamos utilizar as tabelas da normal padrão (Z), assim
p·q como t de Student e qui-quadrado. Voltaremos a usar
s= o nível de significância, que aqui pode ser chamado
n
de coeficiente de confiança.
O erro aleatório dos estimadores encontrado na
A estimativa da variância da proporção amostral
amostra, em geral, estará atrelado ao grau de con-
é dada por:
fiança (1 - α) que queremos e do tamanho da amostra
p·q selecionada.
s2 = Vamos supor que uma população tenha média de
n
idade de 43 anos, e ao selecionarmos uma amostra
Outra coisa muito cobrada é a fração amostral (f), vamos querer um erro de no máximo 1 ano, assim tere-
que nada mais é que o tamanho da amostra (n) dividi- mos que ter uma amostra de n elementos para isso.
do pelo tamanho da população (N). Definido o erro, a média da amostra terá que resul-
tar em: 43 ± 1, ou seja, um intervalo limitado a: [42 ; 44].
f=
n Nesse caso temos que selecionar uma amostra que
N nos dê uma média amostral entre 42 e 44 anos.
Nesse intervalo o erro é de 1 ano, pois estamos
Não podemos esquecer que quando temos uma variando 1 ano acima da média e 1 ano abaixo da média.
população finita e uma amostra sem reposição, temos Por outro lado, a amplitude desse intervalo é de 2 anos,
que multiplicar o estimador pelo fator de correção: pois 44 – 42 = 2. Assim podemos dizer que a amplitude
de um intervalo de confiança é o dobro do erro.
N–n
N –1 A = 2.e

Já nos casos de população finita com reposição, ou INTERVALO DE CONFIANÇA PARA MÉDIA
nos casos de população infinita não é necessário apli-
car o fator de correção. Quando sabemos o valor do desvio padrão popula-
Os bons estimadores possuem quatro proprieda- cional (σ), o erro é dado por:
des características:
σ
z Suficiência: o estimador é suficiente se a informa- e = Z0 . √n
ção tirada da amostra consegue mostrar tudo o

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


que for possível sobre o parâmetro desconhecido,
ou seja, qualquer outra informação não acarretará Sendo que: “e” é o erro; “σ” é o desvio padrão popu-
uma melhora da informação sobre o parâmetro; lacional; “n” é o tamanho da amostra; “Z0” também
z Não viés: esse já falamos anteriormente, é quando chamado de Zα/2, que é o valor na curva normal padro-
o erro na medida é nulo: e = θ̂ – θ; nizada, atrelada ao nível de confiança da amostra.
z Consistência: considera que aumentando o tama- Obs.: O valor mais clássico, que algumas bancas
nho da amostra, as estimativas tenderão ao valor até exigem que você saiba de cabeça é o coeficiente de
desconhecido do parâmetro; confiança de 95%, ou seja,
z Eficiência: o estimador será mais eficiente quando
o erro quadrático médio (variância do erro) for o 1 - α = 0,95
menor possível.
α = 0,05 = 5%
INFERÊNCIA DE INTERVALOS DE CONFIANÇA
Portanto ao olharmos na tabela (aquela mesma da
Sempre que selecionamos uma amostra para cal- curva normal padronizada) o valor de Z0,005/2 = Z0,025 =
cular estimadores e obter parâmetros da população 1,96, pois P(-1,96<Z<1,96) = 0,95, ou 95%.
(média, variância, proporção etc.), teremos um erro Logo, quando tivermos um nível de confiança de
embutido nesse valor. 95% podemos usar diretamente o valor de Z0 = 1,96,
Imaginemos uma população que tem uma média mas, caso o exercício forneça os dados, é sempre bom
de altura μ, e, ao analisarmos uma amostra dessa popu- conferir.
lação, encontremos uma média . Essa média amostral 229
Da fórmula do erro, podemos multiplicar os lados Multiplicando os lados por 2, teremos:
por 2, assim teremos:

2.e = 2 . Z0 .
σ
√n
A = 2 . Z0 . √ p‧q
n

Com base na fórmula do erro, vamos chegar que o


Sabemos que “2e” é a amplitude do intervalo de
intervalo de confiança para a proporção é dado por:
confiança, portanto:

A = 2 . Z0 .
σ
√n
p ± Z0 .
√ p‧q
n

Com base na fórmula do erro, vamos chegar que o Para qualquer um dos intervalos de confiança
intervalo de confiança para a média é dado por: (média e proporção) são dois tipos de exercício que
se repetem mais, sendo um para achar o intervalo de
σ
X ± Z0 . confiança e outro para achar o tamanho da amostra.
√n
Para achar o tamanho da amostra, vamos usar a fór-
mula do erro para média ou proporção, e para achar o
Sendo que: intervalo de confiança vamos usar a fórmula do inter-
X é a média amostral valo de confiança da média ou da proporção.
Quando não sabemos o valor do desvio padrão
populacional e tivermos uma amostra pequena (geral- TESTES DE HIPÓTESES PARA MÉDIAS E
mente até 30 observações), podemos usar a tabela t de PROPORÇÕES
Student, nesse caso a fórmula será um pouco diferente.
Um dos métodos de avaliação da inferência esta-
s
X ± t0 . tística é chamado de Teste de Hipótese. Consiste em
√n considerar uma hipótese para um parâmetro Popula-
cional (pode ser média, proporção etc.) e a partir dos
Nesse caso: “X” é a média amostral; “S” é o desvio dados recolhidos da amostra, testar se essa hipótese
padrão amostral; “n” é o tamanho da amostra; “t0” deve ser aceita ou rejeitada.
também chamado de tn – 1, α/2, que é o valor na tabela t Por se tratar de uma decisão com base na análise
de Student, atrelada ao nível de confiança, e ao núme- de uma amostra, a decisão nunca terá 100% de certe-
ro de graus de liberdade (n – 1) da amostra. za, sempre teremos um percentual de erro estatísti-
Quando temos uma população, com desvio padrão co embutido nessa decisão, que é dado em um valor
constante, e para um mesmo grau de confiança, o erro percentual.
será menor quanto maior for o tamanho da amostra. Ex.: temos uma população e queremos saber a
Considerando duas amostras diferentes (n1 e n2) de média de idade (μ). Vamos supor que, por algum moti-
uma mesma população (mesmo desvio padrão popu- vo, a gente acredite que a média seja de 35 anos. Para
lacional), e um grau de confiança igual para as amos- testar se esse é realmente o valor, vamos tirar uma
tras (mesmo Z0) temos que: amostra da população e achar a média da amostra, ou
média amostral (X ou μX), e, suponhamos que a média
e1 . √n1= e2 . √n2 amostral encontrada foi de 33. Assim vamos fazer um
teste de hipótese com base no valor da média amos-
INTERVALO DE CONFIANÇA PARA PROPORÇÃO tral para testar se a média populacional realmente
pode ser 35.
Assim como construímos o intervalo de confian- As hipóteses podem ser simples, quando ela espe-
ça para a média, podemos construir um intervalo de cifica completamente a distribuição da população
confiança para a proporção populacional, com base (exemplo: H: µ = 0), ou composta, quando ela não
na proporção da amostra. Na proporção temos uma especifica completamente a distribuição da popula-
variável com distribuição binomial, onde temos ape- ção (exemplo: H: µ > 0, ou H: µ < 0).
nas duas opções: ou um evento ocorre (sucesso) ou Para calcular o desvio padrão amostral (σX) e a
não ocorre (fracasso). variância amostral (σX)2 a partir do valor populacio-
Da mesma forma que vimos anteriormente, a pro- nal usamos:
porção amostral terá um erro aleatório, que nesse Variância:
caso é dado por:
σ2
(σX)2 = n
e = Z0 . √ p‧q
n
Desvio-padrão:

Sendo que: “e” é o erro; “p” é a proporção amos- σ


tral para o caso favorável; “q” é “1 – p”, ou seja, a pro- σX = n
porção dos casos desfavoráveis; “n” é o tamanho da
amostra; “Z0” também chamado de Z α/2, que é o valor A hipótese criada será sempre para a população e
na curva normal padronizada, atrelada ao nível de nunca para a amostra, os principais parâmetros usa-
confiança da amostra. dos nas hipóteses são:
230
μ: média populacional Supondo que ao realizar o teste fosse constatado
p: proporção populacional o mesmo foi rejeitado, o que significa que a hipótese
σ: desvio-padrão populacional nula foi rejeitada. Assim, o teste foi rejeitado quan-
σ2: variância populacional do na verdade deveria ter sido aceito, pois a hipóte-
se nula era verdadeira. Nesse caso realizamos o erro
Quando vamos fazer o teste de hipótese temos que tipo I.
criar duas hipóteses: a hipótese nula (H0), que geral- Agora imagine que a média populacional fosse na
mente é uma hipótese simples, e a hipótese alter- verdade 3, e, ao realizar o teste, como realizado aci-
nativa (H1 ou HA), que geralmente é uma hipótese ma, ele fosse aceito. Nesse caso o teste deveria ter sido
composta. Essas duas hipóteses são complementares, rejeitado uma vez que a média populacional é maior
ou seja, se uma é verdadeira a outra será falsa, e elas que 2. Assim teremos cometido o erro tipo II.
não podem possuir elementos em comum. A probabilidade de cometer o erro tipo I é dada
por , que chamamos de nível de significância (que
normalmente é dado no exercício). A probabilidade
HIPÓTESE de cometer o erro tipo II é dada por β, e associado a
HIPÓTESE NULA
ALTERNATIVA isso temos o poder do teste, que é “1 – β”, ou seja, a
É a base do nosso teste e A hipótese alternativa é probabilidade de rejeitar H0 quando ela realmente é
ela normalmente terá um o complemento da hipó- falsa.
sinal de igualdade, poden- tese nula, e geralmente Fique atento à tabela abaixo:
do ser: =, ≤ ou ≥ não tem o sinal de igual,
podendo ser: ≠, < ou > REALIDADE

H0 VERDADEIRA H0 FALSA
Dito isso vamos citar alguns exemplos de formação
de hipóteses, considerando que k é um número real ACEITAR H0 Decisão correta (1 – α) Erro do tipo II (β)
(k ∈ R):

}
DECISÃO Erro do tipo I (α) (nível
Decisão correta
H0: μ = k REJEITAR H0 de significância) (1 – β) (poder do
teste)
bilateral
H1: μ ≠ k
Em um teste, quando queremos diminuir a proba-

}
bilidade de cometer o erro tipo I, estaremos aumen-
H0: μ = k H0: μ = k H0: μ ≤ k H0: μ ≤ k tando a probabilidade de cometer o erro tipo II. A
ou ou ou unilateral única forma de minimizar os dois erros é aumen-
H1: μ > k H1: μ < k H1: μ > k H1: μ < k tando o tamanho da amostra. Podemos concluir que
quanto maior a amostra menor a chance de erro, mas
ele nunca será zero, a não ser que a nossa amostra
Dos conceitos ligados à lateralidade falarei mais seja grande o suficiente, ou seja, a própria população.
para frente, mas já adianto aqui que, quando a hipó- O nível de significância é o que define a aceitação
tese alternativa tiver sinal de ≠, o teste será bilateral, ou rejeição do teste. Para poder analisar esse valor
e quando a hipótese alternativa tiver sinal de < ou >, o vamos usar a distribuição normal. Vamos supor que
teste será unilateral. α = 1%, ou seja, a probabilidade de cometer o erro tipo
Como estamos partindo de uma amostra para esti- I é de 1%.
mar os dados de uma população, podemos incorrer Temos 3 opções diferentes de forma de montar a
em dois tipos de erros, os quais chamamos de erro distribuição.
tipo I e erro tipo II. Como falei anteriormente, o teste é
baseado na hipótese nula (H0), portanto os dois tipos z Teste unilateral à esquerda:
de erros serão baseados em H0.

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


ERRO TIPO I ERRO TIPO II

Quando rejeitamos H0 (e Quando aceitamos H0 (e α


consequentemente acei- consequentemente rejei-
tamos H1) sendo que a H0 tamos H1) sendo que H0 é
é verdade na realidade falsa na realidade
Zert

Ex.: Em uma linha de produção, a média de pro-


z Teste unilateral a direita:
dutos com defeito fabricados a cada dia é 1,5. Esse é
um parâmetro populacional, mas, vamos considerá-lo
desconhecido (como normalmente é). Vamos fazer
um teste de hipótese, no qual nossa hipótese nula será
que a média populacional é no máximo 2 (o que mos-
tra que na realidade o teste deveria ser aceito, pois a
média populacional é 1,5). Assim: α

H0: μ ≤ 2
H1: μ > 2 Zert
231
z Teste bilateral:

α
α α
2 2
Zert
- Zert Zert
z Achar o valor crítico, que pode ser observado na
tabela da normal padrão (ou dado no exercício). E
As regiões cinzas são chamadas de Região Crítica vamos encontrar o valor de Z que deixe a probabi-
(RC) ou região de rejeição, e a parte branca é chama- lidade do nível de significância na região crítica;
da de região de aceitação. z Marcar o Zobs no gráfico;
Para resolver uma questão de teste de hipótese z Avaliar a aceitação e rejeição de H0.
vamos seguir 6 passos: Se Zobs está dentro da Região Crítica, então rejeita-
mos H0.
z Escrever as hipóteses: Se Zobs está fora da Região Crítica, então aceitamos
Hipótese nula: H0. (utilizar os sinais =, ≥ ou ≤) H0.
Hipótese alternativa: H1. (utilizar os sinais ≠, > ou <);
Algumas dicas importantes:
z Calcular o valor observado ou estatística do tes-
Quanto menor for o P-valor mais chance de
te (Zobs, tobs), que é o valor que iremos usar ao final rejeitar o H0.
para fazer a comparação com a região crítica. Se p-valor ≤ α, rejeitamos H0 em favor de H1.
Se p-valor > α, não rejeitamos H0 em favor de H1.
Para calcular esse valor vamos utilizar a tabela da Quando não sabemos o valor do desvio-padrão
normal padrão para o Z, ou a tabela t de Student. populacional, vamos usar o teste t de Student. Para
As fórmulas para média são: isso temos que saber apenas duas coisas: usar a tabela
e que a quantidade de graus de liberdade é: gl = n – 1
(como vimos nas distribuições).
X–μ
Zobs = σ CORRELAÇÃO E REGRESSÃO LINEAR SIMPLES
√n
Considerando duas variáveis quaisquer, essas
variáveis podem ter um grau de correlação entre elas,
Onde σ é o desvio-padrão populacional. que chamamos de coeficiente de correlação linear,
que pode ser representado por ρ(rho) ou R.
O coeficiente de correlação pode variar entre -1 e 1.
X–μ E ele pode ser representado por um gráfico de disper-
tobs = S
são, onde um eixo é a variável X e o outro a variável Y.
0 < R ≤ 1: Correlação positiva – enquanto uma variá-
√n
vel aumenta a outra também aumenta. Ex: Vamos con-
siderar as variáveis altura e peso. Normalmente, quanto
maior a altura, maior o peso. Podemos dizer que, quanto
Onde S é o desvio-padrão amostral.
mais próximo de 1, mais forte será a correlação positi-
Podemos calcular também o Zobs para proporção:
va, e, quanto mais próximo de zero, menos relacionada
estarão as variáveis. Chamamos a correlação igual a 1,
p̂ – p de perfeita, cujos dados resultam em uma reta.


Zobs = p ‧ (1 – p) Y Y Y

X X X
Em que: p é a proporção populacional e p̂ é a proporção Correlação positiva Correlação positiva Correlação positiva
amostral. entre X e Y forte entre X e Y entre perfeita X e Y
A probabilidade de encontrarmos valores da
amostra abaixo do Zobs é chamado de P-valor. Disponível em: <https://repositorio.utfpr.edu.br/jspui/
Ex.: caso o valor encontrado para Zobs seja -1, a pro- bitstream/1/2460/2/PG_PPGECT_M_Lima%2C%20Sabrina%20
Anne% 20de_2015_1.pdf>. Acesso em: 29 nov. 2020
babilidade de encontrarmos um valor menor que -1 é
dada pela tabela da normal padrão, e essa probabili-
-1 ≤ R < 0: Correlação negativa – enquanto uma variá-
dade é chamada de P-valor. vel aumenta, a outra diminui. Ex.: Considerando a variá-
vel temperatura e a variável venda de chocolate quente.
z Fazer o gráfico (unilateral esquerda ou direita ou Quando maior a temperatura do ambiente menor será a
bilateral). Para saber qual gráfico usaremos vamos venda de chocolate quente. Podemos dizer que, quanto
232 considerar o sinal da hipótese alternativa; mais próximo de -1, mais forte será a correlação negativa,
e, quanto mais próximo de zero, menos relacionada esta-
TEMPERATURA Nº DE FURTOS
rão as variáveis. Assim como na positiva, temos uma cor-
relação negativa perfeita quando R = -1. 32° 10
Y Y Y 33° 12

*Dados não verídicos

X X X Olhando os dados podemos até notar que nos dias


Correlação negativa Correlação negativa Correlação negativa
entre X e Y forte entre X e Y entre perfeita X e Y
mais quentes o número de furtos aumenta, mas vamos
colocar isso em um gráfico de coordenadas, onde no
eixo x vamos colocar a temperatura, e no eixo y os fur-
Disponível em: <https://repositorio.utfpr.edu.br/jspui/
bitstream/1/2460/2/PG_PPGECT_M_Lima%2C%20Sabrina%20
tos, para visualizar melhor. Cada coluna da nossa tabe-
Anne% 20de_2015_1.pdf>. Acesso em: 29 nov. 2020 la é um par ordenado: (17,2), (18,3), (25,6), (24,7) e assim
por diante. Vamos colocar um ponto no gráfico para
z R = 0: Correlação nula – as variáveis não são cor- cada par ordenado para visualizar essa correlação.
relacionadas. Furto
10
Y
9
8
7
X
Não há correlação 6
entre X e Y
5

Disponível em: <https://repositorio.utfpr.edu.br/jspui/ 4


bitstream/1/2460/2/PG_PPGECT_M_Lima%2C%20Sabrina%20 3
Anne% 20de_2015_1.pdf>. Acesso em: 29 nov. 2020
2
O coeficiente de correlação linear é dado pela ra- 1
zão entre a covariância de X e Y e o produto dos des- °C
vios-padrão de cada variável. 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34

Cov (X, Y)
R= Podemos ver que existe uma correlação entre as
vX·vY
variáveis, pois pelo gráfico vemos que conforme uma
variável aumenta a outra aumenta também, mas
REGRESSÃO LINEAR podemos ver que não é algo exato, não forma uma
linha perfeita (casos em que R = 1). A regressão linear
O coeficiente de correlação de Pearson (R) é o coe- tem o intuito de definir uma função que defina essa
ficiente que mostra o grau de dependência entre duas correlação entre as variáveis e a regressão mais usada
variáveis, também podemos achar o R através dos pares é a linear, a qual definiremos uma função linear para
ordenados formados por cada ponto das duas variáveis. explicar essa correlação. Basicamente faremos uma
Vamos imaginar que queremos saber se duas linha reta resumindo esses dados:
variáveis aleatórias quaisquer estão correlaciona-
das, como por exemplo o aumento da temperatura e

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


a quantidade de furtos na Baixada Santista aos finais Furto
de semana. Para isso são coletados a quantidade de 10
furtos registrados em 10 dias (5 finais de semanas) e a
9
temperatura média em cada um desses dias, e chega-
mos na seguinte tabela: 8
7
TEMPERATURA Nº DE FURTOS 6
17° 2 5

18° 3 4
3
25° 6
2
24° 7
1
20° 5 °C
16 18 20 22 24 26 28 30 32 34
30° 10

28° 8 O coeficiente de correlação pode ser calculado pela


seguinte fórmula, sendo X e Y as duas variáveis alea-
20° 4
tórias que queremos analisar a correlação: 233
verdade o aumento da temperatura faz com que mais
n · ⅀ X · Y - ⅀ X · ⅀Y pessoas queiram ir para a praia se refrescar, e nesse
R= momento os bandidos enxergam uma melhor oportu-
√n · (⅀X²) - (⅀X)² · √n · (⅀Y²) - (⅀Y)² nidade para praticar seus delitos, por isso o aumento.
Portanto, apesar de as variáveis estarem correlacio-
nadas, elas não são causa e consequência.
Vamos achar o R do nosso exemplo, sendo tempe- Do coeficiente de correlação de Pearson podemos
ratura X e nº de furtos Y e o número de dados n = 10 achar o Coeficiente de Determinação (CD) ou coe-
(10 dias de observação): ficiente de explicação, que mede o percentual da
variação de Y que é explicado pela variação de X.
CD = R2
X Y X.Y X2 Y2 No nosso exemplo:
CD = 0,982 = 0,96
17 2 34 289 4
Portanto 96% da variação de X é explicada pela
18 3 54 324 9 variação de Y e os outros 4% de variação têm outros
25 6 150 625 36 motivos.
24 7 168 576 49
20 5 100 400 25 Importante!
30 10 300 900 100 Correlação: mede o grau de relação (-1 ≤ R ≤ 1);
28 8 224 784 64 Regressão: nos dá uma função que relaciona as
20 4 80 400 16 variáveis.

32 10 320 1024 100


33 12 396 1089 144 A regressão linear é a definição de uma função
que relacione as duas variáveis X e Y. Vamos padro-
nizar que Y é a variável dependente, e X é a variável
Total
independente. Como no nosso exemplo, a temperatu-
]Rg
247 67 1826 6411 547
ra (X) é uma variável independente pois ela não sofre
influência do número de furtos, e o número de fur-
tos (Y) é a variável dependente, pois ela sim sofrerá
influência da temperatura (X). Por ser uma função
10 · 1826 - 247 · 67 linear ela terá essa cara:
R=
√10 · 6411 - 247² · √10 · 547 - 67² Y=a.X+b

Y é a variável dependente, que varia de acordo


com o X, e X é a variável independente, e “a” é o coefi-
18.260 - 16.549 ciente angular que acompanha o X, e “b” é o coeficien-
R= te linear (intercepto), que é o termo independente,
√64.110 - 61.009 · √5.470 - 4.489 que vem sozinho.
Para achar essa função vamos utilizar o método
dos mínimos quadrados.
Para achar o valor do coeficiente angular (“a”)
1.711
vamos usar a fórmula:
R=
cov ^ X, Yh
√3.101 · √981
a=
Var (x)

1.711
Que podemos extrapolar para:
R=
55,69 · 31,32
n · ⅀ X · Y - ⅀ X · ⅀Y
a=
1.711 n · (⅀X²) - (⅀X)²
R= 1.744,21

ou
R = 0,98

Com isso vemos que o R está muito próximo de 1, n·⅀X·Y-nX·Y


a=
o que caracteriza uma correlação muito forte entre as
n · ⅀X² - n(X)²
variáveis.
Temos que fazer uma observação importante. A
correlação nem sempre tem efeito de causa e conse-
quência, pois, o fato de aumentar a temperatura não Onde X é a média dos dados de X e Y é a média dos
234 faz com que os bandidos queiram roubar mais, na dados de Y.
Para achar o b (coeficiente linear), vamos usar as Variáveis Aleatórias Discretas
médias de X e Y.
A variável aleatória discreta é aquela que só pode
Y = a. X + b assumir valores discretos (contáveis) que normal-
mente são valores pertencentes aos conjuntos dos
Muitas vezes, podemos ver Y = a + bx, isso é a números naturais (N) ou inteiros (Z).
mesma coisa, só temos que tomar cuidado para não Ex.: quantidade de resultado 3 em uma série de
confundir, pois, nesse caso, usaremos a fórmula para sucessivos lançamentos de dados; número de vasos
achar o b. A fórmula é usada para achar o coeficiente fabricados com defeito em um lote, retirados de for-
angular (que acompanha o X), independente do nome ma aleatória; quantidade de resultados cara em uma
dado a ele. série de 10 lançamentos de moeda. Perceba que em
todos esses exemplos teremos um número inteiro
ENTIDADES DISCRETAS E CONTÍNUAS como resposta, exemplo 1, 2 ou 3 etc.
Nas variáveis discretas, quando temos uma fun-
Variável Aleatória ção de distribuição de probabilidade acumulada,
chamamos de função de distribuição, que é dada
Variável aleatória é uma função que associa um por: F(x) = P(X ≤ x), ou seja, é a probabilidade da variá-
único valor real para cada ponto do espaço amostral, vel aleatória X assumir um valor inferior a x.
podemos dizer ainda, que é uma variável quantitativa, Ex.: Dada uma variável que pode assumir os
seguintes valores de x e as respectivas probabilidades:
sendo que seu valor depende de fatores aleatórios.
Vamos supor dois lançamentos seguidos de uma
moeda honesta. Vamos chamar de X a variável alea- PROB.
tória que nos dá o número de coroas obtidas nesses XI P(X=XI)
ACUMULADA
dois lançamentos.
A variável aleatória X pode assumir 3 valores, 0, 1 1 0,1 0,1
ou 2, pois o espaço amostral das opções são: cara/cara 2 0,3 0,4
(X = 0 coroas), cara/coroa ou coroa/cara (X = 1 coroa),
e por último coroa/coroa (X = 2 coroas). Portanto, a 3 0,4 0,8
probabilidade de sair uma coroa é:
4 0,2 1,0

40 40 Total 1
=
80 80
Nessa variável X, o x pode ser 1 (com probabilida-
de de 10% de ocorrer), pode ser 2 (com probabilidade
Pois são duas opções de sair apenas uma coroa: de 30% de ocorrer), pode ser 3 (com probabilidade de
coroa/cara e cara/coroa. 40% de ocorrer) ou pode ser 4 (com probabilidade de
Assim, dizemos que a probabilidade de X = 1 é: 20% de ocorrer).
A função de distribuição dessa variável aleatória
seria:
1
P(X = 1) = 0, se x < 1
2 0,1, se 1 ≤ x < 2
F(X) = 0,4, se 2 ≤ x < 3
0,8, se 3 ≤ x < 4
Qual a probabilidade de X > 0? Para X ser maior 1,0, se x ≥ 4
que 0, temos as opções X = 1 e X = 2. Das 4 opções de
resultado dos lançamentos, 3 situações satisfazem a

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


condição da variável aleatória ser maior que 0. Isto é: F(3) = P(X≤3) = P(X=1) + P(X=2) + P(X=3)
Normalmente, as questões dão apenas a função de dis-
tribuição e pedem algumas probabilidades. Por exemplo:
3
P(X > 0) = z Achar probabilidade de (X = 4).
4

Lembrando que estamos falando de variável discre-


As variáveis aleatórias podem ser discretas ou ta, como temos o x = 4 na última linha com probabilida-
contínuas, e são definidas pela sua função de pro- de acumulada de 1, e na linha anterior a probabilidade
babilidade. Normalmente são definidas por P(x) ou acumulada é 0,8, a probabilidade desse valor ser 4 é
P(X=x). 1 – 0,8 = 0,2. Isso ocorre porque os únicos valores que a
Cuidado, essa definição P(X=x) pode parecer estra- variável aleatória discreta pode assumir são 1, 2, 3 ou 4.
nha, mas o X maiúsculo significa a variável aleatória
X, que pode ser qualquer variável que estamos que- z Achar a probabilidade de (X<3)
rendo estudar, como a quantidade de atendimentos
em um hospital ou a quantidade de caras em uma Basta olhar na linha anterior a x=3, ou seja, P(X<3) =
série de lançamentos da moeda. Já o x minúsculo é 0,4.
o valor realmente assumido por essa variável, 1, 2,
3..., ou seja, se estamos falando da variável aleatória z Achar a probabilidade de (X≤3).
quantidade de atendimentos em um dia em um hospi-
tal (X), essa quantidade pode ser 100, 50, 75 (x). P(X≤3) = 0,8. 235
VARIÁVEIS ALEATÓRIAS CONTÍNUAS Por sua vez, essa teoria é chamada de Lei dos
Grandes Números (LGN).
A variável aleatória contínua é aquela que pode
assumir qualquer valor real em um intervalo finito Variância
ou infinito.
A variância de X, representada por Var(X) ou σ2, é
Ex.: Tempo na corrida de 100m livres (entre 9 segun-
dada por:
dos e 10 segundos existem infinitos números, conside-
rando as casas decimais entre eles); peso das pessoas Var(X) = E(X2) – [E(X)]2
do mundo todo (considerando as casas decimais, exis-
tem infinitos valores de peso para considerarmos). Lembrando que o desvio-padrão (σ) é a raiz da
Nas variáveis contínuas, a função de probabi- variância.
lidade é chamada de Função densidade de pro-
babilidade e a área definida sob a curva é igual a 1 Covariância
(probabilidade total é sempre igual 1).
A covariância (variância conjunta) mede o grau
de interdependência numérica entre duas variáveis
VALOR ESPERADO, VARIÂNCIA E COVARIÂNCIA
aleatórias.
Quando duas variáveis são estatisticamente inde-
Valor Esperado pendentes, sua covariância será igual a zero.
A covariância é dada por:
O valor esperado de uma variável aleatória (tam-
bém chamado de esperança), que representamos por Cov(XY) = E(XY) – E(X) · E(Y)
E(X), nada mais é do que a média, que em uma função
de probabilidade é dada pela soma dos produtos dos Lembrando que E(X) e E(Y) são as médias de x e y,
valores das variáveis pela sua probabilidade. e E(XY) é a média da multiplicação das variáveis X e Y.
Imaginemos que X é uma variável que represente
a quantidade de banheiros em uma casa, após a análi- Transformação de Variáveis
se de uma amostra de casas, foi construída a seguinte Algumas propriedades importantes dos conceitos
tabela: estudados, considerando a, b e c constantes, e, X e Y
variáveis aleatórias.
XI P(X=xi) Xi . P(X=Xi)
E(a) = a (a esperança de uma constante é a própria
1 0,1 1 . 0,1 = 0,1 constante)

2 0,3 2 . 0,3 = 0,6 E(aX) = a.E(X)


E(X+a) = E(X) + a
3 0,4 3 . 0,4 = 1,2
E(X+Y) = E(X) + E(Y)
4 0,2 4 . 0,2 = 0,8
Var(a) = 0 (a variância de uma constante é zero)
TOTAL 1 0,1 + 0,6 + 1,2 + 0,8 = 2,7
Var(aX) = a2 · var(X)
E(X) = 2,7 Var(X+a) = var(X)
Var(X) = E(X2) – [E(X)]2
A tabela nos mostra que 10% das casas analisa-
das tinham 1 banheiro, 30% tinham 2 banheiros, Var(X + Y) = Var(X) + Var(Y) + 2 · Cov(X,Y)
40% tinham 3 banheiros e 20% tinham 4 banheiros.
Var(X - Y) = Var(X) + Var(Y) - 2.Cov(X,Y)
A terceira coluna é a multiplicação da quantidade de
banheiros pela probabilidade. Cov(X,Y) = E(XY) – E(X) · E(Y)
Isso significa que ao escolhermos uma casa qual-
Cov(X,a) = 0
quer, o valor esperado de banheiros dessa casa será
2,7, ou seja, ao pegarmos uma amostra qualquer, Cov(X,X) = Var(X)
encontraremos em média 2,7 banheiros.
Cov(aX,bY) = a · b · Cov(X,Y)
Quando realizamos o lançamento de um dado,
sabemos que a probabilidade de tirar o número 4, Cov(X+Y,Z) = Cov(X,Z) + Cov(Y,Z)
por exemplo, é 1/6 ou 0,16667, que é o valor esperado
Cov(X,Y) = Cov(Y,X)
E(X). Se jogarmos o dado 6 vezes, o esperado é tirar
4 apenas uma vez, mas isso não necessariamente vai
Quando vamos transformar uma variável aleató-
acontecer, pode ser que ele não saia nenhuma vez, ou
ria, usamos essas propriedades para achar a média
pode ser que ele saia 2 vezes, ou até mais, resultando
(esperança) e a variância dessa nova variável.
em um percentual diferente de 1/6.
Agora, se jogarmos o dado 100 vezes, o percentual ALGORITMOS
de resultado 4 que sairá, tende a se aproximar mais de
1/6, em comparação com o lançamento do dado por 6 Um algoritmo é qualquer procedimento compu-
vezes. Se aumentarmos para 1.000 lançamentos, a ten- tacional bem definido que toma algum valor ou con-
dência é esse valor ser ainda mais próximo de 1/6, ou junto de valores como entrada e produz algum valor
seja, quanto maior a quantidade de eventos, maior a ou conjunto de valores como saída. Também podemos
tendência do resultado do nosso experimento se apro- dizer que um algoritmo é uma sequência de etapas
236 ximar do valor esperado. computacionais que transformam a entrada na saída.
Entrada Processamento Saída

Fluxograma

Um fluxograma é uma representação esquemática e um processo ou uma sequência de passos feito através
de gráficos que ilustram de forma descomplicada a transição de informações entre os elementos que o compõem.

Terminal: Demarca o início e o fim de um algoritmo;


Processo: Um passo (operação) de um algoritmo;
Condição: Indica uma situação de decisão;
Fluxo: Indica o sentido dos passos de um algoritmo.

A seguir, segue um exemplo de algoritmo utilizando o fluxograma como representação:

Início

leia (num1, num2)

num1 > num2

maior <- num1 maior <- num2

escreva (maior)

fim

Pseudocódigo / Pseudolinguagem

O pseudocódigo permite que o programador possa se concentrar na lógica e nas estruturas de controle e não

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


nas regras de uma linguagem específica.
Ao contrário de uma linguagem de programação, não existe um formalismo rígido de como deve ser escrito o
algoritmo. O algoritmo deve ser fácil de se interpretar e fácil de codificar, porém, sem ambiguidades.
Trazendo como exemplo o fluxograma anterior, podemos escrever o seu pseudocódigo da seguinte forma:

ALGORITMO MAIOR
ENTRADA: NUM1, NUM2
SAÍDA: MAIOR

INICIO
LEIA (NUM1, NUM2)
SE (NUM1 > NUM2) ENTÃO
MAIOR  NUM1
SENÃO
MAIOR  NUM2
FIM SE
ESCREVA (MAIOR)
FIM {MAIOR}

Pseudocódigo do algoritmo de número maior do fluxograma


237
ARRAYS Chama-se proposição toda sentença declarativa
que pode ser valorada ou só como verdadeira ou só
Um array é uma estrutura de dados que armazena como falsa. A presença do verbo é obrigatória junta-
um conjunto de elementos de forma que eles são aces- mente com o sentido completo (caráter informativo).
sados por um índice, podendo ser unidimensionais
(vetores) ou multidimensionais (matrizes). Verdadeira
Os arrays são agregados homogêneos, ou seja,
todos os seus elementos ou dados são de um mesmo Sentença
tipo. Dessa forma, os arrays são considerados o tipo ou Sentido
Declarativa
mais simples de estrutura de dados. completo

Falsa

Obrigatório

O índice inicial de um vetor é zero. Dessa forma, ao Verbo


se realizar uma varredura em um array, sempre deve-
mos considerar o intervalo de 0 ao tamanho do vetor – 1. Toda proposição pode ser representada simbolica-
Por exemplo, para um vetor de tamanho 10, o pri- mente pelas letras do alfabeto. Veja no exemplo:
meiro índice é o 0 (zero) e o último é 10 – 1 = 9 (nove).
z p: Sabino é um pintor esperto;
z r: Kate é uma mulher alta.

Na situação temos duas proposições sendo repre-


sentadas pelas letras p e r.
Agora que já sabemos o que são proposições lógi-
cas, fica tranquilo distinguir o que não são propo-
sições. Isto é fundamental, pois várias questões de
OPERAÇÕES LÓGICAS prova perguntam exatamente isso — são apresen-
tadas algumas frases e você precisa identificar qual
Na lógica temos apenas dois valores lógicos: ver- delas não é uma proposição. Vejamos os casos em que
dadeiro ou falso. Quando temos uma declaração ver- mais aparecem:
dadeira, o seu valor lógico é Verdade (V) e quando é
falsa, dizemos que seu valor lógico é Falso (F). � Perguntas: são as orações interrogativas.
Exemplo: Que horas vamos ao cinema?
PROPOSIÇÕES LÓGICAS SIMPLES Essa pergunta não pode ser classificada como ver-
dadeira ou falsa;
Vamos começar nosso estudo falando sobre o que
� Exclamações: são frases exclamativas.
é uma proposição lógica. Observe a frase a seguir:
Exemplo: Que lindo cabelo!
Ex.: Paula vai à praia.
Essa exclamação não pode ser valorada, pois apre-
Para saber se temos ou não uma proposição, preci-
sentam percepções subjetivas;
samos de três requisitos fundamentais:
� Ordens: são orações com verbo no imperativo.
z Ser uma oração: ou seja, são frases com verbos; Exemplo: Pegue o livro e vá estudar.
z Oração declarativa: a frase precisa estar apresen-
tando uma situação, um fato; Uma ordem não pode ser classificada como verda-
z Pode ser classificada como verdadeira ou falsa: deira ou falsa. Muito cuidado com esse tipo de oração,
ou seja, podemos atribuir o valor lógico verdadei- pois pode ser facilmente confundida com uma propo-
ro ou o valor lógico falso para a declaração. sição lógica.
Não são proposições: perguntas, exclamações e
Tendo isso em vista, podemos afirmar claramen- ordens.
te que a frase “Paula vai à praia” é uma proposição Temos um outro caso menos cobrado em provas,
lógica, pois temos a presença de um verbo (ir), uma mas que também não é proposição lógica: o parado-
informação completa (temos o sujeito claro na oração) xo. Para ficar mais claro, veja o exemplo a seguir:
e podemos afirmar se é verdadeira ou falsa. Ex.: Esta frase é uma mentira.
Quando atribuímos um valor de verdade para a
frase, então, na verdade, ele mentiu, uma vez que a
Importante! própria frase já diz isso, e se atribuirmos o valor falso,
então a frase é verdade, pois ela diz ser uma mentira
Proposição Lógica é uma oração declarativa que
e já sabemos que isso é falso.
admite apenas um valor lógico: V ou F.
Perceba que sempre que valoramos a frase ela nos
resulta um valor contrário, ou seja, estamos diante de
Ou então podemos também esquematizar o que é uma frase que é contraditória em si mesma. Isso é a
uma proposição lógica assim: definição de um paradoxo.
238
SENTENÇA ABERTA PROPOSIÇÕES COMPOSTAS

Dizemos que uma sentença é aberta quando não Temos proposições compostas quando há duas ou
conseguimos ter a informação completa que a oração mais proposições simples ligadas por meio dos conec-
nos mostra. Veja o exemplo a seguir: tivos lógicos. Veja os exemplos:
Ex.: Ele é o melhor cantor de rock.
Perceba que há presença do verbo e que consegui- z Sabino corre e Marcos compra leite;
mos parcialmente entender o que a frase quer dizer. z O gato é azul ou o pato é preto;
Todavia, logo surge a pergunta: ele quem? Aqui nos- z Se Carlinhos pegar a bola, então o jogo vai acabar.
sa informação não consegue ser completa e por isso
temos mais um caso que não é proposição lógica. Cada conectivo tem sua representação simbólica e
Observe outros exemplos: sua nomenclatura. Veja a relação de conectivos:

X + 5 = 10 CONECTIVOS NOMENCLATURA SIMBOLOGIA


e Conjunção ^
Aquele carro é amarelo.
ou Disjunção v
5+5 Disjunção v
ou...ou
X – Y = 20 Exclusiva
se...então Condicional →
Todos os exemplos acima são sentenças abertas, se e somente se Bicondicional ⟷
então podemos resumir da seguinte forma:
As variáveis: ele, aquele ou variáveis matemáti- Exemplos:
cas (X ou Y) tornam a sentença aberta.
Sempre será uma proposição lógica na escrita z Na linguagem natural:
matemática e podemos notar que há verbos nos casos
a seguir: „ O macaco bebe leite e o gato come banana;
„ Maria é bailarina ou Juliano é atleta;
z = (é igual); „ Ou o elefante corre rápido ou a raposa é lenta;
z ≠ (é diferente); „ Se estudar, então vai passar;
z > (é maior); „ Bino vai ao cinema se e somente se ele receber
z < (é menor); dinheiro.
z ≥ (é maior ou igual);
z ≤ (é menor ou igual); z Na linguagem simbólica:

Esquematizando o que não são proposições lógicas: „ p ^ q;


„ p v q;
Sentenças Interrogativas(?) „ p v q;
„ p → q;
Sentenças sem Verbo „ p ⟷ q.
NÃO SÃO
PROPOSIÇÕES
Agora que conhecemos os conectivos lógicos,
Sentenças com Verbo no Imperativo
vamos ver algumas camuflagens dos operadores lógi-
Sentenças Abertas cos que podem aparecer na prova. Veja:

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


Paradoxo � Conectivos “e” usando “mas”:
Exemplo: Jurema é atriz, mas Pedro é cantor;
PRINCÍPIOS DA LÓGICA PROPOSICIONAL � Conectivo “ou...ou” usando “...ou..., mas não
ambos”:
Exemplo: Baiano é corredor ou ele é nadador, mas
É fundamental que você conheça três princípios
não ambos;
para deixarmos tudo alinhado com as proposições
� Conectivo “Se então” usando “Desde que, Caso,
lógicas. Veja:
Basta, Quem, Todos, Qualquer, Toda vez que”:
Exemplos: Desde que faça sol, Pedrinho vai à praia;
z Princípio do terceiro excluído: uma proposição Caso você estude, irá passar no concurso;
deve ser verdadeira ou falsa, não havendo outra Basta Ana comer massas, e engordará;
possibilidade. Não é possível que uma proposição Quem joga bola é rápido;
seja “quase verdadeira” ou “quase falsa”; Todos os médicos sabem operar;
z Princípio da não contradição: dizemos que uma Qualquer criança anda de bicicleta;
mesma proposição não pode ser, ao mesmo tempo, Toda vez que chove, não vou à praia.
verdadeira e falsa;
z Princípio da Identidade: cada ser é único, ou seja, É importante saber que na condicional a primeira
uma proposição não assume o significado de outra proposição é o termo antecedente e a segunda é o
proposição lógica. termo consequente.

239
P→Q Pronto! A nossa tabela já está montada, agora precisa-
mos aprender qual o resultado que teremos quando com-
P = antecedente
binamos os valores lógicos usando os conectivos lógicos.
Q = consequente Número de linhas da tabela verdade:
2n = 2proposições (onde n é o número de proposições).
TABELA VERDADE Vamos caminhar mais um pouco e aprender todas
as combinações lógicas possíveis para cada conectivo
Trata-se de uma tabela na qual conseguimos lógico.
apresentar todos os valores lógicos possíveis de uma
Negação (~P)
proposição.
Uma proposição, quando negada, recebe valores
Números de Linhas de Tabela Verdade
lógicos opostos ao da proposição original. O símbolo
que iremos utilizar é ¬ p ou ~p.
Neste momento, vamos aprender a construir tabe-
las verdade para proposições compostas.
P ~P
z 1º passo: contar a quantidade de proposições V F
envolvidas no enunciado. F V

Exemplo: P v Q (temos duas proposições). Dupla Negação ~(~P)

z 2º passo: calcular a quantidade de linhas da tabela A dupla negação nada mais é do que a própria pro-
usando a fórmula 2n = 2proposições (onde n é o número posição. Isto é, ~(~P) = P
de proposições).
P ~P ~(~P)
Exemplo: P v Q = 22 = 4 linhas.
V F V
F V F
P Q PVQ
Conectivo Conjunção “e” (^)

Só teremos uma resposta verdadeira quando todos


os valores lógicos envolvidos forem verdadeiros.

P Q P^Q
z 3º passo: dispor os valores “V” e “F” na primeira V V V
coluna fazendo o agrupamento pela metade do V F F
número de linhas da tabela.
F V F

Exemplo: P v Q = 2 = 4 linhas = (agrupamento da


2 F F F
primeira coluna de 2 em 2 – V V / F F).
Conectivo Disjunção “ou” (v)
P Q PVQ
Teremos resposta verdadeira quando pelo menos
V um dos valores lógicos envolvidos for verdadeiro.
V
F P Q PVQ
V V V
F
V F V
F V V
z 4º passo: preencher as demais colunas com agru- F F F
pamento de valores lógicos (V ou F) sempre pela
metade do agrupamento anterior. Conectivo Disjunção Exclusiva “ou...ou” ( v )

Exemplo: primeira coluna de 2 em 2 (a próxima Teremos resposta verdadeira quando os valores


será de 1 em 1). lógicos envolvidos forem diferentes.

P Q PVQ P Q PVQ
V V V V F
V F V F V
F V F V V
F F F F F
240
Conectivo Bicondicional “se e somente se” ()
P ~P P ^ (~P)

Teremos resposta verdadeira quando os valores V F F


lógicos envolvidos forem iguais. F V F

CONTINGÊNCIA
P Q PQ
V V V Sempre que uma proposição composta recebe
V F F valores lógicos falsos e verdadeiros, independente-
F V F mente dos valores lógicos das proposições simples
componentes, dizemos que a proposição em questão é
F F V
uma contingência. Ou seja, é quando a tabela verda-
de apresenta, ao mesmo tempo, alguns valores verda-
Conectivo Condicional “se..., então” (→) deiros e alguns falsos.
Exemplo: a proposição [P ^ (~Q)] v (P→~Q)] é uma
Especialmente neste caso, vamos aprender quan- contingência, conforme a tabela verdade.
do teremos o resultado falso, pois o conectivo con-
dicional só tem uma possibilidade de tal ocorrência
P Q [P^(~Q)] (P→~Q) [P^(~Q)]V(P→~Q)
Somente teremos resposta falsa quando o valor lógico
do antecedente for verdadeiro e o consequente falso. V V F F F
V F V V V
P Q P→ Q F V F V V
V V V F F F V V
V F F
z Tautologia: uma proposição que é sempre verdadeira;
F V V
z Contradição: uma proposição que é sempre falsa;
F F V z Contingência: uma proposição que pode assumir
valores lógicos V e F, conforme o caso.
Condicional falsa: Vai Ficar Falsa
ARITMÉTICAS
VF=F
Vamos relembrar alguns conceitos e fórmulas
TAUTOLOGIA sobre aritmética para que possamos resolvermos
questões sobre esse tópico. Como o próprio nome já
É uma proposição cujo valor lógico é sempre diz “Problemas de Raciocínio Lógico envolvendo Arit-
verdadeiro. mética”. Então, vamos fazer várias questões ao longo
Exemplo 1: a proposição P ∨ (~P) é uma tautologia, da teoria para entender e praticar mais ainda sobre
pois o seu valor lógico é sempre V, conforme a tabela esse assunto.
verdade.
RAZÃO E PROPORÇÃO COM APLICAÇÕES
P ~P P V ~P
A razão entre duas grandezas é igual à divisão
V F V
entre elas, veja:

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


F V V
2
Exemplo 2: a proposição (P Λ Q) → (PQ) é uma 5
tautologia, pois a última coluna da tabela verdade só
possui V. Ou podemos representar por 2 ÷ 5 (Lê-se “2 está
para 5”).
Já a proporção é a igualdade entre razões, veja:
P Q (P^Q) (PQ) (P^Q)→(PQ)
V V V V V 2 4
=
V F F F V 3 6
F V F F V
Ou podemos representar por 2 ÷ 3 = 4 ÷ 6
F F F V V (Lê-se “2 está para 3 assim como 4 está para 6”).
Os problemas mais comuns que envolvem razão
CONTRADIÇÃO e proporção é quando se aplica uma “variável” qual-
quer dentro da proporcionalidade e se deseja saber o
É uma proposição cujo valor lógico é sempre falso. valor dela. Veja o exemplo:
Exemplo: a proposição P ^ (~P) é uma contradição,
pois o seu valor lógico é sempre F, conforme a tabela 2 x ou 2 ÷ 3 = x ÷ 6
=
verdade. 3 6 241
Para resolvermos esse tipo de problema devemos D = 2.000 x 2
usar a Propriedade Fundamental da razão e propor-
D = 4.000 (esse é o valor de Diego)
ção: “produto dos meios pelos extremos”.
Meio: 3 e x
Extremos: 2 e 6 Assim, Carlos vai receber R$6.000 e Diego vai rece-
Logo, devemos fazer a multiplicação entre eles ber R$4.000;
numa igualdade. Observe:
z Somas Internas:
3·X=2·6
a c a+b c+d
3X = 12
= = =
b d b d
X = 12/3
É possível, ainda, trocar o numerador pelo deno-
X=4 minador ao efetuar essa soma interna, desde que
o mesmo procedimento seja feito do outro lado da
Lembre-se de que a maioria dos problemas en- proporção.
volvendo esse tema são resolvidos utilizando essa
propriedade fundamental. Porém, algumas questões a c a+b = c+d
acabam sendo um pouco mais complexas e pode ser = =
b d a c
útil conhecer algumas propriedades para facilitar. Va-
mos a elas.
Vejamos um exemplo:
Propriedade das Proporções x 2
=
-
14 x 5
� Somas Externas:
x + 14 - x 2+5
a
=
c
=
a+c =
b d x 2
b+d
14 7
=
Vamos entender um pouco melhor resolvendo x 2
uma questão-exemplo:
Suponha que uma fábrica vai distribuir um prê- 7 · x = 2 · 14
mio de R$10.000 para seus dois empregados (Carlos 14 · 2
x= =4
e Diego). Esse prêmio vai ser dividido de forma pro- 7
porcional ao tempo de serviço deles na fábrica. Carlos
está há 3 anos na fábrica e Diego está há 2 anos. Quan- Portanto, encontramos que x = 4.
to cada um vai receber?
Primeiro, devemos montar a proporção. Sejam C Observação: vale lembrar que essa propriedade
a quantia que Carlos vai receber e D a quantia que também serve para subtrações internas;
Diego vai receber, então temos:
z Soma com Produto por Escalar:
C D
=
3 2 a c a + 2b c + 2d
= = =
b d b d
Utilizando a propriedade das somas externas:
Vejamos um exemplo para melhor entendimento:
C D C+D
= = Uma empresa vai dividir o prêmio de R$13.000
3 2 3+2 proporcionalmente ao número de anos trabalhados.
São dois funcionários que trabalham há 2 anos na
Perceba que C + D = 10.000 (as partes somadas), empresa e três funcionários que trabalham há 3 anos.
então podemos substituir na proporção: Seja A o prêmio dos funcionários com 2 anos e B
o prêmio dos funcionários com 3 anos de empresa,
C D C+D
= = = 10.000 = 2.000 temos:
3 2 3+2 5 A B
=
2 3
Aqui cabe uma observação importante: esse valor
2.000, que chamamos de “Constante de Proporcionali- Porém, como são 2 funcionários na categoria A e 3
dade”, é que nos mostra o valor real das partes dentro funcionários na categoria B, podemos escrever que a
da proporção. Veja: soma total dos prêmios é igual a R$13.000.
C
= 2.000 2A + 3B = 13.000
3
C = 2000 x 3 Agora, multiplicando em cima e embaixo de um
lado por 2 e do outro lado por 3, temos:
C = 6.000 (esse é o valor de Carlos)
D 2A 3B
= 2.000 =
242 2 4 9
Aplicando a propriedade das somas externas, X+Y+Z 900.000
podemos escrever o seguinte: = 60.000
4+5+6 15

2A 3B 2A + 3B
= = A menor dessas partes é aquela que é proporcional
4 9 4+9 a 4, logo:

Substituindo o valor da equação 2A + 3B na pro- X


porção, temos: = 60.000
4

2A 3B 2A + 3B 13.000 X = 60.000 x 4
= = = = 1.000
4 9 4+9 13 X = 240.000

Logo, Inversamente Proporcional


2A
= 1.000 É um tipo de questão menos recorrente, mas, não
4
menos importante. Consiste em distribuir uma quan-
tia X a três pessoas, de modo que cada uma receba um
2A = 4 x 1.000
quinhão inversamente proporcional a três números.
Vejamos um exemplo:
2A = 4.000
Suponha que queiramos dividir 740 mil em partes
inversamente proporcionais a 4, 5 e 6.
A = 2.000
Vamos chamar de X as quantias que devem ser dis-
tribuídas inversamente proporcionais a 4, 5 e 6, res-
Fazendo a mesma resolução em B:
pectivamente. Devemos somar as razões e igualar ao
3B
= 1.000 total que dever ser distribuído para facilitar o nosso
9 cálculo, veja:
3B = 9 x 1.000
X X X
3B = 9.000 + + = 740.000
4 5 6
B = 3.000
Agora vamos precisar tirar o M.M.C. (mínimo múl-
Sendo assim, os funcionários com 2 anos de casa tiplo comum) entre os denominadores para resolver-
receberão R$2.000 de bônus. Já os funcionários com 3 mos a fração.
anos de casa receberão R$3.000 de bônus.
O total pago pela empresa será: 4–5–6|2
2–5–3|2
Total = 2.2000 + 3.3000 = 4000 + 9000 = 13000
1–5–3|3
Agora vamos estudar um tipo de problema que 1–5–1|5
aparece frequentemente em provas de concursos
envolvendo razão e proporção. 1 – 1 – 1 | 2 x 2 x 3 x 5 = 60

REGRA DA SOCIEDADE Assim, dividindo o M. M. C. pelo denominador e


multiplicando o resultado pelo numerador temos:
Diretamente Proporcional

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


15x 12x 10x
+ + = 740.000
Um dos tópicos mais comuns em questões de pro- 60 60 60
va é dividir uma determinada quantia em partes
37x
proporcionais a determinados números. Vejamos um = 740.000
60
exemplo para entendermos melhor como esse assun-
to é cobrado. X = 1.200.000
Exemplo:
A quantia de 900 mil reais deve ser dividida em Agora basta substituir o valor de X nas razões para
partes proporcionais aos números 4, 5 e 6. A menor achar cada parte da divisão inversa.
dessas partes corresponde a:
Primeiro vamos chamar de X, Y e Z as partes pro- x 1.200.000
= = 300.000
porcionais, respectivamente a 4, 5 e 6. Sendo assim, X 4 4
é proporcional a 4, Y é proporcional a 5 e Z é propor- x 1.200.000
cional a 6, ou seja, podemos representar na forma de = = 240.000
5 5
razão. Veja:
x 1.200.000
= = 200.000
X Y Z 6 6
= = = constante de proporcionalidade
4 5 6
Logo, as partes divididas inversamente propor-
Usando uma das propriedades da proporção, cionais aos números 4, 5 e 6 são, respectivamente
somas externas, temos: 300.000, 240.000 e 200.000. 243
Regra de Três Composta 3X = 40 x 12
3X = 480
A Regra de Três Composta envolve mais de duas
variáveis. As análises sobre se as grandezas são direta- X = 160
mente e inversamente proporcionais devem ser feitas
cautelosamente, levando em conta alguns princípios: As três impressoras produziriam 2000 panfletos
em 160 minutos, que correspondem a 2 horas e 40
z As análises devem sempre partir da variável minutos.
dependente em relação às outras variáveis; Para fixarmos mais ainda nosso conhecimento,
z As análises devem ser feitas individualmente. Ou vamos analisar mais um exemplo.
seja, deve-se comparar as grandezas duas a duas, Exemplo 2: Um texto ocupa 6 páginas de 45 linhas
mantendo as demais constantes; cada uma, com 80 letras (ou espaços) em cada linha.
z A variável dependente fica isolada em um dos Para torná-lo mais legível, diminui-se para 30 o
lados da proporção. número de linhas por página e para 40 o número de
letras (ou espaços) por linha. Considerando as novas
Vamos analisar alguns exemplos e ver na prática condições, determine o número de páginas ocupadas.
como isso tudo funciona. Já aprendemos o passo a passo no exemplo ante-
Exemplo 1: Se 6 impressoras iguais produzem rior. Aqui vamos resolver de maneira mais rápida.
1000 panfletos em 40 minutos, em quanto tempo 3 des-
sas impressoras produziriam 2000 desses panfletos? 6 (pág.) -------- 45 (linhas) -------- 80 (letras)
Da mesma forma que na regra de três simples, X (pág.) -------- 30 (linhas) -------- 40 (letras)
vamos montar a relação entre as grandezas e analisar
cada uma delas isoladamente duas a duas. 6 ? ?
= #
X ? ?
6 (imp.) -------- 1000 (panf.) -------- 40 (min)
3 (imp.) -------- 2000 (panf.) -------- X (min) Analisando isoladamente duas a duas:

Vamos escrever a proporcionalidade isolando a 6 (pág.) -------- 45 (linhas)


parte dependente de um lado e igualando às razões da X (pág.) -- ----- 30 (linhas)
seguinte forma – se for direta vamos manter a razão,
agora se for inversa vamos inverter a razão. Observe: Perceba que de 45 linhas para 30 linhas o valor
diminui ( - ) e que o número de páginas irá aumentar
40 ? ? ( + ). Logo, as grandezas são inversas e devemos inver-
= #
X ? ? ter a razão.

Analisando isoladamente duas a duas: 6 30 ?


= #
X 45 ?
6 (imp.) -------- 40 (min)
3 (imp.) ---- ---- X (min) Analisando isoladamente duas a duas:

Perceba que de 6 impressoras para 3 impressoras 6 (pág.) -------- 80 (letras)


o valor diminui ( - ) e que o tempo irá aumentar ( + ), X (pág.) ------- 40 (letras)
pois agora teremos menos impressoras para realizar
a tarefa. Logo, as grandezas são inversas e devemos Veja que de 80 letras para 40 letras o valor diminui
inverter a razão. ( - ) e que o número de páginas irá aumentar ( + ). Logo,
as grandezas são inversas e devemos inverter a razão.
40 3 ?
= #
X 6 ? 6 30 40
= #
X 45 80
Analisando isoladamente duas a duas:
6 2 1
= #
X 3 2
1000 (panf.) -------- 40 (min)
2000 (panf.) ------ -- X (min) 6 2
=
X 6
Perceba que de 1000 panfletos para 2000 panfle-
2X = 36
tos o valor aumenta ( + ) e que o tempo também irá
aumentar ( + ). Logo, as grandezas são diretas e deve- X = 18
mos manter a razão.
O número de páginas a serem ocupadas pelo texto
40
=
3
#
1000 respeitando as novas condições é igual a 18.
X 6 2000
PORCENTAGEM
Agora basta resolver a proporção para acharmos
o valor de X. A porcentagem é uma medida de razão com base
100. Ou seja, corresponde a uma fração cujo denomi-
40 3000 nador é 100. Vamos observar alguns exemplos e notar
=
244 X 12000 como podemos representar um número porcentual.
Exemplo 1: Paulinho comprou um curso de 200
30% = 30 (forma de fração)
100 horas-aula. Porém, com a publicação do edital, a esco-
la precisou aumentar a carga horária em 15%. Qual o
30 total de horas-aula do curso ao final?
30% = = 0,3 (forma decimal)
100 Inicialmente, o curso de Paulinho tinha um total
30 3 de 200 horas-aula que correspondiam a 100%. Com o
30% = = (forma de fração simplificada) aumento porcentual, o novo curso passou a ter 100%
100 10
+ 15% das aulas inicialmente previstas, portanto,, o
total de horas-aula do curso será:
Sendo assim, a razão 30% pode ser escrita de
várias maneiras:
(1 + 0,15) x 200 = 1,15 x 200 = 230 horas-aula.
30 3
30% = = 0,3 = Dica
100 10
A avaliação do crescimento ou da redução per-
Também é possível fazer a conversão inversa, isto centual deve ser feita sempre em relação ao
é, transformar um número qualquer em porcentual. valor inicial da grandeza.
Para isso, basta multiplicar por 100. Veja:
Final - Inicial
Variação percentual =
Inicial
25 x 100 = 2500%
0,35 x 100 = 35%
Veja mais um exemplo para podermos fixar
0,586 x 100 = 58,6% melhor.
Exemplo 2: Juliano percebeu que ainda não assis-
Número Relativo tiu a 200 aulas do seu curso. Ele deseja reduzir o
número de aulas não assistidas a 180. É correto afir-
A porcentagem traz uma relação entre uma parte e mar que, se Juliano chegar às 180 aulas almejadas, o
um todo. Quando dizemos 10% de 1000, o 1000 corres- número terá caído 20%?
ponde ao todo. Já o 10% corresponde à fração do todo A variação percentual de uma grandeza corres-
que estamos especificando. Para descobrir a quanto ponde ao índice:
isso corresponde, basta multiplicar 10% por 1000. Variação percentual =

10 Final - Inicial 180 - 200 20


10% de 1000 = 100 x 1000 = 100 = =– = - 0,10
Inicial 200 200

Dessa maneira, 1000 é o todo, enquanto 100 é a Como o resultado foi negativo, podemos afirmar
parte que corresponde a 10% de 1000. que houve uma redução percentual de 10% nas aulas
ainda não assistidas por Juliano. O enunciado está
Quando o todo varia, a porcentagem também
errado ao afirmar que essa redução foi de 20%.
varia, veja um exemplo:
Roberto assistiu a 2 aulas de Matemática Financei-
JUROS SIMPLES E COMPOSTO
ra. Sabendo que o curso que ele comprou possui um
total de 8 aulas, qual é o percentual de aulas já assisti- Juros Simples
das por Roberto?
O todo de aulas é 8. Para descobrir o percentual, A premissa, base da matemática financeira é a
devemos dividir a parte pelo todo e obter uma fração. seguinte: as pessoas e as instituições do mercado
preferem adiantar os seus recebimentos e retardar

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


2 1 os seus pagamentos. Do ponto de vista estritamente
=
8 4 racional, é melhor pagar o mais tarde possível caso
não haja incidência de juros (ou caso esses juros
Precisamos transformar em porcentagem, ou seja, sejam inferiores ao que você pode ganhar aplicando
vamos multiplicar a fração por 100: o dinheiro).
“Juros” é o termo utilizado para designar o “preço
1 x 100 = 25% do dinheiro no tempo”. Quando você pega certa quan-
4 tia emprestada no banco, o banco te cobrará uma
remuneração em cima do valor que ele te emprestou,
Soma e Subtração de Porcentagem pelo fato de deixar você ficar na posse desse dinhei-
ro por um certo tempo. Essa remuneração é expressa
pela taxa de juros.
As operações de soma e subtração de porcentagem
Nos juros simples, a incidência recorre sempre
são as mais comuns. É o que acontece quando se diz
sobre o valor original. Veja um exemplo para melhor
que um número excede, reduziu, é inferior ou é supe-
entender.
rior ao outro em tantos por cento. A grandeza inicial Exemplo 1:
corresponderá sempre a 100%. Então, basta somar ou Digamos que você emprestou 1000,00 reais, em um
subtrair o percentual fornecido dos 100% e multipli- regime de juros simples de 5% ao mês para um ami-
car pelo valor da grandeza. go,, o qual ficou de quitar o empréstimo após 5 meses.
245
Dessa forma, teremos o seguinte: semestre ou 12% ao ano e levarão o mesmo capital
inicial C ao mesmo montante M após o mesmo perío-
CAPITAL do de tempo.
EMPRESTADO VALOR REAJUSTADO É relevante também você saber que no regime de
(1000,00) juros simples, taxas de juros proporcionais são, tam-
1° mês = 1000,00 1000,00 + (5% de 1000,00) = 1050,00 bém, taxas de juros equivalentes.
2° mês = 1050,00 1050,00 + (5% de 1000,00) = 1100,00
Juros Compostos
3° mês = 1100,00 1100,00 + (5% de 1000,00) = 1150,00
4° mês = 1150,00 1150,00 + (5% de 1000,00) = 1200,00 Imagine que você pegou um empréstimo de
5° mês = 1200,00 1200,00 + (5% de 1000,00) = 1250,00 R$10.000,00 no banco, cujo pagamento deve ser rea-
lizado após 4 meses, à taxa de juros de 10% ao mês.
Ao final do 5° mês você terá recebido 250,00 reais Ficou combinado que o cálculo de juros de cada mês
de juros. será feito sobre o total da dívida no mês anterior, e
Fórmulas utilizadas em juros simples: não somente sobre o valor inicialmente emprestado.
Neste caso, estamos diante da cobrança de juros com-
postos. Podemos montar a seguinte tabela:
J=C·i·t

M=C+J MÊS DO EMPRÉSTIMO 10.000,00


1º MÊS 11.000,00
M = C · (1 + i ·J) 2º MÊS 12.100,00
Onde,
3º MÊS 13.310,00
z J = juros; 4º MÊS 14.641,00
z C = capital;
z i = taxa em percentual (%); Logo, ao final de 4 meses você deverá devolver
z t = tempo; ao banco R$14.641,00 que é a soma da dívida inicial
z M = montante. (R$10.000,00) e de juros de R$4.641,00.
Fórmula utilizada em juros compostos:
Taxas Proporcionais e Equivalentes
M = C · (1 + i)t
Para aplicar corretamente uma taxa de juros, é im-
portante saber a unidade de tempo sobre a qual a taxa
de juros é definida. Isto é, não adianta saber apenas Poderíamos ter utilizado a fórmula no nosso exem-
que a taxa de juros é de “5%”, é preciso saber se essa plo. Veja:
taxa é mensal, bimestral, anual etc. Dizemos que duas
taxas de juros são proporcionais quando guardam a M = 10000 x (1 + 10%)4
mesma proporção em relação ao prazo. Por exemplo, M = 10000 x (1 + 0,10)4
12% ao ano é proporcional a 6% ao semestre, e tam-
bém é proporcional a 1% ao mês. M = 10000 x (1,10)4
Basta efetuar uma regra de três simples. Para M = 10000 x 1,4641
obtermos a taxa de juros bimestral, por exemplo, que
é proporcional à taxa de 12% ao ano: M = 14.641,00 reais

12% ao ano ----------------------- 1 ano Podemos fazer a comparação entre juros simples e
Taxa bimestral ------------------ 2 meses compostos. Observe a tabela abaixo:

Podemos substituir 1 ano por 12 meses, para dei- JUROS SIMPLES JUROS COMPOSTOS
xar os valores da coluna da direita na mesma unidade
temporal, temos: Mais onerosos se t < 1 Mais onerosos se t > 1
Mesmo valor se t = 1 Mesmo valor se t = 1
12% ao ano ---------------------- 12 meses
Juros capitalizados perio-
Taxa bimestral ------------------ 2 meses Juros capitalizados no final
dicamente (“juros sobre
do prazo
juros”)
Efetuando a multiplicação cruzada, temos:
Crescimento linear (reta) Crescimento exponencial
12% x 2 = Taxa bimestral x 12 Valores similares para Valores similares para
Taxa bimestral = 2% ao bimestre. prazos e taxas curtos prazos e taxas curtos

Duas taxas de juros são equivalentes quando são Juros Compostos – Cálculo do Prazo
capazes de levar o mesmo capital inicial C ao montan-
te final M após o mesmo intervalo de tempo. Nas questões em que é preciso calcular o prazo,
Uma outra informação importante e que você você deverá utilizar logaritmos, visto que o tempo “t”
deve memorizar é que o cálculo de taxas equivalen- está no expoente da fórmula de juros compostos. A
tes quando estamos no regime de juros simples pode propriedade mais importante a ser lembrada é que,
246 ser entendido assim: 1% ao mês equivale a 6% ao sendo dois números A e B, então:
log AB = B × log A Vejamos um exemplo prático: você precisa cons-
truir uma rampa com 3 metros de altura e com 5
Significa que o logaritmo de A elevado ao expoente metros de comprimento. Qual o valor, em metros, da
B é igual a multiplicação de B pelo logaritmo de A. distância x entre o ponto A e ponto B?
Uma outra propriedade bastante útil dos logarit-
mos é a seguinte: C

log bAl = 𝑙𝑜𝑔𝐴 − 𝑙𝑜𝑔B


B
Isto é, o logaritmo de uma divisão entre A e B é 3m 5m
igual à subtração dos logaritmos de cada número.
Também, é importante ter em mente que “logA”
significa “logaritmo do número A na base 10”.
Observe um exemplo: A B
X
No regime de juros compostos com capitalização
mensal à taxa de juros de 1% ao mês, a quantidade de
Perceba que o exercício nos fornece alguns dados:
meses que o capital de R$100.000 deverá ficar investido
a hipotenusa é 5 m e um dos catetos vale 3 m, então
para produzir o montante de R$120.000 é expressa por:
precisamos achar o valor do outro cateto. Sabemos
log2, 1 que a² = b² + c², então, substituindo os valores na fór-
mula temos que:
log1, 01
52 = 32 + x2 → 25 = 9 + x2 → 25 – 9 = x2 → x2 = 16 → x
Temos a taxa j=1%am, capital C=100.000 e montan-
te M=120.000. Na fórmula de juros compostos: = 16 → x = 4

M = C x (1+j)t Assim, concluímos que a distância x entre os pon-


tos A e B corresponde a 4 metros.
120000 = 100000 x (1+1%)t
12 = 10 x (1,01)t RELAÇÕES MÉTRICAS NO TRIÂNGULO RETÂNGULO

1,2 = (1,01)t Considere um triângulo retângulo ABC:

Podemos aplicar o logaritmo dos dois lados: A

log1,2 = log (1,01)t


log1,2 = t · log 1,01 b c
h
log1, 1
t=
log1, 01

n m
Logo, questão errada. C B
H
TRIGONOMÉTRICAS a

O Teorema de Pitágoras diz que em todo triângu- Triângulo retângulo ABC com hipotenusa BC e altura AH.

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


lo retângulo, o quadrado da medida da hipotenusa é
igual à soma dos quadrados das medidas dos catetos. Em relação ao triângulo retângulo acima, temos:
Ou seja, o quadrado do lado oposto ao ângulo de 90°
é igual à soma dos quadrados das medidas dos lados z BC é a hipotenusa;
adjacentes ao ângulo de 90º. Colocando em fórmula
z AB e AC são os catetos;
temos que: a² = b² + c².
z AH é a altura relativa à hipotenusa;
B z BH e CH são, respectivamente, as projeções dos
catetos AB e AC sobre a hipotenusa BC.

No triângulo retângulo ABC da figura, sendo BC =


a, AC = b, AB = c, AH = h, BH = m e CH = n, então valem
a as seguintes relações:
c
b2 = a · n
c2 = a · m
a2 = b2 + c2
A C
b h2 = m · n

Triângulo Retângulo ABC. b·c=a·h 247


ESTATÍSTICAS Apresentação de Dados Estatísticos: Tabelas e
Gráficos
A estatística divide-se em dois ramos: a Descriti-
va e a Inferencial. O primeiro ramo tem por objetivo A apresentação de dados estatísticos por meio de
coletar dados por meio das técnicas de amostragem e tabelas e gráficos fazem parte do ramo da Estatística
estudar ou fazer suas representações através de grá- Descritiva. Esta tem por objetivo descrever um con-
ficos ou tabelas. Podemos usar, ainda, na Estatística junto de dados, resumindo as suas informações prin-
Descritiva, o cálculo através das médias, medianas, cipais. Para isso, as tabelas e gráficos estatísticos são
modas, desvio padrão, entre outros para resumir os ferramentas muito importantes.
dados coletados.
Agora, quando falamos da Estatística Inferencial, o Tabelas
objetivo principal é deduzir/inferir, a partir das infor-
mações de um conjunto de dados (amostra), algumas Para descrever um conjunto de dados, um recurso
informações que provierem de um conjunto de dados muito utilizado são tabelas, como essa a seguir, refe-
rente à observação da variável “Sexo dos moradores
mais amplo (população).
de São Paulo”:
Conceitos Introdutórios de Estatística
VALOR DA VARIÁVEL FREQUÊNCIAS (Fi)
z População: é o conjunto de todas as entidades sob
estudo. Por exemplo, podemos realizar um estu- Masculino 34
do estatístico sobre a população da cidade do Rio Feminino 26
de Janeiro, ou então sobre a população de alunos
matriculados na Nova Concursos; Observe que na coluna da esquerda colocamos as
z Censo: quando efetuamos o censo de uma popula- categorias de valores que a variável pode assumir, ou
ção, analisamos todos os indivíduos que compõem seja, masculino e feminino, e na coluna da direita colo-
aquela população. Por exemplo, podemos contar camos o número de Frequências, isto é, o número de
todos os alunos da Nova Concursos um por um ou observações (ou repetições) relativas a cada um dos
podemos contar todos os cachorros que existem na valores. Veja, ainda, que foi analisada uma amostra de
Cidade de São Paulo. Mas isso aqui demanda muito 60 pessoas, das quais 34 eram homens e 26 mulheres.
tempo e é um processo custoso; Estes são os valores de frequências absolutas. Pode-
z Amostra: é um subconjunto da população. Ao invés mos, ainda, representar as frequências relativas (per-
de analisarmos, por exemplo, toda a população da centuais): sabemos que 34 em 60 são 56,67%, e 26 em
Cidade de São Paulo para sabermos o percentual 60 são 43,33%. Portanto, teríamos:
de homens que jogam bola, podemos analisar uma
parcela (subconjunto) de tamanho suficiente para
FREQUÊNCIAS
que o resultado do estudo seja muito parecido com VALOR DA VARIÁVEL
RELATIVAS (Fri)
o que seria analisando a população toda;
z Variável: é um atributo ou característica (sexo, Masculino 56,67%
altura, salário etc.) dos elementos de uma popula-
Feminino 43,33%
ção que pretendemos avaliar. Podemos classificar
uma variável da seguinte maneira:
Note que a frequência relativa é dada por Fi / n,
„ Qualitativa: quando não assume valores onde Fi é o número de frequências de determinado
numéricos, podendo ser dividida em catego- valor da variável, e n é o número total de observações.
Agora, vamos analisar uma tabela onde a variável
rias, como por exemplo sexo masculino ou
pode assumir um grande número de valores distintos.
feminino.
Vamos representar na tabela a variável “Altura dos
„ Quantitativa: quando puder assumir diversos
moradores de Campinas”:
valores numéricos, como por exemplo, a altura
dos moradores de uma determinada cidade ou
seus salários, todavia, podemos dividir, ainda, VALOR DA VARIÁVEL FREQUÊNCIAS (Fi)
em:
1,51m 12

QUANTITATIVAS QUANTITATIVAS 1,54m 17


CONTÍNUAS DISCRETAS
1,57m 4
Quando a variável só
pode assumir uma quan- 1,60m 2
Quando a variável pode
tidade finita de valores 1,63m 10
assumir infinitos valo-
entre dois números,
res entre dois números,
como por exemplo a 1,67m 5
como por exemplo a
quantidade de filhos,
altura que pode variar 1,75m 13
você não diz que tem 1,5
entre 1,80m e 1,90m em
filhos, diz? A nossa res- 1,81m 15
infinitas possibilidades
posta sempre será 3, 4,
10 filhos 1,89m 2
248
Quando isso acontece, é importante resumir os Idade × Frequência
dados de maneira que fique mais fácil para uma leitu-
ra e interpretação da tabela. Na ocasião, vamos criar 25

Frequência Absoluta Simples


intervalos que chamaremos de “classes”.
20

CLASSE FREQUÊNCIAS (FI) 15

1,50 | - 1,60 33 10

1,60 | - 1,70 17 5
1,70 | - 1,80 13 0
20 23 27 30 33
1,80 | - 1,90 17
Agora suponha, por exemplo, que queremos saber
O símbolo “|” significa que o valor que se encontra a cidade natal de alguns alunos. Como algumas cida-
ao seu lado está incluído na classe. Por exemplo, 1,50 des possuem nomes muito grandes, poderíamos optar
| - 1,60 nos indica que as pessoas com altura igual a em usar um gráfico de barras justapostas. Veja:
1,50 são contadas entre as que fazem parte dessa clas-
Cidade Natal × Frequência
se, porém as pessoas com exatamente 1,60 não são
contabilizadas.
Veja novamente a última tabela, agora com a colu- Salvador
na de frequências absolutas acumuladas à direita:
Florianópolis

FREQUÊNCIAS
FREQUÊNCIAS
CLASSE ABSOLUTAS ACU- Rio de Janeiro
(FI)
MULADAS (FCA)
São Paulo
1,50 | - 1,60 33 33
0 2 4 6 8 10 12 14
1,60 | - 1,70 17 50
Gráfico de Setores (ou de Pizza)
1,70 | - 1,80 13 63
Este gráfico tem a vantagem de mostrar rapida-
1,80 | - 1,90 17 80 mente a relação com o total de observações. Vamos
supor que analisamos as notas trimestrais de alguns
A coluna da direita exprime o número de indiví- alunos. Veja como fica a disposição usando o gráfico
duos que se encontram naquela classe ou abaixo dela. de pizza.
Ou seja, o número acumulado de frequências do valor
mais baixo da amostra (1,50m) até o valor superior Média de Notas Escolares Trimestrais
daquela classe. Perceba que, para obter o número 50,
bastou somar 17 (da classe 1,60| - 1,70) com 33 (da
classe 1,50| - 1,60). Isto é, podemos dizer que 50 pes-
soas possuem altura inferior a 1,70m (limite superior
da última classe). Analogamente, 63 pessoas possuem
altura inferior a 1,80m.

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


GRÁFICOS ESTATÍSTICOS

Uma outra maneira muito utilizada para a Estatís-


tica Descritiva são os gráficos. Vejamos abaixo alguns
tipos.

Colunas ou Barras Justapostas

Utilizamos o gráfico de colunas ou barras justapos-


tas para dados agrupados por valor ou por atributo.
Vamos supor que estamos interessados nas idades de
alguns alunos. O gráfico relaciona as idades com as
respectivas frequências. Gráfico de Linha

São mais utilizados nas representações de séries


temporais. Vamos analisar a evolução de um ano para
o outro, se houve um crescimento ou um decréscimo
no número de alunos dentre as séries que estão em
evidência para estudo dentro da escola. Observe:
249
Evolução anual no número de alunos do sétimo ao nono ano
EQUIPAMENTOS E DISPOSITIVOS
35
Os equipamentos e dispositivos utilizados para a
30
divulgação e o compartilhamento de dados podem ser
25
classificados conforme os seguintes critérios:
20
15 z Alta tiragem: é aquela que visa atingir um grande
10 número de pessoas, geralmente em um curto espa-
ço de tempo, através de meios de comunicação
5
de massa, como jornais, revistas, televisão, rádio,
0 internet etc. Nesse caso, os dados devem ser apre-
2017 2018 2019 2020
Sétimo ano Oitavo ano Nono ano sentados de forma simples, clara, objetiva e atra-
tiva, utilizando recursos gráficos, visuais, sonoros
etc. Os equipamentos e dispositivos utilizados
Histograma devem ter alta capacidade de produção, distribui-
ção e acesso, como impressoras industriais, ante-
É muito utilizado na representação gráfica de nas de transmissão, servidores de rede etc.;
dados agrupados em classes (distribuição de fre- z Baixa tiragem: é aquela que visa atingir um
quências). Imagine que realizamos uma pesquisa número reduzido de pessoas, geralmente em um
sobre os salários dos funcionários de uma empresa longo espaço de tempo, por meio de meios de
de cosméticos e obtivemos a seguinte distribuição de comunicação personalizados, como livros, relató-
frequências. rios, artigos, boletins, entre outros. Nesse caso, os
dados devem ser apresentados de forma detalha-
SALÁRIOS EM da, precisa, rigorosa e fundamentada, utilizando
FREQUÊNCIA recursos textuais, numéricos, analíticos etc. Os
MILHARES DE REAIS
equipamentos e dispositivos utilizados devem ter
10 – 15 15 baixa capacidade de produção, distribuição e aces-
so, como impressoras domésticas, pen drives, CDs
15 – 20 17 etc.
20 – 25 13
Para ilustrar a diferença entre alta e baixa tira-
25 – 30 7 gem, podemos tomar como exemplo a divulgação e
o compartilhamento de dados sobre a pandemia de
Esses dados podem ser resumidos com um histo- covid-19 no Brasil. Assim, um exemplo de alta tiragem
grama, como mostra o gráfico a seguir. seria um infográfico publicado em um site de notícias,
que mostra o número de casos e de mortes por esta-
do, utilizando cores, ícones, gráficos de barras, entre
outros. Já, um exemplo de baixa tiragem seria um arti-
go científico publicado em uma revista especializada,
DIVULGAÇÃO E COMPARTILHAMENTO que analisa os fatores epidemiológicos, sociais e eco-
DE DADOS: EQUIPAMENTOS E nômicos da pandemia, utilizando tabelas, fórmulas,
DISPOSITIVOS, ALTA E BAIXA estatísticas etc.
Portanto, a divulgação e o compartilhamento
TIRAGENS de dados são processos importantes para a socieda-
de, pois permitem o acesso, a disseminação e o uso
Divulgação e compartilhamento de dados são pro- de informações relevantes para diversos fins. No
cessos que envolvem a disponibilização e a troca de entanto, esses processos também envolvem desafios
informações entre diferentes atores, como indivíduos, e responsabilidades, como a garantia da qualidade, da
organizações, instituições e governos. Esses processos confiabilidade, da segurança, da privacidade e da éti-
podem ter diversos objetivos, como informar, educar, ca dos dados.
comunicar, colaborar, inovar, fiscalizar etc.
Assim, para que a divulgação e o compartilhamen- REFERÊNCIAS
to de dados sejam possíveis, é necessário o uso de
equipamentos e dispositivos que permitam a coleta, BRASIL. Lei nº 12.527, de 18 de novembro de
o armazenamento, o processamento, a transmissão 2011. Regula o acesso a informações previsto no
e a recepção dos dados. Esses equipamentos e dis- inciso XXXIII do art. 5º, no inciso II do § 3º do art.
positivos podem ser de diferentes tipos, como com- 37 e no § 2º do art. 216 da Constituição Federal;
putadores, smartphones, tablets, câmeras, sensores, altera a Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990;
impressoras, scanners etc. revoga a Lei nº 8.159, de 8 de janeiro de 1991, e dis-
Além disso, é necessário considerar a quantida- positivos da Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999.
de e a qualidade dos dados que serão divulgados e Diário Oficial da União, Brasília, DF, 19 nov. 2011.
compartilhados, bem como o público-alvo e o meio FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário Aurélio da
de comunicação que serão utilizados. Esses fatores língua portuguesa. 4ª ed. rev. ampl. Rio de Janei-
podem influenciar na escolha dos equipamentos e ro: Nova Fronteira, 2001.
dispositivos mais adequados, bem como nas técnicas MELLO, C. A. P. de. Direito administrativo. 33ª ed.
e nos formatos de apresentação dos dados. São Paulo: Malheiros, 2019.
250
REFERÊNCIAS
REPRODUÇÃO ANALÓGICA E DIGITAL
KNUTH, D. E. Teoria de Circuitos Digitais. Addi-
A reprodução analógica é um processo de trans- son-Wesley, 1976.
formar sinais físicos contínuos em outros sinais físi- QUAL a diferença entre o sinal analógico e o
cos contínuos, de forma a preservar as características digital? CanalTech, 2016. Disponível em: https://
originais do sinal. Ainda, é mais antiga e mais fiel ao arquivo.canaltech.com.br/curiosidades/qual-a-di-
sinal original, mas também mais suscetível a ruídos, ferenca-entre-o-sinal-analogico-e-o-digital-65147/.
interferências e deteriorações. Acesso em: 24 jan. 2024.
Em termos de áudio, a reprodução analógica é reali-
zada por meio de um sistema de som composto por um
microfone, um amplificador e um alto-falante. Assim,
o microfone capta as ondas sonoras do ambiente e
converte-as em um sinal elétrico analógico. O amplifi- DISSEMINAÇÃO DE INFORMAÇÕES
cador aumenta a amplitude do sinal elétrico, tornan-
do-o capaz de ser reproduzido por um alto-falante; já o A disseminação de informações é o processo de
alto-falante converte o sinal elétrico em ondas sonoras tornar as informações disponíveis e acessíveis para
novamente, que são emitidas para o ambiente. um público-alvo, com o objetivo de informar, educar,
Do mesmo modo, em termos de vídeo, a reprodu- conscientizar, persuadir ou influenciar. Assim, é um
ção analógica é realizada por meio de um sistema de fenômeno que ocorre em diversos contextos, como na
vídeo composto por uma câmera, um transmissor e comunicação, na educação, na saúde, na ciência, na
um receptor. Assim, a câmera captura as imagens do tecnologia, na política, na cultura etc.
ambiente e converte-as em um sinal elétrico analógi- Além disso, envolve diferentes atores, como pro-
co, enquanto o transmissor envia o sinal elétrico para dutores, intermediários, receptores e usuários de
o receptor, que o converte novamente em imagens.
informações, que se relacionam por meio de diversos
Vantagens da Reprodução Analógica meios, canais, formatos e linguagens.
Portanto, a disseminação de informações tem
z A reprodução analógica é um processo relativa- implicações para a produção, a circulação, o consumo
mente simples e barato; e o uso de informações, bem como para os efeitos e
z É capaz de reproduzir sinais com uma ampla faixa os impactos que as informações geram na sociedade.
de frequências;
z Consegue reproduzir sinais com uma boa fidelidade. A DISSEMINAÇÃO DE INFORMAÇÕES
EDUCACIONAIS
Desvantagens da Reprodução Analógica

z A reprodução analógica é suscetível a ruídos e As informações coletadas nos exames devem ser
distorções; disseminadas para aqueles que possuem interesse
z É suscetível à perda de qualidade com o tempo. em acessá-las, desde os docentes e gestores escolares
até, inclusive, os discentes. Pensando nesse acesso, o
CONCEITO DE REPRODUÇÃO DIGITAL Centro de Informações e Biblioteca em Educação foi
reestruturado,
Reprodução digital é o processo de conversão de
um objeto físico ou analógico em um formato digital,
que pode ser armazenado, processado e transmitido [...] transformando-se em núcleo difusor de infor-
por meio de dispositivos eletrônicos. mações educacionais, com ênfase na avaliação
e estatísticas produzidas pelo próprio Inep e em
Vantagens da Reprodução Digital informações gerais processadas por instituições
nacionais e internacionais (Ibid., p. 127).

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


z A reprodução digital é menos suscetível a ruídos e
distorções; Perfil Municipal da Educação Básica (PMBE)
z É menos suscetível à perda de qualidade com o
tempo; O PMBE tem como foco a divulgação de dados sobre
z É também mais fácil de armazenar e transportar. a situação socioeconômica e educacional do Brasil
Desvantagens da Reprodução Digital produzidos pelo INEP, além de dados estatísticos pro-
duzidos por outras fontes, como o Instituto Brasileiro
z A reprodução digital é um processo mais complexo de Geografia e Estatística (IBGE), a Fundação SEADE —
e caro; Sistema Estadual de Análise de Dados etc.
z É capaz de reproduzir sinais apenas com uma fai-
xa limitada de frequências. Programa de Legislação Educacional Integrada
(ProLEI)
CONCLUSÃO

A reprodução analógica e a reprodução digital O ProLEI possui toda a legislação federal publica-
são dois processos diferentes de reprodução de sinais da após a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da
físicos. Afinal, a reprodução analógica é um proces- Educação (LDB), isto é, após 1996. O programa ProLEI
so mais simples e barato, mas é suscetível a ruídos e foi desenvolvido pela Universidade Federal de Santa
distorções. Diferentemente, a reprodução digital é um Maria (UFSM) e, além da pesquisa rápida e fácil das
processo mais complexo e caro, mas é menos suscetí- legislações, permite relacionar as duas, ou mais, nor-
vel a ruídos e distorções. mas por meio de links. 251
HORA DE PRATICAR!
1. (CESGRANRIO — 2014) As políticas públicas percorrem quatro diferentes etapas: formulação, decisão, implementa-
ção e avaliação.

A fase de implementação corresponde à(ao)

a) escolha de quem define a política, que passará por um processo de trâmite democrático.
b) execução de atividades, de tal forma que as ações do governo alcancem as metas preestabelecidas.
c) análise sistemática de questões associadas ao uso da política, que subsidiem o gestor público.
d) mensuração do impacto sobre o bem-estar do público--alvo, quando da oferta de serviços.
e) cálculo de um indicador, a fim de escolher a melhor solução, dependendo da capacidade dos gestores da política.

2. (CESGRANRIO — 2013) Para receber os jogos da Copa de 2014, a Arena Pernambuco, estádio de futebol nos moldes
de arena multiuso, está sendo construída no município de São Lourenço da Mata, na região metropolitana do Recife,
com financiamento do BNDES. O Quadro abaixo, extraído do Portal da Transparência do Governo Federal, demonstra
os investimentos previstos, contratados e executados.

INVESTIMENTO (R$ MILHÕES)


RESPONSABILIDADE ÚLTIMA FONTE DA
ETAPA
PELOS RECURSOS ATUALIZAÇÃO INFORMAÇÃO

PREVISTO* CONTRATADO EXECUTADO

1. Projeto Básico 9,30 9,30 9,30 Governo Estadual 25/4/2012 Min. Esporte

2.Desapropriações 5,90 5,90 5,90 Governo Estadual 25/4/2012 Min. Esporte

3. Obras e Entorno Governo Federal (Fi- Min. Esporte;


400,00 400,00 157,00 25/4/2012
(financiamento) nanciamento BNDES) BNDES

Min. Esporte;
4. Obras e Entorno 79,00 79,00 14,20 Governo Estadual 25/4/2012
BNDES

5. Gerenciamento
6,00 0,00 0,00 Governo Estadual 25/4/2012 Min. Esporte
da Obra

Valor total: 500,20 494,20 186,40

Disponível em: <http://www.transparencia.gov.br/copa2014/recife/estadio/>. Acesso em: 30 jul. 2012. Adaptado

Dados
Os valores referentes à auditoria estão incluídos no valor do gerenciamento da obra. Os valores não incluem a certifi-
cação ambiental.

Os percentuais de investimentos já executados em cada etapa, em relação ao valor total previsto para o empreendi-
mento, na sequência das etapas apontadas, estão representados, respectivamente, em

a) 2,32% ; 1,83% ; 29,31% ; 3,12%


b) 3,51% ; 2,73% ; 29,31% ; 4,82%
c) 1,85% ; 2,7% ; 31,38% ; 2,5%
d) 1,85% ; 1,17% ; 31,38% ; 2,83%
e) 2,82% ; 1,13% ; 35%; 3,42%

3. (CESGRANRIO — 2012) A crise econômica e a evidente retratação do Estado da esfera social produzem efeitos sobre
o discurso e as práticas relativas à família.

Assim, o discurso da revalorização da família como alvo das políticas públicas, na atualidade, reflete uma tendência
historicamente predominante na sociedade brasileira, qual seja, a de

a) implementar políticas públicas higienistas.


b) resolver, na esfera privada, questões de ordem pública.
c) atribuir aos pobres as causas da explosão demográfica.
d) controlar o comportamento da população através das políticas públicas.
e) construir um modelo de políticas públicas distante das necessidades da população.

252
4. (CESGRANRIO — 2013) Mário é usuário dos serviços 8. (CESGRANRIO — 2012) De acordo com a norma do
de transportes públicos. Frequentemente, ele é sur- artigo 175 da Constituição da República, incumbe ao
preendido pela notícia de reajuste na cobrança das poder público, diretamente ou sob regime de conces-
tarifas de transportes. são ou permissão, sempre através de licitação, a pres-
tação de serviços públicos.
Nos termos da legislação de regência, esse critério de
revisão tarifária deve ser definido pelo A esse respeito, qual a natureza jurídica da permissão
de serviço público?
a) usuário, observada a qualidade do serviço.
b) contrato, para preservar o equilíbrio a) Contrato de programa
econômico-financeiro. b) Contrato de adesão
c) concedente, ao seu livre arbítrio, dependendo da c) Ato administrativo qualificado
produtividade. d) Ato administrativo complexo
d) conjunto da sociedade, que tem o dever de fiscalizar e) Ato administrativo composto
os serviços prestados.
e) Poder Executivo, que deve proceder a leilões para fixa- 9. (CESGRANRIO — 2022) Uma pessoa jurídica, que está
ção da tarifa mais adequada. atuando como concessionária, pretende abandonar a
atuação e transferir o controle societário para outros
5. (CESGRANRIO — 2012) A empresa X de energia elétri- investidores.
ca pretende realizar corte de fornecimento de luz no
município Vega, que se encontra inadimplente com o Consultando um auditor, ele é informado de que, nos
pagamento de suas cinco últimas faturas de energia. termos da Lei nº 8.987/1995, caso a transferência
ocorra sem a anuência prévia do poder concedente
Nessa situação, o corte do fornecimento configura-se será declarada a
como
a) prescrição
a) cabível, uma vez que a prestação do serviço, sem a b) suspensão
remuneração, desequilibra o contrato. c) caducidade
b) cabível, devendo preservar-se, porém, as unidades e d) investigação
os serviços públicos essenciais. e) limitação
c) cabível, devendo, porém, ser intermitente, prestando-
-se o serviço apenas em algumas horas do dia. 10. (CESGRANRIO — 2012) De acordo com a Lei Geral de
d) incabível, visto que o serviço essencial deve ser Concessões (Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995),
contínuo. a encampação é a retomada do serviço público pelo
e) incabível, por se tratar de serviço essencial aos poder concedente durante o prazo da concessão, por
munícipes. motivo de interesse público.

6. (CESGRANRIO — 2012) A minuta do contrato de con- Para formalizar a encampação, faz-se necessária a
cessão é um documento que deve acompanhar o edição de
edital de licitação da construção de um gasoduto de
transporte. a) lei delegada
b) lei autorizativa específica
Nessa minuta, deve-se indicar o(a) c) lei complementar
d) decreto-lei
a) percurso do gasoduto de transporte. e) decreto executivo
b) valor máximo a ser cobrado pelo transporte no
gasoduto. 11. (CESGRANRIO — 2012) Com o objetivo de assegurar a

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


c) código do registro da obra nos órgãos ambientais adequação na prestação do serviço, bem como o fiel
competentes. cumprimento das normas contratuais, regulamentares
d) capacidade média de transporte do gasoduto. e legais pertinentes, o poder concedente pode intervir
e) receita semestral mínima de transporte prevista, sen- na concessão por prazo determinado.
do facultativa a apresentação dos critérios para o seu
cálculo. Para sua formalização, a intervenção pressupõe

7. (CESGRANRIO — 2014) No Brasil, revela-se frequente a) lei autorizativa


a alternância das políticas de prestação de serviços b) lei complementar
públicos que ora se revelam centralizadas em pessoas c) autorização judicial
jurídicas de direito público e, em outros momentos, d) decreto do poder concedente
são realizadas por pessoas jurídicas de direito privado, e) resolução da agência reguladora competente
escolhidas mediante complexo processo licitatório.
12. (CESGRANRIO — 2014) O empregado J pertence aos
Trata-se de mecanismo de colaboração denominado quadros de determinada Instituição Científica e Tec-
nológica (ICT) vinculada à administração pública. Sua
a) delegação instituição realizará atividades conjuntas de pesquisa
b) autarquização científica e tecnológica e desenvolvimento de tecnolo-
c) intervenção gia com entidades privadas. Interessado em participar
d) publicização dessas atividades, J recebeu a informação de que, nos
e) concessão termos da Lei nº 10.973/2004, ele 253
a) deve licenciar-se do emprego para assumir a função De acordo com essa Lei, qual a definição de Inovação?
de pesquisador.
b) tem possibilidade de acumular sua remuneração com a) Invenção, modelo de utilidade, desenho industrial, pro-
bolsa de pesquisa de agência de fomento. grama de computador, topografia de circuito integra-
c) pode participar livremente, percebendo exclusivamen- do, nova cultivar ou cultivar essencialmente derivada e
te sua remuneração do emprego. qualquer outro desenvolvimento tecnológico que acar-
d) pode exercer a função de pesquisador quando a acu- rete ou possa acarretar o surgimento de novo produto,
mulação remunerada decorrer da assunção de cargo processo ou aperfeiçoamento incremental, obtida por
de chefia. um único criador.
e) pode dedicar-se ao projeto e ao emprego caso ocorra b) Invenção, modelo de utilidade, desenho industrial, pro-
compatibilidade de horários. grama de computador, topografia de circuito integra-
do, nova cultivar ou cultivar essencialmente derivada e
13. (CESGRANRIO — 2014) Participando de projeto regido qualquer outro desenvolvimento tecnológico que acar-
pela Lei nº 10.973/2004, a empresa R é considerada rete ou possa acarretar o surgimento de novo produto,
criadora de tecnologia inovadora. processo ou aperfeiçoamento incremental, obtida por
um ou mais criadores.
Nos termos da referida legislação, R terá assegurada, c) Introdução de novidade, mas não de aperfeiçoamento,
no concernente aos ganhos econômicos decorrentes no ambiente produtivo ou social que resulte em novos
da exploração do seu invento, a participação mínima produtos, processos ou serviços.
correspondente a: d) Introdução de aperfeiçoamento, mas não de novidade,
no ambiente produtivo ou social que resulte em novos
a) 1% produtos, processos ou serviços.
b) 2% e) Introdução de novidade ou aperfeiçoamento no
c) 3% ambiente produtivo ou social que resulte em novos
d) 4% produtos, processos ou serviços.
e) 5%
17. (CESGRANRIO — 2018) Um médico desenvolveu um
14. (CESGRANRIO — 2014) Um inventor independente importante método de diagnóstico de doença degene-
deseja que os seus inventos sejam usufruídos pela rativa para aplicação no corpo humano. O método é
sociedade. completamente desconhecido da comunidade técni-
ca e industrial. Considerando-se que o médico dese-
Nos termos da Lei nº 10.973/2004, para que seus je patentear esse método, verifica-se que o que foi
inventos sejam analisados por Instituição Científica e desenvolvido por ele
Tecnológica (ICT), deve ser comprovado o
a) é patenteável como modelo de utilidade, desde que
a) projeto de pesquisa aprovado suscetível de aplicação industrial.
b) testemunho de originalidade b) é patenteável, desde que se comprove que a invenção
c) depósito do pedido de patente atende aos requisitos de novidade, atividade inventiva
d) registro na Biblioteca Nacional e aplicação industrial.
e) reconhecimento da autoria intelectual c) é patenteável se não estiver comprovadamente com-
preendido no estado da técnica.
15. (CESGRANRIO — 2011) Nos termos da legislação de d) pode ser patenteável, desde que não seja contrário à
estímulo à inovação, a(s) moral, aos bons costumes e à segurança, à ordem e à
saúde públicas;
a) União Federal, sem o apoio dos demais entes federa- e) não é patenteável, não podendo ser considerado
dos, deve concentrar os recursos e esforços para a invenção ou modelo de utilidade.
geração de processos inovadores.
b) alianças estratégicas devem ser lideradas pelas ICT 18. (CESGRANRIO — 2012) Considere as afirmativas elen-
(Instituições Científicas e Tecnológicas), que são pes- cadas abaixo, com base no Código de Propriedade
soas jurídicas de direito privado. Industrial (Lei nº 9.279/1996).
c) empresas privadas de propósito específico, que
tenham por escopo o desenvolvimento de projetos I. A patente de invenção vigorará pelo prazo de 20 (vin-
tecnológicos para obtenção de produtos inovadores, te) anos, e a de modelo de utilidade pelo prazo de 15
não podem ter capital estatal. (quinze) anos contados da data de depósito.
d) Instituições Científicas e Tecnológicas podem com- II. O registro do desenho industrial vigorará pelo prazo
partilhar seus laboratórios com empresas de pequeno de 5 (cinco) anos contados da data do depósito, pror-
porte, não recebendo remuneração. rogável por 3 (três) períodos sucessivos de 5 (cinco)
e) Instituições Científicas e Tecnológicas podem obter o anos cada.
direito de uso de criação protegida. III. São considerados como invenção e modelo de utilida-
de as obras literárias, arquitetônicas e científicas.
16. (CESGRANRIO — 2011) A Lei nº 10.973, de 2 de dezem- IV. Não se considera desenho industrial qualquer obra de
bro de 2004, estabelece medidas de incentivo à inova- caráter puramente artístico.
ção e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente
produtivo, com vistas à capacitação e ao alcance da Está correto APENAS o que se afirma em
autonomia tecnológica e ao desenvolvimento indus-
trial do País. Um termo bastante confundido entre as a) I e II
pessoas leigas é o termo Inovação. b) I e IV
254 c) II e III
d) II e IV Lançando-se esse dado duas vezes, qual é a probabili-
e) III e IV dade de ocorrer a face 6 nos dois lançamentos?

19. (CESGRANRIO — 2011) A respeito do que dispõe a Lei a) 4/9


nº 9.609/98 sobre os contratos de licença de uso de b) 1/36
software com transferência de tecnologia, deve-se c) 1/81
considerar que d) 2/81
e) 4/81
a) o fornecedor de tecnologia deve entregar ao receptor
documentos referentes ao código-fonte comentado, 23. (CESGRANRIO — 2012) Um determinado processo de
memorial descritivo, especificações funcionais inter- soldagem apresenta dois tipos de defeitos nas juntas
nas, diagramas, fluxogramas e tudo o mais que for soldadas: mordedura e trinca, sendo estes defeitos
necessário à absorção da tecnologia. identificados por ensaios independentes. Sabe-se, de
b) o fornecedor de tecnologia tem obrigação de entregar dados históricos do processo, que 10% das juntas sol-
ao receptor apenas o código-fonte e as especificações dadas apresentam mordeduras, 5% apresentam trin-
funcionais internas, devendo colocar à disposição do cas e somente 0,5% apresenta ambos os defeitos. Se
receptor ao menos um instrutor qualificado para trans- uma junta soldada apresenta mordeduras, a probabili-
mitir a tecnologia. dade percentual de que haja trinca nesta mesma junta
c) o documento fiscal é prova de regularidade do uso, é de
dispensando a formalização de contrato nos casos
de licença de uso de software com transferência de a) 15%
tecnologia. b) 5%
d) os contratos produzem efeitos perante terceiros, inde- c) 4,5%
pendentemente do registro no Cartório de Registro de d) 0,5%
Títulos e Documentos. e) 0,05%
e) os contratos só surtem efeito, em relação a terceiros,
a partir do registro no Cartório de Registro de Títulos e 24. (CESGRANRIO — 2011) Duas empresas diferentes
Documentos competente. produzem a mesma quantidade de aparelhos celu-
lares, ou seja, ao se comprar um aparelho celular, a
20. (CESGRANRIO — 2011) No comércio eletrônico, há probabilidade de ele ter sido produzido por qualquer
grande preocupação quanto a cópia ilegal de marcas. uma delas é a mesma. Cada aparelho produzido pela
Tal preocupação está relacionada a um controle do(a) fábrica A é defeituoso com probabilidade 1%, enquan-
to cada aparelho produzido pela fábrica B é defeituoso
a) processo de fabricação com probabilidade 5%. Suponha que você compre dois
b) monitoramento kanban aparelhos celulares que foram produzidos na mesma
c) gerência do tangível fábrica. Se o primeiro aparelho foi verificado e é defei-
d) propriedade intelectual tuoso, a probabilidade condicional de que o outro apa-
e) redução da burocracia relho também seja defeituoso é

21. (CESGRANRIO — 2012) No lançamento de um dado a)


13
viciado, com seis faces numeradas de 1 até 6, sabe-se 10.000
que a probabilidade do resultado obtido ser um núme-
1 13
ro par é igual a . b)
3 1.000

Isso significa que, se o dado for lançado por 9.n vezes, 13


c)
onde n D IN , então a(o) 300

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


13
2 d)
a) probabilidade de se obter resultado 3 é igual a . 100
9
b) razão entre o número de resultados pares e o número 3
1 e)
de resultados ímpares se aproximará de , se n cres- 100
2
cer indefinidamente. 25. (CESGRANRIO — 2021) A relação do cliente com o sis-
c) razão entre o número de resultados “4” e o número dos tema bancário tradicional vem passando por transfor-
1 mações nos últimos cincos anos com o crescimento
demais resultados se aproximará de , se n crescer
9 dos bancos digitais. Analisar o perfil dos clientes dos
indefinidamente.
d) número 2 será o resultado de n lançamentos . bancos digitais, considerando idade, classe social,
e) número 5 será o resultado de 6.n lançamentos. renda e motivação, é uma tarefa importante para os
bancos tradicionais com o objetivo de preservar a
22. (CESGRANRIO — 2012) Um dado, com as suas seis posição de principal Banco na relação com o Cliente.
faces numeradas de 1 a 6, foi construído de tal forma
que todas as faces ímpares têm a mesma probabili- Para tal fim, uma agência bancária analisou os seguin-
dade de ocorrência, todas as faces pares têm a mes- tes dados de uma pesquisa amostral sobre bancos
ma probabilidade de ocorrência, e uma face par tem digitais:
o dobro da probabilidade de ocorrência de uma face
ímpar.

255
Escolhendo-se ao acaso um dos entrevistados dessa pesquisa, qual é, aproximadamente, a probabilidade de esse
cliente ter um relacionamento com banco digital e de ter apresentado como motivo para iniciar esse relacionamento a
facilidade de poder resolver tudo pela internet?

a) 5,7%
b) 6,2%
c) 6,4%
d) 7,2%
e) 7,8%

26. (CESGRANRIO — 2012)

Em uma urna há cinco bolas idênticas, numeradas de 1 até 5. Durante um sorteio, João e Maria retiraram, cada um,
uma bola da urna. João foi o primeiro a retirar sua bola e, a seguir, Maria retirou uma das quatro bolas restantes. Quem
retirasse uma bola numerada com um número par ganharia um prêmio.

Qual é a probabilidade de João e Maria terem sido, ambos, premiados?

1
a)
10
4
b)
25
13
c)
20
1
d)
4
2
e)
5
27. (CESGRANRIO — 2015) Dois eventos independentes A e B são tais que P(A.) = 2p, P(B.) = 3p e P(AUB.) = 4p com p>0.

A probabilidade de que os eventos A e B ocorram concomitantemente é dada por

a) 0
b) 1/6
c) 1/4
256
d) 1/3 c) 37,5%
e) 1/2 d) 50%
e) 62,5%
28. (CESGRANRIO — 2012) Uma empresa trabalha apenas
com duas companhias de entrega expressa de corres- 32. (CESGRANRIO — 2011) Em uma urna, são colocadas
pondências: X e Y. A probabilidade de uma entrega 2 bolas brancas e 4 pretas. Alberto e Beatriz retiram
expressa ser feita pela companhia X é de apenas
1 bolas da urna alternadamente, iniciando-se com Alber-
7 , to, até que a urna esteja vazia. A probabilidade de que
uma vez que a companhia Y presta um serviço melhor. a primeira bola branca saia para Alberto é
Dadas duas entregas expressas quaisquer da referida
empresa, qual é a probabilidade de uma delas ter sido a) 1/2
feita pela companhia X e de a outra ter sido feita pela b) 3/5
companhia Y? c) 5/9
d) 7/12
1 e) 8/15
a)
49
33. (CESGRANRIO — 2021) Um analista de investimentos
6 acredita que o preço das ações de uma empresa seja
b)
49 afetado pela condição de fluxo de crédito na econo-
12 mia de um certo país. Ele estima que o fluxo de crédito
c) na economia desse país aumente, com probabilidade
49
de 20%. Ele estima também que o preço das ações da
1 empresa suba, com probabilidade de 90%, dentro de
d)
4 um cenário de aumento de fluxo de crédito, e suba,
1 com probabilidade de 40%, sob o cenário contrário.
e)
2
Uma vez que o preço das ações da empresa subiu,
29. (CESGRANRIO — 2014) Dados históricos revelaram qual é a probabilidade de que o fluxo de crédito da
que 40% de uma população têm uma determinada economia tenha também aumentado?
característica. Desses 40%, 25% têm o perfil desejado
por um pesquisador. 1
a)
2
Quantas pessoas devem ser entrevistadas, no míni-
mo, para que a probabilidade de encontrar pelo menos 1
b)
uma pessoa com o perfil desejado pelo pesquisador 5
seja igual ou superior a 70%? 2
c)
9
a) 10
9
b) 11 d)
25
c) 12
d) 13 9
e)
e) 14 50
34. (CESGRANRIO — 2011) Um sistema de detecção de
30. (CESGRANRIO — 2013) De uma população com 60
temporais é composto por dois subsistemas, A e B,
elementos distintos selecionou-se aleatoriamente 6
que operam independentemente. Se ocorrer temporal,
elementos com reposição.
o sistema A acionará o alarme com probabilidade 90%,
e o sistema B com probabilidade 95%. Se não ocorrer

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS


A probabilidade de o mesmo elemento ser seleciona-
temporal, a probabilidade de que o sistema A acione o
do mais de uma vez é
alarme, isto é, um falso alarme, é de 10%, e a probabili-
dade de que o sistema B acione o alarme é de 20%. O
a)
sistema foi acionado.
b)
c)
A probabilidade de que ocorra um temporal é de,
d)
aproximadamente,
e)
9
31. (CESGRANRIO — 2018) Considere 2 urnas: na primeira a)
19
urna há 1 bola branca e 1 bola preta; na segunda urna,
há 1 bola branca e 2 pretas. Uma bola é selecionada 185
b)
aleatoriamente da urna 1 e colocada na urna 2. Em 215
seguida, uma bola é selecionada, também aleatoria- 855
mente, da urna 2. c)
875

Qual a probabilidade de que a bola selecionada na 995


d)
urna 2 seja branca? 1.000
995
a) 12,5% e)
1.275
b) 25% 257
35. (CESGRANRIO — 2012) Uma amostra aleatória sim- (Repes) regido pela Lei nº 11.196/2005. No referido
ples, de tamanho 100, é extraída de uma população de regime, em caso de venda ou de importação de bens
tamanho 10.000, com reposição. novos destinados ao desenvolvimento, no País, de
software e de serviços de tecnologia da informação,
A probabilidade de não haver repetição na amostra é fica suspensa a exigência de uma contribuição inci-
dente sobre a receita bruta da venda no mercado inter-
1 no, no caso de os referidos bens serem adquiridos
a)
10.000
100
por pessoa jurídica beneficiária do Repes para serem
1 incorporados ao seu ativo imobilizado.
b)
10.000!
100!9.900! Nessa situação, NÃO é exigida a contribuição
10.000!
c) a) profissional
100!9.900!
100 b) previdenciária
10.000
c) para o PIS/Pasep
10.000100
d) d) sobre o Lucro Líquido
10.000!
e) de intervenção no domínio econômico
100!9.900!
10.000! 40. (CESGRANRIO — 2011) O Governo busca modernizar
e)
10.000
100
o parque industrial e incentivar a inovação, propician-
do a produção interna de diversos bens. Assim sendo,
36. (CESGRANRIO — 2011) Um jogo consiste em lançar
uma moeda honesta até obter duas caras consecuti-
a) a pessoa física ou jurídica que importe mais do que
vas ou duas coroas consecutivas. Na primeira situa-
exporte terá benefícios aduaneiros.
ção, ao obter duas caras consecutivas, ganha-se o
b) a pessoa jurídica que importe insumos destinados a
jogo. Na segunda, ao obter duas coroas consecutivas,
máquinas importadas passa a ter desconto no paga-
perde-se o jogo. A probabilidade de que o jogo termi-
mento de tributos.
ne, com vitória, até o sexto lance, é
c) os denominados “Tablet PC”, produzidos no país,
receberão incentivos fiscais quanto à Cofins e ao PIS/
a) 7/16 Pasep.
b) 31/64 d) os computadores portáteis, de última geração, podem
c) 1/2 ser importados sem pagamento de tributos.
d) 1/32 e) os benefícios fiscais atingem todas as pessoas, inclu-
e) 1/64 sive com registros negativos no sistema de pagamen-
to de tributos.
37. (CESGRANRIO — 2015) Para pesquisar novos lubrifi-
cantes, a diretoria de uma grande transportadora cos-
tuma solicitar a seus motoristas que experimentem, 9 GABARITO
por um determinado período, os novos produtos em
seus caminhões. Que tipo de amostra está sendo utili- 1 B
zada nessa situação de mercado?
2 D
a) Aleatória simples
b) Estratificada 3 B
c) Não probabilística por conveniência 4 B
d) Não probabilística por cota
e) Probabilística por grupo 5 B

38. (CESGRANRIO — 2014) Considere um planejamento 6 A


amostral para uma população de interesse no qual é 7 E
feita uma divisão dessa população em grupos idên-
ticos à população alvo, como uma espécie de micro- 8 B
cosmos da população, e, em seguida, seleciona-se
aleatoriamente um dos grupos e retira-se a amostra 9 C
do grupo selecionado. 10 B

A técnica de amostragem descrita acima é definida 11 D


como:
12 B
a) amostragem aleatória simples 13 E
b) amostragem por conglomerados
c) amostragem estratificada 14 C
d) amostragem sistemática
e) amostragem por cotas 15 E

16 E
39. (CESGRANRIO — 2014) A empresa W é beneficiária do
Regime Especial de Tributação para a Plataforma de 17 E
Exportação de Serviços de Tecnologia da Informação
258
18 B

19 A

20 D

21 B

22 E

23 B

24 C

25 A

26 A

27 B

28 C

29 C

30 E

31 C

32 B

33 D

34 E

35 C

36 B

37 C

38 B

39 C

40 C

ANOTAÇÕES

POLÍTICAS PÚBLICAS E ANÁLISE DE DADOS

259
ANOTAÇÕES

260
É de interesse de estudo da microeconomia, ainda,
a forma pela qual os agentes econômicos interagem
de modo a formar unidades maiores, os mercados.
Sendo assim, a microeconomia explica, entre outras

EIXO 3 –ECONOMIA,
questões, como a formação dos preços, a quantida-
de ofertada ou demandada e o quanto será inves-
tido. Assim, poderemos inferir porque os mercados
ECONOMIA SOLIDÁRIA dos bens são diferentes, e como são influenciados
por políticas econômicas e mudanças no ambiente
E CONTEXTO internacional.
Para começar a compreender o mercado, analisa-

INTERNACIONAL remos, inicialmente por que as famílias ou consumi-


dores consomem. Toda a análise do consumo é vista,
na microeconomia, através da demanda.
Mas, antes disso, indaga-se: se o preço da gasoli-
na aumentar (como temos visto nos últimos tempos),
MICROECONOMIA você consumirá mais gasolina ou menos gasolina?
Estudaremos sobre a lei da demanda para responder
TEORIA DOS PREÇOS essa pergunta.

Durante muito tempo, os economistas buscaram DEMANDA E OFERTA: ELASTICIDADES


descobrir o que determina o valor das coisas. O que
faz, por exemplo, o carro ter um valor tão alto e o sal Lei da Demanda
um valor tão baixo. Dessa procura, surgiram duas
teorias: a teoria objetiva, que afirma que o valor de Possivelmente você respondeu que comprará
um bem depende do esforço e do trabalho para sua menos gasolina quando o preço aumentar. Essa rela-
obtenção, e a teoria subjetiva, que associa que o ção inversa entre o preço de um bem e a quantidade
valor do bem depende da sua utilidade e do seu nível que um consumidor planeja comprar (ou a quanti-
de escassez. dade demandada desse bem) é conhecida por lei
Posteriormente, essas suas teorias foram reunidas da demanda. Ela estabelece uma relação negativa
e o valor do bem, agora, é determinado como o resul- entre a quantidade consumida e o preço do bem
tado do seu custo de produção (associado ao esforço e em questão.
ao trabalho) e da sua preferência (associada à necessi- Sob as condições dadas anteriormente, você com-
dade ou ao desejo). prará menos sempre? Do jeito que a questão foi pos-
De fato, os bens oferecidos no mercado têm preços. ta, você não pode dizer que sempre comprará menos.
Isso porque, suponhamos que você ganhe o prêmio
O preço é definido como o valor do bem expresso
de um reality show. Você vai comprar menos gasolina
em moeda. Segundo a teoria econômica, os preços
mesmo possuindo uma renda maior? Possivelmente

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


são resultado da interação entre dois agentes: os con-
não!
sumidores (que se preocupam com a utilidade dos
Ou ainda, imagine que o preço do álcool combustí-
bens) e as empresas (que representam o esforço ou
vel chegue a R$ 100,00/l. Ainda assim você comprará
os custos de produção).
menos gasolina?
Dessa forma, do jeito que está posta a lei, ela aca-
Dica ba sendo aplicada em pouquíssimos casos e termina
O preço de um bem é definido como valor des- sendo violada em muitos outros. Pensando nisso, os
economistas adicionaram uma hipótese bastante
se bem expresso em moeda. Ele é resultado da
importante e que tornará a lei válida para a maioria
interação entre os consumidores e as empresas.
esmagadora dos casos. Essa hipótese é denominada de
Hipótese de Ceteris Paribus.
Hoje, buscamos analisar, com detalhes, como acon- A expressão em latim ceteris paribus significa
tece a formação de preços em uma economia e alguns algo como “todos os demais fatores relevantes perma-
dos problemas econômicos mais importantes, além necem inalterados”, ou seja, agora, com a adição dessa
de estudar os fatores que influenciam na escolha da hipótese, a lei da demanda torna-se válida, e afirma
quantidade que será demandada e que será ofertada que à medida que o preço de um bem aumenta,
de um determinado bem, assim como definir o equilí- os consumidores estarão dispostos a consumi-lo
brio de mercado. Para começar, vamos compreender em menor quantidade, considerando que todas
o conceito de microeconomia? as demais variáveis que podem influenciar o seu
comportamento se mantêm constantes, ou seja, na
CONCEITOS BÁSICOS hipótese de Ceteris Paribus.
A relação negativa entre quantidade e preço para o
Diferentemente da macroeconomia, que estuda consumidor ocorre porque, em alguns casos, a renda
o agregado, a microeconomia é o ramo da economia dos indivíduos torna-se insuficiente para adquirir o
que estuda o comportamento dos agentes econômi- produto e, em outros, os indivíduos optam por algum
cos, ou seja, qualquer indivíduo ou entidade que substituto próximo mais barato.
desempenha um papel na economia. A microecono- Lembre-se: a lei da demanda afirma que, com
mia estuda como e por que consumidores, empresas, tudo o mais mantido constante, a quantidade
governo, trabalhadores, investidores, entre outros, demandada de um bem diminui quando o preço dele
tomam decisões econômicas, ou fazem escolhas. aumenta. 261
Como exemplo desse fato, imagine que os preços Assim, depois dos ajustes, teremos a seguinte
dos rodízios de sushi aumentem. Com essa elevação, estrutura:
você levará em conta a possibilidade de ir, por exem-
plo, a um rodízio de carnes ou massas. Nesse caso, Preço
($ por unidade
você reduzirá a quantidade demandada de sushi por-
P2
que estará trocando esse produto por carnes, um subs-
tituto que ficou, relativamente, mais barato (observe
que o uso do “relativamente” é importante, porque o
preço do rodízio de carnes, de fato, não diminuiu). P1
Outra possibilidade é que com o aumento do preço
do rodízio do sushi, você não poderá ir tantas vezes
ao restaurante, pois, já que o seu salário não aumen-
tou igualmente com o preço do rodízio, o seu poder de
compra ficou reduzido.
Em termos matemáticos, a lei da demanda vira
uma função, a função demanda, que informa a quan- Q0 Q1 Q
tidade de um bem que será procurada para cada nível
de preço. Analiticamente: Finalmente, para desenhar a curva de demanda,
basta ligar os pontos no plano cartesiano. Vejamos:
Função demanda: QD = D ( P )
Preço D
($ por unidade
A função demanda pode ser representada, gra-
P2
ficamente, através da curva de demanda, também
conhecida unicamente como demanda. No gráfico
cartesiano temos que o preço se encontra no eixo ver-
tical e a quantidade demandada, no eixo horizontal1. P1
Para compreender como o gráfico funciona, vamos
analisar a sua construção. Ainda analisando a gaso-
lina que ficou mais cara, vamos colocar no gráfico a
situação inicial. Nesse caso, você consumia a quanti-
dade Q1 ao preço P1.
Q0 Q1 Q
Preço
($ por unidade Figura 1 — Curva de demanda

A curva de demanda representa a relação entre pre-


ço de um bem e a quantidade demandada desse bem.
Essa curva representa o comportamento do agen-
P1 te econômico chamado consumidor. Para preços mais
altos, as pessoas consumirão menos do bem, pois os
bens substitutos ficarão relativamente mais baratos,
levando o consumidor a adquirir mais desses bens.
O aumento dos preços também reduz a renda real
(poder de compra) do consumidor, o que gera uma
retração no consumo do bem.
Q1 Q Antes de continuar, gostaríamos de fazer três
Ainda seguindo a análise anterior, imagine agora observações:
que o preço aumente. O que acontecerá? Você reduzi-
z O termo “relativamente” muitas vezes acaba
rá a quantidade demandada! Analiticamente:
sendo utilizado de forma incorreta. Nesse caso, o
“relativamente” pode ser mais bem compreendido
Preço
($ por unidade
com um exemplo: imagine que você compra sem-
pre a mesma marca de, digamos, margarina. Um
belo dia você chega no supermercado e observa
que a margarina aumentou de preço! Não é que
ela ficou, necessariamente, mais cara que a melhor
P1 margarina que existe no mercado, mas ela ficou,
simplesmente, mais cara. Em uma situação como
essa, você pode pensar: “Ah, por esse preço, eu
vou levar a margarina de marca Y. Ela é mais cara,
mas para pagar mais pela margarina que eu vinha
consumindo, não vale a pena.” Já aconteceu isso
com você? Se sim, quando esse fato ocorre, é jus-
Q1 Q tamente o funcionamento mental da nossa curva
de demanda!
1 Observe aqui que, diferentemente do que ocorre em um gráfico na matemática em que a variável dependente (no nosso caso, quantidade)
fica no eixo vertical e a variável independente (no caso, preço) fica no eixo horizontal, na economia, ocorre o inverso. Isso é feito apenas para
262 simplificar o raciocínio.
z Embora a curva de demanda pareça muito mais É importante mencionar que toda vez que houver
uma reta, na verdade ela possuirá um formato que uma variação no preço do bem em análise, haverá um
os economistas chamam de convexo. Contudo, as deslocamento ao longo da curva de demanda.
bancas, para simplificar, consideram como uma Além disso, em economia, a maior parte dos bens
reta. Como, para fins mais simples, a curva e a reta obedece a lei da demanda, ou seja, para esses bens,
estabelecem a relação negativa entre quantidade quando o preço aumenta, a quantidade diminui e
de preço, vamos utilizar a reta por ser mais sim- vice-versa. Há uma simples e notória relação entre
ples de desenhar, ok? quantidade e preços sob a hipótese de ceteris paribus.
z Por fim, quando falamos em variação do preço, os Contudo, essa relação não é válida para todos os bens.
efeitos dessa variação incidirão sobre a quanti- Existe um tipo de bem, que analisaremos agora, que
dade demandada (por exemplo, Q1 e Q2), não sobre não obedece a lei da demanda. Esse bem se chama de
a demanda ou curva de demanda. Ou seja, quan- bem de Giffen.
do o preço varia, nós teremos um movimento Embora seja bem difícil encontrar um bem de Gif-
ao longo da curva de demanda (como mostrado fen em uma economia, as bancas adoram esse tema
pela setinha no gráfico acima) e não da curva de porque ele é uma exceção da regra básica. Antes de
demanda. A compreensão disso é fundamental e definir o que ele seja, vejamos uma historinha bastan-
nós vamos voltar a esse ponto mais algumas vezes! te recorrente nos livros de economia.
Os bens de Giffen foram encontrados inicialmen-
A curva de demanda pode representar as escolhas te na Inglaterra da Revolução Industrial. Durante
de apenas um dos consumidores de uma economia, esse tempo, a batata inglesa era um dos bens que
ou de todos de uma forma agregada. No primeiro fazia parte do menu básico do proletariado. O econo-
caso temos a demanda individual, que graficamente mista Giffen, analisando o comportamento da classe
representa-se pela curva de demanda individual, e no trabalhadora, observou que os consumidores não se
segundo caso tem-se a curva de demanda de merca- comportavam da forma esperada quando havia uma
do, representada na figura a seguir. variação no preço desse bem.
Pode-se, facilmente, obter a curva de demanda de Assim, todas as vezes que os preços caiam, as pes-
mercado somando-se todas as quantidades demanda- soas passavam a demandar (ou procurar) menos o
das por cada consumidor para cada preço. Na figura bem e quando o preço aumentava, os consumidores
abaixo, a demanda agregada de um bem foi calculada passavam a demandar mais do bem.
para apenas três consumidores. Quando o preço de Nesse caso, diferentemente do que acontece com
mercado for igual a R$ 4, o consumidor A não adquire um bem ordinário, a curva de demanda de um bem de
o bem (note que a quantidade é zero para a DA quando Giffen possui inclinação positiva. É isso mesmo, tudo o
o preço é R$ 4,00), e os consumidores B e C compram, que vale para a maioria quase absoluta dos bens não
digamos, 6 e 10 unidades, respectivamente. vale para o bem de Giffen!
Infelizmente não existem muitos outros exemplos
Preço 5 sobre tipos de bens de Giffen. A maioria esmagadora
dos livros traz apenas a noção da batata inglesa na
4 Inglaterra na época da revolução industrial. Assim,

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


hoje, por exemplo, as batatas não são mais considera-
3 das bens de Giffen.
Demanda de mercado
2 Deslocamento da Curva de Demanda

1 A curva de demanda relaciona a procura por um


DA DB DC
determinado bem a seu preço. De forma mais espe-
0 5 10 15 20 25 30 Quantidade cífica, mostra que a demanda é menor para preços
Figura 2 — Curva de demanda de mercado maiores. Assim, nós vimos que é possível mostrar que
a quantidade demandada de um produto depende do
A demanda de mercado é representada como a preço que será cobrado por ele. Mas o preço não é o
soma das demandas individuais dos consumidores. único fator que determina a quantidade demandada
Assim, a curva de demanda de mercado repre- de um bem.
senta o somatório das demandas individuais. Para Fatores como a existência de substitutos próximos
o preço de R$ 4,00, o consumidor A não demandará e o preço que é cobrado por eles também influenciam
desse bem. Como os consumidores B e C demandarão, a demanda de um bem. Por exemplo, a manteiga é
respectivamente, 6 e 10 unidades, teremos que, ao uma substituta próxima para a margarina; sendo
preço de R$ 4,00, a demanda de mercado será de 16 assim, um aumento no preço da manteiga pode indu-
unidades. zir a troca desse bem por margarina, o que aumenta o
consumo desse último bem.
Os fatores listados anteriormente modificam a
Importante! quantidade consumida, sem que haja uma mudança
nos preços. Em outras palavras, a quantidade deman-
A demanda de mercado é a curva que relacio- dada é maior ou menor para um mesmo preço ante-
na cada um dos preços possíveis à quantidade rior. Vamos analisar isso, intuitivamente?
demandada por todos os consumidores. Imagine que a curva de demanda abaixo represen-
te a sua demanda por cinema:

263
Preço D Grosso modo, a renda e essas três variáveis são as
($ por unidade) mais frequentes de serem pedidas nas provas como
P2 determinantes de alteração na curva de demanda.
Lógico, podem existir outras, mas essas seriam os qua-
tro maiores grupos.
P1 A Para que fique simples a compreensão, como a
demanda representa o consumidor, tudo que alterar
a vida desse agente econômico alterará a curva de
demanda dele. Simples assim!
Antes de seguirmos adiante, vamos esclarecer os
três outros fatores e detalhar como a renda afeta a
Q0 Q1 Q
vida do consumidor.
Inicialmente, vamos analisar os gostos ou as pre-
Inicialmente, você está no ponto (A). Digamos, ferências. Comecemos com uma pergunta bastante
por hipótese, que você vai ao cinema duas vezes por reflexiva: nós nos vestimos hoje da mesma forma que
mês (Q1 = 2) e paga R$ 17,00 (P1 = 17). Imagine agora nos vestíamos há 10 anos? Possivelmente, não. Não,
que você ganhou a última edição de um reality show. porque não cabe, não porque a moda já passou, não
Com essa nova renda, você irá mais vezes ou menos porque você se mudou para um lugar mais frio etc.
vezes ao cinema? Possivelmente, mais vezes. Nesse Então, o nosso padrão de consumo é alterado não ape-
caso, podemos dizer que você irá mais vezes ao cine- nas porque o preço mudou, mas também porque nos-
ma pagando o mesmo preço pelo ticket ou que, para a sas necessidades e desejos também mudaram! Assim,
mesma quantidade de vezes que você vai ao cinema, alterações nos gostos e nas preferências modificam
você poderia pagar mais por saída. por demais o nosso padrão de consumo.
Um segundo fator que altera a demanda de um
Preço D
($ por unidade) determinado consumidor são as suas expectativas
sobre o futuro. Por exemplo, imagine agora que você
P2
sabe que amanhã vai chover, será que você não mudará
o seu consumo de guarda-chuvas hoje? Possivelmente,
A sim. Nesse caso, a sua demanda mudou (ela será deslo-
P1
cada) não porque está chovendo agora, mas porque a
sua crença é que chova no dia seguinte. A crença sobre o
futuro é o que os economistas chamam de expectativas.
Existe uma outra variável que afeta o padrão de
consumo de uma pessoa. Esse fator se chama preço
dos bens relacionados. Vamos analisar a demanda
Q 0
Q 1
Q de uma pessoa por açúcar quando os preços de dois
bens relacionados a ele são alterados separadamente.
Nos dois casos, é possível notar que haverá um Imagine, inicialmente, que o preço do café aumen-
movimento para fora da curva de demanda original. te. Imagine ainda que essa pessoa só compre açúcar
Quando isso acontece, dizemos que há um desloca- para tomar café e só toma café adoçado. Nesse caso,
mento paralelo da curva. Esse deslocamento é mos- como o preço do café aumentou, essa pessoa compra-
trado na figura abaixo (onde D1 é a demanda original rá menos café, certo? Assim, como ela só toma café
e D2 é a demanda final): com açúcar, comprará menos açúcar também, não é
isso? Logo, o aumento do preço do café levará a uma
Preço redução na demanda pelo açúcar! Mais uma vez, veja
que não falamos em variação do preço do açúcar.
P2 Vamos mais: imagine agora que não foi o preço do
café, mas o preço do adoçante que aumentou. Agora, com
o aumento do preço do adoçante, você passará a comprar
P1 mais açúcar, para poder compensar a falta do adoçante.
Atenção! Nesse ponto, vale uma consideração:
veja que nós faremos movimentos de forma sepa-
rada, ou seja, um fator variando de cada vez. Nada
de variar tudo na mesma hora, porque vira uma coi-
D2 sa incompreensível! Em economia, nós trabalhamos
D1 com o que se denomina de estática comparativa.
Quantidade
Nela, cada variável é alterada de forma isolada.
Q1 Q2 No caso acima, você deve ter notado uma coisa
bem interessante: quando o preço do café aumentou,
Ora, não falamos em variação de preço, mas de a demanda por açúcar diminuiu enquanto, quando o
uma outra variável que não preço. No caso acima, preço do adoçante aumentou, a demanda por açúcar
falamos de uma variação na renda do consumidor! também aumentou!
Logicamente, outras variáveis farão com que ocorra o A explicação é que o café e o açúcar, assim como o
mesmo movimento, são elas: feijão com arroz ou o queijo e a goiabada, são consu-
midos de forma conjunta, é o que se chama de bens
z gostos ou preferências; complementares. Já para o caso do açúcar e do ado-
z expectativas; çante, em regra, nós vamos consumir aquele que foi
264 z preço de bens relacionados. mais barato.
Nesse caso, os bens são denominados de bens Uma mudança na quantidade demandada, a qual-
substitutos! Essa classificação é absolutamente quer preço dado, é representada graficamente pelo
importante que você compreenda a matéria. movimento da curva de demanda original para uma
Então, se falou em variação do preço dos bens relacio- nova posição.
nados, só sabemos para onde vai a demanda se souber- Antes de passarmos a analisar a questão da empre-
mos qual a relação que existe entre os bens em análise: sa e da curva de oferta, gostaríamos de explicar um
se de substitutibilidade ou de complementaridade! ponto bastante frequente nas provas: os efeitos ren-
Para finalizar a lista de itens que deslocam a deman- da e substituição, oriundos da variação do preço,
da por alterar o comportamento do consumidor, vamos também denominado de efeito preço. Esse ponto é
falar com mais detalhe sobre uma variação da renda. bem importante porque permite-nos compreender
Pergunta simples: se você tirasse na loteria, você melhor o bem de Giffen.
consumiria mais de tudo? Possivelmente, você pensou Vimos que quando o preço aumenta a quantidade
que sim, mas eu te direi que não! E a explicação para demandada diminui. Explicando de forma mais téc-
isso é bem objetiva: nica, existe uma relação entre um aumento do preço
Se você tirasse na loteria, você certamente viaja- do bem, a troca por um substituto que ficou relativa-
ria mais vezes pela Europa ou compraria um carro mente mais barato e a perda do poder de compra pelo
melhor ou ainda iria a restaurantes mais caros. Con- consumidor. Assim, podemos dizer que o comporta-
tudo, com o aumento da sua renda, você vai utilizar mento do consumidor com relação ao preço decorre
menos ônibus ou comer menos carne de conserva! da atuação conjunta de dois efeitos: o efeito renda e o
Logo, o aumento da renda induz ao aumento no con- efeito substituição.
sumo de alguns bens e redução no consumo de outros. Vejamos como compreender esses efeitos: com o
Assim, quando consumo e renda variam no mes- aumento do preço, uma parte da redução da minha
mo sentido, dizemos que o bem é chamado de bem demanda por determinado bem quando o seu preço
normal. São os bens que, quando a renda aumenta, o aumenta pode ser explicada pelo fato de que haverá
consumo aumenta, e quando a renda diminui, o con- um estímulo para que eu busque alternativas para
sumo também diminui. Por outro lado, quando a ren- satisfazer minha necessidade pelo bem que teve o
da e o consumo variam em sentidos contrários, o bem aumento de preço, por exemplo. Assim, passarei a
é chamado de bem inferior. olhar de outra maneira os bens substitutos.
Graficamente, mudanças que promovem um cres- Imagine que, com o aumento do preço dos rodí-
cimento da demanda para um mesmo preço deslo- zios de sushi, você procurará ir mais vezes ao rodízio
cam a curva de demanda para a direita. Dentre essas de carnes ou massas, por exemplo. Nesse caso, para
mudanças estão: aumento nos preços de bens subs- o consumidor, as carnes e massas são substitutos do
titutos, redução do preço de bens complementares, sushi. Dizemos que rodízios de sushi, carnes e massas
crescimento da renda, alterações das preferências são substitutos no consumo.
que promovem o consumo. Uma forma bem simples de verificar o efeito subs-
Por outro lado, fatores que reduzem a deman- tituição é a seguinte: você está no supermercado e
da para um mesmo preço deslocam a curva para a observa que aquele bem que você costumava com-
esquerda, por exemplo: uma redução dos preços de prar mais barato está, agora, mais caro. Você olha o

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


bens substitutos, redução da renda ou alterações produto e pensa: “Por esse preço aqui, esse bem está
nas preferências que reduzem o consumo. muito caro para o que ele me traz. Prefiro comprar
A figura a seguir mostra exemplos de deslocamen- esse produto B, que é mais caro, mas pelos menos é
to da curva de demanda. Considerando a curva do melhor e a diferença nem é tão grande assim, mes-
meio (D2) como inicial, um aumento da demanda leva mo...”. Já aconteceu isso com você? Porque comigo, já.
a curva para uma posição como a ocupada pela linha O outro efeito que explica a redução do consumo
superior (D3) e uma redução da demanda leva a curva de um bem é o efeito renda. Esse efeito decorre da
a ocupar uma posição como a curva inferior (D1). perda de poder aquisitivo causada pelo aumento de
Para compreender esse raciocínio é bastante sim- preço de um bem que faz parte da cesta de compras
ples: para um preço de R$ 1,00, se nossa renda aumen- do consumidor.
tar, consumiremos mais, para qualquer nível de Para compreender melhor o efeito-renda, vale
preços, ou seja, ao invés de consumir Q2, passaremos aqui um exemplozinho matemático. Digamos que eu
a consumir Q3, dado que o bem é normal. Raciocínio gaste, semanalmente, R$ 63,00 em rodízios de sushi
inverso vale para a linha D1 e a quantidade de Q1. (eu vou três vezes na semana e pago, em cada uma
delas, R$ 21,00). Considere que a minha renda sema-
Preço nal é de R$ 200,00. Digamos agora que o preço do rodí-
zio de sushi dobre, passando a ser R$ 42,00.
Ao novo preço do rodízio de sushi, se eu, como
consumidor, quisesse adquirir a mesma quantidade
de sushi que eu demandava antes do aumento, teria
que gastar o dobro de antes, ou seja, R$ 126,00, restan-
$1,00 do agora R$ 74,00 para os outros bens e não R$ 137,00
como anteriormente, o que, consequentemente, me
forçará a deixar de comprar vários itens. Dessa for-
D3 ma, o aumento do preço do sushi faz com que haja um
D2 efeito de “empobrecimento” do consumidor.
D1 Um fator complicador ainda no que diz respeito ao
efeito renda é que ele depende de cada tipo de bem:
Quantidade normal, inferior ou de Giffen.
Q1 Q2 Q3
Figura 3 — Deslocamentos da curva de demanda 265
O quadro à frente apresenta uma explicação para como você precisará compreender o efeito renda, e assim, o
efeito preço, para cada tipo de bem. Vamos analisar?
Antes de começar, algumas explicações básicas:
O efeito preço, como o próprio nome diz, fala sobre a variação de preços. No presente caso, vamos considerar
sempre um aumento de preços para poder ver a diferença entre os bens.
Além disso, haverá nas tabelas os sinais de (+) ou (–) nos efeitos renda e substituição para que você compreen-
da se houve um aumento ou uma diminuição da quantidade demandada.
Vejamos:

z Imagine, primeiramente, que o preço das laranjas aumente. Nesse caso, você vai trocar laranja por um bem
que ficou relativamente mais barato, digamos, a maçã (veja que o preço da maçã aqui pouco importa). Assim,
o efeito substituição será negativo, já que você reduzirá a quantidade demanda de laranja. Isso é mostrado no
quadro a seguir.

Imagine agora o seguinte: com um aumento do preço da laranja, você ficou mais rico ou mais pobre? Veja, com
um aumento de preço, seu poder de compra diminuiu, já que você agora precisa de mais dinheiro para comprar
a mesma quantidade de bens. Logo, para simplificar, podemos concluir que você ficou mais pobre.
Como a laranja é, para a maioria das pessoas, um bem normal, já que você ficou mais pobre, passará a com-
prar menos laranja. Deste modo, colocaremos um (–) no efeito renda para a laranja.

EFEITO PREÇO EFEITO SUBSTITUIÇÃO EFEITO RENDA TIPO DE BEM

Aumento no preço das laranjas


(–) (–) Normal
(+)

O que podemos dizer sobre os efeitos renda e substituição para o caso do bem normal? Podemos dizer que
esses efeitos se reforçam! Se falou em bem normal, já sabemos que os dois efeitos atuam na mesma direção, ou
seja, quando o preço aumenta, por exemplo, haverá uma redução da quantidade demandada do bem normal
porque houve uma redução por parte do efeito substituição e outra por parte do efeito renda!
Vejamos outra situação, dessa vez com o preço da sardinha enlatada:

z Digamos que o preço da sardinha enlatada aumente. Assim como no caso anterior, você demandará menos
sardinha porque comprará, por exemplo, carne em conserva. Assim, podemos dizer que também para esse
bem, o efeito substituição também será negativo, já que um aumento do preço induz as pessoas a demanda-
rem menos de determinado bem, substituindo-o.

Agora vamos pensar no poder de compra do consumidor: assim como no caso da laranja, com um aumento do
preço, haverá uma redução do poder de comprar do consumidor, certo?
Mas em que a sardinha enlatada é diferente da laranja? Em uma simples explicação: para a maior parte das
pessoas, a sardinha enlatada é um bem inferior! Ou seja, quando a renda diminui, as pessoas usualmente con-
somem mais do bem!
Veja, estamos falando do poder de compra dos consumidores! Logo, como o consumidor está mais pobre, ele
tenderá a consumir mais de determinado bem. Assim, o efeito renda será positivo, como mostrado no quadro
abaixo:

EFEITO PREÇO EFEITO SUBSTITUIÇÃO EFEITO RENDA TIPO DE BEM

Aumento no preço da sardinha


(–) (+) Inferior
enlatada (+)

Nesse caso, para os bens inferiores usuais, embora a demanda aumente por causa do efeito renda, o efeito
substituição se sobrepõe ao efeito renda, logo, quando o preço de determinado bem aumenta, a demanda é redu-
zida (embora diminua menos que para o caso dos bens normais!).
Resumindo: para o caso dos bens inferiores, diremos que os efeitos renda e substituição não se reforçam,
eles vão caminhando no sentido contrário, prevalecendo o efeito substituição!
Por fim, vamos lembrar do caso das batatas inglesas na Inglaterra da Revolução Industrial: os bens de Giffen:

z Imagine agora que houve um aumento de preços para as nossas batatas inglesas. Nesse caso, assim como nos
dois casos anteriores, as pessoas trocarão o bem que ficou relativamente mais caro por outros que ficaram
relativamente mais baratos, correto? Desta forma, assim como nos casos anteriores, o efeito substituição das
batatas inglesas possuirá um sinal contrário ao efeito preço.

De forma exatamente igual ao que acontece com os bens inferiores, com o aumento dos preços, haverá uma
redução do poder de compra dos consumidores. Assim, como o bem de Giffen é um tipo de bem inferior, haverá
um aumento da quantidade demandada das batatas. Dessa forma, o efeito renda dos bens de Giffen também
será positivo.
266
Ora, então, em que os bens de Giffen se diferem dos bens inferiores?
A diferença está na intensidade dos efeitos renda e substituição. Para o caso dos bens inferiores, prevalecerá
o efeito substituição. Já no caso dos bens de Giffen, prevalece o efeito renda. Assim, quando o preço aumenta,
a quantidade demandada também aumentará! O quadro abaixo mostra esse efeito.

EFEITO PREÇO EFEITO SUBSTITUIÇÃO EFEITO RENDA TIPO DE BEM

Aumento no preço das batatas inglesas na


(–) (+) Bem de Giffen
Inglaterra durante a Revolução Industrial (+)

O quadro a seguir mostra um resumo dos três tipos de bens, vejamos:

EFEITO PREÇO EFEITO SUBSTITUIÇÃO EFEITO RENDA TIPO DE BEM

Aumento no preço das laranjas (+) (–) (–) Normal

Aumento no preço da sardinha enlatada (+) (–) (+) Inferior

Aumento no preço das batatas inglesas na Ingla-


(–) (+) Bem de Giffen
terra durante a revolução industrial (+)

Para que não restem dúvidas, vamos ver um exemplo numérico para diferenciar os bens inferiores e de Giffen:
Imagine que o preço da sardinha enlatada aumente. Nesse caso, do lado do efeito substituição, haverá uma
redução de, digamos, 5 na quantidade demandada. Por outro lado, haverá um aumento de 3 devido ao efeito
renda positivo. Assim, o efeito líquido será de –2. Logo, um aumento no preço leva a uma redução na quantidade
demandada do bem! Compreendido agora?
Vamos ver agora o caso das batatas: um aumento de preços levará a uma redução na quantidade demandada
devido ao efeito substituição. Assim, digamos que a redução seja de 3. O efeito renda, por sua vez, foi positivo e de
5. Logo, para o caso dos bens de Giffen, com uma variação positiva do preço do bem, haverá, também, uma varia-
ção positiva na quantidade demandada. Dessa forma, o bem de Giffen será o único tipo de bem a não respeitar a
lei da demanda, já que possui uma inclinação positiva.
Dica: uma coisa que você deve observar sempre no que diz respeito ao efeito preço e ao efeito substituição é
que eles sempre possuirão sinais contrários, para quaisquer tipos de bens! O sinal do efeito renda dependerá do
tipo de bem. Para os bens normais, ele será o mesmo do efeito substituição. Para os bens inferiores, ele será con-
trário, mas menor. No caso dos bens de Giffen, ele também será contrário e ainda maior que o efeito substituição.
Resumindo: quando se verifica um aumento no preço de um bem ou serviço, isso tem como consequência
uma redução na quantidade demandada, que corresponde ao efeito total. Este efeito total resulta da soma do
efeito substituição e do efeito renda.

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


Lei da Oferta

Da mesma forma que a lei da demanda estabelece um padrão de comportamento do consumidor perante o
preço de um bem, a lei da oferta também analisa o comportamento, agora da empresa, quando se depara com um
diferente nível de preço.
De acordo com a lei da oferta, um crescimento no preço de um bem aumenta o incentivo para os produtores
ofertá-lo no mercado, se tudo o mais que interfere no comportamento da empresa se mantém constante (sob a
hipótese de ceteris paribus).
Para se observar a veracidade desse fato, basta considerar o que ocorreu na economia brasileira no início do
século XX, quando o país era o maior produtor mundial de café: com o aumento dos preços dessa mercadoria, os
cafeicultores da época possuíam incentivos para produzir ainda mais, elevando o número de hectares destinados
à produção dessa cultura.
Assim como a lei da demanda estabelece a função de demanda, a lei da oferta também define a função oferta
que informa que quantidade será produzida para cada preço:

Função Oferta: QS = S ( P )

A curva de oferta representa essa relação positiva entre preço e quantidade ofertada.
Para compreender a formulação da curva de oferta, vejamos o exemplo a seguir:
No Brasil, Pernambuco é o maior produtor de manga do país. Essas mangas são diretamente enviadas para
a Europa e lá concorrem com as mangas de Israel. Imagine que, por alguma razão, Israel entre em guerra com a
Palestina.
Como nós vimos pela curva de possibilidade de produção, Israel não poderá continuar produzindo a mesma
quantidade de mangas que usualmente fazia. Logo, haverá uma redução na quantidade de mangas que vai para
a Europa. Com essa quantidade menor no mercado europeu, haverá um aumento de preços. Assim, os produto-
res aumentarão a produção em Pernambuco. Logo, quando o preço (por alguma razão) aumenta, a quantidade
ofertada também aumentará!
267
Graficamente, temos o seguinte: Felizmente, para o caso da oferta das empresas,
O ponto A no gráfico mostra a quantidade inicial- nós não teremos exceções como o caso dos bens de
mente ofertada de mangas por Pernambuco no mer- Giffen para o consumidor, o que torna a análise de
cado europeu: oferta bem mais simples que a análise de demanda
inicialmente observada.
Preço
($ por unidade) Deslocamento da Curva de Oferta no Mercado

Assim como existem fatores que deslocam a curva


de demanda, existirão fatores que deslocarão a curva
de oferta.
Assim como para demanda, a quantidade ofertada
P1 de um determinado bem não depende exclusivamente
A
do seu preço. Mas, assim como no caso da demanda, não
é apenas o preço que altera a quantidade ofertada. Exis-
tirão outros fatores que alterarão a oferta das empresas.
Por exemplo, uma questão essencial para uma
Q1 Quantidade empresa decidir a quantidade que ofertará no mer-
cado está relacionada aos seus custos de produção.
Em seguida, haverá um aumento no preço da man- Assim, se uma empresa consegue reduzir seus custos
ga no mercado Europeu (mostrado pela seta cinza). de produção, ela pode disponibilizar no mercado uma
Isso levará Pernambuco a aumentar a sua produção mesma quantidade com um menor preço.
(mostrado pela seta preta): Contudo, não são apenas os custos que alteram a
oferta das empresas. Outros fatores também gerarão
Preço o mesmo efeito. Abaixo, são mostrados os outros fato-
($ por unidade)
res que influenciam a oferta das empresas:

z tecnologia;
z expectativas.
P2
Assim, tecnologia, custos e expectativas são os
P1 três maiores grupos de fatores que influenciam a ofer-
A
ta. Graficamente, representa-se essa situação através
do deslocamento da curva de oferta para baixo e para a
direita, quando há um aumento da oferta (via redução
de custos, ou avanços tecnológicos, por exemplo). Caso
Q1 Q2 Quantidade os custos de produção aumentem ou exista uma retra-
ção tecnológica, a curva de oferta se desloca para cima.
A curva de oferta representa a relação entre o No que diz respeito aos custos de produção de uma
preço de um bem e a quantidade ofertada desse bem. empresa, esses podem crescer devido a um aumento
Vejamos sua representação gráfica: no preço de um determinado insumo ou fator de pro-
dução, ou a um aumento nas taxas e impostos cobra-
Preço dos. Por outro lado, os custos podem se reduzir devido
($ por unidade) S
a uma diminuição no preço dos insumos ou fatores de
produção, redução dos impostos e criação ou aumento
de subsídios. É possível, ainda, que os custos se reduzam
devido uma alteração na forma de se produzir o bem,
P2 em outras palavras, devido a uma evolução tecnológica.
Os deslocamentos da curva de oferta são apresen-
P1 tados na figura abaixo. Considerando a curva S2 como
a curva de oferta inicial, a curva S3 representará um
aumento na oferta, enquanto a curva S1 representará
uma retração.

Q1 Q2 Quantidade Preço
S1 S2 S3

Figura 4 — Curva de Oferta

A curva de oferta representa o comportamento


das empresas. Assim, aumentos nos preços levarão às
P1
empresas a oferecer mais produtos no mercado, mos-
trando, desta forma, uma relação direta entre preços
e quantidades.
Vale reforçar aqui que, assim como no caso da
demanda, aumentos nos preços do bem em ques-
tão vão levar a movimentos ao longo da curva de
oferta.
Q1 Q2 Q3 Quantidade

Figura 5 — Deslocamentos da curva de oferta


268
Uma mudança na quantidade ofertada, a qualquer preço dado, é representada graficamente pelo movimento da
curva de oferta original para uma nova posição.
Anteriormente foi exposto que haverá o deslocamento da curva de oferta para a direita e para baixo quando
houvesse um aumento da quantidade ofertada. Para facilitar a compreensão, façamos uma explicação simples:
Suponha que haja um avanço tecnológico em uma determinada empresa. Nesse caso, ela poderá produzir
mais unidades a um mesmo nível de preço ou ainda produzir a mesma quantidade cobrando um preço bem
menor. Vejamos o esquema gráfico:

Preço
S1 S2 S3

P1

Q1 Q2 Q3 Quantidade

É possível notar que, uma vez compreendido todo o raciocínio sobre o comportamento do consumidor, fica mui-
to mais fácil entender o comportamento do empresário, porque os comportamentos são contrários.
Quando a questão falar em aumento da demanda, você deverá lembrar que quando a demanda aumenta,
ela vai para a direita e para cima. No caso de um aumento da oferta, a curva irá para a direita e para baixo.

EQUILÍBRIO DE MERCADO

O local físico ou não onde existe a interação de empresas e consumidores se chama mercado. Considera-se
que um mercado está em equilíbrio quando a quantidade demandada de um produto se iguala à quantidade ofer-
tada, ou seja, quando a economia encontra o seu ponto de equilíbrio.
Como foi visto acima, pelas equações da demanda e da oferta, a quantidade demandada e a ofertada de um
bem dependem de seu preço. Então, há um preço para o qual a quantidade de oferta se iguala à de demanda; esse
é chamado de preço de equilíbrio, e a quantidade associada é a quantidade de equilíbrio.
Graficamente, nós temos um equilíbrio de mercado (ou o ponto de equilíbrio) quando há o cruzamento entre
a curva de oferta e a curva de demanda de determinado bem.

Preço
S
($ por unidade)

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


P0 Ponto de
equilíbrio

Q0 Quantidade

Figura 6 — Equilíbrio de mercado

O equilíbrio econômico de mercado é um resultado quando a quantidade ofertada é igual à quantidade deman-
dada, considerando o número de produtores como dado.
O equilíbrio de mercado é uma situação em que, dado um determinado nível de preços, a quantidade demandada
é idêntica à quantidade ofertada. Nessa situação, não existem sobras ou excessos de produtos. Além disso, o equilíbrio
de mercado é estável, ou seja, se não existir mudanças no comportamento do consumidor e/ou do produtor, esse equi-
líbrio não será alterado.
O preço de equilíbrio é determinado igualando as funções demanda e oferta — ou seja, igualando as quanti-
dades. Resolvendo essa equação, encontra-se o preço de equilíbrio. Por exemplo, digamos que a função demanda
de um bem seja dada por:

QD 1000 − 50 P
=

E que a função oferta seja dada por:


Q
=S 200 + 30 P
No equilíbrio a quantidade demandada é igual à quantidade ofertada:
QS = QD 269
200 + 30 P = 1000 − 50 P que podem aumentar um pouco o preço e a quanti-
dade produzida, e no caso de um excesso de oferta
30 P + 50 P = 1000 − 200 serão obrigados a fazer o oposto. Essa confiança no
livre ajustamento do mercado recebe o nome de Lei
80 P = 800 da Mão Invisível (formulada inicialmente por Adam
800 Smith).
P
= = 10 Observe que, até aqui, consideramos que o ponto
80
de equilíbrio não se altera. E isso é verdade, se nenhu-
Então, o preço de equilíbrio nesse mercado é igual ma variável que afeta a vida da empresa ou a vida do
a 10. Para determinarmos a quantidade de equilíbrio, consumidor for alterada, esse ponto tende a se perpe-
basta substituirmos esse preço na função demanda ou tuar indefinidamente.
na função oferta (lembre-se de que o resultado deve A questão é que os fatores que afetam a vida do
ser igual para as duas, já que a quantidade deve ser consumidor e/ou do produtor não são imutáveis. Para
a mesma): compreender o que acontece nesses casos, precisamos
QS = 200 + 30.10 = 200 + 300 = 500 compreender a dinâmica do mercado.
QD = 1000 − 50.10 = 1000 − 500 = 500
DINÂMICA DE MERCADO
A quantidade de equilíbrio é igual a 500.
Caso o preço que vigora no mercado seja maior que Como vimos, alguns fatores podem modificar a
o preço de equilíbrio, a quantidade ofertada supera- quantidade demandada ou ofertada de um bem para
ria a quantidade demandada, pois com o aumento de um mesmo nível de preço. Caso isso ocorra, observa-
preço existiria uma redução na quantidade demanda e -se uma mudança no equilíbrio, havendo um ajusta-
um aumento da quantidade ofertada; assim, o merca- mento tanto na quantidade, como no nível de preços,
do apresentaria um excesso de oferta (ou escassez de isso porque o antigo equilíbrio passa a ser uma situa-
demanda). Essa situação é mostrada na figura a seguir. ção de excesso de demanda ou de oferta.
Caso contrário, se o preço de mercado for inferior Para que você compreenda melhor, vamos anali-
ao preço de equilíbrio, então a quantidade demandada sar um exemplo:
será superior àquela ofertada pelas firmas, caracteri- Considere que, no gráfico a seguir, a economia está
zando um excesso de demanda (ou escassez de oferta). no seu equilíbrio inicial no ponto A, mostrado abaixo.
Suponha que, por alguma razão (seja aumento da ren-
Preço da, seja alteração dos gostos etc.) a demanda aumente
S
($ por unidade) Excesso de (deslocando a curva de demanda para direita, para
oferta
uma posição como a curva tracejada); com tudo o
P1 mais constante, teremos uma demanda maior que
oferta, como mostrado pelo ponto B.
P0 Como é possível observar, haverá um excesso de
demanda ou uma escassez de oferta. A pergunta que
se faz é: como atender a essa nova demanda? Ela só
poderá ser satisfeita se houver um aumento dos pre-
ços! É como se a empresa estivesse dizendo: querem
D
consumir mais, terão que pagar mais por isso!
Como você sabe, à medida que o preço aumenta,
Q0 Quantidade os consumidores tendem a consumir menos. Isso é
mostrado pela setinha subindo ao longo da nova cur-
Figura 7 — Excesso de oferta va de demanda e da curva de oferta. O novo ponto de
equilíbrio é estabelecido no ponto C. Esse aumento de
Preço preços é necessário para que se incentive a produção
($ por unidade) S
de mais unidades por parte das firmas.

P D D’ S

P3

P3 C
P2
P1 B
Excesso A
de
D
demanda
Q1 Q3 Q2 Quantidade Excesso de demanda

Figura 8 — Excesso de demanda

Quando ocorre esse tipo de desequilíbrio, acredita-


-se que o próprio mercado tende a corrigi-lo. No caso
270 de um excesso de demanda, os produtores perceberão Figura 9 — Aumento da demanda
Nesse gráfico, ocorre um aumento da demanda, Apenas para recordar, verifique que, nesse caso,
decorrente, por exemplo, do aumento na renda dos para qualquer preço, os produtores produzirão quan-
consumidores. Conforme analisamos anteriormen- tidades maiores. A seta indica o sentido da mudança.
te, para qualquer preço os consumidores demanda- A demanda, por outro lado, permaneceu inalterada
rão quantidades maiores. A seta indica a direção da porque nenhum dos fatores que podem provocar o seu
mudança. A oferta, por outro lado, permaneceu inalte- deslocamento (como renda, preço de um bem relacio-
rada porque nenhum dos fatores que podem provocar nado, preferências ou expectativas) sofreu qualquer
seu deslocamento (tecnologia, custos ou expectativas) modificação. Veja como o aumento da oferta vai resul-
modificou-se. Assim, as consequências decorrentes do tar em um deslocamento na quantidade de equilíbrio,
aumento da demanda são o aumento da quantidade e que, no entanto, será acompanhado por uma queda no
no preço de equilíbrio. preço de equilíbrio.
Deste modo, se compararmos o Ponto de Equilíbrio Deste modo, se compararmos o Ponto de Equilíbrio
Final (decorrente do aumento de demanda) com o Ponto Final (decorrente do aumento da oferta) com o Ponto
de Equilíbrio Inicial (anterior à mudança), verificamos de Equilíbrio Inicial (anterior à mudança), verifica-
que a quantidade de equilíbrio final é maior que a mos que a quantidade de equilíbrio final é maior que
quantidade de equilíbrio inicial e o preço de equilíbrio a quantidade de equilíbrio inicial e o preço de equi-
final também é maior que o Preço de Equilíbrio Inicial. líbrio final é menor que o preço de equilíbrio inicial.
De forma contrária, caso ocorra uma redução da
demanda, se o preço for mantido inalterado, haverá Dica
um excesso de oferta, e, nesse caso, as firmas deseja-
riam vender mais do que a quantidade que a deman- Nas provas, normalmente, as bancas não cobram a
da desejaria comprar. Assim, para reequilibrar o dinâmica de movimento, ou seja, não se dá impor-
mercado, haveria uma redução na quantidade ofer- tância ao ponto B do gráfico que mostra o deslo-
tada e nos preços. camento da demanda. Assim, as bancas querem
No caso de um aumento na oferta (curva de oferta saber o que existia antes e o que passou a existir
se deslocando para baixo), ou seja, se as firmas podem depois. É o que os economistas chamam de Estáti-
produzir mais a um mesmo preço, então o equilíbrio ca Comparativa. Você tira uma “foto” da economia
inicial também se transformaria em uma situação de antes e outra depois e compara o que aconteceu.
excesso de oferta. A nova quantidade de equilíbrio
seria maior, refletindo a maior possibilidade de pro- INTERVENÇÃO DO GOVERNO NO MERCADO
dução das firmas, mas com menor preço — a deman-
da somente pode adquirir a quantidade adicional Perda de Peso Morto
caso o preço se reduza. Nessa situação, é como se os
consumidores dissessem: querem vender mais? Nós Estudaremos agora como o governo pode inter-
só compramos por um preço menor! ferir no resultado econômico de uma região. Até o
Por fim, se a oferta se contrai, ou seja, as empre- momento não vimos como a imposição de impostos,

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


sas precisam cobrar mais para produzir uma mesma subsídios, políticas de preço mínimo e máximo alte-
quantidade (ou, de modo equivalente, elas produzem ram a dinâmica do mercado quanto à determinação
menos a um mesmo preço), então o antigo equilíbrio da quantidade e do preço de equilíbrio.
se tornaria um excesso de demanda. Para que o novo Estudaremos o caso de um mercado em concor-
equilíbrio seja alcançado, o preço deve aumentar e a rência perfeita, mas os principais efeitos da ação do
quantidade se reduzir. governo não se modificam em diferentes estrutu-
A figura abaixo mostra a dinâmica de mercado ras de mercado.
quando há um aumento da oferta. O controle de preço em um mercado pode ser
um objetivo de um governo. Se o governo acredita
P S’ que os consumidores não serão beneficiados em um
P S
mercado devido a um preço muito elevado, ele pode
impor um valor máximo para o preço, em outras
palavras, um teto para o preço.
Se o valor para o preço teto estipulado pelo
governo for menor que o preço de equilíbrio
P1
de mercado, então os produtores ofertarão uma
P3 menor quantidade. Há um efeito positivo sobre o
excedente do consumidor devido ao menor preço,
mas também há um efeito negativo, pois a quanti-
dade do bem na economia será menor. O exceden-
te do produtor também se reduz devido tanto ao
menor preço, quanto à menor quantidade.
Q1 Q3 Q2 Q Como a quantidade de equilíbrio é menor quando
o preço máximo é inferior ao preço de equilíbrio de
Figura 10 — Aumento da oferta mercado, há uma redução no excedente do produtor
e do consumidor, ou seja, uma redução no excedente
Nesse gráfico, ocorre um aumento na oferta, total da economia. Essa redução no benefício agregado
decorrente, por exemplo, da descoberta de uma nova dos agentes é denominada de perda de peso morto.
tecnologia de produção. 271
A figura abaixo mostra as consequências de um O preço pago pelos consumidores é maior que o
estabelecimento de preços máximos. preço de equilíbrio e o preço recebido pelos ofer-
tantes é menor que o de equilíbrio, sendo a diferen-
Preço ça entre eles igual ao valor recebido pelo governo.
Assim, quando há um imposto, a quantidade de
S equilíbrio acaba sendo menor do que nos casos em
Peso morto
que ele não aparece. Como a quantidade é inferior,
A Excedente do consumidor:
C A+B
existirá perda de peso morto, e o excedente agregado
Excedente do produtor: na economia será menor. A figura 13 mostra esse fato.
P0 E
B D Peso morto: Preço
Pmax C+D
E
D PD S
Quantidade
Q1 Q0 Q2
PD
A B Receita do governo: A + D
Figura 11 — Política de preço máximo
P0
C Peso morto: B + C
t D
O preço máximo de um bem foi fixado em PMAX, Ps
Preço
abaixo do preço de mercado Po. O ganho dos consu-
midores é a diferença entre o retângulo B e o triângu-
lo C. A perda dos produtores é a soma do retângulo D
B e do triângulo D. Os triângulos C e D em conjunto
medem o peso morto devido ao controle dos preços. Quantidade
Por outro lado, se o governo pretende proteger os
produtores em um determinado mercado, ele pode Figura 13 — Impostos na concorrência perfeita
utilizar a política de preço mínimo. Em outras pala- PD é o preço (incluindo o imposto) pago pelos com-
vras, o governo impõe um piso para o valor do preço. pradores, PS é o preço que os vendedores recebem com
Assim como vimos para o caso de um valor máximo, lucro líquido. Aqui, a carga fiscal é repartida entre
se o valor de preço mínimo for maior que o valor de compradores e vendedores. Os compradores perdem A
mercado, então haverá uma redução da quantidade + B e os vendedores perdem C + D, sendo que o governo
de equilíbrio, desta vez, devido à menor demanda. arrecada A + D. O peso morto é de B + C.
Como a quantidade será inferior à de equilíbrio A depender da elasticidade da demanda com
competitivo, existirá perda de peso morto. A figura relação aos preços, a divisão do ônus do imposto
12 mostra esse tipo de intervenção. será diferente. No caso de demanda inelástica, uma
Preço proporção maior do imposto recai sobre os consumi-
S dores, e a maior parcela do imposto recairá sobre a
($ por unidade) Excesso de
oferta firma no caso da demanda elástica. Isso ocorre por-
P1 é o preço
MÍNIMO
P1 que quanto menor a sensibilidade da demanda com
relação aos preços, menor é a liberdade que as fir-
mas possuem para aumentar os preços.
Maior elasticidade de um bem

D O

Peso morto
Quantidade
P3

Figura 12 — Política de preço máximo


Impostos P2

Quando o preço mínimo é regulamentado é PMIN, P1


somente Q3 será demandado. Se Q3 é produzido, o
peso morto é dado pelos triângulos D e E. Ao preço
PMIN, os produtores gostariam de produzir mais que D
Q3. Fazendo isso, o peso morto será ainda maior.
Ainda falando do governo, esse agente, como os
Menor elasticidade de um bem
demais que atuam na economia, precisa obter renda
para poder realizar suas tarefas e atender parte das O
necessidades da sociedade. Uma parcela considerável Peso
morto
da receita do governo é originada de tributos, os quais
podem incidir na oferta ou consumo de um bem. P3
Os ônus dos impostos em um mercado acabam Impostos
sendo divididos entre consumidores e produtores. P2
Quando um imposto incide sobre o consumo de um P1
bem, a demanda acaba se reduzindo, o que significa
um menor lucro para os produtores.
Por outro lado, quando o imposto recai sobre os
ofertantes, eles tentam repassá-los aos consumidores D

272 via preços, e por isso a demanda também se reduz.


O governo, ao invés de implementar um tributo, Premissas Básicas do Consumidor
pode também criar um subsídio, como forma de pro-
mover a produção dentro de uma indústria. A análise z Preferências são completas (ou, axioma da comple-
dos efeitos do subsídio é semelhante à de um imposto. tude ou completeza): quando o consumidor é capaz
Contudo, nesse caso, o preço recebido pelos produ- de comparar e ordenar todas as cestas de merca-
tores é maior e o preço pago pelos demandantes é do. Ou seja, de acordo com suas preferências, o con-
menor que o preço de equilíbrio. Nesse caso, a quan- sumidor poderá dizer se prefere a cesta A ou B, se
tidade de equilíbrio será maior do que a de equilíbrio prefere B ou A, ou se é indiferente às duas. Observe
do mercado competitivo. A figura 14 mostra esse caso. ainda que, nesse caso, não se leva em consideração
o fator preço. Ou seja, uma pessoa poderia preferir
Preço Despesa do assistir ao U2 na Irlanda a assistir em São Paulo,
governo com porém compraria o segundo por ser mais barato.
subsídio (A)
Para o caso da premissa da completude, Dan-
te Alighieri, em A Divina Comédia, afirma que “um
PS homem livre, colocado no meio de dois alimentos equi-
A distantes e igualmente apetitosos, morrerá de fome
P0 S antes que crave os dentes num”. Nesse caso, em se tra-
PD tando de consumidor, a noção de bens indiferentes
e a ausência de forças que atuem sobre esse homem
(lembre que o homem é livre) faz com que ele não seja
D capaz de escolher;

z Preferências são transitivas: existe consistên-


Q0 Q1 Quantidade cia na ordenação das preferências. Exemplo: se
Figura 14 — Subsídio alguém prefere ler a assistir ao jogo de futebol e
prefere assistir ao jogo de futebol a dormir, pela
Um subsídio pode ser interpretado como um hipótese de transitividade, essa pessoa deverá pre-
imposto negativo. Tal como um imposto, o benefício ferir ler a dormir;
de um subsídio é dividido entre compradores e ven- z Preferências são monotônicas: mais de um bem
dedores, dependendo das elasticidades relativas da é melhor que menos. Nesse caso, considera-se
oferta e da demanda. que todas as mercadorias são “boas”. Esta premis-
sa é adotada por motivos didáticos: ela simplifica
a análise gráfica. Certamente, algumas mercado-
rias poderão ser indesejáveis, como, por exemplo,
TEORIA DO CONSUMIDOR aquelas que provocam poluição do ar, de tal forma
que os consumidores preferirão menos delas.
PREFERÊNCIAS DO CONSUMIDOR
Essas três premissas constituem a base da teoria

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


do consumidor. Apesar de não explicarem as prefe-
Considerando que existe uma imensa variedade
rências do consumidor, elas lhes conferem o atributo
de bens e serviços disponíveis no mercado e havendo
da racionalidade.
uma grande diversidade de gostos pessoais, como é
possível descrever as preferências do consumidor de CURVAS DE INDIFERENÇA
uma forma coerente? Por exemplo, o que faz alguém
ler em uma tarde de domingo chuvoso ao invés de Dentro do conteúdo analisado, torna-se importan-
assistir a um jogo de futebol? te ressaltar que, ao tratar de preferências do consu-
Ao analisar o comportamento do consumidor e midor, fala-se da possibilidade de fazer comparações
seus desejos, trata-se de sentimentos subjetivos. Toda- entre cestas de mercadorias (ou cestas/pacotes de
via, não existe uma maneira simples para medir esses mercado). Até agora, foram feitas apenas representa-
sentimentos. Pode-se considerar que esses sentimen- ções verbais. Contudo, também é possível representar
tos sejam originados das noções sociológicas, das ori- as preferências graficamente por meio do uso das cur-
gens familiares, dos anseios pessoais, etc. vas de indiferença. Essa curva apresenta uma linha
Uma boa maneira de enfrentar o problema é pen- de contorno que mostra todas as cestas de consu-
sar as preferências do consumidor, ou em como o con- mo que geram satisfação total para o indivíduo.
sumidor faz escolhas sem considerar a sua renda, em Assim, por definição, uma curva de indiferença
termos de comparações de cestas de mercado (ou de representa todas as combinações de cestas de merca-
mercadorias). Essas cestas - conjunto de uma ou mais do que fornecem o mesmo nível de satisfação a uma
mercadorias - são combinações de uma ou mais mer- pessoa. A figura abaixo mostra um exemplo de curva de
cadorias. Nos exemplos acima, para uma determinada indiferença em que o consumidor compara dois bens.
pessoa, uma cesta poderia ser composta por ler à tar- Note que não é possível comparar, graficamente,
de, outra por assistir ao futebol. todos os bens simultaneamente. Assim, para que seja
Para explicar o que faz o consumidor optar por possível uma representação gráfica das preferências
determinadas cestas, faz-se necessário compreender de um consumidor, só é possível comparar dois
a existência de algumas premissas básicas que expli- bens de cada vez. Uma única forma de representar
cam o comportamento do consumidor. Contudo, essas mais de dois bens em uma curva de indiferença bidi-
premissas são importantes, pois acredita-se que elas mensional é considerando um desses como um bem
são válidas para a maioria das pessoas na maior parte composto, ou seja, todos os demais bens juntos. Como
das situações. segue no exemplo: 273
Horas Cada curva de indiferença apresenta as cestas bási-
para o cas em relação às quais a pessoa se mostra indiferente.
futebol A figura 2 mostra três curvas de indiferença que fazem
parte de um mapa de indiferença. A curva U3 oferece o
mais alto grau de satisfação, pois possui cestas com maio-
res quantidades de ambos os bens, sendo seguida pelas
E
A curvas U1 e U2, que possui menores quantidades dos
dois bens em análise.
2
Horas
D
B para o
U1 futebol

3 Horas de leitura
E
Figura 1 Curva de indiferença A

2 C
A curva de indiferença representa as cestas de mer- U2
D
cado que trazem o mesmo grau de satisfação para o con- B
U1
sumidor. Ou seja, todos os pontos que estão sobre a curva U3
de indiferença de um consumidor são classificadas como 3 Horas de leitura
indiferentes para esse consumidor. No gráfico, o indiví-
duo pode ser indiferente entre três horas de leitura no Figura 2 Mapa de indiferença
domingo ou duas horas de futebol.
Para tanto, a fim de analisar detidamente as informa- Um mapa de indiferença é um conjunto de curvas
ções trazidas pelo gráfico, tem-se, inicialmente, as áreas de indiferença que descrevem as preferências de um
abaixo e acima da curva. Como os consumidores prefe- consumidor. Qualquer cesta de mercado sobre a cur-
rem sempre maiores quantidades de um bem a meno- va U2 (por exemplo, a cesta A) é preferível em relação
res, pode-se dizer que as cestas que estão acima da curva a qualquer cesta de mercado sobre U1 (por exemplo, a
de indiferença são preferidas às cestas que estão abaixo cesta C), que, por sua vez, é preferível a qualquer cesta
da curva. Por exemplo, a cesta A, que contém cinco horas sobre a curva U3 (por exemplo, a cesta B).
de leitura e quatro horas de futebol é preferida a cesta C, Para finalizar a análise detida das curvas de indife-
que possui três horas de leitura e duas horas de futebol. rença, note que elas não podem se interceptar! Para
Por sua vez, a cesta B, que possui 2 horas de leitura e 1 entender a razão, suponha que pudesse acontecer o
hora de futebol não é melhor que a cesta C, pois possui contrário, como mostrado na figura 3.
menos dois bens. No caso da cesta A e de todas as demais
que estão acima da curva de indiferença em análise, as Horas
cestas não são piores que as cestas que estão sobre a U1. para o
futebol
No caso da cesta B e de todas as que estão abaixo de U1,
essas serão classificadas como não melhores que as que
estão sobre U1.
Mas o que dizer sobre as cestas D e E? Observe que,
no caso dessas duas cestas, enquanto a cesta D possui
mais horas de futebol, a cesta E possui mais horas de C
leitura. Nesse caso, nada se pode afirmar sobre as duas D E U2
cestas: como elas não possuem bens em quantidades
U1
estritamente maiores, não podemos dizer, com certeza,
se elas são melhores ou não. Nesse caso, diremos que Horas de leitura
o consumidor será indiferente entre as cestas C, D e E,
assim elas se encontram sobre a curva de indiferença. Figura 3 Curvas de indiferença não podem se interceptar
Note que essa curva apresenta inclinação negativa,
da esquerda para a direita. Para que se possa compreen- Se as curvas de indiferença U1 e U2 se intercep-
der por que isso ocorre, suponhamos alternativamente tassem, uma das premissas da teoria do consumidor
que a curva de indiferença apresenta inclinação ascen- seria violada. De acordo com a figura, o consumidor
dente de B para A. Isso violaria a premissa de que uma seria indiferente à cesta C, D ou E. Entretanto, E é
quantidade maior de qualquer mercadoria é sempre preferível a D, pois E contém quantidades maiores de
melhor que uma quantidade menor, ou seja, isso fere ambas as mercadorias.
a premissa da monotonicidade. Uma vez que a cesta de Para comprovar que as curvas não podem se cru-
mercado A possui mais horas para a leitura e para o fute- zar, basta mover do ponto C, na curva de indiferença
bol, ela deverá ser preferida a B. U1 para o ponto D na mesma curva. De acordo com
Para descrever as preferências de um consumidor a curva U2, por sua vez, as cestas C e E são equiva-
em relação a todas as combinações de leitura e futebol, lentes; então, pela premissa da transitividade, se C é
pode-se traçar um conjunto de curvas de indiferença, o indiferente a D e C também é indiferente a E, então, D
qual se denomina mapa de indiferença. também seria indiferente a E, o que não é verdade, já
Atente-se: um mapa de indiferença representa uma que D e E estão em curvas diferentes. Essa conclusão
coleção de curvas de indiferença para um dado indiví- ilógica é decorrente de as curvas se cruzarem.
274 duo que representa a função utilidade total do indivíduo.
Vale aqui, analisar dois tipos específicos de curvas A inclinação negativa de uma curva de indiferen-
que sempre aparecem nas provas: a curva de indi- ça de um consumidor é a medida de sua taxa margi-
ferença para bens substitutos e para bens comple- nal de substituição (TMS) entre dois bens. Na figura,
mentares, mostradas na figura 4. está representada a taxa marginal de substituição de
horas de leitura e horas para o futebol – ∆F/∆L, cai de
Adoçante
3 (entre E e C), para 1 (entre C e D). A TMS diminui ao
longo da curva quando ela é convexa.
Analisando o gráfico acima, saindo do ponto E
para o ponto C, o consumidor está disposto a trocar
três horas de futebol por mais uma hora de leitura
(esse movimento pode ser visto pelo -3 que se refere
U3
às horas de futebol perdidas e o 1 que se refere à hora
U2 adicional de leitura). Entretanto, movimentando-se
U1 de C para D, ele se dispõe a desistir de apenas uma
Açúcar hora de futebol para obter mais uma hora de leitura.
Café
Nesse sentido, quanto mais horas de futebol e menos
horas de leitura o consumidor adquirir, maior será a
quantidade de horas de futebol que ele estará dispos-
to a desistir para poder obter mais horas de leitura. Da
U3
mesma forma, quanto maior a quantidade de horas
para a leitura, menor será a quantidade de horas para
U2
o futebol que o consumidor estará disposto a desistir
U1
para obter mais horas de leitura.
Para medir a quantidade de uma determinada
Açúcar mercadoria da qual o consumidor estaria disposto a
desistir para obter maior número de outra, fazemos
Figura 4 Bens substitutos e bens complementares uso de uma medição denominada Taxa Marginal de
Substituição (TMS). A TMS de horas para o futebol cor-
Atenção! Bens substitutos são pares de bens para responde à máxima quantidade de unidades de horas
os quais uma queda de preço de um deles resulta em para o futebol das quais uma pessoa estaria disposta
uma menor demanda pelo outro. Enquanto, os bens a desistir para obter uma hora a mais para a leitura.
complementares são pares de bens para os quais Assim como o sacrifício em termos de horas de
uma queda de preço de um deles resulta em uma futebol perdidas é cada vez maior, para ter mais horas
maior demanda pelo outro. de leitura, o consumidor dispõe-se cada vez menos a
Na figura da direita, o consumidor considera ado- ceder horas de futebol. Essa redução da TMS é com-
çante e açúcar como bens substitutos, ou seja, ele patível com a convexidade da curva. Nesse viés, é
é sempre indiferente entre o consumo de um ou de sensato afirmar que as curvas de indiferença são
outro. Na figura da esquerda, o consumidor conside-

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


convexas, pois à medida que maiores quantidades
ra açúcar e adoçante como bens complementares. de uma mercadoria são consumidas, espera-se que o
Um aumento na quantidade de açúcar não propicia consumidor prefira abrir mão de cada vez menos uni-
aumento na satisfação, a menos que ele obtenha uma dades de uma segunda mercadoria para obter unida-
xícara de café correspondente. des adicionais da primeira mercadoria.
Agora que foram compreendidas as principais
características das curvas de indiferença, precisa-
Utilidade
mos entender como o consumidor troca uma cesta
pela outra, quando essas proporcionam o mesmo
Tudo o que é necessário para analisar o comporta-
nível de satisfação. Essa medida é muito importante
mento do consumidor é que estamos sempre escolhen-
porque nos explicará como as pessoas se defrontam
do aquilo que nos faz mais feliz ou mais satisfeitos.
com permutas entre duas, três ou mais mercadorias.
Isto é, procura-se o que traz maior utilidade, a partir
A essa taxa de “troca”, denomina-se Taxa Marginal
de Substituição (mede o quanto o consumidor está da medida de satisfação feita mediante o consumo de
disposto a abrir mão de um bem para obter mais bens e serviços.
do outro). A utilidade é o nível de satisfação que uma pessoa
A figura 5 ilustra esse fato. obtém ao consumir um bem ou exercer uma ativi-
dade. Assim, ela possui um importante componente
Horas psicológico, pois as pessoas obtêm níveis maiores de
para satisfação adquirindo coisas que lhes dão prazer e
o
futebol
evitando as que lhes causem desconforto. Na análise
econômica, a utilidade é mais frequentemente usada
com a finalidade de resumir a ordem das preferências
E
de cestas de mercado. Se a aquisição do ingresso do
-3
show de Jack Johnson torna o consumidor mais feliz
C
1 -1 do que a aquisição do ingresso do U2, então dizemos
D
1 que o show do Jack Johnson proporciona maior utili-
U1
dade que o show do U2.
Horas de leitura Para analisar o nível de utilidade através das cur-
vas de indiferença do consumidor, analisemos a figu-
Figura 5 Taxa marginal de substituição ra 6, semelhante a figura 2: 275
Veja que, até agora, apenas tratamos sobre os dese-
Horas
jos do consumidor, sem falar muito nas condições
para o
futebol utilizadas para satisfazer esses desejos. Assim, as pre-
ferências e a função utilidade dizem o que o consumi-
dor deseja, mas a restrição orçamentária apresenta
E o que ele pode ter.
A
Dica! A restrição orçamentária diz que o custo
C de um pacote de consumo do consumidor não pode
U2 exceder a sua renda total.
D
B
U1
U3
RESTRIÇÃO ORÇAMENTÁRIA
Horas de leitura

A restrição orçamentária é a barreira que o consu-


Figura 7 Funções utilidade e curvas de indiferença
midor enfrenta por ter a sua renda limitada. A linha
orçamentária indica todas as combinações de bens
para qual o total de dinheiro gasto seja exatamente o
dinheiro disponível. Se o consumidor dispõe da renda
Uma função utilidade pode ser representada por
R para ser gasta em Alimento ou Cinema que tem os
um conjunto de curvas de indiferença, cada qual com
respectivos preços PA e PC, então a linha orçamentária
um indicador numérico. As curvas de indiferença U3,
deste consumidor é dada por:
U1 e U1 poderiam ser representadas com a associação
de números, por exemplo: 1, 2 e 3, respectivamente.
PA․A+Pc․C ≤ R (1)
Essa representação poderia ser feita com quaisquer
valores, desde que a ordem não fosse alterada.
Em que A indica a quantidade de Alimento e C a
Para associar às curvas de indiferença ao nível de
quantidade de Cinema consumido. Graficamente, a
utilidade, é preciso falar da função utilidade. Essa
restrição orçamentária do consumidor é representa-
função pode ser obtida de maneira bastante simplifi-
da como na figura 8:
cada. Para isso, basta apenas associar um valor numé-
rico para cada cesta de mercado de tal forma que se a
Cinema
cesta A for preferida a C, o número de A será mais alto
que o de C. Por exemplo, a cesta de mercado A, situa- Conjunto
orçamentário
da na curva de indiferença mais elevada U2, poderia
fornecer nível de utilidade 100 enquanto C, situada
sobre a curva U1, poderia fornecer nível de utilidade Restrição
orçamentária
80. Dessa forma, a função utilidade oferece a mesma
informação sobre as preferências que o mapa de indi-
ferença. Tanto as funções utilidade como os mapas
de indiferença ordenam as escolhas do consumidor
em termos de nível de satisfação. Nesse caso, muitas
vezes as bancas denominam as curvas de indiferença
como curvas de isoutilidade! Alimentos
Atente-se: a função utilidade de um indivíduo
mede a relação entre o pacote de consumo de um indi- Figura 8: Linha do orçamento
víduo e a quantidade total de utilidade que ele gera.
Ainda visando as questões estabelecidas no gráfi- A linha do orçamento do consumidor descreve as
co, note que os itens (D) e (E) mencionam a capaci- combinações de quantidades de dois bens que podem
dade de calcular a utilidade. No caso da letra (D), a ser adquiridos de acordo com a renda do consumidor
banca considera a utilidade total e, no caso da letra e os preços desses bens. Essa linha está associada a um
(E), a utilidade parcial. Vale notar que a utilidade total valor específico da renda, por exemplo, R$ 80,00.
é a mesma que do grau total de satisfação adquirido No caso do gráfico acima, note que existem duas
quando se consome determinada quantidade de um definições importantes sobre a restrição orçamentária
bem. A letra (E), por seu turno, versa sobre utilidade do consumidor: primeiramente, toda a região que está
parcial. Entretanto, a utilidade que existe e pode ser abaixo da linha de orçamento, o conjunto orçamentário,
considerada muitas vezes é a definição de utilidade diz respeito a todas as combinações dos dois bens que
marginal. Nesse caso, a utilidade marginal diz respei- podem ser adquiridos com o uso da renda do consumi-
to à variação na utilidade quando há o aumento no dor. Nesse caso, não necessariamente o consumidor dis-
consumo de determinado bem. penderá toda a sua renda, todavia, quando o consumidor
De toda forma, as duas alternativas estão incorre- exaure ela, está sobre a linha do orçamento. Nesse caso,
tas pois o consumidor é sim capaz de calcular a sua a linha do orçamento une as séries de combinações de
utilidade total quando se encontra em determinada quantidades dos bens alimento e cinema que podem ser
curva de indiferença. De fato, ele não sabe numeri- adquiridos pelo consumidor.
camente qual o valor da sua curva de utilidade (até Existe uma forma simples de explicar graficamente
a linha orçamentária do consumidor: (i) supondo que o
porque o valor da curva não importa em termos abso-
consumidor gaste toda sua renda em Alimentos teremos
lutos), mas ele pode comparar a sua utilidade total R
saindo de uma curva para a outra. Ou seja, ele sabe o marcado no eixo horizontal A = (matematicamente
PA
quanto ganha ou perde saindo em termos de utilidade
é substituir C=0 e passar PA para o lado direito da equa-
ou satisfação indo para outra diferente.
276 ção dividindo); (ii) agora, supondo que o consumidor
gaste toda sua renda em Cinema, teremos marcado no poderá consumir de todos os bens. Graficamente, o
eixo vertical C =
R
(matematicamente é substituir A=0 aumento da renda é representado como um desloca-
PC mento para cima e para a direita da linha do orçamen-
e passar PC para o lado direito da equação dividindo).
to, como mostrado na figura 9.
Para construir a linha do orçamento basta (iii) ligar os
dois pontos marcados com uma linha reta.
Cinema
Vamos fazer um exemplo numérico?
Considere que determinado consumidor possui uma
renda de R$ 1.000,00 que poderá ser gasta entre dois
bens, o bem x e o bem y, que possuem preços R$ 1,00 e R$
2,00, respectivamente. Como determinar a quantidade
máxima consumida do bem x ou do bem y?
Para responder a primeira pergunta, vamos substi-
tuir na equação da restrição orçamentária (1) todos os
valores enunciados na questão:
A restrição orçamentária fica representada no
seguinte formato: Alimentos
1․X+2․Y ≤1000
Para calcular a quantidade máxima que pode ser Figura 9 Efeitos da modificação na renda sobre a linha do
consumida do bem X, basta tornar o sinal de desigual- orçamento
dade em um sinal de igualdade e levar a quantidade
de Y para 0.
Nesse caso, a equação pode ser reescrita da seguin-
te forma: Uma mudança na renda (mantidos os preços inalte-
1․X=1000 rados) causa um deslocamento paralelo na linha do orça-
Logo, observa-se que a quantidade máxima de X mento original (cinza claro). Quando a renda aumenta, a
que pode ser adquirida pelo consumidor é de 1.000. linha do orçamento passa a ser cinza escuro.
De forma semelhante, a quantidade máxima de Y é de A figura 9 mostra que, com a nova renda, há um des-
500. O gráfico da restrição orçamentária do consumi- locamento da curva de restrição orçamentária, que sai
dor é mostrado logo abaixo.
da linha cinza claro para a cinza escuro. Assim, o con-
Y junto de consumo do consumidor aumenta. Vale notar
ainda que esse deslocamento é paralelo, ou seja, a incli-
nação da curva de restrição orçamentária não muda. Da
mesma forma, caso a renda fosse reduzida, haveria um
deslocamento paralelo da linha de orçamento, no senti-
500 do de redução do conjunto orçamentário.
Por outro lado, a curva muda de inclinação se o preço

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


de uma das mercadorias for modificado. Nessa situação,
caso um dos bens tenha o seu preço alterado e o outro
1.000 não, haverá uma rotação da linha de orçamento em tor-
X
Restrição orçamentária imaginária no do intercepto do bem que não teve o seu preço altera-
do. Para verificar isso, basta analisar a figura 10.
Restrição Orçamentária Imaginária
Cinema
A respeito da restrição orçamentária vinculada
as horas para ler ou para ver futebol, por exemplo,
tem-se uma restrição de tempo. Logo, a renda pre-
sente na restrição orçamentária será substituída pela
quantidade de horas disponíveis para essas duas
atividades.
Dica: não é preciso colocar na sua restrição de
tempo 24 horas como sendo o total de horas do seu
dia. Você pode colocar, por exemplo, 6 horas na res-
trição, como sendo o total de horas disponíveis para
Alimentos
alocar entre leitura e futebol.
Ainda sobre a restrição orçamentária, é necessá- Figura 10 Efeitos da modificação em um preço sobre a linha do
rio compreender quando ela muda. Aliás, será que ela orçamento
muda?
Para verificar isso, vamos voltar a equação da res-
Uma mudança no preço de um dos bens (com a ren-
trição orçamentária:
da mantida constante) provoca uma rotação na linha de
PA․A+Pc․C ≤ R orçamento em torno do intercepto. Quando o preço do
alimento aumenta, a linha gira, saindo da posição cin-
Imagine que a sua renda aumente. Nesse caso, ao za claro para a posição cinza escuro. Porém, se o preço
que tange a possibilidade de compras do consumidor, aumenta, o movimento se dará ao contrário.
tem-se que os preços não foram alterados, assim ele 277
ESCOLHA despendida, poderia aumentar o grau de satisfa-
ção do consumidor. Certamente, os consumidores
A pergunta que se pode fazer é: como o consumi- poderão – e algumas vezes o fazem – economizar
dor faz escolhas? parte de suas rendas para o consumo futuro. No
Dadas as preferências e as restrições orçamen- entanto, isso significa que sua escolha não é ape-
tárias, os consumidores individualmente escolhem nas entre alimento e cinema, mas entre consumir
quanto comprar de cada mercadoria. Isso, supondo esses dois bens agora ou no futuro;
que os consumidores façam suas escolhas de forma z A cesta de mercado maximizadora da satisfação
racional. Isto é, eles decidem as quantidades de cada deverá dar ao consumidor sua combinação pre-
um dos bens visando maximizar o grau de satisfa- ferida de bens e serviços: essas duas condições
ção que poderão obter, considerando os orçamen- podem ser simplificadas em uma: o problema de
tos limitados que dispõem. maximização da satisfação do consumidor passa a
Graficamente, estamos falando da união de dois depender, então, de um único fator de definição: o
assuntos: as curvas de indiferença (que representam da escolha de um ponto apropriado sobre a linha
as preferências do consumidor) e a restrição orça- do orçamento.
mentária. Assim, a cesta maximizadora de utilidade
(maximizadora de satisfação) deverá estar sobre a Considerando essas duas condições, o processo de
linha do orçamento. escolha do consumidor pode ser simplificado como
Dessa forma, uma condição de tangência. Ou seja, o consumidor
escolherá a cesta de bens que esteja em uma curva de
Cinema indiferença tangente à restrição orçamentária. Logi-
camente, vale ressaltar que a escolha do consumidor
sobre qual a cesta será escolhida na curva de indife-
rença dependerá do formato da curva, isto é, de acor-
do com as preferências de cada consumidor.
E
A
NÚMEROS ÍNDICES
C
U2 O objetivo de se estudar números índices é o pri-
D
B meiro passo para começar a estudar este assunto. A
U1 resposta é simples: o estudo dos números índices
U3
Alimentos
é feito para se saber como está o poder de compra
atual quando comparado com algum outro período.
Figura 11 Maximizando a satisfação do consumidor Isso não quer dizer, contudo, que os números índices
devem ser utilizados para avaliar o valor “dinheiro”
Os consumidores maximizam suas satisfações (ou ao longo do tempo, uma vez que eles associam os pre-
utilidade) escolhendo a cesta de mercado C. Nesse ços a determinados bens (veremos isso em detalhes
ponto, a linha do orçamento e a curva de indiferen- mais na frente).
ça U1 são tangentes, e nenhum nível mais elevado Por exemplo, se uma pessoa tem R$ 10,00 hoje.
de satisfação (por exemplo o propiciado pela cesta A) Com esse valor, ela conseguiria comprar as mesmas
pode ser obtido. coisas que comprava, por exemplo, há um ano? Talvez
Na figura 11 tem-se a união dos gráficos das curvas por uma questão quase instintiva, você vá responder
de utilidade e da restrição orçamentária. Nesse cená- que compramos menos. Isso acontece porque no Bra-
rio, se faz necessário analisar algumas questões: sil nós vivemos um forte processo inflacionário por
Primeiro, o que o consumidor gostaria de ter? Com muitos anos. Contudo, isso não pode ser dito no Japão,
a busca do melhor, ele provavelmente desejaria con- por exemplo.
sumir a cesta A. Entretanto, se a sua renda não per- Com base nesse raciocínio, vamos analisar os três
mitir o consumo de A, em seu processo de escolha, o principais números índices que existem em econo-
consumidor precisará analisar o que pode ter. Nesse mia: Laspeyres, Paasche e Fisher. Esses três índices
caso, será analisada a restrição orçamentária, para são ainda analisados em termos de variação de preço
tanto: as curvas de indiferença possíveis apresenta- ou de quantidade.
das pela figura são as U3 e U2, visando as condições Antes de falar dos principais números índice, veja
estabelecidas. Nesse cenário, de forma racional, o con- que para se formar um número índice, qualquer pes-
sumidor buscará a curva de indiferença mais alta que soa pode escolher o seu formato. Para tanto, é preciso
ainda esteja em contato com a linha do orçamento, ter uma variável que se altere no tempo e o seu res-
pois essa curva é a que traz maior nível de satisfação. pectivo peso. Em um formato genérico, pode-se dizer
Dessa forma, ele escolherá a cesta C, pois ela propor- o seguinte:
cionará o máximo de satisfação dentro do que é possí-
w1xt1 + w2xt2
vel para o consumidor. Iq =
De forma resumida, tem-se algumas condi- w1xb1 + w2xb2
ções importantes sobre o processo de escolha do
consumidor: Em que x1 e x2 são as quantidades consumidas de
dois bens ordinários nos períodos t (período atual)
z A cesta escolhida deverá estar sobre a linha e b (período base). Por sua vez, w1 e w2 são os pesos
do orçamento: para visualizar a razão disso, que esses bem possuem na cesta de um determinado
observe que qualquer cesta, situada à esquerda e consumidor.
abaixo da linha do orçamento, deixaria de estar
278 alocando uma parte da renda que, caso viesse a ser
Assim, nessa formatação mais simples, esse é um Vale mencionar um ponto importante, note que a
índice de quantidade. Mede como a quantidade con- demanda de mercado na concorrência perfeita pos-
sumida mudou entre os dois períodos. sui inclinação negativa, enquanto a demanda com
a qual cada empresa se depara é perfeitamente
elástica. Para verificar esse fato que parece um tanto
contraditório, vamos raciocinar juntos.
MERCADOS COMPETITIVOS O que acontece quando os preços aumentam? As
pessoas reduzem o seu consumo agregado, certo?
Nesse caso, podemos dizer que a demanda de mer-
TIPOS DE MERCADO
cado é negativamente inclinada. Mas o que dizer da
demanda de cafezinho do Sr. José? Observe que se ele
Discutimos anteriormente que os custos de pro-
aumentar o preço do café, as pessoas não mais com-
dução são determinados pela tecnologia disponível.
prarão dele, mas do Sr. João que continua vendendo
A receita, por sua vez, depende das características
pelo preço de mercado. Como a informação é comple-
do mercado, ou, em outras palavras, da estrutura de
ta para todos, não faz sentido comprar um bem mais
mercado. Adiante estudaremos as estruturas mais
caro quando se sabe onde se pode encontrar o mesmo
importantes, e veremos como suas características
bem por um preço mais acessível. Devido a esse fato,
particulares modificam a forma pela qual se deter-
pode-se dizer que a demanda com a qual o Sr. João se
mina o preço e a quantidade de equilíbrio, por fim,
depara é infinitamente elástica.
teremos um quadro resumo para melhor ordenar o
Considerando esse fato, em concorrência perfeita,
raciocínio.
a receita marginal de todas as firmas é exatamente
o preço. Isso ocorre, pois se uma firma decide aumen-
CONCORRÊNCIA PERFEITA
tar a produção em uma unidade, sua venda implicará
no crescimento de sua receita no valor pelo qual ela
A concorrência perfeita (ou pura) é um tipo de
foi comercializada, ou seja, pelo seu preço. Como em
mercado caracterizado pela presença de uma grande
concorrência perfeita, as firmas não possuem poder
quantidade de firmas e consumidores, de modo que de alterar o preço de mercado caso decidam mudar
cada um deles é muito pequeno no mercado, a pon- sua produção, então esse aumento de receita sempre
to de não poder influenciar, sozinho, o mercado. Em será igual ao mesmo preço de mercado. Em outras
outras palavras, a decisão de nenhum dos agentes é palavras, a receita marginal em concorrência per-
capaz de, por si só, alterar a quantidade ou o preço de feita é igual ao preço de mercado.
equilíbrio. Como vimos anteriormente, a quantidade que
Se, por exemplo, uma firma decide aumentar sua maximiza os lucros das firmas é aquela na qual o
produção em certa quantidade, isso não implica em custo marginal se iguala à receita marginal. Então,
um aumento significativo da oferta capaz de alterar em concorrência perfeita, essa quantidade iguala o
os preços e deslocar a curva de oferta do bem para custo marginal ao preço:
a direita. O mesmo vale para os consumidores: caso

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


apenas um deles aumente sua demanda, isso não se

Cmg ( Q ) = P
reflete em um aumento significativo em termos de
demanda de mercado.
Nesse tipo de estrutura de mercado, o bem comer-
cializado não possui diferenciações, ou seja, há Graficamente, temos que:
apenas um bem homogêneo produzido por todas as
Preço
empresas, dessa forma, todas as firmas produzem exa-
tamente o mesmo produto. Considerando esse fato,
não há motivos para que um consumidor prefira uma
CMg
determinada firma, a não ser pelos preços ofertados. CTMe
P*
Além disso, uma outra característica do mercado
em concorrência perfeita diz que todos os consu- CVMe
midores e firmas possuem todas as informações
relevantes. Todos os consumidores conhecem per-
feitamente o produto e o preço operado no mercado. P=CVMe
Essas características implicam que as firmas devem
aceitar esse preço quando forem comercializar sua
produção. Q* Quantidade
Devido a essas características, o preço de mercado
não pode ser alterado pela decisão individual de uma Figura 1 – Quantidade produzida pela firma no mercado competitivo
das firmas, ou de um dos consumidores. A firma deve
aceitar o preço como dado, pois não terá sucesso se No curto prazo, a empresa que opera no mercado
vender a um preço mais alto. Assim, a demanda indi- em concorrência perfeita escolhe um nível de produ-
vidual com a qual cada empresa se depara é represen- ção q* no qual o seu custo marginal CMg é igual ao
tada por uma linha horizontal na altura do preço de preço P, desde que seja capaz de cobrir seus custos
mercado, uma curva de demanda perfeitamente elás- variáveis de produção. A curva de oferta da empresa
tica. Cabe a firma determinar a quantidade que pode coincidirá com a curva de CMg da firma a partir do
tornar seu lucro o mais alto possível. ponto mínimo do custo variável médio, chamado de
Ponto de Fechamento. 279
Em concorrência perfeita, outro aspecto relevante é que o preço de mercado estará no patamar mais baixo
possível, pois, caso contrário, uma das firmas cobraria por seus produtos um preço menor, aumentando seus
lucros devido ao aumento da demanda. Como todas sabem que isso pode ocorrer (a informação é perfeita), então
aceitam o menor preço possível.
Observe na figura que isso significa que o preço de mercado será igual ao custo marginal, no ponto em que
este cruza o custo variável médio mínimo.

Preço

CMg
P* CTMe

CVMe

P=CVMe

Preço

Q* Quantidade

Outra característica da concorrência perfeita é a livre entrada e saída do mercado, ou seja, não há custos
adicionais para as firmas que decidem começar a confecção de um produto ou para aquelas que querem deixar
o mercado.
Devido à livre entrada, o lucro econômico de todas as firmas no longo prazo é igual a zero – lembre-se que
o lucro econômico e o contábil possuem definições diferentes. Caso as firmas apresentassem lucro econômico,
como não existem barreiras à entrada de novas firmas, muitas entrariam no mercado o que implicaria em um
aumento significativo na oferta, e na consequente redução dos preços até que o lucro se extinga.
A figura abaixo mostra o comportamento da firma no mercado competitivo no longo prazo.

Preço

CMgLP CMeLP

P*

Q* Quantidade

Equilíbrio de longo prazo para firma no mercado competitivo

No equilíbrio de longo prazo, todas as empresas auferem lucro econômico igual a zero. Na figura, o preço
de mercado é exatamente igual ao mínimo do custo médio.
Assim, uma firma decide entrar no mercado ao perceber que as firmas preexistentes estão obtendo lucro (no
curto prazo). A decisão de sair do mercado, por sua vez, depende da relação entre o preço e os custos das firmas.
No curto prazo, as firmas saem do mercado caso o preço seja inferior ao custo variável médio.
Neste momento pode surgir a dúvida: por que o custo variável médio, e não custo médio? Isso ocorre porque
a firma teria um prejuízo maior caso decida sair do mercado quando o preço for inferior ao custo médio e
maior que o custo variável médio.
Para compreender melhor essa conclusão, imagine uma firma que enfrente três cenários diferentes para o
preço de mercado que estão organizados na tabela abaixo. Suponha que essa firma produza a mesma quantida-
de utilizando a mesma tecnologia nos três cenários, de modo que os valores médios de custo, custo variável e
custo fixo não se alterem.

280
TABELA 1 — ENTRADA E SAÍDA DE UMA FIRMA NO MERCADO

Custo Fixo Médio Custo Variável Médio Custo Médio Lucro Médio (por
Cenário Preço
(CFMe) (CVMe) (CMe) Unidade)

1 15 4 10 14 1

2 12 4 10 14 -2

3 8 4 10 14 -6

No cenário 1, a firma obtém lucro por cada unidade produzida, uma vez que o preço supera o custo médio. No ter-
ceiro cenário, a firma está com prejuízo em cada unidade, o preço não é suficiente para fazer frente sequer aos custos
variáveis. A firma deve sair do mercado no segundo cenário, porque ao invés de ter um prejuízo igual a 6, teria que
pagar apenas pelos custos fixos (4).
No segundo cenário, a firma também opera no prejuízo (igual a -2), pois a receita obtida por cada unidade foi menor
que o custo de cada uma delas. No entanto, se a firma sair do mercado, ela terá um prejuízo maior porque ainda tem que
enfrentar os custos fixos (igual a 4). Se o preço é maior que o custo variável médio, então a comercialização de cada
unidade fabricada é suficiente para fazer frente aos custos variáveis, e parte dos custos fixos.
Se a firma deixa de produzir nessas condições, terá que fazer frente a todo o valor dos custos fixos, ou seja, terá um
prejuízo maior do que se estivesse produzindo. Por isso, as firmas apenas saem do mercado se o preço não for sufi-
ciente para fazer frente aos custos variáveis.
Uma vez existente em uma economia, o mercado competitivo está associado ao maior nível de bem-estar presente
em uma economia. Contudo, muitas vezes, o governo intervém nesse mercado, causando algumas distorções.
Até este momento, nós verificamos a estrutura de mercado que gera maior benefício para o consumidor. Contu-
do, embora seja desejável, essa estrutura não é fácil de ser encontrada.

ANÁLISE DE MERCADOS COMPETITIVOS E MAXIMIZAÇÃO DE LUCROS

O mercado competitivo é caracterizado pela presença de diversos produtos que concorrem entre si, visando
atender às demandas dos consumidores por bens e serviços. Dentro desse contexto, a multiplicidade de compra-
dores e vendedores impede que qualquer agente isolado detenha poder significativo para influenciar os preços de
mercado. Além disso, os produtos oferecidos no ambiente competitivo são equiparados em termos de qualidade
e utilidade. Este conceito de competitividade pode ser aplicado tanto a empresas quanto a nações. Para superar
a concorrência e destacar-se no mercado, estratégias eficazes envolvem a implementação de ferramentas como a
diversificação e a inovação, a fim de eliminar a concorrência direta, potencializando os lucros (Mariotto, 1991).
No que concerne à otimização dos lucros, diversos conceitos desempenham papéis cruciais, incluindo o custo,

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


que corresponde à soma de todas as despesas incorridas por uma empresa; a receita, representando o montante
obtido pela venda de seus produtos; e o lucro, que reflete a diferença entre a receita total e o custo total. A análise
cuidadosa dessas métricas é fundamental para a maximização dos lucros de uma empresa (Lobos, 1975).
Além disso, outras informações essenciais para uma análise efetiva em ambientes de mercado competitivo
incluem os princípios de oferta e demanda. Estes fatores são determinantes no estabelecimento de preços e na
determinação da quantidade necessária de produtos em um determinado mercado. Quando a demanda por
um produto ou serviço supera a oferta, os preços têm uma tendência ascendente, incentivando os produtores a
aumentarem a produção. Consequentemente, com uma maior oferta no mercado, os preços tendem a declinar
(Lobos, 1975).
Estes fenômenos são modelados pela interação entre as curvas de oferta e demanda. Outro elemento crítico
a ser considerado é o excedente do consumidor, que corresponde à diferença entre o valor que os consumidores
estão dispostos a pagar e o montante efetivamente desembolsado. Por sua vez, o excedente do produtor refere-se
à discrepância entre o preço de mercado e o custo mínimo que um fornecedor está disposto a aceitar por seus
produtos. Estes conceitos formam a base para uma compreensão abrangente dos mecanismos subjacentes aos
mercados competitivos e são fundamentais para estratégias de otimização financeira (Lobos, 1975).

REFERÊNCIAS

LOBOS, J. Desenvolvimento organizacional: teoria e aplicações. Revista de Administração de Empresas, v.


15, n. 3, p. 21–32, maio 1975. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rae/a/nr4VFDbp9s w3G3nM8PvmD5w/#.
Acesso em: 24 jan. 2024.
MARIOTTO, F. L. O conceito de competitividade da empresa: uma análise crítica. Revista de Administração
de Empresas, v. 31, n. 2, p. 37–52, abr. 1991. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rae/a/ fXkqBFVnrB5kh-
z57gGxLxLy/#. Acesso em: 24 jan. 2024.

281
Preço Preço em
PODER DE MERCADO função da
demanda
MONOPÓLIO

Em termos de competitividade entre firmas, o P*


extremo oposto da concorrência perfeito é a estrutura CMe
de mercado denominada de monopólio. Pois, enquan- Pcp
to na concorrência pura há um número muito grande
de firmas, de modo que nenhuma delas possui poder
sobre o mercado, no monopólio há apenas uma fir- D = RMe
ma que produz um produto muito diferenciado e
que, por isso, tem poder de influenciar o preço e a RMg
quantidade de equilíbrio.
Outra característica do monopólio é a presença de Q* Q*CP Quantidade
barreiras à entrada de novas firmas no mercado. Produz Q* quando
RMg = CMg
Isso ocorre devido a vários fatores, dentre os quais:

z custos elevados para a firma operar;


Além disso, o preço que vai vigorar no mercado é
z economias de escala; somente a um elevado volu-
maior que o custo marginal da firma. Ou seja, a firma
me de produção a firma pode reduzir custos e
poderia vender essa quantidade por um preço menor,
obter lucro;
no mínimo igual ao seu custo marginal, mas não o faz.
z exclusividade na obtenção de insumos;
z segredos comerciais. A diferença entre o preço de mercado em mono-
pólio e a custo marginal da firma é o markup (do
Um monopólio que existe devido à existência de inglês, “marcar acima”). O markup é uma medida do
economias de escala é denominado de monopólio poder que a firma tem no mercado; quanto maior o
natural, pois se deve à natureza de sua atividade, ou markup, maior a capacidade da firma de interferir
seja, à tecnologia existente para produzir. no mercado.
Um exemplo de monopólio natural são as distri- A figura 1 mostra o estabelecimento do lucro da
buidoras de energia no Brasil, para as quais o gover- empresa monopolista:
no concede o direito de explorar exclusivamente esse
mercado, pois, devido ao elevado custo da atividade, Preço
a competição não incentivaria a entrada das firmas
CMg
nesse mercado. Para se observar isso, basta analisar as
curvas de custo médio. Para o caso do monopólio natu-
ral, a empresa pode operar em níveis bem mais baixos
de preço, enquanto na concorrência, com a redução P*
da quantidade ofertada por cada uma das empresas, CMe
o custo médio diminui, inviabilizando a concorrência. PCP
Empresas monopolistas também pretendem pro-
duzir a fim de maximizar seus lucros. Esse objetivo
é alcançado quando a receita marginal se iguala ao D = RMe
custo marginal. Na concorrência perfeita a receita
marginal é sempre igual ao preço, mas isso não é
RMg
observado no monopólio.
Como a firma monopolista é a única que pro-
Q* QCP Quantidade
duz um determinado bem, qualquer mudança em
seu volume de produção é significativa dentro do
Figura 1 — Maximização do lucro pela empresa monopolista
mercado, de modo que implicará em uma mudança
nos preços, devido à atuação das forças de oferta e
demanda. Para vender uma maior quantidade, a fir- O lucro é maximizado quando a receita marginal
ma monopolista sabe que precisará reduzir o preço. se iguala ao custo marginal. Q* é o nível de produção
Lembre-se da Lei da Demanda, e perceba que o para o qual RMg = CMg. Contudo, o preço cobrado
monopolista enfrenta a demanda de mercado, não pelo monopolista é determinado através da curva
uma demanda infinitamente elástica, como no caso da de demanda. Como, para a quantidade Q*, as pessoas
concorrência perfeita. Então, essa firma deve deter- estão dispostas a pagar P*, temos um aumento de pre-
minar a quantidade em conjunto com o preço que a ços no monopólio.
permite alcançar o maior lucro possível. O ponto (QCP, PCP) mostra o nível de produção e pre-
Em uma estrutura de mercado monopolista pode- ços que seriam empregados caso o mercado operasse
-se mostrar graficamente que a receita marginal é em concorrência perfeita. Observe que, nesse caso, a
uma curva mais inclinada que a curva de demanda, quantidade de equilíbrio é maior e o preço estabeleci-
e situa-se abaixo dessa. A firma produzirá a quantida- do é menor.
de na qual a curva de receita marginal se cruza com Percebe-se que, agindo dessa forma, a firma
a curva de custo marginal, ponto no qual são iguais. monopolista consegue capturar parte do exceden-
Para essa quantidade, o preço que será cobrado é te que o consumidor teria caso o mercado fosse de
aquele que está de acordo com a função da demanda, concorrência perfeita. Contudo, uma parte do exce-
ou seja, ele é o máximo para que essa quantidade seja dente será perdida, pois a quantidade produzida será
282 consumida. menor — a perda de peso morto.
Essa ineficiência do monopólio pode ser reduzi- A discriminação de preços do primeiro grau
da, ou até eliminada, se o monopolista for capaz de envolve a situação em que o vendedor cobra preços
discriminar preços, ou seja, cobrar um preço diferen- diferentes para cada unidade do produto de tal for-
te pelo seu produto para cada consumidor. ma que o valor pago por cada unidade é igual ao pre-
Existem três tipos de discriminação de preços. A ço máximo que o consumidor estaria disposto a pagar
discriminação de preços de primeiro grau é aquela por aquela unidade. Essa discriminação também é
na qual a firma monopolista consegue cobrar um conhecida como discriminação perfeita de preços.
preço diferente a consumidores diferentes e por A discriminação de primeiro grau é praticamente
unidades diferentes. Nessa situação, cada unidade é inviável na realidade, uma vez que seria necessário
vendida pelo preço máximo que o consumidor estaria que a firma soubesse o preço máximo que cada con-
disposto a pagar e a firma monopolista teria captura- sumidor se dispõe a pagar por unidade do produto.
do todo o excedente do consumidor. Porém, há outros dois tipos de discriminações de pre-
Para compreender essa situação, imagine um lei- ço mais utilizados na prática.
lão em que quando a firma oferece a primeira unida- Na discriminação de preços de segundo grau,
de, o consumidor que tem mais condições e vontade a firma monopolista vende quantidades diferentes
de adquiri-la irá efetuar a compra ao preço máximo do produto a preços diferentes, uma discriminação
que estaria disposto, depois a firma repetiria para as chamada de discriminação por pacote. Esse tipo de
demais unidades. Como a firma monopolista cap- discriminação é mais fácil de ser observada, como,
tura todo o excedente do consumidor, ela é capaz por exemplo, promoções do tipo “leve três e pague
de produzir a mesma quantidade que seria obtida no dois” ou descontos por quantidades (“10% de descon-
equilíbrio competitivo e não haveria perda de peso to a partir da quinta unidade”).
morto. A figura 4 mostra a discriminação de preços de
A figura 2 mostra a perda de peso morto provoca- segundo grau.
da pelo monopolista e a figura 3 mostra a aquisição
do peso morto pelo monopolista quando ele opera na Preço
discriminação de preços de primeiro grau. Excedente do
consumidor CMg
P1
Preço

Perda de excedente
do consumidor P2
CMg
Peso morto
P3
PM
A
B
PC C D
RMe

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


RMg
Q1 Q2 Q3 Quantidade
QM QC Quantidade
Figura 4 — Discriminação de preços de segundo grau
Figura 2 — Perda de peso morto no monopólio
A discriminação de preços do segundo grau ocor-
O retângulo e os triângulos coloridos mostram as re quando o preço do produto se diferencia depen-
alterações ocorridas nos excedentes do consumidor e dendo do número de bens comprados e não entre
do produtor, quando passamos do preço e da quan- os consumidores. Esse fenômeno é conhecido como
tidade competitivos Pc e QC, para o preço e quantida- precificação não linear. Cada consumidor depara-se
de monopolistas PM e QM. Em consequência do preço com o mesmo sistema de precificação, mas esse siste-
mais alto, os consumidores perdem A + B e o produtor ma envolve diferentes preços para diferentes quanti-
ganha A – C. A perda bruta é de B + C. dades do bem comprado. Descontos nas quantidades
ou prêmios são os exemplos mais óbvios.
Preço Na discriminação de preços de terceiro grau, a
Excedente do firma monopolista cobra preços diferentes a grupos
produtor de pessoas que diferem com relação a alguma carac-
S terística especial. Dessa forma, a firma é capaz de
aumentar sua lucratividade, pois incentiva o con-
sumo na categoria em que o consumo seria reduzi-
do se o preço fosse maior. Um exemplo comum desse
tipo de discriminação ocorre em cinemas, teatros e
sistemas de transporte coletivo, em que os estudantes
pagam metade do preço. Para determinar o quanto
produzir, o monopolista estuda uma curva de deman-
D da diferente para cada grupo.
O
Quantidade

Figura 3 — Discriminação de preços de primeiro grau 283


CONCORRÊNCIA MONOPOLISTA Pelo fato de a empresa ser a única produtora da
sua marca, ela se defronta com uma curva de deman-
Assim como vimos, o monopólio e a concorrên- da com inclinação descendente; seu preço excede
cia perfeita estão em extremos opostos quando se o custo marginal e ela detém poder de mercado. No
trata da competição entre as firmas dentro de uma curto prazo, o preço também ultrapassa o custo médio
estrutura de mercado. Talvez por se tratar de situa- e a empresa aufere lucros.
ções extremas, é difícil encontrar muitos exemplos de As firmas em concorrência monopolista podem
mercados com suas características na prática. aferir lucro no curto prazo, quando algumas barrei-
No entanto, existem estruturas de mercado inter-
ras ainda impedem a entrada de novas firmas. Con-
mediárias, que possuem características comuns tanto
tudo, no longo prazo, essas barreiras tendem a ser
com o monopólio, como com a concorrência pura, e
superadas. Com novas firmas no mercado, a demanda
que correspondem a um número maior de mercados
daquelas que já existiam deve diminuir; graficamen-
na prática. Uma dessas estruturas de mercado é deno-
minada de concorrência monopolística. te, isso seria representado por um deslocamento da
A concorrência monopolista recebe esse nome não demanda para a esquerda (ela vende uma quantidade
por acaso, pois suas principais características são: menor com o mesmo preço).
Tal efeito reduz os lucros até que, da mesma for-
z há um grande número de compradores e ma que na concorrência perfeita, no longo prazo as
vendedores; firmas têm lucro econômico igual a zero, como é
z as firmas têm pouca influência sobre o preço; visto na figura 6.
z as firmas produzem bens diferenciados, mas que
são substitutos próximos entre si; Preço
CMgLP
z existem algumas barreiras à entrada no mer-
CMeLP
cado, devido, principalmente, à diferenciação do
produto e do acesso à tecnologia;
P*
Percebe-se que as duas primeiras características
listadas da concorrência monopolista são comuns
à concorrência perfeita, pois há um elevado nível
de competição entre as firmas. Já as duas últimas
são características semelhantes ao que vimos para o D
monopólio, pois as firmas produzem bens diferencia-
dos, o que impõe uma barreira à entrada. Podemos
pensar em muitos mercados com essas característi- RMg
cas, tais como o mercado de cremes dentais, artigos
de perfumaria, cervejas e fast-food. Q* Quantidade
Em termos de determinação de quantidade e pre-
ço, como cada firma produz um produto diferen- Figura 6 — Lucro no mercado de concorrência monopolista no longo
ciado, ela enfrenta uma curva de demanda própria. prazo
Essa demanda é negativamente inclinada como no
monopólio, porém bastante elástica (quase horizon- No longo prazo, os lucros auferidos pela empresa
tal) devido à concorrência das demais, de modo que, o atraem para o setor novas empresas que introduzem
seu markup é reduzido. marcas concorrentes, fazendo diminuir assim a fatia
Note pela figura 5 que a firma determina a quan- de mercado da empresa; em consequência, sua cur-
tidade e o preço em que o custo marginal se iguala va de demanda sofre um deslocamento para baixo.
à receita marginal — perceba a semelhança com o No equilíbrio de longo prazo, representado pela figu-
monopólio. ra, o preço torna-se igual ao custo médio, de tal modo
que a empresa passa a ter lucro zero, embora conti-
Preço nue possuindo poder de monopólio.
CMg Uma estrutura provisória entre o mercado em con-
corrência monopolista e o monopólio é chamada de
oligopólio.
P*
CMe OLIGOPÓLIO

A estrutura de mercado conhecida por oligopólio,


em termos de competição, também se situa entre os
D casos extremos da concorrência perfeita e do mono-
pólio. Essa estrutura de mercado é caracterizada,
principalmente, por apresentar um número bastan-
RMg
te reduzido de firmas que podem produzir produ-
Q* Quantidade tos idênticos ou diferenciados. Alguns exemplos de
mercados oligopolistas são: construção civil, automo-
Figura 5 — Decisão da firma em concorrência monopolista bilístico, farmacêutico, mineração, aviação, comuni-
cação e bancário.
284
Por haver poucas firmas em um mercado oligopo- Em mercados oligopolistas há um incentivo para a
lista, cada empresa sabe que ela e suas rivais possuem formação de cartéis e trustes. Um cartel é um acordo
algum poder de mercado. Por isso, as decisões de cada explícito ou implícito para, principalmente, fixação de
uma delas serão feitas considerando o comportamen- preços ou cotas de produção, e um truste é a fusão entre
to das demais. firmas ou a incorporação de uma firma por outra em
Por exemplo, uma firma sabe que se ofertar uma um mesmo setor de atividades. Nos dois casos, as firmas
grande quantidade pode forçar uma redução do pre- atuam cooperativamente com o objetivo de eliminar a
ço. Mas a firma também sabe que se decidir ofertar concorrência e aumentar os lucros.
pouco pode perder mercado para alguma rival, ten- Como essas formas de atuação, em geral, prejudi-
do que enfrentar um preço reduzido com uma menor cam os consumidores e são ineficientes (a quantida-
participação no mercado. Assim, no oligopólio as deci- de produzida reduz-se), os governos têm atuado para
sões estratégicas e o conhecimento dos rivais são fato- impedir a formação de cartéis e regular as fusões. No
res importantes para a decisão das firmas. Brasil, por exemplo, o Sistema Brasileiro de Defesa da
Outra implicação do pequeno número de firmas é Concorrência (SBDC) coordena a política do país de defe-
a seguinte: se existir uma firma líder de mercado, ela sa à concorrência.
possuirá vantagens em relação às demais. Isso ocorre Além da atuação dos governos, outros fatores difi-
porque uma firma que possui maior poder de mer- cultam a formação de cartéis. Por exemplo, uma firma
cado sabe que suas decisões são relativamente mais com maior parcela de mercado (ou que tem menores
importantes para a determinação do preço e da quan- custos de produção) tem pouco incentivo para entrar
tidade de equilíbrio. Desta forma, essa firma atua de em um cartel com outras firmas menores (ou que pos-
modo a garantir sua liderança e lucro. suem custos maiores). Outra dificuldade do cartel surge
Uma característica adicional de mercados oligopo- quando não existem formas de punir as firmas que não
listas é a rigidez dos preços. Isso ocorre porque se cumprem com o que foi acordado; haverá sempre um
uma das firmas decide produzir mais, reduzindo o incentivo para burlar o cartel para benefício próprio.
preço, será copiada pelas demais de modo que não Agora que nós compreendemos o formato das quatro
conseguirá aumentar sua parcela de mercado. Por estruturas de mercado, precisamos entender o grau de
outro lado, se a firma decide operar com um preço eficiência e competição existente em cada uma dessas
estruturas.
maior, ela não será copiada pelas demais, e perderá
significativa parcela do mercado.
EFICIÊNCIA E COMPETIÇÃO NOS MERCADOS
Essa rigidez pode ser representada graficamente
partir da curva de demanda quebrada: para elevação
Um dos problemas econômicos mais relevantes
do preço a curva é elástica, para redução do preço
está relacionado à necessidade de utilizar de modo
a curva é inelástica.
eficiente os recursos. Os recursos estão sendo utili-
zados de modo eficiente quando as satisfações são
Preço
maximizadas.
As famílias obtêm satisfação pelo consumo dos

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


bens; quanto mais podem consumir, maior sua satis-
fação. O excedente do consumidor é uma medida do
nível de satisfação dos consumidores. A satisfação dos
P0 produtores está relacionada ao lucro que eles podem
obter quando decidem ofertar um bem. O excedente
do produtor mede o nível de satisfação dos produto-
res. Desse modo, podemos concluir que a satisfação
depende da quantidade produzida do bem.
Se a quantidade disponibilizada de um bem não
alcança o maior valor possível dada a capacidade pro-
dutiva da economia, a soma dos excedentes (o exce-
dente agregado) também não será maximizada. Nesses
casos, apesar de a economia possuir recursos disponí-
D
veis, ela não consegue aumentar a satisfação dos agentes.
Um mercado é considerado eficiente quando o
Q0 Quantidade excedente agregado apresenta o maior valor pos-
sível, ou seja, a economia está operando de modo a
Figura 7 — Curva de demanda quebrada maximizar a satisfação dos agentes. Por outro lado,
se a economia não utiliza os recursos disponíveis
Cada uma das empresas crê que, se seu preço for para a produção da quantidade do bem capaz de
aumentado além do preço Po atualmente praticado, proporcionar a maior nível de satisfação em um mer-
nenhuma de suas concorrentes a acompanhará, e que, cado, então esse mercado é ineficiente.
portanto, poderia perder a maior parte de suas vendas. Ao longo deste material, estudamos diversas estru-
Cada empresa acredita também que, se tornar o seu pre- turas de mercado, no entanto apenas em dois casos
ço menor que Po, todas as demais poderiam acompanhá- o excedente agregado da economia alcançou o
-la, de tal modo que suas vendas apresentariam elevação seu valor máximo, um dos quais foi a concorrência
à medida que a demanda total de mercado for aumenta- perfeita. Devido às suas características, as escolhas
da. Consequentemente, a curva de demanda D é quebra- racionais dos agentes em mercados perfeitamente
da no ponto correspondente ao preço Po. competitivos livres de intervenções maximizam a
satisfação do mercado de modo agregado. 285
Esse resultado está de acordo com o que versa a Lei É interessante notar rapidamente como isso pode
da Mão Invisível: quando os agentes, de maneira inde- ocorrer, mesmo se considerarmos a análise de dois
pendente, buscam o que é melhor para si, acabam alcan- mercados individuais. Considere o mercado de tv por
çando o melhor para todo o sistema econômico. Nesse assinatura e o mercado de tv por streaming, cujo mais
sentido, foi visto que a interferência do governo tende a importante participante é a Netflix.
levar esses mercados a pontos de equilíbrio ineficientes. É de se esperar certa substituição entre estes mer-
No entanto, nem todos os mercados operam em cados, ou seja, que a demanda pela tv por assinatu-
concorrência perfeita. De fato, são poucos os merca- ra é substituta à demanda por Netflix (afinal, ambos
dos com essas características, de modo que a maioria serviços oferecem filmes, séries e entretenimento em
não tem todas as condições necessárias para que o geral). Assim, provavelmente uma variação no pre-
equilíbrio, alcançado pelas forças de oferta e deman- ço do mercado de tv por assinatura deve promover
da, seja eficiente. Para esses casos se justificaria a variação na demanda por Netflix.
presença do Estado. Se considerarmos apenas o efeito substituição, o
A ausência das características de mercados com- aumento no preço da tv por assinatura irá promover
petitivos é denominada de falhas de mercado. Dentre o deslocamento à direita na curva de demanda por
as falhas de mercado podemos citar as externalidades Netflix (deslocamento exógeno da curva de demanda
e a informação imperfeita. Quando há externalidades, que eleva a quantidade demandada ao mesmo preço),
existem custos ou benefícios que não foram corretamen- elevando a demanda por esse bem.
te mensurados — os custos (benefícios) privados são No entanto, em um segundo momento esse fato
diferentes dos custos (benefícios) sociais. Já a informa- também eleva o preço do Netflix, fato que irá promo-
ção imperfeita impede que os agentes decidam de modo ver aumento na quantidade demandada pela tv por
a maximizar suas satisfações. assinatura. E isso ocorre sucessivamente.
O outro caso no qual verificou-se a maximização Na análise de equilíbrio geral, a grande questão é
do excedente agregado foi em mercados monopo- a determinação simultânea de preços e quantida-
listas com discriminação de preços em primeiro des em todos os mercados considerados. Em nos-
grau. No entanto, além da discriminação de preços so exemplo, preços e quantidades demandadas de tv
em primeiro grau ser praticamente impossível, o por assinatura e por streaming teriam de ser determi-
resultado é muito pouco interessante em termos nados conjuntamente para a obtenção do equilíbrio
distributivos, uma vez que somente o monopolista geral.
é beneficiado. Em geral, os concursos cobram conceitos de tro-
cas puras, que são aquelas em que os consumidores
possuem dotações fixas de bens trocadas entre si. Não
há, até este ponto, produção. É por isso que nosso foco
será nas relações de trocas e determinação de equilí-
EFICIÊNCIA ECONÔMICA brio entre mercados. Ao final deste tópico, as relações
entre produção e equilíbrio geral serão abordadas.
EFICIÊNCIA NAS TROCAS, LIVRE COMÉRCIO,
VANTAGEM COMPARATIVA, FRONTEIRAS DE Eficiência nas Trocas
POSSIBILIDADES DE PRODUÇÃO
O mercado é competitivo (eficiente) quando obser-
Em geral, a análise feita pela microeconomia con- vada a condição P = RMg = CMg (preço = receita
sidera o equilíbrio parcial. Ou seja, as considerações marginal = custo marginal). Nesta situação de “con-
sobre o equilíbrio, preços e quantidades são feitas corrência perfeita”, há maximização dos excedentes
para um dado mercado individualmente, pois elas do consumidor e do produtor, pois tanto a utilidade de
não influenciam as questões de outros mercados. um, quanto o lucro de outro, são maximizados. Mas,
No entanto, esta é uma simplificação. Ao passo que como observado anteriormente, esta situação é de
adicionamos as características de outros mercados em equilíbrio parcial.
nosso modelo, a situação torna-se mais realista. Por Em um modelo de equilíbrio geral de trocas puras,
exemplo, a variação no preço de um bem acarreta dis- a eficiência pode ser observada no comportamento de
tintos efeitos na demanda por outros bens, dependen- dois consumidores que transacionam dois bens entre
do de como estes estão relacionados (substitutos ou si. É de se esperar que os consumidores procedam às
complementares, por exemplo). Acarreta, inclusive, trocas sempre que elas trouxerem ganhos de bem-es-
mudanças na oferta deles. Imagine um consumidor tar a ambos. Os dois transacionam até o ponto em que
ofertante líquido de frutas (oferta mais frutas do que consideram obter o máximo de bem-estar derivado do
demanda) que, aproveitando o aumento de preços do negócio. Esta é a situação representada pelo comércio
bem que ele oferta, passa a demandar uma dotação em geral.
maior de outros bens, pois sua renda aumentou. Uma situação em que o máximo de bem-estar
Estas considerações são realizadas no modelo de é utilizado é considerada como eficiente no senti-
equilíbrio geral. De acordo com Varian (2012), a aná- do de Pareto (ou Pareto eficiente). Neste ponto de
lise de equilíbrio geral importa em determinar “como maximização de bem-estar, não se espera que os con-
as condições de oferta e demanda interagem em vários sumidores continuem trocando mercadorias entre si,
mercados para determinar os preços de muitos bens”2. pois já obtiveram o máximo de satisfação possível,
Indo direto ao ponto, como as características de um fato que a coloca como uma situação de equilíbrio
mercado particular (e suas variações) influenciam na geral. Em pontos eficientes no sentido de Pareto, dize-
determinação da configuração (preços e quantidades) mos que não é possível um consumidor melhorar de
de outros mercados. situação sem piorar a situação do outro.
286 2 VARIAN, H. R. Microeconomia: uma abordagem moderna. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.
Esta é uma implicação lógica. Se todo o bem-estar Já o ponto B pode ser visto como resultado das tro-
está sendo “consumido” (utilizado), a melhora de um cas realizadas entre Paulo e Pedro. É possível verificar
consumidor consequentemente passará pela piora que Paulo abriu mão de 1 unidade de alimento (pas-
de outro, pois necessariamente um dos consumido- sando a ficar com 6 unidades) em troca de 1 unidade
res terá de abrir mão do seu “consumo” de bem-estar de vestuário (ficando com 2 unidades).
para que o outro ganhe satisfação. Por sua vez, Pedro está no ponto com 4 unidades
Evidente que pontos não eficientes no sentido de vestuário e 4 unidades de alimento, fato que tam-
de Pareto implicam em situação em que nem todo bém representa a troca de 1 unidade de vestuário por
o bem-estar possível foi utilizado e, por isso, trocas 1 unidade de alimento.
comerciais são incentivadas a fim de atingimento da A pergunta que devemos responder neste momen-
eficiência. Memorize essas observações sobre efi- to é: a alocação representada pelo ponto B é eficiente
ciência no sentido de Pareto, pois despencam em no sentido de Pareto?
concursos. A resposta será sim se a taxa marginal de substitui-
Situações de trocas comerciais podem ser demons- ção de Pedro e Paulo forem iguais, ou seja, se: TMSPE
tradas através da caixa de Edgeworth. O referido = TMSPA.
diagrama mostra as possíveis alocações (eficientes E para descobrir se essa condição é satisfeita, pre-
ou não eficientes) das duas mercadorias entre os dois cisamos das curvas de indiferença de Paulo e Pedro.
consumidores. Será interessante observar como os Apenas relembrando, a curva de indiferença é aque-
consumidores podem melhorar de situação na medi- la que indica cestas de bens distintas que fornecem a
da em que procedem às trocas comerciais entre si, até mesma utilidade. O ponto TMSPE = TMSPA será encon-
trado na tangente entre as curvas de indiferença de
que atinjam o ponto eficiente no sentido de Pareto.
Pedro e Paulo.
Antes de iniciar, apenas uma observação. Como
Vejamos abaixo a caixa de Edgeworth com as cur-
consideramos o modelo como eficiente (competitivo),
vas de indiferença de ambos:
não se pode admitir a existência de falhas de merca-
do, ou seja, ambos os participantes possuem informa-
ções plenas sobre suas preferências e preferências do
outro, as transações entre os consumidores não envol-
vem custos e não há externalidades no modelo.
O diagrama abaixo representa a caixa de Edge-
worth. Nele estão representadas situações de troca
de dois bens (alimento e vestuário) entre os indiví-
duos Pedro e Paulo. O eixo horizontal representa a
quantidade alimento (10 unidades) e o eixo vertical, a
quantidade de vestuário (6 unidades). Ou seja, Pedro
e Paulo podem consumir conjuntamente 10 unidades
de alimentos e 6 unidades de vestuário.
Cada ponto na caixa representa a cesta de bens de

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


cada indivíduo, que pode conter combinações de ali-
mento e vestuário, apenas um dos bens, ou até mesmo
nenhum deles. As unidades pertencentes a Pedro são
contadas a partir da origem baixa à esquerda (repre- As curvas de indiferença de Paulo estão represen-
sentada por OPE). As unidades pertencentes a Paulo, tadas por UPA; as de Pedro, por UPE. É possível notar
contadas a partir da origem situada acima e à direita que o ponto A não representa a tangente das curvas
(representada por OPE). de indiferença, pelo que não pode ser considerado um
ponto ótimo no sentido de Pareto. Ou seja, é possível
aos agentes proceder às trocas e melhorar de situação.
E é o que ocorre nos pontos B e C. Como represen-
tam tangentes entre as curvas de indiferença de Pedro
e Paulo, são pontos Pareto-Eficientes. É importante
notar que, mesmo partindo de um ponto ineficiente
(como A), não é assegurado que as trocas resultarão
sempre em um ponto eficiente. Ou seja, mesmo após
as trocas os indivíduos ainda poderiam permanecer
em outro ponto ineficiente no sentido de Pareto.
Outra observação que se faz importante é notar
que eficiência não é sinônimo de distribuição. Isto
é, pontos eficientes não dizem nada sobre a distribui-
ção dos bens entre Pedro e Paulo. Podemos encontrar
uma situação em que todos os bens estão sob a posse
de Pedro e nada está com Paulo.
Este ponto certamente é eficiente, pois é impossível
melhorar a situação de Paulo sem piorar a de Pedro.
Podemos considerar o ponto A como a dotação ini- Portanto, situações ruins do ponto de vista distributi-
cial de Pedro e Paulo. Sendo assim, a referida cesta vo podem apresentar eficiência no sentido de Pareto.
indica que Paulo possui 7 unidades de alimentos e 1 Continuando, notamos em nosso exemplo que
unidade de vestuário e que Pedro possui 3 unidades existe mais de 1 ponto eficiente no sentido de Pare-
de alimentos e 5 unidades de vestuário. to. Os pontos B e C, representados pela tangente entre 287
as curvas de indiferença e, portanto, pela igualdade E, para finalizar o tópico, vamos compreender
entre as TMS de Pedro e Paulo, são igualmente eficien- como se dá o processo dinâmico do equilíbrio do con-
tes, de tal modo que nenhum dos agentes conseguiria sumidor em um mercado competitivo através da Cai-
elevar seu bem-estar sem reduzir o do outro. xa de Edgeworth.
Apesar de representarmos apenas 2 pontos efi- Considere o exemplo abaixo:
cientes, nosso exemplo poderia ter diversos outros.
A indicação de todos os pontos eficientes na caixa
de Edgeworth pode ser feita pela chamada Curva de
Contrato.

Curva de Contrato

A curva de contrato indica todos os pontos em que


as curvas de indiferença dos indivíduos são tangen-
te. Isto é, indica todos os pontos em que há igualdade
entre as TMS dos agentes. Dito de outro modo, indica
todos os pontos em que o máximo de bem-estar está
sendo usufruído (consumido, utilizado), não sendo
possível a um consumidor melhorar sua situação sem
piorar a do outro (lembrando que nossa situação, para
Além do que já conhecemos, foi adicionada a reta
fins de simplificação, apresenta apenas dois bens e
PP’, que indica a relação de preços entre os dois bens
dois consumidores). em diversos pontos do diagrama. Isto é, indica os pre-
Abaixo, segue a curva de contrato do nosso
exemplo: ços relativos entre vestuário e alimento .
Podemos partir do ponto A (não eficiente), cuja
relação de preços é igual a 1 (isso significa que os dois
bens possuem o mesmo preço), e considerar que Paulo
deseja adquirir 2 unidades de vestuário, e, desta for-
ma, se situar no ponto B. É possível perceber que, com
esta aquisição, Paulo irá melhorar de situação, pois
deixará o ponto A, localizado na curva de indiferença
U1PA, para a curva U2PA, que fornece mais utilidade.
Para realizar este movimento, Paulo precisa reali-
zar trocas com Pedro. Desta forma, recebe as 2 unida-
des de vestuário que deseja, em troca de 2 unidades
de alimentos concedidas à Pedro, que também melho-
ra de situação, pois deixa a curva de indiferença U1PE
pela curva U2PE, que fornece a ele mais utilidade.
Este simples exemplo nos permite concluir que
situações de equilíbrio como essa demonstrada podem
ser obtidas através de um mercado competitivo, que é
É possível notar que os pontos A, B e C do gráfico aquele no qual a quantidade demandada e ofertada
acima representam eficiência no sentido de Pareto, de bens é igual ao preço de mercado em cada um dos
tanto que estão ligados através da curva de contrato. mercados analisados. Todos os vendedores e consu-
A curva de contrato fornece algumas conclusões midores aceitam o preço de mercado e, assim, conse-
interessantes. Além de informar pontos em que não guem satisfazer seus desejos de oferta e demanda.
Situações de desequilíbrio seriam temporárias,
há a possibilidade de melhorar o bem-estar conjunto
pois o preço seria ajustado ao nível de equilíbrio, per-
dos consumidores, indica que, escolhido um dos pon-
mitindo a realização de trocas que levassem a econo-
tos eficientes, é impossível se locomover a outro ponto
mia aos pontos eficientes no sentido de Pareto.
sem haver a piora a situação em um dos consumidores.
No caso de excesso de demanda (demanda mais
Vejamos a passagem de A para C. As trocas reali-
elevada que a oferta), o preço de mercado iria subir;
zadas para permitir esta mudança beneficiam Paulo, no caso de excesso de oferta, o preço cairia. Estes
afinal ele obtém mais alimentos e vestuário, em pre- movimentos de preço entre os bens modificam os pre-
juízo de Pedro, que fica com menores quantidades dos ços relativos, representados pela reta PP’, de modo
dois bens. No limite, Paulo poderia consumir todos os que se atinja o ponto de equilíbrio, representado em
bens e Pedro, nenhum. Mesmo assim continuaríamos nosso exemplo por B.
em uma situação eficiente no sentido de Pareto, como Desta forma, ficamos com as seguintes conclusões
já informado. sobre eficiência e equilíbrio:
É importante notar que a permanência em um dos
pontos depende da habilidade de negociação de um z nos pontos tangentes, as curvas de indiferença dos
dos consumidores. Em uma situação em que Paulo consumidores apresentam a mesma taxa marginal
é mais hábil que Pedro, o ponto C seria mais factível de substituição para ambos. Em nosso exemplo,
que A, por exemplo. na tangente das curvas de indiferença de Paulo e
No entanto, do ponto de vista da eficiência, qual- Pedro: TMSPE = TMSPA;
quer um dos pontos indicados (A, B ou C) é preferí- z a curva de contrato apresenta todos os pontos tan-
vel a outro não eficiente, não indicado na curva de gentes possíveis do diagrama, nos quais se obtêm
288 contrato. eficiência no sentido de Pareto;
z a reta de preços relativos indica a razão entre os Assim:
preços dos bens;
z no ponto de equilíbrio, a reta de preços relativos xA1(p*1, p*2) + xB1(p*1, p*2) = wa1 + wB1
encontra a tangente das curvas de indiferença, xA2(p*1, p*2) + xB2(p*1, p*2) = wa2 + wB2
levando-nos a concluir que, no equilíbrio de um
As expressões acima indicam que, no equilíbrio
mercado competitivo:
walrasiano, a quantidade líquida que o consumidor
A deseja demanda (ofertar) é igual a quantidade líqui-
da que o consumidor B deseja ofertar (demandar). Ou
seja:

(a taxa marginal de substituição entre alimen- [xA1(p*1, p*2) - wa1] + [xB1(p*1, p*2) - wB1] = 0
to e vestuário para Pedro e Paulo é igual à razão [xA2(p*1, p*2) - wa2] + [xB2(p*1, p*2) - wB2] = 0
entre o preço de vestuário e de alimento).
Mas, a diferença entre a demanda bruta de um
LEI DE WALRAS bem e a dotação inicial do mesmo bem é chamada de
demanda excedente (ou demanda líquida) e represen-
tada por e:
Como visto anteriormente, as cestas situadas sobre
a curva de contrato estão localizadas em pontos óti-
mos no sentido de Pareto. Naturalmente, cestas situa- xA1(p*1, p*2) - wa1 = eA1
das fora da Curva de Contrato não são eficientes no
sentido de Pareto. Nestes pontos não eficientes, a ofer- (expressão que indica a demanda líquida do bem 1
ta de bens não é igual a demanda (os bens demanda- pelo consumidor A)
dos não esgotam ou superam as dotações possuídas
pelos agentes), pelo que podemos concluir que há XB1(p*1, p*2) – wB1 = eB1
escassez/excesso de demanda/oferta.
A maneira de resolver este problema, com o obje- (expressão que indica a demanda líquida do bem 1
tivo de atingir o equilíbrio, é através do chamado “lei- pelo consumidor B)
loeiro walrasiano”, termo cunhado em homenagem
ao economista León Walras. xA2(p*1, p*2) - wa2 = eA2
Em suma, o leiloeiro ajusta os preços dos bens
de acordo com a igualdade entre oferta e demanda, (expressão que indica a demanda líquida do bem 2
levando ao equilíbrio geral. Como exemplo, podemos pelo consumidor A)
citar a interação entre dois indivíduos, na qual a quan-
tidade demandada líquida do indivíduo A é superior à XB2(p*1, p*2) – wB2 = eB2
oferta líquida de B. Neste caso, o leiloeiro eleva o pre-
ço do bem, a fim de estabelecer o equilíbrio, chamado (expressão que indica a demanda líquida do bem 2
de equilíbrio walrasiano. pelo consumidor B)

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


É como se o leiloeiro fosse uma terceira pessoa
responsável por garantir o equilíbrio nos merca- A partir das trocas feitas no mercado, e conside-
dos. Assim que verificasse eventuais desequilíbrios, rando as observações feitas anteriormente, podemos
promoveria modificações no preço para que as dota- afirmar que a soma das demandas excedentes dos
ções ofertadas igualem os bens demandados. dois consumidores pelo mesmo bem é igual a zero.
A álgebra do equilíbrio walrasino é estabelecida Afinal, se a demanda líquida de um dos consumidores
pela Lei de Walras. Para iniciar a análise da Lei de é positiva, a demanda líquida do outro é negativa, ou
Walras, devemos estabelecer alguns pressupostos que seja, ele é ofertante líquido. A notação desta afirma-
seguem explicados abaixo: ção segue abaixo:
Primeiro, A demanda total de cada bem deve se
igualar a quantidade ofertada de cada bem, ou seja, z1 = eA1 - eB1
enquanto um dos consumidores escolhe comprar o z1 = 0
bem no mercado, o outro deve estar vendendo esta
Mas, se a soma da demanda excedente dos consu-
mesma quantidade do mesmo bem.
midores pelo bem 1 é zero, necessariamente a soma
Sendo assim, considere que:
da demanda excedente dos consumidores pelo bem 2
também é igual a zero. Ou seja:
z xA1(p1, p2) é a função de demanda do consumidor
A pelo bem 1; z2 = 0
z xB1(p1, p2) é a função de demanda do consumidor
A prova para esta afirmação é feita pela Lei de
B pelo bem 1;
Walras. Novamente, façamos as afirmações e provas
z xA2(p1, p2) é a função de demanda do consumidor
da referida lei abaixo:
A pelo bem 2;
z xB2(p1, p2) é a função de demanda do consumidor
z A restrição orçamentária dos agentes é igual à
B pelo bem 2;
soma da quantidade demandada dos bens, ou seja,
z wa1 e wB1 representam a oferta dos bem 1 pelos
o valor da demanda é igual ao valor da oferta pelo
consumidores A e B;
consumidor:
z wa2 e wB2 representam a oferta dos bem 2 pelos
consumidores A e B.
p1[xA1(p*1, p*2) – wA1] + p2[xA2(p*1, p*2) – wA2] = 0
p1 eA1 + p2 eA2 = 0 289
z A expressão acima nos diz algo conhecido. A O equilíbrio de mercados competitivos é eficiente
demanda líquida do consumidor A é igual a zero. do sentido de Pareto, esta é a afirmação do Primeiro
Assim, caso ele queira demandar um dos bens, Teorema do Bem-Estar. Não obstante, nem toda aloca-
deverá ofertar o outro (a oferta multiplicada pelo ção eficiente no sentido de Pareto é um equilíbrio de
preço é a restrição orçamentária). O mesmo cabe mercado. Este é o Segundo Teorema do Bem-Estar.
ao consumidor B, pelo que: O mantra do 2o Teorema é o seguinte: caso todos
os indivíduos tenham preferências convexas, haverá
p1[xB1(p*1, p*2) – wB1] + p2[xB2(p*1, p*2) – wB2] = 0 sempre um conjunto de preços tal que cada alocação
eficiente no sentido de Pareto será um equilíbrio efi-
p1 eB1 + p2 eB2 = 0
ciente de mercado.
A lógica é a seguinte. Se todos os indivíduos deti-
z Somando a demanda de mercado (consumidores
verem preferências representadas por curvas de indi-
A + B), temos:
ferença convexas, toda alocação eficiente no sentido
de Pareto também será um equilíbrio eficiente de
p1 (eA1 + eB1p2) + p2 (eA2 + eB2) = 0
mercado.
Vamos entender o porquê, analisando um exem-
p1 z1 + p2 z2 = 0
plo a partir da Caixa de Edgeworth. Temos dois indiví-
duos (A e B), sendo as preferências de A estritamente
Deste modo, seguem as conclusões advindas da Lei
convexas, e as de B não. A atende a regra de maxi-
de Walras:
mização no ponto X. Mas, B quer se situar em Y, pois
faz parte de uma curva de indiferença que representa
z O equilíbrio entre oferta e demanda em um merca-
mais utilidade e atende sua restrição orçamentária. É
do, necessariamente implica o equilíbrio no outro
simples perceber que, neste caso, as demandas líqui-
(por isto o modelo chama-se equilíbrio geral);
das dos indivíduos não são iguais a zero, como quer o
z A Lei de Walras vale para todos os preços, não
equilíbrio Walrasiano.
somente os preços de equilíbrio, Deste modo, caso
os preços inicialmente não possibilitem o equi-
líbrio, o leiloeiro walrasiano irá operar, a fim de
estabelecer um ponto eficiente no sentido de Pare-
to, ponto este em que os mercados estarão em
equilíbrio, com preço e quantidade;
z Por fim, a conclusão geral da Lei de Walras é a seguinte:
caso haja mercados para n bens, deve-se estabelecer
um conjunto de preços que equilibre n – 1 mercados.
Pela lei, o mercado restante estará em equilíbrio;
z Assim, considerando que todo o orçamento é gasto
com os bens transacionados, e o leiloeiro estabe-
leceria o preço de mercado, nenhuma escassez ou
excedente seria encontrado, conferindo equilíbrio
e eficiência ao mercado no sentido de Pareto.

Estas conclusões da Lei de Walras implicam a exis- Qual a implicação deste Teorema? A análise da efi-
tência do chamado Primeiro Teorema do Bem-Estar. ciência pode ser separada da análise da distribuição.
Isso quer dizer que todos os equilíbrios de mercado Como os preços em mercados competitivos refletem
são eficientes no sentido de Pareto, desde que os mer- a escassez relativa do bem (bens mais caros são mais
cados sejam competitivos. A álgebra já está demons- escassos quando comparados com outros), nada indi-
trada. Importa-nos saber que, no primeiro teorema do ca que eles serão distribuídos igualmente entre os
bem-estar, todos os ganhos oriundos das trocas estão indivíduos. Na verdade, a distribuição dos bens, cujo
utilizados, ou seja, a alocação de equilíbrio alcançada preço relativo foi determinado no mercado competiti-
em todos os mercados possíveis, será eficiente. vo, reflete a riqueza dos indivíduos.
Mas, como já citamos em outro ponto, eficiência Assim, é possível que o Governo, a partir da deter-
não significa equidade. Os consumidores maximizam minação de parâmetros sobre equidade, possa inter-
a utilidade, tendo em vista a restrição orçamentária vir no mercado a fim de atingir a equidade desejada,
que possuem. Assim, um deles pode demandar “tudo”, sem perda de eficiência.
enquanto o outro não demanda “nada”. Estariam Hal Varian (Microeconomia: 2013) salienta que a
observadas a restrição orçamentária e a eficiência, pois intervenção governamental é útil do ponto de vista
nenhum deles pode melhorar sem piorar a situação do equitativo desde que:
outro, além de terem exaurido os ganhos das trocas.
O exemplo acima é meramente ilustrativo. Deve- z não interfira na determinação de preços entres
mos entender que para o Teorema ser válido, é os bens, que deve ser realizada inerentemente
necessário atender aos pressupostos de mercados no mercado;
competitivos (informação e mercados completos, z e que transfira o poder de compra da dotação, atra-
mercado atomizado, consumidores racionais, prefe- vés de um sistema de redistribuição, como a apli-
rências bem-comportadas etc.). cação de impostos sobre valor, que não interfiram
290 na decisão de consumo.
Mesmo que a carga dos impostos interfira no com- Os pontos sobre a curva de contrato de produção
portamento das pessoas, segundo o Primeiro Teorema podem ser demonstrados através da fronteira de pos-
do Bem-Estar as trocas realizadas a partir de dotações sibilidade de produção, muito cobrada em concursos.
iniciais resultarão em alocação eficiente. Como demonstramos anteriormente, os pontos sobre
Ressalta-se que todas as observações feitas aos a curva de contrato demonstram eficiência no empre-
consumidores também se aplicam às decisões de pro- go de fatores produtivos, nos quais é possível extrair a
dução das firmas, com as devidas especificidades. máxima produção possível com os referidos insumos,
Assim, ao invés de escolher entre a demanda do bem ou seja, a máxima possibilidade de produção.
1 ou 2, o produtor escolhe o emprego dos fatores de Desta forma, podemos representar estes pon-
produção A e B, para a produção de dois bens distin- tos através de um gráfico que relaciona nos eixos as
tos. Assim, o equilíbrio se dará no ponto em que as quantidades de vestuário e alimento produzidas. A
isoquantas (convexas) se tangenciam, evidenciando situação apresentada abaixo é chamada de fronteira
alocação eficiente de fatores de produtivos na produ- de possibilidades de produção, curva que demons-
ção dos bens em questão. Este ponto será detalhado tra as combinações de dois bens produzidos com
na próxima seção. uma quantidade fixa de combinação de insumos:

EFICIÊNCIA NA PRODUÇÃO

Para analisar a eficiência na produção, podemos


utilizar todos os conhecimentos já aprendidos no
tópico anterior. No entanto, nossos objetivos mudam:
desejamos obter a alocação eficiente de insumos
produtivos que produzem quantidades ótima de
bens (alimentos e vestuário).
Ou seja, a ideia é obter a alocação de insumos
tecnicamente eficiente, na qual a produção de uma
mercadoria não pode ser aumentada sem que ocor-
ra redução na produção da outra mercadoria. Dito
de outro modo, estamos atrás do ponto eficiente no O eixo das ordenadas mede a quantidade de ves-
sentido de Pareto no mercado de insumos produtivos, tuário produzida, cujo valor máximo pode chegar
no qual é possível obter o máximo de produção com a 100 unidades, caso todo capital e trabalho forem
o conjunto de insumos em questão. A Caixa de Edge- empregados nesta produção. O eixo das abscissas
worth abaixo apresenta a situação: mede a quantidade de alimento produzida, cujo valor
máximo é também de 100 unidades.
É possível verificar que a fronteira é côncava (cur-
vada para dentro), pois denota a ideia de substituição
entre bens produzidos. Ou seja, produzir mais alimen-
to deve resultar em produção de menores quantida-

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


des de vestuário. A taxa que mede esta substituição
é conhecida como taxa marginal de transformação (a
TMT mede a quantidade a se abrir mão de vestuário
para se obter uma quantidade adicionar de alimento).
A forma côncava da fronteira de possibilidades
de produção resulta em TMT crescente quando se
desloca da esquerda para a direita na curva. Ao
partir da situação inicial indicada apenas pela produ-
ção de vestuário (100V) em direção aos pontos A, B e C,
haverá maior produção de alimentos em detrimento
As curvas de indiferença mostram as combina- da produção de vestuário a uma taxa crescente. No
ções de trabalho e capital que produzem uma mesma ponto onde apenas vestuário é produzido, a produti-
quantidade de alimento ou vestuário. A partir da ori- vidade marginal dos fatores capital e trabalho é baixa.
gem OA, temos as curvas de indiferença que mostram À medida que se transfere capital e trabalho em
a quantidade produzida de alimento (10A, 20A, 30A). uma produção com baixa produtividade (vestuário)
A partir da origem OV, apresentam-se as curvas de a outra com elevada produtividade (alimento), é pos-
indiferença que indicam as quantidades de vestuário sível abrir mão de pequenas quantidades produzidas
produzidas (10V, 20V, 30V). de vestuário por maiores quantidades produzidas de
A economia em questão parte do ponto D, que é alimento (por exemplo, neste ponto a cada 0,1 unida-
uma situação claramente ineficiente, pois está fora da de de vestuário deixada de produzir é possível obter 1
curva de contrato de produção (curva denota as com- unidade de alimento, o que resultaria em TMT de 0,1).
binações tecnicamente eficientes de produção). Por Ao passo que mais alimentos são produzidos, esta
exemplo, poderíamos passar do ponto D para o ponto relação aumenta, pois há decréscimo na produtivi-
A, o que resultaria em uma maior produção de ves- dade dos fatores na produção de alimento, e maiores
tuário a partir de uma melhor alocação dos insumos quantidades de vestuário precisam deixar de ser pro-
produtivos (maior emprego de capital na produção de duzidos para a produção de quantidades adicionais
alimento e capital na produção de vestuário). Como de alimento, evidenciando a TMT crescente.
resultado, teríamos a mesma quantidade de alimento E descobrir o valor da TMT é simples, pois ela é
produzida (10A) e uma quantidade mais elevada de representada pela relação entre o custo marginal de
vestuário (30V). alimento e o custo marginal de vestuário. Ou seja: 291
A fronteira de possibilidade de produção guarda Além dos seus efeitos sobre o bem-estar dos outros
relação com a Caixa de Edgeworth. Vimos no diagra- agentes, as externalidades podem ser diferenciadas
ma anteriormente apresentado, que o ponto D repre- quanto à sua origem, podendo ser classificadas como
sentada ineficiência, pois os insumos não estavam externalidade na produção ou externalidade de consu-
combinados de maneira eficiente a fim de produzir a mo. No exemplo do produtor de cana-de-açúcar, a exter-
maior quantidade de bens possível. O mesmo ocorre nalidade está relacionada à decisão de quanto produzir
com o ponto D, quando apresentado na fronteira de desse bem, então se trata de uma externalidade na pro-
possibilidade de produção. dução. No segundo exemplo, a externalidade está rela-
Os pontos A, B e C, eficientes na Caixa de Edge- cionada à decisão de consumir um serviço de segurança,
worth (sobre a curva de contrato), estão representa- sendo assim é uma externalidade de consumo.
dos sobre a fronteira de possibilidades de produção,
A presença de externalidades, positivas ou nega-
indicando emprego eficiente dos insumos. Todos os
tivas, na produção ou de consumo, no mercado de um
pontos sobre a curva de contrato e, por consequên-
determinado produto promove a ineficiência. No caso
cia, sobre a fronteira de possibilidades de produção
de uma externalidade positiva, esse bem será produzido
são eficientes no sentido de Pareto (máxima produção
possível com o emprego de insumos). em uma quantidade inferior à desejada pela sociedade, e
no caso de uma externalidade negativa a produção será
excessiva.
No caso de uma empresa que promove uma externa-
lidade negativa para outros agentes, ela não contabiliza
FALHAS DE MERCADO os custos que promovem para o restante da sociedade.
Nesse caso o custo social é maior que o custo privado.
ASSIMETRIA DE INFORMAÇÃO, RISCO MORAL,
Se a empresa, de alguma forma, fosse responsável pelos
SELEÇÃO ADVERSA
custos da externalidade, então a oferta seria menor. Gra-
ficamente temos que a curva de oferta com os custos
Externalidades
sociais estaria localizada à esquerda da curva de oferta
que contabiliza apenas os custos privados.
Como visto anteriormente, os agentes promovem a
eficiência econômica quando buscam o que é melhor
Preço Custo Social
para si. Os consumidores atentos apenas às suas pre- ($ por unidade)
ferências individuais, e as firmas procurando o maior
lucro, orientam as forças de demanda e de oferta que Oferta
(valor privado)
são responsáveis por alocar os recursos disponíveis da
melhor forma possível.
No entanto, a livre atuação do mercado, em alguns
casos, não atinge esse resultado. A depender de quais
sejam as características, a produção e o consumo de um
bem podem ir de encontro aos pressupostos adotados
Demanda
em nossa análise até este ponto. Nesses casos, diz-se que (valor privado)
existem falhas de mercado. É justamente contra essas
Q Ótimo Q Mercado Quantidade
falhas que o governo atuará, via função alocativa.
Um exemplo de falha de mercado pode ser visto
Gráfico — Externalidade negativa na produção
durante uma etapa da produção de cana-de-açúcar, caso
a colheita seja feita manualmente, em que é a queimada
da plantação (método de produção chamado de planta- O inverso é observado para o caso de externali-
tion). Uma produção maior desse bem implica na amplia- dades positivas na produção. Nesse caso, a empresa
ção da emissão de gases poluentes ao meio ambiente e o promove um incremento em termos de bem-estar dos
agravamento do efeito estufa. Os produtores de cana-de- agentes, mas não é recompensada por isso. Assim, a
-açúcar não consideram esse fator nos seus cálculos de firma tem um custo privado maior que o custo social,
lucro, o que os podem levar a escolher um nível de pro- e a quantidade que será ofertada é inferior à quanti-
dução compatível com uma poluição indesejável para o dade ótima.
restante da sociedade. Nesses casos em que as decisões
de um agente interferem no bem-estar de outro, temos Preço Oferta
($ por unidade)
uma falha de mercado denominada de externalidade. (valor privado)
O exemplo mostrado acima se refere a uma externa-
Custo Social
lidade negativa, ou seja, de algum modo, a decisão de
um agente (no caso, o produtor de cana-de-açúcar) aca-
ba reduzindo o bem-estar de outro (a sociedade). Porém,
também é possível que existam externalidades positi-
vas. Nesses casos, a ação de um agente promove uma
melhora em termos de bem-estar para outro agente.
Para um exemplo de externalidade positiva, imagine Demanda
(valor privado)
que um cidadão contrata um segurança para proteger
a entrada de sua residência, com isso ele pode promo- Q Mercado Q Ótimo Quantidade
ver um benefício aos demais moradores da rua, pois a
presença desse profissional pode reduzir a presença de Gráfico — Externalidade positiva na produção
assaltantes no local.
292
Como exemplo, assuma que uma empresa pode se instalar em um prédio que precisa ser restaurado. A restau-
ração do prédio geraria uma externalidade positiva para o restante da população, pois estaria contribuindo para
a preservação do patrimônio histórico da localidade. No entanto, é possível que a firma opte por se instalar em
um prédio novo e não faça a restauração, porque não será recompensada por isso.
No caso das externalidades de consumo, o problema está na diferença entre o benefício privado e social. No
caso da externalidade positiva, o benefício privado é menor que o benefício social, e o consumidor irá adquirir
uma quantidade menor que a socialmente ótima. Por exemplo, se o custo com o segurança for elevado o bastante,
de modo que supere o benefício que geraria para o morador, ele não o contrata e não promove um ganho de bem-
-estar para os seus vizinhos. Em casos como esse, a curva de demanda individual está à esquerda da socialmente
ótima.

Preço Oferta
($ por unidade) (valor privado)

Valor Social

Demanda
(valor privado)

Q Mercado Q Ótimo Quantidade

Gráfico — Externalidade de consumo positiva

No caso de uma externalidade de consumo negativa, o indivíduo que não se preocupa com o bem-estar dos demais
decidirá consumir uma quantidade superior à socialmente ótima. A curva de demanda do indivíduo está à direita da
curva de demanda social, representando um benefício individual superior ao benefício social.
Para entender melhor tal situação, imagine as escolhas de um fumante que não se preocupa com as demais
pessoas. A quantidade de cigarros que o fumante consumirá e a quantidade de fumaça desagradável que será
produzida é maior do que aquela que ainda seria aceitável em termos sociais.
Em todos os casos estudados, os problemas com a externalidade são causados porque os custos ou os benefí-
cios privados diferem dos sociais. Então, para eliminar ou pelo menos reduzir as ineficiências do mercado quan-
do alguma externalidade está presente, é preciso encontrar formas de internalizar as externalidades, ou seja,
penalizar os agentes que causam externalidades negativas e recompensar os agentes que promovem externa-
lidades positivas. Essas soluções para as externalidades podem ser tanto privadas, como promovidas por ações
governamentais.

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


Preço Oferta
($ por unidade) (valor privado)

Demanda
(valor privado)

Valor Social

Q Ótimo Q Mercado Quantidade

Gráfico — Externalidade de consumo negativa

No caso das soluções privadas, os próprios agentes encontram meios de internalizar as externalidades. Por exemplo,
quando as pessoas fazem doações a uma instituição que cuida de crianças carentes, elas recompensam essa instituição
das externalidades positivas que seu trabalho promove, e permitem que ela amplie seu trabalho.
No caso de duas empresas, as externalidades também poderiam ser internalizadas caso a decisão de ambas fosse
realizada conjuntamente. Por exemplo, se uma fábrica de papel que polui um rio e a empresa de pesca que utiliza esse
rio decidissem conjuntamente suas quantidades, a solução seria eficiente do ponto de vista social.
Isso também ocorreria para o caso de externalidade positiva. Imagine, por exemplo, um produtor de maçãs e um
apicultor. As abelhas ajudam a polinizar as plantas de maçãs, e utilizam o néctar extraído das flores das maçãs para pro-
duzir mel. Esses dois produtores se beneficiariam caso decidissem o quanto produzir conjuntamente. Situações como
essa explicam por que alguns grupos empresariais operam em mercados diferentes ao mesmo tempo.
Outra solução privada para a externalidade é através da negociação. As partes que causam a externalidade e as que
sofrem seus efeitos, sejam indivíduos ou empresas, podem negociar alguma forma de compensação para a produção de
externalidade. Por exemplo, um indivíduo que é vizinho de uma casa de shows pode negociar com o proprietário desse 293
estabelecimento alguma forma de compensação (como máxima por empresa, mas permite que empresas com
um pagamento) pelo som que incomoda seu sono duran- maior dificuldade de reduzir seus níveis de poluição
te a madrugada. Essa é a ideia do Teorema de Coase3, possam comprar as licenças das que conseguem reduzir
segundo o qual: com mais facilidade.
A ideia comum entre impostos pigouvianos e licenças
Os agentes econômicos são capazes de resolver os de poluição é a criação de um mercado para a externa-
problemas das externalidades desde que não incor- lidade (por isso são soluções baseadas no mercado). Nos
ram em custos adicionais pela negociação e os dois casos, a poluição foi tratada como um produto para
direitos de propriedade estejam bem definidos.
o qual existe um preço que as empresas devem pagar.
A vantagem dessa estratégia é que empresas diferentes
As duas restrições impostas pelo teorema de Coase não precisam reduzir a poluição na mesma magnitude
são bastante significativas. Para entender, primeiro ima-
e, ainda assim, a economia conseguiria atingir um nível
gine que a casa de shows está localizada em um bairro
satisfatório de proteção ao meio ambiente. No entanto,
residencial, então o direito de propriedade está bem defi-
uma dificuldade com esses sistemas está na determina-
nido, o seu vizinho deveria ter o direito de ter uma noi-
ção dos valores que serão cobrados, pois tanto o imposto
te tranquila e sem ruídos. Mas, se estiverem localizadas
como a licença podem gerar incentivos ineficientes no
em um bairro que não existe nenhuma regulamentação
a respeito, nesse caso a negociação pode ser impossível. combate à poluição.
Além disso, a negociação pode ser inviabilizada se os
custos para tanto forem elevados. Voltemos ao exemplo BENS PÚBLICOS, SEMIPÚBLICOS, BENS PRIVADOS
da casa de shows, um acordo poderia acontecer se o dono
da empresa e o morador da residência ao lado pudessem Em geral, os mercados são uma forma eficiente
conversar entre si. No entanto, se eles precisam contra- de organizar uma economia. A partir das informações
tar advogados, os custos podem ser tão elevados, que a passadas pelos preços, as decisões dos consumidores e
negociação deixa de ser realizada. dos produtores racionais garantem que o equilíbrio de
Os exemplos que foram estudados até agora envol- mercado seja compatível com o maior excedente agre-
viam apenas dois agentes econômicos, mas outra dificul- gado possível.
dade para que as externalidades sejam solucionadas de No entanto, vimos que os mercados privados podem
modo privado está relacionada à coordenação de inte- não ser eficientes na presença de externalidades (de
resses quando um grande número de agentes está envol- consumo ou de produção). Nesses casos, há uma dife-
vido. Por exemplo, se a empresa de papel que polui o rio, rença entre custos sociais e privados ou benefícios
ao invés de negociar com outra empresa de pesca, tivesse sociais e privados, de modo que a quantidade produzida
que entrar em acordo com vários pequenos pescadores e do bem não será socialmente ótima. Um caso especial de
encontrar uma solução para satisfazer a todos, seria mui- externalidade de consumo ocorre em mercados de bens
to mais complicado. públicos e recursos comuns.
Como as negociações entre os agentes podem ser Bens públicos são diferentes de produtos privados,
bastante complicadas, de modo a inviabilizar um acordo pois são não excludentes e não rivais no consumo.
mutuamente benéfico, o governo pode desempenhar um Uma camisa, um notebook ou uma porção de batata
papel decisivo para solucionar as externalidades. Essa frita são exemplos de bens privados. O preço do note-
ação governamental pode se dar por meio de políticas de book exclui uma parcela dos consumidores que não têm
comando ou políticas baseadas no mercado. condições de adquiri-lo, e uma vez que alguém tenha
As políticas de comando são baseadas em regulamen- comprado uma determinada unidade, outro consumi-
tação dos direitos de propriedade. Voltando ao exemplo dor não pode comprar a mesma máquina. Nossa aná-
da casa de shows, o governo pode resolver a questão lise com relação às escolhas dos agentes econômicos foi
colocada proibindo a instalação desse tipo de estabele-
realizada considerando que os bens apresentavam essas
cimento em bairros com residências. No caso da fábrica
características.
de papel, o governo também poderia estipular um valor
Por sua vez, a defesa nacional é um exemplo de bem
máximo para sua poluição.
público. O combate a agressores externos é um serviço
No entanto, a maioria dos economistas acredita que
que não exclui nenhum dos residentes de um país. Além
essas soluções não seriam mais indicadas, pois não con-
disso, quando um indivíduo se beneficia da defesa nacio-
tribuiriam para uma utilização eficiente dos recursos
produtivos. Como alternativa, são sugeridas políticas que nal não significa que mais ninguém será beneficiado.
se baseiam nas forças de mercado, como a implementa- É importante destacar que, apesar do que o exemplo
ção de impostos pigouvianos4. e a própria denominação podem indicar, bens públicos
Os impostos pigouvianos funcionam da seguinte for- não são o mesmo que bens oferecidos pelo governo, pois
ma: são cobradas taxas de agentes econômicos que pro- a classificação depende de atributos próprios dos bens.
movem externalidades negativas e são pagos subsídios Por exemplo, um hospital público oferta um serviço pri-
para agentes que promovem externalidades positivas. vado, pois, uma vez que um de seus leitos estejam ocu-
Assim, um imposto pigouviano poderia ser cobrado da pados por alguém, outro indivíduo não poderá usufruir
empresa de papel poluidora, de modo que ela seria res- do serviço.
ponsável pelos custos da poluição. Considerando os cus- Os recursos comuns também são diferentes de bens
tos com os impostos, a empresa de papel provavelmente privados, mas porque são apenas não excludentes. Por
reduziria a produção de poluentes. exemplo, não se impede que indivíduos trafeguem pelas
No caso de questões ambientais, outra opção é atra- vias públicas em uma cidade, porém a má utilização
vés da emissão de licenças negociáveis de poluição. Nes- delas por alguém pode prejudicar os outros (lembre-se
se caso, o governo estipula uma produção de poluentes dos engarrafamentos).
3 Homenagem ao economista Ronald Coase.
294 4 Homenagem ao economista Arthur Pigou.
Agora diferenciamos bens privados, públicos e Por esse motivo, atividades extrativistas possuem
recursos comuns, podemos analisar de que forma as regulamentação especial, principalmente as que
características dos dois últimos implicam em externa- envolvem a caça e a pesca. Por exemplo, a produção
lidade de consumo e ineficiência dos mercados. de certos pescados deve ser interrompida nas épocas
Suponha que uma empresa estava disposta a rea- do ano de procriação. No Brasil, esse tipo de controle é
lizar uma obra de revitalização do calçadão de uma realizado pelo Ibama, com o objetivo de evitar tantos
famosa praia localizada em uma cidade brasileira. problemas ambientais, como setoriais.
A revitalização do calçadão contribuiria para atrair
turistas e para uma melhor circulação dos moradores. INFORMAÇÃO ASSIMÉTRICA
Como se tratava de uma obra que favoreceria todos os
cidadãos, a empresa se propôs a dividir o que cobraria Um dos pressupostos necessários para que os mer-
entre eles de acordo com a capacidade de pagamento cados atinjam resultados eficientes é aquele que diz
de cada um. respeito à informação perfeita. De acordo com esse
Desse modo, para estudar a viabilidade da obra, a pressuposto, tanto compradores, como vendedores
firma fez uma pesquisa para saber quanto os morado- têm acesso a todas as informações relevantes para
res da cidade estariam dispostos a pagar. O resultado suas decisões. Desse modo, nenhuma das partes em
dessa pesquisa indicou que o valor que seria arreca- uma negociação teria uma vantagem sobre a outra, e
dado não é suficiente para superar os custos da refor- não existiriam incertezas.
ma. Então, apesar dos benefícios que seriam obtidos, Em um ambiente de informação perfeita, os pre-
a revitalização não foi realizada. ços sintetizam todas essas informações relevantes
No exemplo exposto, o resultado foi insatisfatório para os consumidores e produtores, pois refletiriam a
porque pode ser que cada pessoa tenha informado um escassez e os custos de produção. Por isso, vimos que
valor inferior ao que teria condições de pagar, pois as decisões dos consumidores e firmas dependiam
acreditava que a resposta das demais seria suficiente diretamente dos preços dos produtos no mercado.
para garantir a realização da obra devido a sua impor- No entanto, apesar de desejável, não é possível
tância. Como todos pensaram de modo semelhante, garantir que todos os mercados operam com infor-
a quantidade oferecida do bem público foi inferior mações perfeitas, em alguns casos há informações
àquela socialmente desejada. assimétricas (ou imperfeitas). Na presença de infor-
O resultado obtido no exemplo é conhecido como o mações assimétricas, as formas de demanda e oferta
Problema do Carona. Esse problema ocorre quando os não são capazes de promover um equilíbrio eficiente.
indivíduos tentam obter vantagem sobre os demais, Por isso, a assimetria de informações é considerada
se recusando a pagar por um bem público que pro- uma falha de mercado.
move um benefício para todos, ou seja, tentam pegar Para entender por que as informações imper-
carona no que seria custeado pelos demais. feitas geram resultados ineficientes, vamos estudar
Os governos assumem um papel importante para o mercado de carros usados em que compradores
evitar que a provisão de bens públicos gere resulta- não têm informação sobre a qualidade dos carros
dos ineficientes devido ao problema do carona, atra- comercializados5.

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


vés da imposição de impostos. No exemplo anterior, Digamos que existem dois tipos de carros usados
a revitalização do calçadão seria concretizada caso o em um feirão: os carros de boa qualidade e os carros
governo se responsabilizasse por cobrar uma taxa de de má qualidade, disponíveis na mesma quantidade.
cada morador. Admita também que os vendedores dos carros de má
Porém, o imposto não é uma solução simples. O qualidade estão dispostos a vendê-los por, no mínimo,
governo deve realizar um estudo de custo-benefício R$ 7.000, e que os vendedores dos carros de boa qua-
da produção do bem público, para determinar qual a lidade desejam vendê-los por, pelo menos, R$ 20.000.
quantidade que deveria ser ofertada, e qual deveria Nesse mesmo mercado, suponha ainda que os con-
ser o valor do imposto. Esse estudo pode ser uma tare- sumidores pagariam até R$ 22.000 por um carro de
fa bastante difícil, principalmente para determinar os boa qualidade e até R$ 8.000 por um de má qualidade.
verdadeiros benefícios gerados pelo bem público. Assim, se os consumidores soubessem a qualidade do
Os mercados de recursos comuns também podem carro que está sendo negociado, o preço de equilíbrio
gerar resultados ineficientes. Para esclarecer pense para as unidades de boa qualidade seria algo entre R$
na atividade de pesca em uma comunidade ribei- 20.000 e R$ 22.000, e o preço para as unidades de má
rinha. Nesse caso, os peixes seriam um exemplo de qualidade seria entre R$ 7.000 e R$ 8.000.
recurso comum, visto que não haveria como impedir No entanto, como os vendedores de carros ruins
que um indivíduo se dedicasse à pesca, mas a decisão sabem que os consumidores pagariam um preço mais
de quanto pesca de um pescador influencia na quanti- elevado por carros de boa qualidade, eles tentaram
dade de peixes disponível para os demais. enganar os compradores com relação à verdadeira
Inexistindo qualquer forma de controle da pesca, qualidade do produto que estão vendendo.
um novo pescador entraria no mercado sempre que Os consumidores, por sua vez, também sabem que
houvesse lucro, e os pescadores já existentes teriam existe um incentivo por parte dos vendedores para
o incentivo de aumentar a produção. Como o peixe é agirem dessa forma. Então, para minimizar os efei-
um bem escasso, a produção excessiva poderia pro- tos de uma possível compra de carro de má qualida-
vocar uma mudança ambiental, como a extinção das de, eles pagarão no máximo um preço médio de R$
espécies, o que prejudicaria todos os produtores. 15.000.

5 George Akerlof foi o primeiro a contribuir com essa análise, com o trabalho: “The Market for Lemons: Quality Uncertainty and the Market Mecha-
nism” The Quartely Journal of Economics, 84, 1970, pp. 488-500. 295
Essa atitude do consumidor irá expulsar do feirão indivíduos com maior risco se interessariam em contra-
os carros de boa qualidade, pois os vendedores desses tar o seguro, e as despesas da seguradora seriam maiores
carros aceitariam comercializá-los por, no mínimo, R$ do que o esperado.
20.000, preço acima do preço médio que os consumi- Outro problema que envolve falta de informação
dores estariam dispostos a pagar. comum nos mercados de seguros é o perigo moral. Nes-
Portanto, um resultado ineficiente foi gerado devi- se caso, uma parte do mercado não consegue identificar
do à falta de informação por parte dos consumidores. as ações do outro lado do mercado. Por isso o perigo
Apesar de existir uma demanda, nenhum carro de moral também é conhecido como ação oculta.
boa qualidade será vendido, e haverá um excesso de Vamos analisar o mercado de seguros para carro
oferta de carros de má qualidade, pois o preço médio novamente para esclarecer o perigo moral. Quando um
do feirão é elevado. indivíduo contrata um seguro, há um incentivo para que
No exemplo estudado, um dos produtos (carros ele mude sua atitude com relação aos hábitos de direção.
usados de boa qualidade) foi excluído do mercado. Por exemplo, um indivíduo evita estacionar em certos
Mas, isso não é um resultado que possa ser generali- locais onde sabe que seu carro tem maior probabilida-
zado. A depender do mercado, é possível que produ- de de ser roubado, mas com o carro segurado ele pode
tos de diferentes qualidades coexistam mesmo que os se sentir menos temeroso. Essa mudança de comporta-
consumidores não tenham informações suficientes mento do indivíduo aumenta os riscos para a companhia
para diferenciá-los. de seguro, sem que ela possa perceber, ou seja, ela está
Por exemplo, imagine um mercado competitivo incorrendo em perigo moral.
no qual empresas de produtos com boa qualidade e Como forma de evitar o perigo moral e a seleção
empresas de produto de má qualidade produzem com adversa as companhias de seguro adotam diversos
um mesmo esquema de custos. Se os consumidores procedimentos. Elas tentam mapear os seus segurados
para evitar a seleção adversa, através de questionários,
pagam no máximo um preço Pmáx pelos produtos
e cobram preços diferentes a depender dessas informa-
de boa qualidade, e um Pmín pelos produtos de má ções, por exemplo, pessoas mais jovens pagam mais do
que pessoas mais velhas. Os seguros cobrem certos tipos
qualidade, então o preço de equilíbrio de mercado, de sinistros, as companhias de seguro não pagam o segu-
ro caso o condutor do veículo consuma bebidas alcoó-
Pequilíbrio , determina a quantidade de empresas que licas, evitando problemas devido à mudança nas ações
produzem artigos de boa qualidade que permanecem dos segurados.
no mercado, a partir da seguinte fórmula: Com esses procedimentos, as seguradoras esperam
que os segurados sinalizem corretamente a que grupo
eles pertencem (mais ou menos risco) e quais as suas
Pmáx ( q ) + Pmín (1 − q ) =
Pequilíbrio , ações após o contrato. De um modo geral, a sinalização
é uma solução para a falta de informação, para tanto é
necessário um bom esquema de incentivos.
Onde q é a proporção de produtos de boa qualidade
Como estudamos anteriormente, um dos princípios
que estarão disponíveis.
básicos da economia é o seguinte: os agentes econômicos
Vamos alterar um pouco o exemplo anterior, imagine
respondem a incentivos. Ou seja, existem meios de alte-
que seja mais barato para as empresas para produzir o
rar as escolhas dos agentes a partir de algum sistema de
bem de baixa qualidade. Então, todas as empresas opta-
recompensas e/ou punições. No nosso exemplo, a segura-
riam por fabricar os produtos de baixa qualidade, pois
dora incentiva indivíduos com condutas menos arrisca-
teriam lucro.
No entanto, os consumidores perceberiam, em algum das a adquirirem os seguros cobrando um preço menor
momento, que no mercado só existe produtos de má no contrato (recompensa), e, por isso, esses indivíduos
qualidade. Com essa percepção eles mudariam o preço têm o interesse de sinalizar corretamente seu tipo.
de equilíbrio, tornando-o igual ao preço que pagariam
por esse tipo de produto. Se esse preço for muito baixo, EXTERNALIDADES
então todas as firmas sairiam do mercado.
Perceba que nesse último caso, a falta de informa- De acordo com Mankiw (2013),
ção por parte do consumidor resultou na retirada do
produto do mercado independentemente da qualidade. Uma externalidade surge quando uma pessoa se
Nesse caso, diz-se que ocorreu um problema de seleção dedica a uma ação que provoca impacto no bem-
adversa. -estar de um terceiro que não participa dessa ação,
sem pagar nem receber nenhuma compensação
A seleção adversa ocorre quando uma parte do mer-
por esse impacto. Se o impacto sobre o terceiro é
cado não possui informações a respeito dos tipos e/ou
adverso, é denominado externalidade negativa.
qualidades do outro lado do mercado. Por isso, a seleção
Se é benefício, é chamado externalidade positiva.
adversa também é conhecida por problema da informa-
Quando há externalidades, o interesse da sociedade
ção oculta. em um resultado de mercado vai além do bem-estar
Um exemplo tipicamente utilizado para ilustrar a dos compradores e dos vendedores que participam
seleção adversa é o mercado de seguros. A seguradora do mercado; passa a incluir também o bem-estar de
enfrenta esse problema se não conseguir identificar e terceiros que são indiretamente afetados. Como os
separar os segurados que possuem mais riscos dos que compradores e vendedores desconsideram os efei-
possuem menos riscos. tos externos de suas ações quando decidem quanto
Se uma seguradora de carros cobrasse um preço demandar ou ofertar, o equilíbrio de mercado não é
médio por seguro, baseado na probabilidade média de eficiente quando há externalidades. Ou seja, o equi-
uma pessoa ter o carro furtado ou danificado, então líbrio não maximiza o benefício total para a socie-
296 ela teria prejuízo. Isso ocorreria porque somente os dade como um todo. (Mankiw, 2013, p. 184).
EXTERNALIDADES NEGATIVAS

Usaremos como exemplo as fábricas de alumínio que emitem poluição: para cada unidade de alumínio produzida, uma
determinada quantidade de fumaça entra na atmosfera. Como a fumaça cria um risco para a saúde de quem respira esse
ar, é uma externalidade negativa. Como essa externalidade afeta a eficiência do resultado de mercado?

Por causa da externalidade, o custo da produção de alumínio para a sociedade é maior do que o custo para os
produtores de alumínio. Para cada unidade de alumínio produzida, o custo social inclui os custos privados para os
produtores mais os custos das pessoas afetadas adversamente pela poluição. (Mankiw, 2013, p. 186)

Mais adiante apresentaremos um gráfico no qual podemos ver o custo social da produção de alumínio. A curva de
custo social se localiza acima da curva de oferta porque leva em consideração os custos externos impostos à sociedade
pelos produtores de alumínio. A diferença entre as duas curvas reflete o custo da poluição emitida.
Que quantidade de alumínio se deve produzir? Para responder a essa pergunta, deve-se considerar nova-
mente o que faria um planejador social benevolente. O planejador quer maximizar o excedente total originado
no mercado, o valor do alumínio para os consumidores menos o custo de produção dele. O planejador entende,
porém, que o custo de produção inclui os custos externos da poluição.
O nível de produção escolhido seria o que apresenta uma curva de demanda que cruza a curva de custo social. Do
ponto de vista da sociedade como um todo, essa interseção determina a quantidade ótima de alumínio produzida. O
nível é medido pela altura da curva de custo social. O planejador não produz mais do que esse nível porque o custo
social da produção adicional de alumínio ultrapassa o valor para os consumidores.

Observe que a quantidade de equilíbrio de alumínio, Qmercado, é maior do que a quantidade socialmente ótima,
Qótima. Essa ineficiência ocorre porque o equilíbrio de mercado reflete apenas os custos privados de produção. No
equilíbrio do mercado, o consumidor marginal atribui ao alumínio um valor inferior ao custo social de produção.
Ou seja, em Qmercado, a curva de demanda está abaixo da curva de custo social. Com isso, reduzir a produção e
o consumo de alumínio deixando-os abaixo do nível de equilíbrio de mercado eleva o bem-estar econômico total.
(Mankiw, 2013, p. 186)

Como pode, o planejador social, atingir o resultado ótimo? Uma meio possível seria tributar os produtores de
alumínio por tonelada vendida. O imposto deslocaria a curva de oferta de alumínio para cima no montante do
imposto. Se o imposto refletisse o custo externo da fumaça lançada na atmosfera, em sua totalidade, a nova cur-
va de oferta coincidiria com a curva de custo social. No novo equilíbrio de mercado, os produtores de alumínio
fariam a quantidade socialmente ótima de alumínio.

O uso de um imposto como esse é chamado internalização de uma externalidade porque dá aos compradores e
vendedores de um mercado um incentivo para que levem em conta os efeitos externos de suas ações. Essencialmente,

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


os produtores de alumínio considerariam os custos da poluição ao decidirem quanto alumínio ofertar, uma vez que o
imposto faria com que eles pagassem por esses custos externos. E, como o preço de mercado refletiria esse imposto
nos produtores, os consumidores de alumínio teriam um incentivo para usar menor quantidade. (Mankiw, 2013, p.
187)

Veja, a seguir, sobre a Poluição e Ótimo Social:

z Na presença de uma externalidade negativa, como a poluição, o custo social do bem excede seu custo privado.
A quantidade ótima, Qótima, é portanto, menor que a quantidade de equilíbrio, Qmercado.

Preço Custo social


do (custo privado
e custo externo)
alumínio

Oferta
Custo externo (custo
privado)

Ótimo

Equilíbrio

Qótima Qmercado Quantidade de alumínio


297
EXTERNALIDADES POSITIVAS No que tange à estabilização econômica, é salien-
te a relevância da política monetária como instru-
Veja o que diz Mankiw (2013) sobre o assunto: mento crucial. Esta política visa influenciar a oferta
de dinheiro e as taxas de juros, almejando impactar
Embora algumas atividades imponham custos a a economia em sua dimensão macroeconômica. A
terceiros, outras geram benefícios. Considere a edu- manipulação das taxas de juros constitui um meio
cação, por exemplo. Em grande escala, o benefício
eficaz para criar condições propícias ao crescimento
da educação é privado: o consumidor da educação
se torna um trabalhador mais produtivo e recebe
econômico sustentável e para promover estabilidade
grande parte do benefício na forma de salários mais no sistema financeiro. No contexto do controle infla-
altos. Além desses benefícios privados, entretanto, cionário, a política monetária visa, ainda, assegurar
a educação também gera externalidades positivas. a estabilidade de preços (Montes e Assumpção, 2014).
Primeiro, uma população mais instruída produz A política fiscal, por sua vez, refere-se à admi-
eleitores mais bem-informados, o que significa um nistração dos recursos públicos, abrangendo tanto
governo melhor para todos. Segundo, tende a dimi- os gastos quanto à tributação, com o propósito de
nuir a taxa de criminalidade e terceiro, pode encora- influenciar a dinâmica econômica. Quando conduzida
jar o desenvolvimento e a disseminação de avanços de maneira responsável, a política fiscal visa atingir
tecnológicos, aumentando o nível de produtividade e o equilíbrio das contas públicas, assegurando que os
salários para todos. Em virtude destas três externa- dispêndios governamentais estejam alinhados com a
lidades positivas, uma pessoa pode preferir ter vizi-
receita arrecadada (Montes e Assumpção, 2014).
nhos bem instruídos. (Mankiw, 2013, p. 187)
Se adequadamente implementada, a política fiscal
pode funcionar como uma ferramenta capaz de esti-
A análise das externalidades positivas é semelhan-
mular a economia, impulsionando a demanda agrega-
te à análise de externalidades negativas. A curva de
da em períodos de recessão, ou como um mecanismo
demanda não reflete o valor do bem para a socieda-
de contenção do crescimento acelerado durante as
de. “Como o valor social é maior que o valor privado, a
curva de valor social fica acima da curva de demanda.” fases de expansão robusta. Dessa forma, ela pode con-
(Mankiw, 2013, p. 187). A quantidade ótima encontra- tribuir para a estabilidade econômica a longo prazo.
-se onde a curva de valor social e a curva de oferta É imperativo ressaltar, contudo, que tanto a política
(que representa os custos) se interceptam. Por isso, monetária quanto a fiscal devem ser coordenadas e
a quantidade social ótima é maior que a quantidade inter-relacionadas para otimizar seus impactos na
determinada pelo setor privado. economia (Montes; Assumpção, 2014).
Em relação ao papel do governo no desenvolvi-
Mais uma vez, o governo pode corrigir as falhas de mento, é relevante considerar a conceituação proposta
mercado induzindo os participantes a internalizar pelos estruturalistas, os quais delinearam o desenvolvi-
a externalidade. A resposta apropriada, no caso de mento econômico como um processo intrinsecamente
externalidades positivas, é exatamente o oposto ao vinculado ao crescimento e à mudança estrutural. O
caso das externalidades negativas. Para deslocarem desenvolvimento, conforme proposto por essa abor-
o equilíbrio de mercado social ótimo, as externali- dagem, é impulsionado não apenas pelo crescimento
dades positivas requerem um subsídio. Na verdade, econômico, mas também pela indução de alterações
essa é exatamente a política que o governo adota: a estruturais, estabelecendo, assim, um ciclo virtuoso.
educação é altamente subsidiada por meio de esco- Contudo, ao longo do tempo, a análise do desen-
las públicas e bolsas concedidas pelo governo.
volvimento econômico foi, em grande parte, reduzida
Resumindo: as externalidades negativas fazem
ao crescimento, relegando a importância da mudança
com que os mercados produzam uma quantida-
de maior do que a socialmente desejável. Por sua estrutural. Tal desconsideração é, em parte, atribuível
vez, as externalidades positivas fazem com que os às ideologias liberais e neoliberais que prevaleceram.
mercados produzam uma quantidade menor do A desvalorização da intervenção estatal em favor
que a socialmente desejável. Para solucionar esse dos benefícios do livre mercado, resultante dessa
problema, o governo pode internalizar a externali- mudança paradigmática, não oferece uma solução
dade tributando bens que carregam externalidades abrangente para os desafios fundamentais do desen-
negativas e subsidiando os bens que trazem exter- volvimento econômico, especialmente no que diz res-
nalidades positivas. (Mankiw, 2013, p. 219) peito à mudança estrutural necessária.
Nesse contexto, torna-se imperativa a reafirma-
REFERÊNCIAS ção da importância da intervenção do Estado como
agente crucial na promoção e regulação eficaz do
MANKIW, G. Introdução à Economia. 6ª ed. São desenvolvimento. A atuação estatal é essencial para
Paulo: Cengage Learning, 2013. viabilizar uma mudança estrutural eficiente, intervin-
do de maneira estratégica e orientada para as neces-
sidades específicas do processo de desenvolvimento
PAPEL DO GOVERNO NA ECONOMIA: econômico.
Outro aspecto crucial da intervenção governamen-
ESTABILIZAÇÃO ECONÔMICA,
tal na economia reside na sua capacidade de influen-
PROMOÇÃO DO DESENVOLVIMENTO E ciar a distribuição de renda, desempenhando um
REDISTRIBUIÇÃO DE RENDA papel determinante na mitigação das disparidades
sociais. A distribuição equitativa de renda é essencial
O papel desempenhado pelo governo na economia para a redução das desigualdades sociais, e políticas
de um país é de suma importância, destacando-se três nesse sentido visam oferecer suporte às famílias em
principais vertentes: a estabilização econômica, a pro- situação de vulnerabilidade financeira.
298 moção do desenvolvimento e a redistribuição de renda.
Dentre as iniciativas notáveis, destacam-se progra- Antecedentes Históricos do Sistema de Contas
mas como o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida Nacionais
e o Sistema Único de Saúde (SUS). Essas políticas não
apenas exercem um impacto significativo na socieda- Não é possível falar dos Antecedentes do Sistema
de ao aliviar a pobreza e proporcionar melhores con- de Contas Nacionais sem antes falar o que são as Con-
dições de vida aos menos favorecidos, mas também tas Nacionais.
geram efeitos positivos na economia. Ao fornecer Para que você entenda melhor, as contas nacionais
suporte financeiro às famílias mais necessitadas, tais trabalham, de certa forma, como o balanço de uma
programas estimulam o consumo, contribuindo para determinada empresa. Assim, elas mostram uma foto-
o dinamismo econômico e, por conseguinte, para o grafia do desempenho de determinada economia em
aumento do padrão de vida (Biancarelli, 2014). um determinado período de tempo.
Assim, a participação ativa do governo na distri- Exatamente da mesma forma que o balanço de
buição de renda não apenas atende a imperativos uma determinada empresa. A diferença entre as duas
sociais, mas também desempenha um papel relevan- formas de mensuração é que a Contabilidade Nacio-
te no fomento do crescimento econômico sustentável nal registra mais informações do que a Contabi-
(Biancarelli, 2014). lidade Empresarial, não apenas porque um país é
Um mecanismo crucial adotado pelo governo para maior que uma empresa (considerando empresas de
a distribuição de renda é a implementação de siste- uma forma geral), mas também porque a Contabili-
mas fiscais progressivos, nos quais a taxa de imposto dade Nacional registra, de acordo com Feijó, como o
aumenta proporcionalmente à renda do contribuin- produto é usado, consumido e exportado, como é dis-
te. Essa abordagem, que impõe uma carga tributária tribuído funcionalmente e qual a porção destinada a
mais elevada sobre os mais ricos e alivia a tributação investimentos e ao aumento de estoques. Além disso,
para os estratos de menor renda, juntamente com a CN mostra também como o investimento de deter-
outras políticas de redistribuição de renda, constitui minado país é financiado.
um instrumento eficaz na redução das disparidades Esse sistema bem completo de contabilização das
econômicas. operações de um país não é recente. Com sua origem
Entretanto, no contexto brasileiro, depara-se com na Definição e Medição do Rendimento Nacional
o desafio significativo da evasão fiscal entre os mais e Totais Relacionados, publicado em 1947 pelo Sub-
afluentes. A efetiva solução para essa problemática comitê de Estatísticas do Rendimento Nacional da
requer uma fiscalização rigorosa e eficiente direcio- Sociedade das Nações, indicava como obter a Renda
nada a essa parcela da população. A implementação Nacional e o Produto Nacional Bruto por “seleção e
de medidas que fortaleçam os mecanismos de contro- combinação de operações elementares de um siste-
le fiscal e assegurem o cumprimento das obrigações ma econômico e como apresentar a interdependên-
tributárias por parte dos mais ricos é crucial para cia dessas operações”, o primeiro sistema de Contas
garantir a eficácia dos sistemas fiscais progressivos. Nacionais foi publicado pela Organização das Nações
Unidas em 1953 com base nos estudos de Richard Sto-
REFERÊNCIAS ne, James Meade (ambos da Inglaterra) e Simon Kuz-
nets (dos EUA).

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


BIANCARELLI, A. M. A Era Lula e sua questão eco- Na sua primeira versão, o Sistema de Contas Nacio-
nômica principal: crescimento, mercado interno nais possuía como fundamento, a divisão do sistema
e distribuição de renda. Revista do Instituto de econômico em três agentes: famílias, empresas e admi-
Estudos Brasileiros, n. 58, p. 263–288, jun. 2014. nistração pública, que, por sua vez, eram divididos em
Disponível em: https://www.scielo.br/j/rieb/a/ quatro contas: produção, apropriação e uso da renda,
WxtBNXgtwwc9GZmxvCTwPmP/?lang=pt#. Acesso formação bruta de capital fixo e transações no exterior.
em: 22 jan. 2024. Nesse sistema, os agregados produção, renda e
MONTES, G. C.; ASSUMPÇÃO, A. C. DE J. Uma Nota despesa pública e privada eram estimados através
Sobre o Papel da Credibilidade da Política Monetá- de um sistema contábil que permitia a medição sis-
ria e Fiscal: Evidências para o Brasil. Revista Bra- temática dos níveis globais de desempenho econômi-
sileira de Economia, v. 68, n. 4, p. 497–515, out. co dos países, dando uma importância significativa a
2014. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbe/a/ cifra de dispêndios, com ênfase nos investimentos. A
C7SVfKJCyVbHtkKmwp4TKQP/?lang=pt#. Acesso explicação para esse direcionamento não é difícil de
em: 22 jan. 2024. compreender: como estávamos passando pela conso-
lidação da Teoria Keynesiana, era preciso saber como
o governo (através dos seus gastos em folha de paga-
MACROECONOMIA mentos e investimentos em obras públicas) estava
aumentando o nível de emprego e as atividades de
CONTAS NACIONAIS, AGREGADOS produção.
MACROECONÔMICOS, PRODUTO, RENDA E Foi apenas em 1993 que houve uma alteração
DESPESA, DIFERENTES CONCEITOS DE PRODUTO, para o novo Sistema de Contas Nacionais. Nesse ano,
CONSUMO, INVESTIMENTO, POUPANÇA a Organização das Nações Unidas, em parceria com
o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial,
As conta nacionais, seja pela antiga metodologia a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
adotada utilizada no período de 1985 a 1995, ou pela Econômico e a Comissão de Estatísticas das Comunida-
nova, empregada a partir de 1996, tem sido o assunto des Europeias divulgaram o System of National Accou-
mais frequente nos concursos da Receita Federal do nts 1993. Uma publicação de referência que poderia
Brasil e tem presença garantida nos concursos de fis- ser utilizada pelos países com economia de mercado
cos estaduais e dos bancos, qualquer que seja a banca ou em transição para que esses pudessem montar os
examinadora. seus sistemas de Contabilidade Nacional. 299
No Brasil, o Sistema de Contas Nacionais foi publi- Produto Interno Bruto (PIB) versus Produto Nacional
cado pela primeira vez em 1997 pelo Instituto Brasi- Bruto (PNB)
leiro de Geografia e Estatística. Esse sistema substitui
o anterior, denominado de Contas Consolidadas da Tem-se Produto Nacional Bruto (PNB) como:
Nação. Contudo, deve-se notar que nem sempre o SCN
no Brasil foi calculado pelo IBGE. Até 1986, era a Fun- […] a renda gerada pelos cidadãos de um país.
dação Getúlio Vargas (FGV) que contabilizava essas Inclui a renda que estes ganham no estrangeiro,
estatísticas. Finalmente, em 2007, o IBGE divulgou as mas não inclui a renda auferida pelos fatores de
Contas Nacionais na base 2000. produção existentes no país, que são de proprieda-
Atualmente, esse sistema apresenta uma integra- de estrangeira.7
ção de dados sistematicamente disponíveis sobre
a realidade econômica e social. Mas, para que esses Já o Produto Interno Bruto (PIB):
dados possam ser compilados de forma correta, é
preciso que eles tenham consistência estatística. […] é a renda auferida internamente. Inclui a ren-
Ou seja, cada um desses dados deve ser corretamen- da ganha internamente por estrangeiros, mas não
te contabilizado por um órgão de estatística do país inclui a renda ganha pelos cidadãos do país no
para que, dessa forma, possa ser disponibilizado para exterior.8
a construção das Contas Nacionais.
O SCN, através da nova metodologia, possui, como Podemos apontar que a diferença entre esses dois
coração, duas partes, como os dois lados do coração: indicadores reside no montante de rendas recebido e
as Contas Econômicas Integradas e a Tabela de enviado ao exterior. Ou seja, os fluxos de renda, royal-
Recursos e Usos. ties, lucros e juros recebidos e enviados demonstram
As Contas Econômicas Integradas trazem o con- o distanciamento entre os agregados PIB e PNB.
junto de contas de operações, contas de ativos e pas- Escrevendo a informação de forma simplificada,
sivos dos setores institucionais e do resto do mundo. temos:
A Tabela de Recursos e Usos, por sua vez, mos- PNB = PIB + RLRE
tra os resultados dos agregados macroeconômicos por
setores de atividades econômicas, medindo a produ- ou
ção e a geração de renda por setores. São as informa-
ções da TRU que serão utilizadas para a formação da PNB = PIB – RLEE
Matriz Insumo-Produto, que veremos ainda hoje.
É importante que você note que os saldos resul- Sobre o comportamento do Produto nacional
tantes das Contas Econômicas Integradas (saldos obti- brasileiro durante a segunda fase do regime militar,
dos pela classificação dos setores institucionais) e da temos que o II PND foi resultado em avanços para as
Tabela de Recursos e Usos (saldos obtidos pela classi- indústrias de bens intermediários e de energia, mes-
ficação de atividades) são idênticos, o que fortalece o mo que esse processo esteja ligado à presença de filiais
Sistema de Contas Nacionais. de empresas multinacionais no Brasil, representando,
Veremos, em primeiro instante, o principal agre- assim, alta ociosidade e pouca especialização.
gado macroeconômico responsável pela riqueza de No entanto, pode-se dizer que o ajuste estrutural
toda coletividade, ou melhor, a variável que mede a por meio do II PND não pôde estabelecer um novo
produção de bens e serviços da economia: o Produto padrão de crescimento para a economia brasileira,
Interno Bruto. movendo seu eixo dinâmico para a indústria de bens
de capital. Bem como também não foi capaz de remo-
O PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB) ver a vulnerabilidade externa expressa nos déficits
comerciais elevados e ampliados após o segundo cho-
O PIB pode ser definido como: que externo.
Pode-se observar que, nesse caso, dado o elevado
“O valor de mercado de todos os bens e servi- volume de renda transferido do Brasil para o exterior
ços finais produzidos em um país em um dado (como pagamentos aos investimentos externos), afir-
período de tempo.”
ma-se que, nesse período, o PIB brasileiro era maior
Deve-se notar que, dentro dessa definição, é possí-
que o PNB.
vel observar que todos os bens contabilizados no
PIB devem ser àqueles destinados ao consumo final.
Bens intermediários (utilizados na fabricação de PNB | PIB: Valor Adicionado e Dupla Contagem
bens finais) não serão contabilizados no PIB, uma
vez que o valor do bem final já considera o valor de O PIB | PNB é concebido pelo valor de todos os
todos os bens intermediários utilizados.6 bens e serviços finais gerados em um certo período
de tempo, por convenção, um ano. Somar o valor da
Pode-se observar, ainda, que a produção contabi- produção de todas as entidades produtivas significa
lizada no PIB faz relação ao que foi fabricado em um duplicar o valor das matérias-primas e dos produtos
determinado espaço geográfico, em uma unidade de intermediários produzidos e que são utilizados na
tempo estabelecida. Como exemplo, a compra de um produção de outros bens e serviços. Essas duplicações
apartamento ou um automóvel usado não é contabili- ensejam um indicador superestimado da produção
zados no PIB no ano de troca, sendo, apenas, no ano global de um país e deturpam qualquer análise de
de fabricação. políticas públicas.
6 Disponível em: https://pt.slideshare.net/danilosoba/ead-pernambuco-tcnico-em-administrao-economia-mercados. Acesso em: 27 dez. 2022.
7 Ibid.
300 8 Ibid.
A contabilização dupla é evitada pela introdução PIB Nominal e PIB Real
de um conceito de valor adicionado, que desconside-
ra da produção final a parcela de consumo interme- Outra distinção importante em uma economia diz
diário. Calcula-se o valor adicionado em cada etapa respeito a medida do PIB em termos nominais, isto é,
de produção, subtraindo-se do valor do produto da em valores correntes, em relação ao PIB em termos
fase em questão os bens intermediários e materiais reais, ou seja, a preços de um ano-base. O PIB Nomi-
que não foram gerados nesta fase, mas adquiridos de nal varia ao longo do tempo em função de variações
outras empresas. no preço dos bens e serviços e nas suas quantidades
Em síntese, o valor adicionado reside na contribui- produzidas. Contudo, se desejarmos medir a variação
ção de que cada unidade produtiva acrescenta sobre o do PIB em termos de volume, ou seja, de quantidades,
insumo para repassar o bem ou serviço para a frente. precisamos de uma medida que denominamos PIB a
O valor adicionado pode ser expresso pela seguinte termos constantes ou PIB a preços do ano anterior,
fórmula: ou, ainda, simplesmente, PIB Real. O PIB real deve ser
calculado tomando-se as quantidades no período cor-
Valor Adicionado = Consumo Final – Somatório dos rente nos preços de um ano-base.
Consumos Intermediários

Produto Interno Per Capita Importante!


Quanto maior o valor do produto, maior deve ser O PIB Nominal mede a produção de bens e servi-
o desempenho de uma economia e, portanto, maior ços avaliada a preços correntes;
deve ser o seu bem-estar. Mas a população normal- O PIB Real mede a produção de bens e serviços
mente também está crescendo, de tal maneira que é avaliada a preços constantes.
preciso verificar se está havendo um aumento efeito
do bem-estar para cada um dos membros da socieda-
de. É dentro desse contexto que surge o Produto Inter- O Deflator do PIB
no per capita.
O PIB per capita é uma referência importante Os economistas e os formuladores de políticas
como uma medida síntese de padrão de vida e de públicas (e as bancas de concurso também) se inte-
desenvolvimento econômicos dos países. É obtido ressam não somente pelo nível de produção total,
dividindo-se o PIB do ano pela população residente no medido pelo PIB real, mas também pelo nível de
mesmo período. Apesar de bastante divulgada, essa preço. O nível de preço mede os preços médios dos
medida não é uma representação satisfatória do nível bens e serviços na economia. Por intermédio dos
de qualidade de vida e de grau de desenvolvimento valores do PIB nominal e do PIB real, podemos cal-
de um país, basicamente por não mostrar claramente cular uma medida do nível de preço chamada de
a distribuição de renda, fator que afeta fortemente o deflator (implícito) do PIB (MONTEIRO, 2020).
bem-estar da população.
O cálculo do deflator do PIB pode ser realizado

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


Como o cálculo do PIB per capita dá uma renda
média da população, países como o Brasil, onde a através da seguinte fórmula:
renda é muito desigualmente distribuída, tendem a
possuir um PIB per capita que não reflete o padrão
Produto Nominal
de vida típico da população. Para ver essa realidade, Deflator do PIB =
basta considerar que o PIB per capita brasileiro é da Produto Real
ordem de US$ 9.400,00 anuais, o que equivaleria, gros-
so modo, a R$ 1.300,00 mensais per capita, fato que
está muito distante de representar a nossa realidade. Qual a importância do Deflator do PIB? A impor-
Isso quer dizer que países com renda per capita infe- tância dele é que à medida que ele sofre alterações,
riores ao do Brasil podem oferecer um padrão de vida nós podemos afirmar que existe variação no nível de
melhor para a sua população se sua distribuição de preços da economia. Assim, aumentos no deflator
renda for menos desigual. do PIB possibilitam que possamos acompanhar
Outra limitação na medida do PIB per capita é que aumentos no nível geral de preços ao longo do tem-
o cálculo do PIB considera apenas a produção que é po. Ou seja, o valor do deflator do PIB nos permite
comercializada legalmente no mercado. Assim, tran- conferir qual foi a inflação (aumento no nível de
sações que não apresentam valor monetário não são preços) no decorrer do tempo
consideradas, podendo-se subestimar a medida da Como isso é visto? Imagine a seguinte economia:
renda real da população de um país ou região.
Por fim, devemos notar que comparações interna-
cionais (ou mesmo entre regiões de um mesmo país) Ano 01 Ano 02
com base no PIB per capita merecem certa qualifica- PIB Real 300 450
ção. Isso porque, na avaliação do nível de bem-estar
de um país, deve-se levar em conta o nível de preços PIB Nominal 300 850
interno, ou seja, o poder aquisitivo da renda média de
cada país. Para analisar o poder aquisitivo de um país, Veja que o deflator do PIB no ano 01 é de 1 enquan-
precisamos compreender a definição de PIB Real e PIB to no segundo ano esse indicador é de 1,55. Logo, ana-
Nominal, que veremos agora. lisando o nível geral de preços (inflação) dos bens e
serviços, é possível afirmar que houve um aumento
de, em média 55% ((1,55 – 1) x 100). 301
Veja que com a informação sobre o deflator do z transações de compra e venda envolvendo a trans-
PIB, é possível restaurar tanto o PIB real quanto o PIB ferência de bens produzidos em períodos anterio-
nominal. As fórmulas abaixo mostram as relações: res, como, por exemplo, a venda de propriedades
já construídas;
z exaustão de recursos naturais não renováveis.
Produto Nominal
Deflator do PIB =
Em contas nacionais, o acompanhamento dos flu-
Produto Real
xos de produção, geração da renda e de despesa em
um período permite que se calcule o valor adicionado
ou bruto ou produto bruto de uma economia por três óti-
cas: do produto, da renda e da despesa:
Produto Nominal
Deflator Real =
ÓTICA DO Valor da produção – valor dos
Deflator do PIB PIB =
PRODUTO consumos intermediários

Ou ainda ÓTICA DA Soma das remunerações aos


RIB =
Produto Nominal=produto real x deflator do PIB RENDA fatores de produção

Soma dos gastos finais na


O PIB e o PIL ÓTICA DA
DIB = economia em bens e servi-
DESPESA
ços, nacionais e importados
Você já ouviu falar no Produto Interno Líquido?
Ele existe e é bem próximo do conceito de Produto Do ponto de vista das Contas Nacionais, a medição
Interno Bruto, a exceção de um mínimo detalhe. do produto deve ser idêntica pelas três óticas, porém
Enquanto o PIB considera o valor de mercado de conceitualmente se referem a aspectos distintos da
todos os bens e serviços finais produzidos em um país atividade de produção. O PIB mede a produção, a RIB
em um dado período de tempo, o PIL considera tudo o rendimento e a DIB o consumo. Todos os agregados
isso, a exceção de que dentro de toda essa produção, se referem ao total da economia, mas diferem quanto
nós vamos retirar a depreciação sofrida pelos bens. ao aspecto do processo econômico ao qual enfocam.
Para pensar sobre isso, basta pensar no seu carro: Deve-se observar que, para o cálculo dessas medi-
ao longo do ano ele passa a valer menos e o PIL sabe das, utiliza-se um conjunto grande de informações
disso! Assim, nos seus cálculos, o PIL considera quan- que podem ser obtidas de várias formas:
to os bens, as máquinas e os equipamentos se depre-
ciaram ao longo do tempo. z diretamente em empresa e domicílios, através de
Eis aí a mínima diferença entre esses dois agrega- levantamentos estatísticos específicos conduzidos
dos macroeconômicos. por órgãos oficiais de estatística;
z através de informações que as empresas prestam
AGREGADOS MACROECONÔMICOS para órgãos do governo;
z através de estimativas inferidas indiretamente a
As contas nacionais tratam da mensuração da partir de indicadores.
atividade econômica em seus múltiplos aspectos. Os
principais agregados derivados das Contas Nacionais A construção das Contas Nacionais e a derivação
são as medidas de Produto, Renda e Despesa. Essas dos agregados macroeconômicos apoiam-se, portanto,
medidas, universalmente utilizadas, representam sín- em registros contábeis e administrativos como tam-
teses do esforço produtivo de um país num determi- bém em informações que são produzidas para essa
nado período, revelando várias etapas da atividade finalidade.
produtiva.
PNB Real e PNB Nominal
Produto Interno Bruto, Renda Interna Bruta e
Despesa Interna Bruta O PNB é avaliado em termos monetários, levando
em conta o preço de cada bem, no período em que
A medida de Produto Interno Bruto – PIB – de um esse bem foi produzido. Todavia, ano a ano, o produto
país ou região representa a produção de todas as uni- nacional pode variar ou devido a aumento de preços,
dades produtoras da economia (empresas públicas e ou devido a um aumento na quantidade bens, ou a
privadas produtoras de bens e prestadoras de servi- ambos.
ços, trabalhadores autônomos, governo, etc.), em um PNB Nominal: mede o valor da produção aos pre-
dado período, avaliadas a preços de mercado. Vale ços prevalecentes no período durante o qual o produ-
observar que, apesar de bastante abrangente, esta to é produzido;
definição exclui do cálculo do produto agregado pelo PNB Real: mede o produto produzido em qual-
menos os seguintes aspectos da atividade econômica: quer período aos preços de um ano-base. Ele nos dá
uma estimativa da variação real ou física na produção
z atividades econômicas não declaradas, com o obje- entre anos específicos.
tivo de sonegar impostos ou por serem ilegais (eco- Para superar o problema das mudanças irreais no
nomia informal); produto total devido a variações do nível de preços
z produção de bens e serviços sem valor de merca- utiliza-se um índice de preços para deflacionar o PNB
do, como, por exemplo, serviços domésticos não nominal (ou a preços correntes) e encontrar o PNB
302 remunerados; real (ou a preços constantes).
O PNB pela Ótica da Despesa Economia Fechada e sem Governo

O PNB pode ser medido como a despesa total com Supondo inicialmente uma economia fechada e
a produção final da economia. sem governo, pode-se escrever uma identidade para a
Em resumo9, pode-se dizer que as medidas de pro- demanda pelo produto:
duto e renda agregados da economia são construções
estatísticas universalmente adotadas como expressão Yp = C + Ip
do esforço de produção de um país ou região em um
determinado período. São uma referência para com- Em que:
parações internacionais, com influência para o rating
do crédito internacional de um país e suas empresas. z Yp é o produto ou renda privada;
Servem também para acompanhamento da evolução z C são os gastos de consumo das famílias;
dos países ao longo do tempo e base ara as estatísticas z Ip são os gastos em investimento privado.
estruturais como percentagem do investimento, do
déficit público, etc. Consumo (C)
O cálculo dos agregados macroeconômicos envol-
ve um volume grande de dados primários que devem As despesas em consumo efetuadas pelas famílias
ser trabalhados estatisticamente para, quando agre- se constituem no maior componente da demanda
gados, manterem coerência metodológica. Questões agregada no Brasil. Divide-se em três itens básicos:
que devem ser observadas na coleta de informações bens duráveis, não duráveis e serviços.
para o cálculo dos agregados macroeconômicos são:
Investimento (I)
z a composição dos preços;
z a unidade informante; É a despesa em bens que aumenta a capacidade
z o período a que se refere a informação. produtiva da economia. É um fluxo de capital novo
que é adicionado ao estoque de capital.
Inclui despesas em novas edificações, novos equi-
A prática internacional é que o cálculo dos agre-
pamentos e também a variação nos estoques de bens
gados deve ser resultado de um sistema de Contabili-
mantidos pelas empresas.
dade Nacional, em que as informações primárias são
organizadas e agregadas de forma a manter uma con-
z Depreciação
sistência lógica que expressa transações econômicas
básicas. As identidades contábeis derivadas do mode-
Parte das despesas de investimento destina-se
lo keynesiano permitem observar esta consistência. É
à substituição do capital desgastado e, por isso, não
discussão essa que veremos a seguir.
aumenta o estoque de capital da economia.
IDENTIDADES CONTÁBEIS
z Investimento Líquido (IL) = Investimento Bruto

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


(IB) – Depreciação
A mensuração do esforço produtivo de um país
ou região é avaliada pelo valor adicionado de todas Da mesma forma, pode-se escrever uma identida-
as unidades produtivas a cada período. Retomando, de para expressar a alocação (o uso) da renda em con-
o produto bruto da economia pode ser obtido de três sumo e poupança, ou seja:
formas distintas: pela ótica do produto, da renda e
da despesa. As três óticas de mensuração do produto Yp = C + S
definem a identidade contábil básica.10
Em que: S é a poupança privada, ou seja, a renda
PRODUTO = RENDA = DESPESA não gasta.

Deve-se observar que, na prática, a identidade S = Yp – C


entre Produto, Renda e Despesa só se verifica se esti-
ver sendo computados os valores agregados ao mes- Fazendo:
mo preço.
Em resumo, pode-se dizer que em Contabilidade C + S = C + Ip
Nacional, toda a produção gera uma renda e toda a pro- S = Ip
dução possui um destino. Partindo desses princípios,
pode-se demonstrar através de um conjunto de iden- Economia Fechada com Governo
tidades contábeis que os fluxos de produção, renda e
despesa conduzem ao equilíbrio contábil entre pou- Considerando a economia com o setor governo,
pança e investimento. Para desenvolver essas identida- deve-se observar que o governo também realiza des-
des considera-se três situações: a economia fechada e pesas de consumo e investimento (G), necessitando
sem governo, a economia fechada e com governo e a para isto de receita que, via de regra, é obtida através
economia aberta. de Impostos (T) pagos pela sociedade.

Y=C+I+G
9 (LIMA; BARBOSA FILHO; PALIS, 2013)
10 Ibid. 303
Y=C+S+T
I+G=S+T EXPORTAÇÕES E IMPORTAÇÕES,
G–T=S–I BALANÇO DE PAGAMENTOS E TAXAS
O excesso das despesas do governo sobre a receita DE CÂMBIO
de impostos, isto é, o déficit do orçamento do gover-
no, é contabilmente idêntico ao excesso de poupança BALANÇO DE PAGAMENTOS
sobre o investimento privado.
Uma outra forma de escrever é dada pela seguinte Como entender um balanço de pagamentos de um
equação: país sem confundir com o balanço patrimonial de
uma empresa?
S = I + (G – T) A primeira coisa que você precisará compreender
é que, de forma semelhante ao que acontece com as
empresas, no caso do balanço de pagamentos, tam-
z Se T < G (a poupança do governo é negativa), então
bém se registra o movimento de recursos financeiros.
parte da poupança privada é destinada a cobrir
A diferença é que agora tratamos de um movimento
despesas correntes das administrações públicas;
financeiro entre países.
z Se T > G (a poupança do governo é positiva) então
É no balanço de pagamentos que nós registramos a
a poupança pública se soma à poupança priva-
compra de um produto importado, as viagens interna-
da para financiar os investimentos públicos e
cionais e o envio de dinheiro a um parente que mora
privados.
no exterior, por exemplo.
De forma mais conceitual, o balanço de pagamen-
Economia Aberta
tos tem por objetivo, registrar as operações econô-
micas entre um país e o resto do mundo. O balanço
Em uma economia aberta, a produção é destinada
de pagamentos pode ser definido como sendo o regis-
ao consumo e o excedente é destinado à exportação.
tro sistemático das transações entre residentes e
O Produto Nacional é destinado ao Consumo, Investi-
não residentes de um país durante um determinado
mento, Governo e Exportação.
período de tempo.
O que precisa ser esclarecido é o que está destaca-
Y=C+I+G+X do na definição acima.
Veja que quando falamos em registro sistemá-
Para atender à demanda interna, alguns produtos tico, estamos falando que, de forma semelhante ao
são importados. Parte da renda Nacional é destinada que acontece com o balanço patrimonial, no caso do
à aquisição de produtos importados. balanço de pagamentos, seguimos o princípio das par-
tidas dobradas, ou seja, quando se credita em uma
Y=C+S+T+M conta, se debita em uma outra.
I+G+X=S+T+M No que diz respeito à diferença entre residentes
G – T = (S – I) + (M – X) e não residentes, podemos dizer que a separação se
dá de acordo com o que nós chamamos de “centro
O déficit do governo (G – T) pode ser financiado de interesse”. Assim, para o caso da Volkswagen, por
pela poupança líquida interna (S – I) ou pela poupan- exemplo, temos que essa empresa seria não residente
ça líquida externa (M – X). já que o seu centro de interesses não está no Brasil,
Um país que absorve mais recursos do que pro- mas na Alemanha. Já no caso em que você compra
duz gera déficits na conta de transações correntes. uma passagem para passar um período em Paris, você
Isso quer dizer que o país deve se desfazer de ativos continuará sendo considerado um residente, já que o
estrangeiros e/ou aumentar sua dívida externa para seu centro de interesse é o Brasil.
fazer face ao excesso de despesa. Finalmente, note que o balanço de pagamentos de
E o que finalmente é a nossa demanda efetiva? um país considera um determinado período de tem-
Tudo que é de fato consumido por uma econo- po, assim como o PIB. Assim, dizemos que o balanço
mia, ou seja, tudo que é produzido dentro de um país, de pagamentos é uma variável fluxo, não variável
menos o que é importado de outras nações, compõe a estoque.
nossa demanda agregada. Deve-se notar que o Balanço de Pagamentos consi-
Dessa forma: Y = C + I + G + X –M será a nossa dera que todos os pagamentos são realizados em dóla-
demanda efetiva em uma determinada economia. res americanos. Essa medida é necessária para que
se possa comparar os diversos níveis de balanço de
REFERÊNCIAS pagamentos de muitos países.
Como o comércio entre dois países pode ser conta-
LIMA, F. C. G. de C.; BARBOSA FILHO, N. H.; PALIS, bilizado é o que veremos abaixo.
R. Contabilidade social: a nova referência das
contas nacionais do Brasil. 4ª ed. Rio de Janeiro: Contabilização
Elsevier, 2013. 391 p. Disponível em: https://docpla-
yer.com.br/109610666-Contabilidade-social.html. Em um balanço de pagamentos de um determi-
Acesso em: 27 dez. 2022. nado país, existem dois conjuntos de contas que são
MONTEIRO, R. Défict Público Nominal e Primá- considerados na hora de fazer os lançamentos: as con-
rio. 2020. Disponível em: https://cadernodeprova. tas operacionais e as contas de reservas (ou conta de
com.br/defict-publico-nominal-e-primario/. Acesso caixa).
304 em: 27 dez. 2022.
As contas operacionais correspondem ao fato gerador do recebimento ou transferência de recursos do exte-
rior. São exemplos de contas operacionais, de lançamentos nas contas operacionais: exportação, importação,
empréstimos, financiamentos, transferências unilaterais etc.
Do outro lado, existem as contas de reservas (ou conta caixa). Para cada transação registrada em qualquer
conta operacional, haverá uma contrapartida correspondente de sinal oposto na conta de reservas (ou conta de
caixa).
E como essas entradas e saídas são registradas no BP?
De acordo com o professor Heber Carvalho:

É possível estatuir que a entrada de recursos (de meios de pagamento internacionais) é considerada um crédito e é
lançada com sinal positivo na conta operacional (conta correspondente ao fato gerador). Por outro lado, a saída de
recursos é considerada um débito e é lançada com sinal negativo na conta operacional.

Assim, veja que o raciocínio para o caso do balanço de pagamentos é diferente quando se compara com um
balanço patrimonial de uma empresa. Aqui, quando há uma entrada de recursos, nós fazemos um crédito na con-
ta operacional que recebeu os recursos e um débito de igual valor na conta de reserva.
Vamos ver um exemplo disso?

z Exemplo 1: Importação de um Automóvel

Nesse caso, como saiu um recurso financeiro da conta operacional de importações (referente ao pagamento do
automóvel), há um débito nessa conta. Do outro lado, haverá um crédito na conta de reserva (chamada de reser-
vas, contas haveres ou conta caixa de mesmo valor).
Assim:

z D — Importações;
z C — Reservas ou haveres ou conta caixa.

O que você deve notar é que a conta de reservas acaba trabalhando como uma “vala comum” para todos os
lançamentos do balanço de pagamentos, o que não deixa de ser uma verdade. Uma informação importante sobre
essa conta é que nela é registrada toda a movimentação dos meios de pagamentos internacionais à disposição de
um determinado país. Veja ainda que esses meios de pagamentos são ativos que a autoridade monetária dispõe
em seu caixa.
Um ponto importante que pode cair na sua prova é sobre a possibilidade de não haver uma contrapartida na
conta de caixa. Esse caso, embora pareça pouco provável, existe. Ele ocorre quando nós temos uma doação de um
país para outro. Quando formos analisar alguns exemplos de lançamentos, verificaremos isso com mais detalhes.

Metodologia de Cálculo

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


O balanço de pagamentos pode ser estruturado da seguinte forma:

DISCRIMINAÇÃO

(A) Balança Comercial

(B) Serviços

(C) Rendas

(D) Transferências Unilaterais Correntes

(E) Saldo em Conta Corrente / Transações Correntes


TC = A + B + C + D

(F) Conta Capital e Financeira (Capitais Autônomos)

(G) Erros e Omissões

(H) Saldo Total do Balanço de Pagamentos

BP = E + F + G

(I) Variação das Reservas Internacionais ou Haveres

VRI ou Haveres = -H

Uma coisa importante que você precisa saber é que da forma como está indicada, essa estrutura do balanço
começou a ser utilizada em 1993. Antes disso, uma metodologia semelhante era utilizada. Atualmente, o Brasil usa
a nova metodologia, por isso, vamos focar nela, mas você precisa saber que existe uma anterior.

305
Como Entender o Balanço Comercial?
(C) Rendas
Item a item vamos tornar mais claro. z Remuneração do fator trabalho (salários e
O item (A), balança comercial, mede os níveis de ordenados)
exportação e importação FOB (free on board, ou livre z Rendas de investimentos
de fretes e seguros) de um determinado país. Nesse z Rendas de Investimentos diretos (lucros e
caso, as nossas viagens internacionais, por exemplo, dividendos)
devem ser contabilizadas nesse item. z Rendas de Investimentos em carteira (juros)
Uma coisa importante que você deve notar é que z Rendas de outros investimentos (juros)
a subtração entre exportação e importação origina
o saldo da balança comercial, item tão falado nos O item (D), transferências unilaterais correntes,
noticiários. refere-se a todos os lançamentos que não possuem
Finalmente, lembre-se que a entrada de recursos contrapartida financeira. Nesse caso, contabilizam-se
via exportações gera um crédito no balanço e nos as situações em que, por exemplo, são realizadas doa-
pagamentos, enquanto a saída de recursos, via impor- ções. Aqui, como não há contrapartida financeira, há
tações, gera um débito. o lançamento na conta (D), sem que haja um crédito
De forma mais sistemática, podemos representar de mesmo valor na conta de reservas.
o item (A) como: De forma mais sistemática:

(A) Balança Comercial (D) Transferências Unilaterais Correntes

z Movimento de transferências unilaterais na forma


z Exportação (FOB) de bens e moeda
z Importação (FOB)
Fechando esse grupo de 4 rubricas, temos o saldo
O item (B), serviços, é uma modalidade que está em conta corrente ou transações correntes. Esse
presente na nova metodologia de cálculo do balanço saldo mede o somatório das quatro contas anteriores.
de pagamentos. Anteriormente, só para que você com- Assim,
preenda melhor, existia um item serviços de fatores
e outro serviços de não fatores. Atualmente, existe a TC = A + B + C + D
conta de serviços (que mede o que não foi gerado por
algum fator de produção) e a conta renda (que mede o Veja como é simples essa conta, ainda que os alu-
que foi gerado por algum fator de produção). nos, muitas vezes, confundam o saldo em transações
Dessa forma, é na rubrica de serviços que são con- correntes com o saldo da balança comercial. Como
tabilizados os transportes, as viagens internacionais, você já deve ter percebido, caso citem a balança
os seguros, os serviços governamentais, os royalties comercial, você terá que lembrar, necessariamente,
e licenças, o aluguel de equipamentos, computação e da diferença entre exportação e importação.
informações, dentre outros. Colocando a rubrica (E) de forma mais sistemática,
Uma forma mais esquematizada de apresentar a temos:
balança de serviços é mostrada abaixo:
(E) Saldo em Conta Corrente/Transações Correntes
(B) Serviços
z TC = A + B + C + D
z Transportes
z Viagens Internacionais Um ponto importante a ser esclarecido aqui é que
z Seguros todas as contas vistas até agora consideram os movi-
z Serviços governamentais mentos ocorridos no mercado de bens e serviços e
z Royalties e licenças no mercado de fatores, por isso, faz sentido gerar um
z Aluguel de equipamentos; saldo.
z Computação e informações A partir da conta (F), veremos o que acontece no
z Outros mercado financeiro, através da conta Capital e Finan-
ceira do balanço de pagamentos.
Só para que você entenda melhor, a conta de
No que diz respeito à rubrica (C), rendas, a for-
capital e financeira mede os movimentos de capitais
ma mais simples de diferenciar o que vai para essa
autônomos. A forma sistemática dessa conta ajuda a
rubrica ou o que vai para a rubrica (B), é pensar que
compreender melhor:
irá para a rubrica (C) tudo o que for gerado por um
dos fatores produtivos da economia. Assim, salários
(remuneração do fator trabalho) e juros (remunera-
(F) CONTA CAPITAL E FINANCEIRA
ção do fator capital) são lançados aqui.
(F.1) Conta Capital
A forma reduzida de apresentar a rubrica rendas
(F.2) Conta Financeira
é mostrada abaixo.
z Investimentos diretos
z Investimentos em carteira (ou portfólio)
z Derivativos
z Outros Investimentos
306
Ora, você deve observar que, na conta capital, con- O MODELO IS-LM
tabiliza-se, por exemplo, os capitais oriundos de uma
empresa estrangeira que decide investir no Brasil, por O estudo da atuação e dos efeitos das políticas fis-
exemplo. Os exercícios de concursos e os exemplos de cais, simultâneas ou não, e monetárias sobre o nível
lançamento ajudarão a compreender melhor. da renda ou produto de equilíbrio, é feito em macroe-
Finalmente, nós temos o item (G), erros e omis- conomia através do chamado sistema IS-LM – mate-
sões. Nesse item, são contabilizados todos os erros rializado em duas curvas que representam situações
que não foram contabilizados nos demais itens. Assim de equilíbrio no mercado de bens e serviços e no mer-
como na contabilidade empresarial, existem ajustes cado monetário.
necessários a ser realizados para que possa existir o Tudo que se vê analisando as políticas fiscal e
ajuste do balanço. monetária pode ser realizado através do modelo
O item (H), saldo total do balanço de pagamen- IS-LM. Esse modelo se refere a muitas situações da
tos, é, assim como acontece com o saldo em conta cor- política econômica, por meio de duas curvas: a cur-
rente, o somatório de todas as contas do balanço de va IS (que representa o mercado de bens e serviços)
pagamentos. Assim, e a curva LM (que representa o mercado monetário).
O modelo IS-LM, em seu ponto de equilíbrio, repre-
BP = E + F + G senta o equilíbrio do lado monetário e do lado real
da economia, determinando uma taxa de juros e
a renda de equilíbrio que controle a inflação e não
Concluindo, o último item do balanço de paga-
desestimule o investidor nacional a investir e o nível
mentos, variação das reservas internacionais ou
nacional ou produto de equilíbrio da economia.
haveres, é justamente a nossa conta caixa, aquela
No lado real da economia, que se refere ao merca-
que, como vimos anteriormente, mede toda a movi-
do de bens e serviços para níveis de juros mais baixos,
mentação dos meios de pagamentos internacionais à
teremos níveis de investimento privado das empresas
disposição de um determinado país.
maiores (isso faz com que o I da identidade Y = C +
I + G + X – M aumente) e consequentemente níveis
de renda mais elevados, e, para dado nível de juros
mais elevados, observa-se uma queda no investimen-
CICLOS ECONÔMICOS, to e na renda. Essa combinação de taxas de juros e
ESTABILIZAÇÃO ECONÔMICA, níveis de renda é conhecida como curva IS. A curva
é afetada por políticas fiscais expansionistas ou con-
O MODELO IS-LM, PLANOS DE tracionistas, já que políticas fiscais alteram os gastos
ESTABILIZAÇÃO NO BRASIL, PLANO do governo (G) o que afetará o nível de renda da eco-
nomia no mercado de bens e serviços.
REAL
O mercado monetário, que acabamos de estudar
acima, por sua vez, é representado pela curva LM, que
CICLOS ECONÔMICOS, ESTABILIZAÇÃO
é formada por uma demanda de moeda para transa-
ECONÔMICA
ção que é positivamente relacionada com a renda e

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


uma demanda para fins especulativos (que está rela-
Os ciclos econômicos representam padrões recor-
cionada com a taxa de juros).
rentes de flutuações na atividade econômica de um O equilíbrio da economia ocorre no ponto onde as
país, manifestando-se por meio de distintas fases, como duas curvas, IS e LM, se cruzam.
expansão, pico, contração e vale. Esses ciclos são meti-
culosamente datados e monitorados pelo Comitê de Juros
Datação de Ciclos Econômicos (CODACE), instituído em LM
2004 pela Fundação Getúlio Vargas (Cavalca, 2017).
A fase de expansão tem como característica o cres-
cimento vigoroso da atividade econômica, culminan-
do no pico, que marca o auge do ciclo. Posteriormente,
entra-se na fase de contração, caracterizada por declí-
nios na produção e emprego, culminando no vale, que lS
representa o ponto mais baixo do ciclo. Essa sequência
de fases compõem o ciclo econômico, uma ferramenta
analítica que oferece uma visão abrangente das dinâ- Renda
micas econômicas de uma nação em um determinado
período (Cavalca, 2017). Equilíbrio da economia IS-LM
A importância dos ciclos econômicos reside na sua
capacidade de orientar políticas governamentais e A Curva IS
influenciar as necessidades de recursos do setor pri-
vado. Ao compreender as fases do ciclo, os governos A IS é uma curva que mostra combinações de
podem adotar estratégias adequadas para estimular níveis de renda (Y) e de taxa de juros (r) que equili-
a economia durante recessões ou implementar medi- bram o chamado “mercado de bens e serviços”, no
das de contenção em períodos de expansão — fatores sentido de que a poupança social – dada esta pela
que contribuem nos parâmetros norteadores de um soma da poupança propriamente dita (S) e dos impos-
governo para manter a estabilidade econômica de um tos (T) – é igual à soma dos gastos de investimentos (I)
país (Cavalca, 2017). e dos gastos do governo (G).
Ou seja, S + T = I + G. 307
Por essa definição, constata-se que, para cada nível z A Posição da Curva IS
de renda (Y) existe uma e somente uma taxa de juros
(r) que equilibra ou torna iguais a chamada poupança Se movimentos na taxa de juros levam a movimen-
social (S+T) e os gastos de investimentos (I) mais as tos ao longo da curva IS, alterações nas outras variá-
despesas governamentais (I+G). veis levam a deslocamentos na curva IS.
De tudo o que foi dito até aqui, deve ficar claro que
z Derivação da Curva IS a curva IS se deslocará para a esquerda sempre que
houver uma redução nos gastos do governo e/ou um
De onde vem a curva IS? A explicação para isso aumento no nível dos impostos. Pelo mesmo racio-
está nos investimentos realizados pelas empresas no cínio, a curva IS se deslocará para a direita sempre
mercado de bens e serviços.
que o governo aumentar seus gastos e/ou reduzir os
Vamos raciocinar juntos. O que faz as empresas
impostos.
investirem mais no curto prazo? De forma simplifica-
A curva IS é deslocada por todas as variáveis
da, os economistas afirmam que a taxa de juros afeta
os níveis de investimentos das empresas. exógenas (variações em G, T, X, M, C, I), que não são
De acordo com esses economistas, taxas de juros induzidas pela variação de renda (isto é, por outros
mais altas fazem com que menos empresas possam fatores, que não sejam variações de renda). Mais uma
investir ou, o que é ainda pior, taxas de juros mais vez, não deve ser confundida uma variação endógena
altas levem a uma redução nos investimentos, já que (que seria um movimento ao longo da curva IS, moti-
os empresários poderiam encerrar as suas ativida- vada por alterações da taxa de juros e da renda) com
des e aplicar no mercado de títulos do governo, por uma variação exógena (que representa um desloca-
exemplo. mento da curva IS).
Logo, com a elevação da taxa de juros, haveria Assim, um aumento do consumo, devido a um
uma redução nos investimentos, o que levaria a uma aumento da renda, é uma variação induzida, ao lon-
redução da renda pela identidade contábil analisada go da curva IS; todavia, um aumento do consumo
anteriormente. devido a um aumento de patrimônio, é uma variação
exógena, deslocando a IS. O gráfico abaixo representa
Y=C+I+G+X–M uma alteração positiva nos gastos do governo (política
fiscal expansionista), o que desloca a curva IS para a
r direita (linha tracejada).
I O exemplo mais comum que nós teremos sobre
r1 deslocamentos da curva IS diz respeito à política fis-
cal. De acordo com o que nós vimos, quando o gover-
no realiza um aumento nos gastos do governo, levará,
r2 via multiplicador dos gastos do governo, a um aumen-
to da renda. Isso leva, por fim, a um deslocamento da
r3 S
curva IS, como mostrado abaixo.
Nesse ponto, você deve notar que com o aumento
Y1 Y2 Y3 Y dos gastos do governo, haverá um aumento da renda
e, também, um aumento da taxa de juros (veremos
z A Inclinação da Curva IS esse efeito posteriormente).

Como se pode ver pela figura acima, a curva IS é


negativamente inclinada refletindo o fato de que um LM
aumento na taxa de juros reduz os gastos de investi- Taxa de
Juros
mentos, reduzindo a demanda agregada e, consequen-
temente, reduzindo o nível da renda de equilíbrio. De
que, então, depende a inclinação da curva IS? Ou seja, io
o que faz a curva IS ser mais ou menos inclinada?
Em primeiro lugar, a inclinação da IS depende da IS’
elasticidade do investimento em relação à taxa de
juros, isto é, depende da sensibilidade ou resposta do IS
investimento em relação às variações na taxa de juros.
Quanto mais elástico ou mais sensível for o investi-
mento em relação às variações na taxa de juros, menos Yo Renda
inclinada (mais deitada) é a curva IS, e vice-versa.
Em segundo lugar, a inclinação da IS depen-
Gráfico da política fiscal expansionista
de, também, da magnitude do multiplicador dos
gastos do governo. Quanto maior o multiplicador,
maior será o efeito de uma variação dos investimen- A Curva LM
tos sobre o nível da renda de equilíbrio e, portanto,
menos inclinada é a curva IS — e vice-versa. É bom A curva LM mostra combinações de níveis de
lembrar que a magnitude do multiplicador depen- renda (Y) e de taxas de juros (r) que fazem o merca-
de, essencialmente, da propensão marginal a consu- do monetário ficar equilibrado, no sentido de que a
mir (b) e da alíquota do imposto (t) — relembrando, demanda por moeda seja igual à oferta de moeda.
também, que quanto maior b e menor t, maior será o
308 multiplicador.
z Derivação da Curva LM

Na figura abaixo, à esquerda estão apresentadas combinações de taxas de juros e níveis de renda que tornam
a demanda por moeda (ou por encaixes reais), igual à oferta monetária. Ao nível da renda Y1, a curva de demanda
por moeda corresponde a L1. Com a oferta monetária dada por Ms/P, a oferta e a demanda por moeda se igualam
no ponto E1 — que corresponde à taxa de juros r1. Na figura, o ponto E1 corresponde à combinação do nível de
renda Y1 com a taxa de juros r1 que equilibra o mercado monetário. O ponto E1 corresponde, assim, a um ponto
na curva LM.

r r
Ms1/P M

E2 E1
r2 r2

E1 E1
r1 r1
L2
L
L1

o o
M Y1 Y2 Y

Suponha, agora, que a renda cresça até Y2. Na figura à esquerda, este aumento na renda provoca um aumento
na demanda por moeda para transação, deslocando a curva de demanda por moeda para L2. Com a oferta mone-
tária mantida constante, o aumento na demanda por moeda faz com que a taxa de juros se eleve até r2 — para que
o equilíbrio no mercado monetário seja restabelecido.
Tem-se, então, um novo ponto de equilíbrio (E2) que, transportado para a figura da direita, nos dá uma nova
combinação de renda e taxa de juros (Y2 e r2) que equilibra a oferta com a demanda por moeda. Repetindo a mes-
ma experiência para outros níveis de renda, geraremos mais pontos que mostram combinações de Y e de r que
equilibram a oferta e a demanda de moeda. Ligando todos esses pontos teremos a curva LM.
Como é possível observar, a curva LM é positivamente inclinada, refletindo o fato de que, com uma dada oferta

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


monetária, um aumento no nível de renda aumenta a demanda por encaixes monetários — o que, como já foi
explicado, força um aumento na taxa de juros.

z A Inclinação da Curva LM

Em princípio, podemos afirmar que quanto maior for a demanda por moeda para transações, isto é, quan-
to maior for a elasticidade da demanda por moeda em relação à renda, e quanto menos sensível ou menos
elástica à taxa de juros for a demanda por moeda, mais inclinada será a curva LM. Em outras palavras, se a
demanda por moeda for muito insensível à taxa de juros, a curva LM é quase vertical. Se, por outro lado, a deman-
da por moeda é muito sensível à taxa de juros, a curva LM é quase horizontal.
Desta forma, a curva LM é afetada por políticas monetárias expansionistas e contracionistas, como os exem-
plos citados, respectivamente, abaixo:

z Política monetária expansionista: aumento do redesconto (empréstimos do Bacen aos bancos comerciais)
que gerará uma liquidez maior no mercado monetário e, com isso, haverá uma expansão de renda, ou seja,
deslocará a cuva LM para a direita. A diminuição da taxa de redesconto, que nada mais é do que a taxa de
empréstimo cobrada pelo Bacen aos bancos comerciais pelo redesconto realizado, o que deslocaria a LM para
a direita, pois haveria maior incentivo à tomada de empréstimos pelo Bacen considerando que a taxa é baixa,
o que levaria a uma maior liquidez na economia. A compra de títulos (operação de open market) por parte do
governo que ocasionaria uma injeção de moeda no mercado, e, com isso, haveria maior liquidez, deslocando
a LM para a direita. E também o recolhimento compulsório mais baixo, que significa que o Bacen recolherá
menos moeda dos depósitos à vista dos bancos comerciais, gerando uma maior liquidez, levando a LM para a
direita. O gráfico abaixo mostra esse movimento.

309
Taxa de juros

LM
D
i*

IS
C

Renda Ora, nesse caso, de acordo com o site “O Estado de


São Paulo”, temos que o dólar pode ser “comprado”
Gráfico da política monetária expansionista por R$ 2,04 e o euro, por R$ 2,7190. Em termos mate-
máticos, podemos representar a taxa de câmbio como
z Política monetária contracionista ou restritiva: sendo:
diminuição do redesconto (empréstimos do Bacen
valor da moeda doméstica
aos bancos comerciais) que gerará menos liquidez Câmbio =
valor da moeda estrangeira
no mercado monetário e, com isso, haverá uma
retração da renda, ou seja, deslocará a LM para a Nesse caso, a metodologia utilizada no Brasil con-
esquerda. O aumento da taxa de redesconto, que sidera que, no denominador, é sempre considerado
nada mais é que a taxa de empréstimo cobrada o valor unitário da moeda estrangeira. Dessa forma,
pelo Bacen aos bancos comerciais pelo redesconto para o câmbio do dia 21 de janeiro de 2013, teríamos
realizado, deslocaria a LM para a esquerda, pois o seguinte:
haveria menor incentivo à tomada de emprésti-
2,0420
mos do Bacen considerando que a taxa é alta, o que Câmbio =
1
levaria a uma menor liquidez da economia. A ven-
da de títulos (operação de open market) por parte Como, no Brasil, esse valor é alterado diariamente
do governo levaria a uma retração de moeda no (vamos explicar a razão disso mais adiante), é preciso
mercado e, com isso, haveria menos liquidez des- saber qual a variável que afeta a taxa de câmbio.
locando a LM para a esquerda. E também o reco- Grosso modo, podemos dizer que tanto a taxa de
lhimento compulsório mais elevado, que significa juros doméstica quanto a taxa de juros estrangeira
que o Bacen recolherá mais moeda dos depósitos à afetam a taxa de câmbio de um país. A explicação para
isso é simples e ocorre no mercado de ativos financei-
vista dos bancos comerciais, gerando uma menor
ros, na parte de fluxo circular da riqueza expandida.
liquidez, levando a LM para a esquerda.
Quando há um aumento da taxa de juros doméstica,
por exemplo, isso induz um movimento de capitais
ECONOMIA ABERTA: O MODELO IS-LM-BP para o Brasil. O raciocínio é válido porque quando a
taxa de juros aumenta, investir em capital financeiro
Falaremos, neste instante, de um assunto muito no país se torna mais atrativo, levando os investidores
querido por economistas do mundo inteiro: o mode- do mundo inteiro a direcionar os seus capitais para o
lo IS-LM-BP. A explicação para que esse modelo seja nosso país.
altamente querido pelos economistas e macroecono- Assim, como os investidores não podem investir
mistas é que ele consegue explicar o que acontece na diretamente com suas moedas no nosso mercado de
economia quando o país realiza trocas com outras ativos financeiros, precisam fazer a conversão entre
as moedas estrangeira e nacional, no mercado cam-
economias. É por isso que, nesse caso, há a introdução
bial. Com isso, há um aumento da oferta de moeda
do Balanço de Pagamentos.
estrangeira no nosso mercado cambial, o que faz com
A primeira coisa que você precisará entender que o preço da nossa moeda aumente (já que ela está
é que, agora, a interação entre a economia local e a ficando relativamente escassa) e o preço da moeda
economia do resto do mundo, é dada pelo fluxo de estrangeira diminua (já que ela está ficando exceden-
importações e exportações entre esses países. Neste te). Isso é visto, em termos de taxa de câmbio. Nesse
momento pode surgir una pergunta: mas o que leva caso, haverá uma redução da taxa, o que implica dizer
uma economia a exportar mais ou menos? É o que que a nossa moeda está apreciada.
veremos a seguir. Se fosse o contrário, se houvesse uma saída de capi-
tais para o resto do mundo (no caso da nossa taxa ser
menor que o resto do mundo), nossa moeda seria depre-
A Taxa de Câmbio
ciada, enquanto a moeda estrangeira seria apreciada.
Nesse caso, dizemos que o câmbio está depreciado.
A variável mais importante que afeta o nível de
Logicamente, tudo isso é válido para a situação em
exportações e importações entre os países é a taxa de que o câmbio pode ser alterado sem nenhum problema.
câmbio. Essa taxa mede a relação de “preço” entre as A questão é que em algumas situações, não é possí-
moedas de dois países. No caso do câmbio do dia 21 de vel alterar a taxa de câmbio facilmente. Nesses casos,
310 janeiro de 2013, tínhamos o seguinte: estamos diante de um regime cambial fixo.
Nessa situação, é o governo quem determina qual Por outro lado, a parte inferior à curva mostra
será o valor da moeda nacional frente a moeda estran- regiões de déficit no BP (via reduções ou saídas na
geira e é ele quem vai manter essa taxa em um dado conta de capital).
patamar. Nessa situação, ainda, é importante destacarmos
Para o caso visto acima, estamos falando de um câm- que o balanço de pagamentos estará automaticamen-
bio flutuante, ou regime de câmbio flutuante. Há uma te em equilíbrio. Deixe-me explicar o porquê: o balan-
outra variante desses regimes: o regime de flutuação ço de pagamentos (BP) registra a entrada e saída de
suja. Aqui, o governo não determina qual será a taxa de moeda estrangeira do país e é dividido em balanço
câmbio do país, mas dá uma margem em que essa taxa de transações correntes e balanço de capitais autôno-
pode variar, é o que se chama de bandas cambiais. mos. Se há mobilidade perfeita de capitais e as taxas
Compreendido um pouco sobre taxa de câmbio, internas são iguais às externas, então, a entrada de
passamos a analisar melhor o modelo. capitais é igual à saída, de forma que o balanço de
capitais autônomos estará em equilíbrio.
As Hipóteses do Modelo IS-LM-BP Por outro lado, se houver déficit no balanço de
transações correntes, isto poderá ser solucionado de
Existem duas hipóteses básicas do modelo: forma bastante fácil: basta tomar empréstimos no
exterior, pois há livre acesso ao mercado internacio-
nal. No caso de superávit, basta aplicar no mercado
z níveis de preços interno e externo são constantes;
internacional. Ou seja, o balanço de transações cor-
z mobilidade perfeita de capitais.
rentes estará sempre em equilíbrio, devido essa extre-
ma facilidade em se financiar ou investir junto ao
Dentre as duas hipóteses, a segunda é, definitiva-
exterior.
mente, a mais importante.
No equilíbrio, ou seja, sobre a curva BP, temos que
Veja que uma economia pode ter perfeita mobili-
a taxa de juros doméstica é idêntica à taxa de juros
dade de capital, imperfeita mobilidade de capital ou
internacional. Nesse caso, o volume de entrada de
ausência de mobilidade de capital. Nós vamos ana- capitais é idêntico ao volume de saída de capitais.
lisar unicamente o caso da perfeita mobilidade de Mas, o que diferencia esse modelo do modelo
capital porque em muitos anos de economia para con- IS-LM no caso da economia fechada? A diferença não
cursos, já foram vistos outros casos serem pedidos em está apenas na apresentação da curva BP, mas em
apenas 4 questões extremamente específicas. como a economia reage de acordo com o tipo de regi-
No que diz respeito ao modelo com perfeita me cambial a que está submetida.
mobilidade de capitais, ele é conhecido na literatu- Assim, para entender melhor, vamos analisar o
ra internacional como modelo Mundell-Fleming. A que acontece na economia quando estamos sob um
característica mais importante desse modelo é que a regime de câmbio fixo ou câmbio flutuante?
pequena economia local possui livre acesso ao merca-
do de capitais internacional e o resto do mundo possui Regime de Câmbio Fixo
livre acesso ao seu mercado de capitais. Com isso, a
única variável relevante no modelo passa a ser a taxa Como nós já vimos, sob o regime de câmbio fixo,

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


de juros, tanto doméstica (i) quanto internacional (i*). temos que o governo não permitirá que o câmbio
Observando isso, já vemos uma primeira diferença tenha o seu valor alterado. Isso significa dizer que o
entre o nosso modelo IS-LM anteriormente analisado: governo também não permitirá que a taxa de câmbio
aqui, existirão outras variáveis que afetarão o nível de doméstica seja diferente da taxa de câmbio interna-
renda e juros de equilíbrio. A taxa de câmbio é uma cional, já que isso incentivaria movimentos de capi-
delas. Como nós temos que a taxa de câmbio afeta ain- tais para a economia local, o que força alterações no
da o balanço de pagamentos via balança comercial, câmbio.
temos que colocar, no modelo, o nosso BP. Grafica- Assim, sob o regime de câmbio fixo, se o governo
mente, nós temos que o equilíbrio macroeconômico desejar fazer uma política fiscal expansionista, temos
pode ser estabelecido da seguinte forma: o seguinte efeito:

Juros Juros
LM LM

i = i* BP i = i* BP

IS IS

Renda Renda

Aqui, algumas explicações são válidas: Veja que, no caso acima, haverá um deslocamen-
Como estamos tratando de perfeita mobilidade de to da curva IS para a direita, exatamente como nós
capitais, temos que a curva BP (que mostra o compor- vimos anteriormente. Nesse caso, como você pode
tamento do balanço de pagamentos) será horizontal. observar, a nossa taxa de juros doméstica descola da
Além disso, a região acima da curva BP mostra um taxa de juros internacional. Mas, como estamos em
superávit no balanço de pagamentos (via aumentos na um regime de câmbio fixo, isso não pode ter um cará-
conta de capital). ter perene. 311
Observando esse descolamento, o governo pronta- Regime de Câmbio Flutuante
mente faz uma política “corretiva” com o objetivo de
reverter essa situação. Para tanto, ele desloca a cur- Aqui, você deve desconfiar que, se no regime de
va LM para a direita (como se houvesse uma política câmbio fixo, a política fiscal é plenamente eficaz, a
monetária expansionista). De forma gráfica: mesma coisa não é válida quando falamos do regime
de câmbio flutuante. Aliás, como você verá, o resulta-
Juros do é exatamente o inverso.
LM
Vejamos com calma. Primeiramente, analisemos o
caso em que o governo decide fazer uma política fis-
cal expansionista. Nessa situação, como nós já vimos,
i = i* BP haverá um deslocamento para a direita da curva IS.

IS Juros
LM

Renda
i = i* BP
Ou seja, o governo só estabilizará o mercado
monetário quando a taxa de juros doméstica voltar
a igualdade com a taxa de juros internacional. Nesse IS
caso, dizemos que a política fiscal é plenamente efi-
caz sob o regime de câmbio fixo. Renda
Um ponto importante de frisar antes de andar
mais no assunto é o que acontece assim que a curva
Primeira coisa que você deve observar é que com o
IS é deslocada (ou seja, antes do deslocamento da LM).
aumento dos gastos do governo, haverá um aumento
Você deve notar que há um superávit no balanço de
da taxa de juros doméstica, fazendo com que haja uma
pagamentos. Isso acontece por que como a taxa de
apreciação cambial (lembre que haverá um movi-
juros está temporariamente maior que a taxa interna-
mento de capitais para o nosso país, fazendo com que
cional, há a entrada de capitais autônomos, o que gera a taxa de câmbio se reduza). Nesse caso, como não há
um superávit do BP! a intervenção do governo para ajustar a taxa de câm-
No que diz respeito à política monetária, se o bio, as importações acabam se tornando mais interes-
governo desejar fazer uma política expansionista, por santes (o produto estrangeiro fica relativamente mais
exemplo, isso levará a um deslocamento da curva LM barato) e as exportações ficam menos interessantes.
para a direita, como visto abaixo. Nessa situação, com o aumento das importações e
redução das exportações, haverá um deslocamento da
curva IS para a esquerda (já que com a redução das
exportações, haverá também uma redução do empre-
go, do consumo, da renda...). Isso continuará até que
Juros
a IS volte a sua posição inicial. Logo, sob o regime de
LM
câmbio flutuante, a política fiscal passa a ser pou-
co eficaz.
Finalmente, analisemos o caso da política monetá-
i = i* BP ria sob o regime de câmbio flutuante. Nesse caso, se o
governo adotar uma política monetária expansionis-
ta, isso levará a um deslocamento da curva LM para a
IS direita. Graficamente:

Juros
Renda LM

Nesse caso, como a taxa de juros doméstica está


abaixo da taxa de juros internacional, haverá um défi- i = i* BP
cit no Balanço de Pagamentos (via saída de capital da
conta de capital do BP). Para controlar a saída de capi-
tal, que pressiona a taxa de câmbio da economia, o IS
governo deverá, sistematicamente, fazer movimentos
contrários na curva LM. Assim, o governo adotará fer-
ramentas como se o objetivo fosse fazer uma política Renda
monetária retracionista e se manterá fazendo isso até
que a taxa de juros volte ao patamar de igualdade, o Nessa situação, como observamos, há um déficit no
que acontecerá quando a LM estiver de volta a sua BP proveniente da saída de capitais da conta de capi-
posição inicial. Assim, podemos dizer que sob o regi- tais. Com isso, como vimos, haverá uma depreciação
me de câmbio fixo, a política monetária é comple- da moeda local.
312 tamente ineficiente.
Com a depreciação, haverá também um aumento De forma idêntica ao caso da microeconomia, em
das exportações e redução das importações, fazendo um mercado de um bem específico, no qual os concei-
com que a curva IS (a única que se movimenta quan- tos de demanda e oferta nos permitem uma compreen-
do há alterações do saldo da balança comercial) se são melhor do mercado, esses conceitos agregados
desloque para a direita, à medida que as exportações também nos ajudarão a compreender o mercado alta-
aumentam. O gráfico abaixo mostra isso. mente agregado de bens e serviços. Como a demanda
no mercado agregado de bens e serviços engloba as
compras de consumidores, investidores, governos e
Juros
LM estrangeiros, ela é denominada, por simplicidade, de
demanda agregada.

i = i* BP Importante!
A oferta agregada diz respeito à produção total
IS de bens e serviços de uma economia;
A demanda agregada está associada aos dispên-
dios da coletividade com estes bens e serviços.
Renda

Assim, com base no gráfico, podemos observar O que chamamos de demanda agregada (DA) é o
que, sob o regime de câmbio flutuante, a política resultado da soma das compras de diferentes agentes
monetária é plenamente eficaz. econômicos aos diferentes níveis de preço, a saber:

MODELO OA/DA z Gastos de consumo privado (C): que são os dispên-


dios dos indivíduos em bens e serviços, como alimen-
A Demanda Agregada por Bens e Serviços
tação, vestuário, automóveis, viagens, lazer, etc.;
Atenção! John Maynard Keynes foi um economis- z Investimentos (I): que são as compras de máqui-
ta britânico cujos ideais serviram de influência para a nas e equipamentos e edificações pelas empre-
macroeconomia moderna, tanto na teoria quanto na sas, mais as adições desejadas ou voluntárias de
prática. Ele defendeu uma política econômica de Estado estoques (não incluindo, portanto, o aumento não
intervencionista, através da qual os governos usariam planejado de estoques, isto é, os produtos não ven-
medidas fiscais e monetárias para mitigar os efeitos didos devido a uma insuficiente demanda);
adversos dos ciclos econômicos - recessão, depressão z Gastos do governo (G): aí incluídos os dispêndios
e “booms”. Suas ideias serviram de base para a escola governamentais com compras de bens e serviços
de pensamento conhecida como economia keynesiana. e com o pagamento de funcionários, para o bom
Dentre as teorias macroeconômicas existentes, funcionamento da administração pública;

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


a teoria keynesiana está voltada para a chamada z Exportações (X): traduzidas nas vendas de bens e
“determinação do nível da renda nacional de equi- serviços ao exterior.
líbrio” – no sentido de que a oferta agregada — isto
é, a produção total de bens e serviços de uma econo- Ou seja, de forma matemática, dizemos que:
mia – seja igual à demanda agregada — ou seja, os
dispêndios da coletividade com estes bens e serviços.
DA = C + I + G + X (1)
Segundo a abordagem keynesiana, a demanda agre-
gada determina o nível da oferta agregada e, conse-
quentemente, o nível da renda de equilíbrio. Onde DA: Demanda Agregada.
Assim como a curva de demanda no mercado de
Demanda Agregada um bem individual, a curva de demanda agregada
também possui inclinação negativa, indicando a exis-
Para compreender a demanda agregada, precisa- tência de uma relação inversa entre a quantidade de
mos compreender, antes, o que é, em detalhes, o mer- bens e serviços demandada agregadamente e o nível
cado de bens e serviços. geral de preços.
A composição do mercado agregado de bens e ser- A razão para essa inclinação negativa, contudo,
viços é fundamental para a saúde de uma economia. difere da observada a uma demanda por um bem
Na realidade, se tivéssemos de observar um único
específico. A relação inversa entre o preço e a quanti-
mercado em uma economia, escolheríamos o merca-
dade demandada de um bem específico reflete o fato
do de bens e serviços.
de que os consumidores substituirão outros produtos
Assim como a demanda analisada na microecono-
por esse bem, quando uma redução de preços o tornar
mia, a demanda agregada também relaciona quan-
tidade e preço, mas, é importante observarmos que relativamente mais barato que os demais.
variáveis “quantidade” e “preço”, nesse mercado Uma redução no preço em um mercado agregado
altamente agregado, diferem dos conceitos que temos de bens e serviços nos indica que o nível geral de pre-
utilizado em um mercado de um bem específico. Nes- ços se reduziu. Em média, o preço de todos os bens é
se mercado agregado de bens e serviços, a variável menor. Quando os preços de todos os bens produzi-
“quantidade” é o produto medido pelo PIB Real. A dos domesticamente caem na mesma proporção, não
variável “preço” será contabilizada como o nível haverá qualquer incentivo para que os consumidores
de preços medido por um índice geral de preços da domésticos substituam um bem por outro.
economia. 313
Assim, há três razões principais que explicam que Por fim, analisaremos o terceiro efeito:
uma redução no nível de preços promove o aumento
da quantidade agregada de bens e serviços demanda- z Tudo o mais constante, um menor nível de pre-
dos pelos compradores. Vejamos a seguir. ços fará que os bens produzidos domesticamen-
te fiquem mais baratos em relação aos bens do
z Um menor nível de preços aumenta o poder de exterior.
compra de uma quantidade fixa de dinheiro.
Em um nível de preços mais baixo, as importações
Para compreender a explicação desse fato, supo- se reduzirão, pois os brasileiros descobrirão que, em
nha que você tenha R$ 2.000,00 no banco. Considere sua maioria, os bens produzidos domesticamente
agora que haja uma redução no nível de preços de estão muito mais baratos do que aqueles produzidos
20%. Como essa redução afetará a sua riqueza e seus no exterior. Em um nível de preços mais baixo, no Bra-
gastos? Para um nível de preços mais baixo, os seus R$ sil, os residentes no país comprarão menos produtos
importados porque estes ficaram relativamente mais
2.000,00 poderão comprar mais bens e serviços. Assim
caros que suas contrapartidas domésticas. Ao mesmo
como você, outras pessoas também estarão enfren-
tempo, os estrangeiros aumentarão suas compras de
tando uma situação semelhante. Em virtude desse
bens e serviços produzidos no Brasil. O aumento das
aumento de riqueza, as pessoas comprarão mais bens
exportações associado à redução das importações, no
e serviços. Essa situação é chamada de efeito liquidez
menor nível de preços no Brasil, elevará a quantida-
real. Esse efeito ajuda a explicar por que uma que- de demandada de bens produzidos domesticamente.
da no nível geral de preços implicará um aumento na Esse efeito de substituição nos dá a terceira razão
quantidade demandada de bens e serviços. para que a curva de demanda agregada seja negativa-
mente inclinada.
Dica A figura 1 mostra uma curva de demanda agregada.
O efeito de liquidez real é o aumento de rique-
za gerado pelo aumento no poder de compra Nível de preços
de uma determinada quantidade de moeda à
medida que os preços caem. Esse efeito riqueza Uma redução no nível de
produz uma relação inversa entre o nível geral de preços aumenta a quantidade
demandada de bens e serviços
preços e a quantidade demandada no mercado
de bens e serviços.
P1
P2
z O efeito taxa de juros: um nível de preços mais
baixo reduz a demanda por moeda e a taxa real
de juros, o que estimula compras adicionais
durante o presente período. Y1 Y2
Bens e serviços (PIB real)
Quando o preço médio de todas as coisas é mais
baixo, os consumidores e as firmas precisarão de Figura 1 – A curva de demanda agregada
menos dinheiro para conduzir suas atividades nor-
mais. Por exemplo, as famílias não terão nenhuma A quantidade de bens e serviços comprada aumen-
dificuldade em manter suas atividades com menor tará à medida que o nível de preços se reduz. Tudo o
quantidade de dinheiro. No novo nível de preços, mais constante, o nível de preços mais baixo aumenta
mais baixo, elas gastarão uma quantidade nominal de a riqueza das pessoas para uma mesma quantidade
dinheiro menor em alimentos, vestuário e outros itens de moeda, provoca uma redução na taxa de juros e
regularmente comprados. Raciocínio semelhante vale faz com que os bens produzidos domesticamente
para as empresas. Assim, em um nível de preços mais fiquem relativamente mais baratos que os produzidos
baixos, tanto consumidores quanto firmas procurarão no exterior. Todos esses fatores tendem a aumentar
a quantidade de bens e serviços comprada quando o
reduzir seus saldos monetários e aplicar mais fundos
nível de preços se reduz.
no mercado de ativos financeiros, de modo a obter um
Para simplificar, diremos que a demanda agrega-
rendimento de juros. Isso canalizará mais recursos
da estabelece uma relação negativa entre quantidade
para o mercado de ativos financeiros, gerando uma
e nível de preços pelas seguintes razões:
pressão para uma redução nas taxas de juros.
Assim, pode-se perguntar: que impacto uma taxa z a riqueza real das pessoas cresce pelo maior poder
de juros menor terá sobre a demanda de bens e servi- de compra de seus saldos monetários, quando o nível
ços? Uma redução na taxa de juros torna mais barata de preços diminui; isso estimula um aumento no
a compra de bens e serviços no presente período. Des- consumo;
sa forma, um menor nível de preços e a decorrente z uma redução na demanda pelos saldos monetários a
redução na taxa de juros encorajarão tanto as famílias um menor nível de preços diminui a taxa de juros, o
como as empresas a demandar maiores quantidades que encoraja mais investimento e consumo;
de bens e serviços. O efeito da taxa de juros também z a diferença entre exportações e importações (as
contribui para que a inclinação da demanda agregada exportações líquidas) aumentará (uma vez que os
seja negativa. preços dos bens domésticos caíram, em relação
314 aos bens estrangeiros).
Como exercício, fica aqui a compreensão do que de deflação acentuado, os japoneses esperam que
acontecerá se houver um aumento no nível de preços. os preços se reduzam ainda mais, levando as pes-
Como dica, haverá um movimento exatamente con- soas a consumir cada vez menos;
trário ao observado na matéria. z Mudanças na taxa de câmbio: mudanças na taxa
Assim como a demanda por um bem específi- de câmbio afetarão o preço relativo, tanto das
co sobre deslocamentos, o mesmo acontece com a importações quanto das exportações. Uma valori-
demanda agregada. zação do real, frente ao dólar, no mercado de câm-
bio, fará que fique mais barato, para os brasileiros,
Deslocamentos na DA importar bens do exterior e mais caro, para os
estrangeiros, comprar produtos brasileiros. Nesse
A curva de Demanda Agregada isola o impacto de caso, haverá um aumento das importações brasi-
preços sobre a quantidade demandada de bens e ser- leiras e uma redução das exportações. Esse pro-
viço. Como discutimos acima, uma variação no nível cesso levará a uma redução na curva de demanda
de preços gerará três efeitos que possibilitarão um agregada.
movimento ao longo da curva de demanda agregada.
O nível de preços, entretanto, não é o único fator De forma simplificada, podemos agrupar os fato-
que influencia a demanda por bens e serviços. Quan- res que aumentarão (diminuirão) a demanda agrega-
do construímos a curva de demanda agregada, supo- da da seguinte forma:
mos que muitos outros fatores que afetam as decisões
dos compradores no mercado de bens e serviços z um aumento (decréscimo) da riqueza real;
sejam mantidos constantes. Mudanças nesses outros z um decréscimo (aumento) na taxa real de juros;
fatores deslocarão a curva de demanda agregada, z um aumento no otimismo (pessimismo) dos agen-
alterando a quantidade comprada em cada nível de tes econômicos (produtores e consumidores) sobre
preços. Vamos examinar, com mais cuidado, os prin- as condições futuras da economia;
cipais fatores que provocam deslocamentos na curva z um aumento (declínio) na taxa de inflação esperada;
de demanda agregada. z um aumento (redução) da renda real dos princi-
pais parceiros comerciais;
z Mudanças nas expectativas: os consumidores z uma desvalorização (valorização) da moeda nacio-
baseiam seus gastos na renda atual e futura, e as nal em relação às outras moedas.
empresas baseiam seus investimentos nas condi-
ções correntes e também nas vendas esperadas no Assim como acontece na microeconomia, os deslo-
futuro. Assim, o que os agentes antecipam que vá camentos da demanda agregada são semelhantes aos
ocorrer no futuro influencia suas atuais decisões deslocamentos observados na demanda de um bem
com relação às compras; individual. A figura 2 mostra esses movimentos.
z Mudanças na riqueza: os gastos de consumo
dependem em parte do valor dos ativos das famí-
lias. Mudanças no valor real dos ativos alteram
Índice de Preço

os gastos de consumo das famílias. Famílias mais

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


ricas tendem a aumentar o volume de bens con-
sumidos enquanto famílias com menores riquezas
tendem a reduzir o volume de bens consumidos;
z Políticas Governamentais: política fiscal ou
monetária, expansionista ou contracionista. O
impacto dessas políticas será visto adiante;
z Mudanças na taxa de juros: como vimos anterior-
mente, os principais mercados macroeconômicos
DA3
estão estreitamente relacionados. Uma variação
na taxa real de juros, no mercado de ativos finan- DA2
ceiros, influenciará as escolhas dos consumidores DA1
e de investidores no mercado de bens e serviços.
Uma taxa de juros mais baixa se torna mais bara- PIB Real
to para os consumidores adquirir bens altamen-
te associados a crédito, tais como bens duráveis,
automóveis e habitações. É melhor comprar hoje
que no futuro. Simultaneamente, essa baixa taxa Figura 2 – Deslocamentos da demanda agregada
de juros estimulará os homens de negócios a inves-
tir em bens de capital. A taxa de juros influenciará Um aumento na riqueza real elevará a demanda
todos os projetos de investimento; agregada, deslocando a curva de demanda agregada
z Mudanças na taxa de inflação esperada: quan- para a direita (de DA2 para DA3). Em contraste, uma
do os consumidores e investidores acreditam que redução da riqueza das famílias provocará uma dimi-
a taxa de inflação aumentará no futuro, eles têm nuição na demanda por bens e serviços, fazendo que
um forte incentivo para comprar mais no período DA se desloque para a esquerda (de DA2 para DA1).
atual. A ordem acaba se tornando: comprar agora Vamos a um exemplo:
antes que fique mais caro. De forma contrária, a Uma expansão vigorosa da economia mundial
expectativa de que os preços possam reduzir no tende a aumentar o(a):
futuro, incentivará as famílias a não comprar no
presente. Um exemplo desse tipo de comportamen- (A) déficit comercial brasileiro;
to é visto, ainda hoje, no Japão. Com um processo (B) déficit do setor público brasileiro; 315
(C) taxa de câmbio R$/US$, se o regime cambial for Considerando o exposto, define-se oferta agregada
de câmbio fixo; (OA) como sendo o valor total da produção de bens e
(D) taxa de desemprego no Brasil; serviços de uma economia. Contudo, quando conside-
(E) demanda agregada na economia brasileira. ramos a oferta agregada, é de fundamental importân-
cia dividirmos a análise da curva de oferta agregada
Para responder essa questão, vamos analisar o considerando-a sob duas óticas: curto e longo prazo.
que vimos anteriormente: se a economia mundial for Lembre-se: a curva de oferta agregada indica a
aquecida, as pessoas do resto do mundo tenderão a relação entre o índice geral de preços e a quantidade
ficar mais ricas, certo? Com esse aumento de rique- de bens oferecidos pelos produtores. No curto prazo,
za, elas passarão a consumir mais bens, incluindo os ela é, provavelmente, uma curva ascendente, mas, no
bens produzidos por brasileiros. Nesse caso, have- longo prazo, acredita-se que ela seja vertical (ou mui-
rá um aumento da demanda agregada da economia
to próximo disso).
brasileira. Item observado na alternativa (E). Agora
Em macroeconomia, a diferença fundamental
que compreendemos porque a letra (E) está correta,
entre o curto e o longo prazo é o comportamento dos
vamos analisar porque as demais não estão.
preços. No curto prazo, muitos (não necessariamente
Veja que a alternativa (A) afirma que haverá um
todos) preços são fixos em algum nível predetermina-
aumento no déficit comercial brasileiro. Ora, se as
do, e não mudam independente das condições e dos
pessoas passarão a comprar mais dos bens brasileiros,
haverá um aumento das nossas exportações, logo, não estímulos ou desestímulos das variáveis macroeco-
teremos um déficit comercial, mas um superávit. Essa nômicas. No longo prazo, por sua vez, os preços são
alternativa estaria correta se a questão perguntasse flexíveis e reagem a mudanças na conjuntura econô-
sobre o que ocorre quando há um desaquecimento da mica. Assim, fundamentalmente, temos:
economia mundial. Nesse caso, haveria um problema
de déficit. Curto prazo: preços fixos
A alternativa (B), por sua vez, afirma que esse Longo prazo: preços variáveis
aquecimento da economia mundial seria refletido em
um déficit do setor público brasileiro. Assim como a Vale ressaltar que quando falamos em “preços”,
letra (A), a letra (B) também é incorreta pois um aque- estamos nos referindo a todos os preços da economia,
cimento da economia internacional não afeta, dire- de forma geral. Estes preços se referem aos preços de
tamente, o setor público brasileiro, pois não se pode todos os produtos, incluindo também o preço da mão
afirmar que haverá um aumento dos gastos públicos de obra, que é o salário.
a tal ponto que possa superar a arrecadação de impos- A curva de oferta agregada variará de acordo com
tos. Assim, não se estabelece uma relação direta entre o prazo que está sendo considerado. Iniciaremos nos-
setor público e resto do mundo. sa análise com o curto prazo. Nesse horizonte tem-
A assertiva (C) afirma que haverá um aumento na poral, a curva de oferta agregada possui inclinação
taxa de câmbio R$/US$, se o regime cambial for de positiva ou ascendente. Tal inclinação reflete o fato de
câmbio fixo. Veja, a taxa de câmbio mede a relação que, no curto prazo, um aumento não antecipado no
entre duas moedas. Como a alternativa diz, o regime é nível de preços provocará, em média, um aumento na
de câmbio fixo. Ou seja, não se pode modificar a rela- lucratividade das firmas. Por isso mesmo, elas expan-
ção entre duas moedas nessa economia. Essa questão dirão a sua produção, aumentando o produto.
poderia ser considerada correta se, primeiro, conside-
rasse câmbio variável e, segundo, se analisasse uma Oferta Agregada de Curto Prazo
redução na taxa. Dessa forma, essa alternativa está,
em todos os sentidos, incorreta. Como vimos acima, no curto prazo, o nível geral de
Por fim, a alternativa (D) afirma que haverá um preços afeta a capacidade de produção da economia.
aumento da taxa de desemprego. Ora, se estamos Assim, em curto prazo, um aumento no nível geral de
exportando mais, isso indica que estamos produzindo
preços da economia tende a elevar a quantidade ofer-
mais, correto? Nesse caso, não haverá um aumento na
tada de bens e serviços, e uma queda no nível geral de
taxa de desemprego, mas uma redução.
preços tende a reduzir a quantidade ofertada de bens e
Tão importante quanto compreender os deter-
serviços. Esse fato está associado, como vimos, à lucra-
minantes e deslocamento da demanda agregada, é
tividade das empresas. A pergunta que se pode fazer é:
entender como é formada a oferta agregada da econo-
por que um aumento no nível geral de preços aumenta a
mia, já que é a interação entre essas duas curvas que
gerará um equilíbrio do mercado. lucratividade das empresas no curto prazo?
A resposta para essa pergunta é simples: os lucros por
A OFERTA AGREGADA POR BENS E SERVIÇOS unidade correspondem ao preço menos o custo unitário
de produção. Assim, se um aumento de demanda provo-
Dadas as explicações para justificar o formato ca um aumento não antecipado no nível geral de preços,
da demanda agregada, não deve ser surpresa o fato os preços dos bens e serviços aumentarão em relação
de termos uma explicação que justifique o formato aos preços dos componentes de custo que, em razão dos
ascendente da curva de oferta agregada, diferente contratos (como, por exemplo, o contrato de trabalho),
da explicação da curva de oferta agregada de deter- são temporariamente fixos. As margens de lucro aumen-
minado bem. Assim, a forma ascendente da curva de tarão e as firmas elevarão a produção, com satisfação,
oferta agregada (OA) não é um reflexo de mudanças de modo que o produto aumentará. Como resultado, a
nos preços relativos. curva de oferta agregada tem inclinação positiva, como
316 mostra a figura 3.
de tal forma que a empresa reduzirá o número de con-
Um aumento no nível de preços

Nível de preços
aumenta a quantidade ofertada de tratações e a quantidade de produtos ofertados. Com
bens e serviços no curto prazo o tempo, após os contratos de trabalho expirarem, a
empresa poderá renegociar o valor dos salários, de
SA
tal forma que seja possível novamente contratar mais
trabalhadores e aumentar a produção, mas, enquan-
to isso não ocorre, o nível de produção permanecerá
P1 abaixo do nível de pleno emprego no longo prazo.
P2 Veja então que o nível de preços abaixo do nível
de preços esperado, associado à rigidez salarial, fez
com que a empresa reduzisse as contratações e a pro-
dução. Ou seja, redução de preços provoca redução
Y1 Y2 Bens e serviços (PIB real) de produção/renda. O contrário também é válido:
aumento de preços provoca aumento de contratações
Figura 3 – Curva de oferta agregada no curto prazo
e produção. Como as variáveis do gráfico têm relação
positiva (uma cresce e outra também cresce, e vice-
A curva de oferta agregada de curto prazo mostra -versa), a curva de oferta agregada será inclinada
a relação entre o nível geral de preços e a quantidade positivamente no curto prazo.
de bens e serviços oferecida pelos produtores domés- Diante do exposto, segundo a teoria dos salários
ticos. No curto prazo, as firmas geralmente expandi- rígidos, a curva de oferta agregada de curto prazo tem
rão sua produção à medida que o nível geral de preços inclinação positiva porque os salários nominais se
aumente, porque a preços mais elevados, sua margem
baseiam na expectativa de preços e são rígidos (não
de lucro aumenta, uma vez que muitos componentes
respondem imediatamente quando o nível de preços
de seu custo são temporariamente fixos em decorrên-
é diferente do esperado). Essa rigidez salarial faz com
cia de contratos de longo prazo.
que as empresas produzam mais quando os preços
Considerando o que foi visto, temos que a oferta
aumentam mais que o preço esperado, e menos quan-
agregada se desvia do seu nível natural quando o
do os preços diminuem para um nível menor que o
nível real de preços se desvia do nível de preços
preço esperado.
que as pessoas esperavam que prevalecesse.
Existem outras explicações para o formato da cur-
z Rigidez de Preços
va de oferta agregada de curto prazo. Resumidamen-
te, nós podemos enumerar três teorias que explicam a
inclinação positiva da curva de oferta agregada: A teoria dos preços rígidos pressupõe que os preços
de alguns bens e serviços também se ajustam lentamen-
z teoria dos salários rígidos; te em resposta às variações das condições econômicas,
z teoria dos preços rígidos; apresentando, portanto, alguma rigidez. Esse modelo
z teoria da informação imperfeita. enfatiza que as empresas não ajustam imediatamente os
preços que cobram em resposta a variações na demanda

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


Comecemos pela primeira: e isto ocorre por vários motivos.
Assim como os contratos de trabalho, os acordos de
z Rigidez Salarial compra e venda de produtos podem ser estabelecidos
por contratos de longo prazo entre empresas e clientes
De acordo com essa teoria, a curva de oferta agre- e, mesmo na inexistência de acordos formais, as empre-
gada de curto prazo tem inclinação positiva porque os sas podem manter os preços fixos no curto prazo para
salários nominais (W) não respondem imediatamente não incomodar os clientes com mudanças frequentes de
às variações das condições da economia, sendo rígi- preços.
dos no curto prazo. Outra razão que explica a rigidez de preços são os
Essa rigidez salarial é causada basicamente por custos de menu. Por vezes, ajustar os preços implica
fatores sociais e institucionais, tais como a existên- custos como, por exemplo, a impressão e distribuição
cia de contratos de trabalho de longo prazo, poder de de catálogos, confecção de novas etiquetas de preços,
negociação coletiva (sindicatos), adoção de pisos sala- impressão de novos cardápios (no caso de restaurantes),
riais, legislação trabalhista. Todos estes fatores impe- atualização dos sistemas, atualização da contabilidade,
dem ajustes para diminuir os salários. etc. Esses custos de menu fazem com que as empresas
Um exemplo prático nos ajudará a entender por- ajustem seus preços de modo intermitente (apenas de
que os salários (nominais) rígidos fazem com que a tempos em tempos), e não de modo contínuo.
curva de oferta agregada seja inclinada positivamente. Agora que já explicamos porque os preços podem
Imagine que há um ano uma empresa esperava ser rígidos no curto prazo (por exemplo, devido aos
que o nível de preços fosse 100 (preço esperado = 100) custos de menu), veremos como isso explica a inclina-
e, com base nessa expectativa, assinou um contrato ção positiva da curva de oferta agregada.
de trabalho em que o salário de seu trabalhador fosse Suponha que uma empresa anuncie seus preços
50. Suponha que a expectativa da empresa não se con- antecipadamente, com base nas expectativas em rela-
firmou e o nível de preço efetivo acaba sendo apenas ção às condições econômicas para um período seguinte.
90, em vez de 100. Como os preços caíram abaixo das Então, devido a mudanças nas condições econômicas, o
expectativas, a empresa ganha 10% menos do que o nível de preços da economia acaba sendo menor do que
esperado para cada unidade de produto que vende. aquele esperado. Embora algumas empresas reduzam
O salário (custo da mão de obra), porém, é rígido e seus preços imediatamente em resposta às mudanças
não pode diminuir em virtude do contrato de traba- inesperadas nas condições econômicas, outras podem
lho. Dessa forma, a produção agora dá menos lucro, não fazê-lo, para não incorrer nos custos de menu. 317
Como os preços dessas empresas ficam mais altos, Deslocando a Curva de Oferta Agregada de Curto
suas vendas declinam. O declínio nas vendas reduzirá os Prazo
lucros e fará estas empresas que mantiveram os preços
rígidos reduzir a produção e o emprego. Mudanças em certas condições da economia
Em suma, como nem todos os preços se ajustam podem, muitas vezes, afetar o produto atual. Quando
imediatamente a oscilações da economia, uma queda isso acontece, a curva de Oferta Agregada de curto
no nível de preços deixa algumas empresas com pre- prazo (OACP) se deslocará. Que tipos de mudanças
ços mais altos, fazendo suas vendas reduzirem. Por produzirão tais resultados? Veja-as:
conseguinte, a produção e o emprego serão reduzidos
nestas empresas com rigidez de preços. Essa associa- z Mudanças nos preços dos recursos produtivos:
ção positiva entre o nível de preços e a produção (uma uma mudança no preço dos recursos produtivos
variável cai, a outra também cai, e vice-versa) leva à altera a curva de oferta agregada de curto prazo.
inclinação positiva da curva de oferta agregada. Uma redução no preço dos recursos produtivos
diminuirá o custo de produção e, portanto, deslo-
z Informação Imperfeita cará a curva de OACP para a direita;
z Mudanças na taxa de inflação esperada: da mes-
A teoria da informação imperfeita ou percep- ma forma que a inflação esperada afeta a curva
ções equivocadas relaciona a inclinação da curva de demanda agregada, ela também afetará a curva
de oferta agregada de curto prazo como resultado da de oferta agregada de curto prazo. Se os vendedo-
percepção equivocada dos produtores em relação aos res no mercado de bens e serviços esperam que a
preços da economia. inflação aumente no futuro, o incentivo que eles
Suponha que o nível geral de preços da economia têm para vender, a determinado preço, no período
caia para um nível abaixo do esperado pelas empre- atual, será reduzido. No fim das contas, bens que
sas. Se o nível de preços de toda a economia cai, seria não sejam vendidos hoje poderão ser comerciali-
natural que isso não afetasse as decisões de produção zados, no futuro, segundo as expectativas dos ven-
das empresas, uma vez que não há mudanças nos pre- dedores, a preços mais elevados (como resultado
ços relativos. No entanto, as percepções equivocadas, de um aumento da inflação). Assim, um aumen-
fruto da informação imperfeita, podem fazer com que to na taxa de inflação esperada reduzirá a oferta
isso não aconteça. atual de bens e serviços, fazendo com que a curva
Para entender como isso funciona, suponha que de OACP se desloque para a esquerda;
haja redução do nível geral de preços. Como nós dis- z Choques de oferta: vários choques de oferta podem
semos, à medida que a redução de preços ocorre na alterar o produto atual. Esses choques de oferta são
economia como um todo, é de se esperar que isso eventos não esperados que aumentam ou diminuem
não afete as decisões de produção, mas um produtor, temporariamente o produto corrente. Por exemplo,
individualmente, pode enxergar isso de maneira equi- condições climáticas adversas, desastres naturais, ou
vocada. Um vendedor de roupas, por exemplo, pode aumentos temporários no preço do petróleo reduzi-
achar que somente os preços de suas roupas caíram. rão a oferta atual da economia.
Ou seja, ele pode acreditar que os preços de seus pro-
dutos caíram comparados a outros preços na econo- Dica
mia (queda de preços relativos).
Deste modo, este vendedor pode concluir que pro- O choque de oferta diz respeito a um evento não
duzir roupas não é tão lucrativo quanto antes e, assim, esperado que provoca um aumento ou uma redu-
decide reduzir a produção, e essa redução de produ- ção temporária na oferta agregada.
ção durará até que ele perceba que a redução de pre-
ços foi geral, e não somente para os seus produtos. Além dos fatores acima mencionados, é importante
Percepções equivocadas semelhantes ocorrem destacar que variações endógenas (renda e preços) pro-
quando o nível geral de preços sobe. Um produtor, vocam deslocamentos ao longo da curva de oferta agre-
isoladamente, pode achar que somente o preço de seu gada, ou seja, a curva permanece no mesmo lugar.
produto subiu e, assim, pode decidir aumentar a pro- Você deve ter notado que, até agora, sempre fizemos
dução. Note que, enquanto estas percepções equivoca- uma diferenciação entre oferta agregada de curto prazo
das não forem corrigidas, os produtores responderão e oferta agregada de longo prazo. Já vimos a que se refe-
a aumento de preços por meio do aumento de produ- re a curva de oferta de curto prazo. Passaremos agora a
ção; e responderão à redução de preços por meio da analisar a curva de oferta agregada de longo prazo.
redução de produção. Em ambos os casos, a relação
entre produção/emprego e preços é positiva, indican- Oferta Agregada no Longo Prazo
do que a curva de oferta agregada será positiva.
De forma resumida, diremos que a oferta agregada A curva de oferta agregada de longo prazo (OALP)
de longo prazo apresenta uma relação crescente entre indica a relação entre o nível geral de preços e a quan-
nível de preços e produto porque à medida que o nível tidade de produto, após os agentes econômicos terem
de preços aumenta, as margens de lucros se elevam, tido tempo suficiente para ajustar, quando possível,
pois, inicialmente, o preço do produto vendido pelas seus contratos anteriores, ou tomar medidas que pos-
firmas aumenta relativamente aos seus custos (com- sam compensar algumas de suas obrigações passadas
ponentes importantes de custo estão temporariamen- em decorrência de mudanças não esperadas nos pre-
te fixos, em razão de contratos de longo prazo). ços de mercado.
Assim como ocorrem deslocamentos na curva de Assim, diferentemente do que aconteceu com a
demanda agregada, a curva de oferta agregada de curva de oferta agregada de curto prazo, um aumento
curto prazo também sofrerá deslocamentos. É o que no nível de preços em um mercado de bens e serviços
318 veremos agora. não alterará a relação entre os preços do produto e
os preços dos recursos produtivos no longo prazo. Se (aumento do fator de produção mão de obra), ou a des-
as pessoas tiverem tempo suficiente para ajustar suas coberta de novas jazidas de recursos minerais, ou o
obrigações previamente contratadas, as forças de desenvolvimento de novas tecnologias que aumentem a
competição restaurarão a relação usual entre o pre- produtividade do capital (aumento do fator de produção
ço do produto e os seus custos. Dessa forma, as forças capital). O que essas mudanças fazem com o posiciona-
que fazem que a curva de oferta agregada de curto mento da curva de oferta agregada?
prazo tenha uma inclinação ascendente estão ausen- Em todos os casos, há aumento de fatores de produ-
tes no longo prazo. ção, de tal forma que a curva de OALP será deslocada
O que se pode perguntar, agora, é qual a impor- para a direita. Suponha agora que haja um desastre natu-
tância de se estudar a curva de oferta de longo pra- ral que destrua uma parte do estoque de capital da eco-
zo, já que, nessa curva, não existe uma relação entre nomia, ou um forte movimento emigratório (= redução
preços e nível de produção. A resposta para isso é a de mão de obra), ou a aprovação pelo congresso de novas
seguinte: em determinado momento do tempo, as regras de segurança de trabalho ou ambientais que tor-
possibilidades de produção de um país estão condi- nassem o trabalho menos produtivo ou mais dificultoso.
cionadas à disponibilidade de recursos produtivos, ao O que essas mudanças fazem com o posicionamento da
nível de tecnologia e a sua organização institucional curva de oferta agregada? Nestes casos, há redução de
que influencia o uso eficiente dos recursos. A curva de fatores de produção, de tal forma que a curva de OALP
oferta agregada de longo prazo é uma forma alternati- será deslocada para a esquerda, indicando que o produto
va de visualizar as possibilidades de produção de uma
de pleno emprego será menor.
economia. Nesse sentido, a importância da curva de
Como nós vimos, alterações na disponibilidade dos
oferta agregada de longo prazo enfatiza o valor real,
fatores de produção (mão de obra, capital, recursos
em reais (R$), das unidades produzidas. Assim, a cur-
naturais) deslocam a curva de oferta agregada de lon-
va de oferta de longo prazo vertical indica que uma
go prazo. Essa curva é similar à curva de oferta agre-
mudança no nível de preços não reduz as restrições
gada de curto prazo, a diferença está na inclinação. A
que impõem um limite às nossas possibilidades de
primeira é vertical, enquanto a segunda é inclinada
produção. A curva de oferta agregada de longo prazo
é mostrada na figura abaixo. positivamente. Assim, todos os fatores que deslocam
a curva de longo prazo também deslocam a curva
de oferta de curto prazo.
Mudanças no nível de preços não
Por exemplo, quando o governo adota medidas que
Nível de preços

afetam a quantidade oferecida no


longa prazo reduzem a taxa natural de desemprego (veremos esse
efeito adiante), aumentando a quantidade do fator de
OALP produção mão de obra disponível para as empresas,
a economia consegue produzir mais bens, portanto,
ambas as curvas de oferta agregada (longo e curto pra-
zos) se deslocam para a direita.
O único fator que deslocará uma curva e não deslo-
cará a outra é o nível de preços esperados. Conforme

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


vimos, o nível de preços é fator decisivo na curva de
oferta agregada de curto prazo e, ao mesmo tempo, não
apresenta relevância em relação à curva de longo prazo.
Conforme vimos no tópico passado, a quantidade
YF Bens e serviços (PIB real)
ofertada de produto depende, no curto prazo, dos salários
rígidos, dos preços rígidos e da informação imperfeita.
Figura 4 – Oferta Agregada de Longo Prazo
Entretanto, salários, preços e percepções (informações)
são estabelecidos com base na expectativa quanto ao
No longo prazo, o maior nível de preços não expan-
nível de preços. Assim, quando as expectativas sobre o
dirá o produto real da economia. Se as pessoas tive-
nível de preços mudam, a curva de oferta agregada de
rem tempo para ajustar suas obrigações contratadas
curto prazo se desloca.
anteriormente, o mercado de recursos (e os custos)
Para completar o nosso estudo, precisamos com-
se ajustará a esse novo nível de preços mais elevados
preender em quais situações a economia se encontra em
e, portanto, eliminará o incentivo para que as firmas
equilíbrio. É o que entenderemos agora.
aumentem suas ofertas em decorrência de preços mais
elevados e, portanto, eliminará o incentivo para que as
firmas aumentem suas ofertas em decorrência de um O EQUILÍBRIO ENTRE DA E AO: EQUILÍBRIO
nível de preços mais alto. MACROECONÔMICO
O nível de produto de pleno emprego (YF, a maior
taxa de produto sustentável) é determinado pela oferta O equilíbrio macroeconômico de curto prazo ocor-
de recursos produtivos, pelo nível da tecnologia e pela re na interseção das curvas de oferta agregada de
estrutura institucional do país, fatores que são insensí- curto prazo e de demanda agregada. Ele determina o
veis a mudanças no nível de preços. A curva vertical da nível de preços agregado e o nível de produto agre-
OALP ilustra esse ponto. gado de equilíbrio de curto prazo. Entretanto, uma
Finalmente, assim com existem deslocamentos da segunda condição é exigida para o equilíbrio de longo
demanda agregada e da oferta agregada de curto pra- prazo: os agentes econômicos que acertaram contra-
zo, também haverá deslocamentos na curva de oferta tos de longo prazo, que afetam os preços e os custos
de longo prazo. Assim, a possibilidade de haver deslo- correntes, precisam antecipar corretamente o atual
camentos da curva de oferta agregada de longo pra- nível de preços quando fazem tais contratos. A figura
zo se resume a alterações na quantidade de fatores de 5 mostra uma economia que se encontra em equilí-
produção. Imagine que haja um movimento imigratório brio de longo prazo. 319
Exemplo de política fiscal expansionista: maio-

Nível de preços
res compras governamentais, corte nos impostos e
aumento de transferências.
OALP O montante em que mudanças nas compras gover-
OACP namentais deslocam a curva de demanda agrega-
da depende do efeito multiplicador. Mudanças nos
impostos e nas transferências igualmente deslocam a
curva, porém em menos do que mudanças semelhan-
tes nos gastos do governo.
A relação positiva entre receita tributária e PIB e a
DA relação negativa entre algumas transferências e o PIB
reduzem o tamanho do multiplicador, mas também
YF Bens e serviços (PIB real)
atuam reduzindo o tamanho das flutuações no ciclo
econômico.
Figura 5 – Equilíbrio de longo prazo no mercado de bens e serviços
Assim, as regras para tributação e transferências
Quando o mercado de bens e serviços está em atuam como estabilizadores automáticos, fazendo
equilíbrio de longo prazo, duas condições precisam com que a política fiscal seja expansionista quando a
ser satisfeitas. Primeira, a quantidade demanda- economia se contrai e contracionista quando a econo-
da precisa ser igual a quantidade ofertada no nível mia se expande, sem exigir uma ação deliberada dos
atual de preços. Segunda, o nível de preços antecipa- formuladores de política.
do pelos agentes econômicos para esse período deve
ser igual ao nível de preços atual. Quando o nível de Exemplo: Política Fiscal Expansiva
preços antecipado ocorre atualmente, o produto atual
da economia será igual ao PIB potencial de pleno Durante a década de 50, o descontrole fiscal (exces-
emprego, em que todos os fatores produtivos estarão so de gastos do governo) foi uma das características
empregados. do(s) governo(s) brasileiro. Qual era o efeito desse
Choques de oferta levam o nível de preços a se excesso de gastos do governo sobre o nível de preços e
movimentar em direção oposta ao produto agregado. renda da economia? Veja o gráfico abaixo.
E choques de demanda fazem com que eles se movi-
mentem na mesma direção. Ou seja, quando a oferta
Nível de preços

de curto prazo aumenta, deslocando-se para a direita,


ocorrerá uma redução nos preços, por exemplo.
No longo prazo, a economia é autocorretiva e os
choques de demanda têm efeitos apenas no curto
prazo.
Agora, apresentaremos a ideia de equilíbrio
em uma economia que será semelhante ao visto na
microeconomia, mas em termos agregados. Para PE2
descobrirmos qual será o efeito de alguma política PE1
ou algum acontecimento sobre a renda e os preços,
devemos saber trabalhar com as curvas de demanda e DA2
DA1
oferta agregada. O roteiro de raciocínio é este:
YE1 YE2 Bens e serviços (PIB real)
z primeiro, verifique se o acontecimento ou política
adotada afeta (desloca) a curva DA ou a curva AO; Os altos gastos do governo (G) deslocam a curva
z segundo, verifique qual a curva de oferta agrega-
DA para a direita. Note que, ao deslocarmos a curva
da a ser usada, se de curto prazo ou longo prazo.
DA para a direita, obrigatoriamente, deslocamo-la
Caso seja de curto prazo, identifique se é a curva
também para cima. No gráfico acima, isto está repre-
horizontal ou a curva positivamente inclinada;
sentado pelo deslocamento de DA1 para DA2. Como
z depois, verifique para onde serão deslocadas as
resultado deste deslocamento, temos um novo ponto
curvas. Isto é, se o acontecimento desloca a curva
de equilíbrio, em que temos novo índice de preços de
DA ou OA para a direita ou para a esquerda;
z após deslocar a(s) curva(s), verifique, por si só, o equilíbrio PE2 e nova renda de equilíbrio YE2.
novo ponto de equilíbrio e as consequências sobre Com isso, concluímos que o excesso de gastos
o novo índice de preços e o novo nível de renda/ do governo (política fiscal expansionista) provocou
emprego da economia. aumento dos preços e aumento do nível de emprego.

POLÍTICA FISCAL REFERÊNCIAS

Como nós já vimos, a política fiscal afeta a deman- CAVALCA, R. B. et al. A relação entre ciclos econô-
da agregada diretamente através das compras gover- micos com o desempenho das empresas no mer-
namentais e, indiretamente, através de impostos e cado brasileiro. Revista Brasileira de Economia
transferências governamentais, que afetam os gastos de Empresas, v. 17, n. 1, 2017. Disponível em:
de consumo e investimento. Podendo ser expansionis- https://portalrevistas.ucb.br/index.php/rbee/arti-
320 ta ou contracionista. cle/view/7096. Acesso em: 22 jan. 2024.
Assim, ficamos com a expressão já citada:
DÉFICIT ORÇAMENTÁRIO E DÍVIDA
PÚBLICA, TETO DE GASTOS Dt=Gt-Rt

O governo desempenha suas atividades financei- DÉFICIT PRIMÁRIO


ras de maneira muito parecida com uma empresa, ou
uma família. Em resumo, o governo possui receitas, O déficit primário é a medida que exclui os paga-
originadas no recebimento de tributos, por exemplo, e mentos e recebimentos de juros. Diferentemente do
despesas, que são diversas, mas geralmente classifica- conceito de déficit nominal, que considera todas as
das como correntes (manutenção da máquina públi- despesas e receitas, aqui não se contabilizam as des-
ca) e de capital (investimentos). pesas com juros, amortizações da dívida pública,
O governo pode apresentar, em determinado entre outras despesas e receitas financeiras.
período, o mesmo valor de despesas e receitas. Mas, Sua expressão é a seguinte:
na prática, isso é muito difícil de acontecer. Geral-
mente, o governo apresenta despesas mais eleva- Dpt=Gttnf-Rtnf
das que receitas, situação denominada de déficit.
Indo direto ao ponto, temos a seguinte situação: Evidente que o sobrescrito nf corresponde a “não
financeiro”. A pergunta que surge é a seguinte: qual o
Dt=Gt-Rt interesse em se retirar as despesas financeiras?
O principal motivo é evidenciar a fonte de alimen-
Considerando como o déficit no período t, como o tação da dívida pública. Não podemos considerar
gasto do governo no mesmo período e como a receita, as despesas com juros, por exemplo, como fator de
despesas maiores que receitas provocam déficit. Do origem da dívida pública. O nascimento da dívida é
contrário, receitas mais elevadas que despesas resul- sempre devido à diferença entre despesas e receitas
tam no chamado superávit. não financeiras, aos gastos em excesso. É por isso o
É importante salientar que o déficit público é uma nome déficit primário: é a fonte primária da dívida
medida de fluxo, ou seja, deve ser avaliado durante um pública.
período (por exemplo, 1 ano, 1 trimestre, 1 mês etc.). Adicionalmente, o déficit primário é importan-
A diferenciação entre variáveis fluxo e variáveis te medida pela possibilidade de avaliar o superávit
estoque é muito importante em economia e finanças primário, quando as receitas superam as despesas. O
públicas. Em geral, as variáveis fluxo podem ser inter- superávit primário é relevante, pois serve de fonte de
pretadas como uma torneira vazando água e as variáveis recursos para o pagamento dos juros, de modo que a
estoque, como um copo de água. Quanto maior a vazão dívida pública anteriormente contraída se estabilize.
de água da torneira, mais rápido para encher o copo. Ou Vamos imaginar uma situação simples. Digamos que
seja, variáveis fluxo com valores maiores resultam em a despesa com juros corresponda a 10% do PIB do país.
variáveis estoque maiores. Do mesmo modo, o superávit primário é também igual a
Aplicando o exemplo ao nosso caso, quanto mais ele- 10% do PIB. Esse número permite que o governo pague

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


vado o déficit público (variável fluxo), maior o aumento as despesas com juros sem elevar a dívida pública, pois
da dívida pública, que é a variável estoque correspon- as despesas com juros serão pagas com a economia gera-
dente. O déficit público é a vazão da torneira, enquanto a da pelo superávit primário. Se, por exemplo, o superávit
dívida pública corresponde ao copo d’água. primário corresponder a 5% do PIB, o excesso de juros
Mas não é o momento de tratar este tópico em deta- sobre o superávit primário (no total 5% do PIB) irá pro-
lhes. Vamos passo a passo. vocar aumento da dívida pública.
Continuando, a ideia de déficit é muito simples e bási- Desta forma, a queda do superávit primário, man-
ca. Mas há como complicar, e as bancas exploram isso. tendo-se constante todas as outras questões, indica que
Existem diversas maneiras de se medir o déficit a economia para o pagamento das despesas com juros é
público, pois é possível avaliar de distintas maneiras menor, o que pode elevar à dívida pública, por exemplo.
as despesas e receitas públicas. Por exemplo, podemos
considerar nos cálculos apenas as despesas e receitas DÉFICIT OPERACIONAL
não financeiras, ou seja, aquelas que não consideram os
pagamentos e recebimentos de juros. Ou, de outro modo, O déficit operacional é a medida utilizada em um
podemos retirar das despesas com juros o efeito provo- ambiente inflacionário, pois deduz do déficit os efei-
cado pela inflação, o que resultaria no conceito de despe- tos da inflação no pagamento de juros.
sa real com juros. É interessante entender o porquê deste fato. Do
Para esquematizar nosso estudo, seguem as 3 medi- ponto de vista do credor, a taxa de juros é a remu-
das de déficit público com todos os comentários e dicas neração obtida para ele emprestar o dinheiro para o
para facilitar a resolução de questões: governo financiar o déficit. No entanto, a inflação cor-
rói o valor real desta remuneração.
DÉFICIT NOMINAL Desta forma, é de se esperar a correção da taxa de
juros pela taxa de inflação, para que o poder de com-
É a medida de déficit que considera todas as des- pra da remuneração se mantenha e o credor se inte-
pesas e receitas incorridas pelo governo em deter- resse em emprestar o seu dinheiro. Ou seja, quanto
minado período. Aqui entra tudo: despesas com mais elevada a taxa de inflação, mais elevada será a
juros, com o pagamento de pessoal, com investimen- taxa nominal de juros. Mas o que importa é o valor
tos e assim por diante. Todas as receitas e despesas real das despesas com juros, ou seja, a despesa nomi-
são medidas pelo seu valor nominal, ou seja, não há nal de juros deduzida da taxa de inflação.
correção pela inflação. 321
É por isso que o déficit operacional, ao corrigir as O motivo é simples. Calcular o déficit do governo
despesas com juros pela inflação, é tão importante acima da linha pode muitas vezes deixar valores de
em uma economia com elevada taxa de aumento de lado. Imagine a dificuldade em contabilizar todas
preços. as despesas e receitas do governo central, estados e
Vejamos a expressão que representa este conceito: municípios, do INSS, das empresas estatais, do Banco
Central e assim por diante. É claro que este método
Dot=Gtnf-Rtnf+(i-π)t está sujeito a erros.
Mas calcular a variação do endividamento é muito
Vamos analisar por partes. Como já sabemos, Gtnf- mais preciso. E a variação do endividamento é exata-
-Rtnf é o déficit primário. E representa a despesa com mente o valor das NFSP.
juros (i) deduzida da inflação (π) no período. Vamos citar um exemplo real.
Ou seja, o déficit operacional é igual ao déficit Primeiramente, é importante salientar que a medi-
primário mais a despesa com juros reais. da de endividamento utilizada para o cálculo das
Por fim, cabe comentar que todas as medidas de NFSP é chamada de Dívida Fiscal Líquida (DFL).
déficit são classificadas como “acima da linha”. Ape- A DFL é calculada da seguinte maneira:
sar da estranha denominação, o conceito acima da
linha é a forma encontrada para representar a causa DFL = DLSP – Ajustes Patrimoniais
do déficit público.
Um pouco abstrato, mas vamos facilitar. Tente se Sendo que:
lembrar de quando estava iniciando seus estudos em
matemática e precisou fazer uma subtração entre os z DLSP — Dívida Líquida do Setor Público: corres-
números 10 e 5. Provavelmente sua professora te ensi- ponde à dívida interna e externa do setor públi-
nou a fazer da seguinte maneira: co (governos federal, estadual e municipal) junto
ao setor privado, incluindo a base monetária e
10 excluindo os créditos do setor público, tais como as
—5 reservas internacionais administradas pelo Banco
5 Central, receitas de privatização e outros créditos
Bom, os valores presentes na subtração estão aci- detidos juntos ao setor privado;
ma da linha, e o resultado, abaixo da linha. Assim z Ajustes Patrimoniais: correspondem aos passivos
devemos interpretar o déficit público. Acima da linha do governo contraídos no passado (chamados de
está a causa do déficit, como, por exemplo, um excesso esqueletos), mas reconhecidos apenas no presente,
de despesas. Abaixo da linha está o valor do déficit, ou além dos resultados das privatizações e outros ati-
seja, a variação da dívida pública — também chama- vos não recorrentes. A lógica é a seguinte: os passi-
da de necessidade de financiamento do setor público. vos, que somariam à dívida, devem ser expurgados
Em resumo, o objetivo em se medir o déficit do cálculo, assim como os ativos que ajudariam a
público pelo método acima da linha é evidenciar de reduzi-la, os quais também devem ser retirados do
maneira desagregada as despesas e receitas, de modo cômputo da dívida fiscal líquida.
que se entenda o porquê do déficit público naquele
montante. Ou seja, a DFL corresponde à dívida líquida do
Atualmente, a Secretaria do Tesouro Nacional setor público sem considerar efeitos não recorrentes,
(STN) é o órgão responsável por apurar o déficit como ativos e passivos gerados ocasionalmente (por
público pelo método acima da linha, medição que é exemplo, privatizações).
feita pelo critério de caixa, ou seja, considerando as Importante notar que a DLSP é definida como o
despesas e receitas que foram realmente realizadas balanceamento entre as dívidas e os créditos do setor
(desembolsadas ou pagas) no período em questão. público não financeiro (exceto Petrobras e Eletrobrás)
e do Banco Central.
NECESSIDADES DE FINANCIAMENTO DO SETOR Os débitos são apurados pelo critério de competên-
PÚBLICO cia, ou seja, a apropriação de encargos é contabilizada
na forma pro-rata, independentemente da ocorrência
As necessidades de financiamento do setor de liberações ou reembolsos no período.
público (NFSP) correspondem à variação do endivi- E os créditos correspondem aos ativos financeiros
damento do setor público não financeiro junto ao do setor público junto ao setor privado financeiro, ao
setor financeiro e setor privado, doméstico ou do setor público financeiro, ao setor privado e ao resto
resto do mundo11. do mundo. A regra geral é que os créditos, para serem
Relacionando as NFSP com o déficit público, considerados no levantamento da dívida líquida,
enquanto este critério demonstra a causa do déficit devem estar registrados no passivo das instituições
pelo método acima da linha, aquele representa tão devedoras do governo.
somente a diferença entre as despesas e receitas, não E a variação da DFL corresponde às necessidades
informando o motivo desta diferença. de financiamento do setor público, isto é, as NFSP são
Por isso, as NFSP são denominadas de critério iguais à variação do endividamento de um período
“abaixo da linha”. É importante ressaltar que o méto- para o outro e calculadas da seguinte forma:
do abaixo da linha é o resultado fiscal oficial, calcula-
do pelo Banco Central e utilizado como padrão para as NFSP=∆DFL
contas públicas.
Sendo que o parâmetro Δ (delta) representa variação.
322 11 GIAMBIAGI, F. Finanças Públicas. 3 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.
Vamos ao exemplo real. A dívida fiscal líquida em E esta é a relação entre o déficit público e a infla-
2012 foi de R$ 1,441 trilhão. Em 2013, foi de R$ 1,599 ção. O aumento dos gastos do governo pode provo-
trilhão. A variação entre 2012 e 2013, no valor de R$ car inflação, através da emissão de base monetária
157,5 bilhões, corresponde às necessidades de finan- (moeda emitida pelo Banco Central).
ciamento do setor público no mesmo período. Muito É muito importante notar que esta emissão de
dinheiro, não é? moeda pelo Banco Central equivale a uma receita, do
As NFSP são também calculadas sob 3 óticas: nomi- ponto de vista do governo. Ora, através dela o gover-
nal, operacional e primária: no pode financiar o aumento de suas despesas e do
déficit orçamentário. Esta receita é conhecida como
z NFSP nominal: corresponde ao conceito de déficit senhoriagem e, como vimos, consiste na receita real
nominal pelo método acima da linha. Refere-se à do governo advinda do aumento da base monetária.
variação da DFL entre dois períodos, como acaba-
mos de discutir; Senhoriagem e Imposto Inflacionário
z NFSP operacional: exclui da variação da DFL
o efeito inflacionário, ou seja, deduz a correção O governo exerce o monopólio de emissão de
monetária da variação da DFL. Corresponde ao moeda através da autoridade monetária (Banco Cen-
déficit operacional pelo método acima da linha e é tral). Da posse de mais moeda em caixa, a autoridade
importante medida em um ambiente inflacionário; monetária pode financiar o déficit público de várias
z NFSP primária: exclui da variação da DFL as formas, dependendo da regulação de cada país. Geral-
receitas e despesas com juros e encargos da dívida. mente, há limitações a esta sistemática, o que limita-
Equivale ao déficit primário pelo método acima ria, em tese, o financiamento do déficit pela emissão
da linha. de moeda.
Mas, na prática, ocorre que o governo emite títulos
Por fim, cabe apenas ressaltar que as NFSP são ao setor privado que serão posteriormente adquiridos
calculadas pelo critério de caixa, ou seja, conside- pela autoridade monetária com os recursos criados
ra-se as despesas e receitas efetivamente pagas e pela emissão de moeda. Ao invés de existir uma tran-
recebidas no período em questão, salvo as despe- sação financeira normal, ocorre uma triangulação “às
escondidas”.
sas com juros, que são calculadas pelo regime de
À primeira vista este procedimento parece ocorrer
competência, enfatizando o exercício em que o fato
sem problemas. No entanto, a triangulação envolve
gerador da despesa foi realizado.
três momentos distintos, como analisaremos adiante.
Portanto, que fique claro: salvo as despesas com
O primeiro momento é a realização do déficit e
juros, o cálculo com as NFSP é feito pelo regime de
tentativa de financiamento deste a partir da emissão
caixa.
de títulos ao setor privado, como já vimos. O resultado
é o aumento da taxa de juros básica da economia.
INFLAÇÃO E DÉFICIT PÚBLICO
Com a elevação da taxa de juros, cada vez mais
comprar títulos torna-se desinteressante, pois o valor
A existência de déficit público (despesas maiores

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


de mercado dos títulos relaciona-se inversamente à
que receitas) torna necessário o financiamento deste
taxa de juros. Portanto, considerando uma família que
déficit.
adquiriu um título que custava 100 unidades monetá-
Assim como uma família que apresenta despesas rias aos juros de 10% ao ano, assim que os juros se
domésticas mais elevadas que suas receitas e recorre elevam para 20% ao ano, o preço do título se reduz
a um empréstimo para o pagamento deste déficit, o para 91 unidades monetárias. A riqueza da família
governo pode fazer o mesmo, só que de uma maneira obviamente se reduziu.
um pouco distinta: a emissão de títulos públicos. E, logicamente, esta modalidade de financiamento
Digamos que o governo apresente um déficit de R$ apresenta um limite. A maneira de continuar viabili-
100 bilhões em determinado período. A maneira mais zando o déficit é a autoridade monetária adquirir os
óbvia de financiar este déficit é tomando recursos títulos. O excesso de demanda pelos mesmos irá ele-
emprestados do setor privado (instituições financeiras, var o preço de mercado dos títulos e reduzir a taxa
empresas, famílias, setor externo etc.). E o governo faz de juros.
este procedimento emitindo uma promessa de pagar o Os recursos utilizados para esta aquisição pela
valor do recurso que empresta mais uma remuneração: autoridade monetária são gerados no processo de
o documento dessa promessa é o título público. criação de moeda, processo esse denominado de
Os títulos públicos não podem ser adquiridos dire- senhoriagem.
tamente pelo Banco Central (isso é vedado pela Consti- Portanto, a senhoriagem representa o processo de
tuição Federal de 1988), mas o Bacen pode adquiri-los criação de moeda pelo setor público para financiar a
indiretamente, isto é, negociando-os com a iniciativa pri- absorção (demanda) do setor público e pode ser medi-
vada. O Bacen pode, por exemplo, desejar comprar títulos da em termos de poder de compra gerado, ou seja,
que estão com o setor privado. Nesta operação, o Bacen quanto mais de bens e serviços podem ser consumi-
termina com o título e o setor privado com dinheiro. dos pelo processo de criação de moeda, deduzidos
E o Banco Central faz isso diariamente. Ocorre que, os custos de cunhagem de moeda (custo de imprimir
para adquirir esses títulos, o Bacen emite moeda. E novas notas nos dias hoje)12.
essa moeda será colocada em circulação na economia, Mas será que a receita de senhoriagem pode ser
provocando, em certos casos, aumento da inflação. utilizada indiscriminadamente?

12 O TCU exige que o Banco Central do Brasil contabilize em seu balance a receita de senhoriagem desta forma. 323
Ao que parece não. O processo de criação de moeda Efeito Patinkin
provoca o aumento da inflação na economia. Assim, o
poder de compra gerado pelo processo de senhoria- Já o Efeito Patinkin possui entendimento contrário
gem é continuamente diminuído, pois é constante- à relação entre inflação e finanças públicas. Enquanto o
mente reduzido pela inflação: ao passo que a emissão Efeito Tanzi considera que a inflação promove redução
de moeda se eleva, a inflação aumenta e o governo no valor real das receitas e aumento do déficit público, o
pode adquirir cada vez menos bens e serviços com o Efeito Patinkin entende que a inflação reduz o valor real
total emitido de moeda. É uma tendência explosiva. das despesas públicas e contribui assim para a redução
Deste modo, intimamente ligado à senhoriagem do déficit público.
está o imposto inflacionário. Sua definição é direta: Vamos compreender melhor. Na elaboração do orça-
o imposto inflacionário é a transferência de recursos mento público, feita anteriormente ao exercício de vigên-
do setor privado ao setor público através da inflação cia, há a discriminação das despesas pelos seus valores
gerada pela senhoriagem. nominais, isto é, não considerando a inflação. Ocorre que,
Sem segredos, quanto maior a emissão de moeda,
quanto mais o governo conseguir postergar o pagamen-
maior o ônus gerado ao setor privado através da infla-
to dessas despesas, mais a inflação irá correr o valor real
ção e melhor (até certo ponto) para o governo, pela
destas. Ou seja, o governo beneficia-se desta sistemática
possibilidade de adquirir mais bens e serviços. O ter-
quanto mais elevada a inflação e mais distante a ocorrên-
mo “até certo ponto” não foi citado por acaso.
cia do fato gerador das despesas e seu pagamento.
A receita de senhoriagem, como já dito, aumenta no
É simples perceber que se o governo adotar algum sis-
início da emissão de moeda, mas é reduzida após a infla-
ção correr o poder de compra da nova moeda emitida. tema de indexação de suas receitas à inflação e não fizer
Já o imposto inflacionário apresenta comportamento o mesmo com as despesas, o Efeito Patinkin irá superar o
diferente: ele é menor quando a autoridade monetária Efeito Tanzi. Isto é, se o governo proteger o valor real de
inicia as novas emissões de moeda e vai aumentando de suas receitas, mas não fizer o mesmo em relação às des-
tamanho à medida que mais moeda é emitida. pesas, terá resultado positivo com a aceleração da infla-
Logicamente que em um certo ponto a receita de ção (Efeito Patinkin supera o Efeito Tanzi).
senhoriagem e a perda de poder de compra gerada Na existência de Efeito Patinkin o déficit público pre-
na economia (receita do imposto inflacionário) serão visto no orçamento é sempre maior que o déficit público
iguais. A partir deste ponto, o imposto inflacionário é efetivamente registrado, o que acaba beneficiando o setor
mais elevado que a senhoriagem. público, mas prejudicando a economia como um todo,
pois a inflação acaba representando um papel importan-
Efeito Tanzi (ou Oliveira-Tanzi) te no “controle” do déficit público.
Isso ocorreu em demasia no Brasil, sobretudo de mea-
Outra importante relação entre inflação e as finan- dos dos anos 80 até o Plano Real. Como o período apre-
ças públicas, além de muito cobrada em concursos, é sentou elevada inflação, sendo que as receitas públicas
o chamado Efeito Tanzi. eram, em sua maioria, indexadas e as despesas não, o
Grande parte das receitas do setor público é deri- Efeito Patinkin superou o Efeito Tanzi, de modo que o
vada da cobrança de tributos do setor privado. Ocorre déficit orçamentário era superior ao déficit efetivamente
que entre a ocorrência do fato gerador do tributo e registrado.
a efetiva arrecadação dele há um espaço de tempo, a Por isso, a primeira medida do Plano Real foi a de
depender da sistemática do próprio tributo ou do sis- controlar o déficit público orçamentário, de modo que
tema tributário. No Brasil, por exemplo, o pagamento o governo passasse a depender menos da inflação para
do imposto de renda não retido na fonte é feito apenas fechar as contas públicas, o que, por si só, contribuiu no
no exercício seguinte à ocorrência do fato gerador. Ou controle à inflação.
seja, é um tempo considerável.
Bom, agora considere a existência de elevada infla- CRESCIMENTO DAS DESPESAS PÚBLICAS
ção nesta economia. A inflação irá reduzir o poder
de compra da receita tributária e, desta forma, o
Cada país possui estruturas de gastos distintas. Uns
governo irá arrecadar menos em termos reais. Por
participam mais da alocação de bens e serviços na
isso que o Efeito Tanzi considera que a inflação possui
economia, outros direcionam seus esforços na manu-
um efeito adverso à receita tributária, dada a inflação
tenção do bem-estar e qualidade de vida, outros, ain-
e o espaço de tempo entre a ocorrência do fato gera-
da, apenas focam a regulação e o bom ambiente de
dor do tributo e de sua arrecadação. Como não podia
ser diferente, a existência do Efeito Tanzi provoca negócios.
elevação do déficit público. No entanto, nossa análise pode adotar um padrão
Para corrigir este problema, o país pode adotar deveras útil e de fácil entendimento. Os gastos podem
algum sistema de indexação, que corrija o valor de ser decompostos em 4 categorias:
tributo a ser pago de acordo com a inflação, ou até
mesmo melhorar a eficiência do sistema tributário, de z Consumo do governo: as despesas com consumo
modo que reduza o espaço de tempo anteriormente corrente e pagamentos ao fator trabalho (salários
mencionado. e outros rendimentos a servidores públicos);
É claro que elevar a eficiência do sistema tributá- z Investimento do governo: inclui as formas de
rio é algo mais complicado do que tão somente inde- gasto com capital, variação de estoques e deprecia-
xar as receitas tributárias, ainda mais considerando ção, como os investimentos privados;
países com inflação elevada. z Transferências: as transferências de recursos conce-
didas ao setor privado, desde subsídios às empresas
324 até pagamentos de pensões aos aposentados;
z Juros: os juros indicam a remuneração da dívida pública anteriormente tomada cujo valor é expresso através
da taxa de juros multiplicada pelo montante da dívida.

É comum ainda dividir os gastos públicos em correntes (consumo, transferências e juros) e capital (investi-
mentos). Em geral, o primeiro apenas mantém a atividade governamental, enquanto o segundo contribui para
elevar a atuação do setor público ou fornecimentos de bens/serviços.
Sachs e Larrain (2000)13 apresentam uma tabela útil na comparação entre países e como eles direcionam o
gasto público, que segue abaixo adaptada aos nossos fins:

GASTO BENS E
PAÍS ANO SALÁRIOS JUROS TRANSFERÊNCIAS INVESTIMENTOS
TOTAL SERVIÇOS

Estados
1989 100 11,67 18,99 15,2 49,46 5,16
Unidos

França 1982 100 17,04 9,92 4,55 64,38 4,56

Alemanha 1989 100 8,38 24,91 4,97 56,83 4,91

Reino
1988 100 13,23 17,4 10,57 53,86 4,93
Unido

Coreia do
1990 100 14,41 24,5 4,14 41,68 15,26
Sul

Malásia 1990 100 32,27 18,5 22,11 12,13 18,12

Tailândia 1989 100 33,63 26,64 16,55 9 14,58

Argentina 1988 100 23,77 8,73 7,43 49,49 10,56

Brasil 1988 100 9,09 8,29 51,88 34,26 3,74

México 1990 100 20,5 5,28 44,22 15,76 14,14

Em que pese os gastos serem da década de 1980, é interessante notar como cada país distribui suas prioridades.
Enquanto países desenvolvidos europeus priorizam transferências ao setor privado, os países latino-americanos
gastam demais com o pagamento de juros da dívida pública. Nosso Brasil está em negrito por motivos óbvios.
Ao final da década de 80, enquanto gastávamos apenas 3,74% das despesas em investimentos, a Coreia do Sul
destinava 15,26% na mesma linha de gasto.

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


Outra questão relevante sobre o gasto público é a análise do seu crescimento em relação ao tempo e ao horizonte
temporal. Vários estudiosos contribuíram com o assunto, com destaque para Wagner, Musgrave, Rostow e Herber.
Em resumo, Wagner (autor da famosa “Lei de Wagner”) concluiu que os gastos públicos são elásticos em
relação ao PIB (possuem elasticidade maior que 1), ou seja, crescem mais que o aumento da produção e renda
agregada da economia. A Lei de Wagner pode ser resumida pela seguinte afirmação:

À medida que cresce o nível de renda em países industrializados, o setor público cresce sempre a taxas mais eleva-
das, de tal forma que a participação relativa do governo na economia cresce com o próprio ritmo de crescimento
econômico do país.14

Para o economista, as principais causas podem ser pontuadas devido:

z ao aumento das atividades governamentais com administração da economia (regulação e participação do


Estado na economia);
z à elevação da complexidade das relações sociais e econômicas (resultante da urbanização e desenvolvimento
econômico) e fornecimento de serviços públicos cada vez mais sofisticados (tais como educação e segurança)
para atender a esta dinâmica;
z ao fornecimento de bem-estar econômico e social.

Para os demais, o crescimento dos gastos públicos estava relacionado ao estágio de desenvolvimento econô-
mico que o país se encontra, os quais exigem um nível de relacionamento do Estado com a economia e podem ser
resumidos da maneira que segue.
No estágio inicial de desenvolvimento, a necessidade de presença do Estado é elevada, sobretudo para viabili-
zar investimentos públicos, fato que eleva em demasia os gastos públicos.
Após este estágio, do Estado são exigidos gastos para manutenção das atividades governamentais e comple-
mentação do setor privado.

13 SACHS, J.; LARRAIN, F. Macroeconomia. São Paulo: Makron Books, 2000.


14 REZENDE, F. A. Finanças Públicas. 2. Ed. São Paulo: Atlas, 2012. 325
No estágio final, a participação do Estado na eco- público geralmente é realizada de maneira menos efi-
nomia pode variar dependendo das demandas sociais ciente, onerando mais os contribuintes.
e rumos tomados pela nação na economia internacio- Desde que a regulação se faça de maneira transpa-
nal. Para Herber, do Estado é exigida nova rodada de rente, com custos suportados pela sociedade e compatí-
desenvolvimento em função do desenvolvimento tec- veis com os benefícios usufruídos e respeite a autonomia
nológico. Para Rostow, o aumento dos gastos públicos dos interesses coletivos, ela é interessante do ponto de
neste estágio deve-se às demandas por gastos sociais. vista econômico e social.
Para Musgrave, os gastos sobem devido à elevação da
renda per capita e consequente exigência de sofistica- DÍVIDA PÚBLICA
ção do setor público nas atividades econômicas.
A dívida pública consiste no estoque total de
ESTADO PROVEDOR E ESTADO REGULADOR recursos de terceiros utilizados para financiar o
déficit público.
Em geral, os Estados participam ativamente no forne- A lógica de formação da dívida pública (não con-
cimento de bens e serviços em uma economia que está fundir com o déficit público) é muito intuitiva. À
no início de seu processo de desenvolvimento. Na carên- medida que o governo aumenta os gastos públicos e
cia de um setor privado estabelecido, é muito comum o déficit, faz-se necessário tomar recursos empresta-
que o Estado desempenhe seu papel, provendo os bens dos de terceiros (setor privado interno e externo) para
e serviços necessários. Nesse contexto, o Estado é carac- financiar este déficit. O total de recursos empresta-
terizado como provedor. dos junto aos demais agentes da economia ainda
No entanto, o avanço no processo de desenvolvimen- não amortizados corresponde à dívida pública.
to e as mudanças ocorridas recentemente na economia, À primeira vista já possível perceber a relação
muito em função da revolução tecnológica e informa- entre déficit e dívida. O déficit público, considerado
cional verificada a partir dos anos 80, provocaram uma uma variável fluxo (isto é, medido em determinado
mudança na natureza das funções econômicas do Estado. período de tempo), alimenta o valor da dívida públi-
De provedor, o Estado passou a desempenhar ati- ca, uma variável estoque (medida em determinada
vidades relacionadas à regulação, tendo em vista que a data). Déficits mais elevados, mantendo-se tudo o
oferta de bens e serviços passou a ser executada de mais constante (logo mais veremos esta ideia), resul-
maneira eficiente pelo setor privado. tam em maiores dívidas.
Não se está afirmando que o Estado perdeu seu A forma mais usual de se representar a dívida
motivo de ser na economia, mas sim que as crescentes pública é através do índice Dívida⁄PIB. Como é de conhe-
mudanças e rápidas evoluções verificadas em todos os cimento geral, o PIB de determinado país representa
setores da economia e da sociedade passaram a exigir a sua produção total em determinado período. Desta
dele o desempenho de novas funções. forma, a Dívida⁄PIB representa qual a participação, em
Se o setor privado possui mais capacidade e mais efi- termos percentuais, da dívida pública no produto
ciência em acompanhar o ritmo destas evoluções, o Esta- interno bruto.
do pode muito bem deixar de prover e passar a regular Segundo os dados do Banco Central, o Brasil apre-
estas transformações, tornando o processo mais benéfi- sentou relação Dívida⁄PIB em 2013 de 56,7%. Ou seja, a
co e menos custoso, do ponto de vista social. dívida total do setor público corresponde a 56,7% do
No Brasil, esta mudança passou a ocorrer a partir de produto interno bruto de 2013.
meados dos anos 90, com a quebra de monopólios esta- Mais importante do que conhecer a relação Dívi-
tais na economia. A privatização de empresas estatais da⁄
PIB é saber qual a sua sustentabilidade. Ou seja,
insere-se neste contexto, além da criação de agências quais os fatores que indicam se ela irá subir, ou mes-
reguladoras responsáveis por regular setores cuja provi- mo se reduzir. As bancas adoram testar os candidatos
são de bens e serviços era antes feita com exclusividade nesses conceitos.
pelo setor público. Bom, como já sabemos, quanto mais elevado o
O setor de telecomunicações é um bom exemplo. déficit, mais elevada a dívida. Sendo mais específi-
Antes monopólio estatal, com a privatização passou a ser co, quanto maior o déficit primário, mais elevada
exercido por diversas empresas, modificando a maneira a relação Dívida⁄PIB. Ou, dito de outro modo, quanto
como a sociedade se relaciona com o setor. maior o superávit primário, provavelmente menor
Você pode não se lembrar, mas uma linha telefônica será a relação Dívida⁄PIB.
até meados da década de 90 era considerada um ativo, Evidente que o PIB deve ser mantido constante
inclusive declarado na Declaração de Imposto de Ren- para que esta relação tenha validade e que o valor do
da, possuída apenas pelos indivíduos mais favorecidos. pagamento de juros não pode ser superior ao valor do
Hoje, como bem sabemos, a utilização de telefones fixos superávit primário.
e móveis é algo corriqueiro, havendo, inclusive, mais O motivo é simples. A geração de maiores despe-
telefones móveis do que pessoas no Brasil. sas primárias (isto é, sem considerar o pagamento
Gostando ou não do processo de privatização, não se de juros da dívida anteriormente contraída), exigirá
pode deixar de notar que ele se faz necessário em alguns quantidades mais elevadas de títulos públicos emiti-
setores da economia, na medida que deixa ao setor pri- dos, o que eleva a dívida pública. Adicionalmente, os
vado a oferta de bens mais suscetíveis à inovação, por financiadores do déficit público exigem juros cada vez
exemplo, e por isso menos indicados ao setor público. mais elevados para financiar um país que incorre em
O que nos interessa é notar que, neste contexto, o déficits primários cada vez mais elevados, pois a capa-
estado passou a exercer mais atividades ligadas à regu- cidade de pagamento destes financiamentos pelo país
lação do que à provisão de bens e serviços, sobretudo se passa a ficar mais comprometida. Esta união de des-
analisarmos a oferta de bens e serviços que podem ser pesas primários e juros mais elevados eleva a dívida
326 ofertados pelo mercado, na qual a presença do setor em relação ao PIB, ou seja, aumenta a relação Dívida⁄PIB.
Evidente que o conceito inverso, isto é, o aumento de superávits primários, provoca resultado contrário. A
realização de receitas superiores às despesas primárias gera uma poupança pública mais elevada, tornando mais
fácil ao setor público pagar os juros da dívida anteriormente contraída e, consequentemente, reduzir a relação
Dívida⁄
PIB . Ressalta-se que isso ocorre tão somente se o valor a título de juros pagos não superar o valor do superávit
primário.
A variação do PIB também provoca alterações na relação Dívida⁄PIB. Vamos imaginar a ocorrência de crescimen-
to econômico com dívida constante de um ano para o outro. O valor do PIB irá aumentar, sendo que o valor da
dívida será mantido constante. Evidentemente, a relação Dívida⁄PIB será reduzida.
Supondo o contrário, ou seja, retração do PIB e dívida constante, haverá aumento da relação Dívida⁄PIB .
Isso é muito importante. Se o crescimento econômico é superior ao crescimento da dívida pública, a relação
Dívida⁄
PIB é reduzida, o que é favorável ao país.
No Brasil, quatro medidas são utilizadas na mensuração da dívida pública:

z Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG);


z Dívida Líquida do Governo Geral (DLGG);
z Dívida Líquida do Setor Público Consolidado (DLSP);
z Dívida Fiscal Líquida (DFL).

As definições abaixo seguem o Manual de Estatísticas Fiscais do Bacen15


A Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG), indicador fiscal muito utilizado para efeitos de comparação inter-
nacional, abrange, em linhas gerais, o total das dívidas de responsabilidade dos governos federal (incluindo INSS),
estaduais e municipais, junto ao setor privado (títulos públicos), ao setor financeiro, ao Banco Central e ao resto
do mundo.
A DBGG considera, além dos títulos do financiamento mobiliário do Tesouro Nacional, as operações compro-
missadas realizadas pelo Banco Central, abrangendo, assim, toda a dívida mobiliária federal em mercado. Em
dezembro de 2015, a DBGG totalizou R$ 3.927,5 bilhões, equivalentes a 66,5% do PIB. Em junho de 2016, a DBGG
totalizava R$ 4.130,8 bilhões, equivalentes a 68,5% do PIB.
O gráfico abaixo denota a evolução da DBGG:

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL

O gráfico não exige muita explicação. A DBGG saiu de níveis próximos a 50% do PIB em novembro de 2011
para 70% em meados de 2016. As causas também são de notório conhecimento: elevado déficit primário e baixo
crescimento do PIB entre 2011 até 2014 e redução do PIB após este período.
A Dívida Líquida do Governo Geral é o balanço entre o total de créditos e débitos dos governos federal (inclu-
sive INSS), estaduais e municipais. A diferença entre os dois conceitos (Dívida Bruta e Líquida do Governo Geral)
é dada pelos Créditos do Governo Geral, o saldo dos Títulos livres na Carteira do BCB e o saldo de equalização
cambial (resultado financeiro das operações com reservas cambiais e das operações com derivativos cambiais).
Em dezembro de 2015, a Dívida Líquida totalizava R$ 2.272,2 bilhões, equivalentes a 38,5% do PIB. Em junho
de 2016, a Dívida Líquida totalizava R$ 2.627,1 bilhões, equivalentes a 43,6% do PIB.

15 BANCO CENTRAL DO BRASIL. Manual de Estatísticas Fiscais — Março 2018. Disponível em: http://www.bcb.gov.br/ftp/infecon/Estatisticasfis-
cais.pdf. Acesso em: 26 dez. 2022. 327
Por sua vez, os Créditos do Governo Geral incluem ativos com diferentes graus de liquidez. Entre os ativos
líquidos, destacam-se os impostos governamentais já́ coletados pela rede bancária e ainda não transferidos e os
depósitos do Tesouro Nacional no BCB (Conta Única). Entre os ativos com menor grau de liquidez, incluem-se
créditos concedidos a instituições financeiras federais, recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e
aplicações em fundos e programas.
A tabela abaixo apresenta estes créditos para os anos de 2014 e 2015:

2014 % DO 2015
% DO PIB
R$ BILHÕES PIB R$ BILHÕES

1) Créditos Internos –1.579,5 –27,8 –1.917,5 –32,5

1.1) Disponibilidades do Governo Geral –674,3 –11,9 –944,8 –16,0

Aplicações da Previdência Social –0,2 0,0 –0,2 0,0

Arrecadação a Recolher –2,4 0,0 –5,4 –0,1

Depósitos à Vista –10,9 –0,2 –9,9 –0,2

Disponibilidades no BCB –605,9 –10,7 –881,9 –14,9

Aplicações na Rede Bancária Estadual –54,9 –1,0 –47,4 –0,8

1.2) Créditos a Instituições Financeiras


–545,6 –9,6 –567,4 –9,6
Oficiais

Instrumentos Híbridos de Capital e Dívida –57,7 –1,0 –52,9 –0,9

Créditos junto ao BNDES –487,9 –8,6 –514,5 –8,7

1.3) Aplicações em Fundos e Programas –136,3 –2,4 –154,2 –2,6

1.4) Créditos junto às Estatais –7,5 –0,1 –7,8 –0,1

1.5) Demais Créditos do Governo Federal –13,7 –0,2 –16,6 –0,3

1.6) Recursos do FAT na Rede Bancária –202,2 –3,6 –226,7 –3,8

2) Créditos Externos –0,4 0,0 –0,1 0,0

1+2) Créditos do Governo Geral –1.579,9 –27,8 –1.917,6 –32,5

Fonte: BCB.

Continuando, a Dívida Líquida do Setor Público (DLSP) consolida o endividamento líquido do setor público
não financeiro e do BCB junto ao setor privado (títulos públicos), ao setor financeiro e ao resto do mundo.
É o conceito mais amplo de dívida, pois inclui os governos federal, estaduais e municipais, o BCB, a Previdência
Social e as empresas estatais.
Em dezembro de 2015, a DLSP totalizava R$ 2.136,9 bilhões (36,2% do PIB). A Dívida Líquida do Governo Geral
atingiu R$ 2.272,2 bilhões (38,5% do PIB), a Dívida Líquida do BCB foi negativa (créditos líquidos) em R$ 187,6
bilhões (–3,2% do PIB) e a Dívida Líquida das Empresas Estatais correspondeu a R$ 52,3 bilhões (0,9% do PIB).
Em junho de 2016, a DLSP totalizava R$ 2.529,7 bilhões (42,0% do PIB). A Dívida Líquida do Governo Geral atin-
giu R$ 2.627,1 bilhões (43,6% do PIB), a Dívida Líquida do BCB foi negativa (créditos líquidos) em R$ 152,1 bilhões
(–2,5% do PIB) e a Dívida Líquida das Empresas Estatais correspondeu a R$ 54,7 bilhões (0,9% do PIB).
A série histórica da relação DLSP/PIB iniciou-se em dezembro de 2001 e atingiu seu valor mais alto em setem-
bro de 2002 (62,4%), mantendo-se em trajetória declinante até 2013. Em 2014, quando foi registrado déficit primá-
rio — o primeiro da série histórica anual iniciada em 2002 — e a relação DLSP/PIB elevou-se em relação ao ano
anterior, movimento mantido no ano seguinte. Em junho de 2016, a relação DLSP/PIB alcançou 42,0%. O gráfico
abaixo denota este comportamento:

328
Por fim, vamos analisar a Dívida Fiscal Líquida (DFL), que é a medida considerada no cômputo das necessi-
dades de financiamento do setor público, como visto anteriormente.
A Dívida Fiscal Líquida é auferida a partir dos dados de DLSP, excluindo os efeitos de ajustes metodológicos e
patrimoniais. Esses ajustes são efetuados para retirar dos fluxos correntes valores que não representam esforço
fiscal despendido durante o período em análise e que não podem ser considerados no cálculo das necessidades
de financiamento do setor público.
O ajuste metodológico representa a variação da dívida decorrente do impacto da variação da taxa de câmbio
sobre a dívida externa líquida e sobre a parcela da dívida interna indexada ao câmbio.
Já os ajustes patrimoniais englobam o reconhecimento de dívidas do setor público geradas no passado (“esque-
letos’) e que já́ produziram impacto macroeconômico. Como esses passivos representam déficits já́ ocorridos, seu
reconhecimento não traz impacto no cálculo de necessidades de financiamento do período, mas passam a inte-
grar o saldo da dívida líquida total, impactando o estoque e o serviço da dívida.
De forma análoga também são excluídos do cômputo da dívida fiscal líquida os efeitos do processo de privati-
zação de empresas (receitas de venda e transferências de dívidas para o setor privado).
Na tabela abaixo podemos confirmar que, em dezembro de 2015, o saldo da Dívida Fiscal Líquida alcançou R$
2.556 bilhões, equivalentes a 43,3% do PIB. Em junho de 2016, o mesmo saldo atingiu R$ 2.753 bilhões, equivalen-

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


tes a 45,7% do PIB.
A diferença entre o estoque de dívida fiscal líquida em dezembro de 2014 (R$ 1.942,6 bilhões) e o estoque de
dívida fiscal líquida em 2015 (R$ 2.555,6 bilhões) correspondeu às necessidades de financiamento do setor público
ou resultado fiscal nominal do período (R$ 613,0 bilhões). Ou seja, a variação absoluta da dívida fiscal líquida em
um período é igual ao déficit nominal do setor público consolidado no mesmo período.

2014 2015
% DO PIB % DO PIB
R$ BILHÕES R$ BILHÕES

Dívida Fiscal Líquida 1.942,6 34,2 2.555,6 43,3

(+) Ajuste Metod. Dívida Interna 104,0 1,8 87,5 1,5

(+) Ajuste Metod. Dívida Externa –187,7 –3,3 –535,1 –9,1

(+) Ajuste Patrimonial 100,3 1,8 104,9 1,8

(+) Ajuste de Privatização –76,0 –1,3 –76,0 –1,3

Dívida Líquida do Setor Público 1.883,1 33,1 2.136,9 36,2

Fonte: BCB

ECONOMIA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA: ORIGENS DA INDUSTRIALIZAÇÃO


BRASILEIRA
A análise retrospectiva das atividades industriais no Brasil remonta ao século XVI, tendo como marcos a pro-
dução de açúcar nos engenhos e a construção naval. Tais empreendimentos encontravam-se subordinados às
imposições do sistema colonial vigente na época (Arias Neto, 2022). 329
O engenho se destacava por uma intrincada divi- A partir de 1885, observou-se uma reconfiguração da
são de funções, fundamentada na especialização do atividade industrial, com a transferência predominante
trabalho, compreendendo etapas como moagem, cozi- para a região Centro-Sul do Brasil. Em termos quantita-
mento, purgação, branqueamento e encaixotamento tivos, o estado de Minas Gerais despontava com o maior
do açúcar. A fabricação de açúcar demandava vulto- número de estabelecimentos fabris; entretanto, confor-
sos investimentos de capital, consolidando-se como o me Boris Fausto (2019) destacou, as mais proeminentes
paradigma fabril preponderante nos séculos XVIII e estavam concentradas no então Distrito Federal, atual
XIX (Arias Neto, 2022). Rio de Janeiro. A instauração dessas fábricas na cidade
Outro empreendimento previamente mencionado, carioca pode ser atribuída a três fatores preponderan-
a construção naval, assumiu considerável importân- tes, conforme delineado pelo autor:
cia nesse período, notadamente no Rio de Janeiro e
na Bahia, onde prosperou uma intensa atividade no z acúmulo de capital oriundo dos setores agrícola e
do comércio exterior;
setor. Paralelamente, a indústria têxtil, interligada a
z a presença de instituições financeiras de grande
essas empreitadas, emergiu como um setor crucial,
porte no Distrito Federal, as quais detinham recur-
produzindo velas para embarcações, vestuário desti-
sos para subsidiar diversas atividades econômicas;
nado aos cativos, e sacarias para acondicionamento
z o mercado consumidor da região apresentava
de diversos produtos, como tabaco, cacau, algodão e dimensões consideráveis, conferindo viabilidade
café (Arias Neto, 2022). econômica às empreitadas industriais estabeleci-
O século XIX foi marcado pela expansão da econo- das no local.
mia cafeeira no Brasil, culminando, em 1840, no café
se estabelecendo como o principal produto de expor- O desenvolvimento industrial em São Paulo teve
tação do país. Nesse período, o Brasil mantinha uma suas origens no período pós-abolição da escravatu-
estrutura política monárquica, enquanto as dinâmi- ra, embora seus indícios já se delineassem na década
cas do capitalismo mundial passavam por transfor- de 1870. A industrialização paulista fundamentou-se
mações significativas, notadamente com a Revolução em duas fontes intrinsecamente interligadas: o setor
Industrial na Inglaterra, a Revolução Americana e a cafeeiro e o influxo de imigrantes (Fausto, 2019).
Revolução Francesa, ocorridas no século XVIII (Arias No intervalo compreendido entre 1891 e 1928,
Neto, 2022). pode-se notar uma crescente dependência financei-
Sob o novo contexto liberal que se delineava, os ra e econômica nas exportações de café. Essa estreita
adeptos do liberalismo no Brasil abandonaram a interconexão não apenas impulsionou o processo de
defesa do protecionismo às manufaturas e indústrias, industrialização e instigou melhorias nas áreas urba-
advogando que os recursos anteriormente destina- nas, mas também desempenhou um papel essencial
dos ao tráfico de escravos deveriam ser direcionados na manutenção do equilíbrio da balança de pagamen-
para a agricultura. No entanto, esses recursos acaba- tos internacional. Os lucros gerados por tais exporta-
ram fluindo para atividades comerciais manufatu- ções não só sustentaram a estabilidade econômica,
reiras, setor de transportes e especulação financeira, mas também fomentaram a entrada de investimento
desencadeando um primeiro surto de urbanização e estrangeiro, alimentando, assim, um ciclo contínuo de
ampliação do trabalho assalariado (Arias Neto, 2022). crescimento econômico (Arias Neto, 2022).
Durante a expansão do negócio cafeeiro em São
Na década de 1840, sob a liderança econômica do
Paulo, a promoção da imigração desempenhou um
café, é possível identificar uma redução nas exporta-
papel crucial, gerando um mercado consumidor para
ções de açúcar e algodão. O destaque nesse período
os bens manufaturados. Outro fator relevante foi o
recai sobre a borracha, impulsionada pela descoberta
investimento significativo em infraestrutura ferroviá-
do processo de vulcanização em 1842, que conferiu ria, o que contribuiu para a integração desse mercado.
ao produto novas aplicações na indústria, incluindo Ademais, a importação de maquinaria, sustentada pela
a fabricação de instrumentos cirúrgicos e de labora- receita proveniente da exportação do café, proporcio-
tório, além de seu uso no revestimento dos aros das nou os recursos em moeda estrangeira essenciais para
rodas a partir de 1850 (Arias Neto, 2022). a aquisição desses equipamentos (Fausto, 2019).
O declínio nas exportações de café só se evidenciou
na década de 1860, possivelmente influenciado pela Considerando-se o valor da produção industrial,
Guerra do Paraguai e pela expansão das exportações em 1907 o Distrito Federal surgia na frente dos
de algodão e borracha. Entretanto, a partir de 1870, o Estados com 33,2% da produção, seguido de São
café retomou um crescimento ininterrupto, persistin- Paulo com 16.6% e o Rio Grande do Sul com 14,9%.
do nessa trajetória até a década de 1990 (Arias Neto, Em 1920, o Estado de São Paulo passara para o
2022). primeiro lugar com 31,5% da produção, o Distrito
Federal caíra para 20,8%, vindo em terceiro o Rio
No contexto do século XIX, as escassas unidades
Grande do Sul com 11%. Estamos comparando os
fabris emergentes no território brasileiro estavam Estados com uma cidade. Em termos de cidades, os
predominantemente voltadas para a manufatura de dados são imprecisos. (Fausto, 2019, p. 247)
tecidos de algodão de índole inferior, com a finalida-
de primordial de suprir as demandas da população Os setores industriais preponderantes nesse perío-
de baixa renda e dos indivíduos submetidos à escra- do englobavam a indústria têxtil, alimentícia (incluin-
vidão. Destaca-se que a Bahia se posicionou como o do bebidas) e de vestuário. A produção de tecidos de
principal epicentro das atividades industriais desse algodão na indústria têxtil destacava-se como um seg-
setor, evidenciando tal protagonismo pelo fato de que, mento “verdadeiramente” fabril, caracterizado pela
das nove fábricas existentes no país até 1866, cinco significativa concentração de capital investido e pela
estavam localizadas nesse estado (Fausto, 2019). expressiva força de trabalho alocada (Fausto, 2019;
330 Arias Neto, 2022).
O panorama industrial emergente, de forma geral, cessaram os pagamentos de dividendos, sincroni-
apresentava uma notável diversificação, compreen- zando a taxa de retorno de mercado com os valores
dendo 326 unidades existentes em São Paulo ape- contábeis. A maioria das empresas suspendeu a dis-
nas em 1907. Desse total, 31 estabelecimentos eram tribuição de lucros, refletindo uma interrupção signi-
dedicados à indústria têxtil, enquanto os outros 295 ficativa nos pagamentos de dividendos.
compreendiam setores variados, como indústrias de A recuperação do mercado compensou parcial-
chapéus, calçados, bebidas, alimentos e sacaria. Cabe mente essas perdas, refletindo-se no índice de valo-
ressaltar que, embora as unidades têxteis fossem res de mercado em relação aos contábeis. No entanto,
numericamente limitadas, não devem ser subestima- para muitas empresas, a depressão foi desastrosa,
das em sua importância, pois o capital investido nes- destacando-se a Companhia Industrial Mineira, que
sa indústria representava 45% do montante total dos enfrentou a maior queda no valor do estoque de capi-
investimentos industriais no período (Fausto, 2019; tal. A Companhia de Fiação e Tecelagem Cometa, assim
Arias Neto, 2022). como a Companhia Confiança Industrial, passaram
Não obstante o progresso observado na industria- por reestruturações financeiras devido às pesadas
lização do país, subsistia uma significativa lacuna na perdas acumuladas durante a depressão, evidencian-
infraestrutura industrial de base, englobando setores do o impacto dramático na indústria brasileira.
como cimento, ferro, aço, máquinas e equipamentos. É frequente associar o período da Primeira
Tal deficiência resultava na manutenção da depen- Guerra Mundial a um estímulo significativo para as
dência de importações, perpetuando a necessidade indústrias. No entanto, a década de 1920 revelou-se
de adquirir esses bens essenciais do exterior (Fausto, igualmente marcante, se não mais, em termos de
2019). desenvolvimento industrial. Durante esse período, o
Em suma, o que houve com o processo de indus- governo desempenhou um papel crucial ao fomentar
trialização no Brasil foi, segundo Arias Neto (2022, p. o estabelecimento de duas notáveis empresas: a Side-
204), rúrgica Belgo-Mineira, que iniciou suas operações em
1924, em Minas Gerais, e a Companhia de Cimento
[...] entre 1889 e 1969, um boom no desenvolvi- Portland, cuja produção teve início em 1926, em São
mento e na acumulação industrial, tendo o ritmo Paulo (Fausto, 2019).
de crescimento diminuído entre 1897 e 1904, para Simultaneamente, oficinas de reparos de menor
voltar a crescer a partir de 1905 até 1914. porte evoluíram para indústrias de máquinas e equi-
pamentos, impulsionadas pelo acúmulo de capital
REFERÊNCIAS gerado durante a Primeira Guerra Mundial. Esse
contexto revela a continuidade do impulso industrial
ARIAS NETO, J. M. Primeira República: economia para além do período de conflito armado, evidencian-
cafeeira, urbanização e industrialização. In: Jor- do uma transição significativa na paisagem econômi-
ge Ferreira e Lucilia de Almeida Neves Delgado ca nacional (Fausto, 2019).
(Org.). O tempo do liberalismo oligárquico: Da Segundo Fausto (2019), embora tenha existido
Proclamação da República à Revolução de 1930. algum estímulo, é evidente que a principal ênfase do
Primeira República (1989–1930). Coleção: O Brasil Estado não estava direcionada primariamente para

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


Republicano, v. 2. Rio de Janeiro: Civilização Brasi- o setor industrial, mas, sim, para a promoção das
leira, 2022. exportações do setor agropecuário. No entanto, tal
FAUSTO, B. História do Brasil. São Paulo: EdUSP, abordagem não implica uma postura estritamente
2019. anti-industrialista por parte do governo.
Em determinados períodos, observou-se a redução
das tarifas alfandegárias para a importação de maqui-
O BRASIL NO PERÍODO ENTRE naria, acompanhada da concessão de empréstimos e
incentivos fiscais, com o intuito de fomentar o estabe-
GUERRAS — A INDUSTRIALIZAÇÃO lecimento de indústrias de base. Por outro lado, Boris
RESTRINGIDA: CRESCIMENTO E Fausto (2019, p. 249) também pontuou:
ESTAGNAÇÃO NOS ANOS 20, A CRISE
Por outro lado, a tendência de longo prazo das
DE 29 finanças brasileiras no sentido da queda da taxa de
câmbio tinha efeitos contraditórios com relação à
Em relação à economia, a década de 1920 foi mar- indústria. A desvalorização da moeda encarecia a
cada por altos e baixos. Nos seus primeiros anos hou- importação dos bens de consumo e, portanto, esti-
ve um declínio dos preços internacionais do café, o mulava a indústria nacional, mas, ao mesmo tem-
que causou um efeito grave sobre a conjuntura eco- po, tornava mais cara a importação de máquinas
nômica brasileira, como alta da inflação e uma cri- de que o parque industrial dependia. Resumindo, se
se fiscal. Mas, em contrapartida, houve também um o Estado não foi um adversário da indústria, este-
aumento do setor cafeeiro e das atividades vinculadas ve longe de promover uma política deliberada de
a ele. Passados esses primeiros anos de dificuldades, desenvolvimento industrial.
o Brasil conheceu um processo de crescimento que se
manteve até a Grande Depressão de 1929 (Ferreira e Durante a Primeira República, uma política estatal
Pinto, 2022). específica para o setor industrial só se consolidou efe-
A crise econômica durante a Grande Depressão, tivamente a partir do final da década de 1940. Apesar
iniciada em 1929, deixou marcas profundas no Brasil, do surgimento de algumas indústrias de base entre
caracterizada pela exaustão de reservas e uma queda 1904 e 1930, a dinâmica industrial permaneceu estrei-
expressiva nas receitas correntes. Empresas, devido tamente vinculada à economia cafeeira, pelo menos
à compressão das taxas de retorno sobre o capital, até o término da década de 1930 (Arias Neto, 2022). 331
REFERÊNCIAS intervenção do Estado no período, buscando coorde-
nar e direcionar as atividades cruciais para o desen-
ARIAS NETO, J. M. Primeira República: economia volvimento do país (Fausto, 2019)
cafeeira, urbanização e industrialização. In: FER- Getúlio e seu ministro da Fazenda adotaram uma
REIRA, J.; DELGADO, L. A. N. (Org.). O tempo do abordagem para lidar com a crise, retomando a polí-
liberalismo oligárquico: Da Proclamação da tica de defesa do café. Essa estratégia envolveu três
República à Revolução de 1930. Primeira Repúbli- frentes: primeiro, o governo comprou uma parte sig-
ca (1989–1930). Coleção: O Brasil Republicano, v. 2. nificativa da safra paulista de 1929–1930 por meio de
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2022. um empréstimo inglês, visando evitar a falência da
FAUSTO, B. História do Brasil. São Paulo: EdUSP, cafeicultura paulista. Em segundo lugar, foi estabe-
2019. lecida uma cota para o café de baixa qualidade, que
FERREIRA, M. M.; PINTO, S. C. S. A crise dos anos deveria ser queimado. Em apenas um ano, uma quan-
1920 e a Revolução de 1930. In: FERREIRA, J.; DEL- tidade impressionante, 78,2 milhões de sacas de café,
GADO, L. A. N. (Org.). O tempo do liberalismo conhecida como a “quota de sacrifício”, foi incinera-
oligárquico: Da Proclamação da República à Revo- da, representando o triplo do consumo mundial de
lução de 1930. Primeira República (1989–1930). café (Leopoldi, 2023).
Coleção: O Brasil Republicano, v. 2. Rio de Janeiro: Por fim, o governo brasileiro lançou uma ofensiva
Civilização Brasileira, 2022. comercial, estabelecendo acordos de venda de café com
diversos países europeus e assinando um acordo em 1935
com o governo norte-americano, garantindo a isenção
tarifária nas importações de café brasileiro. Essas medi-
A ECONOMIA BRASILEIRA NO das foram cruciais para superar os desafios econômicos e
consolidar o Brasil como um dos líderes em crescimento
PERÍODO DE 30-45: O AVANÇO DA no cenário internacional (Leopoldi, 2023).
INDUSTRIALIZAÇÃO
As novas medidas do governo punham fim à era da
Entre 1929 e 1987, o Brasil testemunhou um notá- defesa permanente do café, que vinha desde a pri-
vel crescimento econômico, destacando-se como um meira década do século XX. A resposta do mercado
dos países de maior expansão no mundo. Esse cres- internacional foi imediata: subiram as exportações
cimento teve início no início do século XX, mas foi de café enquanto o preço do produto caía, tornan-
durante o primeiro governo de Getúlio Vargas que o do o café brasileiro mais competitivo em relação ao
impulso se tornou mais evidente (Leopoldi, 2023). colombiano, seu principal concorrente no mercado
Em 1929, o Brasil enfrentou o desafio da superpro- norte-americano. Em 1937, 52% do total do café
importado pelos Estados Unidos vinha do Brasil,
dução de café devido à crise externa. A queda nos pre-
e esta proporção subiu para 61% às vésperas da
ços do café e a suspensão dos investimentos externos
guerra (1939). (Leopoldi, 2023, p. 232)
ocorreram em meio a esse contexto. O golpe de estado
de 1930 levou Getúlio Vargas ao poder, colocando em
Na década de 1930, foi evidenciada uma cons-
suas mãos desafios econômicos e políticos significati-
tante desvalorização da taxa de câmbio, o que asse-
vos (Leopoldi, 2023).
gurou que os recursos provenientes da exportação
Em novembro de 1930, Getúlio Vargas ascendeu ao
permanecessem estáveis, preservando a renda do
poder no Brasil, assumindo não apenas o Executivo,
setor cafeeiro. Entretanto, em 1940, as exportações
mas também o Legislativo ao dissolver o Congresso
de café sofreram uma queda significativa, atingindo
Nacional, bem como os Legislativos estaduais e muni-
32%. Essa conjuntura propiciou a diversificação da
cipais. Notavelmente, o único governador que não foi
economia paulista, com o aumento do cultivo de algo-
demitido durante esse período foi o de Minas Gerais
(Fausto, 2019). dão, uma matéria-prima essencial para a emergente e
Em agosto de 1931, Vargas lançou o Código dos importante indústria têxtil (Leopoldi, 2023).
Interventores, que estabeleceu as normas de subor- Vale ressaltar que o algodão também passou a ser
dinação dos governadores ao poder central. Esse exportado para a Alemanha. A recuperação do pre-
movimento evidenciou um processo de centralização ço do café em 1948 foi um marco que impulsionou a
política, consolidando o controle do governo central expansão do setor para o oeste paulista e para o Para-
sobre os estados e fortalecendo a posição de Vargas ná. O desenvolvimento do setor cafeeiro no início da
como líder centralizador no cenário político brasileiro década de 1930 desempenhou um papel crucial na
(Fausto, 2019). eclosão da Revolução Constitucionalista de 1932, sen-
A centralização não se limitou ao âmbito político, do um fator significativo que moldou o contexto polí-
mas se estendeu ao econômico durante o governo de tico e econômico da época (Leopoldi, 2023).
Getúlio Vargas. O controle sobre a economia cafeei-
ra foi transferido das mãos do Instituto do Café do Dica
Estado de São Paulo para um novo órgão, o Conselho
A Revolução Constitucionalista de 1932 repre-
Nacional do Café (CNC), criado em 1931. No entanto,
em 1933, o CNC foi extinto, e o controle sobre o café
sentou um movimento armado, que teve lugar
foi transferido para o Departamento Nacional do Café em São Paulo, como resposta à nomeação de
(DNC) (Fausto, 2019). Getúlio Vargas como presidente, ocorrida após a
Esse processo marcou a federalização da política Revolução de 1930.
cafeeira, consolidando o controle do governo cen-
tral sobre as decisões e estratégias relacionadas a No cenário industrial, os anos entre 1929 e
essa importante indústria no Brasil. A centralização 1931 foram marcados por uma crise e recessão
332 tanto política quanto econômica demonstrou a forte significativas.
No entanto, após esse período difícil, surgiram os questão central que se colocava era a extensão do
“anos dourados” de crescimento, caracterizando a era envolvimento do Estado na política industrial (Leo-
do primeiro milagre econômico do século. poldi, 2023).
Entre 1933 e 1936, experimentou-se um cresci- Nesse debate, figuravam, de um lado, os neolibe-
mento industrial rápido e intenso, conforme aponta- rais, como Eugênio Gudin, Octavio Gouveia de Bulhões
do por Leopoldi (2023), impulsionado por três fatores e Valentin Bouças, que se opunham à intervenção
principais: estatal na política industrial, fosse por meio de tari-
fas protecionistas ou controle cambial. Do outro lado,
z o choque externo derivado da crise de 1929, que diversas orientações desenvolvimentistas, provenien-
resultou na redução das importações, facilitando a tes de setores empresariais, estadistas e comunistas,
substituição interna de bens previamente adquiri- apoiavam, com maior ou menor ênfase, o papel do
dos do exterior; Estado na condução da política industrial (Leopoldi,
z as políticas governamentais, elaboradas em res- 2023).
posta ao choque econômico, que visavam aten- A primeira fase do governo de Dutra (1946–1947)
der a demandas setoriais, como a necessidade de possivelmente fortaleceu os argumentos neoliberais,
proteção para os industriais, infraestrutura para mas, diante da crise de 1947, o governo precisou ado-
as forças militares e acordos diplomáticos com os tar o controle das importações, o que acabou estimu-
Estados Unidos e Reino Unido; lando o desenvolvimento industrial. Um fator crucial
z o empenho do empresariado industrial em favor para o crescimento da indústria foi a nomeação, por
de um projeto político de desenvolvimento, no Dutra, de um industrial para o Ministério da Fazenda,
qual a indústria desempenhava o papel central em 1949. Esse movimento conferiu novos ímpetos ao
como motor econômico. desenvolvimento industrial no Brasil (Leopoldi, 2023).
Na década de 1940, o Brasil continuou a vivenciar Do ponto de vista de política econômica, o gover-
um ciclo de transformação significativa em seu par- no Dutra se iniciou seguindo um modelo liberal. A
que industrial. Observou-se um aumento na produção intervenção estatal foi condenada, e os controles
siderúrgica, juntamente com o surgimento de novos estabelecidos pelo Estado Novo foram sendo abo-
setores industriais, tais como metalurgia, equipamen- lidos. Passou-se a acreditar que o desenvolvimento
tos, transporte, alimentos, petróleo, produtos quími- do país e o fim da inflação gerada nos últimos anos
cos e farmacêuticos. A indústria têxtil, que já havia da guerra dependiam da liberdade dos mercados
demonstrado crescimento durante a guerra, também em geral e principalmente da livre importação de
se expandiu nesse período (Leopoldi, 2023). bens. (Fausto, 2019, p. 344)
Uma característica marcante foi a intensificação da
centralização do setor industrial, com uma parte subs- Apesar da situação financeira favorável do Brasil,
tancial dos estabelecimentos industriais concentrada a política liberal adotada fracassou. A intensa onda de
no eixo Rio-São Paulo. Em 1949, essa região já detinha importações de diversos tipos de materiais resultou
65% do valor total da transformação industrial do país, no esgotamento das reservas cambiais no exterior,
e esse percentual aumentou para 75% em 1950. Esse sem trazer consequências positivas para a economia.
movimento de centralização reflete o papel preponde- Em resposta a essa situação, o governo tomou medi-

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


rante dessas duas principais metrópoles na dinâmica das em junho de 1947, estabelecendo um sistema
industrial brasileira durante o período (Leopoldi, 2023). de licenças para importação. Na prática, os critérios
para concessão de licenças foram direcionados para
REFERÊNCIAS favorecer a importação de itens essenciais, ao mesmo
tempo em que restringiam bens de consumo (Fausto,
FAUSTO, B. História do Brasil. São Paulo: EdUSP, 2019).
2019. Essa nova política econômica acabou por benefi-
LEOPOLDI, M. A. P. A economia política do primei- ciar a indústria nacional, uma vez que direcionou as
ro governo Vargas (1930–1945): a política econô- importações para produtos considerados essenciais,
mica em tempos de turbulência. In: FERREIRA, J.; fortalecendo a produção interna. Nos últimos anos
DELGADO, L. A. N. (Org.). O tempo do nacional- de governo de Dutra, essa abordagem econômica teve
-estatismo: Do início da década de 1930 ao apogeu resultados positivos, contribuindo para o desempe-
do Estado Novo. Segunda República (1930–1945). nho econômico do país (Fausto, 2019).
Coleção: O Brasil Republicano, v. 2. Rio de Janeiro: O processo de substituição de importações, que
Civilização Brasileira, 2023. teve início durante o governo de Dutra, foi deliberada-
mente reforçado durante o governo de Getúlio Vargas.
Essa política era comumente associada a uma postura
nacionalista, e seus defensores percebiam nela um
DESENVOLVIMENTO NO 2° PÓS- instrumento para que o Brasil superasse o subdesen-
GUERRA (45 A 64): O DEBATE volvimento e alcançasse autonomia econômica (Faus-
SOBRE INDUSTRIALIZAÇÃO E to, 2019).
A substituição de importações consistia em pro-
ESTABILIZAÇÃO; SUBSTITUIÇÃO DE mover a produção interna de bens que anteriormen-
IMPORTAÇÕES te eram importados, visando reduzir a dependência
externa e fortalecer a capacidade industrial do país.
Com o término da Segunda Guerra Mundial, uma Essa abordagem era vista como uma estratégia para
nova era se delineava, na qual o dólar emergia como impulsionar o desenvolvimento econômico, criar
a nova moeda hegemônica, e o compromisso com o empregos e estabelecer uma base mais sólida para a
desenvolvimento e a estabilidade monetária se des- autonomia do Brasil no cenário internacional (Fausto,
tacavam como pilares fundamentais. No Brasil, a 2019). 333
Em 31 de janeiro de 1951, Getúlio Vargas reassu- Em resumo, os resultados do Plano de Metas foram
miu a presidência, sendo esta a primeira vez que foi notáveis, especialmente no setor industrial, que regis-
eleito pelo voto popular. No início da década de 1950, trou um crescimento de 80%. Destacam-se os avanços
seu governo implementou diversas medidas volta- nos setores de aço, mecânica, eletricidade, comunica-
das para estimular o desenvolvimento econômico, ções e material de transporte (Fausto, 2019).
com especial ênfase na área da educação. Entre essas O governo de Juscelino Kubitschek (JK) também
ações, destaca-se o investimento no sistema de trans- ficou associado à expansão da indústria automobi-
porte e energia, incluindo a obtenção de um crédito lística, que já existia no país, mas em proporções
externo no valor de 500 milhões de dólares (Fausto, limitadas. JK desempenhou um papel crucial no
2019). impulsionamento desse setor, e, em 1960, as empre-
Em 1952, foi fundado o Banco Nacional de Desen- sas Willys Overland, Ford, Volkswagen e GM produzi-
volvimento Econômico (BNDE), com o propósito ram um total de 78% dos 144 mil veículos fabricados
de orientar o processo de diversificação industrial. no período. Essas conquistas foram emblemáticas do
Entretanto, durante esse período, Vargas enfrentou sucesso do Programa de Metas e da visão desenvolvi-
desafios inflacionários. Enquanto em 1947 a inflação mentista adotada por JK (Fausto, 2019).
era de 2,7%, entre 1948 e 1953, a média anual subiu
para 13,8%, atingindo uma variação de 20,8% em 1953 REFERÊNCIAS
(Fausto, 2019).
FAUSTO, B. História do Brasil. São Paulo: EdUSP,
Esse aumento inflacionário foi influenciado por
2019.
diversos fatores, como o aumento no preço do café, a
LEOPOLDI, M. A. P. A economia política do primei-
Guerra da Coreia e problemas nas áreas de transpor-
ro governo Vargas (1930–1945): a política econô-
te e energia. Esses desafios inflacionários constituí-
mica em tempos de turbulência. In: FERREIRA, J.;
ram um cenário complexo para o governo de Vargas
DELGADO, L. A. N. (Org.). O tempo do nacional-
na busca pelo desenvolvimento econômico (Fausto,
-estatismo: Do início da década de 1930 ao apogeu
2019). do Estado Novo. Segunda República (1930–1945).
No período democrático (1946–1964), entre os Coleção: O Brasil Republicano, vol. 2. Rio de Janei-
presidentes eleitos, talvez o de maior destaque tenha ro: Civilização Brasileira, 2023.
sido Juscelino Kubitschek de Oliveira, o JK. Entre os MOREIRA, V. M. L. Os anos de JK: industrialização e
desafios que JK tomou para si, destacados por Moreira modelo oligárquico de desenvolvimento rural. In:
(2003): FERREIRA, J.; DELGADO, L. A. N. (Org.). O tempo
da experiência democrática: da democratização
z governar dentro dos limites constitucionais e de 1945 ao golpe civil militar de 1964. Coleção: O
democráticos; Brasil Republicano, vol. 2. Rio de Janeiro: Civiliza-
z acelerar o desenvolvimento econômico, imple- ção Brasileira, 2003.
mentando indústrias e prometendo fazer em cinco
o que demoraria 50 anos; e
z integrar a nacionalidade.
A CRISE POLÍTICA, REFORMAS
Durante o governo de Juscelino Kubitschek (1956–
1961), a política econômica foi delineada pelo Progra- INSTITUCIONAIS PÓS 64 E O PERÍODO
ma de Metas. Este programa consistia em 31 metas EXPANSIVO DE 68/73
distribuídas em seis grandes grupos: energia, trans-
portes, alimentação, indústrias de base, educação e a Nos círculos militares, a conspiração contra o pre-
construção de Brasília (Fausto, 2019). sidente João Goulart (Jango) ganhava força entre os
Em contraste com as políticas anteriores de substi- partidários de uma intervenção defensiva contra o
tuição de importações, o governo de JK promoveu uma que consideravam excessos governamentais. Um dos
intensa atividade estatal tanto no setor de infraestru- defensores proeminentes dessa abordagem era o che-
tura quanto na industrialização, reconhecendo, ao fe do Estado-Maior do Exército, o General Humberto
mesmo tempo, a necessidade de atrair capital estran- de Alencar Castelo Branco. Esse grupo recebeu ainda
geiro. Essa abordagem econômica, que combinava a mais apoio após uma revolta de cabos e sargentos
atuação do Estado, a participação da empresa priva- da Aeronáutica e Marinha em Brasília, ocorrida em
da nacional e a atração de capital estrangeiro, ficou setembro de 1963 (Fausto, 2019).
conhecida como nacional-desenvolvimentismo (Faus- Nesse contexto, a direita ganhava força no país,
to, 2019). propagando a ideia de que apenas uma revolução
poderia restaurar a democracia, pondo fim à luta de
O aprofundamento industrial exigia, simultanea- classes, ao poder dos sindicatos e aos perigos do comu-
mente, a ampliação do mercado interno consu- nismo. Diante da crescente agitação e com o objetivo
midor de industrializados, bem como uma maior de restabelecer a ordem, Jango propôs ao Congresso a
articulação física e econômica entre o “interior” decretação do estado de sítio por 30 dias. No entanto,
e o “litoral”, isto é, entre os setores agropecuá- a proposta não obteve êxito e aumentou as suspeitas
rio e industrial [...] o nacional-desenvolvimentis- em relação ao governo (Fausto, 2019).
mo incentivou a modernização da agricultura, a O sinal de que a situação estava prestes a se dete-
expansão das fronteiras agrícolas sobre bases oli- riorar surgiu com a realização da Marcha da Família
gárquicas e, sobretudo, um modelo de industriali- com Deus pela Liberdade, organizada em São Paulo.
zação, que ao se eximir de qualquer política social Em 19 de março, aproximadamente 500 mil pessoas
reformista, criava laços estáveis entre os grandes marcharam pelas ruas da cidade, com o objetivo de
334 interesses rurais e urbanos. (Moreira, 2003, p. 185) mostrar que os defensores de um golpe contavam
com amplo apoio popular. O último e arriscado ato A Constituição, de 1967, ampliou os poderes do
do presidente João Goulart (Jango) foi discursar no Executivo, especialmente no contexto da segurança
Rio de Janeiro durante uma assembleia de sargentos, nacional. Em março do mesmo ano, o novo presiden-
um evento precipitado pelo general Olímpio Mourão te, o general Artur da Costa e Silva, assumiu o cargo
Filho (Fausto, 2019). (Fausto, 2019).
Diante desses acontecimentos, Leonel Brizola ten- Nesse cenário, a oposição ao regime ditatorial
tou mobilizar tropas e a população no Rio Grande do começou a se rearticular, enquanto os setores mais
Sul, mas não obteve sucesso e acabou sendo exilado radicais, conhecidos como “linha dura”, acreditavam
no Uruguai, onde Jango já se encontrava. Esse período que a revolução estava ganhando força. Em 13 de
marcou o fim da experiência democrática no Brasil, dezembro de 1968, Costa e Silva emitiu o Ato Institu-
culminando nos eventos que precederam o golpe mili- cional nº 5 (AI-5) e fechou o Congresso Nacional, con-
tar de 1964 (Fausto, 2019). solidando um período de intensificação da repressão e
Com a ascensão dos militares ao poder, teve iní- restrição das liberdades civis no Brasil (Fausto, 2019).
cio uma fase de repressão e violência no Brasil, carac-
O AI-5 foi o instrumento de uma revolução dentro
terizada pela implementação de uma estrutura de
da revolução ou, se quiserem, de uma contrarrevo-
vigilância e pela adoção dos Atos Institucionais. Des- lução dentro da contrarrevolução. Ao contrário dos
de os primeiros meses do regime, essa repressão foi atos anteriores, não tinha prazo de vigência e não
direcionada principalmente contra líderes sindicais e era, pois, uma medida excepcional transitória. Ele
comunistas envolvidos na luta por reformas sociais e durou até o início de 1979. (Fausto, 2019, p. 409)
transformações políticas (Araujo, 2013).
O Ato Institucional de 9 de abril de 1964 (AI-1) foi Com a promulgação do Ato Institucional nº 5 (AI-
um marco significativo nesse processo, pois resultou 5), o presidente recuperou o poder de fechar o Con-
na cassação de mandatos parlamentares e na suspen- gresso, mesmo que temporariamente, além de obter
são dos direitos políticos de indivíduos considerados a autoridade para intervir nos estados e municípios,
“inimigos da revolução”. Esse ato marcou o início de nomeando interventores. Esse momento marcou o
mais de duas décadas de ditadura militar no Brasil, início de um novo ciclo de cassações de mandatos,
caracterizada por um regime autoritário, restrições perda de direitos políticos e expurgos no funcionalis-
às liberdades civis e violações dos direitos humanos mo público, afetando significativamente muitos pro-
(Araujo, 2013). fessores universitários. A censura foi efetivamente
estabelecida, e a tortura tornou-se uma prática inte-
O AI-1 estabeleceu a eleição de um novo presiden- grante dos métodos do governo, intensificando ainda
te da República, por votação indireta do Congresso mais a repressão política no Brasil durante o regime
Nacional. Em 15 de abril de 1964, o general Hum- militar (Fausto, 2019).
berto de Alencar Castelo Branco foi eleito presiden- No cenário econômico, o Brasil experimentou uma
te, com mandato até 31 de janeiro de 1966. (Fausto, das maiores taxas de crescimento do PIB do mundo
2019, p. 400) por 15 anos após o fim da Segunda Guerra Mundial.
Entretanto, nos primeiros anos da década de 1960,

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


Em 17 de outubro de 1965, apenas 24 dias após as esse período de crescimento acelerado na economia
eleições estaduais, o presidente Castelo Branco emitiu brasileira chegou ao fim (Prado; Earp, 2019).
o Ato Institucional nº 2 (AI-2), em resposta à pressão Entre 1963 e 1967, o crescimento econômico do
do grupo “linha dura”, que considerava Castelo Bran- Brasil reduziu-se pela metade. Em agosto de 1964, o
co demasiadamente complacente com seus opositores. presidente Castelo Branco anunciou o Plano de Ação
Os “linha dura” defendiam a implementação de um Econômica do Governo (PAEG), estabelecendo metas
regime autoritário como forma de combater o comu- para acelerar o desenvolvimento econômico do país
nismo e a corrupção. O AI-2 fortaleceu os poderes dos até 1966, ao mesmo tempo em que buscava conter
presidentes, permitindo que eles emitissem atos com- progressivamente o processo inflacionário. A equipe
econômica rejeitou a possibilidade de tentar contro-
plementares e decretos-leis no âmbito da segurança
lar o aumento de preços por meio de uma contração
nacional (Fausto, 2019).
violenta da oferta monetária e da demanda agregada
Posteriormente, em fevereiro de 1966, foi promul-
(Prado; Earp, 2019).
gado o Ato Institucional nº 3 (AI-3), que estabeleceu
Durante o governo de Castelo Branco, o sistema
que as eleições para governadores dos estados seriam
financeiro brasileiro passou por uma reformulação
realizadas de forma indireta, por meio das respecti-
significativa com a criação do Banco Central, que
vas assembleias estaduais. Essas medidas foram parte substituiu a antiga Superintendência da Moeda e do
de um conjunto de atos que consolidaram o controle Crédito (Sumoc). No entanto, a política econômica des-
autoritário do governo militar sobre o país, restrin- se governo não obteve sucesso em alcançar seus obje-
gindo ainda mais a participação democrática e forta- tivos de controle da inflação. As metas estipuladas
lecendo o poder centralizado nas mãos do Executivo pretendiam atingir uma taxa inflacionária de 25% em
(Fausto, 2019; Schwarcz; Starling, 2015) 1965 e 10% em 1966, mas a inflação não foi reduzida e
As medidas autoritárias continuaram e culmi- permaneceu em torno de 40%. As reformas implemen-
naram na aprovação de uma nova Constituição, em tadas durante o governo de Castelo Branco lançaram
janeiro de 1967, a qual foi promovida por Castelo fundamentos importantes que seriam desenvolvidos
Branco. O Congresso, que havia sido fechado em outu- no governo seguinte (Prado; Earp, 2019).
bro de 1966, foi reconvocado pelo Ato Institucional A implementação da reforma fiscal estabeleceu
nº 4 (AI-4) com o propósito de aprovar o novo texto uma base tributária sólida e eficaz para o suporte
constitucional. financeiro do setor público. 335
Adicionalmente, a introdução do estatuto da corre- REFERÊNCIAS
ção monetária resultou na formação de um mercado
para títulos públicos federais (Prado; Earp, 2019). ARAUJO, M. P. O ensino da ditadura militar nas
No âmbito da reforma financeira, foi viabilizada escolas: Problemas e Propostas de Trabalho. In:
uma administração mais efetiva da política monetária, ARAUJO, M. P.; SILVA, I. P.; SANTOS, D. R. (Org.).
por meio da fundação do Banco Central e da reorgani- Ditadura militar e democracia no Brasil: histó-
zação do mercado de capitais. A reforma trabalhista, ria, imagem e testemunho. Rio de Janeiro: Ponteio,
ao reduzir os custos de mão de obra, implementou a 2013. Disponível em: https://xn--histria-o0a.ufrj.
criação de fundos de poupança compulsória e de um br/images/documentos/livro_ditadura_militar.pdf.
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FAUSTO, B. História do Brasil. São Paulo: EdUSP,
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PRADO, L. C. D.; EARP, F. S. O “milagre” brasileiro:
O I Plano Nacional de Desenvolvimento (I PND), crescimento acelerado, integração internacional e
divulgado em dezembro de 1971, tinha como objeti- concentração de renda (1967-1973). In: FERREIRA,
vo transformar o Brasil em uma nação desenvolvida J.; DELGADO, L. M. N. (Org.). O tempo do regime
dentro de uma geração. Uma das metas propostas autoritário: Ditadura militar e redemocratização:
era elevar a taxa de investimento bruto para 19% ao Quarta República (1964–1985). Coleção o Brasil
ano. Republicano, vol. 4. Rio de Janeiro: Civilização Bra-
sileira, 2019.
O “boom” ou “milagre” econômico no Brasil foi SCHWARCZ, L. M.; STARLING, H. M. Brasil: uma bio-
caracterizado pelo cenário de problemas na econo- grafia. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 2015.
mia, tornando-o inesperado. Mesmo os planejado-
res do governo ficaram surpresos, considerando que
as taxas propostas no Plano de Ação Econômica do
Governo (PAEG), Metas e Bases e no 1º Plano Nacio- A CRISE EXTERNA E A RESPOSTA
nal de Desenvolvimento (I PND) eram muito menores. BRASILEIRA NOS ANOS 70 — O 2° PND
A taxa de inflação caiu de 90%, em 1964, para 38%,
em 1966; embora ainda estivesse elevada, estava em Durante o governo Médici, em outubro de 1973,
declínio (Prado; Earp, 2019). ocorreu a primeira crise internacional do petróleo,
A política anti-inflacionária foi modificada, dei- desencadeada pela Guerra do Yom Kippur entre ára-
xando de ser realizada apenas por meio da contenção bes e israelenses. Os países árabes, ricos em petró-
creditícia e passando a envolver o controle de preços leo, se uniram para reduzir a oferta e provocar um
dos setores não competitivos da economia. Além disso, aumento nos preços do produto. Essa crise teve
com o apoio da nova política financeira, ocorreu um impactos significativos no Brasil, que importava 80%
rápido processo de concentração bancária. O número do seu petróleo (Fausto, 2019).
de bancos no país diminuiu de 313, em 1967, para 195, Em 1974, o presidente Geisel assumiu o cargo, e
em 1970 (Prado; Earp, 2019). a política econômica foi transferida de Delfim Netto
para Mário Henrique Simonsen. O novo governo lan-
O período do chamado “milagre” estendeu-se de çou o II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND),
1969 a 1973, combinado o extraordinário cresci- sendo importante notar que o I PND foi implementado
mento econômico com taxas relativamente bai- durante o governo Médici (Fausto, 2019).
xas de inflação. O PIB cresceu na média anual de O II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND)
11,2% tendo seu pico em 1973, com uma variação tinha como objetivo complementar o processo de
de 13%. A inflação média anual não passou de 18%. substituição de importações que havia sido iniciado
Isso parecia de fato um milagre. Só que o fenôme-
décadas antes no Brasil, mas com ênfase em novos
no tinha uma explicação terrena e não podia durar
aspectos. Agora, o foco não era apenas substituir a
indefinidamente. (Fausto, 2019, p. 413)
importação de bens de consumo, mas também avan-
çar na construção de autonomia em insumos bási-
Os técnicos liderados por Delfim que planejaram
cos, como petróleo, aço, alumínio, fertilizantes, entre
o “milagre” foram beneficiados por uma situação
outros, além de fortalecer a indústria de bens de capi-
econômica mundial que se caracterizava por uma
tal, como máquinas e ferramentas (Fausto, 2019).
ampla disponibilidade de recursos. Além dos emprés-
O plano também abordava questões energéticas,
timos obtidos, houve um aumento nos investimentos
refletidas no avanço da indústria petrolífera, progra-
de capital estrangeiro no Brasil. O comércio exterior
mas nucleares, a substituição parcial da gasolina pelo
também experimentou um crescimento, refletindo
álcool e a construção de hidrelétricas, como a de Itai-
esforços para diversificar a economia. Isso é eviden-
pu (Fausto, 2019).
ciado pelo fato de que, enquanto o café representava
57% do valor das exportações brasileiras entre 1947 e
Em uma análise retrospectiva, podemos ver com
1964, essa participação diminuiu para 37% entre 1965
maior clareza que o plano sofreu os azares da
e 1971, e para apenas 15% entre 1972 e 1975. Além
recessão internacional e da elevação da taxa de
disso, houve um aumento na capacidade do governo juros, tendo também um problema de fundo [...]
de arrecadar impostos (Fausto, 2019). Indústrias como a do aço, do alumínio, da soda-
Esse crescimento econômico não deve ser enca- -cloro consomem energia em elevado grau e são
rado como um período de equidade, pois a política altamente poluentes. Com todas essas ressalvas, é
econômica de Delfim tinha a intenção de fazer o bolo importante assinalar que a partir do II PND alguns
crescer antes de distribuir. No entanto, embora a eco- ganhos importantes foram alcançados na substi-
nomia tenha crescido, a distribuição de benefícios tuição de importações, especialmente do petróleo.
336 não ocorreu. (Fausto, 2019, p. 432)
REFERÊNCIAS divisões na esfera econômica do governo e implemen-
tando medidas controversas, como o congelamento de
FAUSTO, B. História do Brasil. São Paulo: EdUSP, tarifas públicas e a adoção de uma política de juros
2019. elevados, a administração Sarney se viu compelido a
lidar com a pressão inflacionária e buscar soluções
para os desequilíbrios fiscais (Ferreira, 2018).
Diante da complexidade da crise econômica
enfrentada pelo Brasil durante o início do governo de
BRASIL NA DÉCADA DE 80: CHOQUES José Sarney, evidenciam-se dois fatores interligados
EXTERNOS, CRISE E POLÍTICAS DE que caracterizam a conjuntura do país. A significativa
AJUSTAMENTO RELATIVAS À DÍVIDA crise cambial, decorrente da incapacidade de supor-
tar déficits em transações correntes e do pagamento
EXTERNA, INFLAÇÃO, TENTATIVAS DE inadequado dos serviços da dívida externa, encon-
ESTABILIZAÇÃO trava-se intrinsecamente relacionada a uma eleva-
da taxa de inflação. Esta última era alimentada por
O período entre 1981 e 1983 no Brasil foi marcado desequilíbrios fiscais no âmbito governamental e pela
por uma recessão com consequências significativas e amplamente disseminada indexação da economia
negativas. Pela primeira vez, desde que o PIB começou (Ferreira, 2018).
a ser estabelecido em 1947, o país registrou uma que- Além disso, o contexto internacional, marcado pelo
da de 3,1%. A recessão afetou particularmente setores aumento das taxas de juros nos Estados Unidos, pela
como a indústria de bens de consumo duráveis, incluin- escassez de liquidez do dólar e pela recessão nos paí-
do eletrodomésticos. O declínio na renda durante esse ses de capitalismo avançado, teve um impacto direto
período foi mais severo do que o observado durante a na economia brasileira, que se encontrava fortemente
crise de 1929. A inflação nesse período ficou conhecida dependente de importações de petróleo e altamente
como “estagflação”, devido à combinação de estagna- endividada no cenário externo (Ferreira, 2018).
ção econômica e inflação. Em 1980, a inflação era de
110,2%, caindo para 95,2% em 1981, mas voltando a Em 28 de fevereiro de 1986, Sarney anunciou ao país
subir para 99,7% em 1982 (Fausto, 2019). o Plano Cruzado através de uma rede nacional de
A economia só começou a se recuperar em 1984, rádio e televisão [...] a indexação foi abolida; os pre-
impulsionada pelo crescimento das exportações, ços e taxa de câmbio foram congelados por prazo
especialmente de produtos industrializados. No indeterminado e os aluguéis, por um ano [...] reajus-
tou-se o salário mínimo pelo valor médio dos últi-
entanto, a inflação continuou a aumentar, atingindo
mos seis meses, mais um abono de 8% [...] a euforia
223% em 1984. Durante o período de 1978 a 1984, a
do Plano Cruzado seguia-se um clima de decepção e
inflação subiu de 40,8% para 223,8%, enquanto a dívi- de desconfiança por parte da população quanto aos
da externa passou de 43,5 bilhões de dólares para 91 rumos da economia. (Fausto, 2019, p. 443-445)
bilhões. Mesmo nesse cenário, considera-se que quan-
do Figueiredo, em 1985, deixou o governo, a situação Apesar de algumas ações bem-sucedidas, como
era de temporário alívio (Fausto, 2019). acordos de livre comércio e a criação do Mercosul, o

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


O contexto político brasileiro nos anos 1980 foi governo de Sarney testemunhou a economia do país
marcado por eventos significativos, especialmente no entrar em descontrole, resultando na declaração de
que diz respeito à democratização do país. Em 1983, moratória da dívida externa. O Plano Cruzado, ini-
o Partido dos Trabalhadores (PT) e outros setores da cialmente promissor, demonstrou ser insustentável,
sociedade iniciaram uma campanha pela realização gerando descontentamento e ressentimento na popu-
de eleições diretas para a presidência, conhecida lação. A crise econômica aprofundou-se, afetando
como “Diretas Já”. As manifestações ganharam força, negativamente os trabalhadores (Ferreira, 2018).
culminando em grandes mobilizações, como o comí- No início de 1987, a instalação da Assembleia
cio na Praça da Sé, em São Paulo, em 27 de janeiro Nacional Constituinte no Brasil, sob a presidência
de 1984, que reuniu milhões de pessoas (Fausto, 2019; de Ulysses Guimarães, marcou um período crucial
Schwarcz; Starling, 2015). na história política do país. Com um número signifi-
A proposta de emenda constitucional que permiti- cativo de parlamentares conservadores eleitos nas
ria as eleições diretas, conhecida como Emenda Dante eleições de 1986, havia preocupações sobre a orienta-
de Oliveira, foi apresentada no Congresso Nacional. ção conservadora da futura Constituição. Entretanto,
No entanto, em 25 de abril de 1984, a emenda não movimentos democráticos e pró-participação popu-
obteve os votos necessários para ser aprovada. O pre- lar mobilizaram esforços para influenciar o processo
sidente à época, General João Figueiredo, havia tenta- constituinte, destacando-se na aprovação da Iniciati-
do impedir as manifestações no dia da votação. A não va Popular, permitindo que cidadãos apresentassem
aprovação da Emenda Dante de Oliveira gerou grande emendas constitucionais com ampla participação da
insatisfação popular, mas também foi um marco na sociedade (Ferreira, 2018; Fausto, 2019)
trajetória rumo à redemocratização do Brasil. As elei- Apesar da maioria conservadora na Assembleia
ções para presidente ainda seriam indiretas, e o ven- Constituinte, uma aliança entre o grupo progres-
cedor foi Tancredo Neves. Tancredo não tomou posse, sista do Partido do Movimento Democrático Brasi-
foi internado às pressas e morreu em 21 de abril de leiro (PMDB) e partidos de esquerda desempenhou
1985. Sarney assumiu a presidência (Fausto, 2019; um papel crucial, liderada por figuras como Mário
Schwarcz; Starling, 2015). Covas. Estratégias regimentais foram empregadas
Ao iniciar sua presidência em março de 1985, para avançar propostas progressistas, culminando na
José Sarney enfrentou um ambiente desafiador, com formação do Centro Democrático, em dezembro de
a inflação atingindo 10% no primeiro mês de seu 1987, conhecido como Centrão. Este período também
mandato — chegando a 17,5% em 1986. Enfrentando testemunhou a atuação eficaz dos militares e políticos 337
conservadores na Constituinte, preservando prerro- medida drástica: o bloqueio de todos os ativos finan-
gativas e objetivos específicos das Forças Armadas, ceiros acima de 50 mil cruzeiros novos. Essa medida,
apesar das pressões por mudanças (Ferreira, 2018). conhecida como confisco, foi implementada para ten-
Em meio a debates intensos e estratégias políticas, tar conter uma inflação que atingia a marca de 80% ao
o processo constituinte brasileiro se revelou como mês (Fausto, 2019).
uma interação dinâmica entre forças conservadoras, No entanto, essa ação causou um trauma na popu-
progressistas e a crescente demanda por participação lação brasileira que perdurou por anos. Mesmo após
popular na construção democrática do país (Ferreira, substituir sua equipe econômica em 1991, a inflação
2018). permaneceu elevada, aproximadamente 20% ao mês.
Em suma, o trabalho da Constituinte se encerrou No decorrer de 1992, denúncias de corrupção feitas
em 5 de outubro de 1988, quando foi promulgada a pelo irmão do presidente, aliadas ao cenário econômi-
nova Constituição. Mesmo com todos seus defeitos, a co desafiador do país, levaram ao colapso do governo
Constituição, de 1988, foi o marco que pôs fim aos últi- Collor de Mello. Embora tenha renunciado à presi-
mos vestígios ditatoriais no Brasil. dência, o Parlamento votou pelo impeachment, resul-
tando na suspensão de seus direitos políticos por oito
REFERÊNCIAS anos (Fausto, 2019).
Diante das primeiras denúncias de corrupção que
FAUSTO, B. História do Brasil. São Paulo: EdUSP, desencadearam a maré contra Fernando Collor em
2019.
maio de 1992, Itamar Franco, o então vice-presidente
FERREIRA, J. O presidente acidental: José Sarney e
de Collor, adotou uma postura proativa ao desvincu-
a transição democrática. In: FERREIRA, J.; DELGA-
lar-se do PRN e declarar-se isento das acusações. Ele
DO, L. A. N. (Org.). O tempo da Nova República:
reafirmou sua disposição para assumir a presidên-
da transição democrática à crise política de 2016.
cia em caso de impeachment de Collor. No entanto,
Quinta República (1985–2016). Coleção: O Brasil
Republicano, vol. 5. Rio de Janeiro: Civilização Bra- as incertezas quanto à transição exigiam mais do
sileira, 2018. que apenas a indicação constitucional de Itamar. Era
SCHWARCZ, L. M.; STARLING, H. M. Brasil: uma necessário construir uma “união nacional” baseada
biografia. São Paulo: Editora Companhia das em representatividade, legalidade e constituciona-
Letras, 2015. lidade, fatores cruciais para sustentar sua ascensão
como presidente interino (Sallum Junior, 2018).
Enquanto Itamar buscava aliados e enfrentava
resistências devido ao seu perfil nacionalista, estati-
zante e desenvolvimentista, líderes políticos e grupos
REFORMAS ECONÔMICAS A mobilizavam-se para orientar a transição conforme
PARTIR DOS ANOS 90: ABERTURA, seus interesses. O clã Sarney, em busca de vingan-
REDEFINIÇÃO DOS PAPÉIS DO ESTADO ça contra Collor, e o PT, vislumbrando em Lula uma
oportunidade de conquistar a presidência, desempe-
E POLÍTICAS DE ESTABILIZAÇÃO nhavam papéis-chave nesse xadrez político. O PSDB,
especialmente representado pelo senador Fernando
Após a promulgação da Constituição, de 1988, que
Henrique Cardoso, aderiu intensamente ao “projeto
estabeleceu a ordem democrática no Brasil, ocor-
Itamar”, almejando ser herdeiro do sucesso de um
reu a primeira eleição direta para a presidência da
governo com o desafio de reduzir a taxa de inflação
República em mais de 27 anos. Esse pleito, em meio
à crise política do governo Sarney e à instabilidade em apenas dois anos (Sallum Junior, 2018).
econômica, foi disputado por mais de duas dezenas De todo modo, mais uma vez o Brasil era gover-
de candidatos, destacando-se Luiz Inácio Lula da Silva nado por um vice-presidente. O governo de Itamar
e Fernando Collor de Mello como os principais vence- ficou marcado pelo lançamento do Plano Real, em
dores. A eleição, realizada em dois turnos, refletiu a resposta à inflação que atingiu quase 2000% ao ano
diversidade ideológica e as forças políticas da época, em 1993. A pressão para que o ministro da Fazenda
com Lula representando forças de esquerda e Collor, tomasse medidas era intensa. O então ministro, Fer-
uma abordagem mais liberal (Sallum Junior, 2018). nando Henrique Cardoso, reuniu uma equipe de eco-
A campanha presidencial de 1989 não gerou nomistas que haviam participado do Plano Cruzado e
controvérsias significativas sobre a democracia, já analisaram as razões de seu fracasso. Cardoso desem-
considerada assegurada. O debate concentrou-se penhou um papel fundamental ao assegurar o apoio
principalmente em propostas econômicas, com Collor político e popular para o Plano Real. O instrumento
defendendo um liberalismo reformista e Lula adotan- que possibilitou a redução da inflação sem a adoção
do uma retórica desenvolvimentista-distributiva. A do congelamento de preços foi a Unidade de Referên-
vitória de Collor, apesar do crescimento expressivo da cia de Valor (URV), oficializada em 28 de fevereiro de
candidatura de Lula, marcou uma mudança nas pers- 1994 (Fausto, 2019).
pectivas econômicas do país. No entanto, a inflação
persistente e a abordagem presidencial voluntarista Foi a maciça adesão à URV, cuja cotação em cruzei-
contribuíram para desafios durante seu mandato (Sal- ro era diariamente reajustada em função da varia-
lum Junior, 2018). ção da taxa de câmbio. Assim, em maio, o governo
Conforme abordado anteriormente, o governo de pode anunciar que, no seguinte 1º de julho, haveria
Sarney foi marcado por uma série de insucessos em a troca completa dos cruzeiros pelo real, a nova
suas estratégias econômicas. Nas eleições de 1989, moeda, segundo a taxa de conversão de cruzeiros
Collor se apresentou como o salvador, um herói que em URV naquela data. (Fausto, 2019, p. 478)
combatia a corrupção e os “marajás”. Ao assumir a
338 presidência em março de 1990, Collor anunciou uma
A eleição presidencial de 1994 foi vencida pela
chapa FHC-Marco Maciel, com uma vitória expressi- SISTEMA DE PAGAMENTOS
va sobre Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro turno. BRASILEIRO
A manutenção da inflação em níveis baixos tornou-
-se uma prioridade para o governo, e o esforço para O Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB) com-
alcançar esse objetivo envolveu a inserção do Bra- preende as entidades, os sistemas e os procedimentos
sil na economia globalizada. Isso incluiu a abertura relacionados ao processamento e à liquidação de ope-
do mercado brasileiro à competição internacional, rações de transferência de fundos, de operações com
moeda estrangeira ou com ativos financeiros e valores
impactando setores protegidos, como a indústria têx-
mobiliários, chamados, coletivamente, de entidades
til (Motta, 2018).
operadoras de Infraestruturas do Mercado Financeiro
O processo de privatização desempenhou um (IMF). Além das IMF, alguns arranjos e instituições
papel crucial, tendo objetivos financeiros e ideoló- de pagamento também integram o SPB.
gicos. Financeiramente, visava atrair investimentos Zelar pelo funcionamento normal, seguro e efi-
estrangeiros na compra de empresas estatais para ciente do sistema de pagamentos é função essencial
sustentar uma economia carente de investimentos. de um banco central. Tal função tem como objetivo
Ideologicamente, a privatização era parte do desman- primordial garantir a eficiência e a segurança no uso
de instrumentos de pagamento por meio dos quais a
telamento do “velho modelo varguista”, alinhado com
moeda é movimentada.
as mudanças ideológicas globais em direção ao neoli- Como forma de atingir esses objetivos, o BC tem as
beralismo (Motta, 2018). competências de regulamentar e exercer a vigilância
Essa foi a grande mudança dos papéis do estado, e a supervisão sobre os sistemas de compensação e de
que encolheu durante o governo de FHC. Entre 1995 e liquidação, os arranjos e as instituições de pagamento.
2002, o resultado total das privatizações superou 100 Vamos conhecer um pouco mais sobre esse universo?
bilhões de dólares.
Mas, em um aspecto, não se pode negar o mérito a HISTÓRICO
FHC: a estabilização econômica brasileira, mesmo após
mais de uma década de inflação alta, crônica e crescen- Inicialmente, é importante compreender como ope-
rava o Sistema Financeiro Nacional antes do surgimen-
te. Essa estabilização trouxe efeitos positivos, destacan-
to do novo Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB).
do-se a melhoria na distribuição de renda, a retomada Os bancos têm no Banco Central (Bacen) uma con-
da possibilidade de planejamento familiar, empresa- ta denominada Reservas Bancárias, que funciona
rial e governamental, além de uma modernização da de forma similar a uma conta corrente. Nessa conta
economia e do próprio Estado (Fausto, 2019). é processada toda a movimentação financeira diária
Outro mérito do governante foi a consolidação da entre os bancos, decorrente de operações próprias ou
democratização brasileira; ele reconheceu os crimes de seus clientes.
do período ditatorial e facilitou a transição de poder Antes do surgimento do novo SPB, às 7 horas da
manhã de cada dia útil, eram lançados nas contas
para seu sucessor, garantindo o acesso à nova admi-
Reservas Bancárias das instituições financeiras, os

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


nistração às informações necessárias para a gestão do resultados financeiros (positivos ou negativos) apura-
Estado (Fausto, 2019). dos nos diversos mercados de títulos e valores mobi-
liários nas negociações dos dias anteriores.
REFERÊNCIAS Estamos falando dos resultados de operações com
ações, derivativos, títulos privados etc., além do resul-
ESTÊVÃO, J. Desenvolvimento econômico e tado da compensação, entre os bancos, dos valores
mudança institucional: o papel do Estado. 2004. pagos pelas pessoas físicas e jurídicas por intermédio
de cheques e DOC (Documentos de Crédito).
Disponível em: https://www.repository.utl.pt/han
O único resultado que era lançado no mesmo dia
dle/10400.5/12125. Acesso em: 22 jan. 2024. das operações era aquele informado pelo Selic, relati-
FAUSTO, S. Modernização pela via democrática. In: vo às negociações com títulos públicos federais. Mes-
Fausto, B. História do Brasil. São Paulo: EdUSP, mo assim, esse lançamento era realizado às 23h, após
2019. o encerramento dos mercados.
MOTTA, M. A estabilização e a estabilidade: do Pla- O que ocorria era que, ainda que o banco não
no Real aos governos FHC (1993–2002). In: FERREI- dispusesse de saldo suficiente em sua conta para
RA, J.; DELGADO, L. A. N. (Org.). O tempo da Nova satisfazer os pagamentos previstos para as 7h, o Ban-
co Central honrava a liquidação das obrigações, e
República: da transição democrática à crise políti-
o banco passava a apresentar saldo negativo na conta
ca de 2016. Quinta República (1985–2016). Coleção: Reservas Bancárias. Perceba: é como se os bancos pos-
O Brasil Republicano, vol. 5. Rio de Janeiro: Civili- suíssem um “cheque especial” com limite infinito
zação Brasileira, 2018. junto ao Banco Central. Ainda que não tivessem recur-
SALLUM JUNIOR, B. O governo e o impeachment de sos disponíveis em sua conta Reservas Bancárias, seus
Fernado Collor de Mello. In: FERREIRA, J.; DELGA- compromissos eram liquidados.
DO, L. A. N. (Org.). O tempo da Nova República: Esse saldo negativo normalmente era regulariza-
da transição democrática à crise política de 2016. do às 23h, pois os bancos mantinham títulos públicos
federais em volume suficiente para o adequado geren-
Quinta República (1985–2016). Coleção: O Brasil
ciamento de seu caixa. Ou seja, se a conta Reservas
Republicano, vol. 5. Rio de Janeiro: Civilização Bra- Bancárias ficasse negativa, o banco vendia títulos
sileira, 2018. públicos federais ao longo do dia e, às 23h, regula-
rizava sua situação, deixando de apresentar saldo
devedor. 339
A soma dos saldos negativos nas contas Reser- Os principais riscos assumidos pelo Banco Cen-
vas Bancárias, entre as 7h e às 23h de cada dia, era tral no antigo Sistema de Pagamentos eram o risco de
um risco privado (dos bancos) assumido diaria- crédito e o risco de liquidez. As instituições deten-
mente pelo Banco Central. Ou seja, indiretamente, toras de contas Reservas Bancárias no Banco Central
era assumido por toda a sociedade. comandavam as ordens de transferências de recursos
Por outro lado, se o Banco Central rejeitasse os lan- sem que houvesse checagem automática da suficiên-
çamentos de um banco para evitar a existência de sal- cia dos saldos na conta, ficando tal conferência para o
do negativo em sua conta Reservas Bancárias, estaria final do dia e pelo valor líquido (compensação multi-
transferindo a falta de liquidez (dinheiro) desse banco lateral dos saldos comandados ao longo do dia).
para o resto do sistema financeiro e para a clientela Assim, se uma contraparte na operação não hon-
do sistema bancário. Sim, porque se um banco não rasse o compromisso de transferência do fundo por
honrasse seus débitos, outros bancos deixariam motivo de falta de liquidez momentânea (risco de
de receber os recursos que tinham a receber desse liquidez) ou insolvência (risco de crédito), o Banco
banco. Central, desempenhando a função de mantenedor do
Isso poderia gerar o que se costuma chamar de equilíbrio do sistema financeiro, assumia o papel de
“crise sistêmica”, com a quebra sucessiva de ins- fornecedor de liquidez e crédito do sistema. O Banco
tituições financeiras — um “efeito dominó” — e a Central, portanto, assumia o papel, involuntário, de
interrupção da cadeia de pagamentos do setor real garantidor das operações cursadas no âmbito do
da economia, seguida, invariavelmente, de recessão Sistema de Pagamentos.
econômica. O risco de crise sistêmica era algo que o As câmaras de compensação (sistemas de liqui-
Banco Central precisava evitar a qualquer custo. dação de operações com títulos públicos, títulos pri-
Dessa forma, era comum que, quando o problema vados, cheques, operações de câmbio etc.) liquidavam
de liquidez de um determinado banco fosse grave, diretamente na conta Reservas Bancárias no Banco
o Banco Central sustentasse esse banco por meio de Central. Também não havia críticas quanto à insufi-
empréstimos, a fim de evitar o risco sistêmico. ciência de saldo. Nesse caso, o Banco Central assu-
mia os riscos decorrentes da operação, dado que as
Dica câmaras não possuíam mecanismos de gerenciamen-
to de riscos capazes de suprir a insolvência de seus
Há uma expressão comum no mercado financei- participantes.
ro sobre isso: “too big to fail” (“grande demais Portanto, havia um cenário complexo, com o Ban-
para quebrar”, em português). Esse é também o co Central atuando principalmente como fornecedor
nome de um filme de 2011 que aborda a crise de liquidez caso as instituições bancárias detentoras
do sistema financeiro norte-americano de 2008. de conta Reservas Bancárias não honrassem as suas
Fica a sugestão para assisti-lo, pois irá te ajudar ordens de transferências de recursos ao final do dia,
a compreender um pouco mais como funciona o fosse devido à falta de liquidez, à insolvência, a frau-
sistema financeiro. des ou mesmo por problemas operacionais.
Diante disso, na construção do novo Sistema de
Essa situação propiciava o chamado risco moral Pagamentos Brasileiro, que passou a operar em 22
(moral hazard), que surge quando um agente econô- de abril de 2002, diversas medidas passaram a ser
mico muda seu comportamento de acordo com o con- adotadas:
texto da transação econômica. Nesse caso, os bancos
podiam agir de forma menos prudente, acreditando z revisão da base legal do Sistema de Pagamentos
que, caso necessitassem, seriam “socorridos” pelo Brasileiro, com a edição da Lei nº 10.214, de 27
Banco Central. de março de 2001, que disciplinou a atuação das
Grandes bancos, como o Nacional, o Bamerindus câmaras e dos prestadores de serviços de com-
e o Econômico, que eram bancos expressivos, con- pensação e de liquidação no âmbito do sistema
correntes de grandes nomes que continuam na ativa de pagamentos brasileiro. Dentre os pontos disci-
hoje, foram liquidados (quebraram) na segunda meta- plinados pela Lei, pode-se destacar a previsão da
de da década de 1990. compensação multilateral e a criação de prote-
Em junho de 2001, o balanço do Banco Central ção jurídica para a execução segura das garan-
indicava saldo devedor nas contas Reservas Bancá- tias aportadas nas câmaras de compensação;
rias de R$ 12,3 bilhões decorrentes de lançamentos z monitoramento, em tempo real, do saldo de
não rejeitados, embora as instituições não dispuses- cada conta Reservas Bancárias, não sendo admi-
sem de liquidez suficiente ou de garantias para ofere- tido, a partir do dia 24 de junho de 2002, saldo
cer em um empréstimo. devedor em qualquer momento do dia;
Com esse percurso histórico, conseguimos com- z oferta de empréstimo ponte diário (redescon-
preender qual era o cenário antes do surgimento to intradia), mediante operações de compra, pelo
do Sistema de Pagamentos Brasileiro. Veja a seguir Banco Central, de títulos públicos federais dos
quais foram as mudanças implementadas em sua bancos, que são recomprados do Banco Central no
reestruturação. próprio dia, registrando-se em tempo real o resul-
tado financeiro na conta Reservas Bancárias. Isso
MEDIDAS ADOTADAS NA REESTRUTURAÇÃO DO garante a oferta da liquidez necessária para o
SISTEMA DE PAGAMENTOS fluxo normal dos pagamentos ao longo do dia, sem
riscos para o Banco Central;
A reestruturação do Sistema de Pagamentos Bra- z implantação de sistema de troca de fundos com
sileiro (SPB) compreendeu um conjunto de medidas liquidação bruta em tempo real, que processa
para solucionar os graves problemas existentes que ordens de transferência eletrônica de fundos entre
340 foram expostos aqui. bancos, inclusive as por conta de clientes. Essas
ordens, uma vez processadas pelo sistema, passa- Além das IMF, alguns arranjos e instituições de
ram a gozar dos atributos de irrevogabilidade e pagamento também integram o SPB.
incondicionalidade, isto é, uma vez processadas, O Banco Central exerce a função de zelar pelo fun-
não podem ser desfeitas (não há estorno). Assim, cionamento normal, seguro e eficiente do sistema de
passou a existir alternativa segura aos cheques e pagamentos. Tal função tem como objetivo primordial
documentos de crédito para a realização de paga- garantir a eficiência e a segurança no uso de instru-
mentos de grande valor (é o surgimento da Trans- mentos de pagamento por meio dos quais nossa moe-
ferência Eletrônica Disponível — TED); da é movimentada.
z criação, pelo setor privado, de rede de teleco- Assim, o Banco Central tem as competências de
municações dedicada exclusivamente ao siste- regulamentar e exercer a vigilância e a supervisão
ma financeiro e operada sob rígidos padrões de sobre os sistemas de compensação e de liquidação, os
segurança e confiabilidade definidos pelo Banco arranjos e as instituições de pagamento.
Central; As IMF desempenham um papel fundamental para
z assunção do risco privado pelo setor privado, o sistema financeiro e para a economia de uma for-
com a definição de regras mais rígidas para as ma geral. É importante que os mercados financeiros
câmaras de compensação privadas, que adota- confiem na qualidade e na continuidade dos serviços
ram adequados mecanismos de gerenciamento prestados pelas IMF. Seu funcionamento adequado é
de riscos, como o estabelecimento de limites para essencial para a estabilidade financeira e condição
os bancos com base no recebimento prévio de necessária para proteger os canais de execução da
garantias. Se o Banco Central rejeita lançamento política monetária.
na conta Reservas Bancárias de um banco que não Cabe ao Banco Central atuar no sentido de promo-
disponha de liquidez suficiente, a câmara executa ver sua solidez, seu normal funcionamento e seu con-
as garantias que lhe tenham sido entregues pelo tínuo aperfeiçoamento.
banco inadimplente e honrará os pagamentos cor- No caso dos pagamentos de varejo, o Banco Central
respondentes, com fundamento na Lei n° 10.214, direciona suas ações no sentido de promover a inte-
de 2001. Outra consequência foi que os participan- roperabilidade, a inovação, a solidez, a eficiência,
tes tiveram que conhecer e gerenciar melhor os a competição e o acesso não discriminatório aos
riscos a que estavam expostos nessas câmaras; serviços e às infraestruturas. Além disso, o Bacen zela
z adoção de mecanismo indutor à oferta, pelos pelo atendimento às necessidades dos usuários finais
bancos, de novos produtos à clientela, que per- e pela inclusão financeira.
mitiram a migração dos pagamentos de maior
valor, à época realizados por cheques e documen- INFRAESTRUTURAS DO MERCADO FINANCEIRO
tos de crédito, para instrumentos de pagamento (IMF)
eletrônico adequadamente estruturados.
São integrantes do SPB os seguintes serviços:
Podemos dizer que as medidas mencionadas, entre
outros aspectos positivos: z serviço de compensação de cheques;
z serviços de compensação e liquidação de ordens

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


z retiraram riscos privados do setor público; eletrônicas de débito e de crédito, de transfe-
z fortaleceram o sistema financeiro; rência de fundos e de outros ativos financeiros;
z dotaram o país de um sistema de pagamentos z serviços de compensação e de liquidação de opera-
moderno; ções com títulos e valores mobiliários;
z reduziram a percepção de risco do país; z serviços de compensação e de liquidação de ope-
z permitiram maior atratividade para o capital externo; rações realizadas em bolsas de mercadorias e de
z geraram ganhos de eficiência à economia. futuros;
z serviços de depósito centralizado e de registro
Além disso, surgiu para o cidadão comum a possi- de ativos financeiros e de valores mobiliários.
bilidade de transferir recursos de sua conta corrente
para conta de outra pessoa em banco diferente do seu, Todas as entidades que prestam esses serviços são
em agência de qualquer localidade do país, sendo o denominadas Infraestruturas do Mercado Finan-
recurso imediatamente disponível para o destinatá- ceiro (IMF).
rio, através da Transferência Eletrônica Disponível O tráfego de informações entre as IMF ocorre
(TED). através da Rede do Sistema Financeiro Nacional
(RSFN).
ESTRUTURA DO NOVO SISTEMA DE PAGAMENTOS A RSFN, portanto, é a estrutura de comunicação
BRASILEIRO (SPB) de dados que tem por finalidade amparar o tráfe-
go de informações no âmbito do Sistema Financeiro
O Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB) com- Nacional.
preende as entidades, os sistemas e os procedi-
mentos relacionados com o processamento e a Infraestruturas do Mercado Financeiro (IMF) e Rede
liquidação de operações de transferência de fun- do Sistema Financeiro Nacional (RSFN)
dos e de operações com moeda estrangeira ou com
ativos financeiros e valores mobiliários, chamados,
coletivamente, de entidades operadoras de Infraes-
truturas do Mercado Financeiro (IMF).

341
Fonte: site do Banco Central.

AUTORIZAÇÃO, SUPERVISÃO E REGULAÇÃO

No Brasil, qualquer IMF, para funcionar, está sujeita à autorização e à supervisão do Banco Central.
Na função de supervisão, cabe ao Banco Central assegurar que as IMF em operação no Brasil sejam adminis-
tradas consistentemente com os objetivos de interesse público, mantendo a estabilidade financeira e reduzin-
do o risco sistêmico.
Cabe, ainda, ao Bacen, seguindo diretrizes dadas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), o papel de regu-
lador, juntamente com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), nas suas respectivas esferas de competência.
Como regulador, portanto, o Banco Central atua no sentido de converter as políticas estabelecidas em regras a
serem aplicadas pelas IMF.
Além disso, ele busca adequar as normas brasileiras, quando relevante, ao que recomendam os organismos
internacionais, como é o caso do Comitê de Pagamentos e Infraestruturas do Mercado do Banco de Compensações
Internacionais (CPMI/BIS) e do Comitê Técnico da Organização Internacional de Comissões de Valores (TC/IOSCO).

GESTÃO E OPERAÇÃO

Além da supervisão e da regulação, o Banco Central também atua como provedor de serviços de liquidação.
Nesse papel, o Banco Central é o responsável pela gestão e operação das seguintes IMF:

z Sistema de Transferência de Reservas (STR);


z Sistema de Pagamentos Instantâneos (SPI);
z Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic).

O STR e o SPI são sistemas de pagamento (transferências de fundos). O Selic é um sistema de liquidação de
ativos e um depositário central que opera a maioria dos títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional, além de
ser o responsável pelo eventual registro de ônus e gravames sobre tais títulos.
Neste momento, vamos falar sobre o STR e o SPI.

SISTEMA DE TRANSFERÊNCIA DE RESERVAS (STR)

O Sistema de Transferência de Reservas (STR) é o coração do Sistema de Pagamentos Brasileiro, pois é onde
ocorre a liquidação final de todas as obrigações financeiras no Brasil.
A transferência de fundos no STR é irrevogável, isto é, só é possível “desfazer” uma transação por meio de
outra transação no sentido contrário. Além disso, para garantir a solidez do sistema, no STR não há possibilidade
342 de lançamentos a descoberto. Ou seja, não se admite saldo negativo.
O STR é um sistema que faz Liquidação Bruta em Tempo Real (LBTR), ou seja, as operações são liquidadas
uma a uma por seus valores brutos em tempo real.

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


Estrutura do STR
Fonte: site do Banco Central.

SISTEMA DE PAGAMENTOS INSTANTÂNEOS (SPI)

O Sistema de Pagamentos Instantâneos (SPI) é a infraestrutura centralizada e única para liquidação de paga-
mentos instantâneos entre instituições distintas no Brasil.
“Pagamentos instantâneos” te lembra alguma coisa? Sim! O SPI é a infraestrutura de liquidação financeira do
Pix.
A operação do SPI, gerida pelo Banco Central, teve início em novembro de 2020.
O SPI é um sistema que faz Liquidação Bruta em Tempo Real (LBTR), ou seja, que processa e liquida transação
por transação. Uma vez liquidadas, as transações são irrevogáveis.
Os pagamentos instantâneos são liquidados com lançamentos nas contas de propósito específico que as insti-
tuições que são participantes diretos do sistema mantêm no Bacen, denominadas Contas Pagamento Instantâneo
(Contas PI). Para garantir a solidez do sistema, não há possibilidade de lançamentos a descoberto, isso é, não se
admite saldo negativo nas Contas PI.
Existem duas modalidades de participação na infraestrutura de liquidação do SPI:

z participantes diretos, aqueles que farão a liquidação das transações diretamente no SPI;
z participantes indiretos, cujas transações serão liquidadas por intermédio de um participante direto ou liqui-
dante especial.

Bancos comerciais, bancos múltiplos com carteira comercial e caixas econômicas que sejam participantes do
Pix deverão, obrigatoriamente, ser participantes diretos do SPI. As demais instituições autorizadas a funcionar
pelo Banco Central que sejam participantes do Pix podem optar por serem participantes diretos ou indiretos do
SPI.
As instituições de pagamento sem autorização de funcionamento do Banco Central (aquelas para as quais não
há essa exigência) e que sejam participantes do Pix devem, necessariamente, ser participantes indiretos do SPI.
343
Formas de acesso ao SPI

Fonte: site do Banco Central.

A TRAJETÓRIA RECENTE DA ECONOMIA BRASILEIRA


Em outubro de 2002, Luiz Inácio Lula da Silva disputava pela quarta vez consecutiva a presidência da Repúbli-
ca, e, por fim, foi eleito, permanecendo no poder por oito anos. Nesse contexto, não serão abordadas as questões
relativas a políticas sociais ou à crise associada ao governo do presidente Lula. O foco estará no âmbito econômico
(Motta, 2018; Fausto, 2019).
Lula herdou uma situação desafiadora no aspecto econômico, sendo o país deixado por Fernando Henrique
Cardoso (FHC) denominado por alguns como a “herança maldita”. Optando por uma estratégia moderada para
agradar ao mercado e estabilizar a situação macroeconômica, o presidente adotou medidas ortodoxas, mantendo
os fundamentos do Plano Real, como a valorização da moeda, taxas de juros elevadas e controle de gastos públicos
(Motta, 2018; Fausto, 2019).
Embora criticadas por setores de esquerda, essas medidas resultaram em uma significativa redução da dívida
pública e em uma notável queda da taxa inflacionária, influenciada pela revalorização cambial do real. Com os
sucessos dos ajustes, o governo adquiriu credibilidade nos mercados internos e externos. As críticas da esquerda e
do próprio Partido dos Trabalhadores (PT) às políticas econômicas de Palocci e Meirelles só diminuíram a partir de
2005, quando os resultados positivos se consolidaram (Motta, 2018; Fausto, 2019).

O crescimento no afluxo de capitais externos para o Brasil contribuiu para o acúmulo de grandes reservas em dóla-
res, que atingiram cerca de US$ 300 bilhões. Para júbilo do governo a dívida externa caiu e o Brasil passou de deve-
dor do FMI a seu credor, invertendo uma situação humilhante vivida por governos anteriores. (Motta, 2018, p. 424)

A inflação, que começou a declinar a partir do segundo semestre de 2003, já estava abaixo dos 4% em 2006.
Simultaneamente à redução da inflação, a taxa de juros também diminuía, e o país experimentava crescimento
econômico. O motor econômico brasileiro nesse período foi o comércio exterior. Entre 2000 e 2004, as exportações
saltaram de UR$ 60 bilhões para UR$ 100 bilhões (Fausto, 2019).
Além das políticas econômicas, as exportações foram favorecidas pela expansão da economia mundial e pelo
aumento nos preços das commodities agrícolas e minerais, impulsionados principalmente pelo rápido crescimen-
to da China. Entre os anos de 2004 e 2008, as exportações brasileiras passavam de US$ 100 bilhões para US$ 200
bilhões anuais (Fausto, 2019).
Gradualmente, o consumo interno se tornou o principal impulsionador da economia brasileira. Essa tendên-
cia foi estimulada por políticas que elevaram os salários mínimos acima da inflação, expandiram programas de
transferência direta de renda para as famílias mais pobres, facilitaram o acesso ao crédito e promoveram um
rápido crescimento na criação de empregos formais. A partir de 2004, observou-se um crescimento líquido de
mais de 1,5 milhão de postos de trabalho, interrompido apenas em 2009 devido à crise global. Em resumo, ao
longo de dois mandatos, foram criados mais de 10 milhões de empregos formais, superando mais da metade da
taxa de desemprego (Fausto, 2019).
344
O segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva expansão do PIB diminuiu significativamente, passan-
foi caracterizado como a fase áurea de seu governo, do de 4% em 2011 para 0,5% em 2014, indicando um
marcada por uma liderança consolidada, reconheci- cenário menos otimista. Além disso, a contínua redu-
mento internacional e resultados econômicos e sociais ção da atividade industrial, a intensificação da concor-
notáveis. Durante esse período, a estabilidade política, rência internacional e a sobrevalorização da moeda
a resposta eficaz à crise econômica global de 2008 e brasileira contribuíram para os desafios econômicos
uma política externa ativa contribuíram para conso- enfrentados durante esse período (Motta, 2018).
lidar a imagem do Brasil como uma potência emer- O aumento persistente da inflação exigiu medi-
gente. Além disso, a implementação bem-sucedida de das como a manutenção de taxas de juros elevadas e
políticas distributivistas e os investimentos significa- a restrição de crédito, impactando negativamente a
tivos em educação foram evidentes, destacando-se expansão do PIB. As tentativas de compensar as difi-
também o lançamento do Programa de Aceleração do culdades no setor industrial por meio da ampliação da
Crescimento (PAC) em 2007 (Motta, 2018). política de renúncia fiscal, iniciada no governo Lula,
A abordagem heterodoxa do governo para enfren- não geraram resultados positivos, uma vez que a forte
tar a crise de 2008, por meio da adoção de medidas perda de receitas do governo não foi equilibrada pelo
anticíclicas, demonstrou eficácia a curto prazo, resul- aumento dos investimentos nas empresas beneficia-
tando na retomada do crescimento econômico e em das (Motta, 2018).
uma taxa de expansão do produto interno bruto (PIB) Apesar das flutuações em sua política econômi-
de 7,5% em 2010. A política externa independente, ca, o governo Rousseff permaneceu fiel à orientação
com ênfase na América Latina e no fortalecimento de geral do período Lula. Houve melhorias nos indicado-
laços com países emergentes, foi marcante. A criação res sociais, como a redução do percentual de pobreza,
do grupo BRICS, a recusa à Área de Livre Comércio que passou de 14% para 12% da população total brasi-
das Américas (Alca) e a liderança nas negociações leira entre 2010 e 2012, conforme dados do Ministério
comerciais com países desenvolvidos evidenciaram a da Fazenda. Mesmo em meio ao baixo crescimento
assertividade diplomática (Motta, 2018). econômico, a taxa de desemprego continuou a dimi-
Não obstante, o governo Lula buscou aprimorar nuir, atingindo 5,5% em 2012 (Motta, 2018).
relações com os Estados Unidos, evitando confrontos Porém, em junho de 2013, começaram a surgir
significativos. A popularidade de Lula ao final de seu sinais de insatisfação, desencadeando uma série de
mandato foi impulsionada pelos sucessos econômi- protestos nas ruas. Inicialmente focalizados nos gas-
cos, com um crescimento médio anual do PIB de 4%, a tos públicos com eventos esportivos, como a Copa das
redução expressiva na taxa de desemprego e a expan- Confederações de 2013 e a Copa do Mundo de 2014, os
são de programas sociais. Essa popularidade, refletida protestos evoluíram para uma manifestação generali-
em um índice de aprovação de 87%, contribuiu para a zada contra a máquina pública, denunciando a quali-
eleição de sua sucessora, Dilma Rousseff (Motta, 2018). dade precária dos transportes e da educação pública,
O último ano do mandato do então presidente Lula além de criticar a corrupção. Essa insatisfação, com-
foi em 2010. Nesse ano, o Brasil registrou um crescimen- binada com a desaceleração econômica, intensificou
to econômico superior a 7% e gerou mais de três milhões a disputa nas eleições de 2014, tornando-as mais acir-
de empregos formais. No entanto, um desafio significa- radas (Motta, 2018).

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


tivo que Lula deixava para sua sucessora era o controle A oposição liderada pelo PSDB (Partido da Social
da inflação, que estava próxima a 6% (Fausto, 2019). Democracia Brasileira), com Aécio Neves como candi-
No início de seu mandato, Dilma Rousseff man- dato, capitalizou o desgaste percebido pelos petistas.
teve a essência das políticas de seu antecessor, Lula, Dois fenômenos notáveis surgiram durante a cam-
ao persistir com uma abordagem desenvolvimentis- panha: o crescimento da opinião de direita e a mani-
ta, que envolvia investimentos estatais substanciais pulação eleitoral por meio da operação Lava Jato. A
e políticas de transferência de renda. Além disso, o campanha testemunhou um aumento de argumentos
governo ampliou suas iniciativas no campo da edu- radicais de direita, inspirados na tradição anticomu-
cação e dos direitos humanos, com um foco especial nista, e a manipulação eleitoral da operação Lava
na defesa das minorias sexuais. No setor educacional, Jato teve um impacto significativo no cenário político
foram implementadas medidas voltadas para promo- (Motta, 2018).
ver a diversidade, incluindo ações específicas para a O segundo mandato de Rousseff foi marcado por
educação sexual (Motta, 2018). desafios significativos, caracterizados por uma vitória
No cenário econômico, o governo de Dilma Rous- apertada nas eleições de 2014. O governo enfrentou
seff enfrentou desafios decorrentes da crise interna- crises econômicas e políticas, implementando medi-
cional iniciada em 2008. Inicialmente, sua prioridade das impopulares, como a nomeação de um ministro da
era conter a inflação e melhorar as contas públicas, Fazenda alinhado ao mercado financeiro (Motta, 2018).
uma vez que o crescimento econômico não parecia Entretanto, essas ações não conseguiram evitar a
ser uma preocupação imediata, dado o desempenho recessão econômica, com queda do PIB e aumento do
positivo observado no último ano do governo Lula. desemprego. A oposição no Congresso bloqueou ini-
Para alcançar esses objetivos, a administração con- ciativas para amenizar a crise, enquanto a operação
cordou em reduzir o crédito e aumentar as taxas de Lava Jato revelou escândalos de corrupção, agravan-
juros, tendo em vista uma desaceleração controlada do os problemas. A falta de habilidade política de Rou-
da atividade econômica (Motta, 2018). sseff, sua relutância em aceitar acordos tradicionais
Contudo, a situação internacional foi agravada e conflitos com figuras-chave, como Eduardo Cunha,
com quedas nos preços das commodities e uma dimi- contribuíram para o desgaste de sua liderança, culmi-
nuição nas exportações brasileiras. A incerteza entre nando no processo de impeachment (Motta, 2018).
os empresários resultou na redução de investimentos Michel Temer assumiu a presidência da Repúbli-
na produção, impactando diretamente no crescimen- ca, mais uma vez colocando o país sob a liderança de
to econômico durante os anos do governo Dilma. A um vice-presidente. As políticas econômicas de cunho 345
liberal adotadas por Temer alteraram a trajetória da No âmbito do equilíbrio energético, possui uma
economia brasileira. Após um período tumultuado, as relação intrínseca entre a energia consumida e a ener-
mudanças implementadas resultaram em uma estag- gia gerada.
nação econômica, com um crescimento de aproxima- No contexto da sustentabilidade, um balanço
damente 1% ao ano (Prates; Fritz; Paula, 2019). energético positivo ocorre quando a geração de ener-
O desemprego aumentou, especialmente no setor gia proveniente de fontes renováveis supera o consu-
da construção civil, impactado pela paralisia causada mo energético.
pela operação Lava Jato. Diante da estagnação eco- O balanço energético é, portanto, um relatório que
nômica, o legado de Temer afeta principalmente os demonstra a relação entre a produção e o consumo de
trabalhadores brasileiros, notadamente por meio das energia em um determinado período de tempo.
reformas trabalhista e previdenciária (Prates; Fritz; Ele é composto por três componentes principais:
Paula, 2019).
O sucessor de Michel Temer, Jair Messias Bolsona- z Produção de energia: quantidade de energia gera-
ro, herdou uma economia em crise, com um aumen- da em um determinado período de tempo;
to do PIB de apenas 1,2% em 2019. Além disso, seu z Consumo de energia: quantidade de energia utili-
governo foi impactado pela pandemia da covid-19 que zada em um dado período;
atingiu o Brasil a partir de março de 2020. A política z Exportação de energia: é a quantidade de energia
econômica de Bolsonaro, conduzida por seu ministro exportada de um país para outro.
da Economia, Paulo Guedes, seguiu princípios liberais
(Gonçalves, 2018). Quanto ao uso e à fonte de energia no contexto
No primeiro ano do governo, a taxa de desempre- empresarial, aponta-se para a dependência de fatores
go era de 12%, subindo para 13,8% em 2020, atingindo ambientais, como matérias-primas. Nesse cenário, a
13,2% em 2021 e encerrando seu mandato com uma taxa sustentabilidade está intrinsecamente relacionada
de 9,3%. A inflação iniciou em 4,3% no primeiro ano de ao emprego racional desses recursos. Isso implica a
mandato, aumentando para 10,06% em 2021, e, no últi- adoção de procedimentos que incluem a recuperação,
mo ano de governo, chegou a 5,8%. No que se refere aos a reciclagem e a incorporação de novas tecnologias,
alimentos, a inflação foi de 57% (Gonçalves, 2018). com o objetivo de assegurar a gestão sustentável dos
recursos (Oliveira, 2010).
REFERÊNCIAS A energia pode ser utilizada para diversas finalida-
des, como geração de eletricidade, transporte, indús-
FAUSTO, S. Modernização pela via democrática. In: tria, agricultura, entre outras.
FAUSTO, B. História do Brasil. São Paulo: EdUSP, As principais fontes de energia se dividem em:
2019.
GONÇALVES, R. Governo Bolsonaro, Brasil 2019– z Renováveis: fontes de energia refeitas naturalmen-
22: Cenários. IE/UFRJ, v. 16, nov. 2018. Disponível te, como a energia solar, a energia eólica, a energia
em: https://www.ie.ufrj.br/images/IE/TDS/2018/ hidráulica e a biomassa. Além de tudo, são energias
TD_IE_016_2018_GONCALVES.pdf. Acesso em: 21 limpas, pois causam pouco ou nenhum impacto
jan. 2024. ambiental;
MOTTA, R. P. S. O lulismo e os governos do PT: z Não renováveis: fontes que derivam de produtos
ascensão e queda. In: FERREIRA, J.; DELGADO, L. que não são refeitos naturalmente, ou que levam
A. N. (Org.). O tempo da Nova República: da tran- um tempo para se formar, como o petróleo, o gás
sição democrática à crise política de 2016. Quinta natural e o carvão mineral. São energias poluen-
República (1985–2016). Coleção: O Brasil Republi- tes, pois contribuem para o aquecimento global e
cano, vol. 5. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, para a degradação do meio ambiente.
2018.
PRATES, D.; FRITZ, B.; PAULA, L. F. O desenvol- Finalmente, a matriz energética, compreendida
como a soma das fontes energéticas utilizadas para
vimentismo pode ser culpado pela crise? Uma
atender à demanda por energia, se destaca como um
classificação das políticas econômica e social dos
componente crucial na análise da sustentabilidade
governos do PT ao governo Temer. IE/UFRJ, n. 9,
energética (Oliveira, 2010).
2019. Disponível em: http://tinyurl.com/vshf8w3z.
É importante para avaliar a dependência de fontes
Acesso em: 21 jan. 2024.
de energia importadas, a sustentabilidade do sistema
energético e o potencial de geração de empregos no
setor de energia.
ECONOMIA E SUSTENTABILIDADE A matriz energética do Brasil é predominantemente
renovável, com destaque para a energia hidrelétrica,
CONCEITOS FUNDAMENTAIS: BALANÇO que representa cerca de 60% da produção de energia.
ENERGÉTICO E USOS E FONTES, MATRIZ As outras fontes renováveis, como a energia solar,
ENERGÉTICA a energia eólica e a biomassa, também têm uma par-
ticipação importante na matriz energética brasileira.
Com base nas contribuições de Oliveira (2010), emer- As fontes não renováveis, como o petróleo, o gás
gem conceitos fundamentais para a compreensão de natural e o carvão mineral, representam apenas cerca
questões pertinentes à economia e à sustentabilidade. de 40% da produção de energia.
A economia sustentável, conforme delineada, dire- A diversificação e a promoção de fontes mais sus-
ciona seu foco ao crescimento econômico centrado no tentáveis emergem como estratégias essenciais para
bem-estar humano, situando-o como elemento central garantir a resiliência e a viabilidade a longo prazo dos
346 de seu desenvolvimento (Oliveira, 2010). sistemas energéticos (Oliveira, 2010).
REFERÊNCIAS
POLÍTICA AMBIENTAL
OLIVEIRA, D. L. Economia e sustentabilidade. Ges-
tão & Tecnologia, ed. 3, jan./fev. 2010. Disponível Política é um termo utilizado de forma tão corri-
em: https://www.faculdadedelta.edu.br/revista/edi- queira que pouco refletimos sobre o seu significado.
cao_3/economia_sustentabilidade.pdf. Acesso em: O conceito é amplo e está ligado à organização das
24 jan. 2024. sociedades humanas, não por acaso, a palavra políti-
ca tem origem no vocábulo grego politeia, polis, um
PETRÓLEO, GÁS NATURAL E ENERGIA ELÉTRICA termo grego utilizado para definir as Cidade-estado,
portanto, politéia era uma terminação utilizada para
O petróleo é uma substância resultante da decom- se referir às polis que possuíam uma assembleia de
posição de matéria orgânica ao longo de milhões de cidadãos para se manifestar sobre os temas de inte-
anos. A exploração desse recurso demanda técnicas resse da comunidade.
avançadas, especialmente devido à profundidade em Apresentando em um conceito contemporâneo
que se encontra. para o termo, o Dicionário Michaelis (2021)16 apresen-
ta a seguinte definição:
No contexto brasileiro e em diversos outros países,
a localização do petróleo, por vezes em regiões desér- Política: 1 Arte ou ciência de governar. 2 Arte ou
ticas, frequentemente se apresenta mais próxima da ciência da organização, direção e administração
superfície, simplificando o processo de extração. de nações ou Estados. 3 Aplicação dessa arte nos
Esse recurso desempenha um papel fundamen- negócios internos da nação (política interna) ou
tal na matriz energética global, sendo predominan- nos negócios externos (política externa). 4 Orienta-
temente empregado na produção de combustíveis, ção ou métodos políticos.
como gasolina e diesel.
Com a modernidade, o termo política ganhou uma
Além disso, o petróleo é utilizado na fabricação de
maior amplitude de significado e passou a ser emprega-
diversos produtos, tais como plásticos e fertilizantes,
da também para organizações. Portanto, termo Política é
sendo estes denominados produtos petroquímicos.
utilizado em um amplo espectro de atividades e em dife-
Contudo, é imperativo reconhecer que a explora-
rentes contextos, desse modo, podemos falar em políticas
ção do petróleo acarreta impactos ambientais signifi- públicas ou políticas organizacionais de corporações.
cativos. A queima de combustíveis fósseis, derivados
do petróleo, resulta em elevados níveis de emissões de Política Ambiental no Ambiente Coorporativo
gases de efeito estufa.
Esses impactos contribuem para as preocupa- No campo coorporativo, a ABNT NBR ISO 14001:2015
ções globais com as mudanças climáticas e res- trata dos Sistemas de Gestão Ambiental voltado às organi-
saltam a necessidade premente de transição para zações que visam gerenciar sistematicamente suas respon-
fontes de energia mais sustentáveis e ecologicamente sabilidades ambientais. Para a norma, a Política Ambiental
responsáveis. consiste nas “intenções e direção de uma organização rela-
O gás natural, também originado da decomposi- cionadas ao seu desempenho ambiental como formalmente
ção de matéria orgânica, pode conter elementos como expresso pela sua Alta Direção que é o grupo de dirige e con-

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


etano, propano e butano em sua composição. Esse trola uma organização” (ABNT, 2015)17.
recurso é amplamente utilizado para a geração de A Norma NBR ISO 14001:2015 define que uma polí-
energia, sendo extraído de depósitos subterrâneos. tica ambiental é um conjunto de princípios declarados
Comparativamente ao petróleo, o gás natural apre- como compromissos, em que a Alta Direção descreve
as intenções da organização para apoiar e aumen-
senta vantagens ambientais notáveis. Sua queima
tar o seu desempenho ambiental. A política ambien-
resulta em uma menor emissão de carbono, contri-
tal permite que a organização defina seus objetivos
buindo para uma pegada de carbono mais reduzida.
ambientais, tome ações para alcançar os resultados
Essa característica atenua os impactos negativos
pretendidos do sistema de gestão ambiental e alcan-
sobre a qualidade do ar, representando uma alterna- çar a melhoria contínua.
tiva mais favorável do ponto de vista ambiental. A NBR ISO 14001:2015 estabelece três compromis-
A preferência pelo gás natural em relação a com- sos básicos para a política ambiental:
bustíveis fósseis mais convencionais tem sido impul-
sionada não apenas pelos benefícios ambientais, mas z proteger o meio ambiente;
também pela eficiência energética e pela diversifica- z atender aos requisitos legais e outros requisitos da
ção da matriz energética. organização;
A geração de energia elétrica envolve uma z melhorar continuamente o sistema de gestão
diversidade de métodos, desde aqueles que utilizam ambiental para aumentar o desempenho ambiental.
combustíveis fósseis até fontes renováveis, como
hidrelétricas, eólicas e solares. Na política ambiental voltada ao ambiente coorpo-
Após ser gerada, a energia elétrica é distribuída rativo, tendo em vista o sistema de gestão ambiental
por meio de linhas de alta tensão e amplamente utili- das organizações, o compromisso de proteger o meio
zada em residências e processos industriais. ambiente não pode apenas visar prevenir impactos
No entanto, o maior desafio da atualidade talvez ambientais adversos por meio da prevenção da polui-
seja a busca por fontes de energia mais sustentáveis, ção, mas também proteger o meio ambiente natural
visando mitigar os impactos ambientais decorrentes dos danos resultantes das atividades, produtos e ser-
da geração energética. viços da organização.
16 Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa Michaelis. Ed. Melhoramentos. Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/
busca/portugues-brasileiro/politica. Acesso em: 07 abr. 2021.
17 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14001: Sistemas de Gestão Ambiental — Requisitos com orientações para uso. Rio
de Janeiro. 2015. 347
Sendo assim, os compromissos da organização na Os programas finalísticos estão discriminados no Pla-
sua política ambiental devem ser pertinentes ao con- no Plurianual da União - PPA. O último PPA foi esta-
texto e local que ela se encontra, incluindo condições belecido para o período de 2020 a 2023 por meio da
ambientais locais ou regionais. Tais compromissos Lei nº 13.971, de 2019, no Plano foram estabelecidos
podem, por exemplo, tratar de temas como utilização os seguintes programas com foco ambiental:
racional da água na bacia hidrográfica que a corpora-
ção está instalada, qualidade do ar, mitigação e adap- z Programa 1043 — Qualidade Ambiental Urbana;
tação a mudanças climáticas, reciclagem e consumo z Programa 1041 — Conservação e Uso Sustentável
consciente etc. da Biodiversidade e dos Recursos Naturais;
Para implementar uma política ambiental consis- z Programa 6014 — Prevenção e Controle do Desma-
tente, a organização no mínimo precisa atender aos tamento e dos Incêndios nos Biomas;
requisitos legais aplicáveis a sua situação. Desta for- z Programa 1058 — Mudança do Clima.
ma, é necessário que ao elaborar e ao executar sua
política ambiental a organização: Assim como a União, os Estados e Municípios tam-
bém implementam suas políticas públicas em con-
z determine os requisitos legais e outros requisitos; formidade com seus Planos Plurianuais e com o seu
z assegure que as operações sejam executadas de acor- orçamento, planejando e elaborando também seus
do com estes requisitos legais e outros requisitos; programas voltados à resolução de problemas am-
z avalie o atendimento aos requisitos legais e outros bientais conforme objetivos e metas propostas.
requisitos;
z corrija não conformidades. Planejamento Ambiental
Política Ambiental no Poder Público
De acordo com o Dicionário Michaelis (2021)18, o
Conforme já estudado, o art. 225, da CF, de 1988 termo Planejamento significa:
apresenta diversas incumbências em matéria ambien-
tal ao setor público com a finalidade de proteger e z ato de planejar;
conservar a integridade dos diferentes ecossistemas e z organização de uma tarefa com a utilização de
suas funções ambientais. Além disso, o poder público métodos apropriados;
também deve manejar o meio ambiente promovendo z determinação de ações para atingir as metas esti-
o seu aproveitamento sustentável. A matéria ambien- puladas por uma empresa, órgão do governo etc.
tal ainda é disciplinada por legislação infraconstitu-
cional e acordos internacionais dos quais o Brasil é Assim como no termo Política Ambiental, o termo
signatário, que garantem que sejam implementadas Planejamento apresenta distintos conceitos para apli-
políticas públicas, visando alcançar direito funda- cação no ramo público e privado. No campo público,
mental do povo brasileiro ao meio ambiente ecologi- o planejamento envolve a concepção e aprovação leis,
camente equilibrado. o disciplinamento destas leis por meio de regulamen-
Podemos entender como Políticas Públicas um tos, até a elaboração e execução de programas e ações
conjunto de ações e decisões do governo, voltadas voltadas para a solução de problemas ambientais,
para a solução de problemas da sociedade, ou seja, estando a participação social e publicidade incluída
são ações, metas e planos que os governos em esfera em todas as etapas.
nacional, estadual ou municipal traçam para alcançar No campo coorporativo, a ABNT NBR ISO 14001:
o bem-estar da sociedade e o interesse público. Sendo 2015 define que o “Planejamento é um processo es-
o meio ambiente um setor de interesse público inequí- tabelecido com a intenção de assegurar que uma or-
voco, cabe ao governo planejar e implementar Políti- ganização seja capaz de alcançar os resultados pre-
cas Públicas na área ambiental. tendidos do seu sistema de gestão ambiental, bem co-
É necessário, portanto, que os diferentes níveis mo prevenir ou reduzir os efeitos indesejados e alcan-
de governo, nos três poderes, implementem políticas çar melhoria contínua”. A organização pode assegu-
públicas na área de meio ambiente. Em âmbito fede- rar isso, determinando seus riscos e oportunidades
ral, o formulador das Políticas Públicas é o Ministério que precisam ser abordados e planejando a sua ação.
do Meio Ambiente, que tem como principais braços No planejamento ambiental os riscos e oportunidades
executores das suas políticas o IBAMA e o ICMBio. Nos são relacionados aos aspectos ambientais, requisitos
Estados, as políticas públicas são formuladas pelas legais e outros requisitos, além das necessidades e ex-
Secretarias Estaduais de Meio Ambiente e nos Municí- pectativas das partes interessadas.
pios pelas Secretarias Municipais de Meio Ambiente. Os aspectos ambientais são definidos pela organi-
Para que tenha viabilidade, uma política pública zação e consistem em atividades, produtos ou servi-
precisa estar vinculada à fonte de recursos orçamen- ços de uma organização que podem interagir com o
tários ou extraorçamentários, por isto é essencial que meio ambiente. Desta forma, os aspectos ambientais
as políticas públicas sejam previstas no Plano Pluria- são mecanismos ou processos praticados pela orga-
nual e vinculadas a recursos oriundos do orçamento nização, os quais podem causar impactos ambientais
ou de receitas extraorçamentárias provenientes de como emissões de poluentes atmosféricos, geração de
fundos públicos ou privados. resíduos sólidos, ruídos ou vibrações etc.
Em âmbito federal, as políticas públicas na área A ABNT NBR ISO 14001:2015 define que ao pla-
ambiental são executadas por meio dos seus progra- nejar o sistema de gestão ambiental, a organização
mas finalísticos (conjunto de ações orçamentárias e deve determinar os riscos e oportunidades relaciona-
não orçamentárias, suficientes para enfrentar proble- dos aos seus aspectos ambientais, requisitos legais e
mas da sociedade, conforme seus objetivos e metas). outros requisitos para:
18 Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa Michaelis. Ed. Melhoramentos. Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/
348 busca?r=0&f=0&t=0&palavra=planejamento. Acesso em: 07 abr. 2021.
z assegurar que o sistema de gestão ambiental alcan- Programa das Nações Unidas para o Meio Ambien-
ce seus resultados pretendidos; te e pela Organização Meteorológica Mundial com o
z prevenir ou reduzir efeitos indesejáveis, incluindo objetivo de sintetizar e divulgar o conhecimento mais
o potencial para condições ambientais externas avançado sobre mudanças climáticas.
que afetem a organização; A rápida mudança climática tem sido causada
z alcançar a melhoria contínua. sobretudo pelo uso humano de petróleo, gás e carvão
para casas, fábricas e transporte. Quando esses com-
A organização deve determinar potenciais situa- bustíveis fósseis queimam, eles liberam gases de efei-
ções de emergência, incluindo aquelas que podem to estufa, principalmente o dióxido de carbono (CO2).
ter um impacto ambiental. Além disso, deve também Ainda, em algumas regiões, tem ocorrido chuvas
determinar riscos e oportunidades relacionados a extremas, acarretando inundações históricas. Esses
outras questões, quais sejam: condições ambientais gases retêm o calor do sol e fazem com que a tempera-
e expectativas das partes interessadas. Estas, por sua tura do planeta aumente.
vez, podem afetar a capacidade da organização em O planeta está, hoje, cerca de 1,2 ºC mais quente do
alcançar os resultados pretendidos em seu sistema de que no século 19 e a quantidade de CO2 na atmosfera
gestão ambiental. A introdução de uma nova tecnolo- aumentou 50%. Com o aquecimento adicional, algu-
gia, por exemplo, pode melhorar a qualidade do ar ou mas regiões podem se tornar inabitáveis, à medida
a escassez de água durante período de seca, e também que as terras agrícolas se transformam em desertos.
pode afetar a capacidade operacional da organização O IPCC preconiza que o mundo aposte em profun-
de produzir e de controlar riscos ambientais. das reduções de emissões, para atingir um aquecimen-
to da temperatura de 1,5 °C até o final do século, como
AQUECIMENTO GLOBAL prometido no Acordo de Paris19. Uma das recomenda-
ções é reduzir as emissões globais em 45% até 2030.
“Aquecimento global” e “mudanças climáticas” são No relatório, destacam-se os impactos (nove ao todo)
expressões usadas com frequência na atualidade e, do aumento da temperatura global na vida na Terra,
em geral, expressam a existência de estudos e de preo- sendo alguns considerados irreversíveis. Vejamos:
cupação com o uso desenfreado dos recursos naturais,
pondo em risco a própria vida no planeta. A mudan- z a temperatura da superfície terrestre subiu mais
ça do clima constitui um grave problema ambiental rapidamente desde 1970 do que em qualquer outro
enfrentado nos últimos anos, podendo ser considera- período de 50 anos visto nos últimos 2 mil anos;
da uma das mais sérias ameaças à sustentabilidade z as ondas de calor se tornaram mais frequentes e
do meio ambiente, à saúde, ao bem-estar humano e à mais intensas em quase todos os continentes do
economia global. Aquecimento global é um fenômeno planeta desde 1950, enquanto frios extremos se
de aumento na temperatura média do planeta causa- tornaram menos frequentes e menos severos;
do pelo incremento de gases de efeito estufa à atmos- z nas últimas quatro décadas, houve um aumento
fera em uma taxa maior que o natural. da proporção de ciclones tropicais;
De acordo com Frangetto e Gazani (2002), a situa- z a influência humana aumentou a chance de even-
ção de risco de um aquecimento global exagerado tos extremos desde 1950 e isso inclui a frequência

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


deu-se, principalmente, após a Revolução Industrial. da ocorrência de ondas de calor, secas em escala
À medida que houve o aumento do uso de combustí- global, incidência de fogo e inundações;
veis fósseis nos meios de produção, elevou-se em qua- z em 2019, a concentração de CO2 na atmosfera era
se 50% os níveis de concentração de gases poluentes, maior do que em qualquer outro momento nos últi-
entre eles os chamados gases de efeito estufa. mos 2 milhões de anos e a concentração de metano
Os gases de efeito estufa têm a capacidade de reter e óxido nitroso era a maior em 800 mil anos;
calor e alterar tanto o equilíbrio térmico quanto o cli- z as ondas de calor marítimas ficaram aproximada-
mático do planeta. A principal consequência prevista, mente duas vezes mais frequentes desde 1980;
devido ao aumento na concentração desses gases, é o z entre 2011 e 2020, a área média de gelo no Ártico
aumento da temperatura global. atingiu seu número mais baixo desde pelo menos
1850 e era, no final do verão, menor do que em
qualquer época nos últimos mil anos;
Importante! z o recuo das geleiras — com uma redução sincroni-
zada em todas as geleiras do mundo desde os anos
Clima é o conjunto de condições médias de tem- 50 — é sem precedentes, pelo menos, pelos últimos
peratura e ambiente num lugar ao longo de mui- 2 mil anos;
tos anos. A mudança climática é uma mudança z o nível médio do mar aumentou mais rápido desde
nessas condições médias. 1900 do que em qualquer século, pelo menos, nos
últimos 3 mil anos.

Recentemente, o novo relatório do Painel Inter- MUDANÇAS CLIMÁTICA


governamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC)
informou que a influência humana é inequívoca e Os fatores climáticos referem-se a certos elemen-
inquestionável, trazendo consequências potencial- tos que podem interferir e influenciar a dinâmica de
mente gravíssimas para os seres humanos e o planeta, um ou mais tipos de climas. Eles são, portanto, respon-
como a intensificação de tempestades, secas e ondas sáveis por moldar e transformar as condições climáti-
de calor extremo. O IPCC foi criado em 1988 pelo cas e meteorológicas de um determinado local.
19 O Acordo de Paris constitui o mais recente tratado internacional sobre as alterações climáticas, tendo sido adotado em 2015. Seu principal
objetivo é combater o aumento da temperatura terrestre provocado pelo aquecimento global, prevendo metas que visam à redução da emissão
de gases do efeito estufa. 349
Dentre os principais fatores climáticos, podemos O cerne da “doença holandesa” reside nas receitas
destacar: latitude, relevo, maritimidade e continenta- geradas pela produção dessas commodities, cujos cus-
lidade, correntes marítimas e massas de ar. tos são inferiores aos de produtos menos eficientes.
A latitude pode interferir no clima, de forma que a Isso desencadeia uma dinâmica complexa nos setores
posição de um local na superfície terrestre em relação econômicos de um país. Ela cria uma falha de mer-
à Linha do Equador está diretamente relacionada à cado que impacta negativamente os setores de bens
incidência solar. Nas zonas tropicais, os raios solares e serviços, impedindo o desenvolvimento desses seg-
incidem o ano todo de forma mais incisiva do que nos mentos (Bresser-Pereira; Marconi; Oreiro, 2009).
polos, onde a radiação é difusa e varia de acordo com Essa crise pode ser neutralizada por meio da admi-
as estações do ano. Essa distribuição de calor desigual nistração da taxa de câmbio. Caso não seja tratada, a
faz com que a região equatorial seja uma zona de baixa “doença holandesa” pode inviabilizar a industrialização
pressão, onde há a convergência de ventos e nuvens, de um país que ainda não se industrializou ou levar à
enquanto a latitude 30º é uma zona de alta pressão. A desindustrialização de um país que já tenha alcançado
relação entre pressão, ventos e latitude pode ser vista esse estágio (Bresser-Pereira; Marconi; Oreiro, 2009).
no funcionamento da circulação atmosférica. A sua manifestação no Brasil ocorre desde 2003,
Em relação ao relevo terrestre, quanto maior se tornando significativa com a apreciação da taxa
a altitude, mais a pressão diminui, o que torna o ar
de câmbio. A persistência do superávit comercial foi
mais rarefeito e faz com que ocorram menor irra-
mantida por algum tempo, até que o saldo começou a
diação e, por consequência, menores temperaturas.
declinar. Esse declínio está diretamente relacionado
Inversamente, em áreas de baixa latitude, a tempe-
ao aumento explosivo das importações, que passaram
ratura é maior. A cada 1000 metros de elevação, a
a desempenhar um papel crucial na economia brasi-
temperatura reduz-se aproximadamente 6,5ºC, mas
leira (Pereira; Marconi, 2008).
essa variação dependerá, também, de outros fatores,
como a latitude. O tipo de relevo influencia as brisas A abertura comercial e financeira promovida pelo
vale-montanha. Brasil desde os anos 1990, com a eliminação de meca-
A proximidade ou o afastamento das áreas oceâ- nismos de controle, foi uma resposta às pressões asso-
nicas, fenômenos da continentalidade e da mariti- ciadas à doença holandesa. Embora seja verdade que,
midade, ocorrem à medida que os oceanos recebem em países especializados em commodities, a doença
a luz solar e tornam-se depósitos de calor e grandes holandesa tenha impactos mais pronunciados, o Brasil
reguladores térmicos. Assim, quanto mais distante do não ficou imune aos efeitos colaterais. A intensificação
mar, mais a localidade terá variação de temperatura das importações, muitas vezes impulsionada pela valo-
(amplitude térmica) ao longo do ano. A maritimidade rização da moeda, teve implicações significativas na
influencia as brisas terrestres e marítimas. estrutura econômica do país (Pereira; Marconi, 2008).
As correntes marítimas são grandes massas de Um aspecto preocupante associado à doença
água dotadas de características térmicas. Correntes holandesa no Brasil é o fenômeno da desindustria-
quentes aumentam as temperaturas e favorecem lização. A ênfase excessiva nas exportações de com-
a convergência de ventos e, consequentemente, a modities, especialmente em momentos de apreciação
ocorrência de chuvas, ao passo que correntes frias cambial, pode prejudicar a competitividade de seto-
diminuem drasticamente os níveis de precipitação res industriais nacionais. A dependência contínua
e respondem pelas condições de semiaridez ou ari- das exportações de commodities, aliada a uma menor
dez da região. A formação de desertos está atrelada competitividade industrial, pode gerar desafios estru-
à influência de correntes frias, com latitude 30º. Por turais significativos, incluindo a perda de empregos
sua vez, as áreas mais úmidas, com os climas tropical no setor manufatureiro e a vulnerabilidade da econo-
e equatorial, sofrem influência da passagem de cor- mia a flutuações nos preços das commodities (Pereira;
rentes quentes. Marconi, 2008).
Por fim, cabe explicar que as massas de ar são
grandes áreas da atmosfera que apresentam carac- REFERÊNCIAS
terísticas próprias de temperatura e umidade e se
deslocam de áreas de maior pressão para outras de BRESSER-PEREIRA, L. C.; MARCONI, N.; OREIRO,
menor pressão. As características das massas de ar J. L. Globalização e Competição: Por que alguns
são obtidas por meio da região em que elas são for- países emergentes têm sucesso e outros não. 1ª ed.
madas, o que torna fundamental a compreensão da Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.
gênese de cada massa. O deslocamento dessas massas PEREIRA, L. C. B.; MARCONI, N. Existe doença
de ar, gerado com a diferença de pressão, influencia a holandesa no Brasil. In: FÓRUM DE ECONOMIA DA
dinâmica climática ao longo de sua rota. Ao se deslo- FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS, 4., 2008. Anais ele-
carem, as massas de ar sofrem a influência do meio e trônicos [...]. 2008. Disponível em: http://tinyurl.
perdem suas características originais de temperatura com/mt6vsvy6. Acesso em: 22 jan. 2024.
e umidade.
INDUSTRIALIZAÇÃO, INOVAÇÃO E
DOENÇA HOLANDESA COMPETITIVIDADE

A “doença holandesa” é um fenômeno econômi- A industrialização pode ser conceituada como o


co caracterizado pela apreciação crônica da taxa de processo de transição de uma economia predominante-
câmbio de um determinado país. Esse acontecimen- mente agrícola para uma base industrial mais robusta.
to é decorrente da exploração e exportação intensiva Esse fenômeno implica na expansão do setor
de recursos naturais abundantes e de baixo custo, industrial, incorporando tecnologias avançadas e pro-
notadamente commodities (Bresser-Pereira; Marconi; movendo a diversificação econômica.
350 Oreiro, 2009).
Em um país, a industrialização desempenha um papel A mudança na composição da matriz energética é
fundamental no estímulo ao crescimento econômico, uma impulsionada por dois motivos fundamentais. Em pri-
vez que não apenas impulsiona o avanço tecnológico, mas meiro lugar, a finitude do petróleo é um fator deter-
também adiciona valor aos produtos primários, aumen- minante, uma vez que sua exploração indiscriminada
tando a capacidade produtiva da nação e contribuindo inevitavelmente resultará em seu esgotamento. Em
para o crescimento do produto interno bruto (PIB). segundo lugar, a extensa dependência desse recurso
O processo de industrialização tem implicações na ocasionou impactos ambientais significativos, susci-
redução do desemprego e está associado a mudanças tando crescentes apreensões na sociedade contempo-
estruturais na economia, com uma maior ênfase em rânea acerca das mudanças climáticas e reforçando
setores de maior valor agregado. a necessidade premente de fontes energéticas mais
No contexto brasileiro, o longo processo de indus- sustentáveis (Santos, 2019).
trialização pode ser observado por meio da análise A transição em curso em direção a uma matriz
histórica da evolução econômica do Estado brasilei- energética renovada, orientada para fontes mais lim-
ro; proporciona importantes visões sobre os desafios pas e renováveis, representa um marco paradigmá-
e sucessos enfrentados pelo Brasil em sua jornada tico na evolução histórica do panorama energético
rumo à industrialização tal qual vemos hoje. global (Santos, 2019).
Nesse processo de mecanização e automação de
Entretanto, a transição energética em curso não
um país, o ato de inovar desempenha um papel cru-
está isenta de desafios. As novas fontes, como as ener-
cial, atuando como um motor propulsor para melho-
gias solar e eólica, são intrinsecamente intermitentes,
rar processos produtivos e produtos.
suscitando preocupações quanto à regularidade da
A introdução de novas tecnologias é fundamental na
produção de energia e à segurança no abastecimen-
transição de uma economia predominantemente agrí-
to. Nessa perspectiva, embora as circunstâncias da
cola para uma economia industrializada, impulsionan-
do métodos de produção mais eficientes e produtivos. transição ofereçam oportunidades, particularmente
A inovação se manifesta em diferentes domínios, no setor industrial, para a implementação de práticas
sendo notável no âmbito dos produtos. Isso ocorre por mais eficientes por meio do uso de tecnologias digitais
meio da introdução de novos produtos no mercado ou e processos de automação que resultam em economia
pela implementação de melhorias significativas em de energia, há também considerações importantes a
produtos já existentes. serem feitas (Santos, 2019).
Essas inovações não apenas atendem às demandas A redução da utilização das redes elétricas em ter-
do consumidor, mas também contribuem para a com- mos de volume de energia pode potencialmente elevar
petitividade global das indústrias. o custo unitário dessas redes. Esse aumento de custos
Não obstante, a inovação também se manifesta no pode afetar desproporcionalmente consumidores com
âmbito dos processos de produção. As melhorias nos menor capacidade de investimento, comprometendo a
métodos envolvidos nesses processos visam aumen- acessibilidade a serviços de energia (Santos, 2019).
tar a eficiência operacional, reduzir custos e otimizar Dessa forma, é imperativo considerar estratégias
a utilização de recursos. mitigadoras e políticas públicas que garantam uma
Isso não apenas resulta em uma produção mais transição equitativa e acessível para todas as camadas

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


eficiente, mas também pode ter impactos positivos no da sociedade, assegurando que os benefícios da tran-
meio ambiente, promovendo práticas mais sustentáveis. sição energética sejam distribuídos de maneira justa
(Santos, 2019).
REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS
HARBER, S. Lucratividade industrial e a Grande
Depressão no Brasil: evidências da indústria têxtil
de algodão. Estudos Econômicos, São Paulo, v. 21, SANTOS, F. M. Transição energética: enquadra-
n. 2, p. 241-270, 1991. Disponível em: https://www. mento e desafios. Revista Videre, Dourados, v.
revistas.usp.br/ee/article/view/158439. Acesso em: 11, n. 22, p. 143-153, jul./dez. 2019. Disponível em:
16 jan. 2024. https://ojs.ufgd.edu.br/index.php/videre/article/
view/11217. Acesso em: 23 jan. 2024.
TRANSIÇÃO DA MATRIZ ENERGÉTICA

Desde a Revolução Industrial, os combustíveis fós-


seis têm sido fundamentais para impulsionar as econo-
mias globais. O petróleo, em particular, desempenhou CONCEITOS FUNDAMENTAIS E
um papel central nesse cenário, emergindo como um PRINCÍPIOS DA ECONOMIA SOLIDÁRIA
dos recursos naturais mais cruciais (Santos, 2019).
Em comparação com outros combustíveis fósseis, A economia solidária é uma forma de organização
como carvão e gás natural, o petróleo se destaca por sua econômica baseada na cooperação, na autogestão, na
potência energética, facilidade de transporte, armaze- democracia e na solidariedade, que busca promover
namento e versatilidade na produção de diversos pro- o desenvolvimento sustentável, a inclusão social e a
dutos, além do simples combustível (Santos, 2019). cidadania. Ela se contrapõe à economia tradicional,
que privilegia a competição, a exploração, a acumula-
Contudo, não é um grande risco ditar o fim da “era
do petróleo”, tal como a conhecemos [...] é mais pro-
ção e a desigualdade.
vável que atualmente estejamos a viver uma tran- Esse tipo de economia engloba diversas inicia-
sição energética. [...] As fontes de energia existentes tivas de produção, distribuição, consumo e crédi-
estão a ser substituídas por outras formas de ener- to, que são realizadas por grupos de pessoas que se
gia, alterando totalmente o quadro energético glo- associam livremente, sem a mediação de patrões ou
bal. (Santos, 2019, p. 144) intermediários. 351
A economia solidária fundamenta-se em alguns Diferenças nas Formas de Decisão
princípios e valores, que orientam as relações entre
os participantes e com a sociedade. Os principais A economia tradicional é caracterizada por uma
princípios são autogestão, cooperação, solidariedade estrutura hierárquica e centralizada, em que as deci-
e sustentabilidade. Veremos detalhadamente cada um sões são tomadas pelos gestores ou administradores,
desses princípios a seguir: que representam os interesses dos donos das empre-
sas. Já a economia solidária é baseada na autogestão
z Autogestão: os trabalhadores participam ativamen- e na democracia, em que as decisões são tomadas
te das decisões sobre os objetivos, as estratégias, as coletivamente, por meio de assembleias ou conselhos,
normas e os resultados do empreendimento, sem em que todos têm voz e voto, e participam ativamen-
a subordinação a um chefe ou a uma hierarquia. te do planejamento, da execução e da avaliação das
Cada um tem voz e voto, e as decisões são tomadas atividades.
de forma coletiva e democrática;
z Cooperação: os trabalhadores atuam de forma Diferenças nas Avaliações de Desempenho
solidária e colaborativa, buscando o bem comum
e a harmonia do grupo. Eles compartilham os A economia tradicional utiliza indicadores finan-
recursos, os conhecimentos, as responsabilidades ceiros, como o retorno sobre o investimento (ROI),
e os benefícios do empreendimento, e se apoiam para medir o sucesso das empresas, que se resume
mutuamente nas dificuldades; ao lucro obtido. Já a economia solidária utiliza indica-
z Solidariedade: os trabalhadores se preocupam dores sociais, ambientais e culturais, além dos econô-
com o bem-estar de todos os envolvidos na cadeia micos, para avaliar o impacto das iniciativas, que se
produtiva, respeitando os direitos humanos, a reflete na melhoria das condições de vida das pessoas
diversidade, a justiça e a equidade. Eles também e do planeta.
se solidarizam com as causas sociais e ambientais, Essas são algumas das principais diferenças entre
contribuindo para a transformação da sociedade; economia solidária e economia tradicional, que
z Sustentabilidade: os trabalhadores buscam pre- demonstram a diversidade e a complexidade do cam-
servar o meio ambiente e os recursos naturais, uti- po da economia solidária, que é um movimento social
lizando-os de forma racional e responsável. Eles e político, que propõe uma nova forma de organiza-
também procuram garantir a sustentabilidade ção econômica, mais humana, justa e solidária.
econômica e social do empreendimento, gerando
renda, trabalho e qualidade de vida para os parti- HISTÓRIA E CONTEXTO DO SURGIMENTO DA
cipantes e para a comunidade. ECONOMIA SOLIDÁRIA

A economia solidária é um campo em constru- A origem histórica da economia solidária remonta


ção, que vem ganhando cada vez mais visibilidade e à Primeira Revolução Industrial, no século XIX, como
uma reação dos trabalhadores às consequências do
reconhecimento no Brasil e no mundo. Ela representa
crescimento desenfreado do capitalismo industrial.
uma alternativa viável e inovadora para enfrentar os
Nesse contexto, surgiram na Europa os chama-
problemas sociais e ambientais causados pelo modelo
dos socialistas utópicos, como Robert Owen, Charles
econômico dominante, e para construir uma socieda-
Fourier, Pierre Proudhon e Claude Saint-Simon, que
de mais justa, democrática e solidária.
propunham uma sociedade ideal, baseada na coope-
ração, na igualdade e na justiça. Eles também criaram
DIFERENÇAS ENTRE ECONOMIA SOLIDÁRIA E
as primeiras experiências de cooperativas, associa-
ECONOMIA TRADICIONAL
ções e comunidades, que buscavam garantir melhores
condições de trabalho e de vida para os trabalhadores,
Diferenças nas Entidades diante da exploração e da miséria provocadas pelo
sistema fabril.
A economia tradicional é composta por empresas
privadas, que são controladas por proprietários ou REFERÊNCIAS
acionistas, que detêm o capital e os meios de produ-
ção. Já a economia solidária é formada por diversas BITTENCOURT, T. Entendendo a economia solidá-
entidades, como cooperativas, associações, redes, ria. Nossa Causa, 2019. Disponível em: https://nos
bancos comunitários, feiras de economia solidária, sacausa.com/entendendo-a-economia-solidaria/.
entre outras, que são geridas pelos próprios trabalha- Acesso em: 23 jan. 2024.
dores, que se associam livremente, sem a mediação de ECONOMIA solidária no Brasil: contexto históri-
patrões ou intermediários. co, avanços e obstáculos. INCOP, 2020. Disponível
em: https://incop.ufop.br/news/economia-solid%
Diferenças nos Objetivos C3%A1ria-no-brasil-contexto-hist%C3%B3rico-a
van%C3%A7os-e-obst%C3%A1culos. Acesso em: 23
A economia tradicional tem como objetivo prin- jan. 2024.
cipal gerar lucros para os donos das empresas, que LEAL, K. S.; RODRIGUES, M. de S. Economia
são distribuídos de forma desigual, de acordo com a Solidária: Conceitos e Princípios Norteadores.
participação no capital. Já a economia solidária tem Humanidades & Inovação, v. 5, n. 11, p. 9-20.
como objetivo principal beneficiar a comunidade, 2018. Disponível em: https://revista.unitins.br/
por meio da geração de renda, trabalho e qualidade index.php/humanidadeseinovacao/article/down
de vida para os participantes e para a sociedade. Os load/844/774. Acesso em: 23 jan. 2024.
resultados são distribuídos de forma justa e solidária, OLIVEIRA, M. E. Os princípios da economia soli-
352 de acordo com o trabalho e a necessidade de cada um. dária. SEDEP, 2018. Disponível em: https://www.
sedep.com.br/artigos/os-principios-da-economia abrigam um conjunto de atividades de comercia-
-solidaria/. Acesso em: 23 jan. 2024. lização, de formação e assessoria técnica, incu-
SILVA, T. Dia Nacional da Economia Solidária: bação e de sua articulação local, realizados por
entenda o que é e como funciona. FinanceOne, instituições governamentais ou não governamen-
2020. Disponível em: https://financeone.com.br/ tais. Também envolve a capacitação e a atuação de
como-funciona-economia-solidaria-exemplos/. agentes de desenvolvimento local e economia soli-
Acesso em: 23 jan. 2024. dária, que são pessoas que atuam como facilitado-
res, articuladores e mobilizadores das iniciativas
de tal economia nas suas comunidades;
POLÍTICAS PÚBLICAS E APOIO À z Eixo 2 — Formação e assessoria técnica: envol-
ve a incubação de empreendimentos econômicos
ECONOMIA SOLIDÁRIA
solidários, que é um processo de apoio técnico,
gerencial, educacional e político, realizado por
A economia solidária é uma forma de organização
econômica baseada na autogestão, na cooperação e na instituições de ensino, pesquisa e extensão, que
solidariedade. Ela se contrapõe à economia capitalis- visa à criação, ao fortalecimento e à consolidação
ta, que é baseada na competição e na exploração do de empreendimentos solidários. Também envolve
trabalho. a assessoria técnica para esses empreendimen-
Políticas públicas são ações e programas que o tos, que é um serviço de orientação, capacitação
Estado realiza para atender às demandas e aos inte- e acompanhamento, realizado por entidades espe-
resses da sociedade, visando ao bem comum e à cializadas, que visa à melhoria da gestão, da pro-
melhoria da qualidade de vida. dução, da comercialização e da sustentabilidade;
Políticas públicas de apoio à economia solidária z Eixo 3 — Investimentos e finanças solidárias:
são aquelas que reconhecem, incentivam e fortalecem envolve o fomento às finanças solidárias, que são
as iniciativas de economia solidária, por meio de ins- formas de organização financeira baseadas na
trumentos legais, financeiros, técnicos, educacionais confiança, na cooperação e na participação, que
e participativos. Os objetivos das políticas públicas de visam à democratização do crédito e do finan-
apoio à economia solidária podem ser divididos em ciamento para os empreendimentos solidários.
três categorias: Alguns exemplos de finanças solidárias são: os
bancos comunitários de desenvolvimento, que são
z Objetivos sociais: promover a inclusão social e a organizações locais que oferecem serviços finan-
geração de emprego e renda para a população em ceiros adaptados às necessidades da comunidade,
situação de vulnerabilidade; como moedas sociais, microcrédito, fundos rota-
z Objetivos econômicos: fortalecer a economia tivos, entre outros; e o fundo solidário, que é um
solidária como uma alternativa ao modelo econô- instrumento de captação e aplicação de recursos,
mico capitalista; gerido de forma coletiva e democrática, que visa
z Objetivos ambientais: promover a sustentabili- à viabilização de projetos de interesse social e
dade ambiental e a redução dos impactos socioam- solidário;

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


bientais da atividade econômica. z Eixo 4 — Organização da comercialização soli-
dária: envolve a organização da comercialização
No Brasil, as políticas públicas de apoio à econo- de produtos e serviços da economia solidária, que
mia solidária tiveram início nos anos 1990, com algu- visa à ampliação e à qualificação dos canais e das
mas experiências municipais e estaduais, como as de estratégias de venda, distribuição e consumo dos
Porto Alegre, Belém, Santo André, Recife, São Paulo
empreendimentos solidários, de forma justa e soli-
e Rio Grande do Sul. Essas políticas foram fruto das
dária. Alguns exemplos de comercialização soli-
reivindicações dos movimentos sociais, que se orga-
dária são: as feiras de economia solidária, que são
nizaram em torno do Fórum Brasileiro de Economia
espaços de exposição e venda de produtos e servi-
Solidária (FBES), criado em 2001.
ços dos empreendimentos solidários, que também
promovem a divulgação e a sensibilização sobre
PROGRAMAS GOVERNAMENTAIS DE FOMENTO À
esse tipo de economia; e as redes de produção,
ECONOMIA SOLIDÁRIA
comercialização e consumo, que são formas de
articulação entre os empreendimentos solidários,
No Brasil, existem vários programas governamen-
tais de fomento à economia solidária, em diferentes que visam à integração, à cooperação e à comple-
níveis e setores do governo, que visam apoiar e forta- mentaridade das atividades econômicas, de forma
lecer as políticas públicas de economia solidária, em a potencializar os resultados e os benefícios para
articulação com os movimentos sociais e as entidades os participantes.
da sociedade civil.
Esses programas podem ser divididos em quatro Esses são alguns dos principais programas gover-
eixos de atuação, de acordo com a Secretaria Nacional namentais de fomento à economia solidária no Brasil,
de Economia Solidária (SENAES), que é o órgão res- que demonstram o compromisso e o reconhecimento
ponsável por coordenar as políticas públicas federais do Estado com essa forma de organização econômi-
de economia, sendo eles: ca, que representa uma alternativa viável e inovado-
ra para enfrentar os problemas sociais e ambientais
z Eixo 1 — Organização sociocomunitária: envol- causados pelo modelo econômico dominante, e para
ve a implantação, o apoio e a revitalização de espa- construir uma sociedade mais justa, democrática e
ços multifuncionais de economia solidária, como solidária.
os centros públicos e as casas desta economia, que 353
MECANISMOS DE FINANCIAMENTO E CRÉDITO trabalho e renda na perspectiva de reorganização
PARA EMPREENDIMENTOS SOLIDÁRIOS das economias locais, tendo por base os princípios
da economia solidária. Os BCD oferecem moedas
Mecanismos de financiamento e crédito para sociais, que são meios de troca emitidos e aceitos
empreendimentos solidários são aqueles que ofere- localmente, que estimulam o consumo e a produção
cem recursos financeiros, com condições facilitadas locais; microcrédito, que é um crédito de pequeno
e adequadas, para as iniciativas de economia solidá- valor, destinado aos empreendimentos solidários,
ria. Esses mecanismos se diferenciam dos tradicio- com juros baixos e sem burocracia; fundos rota-
nais, que são controlados por instituições financeiras tivos, que são recursos coletivos, que são empres-
privadas, que cobram juros altos, exigem garantias e tados e devolvidos pelos participantes, de forma a
burocracias, e não levam em conta as especificidades manter o capital circulando; entre outros serviços;
e as necessidades dos empreendimentos solidários. z Fundos solidários: são instrumentos de captação
Existem vários mecanismos de financiamento e e aplicação de recursos, geridos de forma coletiva
crédito para empreendimentos solidários, que podem e democrática, que visam à viabilização de proje-
ser divididos em duas categorias: os de origem públi- tos de interesse social e solidário. Os fundos solidá-
ca e os de origem solidária. rios podem ser de diferentes tipos, como os fundos
rotativos, os fundos de aval, os fundos de inves-
Origem Pública timento, os fundos de doação, entre outros. Eles
podem ser formados por recursos provenientes de
Os de origem pública são aqueles que envolvem diferentes fontes, como contribuições dos partici-
recursos públicos, provenientes de programas gover- pantes, doações, parcerias, entre outras. Os fundos
namentais, fundos públicos, agências de fomento, solidários apoiam os empreendimentos solidá-
bancos públicos, entre outros. São exemplos: rios, oferecendo crédito, financiamento, subsídio,
garantia, entre outros benefícios;
z Programa Nacional de Fortalecimento da Agri- z Cooperativas de crédito: são instituições finan-
cultura Familiar (Pronaf): é um programa do ceiras, que prestam serviços financeiros aos seus
governo federal, que oferece linhas de crédito associados, que são os próprios donos e usuários
especiais para os agricultores familiares, que são da cooperativa. As cooperativas de crédito ofe-
considerados empreendimentos solidários, com recem serviços como conta corrente, poupança,
juros baixos, prazos longos e carência. O Pronaf empréstimo, financiamento, cartão de crédito,
financia projetos de custeio e investimento, que entre outros, com taxas de juros mais baixas e
visam à produção de alimentos, à geração de ren- condições mais favoráveis do que as instituições
da e à melhoria da qualidade de vida no campo; financeiras tradicionais. As cooperativas de cré-
z Programa de Aquisição de Alimentos (PAA): é dito também promovem a educação financeira,
um programa do governo federal, que compra ali- a participação e a integração dos associados, e o
mentos produzidos pela agricultura familiar, com desenvolvimento local e regional.
dispensa de licitação, e os destina às pessoas em
situação de insegurança alimentar e nutricional, e Esses são alguns dos principais mecanismos de
à rede socioassistencial, aos equipamentos públi- financiamento e crédito para empreendimentos soli-
cos de alimentação e nutrição e às escolas públi- dários, que demonstram a diversidade e a importân-
cas e filantrópicas. O PAA estimula a produção e a cia desses instrumentos para o fortalecimento e a
comercialização dos empreendimentos solidários, sustentabilidade da economia solidária.
e contribui para a segurança alimentar e nutricio-
nal da população; REDES DE APOIO E PARCERIAS ENTRE ATORES
z Programa Nacional de Microcrédito Produtivo SOCIAIS
Orientado (PNMPO): é um programa do governo
federal que estimula a concessão de microcrédito As redes de apoio e parcerias entre atores sociais
para microempreendedores de baixa renda, que são formas de organização e articulação entre diferen-
atuam nos setores formal e informal da economia, tes sujeitos, grupos e instituições, que compartilham
por meio de instituições financeiras públicas e pri- objetivos, valores, interesses e recursos, visando à rea-
vadas. O PNMPO oferece crédito de pequeno valor, lização de ações conjuntas, que beneficiem os envolvi-
com taxas de juros limitadas, e acompanhamento dos e a sociedade em geral. Essas redes de apoio podem
e orientação aos empreendedores, visando à gera- ser de diferentes tipos, como redes primárias, socioco-
ção de trabalho e renda. munitárias, sociais, movimentalistas, setoriais públicas
ou redes de serviços privados, entre outras.
Origem Solidária Essas redes são importantes para o fortalecimento
da democracia, da cidadania, da participação, da coo-
Os de origem solidária são aqueles que envolvem peração, da solidariedade, da diversidade, da inclu-
recursos solidários, provenientes de redes, fundos, são, da sustentabilidade e da inovação social. Elas
cooperativas, bancos comunitários, entre outros, que também contribuem para a ampliação e a qualifica-
são geridos de forma coletiva e participativa pelos ção das políticas públicas, dos serviços e dos progra-
próprios empreendimentos solidários ou por entida- mas sociais, que atendem às demandas e aos direitos
des que os apoiam. da população, especialmente dos segmentos mais
vulneráveis e excluídos. Além disso, as redes de apoio
z Bancos comunitários de desenvolvimento (BCD): e parcerias entre atores sociais favorecem a troca
são organizações locais que oferecem serviços de experiências, de conhecimentos, de informações,
financeiros solidários, em rede, de natureza asso- de recursos e de aprendizagens, que enriquecem e
354 ciativa e comunitária, voltados para a geração de potencializam as ações e os resultados dos envolvidos.
REFERÊNCIAS
ATIVIDADE FINANCEIRA DO ESTADO
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rede de apoio social como mecanismo de proteção Arrecadação de receitas públicas
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LEAL, K. S.; RODRIGUES, M. S. Economia Solidária: Realização de despesas públicas
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Gerir recursos
& Inovação, v. 5, n. 11, p. 9-20. 2018. Disponível
Atividade típica do Estado de gestão orçamentária
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em: 23 jan. 2024. Por meio de créditos públicos e investimentos em ati-
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PRAXEDES, S. F. Políticas públicas de economia Memorize os conceitos apresentados por Aliomar
solidária: novas práticas, novas metodologias, Baleeiro, pois eles aparecem frequentemente nos con-
2009. cursos públicos.
SINGER, P. I.; SOUZA, A. R. A economia solidária A abrangência das Finanças Públicas (ou econo-
no Brasil: a autogestão como resposta ao desem- mia do setor público) corresponde à atuação política
prego, 2000. do Estado no setor econômico, utilizando-se de polí-
ticas fiscais, tributárias e monetárias como métodos
de intervenção estatal que objetivem compensar as
falhas do sistema de mercado.
Esse último conceito, compensar as falhas de
AS FUNÇÕES ECONÔMICAS DO mercado, é de extrema importância. Em um mundo
ESTADO: ALOCATIVA, DISTRIBUTIVA E utópico, a atuação do Estado poderia ser desnecessá-
ria, pois os agentes econômicos agiriam de forma efi-
ESTABILIZADORA caz para atingir a produção mais eficiente. Ocorre que
a prática destoa da teoria. A assimetria de informação
CONCEITO entre os agentes, as disparidades socioeconômicas, a
necessidade de proteção de determinados agentes e a
Segundo Carvalho (2014, p. 4) “O Estado é um ins- necessidade de fornecimento de uma estrutura jurídi-
trumento de organização política da sociedade e tem ca para garantir a segurança nas transações deman-
como objetivo atingir a plena satisfação das neces- dam a intervenção do Estado no sistema de mercado
sidades da população”. O Estado tem, portanto, a para o próprio funcionamento do sistema. Tal inter-
finalidade de atender o bem comum, que poderá ser venção é exercida por meio de três funções principais:
manifestado pelos serviços públicos prestados, pela a função alocativa, a distributiva e a estabilizadora.
intervenção no domínio econômico ou pelo exercício Falaremos sobre as falhas de mercado e sobre

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


do poder de polícia. cada uma das formas de intervenção do Estado nas
Os serviços públicos são representados, por exem- seções que seguem.
plo, pela segurança, saúde e educação. A intervenção
no domínio econômico ocorre quando o Estado, por FALHAS DE MERCADO
meio das normas indutoras, cria estímulos ou deses-
tímulos no comportamento dos agentes da sociedade. As falhas de mercado são eventos, situações ou
Ocorre também quando institui políticas públicas que contextos que criam barreiras para alcançar a eficiên-
objetivam distribuição de renda, controle da inflação, cia econômica. Segundo Paludo (2020, p. 27), “são fenô-
políticas monetárias etc. Por fim, o exercício do poder menos que impedem que a economia alcance o estágio
de polícia diz respeito ao uso de suas prerrogativas de welfare economics ou máximo Estado de Bem-Estar
para prevenção e correção de atos que atentem ao Social (ótimo de Pareto), através do livre mercado, sem
interesse coletivo (por exemplo, a aplicação de notifi- interferência do Governo. A atuação do Estado na eco-
cações e multas para infratores de trânsito ou o fecha- nomia ameniza as ‘falhas de mercado’ com vistas a
mento de comércios irregulares). melhorar o bem-estar da população.”
São exemplos comuns citados na doutrina, bem
Veja, contudo, que tais atividades do Estado pos-
como nos exames de concurso, os seguintes:
suem custos, sejam eles de pessoal, materiais e quais-
quer outros recursos. Dessa forma, o atendimento às
z Externalidades: resultados das ações dos indi-
demandas da sociedade, representada por tais ações
víduos na sociedade, que podem impactar o seu
estatais, depende da arrecadação e aplicação de recur-
bem-estar tanto positiva quanto negativamente
sos. Nesse sentido, afirma Paludo (2017) que a ativida-
(Mankiw, 2009). Por exemplo: o consumo de cigar-
de financeira é exercida pelo Estado visando ao bem ro é uma ação individual que resulta em externa-
comum da coletividade e está vinculada à arrecadação lidades negativas, porque a médio e longo prazo
de recursos destinados à concretização dos objetivos resulta em maiores custos para a coletividade, pois
fundamentais do país. Assim, a atividade financeira do onerará o sistema público de saúde. Já o aumento
Estado consiste em obter, criar, gerir e despender os no valor dos automóveis poderá resultar em exter-
recursos indispensáveis às necessidades dos cidadãos, nalidades positivas. Apesar de um ônus maior ao
cuja satisfação o Estado assumiu ou atribuiu a outras indivíduo, para a coletividade, isso poderá resultar
pessoas de direito público (Baleeiro, 2010). em melhoria do bem-estar, uma vez que a menor
Sintetizando as ideias de Baleeiro, temos o quadro quantidade de veículos em circulação significa a
a seguir: redução dos níveis de poluição do ar; 355
z Assimetria da informação: diferença nos níveis z Desenvolvimento, desemprego e inflação: o de-
de informações que cada agente econômico pos- senvolvimento econômico e social não é uniforme
sui no processo de tomada de decisão. Falhas de ao longo do território de um Estado. A concentra-
mercado surgem da assimetria da informação, ção de investimentos e a disparidade nos níveis de
pois alguns agentes econômicos possuem informa- desenvolvimento entre as diversas regiões é um
ção superior aos outros, seja quantitativa ou qua- desafio muito recorrente, principalmente nas eco-
litativa, o que interfere nas relações econômicas nomias emergentes (Paludo, 2020). Dessa forma, a
(Paludo, 2020). A assimetria da informação pode, atuação estatal é de extrema importância na redu-
inclusive, influenciar nas motivações de cada agen- ção dessas lacunas.
te na tomada de decisão ética (Nagai, 2019). Um
típico exemplo é o investimento em companhias
Vistas as principais falhas de mercado existentes,
com ações negociada na bolsa de valores. Trata-se
passamos a analisar a atuação estatal na tentativa de
de uma transação em que o acionista posiciona-
promover as devidas correções. Chamamos tais tenta-
-se em uma situação de desvantagem em relação
à companhia, pois, ainda que as demonstrações tivas de intervenção do Estado na economia.
financeiras da companhias estejam disponíveis,
existem informações estratégicas de desconheci- INTERVENÇÕES NO MERCADO E AS FUNÇÕES
mento desses acionistas, o que desequilibra a rela- ECONÔMICAS DO ESTADO
ção econômica dos agentes;
z Monopólios naturais: situação de mercado em que, O Governo intervém na economia para garantir
devido às condições naturais do próprio negócio, à dois objetivos principais: estabilidade e crescimento
escala do negócio, produto ou serviço, existe ape- econômico. Além disso, busca corrigir as falhas de
nas uma única empresa vendedora (Vasconcellos, mercado e as distorções citadas anteriormente, para
1998). São os exemplos do fornecimento de energia, promover a distribuição de renda, aumentar o nível
água, trechos de rodovias pedagiadas, entre outros; de emprego e o bem-estar da coletividade.
z Mercados incompletos: ocorrem quando um de- Tomaremos como exemplo as falhas de mercado
terminado bem ou serviço não é oferecido pela discutidas na seção anterior e pensaremos em como o
iniciativa privada, ainda que exista uma deman- Estado pode atuar para a correção:
da pela sociedade. Tal falha de mercado ocorre
em decorrência do desinteresse do ente privado z Externalidades: no caso das externalidades nega-
em investir no oferecimento desses bens e servi- tivas, o Estado poderá introduzir regulamenta-
ços por uma questão de risco, falta de recursos, ções, bem como ônus na forma de tributos, para
inviabilidade financeira ou incertezas no cenário desestimular um ato individual danoso para a
econômico (Vasconcellos, 1998). A produção e o coletividade. Por exemplo: no caso de uma política
fornecimento de determinadas vacinas e medica- antitabagista, aumentar o tributo sobre o cigarro e
mentos com baixa rentabilidade é um exemplo de restringir as áreas nas quais o consumo do cigarro
mercado incompleto. Ainda que exista a necessi- é permitido. No caso das externalidades positivas,
dade de fornecimento e a demanda da população é exatamente o contrário. O Estado poderá criar
acometida por uma enfermidade, o agente privado subsídios e incentivos fiscais para estimular atos
pode optar por não produzir a medicação, pois os individuais que melhorem o bem-estar social cole-
custos com pesquisa e desenvolvimento, quando
tivo. Exemplo: conceder benefícios tributários aos
comparados aos retornos obtidos na venda do fár-
veículos elétricos, que contribuirão para a redução
maco, podem não ser viáveis;
da poluição do ar;
z Bens públicos: diferem-se dos bens privados por
z Assimetria da informação: tomando como exem-
possuírem duas características essenciais – serem
plo o investimento em companhias com ações
não rivais e não exclusivos (Paludo, 2020). Isso
negociada na bolsa de valores, os agentes regula-
significa que, no caso dos bens públicos puros
dores representando o Estado poderão exigir das
(oferecidos diretamente pelo Estado), o seu uso
companhias abertas, por meios legais, um grau de
por um indivíduo não implica que um terceiro
não poderá acessar esse bem (não há rivalidade, divulgação das informações contábeis mais pro-
seu uso é coletivo). Da mesma forma, não há como fundo e detalhado, de forma a encurtar a lacuna
excluir ou privar um indivíduo de fazer o uso do da assimetria de informação entre empresa e in-
bem. É o caso da rua de seu bairro. Há, também, vestidores;
a categoria dos bens semipúblicos ou meritórios z Monopólios naturais: de forma a atender a de-
que “são oferecidos tanto pelo Estado como pelo manda e melhorar a competitividade natural de
mercado porque não possuem as características de um mercado, o Estado poderá atuar diretamen-
indivisibilidade e não exclusão” (Paludo, 2020, p. te nos segmentos nos quais há monopólio natural
27). O sistema de mercado só funciona adequada- ou poderá introduzir regulação específica criando
mente quando o princípio da “exclusão” no consu- maiores incentivos para a entrada de novos pla-
mo pode ser aplicado, ou seja, quando o consumo yers no mercado. Os formatos de parceria público-
por um indivíduo A de um bem específico signifi- -privada (PPPs) são outro exemplo da atuação do
ca que A tenha pago o preço do tal bem, enquan- Estado;
to B, que não pagou por esse bem, é excluído do z Mercados incompletos: muito semelhante à inter-
consumo do mesmo. Os bens públicos são consi- venção no caso de monopólios naturais, o Estado
derados falhas de mercado, pois são financiados pode desempenhar papel determinante, assumin-
pela coletividade, mas nem todos possuem acesso do as funções do agente privado e atuando direta-
a eles ou fazem uso deles. Ainda pior, há o dile- mente em setores sem a oferta adequada. Poderá,
ma do “carona” (freerider), que se refere aos não também, atuar como parceiro na divisão de riscos
pagadores que fazem uso dos bens públicos sem a e eventualmente servir de retaguarda financeira,
356 contrapartida; institucional, estrutural ou tecnológica;
z Bens públicos: como vimos, as falhas de merca-
do no caso dos bens públicos podem ter origem na ORÇAMENTO PÚBLICO E OS
má distribuição territorial ou no dilema dos caro- PARÂMETROS DA POLÍTICA FISCAL
nas. O Estado pode intervir promovendo a melhor
distribuição dos bens, por vezes, produzindo tais NO BRASIL
bens e adotando medidas preventivas e corretivas
para evitar a ação de caronas; PLANOS E PROGRAMAS
z Desenvolvimento, desemprego e inflação: a pro-
moção de políticas sociais, monetárias, cambiais e O orçamento público poderá contemplar diversas
fiscais possuem o fito de equalizar as diferenças espécies diferentes. Apesar disso, no Brasil, a partir da
regionais. Exemplos: concessão de benefícios fis- Constituição Federal, de 1988, é utilizado o orçamen-
cais para o desenvolvimento de novos negócios em to-programa, no qual se busca um planejamento de
áreas mais vulneráveis, disponibilização de sub- políticas públicas visando ao bem-estar social, tendo
sídios financeiros para grupos econômicos mais como base a organização financeira do Estado a par-
fragilizados, políticas públicas de distribuição de tir das alocações de recursos públicos dentro do orça-
renda, entre outros. mento público.
No entanto, existem outras formas de se planejar
um orçamento público. Inclusive, isso faz parte de
Compreender as funções do governo, agora que
uma evolução histórica até o presente momento.
vimos as falhas de mercado e as possíveis interven-
Neste ponto, vamos falar sobre cada espécie
ções, ficará mais simples. O Estado aloca bens, distri-
orçamentária.
bui renda e estabiliza a economia. Segundo Paludo
(2020), suas três funções clássicas são: Orçamento Tradicional ou Clássico

z Função alocativa: alocação de recursos pelo Esta- Essa técnica produz um orçamento público restri-
do para oferecer diretamente os bens e serviços to à previsão da receita e à autorização de despesas.
públicos, como segurança, educação, saúde, entre Por meio do orçamento tradicional ou clássico, não
outros, ou criação de condições favoráveis para existe uma preocupação em atender às necessidades
a oferta de tais bens e serviços. Por exemplo: no da coletividade, não sendo estabelecidos os objetivos
caso dos grandes investimentos em infraestrutura econômicos e sociais que motivaram sua elaboração.
(de portos, aeroportos, rodovias), o governo pode A doutrina afirma que se trata de uma mera peça
participar como parceiro do ente privado (lem- contábil e financeira, exatamente porque não bus-
bra-se das PPPs?). A função alocativa pode ocorrer ca um planejamento de médio ou longo prazo, mas
também quando o Estado intervém para quebrar apenas a cobertura dos gastos, sendo este o seu foco
monopólios e oligopólios e minimizar ou eliminar primordial.
o efeito de externalidades; Nesse modelo de orçamento, há uma preocupação
z Função distributiva: o principal objetivo desta com o controle contábil do gasto por meio do excessi-
função é promover uma sociedade menos desi- vo detalhamento da despesa.
Além disso, há uma outra característica interes-

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


gual por meio da distribuição de renda da socie-
dade. Para a conquista deste objetivo, o orçamento sante dessa técnica orçamentária, que é o seu viés
público é de extrema importância, pois, por meio incremental, por meio do qual se introduzem peque-
desse instrumento de finanças públicas, ocorre nos ajustes nas receitas e despesas durante a execu-
a arrecadação tributária e as transferências de ção orçamentária.
recursos aos entes da federação. O governo arreca- Desse modo, a descentralização e distribuição dos
da os tributos da população e pode redistribui-los recursos financeiros entre as unidades orçamentárias
na forma de assistência social, saúde (por meio do são realizadas com base nos gastos de exercícios ante-
SUS), educação básica, entre outros; riores, e não em função do programa de trabalho que
z Função estabilizadora: também é encontrada pretendem realizar.
como função anticíclica. Busca equilibrar o nível
Orçamento de Desempenho ou de Realizações
geral de preços, nível de emprego, controle da moe-
da e crescimento econômico por meio das diversas Com a evolução do orçamento tradicional, o Esta-
políticas econômico-financeiras, como as políticas do passou a utilizar o orçamento de desempenho,
monetária, cambial e fiscal. “A função estabilizado- mirando seu foco em duas perspectivas: a primeira,
ra visa assegurar a estabilidade econômica, política no “objeto” do gasto, mesmo que de forma secundá-
e social” (Paludo, 2020, p. 29). ria; a segunda, no “objetivo” do gasto, ou seja, há a
preocupação com a qualidade da destinação dos gas-
As funções de governo não ocorrem de forma iso- tos públicos, por meio de um programa de trabalho.
lada ou independente. Na realidade (e é o que mais Apesar disso tudo, o Estado ainda estava des-
comumente acontece na prática), as funções ocorrem vinculado de um programa social de bem-estar da
de forma interligada e articulada e uma mesma ação coletividade.
pode percorrer mais de uma função de governo.
Atente-se a este tema, pois sem dúvida as três fun- Orçamento Base-Zero
ções destacadas acima (funções do governo ou do
orçamento) representam a maioria das questões tra- Esse tipo de orçamento estabelece a necessidade
tando do papel do Estado e a atuação do governo nas de realizar sempre um novo planejamento, analisan-
finanças públicas. Você deverá saber diferenciar cada do e revisando todas as despesas propostas, dentro
uma das funções não só nas definições teóricas, mas de uma relação custo/benefício, devendo se justificar
aplicado-as a casos práticos. cada atividade desenvolvida. 357
Desse modo, não basta distribuir os recursos para Orçamento Participativo
cada unidade orçamentária com base no gasto reali-
zado no exercício passado. De modo diferente, as refe- Os orçamentos públicos, geralmente, são criados
ridas unidades orçamentárias deverão realizar uma pelos representantes eleitos, no Legislativo e Executi-
pesquisa de quanto será necessário gastar no exercí- vo, o que faz parte de uma democracia representativa.
cio pretendido, partindo do zero. O orçamento participativo, ao contrário, é criado
Por exemplo, o valor gasto com combustível no diretamente pela própria população envolvida, que
exercício anterior não serve como base para esse tipo participa do seu processo decisório, que pode ocor-
de orçamento, mas, sim, indica que deverá ser reali- rer mediante instrumentos a serem criados, bem
zado um estudo sobre todos os automóveis, suas res- como por meio das lideranças da sociedade civil ou
pectivas motorizações e média de consumos diário, de audiências públicas ou, ainda, por qualquer outra
semanal e mensal, para, só então, se chegar ao valor forma de consulta direta à população.
que deverá ser utilizado. No Brasil, alguns municípios fazem uso dessa espé-
Esse tipo de orçamento prejudica um planejamen- cie orçamentária. No entanto, no orçamento da União
to de longo prazo, uma vez que sua confecção é mui- federal, apesar da realização de audiências públicas
to demorada. Porém, o lado bom é que não há gasto para a confecção do orçamento, não há muita flexibili-
excessivo, tendo em vista que o valor computado será dade para o direcionamento das ações governamentais,
aquele exatamente utilizado. tendo em vista a quantidade de despesas obrigatórias.

SISTEMA DE ORÇAMENTAÇÃO
Importante! A Constituição Federal fixou uma organização
O incremento citado no orçamento tradicional ou geral para o processo orçamentário baseada em uma
clássico acompanhou todas as espécies orçamen- hierarquia de três leis ordinárias: a Lei do Plano Plu-
tárias, exceto o orçamento base-zero. Para relem- rianual (PPA), a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO)
brar, por meio da técnica incremental se utiliza o e a Lei Orçamentária Anual (LOA).
valor gasto no exercício anterior para que seja rea- Seguem os incisos, do art. 165, da Constituição
Federal, no sentido do que se expôs:
lizado o planejamento do novo exercício, com ajus-
tes marginais no curso da execução do orçamento. Art. 165 Leis de iniciativa do Poder Executivo
estabelecerão:
I - o plano plurianual;
Orçamento-Programa II - as diretrizes orçamentárias;
III - os orçamentos anuais.
Trata-se de espécie orçamentária baseada em
planejamento de médio e longo prazos, enfatizando Plano Plurianual
os objetivos e o alcance de determinados resultados
pretendidos. O PPA é o instrumento mais abrangente de todos
Desse modo, por exemplo, os recursos financeiros eles, com duração de quatro anos, e tem como função
são utilizados para reduzir o analfabetismo ou para principal fixar diretrizes, objetivos e metas para as des-
melhorar os índices de mortalidade infantil ou de vio- pesas de capital (ou seja, os investimentos públicos) e
lência urbana, tudo por meio da melhor alocação dos para as despesas de duração continuada (aquelas que
gastos públicos. perduram por dois exercícios financeiros ou mais).
Essa espécie orçamentária foi introduzida nos O conceito do PPA é fornecido pelo § 1º, art. 165, da
EUA, no final da década de 1950 do século XX, sob a Constituição Federal:
denominação de PPBS (Planning, Programming, Bud- Art. 165 [...]
geting System — ou Sistema de Planejamento, Progra- § 1º A lei que instituir o plano plurianual estabele-
mação e Orçamentação). cerá, de forma regionalizada, as diretrizes, objeti-
No Brasil, ele começou a ser utilizado por força da vos e metas da administração pública federal para
Lei nº 4.320, de 1964, e do Decreto-Lei (DL) nº 200, de as despesas de capital e outras delas decorrentes
1967, que estabelecem em seus dispositivos a utiliza- e para as relativas aos programas de duração
ção do orçamento-programa. continuada.

Art. 2º (Lei nº 4.320, de 1964) A Lei do Orçamen- Sua duração é de quatro anos, porém não coinci-
to conterá a discriminação da receita e despesa de de com os quatro anos de mandato. Assim, o primeiro
forma a evidenciar a política econômica finan- ano de mandato será o último do PPA. Por exemplo, o
ceira e o programa de trabalho do Governo, governante federal eleito em 2022 toma possa e tem o
obedecidos os princípios de unidade universalidade primeiro ano de mandato em 2023, porém ainda está
e anualidade. atrelado ao PPA 2020/2023, e assim será com todos os
mandatários eleitos.
Art. 16 (DL nº 200, de 1967) Em cada ano, será O Manual Técnico de Orçamento considera o PPA
elaborado um orçamento-programa, que porme- como planejamento de médio prazo, tendo em vista
norizará a etapa do programa plurianual a ser rea- sua vigência por quatro anos.
lizada no exercício seguinte e que servirá de roteiro Além disso, determina o § 4º, do art. 165, do Tex-
à execução coordenada do programa anual. to Constitucional, que os planos de desenvolvimen-
to deverão ser elaborados de acordo com a previsão
Desse modo, o orçamento passou a ser um ins- do PPA. Por exemplo, o Plano Nacional de Educação
trumento de operacionalização das ações governa- deverá estar em consonância com o PPA vigente.
mentais, relacionando-se com os planos e diretrizes
358 formuladas no planejamento.
Art. 165 [...] estabelecidas metas anuais, em valores correntes
§ 4º Os planos e programas nacionais, regionais e constantes, relativas a receitas, despesas, resul-
e setoriais previstos nesta Constituição serão ela- tados nominal e primário e montante da dívida
borados em consonância com o plano plurianual e pública, para o exercício a que se referirem e para
apreciados pelo Congresso Nacional. os dois seguintes.

Já o conceito de caráter continuado, previsto no § Lei Orçamentária Anual


1º, art. 165, da Constituição, é fornecido pelo art. 17,
da Lei Complementar (LC) nº 101, de 2000 (Lei de Res- A Lei Orçamentária Anual também possui valida-
ponsabilidade Fiscal). de de um ano, sendo o orçamento propriamente dito.
Art. 17 Considera-se obrigatória de caráter conti- A LOA é subordinada ao PPA e à LDO, portanto não
nuado a despesa corrente derivada de lei, medida pode conter dispositivos que os contrariem. Quando
provisória ou ato administrativo normativo que isso ocorrer, o PPA e a LDO, nesta ordem, prevalecem.
fixem para o ente a obrigação legal de sua execução O conceito fornecido pela doutrina para a LOA é
por um período superior a dois exercícios. que ela se trata de uma lei por meio da qual será esti-
[...] mada a receita pública e fixada a despesa para um
determinado exercício financeiro.
Todo investimento que dure mais do que um exer- Trata-se de lei ordinária formal de caráter autori-
cício financeiro deverá constar no PPA, conforme zativo, ou seja, que apenas dá o consentimento para
previsão expressa no § 1º, art. 167, da Constituição que o agente público realize o determinado gasto pre-
Federal, e no § 5º, art. 5º, da Lei de Responsabilidade visto na norma.
Fiscal (LC nº 101, de 2000). Além disso, é uma lei de iniciativa do chefe do
Art. 167 [...] Executivo, ou seja, é aprovada pelo Legislativo. No
§ 1º Nenhum investimento cuja execução ultra- entanto, quem coloca o projeto para ser votado é o
passe um exercício financeiro poderá ser iniciado presidente da República, no caso do orçamento fede-
sem prévia inclusão no plano plurianual, ou sem ral. Nos estados e municípios, os orçamentos são apro-
lei que autorize a inclusão, sob pena de crime de vados pelos respectivos Legislativos, com iniciativa de
responsabilidade. cada chefe do Executivo (governador e prefeito).
Estimar receita significa fazer um cálculo aproxi-
Art. 5º [...] mado daquilo que se pretende arrecadar, não existindo
§ 5º A lei orçamentária não consignará dota- possibilidade de fazer a conta exata, tendo em vista pos-
ção para investimento com duração superior a sibilidades de ganhos impossíveis de se prever, como,
um exercício financeiro que não esteja previsto por exemplo, imposição de multa por infração adminis-
no plano plurianual ou em lei que autorize a sua
trativa ou o recebimento de valores em doação etc.
inclusão, conforme disposto no § 1º do art. 167 da
No entanto, a despesa deverá ser fixada, isto é,
Constituição.
somente poderá ser gasto aquele exato valor previs-
Lei de Diretrizes Orçamentárias to no orçamento. Como o orçamento é autorizativo,
entende-se que apenas aquele determinado gasto

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


A LDO, por sua vez, tem validade de um ano e é estará autorizado para ser efetivado.
subordinada ao PPA, e não pode conter dispositivos O exercício financeiro é fornecido pelo art. 34, da
estranhos a ele. Nesse sentido, havendo conflito entre Lei nº 4.320, de 1964, que coincide com o ano civil, ou
as duas leis, prevalece o que estiver disposto no PPA. seja, de 1º de janeiro até o último dia de dezembro:
A função primordial da LDO é fixar os parâmetros
gerais para orientação do orçamento do ano seguinte, Art. 34 (Lei nº 4.320, de 1964) O exercício financei-
estabelecendo suas metas e prioridades. ro coincidirá com o ano civil.
Assim, por exemplo, no ano de 2022, aprovou-se a
O § 5º, art. 165, da Constituição Federal, estabelece
LDO que estabelece as diretrizes para a elaboração do
o que compreenderá a Lei Orçamentária Anual:
orçamento de 2023.
O § 2º, do art. 165, da Constituição Federal, dá o Art. 165 [...]
conceito de LDO: § 5º A lei orçamentária anual compreenderá:
I - o orçamento fiscal referente aos Poderes da
Art. 165 [...]
União, seus fundos, órgãos e entidades da adminis-
§ 2º A lei de diretrizes orçamentárias compreende-
tração direta e indireta, inclusive fundações insti-
rá as metas e prioridades da administração pública
tuídas e mantidas pelo Poder Público;
federal, estabelecerá as diretrizes de política fiscal
II - o orçamento de investimento das empresas
e respectivas metas, em consonância com trajetória
em que a União, direta ou indiretamente, detenha a
sustentável da dívida pública, orientará a elabora-
maioria do capital social com direito a voto;
ção da lei orçamentária anual, disporá sobre as
alterações na legislação tributária e estabelecerá a III - o orçamento da seguridade social, abran-
política de aplicação das agências financeiras ofi- gendo todas as entidades e órgãos a ela vinculados,
ciais de fomento. da administração direta ou indireta, bem como
os fundos e fundações instituídos e mantidos pelo
A Lei de Responsabilidade Fiscal (LC nº 101, de 2000) Poder Público.
estabelece que o anexo de metas fiscais deverá estar
integrado à LDO, nele contendo o que se estabelece: Além disso, o § 6º do mesmo dispositivo constitu-
cional estabelece que a LOA deverá estar acompanha-
Art. 4º [...] da de demonstrativos das renúncias de receitas:
§ 1º Integrará o projeto de lei de diretrizes orça-
mentárias Anexo de Metas Fiscais, em que serão 359
Art. 165 [...]
§ 6º O projeto de lei orçamentária será acompanhado de demonstrativo regionalizado do efeito, sobre as receitas
e despesas, decorrente de isenções, anistias, remissões, subsídios e benefícios de natureza financeira, tributária e
creditícia.

A redução das desigualdades sociais é função dos orçamentos fiscal e de investimento das empresas:

Art. 165 [...]


§ 7º Os orçamentos previstos no § 5º, I e II, deste artigo, compatibilizados com o plano plurianual, terão entre suas
funções a de reduzir desigualdades inter-regionais, segundo critério populacional.

O § 3º determina a publicação da execução orçamentária, por parte do Poder Executivo, porém referente a
todos os demais Poderes, ao ministério público e à defensoria pública.

Art. 165 [...]


§ 3º O Poder Executivo publicará, até trinta dias após o encerramento de cada bimestre, relatório resumido da exe-
cução orçamentária.

PROCESSO DE ORÇAMENTAÇÃO

Trata-se do processo por meio do qual o orçamento será elaborado, votado, executado e avaliado, compondo
as quatro fases do que se denomina ciclo orçamentário.

Elaboração

Cabe ao chefe do Executivo enviar projeto de lei orçamentária ao Legislativo, conforme previsto no caput, do
art. 165, que diz que “Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão: o plano plurianual, as diretrizes orçamen-
tárias e os orçamentos anuais”.
Existem prazos para que esses respectivos projetos sejam encaminhados ao Legislativo e, após, devolvidos ao
Executivo para sanção — aspecto constante no § 2º, art. 35, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias:

Art. 35 [...]
§ 2º [...]
I - o projeto do plano plurianual, para vigência até o final do primeiro exercício financeiro do mandato presidencial
subsequente, será encaminhado até quatro meses antes do encerramento do primeiro exercício financeiro e devolvi-
do para sanção até o encerramento da sessão legislativa;
II - o projeto de lei de diretrizes orçamentárias será encaminhado até oito meses e meio antes do encerramento do
exercício financeiro e devolvido para sanção até o encerramento do primeiro período da sessão legislativa;
III - o projeto de lei orçamentária da União será encaminhado até quatro meses antes do encerramento do exercício
financeiro e devolvido para sanção até o encerramento da sessão legislativa.

Por sua vez, a sessão legislativa é prevista no art. 57, da Constituição Federal — de 2 de fevereiro até 22 de
dezembro.
A sessão é dividida em dois períodos legislativos. O primeiro período é de 2 de fevereiro até 17 de julho; e o
segundo, de 1º de agosto até 22 de dezembro.

Art. 57 (CF, de 1988) O Congresso Nacional reunir-se-á, anualmente, na Capital Federal, de 2 de fevereiro a 17 de
julho e de 1º de agosto a 22 de dezembro.
[...]

De uma forma mais organizada para se compreender os prazos de envio e devolução dos instrumentos de
planejamento, veja a tabela a seguir:

PPA LDO LOA

� Envio: até oito meses e meio antes


� Envio: até quatro meses antes do � Envio: até quatro meses antes do
do encerramento do exercício finan-
encerramento do exercício financeiro encerramento do exercício financeiro
ceiro (15/4)
(31/8) (31/8)
� Devolução: até o encerramento do
� Devolução: até o encerramento da � Devolução: até o encerramento da
primeiro período da sessão legislati-
sessão legislativa (22/12) sessão legislativa (22/12)
va (17/7)

Atenção! Observe o art. 32, da Lei nº 4.320, de 1965, e o item 1, do art. 10, da Lei nº 1.079, de 1950:

Art. 32 [...] Se não receber a proposta orçamentária no prazo fixado nas Constituições ou nas Leis Orgânicas dos
Municípios, o Poder Legislativo considerará como proposta a Lei de Orçamento vigente.
360
Art. 10 São crimes de responsabilidade contra a lei GESTÃO DA QUALIDADE E MODELO DE EXCELÊNCIA
orçamentária: GERENCIAL: MODELO DA FUNDAÇÃO NACIONAL
1) Não apresentar ao Congresso Nacional a propos- DA QUALIDADE; MODELO DE GESPÚBLICA
ta do orçamento da República dentro dos primeiros
dois meses de cada sessão legislativa. Nas últimas décadas, a qualidade tornou-se um
[...] requisito essencial para as sociedades que disputam
no mercado cada vez mais competitivo.
A busca pela qualidade é fundada no cliente (usuá-
Importante! rio) como destinatário final do produto ou serviço.
Caso o orçamento do ano subsequente não Dessa forma, a procura é sempre intensa no sentido
de desenvolver algo que atenda às necessidades desse
seja aprovado no prazo legal, a programação
referido cliente. Assim, o melhor atendimento é sem-
orçamentária do projeto de lei orçamentária
pre aquele que tenha a maior qualidade.
pendente de aprovação poderá ser executada
A gestão da qualidade compreende ações execu-
mensalmente até o limite de 1/12 do total de tadas nas organizações visando à melhoria da quali-
cada dotação, até que seja promulgada a respec- dade dos produtos e serviços e, consequentemente, à
tiva lei orçamentária. satisfação das exigências do consumidor.
Assim, a busca pela qualidade envolve toda uma
descentralização e um processo definido, com a par-
Votação
ticipação de todos os integrantes da organização.
Deverá existir uma reorientação gerencial, que é,
A votação dos projetos no Congresso Nacional basicamente, focada no trabalho em equipe, na busca
seguirá, inicialmente, uma comissão mista perma- de dados e na diminuição de falhas, tudo orientado
nente, que também é chamada comissão mista de para a satisfação do usuário.
orçamento. A Fundação Nacional da Qualidade é a entida-
É mista porque se compõe de deputados e de sena- de responsável pelo Modelo de Excelência e Ges-
dores, não apenas de um deles. tão (MEG), que traz a metodologia para busca da
Após a aprovação na comissão mista permanen- qualidade.
te, o projeto segue para votação em plenário. Neste O novo Modelo de Excelência da Gestão está na 21ª
ponto, é importante frisar que o Congresso Nacional edição (MEG21), no sentido de estimular e apoiar as
é composto por duas casas legislativas (Câmara dos organizações no desenvolvimento e na evolução de
Deputados e Senado Federal). No entanto, para vota- sua gestão pela qualidade.
ção do orçamento, o Congresso funcionará como se Trata-se de modelo referencial adotado pelas orga-
fosse apenas uma única casa, de maneira unicameral, nizações, concentrado no planejamento, na realização
unindo deputados e senadores num único plenário, de atividades que geram valor, na medição dos resul-
na forma do regimento comum, conforme o art. 166, tados e na busca de melhorias, tanto corretivas quan-
do Texto Constitucional. to preventivas. A rigor, significa planejar, executar,
Após a aprovação, o projeto segue para sanção do verificar e aprender.

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


chefe do Executivo. Assim, é importante compreender que toda socie-
dade é entendida como um organismo vivo e que
Art. 166 Os projetos de lei relativos ao plano plu-
gera valor não apenas para o usuário final, mas, tam-
rianual, às diretrizes orçamentárias, ao orçamento
bém, para os integrantes desse sistema. Dessa forma,
anual e aos créditos adicionais serão apreciados
melhora na capacidade de aprendizado e correção
pelas duas Casas do Congresso Nacional, na forma
do regimento comum.
de metas, adaptando-se às exigências do mercado de
maneira cada vez mais rápida.
Execução
PARÂMETROS DA POLÍTICA FISCAL NO BRASIL
É a utilização dos créditos consignados no orça-
mento, visando à realização das ações atribuídas às Política fiscal é o conjunto de medidas que o gover-
unidades orçamentárias. Compreende o exercício no toma para administrar e controlar seu orçamen-
financeiro, ou seja, de 1º de janeiro até 31 de dezembro. to, além de equilibrar suas despesas e receitas. Essas
medidas colaboram para o desenvolvimento econô-
Avaliação mico de um país de forma sustentável. A política fiscal
pode ser de diferentes tipos, como expansionista, con-
Compreende a avaliação do cumprimento das
tracionista ou neutra, dependendo do objetivo que se
metas previstas no PPA e da execução dos programas
quer alcançar na economia.
de governo e do orçamento.
Os parâmetros da política fiscal no Brasil são as
O art. 70, da Constituição Federal, destaca as fisca-
regras e os limites que orientam a gestão das finan-
lizações exercidas na avaliação dos instrumentos de
ças públicas, visando à responsabilidade fiscal, à
planejamento: transparência, à eficiência e à sustentabilidade. Esses
Art. 70 (CF, de 1988) A fiscalização contábil, finan- parâmetros estão definidos em diversas leis e normas,
ceira, orçamentária, operacional e patrimonial da como a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), a Lei de
União e das entidades da administração direta e Diretrizes Orçamentárias (LDO), a Lei Orçamentária
indireta, quanto à legalidade, legitimidade, econo- Anual (LOA), o Plano Plurianual (PPA), entre outras.
micidade, aplicação das subvenções e renúncia de Alguns dos principais parâmetros da política fiscal
receitas, será exercida pelo Congresso Nacional, no Brasil são:
mediante controle externo, e pelo sistema de con-
trole interno de cada Poder. 361
Resultado Primário

Diferença entre as receitas e as despesas do governo, excluindo os juros da dívida pública. O resultado primá-
rio pode ser superavitário (quando as receitas são maiores que as despesas) ou deficitário (quando as receitas são
menores que as despesas).
A LRF estabelece metas anuais de resultado primário para o governo federal, os estados, o Distrito Federal e os
municípios, que devem ser cumpridas para garantir a solvência das contas públicas.

Resultado Nominal

É o resultado primário acrescido dos juros da dívida pública. O resultado nominal pode ser superavitário
(quando o resultado primário é maior que os juros) ou deficitário (quando o resultado primário é menor que os
juros).
O resultado nominal afeta o estoque da dívida pública, que é o total de obrigações financeiras do governo.
A LRF determina que o governo federal deve divulgar mensalmente o resultado nominal e o estoque da dívida
pública.

Regra de Ouro

Norma constitucional que proíbe o governo de contrair dívidas para financiar despesas correntes, como salá-
rios, aposentadorias, benefícios sociais, entre outras. A regra de ouro visa evitar o endividamento excessivo do
governo e preservar a capacidade de investimento em obras e serviços públicos. Ela só pode ser excepcionalmen-
te descumprida mediante a autorização do Congresso Nacional, que deve aprovar um crédito suplementar ou
especial.

Teto de Gastos

Norma constitucional que limita o crescimento das despesas primárias do governo federal à variação da infla-
ção do ano anterior. Visa conter o aumento dos gastos públicos e contribuir para o equilíbrio fiscal e a redução
da dívida pública.
O teto de gastos foi instituído pela Emenda Constitucional nº 95, de 2016, e tem validade de 20 anos, podendo
ser revisto a partir do décimo ano.

REFERÊNCIAS

SOBRE política fiscal. Gov.br, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/tesouronacional/pt-br/estatis ticas-fis-


cais-e-planejamento/sobre-politica-fiscal. Acesso em 24 jan. 2024.

RESPONSABILIDADE FISCAL E REGRAS FISCAIS


A Lei Complementar (LC) nº 101, de 2000, dispõe sobre as normas de finanças públicas voltadas para a respon-
sabilidade na gestão fiscal, sempre amparada ao Título VI, do Capítulo II, da Constituição, que versa exatamente
sobre as finanças públicas.
Também conhecida como Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), visa implantar um modelo de gestão do setor
público com vistas a fortalecer o controle centralizado das dotações orçamentárias, uma vez que se estabelecem
limites totais de gasto e limites específicos para algumas despesas. Ademais, a LRF vincula o Plano Plurianual
(PPA), a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a Lei Orçamentária Anual (LOA), de forma que haja um meca-
nismo de planejamento integrado de longo, médio e curto prazo, objetivando garantir que a fase da execução não
se desvie do planejamento inicial. Por fim, a LRF procura fortalecer os instrumentos de avaliação e controle da
ação governamental.

LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁ-


PLANO PLURIANUAL (PPA) LEI ORÇAMENTÁRIA ANUAL (LOA)
RIAS (LDO)

� Consiste em regras para elaborar � Estima as receitas e programa as


� Define estratégias, diretrizes e
e executar o orçamento do próximo despesas de cada ano, com base
metas da administração pública para
ano nas prioridades do PPA e regras da
o período de quatro anos
� Define as prioridades e metas LDO

362 Em suma, a LRF apoia-se em quatro pilares: planejamento, transparência, controle e responsabilização.
Destaca-se que essa norma se aplica em todas as
esferas e poderes, ou seja, é aplicável à União, aos
estados, ao Distrito Federal e aos municípios, abran-
gendo os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.

LRF PREMISSAS BÁSICAS DA LEI DE


RESPONSABILIDADE FISCAL

Responsabilização
Não ter crédito orçamentário com finalidade impreci-

Transparência
Planejamento

sa ou com dotação ilimitada

Controle
Não fazer investimento que não conste no Plano
Plurianual

Não criar ou aumentar despesas sem que haja recur-


so para seu custeio

Não deixar de arrecadar tributos de sua competência


Suas disposições abrangem a União, os estados,
o Distrito Federal e os municípios, compreendendo Não aumentar despesa com pessoal nos últimos seis
o Executivo, o Legislativo, neste abrangidos os Tri- meses de mandato
bunais de Contas, o Judiciário e o Ministério Públi- Não aumentar despesas com a seguridade social
co, bem como as respectivas administrações diretas sem que haja fonte de custeio
e indiretas, sejam fundos, autarquias, fundações ou
empresas estatais dependentes. Não utilizar recurso recebido por transferências para
Importante relembrar que o material é composto finalidade diversa da qual foi pactuada
apenas pelos principais artigos e com maior incidên- Não realizar antecipação de receita orçamentária
cia na prova, por isso, é fundamental que seja feita a sem que tenha liquidado a anterior
leitura da “lei seca” como forma de revisão.
Não utilizar receita de alienação de bens para finan-
Art. 1º Esta Lei Complementar estabelece normas ciamento de despesa corrente
de finanças públicas voltadas para a responsabili-
dade na gestão fiscal, com amparo no Capítulo II do Nota-se que o § 1º, art. 1º, da LRF, ao afirmar que
Título VI da Constituição. “a responsabilidade na gestão fiscal pressupõe a ação
§ 1º A responsabilidade na gestão fiscal pressupõe a planejada e transparente”, explicita a importância do
ação planejada e transparente, em que se previnem planejamento para uma gestão fiscal eficiente e res-
riscos e corrigem desvios capazes de afetar o equilí- ponsável, uma vez que, com o planejamento, é possí-
brio das contas públicas, mediante o cumprimento vel prever riscos e planejar as contramedidas a serem
de metas de resultados entre receitas e despesas e

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


tomadas caso os riscos se concretizem, aumentando
a obediência a limites e condições no que tange a a probabilidade de alcançar os objetivos planejados.
renúncia de receita, geração de despesas com pes- A CF, em seu art. 165, determina que o Poder Exe-
soal, da seguridade social e outras, dívidas conso- cutivo, por meio de leis ordinárias de sua iniciativa,
lidada e mobiliária, operações de crédito, inclusive estabeleça as três ferramentas de planejamento e con-
por antecipação de receita, concessão de garantia e trole orçamentário público: o Plano Plurianual (PPA),
inscrição em Restos a Pagar. a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a Lei Orça-
§ 2º As disposições desta Lei Complementar obri- mentária Anual (LOA).
gam a União, os Estados, o Distrito Federal e os Atenção! É recorrente que as bancas examinado-
Municípios.
ras perguntem qual o tipo de lei que a LOA, LDO e o
§ 3º Nas referências:
PPA são. Essas três leis orçamentárias são leis ordiná-
I - à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
rias, enquanto a LRF é uma lei complementar.
Municípios, estão compreendidos:
O PPA tem vigência de quatro anos e tem como
a) o Poder Executivo, o Poder Legislativo, neste
objetivo definir o plano de ação do governo, estabe-
abrangidos os Tribunais de Contas, o Poder Judi-
lecido por meio de programas. Podemos exemplificar
ciário e o Ministério Público;
alguns programas do governo federal, como o Pro-
b) as respectivas administrações diretas, fun-
grama Bolsa Família, o Programa Minha Casa, Minha
dos, autarquias, fundações e empresas estatais
Vida ou o Programa de Erradicação do Trabalho
dependentes;
Infantil (PETI), dentre outros.
II - a Estados entende-se considerado o Distrito
Por outro lado, a LDO (estabelece uma ligação
Federal;
entre o PPA e a LDO) e a LOA têm vigência de um ano
III - a Tribunais de Contas estão incluídos: Tribunal
e definem os planos de aplicação em estrita correla-
de Contas da União, Tribunal de Contas do Estado
e, quando houver, Tribunal de Contas dos Municí-
ção com o PPA.
pios e Tribunal de Contas do Município.
Art. 2º Para os efeitos desta Lei Complementar,
entende-se como:
Nesse artigo inicial o legislador basicamente desta- I - ente da Federação: a União, cada Estado, o Dis-
cou a importância de uma gestão planejada e transpa- trito Federal e cada Município;
rente, sempre prevenindo riscos e corrigindo desvios II - empresa controlada: sociedade cuja maioria do
que possam afetar o equilíbrio das contas públicas. capital social com direito a voto pertença, direta ou
indiretamente, a ente da Federação; 363
III - empresa estatal dependente: empresa controla- estabelecidas metas anuais, em valores correntes
da que receba do ente controlador recursos finan- e constantes, relativas a receitas, despesas, resul-
ceiros para pagamento de despesas com pessoal tados nominal e primário e montante da dívida
ou de custeio em geral ou de capital, excluídos, no pública, para o exercício a que se referirem e para
último caso, aqueles provenientes de aumento de os dois seguintes.
participação acionária; § 2º O Anexo conterá, ainda:
IV - receita corrente líquida: somatório das receitas I - avaliação do cumprimento das metas relativas
tributárias, de contribuições, patrimoniais, indus- ao ano anterior;
triais, agropecuárias, de serviços, transferências cor- II - demonstrativo das metas anuais, instruído com
rentes e outras receitas também correntes, deduzidos: memória e metodologia de cálculo que justifiquem
a) na União, os valores transferidos aos Estados os resultados pretendidos, comparando-as com as
e Municípios por determinação constitucional ou fixadas nos três exercícios anteriores, e evidencian-
legal, e as contribuições mencionadas na alínea a do a consistência delas com as premissas e os obje-
do inciso I e no inciso II do art. 195, e no art. 239 da tivos da política econômica nacional;
Constituição; III - evolução do patrimônio líquido, também nos últi-
b) nos Estados, as parcelas entregues aos Municí- mos três exercícios, destacando a origem e a aplica-
pios por determinação constitucional; ção dos recursos obtidos com a alienação de ativos;
c) na União, nos Estados e nos Municípios, a contri- IV - avaliação da situação financeira e atuarial:
buição dos servidores para o custeio do seu sistema a) dos regimes geral de previdência social e próprio
de previdência e assistência social e as receitas pro- dos servidores públicos e do Fundo de Amparo ao
venientes da compensação financeira citada no § 9º Trabalhador;
do art. 201 da Constituição. b) dos demais fundos públicos e programas estatais
§ 1º Serão computados no cálculo da receita corren- de natureza atuarial;
te líquida os valores pagos e recebidos em decorrên- V - demonstrativo da estimativa e compensação da
cia da Lei Complementar no 87, de 13 de setembro renúncia de receita e da margem de expansão das
de 1996, e do fundo previsto pelo art. 60 do Ato das despesas obrigatórias de caráter continuado.
Disposições Constitucionais Transitórias. § 3º A lei de diretrizes orçamentárias conterá Ane-
§ 2º Não serão considerados na receita corrente xo de Riscos Fiscais, onde serão avaliados os passi-
líquida do Distrito Federal e dos Estados do Amapá vos contingentes e outros riscos capazes de afetar
e de Roraima os recursos recebidos da União para as contas públicas, informando as providências a
atendimento das despesas de que trata o inciso V do serem tomadas, caso se concretizem.
§ 1º do art. 19. § 4º A mensagem que encaminhar o projeto da
§ 3º A receita corrente líquida será apurada soman- União apresentará, em anexo específico, os objeti-
do-se as receitas arrecadadas no mês em referência vos das políticas monetária, creditícia e cambial,
e nos onze anteriores, excluídas as duplicidades. bem como os parâmetros e as projeções para seus
principais agregados e variáveis, e ainda as metas
Alguns conceitos serão importantes para melhor de inflação, para o exercício subseqüente.
compreensão desta lei. Vejamos:
Para compreender melhor o artigo acima, precisa-
z Entes da federação: são as unidades político-ad- mos primeiro ver o artigo da Constituição ao qual ele
ministrativas que compõem o país, quais sejam, a se refere:
União, os estados, o Distrito Federal e os municípios;
z Empresa controlada: sociedade em que a maioria Art. 165 (CF, de 1988) […]
do capital social com direito a voto pertence, direta § 2º A lei de diretrizes orçamentárias compreende-
ou indiretamente, a um ente de Federação; rá as metas e prioridades da administração pública
z Empresa estatal dependente: é uma empresa federal, estabelecerá as diretrizes de política fiscal
que recebe recursos financeiros do ente controla- e respectivas metas, em consonância com trajetória
do para despesas específicas; sustentável da dívida pública, orientará a elabora-
z Receita corrente líquida: é a soma das receitas ção da lei orçamentária anual, disporá sobre as
arrecadadas no mês em questão e nos 11 anterio- alterações na legislação tributária e estabelecerá a
res, sempre excluindo duplicidades. política de aplicação das agências financeiras ofi-
ciais de fomento.
Art. 4º A lei de diretrizes orçamentárias atenderá o
disposto no § 2º do art. 165 da Constituição e: Uma das principais inovações da LRF foi a previ-
I - disporá também sobre: são de dois anexos a integrar a LDO: o Anexo de Metas
a) equilíbrio entre receitas e despesas; Fiscais e o Anexo de Riscos Fiscais. É importante notar
b) critérios e forma de limitação de empenho, a ser que o Anexo de Metas Fiscais e o Anexo de Riscos Fis-
efetivada nas hipóteses previstas na alínea b do cais compõem a LDO, e não a LOA.
inciso II deste artigo, no art. 9º e no inciso II do § O Anexo de Metas Fiscais estabelece metas anuais,
1º do art. 31; em valores correntes e constantes, relativas a receitas,
c) (VETADO) despesas, resultados nominais e primários e montan-
d) (VETADO)
te da dívida pública, para o exercício a que se referi-
e) normas relativas ao controle de custos e à avalia-
rem e para os dois seguintes.
ção dos resultados dos programas financiados com
recursos dos orçamentos; Assim, além do que já está disposto na Constituição,
f) demais condições e exigências para transferên- a Lei de Diretrizes Orçamentárias, ou LDO, como tam-
cias de recursos a entidades públicas e privadas; bém é conhecida, deverá dispor temas como o equilí-
II - (VETADO) brio entre receitas e despesas, limitação de empenho,
III - (VETADO) controle de custos, transferências de recursos, metas
§ 1º Integrará o projeto de lei de diretrizes orça- fiscais e avaliação de resultados, além de informações
364 mentárias Anexo de Metas Fiscais, em que serão sobre políticas monetária, creditícia e cambial.
Ademais, em de 2023, entrou em vigor a Lei Com- Por fim, a lei também dispõe que não poderá dei-
plementar nº 200, a qual foi responsável por instituir xar de ser considerado nenhum gasto público, devi-
um novo regime fiscal para as contas da União, trouxe do a necessidade de sua apuração para que se possa
também a inclusão de importantes dispositivos para a calcular o saldo entre as receitas e as despesas orça-
lei ora estudada. mentárias que abrangem todos os poderes da União,
Neste sentido a lei dispõe sobre o anexo das metas seus fundos, órgãos e entidades, bem como a saúde, a
fiscais previstos na lei de diretrizes orçamentárias da previdência e a assistência social.
União (LDO), vejamos:
Art. 5º O projeto de lei orçamentária anual, elabo-
Art. 4º […] rado de forma compatível com o plano plurianual,
§ 5º No caso da União, o Anexo de Metas Fiscais do com a lei de diretrizes orçamentárias e com as nor-
projeto de lei de diretrizes orçamentárias conterá mas desta Lei Complementar:
também: (Incluído pela Lei Complementar nº 200, I - conterá, em anexo, demonstrativo da compati-
de 2023) bilidade da programação dos orçamentos com os
I - as metas anuais para o exercício a que se referir e objetivos e metas constantes do documento de que
para os 3 (três) seguintes, com o objetivo de garan- trata o § 1º do art. 4º;
tir sustentabilidade à trajetória da dívida pública; II - será acompanhado do documento a que se refe-
(Incluído pela Lei Complementar nº 200, de 2023) re o § 6º do art. 165 da Constituição, bem como das
II – o marco fiscal de médio prazo, com projeções medidas de compensação a renúncias de receita e
para os principais agregados fiscais que compõem ao aumento de despesas obrigatórias de caráter
os cenários de referência, distinguindo-se as des- continuado;
pesas primárias das financeiras e as obrigatórias III - conterá reserva de contingência, cuja forma de
daquelas discricionárias; (Incluído pela Lei Com- utilização e montante, definido com base na receita
plementar nº 200, de 2023) corrente líquida, serão estabelecidos na lei de dire-
III - o efeito esperado e a compatibilidade, no perío- trizes orçamentárias, destinada ao:
do de 10 (dez) anos, do cumprimento das metas de a) (VETADO)
resultado primário sobre a trajetória de convergên- b) atendimento de passivos contingentes e outros
cia da dívida pública, evidenciando o nível de resul- riscos e eventos fiscais imprevistos.
tados fiscais consistentes com a estabilização da § 1º Todas as despesas relativas à dívida pública,
Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG) em relação mobiliária ou contratual, e as receitas que as aten-
ao Produto Interno Bruto (PIB); (Incluído pela Lei derão, constarão da lei orçamentária anual.
Complementar nº 200, de 2023) § 2º O refinanciamento da dívida pública constará
IV - os intervalos de tolerância para verificação do separadamente na lei orçamentária e nas de crédi-
cumprimento das metas anuais de resultado primá- to adicional.
rio, convertido em valores correntes, de menos 0,25 § 3º A atualização monetária do principal da dívi-
p.p. (vinte e cinco centésimos ponto percentual) e de da mobiliária refinanciada não poderá superar a
mais 0,25 p.p. (vinte e cinco centésimos ponto per- variação do índice de preços previsto na lei de dire-
centual) do PIB previsto no respectivo projeto de trizes orçamentárias, ou em legislação específica.
lei de diretrizes orçamentárias; (Incluído pela Lei § 4º É vedado consignar na lei orçamentária crédito
Complementar nº 200, de 2023)

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


com finalidade imprecisa ou com dotação ilimitada.
V - os limites e os parâmetros orçamentários dos § 5º A lei orçamentária não consignará dota-
Poderes e órgãos autônomos compatíveis com ção para investimento com duração superior a
as disposições estabelecidas na lei complemen- um exercício financeiro que não esteja previsto
tar prevista no inciso VIII do caput do art. 163 da no plano plurianual ou em lei que autorize a sua
Constituição Federal e no art. 6º da Emenda Consti- inclusão, conforme disposto no § 1º do art. 167 da
tucional nº 126, de 21 de dezembro de 2022; (Incluí- Constituição.
do pela Lei Complementar nº 200, de 2023) § 6º Integrarão as despesas da União, e serão incluí-
VI – a estimativa do impacto fiscal, quando couber, das na lei orçamentária, as do Banco Central do
das recomendações resultantes da avaliação das Brasil relativas a pessoal e encargos sociais, custeio
políticas públicas previstas no § 16 do art. 37 da administrativo, inclusive os destinados a benefícios
Constituição Federal. (Incluído pela Lei Comple- e assistência aos servidores, e a investimentos.
mentar nº 200, de 2023) § 7º (VETADO)
§ 6º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
poderão adotar, total ou parcialmente, no que cou-
A lei destaca requisitos essenciais para o Projeto
ber, o disposto no § 5º deste artigo. (Incluído pela
Lei Complementar nº 200, de 2023)
da LDO, tais como:
§ 7º A lei de diretrizes orçamentárias não poderá
dispor sobre a exclusão de quaisquer despesas pri- z a necessidade de compatibilidade com o plano plu-
márias da apuração da meta de resultado primá- rianual e a LDO;
rio dos orçamentos fiscal e da seguridade social. z a inclusão de um demonstrativo de compatibilida-
(Incluído pela Lei Complementar nº 200, de 2023) de de programação orçamentária;
z medidas de compensação para renúncias de recei-
Neste sentido, temos que poderão ser aplicadas ta; e
as mesmas regras que são previstas para a união, aos z a reserva de contingência para lidar com passivos
municípios que foram afetados financeiramente pela contingentes e eventos fiscais imprevistos.
pandemia acarretada pela covid-19.
Trata-se portanto, de uma forma de compensa- Assim, a LOA deve ser elaborada de forma compa-
ção da união aos municípios que foram afetados pela tível com o PPA e com a LDO e pode ser considerada
crise sanitária e econômica da pandemia, e que em um verdadeiro plano de aplicação do governo, uma
razão disso, apresentaram uma queda de receita vez que é por meio da LOA que o governo determina a
orçamentária. gestão dos recursos públicos. 365
Segundo Paludo (2020, p. 85), a LOA é um instru- Assim, a Lei Orçamentária Anual consiste em um
mento de planejamento que operacionaliza no curto instrumento de planejamento imediato que estima
prazo os programas contidos no PPA. A LOA contem- as receitas fixas e despesas públicas para o próximo
pla, conforme selecionado pela LDO, as prioridades exercício financeiro, devendo estar em harmonia com
contidas no PPA e as metas que deverão ser atingidas o Plano Plurianual e a Lei de Diretrizes Orçamentá-
no exercício financeiro. Ela disciplina todas as ações rias. Trata-se de objeto de programação para que as
do governo e é com base em suas autorizações que as ações planejadas no PPA possam ser concretizadas.
despesas do exercício são executadas. Observa a discriminação da receita e despesa pública.
As bancas examinadoras costumam cobrar a pre- O projeto de Lei Orçamentária deve ser encaminhado
visão do conteúdo da LOA previsto na CF e na LRF. ao Poder Legislativo até 31 de agosto de cada ano, ou
Segundo o § 5º, art. 165, da CF, a LOA deve conter seja, quatro meses antes do encerramento da sessão
o orçamento fiscal, o orçamento de investimento legislativa.
das empresas em que a União (e qualquer outro ente Após a aprovação da LOA, o orçamento precisa ser
federativo), direta ou indiretamente, detenha a maio- colocado em execução. Assim, o Poder Executivo deve
ria do capital social com direito a voto e o orçamento estabelecer a programação financeira e o cronogra-
da seguridade social, abrangendo todas as entidades ma de execução mensal de desembolso em até 30 dias
e órgãos a ela vinculados, da administração direta ou após sua publicação.
indireta, bem como os fundos e fundações instituídos Porém, se ao final de um bimestre verificar-se que
e mantidos pelo poder público. a realização da receita poderá não comportar o cum-
primento das metas de resultado primário ou nomi-
Art. 7º O resultado do Banco Central do Brasil, apu- nal estabelecidas no Anexo de Metas Fiscais da LDO,
rado após a constituição ou reversão de reservas, os poderes e o ministério público promoverão, por
constitui receita do Tesouro Nacional, e será trans- ato próprio e nos montantes necessários, nos 30 dias
ferido até o décimo dia útil subseqüente à aprova- subsequentes, limitação de empenho e movimentação
ção dos balanços semestrais. financeira, segundo os critérios fixados pela LDO.
§ 1º O resultado negativo constituirá obrigação do Apesar da previsão de limitação de empenho,
Tesouro para com o Banco Central do Brasil e será algumas despesas não poderão sofrer limitações: as
consignado em dotação específica no orçamento. despesas que constituam obrigações constitucionais
§ 2º O impacto e o custo fiscal das operações realiza-
e legais, inclusive aquelas destinadas ao pagamento
das pelo Banco Central do Brasil serão demonstra-
do serviço da dívida, e aquelas ressalvadas pela LDO.
dos trimestralmente, nos termos em que dispuser a
O Resultado Primário indica se o nível dos gas-
lei de diretrizes orçamentárias da União.
§ 3º Os balanços trimestrais do Banco Central do tos orçamentários do ente federativo está compatível
Brasil conterão notas explicativas sobre os custos com sua arrecadação. De acordo com o II, art. 2º, da
da remuneração das disponibilidades do Tesouro Lei nº 9.496, de 1997, este indicador mostra a diferen-
Nacional e da manutenção das reservas cambiais e ça entre as Receitas Primárias e as Despesas Primá-
a rentabilidade de sua carteira de títulos, destacan- rias. Quando seu valor for positivo, ou seja, as receitas
do os de emissão da União. superaram o valor das despesas, dizemos que houve
um Superávit Primário, e, caso contrário, houve um
O resultado do Banco Central do Brasil (BCB), após Déficit Primário.
a constituição ou reversão de reservas, constitui recei- Receitas Primárias ou Não Financeiras decorrem
ta do Tesouro Nacional. Em caso de resultado nega- da atividade fiscal do governo, como, por exemplo, as
tivo, torna-se uma obrigação do Tesouro, consignada receitas tributárias e de transferências recebidas de
em dotação específica no orçamento. outros entes públicos.
Pode-se dizer que “Receita corrente líquida” é Despesas Primárias ou Não Financeiras são gas-
um termo recorrente em matéria orçamentária, cuja tos necessários para promover os serviços públicos à
definição, conforme o IV, art. 2º, da LRF, é o somatório sociedade, desconsiderando o pagamento de emprés-
das receitas tributárias, de contribuições, patrimo- timos e financiamentos. São exemplos as despesas
niais, industriais, agropecuárias, de serviços, transfe- com pessoal, encargos sociais, transferências para
rências correntes e outras receitas também correntes. outros entes públicos e investimentos.
Ela é apurada somando-se as receitas arrecadadas no O Resultado Nominal representa a variação da
mês em referência e nos 11 anteriores, excluídas as dívida fiscal líquida em determinado período, ou seja,
duplicidades. Além disso, a receita corrente líquida este indicador representa a evolução da dívida.
deve ser deduzida dos seguintes itens: Vejamos a íntegra dos dispositivos:

z Na União: dos valores transferidos aos estados e Art. 9º Se verificado, ao final de um bimestre, que
municípios por determinação constitucional ou a realização da receita poderá não comportar o
legal, das contribuições do empregador, do tra- cumprimento das metas de resultado primário ou
balhador e dos demais segurados da previdência nominal estabelecidas no Anexo de Metas Fiscais,
os Poderes e o Ministério Público promoverão, por
social, e das contribuições do PIS/PASEP;
ato próprio e nos montantes necessários, nos trinta
z Nos estados: as parcelas entregues aos municípios
dias subseqüentes, limitação de empenho e movi-
por determinação constitucional; mentação financeira, segundo os critérios fixados
z Na União, nos estados e nos municípios: a contri- pela lei de diretrizes orçamentárias.
buição dos servidores para o custeio do seu siste- § 1º No caso de restabelecimento da receita previs-
ma de previdência e assistência social e as receitas ta, ainda que parcial, a recomposição das dotações
provenientes da compensação financeira devida cujos empenhos foram limitados dar-se-á de forma
entre as receitas de contribuição referentes aos proporcional às reduções efetivadas.
militares e as receitas de contribuição aos demais § 2º Não serão objeto de limitação as despesas que
366 regimes. constituam obrigações constitucionais e legais do
ente, inclusive aquelas destinadas ao pagamento E como a receita pública é essencial para o desen-
do serviço da dívida, as relativas à inovação e ao volvimento das atividades estatais, o art. 11, da LRF,
desenvolvimento científico e tecnológico custeadas prevê que
por fundo criado para tal finalidade e as ressalva-
das pela lei de diretrizes orçamentárias. [...] constituem requisitos essenciais da responsa-
§ 3º No caso de os Poderes Legislativo e Judiciário bilidade na gestão fiscal a instituição, previsão e
e o Ministério Público não promoverem a limitação efetiva arrecadação de todos os tributos da com-
no prazo estabelecido no caput, é o Poder Execu- petência constitucional do ente da Federação.
tivo autorizado a limitar os valores financeiros
segundo os critérios fixados pela lei de diretrizes
Quanto aos impostos, é vedada a realização de
orçamentárias.
§ 4º Até o final dos meses de maio, setembro e feve-
transferências voluntárias para o ente federativo
reiro, o Ministro ou Secretário de Estado da Fazen- que não observe o disposto no caput, art. 11, da LFR,
da demonstrará e avaliará o cumprimento das exceto aquelas relativas às ações de educação, saúde
metas fiscais de cada quadrimestre e a trajetória e assistência social. Vejamos a íntegra do dispositivo:
da dívida, em audiência pública na comissão refe-
rida no § 1º do art. 166 da Constituição Federal ou Art. 11 Constituem requisitos essenciais da respon-
conjunta com as comissões temáticas do Congres- sabilidade na gestão fiscal a instituição, previsão e
so Nacional ou equivalente nas Casas Legislativas efetiva arrecadação de todos os tributos da compe-
estaduais e municipais. (Redação dada pela Lei tência constitucional do ente da Federação.
Complementar nº 200, de 2023) Parágrafo único. É vedada a realização de transfe-
§ 5º No prazo de noventa dias após o encerramento rências voluntárias para o ente que não observe o
de cada semestre, o Banco Central do Brasil apre- disposto no caput, no que se refere aos impostos.
sentará, em reunião conjunta das comissões temá-
ticas pertinentes do Congresso Nacional, avaliação O art. 11, da LFR, foi objeto de muita discussão,
do cumprimento dos objetivos e metas das políti- sendo alvo de diversas Ações Diretas de Inconstitu-
cas monetária, creditícia e cambial, evidenciando cionalidade no Supremo Tribunal Federal, uma vez
o impacto e o custo fiscal de suas operações e os que a competência tributária é facultativa nos termos
resultados demonstrados nos balanços.
da Constituição Federal (§ 5º, art. 153; arts. 157 a 159)
Art. 10 A execução orçamentária e financeira iden-
e o art. 11, da LRF, traz uma determinação expressa
tificará os beneficiários de pagamento de sentenças
judiciais, por meio de sistema de contabilidade e
para a criação de tributos, tendo por base a respon-
administração financeira, para fins de observância sabilidade fiscal, o que afronta a competência consti-
da ordem cronológica determinada no art. 100 da tucional para a instituição de tributos. Assim, para a
Constituição. prova, lembre-se de que o repasse das receitas obri-
gatórias, previsto na Constituição Federal, não pode
Há um mecanismo de controle fiscal em que, se ao ser atingido por este dispositivo; somente aos entes
final de um bimestre, a receita prevista não compor- que não utilizem os recursos para a saúde ou tenham
tar as metas fiscais, os poderes e o ministério público dívidas com o ente e/ou suas autarquias podem ter
devem promover, em até 30 dias, limitação de empe- vedado o direito ao repasse das receitas obrigatórias

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


nho e movimentação financeira, sempre respeitando previsto na Constituição Federal (art. 160).
os critérios dispostos na LDO.
Ademais, despesas constitucionais e pagamento do Dica
serviço das dívidas não estão sujeitas a essa limitação.
Por fim, destaca-se a obrigação de prestação de contas Muitos confundem tributos com impostos. Na
trimestrais pelo Executivo e pelo Banco Central, asse- verdade, o conceito de tributo é mais amplo
gurando a transparência e responsabilidade fiscal. que o de imposto. Tributo é gênero do qual são
espécies os impostos, taxas, contribuições de
PREVISÃO E ARRECADAÇÃO DE RECEITAS
melhoria, empréstimos compulsórios e contri-
O Estado necessita de recursos para atender às buições. O art. 5º, do Código Tributário Nacional
demandas da sociedade. Assim, os conjuntos de recur- (Lei nº 5.172, de 1966), dispõe que “os tributos
sos que entram nos cofres públicos são chamados de são impostos, taxas e contribuições de melho-
ingressos. ria”. Os arts. 148 e 149, da Constituição Federal,
Desses ingressos, parte se incorpora ao patrimônio dispõem sobre os empréstimos compulsórios e
público e outra parte não — por exemplo, as garan- contribuições. Importante ressaltar que as espé-
tias contratuais que as empresas contratadas pelo cies tributárias, empréstimos compulsórios e
Estado são obrigadas a apresentar para assegurar o contribuições somente estão previstas na Cons-
pleno cumprimento do contrato administrativo. Essas tituição Federal.
garantias contratuais são realizadas por meio de fian-
ça bancária, caução em dinheiro ou seguro garantia Mais uma vez precisamos ir até a Constituição para
que são devolvidas à contratada ao final do contrato melhor compreensão da Lei nº 101, de 2000. Vejamos:
se a prestação for realizada a contento.
As receitas públicas são previstas na LOA. Art. 100 (CF, de 1988) Os pagamentos devidos
Tendo em vista que o ingresso das receitas não é pelas Fazendas Públicas Federal, Estaduais, Distri-
um evento certo, somente é possível à administração tal e Municipais, em virtude de sentença judiciária,
estimá-lo. Tomando como exemplo a pandemia da far-se-ão exclusivamente na ordem cronológica de
covid-19, à época da elaboração da LOA do exercício apresentação dos precatórios e à conta dos créditos
de 2020, a pandemia era um evento imprevisível, mas respectivos, proibida a designação de casos ou de
que certamente afetou a economia nacional e, como pessoas nas dotações orçamentárias e nos créditos
consequência, afetou a arrecadação tributária. adicionais abertos para este fim. 367
Assim, para cumprir a ordem cronológica que o RENÚNCIA DE RECEITAS
art. 100, da CRFB determina, é necessário identificar
os beneficiários de pagamentos de sentenças judiciais. O Manual de Procedimentos das Receitas Públicas
Além disso, são requisitos essenciais da responsa- (2004, p. 39) esclarece que renúncia de receitas “é a
bilidade fiscal: não arrecadação de receita em função da concessão de
isenções, anistias ou subsídios”. Há renúncia sempre
z a instituição; que houver redução da receita motivada pelo ente.
z a previsão; Ainda, segundo o Manual, a renúncia de receitas deve
z a efetiva arrecadação de todos os tributos de com- seguir os preceitos determinados no art. 14, da LRF.
petência constitucional do ente federativo. Assim, podemos dizer que a regra é a arrecadação dos
tributos para comporem a receita pública, e a renún-
As previsões de receita devem observar normas cia, uma exceção.
técnicas e legais, considerando os efeitos das altera- Para facilitar os seus estudos, elencamos os pontos
ções na legislação, da variação do índice de preços, principais do § 1º, art. 14, da LRF, que dispõe sobre
do crescimento econômico ou de qualquer outro tipos de renúncia de receitas:
fator relevante.
Caso haja necessidade de se reestimar a receita z Anistia: corresponde ao perdão do valor devido
por parte do Poder Legislativo, isso só será admitido relativo a multas por infrações cometidas anterior-
se comprovado erro ou omissão de ordem técnica ou mente à vigência da lei que a concedeu;
legal. z Remissão: é a autorização prevista em lei para que
Além disso, o montante previsto para as receitas a administração perdoe uma dívida, no todo ou em
de operações de crédito não poderá ser superior ao parte, por exemplo, por causa da situação econô-
das despesas de capital constantes do projeto de LOA. mica da pessoa tributada ou por erro ou ignorân-
O Poder Executivo deverá desdobrar as receitas cia desculpáveis do sujeito passivo ou devido à
previstas em metas bimestrais de arrecadação, com a diminuta importância do tributo cobrado;
especificação em separado, quando cabível, das medi- z Subsídio: são incentivos fiscais que objetivam pro-
das de combate à evasão e à sonegação, da quantidade mover o desenvolvimento de alguma atividade ou
e valores de ações ajuizadas para cobrança da dívida região, como, por exemplo, a redução de impostos
para atrair empresas de forma a gerar emprego
ativa, bem como da evolução do montante dos crédi-
em uma região;
tos tributários passíveis de cobrança administrativa,
z Crédito presumido: trata-se de uma redução do
vejamos o dispositivo:
valor do tributo devido, concedido pela adminis-
tração, na forma de um crédito do tributo;
Art. 12 As previsões de receita observarão as nor-
mas técnicas e legais, considerarão os efeitos das
z Concessão de isenção em caráter não geral: a
alterações na legislação, da variação do índice de isenção é dispensa legal, pelo Estado, do crédito
preços, do crescimento econômico ou de qualquer tributário;
outro fator relevante e serão acompanhadas de z Alteração de alíquota ou modificação de base de
demonstrativo de sua evolução nos últimos três cálculo que implique redução discriminada de
anos, da projeção para os dois seguintes àquele a tributos ou contribuições;
que se referirem, e da metodologia de cálculo e pre- z Outros benefícios que correspondam a trata-
missas utilizadas. mento diferenciado.
§ 1º Reestimativa de receita por parte do Poder
Legislativo só será admitida se comprovado erro Como obviamente as renúncias impactam direta-
ou omissão de ordem técnica ou legal. mente nas receitas públicas, o art. 14, da LRF, prevê
§ 2º O montante previsto para as receitas de ope- que:
rações de crédito não poderá ser superior ao das
despesas de capital constantes do projeto de lei Art. 14 A concessão ou ampliação de incentivo ou
orçamentária. benefício de natureza tributária da qual decorra
§ 3º O Poder Executivo de cada ente colocará à dis- renúncia de receita deverá estar acompanhada de
posição dos demais Poderes e do Ministério Públi- estimativa do impacto orçamentário-financeiro no
co, no mínimo trinta dias antes do prazo final para exercício em que deva iniciar sua vigência e nos
encaminhamento de suas propostas orçamentá- dois seguintes, atender ao disposto na lei de diretri-
rias, os estudos e as estimativas das receitas para zes orçamentárias e a pelo menos uma das seguin-
o exercício subseqüente, inclusive da corrente líqui- tes condições:
da, e as respectivas memórias de cálculo. I - demonstração pelo proponente de que a renúncia
foi considerada na estimativa de receita da lei orça-
O legislador estabeleceu critérios rigorosos para as mentária, na forma do art. 12, e de que não afetará
previsões de receita, exigindo conformidade com nor- as metas de resultados fiscais previstas no anexo
mas técnicas e legais, considerando os fatores como próprio da lei de diretrizes orçamentárias;
mudança na legislação e variações econômicas. II - estar acompanhada de medidas de compensa-
ção, no período mencionado no caput, por meio do
As previsões devem ser acompanhadas de demons-
aumento de receita, proveniente da elevação de alí-
trativos de evolução, projeções para os próximos anos
quotas, ampliação da base de cálculo, majoração
e detalhes sobre a metodologia de cálculo. A reestima- ou criação de tributo ou contribuição.
tiva de receita pelo Legislativo só é permitida median- § 1º A renúncia compreende anistia, remissão,
te comprovação de erro técnico ou legal. subsídio, crédito presumido, concessão de isenção
Além disso, há uma limitação do montante previs- em caráter não geral, alteração de alíquota ou
to para receitas de operações de crédito em relação às modificação de base de cálculo que implique redu-
368 despesas de capital. ção discriminada de tributos ou contribuições, e
outros benefícios que correspondam a tratamento trabalho, não sejam ultrapassados os limites estabele-
diferenciado. cidos para o exercício. Além disso, a despesa deve ser
§ 2º Se o ato de concessão ou ampliação do incen- compatível com o PPA e a LDO, conforme com as dire-
tivo ou benefício de que trata o caput deste artigo trizes, objetivos, prioridades e metas previstas nesses
decorrer da condição contida no inciso II, o benefí- instrumentos, não infringindo qualquer de suas dis-
cio só entrará em vigor quando implementadas as posições. Vejamos a disposição dos artigos:
medidas referidas no mencionado inciso.
§ 3º O disposto neste artigo não se aplica: Art. 15 Serão consideradas não autorizadas, irre-
I - às alterações das alíquotas dos impostos previs- gulares e lesivas ao patrimônio público a geração
tos nos incisos I, II, IV e V do art. 153 da Constitui- de despesa ou assunção de obrigação que não aten-
ção, na forma do seu § 1º; dam o disposto nos arts. 16 e 17.
II - ao cancelamento de débito cujo montante seja Art. 16 A criação, expansão ou aperfeiçoamento de
inferior ao dos respectivos custos de cobrança. ação governamental que acarrete aumento da des-
pesa será acompanhado de:
Há algumas regras para concessão ou amplia- I - estimativa do impacto orçamentário-financeiro
ção de incentivos fiscais que resultem em renúncia no exercício em que deva entrar em vigor e nos dois
de receita. Deve haver uma estimativa do impacto subseqüentes;
financeiro nos três anos seguintes e cumprimento das II - declaração do ordenador da despesa de que o
metas fiscais da LDO. aumento tem adequação orçamentária e financei-
Ademais, a renúncia só é permitida se considera- ra com a lei orçamentária anual e compatibilida-
da na estimativa de receita da lei orçamentária ou de com o plano plurianual e com a lei de diretrizes
orçamentárias.
se acompanhada de medidas de compensação, como
§ 1º Para os fins desta Lei Complementar, considera-se:
aumento de receita por elevação de alíquotas ou cria-
I - adequada com a lei orçamentária anual, a des-
ção de tributos. pesa objeto de dotação específica e suficiente, ou
que esteja abrangida por crédito genérico, de forma
GERAÇÃO DE DESPESAS que somadas todas as despesas da mesma espécie,
realizadas e a realizar, previstas no programa de
Toda vez que o Estado é requisitado a fornecer trabalho, não sejam ultrapassados os limites esta-
algum bem ou a prestar algum serviço à sociedade, belecidos para o exercício;
isto normalmente acarreta um dispêndio de recursos. II - compatível com o plano plurianual e a lei de
O Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor diretrizes orçamentárias, a despesa que se confor-
Público (2019, p. 65) esclarece que a me com as diretrizes, objetivos, prioridades e metas
previstos nesses instrumentos e não infrinja qual-
[...] despesa orçamentária pública é o conjunto de quer de suas disposições.
dispêndios realizados pelos entes públicos para o § 2º A estimativa de que trata o inciso I do caput
funcionamento e manutenção dos serviços públicos será acompanhada das premissas e metodologia de
prestados à sociedade. cálculo utilizadas.
§ 3º Ressalva-se do disposto neste artigo a despesa
considerada irrelevante, nos termos em que dispu-
Ainda, segundo o manual, para “o setor público,

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


ser a lei de diretrizes orçamentárias.
é de vital importância, pois é a lei orçamentária que
§ 4º As normas do caput constituem condição pré-
fixa a despesa pública autorizada para um exercício via para:
financeiro”. I - empenho e licitação de serviços, fornecimento de
Atenção! A LOA prevê as receitas e fixa as des- bens ou execução de obras;
pesas. Conforme explicamos anteriormente, somen- II - desapropriação de imóveis urbanos a que se
te é possível à administração fazer uma previsão do refere o § 3º do art. 182 da Constituição.
ingresso das receitas, uma vez que se trata de um
evento futuro e incerto. Por outro lado, tendo em vis- Para que sejam consideradas autorizadas e regula-
ta o princípio do equilíbrio orçamentário, as despesas res, a criação, expansão ou aperfeiçoamento de ação
não podem ultrapassar a previsão das receitas e, por governamental que acarrete aumento da despesa
isso, são fixadas na LOA. Caso fosse autorizado que se deverá ser acompanhado de:
ultrapassasse o valor estimado de receitas, estaríamos
dizendo que o orçamento seria deficitário, o que iria z estimativa do impacto orçamentário-financeiro no
contra os preceitos da LRF. exercício em que deva entrar em vigor e nos dois
Segundo Oliveira (2016, p. 38), a despesa pública subsequentes;
deve sempre perseguir as necessidades públicas, por z declaração do ordenador da despesa de que o
meio de decisões políticas a serem deliberadas e esta- aumento tem adequação orçamentária e financei-
belecidas pelo legislativo, através da LOA, conforme os ra com a lei orçamentária anual e compatibilidade
enunciados no texto constitucional e nos outros diplo- com o plano plurianual e com a lei de diretrizes
mas legislativos. A despesa pública não está vinculada orçamentárias.
às necessidades coletivas, de determinado grupo de pes-
DESPESAS OBRIGATÓRIAS DE CARÁTER
soas, nem às necessidades privadas, de um indivíduo
CONTINUADO
específico. Não se deve confundir o interesse particular
do gestor público ou de determinada coletividade com o A LRF destaca um tipo especial de despesa que ela
interesse público, embora possam ser coincidentes. chama de despesa obrigatória de caráter continuado.
Segundo a LRF, uma despesa adequada com a LOA Segundo a LRF, esta é uma despesa corrente deriva-
é aquele objeto de dotação específica e suficiente, ou da de lei, medida provisória ou ato administrativo
que esteja abrangida por crédito genérico, de forma normativo que fixem para o ente a obrigação legal
que, somadas todas as despesas da mesma espécie, de sua execução por um período superior a dois
realizadas e a realizar, previstas no programa de exercícios. 369
Atente-se: o caput, art. 17, da LRF, é bastante cobra- Desta forma, a LRF define despesa com pessoal no
do pelas bancas examinadoras. Vale a pena decorar! art. 18, vejamos:

Art. 17 Considera-se obrigatória de caráter conti- Art. 18 Para os efeitos desta Lei Complementar,
nuado a despesa corrente derivada de lei, medida entende-se como despesa total com pessoal: o
provisória ou ato administrativo normativo que somatório dos gastos do ente da Federação com
fixem para o ente a obrigação legal de sua execução os ativos, os inativos e os pensionistas, relativos
por um período superior a dois exercícios. a mandatos eletivos, cargos, funções ou empre-
§ 1º Os atos que criarem ou aumentarem despesa gos, civis, militares e de membros de Poder, com
de que trata o caput deverão ser instruídos com a quaisquer espécies remuneratórias, tais como ven-
estimativa prevista no inciso I do art. 16 e demons- cimentos e vantagens, fixas e variáveis, subsídios,
trar a origem dos recursos para seu custeio. proventos da aposentadoria, reformas e pensões,
§ 2º Para efeito do atendimento do § 1º, o ato será inclusive adicionais, gratificações, horas extras
acompanhado de comprovação de que a despe- e vantagens pessoais de qualquer natureza, bem
sa criada ou aumentada não afetará as metas de como encargos sociais e contribuições recolhidas
resultados fiscais previstas no anexo referido no § pelo ente às entidades de previdência.
1º do art. 4º, devendo seus efeitos financeiros, nos § 1º Os valores dos contratos de terceirização de
períodos seguintes, ser compensados pelo aumento mão-de-obra que se referem à substituição de servi-
permanente de receita ou pela redução permanente dores e empregados públicos serão contabilizados
de despesa. como “Outras Despesas de Pessoal”.
§ 2º A despesa total com pessoal será apurada
§ 3º Para efeito do § 2º, considera-se aumento per-
somando-se a realizada no mês em referência com
manente de receita o proveniente da elevação de
as dos 11 (onze) imediatamente anteriores, adotan-
alíquotas, ampliação da base de cálculo, majoração
do-se o regime de competência, independentemente
ou criação de tributo ou contribuição.
de empenho.
§ 4º A comprovação referida no § 2º, apresentada
§ 3º Para a apuração da despesa total com pessoal,
pelo proponente, conterá as premissas e metodo-
será observada a remuneração bruta do servidor,
logia de cálculo utilizadas, sem prejuízo do exa-
sem qualquer dedução ou retenção, ressalvada a
me de compatibilidade da despesa com as demais
redução para atendimento ao disposto no art. 37,
normas do plano plurianual e da lei de diretrizes inciso XI, da Constituição Federal.
orçamentárias.
§ 5º A despesa de que trata este artigo não será exe-
Resumindo, segundo a LRF, todo e qualquer gas-
cutada antes da implementação das medidas referi-
to dessa natureza deve ser considerado despesa com
das no § 2º, as quais integrarão o instrumento que
a criar ou aumentar.
pessoal.
§ 6º O disposto no § 1º não se aplica às despesas Assim, será considerada despesa total com pessoal
destinadas ao serviço da dívida nem ao reajusta- os gastos com ativos, inativos, pensionistas e mem-
mento de remuneração de pessoal de que trata o bros de poder, incluindo diversas remunerações e
inciso X do art. 37 da Constituição. vantagens, além de encargos sociais e contribuições
§ 7º Considera-se aumento de despesa a prorroga- previdenciárias.
ção daquela criada por prazo determinado. Contratos de terceirização relacionados à substitui-
ção de servidores são contabilizados separadamente.
Vimos que enquanto o art. 16 irá estipular que o A apuração é mensal, somando os últimos 12
aumento de despesa deve ser acompanhado de estima- meses, e a remuneração bruta do servidor é consi-
tiva de impacto, declaração de adequação orçamen- derada, sem deduções, respeitando o disposto na
tária e financeira, ressalvando despesas irrelevantes, Constituição.
o art. 17 define como obrigatórias, de caráter conti-
nuado, as despesas derivadas de leis que estabeleçam
execução por mais de dois exercícios, com requisitos Importante!
rigorosos para sua criação ou aumento. As bancas examinadoras adoram formular ques-
As despesas que não atenderem aos requisitos dos tões acerca do § 1º, art. 18, da LRF. Não caia na
arts. 16 e 17 serão classificadas como não autorizadas, “pegadinha”!
irregulares e lesivas ao patrimônio público. Contratos de terceirização de mão de obra que
se referem à substituição de servidores e empre-
DESPESAS COM PESSOAL gados públicos serão contabilizados como
“Outras Despesas de Pessoal” e não como “Des-
O controle das despesas com pessoal é de suma pesas com Pessoal”.
importância para o equilíbrio das contas governa-
mentais, tendo em vista que se trata de uma despesa
recorrente e que afeta, atualmente, grande parcela do Outro ponto que é muito cobrado pelas bancas exa-
orçamento público dos entes. Segundo Paludo (2020, minadoras é como a despesa total com pessoal é con-
p. 412), é natural que se considere este um tema a ser tabilizada. Atenção! O artigo sofreu alteração recente
tratado com atenção, uma vez que as despesas com em razão da Lei Complementar nº 178, de 2021.
pessoal disputam com a dívida pública o posto de item
de despesa de maior dispêndio no setor público, mas Limites na Despesa com Pessoal
com um agravante: embora maior, a dívida pode ser
reduzida ou mesmo paga, enquanto as despesas com Segundo o art. 169, da CF, “A despesa com pessoal
pessoal perduram durante toda a vida do servidor e ativo e inativo e pensionistas da União, dos Estados, do
continuam com os servidores aposentados. Distrito Federal e dos Municípios não pode exceder os
370 limites estabelecidos em lei complementar”.
O art. 19, da LRF, regulamenta a previsão constitucional acima ao determinar que a despesa total com pessoal
de cada ente da Federação, em cada período de apuração, não poderá exceder os seguintes percentuais da receita
corrente líquida:

UNIÃO 50%

ESTADOS 60%

MUNICÍPIOS 60%

É o que dispõe o art. 19:

Art. 19 Para os fins do disposto no caput do art. 169 da Constituição, a despesa total com pessoal, em cada período
de apuração e em cada ente da Federação, não poderá exceder os percentuais da receita corrente líquida, a seguir
discriminados:
I - União: 50% (cinqüenta por cento);
II - Estados: 60% (sessenta por cento);
III - Municípios: 60% (sessenta por cento).
[…]

Além dos limites globais de despesa total com pessoal, o art. 20, da LRF, define outros limites por poder. Veja-
mos a íntegra do dispositivo:

Art. 20 A repartição dos limites globais do art. 19 não poderá exceder os seguintes percentuais:
I - na esfera federal:
a) 2,5% (dois inteiros e cinco décimos por cento) para o Legislativo, incluído o Tribunal de Contas da União;
b) 6% (seis por cento) para o Judiciário;
c) 40,9% (quarenta inteiros e nove décimos por cento) para o Executivo, destacando-se 3% (três por cento) para
as despesas com pessoal decorrentes do que dispõem os incisos XIII e XIV do art. 21 da Constituição e o art. 31 da
Emenda Constitucional nº 19, repartidos de forma proporcional à média das despesas relativas a cada um destes
dispositivos, em percentual da receita corrente líquida, verificadas nos três exercícios financeiros imediatamente
anteriores ao da publicação desta Lei Complementar;
d) 0,6% (seis décimos por cento) para o Ministério Público da União;
II - na esfera estadual:
a) 3% (três por cento) para o Legislativo, incluído o Tribunal de Contas do Estado;
b) 6% (seis por cento) para o Judiciário;
c) 49% (quarenta e nove por cento) para o Executivo;
d) 2% (dois por cento) para o Ministério Público dos Estados;
III - na esfera municipal:

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


a) 6% (seis por cento) para o Legislativo, incluído o Tribunal de Contas do Município, quando houver;
b) 54% (cinqüenta e quatro por cento) para o Executivo.
§ 1º Nos Poderes Legislativo e Judiciário de cada esfera, os limites serão repartidos entre seus órgãos de forma
proporcional à média das despesas com pessoal, em percentual da receita corrente líquida, verificadas nos três exer-
cícios financeiros imediatamente anteriores ao da publicação desta Lei Complementar.
§ 2º Para efeito deste artigo entende-se como órgão:
I - o Ministério Público;
II - no Poder Legislativo:
a) Federal, as respectivas Casas e o Tribunal de Contas da União;
b) Estadual, a Assembléia Legislativa e os Tribunais de Contas;
c) do Distrito Federal, a Câmara Legislativa e o Tribunal de Contas do Distrito Federal;
d) Municipal, a Câmara de Vereadores e o Tribunal de Contas do Município, quando houver;
III - no Poder Judiciário:
a) Federal, os tribunais referidos no art. 92 da Constituição;
b) Estadual, o Tribunal de Justiça e outros, quando houver.
§ 3º Os limites para as despesas com pessoal do Poder Judiciário, a cargo da União por força do inciso XIII do art. 21
da Constituição, serão estabelecidos mediante aplicação da regra do § 1º.
§ 4º Nos Estados em que houver Tribunal de Contas dos Municípios, os percentuais definidos nas alíneas a e c do
inciso II do caput serão, respectivamente, acrescidos e reduzidos em 0,4% (quatro décimos por cento).
§ 5º Para os fins previstos no art. 168 da Constituição, a entrega dos recursos financeiros correspondentes à despesa
total com pessoal por Poder e órgão será a resultante da aplicação dos percentuais definidos neste artigo, ou aqueles
fixados na lei de diretrizes orçamentárias.
§ 7º Os Poderes e órgãos referidos neste artigo deverão apurar, de forma segregada para aplicação dos limites de
que trata este artigo, a integralidade das despesas com pessoal dos respectivos servidores inativos e pensionistas,
mesmo que o custeio dessas despesas esteja a cargo de outro Poder ou órgão.

São estabelecidos limites para despesas com pessoal com o intuito de garantir a responsabilidade fiscal nos
diferentes níveis de governo. Entre estes limites estão: 50% da receita corrente líquida para União, 60% para os
estados e 60% para os municípios.
Dentro desses limites, o legislador detalhou a repartição entre os poderes, o Judiciário, o ministério público e
o Legislativo, assegurando uma distribuição proporcional e transparente. 371
Para facilitar seu estudo, vejamos a disposição da tabela a seguir:

ESTADOS SEM TC ESTADOS COM TC


UNIÃO MUNICÍPIOS
DOS MUNICÍPIOS DOS MUNICÍPIOS

Legislativo e tribunal de contas 2,5% 3% 3,4% 6%

Judiciário 6% 6% 6% –

Executivo 40,9% 49% 48,6% 54%

Ministério público 0,6% 2% 2% –

Total 50% 60% 60% 60%

Art. 21 É nulo de pleno direito:


I - o ato que provoque aumento da despesa com pessoal e não atenda:
a) às exigências dos arts. 16 e 17 desta Lei Complementar e o disposto no inciso XIII do caput do art. 37 e no § 1º do
art. 169 da Constituição Federal; e
b) ao limite legal de comprometimento aplicado às despesas com pessoal inativo;
II - o ato de que resulte aumento da despesa com pessoal nos 180 (cento e oitenta) dias anteriores ao final do man-
dato do titular de Poder ou órgão referido no art. 20;
III - o ato de que resulte aumento da despesa com pessoal que preveja parcelas a serem implementadas em períodos
posteriores ao final do mandato do titular de Poder ou órgão referido no art. 20;
IV - a aprovação, a edição ou a sanção, por Chefe do Poder Executivo, por Presidente e demais membros da Mesa
ou órgão decisório equivalente do Poder Legislativo, por Presidente de Tribunal do Poder Judiciário e pelo Chefe do
Ministério Público, da União e dos Estados, de norma legal contendo plano de alteração, reajuste e reestruturação de
carreiras do setor público, ou a edição de ato, por esses agentes, para nomeação de aprovados em concurso público,
quando:
a) resultar em aumento da despesa com pessoal nos 180 (cento e oitenta) dias anteriores ao final do mandato do
titular do Poder Executivo; ou
b) resultar em aumento da despesa com pessoal que preveja parcelas a serem implementadas em períodos posterio-
res ao final do mandato do titular do Poder Executivo.
§ 1º As restrições de que tratam os incisos II, III e IV:
I - devem ser aplicadas inclusive durante o período de recondução ou reeleição para o cargo de titular do Poder ou
órgão autônomo; e
II - aplicam-se somente aos titulares ocupantes de cargo eletivo dos Poderes referidos no art. 20.
§ 2º Para fins do disposto neste artigo, serão considerados atos de nomeação ou de provimento de cargo público
aqueles referidos no § 1º do art. 169 da Constituição Federal ou aqueles que, de qualquer modo, acarretem a criação
ou o aumento de despesa obrigatória.

Há algumas situações em que atos que resultem em aumento de despesas com pessoal são considerados nulos
de pleno direito. Isso inclui a não observância das exigências desta lei complementar, o limite legal aplicado às
despesas com pessoal inativo e algumas restrições temporais.

Controle da Despesa Total com Pessoal

Além dos limites dispostos no capítulo anterior, a LRF ainda impõe a observância de dois outros limites pelos
entes federativos:

z Limite de alerta: de acordo com o inciso II, § 1º, art. 59, da LRF, os Tribunais de Contas devem fiscalizar o
cumprimento da LRF e devem alertar os poderes ou órgãos fiscalizados quando constatarem que os montantes
da despesa total com pessoal se encontram acima de 90% do limite disposto no capítulo anterior;
z Limite prudencial: conforme o parágrafo único, art. 22, da LRF, se a despesa total com pessoal exceder a 95%
do limite disposto no capítulo anterior, são vedados ao poder ou ao órgão que houver incorrido no excesso:

Art. 22 A verificação do cumprimento dos limites estabelecidos nos arts. 19 e 20 será realizada ao final de cada
quadrimestre.
Parágrafo único. Se a despesa total com pessoal exceder a 95% (noventa e cinco por cento) do limite, são vedados ao
Poder ou órgão referido no art. 20 que houver incorrido no excesso:
I - concessão de vantagem, aumento, reajuste ou adequação de remuneração a qualquer título, salvo os derivados
de sentença judicial ou de determinação legal ou contratual, ressalvada a revisão prevista no inciso X do art. 37 da
Constituição;
II - criação de cargo, emprego ou função;
III - alteração de estrutura de carreira que implique aumento de despesa;
IV - provimento de cargo público, admissão ou contratação de pessoal a qualquer título, ressalvada a reposição
decorrente de aposentadoria ou falecimento de servidores das áreas de educação, saúde e segurança;
V - contratação de hora extra, salvo no caso do disposto no inciso II do § 6º do art. 57 da Constituição e as situações
372 previstas na lei de diretrizes orçamentárias.
A verificação do cumprimento dos limites de des- Se, mesmo assim, esta redução não ocorrer, serão
pesas com pessoal será feita no final de cada quadri- impostas algumas restrições, como impedimento
mestre. Se a despesa total ultrapassar 95% do limite de receber transferências voluntárias, garantias de
estabelecido, ficam vedadas certas ações, como a con- outros entes e contratação de operações de crédito
cessão de vantagens salariais, criação de cargos e con- — exceto para pagar dívida ou reduzir despesas com
tratação de pessoal, visando manter o controle fiscal e pessoal. No último ano do mandato, as restrições se
evitar excessos orçamentários. aplicam imediatamente se o excesso persistir no pri-
Quanto ao inciso V, é vedada a contratação de hora meiro quadrimestre.
extra, salvo no caso de convocação extraordinária do
Congresso Nacional, em caso de urgência ou interesse DESPESAS COM A SEGURIDADE SOCIAL
público relevante, e nas situações previstas na LDO.
Se a despesa total com pessoal ultrapassar os limi- O art. 24, da LRF, praticamente replica o que deter-
tes definidos na LRF, o percentual excedente terá de mina o § 5º, art. 195, da CF, informando que nenhum
ser eliminado nos dois quadrimestres seguintes, sen- benefício ou serviço relativo à seguridade social pode
do pelo menos um terço no primeiro. ser criado, majorado ou estendido sem a indicação da
E caso não seja alcançada a redução no prazo esta- fonte de custeio total. Esta despesa tem caráter conti-
belecido, e enquanto perdurar o excesso, nos termos nuado, então, para ser criada, devem ser atendidas as
do § 3º, do art. 23, da LRF, o ente não poderá: condições já expostas no capítulo “Despesas Obrigató-
rias de Caráter Continuado”.
Art. 23 Se a despesa total com pessoal, do Poder Vejamos a íntegra do dispositivo:
ou órgão referido no art. 20, ultrapassar os limites
definidos no mesmo artigo, sem prejuízo das medi- Art. 24 Nenhum benefício ou serviço relativo à
das previstas no art. 22, o percentual excedente terá seguridade social poderá ser criado, majorado ou
de ser eliminado nos dois quadrimestres seguintes, estendido sem a indicação da fonte de custeio total,
sendo pelo menos um terço no primeiro, adotando- nos termos do § 5º do art. 195 da Constituição,
-se, entre outras, as providências previstas nos §§ atendidas ainda as exigências do art. 17.
3º e 4º do art. 169 da Constituição. § 1º É dispensada da compensação referida no art.
§ 1º No caso do inciso I do § 3º do art. 169 da Cons- 17 o aumento de despesa decorrente de:
tituição, o objetivo poderá ser alcançado tanto pela I - concessão de benefício a quem satisfaça as
extinção de cargos e funções quanto pela redução condições de habilitação prevista na legislação
dos valores a eles atribuídos. pertinente;
§ 2º É facultada a redução temporária da jorna- II - expansão quantitativa do atendimento e dos
da de trabalho com adequação dos vencimentos à serviços prestados;
nova carga horária. III - reajustamento de valor do benefício ou serviço,
§ 3º Não alcançada a redução no prazo estabeleci- a fim de preservar o seu valor real.
do e enquanto perdurar o excesso, o Poder ou órgão § 2º O disposto neste artigo aplica-se a benefício ou
referido no art. 20 não poderá: serviço de saúde, previdência e assistência social,
I - receber transferências voluntárias; inclusive os destinados aos servidores públicos e
II - obter garantia, direta ou indireta, de outro ente; militares, ativos e inativos, e aos pensionistas.

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


III - contratar operações de crédito, ressalvadas as
destinadas ao pagamento da dívida mobiliária e as Nenhum benefício ou serviço relacionado à segu-
que visem à redução das despesas com pessoal. ridade social poderá ser criado, aumentado ou esten-
§ 4º As restrições do § 3º aplicam-se imediatamente dido sem indicar a fonte de custeio total. Dispensa-se
se a despesa total com pessoal exceder o limite no a compensação para o aumento de despesa decor-
primeiro quadrimestre do último ano do mandato rente de concessão de benefícios, expansão dos ser-
dos titulares de Poder ou órgão referidos no art. 20. viços e reajuste de valores para preservar o seu poder
§ 5º As restrições previstas no § 3º deste artigo não aquisitivo.
se aplicam ao Município em caso de queda de recei-
Essa regra será válida para benefícios e serviços
ta real superior a 10% (dez por cento), em compa-
de saúde, previdência e assistência social, inclusive
ração ao correspondente quadrimestre do exercício
para servidores públicos e militares, ativos, inativos
financeiro anterior, devido a:
I - diminuição das transferências recebidas do Fun-
e pensionistas.
do de Participação dos Municípios decorrente de
concessão de isenções tributárias pela União; e TRANSFERÊNCIAS VOLUNTÁRIAS
II - diminuição das receitas recebidas de royalties
e participações especiais. A transferência voluntária é definida na LRF como
§ 6º O disposto no § 5º deste artigo só se aplica caso a entrega de recursos correntes ou de capital a outro
a despesa total com pessoal do quadrimestre vigen- ente da Federação, a título de cooperação, auxílio ou
te não ultrapasse o limite percentual previsto no assistência financeira, que não decorra de determi-
art. 19 desta Lei Complementar, considerada, para nação constitucional, legal ou os destinados ao SUS.
este cálculo, a receita corrente líquida do quadri- Assim, esse tipo de transferência, como o próprio
mestre correspondente do ano anterior atualizada nome diz, é realizado voluntariamente de um ente
monetariamente. para outro, sem que nenhum dispositivo definido na
Constituição ou em lei específica o obrigue à realiza-
Se os limites predeterminados forem ultrapassa- ção dessa transferência.
dos, o percentual excedente deve ser eliminado nos Vejamos a íntegra do artigo:
dois quadrimestres seguintes. Entre as providências
que poderão ser tomadas estão: a extinção de cargos, Art. 25 Para efeito desta Lei Complementar, enten-
redução de valores atribuídos a eles e a possibilidade de-se por transferência voluntária a entrega de
de redução temporária da jornada de trabalho. recursos correntes ou de capital a outro ente da 373
Federação, a título de cooperação, auxílio ou assis- z o ente beneficiário deve comprovar o cumprimen-
tência financeira, que não decorra de determinação to dos limites constitucionais relativos à educação
constitucional, legal ou os destinados ao Sistema e à saúde;
Único de Saúde. z o ente beneficiário deve comprovar o cumprimen-
§ 1º São exigências para a realização de transfe- to dos limites das dívidas consolidada e mobiliária,
rência voluntária, além das estabelecidas na lei de de operações de crédito, inclusive por antecipação
diretrizes orçamentárias: de receita, de inscrição em restos a pagar e de des-
I - existência de dotação específica; pesa total com pessoal;
III - observância do disposto no inciso X do art. 167 z o ente beneficiário deve comprovar que tem previ-
da Constituição; são orçamentária de contrapartida.
IV - comprovação, por parte do beneficiário, de:
a) que se acha em dia quanto ao pagamento de tri-
Os recursos transferidos não podem ser utilizados
butos, empréstimos e financiamentos devidos ao
em uma finalidade diferente da pactuada.
ente transferidor, bem como quanto à prestação de
contas de recursos anteriormente dele recebidos;
b) cumprimento dos limites constitucionais relati-
DESTINAÇÕES DE RECURSOS PARA O SETOR
vos à educação e à saúde; PRIVADO
c) observância dos limites das dívidas consolidada
e mobiliária, de operações de crédito, inclusive por Ao contrário do que se pensa, a Administração
antecipação de receita, de inscrição em Restos a Pública pode transferir recursos para o setor priva-
Pagar e de despesa total com pessoal; do; entretanto, essa transferência está condicionada
d) previsão orçamentária de contrapartida. à autorização por meio de lei específica, além de aten-
§ 2º É vedada a utilização de recursos transferidos der às condições estabelecidas na LDO e estar prevista
em finalidade diversa da pactuada. no orçamento ou em seus créditos adicionais. É natu-
§ 3º Para fins da aplicação das sanções de suspen- ral que a LRF imponha esse tipo de controle, uma vez
são de transferências voluntárias constantes desta que recursos públicos serão utilizados em benefício
Lei Complementar, excetuam-se aquelas relativas a de um particular.
ações de educação, saúde e assistência social. Essa regra também deve ser obedecida por toda a
Administração Indireta, inclusive fundações públicas
Transferência voluntária é a entrega de recursos e empresas estatais, exceto no exercício de suas atri-
a outro ente da Federação por cooperação, auxílio ou buições precípuas, as instituições financeiras e o Ban-
assistência financeira, não decorrente de determi- co Central do Brasil. Tal medida abrange a concessão
nação constitucional, legal ou destinada ao Sistema de empréstimos, financiamentos e refinanciamentos,
Único de Saúde. Para realizá-las, exige-se dotação inclusive as respectivas prorrogações e a composição
específica, regularidade fiscal, cumprimento de limi- de dívidas, a concessão de subvenções e a participa-
tes constitucionais, previsão de contrapartida, entre ção em constituição ou aumento de capital. Vejamos
outras condições. os dispositivos:
A utilização dos recursos em finalidade diferente
da pactuada é proibida, e exceções são feitas para san- Art. 26 A destinação de recursos para, direta ou
ções relacionadas a ações de educação, saúde e assis- indiretamente, cobrir necessidades de pessoas
físicas ou déficits de pessoas jurídicas deverá ser
tência social. Desta forma temos que:
autorizada por lei específica, atender às condições
estabelecidas na lei de diretrizes orçamentárias e
z transferências constitucionais são aquelas esta- estar prevista no orçamento ou em seus créditos
belecidas pela Constituição, como, por exemplo, o adicionais.
Fundo de Participação dos Municípios, o Fundo de § 1º O disposto no caput aplica-se a toda a admi-
Participação dos Estados, o Fundo de Compensa- nistração indireta, inclusive fundações públicas e
ção dos Estados Exportadores (FPEX), e outros; empresas estatais, exceto, no exercício de suas atri-
z transferências legais são aquelas estabelecidas buições precípuas, as instituições financeiras e o
por lei específica, que não dependem de convê- Banco Central do Brasil.
nios, como as transferências da Lei Complementar § 2º Compreende-se incluída a concessão de emprés-
nº 87, de 1996 (Lei Kandir) ou as transferências do timos, financiamentos e refinanciamentos, inclusi-
Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação ve as respectivas prorrogações e a composição de
dívidas, a concessão de subvenções e a participação
— FNDE (Apoio à Alimentação Escolar para Edu-
em constituição ou aumento de capital.
cação Básica, Apoio ao Transporte Escolar para
Educação Básica, Programa Brasil Alfabetizado,
A destinação de recursos para cobrir necessidades
Programa Dinheiro Direto na Escola).
de pessoas físicas ou déficits de pessoas jurídicas deve
ser autorizada por lei específica, seguir condições da
A realização de transferências voluntárias está
lei de diretrizes orçamentárias e estar previsto no
vinculada ao cumprimento de algumas exigências: orçamento.
Aplica-se a toda Administração Indireta, exceto
z dotação específica; instituições financeiras e o Banco Central, abrangen-
z não pode ser utilizada para pagamento de despe- do empréstimos, financiamentos, subvenções e parti-
sas com pessoal ativo, inativo e pensionista; cipação em aumento de capital.
z o ente beneficiário deve comprovar que está em
dia quanto ao pagamento de tributos, emprésti- Art. 27 Na concessão de crédito por ente da Fede-
mos e financiamentos devidos ao ente transferi- ração a pessoa física, ou jurídica que não esteja
dor, bem como quanto à prestação de contas de sob seu controle direto ou indireto, os encargos
374 recursos anteriormente dele recebidos; financeiros, comissões e despesas congêneres não
serão inferiores aos definidos em lei ou ao custo de doze meses cujas receitas tenham constado do
captação. orçamento.
Parágrafo único. Dependem de autorização em lei § 4º O refinanciamento do principal da dívida mobi-
específica as prorrogações e composições de dívi- liária não excederá, ao término de cada exercício
das decorrentes de operações de crédito, bem como financeiro, o montante do final do exercício ante-
a concessão de empréstimos ou financiamentos em rior, somado ao das operações de crédito autoriza-
desacordo com o caput, sendo o subsídio corres- das no orçamento para este efeito e efetivamente
pondente consignado na lei orçamentária. realizadas, acrescido de atualização monetária.
Art. 28 Salvo mediante lei específica, não poderão
ser utilizados recursos públicos, inclusive de ope- O art. 29 trás a definição de termos relacionados à
rações de crédito, para socorrer instituições do gestão da dívida pública. Vejamos:
Sistema Financeiro Nacional, ainda que mediante a
concessão de empréstimos de recuperação ou finan-
z Dívida pública consolidada: refere-se ao mon-
ciamentos para mudança de controle acionário.
§ 1º A prevenção de insolvência e outros riscos fica- tante total das obrigações financeiras assumidas
rá a cargo de fundos, e outros mecanismos, cons- pelo ente da Federação. Os precatórios judiciais
tituídos pelas instituições do Sistema Financeiro não pagos durante a execução do orçamento em
Nacional, na forma da lei. que houverem sido incluídos também devem inte-
§ 2º O disposto no caput não proíbe o Banco Cen- grar a dívida consolidada.
tral do Brasil de conceder às instituições financei-
ras operações de redesconto e de empréstimos de No caso da União, será incluída em sua dívida
prazo inferior a trezentos e sessenta dias. pública consolidada aquela relativa à emissão de títu-
los de responsabilidade do Banco Central do Brasil.
Na concessão de crédito a terceiros por um ente
da Federação, os encargos financeiros não podem ser
inferiores aos definidos em lei ou ao custo de captação. Importante!
Além disso, é proibido o uso de recursos públi-
cos, incluindo operações de crédito para socorrer Questões sobre a dívida pública consolidada,
instituições do Sistema Financeiro Nacional sem lei principalmente sobre a parte em destaque, são
específica. recorrentes. As bancas examinadoras vão ten-
A prevenção de insolvência fica a cargo de fundos tar confundi-lo, trocando o termo “superior” por
e outros mecanismos das instituições financeiras, sem “inferior” e vice-versa. Não caia na “pegadinha”!
impedir o Banco Central de conceder operações de
redesconto e empréstimos de curto prazo.
z Dívida pública mobiliária: inclui títulos emiti-
DÍVIDA PÚBLICA E ENDIVIDAMENTO dos pela União, estados e municípios. O refinan-
ciamento do principal da dívida mobiliária não
Art. 29 Para os efeitos desta Lei Complementar, são excederá, ao término de cada exercício financeiro,
adotadas as seguintes definições: o montante do final do exercício anterior, somado

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


I - dívida pública consolidada ou fundada: montan- ao das operações de crédito autorizadas no orça-
te total, apurado sem duplicidade, das obrigações mento para este efeito e efetivamente realizadas,
financeiras do ente da Federação, assumidas em acrescido de atualização monetária (§ 4º, art. 29);
virtude de leis, contratos, convênios ou tratados e z Operação de crédito: são os compromissos finan-
da realização de operações de crédito, para amorti- ceiros decorrentes de mútuo, abertura de crédito,
zação em prazo superior a doze meses;
emissão e aceite de título, aquisição financiada de
II - dívida pública mobiliária: dívida pública repre-
bens, recebimento antecipado de valores da venda
sentada por títulos emitidos pela União, inclusive os
do Banco Central do Brasil, Estados e Municípios; a termo de bens e serviços e arrendamento mer-
III - operação de crédito: compromisso financeiro cantil e operações semelhantes;
assumido em razão de mútuo, abertura de crédito, z Concessão de garantia: é o compromisso de adim-
emissão e aceite de título, aquisição financiada de plência assumido por um ente da Federação;
bens, recebimento antecipado de valores provenien- z Refinanciamento de dívida imobiliária: consis-
tes da venda a termo de bens e serviços, arrenda- te na emissão de novos títulos para quitar o valor
mento mercantil e outras operações assemelhadas, principal da dívida existente, acrescido dos ajustes
inclusive com o uso de derivativos financeiros; monetários.
IV - concessão de garantia: compromisso de adim-
plência de obrigação financeira ou contratual Atenção! As definições relacionadas à dívida
assumida por ente da Federação ou entidade a ele pública dispostas acima são muito cobradas nos con-
vinculada;
cursos públicos, principalmente os conceitos acerca
V - refinanciamento da dívida mobiliária: emissão
da dívida pública consolidada e da dívida pública
de títulos para pagamento do principal acrescido
da atualização monetária. mobiliária. Vale a pena memorizá-los!
§ 1º Equipara-se a operação de crédito a assunção, A competência da dívida mobiliária e da dívida
o reconhecimento ou a confissão de dívidas pelo consolidada se dá da seguinte maneira:
ente da Federação, sem prejuízo do cumprimento
das exigências dos arts. 15 e 16.
CONGRESSO
§ 2º Será incluída na dívida pública consolidada da Dívida mobiliária federal
União a relativa à emissão de títulos de responsabi- NACIONAL
lidade do Banco Central do Brasil. Dívida mobiliária dos
§ 3º Também integram a dívida pública consoli- SENADO FEDERAL
estados
dada as operações de crédito de prazo inferior a 375
ficará impedido de receber transferências voluntárias
Dívida consolidada da da União ou do Estado.
União, estados, Distrito SENADO FEDERAL
Federal e municípios
OPERAÇÕES DE CRÉDITO

Art. 31 Se a dívida consolidada de um ente da Fede- Segundo Pascoal (2019, p. 135), o crédito público
ração ultrapassar o respectivo limite ao final de um é a confiança de que goza o governo para contrair
quadrimestre, deverá ser a ele reconduzida até o
empréstimos de pessoas físicas e jurídicas, nacionais
término dos três subseqüentes, reduzindo o exce-
ou estrangeiras. Assim, este é um dos meios utilizados
dente em pelo menos 25% (vinte e cinco por cento)
pelo Estado para obter recursos para cobrir despesas.
no primeiro.
§ 1º Enquanto perdurar o excesso, o ente que nele Obviamente, a consequência imediata do ato de
houver incorrido: contrair empréstimos é o aumento da dívida pública,
I - estará proibido de realizar operação de crédito que deve ser controlada. E não é por acaso que a LRF
interna ou externa, inclusive por antecipação de impõe limites para o endividamento estatal.
receita, ressalvadas as para pagamento de dívidas
mobiliárias; Contratação de Operações de Crédito
II - obterá resultado primário necessário à recondu-
ção da dívida ao limite, promovendo, entre outras A LRF define operação de crédito como com-
medidas, limitação de empenho, na forma do art. promisso financeiro assumido em razão de mútuo
9o. (empréstimo), abertura de crédito, emissão e aceite
§ 2º Vencido o prazo para retorno da dívida ao de título, aquisição financiada de bens, recebimento
limite, e enquanto perdurar o excesso, o ente ficará antecipado de valores provenientes da venda a termo
também impedido de receber transferências volun- de bens e serviços, arrendamento mercantil e outras
tárias da União ou do Estado.
operações assemelhadas, inclusive com o uso de deri-
§ 3º As restrições do § 1º aplicam-se imediatamente
vativos financeiros. Além disso, a LRF determina que
se o montante da dívida exceder o limite no primei-
se equiparam à operação de crédito a assunção, o
ro quadrimestre do último ano do mandato do Che-
fe do Poder Executivo. reconhecimento ou a confissão de dívidas pelo ente
§ 4º O Ministério da Fazenda divulgará, mensal- da Federação.
mente, a relação dos entes que tenham ultrapassa- Para a contratação de uma operação de crédito
do os limites das dívidas consolidada e mobiliária. por um ente federativo, este ente deverá submeter a
§ 5º As normas deste artigo serão observadas nos operação à aprovação do Ministério da Fazenda, que
casos de descumprimento dos limites da dívida verifica o cumprimento dos limites e condições relati-
mobiliária e das operações de crédito internas e vos à realização de operações de crédito, inclusive das
externas. empresas controladas, direta ou indiretamente, pelo
ente solicitante.
Se a dívida consolidada de um ente federativo Vejamos:
exceder o limite ao final de um quadrimestre, seu
excedente deverá ser reduzido em, pelo menos, 25% Art. 32 O Ministério da Fazenda verificará o cum-
no primeiro quadrimestre subsequente, havendo a primento dos limites e condições relativos à rea-
recondução da dívida ao limite de três quadrimestres lização de operações de crédito de cada ente da
seguintes. Federação, inclusive das empresas por eles contro-
Durante o período de excesso, o ente fica proibido ladas, direta ou indiretamente.
de realizar operações de crédito, exceto para pagar § 1º O ente interessado formalizará seu pleito fun-
damentando-o em parecer de seus órgãos técnicos e
dívidas mobiliárias. Além disso, é necessário garantir
jurídicos, demonstrando a relação custo-benefício,
um resultado primário para reconduzir a dívida ao
o interesse econômico e social da operação e o aten-
limite, o que pode envolver medidas como, por exem- dimento das seguintes condições:
plo, limitação de empenho. I - existência de prévia e expressa autorização para
Importante lembrarmos, também, que o Ministé- a contratação, no texto da lei orçamentária, em cré-
rio da Fazenda divulgará mensalmente os entes fede- ditos adicionais ou lei específica;
rativos que ultrapassarem os limites da dívida. II - inclusão no orçamento ou em créditos adicio-
Essas restrições se aplicam imediatamente se o nais dos recursos provenientes da operação, exceto
montante da dívida exceder o limite no primeiro no caso de operações por antecipação de receita;
quadrimestre do último ano do mandato do chefe do III - observância dos limites e condições fixados
Poder Executivo. pelo Senado Federal;
São recorrentes questões misturando conceitos IV - autorização específica do Senado Federal,
acerca do que seria autorizado e do que seria proibi- quando se tratar de operação de crédito externo;
do quando se verifica o desatendimento do limite da V - atendimento do disposto no inciso III do art. 167
dívida consolidada: da Constituição;
VI - observância das demais restrições estabeleci-
das nesta Lei Complementar.
z São proibidas: operação de crédito, seja interna
§ 2º As operações relativas à dívida mobiliária fede-
ou externa, e operação de crédito por antecipa-
ral autorizadas, no texto da lei orçamentária ou de
ção de receita; créditos adicionais, serão objeto de processo sim-
z É autorizado: refinanciamento do principal plificado que atenda às suas especificidades.
atualizado da dívida mobiliária. § 3º Para fins do disposto no inciso V do § 1º, consi-
derar-se-á, em cada exercício financeiro, o total dos
Se o ente federativo não conseguir fazer com que recursos de operações de crédito nele ingressados
a dívida consolidada retorne ao limite no prazo de e o das despesas de capital executadas, observado
376 três quadrimestres, enquanto perdurar o excesso, ele o seguinte:
I - não serão computadas nas despesas de capital § 2º Se a devolução não for efetuada no exercício
as realizadas sob a forma de empréstimo ou finan- de ingresso dos recursos, será consignada reser-
ciamento a contribuinte, com o intuito de promover va específica na lei orçamentária para o exercício
incentivo fiscal, tendo por base tributo de compe- seguinte.
tência do ente da Federação, se resultar a diminui- § 3º Enquanto não for efetuado o cancelamento ou
ção, direta ou indireta, do ônus deste; a amortização ou constituída a reserva de que tra-
II - se o empréstimo ou financiamento a que se refe- ta o § 2º, aplicam-se ao ente as restrições previstas
re o inciso I for concedido por instituição financeira no § 3º do art. 23.
controlada pelo ente da Federação, o valor da ope- § 4º Também se constituirá reserva, no montante
ração será deduzido das despesas de capital; equivalente ao excesso, se não atendido o disposto
III - (VETADO) no inciso III do art. 167 da Constituição, considera-
§ 4º Sem prejuízo das atribuições próprias do
das as disposições do § 3º do art. 32.
Senado Federal e do Banco Central do Brasil, o
Ministério da Fazenda efetuará o registro eletrôni-
co centralizado e atualizado das dívidas públicas As instituições financeiras que realizarem opera-
interna e externa, garantido o acesso público às ções de crédito com entes federativos devem garan-
informações, que incluirão: tir que estejam em conformidade com as condições e
I - encargos e condições de contratação; limites estabelecidos nessa lei.
II - saldos atualizados e limites relativos às dívidas Caso a operação seja realizada em infração a algu-
consolidada e mobiliária, operações de crédito e ma dessa normas, ela será considerada nula, sujeita
concessão de garantias. ao cancelamento com devolução do valor principal,
§ 5º Os contratos de operação de crédito externo sem o pagamento de juros e encargos financeiros.
não conterão cláusula que importe na compensa-
Caso a devolução não ocorra no exercício de ingres-
ção automática de débitos e créditos.
§ 6º O prazo de validade da verificação dos limites
so dos recursos, será reservado um montante específi-
e das condições de que trata este artigo e da análise co na lei orçamentária para o exercício seguinte.
realizada para a concessão de garantia pela União
será de, no mínimo, 90 (noventa) dias e, no máximo, Dica
270 (duzentos e setenta) dias, a critério do Ministé-
rio da Fazenda. Segundo o art. 41, da Lei nº 4.320, de 1964, os
§ 7º Poderá haver alteração da finalidade de opera- créditos adicionais classificam-se em:
ção de crédito de Estados, do Distrito Federal e de � Suplementares: são destinados ao reforço de
Municípios sem a necessidade de nova verificação dotação orçamentária;
pelo Ministério da Economia, desde que haja pré-
� Especiais: são destinados a despesas para as
via e expressa autorização para tanto, no texto da
lei orçamentária, em créditos adicionais ou em lei quais não haja dotação orçamentária específica;
específica, que se demonstre a relação custo-benefí- � Extraordinários: são destinados a despe-
cio e o interesse econômico e social da operação e sas urgentes e imprevistas, em caso de guerra,
que não configure infração a dispositivo desta Lei comoção intestina ou calamidade pública.
Complementar.

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


Vedações
O Ministério da Fazenda é responsável por verifi-
car o cumprimento dos limites e condições para ope- A LRF veda que um ente conceda empréstimos
rações de crédito de cada ente federativo, incluindo (operação de crédito) a outro ente federativo, seja
de suas empresas controladas. diretamente ou por intermédio de fundo ou de enti-
Para solicitar uma operação de crédito, o ente deve dade da Administração indireta (autarquia, funda-
fundamentar o pedido com parecer técnico e jurídico, ção ou empresa estatal dependente), mesmo que esse
demonstrando a relação custo-benefício e o interesse
empréstimo seja realizado sob a forma de novação,
econômico e social. As condições incluem autorização
refinanciamento ou postergação de dívida contraída
específica na lei orçamentária, inclusão no orçamen-
anteriormente. Entretanto, esses empréstimos podem
to dos recursos, observância dos limites do Senado
ser realizados quando não se destinarem a financiar
Federal, autorização para operações externas e aten-
dimento das restrições dessa lei. despesas correntes ou a refinanciar dívidas não con-
As operações da dívida mobiliária federal autori- traídas junto à própria instituição credora. Vejamos os
zadas na LDO passam por um processo simplificado dispositivos:
em que o Ministério da Fazenda registra eletronica-
mente as dívidas públicas, proporcionando acesso Art. 35 É vedada a realização de operação de cré-
público às informações relevantes. dito entre um ente da Federação, diretamente ou
O prazo de validade da verificação dos limites e por intermédio de fundo, autarquia, fundação ou
condições é de 90 a 270 dias. empresa estatal dependente, e outro, inclusive suas
entidades da administração indireta, ainda que sob
Art. 33 A instituição financeira que contratar ope- a forma de novação, refinanciamento ou posterga-
ração de crédito com ente da Federação, exceto ção de dívida contraída anteriormente.
quando relativa à dívida mobiliária ou à externa, § 1º Excetuam-se da vedação a que se refere o caput
deverá exigir comprovação de que a operação aten- as operações entre instituição financeira estatal e
de às condições e limites estabelecidos. outro ente da Federação, inclusive suas entidades
§ 1º A operação realizada com infração do dispos- da administração indireta, que não se destinem a:
to nesta Lei Complementar será considerada nula, I - financiar, direta ou indiretamente, despesas
procedendo-se ao seu cancelamento, mediante a correntes;
devolução do principal, vedados o pagamento de II - refinanciar dívidas não contraídas junto à pró-
juros e demais encargos financeiros. pria instituição concedente. 377
§ 2º O disposto no caput não impede Estados e por exemplo, a receita de um tributo para quitar algu-
Municípios de comprar títulos da dívida da União ma despesa. Assim, de acordo com a LRF, AROs são
como aplicação de suas disponibilidades. empréstimos tomados junto a instituições financeiras
Art. 36 É proibida a operação de crédito entre uma para atender à insuficiência de caixa durante o exercí-
instituição financeira estatal e o ente da Federa-
cio financeiro. Vejamos o que diz o art. 38:
ção que a controle, na qualidade de beneficiário do
empréstimo.
Parágrafo único. O disposto no caput não proíbe Art. 38 A operação de crédito por antecipação de
instituição financeira controlada de adquirir, no receita destina-se a atender insuficiência de caixa
mercado, títulos da dívida pública para atender durante o exercício financeiro e cumprirá as exi-
investimento de seus clientes, ou títulos da dívida gências mencionadas no art. 32 e mais as seguintes:
de emissão da União para aplicação de recursos I - realizar-se-á somente a partir do décimo dia do
próprios. início do exercício;
Art. 37 Equiparam-se a operações de crédito e II - deverá ser liquidada, com juros e outros encar-
estão vedados: gos incidentes, até o dia dez de dezembro de cada
I - captação de recursos a título de antecipação de ano;
receita de tributo ou contribuição cujo fato gerador III - não será autorizada se forem cobrados outros
ainda não tenha ocorrido, sem prejuízo do disposto encargos que não a taxa de juros da operação, obri-
no § 7º do art. 150 da Constituição; gatoriamente prefixada ou indexada à taxa básica
II - recebimento antecipado de valores de empresa financeira, ou à que vier a esta substituir;
em que o Poder Público detenha, direta ou indire- IV - estará proibida:
tamente, a maioria do capital social com direi-
a) enquanto existir operação anterior da mesma
to a voto, salvo lucros e dividendos, na forma da
natureza não integralmente resgatada;
legislação;
b) no último ano de mandato do Presidente, Gover-
III - assunção direta de compromisso, confissão
nador ou Prefeito Municipal.
de dívida ou operação assemelhada, com forne-
cedor de bens, mercadorias ou serviços, mediante § 1º As operações de que trata este artigo não serão
emissão, aceite ou aval de título de crédito, não computadas para efeito do que dispõe o inciso III do
se aplicando esta vedação a empresas estatais art. 167 da Constituição, desde que liquidadas no
dependentes; prazo definido no inciso II do caput.
IV - assunção de obrigação, sem autorização orça- § 2º As operações de crédito por antecipação de
mentária, com fornecedores para pagamento a pos- receita realizadas por Estados ou Municípios serão
teriori de bens e serviços. efetuadas mediante abertura de crédito junto à ins-
tituição financeira vencedora em processo compe-
É vedada a realização de operações de crédito titivo eletrônico promovido pelo Banco Central do
entre entes federativos, suas entidades e instituições Brasil.
financeiras estatais, com exceções para operações § 3º O Banco Central do Brasil manterá sistema de
entre instituição financeira estatal e ente federativo, acompanhamento e controle do saldo do crédito
desde que não financiem despesas correntes ou refi- aberto e, no caso de inobservância dos limites, apli-
nanciem dívidas junto à mesma instituição. cará as sanções cabíveis à instituição credora.
Destaca-se que estados e municípios podem com-
prar títulos da dívida da União. A lei também veda As operações de crédito por antecipação de receita
operações de crédito entre instituição financeira esta- devem ser realizadas a partir do décimo dia do exer-
tal e ente federativo controlador, exceto se a institui- cício; a liquidação deve ocorrer até o dia 10 de dezem-
ção adquirir títulos no mercado para investimento de bro de cada ano.
clientes ou aplicação própria. Podemos sintetizar as informações do art. 38 da
Por fim, também há proibição de práticas equipa- seguinte maneira:
radas a operação de crédito, incluindo captação de
recursos antecipada de tributos não vencidos, rece-
bimento antecipado de empresas em que o poder A ARO DEVE ATENDER
A ARO ESTARÁ
público detenha maioria do capital, e assunção dire- ÀS SEGUINTES
PROIBIDA:
ta de dívidas com fornecedores sem autorização CONDIÇÕES:
orçamentária, com exceção para empresas estatais
dependentes. � Poderá ser realizada
Dica: a Resolução nº 43, de 2001, do Senado, proí- somente a partir do
be a contratação de operações de crédito nos 180 dias décimo dia do início do
exercício
anteriores ao final do mandato do chefe do Poder
� Deverá ser liquidada,
Executivo. � Enquanto existir
com juros e outros
operação anterior da
encargos incidentes, até
Operações de Crédito por Antecipação de Receita mesma natureza não
o dia 10 de dezembro de
Orçamentária integralmente resgatada
cada ano
� No último ano de
� Não será autorizada
Em empresas privadas, muitas vezes há necessida- mandato do presidente,
se forem cobrados
de de se antecipar o recebimento de valores aos quais governador ou prefeito
outros encargos além
se tem direito, por meio, por exemplo, de desconto de municipal
da taxa de juros da
duplicatas. Da mesma forma, muitas vezes o poder
operação, que deve
público precisa recorrer a uma prática semelhante
ser obrigatoriamente
ao desconto de duplicatas, a qual recebe o nome de
prefixada ou indexada à
Operações de Crédito por Antecipação da Receita
taxa básica financeira
378 (ARO). Nessa operação, o ente federativo antecipa,
AROs são receitas extraorçamentárias, uma vez estabelecidos pelo Senado Federal e as normas
que devem ser pagas ao credor. emitidas pelo Ministério da Economia acerca da
Diferentemente, as operações de crédito adicio- classificação de capacidade de pagamento dos
nais (suplementares, especiais e extraordinários) são mutuários.
classificadas como receitas orçamentárias. § 1º A garantia estará condicionada ao oferecimen-
to de contragarantia, em valor igual ou superior
Art. 39 Nas suas relações com ente da Federação, ao da garantia a ser concedida, e à adimplência da
o Banco Central do Brasil está sujeito às vedações entidade que a pleitear relativamente a suas obri-
constantes do art. 35 e mais às seguintes: gações junto ao garantidor e às entidades por este
I - compra de título da dívida, na data de sua colo- controladas, observado o seguinte:
cação no mercado, ressalvado o disposto no § 2º I - não será exigida contragarantia de órgãos e enti-
deste artigo; dades do próprio ente;
II - permuta, ainda que temporária, por intermédio II - a contragarantia exigida pela União a Estado ou
de instituição financeira ou não, de título da dívida Município, ou pelos Estados aos Municípios, pode-
de ente da Federação por título da dívida pública rá consistir na vinculação de receitas tributárias
federal, bem como a operação de compra e venda, diretamente arrecadadas e provenientes de trans-
a termo, daquele título, cujo efeito final seja seme- ferências constitucionais, com outorga de poderes
lhante à permuta; ao garantidor para retê-las e empregar o respectivo
III - concessão de garantia. valor na liquidação da dívida vencida.
§ 1º O disposto no inciso II, in fine, não se aplica § 2º No caso de operação de crédito junto a orga-
ao estoque de Letras do Banco Central do Brasil, nismo financeiro internacional, ou a instituição
Série Especial, existente na carteira das instituições federal de crédito e fomento para o repasse de
financeiras, que pode ser refinanciado mediante recursos externos, a União só prestará garantia a
novas operações de venda a termo. ente que atenda, além do disposto no § 1º, as exi-
§ 2º O Banco Central do Brasil só poderá comprar gências legais para o recebimento de transferências
diretamente títulos emitidos pela União para refi- voluntárias.
nanciar a dívida mobiliária federal que estiver ven- § 3º (VETADO)
cendo na sua carteira. § 4º (VETADO)
§ 3º A operação mencionada no § 2º deverá ser rea- § 5º É nula a garantia concedida acima dos limites
lizada à taxa média e condições alcançadas no dia, fixados pelo Senado Federal.
em leilão público. § 6º É vedado às entidades da administração indi-
§ 4º É vedado ao Tesouro Nacional adquirir títulos reta, inclusive suas empresas controladas e subsi-
da dívida pública federal existentes na carteira do diárias, conceder garantia, ainda que com recursos
Banco Central do Brasil, ainda que com cláusula de de fundos.
reversão, salvo para reduzir a dívida mobiliária. § 7º O disposto no § 6º não se aplica à concessão de
garantia por:
O Banco Central do Brasil está sujeito a algumas I - empresa controlada a subsidiária ou controlada
restrições no que tange às suas relações com ente da sua, nem à prestação de contragarantia nas mes-
Federação, quais sejam: mas condições;
II - instituição financeira a empresa nacional, nos

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


z a proibição da compra de títulos da dívida na data termos da lei.
da colocação; § 8º Excetua-se do disposto neste artigo a garantia
z a permuta por títulos da dívida federal; e prestada:
I - por instituições financeiras estatais, que se subme-
z a concessão de garantia (exceto para estoque de
terão às normas aplicáveis às instituições financei-
letras do BCB).
ras privadas, de acordo com a legislação pertinente;
II - pela União, na forma de lei federal, a empresas
Garantia e Contragarantia de natureza financeira por ela controladas, direta
e indiretamente, quanto às operações de seguro de
Segundo o inciso V, art. 29, da LRF, a garantia é um crédito à exportação.
compromisso de adimplência de obrigação financei- § 9º Quando honrarem dívida de outro ente, em
ra ou contratual assumida por ente da Federação ou razão de garantia prestada, a União e os Estados
entidade a ele vinculada. poderão condicionar as transferências constitucio-
Por outro lado, um ente pode conceder garantia a nais ao ressarcimento daquele pagamento.
outro ente federativo e requerer, em contrapartida, § 10 O ente da Federação cuja dívida tiver sido hon-
reciprocidade, ou seja, o oferecimento de uma contra- rada pela União ou por Estado, em decorrência de
garantia, em valor igual ou superior ao da garantia a garantia prestada em operação de crédito, terá sus-
ser concedida, que se dá por meio da vinculação de penso o acesso a novos créditos ou financiamentos
receitas tributárias e está condicionada à adimplên- até a total liquidação da mencionada dívida.
cia da entidade pleiteante junto ao ente concedente e § 11 A alteração da metodologia utilizada para fins
suas entidades; como regra, não pode ser concedida de classificação da capacidade de pagamento de
pela Administração indireta. Estados e Municípios deverá ser precedida de con-
Vejamos a íntegra do art. 40, que dispõe sobre a sulta pública, assegurada a manifestação dos entes.
garantia e a contragarantia. Atenção ao que dispõem
o caput e o § 11, pois eles foram alterados pela LC nº O legislador trouxe uma série de garantias que os
178, de 2021: entes federativos podem oferecer em operações de
crédito, tanto internas quanto externas. Para isso, a
Art. 40 Os entes poderão conceder garantia em garantia estará condicionada à oferta de contraga-
operações de crédito internas ou externas, observa- rantia em valor igual ou superior ao da garantia a ser
dos o disposto neste artigo, as normas do art. 32 e, concedida, com exceção dos órgãos e entidades do
no caso da União, também os limites e as condições próprio ente. 379
Art. 44 É vedada a aplicação da receita de capital z liberação ao pleno conhecimento e acompa-
derivada da alienação de bens e direitos que inte- nhamento da sociedade, em tempo real, de
gram o patrimônio público para o financiamento informações pormenorizadas sobre a execução
de despesa corrente, salvo se destinada por lei aos orçamentária e financeira, em meios eletrônicos
regimes de previdência social, geral e próprio dos de acesso público;
servidores públicos. z adoção de sistema integrado de administração
financeira e controle que atenda ao padrão míni-
Quando o governo vende um bem público, como mo de qualidade estabelecido pelo Poder Executi-
um imóvel ou um ativo, e obtém receita de capital vo da União;
dessa venda, essa receita não deve ser utilizada para z disponibilização de informações e dados contá-
cobrir gastos rotineiros e operacionais do governo, beis, orçamentários e fiscais conforme periodici-
como salários, serviços públicos diários, entre outros. dade, formato e sistema estabelecidos pelo órgão
A exceção é quando uma lei determinar expressa- central de contabilidade da União, os quais deve-
mente que essa receita deverá ser direcionada para rão ser divulgados em meio eletrônico de amplo
os regimes de previdência social, o que inclui tanto o acesso público.
sistema de previdência social geral quanto o específi-
co dos servidores públicos. Vejamos a íntegra do art. 48:

Art. 47 A empresa controlada que firmar contrato Art. 48 São instrumentos de transparência da ges-
de gestão em que se estabeleçam objetivos e metas tão fiscal, aos quais será dada ampla divulgação,
de desempenho, na forma da lei, disporá de auto- inclusive em meios eletrônicos de acesso público:
nomia gerencial, orçamentária e financeira, sem os planos, orçamentos e leis de diretrizes orça-
prejuízo do disposto no inciso II do § 5o do art. 165 mentárias; as prestações de contas e o respectivo
da Constituição. parecer prévio; o Relatório Resumido da Execução
Parágrafo único. A empresa controlada incluirá em Orçamentária e o Relatório de Gestão Fiscal; e as
seus balanços trimestrais nota explicativa em que versões simplificadas desses documentos.
informará: § 1º A transparência será assegurada também
I - fornecimento de bens e serviços ao controlador, mediante:
com respectivos preços e condições, comparando- I - incentivo à participação popular e realização de
-os com os praticados no mercado; audiências públicas, durante os processos de elabo-
II - recursos recebidos do controlador, a qualquer ração e discussão dos planos, lei de diretrizes orça-
título, especificando valor, fonte e destinação; mentárias e orçamentos;
III - venda de bens, prestação de serviços ou conces- II - liberação ao pleno conhecimento e acompanha-
são de empréstimos e financiamentos com preços, mento da sociedade, em tempo real, de informações
taxas, prazos ou condições diferentes dos vigentes pormenorizadas sobre a execução orçamentária e
no mercado. financeira, em meios eletrônicos de acesso público;
e
III - adoção de sistema integrado de administração
Uma empresa controlada, ao firmar um contrato
financeira e controle, que atenda a padrão mínimo
de gestão com estabelecimento de objetivos e metas de qualidade estabelecido pelo Poder Executivo da
de desempenho, terá autonomia gerencial, orçamen- União e ao disposto no art. 48-A.
tária e financeira. § 2º A União, os Estados, o Distrito Federal e os
Todavia, a empresa controlada deverá incluir em Municípios disponibilizarão suas informações e
seus balanços trimestrais uma nota explicativa com dados contábeis, orçamentários e fiscais confor-
informações detalhadas, como o fornecimento de me periodicidade, formato e sistema estabelecidos
bens e serviços aos controlados, especificando valor, pelo órgão central de contabilidade da União, os
fonte e destinação, e detalhes sobre vendas, serviços, quais deverão ser divulgados em meio eletrônico de
empréstimos e financiamentos com condições dife- amplo acesso público.
rentes das praticadas no mercado. § 3º Os Estados, o Distrito Federal e os Municí-
pios encaminharão ao Ministério da Fazenda, nos
termos e na periodicidade a serem definidos em
TRANSPARÊNCIA DA GESTÃO FISCAL
instrução específica deste órgão, as informações
necessárias para a constituição do registro eletrô-
A transparência possui um forte vínculo com a nico centralizado e atualizado das dívidas públicas
democracia, uma vez que transparência pode ser interna e externa, de que trata o § 4º do art. 32.
entendida como a forma como as instituições demo- § 4º A inobservância do disposto nos §§ 2º e 3º ense-
cráticas operam sob o exame da sociedade. jará as penalidades previstas no § 2º do art. 51.
Segundo a LRF, são instrumentos de transparência § 5º Nos casos de envio conforme disposto no § 2º,
da gestão fiscal: para todos os efeitos, a União, os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios cumprem o dever de ampla
z planos, orçamentos e leis de diretrizes divulgação a que se refere o caput.
orçamentárias; § 6º Todos os Poderes e órgãos referidos no art. 20,
incluídos autarquias, fundações públicas, empresas
z prestações de contas, o respectivo parecer prévio e
estatais dependentes e fundos, do ente da Federa-
suas versões simplificadas;
ção devem utilizar sistemas únicos de execução
z relatório resumido da execução orçamentária; orçamentária e financeira, mantidos e gerenciados
z relatório de gestão fiscal; pelo Poder Executivo, resguardada a autonomia.
z incentivo à participação popular e realização de Art. 48-A Para os fins a que se refere o inciso II do
audiências públicas durante os processos de ela- parágrafo único do art. 48, os entes da Federação
boração e discussão dos planos, lei de diretrizes disponibilizarão a qualquer pessoa física ou jurídi-
380 orçamentárias e orçamentos; ca o acesso a informações referentes a:
I - quanto à despesa: todos os atos praticados II - a despesa e a assunção de compromisso serão
pelas unidades gestoras no decorrer da execução registradas segundo o regime de competência, apu-
da despesa, no momento de sua realização, com a rando-se, em caráter complementar, o resultado
disponibilização mínima dos dados referentes ao dos fluxos financeiros pelo regime de caixa;
número do correspondente processo, ao bem for- III - as demonstrações contábeis compreenderão,
necido ou ao serviço prestado, à pessoa física ou isolada e conjuntamente, as transações e operações
jurídica beneficiária do pagamento e, quando for o de cada órgão, fundo ou entidade da administração
caso, ao procedimento licitatório realizado; direta, autárquica e fundacional, inclusive empresa
II - quanto à receita: o lançamento e o recebimen- estatal dependente;
to de toda a receita das unidades gestoras, inclusive IV - as receitas e despesas previdenciárias serão
referente a recursos extraordinários. apresentadas em demonstrativos financeiros e
orçamentários específicos;
O legislador preocupou-se em destacar a impor- V - as operações de crédito, as inscrições em Res-
tância da transparência na gestão fiscal, exigindo a tos a Pagar e as demais formas de financiamento
ou assunção de compromissos junto a terceiros,
divulgação ampla de diversos instrumentos, como
deverão ser escrituradas de modo a evidenciar o
planos, leis de diretrizes orçamentárias, prestação de
montante e a variação da dívida pública no perío-
contas e relatórios.
do, detalhando, pelo menos, a natureza e o tipo de
É obrigatória a disponibilização de informações credor;
contábeis, orçamentárias e fiscais pelos entes federa- VI - a demonstração das variações patrimoniais
tivos em meio eletrônico de amplo acesso público. dará destaque à origem e ao destino dos recursos
Ademais, as informações sobre despesas e receitas provenientes da alienação de ativos.
são de livre acesso ao público — tanto as das despesas § 1º No caso das demonstrações conjuntas, excluir-
quanto as das receitas. -se-ão as operações intragovernamentais.
Além disso, conforme disposto no art. 49, as contas § 2º A edição de normas gerais para consolidação
apresentadas pelo chefe do Poder Executivo devem das contas públicas caberá ao órgão central de
ficar disponíveis, durante todo o exercício, no respec- contabilidade da União, enquanto não implantado
tivo Poder Legislativo e no órgão técnico responsável o conselho de que trata o art. 67.
pela sua elaboração, para consulta e apreciação pelos § 3º A Administração Pública manterá sistema
cidadãos e instituições da sociedade. de custos que permita a avaliação e o acompa-
nhamento da gestão orçamentária, financeira e
patrimonial.
Art. 49 As contas apresentadas pelo Chefe do Poder
Executivo ficarão disponíveis, durante todo o exer-
cício, no respectivo Poder Legislativo e no órgão Esse artigo estabelece diretrizes para a escritura-
técnico responsável pela sua elaboração, para con- ção das contas públicas, destacando a individualização
sulta e apreciação pelos cidadãos e instituições da dos recursos, o registro pelo regime de competência,
sociedade. a elaboração detalhada das demonstrações contábeis,
Parágrafo único. A prestação de contas da União a apresentação específica das receitas e despesas pre-
conterá demonstrativos do Tesouro Nacional e das videnciárias, o registro pormenorizado de operações
agências financeiras oficiais de fomento, incluído de crédito e a evidenciação de variações patrimoniais.

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômi- Também destaca a exclusão de operações intrago-
co e Social, especificando os empréstimos e finan- vernamentais em demonstrações conjuntas, a respon-
ciamentos concedidos com recursos oriundos dos sabilidade do órgão central de contabilidade da União
orçamentos fiscal e da seguridade social e, no caso na consolidação das contas públicas e a necessidade
das agências financeiras, avaliação circunstancia- de se manter um sistema de custos para avaliação e
da do impacto fiscal de suas atividades no exercício. acompanhamento da gestão.

As contas apresentadas pelo chefe do Poder Execu- RELATÓRIO RESUMIDO DE EXECUÇÃO


tivo estarão disponíveis ao público ao longo do exercí- ORÇAMENTÁRIA
cio no respectivo Poder Legislativo e no órgão técnico
responsável por sua elaboração. De acordo com o § 3º, art. 165, da CF, o Poder Execu-
A prestação de contas da União deve incluir tivo de cada ente federativo fica obrigado a publicar,
demonstrativos específicos do Tesouro Nacional e das em até 30 dias após o encerramento de cada bimes-
agências financeiras oficiais de fomento, como o Ban- tre, o Relatório Resumido de Execução Orçamentária
co Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (RREO). Esse relatório objetiva evidenciar a situação
(BNDES). Tais demonstrativos devem detalhar os fiscal do ente federativo, demonstrando a execução
empréstimos e financiamentos concedidos com recur- orçamentária da receita e da despesa, permitindo aos
sos provenientes dos orçamentos fiscais e da seguri- órgãos de controle interno e externo, aos usuários e à
dade social. sociedade em geral o conhecimento, acompanhamen-
to e análise do desempenho das ações governamen-
ESCRITURAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DAS CONTAS tais estabelecidas na LDO e na LOA.

Art. 50 Além de obedecer às demais normas de con- Art. 52 O relatório a que se refere o § 3º do art. 165 da
tabilidade pública, a escrituração das contas públi- Constituição abrangerá todos os Poderes e o Minis-
cas observará as seguintes: tério Público, será publicado até trinta dias após o
I - a disponibilidade de caixa constará de registro encerramento de cada bimestre e composto de:
próprio, de modo que os recursos vinculados a I - balanço orçamentário, que especificará, por
órgão, fundo ou despesa obrigatória fiquem iden- categoria econômica, as:
tificados e escriturados de forma individualizada; a) receitas por fonte, informando as realizadas e a
realizar, bem como a previsão atualizada; 381
b) despesas por grupo de natureza, discriminando V - Restos a Pagar, detalhando, por Poder e órgão
a dotação para o exercício, a despesa liquidada e referido no art. 20, os valores inscritos, os paga-
o saldo; mentos realizados e o montante a pagar.
II - demonstrativos da execução das: § 1º O relatório referente ao último bimestre do exer-
a) receitas, por categoria econômica e fonte, espe- cício será acompanhado também de demonstrativos:
cificando a previsão inicial, a previsão atualizada I - do atendimento do disposto no inciso III do art.
para o exercício, a receita realizada no bimestre, a 167 da Constituição, conforme o § 3º do art. 32;
realizada no exercício e a previsão a realizar; II - das projeções atuariais dos regimes de previdên-
b) despesas, por categoria econômica e grupo de cia social, geral e próprio dos servidores públicos;
natureza da despesa, discriminando dotação ini- III - da variação patrimonial, evidenciando a alie-
cial, dotação para o exercício, despesas empenhada nação de ativos e a aplicação dos recursos dela
e liquidada, no bimestre e no exercício; decorrentes.
c) despesas, por função e subfunção. § 2º Quando for o caso, serão apresentadas justificativas:
§ 1º Os valores referentes ao refinanciamento da I - da limitação de empenho;
dívida mobiliária constarão destacadamente nas II - da frustração de receitas, especificando as medi-
receitas de operações de crédito e nas despesas com das de combate à sonegação e à evasão fiscal, adota-
amortização da dívida. das e a adotar, e as ações de fiscalização e cobrança.
§ 2º O descumprimento do prazo previsto neste
artigo sujeita o ente às sanções previstas no § 2º Para compreender esse artigo, mais uma vez pre-
do art. 51. cisamos recorrer a um trecho do texto da Constituição
mencionado. Vejamos:
Os valores referentes ao refinanciamento da dívi-
da mobiliária constarão destacadamente nas receitas Art. 165 (CF, de 1988) […]
de operações de crédito e nas despesas com amortiza- § 3º O Poder Executivo publicará, até trinta dias
ção da dívida. após o encerramento de cada bimestre, relatório
O RREO será acompanhado de demonstrativos resumido da execução orçamentária.
relativos:
Esse relatório resumido da execução orçamentária
z à apuração da receita corrente líquida e à sua evo- deverá ser apresentado trimestralmente, abrangen-
lução, assim como à previsão de seu desempenho do todos os Poderes e o ministério público. O balan-
até o final do exercício; ço orçamentário deve detalhar receitas por fonte e
z às receitas e despesas previdenciárias; despesas por grupo, enquanto os demonstrativos da
z aos resultados nominal e primário; execução precisam abranger receitas e despesas por
z às despesas com juros; categoria econômica e fonte, bem como despesas por
z aos restos a pagar, detalhando, por Poder e órgão, função e subfunção.
os valores inscritos, os pagamentos realizados e o Além disso, esse relatório resumido deverá ser
montante a se pagar. acompanhado de demonstrativos sobre a receita cor-
rente líquida, evolução e previsão de desempenho,
O RREO referente ao último bimestre do exercício receitas e despesas previdenciárias, resultados nomi-
nal e primário, despesas com juros, restos a pagar e
será acompanhado, também, de demonstrativos:
outros indicadores. O relatório do último bimestre
inclui projeções atuariais dos regimes de previdência
z das projeções atuariais dos regimes de previdên-
e variação patrimonial.
cia social, geral e próprio dos servidores públicos;
z da variação patrimonial, evidenciando a alie-
RELATÓRIO DE GESTÃO FISCAL
nação de ativos e a aplicação dos recursos dela
decorrentes.
Conforme citado no tópico “Transparência da Ges-
tão Fiscal”, o Relatório de Gestão Fiscal é um dos ins-
Dica trumentos de transparência da gestão fiscal e objetiva
As bancas examinadoras costumam cobrar a o controle, o monitoramento e a publicidade do cum-
literalidade dos arts. 52 e 53, da LRF, e podem primento dos limites estabelecidos pela LRF: despesas
com pessoal, dívida consolidada líquida, concessão de
tentar confundir o candidato misturando os con-
garantias e contratação de operações de crédito.
ceitos do Relatório de Gestão Fiscal constantes
Faz-se necessária a leitura dos arts. 54 e 55, da LRF:
nos arts. 54 e 55, da LRF. Vale a pena decorar
esses artigos. Art. 54 Ao final de cada quadrimestre será emitido
pelos titulares dos Poderes e órgãos referidos no
Vejamos a íntegra do dispositivo: art. 20 Relatório de Gestão Fiscal, assinado pelo:
I - Chefe do Poder Executivo;
Art. 53 Acompanharão o Relatório Resumido II - Presidente e demais membros da Mesa Diretora
demonstrativos relativos a: ou órgão decisório equivalente, conforme regimen-
I - apuração da receita corrente líquida, na forma tos internos dos órgãos do Poder Legislativo;
definida no inciso IV do art. 2o, sua evolução, assim III - Presidente de Tribunal e demais membros de
como a previsão de seu desempenho até o final do Conselho de Administração ou órgão decisório
exercício; equivalente, conforme regimentos internos dos
II - receitas e despesas previdenciárias a que se refe- órgãos do Poder Judiciário;
re o inciso IV do art. 50; IV - Chefe do Ministério Público, da União e dos
III - resultados nominal e primário; Estados.
IV - despesas com juros, na forma do inciso II do Parágrafo único. O relatório também será assinado
382 art. 4º; pelas autoridades responsáveis pela administração
financeira e pelo controle interno, bem como PRESTAÇÃO DE CONTAS
por outras definidas por ato próprio de cada Poder
ou órgão referido no art. 20. A prestação de contas da Administração Pública
Art. 55 O relatório conterá: está intimamente ligada à transparência, sobre a qual
I - comparativo com os limites de que trata esta Lei explanamos no tópico “Transparência da Gestão Fis-
Complementar, dos seguintes montantes: cal”. A prestação de contas consiste em um ato que
a) despesa total com pessoal, distinguindo a com promove o fortalecimento do Estado democrático de
inativos e pensionistas; direito, uma vez que seus gestores, que são encar-
b) dívidas consolidada e mobiliária; regados da gestão da coisa pública, devem prestar
c) concessão de garantias; contas aos órgãos de controle externo e à sociedade,
d) operações de crédito, inclusive por antecipação
promovendo uma cultura de “accountability”, ou seja,
de receita;
a possibilidade de gerar incentivos ou sanções, caso
e) despesas de que trata o inciso II do art. 4º;
os agentes públicos cumpram, ou não, determinadas
II - indicação das medidas corretivas adotadas ou a
obrigações.
adotar, se ultrapassado qualquer dos limites;
III - demonstrativos, no último quadrimestre:
Art. 56 As contas prestadas pelos Chefes do Poder
a) do montante das disponibilidades de caixa em
Executivo incluirão, além das suas próprias, as dos
trinta e um de dezembro;
Presidentes dos órgãos dos Poderes Legislativo e
b) da inscrição em Restos a Pagar, das despesas:
Judiciário e do Chefe do Ministério Público, referi-
1) liquidadas;
dos no art. 20, as quais receberão parecer prévio,
2) empenhadas e não liquidadas, inscritas por aten-
separadamente, do respectivo Tribunal de Contas.
derem a uma das condições do inciso II do art. 41;
§ 1º As contas do Poder Judiciário serão apresenta-
3) empenhadas e não liquidadas, inscritas até o das no âmbito:
limite do saldo da disponibilidade de caixa; I - da União, pelos Presidentes do Supremo Tribunal
4) não inscritas por falta de disponibilidade de cai- Federal e dos Tribunais Superiores, consolidando
xa e cujos empenhos foram cancelados; as dos respectivos tribunais;
c) do cumprimento do disposto no inciso II e na alí- II - dos Estados, pelos Presidentes dos Tribunais de
nea b do inciso IV do art. 38. Justiça, consolidando as dos demais tribunais.
§ 1º O relatório dos titulares dos órgãos menciona- § 2º O parecer sobre as contas dos Tribunais de
dos nos incisos II, III e IV do art. 54 conterá apenas Contas será proferido no prazo previsto no art. 57
as informações relativas à alínea a do inciso I, e os pela comissão mista permanente referida no § 1o do
documentos referidos nos incisos II e III. art. 166 da Constituição ou equivalente das Casas
§ 2º O relatório será publicado até trinta dias após Legislativas estaduais e municipais.
o encerramento do período a que corresponder, § 3º Será dada ampla divulgação dos resultados da
com amplo acesso ao público, inclusive por meio apreciação das contas, julgadas ou tomadas.
eletrônico.
§ 3º O descumprimento do prazo a que se refere o § O chefe do Poder Executivo consolidará as contas
2º sujeita o ente à sanção prevista no § 2º do art. 51. de todos os Poderes, as quais serão submetidas ao

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


§ 4º Os relatórios referidos nos arts. 52 e 54 deve- respectivo tribunal de contas para a emissão de um
rão ser elaborados de forma padronizada, segundo parecer prévio, o qual, nos termos do art. 57, da LRF,
modelos que poderão ser atualizados pelo conselho deverá ser conclusivo e realizado no prazo de 60 dias
de que trata o art. 67.
de seu recebimento, se outro prazo não estiver esta-
belecido nas constituições estaduais ou nas leis orgâ-
Outro documento necessário é o Relatório de Ges- nicas municipais. Entretanto, no caso de municípios
tão Fiscal, que deverá ser emitido ao final de cada que não sejam capitais e que tenham menos de 200
quadrimestre e assinado pelo chefe do Poder Executi- mil habitantes, o prazo será de 180 dias.
vo presente e pelos demais membros da mesa direto- Os tribunais de contas não poderão entrar em
ra ou de órgão decisório equivalente, bem como pelo recesso enquanto existirem contas pendentes de pare-
presidente do tribunal e pelos demais membros de cer prévio.
conselho de administração, pelo chefe do ministério
público, pelo chefe da União e pelo chefe dos estados. Art. 57 Os Tribunais de Contas emitirão parecer
Esse relatório deverá abranger comparativo com prévio conclusivo sobre as contas no prazo de ses-
limites de despesas, endividamento, concessão de senta dias do recebimento, se outro não estiver
garantias, operações de crédito e despesas específicas. estabelecido nas constituições estaduais ou nas leis
Também requer indicação de medidas corretivas, orgânicas municipais.
demonstrativos do último quadrimestre e informa- § 1º No caso de Municípios que não sejam capitais
ções específicas para titulares de certos órgãos. e que tenham menos de duzentos mil habitantes o
prazo será de cento e oitenta dias.
§ 2º Os Tribunais de Contas não entrarão em reces-
so enquanto existirem contas de Poder, ou órgão
Importante!
referido no art. 20, pendentes de parecer prévio.
Esse documento deverá ser publicado em até 30
dias após o encerramento do período, com aces- Os chefes do Poder Executivo incluirão em suas
so amplo ao público, sob pena de aplicação das prestações de contas as dos presidentes dos órgãos
sanções cabíveis. Legislativo e Judiciário e as do chefe do ministério
público, que serão analisadas separadamente pelos
tribunais de contas.
383
Também ficou determinado que os tribunais de V - fatos que comprometam os custos ou os resulta-
contas emitirão parecer prévio conclusivo sobre as dos dos programas ou indícios de irregularidades
contas no prazo de 60 dias, podendo ser estendido a na gestão orçamentária.
180 dias para municípios específicos. § 2º Compete ainda aos Tribunais de Contas veri-
Uma informação importante é a de que os tribu- ficar os cálculos dos limites da despesa total com
pessoal de cada Poder e órgão referido no art. 20.
nais de contas não entrarão em recesso enquanto hou-
§ 3º O Tribunal de Contas da União acompanhará o
ver contas pendentes de análise.
cumprimento do disposto nos §§ 2º, 3º e 4º do art. 39.

Art. 58 A prestação de contas evidenciará o desem-


O Poder Legislativo, com o auxílio dos tribunais de
penho da arrecadação em relação à previsão, des-
contas e do sistema de controle interno, monitorará
tacando as providências adotadas no âmbito da
atingimento de metas, limites de operações de crédito,
fiscalização das receitas e combate à sonegação,
as ações de recuperação de créditos nas instân-
despesas com pessoal, dívidas consolidada e mobiliá-
cias administrativa e judicial, bem como as demais ria, destinação de recursos com alienação de ativos e
medidas para incremento das receitas tributárias e limites de gastos dos legislativos municipais.
de contribuições. Os tribunais de contas alertarão sobre possíveis
irregularidades e verificarão cálculos dos limites da
A prestação de contas deve destacar o desempe- despesa total com pessoal.
nho da arrecadação em comparação com suas previ-
Art. 60 Lei estadual ou municipal poderá fixar limi-
sões, dando foco às ações tomadas para fiscalizar as
tes inferiores àqueles previstos nesta Lei Comple-
receitas e combater a sonegação. mentar para as dívidas consolidada e mobiliária,
Ademais, devem ser evidenciadas as iniciativas operações de crédito e concessão de garantias.
para a recuperação de créditos nas esferas admi-
nistrativa e judicial, assim como outras medidas Artigo curto, mas de suma importância. É permiti-
adotadas para aumentar as receitas tributárias e de do que uma lei estadual ou municipal estabeleça limi-
contribuições. tes inferiores aos definidos por essa legislação para
questões como dívidas consolidada e mobiliária, ope-
FISCALIZAÇÃO DE GESTÃO FISCAL rações de crédito e concessão de garantia.
Em outras palavras, as autoridades locais têm a fle-
A fiscalização da gestão fiscal é realizada pelo xibilidade de definir limites mais restritivos em níveis
Poder Legislativo, diretamente ou com o auxílio dos estaduais e municipais, adaptando as regras de acor-
tribunais de contas, e pelo sistema de controle interno do com as necessidades específicas de sua jurisdição.
de cada Poder e do ministério público.
Nos termos do art. 59, da LRF: Art. 61 Os títulos da dívida pública, desde que
devidamente escriturados em sistema centraliza-
Art. 59 O Poder Legislativo, diretamente ou com o do de liquidação e custódia, poderão ser oferecidos
auxílio dos Tribunais de Contas, e o sistema de con- em caução para garantia de empréstimos, ou em
trole interno de cada Poder e do Ministério Público outras transações previstas em lei, pelo seu valor
fiscalizarão o cumprimento desta Lei Complemen- econômico, conforme definido pelo Ministério da
tar, consideradas as normas de padronização meto- Fazenda.
dológica editadas pelo conselho de que trata o art.
67, com ênfase no que se refere a: As dívidas públicas, desde que devidamente regis-
I - atingimento das metas estabelecidas na lei de tradas em um sistema centralizado de liquidação
diretrizes orçamentárias; e custódia, podem ser utilizadas como garantia em
II - limites e condições para realização de opera- empréstimos ou em outras transações permitidas por
ções de crédito e inscrição em Restos a Pagar; lei.
III - medidas adotadas para o retorno da despesa
total com pessoal ao respectivo limite, nos termos Art. 62 Os Municípios só contribuirão para o cus-
dos arts. 22 e 23; teio de despesas de competência de outros entes da
IV - providências tomadas, conforme o disposto no Federação se houver:
art. 31, para recondução dos montantes das dívidas I - autorização na lei de diretrizes orçamentárias e
consolidada e mobiliária aos respectivos limites; na lei orçamentária anual;
V - destinação de recursos obtidos com a alienação II - convênio, acordo, ajuste ou congênere, confor-
de ativos, tendo em vista as restrições constitucio- me sua legislação.
nais e as desta Lei Complementar;
VI - cumprimento do limite de gastos totais dos Lembre-se! Os municípios somente contribuirão
legislativos municipais, quando houver. para o financiamento de despesas de responsabilida-
§ 1º Os Tribunais de Contas alertarão os Poderes de de outros entes da Federação se houver autoriza-
ou órgãos referidos no art. 20 quando constatarem: ção tanto na LDO quanto na lei orçamentária anual.
I - a possibilidade de ocorrência das situações pre-
vistas no inciso II do art. 4º e no art. 9º; Art. 64 A União prestará assistência técnica e
II - que o montante da despesa total com pessoal cooperação financeira aos Municípios para a
ultrapassou 90% (noventa por cento) do limite; modernização das respectivas administrações tri-
III - que os montantes das dívidas consolidada e butária, financeira, patrimonial e previdenciária,
mobiliária, das operações de crédito e da concessão com vistas ao cumprimento das normas desta Lei
de garantia se encontram acima de 90% (noventa Complementar.
por cento) dos respectivos limites; § 1º A assistência técnica consistirá no treinamen-
IV - que os gastos com inativos e pensionistas se to e desenvolvimento de recursos humanos e na
384 encontram acima do limite definido em lei; transferência de tecnologia, bem como no apoio à
divulgação dos instrumentos de que trata o art. 48 I - aplicar-se-á exclusivamente:
em meio eletrônico de amplo acesso público. a) às unidades da Federação atingidas e localiza-
§ 2º A cooperação financeira compreenderá a doa- das no território em que for reconhecido o estado
ção de bens e valores, o financiamento por intermé- de calamidade pública pelo Congresso Nacional e
dio das instituições financeiras federais e o repasse enquanto perdurar o referido estado de calamidade;
de recursos oriundos de operações externas. b) aos atos de gestão orçamentária e financeira
necessários ao atendimento de despesas relaciona-
A União fornecerá auxílio técnico e cooperação das ao cumprimento do decreto legislativo;
financeira aos municípios para monetizar suas admi- II - não afasta as disposições relativas a transpa-
nistrações tributária, financeira, patrimonial e previ- rência, controle e fiscalização.
denciária, visando cumprir as normas da Lei nº 101, § 3º No caso de aditamento de operações de crédito
de 2000. Essa assistência técnica envolve treinamento, garantidas pela União com amparo no disposto no
§ 1º deste artigo, a garantia será mantida, não sen-
desenvolvimento de recursos humanos e transferên-
do necessária a alteração dos contratos de garan-
cia de tecnologia, incluindo apoio à divulgação de ins-
tia e de contragarantia vigentes.
trumentos eletrônicos públicos.
A cooperação financeira abrange doações de bens
Nos casos de calamidade pública reconhecida pelo
e valores, financiamento por instituições financeiras
Congresso Nacional ou por assembleias legislativas,
federais e repasse de recursos de operações externas.
serão suspensos os prazos e as disposições estabele-
cidos nos arts. 23, 31 e 70, estudados anteriormente.
DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
Nesses casos, também haverá dispensa do atingi-
mento de resultados fiscais e limitação de empenho,
O ponto mais importante neste tópico talvez seja
além de dispensa de limite para operações de crédito,
as mudanças que o Congresso Nacional promoveu,
garantias e outras restrições.
em 2020, para flexibilizar as condições da LRF duran-
Mas atenção! Todas as dispensas não afastam
te períodos de calamidade pública reconhecida pelo
todas as disposições referentes a transparência, con-
Congresso Nacional, no caso da União, ou pelas assem-
trole e fiscalização.
bleias legislativas, na hipótese dos estados e municí-
pios. Obviamente, essas mudanças estão relacionadas Art. 67 O acompanhamento e a avaliação, de forma
com a pandemia da covid-19. permanente, da política e da operacionalidade da
O art. 65, da LRF, dispõe sobre os períodos de cala- gestão fiscal serão realizados por conselho de ges-
midade pública: tão fiscal, constituído por representantes de todos
os Poderes e esferas de Governo, do Ministério
Art. 65 Na ocorrência de calamidade pública Público e de entidades técnicas representativas da
reconhecida pelo Congresso Nacional, no caso da sociedade, visando a:
União, ou pelas Assembléias Legislativas, na hipó- I - harmonização e coordenação entre os entes da
tese dos Estados e Municípios, enquanto perdurar Federação;
a situação: II - disseminação de práticas que resultem em
I - serão suspensas a contagem dos prazos e as dis- maior eficiência na alocação e execução do gasto

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


posições estabelecidas nos arts. 23, 31 e 70; público, na arrecadação de receitas, no controle do
II - serão dispensados o atingimento dos resultados endividamento e na transparência da gestão fiscal;
fiscais e a limitação de empenho prevista no art. 9º. III - adoção de normas de consolidação das contas
§ 1º Na ocorrência de calamidade pública reco- públicas, padronização das prestações de contas e
nhecida pelo Congresso Nacional, nos termos de dos relatórios e demonstrativos de gestão fiscal de
decreto legislativo, em parte ou na integralidade do que trata esta Lei Complementar, normas e padrões
território nacional e enquanto perdurar a situação, mais simples para os pequenos Municípios, bem
além do previsto nos inciso I e II do caput: como outros, necessários ao controle social;
I - serão dispensados os limites, condições e demais IV - divulgação de análises, estudos e diagnósticos.
restrições aplicáveis à União, aos Estados, ao Dis- § 1º O conselho a que se refere o caput instituirá
trito Federal e aos Municípios, bem como sua veri- formas de premiação e reconhecimento público aos
ficação, para: titulares de Poder que alcançarem resultados meri-
a) contratação e aditamento de operações de tórios em suas políticas de desenvolvimento social,
crédito; conjugados com a prática de uma gestão fiscal pau-
b) concessão de garantias; tada pelas normas desta Lei Complementar.
c) contratação entre entes da Federação; e § 2º Lei disporá sobre a composição e a forma de
d) recebimento de transferências voluntárias; funcionamento do conselho.
II - serão dispensados os limites e afastadas as
vedações e sanções previstas e decorrentes dos A partir dessa lei, foi determinada a criação de um
arts. 35, 37 e 42, bem como será dispensado o cum- conselho de gestão fiscal composto por representan-
primento do disposto no parágrafo único do art.
tes dos Poderes, das esferas de Governo, do ministério
8º desta Lei Complementar, desde que os recursos
público e de entidades técnicas.
arrecadados sejam destinados ao combate à cala-
Seu objetivo inclui harmonização e coordenação
midade pública;
III - serão afastadas as condições e as vedações pre- entre os entes da Federação, disseminação de práticas
vistas nos arts. 14, 16 e 17 desta Lei Complementar, eficientes, adoção de normas contábeis, padroniza-
desde que o incentivo ou benefício e a criação ou o ção de prestação de contas, simplificação para muni-
aumento da despesa sejam destinados ao combate cípios pequenos e divulgação das análises, estudos e
à calamidade pública. diagnósticos.
§ 2º O disposto no § 1º deste artigo, observados O conselho também poderá instituir premiações
os termos estabelecidos no decreto legislativo que para titulares de Poder que alcancem resultados meri-
reconhecer o estado de calamidade pública: tórios em desenvolvimento social e gestão fiscal. 385
Art. 68 Na forma do art. 250 da Constituição, é cria- SÚMULAS APLICÁVEIS DO STF
do o Fundo do Regime Geral de Previdência Social,
vinculado ao Ministério da Previdência e Assistên- Súmula Vinculante nº 1 Ofende a garantia consti-
cia Social, com a finalidade de prover recursos para tucional do ato jurídico perfeito a decisão que, sem
o pagamento dos benefícios do regime geral da pre- ponderar as circunstâncias do caso concreto, des-
vidência social. considera a validez e a eficácia de acordo constante
§ 1º O Fundo será constituído de: de termo de adesão instituído pela Lei Complemen-
I - bens móveis e imóveis, valores e rendas do Ins- tar nº 110, de 2001.
tituto Nacional do Seguro Social não utilizados na
operacionalização deste; Súmula Vinculante nº 3 Nos processos peran-
II - bens e direitos que, a qualquer título, lhe sejam te o Tribunal de Contas da União asseguram-se o
adjudicados ou que lhe vierem a ser vinculados por contraditório e a ampla defesa quando da decisão
força de lei; puder resultar anulação ou revogação de ato Admi-
III - receita das contribuições sociais para a segu- nistrativo que beneficie o interessado, excetuada a
ridade social, previstas na alínea a do inciso I e no apreciação da legalidade do ato de concessão ini-
inciso II do art. 195 da Constituição; cial de aposentadoria, reforma e pensão.
IV - produto da liquidação de bens e ativos de pes-
soa física ou jurídica em débito com a Previdência Súmula Vinculante nº 7 A norma do §3º do art.
Social; 192 da Constituição, revogada pela Emenda Consti-
V - resultado da aplicação financeira de seus ativos; tucional nº 40, de 2003, que limitava a taxa de juros
VI - recursos provenientes do orçamento da União. reais a 12% ao ano, tinha sua aplicação condiciona-
§ 2º O Fundo será gerido pelo Instituto Nacional do da à edição de lei complementar.
Seguro Social, na forma da lei.
Súmula Vinculante nº 17 Durante o período pre-
Antes de adentrarmos a explicação dessa lei, visto no parágrafo 1º do artigo 100 da Constituição,
vamos até a Constituição e vejamos do que se trata o não incidem juros de mora sobre os precatórios que
art. 250: nele sejam pagos.

Art. 250 (CF, de 1988) Com o objetivo de assegurar Súmula Vinculante nº 47 Os honorários advoca-
recursos para o pagamento dos benefícios conce- tícios incluídos na condenação ou destacados do
didos pelo regime geral de previdência social, em montante principal devido ao credor consubstan-
adição aos recursos de sua arrecadação, a União ciam verba de natureza alimentar cuja satisfação
poderá constituir fundo integrado por bens, direitos ocorrerá com a expedição de precatório ou requi-
e ativos de qualquer natureza, mediante lei que dis- sição de pequeno valor, observada ordem especial
porá sobre a natureza e administração desse fundo. restrita aos créditos dessa natureza.

Súmula nº 347 O Tribunal de Contas, no exercício


Assim, foi criado o Fundo do Regime Geral de Previ-
de suas atribuições, pode apreciar a constituciona-
dência Social, vinculado ao Ministério da Previdência e
lidade das leis e dos atos do Poder Público.
Assistência Social. O fundo será constituído por diversos
elementos, incluindo bens, rendas do Instituto Nacional
AS INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS NA LEI DE
do Seguro Social, receita de contribuições sociais, entre
RESPONSABILIDADE FISCAL
outros recursos. A gestão do fundo será realizada pelo
Instituto Nacional do Seguro Social, o INSS.
O presente tópico do edital tende a causar compli-
cações ao aluno, não pela dificuldade, mas pela forma
Art. 69 O ente da Federação que mantiver ou vier a
instituir regime próprio de previdência social para como ele é exposto nos editais.
seus servidores conferir-lhe-á caráter contributivo A Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complemen-
e o organizará com base em normas de contabilida- tar nº 101, de 2000) estipula regras a serem seguidas
de e atuária que preservem seu equilíbrio financei- pelos gestores públicos, mas de forma geral, de modo
ro e atuarial. que não prevê infrações em seu texto.
A remissão sobre descumprimento da lei é direcio-
O ente da Federação que mantiver ou criar um nada ao Código Penal, Crimes de Responsabilidade e
regime próprio de previdência social para seus servi- Lei de Improbidade Administrativa. Nesse sentido, em
dores deve garantir que esse regime seja contributivo. seu texto, infere-se que, em caso de descumprimento,
Ademais, o ente deve organizar esse regime seguin- deve-se analisar se a conduta se enquadra como crime
do normas de contabilidade e atuária que assegurem comum, de responsabilidade ou em improbidade admi-
o equilíbrio financeiro e atuarial do sistema. nistrativa, nos termos previstos nas leis específicas.
Contudo, a Lei nº 10.028, de 2000 trouxe as infra-
Art. 73-A Qualquer cidadão, partido político, asso- ções administrativas cometidas em face da lei de
ciação ou sindicato é parte legítima para denunciar finanças, em apenas um artigo, de estudo bastante
ao respectivo Tribunal de Contas e ao órgão compe- simples. Porém, da forma que está exposta no edital,
tente do Ministério Público o descumprimento das a banca induz o aluno a estudar a Lei de Responsabi-
prescrições estabelecidas nesta Lei Complementar. lidade Fiscal de forma completa, o que é equivocado,
pois a referida não consta no edital, mas apenas as
Todo cidadão, partido político, associação ou sindi- infrações administrativas, as quais, por sua vez, estão
cato tem legitimidade para denunciar ao tribunal de em outra lei (Lei nº 10.028, de 2000).
contas e ao ministério público o descumprimento das Perceba como a falta de auxílio de um material
regras estabelecidas nessa lei complementar. Ou seja, focado pode ocasionar prejuízos ao aluno, o qual estu-
a fiscalização da gestão fiscal pode ser promovida por daria uma lei complexa, desnecessariamente, e, ain-
386 toda a sociedade. da, não estudaria as infrações que o edital explora.
Feitas as considerações, passa-se à análise das RECEITAS PÚBLICAS
infrações administrativas da lei de finanças.
z Receitas originárias: são as receitas que decor-
Lei nº 10.028, de 2000
Art. 5º Constitui infração administrativa contra as rem da exploração do patrimônio público ou da
leis de finanças públicas: atividade econômica do Estado, sem o uso de seu
I – deixar de divulgar ou de enviar ao Poder Legis- poder de império. Exemplos: aluguéis, dividendos,
lativo e ao Tribunal de Contas o relatório de gestão tarifas, preços públicos etc.;
fiscal, nos prazos e condições estabelecidos em lei; z Receitas derivadas: são as receitas que decor-
II – propor lei de diretrizes orçamentárias anual rem do exercício do poder de império do Estado,
que não contenha as metas fiscais na forma da lei; mediante a imposição de tributos ou a aplicação
III – deixar de expedir ato determinando limitação de penalidades. Exemplos: impostos, taxas, contri-
de empenho e movimentação financeira, nos casos buições, multas etc.;
e condições estabelecidos em lei; z Receitas correntes: são as receitas que decor-
IV – deixar de ordenar ou de promover, na forma rem da arrecadação de tributos, da prestação de
e nos prazos da lei, a execução de medida para a serviços, da exploração do patrimônio público,
redução do montante da despesa total com pessoal de transferências correntes, entre outras fontes,
que houver excedido a repartição por Poder do
que afetam positivamente o patrimônio público,
limite máximo.
e que se destinam ao financiamento das despesas
§ 1º A infração prevista neste artigo é punida com
correntes. Exemplos: receita tributária, receita de
multa de trinta por cento dos vencimentos anuais
do agente que lhe der causa, sendo o pagamento da serviços, receita patrimonial, receita de transfe-
multa de sua responsabilidade pessoal. rências correntes etc.;
§ 2º A infração a que se refere este artigo será z Receitas de capital: são as receitas que decorrem
processada e julgada pelo Tribunal de Contas a da realização de recursos financeiros oriundos de
que competir a fiscalização contábil, financeira e constituição de dívidas, da conversão em espécie
orçamentária da pessoa jurídica de direito público de bens e direitos, de transferências de capital,
envolvida. entre outras fontes, que afetam positivamente o
patrimônio público, e que se destinam ao financia-
As infrações administrativas da lei de finanças
mento das despesas de capital. Exemplos: opera-
estão elencadas nos incisos acima, de memorização
ções de crédito, alienação de bens, transferências
obrigatória pelo aluno.
de capital etc.
Para a prova, o aluno deve se atentar, também, à
sanção prevista, qual seja multa de 30% dos venci-
Ingressos Extraorçamentários
mentos anuais, com ênfase no “anual”, pois a banca
tende a afirmar que será do vencimento mensal, tor-
nando incorreta a afirmativa. z Depósitos: são os ingressos que correspondem à
Outra informação importante é o órgão competen- entrada de recursos de terceiros nos cofres públi-
te para julgar as infrações administrativas, competên- cos, em caráter transitório, que devem ser resti-
cia a cargo do tribunal de contas da pessoa jurídica de tuídos quando solicitados ou quando cessar a sua
direito público envolvida. Se for estadual será o Tri- finalidade. Exemplos: depósitos em caução, depó-

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


bunal de Contas Estadual, caso seja da União, será o sitos em garantia, depósitos judiciais etc.;
Tribunal de Contas da União. z Consignações: são os ingressos que correspondem
à retenção de parcelas dos rendimentos dos servi-
dores públicos ou de terceiros, em favor de institui-
ções ou pessoas, que devem ser repassados aos seus
INGRESSOS PÚBLICOS: CONCEITO, beneficiários. Exemplos: consignações em folha de
CLASSIFICAÇÃO, TIPOS pagamento, consignações em favor do INSS, consig-
nações em favor do imposto de renda etc.;
Ingressos públicos são os recursos financeiros que z Operações de crédito por antecipação de receita
entram nos cofres do Estado, provenientes de diver- orçamentária (ARO): são os ingressos que corres-
sas fontes, que podem ou não integrar o patrimônio pondem à contratação de empréstimos pelo gover-
público. Os ingressos públicos se dividem em receitas no, dentro do exercício financeiro, para atender a
públicas e ingressos extraorçamentários, de acordo insuficiência de caixa, que devem ser pagos até o
com sua natureza e sua destinação. final do mesmo exercício, com os recursos prove-
As receitas públicas são os ingressos que incorpo- nientes da arrecadação de receitas orçamentárias;
ram o patrimônio público, aumentando a sua disponi- z Outras entradas compensatórias: são os ingres-
bilidade financeira, e que são destinados ao custeio das sos que correspondem à entrada de recursos
despesas públicas, previstas na Lei Orçamentária Anual que não se enquadram nas demais categorias de
(LOA). Essas receitas podem ser classificadas segundo ingressos extraorçamentários, mas que também
vários critérios, como a origem, a regularidade, a cate- representam movimentos de fundos, que devem
goria econômica, a fonte, a destinação, entre outros. ser restituídos ou transferidos. Exemplos: emissão
Ingressos extraorçamentários são os ingressos que de moeda, remuneração de disponibilidades do
não incorporam o patrimônio público, representando Tesouro Nacional etc.
apenas movimentos de fundos, e que não são desti-
nados ao custeio das despesas públicas, ficando fora REFERÊNCIAS
da LOA. Além disso, eles são registrados em contas de
compensação, e devem ser restituídos aos seus respec- PEREIRA, N. O. Teoria dos ingressos públicos.
tivos proprietários ou credores. A seguir, apresenta- Jusbrasil, 2016. Disponível em: https://www.jus
mos alguns exemplos de ingressos públicos, de acordo brasil.com.br/artigos/teoria-dos-ingressos-publi
com sua classificação: cos/359883108. Acesso em: 24 jan. 2024. 387
RECEITA DE DOAÇÕES
FONTES DE FINANCIAMENTO PÚBLICO
Conjunto de recursos provenientes de doações
Fontes de financiamento público são os meios feitas por pessoas físicas ou jurídicas, nacionais ou
pelos quais o governo obtém recursos financeiros estrangeiras, públicas ou privadas, ao governo, sem
para custear suas despesas e realizar seus investi- contrapartida, visando ao atendimento de finalidades
mentos. Esses recursos podem ter origem interna ou de interesse público. A receita de doações é uma fonte
externa, e podem ser obtidos por meio de tributos, de financiamento público eventual, que depende da
empréstimos, doações, entre outros. vontade e da disponibilidade dos doadores, e que deve
As principais fontes de financiamento público no ser registrada e contabilizada de forma transparente.
Brasil são:
REFERÊNCIAS
RECEITA TRIBUTÁRIA
GUEDES, J. COMO serviços públicos são financia-
Conjunto de recursos arrecadados pelo governo dos. Politize!, 2020. Disponível em: https://www.
por meio da cobrança de impostos, taxas e contri- politize.com.br/financiamento-de-servicos-publi
buições, que incidem sobre a renda, o patrimônio e cos/. Acesso em: 24, jan. 2024.
o consumo das pessoas físicas e jurídicas. A receita
tributária é a principal fonte de financiamento públi-
co no Brasil, representando cerca de 30% do Produto
Interno Bruto (PIB).
TRIBUTAÇÃO: PREÇOS E EFICIÊNCIA
A receita tributária pode ser dividida em receita ECONÔMICA, INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA
tributária própria, que é aquela que pertence exclu-
sivamente a cada ente federativo (União, estados, A atividade econômica do governo possui diversos
Distrito Federal e municípios), e receita tributária par- fundamentos. O governo pode intervir diretamen-
tilhada, que é aquela que é repartida entre os entes te na economia com a finalidade de corrigir falhas
federativos, de acordo com critérios constitucionais de mercado, prover bens que não são ofertados de
ou legais. maneira eficiente pelo mercado (bens públicos), entre
outras funções.
RECEITA DE TRANSFERÊNCIAS Estas atividades geram despesas que necessitam
de algum modo serem financiadas. A rigor, o governo
Conjunto de recursos transferidos pelo governo pode financiar suas atividades econômicas de 3 manei-
a outros entes públicos ou privados, sem contrapar- ras: dívida pública, emissão de moeda e tributos.
tida direta, visando ao cumprimento de objetivos Nosso objetivo neste momento é estudar a tributa-
específicos. ção, a principal fonte de receita do setor público.
A receita de transferências pode ser dividida em Considerando que a instituição de tributos pode
transferências constitucionais, que são aquelas pre- ser considerada um “vazamento” de recursos do setor
vistas na Constituição Federal, como os fundos de par- privado ao setor público, é interessante dotar o siste-
ticipação dos estados e dos municípios, as cotas-parte ma tributário de características ideais que confiram,
do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e do na medida do possível, uma forma equitativa de dis-
Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR), tribuição do ônus fiscal, onere os indivíduos mais
entre outras; e transferências legais, que são aquelas capazes de pagar e interfira o mínimo possível na alo-
previstas em leis ordinárias, como as contribuições cação de recursos e bens na economia.
sociais, as transferências voluntárias, as subvenções, Estas características desejáveis estão reunidas e
entre outras. detalhadas nos princípios teóricos de tributação,
que seguem abaixo.
RECEITA PATRIMONIAL
Princípios Teóricos de Tributação
Conjunto de recursos provenientes da exploração
do patrimônio público, como os aluguéis, os dividen- z Neutralidade
dos, os royalties, as participações societárias, entre
outros. A receita patrimonial representa uma fonte A teoria econômica clássica supõe que o merca-
de financiamento público complementar, que visa à do privado produz resultados eficientes. Ou seja, na
obtenção de rendimentos com a utilização dos bens e presença de muitos consumidores e produtores tran-
direitos do Estado. sacionando bens homogêneos sem a interferência de
falhas de mercado, o máximo benefício possível será
RECEITA DE OPERAÇÕES DE CRÉDITO usufruído. Em outras palavras, considera-se o livre
mercado como eficiente, na medida em que não é pos-
Conjunto de recursos provenientes da contrata- sível algum participante aumentar a satisfação sem
ção de empréstimos pelo governo, junto a institui- piorar a satisfação do outro.
ções financeiras nacionais ou internacionais, públicas Este conceito é chamado de Pareto-Eficiente. Uma
ou privadas, visando ao financiamento de despesas situação pareto-eficiente (eficiência de pareto) é aque-
de capital, como obras e equipamentos públicos. A la em os participantes do mercado estão usufruindo
receita de operações de crédito está sujeita a limites ao máximo a eficiência promovida pelo mercado, de
e condições estabelecidas pela Lei de Responsabilida- forma que a melhoria da situação de um indivíduo
de Fiscal (LRF) e pela Lei de Diretrizes Orçamentárias não pode ocorrer sem a piora do outro.
(LDO), que visam à preservação do equilíbrio fiscal e No entanto, os pressupostos do livre mercado não
388 da capacidade de pagamento do Estado. se verificam perfeitamente na realidade. Por exemplo,
há direcionamento de recursos ao governo, através do Se utilizarmos conceitos de microeconomia, que
pagamento de tributos, que pode promover certa ine- não são o nosso foco no momento, podemos estabe-
ficiência ao sistema. lecer que o critério do benefício deve ser aplicado de
É aqui que entra o princípio da neutralidade. A forma a igualar o benefício marginal ao custo margi-
ideia é simples: é neutro o sistema tributário que nal do serviço ou bem governamental prestado.
não provoca distorções/ineficiência na alocação de Dito de outro modo, o indivíduo deve financiar as
recursos e bens na economia. atividades governamentais de acordo com a variação
Vamos imaginar a incidência de um tributo sobre que aufere em sua satisfação. Novamente caímos no
o consumo. Um bem a ser consumido pode ser enca- mesmo problema, ou seja, como identificar a variação
rado por duas óticas, a de quem o produz e a de quem da satisfação de cada um.
o consome. Do lado do produtor, a tributação sobre É devido a este problema que o critério do benefí-
o consumo significa que uma quantidade menor de cio é pouco aplicado ao sistema tributário. Em geral,
recursos será por ele recebida (a quantidade a ser este critério é utilizado para o financiamento de bens
recebida pode ser calculada através da subtração ou serviços privados prestados pelo setor público,
entre o valor da venda e o valor do tributo). Do lado como o caso do financiamento de rodovias. A taxação
consumidor, a imposição de um tributo sobre o con- de combustíveis, por exemplo, guarda relação com o
sumo provoca aumento no preço deste bem, que pode benefício advindo da utilização de rodovias pavimen-
ser entendido como a redução da renda disponível do tadas. Ou seja, faz sentido taxar mais quem mais se
sujeito (a renda disponível é calculada através da sub- beneficia da utilização de rodovias.
tração entre a renda e o valor do tributo). Outro exemplo é o sistema de previdência. Da mes-
De qualquer modo, a colocação de um tributo pode ma forma, faz sentido contribuir mais quem deseja
influenciar a decisão do produtor em produzir o pro-
auferir maiores benefícios no futuro, pelo que as con-
duto ou do consumidor em consumi-lo. Caso isto acon-
tribuições são maiores para quem deseja mais renda.
teça, o sistema tributário não é neutro, pois provocou
distorção na alocação do bem.
z Critério da Capacidade de Pagamento
Existem diversos exemplos práticos de sistemas tri-
butários não neutros. Stiglitz (1986) cita o exemplo da
Ao contrário do critério anterior, muito limitado
imposição de tributos sobre janelas na Inglaterra, o que
em termos de estabelecimento do quanto cada um
teria resultado na construção de casas sem janelas. Ou
deve contribuir ao sistema tributário, o critério da
seja, o sistema tributário inglês à época não era neutro.
É quase impossível classificar determinado tributo capacidade de pagamento estabelece uma regra geral:
como neutro e outro como não neutro. A neutralidade a contribuição ao sistema tributário é dada de acordo
depende da situação em análise. No entanto, a impo- com a capacidade de pagar, ou seja, de acordo com a
sição de tributos gerais, igualmente incidentes sobre renda e patrimônio do indivíduo.
um conjunto de transações, tende a ser mais neutros A lógica por trás deste conceito já foi citada ante-
que a imposição de impostos especiais, que oneram riormente. Contribuintes com a mesma capacidade
apenas determinados bens. Mas, de forma alguma isso de pagamento devem ser onerados através do mesmo
pode ser entendido como regra geral. Como foi expli- ônus (equidade horizontal), enquanto indivíduos com

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


cado, cada caso deve ser analisado individualmente. capacidades distintas de pagamento devem ser one-
rados com ônus distintos (equidade vertical). Ou seja,
z Equidade quem pode mais paga mais e que pode menos contri-
bui menos.
O princípio da equidade consiste em tratar os A discussão neste critério é estabelecer qual a
indivíduos tributados de forma igual. Já de início melhor medida de capacidade de pagamento. Alguns
podemos lembrar que o conceito de igualdade impli- entendem que a melhor medida é a renda, ou seja, o
ca na igualdade horizontal (iguais devem ser tratados fluxo de recursos que o individuo recebe em determi-
de forma idêntica) e na igualdade vertical (desiguais nado período. Outros entendem que a melhor medida
devem ser tratados de forma desigual). Ou seja, em é a riqueza do sujeito, pois além de servir de indica-
uma situação em que há dois indivíduos com rendas
tivo da situação econômica (maior patrimônio geral-
diferentes, por exemplo, um sistema tributário que
mente indica melhor situação econômica), tributar a
respeite o princípio da igualdade deve tratá-los de for-
riqueza é mais simples do que tributar a renda, o que
ma distinta.
gera mais recursos e menos esforços ao setor público.
Na ótica do sistema tributário, o conceito de igual-
dade pode ser encarado de duas formas: de acordo
z Simplicidade
com o benefício usufruído, que propõe atribuir aos
indivíduos um ônus fiscal compatível ao benefício
O princípio da simplicidade entende que o siste-
usufruído, ou através da capacidade de pagamento,
que considera a divisão do ônus tributário através das ma tributário deve ser de fácil operação, de modo
capacidades individuais de pagamento. que a cobrança, arrecadação e fiscalização do siste-
ma não representem custos elevados ao governo, e de
z Critério do Benefício fácil compreensão do ponto de vista do contribuinte,
que pode contribuir sem muitas dificuldades legais e
O critério do benefício estabelece que deve ser administrativas.
onerado aquele que mais usufrui dos benefícios Este princípio não necessita de muitas discussões.
prestados pelos serviços e bens ofertados pelo É só pensarmos no sistema tributário brasileiro, que
governo. A ideia é muito simples, mas de difícil apli- está longe de atender o princípio da simplicidade se
cação prática: paga mais quem mais é beneficiado, considerarmos a infinidade de legislação e espécies de
mas como avaliar o quanto cada um é beneficiado? tributos que possui. 389
Tendo em mente os conceitos e princípios básicos Por sua vez, a elasticidade-preço da oferta mede o
do sistema tributário, a pergunta que fica é: quem de efeito na oferta, dada uma variação de preços. Ao contrá-
fato paga os impostos? rio da demanda, oferta e preços deslocam-se no mesmo
Para começar a responder a pergunta, podemos sentido: preços mais elevados resultam em mais oferta.
entender os tributos de duas formas: Assim, a oferta por um bem é elástica quando a quan-
tidade demandada varia mais, em termos percentuais,
z sobre quantidades, o qual é aplicado um valor por do que a variação no preço. É inelástica, quando a quan-
quantidade de bens ou serviços ofertados; tidade demandada varia menos, em termos percentuais,
z ad valorem, tributos sobre o valor, através da apli- do que o preço. É unitária quando as variações são no
cação de alíquotas sobre o valor do bem ou serviço. mesmo montante.
Para saber quem paga a maior parte do imposto,
Para facilitar a análise, vamos compreender a guarde a seguinte regra:
sistemática da situação através da incidência de um
imposto sobre quantidades ofertadas. Como a quan- z Curva de Oferta Elástica e Curva de Demanda
tidade ofertada pela firma depende do preço de mer- Inelástica: uma maior parcela dos tributos é paga
cado, a imposição de um imposto sobre vendas, ao
pelos consumidores;
modificar o preço de mercado, irá modificar a quan-
z Curva de Oferta Inelástica e Curva de Demanda
tidade ofertada.
Elástica: uma maior parcela dos tributos é paga
Então, vamos supor que a firma é quem legalmen-
pelos produtores.
te paga o imposto. Ou seja, é a empresa que produz o
bem que deve recolher os tributos incidentes. É o que
comumente ocorre com impostos indiretos, cujo paga- Característica dos Tributos
mento é feito pelo fornecedor/vendedor. Desta forma,
o preço pago pelo consumidor (PD) não será igual ao Existem várias espécies de tributos, sendo que a
preço recebido pelo ofertante (PS). Na verdade, o pro- principal delas são os impostos. A definição legal de
dutor recebe o valor pago pelo consumidor deduzido imposto é a seguinte: imposto é tributo cuja obriga-
do valor do imposto (t): ção tem por fato gerador uma situação indepen-
dente de qualquer atividade estatal específica,
PS=PD-t relativa ao contribuinte.
Ou seja, o imposto corresponde a um pagamento
ou compulsório feito pelos indivíduos ao governo indepen-
dentemente de qualquer atividade estatal específica. Ser-
PD=PS+t ve para financiar as despesas estatais em geral.
Conhecida a definição legal, podemos passar às defi-
As duas funções são idênticas. Em resumo, dizem nições econômicas e pertinentes às finanças públicas.
que o preço de demanda é mais elevado que o preço Em relação ao fato gerador da obrigação de pagar
de oferta. O valor que gera esta diferença, que é exata- impostos, podemos defini-lo como direitos ou indiretos:
mente o imposto, é direcionado ao governo.
Apresentada a situação, podemos responder a per- Relação com o Fato Gerador
gunta sobre quem de fato paga o tributo?
Mesmo que os ofertantes estejam obrigados legal- z Diretos: são aqueles que podem ser adaptados às
mente a efetuar o pagamento, como em nosso exemplo, características dos indivíduos. Ou seja, recaem dire-
será que são eles quem de fato sofrem o ônus econômico tamente sobre os indivíduos. É por isto que, muitas
do imposto? Muito provavelmente não. vezes, os impostos diretos são considerados como
Em geral, a conta dos impostos é dividida entre impostos sobre a renda e patrimônio de determinado
consumidores e firmas. Por exemplo, a imposição de individuo. Todas as bancas de concursos consideram
um tributo sobre um bem, mesmo que legalmente cobra- isso. Desta forma, que fique gravado: impostos direi-
da de uma firma, onera também o consumidor, pois a tos são aqueles que, ao incidir diretamente sobre o
firma pode elevar o preço do bem e assim “passar à fren- individuo, oneram a renda e o patrimônio;
te parte do imposto”. Isto é, na maioria das vezes, o ônus z Indiretos: os impostos indiretos são aqueles que
do imposto é suportado pelos consumidores, através do
incidem independentemente das considerações
aumento de preços, e dos produtores, via redução no
dos indivíduos. Desta forma, incidem sobre as eco-
valor recebido pela quantidade ofertada.
nômicas realizadas, como a venda de um bem. E é
E para saber quem paga mais os tributos (consumido-
desta forma que as bancas consideram os impostos
res ou produtores) precisamos conhecer as elasticidades-
indiretos: como aqueles que incidem sobre ope-
-preço da demanda e da oferta.
A elasticidade-preço da demanda é um conceito que rações de econômicas, onerando-as.
mede o quanto varia percentualmente a quantidade
demandada em relação à variação percentual no preço. Em relação à base de cálculo, podemos defini-lo
Como é de se esperar, em geral a demanda varia inversa- como gerais ou especiais:
mente à variação de preços. Preços mais elevados resul-
tam em menores quantidades demandadas. z Gerais: impostos gerais são aqueles incidentes de
Assim, a demanda por um bem é elástica quando a maneira ampla sobre determinado conjunto de ope-
quantidade demandada varia mais, em termos percen- ração. Digamos que a base de cálculo de determinado
tuais, do que a variação no preço. É inelástica, quando a imposto seja o valor de uma operação de compra de
quantidade demandada varia menos, em termos percen- um bem durável; neste sentido, um imposto geral é
tuais, do que o preço. É unitária quando as variações são aquele que incide indiscriminadamente sobre todas
390 no mesmo montante. as operações com fato gerador desta espécie;
z Especiais: impostos especiais são aqueles inciden- quanto mais elevada a renda, menor a alíquota
tes apenas em parte de um conjunto de operação. efetiva de um imposto progressivo. Ou seja, indi-
Utilizando o exemplo acima exposto, poderíamos víduos com renda mais elevada pagam uma quan-
dizer que um imposto especial seria aquele inci- tidade proporcionalmente menor, em relação à
dente apenas na aquisição de veículos, deixando renda, de impostos do que indivíduos com renda
livre o consumo dos demais bens duráveis. mais baixa.

Em relação à alíquota, podemos defini-lo como Possuem elasticidade-renda menor que 1, pois
uniformes ou seletivos: crescem menos proporcionalmente que a renda e
apresentam resultados ruins para fins de distribuição
z Uniformes: são uniformes os impostos que apre- de renda ao onerar mais quem tem renda menor.
sentam a mesma alíquota independentemente da E, por fim, cabe comentar a relação entre impos-
espécie de operação tributada; tos e a cadeia produtiva. Neste sentido, são classifi-
z Seletivos: são seletivos os impostos que apresentam cados como em cascata ou sobre o valor adicionado:
alíquotas diferentes de acordo com a operação tribu-
tada. É muito comum, por exemplo, a tributação mais z Em Cascata: os impostos em cascata, ou cumulati-
onerosa de bens de consumo não essenciais, ou até vos, são aqueles que incidem sobre o valor total do
mesmo prejudiciais sobre alguns aspectos, como os bem em cada etapa da cadeia produtiva. Suponha
cigarros ou bebidas em geral. que a produção de certo bem é feita em 3 etapas
de produção, sendo que em cada etapa o produto
No que diz respeito à relação com a renda, os ganhe o valor de R$ 100. Neste sentido, após o final
impostos podem ser classificados como progressivos, da 1ª etapa um valor de R$ 100 será tributado; ao
proporcionais e regressivos: final da 2ª etapa, um total de R$ 200 será tributa-
do; e, ao final da 3ª etapa, um total de R$ 300 será
z Progressivos: impostos progressivos são aqueles que tributado. Como é possível perceber, à medida que
oneram mais proporcionalmente indivíduos com as etapas de produção são completadas, os tribu-
rendas maiores. Isto implica na ideia de que, quan- tos se acumulam, pois a base de cálculo da próxi-
to mais elevada a renda, maior a alíquota efetiva de ma etapa considera o tributo incidente nas etapas
um imposto progressivo. Ou seja, quanto maior a anteriores. Por isso que os impostos em cascata são
renda, maior a proporção dele que é utilizada para chamados de cumulativos. É evidente que este tipo
pagamento de impostos. Possuem, desta forma, elas- de imposto é prejudicial à eficiência economia, à
ticidade-renda maior que 1. Ou seja, a arrecadação produção, e aos preços. Um produto que precise
de um imposto progressivo cresce percentualmente enfrentar um maior número de etapas de produ-
mais que a taxa de crescimento da renda. ção será mais onerado.
z Sobre o Valor Adicionado: já o imposto sobre
Muitas definições surgem a partir desta ideia. Mas, valor adicionado (IVA) incide sobre o valor cria-
em geral, as bancas discutem dois efeitos dos impostos do em cada etapa de produção. Utilizando nosso
progressivos. Primeiro, eles servem como importante exemplo acima, a base de cálculo do IVA em cada

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


instrumento de distribuição de renda: como pesam etapa de produção será sempre de R$ 100. Desta
mais sobre os mais abastados, a arrecadação fiscal forma, o IVA é neutro em relação à estrutura orga-
pode ser revertida aos mais pobres, promovendo uma nizacional (quantidade de etapas produtivas) e à
melhor distribuição de renda. competitividade das empresas. Como onera de
Segundo, os impostos progressivos podem servir maneira constante o valor agregado, pouco impor-
como estabilizadores econômicos. Imagine uma situa- ta a quantidade de etapas de produção e o valor
ção em que a economia está em recessão, promoven- agregado em cada etapa.
do redução da renda. Neste contexto, a participação
do imposto irá decrescer mais que proporcionalmen- Imposto sobre a Renda
te o decréscimo da renda. Isto pode gerar mais renda
disponível, mais consumo, mais investimentos e cres- O imposto sobre a Renda (IR) é a forma mais
cimento econômico. Ou seja, os impostos progressivos tradicional de tributo direto e progressivo, utiliza-
podem estabilizar a economia, suavizando os ciclos do para o financiamento dos gastos governamen-
econômicos. tais. Vamos detalhar cada uma destas características.
Por fim, cabe comentar que apenas impostos dire- Por ser um tributo direito, o imposto de renda
tos podem ser classificados como progressivos, pro- incide sobre as características pessoais do contribuin-
porcionais ou regressivos. Os impostos indiretos, não. te, mais especificamente sobre a renda e proventos
Veja como são classificados sendo eles diretos: de qualquer natureza das pessoas físicas e jurídicas.
Neste sentido, onera, por exemplo, os salários dos tra-
z Proporcionais: impostos proporcionais são aque- balhadores, os lucros das companhias, juros, aluguéis
les que incidem com alíquota fixa, independente e diversas outras formas de rendimento que podem
do valor da renda. Ou seja, correspondem à mes- ser percebidos.
ma proporção (alíquota) da renda. Possuem elas- Mas, é importante citar que o IR possui, em termos
ticidade-renda igual a 1, pois crescem na mesma gerais, progressividade. Isto quer dizer que a esca-
proporção da renda, não apresentam resultados la em que ele onera os indivíduos varia conforme a
para fins de distribuição de renda e também não sua capacidade de contribuição. Como a capacidade
produzem efeitos de estabilização econômica; de contribuição é geralmente evidenciada pela renda,
z Regressivos: impostos regressivos são aqueles podemos dizer as alíquotas do IR variam conforme a
que oneram menos proporcionalmente indivíduos renda dos indivíduos tributados, na maioria dos casos.
com rendas maiores. Isto implica na ideia de que, Para pessoa físicas no Brasil, por exemplo, indivíduos 391
que recebem rendas mensais acima de R$ 4.463,81 serão tributos com a alíquota de 27,5% na parcela da renda
recebida acima deste valor, enquanto os indivíduos que recebem até R$ 1.787,77 não serão tributados.
A progressividade também alcança os rendimentos do capital, como as aplicações financeiras em títulos de
renda fixa em geral. No entanto, a progressividade é calculada em função do tempo em que os recursos perma-
necem aplicados. Esta progressividade é calculada desta forma para incentivar a formação de poupança de longo
prazo, pois quanto tempo os recursos permanecem aplicados, menor a alíquota incidente. Atualmente as alíquo-
tas são as seguintes:

z 22,5% para aplicações com prazo de até 180 dias;


z 20,0% para aplicações com prazo de 181 até 360 dias;
z 17,5% para aplicações com prazo de 361 até 720 dias;
z 15,0% para aplicações com prazo acima de 720 dias.

Por fim, cabe discutir acerca da utilização do IR como instrumento de política econômica. Se considerarmos
sua progressividade, o IR promove certa distribuição de renda em favor dos indivíduos com menos renda.
Como as alíquotas mais elevadas incidem nas pessoas de renda mais alta, a arrecadação tributária pode ser enten-
dida como um esquema de redistribuição de renda no estilo “Robin Hood”: retira dos mais ricos e distribui aos
mais pobres.
Atenção! A comparação com Robin Hood serve apenas para fins de entendimento, já que o governo não “rou-
ba” os recursos dos mais ricos, mas tão somente cobra estes recursos em troca do fornecimento de bens e serviços
públicos.
Outra característica importante do IR neste campo é a possibilidade em ser utilizado como instrumento de
estabilização dos ciclos econômicos. Nesse viés, é corrente que a economia apresenta ciclos econômicos: em
alguns momentos o produto cresce, enquanto em outros permanece estável, ou até mesmo cai.
Para tanto, imagine uma situação em que o produto da economia, o PIB, cai de um ano para o outro. À medida
em que ele reduzir, a renda média dos indivíduos provavelmente cairá. Como para rendas menores se aplicam
alíquotas também menores, o decréscimo no produto da economia pode resultar em uma maior renda disponível,
ou seja, mais quantidade de renda após o pagamento de impostos. Esse efeito pode provocar elevação no consu-
mo, nos investimentos e ajudar na recuperação da economia.
Por isto que o IR, quando progressivo, é chamado de imposto contracíclico, isto é, ele pode ajudar na reversão
do ciclo econômico.

Imposto sobre Venda de Mercadorias e Serviços

Um imposto sobre vendas de mercadorias e serviços é muito importante para a análise. Além de consistir em
necessária fonte de receitas para o governo, incidem em diversas modalidades de operações, podendo variar na
amplitude da base de cálculo, de acordo com os estágios de produção e comercialização existentes e também na
alíquota. Nesse âmbito, pode assumir uma variada gama de formas.
Por exemplo, podem ser: gerais ou especiais em sua relação com a base de cálculo; em cascata ou sobre o
valor adicionado, dependendo de como se relaciona com o processo de produção; e uniformes ou seletivos
na estrutura de alíquotas.
Todas estas características dependem de qual objetivo possui o governo em tributar determinada operação de
venda de mercadorias e serviços. Se quiser, por exemplo, não incentivar o consumo de certo produto importado,
com o objetivo de fomentar o consumo do produto similar nacional, deve aplicar uma alíquota seletiva, onerando
mais o produto importado.
Abaixo, segue uma tabela resumindo as variações do imposto em questão, em consonância a Rezende (2012):

ESTÁGIO DE
AMPLITUDE DE
ALÍQUOTA COBRANÇA APURAÇÃO DA BASE DE CÁLCULO
BASE DE CÁLCULO
(CADEIA PRODUTIVA)

Sobre a
Específicos
quantidade
Produção,
Uniformes ou
Geral ou Especial Comercialização ou Valor Final de
Seletivos
Todos os Estágios Ad Valorem Venda

Valor Adicionado

Outra discussão muito cobrada em concursos corresponde as diferenças entre os impostos em cascata e os
cálculos sobre o valor adicionado.
Em tese, o imposto sobre valor adicionado (IVA) é superior ao imposto cumulativo, pois não apresenta resul-
tados negativos em termos de eficiência econômica. Para compreender melhor, o IVA incide sobre o valor adicio-
nado em cada etapa produtiva, ou seja, sobre os lucros apurados em cada qual. Neste sentido, ele não interfere
na quantidade de etapas da cadeira produtiva. Ou seja, ele é neutro. Assim, as empresas podem decidir como
quiserem a quantidade de números da cadeia produtiva, pois o imposto depende do valor adicionado ao final.
Além do mais, o IVA não afeta a posição de competição entre regiões de uma indústria, visto que a alíquota é
392 uma proporção constante do valor de cada etapa produtiva.
Um terceiro ponto é o caráter auto fiscalizador do À vista disso, além da progressividade em função
IVA. Como o imposto incide sobre o valor adicionado, do valor venal, o IPTU possui progressividade em fun-
o não pagamento em determinado estágio pode ser ção do tempo em que permanece não satisfazendo
identificado no estágio seguinte. Isso, devido a forma a função social do imóvel e o uso a que se pretende.
de apuração do imposto ser feita através de créditos Apesar da intenção do legislador em atingir a progres-
fiscais. Desse modo, apura-se o valor do imposto pelo sividade com o IPTU, assim como os demais impostos
sobre propriedade, estes impostos são geralmente
valor total do produto e o sujeito passivo da obrigação
regressivos. Isso porque nada indica que indivíduos
ganha o crédito do valor de imposto pago nas etapas com renda mais elevada terão propriedades com
anteriores. Evidente que este procedimento exerce maior valor venal, ou com maior tempo sem atender à
uma fiscalização na arrecadação do tributo. função social do imóvel, por exemplo. Neste sentido, o
Por fim, outro caráter importante do referido IPTU estará onerando mais aqueles com menor renda.
imposto é a possibilidade de isentar determinado Outra forma que o IPTU contém certo grau regres-
estágio de produção, caso haja necessidade econômi- sivo, é a tendência da administração tributária em
ca, por exemplo. É o caso da isenção de bens de pro- subvalorizar imóveis com valor venal mais elevado e
dução, quando a economia se encontra com baixos supervalorizar imóveis com valor venal mais baixo.
níveis de investimento. Todavia, fica evidente que o Neste caso, mesmo considerando a progressividade
imposto cumulativo (em cascata) não apresenta tais da alíquota do IPTU determinada constitucionalmen-
características, sendo, assim, mais ineficiente quando te, o imposto apresentará tendência regressiva.
comparado ao IVA.
Tributação e Eficiência Econômica
Impostos sobre o Patrimônio
É evidente que a tributação exerce efeitos sobre a
economia. Para tanto, em primeiro lugar, podemos ana-
O patrimônio pode ser entendido como resultado lisar o caso da alocação de bens e serviços. Se a alocação
da acumulação da renda. De maneira que, os indiví- se fizer através de um mercado livre, sem intervenções
duos vão auferindo renda em sucessivos períodos e, a (apenas com consumidores e produtores interagindo),
parcela da renda não gasta, ou acumulada, gera o patri- os resultados obtidos tendem a ser os melhores possíveis
mônio. Assim, determinado sujeito pode acumular para bens privados.
renda e adquirir um imóvel, aplicações financeiras, ou De acordo com a teoria econômica clássica, neste
mesmo bens de consumo duráveis, como automóveis. modelo os preços evidenciam a escassez relativa dos
No Brasil, o imposto sobre propriedade mais bens: bens cuja oferta é escassa tendem a subir de
conhecido é o Imposto Predial Territorial Urbano preço, enquanto bens com oferta em demasia tendem
(IPTU), que incide sobre a propriedade imóvel urba- a ter os preços reduzidos. Entretanto, esse cenário não
considera a existência de tributos. A incidência de tri-
na. Deixando de lados os aspectos legais e tributários
butos pode prejudicar essa alocação eficiente de bens
do IPTU, é importante compreender como este impos- e serviços, de modo que o mercado pode tornar menos
to se relaciona com a equidade tributária. eficiente a evidenciação da escassez relativa dos bens.
A equidade tributária trata-se do tratamento igual, Pense: o que ocorreria a um bem com excesso de
do ponto de vista da contribuição dos sujeitos onera- oferta? Provavelmente teria o preço reduzido. Mas, e
dos. A equidade é aplicada de duas maneiras, através se o governo taxar apenas este bem e deixar os demais

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


da equidade vertical, onerando igualmente os indi- sem tarifação? A redução de preço não ocorrerá a fim
víduos iguais, e da equidade horizontal, onerando de equilibrar oferta e demanda, tornando o mercado
desigualmente os desiguais. deste bem menos eficiente. Ou seja, a incidência de
Pois bem. A base de cálculo do IPTU é o valor venal impostos pode resultar em ineficiência econômica.
(valor da venda) do imóvel. Neste sentido, imóveis Mas, é claro, essas ideias estão sendo discutidas
localizados em áreas mais nobres, geralmente pro- em tese. Como a tributação existe no mundo real, ela
deve interferir o mínimo possível na alocação de bens
priedade de indivíduos com mais renda, são onerados
e serviços. E como fazer isso? Geralmente através da
com alíquotas mais elevadas em comparação aos imó-
incidência de impostos gerais, e não especiais, como
veis com valor venal menor. no exemplo que acabamos de citar. Os impostos gerais,
É isto que estabelece o parágrafo 1o, do art. 156, da por incidirem em todos os bens e serviços indiscrimi-
Constituição Federal, de 1988. O referido dispositivo nadamente, não modificam os preços relativos, além de
entende que: servirem de receita ao governo. Neste caso, o mercado
produzirá bons resultados (alocação eficiente de bens e
Art. 156 Compete aos Municípios instituir impos- serviços), mesmo com a existência de tributação.
tos sobre: Outra discussão interessante sobre o efeito da tribu-
I - propriedade predial e territorial urbana; tação na economia se encontra na distribuição de ren-
[...] da. Ademais, os sistemas tributários mais progressivos
(quando a alíquota média ou arrecadação aumenta em
§ 1º Sem prejuízo da progressividade no tempo a
proporção maior que renda) tendem a distribuir melhor
que se refere o art. 182, § 4º, inciso II, o imposto a renda entre os indivíduos. Já os sistemas tributários
previsto no inciso I poderá: (Redação dada pela mais regressivos, tendem fazer o contrário.
Emenda Constitucional nº 29, de 2000) O pressuposto básico é o governo arrecadar mais
I – ser progressivo em razão do valor do imóvel; recursos dos mais ricos e aplicar estes recursos sem
e (Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de serviços e bens públicos acessados pelos mais pobres.
2000) Assim, a redistribuição seria feita e complementaria
II – ter alíquotas diferentes de acordo com a loca- a alocação de renda no sistema de livre mercado.
lização e o uso do imóvel. (Incluído pela Emenda Nesse viés, cumpre saber que sistemas tributários
Constitucional nº 29, de 2000) progressivos podem promover redistribuição de
renda, enquanto que sistemas tributários regres-
sivos podem concentrá-la. 393
Adicionalmente, podemos pensar na eficiência Dito de outra forma, há a necessidade de que as
do ponto de vista do governo através da relação pro- despesas dos entes públicos, derivadas das funções
posta pela Curva de Laffer. A relação proposta pelo estabelecidas no pacto federativo, guardem corres-
economista Arthur Laffer é bem simples e relaciona pondência com as receitas, de modo que a indepen-
a alíquota tributária com a arrecadação tributária: dência e autonomia dos entes públicos permaneçam.
até determinada alíquota, a arrecadação tributária Sobre este tema Wladimir Rodrigues Dias (2006):
do governo é crescente; para valores mais elevados, a
arrecadação tributária cai com o aumento da alíquota. A configuração do sistema tributário é, portanto,
O gráfico abaixo expressa esta ideia: parte da definição essencial do pacto federativo, e é,
também, instrumento da política econômica. Volta-
Arrecadação -se, pois, para o estabelecimento, no âmbito da divi-
tributária são espacial do poder, de um arranjo por meio do
qual as forças políticas dominantes, tangenciadas
por condicionamentos impostos pelo contexto his-
tórico e pelas relações travadas pelas forças políti-
cas e econômicas presentes em um certo cenário,
se comprometem com determinados objetivos, os
quais são extraídos exatamente deste conjunto de
condicionantes. (Dias, 2006)

E o autor continua,
Arrecadação Arrecadação
crescente decrescente O federalismo fiscal constitui, assim, a forma pela
qual a economia do setor público é repartida nas
diversas esferas federadas de competência, espe-
Alíquota
lhando, de um ponto de vista substantivo, com-
tributária promissos e objetivos assumidos pelo Estado com
determinadas forças políticas e econômicas. (Dias,
2006)

Em sequência, existem diferentes motivos que


sustentam a ideia do federalismo fiscal, isto é, da des-
centralização das receitas e despesas entre os entes
O gráfico é autoexplicativo. Iniciando com alíquota federativos. Abaixo, seguem os principais:
tributária igual a zero teremos arrecadação também
de zero. Ao passo que a alíquota é elevada, a arrecada- z Fatores Econômicos: a questão econômica pode
ção também aumenta (área formada pelo trecho iden- ser dividida em dois temas: eficiência e redução de
tificado como “arrecadação crescente”). Mas, até certo desigualdades regionais.
ponto, como visto no gráfico. Após este ponto há uma
inflexão na curva, mostrando-nos que aumentos pos- Em se tratando de eficiência, é de se esperar que
teriores da alíquota tributária resultam em redução a gestão descentralizada de recursos pode ser feita
da arrecadação tributária (área formada pelo trecho de modo mais eficiente do que da forma centraliza-
identificado como “arrecadação decrescente”). da. Em geral, as necessidades de cada localização
Em resumo, se o governo decidir estabelecer a alí- são conhecidas pelos entes locais, de modo que eles
quota tributária da economia em algum ponto do trecho seriam os mais capacitados a gerir os recursos e aten-
“arrecadação decrescente” ele estará jogando contra der às demandas locais. Ou seja, devem estar a cargo
ele mesmo, pois a arrecadação que aufere é inferior à do governo central apenas os recursos aplicados em
arrecadação que poderia ter de resultado com alíquotas bens/serviços públicos que atingem o país como um
inferiores. A ocorrência deste fato deve-se às ineficiên- todo: necessidades e preferências locais são melhores
cias econômicas geradas pela alta carga tributária. administradas pelos entes subnacionais.
No que tange à redução de desigualdades, a des-
Federalismo Fiscal: Conceitos Iniciais centralização fiscal possibilita identificar regiões mais
carentes e priorizá-las na dotação de recursos com a
A forma federativa de estado está estabelecida na finalidade de tornar as regiões mais iguais em termos
Constituição Federal, de 1988. Isto quer dizer que o de renda e oferta de bens públicos;
Estado brasileiro é formado por distintos e autônomos
entes: União, Estados e Municípios. z Fatores Institucionais: as questões institucionais
A existência deste “contrato” entre os entes acima estão relacionadas à relação entre a população e
citados faz necessária a divisão de funções e compe- a política. Descentralizar possibilita uma maior
tências entre eles. A federação brasileira está assen- transparência fiscal e participação da população
tada na divisão horizontal e vertical de competências, local em questões de economia do setor público.
incidindo sobre a produção normativa, a execução de Em geral, países cujas decisões são muito centra-
funções públicas e a geração e distribuição de receitas. lizadas tendem a ser mais autoritários e pouco
Para que este sistema funcione da maneira deseja- relacionados com a população. Assim, a descen-
da faz-se necessária uma forma de financiamento que tralização fiscal possibilita uma maior autonomia
respeite o princípio de autonomia e descentralização, dos entes subnacionais, desconcentrando o poder
isto é, atenda à divisão espacial do poder estabelecida político e fortalecendo a governabilidade das insti-
394 entre os entes. tuições democráticas;
z Fatores Geográficos: em relação à questão geo- „ 1% do FPM entregue nos primeiros 10 dias de
gráfica, países com maior dimensão tendem a cada dezembro de cada ano;
fortalecer os poderes subnacionais, pois decisões „ 1% ao Fundo de Participação dos Municípios,
centralizadas apresentam pouca eficiência em ter- que será entregue no primeiro decêndio do
mos de economia do setor público. Assim, quanto mês de julho de cada ano;
maior a área do país, maior a necessidade de des- „ totalizando 49% da arrecadação do IR;
centralização fiscal.
z Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI):
Por fim, do ponto de vista financeiro-orçamentá-
rio, o art. 10 do Decreto-Lei n° 200, de 1967 estabele- „ 21,5% da arrecadação entregue ao FPE;
ce que a execução das atividades da administração „ 22,5% da arrecadação entregue ao FPM;
pública federal deverá ser descentralizada com vista „ 3% da arrecadação para aplicação em progra-
a permitir que os órgãos centrais se concentrem nas mas de financiamento ao setor produtivo das
tarefas de planejamento, controle, supervisão e coor- Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, atra-
denação. Ou seja, a descentralização das atividades vés de suas instituições financeiras de caráter
governamentais, incluindo a questão fiscal, assevera a regional, de acordo com os planos regionais
necessidade de concentração das atividades de plane- de desenvolvimento, ficando assegurada ao
jamento, coordenação e controle nos órgãos centrais semiárido do Nordeste a metade dos recursos
da administração pública, deixando as atividades ope- destinados à Região;
racionais e de execução nas esferas descentralizadas. „ 1% do FPM entregue nos primeiros 10 dias de
cada dezembro de cada ano;
Federalismo Fiscal no Brasil „ 1% (um por cento) ao Fundo de Participação
dos Municípios, que será entregue no primeiro
O federalismo fiscal brasileiro atual ganhou destaque decêndio do mês de julho de cada ano;
após a promulgação da Constituição Federal de 1988. „ 10% da arrecadação destinado ao FPE, propor-
Durante o regime militar ocorreu uma centralização de cionalmente ao valor das respectivas expor-
recursos, despesas e decisões no governo central. Isto é tações de produtos industrializados (10% da
evidente, visto o caráter autoritário do regime militar. arrecadação do IPI é destinado aos Estados
No entanto, a partir da década de 80 e com o adven- e DF e a distribuição destes recursos entre os
to da Constituição Federal, de 1988, a tendência de entes é feita de acordo com a exportação de
centralização foi revertida. A elaboração da Constitui- produtos industrializados feitas por cada um:
ção Federal, de 1988, evidenciou a predominância de quem exporta mais produtos industrializados,
representantes das regiões mais carentes no Congresso recebe mais);
Nacional, devido ao quociente eleitoral e do número „ totalizando 59% da arrecadação do IPI;
mínimo de representantes dos Estados. Como resulta-
do, os municípios ganharam importância na distribui- z Contribuição de intervenção no domínio eco-
ção dos recursos fiscais em detrimento da União. nômico relativa às atividades de importação ou
Em consequência, ocorreu um aumento nas transfe- comercialização de petróleo e seus derivados,

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


rências intergovernamentais a fim de reverter o dese- gás natural e seus derivados e álcool combustí-
quilíbrio vertical de recursos que priorizava a União. vel (CIDE combustíveis):
No entanto, em paralelo, não foi distribuída da mesma „ 29% da arrecadação ao FPE (Estados e DF),
maneira a competência para tributar, de modo que distribuídos na forma da lei e observada a
muitos municípios e estados da federação passaram a destinação ao financiamento de programas de
depender das transferências intergovernamentais. infraestrutura de transportes;
A Constituição Federal, de 1988, estabelece regras „ do montante acima citado, 25% são destinados
para as transferências intergovernamentais através dos ao FPM (Municípios);
Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal „ totalizando 29% da arrecadação da CIDE
(FPE) e do Fundo de Participação dos Municípios, dentre combustíveis.
outras. Os referidos fundos correspondem a determina-
ção constitucional para a realização das transferências Além dos fundos supracitados, a Constituição Fede-
intergovernamentais, da União aos estados e municí- ral de 1988 prevê outras formas de transferências de
pios. É o federalismo fiscal previsto constitucionalmente. recursos, mas menos cobradas em concursos. Por
A respeito, a receita dos seguintes impostos são exemplo, o art. 157 da Constituição dispõe que perten-
destinadas às transferências nos respectivos termos: ce aos Estados e Distrito Federal o produto da arreca-
dação do imposto da União sobre renda e proventos
z Imposto de Renda e Proventos de Qualquer de qualquer natureza, incidente na fonte, sobre rendi-
Natureza (IR): mentos pagos, a qualquer título, por eles, suas autar-
quias e pelas fundações que instituírem e mantiverem.
„ 21,5% da arrecadação entregue ao FPE; Ou seja, mesmo que o IR seja tributo de competência
„ 22,5% da arrecadação entregue ao FPM; da União Federal, ela deve transferir a arrecadação nos
„ 3% da arrecadação para aplicação em progra- termos previstos acima aos Estados e DF.
mas de financiamento ao setor produtivo das Por outro lado, existem as transferências legais,
Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, atra- previstas em normas infraconstitucionais (leis
vés de suas instituições financeiras de caráter ordinárias, complementares etc.). Um exemplo é
regional, de acordo com os planos regionais o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
de desenvolvimento, ficando assegurada ao (FNDE), responsável pela execução de políticas educa-
semiárido do Nordeste a metade dos recursos cionais do Ministério da Educação e criado pela Lei nº
destinados à Região; 5.537, de 21 de novembro de 1968. 395
Por fim, cumpre caracterizar as transferências z Quanto a quem recebe a transferência
voluntárias. Não decorrem de previsão constitucio- (beneficiário):
nal, legal ou destinada ao Sistema Único de Saúde
(SUS) e correspondem a entrega de recursos corren- „ comprovar que está em dia com o pagamen-
tes ou de capital a outro ente da Federação, a título to de tributos, empréstimos e financiamentos
de cooperação, auxilio ou assistência financeira. devidos ao transferidor;
Sendo uma forma de transferência menos rígida, „ comprovar que está em dia com a prestação de
até por não constar em normativo constitucional ou contas de recursos anteriormente recebidos;
legal, as transferências voluntárias foram disciplina- „ estar cumprindo os limites constitucionais
das na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). O objeti- relativos à aplicação de recursos na educação
vo da LRF é conferir certas regras a serem respeitadas e na saúde (aplicado apenas aos Estados, DF e
para a realização de transferências voluntárias, a fim Municípios);
de que não se desvirtue a possibilidade. „ estar cumprindo os limites de endividamento
Primeiramente, é necessário compreender que as consolidado e mobiliário, de operações de cré-
transferências voluntárias no âmbito da União ocor- dito, de inscrição em Restos a Pagar e de despe-
rem mediante a formação de convênio, contrato de sas com pessoal;
repasse ou termo de parceria. A respeito, temos as „ haver previsão orçamentária de recebimento
seguintes definições: da transferência.

z Convênio: acordo, ajuste ou qualquer outro ins- Considerando todos os conceitos apresentados, res-
trumento que discipline a transferência de recur- tam algumas considerações baseadas principalmente
sos financeiros de dotações consignadas nos em Wladimir Rodriguez Dias (2006). Segundo o autor,
Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social da União
e tenha como partícipe, de um lado, órgão ou enti- [...] como resultado da redemocratização e da des-
dade da Administração Pública Federal, direta ou centralização ocorreu um fortalecimento do poder
indireta, e, de outro lado, órgão da Administração político e financeiro dos governos subnacionais,
Pública estadual, distrital, ou municipal, direta ou especialmente dos Estados e suas capitais. Contu-
indireta, ou ainda, entidades privadas sem fins do, isso não implicou em unidades subnacionais
lucrativos, visando a execução de programas de iguais em capacidade de cumprir tarefas institucio-
governo, envolvendo a realização de projeto, nais, nem em distribuição uniforme dos benefícios
atividade, serviço, aquisição de bens ou even- oriundos da nova pactuação federativa.
to de interesse recíproco, em regime de mútua
cooperação; Ainda segundo Dias (2006),
z Contrato de Repasse: instrumento administrati-
vo por meio do qual a transferência de recursos [...] estudos aplicados ao caso brasileiro têm evi-
financeiros se processa por intermédio de ins- denciado que nossa estrutura federativa não possui
um desenho institucional que se lhe garanta, por
tituição ou agente financeiro público federal,
si só, atingir seus objetivos de equilíbrio político
atuando como mandatário da União;
interfederativo e de promoção do desenvolvimento
z Termo de Parceria: instrumento jurídico para
regional. Pelo contrário, dependem, em grande par-
a realização de parcerias unicamente entre o te da agenda política firmada em face da correla-
Poder Público e as Organização da Sociedade ção de forças entre o governo central e as unidades
Civil de Interesse Público (OSCIPs são ONGs cria- subnacionais, do equilíbrio entre os três poderes
das por iniciativa privada, certificadas pelo poder republicanos e da posição do Estado diante das
público federal com a finalidade de realizar parce- necessidades da dinâmica econômica.
rias e convênios com todos os níveis de governo e
órgãos públicos geralmente nas áreas social, cul- E, conclui afirmando que,
tural e artística) para o fomento e a execução de
atividades de interesse público. [...] na ausência de ações combinadas para criar
condições favoráveis à descentralização da produ-
Nesse âmbito, as diferenças entre os termos são ção e da renda, o antagonismo cresce entre os entes
devidas às entidades participantes (instituições fede- federativos, instaurando, de um lado, a impossi-
rais, estaduais, distritais, municipais, entidades priva- bilidade da ação estatal direta no combate às dis-
das sem fins lucrativos ou OSCIPs), aos objetivos das paridades regionais, e, de outro, na margem de
transferências e à maneira em que é formalizada cada ação restante, uma competitividade predatória em
transferência. Para tanto, as regras previstas para a detrimento de um federalismo cooperativo. É este o
realização de transferências voluntárias pela LFR são desafio colocado para o federalismo fiscal brasilei-
as seguintes: ro na primeira década do século XXI.

z Quanto a quem realiza a transferência Em suma, a relação entre o federalismo fiscal, polí-
(transferidor): ticas públicas e redução das desigualdades regionais
ainda não atingiram o grau satisfatório pretendido, a
„ existência de dotação específica na lei orça- despeito das intenções das previsões constitucionais e
mentária anual ou em créditos adicionais; legais existentes.
„ respeito às exigências legais operacionais,
como o estabelecimento de convênio, contrato
de repasse ou termo de parceria;

396
Federalismo Fiscal: Desafios Atuais e Reformas20 corresponsabilidade entre o cidadão-contribuinte
e o poder público estadual e municipal, fomentan-
Após tratarmos as regras atuais acerca do federa- do irresponsabilidades e desperdícios.
lismo fiscal brasileiro, podemos apresentar, de forma
resumida, os principais desafios e propostas de refor- Para finalizar o assunto, é importante também
mas sobre o tema. mencionar a necessidade de simplificação da legis-
Segundo Rezende (2012), o principal desafio do lação tributária e, consequentemente, da distribui-
federalismo fiscal brasileiro “consiste em conciliar o ção destas receitas e competências. Ou seja, à parte
máximo de descentralização com adequada capacida- a necessidade de descentralização das competências
de de redução das desigualdades regionais”. Visto de tributárias, até o momento não realizada a contento
forma retrospectiva, a repartição das receitas entre os em relação às transferências de receitas (o que gerou
entes nacionais foi incrementada após a promulgação os problemas vistos anteriormente), faz-se necessária
da Constituição Federal, de 1988, em prol dos entes a simplificação de toda esta estrutura, tornando-a
mais pobres e menos populosos sem a devida repar- menos prolixa e onerosa à sociedade.
tição da competência tributária. Mas, é claro, a resolução para esta questão não é
Ou seja, Estados e Municípios mais pobres e menos tão simples.
populosos ficaram mais dependentes das transferên- Seja em função de problemas de representação
cias constitucionais de receitas, pois, em que pese política (excesso relativo de representantes de esta-
elas terem aumentado, não foi conferido a estes entes dos mais pobres e menos populosos, que demandam
subnacionais maior competência tributária. Além por ainda mais transferências e, consequentemente,
do mais, tal fato ocasionou dois grandes problemas: menor simplificação), seja em função das exigências
autonomia para gastar e acirramento das dispari- díspares geradas pelas enormes diferenças regionais
dades na repartição de recursos. e sociais, a solução para a questão (mais equilíbrio,
Conforme salientado na bibliografia citada, com eficiência, responsabilidade e simplicidade) certa-
exceção do aumento da base de incidência do prin- mente passa por uma clara redefinição e redução das
cipal imposto estadual — o ICMS —, que beneficiou responsabilidades dos entes nacionais.
os Estados mais industrializados, a receita da grande Um bom exemplo está na diminuição das compe-
maioria dos Estados e municípios cresceu em função, tências concorrentes em quase todos os campos das
principalmente, do incremento nas transferências. O políticas públicas entre os entes. A opção ideal estaria
corolário dessa atitude foi o afrouxamento do vínculo na adoção de competências que exigem sofisticação
de corresponsabilidade entre o cidadão-contribuinte e técnica, economia de escala, vultuosas necessidades
o poder público estadual e municipal, gerando condi- financeiras e ampla difusão espacial dos benefícios
ções propícias à irresponsabilidade e ao desperdício. no âmbito federal e o oposto nos âmbitos regionais
Neste sentido, três desafios precisam ser enfren- (menor sofisticação técnica, execução em escala redu-
tados em eventual proposta de reforma do sistema zida, benefícios geograficamente limitados etc.).
federativo: Considerando estes pontos, seria possível redefinir
a competência dos entes de forma racional, de modo
z Equilíbrio: o desafio do equilíbrio consiste no melhor a trazer mais equilíbrio, eficiência, responsabilidade e

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


cotejo entre receitas próprias e transferências gover- simplicidade, como anteriormente exposto.
namentais. Ademais, o citado equilíbrio deve ser
acompanhado de recomposição de instrumentos
tributários e financeiros capazes de impulsionar os
investimentos das regiões mais atrasadas, possibili-
tando, assim, redução das disparidades regionais;
CARGA TRIBUTÁRIA: CONCEITO,
z Eficiência: o desafio da eficiência acompanha o COMPOSIÇÃO E EVOLUÇÃO NO BRASIL
desafio do equilíbrio. Segundo Rezende, “a des-
vinculação da decisão de gastar, que representa A carga tributária é a quantidade de tributos
um bônus político, da decisão de instituir o tribu- (impostos, taxas e contribuições) das esferas de gover-
to necessário ao financiamento do gasto, que traz no (federal, estadual e municipal) que incidem sobre a
um ônus político, propiciou ambiente favorável ao economia, formada pelos indivíduos, pelas empresas
descontrole e ao desperdício”. Isto é, o desequilíbrio e pelo governo em seus três níveis.
entre receitas próprias pelos entes subnacionais e O Sistema Tributário Brasileiro é composto por
o valor das transferências recebidas gera ineficiên- diversos tributos federais, estaduais e municipais. Já
cia do gasto, pois os gastos gerados pelos gestores os países mais desenvolvidos possuem uma estrutura
estaduais e municipais não são, em geral, acompa- tributária mais eficiente, com menor quantidade de
nhados pela sociedade e, portanto, possuem ten- tributos, mas isso não quer dizer que são cobrados
dência a serem mais ineficientes; menos impostos dos seus contribuintes.
z Responsabilidade: por fim, o desafio da responsa- Por exemplo, em 2007, a carga tributária corres-
bilidade confunde-se com o desafio da eficiência. A pondeu a 35,3% do PIB, enquanto o ideal não deveria
responsabilidade dos entes subnacionais está em ultrapassar de 25% do PIB.
prover os gastos demandados pela sociedade de Para que o governo consiga diminuir a carga tri-
forma menos custosa, considerando que estão sen- butária, é necessária uma melhor gestão dos recursos,
do fiscalizados/monitorados pela sociedade. Ocor- a redução da corrupção, o fim de programas assisten-
re que, em função do desequilíbrio entre recursos ciais e maior investimento na infraestrutura do país,
próprios e transferências recebidas e consequen- para o desenvolvimento econômico.
te ineficiência na geração dos gastos, inexiste a
20 Tópico baseado em REZENDE, F. A. – Finanças Públicas, 2 ed. – São Paulo: Atlas, 2012. 397
O ideal dentro de uma empresa, após o planeja- z Transferências legais: são transferências previs-
mento tributário, é ter um CPT (Comitê de Planeja- tas em leis específicas, como o Fundo de Manuten-
mento Tributário) permanente, cuja missão é criar e ção e Desenvolvimento da Educação Básica e de
avaliar alternativas de planejamento tributário para Valorização dos Profissionais da Educação (Fun-
reduzir, legalmente, a carga tributária das operações deb) e o Fundo de Desenvolvimento Científico e
da empresa. Tecnológico (FNDCT);
Ademais, sobre o desenvolvimento da carga tribu- z Transferências discricionárias: são transferên-
tária ao longo da história, cabe ressaltar que, segundo cias que não são previstas em lei e são concedidas
os dados da Receita Federal, a carga tributária brasi- pelo governo central a critério do Poder Executivo.
leira passou de 22,4% do PIB em 1990 para 33,9% do
PIB em 2021, o maior patamar em pelo menos 12 anos. Destino
Dado aumento foi influenciado por diversos fato-
res, como a estabilização econômica, a ampliação da z Transferências correntes: são transferências que
base tributária, a criação e o aumento de tributos, a são utilizadas para financiar as despesas correntes
elevação dos preços das commodities, a crise fiscal, dos entes subnacionais, como salários, encargos
entre outros. sociais e gastos com consumo;
z Transferências de capital: são transferências que
Assim, a carga tributária brasileira é considerada
são utilizadas para financiar as despesas de capital
alta em relação à média dos países emergentes, que
dos entes subnacionais, como investimentos em
é de 23,1% do PIB, porém é inferior à média dos paí-
infraestrutura e bens públicos.
ses desenvolvidos, que é de 34,3% do PIB, segundo a
OCDE.
Regularidade
REFERÊNCIAS
z Transferências regulares: são transferências
que são realizadas com frequência e regularidade,
BRASIL. Receita Federal do Brasil. Carga Tributá- como os repasses do FPE e do FPM;
ria no Brasil 2021. Disponível em: file:///C:/Users/ z Transferências irregulares: são transferências
Nova%20Concursos/Downloads/CTB%202021_ que são realizadas de forma imprevisível, como as
v3%20com%20capa.pdf. Acesso em: 07 fev. 2024. transferências discricionárias.
PIRES, M. Observatório de Política Fiscal - FGV
IBRE - Instituto Brasileiro de Economia. Carga CRITÉRIOS
Tributária no Brasil: 1990-2022. Disponível em:
https://observatorio-politica-fiscal.ibre.fgv.br/ As transferências intergovernamentais podem ser uti-
series-historicas/carga-tributaria/carga-tributaria- lizadas para promover a descentralização fiscal e a equa-
-no-brasil-1990-2022 Acesso em: 7 fev. 2024. lização das condições de vida entre as diferentes regiões.

Descentralização Fiscal

PRINCÍPIOS DE DESCENTRALIZAÇÃO As transferências intergovernamentais podem


contribuir para a descentralização fiscal, ao transferir
FISCAL: TRANSFERÊNCIAS recursos financeiros para os entes subnacionais. Isso
INTERGOVERNAMENTAIS: permite que esses entes tenham mais autonomia para
CLASSIFICAÇÃO E CRITÉRIOS financiar suas atividades e atender às necessidades da
população local.
As transferências intergovernamentais são os
repasses de recursos financeiros entre os entes fede- Equalização das Condições de Vida
rados, ou entre estes e o governo central, com base
em determinações constitucionais, legais ou discricio- As transferências intergovernamentais também
podem contribuir para a equalização das condições
nárias. As transferências intergovernamentais têm
de vida entre as diferentes regiões. Isso ocorre por-
como objetivos principais: reduzir as desigualdades
que as transferências podem ser direcionadas para
regionais, compensar as externalidades e as econo-
regiões mais pobres ou menos desenvolvidas, com o
mias de escala, equalizar as capacidades fiscais e as
objetivo de melhorar a qualidade de vida da popula-
necessidades de gastos, e incentivar a cooperação e a
ção dessas regiões.
coordenação entre os entes federados.
REFERÊNCIAS
CLASSIFICAÇÃO
ALVES, P. J. H.; ARAUJO, J. M. TD 2623 — Os Impac-
As transferências intergovernamentais podem ser tos das Transferências Intergovernamentais nos
classificadas de acordo com diferentes critérios. Uma Incentivos Orçamentários dos Municípios Brasilei-
classificação comum é a seguinte: ros. Texto Para Discussão, [S. l.], p. 1-72, 13 jan.
2021. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada —
Origem IPEA. http://dx.doi.org/10.38116/td2623.
GOMES, E. C. S. Fundamentos das Transferências
z Transferências constitucionais: são transferên- Intergovernamentais. Direito Público, [S. l.], v.
cias previstas na Constituição Federal, como o Fun- 6, n. 27, 2010. Disponível em: https://www.portal
do de Participação dos Estados (FPE) e o Fundo de deperiodicos.idp.edu.br/direitopublico/article/
398 Participação dos Municípios (FPM); view/1565. Acesso em: 26 jan. 2024.
z Política Regulatória (Administrativa): através
POLÍTICAS COMERCIAIS, da política regulatória, o governo age no comércio
internacional de forma direta, proibindo, restrin-
PROTECIONISMO E LIVRE-CAMBISMO
gindo ou estabelecendo regras para o comércio
exterior. Exemplos dessa política ocorrem na proi-
CONCEITO DE COMÉRCIO INTERNACIONAL
bição de importação/exportação de determinados
De uma forma simples, o comércio internacional pode produtos; exigência de obtenção de licença prévia
ser conceituado como a troca de bens e serviços através para importação de um bem etc.;
de fronteiras ou territórios internacionais, independente- z Política Fiscal: através dela, o governo atua no
mente de as operações serem realizadas entre particula- comércio internacional principalmente por meio
res, entre Governos ou entre Governos e particulares. da tributação e dos gastos públicos, incentivando
A Organização Mundial do Comércio o define como ou desestimulando as importações ou exportações.
a operação comercial em que as partes envolvidas em Exemplos de ações de política fiscal são: aumento
uma relação comercial se encontram em países distintos. do imposto de importação; isenção da tributação
No comércio internacional, temos sempre uma de exportações e compras governamentais feitas
exportação (venda de um produto ou serviço para de determinado país;
pessoa localizada em outro país) e uma correspon- z Política Cambial: a política cambial interfere no
dente importação (compra de um produto ou serviço comércio internacional por meio da alteração da
produzido no exterior). taxa de câmbio. Isso porque o câmbio tem efeito
Como as partes se encontram em países distintos, direto no comércio internacional.
sujeitas a leis e costumes também distintos, é impor-
tante que tais relações comerciais sejam regidas por A apreciação da moeda nacional (desvalorização da
normas claras e uniformes. moeda estrangeira) provoca um aumento no número
Embora o comércio internacional seja tão antigo
de importações, uma vez que a moeda estrangeira fica
quanto as próprias nações, foi especialmente após a
mais “barata” e, como as importações são pagas nessa
Segunda Guerra Mundial que se criaram condições
moeda (normalmente em dólares), fica mais fácil para
mais propícias para uma maior uniformização e
regulamentação do Comércio Internacional, o que foi o comprador nacional adquirir bens do exterior.
impulsionado também por maior interdependência Já a depreciação da moeda nacional (valorização
econômica e comercial dos diversos Estados. da moeda estrangeira) incentiva as exportações. Isso
porque, nas exportações, o vendedor nacional recebe
POLÍTICA COMERCIAL em moeda estrangeira (normalmente dólares) e, como
ela está mais valorizada, ele consegue trocar por uma
A política comercial pode ser definida como o con- maior quantidade de moeda nacional.
junto de diretrizes e decisões tomadas pelo Governo, A utilização do câmbio como instrumento de política
relativas às negociações comerciais com outros países. comercial, no entanto, deve ser vista com cuidado, pois
Ela é praticada por meio de tarifas, subsídios, quo- isso pode causar efeitos em outras áreas da economia.
tas de importação ou exportação e outros mecanis- A principal forma de o Governo exercer a política
mos, e tem importância primordial no desempenho cambial é vendendo ou comprando a moeda estran-

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


econômico e relacionamento político entre os países. geira que deseja valorizar ou desvalorizar. No entan-
to, existem países que adotam o chamado “câmbio
Objetivo das Políticas Comerciais fixo”, em que a taxa de câmbio é estabelecida por
meio de lei ou outra norma legal.
Economicamente falando, a política comercial cos- Países que dizem adotar câmbio flutuante, ou seja,
tuma ter por principal objetivo gerar superávits no aqueles que permitem que a taxa de câmbio seja defi-
comércio internacional (maiores exportações do que nida pelo mercado, não se utilizam da política cam-
importações, pois isso representa um maior ingresso bial como instrumento de política comercial.
de divisas) e propiciar o crescimento econômico.
No entanto, a política comercial também pode ter
POLÍTICAS COMERCIAIS
objetivos políticos, como, por exemplo, aumentar o
poder de influência de um país por meios não milita-
res, através do que é denominado soft power.21
Hoje, fala-se em políticas comerciais estratégicas, Política Política
Política
que são aquelas que buscam otimizar os benefícios das Regulatória :
Fiscal : Cambial :
mesmas para o país, buscando-se favorecer as empresas Tributação e Gastos Alteração da
Imposição de Regras
Públicos Taxa de Câmbio
nacionais, melhorando seus termos de troca e fomentan-
do setores considerados essenciais, como aqueles que
estimulam e alimentam outros setores da economia ou
que geram mais empregos, produzindo um efeito em Escolas Econômicas: Livre Comércio e
cascata que beneficie a economia como um todo. Protecionismo

Formas de Exercício da Política Comercial Costumam-se identificar dois grandes modelos


opostos de política comercial: o livre-comércio, tam-
Costumam-se identificar três formas de exercício bém chamado de livre-cambismo ou, ainda, liberalis-
da política comercial, que podem ser exercidas de mo; e o protecionismo, embora, na prática, os países
forma conjunta: regulação, política fiscal e política costumem adotar modelos intermediários, com carac-
cambial. terísticas híbridas. Vejamos esses dois modelos:
21 Soft power: conceito utilizado na teoria das relações internacionais que significa o poder de influenciar o interesse e o comportamento por
meios culturais ou ideológicos. 399
z Livre Comércio, Livre Mercado, Livre Cambis- Entre as vantagens desse modelo de política eco-
mo ou Liberalismo nômica, podemos citar:

O liberalismo parte do princípio de que o comércio „ Proteção à indústria nascente ou deficiente:


com os outros países deve ser o mais aberto possível, no protecionismo, como o próprio nome indi-
com o mínimo ou até a ausência de barreiras alfande- ca, o Estado busca dar uma maior segurança
gárias. Das nações que adotam esse modelo costuma- às empresas nacionais, especialmente àquelas
-se dizer que possuem economias mais abertas. de pequeno porte ou que apresentam pouca
Defende que mercados mais abertos tendem a pos- eficiência, evitando que as mesmas quebrem
suir empresas mais eficientes, uma vez que somente devido à concorrência internacional;
terão sucesso e sobreviverão aquelas empresas que de „ Possibilidade de fugir dos riscos da especiali-
fato consigam ser competitivas. zação: no liberalismo, os países tendem a se espe-
cializar na produção dos bens e serviços em que
Também defende a interferência mínima do Esta-
são mais eficientes. Isso pode trazer dependência
do no comércio internacional, o qual deve ser regula-
de bens e serviços produzidos por outras nações.
do pela própria ação dos importadores e exportadores.
O protecionismo pode minimizar esse risco;
Entre as principais vantagens desse modelo, pode-
„ Possibilidade de se evitar déficits na balança
mos citar:
comercial: como o Governo intervém direta-
mente no Comércio Internacional, seja através
„ Aumento da eficiência das empresas: as da política regulatória, fiscal ou cambial, a pos-
empresas tendem a ser mais eficientes porque sibilidade de evitar desequilíbrios na balança
estão inseridas em um mercado mais competi- de pagamentos é maior.
tivo, sendo que aquelas que não conseguem se
adaptar tendem a desaparecer; Por outro lado, o protecionismo apresenta tam-
„ Acesso a outros mercados: via de regra, quan- bém diversos riscos, como, por exemplo:
to mais aberta a economia de um país, mais
facilidade de acesso a mercados de outros paí- „ a acomodação da indústria nacional, que,
ses ele terá, uma vez que a abertura comercial justamente por enfrentar menos concorrência
tende a ser uma via de mão dupla; e ter menos chance de quebrar, pode não bus-
„ Distribuição mais eficiente dos fatores de pro- car de forma adequada a eficiência produtiva;
dução: como o mercado se autorregula, os fato- „ problemas nas relações internacionais:
res de produção tendem a se distribuir de forma empresas de mercados mais fechados tendem
mais eficiente. Além disso, os países tendem a a ter mais dificuldades de acesso a mercados de
se especializar na produção daquilo em que são outros países. Além disso, a inserção do país em
mais competentes e que fazem com menor custo; questões internacionais tende a ser menor;
„ Mais opções e menores preços para o consu- „ desvantagens aos consumidores: consumido-
midor: como o livre mercado estimula a con- res de nações protecionistas tendem a ter menos
corrência, o consumidor tende a ter uma maior opções de produtos e serviços e a pagar um pre-
variedade e preços mais em conta do que em ço maior pelos mesmos, justamente devido a
economias fechadas; uma menor concorrência entre os produtores.
„ Inter-relacionamento entre as nações: um Atualmente, tende-se a defender a abertura dos
dos principais impulsionadores do relaciona- mercados em geral, seguindo os ensinamentos da
mento entre os países é justamente o comércio política de livre mercado, sendo a liberalização do
internacional. Desta forma, quanto mais aberta Comércio Internacional um dos objetivos dos órgãos
uma economia, maior tende ser o seu relacio- internacionais respectivos. No entanto, em situações
namento com outros países. de crise internacional, os países em geral tendem a
adotar práticas protecionistas, ainda que temporaria-
Por outro lado, esse modelo também apresenta mente, como forma de defender suas empresas e os
alguns riscos que devem ser acompanhados de per- empregos de seus cidadãos.
to pelo Governo, entre os quais podemos citar: risco
de quebra de indústrias nacionais, especialmente se BARREIRAS ALFANDEGÁRIAS
o mercado estiver se abrindo recentemente; risco de
As barreiras alfandegárias são entraves intencio-
dependência externa de determinados produtos e
nais colocadas por um país para dificultar o acesso ao
possibilidade de ocorrência de déficits comerciais.
seu mercado interno, o que pode ocorrer por várias
razões, mas que normalmente é utilizada sob a alega-
z Protecionismo ção de proteger as empresas e os empregos nacionais.
Tendem a ser mais adotadas por países que seguem
Característico de países com economias mais uma política comercial mais protecionista, embora
fechadas, o protecionismo defende uma maior inter- todas as nações do globo se utilizem, em maior ou
venção do Estado no Comércio Internacional, visando menor, de barreiras alfandegárias.
especialmente defender as empresas nacionais contra Atualmente, as barreiras alfandegárias são bastan-
os riscos da competição aberta. te restringidas e regulamentadas por acordos interna-
Costuma apresentar também, muitas barreiras cionais, como o GATT-94 (General Agreement on Tariffs
alfandegárias, privilegiando, no comércio interno, os and Trade — Acordo Geral de Tarifas e Comércio).
produtos de fabricação nacional. Podem ser exercidas de diversas formas, sendo
400 divididas em barreiras tarifárias e não tarifárias.
É importante observar que, em caso de utilização de z Barreiras técnicas: reguladas pelo Acordo sobre
barreiras, a Organização Mundial do Comércio (OMC) Barreiras Técnicas ao Comércio (TBT), são usa-
recomenda o uso das barreiras tarifárias, em lugar das das para defesa da sociedade, e não da indústria
não tarifárias, uma vez que permitem uma maior trans- interna, e são motivadas pela proteção à segu-
parência e facilitam os cálculos do custo de exportação. rança nacional, à saúde da população ou ao meio
ambiente etc. Devem seguir critérios objetivos e
Barreiras Tarifárias demonstrar o risco que se pretende combater;
z Medidas antidumping: medidas utilizadas para
As barreiras tarifárias consistem na cobrança de
combater o efeito do dumping, sob a forma de
um imposto ou taxa, onerando o produto importado
e, assim, aumentando o valor pelo qual é comerciali- cobrança de um valor adicional na importação,
zado no mercado importador. chamado de direito antidumping.
Quanto à forma de cobrança, costumam ser dividi-
das em três categorias: Dumping, no conceito utilizado em Comércio Inter-
nacional, consiste na venda de um produto ao país
z Barreiras ad valorem: cobra-se o valor do tributo importador por um preço menor do que o cobrado no
como um percentual do valor do bem importado. país exportador. Parte do princípio de que o preço no
Nesse caso, tem-se uma alíquota que é aplicada mercado importador deve ser maior devido aos cus-
sobre uma base de cálculo (normalmente o valor tos de frete e seguro internacional, entre outros.
aduaneiro22 do bem). Exemplo: tributo de 10% No entanto, somente poderão ser aplicados direi-
sobre o valor aduaneiro do bem; tos aduaneiros se a prática do dumping trouxer danos
z Barreiras específicas: nesse tipo de barreira, é às indústrias do país importador, constituindo o cha-
definido um valor fixo por unidade quantitativa mado “dumping condenável”.
ou de medida do bem importado, independen- Isso porque pode ocorrer que, mesmo sendo o pro-
temente do valor deste. Exemplo: imposto de R$ duto importado por um preço menor do que o cobrado
20,00 por quilo do produto; de R$ 1.000 por tonela- no país de origem, isso não cause risco à indústria do
da; de R$ 50,00 por cento; Estado comprador, pelo fato de ali os produtos nacio-
z Compostas ou mistas: de rara utilização, consti- nais serem mais baratos do que no país exportador.
tuem-se em uma mistura dos dois primeiros tipos. Assim, ocorre dumping, por exemplo, se um produ-
Exemplo: imposto cobrado à alíquota de 10% do to chinês é exportado ao Brasil por R$ 10,00 a unidade
valor aduaneiro do bem mais R$ 100,00 por dúzia. quando seu preço no mercado chinês é de R$ 12,00 a
unidade. Nesse caso, se o preço de R$ 10,00 for consi-
Barreiras Não Tarifárias derado um preço muito baixo, causando prejuízos ou
ameaças às indústrias brasileiras, poderá ser aplicado
As barreiras não tarifárias constituem quaisquer um direito antidumping de R$ 2,00 sobre cada unidade
outras formas de restrição de importações que não se importada pelo Brasil.
enquadrem como tarifárias. Entre os principais exem- Os direitos antidumping podem ser provisórios ou
plos, temos: definitivos.
Os provisórios são aqueles podem ser aplicados

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


z Quotas de importação: caracterizam-se como uma ainda durante uma ação de investigação, pelo órgão
restrição temporária à quantidade de determinado governamental, de prática de dumping pelo expor-
produto importado. Podem ser aplicadas por conta tador. Seu prazo é de no máximo 120 (cento e vinte)
de acordos comerciais ou como uma medida de sal- dias, podendo, em situações excepcionais, ser estendi-
vaguarda para proteger a indústria local; do a até 260 (duzentos e sessenta dias).
z Exigência de licenciamento da importação: Veja o que dispõe o art. 65, do Decreto nº 8.058, de
situação em que a autoridade aduaneira do país 2013:
importador exige uma licença (autorização) pré-
via para que a importação seja realizada. Deve ser Art. 65 No prazo de cento e vinte dias, e nunca inferior
justificada pelo país que a impõe; a sessenta dias, contado da data do início da investi-
z Procedimentos alfandegários: algumas vezes, o gação, o DECOM elaborará a determinação prelimi-
país utiliza-se de exigências burocráticas impos- nar, na qual constarão todos os elementos de fato e de
tas especialmente para dificultar a importação de direito disponíveis quanto à existência de dumping,
determinados produtos. Tal prática é condenada de dano e do nexo de causalidade entre ambos.
pela OMC, por sua imprevisibilidade característi- § 1º Excepcionalmente, o prazo a que faz referência
ca, embora muitos países a realizem na prática; o caput poderá ser prorrogado para até duzentos
z Controle cambial: através do controle cambial, dias contados da data do início da investigação.
um país pode desestimular as importações de pro-
dutos estrangeiros, especialmente através da des- Já os definitivos são aqueles aplicados ao final da
valorização artificial da moeda local, o que pode investigação, quando se constatar que houve de fato o
ser feito com a compra de dólares no mercado dumping prejudicial. Só devem permanecer em vigor
interno, por exemplo, ou mesmo com a fixação durante o tempo e na medida necessária para elimi-
legal do valor da taxa de câmbio; nar ou neutralizar a prática de dumping, não poden-
z Compras governamentais direcionadas ao mer- do ultrapassar 5 (cinco) anos, exceto se for realmente
cado nacional: ocorre quando a legislação ou as necessário manter a medida para impedir a continua-
práticas nacionais fazem com que o Governo dê ção ou a retomada do dumping e do dano causado
preferência aos produtos nacionais, em detrimen- pelas importações, objeto de dumping.
to dos importados;
22 Valor aduaneiro: valor de transação das mercadorias importadas. 401
Veja ainda algumas disposições do Decreto nº 8.058, de 2013, nesse sentido:

Art. 92 Direitos antidumping e compromissos de preços permanecerão em vigor enquanto perdurar a necessidade de
eliminar o dano à indústria doméstica causado pelas importações objeto de dumping.
Art. 93 Todo direito antidumping definitivo será extinto no prazo de cinco anos, contado da data de sua aplicação
ou da data da conclusão da mais recente revisão que tenha abrangido o dumping, o dano à indústria doméstica e o
nexo de causalidade entre ambos, conforme estabelecido na Seção II do Capítulo VIII. [...]
Art. 106 A duração do direito antidumping de que trata o art. 93 poderá ser, por meio de uma revisão de final de período
amparada por esta Subseção, prorrogada por igual período, caso determinado que a sua extinção levaria muito prova-
velmente à continuação ou à retomada do dumping e do dano dele decorrente.
Art. 107 A determinação de que a extinção do direito levaria muito provavelmente à continuação ou à retomada do
dumping deverá basear-se no exame objetivo de todos os fatores relevantes, incluindo aqueles elencados no art. 103.

z Medidas compensatórias: as medidas compensatórias, também chamadas de medidas antissubsídios, funcionam


como uma compensação pelos danos causados pela concessão de subsídios a produtos para exportação por parte
de um Estado, que cause danos na indústria doméstica de um país importador.

Considera-se subsídio qualquer tipo de benefício concedido pelo Governo ou por órgão público, sob a forma de:

„ contribuição financeira que gere vantagem (podendo assumir a forma de empréstimos, doações ou incen-
tivos fiscais);
„ qualquer forma de sustentação da renda ou dos preços que contribua para aumentar as exportações ou redu-
zir as importações de um produto.

Para que um subsídio seja acionável, é necessário que ele seja específico. Isto significa que ele é concedido
apenas a determinadas empresas, regiões geográficas ou setores de produção.
O combate ao subsídio pelas normas da Organização Mundial do Comércio justifica-se pelas distorções que ele
costuma causar no comércio internacional, especialmente em favor de países mais ricos (que possuem mais condições
financeiras de financiar seus produtores).
Para que possam ser aplicadas medidas compensatórias, é necessária a demonstração do dano causado pelas
importações a preços subsidiados e da especificidade do benefício.
Assim como os direitos antidumping, as medidas compensatórias também podem ser provisórias (aplicadas no
curso do processo de investigação comercial e limitadas a 120 dias) ou definitivas (após a conclusão do processo
e podem se estender por até 5 anos).

z Medidas de salvaguarda: são instrumentos de proteção contra produtos ou serviços que possam causar grave pre-
juízo à indústria nacional em virtude do crescimento repentino de sua importação, ainda que não haja prática de
dumping ou subsídio governamental.

Ao contrário das medidas antidumping e das medidas compensatórias, a salvaguarda não se destina a comba-
ter uma prática desleal de comércio, mas a conferir um prazo de ajuste à indústria nacional para aumentar sua
competitividade.
Também diferentemente dos direitos antidumping ou das medidas compensatórias, aplicáveis especificamen-
te aos países em investigação, as salvaguardas se aplicam a todos os países.
Como medidas emergenciais, são temporárias, podendo ser mantidas durante o tempo necessário para que a
indústria afetada consiga prevenir ou reparar os prejuízos causados pelas importações.

BARREIRAS ALFANDEGÁRIAS
Tarifárias Não Tarifárias
Quotas de importação
Exigência de licenciamento
Procedimentos alfandegários
Controle cambial
Impostos e taxas Compras governamentais
Barreiras técnicas
Medidas antidumping
Medidas compensatórias
Medidas de salvaguarda

UNIDADES INTERVENIENTES NO COMÉRCIO INTERNACIONAL NO BRASIL

Instituições intervenientes no Comércio Internacional são aquelas entidades que promovem ou inferem for-
malmente de alguma forma nas operações de comércio exterior.
No Brasil, as instituições intervenientes no Comércio Internacional costumam ser classificadas em três grupos:
órgãos gestores, órgãos anuentes e órgãos executores (ou intervenientes, no sentido estrito do termo).

402
Órgãos Gestores Art. 1º [...]
Parágrafo único. Considera-se interveniente do
Os órgãos gestores são os principais responsáveis comércio exterior, o importador, o exportador, o
pelo exercício de cada uma das funções estatais do beneficiário de regime aduaneiro ou de procedi-
Comércio Internacional: mento simplificado, o despachante aduaneiro e seus
ajudantes, o transportador, o agente de carga, o ope-
z Secretaria de Comércio Exterior — SECEX: exer- rador de transporte multimodal (OTM), o operador
ce função administrativa, estabelecendo regras portuário, o depositário, o administrador de recinto
para a concessão de autorizações para importa- alfandegado, o perito, o assistente técnico, ou qual-
ções ou exportações (regras de licenciamento) ou quer outra pessoa que tenha relação, direta ou indi-
para a elaboração de estatísticas; reta, com a operação de comércio exterior.
z Receita Federal do Brasil — RFB: exerce função
fiscal, fiscalizando o correto pagamento dos tribu- Demais Órgãos
tos aduaneiros e coibindo o contrabando e o desca-
minho de produtos; Além dos órgãos mencionados, existem outros
z Banco Central do Brasil — BACEN: regula a quan- que, dentro de suas atribuições, também interferem
tidade de moeda estrangeira que circula no país, no comércio internacional, como a Câmara de Comér-
interferindo na taxa de câmbio. cio Exterior (CAMEX), a Polícia Federal, o Ministério
das Relações Exteriores (MRE), o Conselho Monetário
São essas entidades que, em suas respectivas áreas Nacional (CMN), etc.
de atuação, estabelecem as regras gerais que deverão
ser seguidas pelos demais intervenientes. Siscomex — Sistema Integrado de Comércio Exterior

Órgãos Anuentes O Sistema Integrado de Comércio Exterior (Sisco-


mex) é um sistema que integra as atividades de registro,
De acordo com o dicionário, “anuir” significa dar acompanhamento e controle das operações de comércio
consentimento, aprovação; estar de acordo. Assim, exterior, tanto nas importações como nas exportações.
os órgãos anuentes são aqueles aos quais a legislação Foi instituído pelo Decreto nº 660, de 25 de setem-
atribui o poder de conceder ou não a autorização para bro de 1992, e informatizou os controles existentes,
a importação ou exportação, quando o licenciamento que eram realizados por meio de declarações em
for exigido dentro de sua esfera de atribuições. papel, carimbos e assinaturas.
Essa autorização, quando obrigatória, poderá ser Inovou também ao criar um fluxo único de infor-
em relação ao tipo de operação realizada ou sobre o mações, em que todos os intervenientes, públicos
produto comercializado. e privados, registram informações, declarações em
Entre as entidades anuentes, temos: sucessivas etapas, conforme fluxograma estabelecido,
uniformizando, assim, os procedimentos, tornando
z ANCINE — Agência Nacional do Cinema; impossível, por exemplo, prestar uma informação a
z ANEEL — Agência Nacional de Energia Elétrica; um órgão e prestar outra diferente a outro.
z ANP — Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural Assim, tanto os importadores como os exportado-

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


e Biocombustíveis; res, como os órgãos anuentes e todas as entidades que
z ANVISA — Agência Nacional de Vigilância Sanitária; estejam envolvidas em uma operação de importação ou
z CNEN — Comissão Nacional de Energia Nuclear; exportação se utilizarão do Siscomex para registrar suas
z COMEXE — Comando do Exército; declarações, solicitações, autorizações e outros atos.
z DECEX — Departamento de Operações de Comér- Para ter acesso ao Siscomex, é necessária a prévia
cio Exterior; habilitação junto à Receita Federal. A partir de 2012, o
z DFPC — Diretoria de Fiscalização de Produtos Siscomex passou a estar disponível também na versão
Controlados; web, com uma interface mais amigável.
z DNPM — Departamento Nacional de Produção
Mineral;
z DPF — Departamento de Polícia Federal;
z ECT — Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos;
z IBAMA — Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO
dos Recursos Naturais Renováveis; COMÉRCIO (OMC) E ORGANIZAÇÃO
z INMETRO — Instituto Nacional de Metrologia, Nor- PARA COOPERAÇÃO E
malização e Qualidade Industrial;
z MAPA — Ministério da Agricultura, Pecuária e DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
Abastecimento; (OCDE): COMPETÊNCIAS, ESTRUTURA
z MCT — Ministério da Ciência e Tecnologia; E PROCESSO DECISÓRIO
z MD — Ministério da Defesa.
A Organização Mundial do Comércio (OMC) e a
Órgãos Executores ou Intervenientes, no Sentido Organização para Cooperação e Desenvolvimento
Estrito Econômico (OCDE) são duas instituições interna-
cionais que atuam na promoção e na regulação do
Os órgãos executores ou intervenientes, no sentido comércio internacional, bem como na cooperação e
estrito do termo, são aqueles que praticam o comércio no desenvolvimento econômico e social dos países
exterior de fato, sendo definidos pela Receita Fede- membros. Ambas as organizações foram criadas após
ral na Instrução Normativa RFB nº 1.273, de 2012, da a Segunda Guerra Mundial, com o objetivo de evi-
seguinte forma: tar o protecionismo, o conflito e a instabilidade que
403
marcaram o período entre guerras. A OMC e a OCDE
têm competências, estruturas e processos decisórios MERCOSUL: OBJETIVOS E ESTÁGIO
distintos, mas também complementares, que visam ATUAL DE INTEGRAÇÃO COMERCIAL
garantir a harmonia, a transparência e a efetividade
das suas ações. PROCESSO E ETAPAS DE INTEGRAÇÃO
Nesse sentido, a OMC é a principal organização ECONÔMICA
internacional que regula o comércio internacional,
criada em 1995 como alternativa ao Acordo Geral Processo de Integração Econômica
sobre Tarifas e Comércio (Gatt), que começaram em
1947. O processo de integração econômica pode ser defi-
Ainda nesse viés, a estrutura da OMC é compos- nido como o desenvolvimento, por meio da celebra-
ta por uma Conferência Ministerial, cujo é o órgão ção de acordos comerciais, de abertura do comércio
supremo que se reúne a cada dois anos: de um país para o de outros países específicos, reci-
procamente entre eles, com a eliminação de barreiras
z Conselho Geral — órgão executivo único que se tarifárias e não tarifárias.
reúne regularmente; Essa integração pode dar-se em maior ou em
z Comitês — existe mais de um, bem como co-exis- menor grau, e cada acordo deve seguir as regras de
tem com conselhos e grupos de trabalho, que aprovação previstas na legislação de cada país, sendo
tratam de temas específicos, como agricultura, ser- que, normalmente, em todos eles se exige a aprovação
viços, propriedade intelectual, entre outros. do Parlamento (órgão legislativo).
No caso do Brasil, esses acordos comerciais devem
O processo decisório da OMC é baseado no con- seguir as mesmas fases de aprovação de quaisquer
senso entre países membros que devem negociar outros acordos internacionais celebrados pelo país,
e formalizar acordos comerciais que sejam mutua- fases essas determinadas pela Constituição Federal.
mente benéficos e que respeitem os princípios da Uma vez cumpridas as etapas de internalização,
organização. o acordo internacional estará formalmente anexado
Por outro lado, tem-se a OCDE, cuja se trata de uma ao ordenamento jurídico nacional, produzindo efeitos
organização internacional que reúne 37 países, prin- legais em relação aos cidadãos e terceiros, em geral.
cipalmente desenvolvidos, com o objetivo comum a Resumidamente, a internalização de acordos inter-
promoção do crescimento econômico, o desenvol- nacionais, no Brasil, segue quatro fases: celebração (pelo
vimento social e a cooperação internacional, que presidente da República), aprovação (pelo Congresso
produz estatísticas, análises, recomendações e boas Nacional), ratificação (pelo presidente da República, por
práticas sobre diversos temas, como educação, saúde, meio de decreto) e publicação. Observe o fluxograma:
meio ambiente, governança, entre outros.
A OCDE, por sua vez, foi fundada em 1961, como
sucessora da Organização para a Cooperação Econô- Assinatura ou celebração pelo
mica Europeia (OECE), que fora criada em 1948 para presidente da República
administrar o plano Marshall de reconstrução da
Europa após a guerra.
Nesse sentido, a estrutura da OCDE é composta da
seguinte forma: Aprovação pelo Congresso
Nacional
z um Conselho, cujo é o órgão supremos que se reú-
ne anualmente;
z um Secretariado, que é o órgão administrativo que
se encarrega da implementação das decisões do Ratificação pelo presidente da
Conselho; República por meio de decreto
z vários comitês, grupos de trabalho e agências, que
abordam temas específicos, como desenvolvimen-
to, energia, comércio, entre outros.
Promulgação e publicação do
O processo decisório, para tanto, da OCDE é basea- decreto de ratificação
do no consenso entre os países membros, que devem
adotar e implementar as diretrizes e os padrões
da organização, que são monitorados e avaliados O processo de integração econômica costuma ser
periodicamente. lento e progressivo, uma vez que a abertura mútua
dos mercados entre dois ou mais países tende a
REFERÊNCIAS enfrentar dificuldades e oposições internas.
Por conta disso, é comum que as negociações se
______. UOL. OMC. Disponível em: https://brasiles- estendam por anos ou, até mesmo, décadas.
cola.uol.com.br/geografia/omc.htm. Acesso em: 07
fev. 2024. Etapas de Integração Econômica
LEITÃO, J. O. Organização Mundial do Comércio
(OMC). Disponível em: https://www.infoescola. Os estudiosos de comércio internacional e de direi-
com/geografia/organizacao-mundial-do-comercio- to internacional costumam identificar cinco etapas
404 -omc/. Acesso em: 07 fev. 2024. sucessivas de integração econômica entre os países,
sendo que, não necessariamente, se deve passar de Ou seja, no Mercado Comum ocorre a livre circula-
uma etapa a outra, em determinado momento, pois o ção de mercadorias, pessoas e capital, além da adoção
avanço na integração econômica dependerá do inte- de uma Tarifa Externa Comum no comércio com paí-
resse de cada um dos países envolvidos. ses não integrantes.
As cinco etapas são as seguintes: O Mercosul tem como objetivo a formação de um
Mercado Comum entre os países que o integram,
z Zonas de Preferência Tarifária (ZPT) embora ainda seja considerado uma União Aduaneira
incompleta.
É a fase mais simples e menos abrangente do proces-
so de integração, pois apenas assegura níveis tarifários z União Econômica Monetária
preferenciais para o grupo de países que fazem parte de
determinada zona (países que assinaram o acordo). Na União Econômica, além das características pre-
Assim, uma ZPT estabelece que as tarifas inci- sentes nos mercados comuns, ocorre também a ado-
dentes sobre o comércio entre os países-membros do ção de um sistema monetário único, política externa
grupo são inferiores às tarifas cobradas de países não e defesa comum.
membros. Ela ocorre quando existe uma moeda comum ado-
Exemplo de Zona de Preferência Tarifária é a Asso- tada pelos diversos países e uma política monetária
ciação Latino-Americana de Livre Comércio (ALALC), com metas unificadas e reguladas por um Banco Cen-
a qual somente estabelece preferências tarifárias tral comunitário. Difere-se das Federações, porque
entre seus membros. não há necessidade de unificação política, mas somen-
te econômica. Sendo assim, um exemplo de União Eco-
z Zonas ou Áreas de Livre Comércio nômica Monetária seria a União Europeia.
Observação: a União Econômica pode ou não ter
Diferentemente das Zonas de Preferência Tarifá- uma União Política, o que faz nascer uma Federação
rias, nas Zonas ou Áreas de Livre Comércio há a elimi- ou uma Confederação.
nação das barreiras tarifárias e não tarifárias. O quadro a seguir resume as fases de integração
Assim, as zonas ou áreas de livre comércio carac- econômica:
terizam-se por haver livre circulação de mercadorias
entre os países-membros.
No entanto, os países integrantes continuam a ZONAS DE PREFERÊNCIA TARIFÁRIA:
adotar sua própria política comercial em relação a
Redução ou eliminação de barreiras tarifárias
outros países, com aplicação de tarifas diferenciadas
de importação por cada país em relação aos produtos
importados de países que não fazem parte daquele
acordo. ZONAS OU ÁREAS DE LIVRE COMÉRCIO:
Exemplo: se os países A e B fazem parte de uma
Zona de Livre Comércio, eles não cobrarão imposto Eliminação de barreiras tarifárias e não tarifárias

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


de importação de produtos alimentícios importados
entre si. No entanto, o país A e o país B são livres para
cobrarem, cada um deles, um percentual de impostos UNIÃO ADUANEIRA:
de importação diferente sobre produtos alimentícios
importados de um país C, que não faz parte do acordo. Eliminação de barreiras e adoção de Tarifa Externa
Comum (TEC)
z União Aduaneira

Na União Aduaneira, além de existir livre circula-


MERCADO COMUM:
ção de mercadorias, há a adoção de uma Tarifa Exter-
na Comum (TEC). Ou seja, entre os países da União Eliminação de barreiras, adoção de TEC e ausência de
Aduaneira, as mercadorias circulam livremente e, restrições à circulação de capital e pessoas
além disso, tais países também cobram, para o mesmo
produto, o mesmo imposto de importação de países
terceiros, que não fazem parte da União.
Exemplo: se os países A e B fazem parte de uma UNIÃO ECONÔMICA MONETÁRIA:
União Aduaneira, eles não cobrarão imposto de impor-
Eliminação de barreiras, adoção de TEC, ausência de res-
tação de veículos importados um do outro e, além dis-
trição à circulação e adoção de sistema monetário único
so, também cobrarão o mesmo imposto de importação
(TEC) sobre veículos importados do país C, que não faz
parte do acordo. MERCOSUL

z Mercado Comum O Mercado Comum do Sul (Mercosul) foi criado em


26 de março de 1991, com a assinatura do Tratado de
O Mercado Comum representa uma integração Assunção, fruto de negociações que se estendiam desde
ainda maior do que a da União Aduaneira. Nele, além a década de 1980 e iniciadas pelo Brasil e pela Argentina.
da livre circulação de mercadorias entre os países- Essas negociações avançaram, com discussões no
-membros e a adoção de uma TEC, ocorre também a âmbito da Associação Latino-Americana de Integra-
abolição de restrições ao trânsito dos fatores de pro- ção (ALADI), que culminaram no Acordo de Comple-
dução capital e trabalho (pessoas). mentação Econômica nº 18. 405
Os membros fundadores do Mercosul foram: Bra- z fortalecimento dos vínculos entre os cidadãos do
sil, Argentina, Paraguai e Uruguai, que, ainda hoje, bloco e contribuição para a melhoria de sua quali-
fazem parte do acordo. dade de vida;
Atualmente, além dos quatro membros fundado- z plena vigência das instituições democráticas.
res, o Mercosul possui, também, a Venezuela como
membro pleno, a qual, no entanto, encontra-se sus- Estrutura do Mercosul
pensa desde 2016 por não cumprimento de requisitos
estabelecidos para a entrada de novos integrantes. O Mercosul conta com três órgãos decisórios, um
Além dos membros efetivos, o Mercosul também de apoio técnico e dois consultivos. Resumidamente, a
conta com os seguintes Estados associados (entre estrutura do Mercosul é a seguinte:
parênteses estão as datas das admissões como Estados
associados): Bolívia (1996), Chile (1996), Peru (2003), z CMC (Conselho do Mercado Comum)
Colômbia e Equador (2004), Guiana Francesa e Suri-
name (2013).
O Conselho do Mercado Comum (CMC) é o órgão
Os Estados Associados podem participar, na qua-
superior responsável pela condução política do pro-
lidade de convidados, das reuniões dos órgãos da
cesso de integração e tomada de decisões para asse-
estrutura institucional do Mercosul para tratar temas
gurar o cumprimento dos objetivos estabelecidos no
de interesse comum, com direito à voz, mas não ado-
tam a Tarifa Externa Comum (TEC), o que lhes dá uma Tratado de Assunção. É constituído pelos ministros
menor capacidade de participação. das Relações Exteriores e pelos ministros da Econo-
Além dos membros plenos e dos associados, há, mia (Fazenda) de cada Estado integrante.
também, os membros observadores, os quais apenas A presidência é rotativa entre seus membros, exer-
acompanham as reuniões do bloco, mas sem poder de cida pelo prazo de seis meses, devendo reunir-se, pelo
voto ou participação. São eles: Nova Zelândia (2006) e menos, a cada semestre. O presidente do país que
México (2010). estiver exercendo a presidência do Mercosul também
será o principal representante do Mercosul naquele
Protocolos Assinados no Âmbito do Mercosul período.
O CMC pronuncia-se por meio das chamadas
Além do Tratado de Assunção, que criou o Merco- decisões.
sul, também foram assinados outros acordos impor-
tantes, chamados de protocolos, relacionados à z GMC (Grupo Mercado Comum)
organização do bloco. Observe:
Segundo lugar no organograma do Mercosul, o
z Protocolo de Brasília (celebrado em 17/12/1991): Grupo Mercado Comum (GMC) é um órgão executivo
estabeleceu o mecanismo de solução de controvér- que toma as providências necessárias ao cumprimen-
sias do Mercosul; to das decisões emanadas do CMC.
z Protocolo de Ouro Preto (assinado em 17/12/1994): Além disso, pode ser acionado para exercer função
definiu a estrutura institucional do Mercosul e dotou de mediador em caso de conflitos entre membros do
o bloco de personalidade jurídica de direito interna- Mercosul.
cional, permitindo, assim, que negociasse com outros É composto por quatro membros de cada Estado-
países ou blocos em nome de seus integrantes; -Parte. O Brasil é representado pelo:
z Protocolo de Ushuaia (celebrado em 24/07/1998):
estabeleceu a chamada cláusula de compromisso z subsecretário de Assuntos de Integração, Econô-
democrático entre os Estados-Membros (também micos e de Comércio Exterior (Ministério das Rela-
foi assinado por Bolívia e Chile), exigindo que ções Exteriores);
todos os países do Mercosul estejam comprometi- z diretor de Assuntos Internacionais do Banco
dos com a defesa efetiva de suas democracias;
Central;
z Protocolo de Olivos (assinado na Argentina em
z secretário de Assuntos Internacionais do Ministé-
18 de fevereiro de 2002): alterou e simplificou
rio da Fazenda;
o mecanismo de solução de controvérsias, com o
z secretário do Comércio Exterior e do Desenvol-
objetivo de torná-lo mais rápido e efetivo.
vimento da Produção do Ministério da Indústria,
Comércio Exterior e Serviços (MDIC).
Objetivos e Princípios do Mercosul
O GMC pronuncia-se por meio de resoluções.
O objetivo principal do Mercosul é a formação de
um mercado comum, com livre circulação de bens, ser-
viços e fatores produtivos entre seus países-membros. z CCM (Comissão de Comércio do Mercosul)
Além disso, busca os seguintes objetivos e é regido
pelos princípios citados a seguir: A Comissão de Comércio do Mercosul (CCM) é um
órgão decisório técnico, responsável por apoiar o
z adoção de uma política externa comum em rela- GMC no que diz respeito à política comercial do bloco.
ção a outros Estados; Pronuncia-se por meio de diretivas.
z coordenação de posições conjuntas em foros
internacionais; z Secretaria do Mercosul
z formulação conjunta de políticas macroeconômi-
cas e setoriais; A Secretaria do Mercosul tem por objetivo dar
z harmonização das legislações nacionais, com vis- apoio técnico e administrativo aos órgãos decisórios
406 tas a uma maior integração; citados acima. Tem sede em Montevidéu, Uruguai.
z Órgãos Consultivos Não havendo acordo nas negociações diretas, e se
as partes envolvidas desejarem, poderão solicitar o
São dois os órgãos consultivos do Mercosul: auxílio do GMC para intermediar uma negociação.
Essa fase é facultativa, mediante a concordância
z Comissão Parlamentar Conjunta (CPC): é um de ambas as partes, e deve estender-se por, no máxi-
órgão consultivo, deliberativo e de formulação de mo, 30 dias.
disposições, recomendações e declarações do Mer-
cosul, integrado por 64 parlamentares, 16 de cada z 3ª Fase: Arbitragem
Estado integrante;
z Foro Consultivo Econômico Social (FCES): órgão Frustradas as negociações diretas e, se forem soli-
consultivo que opera por meio de recomendações citadas, as negociações intermediadas pelo GMC, qual-
ao GMC, representa os setores da economia e socie- quer um dos Estados-Partes na controvérsia poderá
dade dos participantes do Mercosul. instaurar um procedimento arbitral.

Parlamento do Mercosul A arbitragem possui duas instâncias:

O Parlamento do Mercosul, também chamado de „ 1ª instância — Tribunal Arbitral “Ad Hoc —


Parlasul, é um órgão representativo dos cidadãos dos que se destina especificamente a determina-
países integrantes do bloco. da finalidade” (TAH)
A criação do Parlamento fundamentou-se na
importância da participação dos parlamentos dos O Tribunal Arbitral Ad Hoc (TAH) é um órgão não
Estados-Partes no processo de integração e de forta- permanente, formado por três árbitros, sendo dois
lecimento da dimensão institucional de cooperação designados pelos membros envolvidos na controvér-
interparlamentar. sia e o terceiro, que será o presidente, indicado pela
Sua instalação busca reforçar a dimensão político- Secretaria.
-institucional e cidadã do processo de integração. Ouvidas as partes envolvidas, o TAH deverá profe-
rir um laudo arbitral, no prazo inicial de 30 dias, mas
Mecanismo de Solução de Controvérsias no Âmbito que pode ser prorrogado por mais 60 dias.
do Mercosul A partir da elaboração do laudo arbitral, poderá
qualquer das partes envolvidas impetrar um recurso
O Mercosul, assim como a Organização Mundial do de esclarecimento, se achar que a decisão foi omissa,
Comércio (OMC), conta com um mecanismo de solu- contraditória ou ambígua.
ção de controvérsias devidamente estruturado, com a Se ambas as partes envolvidas concordarem, a
finalidade de resolver conflitos que surjam entre seus questão pode ser julgada diretamente pelo Tribunal
membros. Permanente de Revisão (TPR), sem precisar ser ana-
Os únicos que podem intervir em um procedi- lisada pelo TAH, suprimindo-se assim, a primeira
mento de solução de controvérsias são os próprios instância.
Estados-Partes.

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


Os particulares — pessoas físicas ou jurídicas — z 2ª instância — Tribunal Permanente de Revisão
podem intervir ou iniciar uma reclamação conforme (TPR)
o Sistema de Solução de Controvérsias, unicamente
quando seus interesses sejam afetados como con- Diferentemente do TAH, o Tribunal Permanente
sequência de decisões adotadas pelos Estados inte- de Revisão (TPR), como o próprio nome indica, é um
grantes, e sempre por intermédio da respectiva seção órgão permanente do sistema de solução de contro-
nacional GMC. vérsias do Mercosul. É integrado por cinco árbitros,
O mecanismo de solução de controvérsias do Mer- indicados para o mandato de dois anos, renováveis
cosul apresenta três fases: (com exceção do árbitro presidente, que é designado
de comum acordo pelos Estados-partes para um man-
z negociações diretas; dato de três anos, não renováveis).
z negociações intermediadas pelo GMC; Para cada julgamento, normalmente são indicados
z arbitragem. três árbitros — em situações excepcionais participa-
rão os cinco — sendo dois deles indicados por cada
Vejamos cada uma. uma das partes na demanda e o terceiro, sorteado.
O TPR julga os recursos de revisão apresentados
z 1ª Fase: Negociações Diretas contra os laudos arbitrais do TAH. No entanto, se
ambas as partes envolvidas concordarem, a questão
Semelhantemente à fase de consultas da OMC, na poderá ser submetida diretamente ao TPR, que atuará
fase das negociações diretas os membros do Mercosul como instância única.
envolvidos na controvérsia deverão tentar, primeiro, As decisões do TPR são irrecorríveis.
resolver suas pendências mediante negociações dire- No caso de o TPR atuar como segunda instância,
tas entre si. o recurso de revisão contra decisão do TAH deve ser
Essas negociações não podem se estender por mais apresentado no prazo máximo de 15 dias, contados de
de 15 dias, devendo seus resultados serem comunica- sua notificação da decisão do TAH; a parte contrária
dos ao Grupo Mercado Comum (GMC). também contará com o prazo de 15 dias para apresen-
tar sua contestação.
z 2ª Fase: Negociações Intermediadas pelo GMC O TPR tem o prazo de 30 dias para proferir sua
decisão, podendo ser prorrogado por mais 15.
407
Assim como ocorre com as decisões do TAH, das Embora tenha como data oficial de criação o dia 07
decisões do TPR cabe recurso de esclarecimento, se de fevereiro de 1992, seu surgimento esteve intima-
considerado pela parte que a decisão apresenta algu- mente ligado a processos anteriores de criação de um
ma omissão, contradição ou ambiguidade, o qual grande bloco econômico europeu, especialmente o
também deve ser apresentado no prazo de 15 dias da Benelux, a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço
notificação da parte. e o Mercado Comum Europeu.
O TPR pode também responder consultas apresen- O Benelux foi um bloco criado ainda em 1943,
tadas pelos Estados partes. tendo recebido esse nome por conta das iniciais
Segue resumo do Mecanismo de Solução de Con- (em inglês) dos países integrantes: Bélgica, Holanda
trovérsias do Mercosul: (Netherland) e Luxemburgo.
O objetivo do Benelux era promover a integração
desses três países em um mercado comum e único,
Negociações diretas entre os com a redução das tarifas aduaneiras.
membros envolvidos na con- Criada em 1952, a Comunidade Europeia do Car-
trovérsia: 15 dias vão e do Aço (CECA) era composta pelos países do
Benelux e mais França, Itália e Alemanha Ocidental.
Por conta disso, também era chamada de Europa dos
Seis. Seu objetivo era integrar a produção siderúrgica
Negociações intermediadas dos seis países em questão.
pelo GMC (se ambas as partes O Mercado Comum Europeu, também chama-
aceitarem): 30 dias do de Comunidade Econômica Europeia, foi criado
formalmente em 1957, com a assinatura do chamado
Tratado de Roma. Além dos países da antiga CECA, inte-
gravam o bloco econômico os seguintes países: Ingla-
terra, Irlanda e Dinamarca, a partir de 1973; Grécia, a
Arbitragem (1ª fase) — julga- partir de 1981; Espanha e Portugal, a partir de 1986.
mento por um tribunal ad hoc:
Ficou conhecido também como “A Europa dos 12”.
até 90 dias
Tinha como proposta o estabelecimento da livre
circulação de mercadorias, serviços e capitais. Além
disso, foi pela primeira vez colocada em um bloco
Arbitragem (2ª fase) — julga- econômico a possibilidade de permissão à livre movi-
mento pelo Tribunal Permanen- mentação de pessoas entre os países-membros.
te de Revisão: até 45 dias Em 1991, foi assinado o Tratado de Maastricht
(cidade da Holanda), que formalmente criou a União
Europeia, tendo entrado em vigor em 1992.
Somente com a União Europeia é que, de fato,
Tarifa Externa Comum alcançou-se o objetivo do Mercado Comum Europeu,
inclusive com a livre circulação de pessoas entre os
No objetivo de ser de fato um mercado comum, o
países-membros, tendo, também, adotado uma moeda
Mercosul determina que seus países-membros ado-
única (embora não seja de utilização obrigatória).
tem a chamada Tarifa Externa Comum (TEC), que é o
valor do imposto de importação cobrado na internali- Em 2020 ocorreu a primeira — e até agora única —
zação de um bem importado de um país que não faz grande baixa da União Europeia, que foi a saída do Rei-
parte do Mercosul. no Unido do bloco econômico, em um processo que ficou
No entanto, o acordo do Mercosul prevê que, tem- conhecido como Brexit (British exit — saída britânica).
porariamente, os países-membros podem indicar Os objetivos declarados da União Europeia
mercadorias que não se submetam à Tarifa Externa vão muito além da integração econômica, e são os
Comum, compondo a chamada Lista de Exceções à seguintes:
TEC (LETEC). Atualmente, os países integrantes do
bloco estão autorizados a uma lista de 100 códigos z promover a paz, os seus valores e o bem-estar dos
Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM) como exce- seus cidadãos;
ções à TEC (Tarifa Externa Comum).
z garantir a liberdade, a segurança e a justiça, sem
No Brasil, a elaboração da LETEC é de competência
da Câmara de Comércio Exterior (CAMEX). fronteiras internas;
A Tarifa Externa Comum é elaborada tomando-se z favorecer o desenvolvimento sustentável, com
como base para classificação das mercadorias a NCM. base no crescimento econômico equilibrado, na
estabilidade dos preços, numa economia de mer-
OUTROS ACORDOS DE LIVRE COMÉRCIO cado altamente competitiva, com pleno emprego e
progresso social, e na proteção do ambiente;
Entre outros acordos de livre comércio relevan- z lutar contra a exclusão social e a discriminação;
tes a nível regional ou mundial e que costumam ser z promover o progresso científico e tecnológico;
cobrados em provas, podemos citar os seguintes: z reforçar a coesão econômica, social e territorial e
a solidariedade entre os países da União Europeia;
União Europeia z respeitar a grande diversidade cultural e linguísti-
ca da União Europeia;
A União Europeia é, hoje, o maior bloco econômi- z estabelecer uma união econômica e monetária
co do mundo, conhecido pela livre circulação de bens, cuja moeda é o euro.
pessoas e mercadorias e pela adoção de uma moeda
408 única: o euro.
Associação Latino-Americana de Livre Comércio Seu objetivo era a total eliminação das barreiras
(ALALC) alfandegárias e a facilitação do movimento de produ-
tos e serviços entre os países.
A Associação Latino-Americana de Livre Comércio Em 2018, porém, os Estados Unidos acabaram sain-
(ALALC) foi criada em 1960, sendo a precursora da do de forma unilateral do NAFTA, alegando desvanta-
ALADI, por quem foi substituída. gens comerciais, motivados principalmente pela fuga
Tinha entre seus membros os seguintes países: de empresas norte-americanas, especialmente para o
Argentina, Brasil, Chile, México, Paraguai, Peru e Uru- México.
guai (membros originais) e Bolívia, Colômbia, Equa- No mesmo ano, porém, foi pensado um novo acor-
dor e Venezuela (ingressantes em 1970). do comercial entre os três países, chamado de USMCA,
Seu objetivo era a criação de um bloco de livre cujo nome é formado pelas iniciais, em inglês, dos
comércio na América Latina. países componentes: Estados Unidos (United States),
México e Canadá.
Diferentemente do NAFTA, porém, o USMCA foi
Associação Latino-Americana de Integração (ALADI)
celebrado por tempo determinado, para vigorar pelo
prazo de 16 anos.
A Associação Latino-Americana de Integração
(ALADI), criada pelo Acordo de Montevidéu — Uru-
Aliança do Pacífico
guai, em 12 de agosto de 1980, sucedeu a ALALC e é
composta por Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colôm-
Criado formalmente em 06 de junho de 2012 por
bia, Cuba, Equador, México, Panamá, Paraguai, Peru, México, Peru, Chile e Colômbia, esse bloco visa estabe-
Uruguai e Venezuela. lecer um mercado comum entre seus membros, estan-
Busca promover a integração da América Latina, do voltado especialmente a incrementar o comércio
visando seu desenvolvimento econômico e social. com países asiáticos e da Oceania, com o objetivo de
São objetivos declarados da ALADI: reduzir a dependência comercial dos países-membros
em relação aos Estados Unidos e à União Europeia.
z estabelecer acordos comerciais entre os Atualmente, a Aliança do Pacífico conta com 20
países-membros; países observadores.
z tomar ações convergentes em busca do estabeleci-
mento de um mercado comum latino-americano; Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico (APEC)
z criar mecanismos de cooperação tecnológica e
científica; Criada em 1993, a Cooperação Econômica da Ásia
z facilitar a abertura dos mercados entre os países- e do Pacífico (APEC) tem por objetivo a promoção, por
-membros, buscando reduzir tarifas alfandegárias meio de uma Zona de Livre Comércio, do crescimento
e eliminar obstáculos administrativos e técnicos; econômico, da integração comercial, dos negócios e
z promover o desenvolvimento social da região de dos investimentos na região da Ásia-Pacífico, em subs-
forma equilibrada e harmônica. tituição ao antigo eixo do Atlântico.
É um dos maiores blocos do mundo em termos eco-

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


Os países qualificados como de menor desenvolvi- nômicos e um dos que mais crescem comercialmente.
mento econômico relativo da região (Bolívia, Equador Os países que participam da APEC são: Austrália,
e Paraguai) gozam de um sistema preferencial. Brunei, Canadá, Chile, China, Indonésia, Japão, Coreia do
A ALADI é aberta à adesão de qualquer país latino- Sul, Malásia, México, Nova Zelândia, Papua Nova-Guiné,
-americano. Em 26 de agosto de 1999 foi aperfeiçoada Peru, Filipinas, Rússia, Singapura, Tailândia, Vietnã e
a primeira adesão ao Tratado de Montevidéu (1980), Estados Unidos, além de Taiwan e Hong Kong (que parti-
com a incorporação da República de Cuba como país cipa do acordo como membro distinto da China).
membro da Associação, sendo sucedida pelo Panamá, Apesar de buscar a criação de uma Zona de Livre
que se tornou membro em 2012. Comércio, a APEC busca, também, fortalecer e apri-
morar os acordos comerciais regionais já celebrados
entre os países-membros.
Comunidade Andina de Nações
Os três pilares de atuação do bloco são:
A Comunidade Andina de Nações, criada em 1969
z cooperação econômica e técnica;
com o nome de Pacto Andino, possui entre seus mem-
z liberação comercial e de investimentos;
bros a Bolívia, a Colômbia, o Equador e o Peru. z facilitação dos negócios entre os participantes do
Anteriormente, faziam parte do bloco o Chile, que bloco.
saiu em 1976 (atualmente é somente um país associa-
do), e a Venezuela, que se retirou em 2006. ESTÁGIO ATUAL DE INTEGRAÇÃO COMERCIAL
Objetivo: formação de um Mercado Comum entre
os países- membros. O Brasil, por sua vez, é um país A integração comercial é o processo pelo qual os
associado desde 2005. países reduzem ou eliminam as barreiras ao comér-
cio entre si, visando à ampliação e à diversificação
Acordo de Livre Comércio da América do Norte dos fluxos de bens, serviços, capitais e pessoas. Essa
(NAFTA) e USMCA integração pode ocorrer em diferentes níveis, que vão
desde a concessão de preferências tarifárias até a for-
O Acordo de Livre Comércio da América do Norte mação de uma união econômica e monetária.
(NAFTA) foi criado em 1994 e possuía como países- A integração comercial pode trazer benefícios para
-membros o Canadá, o México e os Estados Unidos, os países envolvidos, como o aumento da produtivi-
tendo o Chile como membro associado. dade, da competitividade, da eficiência, da inovação, 409
do crescimento e do bem-estar. No entanto, também
pode gerar custos e desafios, como a perda de autono- COOPERAÇÃO MULTILATERAL EM
mia, a dependência, a desigualdade, a vulnerabilida- COMÉRCIO INTERNACIONAL: G20,
de, a assimetria, a coordenação e a convergência.
O estágio atual de integração comercial no mundo é BRICS
marcado por uma complexidade e uma diversidade de
acordos e de blocos regionais, que envolvem diferentes O comércio internacional é a troca de bens e ser-
graus de liberalização e de cooperação entre os países. viços entre países, envolvendo aspectos econômicos,
Alguns exemplos de acordos e de blocos regionais são: políticos, sociais, culturais e ambientais.
Assim, dado comércio pode gerar benefícios para
z Organização Mundial do Comércio (OMC): prin- os países participantes, como o aumento da produção,
cipal órgão multilateral de regulação e de negocia- renda, emprego, diversificação, competitividade, ino-
ção do comércio internacional, que conta com 164 vação, entre outros.
membros e que busca a promoção de um sistema Todavia, o comércio internacional pode gerar
comercial aberto, justo e baseado em regras; desafios e conflitos, como o desequilíbrio comercial,
z União Europeia (UE): mais avançado processo de concorrência desleal, proteção de mercados, violação
integração regional, que abrange 27 países e esta- de direitos, a degradação ambiental, entre outros.
belece um mercado único, uma União Aduaneira, Para promover o comércio internacional de forma
uma união econômica e monetária, uma política mais justa, equilibrada e sustentável, os países recor-
externa e de segurança comum, entre outras polí- rem à cooperação multilateral, que é a ação conjunta
ticas e instituições comuns; e coordenada de um grupo de países em torno de uma
z Mercado Comum do Sul (MERCOSUL): principal agenda ou de um objetivo em comum.
bloco regional da América do Sul, reúne quatro paí- Nesse sentido, a cooperação multilateral em
ses (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) e tem comércio internacional visa estabelecer normas, prin-
como objetivo a formação de um mercado comum, cípios, regras e mecanismos que regulem o comércio
com livre circulação de bens, serviços, capitais e internacional, garantindo os direitos e os deveres dos
pessoas, além da coordenação de políticas macroe- países participantes, que resolvam as disputas e os
conômicas, sociais, ambientais, entre outras; impasses comerciais capazes de estimular a integra-
z Acordo de Parceria Transpacífico (TPP): é um ção e a cooperação regional e global.
dos maiores acordos comerciais do mundo; envol- Ademais, a cooperação multilateral em comércio
ve 11 países da Ásia, da Oceania e das Américas, internacional se dá por meio de organizações, acor-
e visa eliminar ou reduzir as tarifas e as barrei- dos, tratados e fóruns internacionais, que reúnem os
ras não tarifárias, bem como estabelecer regras e países interessados em discutir, negociar, implemen-
padrões comuns em diversas áreas, como proprie- tar e monitorar as políticas e as práticas comerciais.
dade intelectual, meio ambiente, trabalho, comér- Destarte, alguns exemplos de instâncias de coope-
cio eletrônico, entre outras. ração multilateral em comércio podem ser ilustradas,
tais como a Organização Mundial do Comércio (OMC),
Estágio Atual da Integração Comercial no Brasil que é a principal organização internacional que regu-
la o comércio internacional, cuja conta com a parti-
O Brasil é membro de diversos acordos de integra- cipação de quase todos os países do mundo. Nesse
ção comercial, sendo o principal deles o Mercosul. O sentido, o objetivo em comum é a promoção da libe-
Mercosul é uma união aduaneira formada pelo Brasil, ralização, transparência, segurança e previsibilidade
Argentina, Paraguai e Uruguai. do comércio internacional, que dispõe de um sistema
O Mercosul foi criado em 1991 e, desde então, de solução de controvérsias e de um mecanismo de
vem avançando no processo de integração comercial. revisão de políticas comerciais.
Em 2023, o bloco alcançou uma taxa de integração Além disso, o Acordo Geral sobre Tarifas e Comér-
intrabloco de 38,5%, o que significa que 38,5% das cio (Gatt), que foi o precursor da OMC, foi um acordo
exportações dos países membros do Mercosul foram multilateral que visava reduzir as barreiras tarifárias
destinadas a outros países membros. e não tarifárias ao comércio internacional, que vigo-
rou entre 1947 e 1994, que realizou oito rodadas de
REFERÊNCIAS negociações comerciais, que resultaram na criação da
OMC e de outros acordos comerciais.
BADR, E. Os diferentes níveis de integração econô- Por fim, mas no mesmo viés exemplificativo, a
mica entre Estados e o estágio atual do Mercosul. Área de Livre Comércio das Américas (Alca), que foi
Jus.com.br, 2010. Disponível em: https://jus.com. um projeto de integração comercial entre os países
br/artigos /14338/os-diferentes-niveis-de-integra- do continente americano, que foi lançado em 1994,
cao-economica-entre-estados-e-o-estagio-atual-do- cujo possuía a pretensão de eliminar as barreiras ao
-mercosul. Acesso em: 27 jan. 2024. comércio e aos investimentos entre os países, que não
RAMALHO, J. E. Etapas do processo de integração foi concretizado até o momento.
econômica do Mercosul. Câmara dos Deputados,
[s.d.]. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/ G20
atividade-legislativa/comissoes/comissoes-mistas/
cpcms/conheca-a-representacao/oqueeomercosul. A Globalização chegou e, com ela, a importância
html/mercosulpolitico. Acesso em: 27 jan. 2024. de uma instância que tomou relevância nos últimos
RICARDO, J. O que é integração econômica? Eco- anos: o G20.
nomia e Negócios, [s.d.]. Disponível em: https:// O G20 é um grupo formado por países com as mais
economiaenegocios.com/o-que-e-integracao-eco- expressivas economias do mundo, que juntos deba-
410 nomica/. Acesso em: 27 jan. 2024. tem os caminhos para manter estável a economia do
planeta. Estimativas apontam que se somados os paí- O NBD possui um capital inicial de 100 bilhões de
ses membros do G20, eles são responsáveis por apro- dólares, sendo que cada país-membro contribuiu com
ximadamente 90% do Produto Interno Bruto (PIB) 20% desse valor. É uma iniciativa inovadora que bus-
mundial, 80% do comércio internacional e cerca de ca superar as limitações e as condicionalidades dos
65% da população do planeta. bancos tradicionais e promover a cooperação e a inte-
O grupo tem aumentado as suas forças ao longo gração entre os países do Sul.
do tempo juntamente com outros organismos interna- Outro resultado importante do BRICS foi a criação
cionais como a OMC e a ONU. Criado em 26 de setem- do Arranjo Contingente de Reservas (ACR), em 2015,
bro de 1999, o seu objetivo é favorecer as negociações
com sede em Pequim, na China. O ACR é um mecanis-
internacionais, integrando um diálogo ampliado, não
mo de proteção financeira que visa fornecer suporte
mais restrito ao grupo do G8, uma vez que ainda em
de liquidez aos países-membros em situações de difi-
2008, diante da crise financeira internacional, os líde-
res participantes do G20 anunciaram que ele seria o culdades ou crises no balanço de pagamentos.
conselho internacional permanente de cooperação O ACR possui um montante total de 100 bilhões de
econômica. dólares, sendo que a China contribuiu com 41%, o Bra-
Com reuniões que acontecem todo ano, o G20 sil, a Rússia e a Índia com 18% cada, e a África do Sul
tem como objetivo aproximar países com economias com 5%. O ACR é uma alternativa ao FMI, que costuma
desenvolvidas ou em desenvolvimento, para que jun- impor medidas de ajuste fiscal e monetário aos países
tos cheguem a soluções que estabilizem o mercado que recorrem ao seu auxílio.
financeiro mundial, além de incentivar negociações
econômicas internacionais e definir estratégias para REFERÊNCIAS
um desenvolvimento econômico sustentável, o que
amplia a sua agenda de governança global. BEZERRA, J. BRICS. Toda Matéria, [s.d.]. Disponí-
Finalmente, é necessário notar que nas reuniões do vel em: https://www.todamateria.com.br/brics/ .
G20 são discutidos aspectos importantes para o futu- Acesso em: 25 jan. 2024.
ro, tais como eliminação de restrições no movimento CAMPOS, M. Brics. Mundo Educação, [s.d.]. Dispo-
de capital internacional; desregulação; condições nível em: https://mundoeducacao.uol.com.br/geo-
de mercado de trabalho flexíveis; privatização; grafia/bric.htm . Acesso em: 25 jan. 2024.
garantia de direitos de propriedade intelectual e REIS, T. BRICS: o que é e qual o objetivo desse grupo?
de outros direitos de propriedade privados; criação Suno Artigos, 2023. Disponível em: https://www.
de um clima de negócios que favoreça a realização de suno.com.br/artigos/brics/ . Acesso em: 25 jan. 2024.
investimentos estrangeiros diretos; liberalização
do comércio global (pela OMC e por acordos bilate-
rais de comércio).
EVOLUÇÃO DO SISTEMA FINANCEIRO
BRICS INTERNACIONAL
O BRICS é um grupo formado por cinco países
O Sistema Financeiro Internacional (SFI) é o con-
emergentes: Brasil, Rússia, Índia, China e África do

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


junto de instituições, regras e procedimentos que
Sul. O termo BRICS foi criado pelo economista Jim
regulam as transações financeiras entre países. Ele
O’Neill, em 2001, para se referir aos quatro países que
apresentavam alto potencial de crescimento econô- é responsável por facilitar o comércio internacional,
mico e influência global. Em 2011, a África do Sul foi promover a estabilidade financeira e evitar crises
incorporada ao grupo, que passou a ter o “S” no final. financeiras. Assim, sua evolução pode ser dividida em
O BRICS não é um bloco econômico ou uma alian- quatro fases principais:
ça política formal, mas um mecanismo de cooperação
e diálogo entre países com características e desafios PERÍODO DO PADRÃO-OURO (1870–1931)
comuns, como o desenvolvimento sustentável, a redu-
ção da pobreza, a reforma da governança global, a Nesse período, as moedas dos países eram atrela-
segurança e a paz mundial. Esse grupo de países reali- das ao ouro. Isso significava que cada moeda tinha um
za cúpulas anuais desde 2009, nas quais os líderes dos valor fixo em ouro, e que as autoridades monetárias
países-membros discutem temas de interesse mútuo e dos países só podiam emitir moedas se tivessem reser-
definem ações conjuntas. Além disso, o grupo também vas de ouro correspondentes.
possui diversos mecanismos de cooperação em áreas Esse sistema proporcionou estabilidade financeira
como economia, finanças, comércio, agricultura, saú- e facilitou o comércio internacional. No entanto, ele
de, educação, ciência e tecnologia, cultura, entre outras. também apresentava algumas limitações, como a difi-
Os membros desse grupo representam cerca de culdade de ajustar as políticas monetárias nacionais
42% da população mundial, 23% do Produto Inter-
às condições econômicas internacionais.
no Bruto (PIB), 18% do comércio e 26% do território
mundial. O BRICS é considerado um ator relevante no
PERÍODO ENTRE GUERRAS (1931–1944)
cenário internacional, que busca uma ordem mundial
mais justa, democrática e multipolar.
Um dos principais resultados do BRICS foi a cria- O colapso do padrão-ouro durante a Grande
ção do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), em Depressão levou ao período entre guerras, no qual
2014, com sede em Xangai, na China. O NBD é um não havia um sistema financeiro internacional for-
banco multilateral de financiamento de projetos de mal. Nesse período, as políticas monetárias nacionais
infraestrutura e desenvolvimento sustentável nos paí- eram adotadas de forma independente, o que levou a
ses do BRICS e em outras economias emergentes e em uma maior instabilidade financeira.
desenvolvimento. 411
PERÍODO DO BRETTON WOODS (1944–1971) BANCOS REGIONAIS E MULTILATERAIS DE
DESENVOLVIMENTO
Após a Segunda Guerra Mundial, os países reuni-
ram-se em Bretton Woods, nos Estados Unidos, para Os bancos regionais e multilaterais de desenvolvi-
estabelecer um novo sistema financeiro internacio- mento são instituições financeiras públicas que têm
nal. Esse sistema, conhecido como Sistema de Bretton como objetivo promover o desenvolvimento econômi-
Woods, era baseado em três pilares: co e social dos países em desenvolvimento. Eles são
financiados por contribuições dos países membros,
z o dólar americano era a moeda de reserva interna- bem como por captações junto ao mercado financeiro.
cional, e sua cotação em relação ao ouro era fixa;
z os países signatários do sistema deveriam man- Principais Características
ter suas moedas atreladas ao dólar americano em
Os bancos regionais e multilaterais de desenvolvi-
uma faixa de flutuação de 1%;
mento apresentam as seguintes características:
z o Fundo Monetário Internacional (FMI) foi criado
para auxiliar os países em dificuldades financeiras; z Caráter público: são instituições financeiras
O Sistema de Bretton Woods proporcionou estabi- públicas, ou seja, são controladas pelos governos
lidade financeira e facilitou o comércio internacional. dos países membros;
No entanto, ele também apresentava algumas limita- z Objetivo: promover o desenvolvimento econômi-
ções, como a dificuldade de ajustar as políticas monetá- co e social dos países em desenvolvimento;
rias nacionais às condições econômicas internacionais. z Financiamento: são financiados por contribui-
ções dos países membros, bem como por captações
SISTEMA DE BRETTON WOODS: INSTITUIÇÕES E junto ao mercado financeiro;
FUNCIONAMENTO z Área de atuação: podem atuar a nível global,
regional ou sub-regional.
A chamada Conferência de Bretton Woods teve iní-
cio na Conferência Monetária Internacional realizada Tipos de Bancos Regionais e Multilaterais de
em 1º de julho de 1944. A conferência foi realizada Desenvolvimento
na cidade de mesmo nome em New Hampshire, nos
Estados Unidos, e contou com a participação de dele- Os bancos regionais e multilaterais de desenvolvi-
gados de países, até o dia 22 de julho. Todos estavam mento podem ser classificados de acordo com a sua
em guerra com as potências do Eixo, incluindo Alema- área de atuação:
nha, Itália e Japão.
z Bancos globais: atuam a nível global, como o Banco
Dois organismos internacionais foram estabeleci-
Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI);
dos nesta conferência: o Fundo Monetário Internacio-
z Bancos regionais: atuam a nível regional, como o
nal (FMI) e o Banco Internacional para Reconstrução
Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e
e Desenvolvimento (BIRD), ou simplesmente Banco
o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD);
Mundial. Seu objetivo era garantir a recuperação e o
z Bancos sub-regionais: atuam a nível sub-regio-
desenvolvimento do mundo pós-guerra. Além disso,
nal, como o Banco de Desenvolvimento do Caribe
com a introdução do sistema de “padrão de câmbio
(BDC) e o Banco de Desenvolvimento da América
ouro”, o dólar seria a moeda base e seu valor seria
Latina (CAF).
determinado pelo valor do ouro.
Os principais objetivos deste acordo eram promo- Exemplos de Bancos Regionais e Multilaterais de
ver a cooperação internacional por meio do sistema Desenvolvimento
monetário, facilitar a expansão do comércio interna-
cional, alcançar a estabilidade da taxa de câmbio e Alguns exemplos de bancos regionais e multilate-
contribuir para o sistema multilateral de pagamentos. rais de desenvolvimento são:
O sistema de Bretton Woods permaneceu em vigor
até 15 de agosto de 1971, quando os Estados Unidos z Banco Mundial (BIRD): é o principal banco mul-
converteram unilateralmente o dólar em ouro, ante- tilateral de desenvolvimento, com atuação global.
cipando o fim do próprio padrão-ouro e o surgimento Foi criado em 1944, com o objetivo de reconstruir
de um sistema flutuante. os países da Europa devastados pela Segunda
Assim, em 1971, quando os Estados Unidos aban- Guerra Mundial. Atualmente, atua em mais de 100
donaram a paridade dólar-ouro, o Sistema de Bretton países, oferecendo empréstimos, assistência téc-
Woods entrou em colapso e deu início ao período pós- nica e investimentos para projetos de desenvolvi-
-Bretton Woods. Nesse período, não há um sistema mento econômico e social;
financeiro internacional formal. As moedas dos paí- z Fundo Monetário Internacional (FMI): é outra
ses são flutuantes, e cada país é responsável por suas instituição financeira internacional importante,
próprias políticas monetárias. com atuação global. Foi criado em 1944, com o
No entanto, algumas instituições internacionais, objetivo de promover a estabilidade do sistema
como o FMI, o Banco Mundial (BIRD) e o Banco Cen- monetário internacional. O FMI fornece emprésti-
tral Europeu (BCE), desempenham um papel impor- mos a países que estão enfrentando dificuldades
tante na governança financeira global. econômicas, com o objetivo de ajudá-los a superar
O sistema financeiro internacional enfrenta, atual- a crise e restaurar a estabilidade;
mente, diversos desafios, como a assimetria de poder z Banco Interamericano de Desenvolvimento
entre os países, a instabilidade dos fluxos de capitais, (BID): é o principal banco multilateral de desen-
a regulação inadequada dos mercados financeiros, a volvimento para a América Latina e o Caribe.
descoordenação das políticas macroeconômicas e a Foi criado em 1959, com o objetivo de promover
412 necessidade de reforma das instituições multilaterais. o desenvolvimento econômico e social da região.
O BID fornece empréstimos, assistência técnica Objetivos
e investimentos para projetos de infraestrutura,
educação, saúde, meio ambiente e outros setores; Os objetivos do BID são promover o desenvolvi-
z Banco Africano de Desenvolvimento (BAD): é o mento econômico e social sustentável da América
principal banco multilateral de desenvolvimento Latina e do Caribe, por meio de financiamento de
para a África. Foi criado em 1964, com o objetivo de projetos de infraestrutura, educação, saúde, meio
promover o desenvolvimento econômico e social do ambiente, governança e outros setores estratégicos;
continente. O BAD fornece empréstimos, assistência fornecimento de assistência técnica e consultoria;
técnica e investimentos para projetos de infraestru- promoção da integração regional; incentivo à inova-
tura, agricultura, educação, saúde e outros setores; ção e ao empreendedorismo.
z Banco de Desenvolvimento do Caribe (BDC): é o
principal banco multilateral de desenvolvimento Membros
para o Caribe. Foi criado em 1969, com o objetivo
O BID tem 48 países membros, sendo 26 países
de promover o desenvolvimento econômico e social
mutuários e 22 doadores. Os países mutuários da
da região. O BDC fornece empréstimos, assistência
América Latina e do Caribe são aqueles que recebem
técnica e investimentos para projetos de infraestru-
financiamento do BID. Os doadores, por sua vez, são
tura, turismo, agricultura e outros setores; de outras regiões do mundo que contribuem com
z Banco de Desenvolvimento da América Latina recursos financeiros para o BID.
(CAF): é o principal banco multilateral de desen-
volvimento para a América Latina. Foi criado em Financiamento
1960, com o objetivo de promover o desenvolvi-
mento econômico e social da região. O CAF fornece O financiamento do BID é obtido por meio de con-
empréstimos, assistência técnica e investimentos tribuições dos países membros; emissão de títulos de
para projetos de infraestrutura, educação, saúde, dívida; doações de governos e instituições privadas.
meio ambiente e outros setores.
Projetos
Papel dos Bancos Regionais e Multilaterais de
Desenvolvimento O BID financia uma ampla gama de projetos de
desenvolvimento na América Latina e no Caribe.
Estes referidos bancos desempenham um papel Alguns exemplos de projetos financiados pelo BID
importante no progresso econômico e social dos incluem a construção de estradas, pontes e aeropor-
países em desenvolvimento. Eles fornecem recursos tos; reformas educacionais e de saúde; promoção da
financeiros e técnicos para projetos que contribuem energia renovável e da eficiência energética; combate
para o crescimento econômico, o desenvolvimento à pobreza e à desigualdade; promoção da governança
social e a redução da pobreza. e da transparência.
Alguns exemplos de projetos financiados por
Impacto

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


bancos regionais e multilaterais de desenvolvimen-
to incluem a construção de estradas, pontes e outros
O BID tem um impacto significativo no desenvol-
projetos de infraestrutura, otimização de programas
vimento da América Latina e do Caribe. Desde sua
de educação, saúde e assistência social, promoção criação, financiou mais de US$ 1 trilhão em projetos,
da agricultura sustentável e da conservação do meio beneficiando mais de 100 milhões de pessoas.
ambiente e implementação de políticas públicas para
o desenvolvimento econômico e social. Exemplo Prático

Conclusão Um exemplo prático do impacto do BID é o projeto


de construção da Rodovia Transoceânica, que liga o
Observa-se que os bancos regionais e multilaterais Pacífico ao Atlântico na América do Sul. O projeto, que
de desenvolvimento são instituições com importante foi financiado pelo BID em parceria com outros orga-
nismos internacionais, tem o objetivo de melhorar a
papel no progresso econômico e social de diversos
conectividade e o comércio entre os países da região.
países em desenvolvimento, pois são responsáveis
pelo fornecimento de recursos financeiros e técnicos Conclusão
para projetos que contribuem para o crescimento eco-
nômico, o progresso social e a redução da pobreza. O BID é uma organização importante para o desen-
volvimento da América Latina e do Caribe. Seus pro-
BANCO INTERAMERICANO DE DESENVOLVIMENTO jetos contribuem para melhorar a infraestrutura, a
(BID) educação, a saúde, o meio ambiente, a governança e a
qualidade de vida das pessoas na região.
O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID)
NOVO BANCO DE DESENVOLVIMENTO (NDB)
é uma organização financeira internacional com sede
na cidade de Washington, D.C., nos Estados Unidos. Foi O Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), também
criado em 1959 com o propósito de financiar projetos conhecido como Banco de Desenvolvimento do BRI-
de desenvolvimento econômico, social e institucional CS, é uma instituição financeira multilateral fundada
na América Latina e no Caribe. pelos cinco países integrantes do grupo BRICS: Brasil,
Rússia, Índia, China e África do Sul. O banco foi cria-
do com o objetivo de promover o desenvolvimento 413
econômico e social nos países do referido grupo e Conclusão
em outras economias emergentes, além de países em
desenvolvimento. O Novo Banco de Desenvolvimento é uma institui-
ção importante que tem o potencial de contribuir para o
Criação e Objetivos desenvolvimento econômico e social nos países já men-
cionados. O banco tem financiado projetos que estão
O NBD foi criado em 2014, durante a VI Cúpula ajudando a melhorar a infraestrutura, a promover o
dos BRICS, em Fortaleza, Brasil. O acordo de criação desenvolvimento sustentável e a reduzir a pobreza.
do banco foi assinado pelos cinco países fundadores e
entrou em vigor em 2015. REFERÊNCIAS
Dessa forma, os objetivos do NBD fundamentam-se
na promoção do desenvolvimento econômico e social THE World Bank. O Banco Mundial no Brasil,
nos países do BRICS e em outras economias emer- [s.d.]. Disponível em: https: //www.worldbank.org/
gentes e países em desenvolvimento, fornecimento pt/country/brazil. Acesso em: 30 jan. 2024.
de financiamento para projetos de infraestrutura e INTER-AMERICAN Development Bank. IDB, [s.d].
desenvolvimento sustentável, contribuição para a Disponível em: https: //www.iadb.org/. Acesso em:
redução da pobreza e da desigualdade e fomento à 30 jan. 2024.
integração econômica e financeira entre os países do MINISTÉRIO das Relações Exteriores — MRE. Gov.
BRICS e outras economias emergentes e países em br, [s.d.]. Disponível em: https: //www.itamaraty.
desenvolvimento. gov.br/. Acesso em: 30 jan. 2024.
ORGANIZAÇÃO para a Cooperação e Desenvolvimen-
Estrutura e Funcionamento to Econômico — OCDE. Ocde.org, [s.d.]. Disponível
em: https: //www.oecd.org/. Acesso em: 30 jan. 2024.
O NBD é uma instituição financeira multilateral, BANCO de Desenvolvimento do BRICS — NBD.
com sede em Xangai, China. O capital do banco é de Disponível em: https: //www.ndb.int/. Acesso em:
US$ 100 bilhões, divididos igualmente entre os cinco 30 jan. 2024.
países fundadores.
A estrutura do NBD é composta por três órgãos
principais:
BALANÇA COMERCIAL BRASILEIRA:
z Conselho de governadores: composto pelos
CONCEITOS E METODOLOGIA DE
ministros das finanças ou seus representantes dos
países membros; CONTABILIZAÇÃO
z Conselho de diretores: composto por 20 direto-
res, sendo seis diretores executivos, eleitos pelos CONCEITOS
países membros, e 14 diretores suplentes;
z Secretariado: responsável pela gestão do banco. A balança comercial é um indicador econômico
que mede a diferença entre o valor das exportações
O NBD financia projetos de infraestrutura e desen- e o valor das importações de um país em um deter-
volvimento sustentável nos países membros e em minado período. Se o valor das exportações for maior
outras economias emergentes e países em desenvolvi- que o valor das importações, o país tem um superávit
comercial. Se o valor das importações for maior que o
mento. Os projetos financiados pelo banco podem ser
valor das exportações, o país tem um déficit comercial.
públicos ou privados, e devem estar alinhados com os
No Brasil, a balança comercial é contabilizada pela
objetivos do banco.
Secretaria de Comércio Exterior (SECEX) do Ministé-
rio da Economia. Assim, ela considera apenas as ope-
Exemplos de Projetos Financiados pelo NBD
rações efetivas de importação, ou seja, as importações
definitivas, com nacionalização do bem, ainda que
O NBD já financiou uma série de projetos nos paí- sem cobertura cambial. As importações administrati-
ses membros e em outras economias emergentes e vas e especiais não são contabilizadas nas estatísticas.
países em desenvolvimento. Alguns exemplos desses
projetos incluem: projeto de construção de uma linha METODOLOGIA DE CONTABILIZAÇÃO
de trem de alta velocidade na Índia; projeto de cons-
trução de um parque eólico na China; projeto de cons- A metodologia de contabilização da balança
trução de uma usina de energia solar na África do Sul; comercial brasileira segue as recomendações interna-
projeto de apoio à agricultura familiar no Brasil. cionais do Fundo Monetário Internacional (FMI) e da
Organização Mundial do Comércio (OMC). Os dados
Impacto do NBD são coletados, processados e divulgados pela Secreta-
ria de Comércio Exterior do Ministério da Economia.
O NBD ainda é uma instituição relativamente nova, Os critérios utilizados para contabilizar as expor-
mas já teve um impacto significativo no desenvolvi- tações e as importações analisam da seguinte forma:
mento econômico e social nos países membros e em as exportações são registradas pelo valor FOB (Free
outras economias emergentes e países em desenvol- on Board), que significa o valor dos bens no local de
vimento. O banco tem financiado projetos que estão embarque, sem incluir o frete e o seguro internacio-
ajudando a melhorar a infraestrutura, a promover o nal. Também, as importações são registradas pelo
desenvolvimento sustentável e a reduzir a pobreza. valor CIF (Cost, Insurance and Freight), que significa o
valor dos bens no local de destino, incluindo o frete e
414 o seguro internacional.
Ainda, as exportações e as importações são con- z aos temas tarifários e não tarifários;
vertidas em dólares americanos pela taxa de câmbio z ao financiamento às exportações com o objetivo de
média do dia da operação. E, por fim, as exportações e promover o aumento da produtividade e da com-
as importações são apropriadas pelo regime de com- petitividade das empresas brasileiras no mercado
petência, ou seja, pelo mês em que ocorre o embarque internacional.
ou o desembarque dos bens.
Portanto, a balança comercial brasileira é um indi- Fundada em 1995, a Camex foi inicialmente vin-
cador importante para avaliar o desempenho da eco- culada ao Conselho Deliberativo da Presidência da
nomia e a inserção internacional do país. Um saldo República, mas ainda não tinha poderes consultivos
positivo pode significar maior geração de emprego, ou operacionais. Havia um Conselho de Ministros pre-
renda e divisas, além de maior competitividade dos sidido pelo Chefe do Estado Maior General e composto
produtos nacionais. Já um saldo negativo pode sig- pelos principais ministérios que tratavam de assuntos
nificar maior dependência de produtos estrangeiros, relacionados ao comércio exterior. O Decreto nº 8.807,
aumento da dívida externa e perda de mercado. de 12 de julho de 2016, alterou aspectos importantes
Veja, a seguir, exemplos práticos sobre a temática. das instituições da Camex.
A Camex passou a ser presidida pelo Presidente da
z Superávit comercial: suponha que uma empre- República e sua Secretaria passou a ser exercida pelo
sa brasileira exporte US$ 100 milhões em merca- Ministério das Relações Exteriores (MRE). Em 2017,
dorias e importe US$ 50 milhões em mercadorias. a Camex foi novamente transferida do MRE para o
Nesse caso, o país tem um superávit comercial de MDIC, e o MDIC passou a indicar o Secretário-Geral
US$ 50 milhões; da Câmara.
z Déficit comercial: suponha que uma empresa Atualmente, a Camex faz parte da estrutura
brasileira exporte US$ 50 milhões em mercadorias administrativa do Ministério da Economia (ME) e
e importe US$ 100 milhões em mercadorias. Nes- dispõe de um conjunto de colegiados e órgãos, que
se caso, o país tem um déficit comercial de US$ 50 juntos são responsáveis por coordenar discussões e
milhões. deliberações em torno dos principais pilares da políti-
ca de comércio exterior brasileira.
REFERÊNCIAS O Conselho de Estratégia Comercial é integrado
pelos seguintes membros:
BRASIL. Ministério da Economia. Secretaria de
Comércio Exterior. Revisão Metodológica da Con- z Presidente da República, a quem cabe a presidên-
tabilização dos Fluxos de Exportação e Impor- cia do Conselho;
tação Brasileira de Bens. Nota Técnica. 2021. z Ministro de Estado Chefe da Casa Civil da Presidên-
cia da República;
z Ministro de Estado da Defesa;
z Ministro de Estado das Relações Exteriores;
z Ministro de Estado da Economia;
SISTEMA ADMINISTRATIVO E
z Ministro de Estado da Agricultura, Pecuária e
INSTITUIÇÕES INTERVENIENTES NO

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


Abastecimento.
COMÉRCIO EXTERIOR NO BRASIL
A Secretaria-Executiva da Camex (SE-Camex),
Antes de mais nada, é necessário entender o que é órgão responsável por coordenar e apoiar os diver-
o comércio exterior. sos colegiados da Câmara, está organizada em três
O estudante pode se perguntar se o comércio exte- subsecretarias:
rior é o comércio internacional. Tenha cuidado nes-
te ponto, pois são conceitos diferentes! O comércio z Subsecretaria de Estratégia Comercial;
internacional é o conjunto de operações comerciais z Subsecretaria de Investimentos Estrangeiros;
entre dois ou mais países onde há intercâmbio de z Subsecretaria de Financiamento ao Comércio
mercadorias, serviços ou capitais. Já o comércio exte- Exterior.
rior refere-se às regras internas de cada país, trocas
comerciais de um só país. SISTEMA ADMINISTRATIVO DO COMÉRCIO
EXTERIOR NO BRASIL
POLÍTICAS DE COMÉRCIO EXTERIOR DO BRASIL
O sistema administrativo do comércio exterior
Nosso tópico tratará da política de comércio exte- no Brasil é composto por diversos órgãos públicos
rior do Brasil e também de como o país se relacio- que atuam na regulação, fiscalização, controle e pro-
na com o resto do mundo sob o aspecto comercial. moção das operações de importação e exportação de
Portanto, diz respeito à forma como são utilizados (ou bens e serviços. Esses órgãos são classificados em três
não) os instrumentos comerciais, tais como tributos, categorias: gestores, anuentes e usuários.
subsídios e quotas. Os órgãos gestores são aqueles responsáveis pela
A Câmara de Comércio Exterior (Camex), conforme administração e gestão do comércio exterior brasi-
estabelecido no Decreto nº 10.044, de 2019, Lei 13.844, leiro, definindo as políticas públicas e as normas que
de 2019, tem a atribuição de formular, adotar, imple- regem as atividades de comércio exterior. Assim, os
mentar e coordenar as políticas e atividades relativas: principais são:

z ao comércio exterior brasileiro; z Ministério da Economia (ME);


z à atração de investimentos estrangeiros diretos; z Câmara de Comércio Exterior (CAMEX);
z a investimentos brasileiros no exterior; z Receita Federal do Brasil (RFB); 415
z Banco Central do Brasil (BACEN). Outros países, como a Itália, possuem pastas dedica-
das aos negócios internacionais. No Brasil, o controle
Já os órgãos anuentes são aqueles que têm competên- é exercido por meio de áreas jurisdicionais como polí-
cia legal para intervir nas operações de comércio exterior, tica de comércio exterior, tributação, política mone-
concedendo licenças, autorizações, certificados ou outros tária e política de relações internacionais bilaterais.
documentos exigidos para a realização das operações. Os principais órgãos intervenientes:
Ainda, eles podem ser federais, estaduais ou muni-
cipais, dependendo da natureza da mercadoria ou do Ministério da Economia (ME)
serviço envolvido na operação. Alguns exemplos de
Responsável pelas políticas monetária e fiscal,
órgãos anuentes são: zelando pela defesa, fiscalização e controle de
entrada e saída de mercadorias no país. Nesse últi-
z Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa); mo aspecto, a maior intervenção é feita pela
z Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recur- Receita Federal do Brasil.
sos Naturais Renováveis (Ibama); Dentro do Ministério da Economia encontra-se o
z Ministério da Agricultura, Pecuária e Abasteci- MDIC, o antigo Ministério da Indústria, Comércio
mento (MAPA); Exterior e Serviços. O foco de ação do MDIC é o
z Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tec- fluxo físico de mercadorias e serviços que entram
nologia (INMETRO). e saem do Brasil. As principais funções do MDIC se
dão por meio da Secretaria de Comércio Exterior
Por fim, os órgãos usuários são aqueles que uti- (SECEX). Entre as atribuições do MDIC, estão:
lizam o Siscomex (Sistema Integrado de Comércio Política de desenvolvimento da indústria, do comér-
cio e dos serviços;
Exterior) para registrar, acompanhar e controlar as
Políticas de comércio exterior;
operações de comércio exterior, bem como para obter
Regulamentação e execução dos programas e ativi-
informações estatísticas e gerenciais sobre o comércio dades relativas ao comércio exterior;
exterior brasileiro. Dessa forma, podem ser públicos Aplicação dos mecanismos de defesa comercial
ou privados, dependendo do seu interesse nas opera- participação em negociações internacionais relati-
ções de comércio exterior. vas ao comércio exterior; 23

INSTITUIÇÕES INTERVENIENTES NO COMÉRCIO Estrutura do MDIC:


EXTERIOR NO BRASIL
z Secretaria de Comércio Exterior (SECEX)
Comércio exterior e comércio internacional são Tem como principal função assessorar o MDIC
frequentemente usados de forma intercambiável, na condução nas políticas de comércio exte-
mas do ponto de vista jurídico existe apenas o direi- rior. Entre seus principais objetivos estão:
to comercial brasileiro (não existe direito comercial i. Propor medidas de políticas fiscal e cambial, de
internacional brasileiro). financiamento, de seguro, de transporte e fretes e
Comércio internacional é o termo dado às relações de promoção comercial;
comerciais globais estabelecidas pelas nações, incluin- ii. Participar das negociações em acordos ou con-
do o comércio entre o Brasil e seus parceiros, os Estados vênios internacionais relacionados ao comércio
Unidos e países asiáticos, a União Europeia e os Estados exterior;
membros do bloco... Em suma, o comércio internacional Formular propostas de políticas de comércio
é um “macro” conceito e refere-se a todas as relações exterior e estabelecer normas necessárias à sua
comerciais que ocorrem em todo o mundo. implementação.
O comércio exterior, por sua vez, inclui as relações O SECEX é o carro-chefe do MDIC na gestão do
comerciais entre um país e outro e, portanto, ape- comércio exterior brasileiro e está estruturado
em quatro departamentos:24
nas as relações de troca entre o Brasil e seus parcei-
ros. Este é um conceito “micro” que analisa os fluxos „ Departamento de Planejamento e Desenvol-
comerciais de uma perspectiva limitada. vimento de Comércio Exterior (DEPLA)
Este texto com essas informações visa informar
sobre os órgãos envolvidos no comércio exterior. Traça o futuro do comércio exterior brasileiro em
Antes disso, é importante mencionar que, em junho termos de estratégias e parcerias.
de 2020, os ministérios brasileiros eram compostos Identifica e quantifica oportunidades comerciais
por 23 ministérios, incluindo 17 ministérios, 2 secre- e averigua tendências eventualmente prejudiciais
tarias e ministérios. ao país em função da entrada de competidores
Cada cargo é responsável por uma área específica. internacionais.25
Dois departamentos tratam especificamente das relações
„ Departamento de Operações de Comércio
de comércio exterior. Ou seja, o Ministério do Comércio
Exterior (DECEX)
é responsável pelos assuntos econômicos e financeiros.
Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty) responsá- Departamento que operacionaliza as definições do
vel pelas relações exteriores do Brasil. DEPLA no território nacional.
A título preliminar, cabe observar que o comér- Empreende ações para aperfeiçoar, simplificar e ade-
cio exterior brasileiro é descentralizado. Ou seja, não quar os mecanismos de comércio exterior brasileiro
existe um órgão específico que regule as atividades. tornando-o cada vez mais competitivo. Por exemplo:

23 MARTINS, M. M. V. et al. Órgãos intervenientes do COMEX. Comércio Exterior, 2021. Disponível em: https://comercioexterior.furg.br/blog-co-
mex/132-05-02-2021.html. Acesso em: 29 dez. 2022.
24 Ibid.
416 25 Ibid.
operacionalizar as diferentes modalidades de Dra- necessários para produzir bens e serviços a serem
wback, regulamentar e orientar o funcionamento de exportados e pagá-los com taxas equivalentes às
exportadoras comerciais (trading companies).26 disponíveis internacionalmente.
v. Logística: a Camex propõe medidas que visam a
„ Departamento de Negociações Internacio- redução de custos e o aumento da eficiência empre-
nais (DEINT) sarial e também analisa potenciais fatores de
desequilíbrio entre oferta e demanda por serviços
Viabilizar oportunidades identificadas pelo Depla logísticos, além de ineficiências na armazenagem
a partir de negociações com países parceiros. Por de mercadorias e no processamento de pedidos.
exemplo, promover os acordos bilaterais ou ajustes vi. Negociações Internacionais: a Camex monitora
de tarifas dentro do MERCOSUL.27 a efetiva implementação das condições negociadas
entre o brasil e seus pares comerciais.
vii. Segurança e comércio internacional: a Camex
„ Departamento de Defesa Comercial (DECOM)
monitora as ações para manter a segurança no
comércio internacional.30
Departamento jurídico do comércio exterior
brasileiro.
Receita Federal do Brasil
Examina a procedência e o mérito de petições de
abertura de investigações de práticas desleais de
comércio; propõe a abertura e conduz investiga- Principal órgão atuante e operacional no comércio
exterior, atuando na fiscalização aduaneira de
ções para a aplicação de medidas antidumping,
mercadorias e bens que ingressam no país ou
compensatórias e de salvaguarda; acompanha as
são enviados ao exterior, além de ser respon-
investigações de defesa comercial abertas por ter-
sável pela cobrança dos tributos aduaneiros
ceiros países contra exportações brasileiras e pres-
incidentes nessas operações.
tar à defesa ao exportador.28
Principais atribuições:
1. Planejar e executar as atividades de administra-
„ Departamento de Normas e Competitivida- ção tributária federal;
de (DENOC) 2. Fiscalização, lançamento, cobrança, arrecada-
ção, recolhimento e controle relativos a tributos e
Responsável por atividades relacionadas a normas contribuições;
e procedimentos referentes ao comércio exterior. Planejar e executar os serviços de administração,
Deve coordenar ações relativas aos acordos de faci- fiscalização e controles aduaneiros, inclusive no
litação ao comércio e procedimentos de importa- que diz respeito à criação de alfândegas em áreas e
ção na OMC. recintos e ao controle do valor aduaneiro e preços
Coordena os agentes externos autorizados a pro- de transferência;
cessar operações de comércio exterior. 3. Reprimir o contrabando, o descaminho e o tráfi-
Cadastra os importadores e exportadores; co ilícito de entorpecentes e de drogas afins;
Registra de empresas comerciais exportadoras 4. Interpretar e aplicar a legislação tributária fede-
constituídas nos termos da legislação específica. ral e aduaneira, baixando os atos normativos e ins-
Administra o Sistema de Registro de Informações truções para a sua fiel execução, e propor medidas

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


de Promoção (SISPROM).29 para o seu aperfeiçoamento;
5. Administrar, controlar e normatizar o Sistema
z Câmara de Comércio Exterior (CAMEX) Integrado de Comércio Exterior (Siscomex), ressal-
vadas as competências de outros órgãos;
Tem como principais objetivos: promover a formu- Participar da negociação e da implementação de
lação, adoção, implantação e coordenação de acordos, tratados e convênios internacionais perti-
políticas e atividades relativas ao comércio exte- nentes à matéria tributária.31
rior de bens e serviços, incluindo o turismo.
Funções: Banco Central do Brasil (BACEN)
i. Defesa Comercial: a Camex conta com o apoio de
um colegiado de técnicos representantes dos diver- Autarquia federal (autônoma, auxiliar e descentra-
sos ministérios, conhecido como Grupo Técnico de lizada da administração pública), vinculada ao ME.
Defesa Comercial (GTDC). O BACEN é a autoridade monetária e principal
ii. Facilitação do comércio (Grupo Técnico de Facili- responsável em apontar as diretrizes das polí-
tação do Comércio – GTFAC). ticas monetária (emissão de moeda), cambial e
iii. Tarifa Externa Comum (TEC). Camex representa creditícia (taxa de juros).
o Brasil no gerenciamento das TECs. O Banco Central é o guardião da moeda interna e
iv. Financiamento e garantia às exportações: a externa no Brasil, tendo ação exclusiva e específica
Camex define as diretrizes para as várias linhas de no COMEX no câmbio. Empresas que operam com
crédito criadas para atender às necessidades de seg- câmbio são controladas pelo BACEN (se a empre-
mentos específicos da economia nacional. A mais sa fizer pagamento no exterior, deverá comprar
conhecida é a Proex financiamento, na qual empre- moeda de um banco nacional, este banco é contro-
sas brasileiras podem receber prazos que variam lado pelo BACEN, que controla essa operação de
de 60 dias a 10 anos para realizar investimentos câmbio).

26 Ibid.
27 Ibid.
28 Ibid.
29 Ibid.
30 Ibid.
31 Ibid. 417
As atividades do Bacen resumem-se em: Art. 1º O Ministério das Relações Exteriores, órgão
1. Formular, executar, acompanhar e controlar as da administração direta, tem como áreas de compe-
políticas monetária, cambial, de crédito e das rela- tência os seguintes assuntos:
ções financeiras com o exterior; I - assistência direta e imediata ao Presidente da
2. Organizar, disciplinar e fiscalizar o Sistema República nas relações com Estados estrangeiros e
Financeiro Nacional; com organizações internacionais;
3. Gerir o Sistema de Pagamentos Brasileiro; II - política internacional;
4. Gerir as reservas internacionais. III - relações diplomáticas e serviços consulares;
Autoriza os estabelecimentos bancários a comprar IV - participação em negociações comerciais, econô-
ou vender moedas estrangeiras. De forma prática, micas, financeiras, técnicas e culturais com Estados
toda vez que um exportador ou importador for estrangeiros e com organizações internacionais,
receber/pagar suas operações deverá procurar um em articulação com os demais órgãos competentes;
banco autorizado pelo BACEN para comprar/ven- V - programas de cooperação internacional;
der as moedas estrangeiras recebendo/pagando em VI - apoio a delegações, a comitivas e a representa-
moedas nacional (Real). Esta operação está firma- ções brasileiras em agências e organismos interna-
da através de um contrato de câmbio.32 cionais e multilaterais;
VII - apoio ao Gabinete de Segurança Institucional
Banco do Brasil (BB) da Presidência da República no planejamento e na
coordenação de deslocamentos presidenciais no
De maneira semelhante aos bancos privados, o BB exterior;
oferece serviços tais como fechamento de con- VIII - coordenação das atividades desenvolvidas
tratos de câmbio para a conversão de moedas pelas assessorias internacionais dos órgãos e das
estrangeiras em nacional, em operações de entidades da administração pública federal; e
exportação e importação. Além disso, o BB é res- IX - promoção do comércio exterior, de investimen-
ponsável por fornecer opções de crédito aos expor- tos e da competitividade internacional do País, em
tadores e emitir o documento Form A, que garante coordenação com as políticas governamentais de
a entrada de produtos brasileiros em países outor- comércio exterior, incluídas a supervisão do Ser-
gantes das preferências comerciais com base no viço Social Autônomo Agência de Promoção de
SGP (Sistema Geral de Preferências). O Secex é o Exportações do Brasil - Apex-Brasil e a presidência
órgão responsável pela emissão de certificados e do Conselho Deliberativo da Apex-Brasil.
licença de exportação para alguns produtos sujei-
tos a procedimentos especiais. A CÂMARA DE COMÉRCIO EXTERIOR (CAMEX)
A partir da descrição desses órgãos, tem-se
o tripé do Comex brasileiro: a Receita Fede- A Câmara de Comércio Exterior (CAMEX) é um
ral Brasileira que controla os tributos e con- órgão do Ministério da Economia que tem como obje-
trole aduaneiro, o SECEX que tem controle tivo formular, implementar e coordenar as políticas
administrativo e política comercial e o BACEN e as atividades relacionadas ao comércio exterior de
que tem o controle monetário da moeda e do
bens e serviços, aos investimentos estrangeiros dire-
câmbio. Essas três instituições (que não são
tos, aos investimentos brasileiros no exterior e ao
ministérios e estão no plano operacional) são
financiamento às exportações.
fundamentais para garantir as operações de
exportações e importações.33 Ela foi criada em 1995, sendo composta por quatro
instâncias:
Outros órgãos também são importantes para for-
necer aporte ao Comex. z o Conselho de Ministros;
z o Comitê-Executivo de Gestão (Gecex);
Agência de Promoção das Exportações e z o Conselho de Estratégia Comercial (CEC); e
Investimentos (APEX) z o Conselho Consultivo do Setor Privado (Conex).

Suas funções estão relacionadas ao diagnóstico do O Conselho de Ministros é o órgão superior da


desempenho de produtos e empresas brasileiras, CAMEX, sendo presidido pelo ministro da Economia.
promovendo ações necessárias para melhorá-lo. Ele é responsável por definir as diretrizes e as estra-
Em outras palavras, a APEX prepara as empresas tégias das políticas de comércio exterior, bem como
para exportar, orientando na adequação de produ- por decidir sobre questões de maior relevância, como
tos e processos e realiza ações de marketing no Bra- tarifas, defesa comercial, acordos internacionais e
sil junto a governos estaduais e no exterior junto a medidas de interesse nacional.
embaixadas.34 O Gecex é o órgão executivo da CAMEX, sendo presi-
dido pelo secretário-executivo do Ministério da Econo-
Ministério das Relações Exteriores (Mre) mia. Ele é responsável por implementar e acompanhar
as decisões do Conselho de Ministros, bem como por
O Itamaraty ou Ministério das Relações Exteriores deliberar sobre questões operacionais, como alterações
(MRE) é um órgão do Poder Executivo responsável por tarifárias, financiamento e garantia às exportações,
assessorar o Presidente da República na formulação e investimentos e facilitação de comércio.
execução da política externa brasileira. O CEC é o órgão consultivo da CAMEX, sendo pre-
Segundo o art. 1º, do Anexo I, do Decreto nº 11.024, sidido pelo secretário especial de Comércio Exterior e
de 31 de março de 2022, são áreas de competência do Assuntos Internacionais do Ministério da Economia.
Ministério das Relações Exteriores: Ele é responsável por propor e avaliar as políticas de
32 Ibid.
33 Ibid.
418 34 Ibid.
comércio exterior, bem como por promover a arti- e nomenclatura, bem como por coordenar e orientar
culação entre os órgãos governamentais e os setores os órgãos anuentes e intervenientes nas operações de
produtivos envolvidos. comércio exterior.
Ainda, o Conex é o órgão consultivo da CAMEX Já o DESTAT é responsável por produzir, divulgar
que representa o setor privado, sendo presidido pelo e analisar as estatísticas de comércio exterior, bem
presidente da Confederação Nacional da Indústria como por desenvolver e manter os sistemas de infor-
(CNI). Ele é responsável por apresentar sugestões e mação e de inteligência comercial, em cooperação
recomendações sobre as políticas de comércio exte- com os demais órgãos governamentais e com os seto-
rior, bem como por manifestar o posicionamento dos res privados envolvidos.
segmentos empresariais sobre as questões em debate. Também, a SECEX tem uma função estratégica
Além disso, a CAMEX tem uma função importante para o desenvolvimento econômico e social do Brasil,
para o desenvolvimento econômico e social do Brasil, pois busca fortalecer a competitividade, a diversifica-
pois busca promover o aumento da produtividade, da ção e a inserção internacional das empresas brasilei-
competitividade e da inserção internacional do país ras por meio de políticas que estimulem o comércio
por meio de políticas que estimulem o comércio exte- exterior e os investimentos.
rior e os investimentos. Portanto, a organização e a participação em feiras,
A redução temporária de tarifas de importação missões e rodadas de negócios internacionais visam pro-
para produtos sem produção nacional, como insumos mover os produtos e os serviços brasileiros e prospectar
para a indústria e equipamentos médicos, visa aten- novos mercados e parceiros. Semelhantemente, há a
der às necessidades do mercado interno e combater implementação e a gestão do Portal Único de Comércio
os efeitos da pandemia de covid-19. Exterior, visando simplificar e desburocratizar os pro-
Também, a aprovação de financiamentos e garan- cessos de exportação e de importação, reduzindo os cus-
tias às exportações brasileiras, por meio do Fundo tos e os prazos das operações de comércio exterior.
de Garantia à Exportação (FGE) e do Programa de Há, ainda, a aplicação de medidas de defesa
Financiamento às Exportações (Proex), visa apoiar os comercial, como antidumping, medidas compensató-
exportadores nacionais e ampliar a presença do Brasil rias e salvaguardas, que visam proteger a indústria
no mercado internacional. nacional contra práticas desleais ou prejudiciais de
Portanto, a negociação e a assinatura de acordos comércio internacional.
comerciais com outros países e blocos econômicos, Por fim, temos a elaboração e a divulgação de estu-
como o Acordo de Associação entre o Mercosul e a dos, relatórios e boletins sobre o comércio exterior
União Europeia, visam criar oportunidades de acesso brasileiro, visando subsidiar a formulação e a avalia-
a novos mercados e aumentar a integração do Brasil ção das políticas de comércio exterior e orientar os
na economia global. agentes econômicos envolvidos.

SECRETARIA DE COMÉRCIO EXTERIOR (SECEX) REFERÊNCIAS


A Secretaria de Comércio Exterior (SECEX) é um
BRASIL. Decreto nº 6.759, de 5 de fevereiro de
órgão do Ministério da Economia que tem como mis-
2009. Regulamenta a administração do comércio
são planejar, desenvolver, coordenar, supervisionar,

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


exterior. Brasília: Diário Oficial da União, 2009.
controlar e avaliar as atividades relacionadas ao
______. Lei nº 10.833, de 29 de dezembro de 2003.
comércio exterior de bens e serviços.
Regulamenta a Lei nº 9.609, de 19 de fevereiro de
Criada em 1990, a SECEX é composta por quatro
1998, e dá outras providências. Brasília: Diário Ofi-
departamentos:
cial da União, 2003.
______. Ministério do Desenvolvimento, Indús-
z o Departamento de Competitividade no Comércio
tria e Comércio e Serviços. Camex — Câmara do
Exterior (DECOE);
Comércio Exterior. Disponível em: https://www.
z o Departamento de Negociações Internacionais
gov.br/mdic/pt-br/assuntos/camex. Acesso em: 28
(DEINT);
jan. 2024.
z o Departamento de Operações de Comércio Exte-
______. Ministério do Desenvolvimento, Indús-
rior (DECEX); e
tria, Comércio e Serviços. Secretaria de Comér-
z o Departamento de Inteligência e Estatísticas de
cio Exterior. Disponível em: https://www.gov.br/
Comércio Exterior (DESTAT).
mdic/pt- br/assuntos/comercio-exterior. Acesso
em: 29 jan. 2024.
O DECOE é responsável por formular, implementar e
______. Siscomex. Secex. Disponível em: https://
monitorar as políticas de promoção das exportações, de
www.gov.br/siscomex/pt- br/legislacao/secex .
facilitação do comércio, de defesa comercial e de interes-
Acesso em: 29 jan. 2024.
se público, bem como por coordenar as ações de apoio
CARVALHO, J. F. A. Direito aduaneiro: teoria e
às micro, pequenas e médias empresas exportadoras.
prática. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
Da mesma maneira, o DEINT é responsável por
conduzir as negociações comerciais internacionais,
BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN)
bilaterais, regionais e multilaterais, bem como por
acompanhar e avaliar os acordos e as regras comer-
O Banco Central do Brasil, mais conhecido sim-
ciais vigentes, em articulação com os demais órgãos
plesmente pela sigla BACEN, é uma autarquia autô-
governamentais e com os setores privados envolvidos.
noma composta por um colegiado de nove diretorias,
Ainda, o DECEX é responsável por gerenciar
incluindo o presidente.
e aperfeiçoar os procedimentos operacionais de
Importante ressaltar que, muito embora todos
comércio exterior, tais como licenciamento, dra-
os membros que compõem tais diretorias sejam
wback, regimes aduaneiros especiais, origem, tarifas
profissionais de livre indicação pelo presidente da
419
República, com a devida aprovação do Senado Fede- De todas as hipóteses acima elencadas, merece des-
ral, não existe qualquer tipo de vinculação ou subor- taque a situação que ensejará a exoneração, definida
dinação do BACEN em relação a nenhum ministério. no inciso IV, quando o desempenho do presidente ou
Nessa esteira, conforme estabelecido na Lei Com- diretores não se mostrar suficiente para alcançar os
plementar nº 179, deverão ser nomeados, além do objetivos almejados pelo BACEN.
presidente da República, oito diretores do Banco Cen- Nessa situação, caberá ao Conselho Monetário
tral do Brasil, cujos mandatos serão alternados, con- Nacional apresentar a sugestão de exoneração do
forme disposto no art. 4º da referida lei. Vejamos: presidente da República, sendo que tal exoneração
somente acontecerá de fato se a referida sugestão
Art. 4º O Presidente e os Diretores do Banco Cen- for aprovada pela maioria absoluta dos membros do
tral do Brasil serão indicados pelo Presidente da Senado Federal.
República e por ele nomeados, após aprovação de Na hipótese citada, compete ao Conselho Monetá-
seus nomes pelo Senado Federal. rio Nacional submeter ao presidente da República a
[…] proposta de exoneração, cujo aperfeiçoamento ficará
§ 2º Os mandatos dos Diretores do Banco Cen- condicionado à prévia aprovação, por maioria absolu-
tral do Brasil terão duração de 4 (quatro) anos, ta, do Senado Federal.
observando-se a seguinte escala:
Assim, o ato de submeter ao Senado Federal a
I - 2 (dois) Diretores terão mandatos com início no
sugestão do CMN tem como objetivo assegurar uma
dia 1º de março do primeiro ano de mandato do
decisão justa e participativa nos casos de eventuais
Presidente da República;
II - 2 (dois) Diretores terão mandatos com início no exonerações.
dia 1º de janeiro do segundo ano de mandato do Ato contínuo, o BACEN, além de apresentar uma
Presidente da República; função de supervisão, também pode ser considerado
III - 2 (dois) Diretores terão mandatos com início no como autarquia executiva central do Sistema Finan-
dia 1º de janeiro do terceiro ano de mandato do ceiro Nacional.
Presidente da República; e Nessa esteira, o BACEN apresenta duas missões
IV - 2 (dois) Diretores terão mandatos com início no principais. São elas:
dia 1º de janeiro do quarto ano de mandato do
Presidente da República. z Missão primária: garantir a estabilidade do poder
§ 3º O Presidente e os Diretores do Banco Cen- de compra da moeda nacional, a qual ocorrerá por
tral do Brasil poderão ser reconduzidos 1 (uma) meio da política monetária. Em outras palavras, a
vez, por decisão do Presidente da República, missão primária se refere à capacidade do BACEN
observando-se o disposto no caput deste artigo na de controlar o valor da moeda brasileira com a
hipótese de novas indicações para mandatos não taxa de juros;
consecutivos.
z Missão secundária: a missão secundária se divide
[…]
em três competências, sendo elas:
Dessa forma, o dispositivo busca assegurar o equi-
„ garantir a estabilidade e eficiência do SFN,
líbrio entre a estabilidade e a possibilidade de renova-
ou seja, proteger os interesses dos investidores
ção do cargo de presidência no BACEN, como também
e consumidores de forma a fomentar o cresci-
garantir a renovação gradual da diretoria.
mento econômico do país;
Ainda de acordo com a Lei Complementar nº 179, o
„ reduzir os impactos negativos das crises eco-
mandato do presidente e dos diretores do BACEN são
nômicas do país, de um lado evitando que seja
cargos permanentes, ou seja, uma vez investidos nos
diminuído o poder de compra dos consumido-
referidos cargos, somente poderão ser destituídos nas
res e, de outro, evitando o desemprego em mas-
hipóteses definidas no art. 5º da referida lei. Vejamos:
sa da população;
„ promover as demais condições para que seja
Art. 5º O Presidente e os Diretores do Banco Cen-
assegurada a oportunidade de emprego para
tral do Brasil serão exonerados pelo Presidente
da República: a população.
I - a pedido;
II - no caso de acometimento de enfermidade que No que se refere à forma de gestão, para que
incapacite o titular para o exercício do cargo; possam ser cumpridas todas as competências ante-
III - quando sofrerem condenação, mediante deci- riormente elencadas, o BACEN realizará reuniões
são transitada em julgado ou proferida por órgão ordinárias, que ocorrerão de forma semanal. Nelas,
colegiado, pela prática de ato de improbidade serão discutidos e votados os principais pontos da polí-
administrativa ou de crime cuja pena acarrete, ain- tica monetária nacional e das instituições financeiras.
da que temporariamente, a proibição de acesso a Após a realização das referidas reuniões ordi-
cargos públicos; nárias, poderão ser lavradas duas espécies de atos
IV - quando apresentarem comprovado e recorren- normativos baseadas em decisões: as chamadas cir-
te desempenho insuficiente para o alcance dos obje- culares, as quais se referem aos atos normativos que
tivos do Banco Central do Brasil. irão orientar as instituições financeiras, e as resolu-
§ 1º Na hipótese de que trata o inciso IV do caput des- ções, que serão responsáveis por estabelecer regras
te artigo, compete ao Conselho Monetário Nacional
para o sistema financeiro.
submeter ao Presidente da República a proposta de
Importante ressaltar que serão emitidas resolu-
exoneração, cujo aperfeiçoamento ficará condicio-
nado à prévia aprovação, por maioria absoluta, do ções sempre que o BACEN atuar como regulador das
Senado Federal. atividades do Conselho Monetário Nacional.
[…]

420
A sede do Banco Central é fixada na cidade de Art. 18 As instituições financeiras somente pode-
Brasília, capital do país, sendo que possui, também, rão funcionar no País mediante prévia autori-
nove representações nas demais capitais dos seguin- zação do Banco Central da República do Brasil
tes estados brasileiros: ou decreto do Poder Executivo, quando forem
estrangeiras.
z Rio Grande do Sul;
z Paraná; Além disso, em setembro de 2019 foi publicado um
z São Paulo; decreto que delegou ao BACEN a competência para
z Rio de Janeiro; deliberar se determinado funcionamento de uma ins-
z Minas Gerais; tituição financeira estrangeira será ou não de interes-
z Bahia; se nacional.
z Pernambuco; Contudo, cumpre ressaltar que tal competência é
z Ceará; e autorizada mediante um decreto, que, embora ainda
z Pará. esteja em vigor, poderá ser também revogado, sen-
do importante o aluno se atentar a essa condição no
Vejamos a seguir os principais objetivos do BACEN:
certame.
É importante não confundir os verbos relacio-
z zelar pela adequada liquidez da economia;
nados ao CMN e ao BACEN, uma vez que há verbos
z zelar pela estabilidade e promover o permanente
empregados para o BACEN que podem causar confu-
aperfeiçoamento do sistema financeiro;
z manter as reservas internacionais em nível são no momento da prova.
adequado; Em regra, os verbos referentes ao CMN são, em
z estimular a formação de poupança. geral, os que indicam autoridade e poder, como, por
exemplo:

Importante! z regular;
z autorizar;
Não confundir as competências do BACEN z estabelecer;
(zelar pela adequada liquidez da economia e z coordenar;
zelar pela estabilidade e promover o permanen- z fixar normas;
te aperfeiçoamento do sistema financeiro) com z disciplinar;
a competência do CMN, que é zelar pela liquidez z orientar.
e solvência das instituições financeiras.
Já os verbos empregados em referência ao BACEN
são os que correspondem a uma ação, como, por
No que se refere às competências do BACEN, exemplo:
vejamos o rol que segue:
z executar;
z emitir papel-moeda e moeda metálica, em confor- z exercer;
midade com as condições estabelecidas pelo Con-

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


z realizar;
selho Monetário Nacional; z controlar;
z executar os serviços do meio circulante; z fiscalizar;
z regulamentar e receber recolhimentos compul- z aplicar.
sórios e voluntários das instituições financeiras e
bancárias e remunerar quando for conveniente; Embora, em regra, os verbos relacionados ao
z realizar e regulamentar operações de redescon- BACEN indiquem ação, ao passo que os referentes ao
to e empréstimo às instituições financeiras, com o CMN sejam de autoridade, há sete exceções em que a
objetivo de evitar o endividamento dos bancos; competência do BACEN estará ligada diretamente aos
z regular a execução dos serviços de compensação verbos de autoridade. São elas:
de cheques e outros papéis;
z regulamentar e efetuar operações de compra e z quatro “regular”;
venda de títulos públicos federais; z um “estabelecer”;
z exercer o controle do crédito sobre todas as suas z um “determinar”; e
formas; z um “autorizar”;
z exercer a fiscalização das instituições financeiras;
z vigiar a interferência de outras empresas nos „ regular a compensação de cheques e outros
mercados financeiros e de capitais; papéis;
z controlar o fluxo de capitais estrangeiros no país. „ regular o mercado de câmbio e suas operações
e flutuações;
É importante o aluno se atentar, principalmente, a „ regular a concorrência entre as instituições
uma das competências do BACEN, que é objeto de muita financeiras;
cobrança nos certames, qual seja: autorizar o funciona- „ regular os instrumentos de política monetária
mento de instituições financeiras estrangeiras no país. clássicos — mercado aberto, redesconto e reco-
Vemos que, diferentemente das competências lhimento compulsório;
anteriores, a competência que se refere à autoriza- „ estabelecer as condições para o exercício de
ção do funcionamento de instituições estrangeiras no cargos de administração/direção das institui-
país poderá se dar também mediante decreto emitido ções financeiras privadas;
pelo Poder Executivo, conforme estabelecido na Lei nº
4.595, de 1964. Vejamos o dispositivo na íntegra:
421
„ autorizar o funcionamento de institui- com compromisso de revenda, em que a com-
ções financeiras no país, bem como o das pra e a correspondente revenda ocorrem no
estrangeiras; próprio dia.
„ determinar a taxa do recolhimento compulsório. § 2º As operações na modalidade de redesconto de
que trata o inciso II do art. 3º são restritas aos pra-
Além disso, o BACEN pode receber vários apelidos, zos definidos nos incisos III e IV deste artigo.
de acordo com as diversas atividades que realiza. São
eles: As operações de redesconto são importantes para
regular a política monetária do país através da liqui-
z Banco dos bancos: quando recebe os depósitos dez do sistema financeiro. Dentre todas as modali-
das instituições financeiras, sejam eles compul- dades de redesconto definidas, a principal e mais
sórios ou voluntários. Importante ressaltar que cobrada nos certames é a intradia, que são os chama-
o Banco Central poderá remunerar os depósitos dos redescontos a juros zero, uma vez que são de cur-
somente quando estes tiverem origem remune- tíssimo prazo (até 24 horas).
rada ou quando for conveniente, sendo que tal Conforme descrito no art. 4º, a modalidade de
remuneração deverá ser firmada entre o BACEN intradia consiste em compra com compromisso de
e a instituição financeira de acordo com a Lei nº revenda, pois possibilita que a instituição financeira
14.185, de 2021; atenda a uma demanda inesperada ao longo do dia.
z Banqueiro do governo: quando é responsável por A Norma Circular nº 3.105, do Banco Central,
administrar o dinheiro do governo, ouro e dóla- também elenca os ativos que podem ser objetos de
res do país, ou seja, quando centraliza o caixa do redesconto na modalidade intradia (compra com
governo e administra as reservas internacionais e
compromisso de revenda). Vejamos:
de ouro;
z Banco emissor: quando é responsável pela emis-
Art. 5º Podem ser objeto de Redesconto do Banco
são do papel-moeda, o qual é produzido pela Casa
Central, na modalidade de compra com compro-
da Moeda do Brasil, uma empresa do tipo socieda-
misso de revenda, os seguintes ativos de titulari-
de anônima, com sede na capital do estado do Rio
dade de instituição financeira, desde que não haja
de Janeiro;
restrições a sua negociação:
z Emprestador de última instância: quando é res- I - títulos públicos federais registrados no Sistema
ponsável por fornecer empréstimo de liquidez ou Especial de Liquidação e de Custódia -Selic, que
redesconto para as instituições financeiras. integrem a posição de custódia própria da institui-
ção financeira; e
II - outros títulos e valores mobiliários, créditos e
Importante! direitos creditórios, preferencialmente com garan-
A Constituição Federal veda a possibilidade de tia real, e outros ativos.
o BACEN realizar empréstimo de dinheiro para Parágrafo único. As operações intradia e de um dia
útil contemplam exclusivamente os títulos públicos
quaisquer pessoas físicas ou jurídicas que não
federais de que trata o inciso I.
sejam definidas como instituições financeiras.
Assim, é importante o aluno ter em mente, para
Nesse contexto, a Circular nº 3.105, do Banco Cen- a prova, que os ativos elencados nos incisos I e II do
tral do Brasil, consolidou as normas importantes para referido artigo somente poderão ser usados como
a instituição do redesconto do Banco Central para as garantia nas operações de redesconto quando o prazo
instituições financeiras. for superior a um dia útil.
Nesse sentido, o redesconto apresenta quatro
modalidades. Vejamos:

Art. 4º As operações de Redesconto do Banco Cen- HORA DE PRATICAR!


tral podem ser:
I - intradia, destinadas a atender necessidades de 1. (CESGRANRIO — 2023) O sistema tributário nacional
liquidez de instituição financeira, ao longo do dia; é regido pelo disposto na Emenda Constitucional nº
II - de um dia útil, destinadas a satisfazer neces-
18, de 1º de dezembro de 1965, em leis complemen-
sidades de liquidez decorrentes de descasamento
de curtíssimo prazo no fluxo de caixa de insti-
tares, em resoluções do Senado Federal e, nos limites
tuição financeira; das respectivas competências, em leis federais, esta-
III - de até quinze dias úteis, podendo ser recon- duais e municipais e nas Constituições. Tributo é toda
tratadas desde que o prazo total não ultra- prestação pecuniária em moeda ou cujo valor nela se
passe quarenta e cinco dias úteis, destinadas a possa exprimir, instituída em lei e cobrada mediante
satisfazer necessidades de liquidez provocadas pelo atividade administrativa plenamente vinculada, sendo
descasamento de curto prazo no fluxo de caixa de sempre
instituição financeira e que não caracterizem dese-
quilíbrio estrutural; e a) compulsória e não constituindo sanção de ato ilícito.
IV - de até noventa dias corridos, podendo ser
b) compulsória e podendo constituir sanção de ato ilícito.
recontratadas desde que o prazo total não
ultrapasse cento e oitenta dias corridos, desti- c) facultativa e podendo constituir sanção de ato ilícito.
nadas a viabilizar o ajuste patrimonial de institui- d) compulsória ou facultativa e não constituindo sanção
ção financeira com desequilíbrio estrutural. de ato ilícito.
§ 1º Entende-se por operação intradia, para e) compulsória ou facultativa e podendo constituir san-
422 efeito do disposto neste regulamento, a compra ção de ato ilícito.
2. (CESGRANRIO — 2019) Um investidor racional toma Essas informações indicam que a elasticidade renda
decisões considerando o custo, o retorno e o risco de da demanda do consumidor por X é igual a
seu portfólio como um todo. Leve em conta que esse
investidor considera os custos de corretagem des- a) 10%
prezíveis e que comprou uma ação da empresa X por b) 07/10 = 0,7
R$1.000,00, para compor seu portfólio. Um mês após, c) zero
ele recebeu várias propostas para vender a ação, a d) 1
melhor delas, por R$1.500,00, e não aceitou vendê-la. e) 7 u.m.
Ao decidir não vender, o investidor considerou o cus-
6. (CESGRANRIO — 2014) Em certo país, todos os anos,
to da ação da empresa X, presente em seu portfólio,
como sendo ocorre um grande aumento do preço do peixe na
Semana Santa.
a) R$1.000,00, pois foi o que ele pagou.
b) R$1.010,00, pois R$10,00 são juros no mês que teria Tal fato acontece porque a demanda aumenta e a(o)
recebido se investisse em renda fixa, ao invés de com-
prar a ação. a) oferta de peixe é muito inelástica a curto prazo.
c) R$1.500,00, pois foi o preço da melhor proposta que b) oferta de peixe é muito elástica a longo prazo.
rejeitou. c) oferta de peixe tem elasticidade preço cruzado
d) R$0,00, pois já pagou pela ação. elevada.
e) R$2.000,00, pois estaria disposto a vender a ação a d) custo de estocagem de peixe é baixo.
esse preço. e) peixe é um bem com muitos substitutos para seu
comprador.
3. (CESGRANRIO — 2018) O comportamento dos consu-
midores é importante para analisar as modificações 7. (CESGRANRIO — 2018) Uma empresa que produz
ocorridas na demanda de determinado produto. Ao esti- arames, pregos e parafusos passou também a produ-
mar a curva de demanda de um produto no curto prazo, zir clipes de papel. Esse novo produto não exige que
os economistas relacionam a quantidade demanda- aumente seus custos fixos, pois não há necessidade
da (indicada no eixo das abscissas) ao preço desse de novos prédios, de novas máquinas, ou de mais pes-
mesmo produto (indicado no eixo das ordenadas). No soal de apoio e de escritório, mas exige mais trabalha-
entanto, a curva de demanda pode deslocar-se para a dores na oficina.
direita (ou seja, para cima.) ou para a esquerda (ou seja,
para baixo), em resposta a fatores responsáveis pela Nessa situação, conclui-se que a empresa
alteração da demanda no médio e longo prazos.
a) aumentou sua alavancagem financeira.
A curva de demanda de um produto pode deslocar-se
b) aumentou sua alavancagem operacional.
para a direita (isto é, para cima.) se houver
c) reduziu seu custo total.
d) está aproveitando economias de escala.

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


a) progresso tecnológico no setor produtor
e) diminuiu seu custo variável diversificando a produção.
b) redução dos preços dos insumos utilizados em sua
produção
c) mudança dos preços relativos a outros bens 8. (CESGRANRIO — 2014) Os fatores financeiros signi-
substitutos ficam apenas um dos custos avaliados pelos consu-
d) aumento do número de empresas concorrentes no midores, no momento em que escolhem a empresa
setor produtor fornecedora de gás de cozinha.
e) subsídios do governo às empresas produtoras
NÃO é considerado como financeiro o seguinte fator:
4. (CESGRANRIO — 2018) A elasticidade-preço da
demanda dos bens e serviços só pode ser precisa- a) preço de venda praticado pelos concorrentes.
mente mensurada por meio de técnicas matemáticas b) esforço físico e o tempo para aquisição do produto.
e estatísticas. No entanto, considerando-se os princi- c) custo da mercadoria envolvida na transação.
pais fatores que a determinam, supõe-se que o bem ou d) impacto da compra no orçamento familiar.
serviço cuja demanda é mais inelástica com relação e) prazo para pagamento, se houver.
aos preços é a(o)
9. (CESGRANRIO — 2016) Com relação às diferentes
a) manteiga estruturas de mercado e padrões de concorrência
b) carne bovina existentes no sistema capitalista, verifica-se que
c) viagem turística num transatlântico
d) sal de cozinha
a) na concorrência perfeita, as curvas de demanda tanto
e) transporte por automóveis numa grande cidade
da firma individual como da indústria são negativa-
5. (CESGRANRIO — 2019) Um consumidor recebe a ren- mente inclinadas, confirmando, em ambos os casos,
da mensal de 100 unidades monetárias (u.m.) e decide que as quantidades demandadas variam inversamen-
gastá-la comprando 2 bens, X e Y. Gasta mensalmente te aos preços de mercado.
70 u.m. com X e 30 u.m. com Y. A partir de certo mês, b) na concorrência perfeita como na concorrência mono-
sua renda aumenta em 10 u.m. , mas os preços de X polística, o lucro econômico das firmas estabelecidas
e Y não se alteram. Em consequência, o consumidor é igual a zero no longo prazo, em virtude da ausência
aumenta em 7 u.m. seus gastos com X e, em 3 u.m. de qualquer tipo de barreira à entrada e saída de com-
seus gastos com Y. petidores na indústria. 423
c) no oligopólio, as firmas conseguem alcançar o lucro Logo, é possível afirmar que a(o)
máximo quando o custo marginal se iguala ao preço
de venda do produto. a) quantidade total negociada de X no mercado será
d) nos oligopólios de tipo Stackelberg, o comportamen- maior do que 70.
to estratégico de cada firma individual independe das b) receita total do conjunto de oligopolistas será a máxi-
decisões tomadas pelas demais concorrentes estabe- ma possível.
lecidas na indústria. c) elasticidade preço da oferta de X é igual a 8.
e) diferentemente das firmas que operam num oligopó- d) elasticidade preço da demanda por X é constante.
lio, a curva de demanda da firma de um mercado em e) preço de mercado do bem X será maior do que 30/
concorrência monopolística é horizontal e paralela ao unidade de X.
eixo das quantidades produzidas.
13. (CESGRANRIO — 2016) Uma característica do merca-
10. (CESGRANRIO — 2018) A teoria da firma moderna do em concorrência monopolística é que
enumera as principais características das firmas que
operam num mercado perfeitamente competitivo e a) se trata de um mercado atomizado, ou seja, individual-
das que atuam num mercado oligopolizado. mente, vendedor e comprador não possuem condi-
ções de influenciar o mercado.
A esse respeito, assegura-se que a firma perfeitamen- b) são os produtos vendidos diferenciados e comple-
te competitiva mentares entre si.
c) são os produtos vendidos complementares entre si,
a) e a oligopolizada possuem curvas de demanda indivi- mas não são diferenciados.
duais negativamente inclinadas, com relação aos pre- d) existe a possibilidade de capacidade ociosa na
ços de mercado. produção.
b) e a oligopolizada procuram produzir bens diferencia- e) é menor o preço de equilíbrio do que o custo marginal
dos como forma de aumentar suas respectivas fatias para o produtor.
de mercado (market share) frente aos concorrentes.
c) e a oligopolizada podem recorrer ao registro de mar- 14. (CESGRANRIO — 2019) Um bem público pode ser ime-
cas e patentes como forma de preservar ou aumen- diatamente identificado pelas suas características de
tar suas fatias de mercado (market share) frente aos não rivalidade e não exclusividade.
concorrentes.
d) e a oligopolizada conseguem maximizar lucros quan- Sendo assim, é classificado como bem público o(a)
do as quantidades produzidas são tais que o pre-
ço unitário de venda se iguala ao custo marginal de a) transporte aéreo de passageiros
produção. b) serviço de telefonia celular
e) sempre objetiva maximizar seus lucros no curto e no c) serviço de segurança de um shopping center
longo prazos, enquanto a firma oligopolizada pode d) serviço de segurança oferecido pela polícia militar
renunciar a esse objetivo no curto prazo, priorizando e) pesquisa e o desenvolvimento (P&D) no setor de
temporariamente metas como ampliação de suas telecomunicações
fatias de mercado (market-share) ou maximização
das vendas dos produtos fabricados. 15. (CESGRANRIO — 2018) O principal argumento utiliza-
do pela teoria econômica para defender a concessão
11. (CESGRANRIO — 2018) Em alguns serviços de utilida- de subsídios públicos às atividades de pesquisa e ino-
de pública, como transporte metroviário e eletricidade, vação é que essas atividades geram
as escalas mínimas eficientes de oferta dos serviços
são tão elevadas, em relação ao tamanho da demanda a) reduzidos custos irrecuperáveis (sunk costs) para o
potencial, que o setor só consegue minimizar os cus- setor privado
tos unitários se for operado por uma única empresa b) expressivas externalidades econômicas positivas
fornecedora. c) reduzidos benefícios sociais
d) elevados benefícios privados
Esse caso ilustra uma situação típica de e) forte concorrência entre as empresas potencialmente
inovadoras
a) oligopólio
b) monopólio natural 16. (CESGRANRIO — 2018) Em um certo ano, o Produto
c) monopólio puro Nacional Bruto (PNB.) do país X foi maior do que seu
d) concorrência perfeita Produto Interno Bruto (PIB.) Em consequência, neste
e) concorrência monopolística ano o(a.)

12. (CESGRANRIO — 2022) Oito empresas, únicas produ- a) valor das exportações de X foi superior ao das
toras de um certo bem X, se comportam no mercado importações.
de X como um oligopólio de Cournot. Todas as oito b) valor das importações de X foi superior ao das
empresas são iguais, tendo o mesmo Custo Marginal exportações.
= 30/unidade de X. A demanda total do mercado (Qd) c) valor das reservas internacionais do Banco Central do
é dada pela seguinte expressão: país cresceu.
d) valor dos novos investimentos estrangeiros no país
Qd = 100 – p, sendo p o preço de uma unidade de X. excedeu o dos novos investimentos dos residentes do
país no exterior.
e) renda líquida recebida do exterior excedeu à enviada
424 ao exterior.
17. (CESGRANRIO — 2023) O Produto Interno Bruto (PIB) 21. (CESGRANRIO — 2022) Haverá aumento dos meios de
do país X, estimado a preços correntes, alcançou pagamento na economia se
1.000 unidades monetárias de X no ano de 2020. Em
2021, o PIB de X, a preços correntes, foi estimado em a) o Banco Central vender reservas internacionais no
1.100 unidades monetárias de X. mercado de câmbio.
b) os bancos comerciais comprarem títulos da dívida
Caso tenha ocorrido uma inflação anual de 5% em X, pública, disponíveis em carteira das empresas.
entre 2020 e 2021, conclui-se que, de 2020 para 2021, c) um banco comercial vender ações ao público, por
o PIB meio da bolsa de valores.
d) um importador comprar moeda estrangeira de um
a) real de X não aumentou. banco comercial.
b) real de X aumentou aproximadamente 10%. e) uma empresa fizer um depósito à vista, num banco
c) real de X aumentou aproximadamente 5%. comercial, no valor de R$50.000,00.
d) nominal de X não aumentou.
e) nominal de X aumentou aproximadamente 5%. 22. (CESGRANRIO — 2023) Há criação de meios de paga-
mento na economia quando
18. (CESGRANRIO — 2018) De acordo com a metodologia
internacionalmente consagrada de contabilização do a) o Banco Central do Brasil vende reservas internacionais.
balanço de pagamentos de um país, ao longo de deter- b) o Banco Central do Brasil vende Letras Financeiras do
minado ano, Tesouro (LFTs) no mercado aberto (overnight).
c) um banco vende dólares a um importador.
a) o saldo em conta-corrente corresponde à soma algé- d) uma empresa transfere recursos em moeda de seu
brica dos seguintes saldos: balança comercial, balan- caixa para sua conta corrente em um banco comercial,
ça de serviços, renda primária, renda secundária, sob a forma de depósito à vista.
conta capital & financeira e erros & omissões. e) uma empresa desconta uma duplicata em um banco
b) o saldo em conta-corrente corresponde à variação das comercial, recebendo o valor correspondente em moe-
reservas internacionais do país nesse mesmo período. da corrente.
c) o saldo das contas capital e financeira é negativo para
um país que registra superávit em conta-corrente, o 23. (CESGRANRIO — 2018) De acordo com o modelo key-
que equivale a uma redução dos ativos externos líqui- nesiano simplificado, em uma economia não integrada
dos dos residentes dessa economia. comercial e financeiramente ao resto do mundo, uma
d) os pagamentos e recebimentos de amortizações de política fiscal expansionista, efetivada com o objetivo
capital assim como os pagamentos e recebimentos de fomentar o nível de emprego, acarreta, supondo
de juros são contabilizados no balanço de pagamen- tudo o mais constante:
tos em conta-corrente.
e) um déficit em conta-corrente, considerando-se que a) redução das taxas de juros e aumento do PIB real
o governo tenha operado com um orçamento fiscal b) redução das taxas de juros e redução do PIB real
equilibrado, significa que os fluxos de investimentos c) aumento das taxas de juros e aumento do PIB real

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


domésticos superaram os fluxos de poupança domés- d) aumento das taxas de juros e PIB real inalterado
tica ao longo do período. e) taxas de juros inalteradas e aumento do PIB real

19. (CESGRANRIO — 2022) Segundo a macroeconomia 24. (CESGRANRIO — 2018) O modelo de Mundell-Fleming
clássica, a taxa real de juros resulta do(a) (IS-LM-BP) é amplamente utilizado para analisar os
impactos decorrentes da adoção de políticas econô-
a) equilíbrio entre a oferta de poupança e a demanda de micas em países com diferentes regimes de câmbio e
investimento graus de abertura ao movimento de capitais. O Brasil,
b) equilíbrio entre a oferta e a demanda de moeda atualmente, adota um regime de câmbio flutuante e
c) preferência do público por liquidez possui um grau bastante elevado de abertura (ainda
d) política monetária do Banco Central que imperfeita) ao movimento de capitais.
e) responsabilidade do governo na gestão da política
tributária Nesse caso, suponha que, partindo de uma situação
de equilíbrio inicial em que haja desemprego involun-
20. (CESGRANRIO — 2021) Uma das funções desempe- tário, o Banco Central do Brasil implemente uma políti-
nhadas pela moeda é a de reserva de valor, no entan- ca monetária expansionista visando a fomentar o nível
to, a moeda não é o único ativo que desempenha tal de emprego.
função.
De acordo, exclusivamente, com o modelo de Mundell-
O motivo que faz com que os cidadãos retenham moe- -Fleming, os resultados previstos no longo prazo, com-
da como reserva de valor é o fato de ela parados à situação inicial, seriam os seguintes:

a) oferecer um rendimento a seu detentor. a) apreciação da moeda brasileira, porém fluxo de expor-
b) possuir liquidez absoluta. tações líquidas e nível de renda agregada inalterados
c) prestar algum serviço ao seu possuidor. b) apreciação da moeda brasileira, maior fluxo de expor-
d) propiciar um aumento no seu valor. tações líquidas e maior nível de renda agregada
e) ser protegida contra inflação. c) depreciação da moeda brasileira, menor fluxo de
exportações líquidas e menor nível de renda agregada
d) depreciação da moeda brasileira, maior fluxo de expor-
tações líquidas e maior nível de renda agregada 425
e) depreciação da moeda brasileira, porém fluxo de expor- Se as evidências confirmarem que a taxa de inflação
tações líquidas e nível de renda agregada inalterados efetiva alcança níveis inferiores à meta de inflação, e
a taxa de desemprego persiste significativamente aci-
25. (CESGRANRIO — 2022) Segundo o IBGE, o Produto ma da taxa natural de desemprego, a regra de Taylor
Interno Bruto real (PIB real) do Brasil teve contração estabelece que, supondo tudo o mais constante, a
de 4,1%, em 2020, configurando o maior recuo da série autoridade monetária deverá
histórica desde 1996.
a) manter constante a taxa de juros básica.
O indicador que confirma o quadro de recessão econô- b) reduzir a taxa de juros real natural.
mica no Brasil em 2020 é o(a) c) reduzir a taxa de juros básica.
d) aumentar a taxa de juros básica.
a) hiato do produto negativo e) aumentar a taxa de juros real natural.
b) pleno-emprego
c) déficit em conta-corrente 29. (CESGRANRIO — 2019) A flutuação cambial também
d) PIB potencial elevado nos ensinou uma importante lição. Uma vez liberaliza-
e) inflação acelerada dos os fluxos de capitais no plano global, tem havido
quase nenhuma diferença se as taxas de câmbio são
26. (CESGRANRIO — 2023) Certo país adotou o regime fixas ou flutuantes. Já em 1978, James Tobin, um eco-
monetário de metas de inflação, a ser praticado pelo nomista keynesiano da Universidade de Yale e futuro
banco central.
prêmio Nobel, apontou para o problema central. “O
debate sobre o regime cambial mais apropriado negli-
Caso a medição da inflação no país surpreenda, no
gencia um problema essencial: o problema fundamen-
sentido de ultrapassar a meta de inflação, seu banco
tal é a excessiva mobilidade dos fluxos de capitais de
central, para combater a inflação, deveria
curto prazo. As economias nacionais e os governos
nacionais não são capazes de conter os enormes efei-
a) aumentar a taxa de juros básica da economia.
tos dos movimentos de capitais sobre as respectivas
b) reduzir o gasto do setor público.
taxas de câmbio, sem comprometer os principais obje-
c) aumentar os impostos pagos pelos contribuintes.
tivos das políticas econômicas nacionais com respei-
d) alterar a taxa de câmbio, desvalorizando a moeda
doméstica. to ao crescimento econômico, à criação de empregos
e) aumentar os impostos sobre as exportações. e à estabilidade inflacionária”.

RODRIK, D. The Globalization paradox: democracy and the future of


27. (CESGRANRIO — 2019) Segundo a teoria Keynesiana the world economy. New York:W.W. Norton & Company,
do comportamento de macroeconomia, a política fis-
cal expansiva é um instrumento básico para estimular 2011, p.107. Tradução livre e adaptada.
uma economia em recessão.
O trecho acima refere-se aos impactos da globaliza-
Uma política fiscal expansiva consistiria, por exemplo, ção econômica na esfera
em aumentar o(a)
a) produtiva
a) gasto do setor público b) comercial
b) imposto de renda c) financeira
c) superávit orçamentário do setor público
d) tecnológica
d) receita fiscal do governo
e) política
e) taxa cobrada pelos serviços públicos prestados pelo
governo
30. (CESGRANRIO — 2018) Segundo as teorias consagra-
das sobre a função-consumo, a
28. (CESGRANRIO — 2018) A regra de Taylor é uma das
mais conhecidas regras de política monetária dos
a) propensão marginal a consumir da renda transitória
bancos centrais. Na formulação mais simples, ela
é maior do que a propensão marginal a consumir da
pode ser expressa como:
renda permanente.
it = rn + α(πt + πm) + β(lnYt − lnYt ∗), b) propensão média a consumir dos extratos mais ricos
em que o subscrito t é o horizonte temporal de um ano; da população de um país é menor do que a propensão
i é a taxa de juros básica; média a consumir dos extratos mais pobres.
rn é a taxa de juros real natural; c) propensão média a consumir nas fases de recessão
πt é a taxa de inflação efetiva; é menor do que a observada nas fases de expansão
πm é a meta de inflação anual; cíclicas.
lnYt é o logaritmo do produto efetivo; d) teoria do ciclo de vida, de Modigliani, assegura que, se
lnYt ∗ é o logaritmo do produto potencial, compatível a população de um país for dividida nas faixas etárias
com a taxa natural de desemprego, e α e β são os jovem, adulta e idosa, a propensão marginal a poupar
pesos relativos conferidos pela autoridade monetária da faixa idosa será maior do que a da faixa adulta.
aos objetivos de alcançar a meta de inflação e o pro- e) teoria proposta por Friedman pressupõe que o consu-
duto potencial, respectivamente. mo das famílias depende fundamentalmente de sua
Nesse contexto, suponha um banco central que confi- renda disponível corrente.
ra peso igual aos objetivos de atingir a meta de infla-
426 ção e o produto potencial (ou seja, α = 0,5 e β = 0,5).
31. (CESGRANRIO — 2014) O modelo macroeconômico c) deficit primário no orçamento do setor público.
clássico, ao representar uma determinada economia, d) perda de reservas internacionais.
supõe e atribui algumas características importantes a e) diminuição do valor em dólar das importações do
essa economia. país.

Entre essas características NÃO se encontra a(o) 35. (CESGRANRIO — 2018) Mais espanto ainda causou
a “matriz do ministro”, a Nova Matriz Econômica (...).
a) perfeita flexibilidade de preços e salários Em julho de 2012, Mantega anunciaria oficialmente o
b) curva de oferta agregada vertical, em um gráfico com enterro do tripé. A base da política econômica brasi-
o produto na abcissa e o nível de preços na ordenada leira não seria mais formada pelo triângulo do câm-
c) desnecessidade de políticas governamentais macroe- bio flutuante, das metas de inflação e do superávit
conômicas para estimular a produção e o emprego primário.
d) demanda por moeda totalmente inelástica em relação
à renda DE BOLLE, M.B. Como matar a borboleta azul: uma crônica da era
e) ajuste rápido à posição de equilíbrio dos mercados de Dilma. Rio de Janeiro: Ed. Intrínseca, p.119.
bens e serviços, de trabalho e de ativos
No comentário crítico, a economista Mônica de Bolle
32. (CESGRANRIO — 2022) O Plano Real, implementado refere-se à chamada Nova Matriz Econômica, adota-
a partir de 1994, é avaliado como um dos mais impor- da pela equipe econômica de Dilma Rousseff (2011-
tantes e bem-sucedidos programas de estabilização 2014), cujos objetivos principais foram
inflacionária no Brasil.
a) reduzir as taxas de juros e depreciar o real brasileiro.
Um dos fatores que contribuíram para o sucesso do b) introduzir o regime de câmbio fixo e apreciar o real
Plano Real foi a(o) brasileiro.
c) eliminar o regime de metas de inflação e aumentar o
a) redução dos influxos de capital estrangeiro, ocorrida superávit primário.
ao longo do plano de estabilização. d) reduzir os subsídios fiscais e controlar o crédito ao
b) postergação do programa de liberalização comercial, consumidor.
em curso desde 1990, e que deveria ser finalizado em e) aumentar a meta de inflação e apreciar o real brasileiro.
1994.
c) estratégia bem-sucedida de congelamento de preços 36. (CESGRANRIO — 2019) Nas estatísticas relacionadas
e salários ao longo do processo de estabilização. ao comportamento do mercado de trabalho, o Institu-
d) forte recessão econômica que se seguiu imediata- to Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga
mente após o plano de estabilização. dados relativos aos percentuais da força de trabalho
e) uso da chamada âncora cambial, que, por meio de desocupada, subutilizada e desalentada, estimados,
um sistema de câmbio semifixo em bandas cambiais, respectivamente, em 12%, 24,8% e 4,4% no trimestre
levou à sobrevalorização da moeda nacional recém móvel correspondente a abril-junho de 2019.
introduzida (o Real).

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL


Identifica-se como percentual da força de trabalho
33. (CESGRANRIO — 2014) O ajuste cambial de 1999 não desalentada a
gerou deterioração patrimonial que pudesse incorrer
em uma grave crise econômica e financeira. a) soma das parcelas das forças de trabalho desocupa-
da e subutilizada.
A não ocorrência desse processo danoso à economia b) parcela da força de trabalho que, embora empregada,
brasileira deveu-se, dentre outros motivos, ao fato de não conseguiu um tempo de trabalho diário superior
ao desejado.
a) o governo ter oferecido um hedge ao setor privado c) parcela da força de trabalho que, embora tenha pro-
vendendo moeda estrangeira para atender a demanda curado emprego no período, não encontrou qualquer
dos agentes. oportunidade de trabalho.
b) o governo ter alterado a composição da dívida públi- d) parcela da força de trabalho que, por ter ficado muito
ca por tipo de indexador, impulsionando os títulos tempo desocupada, perdeu as habilidades e qualifica-
prefixados. ções requeridas para encontrar emprego.
c) o governo ter reduzido a quantidade de títulos públicos e) parcela da força de trabalho desocupada que desistiu
indexados a SELIC, como forma de evitar movimentos de procurar emprego.
especulativos.
d) o setor privado ter buscado hedgear sua posição atra- 37. (CESGRANRIO — 2014) Considere um mercado de tra-
vés de ativos atrelados à moeda nacional. balho perfeitamente competitivo no qual inicialmente
e) as instituições financeiras possuírem muitos ati- não há desemprego, ou seja, demanda e oferta de mão
vos externos que geravam baixa exposição ao risco de obra se equilibram ao salário de mercado vigente.
cambial.
Qual estática comparativa ocorrerá, se o governo insti-
34. (CESGRANRIO — 2016) No período de 2002 a 2006, tuir um salário mínimo (SM)?
correspondendo ao governo Lula, a evolução da eco-
nomia brasileira se caracterizou pelo(a) a) Haverá desemprego, inicialmente, mas a curva de
demanda aumentará até atingir um novo equilíbrio de
a) aumento, para mais que 20% do PIB, da Formação Bru- emprego e salário.
ta de Capital Fixo. b) Haverá excesso de demanda por mão de obra, pressio-
b) aumento do valor em dólar das exportações do país. nando ainda mais os salários de mercado vigente.
427
c) A curva de oferta por mão de obra aumentará, caso o mapeamento das instituições financeiras que mantêm
SM seja maior do que o salário de mercado vigente. relacionamento negocial com os cinco contribuintes.
d) A política será inócua, caso o SM seja fixado abaixo do Ficou apurado que são relevantes os Bancos Z, Y e W,
salário de mercado vigente. em expressivas movimentações, incluindo depósitos,
e) A quantidade demandada por mão de obra diminuirá, saques e aplicações financeiras, além de remessas
para qualquer nível fixado de SM. para o exterior. Os dados levantados, no entanto, não
são específicos, mas apenas resultado de análise
38. (CESGRANRIO — 2023) Considere que um país mui- de estatísticas do Banco Central. Para ter acesso ao
to pobre, com população predominantemente rural, banco de dados de cada contribuinte, T deve realizar
tenha um setor agrícola tradicional de baixa produ- alguns outros atos.
tividade e um setor industrial nascente, que, embora
detenha elevada produtividade, tem participação mui- Nos Termos da Lei Complementar nº 105/2001, os
to pouco expressiva no PIB do país. Embora a maior agentes fiscais tributários da União poderão examinar
parte da população economicamente ativa viva na documentos, livros e registros de instituições finan-
zona rural, o setor agrícola não é capaz de absorver ceiras, inclusive os referentes a contas de depósitos e
o enorme contingente de mão de obra desempregada aplicações financeiras,
ou subempregada. Admita que o governo desse país
adote uma estratégia de desenvolvimento através da a) havendo processo fiscal em curso.
qual a concessão de incentivos aos investimentos no b) autorizados pelo Banco Central.
setor industrial seja eficaz para absorver paulatina- c) após diligências locais.
mente o excesso de mão de obra desempregada nas d) mediante convênios com instituições financeiras
atividades agrícolas. privadas.
e) livremente
Nesse contexto, de acordo com o modelo de desenvol-
vimento de Lewis, se na etapa inicial de industrializa- 9 GABARITO
ção ainda persistir desemprego considerável no setor
agrícola, o salário real médio da economia será
1 A
a) indeterminado.
b) elevado, mas não será determinado pelos salários 2 C
pagos no setor industrial. 3 C
c) elevado, porque será determinado pelos salários
pagos no setor industrial. 4 D
d) baixo, porque será determinado pelos salários pagos
no setor agrícola. 5 D
e) baixo, mas será determinado pelos salários pagos no 6 A
setor industrial.
7 B
39. (CESGRANRIO — 2014) O mercado de trabalho brasi-
leiro vem passando por diversas mudanças importan- 8 B
tes nos últimos anos. 9 B

Dentre tais mudanças NÃO consta a(o) 10 E

11 B
a) redução da taxa de desemprego, reflexo do maior
crescimento econômico e do menor crescimento 12 E
populacional.
b) implementação de políticas de incentivo fiscal e 13 D
desburocratização, como a lei do SIMPLES, que pos-
14 D
sibilitou a melhoria na gestão financeira de micro e
pequenas empresas. 15 B
c) implementação da lei do Microempreendedor Indivi-
dual, que permitiu formalizar diversas pessoas que 16 E
trabalham por conta própria.
d) flexibilização das relações trabalhistas, que reduziu 17 C
a rigidez do mercado de trabalho e reduziu os custos 18 E
demissionais.
e) crescimento do emprego formal, impulsionado pelo 19 A
crescimento econômico, melhoria educacional e leis
de incentivo tributário. 20 B

21 B
40. (CESGRANRIO — 2021) T é agente fiscal da União
Federal, atuando em grupo especial que monitora 22 E
devedores qualificados. Após divisão interna de traba-
lho, T fica com a responsabilidade de fiscalizar cinco 23 C
contribuintes específicos, pois são habituais interes- 24 D
sados em procedimentos administrativos, cujo valor é
428 superior a milhões de reais. O trabalho iniciou com o
25 A

26 A

27 A

28 C

29 C

30 B

31 D

32 E

33 A

34 B

35 A

36 E

37 D

38 D

39 D

40 A

ANOTAÇÕES

ECONOMIA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E CONTEXTO INTERNACIONAL

429
ANOTAÇÕES

430
que os administradores públicos usam para organizar
os seus recursos financeiros.
Segundo Giacomoni (2010), o orçamento público
constitui-se, no curto prazo, em um instrumento para

EIXO 4 – ORÇAMENTO operacionalizar os programas setoriais e regionais


de médio prazo, que por sua vez cumprem o marco
fixado pelos planos nacionais em que estão definidos
PÚBLICO, os grandes objetivos e metas. Na definição de Baleei-
ro (2010), trata-se do ato pelo qual o Poder Legislati-
CONTABILIDADE E vo prevê e autoriza ao Poder Executivo as despesas
destinadas ao funcionamento da máquina pública e
REGULAÇÃO as receitas já criadas em lei.
Em suma, podemos resumir o conceito de orça-
mento público como a técnica, materializada por meio
de um instrumento formal como a lei, que objetiva a
previsão das receitas e a fixação das despesas.
ORÇAMENTO PÚBLICO: HISTÓRIA,
EVOLUÇÃO E NATUREZA JURÍDICA Dica
O Senado Federal criou um portal chamado
CONCEITO
“Orçamento Fácil”, que tem como objetivo dis-
Vamos começar nossos estudos com uma pergunta:
ponibilizar as informações sobre o orçamento
o que seria o orçamento? O termo é frequentemente público de forma mais leve e amigável, e com
utilizado no nosso dia a dia: “acho que aquela viagem isso ampliar o alcance das informações. Vale a
dos sonhos terá que ser adiada... o orçamento está pena conferir o site: https://www12.senado.leg.
apertado”, ou “vamos comprar aquele carro! As parce- br/orcamentofacil
las cabem no orçamento!”. É justamente essa a ideia.
O orçamento é o processo em que realizamos um Muito bem! Superados a definição e o conceito de
planejamento e programação das entradas (receitas) orçamento público, seguimos com algumas técnicas
e saídas (despesas) dos recursos financeiros, objeti- orçamentárias.
vando a concretização de metas e objetivos. Os orça-
mentos estão presentes em nossa vida pessoal, nas TÉCNICAS ORÇAMENTÁRIAS
empresas e na área pública e é justamente nessa últi-
ma que teremos como foco em nossos estudos. Antes de avançarmos, cabe esclarecer que em edi-
Mãos à obra! tais de concurso é comum encontrarmos esse tema
como “Espécies Orçamentárias”, “Tipos de Orçamen-
A ATIVIDADE FINANCEIRA DO ESTADO: to” ou “Técnicas de elaboração orçamentária”. Apesar
CONCEITOS E CARACTERÍSTICAS de os termos possuírem sutis diferenças, para fins de
concursos públicos, podemos nos referir ao mesmo
Antes mesmo de falarmos sobre o orçamen- conteúdo.
to público, vamos compreender o que é a atividade A técnica de elaboração do orçamento não segue
financeira do Estado. uma única regra e método, pois a eficácia do controle

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


Segundo Baleeiro (1999), a atividade financeira do orçamentário depende da adequação dos instrumen-
Estado consiste em obter, criar, gerir e despender o tos aos fatores internos e externos de um órgão. Por
dinheiro indispensável às necessidades, cuja satisfa- exemplo, uma determinada técnica orçamentária
ção o Estado assumiu ou cometeu a outras pessoas de pode ser mais adequada para órgãos com uma matu-
direito público. Em linha semelhante, Paludo (2017) ridade e disciplina orçamentária maior do que aque-
define que a atividade financeira é exercida pelo Esta- les que estão introduzindo um sistema orçamentário
do, visando ao bem comum da coletividade. A ativida- pela primeira vez. Além disso, o nível de controle ao
de do Estado está vinculada à arrecadação de recursos qual estão submetidos certos órgãos ou programas
destinados à concretização dos objetivos e à satisfação da administração podem requerer um grau maior ou
de necessidades públicas básicas. menor de precisão das informações, o que impactará
Em ambas as definições destacamos os aspectos diretamente a técnica adotada.
de “obter” (a arrecadação de receita pública), “criar” Vejamos quais são esses tipos (ou técnicas) de
(créditos/empréstimos públicos), “gerir” (gestão do orçamento:
orçamento público) e “despender” (a aplicação em des-
pesas públicas), ou seja, todo o ciclo de atividades típico z Orçamento Tradicional (ou clássico): o orçamen-
na gestão orçamentária pelo Estado. Por fim, podemos to tradicional ou clássico surgiu na Inglaterra por
dizer que, em sentido estrito, a atividade financeira volta de 1822 e possui um caráter extremamente
está ligada ao exercício da soberania do Estado. prescritivo e rígido: o processo orçamentário se
restringe a prever receitas e autorizar despesas, é
O ORÇAMENTO PÚBLICO formulado hierarquicamente, e é pouco alinhado
com programas e projetos dos órgãos, pois a ênfa-
Orçamento público é um instrumento de planeja- se está no objeto do gasto. Ademais, no orçamento
mento governamental que envolve o gerenciamento tradicional temos o foco no controle da legalidade
e controle dos recursos públicos, além do monitora- dos gastos em detrimento da efetividade, eficácia e
mento dos gastos governamentais. É um instrumento eficiência das ações governamentais; 431
z Orçamento-programa: trata-se de uma concep- demorada, cara e exigente do ponto de vista da
ção gerencial de orçamento público, pois não se maturidade da cultura orçamentária;
restringe ao objeto do gasto, promove o vínculo z Orçamento incremental: como a própria descri-
do instrumento orçamentário com o planejamento ção, nesta técnica o administrador toma como base
das ações governamentais e dá ênfase nos impac- a estrutura orçamentária de exercícios passados
tos que as ações governamentais geram à socie- e realiza apenas pequenos ajustes dos valores já
dade. As despesas são classificadas com base em executados. Por exemplo, o administrador pode
uma lógica funcional e programática das despesas tomar como base uma despesa com serviços de
públicas. segurança executada no exercício passado e pro-
mover um incremento do percentual relativo à
Destacam-se três momentos da presença do orça- correção inflacionária.
mento-programa no ordenamento jurídico brasileiro:
primeiro, o seu surgimento quando mencionado no Na definição da Secretaria do Tesouro Nacional
art. 2º, da Lei nº 4.320, de 1964 (ainda sem a obriga- — STN, o orçamento incremental é aquele realizado
toriedade de sua adoção); segundo, por meio do art. mediante ajustes marginais nos seus itens de receita
16, do Decreto-Lei nº 200, de 1967, tornando o orça- e despesa. Note que o conceito é o oposto do OBZ vis-
mento-programa obrigatório aos órgãos da Admi- to anteriormente. Dessa forma, tem como vantagem
nistração Pública; e por fim, o terceiro momento, a facilidade na elaboração e as desvantagens o deses-
com a edição do Decreto Federal nº 2.829, de 1998, tímulo às ações de contenção de gastos e redução de
considerado o marco da efetiva implementação do custos.
orçamento-programa.
Antes de abordarmos os demais tipos de orçamen- z Orçamento de desempenho: também chama-
tos, resumiremos o orçamento tradicional e o orça- do de orçamento de realizações. Trata-se de uma
mento-programa em uma tabela comparativa, pois as evolução do orçamento tradicional, onde “o que o
diferenças entre ambos é tema frequente nas provas. governo compra” dá lugar, em relevância, a “o que
o governo faz”. É um processo orçamentário que
ORÇAMENTO apresenta duas dimensões do orçamento: o objeto
ORÇAMENTO-
ASPECTO TRADICIONAL
PROGRAMA de gasto e um programa de trabalho contendo as
(CLÁSSICO) ações desenvolvidas. Neste tipo de orçamento, as
Não há Orçamento
unidades gestoras são contempladas com recursos
integração vinculado e orçamentários conforme o desempenho de perío-
Integração com dos anteriores;
(ou há integrado com
Planejamento
integração o planejamento z Orçamento Participativo: trata-se da técnica que
mínima) governamental contempla a sociedade no processo de discussão
e elaboração da peça orçamentária, por meio de
Foco na alocação Meios, objeto Fins, objetivos e
dos recursos dos gastos metas
lideranças, realização de audiências públicas,
representantes de classe, entre outros. Tem como
Ênfase no vantagem o caráter democrático do processo, mas
planejamento, em contrapartida enfrenta alguns desafios como a
Estrutura Ênfase contábil
estratégia, necessidade de um alto grau de mobilização social
orçamentária e legal
programas e e a disposição do poder público em descentralizar
projetos
o poder.
Principal critério
Unidades Funções e
de classificação Compreendidas as técnicas ou tipos de orçamento,
administrativas programas
das despesas passaremos à discussão dos princípios orçamentários.
É um tema de grande importância e frequentemente
Inexistência
Intensa avaliação cobrado nos certames.
ou pouca
dos resultados
relevância da
por meio de
Sistemas de avaliação dos PRINCÍPIOS ORÇAMENTÁRIOS
indicadores.
acompanhamento programas de
Controle possui
e controle trabalho Princípios são relevantes na medida que repre-
foco na eficiência,
Controle sentam o alicerce, ou a base fundamental de um
eficácia e
possui foco na
efetividade ordenamento jurídico. A partir dos princípios temos
legalidade
o direcionamento e orientação das normas jurídicas
e, por esse motivo, os mesmos servem como integra-
z Orçamento base zero (OBZ): as despesas referen- dores da interpretação normativa. Os princípios orça-
tes aos programas, projetos ou ações da adminis- mentários, dessa forma, estabelecem as diretrizes
tração são detalhadamente justificadas a cada ano. para a elaboração, execução, monitoramento e avalia-
As linhas constantes no orçamento não devem ção do orçamento público.
tomar como base os valores executados em exer- Conforme definição do Poder Legislativo Brasi-
cícios passados, pois a ideia do OBZ é justamente leiro, os princípios orçamentários são as “regras que
evitar os gastos incrementais de despesas desne- cercam a instituição orçamentária, visando a dar-lhe
cessárias executadas no passado. As vantagens do consistência, principalmente no que se refere ao con-
OBZ envolvem a necessidade de um esforço maior trole pelo Poder Legislativo”.
no controle orçamentário e dos indicadores de Trataremos em seguida dos princípios orçamen-
performance, além da promoção de uma discipli- tários mais comuns citados pela doutrina. Destaca-se
na orçamentária mais rígida. Em contrapartida, que este tema é um dos mais frequentes em concursos
432 a elaboração do OBZ pode ser mais complexa e públicos.
Princípio da Legalidade Qual o objetivo de se determinar o orçamento em
um período de tempo? A fixação temporal contribui
Trata-se de um princípio não exclusivo da admi- para que os investimentos e gastos tenham uma pro-
nistração orçamentária e financeira e presente em gramação, facilitando o seu controle, mensuração e
todos os ramos do Direito. A legalidade encontra sede comparação. Veja que alguns gastos (investimentos)
no inciso II, do art. 5º, da Constituição de 1988: “nin- que ultrapassam um exercício financeiro (por exem-
guém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma plo, um gasto em infraestrutura) demandam uma
coisa senão em virtude de lei”. Nessa seara, o princípio apresentação diferenciada nas peças orçamentárias.
da legalidade orienta que o planejamento orçamentá-
rio seja realizado por leis. O orçamento público, PPA, z Exceção ao princípio: alguns créditos especiais
LDO e LOA, é uma lei formal, passa pelo exame do autorizados nos últimos quatro meses do exercício
Poder Legislativo, blindando-as das arbitrariedades poderão ser reabertos no próximo exercício finan-
da Administração Pública. ceiro. Esta exceção mitiga o princípio da anualida-
Os três próximos princípios são dispostos explicita- de. Fique tranquilo, pois trataremos dos créditos
mente na Lei nº 4.320, de 1964, em seu art. 2º, in verbis: especiais e suas regras mais à frente. Por hora, é
importante compreendermos que os princípios
Art. 2° A Lei do Orçamento conterá a discrimina- não são absolutos.
ção da receita e despesa de forma a evidenciar a
política econômica financeira e o programa de tra-
Princípio da Exclusividade
balho do Gôverno, obedecidos os princípios de uni-
dade universalidade e anualidade.
Este princípio está fundado no § 8º, do art. 165, da
Princípio da Unidade ou Totalidade Constituição Federal:

Segundo este princípio, não devem existir orça- Art. 165 [...]
§ 8º A lei orçamentária anual não conterá dispo-
mentos paralelos. Cada ente da Federação deve ela-
sitivo estranho à previsão da receita e à fixa-
borar e aprovar uma única lei orçamentária, apesar
ção da despesa, não se incluindo na proibição a
de possuírem em sua estrutura diversos órgãos com
autorização para abertura de créditos suplemen-
autonomia financeira. Por exemplo, um ente federa-
tares e contratação de operações de crédito, ainda
tivo poderá possuir autarquias com autonomia finan-
que por antecipação de receita, nos termos da lei.
ceira e administrativa, mas seu orçamento autárquico
deverá integrar uma única peça consolidada pelo Exe-
Ou seja, impede que o legislador inclua na lei
cutivo daquele ente.
orçamentária matérias não relacionadas ao tema de
Note que o fato de o orçamento possuir uma uni-
orçamento, mais especificamente dispositivos que
dade não significa que não seja multidocumental. A
LOA é composta por três documentos que represen- não sejam relativos à previsão da receita e fixação de
tam os orçamentos fiscal, da seguridade social e dos despesas.
investimentos. Trata-se de uma previsão importante, pois caso
não existisse, a lei orçamentária estaria “recheada” de
Princípio da Universalidade temas “carona”, aproveitando a tramitação especial e
aprovação mais célere da lei orçamentária.
Apesar da semelhança entre os termos, universalida-
z Exceção ao princípio: a autorização para abertu-

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


de não se confunde com unidade. Se na unidade tratamos
da peça única do orçamento, este princípio determina ra de créditos suplementares e a autorização para
que a peça orçamentária englobará todas as receitas e contratação de operações de crédito, previstos
despesas referentes a todos os Poderes e órgãos da admi- explicitamente no § 8º, art. 165, da Constituição
nistração. Em outras palavras, dentro do universo pos- Federal. Créditos suplementares e operações de
sível de receitas e despesas de um órgão, nada pode ser crédito são temas bem específicos dentro da disci-
excluído ou omitido na peça orçamentária. plina orçamentária.
Ainda que essa omissão não tenha impacto líquido
financeiro no orçamento, se um órgão, por exemplo, Princípio do Orçamento Bruto
omitir R$ 1 milhão em receitas e o mesmo montan-
te em uma previsão de receitas, todas as informações As receitas e despesas devem ser apresentadas na
devem ser apresentadas na Lei Orçamentária, para lei orçamentária pelos seus valores totais, sem dedu-
o melhor controle e acompanhamento da gestão dos ções ou compensações. Este princípio pode ser verifi-
recursos públicos. cado no art. 6º, da Lei nº 4.320, de 1964:

z Exceção ao princípio: orçamentos das empresas Art. 6º Todas as receitas e despesas constarão da
estatais, por seu caráter de exigência do mercado, Lei de Orçamento pelos seus totais, vedadas
estarão fora do escopo da lei orçamentária. quaisquer deduções.

Princípio da Anualidade ou Periodicidade O exemplo que evidencia de forma clara o princí-


pio do orçamento bruto estão nas transferências de
O orçamento deve ser elaborado por um período recursos. Um recurso transferido de um órgão para
determinado de tempo. No Brasil, esse período é de o outro será demonstrado duas vezes no orçamen-
um ano, coincidindo com o ano civil, conforme dispõe to: como despesa no órgão que transferiu o recurso
o art. 34, da Lei nº 4.320: “O exercício financeiro coinci- e como receita no órgão receptor, ainda que o efeito
dirá com o ano civil”. monetário líquido da receita e despesa seja nulo. 433
Princípio da Publicidade/Transparência z Exceção ao princípio: as chamadas reservas de
contingência (dotações orçamentárias para even-
Tal como o princípio da publicidade, não se trata tos incertos), por suas próprias características,
de uma exclusividade da administração financeira e podem ensejar descrições mais globais, assim
orçamentária. como os chamados Programas Especiais de Tra-
O princípio da publicidade está presente em quase balhos (PET) que não terão suas despesas discri-
todos os ramos do direito e norteia a obrigatoriedade minadas sob risco de perderem a sua finalidade
da divulgação dos atos, contratos e demais instrumen- (programas confidenciais, de segredo de Estado,
tos celebrados pela Administração. A publicidade está de segurança nacional, por exemplo).
prevista no art. 37, da Constituição:
Princípio da Clareza
Art. 37 A administração pública direta e indireta
de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do O princípio da clareza sugere que o orçamento
Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos deve apresentar as informações com uma linguagem
princípios de legalidade, impessoalidade, moralida- clara e acessível, sem ambiguidades, de modo a per-
de, publicidade e eficiência [..] mitir um alcance mais abrangente a toda a sociedade.
Na prática, trata-se de um grande desafio, haja vista
No que se refere especificamente à disciplina de que a matéria orçamentária possui característica
administração financeira e orçamentária, o princípio extremamente técnica.
da publicidade está presente no § 3º, do art. 165, da
Constituição Federal: Princípio da não Afetação ou não Vinculação da
Receita de Impostos
Art. 165 [...]
§ 3º O Poder Executivo publicará, até trinta dias
Por este princípio, está vedada à Administração
após o encerramento de cada bimestre, relatório
resumido da execução orçamentária. Pública a vinculação de receita de impostos a fundos,
órgãos e despesas. Veja que, originalmente, a Consti-
O art. 48, da LRF, também tratou da questão da tuição, nos termos do art. 67, foi categórica em deter-
transparência, estabelecendo os instrumentos de minar que apenas a arrecadação dos impostos não
transparência orçamentários: deve possuir vinculação. Isso significa que os demais
tributos, via de regra, estariam afastados da regra de
Art. 48 São instrumentos de transparência da ges- vinculação.
tão fiscal, aos quais será dada ampla divulgação,
inclusive em meios eletrônicos de acesso público: z Exceção ao princípio: a não vinculação não opera
os planos, orçamentos e leis de diretrizes orça- nas hipóteses previstas pela própria Constituição:
mentárias; as prestações de contas e o respectivo repasses de recursos da União para os Estados e
parecer prévio; o Relatório Resumido da Execução Municípios — FPE e FPM; recursos para as ações e
Orçamentária e o Relatório de Gestão Fiscal; e as serviços de saúde; manutenção e desenvolvimento
versões simplificadas desses documentos. do ensino — Fundeb; recursos destinados às ativi-
dades da administração tributária; recursos para
Princípio da Especificação ou Especialização prestação de garantia às operações de crédito por
antecipação de receita; recursos destinados à pres-
Trata-se de um princípio explícito na legislação: tação de contragarantia à União e para pagamento
de débitos para com esta; fundo de financiamento
Art. 5º A Lei de Orçamento não consignará ao setor produtivo das Regiões Norte, Nordeste e
dotações globais destinadas a atender indiferen- Centro-Oeste.
temente a despesas de pessoal, material, serviços
de terceiros, transferências ou quaisquer outras, ORÇAMENTO PÚBLICO NO BRASIL — VISÃO
ressalvado o disposto no artigo 20 e seu parágrafo
HISTÓRICA
único.
[...]
Art. 15 Na Lei de Orçamento a discriminação da O estudo do orçamento público é ancestral e o
despesa far-se-á no mínimo por elementos. orçamento na administração pública é um dos mais
§ 1º Entende-se por elementos o desdobramento da antigos instrumentos de planejamento e controle na
despesa com pessoal, material, serviços, obras e humanidade. No caso brasileiro, as normas regrando
outros meios de que se serve a administração públi- o orçamento público acompanharam a evolução legis-
ca para consecução dos seus fins. lativa brasileira, de modo que podemos encontrar
traços desse tema nas diversas Constituições da nossa
Os arts. 5º e 15, da Lei nº 4.320, de 1964, deter- história. Faremos a seguir uma breve retrospectiva
minam que as receitas e despesas no orçamento histórica.
devem possuir um nível razoável de especificação ou A Constituição de 1824 do Brasil Imperial é con-
detalhamento. siderada pioneira por prever a elaboração formal
Evita-se, dessa forma, a existência de generalida- do orçamento pela administração. Havia a figura
des na peça orçamentária, que dificultam a atividade do “orçamento misto”, em decorrência da interação
de monitoramento, avaliação e fiscalização do orça- entre o Poder Executivo, responsável pela elaboração,
mento. Do ponto de vista social, a pormenorização das e o Poder Legislativo pela sua aprovação. Na Consti-
receitas e despesas permite à sociedade que se possa tuição de 1891 o Poder Legislativo passa a ter maior
conhecer com precisão as origens e aplicações dos protagonismo no processo orçamentário, elaborando
434 recursos por parte do gestor público. e aprovando o orçamento.
A Constituição de 1934 resgata o “orçamento mis- z Objetivos: o que deve ser feito, concretizado,
to” com o restabelecimento do rito de elaboração da durante o período do PPA, em linha com as dire-
proposta pelo Poder Executivo e a aprovação pelo trizes traçadas;
Legislativo. Ocorre que a Constituição de 1937 retro- z Metas: alcance do objetivo, de natureza quantita-
cede neste ponto, pois apesar de legalmente termos a tiva ou qualitativa
previsão do envolvimento do Legislativo e Executivo
na peça orçamentária, na prática o orçamento pas- Podemos representar o DOM como o triângulo da
sou a ser elaborado e decretado pelo próprio Poder figura abaixo: as diretrizes sendo apresentadas de for-
Executivo. ma ampla, abrangente, de caráter geral, seguido dos
Com a Constituição de 1946 e o processo de rede- objetivos que especificarão as diretrizes em um nível
mocratização do país, retoma-se o processo misto. de concretude maior. As metas traduzem os alcances
Destaca-se, ainda, que, na Carta de 1946, alguns prin- dos objetivos de forma mais específica, apresentando
cípios da legislação atual, como os princípios da uni- medidas, indicadores e referências.
dade, universalidade e exclusividade, que veremos
adiante, são introduzidos no ordenamento pátrio e as
Diretrizes
funções do Tribunal de Contas se tornam mais eviden-
tes. Em seguida, a Constituição de 1967 (no período
do regime militar) mantém o orçamento misto, contu- Objetivos
do considerava-se que a participação do Poder Legis-
lativo ocorria somente no plano teórico, pois pelo Metas
arranjo institucional era praticamente impossível o
parlamento propor emendas à peça orçamentária.
Por fim, a Constituição de 1988, vigente, conser- Trazendo para o mundo das empresas privadas,
va o orçamento misto e devolve a prerrogativa da podemos nos arriscar em dizer que o PPA é seme-
proposição de emendas ao projeto de lei orçamentá- lhante ao planejamento estratégico das organizações,
ria pelo Poder Legislativo. Ademais, a carta de 1988 guiando todas as ações no horizonte do médio prazo.
inova introduzindo o conjunto de instrumentos de O PPA está previsto na Constituição Federal conforme
planejamento, composto pelo PPA — Plano Pluria- abaixo:
nual; a Lei de Diretrizes Orçamentárias — LDO e os
Planos e Programas Nacionais, Regionais e Setoriais Art. 165 Leis de iniciativa do Poder Executivo
de orçamentos. estabelecerão:
I - o plano plurianual;
Art. 165 Leis de iniciativa do Poder Executivo [...]
estabelecerão: § 1º A lei que instituir o plano plurianual estabele-
I - o plano plurianual; cerá, de forma regionalizada, as diretrizes, objeti-
II - as diretrizes orçamentárias; vos e metas da administração pública federal para
III - os orçamentos anuais. as despesas de capital e outras delas decorrentes
e para as relativas aos programas de duração
Outras normas infraconstitucionais são de extre- continuada.
ma relevância para o estudo do orçamento no Brasil.
Tratam-se da Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964, e Importante salientar, que apesar do caráter dire-

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


da Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000, a tivo e estratégico do PPA, ele não tem por função a
chamada “Lei de Responsabilidade Fiscal” (LRF). redução das desigualdades, sendo essa uma função
A primeira, em vigor até os dias atuais, represen- reservada aos orçamentos fiscal e de investimentos,
tou um marco histórico e se tornou o principal nortea- contemplados na Lei Orçamentária Anual. Veja os dis-
dor dos processos orçamentários de todos os órgãos postos no § 5º e § 7º, do art. 165:
da Administração. Já a LRF trouxe importantes inova-
ções no que tange às novas formas de responsabiliza- § 5º A lei orçamentária anual compreenderá:
I - o orçamento fiscal referente aos Poderes da
ção dos gestores públicos, regras e limites para gastos
União, seus fundos, órgãos e entidades da adminis-
com pessoal, criação de despesas de duração conti-
tração direta e indireta, inclusive fundações insti-
nuada entre outras inovações.
tuídas e mantidas pelo Poder Público;
II - o orçamento de investimento das empresas
O PLANO PLURIANUAL NA CONSTITUIÇÃO em que a União, direta ou indiretamente, detenha a
FEDERAL maioria do capital social com direito a voto;
[...]
O PPA é uma inovação trazida pela Constituição de § 7º Os orçamentos previstos no § 5º, I e II, deste
1988. Trata-se do planejamento estratégico de médio artigo, compatibilizados com o plano plurianual,
prazo da administração pública e tem por finalida- terão entre suas funções a de reduzir desi-
de estabelecer e informar de forma regionalizada as gualdades inter-regionais, segundo critério
Diretrizes, Objetivos e Metas (DOM) da adminis- populacional.
tração. Importante destacar qual o significado desses
conceitos:

z Diretrizes: normas e orientações de caráter geral


e estratégico para o Governo; 435
Destacamos na tabela abaixo, outros dispositivos relevantes relacionados ao PPA:

DISPOSITIVO NA CF, DE 1988 CONTEÚDO

PPA será apreciado pelas duas Casas do Congresso


Caput, art. 166
Nacional

Caberá a uma Comissão Mista Permanente de senadores


I, § 1º, art. 166
e deputados examinar e emitir parecer sobre o PPA

Emenda dos parlamentares relativas ao PPA serão


§ 2º, art. 166
apresentadas na Comissão Mista

O Presidente da República poderá enviar mensagem ao


§ 5º, art. 166
Congresso Nacional para propor modificação no PPA

O projeto de lei do PPA será enviado pelo Presidente da


§ 6º, art. 166 e I, § 2º, art.135, da ADCT República ao Congresso Nacional até quatro meses antes
do encerramento do exercício financeiro

Aplica-se ao PPA, no que não contrariar o disposto nessa


§ 7º, art. 166
seção, as demais normas do processo legislativo

Nenhum investimento cuja execução ultrapasse um


exercício financeiro poderá ser iniciado sem prévia
§ 1º, art. 167
inclusão no Plano Plurianual, o sem lei que autorize a
inclusão, sob pena de crime de responsabilidade

CICLO ORÇAMENTÁRIO

O ciclo orçamentário pode ser compreendido como uma série de processos desencadeados no tempo, que con-
templa desde a elaboração das leis até a avaliação e controle da execução.
Antes de adentrarmos no ciclo orçamentário propriamente dito, cabe esclarecer que ciclo orçamentário e
exercício financeiro não se confundem! O ciclo orçamentário envolve um período mais amplo e pode envolver
mais de um exercício financeiro. O exercício financeiro, por sua vez, é definido pelo art. 34, da Lei nº 4.320, de
1964:

Art. 34 O exercício financeiro coincidirá com o ano civil.

Que no caso brasileiro é o período compreendido entre 1º de janeiro e 31 de dezembro de cada ano civil.
Em termos didáticos, podemos considerar o ciclo orçamentário como estrito e estendido. O ciclo estrito pode
ser representado em quatro etapas e o ciclo estendido em sete, conforme os esquemas que apresentamos abaixo:

Ciclo Orçamentário “Estendido”

Elaboração da PPA

Execução, controle
e avaliação Elaboração de
orçamentária outros planos

Apreciação,
Aprovação, sanção
Elaboração da LDO
e publicação
LOA

Elaboração de LOA

436
Ciclo Orçamentário “Estrito”

Elaboração

Execução Aprovação

Sanção/
Veto

Para compreendermos quais as diferenças entre os dois ciclos, apresentamos a figura abaixo, que esquematiza
cada um dos instrumentos orçamentários em uma linha do tempo:

Notem que o ciclo estendido engloba as etapas de elaboração da LOA, Lei Orçamentária Anual, em consonân-
cia com a LDO e PPA. Há aqui uma visão integrada do processo orçamentário que tem como grande diretriz o PPA
e o resultado da avaliação da LOA como insumos para a elaboração do próximo PPA.
Feitas as considerações acima, vamos passar para o estudo das fases. Vamos nos basear no processo federal,
mas podemos “transportar” o processo para os demais níveis da federação.

Elaboração

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


A fase de elaboração se desencadeia com a iniciativa, que sempre deve ser de responsabilidade do Poder
Executivo:

Art. 165 Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão:


I - o plano plurianual;
II - as diretrizes orçamentárias;
III - os orçamentos anuais.

Nesta fase de elaboração cada órgão da administração envia a sua proposta orçamentária à Secretaria de Orçamento
Federal para consolidação e posterior envio ao Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, que por sua vez
enviará ao Presidente da República. Neste processo, os demais Poderes, o Ministério Público e a Defensoria também
enviarão as suas propostas ao executivo, que fará a alocação dos recursos no orçamento seguindo as etapas de fixação
da meta fiscal, projeção das receitas, projeção das despesas obrigatórias, e apuração das despesas discricionárias.
O envio será de responsabilidade do Presidente da República, nos termos do XXIII, art. 84, da Constituição Federal:

Art. 84 Compete privativamente ao Presidente da República: [...]


XXIII - enviar ao Congresso Nacional o plano plurianual, o projeto de lei de diretrizes orçamentárias e as propostas
de orçamento previstos nesta Constituição;

437
Importante!
A autonomia administrativa e financeira: conforme vimos, os diversos órgãos e Poderes enviam as suas
propostas orçamentárias ao Poder Executivo para consolidação. Tal prática é consoante à autonomia admi-
nistrativa e financeira garantida pela nossa constituição nos seguintes dispositivos:
� Poder Judiciário: art. 99, da CF, de 1988;
� Ministério Público: art. 127, da CF, de 1988;
� Defensorias públicas: § § 2º e 3º, art. 134, da CF, de 1988.

Cabe aqui esclarecermos o conteúdo dessas “propostas orçamentárias”. O art. 22, da Lei nº 4.320, de 1964, for-
nece-nos algumas informações importantes:

Art. 22 A proposta orçamentária que o Poder Executivo encaminhará ao Poder Legislativo nos prazos esta-
belecidos nas Constituições e nas Leis Orgânicas dos Municípios, compor-se-á:
I - Mensagem, que conterá: exposição circunstanciada da situação econômico-financeira, documentada com
demonstração da dívida fundada e flutuante, saldos de créditos especiais, restos a pagar e outros compromis-
sos financeiros exigíveis; exposição e justificação da política econômica-financeira do Governo; justificação da
receita e despesa, particularmente no tocante ao orçamento de capital;
II - Projeto de Lei de Orçamento;
III - Tabelas explicativas, das quais, além das estimativas de receita e despesa, constarão, em colunas distintas
e para fins de comparação:
a) A receita arrecadada nos três últimos exercícios anteriores àquele em que se elaborou a proposta;
b) A receita prevista para o exercício em que se elabora a proposta;
c) A receita prevista para o exercício a que se refere a proposta;
d) A despesa realizada no exercício imediatamente anterior;
e) A despesa fixada para o exercício em que se elabora a proposta; e
f) A despesa prevista para o exercício a que se refere a proposta.
IV - Especificação dos programas especiais de trabalho custeados por dotações globais, em termos de metas
visadas, decompostas em estimativa do custo das obras a realizar e dos serviços a prestar, acompanhadas de
justificação econômica, financeira, social e administrativa.
Parágrafo único. Constará da proposta orçamentária, para cada unidade administrativa, descrição sucinta
de suas principais finalidades, com indicação da respectiva legislação.

Um outro ponto que merece destaque nesta análise inicial do ciclo orçamentário diz respeito aos prazos de
cada ente na elaboração e encaminhamento das peças orçamentárias. Aproveitaremos o nosso esquema dos ins-
trumentos orçamentários distribuídos na linha do tempo apresentado anteriormente para tratar dos prazos da
PPA, LDO e LOA:

Caso os prazos acima não sejam respeitados (por exemplo, por uma omissão do Poder Executivo em enviar a
proposta orçamentária), o Poder Legislativo considerará como proposta a Lei de Orçamento vigente, conforme
disposto no art. 32, da Lei n° 4.320, de 1964:

Art. 32 Se não receber a proposta orçamentária no prazo fixado nas Constituições ou nas Leis Orgânicas dos Muni-
438 cípios, o Poder Legislativo considerará como proposta a Lei de Orçamento vigente.
Discussão e Aprovação Além das vedações às emendas já apresentadas,
destacamos outras hipóteses previstas no art. 33, da
A fase de discussão e aprovação tem início com o Lei nº 4.320, de 1964.
recebimento das peças orçamentárias pelo Congresso
Nacional. Os projetos de PPA, LDO e LOA são examina- Art. 33 Não se admitirão emendas ao projeto de Lei
dos por uma Comissão Mista, que é responsável pela de Orçamento que visem a:
emissão de parecer sobre os projetos e as contas apre- a) alterar a dotação solicitada para despesa de cus-
sentadas pelo Presidente da República. teio, salvo quando provada, nesse ponto a inexati-
dão da proposta;
Art. 166 Os projetos de lei relativos ao plano plu- b) conceder dotação para o início de obra cujo pro-
rianual, às diretrizes orçamentárias, ao orçamento jeto não esteja aprovado pelos órgãos competentes;
anual e aos créditos adicionais serão apreciados c) conceder dotação para instalação ou funcio-
pelas duas Casas do Congresso Nacional, na forma namento de serviço que não esteja anteriormente
do regimento comum. criado;
§ 1º Caberá a uma Comissão mista permanente de d) conceder dotação superior aos quantitativos
Senadores e Deputados: previamente fixados em resolução do Poder Legis-
I - examinar e emitir parecer sobre os projetos refe- lativo para concessão de auxílios e subvenções.
ridos neste artigo e sobre as contas apresentadas
anualmente pelo Presidente da República; Findo o processo de discussão, os projetos são
II - examinar e emitir parecer sobre os planos e pro- apreciados pelo Plenário do Congresso Nacional. Caso
gramas nacionais, regionais e setoriais previstos alcance o quórum de maioria simples em cada uma
nesta Constituição e exercer o acompanhamento e das casas do Poder Legislativo (Câmara dos Deputa-
a fiscalização orçamentária, sem prejuízo da atua- dos e Senado Federal), são encaminhados ao Presiden-
ção das demais comissões do Congresso Nacional te da República para sanção ou veto.
e de suas Casas, criadas de acordo com o art. 58.
Execução Orçamentária
Outro processo importante nesta etapa de aprova-
ção e discussão do orçamento (e que rende muitas ne- Orçamento aprovado, passa-se para a etapa de
gociações) envolve a apresentação de emendas. execução. De pronto, destacamos o art. 8º, da Lei de
As emendas são utilizadas para modificar os itens Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar nº 101, de
dos projetos de lei, para que necessidades ou compro- 2000):
missos políticos sejam atendidos. Em outras palavras,
neste processo os parlamentares brigam para alocar Art. 8º Até trinta dias após a publicação dos orça-
os recursos aos projetos de seus interesses. Há, con- mentos, nos termos em que dispuser a lei de diretri-
tudo, regras para a aprovação de tais emendas. Essas zes orçamentárias e observado o disposto na alínea
regras estão dispostas no § 3º, art. 166: c do inciso I do art. 4°, o Poder Executivo estabe-
lecerá a programação financeira e o cronogra-
Art. 166 [...] ma de execução mensal de desembolso.
§ 3º As emendas ao projeto de lei do orçamento
anual ou aos projetos que o modifiquem somente Caberá ao Poder Executivo publicar a programa-
podem ser aprovadas caso:
ção financeira e o cronograma de desembolso dos
I - sejam compatíveis com o plano plurianual e com
recursos em até 30 dias após a aprovação da LOA.
a lei de diretrizes orçamentárias;
Além disso, a LRF é cuidadosa em estabelecer meca-
II - indiquem os recursos necessários, admitidos

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


apenas os provenientes de anulação de despesa, nismo de cumprimento da execução orçamentária,
excluídas as que incidam sobre: como a necessidade de apresentação das metas de
a) dotações para pessoal e seus encargos; arrecadação dos recursos orçamentários. Veja o que
b) serviço da dívida; diz o art. 13, da LRF:
c) transferências tributárias constitucionais para
Estados, Municípios e Distrito Federal; ou Art. 13 No prazo previsto no art. 8°, as receitas
III - sejam relacionadas: previstas serão desdobradas, pelo Poder Executivo,
a) com a correção de erros ou omissões; ou em metas bimestrais de arrecadação, com a especi-
b) com os dispositivos do texto do projeto de lei. ficação, em separado, quando cabível, das medidas
§ 4º As emendas ao projeto de lei de diretrizes de combate à evasão e à sonegação, da quantida-
orçamentárias não poderão ser aprovadas quando de e valores de ações ajuizadas para cobrança da
incompatíveis com o plano plurianual. dívida ativa, bem como da evolução do montan-
te dos créditos tributários passíveis de cobrança
Em resumo: as emendas só poderão ser aprovadas administrativa.
se compatíveis com o PPA e LDO, se os recursos des-
tinados às emendas forem devidamente indicados e Acompanhamento da Execução Orçamentária
forem oriundos da anulação de despesas, desde que a
anulação não tenha sido sobre despesas com pessoal Por fim, os processos de avaliação e controle têm
e encargos, dívida e transferências tributárias. como finalidade acompanhar o cumprimento das metas
Outra hipótese é a aprovação de emendas no caso de e objetivos estabelecidos nas peças orçamentárias.
erros, omissões das peças orçamentárias. Nesse sentido, a Administração Pública deverá
O Presidente da República poderá também propor implementar as medidas de controle e as estruturas
modificações nos projetos de lei por meio das men- de controle interno necessárias para a avaliação da
sagens. As mensagens poderão ser submetidas ao legalidade dos atos, correta aplicação dos recursos
Congresso Nacional antes do início da votação na orçamentários e cumprimento do programa de tra-
comissão mista, da parte cuja alteração é proposta. balho. O tema de avaliação e controle orçamentário 439
é denso, cabendo seções exclusivas para tratar de seu conteúdo, abrangência, aspectos constitucionais, entre
outros. Para fins de compreensão do ciclo orçamentário, destaca-se a importância de compreender a avaliação e
controle como fornecedora de informações para “retroalimentar” o ciclo orçamentário.

PROGRAMAÇÃO E EXECUÇÃO ORÇAMENTÁRIA E FINANCEIRA

Abrimos este tópico específico para tratar de aspectos pormenorizados da programação e execução orçamen-
tária e financeira.
Alguns assuntos relacionados a este tópico merecem destaque, pois são recorrentes nos exames. Trataremos
da descentralização orçamentária e financeira e o acompanhamento da execução.

Descentralização de Créditos

Descentralização de crédito (ou orçamentária) diz respeito à transferência de uma unidade orçamentária (UO)
a outra unidade orçamentária, a possibilidade utilização de créditos orçamentários ou créditos adicionais que
lhes sejam atribuídos. Trata-se das movimentações de créditos entre entidades. Há a liberação da dotação. A
descentralização orçamentária é regulamentada pelo Decreto nº 825, de 1993. Diz o art. 2º, do referido decreto:

Art. 2° A execução orçamentária poderá processar-se mediante a descentralização de créditos entre unidades gesto-
ras de um mesmo órgão/ministério ou entidade integrantes dos orçamentos fiscal e da seguridade social, designan-
do-se este procedimento de descentralização interna.
Parágrafo único. A descentralização entre unidades gestoras de órgão/ministério ou entidade de estruturas diferen-
tes, designar-se-á descentralização externa.

Ou seja, a execução orçamentária (já vista anteriormente) poderá ser processada pela descentralização de
crédito entre unidades gestoras de um mesmo órgão. O conceito mais importante para memorizarmos (e mais
frequente nas provas), trata das diferentes classificações de descentralizações orçamentárias. A descentralização
orçamentária poderá ser interna (chamada de provisão) ou externa (denominada destaque). Veja a seguir:

Provisão (Interna):

z Entre unidades gestoras de um mesmo órgão. Exemplos:

„ transferência de créditos entre unidades de saúde subordinadas ao Ministério da Saúde.

Destaque (Externa):

z Unidades gestoras de órgãos ou estruturas diferentes. Exemplo:

„ transferência de crédito entre o Ministério da Saúde e o Ministério da Defesa.

As transferências são processadas por meio da Notas de Movimentação de Crédito, sendo obrigatória a aplicação
do crédito no cumprimento do objetivo previsto pelo programa de trabalho, devendo ser mantida a classificação
funcional e estrutura programática.

Descentralização Financeira

Trata-se de conceito distinto da descentralização orçamentária apresentada anteriormente. Na descentrali-


zação financeira temos o processo de “liberação” dos recursos do Tesouro às Unidades Gestoras (UGs). A STN –
Secretaria do Tesouro Nacional é a responsável por administrar a Conta Única do Tesouro Nacional e elaborar a
programação financeira dos órgãos. Há a liberação da cota.
O processo é bem simples e intuitivo. Os créditos são solicitados pelas UGs aos órgãos setoriais, que servem como
intermediadoras do processo, pois enviam essas solicitações ao STN. Após aprovação da solicitação pelo STN, são
os órgãos setoriais que procedem com a liberação dos recursos aprovados pelo STN às UG’s. Mas como ocorrem as
liberações de recursos? O art. 19, do já citado Decreto nº 825, de 1993, determina o seguinte:

Art. 19 A liberação de recursos se dará por meio de:


I - liberação de cotas do órgão central para o setorial de programação financeira;
II - repasse:
a) do órgão setorial de programação financeira para entidades da Administração indireta, e entre estas;
b) da entidade da Administração indireta para órgão da Administração direta, ou entre estes, se de outro órgão ou
Ministério;
III - sub-repasse dos órgãos setoriais de programação financeira para as unidades gestoras de sua jurisdição e entre
as unidades gestoras de um mesmo ministério, órgão ou entidade.

Muito bem. Temos aqui dois conceitos importantes que costumam aparecer nas provas: o repasse e o sub-re-
passe. Sub-repasse é a movimentação interna (entre os órgãos setoriais e as unidades de gestão a ela vinculadas).
Já o repasse é a movimentação externa de recursos (entre órgãos setoriais e outras unidades gestoras da adminis-
tração). As transferências são processadas por meio da Nota de Programação Financeira.
440
Para consolidarmos este assunto, veja e memori- São cinco os objetivos principais do SIAF:
ze o esquema abaixo. Ele irá ajudá-los a diferenciar
a descentralização orçamentária da financeira e asso- z proporcionar à Administração Pública um contro-
ciará os principais termos que abordamos até aqui: le diário da execução orçamentária;
z agilizar a programação financeira através do con-
trole unificado dos recursos de caixa;
z suportar a Contabilidade aplicada à Administra-
ção Pública no sentido de agilizar a coleta rápida
e segura de informações em todos os níveis da ges-
tão pública;
z integrar e compatibilizar informações;
z suportar a transparência dos gastos públicos.

A Instrução Normativa STN nº 03/2001 inclui, ain-


da, mas três objetivos:

z permitir o acompanhamento orçamentário em


nível analítico;
z permitir o registro contábil dos balancetes dos
Estados, Municípios e de suas supervisionadas;
z suportar o controle da dívida interna e externa e
das transferências negociadas.

SIAF — SISTEMA INTEGRADO DE


Importante!
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DO GOVERNO “Permitir o registro contábil dos balancetes dos
FEDERAL Estados, Municípios e de suas supervisionadas”.
Este objetivo do SIAF costuma ser muito cobra-
O Sistema Integrado de Administração Financeira do em provas!
do Governo Federal (SIAF) é o documento que sinte-
tiza as normas e procedimentos operacionais, sendo
referência para outros países no mundo. Trata-se Veja que os cinco objetivos do SIAF são muito
de um dos mais famosos sistemas de administração aderentes com as suas caraterísticas, sustentado na
pública e é responsável por processar toda a execução padronização de procedimentos, métodos e rotinas
orçamentária, financeira e contábil dos órgãos e enti- de trabalho, bem como a unificação de recursos finan-
ceiros da administração. A padronização de procedi-
dades da Administração Pública Federal.
mentos, métodos e rotinas de trabalho permite que
A Secretaria do Tesouro Nacional (STN) conceitua
em qualquer órgão da administração pública (fede-
o SIAF da seguinte forma:
ral) e em qualquer território, seja possível replicar
uma rotina de trabalho simples, como o pagamento
Modalidade de acompanhamento das atividades
de contas. A unificação de recursos financeiros está
relacionadas com a Administração financeira dos
relacionada à centralização de todos os recursos do

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


recursos da União, que centralizar ou uniformi-
Governo na Conta Única do Tesouro Nacional, facili-
za o processamento da execução orçamentária,
tando a gestão do caixa.
recorrendo a técnicas de elaboração eletrônica
Em suma, as principais atribuições do SIAF são: a
de dados, com o envolvimento das unidades exe-
execução orçamentária e a execução financeira, ela-
cutoras e setoriais, sob a supervisão do Tesouro
boração das demonstrações contábeis e elaboração do
Nacional e resultando na integração dos procedi-
balanço geral da União (BGU).
mentos concernentes, essencialmente, à programa-
Referente a sua estrutura, está organizado em um
ção financeira, à contabilidade e à Administração
Sistema, que por sua vez está organizado em subsiste-
orçamentária.
mas (atualmente, 21), que se desdobram em módulos.
Os Sistemas são estruturados por exercícios finan-
O SIAF foi desenvolvido em 1986, mas efetivamen-
ceiros, sendo que cada ano equivale a um sistema
te implantado em 1987 e desde então tem sido melho- diferente.
rado para que possa refletir a realidade econômica do Atualmente, o Tesouro Nacional classifica didati-
país. camente os 21 subsistemas do SIAF em cinco grupos:
Estão sujeitos à aplicação do SIAF:
� Controle de Haveres e Obrigações:
z todos os órgãos da administração direta de todos
os Poderes; „ Dívida Pública: DIVIDA
z entidades da administração indireta integrantes „ Haveres: HAVERES
do orçamento fiscal e da seguridade social (dessa „ Controle de Obrigações: OBRIGAÇÃO
forma, empresas públicas que não utilizam recur- „ Operações Oficiais de Crédito: O2C
sos do orçamento fiscal estariam desobrigadas a
utilizar o SIAF). z Administração do Sistema:

„ Administração do Sistema: ADMINISTRA 441


„ Auditoria: AUDITORIA BRASIL. Manual de receita nacional: aplicado à
„ Centro de Informação: CI União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Bra-
„ Conformidade: CONFORM sília: Secretaria do Tesouro Nacional, 2008.
„ Manual: MANUALMF _______. Constituição da República Federativa do
Brasil de 1988. Disponível em: http://www.planal-
z Execução Orçamentária e Financeira: to.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompi-
lado.htm. Acesso em: 12 set. 2020.
„ Contábil: CONTABIL ________. Lei complementar nº 101, de 4 de maio
„ Documentos do SIAF: DOCUMENTO de 2000. Disponível em: http://www.planalto.gov.
„ Orçamentário e Financeiro: ORCFIN br/ccivil_03/leis/lcp/lcp101.htm. Acesso em: 12 set.
2020.
z Organização de Tabelas: ________. Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964. Dis-
ponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
„ Tabelas administrativas: TABADM leis/l4320.htm. Acesso em: 12 set. 2020.
„ Tabelas de apoio: TABAPOIO GIACOMONI, J. Orçamento Público. 15ª edição.
„ Tabelas do cadastro de obrigações: TABOBRIG São Paulo: Atlas, 2010.
„ Tabelas orçamentárias: TABORC PALUDO, A. V. Orçamento público, administra-
„ Tabelas de receitas orçamentárias: TABRECEITA ção financeira e orçamentária e LRF. 10ª ed. Sal-
vador: JusPodivm, 2020.
z Recursos Complementares com Aplicação Espe-
cífica: A RELAÇÃO DO ORÇAMENTO COM AS POLÍTICAS
FISCAL, TRIBUTÁRIA E CAMBIAL
„ Programação orçamentária: PROGORCAM
„ Convênios: CONVENIOS A política fiscal é o planejamento orçamentário do
„ Contas a pagar e a receber: CPR Estado no exercício financeiro. O orçamento é a pre-
„ Estados e Municípios: ESTMUN visão de receita e a fixação de despesa no período que
compreende. Quando se obtém mais receitas do que
Por fim, no que tange às formas de acesso ao SIAF, despesas, há um resultado superavitário. Do contrá-
os usuários deverão estar devidamente cadastrados e rio, havendo mais despesas do que receitas, estamos
habilitados no sistema e de posse de senha pessoal. diante de déficit fiscal.
Atualmente são cinco formas de acesso ao sistema dis- A política tributária é o que estabelece uma das
ponibilizadas aos usuários: intranet, VPN, extranet, maiores fontes de receita do Estado, por meio da qual
acesso seguro pela internet, acesso discado. a criação de isenções, anistias e remissões poderá
acarretar alteração na receita tributária, bem como o
SIDOR — SISTEMA INTEGRADO DE DADOS aumento de alíquotas, da base de cálculo ou a criação
ORÇAMENTÁRIOS de tributo novo levará a um aumento na arrecadação.
A política cambial atua na administração das ope-
O Sistema Integrado de Dados Orçamentários rações cambiais e da taxa de câmbio, determinante
(Sidor) é um conjunto de procedimentos integrados para a troca comercial entre agentes de países dife-
que tem como objetivo gerenciar o processamento rentes. Entrando moeda estrangeira na economia
orçamentário. Está sob supervisão da Secretaria de nacional, a tendência é a valorização da moeda nacio-
Orçamento Federal — SOF. nal; do contrário, saindo moeda estrangeira, ela fica
O Sidor é responsável pela elaboração da proposta mais valorizada frente à moeda nacional, tudo decor-
rente da oferta e demanda.
orçamentária no âmbito da União, sendo o PLOA —
A moeda nacional muito valorizada pode não ser
Projeto de Lei Orçamentária o seu produto final. Veja
muito bom para empresas nacionais que trabalham
então que se a execução orçamentária é realizada no
com exportação, uma vez que o produto nacional
SIAF, a elaboração do orçamento e modificações pos-
chega no mercado externo com preço muito alto.
teriores ficam a cargo do Sidor.
Por outro lado, o câmbio desvalorizado aumenta as
O Sidor, assim como o SIAF, possui alguns subsis-
exportações, tendo em vista que o produto nacional
temas como por exemplo o Cadastro de pro/gramas
possuirá preço mais em conta e mais competitivo no
e ações, Prioridades e metas anuais, Legislação orça-
mercado internacional.
mentária, Alinhamento da série histórica, Definição
dos limites, Elaboração da proposta setorial, Análise
da proposta setorial, Simulador de fontes, Compatibi-
lização da proposta orçamentária, Formalização do
projeto de lei orçamentária, Receita, Pessoal, Dívida, ORÇAMENTO NA CONSTITUIÇÃO DE
Precatórios, Pleitos e Recursos humanos. 1988
Por fim, mencionamos o Siop — Sistema Integra-
do de Planejamento e Orçamento, com o objetivo de NOÇÕES GERAIS DE ORÇAMENTO NA
integrar os atuais sistemas utilizados na elaboração, CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA
execução e acompanhamento orçamentário.
A Constituição Federal fixou uma organização
REFERÊNCIAS geral para o processo orçamentário baseada em uma
hierarquia de três leis ordinárias: a Lei do Plano Plu-
BALEEIRO, A. Uma introdução à ciência das rianual (PPA), a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO)
442 finanças. 17. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2010 e a Lei Orçamentária Anual (LOA).
Seguem os incisos, do art. 165, da Constituição O § 1º, art. 165, da Constituição Federal, de 1988,
Federal, no sentido do que se expôs: estabelece o conceito de Plano Plurianual. Sua dura-
ção é de quatro anos, porém não coincide com os
Art. 165 Leis de iniciativa do Poder Executivo quatro anos de mandato. Assim, o primeiro ano de
estabelecerão: mandato será o último do PPA. Por exemplo, o gover-
I - o plano plurianual; nante federal eleito em 2022 toma possa e tem o pri-
II - as diretrizes orçamentárias; meiro ano de mandato em 2023, porém ainda está
III - os orçamentos anuais. atrelado ao PPA 2020/2023, e assim será com todos os
[…] mandatários eleitos.
O Manual Técnico de Orçamento considera o PPA
Conforme destacado, o art. 165, da Constituição como planejamento de médio prazo, tendo em vista
Federal, estabelece o modelo orçamentário brasileiro, sua vigência por quatro anos.
composto de três instrumentos: o Plano Plurianual, a É importante considerar que se trata de uma lei
Lei de Diretrizes Orçamentárias e a Lei Orçamentária ordinária, conforme se depreende do início do pará-
Anual. grafo. Quando a Constituição pretende que determina-
O PPA tem vigência de quatro anos, estabelecen- do assunto seja regulado mediante lei complementar,
do as diretrizes, objetivos e metas para esse respec- ela fará menção expressa nesse sentido. Por outro
tivo período. A LDO é anual e anuncia as metas para lado, expressando apenas a palavra “lei”, de maneira
o exercício financeiro que regula. Por sua vez, a LOA residual, será tema tratado mediante lei ordinária.
estima as receitas e fixa as despesas que foram anun- A forma regionalizada pode significar as regiões
ciadas pela LDO. do Brasil, mas nem sempre isso irá ocorrer. Na ver-
A LDO é o instrumento que identifica no PPA as dade, dependerá de qual política pública será tratada
ações prioritárias para o exercício financeiro; e a LOA, e da sua realidade no âmbito nacional. Por exemplo,
por sua vez, é o instrumento que viabiliza a execução poderá tratar de educação, levando-se em conside-
do plano de trabalho do exercício a que se refere. ração todos os estados do Nordeste mais o estado do
A título de exemplo, podemos citar que um deter- Pará, que fica na Região Norte; ou todos os estados do
minado PPA tenha como meta a construção de 40 Sudeste mais os estados do Paraná e da Bahia.
escolas dentro do período de sua vigência, que é de As diretrizes dizem respeito à política pública
quatro anos. No primeiro ano, a LDO respectiva pode- anunciada; os objetivos são o que se pretende alcançar
rá estabelecer que a prioridade será a construção de com essa determinada política; as metas são os meios
10 escolas. Daí, a LOA respectiva fixará o valor refe- necessários para que sejam alcançados tais objetivos.
rente às despesas para a construção de cada uma Por exemplo, a diretriz da saúde pode estabelecer
delas especificamente. que o objetivo para a Região Norte é a redução da mor-
Seguindo o exemplo, no ano seguinte a próxima talidade infantil em 50% para os próximos quatro anos.
LDO poderá estabelecer que a preferência será a cons- Assim, a meta pode ser a construção de 50 embarca-
trução de 15 escolas. Assim, a próxima LOA fixará as ções para atendimento da maternidade, alcançando a
despesas respectivas. população ribeirinha, típica nessa região.
Ao final dos quatro anos de vigência do PPA, todas As despesas de capital são aquelas efetuadas de
as escolas deverão estar construídas. maneira pontual, que contribuem para a formação
Outro ponto importante é que o Brasil é uma fede- ou aquisição de um bem de capital. Por outro lado,
ração. Portanto, cada ente federativo possui autono- as despesas correntes não contribuem para aquisição
mia orçamentária e financeira. Desse modo, a União de bem de capital, sendo aquelas realizadas para o

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


Federal possuirá os seus instrumentos de planejamen- gasto de manutenção e funcionamento dos serviços
to e orçamento próprios, ou seja, o seu PPA, a sua LDO públicos em geral. Por exemplo, o gasto efetuado para
e a sua LOA. Por sua vez, cada um dos 26 estados da a construção de um prédio é despesa de capital; já o
Federação também possuirá seus próprios instrumen- gasto utilizado para pagar servidores ou a energia elé-
tos, isto é, PPA, LDO e LOA. Para os municípios e para trica do prédio são despesas correntes.
o Distrito Federal, a mesma coisa. Diante disso, é importante saber que o PPA esta-
belece, para o seu tempo de vigência (quatro anos), as
PLANO PLURIANUAL (PPA) despesas de capital e outras delas decorrentes. Portan-
to, todas as despesas de capital efetuadas durante esse
O PPA é o instrumento mais abrangente de todos período deverão estar, obrigatoriamente, previstas no
eles, com duração de quatro anos. Sua função prin- PPA. Não obstante, também terá de prever as demais
cipal é fixar diretrizes, objetivos e metas para as des- despesas que deverão decorrer, tais como a aquisição
pesas de capital (ou seja, os investimentos públicos) e de móveis para guarnecer o prédio construído e o cus-
para as despesas de duração continuada (aquelas que to de serviços prestados, como energia elétrica e rede
perduram por dois exercícios financeiros ou mais). de internet.
O conceito do PPA é fornecido pelo § 1º, art. 165, da Além disso, determina o § 4º, do art. 165, do Tex-
Constituição Federal: to Constitucional, que os planos de desenvolvimen-
to deverão ser elaborados de acordo com a previsão
Art. 165 […] do PPA. Por exemplo, o Plano Nacional de Educação
§ 1º A lei que instituir o plano plurianual estabele- deverá estar em consonância com o PPA vigente.
cerá, de forma regionalizada, as diretrizes, objeti-
vos e metas da administração pública federal para Art. 165 […]
as despesas de capital e outras delas decorrentes § 4º Os planos e programas nacionais, regionais
e para as relativas aos programas de duração e setoriais previstos nesta Constituição serão ela-
continuada. borados em consonância com o plano plurianual e
[…] apreciados pelo Congresso Nacional. 443
Os programas de duração continuada deverão Assim, por exemplo, no ano de 2022 aprovou-se a
constar no PPA, sendo previstos no art. 17, da Lei Com- LDO que estabelece as diretrizes para a elaboração do
plementar nº 101, de 2000 (Lei de Responsabilidade orçamento de 2023. Nesse sentido, o § 2º, do art. 165,
Fiscal): da Constituição Federal, dá o conceito de LDO:

Art. 17 Considera-se obrigatória de caráter conti- Art. 165 […]


nuado a despesa corrente derivada de lei, medida § 2º A lei de diretrizes orçamentárias compreende-
provisória ou ato administrativo normativo que rá as metas e prioridades da administração pública
fixem para o ente a obrigação legal de sua execução federal, estabelecerá as diretrizes de política fiscal
por um período superior a dois exercícios. e respectivas metas, em consonância com trajetória
sustentável da dívida pública, orientará a elabora-
Todo investimento que dure mais do que um exer- ção da lei orçamentária anual, disporá sobre as
cício financeiro deverá constar no PPA, conforme alterações na legislação tributária e estabelecerá a
previsão expressa no § 1º, art. 167, da Constituição política de aplicação das agências financeiras ofi-
Federal, e no § 5º, art. 5º, da Lei de Responsabilidade ciais de fomento.
[…]
Fiscal (Lei Complementar nº 101, de 2000).

Art. 167 […] Esse outro instrumento de planejamento e orça-


§ 1º Nenhum investimento cuja execução ultra- mento também é uma lei ordinária, uma vez que o
passe um exercício financeiro poderá ser iniciado início do parágrafo anuncia a palavra “lei”.
sem prévia inclusão no plano plurianual, ou sem Anunciará as ações prioritárias, previstas no PPA,
lei que autorize a inclusão, sob pena de crime de para esse respectivo exercício financeiro. Assim,
responsabilidade. durante os quatro anos de vigência do PPA, existirão
quatro LDOs, mas criadas uma de cada vez, a cada
Art. 5º (Lei Complementar nº 101, de 2000) […] exercício financeiro.
§ 5º A lei orçamentária não consignará dota- A expressão “estabelecerá as diretrizes de política
ção para investimento com duração superior a fiscal e respectivas metas, em consonância com traje-
um exercício financeiro que não esteja previsto tória sustentável da dívida pública” foi acrescentada
no plano plurianual ou em lei que autorize a sua através da Emenda Constitucional nº 109, de 2001, e
inclusão, conforme disposto no § 1º do art. 167 da significa que as metas estabelecidas deverão obedecer
Constituição. ao controle da dívida pública.
Orientar a elaboração da lei orçamentária signi-
Serão, portanto, as despesas correntes criadas por fica tanto anunciar as despesas que poderão estar
força de lei, de medida provisória ou de ato normati- previstas na LOA quanto estabelecer critérios para o
vo, que serão de caráter obrigatório para o ente fede- controle dos gastos públicos, segundo determina a Lei
rativo, por mais do que um exercício financeiro. Por de Responsabilidade Fiscal.
exemplo, o gasto com energia elétrica no imóvel é de Além disso, a LDO disporá acerca das alterações
caráter contratual, portanto não entra nesse conceito; na legislação tributária que ocorreram no exercício
mas os custos com programas sociais são criados por financeiro que a antecedeu. Esse ponto tem por fina-
lei e obrigam o pagamento por mais do que dois anos. lidade orientar o cálculo para estimar a receita tribu-
tária, tendo em vista ser uma das principais fontes de
Dica arrecadação do Estado. Assim, por exemplo, havendo
alteração na alíquota ou na base de cálculo de um
O exercício financeiro corresponde ao ano civil, determinado imposto, a criação de isenções, entre
ou seja, de 1º de janeiro até 31 de dezembro. outras alterações, tudo será informado na LDO a fim
de que se chegue o mais próximo possível do cálculo
Torna-se importante deixar claro que o PPA não é estimado da receita tributária.
um documento estático, que não possa ser alterado. Atenção! A LDO não altera a legislação tributária,
Em verdade, trata-se de uma lei que pode ser alterada apenas informa sobre as alterações que ocorreram
dentro do procedimento legislativo previsto na Cons- no período. Assim, a legislação tributária já sofreu as
tituição Federal. alterações; a LDO apenas esclarece quais foram.
Desse modo, se o estado pretender realizar uma A LDO também estabelecerá a política de aplicação
despesa de capital que não está prevista no PPA, então das agências financeiras oficiais de fomento. Agência
esse documento deverá ser reformado para que seja financeira é instituição bancária. “Fomentar” significa
acrescentada aquela despesa. Somente após incluída “incentivar”. Desse modo, as instituições financeiras
no PPA é que a referida despesa de capital poderá ser oficiais que promovem incentivo por meio de finan-
realizada. ciamento terão suas políticas estabelecidas pela LDO.
Por exemplo, a LDO organiza o saldo ao final do ano
LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS: anterior e o saldo atual disponível para concessões de
CARACTERIZAÇÃO, CONTEÚDO E PRAZOS empréstimos etc.
A Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complemen-
A LDO, por sua vez, tem validade de um ano e é tar nº 101, de 2000) estabelece que o anexo de metas
subordinada ao PPA, não podendo conter dispositivos fiscais deverá estar integrado à LDO, nele contendo
estranhos a este. Nesse sentido, havendo conflito entre o que se estabelece. Vejamos o disposto no art. 4º da
as duas leis, prevalece o que estiver disposto no PPA. referida lei:
A função primordial da LDO é fixar os parâmetros
gerais para orientação do orçamento do ano seguinte, Art. 4º A lei de diretrizes orçamentárias atenderá o
444 estabelecendo suas metas e prioridades. disposto no § 2º do art. 165 da Constituição e:
§ 1º Integrará o projeto de lei de diretrizes orça- Além disso, também menciona os fundos, sendo
mentárias Anexo de Metas Fiscais, em que serão estes considerados reserva de numerário, criados por
estabelecidas metas anuais, em valores correntes lei, com despesa destinada a uma finalidade específica
e constantes, relativas a receitas, despesas, resul- — por exemplo, fundo de combate à pobreza ou fundo
tados nominal e primário e montante da dívida de desenvolvimento do Nordeste.
pública, para o exercício a que se referirem e para O orçamento de investimento das empresas esta-
os dois seguintes. belece as receitas e despesas das empresas públicas e
das sociedades de economia mista independentes, isto
LEI ORÇAMENTÁRIA ANUAL: CARACTERIZAÇÃO, é, as estatais que não dependem do repasse de verba
CONTEÚDO, PRAZOS, CLASSIFICAÇÕES pública para custear suas despesas.

A LOA é o orçamento propriamente dito. É atra-


vés desse documento legal que haverá a estimativa de
Importante!
receita e a fixação da despesa para um determinado Desse modo, se a estatal possuir receita suficien-
exercício financeiro. te para cobrir seus custos, será considerada como
Trata-se de uma lei ordinária que autoriza os independente, sendo organizada no orçamento
Poderes a realizarem as despesas nele previstas. Neste de investimento das empresas. Por outro lado, se
ponto, é importante mencionar que o orçamento tem a estatal não possuir receita suficiente para cobrir
caráter autorizativo, ou seja, ele permite que a des- suas despesas, então dependerá do repasse de
pesa seja executada dentro do limite previsto. Porém, verba pública do Estado, sendo considerada esta-
pode ser que, no curso do exercício financeiro, moti- tal dependente e organizada no orçamento fiscal,
vos outros venham a levar o executor a não efetuar. por ser entidade da Administração indireta.
Por exemplo, o orçamento pode prever despesa
com a reforma de uma praça, porém não obriga o
executor a reformá-la, apenas autoriza. Entretanto, Por sua vez, o orçamento da seguridade social
algumas despesas são impositivas, isto é, a Consti- abrange as receitas e despesas dos órgãos e entida-
tuição Federal impõe que determinada despesa seja des da Administração direta e indireta quando estes
forem ligados à previdência, assistência ou saúde. Por
obrigatoriamente executada, tais como saúde e edu-
exemplo, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS)
cação, de acordo com os termos dispostos no Texto
é autarquia federal, mas, como sua função é lidar com
Constitucional.
previdência social, então a organização de suas recei-
A receita é estimada, pois não há como chegar ao
tas e despesas estará inserida no orçamento da segu-
seu cálculo exato, porém cabendo chegar ao valor ridade social, e não no orçamento fiscal.
mais próximo possível. Exemplo disso é uma multa Além disso, o § 6º do mesmo dispositivo constitu-
que um estabelecimento comercial seja obrigado a cional estabelece que a LOA deverá estar acompanha-
pagar ao Estado, não havendo, no entanto, como pre- da de demonstrativos das renúncias de receitas:
ver, quando o orçamento foi criado, que tal estabeleci-
mento iria praticar ilícito administrativo. Art. 165 […]
Por sua vez, a despesa é fixada, o que significa dizer § 6º O projeto de lei orçamentária será acompanha-
que sua execução deve ser até o valor exato estabe- do de demonstrativo regionalizado do efeito, sobre
as receitas e despesas, decorrente de isenções, anis-
lecido no orçamento. Se houver necessidade de mais
tias, remissões, subsídios e benefícios de natureza
verba, ela deverá ser autorizada por meio de créditos

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


financeira, tributária e creditícia.
adicionais, mediante regramento próprio previsto na
Lei nº 4.320, de 1964. A redução das desigualdades sociais é função dos
orçamentos fiscal e de investimento das empresas:
Art. 165 […]
§ 5º A lei orçamentária anual compreenderá: Art. 165 […]
I - o orçamento fiscal referente aos Poderes da § 7º Os orçamentos previstos no § 5º, I e II, deste
União, seus fundos, órgãos e entidades da adminis- artigo, compatibilizados com o plano plurianual,
terão entre suas funções a de reduzir desigualdades
tração direta e indireta, inclusive fundações insti-
inter-regionais, segundo critério populacional.
tuídas e mantidas pelo Poder Público;
II - o orçamento de investimento das empresas O § 3º determina a publicação da execução orça-
em que a União, direta ou indiretamente, detenha a mentária por parte do Poder Executivo, porém
maioria do capital social com direito a voto; referente a todos os demais Poderes, bem como ao
III - o orçamento da seguridade social, abran- ministério público e à defensoria pública.
gendo todas as entidades e órgãos a ela vinculados,
da administração direta ou indireta, bem como Art. 165 […]
os fundos e fundações instituídos e mantidos pelo § 3º O Poder Executivo publicará, até trinta dias
Poder Público. após o encerramento de cada bimestre, relatório
resumido da execução orçamentária.
A LOA é uma só, porém compreendida em três
O período compreendido do orçamento é de um exer-
partes bem definidas, seguindo a determinação do §
cício financeiro, cujo conceito é fornecido pelo art. 34, da
5º, art. 165, da Constituição Federal, de 1988. O orça-
Lei nº 4.320, de 1964, coincidindo com o ano civil, ou seja,
mento fiscal estabelece as receitas e despesas do Exe-
de 1º de janeiro até o último dia de dezembro. Vejamos:
cutivo, Legislativo e Judiciário, de todos os órgãos da
Administração direta e das entidades da Administra- Art. 34. O exercício financeiro coincidirá com o ano
ção indireta. civil. 445
PROCESSO DE CRIAÇÃO DO ORÇAMENTO

Trata-se do processo através do qual o orçamento será elaborado, votado, executado e avaliado, compondo as
quatro fases do que se denomina ciclo orçamentário.

Elaboração

Cabe ao chefe do Executivo enviar projeto de lei orçamentária ao Legislativo, conforme previsto no caput, do
art. 165, onde se lê que “Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão: o plano plurianual, as diretrizes orça-
mentárias e os orçamentos anuais”.
Existem prazos, constantes no § 2º, art. 35, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, para que esses res-
pectivos projetos sejam encaminhados ao Legislativo e, após, devolvidos ao Executivo para sanção:

Art. 35 O disposto no art. 165, § 7º, será cumprido de forma progressiva, no prazo de até dez anos, distribuindo-se
os recursos entre as regiões macroeconômicas em razão proporcional à população, a partir da situação verificada
no biênio 1986-87.
§ 2º […]
I - o projeto do plano plurianual, para vigência até o final do primeiro exercício financeiro do mandato presidencial
subsequente, será encaminhado até quatro meses antes do encerramento do primeiro exercício financeiro e devolvi-
do para sanção até o encerramento da sessão legislativa;
II - o projeto de lei de diretrizes orçamentárias será encaminhado até oito meses e meio antes do encerramento do
exercício financeiro e devolvido para sanção até o encerramento do primeiro período da sessão legislativa;
III - o projeto de lei orçamentária da União será encaminhado até quatro meses antes do encerramento do exercício
financeiro e devolvido para sanção até o encerramento da sessão legislativa.

Por sua vez, a sessão legislativa é prevista no art. 57, da Constituição Federal, de 2 de fevereiro até 22 de
dezembro. Portanto, temos que a sessão é dividida em dois períodos legislativos. O primeiro período é de 2 de
fevereiro até 17 de julho; já o segundo período vai de 1º de agosto até 22 de dezembro.

Art. 57 O Congresso Nacional reunir-se-á, anualmente, na Capital Federal, de 2 de fevereiro a 17 de julho e de 1º de


agosto a 22 de dezembro.

De uma forma mais organizada para compreender os prazos de envio e devolução dos instrumentos de plane-
jamento, segue o esquema abaixo:

PPA LDO LOA

� Envio: até oito meses e meio antes


� Envio: até quatro meses antes do � Envio: até quatro meses antes do
do encerramento do exercício finan-
encerramento do exercício financeiro encerramento do exercício financeiro
ceiro (15/4)
(31/8) (31/8)
� Devolução: até o encerramento do
� Devolução: até o encerramento da � Devolução: até o encerramento da
primeiro período da sessão legislati-
sessão legislativa (22/12) sessão legislativa (22/12)
va (17/7)

Atenção para os tópicos importantes listados a seguir.

z Art. 31, da Lei nº 4.320, de 1965: “Se não receber a proposta orçamentária no prazo fixado nas Constituições ou
nas Leis Orgânicas dos Municípios, o Poder Legislativo considerará como proposta a Lei de orçamento vigente”;
z Item 1, do art. 10, da Lei nº 1.079, de 1950: “São crimes de responsabilidade contra a lei orçamentária não apre-
sentar ao Congresso Nacional a proposta do orçamento da República”;
z Caso o orçamento do ano subsequente não seja aprovado no prazo legal, a programação orçamentária do
projeto de lei orçamentária pendente de aprovação poderá ser executada mensalmente até o limite de 1/12 do
total de cada dotação, até que seja promulgada a respectiva lei orçamentária.

Votação

A votação dos projetos no Congresso Nacional seguirá, inicialmente, uma comissão mista permanente, que
também é chamada Comissão Mista de Orçamento.
É mista porque se compõe de deputados e de senadores, não apenas de um deles.
Após a aprovação na comissão mista permanente, o projeto segue para votação em Plenário. Nesse ponto,
é importante frisar que o Congresso Nacional é composto por duas Casas legislativas (Câmara dos Deputados e
Senado Federal). No entanto, para votação do orçamento, o Congresso funcionará como se fosse apenas uma única
Casa, de maneira unicameral, unindo deputados e senadores num único Plenário, na forma do regimento comum,
conforme o art. 166, do Texto Constitucional.
Após a aprovação, o projeto segue para sanção do chefe do Executivo.

Art. 166 Os projetos de lei relativos ao plano plurianual, às diretrizes orçamentárias, ao orçamento anual e aos
446 créditos adicionais serão apreciados pelas duas Casas do Congresso Nacional, na forma do regimento comum.
Execução AMORTIZAÇÃO DE EMPRÉSTIMOS
TRANSFERÊNCIAS DE CAPITAL
É a utilização dos créditos consignados no orça-
OUTRAS RECEITAS DE CAPITAL
mento, visando à realização das ações atribuídas às
unidades orçamentárias. Compreende o exercício
financeiro, ou seja, de 1º de janeiro até 31 de dezembro. RECEITA CORRENTE

Avaliação Trata-se de receita que sempre ocorre — ou seja,


de maneira corrente. É subdividida em tributária
Compreende a avaliação do cumprimento das
metas previstas no PPA e da execução dos programas (impostos, taxas e contribuições de melhoria), de
de governo e do orçamento. contribuições, patrimonial, agropecuária, industrial,
O art. 70, da Constituição Federal, destaca as fisca-
lizações exercidas na avaliação dos instrumentos de de serviços, de transferências correntes, e em outras
planejamento: receitas correntes.

Art. 70 A fiscalização contábil, financeira, orça-


mentária, operacional e patrimonial da União e � Impostos
das entidades da administração direta e indireta, � Taxas de serviço e pelo
TRIBUTÁRIA
quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, poder de polícia
aplicação das subvenções e renúncia de receitas, Contribuições de melhoria
será exercida pelo Congresso Nacional, mediante
controle externo, e pelo sistema de controle interno � Contribuição de Iluminação
de cada Poder. Pública (COSIP)
� Contribuição social
CLASSIFICAÇÃO ORÇAMENTÁRIA DE RECEITA � Contribuições de
CONTRIBUIÇÕES
PÚBLICA POR CATEGORIA ECONÔMICA NO BRASIL intervenção no domínio
econômico
A receita pública é prevista no orçamento, classifi- � Contribuição de categorias
cada, segundo categorias econômicas de acordo com profissionais ou econômicas
o art. 11, da Lei nº 4.320, de 1964, em receitas corren-
� Decorre da exploração
tes e de capital, as quais também se subdividem em
do patrimônio público.
outras. Vejamos o dispositivo. PATRIMONIAL
Ex.: aluguéis recebidos,
concessões, dividendos etc.
Art. 11 A receita classificar-se-á nas seguintes cate-
gorias econômicas: Receitas Correntes e Recei- � Decorre da exploração
tas de Capital. econômica de atividade
§ 1º São Receitas Correntes as receitas tributária, AGROPECUÁRIA agropecuária. Ex.: venda
de contribuições, patrimonial, agropecuária, indus- de produtos agrícolas, de
trial, de serviços e outras e, ainda, as provenientes material genético etc.
de recursos financeiros recebidos de outras pessoas
de direito público ou privado, quando destinadas � Derivada da exploração
a atender despesas classificáveis em Despesas econômica de atividades

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


Correntes. INDUSTRIAL
industriais. Ex.: indústria de
§ 2º São Receitas de Capital as provenientes da transformação, de extração etc.
realização de recursos financeiros oriundos de
constituição de dívidas; da conversão, em espécie, � Decorre de atividades
de bens e direitos; os recursos recebidos de outras econômicas na prestação
pessoas de direito público ou privado, destinados do serviço por parte do
a atender despesas classificáveis em Despesas SERVIÇOS
ente público. Ex.: serviços
de Capital e, ainda, o superavit do Orçamento de transporte, hospitalares,
Corrente. recreativos etc.
[…]
§ 4º A classificação da receita obedecerá ao seguin- � Recursos financeiros
te esquema: oriundos de outra
RECEITAS CORRENTES pessoa jurídica, que não
RECEITA TRIBUTÁRIA correspondem a uma
Impostos. TRANSFERÊNCIAS
contraprestação por parte
Taxas. CORRENTES
do ente que a recebe.
Contribuições de Melhoria. Ex.: repartição da receita
RECEITA DE CONTRIBUIÇÕES tributária da União e do
RECEITA PATRIMONIAL
estado para o município
RECEITA AGROPECUÁRIA
RECEITA INDUSTRIAL � Demais receitas correntes
RECEITA DE SERVIÇOS que não podem estar
TRANSFERÊNCIAS CORRENTES OUTRAS RECEITAS
classificadas nas categorias
OUTRAS RECEITAS CORRENTES CORRENTES
anteriores. Ex.: multa de
RECEITAS DE CAPITAL trânsito, dívida ativa etc.
OPERAÇÕES DE CRÉDITO
ALIENAÇÃO DE BENS 447
RECEITA DE CAPITAL Esse artigo classifica os créditos adicionais em
suplementares, especiais e extraordinários.
São receitas pontuais, ou seja, não acontecem Os créditos suplementares apenas colocarão mais
sempre. São subdivididas em operações de crédi- verba nos créditos orçamentários já existentes. Por
to, alienação de bens, amortização de empréstimos, exemplo, na LOA já existe crédito orçamentário pre-
transferências de capital e outras receitas de capital. vendo despesa a ser efetuada em determinada obra.
Agora, imagine que ocorra uma situação inesperada
nessa obra, que irá depender de mais verba. Nesse
� Recursos oriundos da caso, caberá a criação de crédito suplementar por
constituição de dívida. Ex.: meio da injeção de mais recursos financeiros nesse
OPERAÇÕES DE
colocação de títulos públicos mesmo crédito que já existe.
CRÉDITO
no mercado, empréstimos em Já os especiais são créditos novos, não existentes
instituição financeira etc. na LOA. Por exemplo, um determinado material tor-
nou-se obrigatório nas escolas de ensino fundamental
� Venda de bens móveis
ALIENAÇÃO DE a partir de uma lei publicada em abril de determinado
e imóveis pertencentes ao
BENS patrimônio público, desde que exercício financeiro. Entretanto, não há previsão de
autorizados em lei crédito orçamentário na LOA respectiva para a aqui-
sição desse referido material, até porque, quando a
� Retorno dos recursos LOA foi criada, não existia o conhecimento desse fato.
AMORTIZAÇÃO DE
financeiros que foram Nesse caso, haverá a criação de um crédito especial
EMPRÉSTIMOS
emprestados destinando verba para a compra do material.
Por sua vez, os créditos extraordinários são aque-
� Recursos recebidos les destinados especificamente para as situações
de outra pessoa jurídica, descritas no inciso III, quais sejam, guerra, comoção
TRANSFERÊNCIAS destinados a efetuar despesas intestina ou calamidade pública. Assim, em concurso
DE CAPITAL de capital. Ex.: doação da
público, havendo a pergunta sobre qualquer um des-
União ao município para a
ses temas, tratar-se-á de créditos extraordinários.
aquisição de ambulâncias

� Receitas de capital que Dica


OUTRAS RECEITAS não podem ser classificadas
DE CAPITAL em outras categorias. Ex.: Comoção intestina é sinônimo de comoção
recebimento de indenizações interna, que pode consistir em passeatas, mani-
festações, quebradeira generalizada, ou qual-
quer outro ato dessa espécie.
TIPOS DE CRÉDITOS ORÇAMENTÁRIOS
Art. 42 Os créditos suplementares e especiais serão
Créditos orçamentários são caracterizados como o
autorizados por lei e abertos por decreto executivo.
montante da dotação orçamentária com destinação a [...]
uma finalidade de despesa, seja para um órgão, um Art. 44 Os créditos extraordinários serão abertos
programa ou um projeto, entre outros destinos. por decreto do Poder Executivo, que deles dará ime-
Esses créditos podem ser iniciais ou adicionais. diato conhecimento ao Poder Legislativo.
São iniciais os créditos orçamentários aprovados na
Lei Orçamentária Anual, e seu estudo é realizado Os créditos suplementares e os especiais serão
quando da análise do próprio orçamento público. Por criados através de leis. Uma vez criados, sempre que o
sua vez, os créditos adicionais são as autorizações de Executivo precisar fazer uso do recurso, momento em
despesas que não foram criadas na LOA, ou daquelas que serão “abertos”, será emitido um decreto, que tem
que, mesmo criadas, foram insuficientemente dotadas natureza de ato administrativo, informando a utiliza-
— aspectos estabelecidos entre os arts. 40 e 46, da Lei ção do recurso e de seu respectivo valor.
nº 4.320, de 1964. Já o crédito extraordinário não precisa de lei para
ser autorizado, e, por esse motivo, não é citado no art.
Art. 40 São créditos adicionais as autorizações de 42. Explica-se o fato em razão de o crédito extraordi-
despesas não computadas ou insuficientemente nário ter situações para sua criação extremamente
dotadas na Lei de Orçamento. urgentes (não irá esperar a complexa edição de uma
lei para ser criado). Desse modo, o crédito extraordi-
nário poderá ser aberto diretamente por decreto ou
Trata do conceito de crédito adicional, já comen-
por medida provisória emitida pelo chefe do Executi-
tado. Consiste, portanto, na alteração da LOA durante
vo, como previsto na alínea “d”, inciso I, § 1º, art. 62,
a sua execução sempre que houver a necessidade de
c/c § 3º, art. 167, todos da Constituição Federal.
novos gastos públicos.
Art. 43 A abertura dos créditos suplementares e
Art. 41 Os créditos adicionais classificam-se em: especiais depende da existência de recursos dispo-
I - suplementares, os destinados a reforço de dota- níveis para ocorrer à despesa e será precedida de
ção orçamentária; exposição justificativa.
II - especiais, os destinados a despesas para as § 1º Consideram-se recursos para o fim deste arti-
quais não haja dotação orçamentária específica; go, desde que não comprometidos:
III - extraordinários, os destinados a despesas I - o superavit financeiro apurado em balanço patri-
urgentes e imprevistas, em caso de guerra, como- monial do exercício anterior;
448 ção intestina ou calamidade pública. II - os provenientes de excesso de arrecadação;
III - os resultantes de anulação parcial ou total de INICIATIVA
dotações orçamentárias ou de créditos adicionais,
autorizados em Lei; Ao mencionar sobre a iniciativa do projeto de lei,
IV - o produto de operações de crédito autorizadas, pretendemos verificar qual agente político tem a com-
em forma que juridicamente possibilite ao Poder petência para enviar ao Poder Legislativo o projeto de
Executivo realizá-las. lei para que seja votado e aprovado.
§ 2º Entende-se por superavit financeiro a diferença Quanto aos instrumentos de planejamento, tal ini-
positiva entre o ativo financeiro e o passivo financei- ciativa cabe ao chefe do Executivo, conforme determi-
ro, conjugando-se, ainda, os saldos dos créditos adi- nado no art. 165, da Constituição Federal.
cionais transferidos e as operações de crédito a eles
vinculadas. Art. 165 Leis de iniciativa do Poder Executivo
§ 3º Entende-se por excesso de arrecadação, para estabelecerão:
os fins deste artigo, o saldo positivo das diferenças I - o plano plurianual;
acumuladas mês a mês, entre a arrecadação previs- II - as diretrizes orçamentárias;
ta e a realizada, considerando-se, ainda, a tendên- III - os orçamentos anuais.
cia do exercício.
§ 4º Para o fim de apurar os recursos utilizáveis, DISCUSSÃO, VOTAÇÃO E APROVAÇÃO
provenientes de excesso de arrecadação, deduzir-
-se-á a importância dos créditos extraordinários No Poder Legislativo federal existem duas Casas,
abertos no exercício. quais sejam: a Câmara dos Deputados e o Senado Fede-
ral. A rigor, um projeto de lei que é aprovado perante
A criação de créditos especiais e suplementares irá
uma dessas referidas Casas passará, em seguida, a ser
demandar a comprovação sobre de onde serão reti-
discutido na outra Casa.
rados os recursos disponíveis para custeá-los. Assim,
Entretanto, no tocante aos instrumentos de plane-
os incisos, do art. 43, informam as possíveis origens
jamento orçamentário, os projetos de plano pluria-
do dinheiro, sendo essas as únicas hipóteses possíveis. nual (PPA), Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e
Por sua vez, o crédito extraordinário não irá neces- Lei Orçamentária Anual (LOA) passam pela discussão
sitar da comprovação da origem dos seus recursos, e aprovação pelas duas Casas do Congresso Nacio-
não sendo relacionado no caput do citado artigo, ten- nal, ao mesmo tempo, trabalhando conjuntamente os
do em vista a urgência de sua criação. deputados federais e os senadores.
Assim determina o art. 166, da Constituição
Art. 45 Os créditos adicionais terão vigência ads-
Federal:
trita ao exercício financeiro em que forem abertos,
salvo expressa disposição legal em contrário, quan-
Art. 166 Os projetos de lei relativos ao plano plu-
to aos especiais e extraordinários.
rianual, às diretrizes orçamentárias, ao orçamento
Os créditos especiais somente poderão ser utili- anual e aos créditos adicionais serão apreciados
pelas duas Casas do Congresso Nacional, na forma
zados durante o exercício financeiro em que forem
do regimento comum.
criados. Se isso não ocorrer, o dinheiro continuará no
caixa, podendo ser utilizado em outra programação
PRAZOS DE ENVIO E DE DEVOLUÇÃO
no exercício seguinte.
Já os créditos suplementares e extraordinários até
A Constituição Federal determina os prazos para

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


poderão, excepcionalmente, ser utilizados no orça-
que o Executivo envie ao Legislativo cada instrumen-
mento seguinte, ultrapassando o exercício financeiro, to de planejamento. Além disso, também prevê o pra-
desde que previstos legalmente nesse sentido. zo para que o Legislativo devolva o projeto aprovado
Art. 46 O ato que abrir crédito adicional indicará a
ao Executivo, para que o presidente da República san-
importância, a espécie do mesmo e a classificação cione ou vete.
da despesa, até onde for possível. Esses prazos estão previstos § 2º, art. 35, do ADCT
(Atos das Disposições Constitucionais Transitórias), a
Todas as informações necessárias deverão constar seguir:
no crédito adicional criado, tais como o valor determi-
nado e a despesa em que ele será utilizado, obedecen- Art. 35 [...]
do-se ao princípio da especificação. § 2º [...]
I - o projeto do plano plurianual, para vigência
até o final do primeiro exercício financeiro do man-
dato presidencial subseqüente, será encaminhado
ELABORAÇÃO E APROVAÇÃO DAS até quatro meses antes do encerramento do primei-
ro exercício financeiro e devolvido para sanção até
LEIS DE MATÉRIA ORÇAMENTÁRIA: o encerramento da sessão legislativa;
PROPOSTA ORÇAMENTÁRIA E SUA II - o projeto de lei de diretrizes orçamentárias
será encaminhado até oito meses e meio antes do
INTEGRAÇÃO COM PPA E LDO encerramento do exercício financeiro e devolvido
para sanção até o encerramento do primeiro perío-
Vamos analisar como são criados os instrumen- do da sessão legislativa;
tos de planejamento orçamentário (plano plurianual, III - o projeto de lei orçamentária da União será
Lei de Diretrizes Orçamentárias e Lei Orçamentária encaminhado até quatro meses antes do encerra-
Anual). mento do exercício financeiro e devolvido para san-
ção até o encerramento da sessão legislativa. 449
z PPA: Além disso, é permanente porque, após a aprovação
dos projetos orçamentários, continuará existindo,
„ Envio: até quatro meses antes do encerramen- realizando o controle da execução orçamentária.
to do exercício financeiro (dia 31 de agosto); A previsão constitucional da Comissão Mista Per-
„ Devolução: até o encerramento da sessão legis- manente e suas atribuições constam no § 1º, art. 166,
lativa (dia 22 de dezembro). do Texto Constitucional, no seguinte teor:

z LDO: Art. 166 [...]


§ 1º Caberá a uma Comissão mista permanente de
„ Envio: até oito meses e meio antes do encerra- Senadores e Deputados:
mento do exercício financeiro (dia 15 de abril); I - examinar e emitir parecer sobre os projetos refe-
„ Devolução: até o encerramento do primeiro ridos neste artigo e sobre as contas apresentadas
período da sessão legislativa (dia 17 de julho). anualmente pelo Presidente da República;
II - examinar e emitir parecer sobre os planos e pro-
z LOA: gramas nacionais, regionais e setoriais previstos
nesta Constituição e exercer o acompanhamento e
a fiscalização orçamentária, sem prejuízo da atua-
„ Envio: até quatro meses antes do encerramen-
ção das demais comissões do Congresso Nacional
to do exercício financeiro (dia 31 de agosto);
e de suas Casas, criadas de acordo com o art. 58.
„ Devolução: até o encerramento da sessão legis-
lativa (dia 22 de dezembro).
Emendas ao Projeto de Lei Orçamentária
Atenção! Sessão legislativa é o período do ano em
Na CMP, os parlamentares poderão apresentar
que o Congresso Nacional exerce suas funções regu-
emendas ao projeto de lei do orçamento anual ou aos
lares. De acordo com o art. 57, da Constituição Fede-
projetos que o modifiquem. As emendas serão aprova-
ral: “O Congresso Nacional reunir-se-á, anualmente, na
das nas situações previstas nos §§ 3º e 4º, do art. 166:
Capital Federal, de 2 de fevereiro a 17 de julho e de 1º
de agosto a 22 de dezembro”. Além disso, percebe-se
Art. 166 [...]
que a sessão legislativa sofre uma interrupção entre
§ 3º As emendas ao projeto de lei do orçamento
os dias 17 de julho e 1º de agosto, sendo dividida em
anual ou aos projetos que o modifiquem somente
dois períodos legislativos. podem ser aprovadas caso:
I - sejam compatíveis com o plano plurianual e com
Lei nº 4.320, de 1964 a lei de diretrizes orçamentárias;
Art. 32 Se não receber a proposta orçamentária no II - indiquem os recursos necessários, admitidos
prazo fixado nas Constituições ou nas Leis Orgâni- apenas os provenientes de anulação de despesa,
cas dos Municípios, o Poder Legislativo considera- excluídas as que incidam sobre:
rá como proposta a Lei de Orçamento vigente. a) dotações para pessoal e seus encargos;
b) serviço da dívida;
Se o chefe do Executivo não enviar a proposta c) transferências tributárias constitucionais para
de lei orçamentária dentro do prazo determinado, o Estados, Municípios e Distrito Federal; ou
Legislativo irá considerar como proposta a lei orça- III - sejam relacionadas:
mentária vigente. a) com a correção de erros ou omissões; ou
Por exemplo, em 2024 o presidente da República b) com os dispositivos do texto do projeto de lei.
encaminhará ao Congresso Nacional a proposta de § 4º As emendas ao projeto de lei de diretrizes
lei orçamentária de 2025. Caso não o faça no prazo orçamentárias não poderão ser aprovadas quando
assinalado, o Congresso irá considerar como proposta incompatíveis com o plano plurianual.
de LOA de 2025 a LOA de 2024 — a vigente —, fazen-
do as adaptações que entender necessárias, no caso Trata-se de propostas dos parlamentares para rea-
concreto. lizarem alterações no projeto original do Executivo.
Além disso, se o presidente da República não Porém, eles somente poderão efetuar essas emendas se
enviar ao Congresso Nacional os projetos dentro dos referentes às despesas, nunca em relação às receitas.
prazos assinalados, cometerá crime de responsabili- Além disso, se o parlamentar pretender criar
dade, conforme determina o art. 10, da Lei nº 1.079, uma despesa nova, ele deverá indicar de onde virão
de 1950. os recursos para custeá-la. Nesse caso, somente será
permitido propor a anulação parcial ou total de outra
Art. 10 São crimes de responsabilidade contra a lei despesa, desde que esta não seja relacionada a paga-
orçamentária: mento de pessoal, a pagamento da dívida pública ou a
1) Não apresentar ao Congresso Nacional a propos- transferências tributárias constitucionais.
ta do orçamento da República [...]. É importante salientar que as emendas parlamenta-
res deverão ser compatíveis com o plano plurianual.
COMISSÃO MISTA PERMANENTE
Lei nº 4.320, de 1964
A Comissão Mista Permanente (CMP) ou Comis- Art. 33 Não se admitirão emendas ao projeto de Lei
são de Orçamento é órgão do Congresso Nacional que de Orçamento que visem a:
realizará o estudo sobre as propostas de orçamento e a) alterar a dotação solicitada para despesa de cus-
emitirá parecer antes de o projeto ser encaminhado teio, salvo quando provada, nesse ponto, a inexati-
ao Plenário do Congresso Nacional. dão da proposta;
É chamada de mista porque é composta por depu- b) conceder dotação para o início de obra cujo pro-
450 tados federais e senadores juntos em uma só comissão. jeto não esteja aprovado pelos órgãos competentes;
c) conceder dotação para instalação ou funcio- § 2º Para efeito do atendimento do § 1º, o ato será
namento de serviço que não esteja anteriormente acompanhado de comprovação de que a despe-
criado; sa criada ou aumentada não afetará as metas de
d) conceder dotação superior aos quantitativos resultados fiscais previstas no anexo referido no §
prèviamente fixados em resolução do Poder Legis- 1º do art. 4º, devendo seus efeitos financeiros, nos
lativo para concessão de auxílios e subvenções. períodos seguintes, ser compensados pelo aumento
permanente de receita ou pela redução permanente
A Lei Geral de Orçamento (Lei nº 4.320, de 1964) de despesa.
também estabelece regramento acerca das emendas § 3º Para efeito do § 2º, considera-se aumento per-
ao projeto de Lei Orçamentária Anual, sendo previsto manente de receita o proveniente da elevação de
no seu art. 33. alíquotas, ampliação da base de cálculo, majoração
ou criação de tributo ou contribuição.
§ 4º A comprovação referida no § 2º, apresentada
pelo proponente, conterá as premissas e metodo-
logia de cálculo utilizadas, sem prejuízo do exa-
AS INTERFACES ENTRE LDO, me de compatibilidade da despesa com as demais
normas do plano plurianual e da lei de diretrizes
LOA, LEI N° 4.320, DE 1964 E LEI orçamentárias.
COMPLEMENTAR N° 101, DE 4 DE MAIO § 5º A despesa de que trata este artigo não será exe-
DE 2000 cutada antes da implementação das medidas referi-
das no § 2º, as quais integrarão o instrumento que
a criar ou aumentar.
SISTEMA DE PLANEJAMENTO E DE ORÇAMENTO
§ 6º O disposto no § 1º não se aplica às despesas
destinadas ao serviço da dívida nem ao reajusta-
O plano plurianual (PPA), a Lei de Diretrizes Orça- mento de remuneração de pessoal de que trata o
mentárias (LDO) e a Lei Orçamentária Anual (LOA) inciso X do art. 37 da Constituição.
são instrumentos de planejamento orçamentário, pre- § 7º Considera-se aumento de despesa a prorroga-
vistos no art. 165, da Constituição Federal, devendo ção daquela criada por prazo determinado.
obedecer à Lei nº 4.320, de 1964 (Lei Geral de Orça-
mento), e à Lei Complementar (LC) nº 101, de 2000 O art. 17, da Lei de Responsabilidade Fiscal, esta-
(Lei de Responsabilidade Fiscal). belece o que é programa de duração continuada — a
qual está prevista no § 1º, art. 165, da Constituição
PLANO PLURIANUAL Federal.
Assim, trata-se da despesa corrente, estabelecida
Art. 165 [...] em lei, medida provisória ou ato normativo, que gera
§ 1º A lei que instituir o plano plurianual estabele- obrigação de pagamento por mais de dois exercícios
cerá, de forma regionalizada, as diretrizes, objeti- financeiros.
vos e metas da administração pública federal para
as despesas de capital e outras delas decorrentes
LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS
e para as relativas aos programas de duração
continuada.
Art. 165 [...]
§ 2º A lei de diretrizes orçamentárias compreende-
O Plano Plurianual é lei ordinária com vigência de
rá as metas e prioridades da administração pública
quatro anos, correspondendo ao planejamento orça- federal, estabelecerá as diretrizes de política fiscal
mentário de médio prazo.

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


e respectivas metas, em consonância com trajetória
Os quatro anos de vigência do PPA não corres- sustentável da dívida pública, orientará a elabora-
pondem aos quatro anos de mandato do chefe do ção da lei orçamentária anual, disporá sobre as
Executivo. alterações na legislação tributária e estabelecerá a
política de aplicação das agências financeiras ofi-
Art. 165 [...] ciais de fomento.
§ 4º Os planos e programas nacionais, regionais
e setoriais previstos nesta Constituição serão ela- A Lei de Diretrizes Orçamentárias é lei ordinária
borados em consonância com o plano plurianual e com vigência de um ano. Ela servirá de orientação
apreciados pelo Congresso Nacional. para a elaboração da LOA — entre outras funções.

Os planos e programas nacionais é que devem LC nº 101, de 4 de maio de 2000


estar em consonância com o PPA, e não o contrário. Art. 4º A lei de diretrizes orçamentárias atenderá o
Por exemplo, o Plano Nacional de Educação deve ser disposto no § 2º do art. 165 da Constituição e:
criado dentro do que estabelece o PPA. I - disporá também sobre:
a) equilíbrio entre receitas e despesas;
LC nº 101, de 4 de maio de 2000 (Lei de Respon- b) critérios e forma de limitação de empenho, a ser
sabilidade Fiscal) efetivada nas hipóteses previstas na alínea b do
Art. 17 Considera-se obrigatória de caráter conti- inciso II deste artigo, no art. 9º e no inciso II do §
nuado a despesa corrente derivada de lei, medida 1º do art. 31;
provisória ou ato administrativo normativo que c) (VETADO)
fixem para o ente a obrigação legal de sua execução d) (VETADO)
por um período superior a dois exercícios. e) normas relativas ao controle de custos e à avalia-
§ 1º Os atos que criarem ou aumentarem despesa ção dos resultados dos programas financiados com
de que trata o caput deverão ser instruídos com a recursos dos orçamentos;
estimativa prevista no inciso I do art. 16 e demons- f) demais condições e exigências para transferên-
trar a origem dos recursos para seu custeio. cias de recursos a entidades públicas e privadas; 451
II - (VETADO) mais 0,25 p.p. (vinte e cinco centésimos ponto per-
III - (VETADO) centual) do PIB previsto no respectivo projeto de lei
§ 1º Integrará o projeto de lei de diretrizes orça- de diretrizes orçamentárias;
mentárias Anexo de Metas Fiscais, em que serão V - os limites e os parâmetros orçamentários dos
estabelecidas metas anuais, em valores correntes Poderes e órgãos autônomos compatíveis com
e constantes, relativas a receitas, despesas, resul- as disposições estabelecidas na lei complemen-
tados nominal e primário e montante da dívida tar prevista no inciso VIII do caput do art. 163 da
pública, para o exercício a que se referirem e para Constituição Federal e no art. 6º da Emenda Consti-
os dois seguintes. (Vide ADI 7064) tucional nº 126, de 21 de dezembro de 2022;
§ 2º O Anexo conterá, ainda: VI - a estimativa do impacto fiscal, quando couber,
I - avaliação do cumprimento das metas relativas das recomendações resultantes da avaliação das
ao ano anterior; políticas públicas previstas no § 16 do art. 37 da
II - demonstrativo das metas anuais, instruído com Constituição Federal.
memória e metodologia de cálculo que justifiquem § 6º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
os resultados pretendidos, comparando-as com as poderão adotar, total ou parcialmente, no que cou-
fixadas nos três exercícios anteriores, e evidencian- ber, o disposto no § 5º deste artigo.
do a consistência delas com as premissas e os obje- § 7º A lei de diretrizes orçamentárias não poderá
tivos da política econômica nacional; dispor sobre a exclusão de quaisquer despesas pri-
III - evolução do patrimônio líquido, também nos márias da apuração da meta de resultado primário
últimos três exercícios, destacando a origem e a dos orçamentos fiscal e da seguridade social.
aplicação dos recursos obtidos com a alienação de
ativos; A LC nº 101, de 2000, estabelece que a LDO atende-
IV - avaliação da situação financeira e atuarial:
rá ao disposto no seu art. 4º.
a) dos regimes geral de previdência social e próprio
Além disso, também determina que a LDO deverá
dos servidores públicos e do Fundo de Amparo ao
Trabalhador;
estar acompanhada do anexo de metas fiscais, que con-
b) dos demais fundos públicos e programas estatais terá os requisitos previstos no § 2º, do referido art. 4º.
de natureza atuarial;
V - demonstrativo da estimativa e compensação da LEI ORÇAMENTÁRIA ANUAL
renúncia de receita e da margem de expansão das
despesas obrigatórias de caráter continuado. Art. 165 [...]
VI - quadro demonstrativo do cálculo da meta do § 5º A lei orçamentária anual compreenderá:
resultado primário de que trata o § 1º deste artigo, I - o orçamento fiscal referente aos Poderes da
que evidencie os principais agregados de receitas União, seus fundos, órgãos e entidades da adminis-
e despesas, os resultados, comparando-os com os tração direta e indireta, inclusive fundações insti-
valores programados para o exercício em curso e tuídas e mantidas pelo Poder Público;
os realizados nos 2 (dois) exercícios anteriores, e as II - o orçamento de investimento das empresas
estimativas para o exercício a que se refere a lei de em que a União, direta ou indiretamente, detenha a
diretrizes orçamentárias e para os subsequentes. maioria do capital social com direito a voto;
§ 3º A lei de diretrizes orçamentárias conterá Ane- III - o orçamento da seguridade social, abran-
xo de Riscos Fiscais, onde serão avaliados os passi- gendo todas as entidades e órgãos a ela vinculados,
vos contingentes e outros riscos capazes de afetar da administração direta ou indireta, bem como
as contas públicas, informando as providências a os fundos e fundações instituídos e mantidos pelo
serem tomadas, caso se concretizem. Poder Público.
§ 4º A mensagem que encaminhar o projeto da
União apresentará, em anexo específico, os objeti- A LOA compreende o orçamento fiscal, o orça-
vos das políticas monetária, creditícia e cambial, mento de investimento das empresas e o orçamento
bem como os parâmetros e as projeções para seus da seguridade social, todos contendo as previsões de
principais agregados e variáveis, e ainda as metas
receita e despesa das instituições públicas previstas
de inflação, para o exercício subseqüente.
no § 5º, art. 165, da Constituição Federal.
§ 5º No caso da União, o Anexo de Metas Fiscais do
projeto de lei de diretrizes orçamentárias conterá
A lei em questão tem duração de um ano — que
também: corresponde ao exercício financeiro (art. 34, da Lei nº
I - as metas anuais para o exercício a que se referir e 4.320, de 1964).
para os 3 (três) seguintes, com o objetivo de garan-
tir sustentabilidade à trajetória da dívida pública; Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964
II - o marco fiscal de médio prazo, com projeções Art. 2º A Lei do Orçamento conterá a discrimina-
para os principais agregados fiscais que compõem ção da receita e despesa de forma a evidenciar a
os cenários de referência, distinguindo-se as des- política econômica financeira e o programa de tra-
pesas primárias das financeiras e as obrigatórias balho do Govêrno, obedecidos os princípios de uni-
daquelas discricionárias; dade universalidade e anualidade.
III - o efeito esperado e a compatibilidade, no perío- § 1º Integrarão a Lei de Orçamento:
do de 10 (dez) anos, do cumprimento das metas de I - Sumário geral da receita por fontes e da despesa
resultado primário sobre a trajetória de convergên- por funções do Govêrno;
cia da dívida pública, evidenciando o nível de resul- II - Quadro demonstrativo da Receita e Despesa
tados fiscais consistentes com a estabilização da segundo as Categorias Econômicas, na forma do
Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG) em relação Anexo nº 1;
ao Produto Interno Bruto (PIB); III - Quadro discriminativo da receita por fontes e
IV - os intervalos de tolerância para verificação do respectiva legislação;
cumprimento das metas anuais de resultado primá- IV - Quadro das dotações por órgãos do Govêrno e
rio, convertido em valores correntes, de menos 0,25 da Administração.
452 p.p. (vinte e cinco centésimos ponto percentual) e de § 2º Acompanharão a Lei de Orçamento:
I - Quadros demonstrativos da receita e planos de O projeto de LOA, encaminhado ao Congresso
aplicação dos fundos especiais; Nacional para estudo e aprovação, deverá estar acom-
II - Quadros demonstrativos da despesa, na forma panhado do demonstrativo que consta no § 6º, art.
dos Anexos nºs 6 a 9; 165, da Constituição Federal, que trata do impacto nas
III - Quadro demonstrativo do programa anual de contas governamentais das renúncias de receitas.
trabalho do Govêrno, em têrmos de realização de
obras e de prestação de serviços. Art. 165 (CF, de 1988) [...]
§ 7º Os orçamentos previstos no § 5º, I e II, deste
A Lei nº 4.320, de 1964, também dispõe sobre docu- artigo, compatibilizados com o plano plurianual,
mentos que deverão constar na LOA. terão entre suas funções a de reduzir desigualdades
inter-regionais, segundo critério populacional.
Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964
Art. 3º A Lei de Orçamento compreenderá tôdas as O orçamento fiscal e o orçamento de investimen-
receitas, inclusive as de operações de crédito auto- to das empresas, dentre outras funções, também
rizadas em lei. possuem papel de reduzir as desigualdades inter-re-
Parágrafo único. Não se consideram para os fins des- gionais, em consonância com o PPA. Já o orçamento
te artigo as operações de crédito por antecipação da
da seguridade social não possui essa função determi-
receita, as emissões de papel-moeda e outras entra-
nada no Texto Constitucional.
das compensatórias, no ativo e passivo financeiros.
Art. 4º A Lei de Orçamento compreenderá tôdas
as despesas próprias dos órgãos do Govêrno e da Art. 165 (CF, de 1988) [...]
administração centralizada, ou que, por intermé- § 8º A lei orçamentária anual não conterá dispo-
dio dêles se devam realizar, observado o disposto sitivo estranho à previsão da receita e à fixação
no artigo 2º. da despesa, não se incluindo na proibição a auto-
rização para abertura de créditos suplementares e
contratação de operações de crédito, ainda que por
Por meio do princípio da universalidade, a Lei de
antecipação de receita, nos termos da lei.
Orçamento, conforme determina o art. 3º, abrangerá
as receitas e despesas de todos os órgãos e entidades
Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964
da Administração Pública direta e indireta, inclusive Art. 7º A Lei de Orçamento poderá conter autoriza-
as operações de crédito autorizadas em lei. ção ao Executivo para:
I - Abrir créditos suplementares até determinada
Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964 importância obedecidas as disposições do artigo
Art. 5º A Lei de Orçamento não consignará dota- 43;
ções globais destinadas a atender indiferentemente II - Realizar em qualquer mês do exercício financei-
a despesas de pessoal, material, serviços de tercei- ro, operações de crédito por antecipação da receita,
ros, transferências ou quaisquer outras, ressalvado para atender a insuficiências de caixa.
o disposto no artigo 20 e seu parágrafo único. § 1º Em casos de déficit, a Lei de Orçamento indica-
rá as fontes de recursos que o Poder Executivo fica
Ademais, as receitas e as despesas devem aparecer autorizado a utilizar para atender a sua cobertura.
de maneira discriminada — por meio do princípio da § 2º O produto estimado de operações de crédito e
especificação, especialização ou discriminação —, de de alienação de bens imóveis somente se incluirá na
tal forma que se possa saber as origens dos recursos e receita quando umas e outras forem especificamen-
sua aplicação. Há vedação às dotações globais. te autorizadas pelo Poder Legislativo em forma que
juridicamente possibilite ao Poder Executivo reali-

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964 zá-las no exercício.
Art. 6º Tôdas as receitas e despesas constarão da § 3º A autorização legislativa a que se refere o pará-
Lei de Orçamento pelos seus totais, vedadas quais- grafo anterior, no tocante a operações de crédito,
quer deduções. poderá constar da própria Lei de Orçamento.
§ 1º As cotas de receitas que uma entidade pública
deva transferir a outra incluir-se-ão, como despesa, Segundo o princípio da exclusividade, a LOA
no orçamento da entidade obrigada à transferên- somente poderá conter a previsão de receita e a fixa-
cia e, como receita, no orçamento da que as deva ção de despesa.
receber. Existem duas exceções a essa regra: a autorização
§ 2º Para cumprimento do disposto no parágrafo para abertura de créditos suplementares e a autoriza-
anterior, o cálculo das cotas terá por base os dados ção para contratação de operações de crédito, mesmo
apurados no balanço do exercício anterior àquele que estas sejam por antecipação de receita, as quais
em que se elaborar a proposta orçamentária do poderão estar previstas diretamente na LOA.
Govêrno obrigado à transferência.
LC nº 101, de 4 de maio de 2000
Todas as parcelas de receitas e despesas devem, Art. 5º O projeto de lei orçamentária anual, elabo-
obrigatoriamente, fazer parte do orçamento em seus rado de forma compatível com o plano plurianual,
valores brutos — por meio do princípio do orçamento com a lei de diretrizes orçamentárias e com as nor-
bruto —, sem qualquer tipo de dedução. mas desta Lei Complementar:
I - conterá, em anexo, demonstrativo da compati-
Art. 165 (CF, de 1988) [...] bilidade da programação dos orçamentos com os
§ 6º O projeto de lei orçamentária será acompanha- objetivos e metas constantes do documento de que
do de demonstrativo regionalizado do efeito, sobre trata o § 1º do art. 4º;
as receitas e despesas, decorrente de isenções, anis- II - será acompanhado do documento a que se refe-
tias, remissões, subsídios e benefícios de natureza re o § 6º do art. 165 da Constituição, bem como das
financeira, tributária e creditícia. medidas de compensação a renúncias de receita e 453
ao aumento de despesas obrigatórias de caráter
continuado; CONCEITOS E ELEMENTOS
III - conterá reserva de contingência, cuja forma de
utilização e montante, definido com base na receita
BÁSICOS DO ORÇAMENTO PÚBLICO,
corrente líquida, serão estabelecidos na lei de dire- ORÇAMENTO TRADICIONAL,
trizes orçamentárias, destinada ao: ORÇAMENTO DE BASE ZERO,
a) (VETADO)
b) atendimento de passivos contingentes e outros ORÇAMENTO DE DESEMPENHO,
riscos e eventos fiscais imprevistos. ORÇAMENTO-PROGRAMA,
§ 1º Todas as despesas relativas à dívida pública,
mobiliária ou contratual, e as receitas que as aten-
ORÇAMENTO PARTICIPATIVO
derão, constarão da lei orçamentária anual.
§ 2º O refinanciamento da dívida pública constará PLANOS E PROGRAMAS
separadamente na lei orçamentária e nas de crédi-
to adicional. O orçamento público poderá contemplar diversas
§ 3º A atualização monetária do principal da dívi- espécies diferentes. Apesar disso, no Brasil, a partir da
da mobiliária refinanciada não poderá superar a Constituição Federal, de 1988, é utilizado o orçamen-
variação do índice de preços previsto na lei de dire- to-programa, no qual se busca um planejamento de
trizes orçamentárias, ou em legislação específica. políticas públicas visando ao bem-estar social, tendo
§ 4º É vedado consignar na lei orçamentária crédito como base a organização financeira do Estado a par-
com finalidade imprecisa ou com dotação ilimitada. tir das alocações de recursos públicos dentro do orça-
§ 5º A lei orçamentária não consignará dota- mento público.
ção para investimento com duração superior a No entanto, existem outras formas de se planejar
um exercício financeiro que não esteja previsto um orçamento público. Inclusive, isso faz parte de
no plano plurianual ou em lei que autorize a sua uma evolução histórica até o presente momento.
inclusão, conforme disposto no § 1º do art. 167 da Neste ponto, vamos falar sobre cada espécie
Constituição. orçamentária.
§ 6º Integrarão as despesas da União, e serão incluí-
das na lei orçamentária, as do Banco Central do Orçamento Tradicional ou Clássico
Brasil relativas a pessoal e encargos sociais, custeio
administrativo, inclusive os destinados a benefícios
Essa técnica produz um orçamento público restri-
e assistência aos servidores, e a investimentos.
to à previsão da receita e à autorização de despesas.
Por meio do orçamento tradicional ou clássico, não
A Lei de Responsabilidade Fiscal também prevê
existe uma preocupação em atender às necessidades
documentos que deverão constar na LOA, além de
da coletividade, não sendo estabelecidos os objetivos
demais requisitos.
econômicos e sociais que motivaram sua elaboração.
A doutrina afirma que se trata de uma mera peça
CRÉDITOS ADICIONAIS contábil e financeira, exatamente porque não bus-
ca um planejamento de médio ou longo prazo, mas
Os arts. 40 a 46 tratam dos créditos adicionais, que apenas a cobertura dos gastos, sendo este o seu foco
serão de três espécies: primordial.
Nesse modelo de orçamento, há uma preocupação
z Suplementares: para reforço de dotação já exis- com o controle contábil do gasto por meio do excessi-
tente, são autorizados por lei e abertos por decreto vo detalhamento da despesa.
do Poder Executivo, dependerão da existência de Além disso, há uma outra característica interes-
recursos disponíveis e serão precedidos de exposi- sante dessa técnica orçamentária, que é o seu viés
ção justificativa; incremental, por meio do qual se introduzem peque-
z Especiais: para despesas que não possuam dota- nos ajustes nas receitas e despesas durante a execu-
ção orçamentária específica, são autorizados ção orçamentária.
por lei e abertos por decreto do Poder Executivo, Desse modo, a descentralização e distribuição dos
dependerão da existência de recursos disponíveis recursos financeiros entre as unidades orçamentárias
e serão precedidos de exposição justificativa; são realizadas com base nos gastos de exercícios ante-
z Extraordinários: destinados às despesas urgen- riores, e não em função do programa de trabalho que
tes e imprevistas, serão abertos por decreto Poder pretendem realizar.
Executivo que dará conhecimento ao Poder Legis-
lativo de pronto. Orçamento de Desempenho ou de Realizações

Considerando os conceitos acima, há a necessi- Com a evolução do orçamento tradicional, o Esta-


dade de nos atentarmos ao conceito de “recursos do passou a utilizar o orçamento de desempenho,
disponíveis”. O § 1º, do art. 43, elenca a origem de dis- mirando seu foco em duas perspectivas: a primeira,
ponibilidade de recursos: o superávit financeiro apu- no “objeto” do gasto, mesmo que de forma secundá-
rado em balanço patrimonial no exercício anterior, ria; a segunda, no “objetivo” do gasto, ou seja, há a
entendido como a diferença positiva entre o ativo preocupação com a qualidade da destinação dos gas-
financeiro e o passivo financeiro, acrescentando-se os tos públicos, por meio de um programa de trabalho.
créditos adicionais transferidos; recursos de excesso Apesar disso tudo, o Estado ainda estava des-
de arrecadação, entendidos como o saldo positivo das vinculado de um programa social de bem-estar da
diferenças acumuladas mês a mês entre a arrecada- coletividade.
ção prevista a realizada; resultantes da anulação de
454 crédito autorizadas.
Orçamento Base-Zero Art. 16 (DL nº 200, de 1967) Em cada ano, será
elaborado um orçamento-programa, que porme-
Esse tipo de orçamento estabelece a necessidade norizará a etapa do programa plurianual a ser rea-
de realizar sempre um novo planejamento, analisan- lizada no exercício seguinte e que servirá de roteiro
do e revisando todas as despesas propostas, dentro à execução coordenada do programa anual.
de uma relação custo/benefício, devendo se justificar
cada atividade desenvolvida. Desse modo, o orçamento passou a ser um ins-
Desse modo, não basta distribuir os recursos para trumento de operacionalização das ações governa-
cada unidade orçamentária com base no gasto reali- mentais, relacionando-se com os planos e diretrizes
zado no exercício passado. De modo diferente, as refe- formuladas no planejamento.
ridas unidades orçamentárias deverão realizar uma
pesquisa de quanto será necessário gastar no exercí- Orçamento Participativo
cio pretendido, partindo do zero.
Por exemplo, o valor gasto com combustível no Os orçamentos públicos, geralmente, são criados
exercício anterior não serve como base para esse tipo pelos representantes eleitos, no Legislativo e Executi-
de orçamento, mas, sim, indica que deverá ser reali- vo, o que faz parte de uma democracia representativa.
zado um estudo sobre todos os automóveis, suas res- O orçamento participativo, ao contrário, é criado
pectivas motorizações e média de consumos diário, diretamente pela própria população envolvida, que
semanal e mensal, para, só então, se chegar ao valor participa do seu processo decisório, que pode ocor-
que deverá ser utilizado. rer mediante instrumentos a serem criados, bem
Esse tipo de orçamento prejudica um planejamen- como por meio das lideranças da sociedade civil ou
to de longo prazo, uma vez que sua confecção é mui- de audiências públicas ou, ainda, por qualquer outra
to demorada. Porém, o lado bom é que não há gasto forma de consulta direta à população.
excessivo, tendo em vista que o valor computado será No Brasil, alguns municípios fazem uso dessa espé-
aquele exatamente utilizado. cie orçamentária. No entanto, no orçamento da União
federal, apesar da realização de audiências públicas
para a confecção do orçamento, não há muita flexibili-
Importante! dade para o direcionamento das ações governamentais,
tendo em vista a quantidade de despesas obrigatórias.
O incremento citado no orçamento tradicional ou
clássico acompanhou todas as espécies orçamen-
tárias, exceto o orçamento base-zero. Para relem-
brar, por meio da técnica incremental se utiliza o
CLASSIFICAÇÕES ORÇAMENTÁRIAS
valor gasto no exercício anterior para que seja rea-
lizado o planejamento do novo exercício, com ajus- DA RECEITA E DA DESPESA
tes marginais no curso da execução do orçamento. PÚBLICA: UTILIZAÇÃO, ORIGENS,
FUNDAMENTAÇÃO ECONÔMICA
Orçamento-Programa
RECEITA PÚBLICA
Trata-se de espécie orçamentária baseada em
Classificação Quanto à Origem
planejamento de médio e longo prazos, enfatizando

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


os objetivos e o alcance de determinados resultados
z Derivadas: são obtidas pela soberania estatal ou
pretendidos.
atividade coercitiva do Estado. Elas decorrem de
Desse modo, por exemplo, os recursos financeiros
norma constitucional de forma impositiva. Por
são utilizados para reduzir o analfabetismo ou para
exemplo: tributos e multas;
melhorar os índices de mortalidade infantil ou de vio-
z Originárias: são as arrecadadas por meio de
lência urbana, tudo por meio da melhor alocação dos
exploração de atividades econômicas pela Admi-
gastos públicos.
nistração. Resultam, principalmente, de rendas
Essa espécie orçamentária foi introduzida nos
do patrimônio mobiliário e imobiliário do Estado
EUA, no final da década de 1950 do século XX, sob a
(receita de aluguel), de preços públicos (que são os
denominação de PPBS (Planning, Programming, Bud-
pedágios) etc.
geting System — ou Sistema de Planejamento, Progra-
mação e Orçamentação).
Classificação Quanto à Regularidade
No Brasil, ele começou a ser utilizado por força da
Lei nº 4.320, de 1964, e do Decreto-Lei (DL) nº 200, de
z Ordinárias: apresentam certa regularidade na
1967, que estabelecem em seus dispositivos a utiliza-
sua arrecadação. Por exemplo: impostos e trans-
ção do orçamento-programa.
ferências recebidas do Fundo de Participação dos
Art. 2º (Lei nº 4.320, de 1964) A Lei do Orçamen-
Estados;
to conterá a discriminação da receita e despesa de z Extraordinárias: representam ingressos de
forma a evidenciar a política econômica finan- caráter acidental, transitório ou excepcional. Por
ceira e o programa de trabalho do Governo, exemplo: impostos por motivo de guerra.
obedecidos os princípios de unidade universalidade
e anualidade.

455
Classificação Por Categorias Econômicas

z Corrente ou Capital

De acordo com a previsão contida no art. 11, da Lei nº 4.320, de 1964,

Art. 11 A receita classificar-se-á nas seguintes categorias econômicas: Receitas Correntes e Receitas de Capital.
§ 1º São Receitas Correntes as receitas tributária, de contribuições, patrimonial, agropecuária, industrial, de ser-
viços e outras e, ainda, as provenientes de recursos financeiros recebidos de outras pessoas de direito público ou
privado, quando destinadas a atender despesas classificáveis em Despesas Correntes.
§ 2º São Receitas de Capital as provenientes da realização de recursos financeiros oriundos de constituição de
dívidas; da conversão, em espécie, de bens e direitos; os recursos recebidos de outras pessoas de direito público ou
privado, destinados a atender despesas classificáveis em Despesas de Capital e, ainda, o superavit do Orçamento
Corrente.
§ 3º O superavit do Orçamento Corrente resultante do balanceamento dos totais das receitas e despesas correntes,
apurado na demonstração a que se refere o Anexo nº 1, não constituirá item de receita orçamentária.
§ 4º A classificação da receita obedecerá ao seguinte esquema:
RECEITAS CORRENTES
RECEITA TRIBUTÁRIA
Impostos.
Taxas.
Contribuições de Melhoria.
RECEITA DE CONTRIBUIÇÕES
RECEITA PATRIMONIAL
RECEITA AGROPECUÁRIA
RECEITA INDUSTRIAL
RECEITA DE SERVIÇOS
TRANSFERÊNCIAS CORRENTES
OUTRAS RECEITAS CORRENTES
RECEITAS DE CAPITAL
OPERAÇÕES DE CRÉDITO
ALIENAÇÃO DE BENS
AMORTIZAÇÃO DE EMPRÉSTIMOS
TRANSFERÊNCIAS DE CAPITAL
OUTRAS RECEITAS DE CAPITAL

RECEITA PÚBLICA EXTRAORÇAMENTÁRIA RECEITA PÚBLICA ORÇAMENTÁRIA

É arrecadação que não figura no orçamento público. Por isso


mesmo, não é considerada uma renda contínua do Estado. São
exemplos: cauções, retenções, consignações, restos a pagar, É a arrecadação que consta no orçamento público
operação de crédito por antecipação de receita orçamentária,
salários não reclamados e depósito judicial

FONTES DA RECEITA PÚBLICA — ETAPAS E ESTÁGIOS

ETAPAS

Planejamento Execução

ESTÁGIOS

Previsão/
fixação Lançamento Arrecadação Recolhimento

Planejamento Execução Execução Execução

456
Previsão/Fixação — Etapa de Planejamento São os mesmos exemplos da receita extraorçamen-
tária, pois comportam dois momentos, o da entrada
Por meio desse estágio, pretende-se estimar quan- nos cofres públicos e a posterior saída. Os principais
to deve ser arrecadado, de acordo com estudos feitos são: cauções, retenções, consignações, restos a pagar,
pela Fazenda. Diante disso, procede-se ao planeja- operação de crédito por antecipação de receita orça-
mento das metas conforme os valores previstos. mentária, salários não reclamados e depósito judicial.
Se a realização da receita não comportar o cum-
primento das metas, os Poderes e o ministério público Despesa Pública Orçamentária
promoverão “limitação de empenho”, com exceção
para as despesas que constituam obrigações constitu- Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964
cionais e legais, as relativas aos serviços da dívida e Art. 12 A despesa será classificada nas seguintes
as que foram ressalvadas na Lei de Diretrizes Orça- categorias econômicas:
mentárias (LDO) (art. 9º, da Lei de Responsabilidade DESPESAS CORRENTES
Fiscal — LRF). Despesas de Custeio
Transferências Correntes
Lançamento — Etapa de Execução DESPESAS DE CAPITAL
Investimentos
Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 Inversões Financeiras
Art. 142 Compete privativamente à autorida- Transferências de Capital
de administrativa constituir o crédito tributário § 1º Classificam-se como Despesas de Custeio as
pelo lançamento, assim entendido o procedimento dotações para manutenção de serviços anterior-
administrativo tendente a verificar a ocorrência mente criados, inclusive as destinadas a atender a
do fato gerador da obrigação correspondente, obras de conservação e adaptação de bens imóveis.
determinar a matéria tributável, calcular o § 2º Classificam-se como Transferências Corren-
montante do tributo devido, identificar o sujei- tes as dotações para despesas as quais não corres-
to passivo e, sendo caso, propor a aplicação da ponda contraprestação direta em bens ou serviços,
penalidade cabível. inclusive para contribuições e subvenções destina-
das a atender à manutenção de outras entidades de
Significa constituir o crédito tributário — por meio direito público ou privado.
da previsão do art. 142, do Código Tributário Nacio- § 3º Consideram-se subvenções, para os efeitos
nal. Por intermédio do lançamento, a Administração desta lei, as transferências destinadas a cobrir des-
Pública calcula o montante devido do tributo, identifi- pesas de custeio das entidades beneficiadas, distin-
ca o sujeito passivo da obrigação tributária e, se for o guindo-se como:
caso, propõe a aplicação de penalidade se o pagamen- I - subvenções sociais, as que se destinem a insti-
to não ocorrer dentro do prazo previsto. tuições públicas ou privadas de caráter assistencial
De acordo com o parágrafo único do artigo anterior: ou cultural, sem finalidade lucrativa;
“A atividade administrativa de lançamento é vinculada II - subvenções econômicas, as que se destinem
e obrigatória, sob pena de responsabilidade funcional”. a emprêsas públicas ou privadas de caráter indus-
trial, comercial, agrícola ou pastoril.
Arrecadação — Etapa de Execução § 4º Classificam-se como investimentos as dota-
ções para o planejamento e a execução de obras,
Trata-se do contribuinte pagando o tributo. Nesse inclusive as destinadas à aquisição de imóveis
caso, o valor já pertence ao ente federativo, mas ainda considerados necessários à realização destas últi-

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


se encontra com a instituição financeira. mas, bem como para os programas especiais de
Em caso de arrecadação, a Administração Públi- trabalho, aquisição de instalações, equipamentos
ca não poderá mais inscrever o nome do contribuin- e material permanente e constituição ou aumento
te em dívida ativa, tendo em vista a realização do do capital de emprêsas que não sejam de caráter
pagamento. comercial ou financeiro.
§ 5º Classificam-se como Inversões Financeiras
as dotações destinadas a:
Recolhimento — Etapa de Execução
I - aquisição de imóveis, ou de bens de capital já em
utilização;
Repasse para a conta do Tesouro. A instituição
II - aquisição de títulos representativos do capi-
bancária que recebeu o valor deverá repassá-lo para
tal de emprêsas ou entidades de qualquer espécie,
a conta bancária do ente federativo.
já constituídas, quando a operação não importe
Princípio da unidade de caixa, em que existe a deter-
aumento do capital;
minação pela conta única do Tesouro — ou seja, o ente III - constituição ou aumento do capital de entida-
federativo não pode ter mais de uma conta bancária. des ou emprêsas que visem a objetivos comerciais
A partir do recolhimento, a quantia já estará dispo- ou financeiros, inclusive operações bancárias ou de
nível para desembolso. seguros.
§ 6º São Transferências de Capital as dotações
DESPESA PÚBLICA para investimentos ou inversões financeiras que
outras pessoas de direito público ou privado devam
Despesa Pública Extraorçamentária realizar, independentemente de contraprestação
direta em bens ou serviços, constituindo essas
É despesa que não figura no orçamento públi- transferências auxílios ou contribuições, segundo
co, sendo decorrente da receita extraorçamentária. derivem diretamente da Lei de Orçamento ou de
Assim, cada receita extraorçamentária corresponderá lei especial anterior, bem como as dotações para
a uma despesa extraorçamentária. amortização da dívida pública. 457
O art. 12, da Lei nº 4.320, de 1964, classifica a des- Importante!
pesa pública orçamentária em corrente e de capital.
Além disso, também conceitua o significado de cada
O empenho sempre ocorrerá em toda despesa
classificação, definindo seu destino.
pública; a nota de empenho é que poderá deixar
de existir, em casos específicos.
Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964
Art. 13 Observadas as categorias econômicas do São tipos de empenho os seguintes:
art. 12, a discriminação ou especificação da des-
pesa por elementos, em cada unidade administra-
„ Ordinário: usado para gastos cujo valor é fixo
tiva ou órgão de govêrno, obedecerá ao seguinte
e predeterminado e para os quais o pagamento
esquema:
deve acontecer de uma só vez;
DESPESAS CORRENTES
„ Estimativo: usado para os gastos com mon-
Despesas de Custeio
tante que não possibilita prévia determinação.
Pessoa Civil
Como exemplos, podemos citar os serviços que
Pessoal Militar
fornecem energia elétrica e água, a obtenção de
Material de Consumo
lubrificantes e combustíveis etc.;
Serviços de Terceiros
„ Global: usado para gastos contratuais ou de
Encargos Diversos
valor determinado que sejam sujeitos a parce-
Transferências Correntes
lamento. Exemplos de empenho global são os
Subvenções Sociais
compromissos que advêm de aluguéis.
Subvenções Econômicas
Inativos
z Liquidação
Pensionistas
Salário Família e Abono Familiar
Verifica o direito do credor com base em documen-
Juros da Dívida Pública
tos comprobatórios. Comprova que o credor cumpriu
Contribuições de Previdência Social
com suas obrigações legais ou contratuais; assim,
Diversas Transferências Correntes.
pode ter direito ao recebimento da quantia.
DESPESAS DE CAPITAL
Investimentos
z Pagamento
Obras Públicas
Serviços em Regime de Programação Especial
Momento em que ocorre o efetivo pagamento ao
Equipamentos e Instalações
credor, mediante ordem de pagamento, nas tesoura-
Material Permanente
rias ou banco autorizado. Nessa etapa, o credor rece-
Participação em Constituição ou Aumento de
be o que corresponde a uma despesa por parte da
Capital de Emprêsas ou Entidades Industriais ou
Administração Pública.
Agrícolas
Atenção! Restos a pagar são despesas empenha-
Inversões Financeiras
das, mas não pagas até o término do exercício finan-
Aquisição de Imóveis
ceiro (31 de dezembro), devendo ser pagas no ano
Participação em Constituição ou Aumento de
seguinte, constituindo uma despesa extraorçamentá-
Capital de Emprêsas ou Entidades Comerciais ou
ria. Restos a pagar processados são os que já foram
Financeiras
empenhados e liquidados, mas não pagos; não pro-
Aquisição de Títulos Representativos de Capital de
cessados são os que foram empenhados, mas ainda
Emprêsas em Funcionamento
não liquidados.
Constituição de Fundos Rotativos
Concessão de Empréstimos
Diversas Inversões Financeiras
Transferências de Capital
Amortização da Dívida Pública RECEITA PÚBLICA: CONCEITO,
Auxílios para Obras Públicas CLASSIFICAÇÕES, ESTÁGIOS,
Auxílios para Equipamentos e Instalações
Auxílios para Inversões Financeiras
TRIBUTOS, CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS
Outras Contribuições.
CONCEITO
O art. 13, da Lei nº 4.320, de 1964, traz mais espe-
Ao tratar sobre os serviços que o Estado deve
cificações quanto às despesas correntes e de capital,
prover à população, pensamos em saúde, educação,
completando o anterior art. 12.
transporte, justiça, etc. Porém, para esses serviços,
existe um custo envolvido a ser sustentado por toda
Estágios da Despesa Pública a sociedade, uma vez que eles são públicos. Nesse
sentido, não é mera coincidência que a Constituição
z Empenho Federal, ao estabelecer diversos deveres de atuação
estatal, também preveja os meios disponíveis para
Ato pelo qual se reserva, do total da dotação orça- cumpri-los.
mentária, a quantia necessária ao pagamento. Existem diversas maneiras de o Estado gerar recur-
Extrai-se a “nota de empenho”, documento este sos para sustentar suas atividades, como a exploração
que poderá ser dispensado. do seu próprio patrimônio e, principalmente, a insti-
458 tuição de tributos.
Os recursos que entram nas contas do Estado são Para fins contábeis, as receitas orçamentárias
chamados, genericamente, de “ingressos” ou “entra- podem ser classificadas quanto ao impacto no patri-
das”, uma vez que nem todos os recursos podem ser mônio líquido do ente federativo como receita orça-
chamados de receitas públicas. O Estado, em sua ati- mentária efetiva ou receita orçamentária não efetiva.
vidade financeira recebe valores que apenas circulam Segundo o Manual de Contabilidade Aplicada ao
transitoriamente por suas contas, sem agregar ao seu Setor Público (2021, p. 38):
patrimônio, como, por exemplo, um depósito recebido
Para fins contábeis, quanto ao impacto na situação
em garantia para contratação em uma licitação. Se o
patrimonial líquida, a receita pode ser “efetiva” ou
licitante cumprir devidamente o contrato, o Estado é “não-efetiva”:
obrigado a devolver o valor depositado, porém, caso a. Receita Orçamentária Efetiva aquela em que os
não cumpra, haverá aplicação de penalidade, cujo ingressos de disponibilidade de recursos não foram
valor será descontado no depósito. precedidos de registro de reconhecimento do direi-
A Lei nº 4.320, de 1964, regulamenta os ingressos to e não constituem obrigações correspondentes.
de disponibilidade de todos os entes da federação, b. Receita Orçamentária Não Efetiva é aquela em
classificando-os em dois grupos: que os ingressos de disponibilidades de recursos
foram precedidos de registro do reconhecimento do
z orçamentários; direito ou constituem obrigações correspondentes,
z extraorçamentários. como é o caso das operações de crédito.
Desta forma, a receita orçamentária efetiva alte-
Ingressos ra positivamente o patrimônio líquido do ente estatal
extraorçamentários quando a receita é reconhecida, tratando-se de um
INGRESSO DE
VALORES AOS fato contábil modificativo aumentativo.
COFRES PÚBLICOS Ingressos As receitas orçamentárias efetivas correspondem
orçamentários às receitas correntes e às transferências de capital.
(receitas públicas)
Por outro lado, a receita orçamentária não efe-
tiva não altera o patrimônio líquido do ente estatal,
Os ingressos extraorçamentários correspondem uma vez que há uma simples troca de elementos patri-
à aqueles que, apesar de pertencerem à terceiros, são moniais, tratando-se de simples fato contábil permu-
arrecadados pelo ente público, exclusivamente, para tativo. Desse modo, elas correspondem às receitas de
fazer face às exigências contratuais pactuadas para capital e às transferências de capital.
posterior devolução. Atente-se: não confunda ingresso extraorça-
Esses recursos financeiros apresentam caráter mentário com receita orçamentária não efetiva.
temporário e não integram o orçamento público, Apesar de os dois conceitos não provocarem alteração
pois o Estado é seu mero depositário desses valores, no patrimônio líquido, o primeiro, conforme explica-
que constituem passivos exigíveis e cujas restitui- do acima, não se trata de receita pública.
ções não se sujeitam à autorização legislativa. Citamos
como exemplos os depósitos em caução, as fianças, as CLASSIFICAÇÃO DA RECEITA PÚBLICA
operações de crédito por antecipação de receita orça-
mentária (ARO), a emissão de moeda e outras entra- Retomando a explicação dada no capítulo anterior,
das compensatórias no ativo e passivo financeiros. podemos dizer que nem todo ingresso de recursos aos
Atenção! As operações de crédito por anteci- cofres públicos pode ser chamado de receita pública,
pação de receita orçamentária (ARO) são ingressos mas sim, apenas aqueles ingressos que se incorporam

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


extraorçamentários. no patrimônio público do ente estatal.
Os ingressos orçamentários, por sua vez, são os per- A classificação da receita orçamentária é definida
tencentes ao ente público, arrecadados exclusivamente no Manual de Técnico de Orçamento (2024, p. 19),
para aplicação em programas e ações governamentais. segundo os seguintes critérios:
Esses ingressos são denominados de receita pública. De
acordo com a definição constante no Manual de Proce- z natureza de receita;
dimentos das Receitas Públicas (2004, p. 14), z indicador de resultado primário;
z fonte/destinação de recursos; e
Receitas Públicas são todos os ingressos de cará- z esfera orçamentária.
ter não devolutivo auferidas pelo poder público,
em qualquer esfera governamental, para alocação Antes de começarmos a explicar cada umas des-
e cobertura das despesas públicas. Dessa forma, sas classificações, é necessário conhecer uma outra
todo o ingresso orçamentário constitui uma receita classificação que foi criada pela doutrina. A doutrina
pública, pois tem como finalidade atender às despe- pode ser definida como ideias e ensinamentos de estu-
sas públicas. diosos do direito que influenciam e fundamentam as
decisões judiciais.
Atenção! Receitas públicas são apenas os ingressos
orçamentários, ou seja, aqueles que não têm caráter Assim, a doutrina classifica a receita pública em:
devolutivo, e que custearão despesas públicas.
A receita orçamentária é a fonte de recursos utili- z Receitas públicas originárias: são aquelas arre-
zada pelo Estado em ações e programas, com finalidade cadadas por meio da exploração de atividades eco-
de atender às necessidades e demandas da sociedade. nômicas pelo Estado, principalmente, de rendas
Essas receitas integram o patrimônio do Poder do patrimônio mobiliário e imobiliário do Estado
Público, aumentam-lhe o saldo financeiro e, por for- (receita de aluguel), de preços públicos, de presta-
ça princípio da universalidade, estão previstas na Lei ção de serviços comerciais e de venda de produtos
Orçamentária Anual (LOA). industriais ou agropecuários; 459
z Receitas públicas derivadas: são aquelas obtidas por meio da soberania estatal. Decorrem de norma consti-
tucional ou legal e, por isso, são auferidas de forma impositiva, como, por exemplo, as receitas tributárias e as
de contribuições especiais.

Bom, vamos iniciar o estudo da classificação da receita orçamentária, tópico muito cobrado em provas de
concursos públicos.

Classificação por Natureza de Receita

A classificação por natureza de receita é determinada no § 4º, do art. 11, da Lei nº 4.320, de 1964, segundo o
qual deve ser obedecido o seguinte esquema:

Art. 11 […]
§ 4º A classificação da receita obedecerá ao seguinte esquema:
RECEITAS CORRENTES
RECEITA TRIBUTÁRIA
Impostos.
Taxas.
Contribuições de Melhoria.
RECEITA DE CONTRIBUIÇÕES
RECEITA PATRIMONIAL
RECEITA AGROPECUÁRIA
RECEITA INDUSTRIAL
RECEITA DE SERVIÇOS
TRANSFERÊNCIAS CORRENTES
OUTRAS RECEITAS CORRENTES
RECEITAS DE CAPITAL
OPERAÇÕES DE CRÉDITO
ALIENAÇÃO DE BENS
AMORTIZAÇÃO DE EMPRÉSTIMOS
TRANSFERÊNCIAS DE CAPITAL
OUTRAS RECEITAS DE CAPITAL

Baseado no esquema acima, a Secretaria de Orçamento Federal (SOF) padronizou, por meio da Portaria
Interministerial nº 5, de 2015, a classificação da receita, a ser utilizada por todos os entes da Federação.
Esta classificação tem o objetivo de identificar a origem do recurso segundo seu fato gerador, ou seja, o
acontecimento real que ocasionou o ingresso da receita nos cofres públicos. Segundo essa Portaria, a receita deve
ser classificada mediante uma sequência de oito dígitos, em que cada dígito tem um significado:

DÍGITO 1º 2º 3º 4º ao 7º 8º

Desdobramento
Categoria para identifica-
SIGNIFICADO Origem Espécie Tipo
Econômica ção de peculiari-
dades da recita

Apesar de ser aparentemente complicada, essa codificação está relacionada com a classificação mencionada
acima, do § 4º, do art. 11, da Lei nº 4.320, de 1964.
Tomando como exemplo, o imposto de renda de pessoa física, que quando recolhido, é alocado segundo o
código “1.1.1.3.01.1.1”, do Manual de Técnico de Orçamento (2024, p. 20), que significa:

Categoria Econômica

Origem

Espécie

Desdobramento
para identificação de
peculiaridades

Categoria Econômica

1 1 1 3,01.1 1

Principal
Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF
Imposto

Impostos, Taxas e Contribuições de Melhoria


Receita Corrente
460
No entanto, é importante conhecer as outras classi- z Origem
ficações decorrentes da classificação da receita públi-
ca por sua natureza, conforme passamos a apresentar A origem é o detalhamento das categorias econô-
a seguir. micas “receitas correntes” e “receitas de capital”, com
o objetivo de identificar a procedência das receitas no
z Categoria Econômica momento que ingressam nos cofres públicos.
Segundo o Manual de Técnico de Orçamento (2024,
Segundo o art. 11, da Lei nº 4.320, de 1964, a p. 23), as origens que compõem as Receitas Corren-
receita pública se classifica nas seguintes categorias tes são:
econômicas:
Impostos, Taxas e Contribuições de Melhoria:
Art. 11 A receita classificar-se-á nas seguintes cate- são decorrentes da arrecadação dos tributos pre-
gorias econômicas: Receitas Correntes e Receitas vistos no art. 145 da Constituição Federal.
de Capital. Contribuições: são oriundas das contribuições
sociais, de intervenção no domínio econômico e de
As receitas correntes são aquelas arrecadadas interesse das categorias profissionais ou econômi-
dentro do exercício, que aumentam as disponibilida- cas, conforme preceitua o art. 149 da CF.
des financeiras do ente federativo, geralmente, com Receita Patrimonial: são provenientes da frui-
ção de patrimônio pertencente ao ente público, tais
efeito positivo sobre o patrimônio líquido e são uti-
como as decorrentes de aluguéis, dividendos, com-
lizadas para financiar os objetivos definidos nos pro-
pensações financeiras/royalties, concessões, entre
gramas e ações correspondentes às políticas públicas.
outras.
Segundo o § 1º, do art. 11, classificam-se em: Receita Agropecuária: receitas de atividades de
exploração ordenada dos recursos naturais vege-
Art. 11 […] tais em ambiente natural e protegido. Compreende
§ 1º São Receitas Correntes as receitas tributária, as atividades de cultivo agrícola, de cultivo de espé-
de contribuições, patrimonial, agropecuária, indus- cies florestais para produção de madeira, celulose
trial, de serviços e outras e, ainda, as provenientes e para proteção ambiental, de extração de madeira
de recursos financeiros recebidos de outras pessoas em florestas nativas, de coleta de produtos vege-
de direito público ou privado, quando destinadas tais, além do cultivo de produtos agrícolas.
a atender despesas classificáveis em Despesas Receita Industrial: são provenientes de ativida-
Correntes. des industriais exercidas pelo ente público, tais
como a extração e o beneficiamento de matérias-
As receitas de capital, por sua vez, são aquelas -primas, a produção e a comercialização de bens
que aumentam as disponibilidades financeiras do relacionados às indústrias mecânica, química e de
Estado, entretanto, diferentemente das receitas cor- transformação em geral.
rentes, as receitas de capital não provocam efeito Receita de Serviços: decorrem da prestação
sobre o patrimônio líquido. de serviços por parte do ente público, tais como
De acordo com o § 2º, do art. 11: comércio, transporte, comunicação, serviços hospi-
talares, armazenagem, serviços recreativos, cultu-
Art. 11 […] rais, etc. Tais serviços são remunerados mediante
§ 2º São Receitas de Capital as provenientes da rea- preço público, também chamado de tarifa.
lização de recursos financeiros oriundos de consti- Transferências Correntes: são provenientes
do recebimento de recursos financeiros de outras

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


tuição de dívidas; da conversão, em espécie, de bens
e direitos; os recursos recebidos de outras pessoas pessoas de direito público ou privado destinados a
de direito público ou privado, destinados a atender atender despesas de manutenção ou funcionamen-
despesas classificáveis em Despesas de Capital e, to que não impliquem contraprestação direta em
ainda, o superávit do Orçamento Corrente. bens e serviços a quem efetuou essa transferência.
Por outro lado, a utilização dos recursos recebidos
É importante saber que existe uma denominação vincula-se à determinação constitucional ou legal,
ou ao objeto pactuado. Tais transferências ocorrem
cobrada nas provas que equivale as receitas de ope-
entre entidades públicas de diferentes esferas ou
rações intraorçamentárias. Tratam-se de operações
entre entidades públicas e instituições privadas.
realizadas entre órgãos e demais entidades perten- Outras Receitas Correntes: constituem-se pelas
centes à mesma esfera de governo e orçamento de um receitas cujas características não permitam o
ente federativo. enquadramento nas demais classificações da recei-
Não representam novas entradas de recursos ta corrente, tais como indenizações, restituições,
nos cofres públicos do ente, mas apenas ao rema- ressarcimentos, multas previstas em legislações
nejamento de receitas entre seus órgãos para evi- específicas, entre outras.
tar a dupla contagem na consolidação das contas
governamentais.
Ao instituir tais dispositivos, a legislação não criou Importante!
novas categorias econômicas, nem poderia, já que se
trata de matéria fixada na Lei nº 4.320, de 1964. De Embora a amortização do empréstimo seja ori-
maneira que, apenas implementou uma maior especi- gem da categoria econômica receitas de capital,
ficação das receitas correntes e das receitas de capital. os juros recebidos associados ao empréstimo
são classificados em receitas correntes / de ser-
viços / serviços e atividades financeiras / retorno
de operações, juros e encargos financeiros, pois
os juros representam a remuneração do capital. 461
z Espécie z recolhimento.

A espécie representa um nível de classificação sub- Vamos às explicações de cada etapa:


sequente e vinculado à classificação da origem, per-
Previsão
mite extrair maiores detalhes acerca do fato gerador
das receitas. Por exemplo, dentro da origem “Contri- A arrecadação da receita deve ser estimada na
buições”, identificam-se as espécies “Contribuições Lei Orçamentária Anual (LOA), compreendendo duas
Sociais”, “Contribuições Econômicas” e “Contribui- fases distintas.
ções para Entidades Privadas de Serviço Social e de A primeira fase depreende a previsão de arreca-
Formação Profissional”. dação da receita orçamentária constante da Lei
Orçamentária Anual (LOA), resultante das metodo-
z Desdobramento para Identificação de logias de projeção usualmente adotadas, observadas
Peculiaridades as disposições constantes na Lei Complementar nº
101, de 2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal — LRF),
Conforme o Manual Técnico de Orçamento (2024, principalmente o art. 12:
p. 24):
Art. 12 As previsões de receita observarão as nor-
Foram reservados 4 dígitos para desdobramentos mas técnicas e legais, considerarão os efeitos das
com a finalidade de identificar peculiaridades de alterações na legislação, da variação do índice de
cada receita, caso seja necessário. Desse modo, preços, do crescimento econômico ou de qualquer
esses dígitos podem ou não ser utilizados conforme outro fator relevante e serão acompanhadas de
a necessidade de especificação do recurso. demonstrativo de sua evolução nos últimos três
anos, da projeção para os dois seguintes àquele a
z Tipo que se referirem, e da metodologia de cálculo e pre-
missas utilizadas.
Por fim, como último dígito da natureza da receita,
A previsão de receitas é a etapa que antecede à
tem-se o tipo, com a finalidade de identificar o tipo de
fixação das despesas que constarão na LOA, além de
arrecadação a que se refere aquela natureza.
ser base para se estimar as necessidades de financia-
Segundo o Manual Técnico de Orçamento (2024, p.
mento do governo.
24):
Lançamento
O tipo, correspondente ao último dígito na nature-
za de receita, tem a finalidade de identificar o tipo Segundo o art. 53, da Lei nº 4.320, de 1964:
de arrecadação a que se refere aquela natureza,
sendo: Art. 53 O lançamento da receita é ato da repartição
- “0”, quando se tratar de natureza de receita não competente, que verifica a procedência do crédito
valorizável ou agregadora; fiscal e a pessoa que lhe é devedora e inscreve o
- “1”, quando se tratar da arrecadação Principal da débito desta.
receita;
- “2”, quando se tratar de Multas e Juros de Mora da Por outro lado, nos termos do caput, do art. 142, do
respectiva receita; Código Tributário Nacional:
- “3”, quando se tratar de Dívida Ativa da respectiva
receita; Art. 142 Compete privativamente à autoridade
- “4”, quando se tratar de Multas e Juros de Mora da administrativa constituir o crédito tributário pelo
lançamento, assim entendido o procedimento admi-
Dívida Ativa da respectiva receita;
nistrativo tendente a verificar a ocorrência do fato
- “5”, quando se tratar de Multas da respectiva
gerador da obrigação correspondente, determinar
receita;
a matéria tributável, calcular o montante do tribu-
- “6”, quando se tratar de Juros de Mora da respec-
to devido, identificar o sujeito passivo e, sendo caso,
tiva receita;
propor a aplicação da penalidade cabível.
- “7”, quando se tratar de Multas da Dívida Ativa da
respectiva receita; e
- “8”, quando se tratar de Juros de Mora da Dívida Assim, pode ser dito que o lançamento se refere à
Ativa da respectiva receita. atividade estatal de escrituração dos futuros débitos
dos contribuintes de impostos diretos, cotas ou con-
Assim, todo código de natureza de receita será tribuições prefixadas ou decorrentes de outras fontes
finalizado com um dos dígitos mencionados, e as de recursos, efetuados pelos órgãos competentes que
arrecadações de cada recurso (sejam elas da receita verificam a procedência do crédito à natureza da pes-
propriamente dita, quanto de seus acréscimos legais) soa do contribuinte, quer seja física, quer seja jurídica
ficarão agrupadas sob um mesmo código, sendo dife- e o valor correspondente à respectiva estimativa.
renciadas apenas no último dígito. Ao final, o lançamento é a legalização da receita pela
sua instituição e a respectiva inclusão no orçamento.
ESTÁGIOS z Arrecadação

Os estágios da receita pública são as etapas da Corresponde à entrega, realizada pelos contri-
receita orçamentária que podem ser resumidas em: buintes ou devedores, aos agentes arrecadadores
ou bancos autorizados pelo ente, dos recursos devi-
z previsão; dos ao Tesouro. Assim, quando o contribuinte vai ao
z lançamento; banco pagar o boleto do IPTU, por exemplo, ocorre a
462 z arrecadação; e arrecadação.
Vale destacar que, segundo o inciso I, do art. 35, da Dívida Ativa Tributária é o crédito da Fazenda
Lei nº 4.320, de 1964: Pública decorrente de créditos tributários não pagos
pelos contribuintes, e incluem os respectivos adicio-
Art. 35 Pertencem ao exercício financeiro: nais e multas.
I - as receitas nêle arrecadadas; Por outro lado, a dívida ativa não tributária
[…] representa os demais créditos da Fazenda Pública,
como aqueles provenientes de empréstimos compul-
A arrecadação ocorre somente uma vez, sendo sórios, as contribuições estabelecidas em lei, a multa
seguida pelo recolhimento. Quando um ente arreca- de qualquer origem ou natureza, exceto as tributá-
da para outro ente, cumpre-lhe apenas entregar os rias, foros, laudêmios, aluguéis ou taxas de ocupação,
recursos pela transferência dos recursos, não sendo custas processuais, preços de serviços prestados por
considerada arrecadação, quando do recebimento estabelecimentos públicos, indenizações, reposições,
pelo ente beneficiário. restituições, alcances dos responsáveis definitivamen-
te julgados, os créditos decorrentes de obrigações em
z Recolhimento moeda estrangeira, de sub-rogação de hipoteca, fian-
ça, aval ou outra garantia, de contratos em geral ou de
A transferência dos valores arrecadados à conta outras obrigações legais.
específica do Tesouro, responsável pela administra- Desse modo, verificado o não recebimento do cré-
ção e controle da arrecadação e programação finan- dito no prazo de vencimento, cabe ao órgão ou enti-
ceira, observando o Princípio da Unidade de Caixa dade de origem do crédito encaminhá-lo ao órgão ou
representado pelo controle centralizado dos recursos entidade competente para sua inscrição em dívida
arrecadados em cada ente, conforme previsto no art. ativa, com observância nos prazos e procedimentos
56, da Lei nº 4.320, de 1964: estabelecidos.
A inscrição do crédito em dívida ativa configura
Art. 56 O recolhimento de todas as receitas far-se- fato contábil permutativo (não aumenta o patrimô-
-á em estrita observância ao princípio de unidade nio líquido do ente público).
de tesouraria, vedada qualquer fragmentação para
criação de caixas especiais. CLASSIFICAÇÕES ORÇAMENTÁRIAS:
CONCEITUAÇÃO, CLASSIFICAÇÃO E ESTÁGIOS DA
Os estágios da receita pública estão dispostos con- RECEITA E DA DESPESA PÚBLICAS
forme a ordem cronológica em que ocorrem os fenô-
menos econômicos. Esses estágios são estabelecidos Despesa Pública
levando em consideração o modelo do orçamento
brasileiro. É a aplicação do montante arrecadado pelo Estado
Assim, a ordem inicia com a previsão e termina para custear a prestação dos serviços públicos ou para
com o recolhimento. a realização de investimentos.
As despesas orçamentárias são aquelas autoriza-
DÍVIDA ATIVA das no orçamento público, que serão classificadas por
categorias econômicas, seguindo a determinação do
Dívida ativa é a denominação atribuída ao con- art. 12, da Lei nº 4.320, de 1964:
junto de créditos tributários e não tributários, em
favor da Fazenda Pública, que não foram pagos no Art. 12 A despesa será classificada nas seguintes

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


prazo devido e, por isso, constam inscritos pelo órgão categorias econômicas:
ou entidade competente, após a devida apuração de DESPESAS CORRENTES
liquidez e certeza. Despesas de Custeio
Assim, é considerada uma fonte potencial de Transferências Correntes
entrada no Caixa do Tesouro e é reconhecida conta- DESPESAS DE CAPITAL
bilmente no ativo. Investimentos
Não se deve confundir a dívida ativa com a dívida Inversões Financeiras
pública, uma vez que esta representa as obrigações do Transferências de Capital
ente público com terceiros e é reconhecida contabil-
mente no passivo. CLASSIFICAÇÃO SEGUNDO CATEGORIAS
ECONÔMICAS
O art. 39, da Lei nº 4.320, de 1964, dispõe:
Despesa Corrente
Art. 39 Os créditos da Fazenda Pública, de nature-
za tributária ou não tributária, serão escriturados
z Despesas de custeio (relativas à manutenção da
como receita do exercício em que forem arrecada-
dos, nas respectivas rubricas orçamentárias. máquina pública):
§ 1º Os créditos de que trata este artigo, exigíveis
pelo transcurso do prazo para pagamento, serão „ pessoal civil e militar;
inscritos, na forma da legislação própria, como „ material de consumo (duração não superior a
Dívida Ativa, em registro próprio, após apurada a dois anos);
sua liquidez e certeza, e a respectiva receita será „ serviços de terceiros;
escriturada a esse título. „ conservação e adaptação de bens imóveis;
[…] „ encargos diversos.

463
z Transferências correntes (não relativas à O empenho estimativo é utilizado para as des-
manutenção da máquina pública): pesas cujo montante não se pode determinar pre-
viamente, tais como os serviços de fornecimento de
„ subvenções sociais (as que se destinem a insti- água e energia elétrica, a aquisição de combustíveis e
tuições públicas ou privadas de caráter assis- lubrificantes, entre outros. Por exemplo, não se sabe
tencial ou cultural, sem finalidade lucrativa); quanto será gasto de energia elétrica no mês seguinte.
„ subvenções econômicas (as que se destinem Desse modo, o empenho ocorrerá em valor supe-
a empresas públicas ou privadas de caráter rior ao montante estimado, para fins de segurança. O
industrial, comercial, agrícola ou pastoril); valor que sobrar após o pagamento, permanecerá nos
„ inativos; cofres públicos.
„ pensionistas; O empenho global é utilizado para despesas con-
„ salário-família; tratuais ou outras de valor determinado, sujeitas a
„ juros da dívida pública; parcelamento, como, por exemplo, os compromissos
„ diversas transferências correntes. decorrentes de aluguéis. Assim, no início do ano, é
realizado o empenho de toda a despesa anual com
Despesa de Capital aquele contrato de aluguel, mas efetuando o respec-
tivo pagamento a cada mês de execução da avença.
z Investimentos (despesas que aumentam o patri-
mônio do estado): z Liquidação

„ obras públicas (planejamento, execução e aqui- Verifica o direito do credor com base em documen-
sição de imóveis necessários à realização da tos comprobatórios. Por exemplo, analisa a documen-
obra); tação para comprovar que o produto foi realmente
„ material permanente (duração superior a dois entregue ao órgão público, e se está de acordo com as
anos); características apontadas no contrato.
„ participação em constituição ou aumento de
capital de empresas. z Pagamento

z Inversões financeiras (despesas que não aumen- O pagamento ocorrerá mediante ordem de paga-
tam o patrimônio do estado): mento nas tesourarias ou em instituições financeiras
autorizadas.
„ aquisição de imóveis ou de bens de capital já
em utilização;
„ aquisição de títulos representativos de capital Importante!
de empresa em funcionamento;
„ concessão de empréstimos; Restos a pagar são despesas empenhadas, mas
„ diversas inversões financeiras. não pagas até o término do exercício financeiro
(31/12), devendo ser pagas no ano seguinte.
Transferências de Capital Restos a pagar processados são os que já foram
empenhados e liquidados; Restos a pagar não
z amortização da dívida pública. processados são os que foram empenhados,
mas ainda não foram liquidados.
Estágios da Despesa

Trata dos estágios necessários para a realização REFERÊNCIAS


da despesa. São eles: o empenho, a liquidação e o
pagamento. BRASIL. Constituição da República Federativa
do Brasil de 1988. Disponível em: http://www.pla-
z Empenho nalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao-
compilado.htm. Acesso em: 05 set. 2023.
Ato pelo qual se reserva, do total da dotação orça- Receitas públicas: manual de procedimentos.
mentária, a quantia necessária ao pagamento. Brasília: Secretaria do Tesouro Nacional, 2004.
Extrai-se um documento denominado “nota de Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor
empenho”, que poderá ser dispensado em caso de Público. 9ª ed. Brasília: Secretaria do Tesouro
urgência, momento em que necessitará apenas da Nacional, 2021.
nota fiscal, para dar base a liquidação da despesa. Por Manual de Técnico de Orçamento 2024. 4ª ed.
exemplo, a contratação de um chaveiro às pressas Brasília: Secretaria do Orçamento Federal, 2024.
para abrir o portão do prédio público.
Assim, temos a informação importante de que toda
despesa será empenhada, mas nem toda despesa terá
nota de empenho.
Além disso, o empenho é classificado em ordiná-
FONTE DE RECEITA E FONTE DE
rio, estimativo ou global. RECURSOS
O empenho ordinário é utilizado para as despe-
sas de valor fixo e previamente determinado, cujo Fonte de receita e fonte de recursos são concei-
pagamento deve ocorrer de uma só vez. tos essenciais na gestão financeira, especialmente no
464 âmbito público.
A fonte de receita se refere à origem dos recursos ARRECADAÇÃO (ETAPA EXECUÇÃO)
financeiros que entram para uma organização, seja
ela pública ou privada. No contexto governamental, Trata-se do contribuinte pagando o tributo. Nesse
as fontes de receita podem incluir impostos, taxas, caso, o valor já pertence ao ente federativo, mas ainda
contribuições, dentre outros. se encontra com a instituição financeira.
Essas receitas são fundamentais para financiar as Em caso de arrecadação, a administração públi-
atividades e programas do governo, como saúde, edu- ca não poderá mais inscrever o nome do contribuin-
cação, segurança pública, entre outros. te em Dívida Ativa, tendo em vista a realização do
Já a fonte de recursos diz respeito à destinação pagamento.
específica dos recursos financeiros arrecadados. Por
exemplo, um tributo pode ser uma fonte de receita RECOLHIMENTO (ETAPA EXECUÇÃO)
para o governo, mas os recursos provenientes des-
se tributo podem ser destinados a áreas específicas, Repasse para a conta do Tesouro. A instituição
como saúde ou educação. bancária que recebeu o valor deverá repassá-lo para
Desse modo, a fonte dos recursos é determinada a conta bancária do ente federativo.
por leis e regulamentos, e tem como objetivo garan- Princípio da Unidade de Caixa, onde existe a deter-
tir a aplicação dos recursos de forma transparente e minação pela conta única do Tesouro, ou seja, o ente
eficiente. federativo não pode ter mais de uma conta bancária.
Os recursos podem ser livres e vinculados, Deste modo, a partir do recolhimento, a quantia já
vejamos: estará disponível para desembolso.

z Recursos livres: podem ser utilizados para qual- REFERÊNCIAS


quer finalidade, desde que observados os princí-
pios da legalidade, impessoalidade, moralidade, BRASIL. Ministério da Economia. Plano Pluria-
publicidade e economicidade; nual 2024-2027. Brasília: Diário Oficial da União,
z Recursos vinculados: possuem destinação específica, 2023.
definida em lei, como saúde, educação e segurança. BRASIL. Constituição da República Federativa
do Brasil de 1988. Disponível em: http://www.pla-
No que se refere às fontes da receita pública, se nalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao-
apresenta em duas etapas: a de planejamento e a de compilado.htm. Acesso em: 06 fev. 2024.
execução, sendo que cada etapa possui estágios dife- DIAS, M. C. Finanças públicas: teoria e prática. Rio
rentes, vejamos:
de Janeiro: Elsevier, 2022.
FREITAS, V. P. de. Curso de Direito Financeiro e
PREVISÃO/FIXAÇÃO (ETAPA PLANEJAMENTO) Tributário. Editora Revista dos Tribunais, 2019.
GIAMBIAGI, F.; ALÉM, A. C. Finanças Públicas:
Através desse estágio, se pretende estimar quan- Teoria e Prática no Brasil. Editora Campus, 2017.
to deve ser arrecadado, de acordo com estudos feitos
MENEZES, E. R. Orçamento público: teoria e prá-
pela Fazenda. Diante disso, procede-se ao planeja-
tica. São Paulo: Atlas, 2021.
mento das metas de acordo com os valores previstos.
SILVA, A. C. Gestão de recursos públicos. Rio de
Se a realização da receita não comportar o cum-
Janeiro: Elsevier, 2020.
primento das metas, os Poderes e o Ministério Públi-
co promoverão “Limitação de Empenho”, exceto as

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


despesas que constituam obrigações constitucio-
nais e legais, as relativas aos serviços da dívida e
as que foram ressalvadas na LDO (Lei de Diretrizes DESPESA PÚBLICA: CONCEITO,
Orçamentárias). CLASSIFICAÇÕES E ESTÁGIOS
LANÇAMENTO (ETAPA EXECUÇÃO) CONCEITO

Lei nº 5.172, de 1966 — Código Tributário Nacional Como já vimos, a atividade estatal está vinculada
ao dispêndio de recursos com o objetivo de satisfazer
Art. 142 Compete privativamente à autoridade as necessidades sociais, sendo que esses dispêndios
administrativa constituir o crédito tributário pelo devem obedecer às decisões deliberadas e estabeleci-
lançamento, assim entendido o procedimento admi-
das no âmbito do Poder Legislativo, por meio da Lei
nistrativo tendente a verificar a ocorrência do fato
Orçamentária Anual (LOA).
gerador da obrigação correspondente, determinar
a matéria tributável, calcular o montante do tribu- Assim, o orçamento, que é um instrumento de pla-
to devido, identificar o sujeito passivo e, sendo caso, nejamento de qualquer entidade, seja pública ou pri-
propor a aplicação da penalidade cabível. vada, uma vez que representa o fluxo de ingressos e
Parágrafo único. A atividade administrativa de lan- aplicação de recursos em determinado período, para
çamento é vinculada e obrigatória, sob pena de res- o setor público, passa a ser de vital importância, pois é
ponsabilidade funcional. a LOA que fixa a despesa pública autorizada para um
exercício financeiro.
Assim, através do lançamento, a administração A despesa orçamentária pública é o conjunto de
pública calcula o montante devido do tributo, identi- dispêndios realizados pelos entes públicos para o fun-
fica o sujeito passivo da obrigação tributária e, se for cionamento e manutenção dos serviços públicos pres-
o caso, propõe a aplicação de penalidade, caso o paga- tados à sociedade.
mento não ocorra dentro do prazo previsto. 465
Em termos de importância, a despesa pública Infelizmente, caro concurseiro, existem diversas
demanda mais atenção da sociedade, uma vez que o classificações que você precisa conhecer, pois este
gasto desordenado pode implicar desequilíbrio orça- assunto é bastante cobrado nos concursos públicos.
mentário e afetar a saúde financeira do Estado por Tentaremos facilitar e esquematizar as classificações
muitos anos. Além disso, em um país como o Bra- para que você possa entender melhor e, mais impor-
sil, com tanta desigualdade social, é natural que as tante, acertar as questões. Vamos lá?
demandas por ações do governo superem os recursos
disponíveis. Ou seja, políticas populistas que procu- ESTRUTURA DA PROGRAMAÇÃO ORÇAMENTÁRIA
rem atender todas as demandas da sociedade podem
não ser factíveis, uma vez que a realidade das receitas Segundo o Manual Técnico de Orçamento (2020, p. 23):
públicas limita as despesas públicas.
Os dispêndios, assim como os ingressos, são tipifi- A compreensão do orçamento exige o conhecimento
cados em orçamentários e extraorçamentários. de sua estrutura e sua organização, implementadas
Nos termos do art. 35, da Lei n° 4.320, de 1964: por meio de um sistema de classificação estrutu-
rado. Esse sistema tem o propósito de atender às
Art. 35 Pertencem ao exercício financeiro: exigências de informação demandadas por todos
I - as receitas nele arrecadadas; os interessados nas questões de finanças públicas,
II - as despesas nele legalmente empenhadas. como os poderes públicos, as organizações públicas
e privadas e a sociedade em geral.
Portanto, despesa orçamentária é toda transa-
ção que depende de autorização legislativa, na forma Complicado? A definição acima quer dizer que a
de consignação de dotação orçamentária, para ser classificação da despesa leva em conta a estrutura da
efetivada. organização onde ela será aplicada, classificando-a
Dispêndio extraorçamentário é aquele que não tanto no aspecto organizacional quanto no aspecto
consta na lei orçamentária anual, compreendendo orçamentário/financeiro. Segundo o Manual Técnico
determinadas saídas de numerários decorrentes de de Orçamento (2020, p.23), “o orçamento público está
depósitos, pagamentos de restos a pagar, resgate de organizado em programas de trabalho, que contêm
operações de crédito por antecipação de receita e informações qualitativas e quantitativas, sejam físicas
recursos transitórios. ou financeiras”.
Além do conceito acima, é necessário saber que, Vamos primeiro analisar as informações qualitati-
para fins contábeis, a despesa orçamentária pode ser vas, quais sejam: classificação por esfera orçamentá-
classificada quanto ao impacto na situação patrimonial ria, classificação institucional, classificação funcional
líquida em: e classificação programática. E, em seguida, passare-
mos a analisar as informações quantitativas: IDOC,
z Despesa Orçamentária Efetiva: é aquela que, no IDUSO, Fonte de Recursos, Natureza da Despesa e
momento de sua realização, reduz a situação líqui- Identificador de Resultado Primário.
da patrimonial da entidade. Constitui fato contá-
bil modificativo diminutivo. A despesa corrente, Classificação Qualitativa
geralmente, é uma despesa orçamentária efetiva,
como, por exemplo, pagamento de salários de fun- A classificação qualitativa está ligada ao tipo de orça-
cionários públicos. Entretanto, é necessário tomar mento praticado no Brasil, que é o Orçamento Progra-
cuidado, pois existem casos de despesas correntes ma, o qual está relacionado ao planejamento e expressa
não efetivas, como, por exemplo, a despesa com o compromisso das ações do governo com a sociedade.
a aquisição de materiais para estoque e a despe- Segundo o Manual Técnico de Orçamento (2020, p. 23)
sa com adiantamentos, que representam fatos
permutativos; O programa de trabalho, que define qualitativa-
z Despesa Orçamentária Não Efetiva: é aquela que, mente a programação orçamentária, deve res-
no momento da sua realização, não reduz a situa- ponder, de maneira clara e objetiva, às perguntas
ção líquida patrimonial da entidade. Constitui fato clássicas que caracterizam o ato de orçar, sendo, do
contábil permutativo. Geralmente, as despesas de ponto de vista operacional, composto dos seguin-
capital se enquadram como despesa orçamentária tes blocos de informação: classificação por esfera,
não efetiva, entretanto, há despesas de capital que classificação institucional, classificação funcional,
estrutura programática e principais informações
são efetivas como, por exemplo, as transferências de
do Programa e da Ação.
capital, que causam variação patrimonial diminuti-
va e, por isso, classificam-se como despesa efetiva.
BLOCOS DA ITEM DA PERGUNTA A SER
ESTRUTURA ESTRUTURA RESPONDIDAS
CLASSIFICAÇÃO DA DESPESA PÚBLICA
Classificação por Esfera
Em qual Orçamento?
Como já dissemos no tópico anterior, a saúde Esfera Orçamentária
financeira do ente federativo está intimamente ligada
Órgão
ao controle da despesa pública, assim é natural que
Classificação Quem é o responsável
ela seja analisada de várias formas. Nesse sentido, o Institucional Unidade por fazer?
instrumento legal que orienta a classificação da des- Orçamentária
pesa pública é o Manual Técnico de Orçamento (MTO),
editado pela Secretaria de Orçamento Federal (SOF), Função Em que áreas de des-
Classificação
pesas a ação governa-
juntamente com o Manual de Despesa Nacional e o Funcional Subfunção mental será realizada?
466 Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público.
Importante ressaltarmos que um órgão orçamen-
BLOCOS DA ITEM DA PERGUNTA A SER
ESTRUTURA ESTRUTURA RESPONDIDAS
tário ou unidade orçamentária (UO) não correspon-
de necessariamente a uma estrutura administrativa
O que se pretende (ex.: fundos especiais, transferências aos Estados e
Estrutura alcançar com a imple- Municípios, reservas de contingência etc.).
Programa
Programática mentação da Política As dotações orçamentárias, especificadas por cate-
Pública?
goria de programação em seu menor nível, são con-
Ação - signadas às UOs, que são aquelas responsáveis pela
concretização das ações.
Descrição -

Forma de Classificação Funcional da Despesa


Informações -
Implementação
Principais da A classificação funcional leva em considera-
Ação Produto -
ção funções e subfunções, buscando responder ao
Unidade de seguinte questionamento: em que áreas da despesa a
-
Medida ação será realizada? Essa classificação foi instituída
pela Portaria n° 42, de 1999, do então Ministério do
Subtítulo -
Orçamento e Gestão.
Esta classificação funcional é independente da
Classificação da Despesa por Esfera Orçamentária classificação programática, de aplicação comum e
obrigatória a todos os entes da federação, é formada
A classificação por esfera orçamentária tem como por cinco dígitos. Os dois primeiros correspondentes à
objetivo a evidenciação do “local” onde está inserida função e os três últimos à subfunção:
a despesa. Mas qual seria esse “local”?
Veja que a nossa Constituição, no § 5°, art. 165, 1º 2º 3 4º 5º
determina que: Função Subfunção

Art. 165 [...] Codificação da funcional institucional.


§ 5º A lei orçamentária anual compreenderá:
I - o orçamento fiscal referente aos Poderes da Fonte: MTO (2020)
União, seus fundos, órgãos e entidades da admi-
nistração direta e indireta, inclusive fundações ins- Para o seu exame, lembre-se que a função é o
tituídas e mantidas pelo Poder Público; maior nível de agregação das diversas áreas de atua-
II - o orçamento de investimento das empresas em ção do setor público e reflete a própria competên-
que a União, direta ou indiretamente, detenha a cia institucional do órgão. A subfunção é o nível de
maioria do capital social com direito a voto; agregação imediatamente inferior à função. Veja um
III - o orçamento da seguridade social, abrangendo exemplo:
todas as entidades e órgãos a ela vinculados, da
administração direta ou indireta, bem como os fun- 10 - FUNÇÃO SAÚDE
dos e fundações instituídos e mantidos pelo Poder 301 — subfunção — Atenção Básica
Público. 304 — subfunção — Vigilância Sanitária

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


Ou seja, a Lei Orçamentária compreenderá os Subfunções podem ser combinadas de forma
orçamentos fiscais, de investimento e da seguridade matricial com outras funções, desde que realmente
social. A classificação por esfera orçamentária irá relacionadas. Por exemplo, a subfunção “131 —Comu-
identificar se a despesa pertence ao Orçamento Fiscal nicação Social” poderá ser combinada com as fun-
ções “20- Agricultura” ou “25 — Energia” ou ainda
(F), da Seguridade Social (S) ou de Investimento das
com quaisquer funções que tenham em seu escopo a
Empresas Estatais (I).
Comunicação Social.
Mas atenção à função Encargos Especiais (função
Classificação Institucional
28). Trata-se de um caso específico, no qual poderão
ser englobadas somente as suas funções típicas:
Na classificação institucional, busca-se identificar
o órgão e unidade orçamentária responsáveis pela
841 — Refinanciamento da Dívida
execução da despesa. Compreende dois níveis hie-
Interna
rárquicos, quais sejam, órgão orçamentário e unidade 842 — Refinanciamento da Dívida
orçamentária. O código da classificação institucional Externa
compõe-se de cinco dígitos, sendo os dois primeiros 28 — Encargos 843 — Serviço da Dívida Interna
reservados à identificação do órgão orçamentário e os Especiais 844 — Serviço da Dívida Externa
demais à UO: 845 — Outras Transferências
846 — Outros Encargos Especiais
1º 2º 3 4º 5º 847 — Transferências para a Educa-
ção Básica
Órgão Unidade Orçamentária
Orçamentário Função 28 – encargos especiais e subfunções.

Codificação da classificação institucional. Fonte: MTO (2020) Fonte: MTO (2020) 467
Estrutura Programática Cabe agora compreendermos a classificação e
codificação das Ações. Como vimos, as ações são ope-
Todas as ações do orçamento são organizadas em rações que resultam em bens ou serviços, que contri-
programas. Mas o que é um programa? Segundo a buem para atender ao objetivo de um programa. São
Portaria MOG n° 42, de 1999, a), art. 2°: art. 2º, a): três os tipos de ações:

Art. 2º Para os efeitos da presente Portaria, enten- z Atividade: conjunto de operações que se realizam
dem-se por: de modo contínuo e permanente (processo de ope-
a) Programa, o instrumento de organização da ração de um hospital).
ação governamental visando à concretização dos z Projeto: conjunto de operações limitadas no tem-
objetivos pretendidos, sendo mensurado por indi-
po (ex.: a construção de um hospital).
cadores estabelecidos no plano plurianual;
z Operação especial: despesas que não contribuem
para manutenção, expansão ou aperfeiçoamento
Ou seja, trata-se do instrumento de organização da
das ações do governo. Não há geração de produto
ação governamental, em linha com o nível estratégico
direto e não há contraprestação direta na forma de
da gestão. Veja como o programa está alocado no mapa bens ou serviços.
estratégico do PPA (plano plurianual 2020-2023):
Em relação à classificação, as ações são identifica-
das seguindo a lógica abaixo:

1º 2º 3° 4º 5º 6º 7º
Numérico Alfanuméricos Numéricos
AÇÃO SUBTÍTULO
Codificação das Ações Orçamentárias. Fonte: MTO (2020)

Sendo que o primeiro dígito da ação determinará


se corresponde a um projeto, atividade ou operação
especial:

1º DIGITO TIPO DE AÇÃO

1, 3, 5 ou 7 Projeto

2, 4, 6 ou 8 Atividade
Mapa estratégico.
0 Operação Especial
Fonte: PPA 2020-2023 Codificação da Ação.

Observe que o programa, situado na dimensão Fonte: MTO (2020)


tática do mapa, tem a função de articular um conjun-
to de ações suficientes para atender as diretrizes do ETAPAS E ESTÁGIOS
PPA. Segundo o Manual Técnico de Orçamento (2020),
os programas são Temáticos (quando envolve ações Durante o processo orçamentário, a despesa passa
governamentais para entrega de bens e serviços à por três etapas: planejamento, execução e controle e
sociedade) e de Gestão, Manutenção e Serviços ao avaliação.
Estado (quando envolve as ações destinadas ao apoio,
à gestão e à manutenção da atuação governamental).
Cabe, ainda, diferenciar programas de ações e de loca-
lizadores de gastos:
Controle
Planejamento Execução e
z Programas: articula um conjunto de ações que Avaliação
concorrem para a concretização de um objetivo
comum.
z Ação: operações das quais resultam produtos
(bens e serviços) que contribuem para atender o
objetivo do programa. z Planejamento: a etapa do planejamento é a etapa
z Localizador de Gasto: indicação da localização em que se fixa da despesa orçamentária, se des-
física das ações. centraliza/movimenta os créditos, se realiza a pro-
gramação orçamentária e financeira e o processo
A diferenciação conceitual acima será representa- de licitação;
da na estrutura programática da União composta de z Fixação da despesa: refere-se ao processo de pla-
12 dígitos, em três partes iguais: nejamento orçamentário adequado e compatível
com a LDO e o PPA. O processo da fixação da des-
XXXX XXXX XXXX pesa orçamentária é concluído com a autorização
dada pelo Poder Legislativo por meio da Lei Orça-
Programa Ação Localizador de Gasto
468 mentária Anual;
z Descentralizações de créditos orçamentários: Os empenhos podem ser classificados em:
ocorrem quando for efetuada movimentação de „ Ordinário: é o tipo de empenho utilizado para as
parte do orçamento, mantidas as classificações ins- despesas de valor fixo e previamente determina-
titucional, funcional, programática e econômica, do, cujo pagamento deve ocorrer de uma só vez;
para que outras unidades administrativas possam „ Estimativo: é o tipo de empenho utilizado para
executar a despesa orçamentária; as despesas cujo montante não se pode deter-
Na descentralização, as dotações serão emprega- minar previamente, tais como serviços de for-
das obrigatória e integralmente na consecução do necimento de água e energia elétrica, aquisição
objetivo previsto pelo programa de trabalho perti- de combustíveis e lubrificantes e outros; e
nente, respeitada fielmente a classificação funcio- „ Global: é o tipo de empenho utilizado para des-
nal e a estrutura programática. Portanto, a única pesas contratuais ou outras de valor determina-
diferença é que a execução da despesa orçamentá- do, sujeitas a parcelamento, como, por exemplo,
ria será realizada por outro órgão ou entidade; os compromissos decorrentes de aluguéis.
z Programação orçamentária e financeira: consis-
te na compatibilização do fluxo dos pagamentos z Liquidação: conforme dispõe o art. 63, da Lei n°
com o fluxo dos recebimentos, visando o ajuste da 4.320, de 1964, a liquidação consiste na verificação
despesa fixada às novas projeções de resultados e do direito adquirido pelo credor tendo por base os
da arrecadação. títulos e documentos comprobatórios do respecti-
Se houver frustração da receita estimada no orça- vo crédito e tem por objetivo apurar:
mento, deverá ser estabelecida limitação de empe- „ a origem e o objeto do que se deve pagar;
nho e movimentação financeira, com objetivo de „ a importância exata a pagar; e
atingir os resultados previstos na LDO e impedir „ a quem se deve pagar a importância para extin-
a assunção de compromissos sem respaldo finan- guir a obrigação.
ceiro, o que acarretaria uma busca de socorro
no mercado financeiro, situação que implica em z Pagamento: consiste na entrega de numerário ao
encargos elevados; credor por meio de cheque nominativo, ordens de
z Processo de licitação: compreende um conjunto de pagamentos ou crédito em conta, e só pode ser efe-
procedimentos administrativos que objetivam adqui- tuado após a liquidação da despesa. Segundo o art.
rir materiais, contratar obras e serviços, alienar ou 64, da Lei n° 4.320, de 1964, a ordem de pagamento
ceder bens a terceiros, bem como fazer concessões é o despacho emitido por autoridade competente,
de serviços públicos com as melhores condições para determinando que a despesa liquidada seja paga.
o Estado, observando os princípios da legalidade, da
impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da Controle e Avaliação
publicidade, da probidade administrativa, da vincu-
lação ao instrumento convocatório, do julgamento Esta etapa refere-se à fiscalização realizada pelos
objetivo e de outros que lhe são correlatos; órgãos de controle e pela sociedade, para avaliação da
z Execução: durante esta etapa, a despesa é execu- ação governamental, da gestão dos administradores
tada conforme os seguintes estágios: empenho, públicos e da aplicação de recursos públicos, por inter-
liquidação e pagamento. médio da fiscalização contábil, financeira, orçamentá-
ria, operacional e patrimonial, com finalidade de:
Caro concurseiro, preste bastante atenção nesta
parte da matéria, pois é muito cobrada nos concursos. z avaliar o cumprimento das metas previstas no
Plano Plurianual, a execução dos programas de

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


A execução da despesa é separada em estágios,
governo e dos orçamentos; e
enquanto, no processo orçamentário, a despesa passa
z comprovar a legalidade e avaliar os resultados,
por etapas. quanto à eficácia e à eficiência da gestão orça-
mentária, financeira e patrimonial nos órgãos e
z Empenho: segundo o art. 58, da Lei n° 4.320, de entidades da Administração Pública, bem como da
1964, trata-se do ato de autoridade competente aplicação de recursos públicos por entidades de
que cria para o ente a obrigação de pagamento, direito privado.
que consiste na reserva de dotação orçamentária
para um fim específico. Por controle social entende-se a participação da
O empenho é formalizado mediante a emissão de sociedade no planejamento, na implementação, no
um documento denominado “Nota de Empenho”, acompanhamento e verificação das políticas públicas,
no qual deve constar o nome do credor (contrata- avaliando objetivos, processos e resultados.
da), a especificação do credor e a valor da despesa,
bem como os demais dados necessários ao contro-
le da execução orçamentária.
Segundo o art. 60, da Lei n° 4.320, de 1964, é proibi-
RECEITA ORÇAMENTÁRIA E DESPESA
da a realização da despesa sem prévio empenho. ORÇAMENTÁRIA DA UNIÃO
Quando o valor empenhado for insuficiente para
atender à despesa a ser realizada, o empenho RECEITA ORÇAMENTÁRIA NA LEI N° 4.320,
poderá ser reforçado. Caso o valor do empenho DE 1964: CONCEITOS, RECONHECIMENTO E
exceda o montante da despesa realizada, o empe- CLASSIFICAÇÃO
nho deverá ser anulado parcialmente. Será anu-
lado totalmente quando o objeto do contrato não Vistos os princípios orçamentários, passaremos aos
tiver sido cumprido, ou ainda, no caso de ter sido arts. específicos tratados no Capítulo II, da Lei n° 4.320,
emitido incorretamente. de 1964, que versam sobre a receita orçamentária. Esta
matéria é disciplinada, em linhas gerais, pelos arts. 2º, 469
3º, 6º, 9º, 11, 35, 56 e 57 da Lei nº 4.320, de 1964. O tema patrimonial, agropecuária, industrial, de serviços e
da Receita Orçamentária é bastante explorado nos cer- outras e, ainda, as provenientes de recursos financeiros
tames, principalmente no que se refere às diversas for- recebidos de outras pessoas de direito público ou pri-
mas de classificação apresentadas na norma. vado, quando destinadas a atender despesas classificá-
Inicialmente, vale a delineação da “receita públi- veis em Despesas Correntes” e as Receitas de Capital
ca”. Lato sensu, receitas públicas são todos os recur- as “provenientes da realização de recursos financeiros
sos que ingressam os cofres públicos. Strictu sensu, oriundos de constituição de dívidas; da conversão, em
tratam-se das receitas orçamentárias. Receitas orça- espécie, de bens e direitos; os recursos recebidos de
mentárias são recursos que ingressam no patrimônio outras pessoas de direito público ou privado, destinados
do Estado e servirão para o financiamento de ações e a atender despesas classificáveis em Despesas de Capi-
programas para atendimento das necessidades públi- tal e, ainda, o superávit do Orçamento Corrente”. Temos
cas e demandas sociais. aqui mais uma forma de classificação da receita:
Já no caso das receitas extraorçamentárias, o
Estado é mero depositário dos recursos, como no caso z Quanto à categoria econômica: receitas corrente
de recebimento de cauções e operações de crédito por e receitas de capital (Lei n° 4.320, de 1964)
ARO – antecipação de receita orçamentária. São recei-
tas meramente compensatórias. A primeira receita é designada ao atendimento das
O art. 9° traz uma definição relevante. É denomi- despesas correntes (despesas de custeio das ativida-
nado tributo “a receita derivada instituída pelas enti- des rotineiras do ente).
dades de direito público, compreendendo os impostos, Exemplos:
as taxas e contribuições nos termos da constituição e
das leis vigentes em matéria financeira, destinando-se „ Receita tributária: são as receitas provenientes
o seu produto ao custeio de atividades gerais ou da arrecadação de impostos, taxas e contribuições
especificas exercidas por essas entidades”. Tem-se, de melhoria, que, como vimos, trata-se de uma
então, que o tributo é receita derivada destinado ao receita derivada. Veja também, tributo é gênero
onde impostos, taxas e contribuições de melhoria
custeio de atividades gerais da entidade. É chama-
são espécies. Esse conceito está em linha com os
da de derivada, pois decorre do poder coercitivo do
art. 145 e 146 da Constituição Federal;
Estado. Temos em contraposição ao conceito de recei- „ Receita de contribuições: são provenientes
ta originária, proveniente da atividade privativa do de contribuições sociais, de intervenção sobre
Estado, explorando seu próprio patrimônio ou explo- o domínio econômico e de interesse das cate-
rando atividades comerciais e de serviços. Temos aqui gorias profissionais ou econômicas. Apesar de
uma primeira classificação: doutrinaria e didaticamente, em especial no
Direito Tributário, muitas vezes são compreen-
z Quanto à forma de Obtenção (ou procedência): didos dentro de tributos para fins de classifica-
originária ou derivada ção orçamentária. As contribuições sociais não
estão contempladas nas receitas tributárias;
A classificação por natureza de receita é sugerida „ Receita patrimonial: oriundo dos rendimentos
pelo § 4º, do art. 11, da Lei nº 4.320, de 1964. Na União, de investimentos e demais ativos pertencentes ao
a sua codificação é regrada pela SOF — Secretaria de ente, podem compreender as receitas imobiliá-
Orçamento Federal. Tem como objetivo facilitar a iden- rias, de valores imobiliários, de concessões e per-
tificação da origem do recurso, conforme o evento que missões, compensações financeiras, entre outros;
o deu origem. „ Receita agropecuária: são provenientes da
atividade de exploração agropecuária pelo
ente, seja na agricultura ou pecuária;
„ Receita industrial: resultado da exploração da
atividade industrial, extração mineral, entre
outras;
„ Receita de serviços: resultado da prestação de
serviços pelo ente, de transporte, saúde, finan-
ceiro, fiscalização, entre outros;
„ Transferências correntes: recursos oriundos
de outros entes, com o objetivo de ser aplicado
em despesas correntes, independente de con-
traprestação direta em bens e serviços;
„ Outras receitas correntes: ingresso de recur-
sos de outras origens não classificadas ante-
riormente (multas, juros, restituições etc.).

Exemplo: recolhimento de IRPF – natureza de receita Por sua vez, as receitas de capitais são destinadas ao
“1.1.1.3.01.1.1”. atendimento das despesas de capital e o superávit do orça-
mento corrente. Podem, ainda, ser oriundas das vendas de
Fonte: MTO (2020) bens e direitos do ente (venda de ativos e investimentos).
Exemplos:
Os § § 1º e 2º, do art. 11, apresentam explicitamen-
te a classificação por categoria econômica. Sob essa „ Operações de crédito: recursos oriundos da
perspectiva, as receitas são Correntes ou de Capital. colocação de títulos públicos no mercado (quan-
A classificação orçamentária por natureza de receita do o governo “vende” títulos de sua dívida no
é estabelecida pelo § 4º do mesmo art. 11. São Recei- mercado), ou do recebimento pela contratação
470 tas Correntes “as receitas tributária, de contribuições, de empréstimos e financiamentos;
„ Alienação de bens: recursos obtidos por meio
da venda de ativos do ente (venda de bens Previsão
móveis e bens imóveis); (planejamento)
„ Amortização de empréstimos: recebimento
de parcelas de empréstimos e financiamentos
que o ente concedeu a terceiros;
„ Transferências de capital: recursos oriundos de Lançamento
outros entes, com o objetivo de ser aplicado em (execução)
despesas de capital (investimentos, por exemplo);
„ Outras receitas de capital: ingresso de recur-
sos de outras origens não classificadas ante-
riormente (integralização do capital socia, Arrecadação
integralização com recursos do Tesouro etc.). (execução)

Quanto à classificação por identificador de resul-


tado primário temos a divisão em receitas primárias, Recolhimento
quando impactam o resultado primário e receitas (execução)
financeiras quando não integram esse cálculo. As
receitas primárias são compostas basicamente pela
arrecadação tributária. As receitas financeiras têm ori- z Previsão: trata do planejamento e estimativa das
gem nas operações do mercado financeiro como nas de arrecadações de receitas. Não consta explicitamen-
negociação de títulos públicos e outras aplicações do te na Lei n° 4.320, de 1964 e, dessa forma, vale exa-
governo. Temos então mais uma forma de classificação: minarmos o art. 12, da LRF;
z Lançamento: é o ato de verificação da procedên-
z Quanto à Identificação de Resultado Primário: cia de um crédito do ente competente para inscri-
primária ou financeira. ção do débito face ao devedor. Há uma menção ao
lançamento no art. 53:
Vistas as principais (e mais cobradas) classifica-
ções das receitas, abordaremos a seguir as etapas da Art. 53 O lançamento da receita é ato da repartição
receita orçamentária. competente, que verifica a procedência do crédito
fiscal e a pessoa que lhe é devedora e inscreve o
débito desta.
Etapas da Receita Orçamentária

Grave este mnemônico: PLAR z Arrecadação: representa a entrega dos recursos


pelos devedores e contribuintes ao Tesouro Nacio-
nal. Referenciamos novamente o I, art. 35:

Art. 35 Pertencem ao exercício financeiro:


I - as receitas nêle arrecadadas;

z Recolhimento: refere-se à transferência dos valo-


res arrecadados à conta do Tesouro Nacional, res-
ponsável pela consolidação e administração dos
recursos no âmbito da União. O recolhimento tam-

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


bém pode ser encontrado na Lei n° 4.320, no art.
56:

Art. 56 O recolhimento de tôdas as receitas far-se-


-á em estrita observância ao princípio de unidade
de tesouraria, vedada qualquer fragmentação para
criação de caixas especiais.

DESPESA ORÇAMENTÁRIA NA LEI N° 4.320,


DE 1964: CONCEITOS, RECONHECIMENTO E
CLASSIFICAÇÃO

As despesas, assim como as receitas, são classifi-


cadas em orçamentárias e extraorçamentárias. Resga-
tamos o conceito visto em subseções anteriores deste
Imagens para que possa se lembrar do Mnemônico: Pilar e “Pelando” mesmo material:

Brincadeiras à parte, o mnemônico PLAR se refere “Receitas orçamentárias são recursos que ingres-
às iniciais das fases da receita orçamentária: sam no patrimônio do Estado e servirão para o
financiamento de ações e programas para aten-
dimento das necessidades públicas e demandas
sociais. Já no caso das receitas extraorçamentárias,
o Estado é mero depositário dos recursos, como no
caso de recebimento de cauções [...] São receitas
meramente compensatórias.”

471
Dentro da mesma ideia, a despesa orçamentária é a transação que depende de autorização legislativa, mate-
rializada na forma de consignação de dotação orçamentária, e a despesa extraorçamentária é aquela que está
fora do escopo da lei orçamentária anual, ou seja, em que o ente serve de mero depositário do recurso ou quando
a despesa se refere à exercício diverso daquele em curso (caso do pagamento de restos a pagar).
Assim como na receita extraorçamentária, as operações de crédito por antecipação de receita na ponta das
despesas também são extraorçamentárias.
Referente ao seu relacionamento com o regime contábil, conforme já abordado, as despesas são reconhecidas
pelo regime de competência. Resgamos o nosso bom e velho art. 35, da Lei n° 4.320, de 1964:

Art. 35 Pertencem ao exercício financeiro:


I - as receitas nêle arrecadadas;
II - as despesas nêle legalmente empenhadas.

O inciso II do artigo supracitado dispõe sobre “despesas legalmente empenhadas” no exercício financeiro,
referindo-se ao reconhecimento da ocorrência da despesa e não o seu pagamento.
No que se refere à classificação, o art. 12, da Lei n° 4.320, de 1964, apresenta explicitamente a classificação por
categoria econômica. Sob essa perspectiva, as despesas são Correntes ou de Capital. Tal classificação tem o condão
de identificar o efeito econômico da realização das despesas.
Despesas de Capital formam ativos permanentes e as Despesas Correntes têm como finalidade a aplicação
nas necessidades cotidianas, como as despesas com pessoal. A Portaria Conjunta STN/SOF nº 1, de 2011, define
as despesas de capital como aquelas “que contribuem, diretamente, para a formação ou aquisição de um bem de
capital e as despesas correntes como aquelas que não contribuem diretamente para a formação ou aquisição de um
bem de capital”. Temos aqui uma classificação da despesa:

z Quanto à categoria econômica: corrente ou de capital

DESPESAS CORRENTES (LEI N° 4.320, DE 1964)


Despesas que não contribuem, diretamente, para a formação ou aquisição de um bem de capital. Exemplos:
� Despesas de custeio: pessoal civil, pessoal militar, material de consumo, serviços de terceiros, encargos diversos
� Transferências correntes: subvenções sociais, subvenções econômicas, juros da dívida pública, inativos, pensionis-
tas, salário-família e abono familiar, contribuições de Previdência Social, outras transferências correntes

DESPESAS DE CAPITAL (LEI N° 4.320, DE 1964)


Despesas que contribuem, diretamente, para a formação ou aquisição de um bem de capital. Exemplos:
� Investimentos: obras públicas, serviços em regime de programação especial, equipamentos e instalações, material
permanente, constituição ou aumento de capital de empresas que não sejam de caráter comercial ou financeiro
� Inversões financeiras: aquisições de imóveis ou bens de bens em capital já em utilização, aquisição de títulos represen-
tativo do capital de empresas ou entidades de qualquer espécies já constituídas (excetuadas as operações de aumento
de capital), constituição ou aumento de capital de empresas comerciais ou financeiras
� Transferências de capital: dotações para investimentos ou inversões financeiras que outras pessoas de direito públi-
co ou privado devam realizar, independentemente de contraprestação direta em bens ou serviços

Contudo, apesar das classificações da Lei 4.320/64 não terem sido revogadas, na prática, os entes aplicam a
classificação da Secretaria do Tesouro Nacional. Nessa classificação por grupo de natureza da despesa (GND),
as despesas correntes são divididas em pessoal e encargos sociais, juros e encargos da dívida e outras des-
pesas correntes. As despesas de capital são divididas em investimentos, inversões financeiras e amortização
da dívida. Trata-se somente de novas subdivisões, pois ambas as categorias continuam englobando as mesmas
despesas.

Importante!
Apesar de ainda estar em vigor, a classificação das receitas e despesas dispostas pela Lei n° 4.320, de 1964,
não são utilizadas na prática, sendo válidas as classificações da STN. De qualquer forma, vale a memorização
da classificação da Lei n° 4.320, de 1964, por vezes exigido em exames.

z Grupo de natureza da despesa:

„ Pessoal e encargos sociais: despesas com pessoal ativo, pensionistas, civis, militares, com qualquer espé-
cie remuneratória.
„ Juros e encargos da dívida: pagamento de juros comissões e outros encargos assumidos nas operações de
crédito internas e externas.
„ Outras despesas correntes: aquisição de material de consumo, serviços diversos, e outras despesas não
classificáveis anteriormente.
„ Investimentos: planejamento e execução de obras, aquisição de imóveis, equipamentos e materiais
permanentes.

472
„ Inversões financeiras: aquisição de imóveis e z Fixação: chamado também de programação, refe-
bens de capital já em utilização, aquisição de re-se à dotação inserida na lei orçamentária anual.
títulos do capital de empresas já constituídas. Trata-se de um limite fixado no orçamento, que
„ Amortização da dívida: pagamento e/ou refi- passou por todo o rito de apreciação e aprovação
nanciamento do principal. no Congresso Nacional;
z Empenho: consiste na reserva de dotação orça-
A classificação institucional reflete a estrutura de mentária para um fim específico. É o primeiro
alocação dos créditos orçamentários estruturados em estágio da execução da despesa. O empenho é efe-
dois níveis hierárquicos: órgão orçamentário e unida- tivado pelo ordenador de despesa, materializado
de orçamentária. O art. 14, da Lei n° 4.320, de 1964, pela nota do empenho, onde constam todas as
elucida o conceito da unidade orçamentária: informações necessárias para controle da despesa,
como o nome do fornecedor/prestador, importân-
Art. 14 Constitui unidade orçamentária o agrupa- cia a ser paga. O art. 58 define o empenho:
mento de serviços subordinados ao mesmo órgão
ou repartição a que serão consignadas dotações Art. 58 O empenho de despesa é o ato emanado de
próprias. autoridade competente que cria para o Estado obri-
Parágrafo único. Em casos excepcionais, serão gação de pagamento pendente ou não de implemen-
consignadas dotações a unidades administrativas to de condição.
subordinadas ao mesmo órgão.
O empenho desencadeia uma obrigação orçamen-
Os órgãos orçamentários correspondem ao agru- tária do ente – um passivo financeiro (diferente de
pamento das unidades orçamentárias. Por exemplo: um passivo patrimonial, relacionado a uma obrigação
26000 — MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO (órgão financeira). Outros dispositivos relevantes da Lei n°
orçamentário) 4.320, de 1964, relacionados ao empenho dizem res-
26242 — Universidade Federal de Pernambuco peito à vedação do empenho de despesa superior ao
26403 — Instituto Federal de Educação, Ciência e limite dos créditos concedidos, vedação à realização
Tecnologia do Amazonas (IFAM) da despesa sem prévio empenho (art. 60), a obrigato-
Outras classificações da despesa são abordadas nos riedade da nota de empenho (art. 61).
exames, como a classificação funcional e por estrutura
programática, os quais detalharemos em tópicos espe- z Liquidação: trata-se da verificação do direito
cialmente dedicados ao estudo da despesa pública. adquirido pelo credor. É o ato de confirmar se o
que foi acordado, contratado e combinado foi, de
ETAPAS DA DESPESA ORÇAMENTÁRIA fato, executado. Os dispositivos a seguir deixam
bem claro a definição da liquidação:
Grave este mnemônico: FELP.
Art. 62 O pagamento da despesa só será efetuado
quando ordenado após sua regular liquidação.
Art. 63 A liquidação da despesa consiste na veri-
ficação do direito adquirido pelo credor tendo por
base os títulos e documentos comprobatórios do
respectivo crédito.
§ 1° Essa verificação tem por fim apurar:

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


I - a origem e o objeto do que se deve pagar;
II - a importância exata a pagar;
III - a quem se deve pagar a importância, para
extinguir a obrigação.
§ 2º A liquidação da despesa por fornecimentos fei-
tos ou serviços prestados terá por base:
Imagem para que possa se lembrar do Mnemônico (depois deste
I - o contrato, ajuste ou acordo respectivo;
curso você será um multicampeão como Michael PHELPS!)
II - a nota de empenho;
III - os comprovantes da entrega de material ou da
Fixação prestação efetiva do serviço.
(planejamento)
z Pagamento: terceiro e última etapa da execução
da despesa orçamentária, envolve a entrega efeti-
va do numerário ao fornecedor ou prestador. Os
Empenho arts. 64 e 65, da Lei n° 4.320, de 1964, tratam deste
(execução) estágio:

Art. 64 A ordem de pagamento é o despacho exara-


do por autoridade competente, determinando que a
Liquidação
despesa seja paga.
(execução)
Art. 65 O pagamento da despesa será efetuado por
tesouraria ou pagadoria regularmente instituídos
por estabelecimentos bancários credenciados e, em
Pagamento casos excepcionais, por meio de adiantamento.
(execução)
473
Não confunda a ordem de pagamento com o efeti- Dessa forma, nota-se que o uso do PCASP é obri-
vo pagamento. O primeiro diz respeito ao documento gatório para todos os órgãos e entidades da Admi-
que “autorizará” o pagamento e o segundo, a efetiva nistração Pública, tanto direta como indireta, dos
entrega dos recursos feito pela área competente do entes da Federação (União, estados, Distrito Federal e
órgão (tesouraria, pagadoria etc.). municípios), sendo incluídos nesse rol os seus fundos,
autarquias, inclusive especiais, fundações e empresas
estatais dependentes.
Atenção! A única exceção do uso obrigatório do
FIXAÇÃO DA DESPESA E EMPENHO, PCASP é para as estatais independentes.

LIQUIDAÇÃO E PAGAMENTO ESTRUTURA BÁSICA

CONCEITOS INICIAIS O plano de contas aplicado ao setor público foi


dividido em grandes grupos de contas conforme as
Antes de entrarmos no plano de contas propria- naturezas contábeis. Nessa linha, o plano foi feito
mente dito, vamos entender o que é e qual o papel de seguindo uma metodologia que permitiu o regis-
uma conta contábil. tro dos dados contábeis de uma forma organizada e
Segundo o Manual de Contabilidade Aplicado ao capaz de facilitar a análise das informações conforme
Setor Público, conta contábil é a forma de mostrar a sua natureza.
qualitativa e quantitativamente os fatos que apre- Diante disso, vejamos que o Plano de Contas Apli-
sentam a mesma natureza, a qual evidencia a forma- cado ao Setor Público está organizado de acordo com
ção, a mudança e a real situação do patrimônio, como as seguintes naturezas das informações contábeis:
também de bens, direitos, obrigações e situações que
não fazem parte dele, mas que, de forma direta ou
indireta, possam vir a influenciá-lo. NATUREZA DA
DETALHAMENTO
Dessa forma, podemos dizer que o plano de contas é INFORMAÇÃO
um conjunto de contas, diretrizes e normas capazes de
orientar as atividades do setor de contabilidade, bus- Registro e processamento, além
cando, assim, a padronização dos registros contábeis. de evidenciar os atos e os fatos
Orçamentária
No que se refere ao setor público, foi criado o Pla- relacionados ao planejamento e a
no de Contas Único do Governo Federal (PCASP). Tal respectiva execução orçamentária
plano é a estrutura básica da escrituração contábil, a Responsável por registrar, eviden-
qual é composta por uma lista de contas contábeis que ciar e processar tanto os fatos
permite um registro contábil uniforme e organizado. financeiros como também os não
O PCASP, segundo o MCASP, representa uma das Patrimonial financeiros relacionados com a
maiores conquistas da contabilidade aplicada ao setor composição do patrimônio público
público. Vejamos a razão de o manual dar tanto desta- e suas respectivas variações quali-
que a esse plano: tativas e quantitativas

O PCASP representa uma das maiores conquistas Registra, processa e evidencia os


da contabilidade aplicada ao setor público. Além atos de gestão que, pelos seus
de ser uma ferramenta para a consolidação das efeitos, são capazes de produzir
contas nacionais e instrumento para a adoção das Controle modificações no patrimônio tanto
normas internacionais de contabilidade, o PCASP da entidade do setor público como
permitiu diversas inovações, por exemplo: também daqueles com funções
a. Segregação das informações orçamentárias e específicas de controle
patrimoniais: no PCASP as contas contábeis são
classificadas segundo a natureza das informações
que evidenciam – orçamentária, patrimonial e de Essas naturezas das informações são divididas em
controle, de modo que os registros orçamentários oito classes, a saber:
não influenciem ou alterem os registros patrimo-
niais, e vice-versa.
b. Registro dos fatos que afetam o patrimônio públi- PCASP
co segundo o regime de competência: as variações
patrimoniais aumentativas (VPA) e as variações NATUREZA DA
CLASSES
patrimoniais diminutivas (VPD) registram as tran- INFORMAÇÃO
sações que aumentam ou diminuem o patrimônio
líquido, devendo ser reconhecidas nos períodos a 1. Ativo 2. Passivo
que se referem, segundo seu fato gerador, sejam
Patrimonial 3. Variações 4. Variações
elas dependentes ou independentes da execução
orçamentária. patrimoniais patrimoniais
c. Registro de procedimentos contábeis gerais em diminutivas aumentativas
observância às normas internacionais, como as
5. Controles da 6. Controles da
provisões, os créditos tributários e não tributários,
aprovação do execução do
os estoques, os ativos imobilizados e intangíveis, Orçamentária
planejamento e planejamento e
dentre outros. Incluem-se também os procedimen-
tos de mensuração após o reconhecimento, tais orçamento orçamento
como a reavaliação, a depreciação, a amortiza- 7. Controles 8. Controles
ção, a exaustão e a redução ao valor recuperável Controle
devedores credores
474 (impairment), dentre outros. (MCASP, 2021, p. 26)
No que se refere aos lançamentos contábeis, é importante que nos atentemos à regra mais cobrada em provas:
deve-se debitar, bem como creditar, as contas que apresentarem a mesma natureza de informação.
Dessa forma, os valores totais lançados tanto a título de débito como também a título de crédito em contas de
mesma natureza de informação devem apresentar valores iguais.
Vejamos a previsão dos lançamentos no MCASP:

Assim, os lançamentos estarão fechados dentro das classes 1 a 4 ou das classes 5 e 6 ou das classes 7 e 8:
a. Lançamentos de natureza patrimonial: apenas debitam e creditam contas das classes 1, 2, 3 e 4.
b. Lançamentos de natureza orçamentária: apenas debitam e creditam contas das classes 5 e 6.
c. Lançamentos de natureza de controle: apenas debitam e creditam contas das classes 7 e 8. (MCASP, 2021, p. 476)

Agora, precisamos analisar os conceitos referentes a cada uma das classes que compõem o PCASP. Preste bas-
tante atenção aos conceitos apresentados a seguir, pois eles aparecem nas provas da forma como está descrito.
No que se refere às classes e suas respectivas funções, vejamos separadamente:

z Ativo: aborda todos os recursos que determinada organização possui ou administra decorrentes de ações
anteriores. É importante que tais recursos sejam capazes de gerar ganhos financeiros ou de prestar serviços
no futuro para tal organização;
z Passivo e patrimônio líquido: pode-se dizer que “passivo” se refere tanto às dívidas como também aos
compromissos que determinada organização possui ou assume em razão de ações anteriores e que, necessa-
riamente, deverão ser pagos ou cumpridos com a saída de recursos que contenham valor financeiro ou capa-
cidade de oferecer serviços. Em contrapartida, patrimônio líquido trata da diferença entre o que determinada
organização possui ou administra e o que ela deve, bem como acerca do que ela deve fazer;
z Variações patrimoniais diminutivas: refere-se à perda de valor financeiro durante o tempo de registro con-
tábil em razão de gasto de recurso ou, até mesmo, de diminuição de bens ou direitos que possa acarretar o
aumento de dívidas ou compromissos, sendo capaz de fazer com que o patrimônio líquido fique menor e sen-
do causada por pagamento aos donos;
z Variações patrimoniais aumentativas: refere-se ao ganho de valor financeiro durante o tempo de registro
contábil em razão de recebimento de determinado recurso ou crescimento de bens e direitos, que acarreta a
redução de dívidas ou compromissos, capaz de fazer com que o patrimônio líquido permaneça maior e que
não seja causado por contribuição dos donos;
z Controles da aprovação e controle de execução do planejamento e orçamento: são as categorias contábeis
que têm o papel de anotar as ações e também os acontecimentos relacionados ao cumprimento integral do
orçamento;
z Controle de credores e devedores: refere-se às categorias contábeis que são usadas para anotar as ações
possíveis e também as supervisões de particulares.

TABELA DE EVENTOS

A tabela de eventos é um manual no qual estão compilados todos os eventos utilizados pelo Sistema Integrado
de Administração Financeira (SIAFI). Todos os lançamentos feitos no SIAFI são efetuados de acordo com os códi-
gos apresentados nessa tabela.

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


Da mesma forma que são muitas as contas do plano de contas, são também muitos os gestores públicos que
não têm conhecimentos profundos acerca da contabilidade pública, razão pela qual foi criado outro mecanismo
dentro do SIAFI com o intuito de facilitar o trabalho de registro dos atos e fatos de gestão.
Com a tabela de eventos, a contabilização se dá de forma automática. Essa ferramenta consiste em uma rela-
ção de fatos contábeis codificados; dessa forma, para cada código existe um conjunto de lançamentos (débitos e
créditos) que são realizados automaticamente pelo sistema. Então, os operadores do SIAFI não precisam dominar
por completo os lançamentos contábeis. Basta compreender a lógica do evento que será utilizado.
Dessa forma, o código do evento será composto de seis algarismos dispostos da seguinte forma:

475
No que tange aos fundamentos lógicos, é necessá- o) Os eventos 80.0.XXX são eventos de crédito utiliza-
rio conhecer o que diz o próprio Manual SIAFI (2023): dos para a apropriação da receita e/ou outros depó-
sitos que exigem, como contrapartida, eventos de
a) os eventos mantêm correlação com os documen- entrada em bancos. Ou um evento de débito em algum
tos de entrada do Sistema, a exceção dos eventos momento. (Ministério da Fazenda, 2023, p. 108-112)
das classes 50, 60, 70 e 80, que podem constar indis-
tintamente das NL, OB e GR; Dica
b) os eventos 10.0.XXX são preenchidos de forma
individual na NL e se destinam a registrar a previ- Não é necessário decorar todos os fundamen-
são da receita; tos descritos pela norma, apenas saber que eles
c) os eventos 20.0.XXX são indicados na ND e obje- existem e que há uma razão de ser da tabela de
tivam registrar a Dotação da Despesa; tais eventos eventos.
são preenchidos de forma individual, com algumas
exceções de utilização, porém conjugados com CONTABILIZAÇÃO DOS PRINCIPAIS FATOS
eventos da mesma Classe; CONTÁBEIS
d) os eventos 30.0.XXX são indicados de forma indi-
vidual na NC e se destinam a registrar a movimen-
Dentro deste tópico, sempre considere que o “D”
tação de créditos orçamentários;
significa “débito” e que o “C” significa “crédito”.
e) os eventos 40.0.XXX são preenchidos automati-
camente na NE ou PE e objetivam registrar a emis-
são de Empenhos ou Pré-empenhos; PREVISÃO DA RECEITA
f) os eventos 50.0.XXX, são eventos de débito e
quando preenchidos na NL, não podem apresen- A contabilização da previsão da receita ocorrerá
tar-se de forma individual, exceto os de Classe 54. nos casos em que houver a aprovação do orçamento. De
Isto porque são eventos representativos de partida acordo com o MCASP, quando o orçamento é aprovado,
contábil de débitos (Classes 51, 53 e 55) e de crédi- apenas serão feitos registros contábeis, sob a ótica do
tos (52 e 56); ou de forma 5x.5.xxx contra 5x.0.xxx. Plano de Contas Aplicado ao Setor Público, dentro da
Obs: Exceto o evento 501468, que só é utilizado em natureza de informação orçamentária. Vejamos:
NS (Nota de Sistema), e serve para registrar valores
inscritos em Restos a Pagar não Processados. Natureza da informação: orçamentária
g) os eventos 51.0.XXX são eventos de débitos que D 5.2.1.1.x.xx.xx Previsão Inicial da Receita
são utilizados sempre que a despesa for reconhe- C 6.2.1.1.x.xx.xx Receita a Realizar. (MCASP, 2021,
cida, esteja ou não em condições de pagamento. p. 58)
Estes eventos exigem como complemento, eventos
52.0.XXX para o caso de retenção da respectiva FIXAÇÃO DA DESPESA
obrigação ou fechamento da respectiva NL. Em se
tratando de pagamento direto, o evento de despesa
A fixação da despesa orçamentária integra o pro-
é utilizado na OB que apropria e liquida simulta-
cesso de planejamento e envolve a escolha de ações
neamente a despesa;
para alcançar um cenário desejado, considerando os
h) Os eventos 52.0.XXX são eventos de débito uti-
lizados em conjunto com o evento 51.0.XXX tam-
recursos existentes e seguindo as orientações e priori-
bém evento de débito sempre que houver retenção dades definidas pelo próprio governo.
da obrigação para pagamento posterior ou para Como isso será registrado na contabilidade públi-
fechamento de NL; ca? Assim como a estimativa da receita, será utilizado
i) Os eventos 53.0.3XX são eventos de débito utili- somente o tipo de informação orçamentária. Vejamos:
zados para liquidar obrigações retidas através dos
eventos 52.0.2XX, e suas dezenas finais mantém, na Natureza da informação: orçamentária
sua maioria, correlação entre si, para facilitar a D 5.2.2.1.1.xx.xx Dotação Inicial
identificação e o uso dos mesmos; 50 Manual SIAFI C 6.2.2.1.1.xx.xx Crédito Disponível. (MCASP, 2021,
– FNS/Ccont p. 148)
j) Os eventos 54.0.XXX são utilizados de forma
individual e se destinam a realização de registros LIQUIDAÇÃO E PAGAMENTO
contábeis diversos (debitam e creditam ao mesmo
tempo, ou seja, não tem contrapartida); A liquidação é o terceiro passo para a execução da
k) Os eventos 55.0.XXX são eventos de débito utili- despesa pública e consiste na verificação do direito
zados para apropriar os valores representativos de adquirido pelo credor com base nos documentos com-
direitos, inclusive por desembolsos efetuados pela probatórios do respectivo crédito.
própria UG para prestação de contas posterior; Dessa forma, a liquidação é o momento em que
l) Os eventos 56.0.6XX são eventos de crédito utili- se confirma que o objeto da despesa foi entregue ou
zados para liquidar os direitos apropriados pelos
realizado conforme o contrato ou a nota de empenho.
eventos 55.0.5XX e suas dezenas finais mantém, na
Assim, ela é feita pelo fiscal do contrato ou pelo setor
sua maioria, correlação entre si, para facilitar a
responsável pela conferência da despesa. A liquida-
identificação e o uso dos mesmos;
m) Os eventos 61.0.XXX são eventos de débito utili- ção atesta que o credor cumpriu com suas obrigações
zados para liquidar os restos a pagar inscritos no e que tem direito ao pagamento.
final do exercício anterior e exigem, como contra- Para que a liquidação seja realizada, é necessário
partida, eventos de saída de bancos; que sejam apresentados os seguintes documentos:
n) Os eventos 70.0.XXX são eventos de débito utili-
zados para realização de transferências financeiras z Contrato, ajuste ou acordo respectivo: docu-
e exigem, como contrapartida, eventos de saída de mento que formaliza a obrigação assumida pela
476 bancos; quando utilizado em OB (Ordem Bancária). Administração Pública;
z Nota de empenho: documento que autoriza o arrendamento mercantil e outras operações asse-
pagamento da despesa; melhadas, inclusive com o uso de derivativos
z Comprovantes da entrega de material ou da pres- financeiros;
tação efetiva do serviço: documentos que com- [...]
provam que o bem ou serviço foram entregues ou
prestados conforme as condições estabelecidas no A Lei Complementar (LC) nº 101, de 2000 (Lei de
contrato. Responsabilidade Fiscal — LRF), conceitua operação
de crédito no inciso III, do art. 29, e dá algumas provi-
A liquidação deve ser realizada no prazo de 30 dias, dências acerca desse instituto.
contados da data da emissão da nota de empenho. Todas as atividades financeiras exemplificadas no
Veja a seguir um exemplo sobre liquidação. citado preceito legal constituem operações de crédito.
Imagine que uma prefeitura realize uma licitação
para a compra de 100 computadores. A empresa ven- DA CONTRATAÇÃO
cedora da licitação é contratada e fornece os compu-
tadores à prefeitura. A prefeitura emite uma nota de Art. 32 O Ministério da Fazenda verificará o cum-
empenho para o pagamento da despesa. primento dos limites e condições relativos à rea-
Para que a liquidação da despesa seja realizada, a lização de operações de crédito de cada ente da
prefeitura deve verificar se os computadores foram Federação, inclusive das empresas por eles contro-
entregues conforme as condições estabelecidas no ladas, direta ou indiretamente.
contrato. Para isso, o órgão executivo municipal pode § 1º O ente interessado formalizará seu pleito fun-
damentando-o em parecer de seus órgãos técnicos e
realizar uma inspeção nos computadores para verifi-
jurídicos, demonstrando a relação custo-benefício,
car se eles estão em bom estado de funcionamento;
o interesse econômico e social da operação e o aten-
após a inspeção, será possível a emissão de um termo
dimento das seguintes condições:
que liquida a despesa, de forma que atesta o cumpri- I - existência de prévia e expressa autorização para
mento da obrigação assumida. a contratação, no texto da lei orçamentária, em cré-
Ainda, o pagamento é o quarto e último passo ditos adicionais ou lei específica;
para a execução da despesa pública e consiste na II - inclusão no orçamento ou em créditos adicio-
entrega do valor devido ao credor por meio de che- nais dos recursos provenientes da operação, exceto
que, ordem bancária, transferência eletrônica ou no caso de operações por antecipação de receita;
outro meio legal. Assim, é o momento em que se extin- III - observância dos limites e condições fixados
gue a obrigação de pagamento criada pelo empenho. pelo Senado Federal;
Ele é realizado pelo setor financeiro do órgão público, IV - autorização específica do Senado Federal,
após a liquidação da despesa, e deve ser feito dentro quando se tratar de operação de crédito externo;
do prazo estabelecido no contrato ou na legislação. V - atendimento do disposto no inciso III do art. 167
Para que o pagamento seja realizado, é necessário que da Constituição;
a despesa esteja liquidada e que haja disponibilidade de VI - observância das demais restrições estabeleci-
recursos financeiros no orçamento público. O pagamento das nesta Lei Complementar.
da despesa pública pode ser realizado por meio de: § 2º As operações relativas à dívida mobiliária fede-
ral autorizadas, no texto da lei orçamentária ou de
créditos adicionais, serão objeto de processo sim-
z Transferência bancária: transferência dos recur-
plificado que atenda às suas especificidades.
sos financeiros da conta do tesouro público para a
§ 3º Para fins do disposto no inciso V do § 1º, consi-
conta do beneficiário da despesa;
derar-se-á, em cada exercício financeiro, o total dos

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


z Cheque: emissão de cheque em favor do beneficiá- recursos de operações de crédito nele ingressados
rio da despesa; e o das despesas de capital executadas, observado
z Boleto bancário: emissão de boleto bancário para o seguinte:
pagamento pelo beneficiário da despesa. I - não serão computadas nas despesas de capital
as realizadas sob a forma de empréstimo ou finan-
Veja a seguir um exemplo sobre pagamento. ciamento a contribuinte, com o intuito de promover
Ainda no exemplo anterior, após a liquidação da incentivo fiscal, tendo por base tributo de compe-
despesa a prefeitura pode realizar seu pagamento por tência do ente da Federação, se resultar a diminui-
meio de transferência bancária. Para isso, a prefeitura ção, direta ou indireta, do ônus deste;
deve identificar a conta bancária da empresa fornece- II - se o empréstimo ou financiamento a que se refe-
dora dos computadores e realizar a transferência dos re o inciso I for concedido por instituição financeira
recursos financeiros. controlada pelo ente da Federação, o valor da ope-
ração será deduzido das despesas de capital;
III - (VETADO)
§ 4º Sem prejuízo das atribuições próprias do
OPERAÇÃO DE CRÉDITO Senado Federal e do Banco Central do Brasil, o
Ministério da Fazenda efetuará o registro eletrôni-
CONCEITO co centralizado e atualizado das dívidas públicas
interna e externa, garantido o acesso público às
Art. 29 Para os efeitos desta Lei Complementar, são informações, que incluirão:
adotadas as seguintes definições: I - encargos e condições de contratação;
[...] II - saldos atualizados e limites relativos às dívidas
III - operação de crédito: compromisso finan- consolidada e mobiliária, operações de crédito e
ceiro assumido em razão de mútuo, abertura de concessão de garantias.
crédito, emissão e aceite de título, aquisição finan- § 5º Os contratos de operação de crédito externo
ciada de bens, recebimento antecipado de valores não conterão cláusula que importe na compensa-
provenientes da venda a termo de bens e serviços, ção automática de débitos e créditos. 477
§ 6º O prazo de validade da verificação dos limites entidades da administração indireta, ainda que sob
e das condições de que trata este artigo e da análise a forma de novação, refinanciamento ou posterga-
realizada para a concessão de garantia pela União ção de dívida contraída anteriormente.
será de, no mínimo, 90 (noventa) dias e, no máximo, § 1º Excetuam-se da vedação a que se refere o caput
270 (duzentos e setenta) dias, a critério do Ministé- as operações entre instituição financeira estatal e
rio da Fazenda. outro ente da Federação, inclusive suas entidades
§ 7º Poderá haver alteração da finalidade de opera- da administração indireta, que não se destinem a:
ção de crédito de Estados, do Distrito Federal e de I - financiar, direta ou indiretamente, despesas
Municípios sem a necessidade de nova verificação correntes;
pelo Ministério da Economia, desde que haja prévia e II - refinanciar dívidas não contraídas junto à pró-
expressa autorização para tanto, no texto da lei orça- pria instituição concedente.
mentária, em créditos adicionais ou em lei específica, § 2º O disposto no caput não impede Estados e
que se demonstre a relação custo-benefício e o inte- Municípios de comprar títulos da dívida da União
resse econômico e social da operação e que não con- como aplicação de suas disponibilidades.
figure infração a dispositivo desta Lei Complementar.
Proibição de realização de operação de crédito
A contratação da operação de crédito deverá entre entes federativos, diretamente ou por meio de
seguir as determinações do art. 32, da LRF, cabendo ao suas instituições públicas. Apesar disso, é permitido
Ministério da Fazenda verificar os limites e condições que estados e municípios comprem títulos da dívida
da referida contratação, estabelecidos no § 1º. da União.
Além disso, esse preceito ainda determina como
serão efetuadas as garantias para realização da ope- Art. 36 É proibida a operação de crédito entre uma
ração de crédito, prazo de validade e verificação de instituição financeira estatal e o ente da Federa-
limites de contratação. ção que a controle, na qualidade de beneficiário do
empréstimo.
Art. 33 A instituição financeira que contratar ope- Parágrafo único. O disposto no caput não proíbe
ração de crédito com ente da Federação, exceto instituição financeira controlada de adquirir, no
quando relativa à dívida mobiliária ou à externa, mercado, títulos da dívida pública para atender
deverá exigir comprovação de que a operação aten- investimento de seus clientes, ou títulos da dívida
de às condições e limites estabelecidos. de emissão da União para aplicação de recursos
§ 1º A operação realizada com infração do dispos- próprios.
to nesta Lei Complementar será considerada nula,
procedendo-se ao seu cancelamento, mediante a Proibição de operação de crédito entre ente fede-
devolução do principal, vedados o pagamento de rativo e estatal controlada pelo próprio ente que pre-
juros e demais encargos financeiros. tende contratar. Apesar disso, essa estatal controlada
§ 2º Se a devolução não for efetuada no exercício poderá adquirir títulos da dívida pública nas situa-
de ingresso dos recursos, será consignada reser- ções previstas no parágrafo único, do art. 36.
va específica na lei orçamentária para o exercício
seguinte.
Art. 37 Equiparam-se a operações de crédito e
§ 3º Enquanto não for efetuado o cancelamento ou
estão vedados:
a amortização ou constituída a reserva de que tra-
I - captação de recursos a título de antecipação de
ta o § 2º, aplicam-se ao ente as restrições previstas
receita de tributo ou contribuição cujo fato gerador
no § 3º do art. 23.
ainda não tenha ocorrido, sem prejuízo do disposto
§ 4º Também se constituirá reserva, no montante
no § 7º do art. 150 da Constituição;
equivalente ao excesso, se não atendido o disposto
II - recebimento antecipado de valores de empresa
no inciso III do art. 167 da Constituição, considera-
em que o Poder Público detenha, direta ou indire-
das as disposições do § 3º do art. 32.
tamente, a maioria do capital social com direi-
to a voto, salvo lucros e dividendos, na forma da
O art. 33 estabelece obrigações para a instituição legislação;
financeira que contratar operação de crédito com o III - assunção direta de compromisso, confissão
ente federativo, devendo exigir documento que com- de dívida ou operação assemelhada, com forne-
prove o atendimento às condições e limites estabe- cedor de bens, mercadorias ou serviços, mediante
lecidos para a operação de crédito que se pretende emissão, aceite ou aval de título de crédito, não
realizar. se aplicando esta vedação a empresas estatais
dependentes;
DAS VEDAÇÕES IV - assunção de obrigação, sem autorização orça-
mentária, com fornecedores para pagamento a pos-
Art. 34 O Banco Central do Brasil não emitirá títu- teriori de bens e serviços.
los da dívida pública a partir de dois anos após a
publicação desta Lei Complementar. Apesar de estarem equiparadas à operação de cré-
dito, as atividades financeiras estabelecidas no art. 37
Determinação para o Banco Central (é muito são proibidas.
cobrada em questões de concurso na sua literalidade).
Os títulos da dívida pública não poderão ser emitidos DAS OPERAÇÕES DE CRÉDITO POR ANTECIPAÇÃO
pelo Banco Central. DE RECEITA ORÇAMENTÁRIA

Art. 35 É vedada a realização de operação de cré- Art. 38 A operação de crédito por antecipação de
dito entre um ente da Federação, diretamente ou receita destina-se a atender insuficiência de caixa
por intermédio de fundo, autarquia, fundação ou durante o exercício financeiro e cumprirá as exi-
478 empresa estatal dependente, e outro, inclusive suas gências mencionadas no art. 32 e mais as seguintes:
I - realizar-se-á somente a partir do décimo dia do § 4º É vedado ao Tesouro Nacional adquirir títulos
início do exercício; da dívida pública federal existentes na carteira do
II - deverá ser liquidada, com juros e outros encar- Banco Central do Brasil, ainda que com cláusula de
gos incidentes, até o dia dez de dezembro de cada reversão, salvo para reduzir a dívida mobiliária.
ano;
III - não será autorizada se forem cobrados outros Trata de mais vedações estabelecidas ao Banco
encargos que não a taxa de juros da operação, obri- Central, além daquelas já previstas no art. 35, da mes-
gatoriamente prefixada ou indexada à taxa básica ma LRF.
financeira, ou à que vier a esta substituir;
IV - estará proibida: DA GARANTIA E DA CONTRAGARANTIA
a) enquanto existir operação anterior da mesma
natureza não integralmente resgatada; Art. 40 Os entes poderão conceder garantia em
b) no último ano de mandato do Presidente, Gover- operações de crédito internas ou externas, obser-
nador ou Prefeito Municipal. vados o disposto neste artigo, as normas do art. 32
§ 1º As operações de que trata este artigo não serão e, no caso da União, também os limites e as con-
computadas para efeito do que dispõe o inciso III do dições estabelecidos pelo Senado Federal e as nor-
art. 167 da Constituição, desde que liquidadas no mas emitidas pelo Ministério da Economia acerca
prazo definido no inciso II do caput. da classificação de capacidade de pagamento dos
§ 2º As operações de crédito por antecipação de mutuários.
receita realizadas por Estados ou Municípios serão § 1º A garantia estará condicionada ao oferecimen-
efetuadas mediante abertura de crédito junto à ins- to de contragarantia, em valor igual ou superior
tituição financeira vencedora em processo compe- ao da garantia a ser concedida, e à adimplência da
titivo eletrônico promovido pelo Banco Central do entidade que a pleitear relativamente a suas obri-
Brasil. gações junto ao garantidor e às entidades por este
§ 3º O Banco Central do Brasil manterá sistema de controladas, observado o seguinte:
acompanhamento e controle do saldo do crédito I - não será exigida contragarantia de órgãos e enti-
aberto e, no caso de inobservância dos limites, apli- dades do próprio ente;
cará as sanções cabíveis à instituição credora. II - a contragarantia exigida pela União a Estado ou
Município, ou pelos Estados aos Municípios, pode-
Trata-se de uma espécie de operação de crédito, na rá consistir na vinculação de receitas tributárias
qual será antecipada uma receita futura. diretamente arrecadadas e provenientes de trans-
Por exemplo: um imposto que é pago em 10 parce- ferências constitucionais, com outorga de poderes
ao garantidor para retê-las e empregar o respectivo
las no decorrer do exercício financeiro, cujo valor, no
valor na liquidação da dívida vencida.
entanto, é necessitado pelo ente federativo já no mês
§ 2º No caso de operação de crédito junto a orga-
de janeiro. Nesse caso, poderá ser realizada operação nismo financeiro internacional, ou a instituição
de crédito por antecipação de receita orçamentária no federal de crédito e fomento para o repasse de
valor exato do total da receita — havendo apenas a recursos externos, a União só prestará garantia a
antecipação da receita para o mês de janeiro. ente que atenda, além do disposto no § 1º, as exi-
Após isso, com os pagamentos sendo realizados gências legais para o recebimento de transferências
pelo contribuinte, o ente federativo vai quitando as voluntárias.
parcelas da operação de crédito. § 3º (VETADO)
§ 4º (VETADO)
DAS OPERAÇÕES COM O BANCO CENTRAL DO § 5º É nula a garantia concedida acima dos limites
fixados pelo Senado Federal.

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


BRASIL
§ 6º É vedado às entidades da administração indireta,
inclusive suas empresas controladas e subsidiárias,
Art. 39 Nas suas relações com ente da Federação,
conceder garantia, ainda que com recursos de fundos.
o Banco Central do Brasil está sujeito às vedações
§ 7º O disposto no § 6º não se aplica à concessão de
constantes do art. 35 e mais às seguintes:
garantia por:
I - compra de título da dívida, na data de sua colo-
I - empresa controlada a subsidiária ou controlada
cação no mercado, ressalvado o disposto no § 2º
sua, nem à prestação de contragarantia nas mes-
deste artigo; mas condições;
II - permuta, ainda que temporária, por intermédio II - instituição financeira a empresa nacional, nos
de instituição financeira ou não, de título da dívida termos da lei.
de ente da Federação por título da dívida pública § 8º Excetua-se do disposto neste artigo a garantia
federal, bem como a operação de compra e venda, prestada:
a termo, daquele título, cujo efeito final seja seme- I - por instituições financeiras estatais, que se
lhante à permuta; submeterão às normas aplicáveis às instituições
III - concessão de garantia. financeiras privadas, de acordo com a legislação
§ 1º O disposto no inciso II, in fine, não se aplica pertinente;
ao estoque de Letras do Banco Central do Brasil, II - pela União, na forma de lei federal, a empresas
Série Especial, existente na carteira das instituições de natureza financeira por ela controladas, direta
financeiras, que pode ser refinanciado mediante e indiretamente, quanto às operações de seguro de
novas operações de venda a termo. crédito à exportação.
§ 2º O Banco Central do Brasil só poderá comprar § 9º Quando honrarem dívida de outro ente, em
diretamente títulos emitidos pela União para refi- razão de garantia prestada, a União e os Estados
nanciar a dívida mobiliária federal que estiver ven- poderão condicionar as transferências constitucio-
cendo na sua carteira. nais ao ressarcimento daquele pagamento.
§ 3º A operação mencionada no § 2º deverá ser rea- § 10 O ente da Federação cuja dívida tiver sido
lizada à taxa média e condições alcançadas no dia, honrada pela União ou por Estado, em decorrência
em leilão público. de garantia prestada em operação de crédito, terá 479
suspenso o acesso a novos créditos ou financiamen- Inscrição dos Restos a Pagar
tos até a total liquidação da mencionada dívida.
§ 11 A alteração da metodologia utilizada para fins No fim do exercício, as despesas orçamentárias
de classificação da capacidade de pagamento de empenhadas e não pagas podem ser inscritas em res-
Estados e Municípios deverá ser precedida de con- tos a pagar. A inscrição de restos a pagar deve obser-
sulta pública, assegurada a manifestação dos entes. var as disponibilidades financeiras e condições da
legislação pertinente, de modo a prevenir riscos e cor-
Na contratação de operação de crédito, a institui- rigir desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas
ção financeira exigirá garantias para o efetivo paga- públicas, conforme estabelecido na Lei de Responsa-
mento futuro da contratação, o que será realizado bilidade Fiscal (LRF). Embora a LRF não defina o que
dentro dos limites estabelecidos. pode ou não ser inscrito em restos a pagar, há vedação
A garantia pode ser interna ou externa, ou seja, expressa ao ente público de contrair obrigações no
concedida a instituições financeiras nacionais ou último ano do mandato do governante sem que exista
internacionais, respectivamente. a respectiva cobertura financeira, evitando que um
A contragarantia, por sua vez, é um direito de governante contrate, por exemplo, obras vultosas em
regresso, caso o verdadeiro beneficiário da operação seu último ano de mandato e deixe a conta para ser
não cumpra o contrato. Podemos citar como exemplo paga por seu sucessor, como era comum no passado.
a União Federal realizando operação de crédito com Conforme disposto no seu art. 42:
instituição financeira internacional — porém para
transferir todo o valor da operação contratada para Art. 42 É vedado ao titular de Poder ou órgão refe-
o estado do Rio de Janeiro, verdadeiro beneficiário da rido no art. 20, nos últimos dois quadrimestres do
operação. seu mandato, contrair obrigação de despesa que
Nesse caso, a União oferece garantia perante a ins- não possa ser cumprida integralmente dentro dele,
tituição financeira, e o estado do Rio de Janeiro ofe- ou que tenha parcelas a serem pagas no exercício
rece contragarantia à União. Caso o estado do Rio de seguinte sem que haja suficiente disponibilidade de
caixa para este efeito.
Janeiro não efetue o pagamento da operação de cré-
Parágrafo único. Na determinação da disponibi-
dito, a instituição financeira executará a garantia da
lidade de caixa serão considerados os encargos e
União, e esta, por sua vez, executará a contragarantia
despesas compromissadas a pagar até o final do
do estado do Rio de Janeiro. exercício.

Portanto, a norma estabelece que, no encerramen-


to do exercício, a parcela da despesa orçamentária
RESTOS A PAGAR que se encontrar empenhada, mas ainda não paga,
poderá ser inscrita em restos a pagar. O raciocínio é
Restos a Pagar estão intimamente ligados ao prin- de que, de forma geral, a receita orçamentária a ser
cípio da anualidade orçamentária. Relembrando, a Lei utilizada para pagamento da despesa orçamentária já
Orçamentária Anual (LOA) tem vigência de um ano. E deve ter sido arrecadada no exercício, anteriormente
como você deve se lembrar, na LOA estão previstas à realização dessa despesa. Assim, considera-se que a
as receitas e fixadas as despesas. Considerando que a despesa que for empenhada com base nesse crédito
LOA tem vigência de apenas um ano, o que aconte- orçamentário também deverá pertencer ao mesmo
ce com aquela despesa, por exemplo, uma compra de exercício. Portanto, o critério de definição do exer-
computadores para um órgão, que foi empenhada e cício financeiro para alocar a despesa orçamentária
a contratada entregou devidamente os equipamentos, não é seu pagamento, mas o empenho.
em 30 de dezembro daquele mesmo ano? Pelo prazo, Um ponto importante a se atentar é o parágrafo
ficaria complicado ao órgão verificar a documentação único do art. 103, da Lei nº 4.320, de 1964:
para fazer a liquidação ainda no mesmo exercício. E
mesmo que liquidasse no exercício, será que conse- Art. 103 [...]
guiria realizar o pagamento? A contratada ficaria sem Parágrafo único. Os Restos a Pagar do exercí-
recebimento? Prevendo essa situação, a legislação cio serão computados na receita extraorçamen-
orçamentária traz a figura dos “restos a pagar”. tária para compensar sua inclusão na despesa
A Lei nº 4.320, de 1964, define Restos a Pagar como orçamentária.
aquelas despesas regularmente empenhadas que não
puderam ser pagas ou foram canceladas até 31 de Assim, Restos a Pagar devem ser considerados
dezembro do exercício financeiro vigente, mas cuja
despesas orçamentárias quando inscritos uma vez
execução ocorrerá no próximo exercício. Podem ser
que se trata de despesa empenhada no mesmo exer-
de dois tipos: os restos a pagar processados (despe-
cício em que estava fixada no orçamento. Em contra-
sas já liquidadas); e os restos a pagar não processa-
partida, no Balanço Financeiro do exercício em que
dos (despesas a liquidar ou em liquidação). Segundo o
a despesa for inscrita em restos a pagar, deve haver
disposto no seu art. 36:
um lançamento de receita extraorçamentária para
Art. 36 Consideram-se Restos a Pagar as despe- que não se verifique uma diminuição do patrimônio
sas empenhadas, mas não pagas até o dia 31 de do ente público.
dezembro distinguindo-se as processadas das não Adicionalmente, é preciso atentar para o seguinte
processadas. ponto: conforme explicado no parágrafo anterior, no
momento da inscrição do empenho, Restos a Pagar
Tendo em vista que a continuidade dos estágios de se torna despesa orçamentária, porém, no momento
execução dessas despesas ocorrerá no próximo exer- do efetivo pagamento da despesa inscrita, trata-se de
cício, devem ser controlados em contas de natureza despesa extraorçamentária, pois se trata de despesa
480 de informação orçamentária específicas. de exercício anterior.
Restos a Pagar Não Processados (RPNP) Lembrem-se que, aqui, as palavras-chave são:
exceção, atípico, excepcional, incomum etc.
Restos a Pagar Não Processados são aquelas des- Ou seja, são pagamentos que não seguem a forma-
pesas empenhadas, mas não liquidadas até o final lidade do procedimento licitatório, é uma exceção à
do exercício. Podem ocorrer nas seguintes condições: licitação. Porém, é importante ressaltar que, ainda
assim, deve garantir a aquisição mais vantajosa.
z o serviço ou material contratado tenha sido pres- Assim, o suprimento de fundos é caracterizado
tado ou entregue e que se encontre, em 31 de como um adiantamento de valores, que faz a um ser-
dezembro de cada exercício financeiro em fase de vidor, para futura prestação de contas e constitui uma
liquidação; ou despesa orçamentária, porque, como veremos mais
z o prazo para cumprimento da obrigação assumida adiante, o pagamento ao suprido somente será rea-
pelo credor estiver vigente (despesa a liquidar). lizado após os estágios do Empenho e da Liquidação.
A Lei nº 4.320, de 1964, em seu art. 68, traz a seguin-
A inscrição de despesa em restos a pagar não pro-
te definição:
cessados é realizada após verificar quais despesas
devem ser inscritas em restos a pagar, e anulando-se
Art. 68 O regime de adiantamento é aplicável aos
as demais. Em seguida, inscreve-se os restos a pagar
casos de despesas expressamente definidos em lei e
não processados do exercício.
consiste na entrega de numerário a servidor, sem-
As despesas empenhadas a liquidar são aquelas cujo
pre precedida de empenho na dotação própria para
prazo para cumprimento da obrigação, assumida pelo cre-
o fim de realizar despesas, que não possam subordi-
dor (contratado), encontra-se vigente, ou seja, a entrega do
material ou do serviço adquirido ainda estão pendentes. nar-se ao processo normal de aplicação.
As despesas empenhadas em liquidação são aque-
las em que o contratado realizou a entrega do mate- Em suma, o suprimento de fundos é aplicável aos
rial ou do serviço, mas a verificação do seu direito ao casos de despesas expressamente definidas em Lei.
pagamento ainda não foi finalizada, ou seja, ainda E quais despesas são essas? O Decreto nº 93.872, de
não se deu a devida liquidação. 1986, que dispõe sobre a unificação dos recursos de
O cancelamento das despesas empenhadas em caixa do Tesouro Nacional, atualiza e consolida a
liquidação deve ser criterioso, tendo em vista que o legislação pertinente e dá outras providências, nos
fornecedor de bens/serviços cumpriu com sua parte trazendo essa resposta em seu art. 45:
da obrigação e a Administração está em fase de ava-
liação da prestação do serviço ou entrega do material.
I - para atender despesas eventuais, inclusive em viagens
Esse cancelamento pode gerar a devolução do mate-
e com serviços especiais, que exijam pronto pagamento;
rial recebido, indenização, ou não, dos serviços já rea-
II - quando a despesa deva ser feita em caráter sigi-
lizados, observada a legislação pertinente.
loso, conforme se classificar em regulamento; e
III - para atender despesas de pequeno vulto, assim
Restos a Pagar Processados
entendidas aquelas cujo valor, em cada caso, não
ultrapassar limite estabelecido em Portaria do
São chamados de Restos a Pagar Processados
Ministro da Fazenda.
aquelas despesas liquidadas e não pagas no exer-
cício financeiro, ou seja, aquelas em que o serviço, a
obra ou o material contratado tenha sido prestado ou
entregue e aceito pelo contratante. Importante!
No caso das despesas orçamentárias inscritas em Gravem, então, que o suprimento de fundos é

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


restos a pagar processados, percebe-se que houve o
cumprimento dos estágios de empenho e liquidação, aplicável para:
restando pendente apenas o pagamento. Os Restos a � despesas eventuais (inclusive viagens) que
Pagar Processados, em geral, não podem ser cance- exijam pronto pagamento;
lados, tendo em vista que o fornecedor de bens ou � despesa em caráter sigiloso;
serviços cumpriu sua obrigação contratual. Assim, � despesa em pequeno vulto.
a Administração não pode se furtar ao pagamento,
exceto em casos previstos na legislação, sob pena de
estar deixando de cumprir o Princípio da Moralidade, O § 1º do mesmo art. 45 nos diz o seguinte:
previsto no art. 37, da CF, que rege a Administração
Pública. O cancelamento caracteriza, inclusive, forma § 1º O suprimento de fundos será contabilizado e
de enriquecimento ilícito, conforme Parecer nº 401, incluído nas contas do ordenador como despesa
de 2000, da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional. realizada; as restituições, por falta de aplicação,
parcial ou total, ou aplicação indevida, constituirão
anulação de despesa, ou receita orçamentária, se
recolhidas após o encerramento do exercício.
SUPRIMENTO DE FUNDOS
Assim, temos um ponto importante para ser des-
Quando falamos em suprimento de fundos (SF), tacado: o SF será contabilizado e incluído nas contas
uma das primeiras palavras que precisamos ter em do ordenador como despesa realizada. Além disso,
mente é “exceção”. O suprimento de fundos foi criado, sobre as restituições:
justamente, para atender situações excepcionais e atí-
picas, que, de alguma, forma exijam pronto pagamen- z no mesmo exercício: reverte a dotação — é uma
to em espécie e que não podem aguardar o processo anulação de despesa (ainda que parcial);
normal. Por exemplo, ele não faz sentido para aquelas z após o encerramento do exercício — é uma receita
despesas previsíveis e repetitivas. orçamentaria. 481
Lembre-se: as restituições, seja por falta de apli- E quais são as proibições? O § 3º, do art. 45, nos
cação (parcial ou total) ou por aplicação indevida, responde:
constituirão anulação de despesa, se no mesmo exer-
cício, ou receita orçamentária, se recolhidas após o § 3º Não se concederá suprimento de fundos:
encerramento do exercício (§ 1º, art. 45, do Decreto nº a) a responsável por dois suprimentos;
93.872, de 1986). b) a servidor que tenha a seu cargo e guarda ou a
Agora, voltemos ao caput, do art. 45, do Decreto utilização do material a adquirir, salvo quando não
supracitado: houver na repartição outro servidor;
c) a responsável por suprimento de fundos que,
Art. 45 Excepcionalmente, a critério do ordena- esgotado o prazo, não tenha prestado contas de sua
dor de despesa e sob sua inteira responsabilidade, aplicação; e
poderá ser concedido suprimento de fundos a servi- d) a servidor declarado em alcance.
dor, sempre precedido do empenho na dotação
própria às despesas a realizar, e que não possam Ou seja, não é permitida a concessão:
subordinar-se ao processo normal de aplicação,
nos seguintes casos [...]. z de mais de dois suprimentos — o servidor não
pode ser responsável por três suprimentos, por
Novamente, temos um destaque para palavra- exemplo;
-chave “excepcionalmente”. Outro ponto impor- z a servidor que tenha a seu cargo e guarda ou a uti-
tante no caput é que o suprimento de fundos fica a lização do material a adquirir, salvo quando não
critério do ordenador de despesa e sob sua inteira houver, na repartição, outro servidor. Por exem-
responsabilidade. plo: a concessão de um SF de um material que
Agora, entenda o que acontece no processo de con- fique sob a guarda de um servidor por ele ser res-
cessão do SF. ponsável pelo estoque ou pelo almoxarifado;
No próprio ato de concessão, o suprimento de z caso tenha esgotado o prazo e o responsável pelo
fundos deve respeitar os três estágios de execução da SF não tenha feito a devida prestação de contas;
despesa: z servidor declarado em alcance, ou seja, aquele que
não prestou contas do SF no prazo regulamentar
z Empenho; ou cujas contas tenham sido impugnadas, total ou
z Liquidação; parcialmente.
z Pagamento.
Alguns outros pontos que merecem destaque
O pagamento só acontece após os dois primeiros dizem respeito a cada ente, que deve regulamentar
estágios (empenho e liquidação). Lembrem-se que, seu regime de adiantamento, observando seu Con-
segundo o art. 60, da Lei nº 4.320, de 1964, é vedada a trole Interno, e ao governo federal, em que o regime
realização de despesa sem prévio empenho: de adiantamento acontece, preferencialmente, por
meio do Cartão de Pagamento do Governo Federal
Art. 60 É vedada a realização de despesa sem pré- (CPGF), em nome da Unidade Gestora.
vio empenho. Esse CPGF é como se fosse um cartão corporativo e,
basicamente, permite, de forma mais segura, o acom-
Além disso, é importante ressaltar que o SF é des- panhamento das despesas realizadas com os recursos
pesa orçamentária (no ato de concessão percorre os do Governo e facilita a prestação de contas.
três estágios), mas não é despesa pelo enfoque patri- Observe o que diz o parágrafo único, do art. 1º, do
monial, justamente porque não ocorre redução do Decreto nº 5.355, de 2005, que dispõe sobre a utiliza-
Patrimônio Líquido (PL). ção desse cartão:
Existe uma receita extraorçamentária, em contra-
partida, no momento da concessão. Ao mesmo tempo Parágrafo único. O CPGF é instrumento de paga-
que há o registro de um passivo, há um ativo (direi- mento, emitido em nome da unidade gestora e
to de receber de volta, por exemplo, o adiantamento operacionalizado por instituição financeira autori-
concedido). zada, utilizado exclusivamente pelo portador nele
A redução do PL vai acontecer no momento da identificado, nos casos indicados em ato próprio da
prestação de contas, uma vez que teremos uma despe- autoridade competente, respeitados os limites deste
Decreto.
sa extraorçamentária, como forma de compensação.
Já o § 2º, do art. 45, nos diz o seguinte:
Vale destacar que o limite só é liberado após
§ 2º O servidor que receber suprimento de fundos, na a liquidação e que estagiários e terceirizados não
forma deste artigo, é obrigado a prestar contas de sua podem receber adiantamento. Comissionados, servi-
aplicação, procedendo-se, automaticamente, à toma- dores efetivos (concursados) e temporários, por outro
da de contas se não o fizer no prazo assinalado pelo lado, podem.
ordenador da despesa, sem prejuízo das providências Por fim, veja como que acontece o ciclo de adian-
administrativas para a apuração das responsabilida- tamento no Governo Federal e quais são suas fases:
des e imposição, das penalidades cabíveis.
z Concessão: como vimos, é no ato de concessão que
O servidor tem que prestar contas da sua apli- a despesa percorre os três estágios (Empenho,
cação, caso contrário ocorre a tomada de contas e Liquidação e Pagamento). É um ato do ordena-
demais providências administrativas. dor que registra a responsabilidade do agente que
482 recebe o suprimento;
z Aplicação: após a primeira etapa (concessão), o ordenador estipula um prazo de, no máximo, 90 dias, conta-
dos da data de concessão, para aplicar os recursos, não podendo ultrapassar a data de 31 de dezembro do ano
da concessão — a importância aplicada até 31 de dezembro será comprovada até 15 de janeiro do ano seguin-
te, segundo o parágrafo único, do art. 46, do Decreto nº 93.872, de 1986;
z Prestação De Contas (comprovação): acontece em até 30 dias após o término da etapa anterior (aplicação).
Nesse prazo, o agente que recebeu o adiantamento deve apresentar os documentos comprobatórios. Se as con-
tas forem aprovadas, serão escrituradas e incluídas na tomada de contas do ordenador. Caso sejam impugna-
das, o ordenador deve determinar as providências administrativas.

Lembre-se que, como vimos acima, no § 2º, do art. 45, do Decreto nº 93.872, de 1986, o servidor que receber
SF, é obrigado a prestar contas de sua aplicação, procedendo-se, automaticamente, à tomada de contas, se não o
fizer no prazo assinalado pelo ordenador da despesa. Ou seja, o ordenador dá um prazo e, caso ele não seja cum-
prido, a tomada de contas é automática.

PRESTAÇÃO E TOMADA DE CONTAS


PRESTAÇÃO DE CONTAS

Conforme a Constituição Federal (CF, de 1988), parágrafo único, art. 70:

Art. 70 [...]
Parágrafo único. Prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que utilize, arrecade, guar-
de, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União responda, ou que, em nome
desta, assuma obrigações de natureza pecuniária. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

E como é feita essa prestação de contas? No âmbito federal ela é realizada de acordo com a IN 84, de 2020, do
Tribunal de Contas da União (TCU). Esta norma traz alguns tópicos acerca da prestação de contas e dividiremos
aqui em conceitos, finalidade e princípios.
Conceito: a IN conceitua a prestação de contas como:

Art. 1º [...]
§ 1º Prestação de contas é o instrumento de gestão pública mediante o qual os administradores e, quando apropria-
do, os responsáveis pela governança e pelos atos de gestão de órgãos, entidades ou fundos dos poderes da União
apresentam e divulgam informações e análises quantitativas e qualitativas dos resultados da gestão orçamentária,
financeira, operacional e patrimonial do exercício, com vistas ao controle social e ao controle institucional previsto
nos artigos 70, 71 e 74 da Constituição Federal.

FINALIDADES

Demonstrar, de modo claro e objetivo, a boa e regular aplicação dos recursos públicos federais para satisfazer

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


às necessidades de informação da sociedade e de seus representantes, dos que usam os serviços públicos e dos
que fornecem os recursos, e dos órgãos do Poder Legislativo e de controle é a finalidade da prestação de contas,
para propósitos de transparência, responsabilização e tomada de decisão, especialmente para:

z tornar mais fácil e estimular a ação do controle social na execução do orçamento federal e defesa do patrimô-
nio da União;
z apoiar as unidades do sistema de controle interno dos poderes da União para verificar o atingimento das
metas estabelecidas no plano plurianual, a realização dos programas de governo e dos orçamentos da União.
Além disso, visa-se a demonstração da legalidade, bem como a avaliação da eficácia e efetividade da gestão
orçamentária, financeira e patrimonial nos órgãos e entidades da administração federal;
z apoiar os ministros do Estado com dados para o exercício da direção, coordenação e fiscalização dos órgãos
e entidades da administração federal no âmbito de sua competência, assim como entregar ao presidente da
República relatório anual de sua gestão no ministério;
z colaborar no monitoramento e na fiscalização orçamentária pela comissão mista do Congresso Nacional;
z permitir ao Tribunal de Contas da União o julgamento das contas dos gestores e demais encarregados.

PRINCÍPIOS

Para a elaboração e divulgação da prestação de contas, vejamos os princípios norteadores presentes na tabela
a seguir:

483
PRINCÍPIO CONCEITO
A respeito de fatos ocorridos no passado é necessária a
prestação de contas, no entanto, os responsáveis devem,
também, apresentar a direção estratégica organizacional,
de forma que haja a busca de resultados benéficos à
sociedade. Assim, sendo possível oferecer uma visão de
Foco Estratégico e no Cidadão
como a estratégia se conecta com a capacidade de gerar
valor público no curto, médio e longo prazo, evidenciando
o uso que a Unidade Prestadora de Contas (UPC) faz dos
recursos, assim como os produtos, os resultados e os
impactos gerados

Para mostrar como os resultados, a alocação dos recur-


sos e os objetivos estratégicos se relacionam entre si
no exercício da atividade pública, é necessário que as
Conectividade da Informação informações tenham uma visão integrada. Além disso, as
informações devem mostrar como a capacidade da UPC
de atingir seus objetivos depende de vários fatores ao
longo do tempo

A visão das informações deve ser de natureza e qualida-


de das relações da UPC, junto das partes que estiverem
interessadas. Assim, deve ser incluído como e quanto a
UPC compreende, considera e atende aos interesses e
Relações com as Partes Interessadas necessidades legítimos delas, levando em conta, tam-
bém, a articulação e a coordenação interinstitucionais de
processos para aprimorar a integração dos níveis e esfe-
ras diferentes do setor público, com o objetivo de gerar,
preservar e entregar valor público

Informações sobre assuntos significativos à capacidade


de a UPC atingir seus objetivos de gerar valor público nos
Materialidade
prazos curto, médio e longo devem ser reveladas, confi-
gurando um conteúdo relevante para a sociedade

Os textos devem visar a objetividade e clareza em seu


conteúdo, não devendo se estender mais que o neces-
Concisão
sário para transmitir a mensagem vislumbrada, e funda-
mentar decisões

Todos os temas de maior relevância, sejam eles bons


ou ruins, devem ser cobertos de forma equilibrada e
Confiabilidade e Completude livre de erros crassos, visando a prevenção de enganos
ou tendências na tomada de decisão dos usuários das
informações

As informações devem ter bases consistentes que perdu-


Coerência e Comparabilidade
re no tempo

A busca da linguagem simplificada e uso de imagens


Clareza inteligíveis são essenciais para modificar informações
complexas em relatórios de fácil compreensão

As informações devem ser acessíveis em tempo opor-


tuno para apoiar os processos de transparência, res-
ponsabilização e escolha por parte dos cidadãos e seus
representantes, dos usuários de serviços públicos e dos
Tempestividade fornecedores de recursos, e dos órgãos do Poder Legis-
lativo e de controle, incluindo as escolhas relacionadas
ao processo orçamentário e à situação fiscal, distribui-
ção racional de recursos, eficácia do gasto público e aos
resultados para os cidadãos

A organização deve comunicar, de forma aberta, volun-


tária e transparente, suas atividades e resultados, bem
Transparência
como deverá revelar informações de interesse público ou
geral, sem necessidade de solicitação

Obs.: UPC são as Unidades Prestadoras de Contas, ou seja, os órgãos responsáveis por prestar contas.
484
TOMADA DE CONTAS ESPECIAL O art. 37, da Lei nº 4.320, de 1964, dispõe que:

A tomada de contas especial se trata de um proces- Art. 37 As despesas de exercícios encerrados, para
so adotado excepcionalmente quando há um desfal- as quais o orçamento respectivo consignava crédito
que de dinheiro ou, senão, uma prática ilegal. Dessa próprio, com saldo suficiente para atendê-las, que
forma, para firmar o alegado, vejamos a definição da não se tenham processado na época própria, bem
Portaria nº 1.531, de 20211, da Corregedoria Geral da como os Restos a Pagar com prescrição interrom-
União, cuja orienta sobre o procedimento suscitado: pida e os compromissos reconhecidos após o encer-
ramento do exercício correspondente poderão ser
Art. 2º Tomada de contas especial é um processo pagos à conta de dotação específica consignada no
administrativo devidamente formalizado, com rito orçamento, discriminada por elementos, obedeci-
próprio, para apurar responsabilidade por ocor- da, sempre que possível, a ordem cronológica.
rência de dano à administração pública federal,
com apuração de fatos, quantificação do dano, Para fins de identificação como despesas de exercí-
identificação dos responsáveis e obtenção do res-
cios anteriores, considera-se:
pectivo ressarcimento, quando caracterizado pelo
menos um dos seguintes fatos:
I - omissão no dever de prestar contas; z despesas que não tenham sido processadas na épo-
II - não comprovação da regular aplicação dos ca própria, como aquelas cujo empenho tenha sido
recursos repassados pela União; considerado insubsistente e anulado no encer-
III - ocorrência de desfalque, alcance, desvio ou ramento do exercício correspondente, mas que,
desaparecimento de dinheiro, bens ou valores dentro do prazo estabelecido, o credor tenha cum-
públicos; e prido sua obrigação;
IV - prática de qualquer ato ilegal, ilegítimo ou z restos a pagar com prescrição interrompida, a des-
antieconômico de que resulte dano ao Erário. Pará- pesa cuja inscrição como restos a pagar tenha sido
grafo único. Consideram-se responsáveis pessoas cancelada, mas ainda vigente o direito do credor;
físicas ou jurídicas às quais possa ser imputada a z compromissos reconhecidos após o encerramento do
obrigação de ressarcir o Erário. exercício, a obrigação de pagamento criada em virtude
de lei, mas somente reconhecido o direito do reclaman-
A tomada de contas especial, para tanto, é formada te após o encerramento do exercício correspondente.
por duas fases: a fase interna e externa. Ocorrendo
algum dos fatos citados anteriormente, será instau- O reconhecimento da obrigação de pagamento das
rada a tomada de contas dentro da própria admi- despesas com exercícios anteriores, pela autoridade
nistração em que houve o dano (fase interna). Após competente, deverá ocorrer em procedimento admi-
apuração interna, os autos são encaminhados ao tri- nistrativo específico, sendo necessário, no mínimo,
bunal de contas competente, que irá analisar o pro- os seguintes elementos:
cesso a julgar a regularidade ou irregularidade das
contas e conduta dos agentes na aplicação dos recur- z identificação do credor/favorecido;
sos (fase externa). z descrição do bem, material ou serviço adquirido/
contratado;
REFERÊNCIAS z data de vencimento do compromisso;
z importância exata a pagar;
JACOBY FERNANDES, J. Tomada de Contas Espe- z documentos fiscais comprobatórios;

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


cial: Processo e Procedimento nos Tribunais de z certificação do cumprimento da obrigação pelo
Contas e na Administração Pública. 2ª ed. Brasília: credor/favorecido;
Jurídica, 1998. z motivação pelo qual a despesa não foi empenhada
BRASIL. Controladoria-Geral da União. Portaria ou paga na época própria.
nº 1531, de 1 º de julho de 2021. Orienta tecnica-
mente os órgãos e entidades sujeitos ao Controle O reconhecimento da obrigação de pagamento das
Interno do Poder Executivo Federal sobre a instau- despesas com exercícios anteriores cabe à autoridade
ração e a organização da fase interna do processo competente para empenhar a despesa.
de Tomada de Contas Especial. Brasília: Diário Ofi-
cial da União, 2021.
SISTEMAS DE PLANEJAMENTO, DE
DESPESAS DE EXERCÍCIOS ORÇAMENTO E DE ADMINISTRAÇÃO
ANTERIORES FINANCEIRA

São chamadas Despesas de Exercícios Anteriores Nesta unidade, trataremos da Lei n° 10.180, de 6
(DEA) aquelas despesas fixadas no orçamento vigente de fevereiro de 2001, que disciplina os Sistemas de
decorrentes de compromissos assumidos em exercí- Planejamento e de Orçamento Federal, de Adminis-
cios anteriores ao exercício em que ocorre o pagamen- tração Financeira Federal, de Contabilidade Federal e
to. Não se confundem com restos a pagar, tendo em de Controle Interno do Poder Executivo Federal. Apre-
vista que sequer foram empenhadas ou, se foram, sentaremos, a seguir, cada um desses sistemas.
tiveram seus empenhos anulados ou cancelados.
1 Portaria nº 1.531, de 1º de julho de 2021. Orienta tecnicamente os órgãos e entidades sujeitos ao Controle Interno do Poder Executivo Federal
sobre a instauração e a organização da fase interna do processo de Tomada de Contas Especial. Disponível em: https://repositorio.cgu.gov.br/bits-
tream/1/66377/5/Portaria_1531_2021.pdf. Acesso em: 14 dez. 2023. 485
Para a realização do seu exame, uma dica impor-
COMPETÊNCIAS DO PLANEJAMENTO FEDERAL
tante é memorizar, a cada sistema abordado, a sua (ART. 7º)
finalidade, competência e seus integrantes, uma vez
que as questões de concursos, em sua grande maioria, I - Elaborar e supervisionar a execução de planos e progra-
abordam esses temas. mas nacionais e setoriais
II - Coordenar a elaboração dos projetos de lei do PPA, me-
SISTEMA DE PLANEJAMENTO E DE ORÇAMENTO tas e prioridades da LDO
FEDERAL (SPO) III - Acompanhamento físico e financeiro dos planos e pro-
gramas, realizar a avaliação da eficácia e efetividade para
Segundo o art. 2º, da Lei n° 10.180, de 2001: subsidiar o processo de alocação de recursos públicos,
política de gastos e coordenação das ações do governo
Art. 2º O Sistema de Planejamento e de Orçamento
IV - Assegurar que as unidades administrativas responsá-
Federal tem por finalidade:
veis pela execução dos programas, projetos e atividades
I - formular o planejamento estratégico nacional;
da administração mantém rotinas de acompanhamento e
II - formular planos nacionais, setoriais e regio-
avaliação da sua programação
nais de desenvolvimento econômico e social;
III - formular o plano plurianual, as diretrizes orça- V - Manter sistema de informações relacionados a indi-
mentárias e os orçamentos anuais; cadores econômicos e sociais, assim como mecanismos
IV - gerenciar o processo de planejamento e orça- para desenvolver previsões e informação estratégica sobre
mento federal; tendências e mudanças no âmbito nacional e internacional
V - promover a articulação com os Estados, o Dis- VI - Identificar, analisar e avaliar os investimentos estra-
trito Federal e os Municípios, visando a compati- tégicos do Governo
bilização de normas e tarefas afins aos diversos VII - Realizar estudos e pesquisas socioeconômicas e
Sistemas, nos planos federal, estadual, distrital e análises de políticas públicas
municipal. VIII - Estabelecer políticas e diretrizes gerais para a atua-
ção das empresas estatais.
ELABORAÇÃO, ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO
COMPETÊNCIAS DO ORÇAMENTO FEDERAL
� De planos, programas e orçamentos (ART. 8º)
� Realização de estudos e pesquisas socioeconômicas I - Coordenar, consolidar e supervisionar a elaboração dos
projetos da LDO, e Leis Orçamentárias

Os três verbos que demarcamos, formular, geren- II - Estabelecer normas e procedimentos necessários à
ciar e promover, são peças-chave, para compreender elaboração e à implementação dos orçamentos federais,
as finalidades do SPO. Atente-se, também, aos órgãos harmonizando-os com o plano plurianual
que integram o SPO, quais sejam: III - Realização de estudos e pesquisas concernentes ao
desenvolvimento e ao aperfeiçoamento do processo or-
çamentário federal
IV - Acompanhar e avaliar a execução orçamentária e
INTEGRANTES DO SISTEMA DE PLANEJAMENTO DE

Órgão Central
Ministério do Planejamento, financeira
Orçamento e Gestão (MPOG)
V - Estabelecer classificações orçamentárias, tendo em
ORÇAMENTO FEDERAL (ART. 4º)

vista as necessidades de sua harmonização com o plane-


jamento e o controle
Órgãos Setoriais VI - Propor medidas que objetivem a consolidação das in-
Unidades de planejamento e formações orçamentárias das diversas esferas de governo
orçamento dos Ministérios, da
Advocacia-Geral da União, da
Vice-Presidência e da Casa Civil SISTEMA DE ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA
da Presidência da República
FEDERAL (SAF)

Conforme o art. 9º, da Lei n° 10.180, de 2001:


Órgãos Específicos
Vinculados ou subordinados ao Art. 9º O Sistema de Administração Financeira
Órgão Central do Sistema Federal visa ao equilíbrio financeiro do Governo
Federal, dentro dos limites da receita e despesa
públicas.

Os Órgãos Setoriais e Específicos ficam sujeitos à As suas atividades compreendem a programação


orientação normativa e à supervisão técnica do Órgão financeira, a administração dos haveres e direitos,
Central do Sistema (MPOG). garantias e obrigações do Tesouro Nacional além de
Com relação às competências, os arts. 7º e 8º elen- prover orientação técnico-normativa referente aos
cam, respectivamente, as atribuições do Planejamento assuntos ligados à execução orçamentária e financei-
Federal e do Orçamento Federal. Há certa correspon- ra. Em síntese:
dência entre as competências de ambos, o que auxilia
na memorização. Atente-se aos verbos que compõem ATIVIDADES DO SISTEMA DE ADMINISTRAÇÃO
cada competência, bem como os objetos envolvidos FINANCEIRA FEDERAL
em cada uma dessas ações:
Programação financeira da União

486
ATIVIDADES DO SISTEMA DE ADMINISTRAÇÃO SISTEMA DE CONTABILIDADE FEDERAL (SCF)
FINANCEIRA FEDERAL
O Sistema de Contabilidade Federal é tratado no
Administração de direitos e haveres, garantias e obriga- Título IV, da Lei n° 10.180, de 2001. Especificamente, a
ções do Tesouro Nacional sua finalidade é abordada no Capítulo I, arts. 14 e 15.
Orientação técnico-normativa (em referência aos as- Segundo os referidos dispositivos, o Sistema de Conta-
suntos de execução orçamentária e financeira) bilidade Federal tem como objetivo evidenciar a situa-
ção orçamentária, financeira e patrimonial da União,
além de registrar os atos e fatos relacionados à admi-
Conforme dito, é importante compreender os inte- nistração orçamentária, financeira e patrimonial da
grantes de cada sistema. Vamos aproveitar o mesmo União.
quadro-esquema utilizado no Sistema visto anterior-
mente, para elencarmos os integrantes do Sistema de Art. 14 O Sistema de Contabilidade Federal visa a
Administração Financeira e Federal: evidenciar a situação orçamentária, financeira e
patrimonial da União.
Art. 15 O Sistema de Contabilidade Federal tem por
finalidade registrar os atos e fatos relacionados
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA FEDERAL

Órgão Central com a administração orçamentária, financeira e


Secretaria do Tesouro Nacional (STN)
INTEGRANTES DO SISTEMA DE

patrimonial da União e evidenciar:


I - as operações realizadas pelos órgãos ou entida-
des governamentais e os seus efeitos sobre a estru-
tura do patrimônio da União;
(ART. 11)

II - os recursos dos orçamentos vigentes, as altera-


ções decorrentes de créditos adicionais, as receitas
prevista e arrecadada, a despesa empenhada, liqui-
Órgãos Setoriais dada e paga à conta desses recursos e as respecti-
Unidades de programação financeira dos Ministérios, vas disponibilidades;
da Advocacia-Geral da União, da Vice-Presidência e da III - perante a Fazenda Pública, a situação de todos
Casa Civil da Presidência da República
quantos, de qualquer modo, arrecadem receitas,
efetuem despesas, administrem ou guardem bens a
ela pertencentes ou confiados;
As competências do órgão central estão elencadas IV - a situação patrimonial do ente público e suas
no art. 12. Vale relembrá-las, pois costumam aparecer variações;
em questões de prova. Atente-se às ações e aos objetos V - os custos dos programas e das unidades da
compreendidos nessas competências: Administração Pública Federal;
VI - a aplicação dos recursos da União, por unidade
da Federação beneficiada;
I - zelar pelo equilíbrio financeiro do Tesouro
VII - a renúncia de receitas de órgãos e entidades
Nacional;
federais.
II - administrar os haveres financeiros e mobi- Parágrafo único. As operações de que resultem
liários do Tesouro Nacional; débitos e créditos de natureza financeira não com-
III - elaborar a programação financeira do preendidas na execução orçamentária serão, tam-
Tesouro Nacional, gerenciar a Conta Única do bém, objeto de registro, individualização e controle
Tesouro Nacional e subsidiar a formulação da contábil.

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


política de financiamento da despesa pública;
IV - gerir a dívida pública mobiliária federal e a z Finalidades do Sistema de Contabilidade Federal:
dívida externa de responsabilidade do Tesouro
Nacional; „ evidenciar a situação orçamentária financeira
V - controlar a dívida decorrente de operações e patrimonial da União;
de crédito de responsabilidade, direta e indireta, do „ registrar atos e fatos da atividade orçamentá-
Tesouro Nacional; ria, como as operações realizadas pelos órgãos
ou entidades governamentais; os recursos dos
VI - administrar as operações de crédito sob a
orçamentos vigentes; as alterações decorrentes
responsabilidade do Tesouro Nacional;
de créditos adicionais; os custos de programas;
VII - manter controle dos compromissos que one-
renúncia de receitas etc.
rem, direta ou indiretamente, a União junto a enti-
dades ou organismos internacionais; Os objetivos do SCF são elencados no Decreto n°
VIII - editar normas sobre a programação finan- 6.976, de 2009:
ceira e a execução orçamentária e financeira, bem
como promover o acompanhamento, a sistema- Art. 4º O Sistema de Contabilidade Federal tem
tização e a padronização da execução da despesa como objetivo promover:
pública; I - a padronização e a consolidação das contas
IX - promover a integração com os demais Pode- nacionais;
res e esferas de governo em assuntos de adminis- II - a busca da convergência aos padrões interna-
tração e programação financeira. cionais de contabilidade, respeitados os aspectos
formais e conceituais estabelecidos na legislação
vigente;
Referente à governança, os Órgãos Setoriais ficam III - o acompanhamento contínuo das normas con-
sujeitos à orientação normativa e à supervisão técnica do tábeis aplicadas ao setor público, de modo a garan-
órgão central do Sistema, sem prejuízo da subordinação tir que os princípios fundamentais de contabilidade
ao órgão cuja estrutura administrativa estiver integrada. sejam respeitados no âmbito do setor público. 487
Integram o Sistema de Contabilidade Federal a Visa, também, a apoiar o controle externo no exer-
Secretaria do Tesouro Nacional (STN), como órgão cício de sua missão institucional (art. 19, da Lei n°
central, e os órgãos setoriais expostos no esquema a 10.180, de 2001). Em suma,
seguir:
Art. 19 O Sistema de Controle Interno do Poder
Executivo Federal visa à avaliação da ação gover-
Órgão Central
namental e da gestão dos administradores públicos
federais, por intermédio da fiscalização contábil,
(LEI 10.180/01, ART. 17 E DECRETO

Secretaria do Tesouro Nacional (STN)


INTEGRANTES DO SISTEMA DE

financeira, orçamentária, operacional e patrimo-


CONTABILIDADE FEDERAL

nial, e a apoiar o controle externo no exercício de


6.976/09, ART. 6º)

sua missão institucional.

AVALIAR
O cumprimento das metas previstas no PPA, programas
Órgãos Setoriais
Unidades de gestão interna dos Ministérios, da
do Governo e orçamentos da União
Advocacia-Geral da União, do Poder Legislativo, do
Poder Judiciário e do Ministério Público da União e
COMPROVAR
órgão de controle interno da Casa Civil
A legalidade e avaliar os resultados quanto à eficácia e a
eficiência da gestão orçamentária, financeira e patrimo-
O art. 18 expõe as competências das unidades res- nial nos órgãos da Administração Pública e aplicação
ponsáveis pelas atividades no âmbito do Sistema de dos recursos de entidades de direito privado
Contabilidade Federal. Vejamos: EXERCER
O controle dos direitos e obrigações — avais, garantias,
z manter e aprimorar o Plano de Contas único da operações de créditos etc.
União;
APOIAR
z estabelecer normas e procedimentos para o ade-
quado registro contábil; O controle externo
z realizar o correto registro dos atos e fatos e res-
ponsabilizar os agentes que procedam de forma O Decreto n° 3.591, de 2000, complementa o dis-
ilegal ou irregular; posto na Lei n° 10.180, de 2001, trazendo, no art. 6º,
z instituir, manter e aprimorar os sistemas de a função do SCI-PEF a função de prestar orientação
informação; aos administradores de bens e recursos públicos nos
z realizar a tomada de contas dos ordenadores de assuntos pertinentes à área de competência do contro-
despesa e demais responsáveis por bens e valores; le interno, inclusive sobre a forma de prestar contas,
z elaborar os Balanços Gerais da União; além de apresentar, como técnicas de trabalho, a audi-
z consolidar os balanços de todos os entes da toria e a fiscalização (art. 4º). Temos, então, as seguintes
Federação; definições:
z promover a integração com os demais poderes e esfe-
ras de governos em assuntos ligados à contabilidade. § 1º A auditoria visa a avaliar a gestão pública, pelos
processos e resultados gerenciais, e a aplicação de
SISTEMA DE CONTROLE INTERNO DO PODER recursos públicos por entidades de direito privado.
EXECUTIVO FEDERAL (SCI — PEF) § 2º A fiscalização visa a comprovar se o objeto dos
programas de governo corresponde às especifica-
Este sistema objetiva a avaliação da ação gover- ções estabelecidas, atende às necessidades para as
quais foi definido, guarda coerência com as condi-
namental e da gestão dos administradores públicos
ções e características pretendidas e se os mecanis-
federais, por meio da fiscalização contábil, finan-
mos de controle são eficientes.
ceira, orçamentária, operacional e patrimonial.
Esses objetivos estão, inclusive, elencados na nossa
Integram o Sistema de Controle Interno do Poder
Constituição:
Executivo Federal a Secretaria Federal de Controle
Interno, como órgão central, e os órgãos setoriais. Aqui,
Art. 74 Os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciá-
faz-se necessária uma pequena ressalva: na época da
rio manterão, de forma integrada, sistema de con-
Lei n° 10.180, de 2001, ainda existia a Secretaria Federal
trole interno com a finalidade de:
de Controle Interno, mas ela passou a integrar a Con-
I - avaliar o cumprimento das metas previstas no
plano plurianual, a execução dos programas de troladoria Geral da União (CGU). Desta forma, a nova
governo e dos orçamentos da União; disposição do Decreto n° 4.304, de 2002, alterou a reda-
II - comprovar a legalidade e avaliar os resulta- ção do Decreto n° 3.591, de 2000, trazendo as seguintes
dos, quanto à eficácia e eficiência, da gestão orça- mudanças:
mentária, financeira e patrimonial nos órgãos e
entidades da administração federal, bem como da Art. 8º Integram o Sistema de Controle Interno do
aplicação de recursos públicos por entidades de Poder Executivo Federal:
direito privado; I - a Controladoria-Geral da União, como Órgão
III - exercer o controle das operações de crédito, Central, incumbido da orientação normativa e
avais e garantias, bem como dos direitos e haveres da supervisão técnica dos órgãos que compõem o
da União; Sistema;
IV - apoiar o controle externo no exercício de sua
488 missão institucional. Temos, então, a seguinte estrutura:
Destaca-se a figura do PAINT — Plano Anual de
Atividades de Auditoria Interna, que deverá conter a

INTEGRANTES DO SISTEMA DE CONTROLE


INTERNO DO PODER EXECUTIVO FEDERAL
(LEI 10.180, DE 2001, ART. 22, DECRETO
Órgão Central
Controladoria-Geral da União (CGU) programação dos trabalhos da auditoria interna para
um determinado exercício. O PAINT deve levar em

3.591, DE 2000, ART. 8º)


consideração os planos, metas, objetivos, programas
e políticas da administração, buscando abordar as
ações de auditoria interna de desenvolvimento insti-
tucional e de capacitações previstas para o amadure-
cimento das atividades dela.
Órgãos Setoriais Para o exame, informações sobre os prazos do
Unidades de controle interno do Ministério das Relações
Exteriores, do Ministério da Defesa, da Advocacia-Geral documento podem ser cobrados. Portanto atenção: o
da União, da Casa Civil da Presidência da República e do PAINT será submetido à análise prévia da CGU até o
Departamento Nacional de Auditoria do SUS
último dia útil do mês de outubro do exercício ante-
rior ao da execução do plano. Assim, para as ativida-
Conforme o art. 24, as competências dos órgãos des de auditoria previstas para o ano de 2022, o PAINT
e unidades do Sistema de Controle Interno do Poder deverá ser submetido até o último dia útil de outubro
Executivo Federal são: de 2021 (29 de outubro de 2021) e assim sucessiva-
mente. Por sua vez, a CGU deverá restituir o PAINT ao
z avaliar o cumprimento das metas estabelecidas no órgão de origem no prazo máximo de 20 dias a contar
PPA; do recebimento.
z fiscalizar e avaliar a execução dos programas de A aprovação do PAINT deverá ocorrer até o último
governo (ações descentralizadas, metas e objetivos); dia do mês de dezembro de cada ano, sendo o plano
z avaliar a execução dos orçamentos da União; encaminhado ao respectivo órgão de controle inter-
z exercer o controle das operações de crédito, avais, no, até o dia 31 de janeiro. Acompanhará o PAINT
garantias, direitos e haveres da União; aprovado o Relatório Anual de Atividades de Audito-
z fornecer informações sobre a situação dos pro- ria Interna (RAINT) do exercício anterior, contendo
jetos e atividades, bem como realizar auditoria informações, como a descrição das ações de auditoria
sobre a gestão; interna realizadas pela entidade; o registro da imple-
z apurar atos ilegais ou irregularidades e realizar mentação ou cumprimento de recomendações ou
determinações efetuadas a ela; relato gerencial sobre
auditorias nos sistemas contáveis financeiro, orça-
a gestão de áreas essenciais da unidade com base
mentário e de pessoal;
nos trabalhos realizados; fatos relevantes de nature-
z avaliar o desempenho da auditoria interna das
za administrativa ou organizacional que impactam a
entidades da administração;
auditoria interna e as atividades de desenvolvimen-
z elaborar a prestação de contas anual do Presidente
to institucional e capacitação da auditoria interna
da República, bem como criar as condições para o
empreendidas pelo órgão.
exercício do controle social.
REFERÊNCIAS
Vale, novamente, a dica apresentada nos demais
sistemas com relação a dar especial atenção aos ver-
BALEEIRO, A. Uma introdução à ciência das
bos e aos objetos, pois estão diretamente ligados aos
finanças. 17. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2010
objetivos e finalidades do controle interno consagra-
BRASIL. Constituição da República Federativa

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


dos no art. 74, da Constituição Federal.
do Brasil de 1988. Disponível em: http://www.pla-
nalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao-
Instrução Normativa SFC nº 1, de 06/04/2001 compilado.htm. Acesso em: 24 mar. 2021.
__________. Decreto nº 3.591 de 06 de setembro de
É importante notar a existência da Instrução Nor- 2000. Diário Oficial da União, Brasília, 08 de setem-
mativa SFC nº 1, de 06/04/2001, que define as diretri- bro de 2000. Disponível em: http://www.planalto.
zes, princípios e conceitos, além de aprovar normas gov.br/ccivil_03/decreto/d3591.htm. Acesso em: 03
técnicas para a atuação do Sistema de Controle Inter- abr. 2021.
no do Poder Executivo Federal. Não cabe detalharmos __________. Decreto nº 4.304 de 16 de julho de
o normativo, pois ele somente ratifica as competên- 2002. Diário Oficial da União, Brasília, 17 de
cias e o escopo de abrangência já tratados na Lei n° julho de 2002. Disponível em: http://www.planal-
10.180, de 2001, art. 22 e Decreto n° 3.591, de 2000, art. to.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/d4304.htm. Acesso
8º. em: 03 abr. 2021.
__________. Decreto nº 6.976 de 07 de outubro
Instruções Normativas CGU nº 7, de 29/12/2006 e nº de 2009. Diário Oficial da União, Brasília, 08 de
1, de 03/01/2007 outubro de 2009. Disponível em: http://www.pla-
nalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/
As Instruções Normativas CGU nº 7, de 29/12/2006 d6976.htm. Acesso em: 03 abr. 2021.
e nº 1, de 03/01/2007, estabelecem normas de elabora- ___________. Lei nº 10.180 de 06 de fevereiro de
ção e acompanhamento da execução do Plano Anual 2001. Organiza e disciplina os Sistemas de Planeja-
de Atividades das Auditorias Internas das entidades mento e de Orçamento Federal, de Administração
da administração indireta do Poder Executivo Fede- Financeira Federal, de Contabilidade Federal e de
ral, ratificando as competências dispostas no art. 24, Controle Interno do Poder Executivo Federal, e dá
da Lei n° 10.180, de 2001, e dos arts. 14, 15 e 20, do outras providências. Brasília: Presidência da Repú-
Decreto n° 3.591, de 2000. blica, 2001. Disponível em: http://www.planalto. 489
gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10180.htm. Acesso como a previsão de seu desempenho até o final do
em: 01 abr. 2021. exercício;
CARVALHO, D. Orçamento e contabilidade públi- II - receitas e despesas previdenciárias a que se refe-
ca. 6ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. re o inciso IV do art. 50;
PALUDO, A. V. Orçamento público, administra- III - resultados nominal e primário;
ção financeira e orçamentária e LRF. 10ª ed. Sal- IV - despesas com juros, na forma do inciso II do art. 4º;
vador: JusPodivm, 2020. V - Restos a Pagar, detalhando, por Poder e órgão
referido no art. 20, os valores inscritos, os paga-
mentos realizados e o montante a pagar.
§ 1º O relatório referente ao último bimestre do exer-
cício será acompanhado também de demonstrativos:
RELATÓRIOS I - do atendimento do disposto no inciso III do art.
167 da Constituição, conforme o § 3º do art. 32;
RESUMIDOS DA EXECUÇÃO ORÇAMENTÁRIA, II - das projeções atuariais dos regimes de previdên-
DE AVALIAÇÃO DO CUMPRIMENTO DAS METAS cia social, geral e próprio dos servidores públicos;
III - da variação patrimonial, evidenciando a alie-
FISCAIS E DE GESTÃO FISCAL — FINALIDADE,
nação de ativos e a aplicação dos recursos dela
ESTRUTURA E COMPOSIÇÃO
decorrentes.
§ 2º Quando for o caso, serão apresentadas
Os presentes relatórios estão previstos na Lei justificativas:
Complementar (LC) nº 101, de 2000 (Lei de Respon- I - da limitação de empenho;
sabilidade Fiscal), e constam no capítulo destinado à II - da frustração de receitas, especificando as medi-
transparência, controle e fiscalização. das de combate à sonegação e à evasão fiscal, adota-
das e a adotar, e as ações de fiscalização e cobrança.
DO RELATÓRIO RESUMIDO DA EXECUÇÃO
ORÇAMENTÁRIA Os demonstrativos que deverão constar no relató-
rio resumido de execução orçamentária estão previs-
Art. 52 O relatório a que se refere o § 3º do art. 165 da tos nos incisos, do caput, do art. 53.
Constituição abrangerá todos os Poderes e o Minis- Além disso, no relatório referente ao último bimes-
tério Público, será publicado até trinta dias após o tre do exercício financeiro, além dos demonstrativos
encerramento de cada bimestre e composto de: anteriormente citados, também deverão constar os
I - balanço orçamentário, que especificará, por outros demonstrativos previstos nos incisos, do § 1º.
categoria econômica, as:
a) receitas por fonte, informando as realizadas e a DO RELATÓRIO DE GESTÃO FISCAL
realizar, bem como a previsão atualizada;
b) despesas por grupo de natureza, discriminando
Art. 54 Ao final de cada quadrimestre será emitido
a dotação para o exercício, a despesa liquidada e
pelos titulares dos Poderes e órgãos referidos no
o saldo;
art. 20 Relatório de Gestão Fiscal, assinado pelo:
II - demonstrativos da execução das:
I - Chefe do Poder Executivo;
a) receitas, por categoria econômica e fonte, espe-
II - Presidente e demais membros da Mesa Diretora
cificando a previsão inicial, a previsão atualizada
ou órgão decisório equivalente, conforme regimen-
para o exercício, a receita realizada no bimestre, a
tos internos dos órgãos do Poder Legislativo;
realizada no exercício e a previsão a realizar;
III - Presidente de Tribunal e demais membros de
b) despesas, por categoria econômica e grupo de Conselho de Administração ou órgão decisório
natureza da despesa, discriminando dotação ini- equivalente, conforme regimentos internos dos
cial, dotação para o exercício, despesas empenhada órgãos do Poder Judiciário;
e liquidada, no bimestre e no exercício; IV - Chefe do Ministério Público, da União e dos
c) despesas, por função e subfunção. Estados.
§ 1º Os valores referentes ao refinanciamento da Parágrafo único. O relatório também será assinado
dívida mobiliária constarão destacadamente nas pelas autoridades responsáveis pela administração
receitas de operações de crédito e nas despesas com financeira e pelo controle interno, bem como por
amortização da dívida. outras definidas por ato próprio de cada Poder ou
§ 2º O descumprimento do prazo previsto neste órgão referido no art. 20.
artigo sujeita o ente às sanções previstas no § 2º
do art. 51.
O art. 54 trata, por sua vez, do relatório de gestão
fiscal, emitido a cada quatro meses pelos titulares dos
O § 3º, art. 165, da Constituição Federal, estabelece Poderes e órgãos e assinado pelos agentes públicos
que: “[...] o Poder Executivo publicará, até trinta dias elencados nos seus respectivos incisos.
após o encerramento de cada bimestre, relatório resu- O relatório de gestão fiscal, de emissão quadrimes-
mido da execução orçamentária”. tral, será somado ao relatório resumido de execução
Nesse sentido, o art. 52, da Lei de Responsabilidade orçamentária (art. 52), publicado bimestralmente.
Fiscal, regulamenta o citado preceito constitucional,
determinando a composição do referido relatório. Art. 55 O relatório conterá:
Além disso, também fixa o prazo para sua publi- I - comparativo com os limites de que trata esta Lei
cação, que deverá ocorrer até 30 dias após o encerra- Complementar, dos seguintes montantes:
mento de cada bimestre, ao qual o relatório se refere. a) despesa total com pessoal, distinguindo a com
inativos e pensionistas;
Art. 53 Acompanharão o Relatório Resumido b) dívidas consolidada e mobiliária;
demonstrativos relativos a: c) concessão de garantias;
I - apuração da receita corrente líquida, na forma d) operações de crédito, inclusive por antecipação
490 definida no inciso IV do art. 2º, sua evolução, assim de receita;
e) despesas de que trata o inciso II do art. 4º; referidos no art. 20, as quais receberão parecer
II - indicação das medidas corretivas adotadas ou a prévio, separadamente, do respectivo Tribunal de
adotar, se ultrapassado qualquer dos limites; Contas.
III - demonstrativos, no último quadrimestre: § 1º As contas do Poder Judiciário serão apresenta-
a) do montante das disponibilidades de caixa em das no âmbito:
trinta e um de dezembro; I - da União, pelos Presidentes do Supremo Tribunal
b) da inscrição em Restos a Pagar, das despesas: Federal e dos Tribunais Superiores, consolidando
1) liquidadas; as dos respectivos tribunais;
2) empenhadas e não liquidadas, inscritas por aten- II - dos Estados, pelos Presidentes dos Tribunais de
derem a uma das condições do inciso II do art. 41; Justiça, consolidando as dos demais tribunais.
3) empenhadas e não liquidadas, inscritas até o § 2º O parecer sobre as contas dos Tribunais de
limite do saldo da disponibilidade de caixa; Contas será proferido no prazo previsto no art. 57
4) não inscritas por falta de disponibilidade de cai- pela comissão mista permanente referida no § 1º do
xa e cujos empenhos foram cancelados; art. 166 da Constituição ou equivalente das Casas
c) do cumprimento do disposto no inciso II e na alí- Legislativas estaduais e municipais.
nea b do inciso IV do art. 38. § 3º Será dada ampla divulgação dos resultados da
§ 1º O relatório dos titulares dos órgãos menciona- apreciação das contas, julgadas ou tomadas.
dos nos incisos II, III e IV do art. 54 conterá apenas
as informações relativas à alínea a do inciso I, e os
Quando o chefe do Executivo prestar suas contas,
documentos referidos nos incisos II e III.
§ 2º O relatório será publicado até trinta dias após o
elas deverão incluir as contas dos demais Poderes (Legis-
encerramento do período a que corresponder, com lativo e Judiciário), bem como do ministério público.
amplo acesso ao público, inclusive por meio eletrônico. Já as contas dos tribunais de contas receberão
§ 3º O descumprimento do prazo a que se refere o § parecer da Comissão Mista Permanente (§ 1º, art. 166,
2º sujeita o ente à sanção prevista no § 2º do art. 51. da CF, de 1988), que é órgão integrante do Congresso
§ 4º Os relatórios referidos nos arts. 52 e 54 deve- Nacional.
rão ser elaborados de forma padronizada, segundo
modelos que poderão ser atualizados pelo conselho Art. 57 Os Tribunais de Contas emitirão parecer
de que trata o art. 67. prévio conclusivo sobre as contas no prazo de ses-
senta dias do recebimento, se outro não estiver
Esse artigo estabelece o que deverá constar no estabelecido nas constituições estaduais ou nas leis
relatório de gestão fiscal. Além disso, também deter- orgânicas municipais.
mina sua publicação até 30 dias após o período a que § 1º No caso de Municípios que não sejam capitais
ele corresponde. e que tenham menos de duzentos mil habitantes o
prazo será de cento e oitenta dias.
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO CUMPRIMENTO § 2º Os Tribunais de Contas não entrarão em reces-
DAS METAS FISCAIS so enquanto existirem contas de Poder, ou órgão
referido no art. 20, pendentes de parecer prévio.
Art. 9º [...]
§ 4º Até o final dos meses de maio, setembro e feve- Recebidas as contas pelo tribunal de contas, este
reiro, o Ministro ou Secretário de Estado da Fazen- mesmo órgão emitirá parecer dentro de 60 dias após
da demonstrará e avaliará o cumprimento das a data do recebimento, salvo situação prevista no § 1º,
metas fiscais de cada quadrimestre e a trajetória caso em que o prazo será de 180 dias.
da dívida, em audiência pública na comissão refe-

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


rida no § 1º do art. 166 da Constituição Federal ou Art. 58 A prestação de contas evidenciará o desem-
conjunta com as comissões temáticas do Congres- penho da arrecadação em relação à previsão, des-
so Nacional ou equivalente nas Casas Legislativas tacando as providências adotadas no âmbito da
estaduais e municipais. fiscalização das receitas e combate à sonegação,
as ações de recuperação de créditos nas instân-
A Secretaria do Tesouro Nacional (STN) e a Secre- cias administrativa e judicial, bem como as demais
taria de Orçamento Federal (SOF) elaboram o relató- medidas para incremento das receitas tributárias e
rio de cumprimento de metas por determinação do de contribuições.
que dispõe o § 4º, art. 9º, da Lei de Responsabilidade
Fiscal, ao final de cada quadrimestre apontado. Esse artigo estabelece as medidas administrativas
A apresentação desse referido relatório ocorrerá adotadas pelos respectivos órgãos, as quais deverão
mediante audiência pública perante a Comissão Mis- estar evidenciadas na prestação de contas.
ta Permanente, também chamada Comissão de Orça-
mento ou Comissão Mista de Orçamento. DA FISCALIZAÇÃO DA GESTÃO FISCAL
Tal comissão, que é referida no § 1º, do art. 166, da
Constituição Federal, pertence ao Congresso Nacional, Art. 59 O Poder Legislativo, diretamente ou com o
sendo a mesma comissão que possui a competência para auxílio dos Tribunais de Contas, e o sistema de con-
realizar o estudo do projeto de lei orçamentária antes trole interno de cada Poder e do Ministério Público
de encaminhá-la ao Plenário da Casa para aprovação. fiscalizarão o cumprimento desta Lei Complemen-
tar, consideradas as normas de padronização meto-
DAS PRESTAÇÕES DE CONTAS dológica editadas pelo conselho de que trata o art.
67, com ênfase no que se refere a:
Art. 56 As contas prestadas pelos Chefes do Poder I - atingimento das metas estabelecidas na lei de
Executivo incluirão, além das suas próprias, as diretrizes orçamentárias;
dos Presidentes dos órgãos dos Poderes Legisla- II - limites e condições para realização de opera-
tivo e Judiciário e do Chefe do Ministério Público, ções de crédito e inscrição em Restos a Pagar; 491
III - medidas adotadas para o retorno da despesa A contabilidade regulatória tem como principal
total com pessoal ao respectivo limite, nos termos fonte de dados a contabilidade societária, que é a con-
dos arts. 22 e 23; tabilidade que segue as normas e os princípios contá-
IV - providências tomadas, conforme o disposto no beis geralmente aceitos, como as Normas Brasileiras
art. 31, para recondução dos montantes das dívidas de Contabilidade (NBC) e as Normas Internacionais de
consolidada e mobiliária aos respectivos limites; Relatório Financeiro (IFRS). No entanto, a contabilida-
V - destinação de recursos obtidos com a alienação de regulatória pode adotar critérios e procedimentos
de ativos, tendo em vista as restrições constitucio-
específicos para cada setor regulado, de acordo com
nais e as desta Lei Complementar;
as normas e os regulamentos estabelecidos pelos
VI - cumprimento do limite de gastos totais dos
órgãos reguladores, como a Agência Nacional de
legislativos municipais, quando houver.
§ 1º Os Tribunais de Contas alertarão os Poderes Energia Elétrica (ANEEL), a Agência Nacional de Tele-
ou órgãos referidos no art. 20 quando constatarem: comunicações (ANATEL), a Agência Nacional de Águas
I - a possibilidade de ocorrência das situações pre- e Saneamento Básico (ANA), entre outros.
vistas no inciso II do art. 4º e no art. 9º;
II - que o montante da despesa total com pessoal OBJETIVOS
ultrapassou 90% (noventa por cento) do limite;
III - que os montantes das dívidas consolidada e Fornecer informações contábeis e financeiras con-
mobiliária, das operações de crédito e da concessão fiáveis, transparentes e comparáveis para os órgãos
de garantia se encontram acima de 90% (noventa reguladores, que possam subsidiar o processo de
por cento) dos respectivos limites; regulação, fiscalização e controle dos setores regula-
IV - que os gastos com inativos e pensionistas se dos. Esse objetivo visa garantir que as empresas cum-
encontram acima do limite definido em lei; pram as normas e os contratos estabelecidos pelos
V - fatos que comprometam os custos ou os resulta- órgãos reguladores, bem como assegurar a defesa dos
dos dos programas ou indícios de irregularidades
interesses públicos e dos direitos dos usuários dos ser-
na gestão orçamentária.
viços regulados. As informações contábeis e financei-
§ 2º Compete ainda aos Tribunais de Contas veri-
ras devem ser elaboradas de acordo com os princípios
ficar os cálculos dos limites da despesa total com
pessoal de cada Poder e órgão referido no art. 20. e as normas contábeis vigentes, bem como com as
§ 3º O Tribunal de Contas da União acompanhará o regras específicas definidas pelos órgãos reguladores
cumprimento do disposto nos §§ 2º, 3º e 4º do art. 39. para cada setor.
Permitir o cálculo e a revisão das tarifas e dos
A fiscalização da gestão fiscal é de competência do preços dos serviços regulados, de forma a garantir o
Poder Legislativo, que será auxiliado pelo tribunal de equilíbrio econômico-financeiro das empresas presta-
contas, bem como do sistema de controle interno de doras e a modicidade tarifária para os consumidores.
cada Poder e do ministério público. Esse objetivo visa assegurar que as empresas tenham
Competem aos tribunais de contas as atribuições condições de cobrir seus custos operacionais, remune-
previstas nos §§ 1º, 2º e 3º no auxílio que prestarão ao rar seus investimentos e obter uma margem de lucro
Legislativo quanto à fiscalização da gestão fiscal. razoável, sem comprometer a qualidade e a continui-
dade dos serviços prestados. As tarifas e os preços dos
serviços regulados devem ser calculados com base
nos custos eficientes e nos indicadores de desempe-
nho das empresas, bem como nos critérios de reajuste
OBJETIVOS DA CONTABILIDADE e revisão periódica definidos pelos órgãos regulado-
REGULATÓRIA res para cada setor.
Avaliar o desempenho econômico-financeiro e
A contabilidade regulatória é um ramo da contabi- a qualidade dos serviços prestados pelas empresas
lidade que se dedica a fornecer informações contábeis reguladas, de forma a incentivar a eficiência, a produ-
e financeiras para os órgãos reguladores de determi- tividade, a inovação e a melhoria contínua dos proces-
nados setores da economia, como energia elétrica, sos internos. Esse objetivo visa monitorar e comparar
telecomunicações, saneamento básico, transporte, os resultados das empresas reguladas, bem como veri-
saúde, entre outros. Esses setores são caracterizados ficar o cumprimento das metas e dos padrões de qua-
por serem monopólios naturais, ou seja, possuem lidade estabelecidos pelos órgãos reguladores para
altos custos fixos e baixos custos marginais, o que cada setor. O desempenho econômico-financeiro e a
inviabiliza a concorrência e favorece a formação de qualidade dos serviços prestados devem ser avalia-
empresas dominantes. Deste modo, esses setores são dos com base em indicadores e relatórios contábeis
regulados pelo Estado, que busca garantir a qualida- e gerenciais, bem como em auditorias e fiscalizações
de, a universalidade, a modicidade e a continuidade realizadas pelos órgãos reguladores ou por entidades
dos serviços prestados à população. independentes.

APRESENTAÇÃO GERAL DE NECESSIDADES DE


Importante! INFORMAÇÃO; LIMITAÇÕES DE CONTABILIDADE
TRADICIONAL E GERENCIAL DA EMPRESA
Custos fixos são aqueles que não variam de REGULADA
acordo com o volume de produção ou vendas
de uma organização em um período específico e As informações necessárias na contabilidade regu-
Custos marginais são aqueles que representam latória abrangem dados financeiros detalhados sobre
a mudança no custo total quando se aumenta ou custos, investimentos, receitas, despesas e lucrati-
diminui a produção de uma unidade, de um bem vidade. Além disso, incluem informações não finan-
492 ou serviço. ceiras relacionadas à qualidade do serviço, metas
de desempenho, indicadores de sustentabilidade e CONSISTÊNCIA ENTRE CONTAS ESTATUTÁRIAS E
impacto social. Essas informações permitem que os CONTAS REGULATÓRIAS
reguladores avaliem a eficiência e eficácia das empre-
sas reguladas, estabeleçam tarifas justas que reflitam Para empresas reguladas, como aquelas dos seto-
os custos reais e os investimentos necessários para a res de energia, telecomunicações e financeiro, exis-
manutenção e expansão dos serviços, além de promo- te uma camada adicional de complexidade devido à
ver a competição saudável no mercado. necessidade de aderir a regulamentos específicos. As
Um exemplo prático da aplicação da contabilidade contas estatutárias, que refletem os resultados finan-
regulatória pode ser observado na definição de tari- ceiros conforme princípios contábeis geralmente
fas de energia elétrica, a Agência Nacional de Ener- aceitos, devem ser consistentes com as contas regula-
gia Elétrica (ANEEL) utiliza informações contábeis tórias, que são ajustadas de acordo com os requisitos
dos órgãos reguladores, esta consistência é essencial
regulatórias para determinar o custo de operação e
não apenas para cumprir com a legislação, mas tam-
manutenção das distribuidoras, bem como os inves-
bém para assegurar a confiabilidade das informações
timentos necessários para a expansão e melhoria da
para investidores, reguladores e outros stakeholders.
rede, essas informações são fundamentais para cal-
Lembre-se: stakeholders são indivíduos, grupos
cular tarifas que cobrem os custos das empresas, ao ou organizações que têm interesse ou são afetados
mesmo tempo em que protegem os consumidores de pelas atividades, decisões e políticas de uma empresa
preços abusivos. ou projeto. Esses interessados podem influenciar ou
A contabilidade tradicional, focada na elaboração ser influenciados pelos objetivos e ações da empresa,
de demonstrações financeiras para atender a requi- direta ou indiretamente.
sitos fiscais e acionistas, pode não fornecer informa- A principal questão da consistência entre contas
ções suficientemente detalhadas ou relevantes para estatutárias e regulatórias reside na potencial diver-
a gestão de empresas sujeitas a regulamentações gência entre as práticas contábeis adotadas pela
específicas. Da mesma forma, a contabilidade geren- empresa e as exigências regulatórias. Por exemplo,
cial, embora mais flexível e orientada para a tomada enquanto as contas estatutárias podem ser prepa-
de decisão interna, pode falhar em capturar nuances radas sob o regime de competência, as contas regu-
regulatórias que afetam a operação e a estratégia latórias podem requerer ajustes específicos, como a
financeira de empresas reguladas. adição de provisões ou a reclassificação de despesas,
Limitações Específicas pode se dividir em catego- para refletir de forma mais precisa o impacto das ati-
rias, sendo essas: vidades reguladas na posição financeira da empresa.
Um exemplo prático dessa dinâmica pode ser
z Foco em Informações Históricas: ambas as con- observado no setor de energia elétrica, as empresas
tabilidades tradicionalmente se concentram em desse setor precisam realizar ajustes em suas contas
dados históricos, para empresas reguladas isso estatutárias para refletir as decisões tarifárias impos-
pode ser insuficiente, pois essas frequentemente tas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL)
exigem previsões e projeções para garantir a via- no Brasil, esses ajustes podem incluir a capitalização
de custos relacionados à expansão da rede que, por
bilidade a longo prazo e a capacidade de atender
critérios regulatórios, são tratados de maneira dife-
às necessidades futuras dos consumidores;
rente em comparação com os princípios contábeis
z Padronização vs. Especificidade Regulatória: a
geralmente aceitos. A adoção de um framework con-
contabilidade tradicional segue princípios contá-
tábil que promova a harmonização entre as contas
beis geralmente aceitos que podem não alinhar-se

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


estatutárias e regulatórias é, portanto, essencial. Isso
perfeitamente com os requisitos regulatórios espe- pode envolver a implementação de sistemas de conta-
cíficos de determinados setores, como tarifação e bilidade integrados que permitam a geração de relató-
relatórios de conformidade; rios financeiros tanto no padrão estatutário quanto no
z Alocação de Custos e Receitas: em setores regula- regulatório, de forma eficiente e confiável.
dos, a alocação apropriada de custos e a determi-
nação de preços de serviços podem ser complexas
e sujeitas a regulamentações específicas, a conta-
bilidade gerencial pode não ser suficientemente Importante!
robusta para lidar com essas complexidades de for-
Um framework contábil, também conhecido
ma eficaz, o que pode levar a decisões paliativas;
z Valorização de Ativos Regulados: a avaliação de
como estrutura conceitual de contabilidade, é
ativos dentro de uma empresa regulada pode ser um sistema de princípios e normas que orienta
afetada por decisões regulatórias, como taxas de a preparação e a apresentação dos relatórios
retorno permitidas e amortizações. A contabilida- financeiros de entidades.
de tradicional pode não refletir adequadamente
essas considerações, afetando a precisão dos rela- COMPORTAMENTO DOS REGULADORES E
tórios financeiros. PRINCÍPIOS A SEREM SEGUIDOS

Atenção! As limitações da contabilidade tradicio- Reguladores operam em ambientes complexos


nal e gerencial em empresas reguladas destacam a e dinâmicos, enfrentando o desafio de equilibrar os
necessidade de uma abordagem contábil mais adapta- interesses de múltiplos stakeholders, incluindo con-
da e específica, que considere as peculiaridades regu- sumidores, empresas reguladas e o interesse público.
latórias de cada setor. Os princípios de boa regulação orientam as ativida-
des dos reguladores, promovendo transparência, 493
accountability, eficiência e eficácia nas suas ações. despesas gerais da empresa que não podem ser dire-
Esses princípios incluem a proporcionalidade, a pre- tamente ligadas a um serviço específico, mas que são
visibilidade, a consistência e a objetividade dos quais necessárias para a operação da empresa, como aluguel
trataremos a seguir: e salários da administração. A correta alocação destes
custos é crucial para determinar o preço justo de um
z a proporcionalidade é crucial, as medidas regula- serviço, um exemplo prático da aplicação desta metodo-
tórias devem ser adequadas aos riscos ou proble- logia pode ser observado na regulação do setor elétrico,
mas identificados, evitando sobrecarga regulatória onde as agências reguladoras utilizam modelos de custo
desnecessária que possa inibir a inovação ou a para determinar as tarifas de energia.
competição. Por exemplo, na regulação financei- Estes modelos consideram os custos de geração,
ra, isso pode significar a imposição de requisitos transmissão e distribuição de energia, além de um
de capital proporcionalmente ao perfil de risco de retorno sobre o capital investido, para estabelecer
uma instituição financeira; tarifas que garantam a cobertura dos custos e incen-
z a previsibilidade é outro princípio fundamental, tivem investimentos no setor, a utilização de custos
pois os reguladores devem fornecer diretrizes cla- contábeis na definição de tarifas é essencial para asse-
ras e estáveis, permitindo que as entidades regu- gurar a justiça tarifária e a sustentabilidade financei-
ladas compreendam suas obrigações e planejem ra dos serviços. Esta abordagem promove a eficiência
suas atividades futuras com confiança, isso é vital econômica, incentivando as empresas a gerir seus
para incentivar investimentos e promover um custos de forma eficaz e a investir na qualidade e na
ambiente de negócios estável; expansão dos serviços, além disso, contribui para a
z consistência nas decisões e políticas regulatórias proteção dos consumidores, garantindo que as tarifas
ajuda a manter a confiança no ambiente regula- sejam baseadas em critérios objetivos e transparen-
tório, isso significa aplicar regras de maneira uni- tes, evitando práticas de preços abusivos.
forme e justa, garantindo que decisões similares
sejam tomadas em circunstâncias similares. Um REFERÊNCIAS
exemplo disso pode ser visto na aplicação con-
Manual de Contabilidade Regulatória e Plano
sistente de sanções em casos de violações regu-
de Contas Regulatório. AGERSA, 2019.
latórias, assegurando que não haja tratamento
IUDÍCIBUS, S. de; MARION, J. C.; VELTER, F. Con-
preferencial ou desigual;
tabilidade Introdutória. 11. ed. São Paulo: Atlas,
z a objetividade é essencial para garantir que as
2015.
decisões regulatórias sejam baseadas em evidên-
ATKINSON, A. A.; KAPLAN, R. S.; MATSUMURA, E.
cias e critérios claros, não em interesses pessoais
M.; YOUNG, S. M. Contabilidade Gerencial. 6. ed.
ou políticos, isso envolve a realização de consultas
São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2012.
públicas para coletar uma gama de perspectivas
SILVA, A. B.; COSTA, C. D. Impacto da regulamen-
antes de tomar decisões e a justificação clara das
tação na contabilidade gerencial das empresas
ações regulatórias tomadas.
brasileiras. Revista Brasileira de Contabilidade,
Brasília, v. 40, n. 185, p. 58-72, mar. 2019.
O comportamento dos reguladores, guiado por
princípios de boa regulação, é vital para o desenvol-
vimento saudável e justo de mercados competitivos e
para a proteção dos consumidores. Por meio da apli-
cação de princípios como proporcionalidade, previsi- CONTABILIDADE GERAL
bilidade, consistência e objetividade, os reguladores
podem contribuir significativamente para o fortaleci- A contabilidade geral é destinada a verificar os
mento da confiança pública no sistema regulatório e fatos societários, visando verificar a situação econô-
para a promoção de um ambiente de negócios robus- mico-financeira e patrimonial de uma entidade, seja
to e justo. Estes princípios ajudam a garantir que a ela pública ou privada, com ou sem fins lucrativos.
regulação atenda ao seu propósito sem impor ônus Por meio dela será possível realizar análises, contro-
desnecessários ou criar barreiras injustificadas ao le fiscal, conciliações contábeis, administrar tributos,
crescimento e à inovação. entre outros aspectos, tudo com a finalidade de melho-
rar a situação econômico-financeira dessa entidade.
UTILIZAÇÃO DE CUSTOS CONTÁBEIS NA Para facilitar nossa compreensão, serão listados a
DEFINIÇÃO DE TARIFAS seguir, alguns conceitos básicos da contabilidade geral.

O processo de definição de tarifas baseado em Patrimônio


custos contábeis envolve a identificação, alocação
e análise dos custos em que a empresa incorre para Conjunto de bens, direitos e obrigações de uma
prestar seus serviços, esta metodologia assegura que entidade, que podem ser avaliados em dinheiro. O
as tarifas reflitam os custos reais de produção e distri- patrimônio é representado pela equação patrimonial:
buição, contribuindo para a transparência e eficiência Ativo = Passivo + Patrimônio Líquido.
econômica, a prática também ajuda a evitar subsídios
cruzados indesejados, onde alguns usuários acabam Ativo
pagando mais do que o custo do serviço para subsi-
diar outros usuários. Conjunto de bens e direitos de uma entidade, que
Os custos contábeis relevantes para a definição de representam as aplicações de recursos. O ativo pode
tarifas incluem custos diretos, sendo aqueles que podem ser classificado em circulante (disponível ou realizá-
ser diretamente atribuídos ao serviço, como materiais e vel a curto prazo) e não circulante (realizável a longo
494 mão de obra. Custos indiretos, ou custos fixos, incluem prazo ou permanente).
Passivo Informações

Conjunto de obrigações de uma entidade, que São os resultados do processamento dos dados,
representam as origens de recursos. O passivo pode que são apresentados em forma de relatórios, como o
ser classificado em circulante (exigível a curto prazo) balanço patrimonial, a demonstração do resultado do
e não circulante (exigível a longo prazo). exercício, a demonstração dos fluxos de caixa, entre
outros.
Patrimônio Líquido
Usuários
Diferença entre o ativo e o passivo de uma enti-
dade, que representa o valor dos recursos próprios. São as pessoas ou as entidades que utilizam as
O patrimônio líquido pode ser composto por capi- informações contábeis para fins diversos, como a ges-
tal social, reservas, lucros ou prejuízos acumulados, tão, o controle, a avaliação, a fiscalização, a auditoria,
entre outras contas. a consultoria, a pesquisa, entre outros.
Apesar da sua importância e da sua evolução, o
Receita sistema de informação contábil ainda enfrenta alguns
problemas e desafios, que podem comprometer a sua
Ingresso de recursos na entidade, proveniente qualidade e a sua utilidade. Alguns desses problemas são
da venda de bens ou da prestação de serviços, que a complexidade, os conflitos, o custo e a confiabilidade.
aumenta o patrimônio líquido. A receita pode ser clas-
sificada em operacional (relacionada à atividade-fim z Complexidade: o sistema de informação contábil
da entidade) e não operacional (relacionada à ativida- precisa lidar com a crescente complexidade das
de-meio da entidade). atividades econômicas, das operações financeiras,
das normas contábeis, dos tributos, dos sistemas
Despesa informatizados, entre outros fatores que exigem
É a saída de recursos da entidade, decorrente do maior conhecimento, habilidade e atualização dos
profissionais da contabilidade;
consumo de bens ou da utilização de serviços, que
z Conflito: o sistema de informação contábil precisa
diminui o patrimônio líquido. A despesa pode ser clas-
conciliar os interesses e as necessidades de diferen-
sificada em operacional (relacionada à atividade-fim
tes usuários, que podem ter objetivos, expectativas
da entidade) e não operacional (relacionada à ativida-
e preferências distintas ou até mesmo opostas em
de-meio da entidade).
relação às informações contábeis, como os gesto-
Resultado res, os acionistas, os credores, os fornecedores, os
clientes, os funcionários, o governo, entre outros;
Diferença entre as receitas e as despesas de uma z Custo: o sistema de informação contábil precisa
entidade, em um determinado período, que pode ser justificar o seu custo de implantação, manutenção
positivo (lucro) ou negativo (prejuízo). e operação, que pode ser elevado em função dos
recursos humanos, tecnológicos, metodológicos e
organizacionais envolvidos, bem como dos bene-
O SISTEMA DE INFORMAÇÃO CONTÁBIL:
fícios e dos resultados que ele proporciona para a
ENTENDIMENTO, PROBLEMAS E ALTERNATIVAS
entidade e para os seus usuários;
z Confiabilidade: o sistema de informação contábil
Sistema de informação contábil é um dos integran-

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


precisa garantir a confiabilidade das informações
tes de informação gerencial. É composto pela contabi-
contábeis, que podem ser afetadas por erros, frau-
lidade geral, contabilidade patrimonial, contabilidade
des, omissões, distorções, manipulações, incon-
de custos, contabilidade gerencial, controladoria e
sistências, incoerências, entre outros fatores que
contabilidade estratégica. podem prejudicar a sua fidedignidade, a sua inte-
Como esse sistema é estabelecido em padrão interna- gridade e a sua veracidade.
cional, o sistema nacional deve efetuar constante atua-
lização e adaptação de suas plataformas de programas. Diante dos problemas e desafios que o sistema de
Para entender o sistema de informação contábil, é informação contábil enfrenta, é preciso buscar alter-
preciso compreender os seus principais componentes, nativas para o seu melhor desempenho, que podem
que serão apresentados a seguir: ser, por exemplo, a padronização, a capacitação pro-
fissional, a implementação de tecnologias e a partici-
Dados pação do usuário em múltiplos processos.

São os fatos e as transações que afetam o patrimô- z Padronização: consiste em adotar normas, padrões,
nio da entidade, e que são registrados e classificados procedimentos e critérios contábeis uniformes,
de acordo com as normas e os princípios contábeis. que possibilitem a comparabilidade, a consistên-
cia, a coerência e a convergência das informa-
Processamento ções contábeis, tanto no âmbito nacional quanto
internacional;
É a transformação dos dados em informações, por z Capacitação: consiste em investir na formação, na
meio de técnicas e procedimentos contábeis, como o qualificação, na atualização e na reciclagem dos
lançamento, o razonete, o balancete, o ajuste, a escri- profissionais da contabilidade, que devem possuir
turação, a demonstração, entre outros. conhecimento, habilidade, atitude e ética para
exercer as suas funções com competência, respon-
sabilidade e qualidade; 495
z Tecnologia: consiste em utilizar as novas tecnolo- patrimonial que objetiva determinar um valor real
gias de informação e comunicação, que permitem aos bens, adequando-os à realidade do mercado.
coletar, processar, armazenar, distribuir e utili- Através da avaliação de ativos é possível realizar
zar as informações contábeis de forma mais rápi- o balanço patrimonial, utilizar os bens em leilões,
da, eficiente, segura e integrada, bem como gerar seguros, garantias e penhoras e reavaliar um ativo
novas informações, como o big data, a mineração imobilizado.
de dados, a inteligência artificial, entre outras; A avaliação de ativos também é necessária para
z Participação: consiste em envolver os usuários a realização do PPA (Purchase Price Allocation) ou
nas decisões e nas ações relacionadas ao sistema Alocação do Preço de Compra, que é a apuração do
de informação contábil, buscando atender as suas valor dos ativos e passivos adquiridos, tanto tangíveis
necessidades, expectativas e preferências, bem como intangíveis, em uma operação de compra, ven-
como obter o seu feedback, a sua avaliação, a sua da, fusão ou incorporação de empresas.
satisfação e a sua fidelização. Mas afinal, o que são ativos? Para saber respon-
der essa pergunta devemos primeiro entender que os
PRINCÍPIOS E CONVENÇÕES CONTÁBEIS; ativos de uma empresa podem ser classificados em
OBJETIVIDADE; CONSERVADORISMO; dois grandes grupos: os ativos tangíveis e os ativos
MATERIALIDADE; CONSISTÊNCIA intangíveis.
Os ativos tangíveis são aqueles que possuem
Princípios são o conjunto de procedimentos que existência física e podem ser tocados, como imóveis,
deverão ser tomados pelo contador, no momento de máquinas, equipamentos, estoques, recursos natu-
efetuar o registro das informações contábeis. rais, matéria-prima, etc. Esses ativos são registra-
Pelo princípio da objetividade, o contador deve dos no balanço patrimonial pelo seu custo histórico
escolher o melhor procedimento a ser adotado para de aquisição, deduzido da depreciação acumulada,
determinado evento contábil. quando aplicável.
Pelo princípio do conservadorismo ou prudência Os ativos intangíveis são aqueles que não possuem
adota-se o menor valor para os bens integrantes do existência física, mas que representam um valor eco-
ativo e o maior valor para os passivos, não se contabi- nômico para a empresa, como marcas, patentes, soft-
lizando expectativas futuras que dependem de even- wares, direitos autorais, goodwill, etc. Esses ativos são
tos que ainda irão ocorrer.
registrados no balanço patrimonial pelo seu custo de
Pelo princípio da materialidade é dever do profis-
aquisição ou pelo seu valor justo, quando mensurável.
sional realizar as demonstrações financeiras abran-
gendo todos os elementos relevantes.
MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE ATIVOS
Pelo princípio da consistência ou uniformidade a
empresa deve adotar uma única forma de efetuar o
Existem diversos métodos de avaliação de ativos,
registro contábil para um mesmo evento, caso exista
que podem ser aplicados de acordo com o tipo, a fina-
mais de uma maneira de ser realizado. O importante
lidade e a disponibilidade de informações sobre o
é a adoção de apenas uma única forma, dentre várias
ativo.
existentes.
Método do Custo
PRINCIPAIS REGISTROS DE TRANSAÇÕES PELO
SISTEMA CONTÁBIL; APLICAÇÕES FINANCEIRAS;
INVESTIMENTOS; IMOBILIZADO; DIFERIDO Consiste em estimar o valor do ativo com base no
seu custo de aquisição ou de reposição, deduzido da
Aplicações financeiras são a compra de um deter- depreciação, da obsolescência e da perda de utilida-
minado ativo, na expectativa de que ele venha a sofrer de. Esse método é mais adequado para ativos tangí-
valorização com o tempo. veis que não possuem um mercado ativo ou que não
Investimento é a aplicação de capital na esperança geram fluxos de caixa futuros.
de um benefício futuro.
Imobilizado é referente aos bens corpóreos da Método do Mercado
empresa, que representam investimento e neces-
sários para a manutenção da atividade da empresa, Consiste em estimar o valor do ativo com base nos
tais como o caminhão da empresa transportadora e a preços praticados no mercado para ativos similares
garagem onde ele fica guardado. ou comparáveis, considerando as características, as
Ativo Diferido é despesa realizada antecipada- condições e as localizações dos ativos. Esse método é
mente, sem que tenha sido efetivamente consumida. mais adequado para ativos tangíveis que possuem um
Atualmente, o ativo diferido deixou de existir com a mercado ativo e transparente, como imóveis, ações,
Medida Provisória nº 449, de 2008, convertida na Lei títulos, etc.
nº 11.941, de 2009, que passou a utilizar a nomencla-
tura Despesas Pré-Operacionais. Método da Renda

AVALIAÇÃO DE ATIVOS Consiste em estimar o valor do ativo com base nos


fluxos de caixa futuros que ele pode gerar, desconta-
Avaliação de ativos é procedimento que visa atri- dos a uma taxa de retorno adequada. Esse método é
buir valor aos bens que a empresa possui. A avalia- mais adequado para ativos intangíveis que possuem
ção recai sobre os bens corpóreos e os incorpóreos, uma capacidade geradora de caixa mensurável e pre-
tais como a marca, por exemplo. Em outras pala- visível, como patentes, softwares, etc.
496 vras, a avaliação de ativos é uma operação de gestão
RECONHECIMENTO DE RECEITAS A elaboração das demonstrações contábeis é uma
obrigação legal para as empresas de capital aberto,
Reconhecimento de Receitas é procedimento que que são aquelas que negociam suas ações na bolsa de
proporciona informação acerca da atividade e do valores, e também para as empresas de grande porte,
desempenho dos serviços prestados, desde a formali- que são aquelas que possuem ativo total superior a
zação do contrato até o seu efetivo cumprimento. R$ 240 milhões ou receita bruta anual superior a R$
O reconhecimento de receitas é um tema relevan- 300 milhões. As demais empresas podem optar por
te e complexo na contabilidade, pois envolve diversos elaborar e divulgar suas demonstrações contábeis, de
critérios, conceitos e julgamentos que podem afetar a acordo com as suas necessidades e interesses.
mensuração, a apresentação e a divulgação das infor-
mações financeiras de uma entidade. Além disso, o
reconhecimento de receitas tem implicações fiscais,
gerenciais e regulatórias, que devem ser consideradas AUDITORIA DE ENTIDADES
pelos profissionais da área.
No Brasil, as normas de reconhecimento de REGULADAS PELA CONTABILIDADE
receitas são emitidas pelo Comitê de Pronunciamen- REGULATÓRIA
tos Contábeis (CPC), que é o órgão responsável pela
convergência das normas contábeis brasileiras aos A auditoria realizada pela contabilidade regula-
padrões internacionais emitidos pelo International tória é um processo de verificação e avaliação das
Accounting Standards Board (IASB). O CPC emite pro- informações contábeis e financeiras providas pelas
nunciamentos técnicos, orientações, interpretações e entidades sujeitas à regulação. Essas entidades podem
comunicados técnicos sobre diversos assuntos contá- ser de diversos setores, atividades ou mercados, tais
beis, incluindo o reconhecimento de receitas. como energia elétrica, telecomunicações, transportes,
saneamento, saúde, entre outros.
APROPRIAÇÃO DE DESPESAS Com o intuito de assegurar confiabilidade, trans-
parência e adequação às normas contábeis vigentes,
Apropriação de despesas é o processo contábil que
ela pode ser realizada por auditores independentes,
consiste em registrar as despesas incorridas pelas
internos ou externos, que emitem um parecer sobre a
atividades de uma entidade, de acordo com os prin-
fidedignidade das informações apresentadas. Ou seja,
cípios e normas aplicáveis. A despesa é definida como
pode ser realizada pelos próprios órgãos reguladores,
a diminuição dos benefícios econômicos durante o
por auditores contratados por eles ou pelas entidades,
período contábil, na forma de saída ou redução de ati-
ou por auditores independentes — desde que todos
vos ou aumento de passivos, que resulta em diminui-
sigam à risca as normas de auditoria aplicáveis ao
ção do patrimônio líquido, exceto aquela proveniente
setor regulado.
de distribuições aos proprietários.
Um exemplo é a auditoria contábil realizada pela
A apropriação de despesas é um tema importante
Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento
e desafiador na contabilidade, pois envolve diversos
Básico do Distrito Federal (ADASA) sobre a concessio-
critérios, conceitos e julgamentos que podem afetar
nária de serviços públicos de abastecimento de água e
a mensuração, a apresentação e a divulgação das
esgotamento sanitário do Distrito Federal.
informações financeiras de uma entidade. Além dis-
A ADASA emitiu um manual de contabilidade
so, a apropriação de despesas tem implicações fiscais,
regulatória e um plano de contas para a concessioná-
gerenciais e regulatórias, que devem ser consideradas
ria, que deve apresentar anualmente as suas demons-
pelos profissionais da área.

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


trações contábeis, acompanhadas de um relatório
No Brasil, as normas de apropriação de despesas
de auditoria independente. Além disso, os auditores
são emitidas pelo Comitê de Pronunciamentos Con-
revisariam os procedimentos de controle interno
tábeis (CPC), que é o órgão responsável pela conver-
da empresa para garantir que estão sendo seguidos
gência das normas contábeis brasileiras aos padrões
adequadamente.
internacionais emitidos pelo International Accoun-
A auditoria também pode incluir testes substan-
ting Standards Board (IASB). O CPC emite pronun-
tivos, como a revisão de transações individuais e o
ciamentos técnicos, orientações, interpretações e
exame de documentação de suporte, para verificar
comunicados técnicos sobre diversos assuntos contá-
a precisão e a validade das informações financeiras
beis, incluindo a apropriação de despesas.
apresentadas por uma entidade. Ao final do processo,
ELABORAÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS os auditores emitem um relatório que descreve suas
descobertas e recomendações para aprimoramento
As demonstrações contábeis são documentos que dos processos.
fazem parte das exigências legais da empresa e direcio- A ADASA utiliza essas informações para avaliar o
nados à Receita Federal, tais como o balanço patrimo- desempenho econômico-financeiro da concessioná-
nial ao final do exercício e a demonstração do resultado ria, bem como para definir as tarifas e os reajustes
do período, entre outros. Esses documentos apresen- dos serviços.
tam a situação patrimonial, financeira e econômica de
uma entidade, de forma estruturada e padronizada, de REFERÊNCIAS
acordo com as normas contábeis vigentes.
As demonstrações contábeis são elaboradas ao Auditoria Contábil: Garantindo a Confiabilidade
final de cada exercício social, que normalmente cor- das Informações e Detectando Fraudes. Contabi-
responde a um ano civil, e devem ser divulgadas aos lidade Financeira, 2020. Disponível em: https://
usuários internos e externos da informação contábil, contabilidadefinanceira.com.br/contabilidade/
tais como gestores, acionistas, credores, investidores, auditoria-contabil-confiabilidade-informacoes-de-
fornecedores, clientes, governo, entre outros. tectar-fraudes/. Acesso em: 08 fev. 2024. 497
Manual de Contabilidade Regulatória dos Pres- z instruções gerais e contábeis;
tadores de Serviços Públicos de Saneamento z perda esperada para créditos de liquidação duvi-
Básico. ANA, 2017. Disponível em: https://arsp. dosa – PECLD;
es.gov.br/Media/arsi/Audi%C3%AAncias%20e%20 z tributos recuperáveis; e
consultas%20p%C3%BAblicas/Consultas%20 z critérios para alocação de custos.
p%C3%BAblicas/ARSP/2020/006/Manual_CR_-
-CP006-2020.pdf. Acesso em: 08 fev. 2024. REFERÊNCIAS
Manual de Contabilidade Regulatória e Plano
de Contas Regulatório para a Concessionária ARSESP. Manual de contabilidade regulatória
de Serviços Públicos de Abastecimento de Água e plano de contas contábeis do setor de sanea-
e Esgotamento Sanitário do Distrito Federal. mento para empresas reguladas pela ARSESP.
ADASA, 2016. Disponível em: https://www.adasa. 2021. Disponível: https://www.arsesp.sp.gov.
df.gov.br/images/storage/legislacao/resolucoes_ br/ConsultasPublicasBiblioteca/NTF_010_2021_
adasa/2016/Nota_Tecnica_033_2016_SEF.pdf. Aces- Manual_Contabilidade_Regulatoria_Saneamento.
so em: 08 fev. 2024. pdf. Acesso em: 08 fev. 2024.

CONTEÚDO DE DIRETRIZES DE CONTABILIDADE PROCESSOS DE INTERCÂMBIO DE INFORMAÇÕES


REGULATÓRIA
O intercâmbio de informações na contabilidade
São as orientações e os critérios definidos pelos regulatória é o processo de comunicação e de compar-
órgãos reguladores para elaborar e apresentar as tilhamento dos dados e documentos contábeis entre
informações contábeis e econômico-financeiras das as entidades reguladas, os órgãos reguladores e os
entidades reguladas. As diretrizes visam garantir um demais interessados.
padrão de consistência e transparência, de forma que É um processo que envolve a utilização de diversos
auxilie na comparabilidade das informações. meios e instrumentos, tais como:
Isso torna mais fácil o processo de monitoramen-
to e fiscalização dos objetivos regulatórios propostos
z Demonstrações contábeis regulatórias: relatórios
para as entidades, tais como a qualidade, a eficiência,
que apresentam as informações pertinentes ao
a modicidade tarifária, a universalização e a sustenta-
processo, elaborados e apresentados periodica-
bilidade dos serviços públicos.
mente pelas entidades reguladas aos órgãos regu-
As diretrizes da contabilidade regulatória variam
ladores, bem como divulgados ao público em geral;
em conformidade com o setor regulado. Um exemplo
z Sistemas de informação regulatória: plataformas
prático que podemos trazer são as diretrizes da con-
eletrônicas que permitem o envio, o recebimento,
tabilidade regulatória é o Manual de Contabilidade
o armazenamento, o processamento e a consulta
Regulatória e Plano de Contas Contábeis do Setor de
Saneamento para Empresas Reguladas pela ARSESP, das informações. São sistemas desenvolvidos e
de 2021. mantidos pelos órgãos reguladores, com a partici-
Esse manual estabelece as normas e os proce- pação e a colaboração das entidades reguladas;
dimentos para a elaboração e a apresentação das z Auditoria contábil regulatória: verificação e aná-
demonstrações contábeis regulatórias dos prestado- lise das informações com o intuito de assegurar a
res de serviços públicos de saneamento, bem como os sua confiabilidade, transparência e adequação às
indicadores econômico-financeiros a serem apurados normas. Pode ser realizada pelos próprios órgãos
e divulgados. O manual também define o plano de reguladores, por auditores contratados por eles ou
contas regulatório, que é um conjunto de contas espe- pelas entidades, ou por auditores independentes,
cíficas para o registro das operações relacionadas às que devem seguir as normas de auditoria aplicá-
atividades reguladas. veis ao setor regulado;
Veja a seguir algumas das diretrizes apresentadas z Cooperação e assistência mútua: ações e acordos
nesse documento. que visam a troca de informações, experiências,
conhecimentos e boas práticas entre os órgãos
z Estrutura e premissas básicas de contabilização: reguladores, as entidades reguladas e os demais
informações que tangem ao sistema patrimonial interessados, tanto no âmbito nacional quanto no
da entidade, tais como: ativos e ativos circulantes; internacional. Devem ser realizadas com base nos
caixa e equivalentes de caixa; contas a receber; princípios de reciprocidade, de confidencialidade,
estoques; adiantamentos de recebíveis e de despe- de legalidade e de interesse público.
sas pagas, etc.;
z Estrutura geral das contas contábeis: Um exemplo para o objeto em estudo é o trabalho
realizado pela Receita Federal do Brasil (RFB) com os
„ indicação da origem das despesas efetuadas e órgãos reguladores de diversos setores. Ela recebe
das receitas obtidas, permitindo a identificação periodicamente as informações contábeis e econômi-
dos subsídios cruzados; co-financeiras das entidades reguladas, por meio de
„ demonstração da essência das despesas e sistemas de informação supracitados, e as utiliza para
receitas, distinguindo como “regulatório” os fins de fiscalização tributária, de controle aduaneiro e
registros relacionados à prestação do serviço de combate à sonegação e à lavagem de dinheiro.
público sujeitos a ajustes tarifários e “não regu- A RFB também presta cooperação e assistência
latório” os valores atrelados a outras atividades mútua aos órgãos reguladores, fornecendo informa-
da empresa. ções tributárias e aduaneiras relevantes para o exer-
cício da regulação.
498
REFERÊNCIAS previdência, o significado de economia não é, muitas
vezes, plenamente compreendido. Esta seção busca
UFMG. Contabilidade. Disponível em: https://fipe- esclarecer esse aspecto, respondendo a seguinte ques-
cafi.org/matriz/ead/Elearning%E2%80%93Con- tão: o que é economia?
tabilidaderegulatoria%E2%80%93SetorEletrico.
pdfhttps://revistas.face.ufmg.br/index.php/conta- O QUE É ECONOMIA
bilidadevistaerevista/article/view/6297/3434. Aces-
so em: 08 fev. 2024. Um ponto inicial para compreender o conceito
de economia diz respeito à análise etimológica dessa
AS CONCESSÕES DE SERVIÇOS PÚBLICOS E AS palavra. O termo economia origina-se do grego, oiko-
AGÊNCIAS REGULADORAS NO BRASIL nomia: oikos (casa), nomos (costume, lei, ou também,
administrar, gerir) e ια (sufixo relativo a assuntos
As concessões de serviços públicos são os contratos como ciência, doutrina e profissão). Assim, oikonomia
administrativos pelos quais o Estado transfere a execu- poderia ser traduzido como a “ciência da administra-
ção de um serviço público a uma entidade privada, que ção da casa”.
assume o seu ônus e o seu risco, mas recebe o direito de Na administração de um domicílio, o chefe de
cobrar tarifas dos usuários, por um prazo determinado. família precisa decidir acerca de diversos assuntos,
Difere-se das permissões, que são atos administrati- tais como:
vos por meio dos quais o Estado delega a execução do
serviço à entidade definida, mediante licitação, de forma z o quanto adquirir de alimentos e energia elétrica;
mais precária. E, também, das autorizações de serviços z se deve comprar uma nova geladeira a prazo ou
públicos que, por sua vez, são atos administrativos pelos esperar até ser possível comprar à vista;
quais é permitida a execução de um serviço por entida- z se deve investir em uma reforma ou trocar de
de privada, de forma discricionária, e sem licitação. residência;
As agências reguladoras são os órgãos públicos z se deve contratar alguém ou realizar os trabalhos
especializados e dotados de autonomia (administra- domésticos por conta própria;
tiva, financeira e funcional) que encarregam-se de z se deve aceitar a promoção em seu emprego (e tra-
fiscalizar, normatizar e controlar essa prestação de balhar mais horas) ou recusá-la (e ter mais tempo
serviços delegados a entidades privadas. Tudo deve disponível para o lazer).
operar de acordo com os interesses públicos e os direi-
tos dos usuários e as agências asseguram isso.
A tarefa de administrar envolve escolhas, não
Essas agências também possuem a função de esti-
somente nas casas, como também nas empresas e
mular a concorrência, promovendo maiores índi-
órgãos públicos. As decisões estão relacionadas a obje-
ces de eficiência e modicidade tarifária dos serviços
tivos que podem ser alcançados de maneiras diferen-
públicos. Além disso, também atuam na promoção da
tes, cada uma delas dependente de diferentes métodos
participação social e da transparência na regulação.
e condições para a utilização dos recursos disponíveis.
O modelo de gestão dos serviços públicos no Brasil,
Assim, a economia é uma ciência social que estu-
baseado nas concessões e nas agências reguladoras,
da como os agentes econômicos decidem empregar
surgiu na década de 1990, como parte das reformas
estruturais do Estado, que buscavam reduzir o seu recursos na produção de bens e serviços, de modo a
tamanho e o seu déficit, aumentar a sua eficiência e a distribuí-los entre as pessoas e grupos da sociedade a
sua modernização, e ampliar o papel do mercado e da fim de satisfazer as necessidades humanas.
Essa noção mais fundamental de economia acabou

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


iniciativa privada na economia. Esse modelo foi ins-
pirado nas experiências de países como o Reino Uni- sendo alterada ao longo dos anos. Mais recentemente,
do, a França, os Estados Unidos e o Chile, que também a maior parte dos livros tem trazido a noção do con-
adotaram formas de privatização e de regulação dos ceito de economia de uma forma diferente. Dentre as
serviços públicos. formas possíveis, no livro de Introdução à Economia,
Um exemplo de concessão de serviço público e de de A. Gremaud et al. (2007), diz-se o seguinte: “Eco-
agência reguladora no Brasil é o setor de energia elé- nomia é a ciência da escolha quando os recursos são
trica, que foi objeto de um amplo processo de desesta- escassos, ou seja, insuficientes para satisfazer necessi-
tização e de reestruturação na década de 1990. O setor dades e desejos ilimitados dos indivíduos”.
de energia elétrica passou a ser dividido em quatro Assim, torna-se importante reforçar a ideia da
segmentos: geração, transmissão, distribuição e comer- escolha, pois toda vez que se falar em economia, trata-
cialização, cada um com regras e agentes específicos. -se do processo de escolher algo. E por que eu preciso
escolher? Por uma razão simples: embora eu queira,
eu não posso ter tudo. Se você pensar dessa forma,
nunca mais irá esquecer o conceito de economia!
INTRODUÇÃO GERAL AOS PROBLEMAS
ECONÔMICOS: ESCASSEZ E ESCOLHA AS ÁREAS DA ECONOMIA

CURVA DE POSSIBILIDADE DE PRODUÇÃO, A teoria econômica é dividida em três grandes


FATORES DE PRODUÇÃO, OFERTA, DEMANDA E ramos: a microeconomia, a macroeconomia e o
EQUILÍBRIO DE MERCADO desenvolvimento econômico. A etimologia das duas
primeiras palavras já ajuda a perceber a diferença
Para estudar as decisões econômicas de famílias, básica entre as suas áreas de atuação: enquanto a
empresas e governos, é necessário, inicialmente, microeconomia estuda as partes, a macroeconomia
entender sobre o que trata a economia. Apesar de ser estuda o todo.
uma palavra largamente utilizada como sinônimo de 499
Ao estudar e procurar relacionar os grandes agre- „ Necessidade secundária: a satisfação não é
gados, a macroeconomia não analisa em profun- fundamental, como adquirir um carro novo.
didade o comportamento das unidades econômicas
individuais, tais como famílias e firmas, a fixação de z Bens e serviços: os meios através dos quais as
preços nos mercados específicos, os efeitos de oligopó- necessidades são satisfeitas;
lios em mercados individuais etc. Essas são preocupa- z Bens livres: abundantes, postos à disposição pela
ções da microeconomia. natureza (não produzidos pelo homem). Exem-
A macroeconomia é aplicada no estudo das rela- plos: ar, água;
ções entre os grandes agregados econômicos. Ela se z Bens econômicos: bens escassos, geralmente pro-
ocupa com a economia como um todo, buscando res- duzidos pelo homem. São classificados como bens
postas para a determinação de cada uma dessas variá- de consumo ou de produção.
veis globais.
Por exemplo, no mercado de bens e serviços, o „ Bens de consumo: voltados para o consumo
conceito de produto nacional é um agregado de mer- final (podem ser duráveis ou não). Exemplo:
cados agrícolas, industriais e de serviços; no mercado peças do vestuário, televisão, carros;
de trabalho, a macroeconomia preocupa-se com ofer- „ Bens de produção: destinados à produção de
ta e demanda de mão de obra e com a determinação outros bens. Podem ser bens de capital ou bens
dos salários e do nível de emprego, mas não conside- intermediários. Os bens de capital podem ser
ra diferenças de qualificação, gênero, idade, origem utilizados várias vezes. Exemplo: máquinas,
da força de trabalho etc. Quando considera apenas o computadores de alta tecnologia, fornos indus-
nível da taxa de juros, não são destacadas devidamen- triais. Enquanto isso, os bens intermediários
te as diferenças entre os vários tipos de aplicações correspondem aos bens de produção utilizados
financeiras. uma única vez (são transformados durante o
O custo dessa abstração é que os pormenores processo produtivo). Exemplos: alguns artigos
omitidos são muitas vezes importantes. A abstração, agrícolas, como o trigo e a soja.
porém, tem a vantagem de permitir estabelecer rela-
z Fatores de produção (ou insumos produtivos):
ções entre grandes agregados e proporcionar melhor
recursos básicos na produção de bens e serviços.
compreensão de algumas das interações mais rele- Comumente são divididos em: terra, trabalho,
vantes da economia, que se estabelecem entre os capital e tecnologia.
mercados de bens e serviços, de trabalho e de ativos
financeiros e não financeiros, assim como as inter- „ Terra: fator de produção relacionado aos
venções do governo. recursos naturais;
Dessa forma, não existe conflito entre a teoria „ Trabalho: insumo produtivo relacionado à
macro e a teoria microeconômica. A diferença fun- mão de obra;
damental seria uma questão de foco. Ao analisar os „ Capital: fator de produção relacionado aos
preços em determinado mercado, a microeconomia equipamentos utilizados na produção;
considera que os preços dos demais mercados não são „ Tecnologia: insumo relacionado tanto ao
alterados, seguindo a hipótese do coeteris. Na macroe- conhecimento quanto à forma de produzir algo
conomia, analisa-se o nível geral de preços, ignorando (o “modus operanis”).
as mudanças de preços relativos de bens dos diferen-
tes mercados. Aqui vale uma ressalva: veja que no grupo “fato-
Assim, a teoria macroeconômica preocupa-se tan- res de produção” não se incluem as matérias-primas
to com questões conjunturais (ou de curto prazo) (bens intermediários). A diferença entre fator produti-
quanto com questões estruturais (ou de longo prazo). vo e matéria-prima está ligada à reutilização durante
Entre as questões conjunturais, destacam-se a análise o processo de produção. Os fatores produtivos podem
do desemprego e da inflação. As questões estruturais ser reutilizados após a produção de um bem, enquan-
estão associadas a problemas como o desenvolvimen- to a matéria-prima não. Ou seja, um trabalhador pode
to econômico, distribuição de renda, crescimento eco- ser reutilizado para fazer 600 carros, mas a chapa de
nômico, globalização ou progresso tecnológico. aço que vai em um carro não pode ser utilizada para
fabricar um segundo carro.
ALGUNS CONCEITOS BÁSICOS IMPORTANTES
z Agentes econômicos: entidades que atuam con-
tribuindo e influenciando o funcionamento do
Para definir economia, foram empregados alguns
sistema econômico. São as famílias, as firmas, o
termos que podem não ser de conhecimento comum,
governo e o resto do mundo. Nesse seguimento:
ou que possuem sentidos diferentes em outros ramos
do conhecimento como, por exemplo: necessidades, „ Famílias: indivíduos e unidades familiares da
agentes econômicos e firmas. A fim de esclarecer o economia. Desempenham o papel de consumi-
emprego desses termos na ciência econômica, defini- dores e de proprietários de alguns dos fatores
remos, também, alguns conceitos adicionais que serão de produção;
amplamente utilizados no decorrer do nosso estudo. „ Firmas: unidades encarregadas de produzir e/
ou comercializar os bens e serviços. Também
z Necessidade: sensação de desejar algo. O conceito são compradoras dos fatores produtivos que
de necessidade pode ser dividido em duas partes: a são de posse das famílias;
necessidade primária e a secundária. Sendo assim: „ Governo: todas as organizações que, direta ou
indiretamente, estão sob o controle do Estado,
„ Necessidade primária: a satisfação é imperio- em todas as suas esferas (federal, estadual, muni-
500 sa (obrigatória), como alimentar-se; cipal). É possível que o Estado também atue na
produção de algum bem, através de empresas como Galileu. Para que discorresse sobre a gravidade,
estatais (mas para simplificação do entendimen- Galileu teve de repetir experimentos em ambientes
to, não vamos entrar nesse mérito, ok?); exatamente iguais para, apenas assim, ser possível
„ Resto do mundo: indivíduos, firmas ou gover- a ele afirmar a existência de uma força que sempre
nos que não estão localizados dentro de deter- atraía todos os corpos para a terra.
minada área geográfica, mas que influenciam a No caso dos economistas, estudar situações exata-
economia local. mente iguais é difícil, principalmente porque repetir
as condições não depende dos pesquisadores. Imagine
z Racionalidade: em economia, entende-se como a que um economista é contratado para analisar a pro-
busca do melhor para si por parte de um agente; cura dos consumidores por um determinado bem. A
o consumidor racional escolhe os produtos que o decisão de cada indivíduo a respeito de comprar ou
deixam o mais satisfeito possível, e as firmas racio- não o bem pode ser influenciada por diversos fatores,
nais buscam o maior lucro possível. e o comportamento de um mesmo indivíduo também
pode ser diferente a depender das circunstâncias que
Atente-se: existem indivíduos que não agem de ele enfrente no momento.
forma racional, a exemplo dos dependentes químicos No entanto, apesar das dificuldades, o estudo eco-
ou dos compradores compulsivos. Embora esses agen- nômico evoluiu bastante e os economistas consegui-
tes façam parte da sociedade, eles não são ponto de ram identificar um padrão no comportamento dos
estudo para a economia, dado que nem sempre eles agentes em diversas situações. Assim, pode-se consi-
buscarão o que é melhor para si. Dessa forma, só con- derar a existência de leis econômicas de dois tipos:
sideraremos como fonte de análise em economia os
agentes racionais. z Leis gerais: válidas para qualquer estágio de evo-
lução da sociedade;
z Mercado: local físico ou não onde é estabelecida a z Leis específicas: próprias de cada modo de produ-
interação entre compradores (demanda) e produ- ção ou de cada formação socioeconômica.
tores (oferta) de um determinado bem ou serviço;
z Economia: eventualmente, esse termo pode ser As leis econômicas servem para fins práticos e
utilizado como um substituto para sistema econô- transformam-se em regras quando utilizadas na bus-
mico de uma determinada região. Então, quando ca por objetivos.
se fala em economia brasileira, na verdade está se Um exemplo das leis econômicas aparece no estu-
falando no sistema econômico brasileiro; do dos mercados de bens e serviços. As leis da oferta e
z Otimização: em matemática, otimizar uma fun- da demanda (ou procura) explicam o funcionamento
ção significa determinar qual o seu valor máximo do mercado e como ele reage a mudanças nos com-
(maximização) e/ou seu valor mínimo (minimizar) portamentos tanto de consumidores, quanto de pro-
dadas as restrições existentes. O conceito de otimi- dutores. A análise de um determinado fato que altera
zação é importante porque, dado que os agentes a procura (ou a oferta) sob a luz dessas duas leis per-
são racionais e buscam o que é melhor para si, mite que sejam estabelecidos os seus possíveis efeitos
eles irão continuamente buscar maximizar satis- sobre a economia.
fação (para os consumidores) e lucros (para as Outro exemplo é a lei da mão invisível, primeira-
empresas) ou minimizar despesas (para os con- mente formulada por Adam Smith (considerado por
sumidores) e custos (para as empresas). Assim, os muitos o pai da ciência econômica). Segundo essa lei,
agentes econômicos estão otimizando suas fun- quando firmas e indivíduos atuam racionalmente, ou

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


ções subjetivas2. seja, cada um buscando o melhor para si mesmo, o
sistema econômico opera de modo mais eficiente.
Agora que compreendemos o que é economia e Como analisado anteriormente, os agentes econô-
alguns de seus conceitos básicos, precisaremos com- micos precisam escolher como usar os recursos ou
preender como ela funciona. Para isso, serão anali- fatores produtivos3 dos quais dispõem de modo a
sadas algumas leis econômicas, conforme veremos a atender suas necessidades. A partir dessa ideia, ratifi-
seguir. camos que a economia é o campo das ciências sociais
que estuda as escolhas.
LEIS ECONÔMICAS As decisões dos indivíduos, das firmas e dos gover-
nos são quase sempre difíceis de serem tomadas devi-
Um dos objetivos da ciência econômica é encon- do à complexidade das questões envolvidas. A partir
trar as leis que possam reger o comportamento dos de agora, passamos a analisar as singularidades que
agentes e o efeito de suas decisões no restante do siste- norteiam as decisões econômicas.
ma econômico. Para tanto, os economistas observam
como os diversos agentes atuam com relação a situa- A ESCASSEZ DE RECURSOS X NECESSIDADES E
ções aparentemente semelhantes, de forma a identifi- DESEJOS ILIMITADOS
car a existência de algum tipo de padrão.
Contudo, uma dificuldade no trabalho dos econo- A economia é definida como a ciência da escolha
mistas está associada ao fato de que essas situações quando os recursos são escassos, ou seja, insuficientes
são apenas semelhantes. Para entender o porquê, para satisfazer necessidades e desejos ilimitados dos
pode-se tomar como exemplo o trabalho de um físico, indivíduos.
2 Nós não entraremos no detalhe da análise, dado que aqui o foco são as noções fundamentais, mas só para que você compreenda, consumido-
res e empresas buscam sempre otimizar funções matemáticas sujeitas a restrições de mesma ordem.
3 Os fatores de produção são necessários no processo de fabricar bens e serviços. Em economia, esses fatores são agrupados em três grupos:
terra — recursos naturais; capital — máquinas e equipamentos; trabalho — mão de obra qualificada e não qualificada. 501
O conceituado economista Samuelson (1975) divi- Na economia brasileira, por exemplo, o mercado
de esse conceito em duas vertentes: os recursos são determina o quê, como e para quem produzir, mas
escassos; as necessidades são ilimitadas e renovam-se. o governo desempenha papéis importantes como a
Considerando essas duas importantes questões, o supervisão e regulamentação das atividades econômi-
economista Mankiw (2019) define a economia como o cas, a oferta de serviços públicos ou a repartição dos
estudo de como uma sociedade administra seus recur- recursos pelos agentes econômicos.
sos escassos. Assim, nem sempre é possível atender a Apesar de bem simples, essa diferença entre eco-
todas as necessidades e desejos de modo simultâneo, nomia planificada (ou centralizada) e economia de
caracterizando um problema econômico relevante e mercado (ou descentralizada) cai em provas.
de difícil solução. Antes de continuar, contudo, vale aqui um ponto
A teoria econômica procura fornecer uma alterna- adicional: quem se preocupa com o funcionamento do
tiva eficiente para a alocação dos recursos de modo a sistema de preços é a economia centralizada ou plani-
maximizar a satisfação das necessidades e dos dese- ficada, que é bem retratada pelos sistemas socialistas
jos da população. Essa alternativa eficiente, por sua ou comunistas.
vez, deve responder aos três principais problemas em Nesse caso, existe, sim, uma forte preocupação
economia. com o funcionamento da economia em termos de
preços e tudo fica controlado pelo planejador social,
A TRÍADE DOS PROBLEMAS CENTRAIS E SEU retratado pelo agente econômico governo. É ele quem
INTER-RELACIONAMENTO controla todos os salários e os demais preços da eco-
nomia. Dessa forma, se a questão falasse sobre a eco-
A sociedade precisa escolher entre formas alterna-
nomia centralizada, o item estaria correto.
tivas de utilização dos recursos disponíveis de manei-
ra a operar eficientemente. Para isso, a economia
procura responder a três questões: ECONOMIA
ECONOMIA
CENTRALIZADA OU
z O que produzir e em que quantidade? Quais pro- DESCENTRALIZADA
PLANIFICADA
dutos e serviços deverão ser produzidos para satis-
fazer da melhor forma possível as necessidades da Funcionamento do siste-
sociedade? ma de preços Satisfação dos inte-
z Como os bens devem ser produzidos? Que tecno- Sistemas socialistas ou resses dos agentes
logias e métodos de produção utilizar? Que maté- comunistas econômicos
rias-primas deverão ser utilizadas para produzir Planejador social retrata- Desconsidera a presença
determinado produto? Como maximizar a produ- do pelo agente econômi- do governo
ção tendo em conta os recursos disponíveis? co governo
z Para quem os bens são produzidos? Como repar-
tir os rendimentos disponíveis entre os diferentes Alocação Eficiente de Pareto
agentes econômicos? Quem deverá ganhar mais e
quem deverá ganhar menos? Pareto apresentou alguns conceitos importantes
no sentido de bem-estar. Assim, algumas noções são
A depender da forma como as sociedades respon- necessárias.
dem as estas três questões, temos diferentes sistemas Uma alocação ou situação é eficiente no sentido
de organização econômica como resultado. Os dois de Pareto se não há uma forma de melhorar a situação
extremos dessas formas seriam: economias centra- de uma pessoa sem piorar a situação de outra. Sobre
lizadas e economias de mercado. Nas economias isso, vamos ver um exemplo: digamos que existam
centralizadas, as principais decisões relacionadas à apenas duas pessoas na economia, o Sr. e a Sra. Silva.
produção dos bens são tomadas pelo governo. Já nas Digamos ainda que o total de riquezas dessa eco-
economias de mercado, é o próprio mercado que res- nomia soma R$ 1.000, que são distribuídos da seguinte
ponde às três questões. forma: R$ 999 para o Sr. Silva e R$ 1 para a Sra. Silva.
Nesse caso, nós observamos que a nossa economia
está longe de ser justa, certo? Mas será que ela é efi-
ECONOMIA ECONOMIA
ciente no sentido de Pareto? Isto é, existe alguma for-
CENTRALIZADA DESCENTRALIZADA
ma de melhorar a situação da Sra. Silva sem piorar a
Sistemas planificados, situação do Sr. Silva?
socialistas Por exemplo, se a Sra. Silva recebesse R$ 1, ela fica-
Leis de mercado são Livre concorrência e ria em uma situação melhor? Sim, certamente, mas
suprimidas ou mitigadas iniciativa veja que, para que isso acontecesse o Sr. Silva teria
ao máximo Atendimento às leis de que ficar em uma situação “menos boa”, pois para que
Tomada de decisões mercado a Sra. Silva recebesse R$ 1, ele teria que perder esse
econômicas pelo poder valor! Nesse caso, não há como melhorar a situação de
público um agente econômico sem piorar a situação do outro.
Essa situação é o que Pareto chamou de eficiência.
Contudo, na prática, não existem atualmente socie- Mas existem situações ou alocações ineficientes
dades que se encaixem em nenhum dos dois casos no sentido de Pareto? Sim. Para ver isso, vamos fazer
extremos expostos. De fato, todas as sociedades atuais um outro exemplo:
estão organizadas em economias mistas na medida
em que contêm características das economias de mer-
cado e das economias de direção central.

502
Observe, ainda, que, mesmo que existisse uma
SR. SILVA SRA. SILVA
terceira opção melhor que o fundo de investimentos,
Riqueza: Riqueza: mas pior que virar sócio da ACME, a sociedade seria
R$ 900 R$: 1 escolhida de qualquer forma. Digamos, por exemplo,
que virar sócio da “Maracutaia Corporation” gerasse
Imagine agora que o Sr. Silva possua R$ 900 e a Sra. um retorno de R$ 9.500. Nessa situação, o Sr. Caetano
Silva continue com o seu R$ 1. Continuamos dizendo ainda investiria na ACME. Mas qual seria o custo de
que existem R$ 1.000 nessa economia, certo? oportunidade? R$ 9.000 (do fundo de investimentos)
Nessa situação é possível melhorar o estado da + R$ 9.500 (do rendimento da “Maracutaia Corpora-
Sra. Silva sem piorar a do Sr. Silva? Nesse caso, sim! tion”)? Nesse caso, não.
Veja que, por exemplo, o governo pode dar a Sra. Silva É importante lembrar que o custo de oportunidade
R$ 50 sem que isso implique em uma retirada do Sr. não é a soma dos benefícios das alternativas perdidas,
Silva. Como essa situação permite a melhora de um mas o benefício da melhor das alternativas abando-
agente sem a piora do outro, ela é chamada de aloca- nadas. No exemplo que considera a “Maracutaia Cor-
ção ineficiente no sentido de Pareto. poration”, ela seria a melhor opção abandonada por Sr.
Uma pergunta que se faz é: como responder de Caetano, assim, o custo de oportunidade dele passaria
forma eficiente a essas três perguntas? Se os recursos a ser de R$ 9.500.
são escassos, como o agente econômico deve realizar
suas escolhas? Em um mundo onde há escassez, qual- ENTENDENDO O FUNCIONAMENTO DE UMA
quer escolha que se faça implica, necessariamente, na ECONOMIA
renúncia de diversas alternativas disponíveis.
O Fluxo Circular da Riqueza
Esta renúncia representa um custo, que é um dos
conceitos mais importantes da economia: o custo de É necessário compreender as interações entre
oportunidade.
os agentes econômicos a fim de melhor entender as
intervenções governamentais. Embora não seja pedi-
A NOÇÃO DE CUSTO DE OPORTUNIDADE
da diretamente a compreensão gráfica do que ocorre
em uma economia, uma vez entendida a direção e o
A definição de custo de oportunidade pode ser
que ocorre em cada mercado, não existirão problemas
apresentada da seguinte forma: custo de oportunida-
para verificar o que acontece em toda a economia.
de é o termo utilizado para designar o custo da esco-
Para compreender a macroeconomia, preci-
lha realizada, que decorre dos benefícios que estavam
samos, inicialmente, saber o que é um modelo: um
associados à melhor alternativa não selecionada. Des-
modelo é como um mapa; ele ilustra a relação entre
sa forma, seria qualquer coisa da qual se tenha que
as coisas. Assim como um mapa não mostra todos
abrir mão para se obter algum item.
Para compreender melhor essa importante defini- os detalhes da paisagem, omitindo árvores e pontos
ção da economia, vamos observar um exemplo. menos relevantes, o modelo simples não poderá mos-
Imagine que Sr. Caetano foi o ganhador da última trar tudo o que acontece na complexidade de um sis-
edição de um reality show e não sabe o que fazer com tema econômico4. Contudo, assim como o mapa nos
o dinheiro. Ele tem duas opções: leva ao local onde desejamos chegar, o modelo sim-
ples desenvolvido nessa parte permitirá ter uma com-
z virar sócio de uma empresa já estabilizada; ou preensão melhor das relações econômicas.
z aplicar o dinheiro em um fundo de investimentos. Para saber o que acontece em um sistema econô-

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


mico, é preciso, antes de qualquer coisa, compreender
Observemos o fluxograma a seguir: quais são os agentes econômicos que atuam nesse sis-
tema. Um agente econômico, como já vimos, é uma
Virar sócio da pessoa ou entidade que toma decisões econômicas.
Retorno: R$10.000
ACME Corporation Em uma economia simplificada, dizemos que existem
CAPITAL A SER
INVESTIDO:
quatro agentes econômicos:
R$1.000.000
Aplicar em fundo
Retorno: R$9.000
z as famílias (que buscam maximizar o nível de
de investimento
satisfação por meio de um processo de otimização);
z as firmas ou empresas (que buscam maximizar
Nesse caso, o Sr. Caetano possui duas opções. A pri- os lucros também por meio de um processo de
meira delas é virar sócio da ACME Corporation e ganhar otimização);
R$ 10.000 em um dado período. A segunda opção é z o governo (que busca maximizar o bem-estar
aplicar em um fundo de investimentos que renderá R$ social); e
9.000. Como é possível observar, o Sr. Caetano optará z o resto do mundo (uma representação dos três
por virar sócio da ACME Corporation, pois esse investi- agentes citados que não estão dentro do território
mento traz um retorno maior do que a segunda opção. em análise).
Bem, mas a pergunta que se faz é: qual o custo de
oportunidade em virar sócio da ACME Corporation? Esses quatro agentes interagem em espaços cha-
O custo é o de não aplicar no fundo de investimento. mados mercados (local, físico ou não, no qual agentes
Ou seja, ao aplicar na empresa, o Sr. Caetano deixou econômicos procedem à troca de bens por uma unida-
de aplicar no fundo de ações. Note que ele não per- de monetária ou por outros bens). Em uma economia,
deu por aplicar na ACME, apenas deixou de ganhar. existirão três mercados-chave:
4 Sistemas econômicos são arranjos historicamente constituídos, a partir dos quais os agentes econômicos são levados a empregar recursos e
a interagir via produção, distribuição e uso dos produtos gerados dentro de mecanismos institucionais de controle e de disciplina, que envolvem
desde o emprego dos fatores produtivos até as formas de atuação, as funções e os limites de cada um dos agentes. 503
z bens e serviços (em que são comercializados os bens destinados ao consumo final);
z fatores produtivos (em que são comercializados fatores necessários à produção, como trabalho, terra e capi-
tal); e
z ativos financeiros.

Antes de estudar a economia anteriormente descrita, iniciaremos analisando uma economia mais simplifica-
da. Uma situação em que só existem dois agentes: famílias e empresas (economia fechada — não há comunicação
com o resto do mundo — e sem governo); e apenas dois mercados: bens e serviços e fatores produtivos, confor-
me mostrado na figura a seguir, denominada fluxo circular da riqueza.

Despesas Receitas
Mercado de bens e
serviços
Demanda de Oferta de bens
bens e serviços e serviços

Famílias Empresas

Oferta de fatores de
produção
z Trabalho Demanda de
z Capital fatores de
z Terra produção
Mercado de fatores
de produção
Renda das famílias Pagamento dos
fatores de produção

Fluxos monetários

Fluxos reais

De forma simplificada, nesse fluxo circular da riqueza as famílias são proprietárias de fatores de produção
(terra, capital e trabalho) e os fornecem às firmas por meio do mercado dos fatores de produção. As firmas combi-
nam os fatores de produção e produzem bens e serviços, que são fornecidos às famílias por meio do mercado de
bens e serviços. Essas são as transações que formam os fluxos reais.
Assim, as firmas produzem bens e serviços e os ofertam no mercado de bens e serviços. Esses produtos serão
adquiridos pelas famílias que, para poder pagar por esses bens, precisam ofertar seus fatores às empresas. Assim,
a terra, o capital e o trabalho, que são de propriedade das famílias, serão utilizados pelas empresas para produzir
bens e serviços que serão consumidos pelas famílias — seguindo um fluxo indefinido que se retroalimenta.
Para cada elo do fluxo real, descrito anteriormente, existe um fluxo monetário. Os fluxos reais possuem uma
contrapartida monetária, ou seja, são efetuados pagamentos na moeda corrente: as firmas remuneram as famílias
quando adquirem os fatores de produção, e as famílias pagam as firmas pelo consumo dos bens e serviços produ-
zidos. Essas operações compõem o fluxo monetário.
Percebe-se que toda a renda dos agentes se deve a alguma contribuição sua no processo produtivo. Por isso,
o fluxo econômico também é denominado de fluxo circular da renda. Esse fluxo monetário é representado em
cinza no fluxograma.
Em suma, não é comum encontrarmos economias fechadas, sem o contato com o resto do mundo, e é ainda
mais improvável encontrar uma economia sem governo. Por isso, embora bastante simplificado, o fluxo anterior-
mente descrito não se reporta a uma realidade factível.
Observando isso, começaremos a tornar o nosso modelo mais completo. Começando, adicionaremos o agente
governo na análise. Nessa economia, conforme revela o fluxograma, o governo não se comunica diretamente
com as empresas. O único contato que o agente governo estabelece é com o outro agente, a família. Esse fato deve
ser levado em consideração, pois o governo deseja maximizar, entre outras coisas, o bem-estar social.
Para atingir esse objetivo, o governo deve tirar recursos das famílias ricas (por meio dos impostos) e destinar
às pobres (por meio das transferências governamentais), sendo desnecessário o contato direto com as empresas.
Além de tributar e transferir recursos, o governo atua, ainda, na economia por meio das compras governamentais
de bens e serviços realizadas no mercado de bens e serviços. Note que, nessa economia, o governo não atua no
mercado de fatores.
Uma coisa que você poderá notar posteriormente é que a única forma que o governo tem de se “comunicar”
com as empresas é por meio do mercado de bens e serviços. Como, nessa economia hipotética, o governo não atua
no mercado de fatores, poderá fazer essa ligação com as firmas por meio da imposição de impostos sobre os bens
(não sobre os rendimentos auferidos pelas empresas) ou, ainda, impondo preços máximos ou mínimos, além de
504 tarifas e subsídios.
Um último ponto que se pode considerar a respeito da existência do governo e de seu contato com as empresas
seria acerca das compras governamentais, pois o governo também compra. Ele adquire os bens e serviços provi-
dos pelas empresas quando deseja realizar uma obra pública, por exemplo. Tudo isso pode ser visto no fluxogra-
ma a seguir, que representa o fluxo circular da riqueza de uma economia fechada e com governo.

Compras governamentais de
bens e serviços
Governo

Transferências
Impostos governamentais

Gastos de
consumo
Famílias
Salários, lucros,
juros e aluguéis

Mercados de bens e serviços Mercados de fatores

Produto
interno Salários, lucros,
bruto juros e aluguéis
Firmas

Gastos de
investimento

Dando continuidade, precisamos verificar o surgimento do agente resto do mundo na nossa economia, até
porque a maioria dos países se comunica com outros países. E como o resto do mundo se comunica com a nos-
sa economia? Por meio do mercado de bens e serviços, comprando produtos nacionais e vendendo produtos de
outras nacionalidades.
Assim, quando o resto do mundo adquire nossas mercadorias no mercado de bens e serviços, estamos exportan-
do, e quando o resto do mundo vende bens no nosso mercado de bens e serviços, estamos importando. O fluxograma
a seguir mostra o surgimento do resto do mundo na economia (fluxo circular da riqueza de uma economia aberta).

Compras governamentais de
bens e serviços
Governo

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


Transferências
Impostos governamentais

Gastos de
consumo
Famílias
Salários, lucros,
juros e aluguéis

Mercados de bens e serviços Mercados de fatores

Produto
interno Salários, lucros,
bruto juros e aluguéis
Firmas

Gastos de
investimento

Exportações

Resto do mundo

Importações

505
Até agora, observamos que os quatro agentes se encontram, simultaneamente, apenas no mercado de bens e
serviços — cabendo ao mercado de fatores a interação entre empresas e famílias, apenas.
O modelo até aqui formulado é complexo, mas não mostra a totalidade das relações existentes entre os agen-
tes. Isso porque, até agora, desconsideramos a existência de um mercado vital no sistema econômico: o mercado
financeiro ou de ativos financeiros5.
Assim como no mercado de bens e serviços, o mercado financeiro também conta com a presença simultânea
dos quatro agentes econômicos: as famílias atuam nesse mercado enviando a parte da renda não consumida
(a poupança privada), as empresas operam no mercado por meio da tomada de empréstimos para investimentos
e posterior emissão de títulos da dívida e de ações, enquanto o governo e o resto do mundo podem tanto tomar
quanto conceder empréstimos ao sistema financeiro nacional.
O fluxo circular da riqueza expandido é mostrado no fluxograma a seguir (fluxo circular da riqueza de uma
economia fechada e com governo).

Compras governamentais de
bens e serviços Empréstimos tomados pelo governo
Governo

Transferências
Impostos governamentais

Gastos de
consumo Poupança privada
Famílias
Salários, lucros,
juros e aluguéis

Mercados de bens e serviços Mercados de fatores Mercados financeiros

Produto
interno Salários, lucros,
bruto juros e aluguéis
Títulos de dívida e ações
Firmas emitidas pelas firmas
Gastos de
investimento
Tomada de empréstimos e
Exportações vendas por estrangeiros
Resto do mundo

Importações Empréstimos concedidos e ações


compradas por estrangeiros

O fluxo circular da riqueza conecta os quatro setores da economia — famílias, firmas, governos e resto do
mundo — por meio dos três tipos de mercados: os fundos fluem das firmas para as famílias na forma de salários
(remuneração do fator produtivo trabalho), juros (remuneração do fator produtivo capital) e aluguéis (remunera-
ção do fator produtivo terra) por meio do mercado de fatores.
Em sequência, depois de pagar os impostos ao governo e receber do governo as transferências, a família aloca
a renda restante, ou seja, a renda disponível, entre poupança privada e gastos com o consumo.
Por meio dos mercados financeiros, a poupança privada e os fundos do resto do mundo são canalizados para
gastos de investimentos das firmas, tomada de empréstimo pelo governo, tomada e concessão de crédito de
estrangeiros e transações de estrangeiros com ações. Além disso, os fundos fluem do governo e das famílias para
as firmas para pagar pela compra de bens e serviços.
Finalmente, exportações para o resto do mundo geram um fluxo de fundos que entra na economia, e as impor-
tações levam a um fluxo de fundos que sai da economia.
Assim, quando se soma os gastos de consumo com bens e serviços, os gastos de investimentos pelas firmas, as
compras governamentais de bens e serviços e as exportações, e, em seguida, subtrai-se o valor das importações, o
fluxo total de riqueza representado por esse gasto é o gasto total com bens e serviços produzidos em um país, uma
variável muito importante para uma economia, conforme veremos adiante.
De modo equivalente, esse é o valor de todos os bens e serviços produzidos no país, isto é, o produto interno
bruto (PIB) da economia.
Contudo, é interessante que você saiba que, no mercado de bens e serviços, não existe apenas um tipo de mer-
cado, mas algumas estruturas. São elas:

5 O mercado financeiro é formado por quatro segmentos de mercado: o mercado de crédito, destinado, prioritariamente, a fornecer recursos
financeiros para as famílias; o mercado de capitais, destinado, fundamentalmente, à emissão de crédito para capital de giro das empresas; o mer-
cado monetário, utilizado pelo governo para emitir moeda e fazer política monetária; e o mercado cambial, utilizado para a conversão entre a moe-
506 da nacional e as demais moedas estrangeiras.
z concorrência perfeita;
z concorrência monopolística;
z oligopólio; e
z monopólio.

Existem, ainda, outras, como o oligopsônio e o monopsônio, mas elas raramente caem na prova. Há, também,
o mercado contestável, mas nós vamos falar sobre essa estrutura quando nos reportarmos ao mercado em con-
corrência perfeita.
Além disso, é interessante que você compreenda como os consumidores e empresas atuam no mercado de
bens e serviços e como o governo pode influenciar esse mercado. Por fim, é importante que você note que esses
mercados podem ter falhas, e que, quando essas falhas acontecem, cabe ao governo fazer intervenções por meio
de um processo regulatório.

CURVA DE POSSIBILIDADE DE PRODUÇÃO

A curva ou fronteira de possibilidade de produção ilustra como a questão da escassez impõe um limite à capa-
cidade produtiva de uma sociedade. Devido à escassez de recursos, a produção total de um país tem um limite
máximo, que é estabelecido quando todos os recursos disponíveis estão plenamente empregados. A curva ou
fronteira de possibilidade de produção mostra, o quanto, no máximo, será possível produzir nessa situação.
Imagine uma economia que produza apenas computadores e automóveis. Considere, também, que, se todos os
recursos forem utilizados na produção de computadores, 3 mil unidades poderão ser fabricadas; por outro lado,
se os recursos forem integralmente utilizados na produção de automóveis, a capacidade de produção será de mil
unidades.
A figura a seguir mostra a produção máxima que esse determinado país imaginário pode fabricar. A produção
de 3 mil unidades de computadores é marcada, no gráfico, pelo ponto A, enquanto a produção de mil unidades de
automóveis é marcada pelo ponto B.

Computadores

A
3.000

2.200
2.000

1.000

B
300 600 700 1.000 Automóveis

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


Nesse âmbito, um determinado país não precisa produzir só computadores ou só automóveis; ele pode, por
exemplo, escolher uma combinação intermediária entre esses dois extremos. Essa situação pode ser vista, por
exemplo, no ponto C, em que essa determinada economia produz 2,2 mil unidades de computadores e 600 unida-
des de automóveis.

Computadores

3.000

C
2.200
2.000

1.000

300 600 700 1.000 Automóveis

507
Nesse viés, a seguinte combinação está situada na forma eficiente, os seus fatores produtivos. As setas
curva de possibilidades de produção dessa economia. indicam de que forma a economia poderia ser eficien-
Isso significa que, se a sociedade escolhe produzir 2,2 te a partir do ponto E.
mil unidades de computadores, os recursos que fica-
rão disponíveis serão capazes de produzir, no máxi- Computadores
mo, 600 unidades de automóveis, e vice-versa.
Nesse caso, o ponto C estará sobre a curva de pos-
sibilidade de produção, indicando que, assim como os 3.000
pontos A e B, essa situação também é eficiente, logo
qualquer ponto ao longo da curva ou fronteira de
possibilidade de produção é eficiente. Uma situação 2.200
semelhante ao ponto C pode ser vista quando essa eco- 2.000
nomia produz 2 mil computadores e 700 automóveis.
Um ponto importante diz respeito à posição, ao
longo da curva, que determinada economia ocupará. 1.000
E
Por exemplo, essa economia produzirá 2,2 mil ou 2
mil computadores? Nesse caso, a produção dependerá
dos objetivos de determinada economia.
Imagine, por exemplo, uma outra economia que 300 600 700 1.000 Automóveis
possa produzir armas e alimentos. Se essa economia
estiver em guerra, possivelmente estará em um pon- A fronteira ou curva de possibilidade de produção
to em que produza mais armas e menos alimentos.
é um modelo bastante simples que permite analisar
Já se estiver em uma situação de paz, produzirá mais
se uma determinada economia é ou não eficiente em
alimentos e menos armas — assim, reforça-se o que
termos de utilização de todos os fatores de produção
determina o ponto de ligação entre a economia e os
seus objetivos estratégicos. disponíveis.
Vejamos uma combinação que se encontra além Todos os pontos que estão sobre a curva são efi-
dos limites impostos pela curva — suponhamos a pro- cientes, o que determina o ponto ao longo da curva
dução de 2,2 mil unidades de computadores e de mil em que estarão os objetivos políticos e sociais da eco-
unidades de automóveis, como mostrado no ponto D, nomia. Vejamos a figura a seguir, que indica justamen-
a seguir. te a fronteira ou curva de possibilidade de produção:
Nesse caso, não há recursos disponíveis nessa eco-
nomia que torne possível a produção dessas quantida- Computadores
des. Essa situação, que é graficamente mostrada por
qualquer ponto que esteja fora da curva de possibi- A
lidade de produção é chamada de tecnologicamente 3.000
inviável, ou seja, por meio de avanços tecnológicos é
possível alcançar esse nível de produção. C D
2.200
Isso é representado, graficamente, pelo desloca-
mento da curva de possibilidade de produção, saindo 2.000
da curva preta e indo para a curva cinza.

Computadores E
1.000

3.000 B
300 600 700 1.000 Automóveis
D
2.200
A curva de possibilidade de produção mostra o
2.000 quanto, no máximo, poderá ser produzido se todos os
fatores disponíveis na economia forem utilizados. Um
conceito importante, relacionado à curva de possibili-
1.000 dade de produção, é o de taxa marginal de transfor-
mação (TMT)6.
Se deixarmos de produzir uma unidade de um
300 600 700 1.000 determinado bem x, o quanto a mais poderíamos
Automóveis
produzir de outro bem y com os recursos disponibi-
lizados pela produção de menos unidades de x? Isso
Por outro lado, imagine que, por alguma razão,
essa economia não opere de forma eficiente, deixando também é medido pela TMT.
de utilizar algum recurso que estava disponível. Essa Seguindo esse raciocínio, teríamos, então, que a
situação é mostrada por meio do ponto E na figura a TMT é dada pela seguinte expressão:
seguir.
Nessa situação, como existem recursos ociosos, é ΔQx
possível observar que essa economia seria capaz de TMTx, y =
ΔQy
produzir mais de ambos os bens se empregasse, de
6 A taxa marginal de transformação mede a taxa que indica que se deve abrir mão da produção de um dos bens para que seja possível a produ-
508 ção de outro.
Na equação, ∆Qx é a variação ocorrida nas unida- Se o preço da gasolina for menor que o preço de
des produzidas de x, e ∆Qy é a variação ocorrida nas equilíbrio, haverá um excesso de demanda, pois os
unidades produzidas de y. consumidores vão querer comprar mais do que os
Observe que, ao produzir sobre a fronteira de pro- produtores vão querer vender. Isso vai gerar uma
dução, uma unidade adicional de um bem (variação pressão para aumentar o preço até que se atinja um
positiva) só pode ser obtida se unidades de outro bem novo equilíbrio.
deixarem de ser produzidas (variação negativa), ou Diante disso, o equilíbrio de mercado da gasolina
seja, a TMT assume um valor negativo. também pode ser alterado por mudanças na deman-
Voltando ao exemplo anterior, para aumentar a da ou na oferta. Por exemplo, se houver um aumento
produção de computadores em 200 unidades (de 2 mil na renda dos consumidores, a demanda por gasolina
vai aumentar, deslocando a curva de demanda para
para 2,2 mil) seria necessário reduzir a de automóveis
a direita. Isso vai gerar um novo ponto de equilíbrio,
em 100 unidades (de 700 para 600), então, teríamos
com um preço e uma quantidade maiores. Se houver
que a TMT seria igual a –2.
uma redução na disponibilidade de petróleo, a oferta
Normalmente, a inclinação da CPP é diferente ao
de gasolina vai diminuir, deslocando a curva de oferta
longo dos diversos pontos da curva, por isso a curva
para a esquerda. Isso vai gerar um novo ponto de equi-
tem esse formato. Considerando isso, teremos que a líbrio, com um preço maior e uma quantidade menor.
TMT que mede a inclinação da CPP também é variável
ao longo da curva. Em casos extremos, podemos ter REFERÊNCIAS
uma CPP com inclinação constante. Nesse caso, dire-
mos que ela é uma linha reta. GREMAUD, A. P. et al. Introdução à economia. São
Atenção! No caso elucidado, a TMT é uma Paulo: Atlas, 2007.
constante. MANKIW, N. G. Introdução à economia. ‎8ª ed.
A curva de possibilidade de produção é uma Trenton: Cengage Learning, 2019.
simplificação da realidade. Contudo, ela é bastante MCKINNON, R. Money and Capital in Economic
útil para que possamos compreender se um país está Development. Washington: Brooking Institution, 1973.
alocando corretamente os seus fatores ou não. Dado SAMUELSON, P.; NORDHAUS, W. Economics. Ber-
que os desejos são ilimitados e os recursos escassos, keley Publication, 1991.
a alocação eficiente é importante porque possibilita a
produção máxima de bens em uma economia.

EQUILÍBRIO DE MERCADO CONCEITOS BÁSICOS: EFICIÊNCIA


O equilíbrio de mercado ocorre quando a quan-
ECONÔMICA, EXTERNALIDADES,
tidade demandada é igual à quantidade ofertada, ou BENS PÚBLICOS, ASSIMETRIA
seja, quando há um ajuste entre os planos dos consu- DE INFORMAÇÃO (RISCO MORAL,
midores e dos produtores. Assim, é determinado pelo SELEÇÃO ADVERSA E ANTISSELEÇÃO)
preço de equilíbrio e pela quantidade de equilíbrio,
que são encontrados no ponto de interseção entre as Prezado(a) estudante,
curvas de demanda e de oferta. Com o objetivo de ofertar o material o mais organi-
Portanto, é um estado de harmonia, em que não há zado e didático possível, optamos por não repetir aqui
excesso nem escassez de bens ou serviços, e em que

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


o conteúdo referente a “Conceitos básicos: eficiência
não há pressões para se alterar o preço ou a quanti- econômica, externalidades, bens públicos, assimetria
dade. No entanto, o equilíbrio de mercado pode ser de informação (risco moral, seleção adversa e antis-
afetado por mudanças na demanda ou na oferta, que seleção)”, tendo em vista que ele já foi amplamente
provocam deslocamentos nas curvas e geram novos abordado no capítulo Eficiência econômica”, do Eixo
pontos de equilíbrio. 3 desta apostila.
Para exemplificar o conceito de demanda e equilí- Cordialmente,
brio de mercado, podemos utilizar o mercado de gaso- Nova Concursos.
lina como um caso prático. A demanda por gasolina
depende do preço da gasolina, da renda dos consumi-
dores, do preço de outros combustíveis, como o etanol
ou o diesel, da preferência por carros mais econômi- DIVERSIFICAÇÃO INDUSTRIAL E
cos ou mais potentes etc. A oferta de gasolina depende
INTEGRAÇÃO VERTICAL
do preço da gasolina, do custo de produção e de dis-
tribuição, da disponibilidade de petróleo, da política
A diversificação industrial é uma estratégia de
de preços da Petrobras, da tributação do governo etc. crescimento que consiste em ampliar o portfólio de
Dessa forma, o equilíbrio de mercado da gasolina produtos ou serviços de uma empresa, entrando em
é determinado pelo preço e pela quantidade que igua- novos mercados ou segmentos. A diversificação indus-
lam a demanda e a oferta. Se o preço da gasolina for trial pode ser motivada por diversos fatores, como a
maior que o preço de equilíbrio, haverá um excesso busca por novas oportunidades, a redução de riscos, a
de oferta, pois os produtores vão querer vender mais exploração de sinergias, a defesa contra a concorrên-
do que os consumidores vão querer comprar. Isso vai cia, entre outros.
gerar uma pressão para baixar o preço até que se atin- A diversificação industrial pode ser classificada
ja um novo equilíbrio. em dois tipos principais: a diversificação relacionada
e a diversificação não relacionada. A diversificação 509
relacionada ocorre quando a empresa entra em
novos negócios que possuem alguma ligação com o ESTRUTURA DE MERCADO:
seu negócio atual, seja por meio de recursos, compe- MERCADOS PERFEITOS E
tências, tecnologias, canais de distribuição, clientes,
fornecedores, etc. A diversificação não relacionada IMPERFEITOS, FALHA DE MERCADO
ocorre quando a empresa entra em novos negócios
que não possuem nenhuma conexão com o seu negó- INTRODUÇÃO
cio atual, buscando apenas aproveitar as oportunida-
des de mercado. A compreensão das diferentes estruturas de mer-
Integração vertical é outra estratégia de cresci- cado é crucial para o estudo da economia, pois permi-
mento que consiste em expandir os negócios para te analisar como empresas e consumidores interagem,
as etapas anteriores ou posteriores da cadeia produ- definindo preços, quantidades e influenciando o bem-
tiva, assumindo o controle de fornecedores ou dis- -estar social. Abordaremos os conceitos de mercados
tribuidores. A integração vertical pode ser motivada perfeitos e imperfeitos, suas características, exemplos
por diversos fatores, como a busca por economias de práticos e as falhas de mercado que podem surgir em
escala, a redução de custos, a garantia de qualidade, a cada estrutura.
diferenciação de produtos, a eliminação de interme-
diários, entre outros. Mercados Perfeitos
A integração vertical pode ser classificada em dois
tipos principais: a integração vertical a montante z Características
e a integração vertical a jusante. A integração verti-
cal a montante ocorre quando a empresa adquire „ Homogeneidade do produto: todos os produtos
ou desenvolve fornecedores de matérias-primas ou são idênticos, não havendo diferenciação entre
insumos para o seu processo produtivo, garantindo o marcas;
abastecimento e a padronização dos seus produtos. A „ Grande número de compradores e vendedo-
integração vertical a jusante ocorre quando a empre- res: nenhum agente tem poder de influenciar
sa adquire ou desenvolve distribuidores ou varejistas o preço;
para o seu processo de comercialização, garantindo o „ Livre entrada e saída de empresas: não há bar-
acesso e a fidelização dos seus clientes. reiras para empresas entrarem ou saírem do
Para ilustrar a aplicação das estratégias de diver- mercado;
sificação industrial e integração vertical, vamos apre- „ Informação perfeita: todos os agentes possuem
sentar alguns exemplos de empresas que adotaram acesso a todas as informações relevantes sobre
essas práticas em diferentes setores e contextos. o mercado.

z Exemplo 1: Amazon z Vantagens

A Amazon é uma empresa que iniciou suas ativi- „ Eficiência: o preço de equilíbrio no mercado
dades como uma livraria online, mas que ao longo dos perfeito é o que maximiza o bem-estar social,
anos diversificou seus negócios para diversos segmen- pois aloca recursos de forma eficiente;
tos, como e-commerce, streaming, computação em „ Transparência: o preço é determinado pelas
nuvem, inteligência artificial, dispositivos eletrônicos, forças de oferta e demanda, sem interferência
entre outros. A Amazon também realizou diversas externa;
aquisições de empresas relacionadas e não relaciona- „ Inovação: a livre entrada e saída de empresas
das ao seu negócio original, como a Whole Foods (rede incentiva a inovação e a competitividade.
de supermercados), a Twitch (plataforma de strea-
ming de jogos), a Audible (plataforma de audiolivros), z Desvantagens
a Zappos (loja online de calçados), entre outras.
„ Raridade na prática: na realidade, é difícil
z Exemplo 2: Petrobras encontrar mercados que atendam a todas as
características de um mercado perfeito;
A Petrobras é uma empresa que atua no setor de „ Ausência de diferenciação: a homogenei-
energia, com foco na exploração, produção, refino, dade do produto pode limitar a escolha do
transporte e comercialização de petróleo e gás natu- consumidor;
ral. A Petrobras é uma empresa que possui uma for- „ Vulnerabilidade a flutuações: o mercado per-
te integração vertical, controlando todas as etapas feito pode ser mais vulnerável a flutuações de
da cadeia produtiva do petróleo, desde a perfuração preços e crises.
de poços até a venda de combustíveis nos postos. A
empresa também possui participação em outros seg- z Exemplos Práticos
mentos relacionados, como energia elétrica, biocom-
bustíveis, fertilizantes, entre outros. „ Mercado de commodities: mercado de produ-
A Petrobras também realizou algumas ações de tos agrícolas (soja, milho) ou minerais (ouro,
diversificação industrial, buscando entrar em novos petróleo) que são homogêneos e possuem um
mercados ou segmentos. A empresa investiu em fontes grande número de compradores e vendedores;
alternativas de energia, como eólica, solar e nuclear. „ Mercado de ações: mercado de compra e ven-
A empresa também criou subsidiárias para atuar em da de ações de empresas, em que os preços
áreas como distribuição de gás, transporte marítimo, são determinados pela oferta e demanda de
510 engenharia e construção, entre outras. milhões de investidores.
Mercados Imperfeitos z Tipos

z Tipos „ Monopólio natural: uma só empresa é a única


capaz de atender eficientemente à demanda do
„ Monopólio: uma única empresa domina o mer- mercado;
cado, controlando a oferta e o preço do produto; „ Externalidades: ações de um agente geram cus-
„ Oligopólio: poucas empresas controlam o mer- tos ou benefícios para outros agentes que não
cado, geralmente com produtos diferenciados; participam.
„ Concorrência monopolística: diversas empre-
sas vendem produtos diferenciados, com certo
poder de influenciar o preço.

z Características
AS AGÊNCIAS REGULADORAS E O
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
„ Diferenciação do produto: os produtos podem
ser diferenciados por marca, qualidade, design, NOÇÕES INTRODUTÓRIAS DE ADMINISTRAÇÃO
entre outros fatores; PÚBLICA
„ Poder de mercado: as empresas podem ter cer-
to poder de influenciar o preço do produto; A Administração Pública conta com uma organi-
„ Barreiras à entrada e saída: podem existir barrei- zação estrutural bastante complexa. Ela é composta
ras para novas empresas entrarem no mercado; por entidades — pessoas jurídicas de direito público
„ Informação imperfeita: os agentes podem não (autarquias, fundações) ou de direito privado (empre-
ter acesso a todas as informações relevantes sas públicas, sociedades de economia mista) — e
sobre o mercado. órgãos — entes despersonalizados encarregados de
atuar na execução das diversas atribuições do Esta-
z Vantagens do (secretarias, ministérios, delegacias, entre outros).
Neste sentido, a matéria referente à organização
„ Diferenciação de produtos: os consumidores administrativa envolve o estudo dessa estrutura e,
podem escolher entre uma variedade de pro- também, de seus componentes.
dutos diferenciados; Além das entidades já mencionadas, existem
„ Inovação: as empresas podem ter incentivos outras, com funções mais específicas, as quais cons-
para inovar e diferenciar seus produtos; tituirão o ponto principal de nossos estudos. Estamos
„ Marcas fortes: as empresas podem construir referindo-nos às agências reguladoras e às demais
marcas fortes e fidelizar clientes. entidades de gestão associada.

z Desvantagens SERVIÇO PÚBLICO: CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO


„ Ineficiência: o preço em mercados imperfeitos
Conceito de Serviço Público e sua Evolução Histórica
pode ser superior ao preço de equilíbrio em um
mercado perfeito, o que pode gerar ineficiência
É impossível analisar as agências reguladoras
na alocação de recursos;
sem, antes, apresentar um panorama geral sobre
„ Menor competitividade: o poder de mercado
outra matéria correlata a elas. Isso porque essas agên-

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


das empresas pode reduzir a competitividade
e limitar a escolha do consumidor; cias estão intrinsecamente relacionadas aos serviços
„ Falta de transparência: a informação imper- públicos, de modo que a sua introdução no ordena-
feita pode dificultar a tomada de decisões dos mento jurídico ocorreu mediante grande alteração
consumidores. nos conceitos gerais e doutrinários que tínhamos
sobre esses serviços.
z Exemplos Práticos Aqui, cabe-nos fazer alguns questionamentos: o
que são serviços públicos? O que caracteriza um ser-
„ Mercado de telefonia celular: mercado domina- viço público? Para responder a essas indagações, é
do por poucas empresas que oferecem planos imprescindível apresentarmos um histórico, indican-
diferenciados; do as principais alterações de sua definição.
„ Mercado de software: mercado com empresas O primeiro grande marco para a presente matéria
como Microsoft e Google que dominam o mer- ocorreu em meados do século XX. Houve a criação de
cado de sistemas operacionais e de aplicativos; uma corrente denominada Escola do Serviço Público.
„ Mercado de automóveis: mercado com diversas Na época, a doutrina começava a analisar, com deta-
empresas que oferecem carros com diferentes lhes, aquilo que ficou decidido no caso Blanco, na
características e preços. França. De forma resumida, o caso envolvia a menina
Agnes Blanco que, ao brincar na rua, foi atropelada
Falhas de Mercado por um veículo de propriedade da Companhia Nacio-
nal de Manufatura do Fumo.
z Conceito Esse caso teve relevante repercussão, uma vez
que a justiça francesa vedou ao Estado a utilização do
Falhas de mercado são situações em que o merca- Código Civil para argumentar sobre a apuração de sua
do, por si só, não é capaz de alocar recursos de forma responsabilidade quando este causava danos na exe-
eficiente, gerando resultados que não maximizam o cução de serviços com fundamento de direito público.
bem-estar social. 511
Sabendo-se que o Estado deveria se responsabilizar � Cabe mencionar que a noção de serviço público
por todas as vezes que causar danos a outros indiví- sofreu uma grande evolução no final do século XX,
duos enquanto executa um serviço característico seu, com o fenômeno denominado de “crise do serviço
surgiu, então, a noção de serviço público lato sensu. público”. Tal fenômeno originou-se com o adven-
Em sentido amplo, o serviço público seria todo o to do Estado Regulador, trazendo a ideia de um
tipo de serviço prestado pelo Estado — vale dizer que Estado que procura não executar, por si próprio,
essa noção se encontra presente nas obras de Roger os serviços públicos. Em vez disso, ele se preocupa
Bennard. Assim, serviço público pode ser entendido em regular, constantemente, as atividades essen-
como uma atividade ou organização que abrange ciais à execução desses serviços.
todas as funções do Estado.
Trata-se, pois, de uma concepção mais abrangente Essa mudança ocorreu mediante a constatação de
de serviço público, a qual muito se confunde com a de um simples fato: o Estado pode conter diversos pode-
direito público. Para José Cretella Júnior (1967), serviço res, mas ele carece de recursos para cuidar de tantos
público é “toda atividade que o Estado exerce, direta ou setores de forma simultânea. Se, antes, a execução
indiretamente, para satisfação das necessidades públi- dessas tarefas era exclusiva do Poder Público (sob
cas, mediante procedimento típico de direito público”. um regime público), agora esses serviços podem ser
É notório o caráter amplo desse instituto. O con- delegados para outras entidades, podendo ser pessoas
ceito apresentado pelo jurista brasileiro considera jurídicas de direito público ou privado ou, ainda, dele-
também, como serviço público, as atividades não gados para as pessoas típicas da iniciativa privada.
administrativas, como as atividades legislativa e O fenômeno da crise no serviço público atingiu
judiciária. diversos países, inclusive o Brasil. Por causa da dificul-
Com o passar do tempo, surge uma nova corrente dade do Estado em zelar por todos os serviços públi-
doutrinária que busca delimitar um pouco a abran- cos, surgiu a necessidade de, primeiro, outorgar essas
atividades para a iniciativa privada, que deve tomar a
gência da noção de serviço público. O objetivo dessa
prestação do serviço público por sua conta e risco.
delimitação seria, justamente, retirar da responsabili-
Ainda, tornou-se imprescindível a criação de
dade da Administração Pública a prática de atos pelo
entidades especiais capazes de regularizar e fiscali-
Poder Legislativo e pelo Poder Judiciário.
zar essa outorga. Assim, surgiu a figura das agências
A corrente é defendida pela grande maioria dos
reguladoras.
autores da atualidade, como Hely Lopes Meirelles e
Observe que a noção de serviço público se alte-
Celso Antônio Bandeira de Mello. O serviço público
rou bastante com o passar do tempo, para melhor
stricto sensu, então, seria todo aquele prestado pela
adequar-se ao contexto social em que se insere. Além
Administração, sob regime de direito público, sen-
disso, não existe, ainda, um conceito legal de serviço
do fruível individualmente pelos destinatários, para
público. Há, pois, certa dificuldade em definir o refe-
satisfazer necessidades essenciais ou secundárias da
rido instituto.
coletividade, ou simples conveniências do Estado. Pode-se concluir que a noção de serviço público
A grande diferença dessa nova noção de serviço está intrinsecamente ligada à forma de atuação do
público diz respeito a sua abrangência. Segundo tal Estado, apresentando um viés bastante político. Uma
corrente, o serviço público somente deve abranger as das principais dificuldades de buscar um conceito de
atividades da Administração Pública, não se incluindo serviço público reside justamente neste fato: a depen-
as funções legislativa e judiciária. der do modelo de Estado adotado, a sua forma de
Neste sentido, não deve ser considerada serviço atuação poderá ser mais liberal ou mais intervencio-
público a exploração de atividade econômica, por- nista. Assim, o conceito de serviço público poderá ser
que, nesses casos, o Estado age em regime privado. mais ou menos abrangente para o ordenamento de
Também não são consideradas como serviço público cada país.
as atividades de fomento, pois trata-se de um subsídio No caso do Brasil, percebemos uma tendência na
conferido ao particular para que ele exerça certas ati- doutrina de aproximar-se da noção de serviço público
vidades com interesse coletivo. stricto sensu, apresentando três elementos identifica-
Outro traço característico dessa nova corrente é a dores. Porém, esses elementos apresentam diversas
restrição da matéria para apenas os serviços que pos- exceções. Vejamos:
sam ser fruídos singularmente por qualquer particu-
lar (uti singuli), em oposição à noção mais abrangente, z Elemento subjetivo: a titularidade do serviço
que qualifica o serviço público como aquele que pode público pode ser exclusiva do Estado, mas sua
ser usufruído por todos (uti universi). execução pode ser outorgada a terceiros (iniciati-
va privada);
z Elemento objetivo: os serviços públicos devem aten-
Importante! der a necessidades essenciais da sociedade (serviço
de polícia, segurança nacional), mas também podem
Existem três elementos identificadores do servi-
atender a necessidades secundárias que atingem
ço público stricto sensu, quais sejam:
apenas algumas pessoas, como os serviços de distri-
� Elemento subjetivo: identifica a titularidade do buição e tratamento de água e energia elétrica;
serviço público; z Elemento formal: o regime é, em regra, de direito
� Elemento objetivo: identifica a atividade que é público, embora possa ser utilizado um regime de
caracterizada como serviço público; direito privado, por exemplo, para a contratação
� Elemento formal: identifica qual o regime em de empregados sob regime celetista para atuar na
512 que o serviço é prestado. execução do serviço público.
Talvez o jurista que apresenta o melhor conceito de serviço público, considerando todas as vertentes, seja o
renomado autor José dos Santos Carvalho Filho (2021). Este é um conceito que costuma aparecer com frequência
em questões de prova. O jurista brasileiro assim define serviço público: “toda atividade prestada pelo Estado ou por
seus delegados, basicamente sob regime de direito público, com vistas à satisfação de necessidades essenciais e
secundárias da coletividade”.

Da Classificação dos Serviços Públicos

Os serviços públicos podem ser dos mais variados tipos. O professor Hely Lopes Meirelles (2020) apresenta
uma boa classificação para os serviços públicos, que podem ser agrupados com base nos seguintes critérios:

z Quanto à Essencialidade

„ Serviços essencialmente públicos: podem aparecer como serviços públicos propriamente ditos. São os ser-
viços considerados imprescindíveis para o convívio em sociedade, uma vez que a sua prestação exige algum
aspecto ou uma característica que somente o Estado possui. Por isso, tais serviços não admitem delegação ou
outorga. É o caso, por exemplo, do poder de polícia, da saúde, da defesa nacional etc. Seria ilógico outorgar para
uma empresa privada as atividades decorrentes do próprio poder de império do Estado, como as atividades de
polícia e de segurança nacional. O uso do poder de império é relevante para o critério da adequação, mas não
são somente as funções ligadas a ele que caracterizam um serviço público propriamente dito;
„ Serviços de utilidade pública: são serviços importantes e úteis, mas não são considerados essenciais para
o convívio em sociedade. Por isso, eles podem ser prestados pelo Estado, ou por terceiros, mediante remu-
neração paga pelos usuários e sob constante fiscalização. É o caso dos serviços de transporte coletivo, de
telecomunicação, do serviço de distribuição de água, energia elétrica e gás etc.

z Quanto à Adequação

„ Serviços próprios do Estado: são os serviços característicos do Estado brasileiro. Constituem aqueles serviços
que se relacionam intimamente com as atribuições do poder público, isto é, que possuem alguma relação com o
poder de império, que é único do Estado. O Estado exerce tais serviços em relação de supremacia, sobrepondo
a sua vontade à dos particulares. É o caso dos serviços de segurança, saúde, do poder de polícia etc.;
„ Serviços impróprios do Estado: são, como o nome sugere, aqueles serviços em que o Estado, ao exercê-lo,
não necessita do seu poder de império para se sobrepor. São os que não afetam substancialmente as neces-
sidades da comunidade, mas satisfazem interesses comuns de seus membros e, por isso, a Administração
presta-os remuneradamente por seus órgãos ou entidades descentralizadas ou, até mesmo, por particula-
res, mediante regime de concessão e permissão. Os serviços de distribuição de água e energia elétrica estão
inseridos nesta vertente.

z Quanto à Finalidade

„ Serviços administrativos: são os serviços que a Administração executa para atender às suas necessidades
internas ou preparar outros serviços que serão prestados ao público. São, assim, os serviços característicos
da Administração Pública. Um exemplo diferente e que não mencionamos até agora é o caso do serviço da

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


imprensa oficial, que tem como função divulgar todos os atos prestados pelo poder público, promovendo
maior transparência e fiscalização de seus atos;
„ Serviços industriais: serviços que produzem renda para quem os presta, mediante a remuneração da utili-
dade usada ou consumida. Essa remuneração se denomina tarifa ou preço público e será fixada pelo poder
público quer quando o serviço é prestado por seus órgãos ou entidades, quer quando por concessionários, per-
missionários ou autorizatários. Os serviços de energia elétrica, água e telefonia são serviços desta modalidade.

z Quanto aos Destinatários

„ Serviços gerais ou uti universi: são os serviços públicos que não possuem usuários ou destinatários espe-
cíficos e são remunerados por tributos. Os serviços de iluminação pública e calçamento são remunerados
por essa maneira;
„ Serviços individuais ou uti singuli: possuem de antemão usuários conhecidos e predeterminados. O Esta-
do já sabe, antes, quais são os beneficiados pela prestação do referido serviço. Por isso, esses serviços são
remunerados por tarifa. É o caso do serviço de água e esgoto, de iluminação domiciliar, de telefonia etc.

Como forma de facilitar a memorização dessa classificação, segue uma tabela com o que foi exposto:

CLASSIFICAÇÃO DOS SERVIÇOS PÚBLICOS

ESSENCIALIDADE ADEQUAÇÃO

Serviços essencialmente públicos Serviços de utilidade pública Serviços próprios Serviços impróprios

FINALIDADE DESTINATÁRIOS

Serviços administrativos Serviços industriais Serviços universais uti universi Serviços singulares uti singuli
513
Da Delegação do Serviço Público para Terceiros de concessionária. Seu objetivo é almejar o lucro
mediante a arrecadação de tarifas dos usuários bene-
A atual doutrina costuma dividir os serviços públi- ficiados com aquele serviço público.
cos em dois tipos: os serviços essenciais, de titulari- Em relação a sua forma, o contrato de concessão
dade e execução exclusivas do Estado, e os serviços deve ser obrigatoriamente por escrito, sendo regido
de utilidade pública. Esses últimos são os serviços pelas regras de direito administrativo. Estamos diante
que podem ter a sua execução outorgada para outras de um contrato administrativo, uma modalidade espe-
entidades, inclusive para as pessoas jurídicas que não cial de contrato caracterizada pela presença da Admi-
fazem parte do Estado (iniciativa privada). Resta-nos nistração Pública, com amplos poderes para alterar a
compreender como ocorre essa outorga. relação contratual a seu favor e a qualquer tempo.
Existem, ao todo, três formas de outorga: a conces- Ao mencionar a transferência para pessoa jurídi-
são, a permissão e a autorização. Vejamos, a seguir, ca privada, quis o legislador que a delegação do ser-
viço não pudesse, em regra, ser feita a pessoas físicas,
cada uma delas.
mas somente à empresa ou a um consórcio de empre-
Da Concessão sas. É o caso, por exemplo, da Sabesp, que é sociedade
de economia mista e atua na prestação do serviço de
O termo “concessão” é empregado para designar abastecimento de água no estado de São Paulo.
a atividade da Administração Pública de delegar ao Por fim, a concessão tem, por objeto, a prestação
particular a prestação de um serviço ou a execução de serviço público. A delegação ocorre apenas sobre
de obra pública ou, ainda, o uso de bem público. Neste a execução do serviço, nunca sobre sua titularidade, a
sentido, a concessão de serviço público é o contrato qual continua sendo do poder concedente.
pelo qual a Administração promove a prestação indi-
reta de um serviço, delegando-o a particulares. Da Permissão
Exemplos: a construção de linha ferroviária ou A permissão é outra forma de a Administração
metrô para transporte de passageiros, transmissão Pública delegar a execução de serviço público para os
áudio sonora (rádio) ou por imagens e sons (televisão) particulares, possuindo previsão no art. 175, da CF, de
etc. 1988, e na Lei nº 8.987, de 1995.
O contrato de concessão possui previsão legal na A permissão é unilateral, discricionária, precária
Lei nº 8.987, de 1995 (Lei de Concessões dos Servi- e intuitu personae (personalíssima), promovendo a
ços Públicos), bem como previsão constitucional no delegação do serviço público mediante prévia licita-
art. 175, da CF, de 1988. Observe o texto dos referidos ção para um particular denominado permissionário.
dispositivos: Vale mencionar uma questão controvertida, que
diz respeito à natureza jurídica da permissão. Após a
Art. 175 (CF, de 1988) Incumbe ao poder público, Constituição de 1988, o direito brasileiro passou a tra-
na forma da lei, diretamente ou sob regime de con- tar a permissão como se fosse um contrato de adesão,
cessão ou permissão, sempre através de licita- conforme se depreende da leitura do inciso I, parágra-
ção, a prestação de serviços públicos. fo único, art. 175, da CF, de 1988:
Parágrafo único. A lei disporá sobre:
I - o regime das empresas concessionárias e permis- I - o regime das empresas concessionárias e permis-
sionárias de serviços públicos, o caráter especial de sionárias de serviços públicos, o caráter especial de
seu contrato e de sua prorrogação, bem como as seu contrato e de sua prorrogação, bem como as
condições de caducidade, fiscalização e rescisão da condições de caducidade, fiscalização e rescisão da
concessão ou permissão; concessão ou permissão.

Art. 2º (Lei nº 8.987, de 1995) Para os fins do dis- Todavia, contrato de adesão é remetente aos contra-
posto nesta Lei, considera-se: tos de direito privado, principalmente nas relações de
[...] consumo. Tal modalidade de contrato é elaborada uni-
II - concessão de serviço público: a delegação de sua lateralmente pelo fornecedor, obrigando a parte ade-
prestação, feita pelo poder concedente, mediante rente apenas a manifestar o seu aceite. Trata-se de uma
licitação, na modalidade de concorrência, à pessoa característica presente também nos contratos admi-
jurídica ou consórcio de empresas que demonstre nistrativos: as regras enclausuradas no contrato admi-
capacidade para seu desempenho, por sua conta e nistrativo são unilateralmente elaboradas pelo poder
risco e por prazo determinado; concedente antes mesmo do processo de licitação.
A confusão estende-se ainda mais no âmbito legis-
z Características Essenciais da Concessão lativo, como ocorre no art. 40, da Lei nº 8.987, de 1995,
ao dispor que a permissão “será formalizada mediante
A concessão de serviço público é um contrato contrato de adesão, que observará os termos desta Lei,
administrativo bilateral, o que significa que, para a das demais normas pertinentes e do edital de licitação,
sua formação, além da necessidade de haver os requi- inclusive quanto à precariedade e à revogabilidade uni-
sitos essenciais a todo negócio jurídico dispostos no lateral do contrato pelo poder concedente”. Esse disposi-
art. 104, do Código Civil (agente capaz, objeto lícito, tivo não faz o menor sentido, uma vez que dispõe que a
forma prescrita ou não, defesa em lei), deve haver a permissão é uma espécie de “contrato precário”.
convergência de vontades. Não parece correto admitir que a permissão seja
O agente estadual que concede a prestação do ser- uma espécie de contrato regulado por normas de
viço público é denominado de poder concedente. Ele direito privado, com princípios completamente distin-
tem, por objetivo, a fiel execução do serviço públi- tos dos princípios administrativos. Todavia, há diver-
co em prol da coletividade. Do outro lado da rela- sos autores que admitem tal possibilidade, inclusive
ção contratual, temos a pessoa jurídica encarregada o próprio Supremo Tribunal Federal, conforme julga-
514 de executar o serviço público, a qual é denominada mento da ADI nº 1.491, de 1998.
A ação de inconstitucionalidade foi ajuizada pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT) e pelo Partido dos
Trabalhadores (PT) contra dispositivos da Lei nº 9.295, de 1996, que dispõe sobre os serviços de telecomunicações
e sua organização. O relator à época, ministro Carlos Velloso, votou pelo deferimento da liminar para suspender
os efeitos do § 2º, do art. 8º. Esse dispositivo determina que “as entidades que, na data de vigência desta Lei, este-
jam explorando o Serviço de Transporte de Sinais de Telecomunicações por Satélite, mediante o uso de satélites que
ocupem posições orbitais notificadas pelo Brasil, têm assegurado o direito à concessão desta exploração”.
O fundamento da ADI é que, no entendimento dos referidos partidos políticos, tal dispositivo viola a exigência
constitucional de licitação prévia à realização da concessão ou permissão de serviços públicos e ao princípio da livre
concorrência e defesa do consumidor. Todavia, é um tanto surpreendente afirmar que a permissão de serviço público
deve seguir normas e regras de direito do consumidor (ramo de direito privado).
Para todos os efeitos, é importante alinhar-se à posição da maioria das bancas, a qual costuma definir a per-
missão como um contrato de adesão.

Da Autorização

A autorização, por sua vez, é um ato administrativo por meio do qual a Administração Pública possibilita ao
particular a realização de alguma atividade de predominante interesse deste, ou a utilização de um bem público.
Ela constitui um ato unilateral, discricionário, precário e independente de licitação, diferindo-se da permis-
são ante o fato de que o interesse da autorização é predominantemente privado. Um exemplo disso é a autoriza-
ção para o porte de arma: apenas o particular tem interesse de ter em sua posse arma de fogo.
Parte da doutrina entende que é incabível a utilização de autorização para a prestação de serviços públicos, por
força do art. 175, da CF, de 1988: “Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão
ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos”. Sendo assim, a autorização seria utili-
zada somente para outorgar alguns bens que constituem o patrimônio público.
Vejamos, no quadro a seguir, os pontos característicos e distintivos de cada uma das formas de outorga:

CONCESSÃO PERMISSÃO AUTORIZAÇÃO

� “Contrato de adesão” � Ato administrativo


� Contrato administrativo � Unilateral, discricionário, precário � Unilateral, discricionário, precário
� Bilateral � Serviços públicos ou bens públicos � Somente bens públicos
� Serviços públicos ou bens públicos � Almeja um interesse público � Almeja um interesse particular
� Necessita de licitação � Necessita de licitação � Não necessita licitação
� Prazo determinado � Prazo indeterminado: revoga a � Prazo indeterminado: revoga a
qualquer tempo qualquer tempo

AGÊNCIAS REGULADORAS E EXECUTIVAS

Agências Reguladoras: Conceito e Inovações Trazidos pela Constituição Federal

Uma vez compreendida toda a evolução histórica da noção de serviço público, podemos, finalmente, adentrar
no tema das agências reguladoras, a começar pelo seu conceito. Na doutrina, temos um conceito bem detalhado

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


sobre as agências reguladoras, o qual foi proferido pelo renomado jurista Alexandre Santos de Aragão (2017).
Segundo ele, agências reguladoras

[...] são autarquias de regime especial, dotadas de considerável autonomia frente à Administração centralizada,
incumbidas do exercício, em última instância administrativa, de funções regulatórias e dirigidas por colegiado cujos
membros são nomeados por prazo determinado pelo Chefe do Poder Executivo, após prévia aprovação pelo Poder
Legislativo, veda a exoneração ad nutum.

Agências reguladoras, portanto, constituem uma forma de autarquia sob regime especial. Trata-se de entes
que integram a Administração Pública, cujas principais tarefas são regular, fiscalizar e controlar a atuação da
iniciativa privada durante a execução de alguns serviços públicos.
O surgimento das agências reguladoras possui fortes relações com a época das privatizações na segunda meta-
de dos anos 1990. O instituto foi introduzido no ordenamento jurídico do Brasil pela Constituição Federal, de 1988,
mas não no seu texto base.
A Emenda Constitucional nº 8, de 1995, altera o texto constitucional, mais especificamente os incisos XI e XII,
do art. 21, que passa a prever a possibilidade de o Estado explorar, diretamente ou mediante outorga, os serviços
de telecomunicações, de radiofusão sonora e de sons e imagens. É com base nesse novo Texto Constitucional que
temos a criação da Agência Nacional de Telecomunicações, a ANATEL. Observe o texto constitucional:

Art. 21 (CF, de 1988) Compete à União


[...]
XI - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os serviços de telecomunicações,
nos termos da lei, que disporá sobre a organização dos serviços, a criação de um órgão regulador e outros aspectos
institucionais;
XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão:
a) os serviços de radiodifusão sonora e de sons e imagens; [...] 515
Há, também, a Emenda Constitucional nº 9, de z Quanto à sua Origem
1995, que prevê a possibilidade de a União celebrar
contratos com pessoas jurídicas de direito privado de „ Agências federais: são aquelas que atuam em
seu controle (empresas públicas e sociedades de eco- todo o território nacional, controladas pelo
nomia mista), bem como as empresas pertencentes Poder Executivo federal. São agências regula-
à iniciativa privada, para a realização de atividades doras federais: a ANEEL (energia elétrica), a
referentes à pesquisa, refinação e transporte de petró- ANATEL (telecomunicações), a ANP (petróleo,
leo. Observe o “novo” texto dos §§ 1º e 2º, art. 177: gás natural e biocombustível), a ANVISA (Saú-
de), a ANS (saúde privada), a ANCINE (cinema e
Art. 177 (CF, de 1988) Constituem monopólio da teatro), a ANAC (aviação civil), a ANA (águas), a
União: ANTAQ (transporte aquaviário) etc.;
I - a pesquisa e a lavra das jazidas de petróleo e gás „ Agências estaduais: controladas pelo Poder
natural e outros hidrocarbonetos fluidos;
Executivo dos estados;
II - a refinação do petróleo nacional ou estrangeiro;
„ Agências municipais: controladas pelos gover-
III - a importação e exportação dos produtos e deri-
vados básicos resultantes das atividades previstas nos dos municípios;
nos incisos anteriores; „ Agências distritais: atuam apenas dentro do
IV - o transporte marítimo do petróleo bruto de ori- Distrito Federal.
gem nacional ou de derivados básicos de petróleo
produzidos no País, bem assim o transporte, por z Quanto à Especialização Setorial
meio de conduto, de petróleo bruto, seus derivados
e gás natural de qualquer origem; „ Agências unissetoriais: são agências meno-
V - a pesquisa, a lavra, o enriquecimento, o reproces- res, que apresentam apenas um setor capaz de
samento, a industrialização e o comércio de minérios exercer todo o controle e fiscalização do bem
e minerais nucleares e seus derivados, com exceção jurídico;
dos radioisótopos cuja produção, comercialização
„ Agências multissetoriais: são mais comuns
e utilização poderão ser autorizadas sob regime de
nos estados; geralmente são agências regula-
permissão, conforme as alíneas b e c do inciso XXIII
do caput do art. 21 desta Constituição Federal. doras de todos os serviços públicos concedidos
§ 1º A União poderá contratar com empresas esta- para empresas e demais pessoas jurídicas da
tais ou privadas a realização das atividades pre- esfera privada.
vistas nos incisos I a IV deste artigo observadas as
condições estabelecidas em lei. z Quanto à Autonomia Organizacional
§ 2º A lei a que se refere o § 1º disporá sobre:
I - a garantia do fornecimento dos derivados de „ Agências autônomas: são agências que apre-
petróleo em todo o território nacional; sentam maior autonomia entre as demais
II - as condições de contratação; ante o fato de elas poderem editar o próprio
III - a estrutura e atribuições do órgão regulador do regimento interno. É o caso, por exemplo, da
monopólio da União;
ANATEL;
„ Agências dependentes: como o próprio nome
Ao dispor que as agências reguladoras são autar-
aduz, são agências com menor grau de auto-
quias sob regime especial, significa que são pessoas
nomia; não possuem competência para editar
jurídicas de direito público, tal qual as demais autar-
as regras de seu regimento interno, pois tal
quias, mas com alguns aspectos especiais que as dis-
conjunto de regras é emitido não pela pró-
tinguem das demais entidades autárquicas.
pria agência, mas pela Administração Central
A primeira diferença consiste no fato de seus
da qual a agência sofre controle. É o caso da
dirigentes gozarem de estabilidade no cargo. Os
ANEEL.
dirigentes das agências reguladoras não podem ser
exonerados por qualquer motivo, ao contrário das
autarquias comuns, em que seus dirigentes atuam Atenção! Uma maior autonomia não significa
em cargos de comissão e não gozam de estabilidade. total independência. A agência reguladora autônoma,
Assim, os dirigentes das agências têm maior proteção ainda assim, subordina-se à entidade da Administra-
contra o desligamento forçado, promovendo maior ção Pública direta que a criou (União, estados, muni-
segurança no exercício de seu cargo. cípios, Distrito Federal). Em outras palavras, a agência
Todavia, esses mesmos dirigentes possuem um autônoma ainda sofre controle finalístico da admi-
mandato fixo, pois seus cargos não são vitalícios. A nistração centralizada.
existência de mandato fixo garante, também, maior
segurança jurídica, visto que a sua ocupação naque- z Quanto à Atividade Preponderante
la posição privilegiada tem prazo determinado para
se encerrar. A duração dos mandatos pode variar a „ Agências de serviço: são as agências regulado-
depender de cada agência, podendo ser de três, qua- ras que exercem as funções típicas de serviço
tro ou até cinco anos. público (universalização do serviço para aten-
der múltiplas pessoas, cobrança de tarifas, fis-
Classificação das Agências Reguladoras calização do contrato de concessão etc.);
„ Agências reguladoras da exploração de
Existem diversos tipos de agências reguladoras monopólios públicos: o petróleo é um bem de
operando no Brasil. Por isso, é imprescindível que monopólio da União, porém, ante o fato de o
você saiba, ao menos, as principais agências, estando governo poder delegar algumas atividades liga-
divididas em uma classificação com base nos seguin- das à exploração desse recurso, é necessária a
516 tes critérios: fiscalização dessas atividades pela ANAP;
„ Agências reguladoras da exploração de bens II - ter celebrado Contrato de Gestão com o respec-
públicos: é o caso da ANA, que regula as ativi- tivo Ministério supervisor.
dades ligadas à distribuição nacional de água, § 1º A qualificação como Agência Executiva será fei-
considerada um bem público. ta em ato do Presidente da República.
§ 2º O Poder Executivo editará medidas de organi-
zação administrativa específicas para as Agências
AGÊNCIAS EXECUTIVAS, CONSÓRCIOS E
Executivas, visando assegurar a sua autonomia de
CONVÊNIOS PÚBLICOS
gestão, bem como a disponibilidade de recursos
orçamentários e financeiros para o cumprimento
Para o cumprimento das funções administrativas, dos objetivos e metas definidos nos Contratos de
a Administração Pública conta com a delegação de Gestão.
serviços públicos para a esfera privada e também com
a criação de agências reguladoras para fiscalizar essa Dos Consórcios e Convênios Públicos
outorga. Porém, como uma forma de facilitar a con-
secução de tarefas correlatas, é imprescindível que Apesar de serem qualificações distintas, podemos
o poder público possa realizar acordos e parcerias, analisar ambos de forma conjunta. Os consórcios e
principalmente entre os próprios órgãos e entidades. convênios possuem previsão constitucional, mais
Aqui, vamos trabalhar bastante com a noção de gestão especificamente no art. 241, da CF, de 1988. Observe:
parceira.
Significa dizer que algumas entidades da Adminis- Art. 241 A União, os Estados, o Distrito Federal e os
tração Pública, a depender de com quem ela entra em Municípios disciplinarão por meio de lei os consór-
acordo, mediante a elaboração de um contrato, pas- cios públicos e os convênios de cooperação entre os
sam a apresentar um título, uma qualificação extra entes federados, autorizando a gestão associada de
que altera a sua nomenclatura e, consequentemente, serviços públicos, bem como a transferência total
o seu regime jurídico. É o caso das agências executi- ou parcial de encargos, serviços, pessoal e bens
vas, dos consórcios públicos e dos convênios públicos, essenciais à continuidade dos serviços transferidos.
os quais serão vistos em maiores detalhes adiante.
Assim, podemos definir os consórcios e os convê-
Das Agências Executivas nios públicos como uma forma de gestão associada
entre os diversos entes do Estado, com o objetivo de
Apesar de semelhanças no nome, as agências exe- alcançar uma finalidade em comum. Essa finalidade
cutivas não são uma espécie de agência reguladora, comum pode ser qualquer tipo de empreitada, como,
mas uma qualificação extra delas. São, isso sim, autar- por exemplo, a execução de um serviço público que
quias e fundações que celebram contratos de gestão abrange mais de um município ou mais de um estado.
com o órgão ao qual se encontram vinculadas. Esse Suponha que o estado de São Paulo esteja com
órgão é, geralmente, o seu ministério supervisor. dificuldades para fornecer água para um município
Essas agências executivas têm sua origem no direi- de pequeno porte localizado entre a divisa territo-
to americano, sendo denominadas, nesse território, rial com o estado do Rio de Janeiro. Assim, os estados
como independent regulatory agencies. O objetivo final envolvidos (SP e RJ) podem criar um ente próprio,
das agências executivas não é, portanto, a fiscalização com personalidade jurídica de direito público ou de
da delegação do serviço público e sim garantir maior direito privado, encarregado de garantir uma melhor
eficiência e redução de custos com o órgão governa- gestão dos recursos necessários para a distribuição
de água para o referido município. Essa “nova pessoa
mental o qual cumpre o contrato de gestão.

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


jurídica” é o consórcio público.
Podemos mencionar, como exemplos de agências
A principal diferença entre o consórcio e o convê-
executivas:
nio público diz respeito aos seus participantes. Nos
consórcios, os entes participantes da empreitada em
z a Agência Nacional do Desenvolvimento do Ama-
comum devem ser sempre da mesma espécie. Isso
zonas (ADA);
significa, por exemplo, que a União só pode fazer con-
z o Instituto Nacional de Metrologia, Normatização e
sórcio com os demais entes da Administração Pública
Qualidade Industrial (Inmetro);
direta, com os estados, municípios e Distrito Federal.
z a Agência Nacional do Desenvolvimento do Nor-
As autarquias só podem realizar consórcios com outras
deste (ADENE).
autarquias, ou fundações. Já no caso dos convênios,
essa limitação é inexistente: a União pode celebrar con-
Vale destacar que a atribuição de qualificação de vênios com as autarquias e fundações e vice-versa.
agência executiva geralmente é concedida por ato
proferido pelo presidente da República, com anuên-
cia do Ministério da Administração Federal e Reforma Importante!
do Estado. É isso o que dispõe o art. 51, da Lei nº 9.649,
de 1998, apontando também o preenchimento de � Consórcio público: somente entes federais da
alguns requisitos que a autarquia ou fundação deve mesma espécie;
possuir para ter concedida a referida qualificação. � Convênio público: pode mesclar os entes
Observe o texto legal: federais da Administração direta com a indireta.

Art. 51 O Poder Executivo poderá qualificar como


Agência Executiva a autarquia ou fundação que Vale destacar que os consórcios se encontram dis-
tenha cumprido os seguintes requisitos: postos em legislação infraconstitucional, sobretudo
I - ter um plano estratégico de reestruturação e de na Lei nº 11.107, de 2005, conhecida também como a
desenvolvimento institucional em andamento; Lei Geral de Contratação de Consórcios Públicos. 517
De conteúdo relevante, temos o texto do art. 6º, da Art. 8º Os entes consorciados somente entregarão
referida Lei nº 11.107, de 2005, que dispõe sobre as recursos ao consórcio público mediante contrato
diferentes espécies de consórcios. Observe o texto legal: de rateio.
§ 1º O contrato de rateio será formalizado em cada
Art. 6º O consórcio público adquirirá personalida- exercício financeiro, e seu prazo de vigência não
de jurídica: será superior ao das dotações que o suportam, com
I - de direito público, no caso de constituir associa- exceção dos contratos que tenham por objeto exclu-
ção pública, mediante a vigência das leis de ratifica- sivamente projetos consistentes em programas e
ção do protocolo de intenções; ações contemplados em plano plurianual.
II - de direito privado, mediante o atendimento dos § 2º É vedada a aplicação dos recursos entregues
requisitos da legislação civil. por meio de contrato de rateio para o atendimento
§ 1º O consórcio público com personalidade jurídi- de despesas genéricas, inclusive transferências ou
ca de direito público integra a administração indi- operações de crédito.
reta de todos os entes da Federação consorciados. § 3º Os entes consorciados, isolados ou em con-
§ 2º O consórcio público, com personalidade jurídi- junto, bem como o consórcio público, são partes
ca de direito público ou privado, observará as nor- legítimas para exigir o cumprimento das obri-
mas de direito público no que concerne à realização gações previstas no contrato de rateio.
de licitação, à celebração de contratos, à prestação § 4º Com o objetivo de permitir o atendimento dos
de contas e à admissão de pessoal, que será regi- dispositivos da Lei Complementar nº 101, de 4 de
do pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), maio de 2000, o consórcio público deve fornecer as
aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio informações necessárias para que sejam consoli-
de 1943. dadas, nas contas dos entes consorciados, todas as
despesas realizadas com os recursos entregues em
Pela leitura do referido dispositivo, percebe-se que virtude de contrato de rateio, de forma que possam
o consórcio público pode assumir duas formas. Como ser contabilizadas nas contas de cada ente da Fede-
pessoa jurídica de direito público, o consórcio assume ração na conformidade dos elementos econômicos
a forma de associação pública, integrando a Admi- e das atividades ou projetos atendidos.
nistração Pública indireta de não apenas um, mas de § 5º Poderá ser excluído do consórcio público,
todos os entes federativos participantes do consórcio. após prévia suspensão, o ente consorciado que não
Já o consórcio que possui personalidade jurídica de consignar, em sua lei orçamentária ou em créditos
direito privado assume a forma de associação civil. adicionais, as dotações suficientes para suportar as
Nesse caso, mesmo não integrando a Administração despesas assumidas por meio de contrato de rateio.
Pública, essas associações, ainda assim, devem obede-
cer a algumas regras típicas de direito público, como Outro instrumento de grande importância para
a exigência de realização de licitação e a obrigação de esses entes é o programa de cooperação. É o pacto
prestar contas com os entes federativos do consórcio. realizado entre uma entidade consorciada com outra,
A admissão de pessoal é feita mediante regime ou entre ela e o próprio consórcio, em que serão dis-
celetista, o que significa que esses consórcios somente postas diversas obrigações a serem cumpridas no
podem criar empregos públicos. Não se pode, portan- âmbito da gestão associada. Essas obrigações podem
to, abrir concurso público para a ocupação de cargos envolver, por exemplo, a prestação de um serviço
públicos. público, ou a transferência de encargos, serviços, pes-
Existem alguns privilégios conferidos aos con- soal ou de bens como uma forma de garantir a conti-
sórcios e aos convênios que facilitam a consecução nuidade dos serviços transferidos.
de seus objetivos. Esses privilégios estão dispostos de Apesar da nomenclatura, o programa de coopera-
forma esparsa na referida Lei de Consórcios Públicos.
ção pode ser considerado um instrumento contratual,
Vejamos as principais vantagens:
sendo também denominado de contrato de progra-
ma. É o art. 13 que dispõe, mais detalhadamente,
z firmar acordos de qualquer natureza, bem como
acerca do programa de cooperação. Vejamos (Lei nº
receber auxílios, contribuições e subvenções
11.107, de 2005):
sociais ou econômicas de outras entidades e órgãos
do governo (inciso I, § 1º, art. 2º);
Art. 13 Deverão ser constituídas e reguladas por
z promover desapropriações e instituir servidões,
contrato de programa, como condição de sua vali-
sem a necessidade de requerer do ente parceiro
dade, as obrigações que um ente da Federação cons-
(inciso II, § 1º, art. 2º);
tituir para com outro ente da Federação ou para
z poder contratar diretamente com os demais entes
com consórcio público no âmbito de gestão associa-
da Federação, declarada a dispensa de licitação da em que haja a prestação de serviços públicos ou
(inciso III, § 1º, art. 2º). a transferência total ou parcial de encargos, servi-
ços, pessoal ou de bens necessários à continuidade
Por fim, vejamos quais são os principais tipos de dos serviços transferidos.
contratos que são utilizados pelos consórcios e convê- § 1º O contrato de programa deverá:
nios públicos. São apenas dois: o contrato de rateio e I - atender à legislação de concessões e permissões
os programas de convênios de cooperação. de serviços públicos e, especialmente no que se refe-
O contrato de rateio é o acordo firmado entre re ao cálculo de tarifas e de outros preços públicos,
as entidades federativas consorciadas para entregar à de regulação dos serviços a serem prestados; e
recursos ao consórcio previstos na lei orçamentária II - prever procedimentos que garantam a transpa-
de cada consorciado. O ente consorciado que não cum- rência da gestão econômica e financeira de cada
prir com as regras do contrato de rateio está sujeito a serviço em relação a cada um de seus titulares.
ser excluído da referida parceria. O contrato de rateio § 2º No caso de a gestão associada originar a
518 está previsto no art. 8º, da Lei nº 11.107, de 2005: transferência total ou parcial de encargos,
serviços, pessoal e bens essenciais à continuidade dos serviços transferidos, o contrato de programa, sob
pena de nulidade, deverá conter cláusulas que estabeleçam:
I - os encargos transferidos e a responsabilidade subsidiária da entidade que os transferiu;
II - as penalidades no caso de inadimplência em relação aos encargos transferidos;
III - o momento de transferência dos serviços e os deveres relativos a sua continuidade;
IV - a indicação de quem arcará com o ônus e os passivos do pessoal transferido;
V - a identificação dos bens que terão apenas a sua gestão e administração transferidas e o preço dos que sejam
efetivamente alienados ao contratado;
VI - o procedimento para o levantamento, cadastro e avaliação dos bens reversíveis que vierem a ser amortizados
mediante receitas de tarifas ou outras emergentes da prestação dos serviços.
§ 3º É nula a cláusula de contrato de programa que atribuir ao contratado o exercício dos poderes de
planejamento, regulação e fiscalização dos serviços por ele próprio prestados.
§ 4º O contrato de programa continuará vigente mesmo quando extinto o consórcio público ou o convênio de coope-
ração que autorizou a gestão associada de serviços públicos.
§ 5º Mediante previsão do contrato de consórcio público, ou de convênio de cooperação, o contrato de programa
poderá ser celebrado por entidades de direito público ou privado que integrem a administração indireta
de qualquer dos entes da Federação consorciados ou conveniados.
§ 6º (REVOGADO).
§ 7º Excluem-se do previsto no caput deste artigo as obrigações cujo descumprimento não acarrete qualquer ônus,
inclusive financeiro, a ente da Federação ou a consórcio público.
§ 8º Os contratos de prestação de serviços públicos de saneamento básico deverão observar o art. 175 da Constitui-
ção Federal, vedada a formalização de novos contratos de programa para esse fim.

Conforme se depreende da leitura do referido dispositivo, a utilização dos contratos de programa não possui
grandes limitações, podendo ser utilizado pelas pessoas jurídicas tanto de direito público como de direito privado.
A ideia é que a cooperação deve ser utilizada apenas para dividir encargos e obrigações capazes de ensejar algum
prejuízo financeiro para os entes consorciados.

AS AGÊNCIAS REGULADORAS E O PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

A relação entre as agências reguladoras e o princípio da legalidade é um tema controverso e relevante no


direito administrativo, pois envolve a análise do poder normativo das agências e dos limites da sua autonomia
frente ao ordenamento jurídico. Afinal, o poder normativo das agências consiste na capacidade de editar normas
gerais e abstratas, de natureza infralegal, para regular as matérias de sua competência, como resoluções, porta-
rias, instruções etc.
Assim, a autonomia das agências consiste na independência técnica, administrativa e financeira que elas pos-
suem em relação aos demais órgãos da administração pública, como a estabilidade de seus dirigentes, a autono-
mia orçamentária, a capacidade de arrecadar receitas próprias etc.
A questão que se coloca é até que ponto o poder normativo e a autonomia das agências reguladoras são compa-
tíveis com o princípio da legalidade e com a separação dos poderes, que atribui ao Legislativo a função de legislar
e ao Executivo a função de administrar. Há diferentes posições doutrinárias e jurisprudenciais sobre esse assunto,
que podem ser resumidas em três correntes principais. Acompanhe.
A corrente restritiva defende que o poder normativo das agências reguladoras é ilegítimo e inconstitucional,
pois viola o princípio da legalidade e da reserva legal, que exige que toda norma que afete direitos e deveres dos

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


administrados seja editada por lei formal, aprovada pelo Congresso Nacional. Além disso, essa corrente sustenta que
o poder normativo das agências reguladoras usurpa a competência legislativa do Legislativo e invade a esfera de
discricionariedade do Executivo, ferindo o princípio da separação dos poderes.
A corrente intermediária defende que o poder normativo das agências reguladoras é legítimo e constitucio-
nal, desde que observados certos requisitos e limites, como a existência de uma lei que autorize e discipline a
edição de normas pelas agências, a conformidade das normas com os princípios e valores constitucionais, a obser-
vância do devido processo legal e do controle judicial das normas, a não criação de novas obrigações ou sanções
para os administrados, a não invasão de matérias reservadas ao Legislativo ou ao Executivo etc.
A corrente ampliativa defende que o poder normativo das agências reguladoras é legítimo e constitucional,
sem maiores restrições ou condicionamentos, pois trata-se de um poder implícito e necessário para o exercício da
função regulatória, que visa garantir a eficiência, a qualidade e a continuidade dos serviços públicos e das ativida-
des econômicas. Além disso, essa corrente argumenta que o poder normativo das agências reguladoras não viola
o princípio da legalidade nem da separação dos poderes, pois as normas editadas pelas agências são de natureza
infralegal, complementar e subordinada à lei, e não interferem nas competências do Legislativo ou do Executivo,
mas apenas as executam e as especificam.
Em conclusão, pode-se afirmar que as agências reguladoras e o princípio da legalidade são temas que suscitam
debates e desafios no direito administrativo, exigindo uma interpretação equilibrada e razoável que harmonize
os interesses públicos e privados envolvidos e respeite os valores e os princípios constitucionais.

REFERÊNCIAS

ARAGÃO, A. S. Direito dos Serviços Públicos. 4. ed. Belo Horizonte: Editora Fórum, 2017.
CARVALHO FILHO, J. S. Manual de direito administrativo. 35. ed. São Paulo: Atlas, 2021.
CRETELLA JÚNIOR, J. Manual de direito administrativo. Rio de Janeiro: Forense, 1967.
JUSTEN FILHO, M. Curso de direito administrativo. 14. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2019.
MEIRELLES, H. L. Direito administrativo brasileiro. 44. ed. São Paulo: Malheiros, 2020.
MELLO, C. A. B. Curso de direito administrativo. 33. ed. São Paulo: Malheiros, 2016. 519
z Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Bio-
ÓRGÃOS REGULADORES NO BRASIL: combustíveis (ANP): regula a exploração, produção,
HISTÓRICO E CARACTERÍSTICA DAS refino, transporte, distribuição e comercialização
de petróleo, gás natural e biocombustíveis;
AUTARQUIAS
z Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL):
Órgãos reguladores são entidades que exercem regula os serviços de telefonia fixa, móvel, inter-
o poder de regular, fiscalizar e controlar determi- net, rádio, televisão e satélite;
nados setores ou atividades econômicas ou sociais, z Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA):
visando garantir o equilíbrio, a qualidade, a seguran- regula os produtos e serviços que envolvem risco
ça, a eficiência e o interesse público. Para tanto, eles à saúde pública, como medicamentos, alimentos,
podem ser de natureza administrativa, jurisdicional, cosméticos, saneantes, sangue, órgãos, etc.;
legislativa ou técnica, dependendo da sua função e z Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS):
competência. regula os planos e seguros privados de assistência
No Brasil, os principais órgãos reguladores são as à saúde;
agências reguladoras, que são autarquias especiais, z Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico
dotadas de personalidade jurídica de direito público, (ANA): regula o uso dos recursos hídricos e a pres-
autonomia administrativa, financeira e funcional, e tação dos serviços públicos de saneamento básico;
vinculadas aos ministérios correspondentes às suas z Agência Nacional de Transportes Terrestres
áreas de atuação. As agências reguladoras foram
(ANTT): regula os serviços de transporte rodoviá-
criadas a partir da década de 1990, no contexto das
rio e ferroviário de passageiros e cargas;
reformas do Estado e das privatizações de empresas
z Agência Nacional de Transportes Aquaviários
estatais, com o objetivo de regular os serviços públi-
cos concedidos, permitidos ou autorizados à iniciativa (ANTAQ): regula os serviços de transporte maríti-
privada, bem como os mercados de interesse público. mo, fluvial e lacustre de passageiros e cargas;
As autarquias são entidades administrativas que z Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC): regula
são criadas por meio de lei específica, conforme cons- os serviços de transporte aéreo de passageiros e
ta no inciso XIX, art. 37, da Constituição Federal, de cargas, bem como a infraestrutura aeroportuária;
1988; possuem personalidade de direito público, sen- z Agência Nacional do Cinema (ANCINE): regula as
do submetidas ao regime jurídico publicístico; têm atividades do mercado audiovisual, como produ-
capacidade de autoadministração, porém sob o con- ção, distribuição e exibição de filmes, programas
trole finalístico do ente que as criou e desempenham de televisão, publicidade, etc.
serviço público ou de interesse público, de forma des-
centralizada e especializada. Além das agências reguladoras federais, existem
As agências reguladoras, como autarquias espe- também órgãos reguladores estaduais e municipais,
ciais, possuem algumas peculiaridades em relação às que atuam em setores ou atividades de interesse local,
autarquias comuns, tais como: como transporte público, saneamento básico, meio
ambiente, etc. Alguns exemplos são:
z os seus dirigentes são nomeados pelo Presidente
da República, após aprovação pelo Senado Fede-
z Agência Reguladora de Serviços Públicos Dele-
ral, e possuem mandatos fixos e não coincidentes,
gados de Transporte do Estado de São Paulo
podendo ser destituídos apenas por motivo de
renúncia, condenação judicial transitada em julga- (ARTESP): regula os serviços de transporte rodo-
do ou processo administrativo disciplinar; viário intermunicipal de passageiros e as conces-
z possuem autonomia orçamentária e financeira, sões rodoviárias estaduais;
podendo arrecadar receitas próprias, como taxas, z Agência Reguladora de Saneamento e Energia do
multas e contribuições, e gerir seus recursos com Estado de São Paulo (ARSESP): regula os serviços
independência; de saneamento básico e de distribuição de gás
z possuem autonomia normativa, podendo editar canalizado no estado de São Paulo;
atos regulamentares, como resoluções, instruções, z Agência Reguladora de Serviços Públicos do Esta-
portarias, etc., dentro dos limites da lei e da políti- do do Rio de Janeiro (AGENERSA): regula os servi-
ca definida pelo governo; ços de saneamento básico, de distribuição de gás
z possuem autonomia técnica, podendo adotar cri- canalizado e de energia elétrica no estado do Rio
térios técnicos, científicos e econômicos para a de Janeiro;
regulação dos setores e atividades sob sua compe- z Agência Reguladora de Serviços Públicos do Dis-
tência, sem interferência política ou partidária.
trito Federal (ADASA): regula os serviços de sanea-
mento básico, de uso dos recursos hídricos e de
EXEMPLOS DE ÓRGÃOS REGULADORES NO
resíduos sólidos no Distrito Federal;
BRASIL
z Agência Reguladora de Serviços Públicos de Sal-
Atualmente, existem dez agências reguladoras vador (ARSEP): regula os serviços de saneamento
federais no Brasil, que regulam os seguintes setores básico, de transporte público, de limpeza urbana e
ou atividades, são elas: de iluminação pública no município de Salvador;
Agência Reguladora de Serviços Públicos Munici-
z Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL): pais de Porto Alegre (EPTC): regula os serviços de
regula a geração, transmissão, distribuição e transporte público, de trânsito, de estacionamento
520 comercialização de energia elétrica; e de táxi no município de Porto Alegre.
ABORDAGENS: TEORIA ECONÔMICA DA REGULAÇÃO, TEORIA DA CAPTURA, TEORIA
DO AGENTE PRINCIPAL
A regulação é o conjunto de normas, instrumentos e instituições que visam regular, fiscalizar e controlar
determinados setores ou atividades econômicas ou sociais, com o objetivo de garantir o equilíbrio, a qualidade, a
segurança, a eficiência e o interesse público. A regulação pode ser realizada pelo Estado, por entidades privadas
ou por uma combinação de ambos.
Existem diferentes abordagens teóricas que buscam explicar a origem, a forma, o conteúdo e os efeitos da
regulação, bem como as relações entre os agentes envolvidos no processo regulatório, como o governo, as empre-
sas, os consumidores, as agências reguladoras, etc. Neste texto, vamos apresentar três dessas abordagens: a teoria
econômica da regulação, a teoria da captura e a teoria do agente principal.

TEORIA ECONÔMICA DA REGULAÇÃO

A teoria econômica da regulação, também conhecida como teoria da captura, é uma abordagem que surgiu
na década de 1970, nos Estados Unidos, a partir dos trabalhos de George Stigler, ligado à Escola de Chicago. Essa
teoria parte do pressuposto de que os agentes econômicos são racionais e egoístas, e que buscam maximizar seus
próprios interesses, seja por meio da produção, do consumo ou da política.
Segundo essa teoria, a regulação é o resultado da ação política dos grupos de interesse, que demandam do
governo a criação de normas que favoreçam seus objetivos, em detrimento dos interesses coletivos. Esses grupos
podem ser formados por empresas, sindicatos, associações, etc., que possuem recursos, informações e influência
para pressionar o governo e as agências reguladoras. A regulação, portanto, é vista como um bem econômico, que
é ofertado pelo governo e demandado pelos grupos de interesse, de acordo com as leis da oferta e da demanda.
A teoria econômica da regulação explica, por exemplo, por que alguns setores são mais regulados do que
outros, por que algumas normas são mais rígidas ou flexíveis do que outras, por que algumas agências regulado-
ras são mais independentes ou submissas do que outras, etc. A resposta está na força e na organização dos grupos
de interesse, que podem capturar o processo regulatório e moldá-lo de acordo com seus interesses.

TEORIA DA CAPTURA

A teoria da captura é uma vertente da teoria econômica da regulação, que enfatiza o papel das empresas regula-
das na determinação da regulação. Segundo essa teoria, as empresas reguladas possuem mais informações, recur-
sos e incentivos do que os demais agentes para influenciar o governo e as agências reguladoras, de modo a obter
benefícios regulatórios, como barreiras à entrada, subsídios, tarifas, quotas, etc.
A teoria da captura pressupõe que as empresas reguladas são capazes de manipular as informações, os critérios,
os instrumentos e os mecanismos de regulação, de forma a induzir o governo e as agências reguladoras a adotarem
normas que atendam aos seus interesses, em detrimento dos interesses dos consumidores e da sociedade. A captura

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


pode ocorrer por meio de diversos canais, como lobby, corrupção, financiamento de campanhas, indicação de dirigen-
tes, etc.
A teoria da captura implica que a regulação tende a ser ineficiente, injusta e contrária ao interesse público,
pois favorece a concentração de mercado, a redução da qualidade, o aumento dos preços, a diminuição da inova-
ção, etc. A captura também compromete a legitimidade e a credibilidade da regulação, pois gera desconfiança e
insatisfação por parte dos consumidores e da sociedade.

TEORIA DO AGENTE PRINCIPAL

A teoria do agente principal é uma abordagem que surgiu na década de 1980, a partir dos trabalhos de Jean-Jacques
Laffont, Jean Tirole e outros autores. Essa teoria parte do pressuposto de que existe uma relação contratual entre dois
agentes: o principal, que delega uma tarefa ou uma decisão a outro agente, e o agente, que executa a tarefa ou a decisão
em nome do principal.
Segundo essa teoria, a regulação é o resultado da relação contratual entre o governo, que atua como principal,
e as agências reguladoras, que atuam como agentes. O governo delega às agências reguladoras a função de regu-
lar, fiscalizar e controlar os setores ou atividades de interesse público, em nome do governo e da sociedade. As
agências reguladoras, por sua vez, devem prestar contas ao governo sobre o seu desempenho e os seus resultados.
A teoria do agente principal explica, por exemplo, por que as agências reguladoras possuem autonomia, por
que o governo monitora e avalia as agências reguladoras, por que as agências reguladoras devem ser transparen-
tes e participativas, etc. A resposta está nos problemas de informação e de incentivos que existem na relação entre
o governo e as agências reguladoras, que podem gerar conflitos de interesse, desvios de conduta, ineficiência e
ineficácia da regulação.
521
De provedor, o Estado passou a desempenhar ati-
FORMAS DE REGULAÇÃO vidades relacionadas à regulação, tendo em vista que
a oferta de bens e serviços passou a ser executada
REGULAÇÃO DE PREÇO de maneira eficiente pelo setor privado.
Não se está afirmando que o Estado perdeu seu
Regulação de preço é a forma de regulação que motivo de ser na economia, mas sim que as crescentes
consiste em estabelecer o valor máximo ou mínimo mudanças e rápidas evoluções verificadas em todos os
que pode ser cobrado por um produto ou serviço, ou setores da economia e da sociedade passaram a exigir
o método de cálculo desse valor, visando garantir a dele o desempenho de novas funções.
Se o setor privado possui mais capacidade e mais
remuneração adequada dos produtores ou prestado-
eficiência em acompanhar o ritmo destas evoluções,
res, a acessibilidade e a equidade dos consumidores,
o Estado pode muito bem deixar de prover e passar
e a eficiência e a qualidade do produto ou serviço. A
a regular estas transformações, tornando o processo
regulação de preço pode ser aplicada a setores ou ati-
mais benéfico e menos custoso, do ponto de vista social.
vidades que apresentam características de monopólio No Brasil, esta mudança passou a ocorrer a partir
natural, de externalidades, de bens públicos, de assi- de meados dos anos 90, com a quebra de monopólios
metria de informação, etc. estatais na economia. A privatização de empresas
estatais insere-se neste contexto, além da criação de
REGULAÇÃO DE ENTRADA agências reguladoras responsáveis por regular seto-
res cuja provisão de bens e serviços era antes feita
Regulação de entrada é a forma de regulação que com exclusividade pelo setor público.
consiste em definir as condições e os requisitos para O setor de telecomunicações é um bom exemplo.
que uma empresa possa ingressar ou sair de um mer- Antes monopólio estatal, com a privatização passou
cado, ou para que um produto ou serviço possa ser a ser exercido por diversas empresas, modificando a
ofertado ou retirado do mercado, visando garantir a maneira como a sociedade se relaciona com o setor.
concorrência, a inovação, a segurança, a qualidade Você pode não se lembrar, mas uma linha telefô-
e o interesse público. A regulação de entrada pode nica até meados da década de 90 era considerada um
ser aplicada a setores ou atividades que apresentam ativo, inclusive declarado na Declaração de Impos-
características de oligopólio, de diferenciação, de bar- to de Renda, possuída apenas pelos indivíduos mais
reiras à entrada, de risco moral, etc. favorecidos. Hoje, como bem sabemos, a utilização de
telefones fixos e móveis é algo corriqueiro, havendo,
REGULAÇÃO DE QUALIDADE inclusive, mais telefones móveis do que pessoas no
Brasil.
Gostando ou não do processo de privatização, não
Regulação de qualidade é a forma de regulação
se pode deixar de notar que ele se faz necessário em
que consiste em estabelecer os padrões mínimos ou
alguns setores da economia, na medida que deixa ao
ótimos de qualidade que devem ser observados na
setor privado a oferta de bens mais suscetíveis à ino-
produção ou na prestação de um produto ou serviço,
vação, por exemplo, e por isso menos indicados ao
ou os indicadores e os mecanismos de avaliação e de setor público.
controle dessa qualidade, visando garantir a satisfa- O que nos interessa é notar que, neste contexto,
ção, a proteção e o bem-estar dos consumidores, e a o estado passou a exercer mais atividades ligadas à
eficiência, a eficácia e a responsabilidade dos produ- regulação do que à provisão de bens e serviços, sobre-
tores ou prestadores. A regulação de qualidade pode tudo se analisarmos a oferta de bens e serviços que
ser aplicada a setores ou atividades que apresentam podem ser ofertados pelo mercado, na qual a presen-
características de heterogeneidade, de seleção adver- ça do setor público geralmente é realizada de maneira
sa, de externalidades, de bens públicos, etc. menos eficiente, onerando mais os contribuintes.
Desde que a regulação se faça de maneira transpa-
rente, com custos suportados pela sociedade e com-
O ESTADO REGULADOR E A DEFESA DA patíveis com os benefícios usufruídos e respeite a
autonomia dos interesses coletivos, ela é interessante
LIVRE CONCORRÊNCIA do ponto de vista econômico e social.

ESTADO PROVEDOR E ESTADO REGULADOR

Em geral, os Estados participam ativamente no for-


necimento de bens e serviços em uma economia que
DEFESA DA CONCORRÊNCIA
está no início de seu processo de desenvolvimento. Na
Trata-se do conjunto de políticas e de instrumen-
carência de um setor privado estabelecido, é muito
tos que objetivam promover e proteger a livre con-
comum que o Estado desempenhe seu papel, proven- corrência no mercado, de uma forma que estimule a
do os bens e serviços necessários. Nesse contexto, o eficiência econômica, o bem-estar social e o desenvol-
Estado é caracterizado como provedor. vimento sustentável.
No entanto, o avanço no processo de desenvolvi- A defesa da concorrência envolve a repressão de
mento e as mudanças ocorridas recentemente na eco- práticas que limitem ou prejudiquem a concorrência,
nomia, muito em função da revolução tecnológica e tais como abuso de posição dominante, cartel, mono-
informacional verificada a partir dos anos 80, provo- pólio, truste, práticas restritivas e oligopólio. Também
caram uma mudança na natureza das funções econô- envolve uma análise minuciosa do mercado, suas
micas do Estado. características e estrutura, bem como os efeitos das
522 atividades econômicas sobre seus grupos atuantes.
No Brasil, a defesa da concorrência é regulada pela Concorrência desleal, com o intuito de obter vanta-
Lei nº 12.529, de 30 de novembro de 2011, que instituiu gem indevida por meio de meios ilícitos, fraudulentos
o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência (SBDC), ou imorais: Exemplo: uso de marcas, nomes, símbo-
composto pelo Conselho Administrativo de Defesa Eco- los ou expressões alheias; divulgação de informações
nômica (CADE) e pela Secretaria de Acompanhamento falsas ou enganosas sobre o concorrente; indução de
Econômico (SEAE) do Ministério da Economia (art. 3º). erro, confusão ou engano; violação de segredos indus-
triais ou comerciais; exploração da reputação alheia;
Art. 1º Esta Lei estrutura o Sistema Brasileiro de entre outras.
Defesa da Concorrência - SBDC e dispõe sobre a pre- E a concorrência parasitária, que apropria-se inde-
venção e a repressão às infrações contra a ordem vidamente do esforço, investimento ou reputação dos
econômica, orientada pelos ditames constitucio- concorrentes, sem oferecer qualquer contrapartida
nais de liberdade de iniciativa, livre concorrência, ou benefício ao mercado. Exemplos: imitação de pro-
função social da propriedade, defesa dos consumi- dutos, embalagens, slogans ou campanhas publicitá-
dores e repressão ao abuso do poder econômico. rias; aproveitamento de promoções, eventos ou ações
alheias; desvio de clientela; entre outras.
z CADE é o órgão responsável por julgar os casos de
infração à ordem econômica, bem como por anali- POSIÇÃO DOMINANTE
sar os atos de concentração entre empresas;
z SEAE é o órgão responsável por acompanhar e É uma situação em que o agente econômi-
monitorar os mercados, bem como por emitir co possui um elevado poder de mercado em um
pareceres técnicos sobre os casos submetidos ao determinado mercado, de forma que opere indepen-
CADE. dentemente dos seus concorrentes, fornecedores,
clientes ou consumidores.
ANÁLISE DE MERCADO Em suma, é uma posição que, por si só, não é ilíci-
ta; pode ser resultado de maior eficiência, inovação
Trata-se de uma ferramenta essencial para a defe- ou qualidade perante os demais. No entanto, caracte-
sa da concorrência, uma vez que permite identificar riza abuso quando o agente dominante utiliza o seu
e avaliar as condições em um determinado mercado. poder de mercado para prejudicar a concorrência, os
Além disso, também avalia as prováveis decorrências consumidores ou o interesse público.
de práticas anticompetitivas ou atos de concentração
sobre ele. Ela desenvolve-se nas seguintes etapas: INFRAÇÕES À ORDEM ECONÔMICA: CARTEL,
Na etapa inicial, ocorre a definição do mercado rele- MONOPÓLIO, TRUSTE, PRÁTICAS RESTRITIVAS E
vante, que consiste na delimitação do produto e do terri- OLIGOPÓLIO
tório que compõem o mercado em estudo. Um mercado
relevante de produto caracteriza-se pela substituibili- Infrações à ordem econômica são práticas que
dade entre os produtos, ou seja, pela capacidade de um objetivam produzir os seguintes efeitos, ainda que
produto satisfazer a mesma necessidade que outro. não sejam alcançados:
Já um mercado relevante geográfico, define-se pela
substituibilidade entre os locais, ou seja, pela capaci- z limitar, falsear ou prejudicar de qualquer maneira
dade de um consumidor adquirir o mesmo produto a livre concorrência ou a livre iniciativa;
em diferentes pontos. z dominar mercado relevante de bens ou serviços;
A partir disso, é realizada a mensuração do poder z aumentar arbitrariamente os lucros;
desse mercado: uma avaliação no grau de influência

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


z exercer posição dominante de forma abusiva.
de um agente econômico sobre o preço, a quantidade,
a qualidade ou as condições de oferta de um produto. São condutas tipificadas, também, pela Lei nº
Essa mensuração decorre do estudo de indicadores, 12.529, de 2011, que prevê no parágrafo 3º, do art. 36,
como a participação de mercado, a elasticidade-preço as seguintes condutas como infrações, sem prejuízo
da demanda, as barreiras à entrada, o grau de rivali- de outras:
dade, a diferenciação de produtos, entre outros.
Já na etapa de identificar e avaliar os efeitos exer- [...]
cidos sobre a concorrência, são verificados os impac- I - acordar, combinar, manipular ou ajustar com
tos das práticas anticompetitiva de concentração concorrente, sob qualquer forma:
acarretam ao mercado relevante — seja do ponto de a) os preços de bens ou serviços ofertados
vista estático ou dinâmico. individualmente;
Os efeitos observados sobre a concorrência podem b) a produção ou a comercialização de uma quanti-
ser positivos ou negativos; diretos ou indiretos; atuais dade restrita ou limitada de bens ou a prestação de
ou potenciais; e devem ser comparados com o cená- um número, volume ou frequência restrita ou limi-
rio contrafactual, ou seja, com a situação hipotéti- tada de serviços;
ca que ocorreria na ausência da prática ou do ato, c) a divisão de partes ou segmentos de um mercado
para avaliar se houve uma alteração significativa na atual ou potencial de bens ou serviços, mediante,
dentre outros, a distribuição de clientes, fornecedo-
concorrência.
res, regiões ou períodos;
d) preços, condições, vantagens ou abstenção em
PRÁTICAS DESLEAIS licitação pública;
II - promover, obter ou influenciar a adoção de
São práticas que violam as normas de conduta conduta comercial uniforme ou concertada entre
ética e comercial entre os agentes econômicos, preju- concorrentes;
dicando a concorrência leal e a confiança dos consu- III - limitar ou impedir o acesso de novas empresas
midores. Podem ocorrer de duas formas: ao mercado; 523
IV - criar dificuldades à constituição, ao funciona- Pode ser competitivo, quando as empresas dispu-
mento ou ao desenvolvimento de empresa concor- tam entre si por melhores condições de preço, qua-
rente ou de fornecedor, adquirente ou financiador lidade, inovação e eficiência; ou colusivo, quando as
de bens ou serviços; empresas cooperam entre si para fixar preços, dividir
mercados, limitar a produção ou a oferta, ou manipu-
São infrações puníveis com multas, proibições, res- lar licitações, formando um cartel. Traz consequên-
trições, imposições, entre outras sanções administrati- cias positivas ou negativas sobre a concorrência,
vas e judiciais pelo CADE. Algumas das principais são: dependendo das características do mercado.

z Cartel: acordo explícito (ou não) entre concorren-


tes para fixar preços, dividir mercados, limitar a
oferta, ou manipular licitações, com o objetivo de
eliminar ou reduzir a concorrência e aumentar os CONCEITOS DE BOAS PRÁTICAS
lucros. É considerado a infração mais grave, uma REGULATÓRIAS: ANÁLISE DO
vez que prejudica os consumidores, os fornecedo-
res, os concorrentes e a sociedade em geral, geran-
IMPACTO REGULATÓRIO, DO
do efeitos no bem-estar da população, de eficiência RESULTADO REGULATÓRIO, DECRETO
e inovação na produção; N° 10.411, DE 2020, E ALTERAÇÕES; LEI
z Monopólio: é a situação em que uma única empre-
sa detém o controle exclusivo de um mercado DA AGÊNCIAS (LEI N° 13.848, DE 2019)
relevante de bens ou serviços, impondo preços,
condições e quantidades de produtos aos consumi- DECRETO Nº 10.411, DE 30 DE JUNHO DE 2020
dores, sem enfrentar concorrência ou regulação.
Art. 1º Este Decreto regulamenta a análise de
Pode ocorrer de forma natural quando decorre de impacto regulatório, de que tratam o art. 5º da Lei
nº 13.874, de 20 de setembro de 2019, e o art. 6º da
características técnicas ou econômicas do mercado; ou
Lei nº 13.848, de 25 de junho de 2019, e dispõe sobre
artificial quando resulta de condutas anticompetitivas
o seu conteúdo, os quesitos mínimos a serem objeto
ou de intervenções do Estado. Ele pode gerar ineficiên-
de exame, as hipóteses em que será obrigatória e as
cias, perda de qualidade, variedade e inovação, além de
hipóteses em que poderá ser dispensada.
transferir renda dos consumidores para os produtores.
§ 1º O disposto neste Decreto se aplica aos órgãos e
às entidades da administração pública federal dire-
z Truste: é a forma de organização empresarial que ta, autárquica e fundacional, quando da proposição
consiste na fusão ou na incorporação de empresas de atos normativos de interesse geral de agentes
concorrentes ou complementares, formando uma econômicos ou de usuários dos serviços prestados,
única empresa ou um grupo econômico, com o no âmbito de suas competências.
objetivo de dominar um mercado (eliminando ou § 2º O disposto neste Decreto aplica-se às propostas
reduzindo a concorrência). de atos normativos formuladas por colegiados por
meio do órgão ou da entidade encarregado de lhe
Pode gerar efeitos positivos ou negativos sobre a prestar apoio administrativo.
concorrência, dependendo das características do mer- § 3º O disposto neste Decreto não se aplica às pro-
cado, da estrutura e do comportamento das empresas postas de edição de decreto ou aos atos normativos
envolvidas. É uma prática que pode ser autorizada ou a serem submetidos ao Congresso Nacional.
vetada pelo CADE, após uma análise dos seus impac-
tos sobre a concorrência, a eficiência, os consumido- O decreto tem hierarquia inferior à lei, possuindo
res e a sociedade. a função, dentre outras, de regular institutos legais.
No caso, o presente decreto regulamenta os pre-
z Práticas restritivas: são as condutas que, sem ceitos legais previstos no caput, art. 1º, dentre eles a
configurar cartel ou abuso de posição dominan- análise de impacto regulatório (AIR), estabelecida no
te, podem restringir a concorrência, prejudicar art. 6º, da Lei nº 13.848, de 2019, que tem a função de
os consumidores ou afetar o funcionamento do colher informações e dados sobre os possíveis efei-
mercado. Elas podem ocorrer de forma horizontal, tos do ato normativo criado ou alterado pela agência
quando envolvem empresas de um mesmo mer- reguladora.
cado; ou vertical, quando envolvem empresas de
mercados diferentes, porém relacionados. Art. 2º Para fins do disposto neste Decreto,
considera-se:
Podem ocorrer de formas lícitas ou ilícitas, depen- I - análise de impacto regulatório - AIR - pro-
dendo das circunstâncias do caso. Algumas das práti- cedimento, a partir da definição de problema
cas mais comuns são: fixação de preços de revenda, regulatório, de avaliação prévia à edição dos atos
restrições territoriais ou de base de clientes, acordos normativos de que trata este Decreto, que conterá
de exclusividade, venda casada, discriminação de pre- informações e dados sobre os seus prováveis efei-
ços, recusa de contratar, entre outras. tos, para verificar a razoabilidade do impacto e
subsidiar a tomada de decisão;
z Oligopólio: situação em que um mercado rele- II - ato normativo de baixo impacto - aquele que:
vante é dominado por um pequeno número de a) não provoque aumento expressivo de custos
empresas, que detêm uma grande parcela da ofer- para os agentes econômicos ou para os usuários
ta, influenciando, portanto, nos preços, condições dos serviços prestados;
e quantidade do mercado, em detrimento dos con- b) não provoque aumento expressivo de despesa
524 sumidores e dos concorrentes. orçamentária ou financeira; e
c) não repercuta de forma substancial nas políticas IV - ato normativo que vise à atualização ou à revo-
públicas de saúde, de segurança, ambientais, eco- gação de normas consideradas obsoletas, sem alte-
nômicas ou sociais; ração de mérito;
III - avaliação de resultado regulatório - ARR V - ato normativo que vise a preservar liquidez, sol-
- verificação dos efeitos decorrentes da edição de vência ou higidez:
ato normativo, considerados o alcance dos objeti- a) dos mercados de seguro, de resseguro, de capita-
vos originalmente pretendidos e os demais impac- lização e de previdência complementar;
tos observados sobre o mercado e a sociedade, em b) dos mercados financeiros, de capitais e de câm-
decorrência de sua implementação; bio; ou
IV - custos regulatórios - estimativa dos custos, c) dos sistemas de pagamentos;
diretos e indiretos, identificados com o emprego da VI - ato normativo que vise a manter a convergên-
metodologia específica escolhida para o caso con- cia a padrões internacionais;
creto, que possam vir a ser incorridos pelos agentes VII - ato normativo que reduza exigências, obriga-
econômicos, pelos usuários dos serviços prestados ções, restrições, requerimentos ou especificações
e, se for o caso, por outros órgãos ou entidades com o objetivo de diminuir os custos regulatórios; e
públicos, para estar em conformidade com as novas VIII - ato normativo que revise normas desatuali-
exigências e obrigações a serem estabelecidas pelo zadas para adequá-las ao desenvolvimento tecno-
órgão ou pela entidade competente, além dos cus- lógico consolidado internacionalmente, nos termos
tos que devam ser incorridos pelo órgão ou pela do disposto no Decreto nº 10.229, de 5 de fevereiro
entidade competente para monitorar e fiscalizar o de 2020.
cumprimento dessas novas exigências e obrigações § 1º Nas hipóteses de dispensa de AIR, será elabo-
por parte dos agentes econômicos e dos usuários rada nota técnica ou documento equivalente que
dos serviços prestados; fundamente a proposta de edição ou de alteração
V - relatório de AIR - ato de encerramento da AIR, do ato normativo.
que conterá os elementos que subsidiaram a esco- § 2º Na hipótese de dispensa de AIR em razão de
lha da alternativa mais adequada ao enfrentamen- urgência, a nota técnica ou o documento equiva-
to do problema regulatório identificado e, se for o lente de que trata o § 1º deverá, obrigatoriamente,
caso, a minuta do ato normativo a ser editado; e identificar o problema regulatório que se pretende
VI - atualização do estoque regulatório - exame solucionar e os objetivos que se pretende alcançar,
periódico dos atos normativos de responsabilidade de modo a subsidiar a elaboração da ARR, observa-
do órgão ou da entidade competente, com vistas a do o disposto no art. 12.
averiguar a pertinência de sua manutenção ou a § 3º Ressalvadas informações com restrição de
necessidade de sua alteração ou revogação. acesso, nos termos do disposto na Lei nº 12.527,
de 18 de novembro de 2011, a nota técnica ou o
O art. 2º traz conceitos importantes que podem ser documento equivalente de que tratam o § 1º e o § 2º
cobrados em prova. Além disso, é importante conhe- serão disponibilizados no sítio eletrônico do órgão
cê-los para o melhor entendimento do presente decre- ou da entidade competente, conforme definido nas
normas próprias.
to e das leis que ele regulamenta.
[...]
Art. 12 Os atos normativos cuja AIR tenha sido
Art. 3º A edição, a alteração ou a revogação de atos
dispensada em razão de urgência serão objeto de
normativos de interesse geral de agentes econômicos
ARR no prazo de três anos, contado da data de sua
ou de usuários dos serviços prestados, por órgãos e
entrada em vigor.
entidades da administração pública federal direta,
autárquica e fundacional será precedida de AIR.

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


§ 1º No âmbito da administração tributária da O § 2º, art. 3º, estabelece os atos normativos que
União, o disposto neste Decreto aplica-se somente não irão necessitar de AIR prévio.
aos atos normativos que instituam ou modifiquem Já o art. 4º enumera as situações em que o AIR
obrigação acessória. poderá ser dispensado, deixando de ser obrigatório.
§ 2º O disposto no caput não se aplica aos atos Em caso de dispensa por urgência, deverá ser reali-
normativos: zada avaliação de resultado regulatório (ARR) dentro
I - de natureza administrativa, cujos efeitos sejam de três anos.
restritos ao âmbito interno do órgão ou da entidade;
II - de efeitos concretos, destinados a disciplinar Art. 5º A AIR será iniciada após a avaliação pelo
situação específica, cujos destinatários sejam órgão ou pela entidade competente quanto à obriga-
individualizados; toriedade ou à conveniência e à oportunidade para
III - que disponham sobre execução orçamentária a resolução do problema regulatório identificado.
e financeira; Art. 6º A AIR será concluída por meio de relatório
IV - que disponham estritamente sobre política que contenha:
cambial e monetária; I - sumário executivo objetivo e conciso, que deverá
V - que disponham sobre segurança nacional; e empregar linguagem simples e acessível ao público
VI - que visem a consolidar outras normas sobre em geral;
matérias específicas, sem alteração de mérito. II - identificação do problema regulatório que se
Art. 4º A AIR poderá ser dispensada, desde que pretende solucionar, com a apresentação de suas
haja decisão fundamentada do órgão ou da entida- causas e sua extensão;
de competente, nas hipóteses de: III - identificação dos agentes econômicos, dos
I - urgência; usuários dos serviços prestados e dos demais afeta-
II - ato normativo destinado a disciplinar direitos dos pelo problema regulatório identificado;
ou obrigações definidos em norma hierarquicamen- IV - identificação da fundamentação legal que
te superior que não permita, técnica ou juridica- ampara a ação do órgão ou da entidade quanto ao
mente, diferentes alternativas regulatórias; problema regulatório identificado;
III - ato normativo considerado de baixo impacto; V - definição dos objetivos a serem alcançados; 525
VI - descrição das alternativas possíveis ao enfrenta- § 2º O órgão ou a entidade competente poderá
mento do problema regulatório identificado, conside- escolher outra metodologia além daquelas mencio-
radas as opções de não ação, de soluções normativas nadas no caput, desde que justifique tratar-se da
e de, sempre que possível, soluções não normativas; metodologia mais adequada para a resolução do
VII - exposição dos possíveis impactos das alterna- caso concreto.
tivas identificadas, inclusive quanto aos seus custos
regulatórios; O art. 7º trata das metodologias aplicadas na ela-
VII-A - os impactos sobre as microempresas e as boração do AIR, a fim de verificar a razoabilidade do
empresas de pequeno porte; impacto econômico.
VIII - considerações referentes às informações e às
manifestações recebidas para a AIR em eventuais
Art. 9º Na hipótese de o órgão ou a entidade com-
processos de participação social ou de outros pro-
petente optar, após a conclusão da AIR, pela edi-
cessos de recebimento de subsídios de interessados
ção, alteração ou revogação de ato normativo para
na matéria em análise;
enfrentamento do problema regulatório identifica-
IX - mapeamento da experiência internacional
do, o texto preliminar da proposta de ato norma-
quanto às medidas adotadas para a resolução do
tivo poderá ser objeto de consulta pública ou de
problema regulatório identificado;
consulta aos segmentos sociais diretamente afeta-
X - identificação e definição dos efeitos e riscos
dos pela norma.
decorrentes da edição, da alteração ou da revoga-
Parágrafo único. A realização de consulta pública
ção do ato normativo;
XI - comparação das alternativas consideradas será obrigatória na hipótese do art. 9º da Lei nº
para a resolução do problema regulatório identifi- 13.848, de 2019.
cado, acompanhada de análise fundamentada que Art. 10 O órgão ou a entidade competente poderá
contenha a metodologia específica escolhida para utilizar os meios e os canais que considerar ade-
o caso concreto e a alternativa ou a combinação de quados para realizar os procedimentos de partici-
alternativas sugerida, considerada mais adequada pação social e de consulta pública de que tratam
à resolução do problema regulatório e ao alcance os art. 8º e 9º.
dos objetivos pretendidos; e Parágrafo único. Os procedimentos de que trata o
XII - descrição da estratégia para implementação caput garantirão prazo para manifestação pública
da alternativa sugerida, acompanhada das formas proporcional à complexidade do tema.
de monitoramento e de avaliação a serem adotadas Art. 11 A disponibilização do texto preliminar
e, quando couber, avaliação quanto à necessidade da proposta de ato normativo objeto de consulta
de alteração ou de revogação de normas vigentes. pública ou de consulta aos segmentos sociais dire-
§ 1º O conteúdo do relatório de AIR deverá ser deta- tamente afetados não obriga a sua publicação ou
lhado e complementado com elementos adicionais condiciona o órgão ou a entidade a adotar os posi-
específicos do caso concreto, de acordo com o seu cionamentos predominantes.
grau de complexidade, a abrangência e a repercus-
são da matéria em análise. A conclusão do AIR poderá ser objeto de consulta
§ 2º Em observância ao disposto no inciso VII-A pública ou de consulta de segmentos sociais ligados ao
do caput, o relatório de AIR incluirá a análise dos ato normativo que se pretende criar ou alterar.
impactos sobre as microempresas e as empresas de Para tanto, poderão ser utilizados os canais que con-
pequeno porte e preverá as medidas que poderão siderar adequados para promover a participação social.
ser adotadas para minimizar esses impactos.
[...] Art. 13 Os órgãos e as entidades implementarão
Art. 8º O relatório de AIR poderá ser objeto de estratégias para integrar a ARR à atividade de ela-
participação social específica realizada antes da boração normativa com vistas a, de forma isolada
decisão sobre a melhor alternativa para enfrentar ou em conjunto, proceder à verificação dos efeitos
o problema regulatório identificado e antes da ela- obtidos pelos atos normativos de interesse geral de
boração de eventual minuta de ato normativo a ser agentes econômicos ou de usuários dos serviços
editado. prestados.
§ 1º A ARR poderá ter caráter temático e ser reali-
O AIR será iniciado após a avaliação de sua obriga- zada apenas quanto a partes específicas de um ou
toriedade, além da conveniência e oportunidade em mais atos normativos.
regular o problema identificado. § 2º Os órgãos e as entidades da administração
Já a conclusão do AIR ocorrerá mediante relató- pública federal direta, autárquica e fundacional,
rio que conterá os requisitos previstos nos incisos do com competência para edição de atos normativos
caput, art. 6º; o relatório poderá ser objeto de partici- sujeitos à elaboração de AIR nos termos de que tra-
pação social, conforme previsto no art. 8º. ta este Decreto, instituirão agenda de ARR e nela
incluirão, no mínimo, um ato normativo de interes-
Art. 7º Na elaboração da AIR, será adotada uma se geral de agentes econômicos ou de usuários dos
das seguintes metodologias específicas para aferi- serviços prestados de seu estoque regulatório.
ção da razoabilidade do impacto econômico, de que § 3º A escolha dos atos normativos que integrarão a
trata o art. 5º da Lei nº 13.874, de 2019: agenda de ARR a que se refere o § 2º observará, pre-
I - análise multicritério; ferencialmente, um ou mais dos seguintes critérios:
II - análise de custo-benefício; I - ampla repercussão na economia ou no País;
III - análise de custo-efetividade; II - existência de problemas decorrentes da aplica-
IV - análise de custo; ção do referido ato normativo;
V - análise de risco; ou III - impacto significativo em organizações ou gru-
VI - análise risco-risco. pos específicos;
§ 1º A escolha da metodologia específica de que IV - tratamento de matéria relevante para a agenda
trata o caput deverá ser justificada e apresentar o estratégica do órgão; ou
526 comparativo entre as alternativas sugeridas. V - vigência há, no mínimo, cinco anos.
§ 4º Os órgãos e as entidades divulgarão, no primei- A autoridade competente para a elaboração do AIR
ro ano de cada mandato presidencial, em seu sítio deverá demonstrar sua adequação formal e os objeti-
eletrônico, a agenda de ARR, que deverá ser con- vos a serem atingidos, a fim de verificar se as medidas
cluída até o último ano daquele mandato e conter alternativas sugeridas são as mais adequadas no caso
a relação de atos normativos submetidos à ARR, a específico.
justificativa para sua escolha e o seu cronograma
para elaboração da ARR. Art. 18 Os órgãos e as entidades manterão os seus
§ 5º Concluído o procedimento de que trata este relatórios de AIR disponíveis para consulta em seu
artigo, as ARRs elaboradas serão divulgadas no sítio eletrônico e garantirão acesso fácil a sua locali-
sítio eletrônico do órgão ou da entidade, ressalva- zação e identificação de seu conteúdo ao público em
das as informações com restrição de acesso nos ter- geral, ressalvados aqueles com restrição de acesso
mos do disposto na Lei nº 12.527, de 2011. nos termos do disposto na Lei nº 12.527, de 2011.
Art. 19 O órgão ou a entidade disponibilizará em
O art. 13 estabelece normas acerca da avaliação sítio eletrônico a análise das informações e as
de resultado regulatório (ARR), que poderá ter cará- manifestações recebidas no processo de consulta
ter temático e deverá atender a um ou mais critérios pública após a decisão final sobre a matéria.
estabelecidos no § 3º. Parágrafo único. O órgão ou entidade não está obri-
Após a sua conclusão, será publicado no sítio ele- gado a comentar ou considerar individualmente as
trônico do órgão ou entidade, exceto as informações informações e manifestações recebidas e poderá
consideradas sigilosas, de acordo com a Lei nº 12.527, agrupá-las por conexão ou eliminar as repetitivas
de 2011 (Lei de Acesso à Informação). e as de conteúdo não conexo ou irrelevante para a
matéria em análise.
Art. 14 Na hipótese de o órgão ou a entidade com-
petente optar pela edição ou pela alteração de ato O AIR estará disponível para consulta no sítio ele-
normativo como a alternativa mais adequada dis- trônico do órgão ou entidade, que também deverá dis-
ponível ao enfrentamento do problema regulatório ponibilizar as manifestações recebidas no processo de
identificado, será registrado no relatório de AIR consulta pública.
ou, na hipótese de que trata o § 1º do art. 4º, na
nota técnica ou no documento equivalente, o prazo Art. 20 A competência de que trata o § 7º do art.
máximo para a sua verificação quanto à necessida- 9º da Lei nº 13.848, de 2019, será exercida pela
de de atualização do estoque regulatório. Secretaria de Advocacia da Concorrência e Com-
Art. 15 A autoridade competente do órgão ou da petitividade da Secretaria Especial de Produtivi-
entidade responsável pela elaboração do relatório dade, Emprego e Competitividade do Ministério da
de AIR deverá se manifestar quanto à sua adequa- Economia.
ção formal e aos objetivos pretendidos, de modo a Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica
demonstrar se a adoção das alternativas sugeridas, à competência da Secretaria de Avaliação, Plane-
considerados os seus impactos estimados, é a mais jamento, Energia e Loteria da Secretaria Especial
adequada ao enfrentamento do problema regulató- de Fazenda do Ministério da Economia quando se
rio identificado. tratar do setor de energia.
§ 1º O relatório de AIR tem o objetivo de subsidiar a
tomada de decisão pela autoridade competente do O preceito legal citado diz respeito à consulta
órgão ou da entidade que o elabore. pública, ocorrida como procedimento anterior à cria-
§ 2º O relatório de AIR não vincula a tomada de ção ou alteração de ato normativo de caráter geral.

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


decisão de que trata o § 1º e é facultado à autori-
dade competente do órgão ou da entidade decidir:
Art. 21 A inobservância ao disposto neste Decreto
I - pela adoção da alternativa ou da combinação de
não constitui escusa válida para o descumprimento
alternativas sugerida no relatório da AIR;
da norma editada e nem acarreta a invalidade da
II - pela necessidade de complementação da AIR; ou
norma editada.
III - pela adoção de alternativa contrária àquela
sugerida no relatório, inclusive quanto às opções
Mesmo que a norma seja editada sem observar o
de não ação ou de soluções não normativas.
§ 3º As decisões contrárias às alternativas sugeridas disposto no presente decreto, ainda assim será válida
no relatório de AIR deverão ser fundamentadas pela e deverá ser obrigatoriamente cumprida.
autoridade competente do órgão ou da entidade.
§ 4º Concluído o procedimento de que trata este Art. 22 A obrigatoriedade de elaboração de AIR
artigo ou, se for o caso, publicado o ato normativo não se aplica às propostas de ato normativo que,
de caráter geral, o relatório de AIR será publicado na data de produção de efeitos deste Decreto, já
no sítio eletrônico do órgão ou da entidade compe- tenham sido submetidas à consulta pública ou a
tente, ressalvadas as informações com restrição de outro mecanismo de participação social.
acesso nos termos da Lei nº 12.527, de 2011.
Art. 16 Para fins do disposto no § 2º do art. 6º da Outra situação de dispensa da elaboração do AIR,
Lei nº 13.848, de 2019, entende-se como operaciona- que deverá se somar às outras previstas no art. 4º.
lização de AIR a definição das unidades organiza-
cionais envolvidas em sua elaboração e do âmbito Art. 23 Os órgãos e as entidades divulgarão em seu
de suas competências. sítio eletrônico, até 14 de outubro de 2022, agen-
Art. 17 Os órgãos e as entidades implementarão da de ARR a ser concluída até 31 de dezembro de
estratégias específicas e eficientes de coleta e de tra- 2022, acompanhada da relação de atos normativos
tamento de dados, de forma a possibilitar a elabo- a serem submetidos à ARR, da justificativa para a
ração de análise quantitativa e, quando for o caso, sua escolha e do cronograma para a elaboração
de análise de custo-benefício. das avaliações. 527
Art. 24 Este Decreto entra em vigor na data de sua § 2º A autonomia administrativa da agência regula-
publicação e produz efeitos em: dora é caracterizada pelas seguintes competências:
I - 15 de abril de 2021, para: I - solicitar diretamente ao Ministério da Economia:
a) o Ministério da Economia; a) autorização para a realização de concursos
b) as agências reguladoras de que trata a Lei nº públicos;
13.848, de 2019; e b) provimento dos cargos autorizados em lei para
c) o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e seu quadro de pessoal, observada a disponibilidade
Tecnologia - Inmetro; e orçamentária;
II - 14 de outubro de 2021, para os demais órgãos e c) alterações no respectivo quadro de pessoal, fun-
entidades da administração pública federal direta, damentadas em estudos de dimensionamento, bem
autárquica e fundacional. como alterações nos planos de carreira de seus
servidores;
Os arts. 23 e 24 tratam de prazos a serem cumpridos II - conceder diárias e passagens em deslocamentos
a partir da publicação do presente decreto, ocorrida nacionais e internacionais e autorizar afastamen-
em 30 de junho de 2020. Esses prazos dizem respeito tos do País a servidores da agência;
à agenda de ARR, concluída em 2022, bem como para III - celebrar contratos administrativos e prorrogar
produzir efeitos nos órgãos enumerados no art. 24. contratos em vigor relativos a atividades de cus-
teio, independentemente do valor.
LEI Nº 13.848, DE 25 DE JUNHO DE 2019 § 3º As agências reguladoras devem adotar práticas
de gestão de riscos e de controle interno e elaborar
Essa lei dispõe sobre a gestão, a organização, o e divulgar programa de integridade, com o objetivo
de promover a adoção de medidas e ações institu-
processo decisório e o controle social das agências
cionais destinadas à prevenção, à detecção, à puni-
reguladoras.
ção e à remediação de fraudes e atos de corrupção.
Art. 2º Consideram-se agências reguladoras, para
os fins desta Lei e para os fins da Lei nº 9.986, de 18 A natureza especial das agências reguladoras está
de julho de 2000: caracterizada pelas situações descritas no caput, art.
I - a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel); 3º. Dessa forma, se determinada autarquia não tiver
II - a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e todas essas características, então ela não é considera-
Biocombustíveis (ANP); da como uma agência reguladora.
III - a Agência Nacional de Telecomunicações
(Anatel); Do Processo Decisório das Agências Reguladoras
IV - a Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa); Art. 4º A agência reguladora deverá observar, em
V - a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS); suas atividades, a devida adequação entre meios e
VI - a Agência Nacional de Águas (ANA); fins, vedada a imposição de obrigações, restrições e
VII - a Agência Nacional de Transportes Aquaviá- sanções em medida superior àquela necessária ao
rios (Antaq); atendimento do interesse público.
VIII - a Agência Nacional de Transportes Terrestres
(ANTT);
Esse artigo prevê a aplicação do princípio da
IX - a Agência Nacional do Cinema (Ancine);
razoabilidade nas atividades da agência reguladora,
X - a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac);
XI - a Agência Nacional de Mineração (ANM). definindo exatamente o seu conceito.
Parágrafo único. Ressalvado o que dispuser a legis-
lação específica, aplica-se o disposto nesta Lei às Art. 5º A agência reguladora deverá indicar os
autarquias especiais caracterizadas, nos termos pressupostos de fato e de direito que determinarem
desta Lei, como agências reguladoras e criadas a suas decisões, inclusive a respeito da edição ou não
partir de sua vigência. de atos normativos.

O art. 2º enumera as agências reguladoras, para Trata da motivação dos atos administrativos prati-
os fins da Lei nº 13.848, de 2019. Além disso, também cados pela agência reguladora, mediante indicação dos
ressalva as autarquias especiais caracterizadas como pressupostos de fato e de direito quando praticado o ato.
agências reguladoras, nos termos desta lei, conforme
dispõe o caput, art. 3º. Art. 6º A adoção e as propostas de alteração de
atos normativos de interesse geral dos agentes eco-
Art. 3º A natureza especial conferida à agência nômicos, consumidores ou usuários dos serviços
reguladora é caracterizada pela ausência de tutela prestados serão, nos termos de regulamento, prece-
ou de subordinação hierárquica, pela autonomia didas da realização de Análise de Impacto Regula-
funcional, decisória, administrativa e financeira e tório (AIR), que conterá informações e dados sobre
pela investidura a termo de seus dirigentes e esta- os possíveis efeitos do ato normativo.
bilidade durante os mandatos, bem como pelas § 1º Regulamento disporá sobre o conteúdo e a
demais disposições constantes desta Lei ou de leis metodologia da AIR, sobre os quesitos mínimos a
específicas voltadas à sua implementação. serem objeto de exame, bem como sobre os casos
§ 1º Cada agência reguladora, bem como eventuais em que será obrigatória sua realização e aqueles
fundos a ela vinculados, deverá corresponder a um em que poderá ser dispensada.
órgão setorial dos Sistemas de Planejamento e de § 2º O regimento interno de cada agência disporá
Orçamento Federal, de Administração Financeira sobre a operacionalização da AIR em seu âmbito.
Federal, de Pessoal Civil da Administração Federal, § 3º O conselho diretor ou a diretoria colegiada
de Organização e Inovação Institucional, de Admi- manifestar-se-á, em relação ao relatório de AIR,
nistração dos Recursos de Tecnologia da Informa- sobre a adequação da proposta de ato normativo
528 ção e de Serviços Gerais. aos objetivos pretendidos, indicando se os impactos
estimados recomendam sua adoção, e, quando for o Art. 9º Serão objeto de consulta pública, previa-
caso, quais os complementos necessários. mente à tomada de decisão pelo conselho diretor ou
§ 4º A manifestação de que trata o § 3º integrará, pela diretoria colegiada, as minutas e as propostas
juntamente com o relatório de AIR, a documentação de alteração de atos normativos de interesse geral
a ser disponibilizada aos interessados para a rea- dos agentes econômicos, consumidores ou usuários
lização de consulta ou de audiência pública, caso dos serviços prestados.
o conselho diretor ou a diretoria colegiada decida § 1º A consulta pública é o instrumento de apoio
pela continuidade do procedimento administrativo. à tomada de decisão por meio do qual a socieda-
§ 5º Nos casos em que não for realizada a AIR, deve- de é consultada previamente, por meio do envio
rá ser disponibilizada, no mínimo, nota técnica ou de críticas, sugestões e contribuições por quais-
documento equivalente que tenha fundamentado a quer interessados, sobre proposta de norma regu-
proposta de decisão. latória aplicável ao setor de atuação da agência
reguladora.
Os atos normativos praticados pelas agências regu- § 2º Ressalvada a exigência de prazo diferente em
ladoras deverão ser precedidos da respectiva Análise legislação específica, acordo ou tratado internacio-
de Impacto Regulatório (AIR), contendo os possíveis nal, o período de consulta pública terá início após a
efeitos da prática do ato. publicação do respectivo despacho ou aviso de aber-
A referida AIR ocorrerá tanto na confecção de um tura no Diário Oficial da União e no sítio da agência
novo ato normativo quanto na alteração de ato nor- na internet, e terá duração mínima de 45 (quarenta
e cinco) dias, ressalvado caso excepcional de urgên-
mativo já existente.
cia e relevância, devidamente motivado.
Insta ressaltar que os atos normativos praticados
§ 3º A agência reguladora deverá disponibilizar,
pelas agências reguladoras possuem caráter geral, na sede e no respectivo sítio na internet, quando
sendo aplicados tanto pela administração pública do início da consulta pública, o relatório de AIR,
quanto pelos particulares. os estudos, os dados e o material técnico usados
como fundamento para as propostas submetidas
Art. 7º O processo de decisão da agência regula- a consulta pública, ressalvados aqueles de caráter
dora referente a regulação terá caráter colegiado. sigiloso.
§ 1º O conselho diretor ou a diretoria colegiada § 4º As críticas e as sugestões encaminhadas pelos
da agência reguladora deliberará por maioria interessados deverão ser disponibilizadas na sede
absoluta dos votos de seus membros, entre eles o da agência e no respectivo sítio na internet em até
diretor-presidente, o diretor-geral ou o presidente, 10 (dez) dias úteis após o término do prazo da con-
conforme definido no regimento interno. sulta pública.
§ 2º É facultado à agência reguladora adotar pro- § 5º O posicionamento da agência reguladora sobre
cesso de delegação interna de decisão, sendo assegu- as críticas ou as contribuições apresentadas no
rado ao conselho diretor ou à diretoria colegiada o processo de consulta pública deverá ser disponibi-
direito de reexame das decisões delegadas. lizado na sede da agência e no respectivo sítio na
Art. 8º As reuniões deliberativas do conselho dire- internet em até 30 (trinta) dias úteis após a reunião
tor ou da diretoria colegiada da agência regulado- do conselho diretor ou da diretoria colegiada para
ra serão públicas e gravadas em meio eletrônico. deliberação final sobre a matéria.
§ 1º A pauta de reunião deliberativa deverá ser § 6º A agência reguladora deverá estabelecer, em
divulgada no sítio da agência na internet com ante- regimento interno, os procedimentos a serem
cedência mínima de 3 (três) dias úteis. observados nas consultas públicas.
§ 2º Somente poderá ser deliberada matéria que conste § 7º Compete ao órgão responsável no Ministério
da pauta de reunião divulgada na forma do § 1º. da Economia opinar, quando considerar pertinente,

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


§ 3º A gravação de cada reunião deliberativa deve sobre os impactos regulatórios de minutas e pro-
ser disponibilizada aos interessados na sede da postas de alteração de atos normativos de interes-
agência e no respectivo sítio na internet em até 15 se geral dos agentes econômicos, consumidores ou
(quinze) dias úteis após o encerramento da reunião. usuários dos serviços prestados submetidas a con-
§ 4º A ata de cada reunião deliberativa deve ser dis- sulta pública pela agência reguladora.
ponibilizada aos interessados na sede da agência e Art. 10 A agência reguladora, por decisão colegiada,
no respectivo sítio na internet em até 5 (cinco) dias poderá convocar audiência pública para formação
úteis após sua aprovação. de juízo e tomada de decisão sobre matéria conside-
§ 5º Não se aplica o disposto nos §§ 1º e 2º deste rada relevante.
artigo às matérias urgentes e relevantes, a critério § 1º A audiência pública é o instrumento de apoio
do presidente, diretor-presidente ou diretor-geral, à tomada de decisão por meio do qual é facultada
cuja deliberação não possa submeter-se aos prazos a manifestação oral por quaisquer interessados em
neles estabelecidos. sessão pública previamente destinada a debater
§ 6º Não se aplica o disposto neste artigo às delibe- matéria relevante.
rações do conselho diretor ou da diretoria colegia- § 2º A abertura do período de audiência pública
da que envolvam: será precedida de despacho ou aviso de abertura
I - documentos classificados como sigilosos; publicado no Diário Oficial da União e em outros
II - matéria de natureza administrativa. meios de comunicação com antecedência mínima
§ 7º A agência reguladora deverá adequar suas reu- de 5 (cinco) dias úteis.
niões deliberativas às disposições deste artigo, no pra- § 3º A agência reguladora deverá disponibilizar,
zo de até 1 (um) ano a contar da entrada em vigor desta em local específico e no respectivo sítio na internet,
Lei, e definir o procedimento em regimento interno. com antecedência mínima de 5 (cinco) dias úteis do
início do período de audiência pública, os seguintes
Os atos regulatórios praticados pelas agências documentos:
reguladoras serão tomados mediante decisão deli- I - para as propostas de ato normativo submetidas
berativa (art. 7º), mediante reuniões públicas de seu a audiência pública, o relatório de AIR, os estu-
colegiado e gravadas em meio eletrônico (art. 8º). dos, os dados e o material técnico que as tenha 529
fundamentado, ressalvados aqueles de caráter § 2º O relatório anual de atividades de que trata o
sigiloso; caput deverá conter sumário executivo e será ela-
II - para outras propostas submetidas a audiência borado em consonância com o relatório de gestão
pública, a nota técnica ou o documento equivalente integrante da prestação de contas da agência regu-
que as tenha fundamentado. ladora, nos termos do art. 9º da Lei nº 8.443, de 16
§ 4º A agência reguladora deverá estabelecer, em de julho de 1992, devendo ser encaminhado pela
regimento interno, os procedimentos a serem agência reguladora, por escrito, no prazo de até 90
observados nas audiências públicas, aplicando-se o (noventa) dias após a abertura da sessão legislativa
§ 5º do art. 9º às contribuições recebidas. do Congresso Nacional, ao ministro de Estado da
Art. 11 A agência reguladora poderá estabelecer, pasta a que estiver vinculada, ao Senado Federal, à
em regimento interno, outros meios de participa- Câmara dos Deputados e ao Tribunal de Contas da
ção de interessados em suas decisões, diretamente União, e disponibilizado aos interessados na sede
ou por meio de organizações e associações legal- da agência e no respectivo sítio na internet.
mente reconhecidas, aplicando-se o § 5º do art. 9º § 3º (VETADO).
às contribuições recebidas. § 4º É do presidente, diretor-presidente ou diretor-
Art. 12 Os relatórios da audiência pública e de -geral da agência reguladora o dever de cumprir
outros meios de participação de interessados nas os prazos estabelecidos neste artigo, sob pena de
decisões a que se referem os arts. 10 e 11 deverão responsabilidade.
ser disponibilizados na sede da agência e no respec- Art. 16 A agência reguladora deverá implementar,
tivo sítio na internet em até 30 (trinta) dias úteis em cada exercício, plano de comunicação voltado
após o seu encerramento. à divulgação, com caráter informativo e educati-
Parágrafo único. Em casos de grande complexida- vo, de suas atividades e dos direitos dos usuários
de, o prazo de que trata o caput poderá ser pror- perante a agência reguladora e as empresas que
rogado por igual período, justificadamente, uma compõem o setor regulado.
única vez.
Art. 13 A agência reguladora deverá decidir as Controle externo é aquele realizado por outra ins-
matérias submetidas a sua apreciação nos prazos tituição pública localizada fora da estrutura orgânica
fixados na legislação e, em caso de omissão, nos daquela que está passando pelo controle. Assim, o
prazos estabelecidos em seu regimento interno. controle externo das agências reguladoras é realizado
pelo Legislativo, com auxílio do Tribunal de Contas.
Os atos normativos de caráter geral criados ou alte- Para tanto, deverá elaborar relatório anual nos ter-
rados pelas agências reguladoras serão precedidos de mos que constam no caput, art. 15, destacando, dentre
consulta pública, como apoio da tomada de decisão. outros pontos, o cumprimento da política no setor.
Além disso, se entenderem conveniente, as agên- Ademais, o art. 16 destaca meios para efetivação
cias reguladoras ainda poderão realizar audiências da transparência, possibilitando o controle social.
públicas sobre qualquer outra matéria que entende-
rem ser relevante, ou outros meios de participação Do Plano Estratégico, do Plano de Gestão Anual e da
dos interessados, seguindo o prazo estabelecido no Agenda Regulatória
art. 12.
Art. 17 A agência reguladora deverá elaborar, para
Do Controle Externo e do Relatório Anual de cada período quadrienal, plano estratégico que
Atividades conterá os objetivos, as metas e os resultados estra-
tégicos esperados das ações da agência reguladora
Art. 14 O controle externo das agências regulado- relativos a sua gestão e a suas competências regu-
ras será exercido pelo Congresso Nacional, com latórias, fiscalizatórias e normativas, bem como a
auxílio do Tribunal de Contas da União. indicação dos fatores externos alheios ao controle
Art. 15 A agência reguladora deverá elaborar rela- da agência que poderão afetar significativamente o
tório anual circunstanciado de suas atividades, no cumprimento do plano.
qual destacará o cumprimento da política do setor, § 1º O plano estratégico será compatível com o dis-
definida pelos Poderes Legislativo e Executivo, e o posto no Plano Plurianual (PPA) em vigência e será
cumprimento dos seguintes planos: revisto, periodicamente, com vistas a sua perma-
I - plano estratégico vigente, previsto no art. 17 des- nente adequação.
ta Lei; § 2º A agência reguladora, no prazo máximo de 10
II - plano de gestão anual, previsto no art. 18 desta (dez) dias úteis, contado da aprovação do plano
Lei. estratégico pelo conselho diretor ou pela diretoria
§ 1º São objetivos dos planos referidos no caput: colegiada, disponibilizá-lo-á no respectivo sítio na
I - aperfeiçoar o acompanhamento das ações da internet.
agência reguladora, inclusive de sua gestão, pro- Art. 18 O plano de gestão anual, alinhado às dire-
movendo maior transparência e controle social; trizes estabelecidas no plano estratégico, será o
II - aperfeiçoar as relações de cooperação da agên- instrumento anual do planejamento consolidado
cia reguladora com o Poder Público, em particular da agência reguladora e contemplará ações, resul-
no cumprimento das políticas públicas definidas tados e metas relacionados aos processos finalísti-
em lei; cos e de gestão.
III - promover o aumento da eficiência e da qualida- § 1º A agenda regulatória, prevista no art. 21 desta
de dos serviços da agência reguladora de forma a Lei, integrará o plano de gestão anual para o res-
melhorar o seu desempenho, bem como incremen- pectivo ano.
tar a satisfação dos interesses da sociedade, com § 2º O plano de gestão anual será aprovado pelo
foco nos resultados; conselho diretor ou pela diretoria colegiada da
IV - permitir o acompanhamento da atuação admi- agência reguladora com antecedência mínima
530 nistrativa e a avaliação da gestão da agência. de 10 (dez) dias úteis do início de seu período de
vigência e poderá ser revisto periodicamente, com § 2º O ouvidor terá acesso a todos os processos da
vistas a sua adequação. agência reguladora.
§ 3º A agência reguladora, no prazo máximo de 20 § 3º O ouvidor deverá manter em sigilo as informa-
(vinte) dias úteis, contado da aprovação do plano de ções que tenham caráter reservado ou confidencial.
gestão anual pelo conselho diretor ou pela diretoria § 4º Os relatórios do ouvidor deverão ser encami-
colegiada, dará ciência de seu conteúdo ao Senado nhados ao conselho diretor ou à diretoria colegiada
Federal, à Câmara dos Deputados e ao Tribunal de da agência reguladora, que poderá se manifestar
Contas da União, bem como disponibilizá-lo-á na no prazo de 20 (vinte) dias úteis.
sede da agência e no respectivo sítio na internet. § 5º Os relatórios do ouvidor não terão caráter
Art. 19 O plano de gestão anual deverá:
impositivo, cabendo ao conselho diretor ou à dire-
I - especificar, no mínimo, as metas de desempe-
toria colegiada deliberar, em última instância, a
nho administrativo e operacional e as metas de
respeito dos temas relacionados ao setor de atua-
fiscalização a serem atingidas durante sua vigên-
ção da agência reguladora.
cia, as quais deverão ser compatíveis com o plano
estratégico; § 6º Transcorrido o prazo para manifestação do
II - prever estimativa de recursos orçamentários e conselho diretor ou da diretoria colegiada, o ouvi-
cronograma de desembolso dos recursos financei- dor deverá encaminhar o relatório e, se houver, a
ros necessários ao alcance das metas definidas. respectiva manifestação ao titular do ministério
Parágrafo único. As metas de desempenho adminis- a que a agência estiver vinculada, à Câmara dos
trativo e operacional referidas no inciso I do caput Deputados, ao Senado Federal e ao Tribunal de
incluirão, obrigatoriamente, as ações relacionadas a: Contas da União, bem como divulgá-los no sítio da
I - promoção da qualidade dos serviços prestados agência na internet.
pela agência; Art. 23 O ouvidor será escolhido pelo Presidente da
II - promoção do fomento à pesquisa no setor regu- República e por ele nomeado, após prévia aprova-
lado pela agência, quando couber; ção do Senado Federal, nos termos da alínea “f” do
III - promoção da cooperação com os órgãos de inciso III do art. 52 da Constituição Federal, deven-
defesa da concorrência e com os órgãos de defesa do não se enquadrar nas hipóteses de inelegibilida-
do consumidor e de defesa do meio ambiente, quan- de previstas no inciso I do caput do art. 1º da Lei
do couber. Complementar nº 64, de 18 de maio de 1990, e ter
Art. 20 O regimento interno de cada agência regu- notório conhecimento em administração pública
ladora disporá sobre as condições para a revisão e ou em regulação de setores econômicos, ou no cam-
sobre a sistemática de acompanhamento e avalia-
po específico de atuação da agência reguladora.
ção do plano de gestão anual.
§ 1º O ouvidor terá mandato de 3 (três) anos, veda-
Art. 21 A agência reguladora implementará, no res-
da a recondução, no curso do qual somente perderá
pectivo âmbito de atuação, a agenda regulatória,
o cargo em caso de renúncia, condenação judicial
instrumento de planejamento da atividade norma-
tiva que conterá o conjunto dos temas prioritários transitada em julgado ou condenação em processo
a serem regulamentados pela agência durante sua administrativo disciplinar.
vigência. § 2º É vedado ao ouvidor ter participação, direta ou
§ 1º A agenda regulatória deverá ser alinhada com indireta, em empresa sob regulação da respectiva
os objetivos do plano estratégico e integrará o pla- agência reguladora.
no de gestão anual. § 3º O processo administrativo contra o ouvidor
§ 2º A agenda regulatória será aprovada pelo con- somente poderá ser instaurado pelo titular do
selho diretor ou pela diretoria colegiada e será ministério ao qual a agência está vinculada, por
disponibilizada na sede da agência e no respectivo iniciativa de seu ministro ou do Ministro de Estado

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


sítio na internet. da Controladoria-Geral da União, em decorrência
de representação promovida pelo conselho diretor
A cada quatro anos, a agência reguladora deverá ou pela diretoria colegiada da respectiva agência.
elaborar um plano estratégico, definindo os objetivos, § 4º Ocorrendo vacância no cargo de ouvidor no
as metas e os resultados referentes à sua gestão. curso do mandato, este será completado por suces-
Além disso, deverá elaborar plano anual, que pre- sor investido na forma prevista no caput, que exer-
cisa estar coordenado com o referido plano estraté- cerá o cargo pelo prazo remanescente, admitida a
gico quadrienal, contemplando as preferências de recondução se tal prazo for igual ou inferior a 2
atuação para aquele determinado ano. (dois) anos.
Nesse plano anual de gestão deverão constar os Art. 24 O ouvidor contará com estrutura admi-
requisitos estabelecidos no art. 19. nistrativa compatível com suas atribuições e com
espaço em canal de comunicação e divulgação ins-
Da Ouvidoria titucional da agência.

Art. 22 Haverá, em cada agência reguladora, 1 Em cada agência reguladora existirá um ouvidor,
(um) ouvidor, que atuará sem subordinação hierár- que atuará sem subordinação hierárquica, com man-
quica e exercerá suas atribuições sem acumulação dato de três anos, cujas competências estão previstas
com outras funções. no § 1º, art. 22.
§ 1º São atribuições do ouvidor: A função da ouvidoria é receber as denúncias de
I - zelar pela qualidade e pela tempestividade dos
irregularidades encaminhadas pelos próprios particu-
serviços prestados pela agência;
II - acompanhar o processo interno de apuração de
lares, zelando para que sejam devidamente apuradas.
denúncias e reclamações dos interessados contra a Para isso, a ouvidoria contará com estrutura admi-
atuação da agência; nistrativa compatível com suas relevantes atribuições.
III - elaborar relatório anual de ouvidoria sobre as
atividades da agência. 531
Da Interação entre as Agências Reguladoras e os procedimento idêntico ao de aprovação de ato nor-
Órgãos de Defesa da Concorrência mativo isolado, observando-se em cada agência as
normas aplicáveis ao exercício da competência nor-
Art. 25 Com vistas à promoção da concorrência mativa previstas no respectivo regimento interno.
e à eficácia na implementação da legislação de § 2º Os atos normativos conjuntos deverão conter
defesa da concorrência nos mercados regulados, regras sobre a fiscalização de sua execução e pre-
as agências reguladoras e os órgãos de defesa da ver mecanismos de solução de controvérsias decor-
concorrência devem atuar em estreita cooperação, rentes de sua aplicação, podendo admitir solução
privilegiando a troca de experiências. mediante mediação, nos termos da Lei nº 13.140, de
Art. 26 No exercício de suas atribuições, incumbe 26 de junho de 2015 (Lei da Mediação), ou mediante
às agências reguladoras monitorar e acompanhar arbitragem por comissão integrada, entre outros,
as práticas de mercado dos agentes dos setores por representantes de todas as agências regulado-
regulados, de forma a auxiliar os órgãos de defesa ras envolvidas.
da concorrência na observância do cumprimento Art. 30 As agências reguladoras poderão constituir
da legislação de defesa da concorrência, nos termos comitês para o intercâmbio de experiências e infor-
da Lei nº 12.529, de 30 de novembro de 2011 (Lei de mações entre si ou com os órgãos integrantes do Sis-
Defesa da Concorrência). tema Brasileiro de Defesa da Concorrência (SBDC),
§ 1º Os órgãos de defesa da concorrência são res- visando a estabelecer orientações e procedimentos
ponsáveis pela aplicação da legislação de defesa da comuns para o exercício da regulação nas respecti-
concorrência nos setores regulados, incumbindo- vas áreas e setores e a permitir a consulta recíproca
-lhes a análise de atos de concentração, bem como quando da edição de normas que impliquem mudan-
a instauração e a instrução de processos adminis- ças nas condições dos setores regulados.
trativos para apuração de infrações contra a ordem
econômica. Duas ou mais agências reguladoras poderão editar
§ 2º Os órgãos de defesa da concorrência poderão ato normativo conjunto, desde que se trate de ativida-
solicitar às agências reguladoras pareceres téc- de sujeita a mais de uma regulação ao mesmo tempo.
nicos relacionados a seus setores de atuação, os É possível, ainda, criarem comitês para a troca
quais serão utilizados como subsídio à análise de de experiências e informações entre si ou com os
atos de concentração e à instrução de processos
órgãos integrantes do Sistema Brasileiro de Defesa da
administrativos.
Concorrência.
Art. 27 Quando a agência reguladora, no exercício
de suas atribuições, tomar conhecimento de fato
que possa configurar infração à ordem econômica, Da Articulação das Agências Reguladoras com
deverá comunicá-lo imediatamente aos órgãos de os Órgãos de Defesa do Consumidor e do Meio
defesa da concorrência para que esses adotem as Ambiente
providências cabíveis.
Art. 28 Sem prejuízo de suas competências legais, Art. 31 No exercício de suas atribuições, e em
o Conselho Administrativo de Defesa Econômica articulação com o Sistema Nacional de Defesa do
(Cade) notificará a agência reguladora do teor da Consumidor (SNDC) e com o órgão de defesa do
decisão sobre condutas potencialmente anticompe- consumidor do Ministério da Justiça e Segurança
titivas cometidas no exercício das atividades regu- Pública, incumbe às agências reguladoras zelar
ladas, bem como das decisões relativas a atos de pelo cumprimento da legislação de defesa do consu-
concentração julgados por aquele órgão, no prazo midor, monitorando e acompanhando as práticas
máximo de 48 (quarenta e oito) horas após a publi- de mercado dos agentes do setor regulado.
cação do respectivo acórdão, para que sejam ado- § 1º As agências reguladoras poderão articular-se
tadas as providências legais. com os órgãos e as entidades integrantes do SNDC,
visando à eficácia da proteção e defesa do consumi-
As agências reguladoras deverão atuar em coo- dor e do usuário de serviço público no âmbito das
peração entre elas, a fim de efetuarem a troca de respectivas esferas de atuação.
experiências. § 2º As agências reguladoras poderão firmar con-
Além disso, também deverão monitorar e acom- vênios e acordos de cooperação com os órgãos e as
panhar as práticas de mercado dos setores regulados, entidades integrantes do SNDC para colaboração
mútua, sendo vedada a delegação de competências
devendo comunicar aos órgãos de defesa da con-
que tenham sido a elas atribuídas por lei específica
corrência qualquer irregularidade de que tiverem
de proteção e defesa do consumidor no âmbito do
notícia.
setor regulado.
O Conselho Administrativo de Defesa Econômi- Art. 32 Para o cumprimento do disposto nesta Lei,
ca (CADE), por sua vez, também deverá comunicar à as agências reguladoras são autorizadas a cele-
agência reguladora suas decisões acerca de condutas brar, com força de título executivo extrajudicial,
anticompetitivas e relativas a atos de concentração termo de ajustamento de conduta com pessoas físi-
econômica. cas ou jurídicas sujeitas a sua competência regula-
tória, aplicando-se os requisitos do art. 4º-A da Lei
Da Articulação entre Agências Reguladoras nº 9.469, de 10 de julho de 1997.
§ 1º Enquanto perdurar a vigência do correspon-
Art. 29 No exercício de suas competências definidas dente termo de ajustamento de conduta, ficará sus-
em lei, duas ou mais agências reguladoras poderão pensa, em relação aos fatos que deram causa a sua
editar atos normativos conjuntos dispondo sobre celebração, a aplicação de sanções administrativas
matéria cuja disciplina envolva agentes econômi- de competência da agência reguladora à pessoa
cos sujeitos a mais de uma regulação setorial. física ou jurídica que o houver firmado.
§ 1º Os atos normativos conjuntos deverão ser apro- § 2º A agência reguladora deverá ser comunicada
vados pelo conselho diretor ou pela diretoria cole- quando da celebração do termo de ajustamento de
532 giada de cada agência reguladora envolvida, por conduta a que se refere o § 6º do art. 5º da Lei nº
7.347, de 24 de julho de 1985, caso o termo tenha § 7º Havendo delegação de competência, a agência
por objeto matéria de natureza regulatória de sua reguladora delegante permanecerá como instância
competência. superior e recursal das decisões tomadas no exercí-
Art. 33 As agências reguladoras poderão articu- cio da competência delegada.
lar-se com os órgãos de defesa do meio ambiente Art. 35 No caso da descentralização prevista no
mediante a celebração de convênios e acordos de caput do art. 34, parte da receita arrecadada pela
cooperação, visando ao intercâmbio de informa- agência reguladora federal poderá ser repassada à
ções, à padronização de exigências e procedimen- agência reguladora ou ao órgão de regulação esta-
tos, à celeridade na emissão de licenças ambientais dual, distrital ou municipal, para custeio de seus ser-
e à maior eficiência nos processos de fiscalização. viços, na forma do respectivo acordo de cooperação.
Parágrafo único. O repasse referido no caput des-
As agências reguladoras deverão cumprir as nor- te artigo deverá ser compatível com os custos da
mas de direito do consumidor e ambientais. Para isso, agência reguladora ou do órgão de regulação local
a presente lei prevê a articulação dessas agências com para realizar as atividades delegadas.
os órgãos responsáveis, definidos nos arts. 31 e 33.
É importante ressaltar o art. 32, o qual possibilita A articulação prevista para as agências regulado-
a agência reguladora a realizar termo de ajustamento ras também abrange as agências estaduais, distritais
de conduta com pessoas físicas ou jurídicas, a fim de e municipais dentro das suas respectivas áreas de
que as normas sejam obedecidas. Esse termo tem for- competência.
ça de título executivo extrajudicial, ou seja, caso não No entanto, é proibida a delegação da prática de
seja cumprido, caberá sua execução direta através do atos normativos de uma agência para outra.
Poder Judiciário.

Da Interação Operacional entre as Agências REGULAÇÃO EM SAÚDE NO BRASIL


Reguladoras Federais e as Agências Reguladoras
ou os Órgãos de Regulação Estaduais, Distritais e A regulação em saúde é um conjunto de ações que
Municipais visam garantir a qualidade, a eficiência, a equidade
e a integralidade da atenção à saúde, tanto no setor
Art. 34 As agências reguladoras de que trata esta público quanto no setor privado. A regulação envolve
Lei poderão promover a articulação de suas ativi- aspectos normativos, econômicos, políticos e sociais, e
dades com as de agências reguladoras ou órgãos
pode ser exercida por diferentes sujeitos, como o Esta-
de regulação dos Estados, do Distrito Federal e dos
do, os prestadores de serviços, as operadoras de pla-
Municípios, nas respectivas áreas de competência,
implementando, a seu critério e mediante acordo nos de saúde, as entidades profissionais, os usuários e
de cooperação, a descentralização de suas ativida- a sociedade civil.
des fiscalizatórias, sancionatórias e arbitrais, exce- No Brasil, a regulação em saúde tem como prin-
to quanto a atividades do Sistema Único de Saúde cipal referência o Sistema Único de Saúde (SUS), que
(SUS), que observarão o disposto em legislação é um sistema público, universal, descentralizado e
própria. participativo, baseado nos princípios da cidadania e
§ 1º É vedada a delegação de competências da justiça social. O SUS foi criado pela Constituição
normativas. Federal, de 1988, que estabeleceu a saúde como um
§ 2º A descentralização de que trata o caput será direito de todos e um dever do Estado, e foi regula-
instituída desde que a agência reguladora ou o mentado pelas Leis Orgânicas da Saúde de 1990, que
órgão de regulação da unidade federativa interes- definiram as competências e as responsabilidades dos

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


sada possua serviços técnicos e administrativos gestores nas três esferas de governo (federal, estadual
competentes devidamente organizados e apare- e municipal).
lhados para a execução das respectivas atividades,
A regulação no SUS pode ser compreendida em
conforme condições estabelecidas em regimento
três dimensões, conforme a Portaria GM/MS nº 1.559,
interno da agência reguladora federal.
§ 3º A execução, por agência reguladora ou órgão
de 1º de agosto de 2008, que instituiu a Política Nacio-
de regulação estadual, distrital ou municipal, das nal de Regulação do SUS.
atividades delegadas será permanentemente acom-
panhada e avaliada pela agência reguladora fede- REGULAÇÃO DE SISTEMAS DE SAÚDE
ral, nos termos do respectivo acordo.
§ 4º Na execução das atividades de fiscalização É o conjunto de ações que visam definir, monito-
objeto de delegação, a agência reguladora ou o rar, controlar, avaliar, auditar e fiscalizar os sistemas
órgão regulador estadual, distrital ou munici- de saúde municipais, estaduais e nacional, de acordo
pal que receber a delegação observará as normas com os princípios e as diretrizes do SUS. Essas ações
legais e regulamentares federais pertinentes. são realizadas pelos respectivos gestores públicos,
§ 5º É vedado à agência reguladora ou ao órgão que devem pactuar entre si as metas e os indicadores
regulador estadual, distrital ou municipal convenia- de desempenho dos sistemas de saúde, bem como os
do, no exercício de competência fiscalizatória dele- mecanismos de financiamento, alocação e gestão dos
gada, exigir de concessionária ou permissionária
recursos.
obrigação não prevista previamente em contrato.
§ 6º Além do disposto no § 2º deste artigo, a dele-
gação de competências fiscalizatórias, sancionató- REGULAÇÃO DA ATENÇÃO À SAÚDE
rias e arbitrais somente poderá ser efetivada em
favor de agência reguladora ou órgão de regulação É o conjunto de ações que visam garantir a adequa-
estadual, distrital ou municipal que gozar de auto- da prestação de serviços à saúde, tanto na rede públi-
nomia assegurada por regime jurídico compatível ca quanto na rede privada contratada ou conveniada
com o disposto nesta Lei. ao SUS. Essas ações são realizadas pelas Secretarias 533
Estaduais e Municipais de Saúde, que devem planejar, Sistema Federal de Viação e regulando a prestação
programar, organizar, coordenar, regular, controlar e de serviços de transporte;
avaliar a oferta e a demanda de ações e serviços de saú- III - criar a Agência Nacional de Transportes
de, de acordo com as necessidades da população e os Terrestres;
critérios de qualidade, resolutividade e humanização. IV - criar a Agência Nacional de Transportes
Aquaviários;
V - criar o Departamento Nacional de Infra-Estru-
REGULAÇÃO DO ACESSO À ASSISTÊNCIA
tura de Transportes.
É o conjunto de ações que visam organizar os fluxos
A Constituição Federal, ao tratar da Ordem Econô-
assistenciais no âmbito do SUS, garantindo o acesso
mica e Financeira, estabeleceu, no seu art. 178, que:
dos usuários aos serviços de saúde de forma univer-
sal, integral e equânime, independente de pactuação
Art. 178 A lei disporá sobre a ordenação dos trans-
prévia ou de disponibilidade de recursos financeiros.
portes aéreo, aquático e terrestre, devendo, quanto
Essas ações são realizadas pelos respectivos gestores
à ordenação do transporte internacional, observar
públicos, que devem implantar e gerenciar sistemas os acordos firmados pela União, atendido o princí-
de regulação, como as centrais de regulação, as ouvi- pio da reciprocidade.
dorias, as comissões de ética e as câmaras técnicas,
que devem atuar de forma integrada e articulada com A Lei nº 10.233, de 2001, aqui estudada, define, como
os demais níveis de gestão e de atenção à saúde. anteriormente dito, questões relacionadas à ordenação
Um exemplo prático de regulação do acesso à dos transportes aquaviário e terrestre, reorganizando
assistência é o Sistema Nacional de Transplantes o gerenciamento do Sistema Federal de Viação e regu-
(SNT), que é responsável por coordenar e fiscalizar as lando a prestação de serviços de transporte.
atividades de doação e transplante de órgãos, tecidos Além disso, a legislação ainda cria a Agência Nacio-
e células no país. O SNT é composto por uma rede de nal de Transportes Terrestres (ANTT) e a Agência
centrais de transplantes, que são unidades estaduais Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ), bem
que cadastram e classificam os potenciais doadores e como o Departamento Nacional de infraestrutura de
receptores, e que distribuem os órgãos disponíveis de Transportes (DNIT).
acordo com critérios técnicos e éticos, respeitando a
fila única nacional. O SNT também conta com a parti- DO SISTEMA NACIONAL DE VIAÇÃO (SNV)
cipação de comissões intra-hospitalares de doação de
órgãos e tecidos, que são responsáveis por identificar Art. 2º O Sistema Nacional de Viação – SNV é cons-
e notificar os potenciais doadores, e de organizações tituído pela infra-estrutura viária e pela estrutura
de procura de órgãos, que são responsáveis por viabi- operacional dos diferentes meios de transporte de
lizar a captação e o transporte dos órgãos doados. pessoas e bens, sob jurisdição da União, dos Esta-
A regulação em saúde no Brasil é um tema com- dos, do Distrito Federal e dos Municípios.
plexo e dinâmico, que envolve diversos atores, inte- Parágrafo único. O SNV será regido pelos princí-
resses, conflitos e desafios. A regulação é fundamental pios e diretrizes estabelecidos em consonância com
para garantir o direito à saúde e a efetividade do SUS, o disposto nos incisos XII, XX e XXI do art. 21 da
mas também requer constante aprimoramento e par- Constituição Federal.
ticipação social. Por isso, é importante que os estu- Art. 3º O Sistema Federal de Viação – SFV, sob juris-
dantes e os profissionais da área de saúde conheçam dição da União, abrange a malha arterial básica do
os conceitos, as normas, as políticas e as práticas de Sistema Nacional de Viação, formada por eixos e
regulação em saúde, e que sejam capazes de analisar terminais relevantes do ponto de vista da demanda
criticamente a realidade e de propor soluções para os de transporte, da integração nacional e das cone-
xões internacionais.
problemas existentes.
Parágrafo único. O SFV compreende os elementos
físicos da infra-estrutura viária existente e planeja-
da, definidos pela legislação vigente.

REGULAÇÃO NO SETOR AQUAVIÁRIO


NO BRASIL Importante!
Apesar de o SNV ser da jurisdição de todos os
A Lei nº 10.233, de 2001, dispõe sobre a reestru- entes federativos, ainda assim é de competên-
turação dos transportes aquaviário e terrestre, cria cia exclusiva da União traçar seus princípios e
o Conselho Nacional de Integração de Políticas de diretrizes, que deverão ser seguidos por todos.
Transporte, a Agência Nacional de Transportes Ter-
restres, a Agência Nacional de Transportes Aquaviá-
rios, o Departamento Nacional de Infraestrutura de O art. 4º estabelece os objetivos essenciais do SNV,
Transportes e dá outras providências. Vamos ao seu ou seja, o que se pretende alcançar uma vez que tal
estudo: sistema seja estabelecido. São estes:

DO OBJETO Art. 4º São objetivos essenciais do Sistema Nacio-


nal de Viação:
Art. 1º Constituem o objeto desta Lei: I - dotar o País de infraestrutura viária adequada;
I - Revogado; II- garantir a operação racional e segura dos trans-
II - dispor sobre a ordenação dos transportes aqua- portes de pessoas e bens;
viário e terrestre, nos termos do art. 178 da Consti- III- promover o desenvolvimento social e econômi-
534 tuição Federal, reorganizando o gerenciamento do co e a integração nacional.
Os §§ 1º e 2º, do art. 4º, estabelecem algumas defi- Diretrizes
nições. Vejamos:
Em seguida, as diretrizes gerais para o gerencia-
§ 1º Define-se como infra-estrutura viária adequa- mento desse mesmo sistema são tratadas no art. 12.
da a que torna mínimo o custo total do transporte, Observemos:
entendido como a soma dos custos de investimen-
tos, de manutenção e de operação dos sistemas. Art. 12 Constituem diretrizes gerais do gerencia-
§ 2º Entende-se como operação racional e segura a mento da infra-estrutura e da operação dos trans-
que se caracteriza pela gerência eficiente das vias, portes aquaviário e terrestre:
dos terminais, dos equipamentos e dos veículos, I - descentralizar as ações, sempre que possível,
objetivando tornar mínimos os custos operacionais promovendo sua transferência a outras entidades
e, conseqüentemente, os fretes e as tarifas, e garan- públicas, mediante convênios de delegação, ou a
tir a segurança e a confiabilidade do transporte. empresas públicas ou privadas, mediante outorgas
de autorização, concessão ou permissão, confor-
DOS PRINCÍPIOS E DIRETRIZES PARA OS me dispõe o inciso XII do art. 21 da Constituição
TRANSPORTES AQUAVIÁRIO E TERRESTRE Federal;
II - aproveitar as vantagens comparativas dos dife-
rentes meios de transporte, promovendo sua inte-
Princípios são os pilares fundamentais de qual-
gração física e a conjugação de suas operações,
quer sistema, ou seja, conceitos através dos quais um
para a movimentação intermodal mais econômica
sistema é criado e fundamentado, concentrando seus e segura de pessoas e bens;
valores elementares. Por sua vez, as diretrizes são III - dar prioridade aos programas de ação e de
os caminhos e as estratégias que serão tomadas para investimentos relacionados com os eixos estraté-
alcançar o objetivo. gicos de integração nacional, de abastecimento do
mercado interno e de exportação;
Princípios IV - promover a pesquisa e a adoção das melhores
tecnologias aplicáveis aos meios de transporte e à
A Lei nº 10.233, de 2001, estabelece, no seu art. 11, integração destes;
os princípios gerais para gerenciamento da infraes- V - promover a adoção de práticas adequadas de
trutura e a operação dos transportes aquaviário e ter- conservação e uso racional dos combustíveis e de
preservação do meio ambiente;
restre. Vejamos:
VI - estabelecer que os subsídios incidentes sobre
fretes e tarifas constituam ônus ao nível de governo
Art. 11 O gerenciamento da infra-estrutura e a ope- que os imponha ou conceda;
ração dos transportes aquaviário e terrestre serão VII - reprimir fatos e ações que configurem ou pos-
regidos pelos seguintes princípios gerais: sam configurar competição imperfeita ou infrações
I - preservar o interesse nacional e promover o da ordem econômica.
desenvolvimento econômico e social; VIII - promover o tratamento isonômico nos pro-
II - assegurar a unidade nacional e a integração cedimentos de alfandegamento e das exportações;
regional; IX - promover a adoção de ações que facilitem a
III - proteger os interesses dos usuários quanto à multimodalidade e a implantação do documento
qualidade e oferta de serviços de transporte e dos único no desembaraço das mercadorias;
consumidores finais quanto à incidência dos fretes X - promover a implantação de sistema eletrônico
nos preços dos produtos transportados; para entrega e recebimento de mercadorias, con-
IV - assegurar, sempre que possível, que os usuá-

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


templando a multimodalidade.
rios paguem pelos custos dos serviços prestados em
regime de eficiência; Outorgas
V - compatibilizar os transportes com a preserva-
ção do meio ambiente, reduzindo os níveis de polui- Outorga é o modo através do qual se transfere, a
ção sonora e de contaminação atmosférica, do solo
outra pessoa, a prestação do serviço, gerando sua des-
e dos recursos hídricos;
centralização — fato este que se encontra determina-
VI - promover a conservação de energia, por meio da
do no inciso I, do citado art. 12, acima transcrito.
redução do consumo de combustíveis automotivos;
Diante disso, a Lei nº 10.233, de 2001, estabelece
VII - reduzir os danos sociais e econômicos decor-
quais serviços serão prestados através de concessão,
rentes dos congestionamentos de tráfego;
VIII - assegurar aos usuários liberdade de escolha de permissão ou de autorização, ressalvando o que é
da forma de locomoção e dos meios de transporte estabelecido em normas específicas.
mais adequados às suas necessidades; Assim, a outorga será mediante concessão, quan-
IX - estabelecer prioridade para o deslocamento de do se tratar de exploração de infraestrutura de trans-
pedestres e o transporte coletivo de passageiros, porte público, precedida ou não de obra pública, e
em sua superposição com o transporte individual, de prestação de serviços de transporte associados à
particularmente nos centros urbanos; exploração da infraestrutura.
X - promover a integração física e operacional do Tratando-se de prestação regular de serviços de
Sistema Nacional de Viação com os sistemas viá- transporte terrestre, coletivo interestadual, semiur-
rios dos países limítrofes; bano, de passageiros desvinculados da exploração da
XI - ampliar a competitividade do País no mercado infraestrutura, a outorga será mediante permissão.
internacional; Por sua vez, esta será mediante autorização tra-
XII - estimular a pesquisa e o desenvolvimento de tando-se de prestação não regular de serviços de
tecnologias aplicáveis ao setor de transportes. transporte terrestre coletivo de passageiros (vedada a
venda de passagem), de prestação de serviço de trans-
porte aquaviário, de exploração de infraestrutura de 535
uso privativo e, por fim, de prestação regular de ser- j) transporte rodoviário coletivo regular interesta-
viços de transporte terrestre coletivo, interestadual e dual e internacional de passageiros, que terá regu-
internacional, de passageiros desvinculados da explo- lamentação específica expedida pela ANTT;
ração da infraestrutura. Vejamos: IV - depende de permissão:
a) transporte rodoviário coletivo regular interesta-
Art. 13 Ressalvado o disposto em legislação especí- dual semiurbano de passageiros;
fica, as outorgas a que se refere o inciso I do caput b) (Revogada)
do art. 12 serão realizadas sob a forma de:
I - concessão, quando se tratar de exploração de Transporte rodoviário coletivo
infra-estrutura de transporte público, precedi- PERMISSÃO regular interestadual semiurba-
da ou não de obra pública, e de prestação de ser- no de passageiros
viços de transporte associados à exploração da
infra-estrutura; Exploração das ferrovias, rodo-
II - Vetado; vias, vias navegáveis e dos por-
III - Vetado; CONCESSÃO tos organizados que compõem a
IV - permissão, quando se tratar de: infraestrutura do Sistema Nacio-
a) prestação regular de serviços de transpor- nal de Viação
te terrestre coletivo interestadual semiurbano
de passageiros desvinculados da exploração da � Transporte rodoviário de
infraestrutura; passageiros, sob regime de
b) Revogado. afretamento
V - autorização, quando se tratar de: � Construção e a exploração
a) prestação não regular de serviços de transporte das instalações portuárias
terrestre coletivo de passageiros, vedada a venda AUTORIZAÇÃO � Transporte aquaviário
de bilhete de passagem; � Transporte rodoviário coletivo
b) prestação de serviço de transporte aquaviário; regular interestadual e interna-
c) exploração de infraestrutura de uso privativo; e cional de passageiros, que terá
d) Revogado; regulamentação específica ex-
e) prestação regular de serviços de transporte pedida pela ANTT
terrestre coletivo interestadual e internacional
de passageiros desvinculados da exploração da
infraestrutura. Atenção! O § 1º, do art. 14, prevê que a concessão e
a permissão sejam precedidas de licitação, nada falan-
Atenção! A concessão e a permissão são estuda- do sobre a autorização. Vejamos:
das na Lei nº 8.987, de 1995, que estabelece que ambas
Art. 14 [...]
são contratos administrativos, precedidos de licitação,
§ 1º As outorgas de concessão ou permissão serão
com a finalidade de prestar serviço público. A auto-
sempre precedidas de licitação, conforme prescreve
rização tem natureza jurídica de ato administrativo o art. 175 da Constituição Federal.
unilateral e precário, sem licitação, através do qual a
administração pública confere, a outra pessoa, a pres- DAS AGÊNCIAS NACIONAIS DE REGULAÇÃO DOS
tação de determinada atividade, com interesse maior TRANSPORTES
da segunda. A Constituição Federal estabelece a possi-
bilidade de autorização. Dos Objetivos, da Instituição e das Esferas de
Além disso, a lei ainda confere, no art. 14, as Atuação
seguintes diretrizes:
z Dos Objetivos
Art. 14 Ressalvado o disposto em legislação espe-
cífica, o disposto no art. 13 aplica-se conforme as Art. 20 São objetivos das Agências Nacionais de
seguintes diretrizes: Regulação dos Transportes Terrestre e Aquaviário:
I - depende de concessão: I - implementar, nas respectivas esferas de atuação,
a) a exploração das ferrovias, das rodovias, das vias as políticas formuladas pelo Conselho Nacional de
navegáveis e dos portos organizados que compõem Integração de Políticas de Transporte, pelo Minis-
a infraestrutura do Sistema Nacional de Viação; tério dos Transportes e pela Secretaria de Portos
b) (Revogada) da Presidência da República, nas respectivas áreas
II - (VETADO) de competência, segundo os princípios e diretrizes
III - depende de autorização: estabelecidos nesta Lei;
a) (VETADO) II - regular ou supervisionar, em suas respectivas
b) o transporte rodoviário de passageiros, sob regi- esferas e atribuições, as atividades de prestação de
me de afretamento; serviços e de exploração da infraestrutura de trans-
c) a construção e a exploração das instalações portes, exercidas por terceiros, com vistas a:
portuárias de que trata o art. 8º da Lei na qual a) garantir a movimentação de pessoas e bens, em
foi convertida a Medida Provisória nº 595, de 6 de cumprimento a padrões de eficiência, segurança,
dezembro de 2012; conforto, regularidade, pontualidade e modicidade
d) (VETADO) nos fretes e tarifas;
e) o transporte aquaviário; b) harmonizar, preservado o interesse público, os
f) (Revogada); objetivos dos usuários, das empresas concessioná-
g) (revogada); rias, permissionárias, autorizadas e arrendatárias,
h) (revogada); e de entidades delegadas, arbitrando conflitos de
536 i) (Revogada); interesses e impedindo situações que configurem
competição imperfeita, práticas anticompetitivas Art. 22 […]
ou formação de estruturas cartelizadas que consti- § 1º A ANTT articular-se-á com as demais Agências,
tuam infração da ordem econômica. para resolução das interfaces do transporte terres-
tre com os outros meios de transporte, visando à
z Da Instituição movimentação intermodal mais econômica e segu-
ra de pessoas e bens.
Quanto à instituição, é importante ter em men- § 2º A ANTT harmonizará sua esfera de atuação
te que a ANTT e a ANTAQ são entidades integrantes com a de órgãos dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios encarregados do gerenciamento de
da Administração federal indireta, submetidas ao
seus sistemas viários e das operações de transporte
regime autárquico especial e vinculadas, respectiva-
intermunicipal e urbano.
mente, ao Ministério dos Transportes e à Secretaria
§ 3º A ANTT articular-se-á com entidades opera-
de Portos da Presidência da República. Vejamos: doras do transporte dutoviário, para resolução de
interfaces intermodais e organização de cadastro
Art. 21 Ficam instituídas a Agência Nacional de do sistema de dutovias do Brasil.
Transportes Terrestres - ANTT e a Agência Nacio-
nal de Transportes Aquaviários - ANTAQ, entida-
Constituem a esfera de atuação da ANTAQ, previs-
des integrantes da administração federal indireta,
tos no art. 23:
submetidas ao regime autárquico especial e vincu-
ladas, respectivamente, ao Ministério dos Trans-
Art. 23 Constituem a esfera de atuação da
portes e à Secretaria de Portos da Presidência da
Antaq:
República, nos termos desta Lei.
I - a navegação fluvial, lacustre, de travessia, de
§ 1º A ANTT e a ANTAQ terão sede e foro no Distri-
apoio marítimo, de apoio portuário, de cabotagem
to Federal, podendo instalar unidades administra-
e de longo curso;
tivas regionais.
II - os portos organizados e as instalações portuá-
§ 2º O regime autárquico especial conferido à ANTT
rias neles localizadas;
e à ANTAQ é caracterizado pela independência
III - as instalações portuárias;
administrativa, autonomia financeira e funcional e
IV – o transporte aquaviário de cargas especiais e
mandato fixo de seus dirigentes.
perigosas.
V - a exploração da infraestrutura aquaviária
Autarquias especiais
federal.
Entidades da Administração Pública
ANTT E ANTAQ indireta federal
A ANTT e a ANTAQ farão articulações com as
Vinculadas ao Ministério dos Transportes demais agências, órgãos e entidades da administra-
(ANTT) e à Secretaria dos Portos (ANTAQ)
ção, para resolução das interfaces do transporte ter-
restre com os outros meios de transporte e aquaviário,
Atenção! A submissão ao regime autárquico, no visando à movimentação intermodal mais econômica
que lhe diz respeito, implica: e segura de pessoas e bens.
Além disso, harmonizarão suas respectivas esferas
„ independência administrativa; de atuação com a dos demais órgãos dos estados, do
„ autonomia financeira; Distrito Federal e dos municípios.
„ autonomia funcional; Vejamos os §§ 1º e 2º, do art. 23:
„ mandato fixo de seus dirigentes.

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


§ 1º A Antaq articular-se-á com órgãos e entidades
z Atuação da administração, para resolução das interfaces
do transporte aquaviário com as outras modalida-
Art. 22 Constituem a esfera de atuação da ANTT: des de transporte, com a finalidade de promover a
I - o transporte ferroviário de passageiros e cargas movimentação intermodal mais econômica e segu-
ao longo do Sistema Nacional de Viação; ra de pessoas e bens.
II - a exploração da infraestrutura ferroviá- § 2º A ANTAQ harmonizará sua esfera de atua-
ria e o arrendamento dos ativos operacionais ção com a de órgãos dos Estados e dos Municípios
correspondentes; encarregados do gerenciamento das operações de
III - o transporte rodoviário interestadual e inter- transporte aquaviário intermunicipal e urbano.
nacional de passageiros;
IV - o transporte rodoviário de cargas; Dica
V - a exploração da infraestrutura rodoviária
federal; No caso da ANTAQ, a lei prevê sua harmoniza-
VI - o transporte multimodal; ção apenas com estados e municípios, nada dis
VII - o transporte de cargas especiais e perigosas pondo acerca do Distrito Federal.
em rodovias e ferrovias.
DAS ATRIBUIÇÕES DA AGÊNCIA NACIONAL DE
Ademais, a ANTT deverá também se unir com as TRANSPORTES TERRESTRES (ANTT)
demais agências para solucionar eventuais deman-
das, buscando otimizar custos, assegurando mais A Lei nº 10.233, de 2001, ao tratar das atribui-
eficiência e segurança do transporte de pessoas e ções da ANTT, faz divisão em três partes: atribuições
bens no território nacional, vejamos os dispositivos gerais, atribuições específicas para o transporte
pertinentes: ferroviário e atribuições específicas para o trans-
porte rodoviário.
537
Em todos os casos, a ANTT poderá firmar convê- XIV - estabelecer padrões e normas técnicas com-
nios de cooperação técnica e administrativa com plementares relativos às operações de transporte
órgãos e entidades da Administração Pública federal, terrestre de cargas especiais e perigosas;
dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, com XV - elaborar o seu orçamento e proceder à respec-
entidades e organismos internacionais, além de par- tiva execução financeira.
XVI - representar o Brasil junto aos organismos
ticipar de foros internacionais, sob a coordenação do
internacionais e em convenções, acordos e tratados
Ministério dos Transportes.
na sua área de competência, observadas as dire-
trizes do Ministro de Estado dos Transportes e as
Atribuições Gerais da ANTT atribuições específicas dos demais órgãos federais.
XVII - exercer, diretamente ou mediante convênio,
Por se tratar de atribuições da ANTT, cumpre reali- as competências expressas nos incisos VI, quanto à
zar uma leitura dos dispositivos da lei, haja vista que infração prevista no art. 209-A, e VIII do caput do
são auto explicativos e se refere a competências gerais art. 21 da Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997
na esfera de atuação da ANTT, vejamos: XVIII - dispor sobre as infrações, sanções e medi-
das administrativas aplicáveis aos serviços de
Art. 24 Cabe à ANTT, em sua esfera de atuação, transportes.
como atribuições gerais: XIX - declarar a utilidade pública para fins de desa-
I - promover pesquisas e estudos específicos de trá- propriação ou de servidão administrativa de bens
fego e de demanda de serviços de transporte; e propriedades necessários à execução de obras no
II - promover estudos aplicados às definições de âmbito das outorgas estabelecidas.
tarifas, preços e fretes, em confronto com os custos Parágrafo único. No exercício de suas atribuições a
e os benefícios econômicos transferidos aos usuá- ANTT poderá:
rios pelos investimentos realizados; I – firmar convênios de cooperação técnica e admi-
III - propor ao Ministério dos Transportes, nos nistrativa com órgãos e entidades da Adminis-
tração Pública Federal, dos Estados, do Distrito
casos de concessão e permissão, os planos de
Federal e dos Municípios, tendo em vista a descen-
outorgas, instruídos por estudos específicos de via-
tralização e a fiscalização eficiente das outorgas;
bilidade técnica e econômica, para exploração da
II – participar de foros internacionais, sob a coorde-
infraestrutura e a prestação de serviços de trans-
nação do Ministério dos Transportes.
porte terrestre;
III - firmar convênios de cooperação técnica com
IV - elaborar e editar normas e regulamentos rela-
entidades e organismos internacionais.
tivos à exploração de vias e terminais, garantindo
IV - Vigência encerrada
isonomia no seu acesso e uso, bem como à presta-
ção de serviços de transporte, mantendo os itinerá-
rios outorgados e fomentando a competição;
Atribuições Específicas da ANTT Pertinentes ao
V - editar atos de outorga e de extinção de direito de Transporte Ferroviário
exploração de infraestrutura e de prestação de ser-
viços de transporte terrestre, celebrando e gerindo Art. 25 Cabe à ANTT, como atribuições específicas
os respectivos contratos e demais instrumentos pertinentes ao Transporte Ferroviário:
administrativos; I - publicar os editais, julgar as licitações e as sele-
VI - reunir, sob sua administração, os instrumen- ções e celebrar os contratos para exploração indi-
reta de ferrovias, permitida sua vinculação com
tos de outorga para exploração de infraestrutura
contratos de arrendamento de ativos ou concessão
e prestação de serviços de transporte terrestre já
de uso;
celebrados antes da vigência desta Lei, resguardan-
II - administrar os contratos de concessão e arren-
do os direitos das partes e o equilíbrio econômico-
damento de ferrovias celebrados até a vigência des-
-financeiro dos respectivos contratos;
ta Lei, em consonância com o inciso VI do art. 24;
VII - proceder à revisão e ao reajuste de tarifas dos
III - publicar editais, julgar as licitações e celebrar
serviços prestados, segundo as disposições contra-
contratos de concessão para construção e explo-
tuais, após prévia comunicação ao Ministério da
ração de novas ferrovias, com cláusulas de rever-
Fazenda;
são à União dos ativos operacionais edificados e
VIII - fiscalizar a prestação dos serviços e a manu- instalados;
tenção dos bens arrendados, cumprindo e fazen- IV - fiscalizar diretamente, com o apoio de suas uni-
do cumprir as cláusulas e condições avençadas dades regionais, ou por meio de convênios de coo-
nas outorgas e aplicando penalidades pelo seu peração, o cumprimento das cláusulas contratuais
descumprimento; de prestação de serviços ferroviários e de manuten-
IX - autorizar projetos e investimentos no âmbi- ção e reposição dos ativos arrendados;
to das outorgas estabelecidas, quando o contrato V - regular e coordenar a atuação dos concessioná-
assim o exigir; rios, permissionários e autorizatários, de modo a
X - adotar procedimentos para a incorporação ou assegurar a neutralidade com relação aos interes-
desincorporação de bens, no âmbito dos arrenda- ses dos usuários e dos clientes, orientar e discipli-
mentos contratados; nar a interconexão entre as diferentes ferrovias, e
XI - promover estudos sobre a logística do trans- arbitrar as questões não resolvidas pelas partes ou
porte intermodal, ao longo de eixos ou fluxos de pela autorregulação;
produção; VI - articular-se com órgãos e instituições dos
XII - habilitar o Operador do Transporte Multimo- Estados, do Distrito Federal e dos Municípios para
dal, em articulação com as demais agências regula- conciliação do uso da via permanente sob sua juris-
doras de transportes; dição com as redes locais de metrôs e trens urbanos
XIII - promover levantamentos e organizar cadas- destinados ao deslocamento de passageiros;
tro relativos ao sistema de dutovias do Brasil e às VII - contribuir para a preservação do patrimô-
empresas proprietárias de equipamentos e instala- nio histórico e da memória das ferrovias, em coo-
538 ções de transporte dutoviário; peração com as instituições associadas à cultura
nacional, de modo a orientar e estimular a partici- maior proporcionalidade com o trecho da via
pação das empresas outorgadas do setor; efetivamente utilizado.
VIII - regular os procedimentos e as condições para § 3º A ANTT articular-se-á com os governos dos
cessão a terceiros de capacidade de tráfego dispo- Estados para o cumprimento do disposto no inci-
nível na ferrovia explorada em regime público, de so VI do caput, no tocante às rodovias federais por
modo a orientar e disciplinar o tráfego mútuo e o eles já concedidas a terceiros, podendo avocar os
direito de passagem; respectivos contratos e preservar a cooperação
IX - supervisionar as associações privadas de administrativa avençada.
autorregulação ferroviária, cuja criação e cujo fun- § 4º O disposto no § 3º aplica-se aos contratos de
cionamento reger-se-ão por legislação específica. concessão que integram rodovias federais e esta-
Parágrafo único. No cumprimento do disposto duais, firmados até a data de publicação desta Lei.
no inciso V do caput deste artigo, a ANTT esti- § 5º Os convênios de cooperação administrativa,
mulará a formação de conselhos de usuários, no referidos no inciso VII do caput, poderão ser firma-
âmbito de cada ferrovia explorada em regime dos com órgãos e entidades da União e dos governos
público, para a defesa de interesses relativos aos dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
serviços prestados. § 6º No cumprimento do disposto no inciso VII do
caput, a ANTT deverá coibir a prática de serviços
de transporte de passageiros não concedidos, per-
Atribuições da ANTT Pertinentes ao Transporte mitidos ou autorizados.
Rodoviário
DAS ATRIBUIÇÕES DA AGÊNCIA NACIONAL DE
Art. 26 Cabe à ANTT, como atribuições específicas
TRANSPORTES AQUAVIÁRIOS (ANTAQ)
pertinentes ao Transporte Rodoviário:
I - publicar os editais, julgar as licitações e celebrar
Art. 27 Cabe à ANTAQ, em sua esfera de atuação:
os contratos de permissão para prestação de ser-
I - promover estudos específicos de demanda de
viços regulares de transporte rodoviário interesta-
transporte aquaviário e de atividades portuárias;
dual semiurbano de passageiros;
II - promover estudos aplicados às definições de
II - autorizar o transporte de passageiros, realiza-
tarifas, preços e fretes, em confronto com os custos
do por empresas de turismo, com a finalidade de
e os benefícios econômicos transferidos aos usuá-
turismo;
rios pelos investimentos realizados;
III - autorizar o transporte de passageiros, sob regi-
III - propor ao Ministério dos Transportes o plano
me de fretamento;
geral de outorgas de exploração da infraestrutura
IV - promover estudos e levantamentos relativos à
aquaviária e de prestação de serviços de transporte
frota de caminhões, empresas constituídas e opera-
aquaviário;
dores autônomos, bem como organizar e manter
IV - elaborar e editar normas e regulamentos relati-
um registro nacional de transportadores rodoviá-
vos à prestação de serviços de transporte e à explo-
rios de cargas;
ração da infraestrutura aquaviária e portuária,
V - habilitar o transportador internacional de
garantindo isonomia no seu acesso e uso, assegu-
carga;
rando os direitos dos usuários e fomentando a com-
VI - publicar os editais, julgar as licitações e cele-
petição entre os operadores;
brar os contratos de concessão de rodovias federais
V - celebrar atos de outorga de permissão ou auto-
a serem exploradas e administradas por terceiros;
rização de prestação de serviços de transporte
VII - fiscalizar diretamente, com o apoio de suas
pelas empresas de navegação fluvial, lacustre, de
unidades regionais, ou por meio de convênios
travessia, de apoio marítimo, de apoio portuário,
de cooperação, o cumprimento das condições de
de cabotagem e de longo curso, observado o dispos-

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


outorga de autorização e das cláusulas contratuais
to nos art. 13 e 14, gerindo os respectivos contratos
de permissão para prestação de serviços ou de con-
e demais instrumentos administrativos;
cessão para exploração da infraestrutura.
VI - reunir, sob sua administração, os instrumen-
VIII - autorizar a prestação de serviços regulares de
tos de outorga para exploração de infraestrutura e
transporte rodoviário interestadual e internacional
de prestação de serviços de transporte aquaviário
de passageiros.
celebrados antes da vigência desta Lei, resguardan-
IX - dispor sobre os requisitos mínimos a serem
do os direitos das partes;
observados pelos terminais rodoviários de passa-
VII - promover as revisões e os reajustes das tarifas
geiros e pontos de parada dos veículos para a pres-
portuárias, assegurada a comunicação prévia, com
tação dos serviços disciplinados por esta Lei.
antecedência mínima de 15 (quinze) dias úteis, ao
poder concedente e ao Ministério da Fazenda;
Atenção! No tocante ao item VI acima, houve nova VIII - promover estudos referentes à composição
redação para o § 2º, do art. 26, da Lei nº 10.233, de 2001. da frota mercante brasileira e à prática de afreta-
A mudança relaciona-se ao valor do pedágio (tarifa) mentos de embarcações, para subsidiar as deci-
a ser cobrado nas vias, nos termos que seguem: sões governamentais quanto à política de apoio à
indústria de construção naval e de afretamento de
Art. 26 [...] embarcações estrangeiras;
§ 1º Vetado IX - (VETADO)
§ 2º Na elaboração dos editais de licitação, para X - representar o Brasil junto aos organismos inter-
o cumprimento do disposto no inciso VI do caput nacionais de navegação e em convenções, acordos
deste artigo, a ANTT promoverá a compatibili- e tratados sobre transporte aquaviário, observadas
zação da tarifa do pedágio com as vantagens as diretrizes do Ministro de Estado dos Transpor-
econômicas e o conforto de viagem proporcio- tes e as atribuições específicas dos demais órgãos
nados aos usuários em decorrência da aplicação federais;
dos recursos de sua arrecadação no aperfei- XI - (VETADO)
çoamento da via em que é cobrado, bem como XII - supervisionar a participação de empresas
a utilização de sistema tarifário que guarde brasileiras e estrangeiras na navegação de longo 539
curso, em cumprimento aos tratados, convenções, XXX - fomentar a competição e tomar as medidas
acordos e outros instrumentos internacionais dos necessárias para evitar práticas anticoncorrenciais,
quais o Brasil seja signatário; especialmente no tocante à má-fé na oferta de embar-
XIII - (VETADO) cações que não atendam adequadamente às necessida-
XIV - estabelecer normas e padrões a serem obser- des dos afretadores na hipótese prevista no inciso I do
vados pelas administrações portuárias, concessio- caput do art. 9º da Lei nº 9.432, de 8 de janeiro de 1997.
nários, arrendatários, autorizatários e operadores XXXI – participar da comissão prevista no § 5º do
portuários, nos termos da Lei na qual foi converti- art. 15-A da Lei nº 9.537, de 11 de dezembro de
da a Medida Provisória nº 595, de 6 de dezembro 1997. (Incluído pela Lei nº 14.813, de 2024)
de 2012;
XV - elaborar editais e instrumentos de convocação DOS PROCEDIMENTOS E DO CONTROLE DAS
e promover os procedimentos de licitação e seleção OUTORGAS
para concessão, arrendamento ou autorização da
exploração de portos organizados ou instalações Normas Gerais
portuárias, de acordo com as diretrizes do poder
concedente, em obediência ao disposto na Lei na
Trata-se de controle exercido pela ANTT e pela
qual foi convertida a Medida Provisória nº 595, de
ANTAQ sobre as concessões, permissões e autori-
6 de dezembro de 2012;
XVI - cumprir e fazer cumprir as cláusulas e con- zações dos serviços que regulam, de modo que eles
dições dos contratos de concessão de porto orga- sejam prestados de forma adequada, satisfazendo
nizado ou dos contratos de arrendamento de as condições de regularidade, eficiência, segurança,
instalações portuárias quanto à manutenção e atualidade, generalidade, cortesia na prestação do
reposição dos bens e equipamentos reversíveis à serviço e modicidade nas tarifas.
União de que trata o inciso VIII do caput do art. 5º
da Lei na qual foi convertida a Medida Provisória Dica!
nº 595, de 6 de dezembro de 2012;
XVII - autorizar projetos e investimentos no âmbi- Novamente, a Lei nº 10.233, de 2001, menciona
to das outorgas estabelecidas, encaminhando ao que a licitação precederá a concessão e a per-
Ministro de Estado dos Transportes ou ao Secretá- missão, não citando a autorização.
rio Especial de Portos, conforme o caso, propostas
de declaração de utilidade pública; Para receber outorga para prestar serviço público,
XVIII - (VETADO) é necessário ser empresa ou entidade, constituída sob
XIX - estabelecer padrões e normas técnicas relati- as leis brasileiras, com sede e administração no país,
vos às operações de transporte aquaviário de car- além dos requisitos técnicos, econômicos e jurídicos a
gas especiais e perigosas;
serem exigidos em cada caso.
XX - elaborar o seu orçamento e proceder à respec-
Lembre-se de que: havendo infração na ordem
tiva execução financeira.
econômica, a agência deverá comunicar ao CADE —
XXI - fiscalizar o funcionamento e a prestação de
serviços das empresas de navegação de longo cur- Conselho Administrativo de Defesa Econômica,
so, de cabotagem, de apoio marítimo, de apoio por- autarquia federal que tem a função de estruturar o
tuário, fluvial e lacustre; Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência e, além
XXII - fiscalizar a execução dos contratos de adesão disso, dispor sobre a prevenção e repressão às infra-
das autorizações de instalação portuária de que ções contra a ordem econômica.
trata o art. 8º da Lei na qual foi convertida a Medi- Os operadores estrangeiros que atuam no trans-
da Provisória nº 595, de 6 de dezembro de 2012; porte internacional com o Brasil terão suas atividades
XXIII - adotar procedimentos para a incorporação ou acompanhadas pelas agências, verificando se as nor-
desincorporação de bens, no âmbito das outorgas; mas de seus respectivos países conflitam com os acor-
XXIV - autorizar as empresas brasileiras de nave- dos internacionais firmados pelo Brasil.
gação de longo curso, de cabotagem, de apoio Um ponto importante a se considerar é que a lei
marítimo, de apoio portuário, fluvial e lacustre, o permite a transferência da titularidade das outorgas
afretamento de embarcações estrangeiras para o de concessão e de permissão, desde que precedida de
transporte de carga, conforme disposto na Lei nº expressa autorização da Agência de Regulação respec-
9.432, de 8 de janeiro de 1997; tiva, e, também, desde que preserve seu objeto e as
XXV - celebrar atos de outorga de concessão para a condições contratuais.
exploração da infraestrutura aquaviária, gerindo e
fiscalizando os respectivos contratos e demais ins-
trumentos administrativos;
Concessões
XXVI - fiscalizar a execução dos contratos de con-
cessão de porto organizado e de arrendamento de As concessões são utilizadas para a exploração de
instalação portuária, em conformidade com o dis- infraestrutura, precedidas ou não de obra pública, ou
posto na Lei na qual foi convertida a Medida Provi- para prestação de serviço ferroviário.
sória nº 595, de 6 de dezembro de 2012; Quanto ao seu caráter de exclusividade, torna-se
XXVII - (revogado). importante a leitura e compreensão do art. 34-A:
XXVIII - publicar os editais, julgar as licitações e
celebrar os contratos de concessão, precedida ou Art. 34-A As concessões e as suas prorrogações,
não de execução de obra pública, para a explora- a serem outorgadas pela ANTT e pela Antaq para
ção de serviços de operação de eclusas ou de outros a exploração de infraestrutura, precedidas
dispositivos de transposição hidroviária de níveis ou não de obra pública, ou para prestação de
situados em corpos de água de domínio da União. serviços de transporte ferroviário associado à
XXIX - regulamentar outras formas de ocupação e exploração de infraestrutura, poderão ter cará-
exploração de áreas e instalações portuárias não ter de exclusividade quanto a seu objeto, nos
540 previstas na legislação específica. termos do edital e do contrato, devendo as novas
concessões serem precedidas de licitação discipli- IX - obrigatoriedade de o permissionário fornecer
nada em regulamento próprio, aprovado pela Dire- à Agência relatórios, dados e informações relativas
toria da Agência. às atividades desenvolvidas;
[...] X - procedimentos relacionados com a transferên-
cia da titularidade do contrato, conforme o dispos-
A possibilidade de algum monopólio envolver con- to no art. 30;
cessões ou permissões já foi objeto de diversas ques- XI - regras sobre solução de controvérsias relacio-
tões, e a resposta é positiva. Exemplo disso é o próprio nadas com o contrato e sua execução, incluindo
conciliação e arbitragem;
art. 34-A, da Lei nº 10.233, de 2001, que estabelece o
XII - sanções de advertência, multa e suspensão da
caráter de exclusividade para as concessões que regu-
vigência do contrato e regras para sua aplicação,
la, o que significa dizer a possibilidade de monopólio. em função da natureza, da gravidade e da reinci-
Outro ponto, já determinado na própria Lei de dência da infração;
Licitações, é o de que o contrato de concessão deve XIII - casos de rescisão, caducidade, cassação, anu-
reproduzir, fielmente, o edital de licitação, além de lação e extinção do contrato, de intervenção ou
dispor sobre cláusulas essenciais que devem constar encampação, e casos de declaração de inidoneidade.
no referido contrato, constantes no art. 35, tais como § 1º Os critérios a que se refere o inciso VI do caput
tarifas, multas, dentre outros. deverão considerar:
Além disso, a referida lei determina que o conces- a) os aspectos relativos a redução ou desconto de
sionário adote as melhores práticas de execução de tarifas;
projetos, obras e prestação de serviços, responsabili- b) a transferência aos usuários de perdas ou ganhos
zando-se civilmente pelos atos de seus prepostos. econômicos decorrentes de fatores que afetem cus-
tos e receitas e que não dependam do desempenho e
da responsabilidade do concessionário.
Permissões
§ 2º A sanção de multa a que se refere o inciso XII
do caput poderá ser aplicada isoladamente ou em
As permissões são utilizadas para o transporte conjunto com outras sanções e terá valores estabe-
interestadual semiurbano e para prestação de trans- lecidos em regulamento aprovado pela Diretoria da
porte de passageiros que não tenham caráter de Agência, obedecidos os limites previstos em legisla-
exclusividade, precedida de licitação. ção específica.
§ 3º A ocorrência de infração grave que implicar
Art. 38 As permissões a serem outorgadas pela sanção prevista no inciso XIII do caput será apu-
ANTT para o transporte rodoviário interestadual rada em processo regular, instaurado na forma do
semiurbano e pela Antaq aplicar-se-ão à prestação regulamento, garantindo-se a prévia e ampla defe-
regular de serviços de transporte de passageiros sa ao interessado.
que não tenham caráter de exclusividade ao longo § 4º O contrato será publicado por extrato, no Diá-
das rotas percorridas e deverão ser precedidas de rio Oficial da União, como condição de sua eficácia.
licitação regida por regulamento próprio, aprovado Art. 40 (VETADO)
pela diretoria da Agência e pelo respectivo edital.
§ 1º O edital de licitação obedecerá igualmente às Autorizações
prescrições do § 1º e dos incisos II a V do § 2º do
art. 34-A. A autorização independe de licitação; é exercida
§ 2º O edital de licitação indicará obrigatoriamente: em liberdade de preços e serviços, em ambiente aber-
I - o objeto da permissão; to de competição, porém reprimindo-se toda prática
II - o prazo de vigência e as condições para prorro- prejudicial à competição, bem como o abuso do poder

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


gação da permissão; econômico.
III - o modo, a forma e as condições de adaptação
Outro ponto quando ao se diferenciar a autoriza-
da prestação dos serviços à evolução da demanda;
ção das demais modalidades de outorgas é o de que,
IV - as características essenciais e a qualidade da
nela, não existe um prazo de vigência ou termo final,
frota a ser utilizada; e
V - as exigências de prestação de serviços
sendo modalidades de extinção a sua plena eficácia,
adequados. renúncia, anulação ou cassação.
Art. 39 O contrato de permissão deverá refletir fiel-
mente as condições do edital e da proposta vence- Art. 43 A autorização, ressalvado o disposto em
dora e terá como cláusulas essenciais as relativas legislação específica, será outorgada segundo as
a: diretrizes estabelecidas nos arts. 13 e 14 e apresen-
I - objeto da permissão, definindo-se as rotas e ta as seguintes características:
itinerários; I - independe de licitação;
II - prazo de vigência e condições para sua II - é exercida em liberdade de preços dos serviços,
prorrogação; tarifas e fretes, e em ambiente de livre e aberta
III - modo, forma e condições de prestação dos ser- competição;
viços, em função da evolução da demanda; III - não prevê prazo de vigência ou termo final,
IV - obrigações dos permissionários quanto às par- extinguindo-se pela sua plena eficácia, por renún-
cia, anulação ou cassação.
ticipações governamentais e ao valor devido pela
outorga, se for o caso;
V - tarifas; Ocorrendo alteração nas condições de autorização,
VI - critérios para reajuste e revisão de tarifas; tanto por lei quanto por regulamentação, não haverá
VII - direitos, garantias e obrigações dos usuários, direito adquirido do autorizatário à normas anterio-
da Agência e do permissionário; res, devendo se adequar às novas condições.
VIII - procedimentos para acompanhamento e fis- Importante! A Lei nº 14.298, de 2022 acrescentou
calização das atividades permitidas e para audito- o art. 47-B, na Lei nº 10.233, de 2001, trazendo con-
ria do contrato; sideráveis previsões à autorização, ocorridas no ano 541
de 2022, que podem ser cobradas em concurso públi- z Ouvidor-Geral: nomeado pelo presidente da
co. Assim, colocam-se em destaques os pontos mais República para mandato de três anos, vedada a
importantes: recondução;
z Corregedores: nomeados pelo presidente da
Art. 47-B Não haverá limite para o número de República (não prevê tempo de mandato nem
autorizações para o serviço regular de transporte demais requisitos), compete às corregedorias
rodoviário interestadual e internacional de passa- fiscalizar as atividades funcionais da respectiva
geiros, salvo no caso de inviabilidade técnica, ope- agência e a instauração de processos administrati-
racional e econômica vos e disciplinares.
Parágrafo único. (Revogado)
§ 1º O Poder Executivo definirá os critérios de invia- Processo Decisório
bilidade de que trata o caput deste artigo, que servi-
rão de subsídio para estabelecer critérios objetivos
No tocante às decisões administrativas das agên-
para a autorização dos serviços de transporte rodo-
cias, em sede de processo administrativo, essas deve-
viário interestadual e internacional de passageiros
§ 2º A ANTT poderá realizar processo seletivo rão ser tomadas pelo voto da maioria absoluta de seus
público para outorga da autorização, observa- membros. No caso de empate, o voto de qualidade
dos os princípios da legalidade, da impessoalidade, caberá ao diretor-geral, que deverá desempatar.
da moralidade, da publicidade e da eficiência, na Em se tratando de processo administrativo que
forma do regulamento visa apurar infrações e aplicar penalidades, esse terá
§ 3º A outorga de autorização deverá considerar, caráter sigiloso até decisão final, cabendo a aplicação
sem prejuízo dos demais requisitos estabelecidos de medidas cautelares durante o seu curso, assegura-
em lei, a exigência de comprovação, por parte do o contraditório e a ampla defesa.
do operador de: A aplicação de punições será cabível quando hou-
I - requisitos relacionados à acessibilidade, à ver o comprovado descumprimento da lei ou descum-
segurança e à capacidade técnica, operacional e primento dos deveres estabelecidos no contrato de
econômica da empresa, de forma proporcional à concessão, no termo de permissão e na autorização,
especificação do serviço, conforme regulamentação sem prejuízo de sanções de natureza civil ou penal.
do Poder Executivo; Ou seja, se o ilícito que gerou a punição adminis-
II - capital social mínimo de R$ 2.000.000,00 trativa prevista na presente lei também for ilícito de
(dois milhões de reais). natureza civil ou criminal, essas referidas sanções
também serão aplicadas juntamente com as adminis-
DA ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DAS trativas, em processos distintos e independentes.
AGÊNCIAS E DO PROCESSO DECISÓRIO As sanções administrativas previstas na Lei nº
10.233, de 2001 encontram-se no seu art. 78-A, a seguir:
Estrutura
Art 78-A A infração a esta Lei e o descumprimento
O órgão máximo de deliberação, dentro da ANTT e dos deveres estabelecidos no contrato de concessão,
da ANTAQ, chama-se Diretoria Colegiada. Esta tem, no termo de permissão e na autorização sujeitará
em suas estruturas, uma procuradoria, uma ouvido- o responsável às seguintes sanções, aplicáveis pela
ria e uma corregedoria. Quanto aos membros, cada ANTT e pela ANTAQ, sem prejuízo das de natureza
diretoria colegiada é composta de um diretor-geral e civil e penal:
de quatro diretores. I - advertência;
Importante notar que os membros das diretorias II - multa;
colegiadas deverão ser brasileiros, com reputação III - suspensão;
ilibada, formação universitária e comprovado conhe- IV - cassação ;
cimento e especialidade nas áreas em que exercerão V - declaração de inidoneidade;
atuação. Serão nomeados pelo presidente da Repúbli- VI - perdimento do veículo.
ca com aprovação do senado federal. [...]
O diretor-geral exerce a função por cinco anos,
vedada a recondução. Os membros das diretorias coli- DAS RECEITAS E DO ORÇAMENTO
gadas cumprirão mandatos de cinco anos, não coinci-
dentes, vedada a recondução. Por último, torna-se importante discutir e apre-
Os membros das diretorias não poderão exercer sentar, resumidamente, algumas questões relaciona-
outra atividade profissional, empresarial, sindical ou de das aos recursos financeiros na ANTT e ANTAQ. Além
direção político-partidária, sendo vedado, ainda, repre- disso, é importante ressaltar, também, que estes são
sentar qualquer pessoa ou interesse contra a agência previstos em orçamento público, conjuntamente com
que participou, até um ano após ter deixado o cargo. todas as outras receitas e despesas do referido ente
A perda do mandato dos diretores se dará através federativo (princípio da unidade orçamentária).
de renúncia, condenação judicial com o trânsito em Quanto às receitas da ANTT e ANTAQ, determina
julgado ou através de processo administrativo disci- o art. 77 que:
plinar, instaurado pelo ministro.
Observe uma pequena descrição do perfil espera-
Art. 77 Constituem receitas da ANTT e da ANTAQ:
do dos procuradores, ouvidores e corregedores-gerais: I - dotações que forem consignadas no Orçamento
Geral da União para cada Agência, créditos espe-
z Procurador-Geral: nomeado pelo presidente da ciais, transferências e repasses;
República (não prevê tempo de mandato), bacha- II - recursos provenientes dos instrumentos de
rel em direito, com experiência na advocacia, outorga e arrendamento administrados pela res-
cabendo a representação judicial da agência, com pectiva Agência, excetuados os provenientes dos
542 prerrogativa processual de Fazenda Pública; contratos de arrendamento originários da extinta
Rede Ferroviária Federal S.A. - RFFSA não adquiri- A lei também estabelece o regime de concessão
dos pelo Tesouro Nacional com base na autoriza- para a prestação de serviços públicos de energia elé-
ção contida na Medida Provisória no 2.181-45, de trica, definindo os direitos e obrigações das empresas
24 de agosto de 2001; concessionárias, incluindo metas de qualidade e tari-
III - os produtos das arrecadações de taxas de fisca- fas cobradas.
lização da prestação de serviços e de exploração de Outro principal instrumento de regulação do setor
infraestrutura atribuídas a cada Agência.
elétrico no país é o sistema de concessões e permis-
IV - recursos provenientes de acordos, convênios
sões, que define as condições para a prestação dos
e contratos, inclusive os referentes à prestação de
serviços técnicos e fornecimento de publicações, serviços de energia elétrica pelas empresas concessio-
material técnico, dados e informações; nárias e permissionárias.
V - o produto das arrecadações de cada Agência, Dessa forma, as tratadas empresas são responsá-
decorrentes da cobrança de emolumentos e multas; veis pela operação e manutenção das instalações de
VI - outras receitas, inclusive as resultantes de alu- geração, transmissão e distribuição de energia.
guel ou alienação de bens, da aplicação de valores Além disso, a regulação do setor elétrico também
patrimoniais, de operações de crédito, de doações, abrange a definição das tarifas de energia elétrica,
legados e subvenções. que são estabelecidas pela ANEEL com base em cri-
§ 1º Vetado térios técnicos e econômicos, visando garantir a sus-
§ 2º Vetado tentabilidade financeira das empresas do setor e a
§ 3º Revogado pela Lei nº 14.298, de 2022. modicidade tarifária para os consumidores.
Por fim, através da referida lei são definidas as
diretrizes para política energética nacional, priori-
zando o desenvolvimento sustentável do setor elétri-
REGULAÇÃO NO SETOR ELÉTRICO NO co, com foco na diversificação da matriz energética e
na segurança do fornecimento.
BRASIL Neste sentido, a lei teve um impacto significativo no
setor elétrico brasileiro, com os seguintes destaques:
A regulação do setor elétrico brasileiro é fundamen-
tal para garantir o fornecimento de energia de forma
z Aumento da eficiência: a entrada da iniciativa
segura, eficiente e com tarifas justas para a população.
privada e a regulação da ANEEL impulsionaram
Nesse sentido, os principais responsáveis pela
a eficiência do setor, com redução dos custos e
regulação do setor elétrico brasileiro são:
aumento da qualidade dos serviços;
z Expansão da oferta de energia: a lei contribuiu para
z Ministério de Minas e Energia (MME): formulação
a expansão da capacidade de geração e transmissão
da política nacional de energia;
de energia, atendendo ao crescimento da demanda;
z Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL):
z Redução das tarifas: a abertura do mercado e a
regulação, controle e fiscalização do setor elétrico;
competitividade resultaram em tarifas mais com-
z Empresas de Geração, Transmissão, Distribuição e
petitivas para os consumidores;
Comercialização: atuam no mercado elétrico sob a
z Diversificação da matriz energética: a lei incentivou
regulação da ANEEL;
z Consumidores: pessoas físicas e jurídicas que utili- a diversificação da matriz energética, com investi-
zam energia elétrica. mentos em fontes renováveis como eólica e solar.

Vejamos que a principal responsável por regular Portanto, a regulação do setor elétrico no Brasil

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


e fornecer as diretrizes para a concessão de energia desempenha um papel fundamental na promoção
elétrica no país é a ANEEL — Agência Nacional de da eficiência, da segurança e da sustentabilidade do
Energia Elétrica. fornecimento de energia elétrica, contribuindo para o
A ANEEL foi criada pela Lei nº 9.427, de 26 de desenvolvimento econômico e social do país.
dezembro de 1996, a qual possui como finalidade:
REFERÊNCIAS
Art. 2º A Agência Nacional de Energia Elétrica
- ANEEL tem por finalidade regular e fiscalizar a BRASIL. Lei nº 9.074, de 7 de julho de 1995. Dispõe
produção, transmissão, distribuição e comerciali- sobre a concessão de serviços públicos de energia
zação de energia elétrica, em conformidade com as elétrica e dá outras providências. Disponível em:
políticas e diretrizes do governo federal. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9074.
Parágrafo único. Revogado pela Lei nº 10.848, de htm. Acesso em: 06 fev. 2024.
2004 ROSA, L. H. da. Regulação do Setor Elétrico no
Brasil: Evolução e Desafios. Editora Saraiva, 2018.
Assim, a ANEEL atua na definição das regras e nor-
mas do setor elétrico, visando promover a concorrência,
garantir a qualidade dos serviços prestados, proteger
os direitos dos consumidores e incentivar investimen-
tos em infraestrutura e inovação tecnológica.
REGULAÇÃO DO SETOR DE SAÚDE
Além da instituição da Agência Nacional de Ener- SUPLEMENTAR NO BRASIL
gia Elétrica, a referida lei traz importantes permissões
e definições para o setor elétrico no país, como por O setor de saúde suplementar no Brasil é um ramo
exemplo a criação do mercado livre de energia, per- que relaciona-se com a operação de planos e seguros
mitindo que grandes consumidores compram energia privados de assistência médica à saúde, que comple-
diretamente de geradores, gerando maior competiti- mentam ou substituem os serviços públicos de saúde
vidade no setor. oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). 543
Ele é composto por operadoras, profissionais e destinados a garantir o equilíbrio e a solvência das
beneficiários, com ações e serviços regulados e fisca- operadoras;
lizados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar z a definição de critérios e de procedimentos para a
(ANS). realização de auditorias contábeis e atuariais, que
A regulação desse setor, no Brasil, visa garan- visam verificar a adequação e a fidedignidade das
tir o acesso dos beneficiários aos serviços de saúde informações prestadas pelas operadoras;
contratados; promover a qualidade, a eficiência e z a definição de regras e de instrumentos para a
a sustentabilidade dos planos de saúde; estimular a gestão de riscos, que visam prevenir e mitigar os
concorrência, a inovação e a transparência desse mer- impactos de eventos adversos que possam afetar a
cado; proteger os interesses dos consumidores e da sustentabilidade das operadoras; e
sociedade; e harmonizar as relações entre os agentes z a definição de medidas e de sanções para as ope-
do setor. radoras que apresentem irregularidades, dese-
Baseia-se em quatro pilares principais: normativo, quilíbrios ou insolvências, que podem incluir
assistencial, econômico-financeiro e de fiscalização. intervenção, liquidação, cancelamento ou aliena-
Cada um deles abrange um conjunto de normas, ins- ção compulsória.
trumentos, ações e indicadores que orientam e moni-
toram o funcionamento do setor. O pilar de fiscalização, por fim, é o que verifica e
O pilar normativo estabelece regras e critérios apura o cumprimento das normas e dos critérios esta-
para a atuação das operadoras e dos prestadores de belecidos pela ANS pelas operadoras e pelos prestado-
serviços de saúde, bem como para a proteção e a defe- res de serviços de saúde, bem como recebe e soluciona
sa dos direitos dos beneficiários. Inclui: as demandas e as reclamações dos beneficiários e da
sociedade. Inclui:
z a definição do rol de procedimentos e eventos em
saúde, que é a lista de coberturas obrigatórias dos z a realização de fiscalizações presenciais e a dis-
planos de saúde, revisada periodicamente pela tância, que podem ser programadas ou motivadas
ANS; por denúncias, quebras de regras ou indícios de
z a regulamentação dos contratos entre operado- irregularidades;
ras, prestadores e beneficiários, estabelecendo as z a aplicação de penalidades administrativas, que
cláusulas mínimas, os prazos, as condições e as podem ser advertências, multas, suspensões ou
garantias; cassações, de acordo com a gravidade e a reinci-
z a regulamentação dos reajustes e das revisões das dência das infrações;
mensalidades dos planos de saúde, visando evitar z a mediação de conflitos entre operadoras, presta-
abusos e assegurar a viabilidade do setor; e dores e beneficiários, por meio de canais de aten-
z a regulamentação dos mecanismos de incentivo à dimento, de negociação e de conciliação; e
qualidade e à acreditação dos serviços de saúde, z a divulgação de informações e de orientações
visando estimular a melhoria contínua dos proces- sobre os direitos e os deveres dos agentes do setor,
sos e dos resultados. por meio de campanhas, de publicações e de por-
tais na internet.
O pilar assistencial é o que acompanha e avalia a
assistência prestada aos beneficiários dos planos de
saúde, bem como toma frente de promover ações pre-
venção e recuperação da saúde. Inclui: DEFESA DA CONCORRÊNCIA: LEI N°
12.529, DE 2011, E ALTERAÇÕES
z a definição de indicadores de qualidade da assis-
tência, que medem aspectos como a estrutura, o FINALIDADE
processo e o resultado dos serviços de saúde;
z a implementação de programas de promoção da
A Lei nº 12.529, de 2011, estrutura o Sistema Bra-
saúde e de prevenção de riscos e doenças, que
sileiro de Defesa da Concorrência e dispõe sobre a
visam estimular hábitos saudáveis, prevenir agra-
prevenção e repressão às infrações contra a ordem
vos e reduzir custos;
econômica.
z a implementação de modelos de remuneração
baseados em valor, que visam incentivar a eficiên- Art. 1º Esta Lei estrutura o Sistema Brasileiro de
cia, a efetividade e a resolutividade dos serviços de Defesa da Concorrência - SBDC e dispõe sobre a pre-
saúde; e venção e a repressão às infrações contra a ordem
z a implementação de redes de atenção à saúde, que econômica, orientada pelos ditames constitucio-
visam integrar e coordenar os diferentes níveis de nais de liberdade de iniciativa, livre concorrência,
complexidade e de cuidado dos serviços de saúde. função social da propriedade, defesa dos consumi-
dores e repressão ao abuso do poder econômico.
O pilar econômico-financeiro, por sua vez, é o que Parágrafo único. A coletividade é a titular dos bens
monitora e controla a situação econômica e financeira jurídicos protegidos por esta Lei.
das operadoras de planos de saúde, bem como estabe-
lece as exigências e as garantias para a sua atuação. O art. 1º faz a apresentação da presente lei, dis-
Este, inclui: pondo acerca dos princípios que a orientam, como a
liberdade de iniciativa, a livre concorrência, a função
z a definição de parâmetros e de limites para a social da propriedade, a defesa dos consumidores e a
constituição, a manutenção e a utilização das repressão ao abuso do poder econômico.
544 reservas técnicas, que são os recursos financeiros
TERRITORIALIDADE Do Tribunal Administrativo de Defesa Econômica

Art. 2º Aplica-se esta Lei, sem prejuízo de conven- Art. 6º O Tribunal Administrativo, órgão judican-
ções e tratados de que seja signatário o Brasil, às te, tem como membros um Presidente e seis Con-
práticas cometidas no todo ou em parte no terri- selheiros escolhidos dentre cidadãos com mais de
tório nacional ou que nele produzam ou possam 30 (trinta) anos de idade, de notório saber jurídico
produzir efeitos. ou econômico e reputação ilibada, nomeados pelo
§ 1º Reputa-se domiciliada no território nacional a Presidente da República, depois de aprovados pelo
empresa estrangeira que opere ou tenha no Brasil Senado Federal.
filial, agência, sucursal, escritório, estabelecimen- § 1º O mandato do Presidente e dos Conselheiros
to, agente ou representante. é de 4 (quatro) anos, não coincidentes, vedada a
§ 2º A empresa estrangeira será notificada e intima- recondução.
da de todos os atos processuais previstos nesta Lei, § 2º Os cargos de Presidente e de Conselheiro são
independentemente de procuração ou de disposição de dedicação exclusiva, não se admitindo qual-
contratual ou estatutária, na pessoa do agente ou quer acumulação, salvo as constitucionalmente
representante ou pessoa responsável por sua filial, permitidas.
§ 3º No caso de renúncia, morte, impedimento, fal-
agência, sucursal, estabelecimento ou escritório
ta ou perda de mandato do Presidente do Tribunal,
instalado no Brasil.
assumirá o Conselheiro mais antigo no cargo ou o
mais idoso, nessa ordem, até nova nomeação, sem
Essa lei é aplicada no território nacional, junta- prejuízo de suas atribuições.
mente com as convenções e tratados dos quais o Brasil § 4º No caso de renúncia, morte ou perda de man-
faz parte. Além disso, o preceito prevê a notificação dato de Conselheiro, proceder-se-á a nova nomea-
de empresas estrangeiras domiciliadas no território ção, para completar o mandato do substituído.
nacional. § 5º Se, nas hipóteses previstas no § 4º deste artigo,
ou no caso de encerramento de mandato dos Con-
DA COMPOSIÇÃO selheiros, a composição do Tribunal ficar reduzida
a número inferior ao estabelecido no § 1º do art.
Art. 3º O SBDC é formado pelo Conselho Adminis- 9º desta Lei, considerar-se-ão automaticamente
trativo de Defesa Econômica - CADE e pela Secreta- suspensos os prazos previstos nesta Lei, e suspen-
ria de Acompanhamento Econômico do Ministério sa a tramitação de processos, continuando-se a
da Fazenda, com as atribuições previstas nesta Lei. contagem imediatamente após a recomposição do
quorum.
Composição do Sistema Brasileiro de Defesa da
No CADE existem um presidente e seis conselhei-
Concorrência (SBDC), formado pelo Conselho Admi-
ros, cujos mandatos são de quatro anos, vedada a
nistrativo de Defesa Econômica (CADE) e pela Secreta-
recondução, e que exigem dedicação exclusiva. Os
ria de Acompanhamento Econômico.
Conselheiros são cidadãos nomeados pelo presidente
da República e aprovados pelo Senado Federal.
DO CONSELHO ADMINISTRATIVO DE DEFESA
ECONÔMICA — CADE Art. 7º A perda de mandato do Presidente ou dos
Conselheiros do Cade só poderá ocorrer em virtude
Art. 4º O Cade é entidade judicante com jurisdição de decisão do Senado Federal, por provocação do
em todo o território nacional, que se constitui em Presidente da República, ou em razão de condena-

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


autarquia federal, vinculada ao Ministério da Justi- ção penal irrecorrível por crime doloso, ou de pro-
ça, com sede e foro no Distrito Federal, e competên- cesso disciplinar de conformidade com o que prevê
cias previstas nesta Lei. a Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990 e a Lei nº
8.429, de 2 de junho de 1992 , e por infringência de
A menção ao CADE como entidade judicante signi- quaisquer das vedações previstas no art. 8º desta
fica que realizará julgamentos nas atribuições que lhe Lei.
são determinadas. Parágrafo único. Também perderá o mandato,
É importante ressaltar que não se trata de entida- automaticamente, o membro do Tribunal que faltar
de pertencente ao Poder Judiciário, mas sim ao Poder a 3 (três) reuniões ordinárias consecutivas, ou 20
Executivo, e que seus julgamentos são de caráter (vinte) intercaladas, ressalvados os afastamentos
temporários autorizados pelo Plenário.
administrativo, conforme previsto no art. 6º.
Trata-se de autarquia federal vinculada ao Minis-
As hipóteses de perda dos mandatos de Presidente
tério da Justiça.
e de Conselheiros serão, em resumo, por decisão do
Senado, pela condenação penal em crime doloso (com
Da Estrutura Organizacional do Cade
trânsito em julgado) ou processo disciplinar, nos ter-
mos previstos no caput, art. 7º.
Art. 5º O Cade é constituído pelos seguintes órgãos:
I - Tribunal Administrativo de Defesa Econômica;
Art. 8º Ao Presidente e aos Conselheiros é vedado:
II - Superintendência-Geral; e
I - receber, a qualquer título, e sob qualquer pretex-
III - Departamento de Estudos Econômicos.
to, honorários, percentagens ou custas;
II - exercer profissão liberal;
Esses são os órgãos que constituem a estrutura III - participar, na forma de controlador, diretor,
organizacional do CADE. administrador, gerente, preposto ou mandatário,
de sociedade civil, comercial ou empresas de qual-
quer espécie; 545
IV - emitir parecer sobre matéria de sua especiali- XIII - requerer à Procuradoria Federal junto ao
zação, ainda que em tese, ou funcionar como con- Cade a adoção de providências administrativas e
sultor de qualquer tipo de empresa; judiciais;
V - manifestar, por qualquer meio de comunicação, XIV - instruir o público sobre as formas de infração
opinião sobre processo pendente de julgamento, ou da ordem econômica;
juízo depreciativo sobre despachos, votos ou sen- XV - elaborar e aprovar regimento interno do Cade,
tenças de órgãos judiciais, ressalvada a crítica nos dispondo sobre seu funcionamento, forma das deli-
autos, em obras técnicas ou no exercício do magis- berações, normas de procedimento e organização de
tério; e seus serviços internos; Vide Decreto nº 9.011, de 2017
VI - exercer atividade político-partidária. XVI - propor a estrutura do quadro de pessoal do
§ 1º É vedado ao Presidente e aos Conselheiros, por Cade, observado o disposto no inciso II do caput do
um período de 120 (cento e vinte) dias, contado da art. 37 da Constituição Federal ;
data em que deixar o cargo, representar qualquer XVII - elaborar proposta orçamentária nos termos
pessoa, física ou jurídica, ou interesse perante o desta Lei;
SBDC, ressalvada a defesa de direito próprio. XVIII - requisitar informações de quaisquer pes-
§ 2º Durante o período mencionado no § 1º deste soas, órgãos, autoridades e entidades públicas ou
artigo, o Presidente e os Conselheiros receberão a privadas, respeitando e mantendo o sigilo legal
mesma remuneração do cargo que ocupavam. quando for o caso, bem como determinar as dili-
§ 3º Incorre na prática de advocacia administra- gências que se fizerem necessárias ao exercício das
tiva, sujeitando-se à pena prevista no art. 321 do suas funções; e
Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - XIX - decidir pelo cumprimento das decisões, com-
Código Penal, o ex-presidente ou ex-conselheiro que promissos e acordos.
violar o impedimento previsto no § 1º deste artigo. § 1º As decisões do Tribunal serão tomadas por
§ 4º É vedado, a qualquer tempo, ao Presidente e maioria, com a presença mínima de 4 (quatro)
aos Conselheiros utilizar informações privilegiadas membros, sendo o quorum de deliberação mínimo
obtidas em decorrência do cargo exercido. de 3 (três) membros.
§ 2º As decisões do Tribunal não comportam
Proibições atribuídas ao presidente e aos revisão no âmbito do Poder Executivo, promo-
conselheiros. vendo-se, de imediato, sua execução e comunican-
do-se, em seguida, ao Ministério Público, para as
Da Competência do Plenário do Tribunal demais medidas legais cabíveis no âmbito de suas
atribuições.
Art. 9º Compete ao Plenário do Tribunal, dentre § 3º As autoridades federais, os diretores de autar-
outras atribuições previstas nesta Lei: quia, fundação, empresa pública e sociedade de eco-
I - zelar pela observância desta Lei e seu regula- nomia mista federais e agências reguladoras são
mento e do regimento interno; obrigados a prestar, sob pena de responsabilidade,
II - decidir sobre a existência de infração à ordem toda a assistência e colaboração que lhes for solici-
econômica e aplicar as penalidades previstas em tada pelo Cade, inclusive elaborando pareceres téc-
lei; nicos sobre as matérias de sua competência.
III - decidir os processos administrativos para imposi- § 4º O Tribunal poderá responder consultas sobre
ção de sanções administrativas por infrações à ordem condutas em andamento, mediante pagamento de
econômica instaurados pela Superintendência-Geral; taxa e acompanhadas dos respectivos documentos.
IV - ordenar providências que conduzam à cessação § 5º O Cade definirá, em resolução, normas comple-
de infração à ordem econômica, dentro do prazo mentares sobre o procedimento de consultas pre-
que determinar; visto no § 4º deste artigo.
V - aprovar os termos do compromisso de cessação
de prática e do acordo em controle de concentra- Trata das competências do Tribunal Administrati-
ções, bem como determinar à Superintendência-Ge- vo do CADE. É importante fazer a leitura desses inci-
ral que fiscalize seu cumprimento; sos, porque é um tema bastante cobrado em questões
VI - apreciar, em grau de recurso, as medidas pre-
de prova para concurso público.
ventivas adotadas pelo Conselheiro-Relator ou pela
Superintendência-Geral;
VII - intimar os interessados de suas decisões; Da Competência do Presidente do Tribunal
VIII - requisitar dos órgãos e entidades da adminis-
tração pública federal e requerer às autoridades Art. 10 Compete ao Presidente do Tribunal:
dos Estados, Municípios, do Distrito Federal e dos I - representar legalmente o Cade no Brasil ou no
Territórios as medidas necessárias ao cumprimen- exterior, em juízo ou fora dele;
to desta Lei; II - presidir, com direito a voto, inclusive o de quali-
IX - contratar a realização de exames, vistorias e dade, as reuniões do Plenário;
estudos, aprovando, em cada caso, os respectivos III - distribuir, por sorteio, os processos aos
honorários profissionais e demais despesas de pro- Conselheiros;
cesso, que deverão ser pagas pela empresa, se vier IV - convocar as sessões e determinar a organiza-
a ser punida nos termos desta Lei; ção da respectiva pauta;
X - apreciar processos administrativos de atos de V - solicitar, a seu critério, que a Superintendên-
concentração econômica, na forma desta Lei, fixan- cia-Geral auxilie o Tribunal na tomada de provi-
do, quando entender conveniente e oportuno, acor- dências extrajudiciais para o cumprimento das
dos em controle de atos de concentração; decisões do Tribunal;
XI - determinar à Superintendência-Geral que adote VI - fiscalizar a Superintendência-Geral na tomada
as medidas administrativas necessárias à execução de providências para execução das decisões e julga-
e fiel cumprimento de suas decisões; dos do Tribunal;
XII - requisitar serviços e pessoal de quaisquer VII - assinar os compromissos e acordos aprovados
546 órgãos e entidades do Poder Público Federal; pelo Plenário;
VIII - submeter à aprovação do Plenário a proposta Da Superintendência-Geral
orçamentária e a lotação ideal do pessoal que pres-
tará serviço ao Cade; Art. 12 O Cade terá em sua estrutura uma Superin-
IX - orientar, coordenar e supervisionar as ativida- tendência-Geral, com 1 (um) Superintendente-Geral
des administrativas do Cade; e 2 (dois) Superintendentes-Adjuntos, cujas atribui-
X - ordenar as despesas atinentes ao Cade, res- ções específicas serão definidas em Resolução.
salvadas as despesas da unidade gestora da § 1º O Superintendente-Geral será escolhido dentre
Superintendência-Geral; cidadãos com mais de 30 (trinta) anos de idade,
XI - firmar contratos e convênios com órgãos ou notório saber jurídico ou econômico e reputação
entidades nacionais e submeter, previamente, ao ilibada, nomeado pelo Presidente da República,
Ministro de Estado da Justiça os que devam ser depois de aprovado pelo Senado Federal.
celebrados com organismos estrangeiros ou inter- § 2º O Superintendente-Geral terá mandato de 2
nacionais; e (dois) anos, permitida a recondução para um único
XII - determinar à Procuradoria Federal junto ao período subsequente.
Cade as providências judiciais determinadas pelo § 3º Aplicam-se ao Superintendente-Geral as mesmas
Tribunal. normas de impedimentos, perda de mandato, substi-
tuição e as vedações do art. 8º desta Lei, incluindo
O art. 10 estabelece as competências atribuídas ao o disposto no § 2º do art. 8º desta Lei, aplicáveis ao
Presidente do CADE, em caráter monocrático. Presidente e aos Conselheiros do Tribunal.
§ 4º Os cargos de Superintendente-Geral e de Supe-
Da Competência dos Conselheiros do Tribunal rintendentes-Adjuntos são de dedicação exclusiva,
não se admitindo qualquer acumulação, salvo as
Art. 11 Compete aos Conselheiros do Tribunal: constitucionalmente permitidas.
I - emitir voto nos processos e questões submetidas § 5º Durante o período de vacância que anteceder à
ao Tribunal; nomeação de novo Superintendente-Geral, assumi-
II - proferir despachos e lavrar as decisões nos pro- rá interinamente o cargo um dos superintendentes
cessos em que forem relatores; adjuntos, indicado pelo Presidente do Tribunal, o
III - requisitar informações e documentos de quais- qual permanecerá no cargo até a posse do novo Supe-
quer pessoas, órgãos, autoridades e entidades rintendente-Geral, escolhido na forma do § 1º deste
públicas ou privadas, a serem mantidos sob sigilo artigo.
legal, quando for o caso, bem como determinar as § 6º Se, no caso da vacância prevista no § 5º deste
diligências que se fizerem necessárias; artigo, não houver nenhum Superintendente Adjun-
IV - adotar medidas preventivas, fixando o valor da to nomeado na Superintendência do Cade, o Presi-
multa diária pelo seu descumprimento; dente do Tribunal indicará servidor em exercício no
V - solicitar, a seu critério, que a Superintendên- Cade, com conhecimento jurídico ou econômico na
cia-Geral realize as diligências e a produção das área de defesa da concorrência e reputação ilibada,
provas que entenderem pertinentes nos autos do para assumir interinamente o cargo, permanecendo
processo administrativo, na forma desta Lei; neste até a posse do novo Superintendente-Geral,
VI - requerer à Procuradoria Federal junto ao Cade escolhido na forma do § 1º deste artigo.
emissão de parecer jurídico nos processos em que § 7º Os Superintendentes-Adjuntos serão indicados
forem relatores, quando entenderem necessário e pelo Superintendente-Geral.
em despacho fundamentado, na forma prevista no
inciso VII do art. 15 desta Lei; A Superintendência-Geral do CADE é composta por um
VII - determinar ao Economista-Chefe, quando superintendente-geral e dois superintendentes-adjuntos.
necessário, a elaboração de pareceres nos pro-

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


O presidente da República é quem nomeia o supe-
cessos em que forem relatores, sem prejuízo da
rintendente-geral, mediante aprovação do Senado
tramitação normal do processo e sem que tal deter-
Federal, para exercer mandato de dois anos, permitida
minação implique a suspensão do prazo de análise
ou prejuízo à tramitação normal do processo; uma única recondução para o período subsequente.
VIII - desincumbir-se das demais tarefas que lhes Por sua vez, os superintendentes-adjuntos serão
forem cometidas pelo regimento; indicados pelo superintendente-geral.
IX - propor termo de compromisso de cessação e
acordos para aprovação do Tribunal; Art. 13 Compete à Superintendência-Geral:
X - prestar ao Poder Judiciário, sempre que solici- I - zelar pelo cumprimento desta Lei, monitorando e
tado, todas as informações sobre andamento dos acompanhando as práticas de mercado;
processos, podendo, inclusive, fornecer cópias dos II - acompanhar, permanentemente, as atividades e
autos para instruir ações judiciais. práticas comerciais de pessoas físicas ou jurídicas
que detiverem posição dominante em mercado rele-
O art. 11 estabelece as competências atribuídas aos vante de bens ou serviços, para prevenir infrações
conselheiros do Tribunal. da ordem econômica, podendo, para tanto, requisi-
tar as informações e documentos necessários, man-
tendo o sigilo legal, quando for o caso;
Dica III - promover, em face de indícios de infração da
A competência do Tribunal é deliberativa, por ordem econômica, procedimento preparatório de
inquérito administrativo e inquérito administrati-
meio do voto de todos os seus integrantes.
vo para apuração de infrações à ordem econômica;
Por sua vez, as competências do presidente
IV - decidir pela insubsistência dos indícios, arqui-
ou do conselheiro são monocráticas, ou seja, vando os autos do inquérito administrativo ou de
tomadas isoladamente pelos agentes públicos seu procedimento preparatório;
respectivos. V - instaurar e instruir processo administrativo
para imposição de sanções administrativas por
infrações à ordem econômica, procedimento para 547
apuração de ato de concentração, processo admi- XIV - desenvolver estudos e pesquisas objetivando
nistrativo para análise de ato de concentração eco- orientar a política de prevenção de infrações da
nômica e processo administrativo para imposição ordem econômica;
de sanções processuais incidentais instaurados XV - instruir o público sobre as diversas formas de
para prevenção, apuração ou repressão de infra- infração da ordem econômica e os modos de sua
ções à ordem econômica; prevenção e repressão;
VI - no interesse da instrução dos tipos processuais XVI - exercer outras atribuições previstas em lei;
referidos nesta Lei: XVII - prestar ao Poder Judiciário, sempre que soli-
a) requisitar informações e documentos de quais- citado, todas as informações sobre andamento das
quer pessoas, físicas ou jurídicas, órgãos, autori- investigações, podendo, inclusive, fornecer cópias
dades e entidades, públicas ou privadas, mantendo dos autos para instruir ações judiciais; e
o sigilo legal, quando for o caso, bem como deter- XVIII - adotar as medidas administrativas necessá-
minar as diligências que se fizerem necessárias ao rias à execução e ao cumprimento das decisões do
exercício de suas funções; Plenário.
b) requisitar esclarecimentos orais de quaisquer
pessoas, físicas ou jurídicas, órgãos, autoridades e Estabelece as competências da Superintendência-
entidades, públicas ou privadas, na forma desta Lei; -Geral, como órgão deliberativo. É sempre importante
c) realizar inspeção na sede social, estabelecimen- ressaltar que o tema referente a competências é muito
to, escritório, filial ou sucursal de empresa inves- cobrado em concurso público.
tigada, de estoques, objetos, papéis de qualquer
natureza, assim como livros comerciais, compu- Art. 14 São atribuições do Superintendente-Geral:
tadores e arquivos eletrônicos, podendo-se extrair I - participar, quando entender necessário, sem
ou requisitar cópias de quaisquer documentos ou direito a voto, das reuniões do Tribunal e proferir
dados eletrônicos; sustentação oral, na forma do regimento interno;
d) requerer ao Poder Judiciário, por meio da Procu- II - cumprir e fazer cumprir as decisões do Tribunal
radoria Federal junto ao Cade, mandado de busca e na forma determinada pelo seu Presidente;
apreensão de objetos, papéis de qualquer natureza, III - requerer à Procuradoria Federal junto ao Cade
assim como de livros comerciais, computadores e as providências judiciais relativas ao exercício das
arquivos magnéticos de empresa ou pessoa física, competências da Superintendência-Geral;
no interesse de inquérito administrativo ou de pro- IV - determinar ao Economista-Chefe a elaboração
cesso administrativo para imposição de sanções de estudos e pareceres;
administrativas por infrações à ordem econômica, V - ordenar despesas referentes à unidade gestora
aplicando-se, no que couber, o disposto no art. 839 da Superintendência-Geral; e
e seguintes da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 VI - exercer outras atribuições previstas em lei.
- Código de Processo Civil, sendo inexigível a propo-
situra de ação principal; Por sua vez, o art. 14 estabelece as competências
e) requisitar vista e cópia de documentos e objetos do superintendente-geral, em caráter monocrático.
constantes de inquéritos e processos administrati- Não obstante a isso, é importante salientar o caput,
vos instaurados por órgãos ou entidades da admi- art. 12, no qual está determinado que as atribuições
nistração pública federal; específicas do superintendente-geral e dos superinten-
f) requerer vista e cópia de inquéritos policiais, dentes-adjuntos serão definidas em resolução. Assim,
ações judiciais de quaisquer natureza, bem como de além das atribuições definidas pelo art. 14, outras
inquéritos e processos administrativos instaurados também estão previstas em ato normativo diverso.
por outros entes da federação, devendo o Conselho
observar as mesmas restrições de sigilo eventual- Da Procuradoria Federal Junto ao Cade
mente estabelecidas nos procedimentos de origem;
VII - recorrer de ofício ao Tribunal quando deci-
Art. 15 Funcionará junto ao Cade Procuradoria
dir pelo arquivamento de processo administrativo
Federal Especializada, competindo-lhe:
para imposição de sanções administrativas por I - prestar consultoria e assessoramento jurídico ao
infrações à ordem econômica; Cade;
VIII - remeter ao Tribunal, para julgamento, os pro- II - representar o Cade judicial e extrajudicialmente;
cessos administrativos que instaurar, quando enten- III - promover a execução judicial das decisões e jul-
der configurada infração da ordem econômica; gados do Cade;
IX - propor termo de compromisso de cessação de IV - proceder à apuração da liquidez dos créditos
prática por infração à ordem econômica, subme- do Cade, inscrevendo-os em dívida ativa para fins
tendo-o à aprovação do Tribunal, e fiscalizar o seu de cobrança administrativa ou judicial;
cumprimento; V - tomar as medidas judiciais solicitadas pelo Tri-
X - sugerir ao Tribunal condições para a celebração bunal ou pela Superintendência-Geral, necessárias
de acordo em controle de concentrações e fiscalizar à cessação de infrações da ordem econômica ou à
o seu cumprimento; obtenção de documentos para a instrução de pro-
XI - adotar medidas preventivas que conduzam cessos administrativos de qualquer natureza;
à cessação de prática que constitua infração da VI - promover acordos judiciais nos processos
ordem econômica, fixando prazo para seu cumpri- relativos a infrações contra a ordem econômica,
mento e o valor da multa diária a ser aplicada, no mediante autorização do Tribunal;
caso de descumprimento; VII - emitir, sempre que solicitado expressamente
XII - receber, instruir e aprovar ou impugnar peran- por Conselheiro ou pelo Superintendente-Geral,
te o Tribunal os processos administrativos para parecer nos processos de competência do Cade,
análise de ato de concentração econômica; sem que tal determinação implique a suspensão do
XIII - orientar os órgãos e entidades da administra- prazo de análise ou prejuízo à tramitação normal
ção pública quanto à adoção de medidas necessá- do processo;
548 rias ao cumprimento desta Lei; VIII - zelar pelo cumprimento desta Lei; e
IX - desincumbir-se das demais tarefas que lhe O Departamento de Estudos Econômicos é outro
sejam atribuídas pelo regimento interno. órgão que constitui o CADE, dentro daqueles enume-
Parágrafo único. Compete à Procuradoria Federal rados no art. 5º.
junto ao Cade, ao dar execução judicial às decisões É dirigido por um economista-chefe, que será
da Superintendência-Geral e do Tribunal, manter o nomeado pelo presidente do Tribunal Administrativo
Presidente do Tribunal, os Conselheiros e o Supe- de Defesa Econômica e pelo superintendente-geral,
rintendente-Geral informados sobre o andamento em caráter conjunto.
das ações e medidas judiciais. Tem a competência de elaborar estudos e parece-
res econômicos, nos termos estabelecidos no caput,
A Procuradoria-Federal trabalha junto ao CADE, art. 17.
cujas atribuições estão previstas no art. 15. São temas
mais ligados aos aspectos jurídicos de atuação do DA SECRETARIA DE ACOMPANHAMENTO
CADE, fornecendo consultoria e assessoria, o que ECONÔMICO
inclui ingressar com ações perante o Poder Judiciário,
dentre outras funções. Art. 19 Compete à Secretaria de Acompanhamento
Econômico promover a concorrência em órgãos de
Art. 16 O Procurador-Chefe será nomeado pelo governo e perante a sociedade cabendo-lhe, espe-
Presidente da República, depois de aprovado pelo cialmente, o seguinte:
Senado Federal, dentre cidadãos brasileiros com I - opinar, nos aspectos referentes à promoção da
mais de 30 (trinta) anos de idade, de notório conhe- concorrência, sobre propostas de alterações de
cimento jurídico e reputação ilibada. atos normativos de interesse geral dos agentes
econômicos, de consumidores ou usuários dos
§ 1º O Procurador-Chefe terá mandato de 2 (dois)
serviços prestados submetidos a consulta pública
anos, permitida sua recondução para um único
pelas agências reguladoras e, quando entender per-
período.
tinente, sobre os pedidos de revisão de tarifas e as
§ 2º O Procurador-Chefe poderá participar, sem
minutas;
direito a voto, das reuniões do Tribunal, prestando
II - opinar, quando considerar pertinente, sobre
assistência e esclarecimentos, quando requisitado minutas de atos normativos elaborados por qual-
pelos Conselheiros, na forma do Regimento Interno quer entidade pública ou privada submetidos à con-
do Tribunal. sulta pública, nos aspectos referentes à promoção
§ 3º Aplicam-se ao Procurador-Chefe as mesmas da concorrência;
normas de impedimento aplicáveis aos Conselhei- III - opinar, quando considerar pertinente, sobre
ros do Tribunal, exceto quanto ao comparecimento proposições legislativas em tramitação no Congres-
às sessões. so Nacional, nos aspectos referentes à promoção da
§ 4º Nos casos de faltas, afastamento temporário concorrência;
ou impedimento do Procurador-Chefe, o Plenário IV - elaborar estudos avaliando a situação concor-
indicará e o Presidente do Tribunal designará o rencial de setores específicos da atividade econômica
substituto eventual dentre os integrantes da Procu- nacional, de ofício ou quando solicitada pelo Cade,
radoria Federal Especializada. pela Câmara de Comércio Exterior ou pelo Depar-
tamento de Proteção e Defesa do Consumidor do
O procurador-chefe da Procuradoria Federal junto Ministério da Justiça ou órgão que vier a sucedê-lo;
ao CADE será nomeado pelo presidente da Repúbli- V - elaborar estudos setoriais que sirvam de insu-
mo para a participação do Ministério da Fazenda
ca, com aprovação do Senado Federal, para mandato
na formulação de políticas públicas setoriais nos

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


de dois anos, permitida a recondução para um único
fóruns em que este Ministério tem assento;
período. VI - propor a revisão de leis, regulamentos e outros
Torna-se importante salientar que o procurador- atos normativos da administração pública federal,
-chefe poderá participar das reuniões do Tribunal estadual, municipal e do Distrito Federal que afe-
Administrativo, sem direito a voto, prestando assis- tem ou possam afetar a concorrência nos diversos
tência e esclarecimentos. setores econômicos do País;
VII - manifestar-se, de ofício ou quando solicitada,
Do Departamento de Estudos Econômicos a respeito do impacto concorrencial de medidas em
discussão no âmbito de fóruns negociadores relati-
Art. 17 O Cade terá um Departamento de Estudos vos às atividades de alteração tarifária, ao acesso a
Econômicos, dirigido por um Economista-Chefe, a mercados e à defesa comercial, ressalvadas as com-
petências dos órgãos envolvidos;
quem incumbirá elaborar estudos e pareceres eco-
VIII - encaminhar ao órgão competente representa-
nômicos, de ofício ou por solicitação do Plenário,
ção para que este, a seu critério, adote as medidas
do Presidente, do Conselheiro-Relator ou do Supe-
legais cabíveis, sempre que for identificado ato nor-
rintendente-Geral, zelando pelo rigor e atualização
mativo que tenha caráter anticompetitivo.
técnica e científica das decisões do órgão. § 1º Para o cumprimento de suas atribuições, a
Art. 18 O Economista-Chefe será nomeado, con- Secretaria de Acompanhamento Econômico poderá:
juntamente, pelo Superintendente-Geral e pelo Pre- I - requisitar informações e documentos de quais-
sidente do Tribunal, dentre brasileiros de ilibada quer pessoas, órgãos, autoridades e entidades,
reputação e notório conhecimento econômico. públicas ou privadas, mantendo o sigilo legal quan-
§ 1º O Economista-Chefe poderá participar das reu- do for o caso;
niões do Tribunal, sem direito a voto. II - celebrar acordos e convênios com órgãos ou
§ 2º Aplicam-se ao Economista-Chefe as mesmas entidades públicas ou privadas, federais, estaduais,
normas de impedimento aplicáveis aos Conselhei- municipais, do Distrito Federal e dos Territórios
ros do Tribunal, exceto quanto ao comparecimento para avaliar e/ou sugerir medidas relacionadas à
às sessões. promoção da concorrência. 549
§ 2º A Secretaria de Acompanhamento Econômico Art. 24 São contribuintes da taxa processual que
divulgará anualmente relatório de suas ações vol- tem como fato gerador a apresentação dos atos pre-
tadas para a promoção da concorrência. vistos no art. 88 desta Lei qualquer das requerentes.
Art. 25 O recolhimento da taxa processual que tem
O art. 19 estabelece as competências da Secretaria como fato gerador a apresentação dos atos previs-
de Acompanhamento Econômico. tos no art. 88 desta Lei deverá ser comprovado no
momento da protocolização do ato.
DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PERANTE O § 1º A taxa processual não recolhida no momento
CADE fixado no caput deste artigo será cobrada com os
seguintes acréscimos:
Art. 20 O Procurador-Geral da República, ouvido I - juros de mora, contados do mês seguinte ao do
o Conselho Superior, designará membro do Minis- vencimento, à razão de 1% (um por cento), calcula-
tério Público Federal para, nesta qualidade, emitir dos na forma da legislação aplicável aos tributos
parecer, nos processos administrativos para impo- federais;
sição de sanções administrativas por infrações à II - multa de mora de 20% (vinte por cento).
ordem econômica, de ofício ou a requerimento do § 2º Os juros de mora não incidem sobre o valor da
Conselheiro-Relator. multa de mora.
Art. 26 (VETADO).
O Ministério Público Federal é órgão integrante do Art. 27 As taxas de que tratam os arts. 23 e 26 desta
Ministério Público da União, chefiado pelo procura- Lei serão recolhidas ao Tesouro Nacional na forma
dor-geral da República (PGR). regulamentada pelo Poder Executivo.
O PGR, por sua vez, irá designar membro do Minis-
tério Público Federal perante o CADE para emitir A taxa processual prevista nos artigos destacados
parecer nos processos administrativos para imposi- refere-se aos procedimentos instaurados para verifi-
ção de sanções administrativas. cação de atos de concentração econômica, com base
no art. 88.
DO PATRIMÔNIO, DAS RECEITAS E DA GESTÃO O contribuinte da presente taxa é qualquer uma
ADMINISTRATIVA, ORÇAMENTÁRIA E FINANCEIRA das partes que requerem a instauração do referido
procedimento.
Art. 21 Compete ao Presidente do Tribunal orien-
tar, coordenar e supervisionar as atividades admi- Art. 28 Constituem receitas próprias do Cade:
nistrativas do Cade, respeitadas as atribuições dos I - o produto resultante da arrecadação das taxas
dirigentes dos demais órgãos previstos no art. 5º previstas nos arts. 23 e 26 desta Lei;
desta Lei. II - a retribuição por serviços de qualquer natureza
§ 1º A Superintendência-Geral constituirá unidade prestados a terceiros;
gestora, para fins administrativos e financeiros, III - as dotações consignadas no Orçamento Geral
competindo ao seu Superintendente-Geral orde- da União, créditos especiais, créditos adicionais,
nar as despesas pertinentes às respectivas ações
transferências e repasses que lhe forem conferidos;
orçamentárias.
IV - os recursos provenientes de convênios, acordos
§ 2º Para fins administrativos e financeiros, o
ou contratos celebrados com entidades ou organis-
Departamento de Estudos Econômicos estará liga-
mos nacionais e internacionais;
do ao Tribunal.
V - as doações, legados, subvenções e outros recur-
sos que lhe forem destinados;
O presidente do Tribunal possui atuação adminis-
VI - os valores apurados na venda ou aluguel de
trativa da instituição, além das suas funções típicas
bens móveis e imóveis de sua propriedade;
determinadas pelo art. 10.
VII - o produto da venda de publicações, material
técnico, dados e informações;
Art. 22 Anualmente, o Presidente do Tribunal, ouvi- VIII - os valores apurados em aplicações no merca-
do o Superintendente-Geral, encaminhará ao Poder
do financeiro das receitas previstas neste artigo, na
Executivo a proposta de orçamento do Cade e a
forma definida pelo Poder Executivo; e
lotação ideal do pessoal que prestará serviço àque-
IX - quaisquer outras receitas, afetas às suas ati-
la autarquia.
vidades, não especificadas nos incisos I a VIII do
caput deste artigo.
A proposta de orçamento do CADE será encami-
§ 1º (VETADO).
nhada pelo presidente do Tribunal ao Poder Executi- § 2º (VETADO).
vo, para compor a Lei Orçamentária Anual. O art. 29 § 3º O produto da arrecadação das multas aplica-
detalha melhor esse procedimento. das pelo Cade, inscritas ou não em dívida ativa,
será destinado ao Fundo de Defesa de Direitos Difu-
Art. 23 Instituem-se taxas processuais sobre os sos de que trata o art. 13 da Lei nº 7.347, de 24 de
processos de competência do Cade, no valor de R$ julho de 1985, e a Lei nº 9.008, de 21 de março de
85.000,00 (oitenta e cinco mil reais), para os proces-
1995.
sos que têm como fato gerador a apresentação dos
§ 4º As multas arrecadadas na forma desta Lei
atos previstos no art. 88 desta Lei, e no valor de R$
serão recolhidas ao Tesouro Nacional na forma
15.000,00 (quinze mil reais), para os processos que
regulamentada pelo Poder Executivo.
têm como fato gerador a apresentação das consul-
tas referidas no § 4º do art. 9º desta Lei.
Parágrafo único. A taxa processual de que trata o A receita própria significa o recurso financeiro
caput deste artigo poderá ser atualizada por ato do recebido diretamente pelo CADE, que não seja o repas-
Poder Executivo, após autorização do Congresso se ou transferência do ente federativo para a referida
550 Nacional. autarquia, designada no art. 28.
Art. 29 O Cade submeterá anualmente ao Minis- há ordem de preferência na apuração e condenação,
tério da Justiça a sua proposta de orçamento, que respondendo igualmente pela totalidade da infração
será encaminhada ao Ministério do Planejamento, cometida.
Orçamento e Gestão para inclusão na lei orçamen- Também haverá responsabilidade solidária entre
tária anual, a que se refere o § 5º do art. 165 da empresas que participem do mesmo grupo econômico.
Constituição Federal. Ademais, poderá ser determinada a desconsi-
§ 1º O Cade fará acompanhar as propostas orça- deração da personalidade jurídica da empresa, nas
mentárias de quadro demonstrativo do planeja-
situações previstas no art. 34, por meio da qual o patri-
mento plurianual das receitas e despesas, visando
mônio dos sócios responderá pela dívida da empresa.
ao seu equilíbrio orçamentário e financeiro nos 5
(cinco) exercícios subsequentes.
§ 2º A lei orçamentária anual consignará as dota- Das Infrações
ções para as despesas de custeio e capital do Cade,
relativas ao exercício a que ela se referir. Art. 36 Constituem infração da ordem econômica,
Art. 30 Somam-se ao atual patrimônio do Cade os independentemente de culpa, os atos sob qualquer
bens e direitos pertencentes ao Ministério da Justiça forma manifestados, que tenham por objeto ou pos-
atualmente afetados às atividades do Departamen- sam produzir os seguintes efeitos, ainda que não
to de Proteção e Defesa Econômica da Secretaria de sejam alcançados:
Direito Econômico. I - limitar, falsear ou de qualquer forma prejudicar
a livre concorrência ou a livre iniciativa;
II - dominar mercado relevante de bens ou serviços;
O art. 22 prevê que o presidente do Tribunal enca-
III - aumentar arbitrariamente os lucros; e
minhará ao Poder Executivo a proposta orçamentária
IV - exercer de forma abusiva posição dominante.
do CADE. Nesse sentido, o art. 29 estabelece que se tra- § 1º A conquista de mercado resultante de proces-
ta do Ministério da Justiça; posteriormente, será enca- so natural fundado na maior eficiência de agente
minhada ao Ministério do Planejamento, Orçamento e econômico em relação a seus competidores não
Gestão, para que seja finalmente incluída na Lei Orça- caracteriza o ilícito previsto no inciso II do caput
mentária Anual. deste artigo.
§ 2º Presume-se posição dominante sempre que
DAS INFRAÇÕES DA ORDEM ECONÔMICA uma empresa ou grupo de empresas for capaz de
alterar unilateral ou coordenadamente as condi-
Art. 31 Esta Lei aplica-se às pessoas físicas ou ções de mercado ou quando controlar 20% (vinte
jurídicas de direito público ou privado, bem como por cento) ou mais do mercado relevante, podendo
a quaisquer associações de entidades ou pessoas, este percentual ser alterado pelo Cade para setores
constituídas de fato ou de direito, ainda que tem- específicos da economia.
porariamente, com ou sem personalidade jurídica, § 3º As seguintes condutas, além de outras, na medi-
mesmo que exerçam atividade sob regime de mono- da em que configurem hipótese prevista no caput
pólio legal. deste artigo e seus incisos, caracterizam infração
Art. 32 As diversas formas de infração da ordem da ordem econômica:
econômica implicam a responsabilidade da empre- I - acordar, combinar, manipular ou ajustar com
sa e a responsabilidade individual de seus dirigen- concorrente, sob qualquer forma:
tes ou administradores, solidariamente. a) os preços de bens ou serviços ofertados
Art. 33 Serão solidariamente responsáveis as individualmente;
empresas ou entidades integrantes de grupo econô- b) a produção ou a comercialização de uma quanti-
mico, de fato ou de direito, quando pelo menos uma dade restrita ou limitada de bens ou a prestação de

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


delas praticar infração à ordem econômica. um número, volume ou frequência restrita ou limi-
Art. 34 A personalidade jurídica do responsável por tada de serviços;
infração da ordem econômica poderá ser descon- c) a divisão de partes ou segmentos de um mercado
siderada quando houver da parte deste abuso de atual ou potencial de bens ou serviços, mediante,
direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato dentre outros, a distribuição de clientes, fornecedo-
ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. res, regiões ou períodos;
Parágrafo único. A desconsideração também será d) preços, condições, vantagens ou abstenção em
efetivada quando houver falência, estado de insol- licitação pública;
vência, encerramento ou inatividade da pessoa jurí- II - promover, obter ou influenciar a adoção de
dica provocados por má administração. conduta comercial uniforme ou concertada entre
Art. 35 A repressão das infrações da ordem econô- concorrentes;
mica não exclui a punição de outros ilícitos previs- III - limitar ou impedir o acesso de novas empresas
tos em lei. ao mercado;
IV - criar dificuldades à constituição, ao funciona-
Estão sujeitas à aplicação da presente lei as pes- mento ou ao desenvolvimento de empresa concor-
soas físicas e jurídicas, de direito público ou privado, rente ou de fornecedor, adquirente ou financiador
de bens ou serviços;
mesmo aquelas que atuem sem deter personalidade
V - impedir o acesso de concorrente às fontes de
jurídica.
insumo, matérias-primas, equipamentos ou tecno-
Todas essas pessoas, uma vez praticada infração da logia, bem como aos canais de distribuição;
ordem econômica prevista na Lei nº 12.529, de 2011, VI - exigir ou conceder exclusividade para divulga-
responderão pelos seus atos, sem excluir outra respon- ção de publicidade nos meios de comunicação de
sabilidade prevista em lei diversa, pelo mesmo ato. massa;
As responsabilidades recairão sobre a empresa e VII - utilizar meios enganosos para provocar a osci-
sobre seus dirigentes ou administradores de manei- lação de preços de terceiros;
ra individual. Além disso, estes últimos possuem res- VIII - regular mercados de bens ou serviços, esta-
ponsabilidade solidária com a empresa, ou seja, não belecendo acordos para limitar ou controlar a 551
pesquisa e o desenvolvimento tecnológico, a pro- deste artigo, ou às pessoas jurídicas ou entidades,
dução de bens ou prestação de serviços, ou para nos casos previstos no inciso II do caput deste artigo.
dificultar investimentos destinados à produção de § 1º Em caso de reincidência, as multas cominadas
bens ou serviços ou à sua distribuição; serão aplicadas em dobro.
IX - impor, no comércio de bens ou serviços, a dis- § 2º No cálculo do valor da multa de que trata o
tribuidores, varejistas e representantes preços de inciso I do caput deste artigo, o Cade poderá consi-
revenda, descontos, condições de pagamento, quan- derar o faturamento total da empresa ou grupo de
tidades mínimas ou máximas, margem de lucro ou empresas, quando não dispuser do valor do fatu-
quaisquer outras condições de comercialização ramento no ramo de atividade empresarial em que
relativos a negócios destes com terceiros; ocorreu a infração, definido pelo Cade, ou quando
X - discriminar adquirentes ou fornecedores de este for apresentado de forma incompleta e/ou não
bens ou serviços por meio da fixação diferenciada demonstrado de forma inequívoca e idônea.
de preços, ou de condições operacionais de venda Art. 38 Sem prejuízo das penas cominadas no
ou prestação de serviços; art. 37 desta Lei, quando assim exigir a gravida-
XI - recusar a venda de bens ou a prestação de ser- de dos fatos ou o interesse público geral, pode-
viços, dentro das condições de pagamento normais rão ser impostas as seguintes penas, isolada ou
aos usos e costumes comerciais; cumulativamente:
XII - dificultar ou romper a continuidade ou desen- I - a publicação, em meia página e a expensas do
volvimento de relações comerciais de prazo inde- infrator, em jornal indicado na decisão, de extrato
terminado em razão de recusa da outra parte em da decisão condenatória, por 2 (dois) dias seguidos,
submeter-se a cláusulas e condições comerciais de 1 (uma) a 3 (três) semanas consecutivas;
injustificáveis ou anticoncorrenciais; II - a proibição de contratar com instituições financei-
XIII - destruir, inutilizar ou açambarcar matérias- ras oficiais e participar de licitação tendo por objeto
-primas, produtos intermediários ou acabados, aquisições, alienações, realização de obras e servi-
assim como destruir, inutilizar ou dificultar a ope- ços, concessão de serviços públicos, na administra-
ração de equipamentos destinados a produzi-los, ção pública federal, estadual, municipal e do Distrito
distribuí-los ou transportá-los; Federal, bem como em entidades da administração
XIV - açambarcar ou impedir a exploração de direi- indireta, por prazo não inferior a 5 (cinco) anos;
tos de propriedade industrial ou intelectual ou de III - a inscrição do infrator no Cadastro Nacional de
tecnologia; Defesa do Consumidor;
XV - vender mercadoria ou prestar serviços injusti- IV - a recomendação aos órgãos públicos competen-
ficadamente abaixo do preço de custo; tes para que:
XVI - reter bens de produção ou de consumo, exceto a) seja concedida licença compulsória de direito de
para garantir a cobertura dos custos de produção; propriedade intelectual de titularidade do infrator,
XVII - cessar parcial ou totalmente as atividades da quando a infração estiver relacionada ao uso desse
empresa sem justa causa comprovada;
direito;
XVIII - subordinar a venda de um bem à aquisição
b) não seja concedido ao infrator parcelamento de
de outro ou à utilização de um serviço, ou subordi-
tributos federais por ele devidos ou para que sejam
nar a prestação de um serviço à utilização de outro
cancelados, no todo ou em parte, incentivos fiscais
ou à aquisição de um bem; e
ou subsídios públicos;
XIX - exercer ou explorar abusivamente direitos de pro-
V - a cisão de sociedade, transferência de controle
priedade industrial, intelectual, tecnologia ou marca.
societário, venda de ativos ou cessação parcial de
atividade;
Esse artigo estabelece quais são as infrações à VI - a proibição de exercer o comércio em nome pró-
ordem econômica. prio ou como representante de pessoa jurídica, pelo
prazo de até 5 (cinco) anos; e
Das Penas VII - qualquer outro ato ou providência necessá-
rios para a eliminação dos efeitos nocivos à ordem
Art. 37 A prática de infração da ordem econômica econômica.
sujeita os responsáveis às seguintes penas:
I - no caso de empresa, multa de 0,1% (um décimo O art. 37 estabelece as sanções aplicadas pelo
por cento) a 20% (vinte por cento) do valor do fatu- cometimento de infração à ordem econômica.
ramento bruto da empresa, grupo ou conglomerado Por sua vez, o art. 38 prevê mais penas, além das
obtido, no último exercício anterior à instauração
constantes no art. 37, a serem aplicadas nos casos de
do processo administrativo, no ramo de atividade
gravidade dos fatos ou quando existir interesse público
empresarial em que ocorreu a infração, a qual nun-
ca será inferior à vantagem auferida, quando for geral. Elas poderão ser aplicadas isoladamente ou em
possível sua estimação; conjunto, ou seja, não se limitam à aplicação de apenas
II - no caso das demais pessoas físicas ou jurídicas um inciso, podendo recair ao infrator mais de uma pena.
de direito público ou privado, bem como quaisquer
associações de entidades ou pessoas constituídas Art. 39 Pela continuidade de atos ou situações
de fato ou de direito, ainda que temporariamente, que configurem infração da ordem econômica,
com ou sem personalidade jurídica, que não exer- após decisão do Tribunal determinando sua ces-
çam atividade empresarial, não sendo possível uti- sação, bem como pelo não cumprimento de obri-
lizar-se o critério do valor do faturamento bruto, a gações de fazer ou não fazer impostas, ou pelo
multa será entre R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) descumprimento de medida preventiva ou termo
e R$ 2.000.000.000,00 (dois bilhões de reais); de compromisso de cessação previstos nesta Lei,
III - no caso de administrador, direta ou indireta- o responsável fica sujeito a multa diária fixada em
mente responsável pela infração cometida, quando valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), podendo ser
comprovada a sua culpa ou dolo, multa de 1% (um aumentada em até 50 (cinquenta) vezes, se assim
por cento) a 20% (vinte por cento) daquela aplica- recomendar a situação econômica do infrator e a
552 da à empresa, no caso previsto no inciso I do caput gravidade da infração.
Os descumprimentos de ordem do Tribunal para Do art. 40 ao 44 estão previstas mais infrações
cessarem as infrações, das obrigações de fazer ou de estabelecidas por essa lei, com as previsões de suas
não fazer impostas, de medida preventiva ou termo respectivas sanções. A cada uma delas está prevista
de compromisso, acarretarão multa diária ao infra- uma multa em valores estabelecidos, que poderá ser
tor, que poderá ser aumentada diante da gravidade aumentada, dependendo da situação.
da infração e da sua situação econômica.
Art. 45 Na aplicação das penas estabelecidas nesta
Art. 40 A recusa, omissão ou retardamento injus- Lei, levar-se-á em consideração:
tificado de informação ou documentos solicitados I - a gravidade da infração;
pelo Cade ou pela Secretaria de Acompanhamento II - a boa-fé do infrator;
Econômico constitui infração punível com multa III - a vantagem auferida ou pretendida pelo
diária de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), podendo ser infrator;
aumentada em até 20 (vinte) vezes, se necessário IV - a consumação ou não da infração;
para garantir sua eficácia, em razão da situação V - o grau de lesão, ou perigo de lesão, à livre con-
corrência, à economia nacional, aos consumidores,
econômica do infrator.
ou a terceiros;
§ 1º O montante fixado para a multa diária de
VI - os efeitos econômicos negativos produzidos no
que trata o caput deste artigo constará do docu-
mercado;
mento que contiver a requisição da autoridade
VII - a situação econômica do infrator; e
competente.
VIII - a reincidência.
§ 2º Compete à autoridade requisitante a aplicação
da multa prevista no caput deste artigo.
Para aplicação de todas as infrações previstas
§ 3º Tratando-se de empresa estrangeira, responde
nessa lei, o julgador deverá considerar as situações
solidariamente pelo pagamento da multa de que
trata o caput sua filial, sucursal, escritório ou esta-
previstas nos incisos do art. 45, como critério de
belecimento situado no País. razoabilidade, diante do caso concreto.
Art. 41 A falta injustificada do representado ou de
terceiros, quando intimados para prestar esclare- DA PRESCRIÇÃO
cimentos, no curso de inquérito ou processo admi-
nistrativo, sujeitará o faltante à multa de R$ 500,00 Art. 46 Prescrevem em 5 (cinco) anos as ações
(quinhentos reais) a R$ 15.000,00 (quinze mil reais) punitivas da administração pública federal, direta
para cada falta, aplicada conforme sua situação e indireta, objetivando apurar infrações da ordem
econômica. econômica, contados da data da prática do ilícito
Parágrafo único. A multa a que se refere o caput ou, no caso de infração permanente ou continuada,
deste artigo será aplicada mediante auto de infra- do dia em que tiver cessada a prática do ilícito.
§ 1º Interrompe a prescrição qualquer ato adminis-
ção pela autoridade competente.
trativo ou judicial que tenha por objeto a apuração
Art. 42 Impedir, obstruir ou de qualquer outra for-
da infração contra a ordem econômica mencionada
ma dificultar a realização de inspeção autorizada
no caput deste artigo, bem como a notificação ou a
pelo Plenário do Tribunal, pelo Conselheiro-Relator
intimação da investigada.
ou pela Superintendência-Geral no curso de pro-
§ 2º Suspende-se a prescrição durante a vigência do
cedimento preparatório, inquérito administrativo,
compromisso de cessação ou do acordo em contro-
processo administrativo ou qualquer outro pro- le de concentrações.
cedimento sujeitará o inspecionado ao pagamen- § 3º Incide a prescrição no procedimento adminis-
to de multa de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) a R$

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


trativo paralisado por mais de 3 (três) anos, pen-
400.000,00 (quatrocentos mil reais), conforme a dente de julgamento ou despacho, cujos autos serão
situação econômica do infrator, mediante a lavra- arquivados de ofício ou mediante requerimento da
tura de auto de infração pelo órgão competente. parte interessada, sem prejuízo da apuração da res-
Art. 43 A enganosidade ou a falsidade de informa- ponsabilidade funcional decorrente da paralisação,
ções, de documentos ou de declarações prestadas se for o caso.
por qualquer pessoa ao Cade ou à Secretaria de § 4º Quando o fato objeto da ação punitiva da admi-
Acompanhamento Econômico será punível com nistração também constituir crime, a prescrição
multa pecuniária no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reger-se-á pelo prazo previsto na lei penal.
reais) a R$ 5.000.000,00 (cinco milhões de reais), de
acordo com a gravidade dos fatos e a situação eco- A prescrição gera extinção da punibilidade, não
nômica do infrator, sem prejuízo das demais comi- cabendo mais aplicar sanção ao infrator. A prescrição
nações legais cabíveis. estabelecida na lei é de cinco anos, a contar da prática
Art. 44 Aquele que prestar serviços ao Cade ou a da infração ou, quando se tratar de ilícito permanente
Seae, a qualquer título, e que der causa, mesmo que ou continuado, a partir da sua cessação.
por mera culpa, à disseminação indevida de infor- A prescrição poderá ser interrompida ou suspensa
mação acerca de empresa, coberta por sigilo, será nas hipóteses previstas nos §§1º e 2º.
punível com multa pecuniária de R$ 1.000,00 (mil Por sua vez, o § 3º estabelece a prescrição intercor-
reais) a R$ 20.000,00 (vinte mil reais), sem prejuízo rente, que é aquela estabelecida no curso do processo
de abertura de outros procedimentos cabíveis. instaurado, mas que permanece paralisado sem culpa
§ 1º Se o autor da disseminação indevida estiver do infrator. Nesse caso, a prescrição será de três anos
servindo o Cade em virtude de mandato, ou na qua- e, além disso, deverá ser apurado o ilícito administra-
lidade de Procurador Federal ou Economista-Chefe, tivo daquele agente que deu causa a essa paralisação.
a multa será em dobro.
§ 2º O Regulamento definirá o procedimento para Art. 46-A Quando a ação de indenização por per-
que uma informação seja tida como sigilosa, no das e danos originar-se do direito previsto no art.
âmbito do Cade e da Seae. 47 desta Lei, não correrá a prescrição durante o 553
curso do inquérito ou do processo administrativo O § 1º prevê indenização em dobro do prejuízo
no âmbito do Cade. financeiro, exceto se os coautores da infração tiverem
§ 1º Prescreve em 5 (cinco) anos a pretensão à celebrado e cumprido acordo de leniência ou termo de
reparação pelos danos causados pelas infrações compromisso nos termos do § 2º, caso em que continua-
à ordem econômica previstas no art. 36 desta Lei, rão obrigados a indenizar, porém no seu valor simples.
iniciando-se sua contagem a partir da ciência ine- A tutela de evidência prevista no art. 47-A refere-
quívoca do ilícito. -se à concessão de liminar por parte da autoridade
§ 2º Considera-se ocorrida a ciência inequívoca do
julgadora, ou seja, decisão proferida antes do advento
ilícito por ocasião da publicação do julgamento
final do processo, desde que presentes os requisitos.
final do processo administrativo pelo Cade.

O art. 46-A foi acrescentado à presente lei em 2022, DAS DIVERSAS ESPÉCIES DE PROCESSO
destinado à ação indenizatória daquele que sofreu ADMINISTRATIVO
prejuízo financeiro.
O prazo prescricional para propor ação indeniza- Disposições Gerais
tória por perdas e danos é de cinco anos, porém come-
ça a correr a partir da data em que o ilícito se tornar Art. 48 Esta Lei regula os seguintes procedimentos
conhecido, de maneira inequívoca. administrativos instaurados para prevenção, apu-
Portanto, apesar de o prazo ser o mesmo estabe- ração e repressão de infrações à ordem econômica:
lecido para intentar ação punitiva prevista no art. 46, I - procedimento preparatório de inquérito admi-
aqui o prazo não começa a contar da prática do ilíci- nistrativo para apuração de infrações à ordem
econômica;
to, mas sim de quando ele se tornar conhecido pelo
II - inquérito administrativo para apuração de
prejudicado.
infrações à ordem econômica;
Além disso, a prescrição não começará a correr
III - processo administrativo para imposição de
enquanto durar o inquérito ou o processo administra- sanções administrativas por infrações à ordem
tivo no âmbito do CADE. econômica;
IV - processo administrativo para análise de ato de
DO DIREITO DE AÇÃO concentração econômica;
V - procedimento administrativo para apuração de
Art. 47 Os prejudicados, por si ou pelos legitimados ato de concentração econômica; e
referidos no art. 82 da Lei nº 8.078, de 11 de setem- VI - processo administrativo para imposição de
bro de 1990 , poderão ingressar em juízo para, em sanções processuais incidentais.
defesa de seus interesses individuais ou individuais
homogêneos, obter a cessação de práticas que cons- Os processos ou procedimentos administrativos
tituam infração da ordem econômica, bem como o estabelecidos no art. 48 são aqueles que tramitam
recebimento de indenização por perdas e danos perante o CADE, com a finalidade de prevenir, apurar
sofridos, independentemente do inquérito ou pro- e reprimir infrações à ordem econômica.
cesso administrativo, que não será suspenso em
virtude do ajuizamento de ação.
Art. 49 O Tribunal e a Superintendência-Geral asse-
§ 1º Os prejudicados terão direito a ressarcimento
gurarão nos procedimentos previstos nos incisos II,
em dobro pelos prejuízos sofridos em razão de infra-
III, IV e VI do caput do art. 48 desta Lei o trata-
ções à ordem econômica previstas nos incisos I e II
mento sigiloso de documentos, informações e atos
do § 3º do art. 36 desta Lei, sem prejuízo das sanções
processuais necessários à elucidação dos fatos ou
aplicadas nas esferas administrativa e penal.
exigidos pelo interesse da sociedade.
§ 2º Não se aplica o disposto no § 1º deste artigo
Parágrafo único. As partes poderão requerer trata-
aos coautores de infração à ordem econômica que
mento sigiloso de documentos ou informações, no
tenham celebrado acordo de leniência ou termo
tempo e modo definidos no regimento interno.
de compromisso de cessação de prática cujo cum-
primento tenha sido declarado pelo Cade, os quais
responderão somente pelos prejuízos causados aos O sigilo será resguardado nos procedimentos pre-
prejudicados. vistos nos incisos II, III, IV e VI, quanto aos seus res-
§ 3º Os signatários do acordo de leniência e do pectivos documentos, informações e atos processuais.
termo de compromisso de cessação de prática são
responsáveis apenas pelo dano que causaram aos Art. 50 A Superintendência-Geral ou o Conselheiro-
prejudicados, não incidindo sobre eles responsabi- -Relator poderá admitir a intervenção no processo
lidade solidária pelos danos causados pelos demais administrativo de:
autores da infração à ordem econômica. I - terceiros titulares de direitos ou interesses que
§ 4º Não se presume o repasse de sobrepreço nos possam ser afetados pela decisão a ser adotada; ou
casos das infrações à ordem econômica previstas II - legitimados à propositura de ação civil pública
nos incisos I e II do § 3º do art. 36 desta Lei, caben- pelos incisos III e IV do art. 82 da Lei nº 8.078, de 11
do a prova ao réu que o alegar. de setembro de 1990.
Art. 47-A A decisão do Plenário do Tribunal refe-
rida no art. 93 desta Lei é apta a fundamentar a A intervenção aqui tratada é de pessoas que não
concessão de tutela da evidência, permitindo ao são as partes originárias do procedimento, mas que
juiz decidir liminarmente nas ações previstas no poderão nele ingressar, nos termos previstos.
art. 47 desta Lei.
Art. 51 Na tramitação dos processos no Cade,
Conforme comentado no art. 46-A, trata-se da ação serão observadas as seguintes disposições, além
indenizatória proposta por aquele que sofreu pre- daquelas previstas no regimento interno:
juízo financeiro com a prática do ilícito por parte do I - os atos de concentração terão prioridade sobre o
554 agente infrator. julgamento de outras matérias;
II - a sessão de julgamento do Tribunal é pública, requerentes, a natureza da operação e os setores
salvo nos casos em que for determinado tratamen- econômicos envolvidos.
to sigiloso ao processo, ocasião em que as sessões Art. 54 Após cumpridas as providências indicadas
serão reservadas; no art. 53, a Superintendência-Geral:
III - nas sessões de julgamento do Tribunal, pode- I - conhecerá diretamente do pedido, proferindo
rão o Superintendente-Geral, o Economista-Chefe, o decisão terminativa, quando o processo dispensar
Procurador-Chefe e as partes do processo requerer novas diligências ou nos casos de menor potencial
a palavra, que lhes será concedida, nessa ordem, ofensivo à concorrência, assim definidos em resolu-
nas condições e no prazo definido pelo regimen- ção do Cade; ou
to interno, a fim de sustentarem oralmente suas II - determinará a realização da instrução com-
razões perante o Tribunal; plementar, especificando as diligências a serem
IV - a pauta das sessões de julgamento será definida produzidas.
pelo Presidente, que determinará sua publicação, Art. 55 Concluída a instrução complementar
com pelo menos 120 (cento e vinte) horas de ante- determinada na forma do inciso II do caput do
cedência; e art. 54 desta Lei, a Superintendência-Geral deve-
V - os atos e termos a serem praticados nos autos rá manifestar-se sobre seu satisfatório cumpri-
dos procedimentos enumerados no art. 48 desta Lei mento, recebendo-a como adequada ao exame de
poderão ser encaminhados de forma eletrônica ou mérito ou determinando que seja refeita, por estar
apresentados em meio magnético ou equivalente, incompleta.
nos termos das normas do Cade. Art. 56 A Superintendência-Geral poderá, por meio
de decisão fundamentada, declarar a operação
como complexa e determinar a realização de nova
Esse artigo trata de ritos procedimentais, tais como
instrução complementar, especificando as diligên-
preferência de julgamentos, sessões públicas, conces-
cias a serem produzidas.
são da palavra aos agentes definidos no inciso III, bem
Parágrafo único. Declarada a operação como com-
como outras determinações. plexa, poderá a Superintendência-Geral requerer
ao Tribunal a prorrogação do prazo de que trata o
Art. 52 O cumprimento das decisões do Tribunal e § 2º do art. 88 desta Lei.
de compromissos e acordos firmados nos termos Art. 57 Concluídas as instruções complementares
desta Lei poderá, a critério do Tribunal, ser fisca- de que tratam o inciso II do art. 54 e o art. 56 desta
lizado pela Superintendência-Geral, com o respecti- Lei, a Superintendência-Geral:
vo encaminhamento dos autos, após a decisão final I - proferirá decisão aprovando o ato sem restrições;
do Tribunal. II - oferecerá impugnação perante o Tribunal, caso
§ 1º Na fase de fiscalização da execução das deci- entenda que o ato deva ser rejeitado, aprovado com
sões do Tribunal, bem como do cumprimento de restrições ou que não existam elementos conclusi-
compromissos e acordos firmados nos termos des- vos quanto aos seus efeitos no mercado.
ta Lei, poderá a Superintendência-Geral valer-se de Parágrafo único. Na impugnação do ato perante
todos os poderes instrutórios que lhe são assegura- o Tribunal, deverão ser demonstrados, de forma
dos nesta Lei. circunstanciada, o potencial lesivo do ato à concor-
§ 2º Cumprida integralmente a decisão do Tribunal rência e as razões pelas quais não deve ser aprova-
ou os acordos em controle de concentrações e com- do integralmente ou rejeitado.
promissos de cessação, a Superintendência-Geral,
de ofício ou por provocação do interessado, mani- Do art. 53 ao 57, a lei estabelece o rito do pro-
festar-se-á sobre seu cumprimento. cesso administrativo de controle econômico, ins-
taurado mediante pedido de aprovação dos atos de

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


O cumprimento do que foi decidido pelo Tribunal, concentração econômica, com tramitação perante a
bem como os compromissos e os acordos celebrados, Superintendência-Geral.
serão todos fiscalizados pela Superintendência-Geral. Os aspectos concorrenciais dos atos de concentra-
ção econômica entre empresas deverão ser analisados
DO PROCESSO ADMINISTRATIVO NO CONTROLE e aprovados pelo CADE.
DE ATOS DE CONCENTRAÇÃO ECONÔMICA A Superintendência-Geral poderá aprovar o
pedido ou rejeitá-lo. No caso de rejeição, oferecerá
Do Processo Administrativo na impugnação dirigida ao Tribunal, que dará início ao
Superintendência-Geral procedimento previsto a partir do art. 58.

Art. 53 O pedido de aprovação dos atos de concen- Do Processo Administrativo no Tribunal


tração econômica a que se refere o art. 88 desta Lei
deverá ser endereçado ao Cade e instruído com as Art. 58 O requerente poderá oferecer, no prazo de
informações e documentos indispensáveis à ins- 30 (trinta) dias da data de impugnação da Supe-
tauração do processo administrativo, definidos em rintendência-Geral, em petição escrita, dirigida
resolução do Cade, além do comprovante de reco- ao Presidente do Tribunal, manifestação expondo
lhimento da taxa respectiva. as razões de fato e de direito com que se opõe à
§ 1º Ao verificar que a petição não preenche os impugnação do ato de concentração da Superinten-
requisitos exigidos no caput deste artigo ou apre- dência-Geral e juntando todas as provas, estudos e
senta defeitos e irregularidades capazes de dificultar pareceres que corroboram seu pedido.
o julgamento de mérito, a Superintendência-Geral Parágrafo único. Em até 48 (quarenta e oito) horas
determinará, uma única vez, que os requerentes a da decisão de que trata a impugnação pela Superin-
emendem, sob pena de arquivamento. tendência-Geral, disposta no inciso II do caput do
§ 2º Após o protocolo da apresentação do ato de art. 57 desta Lei e na hipótese do inciso I do art. 65
concentração, ou de sua emenda, a Superintendên- desta Lei, o processo será distribuído, por sorteio, a
cia-Geral fará publicar edital, indicando o nome dos um Conselheiro-Relator. 555
Art. 59 Após a manifestação do requerente, o Superintendência-Geral, além de anexar os docu-
Conselheiro-Relator: mentos que entender cabíveis para comprovar suas
I - proferirá decisão determinando a inclusão do alegações.
processo em pauta para julgamento, caso entenda O Tribunal poderá aprovar, no todo ou em parte,
que se encontre suficientemente instruído;
o pedido de aprovação de ato de concentração econô-
II - determinará a realização de instrução com-
plementar, se necessário, podendo, a seu critério,
mica, ou rejeitá-lo. Dependendo do caso julgado, tam-
solicitar que a Superintendência-Geral a realize, bém deverá determinar as restrições cabíveis sobre o
declarando os pontos controversos e especificando que o agente econômico poderá ou não fazer.
as diligências a serem produzidas.
§ 1º O Conselheiro-Relator poderá autorizar, con- Do Recurso contra Decisão de Aprovação do Ato pela
forme o caso, precária e liminarmente, a realização Superintendência-Geral
do ato de concentração econômica, impondo as
condições que visem à preservação da reversibili- Art. 65 No prazo de 15 (quinze) dias contado a par-
dade da operação, quando assim recomendarem as tir da publicação da decisão da Superintendência-
condições do caso concreto. -Geral que aprovar o ato de concentração, na forma
§ 2º O Conselheiro-Relator poderá acompanhar a do inciso I do caput do art. 54 e do inciso I do caput
realização das diligências referidas no inciso II do
do art. 57 desta Lei:
caput deste artigo.
I - caberá recurso da decisão ao Tribunal, que pode-
Art. 60 Após a conclusão da instrução, o Conselhei-
rá ser interposto por terceiros interessados ou, em
ro-Relator determinará inclusão do processo em
pauta para julgamento. se tratando de mercado regulado, pela respectiva
Art. 61 No julgamento do pedido de aprovação do agência reguladora;
ato de concentração econômica, o Tribunal pode- II - o Tribunal poderá, mediante provocação de um
rá aprová-lo integralmente, rejeitá-lo ou aprová-lo de seus Conselheiros e em decisão fundamentada,
parcialmente, caso em que determinará as restri- avocar o processo para julgamento ficando preven-
ções que deverão ser observadas como condição to o Conselheiro que encaminhou a provocação.
para a validade e eficácia do ato. § 1º Em até 5 (cinco) dias úteis a partir do recebi-
§ 1º O Tribunal determinará as restrições cabíveis mento do recurso, o Conselheiro-Relator:
no sentido de mitigar os eventuais efeitos nocivos I - conhecerá do recurso e determinará a sua inclu-
do ato de concentração sobre os mercados relevan- são em pauta para julgamento;
tes afetados. II - conhecerá do recurso e determinará a realiza-
§ 2º As restrições mencionadas no § 1º deste artigo ção de instrução complementar, podendo, a seu
incluem: critério, solicitar que a Superintendência-Geral a
I - a venda de ativos ou de um conjunto de ativos realize, declarando os pontos controversos e espe-
que constitua uma atividade empresarial; cificando as diligências a serem produzidas; ou
II - a cisão de sociedade; III - não conhecerá do recurso, determinando o seu
III - a alienação de controle societário;
arquivamento.
IV - a separação contábil ou jurídica de atividades;
§ 2º As requerentes poderão manifestar-se acerca
V - o licenciamento compulsório de direitos de pro-
do recurso interposto, em até 5 (cinco) dias úteis do
priedade intelectual; e
conhecimento do recurso no Tribunal ou da data
VI - qualquer outro ato ou providência necessá-
rios para a eliminação dos efeitos nocivos à ordem do recebimento do relatório com a conclusão da
econômica. instrução complementar elaborada pela Superin-
§ 3º Julgado o processo no mérito, o ato não poderá tendência-Geral, o que ocorrer por último.
ser novamente apresentado nem revisto no âmbito § 3º O litigante de má-fé arcará com multa, em
do Poder Executivo. favor do Fundo de Defesa de Direitos Difusos, a ser
Art. 62 Em caso de recusa, omissão, enganosidade, arbitrada pelo Tribunal entre R$ 5.000,00 (cinco mil
falsidade ou retardamento injustificado, por par- reais) e R$ 5.000.000,00 (cinco milhões de reais),
te dos requerentes, de informações ou documentos levando-se em consideração sua condição econô-
cuja apresentação for determinada pelo Cade, sem mica, sua atuação no processo e o retardamento
prejuízo das demais sanções cabíveis, poderá o pedi- injustificado causado à aprovação do ato.
do de aprovação do ato de concentração ser rejei- § 4º A interposição do recurso a que se refere o
tado por falta de provas, caso em que o requerente caput deste artigo ou a decisão de avocar suspende
somente poderá realizar o ato mediante apresenta- a execução do ato de concentração econômica até
ção de novo pedido, nos termos do art. 53 desta Lei. decisão final do Tribunal.
Art. 63 Os prazos previstos neste Capítulo não se § 5º O Conselheiro-Relator poderá acompanhar a
suspendem ou interrompem por qualquer motivo, realização das diligências referidas no inciso II do
ressalvado o disposto no § 5º do art. 6º desta Lei,
§ 1º deste artigo.
quando for o caso.
Art. 64 (VETADO).
O recurso previsto no art. 65 é da decisão da Supe-
Uma vez rejeitado o pedido de aprovação dos atos rintendência-Geral que aprovar o pedido de aprova-
de concentração econômica pela Superintendência- ção dos atos de concentração econômica, com base no
-Geral, esse órgão oferecerá impugnação perante o inciso I, art. 54, e inciso I, art. 57.
Tribunal. A partir daí, o procedimento previsto passa Ele poderá ser interposto por terceiros que se sen-
a ser tratado entre o art. 58 e 63 da presente lei. tirem prejudicados com essa decisão ou pela agência
Recebida a impugnação, a parte interessada reguladora que regular o setor.
poderá oferecer manifestação escrita, encaminha- O prazo para sua interposição é de 15 dias a contar
da ao presidente do Tribunal, expondo as razões da data da publicação da referida decisão.
556 de fato e de direito contrárias à impugnação da
DO INQUÉRITO ADMINISTRATIVO PARA solicitar que a Superintendência-Geral a realize,
APURAÇÃO DE INFRAÇÕES À ORDEM ECONÔMICA declarando os pontos controversos e especificando
E DO PROCEDIMENTO PREPARATÓRIO as diligências a serem produzidas.
§ 3º Ao inquérito administrativo poderá ser dado
Art. 66 O inquérito administrativo, procedimento tratamento sigiloso, no interesse das investigações,
investigatório de natureza inquisitorial, será ins- a critério do Plenário do Tribunal.
taurado pela Superintendência-Geral para apura- Art. 68 O descumprimento dos prazos fixados neste
ção de infrações à ordem econômica. Capítulo pela Superintendência-Geral, assim como
§ 1º O inquérito administrativo será instaurado de por seus servidores, sem justificativa devidamente
ofício ou em face de representação fundamenta- comprovada nos autos, poderá resultar na apura-
da de qualquer interessado, ou em decorrência de ção da respectiva responsabilidade administrativa,
peças de informação, quando os indícios de infra- civil e criminal.
ção à ordem econômica não forem suficientes para
a instauração de processo administrativo. O inquérito administrativo é instrumento desti-
§ 2º A Superintendência-Geral poderá instaurar nado a investigar as supostas infrações à ordem eco-
procedimento preparatório de inquérito adminis- nômica. Sua natureza inquisitorial significa que a
trativo para apuração de infrações à ordem econô- autoridade competente realizará a colheita das pro-
mica para apurar se a conduta sob análise trata de vas de ofício, ou seja, sem requerimento das partes,
matéria de competência do Sistema Brasileiro de
buscando a verdade dos fatos.
Defesa da Concorrência, nos termos desta Lei.
Após o seu trâmite, o inquérito pode ser arquiva-
§ 3º As diligências tomadas no âmbito do procedi-
mento preparatório de inquérito administrativo para do por não restar nada comprovado; ou decidir pela
apuração de infrações à ordem econômica deverão instauração do procedimento administrativo, visan-
ser realizadas no prazo máximo de 30 (trinta) dias. do responsabilizar os envolvidos. A decisão por qual
§ 4º Do despacho que ordenar o arquivamento de caminho será tomado deverá ser realizada dentro de
procedimento preparatório, indeferir o requerimen- 10 dias úteis a contar do encerramento do inquérito
to de abertura de inquérito administrativo, ou seu administrativo.
arquivamento, caberá recurso de qualquer interessa-
do ao Superintendente-Geral, na forma determinada DO PROCESSO ADMINISTRATIVO PARA
em regulamento, que decidirá em última instância. IMPOSIÇÃO DE SANÇÕES ADMINISTRATIVAS POR
§ 5º (VETADO). INFRAÇÕES À ORDEM ECONÔMICA
§ 6º A representação de Comissão do Congresso
Nacional, ou de qualquer de suas Casas, bem como
Art. 69 O processo administrativo, procedimen-
da Secretaria de Acompanhamento Econômico, das
to em contraditório, visa a garantir ao acusado a
agências reguladoras e da Procuradoria Federal
ampla defesa a respeito das conclusões do inquéri-
junto ao Cade, independe de procedimento prepara-
to administrativo, cuja nota técnica final, aprovada
tório, instaurando-se desde logo o inquérito admi-
nos termos das normas do Cade, constituirá peça
nistrativo ou processo administrativo.
inaugural.
§ 7º O representante e o indiciado poderão requerer
Art. 70 Na decisão que instaurar o processo admi-
qualquer diligência, que será realizada ou não, a
nistrativo, será determinada a notificação do
juízo da Superintendência-Geral.
representado para, no prazo de 30 (trinta) dias,
§ 8º A Superintendência-Geral poderá solicitar o
apresentar defesa e especificar as provas que pre-
concurso da autoridade policial ou do Ministério
tende sejam produzidas, declinando a qualificação
Público nas investigações.
§ 9º O inquérito administrativo deverá ser encerra- completa de até 3 (três) testemunhas.

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


do no prazo de 180 (cento e oitenta) dias, contado § 1º A notificação inicial conterá o inteiro teor da
da data de sua instauração, prorrogáveis por até 60 decisão de instauração do processo administrativo
(sessenta) dias, por meio de despacho fundamenta- e da representação, se for o caso.
do e quando o fato for de difícil elucidação e o justi- § 2º A notificação inicial do representado será feita
ficarem as circunstâncias do caso concreto. pelo correio, com aviso de recebimento em nome
§ 10 Ao procedimento preparatório, assim como próprio, ou outro meio que assegure a certeza da
ao inquérito administrativo, poderá ser dado tra- ciência do interessado ou, não tendo êxito a noti-
tamento sigiloso, no interesse das investigações, a ficação postal, por edital publicado no Diário Ofi-
critério da Superintendência-Geral. cial da União e em jornal de grande circulação no
Art. 67 Até 10 (dez) dias úteis a partir da data de Estado em que resida ou tenha sede, contando-se os
encerramento do inquérito administrativo, a Supe- prazos da juntada do aviso de recebimento, ou da
rintendência-Geral decidirá pela instauração do publicação, conforme o caso.
processo administrativo ou pelo seu arquivamento. § 3º A intimação dos demais atos processuais será
§ 1º O Tribunal poderá, mediante provocação de feita mediante publicação no Diário Oficial da
um Conselheiro e em decisão fundamentada, avo- União, da qual deverá constar o nome do represen-
car o inquérito administrativo ou procedimento tado e de seu procurador, se houver.
preparatório de inquérito administrativo arquiva- § 4º O representado poderá acompanhar o processo
do pela Superintendência-Geral, ficando prevento o administrativo por seu titular e seus diretores ou
Conselheiro que encaminhou a provocação. gerentes, ou por seu procurador, assegurando-se-
§ 2º Avocado o inquérito administrativo, o Conselhei- -lhes amplo acesso aos autos no Tribunal.
ro-Relator terá o prazo de 30 (trinta) dias úteis para: § 5º O prazo de 30 (trinta) dias mencionado no
I - confirmar a decisão de arquivamento da Supe- caput deste artigo poderá ser dilatado por até 10
rintendência-Geral, podendo, se entender necessá- (dez) dias, improrrogáveis, mediante requisição do
rio, fundamentar sua decisão; representado.
II - transformar o inquérito administrativo em pro- Art. 71 Considerar-se-á revel o representado que,
cesso administrativo, determinando a realização de notificado, não apresentar defesa no prazo legal,
instrução complementar, podendo, a seu critério, incorrendo em confissão quanto à matéria de fato, 557
contra ele correndo os demais prazos, independen- respectiva responsabilidade administrativa, civil e
temente de notificação. criminal.
Parágrafo único. Qualquer que seja a fase do pro- Art. 83 O Cade disporá de forma complementar
cesso, nele poderá intervir o revel, sem direito à sobre o inquérito e o processo administrativo.
repetição de qualquer ato já praticado.
Art. 72 Em até 30 (trinta) dias úteis após o decurso A partir do encerramento do inquérito adminis-
do prazo previsto no art. 70 desta Lei, a Superinten- trativo, a autoridade pode decidir instaurar o proces-
dência-Geral, em despacho fundamentado, determi- so para responsabilização dos infratores, cuja peça
nará a produção de provas que julgar pertinentes, inicial será o documento de conclusão do referido
sendo-lhe facultado exercer os poderes de instru- inquérito.
ção previstos nesta Lei, mantendo-se o sigilo legal, Nesse caso, o representado deverá ser notificado
quando for o caso. para apresentar sua defesa em 30 dias, devendo espe-
Art. 73 Em até 5 (cinco) dias úteis da data de con- cificar as provas que pretende produzir a seu favor,
clusão da instrução processual determinada na for- cabendo arrolar até três testemunhas.
ma do art. 72 desta Lei, a Superintendência-Geral Se o representado for notificado e não apresen-
notificará o representado para apresentar novas
tar sua defesa, será considerado revel e incorrerá em
alegações, no prazo de 5 (cinco) dias úteis.
confissão, isto é, serão considerados verdadeiros os
Art. 74 Em até 15 (quinze) dias úteis contados do
fatos narrados na peça inicial. Mas atenção, a revelia
decurso do prazo previsto no art. 73 desta Lei, a
somente ocorre com a prévia notificação.
Superintendência-Geral remeterá os autos do pro-
cesso ao Presidente do Tribunal, opinando, em rela-
A decisão do Tribunal deverá conter os requisitos
tório circunstanciado, pelo seu arquivamento ou estabelecidos no art. 79, devendo ser fundamentada
pela configuração da infração. independentemente do seu teor.
Art. 75 Recebido o processo, o Presidente do Tribu- Caso a decisão do Tribunal Administrativo seja
nal o distribuirá, por sorteio, ao Conselheiro-Rela- descumprida, será procedida a sua execução judicial,
tor, que poderá, caso entenda necessário, solicitar à por meio da Procuradoria Federal.
Procuradoria Federal junto ao Cade que se manifes-
te no prazo de 20 (vinte) dias. DA MEDIDA PREVENTIVA
Art. 76 O Conselheiro-Relator poderá determinar
diligências, em despacho fundamentado, podendo, Art. 84 Em qualquer fase do inquérito administrati-
a seu critério, solicitar que a Superintendência-Ge- vo para apuração de infrações ou do processo admi-
ral as realize, no prazo assinado. nistrativo para imposição de sanções por infrações
Parágrafo único. Após a conclusão das diligências à ordem econômica, poderá o Conselheiro-Relator
determinadas na forma deste artigo, o Conselheiro- ou o Superintendente-Geral, por iniciativa própria
-Relator notificará o representado para, no prazo de ou mediante provocação do Procurador-Chefe do
15 (quinze) dias úteis, apresentar alegações finais. Cade, adotar medida preventiva, quando houver
Art. 77 No prazo de 15 (quinze) dias úteis contado indício ou fundado receio de que o representado,
da data de recebimento das alegações finais, o Con- direta ou indiretamente, cause ou possa causar ao
selheiro-Relator solicitará a inclusão do processo mercado lesão irreparável ou de difícil reparação,
em pauta para julgamento. ou torne ineficaz o resultado final do processo.
Art. 78 A convite do Presidente, por indicação do § 1º Na medida preventiva, determinar-se-á a ime-
Conselheiro-Relator, qualquer pessoa poderá apre- diata cessação da prática e será ordenada, quan-
sentar esclarecimentos ao Tribunal, a propósito de do materialmente possível, a reversão à situação
assuntos que estejam em pauta. anterior, fixando multa diária nos termos do art.
Art. 79 A decisão do Tribunal, que em qualquer 39 desta Lei.
hipótese será fundamentada, quando for pela exis- § 2º Da decisão que adotar medida preventiva cabe-
tência de infração da ordem econômica, conterá: rá recurso voluntário ao Plenário do Tribunal, em
5 (cinco) dias, sem efeito suspensivo.
I - especificação dos fatos que constituam a infração
apurada e a indicação das providências a serem
tomadas pelos responsáveis para fazê-la cessar; A medida preventiva prevista no art. 84 é no senti-
II - prazo dentro do qual devam ser iniciadas e do de determinar a cessação da infração, além do seu
concluídas as providências referidas no inciso I do retorno à situação anterior, caso isso seja possível.
caput deste artigo; Será cabível tanto no inquérito administrativo
III - multa estipulada; quanto no processo administrativo, em qualquer das
IV - multa diária em caso de continuidade da infra- suas fases.
ção; e A competência cabe ao conselheiro-relator ou ao
V - multa em caso de descumprimento das provi- superintendente-geral, que poderá tomar essa medida
dências estipuladas. de ofício ou mediante provocação do procurador-chefe.
Parágrafo único. A decisão do Tribunal será publi-
cada dentro de 5 (cinco) dias úteis no Diário Oficial DO COMPROMISSO DE CESSAÇÃO
da União.
Art. 80 Aplicam-se às decisões do Tribunal o dis- Art. 85 Nos procedimentos administrativos men-
posto na Lei nº 8.437, de 30 de junho de 1992. cionados nos incisos I, II e III do art. 48 desta Lei, o
Art. 81 Descumprida a decisão, no todo ou em par- Cade poderá tomar do representado compromisso
te, será o fato comunicado ao Presidente do Tribu- de cessação da prática sob investigação ou dos seus
nal, que determinará à Procuradoria Federal junto efeitos lesivos, sempre que, em juízo de conveniên-
ao Cade que providencie sua execução judicial. cia e oportunidade, devidamente fundamentado,
Art. 82 O descumprimento dos prazos fixados neste entender que atende aos interesses protegidos por
Capítulo pelos membros do Cade, assim como por lei.
seus servidores, sem justificativa devidamente com- § 1º Do termo de compromisso deverão constar os
558 provada nos autos, poderá resultar na apuração da seguintes elementos:
I - a especificação das obrigações do representado Caso o compromisso seja descumprido, caberá
no sentido de não praticar a conduta investigada aplicação das sanções que serão estabelecidas no pró-
ou seus efeitos lesivos, bem como obrigações que prio termo.
julgar cabíveis;
II - a fixação do valor da multa para o caso de DO PROGRAMA DE LENIÊNCIA
descumprimento, total ou parcial, das obrigações
compromissadas; Art. 86 O Cade, por intermédio da Superintendên-
III - a fixação do valor da contribuição pecuniária cia-Geral, poderá celebrar acordo de leniência,
ao Fundo de Defesa de Direitos Difusos quando com a extinção da ação punitiva da administração
cabível. pública ou a redução de 1 (um) a 2/3 (dois terços)
§ 2º Tratando-se da investigação da prática de da penalidade aplicável, nos termos deste artigo,
infração relacionada ou decorrente das condutas com pessoas físicas e jurídicas que forem autoras
previstas nos incisos I e II do § 3º do art. 36 desta de infração à ordem econômica, desde que colabo-
Lei, entre as obrigações a que se refere o inciso I do rem efetivamente com as investigações e o processo
§ 1º deste artigo figurará, necessariamente, a obri- administrativo e que dessa colaboração resulte:
gação de recolher ao Fundo de Defesa de Direitos I - a identificação dos demais envolvidos na infra-
Difusos um valor pecuniário que não poderá ser ção; e
inferior ao mínimo previsto no art. 37 desta Lei. II - a obtenção de informações e documentos que
§ 3º (VETADO). comprovem a infração noticiada ou sob investigação.
§ 4º A proposta de termo de compromisso de ces- § 1º O acordo de que trata o caput deste artigo
sação de prática somente poderá ser apresentada somente poderá ser celebrado se preenchidos,
uma única vez. cumulativamente, os seguintes requisitos:
§ 5º A proposta de termo de compromisso de cessa- I - a empresa seja a primeira a se qualificar com
ção de prática poderá ter caráter confidencial. respeito à infração noticiada ou sob investigação;
§ 6º A apresentação de proposta de termo de com- II - a empresa cesse completamente seu envolvi-
promisso de cessação de prática não suspende o mento na infração noticiada ou sob investigação a
andamento do processo administrativo. partir da data de propositura do acordo;
§ 7º O termo de compromisso de cessação de práti- III - a Superintendência-Geral não disponha de pro-
ca terá caráter público, devendo o acordo ser publi- vas suficientes para assegurar a condenação da
cado no sítio do Cade em 5 (cinco) dias após a sua empresa ou pessoa física por ocasião da proposi-
celebração. tura do acordo; e
§ 8º O termo de compromisso de cessação de práti- IV - a empresa confesse sua participação no ilícito
ca constitui título executivo extrajudicial. e coopere plena e permanentemente com as investi-
§ 9º O processo administrativo ficará suspenso gações e o processo administrativo, comparecendo,
enquanto estiver sendo cumprido o compromisso e sob suas expensas, sempre que solicitada, a todos
será arquivado ao término do prazo fixado, se aten- os atos processuais, até seu encerramento.
didas todas as condições estabelecidas no termo. § 2º Com relação às pessoas físicas, elas poderão
§ 10 A suspensão do processo administrativo a que celebrar acordos de leniência desde que cumpridos
se refere o § 9º deste artigo dar-se-á somente em os requisitos II, III e IV do § 1º deste artigo.
relação ao representado que firmou o compromis- § 3º O acordo de leniência firmado com o Cade, por
so, seguindo o processo seu curso regular para os intermédio da Superintendência-Geral, estipulará
demais representados. as condições necessárias para assegurar a efetivi-
§ 11 Declarado o descumprimento do compromisso, dade da colaboração e o resultado útil do processo.
o Cade aplicará as sanções nele previstas e determi- § 4º Compete ao Tribunal, por ocasião do julgamen-
nará o prosseguimento do processo administrativo to do processo administrativo, verificado o cumpri-

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


e as demais medidas administrativas e judiciais mento do acordo:
cabíveis para sua execução. I - decretar a extinção da ação punitiva da adminis-
§ 12 As condições do termo de compromisso pode- tração pública em favor do infrator, nas hipóteses
rão ser alteradas pelo Cade se se comprovar sua em que a proposta de acordo tiver sido apresenta-
excessiva onerosidade para o representado, desde da à Superintendência-Geral sem que essa tivesse
que a alteração não acarrete prejuízo para tercei- conhecimento prévio da infração noticiada; ou
ros ou para a coletividade. II - nas demais hipóteses, reduzir de 1 (um) a 2/3
§ 13 A proposta de celebração do compromisso de (dois terços) as penas aplicáveis, observado o dis-
cessação de prática será indeferida quando a auto- posto no art. 45 desta Lei, devendo ainda considerar
ridade não chegar a um acordo com os representa- na gradação da pena a efetividade da colaboração
dos quanto aos seus termos. prestada e a boa-fé do infrator no cumprimento do
§ 14 O Cade definirá, em resolução, normas com- acordo de leniência.
plementares sobre o termo de compromisso de § 5º Na hipótese do inciso II do § 4º deste artigo, a
cessação. pena sobre a qual incidirá o fator redutor não será
§ 15 Aplica-se o disposto no art. 50 desta Lei ao superior à menor das penas aplicadas aos demais
Compromisso de Cessação da Prática. coautores da infração, relativamente aos percen-
§ 16 (VETADO). tuais fixados para a aplicação das multas de que
trata o inciso I do art. 37 desta Lei.
§ 6º Serão estendidos às empresas do mesmo grupo,
O compromisso de cessação é um termo celebrado
de fato ou de direito, e aos seus dirigentes, adminis-
com o representado, para fazer cessar as ocorrências tradores e empregados envolvidos na infração os
indevidas, que deverá ter os requisitos previstos nos efeitos do acordo de leniência, desde que o firmem
incisos do § 1º. em conjunto, respeitadas as condições impostas.
É possível a alteração dos termos previstos no refe- § 7º A empresa ou pessoa física que não obtiver,
rido compromisso, caso se torne muito oneroso para o no curso de inquérito ou processo administra-
representado, e desde que não gere prejuízos a tercei- tivo, habilitação para a celebração do acordo
ros ou à coletividade. de que trata este artigo, poderá celebrar com a 559
Superintendência-Geral, até a remessa do processo DO CONTROLE DE CONCENTRAÇÕES
para julgamento, acordo de leniência relacionado a
uma outra infração, da qual o Cade não tenha qual- Art. 88 Serão submetidos ao Cade pelas partes
quer conhecimento prévio. envolvidas na operação os atos de concentração
§ 8º Na hipótese do § 7º deste artigo, o infrator se econômica em que, cumulativamente:
beneficiará da redução de 1/3 (um terço) da pena I - pelo menos um dos grupos envolvidos na ope-
que lhe for aplicável naquele processo, sem prejuí- ração tenha registrado, no último balanço, fatu-
zo da obtenção dos benefícios de que trata o inciso ramento bruto anual ou volume de negócios total
I do § 4º deste artigo em relação à nova infração no País, no ano anterior à operação, equivalente
denunciada. ou superior a R$ 400.000.000,00 (quatrocentos
§ 9º Considera-se sigilosa a proposta de acordo de milhões de reais); e
que trata este artigo, salvo no interesse das investi- II - pelo menos um outro grupo envolvido na opera-
gações e do processo administrativo. ção tenha registrado, no último balanço, faturamen-
§ 10 Não importará em confissão quanto à matéria to bruto anual ou volume de negócios total no País,
de fato, nem reconhecimento de ilicitude da con- no ano anterior à operação, equivalente ou superior
duta analisada, a proposta de acordo de leniência a R$ 30.000.000,00 (trinta milhões de reais).
rejeitada, da qual não se fará qualquer divulgação. § 1º Os valores mencionados nos incisos I e II do
§ 11 A aplicação do disposto neste artigo observará caput deste artigo poderão ser adequados, simul-
as normas a serem editadas pelo Tribunal. tânea ou independentemente, por indicação do
§ 12 Em caso de descumprimento do acordo de Plenário do Cade, por portaria interministerial dos
leniência, o beneficiário ficará impedido de cele- Ministros de Estado da Fazenda e da Justiça.
brar novo acordo de leniência pelo prazo de 3 (três) § 2º O controle dos atos de concentração de que
anos, contado da data de seu julgamento. trata o caput deste artigo será prévio e realizado
Art. 87 Nos crimes contra a ordem econômica, tipi- em, no máximo, 240 (duzentos e quarenta) dias, a
ficados na Lei nº 8.137, de 27 de dezembro de 1990, contar do protocolo de petição ou de sua emenda.
e nos demais crimes diretamente relacionados à § 3º Os atos que se subsumirem ao disposto no
prática de cartel, tais como os tipificados na Lei nº caput deste artigo não podem ser consumados
8.666, de 21 de junho de 1993, e os tipificados no antes de apreciados, nos termos deste artigo e do
art. 288 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro procedimento previsto no Capítulo II do Título
de 1940 - Código Penal, a celebração de acordo de VI desta Lei, sob pena de nulidade, sendo ainda
leniência, nos termos desta Lei, determina a sus- imposta multa pecuniária, de valor não inferior a
pensão do curso do prazo prescricional e impede R$ 60.000,00 (sessenta mil reais) nem superior a
o oferecimento da denúncia com relação ao agente R$ 60.000.000,00 (sessenta milhões de reais), a ser
beneficiário da leniência. aplicada nos termos da regulamentação, sem pre-
Parágrafo único. Cumprido o acordo de leniência juízo da abertura de processo administrativo, nos
pelo agente, extingue-se automaticamente a puni- termos do art. 69 desta Lei.
bilidade dos crimes a que se refere o caput deste § 4º Até a decisão final sobre a operação, deverão
artigo. ser preservadas as condições de concorrência entre
as empresas envolvidas, sob pena de aplicação das
O Programa de Leniência é destinado aos efetivos sanções previstas no § 3º deste artigo.
§ 5º Serão proibidos os atos de concentração que
autores das infrações, que deverão ser condenados
impliquem eliminação da concorrência em par-
em processo administrativo, mas que preferem cola-
te substancial de mercado relevante, que possam
borar com as investigações e com o processo, ensejan- criar ou reforçar uma posição dominante ou que
do aplicação de penas mais brandas. possam resultar na dominação de mercado rele-
É importante deixar claro que da colaboração vante de bens ou serviços, ressalvado o disposto no
deverá resultar a identificação dos demais envolvi- § 6º deste artigo.
dos, bem como informações e documentos que com- § 6º Os atos a que se refere o § 5º deste artigo pode-
provem a prática da infração. rão ser autorizados, desde que sejam observados
O § 1º determina os requisitos para que o repre- os limites estritamente necessários para atingir os
sentado possa celebrar Programa de Leniência, aten- seguintes objetivos:
tando-se para o fato de que eles são cumulativos, isto I - cumulada ou alternativamente:
é, todos os referidos requisitos deverão estar presen- a) aumentar a produtividade ou a competitividade;
tes, ou o acordo não poderá ser realizado. b) melhorar a qualidade de bens ou serviços; ou
Caso o Programa de Leniência seja descumprido, o c) propiciar a eficiência e o desenvolvimento tecno-
representado beneficiário ficará impedido de realizar lógico ou econômico; e
II - sejam repassados aos consumidores parte rele-
novo acordo dentro do prazo de três anos.
vante dos benefícios decorrentes.
Diante dos crimes enumerados no art. 87, haven-
§ 7º É facultado ao Cade, no prazo de 1 (um) ano a
do Programa de Leniência, a denúncia não poderá contar da respectiva data de consumação, requerer
ser oferecida no processo criminal enquanto o acordo a submissão dos atos de concentração que não se
estiver sendo cumprido. Uma vez cumprido dentro enquadrem no disposto neste artigo.
dos seus termos, haverá extinção da punibilidade. § 8º As mudanças de controle acionário de compa-
nhias abertas e os registros de fusão, sem prejuí-
zo da obrigação das partes envolvidas, devem ser
Importante! comunicados ao Cade pela Comissão de Valores
Mobiliários - CVM e pelo Departamento Nacional
O art. 87 faz menção à Lei nº 8666, de 1993, que do Registro do Comércio do Ministério do Desenvol-
tratava de Licitações e Contratos Administra- vimento, Indústria e Comércio Exterior, respectiva-
tivos. No entanto, ela foi revogada pela Lei nº mente, no prazo de 5 (cinco) dias úteis para, se for o
560 14.133, de 2021, que passou a regular a matéria. caso, ser examinados.
§ 9º O prazo mencionado no § 2º deste artigo do art. 67 desta Lei, e da adoção das demais medi-
somente poderá ser dilatado: das cabíveis.
I - por até 60 (sessenta) dias, improrrogáveis, Art. 92 (VETADO).
mediante requisição das partes envolvidas na ope-
ração; ou O art. 90 complementa o art. 88, no sentido de con-
II - por até 90 (noventa) dias, mediante decisão siderar as fusões e aquisições de empresas, para fins
fundamentada do Tribunal, em que sejam especifi- de concentração de mercado.
cados as razões para a extensão, o prazo da pror- Por sua vez, o art. 91 prevê a revisão da decisão do
rogação, que será não renovável, e as providências Tribunal Administrativo quando ela for tomada com
cuja realização seja necessária para o julgamento base em informações falsas ou enganosas, no des-
do processo. cumprimento das obrigações ou quando os benefícios
Art. 89 Para fins de análise do ato de concentração visados não forem alcançados.
apresentado, serão obedecidos os procedimentos Na falsidade ou enganosidade, será aplicada a
estabelecidos no Capítulo II do Título VI desta Lei.
multa prevista no parágrafo único, art. 91.
Parágrafo único. O Cade regulamentará, por meio
de Resolução, a análise prévia de atos de concen-
DA EXECUÇÃO JUDICIAL DAS DECISÕES DO CADE
tração realizados com o propósito específico de
participação em leilões, licitações e operações de
aquisição de ações por meio de oferta pública. Do Processo

Os incisos do caput, art. 88, definem o que consi- Art. 93 A decisão do Plenário do Tribunal, comi-
nando multa ou impondo obrigação de fazer ou não
dera concentração de mercado, em termos de valores
fazer, constitui título executivo extrajudicial.
de faturamento bruto anual ou volume de negócios,
Art. 94 A execução que tenha por objeto exclusiva-
relacionados a grupos econômicos, os quais serão sub- mente a cobrança de multa pecuniária será feita
metidos ao CADE pelas partes envolvidas. de acordo com o disposto na Lei nº 6.830, de 22 de
A concentração de mercado será proibida caso setembro de 1980.
elimine a concorrência, criando ou reforçando uma Art. 95 Na execução que tenha por objeto, além da
posição dominante no mercado pelo grupo econômico cobrança de multa, o cumprimento de obrigação de
envolvido. fazer ou não fazer, o Juiz concederá a tutela espe-
Por outro lado, a concentração pode ser admitida cífica da obrigação, ou determinará providências
caso atinja os objetivos estabelecidos no § 6º. que assegurem o resultado prático equivalente ao
Os atos de concentração que estiverem em desa- do adimplemento.
cordo com o estipulado na presente lei poderão ser § 1º A conversão da obrigação de fazer ou não
levados ao CADE para a tomada de providências cabí- fazer em perdas e danos somente será admissível
se impossível a tutela específica ou a obtenção do
veis na espécie.
resultado prático correspondente.
§ 2º A indenização por perdas e danos far-se-á sem
Art. 90 Para os efeitos do art. 88 desta Lei, realiza- prejuízo das multas.
-se um ato de concentração quando: Art. 96 A execução será feita por todos os meios,
I - 2 (duas) ou mais empresas anteriormente inde- inclusive mediante intervenção na empresa, quan-
pendentes se fundem; do necessária.
II - 1 (uma) ou mais empresas adquirem, direta ou Art. 97 A execução das decisões do Cade será pro-
indiretamente, por compra ou permuta de ações, movida na Justiça Federal do Distrito Federal ou da
quotas, títulos ou valores mobiliários conversíveis sede ou domicílio do executado, à escolha do Cade.

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


em ações, ou ativos, tangíveis ou intangíveis, por via
contratual ou por qualquer outro meio ou forma, o
A execução judicial é um processo judicial pro-
controle ou partes de uma ou outras empresas;
posto para cobrar uma quantia líquida e certa, ou
III - 1 (uma) ou mais empresas incorporam outra
determinação para que o executado cumpra com
ou outras empresas; ou
determinada obrigação.
IV - 2 (duas) ou mais empresas celebram contrato
associativo, consórcio ou joint venture .
A decisão proferida pelo CADE tem natureza de
Parágrafo único. Não serão considerados atos de título executivo extrajudicial, isto é, pode ser executa-
concentração, para os efeitos do disposto no art. 88 da diretamente através do Poder Judiciário, sem que
desta Lei, os descritos no inciso IV do caput, quan- esse referido poder faça análise do caso, prosseguindo
do destinados às licitações promovidas pela admi- diretamente para a cobrança do valor ou cumprimen-
nistração pública direta e indireta e aos contratos to da obrigação.
delas decorrentes. O fato de ser extrajudicial é porque se trata de
Art. 91 A aprovação de que trata o art. 88 desta Lei documento criado fora do Poder Judiciário, porém
poderá ser revista pelo Tribunal, de ofício ou median- nesse referido poder ele poderá ser executado.
te provocação da Superintendência-Geral, se a deci- A competência para executar as decisões do CADE
são for baseada em informações falsas ou enganosas é da Justiça Federal do Distrito Federal ou da sede ou
prestadas pelo interessado, se ocorrer o descumpri- domicílio do executado, cabendo ao próprio CADE
mento de quaisquer das obrigações assumidas ou não escolher entre esses.
forem alcançados os benefícios visados.
Parágrafo único. Na hipótese referida no caput des- Art. 98 O oferecimento de embargos ou o ajui-
te artigo, a falsidade ou enganosidade será punida zamento de qualquer outra ação que vise à des-
com multa pecuniária, de valor não inferior a R$ constituição do título executivo não suspenderá a
60.000,00 (sessenta mil reais) nem superior a R$ execução, se não for garantido o juízo no valor das
6.000.000,00 (seis milhões de reais), a ser aplica- multas aplicadas, para que se garanta o cumpri-
da na forma das normas do Cade, sem prejuízo da mento da decisão final proferida nos autos, inclusi-
abertura de processo administrativo, nos termos ve no que tange a multas diárias. 561
§ 1º Para garantir o cumprimento das obrigações comprovado o cumprimento integral da obrigação
de fazer, deverá o juiz fixar caução idônea. que a determinou.
§ 2º Revogada a liminar, o depósito do valor da Art. 106 A intervenção judicial deverá restringir-se
multa converter-se-á em renda do Fundo de Defesa aos atos necessários ao cumprimento da decisão
de Direitos Difusos. judicial que a determinar e terá duração máxima de
§ 3º O depósito em dinheiro não suspenderá a inci- 180 (cento e oitenta) dias, ficando o interventor res-
dência de juros de mora e atualização monetária, ponsável por suas ações e omissões, especialmente
podendo o Cade, na hipótese do § 2º deste artigo, em caso de abuso de poder e desvio de finalidade.
promover a execução para cobrança da diferença § 1º Aplica-se ao interventor, no que couber, o dis-
entre o valor revertido ao Fundo de Defesa de Direi- posto nos arts. 153 a 159 da Lei nº 6.404, de 15 de
tos Difusos e o valor da multa atualizado, com os dezembro de 1976.
acréscimos legais, como se sua exigibilidade do cré- § 2º A remuneração do interventor será arbitrada
dito jamais tivesse sido suspensa. pelo Juiz, que poderá substituí-lo a qualquer tempo,
sendo obrigatória a substituição quando incorrer
Os embargos são a peça de resistência do executa- em insolvência civil, quando for sujeito passivo ou
do que visa desconstituir o título executivo, seguindo ativo de qualquer forma de corrupção ou prevari-
as normas previstas em lei específica. cação, ou infringir quaisquer de seus deveres.
A garantia do juízo é o depósito do valor executa-
do, por parte do embargante, a fim de que os embar- A intervenção judicial prevista nessa lei significa a
gos sejam analisados pelo juízo. designação de uma pessoa para administrar a empre-
sa executada.
Art. 99 Em razão da gravidade da infração da Caso seja determinada, a intervenção será efetiva-
ordem econômica, e havendo fundado receio de da pelo juízo, cabendo sua impugnação pelo executa-
dano irreparável ou de difícil reparação, ainda que do, no prazo de 48 horas, alegando os termos contidos
tenha havido o depósito das multas e prestação de
no art. 103. Sendo julgada procedente a impugnação,
caução, poderá o Juiz determinar a adoção imedia-
o juízo designará outro interventor dentro de cinco
ta, no todo ou em parte, das providências contidas
no título executivo. dias.
Art. 100 No cálculo do valor da multa diária pela É importante deixar claro que a intervenção não
continuidade da infração, tomar-se-á como termo será limitada apenas para os atos necessários para o
inicial a data final fixada pelo Cade para a ado- cumprimento da execução, não sendo ela uma “carta
ção voluntária das providências contidas em sua branca” para o interventor, e terá duração máxima de
decisão, e como termo final o dia do seu efetivo 180 dias.
cumprimento.
Art. 107 O juiz poderá afastar de suas funções os
É cabível ao magistrado determinar a adoção ime- responsáveis pela administração da empresa que,
diata das providências contidas no título que está em comprovadamente, obstarem o cumprimento de
execução, no caso, a decisão do CADE, desde que exis- atos de competência do interventor, devendo even-
ta receio de dano irreparável ou de difícil reparação. tual substituição dar-se na forma estabelecida no
Além disso, o cálculo do valor da multa diária contrato social da empresa.
seguirá os termos do art. 100. § 1º Se, apesar das providências previstas no caput
deste artigo, um ou mais responsáveis pela admi-
Art. 101 O processo de execução em juízo das deci- nistração da empresa persistirem em obstar a ação
sões do Cade terá preferência sobre as demais espé- do interventor, o juiz procederá na forma do dispos-
cies de ação, exceto habeas corpus e mandado de to no § 2º deste artigo.
segurança. § 2º Se a maioria dos responsáveis pela adminis-
tração da empresa recusar colaboração ao inter-
O processo de execução judicial de decisão profe- ventor, o juiz determinará que este assuma a
rida pelo CADE tem preferência de tramitação sobre administração total da empresa.
os demais processos, exceto habeas corpus e mandado
de segurança. Se os responsáveis pela empresa obstarem o traba-
lho do interventor, eles poderão ser afastados.
DA INTERVENÇÃO JUDICIAL
Art. 108 Compete ao interventor:
Art. 102 O Juiz decretará a intervenção na empresa I - praticar ou ordenar que sejam praticados os atos
quando necessária para permitir a execução espe- necessários à execução;
cífica, nomeando o interventor. II - denunciar ao Juiz quaisquer irregularidades
Parágrafo único. A decisão que determinar a inter- praticadas pelos responsáveis pela empresa e das
venção deverá ser fundamentada e indicará, clara quais venha a ter conhecimento; e
e precisamente, as providências a serem tomadas III - apresentar ao Juiz relatório mensal de suas
pelo interventor nomeado. atividades.
Art. 103 Se, dentro de 48 (quarenta e oito) horas, Art. 109 As despesas resultantes da intervenção
o executado impugnar o interventor por motivo de correrão por conta do executado contra quem ela
inaptidão ou inidoneidade, feita a prova da alega- tiver sido decretada.
ção em 3 (três) dias, o juiz decidirá em igual prazo. Art. 110 Decorrido o prazo da intervenção, o
Art. 104 Sendo a impugnação julgada procedente, interventor apresentará ao juiz relatório circuns-
o juiz nomeará novo interventor no prazo de 5 (cin- tanciado de sua gestão, propondo a extinção e o
co) dias. arquivamento do processo ou pedindo a prorroga-
Art. 105 A intervenção poderá ser revoga- ção do prazo na hipótese de não ter sido possível
562 da antes do prazo estabelecido, desde que cumprir integralmente a decisão exequenda.
As competências do interventor estão previstas Dica
no art. 108, correndo por conta do executado todos os
custos decorrentes da intervenção. A Súmula nº 297, do Superior Tribunal de Justiça,
Cumprida a intervenção, o interventor apresenta- dispõe o seguinte: “O Código de Defesa do Con-
rá relatório ao juiz contendo os termos previstos no sumidor é aplicável às instituições financeiras”.
art. 110.
O CDC é uma norma relativamente enxuta, com-
Art. 111 Todo aquele que se opuser ou obstaculizar posta por 119 (cento e dezenove) artigos estruturados
a intervenção ou, cessada esta, praticar quaisquer em seis títulos. Em concursos públicos, a cobrança
atos que direta ou indiretamente anulem seus efei- do CDC envolve, basicamente, os tópicos conceituais;
tos, no todo ou em parte, ou desobedecer a ordens as hipóteses de aplicabilidade e a própria letra da lei
legais do interventor será, conforme o caso, respon- (legislação “seca”). Deste modo, o presente estudo será
sabilizado criminalmente por resistência, desobe- voltado para esses pontos, em especial, os dois primei-
diência ou coação no curso do processo, na forma ros títulos da norma.
dos arts. 329, 330 e 344 do Decreto-Lei n° 2.848, de Antes de iniciar o estudo, no entanto, é preciso ter
7 de dezembro de 1940 - Código Penal. em mente que, para melhor compreender a legisla-
ção, é primordial entender sua estrutura e identifi-
Obstaculizar o trabalho do interventor, praticar car as suas ideias mais importantes. Por essa razão,
atos que anulem os efeitos da intervenção e desobede- é extremamente importante ler o texto de lei e tentar
cer às ordens legais do interventor são consideradas compreender os pontos mais importantes dos artigos,
condutas criminosas, a serem processadas e julgadas sem precisar, contudo, decorá-los.
pela instância penal. Feitas essas considerações iniciais, bons estudos!

TÍTULO I — DOS DIREITOS DO CONSUMIDOR

Os direitos do consumidor compreendem o pri-


DIREITO DO CONSUMIDOR: LEI N° meiro título do CDC. Eles se encontram disciplinados
8.078, DE 1990 E ALTERAÇÕES do art. 1º ao art. 60. Vejamos cada deles:

A Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, conhe- Art. 1º O presente código estabelece normas de
cida como Código de Defesa do Consumidor (CDC), proteção e defesa do consumidor, de ordem públi-
estabeleceu as regras de proteção ao consumidor. Sua ca e interesse social, nos termos dos arts. 5º, inciso
edição foi necessária porque, até a promulgação da XXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal e art.
Constituição Federal, de 1988 (CF, de 1988), os adqui- 48 de suas Disposições Transitórias.
rentes de produtos e serviços não possuíam normas
próprias, tendo que fundamentar a defesa de seus O art. 1º, do CDC, reporta-se a três dispositivos
direitos no antigo Código Civil, de 1916, e nas seguin- constitucionais.
tes legislações: A primeira proteção encontra-se no inciso XXXII,
art. 5º, da CF, de 19887, isto é, no Título “Dos Direitos e
Garantias Fundamentais”. Assim sendo, a proteção ao
z Decreto nº 869, de 1938 (Lei de Crimes Contra a
consumidor constitui um dos direitos e deveres indi-
Economia Popular);
viduais e coletivos. Como consequência, a defesa do
z Decreto-Lei nº 22.626, de 1943 (Lei da Usura);
consumidor promovida por meio do Estado é uma das

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


z Lei Delegada nº 4, de 1962, que cuida da inter-
denominadas cláusulas pétreas.
venção estatal no domínio econômico para a
Trata-se, portanto, de matéria que não pode ser
garantia de distribuição de produtos de primeira
objeto de modificação por meio de qualquer proposta
necessidade; de Emenda Constitucional tendente a abolir ou esva-
z Lei nº 4.137, de 1962 (Lei de Repressão do Poder ziar a defesa dos direitos do consumidor.
Econômico), que instituiu o Sistema Brasileiro de A segunda proteção encontra-se no art. 170, da CF,
Defesa da Concorrência e criou o CADE — Conse- de 19888, de modo que a defesa do consumidor consti-
lho Administrativo de Defesa Econômica, estrutu- tuiu um dos princípios pelo qual a ordem econômica
rado, atualmente, pela Lei nº 12.529, de 2011. brasileira é estabelecida. Assim, a defesa do consumi-
dor é princípio de ação política do Estado brasileiro,
Com a CF, de 1988, a defesa do consumidor adqui- uma vez que legitima a adoção de políticas protetivas
riu um novo patamar. Ao mesmo tempo em que a para o consumidor. Como consequência, o Estado
defesa do consumidor passou a ser tida como um poderá intervir na ordem econômica fundamentado
direito fundamental, tornou-se, também, um prin- na defesa e interesses dos consumidores.
cípio da ordem econômica. Para tanto, foi o próprio Por fim, o art. 48, do Ato das Disposições Constitu-
legislador constituinte que determinou a elaboração cionais Transitórias, estabeleceu o prazo de 120 (cento
de um código para a defesa do consumidor. Assim, o e vinte) dias da promulgação da CF, de 1988, para que
Congresso Nacional elaborou a Lei nº 8.078, de 1990, e o Congresso Nacional elaborasse o Código de Defesa
deu efetividade ao comando constitucional para inau- do Consumidor. Trata-se, portanto, de uma resposta
gurar um novo microssistema de proteção. legal protetiva.
7 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] XXXII - o Estado
promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor.
8 Art. 170 A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência
digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: [...] V - defesa do consumidor. 563
Embora a CF, de 1988, tenha estabelecido o prazo z Elemento objetivo: que adquire ou utiliza produ-
para elaboração do CDC, observa-se que o prazo tem- to ou serviço;
poral estabelecido pelo legislador constituinte não foi z Elemento teleológico: como destinatário final.
observado, uma vez que o Código foi promulgado em
11 de setembro de 1990 e sua entrada em vigor ocor- Portanto, consumidor é toda pessoa física ou jurí-
reu em 11 de março de 1991. dica, independentemente se brasileira ou não, que
Além de se reportar a estes dispositivos constitu- adquire ou utiliza um produto ou serviço na qualida-
cionais, o art. 1º, do CDC, estabelece que as normas de de destinatário final.
de proteção ao consumidor são de ordem pública e Atente-se: o conceito de consumidor abrange não
interesse social, ou seja, são normas cogentes (obri- só o adquirente, como também o usuário de produ-
gatórias), que não podem ser afastadas ou modifica- tos ou serviços colocados no mercado de consumo.
das pela vontade das partes e que, ao mesmo tempo Cumpre mencionar, ainda, que o ponto central do
em que buscam trazer equilíbrio na relação jurídica, conceito envolve compreender e delimitar o âmbito
equalizam a diferença entre consumidor e fornecedor. de incidência da expressão destinatário final, ou seja,
Em síntese, o CDC estabelece normas que vão regu- distinguir a relação de consumo e a relação empresa-
lar os contratos de consumo e limitar a autonomia da rial. Nesse sentido, três correntes dominam os debates.
vontade, além de impossibilitar a renúncia do consu- A primeira é a corrente objetiva ou marxista,
midor quanto aos direitos estabelecidos na lei, salvo que dá à expressão “destinatário final” a maior ampli-
os casos de expressa disposição em sentido contrário. tude possível ao considerar o adquirente como desti-
Vale lembrar que normas de ordem pública são natário fático do produto ou serviço, por ter retirado
aquelas que revestem valores importantes para toda este do mercado, sendo indiferente se o destinatário
a coletividade, isto é, que transcendem aos interesses adquiriu o produto ou serviço com finalidades lucra-
particulares. tivas ou não, como, por exemplo, a empresa que com-
Observa-se, no entanto, que, para que exista a rela- pra couro para produzir sapatos.
ção de consumo, é preciso o requisito subjetivo, ou A segunda corrente é a corrente subjetiva ou
seja, a presença de um consumidor e de um fornecedor, finalista, que considera consumidor somente aquele
além do requisito objetivo, isto é, uma relação que diga não profissional que adquire produto ou contrata ser-
respeito ao fornecimento de um produto ou serviço. viço, de modo a esgotar em si mesmo o consumo, sem
qualquer finalidade lucrativa, como, por exemplo, a
pessoa que adquire o sapato.
RELAÇÃO JURÍDICA Por fim, a terceira corrente é a finalista mitiga-
DE CONSUMO da ou mista, que opta por analisar o caso concreto,
para enquadrar como destinatário final, como, por
exemplo, o motorista de caminhão quando adquire o
veículo ou a costureira quando adquire a máquina de
Elementos subjetivos: costura. Cabe destacar, por fim, que a teoria finalis-
Elemento objetivo:
consumidor e ta mitigada leva em consideração a vulnerabilidade,
produto ou serviço
fornecedor conceito que será estudado posteriormente.
Se o caput traz o conceito de consumidor em senti-
do estrito, o parágrafo único estabelece o conceito de
Para tanto, o CDC traz os seguintes conceitos nos consumidor em sentido coletivo, de modo a equipa-
arts. 2º e 3º: consumidor, fornecedor, produto e servi- rar ao consumidor a coletividade de pessoas, mesmo
ço. Vejamos tais conceitos: que indetermináveis, que esteja intervindo nas rela-
ções de consumo. Por exemplo: o caso de compra de
Art. 2º Consumidor é toda pessoa física ou jurídi- um alimento por uma pessoa, para ser consumido por
ca que adquire ou utiliza produto ou serviço como diversas outras em sua residência, de modo que, se
destinatário final. todos sofrem lesão em decorrência do produto, todos
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a cole- serão consumidores por equiparação, por terem inter-
tividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que vindo na relação de consumo, mesmo que sem firmar
haja intervindo nas relações de consumo. o contrato de consumo.
Art. 3º Fornecedor é toda pessoa física ou jurí-
A finalidade do conceito é garantir a proteção cole-
dica, pública ou privada, nacional ou estrangeira,
tiva do consumidor, de modo a ampliar a abrangência
bem como os entes despersonalizados, que desen-
volvem atividade de produção, montagem, criação,
do CDC para além do consumidor individualmente
construção, transformação, importação, exporta- considerado na sua relação com o fornecedor, uma
ção, distribuição ou comercialização de produtos vez que se trata de interesse que transcende ao indi-
ou prestação de serviços. víduo, ou seja, interesse difuso, coletivo e individual
§ 1º Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, homogêneo dos consumidores, conforme veremos
material ou imaterial. pela leitura do texto do art. 81, do CDC.
§ 2º Serviço é qualquer atividade fornecida no mer- Atente-se ao fato de que o art. 17 traz o conceito
cado de consumo, mediante remuneração, inclusi- de consumidor bystander e o art. 29, o conceito de
ve as de natureza bancária, financeira, de crédito consumidor em sentido amplo, exposto ou virtual.
e securitária, salvo as decorrentes das relações de Portanto, são mais dois dispositivos que ampliam o con-
caráter trabalhista. ceito de consumidor e serão tratados posteriormente.
Por outro lado, o caput, do art. 3º, conceitua for-
O caput, do art. 2º, traz o conceito de consumidor necedor como aquele que desenvolve a atividade
em sentido estrito, que comporta três elementos: profissional no mercado de consumo com habitua-
lidade, especialização e com finalidade econômica.
564 z Elemento subjetivo: pessoa física ou jurídica; Trata-se, portanto, de um conceito amplo que engloba
as seguintes espécies: produtor, montador, criador, IV - educação e informação de fornecedores e con-
fabricante, construtor, transformador, importador, sumidores, quanto aos seus direitos e deveres, com
exportador, distribuidor, comerciante e o prestador vistas à melhoria do mercado de consumo;
de serviços. V - incentivo à criação pelos fornecedores de meios
O núcleo do conceito de fornecedor é a ativida- eficientes de controle de qualidade e segurança de
de desempenhada, ou seja, somente é considerado produtos e serviços, assim como de mecanismos
fornecedor aquele que exerce a atividade de forma alternativos de solução de conflitos de consumo;
profissional, com habitualidade e com finalidade VI - coibição e repressão eficientes de todos os abu-
econômica. sos praticados no mercado de consumo, inclusive
Os §§ 1º e 2º, do art. 3º, trazem os conceitos dos a concorrência desleal e utilização indevida de
objetos da relação de consumo, ou seja, de produto e inventos e criações industriais das marcas e nomes
serviço. Por produto, entende-se qualquer bem, seja comerciais e signos distintivos, que possam causar
móvel ou imóvel, material ou imaterial, podendo ser prejuízos aos consumidores;
VII - racionalização e melhoria dos serviços públicos;
fornecido de forma remunerada ou não (ex.: amostra
VIII - estudo constante das modificações do merca-
grátis).
do de consumo.
As normas sobre as classificações dos bens não
IX - fomento de ações direcionadas à educação
estão no CDC, mas no Código Civil.
financeira e ambiental dos consumidores;
Por serviço, entende-se qualquer atividade for-
X - prevenção e tratamento do superendividamento
necida no mercado de consumo por meio de remu-
como forma de evitar a exclusão social do consumidor.
neração, seja ela direta ou indireta. A remuneração
indireta ocorre quando o custo do serviço já está
O art. 4º estabelece os objetivos da Política Nacio-
embutido no preço de outro produto ou serviço ofer-
nal e enumera os princípios aplicáveis à sua elabo-
tado pelo estabelecimento, como, por exemplo, no
ração e planejamento. Em síntese, os objetivos da
caso de serviços de estacionamento em supermerca-
Política Nacional das Relações de Consumo são cinco:
dos e shoppings ou o oferecimento de lavagem de veí-
culos em estacionamentos ou postos de combustível.
Portanto, há a incidência do CDC mesmo em caso de z atendimento das necessidades dos consumidores;
prestação de serviços aparentemente gratuitos. z respeito à sua dignidade, saúde e segurança;
Sobre serviço, cumpre mencionar, ainda, que, z proteção de seus interesses econômicos;
quando a prestação de serviços se dá com pessoalida- z melhoria da sua qualidade de vida;
de e subordinação, aplica-se a Consolidação das Leis z transparência e harmonia das relações de consumo.
do Trabalho (CLT) e, não, o CDC, por se tratar de rela-
ção de trabalho. Já no caso dos profissionais liberais, Com relação aos princípios elencados no dispo-
em regra, eles podem ser enquadrados como fornece- sitivo, o primeiro deles é o Princípio do Reconhe-
dores de serviços, ressalvando-se sua responsabiliza- cimento da Vulnerabilidade e da Proteção do
ção mediante aferição de culpa nos termos do § 4º, art. Consumidor. Explicando melhor: o consumidor é
14, do CDC, que será explicado à frente. a parte mais frágil da relação de consumo, pois, em
regra, o fornecedor possui situação econômica supe-
Política Nacional das Relações de Consumo rior, além de deter conhecimentos científicos, técnicas
de elaboração do produto e execução do serviço, entre
A Política Nacional das Relações de Consumo é tra- outros. Por essa razão, o consumidor ocupa posição de
tada nos arts. 4º e 5º, do CDC. Vejamos os dispositivos: vulnerabilidade, de modo que, para equilibrar a rela-

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


ção jurídica de consumo, o CDC trata de forma desi-
Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consu- gual fornecedor e consumidor.
mo tem por objetivo o atendimento das necessida- A vulnerabilidade pode ocorrer por fatores fáticos,
des dos consumidores, o respeito à sua dignidade, técnicos ou jurídicos.
saúde e segurança, a proteção de seus interesses A vulnerabilidade fática refere-se à própria
econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, situação socioeconômica do consumidor face ao for-
bem como a transparência e harmonia das relações
necedor, ou seja, em razão do poder econômico do
de consumo, atendidos os seguintes princípios:
fornecedor ou do monopólio ou essencialidade do
I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumi-
dor no mercado de consumo; produto oferecido.
II - ação governamental no sentido de proteger efe- A vulnerabilidade técnica está relacionada ao
tivamente o consumidor: processo de elaboração, fabricação ou prestação, uma
a) por iniciativa direta; vez que o consumidor, por não fazer parte desse pro-
b) por incentivos à criação e desenvolvimento de cesso, não detém conhecimento pleno sobre o produto
associações representativas; ou serviço.
c) pela presença do Estado no mercado de consumo; Por fim, a vulnerabilidade jurídica está ligada
d) pela garantia dos produtos e serviços com ao desconhecimento do consumidor com relação aos
padrões adequados de qualidade, segurança, dura- efeitos da obrigação que contrai junto ao fornece-
bilidade e desempenho. dor ou aos casos de contratos de adesão, em que, por
III - harmonização dos interesses dos participan-
serem produzidos unilateralmente pelo fornecedor,
tes das relações de consumo e compatibilização
da proteção do consumidor com a necessidade
não há possibilidade de discussão de suas cláusulas
de desenvolvimento econômico e tecnológico, de pelo consumidor.
modo a viabilizar os princípios nos quais se funda O segundo princípio é o Princípio da Intervenção
a ordem econômica (art. 170, da Constituição Fede- Estatal ou Princípio do Dever Governamental, que
ral), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas impõe a atuação do Estado no sentido de proteger o
relações entre consumidores e fornecedores; consumidor. Tal proteção pode ser feita: 565
z por iniciativa direta, como, por exemplo, no caso Por fim, o décimo princípio é o Princípio da Pre-
de criação dos Serviços de Proteção ao Consumi- venção e Tratamento do Superendividamento. Tal
dor (Procon); princípio tem como alicerce a reeducação financeira
z por incentivos à criação e ao desenvolvimento de do consumidor por meio de concessão de crédito res-
associações representativas, de modo a oportuni- ponsável, sendo estruturado pelos deveres de infor-
zar a organização dos consumidores; mação previstos expressamente no art. 54, CDC, que
z por meio da presença do Estado no mercado de será analisado posteriormente.
consumo, como nos casos das atividades essenciais Por outro lado, o art. 5º, do CDC, estabelece os ins-
ou que digam respeito ao interesse público; trumentos a serem utilizados na sua execução da polí-
z pela garantia dos produtos e serviços com padrões tica Nacional das Relações de Consumo. São eles:
adequados de qualidade, segurança, durabilidade
e desempenho, de maneira a atender não só às Art. 5º […]
necessidades dos consumidores, como a própria I - manutenção de assistência jurídica, integral e
viabilidade de inserção de produtos e serviços no gratuita para o consumidor carente;
mercado em razão dos padrões de exigência. II - instituição de Promotorias de Justiça de Defesa
do Consumidor, no âmbito do Ministério Público;
O terceiro princípio tratado no art. 4º, do CDC, é III - criação de delegacias de polícia especializadas
o Princípio da Harmonização dos Interesses e do no atendimento de consumidores vítimas de infra-
equilíbrio nas relações de consumo. Tal princípio ções penais de consumo;
IV - criação de Juizados Especiais de Pequenas Cau-
busca equacionar os interesses dos participantes das
sas e Varas Especializadas para a solução de lití-
relações de consumo, de modo a compatibilizar a pro-
gios de consumo;
teção do consumidor com a necessidade de desenvol-
V - concessão de estímulos à criação e desenvolvi-
vimento econômico e tecnológico do fornecedor. Em
mento das Associações de Defesa do Consumidor.
síntese, busca viabilizar os princípios nos quais se
VI - instituição de mecanismos de prevenção e tra-
funda a ordem econômica com o equilíbrio nas rela-
tamento extrajudicial e judicial do superendivida-
ções entre consumidor e fornecedor.
mento e de proteção do consumidor pessoa natural;
O quarto princípio é o Princípio da Conscientiza- VII - instituição de núcleos de conciliação e media-
ção, ou seja, o CDC impõe, como diretrizes da Políti- ção de conflitos oriundos de superendividamento.
ca Nacional das Relações de Consumo, a educação e
a informação tanto do fornecedor, como do consu-
Pode-se dizer que se trata de um rol meramente
midor. Por conscientização, entende-se a busca tan-
exemplificativo.
to pela educação formal, como, por exemplo, com a
inclusão do tema nas grades curriculares das escolas,
como na educação informal, como, por exemplo, nas Dos Direitos Básicos do Consumidor
ações dos Procons ou das associações civis.
O quinto princípio estabelecido no art. 4º, do CDC, Os arts. 6º e 7º, do CDC, trazem os direitos funda-
é o Princípio do Incentivo à Autoiniciativa. Trata-se mentais do consumidor. Trata-se, portanto, dos prin-
do incentivo à criação de meios eficientes de contro- cípios que regem as relações de consumo, tais como
le de qualidade e segurança de produtos e serviços proteção à vida, saúde e segurança, educação e infor-
pelos fornecedores, além do incentivo aos mecanis- mação, não abusividade, equilíbrio contratual, pre-
mos alternativos de solução de conflitos, tais como os venção e reparação integral, entre outros.
métodos extrajudiciais de solução de controvérsias,
como a arbitragem, mediação e conciliação. Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
O sexto princípio é o Princípio da Coibição do I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os
Abuso, que se refere à obrigação do Estado de coibir riscos provocados por práticas no fornecimento
e reprimir os abusos praticados no mercado de consu- de produtos e serviços considerados perigosos ou
mo, como, por exemplo, a concorrência desleal e a uti- nocivos;
lização indevida de inventos e criações industriais de II - a educação e divulgação sobre o consumo ade-
marcas e nomes comerciais e signos distintivos, que quado dos produtos e serviços, asseguradas a liber-
possam causar prejuízos aos consumidores. dade de escolha e a igualdade nas contratações;
O sétimo princípio previsto é o Princípio da Racio- III - a informação adequada e clara sobre os dife-
nalização e Melhoria dos Serviços Públicos, ou seja, rentes produtos e serviços, com especificação cor-
os serviços devem ser prestados de modo adequado reta de quantidade, características, composição,
e racional. Esse princípio será retomado quando for qualidade, tributos incidentes e preço, bem como
analisado o art. 22, do CDC, que trata da obrigatorieda- sobre os riscos que apresentem;
de de os serviços serem fornecidos de forma adequa- IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abu-
da, eficiente, segura e, no caso de serviço essencial, de siva, métodos comerciais coercitivos ou desleais,
modo contínuo por parte dos órgãos públicos ou por bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou
intermédio de suas concessionárias. impostas no fornecimento de produtos e serviços;
V - a modificação das cláusulas contratuais que
O oitavo princípio disposto no art. 4º, do CDC, é o Prin-
estabeleçam prestações desproporcionais ou sua
cípio do Estudo Constante das Modificações do Mer-
revisão em razão de fatos supervenientes que as
cado de Consumo, ou seja, a necessidade de constante tornem excessivamente onerosas;
averiguação da evolução de oferta de produtos e serviços VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patri-
no mercado de consumo em decorrência do desenvolvi- moniais e morais, individuais, coletivos e difusos;
mento de novas tecnologias ou de novos hábitos. VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrati-
O nono princípio é o Princípio da Educação e vos com vistas à prevenção ou reparação de danos
Informação, que reflete o dever do Estado de educar patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou
os consumidores, para que estes, cientes de seus direi- difusos, assegurada a proteção Jurídica, adminis-
566 tos e deveres, possam atuar de forma consciente. trativa e técnica aos necessitados;
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusi- qualquer tipo de situação vexatória, constrangimento
ve com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no ou ameaça no caso de inadimplência encontra-se dis-
processo civil, quando, a critério do juiz, for veros- ciplinada no art. 42 e o rol das cláusulas contratuais
símil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, consideradas abusivas, no art. 51, do CDC.
segundo as regras ordinárias de experiências; O inciso V, do art. 6º, do CDC, estabelece o direito
IX - (Vetado);
ao equilíbrio contratual. Por equilíbrio contratual
X - a adequada e eficaz prestação dos serviços
entende-se a garantia de modificação de cláusulas
públicos em geral.
XI - a garantia de práticas de crédito responsável, contratuais que estabeleçam prestações despropor-
de educação financeira e de prevenção e tratamen- cionais ou sua revisão em razão de fatos superve-
to de situações de superendividamento, preservado nientes que as tornem excessivamente onerosas. Esse
o mínimo existencial, nos termos da regulamenta- direito também é denominado princípio da modifica-
ção, por meio da revisão e da repactuação da dívi- ção das prestações desproporcionais ou princípio da
da, entre outras medidas; preservação.
XII - a preservação do mínimo existencial, nos ter- O inciso VI, do art. 6º, do CDC, trata do direito à
mos da regulamentação, na repactuação de dívidas prevenção e reparação integral, de modo a impor a
e na concessão de crédito; completa reparação de danos patrimoniais e morais,
XIII - a informação acerca dos preços dos produ- quer individuais, coletivos ou difusos. Por esse direito,
tos por unidade de medida, tal como por quilo, por
depreende-se que o CDC veda o tarifamento de inde-
litro, por metro ou por outra unidade, conforme o
nização por dano moral nos contratos de consumo,
caso.
Parágrafo único. A informação de que trata o inci- ou seja, cabe ao juiz, no caso concreto, estabelecer os
so III do caput deste artigo deve ser acessível à valores indenizatórios com base nas características.
pessoa com deficiência, observado o disposto em O inciso VII estabelece o direito ao acesso à Jus-
regulamento. tiça. Portanto, ao consumidor é assegurado o acesso
aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à
O inciso I, do art. 6º, do CDC, estabelece o direito prevenção ou reparação de danos.
de proteção à vida, saúde e segurança como direito Esse princípio deve ser conjugado com o art. 5º, do
fundamental contra os riscos provocados por práticas CDC, que prevê, como instrumentos de execução da
no fornecimento de produtos e serviços considerados Política Nacional das Relações de Consumo, a institui-
perigosos ou nocivos. Conforme será visto a seguir, ção ou a manutenção de assistência jurídica, integral
os arts. 8º a 11 são destinados à proteção à saúde e e gratuita para o consumidor carente, a instituição
à segurança do consumidor e à responsabilização do de Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidor
fornecedor pelos acidentes de consumo. e a criação de Juizados Especiais de Pequenas Causas
O inciso II, do art. 6º, do CDC, trata do direito à e Varas Especializadas para a solução de litígios de
educação e divulgação sobre consumo adequado, consumo.
uma vez que são direitos do consumidor a educação O inciso VIII, do art. 6º, do CDC, dispõe sobre o
e a divulgação sobre consumo adequado dos produ- direito à facilitação da defesa dos direitos, mani-
tos e serviços, visando que as escolhas sejam realiza- festada por diversos mecanismos, tais como a soli-
das de modo correto e sem artimanhas. O dispositivo dariedade passiva na reparação de danos (art. 7º),
engloba, ainda, o dever de assegurar a liberdade de a responsabilização objetiva por fato do produto ou
decidir e o acesso em igualdade de condições a outros serviço (arts. 12 e 14), a vedação à denunciação da
consumidores. lide (art. 88), a prerrogativa da propositura da ação no
O inciso III estabelece o direito à informação, de domicílio do consumidor-autor (inciso I, art. 101, do

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


modo a garantir ao consumidor que sejam prestadas CDC) e a possibilidade de inversão do ônus da prova.
as informações adequadas e claras sobre os diferentes O inciso X estabelece o direito à adequada e efi-
produtos e serviços, sendo dever do fornecedor a sua caz prestação dos serviços públicos.
prestação. O dever de informação refere-se à especifi- Os incisos XI a XIII foram incluídos pela Lei nº
cação correta de quantidade, característica, composi-
14.181, de 2021 (Lei do Superendividamento). O obje-
ção, qualidade, tributos incidentes e preço, além dos
tivo desses dispositivos é estabelecer um conjunto de
riscos que podem apresentar o produto ou serviço.
regras voltadas à proteção do consumidor por meio
do crédito responsável. O superendividamento é um
problema social que deve ter a atenção por parte do
Importante!
Estado.
São desdobramentos do direito à informação a Já nos termos do art. 7º, do CDC, os direitos estabe-
garantia da cognoscibilidade prevista no art. 46, lecidos pela norma não excluem outros decorrentes
do CDC, e as regras de redação dos contratos de tratados ou convenções internacionais, da legis-
de adesão trazidas no § 3º e 4º, art. 54, do CDC. lação interna ordinária, de regulamentos expedidos
pelas autoridades administrativas competentes, bem
como dos que derivem dos princípios gerais do direi-
O inciso IV trata do direito à não abusividade, ou to, analogia, costumes e equidade.
seja, a proteção contra a publicidade enganosa e abu-
siva, contra métodos comerciais coercitivos ou des- Art. 7º Os direitos previstos neste código não
leais, assim como contra práticas e cláusulas abusivas excluem outros decorrentes de tratados ou conven-
ou impostas no fornecimento de produtos e serviços. ções internacionais de que o Brasil seja signatário,
Os conceitos de publicidade enganosa e abusiva, da legislação interna ordinária, de regulamentos
inclusive por omissão, estão previstos no art. 37, do expedidos pelas autoridades administrativas com-
CDC. O elenco das práticas abusivas foi exemplifica- petentes, bem como dos que derivem dos princípios
do no art. 39. Por fim, a garantia de não exposição a gerais do direito, analogia, costumes e equidade. 567
Parágrafo único. Tendo mais de um autor a ofensa, No entanto, existem casos em que esse risco só
todos responderão solidariamente pela reparação é detectado após a colocação do produto ou serviço
dos danos previstos nas normas de consumo. no mercado. Nessa hipótese, o fornecedor é obriga-
do a comunicar o fato imediatamente às autoridades
Da Qualidade de Produtos e Serviços, da Prevenção competentes e aos consumidores, mediante anúncios
e da Reparação dos Danos publicitários, veiculados na imprensa, rádio e televi-
são, às suas expensas.
Com relação à qualidade do produto e serviço, à
prevenção e à reparação dos danos, os arts. 8º a 11 tra- Art. 10 O fornecedor não poderá colocar no mer-
tam da Proteção à Saúde e Segurança, estabelecendo cado de consumo produto ou serviço que sabe ou
as regras preventivas. deveria saber apresentar alto grau de nocividade
ou periculosidade à saúde ou segurança.
Art. 8º Os produtos e serviços colocados no mer- § 1º O fornecedor de produtos e serviços que, pos-
cado de consumo não acarretarão riscos à saúde teriormente à sua introdução no mercado de con-
ou segurança dos consumidores, exceto os conside- sumo, tiver conhecimento da periculosidade que
rados normais e previsíveis em decorrência de sua apresentem, deverá comunicar o fato imediatamen-
natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores, te às autoridades competentes e aos consumidores,
em qualquer hipótese, a dar as informações neces- mediante anúncios publicitários.
sárias e adequadas a seu respeito. § 2º Os anúncios publicitários a que se refere o §
§ 1º Em se tratando de produto industrial, ao fabri- anterior serão veiculados na imprensa, rádio e
cante cabe prestar as informações a que se refere televisão, às expensas do fornecedor do produto ou
este artigo, através de impressos apropriados que serviço.
devam acompanhar o produto. § 3º Sempre que tiverem conhecimento de pericu-
losidade de produtos ou serviços à saúde ou segu-
§ 2º O fornecedor deverá higienizar os equipa-
rança dos consumidores, a União, os Estados, o
mentos e utensílios utilizados no fornecimento de
Distrito Federal e os Municípios deverão informá-
produtos ou serviços, ou colocados à disposição
-los a respeito.
do consumidor, e informar, de maneira ostensiva
e adequada, quando for o caso, sobre o risco de
contaminação. Trata-se do chamado recall.
Se, por um lado, o CDC busca privilegiar a preven-
Observa-se que o art. 8º traz a regra de que o pro- ção, por outro, sabe-se que danos podem ocorrer. Por
duto ou o serviço da relação de consumo não devem esse motivo, um dos direitos fundamentais do consu-
acarretar risco à saúde ou à segurança dos consumi- midor é a reparação integral, sendo que a responsabi-
dores. No entanto, existem riscos considerados nor- lidade é solidária, conforme estudado no inciso VI, do
mais e previsíveis, que são da própria natureza de art. 6º, e parágrafo único, do art. 7º, respectivamente.
determinados produtos ou serviços, como, por exem- Assim sendo, o CDC dedicou seção própria para dis-
ciplinar a responsabilidade civil do fornecedor/
plo, uma serra ou um processador de alimentos, que
prestador.
podem trazer determinado risco no seu manuseio.
Existe, também, produto ou serviço cujo grau de peri-
culosidade ou de nocividade é mais acentuada, tais como
no caso dos agrotóxicos ou dos serviços de dedetização.
Importante!
Nesses casos, face à utilidade gerada com sua colocação A responsabilidade pode ser apurada em três
no mercado, é necessário que o produto ou serviço seja esferas: civil, penal e administrativa. O CDC tra-
acompanhado de informações ostensivas e adequadas ta, nos arts. 12 a 25, da responsabilidade civil,
sobre sua nocividade e periculosidade, sem prejuízo de ou seja, da responsabilidade de indenizar caso a
outras medidas no caso concreto, nos termos do art. 9º. conduta gere um dano ao consumidor.
Art. 9º O fornecedor de produtos e serviços poten-
cialmente nocivos ou perigosos à saúde ou segu- Antes de iniciar o estudo sobre a responsabilidade
rança deverá informar, de maneira ostensiva e civil do fornecedor, é preciso distinguir o vício e o fato
adequada, a respeito da sua nocividade ou periculo- do produto ou serviço.
sidade, sem prejuízo da adoção de outras medidas Vício refere-se a uma impropriedade ou inadequa-
cabíveis em cada caso concreto. ção do objeto de consumo quanto à sua qualidade ou
quantidade, atingindo a esfera econômica do consu-
A Lei nº 13.486, de 2017, inseriu os dois parágra- midor, como, por exemplo, um aparelho eletrônico
fos constantes do art. 8º, do CDC. O primeiro trata que não liga ou não funciona adequadamente ou um
da obrigação do fabricante de produto industrial de alimento embalado como 1 (um) quilo, mas que con-
prestar as informações relativas à segurança por meio tém somente 900 (novecentos) gramas.
de impressos apropriados que o acompanhem. Já o Fato diz respeito ao denominado acidente de con-
segundo trata da exigência de higienização dos equi- sumo, ou seja, um defeito no produto ou serviço que vai
pamentos e utensílios utilizados no fornecimento de atingir a saúde ou a segurança do consumidor, como, por
produtos ou serviços, informando ostensiva e adequa- exemplo, um aparelho eletrônico montado de forma erra-
damente sobre eventual risco de contaminação. da e que pode explodir ou um alimento contaminado.
O art. 10 trata da hipótese de a periculosidade ou Os arts. 12, 13, 14 e 17 tratam da responsabilidade
nocividade do produto ou serviço extrapolar o razoá- civil pelo fato do produto ou serviço:
vel. Nesse caso, o CDC veda expressamente a sua colo-
cação no mercado, como, por exemplo, nos casos de Art. 12 O fabricante, o produtor, o construtor,
medicamentos proibidos em que os efeitos colaterais nacional ou estrangeiro, e o importador respon-
568 superam os benefícios trazidos. dem, independentemente da existência de culpa,
pela reparação dos danos causados aos consumido- z não colocou o produto no mercado, como, por
res por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, exemplo, nos casos decorrentes de falsificação do
construção, montagem, fórmulas, manipulação, produto;
apresentação ou acondicionamento de seus pro- z embora tenha colocado o produto no mercado, o
dutos, bem como por informações insuficientes ou defeito inexiste, ou seja, que o produto foi devi-
inadequadas sobre sua utilização e riscos.
damente fabricado ou o serviço foi regularmente
§ 1º O produto é defeituoso quando não oferece a
prestado;
segurança que dele legitimamente se espera, levan-
z a culpa é exclusiva do consumidor ou de tercei-
do-se em consideração as circunstâncias relevan-
tes, entre as quais: ro, como, por exemplo, o aparelho quando é utili-
I - sua apresentação; zado em voltagem incorreta e pega fogo.
II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se
esperam; O art. 13 trata da responsabilidade objetiva do
III - a época em que foi colocado em circulação. comerciante. Como regra, o acidente de consumo
§ 2º O produto não é considerado defeituoso pelo ocorre por um defeito no processo de fabricação do
fato de outro de melhor qualidade ter sido colocado produto. Deste modo, quando se trata de fato do pro-
no mercado. duto, diferentemente do que ocorre com o vício, a
§ 3º O fabricante, o construtor, o produtor ou responsabilidade principal é sempre do fabricante,
importador só não será responsabilizado quando construtor, produtor ou importador, respondendo
provar:
o comerciante apenas quando o fabricante, o cons-
I - que não colocou o produto no mercado;
trutor, o produtor ou o importador não puderem ser
II - que, embora haja colocado o produto no merca-
do, o defeito inexiste;
identificados ou, podendo, não o são de fato.
III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. Geralmente, é o caso dos produtos “in natura”,
isto é, aqueles colocados no mercado sem processos
z Tipos de Responsabilidade Civil no CDC industriais ou de transformação, como uma refeição
servida em restaurante ou a venda de cereais a granel
„ Responsabilidade objetiva (3 elementos): no varejo.
conduta (ação ou omissão) + dano (resulta- Também há responsabilidade do comerciante no
do) + nexo de causalidade (a conduta gerou o caso de produto fornecido sem identificação clara do
resultado); seu fabricante, produtor, construtor ou importador.
„ Responsabilidade subjetiva (4 elementos): Por fim, há a responsabilidade no caso de má conser-
conduta (ação ou omissão) + dano (resultado) + vação do produto, como nas hipóteses de produto com
nexo de causalidade (a conduta gerou o resul- lacre violado ou mau acondicionado.
tado) + culpa em sentido amplo (dolo ou culpa).
Art. 13 O comerciante é igualmente responsável,
O art. 12, do CDC, trata do fato do produto ao atribuir nos termos do artigo anterior, quando:
a responsabilidade objetiva do fabricante, produtor, I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o impor-
tador não puderem ser identificados;
construtor (nacional ou estrangeiro) ou importador
II - o produto for fornecido sem identificação clara do
pelos danos causados aos consumidores por defeitos
seu fabricante, produtor, construtor ou importador;
decorrentes de projeto, fabricação, construção, monta-
III - não conservar adequadamente os produtos
gem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicio-
perecíveis.
namento de seus produtos, bem como por informações Parágrafo único. Aquele que efetivar o pagamento

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e seus ao prejudicado poderá exercer o direito de regresso
riscos. Trata-se, portanto, de produto defeituoso, cuja res- contra os demais responsáveis, segundo sua parti-
ponsabilidade independe da existência de culpa. cipação na causação do evento danoso.
Observa-se que o art. 12 é bem abrangente, uma
vez que busca atingir toda a cadeia produtiva, isto é, Atenção! Em decorrência da dificuldade de prova,
desde a concepção do produto até a sua divulgação. o parágrafo único, do art. 13, estabelece a possibili-
Assim, trata-se de rol meramente exemplificativo. dade de o consumidor ingressar com a demanda em
Complementando o caput, do art. 12, o § 1º concei- face de todos os integrantes da cadeia de produção/
tua como produto defeituoso aquele cujo risco excede
fornecimento por meio de ação regressiva, de modo a
ao esperado. Portanto, são aqueles que extrapolam
resolver entre si a questão em conformidade com sua
os riscos normais do produto em si, ou seja, aos ris-
participação no evento danoso.
cos decorrentes da própria natureza do produto, ten-
do em consideração sua apresentação, uso e riscos
Art. 14 O fornecedor de serviços responde, indepen-
razoáveis e a época em que foi colocado em circula-
dentemente da existência de culpa, pela reparação
ção, como, por exemplo, triturador de alimentos com
dos danos causados aos consumidores por defeitos
a hélice solta, bateria de celular com sobrecarga ou relativos à prestação dos serviços, bem como por
automóvel cujo airbag não funciona adequadamente. informações insuficientes ou inadequadas sobre
Em contrapartida, o § 2º exclui do conceito de sua fruição e riscos.
defeito o produto ou serviço que é colocado no mer- § 1º O serviço é defeituoso quando não fornece a
cado quando existe outro de melhor qualidade. Expli- segurança que o consumidor dele pode esperar,
cando melhor: o fato de existirem computadores ou levando-se em consideração as circunstâncias rele-
telefones celulares com novas tecnologias não torna vantes, entre as quais:
os produtos anteriores defeituosos. I - o modo de seu fornecimento;
O § 3º, por sua vez, trata das hipóteses de excluden- II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele
te de responsabilidade. Assim, para afastar sua obri- se esperam;
gação de indenizar, deve o fornecedor provar que: III - a época em que foi fornecido. 569
§ 2º O serviço não é considerado defeituoso pela Os arts. 18 a 25 tratam da responsabilidade civil
adoção de novas técnicas. pelo vício do produto ou serviço. Vejamos:
§ 3º O fornecedor de serviços só não será responsa-
bilizado quando provar: Art. 18 Os fornecedores de produtos de consumo
I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste; duráveis ou não duráveis respondem solidariamen-
II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. te pelos vícios de qualidade ou quantidade que os
§ 4º A responsabilidade pessoal dos profissionais tornem impróprios ou inadequados ao consumo a
liberais será apurada mediante a verificação de que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim
culpa. como por aqueles decorrentes da disparidade, com
a indicações constantes do recipiente, da embala-
O art. 14, do CDC, trata da responsabilidade obje- gem, rotulagem ou mensagem publicitária, respei-
tadas as variações decorrentes de sua natureza,
tiva do fornecedor do serviço. Assim como ocorre
podendo o consumidor exigir a substituição das
com o produto, o acidente de consumo decorrente partes viciadas.
de fato ou vício do serviço impõe, também, a respon- § 1º Não sendo o vício sanado no prazo máximo de
sabilização do fornecedor, independentemente da trinta dias, pode o consumidor exigir, alternativa-
existência de culpa, pela reparação dos danos causa- mente e à sua escolha:
dos aos consumidores pela existência de defeito ou I - a substituição do produto por outro da mesma
informações insuficientes ou inadequadas. Exemplo: espécie, em perfeitas condições de uso;
serviço de dedetização com aplicação de veneno em II - a restituição imediata da quantia paga, mone-
dosagem acima do recomendado, de modo a causar tariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais
perdas e danos;
intoxicação ao consumidor.
III - o abatimento proporcional do preço.
O § 1º, do art. 14, traz o conceito de serviço defei-
§ 2º Poderão as partes convencionar a redução
tuoso, ou seja, aquele que não fornece a segurança ou ampliação do prazo previsto no § anterior, não
esperada ao consumidor, tendo em vista as circuns- podendo ser inferior a sete nem superior a cento e
tâncias relevantes, entre as quais o modo do seu for- oitenta dias. Nos contratos de adesão, a cláusula
necimento, o resultado e risco que dele são esperados de prazo deverá ser convencionada em separado,
e a época em que foi fornecido. Exemplo: ausência de por meio de manifestação expressa do consumidor.
informação adequada sobre a profundidade de uma § 3º O consumidor poderá fazer uso imediato das
piscina em um hotel, causando lesão ao hóspede que alternativas do § 1º deste artigo sempre que, em
mergulhou no local. razão da extensão do vício, a substituição das par-
tes viciadas puder comprometer a qualidade ou
O § 2º, do art. 14, é semelhante ao do art. 13.
características do produto, diminuir-lhe o valor ou
Enquanto este se refere ao produto, aquele trata da se tratar de produto essencial.
evolução das técnicas de execução de um serviço. § 4º Tendo o consumidor optado pela alternativa
Assim, não se pode considerar defeituoso o serviço do inciso I do § 1º deste artigo, e não sendo possível
somente pelo fato de existirem técnicas mais moder- a substituição do bem, poderá haver substituição
nas para sua execução. por outro de espécie, marca ou modelo diversos,
Já o § 3º, do art. 14, trata das hipóteses de exclu- mediante complementação ou restituição de even-
dentes de responsabilidade. De acordo com o tual diferença de preço, sem prejuízo do disposto
dispositivo, o fornecedor de serviços não será respon- nos incisos II e III do § 1º deste artigo.
sabilizado se provar que, tendo prestado o serviço, o § 5º No caso de fornecimento de produtos in natura,
será responsável perante o consumidor o fornece-
defeito inexiste ou a culpa é exclusiva do consumidor
dor imediato, exceto quando identificado claramen-
ou de terceiro. te seu produtor.
O § 4º traz uma exceção à responsabilidade obje- § 6º São impróprios ao uso e consumo:
tiva do prestador de serviço, ou seja, a responsabi- I - os produtos cujos prazos de validade estejam
lidade subjetiva do profissional liberal. Portanto, vencidos;
deve ser apurada a culpa dos profissionais liberais II - os produtos deteriorados, alterados, adultera-
para imputar a responsabilidade. Exemplo: serviço dos, avariados, falsificados, corrompidos, frauda-
prestado por um médico em seu consultório; a res- dos, nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda,
ponsabilidade é subjetiva, devendo verificar se houve aqueles em desacordo com as normas regulamen-
tares de fabricação, distribuição ou apresentação;
negligência, imprudência ou imperícia.
III - os produtos que, por qualquer motivo, se reve-
Por fim, o art. 17 traz a noção de consumidor
lem inadequados ao fim a que se destinam.
para proteger todas as vítimas do evento. Trata-se do Art. 19 Os fornecedores respondem solidariamente
denominado consumidor bystander, ou seja, aque- pelos vícios de quantidade do produto sempre que,
la vítima que não participou diretamente do negócio, respeitadas as variações decorrentes de sua natu-
mas sofreu as consequências do evento danoso. São reza, seu conteúdo líquido for inferior às indicações
exemplos: constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem
ou de mensagem publicitária, podendo o consumi-
z aparelho celular que explode com terceiro que não dor exigir, alternativamente e à sua escolha:
aquele que comprou o aparelho; I - o abatimento proporcional do preço;
II - complementação do peso ou medida;
z avião que cai em uma residência e mata, além de
III - a substituição do produto por outro da mesma
seus passageiros, os moradores do local. espécie, marca ou modelo, sem os aludidos vícios;
IV - a restituição imediata da quantia paga, mone-
Art. 17 Para os efeitos desta Seção, equiparam-se tariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais
aos consumidores todas as vítimas do evento. perdas e danos.
§ 1º Aplica-se a este artigo o disposto no § 4º do
570 artigo anterior.
§ 2º O fornecedor imediato será responsável quan- Portanto, deve-se pedir a troca do produto, o ressar-
do fizer a pesagem ou a medição e o instrumento cimento do valor pago ou a diminuição do seu preço.
utilizado não estiver aferido segundo os padrões O consumidor não precisa aguardar o prazo legal
oficiais. para fazer uso dessas alternativas se, em razão da
extensão do vício, a substituição das partes viciadas
Observa-se que os dois primeiros artigos (18 e puder comprometer a qualidade ou características do
19) tratam dos vícios do produto, ou seja, produtos produto, diminuir-lhe o valor ou tratar-se de produto
que, em razão da qualidade ou quantidade, se tor- essencial.
nem impróprios ou inadequados ao consumo ou lhes O art. 19, do CDC, trata do vício de quantidade do
diminuam o valor, assim aqueles decorrentes de dis- produto, ou seja, aquele decorrente de variação não
paridade. Exemplo: computador cuja memória ou tolerável de conteúdo em relação às indicações cons-
processador é inferior ao informado nas suas especi- tantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou de
ficações técnicas ou produto com quantidade inferior mensagem publicitária. Exemplo: produto alimentício
ao especificado na embalagem. Semelhantemente ao cujo peso não atinja ao informado na embalagem.
fato do produto, a responsabilidade civil por vício do Ao consumidor, cabe optar por uma destas
produto também é objetiva, recaindo tanto sobre pro- alternativas:
dutos duráveis como não duráveis.
A durabilidade do produto ou serviço está relacio- z abatimento proporcional do preço;
nada à expectativa de sua utilidade para com o consu- z complementação do peso ou medida;
z substituição do produto por outro da mesma espé-
midor. Assim, considera-se produto durável aquele
cie, ou por produto diverso, mediante comple-
que não se consuma imediatamente, possuindo vida
mentação ou restituição de eventual diferença de
útil com duração razoável, tais como automóveis,
preço;
celulares, computadores.
z restituição imediata da quantia paga.
Já os serviços duráveis são aqueles cujos efeitos
são por prazo também razoável, tais como reforma ou
O art. 20, do CDC, disciplina a responsabilida-
pintura de imóvel ou assistência técnica de eletrodo-
de pelos serviços com vício de qualidade, ou seja,
méstico, entre outros. aquele vício que o torne impróprio ao consumo ou
Em contrapartida, produtos não duráveis são que lhe diminua o valor, como, por exemplo, aque-
aqueles cujo consumo importa em destruição imedia- les decorrentes de disparidade com relação à oferta
ta da substância ou em lapso temporal muito peque- publicitária.
no, tais como os gêneros alimentícios e os produtos de Disciplina, ainda, a responsabilidade pelos servi-
higiene pessoal. ços impróprios, isto é, aqueles que se mostram ina-
Serviços não duráveis são aqueles que perduram dequados para o fim que deles se espera, assim como
por um prazo bem curto, tais como serviços de trans- aquele que não atende às normas regulamentares de
porte, lavagem de automóvel, manicure, entre outros. prestabilidade, tais como serviço de funilaria de auto-
De acordo com o caput do art. 18, complementado móvel que descasca na semana seguinte à realização;
por seu § 6º, são considerados impróprios ao uso e planos de prestadoras de telefonia móvel com serviço
consumo: indisponível; planos de saúde sem cobertura prevista,
entre outros.
z os produtos cujos prazos de validade estejam Nesses casos, pode o consumidor optar pelas
vencidos; seguintes alternativas:

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


z os produtos deteriorados, alterados, adulterados,
avariados, falsificados, corrompidos, fraudados, z reexecução dos serviços, sem custo adicional ou
nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda, realização deste por terceiro capacitado, por conta
aqueles em desacordo com as normas regulamen- e risco do fornecedor;
tares de fabricação, distribuição ou apresentação; z restituição imediata da quantia paga;
z os produtos que, por qualquer motivo, se revelem z abatimento proporcional do preço.
inadequados ao fim a que se destinam.
Art. 20 O fornecedor de serviços responde pelos
vícios de qualidade que os tornem impróprios ao
São exemplos: os produtos perecíveis, tais como
consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por
alimentos, cujo prazo se encontra fora da validade ou aqueles decorrentes da disparidade com as indica-
brinquedo falsificado ou que não atenda às normas ções constantes da oferta ou mensagem publicitá-
técnicas de fabricação ou segurança. ria, podendo o consumidor exigir, alternativamente
No caso de vício de qualidade do produto, o § 1º e à sua escolha:
estabelece ao fornecedor o prazo de trinta dias para I - a reexecução dos serviços, sem custo adicional e
sanar o vício. Já ao consumidor cabe optar por uma quando cabível;
destas possibilidades: II - a restituição imediata da quantia paga, mone-
tariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais
z pedir a substituição do produto por outro da mes- perdas e danos;
III - o abatimento proporcional do preço.
ma espécie, em perfeitas condições de uso, ou por
§ 1º A reexecução dos serviços poderá ser confiada
produto diverso mediante complementação ou
a terceiros devidamente capacitados, por conta e
restituição de eventual diferença de preço; risco do fornecedor.
z pedir a restituição imediata da quantia paga, § 2º São impróprios os serviços que se mostrem
monetariamente atualizada, sem prejuízo de even- inadequados para os fins que razoavelmente deles
tuais perdas e danos; se esperam, bem como aqueles que não atendam as
z pedir o abatimento proporcional do preço. normas regulamentares de prestabilidade. 571
Dica Exemplo: se para determinado produto a garantia
legal é de 30 (trinta) dias, mas o fornecedor concede 7
Não há, no CDC, previsão expressa de vício de (sete) dias de garantia contratual, na realidade, serão
quantidade do serviço. No entanto, aplica-se, 37 (trinta e sete) dias no total.
por analogia, o artigo do CDC que trata do vício Lembre-se: o prazo de garantia legal não está no
de quantidade do produto. art. 24. Ele é expresso no art. 26.
Complementando o art. 24, o art. 25, do CDC, veda
O art. 22 trata dos serviços públicos, sejam estes a exoneração ou atenuação da garantia legal por meio
prestados pelos órgãos públicos diretamente ou indi- de contrato, ou seja, o fato de não estar previsto em
retamente pelas empresas concessionárias, permis- contrato não retira a garantia do produto. Exemplo, o
sionárias ou autorizadas. fato de um estacionamento fixar placas dizendo que
A responsabilidade pelos serviços públicos é obje- não se responsabiliza pelo veículo não o exime de sua
tiva e deve o serviço ser fornecido de modo adequado, responsabilidade.
eficiente, seguro e, no caso de serviço essencial, como
serviço de água, iluminação e segurança pública, por Art. 25 É vedada a estipulação contratual de cláusu-
la que impossibilite, exonere ou atenue a obrigação
exemplo, de forma contínua.
de indenizar prevista nesta e nas seções anteriores.
§ 1º Havendo mais de um responsável pela causação
Art. 22 Os órgãos públicos, por si ou suas empresas,
do dano, todos responderão solidariamente pela
concessionárias, permissionárias ou sob qualquer
reparação prevista nesta e nas seções anteriores.
outra forma de empreendimento, são obrigados a
§ 2º Sendo o dano causado por componente ou peça
fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e,
incorporada ao produto ou serviço, são responsá-
quanto aos essenciais, contínuos. veis solidários seu fabricante, construtor ou impor-
Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, tador e o que realizou a incorporação.
total ou parcial, das obrigações referidas neste arti-
go, serão as pessoas jurídicas compelidas a cum- Os arts. 26 e 27, do CDC, estabelecem as regras
pri-las e a reparar os danos causados, na forma sobre decadência e prescrição. Assim:
prevista neste código.
Art. 26 O direito de reclamar pelos vícios aparentes
Nos termos do art. 23, do CDC, o fato de o forne- ou de fácil constatação caduca em:
cedor desconhecer o vício de qualidade por inade- I - trinta dias, tratando-se de fornecimento de ser-
quação dos produtos e serviços não o exime de sua viço e de produtos não duráveis;
responsabilidade. II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de
serviço e de produtos duráveis.
Art. 23 A ignorância do fornecedor sobre os vícios § 1º Inicia-se a contagem do prazo decadencial a
de qualidade por inadequação dos produtos e servi- partir da entrega efetiva do produto ou do término
ços não o exime de responsabilidade. da execução dos serviços.
§ 2º Obstam a decadência:
O art. 24 trata da garantia legal de adequação do I - a reclamação comprovadamente formulada pelo
produto ou serviço. Explicando melhor, a garantia consumidor perante o fornecedor de produtos e ser-
decorre de lei e independe de termo expresso, ou seja, viços até a resposta negativa correspondente, que
ela é assegurada ao consumidor independentemente deve ser transmitida de forma inequívoca;
de o fornecedor estipular que não se responsabiliza II - (Vetado).
por vício no serviço ou produto. III - a instauração de inquérito civil, até seu
encerramento.
Art. 24 A garantia legal de adequação do produto § 3º Tratando-se de vício oculto, o prazo decaden-
ou serviço independe de termo expresso, vedada a cial inicia-se no momento em que ficar evidenciado
exoneração contratual do fornecedor. o defeito.
Art. 27 Prescreve em cinco anos a pretensão à
reparação pelos danos causados por fato do pro-
São modalidades de garantia:
duto ou do serviço prevista na Seção II deste Capí-
tulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do
z Garantia legal:
conhecimento do dano e de sua autoria.
„ é obrigatória; Parágrafo único. (Vetado).
„ independe de termo expresso;
„ vedada exoneração do fornecedor; Inicialmente, cumpre mencionar que o CDC traz
„ 30 dias produtos e serviços não duráveis; a responsabilidade do fornecedor para os casos de
„ 90 dias produtos e serviços duráveis. vícios aparentes ou de fácil constatação e não
somente para os vícios ocultos. Para tanto, o prazo
z Garantia contratual: decadencial é de 30 (trinta) dias para bens não durá-
veis ou 90 (noventa) dias para bens duráveis. Assim,
„ não é obrigatória; o consumidor possui 30 dias para reclamar de um
„ depende de termo expresso; alimento ou medicamento e 90 dias para reclamar de
„ é complementar à garantia legal. um eletrodoméstico ou eletrônico.
Nos termos do § 1º, art. 26, o prazo decadencial
Portanto, quem fixa a garantia legal é o CDC. Já as tem início com a entrega efetiva do produto ou do tér-
partes podem fixar a garantia contratual, que é com- mino da execução do serviço. Isso significa dizer que
plementar à legal. Deste modo, este prazo começa a se um objeto, por exemplo, é comprado como presen-
valer após expirado o prazo da garantia legal. te, o prazo só começa a fluir com a entrega ao presen-
572 teado e não com a data da compra.
Atenção! Este dispositivo é aplicado no caso de tais como a má administração, que levem à falência,
vício aparente ou de fácil constatação, ou seja, aque- insolvência ou extinção da pessoa jurídica, permitindo
le que pode ser facilmente detectado. Caso se trate também a desconsideração da pessoa jurídica.
de vício oculto, o prazo decadencial terá início no A desconsideração da personalidade jurídica pre-
momento em que ficar evidenciado o defeito, em vista no CDC é diferente da disposta no Código Civil.
conformidade com o § 3º. A do CDC é chamada teoria menor; sua amplitude é
O § 2º, do art. 26, traz as hipóteses de obstaculi- maior que a do CC, tendo em vista que ao consumi-
zação da decadência. São elas: reclamação formulada dor não é necessário fazer prova quanto ao abuso de
pelo consumidor até a resposta negativa do fornece- direito, fraude ou confusão patrimonial.
dor e a instauração de inquérito civil a cargo do Minis-
tério Público, até seu encerramento. Portanto, nestas Das Práticas Comerciais
hipóteses não se computa o prazo.
Se a decadência tem por efeito extinguir o direito, As práticas comerciais estão disciplinadas nos
a prescrição visa extinguir a ação. A prescrição para arts. 29 a 45, de modo a envolver a oferta, a publici-
o fato do produto ou serviço encontra-se disciplina- dade, as práticas abusivas, as regras para cobrança de
da no art. 27, do CDC. Assim, o prazo para que o consu- dívidas e o tratamento dos dados dos consumidores.
midor ingresse com a ação para reparação dos danos O art. 29 trata das disposições gerais e traz o con-
causados por fato do produto ou do serviço prescreve ceito de consumidor em sentido amplo, exposto ou
em 5 (cinco) anos, contados a partir do conhecimento virtual. Assim:
do dano e de sua autoria.
Art. 29 Para os fins deste Capítulo e do seguinte,
equiparam-se aos consumidores todas as pessoas
VÍCIO DO PRODUTO OU DO SERVIÇO — INADE- determináveis ou não, expostas às práticas nele
QUAÇÃO COM OS FINS ESPERADOS previstas.

30 produtos e serviços Observa-se, portanto, que o art. 29 é mais uma das


não duráveis hipóteses que amplia o conceito de consumidor. Tra-
Decadência ta-se de equiparar ao consumidor do art. 2º todas as
90 para produtos e servi-
pessoas, determináveis ou não, expostas às práticas
ços duráveis
previstas no CDC, ou seja, os consumidores em poten-
Fato do produto ou do serviço — acidente de consumo cial que, embora não tenham concretizado a relação
de consumo, encontram-se exposto às práticas do
Prescrição 5 anos mercado, tais como oferta e publicidade.
As regras acerca da oferta são tratadas nos arts.
O art. 28, do CDC, trata da Desconsideração da 30 a 35, do CDC. Vejamos os dispositivos:
Personalidade Jurídica:
Art. 30 Toda informação ou publicidade, suficien-
Art. 28 O juiz poderá desconsiderar a personali- temente precisa, veiculada por qualquer forma ou
dade jurídica da sociedade quando, em detrimento meio de comunicação com relação a produtos e ser-
do consumidor, houver abuso de direito, excesso viços oferecidos ou apresentados, obriga o fornece-
de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou vio- dor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra
lação dos estatutos ou contrato social. A descon- o contrato que vier a ser celebrado.
sideração também será efetivada quando houver
O princípio da vinculação da oferta está previs-

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


falência, estado de insolvência, encerramento ou
inatividade da pessoa jurídica provocados por má to no art. 30, do CDC. Por oferta, entende-se toda e
administração. qualquer manifestação de vontade do fornecedor com
§ 1º(Vetado). o objetivo de externar sua intenção de contratar e as
§ 2º As sociedades integrantes dos grupos societá- condições deste negócio jurídico. Em síntese, é uma
rios e as sociedades controladas, são subsidiaria- espécie de informação pré-contratual.
mente responsáveis pelas obrigações decorrentes A oferta possui as seguintes características:
deste código.
§ 3º As sociedades consorciadas são solidariamen- z deve abranger toda informação ou publicidade,
te responsáveis pelas obrigações decorrentes deste desde que suficientemente precisa, de modo a
código.
identificar o produto ou serviço ofertado pelo for-
§ 4º As sociedades coligadas só responderão por
necedor, e veiculada por qualquer forma ou meio
culpa.
§ 5º Também poderá ser desconsiderada a pessoa de comunicação, como, por exemplo, jornal, televi-
jurídica sempre que sua personalidade for, de algu- são, folheto, cartaz, entre outros;
ma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos z a oferta obriga o fornecedor a cumprir integralmen-
causados aos consumidores. te a oferta veiculada. Exemplo: ofertou produto a R$
100,00 (cem reais), mesmo que alegue que o valor
Trata-se da possibilidade de atingir o patrimônio correto seria R$ 130,00 (cento e trinta), é obrigado a
particular das pessoas que compõem o quadro socie- cumprir integralmente a oferta, pouco importando
tário de determinada empresa, sempre que haja des- a alegação de que o anúncio saiu com erro. Fornece-
vio de finalidade ou abuso de direito em relação à dor fez a oferta e vinculou, sua responsabilidade é
autonomia patrimonial conferida à pessoa jurídica. objetiva, ou seja, independe de culpa/dolo na oferta
Assim, o art. 28 busca resguardar a situação do con- errada, salvo no caso de a oferta possuir erro gros-
sumidor frente aos atos dolosos do fornecedor, quer seiro, patente e identificável, como, por exemplo,
abusivos, quer fraudulentos, quer ilícitos. Além disso, vinculou o produto por R$ 100,00 (cem reais), mas
resguarda o consumidor no caso de atos culposos graves, ele custa R$ 1.000,00 (um mil); 573
z a oferta integra o contrato que vier a ser celebrado, Art. 32 Os fabricantes e importadores deverão
mesmo que não constante expressamente do teor assegurar a oferta de componentes e peças de repo-
das cláusulas contratuais. Exemplo: no momento sição enquanto não cessar a fabricação ou impor-
da oferta o vendedor afirma ao consumidor que na tação do produto.
aquisição do veículo terá tanque cheio, ou seja, a Parágrafo único. Cessadas a produção ou importa-
concessionária se compromete a entregá-lo com o ção, a oferta deverá ser mantida por período razoá-
tanque de combustível completo, mesmo que isso vel de tempo, na forma da lei.
não conste do contrato a ser celebrado.
O CDC não estabelece um prazo para que o for-
Art. 31 A oferta e apresentação de produtos ou necedor e/ou importador continuem com o dever de
serviços devem assegurar informações corretas, reposição das peças. No entanto, tanto a doutrina
claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa como a jurisprudência entendem que o critério a ser
sobre suas características, qualidades, quantidade, utilizado é o da vida útil do bem. Portanto, se a dura-
composição, preço, garantia, prazos de validade bilidade média deste equipamento é de cinco anos, ele
e origem, entre outros dados, bem como sobre os é obrigado a ofertar ao mercado peças de reposição
riscos que apresentam à saúde e segurança dos por este prazo.
consumidores. O art. 33 trata da oferta ou venda por telefone ou
Parágrafo único. As informações de que trata este reembolso postal. Seu objetivo é garantir a transpa-
artigo, nos produtos refrigerados oferecidos ao
rência nas relações de consumo, de modo que haja a
consumidor, serão gravadas de forma indelével.
correta identificação do fabricante e do seu domicílio
empresarial na embalagem, publicidade ou em todos
O art. 31, por sua vez, trata das características da
os seus impressos.
oferta e do modo de apresentação dos produtos e ser-
Já o seu parágrafo único proíbe a publicidade de
viços. São característica da oferta:
bens e serviços por telefone, quando a chamada for
onerosa ao consumidor que a origina. Exemplo: ope-
z informação correta, ou seja, verdadeira, não
radora de celular que liga para oferecer um determi-
podendo ser enganosa.
nado produto ao cliente quando este se encontra fora
da área de cobertura gratuita, de modo a pagar pela
Puffing é uma técnica admitida no ordenamento
jurídico em que há um exagero publicitário, deno- chamada realizada pela própria operadora.
minado dolus bonus. Exemplo: “melhor hambúrguer
Art. 33 Em caso de oferta ou venda por telefone ou
do mundo!”, “melhor sorvete que existe”. No entanto,
reembolso postal, deve constar o nome do fabrican-
esta técnica só é permitida se a informação que cons-
te e endereço na embalagem, publicidade e em todos
ta na mensagem for um dado subjetivo, isto é, aquele
os impressos utilizados na transação comercial.
que varia de pessoa para pessoa. Portanto, pode ser
Parágrafo único. É proibida a publicidade de bens e
melhor hambúrguer do mundo para Fulano e não ser serviços por telefone, quando a chamada for onero-
para Beltrano; sa ao consumidor que a origina.

z informação clara e de entendimento de imediato; O art. 34, do CDC, trata da responsabilidade pelos
z informação precisa e exata. Exemplo: pacote com atos dos prepostos ou representantes autônomos.
20kg;
Assim, o fornecedor é solidariamente responsável
z informação ostensiva, sendo de fácil percepção e
pelos atos de seus agentes.
captação;
z informação em língua portuguesa; Art. 34 O fornecedor do produto ou serviço é soli-
dariamente responsável pelos atos de seus prepos-
Atente-se: é possível a utilização de língua estran- tos ou representantes autônomos.
geira para produtos e serviços importados, porém de
forma excepcional. Por fim, o art. 35 estabelece as opções que tem o
consumidor diante da recusa do fornecedor em cum-
z informação indelével, ou seja, que não se apaga prir a oferta veiculada. Neste caso, pode o consumi-
com o tempo; dor, alternativamente e à sua livre escolha:
z informação legível (visível).
z optar por exigir o cumprimento forçado da oferta;
Quanto ao modo de apresentação, os produtos z aceitar outro produto/serviço equivalente;
ou serviços devem conter as características, qualida- z rescindir o contrato.
des, quantidade, composição, preço, garantia, prazos
de validade e origem, entre outros dados, tais como Art. 35 Se o fornecedor de produtos ou serviços
sobre os riscos que apresentam à saúde ou à seguran- recusar cumprimento à oferta, apresentação ou
ça do consumidor. publicidade, o consumidor poderá, alternativamen-
O art. 32 estabelece que os fabricantes e importado- te e à sua livre escolha:
res deverão assegurar peças para reposição. Exemplo: I - exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos
o fabricante disponibiliza um determinado equipa- termos da oferta, apresentação ou publicidade;
mento elétrico no mercado e, mesmo que modernize II - aceitar outro produto ou prestação de serviço
tal equipamento, deverá continuar a disponibilizar as equivalente;
peças para reposição deste na versão antiga. III - rescindir o contrato, com direito à restituição
de quantia eventualmente antecipada, monetaria-
574 mente atualizada, e a perdas e danos.
Uma das espécies de oferta é a publicidade. Oferta contemplada ou o fornecedor que não informa na
é gênero o qual comporta toda e qualquer declaração embalagem que o produto contém glúten e lactose e o
de vontade voltada à celebração da relação de con- consumidor que o adquiriu é alérgico e acaba sofren-
sumo, ao passo que publicidade é a informação que do danos.
promove comercialmente o produto ou serviço. Já o § 2º, do art. 37, traz um rol exemplificativo do
As normas que disciplinam a publicidade são tra- que considera como publicidade abusiva, tais como:
tadas nos arts. 36 a 38, do CDC. Vejamos os dispositivos:
z a publicidade discriminatória;
Art. 36 A publicidade deve ser veiculada de tal for- z a exploradora do medo ou superstição;
ma que o consumidor, fácil e imediatamente, a iden- z a incitadora de violência;
tifique como tal. z a antiambiental;
Parágrafo único. O fornecedor, na publicidade de z a indutora de insegurança;
seus produtos ou serviços, manterá, em seu poder, z a dirigida a crianças.
para informação dos legítimos interessados, os
dados fáticos, técnicos e científicos que dão susten-
Por fim, o art. 38 estabelece o princípio da inversão
tação à mensagem.
do ônus da prova. Assim, em caso de dúvida acerca da
Art. 37 É proibida toda publicidade enganosa ou
publicidade, cabe ao fornecedor provar que a publici-
abusiva.
§ 1º É enganosa qualquer modalidade de informa- dade não é enganosa ou abusiva.
ção ou comunicação de caráter publicitário, intei-
ra ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro Das Práticas abusivas
modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em
erro o consumidor a respeito da natureza, carac- As regras sobre as práticas abusivas encontram-
terísticas, qualidade, quantidade, propriedades, -se nos arts. 39 a 41, do CDC. Vejamos os dispositivos:
origem, preço e quaisquer outros dados sobre pro-
dutos e serviços. Art. 39 É vedado ao fornecedor de produtos ou ser-
§ 2º É abusiva, dentre outras a publicidade dis- viços, dentre outras práticas abusivas:
criminatória de qualquer natureza, a que incite à I - condicionar o fornecimento de produto ou de ser-
violência, explore o medo ou a superstição, se apro- viço ao fornecimento de outro produto ou serviço,
veite da deficiência de julgamento e experiência da bem como, sem justa causa, a limites quantitativos;
criança, desrespeita valores ambientais, ou que II - recusar atendimento às demandas dos consu-
seja capaz de induzir o consumidor a se compor- midores, na exata medida de suas disponibilidades
tar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde de estoque, e, ainda, de conformidade com os usos
ou segurança. e costumes;
§ 3º Para os efeitos deste código, a publicidade é III - enviar ou entregar ao consumidor, sem solicita-
enganosa por omissão quando deixar de informar ção prévia, qualquer produto, ou fornecer qualquer
sobre dado essencial do produto ou serviço. serviço;
§ 4º (Vetado). IV - prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do con-
Art. 38 O ônus da prova da veracidade e correção sumidor, tendo em vista sua idade, saúde, conheci-
da informação ou comunicação publicitária cabe a mento ou condição social, para impingir-lhe seus
quem as patrocina. produtos ou serviços;
V - exigir do consumidor vantagem manifestamente
Assim, a publicidade é a prática utilizada para a excessiva;
promoção de bens e serviços colocados no mercado, VI - executar serviços sem a prévia elaboração de

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


com o objetivo de dar conhecimento ao consumidor orçamento e autorização expressa do consumidor,
da sua existência e convencê-lo a adquiri-los. ressalvadas as decorrentes de práticas anteriores
Nos termos do art. 37, a publicidade deve se pautar entre as partes;
pelo princípio da boa-fé, sendo proibida publicidade VII - repassar informação depreciativa, referente a
ato praticado pelo consumidor no exercício de seus
enganosa ou abusiva. Por conseguinte, o consumidor
direitos;
deve ter consciência do que se trata a publicidade ao
VIII - colocar, no mercado de consumo, qualquer
ser exposto a ela, sendo vedada a publicidade sublimi-
produto ou serviço em desacordo com as normas
nar, isto é, aquela oculta. expedidas pelos órgãos oficiais competentes ou, se
normas específicas não existirem, pela Associação
Brasileira de Normas Técnicas ou outra entidade
Importante! credenciada pelo Conselho Nacional de Metrologia,
Normalização e Qualidade Industrial (Conmetro);
A publicidade subliminar ou oculta fere o princí-
IX - recusar a venda de bens ou a prestação de ser-
pio da identificação da publicidade. viços, diretamente a quem se disponha a adquiri-los
mediante pronto pagamento, ressalvados os casos
de intermediação regulados em leis especiais;
O § 1º, do art. 37, traz o conceito de publicida-
X - elevar sem justa causa o preço de produtos ou
de enganosa. Por publicidade enganosa entende-se
serviços.
aquela que induz o consumidor a erro, independen- XI - Dispositivo incluído pela MPV nº 1.890-67, de
temente de ter sido a intenção do fornecedor enganar 22.10.1999, transformado em inciso XIII, quando
ou não o consumidor. Portanto, a responsabilidade do da conversão na Lei nº 9.870, de 23.11.1999
fornecedor por uma publicidade enganosa é objetiva. XII - deixar de estipular prazo para o cumprimento
Exemplos de publicidade enganosa: pacote turísti- de sua obrigação ou deixar a fixação de seu termo
co que afirma contemplar o aéreo e a hospedagem e, inicial a seu exclusivo critério.
no momento da estadia, o consumidor é surpreendi- XIII - aplicar fórmula ou índice de reajuste diverso
do com a informação de que a hospedagem não está do legal ou contratualmente estabelecido. 575
XIV - permitir o ingresso em estabelecimentos O inciso VI é complementado pelo art. 40, do CDC,
comerciais ou de serviços de um número maior de que trata do conteúdo, validade e efeitos do orçamen-
consumidores que o fixado pela autoridade admi- to prévio elaborado pelo fornecedor.
nistrativa como máximo. O inciso VII trata do repasse de informações
Parágrafo único. Os serviços prestados e os produ- depreciativas referente ao consumidor ou a ato pra-
tos remetidos ou entregues ao consumidor, na hipó- ticado por este no exercício de seus direitos, com o
tese prevista no inciso III, equiparam-se às amostras objetivo de garantir a devida utilização dos bancos de
grátis, inexistindo obrigação de pagamento. dados e cadastros de consumidores. Exemplo: criar
uma lista de “maus pagadores”.
O art. 39, do CDC, traz, em seus incisos, rol exempli- O inciso VIII estabelece as regras acerca da obser-
ficativo das práticas abusivas na relação de consumo. vação das normas técnicas, ou seja, se há norma
O inciso I trata do condicionamento no fornecimen- técnica expedida pelos órgãos oficiais competentes
to do produto ou serviço ao fornecimento de outro regulamentando o fornecimento de produto/serviço,
produto ou serviço, ou seja, a denominada venda compete ao fornecedor respeitá-la, sob pena de carac-
casada. Exemplo: concessão de empréstimo bancário terização de prática abusiva.
condicionado à aquisição de seguro de vida, consul- O inciso IX trata do intermediário obrigatório,
ta oftalmológica condicionada à compra dos óculos, isto é, a recusa à venda de bens/serviços diretamen-
entre outros. te a quem se disponha a adquiri-los mediante pronto
O inciso I, do art. 39, também impede o fornecedor pagamento, ressalvando nos casos em que a interme-
de obrigar o consumidor a adquirir uma quantidade diação é regulamentada por lei. Portanto, o disposi-
mínima ou máxima de um determinado produto. Por tivo afasta a figura do intermediário obrigatório em
esta razão, as promoções de aquisição de mais de um casos em que a lei não faz tal exigência.
produto, como, por exemplo, as promoções “leve 2 O inciso X trata da elevação de preço sem justa
pelo preço de 1” são de caráter facultativo e não obri- causa, isto é, a elevação de preços sem justificativa,
gatório, pois é permitida ao consumidor a alternativa como, por exemplo, no caso do álcool em gel no início
de efetuar a aquisição de apenas um produto da espé- da pandemia da covid-19.
cie, abrindo mão do desconto oferecido, se for o caso. O inciso XII trata do prazo para cumprimento de
Quanto à limitação máxima de quantidades de pro- obrigação, de modo a vedar que o fornecedor deixe
dutos, esta só é possível em situações justificáveis, como, de estipular prazo para o cumprimento de sua obriga-
por exemplo, nos casos de adversidades climáticas ou ção ou fixe tal prazo a seu critério exclusivo. Exemplo:
em hipótese de racionamento de determinado produto. construtoras que deixam de fixar prazo para conclu-
O inciso II, do art. 39, trata da recusa imotivada são das obras.
ao atendimento de demanda do consumidor, ou O inciso XIII dispõe sobre o reajuste, de forma a
seja, recusar o fornecimento de um determinado pro- proibir o reajuste contratual por meio da aplicação de
duto/serviço quer em relação aos consumidores de fórmula ou índice diverso do legal ou contratualmen-
um modo geral, quer em relação a um consumidor te estabelecido. Exemplo: reajuste de planos de saúde
específico. Exemplo: ter um determinado produto em fora do pactuado ou do permitido pela lei.
estoque, mas recusar vendê-lo a um consumidor por Por fim, o inciso XIV trata do ingresso em estabe-
ter com ele problemas de ordem pessoal. lecimentos comerciais. De acordo com o dispositivo,
O inciso III trata do fornecimento não solicitado constitui prática abusiva permitir o ingresso de um
do produto ou serviço, como, por exemplo, banco que número maior ao máximo permitido de consumido-
disponibiliza crédito em conta do correntista como for- res em estabelecimentos comerciais ou de serviços.
ma de ofertar empréstimo ou produto que é enviado Portanto, a fixação de lotação máxima fixada pela
ou entregue ao consumidor, sem solicitação prévia. autoridade está relacionada à segurança.
O fornecimento não solicitado não se confunde
com amostras grátis, uma vez que, neste caso, o con- Art. 40 O fornecedor de serviço será obrigado a
sumidor não tem a obrigação de pagar pelo produto entregar ao consumidor orçamento prévio discri-
ou serviço. minando o valor da mão-de-obra, dos materiais e
O inciso IV trata do abuso da condição de espe- equipamentos a serem empregados, as condições
cial vulnerabilidade, de modo a proibir que o forne- de pagamento, bem como as datas de início e tér-
cedor se utilize da vulnerabilidade ou ignorância do mino dos serviços.
§ 1º Salvo estipulação em contrário, o valor orçado
consumidor para forçar a aquisição do produto ou
terá validade pelo prazo de dez dias, contado de seu
serviço. Atenção: trata-se de condição de vulnerabili-
recebimento pelo consumidor.
dade para o mercado de consumo, como nos casos de
§ 2º Uma vez aprovado pelo consumidor, o orça-
idade, conhecimento, condição social, entre outros. mento obriga os contraentes e somente pode ser
O inciso V dispõe acerca da exigência de vanta- alterado mediante livre negociação das partes.
gem excessiva. Deste modo, é proibido ao fornecedor § 3º O consumidor não responde por quaisquer
exigir vantagem manifestamente excessiva do consu- ônus ou acréscimos decorrentes da contratação de
midor. Exemplo: plano de saúde que exige troca de serviços de terceiros não previstos no orçamento
categoria para manter paciente em UTI. Basta a mera prévio.
exigência, não sendo, portanto, necessária a concreti-
zação da vantagem pleiteada. O art. 40, do CDC, estabelece as regras acerca do
O inciso VI refere-se à execução de serviço sem orçamento prévio que deve ser entregue pelo for-
orçamento e autorização. Assim sendo, não é possí- necedor. Neste, devem estar discriminados: valor da
vel a execução de serviços pelo fornecedor sem a pré- mão de obra, valor dos materiais e equipamentos a
via elaboração de orçamento e autorização expressa serem utilizados, as condições para pagamento e as
576 do consumidor. datas de início e término.
O § 1º trata da validade deste, ou seja, o orçamento Art. 43 O consumidor, sem prejuízo do disposto no
é válido pelo prazo de 10 (dez) dias, contados do rece- art. 86, terá acesso às informações existentes em
bimento pelo consumidor, sendo, no entanto, possível cadastros, fichas, registros e dados pessoais e de
a estipulação de forma diversa. consumo arquivados sobre ele, bem como sobre as
O § 2º, do art. 40, estabelece que, no caso de apro- suas respectivas fontes.
vação do orçamento prévio pelo consumidor, este § 1º Os cadastros e dados de consumidores devem
vinculará fornecedor e consumidor, podendo ser alte- ser objetivos, claros, verdadeiros e em linguagem de
fácil compreensão, não podendo conter informações
rado apenas pela vontade das partes.
negativas referentes a período superior a cinco anos.
O § 3º trata do ônus ou acréscimos decorrentes da
§ 2º A abertura de cadastro, ficha, registro e dados
contratação de serviços de terceiros não previstos no pessoais e de consumo deverá ser comunicada por
orçamento prévio. Este é de responsabilidade do for- escrito ao consumidor, quando não solicitada por ele.
necedor e não do consumidor. § 3º O consumidor, sempre que encontrar inexati-
Finalizando a parte atinente às práticas abusivas, dão nos seus dados e cadastros, poderá exigir sua
o art. 41 trata do tabelamento de preços para o for- imediata correção, devendo o arquivista, no prazo
necimento de produtos ou serviços. Portanto, é dever de cinco dias úteis, comunicar a alteração aos even-
do fornecedor respeitar os limites oficiais sob pena tuais destinatários das informações incorretas.
de responder pela restituição da quantia recebida em § 4º Os bancos de dados e cadastros relativos a con-
excesso, monetariamente atualizada, ou de ter o negó- sumidores, os serviços de proteção ao crédito e congê-
cio desfeito pelo consumidor. neres são considerados entidades de caráter público.
§ 5º Consumada a prescrição relativa à cobrança de
Art. 41 No caso de fornecimento de produtos ou de débitos do consumidor, não serão fornecidas, pelos
serviços sujeitos ao regime de controle ou de tabe- respectivos Sistemas de Proteção ao Crédito, quais-
lamento de preços, os fornecedores deverão respei- quer informações que possam impedir ou dificultar
tar os limites oficiais sob pena de não o fazendo, novo acesso ao crédito junto aos fornecedores.
responderem pela restituição da quantia recebida § 6º Todas as informações de que trata o caput des-
em excesso, monetariamente atualizada, podendo o te artigo devem ser disponibilizadas em formatos
consumidor exigir à sua escolha, o desfazimento do acessíveis, inclusive para a pessoa com deficiência,
negócio, sem prejuízo de outras sanções cabíveis. mediante solicitação do consumidor.

As normas acerca da cobrança de dívida estão O art. 43 traz os direitos básicos dos consumido-
disciplinadas nos arts. 42 e 42-A, do CDC. Vejamos os res, que são:
dispositivos:
z direito ao acesso, ou seja, a saber quais são as
Art. 42 Na cobrança de débitos, o consumidor ina- informações existentes em cadastros, fichas e
dimplente não será exposto a ridículo, nem será registo de dados pessoais e de consumo, além de
submetido a qualquer tipo de constrangimento ou acesso às fontes que originaram tais informações;
ameaça. z direito à exclusão, isto é, de a informação negativa
Parágrafo único. O consumidor cobrado em quan- não perdurar por período superior a 5 (cinco) anos;
tia indevida tem direito à repetição do indébito, z direito à retificação, ou seja, de ter retificado dado
por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, incorreto constante dos arquivos de consumo;
acrescido de correção monetária e juros legais, sal- z direito à comunicação, isto é, de ser comunicado
vo hipótese de engano justificável. quando seus dados forem inseridos nos arquivos
Art. 42-A Em todos os documentos de cobrança de de consumo.

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


débitos apresentados ao consumidor, deverão cons-
tar o nome, o endereço e o número de inscrição no
O art. 44, do CDC, disciplina acerca do chamado
Cadastro de Pessoas Físicas – CPF ou no Cadastro
cadastro de reclamações fundamentadas, que é uma
Nacional de Pessoa Jurídica – CNPJ do fornecedor
do produto ou serviço correspondente. espécie de banco de dados de maus fornecedores.

Art. 44 Os órgãos públicos de defesa do consumidor


O art. 42 disciplina a cobrança de dívidas. De
manterão cadastros atualizados de reclamações
acordo com o dispositivo, o consumidor não poderá
fundamentadas contra fornecedores de produtos e
ser submetido a qualquer tipo de constrangimento serviços, devendo divulgá-lo pública e anualmente.
ou ameaça, como no caso de cobrança vexatória ou A divulgação indicará se a reclamação foi atendida
invasiva (carro de som anunciando o nome dos ina- ou não pelo fornecedor.
dimplentes de uma empresa, por exemplo), cobrança § 1º É facultado o acesso às informações lá cons-
efetuada em local indevido ou por meio que possibili- tantes para orientação e consulta por qualquer
te o conhecimento de terceiros (cobrança por meio de interessado.
publicação em rede social, por exemplo). § 2º Aplicam-se a este artigo, no que couber, as mes-
Semelhantemente ao art. 940, do Código Civil, o mas regras enunciadas no artigo anterior e as do
parágrafo único, do art. 42, impõe a restituição em Parágrafo Único do art. 22 deste código.
dobro daquilo que o consumidor pagou em excesso
em razão da cobrança indevida, acrescido de correção Da Proteção Contratual
monetária e juros legais, exceto nos casos de engano
justificável. Na sequência, os arts. 46 a 54 estabelecem as regras
Por fim, o art. 42-A traz as regras acerca de como sobre a proteção contratual no Código de Defesa do
deve ser procedida a cobrança. Consumidor. Trata-se de um rol com cláusulas consi-
Com relação aos bancos de dados e cadastro de deradas abusivas, além de estabelecer o conceito e os
consumidores, suas regras estão dispostas nos arts. requisitos para a validade e eficácia dos contratos de
43 a 44, do CDC. Vejamos os dispositivos: adesão. Vejamos os dispositivos gerais: 577
Art. 46 Os contratos que regulam as relações de Dica
consumo não obrigarão os consumidores, se não
lhes for dada a oportunidade de tomar conheci- Não se trata de qualquer inadequação por vício
mento prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos do produto ou serviço, mas do direito do con-
instrumentos forem redigidos de modo a dificultar sumidor de desistir da relação contratual. Não
a compreensão de seu sentido e alcance. se demanda motivos ou explicações, desde que
obedecido o prazo legal e com a condição de ter
As normas gerais de proteção contratual têm iní- sido a aquisição realizada fora do estabeleci-
cio no art. 46, do CDC, que traz a denominada garan- mento comercial.
tia de cognoscibilidade. Trata-se do desdobramento
do direito à informação disciplinado no inciso III, do Art. 50 A garantia contratual é complementar à
art. 6º, do CDC. Como consequência, o contrato não legal e será conferida mediante termo escrito.
obrigará o consumidor se, ao emitir sua declaração Parágrafo único. O termo de garantia ou equiva-
de vontade, este não possuir conhecimento prévio do lente deve ser padronizado e esclarecer, de maneira
adequada em que consiste a mesma garantia, bem
clausulado, como nos casos em que a falta de clareza
como a forma, o prazo e o lugar em que pode ser
impede a exata compreensão do conteúdo. O contrato
exercitada e os ônus a cargo do consumidor, deven-
obrigará apenas o fornecedor. do ser-lhe entregue, devidamente preenchido pelo
O art. 47 trata da interpretação mais favorável fornecedor, no ato do fornecimento, acompanhado
ao consumidor. Isso ocorre devido ao fato de ele ser de manual de instrução, de instalação e uso do pro-
a parte vulnerável da relação de consumo. duto em linguagem didática, com ilustrações.

Art. 47 As cláusulas contratuais serão interpreta- O art. 50, do CDC, trata da garantia contratual, ou
das de maneira mais favorável ao consumidor. seja, aquela que complementa a garantia legal discipli-
nada no art. 26, sendo facultativa e conferida median-
O art. 48, do CDC, disciplina as declarações de te termo escrito, observados os seguintes requisitos:
vontade constantes de escritos particulares, reci-
bos e pré-contratos. Nesses casos, toda proposta ou z ser padronizada;
declaração constante desses escritos particulares z esclarecer em que consiste a garantia, a forma, o
obrigará os fornecedores. Assim sendo, caso o forne- prazo e o lugar em que pode ser exercitada e os
cedor entregue um orçamento prévio ao consumidor, ônus a cargo do consumidor;
ele estará obrigado a prestar o serviço pelo modo e z ser entregue ao consumidor devidamente preen-
pelo preço orçado. chido pelo fornecedor, no ato do fornecimento;
z estar acompanhada de manual de instrução, de
Art. 48 As declarações de vontade constantes de instalação e uso do produto em linguagem didáti-
escritos particulares, recibos e pré-contratos rela- ca, com ilustrações.
tivos às relações de consumo vinculam o fornece-
dor, ensejando inclusive execução específica, nos Ainda com relação à proteção contratual, os arts.
termos do art. 84 e parágrafos. 51 a 53 estabelecem as regras acerca das cláusulas
Art. 49 O consumidor pode desistir do contrato, no abusivas. Vejamos os dispositivos:
prazo de 7 dias a contar de sua assinatura ou do
ato de recebimento do produto ou serviço, sempre Art. 51 São nulas de pleno direito, entre outras, as
que a contratação de fornecimento de produtos e cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de
serviços ocorrer fora do estabelecimento comer- produtos e serviços que:
cial, especialmente por telefone ou a domicílio. I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a respon-
Parágrafo único. Se o consumidor exercitar o direi- sabilidade do fornecedor por vícios de qualquer
to de arrependimento previsto neste artigo, os valo- natureza dos produtos e serviços ou impliquem
res eventualmente pagos, a qualquer título, durante renúncia ou disposição de direitos. Nas relações de
o prazo de reflexão, serão devolvidos, de imediato, consumo entre o fornecedor e o consumidor pes-
soa jurídica, a indenização poderá ser limitada, em
monetariamente atualizados.
situações justificáveis;
II - subtraiam ao consumidor a opção de reembol-
O art. 49 estabelece o instituto do direito ao arre- so da quantia já paga, nos casos previstos neste
pendimento, ou seja, o prazo de reflexão para com- código;
pras realizadas fora do estabelecimento comercial. III - transfiram responsabilidades a terceiros;
Seus requisitos são: IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas,
abusivas, que coloquem o consumidor em desvan-
z exercício do direito potestativo9 dentro do prazo tagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a
legal; boa-fé ou a eqüidade;
z contratação ocorrida fora do estabelecimento V - (Vetado);
VI - estabeleçam inversão do ônus da prova em pre-
comercial. Exemplo: por telefone, internet, catálo-
juízo do consumidor;
gos, entre outros.
VII - determinem a utilização compulsória de
arbitragem;
O prazo legal para arrependimento é de 7 dias, VIII - imponham representante para concluir ou
contados da assinatura do contrato ou do ato de rece- realizar outro negócio jurídico pelo consumidor;
bimento do produto ou serviço. IX - deixem ao fornecedor a opção de concluir ou
não o contrato, embora obrigando o consumidor;

578 9 Direito incontroverso e que não cabe discussões.


X - permitam ao fornecedor, direta ou indiretamen- consideram-se nulas de pleno direito as cláusulas
te, variação do preço de maneira unilateral; que estabeleçam a perda total das prestações pagas
XI - autorizem o fornecedor a cancelar o contrato em benefício do credor que, em razão do inadimple-
unilateralmente, sem que igual direito seja conferi- mento, pleitear a resolução do contrato e a retoma-
do ao consumidor; da do produto alienado.
XII - obriguem o consumidor a ressarcir os custos § 1º (Vetado).
de cobrança de sua obrigação, sem que igual direito § 2º Nos contratos do sistema de consórcio de pro-
lhe seja conferido contra o fornecedor; dutos duráveis, a compensação ou a restituição
XIII - autorizem o fornecedor a modificar unilate- das parcelas quitadas, na forma deste artigo, terá
ralmente o conteúdo ou a qualidade do contrato, descontada, além da vantagem econômica auferida
após sua celebração; com a fruição, os prejuízos que o desistente ou ina-
XIV - infrinjam ou possibilitem a violação de nor- dimplente causar ao grupo.
mas ambientais; § 3º Os contratos de que trata o caput deste artigo
XV - estejam em desacordo com o sistema de prote- serão expressos em moeda corrente nacional.
ção ao consumidor;
XVI - possibilitem a renúncia do direito de indeniza- Em síntese, as cláusulas abusivas são todas aque-
ção por benfeitorias necessárias. las que vão de encontro à proteção do CDC. Por essa
XVII - condicionem ou limitem de qualquer forma o razão, o rol trazido pelo art. 51 é meramente exempli-
acesso aos órgãos do Poder Judiciário; ficativo. A consequência para uma cláusula abusiva é
XVIII - estabeleçam prazos de carência em caso a sua nulidade, de modo a conservar o negócio jurídi-
de impontualidade das prestações mensais ou co, mas declarar nula a cláusula, retirando-a da rela-
impeçam o restabelecimento integral dos direitos ção contratual e garantindo a manutenção dos demais
do consumidor e de seus meios de pagamento a termos, salvo impossibilidade.
partir da purgação da mora ou do acordo com os
A nulidade da cláusula abusiva, por ser de pleno
credores;
direito, pode ser reconhecida de ofício pelo juiz, salvo
XIX - (VETADO).
em casos de contratos bancários. Nesse caso, aplica-se
§ 1º Presume-se exagerada, entre outros casos, a
vantagem que:
a Súmula nº 381, do Superior Tribunal de Justiça:
I - ofende os princípios fundamentais do sistema
jurídico a que pertence; Súmula nº 381 (STJ) Nos contratos bancários, é
II - restringe direitos ou obrigações fundamentais vedado ao julgador conhecer, de ofício, da abusivi-
inerentes à natureza do contrato, de tal modo a dade das cláusulas.
ameaçar seu objeto ou equilíbrio contratual;
III - se mostra excessivamente onerosa para o con- A Lei do Superendividamento acrescentou os inci-
sumidor, considerando-se a natureza e conteúdo do sos XVII e XVIII ao art. 51.
contrato, o interesse das partes e outras circuns- O inciso XVII estabelece a nulidade da cláusula
tâncias peculiares ao caso. que condicione ou crie limites ao acesso aos órgãos do
§ 2º A nulidade de uma cláusula contratual abusi- Poder Judiciário. Neste ponto é importante lembrar
va não invalida o contrato, exceto quando de sua que o inciso XXXV, art. 5º, da CF, de 1988, dispõe sobre
ausência, apesar dos esforços de integração, decor- a inafastabilidade de acesso ao Poder Judiciário. Deste
rer ônus excessivo a qualquer das partes. modo, o dispositivo busca dar efetividade ao manda-
§ 3º (Vetado). mento constitucional e garantir ao consumidor tanto
§ 4º É facultado a qualquer consumidor ou entida- o acesso aos órgãos judiciários como administrativos,
de que o represente requerer ao Ministério Público buscando a prevenção e a reparação de eventuais
que ajuíze a competente ação para ser declarada danos. Tal inciso deve ser analisado em conjunto com

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


a nulidade de cláusula contratual que contrarie o o art. 54-C, do CDC.
disposto neste código ou de qualquer forma não
Por fim, o inciso XVIII trata da nulidade das
assegure o justo equilíbrio entre direitos e obriga-
cláusulas que criem prazos de carência em caso de
ções das partes.
impontualidade de prestações mensais ou impeçam o
Art. 52 No fornecimento de produtos ou serviços
que envolva outorga de crédito ou concessão de restabelecimento integral dos direitos do consumidor.
financiamento ao consumidor, o fornecedor deverá, Trata-se, portanto, de impor limites às consequên-
entre outros requisitos, informá-lo prévia e adequa- cias da mora do consumidor, uma vez que o próprio
damente sobre: ordenamento jurídico já estabelece as consequências
I - preço do produto ou serviço em moeda corrente no caso de inadimplemento, tais como multa, juros
nacional; legais, correção monetária, cláusula penal, arras, per-
II - montante dos juros de mora e da taxa efetiva das e danos.
anual de juros; O art. 54, por sua vez, disciplina os contratos de
III - acréscimos legalmente previstos; adesão:
IV - número e periodicidade das prestações;
V - soma total a pagar, com e sem financiamento. Art. 54 Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas
§ 1º As multas de mora decorrentes do inadimple- tenham sido aprovadas pela autoridade competen-
mento de obrigações no seu termo não poderão ser te ou estabelecidas unilateralmente pelo fornece-
superiores a dois por cento do valor da prestação. dor de produtos ou serviços, sem que o consumidor
§ 2º É assegurado ao consumidor a liquidação possa discutir ou modificar substancialmente seu
antecipada do débito, total ou parcialmente, conteúdo.
mediante redução proporcional dos juros e demais § 1º A inserção de cláusula no formulário não desfi-
acréscimos. gura a natureza de adesão do contrato.
§ 3º (Vetado). § 2º Nos contratos de adesão admite-se cláusu-
Art. 53 Nos contratos de compra e venda de móveis la resolutória, desde que a alternativa, cabendo a
ou imóveis mediante pagamento em prestações, escolha ao consumidor, ressalvando-se o disposto
bem como nas alienações fiduciárias em garantia, no § 2º do artigo anterior. 579
§ 3º Os contratos de adesão escritos serão redigi- Art. 54-A Este Capítulo dispõe sobre a prevenção do
dos em termos claros e com caracteres ostensivos e superendividamento da pessoa natural, sobre o
legíveis, cujo tamanho da fonte não será inferior ao crédito responsável e sobre a educação financeira
corpo doze, de modo a facilitar sua compreensão do consumidor.
pelo consumidor. § 1º Entende-se por superendividamento a
§ 4º As cláusulas que implicarem limitação de direi- impossibilidade manifesta de o consumidor
to do consumidor deverão ser redigidas com desta- pessoa natural, de boa-fé, pagar a totalidade de
que, permitindo sua imediata e fácil compreensão. suas dívidas de consumo, exigíveis e vincen-
§ 5º (Vetado) das, sem comprometer seu mínimo existencial,
nos termos da regulamentação.
O contrato de adesão é uma das modalidades de § 2º As dívidas referidas no § 1º deste artigo englo-
comercialização e comunicação em massa. Trata-se bam quaisquer compromissos financeiros
do instrumento colocado à disposição pelo fornecedor assumidos decorrentes de relação de consu-
para conferir agilidade às transações comerciais, ou mo, inclusive operações de crédito, compras a
seja, negócios jurídicos em larga escala, por meio de prazo e serviços de prestação continuada.
estipulações uniformes e sem a possibilidade de nego- § 3º O disposto neste Capítulo não se aplica ao
ciação por parte do consumidor, como, por exemplo, consumidor cujas dívidas tenham sido contraídas
mediante fraude ou má-fé, sejam oriundas de
nos contratos bancários, contratos de seguro, contra-
contratos celebrados dolosamente com o propósito
tos de planos de saúde. O conceito de contrato de ade-
de não realizar o pagamento ou decorram da aqui-
são é trazido no art. 54, do CDC.
sição ou contratação de produtos e serviços de luxo
Características do contrato de adesão:
de alto valor.

z Predeterminação: o consumidor não participa


Um ponto importante acerca do art. 54-A é a
da composição das cláusulas do contrato, pois são
abrangência da norma. Observe que as disposições
previamente estabelecidas pelo fornecedor ou
se referem a todo e qualquer crédito contraído no
pela autoridade competente;
mercado de consumo por pessoas físicas, e não ape-
z Uniformidade: não possui variação significativa
nas pelos celebrados quando o consumidor que já se
de um contrato para outro;
encontra na condição de endividamento.
z Rigidez contratual: é estável.
Portanto, a abrangência é muito mais ampla do
que se depreende do nome pelo qual a legislação é
Cumpre salientar que, nos termos do § 1º, do art.
conhecida (Lei do Superendividamento), vez que se
54, a mera inserção de cláusula não tem o condão de
aplica a todos os contratos de crédito celebrados por
descaracterizar o contrato de adesão. Assim sendo,
pessoas naturais.
pequenas modificações não são capazes de retirar seu
caráter de adesão.
O § 2º, por sua vez, estabelece a possibilidade de
Importante!
cláusula resolutória no contrato de adesão, desde que
alternativa e a escolha seja do consumidor. Essas regras não se aplicam às pessoas
O § 3º trata das regras aplicadas aos contratos jurídicas.
de adesão, que são redação em termos claros e com
caracteres ostensivos e legíveis e tamanho da fonte
não inferior ao corpo 12. O § 1º, por sua vez, traz o conceito de superendi-
Por fim, é possível nos contratos de adesão a pre- vidamento. Nele encontram-se alguns dos elementos
visão de cláusulas restritivas de direitos do consu- que caracterizam a situação. O primeiro é a impos-
midor. No entanto, estas devem constar de maneira sibilidade evidente e de fácil detecção de que o
compreensível e de fácil percepção ao consumidor. consumidor não possui recursos financeiros para
realizar o pagamento da dívida. Essa impossibilidade
Da Prevenção e do Tratamento do decorre tanto dos aspectos patrimoniais do consumi-
Superendividamento dor, como de sua renda, gastos, situação financeira,
como de situação circunstancial, como, por exemplo,
O Capítulo VI-A, que engloba os arts. 54-A ao 54-G, desemprego.
foi incluído pela Lei do Superendividamento como Há de se mencionar os dois elementos objetivos
forma de estabelecer regras a respeito da oferta de do dispositivo, que são:
créditos, com o objetivo de prevenir que o uso des-
medido do crédito gere tanto o superendividamento z que a dívida seja exigível, ou seja, dívida que pode
como a marginalização do consumidor. ser imediatamente cobrada pelo credor;
De início, a Lei nº 14.181, de 2021, acrescentou um z que a dívida seja vincenda, isto é, aquelas que ain-
novo princípio ao CDC, o da prevenção ao superen- da estão para vencer.
dividamento (X, art. 4º), bem como incluiu dois novos
instrumentos de atuação do Poder Público (VI e VII, Importante: de acordo como o § 2º, essas regras só
art. 5º). se aplicam às dívidas relativas à relação de consumo.
Além disso, acrescentou três novos direitos bási- Portanto, as dívidas tributárias (fiscais e parafiscais) e
cos do consumidor (XI, XII e XIII, art. 6º) e duas as relacionadas a alimentos e atividades profissionais
novas cláusulas abusivas (XVII e XVIII, art. 51). No não estão incluídas. Salienta-se que o STJ já se posi-
entanto, era preciso disciplinar o conceito e a abran- cionou que não são dívidas decorrentes da relação de
gência desse fenômeno advindo com a expansão do consumo as oriundas do FIES, de crédito rural e do
580 crédito. Assim, vejamos os dispositivos: Programa Minha Casa, Minha Vida.
O elemento finalístico ou teleológico do disposi- crédito ou sem avaliação da situação financeira do
tivo é a garantia de preservação da dignidade do deve- consumidor;
dor pelo mínimo existencial. III - ocultar ou dificultar a compreensão sobre os
Dica: a questão do mínimo existencial está previs- ônus e os riscos da contratação do crédito ou da
ta nas discussões jurisprudenciais acerca da interrup- venda a prazo;
ção dos serviços de luz e água, por exemplo. IV - assediar ou pressionar o consumidor para
Por fim, o § 3º exclui da aplicação dessas regras os contratar o fornecimento de produto, serviço ou
crédito, principalmente se se tratar de consumidor
contratos celebrados mediante fraude ou má-fé. Cum-
idoso, analfabeto, doente ou em estado de vulne-
pre mencionar que, na frase pré-contratual, as partes
rabilidade agravada ou se a contratação envolver
devem atuar em consonância com o princípio do cré-
prêmio;
dito responsável e da boa-fé por meio de informações, V - condicionar o atendimento de pretensões do
cooperação e cuidados. consumidor ou o início de tratativas à renúncia ou
Além disso, nos termos do Código Civil, a boa-fé à desistência de demandas judiciais, ao pagamento
é sempre presumida, de modo que a má-fé deve ser de honorários advocatícios ou a depósitos judiciais.
provada. Parágrafo único. (VETADO).
Art. 54-D Na oferta de crédito, previamente à con-
Art. 54-B No fornecimento de crédito e na venda a tratação, o fornecedor ou o intermediário deverá,
prazo, além das informações obrigatórias previstas entre outras condutas:
no art. 52 deste Código e na legislação aplicável à I - informar e esclarecer adequadamente o con-
matéria, o fornecedor ou o intermediário deve- sumidor, considerada sua idade, sobre a natureza
rá informar o consumidor, prévia e adequada- e a modalidade do crédito oferecido, sobre todos os
mente, no momento da oferta, sobre: custos incidentes, observado o disposto nos arts. 52
I - o custo efetivo total e a descrição dos elemen- e 54-B deste Código, e sobre as consequências gené-
tos que o compõem; ricas e específicas do inadimplemento;
II - a taxa efetiva mensal de juros, bem como II - avaliar, de forma responsável, as condições
a taxa dos juros de mora e o total de encargos, de crédito do consumidor, mediante análise das
de qualquer natureza, previstos para o atraso no informações disponíveis em bancos de dados de
pagamento; proteção ao crédito, observado o disposto neste
III - o montante das prestações e o prazo de Código e na legislação sobre proteção de dados;
validade da oferta, que deve ser, no mínimo, de III - informar a identidade do agente financia-
2 (dois) dias; dor e entregar ao consumidor, ao garante e a
IV - o nome e o endereço, inclusive o eletrônico, outros coobrigados cópia do contrato de crédito.
do fornecedor; Parágrafo único. O descumprimento de qualquer
V - o direito do consumidor à liquidação antecipada dos deveres previstos no caput deste artigo e nos
e não onerosa do débito, nos termos do § 2º do art. arts. 52 e 54-C deste Código poderá acarretar judi-
52 deste Código e da regulamentação em vigor. cialmente a redução dos juros, dos encargos ou de
§ 1º As informações referidas no art. 52 deste Códi- qualquer acréscimo ao principal e a dilação do pra-
go e no caput deste artigo devem constar de forma zo de pagamento previsto no contrato original, con-
clara e resumida do próprio contrato, da fatu- forme a gravidade da conduta do fornecedor e as
ra ou de instrumento apartado, de fácil acesso possibilidades financeiras do consumidor, sem pre-
ao consumidor. juízo de outras sanções e de indenização por perdas
§ 2º Para efeitos deste Código, o custo efetivo total e danos, patrimoniais e morais, ao consumidor.
da operação de crédito ao consumidor consis- Art. 54-E (VETADO).
tirá em taxa percentual anual e compreenderá

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


todos os valores cobrados do consumidor, sem pre- O art. 54-C complementa o inciso VII, art. 6º, que
juízo do cálculo padronizado pela autoridade regu- limita o acesso ao Poder Judiciário. Assim, o dispositi-
ladora do sistema financeiro. vo traz um rol de proibições, que podem estar expres-
§ 3º Sem prejuízo do disposto no art. 37 deste Códi-
sas ou não, na oferta do crédito. Já o art. 54-D decorre
go, a oferta de crédito ao consumidor e a oferta
da necessidade de transparência na relação de consu-
de venda a prazo, ou a fatura mensal, conforme o
mo, que se traduz na perspectiva de lealdade e dever
caso, devem indicar, no mínimo, o custo efetivo
total, o agente financiador e a soma total a de informação.
pagar, com e sem financiamento.
Art. 54-F São conexos, coligados ou interde-
pendentes, entre outros, o contrato principal de
O art. 54-B elenca diversos deveres que devem ser
fornecimento de produto ou serviço e os contratos
cumpridos pelo fornecedor ou intermediário. Trata-se
acessórios de crédito que lhe garantam o financia-
de direitos e deveres ligados à informação e educa- mento quando o fornecedor de crédito:
ção do consumidor, como, por exemplo, ter ciência do I - recorrer aos serviços do fornecedor de produto
valor total que irá ser pago pelo bem no caso de parce- ou serviço para a preparação ou a conclusão do
lamento, pois muitas vezes o consumidor se preocupa contrato de crédito;
apenas com o valor das parcelas e não se dá conta de, II - oferecer o crédito no local da atividade empre-
que ao final, irá pagar algumas vezes a mais pelo valor sarial do fornecedor de produto ou serviço finan-
do bem que adquiriu. ciado ou onde o contrato principal for celebrado.
§ 1º O exercício do direito de arrependimento nas
Art. 54-C É vedado, expressa ou implicitamente, hipóteses previstas neste Código, no contrato prin-
na oferta de crédito ao consumidor, publicitária ou cipal ou no contrato de crédito, implica a resolução
não: de pleno direito do contrato que lhe seja conexo.
I - (VETADO); § 2º Nos casos dos incisos I e II do caput deste arti-
II - indicar que a operação de crédito poderá ser go, se houver inexecução de qualquer das obriga-
concluída sem consulta a serviços de proteção ao ções e deveres do fornecedor de produto ou serviço, 581
o consumidor poderá requerer a rescisão do con- ou ainda a restituição dos valores indevidamente
trato não cumprido contra o fornecedor do crédito. recebidos.
§ 3º O direito previsto no § 2º deste artigo caberá § 1º Sem prejuízo do dever de informação e esclare-
igualmente ao consumidor: cimento do consumidor e de entrega da minuta do
I - contra o portador de cheque pós-datado emitido contrato, no empréstimo cuja liquidação seja feita
para aquisição de produto ou serviço a prazo; mediante consignação em folha de pagamento, a
II - contra o administrador ou o emitente de cartão formalização e a entrega da cópia do contrato ou do
de crédito ou similar quando o cartão de crédito instrumento de contratação ocorrerão após o for-
ou similar e o produto ou serviço forem fornecidos necedor do crédito obter da fonte pagadora a indi-
pelo mesmo fornecedor ou por entidades perten- cação sobre a existência de margem consignável.
centes a um mesmo grupo econômico. § 2º Nos contratos de adesão, o fornecedor deve
§ 4º A invalidade ou a ineficácia do contrato princi- prestar ao consumidor, previamente, as informa-
pal implicará, de pleno direito, a do contrato de cré- ções de que tratam o art. 52 e o caput do art. 54-B
dito que lhe seja conexo, nos termos do caput deste deste Código, além de outras porventura deter-
artigo, ressalvado ao fornecedor do crédito o direi- minadas na legislação em vigor, e fica obrigado a
to de obter do fornecedor do produto ou serviço a entregar ao consumidor cópia do contrato, após a
devolução dos valores entregues, inclusive relativa-
sua conclusão.
mente a tributos.
Por fim, o art. 54-G traz as vedações do fornecedor
O art. 54-F trata da relação entre o contrato prin-
no que tange às operações que envolvam crédito. Tra-
cipal e os contratos acessórios de crédito. Entende-se
ta-se de um complemento ao art. 39, que disciplina as
por contrato conexo aqueles que possuem vínculos
práticas abusivas.
entre si, de modo que a inexistência, invalidade ou
ineficácia de um interfere no outro. São exemplos de
contratos conexos os acessórios, o subcontrato, nor- Das Sanções Administrativas
mativo, reacional e coligado.
O dispositivo trata especificamente de dois desses Os arts. 55 a 60 tratam do poder de polícia, ou
contratos: o contrato coligado ou independente e o seja, da função administrativa para promover o inte-
contrato acessório. resse comum por meio da atividade estatal de disci-
O contrato coligado é aquele em que existe uma plinar e restringir determinadas ações. Vejamos os
dependência causal entre o contrato e o outro, ou dispositivos:
seja, um é a causa do outro. Exemplo: aquisição de um
automóvel por meio de um financiamento bancário. Art. 55 A União, os Estados e o Distrito Federal, em
Já o contrato acessório é aquele que pressupõe caráter concorrente e nas suas respectivas áreas de
um principal, como, por exemplo, um contrato de atuação administrativa, baixarão normas relativas
fiança decorrente de um contrato de locação. à produção, industrialização, distribuição e consu-
Atenção! A doutrina entende que os contratos de mo de produtos e serviços.
financiamento possuem conexão causal e não de aces- § 1º A União, os Estados, o Distrito Federal e os
soriedade, existindo apenas uma atecnia legislativa Municípios fiscalizarão e controlarão a produ-
ção, industrialização, distribuição, a publicidade
que não causa prejuízo de interpretação.
de produtos e serviços e o mercado de consumo,
no interesse da preservação da vida, da saúde,
Art. 54-G Sem prejuízo do disposto no art. 39 deste
da segurança, da informação e do bem-estar do
Código e na legislação aplicável à matéria, é veda-
consumidor, baixando as normas que se fizerem
do ao fornecedor de produto ou serviço que envol-
va crédito, entre outras condutas: necessárias.
I - realizar ou proceder à cobrança ou ao débi- § 2º (Vetado).
to em conta de qualquer quantia que houver sido § 3º Os órgãos federais, estaduais, do Distrito
contestada pelo consumidor em compra realizada Federal e municipais com atribuições para fiscali-
com cartão de crédito ou similar, enquanto não for zar e controlar o mercado de consumo manterão
adequadamente solucionada a controvérsia, desde comissões permanentes para elaboração, revisão
que o consumidor haja notificado a administradora e atualização das normas referidas no § 1º, sen-
do cartão com antecedência de pelo menos 10 (dez) do obrigatória a participação dos consumidores e
dias contados da data de vencimento da fatura, fornecedores.
vedada a manutenção do valor na fatura seguinte § 4º Os órgãos oficiais poderão expedir notifica-
e assegurado ao consumidor o direito de deduzir ções aos fornecedores para que, sob pena de deso-
do total da fatura o valor em disputa e efetuar o bediência, prestem informações sobre questões de
pagamento da parte não contestada, podendo o interesse do consumidor, resguardado o segredo
emissor lançar como crédito em confiança o valor industrial.
idêntico ao da transação contestada que tenha sido
cobrada, enquanto não encerrada a apuração da O art. 55 trata do poder de regulamentação e
contestação; fiscalização. De acordo com o caput do dispositivo,
II - recusar ou não entregar ao consumidor, ao compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal,
garante e aos outros coobrigados cópia da minuta de modo concorrente, elaborar as normas relativas
do contrato principal de consumo ou do contrato
à produção, industrialização, distribuição e ao con-
de crédito, em papel ou outro suporte duradouro,
disponível e acessível, e, após a conclusão, cópia do
sumo de produtos e serviços. Por se tratar de compe-
contrato; tência “conjunta”, a União deve cuidar das normas de
III - impedir ou dificultar, em caso de utilização caráter geral, isto é, aplicadas a todo o país, reservan-
fraudulenta do cartão de crédito ou similar, que o do aos Estados e ao Distrito Federal as normas de inte-
consumidor peça e obtenha, quando aplicável, a resse regional.
582 anulação ou o imediato bloqueio do pagamento,
O Brasil é uma federação, o que significa dizer que z Sanções pecuniárias: multas que decorrem
existe uma divisão interna do poder. A CF, de 1988, do não adimplemento dos deveres relativos ao
estabeleceu como seus entes federativos a União Fede- consumo;
ral, os Estados-Membros, o Distrito Federal e os Muni- z Sanções objetivas ou reais (incidem no produ-
cípios, cada qual com autonomia e discricionariedade, to ou serviço): apreensão, inutilização do pro-
além de possibilidade de se organizarem e legislarem. duto, cassação do registro do produto, proibição
Deste modo, compete à União estabelecer as regras de fabricação e suspensão de fornecimento de
do Estado brasileiro como um todo, tendo como parâ- produtos/serviços;
metro a CF, de 1988. Se à União cabem as diretrizes de z Sanções subjetivas (vinculadas à atividade):
âmbito nacional, aos Estados compete traçar as nor- interdição, total ou parcial, de estabelecimento, de
mas regionais; ao Distrito Federal, regras distritais e obra ou atividade; suspensão temporária da ati-
os Municípios, as regras locais. vidade; revogação de concessão ou permissão de
Já o § 1º, do art. 55, estabelece que os entes da fede- uso; cassação de licença do estabelecimento ou de
ração, além de criar normas sobre as relações de atividade; intervenção administrativa; imposição
consumo, exercerão seu poder de polícia para fiscali- de contrapropaganda, entre outros.
zação e controle da produção, industrialização, distri-
buição, publicidade de produtos e serviços e mercado O parágrafo único, do art. 56, trata da responsa-
de consumo. O objetivo da atividade estatal é preser- bilidade administrativa do fornecedor. Ele estabe-
var os direitos básicos do consumidor, ou seja, sua lece que tais sanções serão aplicadas pela autoridade
administrativa em conformidade com sua atribuição.
vida, saúde, segurança, informação e bem-estar.
Essas sanções podem ser aplicadas cumulativamen-
O § 3º trata da atribuição de fiscalização e controle
te ou não. Podem, também, ser aplicadas de manei-
do mercado de consumo. Por essa razão, o dispositivo
ra antecedente ou incidente no procedimento
estabelece que os entes da federação deverão manter
administrativo.
comissões permanentes para elaboração, revisão
Além da responsabilidade administrativa, o forne-
e atualização das normas regulatórias. No entanto,
cedor poderá responder tanto civilmente como penal-
para que essa atividade seja efetiva, estabelece, ainda,
mente por seus atos.
a composição de tais comissões. Assim, será obriga-
Quanto aos arts. 57 a 60, eles estabelecem a forma
tória a participação tanto dos consumidores quanto
de aplicação de cada uma das sanções administrativas:
dos fornecedores, para que os dois lados da relação de
consumo possam tratar de seus interesses. Art. 57 A pena de multa, graduada de acordo com
Por fim, o § 4º, do art. 55, dispõe acerca da possi- a gravidade da infração, a vantagem auferida e a
bilidade de notificação dos fornecedores, para que condição econômica do fornecedor, será aplicada
estes prestem informações sobre questões de interes- mediante procedimento administrativo, revertendo
se do consumidor, resguardado o segredo industrial. para o Fundo de que trata a Lei nº 7.347, de 24 de
julho de 1985, os valores cabíveis à União, ou para
Art. 56 As infrações das normas de defesa do con- os Fundos estaduais ou municipais de proteção ao
sumidor ficam sujeitas, conforme o caso, às seguin- consumidor nos demais casos.
tes sanções administrativas, sem prejuízo das de Parágrafo único. A multa será em montante não
natureza civil, penal e das definidas em normas inferior a duzentas e não superior a três milhões de
específicas: vezes o valor da Unidade Fiscal de Referência (Ufir),
I - multa; ou índice equivalente que venha a substituí-lo.

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


II - apreensão do produto; Art. 58 As penas de apreensão, de inutilização de
III - inutilização do produto; produtos, de proibição de fabricação de produtos,
IV - cassação do registro do produto junto ao órgão de suspensão do fornecimento de produto ou servi-
competente; ço, de cassação do registro do produto e revogação
V - proibição de fabricação do produto; da concessão ou permissão de uso serão aplicadas
VI - suspensão de fornecimento de produtos ou pela administração, mediante procedimento admi-
serviço; nistrativo, assegurada ampla defesa, quando forem
VII - suspensão temporária de atividade; constatados vícios de quantidade ou de qualidade
por inadequação ou insegurança do produto ou
VIII - revogação de concessão ou permissão de uso;
serviço.
IX - cassação de licença do estabelecimento ou de
Art. 59 As penas de cassação de alvará de licença,
atividade;
de interdição e de suspensão temporária da ativi-
X - interdição, total ou parcial, de estabelecimento,
dade, bem como a de intervenção administrativa,
de obra ou de atividade;
serão aplicadas mediante procedimento adminis-
XI - intervenção administrativa;
trativo, assegurada ampla defesa, quando o forne-
XII - imposição de contrapropaganda.
cedor reincidir na prática das infrações de maior
Parágrafo único. As sanções previstas neste artigo
gravidade previstas neste código e na legislação de
serão aplicadas pela autoridade administrativa,
consumo.
no âmbito de sua atribuição, podendo ser aplica- § 1º A pena de cassação da concessão será aplicada
das cumulativamente, inclusive por medida cau- à concessionária de serviço público, quando violar
telar, antecedente ou incidente de procedimento obrigação legal ou contratual.
administrativo. § 2º A pena de intervenção administrativa será
aplicada sempre que as circunstâncias de fato desa-
O art. 56, por sua vez, trata das sanções admi- conselharem a cassação de licença, a interdição ou
nistrativas. Observa-se que são três as espécies de suspensão da atividade.
sanções: 583
§ 3º Pendendo ação judicial na qual se discuta § 1º A conversão da obrigação em perdas e danos
a imposição de penalidade administrativa, não somente será admissível se por elas optar o autor
haverá reincidência até o trânsito em julgado da ou se impossível a tutela específica ou a obtenção
sentença. do resultado prático correspondente.
Art. 60 A imposição de contrapropaganda será § 2º A indenização por perdas e danos se fará sem
cominada quando o fornecedor incorrer na prática prejuízo da multa (art. 287, do Código de Processo
de publicidade enganosa ou abusiva, nos termos do Civil).
art. 36 e seus §, sempre às expensas do infrator. § 3º Sendo relevante o fundamento da demanda e
§ 1º A contrapropaganda será divulgada pelo res- havendo justificado receio de ineficácia do provi-
ponsável da mesma forma, freqüência e dimensão mento final, é lícito ao juiz conceder a tutela limi-
e, preferencialmente no mesmo veículo, local, espa- narmente ou após justificação prévia, citado o réu.
ço e horário, de forma capaz de desfazer o malefício § 4º O juiz poderá, na hipótese do § 3° ou na senten-
da publicidade enganosa ou abusiva. ça, impor multa diária ao réu, independentemente
de pedido do autor, se for suficiente ou compatível
Da Defesa do Consumidor em Juízo com a obrigação, fixando prazo razoável para o
cumprimento do preceito.
A Defesa do Consumidor em Juízo encontra-se § 5º Para a tutela específica ou para a obtenção do
prevista nos arts. 81 a 104-C, do CDC. De início, os dez resultado prático equivalente, poderá o juiz deter-
primeiros artigos trazem as regras gerais. Vejamos os minar as medidas necessárias, tais como busca e
dispositivos: apreensão, remoção de coisas e pessoas, desfazi-
mento de obra, impedimento de atividade nociva,
Art. 81 A defesa dos interesses e direitos dos além de requisição de força policial.
consumidores e das vítimas poderá ser exercida Art. 85 (Vetado).
em juízo individualmente, ou a título coletivo. Art. 86 (Vetado).
Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida Art. 87 Nas ações coletivas de que trata este código
quando se tratar de: não haverá adiantamento de custas, emolumentos,
I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, honorários periciais e quaisquer outras despesas,
para efeitos deste código, os transindividuais, de nem condenação da associação autora, salvo com-
natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas provada má-fé, em honorários de advogados, cus-
indeterminadas e ligadas por circunstâncias de tas e despesas processuais.
fato; Parágrafo único. Em caso de litigância de má-fé, a
II - interesses ou direitos coletivos, assim entendi-
associação autora e os diretores responsáveis pela
dos, para efeitos deste código, os transindividuais,
propositura da ação serão solidariamente conde-
de natureza indivisível de que seja titular grupo,
nados em honorários advocatícios e ao décuplo das
categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou
custas, sem prejuízo da responsabilidade por per-
com a parte contrária por uma relação jurídica
das e danos.
base;
III - interesses ou direitos individuais homogêneos, Art. 88 Na hipótese do art. 13, parágrafo único des-
assim entendidos os decorrentes de origem comum. te código, a ação de regresso poderá ser ajuizada
Art. 82 Para os fins do art. 81, parágrafo único, são em processo autônomo, facultada a possibilida-
legitimados concorrentemente: de de prosseguir-se nos mesmos autos, vedada a
I - o Ministério Público, denunciação da lide.
II - a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Art. 89 (Vetado)
Federal; Art. 90 Aplicam-se às ações previstas neste título
III - as entidades e órgãos da Administração Públi- as normas do Código de Processo Civil e da Lei n°
ca, direta ou indireta, ainda que sem personalidade 7.347, de 24 de julho de 1985, inclusive no que res-
jurídica, especificamente destinados à defesa dos peita ao inquérito civil, naquilo que não contrariar
interesses e direitos protegidos por este código; suas disposições.
IV - as associações legalmente constituídas há pelo
menos um ano e que incluam entre seus fins ins- Além da proteção no âmbito do direito material,
titucionais a defesa dos interesses e direitos pro- o CDC estabelece instrumentos e técnicas processuais
tegidos por este código, dispensada a autorização específicas em favor do consumidor, como, por exem-
assemblear. plo, a inversão do ônus da prova, a competência do
§ 1º O requisito da pré-constituição pode ser dis-
domicílio do consumidor e a proibição de denuncia-
pensado pelo juiz, nas ações previstas nos arts.
ção à lide.
91 e seguintes, quando haja manifesto interesse
social evidenciado pela dimensão ou característica O art. 81 refere-se à defesa dos interesses do con-
do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser sumidor como algo que pode ser exercido individual-
protegido. mente ou coletivamente para os casos de interesses
§ 2º (Vetado). coletivos em sentido amplo. Neste ponto, cumpre
§ 3º (Vetado). mencionar que os direitos coletivos se dividem em
Art. 83 Para a defesa dos direitos e interesses pro- três categorias:
tegidos por este código são admissíveis todas as
espécies de ações capazes de propiciar sua adequa-
DIREITOS COLETIVOS
da e efetiva tutela.
LATO SENSU
Parágrafo único. (Vetado).
Art. 84 Na ação que tenha por objeto o cumpri-
mento da obrigação de fazer ou não fazer, o juiz
Direitos
concederá a tutela específica da obrigação ou Direitos coletivos
Direitos difusos individuais
determinará providências que assegurem o resulta- stricto sensu
homogêneos
584 do prático equivalente ao do adimplemento.
Em síntese, os direitos difusos são os direitos O art. 87 cuida do benefício processual da gratui-
constituídos por interesses indivisíveis, que podem dade processual para as ações coletivas. O benefício
abranger um número indeterminado de pessoas é aplicado à parte autora, desde que esta atue como
com sujeitos indeterminados e indetermináveis. substituta processual de interesse transindividual.
São exemplos: o direito ao meio ambiente ecologica- Salienta-se que no caso de litigância de má-fé, a
mente equilibrado, o direito à autodeterminação dos parte autora e os responsáveis pela propositura da
povos, o direito à comunicação, a vedação à propa- ação serão condenados em honorários advocatícios e
ganda enganosa, entre outros. ao décuplo (10x) das custas processuais, sem prejuízo
Em contrapartida, os direitos coletivos (em sen- de eventual responsabilidade por perdas e danos.
tido estrito) são aqueles interesses indivisíveis que Por fim, o art. 88 cuida da ação de regresso e o art.
abrangem um grupo ou categoria determinada 90, da aplicação subsidiária das regras previstas no
de pessoas unidas pelo mesmo interesse jurídico, CPC e na Lei nº 7.347, de 1985.
como, por exemplo, a proteção de determinados gru- Os arts. 91 ao 100 estabelecem as regras atinentes
pos sociais tidos como vulneráveis, os direitos à pres- às ações coletivas para a defesa de interesses indivi-
tação de serviços públicos de qualidade, tais como o duais homogêneos. Vejamos os dispositivos:
de energia elétrica, água e saneamento básico.
Por fim, os direitos individuais homogêneos Art. 91 Os legitimados de que trata o art. 82 poderão
são os interesses divisíveis e que têm como titula- propor, em nome próprio e no interesse das vítimas
res pessoas determinadas. Trata-se dos direitos que, ou seus sucessores, ação civil coletiva de responsa-
embora individuais, ou seja, a título pessoal, são con- bilidade pelos danos individualmente sofridos, de
duzidos coletivamente perante a Justiça em função acordo com o disposto nos artigos seguintes.
da sua origem comum (proteção coletiva), como, por Art. 92 O Ministério Público, se não ajuizar a ação,
atuará sempre como fiscal da lei.
exemplo, os reajustes dos contratos de adesão que
Parágrafo único. (Vetado).
vinculam diversas pessoas.
Art. 93 Ressalvada a competência da Justiça Fede-
O art. 82 traz a legitimidade concorrente para pro-
ral, é competente para a causa a justiça local:
posição da ação (coletiva ou ação civil pública) no I - no foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o
caso dos interesses coletivos (lato sensu) para o Minis- dano, quando de âmbito local;
tério Público, entes federativos, entidades e órgãos da II - no foro da Capital do Estado ou no do Distrito
Administração Pública e associações. Federal, para os danos de âmbito nacional ou regio-
Cumpre mencionar que, embora a legitimidade nal, aplicando-se as regras do Código de Processo
da Defensoria Pública não conste do dispositivo, ela Civil aos casos de competência concorrente.
também é legitimada expressamente por outro dispo- Art. 94 Proposta a ação, será publicado edital no
sitivo a promover a ação, em conformidade com o art. órgão oficial, a fim de que os interessados possam
5º, da Lei nº 7.347, de 1985 (Lei da Ação Civil Pública). intervir no processo como litisconsortes, sem pre-
Ressalta-se, por necessário, que a competência juízo de ampla divulgação pelos meios de comu-
é autônoma, ou seja, qualquer dos legitimados pode nicação social por parte dos órgãos de defesa do
propor a ação sem a necessidade de litisconsórcio. consumidor.
Art. 95 Em caso de procedência do pedido, a conde-
nação será genérica, fixando a responsabilidade do
Dica réu pelos danos causados.
Para as associações é necessário que elas este- Art. 96 (Vetado).
jam constituídas há, pelo menos, 1 ano e que a Art. 97 A liquidação e a execução de sentença pode-

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


rão ser promovidas pela vítima e seus sucessores,
defesa dos interesses de seus associados seja
assim como pelos legitimados de que trata o art. 82.
um dos seus fins institucionais. Parágrafo único. (Vetado).
Art. 98 A execução poderá ser coletiva, sendo pro-
Importante: diferenciação de substituição pro- movida pelos legitimados de que trata o art. 82,
cessual e representação processual. No caso do inci- abrangendo as vítimas cujas indenizações já tive-
so IV, art. 82, as associações atuam como substitutos ram sido fixadas em sentença de liquidação, sem
processuais, sendo, portanto, dispensada a autoriza- prejuízo do ajuizamento de outras execuções.
ção assemblear. Assim, a decisão beneficiará a todos, § 1º A execução coletiva far-se-á com base em cer-
independentemente de serem filiados ou não à asso- tidão das sentenças de liquidação, da qual deverá
ciação, porém, desde que estejam na mesma situação constar a ocorrência ou não do trânsito em julgado.
fática. § 2º É competente para a execução o juízo:
Em contrapartida, na representação processual, I - da liquidação da sentença ou da ação condenató-
é necessário autorização expressa dos associados e ria, no caso de execução individual;
somente eles se beneficiarão com a decisão (XXI, art. II - da ação condenatória, quando coletiva a
execução.
5º, da CF, de 1988).
Art. 99 Em caso de concurso de créditos decorren-
O art. 83 estabelece que todas as modalidades de
tes de condenação prevista na Lei n.° 7.347, de 24
ações são cabíveis para a proteção efetiva e adequada
de julho de 1985 e de indenizações pelos prejuízos
do consumidor. individuais resultantes do mesmo evento danoso,
O art. 84 decorre do princípio da instrumentali- estas terão preferência no pagamento.
dade do processo, de modo que o juiz pode se valer Parágrafo único. Para efeito do disposto neste arti-
das tutelas processuais existentes no ordenamento go, a destinação da importância recolhida ao fun-
jurídico e das medidas necessárias à sua efetivação, do criado pela Lei n°7.347 de 24 de julho de 1985,
como, por exemplo, busca e apreensão de coisa e mul- ficará sustada enquanto pendentes de decisão de
ta diária. segundo grau as ações de indenização pelos danos
individuais, salvo na hipótese de o patrimônio do 585
devedor ser manifestamente suficiente para res- o réu houver sido declarado falido, o síndico será
ponder pela integralidade das dívidas. intimado a informar a existência de seguro de res-
Art. 100 Decorrido o prazo de um ano sem habili- ponsabilidade, facultando-se, em caso afirmativo,
tação de interessados em número compatível com a o ajuizamento de ação de indenização diretamente
gravidade do dano, poderão os legitimados do art. contra o segurador, vedada a denunciação da lide
82 promover a liquidação e execução da indeniza- ao Instituto de Resseguros do Brasil e dispensado o
ção devida. litisconsórcio obrigatório com este.
Parágrafo único. O produto da indenização devida Art. 102 Os legitimados a agir na forma deste códi-
reverterá para o fundo criado pela Lei n.° 7.347, de go poderão propor ação visando compelir o Poder
24 de julho de 1985. Público competente a proibir, em todo o território
nacional, a produção, divulgação distribuição ou
O art. 91 cuida da substituição processual, ou seja, venda, ou a determinar a alteração na composição,
da possibilidade dos legitimados do art. 82 proporem estrutura, fórmula ou acondicionamento de produ-
a ação em nome próprio e no interesse das vítimas ou to, cujo uso ou consumo regular se revele nocivo ou
de seus sucessores. perigoso à saúde pública e à incolumidade pessoal.
O art. 92 estabelece a intervenção obrigatória do § 1° (Vetado).
Ministério público no feito. Assim, caso não seja o § 2° (Vetado)
autor da demanda, o Ministério Público deve necessa-
riamente atuar no feito, independentemente da cate- Como consequência da proteção do consumidor
goria de interesse coletivo tutelado. vulnerável (I, art. 4º) e do direito à facilitação da defe-
O art. 93 praticamente repete o art. 2º, da Lei nº sa dos direitos (VIII, art. 6º), tem-se o art. 101, do CDC.
7.347, de 1985, ao estabelecer a competência nas ações O inciso I deste dispositivo possibilita que o consumi-
coletivas de forma absoluta em razão do local do dor lesado proponha a ação no foro do seu domicílio,
dano. Trata-se de competência territorial, que, por ser excepcionando a regra do Código de Processo Civil
de índole funcional, é inderrogável e improrrogável que estabelece a propositura da ação no foro de domi-
por vontade das partes. cílio do réu. O objetivo é facilitar a defesa dos interes-
Cumpre esclarecer, no entanto, que antes de ses do consumidor sem impor a ele custos.
se estabelecer o foro competente, é preciso verifi- Exemplo: imagine um bem fabricado no Rio Gran-
car a natureza jurídica do consumidor para definir de do Sul e que este produto apresente vício para um
se a competência é da Justiça Federal ou da Justiça consumidor residente no Amapá. Assim, a responsa-
Estadual. bilidade de arcar com os custos é do fornecedor, uma
Lembre-se: a competência da Justiça Federal está vez que foi ele que inseriu o produto com vício no
estabelecida no inciso I, art. 109, da CF, de 1988. mercado.
O art. 95 estabelece que a condenação para os Dica: trata-se de competência relativa, visto que o
casos de procedência da demanda deve ser genérica. consumidor pode optar por propor a ação no foro de
Assim, será na liquidação e na execução da sentença domicílio do fornecedor.
que serão estabelecidos, conforme o caso concreto, os O inciso II, do art. 101, traz a possibilidade de o for-
valores da condenação. A competência para promo- necedor chamar ao processo a seguradora, nos casos
ção destas ações encontra-se no art. 97, podendo ser de existir contrato de seguro.
proposta pela própria vítima ou por seus sucessores. O art. 102, por sua vez, busca a prevenção dos
O art. 98 cuida da possibilidade de a execução ser danos.
proposta pelos legitimados do art. 82, no caso de exis- Já os arts. 103 e 104 dispõem sobre a coisa julgada
tir sentença de liquidação fixando o montante para nos seguintes termos:
cada vítima.
O art. 99 cuida do caso de concursos de créditos Art. 103 Nas ações coletivas de que trata este códi-
decorrentes da condenação e de indenização pelos go, a sentença fará coisa julgada:
I - erga omnes, exceto se o pedido for julgado
prejuízos individuais.
improcedente por insuficiência de provas, hipótese
Por fim, o art. 100 trata da denominada execução
em que qualquer legitimado poderá intentar outra
fluid recovery, ou seja, da execução subsidiária promo-
ação, com idêntico fundamento valendo-se de nova
vida no caso de não existirem habilitados em número prova, na hipótese do inciso I do parágrafo único
compatível com a gravidade do dano no prazo de um do art. 81;
ano do trânsito em julgado da sentença. O produto da II - ultra partes, mas limitadamente ao grupo,
arrecadação será destinado a um fundo criado pela categoria ou classe, salvo improcedência por insu-
Lei nº 7.347, de 1985. ficiência de provas, nos termos do inciso anterior,
Os arts. 101 e 102 cuidam das ações de responsabi- quando se tratar da hipótese prevista no inciso II
lidade do fornecedor de produtos e serviços. Vejamos do parágrafo único do art. 81;
os dispositivos: III - erga omnes, apenas no caso de procedência
do pedido, para beneficiar todas as vítimas e seus
Art. 101 Na ação de responsabilidade civil do sucessores, na hipótese do inciso III do parágrafo
fornecedor de produtos e serviços, sem prejuízo único do art. 81.
do disposto nos Capítulos I e II deste título, serão § 1º Os efeitos da coisa julgada previstos nos inci-
observadas as seguintes normas: sos I e II não prejudicarão interesses e direitos indi-
I - a ação pode ser proposta no domicílio do autor; viduais dos integrantes da coletividade, do grupo,
II - o réu que houver contratado seguro de respon- categoria ou classe.
sabilidade poderá chamar ao processo o segurador, § 2º Na hipótese prevista no inciso III, em caso de
vedada a integração do contraditório pelo Instituto improcedência do pedido, os interessados que não
de Resseguros do Brasil. Nesta hipótese, a sentença tiverem intervindo no processo como litisconsor-
que julgar procedente o pedido condenará o réu nos tes poderão propor ação de indenização a título
586 termos do art. 80 do Código de Processo Civil. Se individual.
§ 3º Os efeitos da coisa julgada de que cuida o art. z Interesse individual homogêneo:
16, combinado com o art. 13 da Lei n° 7.347, de 24
de julho de 1985, não prejudicarão as ações de inde- No caso de interesse coletivo, a procedência da
nização por danos pessoalmente sofridos, propostas sentença gera efeitos erga omnes para beneficiar
individualmente ou na forma prevista neste código, todos os lesados e seus sucessores. No caso de impro-
mas, se procedente o pedido, beneficiarão as vítimas cedência com ou sem exame das provas, o efeito
e seus sucessores, que poderão proceder à liquida- gerado é impedir a propositura de nova ação coleti-
ção e à execução, nos termos dos arts. 96 a 99. va, porém o lesado poderá propor a individual des-
§ 4º Aplica-se o disposto no parágrafo anterior à de que não tenha participado da ação coletiva.
sentença penal condenatória. Os arts. 104-A, 104-B e 104-C foram incluídos pela
Art. 104 As ações coletivas, previstas nos incisos I e Lei nº 14.181, de 2021, e tratam da conciliação no
II e do parágrafo único do art. 81, não induzem litis- superendividamento. Esses dispositivos trazem as
pendência para as ações individuais, mas os efei- regras processuais referentes ao dever geral de rene-
tos da coisa julgada erga omnes ou ultra partes a gociação. Vejamos os dispositivos:
que aludem os incisos II e III do artigo anterior não
beneficiarão os autores das ações individuais, se Art. 104-A A requerimento do consumidor supe-
não for requerida sua suspensão no prazo de trinta rendividado pessoa natural, o juiz poderá ins-
dias, a contar da ciência nos autos do ajuizamento taurar processo de repactuação de dívidas,
da ação coletiva. com vistas à realização de audiência conciliatória,
presidida por ele ou por conciliador credenciado
no juízo, com a presença de todos os credores de
Por coisa julgada entende-se a imutabilidade dos
dívidas previstas no art. 54-A deste Código, na qual
efeitos da sentença. Este efeito é adquirido por meio o consumidor apresentará proposta de plano de
do trânsito em julgado da sentença. Importante pagamento com prazo máximo de 5 (cinco) anos,
esclarecer que os efeitos da coisa julgada nas ações preservados o mínimo existencial, nos termos da
coletivas são distintos das ações individuais. regulamentação, e as garantias e as formas de
O que ocorre é que, nas ações individuais, a sen- pagamento originalmente pactuadas.
tença se opera tanto para beneficiar como para pre- § 1º Excluem-se do processo de repactuação as dívi-
das, ainda que decorrentes de relações de consumo,
judicar as partes da demanda. Já nas ações coletivas,
oriundas de contratos celebrados dolosamente sem
a coisa julgada projeta-se para a coletividade subs-
o propósito de realizar pagamento, bem como as
tituída apenas para beneficiar os consumidores e dívidas provenientes de contratos de crédito com
não para prejudicá-los. garantia real, de financiamentos imobiliários e de
Neste ponto, o art. 104 estabelece a separação entre crédito rural.
os interesses e a relação entre a demanda coletiva e a § 2º O não comparecimento injustificado de qual-
individual, ou seja, se irá induzir a litispendência. quer credor, ou de seu procurador com poderes
Em síntese — arts. 103 e 104, do CDC: especiais e plenos para transigir, à audiência de
conciliação de que trata o caput deste artigo acar-
retará a suspensão da exigibilidade do débito e a
z Interesse difuso:
interrupção dos encargos da mora, bem como a
sujeição compulsória ao plano de pagamento da
No caso de interesse difuso a sentença terá efei- dívida se o montante devido ao credor ausente
to erga omnes se for julgada procedente. No caso for certo e conhecido pelo consumidor, devendo o
de improcedência, é preciso dividir as situações. Se pagamento a esse credor ser estipulado para ocor-

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


houver exame de provas e a ação for julgada impro- rer apenas após o pagamento aos credores presen-
cedente, o efeito é erga omnes para impedir a pro- tes à audiência conciliatória.
positura de nova ação coletiva, porém o lesado § 3º No caso de conciliação, com qualquer credor, a
sentença judicial que homologar o acordo descreve-
poderá propor ação individual, pois não induz a
rá o plano de pagamento da dívida e terá eficácia de
litispendência. título executivo e força de coisa julgada.
Já no caso de improcedência por falta de provas, § 4º Constarão do plano de pagamento referido no
não haverá coisa julgada erga omnes, e qualquer § 3º deste artigo:
interessado pode propor novamente a demanda (não I - medidas de dilação dos prazos de pagamento e
gera litispendência). de redução dos encargos da dívida ou da remunera-
ção do fornecedor, entre outras destinadas a facili-
z Interesse coletivo stricto sensu: tar o pagamento da dívida;
II - referência à suspensão ou à extinção das ações
judiciais em curso;
No caso de interesse coletivo, a procedência da III - data a partir da qual será providenciada a
sentença gera efeitos ultra partes, portanto limita- exclusão do consumidor de bancos de dados e de
dos ao grupo, categoria ou classe. No caso de impro- cadastros de inadimplentes;
cedência com exame das provas, também haverá IV - condicionamento de seus efeitos à abstenção,
coisa julgada ultra partes, de modo a impedir nova pelo consumidor, de condutas que importem no agra-
propositura de ação coletiva, mas sem impedir que vamento de sua situação de superendividamento.
o lesado proponha a ação individual (não induz § 5º O pedido do consumidor a que se refere
o caput deste artigo não importará em declaração
litispendência).
de insolvência civil e poderá ser repetido somente
No caso de ter sido julgada improcedente por fal- após decorrido o prazo de 2 (dois) anos, contado
ta de provas, não haverá coisa julgada erga omnes, da liquidação das obrigações previstas no plano de
e qualquer interessado pode propor novamente a pagamento homologado, sem prejuízo de eventual
demanda (não gera litispendência). repactuação. 587
Art. 104-B Se não houver êxito na conciliação em de contratos de crédito com garantias reais, como, por
relação a quaisquer credores, o juiz, a pedido do exemplo, penhor, bem como as dívidas oriundas de
consumidor, instaurará processo por superendivi- financiamento imobiliário e de crédito rural.
damento para revisão e integração dos contratos Caso um dos credores não compareça à audiên-
e repactuação das dívidas remanescentes mediante cia designada sem justificativa, ocorrerá a suspensão
plano judicial compulsório e procederá à citação de
da exigência do débito e a interrupção dos encargos
todos os credores cujos créditos não tenham inte-
grado o acordo porventura celebrado. decorrentes da mora, bem como a sua sujeição ao pla-
§ 1º Serão considerados no processo por superendi- no de pagamento da dívida de forma compulsória.
vidamento, se for o caso, os documentos e as infor- Caso a audiência seja frutífera, o juiz homologará
mações prestadas em audiência. o acordo, que terá efeito de título executivo judicial
§ 2º No prazo de 15 (quinze) dias, os credores cita- por força da coisa julgada.
dos juntarão documentos e as razões da negativa Há de se mencionar, ainda, que o pedido de repac-
de aceder ao plano voluntário ou de renegociar. tuação não constituirá em declaração de insolvência e
§ 3º O juiz poderá nomear administrador, desde que o consumidor endividado somente poderá pedir nova-
isso não onere as partes, o qual, no prazo de até 30 mente instauração de processo de repactuação após
(trinta) dias, após cumpridas as diligências even-
decorridos dois anos da quitação do plano pactuado.
tualmente necessárias, apresentará plano de paga-
O art. 104-B cuida do caso de a conciliação não
mento que contemple medidas de temporização ou
de atenuação dos encargos. ser frutífera. Não havendo acordo entre consumidor
§ 4º O plano judicial compulsório assegurará aos endividado e seus credores, o juiz instaurará processo
credores, no mínimo, o valor do principal devido, para revisão, integração dos contratos e repactuação
corrigido monetariamente por índices oficiais de das dívidas e apresentará plano judicial compulsório,
preço, e preverá a liquidação total da dívida, após mandando citar todos os credores que não integraram
a quitação do plano de pagamento consensual pre- o acordo.
visto no art. 104-A deste Código, em, no máximo, O prazo para que os credores apresentem as razões
5 (cinco) anos, sendo que a primeira parcela será da negativa de aderir ao plano voluntário ou de rene-
devida no prazo máximo de 180 (cento e oitenta) gociar as dívidas é de quinze dias.
dias, contado de sua homologação judicial, e o res-
Quanto ao plano judicial compulsório, este deve
tante do saldo será devido em parcelas mensais
assegurar, no mínimo, o valor principal devido pelo
iguais e sucessivas.
Art. 104-C Compete concorrente e facultativamente consumidor e sua correção monetária. Além disso, o
aos órgãos públicos integrantes do Sistema Nacio- prazo máximo para quitação também será de cinco
nal de Defesa do Consumidor a fase conciliatória anos e a primeira parcela terá como prazo máximo
e preventiva do processo de repactuação de dívi- 180 dias contados da homologação judicial. Salienta-
das, nos moldes do art. 104-A deste Código, no que -se que todas as demais parcelas devem ser mensais,
couber, com possibilidade de o processo ser regu- iguais e sucessivas.
lado por convênios específicos celebrados entre os Além disso, o juiz poderá nomear, no prazo de
referidos órgãos e as instituições credoras ou suas trinta dias, administrador para que apresente plano
associações. de pagamento, desde que tal nomeação não gere mais
§ 1º Em caso de conciliação administrativa para
ônus econômico para as partes.
prevenir o superendividamento do consumidor pes-
soa natural, os órgãos públicos poderão promover,
Por fim, o art. 104-C estabelece a competência con-
nas reclamações individuais, audiência global de corrente e facultativa dos órgãos que integram o Sis-
conciliação com todos os credores e, em todos os tema Nacional de Defesa do Consumidor para realizar
casos, facilitar a elaboração de plano de pagamen- a fase conciliatória e de preventiva ao processo de
to, preservado o mínimo existencial, nos termos da repactuação da dívida. Portanto, trata-se da possibili-
regulamentação, sob a supervisão desses órgãos, dade de conciliação administrativa antes de ser inicia-
sem prejuízo das demais atividades de reeducação do o processo judicial de repactuação.
financeira cabíveis.
§ 2º O acordo firmado perante os órgãos públicos
de defesa do consumidor, em caso de superendivi-
damento do consumidor pessoa natural, incluirá a
data a partir da qual será providenciada a exclusão AVALIAÇÃO DOS BENEFÍCIOS
do consumidor de bancos de dados e de cadastros SOCIAIS E ECONÔMICOS, ÍNDICE DE
de inadimplentes, bem como o condicionamento de
seus efeitos à abstenção, pelo consumidor, de con- VIABILIDADE, DIAGNÓSTICOS, ESTUDO
dutas que importem no agravamento de sua situa- E IMPACTO/RISCO SOCIAL, IMPACTO/
ção de superendividamento, especialmente a de
contrair novas dívidas. RISCO AMBIENTAL

O art. 104-A traz a possibilidade de o juiz designar A avaliação de projetos é uma etapa fundamental
audiência de conciliação entre consumidor endivida- para o sucesso de qualquer iniciativa, seja no âmbito
do e todos os seus credores, desde que o consumidor público ou privado, uma vez que tem como objetivo
a requeira e apresente proposta de pagamento dos garantir o desenvolvimento sustentável e o bem-estar
débitos, de modo a lhe garantir o mínimo existencial, da sociedade.
no prazo máximo para quitação de cinco anos. Deste modo, através da análise dos benefícios
Não serão computadas no processo de repactuação sociais e econômicos, o índice de viabilidade, os diag-
as dívidas decorrentes de contrato de consumo quan- nósticos, os impactos e riscos sociais e ambientais, é
do o consumidor celebrou o contrato sem intenção de possível fornecer subsídios para a tomada de decisões
588 quitar o débito (agiu com dolo) e as dívidas decorrentes estratégicas.
Assim, a avaliação dos benefícios sociais e eco- ESTUDO DE IMPACTO DO RISCO SOCIAL E
nômicos de um projeto busca mensurar os impactos AMBIENTAL
positivos que ele trará para a sociedade e a economia.
Como exemplos de benefícios sociais podemos O estudo de impacto do risco social e ambiental
elencar a geração de emprego e de renda, qualifica- estão ligados aos resultados de longo prazo da empre-
ção profissional, melhoria da qualidade de vida, den- sa, em relação às mudanças sociais, econômicas e
tre outros. ambientais.
Já como exemplo de benefícios econômicos pode- Além disso, avaliam os efeitos do projeto na comu-
mos listar o aumento da produtividade, o crescimento nidade e no meio ambiente. Isso inclui aspectos como
do PIB, atração de investimentos para o país, etc. deslocamento de populações, mudanças no uso do
Neste sentido, para que seja possível realizar a solo, poluição, entre outros.
referida avaliação dos benefícios sociais e econômi- Assim, é importante identificar os possíveis impac-
cos, existem diversas técnicas que podem ser apli- tos negativos e também propor medidas mitigadoras
cadas, considerando o tipo e objetivos do projeto ou para reduzir esses impactos ao mínimo.
O risco social é atrelado à reputação da empresa no
programa.
meio em que atua, que pode trazer prejuízos a médio
Vejamos a seguir alguns exemplos de técnicas uti-
e longo prazo, buscando avaliar os impactos positivos
lizadas para auxiliar a avaliação, tais como: índice
e negativos do projeto na sociedade, considerando os
de viabilidade, diagnósticos, estudo e impacto/risco
diferentes grupos sociais envolvidos.
social, impacto/risco ambiental.
Deste modo, no estudo dos impactos ou riscos
sociais, poderão ser levados em consideração alguns
ÍNDICE DE VIABILIDADE fatores, tais como: geração de emprego e renda, dis-
tribuição de renda, qualificação profissional, saúde,
O índice de viabilidade é uma ferramenta utiliza- educação e segurança, por exemplo.
da para determinar se um projeto é possível do ponto Em relação ao risco ou impacto ambiental, este se
de vista econômico, financeiro e técnico, consideran- refere à avaliação dos impactos positivos e negativos
do aspectos como custos, retorno financeiro, prazos e do projeto no meio ambiente, propondo medidas de
recursos necessários para a execução do projeto. mitigação e compensação.
Desta forma, um índice de viabilidade positivo No que se refere ao risco ou impacto ambiental
indica que o projeto é economicamente sustentável e poderá ser levado em consideração alguns fatores,
pode ser implementado com sucesso. tais como a poluição do ar ou da água, degradação do
Pode-se dizer que o índice de viabilidade é desti- solo, perda da biodiversidade ou mudanças climáti-
nado a calcular riscos nos empreendimentos, além de cas, por exemplo.
possibilitar a comparação com dois tipos diferentes de Portanto, para que seja possível a avaliação dos
negócio. riscos sociais ou ambientais, poderão ser utilizadas
Além disso, para que seja possível medir a proba- algumas metodologias, como por exemplo o estudo
bilidade de sucesso do projeto, é necessário que sejam de impacto ambiental ou social e a análise deste risco,
considerados os seguintes fatores: seja ele ambiental ou social.
Como exemplo prático, podemos citar um proje-
z Técnicos: tecnologia disponível, capacidade da to de construção de uma estrada. Tal projeto poderá
equipe, viabilidade da execução; proporcionar benefícios econômicos, como a melho-
z Financeiros: disponibilidade de recursos, custos ria da infraestrutura e o aumento da conectividade,

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


do projeto, potencial de retorno; mas também poderá causar impactos sociais, como
z Sociais: aceitação da comunidade, impacto na o deslocamento de comunidades locais, e impactos
população local; ambientais, como o desmatamento.
z Ambientais: impactos ao meio ambiente, medidas Nesse caso, para que o projeto seja colocado em
prática é necessário avaliar cuidadosamente os bene-
de mitigação.
fícios e os impactos negativos do projeto, bem como
buscar soluções que minimizem os possíveis impactos
DIAGNÓSTICOS
identificados.
Os diagnósticos são análises detalhadas da situa-
REFERÊNCIAS
ção atual, identificando problemas, oportunidades e
desafios que podem influenciar o desenvolvimento do
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Avalia-
projeto. ção de Impacto Ambiental (AIA). Disponível em:
Assim, na fase de diagnóstico, busca-se realizar um https://www.gov.br/mma/pt-br/assuntos/qualida-
estudo aprofundado da situação atual, identificando de-ambiental/avaliacao-de-impacto-ambiental-aia.
os problemas, as necessidades e as oportunidades. Acesso em: 06 fev. 2024.
Essa etapa, portanto, é fundamental para defi- BID — Banco Interamericano de Desenvolvimen-
nir as estratégias e ações que serão necessárias para to. Manual de Avaliação de Projetos Sociais.
alcançar os objetivos que foram propostos. Washington, D.C.: BID, 2017.
Para tanto, poderá ser usada algumas metodo- MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Resolução
logias, tais como: levantamento de dados, entrevis- CONAMA nº 01/2015. Brasília: Diário Oficial da
tas com stakeholders e análise de documentos, por União, 2015.
exemplo. MOURA, L. A. A. de; BURSZTYN, M. Avaliação de
Impacto Ambiental: Conceitos e Métodos. Editora
Bookman, 2019. 589
PNUD — Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento. Orientações para Avaliação de REEQUILÍBRIO ECONÔMICO E
Projetos. Brasília: PNUD, 2016. FINANCEIRO
SACHS, I. Desenvolvimento Sustentável: Ação e
Consciência. Editora Vozes, 2018. O reequilíbrio econômico e financeiro se refere ao
ajuste das condições financeiras e econômicas esta-
ANÁLISE DE MERCADO belecidas inicialmente em um contrato, quando ocor-
rem mudanças significativas que afetam o equilíbrio
É chegado o momento de nos envolvermos de vez entre as partes envolvidas.
nos conceitos ligados às estratégias empresariais. Assim, tem como objetivo restabelecer o equilíbrio
Queremos relembrar um assunto abordado anterior- econômico-financeiro do contrato quando eventos
mente, tratando do planejamento estratégico, lembra- imprevisíveis ou previsíveis, mas de consequências
-se? O planejamento estratégico é o mais abrangente incalculáveis, causam desequilíbrio na relação
e, consequentemente, tudo que for decidido será rele- entre as obrigações do contratado e a remuneração
vante para toda a organização. Estamos retornando a recebida.
esse assunto para compreendermos que é no planeja- Deste modo, o reequilíbrio econômico e finan-
mento estratégico que ocorre a análise de mercado. ceiro é ligado à revisão de preços, ocasionada por
Interessante perceber o seguinte: para escolha do fato previsível ou imprevisível, mas com resultados
melhor caminho, primeiro faz-se uma análise e então, imprevisíveis.
posteriormente, define-se o plano. Dessa forma, é possível prever uma determina-
Tudo se inicia com o diagnóstico estratégico (aliás, da situação, a não se consegue calcular de imediato o
atente-se ao uso do termo “diagnóstico” utilizado nes- prejuízo que ela pode gerar antes dela efetivamente
sa situação, pois nos remete a ir ao médico e, antes ocorrer.
de ele receitar qualquer “remédio”, primeiro pedirá Através do reequilíbrio, pretende-se retornar o
exames/diagnósticos). Assim, o intuito do diagnósti- equilíbrio econômico e financeiro que o contrato pos-
co é compreender as potencialidades e deficiências suía na época de sua celebração, após a ocorrência de
da organização, ou seja, identificar quais são os pon- evento prejudicial para a empresa ou para o órgão
tos fortes e fracos da organização e também analisar público.
Em contratos de longo prazo, como obras públi-
as oportunidades e ameaças. Pontos fortes e fracos
cas ou fornecimento de bens e serviços, é comum que
fazem parte das variáveis internas e oportunidades e
ocorram situações imprevistas que impactem os cus-
ameaças, das variáveis externas.
tos e as condições financeiras do contrato.
Para isso, a organização utilizará uma ferramenta
Tal fato, pode ocorrer em virtude de mudanças
chamada SWOT. O termo SWOT é um acrônimo/asso-
na legislação, aumento de custos de matéria-prima,
ciação vindo da língua inglesa que significa Strengths,
variações cambiais, entre outros fatores externos.
Weaknesses, Opportunities e Threats.
Quando essas mudanças ocorrem, é necessário
Claro que vamos traduzir para facilitar a nossa realizar o reequilíbrio econômico e financeiro do con-
vida. SWOT = FOFA: Forças (Strengths), Fraquezas trato para garantir que ambas as partes não sejam
(Weaknesses), Oportunidades (Opportunities) e Amea- prejudicadas.
ças (Threats). Isso pode envolver a renegociação de preços, pra-
Dividimos a análise em duas partes: zos e condições de pagamento, de forma a compensar
os impactos financeiros causados pelas mudanças.
z Análise interna: Forças e Fraquezas (são controláveis); Um exemplo prático de reequilíbrio econômico e
z Análise externa: Oportunidades e Ameaças (não financeiro ocorre em contratos de concessão de servi-
são controláveis). ços públicos, o qual ocorreu um aumento significativo
nos custos de operação.
Atenção! Variáveis internas são controláveis por Tal fato pode ter se dado devido, por exemplo, a
fazerem parte do escopo da organização, estão próximas mudanças na legislação ambiental que exigem inves-
e, por isso, é mais fácil fazer alterações ou mudanças. timentos adicionais em tecnologias de controle de
Variáveis externas não são controláveis, pois poluição, a concessionária pode solicitar o reequilí-
estão “fora” da organização e não tem como a insti- brio do contrato para garantir a continuidade e a sus-
tentabilidade do serviço prestado.
tuição fazer alterações, podendo somente monitorar
Assim, o reequilíbrio econômico e financeiro está
para se aproveitar das oportunidades e minimizar os
fundamentado na constituição federal, vejamos:
problemas advindos das ameaças.
Pense em situações que ocorrem dentro de uma Art. 37 A administração pública direta e indireta
organização. Exemplo: a empresa X comprou um de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
novo equipamento (ponto forte), porém os colabo- Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
radores não foram treinados para usufruir da nova princípios de legalidade, impessoalidade, moralida-
tecnologia (ponto fraco). A organização percebe que de, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
momento é complicado, porque os clientes não têm [...]
poder de compra (ameaça), mas o mercado está rea- XXI - ressalvados os casos especificados na legisla-
ção, as obras, serviços, compras e alienações serão
gindo com o anúncio do governo de redução das taxas
contratados mediante processo de licitação públi-
de impostos (oportunidade). ca que assegure igualdade de condições a todos os
concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obri-
gações de pagamento, mantidas as condições efeti-
590 vas da proposta, nos termos da lei, o qual somente
permitirá as exigências de qualificação técnica e Introdução
econômica indispensáveis à garantia do cumpri-
mento das obrigações. Art. 1º A relação entre a União, os Estados, o Dis-
trito Federal e os Municípios, inclusive suas autar-
Neste sentido, poderá justificar o reequilíbrio quias, fundações, sociedades de economia mista
econômico e financeiro, a ocorrência de fatos impre- e empresas controladas direta ou indiretamente,
visíveis, que não foram previstos no contrato, tais enquanto patrocinadores de entidades fechadas de
como catástrofes naturais, epidemias e alterações na previdência complementar, e suas respectivas enti-
legislação. dades fechadas, a que se referem os §§ 3º, 4º, 5º e 6º
do art. 202 da Constituição Federal, será disciplina-
Do mesmo modo, também poderá ser justificado
da pelo disposto nesta Lei Complementar.
por fatos previsíveis, mas de consequências incalcu-
Art. 2º As regras e os princípios gerais estabeleci-
láveis, como por exemplo eventos previstos, mas com dos na Lei Complementar que regula o caput do art.
impactos imprevisíveis, como oscilações cambiais e 202 da Constituição Federal aplicam-se às entida-
inflação superior à estimada. des reguladas por esta Lei Complementar, ressalva-
Vejamos a seguir as principais modalidades que das as disposições específicas.
podem ocorrer o reequilíbrio econômico e financei-
ro em um determinado contrato, seja ele público ou Trata do regime fechado de previdência comple-
privado: mentar, estabelecido no art. 202, da Constituição
Federal, organizado de maneira autônoma em vistas
z Repactuação: renegociação dos termos do contrato do regime geral de previdência social.
para restabelecer o equilíbrio;
z Revisão: reajuste dos preços dos serviços ou obras DOS PLANOS DE BENEFÍCIOS
para compensar o desequilíbrio;
z Rescisão: cancelamento do contrato quando o Disposições Especiais
REEF não for possível ou inviável.
Art. 3º Observado o disposto no artigo anterior, os
Portanto, através do reequilíbrio econômico e planos de benefícios das entidades de que trata esta
financeiro é possível garantir a proteção para ambas Lei Complementar atenderão às seguintes regras:
partes em um determinado contrato, em relação a ris- I - carência mínima de sessenta contribuições men-
cos ou eventos inesperados. sais a plano de benefícios e cessação do vínculo
Assim, é necessário que o reequilíbrio econômico com o patrocinador, para se tornar elegível a um
e financeiro seja realizado de forma transparente e benefício de prestação que seja programada e con-
tinuada; e
justa, considerando os interesses de ambas as partes e
II - concessão de benefício pelo regime de previdên-
buscando preservar o equilíbrio contratual.
cia ao qual o participante esteja filiado por intermé-
dio de seu patrocinador, quando se tratar de plano
REFERÊNCIAS na modalidade benefício definido, instituído depois
da publicação desta Lei Complementar.
MEIRELLES, H. L. Direito Administrativo Brasi- Parágrafo único. Os reajustes dos benefícios em
leiro. Editora Revista dos Tribunais, 2020. manutenção serão efetuados de acordo com crité-
BRASIL. Constituição da República Federativa rios estabelecidos nos regulamentos dos planos de
do Brasil de 1988. Brasília: Diário Oficial da União, benefícios, vedado o repasse de ganhos de produ-
1988. Disponível em: https://www.planalto.gov. tividade, abono e vantagens de qualquer natureza

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso para tais benefícios.
em: 06 fev. 2024.
DI PIETRO, M. S. Z. Direito Administrativo. Edito- Os planos de benefícios deverão atender a uma
ra Atlas, 2019. carência mínima de 60 meses de contribuição e à con-
cessão do benefício pelo regime de previdência ao
qual o participante esteja filiado.

Art. 4º Nas sociedades de economia mista e empre-


A PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR sas controladas direta ou indiretamente pela União,
NO BRASIL: REGRAMENTO pelos Estados, pelo Distrito Federal e pelos Municí-
pios, a proposta de instituição de plano de benefí-
CONSTITUCIONAL, LEIS cios ou adesão a plano de benefícios em execução
COMPLEMENTARES N° 108 E 109, DE será submetida ao órgão fiscalizador, acompanha-
da de manifestação favorável do órgão responsável
2001 pela supervisão, pela coordenação e pelo controle
do patrocinador.
LEI COMPLEMENTAR Nº 108, DE 29 DE MAIO DE Parágrafo único. As alterações no plano de bene-
2001 fícios que implique elevação da contribuição de
patrocinadores serão objeto de prévia manifes-
Dispõe sobre a relação entre a União, os estados, o tação do órgão responsável pela supervisão, pela
Distrito Federal e os municípios, suas autarquias, fun- coordenação e pelo controle referido no caput.
dações, sociedades de economia mista e outras entida-
des públicas e suas respectivas entidades fechadas de A instituição dos planos de benefícios será sub-
previdência complementar, e dá outras providências. metida a órgão fiscalizador. Também deverá conter a
manifestação favorável pelos órgãos enumerados no
caput, do art. 4º. 591
Art. 5º É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Art. 9º A estrutura organizacional das entidades de
Federal e aos Municípios, suas autarquias, funda- previdência complementar a que se refere esta Lei
ções, empresas públicas, sociedades de economia Complementar é constituída de conselho deliberati-
mista e outras entidades públicas o aporte de recur- vo, conselho fiscal e diretoria-executiva.
sos a entidades de previdência privada de caráter
complementar, salvo na condição de patrocinador. Os órgãos que deverão obrigatoriamente existir nas
entidades de previdência complementar são conselho
Aporte de recursos é financiar, por meio de contri- deliberativo, conselho fiscal e diretoria-executiva.
buição, o que é proibido pelas entidades destacadas
no art. 5º — exceto quando o aporte estiver na quali- Do Conselho Deliberativo e do Conselho Fiscal
dade de patrocinador.
Art. 10 O conselho deliberativo, órgão máximo da
Do Custeio estrutura organizacional, é responsável pela defini-
ção da política geral de administração da entidade
Art. 6º O custeio dos planos de benefícios será res- e de seus planos de benefícios.
ponsabilidade do patrocinador e dos participantes, Art. 11 A composição do conselho deliberativo,
inclusive assistidos. integrado por no máximo seis membros, será
§ 1º A contribuição normal do patrocinador para paritária entre representantes dos participantes e
plano de benefícios, em hipótese alguma, excederá assistidos e dos patrocinadores, cabendo a estes a
a do participante, observado o disposto no art. 5º indicação do conselheiro presidente, que terá, além
da Emenda Constitucional no 20, de 15 de dezem- do seu, o voto de qualidade.
bro de 1998, e as regras específicas emanadas do § 1º A escolha dos representantes dos participan-
órgão regulador e fiscalizador. tes e assistidos dar-se-á por meio de eleição direta
§ 2º Além das contribuições normais, os planos entre seus pares.
poderão prever o aporte de recursos pelos parti- § 2º Caso o estatuto da entidade fechada, respeita-
cipantes, a título de contribuição facultativa, sem do o número máximo de conselheiros de que trata
contrapartida do patrocinador. o caput e a participação paritária entre represen-
§ 3º É vedado ao patrocinador assumir encargos tantes dos participantes e assistidos e dos patro-
adicionais para o financiamento dos planos de cinadores, preveja outra composição, que tenha
benefícios, além daqueles previstos nos respectivos sido aprovada na forma prevista no seu estatuto,
planos de custeio. esta poderá ser aplicada, mediante autorização do
órgão regulador e fiscalizador.
O custeio é o financiamento do regime de previ- Art. 12 O mandato dos membros do conselho deli-
dência, que é responsabilidade do patrocinador e dos berativo será de quatro anos, com garantia de esta-
bilidade, permitida uma recondução.
participantes, por meio de contribuições normais,
§ 1º O membro do conselho deliberativo somente
cabendo previsão de contribuição facultativa.
perderá o mandato em virtude de renúncia, de con-
denação judicial transitada em julgado ou processo
Art. 7º A despesa administrativa da entidade de administrativo disciplinar.
previdência complementar será custeada pelo § 2º A instauração de processo administrativo
patrocinador e pelos participantes e assistidos, disciplinar, para apuração de irregularidades no
atendendo a limites e critérios estabelecidos pelo âmbito de atuação do conselho deliberativo da enti-
órgão regulador e fiscalizador. dade fechada, poderá determinar o afastamento do
Parágrafo único. É facultada aos patrocinadores a conselheiro até sua conclusão.
cessão de pessoal às entidades de previdência com- § 3º O afastamento de que trata o parágrafo ante-
plementar que patrocinam, desde que ressarcidos rior não implica prorrogação ou permanência no
os custos correspondentes. cargo além da data inicialmente prevista para o
término do mandato.
A despesa da entidade de previdência é limitada § 4º O estatuto da entidade deverá regulamentar os
a critérios determinados pelo órgão regulador e fis- procedimentos de que tratam os parágrafos ante-
calizador, sendo custeada pelo patrocinador e pelos riores deste artigo.
participantes. Art. 13 Ao conselho deliberativo compete a defini-
ção das seguintes matérias:
DAS ENTIDADES DE PREVIDÊNCIA I - política geral de administração da entidade e de
COMPLEMENTAR PATROCINADAS PELO PODER seus planos de benefícios;
PÚBLICO E SUAS EMPRESAS II - alteração de estatuto e regulamentos dos planos
de benefícios, bem como a implantação e a extinção
deles e a retirada de patrocinador;
Da Estrutura Organizacional
III - gestão de investimentos e plano de aplicação
de recursos;
Art. 8º A administração e execução dos planos de IV - autorizar investimentos que envolvam valores
benefícios compete às entidades fechadas de previ- iguais ou superiores a cinco por cento dos recursos
dência complementar mencionadas no art. 1° desta garantidores;
Lei Complementar. V - contratação de auditor independente atuário
Parágrafo único. As entidades de que trata o caput e avaliador de gestão, observadas as disposições
organizar-se-ão sob a forma de fundação ou socie- regulamentares aplicáveis;
dade civil, sem fins lucrativos. VI - nomeação e exoneração dos membros da dire-
toria-executiva; e
As entidades responsáveis pela administração e VII - exame, em grau de recurso, das decisões da
execução dos planos de benefícios possuem natureza diretoria-executiva.
de fundação ou de sociedade civil, que não possuirá Parágrafo único. A definição das matérias previstas
592 finalidade lucrativa. no inciso II deverá ser aprovada pelo patrocinador.
O conselho deliberativo é órgão de maior hierar- § 2º O estatuto da entidade fechada, respeitado o
quia administrativa na estrutura organizacional, número máximo de diretores de que trata o pará-
composto por, no máximo, seis integrantes para man- grafo anterior, deverá prever a forma de composi-
dato de quatro anos, permitida uma recondução. ção e o mandato da diretoria-executiva, aprovado
A escolha dos membros será feita mediante eleição na forma prevista no seu estatuto, observadas as
interna, garantindo a paridade entre representantes demais disposições desta Lei Complementar.
dos participantes e assistidos e dos patrocinadores. Art. 20 Os membros da diretoria-executiva deverão
atender aos seguintes requisitos mínimos:
A perda do mandato dos membros ocorrerá median-
I - comprovada experiência no exercício de ativi-
te uma das situações previstas no § 1º, do art. 12.
dade na área financeira, administrativa, contábil,
O art. 13, por sua vez, determina quais são as com-
jurídica, de fiscalização, atuarial ou de auditoria;
petências do conselho deliberativo. II - não ter sofrido condenação criminal transitada
em julgado;
Art. 14 O conselho fiscal é órgão de controle inter- III - não ter sofrido penalidade administrativa por
no da entidade. infração da legislação da seguridade social, inclusi-
Art. 15 A composição do conselho fiscal, integra- ve da previdência complementar ou como servidor
do por no máximo quatro membros, será paritária público; e
entre representantes de patrocinadores e de parti- IV - ter formação de nível superior.
cipantes e assistidos, cabendo a estes a indicação Art. 21 Aos membros da diretoria-executiva é vedado:
do conselheiro presidente, que terá, além do seu, o I - exercer simultaneamente atividade no patrocinador;
voto de qualidade. II - integrar concomitantemente o conselho deli-
Parágrafo único. Caso o estatuto da entidade fecha- berativo ou fiscal da entidade e, mesmo depois do
da, respeitado o número máximo de conselheiros de término do seu mandato na diretoria-executiva,
que trata o caput e a participação paritária entre enquanto não tiver suas contas aprovadas; e
representantes dos participantes e assistidos e dos III - ao longo do exercício do mandato prestar servi-
patrocinadores, preveja outra composição, que ços a instituições integrantes do sistema financeiro.
tenha sido aprovada na forma prevista no seu esta-
tuto, esta poderá ser aplicada, mediante autoriza- A diretoria-executiva é órgão que administra a enti-
ção do órgão regulador e fiscalizador.
dade, composto por, no máximo, seis membros que
Art. 16 O mandato dos membros do conselho fiscal
deverão atender aos requisitos previstos no art. 20.
será de quatro anos, vedada a recondução.
Art. 17 A renovação dos mandatos dos conselhei-
O art. 21, por sua vez, estabelece as proibições apli-
ros deverá obedecer ao critério de proporcionalida- cadas aos membros da diretoria-executiva.
de, de forma que se processe parcialmente a cada
dois anos. Art. 22 A entidade de previdência complementar
§ 1º Na primeira investidura dos conselhos, após a informará ao órgão regulador e fiscalizador o res-
publicação desta Lei Complementar, os seus mem- ponsável pelas aplicações dos recursos da entidade,
bros terão mandato com prazo diferenciado. escolhido entre os membros da diretoria-executiva.
§ 2º O conselho deliberativo deverá renovar três de Parágrafo único. Os demais membros da direto-
seus membros a cada dois anos e o conselho fiscal ria-executiva responderão solidariamente com o
dois membros com a mesma periodicidade, obser- dirigente indicado na forma do caput pelos danos
vada a regra de transição estabelecida no parágra- e prejuízos causados à entidade para os quais
fo anterior. tenham concorrido.

O responsável pela aplicação dos recursos é o agen-

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


O conselho fiscal é órgão de controle interno, com-
posto por, no máximo, quatro membros para manda- te designado para movimentação da verba. Ele será
to de quatro anos, vedada a recondução. escolhido entre os membros da diretoria-executiva, o
A escolha dos membros também deverá ser paritá- que será informado ao órgão regulador e fiscalizador.
ria entre representantes de patrocinadores e de parti-
cipantes e assistidos. Art. 23 Nos doze meses seguintes ao término do
exercício do cargo, o ex-diretor estará impedido de
prestar, direta ou indiretamente, independentemen-
Art. 18 Aplicam-se aos membros dos conselhos deli-
te da forma ou natureza do contrato, qualquer tipo
berativo e fiscal os mesmos requisitos previstos nos
de serviço às empresas do sistema financeiro que
incisos I a III do art. 20 desta Lei Complementar.
impliquem a utilização das informações a que teve
acesso em decorrência do cargo exercido, sob pena
Aos membros do conselho deliberativo e do de responsabilidade civil e penal.
conselho fiscal serão exigidos os mesmos requisi- § 1º Durante o impedimento, ao ex-diretor que não
tos de investidura previstos para os membros da tiver sido destituído ou que pedir afastamento será
diretoria-executiva. assegurada a possibilidade de prestar serviço à
entidade, mediante remuneração equivalente à do
Da Diretoria-Executiva cargo de direção que exerceu ou em qualquer outro
órgão da Administração Pública.
Art. 19 A diretoria-executiva é o órgão responsável § 2º Incorre na prática de advocacia administrati-
pela administração da entidade, em conformidade va, sujeitando-se às penas da lei, o ex-diretor que
com a política de administração traçada pelo con- violar o impedimento previsto neste artigo, exceto
selho deliberativo. se retornar ao exercício de cargo ou emprego que
§ 1º A diretoria-executiva será composta, no máxi- ocupava junto ao patrocinador, anteriormente à
mo, por seis membros, definidos em função do indicação para a respectiva diretoria-executiva, ou
patrimônio da entidade e do seu número de partici- se for nomeado para exercício em qualquer órgão
pantes, inclusive assistidos. da Administração Pública. 593
O art. 23 estabelece quarentena ao ex-diretor, que Municípios, que possuam planos de benefícios defi-
deverá permanecer 12 meses proibido de prestar nidos com responsabilidade da patrocinadora, não
assistência às empresas do sistema financeiro acerca poderão exercer o controle ou participar de acor-
das informações às quais teve acesso em função do do de acionistas que tenha por objeto formação de
cargo ocupado. grupo de controle de sociedade anônima, sem pré-
via e expressa autorização da patrocinadora e do
DA FISCALIZAÇÃO seu respectivo ente controlador.
Parágrafo único. O disposto no caput não se apli-
Art. 24 A fiscalização e controle dos planos de ca às participações acionárias detidas na data de
benefícios e das entidades fechadas de previdência publicação desta Lei Complementar.
complementar de que trata esta Lei Complementar
competem ao órgão regulador e fiscalizador das Estabelece proibição às entidades de previdência
entidades fechadas de previdência complementar. privada patrocinadas por empresas controladas pela
Art. 25 As ações exercidas pelo órgão referido no
União, estados, Distrito Federal e municípios de parti-
artigo anterior não eximem os patrocinadores da
responsabilidade pela supervisão e fiscalização sis-
ciparem do controle ou acordo de acionistas sem pré-
temática das atividades das suas respectivas enti- via autorização.
dades de previdência complementar.
Parágrafo único. Os resultados da fiscalização e do LEI COMPLEMENTAR Nº 109, DE 29 DE MAIO DE
controle exercidos pelos patrocinadores serão enca- 2001
minhados ao órgão mencionado no artigo anterior.
Dispõe sobre o regime de previdência complemen-
Trata da fiscalização e controle dos planos de tar e dá outras providências.
benefícios e das entidades fechadas de previdência,
atribuídos ao órgão regulador e fiscalizador sem que Introdução
sejam retiradas a supervisão e fiscalização por parte
dos patrocinadores. Art. 1º O regime de previdência privada, de caráter
complementar e organizado de forma autônoma
DISPOSIÇÕES GERAIS em relação ao regime geral de previdência social,
é facultativo, baseado na constituição de reservas
Art. 26 As entidades fechadas de previdência com- que garantam o benefício, nos termos do caput do
plementar patrocinadas por empresas privadas art. 202 da Constituição Federal, observado o dis-
permissionárias ou concessionárias de prestação
posto nesta Lei Complementar.
de serviços públicos subordinam-se, no que couber,
Art. 2º O regime de previdência complementar é
às disposições desta Lei Complementar, na forma
operado por entidades de previdência complemen-
estabelecida pelo órgão regulador e fiscalizador.
tar que têm por objetivo principal instituir e execu-
tar planos de benefícios de caráter previdenciário,
Estão subordinadas a essa lei as entidades fecha-
na forma desta Lei Complementar.
das patrocinadas pelas permissionárias ou concessio-
nárias de prestação de serviços públicos.
O regime de previdência privada complementar é
Art. 27 As entidades de previdência complemen- de caráter facultativo e autônomo do regime geral de
tar patrocinadas por entidades públicas, inclusive previdência social, sendo operado por entidades de
empresas públicas e sociedades de economia mista, previdência complementar, na forma do que dispõe
deverão rever, no prazo de dois anos, a contar de a presente lei.
16 de dezembro de 1998, seus planos de benefícios e
serviços, de modo a ajustá-los atuarialmente a seus Art. 3º A ação do Estado será exercida com o
ativos, sob pena de intervenção, sendo seus dirigen- objetivo de:
tes e seus respectivos patrocinadores responsáveis I - formular a política de previdência complementar;
civil e criminalmente pelo descumprimento do dis- II - disciplinar, coordenar e supervisionar as ativi-
posto neste artigo.
dades reguladas por esta Lei Complementar, com-
patibilizando-as com as políticas previdenciária e
Regra exaurida pelo decurso do tempo. de desenvolvimento social e econômico-financeiro;
III - determinar padrões mínimos de segurança eco-
Art. 28 A infração de qualquer disposição desta Lei nômico-financeira e atuarial, com fins específicos
Complementar ou de seu regulamento, para a qual
de preservar a liquidez, a solvência e o equilíbrio
não haja penalidade expressamente cominada,
dos planos de benefícios, isoladamente, e de cada
sujeita a pessoa física ou jurídica responsável, con-
entidade de previdência complementar, no conjun-
forme o caso e a gravidade da infração, às penalida-
des administrativas previstas na Lei Complementar to de suas atividades;
que disciplina o caput do art. 202 da Constituição IV - assegurar aos participantes e assistidos o ple-
Federal. no acesso às informações relativas à gestão de seus
respectivos planos de benefícios;
Aplicação subsidiária da lei complementar que V - fiscalizar as entidades de previdência comple-
regula o art. 202, da Constituição Federal, no caso de mentar, suas operações e aplicar penalidades; e
lacuna quanto às penalidades. VI - proteger os interesses dos participantes e assis-
tidos dos planos de benefícios.
Art. 29 As entidades de previdência privada patro-
cinadas por empresas controladas, direta ou indi- Estabelece o objetivo a ser atingido pela ação do
594 retamente, pela União, Estados, Distrito Federal e Estado.
Art. 4º As entidades de previdência complementar caput será feita conforme diretrizes estabelecidas
são classificadas em fechadas e abertas, conforme pelo Conselho Monetário Nacional.
definido nesta Lei Complementar. § 2º É vedado o estabelecimento de aplicações com-
pulsórias ou limites mínimos de aplicação.
As entidades de previdência complementar fecha-
das são aquelas de que apenas algumas pessoas deter- As reservas técnicas, provisões e fundos são ver-
minadas podem participar, como os empregados bas necessárias para que a entidade consiga arcar
públicos. As abertas são disponíveis a qualquer pes- com seus compromissos. Deverão obedecer a critérios
soa que preencher os requisitos. fixados pelo órgão regulador e fiscalizador.

Art. 5º A normatização, coordenação, supervisão, Art. 10 Deverão constar dos regulamentos dos pla-
fiscalização e controle das atividades das entidades nos de benefícios, das propostas de inscrição e dos
de previdência complementar serão realizados por certificados de participantes condições mínimas a
órgão ou órgãos regulador e fiscalizador, conforme serem fixadas pelo órgão regulador e fiscalizador.
disposto em lei, observado o disposto no inciso VI § 1º A todo pretendente será disponibilizado e a
do art. 84 da Constituição Federal. todo participante entregue, quando de sua inscri-
ção no plano de benefícios:
As entidades de previdência complementar conta- I - certificado onde estarão indicados os requisitos
rão com órgãos regulador e fiscalizador, responsáveis que regulam a admissão e a manutenção da qua-
por normatizar, coordenar, supervisionar, fiscalizar e lidade de participante, bem como os requisitos de
controlar suas atividades. elegibilidade e forma de cálculo dos benefícios;
II - cópia do regulamento atualizado do plano de
DOS PLANOS DE BENEFÍCIOS benefícios e material explicativo que descreva, em
linguagem simples e precisa, as características do
plano;
Disposições Comuns
III - cópia do contrato, no caso de plano coletivo
de que trata o inciso II do art. 26 desta Lei Comple-
Art. 6º As entidades de previdência complementar mentar; e
somente poderão instituir e operar planos de bene- IV - outros documentos que vierem a ser especifica-
fícios para os quais tenham autorização específica, dos pelo órgão regulador e fiscalizador.
segundo as normas aprovadas pelo órgão regu- § 2º Na divulgação dos planos de benefícios, não
lador e fiscalizador, conforme disposto nesta Lei poderão ser incluídas informações diferentes das
Complementar. que figurem nos documentos referidos neste artigo.
Art. 7º Os planos de benefícios atenderão a padrões
mínimos fixados pelo órgão regulador e fiscaliza-
dor, com o objetivo de assegurar transparência, sol-
As condições mínimas para ingressar no regime
vência, liquidez e equilíbrio econômico-financeiro e deverão constar nos regulamentos, planos de benefí-
atuarial. cios, propostas e certificados. Além disso, o § 1º estabe-
Parágrafo único. O órgão regulador e fiscalizador lece os documentos que deverão ser obrigatoriamente
normatizará planos de benefícios nas modalidades entregues a todo participante.
de benefício definido, contribuição definida e con-
tribuição variável, bem como outras formas de pla- Art. 11 Para assegurar compromissos assumidos
nos de benefícios que reflitam a evolução técnica e junto aos participantes e assistidos de planos de
possibilitem flexibilidade ao regime de previdência benefícios, as entidades de previdência complemen-
complementar. tar poderão contratar operações de resseguro, por

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


iniciativa própria ou por determinação do órgão
Os planos de previdência complementar deverão regulador e fiscalizador, observados o regulamento
ser previamente autorizados e obedecer a padrões do respectivo plano e demais disposições legais e
mínimos fixados pelo órgão regulador e fiscalizador. regulamentares.
Parágrafo único. Fica facultada às entidades fecha-
Art. 8º Para efeito desta Lei Complementar, das a garantia referida no caput por meio de fundo
considera-se: de solvência, a ser instituído na forma da lei.
I - participante, a pessoa física que aderir aos pla-
nos de benefícios; e É possibilitada a contratação de resseguro por par-
II - assistido, o participante ou seu beneficiário em te da entidade de regime complementar. Trata-se de
gozo de benefício de prestação continuada. contratação em que a entidade transfere para a insti-
tuição de resseguro o risco assumido, total ou parcial-
No art. 8º, temos conceitos aos quais o aluno deve mente, junto aos participantes e assistidos.
se atentar para responder a questões de prova. O A contratação do resseguro poderá ser por inicia-
Benefício de Prestação Continuada (BPC) é previsto tiva própria ou por determinação do órgão regulador
na Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), sendo a e fiscalizador.
garantia de um salário mínimo por mês à pessoa idosa
com idade igual ou superior a 65 anos ou à pessoa com Dos Planos de Benefícios de Entidades Fechadas
deficiência de qualquer idade.
Art. 12 Os planos de benefícios de entidades fecha-
Art. 9º As entidades de previdência complementar das poderão ser instituídos por patrocinadores e
constituirão reservas técnicas, provisões e fundos, instituidores, observado o disposto no art. 31 desta
de conformidade com os critérios e normas fixados Lei Complementar.
pelo órgão regulador e fiscalizador. Art. 13 A formalização da condição de patrocina-
§ 1º A aplicação dos recursos correspondentes às dor ou instituidor de um plano de benefício dar-se-á
reservas, às provisões e aos fundos de que trata o mediante convênio de adesão a ser celebrado entre 595
o patrocinador ou instituidor e a entidade fecha- Parágrafo único. O direito acumulado correspon-
da, em relação a cada plano de benefícios por esta de às reservas constituídas pelo participante ou à
administrado e executado, mediante prévia autori- reserva matemática, o que lhe for mais favorável.
zação do órgão regulador e fiscalizador, conforme
regulamentação do Poder Executivo. Esse artigo estabelece o que deverá obrigatoria-
§ 1º Admitir-se-á solidariedade entre patrocinado-
mente constar nos planos de benefícios, sendo com-
res ou entre instituidores, com relação aos respec-
tivos planos, desde que expressamente prevista no
plementado pelo art. 15 com relação à portabilidade
convênio de adesão. prevista no inciso II, do art. 14.
§ 2º O órgão regulador e fiscalizador, dentre outros
requisitos, estabelecerá o número mínimo de parti- Art. 16 Os planos de benefícios devem ser, obriga-
cipantes admitido para cada modalidade de plano toriamente, oferecidos a todos os empregados dos
de benefício. patrocinadores ou associados dos instituidores.
§ 1º Para os efeitos desta Lei Complementar, são
O patrocinador ou instituidor de um plano de equiparáveis aos empregados e associados a que se
benefício que pretender formalizar tal situação deve- refere o caput os gerentes, diretores, conselheiros
rá normatizar um convênio de adesão com a entidade ocupantes de cargo eletivo e outros dirigentes de
fechada. patrocinadores e instituidores.
Além disso, admite-se a responsabilidade solidá- § 2º É facultativa a adesão aos planos a que se refe-
ria entre patrocinadores ou entre instituidores, desde re o caput deste artigo.
que expresso no referido convênio. § 3º O disposto no caput deste artigo não se aplica
aos planos em extinção, assim considerados aque-
Art. 14 Os planos de benefícios deverão prever os les aos quais o acesso de novos participantes esteja
seguintes institutos, observadas as normas estabe- vedado.
lecidas pelo órgão regulador e fiscalizador:
I - benefício proporcional diferido, em razão da ces- O oferecimento dos planos de benefícios deverá
sação do vínculo empregatício com o patrocinador ocorrer para todos os empregados dos patrocinado-
ou associativo com o instituidor antes da aquisição res, ou para todos os associados dos instituidores, em
do direito ao benefício pleno, a ser concedido quan-
caráter obrigatório.
do cumpridos os requisitos de elegibilidade;
II - portabilidade do direito acumulado pelo partici-
pante para outro plano; Art. 17 As alterações processadas nos regulamen-
III - resgate da totalidade das contribuições ver- tos dos planos aplicam-se a todos os participantes
tidas ao plano pelo participante, descontadas as das entidades fechadas, a partir de sua aprovação
parcelas do custeio administrativo, na forma regu- pelo órgão regulador e fiscalizador, observado o
lamentada; e direito acumulado de cada participante.
IV - faculdade de o participante manter o valor Parágrafo único. Ao participante que tenha cum-
de sua contribuição e a do patrocinador, no caso prido os requisitos para obtenção dos benefícios
de perda parcial ou total da remuneração recebi- previstos no plano é assegurada a aplicação das dis-
da, para assegurar a percepção dos benefícios nos posições regulamentares vigentes na data em que
níveis correspondentes àquela remuneração ou em se tornou elegível a um benefício de aposentadoria.
outros definidos em normas regulamentares.
§ 1º Não será admitida a portabilidade na inexis- As alterações nos regulamentos dos planos deve-
tência de cessação do vínculo empregatício do par-
rão ser aplicadas a todos os participantes a partir da
ticipante com o patrocinador.
§ 2º O órgão regulador e fiscalizador estabelecerá
respectiva aprovação pelo órgão competente.
período de carência para o instituto de que trata o
inciso II deste artigo. Art. 18 O plano de custeio, com periodicidade
§ 3º Na regulamentação do instituto previsto no mínima anual, estabelecerá o nível de contribuição
inciso II do caput deste artigo, o órgão regulador necessário à constituição das reservas garantido-
e fiscalizador observará, entre outros requisitos ras de benefícios, fundos, provisões e à cobertura
específicos, os seguintes: das demais despesas, em conformidade com os cri-
I - se o plano de benefícios foi instituído antes ou térios fixados pelo órgão regulador e fiscalizador.
depois da publicação desta Lei Complementar; § 1º O regime financeiro de capitalização é obriga-
II - a modalidade do plano de benefícios. tório para os benefícios de pagamento em presta-
§ 4º O instituto de que trata o inciso II deste arti- ções que sejam programadas e continuadas.
go, quando efetuado para entidade aberta, somente § 2º Observados critérios que preservem o equilí-
será admitido quando a integralidade dos recursos brio financeiro e atuarial, o cálculo das reservas
financeiros correspondentes ao direito acumulado técnicas atenderá às peculiaridades de cada plano
do participante for utilizada para a contratação de benefícios e deverá estar expresso em nota técni-
de renda mensal vitalícia ou por prazo determina-
ca atuarial, de apresentação obrigatória, incluindo
do, cujo prazo mínimo não poderá ser inferior ao
as hipóteses utilizadas, que deverão guardar rela-
período em que a respectiva reserva foi constituí-
ção com as características da massa e da atividade
da, limitado ao mínimo de quinze anos, observadas
as normas estabelecidas pelo órgão regulador e desenvolvida pelo patrocinador ou instituidor.
fiscalizador. § 3º As reservas técnicas, provisões e fundos de
Art. 15 Para efeito do disposto no inciso II do caput cada plano de benefícios e os exigíveis a qualquer
do artigo anterior, fica estabelecido que: título deverão atender permanentemente à cober-
I - a portabilidade não caracteriza resgate; e tura integral dos compromissos assumidos pelo
II - é vedado que os recursos financeiros correspon- plano de benefícios, ressalvadas excepcionalidades
dentes transitem pelos participantes dos planos de definidas pelo órgão regulador e fiscalizador.
596 benefícios, sob qualquer forma.
Art. 19 As contribuições destinadas à constituição em conseqüência de apuração de responsabilidade
de reservas terão como finalidade prover o paga- mediante ação judicial ou administrativa, os respec-
mento de benefícios de caráter previdenciário, tivos valores deverão ser aplicados necessariamente
observadas as especificidades previstas nesta Lei na redução proporcional das contribuições devidas
Complementar. ao plano ou em melhoria dos benefícios.
Parágrafo único. As contribuições referidas no
caput classificam-se em: Por sua vez, o déficit experimentado pelas enti-
I - normais, aquelas destinadas ao custeio dos bene- dades fechadas será repartido entre patrocinadores,
fícios previstos no respectivo plano; e
participantes e assistidos, na proporção existente
II - extraordinárias, aquelas destinadas ao custeio
de déficits, serviço passado e outras finalidades não para cada um, o que poderá ser realizado nos termos
incluídas na contribuição normal. previstos no § 1º.
Ademais, caberá ação regressiva contra quem
O custeio deverá possuir valor razoável para cons- tiver causado o resultado deficitário.
tituir as reservas garantidoras de benefícios, fundos e
provisões, bem como a cobertura das demais despesas. Art. 22 Ao final de cada exercício, coincidente com o
Ademais, é obrigatório o regime de capitali- ano civil, as entidades fechadas deverão levantar as
zação para custear as prestações programadas e demonstrações contábeis e as avaliações atuariais
continuadas. de cada plano de benefícios, por pessoa jurídica ou
As contribuições serão normais ou extraordiná- profissional legalmente habilitado, devendo os resul-
tados ser encaminhados ao órgão regulador e fiscali-
rias, de acordo com os termos previstos no art. 19.
zador e divulgados aos participantes e aos assistidos.
Art. 23 As entidades fechadas deverão manter
Art. 20 O resultado superavitário dos planos de
atualizada sua contabilidade, de acordo com as
benefícios das entidades fechadas, ao final do
exercício, satisfeitas as exigências regulamentares instruções do órgão regulador e fiscalizador, con-
relativas aos mencionados planos, será destinado solidando a posição dos planos de benefícios que
à constituição de reserva de contingência, para administram e executam, bem como submetendo
garantia de benefícios, até o limite de vinte e cinco suas contas a auditores independentes.
por cento do valor das reservas matemáticas. Parágrafo único. Ao final de cada exercício serão
§ 1º Constituída a reserva de contingência, com os elaboradas as demonstrações contábeis e atuariais
valores excedentes será constituída reserva espe- consolidadas, sem prejuízo dos controles por plano
cial para revisão do plano de benefícios. de benefícios.
§ 2º A não utilização da reserva especial por três
exercícios consecutivos determinará a revisão obri- A cada ano, as entidades fechadas deverão reali-
gatória do plano de benefícios da entidade. zar o levantamento das demonstrações contábeis e as
§ 3º Se a revisão do plano de benefícios implicar avaliações atuariais de cada plano de benefícios.
redução de contribuições, deverá ser levada em Além disso, também deverão manter atualizada
consideração a proporção existente entre as con- sua contabilidade, dentro do que prevê o órgão regu-
tribuições dos patrocinadores e dos participantes,
lador e fiscalizador.
inclusive dos assistidos.
Art. 24 A divulgação aos participantes, inclusive
Resultado superavitário é a sobra de recursos, após o
aos assistidos, das informações pertinentes aos
pagamento de todas as despesas, ao final de um determi- planos de benefícios dar-se-á ao menos uma vez ao
nado período. Havendo esse tipo de resultado ao final do ano, na forma, nos prazos e pelos meios estabeleci-

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


exercício, ele será destinado à reserva de contingência dos pelo órgão regulador e fiscalizador.
até o limite estabelecido no caput, do art. 20. Parágrafo único. As informações requeridas for-
Trata-se, portanto, de mais uma reserva financeira malmente pelo participante ou assistido, para
que poderá ser utilizada em situações excepcionais. defesa de direitos e esclarecimento de situações de
Não obstante, se ela não for utilizada por três exercí- interesse pessoal específico deverão ser atendidas
cios consecutivos (três anos seguidos), deverá ser rea- pela entidade no prazo estabelecido pelo órgão
lizada revisão do plano de benefício. regulador e fiscalizador.

Art. 21 O resultado deficitário nos planos ou nas Pelo menos uma vez ao ano, deverão ser divulga-
entidades fechadas será equacionado por patroci- das aos participantes e assistidos as informações rela-
nadores, participantes e assistidos, na proporção
tivas ao plano de benefícios.
existente entre as suas contribuições, sem prejuízo
de ação regressiva contra dirigentes ou terceiros
que deram causa a dano ou prejuízo à entidade de Art. 25 O órgão regulador e fiscalizador poderá
previdência complementar. autorizar a extinção de plano de benefícios ou a
§ 1º O equacionamento referido no caput poderá retirada de patrocínio, ficando os patrocinadores e
ser feito, dentre outras formas, por meio do aumen- instituidores obrigados ao cumprimento da totali-
to do valor das contribuições, instituição de contri- dade dos compromissos assumidos com a entidade
buição adicional ou redução do valor dos benefícios relativamente aos direitos dos participantes, assis-
a conceder, observadas as normas estabelecidas tidos e obrigações legais, até a data da retirada ou
pelo órgão regulador e fiscalizador. extinção do plano.
§ 2º A redução dos valores dos benefícios não se apli- Parágrafo único. Para atendimento do disposto no
ca aos assistidos, sendo cabível, nesse caso, a insti- caput deste artigo, a situação de solvência econô-
tuição de contribuição adicional para cobertura do mico-financeira e atuarial da entidade deverá ser
acréscimo ocorrido em razão da revisão do plano. atestada por profissional devidamente habilitado,
§ 3º Na hipótese de retorno à entidade dos recursos cujos relatórios serão encaminhados ao órgão
equivalentes ao déficit previsto no caput deste artigo, regulador e fiscalizador. 597
A extinção do plano de benefícios e a retirada de pleno direito, quaisquer operações realizadas com
patrocínio poderão ser autorizadas pelo órgão regula- violação daquela suspensão.
dor e fiscalizador. § 1º Sendo imóvel, o vínculo será averbado à mar-
gem do respectivo registro no Cartório de Registro
Dos Planos de Benefícios de Entidades Abertas Geral de Imóveis competente, mediante comunica-
ção do órgão fiscalizador.
Art. 26 Os planos de benefícios instituídos por enti- § 2º Os ativos garantidores a que se refere o caput,
dades abertas poderão ser: bem como os direitos deles decorrentes, não pode-
I - individuais, quando acessíveis a quaisquer pes- rão ser gravados, sob qualquer forma, sem prévia e
soas físicas; ou expressa autorização do órgão fiscalizador, sendo
II - coletivos, quando tenham por objetivo garantir nulos os gravames constituídos com infringência
benefícios previdenciários a pessoas físicas vincu- do disposto neste parágrafo.
ladas, direta ou indiretamente, a uma pessoa jurí-
dica contratante. Os ativos garantidores das reservas técnicas, pro-
§ 1º O plano coletivo poderá ser contratado por visões e fundos terão regulamentação específica e
uma ou várias pessoas jurídicas.
poderão ter a livre movimentação suspensa pelo
§ 2º O vínculo indireto de que trata o inciso II des-
te artigo refere-se aos casos em que uma entidade
órgão fiscalizador.
representativa de pessoas jurídicas contrate plano No referido caso de suspensão da movimentação,
previdenciário coletivo para grupos de pessoas físi- ficarão proibidos de ser alienados ou oferecidos em
cas vinculadas a suas filiadas. promessa de alienação sem que haja prévia autoriza-
§ 3º Os grupos de pessoas de que trata o parágrafo ção, sob pena de nulidade do ato.
anterior poderão ser constituídos por uma ou mais
categorias específicas de empregados de um mes- Art. 29 Compete ao órgão regulador, entre outras
mo empregador, podendo abranger empresas coli- atribuições que lhe forem conferidas por lei:
gadas, controladas ou subsidiárias, e por membros I - fixar padrões adequados de segurança atuarial
de associações legalmente constituídas, de caráter e econômico-financeira, para preservação da liqui-
profissional ou classista, e seus cônjuges ou compa- dez e solvência dos planos de benefícios, isolada-
nheiros e dependentes econômicos. mente, e de cada entidade aberta, no conjunto de
§ 4º Para efeito do disposto no parágrafo anterior, suas atividades;
são equiparáveis aos empregados e associados os
II - estabelecer as condições em que o órgão fisca-
diretores, conselheiros ocupantes de cargos eleti-
lizador pode determinar a suspensão da comercia-
vos e outros dirigentes ou gerentes da pessoa jurí-
lização ou a transferência, entre entidades abertas,
dica contratante.
de planos de benefícios; e
§ 5º A implantação de um plano coletivo será cele-
brada mediante contrato, na forma, nos critérios, III - fixar condições que assegurem transparência,
nas condições e nos requisitos mínimos a serem acesso a informações e fornecimento de dados rela-
estabelecidos pelo órgão regulador. tivos aos planos de benefícios, inclusive quanto à
§ 6º É vedada à entidade aberta a contratação de gestão dos respectivos recursos.
plano coletivo com pessoa jurídica cujo objetivo
principal seja estipular, em nome de terceiros, pla- O art. 29 estabelece as competências atribuídas ao
nos de benefícios coletivos. órgão regulador.

Esse artigo trata do plano de benefício instituído Art. 30 É facultativa a utilização de corretores
por entidade aberta, podendo ser individual ou coleti- na venda dos planos de benefícios das entidades
vo, nos termos dos incisos do caput. abertas.
Parágrafo único. Aos corretores de planos de bene-
Art. 27 Observados os conceitos, a forma, as con- fícios aplicam-se a legislação e a regulamentação
dições e os critérios fixados pelo órgão regulador, da profissão de corretor de seguros.
é assegurado aos participantes o direito à portabi-
lidade, inclusive para plano de benefício de entida- A venda dos planos de benefícios poderá ser rea-
de fechada, e ao resgate de recursos das reservas lizada por corretores, aplicando-se as mesmas regras
técnicas, provisões e fundos, total ou parcialmente.
estabelecidas para o corretor de seguros.
§ 1º A portabilidade não caracteriza resgate.
§ 2º É vedado, no caso de portabilidade:
I - que os recursos financeiros transitem pelos par- DAS ENTIDADES FECHADAS DE PREVIDÊNCIA
ticipantes, sob qualquer forma; e COMPLEMENTAR
II - a transferência de recursos entre participantes.
Art. 31 As entidades fechadas são aquelas acessí-
É garantido o direito à portabilidade do plano, des- veis, na forma regulamentada pelo órgão regulador
de que preenchidos as condições e critérios fixados e fiscalizador, exclusivamente:
pelo órgão competente, exceto nas situações previstas I - aos empregados de uma empresa ou grupo de
no § 2º, casos em que a portabilidade será proibida. empresas e aos servidores da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios, entes denomi-
Art. 28 Os ativos garantidores das reservas técni- nados patrocinadores; e
cas, das provisões e dos fundos serão vinculados à II - aos associados ou membros de pessoas jurídicas
ordem do órgão fiscalizador, na forma a ser regu- de caráter profissional, classista ou setorial, deno-
lamentada, e poderão ter sua livre movimentação minadas instituidores.
suspensa pelo referido órgão, a partir da qual não § 1º As entidades fechadas organizar-se-ão sob
poderão ser alienados ou prometidos alienar sem a forma de fundação ou sociedade civil, sem fins
598 sua prévia e expressa autorização, sendo nulas, de lucrativos.
§ 2º As entidades fechadas constituídas por insti- Art. 34 As entidades fechadas podem ser qualifica-
tuidores referidos no inciso II do caput deste artigo das da seguinte forma, além de outras que possam
deverão, cumulativamente: ser definidas pelo órgão regulador e fiscalizador:
I - terceirizar a gestão dos recursos garantidores I - de acordo com os planos que administram:
das reservas técnicas e provisões mediante a con- a) de plano comum, quando administram plano ou
tratação de instituição especializada autorizada conjunto de planos acessíveis ao universo de parti-
a funcionar pelo Banco Central do Brasil ou outro cipantes; e
órgão competente; b) com multiplano, quando administram plano
II - ofertar exclusivamente planos de benefícios na ou conjunto de planos de benefícios para diver-
modalidade contribuição definida, na forma do sos grupos de participantes, com independência
parágrafo único do art. 7º desta Lei Complementar. patrimonial;
§ 3º Os responsáveis pela gestão dos recursos de II - de acordo com seus patrocinadores ou instituidores:
que trata o inciso I do parágrafo anterior deverão a) singulares, quando estiverem vinculadas a ape-
manter segregados e totalmente isolados o seu nas um patrocinador ou instituidor; e
patrimônio dos patrimônios do instituidor e da b) multipatrocinadas, quando congregarem mais
entidade fechada. de um patrocinador ou instituidor.
§ 4º Na regulamentação de que trata o caput,
o órgão regulador e fiscalizador estabelecerá o No art. 34, temos a qualificação das entidades
tempo mínimo de existência do instituidor e o seu fechadas de acordo com os planos que administram
número mínimo de associados.
e de acordo com os patrocinadores ou instituidores.
Esse artigo define as entidades fechadas e esta- Art. 35 As entidades fechadas deverão manter
belece regramentos acerca de sua organização e estrutura mínima composta por conselho delibera-
funcionamento. tivo, conselho fiscal e diretoria-executiva.
§ 1º O estatuto deverá prever representação dos
Art. 32 As entidades fechadas têm como objeto a participantes e assistidos nos conselhos deliberati-
administração e execução de planos de benefícios vo e fiscal, assegurado a eles no mínimo um terço
de natureza previdenciária. das vagas.
Parágrafo único. É vedada às entidades fechadas a § 2º Na composição dos conselhos deliberativo e
prestação de quaisquer serviços que não estejam no fiscal das entidades qualificadas como multipa-
âmbito de seu objeto, observado o disposto no art. 76. trocinadas, deverá ser considerado o número de
participantes vinculados a cada patrocinador ou
No art. 32, temos a definição do objeto das entida- instituidor, bem como o montante dos respectivos
des fechadas. patrimônios.
§ 3º Os membros do conselho deliberativo ou do
Art. 33 Dependerão de prévia e expressa autoriza- conselho fiscal deverão atender aos seguintes
ção do órgão regulador e fiscalizador: requisitos mínimos:
I - a constituição e o funcionamento da entidade I - comprovada experiência no exercício de ativida-
fechada, bem como a aplicação dos respectivos des nas áreas financeira, administrativa, contábil,
estatutos, dos regulamentos dos planos de benefí- jurídica, de fiscalização ou de auditoria;
cios e suas alterações; II - não ter sofrido condenação criminal transitada
II - as operações de fusão, cisão, incorporação ou em julgado; e
qualquer outra forma de reorganização societária, III - não ter sofrido penalidade administrativa por
relativas às entidades fechadas; infração da legislação da seguridade social ou

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


III - as retiradas de patrocinadores; e como servidor público.
IV - as transferências de patrocínio, de grupo de § 4º Os membros da diretoria-executiva deverão ter
participantes, de planos e de reservas entre entida- formação de nível superior e atender aos requisitos
des fechadas. do parágrafo anterior.
§ 1º Excetuado o disposto no inciso III deste arti- § 5º Será informado ao órgão regulador e fiscali-
go, é vedada a transferência para terceiros de par- zador o responsável pelas aplicações dos recur-
ticipantes, de assistidos e de reservas constituídas sos da entidade, escolhido entre os membros da
para garantia de benefícios de risco atuarial pro- diretoria-executiva.
gramado, de acordo com normas estabelecidas pelo § 6º Os demais membros da diretoria-executiva res-
órgão regulador e fiscalizador. ponderão solidariamente com o dirigente indicado
§ 2º Para os assistidos de planos de benefícios na na forma do parágrafo anterior pelos danos e pre-
modalidade contribuição definida que mantiveram juízos causados à entidade para os quais tenham
esta característica durante a fase de percepção de concorrido.
renda programada, o órgão regulador e fiscaliza- § 7º Sem prejuízo do disposto no § 1º do art. 31 des-
dor poderá, em caráter excepcional, autorizar a ta Lei Complementar, os membros da diretoria-exe-
transferência dos recursos garantidores dos benefí- cutiva e dos conselhos deliberativo e fiscal poderão
cios para entidade de previdência complementar ou ser remunerados pelas entidades fechadas, de acor-
companhia seguradora autorizada a operar planos do com a legislação aplicável.
de previdência complementar, com o objetivo espe- § 8º Em caráter excepcional, poderão ser ocupados
cífico de contratar plano de renda vitalícia, obser- até trinta por cento dos cargos da diretoria-execu-
vadas as normas aplicáveis. tiva por membros sem formação de nível superior,
sendo assegurada a possibilidade de participação
A constituição e funcionamento da entidade fecha- neste órgão de pelo menos um membro, quando da
da, sua fusão, cisão ou incorporação, bem como as aplicação do referido percentual resultar número
retiradas de patrocinadores e transferências de patro- inferior à unidade.
cínio deverão ser autorizadas previamente pelo órgão
regulador e fiscalizador. 599
O conselho deliberativo, o conselho fiscal e a dire- O órgão fiscalizador deverá autorizar a consti-
toria-executiva compõem a estrutura organizacional tuição e funcionamento das entidades abertas, bem
mínima das entidades fechadas, cujos membros deve- como a comercialização dos planos de benefícios, a
rão atender aos requisitos previstos no § 3º. eleição e posse dos administradores e membros de
conselho e as operações citadas no inciso IV.
DAS ENTIDADES ABERTAS DE PREVIDÊNCIA
COMPLEMENTAR Art. 39 As entidades abertas deverão comuni-
car ao órgão fiscalizador, no prazo e na forma
Art. 36 As entidades abertas são constituídas uni- estabelecidos:
camente sob a forma de sociedades anônimas e têm I - os atos relativos às alterações estatutárias e à
por objetivo instituir e operar planos de benefícios eleição de administradores e membros de conse-
de caráter previdenciário concedidos em forma de lhos estatutários; e
renda continuada ou pagamento único, acessíveis a II - o responsável pela aplicação dos recursos das
quaisquer pessoas físicas. reservas técnicas, provisões e fundos, escolhido
Parágrafo único. As sociedades seguradoras auto- dentre os membros da diretoria-executiva.
rizadas a operar exclusivamente no ramo vida Parágrafo único. Os demais membros da diretoria-
poderão ser autorizadas a operar os planos de -executiva responderão solidariamente com o diri-
benefícios a que se refere o caput, a elas se aplican- gente indicado na forma do inciso II deste artigo
do as disposições desta Lei Complementar. pelos danos e prejuízos causados à entidade para
os quais tenham concorrido.
A formação societária obrigatória das entidades
As situações previstas nos incisos, do art. 39, deve-
abertas será de sociedade anônima, com o objetivo
rão ser comunicadas pelas entidades abertas ao órgão
definido no art. 36.
fiscalizador.
Art. 37 Compete ao órgão regulador, entre outras
Art. 40 As entidades abertas deverão levantar no
atribuições que lhe forem conferidas por lei,
último dia útil de cada mês e semestre, respectiva-
estabelecer:
mente, balancetes mensais e balanços gerais, com
I - os critérios para a investidura e posse em car-
observância das regras e dos critérios estabeleci-
gos e funções de órgãos estatutários de entidades
dos pelo órgão regulador.
abertas, observado que o pretendente não poderá
Parágrafo único. As sociedades seguradoras auto-
ter sofrido condenação criminal transitada em jul-
rizadas a operar planos de benefícios deverão apre-
gado, penalidade administrativa por infração da
sentar nas demonstrações financeiras, de forma
legislação da seguridade social ou como servidor discriminada, as atividades previdenciárias e as de
público; seguros, de acordo com critérios fixados pelo órgão
II - as normas gerais de contabilidade, auditoria, regulador.
atuária e estatística a serem observadas pelas enti-
dades abertas, inclusive quanto à padronização
No art. 40, temos o levantamento de balancetes
dos planos de contas, balanços gerais, balancetes
mensais e balanços gerais contábeis, a serem obriga-
e outras demonstrações financeiras, critérios sobre
toriamente realizados pelas entidades abertas.
sua periodicidade, sobre a publicação desses docu-
mentos e sua remessa ao órgão fiscalizador;
III - os índices de solvência e liquidez, bem como DA FISCALIZAÇÃO
as relações patrimoniais a serem atendidas pelas
entidades abertas, observado que seu patrimônio Art. 41 No desempenho das atividades de fiscaliza-
líquido não poderá ser inferior ao respectivo passi- ção das entidades de previdência complementar, os
vo não operacional; e servidores do órgão regulador e fiscalizador terão
IV - as condições que assegurem acesso a informa- livre acesso às respectivas entidades, delas poden-
ções e fornecimento de dados relativos a quaisquer do requisitar e apreender livros, notas técnicas e
aspectos das atividades das entidades abertas. quaisquer documentos, caracterizando-se embara-
ço à fiscalização, sujeito às penalidades previstas
em lei, qualquer dificuldade oposta à consecução
O art. 37 estabelece as competências do órgão
desse objetivo.
regulador. Além delas, outras também poderão ser § 1º O órgão regulador e fiscalizador das entida-
conferidas por lei. des fechadas poderá solicitar dos patrocinadores
e instituidores informações relativas aos aspectos
Art. 38 Dependerão de prévia e expressa aprovação específicos que digam respeito aos compromis-
do órgão fiscalizador: sos assumidos frente aos respectivos planos de
I - a constituição e o funcionamento das entidades benefícios.
abertas, bem como as disposições de seus estatutos § 2º A fiscalização a cargo do Estado não exime os
e as respectivas alterações; patrocinadores e os instituidores da responsabili-
II - a comercialização dos planos de benefícios; dade pela supervisão sistemática das atividades
III - os atos relativos à eleição e conseqüente posse das suas respectivas entidades fechadas.
de administradores e membros de conselhos esta- § 3º As pessoas físicas ou jurídicas submetidas ao
tutários; e regime desta Lei Complementar ficam obrigadas a
IV - as operações relativas à transferência do con- prestar quaisquer informações ou esclarecimentos
trole acionário, fusão, cisão, incorporação ou qual- solicitados pelo órgão regulador e fiscalizador.
quer outra forma de reorganização societária. § 4º O disposto neste artigo aplica-se, sem prejuízo
Parágrafo único. O órgão regulador disciplinará da competência das autoridades fiscais, relativa-
o tratamento administrativo a ser emprestado ao mente ao pleno exercício das atividades de fiscali-
600 exame dos assuntos constantes deste artigo. zação tributária.
Esse artigo estabelece procedimentos a serem VI - outras anormalidades definidas em regulamento.
seguidos a fim de que se realize a fiscalização das enti- Art. 45 A intervenção será decretada pelo prazo
dades de previdência complementar, cabendo, dentre necessário ao exame da situação da entidade e enca-
outras providências, o livre acesso nas suas depen- minhamento de plano destinado à sua recuperação.
dências, bem como a apreensão de livros e outros Parágrafo único. Dependerão de prévia e expressa
documentos. autorização do órgão competente os atos do inter-
ventor que impliquem oneração ou disposição do
Art. 42 O órgão regulador e fiscalizador poderá, em patrimônio.
relação às entidades fechadas, nomear administra- Art. 46 A intervenção cessará quando aprovado o
dor especial, a expensas da entidade, com poderes plano de recuperação da entidade pelo órgão compe-
próprios de intervenção e de liquidação extrajudi- tente ou se decretada a sua liquidação extrajudicial.
cial, com o objetivo de sanear plano de benefícios
específico, caso seja constatada na sua administra- A intervenção decretada na entidade de previdên-
ção e execução alguma das hipóteses previstas nos cia complementar ocorrerá nas situações previstas no
arts. 44 e 48 desta Lei Complementar. art. 44. A finalidade é resguardar os direitos dos parti-
Parágrafo único. O ato de nomeação de que trata
cipantes e assistidos.
o caput estabelecerá as condições, os limites e as
O prazo da intervenção dependerá da situação
atribuições do administrador especial.
ocorrida, sendo necessário para o encaminhamento
do plano de recuperação da referida entidade.
O art. 42 trata de normas de fiscalização aplicadas
especificamente nas entidades fechadas. A intervenção será extinta com a aprovação
do plano de recuperação ou com a sua liquidação
Art. 43 O órgão fiscalizador poderá, em relação extrajudicial.
às entidades abertas, desde que se verifique uma
das condições previstas no art. 44 desta Lei Com- Da Liquidação Extrajudicial
plementar, nomear, por prazo determinado, pror-
rogável a seu critério, e a expensas da respectiva Art. 47 As entidades fechadas não poderão solici-
entidade, um diretor-fiscal. tar concordata e não estão sujeitas a falência, mas
§ 1º O diretor-fiscal, sem poderes de gestão, terá somente a liquidação extrajudicial.
suas atribuições estabelecidas pelo órgão regu- Art. 48 A liquidação extrajudicial será decretada
lador, cabendo ao órgão fiscalizador fixar sua quando reconhecida a inviabilidade de recuperação
remuneração. da entidade de previdência complementar ou pela
§ 2º Se reconhecer a inviabilidade de recupera- ausência de condição para seu funcionamento.
ção da entidade aberta ou a ausência de qualquer Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei Com-
condição para o seu funcionamento, o diretor-fis- plementar, entende-se por ausência de condição
cal proporá ao órgão fiscalizador a decretação da para funcionamento de entidade de previdência
intervenção ou da liquidação extrajudicial. complementar:
§ 3º O diretor-fiscal não está sujeito à indisponibi-
I - (VETADO)
lidade de bens, nem aos demais efeitos decorren-
II - (VETADO)
tes da decretação da intervenção ou da liquidação
III - o não atendimento às condições mínimas esta-
extrajudicial da entidade aberta.
belecidas pelo órgão regulador e fiscalizador.
Art. 49 A decretação da liquidação extrajudicial
Por sua vez, esse artigo trata de especificações produzirá, de imediato, os seguintes efeitos:
quanto à fiscalização nas entidades abertas. I - suspensão das ações e execuções iniciadas sobre

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


direitos e interesses relativos ao acervo da entidade
DA INTERVENÇÃO E DA LIQUIDAÇÃO liquidanda;
EXTRAJUDICIAL II - vencimento antecipado das obrigações da
liquidanda;
Da Intervenção III - não incidência de penalidades contratuais con-
tra a entidade por obrigações vencidas em decor-
Art. 44 Para resguardar os direitos dos participan- rência da decretação da liquidação extrajudicial;
tes e assistidos poderá ser decretada a intervenção IV - não fluência de juros contra a liquidanda
na entidade de previdência complementar, desde enquanto não integralmente pago o passivo;
que se verifique, isolada ou cumulativamente: V - interrupção da prescrição em relação às obriga-
I - irregularidade ou insuficiência na constituição ções da entidade em liquidação;
das reservas técnicas, provisões e fundos, ou na sua VI - suspensão de multa e juros em relação às dívi-
cobertura por ativos garantidores; das da entidade;
II - aplicação dos recursos das reservas técnicas,
VII - inexigibilidade de penas pecuniárias por infra-
provisões e fundos de forma inadequada ou em
ções de natureza administrativa;
desacordo com as normas expedidas pelos órgãos
VIII - interrupção do pagamento à liquidanda das
competentes;
contribuições dos participantes e dos patrocinado-
III - descumprimento de disposições estatutárias ou
res, relativas aos planos de benefícios.
de obrigações previstas nos regulamentos dos pla-
nos de benefícios, convênios de adesão ou contratos § 1º As faculdades previstas nos incisos deste artigo
dos planos coletivos de que trata o inciso II do art. aplicam-se, no caso das entidades abertas de previ-
26 desta Lei Complementar; dência complementar, exclusivamente, em relação
IV - situação econômico-financeira insuficiente à às suas atividades de natureza previdenciária.
preservação da liquidez e solvência de cada um dos § 2º O disposto neste artigo não se aplica às ações e
planos de benefícios e da entidade no conjunto de aos débitos de natureza tributária.
suas atividades;
V - situação atuarial desequilibrada; 601
Não se aplica a lei de falências. A elas somente Como os nomes sugerem, o interventor é referente
caberá a liquidação extrajudicial, que é a resolução à intervenção (arts. 44 e seguintes), enquanto o liqui-
da entidade, interrompendo seu funcionamento e dante é referente à liquidação extrajudicial (arts. 47 e
promovendo sua retirada do mercado, de maneira seguintes).
organizada.
Será decretada quando for inviável a sua recupe- Art. 55 Compete ao órgão fiscalizador decretar,
ração e produzirá os efeitos do art. 49. aprovar e rever os atos de que tratam os arts. 45,
46 e 48 desta Lei Complementar, bem como nomear,
por intermédio do seu dirigente máximo, o inter-
Art. 50 O liquidante organizará o quadro geral de
ventor ou o liquidante.
credores, realizará o ativo e liquidará o passivo.
Art. 56 A intervenção e a liquidação extrajudicial
§ 1º Os participantes, inclusive os assistidos, dos
determinam a perda do mandato dos administra-
planos de benefícios ficam dispensados de se habi-
dores e membros dos conselhos estatutários das
litarem a seus respectivos créditos, estejam estes
entidades, sejam titulares ou suplentes.
sendo recebidos ou não.
§ 2º Os participantes, inclusive os assistidos, dos
Nos arts. 55 e 56, temos normas referentes aos pro-
planos de benefícios terão privilégio especial sobre
cedimentos de intervenção e liquidação. É disposto
os ativos garantidores das reservas técnicas e,
sobre a decretação, aprovação e revisão pelo órgão
caso estes não sejam suficientes para a cobertura
competente, bem como sobre a perda do mandato dos
dos direitos respectivos, privilégio geral sobre as
demais partes não vinculadas ao ativo.
administradores e membros dos conselhos.
§ 3º Os participantes que já estiverem recebendo
benefícios, ou que já tiverem adquirido este direito Art. 57 Os créditos das entidades de previdência
complementar, em caso de liquidação ou falência
antes de decretada a liquidação extrajudicial, terão
de patrocinadores, terão privilégio especial sobre a
preferência sobre os demais participantes.
massa, respeitado o privilégio dos créditos traba-
§ 4º Os créditos referidos nos parágrafos anteriores
lhistas e tributários.
deste artigo não têm preferência sobre os créditos
Parágrafo único. Os administradores dos respecti-
de natureza trabalhista ou tributária. vos patrocinadores serão responsabilizados pelos
danos ou prejuízos causados às entidades de pre-
O liquidante é o responsável por efetuar a liquida- vidência complementar, especialmente pela falta de
ção extrajudicial. Suas atribuições são definidas nesse aporte das contribuições a que estavam obrigados,
artigo. observado o disposto no parágrafo único do art. 63
desta Lei Complementar.
Art. 51 Serão obrigatoriamente levantados, na
data da decretação da liquidação extrajudicial de Por meio da falência de uma empresa, será esta-
entidade de previdência complementar, o balanço belecido um quadro geral de credores, com ordem de
geral de liquidação e as demonstrações contábeis e preferência entre eles para o recebimento de seus res-
atuariais necessárias à determinação do valor das pectivos valores.
reservas individuais. Em caso de liquidação ou falência de patroci-
Art. 52 A liquidação extrajudicial poderá, a qual- nadores, os créditos das entidades de previdência
quer tempo, ser levantada, desde que constatados complementar terão privilégio especial, logo abaixo
fatos supervenientes que viabilizem a recuperação dos créditos trabalhistas e tributários na ordem de
da entidade de previdência complementar. preferência.
Art. 53 A liquidação extrajudicial das entidades
fechadas encerrar-se-á com a aprovação, pelo Art. 58 No caso de liquidação extrajudicial de
órgão regulador e fiscalizador, das contas finais do entidade fechada motivada pela falta de aporte
liquidante e com a baixa nos devidos registros. de contribuições de patrocinadores ou pelo não
Parágrafo único. Comprovada pelo liquidante a recolhimento de contribuições de participantes, os
inexistência de ativos para satisfazer a possíveis administradores daqueles também serão responsa-
créditos reclamados contra a entidade, deverá tal bilizados pelos danos ou prejuízos causados.
situação ser comunicada ao juízo competente e efe-
tivados os devidos registros, para o encerramento No art. 58, temos um caso específico aplicado para
do processo de liquidação. a liquidação extrajudicial de entidade fechada pela
falta de aporte ou não recolhimento de contribuições.
Do art. 51 ao art. 53, a lei estabelece procedimen-
tos previstos para a liquidação extrajudicial e quanto Art. 59 Os administradores, controladores e mem-
ao levantamento do balanço geral e de demonstra- bros de conselhos estatutários das entidades de
ções contábeis e atuariais, bem como no que concer- previdência complementar sob intervenção ou
ne ao seu encerramento com a aprovação pelo órgão em liquidação extrajudicial ficarão com todos os
competente. seus bens indisponíveis, não podendo, por qual-
quer forma, direta ou indireta, aliená-los ou one-
rá-los, até a apuração e liquidação final de suas
Disposições Especiais
responsabilidades.
§ 1º A indisponibilidade prevista neste artigo decor-
Art. 54 O interventor terá amplos poderes de re do ato que decretar a intervenção ou liquidação
administração e representação e o liquidante ple- extrajudicial e atinge todos aqueles que tenham
nos poderes de administração, representação e estado no exercício das funções nos doze meses
liquidação. anteriores.
§ 2º A indisponibilidade poderá ser estendida aos
602 bens de pessoas que, nos últimos doze meses, os
tenham adquirido, a qualquer título, das pessoas No art. 61, temos previsão de instauração de inqué-
referidas no caput e no parágrafo anterior, desde rito a fim de apurar as responsabilidades estabeleci-
que haja seguros elementos de convicção de que se das no art. 59.
trata de simulada transferência com o fim de evitar
os efeitos desta Lei Complementar. Art. 62 Aplicam-se à intervenção e à liquidação das
§ 3º Não se incluem nas disposições deste artigo os entidades de previdência complementar, no que cou-
bens considerados inalienáveis ou impenhoráveis ber, os dispositivos da legislação sobre a intervenção
pela legislação em vigor. e liquidação extrajudicial das instituições financei-
§ 4º Não são também atingidos pela indisponibi- ras, cabendo ao órgão regulador e fiscalizador as
lidade os bens objeto de contrato de alienação, de funções atribuídas ao Banco Central do Brasil.
promessas de compra e venda e de cessão de direi-
tos, desde que os respectivos instrumentos tenham
Já o art. 62 dispõe sobre a aplicação subsidiária
sido levados ao competente registro público até
das normas referentes à intervenção e à liquidação
doze meses antes da data de decretação da inter-
extrajudicial das instituições financeiras para a inter-
venção ou liquidação extrajudicial.
§ 5º Não se aplica a indisponibilidade de bens das venção e liquidação das entidades de previdência
pessoas referidas no caput deste artigo no caso de complementar, naquilo que couber.
liquidação extrajudicial de entidades fechadas que
deixarem de ter condições para funcionar por moti- DO REGIME DISCIPLINAR
vos totalmente desvinculados do exercício das suas
atribuições, situação esta que poderá ser revista a Art. 63 Os administradores de entidade, os pro-
qualquer momento, pelo órgão regulador e fiscali- curadores com poderes de gestão, os membros de
zador, desde que constatada a existência de irregu- conselhos estatutários, o interventor e o liquidante
laridades ou indícios de crimes por elas praticados. responderão civilmente pelos danos ou prejuízos
que causarem, por ação ou omissão, às entidades
Os bens das pessoas identificadas no caput do de previdência complementar.
artigo ficarão indisponíveis, não podendo ser alie- Parágrafo único. São também responsáveis, na forma
nados, até a apuração e liquidação final de suas do caput, os administradores dos patrocinadores ou
instituidores, os atuários, os auditores independentes,
responsabilidades.
os avaliadores de gestão e outros profissionais que
prestem serviços técnicos à entidade, diretamente ou
Art. 60 O interventor ou o liquidante comunicará a
por intermédio de pessoa jurídica contratada.
indisponibilidade de bens aos órgãos competentes
para os devidos registros e publicará edital para
conhecimento de terceiros. O art. 63 estabelece a responsabilização às pessoas
Parágrafo único. A autoridade que receber a comu- enumeradas, causadoras de danos ou prejuízos às
nicação ficará, relativamente a esses bens, impedi- entidades de previdência complementar.
da de: Além deles, o parágrafo único também prevê a res-
I - fazer transcrições, inscrições ou averbações de ponsabilização dos demais agentes nele previstos.
documentos públicos ou particulares;
II - arquivar atos ou contratos que importem em Art. 64 O órgão fiscalizador competente, o Banco
transferência de cotas sociais, ações ou partes Central do Brasil, a Comissão de Valores Mobiliá-
beneficiárias; rios ou a Secretaria da Receita Federal, constatan-
III - realizar ou registrar operações e títulos de do a existência de práticas irregulares ou indícios
qualquer natureza; e de crimes em entidades de previdência complemen-

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


IV - processar a transferência de propriedade de tar, noticiará ao Ministério Público, enviando-lhe
veículos automotores, aeronaves e embarcações. os documentos comprobatórios.
Parágrafo único. O sigilo de operações não pode-
O art. 60 dispõe sobre a comunicação de indisponi- rá ser invocado como óbice à troca de informações
bilidade de bens feita pelo interventor ou liquidante entre os órgãos mencionados no caput, nem ao for-
ao órgão competente. necimento de informações requisitadas pelo Minis-
tério Público.
Art. 61 A apuração de responsabilidades específicas
referida no caput do art. 59 desta Lei Complemen- O ministério público deverá ser informado quan-
tar será feita mediante inquérito a ser instaurado do houver práticas irregulares ou indícios de crimes
pelo órgão regulador e fiscalizador, sem prejuízo do em entidades de previdência complementar.
disposto nos arts. 63 a 65 desta Lei Complementar.
§ 1º Se o inquérito concluir pela inexistência de pre- Art. 65 A infração de qualquer disposição desta
juízo, será arquivado no órgão fiscalizador. Lei Complementar ou de seu regulamento, para
§ 2º Concluindo o inquérito pela existência de pre- a qual não haja penalidade expressamente comi-
juízo, será ele, com o respectivo relatório, remetido nada, sujeita a pessoa física ou jurídica responsá-
pelo órgão regulador e fiscalizador ao Ministério vel, conforme o caso e a gravidade da infração, às
Público, observados os seguintes procedimentos: seguintes penalidades administrativas, observado
I - o interventor ou o liquidante, de ofício ou a reque- o disposto em regulamento:
rimento de qualquer interessado que não tenha sido I - advertência;
indiciado no inquérito, após aprovação do respecti- II - suspensão do exercício de atividades em enti-
vo relatório pelo órgão fiscalizador, determinará o dades de previdência complementar pelo prazo de
levantamento da indisponibilidade de que trata o até cento e oitenta dias;
art. 59 desta Lei Complementar; III - inabilitação, pelo prazo de dois a dez anos,
II - será mantida a indisponibilidade com relação às para o exercício de cargo ou função em entidades de
pessoas indiciadas no inquérito, após aprovação do previdência complementar, sociedades seguradoras,
respectivo relatório pelo órgão fiscalizador. instituições financeiras e no serviço público; e 603
IV - multa de dois mil reais a um milhão de reais, Art. 69 As contribuições vertidas para as entida-
devendo esses valores, a partir da publicação desta des de previdência complementar, destinadas ao
Lei Complementar, ser reajustados de forma a pre- custeio dos planos de benefícios de natureza previ-
servar, em caráter permanente, seus valores reais. denciária, são dedutíveis para fins de incidência de
§ 1º A penalidade prevista no inciso IV será impu- imposto sobre a renda, nos limites e nas condições
tada ao agente responsável, respondendo solida- fixadas em lei.
riamente a entidade de previdência complementar, § 1º Sobre as contribuições de que trata o caput
assegurado o direito de regresso, e poderá ser apli- não incidem tributação e contribuições de qualquer
cada cumulativamente com as constantes dos inci- natureza.
sos I, II ou III deste artigo. § 2º Sobre a portabilidade de recursos de reservas
§ 2º Das decisões do órgão fiscalizador caberá técnicas, fundos e provisões entre planos de bene-
recurso, no prazo de quinze dias, com efeito suspen- fícios de entidades de previdência complementar,
sivo, ao órgão competente. titulados pelo mesmo participante, não incidem tri-
§ 3º O recurso a que se refere o parágrafo anterior, butação e contribuições de qualquer natureza.
na hipótese do inciso IV deste artigo, somente será
conhecido se for comprovado pelo requerente o As contribuições nas condições previstas no art. 69
pagamento antecipado, em favor do órgão fiscaliza- poderão ser deduzidas do imposto de renda.
dor, de trinta por cento do valor da multa aplicada.
§ 4º Em caso de reincidência, a multa será aplicada
Art. 71 É vedado às entidades de previdência com-
em dobro.
plementar realizar quaisquer operações comerciais
Art. 66 As infrações serão apuradas mediante pro-
e financeiras:
cesso administrativo, na forma do regulamento,
I - com seus administradores, membros dos conse-
aplicando-se, no que couber, o disposto na Lei nº
lhos estatutários e respectivos cônjuges ou compa-
9.784, de 29 de janeiro de 1999.
nheiros, e com seus parentes até o segundo grau;
II - com empresa de que participem as pessoas a
O art. 65 estabelece as penalidades administrativas que se refere o inciso anterior, exceto no caso de
cabíveis às infrações previstas nessa lei e no seu res- participação de até cinco por cento como acionista
pectivo regulamento, que serão apuradas e aplicadas de empresa de capital aberto; e
mediante processo administrativo. III - tendo como contraparte, mesmo que indireta-
mente, pessoas físicas e jurídicas a elas ligadas, na
Art. 67 O exercício de atividade de previdência forma definida pelo órgão regulador.
complementar por qualquer pessoa, física ou jurídi- Parágrafo único. A vedação deste artigo não se
ca, sem a autorização devida do órgão competente, aplica ao patrocinador, aos participantes e aos
inclusive a comercialização de planos de benefí- assistidos, que, nessa condição, realizarem opera-
cios, bem como a captação ou a administração ções com a entidade de previdência complementar.
de recursos de terceiros com o objetivo de, direta
ou indiretamente, adquirir ou conceder benefícios No art. 71, temos proibição estabelecida às entida-
previdenciários sob qualquer forma, submete o res-
des de previdência complementar.
ponsável à penalidade de inabilitação pelo prazo de
dois a dez anos para o exercício de cargo ou função
Art. 73 As entidades abertas serão reguladas tam-
em entidade de previdência complementar, socieda-
bém, no que couber, pela legislação aplicável às
des seguradoras, instituições financeiras e no servi-
sociedades seguradoras.
ço público, além de multa aplicável de acordo com
o disposto no inciso IV do art. 65 desta Lei Comple-
mentar, bem como noticiar ao Ministério Público. Já no art. 73, vemos aplicação subsidiária das nor-
mas referentes às sociedades seguradoras para as
O art. 67 estabelece penalidade específica de ina- entidades abertas estabelecidas na presente lei.
bilitação de dois a 10 anos nos casos nele elencados.

DISPOSIÇÕES GERAIS
PLANOS DE BENEFÍCIOS
Art. 68 As contribuições do empregador, os bene-
fícios e as condições contratuais previstos nos
PREVIDENCIÁRIOS DE ENTIDADES
estatutos, regulamentos e planos de benefícios das FECHADAS: MODALIDADES E
entidades de previdência complementar não inte- PATROCÍNIO
gram o contrato de trabalho dos participantes,
assim como, à exceção dos benefícios concedidos,
BENEFICIÁRIOS DA PREVIDÊNCIA SOCIAL — RGPS
não integram a remuneração dos participantes.
§ 1º Os benefícios serão considerados direito adqui-
rido do participante quando implementadas todas São beneficiárias do regime geral de previdência
as condições estabelecidas para elegibilidade con- social as pessoas que mantém vínculo direto com o
signadas no regulamento do respectivo plano. mesmo, na condição de segurados, ou vínculo indire-
§ 2º A concessão de benefício pela previdência com- to, na condição de dependente.
plementar não depende da concessão de benefício Os segurados são as pessoas cujo vínculo direto
pelo regime geral de previdência social. com a Previdência Social acarreta direitos e deveres.
Os direitos são representados pelos benefícios e ser-
No art. 68, vemos normas relacionadas ao contrato viços prestados, desde que preenchidos os requisitos
de trabalho e à remuneração dos participantes, bem legais. Os deveres correspondem à obrigação de reco-
como concernentes às contribuições do empregador, lher as contribuições previdenciárias.
604 aos benefícios e às condições contratuais.
Os segurados são classificados em duas categorias: A dependência econômica da primeira classe é
obrigatórios e facultativos. Para o segurado obriga- presumida e a das demais deve ser comprovada.
tório, a vinculação decorre do exercício de atividade O companheiro(a) é aquele(a) que mantém união
laborativa. Para o facultativo, a vinculação decorre estável com o segurado, definida esta como a convi-
de manifestação de vontade (ato volitivo). vência pública, contínua e duradoura estabelecida com
Os dependentes são aqueles que mantêm vínculo o objetivo de constituir família (art. 1.723, Código Civil).
indireto com a Previdência, já que sua relação com o O cônjuge divorciado ou separado judicialmente
sistema depende da ocorrência de contingência que ou de fato, que recebia pensão de alimentos, receberá
atinja o segurado da previdência social. a pensão em igualdade de condições com os demais
dependentes de primeira classe.
Na hipótese de o segurado estar, na data do seu
Dependentes
óbito, obrigado por determinação judicial a pagar
alimentos temporários a ex-cônjuge ou a ex-compa-
Para o direito previdenciário é relevante a depen-
nheiro ou ex-companheira, a pensão por morte será
dência jurídica e econômica, sendo dependente eco-
devida pelo prazo remanescente na data do óbito,
nômico alguém que viva às expensas do segurado. A
caso não incida outra hipótese de cancelamento ante-
legislação previdenciária trata de dependentes presu-
rior do benefício.
midos e comprovados.
Dependentes presumidos são aqueles que não Súmula n° 336 (STJ) A mulher que renunciou ali-
precisam demonstrar a dependência econômica, ape- mentos na separação tem direito à pensão previ-
nas o liame jurídico entre eles e o segurado. denciária por morte do ex-marido, comprovada a
Dependentes comprovados devem provar a necessidade econômica superveniente.
dependência econômica.
Súmula n° 37 (TNU) A pensão por morte devida
ao filho até 21 anos de idade, não se prorroga pela
Importante! pendência de curso universitário.

Os dependentes têm direito aos benefícios de O enteado e o menor tutelado equiparam-se a


auxílio-reclusão e pensão por morte. filho mediante declaração do segurado e desde que
comprovada a dependência econômica na forma do
regulamento.
O art. 16, da Lei n° 8.213, de 1991, estabelece três A Lei n° 13.846, de 2019, alterou a disposição do §
classes de dependentes: 5º, do art. 16, da Lei nº 8.213, de 1991, dispondo:

Art. 16 São beneficiários do Regime Geral de Pre- Art. 16 [...]


vidência Social, na condição de dependentes do § 5º As provas de união estável e de dependência
segurado: econômica exigem início de prova material con-
I - o cônjuge, a companheira, o companheiro e temporânea dos fatos, produzido em período não
o filho não emancipado, de qualquer condição, superior a 24 (vinte e quatro) meses anterior à data
menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que do óbito ou do recolhimento à prisão do segurado,
tenha deficiência intelectual ou mental ou deficiên- não admitida a prova exclusivamente testemunhal,
cia grave; exceto na ocorrência de motivo de força maior ou
II - os pais; caso fortuito, conforme disposto no regulamento.
III - o irmão não emancipado, de qualquer condi-

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


ção, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou O menor sob guarda foi excluído pela Emenda
que tenha deficiência intelectual ou mental ou defi- Constitucional 103, de 2019, do rol de dependentes
ciência grave; previdenciários (§ 6º, art. 23, da Emenda Constitucio-
nal 103, de 2019).
z 1ª classe (classe preferencial): o cônjuge, a com-
panheira, o companheiro e o filho não emanci- ESPÉCIES DE PRESTAÇÕES
pado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte
e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência Conforme previsão expressa do art. 18, da Lei n°
intelectual ou mental ou deficiência grave; 8.213, de 1991, o Regime Geral de Previdência Social
z 2ª classe: pais; compreende as seguintes prestações:
z 3ª classe: o irmão não emancipado, de qualquer
condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inváli- Art. 18 O Regime Geral de Previdência Social com-
do ou que tenha deficiência intelectual ou mental preende as seguintes prestações, devidas inclusive
ou deficiência grave. em razão de eventos decorrentes de acidente do tra-
balho, expressas em benefícios e serviços:
A ordem de vocação é aplicada apenas uma vez, I - quanto ao segurado:
na data da ocorrência do evento gerador da prestação a) aposentadoria por invalidez;
previdenciária. Neste momento verifica-se quais são b) aposentadoria por idade;
c) aposentadoria por tempo de contribuição;
os dependentes, aplicando-se a regra legal que deter-
d) aposentadoria especial;
mina que os da classe superior excluem os da classe e) auxílio-doença;
inferior. f) salário-família;
Os dependentes da mesma classe concorrem em g) salário-maternidade;
igualdade de condições, de modo que o valor da pensão h) auxílio-acidente;
será dividido igualmente pelo número de dependentes. i) abono de permanência em serviço; (Revogada
pela Lei nº 8.870, de 1994) 605
II - quanto ao dependente: § 9º Para fins de aposentadoria, será assegurada a
a) pensão por morte; contagem recíproca do tempo de contribuição entre
b) auxílio-reclusão; o Regime Geral de Previdência Social e os regimes
III - quanto ao segurado e dependente: próprios de previdência social, e destes entre si,
a) pecúlios; (Revogada pela Lei nº 9.032, de 1995) observada a compensação financeira, de acordo
b) serviço social; com os critérios estabelecidos em lei.
c) reabilitação profissional. § 9º-A O tempo de serviço militar exercido nas ati-
vidades de que tratam os arts. 42, 142 e 143 e o tem-
É importante referir que, após a Reforma da Pre- po de contribuição ao Regime Geral de Previdência
vidência Social, trazida pela Emenda Constitucional Social ou a regime próprio de previdência social
nº 103, de 2019, a nomenclatura de alguns benefícios terão contagem recíproca para fins de inativação
foi alterada, assim como a aposentadoria por idade militar ou aposentadoria, e a compensação finan-
e a aposentadoria por tempo de contribuição foram ceira será devida entre as receitas de contribuição
extintas, passando a existir um único benefício, deno- referentes aos militares e as receitas de contribui-
minado aposentadoria programada, com previsão de ção aos demais regimes.
idade mínima e tempo mínimo de contribuição. § 10 Lei complementar poderá disciplinar a cober-
tura de benefícios não programados, inclusive os
decorrentes de acidente do trabalho, a ser atendida
z Aposentadoria por idade: atual aposentadoria
concorrentemente pelo Regime Geral de Previdên-
programada (idade mínima e tempo mínimo de
cia Social e pelo setor privado.
contribuição); § 12 Lei instituirá sistema especial de inclusão
z Aposentadoria por tempo: atual aposentadoria previdenciária, com alíquotas diferenciadas, para
programada (idade mínima e tempo mínimo de atender aos trabalhadores de baixa renda, inclusi-
contribuição); ve os que se encontram em situação de informali-
z Aposentadoria por invalidez: atual aposentado- dade, e àqueles sem renda própria que se dediquem
ria por incapacidade permanente; exclusivamente ao trabalho doméstico no âmbito
z Auxílio-doença: atual auxílio por incapacidade de sua residência, desde que pertencentes a famílias
temporária. de baixa renda.
§ 13 A aposentadoria concedida ao segurado de que
trata o § 12 terá valor de 1 (um) salário-mínimo.
Importante! § 14 É vedada a contagem de tempo de contribuição
fictício para efeito de concessão dos benefícios pre-
O aposentado pelo Regime Geral de Previdên- videnciários e de contagem recíproca.
cia Social (RGPS) que permanecer em atividade § 15 Lei complementar estabelecerá vedações,
sujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará regras e condições para a acumulação de benefícios
jus à prestação alguma da Previdência Social em previdenciários.
decorrência do exercício dessa atividade, exceto § 16 Os empregados dos consórcios públicos, das
ao salário-família e à reabilitação profissional, empresas públicas, das sociedades de economia
quando empregado e salário-maternidade. mista e das suas subsidiárias serão aposentados
compulsoriamente, observado o cumprimento do
tempo mínimo de contribuição, ao atingir a idade
BENEFÍCIOS máxima de que trata o inciso II do § 1º do art. 40,
na forma estabelecida em lei.
São prestações pecuniárias, ou seja, há pagamen-
to de valores pela Previdência Social, quando preen- Dica
chidos os requisitos legais pelo segurado ou pelos
Idade mínima: 65 anos para homens e 62 anos
dependentes.
para mulheres.
Aposentadorias Programadas Tempo de contribuição mínimo: 15 anos para as
mulheres e 20 para os homens.
Art. 201 (CF, de 1988) [...]
§ 7º É assegurada aposentadoria no regime A Reforma da Previdência (EC n° 103, de 2019) pro-
geral de previdência social, nos termos da moveu significativas alterações nas regras de acesso
lei, obedecidas as seguintes condições — nova às aposentadorias programadas.
redação pela EC 103, de 2019 Não apenas unificou as aposentadorias por tem-
I - 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e po de contribuição e por idade, que antes eram dois
62 (sessenta e dois) anos de idade, se mulher, obser- benefícios distintos, como também trouxe mais rigor
vado tempo mínimo de contribuição; nos requisitos que devem ser implementados para
II - 60 (sessenta) anos de idade, se homem, e 55 (cin- obtenção dos benefícios.
quenta e cinco) anos de idade, se mulher, para os Quando há uma alteração no sistema de acesso
trabalhadores rurais e para os que exerçam suas
aos benefícios, via de regra, são estabelecidas regras
atividades em regime de economia familiar, nestes
transitórias que vão atingir os segurados que já esta-
incluídos o produtor rural, o garimpeiro e o pesca-
dor artesanal.
vam vinculados ao sistema, porém não preencheram
§ 8º O requisito de idade a que se refere o inciso os requisitos necessários, pelas regras anteriores, ou
I do § 7º será reduzido em 5 (cinco) anos, para o seja, não possuem direito adquirido.
professor que comprove tempo de efetivo exercí- No Brasil, adota-se a regra no sentido de que antes
cio das funções de magistério na educação infan- de implementadas todas as condições para a obtenção
til e no ensino fundamental e médio fixado em lei de um benefício, o segurado ou dependente só possui
606 complementar. expectativa de direito e não direito adquirido.
Não há, portanto, direito adquirido a regime de previdência, apenas direito adquirido a benefício, o que ape-
nas se concretiza com o preenchimento dos requisitos estabelecidos pela lei antes da mudança.
Assim, para quem preencheu os requisitos fixados para obtenção de aposentadoria por tempo de contribuição
(35 anos de contribuição para o homem, 30 anos para a mulher e carência de 180 meses) ou de aposentadoria por
idade (65 anos para homens e 60 para mulheres com carência de 180 meses) até a data de entrada em vigor da EC
n° 103, de 2019, há direito adquirido ao benefício pelas regras anteriores.

COMO ERA ANTES DA REFORMA

Aposentadoria por idade: Aposentadoria por Tempo de Contribuição (TC):


� 65 anos homens � 35 anos homens
� 62 anos mulheres � 30 anos mulheres
� 180 meses carência � 180 meses carência

Para os segurados que já estavam no sistema antes da reforma, mas não têm direito adquirido, são aplicadas
as regras de transição.

REGRAS DE APOSENTADORIA
Regra Nova:
Direito Adquirido: Regras de Transição:
� Aplicada integralmente para quem
� Preenche os requisitos até a reforma � Já estava no sistema em 13/11/2019,
ingressou no sistema a partir de
do dia 13/11/2019 mas não tinha preenchido os requisitos
13/11/2019

Para as aposentadorias por tempo de contribição e por idade, de acordo com a EC n° 103, de 2019, temos as
seguintes regras transitórias:

� Regra 1: Pontos

Art. 15 Ao segurado filiado ao Regime Geral de Previdência Social até a data de entrada em vigor desta Emenda
Constitucional, fica assegurado o direito à aposentadoria quando forem preenchidos, cumulativamente, os seguintes
requisitos:
I - 30 (trinta) anos de contribuição, se mulher, e 35 (trinta e cinco) anos de contribuição, se homem; e
II - somatório da idade e do tempo de contribuição, incluídas as frações, equivalente a 86 (oitenta e seis) pontos, se
mulher, e 96 (noventa e seis) pontos, se homem, observado o disposto nos §§ 1º e 2º.
§ 1º A partir de 1º de janeiro de 2020, a pontuação a que se refere o inciso II do caput será acrescida a cada ano de
1 (um) ponto, até atingir o limite de 100 (cem) pontos, se mulher, e de 105 (cento e cinco) pontos, se homem.
§ 2º A idade e o tempo de contribuição serão apurados em dias para o cálculo do somatório de pontos a que se refe-
rem o inciso II do caput e o § 1º.
§ 3º Para o professor que comprovar exclusivamente 25 (vinte e cinco) anos de contribuição, se mulher, e 30 (trinta)
anos de contribuição, se homem, em efetivo exercício das funções de magistério na educação infantil e no ensino
fundamental e médio, o somatório da idade e do tempo de contribuição, incluídas as frações, será equivalente a 81

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


(oitenta e um) pontos, se mulher, e 91 (noventa e um) pontos, se homem, aos quais serão acrescidos, a partir de 1º de
janeiro de 2020, 1 (um) ponto a cada ano para o homem e para a mulher, até atingir o limite de 92 (noventa e dois)
pontos, se mulher, e 100 (cem) pontos, se homem.
§ 4º O valor da aposentadoria concedida nos termos do disposto neste artigo será apurado na forma da lei.

z Regra 2: Tempo + Idade mínima

Art. 16 Ao segurado filiado ao Regime Geral de Previdência Social até a data de entrada em vigor desta Emenda Cons-
titucional fica assegurado o direito à aposentadoria quando preencher, cumulativamente, os seguintes requisitos:
I - 30 (trinta) anos de contribuição, se mulher, e 35 (trinta e cinco) anos de contribuição, se homem; e
II - idade de 56 (cinquenta e seis) anos, se mulher, e 61 (sessenta e um) anos, se homem.
§ 1º A partir de 1º de janeiro de 2020, a idade a que se refere o inciso II do caput será acrescida de 6 (seis) meses a
cada ano, até atingir 62 (sessenta e dois) anos de idade, se mulher, e 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem.
§ 2º Para o professor que comprovar exclusivamente tempo de efetivo exercício das funções de magistério na edu-
cação infantil e no ensino fundamental e médio, o tempo de contribuição e a idade de que tratam os incisos I e II
do caput deste artigo serão reduzidos em 5 (cinco) anos, sendo, a partir de 1º de janeiro de 2020, acrescidos 6 (seis)
meses, a cada ano, às idades previstas no inciso II do caput, até atingirem 57 (cinquenta e sete) anos, se mulher, e 60
(sessenta) anos, se homem.
§ 3º O valor da aposentadoria concedida nos termos do disposto neste artigo será apurado na forma da lei.

z Regra 3: Pedágio 50% para segurado que esteja há 2 anos ou menos da aposentadoria pela regra anterior

Art. 17 Ao segurado filiado ao Regime Geral de Previdência Social até a data de entrada em vigor desta Emenda
Constitucional e que na referida data contar com mais de 28 (vinte e oito) anos de contribuição, se mulher, e 33
(trinta e três) anos de contribuição, se homem, fica assegurado o direito à aposentadoria quando preencher, cumu-
lativamente, os seguintes requisitos:
I - 30 (trinta) anos de contribuição, se mulher, e 35 (trinta e cinco) anos de contribuição, se homem; e 607
II - cumprimento de período adicional correspon- valor a que se refere o § 2º do art. 201 da Constitui-
dente a 50% (cinquenta por cento) do tempo que, ção Federal e será reajustado:
na data de entrada em vigor desta Emenda Cons- I - de acordo com o disposto no art. 7º da Emenda
titucional, faltaria para atingir 30 (trinta) anos de Constitucional nº 41, de 19 de dezembro de 2003,
contribuição, se mulher, e 35 (trinta e cinco) anos se cumpridos os requisitos previstos no inciso I do
de contribuição, se homem. § 2º;
Parágrafo único. O benefício concedido nos termos II - nos termos estabelecidos para o Regime Geral
deste artigo terá seu valor apurado de acordo com de Previdência Social, na hipótese prevista no inci-
a média aritmética simples dos salários de contri- so II do § 2º.
buição e das remunerações calculada na forma da § 4º Aplicam-se às aposentadorias dos servidores
lei, multiplicada pelo fator previdenciário, calcula- dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios as
do na forma do disposto nos §§ 7º a 9º do art. 29 da normas constitucionais e infraconstitucionais ante-
Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. riores à data de entrada em vigor desta Emenda
Constitucional, enquanto não promovidas altera-
z Regra 4: Idade progressiva ções na legislação interna relacionada ao respecti-
vo regime próprio de previdência social.
Art. 18 O segurado de que trata o inciso I do § 7º do
art. 201 da Constituição Federal filiado ao Regime Para os professores, como se viu, “o requisito de
Geral de Previdência Social até a data de entrada idade a que se refere o inciso I do § 7º será reduzido em
em vigor desta Emenda Constitucional poderá apo- 5 (cinco) anos, para o professor que comprove tempo de
sentar-se quando preencher, cumulativamente, os
efetivo exercício das funções de magistério na educação
seguintes requisitos:
infantil e no ensino fundamental e médio fixado em lei
I - 60 (sessenta) anos de idade, se mulher, e 65 (ses-
senta e cinco) anos de idade, se homem; e complementar” (§ 8º, art. 201, da CF, de 1988).
II - 15 (quinze) anos de contribuição, para São exigidos, portanto, 25 (vinte e cinco) anos de
ambos os sexos. efetivo exercício do magistério na educação infantil,
§ 1º A partir de 1º de janeiro de 2020, a idade de ensino médio ou fundamental e idade mínima de 57
60 (sessenta) anos da mulher, prevista no inciso I (cinquenta e sete) anos de idade, se mulher, e 60 (ses-
do caput, será acrescida em 6 (seis) meses a cada senta) anos de idade, se homem.
ano, até atingir 62 (sessenta e dois) anos de idade. Anteriormente à reforma, o professor se aposen-
§ 2º O valor da aposentadoria de que trata este arti- tava comprovando 25 (vinte e cinco) anos de magis-
go será apurado na forma da lei. tério, se mulher e 30 (trinta) anos, se homem, na
educação infantil, ensino médio e fundamental, sem
z Regra 5: Pedágio 100% necessidade de cumprimento de requisito etário (ida-
de mínima).
Art. 20 O segurado ou o servidor público federal
que se tenha filiado ao Regime Geral de Previdência Resumo das Regras Transitórias na Aposentadoria
Social ou ingressado no serviço público em cargo
por Tempo de Contribuição
efetivo até a data de entrada em vigor desta Emen-
da Constitucional poderá aposentar-se volunta-
riamente quando preencher, cumulativamente, os z Regra dos Pontos:
seguintes requisitos:
I - 57 (cinquenta e sete) anos de idade, se mulher, e „ 30 TC (Mulher)/ 35 (Homem);
60 (sessenta) anos de idade, se homem; „ 86 pontos (M)/ 96 pontos (H) — Idade + TC;
II - 30 (trinta) anos de contribuição, se mulher, e „ Janeiro de 2020 sobe 1 ponto por ano até chegar
35 (trinta e cinco) anos de contribuição, se homem; 100 (M)/105 (H);
III - para os servidores públicos, 20 (vinte) anos de „ Professor (30TC (H)/25TC (M)/81 pontos (M)/ 91
efetivo exercício no serviço público e 5 (cinco) anos pontos (H)/ aumenta até 92 (M)/ 100(H).
no cargo efetivo em que se der a aposentadoria;
IV - período adicional de contribuição corresponden-
te ao tempo que, na data de entrada em vigor desta
z Regra do Tempo Mínimo + Idade Mínima:
Emenda Constitucional, faltaria para atingir o tem-
po mínimo de contribuição referido no inciso II. „ 30TC (M)/ 35TC (H);
§ 1º Para o professor que comprovar exclusivamen- „ 56 idade (M)/ 61 (H);
te tempo de efetivo exercício das funções de magis- „ Idade sobre 6 meses a partir de jan, de 2020 -
tério na educação infantil e no ensino fundamental até 62 (M)/ 65(H);
e médio serão reduzidos, para ambos os sexos, os „ Professor (tempo e idade reduzidos em 5 anos.
requisitos de idade e de tempo de contribuição em
5 (cinco) anos. z Pedágio 50%:
§ 2º O valor das aposentadorias concedidas nos ter-
mos do disposto neste artigo corresponderá:
„ 28 TC(M)/33 TC(H) na data da reforma;
I - em relação ao servidor público que tenha ingres-
„ Pedágio de 50% que faltava para atingir 30
sado no serviço público em cargo efetivo até 31 de
TC(M)/ 35 TC(H) na data da reforma;
dezembro de 2003 e que não tenha feito a opção de
que trata o § 16 do art. 40 da Constituição Federal,
„ Benefício com aplicação do fator previdenciário.
à totalidade da remuneração no cargo efetivo em
que se der a aposentadoria, observado o disposto z Pedágio 100%:
no § 8º do art. 4º; e
II - em relação aos demais servidores públicos e aos „ 57 idade (M)/ 60 idade (H);
segurados do Regime Geral de Previdência Social, „ 30 TC (M)/ 35 TC(H);
ao valor apurado na forma da lei. „ Pedágio 100% do tempo que faltava para atin-
§ 3º O valor das aposentadorias concedidas nos ter- gir 30 TC (M)/35 TC(H) na data da reforma;
608 mos do disposto neste artigo não será inferior ao „ Requisitos reduzidos em 5 anos para professores.
Resumo das Regras Transitórias na Aposentadoria infraconstitucionais anteriores à data de entrada
por Idade em vigor desta Emenda Constitucional, enquanto
não promovidas alterações na legislação interna
z Regra da Idade Progressiva: relacionada ao respectivo regime próprio de previ-
dência social.
„ 60 anos (M)/ 65 anos (H);
„ 15 TC; Vejamos a redação do § 3º, do art. 55, da Lei n°
„ Idade da mulher aumenta 6 meses a partir de 8.213, de 1991, alterada pela Lei n° 13.846, de 2019:
01.01.20 até chegar a 62.
Art. 55 […]
Na aposentadoria especial, há, também, substan- § 3º A comprovação do tempo de serviço para fins do
disposto nesta Lei, inclusive mediante justificativa
cial alteração.
administrativa ou judicial, observado o disposto no
O benefício, anteriormente à Reforma, não exigia
art. 108, só produzirá efeito quando for baseada em
idade mínima, e era devido após a comprovação da
início de prova material contemporânea dos fatos,
exposição a agentes que prejudicavam a saúde ou a não admitida a prova exclusivamente testemunhal,
integridade física, por 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 exceto na ocorrência de motivo de força maior ou
(vinte e cinco) anos, dependendo da gravidade do caso fortuito, na forma prevista no Regulamento.
agente, conforme disposto no regulamento.
Após a reforma, além da exposição pelo tempo
fixado no regulamento, de acordo com a gravidade do Importante!
agente, ainda será preciso cumprir a idade mínima de:
Conforme entendimento do Supremo Tribunal
z 55 (cinquenta e cinco) anos de idade, quando se Federal (STF - REXT 631.240), há necessidade de
tratar de atividade especial de 15 (quinze) anos de prévio requerimento administrativo para se bus-
contribuição; car judicialmente um benefício. Não há necessi-
z 58 (cinquenta e oito) anos de idade, quando se dade de esgotamento da via administrativa.
tratar de atividade especial de 20 (vinte) anos de
contribuição;
z 60 (sessenta) anos de idade, quando se tratar de Algumas regras anteriores à Reforma da Previdên-
atividade especial de 25 (vinte e cinco) anos de cia Social, relativas às aposentadorias programadas,
contribuição. continuam em plena vigência, mesmo para aque-
las situações em que os requisitos são preenchidos
Há, todavia, a regra de transição, por pontos: posteriormente.
É o caso, por exemplo, da aposentadoria por idade
Art. 21 O segurado ou o servidor público federal do trabalhador rural, que tem direito à redução de 5
que se tenha filiado ao Regime Geral de Previdên- (cinco) anos na idade fixada na Constituição e não foi
cia Social ou ingressado no serviço público em impactado pela reforma: 60 anos de idade para homens
cargo efetivo até a data de entrada em vigor desta e 55 de idade para mulheres, conforme estabelece o
Emenda Constitucional cujas atividades tenham inciso II, do § 7º, do art. 201, da Constituição Federal.
sido exercidas com efetiva exposição a agentes quí- Beneficiam-se da redução de cinco anos:
micos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde, ou
associação desses agentes, vedada a caracteriza-
z empregado rural;
ção por categoria profissional ou ocupação, desde

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


z trabalhador eventual em serviço de natureza
que cumpridos, no caso do servidor, o tempo míni-
mo de 20 (vinte) anos de efetivo exercício no serviço
rural;
público e de 5 (cinco) anos no cargo efetivo em que z trabalhador avulso rural;
for concedida a aposentadoria, na forma dos arts. z segurado especial;
57 e 58 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, pode- z garimpeiro que trabalhe em regime de economia
rão aposentar-se quando o total da soma resultante familiar.
da sua idade e do tempo de contribuição e o tempo
de efetiva exposição forem, respectivamente, de: Os trabalhadores rurais devem comprovar o efe-
I - 66 (sessenta e seis) pontos e 15 (quinze) anos de tivo exercício de atividade rural, ainda que de forma
efetiva exposição; descontínua, no período imediatamente anterior ao
II - 76 (setenta e seis) pontos e 20 (vinte) anos de requerimento do benefício, por tempo igual ao núme-
efetiva exposição; e ro de meses de contribuição correspondente à carên-
III - 86 (oitenta e seis) pontos e 25 (vinte e cinco) cia do benefício.
anos de efetiva exposição. Se não contar com o tempo mínimo de carência,
§ 1º A idade e o tempo de contribuição serão apura-
o trabalhador rural pode aposentar-se com a idade
dos em dias para o cálculo do somatório de pontos
prevista para o trabalhador urbano: 65 anos para
a que se refere o caput.
§ 2º O valor da aposentadoria de que trata este arti- os homens e 62 para as mulheres, somando o tempo
go será apurado na forma da lei. rural com o tempo de contribuição em outras catego-
§ 3º Aplicam-se às aposentadorias dos servidores rias (aposentadoria híbrida). A carência, neste caso,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios fica mantida em 180 meses.
cujas atividades sejam exercidas com efetiva expo- Conforme entendimento jurisprudencial:
sição a agentes químicos, físicos e biológicos pre-
judiciais à saúde, ou associação desses agentes, O segurado especial tem que estar laborando no
vedada a caracterização por categoria profissio- campo, quando completar a idade mínima para se
nal ou ocupação, na forma do § 4º-C do art. 40 da aposentar por idade rural, momento em que pode-
Constituição Federal, as normas constitucionais e rá requerer o seu benefício. Ressalvada a hipótese 609
do direito adquirido, em que o segurado especial, A renda mensal inicial deste benefício não foi alte-
embora não tenha requerido sua aposentadoria rada pela reforma, de modo que prevalece a regra
por idade rural, preenchera de forma concomitan- anterior, ou seja, 100% (cem por cento) do salário de
te, no passado, ambos os requisitos carência e ida- benefício, nos casos de aposentadoria por tempo de
de” (STJ — Resp nº 1354908/SP). contribuição e 70% (setenta por cento), acrescidos de
1% (um por cento) por cada grupo de 12 (doze) contri-
Outra aposentadoria não impactada pela Reforma buições, limitado o acréscimo a 30% (trinta por cento),
da Previdência foi a aposentadoria do deficiente, com aplicação facultativa do fator previdenciário.
prevista na Lei Complementar nº 142, de 2013. Para fins da aposentadoria especial, a par de
Deficiente é pessoa com impedimento de longo todas as modificações, os critérios para caracteriza-
prazo de natureza física, mental, intelectual ou sen- ção da atividade especial são previstos nos arts. 57
sorial, os quais, em interação com diversas barreiras, e 58, da Lei n° 8.213, de 1991, e arts. 64 a 70 e Anexo IV
podem obstruir sua participação plena e efetiva na (agentes nocivos), do Decreto n° 3.048, de 1999.
sociedade em igualdade de condições com as demais A aposentadoria especial, uma vez cumprida a
pessoas. carência exigida, será devida ao segurado empre-
O deficiente, na forma da lei, terá o tempo de con- gado, trabalhador avulso e contribuinte individual,
tribuição exigido para a aposentadoria reduzido, de este somente quando cooperado filiado à cooperativa
acordo com o grau de deficiência. de trabalho ou de produção, que tenha trabalhado
Critérios diferenciados: durante quinze, vinte ou vinte e cinco anos, conforme
o caso, sujeito a condições especiais que prejudiquem
a saúde ou a integridade física.
Homem: 25 TC A nova regra trazida pela Reforma da Previdência
DEFICIÊNCIA GRAVE mantém o tempo de exposição, mas traz a exigência
Mulher: 20 TC de idade mínima, que não existia anteriormente.
Homem: 29 TC
DEFICIÊNCIA IDADE TEMPO DE EXPOSIÇÃO
MODERADA Mulher: 24 TC 55 15

Homem: 33 TC 58 20
DEFICIÊNCIA LEVE 60 25
Mulher: 28 TC
Há, como vimos, a regra de transição dos pontos,
que se aplica aos segurados que já estavam no sistema
Poderá, ainda, independentemente do grau de
quando da Reforma da Previdência.
deficiência, aposentar-se por idade, com idade reduzi-
Para fazer jus à aposentadoria especial, os segu-
da para 60 anos, se homem e 55 anos, se mulher, com
rados devem comprovar o exercício de atividades
carência de 180 contribuições.
com efetiva exposição a agentes químicos, físicos e
A própria Emenda nº 103, de 2019, em seu art. 22,
biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses
preservou as regras anteriores, até que a lei discipli-
agentes, vedada a caracterização por categoria profis-
ne de modo diverso, sendo clara no sentido de que a
sional ou ocupação, durante, no mínimo, 15 (quinze),
mesma:
20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, conforme dispõe
o regulamento.
Será concedida na forma da Lei Complementar nº
O tempo de trabalho em atividade especial deve
142, de 8 de maio de 2013, inclusive quanto aos cri-
ser permanente, não ocasional nem intermitente,
térios de cálculo dos benefícios.
exercido em condições que prejudiquem a saúde ou a
integridade física.
Para identificação da deficiência, deve ser realiza- Não existe diferença de tempo entre homens e
da perícia biopsicossocial, que avaliará o grau de defi- mulheres.
ciência, a data de início e possíveis alterações no grau. Trata-se de exceção à regra do art. 201, que pre-
Nas situações em que a deficiência se verificar leciona não ser possível diferenciar critérios e requi-
após a filiação ou quando houver modificação de seu sitos para concessão de aposentadoria, a não ser nos
grau, os parâmetros serão ajustados proporcional- casos de atividades sob condições especiais.
mente e os períodos serão somados, após conversão, Até a edição da Lei n° 9.032, de 1995, o enquadra-
conforme tabela prevista no Regulamento. mento se dava em função da categoria profissional. Ex.:
O grau preponderante é aquele em que o segura- engenheiro.
do cumpriu a maior parte do tempo de contribuição, Após a Lei n° 9.032, de 1995, há necessidade de
antes da conversão. comprovação da efetiva exposição do trabalhador aos
Nas situações em que o segurado não cumprir todo agentes prejudiciais à saúde, de forma efetiva, habi-
o tempo necessário na condição de deficiente, é admi- tual e permanente.
tida a conversão, para fins de aposentadoria por tem- Atualmente, comprovação é feita pelo PPP (Per-
po de contribuição comum. fil Profissiográfico Previdenciário), preenchido pela
A redução do tempo de contribuição da pessoa empresa, pela cooperativa ou pelo órgão gestor de
com deficiência não poderá ser acumulada, no mes- mão de obra ou sindicato (trabalhador avulso), para
mo período contributivo, com a redução aplicada aos todos os agentes agressivos. Anteriormente, só se exi-
períodos de contribuição relativos às atividades exer- gia laudo para ruído e calor.
cidas sob condições especiais que prejudiquem a saú- Esse documento é elaborado com base em Laudo
de ou a integridade física. Técnico de Condições Ambientais do Trabalho (LTCAT)
610 e subscrito por médico ou engenheiro de segurança e
saúde no trabalho, devendo constar dele, ainda, ques- Exemplo prático: José trabalhou 10 anos em uma
tões como o uso de equipamentos de proteção indivi- atividade que lhe garantia aposentadoria especial
dual e coletiva, de acordo com a legislação trabalhista. com 20 anos. Depois, trabalhou em atividade que lhe
Deve ser observado o princípio tempus regit actum, garantia aposentadoria especial com 25 anos.
ou seja, verificar qual a legislação estava em vigor no Então, converte-se o tempo de 16 anos na faixa de
tempo do exercício da atividade. 20 para a faixa de 25, multiplicando-se por 1,25: resul-
tado 20, ou seja, precisa trabalhar mais 5 anos para se
aposentar especialmente na atividade que desempe-
Importante! nha atualmente.

Para ter direito à aposentadoria especial, é z Tabela 2 — Conversão de Tempo Especial em


necessário que o segurado trabalhe durante Tempo Comum
todo o tempo em atividade especial, não precisa
ser na mesma empresa ou na mesma atividade, Atenção: neste caso, a aposentadoria que será con-
mas precisa ser especial. cedida é a por tempo de contribuição e não a especial
e só é admitida a conversão para tempo trabalhado
até 13/11/2019.
Quando o segurado exerce uma atividade especial,
porém não atinge o tempo de contribuição suficiente
TEMPO A MULHER (PARA HOMEM
à aposentadoria nesta modalidade, é possível conver-
CONVERTER 30 ANOS) (PARA 35 ANOS)
ter esse tempo especial em comum. Não é admitida,
todavia, a conversão de tempo comum em especial. De 15 anos 2,00 2,33
Esta regra, que admite a possibilidade de conversão
de tempo especial em comum, foi limitada pela Emen- De 20 anos 1,50 1,75
da Constitucional nº 103, de 2019, de modo que só é De 25 anos 1,20 1,40
possível converter tempo trabalhado até 13/11/2019.
O tempo especial posterior à reforma não pode ser
Exemplo: Joaquim trabalhou 15 anos em ativida-
convertido em comum.
de especial, que lhe garantia a aposentadoria após 25
O segurado que recebe aposentadoria especial não
anos. Depois disso, passou a exercer atividade comum.
pode continuar ou retornar ao exercício de atividades
Para converter o tempo especial em tempo comum,
ou operações que o sujeitassem aos agentes nocivos
multiplicamos o tempo trabalhado, 15 anos, por 1,40.
químicos, físicos, biológicos. Esta vedação foi validada Atingimos, então, o tempo de 21 anos. Nesse caso, Joa-
pelo Supremo Tribunal Federal (Tema 709). quim terá que trabalhar mais 14 anos em atividade
Agentes nocivos podem ser definidos como os que comum para se aposentar com 35 anos de contribui-
podem trazer ou ocasionar danos à saúde ou à integri- ção (sem a conversão, deveria trabalhar mais 20 anos).
dade física do trabalhador nos ambientes de trabalho, Somente é admitida a conversão de tempo especial
em função de sua concentração, intensidade ou expo- em comum para períodos de trabalho até a entrada
sição aos agentes. em vigor da Emenda n° 103, de 2019 (13/11/2019).
Agentes físicos são as diversas formas de energia
a que possam estar expostos os trabalhadores, tais
como: ruído, vibração, frio, calor, pressões anormais, Importante!
radiações ionizantes, umidade etc.

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


Agentes químicos são as substâncias, os compos- Na forma de como dispõe a Lei n° 10.666, de
tos ou produtos que possam penetrar no organismo 2003, não há necessidade de cumprir o requi-
pela via respiratória ou que, pela natureza da ativi- sito qualidade de segurado nas aposentadorias
dade da exposição, possam ter contato ou ser absorvi- programadas (idade, tempo de contribuição e
das pelo organismo por meio da pele ou por ingestão. especial).
São exemplos: névoas, neblinas, poeiras, fumos, gases,
vapores de substâncias nocivas etc.
Aposentadoria por Invalidez (Aposentadoria por
Agentes biológicos são microrganismos como baci- Incapacidade Permanente — Nova Nomenclatura
los, bactérias, fungos, parasitas etc. pela EC 103, de 2019)

Tabelas de Conversão A aposentadoria por incapacidade permanente,


que antes da reforma era denominada aposentado-
z Tabela 1 — Exercício de Mais de Uma Atividade ria por invalidez, é um benefício destinado à incapa-
Especial cidade total para o trabalho, ou seja, o segurado não
consegue exercer nenhuma profissão em razão do
TEMPO A PARA 15 PARA 20 PARA 25 quadro de saúde.
CONVERTER ANOS ANOS ANOS Imagine um segurado que sofre um acidente
de moto e fica paraplégico, sem qualquer condi-
1,67 ção de voltar a trabalhar. Neste caso, será devida a
De 15 anos - 1,33
aposentadoria.
Este benefício por incapacidade, devido, portanto,
1,25 nas situações em que o segurado não pode exercer
De 20 anos 0,75 -
nenhuma atividade remunerada que garanta sua sub-
sistência, tem previsão legal nos arts. 42 a 47, da Lei
De 25 anos 0,60 0,80 -
n° 8.213, de 1991. 611
Esta aposentadoria é devida a todos os tipos de Diferentemente das aposentadorias por tempo,
segurados, quando de espécie previdenciária, em idade e especial, é exigida a qualidade de segurado.
razão de incapacidade total e permanente para o tra- Em caso de grande invalidez (art. 45, da Lei 8.213,
balho e dura enquanto permanecer esta condição. Os de 1991), acrescenta-se 25% (vinte e cinco por cento)
benefícios decorrentes de acidentes do trabalho são sobre o valor do salário de benefício, ainda que ultra-
devidos apenas para empregado, empregado domésti- passe o limite superior do salário de benefício (teto).
co, trabalhador avulso e segurado especial. A grande invalidez é a incapacidade total e per-
Não é, portanto, vitalícia, já que pode ser obje- manente de tal proporção que acarreta a necessidade
to de reavaliação pericial, a não ser nas hipóteses permanente do auxílio de terceiros para o desenvolvi-
expressamente previstas na lei, em que o segurado mento das atividades cotidianas, em virtude da ampli-
estará dispensado do exame. tude da perda da autonomia física, motora ou mental,
Não necessariamente deve ser precedida de um que impede a pessoa de realizar os atos diários mais
auxílio-doença. simples, tal como as necessidades fisiológicas.
O risco protegido é a incapacidade laboral. É bene- A grande invalidez é personalíssima, de modo que
fício substitutivo dos salários, já que o aposentado por o acréscimo de 25% (vinte e cinco por cento) não se
incapacidade permanente tem vedação legal de vol- transmite à pensão por morte. A relação das situações
tar às atividades, sob pena de suspensão do benefício de grande invalidez está no Anexo I, do Decreto n°
previdenciário. 3.048, de 1999. São as seguintes:
Há necessidade de comprovação da invalidez,
por meio de exame médico a ser realizado por perito Art. 45 [...]
médico federal, podendo o segurado ser acompanha- 1 - Cegueira total;
do, na perícia, por médico de sua confiança, as suas 2 - Perda de nove dedos das mãos ou superior a
expensas. esta;
Trata-se de incapacidade laborativa, e não de inca- 3 - Paralisia dos dois membros superiores ou
pacidade absoluta, total e completa para atos da vida inferiores;
civil. 4 - Perda dos membros inferiores, acima dos pés,
Para cálculo do benefício, após a Reforma da Pre- ainda que a prótese seja possível;
5 - Perda de uma das mãos e de dois pés, ainda que
vidência Social, é aplicado um coeficiente de 60% (ses-
a prótese seja possível;
senta por cento), acrescido de 2% (dois por cento), por
6 - Perda de um membro superior e outro inferior,
cada ano que ultrapasse 15 (quinze) de contribuição
quando a prótese for impossível;
para a mulher e 20 (vinte) para o homem. Este coefi- 7 - Alteração das faculdades mentais com grave
ciente é aplicado no salário de benefício (média arit- perturbação da vida orgânica e social;
mética simples de todos os salários de contribuição 8 - Doença que exija permanência continua no leito;
a partir da competência julho, de 1994 ou da data de 9 - Incapacidade permanente para as atividades da
ingresso no sistema, se posterior a esta data). vida diária;
Em caso de aposentadoria por incapacidade per-
manente decorrente de acidente do trabalho, o coefi- O rol, todavia, é exemplificativo, de modo que, na
ciente será sempre de 100% (cem por cento). prática, podem ser avaliadas as condições do segura-
Por exemplo: INSS concede a João aposentado- do e a efetiva necessidade do terceiro.
ria por incapacidade permanente não decorrente de Portanto, o benefício é devido:
acidente de trabalho. João tem 25 anos de tempo de
contribuição. z Se o segurado estivava recebendo auxílio-doença,
a partir do dia imediatamente seguinte à alta
z Cálculo: 60% + 2% (cada ano que supera 20 — no deste;
caso de João, tem 5 anos que superam os 20) — z Se o segurado não estava recebendo auxílio-doença:
60% + 2% x 5 = 70%. A renda inicial da aposentado-
ria de João será de 70% do seu salário de benefício „ Empregado: a contar do 16º dia de afastamento
(média). ou a partir da entrada do requerimento se entre
esse e o afastamento decorrerem mais de 30 dias
A cobertura previdenciária é vedada ao segurado (alínea “a”, § 1º, art. 43, da Lei n° 8.213, de 1991);
que ingressa no sistema já incapacitado para o tra- „ Empregado doméstico, avulso, contribuinte
balho. Há cobertura, entretanto, se a incapacidade individual, especial e facultativo: a contar do
decorrer de progressão ou agravamento dessa doen- início da incapacidade ou da data do requeri-
ça ou lesão. mento se entre essas duas transcorrerem mais
Segundo a norma inscrita no § 2º, do art. 42, da Lei de 30 dias (alínea “b”, § 1º, art. 43, da Lei n°
n° 8.213, de 1991, “A doença ou lesão de que o segurado 8.213, de 1991).
já era portador ao filiar-se ao Regime Geral de Previ-
dência Social não lhe conferirá direito à aposentadoria Da mesma forma, temos a disposição de como o
por invalidez, salvo quando a incapacidade sobre- benefício pode cessar. Acompanhe os arts. 45 a 47, da
vier por motivo de progressão ou agravamento Lei n° 8.213, de 1991:
dessa doença ou lesão”.
A carência é de 12 contribuições mensais para a Art. 45 O valor da aposentadoria por invalidez do
aposentadoria por incapacidade permanente comum segurado que necessitar da assistência permanente
e não há carência para acidente do trabalho ou de de outra pessoa será acrescido de 25% (vinte e cin-
qualquer natureza, doenças profissionais ou doenças co por cento).
do trabalho e doenças catalogadas no art. 151, da Lei Parágrafo único. O acréscimo de que trata este
612 n° 8.213, de 1991, enquanto a lista não é elaborada. artigo:
a) será devido ainda que o valor da aposentadoria Já o § 5º estabelece que “a pessoa com HIV/aids é
atinja o limite máximo legal; dispensada da avaliação referida no § 4º deste artigo”.
b) será recalculado quando o benefício que lhe deu Os demais casos de dispensa da perícia de reava-
origem for reajustado; liação estão previstos no art. 101, da Lei n° 8.213, de
c) cessará com a morte do aposentado, não sendo 1991:
incorporável ao valor da pensão.
Art. 46 O aposentado por invalidez que retornar Art. 101 [...]
voluntariamente à atividade terá sua aposentado- § 1º O aposentado por invalidez e o pensionista
ria automaticamente cancelada, a partir da data inválido que não tenham retornado à atividade
do retorno. estarão isentos do exame de que trata o caput deste
Art. 47 Verificada a recuperação da capacidade de artigo:
trabalho do aposentado por invalidez, será obser- I - após completarem cinquenta e cinco anos ou
vado o seguinte procedimento: mais de idade e quando decorridos quinze anos da
I - quando a recuperação ocorrer dentro de 5 (cinco) data da concessão da aposentadoria por invalidez
anos, contados da data do início da aposentadoria ou do auxílio-doença que a precedeu; ou
por invalidez ou do auxílio-doença que a antecedeu II - após completarem sessenta anos de idade.
sem interrupção, o benefício cessará: […]
a) de imediato, para o segurado empregado que § 4° A perícia de que trata este artigo terá acesso
tiver direito a retornar à função que desempenha- aos prontuários médicos do periciado no Siste-
va na empresa quando se aposentou, na forma da ma Único de Saúde (SUS), desde que haja a prévia
legislação trabalhista, valendo como documento, anuência do periciado e seja garantido o sigilo
para tal fim, o certificado de capacidade fornecido sobre os dados dele
pela Previdência Social; ou
b) após tantos meses quantos forem os anos de A referida isenção não se aplica em algumas
duração do auxílio-doença ou da aposentadoria situações:
por invalidez, para os demais segurados;
II - quando a recuperação for parcial, ou ocor- Art. 101 […]
rer após o período do inciso I, ou ainda quando o § 2º A isenção de que trata o § 1º não se aplica
segurado for declarado apto para o exercício de quando o exame tem as seguintes finalidades:
trabalho diverso do qual habitualmente exercia, a I - verificar a necessidade de assistência permanen-
aposentadoria será mantida, sem prejuízo da volta te de outra pessoa para a concessão do acréscimo
à atividade: de 25% (vinte e cinco por cento) sobre o valor do
a) no seu valor integral, durante 6 (seis) meses con- benefício, conforme dispõe o art. 45;
tados da data em que for verificada a recuperação II - verificar a recuperação da capacidade de traba-
da capacidade; lho, mediante solicitação do aposentado ou pensio-
b) com redução de 50% (cinqüenta por cento), no nista que se julgar apto;
período seguinte de 6 (seis) meses; III - subsidiar autoridade judiciária na concessão
c) com redução de 75% (setenta e cinco por cento), de curatela, conforme dispõe o art. 110.
também por igual período de 6 (seis) meses, ao tér-
mino do qual cessará definitivamente. Nos casos em que o aposentado por incapacidade
permanente entender que tem condições de retornar
Os valores recebidos pelo segurado, quando a ces- ao trabalho, deve solicitar à Previdência a realização
sação da aposentadoria por incapacidade permanen- de perícia médica. Se retornar voluntariamente, o
te não é imediata, são chamados de mensalidade de benefício será cessado.

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


recuperação. Atente-se à Súmula n° 576, do STJ:
Dispõe o art. 475, da Consolidação das Leis do Tra-
balho, que: Súmula n° 576 (STJ) Ausente requerimento admi-
nistrativo no INSS, o termo inicial para a implan-
Art. 475 O empregado que for aposentado por tação da aposentadoria por invalidez concedida
invalidez terá suspenso o seu contrato de trabalho judicialmente será a data da citação válida.
durante o prazo fixado pelas leis de previdência
social para a efetivação do benefício”. A concessão de aposentadoria por incapacidade
permanente, inclusive quando precedida de auxílio
Resta claro, assim, que a aposentadoria por inca- por incapacidade temporária concedido na forma
pacidade permanente não constitui causa de extin- prevista no art. 73, fica condicionada ao afastamento
ção do contrato de trabalho, mas sim de suspensão, o do segurado de todas as suas atividades.
que implica necessária conclusão no sentido de que o
empregado deve reassumir seu posto de trabalho no Auxílio por Incapacidade Temporária (Antigo Auxílio
caso de recuperação da capacidade laborativa com Doença)
consequente cancelamento da aposentadoria (art. 47,
Lei n° 8.213, de 1991). O auxílio por incapacidade temporária, como
Dispõe o § 4º, art. 43, da Lei n° 8.213, de 1991, que: o próprio nome identifica, é o benefício devido no
período em que o segurado ficar incapacitado de for-
Art. 43 [...] ma total, porém temporária, para o seu trabalho.
§ 4º O segurado aposentado por invalidez poderá Isso significa que será devido enquanto o prognós-
ser convocado a qualquer momento para avaliação tico médico identificar a possibilidade de tratamento
das condições que ensejaram o afastamento ou a médico e enquanto perdurar esta condição, ou seja,
aposentadoria, concedida judicial ou administra- até recuperar sua capacidade laborativa ou até que a
tivamente, observado o disposto no art. 101 desta incapacidade se torne permanente, quando passará a
Lei.” receber o benefício correspondente. 613
É devido a todos os tipos de segurados, quando de Quando não fixado prazo de recuperação estima-
espécie previdenciária. Os benefícios decorrentes de da, será aplicado o limite de 120 (cento e vinte) dias,
acidentes do trabalho são devidos apenas para empre- preservado o direito do segurado de promover o pedi-
gado, empregado doméstico, trabalhador avulso e do de prorrogação.
segurado especial. Independentemente de a concessão do benefício
Exige carência de 12 contribuições mensais no ser judicial ou administrativa, a autarquia previden-
caso de benefício comum e sem carência para aciden- ciária pode, a qualquer momento, convocar o segura-
tes do trabalho ou de qualquer natureza, doenças pro- do para avaliação das condições que ensejaram sua
fissionais ou do trabalho e doenças catalogadas pelo concessão ou manutenção, observado o disposto no
Ministério da Saúde. art. 101 já estudado (hipóteses de dispensa da avalia-
É necessária a incapacidade para o trabalho ou ção). Da decisão de cessação cabe recurso administra-
para a sua atividade habitual por mais de 15 dias. Os tivo, no prazo de 30 (trinta) dias.
primeiros quinze dias, de responsabilidade do empre-
gador, são chamados período de espera, ficando o Art. 62 O segurado em gozo de auxílio-doença,
contrato de trabalho interrompido. insuscetível de recuperação para sua atividade habi-
Após o 16º (décimo sexto) dia de afastamento, o tual, deverá submeter-se a processo de reabilitação
INSS passa a pagar o auxílio por incapacidade tempo- profissional para o exercício de outra atividade.
rária e o contrato de trabalho fica suspenso. § 1º O benefício a que se refere o caput deste artigo
Conforme dispõe o inciso II, do art. 72, do Decreto n° será mantido até que o segurado seja considerado
3.048, de 1999, para os demais segurados, o termo ini- reabilitado para o desempenho de atividade que lhe
cial do benefício dá-se na data do início da incapacidade, garanta a subsistência ou, quando considerado não
desde que o afastamento seja superior a quinze dias. recuperável, seja aposentado por invalidez.
§ 2º A alteração das atribuições e responsabilida-
des do segurado compatíveis com a limitação que
tenha sofrido em sua capacidade física ou mental
Importante!
não configura desvio de cargo ou função do segura-
Auxílio por incapacidade temporária = incapaci- do reabilitado ou que estiver em processo de reabi-
dade total e temporária. litação profissional a cargo do INSS.
O auxílio por incapacidade temporária não tem
prazo máximo para pagamento. A partir da Lei n° 13.846, de 2019, o auxílio-doença
não é devido a segurado recluso em regime fechado.
Se for recolhido à prisão em gozo de auxílio-doença, o
Não é devido em caso de doença ou lesão pré- benefício será suspenso, nos termos do § 2º, do art. 59.
-adquirida, salvo nos casos de agravamento, confor- A suspensão dá-se no prazo máximo de 60 (sessen-
me previsto para a aposentadoria por incapacidade ta) dias, sendo cessada após o fim deste período. Caso
permanente. seja colocado em liberdade antes de findo o prazo, o
A concessão do benefício gera direito subjetivo à benefício será restabelecido desde a data da soltura.
percepção dos seguintes serviços: processo de reabi- Se a prisão for declarada ilegal, o segurado terá direito
litação profissional e tratamento médico às expensas à percepção do benefício por todo o período devido.
da Previdência Social.
O segurado deve ser submetido aos tratamentos
indicados pela Previdência, sendo certo que não é Importante!
obrigado a submeter-se a procedimento cirúrgico ou
transfusão de sangue. Súmula n° 72 (TNU) “É possível o recebimento
O início para o segurado empregado e a data de de benefício por incapacidade durante o período
início é o 16º dia do afastamento. Para os demais, é em que houve exercício de atividade remunera-
a própria data de início da incapacidade, valendo a da quando comprovado que o segurado estava
regra dos 30 dias entre essas datas e o requerimento incapaz para as atividades habituais na época
administrativo. em que trabalhou”. Este posicionamento foi rati-
O pagamento de novo benefício decorrente da ficado pelo Superior Tribunal de Justiça, no jul-
mesma doença em até 60 dias da cessação do anterior gamento do Tema 1.013.
desobriga a empresa do pagamento do período de
espera (15 dias).
Há cessação do benefício com a morte e com o Auxílio Acidente
restabelecimento do segurado, com a conversão
da aposentadoria por invalidez ou a habilitação para O benefício é devido ao segurado após a consoli-
outra atividade que lhe garanta a subsistência, após dação das lesões decorrentes de acidente de qualquer
processo de reabilitação. natureza que resultem em redução da capacidade
Pode ser concedido de ofício pela Previdência para o trabalho que habitualmente exercia ou impos-
quando tiver ciência da incapacidade, mesmo quando sibilidade de exercício da mesma atividade da época
o segurado não tenha requerido o benefício. do acidente, mas com possibilidade de desempenho
O exame médico, a cargo do INSS, fixará a data do de outra, após processo de reabilitação profissional.
início da doença (DID) e a data do início da incapaci- Não há exigência de carência, mas há a necessida-
dade (DII). de de ostentar qualidade de segurado, ou, ao menos,
Sempre que possível, o ato de concessão ou de reativa- estar no chamado período de graça.
ção de auxílio-doença, judicial ou administrativo, deverá Apenas têm direito os empregados, empregados
fixar o prazo estimado para a duração do benefício. domésticos, trabalhadores avulsos e segurados especiais.
614
Há direito ao auxílio acidente nas seguintes § 1º O pagamento do benefício de que trata o caput
hipóteses: deverá ser requerido até o último dia do prazo
previsto para o término do salário-maternidade
z acidente de qualquer natureza; originário.
z acidente do trabalho; § 2º O benefício de que trata o caput será pago dire-
z doenças profissionais; tamente pela Previdência Social durante o período
entre a data do óbito e o último dia do término do
z doenças do trabalho;
salário-maternidade originário e será calculado
z concausas e equiparações.
sobre:
I - a remuneração integral, para o empregado e tra-
O auxílio acidente está previsto apenas para inca- balhador avulso;
pacidade parcial e permanente. II - o último salário-de-contribuição, para o empre-
O benefício de auxílio acidente tem caráter indeni- gado doméstico;
zatório, ou seja, não substitui salário ou remuneração, III - 1/12 (um doze avos) da soma dos 12 (doze) últimos
podendo ter valor inferior a um salário mínimo. salários de contribuição, apurados em um período
O segurado pode trabalhar e receber o benefício não superior a 15 (quinze) meses, para o contribuinte
ao mesmo tempo. individual, facultativo e desempregado; e
O benefício, não obstante indenizatório, é pago IV - o valor do salário mínimo, para o segurado
mensalmente ao segurado, até a véspera de qualquer especial.
aposentadoria.
Para o INSS, a perda da audição, em qualquer grau, É condição para a percepção do benefício o afas-
somente proporcionará a concessão do auxílio-aciden- tamento do trabalho ou da atividade desempenhada,
te quando, além do reconhecimento do nexo de causal sob pena de suspensão do benefício.
entre o trabalho e a doença, resultar comprovadamen- No caso de segurada desempregada, que mantém
te redução ou perda da capacidade para o trabalho. a qualidade de segurada por conta do período de gra-
ça, o cálculo se dá em um doze avos da soma dos doze
Salário-Maternidade últimos salários de contribuição, apurados em um
período não superior a quinze meses.
O salário-maternidade é o benefício previdenciá- Para contribuintes individuais, especiais e faculta-
rio (prestação pecuniária) pago durante o período de tivas, é exigida carência de 10 contribuições mensais.
licença maternidade. No caso de parto antecipado, o período de carência
São fatos geradores do benefício: o parto, a adoção, será reduzido em número de contribuições equivalen-
a guarda para fins de adoção e o aborto não criminoso. tes ao número de meses em que o parto foi antecipado.
É devido à segurada da Previdência Social, durante A segurada especial deve comprovar o efetivo
120 (cento e vinte) dias, com início no período entre 28 exercício de atividade rural nos 10 meses que antece-
(vinte e oito) dias antes do parto e a data de ocorrên- deram o parto ou requerimento, podendo esse prazo
cia deste, podendo, todavia, ser iniciado após o parto ser reduzido se o parto for antecipado.
ou ocorrência do fato gerador. As seguradas empregadas (inclusive domésticas) e
Na adoção ou guarda para fins de adoção, o bene- as avulsas estão dispensadas de carência.
fício é devido pelo prazo de 120 (cento e vinte) dias, No caso de aborto não criminoso, a segurada tem
independentemente da idade da criança adotada, que direito ao benefício por duas semanas. Em caso de
será pago, nesta situação, diretamente pela Previdên- natimorto, por 120 (cento e vinte) dias.
cia Social. No caso de adoção, o início será a apresentação do

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O benefício não poder ser concedido a mais de um termo de guarda ou da sentença de adoção.
segurado, em decorrência do mesmo fato gerador, Em casos excepcionais, em função da necessidade
regra que tem duas exceções: de maior tempo para a recuperação da gestação, os
períodos de descanso antes e depois do parto poderão
z concessão à mãe biológica e à mãe adotante; ser aumentados em duas semanas cada um, mediante
z concessão no caso de óbito do titular, quando será atestado médico (§ 2º, art. 392, da CLT).
pago, por todo o período ou pelo tempo restante É importante lembrar que segurada aposentada que
a que teria direito, ao cônjuge ou companheiro volta a trabalhar tem direito ao salário-maternidade.
sobrevivente que tenha a qualidade de segurado,
exceto no caso do falecimento do filho ou de seu Salário-Família
abandono, observadas as normas aplicáveis ao
salário-maternidade. Art. 65 O salário-família será devido, mensalmen-
te, ao segurado empregado, inclusive o doméstico,
e ao segurado trabalhador avulso, na proporção
Este último deve ser requerido até o último dia do
do respectivo número de filhos ou equiparados nos
prazo para o término do salário-maternidade originá-
termos do § 2º do art. 16 desta Lei, observado o dis-
rio e será pago diretamente pela Previdência Social. posto no art. 66.
Vejamos: Parágrafo único. O aposentado por invalidez ou por
idade e os demais aposentados com 65 (sessenta e
Art. 71-B No caso de falecimento da segurada ou cinco) anos ou mais de idade, se do sexo masculino,
segurado que fizer jus ao recebimento do salário- ou 60 (sessenta) anos ou mais, se do feminino, terão
-maternidade, o benefício será pago, por todo o direito ao salário-família, pago juntamente com a
período ou pelo tempo restante a que teria direito, aposentadoria. […]
ao cônjuge ou companheiro sobrevivente que tenha Art. 67 O pagamento do salário-família é condicio-
a qualidade de segurado, exceto no caso do faleci- nado à apresentação da certidão de nascimento do
mento do filho ou de seu abandono, observadas as filho ou da documentação relativa ao equiparado
normas aplicáveis ao salário-maternidade. ou ao inválido, e à apresentação anual de atestado 615
de vacinação obrigatória e de comprovação de fre- enteado e ao menor tutelado, desde que comprova-
qüência à escola do filho ou equiparado, nos termos da a dependência econômica dos dois últimos, e fica
do regulamento. condicionado à apresentação anual de atestado de
Parágrafo único. O empregado doméstico deve vacinação obrigatória dos referidos dependentes, de
apresentar apenas a certidão de nascimento refe- até seis anos de idade, e de comprovação semestral
rida no caput.
de frequência à escola dos referidos dependentes, a
Art. 68 As cotas do salário-família serão pagas pela
partir de quatro anos de idade, e, para o empregado
empresa ou pelo empregador doméstico, mensal-
mente, junto com o salário, efetivando-se a compen- doméstico, apenas certidão de nascimento do filho ou
sação quando do recolhimento das contribuições, a documentação relativa ao enteado e ao menor tute-
conforme dispuser o Regulamento. lado, desde que comprovada a dependência econômi-
§ 1º A empresa ou o empregador doméstico conser- ca dos dois últimos.
varão durante 10 (dez) anos os comprovantes de A extinção do benefício ocorre com:
pagamento e as cópias das certidões corresponden-
tes, para fiscalização da Previdência Social. z término da relação de emprego ou contrato com
§ 2º Quando o pagamento do salário não for men- sindicato;
sal, o salário-família será pago juntamente com o z morte do segurado/filhou ou equiparado, a partir
último pagamento relativo ao mês. do mês seguinte ao óbito;
Art. 69 O salário-família devido ao trabalhador z atingimento da idade legal máxima (14 anos);
avulso poderá ser recebido pelo sindicato de classe
z cessação da invalidez do filho ou equiparado, a
respectivo, que se incumbirá de elaborar as folhas
correspondentes e de distribuí-lo.
contar do mês seguinte.
Art. 70 A cota do salário-família não será incor-
porada, para qualquer efeito, ao salário ou ao É devido ao pai e à mãe se ambos forem segurados
benefício. e preencherem os requisitos, sendo que, em caso de
divórcio ou separação, passará a ser pago a quem ficar
Benefício devido ao segurado empregado, empre- responsável pelo sustento do menor. A invalidez do filho
gado doméstico e ao trabalhador avulso, que tenham será comprovada por perícia médica administrativa.
salário de contribuição inferior ou igual a R$ 1.425,26
(valor válido para o ano de 2020), na proporção do Auxílio-Reclusão
respectivo número de filhos de até 14 anos ou inváli-
dos, além dos equiparados (tutelados e enteados). Art. 80 O auxílio-reclusão, cumprida a carência
O benefício é devido ao segurado, e não aos prevista no inciso IV do caput do art. 25 desta Lei,
dependentes. será devido, nas condições da pensão por morte,
aos dependentes do segurado de baixa renda reco-
Art. 82 (Decreto n° 3.048, de 1999) O salário-famí- lhido à prisão em regime fechado que não receber
lia será pago mensalmente: remuneração da empresa nem estiver em gozo de
I - ao empregado, inclusive o doméstico, pela empre- auxílio-doença, de pensão por morte, de salário-
sa ou pelo empregador doméstico, juntamente com -maternidade, de aposentadoria ou de abono de
o salário, e ao trabalhador avulso, pelo sindicato ou permanência em serviço.
órgão gestor de mão de obra, por meio de convênio; § 1º O requerimento do auxílio-reclusão será
II - ao empregado, inclusive o doméstico, e ao traba- instruído com certidão judicial que ateste o
lhador avulso aposentados por incapacidade per- recolhimento efetivo à prisão, e será obrigató-
manente ou em gozo de auxílio por incapacidade ria a apresentação de prova de permanência
temporária, pelo INSS, juntamente com o benefício; na condição de presidiário para a manuten-
III - ao trabalhador rural aposentado por idade aos ção do benefício.
sessenta anos, se do sexo masculino, ou cinqüenta e § 2º O INSS celebrará convênios com os órgãos
cinco anos, se do sexo feminino, pelo Instituto Nacional públicos responsáveis pelo cadastro dos presos para
do Seguro Social, juntamente com a aposentadoria; e obter informações sobre o recolhimento à prisão.
IV - aos demais empregados, inclusive os domésti- § 3º Para fins do disposto nesta Lei, considera-se
cos, e aos trabalhadores avulsos aposentados aos segurado de baixa renda aquele que, no mês de
sessenta e cinco anos de idade, se homem, ou aos competência de recolhimento à prisão, tenha ren-
sessenta anos, se mulher, pelo INSS, juntamente da, apurada nos termos do disposto no § 4º deste
com a aposentadoria. artigo, de valor igual ou inferior àquela prevista no
art. 13 da Emenda Constitucional nº 20, de 15 de
Atenção! O valor da cota do salário-família por dezembro de 1998, corrigido pelos índices de rea-
filho ou equiparado de qualquer condição, até 14 (qua- juste aplicados aos benefícios do RGPS.
torze) anos de idade, ou inválido de qualquer idade, a § 4º A aferição da renda mensal bruta para enqua-
partir de 1º de janeiro de 2020, é de R$ 51,27 (cinquen- dramento do segurado como de baixa renda
ta e um reais e vinte e sete centavos) para o segurado ocorrerá pela média dos salários de contribuição
com remuneração não superior a R$1.503,25 (um mil apurados no período de 12 (doze) meses anteriores
quinhentos e três reais e vinte e cinco centavos). (Por- ao mês do recolhimento à prisão.
§ 5º A certidão judicial e a prova de permanência na
taria SEPRT 477, de 2021, art. 4º).
condição de presidiário poderão ser substituídas pelo
O valor da cota do salário família é atualizado acesso à base de dados, por meio eletrônico, a ser dis-
todos os anos por Portaria administrativa. As cotas ponibilizada pelo Conselho Nacional de Justiça, com
do salário-família não serão incorporadas, para qual- dados cadastrais que assegurem a identificação plena
quer efeito, ao salário ou ao benefício. do segurado e da sua condição de presidiário.
Na forma de como dispõe o art. 84, do Decreto § 6º Se o segurado tiver recebido benefícios por
3.048, de 1999, o pagamento do benefício ocorrerá incapacidade no período previsto no § 4º deste
a partir da data de apresentação da certidão de nas- artigo, sua duração será contada considerando-se
616 cimento do filho ou da documentação relativa ao como salário de contribuição no período o salário
de benefício que serviu de base para o cálculo da Pensão por Morte
renda mensal, reajustado na mesma época e com a
mesma base dos benefícios em geral, não podendo Benefício de prestação continuada devido aos
ser inferior ao valor de 1 (um) salário mínimo. dependentes do segurado que falecer nesta condição.
§ 7º O exercício de atividade remunerada do segu- Exigida, portanto, a qualidade de segurado.
rado recluso, em cumprimento de pena em regime
Cabe o benefício nos casos de perda da qualidade
fechado, não acarreta a perda do direito ao recebi-
de segurado do falecido quando o instituidor do bene-
mento do auxílio-reclusão para seus dependentes.
§ 8º Em caso de morte de segurado recluso que fício tenha implementado todos os requisitos para
tenha contribuído para a previdência social duran- obtenção de uma aposentadoria até a data do óbito
te o período de reclusão, o valor da pensão por (Súmula n° 416, STJ).
morte será calculado levando-se em consideração o
tempo de contribuição adicional e os corresponden-
tes salários de contribuição, facultada a opção pelo Importante!
valor do auxílio-reclusão.
Súmula n° 340, do STJ: “A lei aplicável à conces-
O auxílio-reclusão, cumprida a carência de 24 (vinte e são de pensão previdenciária por morte é aquela
quatro) contribuições, será devido, nas condições da pen- vigente na data do óbito do segurado”.
são por morte, aos dependentes do segurado de baixa ren-
da (mesmo valor aplicado ao salário família) recolhido à
A pensão é definitiva em caso de morte real e pro-
prisão em regime fechado que não receber remuneração
visória quando decorrente de morte presumida (art.
da empresa nem estiver em gozo de auxílio-doença, de
78, da Lei n° 8.213, de 1991).
pensão por morte, de salário-maternidade, de aposenta-
doria ou de abono de permanência em serviço.
Art. 78 Por morte presumida do segurado, declara-
O requerimento deverá ser instruído com certidão
da pela autoridade judicial competente, depois de
judicial que ateste o recolhimento efetivo à prisão,
6 (seis) meses de ausência, será concedida pensão
sendo obrigatória, para a manutenção do benefício, a
provisória, na forma desta Subseção.
apresentação de prova de permanência na condição § 1º Mediante prova do desaparecimento do segu-
de presidiário. rado em conseqüência de acidente, desastre ou
A verificação da renda mensal bruta para enqua- catástrofe, seus dependentes farão jus à pensão
dramento do segurado como de baixa renda ocorrerá provisória independentemente da declaração e do
pela média dos salários de contribuição apurados no prazo deste artigo.
período de doze meses anteriores ao mês do recolhi- § 2º Verificado o reaparecimento do segurado, o
mento à prisão. Anteriormente à Lei n° 13.846, de 2019, pagamento da pensão cessará imediatamente,
era utilizado o valor do último salário de contribuição desobrigados os dependentes da reposição dos
O exercício de atividade remunerada do segurado valores recebidos, salvo má-fé.
recluso, em cumprimento de pena em regime fecha-
do, não acarreta a perda do direito ao recebimento do Início do pagamento:
auxílio-reclusão para seus dependentes.
Segundo entendimento do STF, a renda a ser consi- z data do óbito, quando requerida em até cento e
derada é a do segurado e não dos dependentes (Súmu- oitenta dias após o óbito, para filhos menores de
la nº 89). dezesseis anos ou em até 90 dias após o óbito, para
Visa proteger os dependentes do segurado que os demais dependentes (Redação da Lei n° 13.846,

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ficam privados dos recursos para a subsistência em de 2019);
decorrência da prisão do segurado que proporciona- z data do requerimento, quando requerida após o
va o apoio econômico. prazo de 90 dias contados do óbito;
O segurado deve ser recolhido em Regime Fecha- z da decisão judicial, em caso de morte presumida.
do apenas (alteração da Lei n° 13.846, de 2019).
O benefício tem termo inicial fixado do mesmo cri- A Lei n° 13.846, de 2019, trouxe alterações impor-
tério da pensão por morte, ou seja, é devido desde o efe- tantes à Lei n° 8.213, de 1991. Uma delas diz respeito
tivo recolhimento do segurado à prisão, se o benefício
à perda da pensão no caso de condenação criminal
for requerido no prazo de cento e oitenta dias, para os
por sentença com trânsito em julgado, como autor,
filhos menores de dezesseis anos, ou de noventa dias,
coautor ou partícipe de homicídio doloso, ou de ten-
para os demais dependentes; ou do requerimento, se o
tativa desse crime, cometido contra a pessoa do segu-
benefício for requerido após estes prazos.
rado, ressalvados os absolutamente incapazes e os
A EC n° 103, de 2019, em seu art. 27, estabelece que
inimputáveis.
o auxílio-reclusão será calculado na forma da pensão
Outra é relativa à possibilidade de habilitação pro-
por morte, não podendo exceder o valor de um salário
visória na pensão por morte nos casos de propositura
mínimo nem ser inferior a este limite, observando-se
de ação judicial para reconhecimento da condição de
que as cotas dos dependentes podem ficar abaixo do
dependente, situação em que a cota cabente ao pre-
salário, desde que a somatória, valor total do benefí-
tenso dependente ficará reservada e será paga apenas
cio, seja de um salário.
após o trânsito em julgado da decisão.
Art. 27 […] Esta habilitação provisória poderá ser processada
§ 1º Até que lei discipline o valor do auxílio-reclu- de ofício nos casos em que o INSS for parte na ação
são, de que trata o inciso IV do art. 201 da Consti- judicial.
tuição Federal, seu cálculo será realizado na forma No caso de improcedência da ação, o valor reserva-
daquele aplicável à pensão por morte, não podendo do será revertido aos demais dependentes, de acordo
exceder o valor de 1 (um) salário-mínimo. com as cotas e o tempo de duração de seus benefícios. 617
Na hipótese de o segurado falecido estar, na data 6) vitalícia, com 44 (quarenta e quatro) ou mais anos
de seu falecimento, obrigado por determinação judi- de idade. (Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015)
cial a pagar alimentos temporários a ex-cônjuge, VI - pela perda do direito, na forma do § 1º do art. 74
ex-companheiro ou ex-companheira, a pensão por desta Lei. (Incluído pela Lei nº 13.846, de 2019) […]
morte será devida pelo prazo remanescente na data § 7º Se houver fundados indícios de autoria, coau-
do óbito, caso não incida outra hipótese de cancela- toria ou participação de dependente, ressalvados
mento anterior do benefício. os absolutamente incapazes e os inimputáveis, em
homicídio, ou em tentativa desse crime, cometido
contra a pessoa do segurado, será possível a sus-
Art. 74 [...]
pensão provisória de sua parte no benefício de pen-
§ 2º Perde o direito à pensão por morte o cônju-
são por morte, mediante processo administrativo
ge, o companheiro ou a companheira se compro-
próprio, respeitados a ampla defesa e o contraditó-
vada, a qualquer tempo, simulação ou fraude no
casamento ou na união estável, ou a formalização rio, e serão devidas, em caso de absolvição, todas as
desses com o fim exclusivo de constituir benefício parcelas corrigidas desde a data da suspensão, bem
previdenciário, apuradas em processo judicial no como a reativação imediata do benefício. (Incluído
qual será assegurado o direito ao contraditório e pela Lei nº 13.846, de 2019)
à ampla defesa.
Sobre esta importante alteração, é oportuno dizer
O § 2º, do art. 77, passou por importantes altera- que não se trata de estabelecer prazo de carência para
ções, realizadas pelas Leis nº 13.135, de 2015, 13.183, a concessão de pensão por morte, mas apenas de limi-
de 2015 e 13.846, de 2019, no que concerne à cessação tar a quatro meses o prazo de duração do benefício,
da pensão por morte. Vejamos: nas situações em que o instituidor da pensão (segura-
do falecido) não tenha vertido pelo menos 18 (dezoito)
Art. 77 [...] contribuições para o sistema.
§ 2º O direito à percepção da cota individual cessa- Para o cônjuge ou companheiro, portanto, deve
rá: (Redação dada pela Lei nº 13.846, de 2019) ser observado se o instituidor contava com mais de
I - pela morte do pensionista; 18 (dezoito) contribuições e se o casamento ou união
II - para o filho, a pessoa a ele equiparada ou o estável tinham pelo menos dois anos de duração.
irmão, de ambos os sexos, ao completar vinte e um Caso cumpridas as duas exigências, passa-se a
anos de idade, salvo se for inválido ou tiver defi- aplicar a tabela de duração pela idade do cônjuge ou
ciência intelectual ou mental ou deficiência grave; companheiro.
(Redação dada pela Lei nº 13.183, de 2015) A restrição da duração de quatro meses não se
III - para filho ou irmão inválido, pela cessação da aplica nos casos de acidente de qualquer natureza,
invalidez; (Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015) acidente do trabalho, doença profissional e doença do
IV - para filho ou irmão que tenha deficiência
trabalho.
intelectual ou mental ou deficiência grave, pelo
afastamento da deficiência, nos termos do regula-
mento; (Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015)
(Vigência)
Importante!
V - para cônjuge ou companheiro: (Incluído pela Lei O exercício de atividade remunerada, inclusive na
nº 13.135, de 2015) condição de microempreendedor individual, não
a) se inválido ou com deficiência, pela cessação da
impede a concessão ou manutenção da parte
invalidez ou pelo afastamento da deficiência, res-
peitados os períodos mínimos decorrentes da apli- individual da pensão do dependente com defi-
cação das alíneas “b” e “c”; (Incluído pela Lei nº ciência intelectual ou mental ou com deficiência
13.135, de 2015) grave (§ 6º, art. 77, da Lei n° 8.213, de 1991).
b) em 4 (quatro) meses, se o óbito ocorrer sem que
o segurado tenha vertido 18 (dezoito) contribuições
mensais ou se o casamento ou a união estável tive- EC n° 103, de 2019 — Alteração no Cálculo da Renda
rem sido iniciados em menos de 2 (dois) anos antes Inicial da Pensão
do óbito do segurado; (Incluído pela Lei nº 13.135,
de 2015) Art. 23 A pensão por morte concedida a dependente
c) transcorridos os seguintes períodos, estabeleci- de segurado do Regime Geral de Previdência Social
dos de acordo com a idade do beneficiário na data ou de servidor público federal será equivalente a uma
de óbito do segurado, se o óbito ocorrer depois de cota familiar de 50% (cinquenta por cento) do valor
vertidas 18 (dezoito) contribuições mensais e pelo da aposentadoria recebida pelo segurado ou servidor
menos 2 (dois) anos após o início do casamento ou ou daquela a que teria direito se fosse aposentado por
da união estável: (Incluído pela Lei nº 13.135, de incapacidade permanente na data do óbito, acrescida
2015)1) 3 (três) anos, com menos de 21 (vinte e um) de cotas de 10 (dez) pontos percentuais por dependen-
anos de idade; (Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015) te, até o máximo de 100% (cem por cento).
2) 6 (seis) anos, entre 21 (vinte e um) e 26 (vinte e seis) § 1º As cotas por dependente cessarão com a perda
anos de idade; (Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015) dessa qualidade e não serão reversíveis aos demais
3) 10 (dez) anos, entre 27 (vinte e sete) e 29 (vinte dependentes, preservado o valor de 100% (cem por
e nove) anos de idade; (Incluído pela Lei nº 13.135, cento) da pensão por morte quando o número de
de 2015) dependentes remanescente for igual ou superior a
4) 15 (quinze) anos, entre 30 (trinta) e 40 (quarenta) 5 (cinco).
anos de idade; (Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015) § 2º Na hipótese de existir dependente inválido ou
5) 20 (vinte) anos, entre 41 (quarenta e um) e 43 com deficiência intelectual, mental ou grave, o valor
(quarenta e três) anos de idade; (Incluído pela Lei da pensão por morte de que trata o caput será
618 nº 13.135, de 2015) equivalente a:
I - 100% (cem por cento) da aposentadoria recebida Ex.: João faleceu em 14/02/2020, sem ser aposen-
pelo segurado ou servidor ou daquela a que teria tado, já que tinha 18 (dezoito) anos de contribuição
direito se fosse aposentado por incapacidade per- e mantinha qualidade de segurado em razão de estar
manente na data do óbito, até o limite máximo de trabalhando como empregado. Deixa como dependen-
benefícios do Regime Geral de Previdência Social; e tes a viúva (cônjuge) e uma filha de 15 (quinze anos).
II - uma cota familiar de 50% (cinquenta por cento) Primeiro fixamos a cota: 50% (familiar) + 20% (dois
acrescida de cotas de 10 (dez) pontos percentuais dependentes = 2 · 10%) = 70%.
por dependente, até o máximo de 100% (cem por
Segundo passo, verificar se o instituidor era apo-
cento), para o valor que supere o limite máximo de
sentado. Nesse caso, digamos que João não era apo-
benefícios do Regime Geral de Previdência Social.
sentado; então, devemos calcular uma aposentadoria
§ 3º Quando não houver mais dependente inválido
ou com deficiência intelectual, mental ou grave, o por incapacidade permanente na data do óbito.
valor da pensão será recalculado na forma do dis- Aposentadoria por incapacidade permanente: 60%
posto no caput e no § 1º. (sessenta por cento) + 2% (dois por cento) para cada
§ 4º O tempo de duração da pensão por morte e das ano que supere 20 para o homem e 15 para a mulher.
cotas individuais por dependente até a perda dessa João tem apenas 18 anos de contribuição, ou seja,
qualidade, o rol de dependentes e sua qualificação nenhum a mais do que os 20 (vinte) anos mínimos.
e as condições necessárias para enquadramento O seu coeficiente, portanto, será de 60% (sessenta
serão aqueles estabelecidos na Lei nº 8.213, de 24 por cento). Imagine que a média (salário de benefício)
de julho de 1991. de João seja de R$ 3.000,00 (três mil reais), portanto,
§ 5º Para o dependente inválido ou com deficiência 60% de R$ 3.000,00 = R$1.800,00 (um mil e oitocen-
intelectual, mental ou grave, sua condição pode ser tos reais), valor da aposentadoria por incapacidade
reconhecida previamente ao óbito do segurado, por permanente.
meio de avaliação biopsicossocial realizada por Cálculo da pensão por morte: 70% (cota) ·
equipe multiprofissional e interdisciplinar, obser- R$1.800,00 (aposentadoria por incapacidade perma-
vada revisão periódica na forma da legislação. nente). Valor da pensão por morte = R$1.260,00 (um
§ 6º Equiparam-se a filho, para fins de recebimento
mil duzentos e sessenta reais).
da pensão por morte, exclusivamente o enteado e
o menor tutelado, desde que comprovada a depen-
dência econômica. ANTES DA REFORMA DEPOIS DA REFORMA
§ 7º As regras sobre pensão previstas neste artigo e 100% das aposentadorias 50% + 10% por dependente
na legislação vigente na data de entrada em vigor que o segurando recebia ou (exceto se dependente inválido
desta Emenda Constitucional poderão ser alteradas de uma aposentadoria por in- ou deficiente) aplicado sobre a
na forma da lei para o Regime Geral de Previdência validez (que era 100%) aposentadoria que recebia ou
Social e para o regime próprio de previdência social aposentadoria por incapacida-
da União. de permanente (60% + 2% por
§ 8º Aplicam-se às pensões concedidas aos depen- cada ano que supere 15 (M) e
dentes de servidores dos Estados, do Distrito Fede- 20 (H) / acidentária 100%
ral e dos Municípios as normas constitucionais e
infraconstitucionais anteriores à data de entrada DOS SERVIÇOS
em vigor desta Emenda Constitucional, enquanto
não promovidas alterações na legislação interna Serviço Social
relacionada ao respectivo regime próprio de previ-
dência social. Tem por finalidade esclarecer aos beneficiários da

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


Previdência Social seus direitos sociais e os meios de
A nova regra de cálculo da renda mensal inicial exercê-los e com eles estabelecer o processo de solu-
da pensão por morte reduz substancialmente o valor ção dos problemas decorrentes de sua relação com a
do benefício, na medida em que há a possibilidade Previdência Social.
de aplicação de dois redutores: a cota e a incidência Não exige carência e é prestado a todos os segu-
sobre a aposentadoria por incapacidade permanente. rados e dependentes com prioridade aos segurados
Isso porque primeiro é estabelecido o coeficiente, em benefício por incapacidade temporária e atenção
obtido com a aplicação de cota familiar de 50% (cin- especial aos aposentados e pensionistas.
quenta por cento), acrescida de 10% (dez por cento)
por cada dependente, limitado a 100% (cem por cen- Habilitação e Reabilitação Profissional
to). Lembrando que a cota será sempre 100% (cem por
cento) em caso de dependente inválido ou deficiente. Tem por objetivo proporcionar ao segurado e
Exemplo: segurado falece deixando a esposa e um dependentes, incapacitados total ou parcialmente e
filho menor de 21 anos, nenhum inválido ou deficien- aos portadores de deficiência, meios de retornarem ao
te. Temos aqui cota de 50% + 10% · 2 = 70%. mercado de trabalho e ao convívio social. Há emissão
Esta cota é aplicada na aposentadoria que o segu- de certificado com indicação das atividades possíveis
rado falecido recebia se aposentado fosse ou, nos de serem executadas, após fim do processo. Ocorre de
casos em que não era aposentado, é calculada uma forma prioritária aos segurados e na medida das pos-
aposentadoria por incapacidade permanente na data sibilidades ao dependente.
do óbito. Atenção ao seguinte artigo:
Ocorre que, a aposentadoria por incapacidade per-
manente, pós-reforma, é calculada em 60% (sessenta Lei n° 8.213, de 1991
por cento), acrescido de 2% (dois por cento) por cada Art. 89 A habilitação e a reabilitação profissional
ano que supere 20 (vinte) anos de contribuição para o e social deverão proporcionar ao beneficiário inca-
homem e 15 (quinze) anos para a mulher. pacitado parcial ou totalmente para o trabalho, e
às pessoas portadoras de deficiência, os meios para 619
a (re)educação e de (re)adaptação profissional e Nos casos de homologação de justificação judi-
social indicados para participar do mercado de tra- cial, baseada em prova testemunhal, fica dispensada
balho e do contexto em que vive. a justificação administrativa desde que apresentadas
provas materiais complementares, o mesmo valendo
A reabilitação profissional será realizada por equi- para homologação de decisão trabalhista transitada
pe multiprofissional, preferencialmente no domicílio em julgado.
do beneficiário. Cabe à perícia médica federal ana- O Superior Tribunal de Justiça, por meio da Súmu-
lisar as condições de elegibilidade, a reavaliação da la n° 149, cristalizou entendimento no sentido de que
incapacidade de segurados em programa de reabili- “A prova exclusivamente testemunhal não basta a com-
tação profissional e a prescrição de órteses, próteses e provação da atividade rurícola, para efeito de obtenção
meios auxiliares de locomoção e acessórios. de benefício previdenciário”.
É importante atentar-se ao que está disposto no § As testemunhas devem ser idôneas, em número
2º, do art. 137, do Decreto n° 3.048, de 1999, quanto a entre dois e seis, sendo que não podem testemunhar:
isso:
z os menores de dezesseis anos;
Art. 137 [...] z o cônjuge, o companheiro ou a companheira, os
§ 2º Quando indispensáveis ao desenvolvimento do ascendentes, os descendentes e os colaterais, até o
processo de reabilitação profissional, o Instituto terceiro grau, por consanguinidade ou afinidade.
Nacional do Seguro Social fornecerá aos segura-
dos, inclusive aposentados, em caráter obrigatório,
prótese e órtese, seu reparo ou substituição, instru- Importante!
mentos de auxílio para locomoção, bem como equi-
pamentos necessários à habilitação e à reabilitação A pessoa com deficiência pode ser testemunha
profissional, transporte urbano e alimentação e, na e devem ser assegurados todos os meios assis-
medida das possibilidades do Instituto, aos seus tivos para sua participação.
dependentes.

Concluído o processo, será emitido Certificado Da decisão que valida ou invalida a justificação
individual pela Previdência, com indicação da ativi- não cabe recurso.
dade que o segurado pode exercer.
A empresa deve preencher vagas com deficientes DISPOSIÇÕES GERAIS E ESPECÍFICAS
na seguinte proporção:
Do capítulo da Lei n° 8.213, de 1991, destinado
z De 100 a 200 empregados: 2%; às disposições gerais e específicas, vamos destacar
z De 201 a 500 empregados: 3%; alguns dos dispositivos, em razão da relevância dos
z De 501 a 1000 empregados: 4%; temas abordados.
z De 1001 em diante: 5%. Iniciamos tratando das regras dos arts. 103, 103-A
e 104, que tratam de prescrição e decadência.
Esses empregados só podem ser dispensados quan- A decadência é um prazo que atinge o próprio
do forem contratados outros em condição semelhante. direito, de modo que quando se verifica, não há a pos-
sibilidade de propor demanda. Já a prescrição atinge
JUSTIFICAÇÃO ADMINISTRATIVA parcelas e não o direito em si.

Art. 103 O prazo de decadência do direito ou da


A justificação administrativa é um procedimento
ação do segurado ou beneficiário para a revisão do
utilizado para suprir a falta ou insuficiência de docu-
ato de concessão, indeferimento, cancelamento ou
mento ou produzir prova de fato ou circunstância cessação de benefício e do ato de deferimento, inde-
de interesse dos beneficiários, perante a previdência ferimento ou não concessão de revisão de benefício
social, com exceção dos casos em que o fato exigir é de 10 (dez) anos […].
registro público ou forma especial.
Não pode ser instaurada como um procedimento A lei prescreve, para o segurado, no prazo de 10
autônomo, devendo ser parte de processo de atualiza- anos de decadência de todo e qualquer direito ou ação
ção de CNIS ou reconhecimento de direitos. para a revisão do ato de concessão do benefício.
A prova material somente terá validade para a pes- A Lei n° 13.846, de 2019, alterando este dispositi-
soa referida no documento, vedada a sua utilização vo, introduziu outras hipóteses de incidência da deca-
por outras pessoas. dência, “a revisão do ato de concessão, indeferimento,
Para fins de comprovação de tempo de contribui- cancelamento ou cessação de benefício, do ato de defe-
ção, dependência econômica, identidade e relação de rimento, indeferimento ou não concessão de revisão de
parentesco, a justificação deve ser baseada em início benefício”.
de prova material contemporânea dos fatos e não Todavia, o STF, no julgamento da ADI 6.096, reco-
serão admitidas as provas exclusivamente testemu- nheceu a inconstitucionalidade do art. 24, da Lei n°
nhais, a não ser nos casos de força maior ou caso for- 13.846, de 2019, de modo que volta a valer a redação
tuito (incêndio, inundação ou desmoronamento, que anterior do art. 103: “É de dez anos o prazo de deca-
tenha atingido a empresa na qual o segurado alegue dência de todo e qualquer direito ou ação do segurado
ter trabalhado, devendo ser comprovada mediante ou beneficiário para a revisão do ato de concessão de
registro da ocorrência policial feito em época própria benefício, a contar do dia primeiro do mês seguinte ao
ou apresentação de documentos contemporâneos dos do recebimento da primeira prestação ou, quando for
fatos, e verificada a correlação entre a atividade da o caso, do dia em que tomar conhecimento da decisão
620 empresa e a profissão do segurado). indeferitória definitiva no âmbito administrativo”.
O prazo tem início: O art. 112, por sua vez, trata de disciplinar o pro-
cedimento para recebimento de valores não recebi-
Art. 103 […] dos em vida pelo segurado, que serão pagos aos seus
I - do dia primeiro do mês subsequente ao do rece- dependentes habilitados à pensão por morte ou, na
bimento da primeira prestação ou da data em que a falta deles, aos seus sucessores na forma da lei civil,
prestação deveria ter sido paga com o valor revis- independentemente de inventário ou arrolamento.
to; ou A regra é aplicável tanto para créditos administra-
II - do dia em que o segurado tomar conhecimento
tivos como para créditos oriundos de ações judiciais.
da decisão de indeferimento, cancelamento ou ces-
Os benefícios previdenciários não podem ser obje-
sação do seu pedido de benefício ou da decisão de
deferimento ou indeferimento de revisão de benefí- to de penhora, arresto ou alienação de qualquer for-
cio, no âmbito administrativo. ma, em virtude de sua natureza alimentar.
Todavia, pode haver desconto (art. 115, da Lei n°
Para a Previdência, é de 10 anos o prazo de deca- 8.213, de 1991). Vejamos:
dência para revisar ou anular atos administrativos,
salvo nos casos de má-fé do segurado. Art. 115 Podem ser descontados dos benefícios:
I - contribuições devidas pelo segurado à Previdên-
Art. 103 [...] cia Social;
Parágrafo único - Prescreve em cinco anos, a II - pagamento administrativo ou judicial de bene-
contar da data em que deveriam ter sido pagas, fício previdenciário ou assistencial indevido, ou
toda e qualquer ação para haver prestações venci- além do devido, inclusive na hipótese de cessação
das ou quaisquer restituições ou diferenças devidas do benefício pela revogação de decisão judicial, em
pela Previdência Social, salvo o direito dos meno- valor que não exceda 30% (trinta por cento) da sua
res, incapazes e ausentes, na forma do Código Civil importância, nos termos do regulamento;
(§ único, art. 103). III - Imposto de Renda retido na fonte;
IV - pensão de alimentos decretada em sentença
Na sequência, tratamos do art. 106, da Lei n° 8.213, judicial;
de 1991, que faz referência à documentação comple- V - mensalidades de associações e demais entidades
mentar à autodeclaração rural (atual meio de prova), de aposentados legalmente reconhecidas, desde que
para o fim de comprovar o exercício de atividade autorizadas por seus filiados.
VI - pagamento de empréstimos, financiamentos,
rural:
cartões de crédito e operações de arrendamento
mercantil concedidos por instituições financeiras
Art. 106 A comprovação do exercício de atividade
e sociedades de arrendamento mercantil, ou por
rural será feita, complementarmente à autodecla-
entidades fechadas ou abertas de previdência com-
ração de que trata o § 2º e ao cadastro de que trata
o § 1º, ambos do art. 38-B desta Lei, por meio de, plementar, públicas e privadas, quando expressa-
entre outros: mente autorizado pelo beneficiário, até o limite de
I - contrato individual de trabalho ou Carteira de 35% (trinta e cinco por cento) do valor do benefício,
Trabalho e Previdência Social; sendo 5% (cinco por cento) destinados exclusiva-
II - contrato de arrendamento, parceria ou como- mente para: (Redação dada pela Lei nº 13.183, de
dato rural; 2015) (Vide Medida Provisória nº 1.006, de 2020)
III - Revogado; (Vide Lei nº 14.131, de 2021)
IV - Declaração de Aptidão ao Programa Nacional a) amortização de despesas contraídas por meio de
cartão de crédito; ou

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


de Fortalecimento da Agricultura Familiar, de que
trata o inciso II do caput do art. 2º da Lei nº 12.188, b) utilização com a finalidade de saque por meio do
de 11 de janeiro de 2010, ou por documento que a cartão de crédito.
substitua; § 1º Na hipótese do inciso II, o desconto será feito
V - bloco de notas do produtor rural; em parcelas, conforme dispuser o regulamento, sal-
VI - notas fiscais de entrada de mercadorias, de que vo má-fé.
trata o § 7º do art. 30 da Lei nº 8.212, de 24 de julho § 2º Na hipótese dos incisos II e VI, haverá preva-
de 1991, emitidas pela empresa adquirente da pro- lência do desconto do inciso II.
dução, com indicação do nome do segurado como
vendedor; Os valores recebidos indevidamente pelo segurado,
VII - documentos fiscais relativos a entrega de pro- ou além do devido, inclusive na hipótese de cessação
dução rural à cooperativa agrícola, entreposto de por revogação de decisão judicial, podem ser inscritos
pescado ou outros, com indicação do segurado em dívida ativa. Pode ser inscrito, em conjunto com
como vendedor ou consignante;
o segurado, ou separadamente, o terceiro beneficia-
VIII - comprovantes de recolhimento de contribui-
do que sabia ou deveria saber da origem do benefício
ção à Previdência Social decorrentes da comerciali-
zação da produção;
pago indevidamente em razão de fraude, dolo ou coa-
IX - cópia da declaração de imposto de renda, com ção, desde que devidamente identificado em procedi-
indicação de renda proveniente da comercialização mento administrativo de responsabilização.
de produção rural; ou No art. 118, da Lei n° 8.213, de 1991, está prevista a
X - licença de ocupação ou permissão outorgada estabilidade acidentária, ou seja, a garantia de empre-
pelo Incra. go, por pelo menos 12 (doze meses), para o segurado
após a alta de auxílio por incapacidade temporária de
Até a edição da Lei n° 13.846, de 2019, a prova da natureza acidentária, independentemente da percep-
atividade rural era feita por meio de declaração do ção de auxílio-acidente.
Sindicato.
621
Art. 118 O segurado que sofreu acidente do tra- Por fim, o art. 128, dispõe sobre o pagamento de
balho tem garantida, pelo prazo mínimo de doze créditos de segurados, obtidos em ações judiciais,
meses, a manutenção do seu contrato de trabalho que será feito por meio de RPV (Requisição de Peque-
na empresa, após a cessação do auxílio-doença no Valor), no prazo de 60 (sessenta) dias, quando os
acidentário, independentemente de percepção de valores não excederem 60 (sessenta) salários míni-
auxílio-acidente. mos, podendo a parte renunciar o excedente, ou por
meio de ofício precatório, quando o valor da execução
No art. 120, há previsão de propositura, pela Pre- superar o limite da lei.
vidência Social, de ação regressiva contra os respon-
sáveis nos casos de negligência quanto às normas RPV
Até 60 salários
padrão de segurança e higiene do trabalho indica- mínimos
(Requisição de
pequeno valor)
das para a proteção individual e coletiva e violência EXECUÇÃO
doméstica e familiar contra a mulher. CONTRA O INSS
Acima de 60 salá-
A ação regressiva tem por objeto o ressarcimento rios mínimos
Precatório
aos cofres da Previdência dos gastos com benefícios
previdenciários nas situações acima elencadas.
As ações envolvendo acidentes do trabalho são de
Art. 120 A Previdência Social ajuizará ação regres- competência da Justiça Estadual; as ações propria-
siva contra os responsáveis nos casos de: mente previdenciárias, de competência da Justiça
I - negligência quanto às normas padrão de segu- Federal (inciso I, art. 109, da Constituição Federal).
rança e higiene do trabalho indicadas para a prote-
ção individual e coletiva; PERÍODOS DE CARÊNCIA
II - violência doméstica e familiar contra a mulher,
nos termos da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. O art. 24, da Lei n° 8.213, de 1991, estabelece o
período de carência:
Outra importante previsão está no art. 124, que
trata das hipóteses de impossibilidade de acumulação Art. 24 Período de carência é o número mínimo de
de benefícios, ressalvado o direito adquirido: contribuições mensais indispensáveis para que o
beneficiário faça jus ao benefício, consideradas a
Art. 124 Salvo no caso de direito adquirido, não partir do transcurso do primeiro dia dos meses de
é permitido o recebimento conjunto dos seguintes suas competências.
benefícios da Previdência Social:
I - aposentadoria e auxílio-doença; Inicia-se a contagem para o segurado empregado
II - mais de uma aposentadoria; e trabalhador avulso a partir da data da filiação ao
III - aposentadoria e abono de permanência em serviço; RGPS.
IV - salário-maternidade e auxílio-doença; Para os contribuintes individuais, empregados
V - mais de um auxílio-acidente; domésticos, segurados especiais (se contribuintes
VI - mais de uma pensão deixada por cônjuge ou com- facultativos) e segurados facultativos, inicia-se a par-
panheiro, ressalvado o direito de opção pela mais tir da data do pagamento efetivo da primeira contri-
vantajosa. buição sem atraso, não sendo consideradas para este
Parágrafo único. É vedado o recebimento conjunto fim as contribuições recolhidas em atraso referente a
do seguro-desemprego com qualquer benefício de competências anteriores à primeira em dia, nem as
prestação continuada da Previdência Social, exceto abaixo do mínimo.
pensão por morte ou auxílio-acidente. Diferenciar:

Além das impossibilidades do art. 124, podemos z Período de graça: mantém a qualidade de segura-
destacar outras impossibilidades previstas em outros do depois que deixa de contribuir);
dispositivos. Vejamos todas elas: z Período de carência: está contribuindo, mas não
tem direito a todos benefícios;
z aposentadoria e auxílio-doença; z Tempo de contribuição: período que contribuiu
z mais de uma aposentadoria no RGPS; efetivamente para o sistema.
z aposentadoria e abono de permanência em servi-
ço (extinto pela Lei n° 8.807, de 1994); O art. 25 prescreve os períodos de carência das
z salário-maternidade e auxílio doença; prestações previdenciárias:
z mais de um auxílio-acidente (acrescentado pela
Lei n° 9.032, de 1995); Art. 25 A concessão das prestações pecuniárias do
z auxílio-acidente e auxílio-doença quando se tratar Regime Geral de Previdência Social depende dos
da mesma moléstia; seguintes períodos de carência, ressalvado o dis-
posto no art. 26:
z benefícios assistenciais com benefícios
I - auxílio doença e aposentadoria por invalidez
previdenciários; comum — 12 contribuições mensais;
z auxílio-acidente e aposentadoria; II - aposentadoria por idade, tempo de contribuição
z mais de uma pensão deixada por cônjuge ou com- e especial — 180 contribuições, ressaltando-se que
panheiro, ressalvada a opção pela mais vantajosa; o tempo de trabalho rural pode ser descontínuo.
z auxílio-reclusão com aposentadoria, abono de per-
manência em serviço ou auxílio-doença; Observar regra de transição prevista no art. 142,
z seguro Desemprego com Benefício Previdenciário da Lei n° 8.213, de 1991 (essa lei aumentou o prazo de
622 (Exceção: Auxílio-Acidente e Pensão por Morte). 60 para 180 contribuições).
III - os benefícios concedidos na forma do inciso
MESES DE
ANO DE IMPLEMENTAÇÃO I do art. 39, aos segurados especiais referidos no
CONTRIBUIÇÃO
DAS CONDIÇÕES inciso VII do art. 11 desta Lei.
EXIGIDOS
1991 60 Para facilitar seu estudo, é importante destacar
1992 60 que o inciso I, do art. 39, trata da aposentadoria por
1993 66 idade ou por invalidez, auxílio-doença, auxílio-reclu-
são ou pensão, no valor de 1 salário mínimo, desde
1994 72 que comprovado o tempo de atividade rural, ainda
1995 78 que de forma descontínua, no período imediatamen-
1996 90 te anterior ao requerimento do benefício, igual ao
número de meses da carência do benefício requerido.
1997 96
1998 102 Art. 26 [...]
IV -serviço social;
1999 108
V - reabilitação profissional;
2000 114 VI - salário maternidade para as seguradas empre-
2001 120 gada, trabalhadora avulsa e segurada doméstica;

2002 126
SALÁRIO DE BENEFÍCIO E RENDA MENSAL DO
2003 132 BENEFÍCIO
2004 138
Acompanhe a seguir alguns conceitos essenciais
2005 144
para compreendermos os cálculos de benefícios pre-
2006 150 videnciários:
2007 156
z Salário de contribuição: base de incidência da
2008 162
contribuição previdenciária.
2009 168 z Salário de benefício: é a base de cálculo da renda
2010 174 mensal inicial da maioria dos benefícios.
z RMI: renda mensal inicial.
2011 180 z SB: salário de benefício.

Pela nova regra introduzida pela EC n° 103, de


Art. 25 [...]
2019, em seu art. 26, o salário de benefício consisti-
III - salário-maternidade para as seguradas de que
rá na média aritmética simples dos salários de con-
tratam os incisos V e VII do caput do art. 11 e o art.
tribuição e das remunerações adotados como base
13: dez contribuições mensais, respeitado o dispos-
para contribuições ao Regime Geral de Previdência
to no parágrafo único do art. 39.
Social, atualizados monetariamente, correspondentes
a 100% (cem por cento) do período contributivo desde
Observação: se o parto for antecipado, a carência
a competência julho de 1994 ou desde o início da con-
é diminuída na medida da antecipação. Ex.: se o parto tribuição, se posterior àquela competência.

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


adiantar 1 mês, a carência diminui 1 mês. Etapas do cálculo:

Art. 25 [...]
IV - auxílio reclusão: vinte e quatro contribuições Estabelecer o PBC (período básico de
mensais cálculo) — de julho/94 até a data do
requerimento do benefício ou da data
Atenção: antes da Lei n° 13.846, de 2019, o auxílio- de ingresso no sistema (se posterior
-reclusão não exigia carência. a julho/94) até a data do requerimen-
to administrativo
O art. 26, da Lei n° 8.213, de 1991, prevê as situa-
ções que independem de carência:
Atualização monetária de todos os
Art. 26 Independe de carência a concessão das salários de contribuição
seguintes prestações:
I - pensão por morte, salário família e auxílio-acidente; Elaboração da média aritmética de
II - auxílio-doença e aposentadoria por invalidez todos os salários de contribuição
nos casos de acidente de qualquer natureza ou
causa e de doença profissional ou do trabalho, bem Aplicação do coeficiente específico do
como nos casos de segurado que, após filiar-se ao benefício a ser concedido
RGPS, for acometido de alguma das doenças e afec-
ções especificadas em lista elaborada pelos Minis-
térios da Saúde e da Previdência Social, atualizada Atenção! Antes da Reforma, o salário de benefício
a cada 3 (três) anos, de acordo com os critérios era a média aritmética simples dos 80% (oitenta por
de estigma, deformação, mutilação, deficiência ou cento) maiores salários de contribuição, de julho, de
outro fator que lhe confira especificidade e gravida- 1994 em diante, ou de todo período contributivo.
de que mereçam tratamento particularizado; 623
O valor do salário de benefício não será inferior
BENEFÍCIOS
ao de um salário mínimo, nem superior ao do limite
PREVIDENCIÁ- RMI
máximo do salário de contribuição na data de início
RIOS
do benefício.
Se no período básico de cálculo o segurado tiver 60% + 2% para cada ano que su-
Aposentadoria
recebido benefícios por incapacidade, sua duração pere 20 para o homem e 15 para
por incapacidade
será contada, considerando-se como salário de contri- a mulher aplicado sobre o SB ou
permanente
buição, no período, o salário de benefício que serviu 100% se for acidente de trabalho
de base para o cálculo da renda mensal, reajustado
91% do SB (limite média dos últi-
nas mesmas épocas e bases dos benefícios em geral,
Auxílio-doença mos 12 meses — regra superada
não podendo ser inferior a um salário mínimo. pela EC n° 103, de 2019)
Ao segurado empregado e ao trabalhador avulso
que tenham cumprido todas as condições para a con- Auxílio-acidente 50% do salário de benefício
cessão do benefício pleiteado, mas não possam com-
provar o valor dos seus salários de contribuição no Mesmo cálculo da pensão por
período básico de cálculo, será concedido o benefício morte, porém não pode ultrapassar
Auxílio-reclusão
de valor mínimo, devendo esta renda ser recalcula- 1 sala mínimo (§ 1º, art. 27, EC n°
103, de 2019)
da, quando da apresentação de prova dos salários de
contribuição. Não é calculado pelo SB — varia
O auxílio acidente cessa com a concessão de qual- Salário-materni-
de acordo com a categoria de
quer aposentadoria; todavia, os seus valores são dade
segurado
incorporados ao salário de contribuição do segurado,
para fins de cálculo do salário de benefício, na forma Salário-família Não é calculado pelo SB
do art. 31, da Lei n° 8.213, de 1991. Cota 50% + 10% (limite 100%) /
A renda mensal inicial dos benefícios é calculada, 100% em caso de dependente
via de regra, pela aplicação de coeficiente específico Pensão por inválido ou deficiente, incidente
fixada em lei, sobre o salário de benefício. morte sobre aposentadoria que recebia
A EC n° 103, de 2019, para as aposentadorias, alte- ou aposentadoria por incapacidade
rou substancialmente o coeficiente que correspon- na data do óbito
derá a 60% (sessenta por cento) da média aritmética
definida na forma prevista no caput e no § 1º, com A Lei n° 13.135, de 2015, introduziu o § 10 no art.
acréscimo de dois pontos percentuais para cada ano 29, da Lei n° 8.213, de 1991, regra que diz que:
de contribuição que exceder o tempo de 20 (vinte)
anos de contribuição para homens e 15 (quinze) anos Art. 29 [...]
para mulheres. § 10 O auxílio-doença não poderá exceder a média
No caso de aposentadoria por incapacidade per- aritmética simples dos últimos 12 (doze) salários-
manente decorrente de acidente do trabalho, o coefi- -de-contribuição, inclusive no caso de remunera-
ciente será de 100% (cem por cento). ção variável, ou, se não alcançado o número de 12
Outra novidade é que poderão ser excluídas da (doze), a média aritmética simples dos salários-de-
média as contribuições que resultem em redução do -contribuição existentes.
valor do benefício, desde que mantido o tempo míni-
mo de contribuição exigido, vedada a utilização do No caso de atividades concomitantes em que a
tempo excluído para qualquer finalidade. É o chama- contribuição nas diversas atividades é obrigatória, o
do descarte de contribuições. salário de benefício será calculado com base na soma
Assim, temos que a RMI (Renda Mensal Inicial) dos dos salários de contribuição das atividades exercidas
benefícios será assim calculada: na data do requerimento ou do óbito, ou no período
básico de cálculo.
Antes da Reforma da Previdência, havia a aplica-
BENEFÍCIOS ção do fator previdenciário no cálculo das aposentado-
PREVIDENCIÁ- RMI rias por tempo de contribuição de forma obrigatória e
RIOS na aposentadoria por idade de forma facultativa. Este
Aposentadoria fator foi mantido apenas da regra transitória do pedá-
por idade, com gio de 50 % (cinquenta por cento).
60% + 2% para cada ano que su-
tempo mínimo
pere 20 para o homem e 15 para a
de contribuição
mulher aplicado sobre o SB Fórmula para o cálculo do Fator Previdenciário:
— EC n° 103, de
2019 f= Es · [1 · b 100 l ]
Tc · a Id + Tc·a

Regras de f = fator previdenciário


Cálculo próprio para cada regra
Transição Es = expectativa de sobrevida no momento da
60% + 2% para cada ano que su- aposentadoria
pere 20 para o homem e 15 para a Tc = tempo de contribuição até o momento da
Aposentadoria aposentadoria
mulher (exceto para atividades que
especial Id = idade no momento da aposentadoria
geram direito com 15 anos de ex-
posição) aplicado sobre o SB a = alíquota de contribuição correspondente a 0,31.
624
O segurado, pela sistemática anterior, poderia com o patrocinador, para se tornar elegível a um
optar pela não aplicação do fator, caso atingisse o tem- benefício de prestação que seja programada e con-
po mínimo de contribuição — 30 TC (M) e 35 TC (H) —, tinuada; e
e, a somatória da idade atingisse 85 pontos se mulher II - concessão de benefício pelo regime de previdên-
e 95 se homem. cia ao qual o participante esteja filiado por intermé-
Esta pontuação era acrescida de 1 ponto por ano, dio de seu patrocinador, quando se tratar de plano
na modalidade benefício definido, instituído depois
a partir de 31 de dezembro de 2018, até atingir 90/100
da publicação desta Lei Complementar.
em 31 de dezembro de 2026 (art. 29-C, da Lei n° 8.213,
Parágrafo único. Os reajustes dos benefícios em
de 1991). manutenção serão efetuados de acordo com crité-
rios estabelecidos nos regulamentos dos planos de
REAJUSTAMENTO DO VALOR DOS BENEFÍCIOS benefícios, vedado o repasse de ganhos de produ-
tividade, abono e vantagens de qualquer natureza
O valor dos benefícios em manutenção será reajus- para tais benefícios.
tado, anualmente, na mesma data do reajuste do salá-
rio mínimo, pro rata, de acordo com suas respectivas Os planos de benefícios deverão atender a uma
datas de início ou do último reajustamento, com base carência mínima de 60 meses de contribuição e à con-
no Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), cessão do benefício pelo regime de previdência ao
apurado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geogra- qual o participante esteja filiado.
fia e Estatística (IBGE).
Art. 4º Nas sociedades de economia mista e empre-
sas controladas direta ou indiretamente pela União,
pelos Estados, pelo Distrito Federal e pelos Municí-
pios, a proposta de instituição de plano de benefí-
ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA DE cios ou adesão a plano de benefícios em execução
PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR, será submetida ao órgão fiscalizador, acompanha-
da de manifestação favorável do órgão responsável
ÓRGÃOS REGULADORES E pela supervisão, pela coordenação e pelo controle
SUPERVISORES do patrocinador.
Parágrafo único. As alterações no plano de bene-
LEI COMPLEMENTAR Nº 108, DE 29 DE MAIO DE fícios que implique elevação da contribuição de
2001 patrocinadores serão objeto de prévia manifes-
tação do órgão responsável pela supervisão, pela
Dispõe sobre a relação entre a União, os estados, o coordenação e pelo controle referido no caput.
Distrito Federal e os municípios, suas autarquias, fun-
dações, sociedades de economia mista e outras entida- A instituição dos planos de benefícios será sub-
des públicas e suas respectivas entidades fechadas de metida a órgão fiscalizador. Também deverá conter a
previdência complementar, e dá outras providências. manifestação favorável pelos órgãos enumerados no
caput, do art. 4º.
Introdução
Art. 5º É vedado à União, aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios, suas autarquias, funda-
Art. 1º A relação entre a União, os Estados, o Dis-
ções, empresas públicas, sociedades de economia
trito Federal e os Municípios, inclusive suas autar-
mista e outras entidades públicas o aporte de recur-
quias, fundações, sociedades de economia mista

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


sos a entidades de previdência privada de caráter
e empresas controladas direta ou indiretamente,
complementar, salvo na condição de patrocinador.
enquanto patrocinadores de entidades fechadas de
previdência complementar, e suas respectivas enti-
dades fechadas, a que se referem os §§ 3º, 4º, 5º e 6º
Aporte de recursos é financiar, por meio de contri-
do art. 202 da Constituição Federal, será disciplina- buição, o que é proibido pelas entidades destacadas
da pelo disposto nesta Lei Complementar. no art. 5º — exceto quando o aporte estiver na quali-
Art. 2º As regras e os princípios gerais estabeleci- dade de patrocinador.
dos na Lei Complementar que regula o caput do art.
202 da Constituição Federal aplicam-se às entida- Do Custeio
des reguladas por esta Lei Complementar, ressalva-
das as disposições específicas. Art. 6º O custeio dos planos de benefícios será res-
ponsabilidade do patrocinador e dos participantes,
Trata do regime fechado de previdência comple- inclusive assistidos.
mentar, estabelecido no art. 202, da Constituição § 1º A contribuição normal do patrocinador para
Federal, organizado de maneira autônoma em vistas plano de benefícios, em hipótese alguma, excederá
a do participante, observado o disposto no art. 5º
do regime geral de previdência social.
da Emenda Constitucional no 20, de 15 de dezem-
bro de 1998, e as regras específicas emanadas do
DOS PLANOS DE BENEFÍCIOS órgão regulador e fiscalizador.
§ 2º Além das contribuições normais, os planos
Disposições Especiais poderão prever o aporte de recursos pelos parti-
cipantes, a título de contribuição facultativa, sem
Art. 3º Observado o disposto no artigo anterior, os contrapartida do patrocinador.
planos de benefícios das entidades de que trata esta § 3º É vedado ao patrocinador assumir encargos
Lei Complementar atenderão às seguintes regras: adicionais para o financiamento dos planos de
I - carência mínima de sessenta contribuições men- benefícios, além daqueles previstos nos respectivos
sais a plano de benefícios e cessação do vínculo planos de custeio. 625
O custeio é o financiamento do regime de previ- esta poderá ser aplicada, mediante autorização do
dência, que é responsabilidade do patrocinador e dos órgão regulador e fiscalizador.
participantes, por meio de contribuições normais, Art. 12 O mandato dos membros do conselho deli-
cabendo previsão de contribuição facultativa. berativo será de quatro anos, com garantia de esta-
bilidade, permitida uma recondução.
Art. 7º A despesa administrativa da entidade de § 1º O membro do conselho deliberativo somente
previdência complementar será custeada pelo perderá o mandato em virtude de renúncia, de con-
patrocinador e pelos participantes e assistidos, denação judicial transitada em julgado ou processo
atendendo a limites e critérios estabelecidos pelo administrativo disciplinar.
órgão regulador e fiscalizador. § 2º A instauração de processo administrativo
disciplinar, para apuração de irregularidades no
Parágrafo único. É facultada aos patrocinadores a
âmbito de atuação do conselho deliberativo da enti-
cessão de pessoal às entidades de previdência com-
dade fechada, poderá determinar o afastamento do
plementar que patrocinam, desde que ressarcidos
conselheiro até sua conclusão.
os custos correspondentes.
§ 3º O afastamento de que trata o parágrafo ante-
rior não implica prorrogação ou permanência no
A despesa da entidade de previdência é limitada cargo além da data inicialmente prevista para o
a critérios determinados pelo órgão regulador e fis- término do mandato.
calizador, sendo custeada pelo patrocinador e pelos § 4º O estatuto da entidade deverá regulamentar os
participantes. procedimentos de que tratam os parágrafos ante-
riores deste artigo.
DAS ENTIDADES DE PREVIDÊNCIA Art. 13 Ao conselho deliberativo compete a defini-
COMPLEMENTAR PATROCINADAS PELO PODER ção das seguintes matérias:
PÚBLICO E SUAS EMPRESAS I - política geral de administração da entidade e de
seus planos de benefícios;
Da Estrutura Organizacional II - alteração de estatuto e regulamentos dos planos
de benefícios, bem como a implantação e a extinção
deles e a retirada de patrocinador;
Art. 8º A administração e execução dos planos de
III - gestão de investimentos e plano de aplicação
benefícios compete às entidades fechadas de previ-
de recursos;
dência complementar mencionadas no art. 1º desta
IV - autorizar investimentos que envolvam valores
Lei Complementar.
iguais ou superiores a cinco por cento dos recursos
Parágrafo único. As entidades de que trata o caput
garantidores;
organizar-se-ão sob a forma de fundação ou socie-
V - contratação de auditor independente atuário
dade civil, sem fins lucrativos.
e avaliador de gestão, observadas as disposições
regulamentares aplicáveis;
As entidades responsáveis pela administração e VI - nomeação e exoneração dos membros da dire-
execução dos planos de benefícios possuem natureza toria-executiva; e
de fundação ou de sociedade civil, que não possuirá VII - exame, em grau de recurso, das decisões da
finalidade lucrativa. diretoria-executiva.
Parágrafo único. A definição das matérias previstas
Art. 9º A estrutura organizacional das entidades de no inciso II deverá ser aprovada pelo patrocinador.
previdência complementar a que se refere esta Lei
Complementar é constituída de conselho deliberati- O conselho deliberativo é órgão de maior hierar-
vo, conselho fiscal e diretoria-executiva. quia administrativa na estrutura organizacional,
composto por, no máximo, seis integrantes para man-
Os órgãos que deverão obrigatoriamente existir nas dato de quatro anos, permitida uma recondução.
entidades de previdência complementar são conselho A escolha dos membros será feita mediante eleição
deliberativo, conselho fiscal e diretoria-executiva. interna, garantindo a paridade entre representantes
dos participantes e assistidos e dos patrocinadores.
Do Conselho Deliberativo e do Conselho Fiscal A perda do mandato dos membros ocorrerá median-
te uma das situações previstas no § 1º, do art. 12.
Art. 10 O conselho deliberativo, órgão máximo da O art. 13, por sua vez, determina quais são as com-
estrutura organizacional, é responsável pela defini- petências do conselho deliberativo.
ção da política geral de administração da entidade
e de seus planos de benefícios. Art. 14 O conselho fiscal é órgão de controle inter-
Art. 11 A composição do conselho deliberativo, no da entidade.
integrado por no máximo seis membros, será Art. 15 A composição do conselho fiscal, integra-
paritária entre representantes dos participantes e do por no máximo quatro membros, será paritária
assistidos e dos patrocinadores, cabendo a estes a entre representantes de patrocinadores e de parti-
indicação do conselheiro presidente, que terá, além cipantes e assistidos, cabendo a estes a indicação
do seu, o voto de qualidade. do conselheiro presidente, que terá, além do seu, o
§ 1º A escolha dos representantes dos participan- voto de qualidade.
tes e assistidos dar-se-á por meio de eleição direta Parágrafo único. Caso o estatuto da entidade fecha-
entre seus pares. da, respeitado o número máximo de conselheiros de
§ 2º Caso o estatuto da entidade fechada, respeita- que trata o caput e a participação paritária entre
do o número máximo de conselheiros de que trata representantes dos participantes e assistidos e dos
o caput e a participação paritária entre represen- patrocinadores, preveja outra composição, que
tantes dos participantes e assistidos e dos patro- tenha sido aprovada na forma prevista no seu esta-
cinadores, preveja outra composição, que tenha tuto, esta poderá ser aplicada, mediante autoriza-
626 sido aprovada na forma prevista no seu estatuto, ção do órgão regulador e fiscalizador.
Art. 16 O mandato dos membros do conselho fiscal O art. 21, por sua vez, estabelece as proibições apli-
será de quatro anos, vedada a recondução. cadas aos membros da diretoria-executiva.
Art. 17 A renovação dos mandatos dos conselhei-
ros deverá obedecer ao critério de proporcionalida- Art. 22 A entidade de previdência complementar
de, de forma que se processe parcialmente a cada informará ao órgão regulador e fiscalizador o res-
dois anos. ponsável pelas aplicações dos recursos da entidade,
§ 1º Na primeira investidura dos conselhos, após a
escolhido entre os membros da diretoria-executiva.
publicação desta Lei Complementar, os seus mem-
Parágrafo único. Os demais membros da direto-
bros terão mandato com prazo diferenciado.
ria-executiva responderão solidariamente com o
§ 2º O conselho deliberativo deverá renovar três de
dirigente indicado na forma do caput pelos danos
seus membros a cada dois anos e o conselho fiscal
dois membros com a mesma periodicidade, obser- e prejuízos causados à entidade para os quais
vada a regra de transição estabelecida no parágra- tenham concorrido.
fo anterior.
O responsável pela aplicação dos recursos é o agen-
O conselho fiscal é órgão de controle interno, com- te designado para movimentação da verba. Ele será
posto por, no máximo, quatro membros para manda- escolhido entre os membros da diretoria-executiva, o
to de quatro anos, vedada a recondução. que será informado ao órgão regulador e fiscalizador.
A escolha dos membros também deverá ser paritá-
ria entre representantes de patrocinadores e de parti- Art. 23 Nos doze meses seguintes ao término do
cipantes e assistidos. exercício do cargo, o ex-diretor estará impedido de
prestar, direta ou indiretamente, independentemen-
Art. 18 Aplicam-se aos membros dos conselhos deli- te da forma ou natureza do contrato, qualquer tipo
berativo e fiscal os mesmos requisitos previstos nos de serviço às empresas do sistema financeiro que
incisos I a III do art. 20 desta Lei Complementar. impliquem a utilização das informações a que teve
acesso em decorrência do cargo exercido, sob pena
Aos membros do conselho deliberativo e do de responsabilidade civil e penal.
conselho fiscal serão exigidos os mesmos requisi- § 1º Durante o impedimento, ao ex-diretor que não
tos de investidura previstos para os membros da tiver sido destituído ou que pedir afastamento será
diretoria-executiva. assegurada a possibilidade de prestar serviço à
entidade, mediante remuneração equivalente à do
Da Diretoria-Executiva cargo de direção que exerceu ou em qualquer outro
órgão da Administração Pública.
Art. 19 A diretoria-executiva é o órgão responsável § 2º Incorre na prática de advocacia administrati-
pela administração da entidade, em conformidade va, sujeitando-se às penas da lei, o ex-diretor que
com a política de administração traçada pelo con- violar o impedimento previsto neste artigo, exceto
selho deliberativo. se retornar ao exercício de cargo ou emprego que
§ 1º A diretoria-executiva será composta, no máxi- ocupava junto ao patrocinador, anteriormente à
mo, por seis membros, definidos em função do indicação para a respectiva diretoria-executiva, ou
patrimônio da entidade e do seu número de partici- se for nomeado para exercício em qualquer órgão
pantes, inclusive assistidos. da Administração Pública.
§ 2º O estatuto da entidade fechada, respeitado o
número máximo de diretores de que trata o pará- O art. 23 estabelece quarentena ao ex-diretor, que
grafo anterior, deverá prever a forma de composi-
deverá permanecer 12 meses proibido de prestar

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


ção e o mandato da diretoria-executiva, aprovado
assistência às empresas do sistema financeiro acerca
na forma prevista no seu estatuto, observadas as
demais disposições desta Lei Complementar. das informações às quais teve acesso em função do
Art. 20 Os membros da diretoria-executiva deverão cargo ocupado.
atender aos seguintes requisitos mínimos:
I - comprovada experiência no exercício de ativi- DA FISCALIZAÇÃO
dade na área financeira, administrativa, contábil,
jurídica, de fiscalização, atuarial ou de auditoria; Art. 24 A fiscalização e controle dos planos de
II - não ter sofrido condenação criminal transitada benefícios e das entidades fechadas de previdência
em julgado; complementar de que trata esta Lei Complementar
III - não ter sofrido penalidade administrativa por competem ao órgão regulador e fiscalizador das
infração da legislação da seguridade social, inclusi- entidades fechadas de previdência complementar.
ve da previdência complementar ou como servidor Art. 25 As ações exercidas pelo órgão referido no
público; e artigo anterior não eximem os patrocinadores da
IV - ter formação de nível superior.
responsabilidade pela supervisão e fiscalização sis-
Art. 21 Aos membros da diretoria-executiva é vedado:
temática das atividades das suas respectivas enti-
I - exercer simultaneamente atividade no patrocinador;
dades de previdência complementar.
II - integrar concomitantemente o conselho deli-
Parágrafo único. Os resultados da fiscalização e do
berativo ou fiscal da entidade e, mesmo depois do
término do seu mandato na diretoria-executiva, controle exercidos pelos patrocinadores serão enca-
enquanto não tiver suas contas aprovadas; e minhados ao órgão mencionado no artigo anterior.
III - ao longo do exercício do mandato prestar servi-
ços a instituições integrantes do sistema financeiro. Trata da fiscalização e controle dos planos de
benefícios e das entidades fechadas de previdência,
A diretoria-executiva é órgão que administra a enti- atribuídos ao órgão regulador e fiscalizador sem que
dade, composto por, no máximo, seis membros que sejam retiradas a supervisão e fiscalização por parte
deverão atender aos requisitos previstos no art. 20. dos patrocinadores. 627
DISPOSIÇÕES GERAIS art. 202 da Constituição Federal, observado o dis-
posto nesta Lei Complementar.
Art. 26 As entidades fechadas de previdência com- Art. 2º O regime de previdência complementar é
plementar patrocinadas por empresas privadas operado por entidades de previdência complemen-
permissionárias ou concessionárias de prestação tar que têm por objetivo principal instituir e execu-
de serviços públicos subordinam-se, no que couber, tar planos de benefícios de caráter previdenciário,
às disposições desta Lei Complementar, na forma na forma desta Lei Complementar.
estabelecida pelo órgão regulador e fiscalizador.
O regime de previdência privada complementar é
Estão subordinadas a essa lei as entidades fecha- de caráter facultativo e autônomo do regime geral de
das patrocinadas pelas permissionárias ou concessio- previdência social, sendo operado por entidades de
nárias de prestação de serviços públicos. previdência complementar, na forma do que dispõe
Art. 27 As entidades de previdência complemen- a presente lei.
tar patrocinadas por entidades públicas, inclusive
empresas públicas e sociedades de economia mista, Art. 3º A ação do Estado será exercida com o
deverão rever, no prazo de dois anos, a contar de objetivo de:
16 de dezembro de 1998, seus planos de benefícios e I - formular a política de previdência complementar;
serviços, de modo a ajustá-los atuarialmente a seus II - disciplinar, coordenar e supervisionar as ativi-
ativos, sob pena de intervenção, sendo seus dirigen- dades reguladas por esta Lei Complementar, com-
tes e seus respectivos patrocinadores responsáveis patibilizando-as com as políticas previdenciária e
civil e criminalmente pelo descumprimento do dis- de desenvolvimento social e econômico-financeiro;
posto neste artigo. III - determinar padrões mínimos de segurança eco-
nômico-financeira e atuarial, com fins específicos
Regra exaurida pelo decurso do tempo. de preservar a liquidez, a solvência e o equilíbrio
dos planos de benefícios, isoladamente, e de cada
Art. 28 A infração de qualquer disposição desta Lei entidade de previdência complementar, no conjun-
Complementar ou de seu regulamento, para a qual to de suas atividades;
não haja penalidade expressamente cominada, sujei- IV - assegurar aos participantes e assistidos o ple-
ta a pessoa física ou jurídica responsável, conforme o no acesso às informações relativas à gestão de seus
caso e a gravidade da infração, às penalidades admi- respectivos planos de benefícios;
nistrativas previstas na Lei Complementar que disci- V - fiscalizar as entidades de previdência comple-
plina o caput do art. 202 da Constituição Federal. mentar, suas operações e aplicar penalidades; e
VI - proteger os interesses dos participantes e assis-
Aplicação subsidiária da lei complementar que tidos dos planos de benefícios.
regula o art. 202, da Constituição Federal, no caso de
lacuna quanto às penalidades. Estabelece o objetivo a ser atingido pela ação do
Estado.
Art. 29 As entidades de previdência privada patro-
cinadas por empresas controladas, direta ou indi- Art. 4º As entidades de previdência complementar
retamente, pela União, Estados, Distrito Federal e são classificadas em fechadas e abertas, conforme
Municípios, que possuam planos de benefícios defi- definido nesta Lei Complementar.
nidos com responsabilidade da patrocinadora, não
poderão exercer o controle ou participar de acor- As entidades de previdência complementar fecha-
do de acionistas que tenha por objeto formação de das são aquelas de que apenas algumas pessoas deter-
grupo de controle de sociedade anônima, sem pré- minadas podem participar, como os empregados
via e expressa autorização da patrocinadora e do públicos. As abertas são disponíveis a qualquer pes-
seu respectivo ente controlador. soa que preencher os requisitos.
Parágrafo único. O disposto no caput não se apli-
ca às participações acionárias detidas na data de
Art. 5º A normatização, coordenação, supervisão,
publicação desta Lei Complementar.
fiscalização e controle das atividades das entidades
de previdência complementar serão realizados por
Estabelece proibição às entidades de previdência órgão ou órgãos regulador e fiscalizador, conforme
privada patrocinadas por empresas controladas pela disposto em lei, observado o disposto no inciso VI
União, estados, Distrito Federal e municípios de parti- do art. 84 da Constituição Federal.
ciparem do controle ou acordo de acionistas sem pré-
via autorização. As entidades de previdência complementar conta-
rão com órgãos regulador e fiscalizador, responsáveis
LEI COMPLEMENTAR Nº 109, DE 29 DE MAIO DE por normatizar, coordenar, supervisionar, fiscalizar e
2001 controlar suas atividades.

Dispõe sobre o regime de previdência complemen- DOS PLANOS DE BENEFÍCIOS


tar e dá outras providências.
Disposições Comuns
Introdução
Art. 6º As entidades de previdência complementar
Art. 1º O regime de previdência privada, de caráter somente poderão instituir e operar planos de bene-
complementar e organizado de forma autônoma fícios para os quais tenham autorização específica,
em relação ao regime geral de previdência social, segundo as normas aprovadas pelo órgão regu-
é facultativo, baseado na constituição de reservas lador e fiscalizador, conforme disposto nesta Lei
628 que garantam o benefício, nos termos do caput do Complementar.
Art. 7º Os planos de benefícios atenderão a padrões As condições mínimas para ingressar no regime
mínimos fixados pelo órgão regulador e fiscaliza- deverão constar nos regulamentos, planos de benefí-
dor, com o objetivo de assegurar transparência, sol- cios, propostas e certificados. Além disso, o § 1º estabe-
vência, liquidez e equilíbrio econômico-financeiro e lece os documentos que deverão ser obrigatoriamente
atuarial. entregues a todo participante.
Parágrafo único. O órgão regulador e fiscalizador
normatizará planos de benefícios nas modalidades
Art. 11 Para assegurar compromissos assumidos
de benefício definido, contribuição definida e con-
junto aos participantes e assistidos de planos de
tribuição variável, bem como outras formas de pla-
benefícios, as entidades de previdência complemen-
nos de benefícios que reflitam a evolução técnica e
tar poderão contratar operações de resseguro, por
possibilitem flexibilidade ao regime de previdência
iniciativa própria ou por determinação do órgão
complementar.
regulador e fiscalizador, observados o regulamento
do respectivo plano e demais disposições legais e
Os planos de previdência complementar deverão regulamentares.
ser previamente autorizados e obedecer a padrões Parágrafo único. Fica facultada às entidades fecha-
mínimos fixados pelo órgão regulador e fiscalizador. das a garantia referida no caput por meio de fundo
de solvência, a ser instituído na forma da lei.
Art. 8º Para efeito desta Lei Complementar,
considera-se: É possibilitada a contratação de resseguro por par-
I - participante, a pessoa física que aderir aos pla- te da entidade de regime complementar. Trata-se de
nos de benefícios; e
contratação em que a entidade transfere para a insti-
II - assistido, o participante ou seu beneficiário em
tuição de resseguro o risco assumido, total ou parcial-
gozo de benefício de prestação continuada.
mente, junto aos participantes e assistidos.
A contratação do resseguro poderá ser por inicia-
No art. 8º, temos conceitos aos quais o aluno deve
tiva própria ou por determinação do órgão regulador
se atentar para responder a questões de prova. O
e fiscalizador.
Benefício de Prestação Continuada (BPC) é previsto
na Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), sendo a
garantia de um salário mínimo por mês à pessoa idosa Dos Planos de Benefícios de Entidades Fechadas
com idade igual ou superior a 65 anos ou à pessoa com
Art. 12 Os planos de benefícios de entidades fecha-
deficiência de qualquer idade.
das poderão ser instituídos por patrocinadores e
instituidores, observado o disposto no art. 31 desta
Art. 9º As entidades de previdência complementar
Lei Complementar.
constituirão reservas técnicas, provisões e fundos,
Art. 13 A formalização da condição de patrocina-
de conformidade com os critérios e normas fixados
dor ou instituidor de um plano de benefício dar-se-á
pelo órgão regulador e fiscalizador.
mediante convênio de adesão a ser celebrado entre
§ 1º A aplicação dos recursos correspondentes às
o patrocinador ou instituidor e a entidade fecha-
reservas, às provisões e aos fundos de que trata o
da, em relação a cada plano de benefícios por esta
caput será feita conforme diretrizes estabelecidas
administrado e executado, mediante prévia autori-
pelo Conselho Monetário Nacional.
zação do órgão regulador e fiscalizador, conforme
§ 2º É vedado o estabelecimento de aplicações com-
regulamentação do Poder Executivo.
pulsórias ou limites mínimos de aplicação.
§ 1º Admitir-se-á solidariedade entre patrocinado-
res ou entre instituidores, com relação aos respec-
As reservas técnicas, provisões e fundos são ver- tivos planos, desde que expressamente prevista no

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


bas necessárias para que a entidade consiga arcar convênio de adesão.
com seus compromissos. Deverão obedecer a critérios § 2º O órgão regulador e fiscalizador, dentre outros
fixados pelo órgão regulador e fiscalizador. requisitos, estabelecerá o número mínimo de parti-
cipantes admitido para cada modalidade de plano
Art. 10 Deverão constar dos regulamentos dos pla- de benefício.
nos de benefícios, das propostas de inscrição e dos
certificados de participantes condições mínimas a O patrocinador ou instituidor de um plano de
serem fixadas pelo órgão regulador e fiscalizador.
benefício que pretender formalizar tal situação deve-
§ 1º A todo pretendente será disponibilizado e a
rá normatizar um convênio de adesão com a entidade
todo participante entregue, quando de sua inscri-
ção no plano de benefícios:
fechada.
I - certificado onde estarão indicados os requisitos Além disso, admite-se a responsabilidade solidá-
que regulam a admissão e a manutenção da qua- ria entre patrocinadores ou entre instituidores, desde
lidade de participante, bem como os requisitos de que expresso no referido convênio.
elegibilidade e forma de cálculo dos benefícios;
II - cópia do regulamento atualizado do plano de Art. 14 Os planos de benefícios deverão prever os
benefícios e material explicativo que descreva, em seguintes institutos, observadas as normas estabe-
linguagem simples e precisa, as características do lecidas pelo órgão regulador e fiscalizador:
plano; I - benefício proporcional diferido, em razão da ces-
III - cópia do contrato, no caso de plano coletivo sação do vínculo empregatício com o patrocinador
de que trata o inciso II do art. 26 desta Lei Comple- ou associativo com o instituidor antes da aquisição
mentar; e do direito ao benefício pleno, a ser concedido quan-
IV - outros documentos que vierem a ser especifica- do cumpridos os requisitos de elegibilidade;
dos pelo órgão regulador e fiscalizador. II - portabilidade do direito acumulado pelo partici-
§ 2º Na divulgação dos planos de benefícios, não pante para outro plano;
poderão ser incluídas informações diferentes das III - resgate da totalidade das contribuições ver-
que figurem nos documentos referidos neste artigo. tidas ao plano pelo participante, descontadas as 629
parcelas do custeio administrativo, na forma regu- pelo órgão regulador e fiscalizador, observado o
lamentada; e direito acumulado de cada participante.
IV - faculdade de o participante manter o valor Parágrafo único. Ao participante que tenha cum-
de sua contribuição e a do patrocinador, no caso prido os requisitos para obtenção dos benefícios
de perda parcial ou total da remuneração recebi- previstos no plano é assegurada a aplicação das dis-
da, para assegurar a percepção dos benefícios nos posições regulamentares vigentes na data em que
níveis correspondentes àquela remuneração ou em se tornou elegível a um benefício de aposentadoria.
outros definidos em normas regulamentares.
§ 1º Não será admitida a portabilidade na inexis- As alterações nos regulamentos dos planos deve-
tência de cessação do vínculo empregatício do par- rão ser aplicadas a todos os participantes a partir da
ticipante com o patrocinador. respectiva aprovação pelo órgão competente.
§ 2º O órgão regulador e fiscalizador estabelecerá
período de carência para o instituto de que trata o Art. 18 O plano de custeio, com periodicidade
inciso II deste artigo. mínima anual, estabelecerá o nível de contribuição
§ 3º Na regulamentação do instituto previsto no necessário à constituição das reservas garantido-
inciso II do caput deste artigo, o órgão regulador ras de benefícios, fundos, provisões e à cobertura
e fiscalizador observará, entre outros requisitos das demais despesas, em conformidade com os cri-
específicos, os seguintes: térios fixados pelo órgão regulador e fiscalizador.
I - se o plano de benefícios foi instituído antes ou § 1º O regime financeiro de capitalização é obriga-
depois da publicação desta Lei Complementar; tório para os benefícios de pagamento em presta-
II - a modalidade do plano de benefícios. ções que sejam programadas e continuadas.
§ 4º O instituto de que trata o inciso II deste arti- § 2º Observados critérios que preservem o equilí-
go, quando efetuado para entidade aberta, somente brio financeiro e atuarial, o cálculo das reservas
será admitido quando a integralidade dos recursos técnicas atenderá às peculiaridades de cada plano
financeiros correspondentes ao direito acumulado de benefícios e deverá estar expresso em nota técni-
do participante for utilizada para a contratação ca atuarial, de apresentação obrigatória, incluindo
de renda mensal vitalícia ou por prazo determina- as hipóteses utilizadas, que deverão guardar rela-
do, cujo prazo mínimo não poderá ser inferior ao ção com as características da massa e da atividade
período em que a respectiva reserva foi constituí- desenvolvida pelo patrocinador ou instituidor.
da, limitado ao mínimo de quinze anos, observadas § 3º As reservas técnicas, provisões e fundos de
as normas estabelecidas pelo órgão regulador e cada plano de benefícios e os exigíveis a qualquer
fiscalizador. título deverão atender permanentemente à cober-
Art. 15 Para efeito do disposto no inciso II do caput tura integral dos compromissos assumidos pelo
do artigo anterior, fica estabelecido que: plano de benefícios, ressalvadas excepcionalidades
I - a portabilidade não caracteriza resgate; e definidas pelo órgão regulador e fiscalizador.
II - é vedado que os recursos financeiros correspon- Art. 19 As contribuições destinadas à constituição
dentes transitem pelos participantes dos planos de de reservas terão como finalidade prover o paga-
benefícios, sob qualquer forma. mento de benefícios de caráter previdenciário,
Parágrafo único. O direito acumulado correspon- observadas as especificidades previstas nesta Lei
de às reservas constituídas pelo participante ou à Complementar.
reserva matemática, o que lhe for mais favorável. Parágrafo único. As contribuições referidas no
caput classificam-se em:
Esse artigo estabelece o que deverá obrigatoria- I - normais, aquelas destinadas ao custeio dos bene-
mente constar nos planos de benefícios, sendo com- fícios previstos no respectivo plano; e
plementado pelo art. 15 com relação à portabilidade II - extraordinárias, aquelas destinadas ao custeio
prevista no inciso II, do art. 14. de déficits, serviço passado e outras finalidades não
incluídas na contribuição normal.
Art. 16 Os planos de benefícios devem ser, obriga-
toriamente, oferecidos a todos os empregados dos O custeio deverá possuir valor razoável para cons-
patrocinadores ou associados dos instituidores. tituir as reservas garantidoras de benefícios, fundos e
§ 1º Para os efeitos desta Lei Complementar, são provisões, bem como a cobertura das demais despesas.
equiparáveis aos empregados e associados a que se Ademais, é obrigatório o regime de capitali-
refere o caput os gerentes, diretores, conselheiros zação para custear as prestações programadas e
ocupantes de cargo eletivo e outros dirigentes de continuadas.
patrocinadores e instituidores. As contribuições serão normais ou extraordiná-
§ 2º É facultativa a adesão aos planos a que se refe- rias, de acordo com os termos previstos no art. 19.
re o caput deste artigo.
§ 3º O disposto no caput deste artigo não se aplica
Art. 20 O resultado superavitário dos planos de
aos planos em extinção, assim considerados aque-
benefícios das entidades fechadas, ao final do
les aos quais o acesso de novos participantes esteja
exercício, satisfeitas as exigências regulamentares
vedado.
relativas aos mencionados planos, será destinado
à constituição de reserva de contingência, para
O oferecimento dos planos de benefícios deverá garantia de benefícios, até o limite de vinte e cinco
ocorrer para todos os empregados dos patrocinado- por cento do valor das reservas matemáticas.
res, ou para todos os associados dos instituidores, em § 1º Constituída a reserva de contingência, com os
caráter obrigatório. valores excedentes será constituída reserva espe-
cial para revisão do plano de benefícios.
Art. 17 As alterações processadas nos regulamen- § 2º A não utilização da reserva especial por três
tos dos planos aplicam-se a todos os participantes exercícios consecutivos determinará a revisão obri-
630 das entidades fechadas, a partir de sua aprovação gatória do plano de benefícios da entidade.
§ 3º Se a revisão do plano de benefícios implicar A cada ano, as entidades fechadas deverão reali-
redução de contribuições, deverá ser levada em zar o levantamento das demonstrações contábeis e as
consideração a proporção existente entre as con- avaliações atuariais de cada plano de benefícios.
tribuições dos patrocinadores e dos participantes, Além disso, também deverão manter atualizada
inclusive dos assistidos. sua contabilidade, dentro do que prevê o órgão regu-
lador e fiscalizador.
Resultado superavitário é a sobra de recursos, após o
pagamento de todas as despesas, ao final de um determi- Art. 24 A divulgação aos participantes, inclusive
nado período. Havendo esse tipo de resultado ao final do aos assistidos, das informações pertinentes aos
exercício, ele será destinado à reserva de contingência planos de benefícios dar-se-á ao menos uma vez ao
até o limite estabelecido no caput, do art. 20. ano, na forma, nos prazos e pelos meios estabeleci-
dos pelo órgão regulador e fiscalizador.
Trata-se, portanto, de mais uma reserva financeira
Parágrafo único. As informações requeridas for-
que poderá ser utilizada em situações excepcionais. malmente pelo participante ou assistido, para
Não obstante, se ela não for utilizada por três exercí- defesa de direitos e esclarecimento de situações de
cios consecutivos (três anos seguidos), deverá ser rea- interesse pessoal específico deverão ser atendidas
lizada revisão do plano de benefício. pela entidade no prazo estabelecido pelo órgão
regulador e fiscalizador.
Art. 21 O resultado deficitário nos planos ou nas
entidades fechadas será equacionado por patroci- Pelo menos uma vez ao ano, deverão ser divulga-
nadores, participantes e assistidos, na proporção das aos participantes e assistidos as informações rela-
existente entre as suas contribuições, sem prejuízo tivas ao plano de benefícios.
de ação regressiva contra dirigentes ou terceiros
que deram causa a dano ou prejuízo à entidade de Art. 25 O órgão regulador e fiscalizador poderá
previdência complementar. autorizar a extinção de plano de benefícios ou a
§ 1º O equacionamento referido no caput poderá retirada de patrocínio, ficando os patrocinadores e
ser feito, dentre outras formas, por meio do aumen- instituidores obrigados ao cumprimento da totali-
to do valor das contribuições, instituição de contri- dade dos compromissos assumidos com a entidade
buição adicional ou redução do valor dos benefícios relativamente aos direitos dos participantes, assis-
a conceder, observadas as normas estabelecidas tidos e obrigações legais, até a data da retirada ou
pelo órgão regulador e fiscalizador. extinção do plano.
§ 2º A redução dos valores dos benefícios não se apli- Parágrafo único. Para atendimento do disposto no
ca aos assistidos, sendo cabível, nesse caso, a insti- caput deste artigo, a situação de solvência econô-
tuição de contribuição adicional para cobertura do mico-financeira e atuarial da entidade deverá ser
atestada por profissional devidamente habilitado,
acréscimo ocorrido em razão da revisão do plano.
cujos relatórios serão encaminhados ao órgão
§ 3º Na hipótese de retorno à entidade dos recursos
regulador e fiscalizador.
equivalentes ao déficit previsto no caput deste artigo,
em conseqüência de apuração de responsabilidade
A extinção do plano de benefícios e a retirada de
mediante ação judicial ou administrativa, os respec-
patrocínio poderão ser autorizadas pelo órgão regula-
tivos valores deverão ser aplicados necessariamente
dor e fiscalizador.
na redução proporcional das contribuições devidas
ao plano ou em melhoria dos benefícios.
Dos Planos de Benefícios de Entidades Abertas

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


Por sua vez, o déficit experimentado pelas enti-
Art. 26 Os planos de benefícios instituídos por enti-
dades fechadas será repartido entre patrocinadores, dades abertas poderão ser:
participantes e assistidos, na proporção existente I - individuais, quando acessíveis a quaisquer pes-
para cada um, o que poderá ser realizado nos termos soas físicas; ou
previstos no § 1º. II - coletivos, quando tenham por objetivo garantir
Ademais, caberá ação regressiva contra quem benefícios previdenciários a pessoas físicas vincu-
tiver causado o resultado deficitário. ladas, direta ou indiretamente, a uma pessoa jurí-
dica contratante.
Art. 22 Ao final de cada exercício, coincidente com o § 1º O plano coletivo poderá ser contratado por
ano civil, as entidades fechadas deverão levantar as uma ou várias pessoas jurídicas.
demonstrações contábeis e as avaliações atuariais § 2º O vínculo indireto de que trata o inciso II des-
de cada plano de benefícios, por pessoa jurídica ou te artigo refere-se aos casos em que uma entidade
representativa de pessoas jurídicas contrate plano
profissional legalmente habilitado, devendo os resul-
previdenciário coletivo para grupos de pessoas físi-
tados ser encaminhados ao órgão regulador e fiscali-
cas vinculadas a suas filiadas.
zador e divulgados aos participantes e aos assistidos.
§ 3º Os grupos de pessoas de que trata o parágrafo
Art. 23 As entidades fechadas deverão manter
anterior poderão ser constituídos por uma ou mais
atualizada sua contabilidade, de acordo com as categorias específicas de empregados de um mes-
instruções do órgão regulador e fiscalizador, con- mo empregador, podendo abranger empresas coli-
solidando a posição dos planos de benefícios que gadas, controladas ou subsidiárias, e por membros
administram e executam, bem como submetendo de associações legalmente constituídas, de caráter
suas contas a auditores independentes. profissional ou classista, e seus cônjuges ou compa-
Parágrafo único. Ao final de cada exercício serão nheiros e dependentes econômicos.
elaboradas as demonstrações contábeis e atuariais § 4º Para efeito do disposto no parágrafo anterior,
consolidadas, sem prejuízo dos controles por plano são equiparáveis aos empregados e associados
de benefícios. os diretores, conselheiros ocupantes de cargos 631
eletivos e outros dirigentes ou gerentes da pessoa II - estabelecer as condições em que o órgão fisca-
jurídica contratante. lizador pode determinar a suspensão da comercia-
§ 5º A implantação de um plano coletivo será cele- lização ou a transferência, entre entidades abertas,
brada mediante contrato, na forma, nos critérios, de planos de benefícios; e
nas condições e nos requisitos mínimos a serem III - fixar condições que assegurem transparência,
estabelecidos pelo órgão regulador. acesso a informações e fornecimento de dados rela-
§ 6º É vedada à entidade aberta a contratação de tivos aos planos de benefícios, inclusive quanto à
plano coletivo com pessoa jurídica cujo objetivo gestão dos respectivos recursos.
principal seja estipular, em nome de terceiros, pla-
nos de benefícios coletivos. O art. 29 estabelece as competências atribuídas ao
órgão regulador.
Esse artigo trata do plano de benefício instituído
por entidade aberta, podendo ser individual ou coleti- Art. 30 É facultativa a utilização de corretores
vo, nos termos dos incisos do caput. na venda dos planos de benefícios das entidades
abertas.
Art. 27 Observados os conceitos, a forma, as con- Parágrafo único. Aos corretores de planos de bene-
dições e os critérios fixados pelo órgão regulador, fícios aplicam-se a legislação e a regulamentação
é assegurado aos participantes o direito à portabi- da profissão de corretor de seguros.
lidade, inclusive para plano de benefício de entida-
de fechada, e ao resgate de recursos das reservas A venda dos planos de benefícios poderá ser rea-
técnicas, provisões e fundos, total ou parcialmente. lizada por corretores, aplicando-se as mesmas regras
§ 1º A portabilidade não caracteriza resgate. estabelecidas para o corretor de seguros.
§ 2º É vedado, no caso de portabilidade:
I - que os recursos financeiros transitem pelos par- DAS ENTIDADES FECHADAS DE PREVIDÊNCIA
ticipantes, sob qualquer forma; e COMPLEMENTAR
II - a transferência de recursos entre participantes.
Art. 31 As entidades fechadas são aquelas acessí-
É garantido o direito à portabilidade do plano, des- veis, na forma regulamentada pelo órgão regulador
de que preenchidos as condições e critérios fixados e fiscalizador, exclusivamente:
pelo órgão competente, exceto nas situações previstas I - aos empregados de uma empresa ou grupo de
no § 2º, casos em que a portabilidade será proibida. empresas e aos servidores da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios, entes denomi-
Art. 28 Os ativos garantidores das reservas técni- nados patrocinadores; e
cas, das provisões e dos fundos serão vinculados à II - aos associados ou membros de pessoas jurídicas
ordem do órgão fiscalizador, na forma a ser regu- de caráter profissional, classista ou setorial, deno-
lamentada, e poderão ter sua livre movimentação minadas instituidores.
suspensa pelo referido órgão, a partir da qual não § 1º As entidades fechadas organizar-se-ão sob
poderão ser alienados ou prometidos alienar sem a forma de fundação ou sociedade civil, sem fins
sua prévia e expressa autorização, sendo nulas, de lucrativos.
pleno direito, quaisquer operações realizadas com § 2º As entidades fechadas constituídas por insti-
violação daquela suspensão. tuidores referidos no inciso II do caput deste artigo
§ 1º Sendo imóvel, o vínculo será averbado à mar- deverão, cumulativamente:
gem do respectivo registro no Cartório de Registro I - terceirizar a gestão dos recursos garantidores
das reservas técnicas e provisões mediante a con-
Geral de Imóveis competente, mediante comunica-
tratação de instituição especializada autorizada
ção do órgão fiscalizador.
a funcionar pelo Banco Central do Brasil ou outro
§ 2º Os ativos garantidores a que se refere o caput,
órgão competente;
bem como os direitos deles decorrentes, não pode-
II - ofertar exclusivamente planos de benefícios na
rão ser gravados, sob qualquer forma, sem prévia e
modalidade contribuição definida, na forma do
expressa autorização do órgão fiscalizador, sendo
parágrafo único do art. 7º desta Lei Complementar.
nulos os gravames constituídos com infringência
§ 3º Os responsáveis pela gestão dos recursos de
do disposto neste parágrafo.
que trata o inciso I do parágrafo anterior deverão
manter segregados e totalmente isolados o seu
Os ativos garantidores das reservas técnicas, pro- patrimônio dos patrimônios do instituidor e da
visões e fundos terão regulamentação específica e entidade fechada.
poderão ter a livre movimentação suspensa pelo § 4º Na regulamentação de que trata o caput,
órgão fiscalizador. o órgão regulador e fiscalizador estabelecerá o
No referido caso de suspensão da movimentação, tempo mínimo de existência do instituidor e o seu
ficarão proibidos de ser alienados ou oferecidos em número mínimo de associados.
promessa de alienação sem que haja prévia autoriza-
ção, sob pena de nulidade do ato. Esse artigo define as entidades fechadas e esta-
belece regramentos acerca de sua organização e
Art. 29 Compete ao órgão regulador, entre outras funcionamento.
atribuições que lhe forem conferidas por lei:
I - fixar padrões adequados de segurança atuarial Art. 32 As entidades fechadas têm como objeto a
e econômico-financeira, para preservação da liqui- administração e execução de planos de benefícios
dez e solvência dos planos de benefícios, isolada- de natureza previdenciária.
mente, e de cada entidade aberta, no conjunto de Parágrafo único. É vedada às entidades fechadas a
suas atividades; prestação de quaisquer serviços que não estejam no
632 âmbito de seu objeto, observado o disposto no art. 76.
No art. 32, temos a definição do objeto das entida- participantes vinculados a cada patrocinador ou
des fechadas. instituidor, bem como o montante dos respectivos
patrimônios.
Art. 33 Dependerão de prévia e expressa autoriza- § 3º Os membros do conselho deliberativo ou do
ção do órgão regulador e fiscalizador: conselho fiscal deverão atender aos seguintes
I - a constituição e o funcionamento da entidade requisitos mínimos:
fechada, bem como a aplicação dos respectivos I - comprovada experiência no exercício de ativida-
estatutos, dos regulamentos dos planos de benefí- des nas áreas financeira, administrativa, contábil,
cios e suas alterações; jurídica, de fiscalização ou de auditoria;
II - as operações de fusão, cisão, incorporação ou II - não ter sofrido condenação criminal transitada
qualquer outra forma de reorganização societária, em julgado; e
relativas às entidades fechadas; III - não ter sofrido penalidade administrativa por
III - as retiradas de patrocinadores; e infração da legislação da seguridade social ou
IV - as transferências de patrocínio, de grupo de como servidor público.
participantes, de planos e de reservas entre entida- § 4º Os membros da diretoria-executiva deverão ter
des fechadas. formação de nível superior e atender aos requisitos
§ 1º Excetuado o disposto no inciso III deste arti- do parágrafo anterior.
go, é vedada a transferência para terceiros de par- § 5º Será informado ao órgão regulador e fiscali-
ticipantes, de assistidos e de reservas constituídas zador o responsável pelas aplicações dos recur-
para garantia de benefícios de risco atuarial pro- sos da entidade, escolhido entre os membros da
gramado, de acordo com normas estabelecidas pelo diretoria-executiva.
órgão regulador e fiscalizador. § 6º Os demais membros da diretoria-executiva res-
§ 2º Para os assistidos de planos de benefícios na ponderão solidariamente com o dirigente indicado
modalidade contribuição definida que mantiveram na forma do parágrafo anterior pelos danos e pre-
esta característica durante a fase de percepção de juízos causados à entidade para os quais tenham
renda programada, o órgão regulador e fiscaliza- concorrido.
dor poderá, em caráter excepcional, autorizar a § 7º Sem prejuízo do disposto no § 1º do art. 31 des-
transferência dos recursos garantidores dos benefí- ta Lei Complementar, os membros da diretoria-exe-
cios para entidade de previdência complementar ou cutiva e dos conselhos deliberativo e fiscal poderão
companhia seguradora autorizada a operar planos ser remunerados pelas entidades fechadas, de acor-
de previdência complementar, com o objetivo espe- do com a legislação aplicável.
cífico de contratar plano de renda vitalícia, obser- § 8º Em caráter excepcional, poderão ser ocupados
vadas as normas aplicáveis. até trinta por cento dos cargos da diretoria-execu-
tiva por membros sem formação de nível superior,
A constituição e funcionamento da entidade fecha- sendo assegurada a possibilidade de participação
da, sua fusão, cisão ou incorporação, bem como as neste órgão de pelo menos um membro, quando da
aplicação do referido percentual resultar número
retiradas de patrocinadores e transferências de patro-
inferior à unidade.
cínio deverão ser autorizadas previamente pelo órgão
regulador e fiscalizador.
O conselho deliberativo, o conselho fiscal e a dire-
toria-executiva compõem a estrutura organizacional
Art. 34 As entidades fechadas podem ser qualifica-
das da seguinte forma, além de outras que possam mínima das entidades fechadas, cujos membros deve-
ser definidas pelo órgão regulador e fiscalizador: rão atender aos requisitos previstos no § 3º.
I - de acordo com os planos que administram:

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


a) de plano comum, quando administram plano ou DAS ENTIDADES ABERTAS DE PREVIDÊNCIA
conjunto de planos acessíveis ao universo de parti- COMPLEMENTAR
cipantes; e
b) com multiplano, quando administram plano Art. 36 As entidades abertas são constituídas uni-
ou conjunto de planos de benefícios para diver- camente sob a forma de sociedades anônimas e têm
sos grupos de participantes, com independência por objetivo instituir e operar planos de benefícios
patrimonial; de caráter previdenciário concedidos em forma de
II - de acordo com seus patrocinadores ou instituidores: renda continuada ou pagamento único, acessíveis a
a) singulares, quando estiverem vinculadas a ape- quaisquer pessoas físicas.
nas um patrocinador ou instituidor; e Parágrafo único. As sociedades seguradoras auto-
b) multipatrocinadas, quando congregarem mais rizadas a operar exclusivamente no ramo vida
de um patrocinador ou instituidor. poderão ser autorizadas a operar os planos de
benefícios a que se refere o caput, a elas se aplican-
No art. 34, temos a qualificação das entidades do as disposições desta Lei Complementar.
fechadas de acordo com os planos que administram
e de acordo com os patrocinadores ou instituidores. A formação societária obrigatória das entidades
abertas será de sociedade anônima, com o objetivo
Art. 35 As entidades fechadas deverão manter definido no art. 36.
estrutura mínima composta por conselho delibera-
tivo, conselho fiscal e diretoria-executiva. Art. 37 Compete ao órgão regulador, entre outras
§ 1º O estatuto deverá prever representação dos atribuições que lhe forem conferidas por lei,
participantes e assistidos nos conselhos deliberati- estabelecer:
vo e fiscal, assegurado a eles no mínimo um terço I - os critérios para a investidura e posse em car-
das vagas. gos e funções de órgãos estatutários de entidades
§ 2º Na composição dos conselhos deliberativo e abertas, observado que o pretendente não poderá
fiscal das entidades qualificadas como multipa- ter sofrido condenação criminal transitada em jul-
trocinadas, deverá ser considerado o número de gado, penalidade administrativa por infração da 633
legislação da seguridade social ou como servidor discriminada, as atividades previdenciárias e as de
público; seguros, de acordo com critérios fixados pelo órgão
II - as normas gerais de contabilidade, auditoria, regulador.
atuária e estatística a serem observadas pelas enti-
dades abertas, inclusive quanto à padronização No art. 40, temos o levantamento de balancetes
dos planos de contas, balanços gerais, balancetes mensais e balanços gerais contábeis, a serem obriga-
e outras demonstrações financeiras, critérios sobre toriamente realizados pelas entidades abertas.
sua periodicidade, sobre a publicação desses docu-
mentos e sua remessa ao órgão fiscalizador;
DA FISCALIZAÇÃO
III - os índices de solvência e liquidez, bem como
as relações patrimoniais a serem atendidas pelas
entidades abertas, observado que seu patrimônio Art. 41 No desempenho das atividades de fiscaliza-
líquido não poderá ser inferior ao respectivo passi- ção das entidades de previdência complementar, os
vo não operacional; e servidores do órgão regulador e fiscalizador terão
IV - as condições que assegurem acesso a informa- livre acesso às respectivas entidades, delas poden-
ções e fornecimento de dados relativos a quaisquer do requisitar e apreender livros, notas técnicas e
aspectos das atividades das entidades abertas. quaisquer documentos, caracterizando-se embara-
ço à fiscalização, sujeito às penalidades previstas
em lei, qualquer dificuldade oposta à consecução
O art. 37 estabelece as competências do órgão
desse objetivo.
regulador. Além delas, outras também poderão ser
§ 1º O órgão regulador e fiscalizador das entida-
conferidas por lei.
des fechadas poderá solicitar dos patrocinadores
e instituidores informações relativas aos aspectos
Art. 38 Dependerão de prévia e expressa aprovação
específicos que digam respeito aos compromis-
do órgão fiscalizador:
sos assumidos frente aos respectivos planos de
I - a constituição e o funcionamento das entidades
benefícios.
abertas, bem como as disposições de seus estatutos
§ 2º A fiscalização a cargo do Estado não exime os
e as respectivas alterações;
patrocinadores e os instituidores da responsabili-
II - a comercialização dos planos de benefícios;
dade pela supervisão sistemática das atividades
III - os atos relativos à eleição e conseqüente posse
das suas respectivas entidades fechadas.
de administradores e membros de conselhos esta-
§ 3º As pessoas físicas ou jurídicas submetidas ao
tutários; e
regime desta Lei Complementar ficam obrigadas a
IV - as operações relativas à transferência do con-
prestar quaisquer informações ou esclarecimentos
trole acionário, fusão, cisão, incorporação ou qual-
solicitados pelo órgão regulador e fiscalizador.
quer outra forma de reorganização societária.
§ 4º O disposto neste artigo aplica-se, sem prejuízo
Parágrafo único. O órgão regulador disciplinará
da competência das autoridades fiscais, relativa-
o tratamento administrativo a ser emprestado ao
exame dos assuntos constantes deste artigo. mente ao pleno exercício das atividades de fiscali-
zação tributária.
O órgão fiscalizador deverá autorizar a consti-
tuição e funcionamento das entidades abertas, bem Esse artigo estabelece procedimentos a serem
como a comercialização dos planos de benefícios, a seguidos a fim de que se realize a fiscalização das enti-
eleição e posse dos administradores e membros de dades de previdência complementar, cabendo, dentre
conselho e as operações citadas no inciso IV. outras providências, o livre acesso nas suas depen-
dências, bem como a apreensão de livros e outros
Art. 39 As entidades abertas deverão comuni- documentos.
car ao órgão fiscalizador, no prazo e na forma
estabelecidos: Art. 42 O órgão regulador e fiscalizador poderá, em
I - os atos relativos às alterações estatutárias e à relação às entidades fechadas, nomear administra-
eleição de administradores e membros de conse- dor especial, a expensas da entidade, com poderes
lhos estatutários; e próprios de intervenção e de liquidação extrajudi-
II - o responsável pela aplicação dos recursos das cial, com o objetivo de sanear plano de benefícios
reservas técnicas, provisões e fundos, escolhido específico, caso seja constatada na sua administra-
dentre os membros da diretoria-executiva. ção e execução alguma das hipóteses previstas nos
Parágrafo único. Os demais membros da diretoria- arts. 44 e 48 desta Lei Complementar.
-executiva responderão solidariamente com o diri- Parágrafo único. O ato de nomeação de que trata
gente indicado na forma do inciso II deste artigo o caput estabelecerá as condições, os limites e as
pelos danos e prejuízos causados à entidade para atribuições do administrador especial.
os quais tenham concorrido.
O art. 42 trata de normas de fiscalização aplicadas
As situações previstas nos incisos, do art. 39, deve- especificamente nas entidades fechadas.
rão ser comunicadas pelas entidades abertas ao órgão
fiscalizador. Art. 43 O órgão fiscalizador poderá, em relação
às entidades abertas, desde que se verifique uma
Art. 40 As entidades abertas deverão levantar no das condições previstas no art. 44 desta Lei Com-
último dia útil de cada mês e semestre, respectiva- plementar, nomear, por prazo determinado, pror-
mente, balancetes mensais e balanços gerais, com rogável a seu critério, e a expensas da respectiva
observância das regras e dos critérios estabeleci- entidade, um diretor-fiscal.
dos pelo órgão regulador. § 1º O diretor-fiscal, sem poderes de gestão, terá
Parágrafo único. As sociedades seguradoras auto- suas atribuições estabelecidas pelo órgão regu-
rizadas a operar planos de benefícios deverão apre- lador, cabendo ao órgão fiscalizador fixar sua
634 sentar nas demonstrações financeiras, de forma remuneração.
§ 2º Se reconhecer a inviabilidade de recupera- da entidade de previdência complementar ou pela
ção da entidade aberta ou a ausência de qualquer ausência de condição para seu funcionamento.
condição para o seu funcionamento, o diretor-fis- Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei Com-
cal proporá ao órgão fiscalizador a decretação da plementar, entende-se por ausência de condição
intervenção ou da liquidação extrajudicial. para funcionamento de entidade de previdência
§ 3º O diretor-fiscal não está sujeito à indisponibi- complementar:
lidade de bens, nem aos demais efeitos decorren- I - (VETADO)
tes da decretação da intervenção ou da liquidação II - (VETADO)
extrajudicial da entidade aberta. III - o não atendimento às condições mínimas esta-
belecidas pelo órgão regulador e fiscalizador.
Por sua vez, esse artigo trata de especificações Art. 49 A decretação da liquidação extrajudicial
quanto à fiscalização nas entidades abertas. produzirá, de imediato, os seguintes efeitos:
I - suspensão das ações e execuções iniciadas sobre
DA INTERVENÇÃO E DA LIQUIDAÇÃO direitos e interesses relativos ao acervo da entidade
EXTRAJUDICIAL liquidanda;
II - vencimento antecipado das obrigações da
Da Intervenção liquidanda;
III - não incidência de penalidades contratuais con-
tra a entidade por obrigações vencidas em decor-
Art. 44 Para resguardar os direitos dos participan-
rência da decretação da liquidação extrajudicial;
tes e assistidos poderá ser decretada a intervenção
na entidade de previdência complementar, desde IV - não fluência de juros contra a liquidanda
que se verifique, isolada ou cumulativamente: enquanto não integralmente pago o passivo;
I - irregularidade ou insuficiência na constituição V - interrupção da prescrição em relação às obriga-
das reservas técnicas, provisões e fundos, ou na sua ções da entidade em liquidação;
cobertura por ativos garantidores; VI - suspensão de multa e juros em relação às dívi-
II - aplicação dos recursos das reservas técnicas, das da entidade;
provisões e fundos de forma inadequada ou em VII - inexigibilidade de penas pecuniárias por infra-
desacordo com as normas expedidas pelos órgãos ções de natureza administrativa;
competentes; VIII - interrupção do pagamento à liquidanda das
III - descumprimento de disposições estatutárias ou contribuições dos participantes e dos patrocinado-
de obrigações previstas nos regulamentos dos pla- res, relativas aos planos de benefícios.
nos de benefícios, convênios de adesão ou contratos § 1º As faculdades previstas nos incisos deste artigo
dos planos coletivos de que trata o inciso II do art. aplicam-se, no caso das entidades abertas de previ-
26 desta Lei Complementar; dência complementar, exclusivamente, em relação
IV - situação econômico-financeira insuficiente à às suas atividades de natureza previdenciária.
preservação da liquidez e solvência de cada um dos § 2º O disposto neste artigo não se aplica às ações e
planos de benefícios e da entidade no conjunto de aos débitos de natureza tributária.
suas atividades;
V - situação atuarial desequilibrada; Não se aplica a lei de falências. A elas somente
VI - outras anormalidades definidas em regulamento. caberá a liquidação extrajudicial, que é a resolução
Art. 45 A intervenção será decretada pelo prazo da entidade, interrompendo seu funcionamento e
necessário ao exame da situação da entidade e enca- promovendo sua retirada do mercado, de maneira
minhamento de plano destinado à sua recuperação. organizada.

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


Parágrafo único. Dependerão de prévia e expressa Será decretada quando for inviável a sua recupe-
autorização do órgão competente os atos do inter- ração e produzirá os efeitos do art. 49.
ventor que impliquem oneração ou disposição do
patrimônio. Art. 50 O liquidante organizará o quadro geral de
Art. 46 A intervenção cessará quando aprovado o
credores, realizará o ativo e liquidará o passivo.
plano de recuperação da entidade pelo órgão compe-
§ 1º Os participantes, inclusive os assistidos, dos
tente ou se decretada a sua liquidação extrajudicial.
planos de benefícios ficam dispensados de se habi-
litarem a seus respectivos créditos, estejam estes
A intervenção decretada na entidade de previdên- sendo recebidos ou não.
cia complementar ocorrerá nas situações previstas no § 2º Os participantes, inclusive os assistidos, dos
art. 44. A finalidade é resguardar os direitos dos parti- planos de benefícios terão privilégio especial sobre
cipantes e assistidos. os ativos garantidores das reservas técnicas e,
O prazo da intervenção dependerá da situação caso estes não sejam suficientes para a cobertura
ocorrida, sendo necessário para o encaminhamento dos direitos respectivos, privilégio geral sobre as
do plano de recuperação da referida entidade. demais partes não vinculadas ao ativo.
A intervenção será extinta com a aprovação § 3º Os participantes que já estiverem recebendo
do plano de recuperação ou com a sua liquidação benefícios, ou que já tiverem adquirido este direito
extrajudicial. antes de decretada a liquidação extrajudicial, terão
preferência sobre os demais participantes.
Da Liquidação Extrajudicial § 4º Os créditos referidos nos parágrafos anteriores
deste artigo não têm preferência sobre os créditos
Art. 47 As entidades fechadas não poderão solici- de natureza trabalhista ou tributária.
tar concordata e não estão sujeitas a falência, mas
somente a liquidação extrajudicial. O liquidante é o responsável por efetuar a liquida-
Art. 48 A liquidação extrajudicial será decretada ção extrajudicial. Suas atribuições são definidas nesse
quando reconhecida a inviabilidade de recuperação artigo. 635
Art. 51 Serão obrigatoriamente levantados, na Por meio da falência de uma empresa, será esta-
data da decretação da liquidação extrajudicial de belecido um quadro geral de credores, com ordem de
entidade de previdência complementar, o balanço preferência entre eles para o recebimento de seus res-
geral de liquidação e as demonstrações contábeis e pectivos valores.
atuariais necessárias à determinação do valor das Em caso de liquidação ou falência de patroci-
reservas individuais. nadores, os créditos das entidades de previdência
Art. 52 A liquidação extrajudicial poderá, a qual- complementar terão privilégio especial, logo abaixo
quer tempo, ser levantada, desde que constatados dos créditos trabalhistas e tributários na ordem de
fatos supervenientes que viabilizem a recuperação preferência.
da entidade de previdência complementar.
Art. 53 A liquidação extrajudicial das entidades Art. 58 No caso de liquidação extrajudicial de
fechadas encerrar-se-á com a aprovação, pelo entidade fechada motivada pela falta de aporte
órgão regulador e fiscalizador, das contas finais do de contribuições de patrocinadores ou pelo não
liquidante e com a baixa nos devidos registros. recolhimento de contribuições de participantes, os
Parágrafo único. Comprovada pelo liquidante a administradores daqueles também serão responsa-
inexistência de ativos para satisfazer a possíveis bilizados pelos danos ou prejuízos causados.
créditos reclamados contra a entidade, deverá tal
situação ser comunicada ao juízo competente e efe- No art. 58, temos um caso específico aplicado para
tivados os devidos registros, para o encerramento a liquidação extrajudicial de entidade fechada pela
do processo de liquidação. falta de aporte ou não recolhimento de contribuições.

Do art. 51 ao art. 53, a lei estabelece procedimen- Art. 59 Os administradores, controladores e mem-
tos previstos para a liquidação extrajudicial e quanto bros de conselhos estatutários das entidades de
ao levantamento do balanço geral e de demonstra- previdência complementar sob intervenção ou
ções contábeis e atuariais, bem como no que concer- em liquidação extrajudicial ficarão com todos os
ne ao seu encerramento com a aprovação pelo órgão seus bens indisponíveis, não podendo, por qual-
competente. quer forma, direta ou indireta, aliená-los ou one-
rá-los, até a apuração e liquidação final de suas
responsabilidades.
Disposições Especiais
§ 1º A indisponibilidade prevista neste artigo decor-
re do ato que decretar a intervenção ou liquidação
Art. 54 O interventor terá amplos poderes de
extrajudicial e atinge todos aqueles que tenham
administração e representação e o liquidante ple-
estado no exercício das funções nos doze meses
nos poderes de administração, representação e anteriores.
liquidação. § 2º A indisponibilidade poderá ser estendida aos
bens de pessoas que, nos últimos doze meses, os
Como os nomes sugerem, o interventor é referente tenham adquirido, a qualquer título, das pessoas
à intervenção (arts. 44 e seguintes), enquanto o liqui- referidas no caput e no parágrafo anterior, desde
dante é referente à liquidação extrajudicial (arts. 47 e que haja seguros elementos de convicção de que se
seguintes). trata de simulada transferência com o fim de evitar
os efeitos desta Lei Complementar.
Art. 55 Compete ao órgão fiscalizador decretar, § 3º Não se incluem nas disposições deste artigo os
aprovar e rever os atos de que tratam os arts. 45, bens considerados inalienáveis ou impenhoráveis
46 e 48 desta Lei Complementar, bem como nomear, pela legislação em vigor.
por intermédio do seu dirigente máximo, o inter- § 4º Não são também atingidos pela indisponibi-
ventor ou o liquidante. lidade os bens objeto de contrato de alienação, de
Art. 56 A intervenção e a liquidação extrajudicial promessas de compra e venda e de cessão de direi-
determinam a perda do mandato dos administra- tos, desde que os respectivos instrumentos tenham
dores e membros dos conselhos estatutários das sido levados ao competente registro público até
doze meses antes da data de decretação da inter-
entidades, sejam titulares ou suplentes.
venção ou liquidação extrajudicial.
§ 5º Não se aplica a indisponibilidade de bens das
Nos arts. 55 e 56, temos normas referentes aos pro- pessoas referidas no caput deste artigo no caso de
cedimentos de intervenção e liquidação. É disposto liquidação extrajudicial de entidades fechadas que
sobre a decretação, aprovação e revisão pelo órgão deixarem de ter condições para funcionar por moti-
competente, bem como sobre a perda do mandato dos vos totalmente desvinculados do exercício das suas
administradores e membros dos conselhos. atribuições, situação esta que poderá ser revista a
qualquer momento, pelo órgão regulador e fiscali-
Art. 57 Os créditos das entidades de previdência zador, desde que constatada a existência de irregu-
complementar, em caso de liquidação ou falência laridades ou indícios de crimes por elas praticados.
de patrocinadores, terão privilégio especial sobre a
massa, respeitado o privilégio dos créditos traba- Os bens das pessoas identificadas no caput do
lhistas e tributários. artigo ficarão indisponíveis, não podendo ser alie-
Parágrafo único. Os administradores dos respecti- nados, até a apuração e liquidação final de suas
vos patrocinadores serão responsabilizados pelos responsabilidades.
danos ou prejuízos causados às entidades de pre-
vidência complementar, especialmente pela falta de Art. 60 O interventor ou o liquidante comunicará a
aporte das contribuições a que estavam obrigados, indisponibilidade de bens aos órgãos competentes
observado o disposto no parágrafo único do art. 63 para os devidos registros e publicará edital para
636 desta Lei Complementar. conhecimento de terceiros.
Parágrafo único. A autoridade que receber a comu- O art. 63 estabelece a responsabilização às pessoas
nicação ficará, relativamente a esses bens, impedi- enumeradas, causadoras de danos ou prejuízos às
da de: entidades de previdência complementar.
I - fazer transcrições, inscrições ou averbações de Além deles, o parágrafo único também prevê a res-
documentos públicos ou particulares; ponsabilização dos demais agentes nele previstos.
II - arquivar atos ou contratos que importem em
transferência de cotas sociais, ações ou partes Art. 64 O órgão fiscalizador competente, o Banco
beneficiárias; Central do Brasil, a Comissão de Valores Mobiliá-
III - realizar ou registrar operações e títulos de rios ou a Secretaria da Receita Federal, constatan-
qualquer natureza; e do a existência de práticas irregulares ou indícios
IV - processar a transferência de propriedade de de crimes em entidades de previdência complemen-
veículos automotores, aeronaves e embarcações. tar, noticiará ao Ministério Público, enviando-lhe
os documentos comprobatórios.
O art. 60 dispõe sobre a comunicação de indisponi- Parágrafo único. O sigilo de operações não pode-
bilidade de bens feita pelo interventor ou liquidante rá ser invocado como óbice à troca de informações
ao órgão competente. entre os órgãos mencionados no caput, nem ao for-
necimento de informações requisitadas pelo Minis-
tério Público.
Art. 61 A apuração de responsabilidades específicas
referida no caput do art. 59 desta Lei Complemen-
tar será feita mediante inquérito a ser instaurado O ministério público deverá ser informado quan-
pelo órgão regulador e fiscalizador, sem prejuízo do do houver práticas irregulares ou indícios de crimes
disposto nos arts. 63 a 65 desta Lei Complementar. em entidades de previdência complementar.
§ 1º Se o inquérito concluir pela inexistência de pre-
juízo, será arquivado no órgão fiscalizador. Art. 65 A infração de qualquer disposição desta
§ 2º Concluindo o inquérito pela existência de pre- Lei Complementar ou de seu regulamento, para
juízo, será ele, com o respectivo relatório, remetido a qual não haja penalidade expressamente comi-
pelo órgão regulador e fiscalizador ao Ministério nada, sujeita a pessoa física ou jurídica responsá-
Público, observados os seguintes procedimentos: vel, conforme o caso e a gravidade da infração, às
I - o interventor ou o liquidante, de ofício ou a reque- seguintes penalidades administrativas, observado
rimento de qualquer interessado que não tenha sido o disposto em regulamento:
I - advertência;
indiciado no inquérito, após aprovação do respecti-
II - suspensão do exercício de atividades em enti-
vo relatório pelo órgão fiscalizador, determinará o
dades de previdência complementar pelo prazo de
levantamento da indisponibilidade de que trata o
até cento e oitenta dias;
art. 59 desta Lei Complementar;
III - inabilitação, pelo prazo de dois a dez anos,
II - será mantida a indisponibilidade com relação às
para o exercício de cargo ou função em entidades de
pessoas indiciadas no inquérito, após aprovação do
previdência complementar, sociedades seguradoras,
respectivo relatório pelo órgão fiscalizador. instituições financeiras e no serviço público; e
IV - multa de dois mil reais a um milhão de reais,
No art. 61, temos previsão de instauração de inqué- devendo esses valores, a partir da publicação desta
rito a fim de apurar as responsabilidades estabeleci- Lei Complementar, ser reajustados de forma a pre-
das no art. 59. servar, em caráter permanente, seus valores reais.
§ 1º A penalidade prevista no inciso IV será impu-
Art. 62 Aplicam-se à intervenção e à liquidação das tada ao agente responsável, respondendo solida-

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


entidades de previdência complementar, no que cou- riamente a entidade de previdência complementar,
ber, os dispositivos da legislação sobre a intervenção assegurado o direito de regresso, e poderá ser apli-
e liquidação extrajudicial das instituições financei- cada cumulativamente com as constantes dos inci-
ras, cabendo ao órgão regulador e fiscalizador as sos I, II ou III deste artigo.
funções atribuídas ao Banco Central do Brasil. § 2º Das decisões do órgão fiscalizador caberá
recurso, no prazo de quinze dias, com efeito suspen-
sivo, ao órgão competente.
Já o art. 62 dispõe sobre a aplicação subsidiária
§ 3º O recurso a que se refere o parágrafo anterior,
das normas referentes à intervenção e à liquidação
na hipótese do inciso IV deste artigo, somente será
extrajudicial das instituições financeiras para a inter- conhecido se for comprovado pelo requerente o
venção e liquidação das entidades de previdência pagamento antecipado, em favor do órgão fiscaliza-
complementar, naquilo que couber. dor, de trinta por cento do valor da multa aplicada.
§ 4º Em caso de reincidência, a multa será aplicada
DO REGIME DISCIPLINAR em dobro.
Art. 66 As infrações serão apuradas mediante pro-
Art. 63 Os administradores de entidade, os pro- cesso administrativo, na forma do regulamento,
curadores com poderes de gestão, os membros de aplicando-se, no que couber, o disposto na Lei nº
conselhos estatutários, o interventor e o liquidante 9.784, de 29 de janeiro de 1999.
responderão civilmente pelos danos ou prejuízos
que causarem, por ação ou omissão, às entidades O art. 65 estabelece as penalidades administrativas
de previdência complementar. cabíveis às infrações previstas nessa lei e no seu res-
Parágrafo único. São também responsáveis, na forma pectivo regulamento, que serão apuradas e aplicadas
do caput, os administradores dos patrocinadores ou mediante processo administrativo.
instituidores, os atuários, os auditores independentes,
os avaliadores de gestão e outros profissionais que Art. 67 O exercício de atividade de previdência
prestem serviços técnicos à entidade, diretamente ou complementar por qualquer pessoa, física ou jurídi-
por intermédio de pessoa jurídica contratada. ca, sem a autorização devida do órgão competente, 637
inclusive a comercialização de planos de benefí- No art. 71, temos proibição estabelecida às entida-
cios, bem como a captação ou a administração de des de previdência complementar.
recursos de terceiros com o objetivo de, direta ou
indiretamente, adquirir ou conceder benefícios pre- Art. 73 As entidades abertas serão reguladas tam-
videnciários sob qualquer forma, submete o res-
bém, no que couber, pela legislação aplicável às
ponsável à penalidade de inabilitação pelo prazo de
sociedades seguradoras.
dois a dez anos para o exercício de cargo ou função
em entidade de previdência complementar, socieda-
des seguradoras, instituições financeiras e no servi- Já no art. 73, vemos aplicação subsidiária das nor-
ço público, além de multa aplicável de acordo com mas referentes às sociedades seguradoras para as
o disposto no inciso IV do art. 65 desta Lei Comple- entidades abertas estabelecidas na presente lei.
mentar, bem como noticiar ao Ministério Público.
Art. 75 Sem prejuízo do benefício, prescreve em
O art. 67 estabelece penalidade específica de ina-
cinco anos o direito às prestações não pagas nem
bilitação de dois a 10 anos nos casos nele elencados.
reclamadas na época própria, resguardados os
DISPOSIÇÕES GERAIS direitos dos menores dependentes, dos incapazes
ou dos ausentes, na forma do Código Civil.
Art. 68 As contribuições do empregador, os bene-
fícios e as condições contratuais previstos nos Finalmente, o art. 75 dispõe sobre a prescrição de
estatutos, regulamentos e planos de benefícios das cinco anos para se obter as prestações não pagas nem
entidades de previdência complementar não inte-
reclamadas na época própria.
gram o contrato de trabalho dos participantes,
assim como, à exceção dos benefícios concedidos,
não integram a remuneração dos participantes.
§ 1º Os benefícios serão considerados direito adqui-
rido do participante quando implementadas todas AS ENTIDADES FECHADAS DE
as condições estabelecidas para elegibilidade con-
signadas no regulamento do respectivo plano. PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR:
§ 2º A concessão de benefício pela previdência com- CLASSIFICAÇÃO, COMPOSIÇÃO,
plementar não depende da concessão de benefício
pelo regime geral de previdência social. ATRIBUIÇÕES E A AÇÃO DO ESTADO
No art. 68, vemos normas relacionadas ao contrato Para além das sociedades de capitalização, das
de trabalho e à remuneração dos participantes, bem seguradoras e das entidades abertas de previdência
como concernentes às contribuições do empregador, complementar, também existem as entidades fecha-
aos benefícios e às condições contratuais.
das de previdência complementar (EFPCs). São enti-
Art. 69 As contribuições vertidas para as entidades de dades sem fins lucrativos, constituídas sob a forma de
previdência complementar, destinadas ao custeio dos sociedade civil ou fundação, que têm por objeto ope-
planos de benefícios de natureza previdenciária, são rar planos de benefícios de caráter previdenciário.
dedutíveis para fins de incidência de imposto sobre a As EFPCs são destinadas exclusivamente aos servi-
renda, nos limites e nas condições fixadas em lei. dores ou empregados dos patrocinadores, ou seja, das
§ 1º Sobre as contribuições de que trata o caput
empresas ou entidades que as instituíram, por meio
não incidem tributação e contribuições de qualquer
natureza. de planos de previdência complementar fechada.
§ 2º Sobre a portabilidade de recursos de reservas Diferentemente das anteriores, estas não estão
técnicas, fundos e provisões entre planos de bene- subordinadas ao CNSP e tampouco estão sujeitas à fis-
fícios de entidades de previdência complementar, calização da SUSEP, e sim são coordenadas pelo Con-
titulados pelo mesmo participante, não incidem tri- selho Nacional de Previdência Complementar (CNPC).
butação e contribuições de qualquer natureza.
Antes de adentrar os pormenores desse tipo de pre-
As contribuições nas condições previstas no art. 69 vidência complementar, vejamos um pouco sobre os
poderão ser deduzidas do imposto de renda. órgãos de regulamentação que se referem a ela.
Dentre as principais atribuições das entidades
Art. 71 É vedado às entidades de previdência com- fechadas de previdência complementar, pode-se
plementar realizar quaisquer operações comerciais listar:
e financeiras:
I - com seus administradores, membros dos conse- z Gerenciamento dos recursos dos planos de benefí-
lhos estatutários e respectivos cônjuges ou compa-
cios: investir os recursos e garantir a rentabilidade;
nheiros, e com seus parentes até o segundo grau;
II - com empresa de que participem as pessoas a z Concessão dos benefícios: pagar aposentadorias,
que se refere o inciso anterior, exceto no caso de pensões e outros benefícios;
participação de até cinco por cento como acionista z Prestar informações aos participantes e beneficiá-
de empresa de capital aberto; e rios: Informar sobre a situação dos planos e dos
III - tendo como contraparte, mesmo que indireta- benefícios;
mente, pessoas físicas e jurídicas a elas ligadas, na
z Observar a legislação e regulamentação: Seguir as
forma definida pelo órgão regulador.
Parágrafo único. A vedação deste artigo não se normas da Superintendência Nacional de Previ-
aplica ao patrocinador, aos participantes e aos dência Complementar (PREVIC).
assistidos, que, nessa condição, realizarem opera-
638 ções com a entidade de previdência complementar.
Deste modo, as entidades fechadas de previdência z Proteção dos Participantes: o Estado garante a pro-
complementar podem ser classificadas da seguinte teção dos direitos dos participantes e beneficiários
forma: das EFPC.

z Quanto à Participação do Patrocinador: Nesta esteira, a ação estatal está prevista no art. 3º,
da Lei Complementar nº 109, de 2001, vejamos:
„ Entidades com Patrocínio: patrocinadas por
empresas ou órgãos públicos; Art. 3º A ação do Estado será exercida com o obje-
„ Entidades sem Patrocínio: sem vínculo com tivo de:
empresas ou órgãos públicos. I - formular a política de previdência complementar;
II - disciplinar, coordenar e supervisionar as ativi-
z Quanto à Abrangência do Plano: dades reguladas por esta Lei Complementar, com-
patibilizando-as com as políticas previdenciária e
„ Entidades de âmbito nacional: atuam em todo o de desenvolvimento social e econômico-financeiro;
território nacional; III - determinar padrões mínimos de segurança eco-
„ Entidades de âmbito regional: atuam em uma nômico-financeira e atuarial, com fins específicos
região específica do país. de preservar a liquidez, a solvência e o equilíbrio
dos planos de benefícios, isoladamente, e de cada
z Quanto à Modalidade do Plano: entidade de previdência complementar, no conjun-
to de suas atividades;
„ Planos de Benefícios Definidos (BD): o benefício IV - assegurar aos participantes e assistidos o ple-
é definido previamente; no acesso às informações relativas à gestão de seus
„ Planos de Contribuição Definida (CD): o benefí- respectivos planos de benefícios;
cio depende da rentabilidade dos investimentos. V - fiscalizar as entidades de previdência comple-
mentar, suas operações e aplicar penalidades; e
Cumpre ressaltar que as entidades fechadas de VI - proteger os interesses dos participantes e assis-
previdência complementar são compostas por órgãos tidos dos planos de benefícios.
sociais, o qual é composto pela assembleia geral (órgão
Em suma, as entidades fechadas de previdência
supremo), conselho deliberativo (órgão de adminis-
complementar desempenham um papel importante
tração e fiscalização) e diretoria executiva (órgão de
gestão). na complementação dos benefícios previdenciários
Além disso, compõe também as referidas entida- oferecidos pelo Estado, contribuindo para a seguran-
des os demais participantes ativos (contribuem para ça financeira dos trabalhadores no futuro.
o plano de benefícios), os aposentados e pensionis-
Conselho Nacional de Previdência Complementar
tas (recebem os benefícios) e os patrocinadores, que
são responsáveis pelo financiamento do plano de O Conselho Nacional de Previdência Complemen-
benefício. tar (CNPC) é um órgão colegiado que faz parte da
Por fim, tomemos como exemplo prático da atua- estrutura do Ministério da Economia, que promove
ção das entidades fechadas de previdência comple-
encontros trimestrais. Sua competência consiste em
mentar a administração de planos de previdência
regulamentar o regime de previdência complemen-
empresariais.
tar operado pelas entidades fechadas de previdência
Nestes planos os empregados contribuem mensal-

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


complementar, conhecidas como fundos de pensão.
mente e a empresa patrocinadora também faz contri-
O CNPC é o novo órgão responsável por regular
buições em benefício de seus funcionários, visando
garantir uma renda complementar na aposentadoria. o regime de previdência complementar operado por
essas entidades, sendo a nova designação do antigo
AÇÃO DO ESTADO NAS ENTIDADES FECHADAS DE Conselho de Gestão da Previdência Complementar.
PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR
Lei nº 12.154, de 23 de Dezembro de 2009 —
Superintendência de Previdência Complementar
Conforme visto anteriormente, as Entidades Fecha-
(PREVIC)
das de Previdência Complementar (EFPC) integram o
sistema de previdência social brasileiro, complemen- Logo no seu art. 1º, dispõe que a PREVIC (Supe-
tando a aposentadoria pública e privada. rintendência de Previdência Complementar) se trata
Portanto, são entidades sem fins lucrativos que
de uma “[...] autarquia de natureza especial, dotada
administram planos de benefícios de caráter previ-
de autonomia administrativa e financeira e patrimô-
denciário para seus participantes, geralmente vincu-
nio próprio, vinculada ao Ministério da Previdência
lados a uma empresa ou categoria profissional.
Social”. E complementa em seu parágrafo único:
Assim, o Estado poderá interferir nas entidades
fechadas de previdência complementar, através das Parágrafo único. A Previc atuará como entidade de
seguintes ações: fiscalização e de supervisão das atividades das
entidades fechadas de previdência complementar e
z Regulação e fiscalização: a PREVIC supervisiona as de execução das políticas para o regime de pre-
atividades das EFPC para garantir a segurança dos vidência complementar operado pelas entidades
recursos e dos benefícios; fechadas de previdência complementar, observadas
z Incentivos fiscais: o governo oferece incentivos fis- as disposições constitucionais e legais aplicáveis.
cais para estimular a adesão aos planos de previ-
dência complementar; 639
Dentre as suas competências, o art. 2º dispõe o que Funcef, a Fundação dos Economiários Federais, é
veremos a seguir. uma EFPC que atende os empregados do Banco Cen-
tral do Brasil. É uma das maiores EFPCs do Brasil, com
Art. 2º Compete à Previc: mais de dois milhões de participantes, e oferece diver-
I - proceder à fiscalização das atividades das enti- sos tipos de planos de benefícios, incluindo planos de
dades fechadas de previdência complementar e de aposentadoria, pensão e resgate.
suas operações;
A Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco
II - apurar e julgar infrações e aplicar as penali-
do Brasil (Caixa de Previdência), por sua vez, é uma
dades cabíveis;
EFPC que atende os empregados da Caixa Econômica
III - expedir instruções e estabelecer procedimen-
tos para a aplicação das normas relativas à sua Federal. É uma das maiores EFPCs do Brasil, com mais
área de competência, de acordo com as diretrizes de um milhão de participantes, e fornece os mesmos
do Conselho Nacional de Previdência Complemen- tipos de serviço que a Funcef.
tar, a que se refere o inciso XVIII do art. 29 da Lei nº Em ambas, a gestão da aplicação dos recursos é fei-
10.683, de 28 de maio de 2003; ta pelo Conselho Monetário Nacional.
IV - autorizar: Têm por finalidade complementar a aposentado-
a) a constituição e o funcionamento das entida- ria e a pensão do regime geral de previdência social,
des fechadas de previdência complementar, bem fornecendo diversos tipos de planos de benefícios,
como a aplicação dos respectivos estatutos e regu- entre os quais os mais comuns são:
lamentos de planos de benefícios;
[...] z Plano de aposentadoria complementar (APC):
oferece benefícios de aposentadoria, como renda
Resolução CMN nº 4.994, de 24 de Março de 2022 mensal vitalícia ou renda temporária;
z Plano de pensão complementar (PPC): oferece
As entidades fechadas de previdência complemen- benefícios de pensão, como renda mensal vitalícia
tar, também conhecidas como fundos de pensão, são para os dependentes do participante em caso de
constituídas sob a forma de fundação ou sociedade morte;
civil, sem finalidades lucrativas. z Plano de resgate (PR): permite o resgate dos
Elas são destinadas exclusivamente aos funcio- recursos acumulados pelo participante antes da
nários de uma empresa ou grupo de empresas, aos aposentadoria ou do falecimento.
servidores de entidades como União, estados, Distrito
Federal e municípios (denominados patrocinadores)
ou, ainda, aos associados ou membros de pessoas jurí-
dicas de caráter profissional, classista ou setorial, cha- HORA DE PRATICAR!
mados instituidores.
Essas entidades de previdência fechada devem 1. (CESGRANRIO — 2019) Um administrador atua no
aderir às diretrizes estabelecidas pelo Conselho Mone- setor que organiza o orçamento de determinado órgão
tário Nacional, conforme estipulado na Resolução público. Todos os anos, ele estabelece a previsão das
CMN nº 4.994, de 24 de março de 2022, especialmente receitas e a fixação das despesas em determinado
no que se refere à gestão dos recursos dos planos de período de tempo.
benefícios, conforme podemos ver no caput a seguir.
Segundo a doutrina, o orçamento público é um instru-
Art. 4º aplicação dos recursos dos planos, a EFPC mento de
deve:
I - observar os princípios de segurança, rentabili- a) pesquisa
dade, solvência, liquidez, adequação à natureza de b) elaboração
suas obrigações e transparência; c) desenvolvimento
II - exercer suas atividades com boa fé, lealdade e
d) articulação
diligência;
e) planejamento
III - zelar por elevados padrões éticos;
IV - adotar práticas que garantam o cumprimento
do seu dever fiduciário em relação aos participantes 2. (CESGRANRIO — 2016) O orçamento público é elabo-
dos planos de benefícios, considerando, inclusive, a rado com a finalidade de auxiliar os gestores na aloca-
política de investimentos estabelecida, observadas ção adequada dos recursos públicos. Sua elaboração
as modalidades, segmentos, limites e demais crité- deve obedecer a alguns princípios.
rios e requisitos estabelecidos nesta Resolução; e
V - executar com diligência a seleção, o acompa- A apresentação detalhada das receitas e despesas no
nhamento e a avaliação de prestadores de serviços orçamento está diretamente associada ao princípio da
relacionados à gestão de ativos.
a) exclusividade
Previdência Complementar Fechada b) especificação
c) publicidade
Retomando um pouco do conceito das entidades, d) transparência
de modo geral, esse é um sistema de aposentadoria e) uniformidade
instituído pelas empresas e direcionado de forma
exclusiva aos seus colaboradores, não sendo passível 3. (CESGRANRIO — 2015) Em tema orçamentário, quan-
de comercialização para indivíduos que não façam do se assenta que a lei orçamentária não deve conter
parte do quadro funcional da respectiva empresa, dispositivo estranho à fixação de despesa e à previsão
640 mediante supervisão da PREVIC. de receita, está-se aduzindo ao princípio da
a) proporcionalidade 8. (CESGRANRIO — 2014) A Lei nº 12.919, de 24 de
b) adequação setembro de 2013, dispõe sobre as diretrizes para a
c) exclusividade elaboração e execução da Lei Orçamentária de 2014 e
d) legalidade dá outras providências.
e) vinculação
A aludida Lei, no Capítulo II, trata da estrutura e orga-
4. (CESGRANRIO — 2018) Segundo a Constituição Fede- nização dos orçamentos, apresentando no seu Art. 5º
ral e Leis Complementares, no Brasil, a Lei do Plano alguns entendimentos para efeitos da Lei, sendo um
Plurianual de Ação (PPA) deve dispor sobre as(os) deles a “quantidade estimada para o produto no exer-
cício financeiro”.
a) limitações para a elaboração das propostas orçamen-
tárias do Poder Judiciário e do Ministério Público. Tal conceito reporta-se diretamente ao entendimento
b) diretrizes, objetivos e metas da administração pública de
federal para as despesas de capital e programas de
duração continuada. a) concedente
c) autorizações para a concessão de vantagens ou de b) meta física
aumentos de remuneração e criação de cargos. c) subtítulo
d) avaliações de resultados dos programas financiados d) unidade de medida
com recursos do orçamento federal. e) unidade orçamentária
e) riscos fiscais, ou seja, situações que podem impactar
as metas estabelecidas. 9. (CESGRANRIO — 2014) No Projeto de Lei Orçamentá-
ria Anual, os recursos e autorizações de despesas refe-
5. (CESGRANRIO — 2015) O Plano Plurianual (PPA) é um rentes a uma entidade autárquica que regula a área de
documento básico de planejamento estratégico do inovação e tecnologia devem constar no orçamento
governo brasileiro.
a) financeiro
Sendo assim, o PPA inclui um(a) b) especial
c) setorial
d) fiscal
a) demonstrativo da compatibilidade entre o orçamento
e) de investimento
e as metas de gastos estabelecidas pelo governo.
b) demonstrativo do efeito das anistias fiscais sobre o
10. (CESGRANRIO — 2018) As entidades da administração
total da arrecadação tributária.
pública elaboram seus orçamentos em bases anuais e
c) conjunto de programas, objetivos e metas estabele-
prestam contas em períodos menores, para permitir
cidos, para o próximo quadriênio, no primeiro ano de
melhor acompanhamento da execução orçamentária.
mandato do executivo.
d) previsão de reservas de contingência destinadas a
A periodicidade da elaboração e execução
eventuais imprevistos fiscais.
orçamentária
e) definição e uma ordenação das ações do executivo
que levem a alcançar os objetivos fixados na Lei de
a) baseia-se no calendário civil.
Diretrizes Orçamentárias.
b) tem vigência plurianual.
c) coincide com o mandato eleitoral.

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


6. (CESGRANRIO — 2018) A Lei de Diretrizes Orçamen- d) é definida no decreto de programação financeira.
tárias (LDO) exerce um papel importante no sistema e) depende do ciclo de atividade financeira da entidade.
orçamentário federal brasileiro. Essa lei
11. (CESGRANRIO — 2018) Nos termos da Lei nº
a) estabelece um plano de quatro anos para a ação 4.320/1964, os créditos destinados a despesas urgen-
governamental. tes e imprevistas, em caso de guerra, comoção intes-
b) orienta a elaboração da Lei Orçamentária Anual (LOA). tina ou calamidade pública, são considerados como
c) inclui o orçamento monetário relativo às políticas e às adicionais
ações do Banco Central do Brasil.
d) é aprovada anualmente, após a elaboração do projeto a) próprios
da Lei Orçamentária Anual (LOA). b) extraordinários
e) é constituída por três orçamentos: fiscal, seguridade c) ordinários
social e investimentos das empresas. d) profissionais
e) emergenciais
7. (CESGRANRIO — 2014) As metas e as prioridades
da Administração Pública Federal para o exercício 12. (CESGRANRIO — 2014) As informações a seguir
financeiro seguinte, inclusive no que diz respeito às devem ser usadas para responder à questão.
mudanças tributárias e às despesas de capital, são
estabelecidas, anualmente, pela Lei de Em um dado exercício, ao final do primeiro semestre, a
prefeitura de um município brasileiro reavaliou as des-
a) Metas Prioritárias pesas fixadas na Lei Orçamentária Anual e detectou a
b) Responsabilidade Fiscal necessidade de abertura de créditos adicionais para
c) Diretrizes Orçamentárias despesas não incluídas no orçamento. Os seguintes
d) Plano Plurianual dados contábeis foram disponibilizados (valores em
e) Planejamento Estratégico reais): 641
Tal receita, consoante a Lei Geral que regula a Contabi-
Superavit financeiro do exercício anterior 7.800,00
lidade Pública, é considerada como sendo uma receita
Receita estimada para o semestre 57.500,00 de

Receita arrecadada no semestre 63.800,00 a) capital


Previsão de queda na arrecadação no segundo b) inversão
2.500,00 c) exploração
semestre
d) aplicação
Crédito especial do exercício anterior reaberto e) patrimônio
4.700,00
no exercício

Crédito extraordinário aberto no exercício 1.400,00 17. (CESGRANRIO — 2014) O Manual de Contabilidade
Aplicada ao Setor Público, Parte I, no campo concei-
Dotações anuláveis 6.200,00 tual da receita e da despesa, apresenta a seguinte defi-
nição: “é toda transação que depende de autorização
Operação de crédito autorizada para novas
10.000,00 legislativa, na forma de consignação de dotação orça-
despesas
mentária, para ser efetivada”.

Com base nos dados apresentados e nas definições Os termos acima transcritos indicam a definição de
de créditos adicionais da Lei nº 4.320/1964, o valor
total disponível para abertura de créditos adicionais é a) despesa orçamentária
b) dispêndio extraorçamentário
a) 14.000,00 c) empréstimo vencível antes de 10 meses
b) 15.500,00 d) receita extraorçamentária
c) 17.900,00 e) receita orçamentária
d) 20.200,00
e) 21.700,00 18. (CESGRANRIO — 2019) Uma das classificações legal-
mente requeridas para a despesa pública refere-se
13. (CESGRANRIO — 2014) De acordo com o Manual de à classificação institucional, que reflete a estrutura
Contabilidade Aplicada ao Setor Público, Parte I, a de alocação dos créditos orçamentários em níveis
receita orçamentária (receita pública), quanto ao refle- hierárquicos.
xo na situação patrimonial líquida, sob o enfoque con-
tábil, pode ser classificada como efetiva e não efetiva. Na classificação institucional da despesa, uma autar-
quia de ensino superior federal, subordinada ao Minis-
Nesse enfoque da situação patrimonial líquida, uma tério da Educação,
receita orçamentária efetiva indica a ocorrência de um
fato contábil a) constitui um agrupamento de unidades orçamentárias
com dotações próprias.
a) misto aumentativo b) recebe dotações orçamentárias diretamente do
b) misto diminutivo Tesouro Nacional.
c) modificativo aumentativo c) é considerada uma unidade orçamentária, identificada
d) modificativo diminutivo com três dígitos.
e) permutativo d) é considerada um órgão orçamentário, identificado
com dois dígitos.
14. (CESGRANRIO — 2014) De acordo com os conceitos e e) está impedida de receber transferências não autoriza-
categorias de receitas previstas na Lei nº 4.320/1964, das pelo Ministério a que está subordinada.
constituem receitas orçamentárias os recursos prove-
nientes de 19. (CESGRANRIO — 2014) Em um dado exercício, um
determinado órgão teve créditos orçamentários apro-
a) cauções vados para aquisição de bens, materiais e serviços
b) depósitos em garantia com o seguinte detalhamento:
c) emissões de papel-moeda
d) compensações financeiras ITEM VALOR ITEM VALOR
e) operações de crédito por antecipação da receita
Seguro para
Computadores 5.000,00 3.000,00
veículos
15. (CESGRANRIO — 2018) As receitas com operações de
crédito, nos termos da Lei nº 4.320/1964, são conside- Serviço de
radas como Receitas de Impressoras 3.000,00 limpeza e 18.000,00
vigilância
a) Investimento Material de
b) Operação 12.000,00 Livros 3.500,00
expediente
c) Capital
Mobiliário (es- Apare-
d) Gerência
tantes, mesas e 25.000,00 lho de ar 2.500,00
e) Constituição cadeiras) condicionado

16. (CESGRANRIO — 2014) Na busca do equilíbrio orça- Diárias 10.000,00 Pen-drives 500,00
mentário, o Governo estabelece uma meta para supe- Passagens
ravit do orçamento corrente. 15.000,00 Frigobar 1.000,00
aéreas
642
NÃO constitui um desses casos as despesas
ITEM VALOR ITEM VALOR

Veículos 70.000,00
Forno de
500,00
a) em viagem e com serviços especiais que exijam pron-
Micro-ondas to pagamento
Serviços de
b) eventuais que exijam pronto pagamento
Combustível 8.000,00 Telefonia e 3.000,00 c) extraordinárias e urgentes
Internet d) de caráter sigiloso
e) de pequeno vulto
Em relação ao total dos créditos aprovados, os mon- 24. (CESGRANRIO — 2014) Os créditos orçamentários
tantes das despesas correntes e das despesas de transferidos de um Ministério para outro Ministério,
capital representam, respectivamente, integrante da mesma esfera de governo, conceitual-
mente representam um(a)
a) 40,3% e 59,7%
b) 40,6% e 59,4% a) destaque
c) 38,3% e 61,7% b) provisão
d) 40,8% e 59,2% c) dotação
e) 39,7% e 60,3% d) descentralização interna
e) transferência voluntária
20. (CESGRANRIO — 2014) Quanto à despesa pública,
com base na lei aplicável à espécie, o ato emanado de 25. (CESGRANRIO — 2019) Segundo o MCASP, as carac-
autoridade competente que cria para o Estado obriga- terísticas qualitativas da informação contábil devem
ção de pagamento pendente ou não de implemento de apresentar utilidade para os usuários e suportar os
condição corresponde à(ao) objetivos dessa mesma informação limitada pelas res-
trições de sua inclusão nas demonstrações contábeis.
a) liquidação
b) receita corrente Sob esse enfoque técnico-conceitual, a omissão de
c) receita de capital uma informação que influenciou o cumprimento do
d) ordem de pagamento dever de prestar contas é considerada, nos dizeres do
e) empenho MCASP, como
21. (CESGRANRIO — 2014) As informações a seguir a) característica qualitativa: comparabilidade.
devem ser usadas para responder à questão. b) caraterística qualitativa: representação fidedigna.
c) característica qualitativa: tempestividade.
Em um determinado exercício, uma despesa fixada em d) restrição da informação: custo-benefício.
R$ 50.000,00 foi 90% empenhada, 80% liquidada e 90% e) restrição da informação: materialidade.
paga.
26. (CESGRANRIO — 2018) O controle contábil da execu-
Naquele exercício, o desembolso financeiro efetivo ção orçamentária dos órgãos da administração públi-
relativo a essa despesa foi de ca direta é feito pelo regime de caixa para

a) 45.000,00 a) elaboração do fluxo de caixa, apenas


b) 40.500,00

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


b) receitas extraorçamentárias, apenas
c) 40.000,00 c) receitas orçamentárias, apenas
d) 36.000,00 d) todas as despesas
e) 32.400,00 e) todas as receitas

22. (CESGRANRIO — 2019) As despesas empenhadas e 27. (CESGRANRIO — 2014) As receitas e despesas apre-
liquidadas durante o exercício financeiro, mas penden- sentam peculiaridades no contexto do setor público,
tes de pagamento no encerramento do exercício, desde a elaboração do orçamento público, execução,
controle e prestação de contas.
a) estão sujeitas à verificação do direito adquirido pelo
credor. Para fins de controle da execução orçamentária, recei-
b) poderão ser executadas no próximo exercício, por tas e despesas são consideradas realizadas quando,
meio de créditos adicionais. respectivamente, são
c) serão pagas à conta de despesas de exercícios ante-
riores, no exercício seguinte. a) previstas e fixadas
d) serão inscritas em restos a pagar não processados. b) liquidadas e pagas
e) serão inscritas em restos a pagar processados. c) lançadas e liquidadas
d) recolhidas e liquidadas
23. (CESGRANRIO — 2014) O suprimento de fundos con- e) arrecadadas e empenhadas
siste na entrega de numerário a servidor, sempre pre-
cedida de empenho na dotação própria, para o fim 28. (CESGRANRIO — 2016) Os Princípios de Contabili-
de realizar despesas que não possam subordinar-se dade Pública estão estabelecidos em normas que
ao processo normal de aplicação. O suprimento de são obrigatórias para todos os órgãos e entidades
fundos poderá ser utilizado para atender a diversos da administração direta e da administração indireta
casos. dos entes da Federação, incluindo seus fundos, autar-
quias, fundações e empresas estatais dependentes. 643
Nesse contexto, o Princípio de Contabilidade que, sob 32. (CESGRANRIO — 2014) Os termos utilizados pela Con-
as perspectivas do Setor Público, no âmbito da enti- tabilidade de custos têm terminologia própria, com
dade pública, está vinculado ao estrito cumprimento significados técnicos específicos, destacando-se den-
da destinação social do seu patrimônio é o Princípio tre eles, na literatura contábil, os de custo e despesa.
da
Nesse contexto da terminologia técnico-contábil, um
a) Competência custo se transforma em despesa, numa indústria,
b) Continuidade quando o bem ou serviço que o representa é
c) Entidade
d) Oportunidade a) adquirido
e) Prudência b) concluído
c) consumido
29. (CESGRANRIO — 2014) A Resolução no 1.111/2007 d) efetivamente pago
do Conselho Federal de Contabilidade trata da inter- e) utilizado na linha de produção
pretação dos princípios de contabilidade sob a pers-
pectiva do setor público. 33. (CESGRANRIO — 2014) A terminologia de gasto que
diz respeito a bem ou serviço, utilizado na produção de
A resolução define que a autonomia patrimonial tem outros bens ou serviços como, por exemplo, a mão de
origem na destinação social do patrimônio e a respon- obra, denomina-se
sabilização pela obrigatoriedade da prestação de con-
tas pelos agentes públicos. a) perda
b) despesa
Essa definição refere-se ao Princípio da c) consumo
d) custo
a) Continuidade e) desembolso
b) Competência
c) Entidade 34. (CESGRANRIO — 2018) A contabilidade, em decor-
d) Oportunidade rência de sua ampla abrangência, atende a um leque
e) Transparência
amplo e diferenciado de interesses dos seus múltiplos
usuários.
30. (CESGRANRIO — 2019) A definição teórica de Ativo,
de acordo com o MCASP, diz que ele consiste em um
De que grupo fazem parte os usuários que têm como
recurso controlado no presente pela entidade como
principal preocupação com a empresa o risco inerente
resultado de evento passado.
às suas decisões?
Ao aplicar esse conceito, um contador deve
a) Credores por empréstimos
b) Empregados
a) considerar a forma física como uma condição neces-
c) Fornecedores
sária para o reconhecimento de um recurso como
d) Governo
Ativo.
e) Investidores
b) considerar a capacidade de acessar ou restringir o
acesso ao recurso como um indicador de controle do
35. (CESGRANRIO — 2018) O patrimônio das empresas é
mesmo.
c) limitar o reconhecimento do Ativo à existência de crité- estruturado em três partes distintas: Ativo (A), Passi-
rios objetivos, como título de propriedade legal. vo (P) e Situação Líquida (SL), mais conhecida como
d) reconhecer um Ativo com negociação acertada, pen- patrimônio líquido. A avaliação da situação patrimo-
dente apenas da transferência dos riscos e benefícios. nial é feita pela seguinte equação patrimonial:
e) restringir o critério de mensuração ao valor constante
da nota fiscal ou contrato. Situação Líquida (SL) = Ativo (A) – Passivo (P)

31. (CESGRANRIO — 2023) É comum, no âmbito da Con- Nesse contexto, quando a equação patrimonial apon-
tabilidade Gerencial, generalizar os gastos empresa- tar bens e direitos em valor menor do que as obri-
riais, chamando-os de “custos”, e, assim, apresentar a gações com terceiros indica que a empresa tem a
fórmula do resultado (lucro ou prejuízo), relacionando seguinte situação líquida:
custos variáveis, custos fixos, preço de venda e volu-
me de vendas. Essa fórmula é corretamente apresen- a) plena
tada em: b) favorável
c) inexistência de ativos
a) Resultado = (Preço – Custo Variável Unitário) * Volume d) passivo a descoberto
de Vendas – Custo Fixo Total. e) equilíbrio aparente
b) Resultado = (Preço – Custo Fixo Unitário) * Volume de
Vendas – Custo Variável Unitário. 36. (CESGRANRIO — 2014) Considerando as diversas
c) Resultado = Preço – (Custo Variável Total + Custo Fixo definições de Contabilidade apresentadas pelos
Total). autores da matéria contábil, notadamente a definição
d) Resultado = Receita Total – Custo Total Médio. contida no pronunciamento do Ibracon, aprovada pela
e) Resultado = Receita Total – Custo Variável Unitário – Comissão de Valores Mobiliários, a principal finalida-
644 Custo Fixo Total. de (objetivo) da contabilidade é
a) acompanhar os atos e fatos administrativos de autorização para pagamento do hotel em que ele
praticados. se hospedara. Apesar das tentativas de contato para
b) atestar a fidedignidade das operações patrimoniais. autorização das despesas, este ato inocorreu. Sendo
c) comprovar as mutações ocorridas no patrimônio. pessoa de posses, esse cliente pagou as despesas
d) fornecer informações sobre o patrimônio. em dinheiro. Retornando ao Brasil, requereu ao banco
e) gerar relatórios gerenciais para a tomada de decisão. explicações, por escrito, do ocorrido — ao que lhe foi
respondido não ter o banco qualquer responsabilida-
37. (CESGRANRIO — 2023) Um indivíduo é correntista de de pelo evento, uma vez que a gerência do cartão de
determinada instituição financeira que lhe apresen- crédito seria exclusivamente da sociedade empresária
ta, através dos responsáveis internos, proposta para que administra o cartão.
investimento no mercado de renda variável, apresen-
tando o mercado de capitais como capaz de superar o Nesse contexto, nos termos do Código de Proteção e
rendimento fixo de várias aplicações financeiras, sem Defesa do Consumidor, a responsabilidade
apresentar as desvantagens e perigos desse setor da
economia. a) é do fornecedor que prestou serviços defeituosos,
excluindo, em qualquer caso, os demais fornecedores.
Nesse contexto, nos termos da Lei nº 8.078/1990, a b) da instituição financeira é separada da dos demais
atuação dos prepostos da instituição financeira esta- fornecedores.
ria violando a regra da c) é subjetiva e exclusiva da administradora de cartões
de crédito.
a) lucratividade planejada d) é solidária e abrange a cadeia de fornecedores, o que
b) informação adequada inclui o Banco.
c) menor onerosidade e) da sociedade empresária depende da prova de culpa
d) capacidade econômica de um dos seus prepostos.
e) conservação de valores
41. (CESGRANRIO — 2016) Sr. Z adquiriu um automóvel
38. (CESGRANRIO — 2018) De acordo com o Código de de luxo da empresa LR, tendo o bem vindo com defei-
Defesa do Consumidor Lei n° 8.078/1990, o fornece- to no sistema de freios. Constatou-se que o vício veio
dor de produtos e serviços que, posteriormente à sua da fábrica e não poderia ser consertado, diante da
introdução no mercado de consumo, tiver conheci-
sofisticação do sistema de computadores utilizado no
mento da periculosidade que estes apresentem deve-
automóvel.
rá comunicar o fato imediatamente às autoridades
competentes e aos consumidores. Essa comunicação
De acordo com as regras do Código de Defesa do Con-
deve ser feita por meio de
sumidor, Sr. Z deverá receber
a) carta simples
a) valor em dobro do anteriormente pago.
b) correspondência registrada
b) bem superior em qualidade ao adquirido.
c) telegrama
c) bem inferior com quitação total do preço.
d) editais de convocação
e) anúncios publicitários d) bem equivalente em condições de uso.
e) bem e a devolução do preço pago.
39. (CESGRANRIO — 2015) Um cliente de longa data do
42. (CESGRANRIO — 2023) Um empresário entabulou

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


Banco X S/A emitiu cheque vinculado à sua conta-cor-
rente no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais). Apesar negócio com instituição financeira no valor de cem mil
da existência de provisão de fundos, o cheque não foi reais, com pagamento em setenta e duas prestações
pago, por causa da não certificação da assinatura no mensais e sucessivas. No curso do período de paga-
referido título por preposto do Banco. Após reclama- mento, sofreu alguns baques financeiros, o que gerou
ção formal, constatou-se que a assinatura conferia o atraso no pagamento de algumas prestações. Supe-
com as dos cadastros arquivados no Banco. radas as dificuldades, conseguiu quitar os valores pen-
dentes. Após o término da avença, foi surpreendido
Nesse caso, de acordo com as regras do Código de com a cobrança de valores relacionados ao mesmo
Defesa do Consumidor ocorreu contrato pela instituição financeira que não tinha dado
baixa pela quitação.
a) prática abusiva
b) responsabilidade continuada Nos termos do Código de Defesa do Consumidor, o
c) força maior consumidor cobrado em quantia indevida tem direito
d) defeito do serviço à repetição do indébito, por valor igual ao
e) publicidade enganosa
a) cobrado em excesso, acrescido de correção monetá-
40. (CESGRANRIO — 2015) Um gerente de um determi- ria e de juros legais.
nado banco tem, dentre a programação determinada b) dobro do que pagou em excesso, acrescido de corre-
pela alta direção do estabelecimento financeiro, a fun- ção monetária e de juros legais.
ção de indicar aos clientes cartões de crédito admi- c) triplo do que pagou em excesso, acrescido de corre-
nistrados por sociedades empresárias parceiras. Um ção monetária e de juros legais.
dos clientes do banco utiliza um cartão de crédito d) quádruplo do que pagou em excesso, acrescido de
ilimitado, devidamente autorizado por esse banco e correção monetária e de juros legais.
pela administradora de cartões. Em viagem de núp- e) quíntuplo do que pagou em excesso, acrescido de cor-
cias pela Itália, o cliente é surpreendido pela negativa reção monetária e de juros legais. 645
43. (CESGRANRIO — 2021) AN é bancária e recebe, men- d) ocorrerá a manutenção do registro no cadastro de ina-
salmente, plano de metas para realizar com a sua dimplentes como forma de proteção ao comércio.
clientela ou com novos clientes que venha a conso- e) será retirada a inscrição do registro no cadastro de
lidar. Muitos dos seus clientes são idosos que per- inadimplentes somente se houver medida judicial.
cebem razoável remuneração de aposentadoria e
pensões. Mirando nesse nicho, ela contata os indiví- 46. (CESGRANRIO — 2016) Com referência às práticas de
duos e, com sua competência verbal, consegue reali- mercado de defesa de concorrência, existe no Brasil
zar inúmeros contratos e bater as metas exigidas. um órgão responsável por orientar, fiscalizar, preve-
Alguns dos seus clientes, no entanto, após verificar nir e apurar abusos do poder econômico, exercendo
que o saldo disponível em suas contas não permite papel tutelador da prevenção e repressão do mesmo.
o pagamento de suas despesas básicas, apresentam
reclamação à Diretoria do banco. Esta autarquia federal brasileira chama-se

Segundo as regras do Código de Defesa do Consumi- a) CVM – Comissão de Valores Mobiliários


dor, Lei nº 8.078/1990, constitui prática abusiva pre- b) OPEP – Organização dos Países Exportadores de
valecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, Petróleo
tendo em vista sua c) CADC – Conselho Administrativo de Defesa de
Concorrência
a) familiaridade d) CADE – Conselho Administrativo de Defesa Econômica
b) generosidade e) Secretaria do Tesouro Nacional
c) liberdade
d) amizade 47. (CESGRANRIO — 2023) Um contador, aprovado em
e) idade concurso para ingresso nos quadros de sociedade de
economia mista, verificou que houve modificação nas
44. (CESGRANRIO — 2023) Um profissional liberal procura regras de aposentadoria, o que o fará ingressar em
agência bancária para postular empréstimo necessá- plano de benefícios administrado por entidade fecha-
rio para as suas atividades laborais. O gerente respon- da de previdência complementar. Preocupado com a
sável lhe apresenta várias simulações contratuais, organização interna da entidade, pesquisa sua estru-
contendo valores, período de pagamento e número de tura no aparato legal existente.
parcelas. Em letras miúdas, constam várias cobranças
a incidir no curso do contrato e não esclarecidas ao Nos termos da Lei complementar no 108, de 29 de
cliente. maio de 2001, o órgão máximo da estrutura organiza-
cional, e responsável pela definição da política geral
Nos termos do Código de Defesa do Consumidor, de administração da entidade e de seus planos de
quando as cláusulas contratuais forem estabelecidas benefícios é o Conselho
unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou servi-
ços, sem que o consumidor possa discutir ou modifi- a) Executivo
car substancialmente seu conteúdo, será realizado o b) Deliberativo
denominado c) Fiscal
d) Financeiro
a) acordo bilateral e) Classista
b) contrato de adesão
c) empréstimo consignado 48. (CESGRANRIO — 2022) O custeio dos planos de bene-
d) mútuo corrente fícios será de responsabilidade do patrocinador e dos
e) convencionado recíproco participantes, inclusive os assistidos.

45. (CESGRANRIO — 2015) Uma cidadã, por dificuldades Assim sendo, de acordo com a Lei Complementar nº
financeiras momentâneas, deixou de pagar em dia as 108, de 29 de maio de 2001,
suas dívidas, vindo, por força de sua mora e do seu
inadimplemento, a ser inscrita em cadastro de devedo- a) a contribuição do patrocinador poderá, excepcional-
res. Com o passar do tempo, a sua situação foi melho- mente, ser maior do que a dos participantes, para evi-
rando e, após muito sacrifício pessoal, conseguiu tar um desequilíbrio atuarial.
quitar as suas dívidas. Em determinado momento, no b) a contribuição do patrocinador, em nenhuma hipótese,
entanto, foi surpreendida com negativa de crédito, em deixará de ser paritária com a dos participantes.
estabelecimento comercial, por estar o seu nome ins- c) o patrocinador poderá assumir encargos adicionais,
crito no cadastro de devedores inadimplentes. exceto os pecuniários, com relação ao financiamento
dos benefícios.
A melhor interpretação do Código de Defesa do Con- d) o patrocinador poderá fazer aportes facultativos ao
sumidor indica que plano, desde que não ultrapassem igual valor de con-
tribuição dos participantes.
a) caberia à devedora buscar o cancelamento dos regis- e) os participantes custearão as despesas administra-
tros nos cadastros de inadimplentes. tivas da entidade de previdência, por serem eles os
b) é ônus do credor, após a constatação do pagamento beneficiários.
efetivo da dívida, retirar o nome do devedor do cadas-
tro de inadimplentes.
c) deve ocorrer a retirada do registro de inadimplente
somente cinco anos após o ingresso, mesmo no caso
646 de pagamento.
49. (CESGRANRIO — 2023) O resultado superavitário dos
planos de benefícios das entidades fechadas, ao final 21 E
do exercício, satisfeitas as exigências regulamenta- 22 E
res relativas aos mencionados planos, será destinado
à(ao) 23 C

24 A
a) conta de capital
b) reserva financeira 25 E
c) remuneração dos patrocinadores
d) reserva de contingência 26 E
e) aumento do benefício pago
27 E
50. (CESGRANRIO — 2023) Um contador recebe a incum- 28 B
bência de organizar a parte de previdência comple-
mentar dos colaboradores da pessoa jurídica onde 29 C
exerce suas atribuições. Para realizar a tarefa com
30 B
perfeição, sente necessidade de aprofundar seus estu-
dos sobre o tema. 31 A

Nos termos da Lei complementar no 109/2001, os pla- 32 C


nos de benefícios atenderão a padrões mínimos fixa-
33 D
dos pelo órgão regulador e fiscalizador, com o objetivo
de assegurar transparência, solvência, liquidez, equilí- 34 E
brio econômico- financeiro e
35 D
a) estatístico
36 D
b) atuarial
c) concursal 37 B
d) empresarial
e) patrimonial 38 E

39 D
9 GABARITO
40 D

1 E 41 D

2 B 42 B

3 C 43 E

4 B 44 B

5 C 45 B

ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTABILIDADE E REGULAÇÃO


6 B 46 D

7 C 47 B

8 B 48 B

9 D 49 D

10 A 50 B

11 B

12 E

13 C
ANOTAÇÕES
14 D

15 C

16 A

17 A

18 C

19 B

20 E
647
ANOTAÇÕES

648
O objetivo, ou o propósito, do texto se encontra
em meio à leitura e é possível de se identificar e com-
preender apenas a partir de uma leitura atenta que
vai além do que está escrito. Bem como mencionado

EIXO 5 — INGLÊS
anteriormente, a identificação de quem é o autor e o
narrador, a quem se destina o texto, o contexto nele
presente, o assunto tratado e a linguagem empregada,
são elementos cruciais para o entendimento do servi-
ço a que se presta o texto.
O propósito pode ser relatar um fato, contar novi-
COMPREENSÃO DE TEXTOS ESCRITOS
dades, listar ou enumerar itens, reportar um crime,
EM LÍNGUA INGLESA, VOCABULÁRIO, expor uma opinião, entre muitas outras possibilida-
COESÃO E COERÊNCIA des que deverão ser observadas no decorrer da lei-
tura. Alguns marcadores como nomes, datas, locais,
Para realizar uma leitura bem-sucedida em outro dados, estatísticas, números em geral, pronomes de
idioma, é preciso estar atento a alguns métodos e tratamento, podem servir como indicativos do propó-
recursos capazes de auxiliar a interpretação textual. sito do texto a partir da percepção do conteúdo pre-
sente e do teor da mensagem encontrada no texto.
COMPREENSÃO
Compreensão Escrita
Compreender é a capacidade de assimilar, inter-
pretar e perceber o significado de algo. Compreender
um idioma significa entender a coerência das infor- Quando se trata de compreender o sentido lexical,
mações de sua comunicação. O objeto da compreensão semântico e gramatical de um texto na língua inglesa,
da língua inglesa pode estar situado em diferentes for- utilizamos recursos que partem de princípios simples:
mas de comunicação, para cada qual existem manei- identificação dos principais elementos do idioma,
ras mais apropriadas e adequadas de identificar o ainda que partindo de um panorama básico de com-
sentido, o propósito, o contexto, o estilo, a técnica e as preensão e fluência no idioma. São eles:
informações presentes na mensagem.
Ao buscar compreender o sentido e o propósito z gramática básica (tempos verbais, adjetivos,
de um texto na língua inglesa, faz-se necessário iden- advérbios e pronomes);
tificar elementos chave capazes de sintetizar infor- z vocabulário básico (substantivos);
mações, decodificar signos linguísticos, entender a z expressões idiomáticas (contexto cultural).
semântica, ou seja, o sentido do texto, bem como seu
propósito. Estes elementos podem estar presentes nos A partir de um breve conhecimento dos itens
aspectos gramaticais do texto, um dos tópicos essen- mencionados, de maneira geral e simplista, é possí-
ciais para o estudo da interpretação textual, mas vel partir para uma leitura geral do que está escrito e
podem também ser percebidos no contexto, no recor- compreender a mensagem. É, no entanto, importante
te, no tipo de linguagem (formal, informal, técnica ler nas entrelinhas enquanto se decodifica uma men-
etc.), no vocabulário utilizado, entre outros elementos sagem escrita, isso significa ser capaz de identificar o
estratégicos para a interpretação correta do texto. gênero textual, o tipo do narrador, o objetivo da men-
Para que o leitor compreenda o sentido do texto,
sagem e o contexto em que ela está inserida.
antes de qualquer leitura direta, é primordial que se
faça um processo de escaneamento do texto em bus-
ca de palavras-chave e informações que indiquem a Compreensão Oral
quem o texto se direciona, quem é o autor e seu nar-
rador, a qual categoria textual ele pertence (artigo, Além dos elementos citados anteriormente quanto
crônica, conto, carta, bilhete etc.) e qual o assunto tra- à compreensão escrita, a compreensão oral tem suas
tado. A partir desta coleta de informações, é possível peculiaridades e particularidades dignas de serem
iniciar a leitura inicial, que irá buscar identificar o enfatizadas, pois se diferenciam do padrão escrito.
sentido do texto. O sentido indica o que o interlocutor Diferentemente da comunicação escrita, a fala é uma
quer dizer com que propôs escrever. A capacidade de ação fluida e em constante mudança. A percepção da
identificar o sentido está intrinsecamente ligada ao comunicação oral não apenas de elementos linguísti-
conhecimento e à identificação de: cos, mas do contexto cultural e social do falante e do
ouvinte.
z palavras; O momento da fala pode sofrer interferências de
z expressões idiomáticas; ruídos, sejam eles literalmente barulhos que atrapa-
z verbos frasais; lham no momento da audição, ou ruídos no sentido
z tempos verbais; de interferências no meio transmissor da mensagem
z contextos; (telefone, áudio, rádio, televisão, etc.). Tudo isso atra-
z aspectos culturais e sociais;
palha tanto a transmissão quanto à recepção da men-
z adjetivos, advérbios e pronomes.
sagem, o que dificulta sua compreensão de modo
Entre outros elementos, os citados anteriormente geral. A compreensão oral na língua inglesa depen-
INGLÊS

podem auxiliar o leitor a identificar o sentido do texto de de diversos elementos que devem ser levados em
com mais precisão, são estes conhecimentos exercita- consideração:
dos a partir do estudo do idioma, seja ele de forma
técnica e instrumental a fim de realizar uma prova ou z Sotaque: ainda que a língua seja a mesma, sota-
em estudos mais aprofundados que têm como objeti- ques diferentes podem alterar a compreensão de
vo promover a fluência. um idioma em diferentes países ou até diferentes
estados de um mesmo país; além dos diferentes 649
sotaques famosos, como o sotaque britânico e o Ex.: She is a vegetarian, that’s why she only eats
estadunidense, dentro de um mesmo país existem meat. (Ela é vegetariana, por isso ela apenas come
diferenças, como por exemplo o sotaque do sul e o carne). Nesta oração, há contradição, pois o fato de
sotaque do norte dos Estados Unidos, que possuem o sujeito ser vegetariano indicaria o não consumo
distinções claras; de carne, o ideal seria “She is a vegetarian, that’s
z Dialeto: bem como a diferença de sotaques, why she doesn’t eat meat” (Ela é vegetariana, por
alguns países possuem dialetos próprios, a comu- isso ela não come carne);
nidade negra na Inglaterra e nos Estados Unidos z Ordem, relevância e progressão semântica: em
possuem formas específicas de comunicação que geral, ações possuem uma ordem para acontece-
dizem respeito ao seu contexto social e sua cultura, rem e cada qual tem a sua importância na constru-
com raízes provindas de diversos países africanos; ção de uma oração, o que for relevante e coerente
comunidades latinas também mesclam o idioma para com o contexto do que está expresso deve vir
inglês com o espanhol e incorporam palavras de antes do menos importante ou daquilo que é resul-
seu idioma nativo ao inglês, ou até modificam
tado de uma ação, em uma sequência lógica que
palavras existentes, algo comum no meio latino;
não altere o sentido da narrativa. Observe:
z Classe social: o fator econômico pode interferir
Ex.: He woke up, brushed his teeth, had breakfast
na comunicação oral de maneira muito clara; um
and got dressed for work. (Ele acordou, escovou
indivíduo rico com um alto nível de formação edu-
cacional irá se comunicar de uma forma e um indi- os dentes, tomou café da manhã e se vestiu para o
víduo sem educação formal, morador da periferia, trabalho).
irá se comunicar de outra.
Contextos, Aspectos Sociais e Culturais
Compreensão da Utilização de Mecanismos de
Coesão e Coerência Ainda diante do tema de compreensão, seja ela
textual ou oral, na língua inglesa, alguns aspectos
Coesão e coerência são dois mecanismos funda- que vão além da língua se fazem muito importantes
mentais para a produção de textos, o que os torna para o real entendimento de um texto. Dentre eles, o
igualmente importantes para a compreensão textual. contexto e seus aspectos sociais e culturais se fazem
Antes de conhecer alguns elementos presentes nestes presentes e devem ser bem analisados para que qual-
dois mecanismos, é preciso entender do que se tratam. quer fragmento textual possa ser compreendido. Ter
Coesão diz respeito à interligação de elementos entre a habilidade de identificar o contexto histórico, a cul-
palavras e frases em uma sentença de maneira corre- tura da época e a forma como se davam as relações
ta e a coerência trata-se da ligação de sentido lógico sociais em uma obra literária em inglês facilita a com-
destes elementos, para que a mensagem seja coeren- preensão da obra como um todo, pois permite que o
te. Confira alguns elementos utilizados para construir leitor amplie as noções do texto que irá ler.
coesão e coerência no texto. As obras de William Shakespeare, grande escritor
Em coesão: inglês, foram escritas sob o prisma de uma realida-
de diferente da que vivemos atualmente. Do século
z Substituições: algumas expressões e substantivos XVI ao século XVII, o dramaturgo escreveu romances
podem ser substituídos por outro termo para evi- em que se podiam observar reflexos dos costumes
tar repetições desnecessárias, como é o caso do uso e usos da sociedade em que vivia à época; desde a
de nomes próprios e dos pronomes. própria linguagem do narrador até o curso da histó-
Ex.: Anna really wants to study abroad, she enjoys ria, a trajetória dos personagens, a maneira como se
visiting different countries. (Anna realmente quer comunicam, se vestem, suas configurações e relações
estudar no exterior, ela gosta de visitar países familiares e sociais, entre outros aspectos, todos os
diferentes); elementos representados pelo autor em suas obras
z Conjugação verbal adequada: ainda que a con- devem ser lidos pelo leitor a partir da ótica de uma
jugação verbal e seus respectivos pronomes sejam realidade diferente da que vivemos no século XXI.
muito mais simples na língua inglesa do que no
Ao entender o contexto social, cultural e até eco-
português, ainda existem alguns requisitos de cor-
nômico de uma produção textual é fundamental para
relação verbal que devem ser aplicados (principal-
estabelecer as relações corretas na hora de decodifi-
mente no tempo presente).
car o seu sentido, sendo capaz de identificar o voca-
Ex.: She sleeps late every day. (Ela dorme tarde
todos os dias) — há um acréscimo da letra “s” em bulário, os aspectos gramaticais, as influências do
sujeitos na terceira pessoa do singular (he, she, it) período histórico em todo o processo de construção
quando no tempo presente; da narrativa.
z Conectores e conjunções: alguns conectores e
conjunções ligam as sentenças de modo que elas se PRODUÇÃO
complementam, como é o caso das palavras and, if,
so, and, however, therefore, although, even though, Diferentemente da leitura e compreensão escrita
entre outros. e oral da língua inglesa, a produção escrita e oral do
Ex.: Even though they don’t read much, John’s kids idioma requer mais do que apenas um conhecimen-
are very smart. (Apesar de eles não lerem muito, os to superficial do idioma. É preciso possuir repertório
filhos do John são muito espertos). suficiente para produzir um texto em determinada
língua, pois ele deve ter sentido para o leitor. Apesar
Em coerência: de existirem distintos níveis de comunicação possí-
z Concordância de ideias: quando há concordân- veis em qualquer tipo de produção no idioma (básico,
cia entre duas ideias na mesma oração de acordo intermediário e avançado), alguns requisitos devem
com o sentido proposto pela frase e não existem ser seguidos a fim de realizar esta tarefa de maneira
650 contradições. bem-sucedida.
Produção Escrita humano. À medida em que os pensamentos são formu-
lados, a fala os reproduz sonoramente de maneira que o
Para realizar a atividade da produção escrita indivíduo não tem tempo para reformular ou modificar
em qualquer idioma, uma série de regras e padrões a construção do que foi dito ou planejar conscientemen-
devem ser seguidos, de acordo com a intenção do te cada etapa deste processo de produção.
autor e o público a quem o texto se destina. Ela pode A tradição oral está presente na humanidade desde o
ser formal, na norma culta da língua inglesa ou infor- início dos tempos, antes mesmo da invenção da escrita.
mal, coloquial, a linguagem utilizada no cotidiano, Histórias dos povos antigos, contos mitológicos e folclóri-
segundo a vontade e intenção de quem escreve. Ain- cos, bem como ensinamentos religiosos foram passados
da assim, a produção escrita deve seguir regras gra- adiante em diversas sociedades, mesmo antes de existi-
maticais e ortográficas responsáveis por organizar o rem livros de história, o que demonstra a importância da
idioma de maneira que indivíduos alfabetizados neste comunicação verbal como uma atividade importante e
idioma sejam capazes de decodificar os signos linguís- relevante, presente até os dias de hoje como uma forma
ticos e identificar a mensagem proposta. de comunicação e partilha de conhecimentos.
A língua está em constante mudança e é uma Professores, palestrantes, pastores, políticos, radia-
ciência viva que se modifica em decorrência das listas, jornalistas, entre outros profissionais, utilizam o
transformações que ocorrem na sociedade. Como discurso falado, dialética e a didática da produção oral
consequência, surgem novas palavras (neologismos), como recurso a fim de relatar fatos, propagar conheci-
novos termos e expressões, novos verbos, novas for- mentos, convencer e persuadir ou contar histórias. Na
mas de se comunicar. Antes do surgimento da escrita, língua inglesa não é diferente. A produção oral continua
surgiu a fala. O que significa que a escrita é fruto da sendo fluida e simultânea, uma atividade natural da
necessidade humana de expressar-se de outra forma comunicação humana.
além da comunicação oral, de documentar a comuni- Quando produzimos oralmente em outro idioma, é
cação ou de representá-la visualmente. possível que existam empecilhos que barrem a fluidez
Sendo assim, a partir da fala e de um idioma já da comunicação, dependendo da mensagem que se pre-
existente oralmente, a escrita passou a existir. Des- tende passar, do nível de conhecimento que se possui do
te modo, a fala é responsável pelas mudanças que assunto, suas palavras e expressões adjacentes. Para que
ocorrem na escrita. Todo este processo de mudança e ela seja realizada de maneira correta é necessário:
adaptação do idioma, indica que é preciso estar atento
a alguns detalhes importantes antes de produzir um z Conhecer o campo, a área ou o assunto em ques-
texto na língua inglesa. É preciso: tão: alguns assuntos podem ser mais complexos
de abordar diante do nível de conhecimento do
z Estar consciente do público-leitor: toda mensa- interlocutor; caso o indivíduo vá dar uma palestra
gem possui um receptor, perguntar-se a quem ela em um hospital sobre doenças infecciosas, termos
se destina, ajudará o autor a entender o tipo de lin- ligados à área da saúde, doenças e nomes de ins-
guagem que deverá usar e de que maneira ele se trumentos médicos e hospitalares devem obriga-
comunicará melhor com seu público; toriamente ser de seu conhecimento para que ele
z Ter conhecimento técnico do idioma: saber os consiga transmitir a mensagem de sua produção
diferentes tipos de tempos verbais da língua ingle- oral o melhor possível.
sa (simple present, present continuous, simple past, z Saber pronunciar palavras e frases: a pronúncia
past continuous, simple future, future continuous, é parte importante da comunicação, quando reali-
present perfect, past perfect, past perfect conti- zada de maneira errada pode confundir o ouvin-
nuous, future perfect, future perfect continuous te e atrapalhar o curso de um diálogo; diversas
etc..), além do uso correto dos pronomes pessoais, palavras da língua inglesa possuem similaridades
relativos e possessivos, de conjunções, conectivos, quando escritas, mas possuem significados total-
advérbios, adjetivos, artigos, enfim, de gramática mente diferentes que só são identificados a partir
em geral, além de conteúdo vocabular, auxiliará o de uma pronúncia correta. Ex.: sheep (ovelha), ship
autor na construção do texto no idioma. (navio) e cheap (barato) — são palavras de grafia
semelhante, mas são pronunciadas de maneiras
Além disso, saber escrever em um idioma requer diferentes entre si.
níveis de conhecimento elevados. É, no entanto, possí-
vel produzir em diferentes níveis. Um indivíduo com Dica
conhecimento básico do idioma será capaz de produzir
textos mais curtos e objetivos, sem muito vocabulário A audição está intrinsecamente ligada à fala.
ou expressões idiomáticas; alguém com conhecimento Bebês, por exemplo, assimilam os sons emiti-
intermediário terá outro nível de complexidade em suas dos pelos pais desde o ventre, quando nascem e
produções, menos infantil, mais completo, bem como começam a emitir seus primeiros sons não ver-
alguém avançado ou fluente é capaz de se comunicar bais é a influência da audição, ou seja, do que
sem ou quase sem restrições seja de maneira oral ou ouvem a mãe ou o pai falando que conseguem
escrita. reproduzir pequenas palavras. O mesmo ocorre
com o aprendizado de outro idioma, a audição
INGLÊS

Produção Oral auxilia a fala e vice-versa.

A atividade linguística oral é marcada por sua fluidez. ADEQUAÇÃO VOCABULAR


Enquanto a produção escrita segue padrões de regras
gramaticais e de formalidade, além de ser pensada e Em diversos momentos, na língua inglesa, será
repensada durante o processo de sua construção, a pro- necessário adaptar o discurso, a fim de otimizar a for-
dução oral ocorre de forma simultânea ao pensamento ma de comunicar uma mensagem. A seleção correta 651
de palavras e expressões que se encaixem melhor no z Não utilização de gírias ou expressões coloquiais:
contexto da mensagem é primordial e faz parte do algumas expressões indicam o grau de intimidade
processo de adequação vocabular. entre dois indivíduos; apelidos, gírias e expressões
As mesmas palavras podem expressar diferentes coloquiais podem atrapalhar a comunicação duran-
ideias diante do contexto em que são usadas. A escolha te uma conversa cujo contexto é formal e requer um
do vocabulário deve ser definida diante do contexto pro- distanciamento. Confira a diferença:
posto, pois cada qual tem a capacidade de modificar o Ex.: Hey, Luke. What’s up? How’s it going? (Ei,
sentido original ou usual de uma palavra ou expressão. Luke. E aí? Como estão as coisas?) – informal.
Observe alguns exemplos a seguir: Good morning, Mr Hudson. How are you? (Bom
dia, senhor Hudson. Como vai você?) – formal.
z “She was not doing it the right way. She was supposed
to cook the onions first” (Ela não estava fazendo do Em conversas informais, a comunicação se torna
jeito certo. Ela deveria cozinhar as cebolas primeiro); mais próxima da fala, diferentemente da comunica-
z “That was the right way, you just missed the rounda- ção formal que se aproxima mais da escrita. O uso
bout!” (Aquele era o caminho certo, você acabou de de expressões, gírias, contrações de palavras, entre
ultrapassar a rotatória); outros elementos, podem tornar a conversa muito
z “He had a way with kids, he loved baby-sitting” (Ele menos complexa e relaxada, pois não exige que as
era bom com crianças, ele amava ficar de babá). regras gramaticais sejam seguidas com tanto afin-
co, nem mesmo sejam prioridade. As conversas que
Observe que a palavra way, encaixada em diferentes temos com nossos amigos, família e pessoas próximas
contextos, ganhou diferentes significados. No primeiro é sempre marcada por certo grau de intimidade e é
trecho sobre culinária, way significa “jeito” ou “manei- permeada de simplicidade. Ela pode apresentar:
ra”; no segundo sobre direção e trânsito, way adquire
o significado de “caminho”; já na terceira oração, sobre
z Gírias e expressões: muitas delas são construções
crianças, a expressão to have a way with (something/
do grupo social em que o indivíduo vive e podem
someone) significa “ser bom em algo”, “ter aptidão para
estar muito, moderadamente ou pouco presen-
fazer algo”.
O correto uso vocabular para cada contexto expressa tes na forma de comunicar uma mensagem; elas
o conhecimento do autor diante daquilo que se propõe surgem da oralidade e fazem parte de conversas
tratar em seu texto. A interlocução pretendida na produ- cotidianas; a internet, hoje, também tem um papel
ção, por sua vez, trata-se da relação entre o interlocutor importante no surgimento e propagação de novas
e receptor da mensagem. O público em questão, ou seja, gírias e expressões que são incorporadas no voca-
a quem se destina a mensagem, deve ser capaz de enten- bulário, em especial da juventude.
der o assunto recortado pelo autor. De nada adianta ter Ex.: She was all, like, nervous about it so I told her to
pleno conhecimento de um assunto e não saber adaptar chill and call me asap (Ela estava toda, tipo assim,
o discurso em prol do público-alvo da mensagem. nervosa sobre isso então eu disse pra ela relaxar e
Esta prática muito se assemelha ao trabalho dos jor- me ligar assim que possível);
nalistas que, por vezes, coletam dados completos sobre z Apelidos: os apelidos fazem parte da relação entre
economia e política e precisam adaptar a comunicação as pessoas e podem marcar a forma como um indi-
e a linguagem, modificando ou substituindo termos difí- víduo se dirige ao outro, indicando o grau de pro-
ceis, a fim de transmitir uma notícia para uma popula- ximidade entre eles; muito comum entre amigos e
ção leiga no assunto. Este tipo de recurso, faz com que o familiares, os apelidos são sempre informais.
autor ou emissor da mensagem seja sensato na escolha Ex.: Sis was telling me all about her trip. (Minha irmã
de palavras e obtenha sucesso na comunicação da men- estava me contando tudo sobre sua viagem / Sis –
sagem que pretende passar. abreviação ou gíria provinda da palavra sister);
z Contrações: as contrações de palavras e verbos
CONVERSAS FORMAIS E INFORMAIS são muito comumente utilizadas e tem até mesmo
sido incorporadas na linguagem formal, por serem
Uma das maiores vantagens da comunicação é sua muito recorrentes na comunicação; mas é sugeri-
fluidez, ela se adapta, se transforma e é utilizada de do que elas sejam aplicadas apenas em ambientes
diferentes maneiras em cada contexto a qual é inserida. informais.
Quando em ambientes mais formais, como no meio aca- Ex.: They would’ve loved to meet you, I’d bet on it.
dêmico, profissional ou literário, a etiqueta exige certo (Eles teriam amado te conhecer, eu aposto).
grau de formalidade para que a comunicação seja efetiva
e as conversas devem seguir um padrão, o padrão da nor-
ma culta da língua. Na língua inglesa, alguns indicadores Importante!
expressam formalidade com mais clareza ou evitam que
a conversa seja caracterizada como informal, são eles: Entender o ambiente em que se está inserido é
fundamental para adequar aspectos da fala liga-
z Pronomes de tratamentos adequados: no dos à norma culta ou à informalidade, no entan-
ambiente escolar nos EUA, por exemplo, os alu- to, é cada vez mais notável a mesclagem de
nos se referem aos professores como Mr. (senhor), ambas as formas de comunicação em determi-
Mrs. (senhora) ou Ms. (senhorita) junto com os nados meios, como em igrejas contemporâneas,
seus sobrenomes; diferentemente do Brasil, lá a em reuniões de trabalho e em encontros parla-
relação entre alunos e professores exige certo grau mentares; é, porém, necessário aprender ambas
de distanciamento que é estabelecido ao utilizar o as formas de comunicação, suas variações e ter
pronome de tratamento adequado. bom senso para saber quando e como usar cada
Ex.: Is Mr. Jones in the principal’s office? (O senhor uma delas.
652 Jones está na sala do diretor?);
SINÔNIMOS EM INGLÊS a palavra calças. No inglês britânico, calças é trousers
e roupa íntima é pants; já no inglês americano calças é
O estudo dos sinônimos na língua inglesa requer pants, e underwear é roupa íntima. A confusão reside
muita atenção e cuidado. Por vezes, como na língua na ideia de que os sinônimos dependem inteiramente
portuguesa, os sinônimos podem ser diferentes pala- do contexto em que a palavra se encontra, dependen-
vras que realmente possuem exatamente o mesmo do da cultura, do país, do contexto social, uma palavra
significado, em outros momentos, é possível identifi- será mais adequada para aquela situação ou não.
car diferentes intenções em palavras que se apresen-
tam como sinônimos. Alguns verbos ou phrasal verbs COGNATOS
possuem sinônimos que, se utilizados em detrimen-
to de outra palavra, são capazes de modificar a ideia Cognatos são palavras que possuem a mesma gra-
geral de uma oração. É, portanto, primordial ter muita fia (ou grafia semelhante) e o mesmo significado em
cautela e saber como e quando utilizar este recurso. dois idiomas. Algumas palavras no inglês são exata-
Um dos recursos ideias para entender essas similari- mente iguais no português e possuem o mesmo signi-
dades e diferenças é o tesauro (thesaurus), um dicio- ficado, ainda que a sua pronúncia seja diferente. Estas
nário desenvolvido para definir a tradução e conceito palavras podem facilitar a leitura e a interpretação de
dos sinônimos de palavras. texto, pois são exatamente as mesmas.
Apesar de partilharem de um mesmo idioma prin- Existem, porém, falsos cognatos, palavras que pos-
cipal, os EUA, a Inglaterra, o Canadá, a Austrália, entre suem a mesma grafia ou grafia semelhante a palavras
outros falantes da língua inglesa, são países comple- de outro idioma, mas que possuem significados com-
tamente diferentes, com sua própria cultura, história pletamente diferentes. Sendo assim, é preciso ter mui-
e costumes que moldam também sua língua, isso sig- to cuidado durante a leitura e examinar o contexto em
nifica que o inglês de cada país possui suas peculiari- que a palavra está inserida para que se possa inter-
dades, diferentes significados, expressões, pronúncias pretar corretamente seu significado. Confira a seguir
etc.. Sendo assim, em cada um deles é possível identi- alguns exemplos de cognatos e falsos cognatos.
ficar palavras que são sinônimos entre si, mas que no
contexto de cada país possui outro significado. Confira Palavras Cognatas
alguns exemplos de sinônimos no diálogo a seguir:

— Wow, I love your new pants! They are beautiful. ENGLISH PORTUGUÊS
Where did you get them? — said the American girl Chocolate Chocolate
— Excuse me??? — the English man replied with a
surprised expression on his face. Different Diferente
— Your new pants... Why? What’s wrong? — She
had her eyes wide open. Constant Constante
— Oh, you mean my trousers? Yeah, they great. I Music Música
bought them at the shop downtown. — he finally un-
derstood what she meant. Interesting Interessante
— What did you think I was talking about first? —
she, on the other hand, was still confused with the who- Present Presente
le conversation. Important Importante
— Well... My pants, the ones that go under my trou-
sers. — he explained
Falsos Cognatos
— Oh, you mean, your underwear? Gosh, that’s em-
barrasing. — she flushed.
ENGLISH PORTUGUÊS
Tradução:
Actual Verdadeiro
— Uau, eu amei suas cuecas novas! Elas são lindas. Parents Pais
Onde você as comprou? — disse a garota americana.
— O quê???? — o homem inglês respondeu com Relatives Parentes
uma expressão de surpresa em seu rosto.
— Suas cuecas... Por quê? O que há de errado? — Beef Carne bovina
ela estava de olhos arregalados. Fabric Tecido
— Ah, você quer dizer minhas calças? Sim, elas são
ótimas. Eu as comprei na loja no centro da cidade. — Pretend Fingir
ele finalmente entendeu o que ela quis dizer.
— Do que você achou que eu estava falando antes? Order Pedir
— ela, por outro lado, ainda estava confusa com a con-
versa toda. Dica
— Bem... minhas cuecas, aquelas que vão por
Por via das dúvidas quanto ao uso de uma palavra
INGLÊS

debaixo de minhas calças. — ele explicou.


— Ah, você quer dizer sua roupa de baixo? Meu e seu significado, alguns renomados dicionários
Deus, isso é tão constrangedor. — ela corou. como o Oxford Dictionary e o Merriam-Webster
Dictionary possuem suas versões online hoje,
No diálogo anterior, há uma clara confusão e difi- o que pode auxiliar o estudante a conferir rapi-
culdade de comunicação por causa de sinônimos que damente em seu computador ou celular se uma
em outros países possuem diferentes significados para palavra é cognata ou não. 653
EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS um idioma, é preciso entender a cultura, a história, o
humor e até a população de um país para realmen-
Todo idioma possui uma gama de expressões idio- te poder entender como este idioma foi construído e
máticas oriundas de sua cultura, do folclore, dos cos- fundamentado. Este aprofundamento permitirá um
tumes e das interações entre grupos sociais em um conhecimento mais amplo do idioma, o que será bené-
país. As expressões idiomáticas no inglês são frases fico sempre que se fizer necessário estudar aspectos
que não significam exatamente o que se esperaria tra- linguísticos que estão intrinsecamente relacionados à
duzindo-as ao pé da letra. Em alguns casos, as expres- cultura, aos costumes e à população de um país.
sões possuem equivalente na língua portuguesa, em
outros são tão característicos daquela cultura que ESTRATÉGIAS PARA INTERPRETAR TEXTOS
sequer possuem um equivalente direto e precisam ser
explicadas com outras palavras. Na hora de interpretar um texto em inglês, antes
Algumas expressões são utilizadas em conversas mesmo de se iniciar a leitura, deve-se responder a
comuns do cotidiano, cada qual tem sua peculiari- algumas perguntas que identificam pontos cruciais
dade, sem regras que padronizam seu uso. Basta um do texto, capazes de estabelecer critérios úteis para
conhecimento mais popular do idioma, através de facilitar a interpretação no momento em que a leitura
músicas, filmes, séries e vídeos, para ser capaz de será realizada. Confira a seguir:
identificar quando uma expressão não quer dizer o
que ela literalmente significaria ao ser traduzida. Con- z identificar quem é o autor;
fira uma lista de expressões idiomáticas comuns na z identificar quem é o narrador (por vezes é o pró-
língua inglesa: prio autor);
z identificar a quem o texto se dirige, seu público;
z identificar o gênero textual em questão;
To make a long face Fazer cara de desgosto

To make something up Inventar uma história Ao iniciar um breve escaneamento destas infor-
mações iniciais a leitura corrente será facilitada. Além
Recompor suas emo- disso, duas práticas distintas que se caracterizam
To pull yourself together
ções, endireitar-se como estratégias úteis para a interpretação de textos
em inglês são o scanning e o skimming.
Assumir o lugar de
To fill in someone’s shoes O scanning é a prática de escanear, passar os olhos
alguém
pelo texto em busca de palavras-chave, dados, nomes,
Resolver tarefas fora de números, entre outros elementos que possam contex-
To run errands tualizar o texto antes mesmo que a leitura seja realiza-
casa
da; trata-se de uma busca por informações específicas
Pensar e expor ideias, e pertinentes para compreender o texto.
To come up with
soluções O skimming refere-se a uma leitura de trechos do tex-
to, talvez parágrafos isolados, sem a necessidade de ler o
Estar esgotado com algo
To be fed up with texto todo, para adquirir uma compreensão do sentido
ou alguém
geral do texto de maneira rápida e eficiente, esta estra-
To cost an arm and a leg Custar muito caro tégia pode auxiliar aqueles que precisam ganhar tempo
durante a leitura de textos técnicos e extensos.
Chicken feed Salário baixo Ambas as técnicas são mais poderosas e eficazes
quando suas forças se unem, pois a leitura, ainda que
Raining cats and dogs Chuva muito forte
rápida e sem muito aprofundamento, torna-se mais
To give the could shoulder Ignorar alguém fácil quando guiada por esses recursos.

Muito fácil, “mamão com


A piece of cake
açúcar”

Pessoas iguais, “farinha


HORA DE PRATICAR!
Two peas in a pod
do mesmo saco”
Leia o texto a seguir para responder às questões 1 e 2.
The last straw O limite, “a gota d’água”
Impacts of new age technology
As far as I know Até onde eu sei

Abusar de algo, “passar New age technologies such as Artificial Intelligence


To be out of line (AI) and Machine Learning (ML) have radically trans-
da conta”
formed the way banking works today.
To hit the road Pegar a estrada Thanks to AI, it is possible to conduct real-time data
analysis from a large volume of data sets and provide
To be saved by the bell Ser “salvo pelo gongo” customized solutions to banking customers.
“Quebrar o gelo”, With powerful AI tools, banks can make informed
To break the ice decisions faster by using predictive analysis, which is
descontrair
the central point of AI and ML. As soon as a potential
customer searches for something online, the AI tools
Observe que na tabela acima, algumas expres- pick it up and serve related content that leads to quick
sões possuem equivalentes na língua portuguesa e sales. This improves customer service tremendously
outras não. Isso ocorre devido ao fato de que tradu- as customers find tailor-made solutions without much
ções não são suficientes para entender o contexto de human intervention.
654
Banks’ lending processes have also improved con- 1. (CESGRANRIO — 2023)The main purpose of the text is
siderably as they can analyze customers’ spending to describe the association between
patterns, study different customer data points, and
determine borrowers’ credit conditions. So, there is a) banking publicity and profits
much less paperwork. b) digital technology and banking
Customer-centric banking has become indispensable c) banking hierarchy and efficiency
with the introduction of different kinds of software that d) banking processes and corruption
utilize Natural Language Processing (NLP) to read, e) banking tradition and customers’ confidence
process and understand text and speech. Banks have
successfully installed digital tools to answer customer 2. (CESGRANRIO — 2023)From paragraph, one can con-
questions, which has helped them reduce the time and clude that the pandemic of covid-19
effort of human capital and provide quick and consis-
tent service. Using those resources, banks are expec- a) helped control inflation.
ted to save $7.3 billion in operational costs. b) attracted new customers.
The changing profile of banking depends a lot on the c) interrupted bank services.
Internet-age generation. Their expectations from their d) created new bank branches.
banks to provide an omni-digital experience have enab- e) enriched bank digital technology.
led the shift, allowing them to fulfil their banking needs
sitting from a remote location. Appropriately, banks 3. (CESGRANRIO — 2023)
quickly jumped onto the digitalization movement and
refreshed their services in line with their requirements. From Bartering to Bitcoin
Mobile banking, for example, is very popular among
millennials. An Insider Intelligence’s Mobile Banking By Rich Beattie
Competitive Edge study indicated that a surprising
97% of them use mobile banking! Transferring funds, What we call “money” has always been a moving tar-
checking their transactions online, downloading their get. It changes appearance and value. Here are five key
account statements or even applying for a loan is pos- developments in the history of money that have impac-
sible through a click of fingers on their mobile phones. ted how we earn, save and spend today.
This has also eliminated the need for physical bran- Cash Cows — Before humans had money, they had
ches, enabling banks to operate in a lean manner and stuff. In ancient times, when you had stuff other peo-
cut unnecessary costs. ple wanted, you bartered it for stuff you wanted.
The usage of credit cards, debit cards, mobile banking Around 9000 BC, the most popular commodities inclu-
apps, mobile wallets, third-party payment apps, etc., ded things like cattle, sheep and camels. This was fine
have all increased considerably, indicating an essen- when people bartered close to home, but bulky crea-
tial shift in the customers’ preferences. Banks have tures are cumbersome and difficult to transport. As
modernized their processes and broken the barriers people started to venture farther afield to trade, a more
between the different entities involved, such as bran- portable option became essential.
ches, ATMs, and online banking, to create a continuous In 1200 BC people started using cowries—the shells
flow for their customers. of marine mollusks taken from oceans. They were
The changing customer profile inclines towards brin- recognized as precious, and their use spread across
ging both physical and digital worlds closer, and this is Asia, Africa, Oceania and Europe. Having been in use
influencing the finance and banking sector favorably. for centuries — even into the 20th century in some pla-
Banks give attention to this need for digitalization to ces—cowries win the prize as the world’s longest-run-
retain their customers in the long run. ning currency.
The pandemic of covid-19 helped the banking indus- Three Coins in the Fountain — The issue with bartering
try to depend heavily on digital technology and tech- became assigning value: Just how much was a cowrie
-enabled systems to stay alive. The result of the or a cow worth? So, agreeing on the value of money
pandemic, however, resulted in new beginnings in the became essential. It was the Lydians, around 600 BC,
form of huge digital transformation and newer busi- who get credit for a critical step in this process: fashio-
ness models for the banks. ning the first known coins, which were made of a gold
The favorable impact of technology is obvious across and silver alloy.
banking institutions. Even though the banking arena The metal used to make a coin—along with its weight—
has advanced in achieving digital involvement, many was important, as it denoted the money’s value.
more unexploited opportunities exist for banks. The Moreover, as coins gained popularity, so did the idea of
banks must maintain the sanctity of their customers’ adorning them with locally inspired designs.
data and serve them with better solutions without Coins were money, but they now doubled as a historic
having to sacrifice their security. The few challenges record. Eventually, they took on even more uses: Peo-
the banking sector still has are data breaches or esca- ple flipped them to make decisions and tossed them
pes, lack of e-banking knowledge amongst their cus- into wells while making wishes. They may be used less
tomers, and the permanent technological landscape in 2020, but coins have been an integral part of our cul-
that requires constant training and updating. Plausib- ture for centuries.
le solutions to the above are available with a positive The Paper Chase — Coins were obviously lighter and
INGLÊS

partnership between all stakeholders involved, such as easier to transport than cows, but carrying bags of
government, industry professionals and, of course, dif- heavy metal still wasn’t very practical. China’s Tang
ferent banking institutions. Dynasty, in the seventh century, came up with a smart
solution, namely, paper money. It was super-light and
Available at: https://www.idfcfirstbank.com/finfirst-blogs/beyond- could feature even richer designs than coins, and it
-banking/what-isthe-impact-of-it-on-the-banking-sector.Retrievedon:
promised a certain amount of purchasing power.
Dec. 9, 2022. Adapted 655
Gold Rush — One of the problems, though, was that Guyana can play an essential role in balancing the glo-
counterfeiters had great success with paper bills. bal energy supply and demand markets and address
The bigger problem came when governments faced the energy crisis by becoming a top crude oil producer
economic crises; it was far too easy to print more globally. The goal is to become competitive in the global
paper money, which led to skyrocketing inflation. oil and gas market and this can be achieved by attrac-
Paper needed a backup—something universally valued ting and establishing partnerships with companies that
yet not easily replicated. Something like gold. can bring increased efficiency and productivity to the
The “gold standard” let governments create a fixed pri- local oil and gas operations, from exploration and pro-
ce for this precious metal that was tied directly to the duction to storage and transportation. For Guyana, this
value of their currency. In the United States, the idea means that improvements in regulations, a transparent,
took root in the late 17th century, and it spread to Euro- secure and competitive environment for foreign invest-
pe in the 19th century. But confidence in the gold stan- ment, and incentives from the government can serve as
dard crumbled during World War I, and it soon became catalysts for technology and innovation.
apparent that in order to thrive, currencies needed the Collaborating with universities and creating a business
freedom to fluctuate dynamically against each other. innovation hub mentality for young entrepreneurs with
The gold standard was dropped in the United States in government support, like loan guarantees, grants, and
1933, and a global economy started to take shape. tax credits, will also spur the industry.
The E-Buck Stops Here? — Cows, cowries, coins, paper, Innovative technology will play a critical role in cli-
gold: Money has always had a physical presence. But mate change. The oil and gas sector must reduce its
today, it is quickly evolving into numbers that float through emissions by at least 3.4 gigatons of CO2 equivalent a
the ether. This modern era of money began in 1946 with year by 2050 – a 90 % reduction in current emissions.
the first bank-issued charge card. Credit cards followed Guyana today can become a world leader in setting a
some 12 years later, still related to dollars. However, tech- benchmark around flaring and it’s possible for the cou-
nology, with cryptocurrencies like Bitcoin, is changing the ntry to achieve zero- flare objective, because “from day
world’s definition of “money.” one the right solutions and the right technologies were
Now, social media companies and entire countries are properly planned and properly positioned in order to
considering digital currencies of their own. Meanwhile, enable the extraction and the production with almost
artificial intelligence is growing eversmarter, and perhaps zero carbon footprint”, as the Emissions Director at
one day soon your budget and expenses will be managing Schlumberger vocalized about a year ago.
themselves. The debate rages about exactly where we are Innovations and technologies are key to the energy
headed, but with history as our guide, the one thing we transition, from floating wind farms to solar photovol-
can absolutely count on is the inevitability of change. taic farm developments, waste-to-fuel projects and
green hydrogen, shaping Guyana’s energy transition
Available at: https://www.synchronybank.com/blog/brief history-of- and future. All this requires not only massive finan-
money/. Retrieved on: Sept 10, 2022. Adapted cial support but an innovationoriented and technolo-
gy-friendly environment, with a strong emphasis on
In the paragraph of the text, the author mentions that education, training and research. Nevertheless, the
paper money first circulated in decision in Guyana on what technologies to adopt and
how much to innovate will have a big impact on results
a) Italy over the long term and the government should base it
b) China on a clear vision and roadmap.
c) England
d) Australia Available at: https://www.newsamericasnow.com/guyana-oi-
e) Germany technology-and-innovation-the-gate-way-to-development-caribbean-
news/. Retrieved on: April 26, 2023. Adapted
4. (CESGRANRIO — 2023)
The fragment of paragraph 2 “vulnerability is the bir-
Technology And Innovation: The Gateway To Develop- thplace of innovation” means that vulnerability
ment For Guyanese?
a) inhibits the emergence of innovation.
We live in vulnerable energy times. The energy crisis, b) creates an encouraging condition for innovation.
climate change and energy transition are all shaking c) comes from a situation of innovation.
and shaping the global future. “The energy realities of d) originates from a circumstance of innovation.
the world remind us that oil and gas will be here for e) delays the extent of innovation.
decades to pivot a just, affordable and secure energy
transition,” as John Hess, CEO of Hess Corporation, Leia o texto a seguir para responder às questões 5 e 6.
mentioned during the International Energy Conference
and Expo in Guyana in February 2023. How space technology is bringing green wins for
As someone said, vulnerability is the birthplace of transport
innovation and technology is the driving force behind
progressive changes. Nevertheless, how can Guya- Space technology is developing fast, and, with every
na play a vital role in reordering energy security? “By advance, it is becoming more accessible to industry.
embedding innovation earlier in the process, Guyana Today, satellite communications (satcoms) and spa-
can skip several steps and avoid what most econo- ce-based data are underpinning new ways of operating
mies went through” this idea was emphasized several that boost both sustainability and profitability. Some
times during the same conference. “If we integrate projects are still in the planning stages, offering great
innovation into Guyana’s process today, there might be promise for the future. However, others are already
some accelerated success.” delivering practical results.
656
The benefits of space technology broadly fall into two 5. (CESGRANRIO — 2023)The fragment in the third para-
categories: connectivity that can reach into situations graph of the text “The Satellites for Digitalization of
where terrestrial technologies struggle to deliver and Railways (SODOR) project will provide low latency”
the deep, unique insights delivered by Earth Observa- means that
tion (EO) data. Both depend on access to satellite net-
works, particularly medium earth orbit (MEO) and low a) low volume of data will be conveyed within hours.
earth orbit (LEO) satellites that offer low-latency con- b) low volume of data will be interrupted for a few
nectivity and frequently updated data. Right now, the minutes.
satellite supplier market is booming, driving down the c) low volume of data will be communicated within
cost of access to satellites. Suppliers are increasingly minutes.
tailoring their services to emerging customer needs d) high volume of data will be transmitted with minimal
and the potential applications are incredible — as a delay.
look at the transportation sector shows. e) high volume of data will be transferred after a few
Satellite technology is a critical part of revolutionizing minutes.
connectivity on trains. The Satellites for Digitalization
of Railways (SODOR) project will provide low latency, 6. (CESGRANRIO — 2023)In the eighth paragraph of the
highly reliable connectivity that, combined with moni- text, the author states that, for the last 40 years, the
toring sensors, will mean near realtime data guides company where he works has been
operational decisions. This insight will help trains run
more efficiently a) embedded in antipollution laws.
with fewer delays for passengers. Launching this year, b) dedicated to space travel medicine.
SODOR will help operators reduce emissions by using c) involved with cutting-edge space industry.
the network more efficiently, allowing preventative d) concerned with the Earth’s polar ice caps.
maintenance and extending the lifetime of some exis- e) engaged in antinuclear weapon campaigns.
ting trains. It will also make rail travel more attractive
and help shift more passengers from road to rail (that Leia o texto a seguir para responder às questões 7 e 8.
typically emits even less CO2 per passenger than elec-
tric cars do). The controversial future of nuclear power in the U.S.
Satellite data and communications will also play a fun-
damental role in shaping a sustainable future for road Lois Parshley
vehicles. Right now, the transport sector contributes
around 14% of the UK’s greenhouse gas emissions, of President Joe Biden has set ambitious goals for
which 91% is from road vehicles — and this needs to fighting climate change: To cut U.S. carbon emissions
change. in half by 2030 and to have a net-zero carbon economy
A future where Electric Vehicles (EV) dominate will by 2050. The plan requires electricity generation — the
need a smart infrastructure to monitor and control the easiest economic sector to green, analysts say — to be
electricity network, managing highly variable supply carbon-free by 2035.
and demand, as well as a large network of EV charging A few figures from the U.S. Energy Information Admi-
points. EO data will be critical in future forecasting nistration (EIA) illustrate the challenge. In 2020 the
models for wind and solar production, to help manage United States generated about four trillion kilowatt-
a consistent flow of green energy. -hours of electricity. Some 60 percent of that came
Satellite communications will also be pivotal. As more from burning fossil fuels, mostly natural gas, in some
wind and solar installations join the electricity network 10,000 generators, large and small, around the coun-
— often in remote locations — satcoms will step in to try. All of that electricity will need to be replaced - and
deliver highly reliable connectivity where 4G struggles more, because demand for electricity is expected to
to reach. It will underpin a growing network of EV char- rise, especially if we power more cars with it.
ging points, connecting each point to the internet for Renewable energy sources like solar and wind have
operational management purposes, for billing and grown faster than expected; together with hydroe-
access app functionality and for the users’ comfort, lectric, they surpassed coal for the first time ever in
they may access the system wherever they are. 2019 and now produce 20 percent of U.S. electricity.
Satellite technology will increasingly be a part of the In February the EIA projected that renewables were on
vehicles themselves, particularly when automated dri- track to produce more than 40 percent by 2050 - remar-
ving becomes more mainstream. It will be essential kable growth, perhaps, but still well short of what’s
for every vehicle to have continuous connectivity to needed to decarbonize the grid by 2035 and forestall
support real-time software patches, map updates and the climate crisis.
inter-vehicle communications. Already, satellites provi- This daunting challenge has recently led some envi-
de regular software updates to vehicles and enhanced ronmentalists to reconsider an alternative they had
safety through an in-car emergency call service. long been wary of: nuclear power.
At our company, we have been deeply embedded in the Nuclear power has a lot going for it. Its carbon foo-
space engineering for more than 40 years — and we tprint is equivalent to wind, less than solar, and orders
continue to be involved with the state-of-the-art tech- of magnitude less than coal. Nuclear power plants
nologies and use cases. We have a strong track record take up far less space on the landscape than solar or
INGLÊS

of translating these advances into practical benefits wind farms, and they produce power even at night or
for our customers that make sense on both a business on calm days. In 2020 they generated as much electri-
and a sustainability level. city in the U.S. as renewables did, a fifth of the total.
But debates rage over whether nuclear should be a big
Available at: https://www.cgi.com/uk/en-gb/blog/space/how-space part of the climate solution in the U.S. The majority of
technology-is-bringing-green-wins-to-transport. Retrieved on April 25,
American nuclear plants today are approaching the
2023. Adapted 657
end of their design life, and only one has been built in the 8. (CESGRANRIO — 2022)In paragraph 12, the author
last 20 years. Nuclear proponents are now banking on affirms “(To be fair, several of China’s recent large-sca-
next-generation designs, like small, modular versions of le reactors have also had cost overruns and delays)”, in
conventional light-water reactors, or advanced reactors order to
designed to be safer, cheaper, and more flexible.
“We’ve innovated so little in the past half-century, there’s a) clarify that China has also faced problems with the
a lot of ground to gain,” says Ashley Finan, the director construction of large-scale nuclear reactors.
of the National Reactor Innovation Center at the Idaho b) praise China’s capacity of building large-scale nuclear
National Laboratory. Yet an expansion of nuclear power reactors fast and effectively.
faces some serious hurdles, and the perennial concerns c) explain that China is more efficient that South Korea
about safety and long-lived radioactive waste may not be when building large-scale nuclear reactors.
the biggest: Critics also say nuclear reactors are simply d) support the view that China and South Korea can build
too expensive and take too long to build to be of much projects on budget and on schedule.
help with the climate crisis. e) discuss the reasons why China and South Korea can
While environmental opposition may have been the pri- build nuclear reactors at a lower cost.
mary force hindering nuclear development in the 1980s
and 90s, now the biggest challenge may be costs. Few Leia o texto a seguir para responder às questões 9 e 10.
nuclear plants have been built in the U.S. recently becau-
se they are very expensive to build here, which makes the Industry Needs to Design Ships Differently
price of their energy high.
Jacopo Buongiorno, a professor of nuclear science and The shipping industry needs to design ships differently
engineering at MIT, led a group of scientists who recently and be more technologically innovative to reach world
completed a two-year study examining the future of climate goals and counter cybersecurity risks, it was
nuclear energy in the U.S. and western Europe. They fou- agreed at the annual Tripartite Shipbuilding Forum.
nd that “without cost reductions, nuclear energy will not At the meeting in Nantong, China, held on November
play a significant role” in decarbonizing the power sector. 1-3, the forum reached several general conclusions on
“In the West, the nuclear industry has substantially lost ship design and technology.
its ability to build large plants,” Buongiorno says, pointing This year’s themes were decarbonization of ships, safe
to Southern Company’s effort to add two new reactors design and digitalization. These issues are interlinked
to Plant Vogtle in Waynesboro, Georgia. They have been as they are all relevant to the creation of a more effi-
under construction since 2013, are now billions of dollars cient seaborne transport system.
over budget - the cost has more than doubled - and years At the end of two days of debate, it was concluded
behind schedule. In France, ranked second after the U.S. that the industry urgently needs new ship designs,
in nuclear generation, a new reactor in Flamanville is a equipment, propulsion systems and alternative fuels
decade late and more than three times over budget. to achieve the CO2 reduction goals established by the
“We have clearly lost the know-how to build traditional Paris Agreement on climate change, and the specific
gigawatt-scale nuclear power plants,” Buongiorno says. objectives to be established for international shipping
Because no new plants were built in the U.S. for deca- by the IMO (International Maritime Organization), a
des, he and his colleagues found, the teams working on specialized agency of the United Nations, as part of its
a project like Vogtle haven’t had the learning experiences GHG (greenhouse gas) reduction strategy.
needed to do the job efficiently. That leads to construc- It was agreed that the industry needs to use all avai-
tion delays that drive up costs. lable technology to a much greater extent, and increa-
Elsewhere, reactors are still being built at lower cost, “lar- se technological innovation to reduce CO2 emissions
gely in places where they build projects on budget, and on to the ambitious degree required by the international
schedule,” Finan explains. China and South Korea are the community.
leaders. (To be fair, several of China’s recent large-scale The Tripartite forum has therefore established inter-
reactors have also had cost overruns and delays.) -industry working groups with the aim of developing
“The cost of nuclear power in Asia has been a quarter, or a better understanding of current R&D (research and
less, of new builds in the West,” Finan says. Much lower development) efforts for the new technologies needed
labor costs are one reason, according to both Finan and by the shipping sector to realize its vision for zero CO2
the MIT report, but better project management is another. emissions this century.
The participants hope that the general understandings
Available at: https://www.nationalgeographic.com/environment/ reached at the meeting will send an important signal
article/nuclear-plants-are-closing-in-the-us-should-we-build-more.
Retrieved on: Feb. 3, 2022. Adapted.
to all industry stakeholders about the vital role that
everyone must play to deliver the continuous impro-
vement of shipping’s environmental performance now
7. (CESGRANRIO — 2022) In the fragment of paragraph
demanded by global society. The critical importance of
2 “because demand for electricity is expected to rise,
the safety of seafarers and ships which they operate
especially if we power more cars with it”, is expected
were also part of the meeting’s agenda. As explained,
to rise is used to
there are increasing concerns that new regulations
governing ship designs aimed at further reducing CO2
a) give strong advice.
emissions could potentially have adverse effects on
b) express lack of necessity.
the safe operation of ships.
c) anticipate a probable event.
One example would be any legal requirements that led
d) warn about a clear obligation.
to a further reduction of engine power. The concern is
e) communicate absolute certainty.
that ships could get into problems during bad weather
if the engine is insufficiently powered, putting both the
crew and the environment at serious risk.
658
Moreover, recent cyber attacks have increased aware- If the ship is about to enter rough sea or in case of heavy
ness of potential threats facing the industry. When it weather, lashing should be frequently checked and addi-
comes to ship design and construction, it was gene- tional lashing must be provided wherever required.
rally agreed that the industry needs to adopt new Checking containers with dangerous goods
methods and standards to create more resilient digital Cargo containers carrying dangerous goods must be
systems on board. A more layered approach to a ship’s checked at regular intervals of time, especially in bad
digital system and greater segregation can increase weather. Dangerous goods containers must be frequently
safety, so that a single attack cannot readily spread to checked for leakages or damages while the ship is sailing.
IT (information technology) and other systems both on Checking reefer containers
board the ship and ashore. Reefer containers (refrigerated containers) must also be
The Tripartite forum agreed that in advance of its next checked and monitored at least twice daily for proper
meeting in Korea in 2018, the industry partners repre- functioning. Frequent monitoring is required in case of
sented at Tripartite will work together to develop new special reefer cargo containers or containers which are
design standards, which will help raise the resilience of suspected to malfunctioning.
ships’ digital systems and make them more resistant Avoid wet damage of cargo
to possible cyber-attacks. Adverse weather condition might result into damage of
cargo because of leakages from water and oil systems.
Available at: <http://worldmaritimenews.com/archives/236231/ Such kind of damage to container ships is known as wet
forum-industry-needs-to-design-ships-differently/>. Retrieved on: damage. Water from rains might also get accumulated
Dec. 2, 2017. Adapted.
inside the cargo hold and damage the cargo in lower tier
containers in the cargo hold.
9. (CESGRANRIO — 2018) One reason why the industry
Regular sounding of cargo hold bilges is of utmost impor-
needs to design ships differently is to
tance for early detection of problems related to water or
oil ingress in cargo holds. Bilges, the bottom inside part of
a) increase engine power.
a ship where dirty water collects, must be checked once a
b) reduce CO2 emissions.
day in normal weather condition and at regular intervals of
c) eliminate all security risks.
time in rough weather. When the ship is at port, cargo hold
d) substitute alternative fuels.
bilges must be drained into holding tanks.
e) oppose world climate goals.
Regular rounds of the cargo deck compartment must
be made to check the condition of lashing and cargo
10. (CESGRANRIO — 2018) Based on the text, “the conti-
containers.
nuous improvement of shipping’s environmental per-
Sometimes, it might so occur that in spite of taking all
formance” is a request from the
the necessary precautions, damage to cargo or the ship’s
hull would take place. In such cases, the master of the
a) seafarers ship must take the necessary precautions to minimize the
b) global society damage. He should also report the same to the company
c) industry stakeholders and make necessary entries in the ship’s log book.
d) Tripartite Forum participants A master’s report on the damages sustained must also be
e) inter-industry working groups made along with a sea protest which is to be produced at
the next port.
11. (CESGRANRIO — 2018)
Available at: <https://www.marineinsight.com/marine-safety/how-to-
How to Take Care of Cargo on Container Ships at Sea? take-care-of-cargo-on-container-ships-at-sea/>.Retrievedon:July21,
2016. Adapted.
On container ships, cargo is carried in standardized con-
tainers, which are placed one over the other and secured According to the text, “wet damage” is caused by
using lashing.
While at sea, the ship is subjected to heavy rolling and pit- a) leakages from water and oil systems
ching, which can not only disturb the cargo but also upset b) special reefer cargo containers
the stability of the ship. Parametric rolling – a unique phe- c) dangerous goods containers
nomenon on container ships, must be carefully dealt with d) damages to the ship’s hull
in order to ensure safety of cargo containers at sea. e) malfunctioning containers
Keeping a watch on the loaded cargo containers when the
container ship is sailing is as equally important as prepa- Leia o texto a seguir para responder às questões 12 e 13.
ring a container ship for loading cargo. Also, officers must
know all the important equipment tools which are used to The key energy questions for 2018
handle cargo on container ships.
The following important points must be considered for The renewables industry has had a great year.
taking care of cargo containers while at sea:
Check lashing How fast can it grow now?
Proper container lashing is one of the most important
INGLÊS

aspects of securing cargo safely on the ships. Every offi- What are the issues that will shape the global energy
cer in charge of cargo loading and unloading must know market in 2018? What will be the energy mix, trade pat-
and understand the important points for safe container terns and price trends? Every country is different and
lashing. local factors, including politics, are important. But at
Moreover, when the ship is sailing, lashing must be chec- the global level there are four key questions, and each
ked at least once a day and tightened whenever necessary. of which answers is highly uncertain. 659
The first question is whether Saudi Arabia is stable. The problem is that the industry remains fragmented.
The kingdom’s oil exports now mostly go to Asia but Most renewable companies are small and local, and in
the volumes involved mean that any volatility will des- many cases undercapitalised; some are built to collect
tabilise a market where speculation is rife. subsidies. A radical change will be necessary to make the
The risk is that an open conflict, which Iran and Sau- industry global and capable of competing on the scale
di have traditionally avoided despite all their differen- necessary to displace coal and natural gas. The coming
ces, would spread and hit oil production and trade. It year will show us whether it is ready for that challenge.
is worth remembering that the Gulf states account for In many ways, the energy business is at a moment of
a quarter of global production and over 40 per cent change and transition. Every reader will have their own
of all the oil traded globally. The threat to stability is view on each of the four questions. To me, the pros-
all the greater given that Iran is likely to win any such pect is of supply continuing to outpace demand. If that
clash and to treat the result as a licence to reassert its is right, the surge in oil prices over the past two mon-
influence in the region. ths is a temporary and unsustainable phenomenon.
The second question is how rapidly production of oil It would take another Middle East war to change the
from shale rock will grow in the US — 2017 has seen equation. Unfortunately, that is all too possible.
an increase of 600,000 barrels a day to over 6m. The
Available at: <https://www.ft.com/content/c9bdc750- ec85-11e7-
increase in global prices over the past six months has
8713-513b1d7ca85a>. Retrieved on: Feb 18, 2018. Adapted
made output from almost all America’s producing
areas commercially viable and drilling activity is rising. 12. (CESGRANRIO — 2018) The main purpose of the text
A comparable increase in 2018 would offset most of is to
the current OPEC production cuts and either force ano-
ther quota reduction or push prices down. a) explain the reasons for the sudden increase in the pri-
The third question concerns China. For the last three ce of oil in 2018.
years the country has managed to deliver economic b) speculate on matters that may affect the global energy
growth with only minimal ncreases in energy con- market in 2018.
sumption. Growth was probably lower than the clai- c) provide precise answers to the most relevant ques-
med numbers — the Chinese do not like to admit that tions on global energy.
they, too, are subject to economic cycles and reces- d) forecast changes in trade and energy production in
sions — but even so the achievement is considerable. Asia and the Middle East.
The question is whether the trend can be continued. If e) measure the devastating impact of renewable industry
it can, the result will limit global demand growth for oil, on coal and natural gas.
gas and coal.
China, which accounts for a quarter of the world’s daily 13. (CESGRANRIO — 2018) According to the last paragra-
energy use, is the swing consumer. If energy efficiency ph, the author believes that the
gains continue, CO2 emissions will remain flat or even
fall. The country’s economy is changing and moving a) future of the energy business is uncertain and difficult
away from heavy industry fuelled largely by coal to a to anticipate.
more service-based one, with a more varied fuel mix. b) recent increase in oil prices is definitely a long-lasting
phenomenon.
But the pace of that shift is uncertain and some recent
c) four questions presented in the article will be answe-
data suggests that as economic growth has picked up,
red sooner than we imagine.
so has consumption of oil and coal. Beijing has high d) energy business is definitely facing a moment of stabi-
ambitions for a much cleaner energy economy, driven lity, growth and prosperity.
not least by the levels of air pollution in many of the e) inevitable conflict in the Middle East will solve the
major cities; 2018 will show how much progress they imbalance between energy supply and demand.
are making.
The fourth question is, if anything, the most important. 14. (CESGRANRIO — 2017)
How fast can renewables grow? The last few years
have seen dramatic reductions in costs and strong Text
increase in supply. The industry has had a great year,
with bids from offshore wind for capacity auctions Oil
in the UK and elsewhere at record low levels. Wind is
approaching grid parity Overview
— the moment when it can compete without subsidies.
Solar is also thriving: according to the International The oil industry has a less-than-stellar environmental
Energy Agency, costs have fallen by 70 per cent since record in general, but it becomes even worse in tropical
2010 not least because of advances in China, which rainforest regions, which often contain rich deposits of
now accounts for 60 per cent of total solar cell manu- petroleum. The most notorious examples of rainforest
facturing capacity. The question is how rapidly all tho- havoc caused by oil firms are Shell Oil in Nigeria and
se gains can be translated into electric supply. Texaco in Ecuador. The operations run by both com-
Renewables, including hydro, accounted for just 5 per panies degraded the environment and affected local
cent of global daily energy supply according to the and indigenous people by their activities. The Texaco
IEA’s latest data. That is increasing — solar photo- operation in Ecuador was responsible for spilling some
voltaic capacity grew by 50 per cent in 2016 — but to 17 million gallons of oil into the biologically rich tribu-
make a real difference the industry needs a period of taries of the upper Amazon, while in the 1980s and
expansion comparable in scale to the growth of per- 1990s Shell Oil cooperated with the oppressive military
sonal computing and mobile phones in the 1990s and dictatorship in Nigeria in the suppression and harass-
660 2000s. ment of local people.
Action As experiences with biofuels have shown, there are
often downsides to alternative energy sources. For
The simplest and most reliable way to mitigate dama- example, hydroelectric projects have destroyed river
ge from oil operations would be to prohibit oil extrac- systems and flooded vast areas of forests. Thus when
tion in the tropical rainforest. But that is unlikely given undertaking any large-scale energy project — whether
the number of tropical countries that produce oil and it’s wind, solar, tidal, geothermal, or something else —
the wealth of oil deposits located in forest areas. Thus it is important to conduct a proper assessment of its
the focus is on reducing pollution and avoiding spills impact.
through better pipeline management, reinjection tech-
niques, and halting methane flaring. Limiting road
Conclusion
development and restricting access can help avoid
deforestation associated with settlement.
Admittedly, there are many challenges facing sustaina-
ble use of tropical rainforests. In arriving at a solution
Biofuels
many issues must be addressed, including the resolu-
The energy and technology sectors are investing hea- tion of conflicting claims to land considered to be in
vily in alternatives to conventional fossil fuels, but early the public domain; barriers to markets; the assurance
efforts to use crop-based biofuels have had serious of sustainable development without overexploitation
environmental consequences. in the face of growing demand for forest products;
While some believed biofuels—fuels that are derived from determination of the best way to use forests; and the
biomass, including recently living organisms like plants or consideration of many other factors.
their metabolic byproducts like cow manure— would offer Almost none of these economic possibilities can become
environmental benefits over conventional fossils fuels, realities if the rainforests are completely stripped. Useful
the production and use of biofuels derived from palm oil, products cannot be harvested from species that no longer
soy, corn, rapeseed, and sugar cane have in recent years exist, just as eco-tourists will not visit the vast stretches
driven up food prices, promoted large-scale deforestation, of wasteland that were once lush forest. Thus some of
depleted water supplies, worsened soil erosion, and lead the primary rainforests must be salvaged for sustainable
to increased air and water pollution. Still, there is hope that development to be at all successful.
the next generation of biofuels, derived from farm was-
te, algae, and native grasses and weeds, could eliminate Available at: <http://rainforests.mongabay.com/1013.htm>. Retrieved
many of the worse effects seen during the current rush on: Aug, 10th, 2017. Adapted
into biofuels.
The fragment of Text “Despite the 51 percent growth in
Efficiency the American economy between 1990 and 2004, carbon
emissions only increased 19% suggesting that those who
Good old-fashioned oil conservation is effective in insist that economic growth and carbon dioxide emis-
reducing demand for oil products. After the first OPEC sions move in tandem are wrong” implies that
embargo in 1973, the United States realized the impor-
tance of oil efficiency and initiated policies to do away
a) both percent rates are incorrect.
with wasteful practices. By 1985, the U.S. was 25 per-
b) those increase rates are independent.
cent more energy efficient and 32 percent more oil effi-
c) the relationship between those rates must be
cient than in 1973. Of course the U.S. was upstaged by
the Japanese who in the same period improved their established.
energy efficiency by 31 percent and their oil efficien- d) the American economy grew 51% from 1990 to 2004,
cy by 51 percent. Today the importance of oil to the and as a consequence, carbon emissions decreased.
economy is still diminishing. Despite the 51 percent e) the American economy grew 51% from 1990 to 2004
growth in the American economy between 1990 and because carbon emission only increased 19%.
2004, carbon emissions only increased 19% sugges-
ting that those who insist that economic growth and 15. (CESGRANRIO — 2017)
carbon dioxide emissions move in tandem are wrong.
Text
Develop new technology
Aggressive oil extraction spells disaster for Amazon
The developed world can seek alternative methods to rainforests
oil exploration, by developing new technologies that
rely less on processes that are ecologically damaging. The refineries in the US processed 230,293 barrels of
For example, compressed natural gas is a cleaner-bur- Amazon crude oil a day in 2015, according to the stu-
ning fuel than gasoline, is already used in some cars, dy conducted by the Amazon Watch, an environmental
and is available in vast quantities. Electric cars are
group. The demand for crude oil in the US is forcing
potentially even more environmentally sound.
countries such as Peru, Colombia and Ecuador to
To encourage investment in research and develop-
expand their oil drilling operations and hence, driving
ment of “greener” technologies, governments can help
by eliminating subsidies for the oil and gas industry the destruction of the rainforest ecosystem.
INGLÊS

and imposing higher taxes on heavy polluters. While The Amazon rainforest has already become highly vul-
governments will play a role in cleaner-energy deve- nerable to forest fires due to selective logging, hunting,
lopment, it is likely that the private sector will provide altering or fragmenting the landscape and other forms
most of the funding and innovation for new energy of habitat degradation. As oil interests lead to aggres-
projects. Venture capital firms and corporations have sive extraction of oil, there are fears that indigenous
put billions into new technologies since the mid-2000s, communities will suffer displacement and acquire
while corporations are getting on board as well. deadly illnesses due to lack of acquired immunity. 661
Layered impact on Amazon ecosystem According to Adam Zuckerman, Amazon Watch’s End
Amazon Crude campaign manager, “All commercial
Mining and construction of hydroelectric dams, in and public fleets in California—and many across the
what is considered the lungs of the world, have already US—that buy bulk diesel are using fuel that is at least
triggered deforestation. The problem is getting even partially derived from Amazon crude.”
more confounded when ambitions of large oil firms, The report also revealed that California refines an ave-
including some from China, have come to play its part. rage of 170,978 barrels of Amazon crude a day with
According to the study, the proposed oil and gas fields the Chevron facility in El Segundo refining 24 per cent
now cover 283,172 sq. miles of the Amazon. of the US alone. After crude is refined, it is distributed
Explaining the “triple carbon impact” of Amazonian as diesel to vehicle fleets across the US.
oil extraction, the report says that copious amount of Interestingly, California Environment Protection Agen-
carbon is emitted when the rainforest is cut down to cy, in 2015, made an unequivocal climate commitment,
establish drill sites. Further destruction of the world’s “In order to meet federal health-based air quality stan-
largest carbon sink takes place when necessary roads dards and our climate change goals, we must cut in
and other infrastructure are constructed. More carbon half the amount of petroleum we use in our cars and
emissions are experienced when the oil is ultimately trucks over the next 15 years.”
burned for energy.
Available at: <http://www.downtoearth.org.in/news/us-led-demand-
driving-aggressive-extraction-of-oil-in-amazon-rainforest-56149>.
Ecuador
Retrieved on: Aug, 12th, 2017. Adapted

Ecuador’s state-run oil firm PetroAmazonas has star-


From the fragment of Text “Explaining the ‘triple car-
ted drilling close to the Yasuni National Park— one
bon impact’ of Amazonian oil extraction, the report
of the most biologically rich places in the world. It is
says that copious amount of carbon is emitted when
home to 655 endemic tree species—more than the US
the rainforest is cut down to establish drill sites”, the
and Canada combined—and two of the last tribes in
word report refers to
the world. While extraction of 23,000 barrels of oil a
day began in
a) this article.
September, critics raise concern over a possibility of
b) the person who wrote the article.
oil destroying Yasuní the way it caused widespread
c) Chinese oil firms’ business plan.
deforestation and pollution in rest of Ecuador and the
d) study produced by an environmental group.
western Amazon. Apart from the risk of water and soil
e) written piece issued by hydroelectric power plants.
contamination, the construction of roads deep into
the forest would lead to hunting and deforestation.
16. (CESGRANRIO — 2016)
The environmentalists also fear an inevitable conflict
for land between oil workers and the semi-nomadic
tribes of Waorani Indians living within the park for Low Oil Prices Could Be Good
generations.
for Electricity and Renewables
Peru
By Robert Fares

The viability of oil production in Peruvian Amazon has


Since I first wrote about the price of oil last December,
been questioned time and again. In the past two mon-
the global oil price has fallen to levels not seen in over
ths, the protest by Peruvian Amazonian indigenous
five years. For many, the recent price decline brings
communities against oil pollution on their lands has
back memories of the 1980s oil price collapse, whi-
grown stronger. Till October, nine cases of pipeline spill
ch followed the 70s oil price spike and drew attention
have been reported.
away from renewable energy and other alternatives —
The indigenous communities, who witnessed the
famously prompting U.S. President Ronald Reagan to
latest pipeline spill on October 23, are now demanding
remove the White House solar panels that had been
a national debate on whether oil drilling should conti-
installed by the previous administration.
nue in the Peruvian Amazon that plays a crucial role in
Thankfully, this time around, the outlook for renewable
regulating global climate and hydrological patterns.
energy isn’t so bleak. In fact, it is possible low oil prices
The protesters want a state of emergency to be decla-
could actually improve the economics of renewable
red in two districts of the lower Marañón Valley where
energy. It all comes down to the relationship between
five indigenous communities have been affected by a
oil and gas production and the price of electricity, whi-
series of oil spills.
ch directly affects the bottom line of technologies like
wind and solar.
US increases crude oil imports from Amazon
In 1973, the year the Arab Oil Embargo caused a steep
rise in oil prices, the United States produced 17 per-
While there has been an overall decline in US cru- cent of its electricity using petroleum. When the oil pri-
de imports, the imports from the Amazon are on the ce increased, the price of electricity increased too. This
rise. The US is now importing more crude oil from the increase in price prompted greater interest in domestic
Amazon than from any single foreign country. “Our sources of electricity, like coal, nuclear, and renewable
demand for Amazon crude is driving the expansion of energy.
the Amazon oil frontier and is putting millions of acres Due in part to the turn away from oil in the 70s, today
of indigenous territory and pristine rainforest on the the United States produces just 0.7 percent of its
chopping block,” said Leila Salazar-López, executive electricity using petroleum. Therefore, the price of oil
director of Amazon Watch. has no direct impact on the price of electricity. Most
662
electricity comes from coal (39 percent) and natural physical attributes, but once constructed the same
gas (27 percent), with the remainder coming from road will shape future regional developments.
nuclear, hydroelectric, wind, and other renewables. The Transportation is of relevance to geography for two
fuel with the most direct impact on the price of elec- main reasons. First, transport infrastructures, termi-
tricity is natural gas, because natural gas generation nals, modes and networks occupy an important place
often sets the price of electricity in the market. To gau- in space and constitute the basis of a complex spa-
ge how low oil prices might affect the price of electri- tial system. Second, since geography seeks to explain
city, it’s really important to think about how they might spatial relationships, transport networks are of speci-
affect the price of natural gas. fic interest because they are the main physical support
Although oil and natural gas prices have decoupled of these interactions.
in recent years, there is still an indirect link between Transport geography, as a discipline, emerged as a
the price of oil and the price of natural gas, because branch of economic geography in the second half of
both oil and natural gas are often produced from the the twentieth century. In earlier considerations, parti-
same well. While most U.S. natural gas is produced cularly in commercial geography (late 19th and early
from wells drilled for the express purpose of extrac- 20th century), transportation was an important factor
ting gas, a portion comes from wells that are drilled behind the economic representations of the geogra-
to extract oil, but produce natural gas as a byproduct. phic space, namely in terms of the location of eco-
This “associated gas” or “casinghead gas” is often fla- nomic activities and the monetary costs of distance.
red in regions like the Bakken in North Dakota, which These cost considerations became the foundation of
has limited pipeline infrastructure. However, in regions several geographical theories such as central places
like Texas’s Eagle Ford and Permian Basin, this gas and location analysis. The growing mobility of passen-
is often injected into the existing pipeline network. gers and freight justified the emergence of transport
Because drillers are really after the more-valuable oil, geography as a specialized field of investigation.
associated natural gas is often simply dumped into In the 1960s, transport had to be formalized as key
the pipelines at little or no cost — depressing the ove- factors in location theories and transport geography
rall price of natural gas. The Railroad Commission of began to rely increasingly on quantitative methods, par-
Texas, which regulates the oil and gas industry, col- ticularly over network and spatial interactions analysis.
lects separate data on natural gas produced from gas However, from the 1970s, technical, political and eco-
wells and natural gas produced as a byproduct from oil nomic changes challenged the centrality of transpor-
wells. tation in many geographical and regional development
These data show that, while overall Texas natural gas investigations. The strong spatial anchoring effect
production has increased since 2008, the amount of high transportation costs receded and decentrali-
of gas produced from purpose-drilled gas wells has zation was a dominant paradigm that was observed
actually declined. On the other hand, natural gas asso- within cities (suburbanization), but also within regions.
ciated with oil production has increased markedly sin- The spatial theory foundations of transport geogra-
ce 2008. phy, particularly the friction of distance, became less
relevant, or less evident, in explaining socioeconomic
Available at: <http://blogs.scientifi camerican.com/plugged-in/low- processes. As a result, transportation became under-
oil-prices-could-be-good-for-electricity-and-renewables/>.Retrieved represented in economic geography in the 1970s and
on: Nov. 10th, 2015. Adapted.
1980s, even if the mobility of people and freight and
low transport costswere considered as important fac-
The main objective of the text is to tors behind the globalization of trade and production.
Since the 1990s, transport geography has received
a) argue that the prices of oil are currently excessively renewed attention with new realms of investigation.
low. The issues of mobility, production and distribution
b) introduce the idea that the low prices of oil can be posi- became interrelated in a complex geographical set-
tive for electricity and renewables. ting where the local, regional and global became
c) defend the position of those who see no connection increasingly blurred through the development of new
between the prices of oil and the electric market. passengers and freight transport systems (Hoyle and
d) discuss the position of the Reagan government in rela- Knowles, 1998). For instance, suburbanization resul-
tion to oil prices in the 80s. ted in an array of challenges related to congestion
e) attack those who believe that the prices of oil should and automobile dependency. Rapid urbanization in
increase. developing economies underlined the challenges of
transport infrastructure investment for private as well
Leia o texto a seguir para responder às questões 17 e 18. as collective uses. Globalization supported the deve-
lopment of complex air and maritime transportation
Transportation in Geography networks, many of which supporting global supply
chains and trade relations across long distances. The
The world is obviously not a place where features role of information and communication technologies
such as resources, people and economic activities are was also being felt, often as a support or as an alterna-
randomly distributed; there is a logic, or an order, to tive to mobility. All of the above were linked with new
spatial distribution. Geography seeks to understand and expanded mobilities of passengers, freight and
INGLÊS

the spatial order of things as well as their interactions, information.


particularly when the spatial order is less evident.
Transportation is one element of this spatial order as it Adapted from: <https://people.hofstra.edu/geotrans/eng/ch1en/
is at the same time influenced by geography as well as conc1en/ch1c1en.html>. Retrieved on: Jan. 9th, 2015
having an influence on it. For instance, the path follo-
wed by a road is influenced by regional economic and
663
17. (CESGRANRIO — 2016)The main purpose of the text is RockFLEET is an advanced new tracking unit for the
to professional maritime environment. During its design
phase, the team decided that in order for the position
a) show how transportation is economically relevant. data it provides to be of the most use, as well as being
b) deny the impact of transportation on the geographical available via Rock Seven’s own fleet viewer ‘The Core,’
space. it must also be available in any software system the
c) support the idea that economic features are randomly user chooses. Using a standards-based API (Applica-
distributed. tion Programming Interface.), the customer can inte-
d) establish a view of the presence of transportation in grate tracking data from RockFLEET into their own
geographical studies. applications. Typically this means that RockFLEET
e) defend the idea that transportation has not changed tracked assets can be added to existing fleet manage-
much in the last century. ment software, which invariably is designed around an
owner or operators own logistics.
18. (CESGRANRIO — 2016)From the fragment of the text With precise vessel location data available, the oppor-
“However, from the 1970s, technical, political and eco- tunities are unlimited and only down to the creativity
nomic changes challenged the centrality of transpor- of the user. For instance, a current Rock Seven custo-
tation in many geographical and regional development mer uses location data to manage payroll of person-
investigations. The strong spatial anchoring effect of nel. Essentially, personnel get paid different amounts
high transportation costs receded and decentralization depending on whether the ship is at sea, in internatio-
was a dominant paradigm that was observed within nal waters, in port or transiting regions with high piracy
cities (suburbanization), but also within regions.”, it incidents.
can be inferred that
RockFLEET, a unique device
a) suburbanization emerged because the spatial ancho-
ring effect of transportation costs increased. The above user is a private security company involved in
b) transportation maintained its centrality because of anti-piracy operations. It actually gets location data using
technical, political and economic changes in the RockSTAR, the handheld version of RockFLEET, which
1970s. is a new fixed unit that can be fitted anywhere on board.
c) decentralization became the prevailing model in the Completely waterproof and with no moving parts, it is a
urban and regional development in the 1970s. robust, ultra-compact (13cm diameter/4cm high) device
d) the technical, political and economic changes in the with multiple mounting options. The physical design of
1970s resulted in a transportation crisis. RockFLEET was in part driven by the security challenges
e) transportation costs had a negative effect in the urban faced by vessels facing the issues of modern piracy.
and regional development in the 1970s. The unit itself is designed to look anonymous; as stan-
dard there’s no name on the outside. It works from
Leia o texto a seguir para responder às questões 19 e 20. ship’s power, but it uniquely has a backup battery insi-
de. Which is important should a vessel be hijacked and
From Security to Efficiency: Modern Vessel Tracking the main power cut.
Knowing the location of all friendly vessels in a region
More so than many other fields of business, the mariti- is vital to organisations with a stake in ensuring safe
me industry is focused on cost, which in turn gives the passage through known piracy hotspots. With an ope-
appearance of being conservative towards technology. rational vessel/fleet tracking system, ship owners and
Certainly, we have technical ships magnificently ope- fleet managers will know where their ships are at all
rating with equipment that wouldn’t look out of place times. This information can be fed to authorities, priva-
in a NASA lab, but generally, it can take decades for a te anti-piracy companies and the naval forces patrolling
technology to become mainstream. Unless it becomes piracy hotspots to build a clear, near real-time picture
mandated by the IMO (International Maritime Organi- for domain awareness. The value of this information
zation). Vessel tracking is a partial exception to the should a vessel be hijacked is obvious: knowing the
rule though, with many fleet owners realizing its poten- last whereabouts of a vessel provides responders with
tial for more cost-effective operation and personnel a starting point should a hijacked vessel’s tracking sys-
security. tem be disabled by pirates.
Knowing the exact position of all vessels in a fleet, in a Today’s pirates know that many commercial vessels
software solution designed to fit with your own logisti- are tracked, especially those would be targets sailing in
cal processes, can significantly improve efficiency. If a what are known to be hostile waters. So disabling ves-
ship arrives early or late, more often than not there will sel tracking equipment on board is a sensible action
be an associated cost. If this can be identified during for said pirates after a hijacked ship’s crew have been
transit then the early or late arrival can be negated or subdued and because most tracking units are powered
at least planned for. Likewise, if by knowing the posi- by the vessel, finding and cutting the power supply isn’t
tions of your fleet of workboats means that you can hard. RockFLEET, however, is the only device of its kind
route the closest vessel to the next job, then significant with an internal battery backup, so it can continue to
fuel cost savings can be made. With modern tracking transmit position for up to two weeks if external power
systems, the way data is used is just as important as is cut.
knowing where a vessel is at all times. But there are With facility to mount covertly, this makes it especially
countless ways to apply the data to the benefit of effi- suitable for vessels traversing piracy hotspots.
ciency for a single ship or fleet. So providing easy and
reliable access to position reports is essential. Available at: <http://maritime-connector.com/from security-toeffi
ciency-modern-vessel-tracking/>. Retrieved on: Jan, 7th, 2015.
Adapted
664 A new tracking unit
19. (CESGRANRIO — 2016)The main purpose of the text is
to
ANOTAÇÕES
a) blame anti-piracy companies for their inefficient patrol-
ling of conflict zones.
b) introduce an aeronautical equipment that will soon be
used in the maritime industry.
c) alert ship crews about the weak security provided by
modern ship tracking systems.
d) explain how vessel tracking equipment can prevent
ship hijacking in hostile waters.
e) advocate the importance of technological devices to
inform the exact location of vessels.

20. (CESGRANRIO — 2016)According to the text,


RockFLEET

a) runs the risk of interfering in the existing fleet manage-


ment software.
b) allows ship crews to use their creativity when facing
piracy incidents.
c) can be easily disabled by pirates lurking in troubled
regions across the globe.
d) may be used to avoid anti-piracy operations conducted
by international naval forces.
e) is smartly designed in order to continue transmitting
data in case of a power cut.

9 GABARITO

1 B

2 E

3 B

4 B

5 D

6 C

7 C

8 A

9 B

10 B

11 A

12 B

13 A

14 B

15 D

16 B

17 D

18 C

19 E
INGLÊS

20 E

665
ANOTAÇÕES

666

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