Você está na página 1de 4

REVISTA DO SERVIÇO PU B LIC O 91

M A Q U I N A S D E E SC R E V E R

L u c il io B r ig g s B r it o

Da D ivisão d o M aterial d o D Ã S P

A máquina de escrever é, hoje em dia, um são construídas no estrangeiro. A s únicas for­


instrumento de trabalho indispensável, principal­ ças com que se pode contar para exigências desta
mente na administração pública. Quasi todo o natureza são : o volume das compras feitas pelo
expediente é datilografado e o uso intensivo obri­ Govêrno e a boa vontade dos representantes das
ga o Governo a comprar anualmente grande fáb ricas.
quantidade de máquinas. Desta forma, ha todo A padronização das dimensões dos papéis
o interesse em que seja máximo o rendimento de usados nos serviços públicos fez com que se tor­
trabalho do datilografo e econômicas as condições nasse possivel diminuir a variedade de tamanhos
de compra. de carros de máquinas de escrever, para escolher
Tendo em vista essas considerações, a D i­ aqueles que melhor se adaptassem às dimensões-
visão do M aterial iniciou seus estudos sôbre o padrão de papéis.
assunto. Feitas estas considerações, foi o estudo divi­
Com relação à eficiência do trabalho do da­ dido em duas partes :
tilografo, foi observado que a distribuição das
letras no teclado das máquinas de escrever ven­ a) especificação ;
didas no Brasil é a mesma das existentes nos E . b) estudo do teclado.
U . da América do N orte. Como, no idioma Na parte da especificação, elaborámos um
português, a frequência de emprêgo das letras projeto de instrução regulando a forma de requi­
e a combinação entre vogais e consoantes diferem sição e recebimento de máquinas de escrever para
muito do que ocorre na língua inglesa, foi levan­ uso nos serviços públicos e tendo em anexo as es­
tada a questão de verificar si, de fato, apresen­ pecificações e métodos de ensaios.
tava inconvenientes o teclado inglês e, caso afir­ Realizada uma reunião para a qual foram
mativo, qual o teclado mais favoravel para a convidados os representantes, no Rio de Janeiro,
nossa língua. das fábricas de máquinas, e revelada a orientação
Outros fatores, intervindo no trabalho dati- da Divisão do M aterial — de ouvir as pondera­
lográfico,- são os diversos esforços a .despender ções dos interessados antes de dar forma defini­
no acionamento das alavancas e teclas operatri­ tiva a uma especificação — foi-lhes distribuído o
zes. Sôbre êste ponto já existiam estudos do projeto de instrução que se segue :
Instituto Nacional de Tecnologia em colabora­ 0

ção com a Comissão Central de Compras.


IN S T R U Ç Ã O N." . . .
Para ^permitir que os datilógrafos escrevam em
máquinas de várias marcas, sem sentirem dife­ A presente instrução, aprovada pelo Presidente do
rença sensivel ao mudarem de uma à outra, seria Departamento Administrativo do Serviço Público com a
de toda a conveniência que fôsse fixada a locali­ Portaria n . . . . d e . . . do corrente mês, regula a forma da
requisição e recebimento de máquinas de escrever para uso
zação de todas as alavancas e teclas de comando,
nos serviços públicos civis da U nião.
forçando uma padronização. Esta exigência seria
relativamente facil si existisse no Brasil alguma 2. Somente poderão ser requisitadas máquinas dos se­
fábrica de máquinas ; é dificultada porque todas guintes tipos :
92 REVISTA DO SERVIÇO PÚ B LIC O

M E-1 Máquinas com carro comportando papéis até cessários em virtude de mau funcionamento ou deterioração,
22 cms. e permitindo a escrita em toda a exten­ proveniente de defeitos de fabricação.
são, sem tabulador decimal. 9 . A presente instrução entrará em vigor 60 dias
após a data da sua publicação.
M E -2 Máquinas com carro comportando papéis até
3 3 .cms. permitindo a escrita em toda a exten­
são e com tabulador decim al; com as seguin­ A N E X O
tes variedades : M E -2-A , M E -2-B , M E-2-C ,
M E -2-D , de acôrdo com o tabulador. E specificações e métodos c/e ensaio de máquinas dc escrerer

M E -3 Máquina com carro comportando papéis até A) D IS P O S IÇ Õ E S G E R A IS


44 cms. permitindo a escrita em toda a exten­
são e com tabulador decim al; com as seguin­ O material empregado deve ser da melhor qualidade
tes variedades : M E-3-A , M E -3-B , M E -3-C , sem falhas e defeitos, resistente ao desgaste e apresentan­
M E -3-D , de acôrdo com o tabulador. do um conjunto sólido. ■
2 . As máquinas serão esmaltadas a fogo na côr preta,
M E -4 Máquinas de escrever elétricas.
3 . Todas as peças metálicas devem ser protegidas e
M E -5 Máquinas de escrever silenciosas. garantidas contra a oxidação.
4 . O s aneis das teclas, marginadores, alavancas de
M E -6 Máquinas de escrever portáteis. manobra, libertador do cilindro, solta-margens, indicadores,
barra das guias do papel, graduador de espaçamento do
3 . Para evitar que entrem em concorrência máquinas rojo, guia dos tipos, barra e guias verticais para o papel,
de escrever que não preencham as condições exigidas nas devem ser cromados.
especificações em anexo, deverão os fornecedores interes­ 5 . O teclado deve ter 46 teclas contendo 92 caracteres.
sados enviar ao I . N . T . máquinas dos tipos M E -1, M E-2 6 . Os sinais de acentuação devem ser batidos anteri­
e M E-3 para que seja feito o necessário exame, de acôrdo ormente às letras.
com as “E specificações e Métodos de Ensaio" publicados 7 . As letras serão do tipo "P aica" 120 com espa­
em anexo. Preenchendo as condições, o I . N . T . fará çamento de 2,55 a 2,6 mm. de centro a centro de letra.
a aprovação das marcas e somente as aprovadas poderão
entrar em concorrência. 8 . A tabulação deverá ser automática, compreenden­
4 . As repartições, para manter uniformidade de marca do as seguintes operações :
no seu serviço, poderão declarar a marca da máquina, desde
que esteja incluida nas aprovadas pelo I . N . T . e de preço I) — M arcar por simples pressão as posições de pa­
não superior de 20% da menos custosa das aprovadas, rada do carro.
do mesmo tipo, verificados os preços correntes da praça. II) — Desmarcar qualquer posição de parada do car­
5 . As máquinas dos tipos M E-4, M E -5 e M E -6 só ro sem desfazer as demais marcações.
podem entrar nos editais de concorrência e coletas de pre­ III) —■ Desmarcar todas as paradas já preparadas.
ços, mediante parecer favoravel da D . M . do D . A . S . P . IV ) — Movimentar o carro até as posições marcadas,
6 . As repartições só poderão receber máquinas, apro­ por meio de uma tecla.
vadas pelo I . N . T . ou autorizadas pela D . M . do
D . A . S . P . . Deverão, entretanto, verificar sempre a 9 . A fita deve ter de 12,5 a 13 mm. de largura.
perfeita observância das "Especificações e Métodos de E n ­ 10. O retrocesso da fita deve ser automático.
saio" publicados em anexo. Em caso de dúvida poderão 11. Deve haver um controle da fita permitindo gra­
as repartições pedir ao I . N . T . exame técnico. var matrizes de cera. (S te n c il).
7 . Para efeito de fiscalização e conhecimento dos for­ 12. A fita só deve avançar quando forem acionadas as
necedores, as repartições aquisidoras farão obrigatoriamente te cla s ; não deve mover quando for abaixada a barra de
em todas as vias do empenho, em se tratando de despesa espaços ou movimentado o carro pela alavanca que o torna
com fornecimento de máquinas de escrever dos tipos M E-1, liv re.
M E -2 e M E -3 destinadas às repartições públicas, a se­ 13. A alavanca dp espaçamento entre linhas deve ser
guinte declaração : Êste empenho destina-se à aquisição colocada à esquerda e manejavel de forma a fazer girar o
de artigos sujeitos à aprovação do I. N . T . , de acôrdo com rôlo antes de iniciar o movimento de translação do carro.
o disposto no Decreto-lei n. 1.184, de 1.° de abril de 14. O graduador de espaçamento entre linhas, deve
1939. Em se tratando de máquinas dos tipos M E-4, ter no mínimo 3 posições e marcar espaçamentos de : 4,2mm.
M E -5 e M E -6 : Êste empenho destina-se à aquisição 6,3mm., 8,4mm.
de artigos cuja aceitação depende de autorização da D . M- 15. A alavanca libertadora da engrenagem do cilindro
do D . A . S . P . deve ser colocada do lado esquerdo e permitir o ajusta­
8 . O fornecedor deve dar para cada máquina um mento da linha em qualquer posição.
termo de garantia pelo prazo de dois anos a contar da 16. A alavanca que comanda os rolos compressores
data da aceitação do artigo pela repartição. Em qualquer e solta o papel, deve ficar colocada do lado direito, ou dos
caso o fornecedor é o responsável pelo cumprimento das dois lados.
obrigações assumidas. Essa garantia obriga o representante 17. A máquina deverá ter dispositivo para tornar li­
a proceder gratuitamente aos reparos que se tornarem ne­ vre o movimento do carro de forma a ajustá-lo em qual­
REVISTA DO SERVIÇO P U B L IC O 93

quer posição do seu curso. Êste dispositivo terá comando De acôrdo com os tabuladores decimais serão permi­
duplo, isto é, uma alavanca em cada extremidade do carro. tidas as seguintes variedades, que seguem -espectivamente
18. Os marginadores devem ter um ajuste positivo e as mesmas indicações das de tipo M E-2A , M E -2B , M E -2C ,
deter o carro nas posições que forem marcadas. O mar- e M E -2D :
ginador direito deve ter um dispositivo que produza a ba­
tida de um tímpano, no máximo 10 espaços antes do carro M E -3A
parar no ajuste da margem. Nêste ponto, batida uma M E -3B
tecla, uma trava deve impedir que os tipos cheguem a ba­ M E -3C •
ter no papel. M E -3D
19. O s tipos devem ser protegidos contra as batidas
M E -4 Máquinas de escrever elétricas
eventuais de um sôbre outro.
20. A escrita deve ser perfeitamente alinhada mesmo M E -5 Máquinas de escrever silenciosas
quando feita em cartões ou fichas e a 3 milímetros da
extremidade inferior. M E -6 Máquinas de escrever portáteis.
21. A linha de escrita deve ser inteiramente visivel
pelo datilografo, quando em sua posição normal de tra­ 3. As máquinas M E-1 e M E -2 deverão satisfazer aos
balho. seguintes valores máximos :
22. Os seguintes acessórios deverão acompanhar cada
máquina : almotolia, chave de fenda, vidro de óleo para T ecla simples de m aiú sc u la s.......................... 500 gr.
máquina com, no mínimo, 25 cm3, pincel para limpeza ge­ v T ecla de fixação de maiúsculas . . . . 600 gr:
ral, escova para tipos, flanela, capa de oleado. T ecla de r e tr o c e s s o ............................................. 850 gr.
Barra de espaços .- .............................................. 225 gr.
B) E S P E C IF IC A Ç Õ E S
Transporte do carro :
Todos os tipos de máquinas de escrever devem preen­
cher as exigências da presente especificação. 1) ■— No início (somente gira o rôlo) . . 1 .0 0 0 gr.
2) -— No final (transporte do carro) . . 1 .3 0 0 gr.
2. As máquinas de escrever serão designadas por :
T eclas dos c a r a c te r e s ........................................ 15 cm.
M E-1 Máquina com carro comportando papéis até
22 cm. e permitindo a escrita em toda a ex­ 4. A máquina M E -3 deverá satisfazer aos seguintes
tensão; sem tabulador decimal. valores máximos :

M E -2 Máquinas com carro comportando papéis até T ecla simples de m a iú sc u la s ....................... 650 gr.
33 cm. e permitindo a escrita em toda a ex­ T ecla de fixação de maiúsculas . . . . 1 .3 0 0 gr.
tensão e com tabulador decimal. T ecla de r e tro c e s s o .............................................. 1 .1 0 0 gr.
Barra de e s p a ç o s ................................................. 225 gr.
De acôrdo com os tabuladores decimais serão permi­
tidas as seguintes variedades : Tránsporte do carro :

M E -2A Com tabulador permitindo gravar até 5 espa­


1) — N o início (somente gira o rôlo) . . 1 .3 0 0 gr.
ços antes da parada marcada, isto é, 1:000$0
2) <— N o final (transporte do carro) . . 1 .7 5 0 gr.
sendo permitido não haver parada para 4 es­
T eclas dos c a r a c t e r e s ........................................ 15 cm.
paços antes (nos dois p o n to s).

M E -2B Com tabulador permitindo gravar até 6 espa­ C) M É T O D O S D E E N S A IO


ços antes da parada marcada, isto é, 10:000$0
V erificar o funcionamento de todas as alavancas e
sendo permitido não haver parada para 4 es­
comandos.
paços antes (nos dois pontos) .
2 . V erificar o esfôrço necessário ao transporte do
carro. Deve ser determinado pela aplicação suave de um
M E -2C Com tabulador permitindo gravar até 7 espa­
dinamõmetro, preso ao ponto de acionamento da barra de
ços antes da parada marcada, isto é, 100:000$0
sendo permitido não haver parada para 4 es­ transporte do carro nas posições extremas, recuando-se 10
paços antes (nos dois p o n to s). espaços para a posição final.
3 . V erificar o esfôrço mínimo de impressão. Deve
M E -2D Com tabulador permitindo gravar até 9 espa­ ser determinado pela altura mínima da qual deverá cair li­
ços antes da parada marcada, isto é, 1.000:000$0 vremente um pêso cilíndrico indeformavel, de 50 gr. , do
sendo permitido não haver parada para 4 es­ diâmetro aproximado da tecla, usando-se uma fita nova e
paços antes e 8 espaços (no ponto e nos dois papel apergaminhado para que imprima sistematicamente,
pontos) . sem falha, qualquer dos caracteres.
4. V erificar o esfôrço nas teclas simples de maiús­
M E -3 Máquina com carro comportando papéis até culas, deixando-se baixar livremente até sua posição final
44 cms. permitindo a escrita em toda a exten­ sob a ação estática de um pêso, cujo valor minimo carac­
são e com tabulador decimal. terizará êste esfôrço.
94 REVISTA DO SERVIÇO PU B LIC O

5. V erificar o esforço necessário para operação da uma apuração de frequência em um trecho de mais
tecla de fixação de maiúsculas, procedendo de modo idên­ de 1 2 .0 0 0 letras.
tico ao indicado em 4 . A apuração demonstrou a má distribuição
6. V erificar o esforço necessário na tecla de retro­
das letras em um teclado comum. Encontramos
cesso, pelo mesmo processo recomendado em 4.
a mão esquerda sobrecarregada, pois, i\o trecho
7. V erificar o esforço na barra para dar os espaços
usado, a ela couberam 7 .5 7 7 batidas, ao passo
de acôrdo com 4 .
8 . A máquina deve permitir a batida, com a maior que à direita, somente 5 .0 1 3 , incluidos nesses
velocidade possivel, de duas letras tais como : m-n, o-s, números os acentos e a pontuação. O bservan­
h-u, várias vezes sucessivamente sem que haja superposição do, ainda, em da mão, a distribuição de letras
de letras. por dedo, novu disparidade encontrámos, pois a
9 . Libertando a engrenagem do cilindro pela ala­
letra de maior frequência, o A, no trecho citado,
vanca libertadora, deve ser observado que a batida dos
com 1 .5 6 6 , estava destinada a ser batida pelo
tipos não produza deslocamento do cilindro e. portanto
desalinhamento da escrita. dedo mínimo, o menos forte e menos agil da mão.
Estamos fazendo, tambem, observações em
Estam os atualmente fazendo um ajustamento trabalhos existentes sôbre êste assunto ; entre
das exigências da especificação às características êles : o teclado adotado pelo Govêrno português,
das diversas máquinas e às sugestões dos repre­ o do engenheiro José Alfredo de M arsillac e o do
sentantes, algumas bastante interessantes e de­ P ro f. O scar Diniz M agalhães, os quais estão sen­
monstrando o desejo de cooperar com o Govêr- do- comparados com os estudos feitos por esta
no na solução do problem a. • D ivisão.
N a parte do estudo do teclado para verifi­ Vam os, dêste modo, observando a orienta­
car si a distribuição das letras, como normalmen­ ção de cada um e tirando os ensinamentos que
te se encontra nas máquinas de escrever, é, de nos fornecem novos rumos para as nossas pes­
fato, prejudicial à escrita em Português, fizemos quisas. '

N O Ç Õ E S SOBRE A CONSTITUIÇÃO E
FABRICAÇÃO DO PAPEL

S a l im A. A t t u c ii

D a D ivisão do M aterial do D A S P
< •

O papel ocupa hoje um lugar de destaque fim, todas as plantas que por meio do caule, fo­
na economia dos povos ; é um fator de desenvol­ lha, fruto, raiz, fornecem fibras mais ou menos
vimento cultural, de grande interêsse industrial flexíveis, encerrando maior ou menor quantidade
e com ercial. de celulose. A planta, para satisfazer às necessi­
O papel começou a ser fabricado em escala dades da indústria, deve ser abundante na natu­
industrial no século 14, empregando-se, como ma­ reza, de facil cultura, e estar localizada em re­
téria prima, trapos de pano. Esta matéria prima, giões de facil acesso.
apesar de ser de primeira qualidade, não pode A té hoje, a planta que mais satisfaz essas
satisfazer às necessidades da indústria e do con­ condições é o pinho, sendo êste o motivo pelo
sumo devido à sua escassez e, consequentemen­ qual os países nórdicos ocupam lugar de desta­
te, elevado custo. que na indústria papeleira.
Procurou-se então substituir o trapo por ou­ A indústria do papel consta de duas fases
tras matérias primas. Lima lista enorme de fibras distintas :
tem sido experimentada até hoje, citando-se entre
as principais : pinho, palha, caroá, bambú, ba­ A ) —' Obtenção da pasta de celulose.
gaço de cana, linho( juta, cânhamo, banana, en­ B) ■— Fabricação do papel. .

Você também pode gostar