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Sonia da Rocha

LEITURAS
URBANÍSTICAS
SOBRE LUZIÁPOLIS
Um olhar prospectivo para pequenos territórios

Pipa Comunicação
Recife, 2019
Copyright 2019 © SONIA DA ROCHA E PIPA COMUNICAçÃO

Reservados todos os direitos desta edição. É proibida a reprodução total ou


parcial dos textos e projeto gráfico desta obra sem autorização expressa dos
autores, organizadores e editores.

CapA e Projeto Gráfico: Karla Vidal


DIAGRAMAçÃO: Augusto Noronha e Karla Vidal
Revisão linguística: Ismar Inácio dos Santos Filho
Revisão de português: Jeile Rocha
edição: Pipa Comunicação – http://www.pipacomunica.com.br

Catalogação na publicação (CIP)


Ficha catalográfica produzida pelo editor executivo

R582

ROCHA, S.
Leituras urbanísticas sobre Luziápolis: um olhar prospectivo para pequenos
territórios / Sonia da Rocha. – Pipa Comunicação, 2019.
166p. : Il., Fig., Quadros. (e-book)

1ª ed.
ISBN 978-65-5101-001-9

1. Planejamento Urbano. 2. Uso e Ocupação do Solo.


3. Ordenamento Territorial. 4. Plano de Zoneamento.
5. Luziápolis. 6. Campo Alegre/AL.
I. Título.

710 CDD
71 CDU
c.pc:10/19ajns
Prefixo Editorial: 66530

Comissão Editorial

Editores Executivos
Augusto Noronha e Karla Vidal

Conselho Editorial
Alex Sandro Gomes
Angela Paiva Dionisio
Caio Dib
Carmi Ferraz Santos
Cláudio Clécio Vidal Eufrausino
Cláudio Pedrosa
Clecio dos Santos Bunzen Júnior
José Ribamar Lopes Batista Júnior
Leila Ribeiro
Leonardo Pinheiro Mozdzenski
Pedro Francisco Guedes do Nascimento
Regina Lúcia Péret Dell’Isola
Rodrigo Albuquerque
Ubirajara de Lucena Pereira
Wagner Rodrigues Silva
Washington Ribeiro
Dedico estas leituras aos que viveram, aos que
vivem e aos que viverão em Luziápolis.
AGRADECIMENTOS

A Deus, pelo dom da vida;


À minha mãe, Maria Lucia Teles, pelo apoio e amor incondicional;
À minha família, que sempre torceu por mim;
À minha professora do antigo primário, “Tia” Luzimar Ferreira, que despertou em mim
a importância e o prazer que há em aprender;
Aos psicoterapeutas Drª Heloísa Almeida e Drº Roberto Armando, pelas palavras de
incentivo e encorajamento;
À Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Alagoas que
oportunizou meu retorno ao meio acadêmico;
À minha orientadora, Profª. Drª. Lucia Hidaka, agradeço a confiança em mim depositada
e por ter se predisposto a acompanhar todo o processo de reconhecimento do distrito
de Luziápolis;
À Profª. M.ª Regina Coeli Carneiro Marques, que acompanhou minha jornada acadêmica
de perto e foi umas das minhas grandes inspirações;
Aos representantes das famílias fundadoras do distrito de Luziápolis, por me receberem
em seus lares e me ajudarem a contar um pouco da história desse lugar;
Ao meu amigo e companheiro dos estudos de linguagem, Prof. Dr. Ismar Inácio dos Santos
Filho, pela leitura de apreciação, revisão linguística e por incentivar esta publicação;
Por fim, manifesto minha gratidão a todos que contribuíram com construção desse
trabalho.
O Rio da Minha Aldeia

O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia,

O Tejo tem grandes navios


E navega nele ainda,
Para aqueles que veem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.

O Tejo desce de Espanha


E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso, porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.

Pelo Tejo vai-se para o Mundo.


Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.

O rio da minha aldeia não faz pensar em nada


Quem está ao pé dele está só ao pé dele.

Antonio Carlos Jobim / Fernando Pessoa


Prólogo
Difícil explicar em poucas palavras o significado deste livro. O convite
para escrever sobre a produção desta autora Sonia da Rocha, foi para mim
uma realização, com entusiasmo e agradecimento. Embora com vários per-
calços, finalmente, consegui ter um pouco de calma para pensar e escrever.
Sonia conheço, desde 2014, quando cursou comigo a disciplina de Projeto de
Paisagismo 1, na FAU – UFAL, em Maceió. Esta me surpreendeu pela serie-
dade que realizou o cotidiano dos estudos, que respondeu as inquietações
de aprendizagem que trazia, que atendeu aos desejos de saber sempre mais,
num curto tempo de reflexão das horas aulas. Acresceu meu apreço quando
revelou ser professora e coordenadora de ensino fundamental e a Educação de
Jovens e Adultos em uma escola pública da sua interiorana cidade Luziápolis,
do município de Campo Alegre, em Alagoas, para onde se deslocava, por mais
de uma hora e meia de viagem todos os dias da semana. Vi nesta mulher, do-
cente e discente, um sonho maior do que cabia nas horas diárias de trabalho
e de estudo. Vi um esforço enorme para acompanhar os raciocínios espaciais,
os desenhos ora à mão, ora no computador dominando programas digitais,
em uma linguagem técnica mais acabada, ferramenta para transformar o
domínio das ideias em um produto técnico, essencial para uma Arquiteta
Urbanista. Logo observei que sua trajetória no curso da FAU –UFAL foi suada,
trabalhosa, conquistada em cada semestre concluído, principalmente na dis-
ciplina de Projeto de Urbanismo. Convido o leitor para realizar as “Leituras
urbanísticas sobre Luziápolis: um olhar prospectivo para pequenos
territórios”, sua cidade natal, que a fez concluir seus estudos e consolidar os
seus conhecimentos em Urbanismo, enxergando um todo urbano no pequeno
território, um conjunto de ruas, quadras, lotes e construções – arquiteturas
tradicionais ou autoconstruídas – sua infraestrutura, seus condicionantes
ambientais, as condições sócio econômicas e culturais de seus moradores – ora
apresentando problemas urbanos e ora apontando potencialidades a serem

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desenvolvidas. Logo enxerguei que o sonho era maior ainda e hoje vejo-o
aqui registrado. O que posso acrescentar? – Você sonhou, realizou e venceu.
Como Arquiteta Urbanista descreveu, observou, questionou, desenhou, enfim
imprimiu a sua cidade num documento temporal, espacial, histórico da ocu-
pação e uso do solo urbano em que só fez aumentar a sua responsabilidade,
como profissional e como professora do ensino fundamental, com explicações,
para as crianças, os jovens e os adultos, sobre o significado da formação da
sua cidade Luziápolis. E agora? – O sonho amplia mais uma vez, o mundo das
cidades brasileiras, que na sua maioria são de pequeno porte, do tamanho
da sua cidade, e também precisam ser compreendidas, este deverá ser seu
campo maior. Espero que alegre. Siga em frente.

Conte sempre comigo.


Regina Cœli Carneiro Marques
Setembro de 2019.

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Prefácio
Sonia da Rocha, autora do livro “Leituras urbanísticas sobre Luziápolis”,
é uma mulher de fala delicada, olhos vivos e sorriso contagiante. Mulher, filha,
tia, guerreira nordestina e brasileira, esta alagoana, filha do meio da dona
Maria Lúcia e do seu Antônio da Rocha (falecido), formada primeiramente em
Licenciatura em Letras, concluiu o Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo
na Universidade Federal de Alagoas com muita luta. Luta não pelo dia a dia
puxado dos diversos exercícios de desenho e criação que a formação acadê-
mica em Arquitetura e Urbanismo demanda, mas em função dos 180km de
distância, ida e volta, percorridos todos os dias da semana entre o distrito
de Luziápolis, município de Campo Alegre em Alagoas, e a UFAL. Além disso,
ainda havia a jornada de trabalho na escola com a coordenação da Educação
de Jovens e Adultos. Tudo para desistir, inclusive pelas constantes falas da-
queles que perguntavam o porquê de fazer outra graduação se já tinha uma.
Sônia venceu. E, honrando o juramento do Arquiteta e Urbanista, produziu
um trabalho final de curso que presenteia o seu local de moradia e a sua co-
munidade, Luziápolis, com um retrato do hoje e uma fonte de pesquisa para
as gerações do amanhã. Este trabalho, que agora ela entrega em formato de
livro, foi desenvolvido sob a minha orientação, e me honra poder destacar
neste prefácio as excelências do olhar, do registro e da materialização dos
mapeamentos de Luziápolis realizados por ela. Nada estava pronto; tudo
foi fruto de dias e dias de investigação minuciosa, de reflexão crítica, de
construção e reconstrução dos diversos registros que compõem o cenário
urbanístico de Luziápolis. Os mapeamentos apresentados dos condicionantes
ambientais, saneamento ambiental, uso e ocupação do solo, infraestrutura,
perfil socioeconômico e vivências do cotidiano do distrito, foram cada um
deles construídos pela disciplina e perseverança desta mulher. Dados oficiais
escassos, pouquíssimos registros fotográficos no tempo e mapas cadastrais
imprecisos foram desafios para o desenvolvimento do trabalho. Desafios

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vencidos, pois a determinação, organização e profissionalismo levou-a a
percorrer cada referência escrita, oral e territorial; e a vivenciar com o olhar
da pesquisadora cada esquina, rua, casa e pessoas do distrito. Foi necessário
pôr à prova até as suas lembranças, na busca de algo a mais, além dos olhos,
para realizar o sonho. Sônia expõe a realidade urbana do distrito de forma
clara e com responsabilidade da arquiteta e urbanista que é. Este é um tra-
balho acadêmico, mas também é um sonho realizado. Na verdade, é um ato
de coragem de uma mulher gigante por natureza, que entrega um produto
à sociedade de Luziápolis fruto do sonho e do afeto que esta filha tem para
com o seu distrito. Sinto-me honrada de ter acompanhado esta caminhada,
esta realização de sonho.

Prof.ª Dr.ª Lúcia Tone Ferreira Hidaka


Maceió, julho de 2019.

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SUMÁRIO
15 Introdução

29 Capítulo 1 Condicionantes Ambientais

49 Capítulo 2 Saneamento Ambiental

69 Capítulo 3 Uso e Ocupação do Solo

97 Capítulo 4 Infraestrutura Urbana

117 Capítulo 5 Aspectos Socioeconômicos

135 Capítulo 6 Síntese das Leituras Urbanísticas


sobre Luziápolis

147 Considerações Finais

149 Referências

153 Posfácio

159 Anexos

161 Sobre a autora


INTRODUÇÃO
“Planejar o futuro da cidade” foi o desafio que o Estatuto da Cidade colo-
cou a todos os municípios brasileiros com mais de 20 mil habitantes, quando
tornou obrigatória a elaboração do Plano Diretor até 2006. Portanto, como
afirmam Rolnik et al (2004, p. 69), “Todos os municípios têm por atribuição
constitucional a responsabilidade de exercer o controle sobre o uso e ocupação
do solo e criar condições para o desenvolvimento sustentável e mais justo do
seu território”. Para pensarmos a esse respeito, devemos saber que Alagoas
possui 102 municípios; destes, segundo estimativas do IBGE de 2017, apenas
44 estariam enquadrados no porte populacional acima de 20 mil habitantes.
A partir desse pressuposto, os outros 58 municípios, considerados de
pequeno porte, não dispõem de diretrizes e instrumentos de planejamento
urbano que orientem seu desenvolvimento. Isto significa que mais da metade
dos municípios alagoanos não são obrigados a “planejar o futuro de sua cida-
de”. Além disso, aqueles que possuem algum instrumento de planejamento
nem sempre consideram o município em sua totalidade, como recomenda o
Estatuto da Cidade. Um exemplo desses é Campo Alegre, município de Alagoas
com mais de 50 mil habitantes, que possui Plano Diretor desde 2006, no en-
tanto a maior parte das diretrizes relacionadas ao macrozoneamento urbano
restringe-se à sede municipal, não atendendo à totalidade de seu território.
O município de Campo Alegre está localizado na região central do estado,
na mesorregião do Leste Alagoano e microrregião de São Miguel dos Campos.
Limita-se ao norte com os municípios de Anadia e Boca da Mata, ao sul com
Teotônio Vilela e Jequiá da Praia, a leste com São Miguel dos Campos e Jequiá
da Praia e a oeste com Junqueiro e Limoeiro de Anadia (Figura 1). Possui uma
extensão territorial de 312,708km² e sua sede municipal tem altitude aproxi-
mada de 176m acima do nível do mar e coordenadas geográficas de 09°46’55”
de latitude sul e 36°21’23” de longitude oeste, conforme informações obtidas
em Mascarenhas, Beltrão e Souza Junior (2005), Atlas de Desenvolvimento
Humano (2013) e Perfil Municipal (2015).

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Figura 1: Localização geográfica do distrito de Luziápolis – Campo Alegre-AL

Fonte: Elaboração autoral a partir de mapas do IBGE e SEPLAG (2015).


LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

O Distrito de Luziápolis, por sua vez, localiza-se na região sul de Campo


Alegre, a uma distância de 26km da sede municipal. O acesso a ele, a partir de
Maceió, é realizado através da BR-101 (rodovia federal construída na década
de 1950) com um percurso em torno de 90km. A conexão entre sede e distrito
é através da AL-1051. De acordo com a Lei municipal de nº 705, de 20 de abril
de 2014, Luziápolis está dividido em 04 (quatro) bairros e 01 (um) Conjunto
Habitacional, são eles: Bairro Boa Esperança, Santa Luzia, Novo Horizonte,
Bela Vista e o Conjunto João José Pereira (Figura 2). Em relação aos dados
populacionais, segundo IBGE (2010), Luziápolis possui 18.504 habitantes,
correspondendo a 36,2% da população de todo território municipal. Esse
dado aponta que metade dos municípios alagoanos tem população inferior a
esse distrito.
No que se refere às questões urbanas, são inúmeros os problemas enfren-
tados por Luziápolis. O maior deles consiste em não possuir instrumentos
de política urbana que oriente seu desenvolvimento e exerça algum controle
sobre o uso e ocupação do solo. Em razão da ausência desses instrumentos, o
distrito enfrenta problemas relacionados à ocupação inadequada em áreas de
risco, crescimento desordenado, dispersão urbana, esvaziamento econômico
e populacional, degradação do ambiente natural, carência de espaços livres
públicos, problema de mobilidade e circulação, entre outros.

1. A Rodovia Everaldo Tenório Lins, também conhecida como "Rodovia da Integração", interliga a cidade de
Campo Alegre à BR-101 e foi inaugurada em dezembro de 2014.

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Figura 2: Divisão do distrito de Luziápolis em bairros

Fonte: Elaboração autoral a partir de imagens do Google Earth (2018) e Campo Alegre (2014).
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Sob tais considerações, em outubro de 2017 apresentei ao curso de


Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Alagoas, uma pro-
posta de Plano de Trabalho Final de Graduação com objetivo de “Propor
um plano urbano-paisagístico de requalificação urbana para o distrito de
Luziápolis–AL, embasado nos princípios da cidade sustentável que contri-
buísse com a melhora da qualidade de vida dos moradores e estimulasse o
desenvolvimento local”. Esse plano de pesquisa resultou no Trabalho Final
de Graduação (TFG) intitulado “Plano de Zoneamento Urbano para o Dis-
trito de Luziápolis-Campo Alegre-AL”, apresentado em dezembro de 2018.
O estudo objetivou não apenas o controle de uso do solo, mas, sobretudo,
propor modificações na forma do espaço habitado com diretrizes e linhas
de ação desenvolvidas a partir das potencialidades, problemas e tendências
identificadas durante a caracterização físico-territorial, com a finalidade
de minimizar os problemas de planejamento e apresentar alternativas que
considerassem as demandas locais, fortalecendo as potencialidades e criando
condições para o desenvolvimento sustentável do Distrito.
Conforme procedimentos metodológicos apresentados no organograma
a seguir (Figura 3), o TFG foi realizado em duas etapas: a primeira (Caracteri-
zação Físico-Territorial do Distrito de Luziápolis-Campo Alegre-AL) constituiu
o produto intermediário do TFG, apresentado em 14 de agosto de 2018. Até
esse momento, não estava claramente definido qual seria o produto final da
pesquisa. Nesse sentido, as considerações da banca examinadora, assim como
as significativas contribuições da orientadora, foram fundamentais para essa
definição. A segunda e última etapa (Diretrizes de Ordenamento Territorial
para o Distrito de Luziápolis-Campo Alegre-AL) propôs um macrozoneamen-
to para o distrito a partir da delimitação de três macrozonas (urbana, rural
e especial) contendo diretrizes e linhas de ação de ordenamento territorial
para cada uma delas. Todas essas escolhas foram orientadas por Priniz (1984),
Santos (1988), Rolnik et al. (2004), Wilheim (1976), entre outros.

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LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Figura 3: Organograma dos procedimentos metodológicos.

Fonte: Elaboração autoral (2018).

Sempre esperei com esse trabalho que se tornasse uma fonte de pesqui-
sa e registro sobre o desenvolvimento de um Trabalho Final de Graduação
do Bacharelado de Arquitetura e Urbanismo, destacando a importância do
levantamento de campo com apoio de referencial teórico e metodológico.
Além disso, almejei também que este pudesse suscitar a divulgação e o plane-
jamento urbano para o futuro do distrito de Luziápolis, e, em consequência,
que pudesse ser efetivado um trabalho de educação urbanística no município
de Campo Alegre/AL, com orientação para participação popular nas decisões
das políticas urbanas, com gestão pública descentralizada da sede, para que

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LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

num futuro próximo possamos ter a elaboração de um Plano Desenvolvimento


Urbano Local com participação popular plural e efetiva no Distrito.
Luziápolis como objeto de estudo surgiu na disciplina de Planejamento
Urbano II (Período 2016.2) ministrada pela Prof.ª Dr.ª Débora de Barros
Cavalcanti Fonseca, ocasião em que produzi um artigo intitulado: “O Plano
Diretor e a Dinâmica do Território: Uma análise do capítulo – Ordenamento
Territorial – do Plano Diretor Participativo de Desenvolvimento Territorial
Integrado do Município de Campo Alegre-AL”. Com essa produção, entre
outros objetivos, buscou-se respostas para os seguintes questionamentos:
Qual o lugar de Luziápolis no Plano Diretor de Campo Alegre? Em que medi-
da são estabelecidas diretrizes de políticas de Ordenamento Territorial que
favoreçam o desenvolvimento urbano dessa localidade? No entanto, mesmo
o Estatuto da Cidade considerando que cada Plano Diretor deva ser único,
as análises mostraram que a maior parte das diretrizes foram descritas de
forma genérica, não considerando as especificidades do território e, conse-
quentemente, não contemplando suas demandas.
Mas foi a disciplina de Projeto de Urbanismo I2, ministrada pelas profes-
soras M.ª Regina Coeli Carneiro Marques e Dr.ª Taís Bentes Normande, que
me possibilitou desenvolver habilidades e competências necessárias para
compreender e analisar as configurações urbanas do Distrito de Luziápolis,
e construir um diagnóstico físico-territorial, identificando suas principais
potencialidades, problemas e tendências. As atividades desenvolvidas no
Módulo I da disciplina (Percepção sensorial e analítica do tecido urbano de

2. Ementa da disciplina segundo Projeto Político Pedagógico do Curso de Arquitetura e Urbanismo da FAU/
UFAL de 2006: “Projeto de Urbanismo I – A cidade e seus espaços. Apreensão das formas espaciais urbanas,
das territorialidades, das temporalidades e dinâmicas da cidade. Caracterização e análise da realidade
física e social de uma área de intervenção estratégica e prioritária. Carências, problemas, tendências e
potencialidades. Programa urbanístico”.

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LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Maceió), entre outros aprendizados, me fizeram perceber que não conhecia o


lugar onde vivia há mais de trinta anos, e esta constatação foi uma motivação
a mais para Luziápolis continuar sendo meu objeto de estudo.
Partindo desse interesse e instigada pela professora que me inspirou e
ensinou a olhar e refletir sobre o lugar onde vivo, Regina Coeli, a quem serei
eternamente grata pelos ensinamentos e também pelas repreensões, quando
necessárias (com ela até os encontros casuais se transformavam em asses-
soramentos), determinei que Luziápolis seria o objeto de pesquisa do meu
trabalho final de graduação. O desafio seguinte seria encontrar um orienta-
dor que aceitasse fazer parte dessa aventura (aventura que meus colegas de
curso classificaram como loucura) e para minha maior surpresa, a primeira
a ser consultada foi a professora Prof.ª Dr.ª Lucia Tone Ferreira Hidaka, que
após ouvir uma breve descrição sobre minha intenção de pesquisa, finalizou
o diálogo perguntando quando a levaria para conhecer Luziápolis. Essa ines-
perada atitude foi uma das maiores motivações que poderia receber naquela
ocasião e veio imbuída de muitos sentimentos. Sou grata pela generosidade
dessa professora, pela confiança em mim depositada, e, principalmente, por
ter se predisposto a acompanhar de perto todo o processo de reconhecimento
do distrito de Luziápolis, iniciando com sua visita ao local, em outubro de
2017, visita na qual também esteve presente a Prof.ª Dr.ª Flávia Sousa Araújo,
que também acompanhou minha jornada acadêmica de perto e, assim como
a Professora Regina Coeli, fez parte da banca examinadora do TFG, apresen-
tando significativas contribuições. Em nome dessas admiráveis profissionais,
agradeço os ensinamentos de todos os professores da Faculdade de Arquite-
tura e Urbanismo da Universidade Federal de Alagoas, Campus A. C. Simões.
A reorganização do texto para a versão que aqui se apresenta como li-
vro se deu a partir de discussões com a minha orientadora, professora Lucia
Hidaka e a professora Regina Coeli. O título do livro também foi uma cons-
trução coletiva e resultado de uma análise mórfico-discursiva do sintagma

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LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

“leituras urbanísticas” orientada por meu amigo e companheiro dos estudos


de linguagem Prof. Dr. Ismar Inácio dos Santos Filho, o grande incentivador
dessa publicação. Suas considerações foram decisivas para a criação de “Lei-
turas Urbanísticas sobre Luziápolis: um olhar prospectivo para pequenos
territórios”. A seguir um trecho do e-mail com este incentivo:

Figura 4: Considerações do Prof. Dr. Ismar Inácio dos Santos Filho após
leitura de apreciação e revisão linguística do TFG

TCC
De: Ismar Inácio SANTOS FILHO (ismarinacio@yahoo.com.br)

Para: sonika.rocha@gmail.com

Data: terça-feira, 12 de março de 2019 11:43 BRT

Olá, Sônia! Enfim, consegui concluir a leitura de seu tcc. O que fiz, além da Introdução já enviada, li os 2 capítulos
e as considerações. Toda e qualquer alteração necessária, de concordância nominal ou verbal, já realizei (e não mar-
quei), de pontuação, de adequação com conectivos também já fiz, e também não marquei. Ou seja, o que precisou, fiz.
No entanto, aparecem partes que precisam ser vistas por você, são um ou outro caso. Estão destacados em amarelo,
ou apenas com cor vermelha. Esses são para alguma arrumação, que ao olhar, saberá o que é. rssssss Foi isso!!
Novamente, parabéns pelo trabalho. Muito importante para o distrito de Luziápolis. Nele, há informações de inter-
esse para diversos setores sociais, político partidário principalmente. É uma fonte histórica importantíssima, com um
valor gigante para políticas públicas para essa localidade. As fotografias como dados são interessantíssimas... e os
mapas? Muito bons! Sua proposta de zoneamento (é isso, né? rss) merece sim ser considerada pelo governo munici-
pal em diálogo com outras esferas de governança pública. Por isso e muito mais, incentivo você a publicar sim seu
trabalho em livro, e impresso.
Parabéns! Qualquer dúvida, estou no zap.

Prof. Dr. ISMAR INÁCIO DOS SANTOS FILHO


Docente no Curso de Letras - UFAL (Campus do Sertão)
Coordenador de Pesquisa e Pós-Graduação (UFAL-Campus do Sertão) Coordenador do Grupo de Estudos em Linguística Aplicada em Questões
do Sertão Alagoano (GELASAL)

Fonte: Acervo pessoal (2019).

O livro traz toda a parte de Caracterização Físico-Territorial do Distrito


de Luziápolis, presente no primeiro capítulo do TFG, e teve como referência
teórico-metodológica a experiência na disciplina de Projeto de Urbanismo

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LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

I, ministradas pelas professoras Regina Coeli e Taís Normande, e Projeto de


Urbanismo II, ministradas pelas professoras Regina Cœli e Lúcia Hidaka, em
2017, no curso de Arquitetura e Urbanismo da FAU/UFAL; a publicação de
Priniz (1984), para quem a execução do planejamento urbanístico é necessá-
rio o acesso às informações detalhadas sobre o espaço a trabalhar; e outras
abordagens metodológicas apresentadas por Wilheim (1976), que considera
a leitura da cidade uma ação subjetiva, e Santos (1988) que apresenta uma
série de reflexões sobre como se formam e desenvolvem as cidades.
As Leituras Urbanísticas sobre Luziápolis foram construídas com base
em fontes oficiais de acesso público e junto a órgãos especializados, como:
IBGE; sites do Ministérios do Trabalho, Educação e das Cidades; coleta de
dados por meio de levantamento de campo; registros fotográficos; visitas
a órgãos públicos municipais; e entrevistas semiestruturadas3 realizadas
com representantes das primeiras famílias que povoaram o distrito; e, por
meio destas, foi possível construir um breve relato histórico do processo de
ocupação de Luziápolis.
O distrito de Luziápolis está ligado administrativamente ao município de
Campo Alegre, no estado de Alagoas, e grande parte dos dados oficiais estão
disponíveis apenas em nível de município, sendo assim, algumas informações
apresentadas estabelecem conexão entre a escala macro (nível de município)
e a escala micro (nível de distrito). Para ilustrá-las, foram criados os mapea-
mentos temáticos e quadros sínteses com as principais potencialidades, pro-
blemas e tendências identificadas em cada levantamento temático. Como não
foi possível acessar a base cartográfica do município de Campo Alegre, todos

3. As entrevistas semiestruturadas foram realizadas no primeiro semestre de 2018 e os representantes das


famílias entrevistadas foram: Sr. José Ovídeo Guedes (82 anos); Sr. Antonio Firmino da Silva (75 anos); Sr.
Antonio Joaquim da Silva Filho (73 anos); Sr. Sebastião Luíz dos Santos (55 anos) e Nelson Batista dos Santos
(50 anos).

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LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

os mapas foram construídos a partir de imagens de satélite do Google Earth –


2018; arquivo geoespacial da malha municipal do Estado de Alagoas – 2015,
obtido por meio do site da SEPLAG (Secretaria de Estado do Planejamento,
Gestão e Patrimônio); mapa de Campo Alegre-AL e de Luziápolis4 forneci-
dos pela Supervisão de Disseminação de Informações do IBGE – Agência de
Alagoas, após solicitação via e-mail (Anexo I e II); e levantamento de campo
realizado entre os meses de janeiro e abril de 2018.
Diante da complexidade do objeto de estudo e da dificuldade de acesso
às informações, foi necessário lançar mão de diferentes métodos de coleta e
análise de dados. Dentre eles, um merece ser destacado, qual seja, a percepção
sensorial do local por meio de visitas de campo e pela minha vivência, afinal,
além de pesquisadora sou também moradora do distrito desde os 5 anos de
idade. Assim, não ter dados sistematicamente disponíveis dificultou, mas não
inviabilizou a realização do trabalho, afinal a leitura da cidade não se restrin-
ge a mapeamentos e a levantamentos de dados quantitativos, é também uma
ação subjetiva (WILHEIM, 1976). As entrevistas com os representantes das
primeiras famílias e as conversas despretensiosas com os moradores locais
(parentes, amigos, alunos, colegas professores e professoras e até desconhe-
cidos) revelaram-se como momentos ricos e prazerosos de coleta e registro
de informação. Nesses momentos, muitas vezes a estudante de Arquitetura
e Urbanismo dava lugar à moradora.
O livro está estruturado, com esta Introdução, em seis capítulos. Do ca-
pítulo um ao capítulo cinco o texto possui a mesma composição, inicia com
levantamento da área de estudo de acordo com o eixo temático e finaliza com

4. De acordo com a Supervisão da Base Territorial de Alagoas através da Supervisão de Disseminação de


Informações do IBGE – Agência de Alagoas, o limite administrativo do território municipal de Campo Alegre-
AL foi reajustado em 2015. E a área reajustada abrange um trecho do povoado de Luziápolis (próximo à
rodovia) na região sul do município.

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LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

um quadro síntese contendo as principais potencialidades, os problemas e as


tendências, e um mapeamento temático. A seguir uma breve apresentação
de cada um deles:
O capítulo 1 apresenta levantamento da área de estudo no que diz res-
peito aos Condicionantes Ambientais e considera os seguintes aspectos:
Geologia, Geomorfologia e Pedologia, Clima, Recursos Hídricos e Cobertura
Vegetal.
O Capítulo 2 expõe o levantamento da área de estudo com relação ao Sa-
neamento Ambiental, considerando: Abastecimento de Água, Esgotamento
Sanitário, Limpeza Urbana Pública, Drenagem Pluvial, Vetores e Poluição.
O Capítulo 3 mostra levantamento da área de estudo no que se referem
às diversas formas de Uso e Ocupação do Solo, identificando-as quanto ao
processo histórico de ocupação, Formas de Ocupação, Parcelamento e Traçado
da Malha Urbana, Tipos e Classificação de Ocupação e Uso do Solo, e os Vazios
Urbanos. Além do mapeamento temático, este capítulo apresenta relato histó-
rico do processo de Uso e Ocupação do Solo de Luziápolis, a partir entrevistas
semiestruturadas com representantes das famílias que iniciaram o processo
de ocupação sendo ilustrado por um mapa da evolução do traçado urbano.
O capítulo 4 apresenta levantamento da área de estudo no que diz res-
peito à Infraestrutura Urbana, analisando-a quanto a: Mobilidade (sistema
Viário, classificação e tipos de pavimentação, sinalização, passeio público e
estacionamentos); transportes motorizados e não motorizados; Comunicação;
e Iluminação pública.
O capítulo 5 aponta uma visão geral de Luziápolis sob o ponto de vista
de seus Aspectos Socioeconômicos. Desse modo, foi estudado o perfil da
população, analisando aspectos como evolução populacional, taxa média de
crescimento, densidade demográfica e população economicamente ativa. Nele

26
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

também são apresentados levantamentos sobre desempenho do município


nos últimos anos, frente à evolução de seus indicadores de desenvolvimento
humano, suas ações no campo da saúde, educação e atividades econômicas.
O sexto e último capítulo traz uma Síntese das Leituras sobre Luziá-
polis, realizadas durante a caracterização físico-territorial, onde são identifi-
cadas as problemáticas em torno do Distrito e a partir delas é construído um
pré-zoneamento, que resultou em uma divisão territorial composta por 04
(quatro) subáreas delimitadas, segundo critérios de semelhanças e diferenças
predominantes, e, por fim, apresentam-se diretrizes de uso e ocupação do solo
que priorizem a melhoria nas condições de vida da população e fortaleçam
as potencialidades dessa localidade.
As Leituras Urbanísticas sobre Luziápolis é um convite aqueles que de-
sejam se conectar ao seu território e compreender, sobretudo, o papel social
que exercem ou podem exercer sobre ele. Com esse propósito, o procedimento
de leitura adotada pode ser replicado em qualquer território, especialmente
aqueles cujo as características sejam semelhantes aos de pequeno porte, como
é o caso do Distrito de Luziápolis.

27
Capítulo 1
Condicionantes ambientais
Marques e Normande (2017) caracterizam condicionantes ambientais
como um conjunto de aspectos relacionados com o sítio físico e meio biótico
que interferem qualidade da salubridade ambiental. Dividem-se em pedologia
(solo), geologia (recursos minerais) e geomorfologia (relevo); clima (micro-
clima); recursos hídricos (águas superficiais e subsuperficiais); cobertura
vegetal (flora) e fauna (vetores, domésticos, ecossistêmicos).

Geologia, Geomorfologia e Pedologia

Campo Alegre faz parte da unidade dos Tabuleiros Costeiros (Figura 5).
De acordo com Resende et al. (2014), os Tabuleiros Costeiros caracterizam-se
predominantemente por áreas de relevo plano (existindo uma modesta varia-
ção das cotas de nível) com altitude média de 50m a 100m e platôs de origem
sedimentar que apresentam grau de entalhamento variável, ora com vales
estreitos e encostas abruptas, ora abertos com encostas suaves e fundos com
amplas várzeas.

29
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Figura 5: Geomorfologia de Alagoas com destaque para Campo Alegre e os tabuleiros costeiros

Fonte: SEPLANDE (2014) – Adaptado.

A Geologia dessa unidade encontra-se inserida na Província Borborema,


representada pelos litótipos do Complexo Nicolau/Campo Grande, Formação
Coqueiro Seco e Grupo Barreiras (figura 6). De acordo com Mascarenhas,
Beltrão e Souza Junior (2005), os solos do município de Campo Alegre-AL
são representados pelos Latossolos e Podzólicos nos topos de chapadas
e topos residuais; pelos Podzólicos com Fregipan, Podzólicos Plínticos e
Podzóis nas pequenas depressões nos tabuleiros; pelos Podzólicos Concre-
cionários em áreas dissecadas e encostas e Gleissolos e Solos Aluviais nas
áreas de várzeas.

30
Figura 6: Mapa geológico de Campo Alegre-AL

Fonte: Mascarenhas, Beltrão e Souza Junior (2005). Adaptado.


LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

No distrito de Luziápolis, os tabuleiros têm uma altura que variam de


44m a 123m. O ponto mais baixo encontra-se no vale do Rio Escorrega a uma
altura de 44m (Figuras 7a e 7b).

Figura 7a: Perfil topográfico de Luziápolis (cotas variando de 44m a 123m)

Fonte: Adaptação de imagem aérea do Google Earth (2018).

32
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Figura 7b: Perfil topográfico de Luziápolis (cotas variando de 44m a 123m)

Fonte: Adaptação de imagem aérea do Google Earth (2018).

33
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Na área central do distrito, entre as ruas Francisco Marques e Fernando


Coutinho, no Bairro Bela Vista, há um trecho de aproximadamente 70.000m²
que possui cota de 120m de altitude, o trecho mais baixo da área urbanizada
(Figura 8). A maior parte dessa área já está urbanizada, porém há um trecho
de vazio urbano que se mantém alagado em praticamente todo o ano, no qual,
além da drenagem natural das águas pluviais, parte do esgoto doméstico é
direcionado para esta área. Esses indícios são sinais de que pode existir em
Luziápolis bacias endorréicas5, podendo uma delas estar localizada na área
ilustrada. Mas, para confirmação desse fenômeno seria necessário um estudo
mais aprofundado (Ver mapa nº 1 na página 48).

5. As bacias endorréicas não possuem corpos d'água e, por essa razão, direcionam as água de precipitação
para os pontos de menor altitude, ou seja, nas depressões naturais do terreno, nas quais as águas pluviais
acumulam-se e tende a evaporar ou se infiltrar no solo. Carvalho (2012)

34
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Figura 8: Fotografia e esquema da área do tabuleiro na cota de 120m, bairro Bela Vista

Fonte: Elaboração autoral com base no OpenStreetMap6 .

6. OpenStreetMap. Disponível em:


https://www.openstreetmap.org/#map=14/-9.8936/-36.2156&layers=N. Acesso em: 8 de abril de 2018.

35
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Clima

Segundo o Perfil Municipal (2015), Campo Alegre apresenta clima tro-


pical chuvoso com verão seco. Sua temperatura média anual é de 23,8ºC com
variação de até 4.0°C, entre a média máxima que ocorre em fevereiro, mês
mais quente do ano, com uma temperatura média 25,5° C; e em agosto a mé-
dia mínima é de 21,5° C, a temperatura mais baixa de todo ano (Gráfico 1).

Gráfico 1: Temperatura média em Campo Alegre-AL

25,5º C

21,5º C

Fonte: https://pt.climate-data.org/location/43047/. Adaptado.

36
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

O município apresenta pluviosidade média anual de 1121 mm e sua es-


tação chuvosa ocorre durante o outono e o inverno, sendo maio o mês com
maior índice de precipitação e novembro o mais seco. No Gráfico 2, estão
representados os índices de precipitação (em mm) referente a 2017. Nesses,
percebe-se que as estações do ano não são bem definidas, dividindo-se apenas
em período de chuva e período de estiagem.

Gráfico 2: Precipitação em Campo Alegre-AL no ano de 2017

Fonte: Elaboração autoral com base em dados da Secretaria de Estado do


Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (2018).

37
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Quanto ao microclima de Luziápolis, em função do intenso processo de


desmatamento, em que toda vegetação nativa foi substituída pela monocul-
tura canavieira, houve mudança no processo natural de evapotranspiração
da região, dando a sensação de um clima mais seco.
A ausência de cobertura vegetal de médio e grande porte nas áreas livres
públicas também contribui para que a insolação incida diretamente sobre o
solo, elevando ainda mais a temperatura e influindo no microclima local. Como
não se teve acesso a instrumentos para a análise dos ventos predominantes
da região, numa escala micro, foi adotada como parâmetro a capital do Es-
tado de Alagoas, representada na Figura 9, estando o sentido da ventilação
representado pelas setas azuis e a trajetória solar representada pelo símbolo
do sol nas cores amarelo e laranja.

38
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Figura 9: Esquema do microclima de Luziápolis

Fonte: IBGE (2010). Adaptado.

39
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Recursos Hídricos

Campo Alegre encontra-se inserida na região hidrográfica de São Miguel,


na bacia de Jequiá, que abrange uma área de 822,5k m² e tem como principais
tributários, de acordo com Mascarenhas, Beltrão e Souza Junior (2005), a
noroeste, o rio Jequiazinho e os riachos Jequiá Grande, do Matão e Aferventa;
a nordeste, o riacho Sapucaia; na porção central, os riachos Manibu ou Santa
Maria, o riacho Mandante e o Caboatã; a sudeste, o município de Campo Ale-
gre é banhado pelos riachos Baixa d’Água e o Rio Escorrega (Figuras 10 e 11).

Figura 10: Mapa de regiões hidrográficas de Alagoas com destaque para

a Região Hidrográfica de São Miguel e a Bacia Rio Jequiá

Fonte: http://perh.semarh.al.gov.br/. Acesso em abril de 2018. Adaptado.

40
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Figura 11: Localização do Riacho Escorrega na Bacia Rio Jequiá

Fonte: Adaptação de imagem aérea do Google Earth (2018).

O Rio Escorrega tem grande importância para o distrito de Luziápolis,


não apenas por questões ambientais, mas também por razões de ordem his-
tórica e cultural. Além de ser a principal fonte de abastecimento de água do
distrito, faz parte do núcleo inicial de seu povoamento (Ver mapa nº 1 na
página 48 e mapa nº 3 na página 75).
De acordo com a Lei Municipal n. 557, de 30 de junho de 2009, o Rio Escor-
rega é uma área de preservação ambiental, sendo proibido o desmatamento
e qualquer tipo de construção ao longo de sua extensão, nos 30 metros de
margem esquerda e direita. O Art. 3º da referida Lei estabelece a seguinte
punição para quem a descumprir: “Constitui infração punível com multa que
varia de meio a dez salários mínimos qualquer ação que possa comprometer
a área de preservação do RIO ESCORREGA (...)”. O Plano Diretor de Campo
Alegre (2006) também instituiu o Rio Escorrega e o riacho Pilãozinho como

41
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Unidades do Patrimônio Natural, porém o município não dispõe de políticas


de fiscalização e de controle de uso do solo que assegure o cumprimento
dessas leis. Não há também indicativo de fiscalização dos órgãos ambientais
das esferas públicas estaduais e federais nesse território.
Esse cenário favorece o aumento da degradação da mata ciliar do Rio
Escorrega para o cultivo agrícola, além do uso recreativo e de lazer nas
suas margens. Outro fator que preocupa a existência do Rio do Escorrega é
a ampliação da rede de abastecimento de água em razão do crescimento da
população do Distrito.

Cobertura Vegetal

Segundo Moura (2006), o território de Campo Alegre está dentro do do-


mínio da Mata Atlântica alagoana e é constituído por dois tipos de formações
florestais: Floresta Estacional Semidecidual, que é formada por Vegetações
condicionadas por duas estações climáticas no ano, uma bastante chuvosa e
outra seca; e Floresta Ombrófila Aberta, que é formada por áreas com maior
variação de temperatura e mais dias secos durante o ano.
Em Luziápolis, a formação florestal predominantemente era de Floresta
Ombrófila Aberta, porém a maior parte dessa cobertura vegetal foi substitu-
ída pela monocultura canavieira. Hoje, ainda são encontrados remanescentes
da Mata Atlântica em áreas de difícil acesso, como o vale do Rio Escorrega
e em trechos das encostas, estando situadas em terras particulares, sendo
mantidas pela iniciativa privada. Além de sua importância ambiental, essas
áreas de conservação têm grande potencial para desenvolvimento de ativi-
dades com finalidades educativas e de lazer.
Nas demais áreas, desmatadas para o cultivo agrícola, a vegetação pre-
dominante pode ser descrita a partir da geomorfologia da região: no planalto
do tabuleiro, onde se localiza a área urbana do distrito, nas áreas privadas

42
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

são encontrados predominantemente, coqueiros (Cocos nucifera), jaqueiras


(Artocarpus heterophyllus), mangueiras (Mangifera indica), cajueiros (Anacar-
dium occidentale), etc. E como arborização das vias públicas, encontram-se
palmeiras imperiais (Roystonea oleracea) e ficus (Ficus benjamina), que são
consideradas espécies exóticas, espécies introduzidas em ecossistemas do
qual não fazem parte e muitas delas não conseguem se adaptar e podem
desaparecer (MOURA, 2006). Nas encostas, o que predominam são espécies
ruderais e eucaliptos (Eucalyptus). E no fundo do vale do Rio Escorrega são
encontradas espécies nativas como jenipapeiro (Genipa americana), cajueiro
(Anacardium occidentale), camaçarí (Caraipa densifolia), barbatimão (Stryph-
nodendron), entre outras. (Ver mapa nº 1 na página 48 e figuras 12 a 14)

Figura 12: Vegetação nas áreas livres públicas (predomínio de espécies exóticas)

Fonte: Acervo pessoal (2018).

43
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Figura 13: Vegetação na encosta e vale do Rio Escorrega em Luziápolis


(eucaliptos, reserva de Mata Atlântica e ruderais)

Fonte: Acervo pessoal (2016).

Figura 14: Cobertura vegetal nas margens do Rio Escorrega em Luziápolis

Fonte: Acervo pessoal (2018).

44
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

De todas as áreas degradadas do distrito de Luziápolis, a margem do Rio


Escorrega é a que apresenta um cenário mais perturbador, afinal trata-se de
uma APP (Área de Preservação Permanente), ou seja, uma área com a função
ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geoló-
gica e a biodiversidade, de facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, de proteger
o solo e de assegurar o bem-estar das populações humanas (BRASIL, 2012).
O preocupante cenário das margens do Rio Escorrega motivou a elabo-
ração do Projeto AMA7 (Amigos do Meio Ambiente), idealizado pelo professor
Antonino Lopes e tem como objetivo principal a reconstituição da mata ciliar
do Rio Escorrega por meio da produção e plantio de mudas com sementes
extraídas das reservas particulares existentes no distrito. Segundo o res-
ponsável pelo projeto, o viveiro já produziu mudas de 20 (vinte) espécies
nativas da mata atlântica. Entre essas estão o jatobá do cerrado (Hymenaea
stilbocarpa), a craibeira (Tabebuia aurea), a anafistula(Fabaceae), o angico
branco (Anadenanthera peregrina) etc.

Potencialidades, Problemas e Tendências de


Condicionantes Ambientais

A seguir é apresentado o quadro síntese com as principais potencialida-


des, problemas e tendências relacionadas ao eixo temático “Condicionantes
Ambientais” identificados nessa caracterização físico-territorial.

7. O Projeto Amigos do Meio Ambiente é um trabalho de Educação Ambiental desenvolvido com alunos
da rede municipal de ensino, sob coordenação do Professor e Biólogo Antonino Lopes em parceria com a
prefeitura municipal. Em 2015, ficou entre os 50 finalistas na 18ª Edição do Prêmio Educadores Nota 10 (prêmio
criado pela Fundação Victor Civita em parceria com a Fundação Roberto Marinho).

45
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Quadro 1: Síntese das potencialidades, problemas e tendências de condicionantes ambientais

QUADRO SÍNTESE - CONDICIONATES AMBIENTAIS EM LUZIÁPOLIS

Geologia, geomorfologia e pedologia


POTENCIALIDADES PROBLEMAS TENDÊNCIA ( + ) TENDÊNCIA ( - )

A geografia da região Pontos de alagamentos Tirar partido dos A mpermeabilização do


é favorável às obras de com risco de enchentes vazios urbanos para solo pode potencializar
infraestrutura urbana, por ser na parte central do implantação de áreas o risco de enchente e
predominantemente plana e distrito e no Sítio livres públicas com outros problemas.
possuir locais de drenagem Pilãozinho. função ecológica.
natural das águas pluviais.

Algumas áreas com risco de


enchente são constituídas de
vazios urbanos.

Clima
POTENCIALIDADES PROBLEMAS TENDÊNCIA ( + ) TENDÊNCIA ( - )

O clima tropical chuvoso com A ausência de cobertura Mudança no


verão seco e precipitação vegetal de nas áreas livre processo natural de
variando de 1200-2000 mm públicas contribui para a evapotranspiração que
anuais é bastante favorável a sensação de clima mais pode provocar aumento
atividades agrícolas. seco. da temperatura e
interferir no ecossistema
local.

Recursos hídricos
POTENCIALIDADES PROBLEMAS TENDÊNCIA ( + ) TENDÊNCIA ( - )

O distrito está inserido na região Degradação da mata Reconstituição da mata O aumento da


hidrográfica de São Miguel, na ciliar do rio Escorrega e ciliar do Rio Escorrega degradação da mata
bacia de Jequiá e tem o Rio exploração inadequada e ampliação de outras ciliar do Rio Escorrega
Escorrega como um dos seus para o lazer e recreação. áreas de preservação pode acarretar a
tributários. permanente. redução de sua vazão
e comprometer seu
Há um trabalho de restauração
potencial turístico e o
da mata ciliar do Rio Escorrega
abastecimento de água
sendo desenvolvido pelo pro-
do distrito.
jeto Amigos do Meio Ambiente
(AMA), desde 2015.

O Plano Diretor municipal Ausência de fiscalização


considerou, o rio Escorrega e para aplicação da
o riacho do Pilãozinho como legislação vigente.
Unidades do Patrimônio Natural.

46
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Cobertura vegetal

POTENCIALIDADES PROBLEMAS TENDÊNCIA ( + ) TENDÊNCIA ( - )

Há no distrito reservas Predominância de Ampliação da rede de Tornar-se uma região


particulares de mata Atlântica, espécies exóticas preservação. cada vez mais árida.
onde são recolhidas as nas vias públicas
sementes para a produção de arborizadas
mudas no viveiro do projeto
Desmatamento Extinção da vegetação
AMA.
de vegetação nativa.
remanescente da mata
Atlântica com finalidade
agropecuária.

Fonte: Elaboração autoral (2018).

47
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Mapa 1: Condicionantes ambientais

clique para ampliar o mapa

Fonte: Elaboração autoral com base em imagens do Google Earth.

48
Capítulo 2
Saneamento ambiental

É comum o termo Saneamento Ambiental ser confundido com Sanea-


mento Básico. Um exemplo disso encontra-se no Art. 58 do Plano Diretor de
Campo Alegre: “São componentes o saneamento ambiental de Campo Alegre
os sistemas de abastecimento d’água, de esgotamento sanitário, de drenagem
de águas pluviais e de limpeza urbana”. (CAMPO ALEGRE, 2006, p.23).
No Brasil, o Saneamento Básico é um direito assegurado pela Constituição
e definido pela Lei Federal n. 11.445, de 05 de janeiro de 2007, que estabelece,
por meio de quatro componentes, as diretrizes nacionais para o Saneamento
Básico: a) abastecimento de água potável; b) esgotamento sanitário; c) limpeza
urbana e manejo de resíduos sólidos; d) drenagem e manejo das águas plu-
viais urbanas. Saneamento Ambiental, porém, considera outros componentes
que podem contribuir com a conservação do meio ambiente e a melhoria das
condições de vida urbana e rural. Segundo a Fundação Nacional de Saúde
(2004), Saneamento Ambiental é o conjunto de ações socioeconômicas que
têm por objetivo alcançar salubridade ambiental, por meio de abastecimento
de água potável, coleta e disposição sanitária de resíduos sólidos, líquidos e
gasosos; promoção da disciplina sanitária de uso do solo, drenagem urbana,
controle de doenças transmissíveis e demais serviços e obras especializadas
com a finalidade de proteger e melhorar as condições de vida urbana e rural.
Neste capítulo será apresentado o levantamento da área de estudo no que
diz respeito ao Saneamento Ambiental, considerando os seguintes aspectos:
Abastecimento de Água, Esgotamento Sanitário, Limpeza Urbana Pública,
Drenagem Pluvial, Vetores e Poluição.

49
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Abastecimento de Água superficial e subterrânea

O sistema de abastecimento de água é “constituído pelas atividades,


infraestruturas e instalações necessárias ao abastecimento público de água
potável, desde a adução até as ligações prediais e respectivos instrumentos
de medição”, conforme o Plano Municipal de Saneamento Básico de Maceió
(2016, p.11).
No município de Campo Alegre, segundo Censo Demográfico do IBGE
(2010), os 10.919 domicílios particulares permanentes recenseados contam
com diferentes formas de abastecimentos de água, sendo o serviço predomi-
nante o de rede geral. Os dados demonstram que quase 40% desses domicílios
não têm acesso à rede geral de abastecimento ou fazem uso de outras formas
de abastecimento, elevando as problemáticas relativas à qualidade da água
ofertada (Gráfico 3).

Gráfico 3: Formas de abastecimento de água dos domicílios particulares permanentes

Fonte: IBGE - Censo Demográfico (2010). Adaptado.

50
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

O abastecimento de água no Município de Campo Alegre-AL é de res-


ponsabilidade do SAAE (Serviço Autônomo de Água e Esgoto), em parceria
com a prefeitura. O presidente do SAAE, em entrevista, afirmou que o mu-
nicípio conta com uma estrutura de 36 poços artesianos e 13 (treze) deles
estão situados em Luziápolis, mais uma adutora localizada no rio Escorrega
(Figuras 15 e 16).

Figura 15: Localização dos poços profundos no distrito de Luziápolis

Fonte: Elaboração autoral. Baseado no levantamento de campo (2018)


e imagem aérea do Google Earth (2018).

51
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Figura 16: Adutora no Rio Escorrega

Fonte: Blog do Marcio Jose (2017).

Em Luziápolis, a captação de água subterrânea foi adotada pela população


como alternativa de abastecimento desde anos 70. De acordo com moradores
mais antigos do distrito, nessa época, a falta de abastecimento de água era
um dos maiores problemas de Luziápólis, e por essa razão muitos moradores
ainda mantêm cisternas e caixas d’águas em suas residências (Ver mapa nº
2 na página 67).
O levantamento de campo realizado no primeiro trimestre de 2018 e
conversas informais com funcionários da saúde do distrito de Luziápolis
apresentaram indícios de que o abastecimento de água continua sendo um
dos grandes problemas enfrentados pela população dessa localidade, e algu-
mas razões podem ser destacadas: precariedade das instalações e problemas
de manutenção e higiene no espaço de armazenamento e distribuição; pos-
sibilidade de contaminação dos lençóis freáticos devido ao grande número

52
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

de fossas rudimentares, já que a maior parte do distrito não conta com rede
pública de esgotamento sanitário. Há um crescente número de habitantes
diagnosticados com verminoses, diarreias e doenças tropicais, doenças ligadas
à precariedade do ambiente doméstico. Quando comparado à sede municipal
e aos outros povoados do município, Luziápolis é líder nesses diagnósticos.
Infelizmente, não há estudos formais que fundamentem essa constatação e
também não é objetivo desse trabalho.
A estação de tratamento de água existente, além de apresentar proble-
mas de manutenção, não tem capacidade para tratar e armazenar toda água
necessária ao abastecimento do distrito, passando a comportar apenas as
águas da adutora do rio Escorrega, sendo as águas dos poços direcionadas
para as residências sem nenhum tratamento (Figura 17).
A maior parte dos problemas levantados anteriormente poderia ser
minimizada se as diretrizes relativas ao abastecimento de água8, presentes
no Art. 61 do Plano Diretor Participativo de Desenvolvimento Territorial
Integrado de Campo Alegre, tivessem sido implementadas.
Em janeiro de 2018 foi assinada a Autorização de Início das Obras (AIO)
dos sistemas de abastecimento de água e de esgotamento sanitário no distrito
de Luziápolis. A obra referente ao sistema de abastecimento de água prevê
“A ampliação da captação, da estação elevatória de água bruta, ampliação e
adequação da adutora de água bruta, construção do reservatório de 1.200
metros cúbicos, ETA com capacidade para 93 litros/segundo, de reservatório

8. Art. 61. São diretrizes relativas ao abastecimento de água: I - Assegurar o abastecimento de água do
município, segundo a distribuição espacial da população e das atividades socioeconômicas; II - rever
convênio firmado com a companhia concessionária do serviço, de forma a assegurar oferta de água
às demandas futuras, mediante revisão do planejamento, viabilização de recursos e antecipação do
cronograma de obras; III - assegurar a qualidade da água dentro dos padrões sanitários; IV - estabelecer
programas de reuso de água para fins outros que não o consumo humano; V - garantir o abastecimento de
água de forma gratuita para população de baixa renda; VI - elaborar e implantar projeto de conscientização
da população para evitar o desperdício de água. (CAMPO ALEGRE, 2006, p.24)

53
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

de distribuição, de rede de distribuição e cinco mil ligações domiciliares”.


(CAMPO ALEGRE..., 2018)

Figura 17: Estação de tratamento de água do distrito de Luziápolis

Fonte: Acervo pessoal (2018).

Esgotamento Sanitário

Esgotamento Sanitário é constituído pelas atividades, infraestruturas e


instalações operacionais de coleta, transporte, tratamento e disposição final
adequados de esgotos sanitários, desde as ligações prediais até o lançamento
final no meio ambiente (PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO BÁSICO DE
MACEIÓ, 2016).

54
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

De acordo com o Censo Demográfico do IBGE (2010), dos 10.919 domi-


cílios particulares permanentes recenseados em Campo Alegre-AL, apenas
24% deles apresentam esgotamento sanitário adequado, o que corresponde
a 2.620 domicílios. Quando comparado a outros municípios do Estado de
Alagoas, fica na posição 32ª de 102 municípios e quando comparado a outras
cidades do Brasil, sua posição é 3.407ª de 5.570 municípios. Em cerca de
75% dos domicílios no município campo-alegrense a forma de esgotamento
predominante é através da fossa rudimentar, porém esse número pode ser
maior se for considerado as múltiplas interpretações para os termos fossa
séptica e fossa rudimentar (Gráfico 04).

Gráfico 4: Formas de esgotamento sanitário dos domicílios particulares em Campo Alegre-AL

Fonte: IBGE - Censo Demográfico (2010). Adaptado.

55
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Nas visitas de campo e entrevistas aos moradores e funcionários da pre-


feitura, constatou-se que a realidade do esgotamento sanitário de Luziápolis
apresenta cenários diferentes, mas de forma geral pode-se inferir que não
há sistema de esgotamento sanitário adequado como assegura a pesquisa
do IBGE.
O Bairro Santa Luzia é um dos contemplados com a rede geral de esgoto,
porém a maior parte de seus domicílios não tem ligação com a rede geral e por
isso mantém o uso de fossa rudimentar. A razão pela qual não existe ligação
entre os domicílios e a rede geral de esgoto pode estar relacionada ao fato
de a rede existente ter sido implantada nos anos 1990, 30 anos após o início
de povoamento do distrito. Outra dificuldade está relacionada às tipologias
de residências, casas geminadas, gerando, por isso a dificuldade de conectar
as instalações hidrossanitárias do interior das residências para a rede geral
na parte frontal do lote. Como mostram as figuras 18 e 19, há esgoto a céu
aberto escoando em valetas junto às sarjetas das calçadas.
Nos bairros Bela Vista, Boa Esperança e Novo horizonte não há nenhuma
rede de esgoto, embora existam vias já pavimentadas. E no conjunto João
José Pereira, inaugurado em 2015, há uma miniestação de tratamento de
esgoto, porém ainda não está em operação. O destino do esgoto doméstico
do conjunto é conectado à rede geral existente e redirecionado à lagoa de
estabilização localizada acerca de 1,5 km da área urbana do distrito, atual-
mente sem manutenção.
A Autorização de Início das Obras (AIO) do sistema de esgotamento sa-
nitário para Luziápolis, assinada em janeiro de 2018, prevê: “21.372 metros
de rede coletora, com 3 estações elevatórias, a Estação de Tratamento de
Esgoto (ETE) e também cinco mil ligações domiciliares”(CAMPO ALEGRE...,
2018). Parte dessas propostas já fazia parte do conjunto de diretrizes rela-

56
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

tivas ao esgotamento sanitário9 apresentadas no Plano Diretor de Campo


Alegre (2006).

Figura 18: Esgoto doméstico a céu aberto nas sarjetas na Av. Manoel Firmino

Fonte: Acervo pessoal (2018).

9. Art. 61. São diretrizes relativas ao esgotamento sanitário: I - Implantar o sistema de esgotamento sanitário
em todo Município de Campo Alegre; II - Elaborar um plano de Esgotamento Sanitário de Campo Alegre,
contemplando todos os povoados; III - Rever o convênio firmado com a concessionária do serviço, de forma a
assegurar a antecipação do cronograma de obras; IV - Viabilizar a implantação de estações de tratamento
de esgoto; V - Priorizar a implantação de um sistema de esgotamento sanitário que permita o reuso da
água para irrigação das lavouras; VI - Promover a manutenção da lagoa de estabilização de Luziápolis;
VII - Incentivar o uso de sistemas de fossas sépticas para tratamento de dejetos domésticos, bem como
de poços de monitorização para o controle de contaminação do lenço freático nas áreas desprovidas de
redes de esgoto sanitário e onde o solo permita essa solução, e em que são utilizadas, simultaneamente,
fossas rudimentares, poços artesianos e cisternas para captação de água; VIII - Utilizar os instrumentos
urbanísticos para implantação e melhoria do esgotamento sanitário. (CAMPO ALEGRE, 2006, p.24)

57
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Figura 19: Esgoto doméstico a céu aberto e descarte de resíduos sólidos no bairro Novo Horizonte

Fonte: Acervo pessoal (2018).

Drenagem Pluvial

A drenagem e manejo das águas pluviais urbanas é o “conjunto de ati-


vidades, infraestruturas e instalações operacionais de drenagem urbana de
águas pluviais, de transporte, detenção ou retenção para o amortecimento
de vazões de cheias, tratamento e disposição final das águas pluviais dre-
nadas nas áreas urbanas”, de acordo com o Plano de Saneamento Básico de
Maceió (2016, p. 10).
A drenagem natural de Luziápolis apresenta uma configuração adaptada
à conformação do relevo existente: as áreas planas localizadas em altitudes
entre 120m e 123m direcionam o escoamento das águas para os pontos mais
baixo, como o vale do Rio Escorrega e o Riacho do Pilãozinho, no bairro Boa
Esperança.

58
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Quanto ao sistema de drenagem urbana, embora o Plano Diretor Muni-


cipal tenha apresentado, em 2006, dez diretrizes relacionadas à gestão do
sistema de drenagem, de acordo com o levantamento de campo, na maior
parte do distrito não há qualquer infraestrutura para a drenagem pluvial.
Apenas na área do conjunto habitacional João José Pereira possui um sistema
de drenagem que é direcionado para o vale do riacho Pilãozinho. Uma parte
do Bairro Santa Luzia conta com um sistema de drenagem integrado à rede
de esgotamento sanitário. Observa-se que não há manutenção nas bocas de
lobo e por isso ocorre retenção de resíduos sólidos na grade (Figura 20).

Figura 20: Boca de lobo degradada e sem manutenção no bairro Santa Luzia

Fonte: Acervo pessoal (2018).

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LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Resíduos sólidos e Limpeza Urbana

O sistema de limpeza urbana pública é o “conjunto de atividades, in-


fraestruturas e instalações operacionais de coleta, transporte, transbordo,
tratamento e destino final do lixo doméstico, industrial e do lixo originário
de varrição e limpeza de logradouros e vias públicas e recuperação da área
degradada” (PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO BÁSICO DE MACEIÓ,
2016, p.11)
De acordo o Censo Demográfico do IBGE (2010), a coleta do lixo já alcan-
çava 97% dos domicílios de Campo Alegre (Gráfico 5), mas nesse período, o
lixo coletado não era direcionado para um local apropriado. Até o final de 2017,
todo resíduo coletado era direcionado para um lixão localizado acerca de 2km
da Sede do município. Após o fechamento do lixão, em novembro de 2017, o
município montou uma estação de transbordo (ao lado do antigo lixão) para
receber o lixo coletado e direcioná-lo à Central de Tratamento de Resíduos
Sólidos (CTR) do Agreste, localizada no município de Craíbas-AL (PREFEITU-
RA..., 2017). Nos meses seguintes, após a prefeitura adquirir caminhões de
compactação, a estação de transbordo também foi desativada.

60
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Gráfico 5: Destinação do lixo dos domicílios particulares permanentes em Campo Alegre-AL

Fonte: IBGE - Censo Demográfico (2010). Adaptado.

Em Campo Alegre, a gestão dos serviços de limpeza urbana é de res-


ponsabilidade da Secretaria Municipal de Urbanismo e Serviços Públicos. Já
o trabalho de coleta seletiva é realizado pela COOPECMARCA (Cooperativa
de Trabalhadores de Materiais Recicláveis de Campo Alegre), fundada em
2014; o município conta ainda com o Comitê de Resíduos Sólidos formado por
representantes do poder público municipal, membros da COOPECMARCA e
representantes de diferentes segmentos da sociedade civil organizada.
A COOPECMARCA é formada por 11 (onze) catadores (8 da Sede municipal
e 3 de Luziápolis). Segundo balanço divulgado pela Secretaria de Estado do
Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (SEMARH-AL), a cooperativa recolhe,
em média, 25 (vinte e cinco) toneladas de resíduos recicláveis por mês. Re-
centemente, a instituição recebeu bicicletas ecológicas, doadas pelo Projeto
Relix (com apoio do SEBRAE e da SEMARH).

61
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Em Luziápolis, segundo representante da Secretaria Municipal de Urba-


nismo, a prefeitura realiza coleta de lixo em todas as áreas residenciais com
regularidade e em dias e horários preestabelecidos (terça-feira, quinta-feira e
sábado – entre 6 e 14 horas). Porém, durante as visitas de campo foi observado,
especialmente nos bairros Bela Vista e Novo Horizonte, pontos de acúmulo
de resíduos em terrenos baldios, tanto lixo doméstico quanto de entulho da
construção civil (Figura 21). Outro problema de coleta ocorre durante a esta-
ção chuvosa, pois duas áreas do distrito (Sítio Pilãozinho e Escorrega) ficam
sem a coleta regular, devido à precariedade das vias de circulação de veículos.

Figura 21: Pontos de acúmulo de resíduos sólidos no bairro Bela Vista

Fonte: Acervo pessoal (2018).

Sobre a coleta seletiva, em Luziápolis precisaria ser desenvolvido um


trabalho de educação ambiental mais eficiente com a comunidade do distrito
que evidenciasse a relevância da coleta seletiva, pois a Cooperativa ainda está
muito restrita à Sede municipal.

62
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Vetores e Poluição

Vetores são animais como ratos, insetos (moscas, mosquitos, pulgas e


baratas), entre outros, que são capazes de transmitir doenças como: leptos-
pirose, malária, dengue, febre amarela, entre outras, para um ser humano de
maneira ativa ou passiva. Normalmente ocorrem pela ausência de qualidade
no saneamento básico.
O descarte irregular de resíduos sólidos (Figura 22), o armazenamen-
to inadequado de água em alguns domicílios, e, sobretudo a precariedade
do sistema de esgotamento sanitário inspiram cuidado e requer vigilância
constante no controle dos vetores, afinal esses cenários configuram-se como
ambientes propícios à reprodução dos mosquitos Aedes Aegypti, por exemplo,
e outros animais como cobras e escorpiões.

Figura 22: Área foco de vetores na Rua Fernando Coutinho

Fonte: Acervo pessoal (2018).

63
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Vale salientar que, de acordo com a conversa informal com agente de


Endemias de Luziápolis, no verão de 2018, a taxa de crescimento de doenças
causadas pelos vetores, como Dengue, Zica e Chikungunya, comparado com
alguns anos atrás, teve uma redução considerável.

Potencialidades, Problemas e Tendências


de Saneamento Ambiental

A seguir é apresentado quadro síntese com as principais potencialidades,


problemas e tendências relacionadas ao eixo temático “Saneamento Ambien-
tal” identificadas nessa caracterização físico-territorial.

Quadro 2: Síntese das potencialidades, problemas e tendências de saneamento ambiental

QUADRO SÍNTESE - SANEAMENTO AMBIENTAL EM LUZIÁPOLIS

Abastecimento de água superficial e subterrânea

POTENCIALIDADES PROBLEMAS TENDÊNCIA ( + ) TENDÊNCIA ( - )

Existe uma estação de Precariedade das Melhoria na oferta Agravamento das


tratamento de água localizada instalações e problemas dos serviços de doenças relacionadas
no bairro Santa Luzia e uma de manutenção e abastecimento de água a precariedade do
adutora no Rio Escorrega. higiene no espaço de e das condições de vida saneamento ambiental
armazenamento e urbana e rural. e comprometimento da
No início de 2018, o distrito foi distribuição de água saúde pública.
contemplado com recurso existente.
para obra de ampliação e
adequação do sistema de
abastecimento de água.

O Plano Diretor de Campo


Alegre apresenta diretrizes
relativas ao abastecimento de
água.

64
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Esgotamento sanitário

POTENCIALIDADES PROBLEMAS TENDÊNCIA ( + ) TENDÊNCIA ( - )

No início de 2018, o distrito foi O padrão das Melhoria na oferta Possibilidade de


contemplado com recurso residências dificultará dos serviços de contaminação dos
para obra de ampliação e na ligação entre o esgotamento sanitário lençóis freáticos devido
adequação do sistema de esgotamento doméstico e das condições de vida ao grande número de
esgotamento sanitário. e a rede geral. urbana e rural. fossas rudimentares e
comprometimento da
O Plano Diretor de Campo Não há fiscalização e saúde pública.
Alegre apresenta diretrizes monitoramento das
relativas ao esgotamento diretrizes do Plano
sanitário. Diretor.

Existe no distrito uma A miniestação de


miniestação de tratamento de tratamento de esgoto
esgoto implantada em 2015 no não está em operação e
Conjunto João José Pereira; e a lagoa de estabilização
uma lagoa de estabilização está sem manutenção
com sistema anaeróbio há décadas.
de tratamento de esgoto
implantada na década de 1990.

Limpeza urbana

POTENCIALIDADES PROBLEMAS TENDÊNCIA ( + ) TENDÊNCIA ( - )

Há no município uma Coo- A população ainda não Melhoria na oferta dos Aumento da degradação
perativa de Trabalhadores aderiu à coleta seletiva. serviços de limpeza ambiental.
de Materiais Recicláveis de urbana e consolidação
Campo Alegre e um Comitê de dos programas de
Resíduos Sólidos. educação ambiental.

No final de 2017, os lixões do


município e do distrito foram
desativados.

O Plano diretor de Campo Ale-


gre apresenta doze diretrizes
relativas à limpeza urbana

A coleta de lixo alcança quase Falta de acessibilidade


100% dos domicílios do distrito. em determinadas áreas
do distrito ficam sem
a coleta regular (em
períodos chuvosos).

65
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Drenagem urbana

POTENCIALIDADES PROBLEMAS TENDÊNCIA ( + ) TENDÊNCIA ( - )

A drenagem natural de Luziá- Na maior parte do Melhoria na oferta dos Problemas de


polis apresenta uma configu- distrito não há qualquer serviços de drenagem alagamentos
ração adaptada à conforma- infraestrutura para a urbana
ção do relevo existente. drenagem pluvial

O Plano diretor de Campo


Alegre no Art. 63 apresenta (10)
dez diretrizes relativas à drena-
gem urbana.

Vetores e poluição

POTENCIALIDADES PROBLEMAS TENDÊNCIA ( + ) TENDÊNCIA ( - )

O distrito conta com 100% de O descarte irregular Melhoria das condições Agravamento das
cobertura dos agentes de de resíduos sólidos, de vida urbana e rural da doenças causadas por
endemias. o armazenamento população. vetores.
inadequado de água
em alguns domicílios
e a precariedade do
sistema de esgotamento
sanitário contribuem
para proliferação de
vetores.

Fonte: Elaboração autoral (2018).

66
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Mapa 2: Saneamento ambiental

clique para ampliar o mapa

Fonte: Elaboração autoral com base em imagens de satélite do Google Earth.

67
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

68
Capítulo 3
Uso e ocupação do solo

Neste eixo temático será apresentado o levantamento da área de estudo


no que diz respeito às diversas formas de uso e ocupação do solo, identifi-
cando-as quanto ao processo histórico de ocupação, Formas de Ocupação,
Parcelamento e Traçado da Malha Urbana, Tipos e Classificação de Ocupação
e Uso do Solo, e os Vazios Urbanos.

Processo Histórico de Ocupação de Luziápolis

Figura 23: Cronologia dos fatos que marcaram a história do distrito de Luziápolis

Fonte: Elaboração autoral (2018).

Durante a realização dessa pesquisa não foram encontrados registros


cartográfico, histórico e/ou fotográfico que apresentassem o processo de
ocupação do distrito de Luziápolis. O único documento que descreve um
pouco desse processo é o Marco Situacional do Projeto Político Pedagógico
da Escola Municipal de Ensino Fundamental Felizardo Souza Lima, elaborado
em 2012. Apesar do material não fazer referência, a metodologia utilizada

69
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

na sua elaboração consistiu-se basicamente por conversas informais com


moradores mais antigos da região.
O levantamento dos primeiros habitantes de Luziápolis constatou que
as famílias que iniciaram a ocupação territorial do distrito foram: Firmi-
no, Guedes, Mizael, Balbino, Lopes, Oliveira, Batista, Cristovão e Felizardo.
A partir de entrevistas com representantes de algumas dessas famílias
construiu-se o Mapa de Evolução do Traçado Urbano de Luziápolis (mapa
nº 3, pag. 75) e uma descrição histórica de ocupação de Luziápolis apre-
sentada a seguir:
Luziápolis começou a ser ocupada por volta de 1940, mas, segundo
relatos, já era um lugar de encontro entre feirantes e agricultores vindos
dos municípios de Junqueiro, Penedo e outras regiões, em direção às feiras
livres do Povoado Usina Sinimbú (Jequiá da Praia) e da cidade de São Miguel
Campos. Esses viajantes costumavam descansar sob a copa de uma árvore
frondosa10 localizada na fazenda Gruta Vermelha a qual deram o nome de
“Pau do Descanso” e mais tarde tornou-se o nome do povoado. Vale ressaltar
que o meio de transporte utilizado por eles era o de tração animal, logo a
pausa para livrar-se do cansaço era parte da viagem e o local escolhido era
bem oportuno para essa finalidade.
A primeira habitação do distrito foi construída pelo doceiro Antônio
Cassimiro, próximo à árvore do descanso, nas proximidades da Fazenda
Gruta Vermelha, uma cabana de palha que se tornou também o primeiro
ponto comercial. Nessa época, a maior parte do solo da região era coberta
por mata atlântica nativa e, gradativamente, foi sendo devastada pelos pró-
prios moradores. No início, para produção clandestina de carvão vegetal e,

10. A espécie era a Luehea divaricata, popularmente conhecida como Açoita Cavalo. Infelizmente, o local
de sua existência não foi preservado e os moradores entrevistados desconhecem o espaço exato de sua
localização, sabe-se apenas que ficava na Fazenda Gruta Vermelha.

70
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

mais tarde, para o cultivo da cana de açúcar para abastecimento das Usinas
Canavieiras dos arredores.
Os vetores de crescimento dessa região partiram do Escorrega e da
Fazenda Gruta Vermelha em sentido Fazenda Cachoeirinha e Estrada Velha.
As atividades sociais e econômicas aconteciam nesse núcleo inicial de ocu-
pação e no eixo viário da Estrada Velha (principal via de acesso ao povoado,
atualmente, Avenida Manoel Firmino), onde havia igreja, restaurante, hotel
e algumas residências. Segundo um dos entrevistados, nos primeiros anos
de ocupação, o fator mobilidade era um dos maiores atrativos do povoado,
pois já existia uma conexão entre ele e a capital do estado através da linha
de ônibus conhecida na região como “Penedense”, com rota diária de Maceió
à Penedo, antes da construção da BR-101 ele circulava pela Estrada Velha.
A construção da BR-101, entre as décadas de 1950 e 1960, desencadeou
uma nova configuração para a paisagem urbana local e determinou novas
centralidades. Para estabelecer uma conexão entre a nova rodovia e o núcleo
inicial de povoamento era necessária a abertura de vias. As primeiras ruas
abertas foram a Santo Antônio, Joana D’arque, São Sebastião, Rua da Paz e
8 de Junho. Nessa última rua, na década de 1960, foi construída a Escola de
1º Grau Rui Barbosa (Atual Escola Municipal de Educação Básica Felizardo
Souza Lima). Mas a primeira escola do Distrito foi a Escola Manoel Firmino
da Silva, localizada no Sítio Escorrega. Também existia na região a Escola
Fernando Saraiva, localizada na Fazenda Cachoeirinha.
Entre a segunda metade dos anos 70 e início dos anos 80 foram abertas
as ruas Santa Luzia, Antônio Florêncio, Cândido Teixeira e Santa Tereza, dessa
vez unificando o povoado à Fazenda Cachoeirinha. Nesse intervalo também foi
construída a Igreja de Santa Luzia, primeira igreja católica do povoado (Figura
24). Antes, as celebrações religiosas aconteciam em uma capelinha situada
ao lado do primeiro Cemitério público localizada na Fazenda Cachoeirinha.

71
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Figura 24: Paróquia de Santa Luzia, localizada na Rua Santa Luzia

Fonte: Acervo pessoal (2018).

Até final dos anos 80, o povoado era denominado “Pau do Descanso”. In-
comodados com o caráter depreciativo atribuído ao nome “Pau do Descanso”,
um grupo de jovens da igreja católica liderado pelo senhor Dorgival Gonçalves
realizou uma consulta pública junto à comunidade local sobre a possibilida-
de de mudança de nome do povoado. Na ocasião, foram apresentadas três
opções: Luziápolis, Campo Novo e Pau do Descanso. A maioria dos votos foi
para Luziápolis, uma homenagem à padroeira local, Santa Luzia.
O distrito de Luziápolis teve seu processo de ocupação mais intenso en-
tre as décadas de 1990 e 2000, provocado pelo êxodo rural. Nesse período,
consolidou-se como vetor de crescimento urbano a região ao norte do distrito
(Figura 25). Na segunda metade dos anos 2000, o início da obra de duplicação
da BR-101 induziu novas centralidades. O setor comercial do distrito que ficava
situado na Avenida Eugênia Albuquerque, às margens da rodovia federal, foi
transferido para o interior do distrito.

72
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Figura 25: Av. Manoel Firmino em 1990 (Trecho paralelo a Av. Wilson Lopes)

Fonte: Acervo da família Balbino.

Em 2015, foi inaugurado o Conjunto Habitacional de Interesse Social


João José Pereira, o primeiro do distrito. Localizado na zona oeste do distrito,
ocupando uma área aproximada de 200.000 m², é formado por 542 unidades
habitacionais e duas áreas verdes públicas. Beneficiou os moradores locais
que viviam em vilas ou em casas alugadas, reduzindo o déficit habitacional.
Também foram beneficiados moradores de outra localidade, pois cerca de
30% das unidades habitacionais do Conjunto foram destinadas a famílias da
Usina Sinimbú, povoado do município de Jequiá da Praia, localizado a 6 km do
distrito de Luziápolis.
Em 2018, a retomada da obra de duplicação da BR 101 trouxe para o
distrito intervenções de grandes impactos para a paisagem urbana e para
a vivência dos moradores locais, entre elas destaca-se a construção de uma
passarela sobre a rodovia ligando o bairro Santa Luzia ao bairro Boa Espe-
rança (Figura 26 e 27). Outra intervenção que merece ser destacada consiste
nas obras de ampliação e adequação do sistema de abastecimento de água

73
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

existente, a instalação do novo sistema de esgotamento sanitário, e de pavi-


mentação do distrito. Como essas obras de intervenção estão sendo executa-
das paralelamente a realização dessa pesquisa, não há elementos suficientes
para analisá-las.

Figura 26: Duplicação da BR-101 (Vista da passarela)

Fonte: Acervo pessoal (2018).

Figura 27: Passarela para travessia de pedestres sobre a BR-101

Fonte: Acervo pessoal (2018).

74
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Mapa 3. Evolução do traçado urbano

clique para ampliar o mapa

Fonte: Elaboração autoral com base em imagens de satélite do Google Earth.

75
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Formas de Parcelamento e Traçado da Malha Urbana

As normas gerais de parcelamento do solo urbano são regidas pela Lei


Federal n. 6.766, de 19 de dezembro de 1979. Questões mais específicas, com
peculiaridades regionais e locais, são estabelecidas por legislação estadual ou
municipal. De acordo com a Lei n. 6.766/19, o parcelamento do solo urbano
poderá ser feito mediante loteamento ou desmembramento:

§ 1o Considera-se loteamento a subdivisão de gleba em lotes destinados a


edificação, com abertura de novas vias de circulação, de logradouros pú-
blicos ou prolongamento, modificação ou ampliação das vias existentes.
§ 2o Considera-se desmembramento a subdivisão de gleba em lotes des-
tinados a edificação, com aproveitamento do sistema viário existente,
desde que não implique na abertura de novas vias e logradouros públi-
cos, nem no prolongamento, modificação ou ampliação dos já existentes.
(BRASIL, 1979.)

O município de Campo Alegre-AL possui Código de Obras e Plano Diretor,


mas nenhum desses documentos apresenta parâmetros de uso e ocupação
específicos para o distrito de Luziápolis. O município também não conta com
Código de Urbanismo e também não há políticas locais que orientem o uso do
solo nessa localidade.
Em Luziápolis, o parcelamento do solo ocorreu por meio de loteamento
com a subdivisão de glebas e abertura de vias de circulação. Essas glebas não
seguiram parâmetros legais, cada uma pertencia a uma determinada família e
os parâmetros para suas subdivisões eram estabelecidos pelos proprietários
das terras, resultando em uma diversidade de parcelamento do solo (Figura 28).
Segundo entrevistas com representantes das famílias fundadoras do dis-
trito, até os anos 1970, a divisão das terras ocorria apenas entre os próprios
familiares. A partir daí os lotes ganharam um caráter comercial. Os primeiros

76
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

lotes comercializados situavam-se na Rua Santo Antônio no bairro Santa Lu-


zia e mediam 11mx35m. Na década de 1980, os Batistas comercializaram os
primeiros lotes do bairro Novo Horizonte, cujas dimensões eram de 6mx20m,
esse último dimensionamento serviu de parâmetro para os parcelamentos
subsequentes, tornando-se o tamanho de lote predominante no distrito. Em
2015, novas formas de parcelamento foram implantadas através do Conjunto
Habitacional de Interesse Social - João José Pereira, ocupando uma área apro-
ximada de 200.000 m². Constituído por 14 quadras e 542 lotes, sendo 16 lotes
comerciais e os demais lotes residenciais; grande parte dos lotes residências
tem formato retangular e possui as dimensões de 7,5 x 17 metros.

Figura 28: Posse das terras do distrito de Luziápolis

Fonte: Elaboração autoral (2018). Baseada nas entrevistas semiestruturadas.

77
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Outra característica marcante nos lotes do distrito é que a maior parte


deles dá frente para uma determinada rua, ou seja, são lindeiros em relação
à via. A exceção está nos lotes do Conjunto João José Pereira que possuem um
recuo frontal de 05 (cinco) metros. Existe ainda alguns lotes de baixa densida-
de de ocupação, geralmente pertencentes às famílias fundadoras do distrito.
Em relação ao traçado da malha urbana, de acordo com Santos (1988),
os elementos estruturadores do espaço urbano são os lotes, quarteirões e as
ruas; e o conjunto desses elementos estruturadores compõe a malha urbana.
O sistema da malha urbana do distrito de Luziápolis caracteriza-se como
malha urbana ortogonal e isso se deve, principalmente, a sua topografia
plana. Porém, seu traçado tem algumas singularidades no que diz respeito
à dimensão das ruas e formação das quadras. Isso ocorre porque cada gleba
apresenta característica de parcelamento próprio e tem relação direta com
seu traçado original e o processo histórico de ocupação.
O bairro Santa Luzia iniciou sua ocupação nas faixas lindeiras à Av.
Manoel Firmino e à BR 101; em relação ao seu traçado tem como principais
características as ruas longilíneas e uma variedade na dimensão dos lotes;
o bairro Novo Horizonte apresenta um traçado mais permeável e percebe
integração entre outros bairros do distrito; já o Conjunto João José Pereira,
última área urbanizada até 2018, além de possuir um traçado completamente
diferente das demais áreas do distrito, estabelece poucas conexões com o
sistema viário existente (Figuras 29 e 30).

78
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Figura 29: Traçado urbano do distrito de Luziápolis em 2018

Fonte: Elaboração autoral a partir de imagem do Google Earth (2018).

Figura 30: Vista área do Conjunto Habitacional João José Pereira

Fonte: Site da Prefeitura de Campo Alegre11 .

11. Disponível em: http://campoalegre.al.gov.br/userfiles/galeria/img25916.JPG. Acesso em jan. 2018.

79
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Tipos de Ocupação e Uso do Solo

No distrito de Luziápolis, a tipologia de uso predominante é a de uso


residencial. Segundo levantamento cadastral (2015) realizado pelo setor de
Tributos da prefeitura municipal, Luziápolis conta com 3.323 residências, 241
terrenos e 75 estabelecimentos de comércio e serviços. A maior parte deles
não possui registro cartorial. Na última década, Campo Alegre participou
de três edições do Programa Moradia Legal (um convênio entre Tribunal de
Justiça, Prefeitura e Cartório). Na primeira edição (Moradia Legal I – 2015),
foram entregues 200 registros de imóveis para a sede municipal; na segunda
edição (Moradia Legal II – 2016), foram entregues 950 registros, uma média de
40% foi de imóveis de Luziápolis; na terceira edição (Moradia Legal III – 2017),
foram realizados 223 registros, sendo 114 para o distrito de Luziápolis e os
demais para a Sede municipal (Informações obtidas por meio da Secretaria
Municipal de Assistência Social).
Para identificação dos tipos de uso do solo urbano no distrito de Luziápo-
lis, como não há Código de Urbanismo no município de Campo Alegre, foram
usados como referência os conceitos aplicados no artigo 250 do Código de
Urbanismo de Maceió, que considera os seguintes usos: Residencial, Comer-
cial, Serviços, Institucional, Industrial, Agropecuário, Misto e Áreas Públicas
Paisagísticas. (Ver mapa nº 4 na página 96).

80
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Uso Residencial

O uso residencial é destinado à moradia de caráter permanente, unifa-


miliar, multifamiliar ou coletivo (MACEIÓ, 2007). Luziápolis é predominan-
temente residencial e as tipologias mais comuns são as casas conjugadas12
unifamiliares de gabarito térreo, com exceção das áreas comerciais, onde
predominam o uso misto, com comércio ou serviço no térreo e residência no
pavimento superior. Há também muitas vilas residenciais, estando cerca de
90% delas sem uso e/ou abandonadas (Figuras 31 a 34).

Figura 31: Tipologia residencial predominante no distrito de Luziápolis

Fonte: Acervo pessoal (2018).

12. As casas conjugadas são aquelas que têm parede divisória junta e independente e formam um conjunto
arquitetônico único (MACEIÓ, 2007, p.128).

81
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Figura 32: casa A. Vila residencial abandonada (Rua Santa Quitéria)

Fonte: Acervo pessoal (2018).

Figura 33: Casa B. Casa de taipa abandonada (Rua Joana Darque)

Fonte: Acervo pessoal (2018).

82
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Figura 34: Casa C. Habitação de interesse social (Conjunto João José Pereira)

Fonte: Acervo pessoal (2018).

Quanto aos aspectos construtivos, a maioria das residências é de alvena-


ria. No distrito há algumas unidades habitacionais de taipa e a maior parte
delas localiza-se no Bairro Santa Luzia. Em 2017, a prefeitura iniciou o trabalho
de substituição das residências de taipa por alvenaria. Assim, algumas dessas
unidades habitacionais foram construídas por meio do Programa Municipal
Minha Casa Renovada, outras entraram no Programa Nacional de Habitação
Rural (PNRH). Essa ação faz parte das metas do Plano de Habitação de Inte-
resse Social do Município de Campo Alegre, que consiste na construção de
casas em áreas urbanizadas para atender famílias que moram em casa de
Taipa (CAMPO ALEGRE, 2014).

83
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Uso Comercial e Serviços

O uso comercial é uma área destinada à comercialização de mercadorias.


E o uso de serviços é destinado à prestação de serviços e ao apoio às atividades
comerciais e industriais, compreendendo:

Serviços de interesse público; Serviços de saúde; Serviços técnico-profis-


sionais; Organizações cívicas, políticas e de interesse coletivo; Serviços
de educação; Serviços de diversão e comunicação; Serviços de auxílio à
agricultura; Serviços de auxílio aos transportes; Instituições religiosas;
Serviços pessoais; Serviços domiciliares; Serviços de reparação e con-
servação; Serviços de alojamento e alimentação; Entidades esportivas
e recreativas; Instituições de crédito, seguro, capitalização, comércio e
administração de valores mobiliários e imóveis; Entidades de classe, sin-
dicais e órgãos de previdência; Serviços de assistência social; Instituições
científicas, culturais, tecnológicas e filosóficas; entre outros serviços
(MACEIÓ, 2007, p. 61).

Como a maioria das cidades de pequeno porte da região da Zona da


Mata, Luziápolis conta com uma área comercial pouco expressiva, mas há
uma variedade de oferta de produtos e serviços que atende minimamente
à localidade, tais como posto de combustível, farmácias, supermercado e
mercadinhos, distribuidoras de gás e água, lojas de materiais de construção,
salões de beleza, açougue, entre outros. A maior parte deles está localizada
no bairro Santa Luzia. No distrito também há uma feira livre, que funciona
aos sábados pela manhã. O espaço reservado para essa importante atividade
comercial é um pátio localizado entre as ruas Otília Maria e Santa Quitéria,
que é enquadrado pelo mercado público municipal, pelo Clube Recreativo de
Luziápolis e por outros espaços de comércio e serviço. Antes da construção
da praça Multieventos (até o primeiro trimestre de 2018), os eventos cívicos,
recreativos e sociais aconteciam nesse espaço (Figuras 35 e 36).

84
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Figura 35: Bar localizado no pátio da feira no bairro Santa Luzia

Fonte: Acervo pessoal (2018).

Figura 36: Vista panorâmica da feira livre

Fonte: Acervo pessoal (2018).

Não há nenhuma relação comercial entre o distrito e a sede municipal. Os


bens e serviços oferecidos localmente têm custo elevado e pouca variedade,
fator que não contribui para uma boa relação comercial com a comunidade
local. As demandas dos moradores que dispõem de melhor poder aquisitivo
são atendidas por cidades como Maceió, São Miguel dos Campos, Teotônio
Vilela e Arapiraca.

85
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Uso Misto

O uso misto é aquele que agrupa em uma mesma edificação ou num con-
junto integrado de edificações em um mesmo lote, 2 (duas) ou mais categorias
de uso. (MACEIÓ, 2007).
Em Luziápolis, identificou-se o uso misto em vários pontos do distrito,
normalmente oferecendo o comércio de alimentos e serviços. A maior con-
centração desse tipo de uso está na área central do distrito, na Av. Manoel
Firmino e na Rua Fernando Coutinho, outra via com forte tendência para
aumento desse tipo de uso é a Av. Wilson Lopes, antiga “rua das canas” (Ver
mapa nº 4 na página 96).

Uso Industrial

Segundo do Código de Urbanismo e Edificações de Maceió (2007), o uso


industrial é aquele destinado à extração, beneficiamento, desdobramento,
transformação, manufatura, montagem, manutenção ou guarda de matérias-
-primas ou mercadorias de origem mineral, vegetal ou animal. Com essas
características de uso, em Luziápolis, encontramos padarias, serralherias e
o Engenho Caraçuípe, uma empresa produtora de cachaça comercializada na
maioria dos estados brasileiros e premiada internacionalmente (Figura 37).

86
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Figura 37: Engenho Caraçuípe localizado às margens da BR 101

Fonte: Acervo pessoal (2018).

Uso Institucional

O uso institucional é “exercido por atividades de prestação de serviço


público por parte do governo estadual, municipal ou federal” (MACEIÓ, 2007,
p. 131).
Entre 2014 e 2018, foi o período com maior investimento na implantação
de instituições públicas em toda história do distrito de Luziápolis, sendo a
maior parte delas implantada no entorno imediato do Conjunto João José Pe-
reira. Nesse período, Luziápolis recebeu escolas, creches, Unidades Básicas
de Saúde (UBS), sede do Conselho Tutelar Referencial (primeiro construído
no Nordeste do Brasil), quadra poliesportiva, complexo nutricional, academia
da saúde, cemitério para pessoas e praça multieventos (Figuras 38 a 40).

87
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Figura 38: Conselho Tutelar Referencial

Fonte: Acervo pessoal (2018).

Figura 39: Unidade Básica de Saúde

Fonte: Acervo pessoal (2018).

88
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Figura 40: Cemitério Municipal para pessoas

Fonte: Acervo pessoal (2018).

Lazer e Recreação

Lazer e recreação são formados por áreas reservadas para atividades


culturais, cívicas, esportivas e contemplativas. No distrito de Luziápolis,
existem o balneário Escorrega, uma casa de show (Clube Recreativo de Luzi-
ápolis), clubes privados com bares e espaços de lazer com piscina e quadras
(Figuras 41 e 42).

89
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Figura 41: Balneário Escorrega

Fonte: Acervo pessoal (2018).

Figura 42: Clube Recreativo de Luziápolis

Fonte: Acervo pessoal (2018).

90
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Uso Agropecuário

Uso destinado ao cultivo de produtos agrícolas de subsistência e/ou à


criação de animais, cujo manejo seja compatível com a Área Urbana. Esse uso
é predominante nas áreas livres e fazendas localizadas no entorno do distrito,
embora seja mais expressivo no Sítio Pilãozinho e no vale do Rio Escorrega.
As atividades agrícolas é o setor produtivo com grande expressividade
no distrito de Luziápolis e um dos principais responsáveis pela geração de
emprego e renda nessa localidade. Em relação a produção agrícola, além da
cana-de-açúcar, cultivam-se mandioca, banana e coco-da-baia. Na pecuária,
a maior parte da produção é a de carne bovina, aves e mel de abelha (Figura
43 e Tabela 1).

Figura 43: Uso agropecuário Grota do Escorrega

Fonte: Acervo pessoal (2018).

91
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Tabela 1: Produção agropecuária no município de Campo Alegre-AL em 2013

Agropecuária 2013

Cana-de-açúcar - (t) 1.145.000

Mandicoca - (t) 600

Banana - (t) 70

Coco-da-baia - (mil frutos) 60

Produção de mel de abelha - (kg) 1.050

Produção de leite - (mil litros) 308

Produção de ovos de galinha - (mil dúzias) 3

Produção de ovos de codorna - (mil dúzias) 2

Bovinos - (cabeças) 2.578

Galinhas - (cabeças) 820

Suínos - (cabeças) 495

Codornas - (cabeças) 300

Fonte: IBGE apud Perfil municipal (2015).

92
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Vazios Urbanos e Áreas Públicas de Interesses Paisagísticos

Ao analisar o mapa de cheios e vazios, constata-se que a malha urbanizada


de Luziápolis dispõe de muitas áreas livres com potencial para ocupação. No
entanto, nas últimas décadas, o distrito vem se expandindo para áreas do en-
torno, deixando o seu interior cada vez mais subutilizado. No que se refere às
áreas públicas paisagísticas o problema é ainda maior, pois se constatou que
Luziápolis conta com uma média de 28.600m² de áreas públicas paisagistas,
o que corresponde a apenas 1% de toda sua extensão territorial (área deli-
mitada para realização desse diagnóstico). Cerca de 10.000m² é constituído
por áreas subutilizadas (Figura 44).

Figura 44: Mapa de cheios e vazios com destaque para áreas públicas paisagísticas em Luziápolis

Fonte: Elaboração autoral (2018).

93
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Potencialidades, Problemas e Tendências de Uso e


Ocupação do Solo

A seguir é apresentado um quadro síntese com as principais potenciali-


dades, problemas e tendências relacionadas ao eixo temático “Uso e Ocupa-
ção do Solo” identificado durante o processo de elaboração do diagnóstico
físico-territorial.

Quadro 3: Síntese das potencialidades, problemas e tendências de uso e ocupação do solo

USO E OCUPAÇÃO DO SOLO EM LUZIÁPOLIS

Processo histórico de uso e ocupação do solo em Luziápolis

POTENCIALIDADES PROBLEMAS TENDÊNCIA ( + ) TENDÊNCIA ( - )

Algumas famílias que Não há registros Esse plano de Crescimento do distrito


deram início a ocupação de cartográficos, zoneamento como sem planejamento e
Luziápolis, ainda residem na históricos e/ou uma proposta inicial de registro histórico.
região. fotográficos que registro histórico.
apresentem o processo
de ocupação do distrito
de Luziápolis.

Formas de ocupação, parcelamento e traçado da malha urbana

POTENCIALIDADES PROBLEMAS TENDÊNCIA ( + ) TENDÊNCIA ( - )

O município de Campo Alegre Ausência de política Esse plano de Crescimento do distrito


possui um documento que que regulamentem e zoneamento como sem planejamento e
tratam de parâmetros de fiscalize o uso do solo uma proposta inicial de registro histórico.
parcelamento (Plano diretor). em Luziápolis. regulamentação

94
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Tipos e classificação de ocupação e uso do solo

POTENCIALIDADES PROBLEMAS TENDÊNCIA ( + ) TENDÊNCIA ( - )

O município de Campo Alegre Ocupação irregular Implementação das Aumento de


possui Plano de Habitação de na borda da encosta diretrizes do plano de construções em áreas
Interesse Social. e algumas unidades habitação. de risco.
habitacionais de taipa.

Luziápolis foi contemplado Existência de imóveis Continuidade Aumento de imóveis


com o programa "Moradia sem registro cartorial. do programa de sem registro cartorial.
Legal". regularização fundiária.

Apesar de pouco expressiva O distrito possui Ampliação da Novas áreas de


há certa variedade de uma área comercial diversificação de uso ocupação com baixa
produtos e serviços que pouco expressiva, diversificação de uso
atendem minimamente a uma concentração de
localidade. instituições públicas
de ensino e poucos
equipamentos urbanos
de lazer e recreação.

Vazios urbanos que Há muitas residências Uso desses imóveis Ampliação das áreas
possibilitam as construções desocupadas, para relocar de vazios urbanos
de equipamentos de uso principalmente vilas. moradores de áreas subutilizados.
comunitário. inadequadas.

Fonte: Elaboração autoral (2018).

95
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Mapa 4: Uso e ocupação do solo

clique para ampliar o mapa

Fonte: Elaboração autoral (2018) - Com base no Google Earth.

96
Capítulo 4
Infraestrutura urbana

Neste eixo temático, é apresentado o levantamento da área de estudo no


que diz respeito à Infraestrutura Urbana, analisando-a quanto aos seguintes
aspectos: Mobilidade (sistema Viário, classificação e tipos de pavimentação,
sinalização, passeio público e estacionamentos); transportes motorizados e
não motorizados; Comunicação; e Iluminação pública.

Mobilidade Urbana

Os artigos 16 a 18 do caderno de referência para elaboração do plano de


mobilidade urbana explicitam as atribuições legais de cada esfera do poder
público no que se refere à mobilidade urbana. Aos municípios, por exemplo,
cabe: “planejar, executar e avaliar a política de mobilidade urbana, promover a
regulamentação adequada, prestar os serviços de transporte público coletivo
urbano (caráter essencial) além de capacitar pessoas e desenvolver instituições
vinculadas à política de mobilidade urbana local” (MINISTÉRIO DAS CIDADES,
2007, p.31).
No município de Campo Alegre, não há código de Urbanismo, muito menos
Plano Municipal de Mobilidade. Existe o Plano Diretor Municipal que apresenta
um capítulo direcionado às “Políticas de Mobilidade Urbana” com diretrizes que
tratam desde a elaboração do Plano Municipal de Mobilidade à implantação de
Plano de Arborização das Vias e Passeios Públicos. O plano apresenta o seguinte
conceito de para mobilidade: “o conjunto estruturado de ações que objetivam
promover deslocamentos ágeis, seguros e a custos acessíveis de pessoas e bens
do município, que atendam aos desejos de destinos da população e provoquem
um baixo impacto no meio ambiente” (CAMPO ALEGRE, 2006, p.16).

97
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Sistema Viário, Classificação e Tipos de Pavimentação

O sistema viário é o espaço público por onde as pessoas circulam, a


pé ou com auxílio de algum veículo (motorizado ou não), articulando, no
espaço, todas as atividades humanas intra e interurbanas. Este espaço pú-
blico abriga também todas as redes de distribuição dos serviços urbanos
(abastecimento de água, energia elétrica, telefonia; etc.). (MINISTÉRIO DAS
CIDADES, 2007, p.70)
A respeito da classificação viária, o Código de Urbanismo e Edificações
de Maceió (2006), com base no Código de Trânsito Brasileiro, classifica hie-
rarquicamente da seguinte forma: via de trânsito rápido, via arterial, via
coletora, vias locais, ciclovias e vias de Pedestres13.
O sistema viário de Luziápolis, mesmo apresentando muitos problemas
de infraestrutura e mobilidade, é bastante diversificado. Nele, são encon-
trados quase todos os tipos de vias descritas acima, inclusive uma Rodovia
Federal de grande importância logística para o transporte rodoviário da
região Nordeste, a BR 101.
Outro aspecto que contribui para a caracterização do sistema viário são
dimensões mínimas para o arruamento da cidade. O Código de Urbanismo
da Cidade de Maceió (2006, p.32), no art. 94, estabelece os seguintes padrões
mínimos:

13. Via de Trânsito Rápido e Arterial: são projetadas em pistas múltiplas [...] são vias de alta capacidade
de fluxo de tráfego; Via Coletora: Via ou trecho com função de realizar a coleta e distribuição do tráfego,
alimentando as vias arteriais, regionais e locais. Apresenta equilíbrio entre fluidez e acessibilidade,
possibilitando interação com o uso e ocupação do solo; Vias Locais: Via ou trecho destinada ao tráfego
local de uma área, possibilitando o acesso às edificações, apresentam baixo tráfego, alta acessibilidade
e intensa integração com o uso e ocupação do solo.; Ciclovias: são vias com características especiais
destinadas ao trânsito de bicicletas, podendo ou não acompanhar paralelamente o traçado daquelas
destinadas às circulações de veículos automotores;Vias de Pedestres: são destinadas ao uso exclusivo de
pedestres e proibido o uso de veículos (MACEIÓ, 2006, p. 31-33).

98
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

I – vias com até 200,00 m (duzentos metros): 12,00 m (doze metros) de


largura, sendo 8,00 m (oito metros) para a pista de rolamento e 2,00 m
(dois metros) de passeio em cada lado; II – vias acima de 200,00 m (du-
zentos metros) até 600,00 m (seiscentos metros): 14,00 m (quatorze me-
tros) de largura, sendo 9,00 m (nove metros) para a pista de rolamento
e 2,50 m (dois metros e cinquenta centímetros) de passeio de cada lado;
III – vias acima de 600,00 m (seiscentos metros) até 800,00 m (oitocen-
tos metros): 18,00 m (dezoito metros) de largura, sendo 12,00 m (doze
metros) para a pista de rolamento e 3,00 m (três metros) de passeio de
cada lado; IV – vias acima de 800,00 m (oitocentos metros): 29 (vinte e
nove metros), sendo o canteiro central de 5m (cinco metros), duas pistas
de rolamento com 9 (nove metros) de cada lado e passeio de 3m (três me-
tros) de cada lado, incluindo a ciclovia; V – vias de pedestre: largura mí-
nima de 3,00 m (três metros), independentemente do seu comprimento.

Considerando os padrões descritos acima, no distrito de Luziápolis ne-


nhuma via seria aprovada, com exceção das ruas do Conjunto João José Perei-
ra. Até mesmo a Rodovia Federal apresenta inadequações, especialmente em
relação ao acesso ao distrito, pois não há nem mesmo pista de desaceleração.
Além do dimensionamento inadequado, considerando código, a maioria das
vias não são pavimentadas, não tem sinalização, não são arborizadas e todas
não proporcionam deslocamento seguro para pedestre, visto que priorizam
apenas a circulação de veículos.
A primeira via do distrito foi a Avenida Manoel Firmino (também co-
nhecida como Estrada Velha), no sentido leste, liga o distrito às fazendas
Cachoeirinha e Gruta Vermelha; no sentido oeste, à Fazenda São Sebastião e
Fazenda Mucuim. Seu traçado original possui cerca de 580m de comprimento
e de 8 a 9 metros de largura. O segundo trecho, criado em 2015, possui 350
metros de comprimento e 17 metros de largura, contando com o canteiro
central de 1 metro (Figuras 45 e 46, e Quadro de dimensão do sistema viário
na página 104).

99
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Figura 45: Avenida Manoel Firmino - Trecho I

Fonte: Acervo pessoal (2018).

Figura 46: Avenida Manoel Firmino - Trecho II

Fonte: Acervo pessoal (2018).

As últimas vias abertas no distrito foram as avenidas Wilson Lopes e Ro-


dolfo de Moraes, estando localizadas onde antes situava a Rua Wilson Lopes,
também conhecida como “Rua das Canas”. Essas avenidas possuem 13,5m
de largura com duas faixas (uma em cada sentido) e um canteiro central de
1,5m (Figuras 47 a 48).

100
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Figura 47: Rua Wilson Lopes, em 2000

Fonte: Google Street View (2018).

Figura 48: Croqui da Avenida Wilson Lopes (situação atual - 2018).

Fonte: Elaboração autoral (2018).

101
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Todas as vias de Luziápolis são de mão dupla, inclusive a Rua da Paz –


popularmente conhecida como rua estreita, menor rua do distrito. A respeito
do tipo de pavimentação, verifica-se que a maior parte das vias do distrito
não são pavimentadas, e nos trechos onde há pavimentação predomina o
asfalto (Ver mapa nº 5 na página 116).
Ainda sobre a precariedade do sistema viário de Luziápolis, com a aná-
lise dos registros fotográficos dos tipos de pavimentação local e a qualidade
destes, chegou-se a uma triste constatação: “as vias para os mortos tem mais
qualidade que as vias para os vivos” (Figuras 49 e 50).

Figura 49: Via do Cemitério Municipal Cachoeirinha

Fonte: Acervo pessoal (2018).

102
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Figura 50: Avenida Manoel Firmino

Fonte: Acervo pessoal (2018).

Em relação aos fluxos, de segunda à sexta, as ruas Santo Antônio, Fer-


nando Coutinho, São Sebastião e João Lopes, assim como as avenidas Eugê-
nia Albuquerque, Manoel Firmino e Wilson Lopes possuem fluxo intenso de
carros e pedestres durante o dia, especialmente no fim da tarde. As demais
ruas e travessas possuem fluxo moderado e fraco. Aos sábados pela manhã,
o fluxo mais intenso ocorre na Rua Santa Quitéria e Otília Maria, em razão
da feira livre, e à noite por conta do funcionamento do Clube Recreativo Lu-
ziápolis (única casa de show do distrito). E no domingo, como o comércio e
as instituições públicas estão fechados, não se observa intensidade de fluxo
em nenhuma área do distrito, com exceção da Rua Fernando Coutinho nos
finais de semana, quando há campeonato no Campo Central ou evento no
Balneário Escorrega.

103
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Figura 51: Fluxo na Avenida Manoel Firmino

Fonte: Acervo pessoal (2018).

Quadro 4: Sistema viário de Luziápolis

SISTEMA VIÁRIO DE LUZIÁPOLIS


BAIRRO SANTA LUZIA

VIA EXTENSÃO LARGURA (m) PAVIMENTAÇÃO CLASSIFICAÇÃO PREDOMINÂNCIA


DAS VIAS DE USO

AV. MANOEL 600m 8-9m BARRO ARTERIAL COMÉRCIO E


FIRMINO (ESTRADA SERVIÇO
VELHA)

AV. EUGÊNIA 600m 7m ASFALTO ARTERIAL COMÉRCIO E


ALBUQUERQUE SERVIÇO

RUA DA PAZ 560m 4m PARALELEPÍPEDO LOCAL RESIDENCIAL

AV. WILSON LOPES 550m 13,5 BARRO COLETORA COMÉRCIO, SERVIÇO


E RESIDÊNCIA

R. JOANA DARQUE 560m 6m BARRO LOCAL RESIDENCIAL

R. 8 DE JUNHO 560m 6m BARRO LOCAL RESIDENCIAL

R. OTÍLIA MARIA 560m 6m BARRO LOCAL COMÉRCIO, SERVIÇO


E RESIDÊNCIA

R. SÃO SEBASTIÃO 560m 6m BARRO LOCAL RESIDENCIAL

104
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

R. SANTA QUITÉRIA 560m 6m PARALELEPÍPEDO LOCAL COMÉRCIO, SERVIÇO


E RESIDÊNCIA

R. SANTO ANTÔNIO 560m 8m ASFALTO COLETORA COMÉRCIO, SERVIÇO


E RESIDÊNCIA

R. SANTA LUZIA 560m 6m BARRO LOCAL RESIDENCIAL

R. ANTÔNIO 460m 6m BARRO LOCAL RESIDENCIAL


FLORÊNCIO

RUA CÂNDIDO 560m 6m BARRO LOCAL RESIDENCIAL


TEIXEIRA

RUA SANTA TEREZA 460m 6m BARRO LOCAL RESIDENCIAL

BAIRRO BOA ESPERANÇA

VIA EXTENSÃO LARGURA (m) PAVIMENTAÇÃO CLASSIFICAÇÃO PREDOMINÂNCIA


DAS VIAS DE USO

AV. VALDEMAR 550m 7m BARRO LOCAL RESIDENCIAL


FIRMINO

R. JOÃO SILVÉRIO s/i s/i BARRO LOCAL RESIDENCIAL

R. PAULO SÉRGIO s/i s/i BARRO LOCAL RESIDENCIAL

R. VIVENCIA MARIA s/i s/i BARRO LOCAL RESIDENCIAL

R. 13 DE DEZEMBRO s/i s/i BARRO LOCAL RESIDENCIAL

R. EDITE PEDRO DOS s/i s/i BARRO LOCAL RESIDENCIAL


SANTOS

R. MARINETE s/i s/i BARRO LOCAL RESIDENCIAL


GOMES

R. AMORO GOMES s/i s/i BARRO LOCAL RESIDENCIAL

R. JOSE AMÂNCIO s/i s/i BARRO LOCAL RESIDENCIAL

R. MARCELO s/i s/i BARRO LOCAL RESIDENCIAL


SÉRGIO DOS

R. MANOEL s/i s/i BARRO LOCAL RESIDENCIAL


FERREIRA DE
ARAUJO

R. CICERO CORREIA s/i s/i BARRO LOCAL RESIDENCIAL


COSTA

R. DALVA DEODATO s/i s/i BARRO LOCAL RESIDENCIAL


COSTA

105
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

BAIRRO NOVO HORIZONTE

VIA EXTENSÃO LARGURA (m) PAVIMENTAÇÃO CLASSIFICAÇÃO PREDOMINÂNCIA


DAS VIAS DE USO

RUA DORGIVAL 150m 6m PARALELEPÍPEDO LOCAL RESIDENCIAL


GONÇALVES

RUA SÃO JOSÉ 150m 6m PARALELEPÍPEDO LOCAL RESIDENCIAL

RUA 25 DE MARÇO 150m 6m BARRO LOCAL RESIDENCIAL

RUA SÃO JORGE 150m 6m PARALELEPÍPEDO LOCAL RESIDENCIAL

RUA JOSÉ PEDRO DE 150m 6m BARRO LOCAL RESIDENCIAL


FARIAS

PROFª CÍCERA M. DE 150m 6m BARRO LOCAL RESIDENCIAL


MELO

RUA GENILDO 150m 6m BARRO LOCAL RESIDENCIAL


CAVALCANTE

RUA JOÃO FERREIRA 1250m 6m PARALELEPÍPEDO E COLETORA RESIDENCIAL


LOPES BARRO

RUA JOSÉ MANOEL DE 150m 6m BARRO LOCAL RESIDENCIAL


CARVALHO

RUA MANUEL OVÍDIO 150m 6m PARALELEPÍPEDO LOCAL RESIDENCIAL


GUEDES

RUA MANUEL 150m 6m PARALELEPÍPEDO LOCAL RESIDENCIAL


CRISTOVÃO

RUA ANTÔNIO 150m 6m BARRO LOCAL RESIDENCIAL


HUMBERLINO DOS
SANTOS

RUA MARIA DOMINGA 150m 6m BARRO LOCAL RESIDENCIAL

RUA LUIZ BALBINO DOS 150m 6m BARRO LOCAL RESIDENCIAL


SANTOS

RUA JOSÉ VITURINO DE 1300m 6m PARALELEPÍPEDO E COLETORA RESIDENCIAL


MORAES BARRO

RUA FERNANDO 1300m 6m PARALELEPÍPEDOE COLETORA COMÉRCIO E


COUTINHO BARRO SERVIÇO

RUA DO SOL 1300m 6m BARRO LOCAL RESIDENCIAL

RUA ERALDO BATISTA 150m 6m BARRO LOCAL RESIDENCIAL

106
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

RUA MARIA JOSE 150m 6m BARRO LOCAL RESIDENCIAL


BATISTA

RUA EDITE BATISTA 150m 6m BARRO LOCAL RESIDENCIAL

BAIRRO BELA VISTA

VIA EXTENSÃO LARGURA(m) PAVIMENTAÇÃO CLASSIFICAÇÃO PREDOMINÂNCIA


DAS VIAS DE USO

RUA SANTA ROSA 1250m 6m BARRO LOCAL RESIDENCIAL

RUA FRANCISCO 1170m 7m BARRO COLETORA RESIDENCIAL


MARQUES

RUA ANTONIO JOAQUIM BARRO LOCAL RESIDENCIAL

RUA RODOLFO DE 1100m 13,5m BARRO COLETORA RESIDENCIAL


MORAES

RUA MARIA HUMBERLINO 1130m 7m BARRO COLETORA RESIDENCIAL


DA SILVA

RUA JOSE FIRMINO DA s/i 7m BARRO LOCAL RESIDENCIAL


SILVA

RUA GILVAN PEDRO DOS s/i 7m BARRO LOCAL RESIDENCIAL


SANTOS

RUA GENILDO CORREIA s/i 7m BARRO LOCAL RESIDENCIAL

RUA DOMINGOS s/i 7m BARRO LOCAL RESIDENCIAL


FIRMINO DA SILVA

R. PEDRO AMÂNCIO DOS s/i 7m BARRO LOCAL RESIDENCIAL


SANTOS

Fonte: Elaboração autoral (2018).

Sinalização

Os conjuntos são as únicas áreas do distrito que contam com sinalização


horizontal e vertical. No bairro Santa Luzia encontram-se sinalizações indi-
cativas de nomes de ruas (Figura 52). Nos demais bairros de Luziápolis não
há nenhum tipo de sinalização.

107
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Figura 52: Sinalização vertical Avenida Eugenia Albuquerque

Fonte: Acervo pessoal (2018).

Estacionamentos

Em Luziápolis, não há estacionamento público ou privado. Assim, os


veículos são estacionados nas vias públicas ou em vazios urbanos. As aveni-
das também não contam com espaço destinado a estacionamento e não há
sinalização vertical. Tudo isso contribui para instaurar o caos no trânsito,
principalmente nos períodos e áreas de fluxo intenso.

Passeio Público

No que ser refere aos passeios públicos, em praticamente todo o distrito,


por enquanto com exceção dos conjuntos, a relação entre espaço público e
privado não parece bem delimitada. Quando existe calçada, essas são desni-
veladas e em péssimo estado de conservação (Figuras 53 e 54).

108
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Figura 53: Representação de Acessibilidade das calçadas - Rua Santa Luzia

Fonte: Acervo pessoal (2018).

Figura 54: Obstrução das vias públicas - Rua Otília Maria

Fonte: Acervo pessoal (2018).

109
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Transporte Coletivo

Há duas categorias de transporte público em Luziápolis, o escolar, que


transporta os alunos das fazendas do entorno do distrito, Sítio Pilãozinho e
Escorrega, para as escolas localizadas no distrito. A outra categoria são as
vans da Associação de Motoristas Alternativos de Luziápolis (AMALU), res-
ponsável pelo transporte intermunicipal (Figuras 55 e 56).

Figura 55: Van de transporte público


Fonte: Acervo pessoal (2018).

Figura 56: Trajeto do transporte público

Fonte: Acervo pessoal (2018).

110
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Comunicação

No distrito de Luziápolis existe um posto de atendimento dos Correios,


mas não há serviço de carteiro. Para envio e recebimento de encomendas,
os moradores precisam se dirigir ao posto dos Correios nos dias úteis, em
horário comercial.
Quanto à telefonia móvel, o distrito conta com uma transmissão de sinal
da operadora de telefonia móvel (celular) TIM. A torre passou a funcionar em
janeiro de 2014 (Figura 57).
Em relação aos serviços de Internet, a maioria da população usa o WI-FI
de empresas privadas de transmissão de internet e 3G. Mas, de acordo com
alguns moradores, a comunicação via Internet é precária.

Figura 57: Torre de telefonia móvel localizada na Rua 8 de junho

Fonte: Site da Prefeitura de Campo Alegre (2014).

111
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Iluminação Pública

Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) no Brasil, a


Resolução Normativa Nº 414/2010, sobre a Iluminação Pública, é conceituada
como “serviço público que tem por objetivo exclusivo prover de claridade nos
logradouros públicos, de forma periódica, contínua ou eventual”.
Em Luziápolis, o sistema de energia elétrica é abastecido através das
centrais elétricas administradas pela ELETROBRAS, maior empresa de ge-
ração de energia elétrica brasileira. No distrito, foram identificadas várias
tipologias de iluminação com postes localizados sempre nas calçadas, ao
longo dos logradouros, com distribuições que variam 30 a 40 metros. Dentre
as tipologias, observam-se os postes simples, que servem como estrutural
de apoio dos cabos de extensão da energia elétrica; os postes de apoio e ilu-
minação, que além de apoiar aos cabos, possuem braços com lâmpadas; e os
postes de alta tensão, com transformadores de energia.
Outra peculiaridade encontrada em Luziápolis é que o distrito é cortado
por duas redes de alta tensão (Ver mapa nº 5 na página 116).

112
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Figura 58: Iluminação pública, bairro Bela Vista

Fonte: Acervo pessoal (2018).

Potencialidades, Problemas e Tendências de


Infraestrutura Urbana

A seguir é apresentado quadro síntese com as principais potencialida-


des, problemas e tendências relacionadas ao eixo temático “Infraestrutura
Urbana” identificados durante o processo de elaboração do diagnóstico
físico-territorial.

113
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Quadro 5: Síntese dos problemas e potencialidades de Infraestrutura Urbana

INFRAESTRUTURA URBANA EM LUZIÁPOLIS

Mobilidade urbana

POTENCIALIDADES PROBLEMAS TENDÊNCIA ( + ) TENDÊNCIA ( - )

Vazios urbanos que Longas glebas e ruas Melhoria da Pouca fluidez no


possibilitam a abertura de muito estreitas e de mobilidade. transito e aumento o
novas vias. mão dupla. congestionamento em
determinadas áreas.

Está sendo construído um Pouca oferta de ponto Aumento da oferta de


terminal de passageiros. destinado a embarque ponto de ônibus.
e desembarque de
passageiros.

Sistema viário

POTENCIALIDADES PROBLEMAS TENDÊNCIA ( + ) TENDÊNCIA ( - )

As obras de pavimentação A maior parte das ruas Pavimentação de todas Impermeabilização do


do distrito iniciaram em 2018 não são pavimentadas. as ruas. solo.
e o distrito possui algumas
áreas completamente
pavimentadas.

Vazios urbanos que Construção de Aumento de vias sem


possibilitam a abertura de novas vias fora calçada, sem faixa de
novas vias. dos parâmetros serviço.
recomendados pelas
políticas de mobilidade
urbana.

114
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Iluminação pública

POTENCIALIDADES PROBLEMAS TENDÊNCIA ( + ) TENDÊNCIA ( - )

Acesso à rede de energia Iluminação pública


elétrica em todo o distrito. insuficiente ou precária.

Sinalização

POTENCIALIDADES PROBLEMAS TENDÊNCIA ( + ) TENDÊNCIA ( - )

Há sinalização vertical e Falta sinalização na


horizontal em algumas áreas maior parte do distrito.

Fonte: Elaboração autoral (2018).

115
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Mapa 5: Infraestrutura urbana

clique para ampliar o mapa

Fonte: Elaboração autoral (2018). Com base no Google Earth.

116
Capítulo 5
Aspectos socioeconômicos
Neste capítulo é apresentada uma visão geral de Luziápolis - Campo
Alegre-AL sob o ponto de vista de seus aspectos socioeconômicos. Desse
modo, foi estudado o perfil da população, analisando aspectos como evolu-
ção populacional, taxa média de crescimento, densidade demográfica e sua
distribuição segundo gênero, localização, faixa etária e população economi-
camente ativa. Nela também são apresentados levantamentos sobre desem-
penho do município nos últimos anos, frente à evolução de seus indicadores
de desenvolvimento humano, suas ações no campo da saúde, educação e
atividades econômicas.

Perfil da população

Segundo Plano Diretor de Campo Alegre (2006), o território municipal


campo-alegrense está dividido em áreas rural e urbana. A área urbana é for-
mada pelo Distrito Sede, o Distrito de Chã de Imbira e o Distrito de Luziápolis.
No entanto, o IBGE considera Luziápolis como área rural, para o tratamento
dos dados nesse trabalho foi adotada a classificação do IBGE.
Ao analisar os dados sobre a população residente por situação de domi-
cílio em Campo Alegre-AL no período de 1970 a 2010 (Gráfico 6), nota-se um
crescimento expressivo na taxa de urbanização. Mesmo assim, sua popula-
ção ainda é predominantemente rural, isso se deve principalmente ao fato
de Campo Alegre ter em seu domínio territorial um distrito que, em termos
populacionais, é maior que a maioria dos municípios alagoanos.

117
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Gráfico 6: População residente por situação de domicílio no período de 1970 a 2010

Fonte: Elaboração autoral (2018). Com base no IBGE 14 .

Em 2010, Campo Alegre ocupava a 7ª posição entre os municípios do


estado de Alagoas, apresentando um crescimento médio anual de 2,37%.
Em relação ao Censo demográfico de 2000, passou de 40.209 para 50.816
habitantes. Em 2017, a população estimada de Campo Alegre era de 57.548
pessoas, crescendo 11,7% (Gráfico 7), em relação a 2010.

14. IBGE. Disponível em:<https://sidra.ibge.gov.br/tabela/202#resultado> Acesso em 8 de abril de 2018.

118
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Gráfico 7: Evolução populacional de Campo Alegre-AL (1991 a 2017) e Luziápolis (2010 e 2017)

Fonte: Elaboração autoral (2018). Com base no IBGE (2017).

Em relação à população de Luziápolis, o IBGE (2010) subdividiu o dis-


trito em 14 (quatorze) setores censitários, conforme quadro 06 e figura 67.
Segundo esses dados, a população do distrito, em 2010, era composta por
18.504 habitantes, correspondendo a 36,4% da população de Campo Alegre,
dos quais 9.171 eram homens (49,6%) e 9.333 mulheres (50,4%). Nota-se
que a diferença populacional entre os gêneros é bem sutil. Se consideramos
a mesma estimativa de crescimento do município, pode-se inferir que, em
2017, a população de Luziápolis corresponderia a 21.649 habitantes. Não foi
possível apresentar a evolução populacional do distrito porque o IBGE passou
a trabalhar com censo por setores só a partir de 2010.
Já os dados obtidos nas visitas às Unidades Básicas de Saúde de Luziá-
polis, realizadas entre os meses de fevereiro e março de 2018, apresentaram
outra realidade referente aos seus dados populacionais (ver quadro 07). Ao
ser comparada a população estimada de Luziápolis em 2017, segundo proje-

119
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

ção do IBGE (21.649 habitantes) com os dados do E-SUS (11.851 habitantes),


nota-se uma discrepância de 40% em relação ao número de habitantes, po-
rém o mesmo não ocorre em relação número de domicílios e famílias. Diante
dessa constatação, qual dado melhor representaria a realidade populacional
de Luziápolis? Essa não é uma resposta simples, afinal tratam-se de metodo-
logias distintas de tratamento de dados e observar apenas os números não é
suficiente para entender esse dado.

Quadro 6: Perfil da população de Luziápolis - IBGE

(SENSO POR SETORES - IBGE- 2010)

SETOR CENSITÁRIO POPULAÇÃO % DOMICÍLIOS MULHERES HOMENS

1 270140705000028 1.253 2,5 237 631 622

2 270140705000027 1.999 3,9 389 1.001 998

3 270140705000026 1.938 3,8 368 985 953

4 270140705000025 1.089 2,1 274 544 545

5 270140705000024 1.013 2 241 506 507

6 270140705000023 1.543 3 310 829 714

7 270140705000022 1.247 2,5 252 637 610

8 270140705000021 766 1,5 169 355 411

9 270140705000032 1.447 2,8 288 725 722

10 270140705000031 1.027 2 198 508 519

11 270140705000030 1.434 2,8 307 701 733

12 270140705000020 986 1,9 221 521 465

13 270140705000019 1.511 3 364 767 744

14 270140705000029 1.251 2,5 300 623 628

TOTAL 18.504 3.918 9.333 9.171

Fonte: Elaboração autoral (2018). A partir da sinopse por setores IBGE (2010).

120
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Figura 59: Localização dos setores censitários em Luziápolis

Fonte: IBGE (2010). Adaptado.

Quadro 7: Perfil da população de Luziápolis (E-SUS)

(DADOS DO E-SUS)

Nº DE Nº DE MULHERES
UBS 0-2 anos
FAMILIAS PESSOAS 25-65 ANOS

AUDÁLIO ANTONIO DA SILVA


PSF 05 532 1.570 365 72
(R. São Sebastião)

JOSE FIRMINO DA SILVA NÃO


PSF 06 592 2.007 371
(R. Dorgival Gonçalves) INFORMADO

EXPERDITO SERGIO DOS SANTOS


PSF 07 417 1.643 296 55
(Av. Manoel Firmino)

MONOEL CRISTOVÃO
PSF 08 495 1.542 368 39
(R. Santa Luzia)

FRANCISCO BATISTA DA SILVA


PSF 11 748 2.491 549 75
(R. Jose Viturino de Moraes)

EXPERDITO SERGIO DOS SANTOS


PSF 20 286 1.463 335 40
Av. Manoel Firmino

PSF 21 PILÃOZINHO 387 1.135 112 13

TOTAL 3.457 11.851 2.396 294

Fonte: Elaboração autoral (2018). A partir de entrevista e dados do E-SUS (março de 2018).

121
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Estrutura etária e Indicadores de Desenvolvimento


Humano

A estrutura etária de uma população, de modo simplificado, é dividida


em três faixas: os jovens, os adultos e os idosos. Aqui, foi adotado o critério
de razão de dependência, “percentual da população de menos de 15 anos e
da população de 65 anos e mais (população dependente) em relação à popu-
lação de 15 a 64 anos (população potencialmente ativa)” no Atlas do Desen-
volvimento Humano (2013). Segundo esta estrutura, em 2010, a população
dependente representava 36,3% e população potencialmente ativa 63,7%. A
taxa de envelhecimento da população campo-alegrense passou de 2,2% em
1991 para 4,1% em 2010 (Gráfico 8).

Gráfico 8: Estrutura etária da população no período 1991 a 2010 – Campo Alegre-AL

Fonte: Elaboração autoral (2018). Baseado em Atlas Brasil (2013).

122
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

No período compreendido entre 1991 e 2010, o IDH de Campo Alegre


cresceu 48,7%, passando de 0,292, em 1991, para 0,570, em 2010. A dimen-
são que mais contribuiu para esse crescimento foi a educação. Mesmo assim,
permanece na faixa de Desenvolvimento Humano Baixo (IDH entre 0,500 e
0,599), mantendo-se abaixo da média do Estado, que por sua vez já ocupa a
última posição entre as 27 unidades federativas brasileiras (Gráficos 9 e 10).

Gráfico 9: IDH de Campo Alegre e Alagoas, no período 1991 a 2010

Fonte: Elaboração autoral (2018). Baseado em Atlas Brasil (2013).

123
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Gráfico 10: Dimensões para o IDH de Campo Alegre-AL no período 1991 a 2010

Fonte: Elaboração autoral (2018). Baseado em Atlas Brasil (2013).

Outro indicador da baixa escolaridade dos habitantes de Campo Alegre


pode ser comprovado através do levantamento do grau de instrução dos
eleitores da região. Segundo estimativa do TSE, referente a janeiro de 2018,
em Campo Alegre há 23.488 eleitores, o que equivale a 41% da população do
município; e Luziápolis possui 8.073 eleitores, ou seja, 34,4% do eleitorado
municipal.
A maioria dos eleitores de Campo Alegre tem entre 25 e 34 anos e é
formada por mulheres. Em relação ao grau de instrução, a maior parcela
do eleitorado municipal possui o ensino fundamental incompleto (27,53%),
correspondendo a 6.466 eleitores, um percentual semelhante à estatística
do estado de alagoas (27,22%). Já o percentual de eleitores analfabetos no
município campo alegrense (21,9%) equivale ao dobro da média estadual

124
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

(11,7%); As menores parcelas do eleitorado possuem nível superior completo


(Gráfico 11). Esses dados revelam que o nível de escolarização da população
economicamente ativa do município de Campo Alegre está abaixo da média
estadual.

Quadro 8: Eleitores por idade em Campo Alegre em 2017

ELEITORES POR IDADE EM CAMPO ALEGRE EM 2017

Idade Eleitores Percentual

16 ANOS 229 0,97%

17 ANOS 586 2,49%

18 A 20 ANOS 2.127 9,06%

21 A 24 ANOS 2.704 11,51%

25 A 34 ANOS 5.529 23,54%

35 A 44 ANOS 4.971 21,16%

45 A 59 ANOS 4.530 19,29%

60 A 69 ANOS 1.951 8,31%

70 A 79 ANOS 747 3,18%

SUPERIOR A 79 ANOS 113 0,48%

Fonte: TSE 15 .

15. Disponível em: <http://www.tse.jus.br/eleicoes/estatisticas/repositorio-de-dados-eleitorais-1/repositorio-


de-dados-eleitorais>. Fonte dos dados eleitorais: Repositório de Dados Eleitorais do TSE. Acesso em abril de
2018.

125
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Gráfico 11: Eleitores por grau de instrução em Alagoas e Campo Alegre em 2017

Fonte: Elaboração autoral com base no TSE 16 .

Ainda sobre os dados educacionais de Luziápolis, existe um número


bastante expressivo de analfabetos (entre idosos e adultos jovens) e anal-
fabetos funcionais (adulto e jovens). Apesar de ter havido nos últimos anos
mais oferta de vagas e implantação de novas Instituições de Ensino, nos anos
iniciais e finais do Ensino Fundamental, conforme quadro 09, percebeu-se uma
diminuição no número de matricula e uma das razões para esse fenômeno é
crescente desemprego da região.

16. Disponível em: <http://www.tse.jus.br/eleicoes/estatisticas/repositorio-de-dados-eleitorais-1/repositorio-


de-dados-eleitorais>. Fonte dos dados eleitorais: Repositório de Dados Eleitorais do TSE. Acesso em abril de
2018.

126
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Quadro 9: Dados de matrícula nas escolas da rede pública do distrito de Luziápolis (2016 e 2017)

ETAPAS E MODALIDADES DE ENSINO

CÓDIGO Educação Infantil Ensino Fundamental Ensino


ESCOLAS EJA
INEP Creche Pré-escola Anos Iniciais Anos Finais Médio

2016 2017 2016 2017 2016 2017 2016 2017 2016 2017 2016 2017

Centro de
Educação Infantil
27050009 286 306 - - - - - - -
Lizete Alves
Ferreira

Centro de
Educação Infantil
27366014 159 143 47 108 - - - - -
Professora Cicera
Marinho de Melo

Escola Municipal
de Tempo Integral
27048748 - - 365 281 163 190 - - - -
Cicero Salustiano
dos Santos Filho

Escola Municipal
27049434 Cicero Mizael dos - - - - 288 391 - - - -
Santos

Escola Municipal
27217868 Menino Jesus de - - - - 207 228 - - - -
Praga

Escola Municipal
27221989 Pedro de Oliveira - - - - - 828 693 - - -
Santos

Escola Municipal
27042153 Felizardo Souza - - - - 626 440 273 406 - 509 510
Lima

Escola Estadual
27051676 Dorgival - - - - - - 196 557 - 224
Gonçalves

TOTAL: 445 449 412 389 1284 1249 1101 1099 196 557 509 734

Fonte: Elaboração autoral (2018). Com base no Senso Escolar17.

17. Senso Escolar. Disponível em: <http://academia.qedu.org.br/censo-escolar>Acesso em 8 de abril de 2018.

127
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Atividades Econômicas

Entre 2000 e 2010, o percentual da população economicamente ativa


ocupada de Campo Alegre teve uma redução de 47,19% para 41,48%. Ao
mesmo tempo, o percentual da população economicamente ativa que estava
desocupada passou de 20,22% para 24,42%. Ao analisarmos os dados sobre
emprego formal referente a esse município, disponível no Cadastro Geral de
Empregados e Desempregados (CAGED) do Ministério do Trabalho, percebe-
mos que o percentual da população desocupada tem aumentado significati-
vamente. Isso se deve principalmente à crise no setor sucroalcooleiro nas
últimas décadas (Gráfico 12).

Gráfico 12: Composição da população economicamente ativa


e inativa de 18 anos ou mais de idade

Fonte: Elaborado autoral (2018). Com base em Atlas Brasil (2013).

128
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Em 2010, das pessoas ocupadas na faixa etária de 18 anos ou mais do


município, 18,30% trabalhavam no setor agropecuário, 0,29% na indústria
extrativa, 29,83% na indústria de transformação, 6,04% no setor de cons-
trução, 0,18% nos setores de utilidade pública, 10,71% no comércio e 27,76%
no setor de serviços Atlasbrasil (2013).
Campo Alegre está localizada na região da Zona da Mata, com maior
concentração de usinas de açúcar e álcool existentes no estado de Alagoas,
principal atividade econômica do Estado. No entorno de Luziápolis, a um raio
de 12km, concentram-se quatro delas (Usina Guaxuma, Usina Porto Rico,
Usina Seresta e Usina Sinimbú). Nos últimos seis anos, duas delas decretaram
falência, elevando o número de desempregados, especialmente no distrito
de Luziápolis. Este fato contribuiu para a elevação do número de residências
vazias, aumento da migração, redução das matrículas escolares entre outros
problemas (Figura 30).

129
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Figura 30: Localização das usinas sucroalcooleiras no entorno do distrito de Luziápolis

Fonte: Elaboração autoral a partir de imagens do Google Earth (2018).

130
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Em Luziápolis não há grandes polos geradores de emprego e renda. Em


2013, foi instalada a sede do engenho Caraçuípe, mesmo se tratando de uma
empresa de grande porte, premiada internacionalmente, o nível de emprega-
bilidade é baixo, pois gera menos de 30 empregos formais na região.
Após o fechamento das usinas, a principal fonte de renda da população
vem da administração pública. Embora o setor agropecuário ainda mantenha
certa relevância, especialmente nas fazendas do entorno do distrito, que em-
pregam alguns trabalhadores rurais residentes, em sua maioria, nos bairros
Novo Horizonte e Bela Vista. Uma parcela mínima da população é formada por
aposentados e pensionistas, e a maior parte deles são moradores do bairro
Santa Luzia. Nesse bairro, concentram-se as pessoas com melhor nível de
escolaridade e consequentemente o melhor nível de empregabilidade, como
funcionários públicos, comerciantes e prestadores de serviços.
E, por fim, há os beneficiários de programas assistenciais, um número
bastante expressivo e a grande parte deles é residente do Conjunto João José
Pereira. Em relação aos programas de assistências, segundo levantamento
realizado em abril de 2018, no distrito de Luziápolis havia 459 famílias ca-
dastradas no complexo nutricional; 485 famílias cadastradas no programa
Bolsa Alegre e 21 famílias que recebem aluguel social. Essa diversidade de
programas assistenciais tem se configurado como um atrativo para mora-
dores em situação de vulnerabilidade social de outros municípios do Estado.
Nos últimos anos, em razão do desemprego, Luziápolis tem perdido muitos
moradores locais e, ao mesmo tempo, tem recebido novos moradores em busca
das políticas assistencialistas. (Informações obtidas por meio da Secretaria
Municipal de Assistência Social).

131
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Potencialidades, Problemas e Tendências


dos Aspectos Socioeconômicos

A seguir é apresentado um quadro síntese com as principais potencia-


lidades, problemas e tendências relacionadas ao eixo temático “Aspectos
Socioeconômicos” identificados nessas leituras.

Quadro 10: Potencialidades, problemas e tendências dos aspectos socioeconômicos

QUADRO SÍNTESE - ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS DE LUZIÁPOLIS

Perfil da população

POTENCIALIDADES PROBLEMAS TENDÊNCIA ( + ) TENDÊNCIA ( - )

População formada, Índice elevado Ampliação da oferta Aumento da taxa da


predominantemente, por de desemprego, de vagas e criação população inativa.
adultos jovens. analfabetismo e de programas
marginalização social. de incentivo a
permanência na
escola.

Estrutura etária e Índice de Desenvolvimento Humano

POTENCIALIDADES PROBLEMAS TENDÊNCIA ( + ) TENDÊNCIA ( - )

O distrito oferta vagas para Alto índice de evasão Ampliação da oferta Redução do número
todas as modalidades de escolar, especialmente de vagas e criação de matrícula na rede
educação básica. entre adolescentes e de programas pública municipal e
jovens. de incentivo a aumento do índice de
permanência na analfabetos funcionais.
escola.

Existência de associação Fenômeno emigratório Implantação de mais Aumento do índice dos


para o bem-estar social e em busca de emprego políticas de geração de desempregados
cultural ABESC - formada por e renda. emprego e renda.
um grupo de costureiras e
artesãs.

132
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Atividades econômicas

POTENCIALIDADES PROBLEMAS TENDÊNCIA ( + ) TENDÊNCIA ( - )

Existe uma empresa a nível A maior parte da Implantação de mais Aumento do índice dos
internacional, mas o nível de renda gira em torno da políticas de geração de desempregados
empregabilidade é baixo, há administração pública. emprego e renda.
apenas 25 funcionários locais.

Comercio local é formado por Carência de instituições Políticas de incentivo Moradores precisam
moradores da comunidade. que prestem serviços ao comércio local. se deslocar para
bancários. cidades vizinhas e
Há uma casa lotérica e um Abertura de uma deixam de consumir na
posto dos correios. agencia bancária. comunidade.

Fonte: Elaboração autoral (2018).

133
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Mapa 6: Aspectos socioeconômicos

clique para ampliar o mapa

Fonte: Elaboração autoral (2018). Com base no Google Earth.

134
Capítulo 6
Síntese das Leituras Urbanísticas
sobre Luziápolis

As leituras apresentadas nos capítulos anteriores apresentaram diferen-


tes abordagens sobre o território de Luziápolis, construídas a partir de um
instrumental metodológico diversificado. Por meio delas descobriu-se que
há diferentes Luziápolis.
A síntese dessas leituras resultou em um pré-zoneamento formado por
quatro subáreas, que são, a seguir, apresentadas em um resumo descritivo
(Figuras 61 a 65). É importante destacar que esta subdivisão seguiu dinâ-
micas de interpretação próprias, observou-se fenômenos predominantes, e
as singularidades das potencialidades e problemas identificados. Além do
propósito didático e metodológico de sistematização das informações, este
pré-zoneamento norteou a construção das problemáticas e ajudou a definir
as diretrizes de ordenamento territorial para o Distrito.

135
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Figura 61: Mapa com divisão das subáreas do distrito de Luziápolis

Fonte: Elaboração autoral (2018).

136
Subárea 01 – Engloba os bairros Santa Luzia, Boa Esperança e uma porção
da Fazenda Cachoeirinha.

Figura 62: Ilustração subárea 01

Fonte: Elaboração autoral (2018).

Área: 819.222,68 m²
Início da Ocupação: Por volta de 1940
População Predominante: Aposentados, funcionários públicos e
comerciantes.
Principais características:
Possuir alguma infraestrutura urbana;
Ser a região mais adensada do Distrito;
Ser cortada por uma Rodovia Federal (BR -101);
Concentrar as atividades comerciais e de serviços do Distrito;

137
Abrigar a feira livre;
Possuir vazios urbanos edificados;
Abrigar o Engenho Caraçuípe (principal indústria da região)

Subárea 02 – Compreende os bairros Bela Vista e Boa Esperança.

Figura 63: Ilustração subárea 02

Fonte: Elaboração autoral (2018).

Área: 694.907,72 m²
Início da Ocupação: Décadas de 1980 e 1990
População Predominante: Prestadores de serviços e trabalhadores rurais
Principais características:
Ser uma região plana e que predomina uso residencial;

138
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Ser carente de infraestrutura urbana;


Ser cortada por duas redes de alta tensão;
Estar em processo de consolidação;
Possuir muitos vazios urbanos não edificados;
Possuir a mais bela vista do distrito;
Possuir uma área verde - não planejada;
Ter ocupação em áreas inadequadas;
Ter pouca oferta de equipamentos de uso comunitário...

Subárea 03 – Área predominante rural localizada ao norte do Distrito,


conhecida como Escorrega.

Figura 64: Ilustração subárea 03

Fonte: Elaboração autoral (2018).

139
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Área: 351.077,51 m²
Início da Ocupação: Provavelmente antes de 1940
População Predominante: Fazendeiros e trabalhadores rurais
Principais características:
Possuir ocupação rarefeita;
Ser carente de infraestrutura urbana;
Possuir o Rio Escorrega que faz parte da bacia hidrográfica do Rio Jequiá e
também é o principal responsável pelo abastecimento de água do distrito;
Ser constituída, predominantemente, por Área de Preservação Permanente;
Ter porções de mata nativa preservada;
Ter áreas degradadas por ações antrópicas;
Não haver oferta de equipamentos públicos de uso comunitário.

Subárea 04 – Constituída a partir de um Conjunto Habitacional de Interesse


Social, é também o núcleo mais recente de ocupação do Distrito.

140
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Figura 65: Ilustração subárea 04

Fonte: Elaboração autoral (2018).

Área: 430.338,75m²
Início da Ocupação: 2015
População Predominante: beneficiários de programas assistenciais e mi-
grantes de outros municípios.
Principais características:
Ser constituída a partir de um Conjunto Habitacional de Interesse Social;
Possuir a melhor infraestrutura do Distrito;
Concentrar a maior parte dos equipamentos públicos de uso comunitário;
Possuir as únicas praças do Distrito - até meados de 2018;

141
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Diretrizes de Ordenamento Territorial para o


Distrito de Luziápolis - Campo Alegre-AL

O ordenamento urbano-ambiental do solo municipal abrange todo tipo


de parcelamento, uso e ocupação do território municipal, das áreas de
preservação ambiental e eixos de circulação viária intramunicipal e in-
termunicipal. E tem como objetivo regular o uso e ocupação do solo, nas
áreas rurais e urbanas, de modo a garantir a qualidade de vida, preser-
vando as relações existentes entre homem e meio ambiente, através de
análise quantitativa e qualitativa dos resultados derivados da ação hu-
mana sobre o meio. (CAMPO ALEGRE, 2006, p. 33).

O ordenamento territorial é um instrumento de política urbana e está


envolvido por questões de ordem técnica e política (no sentido de participa-
ção popular). Esse trabalho em razão de tempo não aborda explicitamente
aspectos políticos, embora reconheça sua importância.
A compreensão da situação urbana do Distrito de Luziápolis, delineada
nas leituras anteriores, permitiu refletir sobre quais os problemas que mais
afetam esse território e onde são mais recorrentes. Chegou-se à conclusão de
que o maior problema enfrentado por Luziápolis consiste na ausência de po-
líticas de planejamento e ordenamento territorial que contribuam para
o desenvolvimento urbano dessa localidade. Esse problema desencadeou
as seguintes problemáticas urbanísticas: A dispersão urbana, a partir de con-
juntos habitacionais de interesse social e o agravamento dos vazios urbanos;
a degradação do ambiental natural no Distrito de Luziápolis, por atividades
antrópicas e a ausência de espaços livres públicos com função ecológica; e a
concentração de equipamentos públicos de uso comunitário na área central
do Distrito de Luziápolis e suas implicações na mobilidade urbana.

142
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

O pré-zoneamento e a identificação das problemáticas direcionaram a


definição das diretrizes de ordenamento territorial que foram estabelecidas
segundo critérios de natureza técnica e princípios de ordenamento territorial,
propostos por Rolnik et al. (2004) e Campo Alegre (2006), visando solucio-
nar problemas decorrentes da ocupação inadequada dos espaços urbanos
existentes e atender às demandas futuras, apresentando alternativas para
solucionar os problemas existentes e evitar o surgimento de novos, além de
induzir melhorias no espaço habitado, o que contribuirá para o seu desenvol-
vimento. A seguir são apresentadas sete diretrizes de ordenamento territorial
para o Distrito de Luziápolis (Figura 66):

Diretriz 01: Desenvolver o potencial turístico por meio da diver-


sificação econômica respeitando os condicionantes ambientais e o
Patrimônio Histórico;
Diretriz 02: Promover o equilíbrio entre ocupação e preservação
ambiental por meio da implantação de espaços públicos com quali-
dade urbana;
Diretriz 03: Utilizar de legislação específica para delimitação das
faixas de domínio do DNIT e da faixa de servidão sob a rede de alta
tensão;
Diretriz 04: Promover novas centralidades por meio da diversifi-
cação e implantação de novos usos;
Diretriz 05: Preservar e valorizar a memória de Luziápolis, prote-
gendo seu patrimônio ambiental, histórico e cultural;
Diretriz 06: Incentivar à manutenção da pluralidade de uso e ocu-
pação do solo;
Diretriz 07: Incentivar a agricultura de subsistência integrada a
preservação ambiental.

143
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

As diretrizes apresentadas estão relacionadas de forma direta ao eixo


temático uso e ocupação do solo e tem por princípio norteador as problemá-
ticas identificadas. É importante destacar que essas diretrizes por si só não
garantem a implementação desse ordenamento territorial, pois é neces-
sário criar uma lógica de regulamentação, fiscalização e conscientização da
população para participação na gestão urbana.

144
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

Figura 66: Mapa com identificação das diretrizes de ordenamento territorial


para o distrito de Luziápolis

Fonte: Elaboração autoral (2018).

145
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

146
Considerações finais
Os estudos sobre os espaços urbanos no Brasil ganharam um novo status
no cenário nacional a partir do Estatuto da Cidade, Lei Federal de nº 10.257 de
2001, criada para regulamentar os artigos 182 e 183 da Constituição Federal
que tratam sobre a execução da política urbana e têm por objetivo ordenar
o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade
urbana. Um dos principais instrumentos de gestão trazidos pelo Estatuto
da Cidade é o Plano Diretor, obrigatório para as cidades com mais de vinte
mil habitantes ou aglomerados urbanos. Porém, quando consideramos esse
contingente populacional, constatamos que os estudos urbanos no Brasil
privilegiam as abordagens sobre as médias e grandes cidades, restando aos
pequenos territórios a reprodução genérica desses instrumentos.
Ao longo dessa pesquisa percebemos que as pequenas cidades são uma
parte significativa no cenário urbano brasileiro. No estado de Alagoas, segun-
do estimativas do IBGE de 2017, 42% dos seus 102 municípios tem população
inferior a 20 mil habitantes. Diante desse cenário, os estudos sobre os espaços
urbanos devem ir além dos dados populacionais; questões econômicos, socio-
espaciais e outros aspectos precisam ser considerados. É importante destacar
também que, independentemente do método urbanístico adotado e dos ob-
jetivos propostos pelo urbanista, este terá que partir “(...) de uma realidade
existente: a cidade, conceituada como um organismo, dotado, portanto, de
vida: uma estrutura complexa, suportando uma infinidade de atividades que
a transformam constantemente” (WILHEIM, 1976, p.57). E Luziápolis é esse
organismo dotado de vida, um lugar cuja territorialidade, do ponto de vista
geopolítico, não está bem definida. Mas, se considerarmos as relações sociais
historicamente estabelecidas ao longo de sua formação e as singularidades
relacionadas à sua paisagem natural, é possível delinear o que é Luziápolis.

147
LEITURAS URBANÍSTICAS SOBRE LUZIÁPOLIS

As Leituras Urbanísticas sobre Luziápolis, entre outros propósitos, bus-


caram respostas para os seguintes questionamentos: O que é Luziápolis? Por
que sua forma? Qual a relação entre sua forma e seu processo de ocupação?
Qual sua realidade física e social? Quais suas potencialidades, problemas e
tendências? Quais os elementos estruturadores do seu espaço urbano? Devido
à provisoriedade de alguns dados urbanísticos, algumas questões ficaram
sem respostas e, ao mesmo tempo, outros questionamentos surgiram. Assim,
considerando que o desconhecimento da realidade urbana pode resultar em
programas e políticas inadequadas e pouco efetivas para melhorar a quali-
dade de vida da população de determinada localidade e, reconhecendo que
a lista de instrumentos urbanísticos para auxiliar o desenvolvimento de po-
lítica urbana é bem ampla, essas leituras configuraram-se um marco inicial
para a composição de uma política de planejamento urbano para o Distrito
de Luziápolis.
Produzir essas leituras (como moradora, Professora e Arquiteta e Urba-
nista) me fez perceber a urgência de ultrapassar as fronteiras acadêmicas e
tornar o conhecimento científico acessível, oportunizando aos cidadãos de
Luziápolis lerem seu próprio território, afinal “Saber sobre a cidade é ser dono
de suas regras de formação e desenvolvimento” (SANTOS, 1988, p.186). E
por fim, deseja-se que a partir delas seja efetivado um trabalho de educação
urbanística no município de Campo Alegre/AL, com o objetivo de discutir ci-
dade e cidadania nas escolas e que as diretrizes apresentadas nestas leituras
possam orientar a ação urbanística em Luziápolis, para que em um futuro
próximo possamos ter a elaboração de um Plano de Desenvolvimento Urbano
Local, com participação popular, plural e efetiva no Distrito.

148
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WILHEIM, Jorge. Compreensão da cidade. In: WILHEIM, Jorge. O substantivo e o adjetivo.


São Paulo: Perspectiva; Ed. da Universidade, 1976. p. 57-78.

152
posfácio

LEITURA URBANÍSTICA COMO POSICIONAMENTO


POLÍTICO SOBRE UMA “CIDADE”

As “Leituras urbanísticas” sobre Luziápolis, um distrito de cerca de


20 mil habitantes no leste alagoano, pertencente ao município de Campo
Alegre, feitas pela profissional de estudos em linguagem, educadora e ar-
quiteta Sônia da Rocha, configuram-se como um livro necessário e urgente
para pensarmos e repensarmos os territórios pequenos e suas tessituras
urbanas, quando visamos considerar a localidade como “‘cidade’ do cida-
dão”, tal como consideram muitos especialistas, arquitetos e arquitetas da
área de planejamento e urbanismo, mais do que um simples “povoado” ou
“distrito”.
Assim, o trabalho que encontramos no livro, realizado por essa arqui-
teta e problematizadora das questões urbanas de uma pequena localida-
de, apresentado inicialmente como um trabalho de conclusão de curso de
sua graduação na Universidade Federal de Alagoas, Campus A. C. Simões,
foi importante para sua obtenção do grau de bacharela em Arquitetura e
Urbanismo, mas, oferece a ela, ao seu município, ao distrito de Luziápolis
e à sociedade de modo geral, mais do que seu título, pois além dele nos
presenteia com uma leitura acurada do desenho urbano dessa localidade
e sua tessitura, trazendo-nos dados para além de informações técnicas
oficiais pressupostas como visíveis e já sabidas. Dá-nos um diagnóstico
físico-territorial muito mais complexo e completo.

153
A autora lança seu olhar sobre o antigo povoado “Pau do Descanso”,
hoje distrito Luziápolis, às margens da BR 101, km 158, que é para ela “o
rio de sua aldeia”, já que é moradora dele desde seus cinco anos de idade.
É também “o meu rio”. Nele, vivemos, estudamos, trabalhamos e constru-
ímos experiências que perpassam toda nossa vida. Para ela, dessa relação
intrínseca ao seu objeto de estudos, certamente se figura o posicionamen-
to político que a leitura do livro nos possibilita compreender, totalmente
imbricado aos processos de suas interpretações urbanísticas da paisagem
dessa localidade: a cada página lida entendemos de onde veio, como está,
para onde vai, ou pode ir, ou precisa ir esse “rio” chamado Luziápolis. Sô-
nia da Rocha faz, agora, com que muitas pessoas saibam qual é “o rio de
sua aldeia” e direciona-nos ao desejo de que seu planejamento urbanístico
considere a dignidade dos sujeitos, tornando esse distrito uma localidade
“digna” para viver e conviver.
A atenção da autora ao longo do livro é para o futuro da “cidade”, com
o futuro de Luziápolis, preocupação que se estende ao futuro de todo e
qualquer outro pequeno território, povoados e distritos, por exemplo, pois,
para ela, planejar o futuro do uso e da ocupação do solo, criando um desen-
volvimento sustentável para a “cidade”, não pode figurar apenas como uma
necessidade legal. Segundo argumenta, é preciso que compreendamos, nós
e os governos, que esse planejamento é uma questão ética.
Dessa compreensão, encontramos nesse livro uma leitura urbanística,
que gera uma caracterização da paisagem urbana da localidade estudada,
que passa por levantamento de campo e construção de mapeamentos te-
máticos, tais como os de aspectos históricos, socioeconômicos, de infraes-
trutura urbana, de saneamento ambiental e condicionantes ambientais. De
sua leitura, a professora e arquiteta construiu toda a base cartográfica e,

154
a partir dela, propõe um “plano de zoneamento” para Luziápolis, no qual
delimita macrozonas e zonas, traçando diretrizes e linhas de ação, que pro-
põem modificações na forma do espaço habitado. Esse plano é necessário,
a exemplo do que comenta a autora a respeito de um ponto da paisagem
urbana, o sistema viário, porque esse para ela é precário.
Tal como lemos, se considerarmos o código legal, apenas uma via em
Luziápolis poderia ser considerada adequada, visto que as ruas não são pavi-
mentadas, sinalizadas e arborizadas, tampouco proporcionam deslocamento
seguro para os pedestres, dada a priorização da circulação de veículos. Dessa
precariedade, ao fazer a leitura das vias do cemitério municipal, chega a
uma triste constatação: “as vias para os mortos [em Luziápolis] têm mais
qualidade do que as vias para os vivos”, conforme é possível constatarmos
nas figuras 49 e 50.
Nesse sentido, no horizonte de suas leituras urbanísticas, a autora in-
cluiu aspectos éticos e políticos, que são de fundamental importância para
pensarmos planejamento e urbanismo. Dessas leituras e da construção de
uma base cartográfica, trata desde o número de habitantes, perpassando
por espaços e tempos de Luziápolis, que incluem distâncias, inserções hi-
drográficas, acesso, localização na BR 101, uma grande protagonista dessa
localidade, até o papel político do distrito no Estado de Alagoas.
A leitura nos garante dizer que Sônia da Rocha leu a “cidade” em seus
diversos aspectos e de maneira crítica, tarefa que perpassou por aspectos
teórico-conceituais, visitas técnicas e percepções sensoriais, registros
fotográficos, escuta ativa, nas entrevistas, leitura de mapas, tabelas e
quadros, garantindo-lhes um reconhecimento técnico-político do desenho
e da tessitura do urbano, a partir do qual gerou fotografias, esquemas,
gráficos, desenhos, croquis, quadros, uma linha do tempo e outros mapas,

155
que encontramos dispostos ao longo de sua escrita, recursos que dão vida
à cartografia do pequeno território.
Dadas essas faces, é salutar mencionar que a leitura urbanística reali-
zada pela autora e apresentada nesse livro está para uma prática de multi-
letramento, dado o seu caráter multissemiótico e multicultural. Logo, não é
uma leitura “subjetiva”. É, ao contrário, uma leitura sistematizada, complexa,
e bem elaborada, útil para mostrar o “mundo”, numa escala reduzida, o que
nos ajuda na observação e na compreensão do “mundo de Luzia”. Ou seja, por
diversos meios, há registros de porções de espaços e de tempos, de porções
das paisagens, orientando o leitor ou a leitora a localização, a direção, nesse
caso sobre aspectos físico-territoriais e políticos de Luziápolis.
Sobre o desenho do urbano, Sonia da Rocha dá-nos informações em for-
mas de mapas e de outras visualidades, a partir das quais compreendemos
que esse distrito enfrenta inúmeros problemas, tais como ocupação inade-
quada, crescimento desordenado e degradação ambiental, dentre outros,
frutos da ausência de um instrumento de política urbana que oriente seu
desenvolvimento. Nesse sentido, ao final da leitura desse livro, confirmamos
o entendimento de que há uma leitura urbanística política e ética.
Do mesmo modo, os registros e as narrativas gráficas deixam-nos,
por outro lado, confortáveis, pois nos permitem a sensação de que o lugar
existe e de que se mantem sobre ele a necessidade de leitura, como a aqui
desenvolvida, e educação urbanísticas, com orientação para uma partici-
pação popular nas decisões das políticas urbanas, como solicita e espera
a autora, e como certamente esperará qualquer leitor ou leitora que reco-
nheça o papel estratégico do planejamento urbano para a abordagem de
questões ambientais, sociais, econômicas, culturais, históricas, de saúde
e de cidadania que beneficiem a todos e a todas que moram nas “cidades”.

156
A compreensão de “Leituras urbanísticas sobre Luziápolis: um olhar
prospectivo para pequenos territórios” nos mobiliza a olhar as “cidades”, a
olhar as pequenas localidades, objetivando evitar sua morte, uma morte em
vida. Por esse excelente livro, dou a Sônia da Rocha, que foi minha aluna na
quinta série, do ginásio, hoje minha amiga, meus parabéns, pelo trabalho
e pela delícia de fazer essas leituras urbanísticas de Luziápolis. Parabéns
pela leitura urbanística como posicionamento político sobre uma “cidade”!

Ismar Inácio dos Santos Filho


Junho de 2019.

157
158
Anexos
Anexo 1: Mapa de Campo Alegre-AL - Fonte: IBGE (Agência de Alagoas)

159
Anexo 2: Mapa de Luziápolis Campo Alegre-AL - Fonte: IBGE (Agência de Alagoas)

160
Sobre a autora
Sonia da Rocha é professora e está na coordenação
pedagógica do Ensino Fundamental desde 2013. Lecionou no
Ensino Básico de 2001 a 2012 e no Ensino Superior (em cursos
de formação de professores) de 2009 a 2011. É especialista
em Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa, graduada
em Letras (UNEAL-2005) e em Arquitetura e Urbanismo
(UFAL-2019).
Desde 2017 tem pesquisado sobre educação urbanística
e a realidade urbana de pequenos territórios, iniciando com
o reconhecimento do universo urbanístico do lugar onde vive
(Distrito de Luziápolis – Campo Alegre – AL).
LEITURAS
URBANÍSTICAS
SOBRE LUZIÁPOLIS
Um olhar prospectivo
para pequenos territórios

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