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HOLOCAUSTO X GENÉTICA

A relação entre eventos traumáticos e mudanças genéticas, destacada por


uma pesquisa realizada em 2015 pelo Hospital Monte Sinai, em Nova York,
reacende o debate sobre os impactos do Holocausto na genética das vítimas e suas
gerações subsequentes. A equipe de pesquisadores examinou a composição
genética de sobreviventes do Holocausto e seus filhos, comparando-a com a de
famílias judias que não vivenciaram os horrores da Segunda Guerra Mundial na
Europa. Os resultados sugerem uma herança epigenética única, onde o trauma
vivido pelos pais pode deixar uma marca química nos genes, influenciando não
apenas a geração imediata, mas potencialmente as seguintes.
Os filhos das famílias diretamente impactadas pelo Holocausto demonstraram
ser mais propensos a enfrentar problemas relacionados ao estresse, evidenciando
uma ligação entre o trauma dos pais e as dificuldades enfrentadas por suas
descendências. A líder do projeto de pesquisa, Rachel Yehuda, destaca que essas
mudanças genéticas não podem ser explicadas apenas pelas experiências
traumáticas dos filhos, mas sim atribuídas à exposição dos pais ao Holocausto.
A pesquisa apresenta uma significativa contribuição ao campo da herança
epigenética, desafiando a visão convencional de que apenas o DNA transmite
informações biológicas entre as gerações. A teoria controversa sugere que fatores
ambientais, como estresse, dieta e estilo de vida, podem influenciar marcadores
químicos (etiquetas epigenéticas) no DNA, modulando a expressão genética. Os
pesquisadores encontraram essas etiquetas epigenéticas em genes associados ao
hormônio do estresse, tanto nos sobreviventes do Holocausto como em seus filhos.
Contudo, a análise crítica deve considerar possíveis alternativas explicativas.
Seria plausível atribuir a predisposição dos filhos dos sobreviventes a problemas
relacionados ao estresse ao fato de terem ouvido relatos terríveis dos pais sobre o
Holocausto? A pesquisa descarta essa possibilidade, argumentando que essa teoria
não explica as variações observadas entre os filhos de mães e pais sobreviventes.
Algumas teorias defendem que a situação não implica uma herança direta,
mas sim uma maior propensão para adquirir o trauma. Destacando que o material
genético é modificado pela experiência e pelo ambiente em que vivemos, sugerindo
que o que transmitimos aos nossos descendentes reflete não apenas o que
recebemos, mas também como interagimos com o mundo ao nosso redor.
Em suma, a pesquisa sobre a herança epigenética e os vestígios do
Holocausto na genética destaca a complexidade das interações entre experiências
traumáticas e transmissão genética. Essa reflexão não apenas lança luz sobre o
impacto duradouro do Holocausto, mas também destaca a importância de
compreendermos as nuances da herança epigenética em face de eventos históricos
tão significativos.

REFERÊNCIAS
BBC NEWS BRASIL. Pais podem transmitir traumas aos filhos pelos genes, creem
cientistas. BBC, 26 ago. 2015.

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