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INSTITUTO DENIZARD TÉCNICO

CURSO TÉCNICO EM ENFERMAGEM

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ENFERMAGEM
NEUROPSIQUIÁTRICA
E SAÚDE MENTAL

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FATORES DE RISCO
PARA A SAÚDE MENTAL

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FATORES DE RISCOS PARA A SAÚDE MENTAL

Este século tem visto enormes ganhos em saúde para as


populações do mundo, em parte como resultado de melhorias em
renda, educação, nutrição, higiene, habitação, abastecimento de
água e saneamento.
Esses ganhos são, também, o resultado de novos
conhecimentos sobre as causas, a prevenção e o
tratamento das doenças e a introdução de políticas de
intervenção mais acessíveis, combinando mudanças estruturais e
ações de indivíduos.

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A clarificação do que é válido e relevante em termos de
fatores de risco para os transtornos mentais é importante para a
implementação de várias ações assistenciais e de pesquisa.
O termo risco é usado para definir a chance de uma
pessoa sadia vir a adquirir uma doença,
quando exposta a determinados fatores, sejam
ambientais ou hereditários.
Fatores de risco não são determinantes de uma doença ou
um transtorno, mas quando presentes estão associados ao
aumento da probabilidade de uma pessoa vir a desenvolvê-la.

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Considerando-se a trajetória de vida de um
indivíduo, já possuímos evidências consistentes de

que os fatores de risco para transtornos mentais estão


presentes antes mesmo de seu nascimento.

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Uma variação genética ou um fator ambiental
podem levar a uma cadeia de eventos que, se ocorrer
numa fase sensível, pode determinar desenvolvimento
cerebral alterado, gerando uma estrutura mais
vulnerável ao surgimento e à perpetuação de
transtornos mentais.

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Nesse contexto, a depressão maior é, atualmente,
quarto
uma das principais causas de incapacitação e ocupa o
lugar entre as dez principais patologias em
nível mundial.
Se as projeções estiverem corretas, caberá à
depressão, nos próximos 20 anos, a segunda
posição entre as principais causas de doença em todo o
mundo.

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Além disso, ao redor do globo, cerca de 70 milhões de
indivíduos sofrem de dependência ao álcool
e outros 24 milhões de esquizofrenia .

Um milhão de pessoas comete suicídio


anualmente, sendo que entre 10 e 20 milhões tentam
suicidar-se.

Rara é a família poupada de um encontro com perturbações


mentais (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2001).

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Um estudo populacional publicado em 2010 acerca do
risco de transtorno mental de crianças com pais portadores de
transtornos psiquiátricos evidenciou que jovens com ambos os
pais esquizofrênicos tinham 27% mais probalidade de
desenvolver este agravo, sendo o risco para Transtorno Bipolar
do Humor (TBH) semelhante, em quase 25%.
Em contraste, as pessoas com apenas um pai com
transtorno psiquiátrico eram bem menos propensos a
desenvolver distúrbios mentais: 7% com um pai com
esquizofrenia desenvolveram o mesmo diagnóstico e 4% das
pessoas com um pai com TBH tinham o mesmo transtorno
(GOTTESMAN et al., 2010).

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Lembramos que a herdabilidade (associação genética)
para a esquizofrenia é uma das mais altas dentre
todos os transtornos psiquiátricos.

Embora haja correlação direta entre carga genética e risco


para transtorno mental, a genética vista isoladamente não
determina o desenvolvimento destes quadros,
favorecendo um modelo aditivo de interação ente fatores
genéticos e ambientais.

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O abuso de drogas na gestação está relacionado a
transtornos mentais na prole. Tabagismo materno está
ligado ao desenvolvimento de descendentes portadores de
Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade
(TDAH) e Comportamento Antisocial (HUIZINK; MULDER,
2006).
Da mesma forma, resultados apontam que a exposição ao
álcool durante a gravidez, mesmo em baixas quantidades,
pode ser um importante fator para o desenvolvimento de desvios
de conduta da prole no final da adolescência, o que denota a
importância de aconselhamento específico a mulheres
grávidas (DISNEY et al., 2006).
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Além dos riscos gestacionais, são importantes as
complicações a que estão sujeitas as crianças filhas de pais
usuários de drogas, em especial o crack (FRANK et al.,
2001; SINGER et al., 2002; YAMAGUCHI et al., 2008).
A influência dos pais, normalmente forte nos anos de
formação da criança, pode exercer poderoso papel em sua
postura com relação às drogas e, portanto, ser crucial
no comportamento futuro dessa criança (gerando, por
exemplo, conduta violenta, dificuldades nas relações interpessoais
e abuso de substâncias psicoativas).

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Aqui, mais uma vez, percebe-se que informação de
qualidade deve ser um aspecto básico para quaisquer
programas preventivos, juntamente com o resgate à
cidadania:

A inclusão da família em diferentes


perspectivas que fortaleçam as suas
potencialidades, valorização da escola,
retomada dos vínculos sociais,
estabelecimento de novas metas de vida.

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Há também muitos estudos demonstrando ligação entre
baixo peso ao nascer e depressão, esquizofrenia e
TDAH, relacionando a desnutrição materna à saúde mental de
sua prole (RICE; THAPAR, 2007).

Além disso, hoje é consensual a relação entre menor nível


educacional (tanto do indivíduo quanto de seus progenitores) e
negligência à criança, com o desenvolvimento posterior de
transtorno mental.

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Também já é conhecida a relação entre abuso sexual na
infância e maior prevalência de depressão na vida adulta
para ambos os sexos, embora esse tipo de violência ocorra
com maior frequência em mulheres (WEISS et al., 1999).
Ademais há evidências sugerindo história de abuso
sexual e diagnóstico de transtorno somatoforme (PARAS
et al., 2009) e anorexia nervosa (HAY et al., 2002).
Para esse último transtorno, bem como para outros
transtornos alimentares, o perfeccionismo e a autoimagem
negativa são considerados fatores de risco (FAIRBURN et al.,
1999).

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No caso da esquizofrenia, estudos de neuroimagem
realizados precocemente no curso deste diagnóstico já
demonstram alterações de base fisiopatológica ocorridas
durante o neurodesenvolvimento (ARARIPENETO et al., 2007).

Isso dá suporte a fatores de risco conhecidos para o


transtorno, tais como complicações durante a gestação do
indivíduo – por exemplo, retardo no crescimento intrauterino e
infecção materna precoce por vírus influenza.

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Portadores de esquizofrenia usam mais maconha que a
população geral e um crescente número de pesquisas clínicas e
epidemiológicas evidenciam que indivíduos sem história prévia
de psicose que usam esse psicotrópico na adolescência e no
início da vida adulta apresentam risco aumentado de
desenvolver sintomas psicóticos (chegando a aumentar em
70% a chance de psicose e quase triplicando o risco quando
fumada pelo menos três vezes por semana). Permanece em
discussão, contudo, o mecanismo biológico por trás desse
processo, bem como a presença de uma base genética associada
(MCGRATH et al., 2010; SEMPLE, et al., 2005; SMIT, et al., 2004;
BERSANI et al., 2002; LIEB et al., 2000)

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Até a adolescência, a prevalência de depressão parece ser
semelhante entre os sexos masculino e feminino. Com o início da
puberdade há um aumento da vulnerabilidade feminina. A
proporção de duas mulheres para um homem para a prevalência
de depressão maior é extensamente citada na literatura científica.

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As alterações biológicas marcadas pelas ações hormonais,
juntamente com os estímulos ambientais, têm sido associadas
ao surgimento da depressão feminina na adolescência
(CYRANOWSKI et al., 2000).

No entanto, a maior prevalência desse transtorno no sexo


feminino pode dever-se, em parte, ao fato de as mulheres serem
mais propensas a buscar tratamento para essa condição do que os
homens.

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O risco para depressão (TSUANG; TARAONE, 1990;
LEWINSOHN etal., 1988) resulta da influência de múltiplos
genes, agindo junto com fatores ambientais e outros não
genéticos, como relacionado a seguir.

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Doentes crônicos com frequência tornam-se
deprimidos, o que é coerente com a teoria da depressão como
uma afecção com componente inflamatório.

As concentrações de fator de necrose tumoral alfa (TNF-α)


e interleucina 6 (IL-6) são significativamente maiores em
depressivos do que em controles e a ação central dessas citocinas
pró-inflamatórias inibe a neurogênese hipocampal e aumenta a
produção de cortisol por ativação do eixo hipotálamo-hipófise-
adrenal (DOWLATI, et al., 2010).

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No que se refere à gestação, pode-se dizer que, mesmo
quando desejada, ela é sempre fonte de estresse.
São considerados fatores de risco na etiologia da depressão
na gravidez e no puerpério: pertencer a estratos econômico-
educacionais mais baixos; desemprego; ser mãe solteira e
jovem; histórias familiar e pessoal de transtornos do humor;
eventos de vida negativos; conflitos conjugais; falta de apoio
social e ambivalência sobre a gestação.
A depressão durante a gravidez estaria ainda associada ao
tabagismo e ao abuso de drogas, sem relação de causa e efeito
bem estabelecida (HALBREICH et al., 2004).

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Com relação a transtorno bipolar do humor e
gestação, essa não seria fator protetor nem agravante do
transtorno, embora cerca de 25% das mulheres apresentem o
primeiro episódio de mania no puerpério (ARNOLD, 2003).
Também correlacionou-se pouco sono na gravidez com
o desenvolvimento de quadro depressivo pós-parto.
Portanto, investigar se a paciente está dormindo pouco e
orientá-la no sentido de modificar tal situação, convocando a
ajuda da família, se necessário, pode ser importante na prevenção
de episódios de descompensação do TBH no puerpério (COHEN et
al., 1995).

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Considerando-se a população geriátrica, apesar da
predisposição hereditária à depressão ser menor em pessoas
na terceira idade, alguns fatores biológicos estão associados à
depressão tardia, como má regulação do eixo hipotálamo-
hipófise-adrenal, alterações do ciclo do sono e de outros
ritmos circadianos, deficiência de folato e de vitamina B12 e
níveis aumentados de homocisteína (HEOK; HO, 2008).

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Nas mulheres, a menopausa é também um importante
fator contribuinte.

Quanto aos transtornos de ansiedade no idoso, são


considerados fatores de risco: eventos de vida negativos;
estresse interpessoal; dificuldades na realização das
atividades de vida diária ou perda de autonomia e fraco
suporte social ou familiar (DAN BLAZER, 2006).

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Numa linha da vida, a Figura 2 procura resumir os
principais momentos em que os fatores de risco
incidem sobre as várias fases da vida humana.

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Finalmente, o combate aos fatores de risco para
transtornos mentais, em termos de prevenção e tratamento, é
realmente um grande desafio, que envolve esforços das
próprias famílias, demanda suporte da comunidade
local e de diferentes setores sociais, incluindo desde
profissionais da área da saúde capacitados e
motivados até a divulgação de informações pelos meios de
comunicação.

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A qualidade dos serviços e a articulação entre eles também
são fundamentais.

Trata-se de um trabalho de extrema complexidade, mas


de fundamental importância, que merece ser priorizado nas
políticas públicas.

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REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA

Enfermagem psiquiátrica e de saúde mental na prática


Inaiá Monteiro Mello. — São Paulo: Atheneu, 2008.

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