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BANDA EUTERPE

ITABIRANA - 160 ANOS


Acordes Históricos
2 BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS
BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS 3
EDITORIAL

“A EUTERPE ITABIRANA

...

Salve! Euterpe Itabirana,

Salve! inclyta reunião,

Salve! tribunos das luzes,

Vates da multidão!

Itabira, 19 de março de 1882.

P. Junior

José Amancio Ferreira.”

Recorramos ao nosso passado para honrar nosso presente!

Recorramos à tradição para manter um legado no futuro!

Lembremos de tantos que, desde 1863, fizeram e fazem par-


te da Sociedade Musical Euterpe Itabirana.

Ao celebrar o 160º aniversário da Banda Euterpe Itabirana, ren-


demos nossa justa homenagem aos músicos, diretores e fa-
miliares que acolheram essa casa com muito carinho e a todos
aqueles que colaboraram para a permanência dessa tradição
musical entre nós, na nossa Itabira, na nossa Minas Gerais.

É uma honra e um grande privilégio, como presidente, par-


ticipar das comemorações da Euterpe Itabirana e render
nossas singelas homenagens a todos.

O livro Banda Euterpe Itabirana 160 Anos – Acordes Históri-


cos registra uma parte da nossa história. É um passo dado.

A cada dia, descobrimos fatos e personagens para as próxi-


mas publicações euterpeanas. A caminhada é longa.

JOAQUIM TEODORINO OLÍMPIO


Itabira, 22/11/2023

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BANDA EUTERPE ITABIRANA - 160 ANOS
Acordes Históricos
REALIZAÇÃO: Sociedade Musical Euterpe Ita- Custódio | Zé Geraldo Rodrigues
birana e Prefeitura de Itabira
COORDENAÇÃO DE CERIMONIAL: Iana Gomes
PRESIDENTE DA BANDA EUTERPE: Joaquim
MESTRA DE CERIMÔNIAS: Daniela Jacqueli-
Teodorino Olímpio
ne Souza Ramos
PREFEITO DE ITABIRA: Marco Antônio Lage
COORDENAÇÃO DE COMUNICAÇÃO & MARKE-
SECRETÁRIOS MUNICIPAIS: Vinícius Oliveira TING: Maíra Baldaia (Amplifica Comunicação)
Rocha (SMDCITT) Natália Lacerda (Gabinete)
SOCIAL MEDIA & ASSISTENTE DE COMUNI-
DIRETORIA BANDA EUTERPE ITABIRANA: CAÇÃO: Vini Brown (Amplifica Comunicação)
Joaquim Teodorino Olímpio (Presidente) | Cris-
ASSESSORIA DE IMPRENSA: Josué Gomes
tina de Fátima Ferreira (Vice-Presidente) | Da-
niela Jacqueline Souza Ramos (1ª Secretária) | ASSISTENTE DE ASSESSORIA DE IMPREN-
Maria de Fátima Olímpio (2ª Secretária) | Ana SA: Lorena Vieira
Maria Olímpio (1ª Tesoureira) | Cleidinéia Emi- GESTÃO TRÁFEGO REDES: Isabella Alcântara
liana Santos Olímpio (2ª Tesoureira) | Maxsuel
Gonçalves Lage (Diretor de Patrimônio) | Mário PROJETO GRÄFICO E DIAGRAMAÇÃO: Sônia Oliveira
Célio de Menezes (Diretor Social) | Washington REVISÃO DE TEXTOS: Alzira de Souza Umbe-
Gilmar Olímpio, Ivan José Faustino, Júlio Flávio lino Cardillo
Olímpio (Conselho Fiscal) | Marileia de Cássia
DESIGN GRÁFICO EXPOSIÇÃO: Eduardo Fer-
Ferreira (Suplente)
nando Souza
MAESTRO BANDA EUTERPE ITABIRANA:
FOTOGRAFIAS E DIGITALIZAÇÃO: Acervo da
José Geraldo Rodrigues
Banda Euterpe | Acervo Luiz Carlos de Assis
BANDA EUTERPE ITABIRANA: Ana Maria Pinto | Brás Martins da Costa | Lu Diniz | Simão
Olímpio | Cristina de Fatima Ferreira | Edson Kursseldorff | Taquinho Silva | Guilherme Guerra
Ferreira Barros | Gabriel Oliveira Barros | Geraldo | Acervo Família Silvério Faustino | Acervo Lúcio
Leonardo Ribeiro | Geraldo Zaqueu | Ivan José Oliveira | Acervo Museu de Itabira | Vini Brown
Faustino | João Flaviano Machado | Joaquim
OFICINA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL:
Teodorino Olímpio | José Geraldo Felipe | José
Débora Tersália
Geraldo Rodrigues | José João Bosco Olímpio
| José Maria Rodrigues | Júlio Flavio Olímpio | OFICINA DE LIVRO DE PANO: Fabíola Gabriel |
Laureanne Reis | Lúcio de Oliveira | Maurício Samira Gabriel
Reis | Maurílio Figueiredo Papa | Maxsuel Lage
AGRADECIMENTOS: Alunos da Oficina de
| Melquíades Mamede Pereira | Rafael Geraldo
Educação Patrimonial | Alunos da Oficina de
dos Santos | Ricardo Rodrigues | Sidney Batista
Livro de Pano |Amigos e Parceiros da Euterpe
Ribeiro | Thales Nascimento | Wanderley Her-
Itabirana | Caio Augusto Brum Boal | Carolina
nandes | Washington Gilmar Olímpio Peixoto | Cássia Almeida | Elcy Nunes | Enge-
EDIÇÃO LIVRO: Cléber Camargo Rodrigues top | Escola Municipal Coronel José Batista |
Familiares dos Músicos e Dirigentes da Banda
CURADORIA EXPOSIÇÃO: Cléber Camargo Ro-
| Luiz Carlos de Assis Pinto | Museu de Itabira |
drigues | Lorenna Neiry Costa Vieira Gonçalves
Pedro Drummond | Taquinho Foto Silva | To-
PRODUÇÃO: Delson Vital | Fabíola Gabriel | dos que contribuíram na criação e manuten-
Jobb Saihdt ção da Banda Euterpe Itabirana, em 160 anos
de existência.
ASSISTENTES DE PRODUÇÃO: Ana Laura D.
Cruz Camargo | Ângelo Marques| Gabriel Alves PROJETO BANDA EUTERPE ITABIRANA 160
| Lu Mendes | Maxsuel Lage | Sr. Tião | Valmira ANOS: Termo de Fomento 071/2023

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JOAQUIM TEODORINO
OLÍMPIO
Presidente da Sociedade
Musical Euterpe Itabirana

A publicação desse li- de todos nós, mas que


vro fecha com chave de não seria possível sem
ouro as comemorações a colaboração sempre
do sesquicentenário presente de parceiros
da Sociedade Musical como o governo muni-
Euterpe Itabirana. A cipal, ao qual nos reuni-
celebração do sesqui- mos nesse bem suce-
centenário não estaria dido intento de trazer
completa sem o regis- a público a história da
tro documental dos Sociedade Musical Eu-
fatos e imagens que terpe Itabirana.
marcaram a trajetória
Uma justa homena-
na nossa gloriosa Ban-
gem aos músicos, di-
da Euterpe Itabirana.
retores de todos os
Momentos importan- tempos que acolhe-
tes de sua história e ram essa casa com
da cultura de Itabira, muito carinho, e a to-
informações, imagens, dos aqueles que sem-
fotos e personagens pre colaboraram para
que talvez estivessem a permanência dessa
condenados ao esque- bela tradição musi-
cimento, surgem agora cal entre nós. Para
vivos, disponíveis e pre- mim, é uma honra e
servados nessa publi- um grande privilé-
cação. Temos procura- gio, neste momen-
do preservar a história to como presidente,
e a memória das mais participar da come-
tradicionais bandas moração da Euterpe
de música do estado e ter a oportunidade
de Minas Gerais, rico de render minhas sin-
em cultura. Uma tare- gelas homenagens a
fa nobre e de interesse todos os músicos.

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MARCO ANTÔNIO LAGE
Prefeito de Itabira

A BANDA
da minha vida
Eu era um garoto ca eu era um aplicado
quando atravessei pela aluno de piston e sen-
primeira vez a porta tia um orgulho danado
da fachada histórica de estar aprendendo
da Banda Euterpe Ita- música em meio a tan-
birana. Todos aqueles ta gente admirada pela
adereços na parede do cidade inteira. Era uma
prédio da rua Dr. Guer- conquista e eu nem
ra sempre me encanta- poderia imaginar que
ram. Mas o que eu não tantos anos depois a
imaginava até ali era minha história e a his-
que a verdadeira ma- tória da Euterpe se cru-
gia acontecia lá dentro, zariam novamente de
entre partituras, instru- maneira tão bonita.
mentos e notas que se
A vida me deu muitas
complementavam har-
oportunidades de ex-
monicamente e vira-
perimentar e reconhe-
vam músicas.
cer o poder da cultura
O movimento das na sociedade. A carreira
mãos do maestro Ge- na iniciativa privada me
raldo Macedo, deslizan- levou para outros paí-
do pelo ar enquanto ses, permitiu-me inte-
regia a banda, é uma ragir com outros povos
das primeiras lembran- e concretizou em mim
ças que tenho do que a certeza de que as ra-
é uma manifestação ízes locais precisam ser
cultural. Naquela épo- fortalecidas e cultiva-

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das. E depois de tantas mas não podemos dei-
andanças, quis o desti- xar de lembrar as difi-
no que aquele menino, culdades que a Banda
quem aprendeu o que Euterpe enfrentou nas
é cultura com a Banda últimas décadas, che-
Euterpe, fosse o prefei- gando ao ponto de não
to de Itabira quando a ter uma formação para
instituição completasse sair às ruas da cidade.
160 anos de existência. Sem apoio, só sobrevi-
veu por conta das suas
Uma entidade que
raízes profundas e por
atravessa mais de um
meio de mãos e cora-
século e meio já fala por
ções que não aceitaram
si só, mas faço questão
o fim deste patrimônio.
de exaltar o papel da
Banda Euterpe como Por isso mesmo, faço
um dos pilares da for- reverência aos músi-
mação cultural de Ita- cos, maestros e salva-
bira. Em se tratando guardas da antiga e da
da cidade berço de um nova geração que tanto
dos maiores poetas da se esforçaram para que
língua portuguesa, isso a Euterpe voltasse às
não é qualquer coisa. suas atividades e pu-
“Jamais um grande se desse continuar a es-
foi sem música e jamais crever a sua história. E
teve outra, ungindo os não poderia haver uma
ares, como esta, grave, oportunidade melhor
de Emílio Soares”, sen- para deixar registra-
tenciou o próprio Po- do, em página de livro,
eta Maior, em palavras o meu compromisso,
eternizadas no poema não só de prefeito, mas,
“Criação”, uma das pre- principalmente, de ci-
ciosidades dos Cami- dadão: enquanto forças
nhos Drummondianos. eu tiver, nunca deixarei
que falte apoio à banda.
Reverenciar o passado
é o primeiro passo para Vida longa à Sociedade
enxergar o presente e Musical Euterpe Itabi-
traçar rotas para o fu- rana. A banda da mi-
turo. Hoje celebramos nha vida. A banda da
uma data histórica, vida de Itabira!

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VINICIUS OLIVEIRA
ROCHA
Secretário Municipal
de Desenvolvimento
Econômico, Ciência, BANDA EUTERPE:
Tecnologia, Inovação e
Turismo de Itabira UMA JORNADA DE 160 ANOS
de cultura e desenvolvimento

Desde o seu surgimen- promisso da comu-


to, em novembro de nidade com a preser-
1863, a Banda Euter- vação de sua herança
pe tem desempenha- cultural, que vai além
do um papel vital na do material, abrangen-
construção e preserva- do tradições, melodias
ção da rica tapeçaria e histórias transmitidas
cultural de nossa cida- de geração em geração.
de. Com uma trajetó-
A relação estreita en-
ria que se estende por
tre a Banda Euterpe e
mais de um século e a Secretaria de Desen-
meio, a banda não é volvimento Econômico
apenas uma instituição e Turismo destaca-se
musical, mas um te- como um exemplo bri-
souro vivo que conecta lhante de como a cul-
as gerações e encarna tura pode ser um catali-
a história de nossa co- sador para o progresso.
munidade. A colaboração abrange
diversas áreas-chave,
Ao longo dos anos, a
desde o turismo cul-
Banda Euterpe não
tural até o desenvol-
apenas contribuiu para
vimento econômico
o enriquecimento do
e a educação, criando
panorama musical lo-
uma ponte sólida entre
cal, como também se
a tradição e a inovação.
tornou um símbolo do
desenvolvimento eco- O turismo cultural, im-
nômico e humano. Sua pulsionado pela pre-
presença contínua é sença vibrante da Ban-
testemunha do com- da Euterpe, tornou-se

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um pilar essencial para grafias e partituras, re-
o crescimento econô- trata a história da ins-
mico local. Visitantes tituição e representa
são atraídos pelas per- um patrimônio artísti-
formances emocionan- co que é fundamental
tes e pela atmosfera para a identidade so-
enraizada na história. ciocultural de Itabira e
Essa atração destaca de Minas Gerais.
o valor econômico do
Ao comemorarmos os
patrimônio cultural e
160 anos da Banda Eu-
reforça a identidade da
terpe, a colaboração
comunidade, criando
entre a banda e a Se-
um ciclo sustentável de
cretaria de Desenvol-
desenvolvimento.
vimento Econômico e
A parceria de longa Turismo alcança um
data entre a Sociedade novo ápice. A celebra-
Musical Euterpe Itabi- ção culminará na aber-
rana e o Poder Público tura de uma exposição
Municipal demonstra que destaca a jornada
um compromisso só- da banda ao longo dos
lido com a comunida- anos e no lançamento
de. Ao longo dos anos, de um livro que imor-
a entidade tem de- taliza suas contribui-
sempenhado um pa- ções para a comuni-
pel vital na promoção dade. Esses eventos
de atividades durante preservam a memória
as celebrações locais, e inspiram as gerações
contribuindo para a futuras a continuar nu-
identidade cultural do trindo e valorizando
município. sua herança cultural.

Considerando a im- Assim, a Banda Euter-


portância histórica da pe transcende seu pa-
Sociedade Musical Eu- pel como uma entida-
terpe Itabirana como a de musical; ela se torna
mais antiga banda civil um farol que ilumina
de música do municí- o caminho para um
pio - e uma das mais futuro onde a cultura
antigas do Estado e e o desenvolvimen-
do País - é imperativo to estão entrelaçados,
reconhecer e apoiar mostrando que a pre-
a preservação de seu servação do passado
vasto e único acervo. é essencial para cons-
Esse acervo, composto truir um amanhã mais
por documentos, foto- vibrante e promissor.

BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS 11


OSVALDO SETEMBRINO
CRUZ

MEMÓRIAS
“Lembranças não preci- e já era um integran-
sam que sejam muitas, te da Banda Euterpe,
basta que sejam boas.” uma família abenço-
ada que recebi. En-
Memórias, muitas ain-
tre outros, adquiri um
da muito vivas em mi-
grande amigo, o mes-
nha mente, transpor-
tre maestro Silvério
tam a um passado que
Faustino, a quem mui-
nem tão longe está.
to devo. Através dele
Lembro-me muito de
fui contratado para
quando, lá pelos meus
tocar em alguns bai-
oito ou nove anos de
les de Carnaval que, na
idade, meu pai Ermi-
época, rendiam-me al-
nindo, para não me
guns trocados, sempre
deixar sozinho, leva-
em boa hora, salvando
va-me com ele para
a pátria.
ensaios da banda. In-
conscientemente, eu Sem deixar de reco-
já me sentia atraído e nhecer outros fato-
empolgado com as pe- res, foi com o contrato
ças musicais que ouvia para tocar no Carnaval
batendo os pés e as do ano de 1959 que eu
mãos, marcando o rit- consegui um suporte
mo, habilidade musical financeiro para adqui-
que tanto me ajudaria rir um terreno e, pos-
ao longo dos tempos. teriormente, construir
a minha própria casa,
Bastou eu chegar aos
quitando uma dívida
quinze, dezesseis anos,
com minha família.

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BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS 13
CRIAÇÃO
Carlos Drummond de Andrade

A alma dos pobres se vai sem música, do carcereiro chamando os músicos


Mas a dos grandes é exigente. (são todos guardas municipais)
A Banda Euterpe, logo chamada para ensaiar. A banda valente
por Monsenhor acorda o povo, causando pânico
para chorar o morto conspícuo a Monsenhor
— azar — é nova, sem partitura. e a todo mundo, que novidade
Só se pedir à banda rival... igual nunca houve. Como já sofrem,
Henrique Dias (nome da outra) amanhecendo, os de Henrique Dias!
recusa, egoísta. Defunto à vista Às nove, enterro. À frente, a batina
querendo arte. A tarde emurchece de Monsenhor
e Monsenhor Lá vai seguido da Banda Euterpe
espera, aflito, marcha ou o que seja. Que toca exausta, com sentimento,
Emílio Soares, maestro, fecha-se luto orgulhoso, o Libera-me,
no seu quartinho. Dó ré mi sol... favo da noite, glória de Emílio,
A Musa Baixa ou Santa Cecília, dádiva ao morto, que o céu inspira,
dita ao maestro o fúnebre arroubo. por Monsenhor.
Onze da noite. Dormem os fiéis Jamais um grande se foi sem música
não Monsenhor. e jamais teve outra, ungindo os ares,
Eis, no silêncio, clara, a corneta como esta, grave, de Emílio Soares.

| O poema Criação, de Carlos Drummond de Andrade, está publicado


no livro Boitempo I, Ed. Record 2023. | Carlos Drummond de Andrade
© Graña Drummond | www.leiadrummond.com.br

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BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS 15
IMAGEM, TERRA, MEMÓRIA
Carlos Drummond de Andrade

II
Aqui chegamos à velhice do Guarda-Mor
com seus quarenta e seis descendentes em volta,
sua mocidade revolucionária ao lado de Teófilo Otoni,
marcando o fim da era dos Oitocentos
e um silêncio de igreja que a procissão
vai incensando, vai gregoriando pelas ruas principais.
Súbito, a menina crucificada
na postura de Cristo repete o holocausto
que os pecadores insistem em não compreender.
É indispensável, é urgente levantar o cruzeiro,
sinal de culpa e resgate
sobre interesses e podres de família,
sobre fazendolas hipotecadas
de gado, milho, café, carrapato redoleiro,
erguê-lo à altura majestática do Pico do Cauê,
se não mais alto, muito mais ainda.
Braços robustos tiram-no do chão
e o vão alçando com fervor e suor
até que ele paire sobre as consciências arrependidas.
Os padres, o Senhor Bispo, o Santo Padre invisível-presente
velam o sono, vigiam o acordar e o labutar do povo,
entre velocípedes, ornatos florais,
cães fiéis aos pés de seus donos de botas
e uma honrada banda de música, Euterpe morena,
a encher de arte e vibração o território parado.

O poema “Imagem, terra, memória” está publicado no livro Farewell


| Carlos Drummond de Andrade © Graña Drummond
| www.leiadrummond.com.br

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À EUTERPE
itabirana
Altivos nautas que vogão
Da melodia nos mares,
Quaes aguias que vergão o voo,
Pelos extensos palmares,

Prophotas dos sentimentos,


Artistas das emoções,
Videntes da harmonia,
Farantes das sensações,

O sentimento e o fogo,
Que agitam vossas ideas,
Fagulhas, lavas ardentes,
Que vibrão mil epopeas,

E a turba fica agitada,


Do tumulto nas enchentes,
Quando desprendeis as notas,
Que rojão como torrentes.

Conspicuos sectários,
Do rhytmo de Rossini;
D’outras gemas preclaras,
Carlos Gomes e Bellini,

Salve! Euterpe Itabirana,


Salve! inclyta reunião,
Salve! tribunos das luzes,
Vates da multidão!

Itabira, 19 de março de 1882.


P. Junior | José Amancio Ferreira

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Legenda da Foto, legenda
dafoto, legenda da foto

BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS 19


CRIAÇÃO,
por André Guerra Cotta
(in memoriam)

“Começa o poeta anun- contrado por nós até o


ciando que “a alma dos momento é este ver-
pobres se vai sem mú- so drummondiano – e
sica, mas a dos gran- receber uma resposta
des é exigente”, con- negativa, Emílio Soa-
tando que a recém res, regente e fundador
criada Banda Euterpe, da nova banda, fecha-
chamada pelo mon- -se em seu quarto e
senhor para fazer as compõe de próprio pu-
honras a um falecido nho nova música para
ilustre, não tinha ain-
aquele responsório fú-
da as partes musicais
nebre, começando a
para a execução do Li-
ensaiá-la com os mú-
bera me, o responsório
sicos ainda na madru-
para encomendação
gada, acordando toda
fúnebre tradicional-
a cidade com estron-
mente executado nas
do. Deste modo, bem
exéquias de personali-
dades e ilustres e cujo cedo, a exausta banda
texto é extraído do IX toca com orgulho o
Responsório do Ofício “Libera-Mé” – é como
de Defuntos, podendo grafa Drummond, cer-
ser utilizado apenas tamente apoiado na
parcialmente. Depois prosódia característica
de pedir as partes em- dos itabiranos –, “favo
prestadas à banda rival da noite, glória de Emi-
– Banda Henrique Dias, lio, dádiva ao morto”.”
cujo único registro en- (COTTA, André Guerra)

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Legenda da Foto, legenda
dafoto, legenda da foto

BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS 21


SAUDADES
ALZIRA DE SOUZA
UMBELINO CARDILLO

da Alzira
A Banda Euterpe Ita- Por vários anos segui-
birana inicia a exe- dos vivi a repetida cena:
cução da marcha fú- inserida na multidão
nebre na subida do que deixa a Catedral
esquife com a ima- em direção ao bairro
gem do Nosso Senhor Campestre, à Igreja
Morto para a Igrejinha Nossa Senhora da Pie-
do Campestre. A at- dade, proferia as ora-
mosfera de tristeza ções observando - com
recebe a composição olhos de fé debutante
com perfeita aceita- - os fiéis descalços, os
ção, a melodia na to- que trajam panos ro-
tal harmonia do mo- xos e todos que equili-
mento do cortejo para bram velas acesas que
o depósito do Cristo derretem ceras e quei-
que morreu na cruz, mam as mãos. Tantos
na noite sombria de rezam, cantam ou se
Itabira. Meu pai, Geral- silenciam durante a
do Umbelino, adver- execução dos tristes
te-me bem baixinho, hinos próprios das Sex-
tas-Feiras da Paixão.
mais uma vez, que
Alguns tagarelam, dis-
foi o vô, José Umbe-
traídos da beleza e do
lino, quem compôs a
poder do momento.
música que ouvimos:
Saudades de Alzira. Eu Passada a infância, na
me envaideço timida- época que a gente ini-
mente e pergunto- cia a associar melhor
-me com ignorância as coisas aos nomes
inocente porque foi que elas recebem, en-
que o vô compôs uma tendi que a marcha
melodia tão melancó- fúnebre Saudades de
lica para mim. Alzira não foi escrita

22 BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS


para mim, justamen- Vovô, mineiro da cidade José Umbelino - que
te porque eu estava de Ferros, ficou órfão de doaram suas vidas à
bem viva e porque pai e mãe bem menino música -; meus muitos
vim ao mundo de- e foi levado por um pa- e também dedicados
pois do vô já falecido. dre para o Santuário do primos intrumentistas,
Compreendi, então, Caraça, onde estudou regentes, maestros,
que a composição é cantores; minhas filhas
música - aluno do mú-
uma homenagem à que se renderam ao
sico Padre Luíz Gon-
minha avó, a primeira piano, bateria e violão,
zaga Boavida - e onde
Alzira de uma família todos frutos dessa sa-
aprendeu também as
de cinco Alziras. Eu, a fra que Deus abençoou
caçula de todas, ainda profissões de sapateiro
e seleiro. Depois, se- com o talento, o gosto
hoje sou Alzirinha.
e um respeito incon-
guiu fora do santuário
Tenho a alegria de dicional à música. Im-
exercendo essas três
registrar, então, em portante dizer que a
profissões até dedi-
nome de todas as Al- maioria iniciou carreira
car-se exclusivamente
ziras Umbelino, um musical em uma Ban-
à arte musical como
pouco da história da da de Música.
trompetista e, princi-
música que tem o
palmente, como pro- Por isso, desejo que
nosso nome, com-
posta por José Umbe- fessor de música. Viveu essa manifestação
lino, pai do meu pai. em várias cidades da cultural tradicional
Saudades de Alzira região e parou em Ra- brasileira seja sempre
é uma das melodias vena, distrito de Sabará, parte de nossas fes-
mais lindas e impac- onde sofreu um infar- tas, cerimônias e ce-
tantes que já conheci. to e morreu na Santa lebrações. A riqueza e
Quando a ouvimos, Casa de Sabará, em beleza das bandas de
costuma brotar água 1950. Em Ravena, fui co- música abrilhantam a
nos olhos e nos trans- nhecer pessoalmente a história da minha fa-
portamos a um lugar rua que ganhou o seu mília e que seja assim
quieto dentro de nós. nome, conforme apare- para as famílias mi-
Quanta emoção o neiras e brasileiras das
ce estampado na placa
vovô deve ter experi- gerações que virão.
da casa de esquina.
mentado no processo
de composição dessa José Umbelino deixou Com grande afeto, dei-
imortal homenagem como legado o dom da xo aqui os meus votos
à mulher amada, com música no sangue e no de que sejam multipli-
quem casou em 1916, coração de filhos, netos, cados os 160 anos de
já viúvo. Vovó Alzira bisnetos. Tantos são os vida da Banda Euterpe
foi também sua com- Umbelinos que per- Itabirana e agradeço
panheira musical: ela correm caminhos mu- aos seus maestros e
cantava, era sopra- sicais: meu pai, meus músicos por terem no
no, herança que me dedicadíssimmos tios repertório Saudades de
deixou sem saber que Antônio Umbelino, Se- Alzira, a composição do
o fazia. bastião Umbelino e meu vô.
BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS 23
LORENNA NEIRY COSTA
VIEIRA GONÇALVES

Semana Santa, procis- rana por fazer parte da


são do enterro – traje- equipe da Fundação
to da Catedral rumo Cultural Carlos Drum-
à Matriz de Nossa Se- mond de Andrade.
nhora da Piedade no Atuei com a equipe
bairro Campestre –, o formada por compe-
ano não importa, por- tentes membros, den-
que ano após ano a tre os quais destaco
sensação era a mes- Marconi Drummond
ma: ao ouvir a banda, e Ana Cristina Azeve-
meu coração quase do, no planejamento,
parava e a vontade de curadoria e montagem
chorar sempre vem à da exposição Banda
memória. As bandas Euterpe Itabirana – 150
têm este poder: ao anos de Música e His-
participar ativamente tória (1863-2013). Tive-
dos eventos do con- mos o apoio da então
texto social – religio- presidente da banda,
sos e festivos, princi- Eunice Oliveira, e dos
palmente –, enfatizam ilustres senhores José
as emoções de acor- João Bosco e Lúcio de
do com o momento.
Oliveira, que foram in-
Lembro-me de ter as-
dispensáveis para que
sistido tocatas no de-
conseguíssemos rea-
correr da minha infân-
lizar a exposição. Fo-
cia e adolescência.
mos felizes em poder
Em 2013 – ano de cele- contar também com o
bração do sesquicen- apoio técnico do mu-
tenário da banda –, eu, sicólogo André Guer-
recém-formada em ra Cotta (in memoria),
Museologia, aproxi- quem eu não poderia
mei-me da Sociedade deixar de mencionar
Musical Euterpe Itabi- pelo seu trabalho pio-

24 BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS


neiro na catalogação e banda – Cléber Camar-
inventário de parte do go Rodrigues e demais
acervo de partituras na membros, deste grupo
década de 1990. que segue na luta ár-
dua para manter viva a
Dando sequência às
história da Euterpe.
ações de fortalecimen-
to e salvaguarda da O sentimento de per-
banda, ficou sob mi- tencimento que nor-
nha responsabilidade teia os trabalhos rea-
a missão de elaborar o lizados em museus e
dossiê para registro da centros de memória
corporação, que fora só é possível existir
analisado e aprovado através das ações de
pelo Conselho Munici- difusão, valorização e
pal de Patrimônio His- salvaguarda, e é com
tórico de Itabira (COM- base nessa tríade que
PHAI), culminando em sigo buscando contri-
registro no Livro de buir para que as no-
Formas de Expressão vas gerações possam
e no tombamento do também (re)conhecer
painel da fachada da a Euterpe Itabirana
sede da Sociedade Mu-
como parte integrante
sical Euterpe Itabirana.
do patrimônio históri-
Agora, nesse ano de co e cultural de Itabira.
2023, quando cele- Meu desejo é de que
bramos os 160 anos muitos ainda possam
de fundação da Ban- se arrepiar ao ver e ou-
da Euterpe Itabirana, vir a banda tocar, e que
sinto-me honrada por possamos celebrar a
fazer parte, junto com Sociedade Musical Eu-
Joaquim Olímpio – terpe Itabirana para
atual presidente da todo o sempre.

BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS 25


LAURA SOUZA
Secretária Municipal de A música desempenha O uso da musicali-
Educação de Itabira
um papel importan- zação na escola cria
tíssimo na educação, uma interação mais
provendo o contato fluida entre os alunos
com a arte e com a cul- e facilita trabalhos co-
tura, atuando como
letivos, contribuindo
fator de desenvolvi-
para a perda da timi-
mento intelectual e
dez e para o favoreci-
social dos alunos.
mento da linguagem
A música, como práti- corporal.
ca didática, desperta
o interesse do aluno Diante de tudo isso,
que, muitas vezes, sem é com grande alegria
perceber, encontra-se que comemoramos
imerso no processo de os 160 anos da Banda
ensino/aprendizagem, Euterpe em Itabira,
uma vez que a música uma instituição musi-
pode ser aproveitada cal de renome e que
em várias temáticas é parte importantíssi-
como ponto de partida
ma da história da cida-
na construção do pro-
de. Prestamos nossas
cesso de aprender.
homenagens a todos
O convívio social do alu- aqueles que partici-
no no ambiente esco- param da Banda Eu-
lar, quando associado terpe nesse período, e
à música, provoca sig- fazemos votos de que
nificativa melhora no
a entidade siga crian-
humor e nas relações
do histórias e me-
interpessoais, produzin-
mórias afetivas para
do, assim, um ambien-
toda a população ita-
te com indivíduos mais
emocionalmente sau- birana. Desejo, ainda,
dáveis, relaxados, que que educação e mú-
tendem a participar de sica estejam cada vez
forma mais ativa das mais juntas no futuro
atividades escolares. de nosso Município.

26 BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS


Legenda da Foto, legenda
dafoto, legenda da foto

BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS 27


DÉBORA TERSÁLIA

Encarar o desafio de este ano desenvolvi-


dissertar sobre uma das na Banda Euterpe
instituição centenária, Itabirana, para além
nos traz inquietudes e da sensibilização, tem
reflexões. Que memó- provocado diferentes
rias, que histórias, que questionamentos e
subjetividades e enre- hipóteses... Para além
dos poderiam ser lista- das práticas musicais
dos? Quais referenciais do século XIX, algumas
adotar? Ao conhecer- pistas geram reflexões
mos o acervo da Socie- no campo das sociabi-
dade Musical Euterpe lidades criadas e pro-
Itabirana, que em 2023 tagonizadas pela po-
completa 160 anos de
pulação negra
existência, nos reconec-
tamos com um passa- itabirana do século XIX.
do ainda incompleto.
Mas ainda temos um
É reconhecer que este longo caminho a per-
patrimônio histórico correr para redesco-
e cultural ainda (re) brir tantos tesouros e
existente no século histórias gerados pela
XXI nos possibilitaria instituição. Assim foi
aprofundar e construir com a redescoberta do
elos com o passado do Livro de Atas da Banda
século XIX. E, discutir Euterpe – desapareci-
os elementos que lhe do por várias décadas.
conferem o título nos
possibilita um olhar Parabéns Euterpe Ita-
para dentro de nós, birana por tocar nos-
que nos valoriza e nos sos corações.
dá sentido.
Obrigado, por acordar
As atividades de Edu- nossos melhores senti-
cação Patrimonial, mentos.

28 BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS


BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS 29
OTÁVIA SENHORINHA
DE ANDRADE MÜLLER
160 anos de uma jo- costumava passar na
vem banda de nome porta da minha casa,
grego, incrustada no sempre muito alinha-
interior de Minas Ge- do, com a roupa bem
rais, entre rochas de passada, quando se
minério de ferro. Eu- dirigia aos ensaios da
terpe significa gênio Banda Euterpe. Acho
agradável; era a musa que, mesmo sendo
da música na mitolo- uma subida íngreme,
gia grega, represen- ele apreciava aquele
tada por uma deusa caminho de pedras. A
coroada de flores com sede da banda fica
uma flauta nas mãos. na rua Dr. Guerra, pa-
ralela à rua da minha
Ao receber o desafio
casa, é um pulinho.
de fazer este texto, vá-
Sempre a chamamos
rias ideias brotaram na
de Casa da Banda.
minha cabeça; então,
resolvi ouvir o coração. Para mim, a Banda
Quantas memórias de- Euterpe sempre foi
liciosas surgiram em sinônimo dos meus
minha tela mental! passeios dominicais
A música sempre fez com meu pai e irmãos.
parte da minha vida Antes de irmos ao zo-
mesmo à distância, na ológico, parávamos na
rua Major Lage, onde frente da Casa da Ban-
sempre morei e tinha da e ficávamos admi-
como vizinhos a família rando os instrumentos
de seu Ninico Amâncio e ouvindo as explica-
que vivia em uma casa ções do nosso pai so-
onde, além do jardim bre cada músico que
sempre florido, a mú- tinha seu nome na fa-
sica saía pelas janelas chada. A minha mente
e portas. Seu Ninico de dois anos de idade
era um senhor muito se deliciava com a pos-
distinto, educado, por sibilidade de um dia
quem eu nutria admi- alcançar os enormes
ração e respeito. Ele instrumentos e tocá-

30 BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS


-los, mesmo que para fui perguntar ao seu
isso precisasse criar Ninico, após a missa
asas. Às vezes desfru- dominical, se ele es-
távamos das melodias tava tão triste quanto
de algum ensaio ou do eu pela morte do seu
solo de algum músico amigo Pixinguinha.
que ia treinar meio fora No meu imaginário in-
de hora. Esse era um fantil, eles eram gran-
momento que, mes- des amigos e me so-
mo estando do lado lidarizei com a dor de
de fora, meu pai pedia seu Ninico.
para ficarmos bem ca-
As apresentações da
lados escutando com
Banda Euterpe tam-
atenção.
bém estão registradas
Ao retornar para casa, em minha memória.
meu pai abria a en- Sempre achei mágico
ciclopédia Delta ou como instrumentos
as revistas e jornais à tão diferentes possam
procura de mais infor- interagir entre si para
mações e de fotos dos produzirem um som
músicos que têm seus tão melodioso. E a ele-
nomes na fachada da gância dos compo-
Casa da Banda. Mo- nentes da banda sem-
zart, Verdi, Beethoven, pre foi de esmero.
Chopin, Pixinguinha,
Apesar de eu não ter
Noel Rosa, Ary Barro-
talento musical algum,
so se tornaram meus
a banda Euterpe foi
amigos, como seu Ni-
de grande significado
nico Amâncio. A mi-
para a minha cultura
nha intimidade com
musical e nos momen-
eles era tanta que só
tos mágicos que vivi
me referia a Noel Rosa
com meu pai no seu
como “Bonequinho” e,
curto período de vida.
quando Pixinguinha
Ambos despertaram
morreu, chorei muito
em mim a sensibilida-
e meus pais não en-
de melódica.
tendiam como pode-
ria eu, uma criança de Que venham mais 160
dois anos, ficar tão tris- anos de muita música
te. A minha tristeza só e história!. Obrigada,
foi compreendida no Banda Euterpe, por fa-
dia seguinte, quando zer parte da minha vida!

BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS 31


VINI BROWN
DJ | Apresentador de
Rádio | Produtor Artístico,
neto de Sr. Chico
Custódio – ex membro da
Banda Euterpe Itabirana

Notas dançam no ar, Anos passaram, mas a


como folhas ao vento, música persiste,

A música é arte, um di- no coração da cidade,


vino alento. sua arte assistem.

Chico Custódio, maes- Instrumentos se unem


tro do meu coração, em harmonia,

Na Euterpe, música e na sinfonia da vida,


emoção. pura magia.

Avô que com notas fez Cada acorde é um sus-


história, piro, uma poesia,

Eterna canção de glória. Euterpe, em Itabira, ce-


lebra a melodia.
Notas que contam de
um tempo a vibrar. Euterpe, guardiã da
arte e da tradição,
Avô e músico, em har-
monia a brilhar, em Itabira, ecoa com
paixão.
Admiração que jamais
deixará de ecoar. Em acordes e ritmos,
eterna canção,
Seu legado ressoa, me-
mória que não finda, Itabira aplaude sua
bela expressão.
Avô querido, na músi-
ca, a alma se aninha. Avô querido, na Euter-
pe a brilhar,
Seu instrumento na
mão, fiel companheiro sua melodia é memó-
de emoção, ria a perdurar.

na banda é legado, é
pura devoção.

32 BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS


BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS 33
MAÍRA BALDAIA
Cantora, compositora,
atriz, comunicadora
itabirana

O que dizer da Banda que cresceram com a


Euterpe Itabirana que Euterpe, várias gera-
tanto nos inspira? Nes- ções inspiradas e movi-
ses 160 anos de traje- das pelo afeto musical.
tória musical e educa- Ao celebrarmos estes
cional, a Banda Euterpe 160 anos, é essencial
Itabirana construiu destacar esse papel
uma narrativa enraiza- inspirador da Euterpe
da na beleza da músi- para as novas gera-
ca e na riqueza cultu- ções. Sua sensibilida-
ral. Sua jornada é mais de musical ultrapassa
do que uma sinfonia, é barreiras, pois inspira
inspiração, é um tribu- jovens talentos a ex-
to à resiliência e à ca- plorarem sua própria
pacidade transforma- expressão artística. É
dora da música. A arte bonito ver os olhos dos
da Euterpe é agente integrantes de 11 a 91
de transformação em anos brilhando, assim
Itabira e seu legado é como os olhos do pú-
profundo! blico sempre encanta-
do. A Euterpe emerge
A Euterpe não apenas
como um farol cultu-
entrelaça notas mu-
ral na cidade de Itabi-
sicais, como também
ra, marcando em cada
tece laços abissais com
nota um capítulo da
a história da nossa Ita-
história musical da
bira. Sua presença é
nossa cidade, história
um eco perene, refle-
que transcende o tem-
tindo a evolução da
po, tocando novos co-
arte e o pulsar da co-
rações por onde passa.
munidade que a aco-
lhe por tantos anos; Além disso, a Euterpe
refletindo também a tem sido uma voz que
evolução das famílias eleva a cultura negra.

34 BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS


Fundada por homens piração, enaltecendo
negros e com maioria a tradição musical e a
de integrantes negros diversidade que for-
até os dias de hoje, a talece os alicerces da
Euterpe ofereceu um cultura. Que sua me-
espaço inclusivo onde lodia ressoe, nutrin-
a música se tornou do a alma da cidade
um veículo de acesso e proporcionando um
e oportunidade para legado duradouro para
talentos negros na ter- as futuras gerações.
ra itabirana. Sua con- Que a Banda Euterpe
tribuição é um teste- Itabirana continue a
munho vivo de como ecoar, enriquecendo
a arte pode quebrar vidas, inspirando men-
barreiras e criar pon- tes e elevando a cul-
tes entre comunida- tura através da magia
des. Dessa forma, sua atemporal da música e
música ressoa com da educação.
ritmos e melodias en-
Como disse Drum-
cantadores e serve de
mond, “jamais teve
plataforma inclusiva,
outra ungindo os
abrindo portas e pro-
ares, como esta, gra-
porcionando acesso,
ve, de Emílio Soares” .
afeto e cultura.
E que assim perpetue
Que a Banda Euterpe por mais 160 anos.
Itabirana continue a Viva a Banda Euterpe
ser uma fonte de ins- Itabirana!

BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS 35


CLÉBER CAMARGO
RODRIGUES
Editor | Produtor

A Banda Euterpe Itabi- percorrendo uma his-


rana é um tesouro. tória na cultura minei-
ra, preservando sua
A cada acorde toca-
essência e sua força
do é aguçada em nós
motriz, baseada nos
a vontade de escutar
ensinamentos e ideais
outros tantos acordes,
daqueles que tocaram
no silêncio das horas.
em 1863, de tantos que
A cada foto descober- percorreram décadas
ta, nalgum arquivo e mais décadas cons-
público ou particular, truindo uma tradição
novas linhas históri- musical; dos atuais
cas são acordadas, em membros que sabem
tempos distantes, mas do prazer e da respon-
bem perto da gente. sabilidade de vestir a
camisa da Euterpe e,
A cada história lida,
no agora, de hoje em
ouvida, sentida, novas
diante: ideais dos alu-
histórias são trazidas à
nos que participarão
tona, arrepiando nos-
da Escola de Música
sa pele, nossa alma e
Euterpe Itabirana.
nosso senso de per-
tencimento à terra de Ecoa seu modo de fazer
Drummond. música, de viver música,
de conviver por meio da
A Euterpe Itabirana
música. A Euterpe por-
é uma banda de sete
tuniza a tantos o acesso
vidas.
à cultura e à cidadania,
Tantas quantas vezes abre caminhos e se re-
forem necessárias, a troalimenta, lapida e
Banda se reinventa, re- exporta talentos.
nasce, transcende aos
Tudo é feito, pensado e
sinais e às sinas.
sentido nas entrelinhas
E a Banda Euterpe vai do amor à música - para

36 BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS


preservar, difundir e chegar aos 160 anos
manter acesa a chama com tanta beleza e
do modo de ser e de vi- com tanto porvir.
ver euterpeanamente.
A todo momento, ima-
Descobri que a Banda gino que a história da
Euterpe segue sendo Sociedade Musical Eu-
maior do que a gen- terpe Itabirana está
te consegue decifrar. apenas começando.
É coisa bacana atrás Não sei das reais expli-
de coisa bacana ou cações. Apenas acho
é trem bão atrás de que a Banda Euterpe
trem melhor ainda. Itabirana segue sendo
Êh Minas! uma das alegrias de
Itabira nos últimos 160
Ela segue apresentan-
anos.
do um repertório que
emociona e surpreen- Vamos à banda, en-
de, sempre. Segue es- tre passos e com-
crevendo e registran- passos, deixando es-
do histórias de como correr alegrias.

BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS 37


UM POUCO DAS
HISTÓRIAS DA BANDA
Euterpe Itabirana
GUSTAVO LINHARES
Jornalista chamado para
contar a história da Banda Conhecer o passado é tia em resgatar a história
Euterpe (em 2013) uma forma de conhecer da Sociedade Musical
a nossa trajetória, apren- Euterpe Itabirana, grupo
der com erros e escolher musical que se aproxima-
melhores caminhos para o va do aniversário de 150
futuro. Além disso, relem- anos, comemorado em
brando as vitórias e os nos- novembro de 2013.
sos “heróis”, conseguimos
As histórias e relatos aqui
motivação e inspiração
apresentados foram com-
para seguirmos em frente.
pilados através de entre-
Fatos importantes do vistas com membros e
passado de Itabira encon- ex-membros da banda
tram-se desconhecidos, que participou, participa,
enclausurados no museu marcou e marca a histó-
ou sobrevivem na memó- ria do município de Itabi-
ria dos antigos e da ca- ra, seja nas apresentações
pacidade dessas histórias religiosas, como na festa
serem transmitidas pela de São Sebastião, ou em
tradição oral — no papo comícios políticos, em
em rodas de amigos, nas eventos populares e em
histórias dos avós e na con- datas históricas.
versa durante o cafezinho.
Esse trabalho só foi pos-
Escrito em 2013, o traba- sível graças à memória
lho que apresento consis- coletiva, já que grande

38 BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS


Legenda da Foto, legenda
dafoto, legenda da foto

BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS 39


maioria dos registros do- ginal, fato que não abalou vocação não tinha como
cumentais foi perdida a recém criada Sociedade objetivo solucionar qual-
nesse mais de século e Musical Euterpe Itabirana. quer tipo de crime, mas
meio de história. Surge sim organizar um ensaio
Logo, a Banda Euterpe —
como reconhecimento do da Banda Euterpe.
como viria a ser conhecida
valor da Euterpe e espe-
— recebeu a proposta de O ensaio durou toda
ra ser exemplo para que
seu primeiro trabalho: tocar a madrugada e no dia
outras pessoas se inte-
em um funeral. Como não seguinte a Sociedade
ressem em patrocinar ou
possuía repertório, a Euter- Musical Euterpe Itabira-
pesquisar a fundo a histó-
pe solicitou à banda rival, na se apresentou pela
ria do município para que,
Henrique Dias, algumas primeira vez. A peça,
assim, possamos mostrar
partituras para que pudes- composta às pressas,
a toda população a força
sem executar no cortejo fú- encantou o público e foi
histórica de nossa cidade.
nebre. Recebendo a nega- considerada por todos
Em 1863, a cidade de Ita- tiva, Emílio Soares resolveu um grande trabalho.
bira possuía uma banda compor um “Libera-me”,
conhecida como Henri- mesmo estando às véspe- A partir desde episódio,
que Dias, corporação mu- ras do enterro. a Banda Euterpe come-
sical responsável por tocar çou a consolidar o seu
Durante a noite, Emílio
músicas em ocasiões pú- trabalho na cidade, an-
Soares trancou-se em um
blicas, tais como enterros gariando novos músicos
quarto e passou horas tra-
de pessoas importantes, que contribuíram com-
balhando na composição
festas religiosas e eventos pondo e transcrevendo
de uma peça para ser exe-
políticos. Porém, o então inúmeras partituras, que
cutada no dia seguinte.
chefe da Guarda Munici- hoje compõem um enor-
Quando terminou o tra-
pal - responsável pela se- me acervo localizado na
balho, seguiu para a Câ-
gurança na cidade, Emílio sede do grupo, no ende-
mara Municipal da cidade,
Soares de Gouveia Horta -, reço da rua Doutor Guer-
local em que se localizava
decidiu montar uma nova ra, na cidade de Itabira.
a cadeia. Lá, solicitou que
organização musical, já o carcereiro tocasse o sino Não só as apresentações
que estava descontente que representava a con- da corporação marcaram
com os serviços da banda vocação imediata de to- gerações em Itabira. Mui-
Henrique Dias. dos os guardas da cidade. tas pessoas receberam
No dia 22 de novembro O soar do sino causou nesses anos sua inicia-
daquele ano, Emílio Soa- enorme rebuliço na cida- ção no universo musi-
res convocou os membros de, já que se ouvia o seu cal nas aulas oferecidas
da Guarda Municipal para badalar somente quan- pela banda. O legado da
integrar o corpo musical do ocorria um crime. As- Euterpe ficou eterniza-
da banda. O maestro Emí- sim, compareceram na do nas palavras do poeta
lio Soares iniciou uma sé- Câmara Municipal não itabirano Carlos Drum-
rie de aulas com os seus somente os guardas, mond de Andrade, no
milicianos, porém havia como um pequeno nú- poema “Criação” (publi-
poucos instrumentos e mero de curiosos. Para a cado no livro Boitempo I,
nenhuma composição ori- surpresa de todos, a con- Ed. Record 2023).

40 BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS


BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS 41
BANDA EUTERPE
uma linha no tempo

A Sociedade Musical Eu- tura sofre grande abalo e


terpe Itabirana presen- a cultura predominante
ciou grandes histórias da região centro-sul dei-
ao longo de mais de um xa de ser um produto lu-
século e meio. A compa- crativo e levando muitos
nhia musical que foi res- fazendeiros à falência. O
ponsável por passagens Rio de Janeiro é tomado
marcantes da história pela Revolta da Vacina,
itabirana, além de alegrar movimento que mostra
os seus cidadãos, assistiu o tanto que o país precisa
a mudanças marcantes ainda crescer.
da biografia brasileira.
Saem os escravos, en-
A Banda Euterpe tem tram os imigrantes es-
sua trajetória iniciada no trangeiros. No período
mesmo período em que dos operários, o país as-
começava a guerra do siste a uma nova guerra
Paraguai, época essa em em busca de direitos, é
que o país assistia à luta hora de termos leis tra-
a favor da abolição da es- balhistas. Getúlio Vargas
cravatura e a crises entre chega ao poder, institui
Estado e Igreja. o Estado Novo e pro-
mulga o Conjunto de
Superada a guerra do
Leis Trabalhistas.
Paraguai, os brasileiros
assistem a borracha al- O Brasil cresce, entra na
cançar os primeiros lu- 2ª Guerra Mundial e é
gares das exportações do alastrado pelo medo das
país e aos poucos se tor- ações e dos ideais comu-
nar o principal produto nistas. Enquanto Getúlio
tupiniquim. Após, enfim, Vargas procura refúgio
a escravidão ser abolida, no suicídio, Juscelino Ku-
temos a primeira Consti- bistchek inaugura a sua
tuição da República ins- grande obra, Brasília, a
tituída e o Brasil vai mol- nova capital do país.
dando aos poucos a cara
Jânio Quadros é eleito,
de um país mais justo.
renuncia, e João Goulart
Entretanto, o Brasil en- assume a presidência
tra em um período de da república, o que não
crises sérias. A cafeicul- é aceito pelos militares

42 BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS


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BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS 43


Legenda da Foto, legenda
dafoto, legenda da foto

que promovem um gol- tudiosos de todo o país.


pe político que os levam a
Apesar de ter assistido
comandar o país.
a momentos importan-
Após mais de vinte anos tes da história do país,
de Regime Militar, em foram poucas as pesso-
que milhares de vidas as que se preocuparam
foram ceifadas e outras em marcar permanen-
tantas sofreram com a temente o legado des-
tortura, é iniciada a cam- se grupo. Este livro vem
panha Diretas Já, que justamente resgatar a
põe fim ao período mili- curiosa história da Ban-
tar. O Brasil passa por um da Euterpe e deixar im-
Impeachment e quatro pressa nestas páginas
presidentes eleitos pelo esse importante perso-
voto direto: a consolida- nagem da vida itabirana.
ção da democracia.
Nesse século e meio
Durante todo esse tem- de existência, a Banda
po, a Sociedade Musical Euterpe desenvolveu
Euterpe Itabirana con- diversas formas de se
solidou o seu trabalho estruturar para sobrevi-
e criou raízes cada vez ver. A essência do grupo
mais fundas em sua terra está traduzida no nome
natal; anos acumulando da corporação, no esfor-
partituras, cuja excelên- ço e no comportamen-
cia é reconhecida por es- to dos integrantes.

44 BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS


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Interior do salão da antiga


sede. Esq. para dir.: Mestre
Emílio, Zeca Amâncio, Cândido
Eliziário e João Pio

BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS 45


TEORIAS SOBRE
a nomenclatura Euterpe
O questionamento quan- flauta e, por essa razão,
to à escolha da palavra passou a ser reverencia-
Euterpe para compor o da como a deusa e guar-
nome da banda levan- diã da música.
tou, através dos anos, di- Porém, um ex-integrante
versas discussões sobre o da banda, José de Olivei-
seu significado e a razão ra, afirmava que a palavra
da sua escolha. A teoria euterpe é uma justaposi-
mais aceita diz respeito ção na qual “eu” significa
a uma deusa da mitolo- perfeição, enquanto “ter-
gia grega chamada Eu- pe” refere-se à música.
terpe. Essa entidade foi Dessa forma, euterpe re-
responsável pela criação presentaria o conceito de
do instrumento musical música perfeita.

Legenda da Foto, legenda


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46 BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS


BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS 47
BONS COSTUMES
Regras morais fazem
da companhia.
parte de toda e qualquer
forma de sociedade e Hoje, as regras morais
com a Banda Euterpe não são tão rígidas. Os
não é diferente. Desde músicos ainda são res-
os seus primórdios, os ponsáveis pelos seus
músicos dessa corpora- instrumentos, já que é a
ção estipularam méto-
partir deles que execu-
dos de bom convívio e
tam o ofício. Porém, as
respeito que deveriam
gavetas e armários não
ser seguidos por todos
são locais imaculados e
os membros, dos mais
novos aos mais antigos. todos os membros po-
dem ter acesso ao acer-
A disciplina sempre foi um
vo da Euterpe.
quesito bastante rigoroso
para os membros da Eu- Os neófitos podem,
terpe e conceito passado hoje, expor suas ideias e
para os jovens que ingres- conversar com os mais
sam nas aulas de música. velhos. As únicas restri-
A primeira regra a ser ob- ções quanto aos assun-
servada é que todo e qual-
tos discutidos é que não
quer instrumento musical
se pode levar para den-
deve ser manuseado ape-
tro da banda ideais polí-
nas pelo músico detentor
ticos ou religiosos.
dele, que é o responsável
pela limpeza e conserva- O que existe ali dentro
ção do mesmo.
é respeito à diversida-
Nos anos iniciais da cor- de ideológica e ao evi-
poração, os estudantes tar esse tipo de assunto
não podiam mexer em mantém-se a boa con-
nenhum armário ou ga- vivência sem discussões
veta, que eram abertos entre os membros. Ou-
apenas pelo maestro ou trora, esse tipo de discus-
zelador da banda, medi-
são levou a Sociedade
da que visava conservar
Musical Euterpe Itabira-
os trabalhos musicais do
na a enfrentar sérios pro-
grupo. As crianças não
blemas com a sua equi-
podiam conversar quan-
do estava acontecendo pe.
uma reunião ou ensaio

48 BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS


Legenda da Foto, legenda
dafoto, legenda da foto

BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS 49


DISCIPLINA,
respeito e amizade
Com as dificuldades objetivo cativar as crian- tações desenvolvidas
para manter o quadro ças a atraírem novas pelas crianças.
de músicos estável, já crianças para a Banda
Como muitas crianças e
que muitos dos jovens Euterpe, além de mostrar
jovens começam a parti-
que se formavam pela aos familiares o funcio-
cipar das escolas da Eu-
Banda acabavam se- namento da instituição e
terpe por indicação de
guindo os caminhos colocá-los a par das ativi-
algum amigo, a educa-
que melhor achassem dades realizadas dentro
ção é um fator importan-
– trabalhar, estudar em da corporação.
te dentro da banda. É por
outras cidades etc –, a
A participação dos isso que valores como
Euterpe passou a adotar
pais é fundamental disciplina, responsabili-
uma política que era co-
no estudo da música, dade, respeito, amizade
mum nos anos 1940: in-
primeiro pela confian- e dedicação à escola são
centivar a participação
ça que transmitem levados a sério e exigidos
das famílias dos jovens
aos músicos, segundo para que elas possam
músicos na Banda.
pelo apoio que dão às continuar com os seus
Esse trabalho tem como atividades e apresen- estudos musicais.

Legenda da Foto,
legenda dafoto, legenda
da foto

50 BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS


BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS 51
MÚSICOS DA EUTERPE
músicos da Orquestra do Cinema

No início do século XX, mes antes da exibição


Itabira conheceu o mun- para, só então, montar a
do do cinema, que na trilha sonora e sincroni-
época ainda engatinhava zá-la com as imagens.
e os filmes eram em pre-
to e branco e sem sons. O trabalho dessa Orques-
As apresentações, que tra do Cinema durou
ocorriam no prédio do enquanto o universo ci-
Teatro Municipal, localiza- nematográfico produziu
do na praça Monsenhor filmes mudos — até o iní-
Felicíssimo, recebiam cio dos anos 1930. Porém,
acompanhamento de o que fica na memória de
uma orquestra que era Itabira é a enorme contri-
responsável por executar buição cultural que esse
músicas que dessem um grupo gerou para a cida-
clima extra para as exibi-
de, evidenciando o que ti-
ções cinematográficas.
nha de mais belo nas pro-
Muitos músicos que par- duções cinematográficas.
ticiparam dessa Orques-
É relevante lembrar a
tra do Cinema tiveram
contribuição da Banda
sua iniciação musical
Euterpe nesse período
realizada na Sociedade
Musical Euterpe Itabira- da história de Itabira, já
na ou faziam parte dos que os músicos que fize-
quadros da Euterpe. O ram trilhas sonoras para
trabalho realizado pela os filmes exibidos no
Orquestra do Cinema era município tiveram parte
árduo, já que os músicos do seu aprendizado rea-
deveriam assistir aos fil- lizado na Euterpe.

52 BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS


BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS 53
A CASA
da Banda
A casa localizada na rua Dr. Durante vinte anos a
Guerra, no centro de Itabi- banda utilizou a velha
ra, chama atenção de to- casa como local de en-
dos que passam em suas saio e em 1.954 teve iní-
imediações. A fachada é cio a primeira reforma da
adornada por notas musi- Casa da Banda. As obras
cais e nomes de grandes foram motivadas pela
músicos. Além disso, uma necessidade dos músi-
placa metálica aponta que cos de terem um espaço
aquele prédio é persona- que oferecesse melhores
gem importante na histó- condições de trabalho.
ria da cidade: faz parte do
Museu de Território Cami- Em 1960, os músicos da
nhos Drummondianos. Euterpe decidiram que
a Casa da Banda deveria
A relação da Banda Eu- passar por novas obras,
terpe com a propriedade dessa vez decididos a
no centro da cidade tem construir um novo prédio.
início no ano de 1934, A velha casa foi jogada ao
quando Candinho, secre- chão e teve início mais
tário da corporação mu- uma empreitada em bus-
sical, deu início à compra
ca de uma sede melhor.
do terreno que até en-
tão contava apenas com Com a sua sede em obra,
uma casa velha. Pela pri- a Euterpe teve que pro-
meira vez em sua histó- curar um novo local para
ria, a Sociedade Musical ensaio dos músicos. O
Euterpe Itabirana passa- espaço encontrado foi
va a ter sede própria. em uma carpintaria que

54 BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS


Inauguração da sede da
Sociedade Musical Euterpe
Itabirana - com destaque
para o painel artístico da
fachada feito pelo então
prefeito Daniel Jardim de
Grisolia | 06 de outubro
de 1969 | foto: autoria
desconhecida | Acervo
Sociedade Musical Euterpe
Itabirana

BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS 55


funcionava nos fundos por mais de vinte anos, O prédio chegou à sua
da casa de Hermínio No- solicitou a ajuda de Re- forma final depois que
vaes, membro da banda. nault Lage, com quem a Prefeitura Municipal
trabalhava, para tornar de Itabira, na época
Essa carpintaria era de
realidade o que estava presidida por Daniel de
propriedade de mestre
na planta original. Grisolia, passou a trocar
Pedro Augusto de Olivei-
ra, quem combinou com No início, foi feita a fun- o subsídio mensal que
os músicos que cederia o dação do prédio, depois a enviava à Euterpe por
espaço ao final da tarde obra ficou parada por al- material de construção.
para que eles pudessem guns meses, fato que le- Essa iniciativa, aliada às
realizar os ensaios. vantou muita preocupa- doações da população,
ção, pois o trabalho que permitiu, enfim, que a
As obras da nova sede
havia sido feito estava sede da banda ficasse
só puderam ser conclu-
ídas graças à ajuda da sujeito as intempéries do pronta.
comunidade, que fazia tempo, além do acúmulo
de lixo e terra. O painel que enfeita
doações à corporação
a fachada da Casa da
musical, e também gra- A laje só foi erguida gra- Banda possuía original-
ças à Vale que cedeu ao ças à madeira cedida
grupo as primeiras toras mente 80% dos nomes
pela Vale, que foi utili-
de madeira que foram que constam hoje. A
zada na construção das
utilizadas na construção sua configuração atual
formas que permitiram
da Casa da Banda. só foi feita após o Zizito
subir os primeiros an-
Malta subir o segundo
Outro personagem im- dares do prédio. A partir
pavimento da casa – foi
portante na construção daí, a obra avançou de
acordo com a quantida- quando a fachada ne-
da sede da Euterpe foi
de de dinheiro que en- cessitou de uma nova
o engenheiro Renault
Lage. Quando a banda trava na Euterpe, o que pintura e permitiu que o
decidiu pela constru- prolongou o tempo de Zizito Malta completas-
ção de uma nova casa, ensaios na carpintaria se com alguns nomes
o Zizito Malta, que foi do mestre Pedro Augus- que julgou necessário
presidente da banda to de Oliveira. participar do painel.

56 BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS


BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS 57
FESTAS, COMÍCIOS
novenas e procissões

A Banda Euterpe era A relação da Euterpe


muito ligada aos even- com a Igreja era tão ín-
tos realizados pela Igreja tima que o Monsenhor
Católica, além de partici- José Lopes dos Santos,
par de comícios e festas mais conhecido como
da cidade. Em seus bons Padre Zé Lopão, ao as-
tempos, a Euterpe reali- sumir a diocese de Ita-
zava apresentações du- bira, acreditou que a
rante todos os meses do Banda Euterpe fosse
ano, desde a novena de um braço musical da
São Sebastião, em janei- igreja no município e,
ro, passando pelo mês de assim, de propriedade
São José, em março, até da instituição católica.
o mês de Maria, em maio.

58 BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS


BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS 59
Legenda da Foto, legenda
dafoto, legenda da foto

VELÓRIOS,
tradição que chegou ao fim

O início da Euterpe Com o passar do tempo, as


está intimamente liga- apresentações acabaram
do a uma história tan- de vez, os músicos pararam
to curiosa quanto me- de levar seus instrumentos
lancólica: ela foi criada e as homenagens passa-
para executar músicas ram a ser feitas apenas no
no enterro de um mem- silêncio ou com orações.
bro ilustre da socieda-
O último enterro que a
de Itabirana. Porém, a
Banda Euterpe tocou foi
tradição que provocou
o do ex-presidente da
o início da corporação
corporação, Fábio Pires,
não durou muito.
que além da sua atuação
Aos poucos essa tradi- na banda era grande ami-
ção foi sendo deixada de go dos músicos do grupo.
lado e os velórios com a Essa última aparição em
participação da Euter- um funeral aconteceu no
pe foram diminuindo. cortejo que saiu da casa
Apenas quando algum do Fábio Pires e seguiu
membro, ex-membro ou o caixão até o cemitério.
personalidade da cida- As músicas apresentadas
de falecia é que a banda foram as preferidas do ex-
participava do velório. -presidente.

60 BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS


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BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS 61


Legenda da Foto, legenda
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OFICINA DO
Livro de Pano
A Oficina do Livro de Pano A parte prática foi orien-
foi realizada nos dias 23 e tada pelas oficineiras Fa-
24 de novembro de 2023, bíola Gabriel e Samira Ga-
na sede da Banda Euter- briel, que participaram da
pe Itabirana, com a parti- montagem do livro com
cipação de jovens e adul- ilustrações e registros
tos do Quilombo Morro de histórias de uma das
Santo Antônio (Itabira, bandas mais antigas de
Minas Gerais). Minas Gerais - um impor-
tante patrimônio imate-
Os participantes confec-
rial de Itabira que iniciou
cionaram, artesanalmen-
sua história em 1863.
te, um livro de pano ver-
sando sobre a Euterpe e O objetivo da atividade
suas memórias afetivas. foi de despertar nos par-
Inicialmente, o propósito ticipantes a valorização
da oficina foi apresenta- do patrimônio cultural,
do a partir de uma roda através de atividades lú-
de conversas e uma visita dicas e criativas.
guiada à exposição Ban-
O Livro de Pano produzi-
da Euterpe Itabirana 160
do fará parte do acervo da
Anos – Acordes Históricos.
Banda Euterpe Itabirana.

62 BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS


BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS 63
Presidentes

EMÍLIO SOARES DE GOUVEIA MESTRE ZECA AMÂNCIO CÂNDIDO ELIZIÁRIO BARBOSA


HORTA JÚNIOR

OLINTO GOMES FRANCISCO ANTÔNIO TEÓFILO DE ALVARENGA


DA SILVA

JOSÉ DE FIGUEIREDO FRANCISCO DE ASSIS JOÃO BRUNO TORRES


DRUMMOND

SILVÉRIO FAUSTINO IRENI BARBOSA

64 BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS


LAÉRCIO GUERRA BRANDÃO CAIO MARTINS DA COSTA JOÃO EVANGELISTA
RODRIGUES

JOSÉ JÚLIO DE SOUZA FÁBIO PIRES GUERRA JOSÉ FERNANDES MOURA

JESUS ALEXANDRE TEIXEIRA EDWIGES MARIA BARBOSA E EUNICE OLIVEIRA VIEIRA


SILVA COSTA

CRISTINA DE FÁTIMA JOAQUIM TEODORINO


FERREIRA OLÍMPIO

BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS 65


MAESTROS
Regendo a história da Banda

Emílio Soares Gouveia Horta Júnior - “Mestre Emílio”

José Amâncio - “Mestre Zeca Amâncio”

Antônio Amâncio Ferreira - “Ninico Amâncio”

João Pio

Silvério Faustino

Geraldo Macedo

Silvério Faustino

Raimundo de Barão

Ronotil Belizário - “Nonoca”

Geraldo Magela

Lúcio de Oliveira

Melquiades Mamede Pereira

Lúcio de Oliveira

José Geraldo Rodrigues

Lúcio de Oliveira

Noeme Oliveira Vieira

José Geraldo Rodrigues

Acima: José Amâncio -


“Mestre Zeca Amâncio”
Abaixo: Silvério Faustino foi
o maestro que mais tempo
regeu a banda | Sem data
| Acervo Sociedade Musical
Euterpe Itabirana

66 BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS


Registro da participação da Banda Euterpe na celebração do fim da
Revolta Armada de 1893. Segundo relato de Emílio Rouède, sobre a
regência de José Amâncio Ferreira – o “Mestre Zeca Amâncio”, a banda
deu início a celebração executando o hino nacional e a Marselhesa, em
frente a Typographia do Correio de Itabira| Fotografia de Brás Martins da
Costa | 13 de abril de 1894 | Reprodução do Acervo do Museu de Itabira.

“Ao chegar anteontem a notícia da terminação da luta (revolta da ar-


mada) horrenda no Rio Grande do Sul, o povo desta cidade acolheu
pressuroso ao nosso convite tão grande acontecimento. Às 7 horas da
noite, achando-se a cidade profusamente iluminada, chegou à nossa
redação a banda de música Euterpe Itabirana, que, sob a inteligente
direção do maestro José Amâncio Ferreira, deu começo à festa da paz,
tocando o hino nacional e a Marselhesa. Centenas de foguetes ilumi-
naram o espaço e repentinamente o povo em um imenso uníssono
levantou vivas aos heroes da pacificação do Sul. Da sacada da nossa
redação dirigiu a palavra ao povo o nosso digno e ilustre redator-che-
fe, comendador José Antônio da Silveira Drummond. [...] [...] A redação
do Correio de Itabira agradece a todos os que tomaram parte nesta
solenidade, iluminando as casas e assistindo a esta festa popular e
espontânea, mencionada especialmente a inteligente banda Euter-
pe Itabirana que, com patriotismo digno de elogio, não quis receber
retribuição pelo seu valioso concurso.”

EMÍLIO ROUÈDE - Correio de Itabira, 15 de abril de 1894

BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS 67


Orquestra do Cinema
de Itabira. Da esquerda
para a direita: sentados -
João Terceiro (violoncelo), Fato interessante registrado na história musical de
Zoraida, Isaura, Mafalda, Itabira é a ligação entre o antigo cinema e a pro-
Peri, João Amâncio
(contrabaixo). De pé: o dução musical. Como os filmes eram mudos, havia
regente, Ninico Amâncio, a necessidade de uma orquestra para sonorizá-los.
“Totoque”, José Figueiredo
Era necessário escolher a música de acordo com a
(flauta transversa) e
Itagiba (clarineta). João temática do filme. O mestre “Ninico Amâncio”, fora
e Ninico Amâncio, filhos o regente tanto da Euterpe Itabirana como da Or-
do Mestre Zeca Amâncio,
também eram membros
questra do Cinema. Pressupõe-se que os músicos
da Banda Euterpe | 18 de da orquestra eram membros do coral da Banda Eu-
setembro 1918 | Autoria terpe até aproximadamente a década de 1940.
Desconhecida | Acervo Luiz
Carlos de Assis Pinto
“em 1911, Itabira inaugurava seu cinema, de-
zesseis anos após o invento dos irmãos Lu-
mière. Naquela ocasião o cinema era mudo.
A tela deveria ser molhada para facilitar a
absorção da luz e melhor refletir as imagens
em preto e branco. Uma orquestra harmoni-
zava os enredos tocando piano, violino, ban-
dolim, flautas e outros instrumentos, execu-
tados não só por homens, mas também por
mulheres. A organização desta orquestra foi
mais um incentivo à vida cultural da cidade,
já tradicional em suas atividades musicais
com a famosa “Euterpe Itabirana”. (GUERRA:
2010: 137)

68 BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS


Partitura Libera Me –
copista José Amâncio
Ferreira, o Mestre “Zeca”
Amâncio” | agosto de 1884
| Acervo Sociedade Musical
Euterpe Itabirana

BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS 69


NOTAS REFERENTES AO PROJETO “TRATAMENTO
E DIGITALIZAÇÃO DO ARQUIVO DA SOCIEDADE
MUSICAL EUTERPE ITABIRANA”
IDEALIZADO POR ANDRÉ GUERRA COTTA
EM PARCERIA COM A BANDA EUTERPE ITABIRANA

1. A partir das comemo- pelo RISM em Mainz, é a importância do refe-


rações dos 160 anos, a Frankfurt, e nos diversos rido acervo, já verificada
Euterpe Itabirana de- congressos da IAML e por diversos especialistas
senvolverá ações e par- IAML-Brasil. Trabalhava desde meados do século
cerias para implementar mais recentemente na XX, quando o musicólo-
e ampliar o referido pro- consolidação do grupo go Francisco Curt Lange
jeto, buscando resgatar RISM-Portugal e na con- (Eilenburg, 1903 – Mon-
obras e parte da história vergência terminológica tevidéu, 1997) visitou a
da SMEI, bem como dis- para a catalogação de sede da Banda Euterpe.
ponibilizar para consulta obras musicais no espaço Também outros musi-
de estudantes, pesquisa- luso-brasileiro. Profícuo cólogos, tais como Aluí-
dores, músicos e demais pesquisador e pioneiro zio Viegas, André Guer-
interessados no tesouro na área da Arquivologia ra Cotta, António Jorge
cultural da entidade; Musical no Brasil, contri- Marques, Marcelo Hazan,
buiu diretamente na dis- Pablo Sotuyo Blanco,
2. Devido à proximidade seminação de conceitos Paulo Augusto Castagna,
e entusiasmo do musi- e procedimentos para a entre outros, que pes-
cólogo e maestro André organização e tratamen- quisaram no acervo da
Guerra Cotta (1962-2021), to de arquivos brasileiros, Euterpe Itabirana, regis-
a Sociedade Musical Eu- especialmente no Museu traram sua importância
terpe Itabirana presta- da Música de Mariana, em trabalhos científicos
rá as devidas homena- no Acervo Cleofe Person publicados nos canais
gens, além de inaugurar de Mattos, no Acervo do acadêmicos e em proje-
uma sala com o nome Cabido Metropolitano do tos culturais específicos.
‘André Guerra Cotta’, Rio de Janeiro, e no Acer-
mantendo parte de suas vo Curt Lange, hoje loca-
pesquisas ao alcance de RESUMO
lizado na Universidade
mais interessados; O presente projeto pre-
Federal de Minas Gerais
tende dar tratamento
(UFMG). Além de parcei-
3. André Guerra Cotta foi técnico à totalidade do
ro da Banda Euterpe Ita-
vice-presidente da As- arquivo de manuscritos
birana, André Guerra Cot-
sociação Brasileira de musicais de uma das
ta foi maestro do Coral da
Musicologia (ABMUS) e mais antigas corpora-
Fundação Cultural Carlos
Membro Coordenador ções musicais existentes
Drummond de Andrade,
do Comitê RISM-Brasil, no país em atividade, a
em Itabira, Minas Gerais.
tendo participado de Sociedade Musical Eu-
inúmeros eventos espe- 4. A maior justificativa terpe Itabirana, que em
cializados organizados para o referente projeto 22 de novembro de 2017

70 BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS


Legenda da Foto, legenda
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BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS 71


completará cento e cin- corporações musicais em cípio, a sua importância
quenta e quatro anos de atividade no Estado de não se restringe à vida
existência. O projeto visa Minas Gerais, tendo sido musical de Itabira, pois
garantir a conservação fundada, segundo a tradi- o seu arquivo de fontes
dos documentos de seu ção, em 22 de novembro musicais é um dos mais
arquivo de manuscritos de 1863, em Itabira, ter- antigos do país e tem vín-
musicais e estabelecer ra natal do poeta Carlos culos históricos com as
um arranjo definitivo Drummond de Andrade. práticas musicais católi-
para ele, além de reali- A Banda Euterpe, como cas e cívicas do mundo
zar a sua digitalização, é conhecida, completou, luso-brasileiro. Seu funda-
de maneira a promover portanto, cento e cin- dor, o professor – e, entre
a difusão digital dessa quenta anos de existên- outras funções, compo-
documentação singu- cia no ano de 2013, quan- sitor – Emílio Soares de
lar, que constitui fonte do houve uma exposição Gouveia Horta Júnior (Co-
importantíssima para a comemorativa e uma so- cais, 1839 – Juiz de Fora,
história da música luso- lenidade promovida pela 1907) foi uma das figuras
-brasileira, estimulan- Fundação Cultural Carlos mais proeminentes da
do novas pesquisas, ao Drummond de Andrade. Província de Minas Gerais
mesmo tempo contri- Drummond cita por diver- na segunda metade do
buindo para a sua salva- sas vezes em sua obra a século XIX, tendo exercido
guarda. O projeto pre- “Euterpe morena”, revelan- mandatos como Deputa-
tende também formar do detalhes de sua história, do Provincial entre 1862
recursos humanos para inclusive episódio que re- e 1867 na Assembleia
a conservação e admi- laciona-se à sua fundação, Provincial de Ouro Preto.
nistração do arquivo, en- no poema Criação. Em raro Um manuscrito da Cole-
tre os próprios membros registro, o fotógrafo itabira- ção Francisco Curt Lange,
da banda, de maneira no Brás Martins da Costa fi- custodiada pelo Museu
a contribuir para a sua xou em fotografia uma das da Inconfidência, número
sustentada manutenção atuações da Euterpe em 95 de seu catálogo, traz o
e acessibilidade. fins do século XIX. seguinte frontispício:

A Sociedade Musical Eu- Se, por um lado, a Banda “Novena de S. Sebastião


terpe Itabirana (SMEI) é Euterpe faz parte da rica | Composta pelo Autor o
uma das mais antigas história cultural do muni- Ilmo. Sr. Deputado Pro-

72 BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS


Maestro Silvério e o
compositor Ermindo
Apolinário em frente a
antiga sede | Presumido
década de 1950 | Autoria
desconhecida | Acervo
Sociedade Musical Euterpe
Itabirana

BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS 73


v[inci]al | Emílio Soares Não apenas pelo período disponibilização on-line
de Gouvea Horta Júnior cronológico que abran- facilitarão o acesso e con-
| Acompanhada de V.os, ge, mas também pelo tribuirão para a conser-
Violeta, Clarineta, Pistons, potencial de pesquisa vação dos documentos,
trompas, trombone | Ofi- e produção artística e diminuindo a necessida-
cleid [sic], Violoncelo, Bom- científica que tem, a im- de de sua manipulação
bo e Pratos | Cidade da Ita- portância do acervo da direta por parte dos pes-
bira 15 de Janeiro de 1863”. SMEI como fonte primá- quisadores e musicistas.
ria, ressalte-se, não se re-
O presente projeto pre- Importante ressaltar
laciona somente à histó-
tende realizar o tratamen- que, embora o referido
ria da música em Minas
to de seu arquivo, digitali- acervo tenha sido objeto
Gerais, mas ao estudo da
zá-lo e disponibilizá-lo por de projeto de cataloga-
música luso-americana
meio digital, além de fazer ção na década de 1990,
dos séculos XVIII e XIX.
uma descrição detalhada tal trabalho não foi rea-
das fontes musicais que Por tais motivos preten- lizado na totalidade do
o compõem – partitura e de-se, através deste pro- acervo, mas somente
partes manuscritas que jeto, formar as bases para em uma parte do arqui-
datam do início do sécu- um serviço de arquivo, vo então disponibilizada
lo XIX, e que constituem a ser continuado após a para este fim, consis-
fontes importantíssimas conclusão dos trabalhos, tindo basicamente em
para a musicologia e para pela própria equipe rea- obras sacras e parte do
o patrimônio cultural e lizadora do projeto, que acervo de obras para
musical do país. envolverá membros da banda. Por razões me-
comunidade ligada à todológicas, relaciona-
Embora a SMEI tenha Banda Euterpe, entre os das ao estado da arte
sido fundada em 1863, assistentes selecionados da musicologia histórica
os trabalhos realizados pela coordenação. Todos brasileira naquela altura,
até o momento permi- receberão formação ade- o trabalho de descrição
tem verificar que o acer- quada para o tratamento mais detalhado foi feito
vo contém documentos e a preservação de docu- sobre o material rela-
que remontam ao prin- mentos em papel, assim cionado à música sacra.
cípio do século XIX, como como estarão familiari- O presente projeto pre-
se pode ver pelo frontis- zando-se com a natureza tende tratar a totalidade
pício abaixo, datado de do acervo e com o tipo dos documentos musi-
1825, e feito sobre parte de demanda que recebe. cais existentes, inclusive
de ópera provavelmente Por outro lado, a digitali- o material destinado à
anterior a esta data. zação do material e sua música profana.

74 BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS


Euterpe Itabirana, em fins
do século XIX (Foto de Brás Fac-símile de frontispício
Martins da Costa) datado de 1825, de
manuscrito pertencente ao
acervo da SMEI.

BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS 75


DÉCADA DE 1970
A chegada das musas

Tido como pessoa arro- do movimento feminista


jada e proativa, Geraldo reivindicante da igualda-
Macedo foi responsável de de gênero – foi na sua
por uma ruptura na tra- regência que entraram
dição da Sociedade Mu- as primeiras mulheres
sical de ser composta para Banda Euterpe, no
exclusivamente por pes- início da década de 1970.
Desfile no aniversário da
cidade de Itabira onde soas do sexo masculino. Vanda Oliveira (filha do
temos o registro das Atento às transforma- Sr. Lúcio Oliveira), Noeme
primeiras integrantes ções políticas e sociais Oliveira Vieira (sobrinha
femininas da Banda - da
esquerda para direita, de seu tempo – dentre do Sr. Lúcio Oliveira) e
na primeira fila, Noeme as quais a insurgência Catarina Campos.
Oliveira Vieira, Catarina
Campos e Vanda Oliveira |
Autoria desconhecida | 09
de outubro de 1973 | Acervo
Sociedade Musical Euterpe
Itabirana

76 BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS


Hoje a banda conta com 03 integrantes mulheres: Ana Maria Olímpio, Cristina Ferreira
e Laureanne Reis.

Desfile no aniversário da cidade de Itabira onde temos o


registro das primeiras integrantes femininas da Banda
- da esquerda para direita, na primeira fila, Noeme
Oliveira Vieira, Catarina Campos e Vanda Oliveira | Autoria
desconhecida | 09 de outubro de 1973 | Acervo Sociedade
Musical Euterpe Itabirana

BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS 77


Piquenique organizado pela
Sociedade Musical Euterpe
Itabirana no Pico do Cauê |
setembro de 1920 | Autoria
Desconhecida | Acervo Luiz
Carlos de Assis Pinto

As bandas constituíram-se, e cívicas, bailes, entre ou-


muitas vezes, como uma tros, exercendo assim um
das únicas manifestações papel de suma importân-
culturais das pequenas ci- cia no processo cultural
dades interioranas. da sociedade brasileira,
Desempenharam um pa- criando desta maneira,
pel importante na vida so- espaços de sociabilidade.
cial e cultural das cidades,
Assim como as bandas
sendo as principais res-
militares, as sociedades
ponsáveis pelas formas
musicais civis se apre-
de lazer da comunidade,
sentaram em festas ofi-
pois suas apresentações
aconteciam em eventos ciais, solenizando com
distintos que ocorriam pompa os eventos e co-
em épocas festivas do memorações onde se
ano, realizando retretas, fazia necessário o desta-
desfiles, festas religiosas que através da música.

78 BANDA EUTERPE ITABIRANA 160 ANOS – ACORDES HISTÓRICOS


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