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“A EUTERPE ITABIRANA
...
Vates da multidão!
P. Junior
A BANDA
da minha vida
Eu era um garoto ca eu era um aplicado
quando atravessei pela aluno de piston e sen-
primeira vez a porta tia um orgulho danado
da fachada histórica de estar aprendendo
da Banda Euterpe Ita- música em meio a tan-
birana. Todos aqueles ta gente admirada pela
adereços na parede do cidade inteira. Era uma
prédio da rua Dr. Guer- conquista e eu nem
ra sempre me encanta- poderia imaginar que
ram. Mas o que eu não tantos anos depois a
imaginava até ali era minha história e a his-
que a verdadeira ma- tória da Euterpe se cru-
gia acontecia lá dentro, zariam novamente de
entre partituras, instru- maneira tão bonita.
mentos e notas que se
A vida me deu muitas
complementavam har-
oportunidades de ex-
monicamente e vira-
perimentar e reconhe-
vam músicas.
cer o poder da cultura
O movimento das na sociedade. A carreira
mãos do maestro Ge- na iniciativa privada me
raldo Macedo, deslizan- levou para outros paí-
do pelo ar enquanto ses, permitiu-me inte-
regia a banda, é uma ragir com outros povos
das primeiras lembran- e concretizou em mim
ças que tenho do que a certeza de que as ra-
é uma manifestação ízes locais precisam ser
cultural. Naquela épo- fortalecidas e cultiva-
MEMÓRIAS
“Lembranças não preci- e já era um integran-
sam que sejam muitas, te da Banda Euterpe,
basta que sejam boas.” uma família abenço-
ada que recebi. En-
Memórias, muitas ain-
tre outros, adquiri um
da muito vivas em mi-
grande amigo, o mes-
nha mente, transpor-
tre maestro Silvério
tam a um passado que
Faustino, a quem mui-
nem tão longe está.
to devo. Através dele
Lembro-me muito de
fui contratado para
quando, lá pelos meus
tocar em alguns bai-
oito ou nove anos de
les de Carnaval que, na
idade, meu pai Ermi-
época, rendiam-me al-
nindo, para não me
guns trocados, sempre
deixar sozinho, leva-
em boa hora, salvando
va-me com ele para
a pátria.
ensaios da banda. In-
conscientemente, eu Sem deixar de reco-
já me sentia atraído e nhecer outros fato-
empolgado com as pe- res, foi com o contrato
ças musicais que ouvia para tocar no Carnaval
batendo os pés e as do ano de 1959 que eu
mãos, marcando o rit- consegui um suporte
mo, habilidade musical financeiro para adqui-
que tanto me ajudaria rir um terreno e, pos-
ao longo dos tempos. teriormente, construir
a minha própria casa,
Bastou eu chegar aos
quitando uma dívida
quinze, dezesseis anos,
com minha família.
II
Aqui chegamos à velhice do Guarda-Mor
com seus quarenta e seis descendentes em volta,
sua mocidade revolucionária ao lado de Teófilo Otoni,
marcando o fim da era dos Oitocentos
e um silêncio de igreja que a procissão
vai incensando, vai gregoriando pelas ruas principais.
Súbito, a menina crucificada
na postura de Cristo repete o holocausto
que os pecadores insistem em não compreender.
É indispensável, é urgente levantar o cruzeiro,
sinal de culpa e resgate
sobre interesses e podres de família,
sobre fazendolas hipotecadas
de gado, milho, café, carrapato redoleiro,
erguê-lo à altura majestática do Pico do Cauê,
se não mais alto, muito mais ainda.
Braços robustos tiram-no do chão
e o vão alçando com fervor e suor
até que ele paire sobre as consciências arrependidas.
Os padres, o Senhor Bispo, o Santo Padre invisível-presente
velam o sono, vigiam o acordar e o labutar do povo,
entre velocípedes, ornatos florais,
cães fiéis aos pés de seus donos de botas
e uma honrada banda de música, Euterpe morena,
a encher de arte e vibração o território parado.
O sentimento e o fogo,
Que agitam vossas ideas,
Fagulhas, lavas ardentes,
Que vibrão mil epopeas,
Conspicuos sectários,
Do rhytmo de Rossini;
D’outras gemas preclaras,
Carlos Gomes e Bellini,
da Alzira
A Banda Euterpe Ita- Por vários anos segui-
birana inicia a exe- dos vivi a repetida cena:
cução da marcha fú- inserida na multidão
nebre na subida do que deixa a Catedral
esquife com a ima- em direção ao bairro
gem do Nosso Senhor Campestre, à Igreja
Morto para a Igrejinha Nossa Senhora da Pie-
do Campestre. A at- dade, proferia as ora-
mosfera de tristeza ções observando - com
recebe a composição olhos de fé debutante
com perfeita aceita- - os fiéis descalços, os
ção, a melodia na to- que trajam panos ro-
tal harmonia do mo- xos e todos que equili-
mento do cortejo para bram velas acesas que
o depósito do Cristo derretem ceras e quei-
que morreu na cruz, mam as mãos. Tantos
na noite sombria de rezam, cantam ou se
Itabira. Meu pai, Geral- silenciam durante a
do Umbelino, adver- execução dos tristes
te-me bem baixinho, hinos próprios das Sex-
tas-Feiras da Paixão.
mais uma vez, que
Alguns tagarelam, dis-
foi o vô, José Umbe-
traídos da beleza e do
lino, quem compôs a
poder do momento.
música que ouvimos:
Saudades de Alzira. Eu Passada a infância, na
me envaideço timida- época que a gente ini-
mente e pergunto- cia a associar melhor
-me com ignorância as coisas aos nomes
inocente porque foi que elas recebem, en-
que o vô compôs uma tendi que a marcha
melodia tão melancó- fúnebre Saudades de
lica para mim. Alzira não foi escrita
na banda é legado, é
pura devoção.
Legenda da Foto,
legenda dafoto, legenda
da foto
VELÓRIOS,
tradição que chegou ao fim
OFICINA DO
Livro de Pano
A Oficina do Livro de Pano A parte prática foi orien-
foi realizada nos dias 23 e tada pelas oficineiras Fa-
24 de novembro de 2023, bíola Gabriel e Samira Ga-
na sede da Banda Euter- briel, que participaram da
pe Itabirana, com a parti- montagem do livro com
cipação de jovens e adul- ilustrações e registros
tos do Quilombo Morro de histórias de uma das
Santo Antônio (Itabira, bandas mais antigas de
Minas Gerais). Minas Gerais - um impor-
tante patrimônio imate-
Os participantes confec-
rial de Itabira que iniciou
cionaram, artesanalmen-
sua história em 1863.
te, um livro de pano ver-
sando sobre a Euterpe e O objetivo da atividade
suas memórias afetivas. foi de despertar nos par-
Inicialmente, o propósito ticipantes a valorização
da oficina foi apresenta- do patrimônio cultural,
do a partir de uma roda através de atividades lú-
de conversas e uma visita dicas e criativas.
guiada à exposição Ban-
O Livro de Pano produzi-
da Euterpe Itabirana 160
do fará parte do acervo da
Anos – Acordes Históricos.
Banda Euterpe Itabirana.
João Pio
Silvério Faustino
Geraldo Macedo
Silvério Faustino
Raimundo de Barão
Geraldo Magela
Lúcio de Oliveira
Lúcio de Oliveira
Lúcio de Oliveira