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Agradecimentos
CONTATO Christina Schade, Fábio J. M. de Lima, Maria Teresa
Gomes do Espírito Santo, Mariana Balen Fernandes,
Divulgação: NEA Nova Cartografia Social/ Mirna Wabi-Sabi, Paula Regina de Oliveira Cordeiro,
UFRB Paula Adelaide Mattos Moreira e Raue - Residência
Endereço: Centro de Formação de Profes- em Arquitetura, Urbanismo e Engenharia (UFBA).
sores - Avenida Nestor de Melo Pita, 535
- Centro, Amargosa/BA, 45300-000 Associação Quilombola Kingongo do
Contato: ncsqne.ufrb@gmail.com Quilombo Kingoma
(71) 93311353 | (71) 88344414
instagram: @quingomaquilombo
Irregular
Coordenação geral: Franklin Plessmann de Carvalho, Juracy Marques e Vânia
Fialho.
22 p.
ISSN 2763-7174
CDU 39:304
QUILOMBO QUINGOMA 3
Eu me lembro assim vagamente,
assim 30 anos pra cá, aqui ainda era
um paraíso, como a gente vivia, sem
preocupação, sem violência, e na épo-
ca a gente não tinha água (encanada),
não tinha luz, não tinha nada. As nos-
sas casinhas aqui era umas em fachi-
nada de palha, outros de taipa.
Começando ali do Maxxi, o Mi-
nando, que vinha assim, tudo aquilo
ali a gente andava, a gente tirava o
nosso sustento dali para cá não tinha
dono, não tinha ninguém. Era gente
aqui dentro, era minha família, era mi-
nha mãe, minha avó, meu bisavô, meu
tataravô, era aqui dentro, ninguém co-
nhecia Quingoma.
(Dona Raquel) Aqui foi o primeiro núcleo de re- bola de Itapuã, com o quilombo de
sistência quilombola de 1569, quando onde é hoje Cajazeiras e com o quilom-
Nasci no Quingoma de Dentro, o povo Bantu veio pra cá se refugiar. bo lá de Pernambués. E aí quando o
aqui tudo era mato, minha mãe deu a Era uma mata fechada, o povo veio povo daqui ficou sabendo do levante,
dor no dia de São Pedro, ela saiu sem porque ali era uma área plana, mas o povo daqui foi pra ajudar os Malês,
dor, deu vontade de comer feijão de tem declives que dá pro rio, então eles aí o povo daqui correu, as mulheres,
corda na casa de um homem pra lá ficavam ali, construíram uma fortale- as crianças e os feridos por aqui onde
de Areia Branca descendo o Cobocó. za ali dentro e tinha acesso pro rio pra é o encontro das águas hoje, pelo rio
Ela diz quando botou o pé deu a dor. pescar. E era essa área ali de trás, área Joanes. Eles vieram passaram por Por-
Voltou, chegou no caminho, entrou onde hoje tem o rio Cabuçu. Passavam tão, ficaram escondidos uns dias lá na
aqui com uma parteira e me teve ali por um túnel que eles cavaram num fonte das Pedras, um lugar que tem
mesmo. Diz que a Jararacuçu que foi buraco de sucuri pra dar acesso ao rio. umas grutas. Trouxeram o povo pra cá
minha parteira. O quilombo ficou de 1569 a 1893 sem e ficaram de 1814 até 1893 quando o
Vendia beiju, mangaba, coco, ser encontrado. Eles conseguiam uten- povo foi massacrado pelos fazendeiros
banana... tudo... manga, jaca, e eu saía sílios de fora, atacavam as caravanas da região. Famílias fugiram pra Por-
daqui era com balaio na cabeça pra de Garcia d’Ávila, pegava utensílios pra tão, Capelão, Areia Branca, Cassange,
Itapuã e esse carrinho do lado. Eu criei levar pra dentro, soltava os índios, sol- Barro Duro, foram se espalhando. Eles
meus filhos foi com balaio na cabeça, tava os negros que vinha, levava pra preferiram sair separadamente para
era enxada, capinando a roça dos ou- dentro do quilombo. não serem todo mundo pego. Teve um
tros. A casa de farinha era de meu tio, No levante do Joanes teve com o grupo que ficou aqui, que foi a família
mas morreu, acabou tudo. povo daqui, sabemos que eles tinham de Rejane.
(Maria São Pedro, Dona Areia) ligação, se comunicavam com quilom- (Dona Ana)
(Dona Ana)
A vila do Pandeirão foi consti- aqui. Foi Pandeirão que as pessoas Tem um tal de chamado bairro
tuída pela luta e resistência do povo mais ajudaram no processo de luta, novo, que é tudo mata densa
daqui do Quingoma de Dentro e eles nas caminhadas, no enfrentamento de
ainda que a gente faz uso pra
querem acabar com essa vila. A maior tudo… que se tornou uma vila histórica
parte das casinhas no PNHR (Progra- por causa da luta de resistência e da
culto religioso, pra retirada das
ma Nacional de Habitação Rural) que tomada de espaço nosso. ervas medicinais.
a gente conseguiu estão concentradas (Dona Ana) (Rejane)