Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
LIVRO - Psicanálise e Clínica Ampliada
LIVRO - Psicanálise e Clínica Ampliada
net/publication/269809785
CITATIONS READS
0 419
2 authors:
Some of the authors of this publication are also working on these related projects:
ENTRE A NEUROSE TRAUMÁTICA E A PATOLOGIA NARCÍSICO-IDENTITÁRIA: PSICANÁLISE E ADOECIMENTO NEUROLÓGICO View project
All content following this page was uploaded by Monah Winograd on 12 September 2016.
MULTIVERSOS
Editora Appris Ltda.
1ª Edição - Copyright© 2014 dos autores
Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.
Printed in Brazil
Impresso no Brasil
Monah Winograd
Junia de Vilhena
Org.
MULTIVERSOS
Curitiba - PR
2014
FICHA TÉCNICA
EDITORIAL
LIVRARIAS E EVENTOS
DIAGRAMAÇÃO
REVISORES
CAPA
COMITÊ EDITORIAL
CAPÍTULO 1
O PIONEIRISMO DE NISE DA SILVEIRA E AS MUTAÇÕES
NO CAMPO DA SAÚDE MENTAL ................................................................................ 17
Ademir Pacelli Ferreira & Walter Melo
CAPÍTULO 2
PARA ALÉM DA ALIMENTAÇÃO: UM OLHAR PSICANALÍTICO SOBRE
AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE NA PRIMEIRA INFÂNCIA ......... 37
Karla Patrícia Holanda Martins & Junia de Vilhena
CAPÍTULO 3
CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA WINNICOTTIANA PARA UM
POSICIONAMENTO CLÍNICO NOS SERVIÇOS
PÚBLICOS DE SAÚDE.......................................................................................................... 57
Lilian Miranda & Rosana Onocko Campos
CAPÍTULO 4
POLÍTICAS PÚBLICAS SOBRE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS NO
BRASIL: AVANÇOS, RETROCESSOS E PERSPECTIVAS ............................. 87
Rodrigo Sanches Peres & Waleska Rodrigues Silva
CAPÍTULO 5
A PSICANÁLISE E O CAMPO DA SAÚDE:
CIÊNCIA, CAPITALISMO E EFICÁCIA .....................................................................111
Vinicius Anciães Darriba
CAPÍTULO 6
SUBLIMAÇÃO E IDEALIZAÇÃO: DESTINOS DA SEXUALIDADE NA
CONSTRUÇÃO DA CULTURA.......................................................................................131
Claudia Amorim Garcia & Cecília Freire Martins
CAPÍTULO 7
ENTRE O TRAUMA E O TRAUMÁTICO: A LESÃO CEREBRAL DE
PEDRO E O PRESENTE PERMANENTE ................................................................157
Monah Winograd, Perla Klautau & Flávia Sollero-de-Campos
CAPÍTULO 8
DIÁLOGOS ENTRE FREUD E WINNICOTT ACERCA DA QUESTÃO
.........181
CAPÍTULO 9
O “ATUAL” NAS PATOLOGIAS CONTEMPORÂNEAS:
UMA LEITURA AMPLIADA DAS NEUROSES ATUAIS ...............................199
Paulo Ritter & Marta Rezende Cardoso
CAPÍTULO 10
LUTO E IDENTIDADE EM TEMPOS DE INCERTEZA NO ORIENTE
MÉDIO: UMA COMPREENSÃO A PARTIR DA
CLÍNICA AMPLIADA............................................................................................................225
Maria Virginia Filomena Cremasco & Mariana Duarte
organizado pelo Espaço Artaud, em parceria com o Instituto de Psicologia da UERJ e com o Núcleo
de Estudo, Pesquisa e Intervenção em Saúde (NEPIS) da UFSJ, e homenageou a equipe do Museu
de Imagens do Inconsciente.
Transformadora
Nise, podemos pensar que sua obra é bem conhecida. Mas observa-
-se que há um culto ao seu nome, mas pouco conhecimento e estudo
de sua obra nos cursos de psiquiatria, da psicologia ou na academia de
maneira geral. Portanto, venera-se um nome, mas eclipsa-se a obra.
Basta um levantamento das produções de pós-graduações atuais na
área de saúde mental, e raramente sua obra aparece nas histórias
2
De acordo com Félix Guattari (1991 [1989]), o paradigma estético se caracteriza pela abertura
e desdobramento da obra, diverso do movimento descrito por Thomas Kuhn (2007 [1962]) de
manutenção paradigmática, típico das ciências normais.
conteúdos inconscientes;
e com o apoio da educadora Alzira Lopes Cortes, a ideia foi levada adiante e, no dia 23 de dezembro
da psicose (Melo & Ferreira, 2011). Ela construiu uma clínica res-
paldada no acompanhamento diário dos internos, nos recursos
terapêuticos ativos e criativos, nas análises intensivas das expe-
riências dos sujeitos; de seus fenômenos e processos psíquicos,
de suas vivências psicóticas e de estilhaçamento do eu, de suas
-
cípios clássicos da instituição psiquiátrica, ou seja, nunca foi refor-
mista. Ao contrário, rompeu de maneira radical com o modelo
disciplinar, com as propostas biologicistas e com as práticas de
exclusão social. A teoria e a prática de Nise estão, assim, além de
qualquer proposta reformista.
Avellar, José Carlos. A Sabedoria que a Gente Não Sabe, Cinemais, n. 27, jan./fev., p.
179-203, 2001.
Ademir Pacelli. (Orgs.). A Sabedoria que a Gente Não Sabe. Coleção Arte & Saúde Mental
2011. p. 95-105.
Barros, Denise D.; Nicácio, Fernanda; Amarante, Paulo. Franco Basaglia e la Riforma
A Sabedoria que a
Gente Não Sabe
p. 14-24.
no Brasil. Melo, Walter & Ferreira, Ademir Pacelli. (Orgs.). A sabedoria que a Gente Não
Sabe 2011a. p. 79-94.
História
da Loucura de Michel Foucault, Cadernos Brasileiros de Saúde Mental, v. 3, n. 6, p. 65-88,
2011b.
__________. Oswaldo dos Santos
Fundação Biblioteca Nacional, 2012.
__________ & Ferreira, Ademir Pacelli. (Orgs.). A Sabedoria que a Gente Não Sabe.
37
Diz-se que, historicamente, medicina e família são antigas
e solidárias companheiras. Mas pensemos às expensas de que
se dá este “companheirismo”. A leitura do trabalho de Freire
(2006) acercar dos discursos médicos sobre a maternidade,
representado nas revistas dos anos 1920, nos mostra como foi
sendo construído o que hoje denominamos de “maternidade
julgamento. Um neo-higienismo?
-
cantes que estruturam o lugar ocupado pela criança em seu território
-
tamos que é somente por meio de outra forma de comunicação,
que respeite e ouça os movimentos familiares, que a saúde que
habita a doença permitirá à criança ser protagonista e agen-
Nunes, M.; Jucá, V. J.; Valentim, C.P.B. (2007). Ações de saúde mental no Programa
-
dicionais abordagens psicológicas. Sem a pretensão de indicar
formas de trabalhar, esperamos apontar elementos que ajudem
na compreensão das necessidades que mobilizam os pacientes
e dos riscos inerentes às tentativas de submetê-los a regras de
bem viver, das quais não se sentem coautores.
Os campos da psicanálise e da saúde coletiva não se
encontram naturalmente associados, uma vez que se cons-
truíram a partir de matizes teóricas e problemas clínicos distintos.
Supomos que um pode enriquecer o outro, na medida em que
o primeiro nos lembra da existência do sujeito no indivíduo que
está no mundo, enquanto que o segundo nos indica as determi-
nações sociais, políticas e ideológicas que envolvem esse mesmo
mundo (Furtado e Onocko Campos, 2005). Entretanto, admitimos
que não é sem esforço que se traçam as aproximações entre tais
[sua]
atitude geral”. (Winnicott, 1960/2005, p. 106).
-
tência que este impõe á sua agressividade, indicando-lhe
os limites de sua onipotência e permitindo uma delimita-
ção mútua, tanto dos objetos quanto do próprio ego do
pouco do seu ser, para poder ser com o bebê. A mãe pode alcançar
esse estado de “enlouquecimento natural” porque já vivera um
momento em que fora cuidada, em circunstâncias parecidas com
essa. Além disso, ela estivera gestando o bebê durante vários
-
viços de saúde, propomos que estes sejam também lugares para
alguma vivência criativa. Para tanto, faz-se necessário retomar
Figueiredo, N. Coelho Jr. Ética e técnica em psicanálise. (p. 107-122). 2. ed. ampliada. São
Nunes, M., Jucá, V. J., Valentim, C. P. B. (2007). Ações de Saúde Mental no Programa
Onocko Campos, R., Massuda, A., Valle, I ., Castaño, G., Pellegrini, O. (2008). Salud
Drogas”
São Paulo em
Perspectiva, 18(3), 41-46.
Salomão (Org.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund
Freud
Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (vol. 21, p.
Drogas e cidadania: em
debate
Módulo para
. A evi-
dência encontra-se alienada em uma medida externa, pois só
conta quando mediada por um instrumento ao qual se associa a
da avaliação.
-
fício terapêutico, algo que se mantém constante” (p. 10), portanto
não mensurável, não passível de constituir uma escala.
A dimensão ética – Lacan (1966/2001) reiterou aqui o que
pauta sua obra – “é aquela que se estende em direção ao gozo”
(p. 12). O gozo do corpo e a falha existente entre a demanda e o
que o analista
não tenha algo a dizer aos que, no campo do saber, pas-
saram a se insurgir a partir de uma certa variante desse
saber, tanto em relação ao que pode limitá-los e desviá-
-los quanto em relação à maneira correta de articular o
que se passa com o saber, a única propícia a permitir que
o saber saia novamente do campo em que faz sua explo-
ração (Lacan, 1968-69/2008, p. 342).
S2 →
a
S1 $
Se, no esquema lacaniano, o quarto de volta relativo à
passagem do discurso do mestre ao discurso universitário situa,
por um lado, a instauração do saber, S2, no lugar de agente; por
outro lado, faz com que se encontre, no nível da verdade, o sig-
S 1 a
O feito se faz fato; o que, no discurso universitário, traduz-
-se pela pretensão de que se trate de um discurso de puro saber.
Também no discurso capitalista, tal como Lacan veio a formalizá-
-lo, isso se traduz em o sujeito se tomar por agente ali onde opera a
algo que faça com que o problema não esteja mais lá. O para-
digma da avaliação, por sua vez, implica justamente, segundo
o autor, uma substituição, substituição da coisa que veio a ser
avaliada pela avaliação. A avaliação já encarnaria, assim, a
própria solução. Ele dá o exemplo de um psicólogo que esteja
sendo avaliado. Entre o psicólogo ainda não avaliado e o psi-
cólogo avaliado não há diferença aparente. No entanto, ele foi
incluído no conjunto dos seres e objetos avaliados. Um valor é
acrescido a sua condição humana. Há aí uma desconsideração
às grandes doutrinas materialistas, para as quais, diz Milner, há
sempre um a-mais não substituível, portanto não passível de ser
avaliado, nem mesmo absorvido na forma problema-solução.
Este elemento insubstituível apresenta-se de modo radical na
psicanálise, pelo menos nos termos do ensino de Lacan, em que
se buscou construir sua forma lógica.
Ao consentir com o impasse relativo à solução, à substi-
tuição, à avaliação, a psicanálise toma a falha por não contingente.
Como vimos, Lacan situa aí o que é irredutível à demanda produ-
Koyré, A. (1991).
Universitária.
Lacan, J. (1991). O Seminário, Livro 7
(Lições originalmente pronunciadas em 1959-1960).
Lacan, J. (1992). O Seminário, Livro 8
(Lições originalmente pronunciadas em 1960-1961).
Lacan, J. (1992). O Seminário, Livro 17
Zahar. (Lições originalmente pronunciadas em 1969-1970).
Opção Lacaniana, 32, 8- 14.
(Conferência originalmente pronunciada em 16/02/1966).
Lacan, J. (2008). O Seminário, Livro 16:
Zahar. (Lições originalmente pronunciadas em 1968-1969).
Lacan, J. (2009). O Seminário, Livro 18
Miller, J. A. & Milner, J. C. (2004). Voulez-vous être évalué?: entretiens sur une machine
SUBLIMAÇÃO E IDEALIZAÇÃO:
DESTINOS DA SEXUALIDADE NA CONSTRUÇÃO DA CULTURA
-
bém não pode ser confundido com a ruminação obses-
siva que, assim como é mostrado no caso do Homem dos
Lobos, se limita a uma reiteração estéril da mesma ques-
tão sob formas diferentes, sem que nenhuma resposta,
mesmo que parcial, possa ser trazida e marque, assim,
seu assujeitamento ao passado infantil (Mellor-Picaut,
1983, p. 129. Minha tradução).
p. 121).
Edição standard
brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, v. IX (p. 185-210). Rio de
Edição standard
brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, v. XI (53-124). Rio de
5
Apoios da FAPERJ (processos n. E-26/101.498/2010 e E-26/102.784/2011) e do CNPq (processo n.
305175/2012-2).
157
Em dois artigos já célebres, Thierry Bokanowski (2002 e 2005)
examinou o conceito de trauma na obra freudiana e dividiu sua for-
mulação em três momentos. Deixando de lado a discussão sobre
na puberdade e a outra (cena II), por volta dos oito anos de idade.
Na primeira cena relatada, ao entrar numa loja e ver dois vende-
dores rindo juntos, Emma foi tomada por uma espécie de susto
e saiu correndo, julgando estarem rindo de suas roupas. A Freud
confessou que um deles a havia agradado sexualmente. A segunda
cena remontava à ocasião em que estivera desacompanhada em
uma confeitaria, tendo o proprietário agarrado suas partes genitais
por cima da roupa (apesar disto, contou ter voltado à mesma con-
feitaria mais uma vez). Entre as duas, segundo a própria Emma, o
riso fazia o laço associativo.
o riso dos vendedores a fez lembrar-se do sorriso com que
o proprietário da confeitaria acompanhou sua investida.
-
mento de situações nas quais teria existido um perigo real, tendo
6
Esta divisão pode ser alvo de críticas ao englobar os remanejamentos de 1920 e 1926. Poder-se-ia
objetar ser necessário separar a virada de 1920 e a segunda teoria da angústia. Um aprofundamento
desta problemática requereria um estudo minucioso que foge ao escopo deste trabalho.
-
pondem a cicatrizes que se formaram quando um processo com-
pletou o seu curso” (p. 152).
Nestas hipóteses tardias, a literatura psicanalítica pós-
-freudiana (por exemplo, Winnicott, 1954a e 1954b, Balint, 1952 e
1967, Bion, 1957, Green, 1986, e Roussillon, 1991) acreditou reco-
nhecer indicações de como entender o funcionamento das pato-
logias narcísico-identitárias, as quais trazem como marca patente
-
-ia dizer, um Estado dentro de um Estado, um partido inacessível,
de processamento e descarga.
O início do atendimento psicanalítico a pacientes porta-
dores de lesões cerebrais geralmente é marcado por pedidos de
restauração e de reconstrução do que foi perdido. Por trás desta
demanda, há a crença de que é preciso recuperar as funções cogni-
tivas para retomar os lugares ocupados nas relações sociais, fami-
liares e de trabalho. Devido às limitações impostas pelas lesões,
é evidente que o analista não pode se pautar pela (re)construção
trabalhar. Mas, eu sou teimoso, vou voltar a fazer tudo que fazia.
Sempre aguentei tudo, não é agora que vou desistir. Você vai ver”
— fala repetida sempre que Pedro se deparava com situações que
expunham as sequelas graves dos AVEs sofridos, como ilustra sua
reação diante de um sintoma que ele chamava de risada frouxa.
Em verdade, esta risada é uma das manifestações clínicas da sín-
drome pseudobulbar (paralisia dos músculos de inervação bulbar
causada por um comprometimento supranuclear), nas quais
o quadro clínico é dominado por perturbações da fonação e da
deglutição, relacionadas com um do comando da língua,
do véu palatino, da faringe e da laringe. Aos , associam-
-se a espasticidade e os fenômenos de liberação da mímica auto-
inverso era sinal de que ele precisava aguentar mais, “estar pronto
para o que desse e viesse”.
Profundamente ligados ao sentimento de perda provocado
pelas lesões cerebrais, os afetos despertados pela manifestação
desta espécie de ato expressivo e comunicativo deixavam-no
mobilizado. Se as palavras escapavam-lhe nos momentos em
que tentava exprimir seus pensamentos, a função da analista
era construir, junto com ele, um campo transfero-contratrans-
ferencial que privilegiasse a expressão e a comunicação afetiva
como ferramenta clínica. Quando a risada frouxa foi articulada
aos afetos que ela manifestava, o processo comunicativo e,
sobretudo, expressivo ampliou-se, comportando e destacando
a presença sensível da analista na sessão. Os processos per-
ceptuais e cognitivos da analista foram usados como suporte
para facilitar a compreensão dos afetos expressos de forma não
irmãos, era difícil ter o carinho de mãe. Ela nunca deixou faltar
nada, sempre cuidou de tudo. Fez questão que os filhos homens
tivessem estudo. Nossa roupa era passada e engomada, quem
voltava com uniforme sujo sabia que ia apanhar”. Pedro, então,
descreveu seu pai como um homem muito inteligente, mas que
sempre lamentou o fato de nunca ter tido a oportunidade de
orgulho para meu pai. Eu fui o único dos filhos que se formou.
Eu sou o único que tem um diploma”.
Depois de alguns meses de tratamento, Pedro e sua família
mudaram de casa e iniciaram uma reforma. Estes dois aconte-
cimentos tornaram-se assuntos constantes das sessões, pois a
Ia cedo com meu pai para a lavoura e quando chegava tinha que
fazer mais o que eu fazia antes, não sai, não me lembro das coisas,
mas quero fazer, não consigo esperar, quero que essa obra acabe
logo, quero dar para a minha mulher o conforto que ela merece,
tenho medo que ela morra e essa obra não acabe”. A analista
mãe. Disse que seu pai não aguentou, chorou muito e repetia que
tinha falhado, que não conseguiu dar para a sua mãe tudo que ele
atrás do professor, vou guiando o grupo com ele. Mas não sei o
que está acontecendo, não consigo mais ir na frente do grupo,
Em
última instância e no limite, Pedro fracassava e, frente a este fra-
O brincar e a realidade.
7
Apoio CNPq. Agradecemos a Pedro Henrique B. Rondon pela atenta revisão.
199
ataque” (Freud, 1917/1976a, p. 453), pois seus sintomas estavam
relacionados estritamente à vida sexual daquele momento do
paciente, não havendo então o que investigar no passado. Como
veremos adiante, mais tarde Freud passou a abordar esta questão
de forma mais complexa, abrindo espaço para traçarmos novas
considerações a respeito.
Apesar da reserva de Freud quanto às indicações de análise
em determinadas situações, a ampliação do campo do analisável
patologias da atualidade.
psíquica, que
entra em contato com grupos de idéias que, com isso, passam a
buscar soluções.” (Freud, 1950 [1894]/1986d, p. 273).
É exatamente a importância do fator psíquico no modelo
teórico freudiano da neurose de angústia que é ressaltada por
-
-se de uma verdadeira inscrição (Niederschrift) de traços em séries
de sistemas mnésicos, traços que podem ser ‘traduzidos’ de um
sistema para outro” (Laplanche & Pontalis, 1982/1992, p. 192).
Nesse contexto, o estado traumático é o que impede as
transcrições, de modo que “a liquidação das excitações não
acontece, produzindo-se uma sobrevaloração do aconteci-
mento pelo acúmulo das excitações da vivência” (Uchitel, 2011,
investimentos.
É dessa maneira que podemos entender o “atual” em
questão nas neuroses atuais e nas patologias da atualidade.
Ambas dizem respeito a um fundo traumático que resiste à his-
toricização, à entrada nas cadeias de sentido, ao ingresso no uni-
verso das representações, como se instaurassem um regime de
tempo paradoxal cuja característica é a não passagem do tempo.
Em ambas também encontramos atuando mecanismos
psíquicos mais elementares, próximos do registro corporal e da
ação, o que mostra a precariedade dos seus mecanismos de ela-
boração psíquica. É claro que há vários níveis de elaboração, mas
é indiscutível que a elaboração que passa pelo registro das repre-
sentações está seriamente prejudicada nesses quadros.
Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (E.S.B.),
Edição
Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (E.S.B.), Rio de
Janeiro
Edição Standard Brasileira
das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (E.S.B.),
III, p. 236-253 (Trabalho original publicado em 1898).
R. (Org.). Adolescência: .
2001, p. 81-101.
Em defesa de uma certa
anormalidade .
Perder de vista: da
fantasia de recuperação do objeto perdido.
do supereu, está na origem. O pai morto instaura uma lei que pos-
600 anos. Eles disseram que era contra a religião” (TV5 Monde).
.
O Estrangeiro
Estadão. Estudante de arquitetura é preso por depredar a Prefeitura. Recuperado em 20
de junho, 2013, de <estadao.br.msn.com/ultimas-noticias/story-protestos-pelo-brasil.
253
membro do GT Processos de Subjetivação, Clínica Ampliada e
Sofrimento Psíquico da ANPEPP, coautora do livro Entre eu e o
outro: espaços fronteiriços e organizadora da coletânea Limites da
Clínica. Clínica dos Limites.
Flávia Sollero-de-Campos
Psicóloga clínica, Professora Assistente do Departamento de Psi-
cologia e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica
da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio),
supervisora clínica no Serviço de Psicologia Aplicada da PUC-Rio e
membro do GT Processos de Subjetivação, Clínica Ampliada e Sofri-
mento Psíquico da ANPEPP
Junia de Vilhena
Psicanalista, membro efetivo do CPRJ, professora do Programa de
Pós-Graduação em Psicologia Clínica da Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), coordenadora do Laboratório
Interdisciplinar de Pesquisa e Intervenção Social (LIPIS) da PUC-Rio,
membro do GT Processos de Subjetivação, Clínica Ampliada e Sofri-
mento Psíquico da ANPEPP, pesquisadora da Associação Universi-
tária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental (AUPPF), pes-
quisadora correspondente do Centre de Recherches Psychanalyse
et Médecine (CRPM-Pandora, Université Denis-Diderot, Paris VII) e
investigadora e colaboradora do Instituto de Psicologia Cognitiva
Lilian Miranda
Professora Adjunta do Departamento de Psicologia do Instituto
de Educação da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
(UFRRJ) e membro do GT Processos de Subjetivação, Clínica
Ampliada e Sofrimento Psíquico da ANPEPP.
Mariana Duarte
Psicóloga clínica, atua na Casa Latino-americana (CASLA) ofere-
cendo apoio psicológico a migrantes e refugiados, participa de
PSICANÁLISE E CLÍNICA AMPLIADA: MULTIVERSOS 255
cursos interculturais no exterior, viagens de conhecimento de
projetos, coleta de dados e apoio psicológico a expatriados em
países da Europa, África e Oriente Médio e do grupo de estudos
na Universidade Federal do Paraná (UFPR) com a temática A Con-
dição do Estrangeiro.
Monah Winograd
Professora do Programa de Pós-graduação em Psicologia Clínica
da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio),
Paulo Ritter
Mestre em Teoria Psicanalítica pelo Programa de Pós-graduação
em Teoria Psicanalítica da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ) e psicanalista associado ao Espaço Brasileiro de Estudos
Psicanalíticos (EBEP/RJ).
Perla Klautau
Psicanalista, membro Efetivo do Círculo Psicanalítico do Rio de
Janeiro (CPRJ), pós-doutoranda do Programa de Pós-graduação
em Psicologia Clínica da Pontifícia Universidade Católica do Rio
Walter Melo
Professor Adjunto da Universidade Federal de São João Del-Rei
(UFSJ), coordenador do Núcleo de Estudo, Pesquisa e Intervenção
em Saúde (NEPIS), vinculado ao Laboratório de Pesquisa e Inter-
venção Psicossocial (LAPIP) do Departamento de Psicologia da
UFSJ, autor dos livros Nise da Silveira, O terapeuta como compa-
nheiro mítico: ensaios de psicologia analítica e A psicologia e o tra-
balho no CRAS, organizador dos livros Dialética dos movimentos
sociais no Brasil: por que a reforma psiquiátrica?, Quando acabar o
maluco sou eu, A sabedoria que a gente não sabe e Que País É Este?.