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GERENCIANDO RISCO EM REPROCESSAMENTO DE

PRODUTOS PARA SAÚDE: UMA METODOLOGIA PARA


SERVIÇOS HOSPITALARES
MANAGING RISK IN REPROCESSING MEDICAL DEVICES: A METHODOLOGY FOR HOSPITAL
SERVI C ES

GESTIÓN DEL RIESGO EN EL REPROCESAMIENTO DE PRODUCTOS PARA LA SALUD :UNA


METODOLOGÍA PARA SERVICIOS HOSPITALARIOS

COSTA, EI/ana Auxiliadora Magalhães

RESUMO: Dentre as tecnologias em saúde, os medical devices used in supportive care are becom-
produtos para saúde utilizados nos cuidados assis- ing increasingly more complex. They have contributed
tenciais estão progressivamente se tornando mais much to the quaiity of hospital care, but also have cre-
complexos. Esses produtos muito têm contribuído ated new sources of risk, especiaily when submitted
para a qualidade assistencial, mas esses materiais to reprocessing and re-use. This article surveys the
são tributários de riscos, principalmente quando state-of-the-art on risk associated to the reprocessing
na condição de reuso e de reprocessamento. Este of medical products, and proposes a methodology for
artigo objetiva revisar o estado da arte sobre risco risk management in hospital services. The survey is
associado ao reprocessamento de produtos, bem based on nationai (Brazilian) and international data
como elaborar uma metodologia de gerenciamento sources, with the application of specific descriptors.
de risco para serviços hospitalares. Foi realizada uma The literature reviewed confirms the com piexity of risk
pesquisa de revisão da literatura, utilizando bases assessment related to reprocessing medical products,
de dados nacionais e internacionais, com o auxílio both re-usabie ones as well as those meant for singie
de descritores específicos. Os estudos denotam a use. In either case we find difficulties in carrying out
complexidade da avaliação de riscos, relacionados the usual evaluation based on dose-response. The
ao reprocessamento de produtos para saúde, tanto findings from the survey were used as subsidy for
os considerados reusáveis, quanto os de uso único, the design of a methodology for risk management in
ambos difíceis de serem quantificados e analisados reprocessing medical devices, built on the principie
por avaliações do tipo dose-resposta. Os achados of precaution.
subsidiaram a formulação de uma metodologia de
gerenciamento de risco associado ao reprocessa- Key words: Reprocessing; Equipment design; Risk;
mento de produtos, à luz do princípio da precaução. Management.

Palavras-chave: Re processa mento. Equipamento RESUMEN: Los productos médicos utilizados en ei


Risco. Gerenciamento. cuidado de Ia saiud presentan creciente compiejidad.
Por un lado, contribuyen mucho para ia caiidad dei
ABSTRACT: Among the technologies in healthcare, servicio hospitalario; por otro lado, ofrecen nuevas

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fuentes de riesgo, especialmente cuando sometidos e fiscaiizador da sua utilização, para a prevenção de
ai reprocesamiento y re-utilización. En ei presente danos humanos e ambientais2.
artículo se hace una revisión de literatura sobre ei
estado-dei-arte asociado ai riesgo invoiucrado en ei O desenvolvimento tecnológico em saúde está in-
reprocesamiento de productos médicos, y se pro- serido num grande complexo industriai, constituído
pone una metodoiogía para ia gestión dei riesgo en por três segmentos: indústria farmacêutica produtora
servicios hospitalarios. Lã revisión de literatura se de vacinas, hemoderivados, medicamentos e afins;
construye sobre bases de datos nacionaies (brasi- indústria de equipamentos e materiais, médicos e
leilas) e internacionaies, mediante ia apiicación de odontoiógicos; e indústria prestadora de serviços

descriptores específicos. literatura consultada de saúde, que envolve agentes públicos e privados,
confirma ia complejidad de ia evaivación dei riesgo tendo o Estado como ator centrai na dinâmica regu-
asociado ai reprocesamiento de productos médicos, iatória das atividades desses segmentos'.
ya sean aquelios re-utilizabies como aquelios destina-
dos a un único uso. En ambos casos se encuentran Dentre as tecnologias em saúde, os produtos para
dificultades para aplicar los procedimientos usuales saúde, tais como dispositivos, equipamentos, ma-
de evaivación basados en dosis-respuesta. Lãs teriais, instrumentos, artigos, utilizados nos proce-
informaciones recogidas de ia literatura fueron toma- dimentos assistenciais, estão progressivamente
das como base para ei disefío de una metodoiogía se tornando mais complexos e são definidos, peio
para Ia gestión dei riesgo en ei reprocesamiento de fabricante, como artigos reusáveis ou de uso único.
productos médicos, bajo ia óptica dei principio de
precaución. Os produtos reusáveis são considerados bens du-
ráveis e sua reutilização requer a ação do reproces-
Palabras clave: Reprocesamiento; Riesgo; Gestión sarnento, que inclui as etapas de limpeza, teste de
avaliação de desempenho, desinfecção ou esteriliza-
INTRODUÇÃO ção, para garantir segurança na utilização, incluindo
o controle de qualidade em todas as suas etapas'-'.
Os avanços científicos e tecnológicos muito têm
contribuído para a melhoria geral da vida do homem, Os produtos de uso único são designados para
especialmente na área da saúde, possibilitando o serem usados somente uma vez, mas a prática do
aumento da qualidade e do tempo médio de vida. reuso desses materiais é uma realidade mundial.
Entretanto, essas tecnologias são tributárias, também, Essa tendência tem suscitado considerações acer-
de riscos, como os radioativos, os químicos, os bio- ca dos riscos envolvidos e consequente segurança
lógicos, os infecciosos, dentre outros, provocando a do paciente, além de questões relativas a aspectos
afirmação de um novo paradigma: o da segurança'. técnicos, reguiatórios, jurídicos, econômicos, éticos
e ambientais dessa prática5.
Conceitual mente, as tecnologias para a saúde envol-
vem produtos, serviços, processos, medicamentos Sabe-se que todo produto usado na prática assisten-
e sistemas organizacionais utilizados no cuidado à cial porta certo grau de risco e pode causar problemas
saúde, que possuem como características comuns: em determinadas situações e, neste sentido, não
interesse peia saúde humana, produção de benefí- existe segurança absoluta quando do uso desses
cios e riscos intrínsecos. Essas características de- materiais. O risco depende, em parte, da intenção de
mandam a intervenção do Estado como normatizador uso do dispositivo, do modo como o produto é usado

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e do seu grau de complexidade tecnológica 6-9 . Os (SCOPUS) e The Cochrane Library (COCHRANE),
riscos decorrem de vários fatores, a começar pelo com o auxílio dos descritores: Reprocessing devices
fato de que a utilização desses dispositivos requer a medical and risk; Reprocessing devices single-use
interação entre um profissional de saúde e o paciente, and risk; Reuse device material and risk; Reproces-
acrescendo, nessa interação, o risco relacionado sing and risk and management. Foram incluídos
com a performance/habilidade/qualidade desse estudos primários e secundários, selecionados pelo
ator-cuidador no momento da utilização do produto título e pelo resumo e lidos integralmente os artigos
no procedimento assistencial. Essa assertiva de que abordavam o reprocessamento de produtos com
risco é potencializada quando do uso de produtos o enfoque do risco. Aqueles repetidos em mais de
em condição de reuso e reprocessamento, uma vez uma base de dados foram analisados uma única vez.
que os multi-passos que compõem esse processo, Foram excluídos os artigos que tratavam do repro-
quando executados de forma inapropriada, geram cessamento de produtos, sem a dimensão do risco.
riscos adicionais para pacientes usuários, profissio- O resultado da pesquisa nas bases de dados men-
nais de saúde e para o meio ambiente. cionadas é apresentado no quadro a seguir.

Diante de tais considerações, o presente estudo Quadro 1 - Artigos encontrados em base de dados
procura responder a seguinte questão norteadora: O para fazerem parte da amostra do estudo.
reprocessamento de produtos para saúde é realizado
segundo um gerenciamento de risco?

OBJETIVOS

• Discutir os riscos associados ao reprocessamento


de produtos, a fim de subsidiar elementos teóricos
para o entendimento das implicações dessas práticas
para a saúde dos pacientes usuários de produtos Em função dos poucos artigos encontrados com o
reprocessados; delineamento proposto neste estudo, ampliamos
a busca de dados para outras fontes, a exemplo
• Elaborar uma metodologia de gerenciamento de das publicações da Organização Mundial de Saúde
risco em reprocessamento de produtos para serviços (OMS), do Food and Drug Adminstration (FIDA) dos
hospitalares. EUA, da Canadian He/athcare Association do Ca-
nadá, banco de teses, manuais de associações de
MÉTODO controle de infecção hospitalar e normas regulatórias.

Trata-se de uma pesquisa de revisão narrativa da lite- Desta forma, foram identificados 15 artigos que abor-
ratura, realizada por meio de busca bibliográfica sem davam, além das suas especificidades, a questão do
restrição de tempo e idioma, utilizando as seguintes risco relacionado ao reprocessamento e ao reuso de
bases de dados: US National Library of Medicine produtos. Neste estudo, utiliza-se o termo produto
National Institute of Health (PUBMED), Scientific para saúde como sinônimo de dispositivo, equipa-
Eletronic Library Online (SciELO), Literatura Cientí- mento, material e artigo médico, em conformidade
fica da América Latina e do Caribe em Ciências da com a nomenclatura proposta pela Agência Nacional
Saúde (LILACS), Sciverse Science Direct Periodcs de Vigilância Sanitária (ANVISA)10.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO avaliação da exposição','

Risco em reprocessamento de produtos para saúde O gerenciamento de riscos, realizado pelo Estado,
A avaliação de risco, como atividade organizada em se estrutura em três etapas: estabelecimento das
nível federal, nos EUA, iniciou-se na década de 1970 opções regulatórias e tomada de decisão, quando
e a sistematização desses estudos resultou numa são identificadas as possibilidades de ações para
clara separação da aplicação dos conceitos de risco minimizar riscos, segundo a viabilidade político-e-
em duas áreas de atuação. A área da avaliação de conômico-social das ações e o contexto situacional;
risco, de natureza mais científica, ligada à pesquisa, implantação das ações de controle e comunicação
à estatística e à epidemiologia, procurando definir dos riscos, processo que deve instrumentalizar as
a relação causa-efeito dos eventos, e a área do medidas necessárias para a efetivação das ações re-
gerenciamento de risco, de orientação político-admi- gulatórias e o momento de informação da sociedade
nistrativa, que utiliza os dados da avaliação de risco, sobre os riscos; avaliação das ações de controle, que
integra-os aos dados dos contextos político, social consiste no julgamento das ações implementadas e
e econômico para, assim, definir se o risco pode ser redireciona novas ações28.
aceitável, determinando, dessa maneira, as ações
regulatórias28. A avaliação de risco em saúde pode ser um processo
simples, quando há uma relação imediata, e com-
Nessa concepção, a avaliação de risco é a caracte- preensível entre um dano/exposição e sua causal
rização científica sistematizada de efeitos adversos efeito, mas se torna um processo extremamente
potenciais à saúde, resultante da exposição humana difícil e complexo, quando envolve riscos pequenos
a agentes ou situações perigosas. O gerenciamento ou exposições demasiadamente longas, com causa
de riscos é o processo no qual ações políticas são e efeito difíceis de serem definidos, como no uso das
determinadas para o enfrentamento dos perigos tecnologias em saúde, particularmente dos produtos
identificados na avaliação/caracterização dos ris- hospitalares.
cos, considerando questões sociais, econômicas,
políticas e culturais, ponderando as alternativas e Nessa situação, a avaliação de risco apresenta vários
elegendo ações político-regulatórias apropriadas-13. elementos de incerteza, que resultam em diferentes
análises e distintas normas regulatórias. Essas incer-
A avaliação de risco contém os seguintes elementos, tezas conduzem à utilização de um instrumento do
ou alguns deles: identificação do risco, processo gerenciamento de risco denominado de princípio da
para determinar se a exposição a um agente par- precaução, que consiste em fazer uso restrito e con-
ticular pode causar um aumento na incidência de trolado de processos/produtos/serviços passíveis de
uma condição de saúde; avaliação dose-resposta, causarem danos, até que sejam obtidas evidências
relação entre a dose de um agente administrado, objetivas a respeito da caracterização dos riscos e
ou recebido, e a incidência do efeito; avaliação da seus possíveis danos".
exposição, processo de medir ou estimar intensidade,
frequência e duração da exposição humana a um Dentro desse contexto, o reprocessamento de pro-
agente; caracterização do risco, que é o processo dutos, tanto os reusáveis, quanto os de uso único,
de estimativa de efeitos na saúde sob as várias possui riscos e alguns problemas cruciais, como
condições da exposição humana, sendo esta última eventos adversos, que podem resultar em dano
uma combinação da avaliação dose-resposta e da físico e fisiológico, além das questões de natureza

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econômica, ética, jurídica e ambiental. clínica, o lugar e o tipo de paciente. Nessa avaliação,
taxas comparativas de injúria e de infecção entre
Entretanto, é preciso considerar que, a despeito dos pacientes com e sem uso de produtos reprocessa-
riscos potenciais, relacionados ao reprocessamento dos seriam importantes para o conhecimento dessa
de produtos, é frequentemente difícil identificar a problemática. Entretanto, há dificuldades práticas na
fonte de infecção de um paciente individual, sendo realização desses estudos, o que talvez explique a
particularmente problemático rastrear um evento escassez dos mesmos na literatura mundial6-795-17.
adverso antes e após o uso específico do produto,
uma vez que outros fatores de confundimento do
Na tentativa de situar o reprocessamento de produtos
cuidado assistencial, tais como os procedimentos
hospitalares à luz dos princípios da avaliação e do
cirúrgicos e clínicos, por si, podem também contribuir
gerenciamento de risco, elaborou-se um modelo lógi-
para eventuais injúrias ao paciente.
co, que descreve, no centro, as etapas constitutivas
do reprocessamento de produtos: do lado esquerdo,
Adicionalmente, essa avaliação de risco é também os elementos que compõem a avaliação de risco e
dificultada porque esses dispositivos são usados do lado direito, as ações e os atores envolvidos com
como parte de uma série complexa e variável de o gerenciamento de risco de produtos em condições
cuidados, realizados por muitos profissionais da de reuso (Figura 1).
assistência, surgindo variações segundo a prática

Avaliação de Risco Gerenciamento de Risco

Identificação do _____ RDC 156, RE 2605.


ANVISA
dano (O produto ' RE 2606(2006
Limpeza
reprocessado causa
dano? Rastreabilidade VISA 10 Controle sanitário
Integridade e
Avaliaçao dose- funcionalidade
resposta (Qual é Distnbuicão

Nk
a relacão entre
uso de produto Reprocessamento de Política de reuso
reprocessado e Produtos
eventos adversos Armazenamento
aos usuários?) Desinfecção Protocolos de
/ Reprocessamento
Monitoramento
Ss
Esterilização
Avaliação da exposição (Quais \ Mondoramento e
exposicões a produto reprocessado \ validação de
são expenenciadas/antecipadas sob processos
distintos usos cl(nicos'?I

Caracterização do risco (Qual é a Controle dos riscos


incidéncia estimada de eventos RISCO RESIDUAL
adversos relacionados a
re p rocessamento de produto?)

Figura 1. Diagrama do controle de risco em reprocessamento de produtos para


saúde. Adaptado de Navarro, 20092.

Siglas: VISA - Vigilância Sanitária; SS - Serviço de Saúde; ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária

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Este modelo clarifica as dificuldades da avaliação que, nessa situação particular, a avaliação de risco
de risco no reprocessamento de produtos, uma vez tem aplicabilidade limitada.
que é problemático rastrear a infecção ou outro
evento adverso, antes e após o uso específico de No diagrama da Figura 1, os atores envolvidos com
um material hospitalar. As etapas de identificação o gerenciamento de risco são: a Agência Nacional
do dano, avaliação dose-resposta, avaliação da de Vigilância Sanitária (ANVISA), por meio do atual
exposição e consequente caracterização do risco marco regulatório sobre reprocessamento de pro-
são dificultadas pela existência dos outros fatores dutos; as Vigilâncias Sanitárias (VISA) estaduais e
que fazem parte do cuidado assistencial de saúde municipais, por meio do controle sanitário dessas
e que concorrem para fonte potencial de danos. práticas e os Serviços de Saúde (SS), por meio da
elaboração de uma política institucional de reuso

Adicionalmente, os sistemas de vigilância pós-comer- de produtos, da adoção de protocolos de repro-

cialização de produtos, além de incipientes no nosso cessamento, do monitoramento e da avaliação dos

país, convivem com a problemática que cerca o con- processos de descontaminação de materiais, que

trole desses produtos, a exemplo da dificuldade de concorrem para o controle dos riscos relacionados

informações oriundas dos usuários desses materiais com estas práticas.

e dos dados, quando notificados, serem bastante


heterogêneos em conteúdo e qualidade, limitações Metodologia de gerenciamento do risco em repro-

essas que restringem a investigação de eventos cessamento de produtos para saúde

adversos relacionados, bem como a elaboração de


instrumentos estatísticos que possam ser aplicados Algumas normatizações 11 - 12 tratam especificamente

na avaliação do risco-benefício de produtos em uso do gerenciamento de risco associado aos produtos

pós-comercialização 9 . Urge, portanto, a utilização para saúde (Figura 2).

das práticas de gerenciamento de risco, uma vez

Análise de risco

Avaliação de risco Determinação de risco

Controle de risco J
Avaliação da aceitabilidade do risco residual Gerenciamento de risco

Informação pós-produção

Figura 2. Componentes do gerenciamento de risco de produtos para saúde.

AAnálise de risco é o uso sistemático de informações aceitável tem sido alcançável em um dado contexto,
disponíveis para identificar perigos e estimar o risco segundo valores atuais da sociedade. Controle de
do produto. Avaliação de risco consiste no julgamento risco é o processo pelo qual decisões são tomadas
baseado na análise de risco, ou seja, se um risco e medidas de controle implementadas para reduzir

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riscos ou mantê-los dentro de níveis especificados cartáveis, a fim de subsidiar as unidades de saúde
ou aceitáveis. Determinação de risco é o processo canadenses no julgamento do mérito das práticas
composto pela análise e avaliação de risco. Informa- de reuso. Este estudo concluiu que a evidência
ção pós-produção é o conjunto de dados sistemáticos científica a favor dessa prática é limitada e pontuas,
acerca do produto na fase pós-produção. A determi- que os estudos publicados, em sua maioria, são
nação de risco compreende os dois processos iniciais retrospectivos e não empregam desenhos controla-
de análise e avaliação de risco11-12. dos ou randomizados e que a maioria dos dados de
segurança e efetividade é relacionada com cateteres
00 gerenciamento de risco engloba todas as etapas cardíacos e hemodializadores.
e consiste na aplicação sistemática da gestão de
políticas, dos procedimentos e práticas para desen- Um estudo realizado na Nova Zelândia 19 , também
volver as atividades de analisar, avaliar e controlar sobre evidências científicas da segurança e efetivi-
os riscos relacionados aos produtos para saúde. dade das práticas de reuso de artigos de uso único,
Essas normas trazem o conceito de risco residual, concluiu que os dados são conflitantes em relação à
muito importante para o campo do risco, relacionado temática, com recomendações contrárias (a maioria)
às tecnologias em saúde, como o risco que perma- e outros a favor desse procedimento. Alguns estudos
nece mesmo após a implementação de medidas de revisados concluíram que o reuso de determinados
controle2. produtos descartáveis é seguro, tendo em vista a
ausência de dados que apresentassem qualquer
As normas, anteriormente referidas, não tratam do associação causal entre reuso e resultados adversos
gerenciamento dos riscos de produto em condição ao paciente exposto.
de reuso e reprocessamento, embora muitos dos
seus princípios possam ser aplicados, como o que Estudo semelhante ao descrito anteriormente e
afirma que um risco somente pode ser avaliado e ge- com resultados bastante similares, foi o realizado
rendado uma vez que uma situação perigosa tenha por autoras brasileiras 20 , que revisaram publica-
sido identificada 11 - 12 . Nesse sentido, para identificar ções entre os anos de 1980 a 2003, com o objetivo
situações perigosas e estabelecer medidas de pre- de buscar evidências científicas para a prática do
venção e controle, o gerenciamento de riscos em re- reprocessamento de produtos de uso único. Nesse
processamento de produtos requer uma análise das estudo, as autoras concluíram que a literatura sobre
variáveis envolvidas nesse processo, desde o seu reprocessamento de produtos descartáveis demons-
desenho, materiais que o constituem e sua compa- tra uma grande variedade de tipos de investigação
tibilidade com os processos de limpeza, desinfecção e metodologias de análise, o que contribui para os
e esterilização, às outras situações que concorrem resultados divergentes sobre essa prática. Para mais,
para a eficácia dos processos de descontam inação. recomendam que o reprocessamento de alguns
produtos de uso único é possível em condições
Cresce o número de pesquisas na área do repro- controladas, sendo impossível o reprocessamento
cessamento de artigos de uso único, com o objetivo indiscriminado.
de melhor compreender os riscos relacionados com
essa prática 15-21 . Em 1996, a Canadian Healthcare No Canadá, pesquisadores 21 avaliaram, por meio
Association18 empreendeu uma extensa investiga- de uma revisão bibliográfica sistemática, as evidên-
ção bibliográfica em busca de evidências científicas cias do reuso de produtos descartáveis quanto à
sobre reprocessamento e reuso de dispositivos des- segurança, à efetividade e aos custos e, a exemplo

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do estudo da Nova Zelândia 19 , foram encontrados a saúde exigem novas formas de compreensão, à luz
trabalhos de qualidade variável e metodologias dis- do princípio da precaução. Tal princípio, que orienta
tintas, concluindo que as evidências científicas são e exige direcionar as ações, mesmo na ausência
insuficientes para estabelecer segurança, eficácia e de prova científica da existência de risco, impõe-
custo-efetividade para o reuso de todos os produtos se, especialmente, aos poderes públicos, a fim de
de uso único. prevalecer imperativos de saúde e segurança em
situações que configurem perigos para os homens
Analisando os resultados dos estudos, conclui-se e o meio ambiente13.
que os dados da literatura corroboram muito mais
para a construção de uma base teórica do que para No propósito de produzir subsídios para se operacio-
a clarificação de evidências científicas sobre a pro- nalizar medidas de controle e de gerenciamento do
blemática do reprocessamento de produtos de uso risco associado ao reprocessamento de produtos nos
único, mantendo-se a controvérsia em relação ao serviços de saúde brasileiros, apresentamos o fluxo-
tema, com alguns estudos in vitro dando suporte à grama a seguir, que apresenta as bases conceituais
prática desse reuso e outros definindo problemas e a resposta de um conjunto de ações direcionadas
com a limpeza, a integridade e a compatibilidade para os serviços de saúde que realizam o reproces-
desses materiais. O consenso em relação aos riscos, sarnento de produtos (Figura 3).
relacionados com a reutilização de produtos de uso
único, é de que existe um potencial para dano (injú- O fluxograma proposto (Figura 3) faz uma adaptação
ria), infecção e eventos adversos na reutilização de das etapas do reprocessamento de produtos para
materiais de uso único, embora os estudos recentes saúde, situando-as, segundo os conceitos de análise,
não evidenciem que esses riscos sejam significativa- avaliação, controle de risco e informações após os
mente maiores do que aqueles experenciados com processos, compondo, assim, o gerenciarnento de
produtos reusáveis5-6151819. risco. Nesse modelo, os produtos submetidos ao
reprocessamento devem ser classificados quanto
Pelo exposto, torna-se claro que os produtos hos- ao risco de transmitirem infecção em críticos, semi-
pitalares, como outras tecnologias, representam críticos e não críticos, sendo esta a etapa da análise
riscos à saúde coletiva, riscos esses ainda pouco de risco dos produtos. Após a classificação, o artigo
caracterizados por um estado fluído e incompleto do deverá ser descontaminado conforme o seu grau
conhecimento científico, por se mostrarem difíceis de de risco, aplicando-se os seguintes procedimentos:
serem quantificados e analisados da forma tradicional, limpeza como passo inicial e essencial, esterilização
como realizada nas avaliações do tipo de dose-res- para produtos classificados corno críticos, desin-
posta. Ademais, há dificuldade na obtenção de dados fecção de alto nível para produtos semi-críticos e
que apontem a real probabilidade da ocorrência de desinfecção de baixo nível para os definidos corno
um dano e sua severidade, relacionado com o repro- produtos não críticos. Nessa etapa, faz-se, também,
cessamento de produtos, tanto os reusáveis quanto necessário estimar o risco envolvido em cada méto-
os de uso único. Talvez, o conceito de risco residual do de descontam inação, constituindo as ações de
seja o mais indicado quando do monitoramento de avaliação de risco.
riscos nesta área.
O controle de risco em reprocessamento de produtos
Desse modo, os processos decisórios sobre risco prevê um conjunto de atividades que resultem em-
associado com o reprocessamento de produtos para a) identificação e seleção das medidas de controle

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Análise
de risco -4
Classificação do PS segundo grauPS crítico, semi-critico e não crítico
de risco

Limpeza
Determinação do método de
Desinfecção ou Esterilização
descontaminação segundo
classificação do PS

1
Avaliação de
Riscos no p rocesso de lim p eza: tipo de pia e torneira

J
risco
de água, artefatos de limpeza, escovação manual,
tipo, diluição e condições de uso de detergentes,
Estimativa de risco para cada
método
qualidade da água de enxágue, teste de integridade e
de descontaminação
funcionalidade do PS após limpeza

Riscos no p rocesso de desinfecção: tipo, concentração,


diluição e condições de uso dos desinfetantes, imersão
do PS, qualidade da água, tipo de acondicionamento do
PS

Riscos no processo de esterilização: concentração


e qualidade do agente, tipo de monitoramento dos
parâmetros físicos, químicos e biológicos, qualidade
da água do esterilizador, tipo de identificação do
PS, qualidade das manutenções, tipo de embalagem,
método utilizado para validade do PS esterilizado,
qualidade da validação, qualidade do rastreamento do
PS esterilizado

Controle de risco na lim peza: EPI compatíveis, pia de


Identificação de medidas apropriadas
limpeza c/ dimensões recomendadas; torneira com jatos
para controle de risco para cada
de água direcionável p1 PS canulados, artefatos em
método de descontaminação
condições de fricção, lavadora ultrassônica, água potável
e corrente, água tratada, ar comprimido para secagem,
lupas, testes químicos, testes de função
Implementação, registro e
Controle de verificação das medidas de controle
Controle de risco na desinfecção: sala exclusivj
risco designadas para cada método de
exaustor, EPI compatíveis, monitoração do ger
descontaminação
quanto à concentração, tempo de exposição, v
da solução em uso, água potável, secagem int e
externa, embalagem limpa
Rastreabilidade do PS esterilizado
segundo indicadores físicos, químicos
e biológicos Controle de risco na desinfecção: sala exclusiva c/
exaustor, EPI compatíveis, monitoração do germicida
quanto à concentração, tempo de exposição, validade
da solução em uso, água potável, secagem interna e
externa, embalagem limpa

Informação
Relatos de eventos adversos
do PS após o Mau-funcionamento, quebra, pirogenia,
oces 1 JL
"
associados com o reprocessamento
do PS
E infecção, outros.

Figura 3. Fluxograma do Gerenciamento de Risco no Reprocessamento de Produtos para Saúde.


Adaptado da ABNT NBR ISSO 1497, 2009 12.

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de risco para cada método de descontaminação a vigilância e coordenação. Se o risco residual é con-
ser utilizado; b) registro e verificação da realização dição inerente do produto reprocessado, o controle
desses controles; c) ações de rastreamento dos dos riscos deve estar concentrado nos processos de
produtos esterilizados segundo indicadores físicos, trabalho. Nesse sentido, o conceito de risco residual
químicos e biológicos. Finalmente, o gerenciamento clarifica, desmistifica e liberta o eterno debate sobre
de risco, nessa área, também requer informações se é possível ou não o reprocessamento de produtos
acerca dos produtos reprocessados, a fim de monito- considerados de uso único, uma vez que, dada a
raros eventos adversos oriundos dessa prática, com existência do risco residual, tanto para produto reu-
a finalidade de agir prontamente sobre os mesmos. sável como de uso único, a decisão para o reuso e
o reprocessamento deve se assentar na capacidade
CONSIDERAÇÕES FINAIS organizativa dos serviços, que, com adequados con-
troles de avaliação dos produtos e monitoramento
O reprocessamento de produtos para saúde, tanto os dos processos de descontam inação, definem quais
considerados reusáveis quanto os de uso único, deve materiais serão reusados e reprocessados.
ser implementado nos serviços de saúde segundo
os princípios do gerenciamento de risco. Uma vez Ademais, a incorporação do conceito de risco residu-
que os dados das tentativas dos estudos de avalia- al em produtos para saúde obriga os profissionais do
ção de risco, do tipo exposição-evento, são difíceis Centro de Material e Esterilização (CM E) a atuarem
para serem realizados na prática clínica, e os dados de forma sistematizada, com as atividades de geren-
publicados não são conclusivos, o gerenciamento de ciamento de risco, em todas as instâncias ou ciclos
risco se torna um imperativo nessa prática. das etapas do reprocessamento desses produtos.
Introduz-se, assim, uma racionalidade para a tomada
As imprecisões quanto ao risco à saúde coletiva ad- de decisão nos seus processos de trabalho, à luz dos
vindos do reprocessamento de produtos, seja de uso referenciais de riscos, o que confere relevo ao CME
único ou múltiplo, apontam para a relevância da in- como serviço autônomo, dentro da organização hos-
corporação do conceito de risco residual nessa área, pitalar, definidor e realizador de processos, sem os
bem como para adoção do princípio da precaução, quais não funcionam os demais serviços, elevando
que consiste em se fazer uso restrito e controlado a auto-estima dos profissionais desse setor.
de processos, produtos e serviços passíveis de
causarem danos, até que sejam obtidas evidências Face ao estado da arte sobre o tema, às questões e
objetivas a respeito da caracterização dos riscos e aos argumentos apresentados, é possível concluir que
seus possíveis danos. a implementação de um sistema de gerenciamento
de risco, em reprocessamento de produtos, é uma
O conceito de risco residual, introduzido pelas normas estratégia relevante para os serviços de saúde efetu-
citadas neste estudo, pode-se considerar como ponto arem o controle de risco relacionado com essa prática.
positivo desta pesquisa a ser aplicado na temática
do reuso de produtos. Facilita o entendimento dos REFERÊNCIAS
fatores que contribuem para a ocorrência de eventos
adversos, relacionados com as tecnologias de saúde, 1. Dalari SG. Vigilância sanitária: responsabilidade
mas principalmente como elemento contínuo de alerta pública na proteção e promoção da saúde. In: Costa
para gestores, gerentes e profissionais de saúde, de EA, organizadora. Vigilância sanitária: desvendando
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