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FARMACOECONOMIA PharmacoEconomics - SRA Formação Contínua ; 7-20

© 2009 Adis Data Information BV. All rights reserved.

Avaliação económica aplicada


aos medicamentos
João Pereira1 e Carolina Barbosa2
1 Escola Nacional de Saúde Pública, Universidade Nova de Lisboa
2 Centre for Health Economics, University of York

1. Introdução avaliar, do ponto de vista económico, tecnologias,


programas e intervenções.
Os sistemas de saúde modernos estão sujeitos a A estrutura do artigo é a seguinte. Começamos,
enormes pressões financeiras. Neste contexto, é cada na secção 2, por examinar o âmbito e alcance da aná-
vez mais importante demonstrar que as novas tecno- lise farmacoeconómica, focando na polémica sobre
logias médicas proporcionam ganhos em saúde con- a sua definição concreta e delimitando os contextos da
sistentes e que o fazem a um custo razoável em com- sua aplicação no financiamento, prescrição e regu-
paração com uma utilização alternativa de recursos. lação. De seguida, apresentamos as principais técni-
A metodologia habitualmente usada para analisar cas de avaliação económica de medicamentos, com
esta questão dá pelo nome de avaliação económica e ênfase nas análises de custo-efectividade, custo-utili-
consiste fundamentalmente da identificação, medi- dade e custo-benefício. Drummond et al.[1] designam
ção, valorização e comparação de alternativas de tra- estas técnicas por avaliações económicas completas,
tamento em termos dos seus custos e consequên- sendo as únicas que, na sua opinião, permitem res-
cias[1]. Quando a avaliação económica é aplicada ponder cabalmente a questões sobre a eficiência ou
especificamente aos produtos farmacêuticos, é por value for money das terapêuticas em análise. No en-
vezes conhecida por farmacoeconomia. tanto, a avaliação económica de medicamentos não
Este artigo tem como objectivo descrever e se esgota nestes três tipos de análise, havendo hoje
enquadrar as principais técnicas de avaliação eco- várias outras metodologias que também são usadas
nómica de medicamentos. A matéria tratada é essen- em farmacoeconomia, nomeadamente os estudos
cialmente introdutória, concentrando-se nos dife- sobre custos da doença e estudos sobre custo do tra-
rentes tipos de estudo encontrados na literatura. tamento, os estudos de impacto orçamental, as análi-
Ficam assim de fora temas mais avançados como a ses de custo, as análises de minimização de custo e as
construção e aplicação de modelos farmacoeconó- análises de custo-consequência. Consideramos tam-
micos (cadeias de Markov, árvores de decisão, etc.), bém estas técnicas na secção 3. Na parte final do arti-
as diferentes técnicas de análise de sensibilidade go, em jeito de conclusão, deixamos algumas ideias
(univariada, probabilística, etc.) e outros métodos sobre o futuro da farmacoeconomia em Portugal.
frequentemente encontrados nos estudos de ava-
liação económica de medicamentos[2,3]. No entan-
to, o que se perde em abrangência de temas ganha- 2. O que é e para que serve
se em acréscimo de aplicabilidade. Dado que a farmacoeconomia?
farmacoeconomia é apenas uma aplicação dos méto- 2.1 Avaliação económica
dos de avaliação económica, o artigo deverá tam-
bém ser útil a quem pretenda uma introdução às Como foi atrás referido, a avaliação económica
técnicas usadas genericamente em saúde para de medicamentos é por vezes designada por farma-
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coeconomia. Este termo é, no entanto, controverso. No caso concreto de aplicação dos métodos de
Tendo surgido na literatura no final da década de avaliação económica ao sector da saúde utilizam-se
1980, ao ser usado por profissionais da área far- variadíssimas técnicas que se apoiam não só na ciên-
macêutica que recorriam a metodologia económica cia económica mas também noutras disciplinas como
para avaliar o impacto de inovações terapêuticas[4], a epidemiologia (medição de resultados em saúde), a
esteve durante muito tempo associado à indústria far- psicologia (medição da qualidade de vida) ou a análi-
macêutica. Em 1995 o célebre economista da saúde se de decisão (modelização e cadeias de Markov)[3,4].
Canadiano, Robert Evans, classificava a farmaco- A aplicação à saúde abrange também conceitos pró-
economia como uma “pseudo-disciplina … inventada prios como os anos de vida ajustados pela qualidade
pela magia do dinheiro, com os seus praticantes, con- (QALY) e técnicas destinadas a calcular a utilidade
ferências e revistas”[5]. Na sua opinião, a farmaco- associada aos estados de saúde como, por exemplo, a
economia não seria mais que um instrumento de mar- equivalência temporal (time trade-off). Acresce que
keting da indústria. No entanto, este ponto de vista a própria natureza dos estudos aplicados à saúde
parece hoje exagerado. Se é verdade que um estudo requer, muitas vezes, a participação de equipas mul-
farmacoeconómico pode sempre ser usado para pro- tidisciplinares integrando profissionais médicos, far-
mover um produto – como um estudo clínico, aliás – macêuticos e outros. Por estas razões, a avaliação
e alguns praticantes por vezes utilizem os instrumen- económica em saúde está hoje fortemente inserida
tos ao seu dispor com pouco rigor e transparência[6], não só na ciência económica como também nas ciên-
as bases científicas da farmacoeconomia são bastante cias da saúde, sendo até habitual que os estudos apli-
sólidas. cados definam os atributos a maximizar em termos
A farmacoeconomia é essencialmente uma aplica- dos resultados de saúde das pessoas e não do seu
ção dos instrumentos de avaliação económica aos pro- bem-estar em geral.
dutos farmacêuticos. Como tal, tem o seu alicerce na Nos últimos anos, a área de avaliação económica
ciência económica, designadamente na economia do em saúde passou por um processo rápido de desen-
bem-estar e, em particular, na análise de custo-benefí- volvimento, havendo hoje, a nível internacional, mil-
cio[7]. A economia do bem-estar é uma área de estudo hares de artigos científicos publicados, grande parte
dedicada à análise das condições em que as políticas dos quais em revistas de medicina, saúde pública e
melhoram o bem-estar da sociedade. Decorrendo des- áreas afins; um número razoável de revistas científi-
ta análise, nomeadamente da escassez de recursos para cas destinadas integralmente à publicação de arti-
fazer face a necessidades, as avaliações económicas gos sobre o tema (p. ex. Medical Decision Making,
devem ser comparativas. Devem também adoptar a Value in Health, International Journal of Technology
perspectiva da sociedade de forma a captar todos os Assessment in Health Care, PharmacoEconomics); e
custos e consequências relevantes. Dado que o objecti- ainda, várias bases de dados electrónicas que procu-
vo fundamental é maximizar o bem-estar social atra- ram sintetizar toda esta produção (p. ex. a NHS
vés de uma afectação eficiente de recursos escassos, o Economic Evaluation Database[8]).
enfoque das avaliações económicas deve ser nas medi- Deve-se notar que nem todos os autores con-
das de resultado final para o consumidor (p. ex. uti- cordam com a identificação da farmacoeconomia
lidade ou esperança de vida) e não nas medidas de com a área de avaliação económica. Walley e
processo como, por exemplo, a utilização de cuidados Edwards, por exemplo, definem farmacoeconomia
médicos. Devido a limitações de dados e adaptação a como “a aplicação da economia da saúde especifi-
contextos de decisão específicos (p. ex. o orçamento camente aos produtos farmacêuticos”[9]. Esta visão
de um ministério) nem todas as avaliações conseguem mais abrangente é também defendida por Barros que
atingir estes ideais. A economia do bem-estar não dei- define farmacoeconomia como “o estudo do fun-
xa, no entanto, de constituir o marco de referência cionamento do mercado do medicamento, abran-
para as avaliações económicas usadas em todos os gendo o comportamento dos seus diversos interve-
sectores económicos e sociais. nientes (consumidores, Estado, farmacêuticos,

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médicos, produtores, etc.)”[10]. No entanto, achamos e eficiência das opções terapêuticas, possibilitando
que o uso mais comum do termo farmacoeconomia assim a melhoria das decisões de prescrição.
é como aplicação dos métodos de avaliação eco- O caso das Comissões de Farmácia e Terapêutica
nómica especificamente a produtos farmacêuticos, dos hospitais é paradigmático. Em Portugal, desde
sendo que a aplicação mais abrangente da análise que a introdução de novos medicamentos nos hospi-
económica é normalmente designada por economia tais passou a ser sujeita a um processo de avaliação
do medicamento ou pharmaceutical economics. prévia centralizada por parte do Infarmed[14], estas
Adicionalmente, e muito embora se denote uma pre- comissões têm aparentemente menor influência nas
dilecção por parte dos economistas da saúde pela decisões de prescrição. No entanto, as comissões
designação avaliação económica de medicamentos, mantêm vários poderes de influência, nomeadamente
o termo farmacoeconomia, inicialmente usado so- a possibilidade de indicarem quais os fármacos, de
bretudo por não-economistas, entrou também no entre aqueles que demonstraram vantagem económi-
seu léxico[11,12]. ca, que devem ser utilizados. Se as comissões apoia-
rem a preparação de protocolos clínicos ou boletins
2.2 Usos potenciais
de informação terapêutica, incluindo nessa elabo-
ração os resultados de estudos farmacoeconómicos
Para que serve então a farmacoeconomia? O seu de forma objectiva e racional, poderão estar a contri-
objectivo global é de apoio à tomada de decisão, buir para o incremento da utilização racional de
identificando as intervenções farmacológicas que medicamentos.
contribuem para maximizar o bem-estar relacionado Obviamente, muito mais do que em situações de
com a saúde dos cidadãos, minimizando o custo de uso regulamentar, o impacto da avaliação económica
oportunidade num contexto de escassez de recursos. no apoio às decisões sobre prescrição estará sempre
A função da farmacoeconomia consiste em identifi- dependente do comportamento dos prescritores. No
car, medir e valorizar os custos e consequências das entanto, não há dúvida que a incorporação de infor-
alternativas terapêuticas partindo do juízo de valor de mação farmacoeconómica nas orientações clínicas é
que os recursos devem ser preferencialmente utiliza- cada vez mais evidente e que a utilização dessa infor-
dos na produção de bens e serviços que geram maio- mação nas decisões sobre prescrição tem tendência
res ganhos em saúde, em relação aos seus respectivos para aumentar[15,16].
custos, observando deste modo o princípio normati- Actualmente, porém, o uso mais frequente de
vo de eficiência económica. estudos de avaliação económica de medicamentos é
Os estudos farmacoeconómicos são actualmente como apoio à tomada de decisão por parte das enti-
usados em dois contextos principais: (i) como apoio dades reguladoras. Esta utilização pode abarcar a
às decisões sobre prescrição de medicamentos, e autorização de comercialização, a inclusão em for-
(ii) como apoio à tomada de decisão por parte das mulários, a fixação de preço ou a decisão sobre o
entidades reguladoras. No primeiro caso – que é hoje nível de comparticipação de um novo produto far-
o menos evidente mas que deverá ser cada vez mais macêutico, embora a questão de comparticipação por
importante no futuro – os estudos podem ser utiliza- parte da entidade financiadora seja, por norma, a
dos na elaboração de guias de orientação terapêutica, questão fundamental. Por exemplo, na Austrália, que
no desenho de protocolos médicos quer nos hospitais foi o primeiro país a usar a avaliação económica
quer em cuidados de saúde primários, na demons- como parte do processo de decisão sobre novos
tração de eficiência das diferentes opções terapêuti- fármacos, a autorização de inclusão de um medica-
cas e no apoio à tomada de decisão por parte das mento no formulário nacional (o Pharmaceutical Be-
Comissões de Farmácia e Terapêutica dos hospi- nefits Schedule - PBS) está condicionada à apresen-
tais[13]. Comum a estes exemplos é o facto de cons- tação de resultados farmacoeconómicos. A inclusão
ciencializarem os prescritores sobre as limitações de no PBS assegura que o medicamento será comparti-
recursos em saúde e informarem sobre a efectividade cipado pelo sistema público de saúde[12].

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Desde que a Austrália integrou a farmacoecono- panha. Não é certo que estes países venham a ter uma
mia na tomada de decisão em 1993, vários outros exigência formal de estudos de avaliação económica
países seguiram os mesmos passos, entre os quais o mas, como refere Drummond, “a tendência geral é
Canadá, a Nova Zelândia, Noruega, Finlândia e para mais países usarem a análise económica e não
Suécia. Em todos estes países, cada novo medica- menos”[12].
mento comparticipado é sujeito a avaliação farmaco- Nos países onde os estudos farmacoeconómicos
económica. Noutros países, ainda, como a Inglaterra, são usados na regulação do mercado do medicamen-
Alemanha, Holanda, Hungria e Portugal, os estudos to, as autoridades normalmente emitem orientações
são usados para decisões de comparticipação mas sobre a elaboração de estudos. Estas orientações são
apenas para certos novos medicamentos. Por exem- genericamente muito semelhantes embora difiram
plo, na Inglaterra, o National Institute for Health and em alguns detalhes[21]. Em Portugal, o Infarmed pu-
Clinical Excellence (NICE) apenas requer uma ava- blicou em 1999 as Orientações Metodológicas para
liação quando é expectável que o novo medicamento Estudos de Avaliação Económica de Medicamen-
tenha um impacto substancial no Serviço Nacional tos[22,23]. Este documento – resumido no Quadro I – é
de Saúde, quer em termos terapêuticos quer econó- constituído por quinze orientações que focam suces-
micos[12]. sivamente questões relativas ao desenho dos estudos,
Em Portugal, o Decreto-Lei 195/2006[14] alargou tais como a perspectiva de análise a adoptar, as fon-
aos medicamentos hospitalares a necessidade de tes de dados, o indicador de efeito terapêutico e o
novos produtos demonstrarem vantagem económica horizonte temporal do estudo. De seguida concen-
para poderem aceder à comparticipação, aspecto tram-se em aspectos próprios da análise económica,
que tinha sido introduzido no ambulatório a partir como o tipo de estudo que é admitido, a identifica-
de 1999[17]. Embora os estudos farmacoeconómicos ção, medição e valorização de custos, a medição de
nacionais sejam usados ostensivamente para consequências, a selecção da taxa de desconto e a
decisões de comparticipação, os seus resultados análise de sensibilidade a desenvolver. Finalmente,
dão frequentemente lugar a negociações sobre o as Orientações debruçam-se sobre aspectos proces-
preço a praticar no âmbito do Serviço Nacional de suais tais como a forma de apresentação dos resulta-
Saúde[18]. Este tipo de negociação ocorre também dos e a observação de aspectos éticos na elaboração
noutros países contribuindo para o abaixamento de de estudos.
preços[19]. Deve-se notar ainda que Portugal, tam- Para além da sua função regulamentar, as Orien-
bém à semelhança de outros países, tem usado os tações são também um guia de boa prática científica
estudos de avaliação económica para decisões sobre na avaliação económica de medicamentos. Um as-
inclusão de vacinas no Programa Nacional de pecto chave na elaboração de um estudo nesta área é
Vacinação (de acesso gratuito para os utilizadores), a selecção do tipo de análise a desenvolver. Infe-
como foi o caso da vacina contra o meningococo de lizmente, nem todos os autores adoptam a análise
tipo C[20]. mais adequada e continua a existir alguma confusão
Existem também diversos países onde, formal- sobre a denominação dos diferentes tipos de estudo.
mente, os estudos farmacoeconómicos não fazem Zarnke et al.[24], por exemplo, concluíram que num
parte do processo de decisão sobre preços e compar- conjunto de 95 estudos indexados em bases biblio-
ticipação, embora sejam usados voluntariamente gráficas como sendo análises de tipo custo-benefício,
pela indústria farmacêutica e pelas autoridades regu- 68% não usavam uma metodologia própria desta
ladoras. Por exemplo, nos Estados Unidos, existem análise e 53% eram simples análises de custos, igno-
vários planos de saúde (seguradoras, HMOs, etc.) rando completamente a questão dos resultados das
que recorrem ao apoio da farmacoeconomia para alternativas. Importa, portanto, clarificar a tipologia
apoiar a decisão sobre entrada de novos produtos dos estudos de avaliação económica e quais as suas
nos formulários médicos. A utilização voluntária vantagens e desvantagens. É para esse ponto que
ocorre também na Dinamarca, França, Itália e Es- agora nos viramos.

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Quadro I. Orientações Metodológicas para Estudos de Avaliação Económica de Medicamentos – Infarmed

1. Perspectiva de análise Deve ser a da sociedade. Desagregada em outras perspectivas relevantes, com ênfase na perspectiva
do terceiro pagador.

2. Fontes de dados Privilegiados os resultados obtidos a partir de ensaios clínicos metodologicamente válidos
com relevância para o país. Admitem-se também outras fontes de dados.

3. Comparadores A alternativa de referência deve ser a prática corrente, ie. a terapêutica mais comum. Se não coincidir
com a mais eficaz e mais barata, estas também devem ser usadas como comparadores.

4. População em estudo O grupo populacional deve ser o que mais se aproxima da população potencialmente utilizadora
da terapêutica em análise.

5. Avaliação do efeito Avaliado, sempre que possível, em termos de efectividade. Na sua falta aceitam-se dados de eficácia,
terapêutico sendo os modelos utilizados para estimar a efectividade completamente descritos e os resultados
sujeitos a análise de sensibilidade.

6. Horizonte temporal Período de tempo que coincida com a duração da terapêutica e das suas consequências. A utilização
de modelos é admissível desde que devidamente justificada.

7. Técnicas de análise Análise de minimização de custos, análise de custo-efectividade, análise de custo-utilidade e análise
de custo-benefício, com preferência para a análise de custo-utilidade. Os estudos sobre o custo
da doença e os de tipo custo-consequência são aceites como uma primeira abordagem.

8. Identificação de custos Todos os custos relevantes para a análise. Deve ser apresentada uma árvore de decisão clínica.
Se a perspectiva for a da sociedade, devem-se incluir custos directos e indirectos, relatados
separadamente. Os custos indirectos devem dizer respeito apenas às perdas de produtividade.

9. Medição e valorização Informação sobre recursos utilizados (medidos em unidades físicas) e a forma como são valorizados
dos custos (preços ou custos unitários) deve ser apresentada separada e detalhadamente e basear-se na prática
clínica nacional. Deve ser iniciado um processo de criação, validação e manutenção de tabelas
de custos para estudos de avaliação económica de medicamentos.

10. Medição A unidade de medida deve ser claramente identificada. Na ACE, as consequências podem ser medidas
das consequências através de vários indicadores, designadamente anos de vida ganhos, resultados intermédios, etc.
Na ACU, devem ser apresentados os ponderadores da qualidade de vida e os anos de vida ganhos,
e a agregação deve ser feita de forma transparente. Na ACB, privilegia-se o método da valorização
contingente.

11. Análise incremental e total Custos e consequências devem ser apresentados em termos de variação relativamente aos da prática
clínica corrente. Devem também ser calculados os respectivos valores totais.

12. Taxa de actualização Todos os custos e consequências devem ser actualizados a uma taxa de 5%. Esta taxa deve ser sujeita
a análise de sensibilidade. Na ACE e ACU a análise de sensibilidade deverá incluir a taxa zero no que
diz respeito às consequências.

13. Avaliação do impacto Deve ser avaliada a sensibilidade dos resultados. No caso de valores obtidos por amostragem,
da incerteza a análise deverá ser feita considerando os intervalos de confiança. Noutros casos, a escolha
dos intervalos de variação deve ser justificada detalhadamente com base na evidência empírica
ou na lógica.

14. Modelo de referência para A apresentação dos estudos de avaliação económica deverá obedecer a um formulário próprio
apresentação dos estudos que contenha a identificação de todos os aspectos relevantes para a compreensão e análise
dos estudos.

15. Aspectos éticos Na apresentação do estudo, deve ser feita referência à fonte de financiamento e à contribuição real
e de procedimento de todos os autores para a sua elaboração. Os investigadores devem ter total independência quanto
à metodologia a adoptar e ter o direito de publicar os resultados numa revista científica de sua escolha.

Fonte: Silva EA, Pinto CG, Sampaio C, Pereira J, Drummond M, Trindade R. Orientações Metodológicas para Estudos de Avaliação
Económica de Medicamentos. Lisboa: Ministério da Saúde, Infarmed, 1999.

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3. Métodos de avaliação económica Existe alguma controvérsia na literatura económi-


ca sobre a utilização de estudos CdD. No entanto, este
Na avaliação económica em saúde podem dis- tipo de análise, para além de complementar a infor-
tinguir-se vários tipos de estudo de acordo com a mação epidemiológica tradicional e permitir o estabe-
metodologia aplicada. Seguindo a abordagem de lecimento de prioridades de investigação, monitori-
Drummond et al.[1], fazemos a distinção entre estu- zação e avaliação, pode ser vista como um termo de
dos de avaliação económica completos e parciais. Os referência para estudos de avaliação económica com-
estudos completos identificam, medem, valorizam e pletos. Adicionalmente, os estudos CdD identificam e
comparam alternativas terapêuticas em termos dos valorizam as diferentes componentes dos custos di-
seus custos e consequências. Quando os estudos não rectos permitindo aos decisores do sector da saúde
obedecem a todas estas condições, embora utilizem identificar as principais áreas onde devem intervir.
metodologia de avaliação económica, são denomina- Por fim, estes estudos permitem também apoiar o pro-
dos estudos parciais. Isso não significa, porém, que cesso de procura de eficiência, por exemplo, através
sejam inúteis, pois em muitas situações poderão for- de comparações internacionais[25,26].
necer informação intermédia de grande importância
para o conhecimento dos custos e resultados das te- Estudos de impacto orçamental
rapêuticas. Regra geral, todavia, não permitem res- Ultimamente, tem sido habitual submeter, no
ponder a questões de eficiência. âmbito dos pedidos de comparticipação, os chama-
dos estudos de impacto orçamental (EIO). Estes
estudos procuram estimar as consequências financei-
3.1 Avaliações parciais
ras da comparticipação de novos medicamentos num
Estudos sobre custos da doença determinado contexto de despesa (p. ex., o orçamen-
Os estudos sobre custos da doença (CdD) são to do SNS). Em particular, avaliam até que ponto
uma forma de avaliação económica que não compara alterações na combinação global de terapêuticas para
alternativas de tratamento, mas apenas os custos das determinada patologia têm impacto nas despesas
próprias doenças. Podem, assim, ser vistos como um com o tratamento dessa patologia[27,28].
complemento da informação epidemiológica tradi- Os estudos de impacto orçamental providenciam
cional, distinguindo-se desta ao contabilizar o sacri- uma análise complementar às avaliações económicas
fício económico (custo de oportunidade) decorrente completas. Estas, geralmente, não distinguem entre
da experiência e tratamento dos problemas de saúde. custos financeiros e custos de oportunidade. Desta
Os estudos CdD podem ser baseados na prevalência forma, uma redução de custos num estudo de ava-
ou na incidência, medindo-se no primeiro caso os liação económica geralmente traduz uma “liber-
custos associados a determinada doença e verifica- tação” de recursos (p. ex., a libertação de camas hos-
dos num período de tempo específico, e no segundo, pitalares), o que pode não significar uma redução dos
os custos incorridos com uma doença ao longo do ciclo custos financeiros. A questão abordada numa ava-
de vida, após o diagnóstico. Os estudos baseados na liação económica completa diz respeito à eficiência
prevalência, por razões de disponibilidade de dados, económica, enquanto a questão abordada num estudo
são bastante mais comuns na literatura. de impacto orçamental diz respeito à sustentabilidade
Os estudos CdD tradicionalmente estimam o financeira. Neste tipo de estudo as consequências
valor dos custos directos e indirectos das doenças, os para a saúde são excluídas e o horizonte temporal é,
primeiros relacionados com a utilização de serviços frequentemente, mais curto, tipicamente 1 a 5 anos
de saúde e os segundos associados às perdas de pro- (Quadro II). Deve-se notar, ainda, que poderão exis-
dutividade por motivos de doença ou morte prematu- tir situações em que um estudo comparativo demons-
ra. Quando um estudo apenas contabiliza as despesas tra a eficiência de uma opção, enquanto o EIO indica
com cuidados médicos é habitual denominar-se estu- que essa alternativa não é sustentável do ponto de
do sobre custos do tratamento. vista financeiro.

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Avaliação económica aplicada aos medicamentos 13

Quadro II. Comparação entre estudos de avaliação económica completos e estudos de impacto orçamental

Avaliação económica Impacto orçamental


Questão analisada Vantagem económica Sustentabilidade
Objectivo Eficiência de alternativas Planear despesas
Resultados de saúde Incluídos Não incluídos
Medida Custo incremental p/ unidade de ganho Despesa total
Horizonte temporal Normalmente longo prazo 1 a 5 anos

Fonte: Adaptado de Guidelines for the Economic Evaluation of Health Technologies: Canada [3rd Edition]. Ottawa: Canadian Agency for
Drugs and Technologies in Health; 2006.

Análise de custos não relataram uma medida de efeito único pelo que a
A análise de custos (AC) é um tipo de análise que análise efectuada é classificada como uma ACC.
permite comparar alternativas terapêuticas, mas ape- Este tipo de avaliação pode ser útil para obter
nas em termos dos seus custos. Implicitamente, assu- uma ideia global do impacto da intervenção. A apre-
me-se que as alternativas têm consequências idênti- sentação desagregada dos resultados revela-se útil
cas, o que poderá ser ou não ser verdade. Trata-se de quando uma única medida de efeito não revela todas
uma análise simples onde, em princípio, todos os cus- as consequências para a saúde ou quando é difícil
tos (fixos, variáveis, directos, de produtividade e in- combinar múltiplas consequências de uma inter-
tangíveis), das várias alternativas, devem ser incluí- venção sob a forma de uma medida composta. A
dos[25]. No entanto, na prática, é frequente encontrar ACC melhora a transparência de outros tipos de ava-
estudos na área do medicamento que apenas conside- liação económica quando usada como passo intermé-
ram os custos de aquisição dos fármacos (p. ex., em dio de uma análise, com os custos e consequências
termos de doses diárias definidas) sem contemplar apresentados de forma desagregada antes de serem
outros custos associados como o tratamento de efeitos combinados sob a forma de outro tipo de avaliação.
secundários, hospitalizações e utilização de meios Entre as desvantagens da ACC conta-se o facto de
complementares de diagnóstico. A AC tem um forte necessitar de um juízo de valor do próprio leitor para
pendor contabilístico e se é certo que a sua utilização estabelecer a importância de cada componente de
no âmbito da avaliação económica de medicamentos custo e consequência, podendo daí advir resultados
pode conduzir a poupanças económicas, poderá tam- inconsistentes e que não estejam de acordo com qual-
bém contribuir para a limitação dos ganhos em saúde. quer perspectiva relevante. Adicionalmente, dado que
a informação utilizada nestes estudos é muito varia-
Análise de custo-consequência da, torna-se necessário proceder à imputação e extra-
Enquanto os tipos de estudo considerados até polação de dados, o que nem sempre é feito com cri-
agora são claramente parciais no sentido de contem- térios transparentes.
plarem apenas a análise de custos e despesas, exis-
tem metodologias de avaliação económica que inte- Análise de minimização de custos
gram a análise de resultados de saúde mas que A análise de minimização de custos (AMC) é
mesmo assim não devem ser considerados estudos de usada no caso de duas ou mais terapêuticas apresen-
avaliação económica completos. É o caso da análise tarem a mesma magnitude em termos de resultados,
de custo-consequência (ACC), que compara custos havendo assim uma demonstração explícita de equi-
e resultados, mas sem recurso a uma medida única de valência das intervenções analisadas, em termos de
resultados. Os custos e consequências são apresenta- benefícios para os doentes. Nesta situação, as de-
dos de forma desagregada e sem a computação de cisões de afectação dos recursos baseiam-se somente
uma razão incremental[29]. Por exemplo, no estudo na comparação dos custos das alternativas e a alter-
de Van Ruler et al.[30] sobre o uso da relaparotomia no nativa com o menor custo é assim categorizada como
tratamento da peritonite grave secundária, os autores a mais eficiente.

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14 Pereira e Barbosa

Este tipo de análise pode ser visto como um caso Quadro III. Tipo de Estudos de Avaliação Económica
especial das técnicas de avaliação económica com- Tipo de Análise Custos Consequências
pletas, onde devido à equivalência dos resultados Custos e Não consideradas
apenas se consideram os custos[25]. Aliás, alguns Custo-Consequência e Várias, desagregadas
autores consideram a AMC como pertencente ao gru- Minimização de Custos e Idênticas
Custo-Benefício e e
po de avaliações completas, embora em anos recen- Custo-Efectividade e Unidades naturais: anos de
tes tenha sido mais comum classificá-la como tal vida ganhos, casos
apenas quando as intervenções dizem respeito exac- detectados, nº de doentes
livres de eventos clínicos, etc.
tamente à mesma tecnologia. Argumenta-se que o
Custo-Utilidade e QALYs, DALYs, HYEs,
pressuposto de efeitos iguais é baseado em interpre- SAVEs, etc.
tações erróneas dos testes estatísticos, ignorando a
incerteza que tipicamente se encontra nos resultados
das intervenções em estudo[31]. Uma análise de mini- 3.2 Avaliações completas
mização de custos apenas pode ser realizada sem
ambiguidade se for baseada em evidência de efectivi- Relativamente aos estudos de avaliação económi-
dade já existente. No entanto, se a evidência de efec- ca completos, podem distinguir-se três abordagens
tividade for gerada à medida que os custos vão sendo analíticas: a análise de custo-efectividade (ACE), a
obtidos não será possível saber à partida se os resul- análise de custo-utilidade (ACU) e a análise de cus-
tados de efectividade obtidos serão semelhantes. to-benefício (ACB). Segue-se agora uma descrição
A AMC é frequentemente aplicada na compa- dos três tipos de abordagem, começando pela análise
ração entre genéricos e medicamentos de marca e na clássica de tipo custo-benefício.
comparação de vias de administração diferentes.
Dois exemplos de AMC efectuadas no contexto Análise de custo-benefício
nacional são: (i) Rouland et al.[32] que compararam a Numa ACB quer os custos quer as consequências
utilização de brinzolamida 1% tópica com a dorzola- das alternativas são medidos monetariamente. A ACB
mida 2% tópica no tratamento da hipertensão ocular procura avaliar, sistematicamente, todos os custos e
ou glaucoma primário de ângulo aberto em doentes resultados associados a diferentes alternativas, de mo-
que não respondiam, ou não toleravam, a terapêutica do a determinar qual (ou quais) das alternativas ma-
com bloqueadores beta e (ii) Pimentel et al.[33] que ximiza(m) a diferença ou a razão entre benefícios e
compararam cinco regimes duplos de quimioterapia custos. A diferença entre benefícios e custos, assu-
no tratamento de cancro do pulmão de células não mindo que estes ocorrem ao longo do tempo, é calcu-
pequenas avançado. lada da seguinte forma:
O Quadro III apresenta de forma resumida as prin- N
cipais diferenças entre os estudos de avaliação eco-
nómica comparativos. Isto é, as análises completas
Σ Bt – Ct
____________
t=1
VAL =
(analisadas no ponto seguinte) e as parciais que con- 1
___________
sideram alternativas terapêuticas (ficam de fora os (1 + r)t – 1
estudos CdD e EIO dada a sua natureza distinta). É
claro, através da leitura deste quadro, que os diferen- onde, VAL representa o valor actual líquido, Bt são os
tes métodos de avaliação económica se distinguem benefícios no período t, Ct são os custos no período t,
pela forma como são valorizadas as consequências e r é a taxa de actualização. Projectos com benefícios
das terapêuticas. Os custos são sempre tratados da líquidos positivos são tidos como socialmente efi-
mesma forma, medidos na unidade monetária em cientes[25].
vigor e com a distinção entre custos directos (custos A ACB tem raízes na teoria económica neoclássi-
de cuidados de saúde) e indirectos (também conheci- ca da escolha social ou seja, na economia do bem-
dos como custos de produtividade). estar. De acordo com esta teoria a unidade básica de

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Avaliação económica aplicada aos medicamentos 15

medida é o indivíduo que é simultaneamente tido Uma das vantagens da ACB é a comparação
como o melhor juiz do seu próprio bem-estar (sobe- directa dos custos de diferentes programas com as
rania do consumidor). O bem-estar social refere-se à consequências dos mesmos, mesmo que os progra-
utilidade (satisfação) total da sociedade e pode ser mas se enquadrem em diferentes sectores (saúde,
mensurado em termos monetários ou como uma pre- transporte, educação, etc.). Este é assim o único mé-
ferência relativa. Se a afectação de recursos melhorar todo de avaliação económica que permite uma análi-
a utilidade de um indivíduo, sem, ao mesmo tempo, se directa da eficiência na afectação. O uso de técni-
piorar a de outro, de acordo com a teoria da utilidade cas de WTP permite a quantificação de uma panóplia
de Von Neumann e Morgenstern[34], existe uma me- de efeitos. O potencial deste método deve, no entan-
lhoria de Pareto. No entanto, este critério não permi- to, ser acompanhado por melhorias metodológicas
te uma utilização ampla das técnicas de avaliação nos instrumentos utilizados para inferir a disposição
económica devido ao conflito entre os objectivos de a pagar pelos indivíduos.
eficiência e equidade. O conceito de melhoria poten- Devido aos princípios normativos da ACB esta
cial de Pareto, desenvolvido por Kaldor and Hicks, análise está de acordo com a chamada abordagem
permite, isso sim, a aplicação ampla destas técni- welfarista. No entanto, a teoria económica conven-
cas[35,36]. Desta forma, existe uma melhoria Kaldor- cional subjacente à ACB torna impossível a incorpo-
Hicks se de uma intervenção resultarem “vencedo- ração de valores importantes presentes no campo da
res” e “perdedores” onde (i) os vencedores podem saúde, nomeadamente considerações relativas à equi-
compensar os perdedores e continuar com uma mel- dade. A racionalidade dos sistemas públicos de saú-
horia da sua utilidade e, (ii) os perdedores não podem de, como aquele que existe em Portugal, é a de dis-
subornar os vencedores de forma a evitar a intro- tribuir os serviços de saúde de acordo com as
dução da intervenção. necessidades de saúde das pessoas, não em função da
Uma técnica internacionalmente reconhecida para sua capacidade de pagar.
medir as consequências das políticas sociais em ter- Como alternativa, a abordagem extra-welfaris-
mos monetários é a willingness-to-pay (WTP) ou ta[41] está de acordo com os princípios da tomada de
disposição a pagar[37]. O bem-estar do indivíduo é decisão perante um orçamento limitado. A perspecti-
assim medido pela sua disposição a pagar por deter- va extra-welfarista tem na sua essência uma função
minado programa ou intervenção. No entanto, esta social exógena e a limitação de recursos imposta
técnica pode ser criticada devido, por exemplo, à pelos orçamentos da saúde. As técnicas de ACE e
correlação entre disposição a pagar e capacidade de ACU, analisadas de seguida, baseiam-se, em nossa
pagamento individual ou à sua falta de sensibilidade opinião, nesta perspectiva extra-welfarista, se bem
à dimensão do benefício[38]. Desta forma, o método que alguns autores as enquadrem na corrente welfa-
de WTP torna-se inconsistente com a teoria econó- rista[42].
mica que lhe serve de alicerce. Outras técnicas de
atribuição de factores monetários às consequências Análise de custo-efectividade
para a saúde são o método de capital humano e o Na ACE, os custos das alternativas são compa-
método de preferências reveladas. O método de capi- rados com um efeito comum que difere em magni-
tal humano assenta na medição da soma do rendi- tude[43]. Neste tipo de análise, as consequências são
mento esperado nos anos de vida activa. Esta aborda- medidas em unidades naturais, como número de
gem é amplamente criticada devido à subvalorização casos detectados, anos de vida ganhos, número
dos idosos, desempregados e por considerar apenas o de mortes evitadas, dias livres de eventos clínicos,
valor produtivo dos indivíduos[39]. O método de pre- e outros. Um exemplo de um estudo deste tipo é o
ferências reveladas é baseado nas escolhas actuais do de Sculpher e Buxton[44], que utilizaram os dias
consumidor. Estes métodos e uma discussão mais livres de episódios de asma como medida de efec-
detalhada da ACB são apresentados no artigo de tividade na terapia da doença. As consequências
Gouveia neste volume[40]. finais (p. ex., o número de mortes evitadas) são

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16 Pereira e Barbosa

preferidas às consequências intermédias (p. ex., Análise de custo-utilidade


pressão arterial na doença cardiovascular). A ACU baseia-se numa visão mais ampla da
A ACE é aplicada quando as alternativas compa- tomada de decisão sobre afectação de recursos em
radas dizem respeito à mesma condição uma vez que saúde. Mantém a perspectiva do decisor num ambien-
as consequências comparadas têm que ser comuns. te de limitação de recursos mas admite que o objectivo
Desta forma, este tipo de análise não responde a global do sector é maximizar a esperança de vida e a
questões de afectação dos recursos entre diferentes qualidade de vida relacionada com a saúde (QVRS)
doenças ou condições de saúde. Uma ACE pode ser dos cidadãos. A QVRS diz respeito ao impacto do
inapropriada quando a medida de consequência usa- estado de saúde de um indivíduo no seu bem-estar
da não incorpora todos os efeitos da intervenção ana- global. Na ACU as consequências de programas al-
lisada[39]. A interpretação dos resultados de uma ACE ternativos são valorizadas mediante o uso de utilida-
é feita em função da diferença encontrada entre os des ou preferências que reflectem numericamente a
custos e consequências das diferentes alternativas. QVRS. O termo utilidade representa o valor (para o
Outras desvantagens da ACE prendem-se com a difi- indivíduo ou para a sociedade) de determinado nível
culdade de decidir se o valor do RCEI é aceitável e a de saúde. Estas consequências são expressas sob a for-
frequente necessidade de extrapolação de resultados ma de anos de vida ajustados pela qualidade (AVAQ),
clínicos para resultados finais através de técnicas de conhecidos internacionalmente como QALYs[46].
modelização. Os QALYs consistem numa medida de conse-
O rácio de custo-efectividade incremental (RCEI) quência genérica permitindo a comparação dos custos
é calculado da seguinte forma: e resultados de diferentes programas de saúde. Nesta
abordagem, os programas de saúde são avaliados com
C1 – C2 base na razão incremental de custo por QALY, consi-
RCEI = _________
E1 – E2 derando-se os QALYs como um maximando com
valor intrínseco. O National Institute for Health and
onde C1 e E1 são, respectivamente, o custo e efectivi- Clinical Excellence na Inglaterra[47] e o US Public
dade de determinada terapêutica (ou programa de Health Service Panel on Cost-Effectiveness in Health
saúde), e C2 e E2 são o custo e efectividade do com- and Medicine, nos Estados Unidos[39], recomendam o
parador. Ao contrário da regra de decisão apresenta- uso de QALYs baseados em sistemas de classificação
da para a ACB, assumimos neste caso, para simplifi- em que as preferências por diferentes estados de saú-
car, que os custos e consequências ocorrem no de são estabelecidas pela população em geral. A medi-
mesmo período não havendo assim necessidade de da custo por QALY tem-se tornado fundamental na
actualização. Ao contrário da ACB, existe alguma comparação de programas de saúde que competem
polémica na literatura sobre se devem ser actualiza- pelo mesmo financiamento. Para a tomada de decisão
das as consequências mesmo que estas ocorram em é essencial que as consequências dos programas
diferentes períodos[45]. sejam comparáveis, pelo que uma medida única de
Deve-se notar que o termo análise de custo-efec- efeitos na saúde tem vantagens evidentes[1,39,48].
tividade é por vezes utilizado como referência a Os resultados das análises de custo-utilidade
qualquer tipo de avaliação económica, e sobretudo expressam-se em termos de custo por ano de vida
que alguns autores (particularmente dos E.U.A.) não ajustado pela qualidade através de uma fórmula aná-
fazem a distinção entre a ACE e as análises de tipo loga ao RCEI na ACE:
custo-utilidade. No entanto, o termo deve apenas ser
usado no caso particular duma avaliação em que as C1 – C2
RCEIQ = _________________
consequências são definidas e medidas em unidades AVAQ1 – AVAQ2
naturais. Para mais detalhes sobre a análise de custo-
efectividade veja-se o artigo de Furtado e Mateus onde C1 e AVAQ1 são, respectivamente o custo e anos
neste volume[45]. de vida ajustados pela qualidade de determinado pro-

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Avaliação económica aplicada aos medicamentos 17

grama de saúde, C2 e AVAQ2 são o custo e anos de No caso de estratégias independentes que não são
vida ajustados pela qualidade do comparador, e assu- mutuamente exclusivas, a determinação da aplicação
me-se mais uma vez, como simplificação, que os cus- óptima dos recursos disponíveis envolve a cons-
tos e efeitos ocorrem no mesmo período[25]. trução de ordenamentos (league tables) de rácios de
No caso de uma alternativa ser dominante (menor custo-utilidade. Nestas listagens, as estratégias não
custo e maiores benefícios do que todos os compara- dominadas são colocadas por ordem crescente dos
dores), esta é indubitavelmente custo-efectiva. No rácios de custo-efectividade e adoptadas até serem es-
entanto, no caso de uma alternativa gerar maiores gotados os recursos disponíveis. A razão custo-efec-
benefícios mas apresentar maiores custos, esta ainda tividade é também comparada com um limiar, onde
pode ser considerada custo-efectiva. Nesta situação, se recomenda a adopção das estratégias com uma
os custos e benefícios incrementais, relativamente às razão inferior ao limiar estabelecido. No caso de o
alternativas comparadoras, têm que ser calculados[49]. RCEI ser inferior ao limite inferior do intervalo acei-
Por exemplo, se um medicamento novo para a doen- te, existe uma elevada probabilidade de decisão de
ça de Alzheimer gerar mais QALYs do que os me- adopção. No caso de o RCEI ser superior ao limite
dicamentos actuais, mas também for mais caro, a deci- superior deste intervalo, a probabilidade de rejeição é
são de financiamento do novo medicamento depende muito elevada. Relativamente aos ordenamentos, em-
do custo de oportunidade que recai sobre o sistema bora a decisão esteja relacionada com o valor do
de saúde. A questão analítica é saber se os QALYs RCEI apresentado, existem algumas excepções[54].
ganhos com o novo medicamento superam o custo de Estas excepções podem estar relacionadas com: (i)
oportunidade. Uma vez que não há informação relati- incerteza nas estimativas do RCEI; (ii) adopção, in-
vamente aos custos e consequências de todos os pro- dependentemente do valor do RCEI ser elevado, por-
gramas de saúde disponíveis, a tomada de decisão é que a estratégia terapêutica é a única disponível ou
feita com base no cálculo do já mencionado RCEI. porque a situação de saúde dos doentes é muito gra-
A adopção de uma terapêutica é feita com base ve; (iii) adopção no caso de os custos sobre os doentes
na comparação do RCEI com outras intervenções, ou serem muito elevados e; (iv) rejeição, independente-
com um valor exógeno pré-definido (denominado li- mente de o RCEI ser favorável, no caso de o impacto
miar ou threshold), valor que representa a quantia que orçamental ser muito elevado ou quando se trata de
os decisores estão dispostos a pagar por uma unidade uma intervenção para o tratamento de uma doença
extra de efeito. O limiar de custo-efectividade varia associada aos estilos de vida (p. ex., obesidade)[12].
de país para país, ainda que este tipo de valor não seja Os QALYs representam alterações na mortali-
habitualmente oficial nem seguido de uma forma uni- dade e morbilidade sendo uma medida de utilidade
versal. Em Portugal não há um valor recomendado, em saúde. Os “pesos” ou utilidades podem ser obti-
pelo que seria desejável um debate rigoroso e transpa- dos através de diferentes metodologias e instrumen-
rente que permitisse determinar qual o custo adicional tos, devendo ser baseados em preferências. Embora
que estamos dispostos a pagar pelos benefícios em os QALYs sejam a medida mais popular na ACU,
saúde ganhos através de diferentes intervenções. No outras alternativas têm sido sugeridas como healthy-
Canadá este valor varia entre 20.000 e 100.000 C$[50] years equivalent (HYEs), saved-young-life equivalents
e na Austrália entre 42.000 e 76.000 AU$[51]. No Rei- (SAVEs) ou disability-adjusted life years (DALYs). A
no Unido, o intervalo de valores aceitáveis do thres- dificuldade na medição da utilidade torna também a
hold varia entre £20.000 e 30.000 por QALY[52], ACU por vezes controversa. Por exemplo, os méto-
havendo no entanto situações excepcionais como tra- dos e instrumentos de medição das preferências
tamentos de fim de vida e terapêuticas para as quais podem produzir valores diferentes para o mesmo
não existe qualquer alternativa[53]. O valor do limiar de estado de saúde. Em geral, os valores da utilidade
custo-utilidade tem sido alvo de intenso debate, no podem ser obtidos através dos seguintes métodos: (i)
entanto esta discussão está fora dos objectivos do pre- juízos de valor, (ii) métodos directos (escala visual
sente texto. analógica, jogo-padrão, equivalência temporal) e (iii)

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18 Pereira e Barbosa

métodos indirectos (questionários como o EQ-5D, go – como os estudos sobre custos da doença, os
HUI I-III, SF-6D, AQOL, etc.)[1]. Uma discussão estudos de impacto orçamental ou as análises de mi-
detalhada das utilidades e qualidade de vida pode ser nimização de custo. Dada a importância que a ava-
encontrada no artigo de Paquete et al.[55]. liação económica de medicamentos atingiu nos sis-
Algumas críticas podem ser dirigidas às ACE e temas de saúde modernos, é importante que todos
ACU em conjunto[56]. Embora ambas as técnicas evi- aqueles que estejam envolvidos no desenvolvimento,
tem a valorização monetária das consequências avaliação, financiamento e utilização de novos fár-
como parte da análise, no momento de tomar uma macos compreendam como os métodos farmacoeco-
decisão relativamente à afectação de recursos, o de- nómicos são aplicados.
cisor terá que aplicar um valor monetário. Isto pode Dadas as limitações financeiras que os sistemas
ser feito de forma implícita ou explícita. Numa si- de saúde enfrentam e a crescente necessidade de se
tuação ideal o decisor sabe o custo de oportunidade justificar efectividade e eficiência das intervenções, é
social da melhor alternativa não adoptada. A maior bem provável que os métodos de avaliação económi-
distinção entre a ACB e as ACU/ACE é que na ACB ca encontrem cada vez maior espaço, quer na área do
a fonte de valorização é o indivíduo consumidor medicamento quer na saúde em geral. Em Portugal, a
(welfarismo). utilização de métodos de avaliação económica no
apoio à decisão está hoje enraizada embora sempre
sujeita aos interesses e motivações conjecturais dos
4. Comentários de conclusão decisores. É provável que continuem a haver osci-
lações na aplicação dos métodos no âmbito das
Em vários países do mundo, a avaliação econó- decisões de financiamento de novos fármacos e
mica faz hoje parte do processo de decisão sobre uti- sobretudo alguma resistência à sua incorporação nas
lização e financiamento de novos medicamentos. orientações de prescrição desenhadas pela classe
Procurámos, no presente artigo, descrever e enqua- médica. No entanto, a tendência deverá ser de maior
drar as principais técnicas usadas neste âmbito a que, uso, em particular através da sua entrada em sectores
por vezes, se dá o nome de farmacoeconomia. As téc- até agora pouco sujeitos à análise económica (p. ex.,
nicas de avaliação económica usadas no sector do dispositivos médicos, prestação de cuidados hospita-
medicamento são basicamente as mesmas que os lares, acções de promoção da saúde, cuidados conti-
economistas utilizam noutros domínios, em particu- nuados, etc.). Também na área do medicamento
lar noutras áreas da saúde. Daí que a análise desen- poderão surgir novos usos, como por exemplo, no
volvida no artigo seja também pertinente para quem desenvolvimento de protocolos farmacêuticos para
pretenda uma abordagem geral à avaliação económi- programas de gestão da doença.
ca de tecnologias e programas de saúde. Um aspecto chave a considerar no futuro da ava-
Existem três abordagens principais na avaliação liação económica de medicamentos será a revisão
económica de medicamentos, as análises de custo- das orientações metodológicas emitidas pelo Infar-
efectividade, custo-utilidade e custo-benefício. Estes med. Em determinados aspectos as Orientações, que
tipos de estudo distinguem-se de outros métodos por datam de 1999, estão hoje desactualizadas. Alguns
corresponderem plenamente à definição mais co- dos métodos aplicados em estudos farmacoeconó-
mum de avaliação económica – análise comparativa micos sofreram grandes alterações nestes últimos
de alternativas de intervenção em termos dos seus anos, como é o caso das técnicas de modelização,
custos e consequências – permitindo assim responder dos estudos de impacto orçamental, dos processos
a questões sobre eficiência ou value for money. A ní- de análise de sensibilidade e dos instrumentos de
vel internacional, as técnicas de custo-utilidade têm- medição de resultados em saúde. É importante que
se tornado particularmente populares na avaliação de estes desenvolvimentos científicos sejam incorpora-
tecnologias de saúde. No entanto, existem também dos nas orientações e que outras questões até agora
outros tipos de estudo – analisados ao longo do arti- negligenciadas – como o impacto sobre a equidade

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Avaliação económica aplicada aos medicamentos 19

ou a perspectiva a adoptar em diferentes contextos de 7. Johannesson M. Theory and Methods of Economic Evaluation
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decisão – sejam também enquadradas. 8. Centre for Reviews and Dissemination, University of York.
Existem ainda outros aspectos a ponderar na NHS Economic Evaluation Database. Disponível em
aplicação futura da farmacoeconomia em Portugal. http://www.crd.york.ac.uk/crdweb/. Acesso em 24 de Maio de
2009.
Havendo um cada vez maior número de praticantes, 9. Walley T, Edwards RT. Is there a need for an independent centre
as necessidades de formação em economia da saúde for pharmacoeconomics in the UK? PharmacoEconomics
serão cada vez mais exigentes. Até agora a formação 1994; 5: 93-100.
10. Barros PP. Economia da Saúde e o Medicamento. Faculdade de
em farmacoeconomia contemplou sobretudo profi- Economia, Universidade Nova de Lisboa, manuscrito, 2007.
ssionais de saúde interessados em obter uma sensibi- 11. Culyer AJ. The Dictionary of Health Economics. Cheltenham:
lização aos métodos aplicados neste domínio. Este Edward Elgar, 2005.
12. Drummond M. Pharmacoeconomics: friend or foe?, Annals of
tipo de formação deverá continuar a predominar mas Rheumatic Diseases 2006; 65 (Suppl III): iii44-iii47.
haverá também necessidade de formação mais avan- 13. Soto-Álvarez J. Aplicaciones y utilidades de los estudios farma-
çada dirigida a pessoas com actuais ou futuras res- coeconómicos en el uso racional de los medicamentos y en
política farmacéutica. PharmacoEconomics: Formación Mé-
ponsabilidades na elaboração e avaliação dos estudos dica Continuada (Conceptos básicos en farmacoeconomia:
farmacoeconómicos. Outra área a necessitar de aten- Módulo 3). Madrid: Adis, 2005.
ção será a do acesso aos próprios estudos. São pou- 14. Decreto-Lei 195/2006 de 3 de Outubro. Diário da República,
1ª Série, nº 191/2006, Lisboa, p. 7111-7115.
cas as avaliações económicas desenvolvidas em 15. National Institute for Health and Clinical Excellence. The
Portugal que vêm a ser publicadas e efectivamente Guidelines Manual. London: National Institute for Health and
Clinical Excellence, January 2009. Disponível em: www.nice.
disseminadas. Enquanto esta situação perdurar, difi- org.uk.
cilmente haverá um desenvolvimento sustentado da 16. Fattore G, Torbica T. Economic evaluation in health care: the
qualidade dos estudos farmacoeconómicos. No en- point of view of informed physicians. Value in Health 2006; 9:
157-67.
tanto, é evidente que a situação tem vindo a melho- 17. Decreto-Lei 305/98 de 7 de Outubro. Diário da República,
rar, sobretudo devido ao papel incentivador das so- 1ª Série-A, nº 231/1998, Lisboa, p. 5030-5032.
ciedades científicas. Se a avaliação económica de 18. Santos C, Teixeira M, Trindade R, Vieira I. Avaliação de pedi-
dos de comparticipação entre os anos de 2001 e 2008 - impac-
medicamentos mantiver a sua base conceptual deci- to no SNS. Apresentação à 11ª Conferência Nacional de
didamente na ciência económica e ao mesmo tempo Economia da Saúde, Porto, 8-10 Outubro 2009 (Disponível
houver uma maior interacção entre economistas, mé- em http://11cnes.apes.pt/).
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dicos e outros profissionais de saúde na elaboração of cost effectiveness in licensing requirements of new drugs:
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measure of effectiveness - an illustrative economic evaluation E-mail: jpereira@ensp.unl.pt

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