Você está na página 1de 49

SUMÁRIO

FARMACOECONOMIA ..................................................................................................3
CUSTOS ............................................................................................................................4
ANÁLISE FARMACOECONÔMICA .............................................................................5
Análise de custo-benefício.................................................................................................6
Análise de custo-efetividade ..............................................................................................6
Análises de custo-utilidade ................................................................................................7
Avaliação da qualidade de vida associada à saúde ............................................................7
FARMACOVIGILÂNCIA ................................................................................................8
ESTUDOS DE FARMACOVIGILÂNCIA.......................................................................9
Caso Controle ..................................................................................................................10
Coorte ..............................................................................................................................10
Ecológicos .......................................................................................................................10
Transversais .....................................................................................................................10
PROJETO HOSPITAL SENTINELA .............................................................................10
CENTRO DE INFORMAÇÕES SOBRE MEDICAMENTOS (CIM) ...........................11
CENTROS DE INFORMAÇÃO SOBRE MEDICAMENTOS NO BRASIL ................16
COMISSÃO DE PADRONIZAÇÃO DE MEDICAMENTOS ......................................20
FORMULÁRIO FARMACÊUTICO ..............................................................................22
REALIZAÇÃO DE SELEÇÃO DE MEDICAMENTOS ...............................................25
Definição do problema, dos objetivos e identificação das alternativas ...........................26
SELEÇÃO DE MEDICAMENTO PARA REDUZIR CUSTOS COM ASSISTÊNCIA
FARMACÊUTICA ..........................................................................................................29
INFECÇÕES HOSPITALARES E COMISSÃO DE CONTROLE DE INFECÇÕES
HOSPITALARES (CCIH) ..............................................................................................31
MANIPULAÇÃO DE MEDICAMENTOS NÃO ESTÉREIS .......................................33
Algumas observações na manipulação de medicamentos não estéreis ...........................35
QUIMIOTERAPIA E AS ATRIBUIÇÕES DO FARMACÊUTICO ONCOLÓGICO ..36
ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA AO PACIENTE ONCOLÓGICO.........................47
REFERÊNCIAS ..............................................................................................................48
3

FARMACOECONOMIA

Até o início do século XX, a disponibilidade de medicamentos era limitada a pouco


mais de duas centenas, o acesso aos medicamentos era restrito a poucas pessoas por motivos
geográficos e socioeconômicos e havia uma quantidade relativamente pequena de
informações conhecidas sobre cada um deles. Já, a partir da década de 1940, verificou-se
grande descoberta de novos fármacos e de informações relevantes sobre o uso, aumentando
rapidamente a complexidade do exercício da terapêutica medicamentosa. Além disso,
mudanças na estrutura das sociedades e a cultura de massas forçaram importantes alterações
no papel de governos e de instituições privadas quanto ao provimento de artigos e serviços
de saúde. Na medida em que a cultura se desenvolveu, as exigências sociais se ampliaram
tanto no aspecto da demanda quali-quatitativa por medicamentos e serviços adequados
quanto pelas exigências de eficácia e segurança de produtos farmacêuticos.
No final da década de 1960, alguns países como a Suécia, a Islândia, a Finlândia
e a Noruega, pressionados pela existência de um grande número de produtos
farmacêuticos de eficácia duvidosa e custo elevado, iniciaram movimentos no sentido de
racionalizar a terapêutica farmacológica, reduzindo a oferta abundante de medicamentos
para aqueles que eram realmente indispensáveis, usando critérios de análise comparativa
entre custos e avaliação de qualidade de produtos. Para ser aceito, um produto
farmacêutico precisava demonstrar que poderia ser mais eficaz e menos dispendioso. No
entanto, a experiência acumulada por meio do tempo mostrou que critérios para a
avaliação do binômio custo-qualidade tinham de ser muito mais abrangentes do que a
4

simples comparação de preço com eficácia, sob o risco de estar perdendo uma visão ética
e humanística da prática clínica.
Os estudos de farmacoeconomia surgiram em 1978, porém, este termo
“farmacoeconomia” foi utilizado pela primeira vez apenas em 1986. A farmacoeconomia
pode ser definida como a descrição, a análise e a comparação dos custos e das
consequências das terapias medicamentosas para os pacientes, os sistemas de saúde e a
sociedade, com o objetivo de identificar produtos e serviços farmacêuticos cujas
características possam conciliar as necessidades terapêuticas com as possibilidades de
custeio.

A análise econômica da saúde deve considerar:

▪ Custos da preparação administração e controle dos resultados;


▪ Tratamento dos efeitos secundários e indesejáveis;
▪ Características clínicas e farmacológicas dos medicamentos;
▪ Benefícios na prática clínica real comparada aos seus custos.

A avaliação econômica dos medicamentos aborda metodologias utilizadas à


avaliação clínica, por meio das análises de custo-benefício e custo-efetividade, aplicadas
aos problemas de saúde, promovendo segurança e qualidade dos tratamentos, pela
comparação entre dois ou mais medicamentos ou tratamentos, buscando menor dispêndio
de recursos.

CUSTOS

É um complexo, que engloba elementos mensuráveis tanto qualitativa quanto


quantitativamente, e aos quais podem ser atribuídos valores financeiros, podendo ser
dividido como veremos a seguir.

Custos diretos

São aqueles pagamentos que implicam em uma retirada financeira real e imediata,
como o uso de materiais e medicamentos, salários (horas trabalhadas), exames realizados,
5

despesas administrativas e outros eventos.

Custos indiretos

São representados por ganhos não realizados, fatos sempre presentes na maioria
das situações de doença e que envolvem o próprio paciente e seus acompanhantes (perda
temporária ou definitiva da capacidade de trabalho).

Custos intangíveis

São representados por dor, sofrimento, incapacidade e perda da qualidade de vida.


O sentido dado à palavra custo, neste caso, tem a ver com o ônus psicológico que esses
fatores representam, mas não podem ser avaliados em valores monetários. No entanto,
podem ser englobados em avaliações de consequências e mostram importância no processo
de decisão entre condutas diferentes.

ANÁLISE FARMACOECONÔMICA

A análise farmacoeconômica atualmente se faz imprescindível tanto ao sistema


público de saúde como no particular. Esta análise busca comparar opções diferentes de
conduta em saúde, posto que quando se faz a comparação entre dois ou mais
medicamentos (ou outros procedimentos), serão verificadas diferenças nas consequências
para a saúde.
Essas consequências são os resultados do tratamento que podem ser mensuradas
por meio de resultados clínicos (por exemplo, porcentagens de curas obtidas,
complicações evitadas, número de vidas salvas, melhorias em parâmetros vitais e outros),
econômicos (lucros ou prejuízos) ou humanísticos (mudanças na qualidade de vida dos
pacientes). De acordo com
o tipo de consequência analisada, as análises farmacoeconômicas podem ser classificadas
como:
❖ Análise de custo-benefício – quando uma opção terapêutica é avaliada
em termos de suas vantagens ou desvantagens econômicas;
❖ Análise de custo-efetividade – quando a opção terapêutica é avaliada em
termos dos resultados clínicos obtidos;
6

❖ Análise de custo-utilidade – quando a opção terapêutica é avaliada em


termos do aumento ou redução dos indicadores de qualidade de vida dos usuários.
Análise de custo-benefício

Nas análises do tipo custo-benefício, o que se procura é identificar a opção de


tratamento que permite reduzir custos ou aumentar lucros, especificamente olhando a
resposta financeira obtida por cada opção. Para a sua utilização, é necessário levar em conta
que as alternativas sob estudo não trazem em si riscos éticos insuportáveis.
Apenas se admitiria a adoção de uma alternativa mais barata, com potencial
danoso, se fosse a única opção ou em caso de decisões em prol de uma maioria de
indivíduos que poderia ser prejudicada pela adoção de uma alternativa mais cara.
Uma avaliação de custo-benefício parte do levantamento de custos de uma opção.
Em seguida, devem ser levantados os benefícios econômicos obtidos pela opção, como a
quantidade de recursos financeiros que podem ser reduzidos pela adoção da alternativa,
por exemplo.

Análise de custo-efetividade

As análises de custo-efetividade têm por objetivo identificar a opção terapêutica


que consegue obter o melhor resultado clínico por unidade monetária aplicada.
Os resultados clínicos são levantados por meio de ensaios clínicos (de preferência
controlados, randomizados e duplo-cegos), estudos de coorte ou estudos observacionais;
podem provir de publicações científicas ou, simplesmente, de reuniões com comitês de
especialistas (embora esta forma seja altamente passível de desvios e imprecisões).
TABELA - ANÁLISE DE CUSTO-EFETIVIDADE
Medicamentos Custo para tratar Número de vidas Razão
100 pacientes salvas/100 custo/efetividade
pacientes (custo/vida salva)

A R$ 30.000 10 R$ 3.000
B R$ 20.000 4 R$ 5.000
C R$ 18.000 18 R$ 1.000
FONTE: Adaptado de Neto, J. F. M.
Farmácia Hospitalar e suas interfaces com a saúde pública, 2005.
7

Análises de custo-utilidade

O profissional de saúde, em particular o


médico, possui a tendência de se deixar dominar
pelos aspectos concretos e objetivos da ciência.
Resultados obtidos por ensaios clínicos controlados,
mensurados por meio de ferramentas estatísticas,
frequentemente se sobrepõem à satisfação dos
pacientes como um fator de escolha, pressupondo
que o mesmo só está interessado na cura e, quando essa é obtida, sua satisfação será
máxima.
No entanto, nem sempre um paciente estará disposto ou satisfeito em usar um
produto cujas características envolvam qualquer grau de sacrifício e mal- estar, muitas
vezes o prolongamento do tempo de vida e os custos adicionais associados à opção por
um determinado tratamento não se justificam pelo nível de sofrimento do paciente.
Por esse motivo vêm sendo desenvolvidas ferramentas de análise que obtêm e
quantificam a satisfação do paciente com relação ao tratamento empregado, traduzindo-
se estes dados como a mensuração da qualidade de vida associada à saúde.

Avaliação da qualidade de vida associada à saúde

A qualidade de vida é um conceito muito mais amplo e envolve não apenas a


saúde, mas também a percepção global do paciente de um determinado número de
dimensões-chaves, com ênfase nos seguintes itens:
❖ Características físicas, biológicas, anatômicas e hereditárias;
❖ Estado funcional e capacidade de desempenhar as atividades do
cotidiano;
❖ Estado mental, incluindo a autopercepção da saúde e do estado de ânimo;
❖ Potencial de vida individual, que inclui a longevidade e o prognóstico dos
eventuais estados mórbidos;
❖ Fatores ambientais, que incluem a situação socioeconômica, a educação,
os hábitos de higiene, a alimentação e o meio ambiente, entre outros.
8

A avaliação da qualidade de vida associada à saúde é feita por meio de


questionários cuidadosamente elaborados para captar o grau de satisfação de um
indivíduo com o seu estado atual. Os resultados obtidos são valores quantitativos que
representam escores de qualidade de vida (comumente chamados valores de QOL –
Quality Of Life).
Os indicadores QOL podem ser também usados em associação com o tempo de
vida de um paciente portador de uma enfermidade, obtendo-se os valores de QUALY
(Quality of Life Years Gained), ou AVAQ (Anos de Vida Ajustados pela Qualidade),
que expressam a utilidade percebida pelo paciente no tempo de vida em tratamento ao
qual foi submetido, dados esses utilizados em estudos de custo-utilidade.

TABELA - ANÁLISE DE CUSTO UTILIDADE

Item Antidepressivo A Antidepressivo B


Custo/dia de tratamento R$ 1,30 R$ 1,50
Escore de QOL 0,5 0,8
Extensão de vida 20 anos 30 anos
Índice AVAQ 10 AVAQ 24 AVAQ
Custo anual do tratamento R$ 474,00 R$ 912,50
Relação custo/utilidade R$ 47,40/AVAQ R$ 38,02/AVAQ
FONTE: Adaptado de Neto, J. F. M.
Farmácia Hospitalar e suas interfaces com a saúde pública, 2005.

FARMACOVIGILÂNCIA

A tragédia da Talidomida, no início da década de 1960, modificou radicalmente o


processo de novos fármacos no mundo. Em vários países, os governos e as autoridades
sanitárias criaram ou aprimoraram suas legislações relativas ao registro de medicamentos.
O reconhecimento de limitações dos ensaios clínicos, principalmente de fase III,
estimulou os pesquisadores e clínicos a buscarem métodos que permitissem a
identificação precoce de reações adversas raras, graves e fatais, na pós-comercialização.
Nascia assim a farmacovigilância.
Segundo a OMS, farmacovigilância é o conjunto de métodos que tem por objetivo
9

a identificação e a avaliação dos efeitos do uso agudo e crônico, dos tratamentos


farmacológicos no conjunto da população ou em subgrupos de pacientes expostos a
tratamentos específicos. Esse campo de atividade tem se expandindo e, recentemente,
incluiu novos elementos de observação e estudo, como: plantas medicinais; medicinas
tradicional e complementar; produtos derivados de sangue; produtos biológicos; produtos
médico-farmacêuticos; vacinas.

Além das reações adversas a medicamentos, são questões relevantes para a


farmacovigilância:
o Desvios da qualidade de produtos farmacêuticos;
o Erros de administração de medicamento;
o Notificações de perda da eficácia;
o Uso de fármacos para indicações não aprovadas, que não
possuem base científica adequada;
o Notificação de casos de intoxicação aguda ou crônica por
produtos farmacêuticos;
o Avaliação de mortalidade;
o Abuso e uso errôneo de produtos;
o Interações, com efeitos adversos, de fármacos com
substâncias químicas, outros fármacos e alimentos.

ESTUDOS DE FARMACOVIGILÂNCIA

Para auxiliar os estudos de fase IV, ou farmacovigilância, foram desenvolvidos


alguns desenhos metodológicos.
10

Caso Controle

Trata-se de um estudo que parte do efeito para chegar às causas. É uma


investigação na qual, pessoas com uma dada reação adversa são comparadas com outras
sem essa condição, de modo a identificar, no passado, se estiveram expostas a um
determinado medicamento que poderia explicar a ocorrência do agravo estudado. Utiliza-
se o odds-ratio.

Coorte

É um estudo que parte da causa para observar os efeitos. Um grupo de pessoas


que utiliza e outro que não utiliza determinado medicamento são seguidos no tempo com
o intuito de determinar quais de seus componentes desenvolveram reações adversas e se
a exposição prévia ao medicamento está relacionada à ocorrência do agravo estudado.
Utiliza-se o risco relativo.

Ecológicos

O efeito de um medicamento na ocorrência de um evento relativo ao seu uso é


comparado pelo menos duas vezes, antes e depois de sua retirada do mercado. O objetivo
é avaliar se a disponibilidade do fármaco afeta, de alguma forma, a ocorrência de algum
tipo de efeito.

Transversais

Neste estudo, causa e efeitos são detectados simultaneamente, sendo os dados


coletados de uma população de pacientes em um mesmo ponto no tempo,
independentemente da exposição ou estado da doença. É um corte no fluxo histórico da
doença, evidenciando as características apresentadas por ela naquele momento. Desfecho
e exposição acontecem num mesmo ponto no tempo.

PROJETO HOSPITAL SENTINELA

Criado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), o projeto


11

Hospital Sentinela constitui uma rede nacional de hospitais, cuja finalidade é a notificação
ativa e qualificada de queixas técnicas e efeitos adversos relacionados a produtos de
saúde: materiais médico-hospitalares, equipamentos eletroeletrônicos, medicamentos,
sangue e hemoderivados, saneantes, kits diagnósticos.
As notificações podem ser classificadas como:
❖ Notificação voluntária;
▪ Profissionais de saúde – médicos, farmacêuticos, enfermeiros,
odontólogos e representantes da indústria farmacêutica;
▪ Usuários;
❖ Notificação compulsória;
▪ Profissionais de saúde.
Essas notificações podem ser feitas a partir do preenchimento do formulário de
notificações de reações adversas que pode ser enviado via internet, correio ou fax aos
hospitais que compõem esta rede.

CENTRO DE INFORMAÇÕES SOBRE MEDICAMENTOS (CIM)

O papel mais importante no sistema de saúde é ocupado pelos medicamentos, pois


esses salvam vidas e melhoram a saúde. O amplo emprego dos medicamentos, os altos
custos que estes representam na assistência à saúde, a elevada incidência de
morbimortalidade atribuída aos medicamentos, a possibilidade de que boa parte possa ser
prevenida ou amenizada a partir da difusão e do uso de informação e de uma assistência
farmacêutica de qualidade, tornam o uso racional de medicamentos um dos grandes
desafios para a saúde pública.
Com o avanço das ciências em geral, tem aumentado exponencialmente a
12

quantidade de informação disponível. Na área farmacêutica, a partir da década de 1940,


também tem havido a introdução de novos medicamentos em grande escala. A essa
quantidade de informação se convencionou chamar de “explosão de informação” ou
“avalanche de informação”. Apesar da quantidade, essa informação nem sempre é de boa
qualidade e imparcial; além disso, este volume de informação não é difundido de forma
eficiente e ágil, de modo que os profissionais da saúde têm dificuldade em se manter
atualizados.
Este contexto dá origem a estudos que relatam cinco fatores causadores de
problemas na farmacoterapia de um hospital:
✓ Sistemas deficientes de distribuição
e de administração de medicamentos;
✓ Aplicação inadequada da informação do produto no que se
refere a sua preparação e administração;
✓ Informação inadequada do médico prescritor;
✓ Falta de conhecimento sobre as características
farmacocinéticas dos medicamentos;
✓ Falta de interesse e de preocupação no que se refere ao
conhecimento e à notificação de reações adversas aos medicamentos.

Os quatro primeiros fatores estão fundamentalmente ligados à falta de


conhecimento e de informação sobre os medicamentos. Nesse caso, o problema não é a
inexistência da informação, mas a dificuldade de acesso e de uso da mesma. Em nosso
país, o problema é mais grave, já que a informação, em geral, não está disponível por
causa dos altos custos que envolvem a aquisição e a manutenção da mesma e, também,
por existir poucas publicações em português.
Um estudo americano cita que estima 7 mil mortes anuais, nos EUA, entre
pacientes ambulatoriais e hospitalares devido a erros de uso de medicamentos. No Brasil,
o SUS registrou, em 1999, 275 milhões de consultas médicas e 12 milhões de internações
hospitalares.
Estes dados permitem estimar a importância dos medicamentos nestes
procedimentos.
A diretora-geral da OMS, em 1999, publica artigo onde expressa que:
✓ De 25% a 75% dos antibióticos são prescritos
inapropriadamente, mesmo em hospitais universitários;
13

✓ Estudos realizados em farmácias de países em


desenvolvimento demonstraram que 90% dos consumidores compram
antibióticos para três dias de tratamento ou menos; 50% compram somente
para o tratamento de um dia;
✓ Em média, 50% dos pacientes do mundo não tomam os
medicamentos corretamente, resultando em mortalidade excessiva por
infecções comuns, resistência a medicamentos e tratamento inadequado de
doenças crônicas, como a hipertensão.
Uma das propostas para solução desses problemas é a formação de farmacêuticos,
clinicamente treinados como disseminadores de informação sobre medicamentos, serviço
que esses profissionais, tanto comunitários como hospitalares, tradicionalmente vêm
prestando de modo informal. Nos EUA, os farmacêuticos são os profissionais que mais
atuam nos Centros de Informação sobre Medicamentos, o que também se observa no Brasil,
uma vez que, como categoria profissional, são eles que têm a formação mais abrangente
sobre medicamentos.
Em 1962, foi criado o primeiro Centro de Informação sobre Medicamentos do
mundo, no Centro Médico da Universidade de Kentucky, nos EUA. O termo “informação
sobre medicamentos” foi proposto nesta época, usado em conjunto com as palavras
Centro e Especialista. O sucesso da experiência resultou na abertura de novos CIMs pelos
EUA, depois no Canadá e, hoje, existem mais de 200 centros no mundo.
A necessidade de serviços de informação sobre medicamentos é mais evidente
quando se considera que a documentação que frequentemente está ao alcance dos
profissionais da saúde é aquela proporcionada pela indústria farmacêutica e, portanto, o
enfoque tem um alto componente publicitário e comercial. Além disso, a entrega de
amostras grátis para os médicos, as quais geralmente acompanham a publicidade dos
medicamentos, influi de forma quase compulsiva na prescrição médica, evitando a análise
objetiva e científica que se requer na consideração das alternativas de tratamento.
O Centro de Informação sobre Medicamentos (CIM) é uma alternativa para
facilitar o acesso e a disponibilidade da informação, diminuindo os custos hospitalares
pela racionalização do uso dos medicamentos.

A UTILIZAÇÃO E A PRODUÇÃO DA INFORMAÇÃO SOBRE


MEDICAMENTOS PELO CIM
14

A informação sobre medicamentos é a base para o desenvolvimento dos


instrumentos imprescindíveis para sua prescrição e uso racional. Entre esses, podemos
citar: formulários; guias de tratamentos padronizados; e informação para consumidores,
os quais só poderão ser desenvolvidos com informação confiável.
As atividades de um Centro de Informação sobre Medicamentos costumam estar
divididas em dois grandes grupos:

❖ Informação reativa (também denominada de passiva)


Aquela que é oferecida em resposta à pergunta de um solicitante. O farmacêutico
informador espera passivamente que o interessado lhe faça a pergunta. Desencadear a
comunicação é iniciativa do solicitante. Esta é considerada a principal atividade de um
CIM.

❖ Informação proativa (também denominada de ativa)


É aquela em que a iniciativa da comunicação é do farmacêutico informador, que
analisa qual tipo de informação seus possíveis usuários podem necessitar (médicos,
farmacêuticos, odontólogos, enfermeiros, pacientes, outros) e encontra uma via de
comunicação para suprir essas necessidades. Estas atividades dão mais visibilidade e
causam maior impacto junto aos usuários.

Dentre estas atividades, deve-se notar que:


❖ Não existe Centro de Informação sobre Medicamentos sem a primeira
atividade – responder perguntas. Ou seja, um CIM pode desenvolver todas as atividades
descritas, mas não será um CIM o lugar que desenvolver todas as atividades menos a
primeira;
❖ Responder perguntas deve representar a maior parte dos trabalhos
prestados pelo CIM. Esta deve ser a atividade principal.
A produção de informação em um CIM obedece a um protocolo que abrange desde
a pesquisa em fontes bibliográficas para responder perguntas até a escolha dos temas a
serem abordados em boletins, formulários, revisão de uso de medicamentos,
farmacovigilância etc. A informação reativa deverá ser utilizada como “termômetro”,
mostrando quais as principais dúvidas dos solicitantes do serviço que poderão servir de
orientação para a elaboração de material informativo escrito – artigos, boletins, folders etc.
– ou sugestão para programas de educação continuada.
15

Levando-se em consideração as vantagens e as limitações das fontes de


informação sobre medicamentos, em um CIM, na informação reativa, sugere-se que a
sequência de busca de dados obedeça a seguinte ordem: terciárias, secundárias e
primárias. As fontes terciárias são as mais utilizadas na atividade de informação reativa
por uma série de fatores, tais como: disponibilidade, facilidade de manuseio, agilidade no
uso, objetividade, variedade de informações que, porém, podem estar desatualizadas.
Dependendo da complexidade e da natureza da pergunta, por exemplo, em novidades
terapêuticas, será necessária a utilização das fontes secundárias e primárias. A avaliação
crítica do farmacêutico especialista em informação sobre medicamentos deverá ser
utilizada neste momento para fornecer a informação mais atual de forma objetiva e ágil.
Os CIMs podem ser solicitados por telefone, pessoalmente, fax,
correspondência, correio eletrônico, dependendo do caso. É necessário que o usuário
identifique-se e forneça seu endereço, número do telefone etc., a fim de estabelecer
uma via de comunicação que será utilizada na resposta, se essa não for imediata, ou caso
um novo contato seja necessário. Quando estiver envolvido um paciente, é de grande
importância fornecer os dados adequados, de tal forma que a resposta seja apropriada às
necessidades e características particulares de cada um. Na informação reativa, uma das
características dos CIMs é o fornecimento gratuito, significando dizer que as consultas
feitas não serão cobradas. Excepcionalmente, trabalhos específicos poderão ser
cobrados, a critério de cada CIM. Como exemplo, a seguir constam algumas
categorias de perguntas respondidas pelos CIMs:
❖ Identificação de fármacos e medicamentos nacionais e estrangeiros, de
uso comum ou em investigação, sua disponibilidade e/ou equivalência no mercado
nacional e internacional;
❖ Mecanismo de ação, usos clínicos, eficácia, reações adversas e
toxicidade;
❖ Posologia, duração e uso correto dos medicamentos, em especial para
pacientes pediátricos, idosos, diabéticos, cardiopatas, nefropatias etc.;
❖ Liberação, absorção, distribuição, metabolismo e excreção;
❖ Possíveis interações dos medicamentos com o álcool, alimentos e outros
fármacos;
❖ Interferência dos medicamentos com exames de análises clínicas;
❖ Uso de medicamentos durante a gravidez e a lactação;
❖ Conservação dos medicamentos, principalmente quando se requer
16

condições especiais;
❖ Compatibilidade de misturas parenterais.

Sabe-se que a principal atividade de um CIM é a informação reativa. Por outro


lado, a informação proativa pode ser aquela que cause maior impacto ou reconhecimento
do serviço junto à comunidade, seja essa de profissionais da saúde ou pacientes.
Entretanto, existe uma estreita relação entre estes dois tipos de atividades e somente a
experiência acumulada no exercício do dia a dia do CIM poderá determinar o equilíbrio
das mesmas, ou seja, qual o tempo que será dedicado a cada uma delas.
Um aspecto de destaque dentro da atividade proativa é a publicação de um
boletim. Seu papel básico é a disseminação de informação imparcial, científica e avaliada
sobre o uso de medicamentos, seja de novidades terapêuticas, novos usos, alertas sobre
reações adversas, perguntas e respostas fornecidas na informação reativa que possam ter
interesse geral, entre outras. O boletim é importante veículo de divulgação do CIM; por
isso mesmo, deve ter qualidade, periodicidade (pelo menos quatro por ano) e ser bem
difundido.

CENTROS DE INFORMAÇÃO SOBRE MEDICAMENTOS NO BRASIL

Em 1992, iniciou-se a “sistematização de esforços para o desenvolvimento dos


Centros de Informação sobre Medicamentos no Brasil”, quando o Conselho Federal de
Farmácia, em parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde, inicia a
implantação do Centro Brasileiro de Informação sobre Medicamentos (CEBRIM) e,
mais tarde, a partir deste, o Sistema Brasileiro de Informação sobre medicamentos,
constituído atualmente por diversos CIMs.
17

SELEÇÃO DE MEDICAMENTOS

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estimula seus membros para que


estabeleçam e apliquem uma política direcionada aos medicamentos, desde suas
especificações técnicas até as condições propícias para seu uso racional. No Brasil, a
Política Nacional de Medicamentos (PNM) obrigatoriamente deve ser implementada pela
Comissão de Farmácia e Terapêutica (CFT) em todas as unidades hospitalares, para isso, é
essencial a elaboração de uma padronização de medicamentos.
Padronização de medicamentos pode ser entendida como a constituição de uma
relação básica de medicamentos, que deve constituir os estoques das farmácias
hospitalares, objetivando o atendimento médico-hospitalar, de acordo com suas
necessidades e peculiaridades locais, acarretando na sua utilização racional.
O processo de seleção de medicamentos deve assegurar o cumprimento de uma
terapêutica racional e de baixo custo. Para garantir o uso racional de medicamentos, é
necessário elaborar a lista de medicamentos padronizados e desenvolver, com muita
intensidade e continuidade, um processo de educação farmacológica dos profissionais de
saúde do hospital, induzindo uma reflexão crítica sobre a escolha e a utilização dos
fármacos.

O PROCESSO DE SELEÇÃO DE MEDICAMENTOS

A Seleção de medicamentos é um processo dinâmico, contínuo, multidisciplinar


e participativo. Tem o intuito de assegurar ao hospital acesso aos medicamentos mais
necessários, adotando critérios de eficácia, segurança, qualidade e custo. Promove a
utilização racional dos medicamentos.
A seleção de medicamentos é um processo complexo. É importante que seja
realizado considerando a contribuição das seguintes ciências:
❖ Farmacoeconomia;
❖ Farmacoepidemiologia;
❖ Farmacologia e Terapêutica Clínica;
❖ Farmacovigilância;
❖ Biofarmacotécnica;
❖ Farmacocinética.
18

Este enfoque multidisciplinar colabora para que os diversos elementos que


interferem na utilização dos medicamentos sejam contemplados na escolha do arsenal
terapêutico.

VANTAGENS DA SELEÇÃO DE MEDICAMENTOS

A realização da seleção de medicamentos reduz custos e melhora a qualidade da


farmacoterapia desenvolvida na instituição hospitalar. As vantagens da seleção de
medicamentos são:
❖ Reduzir o custo da terapêutica, sem prejuízos para a segurança e
efetividade do tratamento;
❖ Racionalizar o número de medicamentos e produtos correlatos, com
consequente redução de custos com a aquisição;
❖ Facilitar as atividades de planejamento, aquisição, armazenamento,
distribuição e controle, com redução dos custos operacionais;
❖ Disciplinar o receituário médico-hospitalar e uniformizar a terapêutica,
colaborando como instrumento de ensino na área de saúde;
❖ Aumentar a qualidade da farmacoterapia e facilitar a vigilância
farmacológica, o que pode ser incentivado por meio da adoção do Programa de
Farmacovigilância do Ministério da Saúde.

ETAPAS DA SELEÇÃO DE MEDICAMENTOS

Na implantação de um processo de seleção de


medicamentos, é recomendável seguir as seguintes etapas:
❖ Conscientização da equipe de saúde por meio de reuniões e
informativos;
❖ Designação da comissão de seleção de medicamentos pelo diretor
clínico;
❖ Levantamento do perfil dos problemas de saúde atendidos pela unidade
hospitalar;
❖ Análise do padrão de utilização de medicamentos;
❖ Definição dos critérios de seleção a serem adotados;
19

❖ Seleção dos medicamentos, definindo a estratégia de desenvolvimento


do formulário e os métodos a serem empregados;
❖ Edição e divulgação do formulário farmacêutico;
❖ Atualização periódica do formulário farmacêutico, que
deve ser revisado no mínimo a cada dois anos.

CRITÉRIOS PARA SELEÇÃO DE MEDICAMENTOS

A seleção de medicamentos depende de vários fatores, destacando-se o perfil das


doenças prevalentes, a infraestrutura para o tratamento, o treinamento e a experiência da
equipe disponível. Portanto, devem ser empregados no processo de seleção de
medicamentos os seguintes critérios:
❖ Selecionar medicamentos com evidência de eficácia clínica – estas
informações devem ser obtidas através de ensaios clínicos;
❖ Eleger entre os medicamentos da mesma indicação e eficácia, aquele de
menor toxicidade e maior comodidade posológica;
❖ Padronizar medicamentos cujo custo do tratamento/dia e o custo da
duração do tratamento sejam pequenos, preocupando-se sempre com a eficácia do
produto;
❖ Padronizar medicamentos que possuam estudos sobre biodisponibilidade
e parâmetros farmacocinéticos;
❖ Escolher, sempre que possível, entre os medicamentos de mesma ação
farmacológica, um representante de cada categoria química ou com característica
farmacocinética diferente, ou que possua característica farmacológica que represente
vantagem no uso terapêutico;
❖ Evitar a inclusão de associações fixas, exceto quando os ensaios clínicos
justificarem o uso concomitante e o efeito terapêutico da associação for maior do que a
soma dos efeitos dos produtos individuais (por exemplo, no uso da associação entre
sulfametoxazol e trimetropima);
❖ Priorizar formas farmacêuticas que proporcionem maior possibilidade de
fracionamento e adequação à faixa etária, principalmente em unidades hospitalares que
atendem o público pediátrico;
❖ Padronizar, preferentemente, medicamentos encontrados
comercialmente e formas farmacêuticas acondicionadas em dose unitária;
20

❖ Realizar a seleção de antimicrobianos em conjunto com a Comissão de


Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), verificando os s prevalentes, padrões de
sensibilidade e selecionando aqueles antimicrobianos que permitam suprir as
necessidades terapêuticas;
❖ Reservar novos antimicrobianos para o tratamento de infecções por
microrganismos resistentes a antimicrobianos padrões ou para infecções em que o novo
produto seja superior aos anteriores, fundamentado em ensaios clínicos comparativos;
❖ Padronizar medicamentos pelo nome do princípio ativo adotando a
denominação comum brasileira (DCB) e, na falta desta, a denominação comum
internacional (DCI).

COMISSÃO DE PADRONIZAÇÃO DE MEDICAMENTOS

Há duas comissões hospitalares responsáveis pela seleção de medicamentos: a


Comissão de Farmácia e Terapêutica (CFT) e a Comissão de Padronização de
Medicamentos (CPM). As duas comissões têm o mesmo objetivo, mas as atividades que
desenvolvem são diferentes. O ideal é que as CPMs se transformem em CFTs.
A CPM é a junta deliberativa designada pela diretoria clínica com a finalidade de
regulamentar a padronização de medicamentos utilizados no receituário hospitalar.
As atribuições da CPM são:
❖ Padronizar os medicamentos para uso no hospital;
❖ Publicar a padronização de medicamentos e mantê-la atualizada;
❖ Divulgar informações sobre medicamentos.

COMISSÃO DE FARMÁCIA E TERAPÊUTICA

A responsabilidade pelo desenvolvimento e supervisão de todas as políticas e


práticas de utilização de medicamentos na unidade hospitalar com intuito de assegurar
resultados clínicos ótimos e um risco potencial mínimo é da CFT.
A CFT assessora a diretoria clínica nos assuntos relacionados a medicamentos e
terapêutica e serve como uma ligação entre a farmácia e a equipe de saúde. Essa é a
comissão hospitalar mais importante para a farmácia, pois promove ações educativas,
assessoria técnica e divulgação sobre medicamentos devendo executar as seguintes
atividades no hospital:
21

❖ Estabelecer normas e procedimentos relacionados à seleção, à


distribuição, à produção, à utilização e à administração de fármacos e agentes
diagnósticos;
❖ Padronizar, promover e avaliar o uso seguro e
racional dos medicamentos prescritos no hospital;
❖ Elaborar um guia farmacoterápico ou formulário farmacêutico;
❖ Avaliar periodicamente o arsenal terapêutico disponível, promovendo
inclusões ou exclusões segundo critérios de eficácia, eficiência clínica e custo;
❖ Normalizar procedimentos farmacoclínicos que se relacionam com a
terapêutica medicamentosa;
❖ Coordenar avaliações clínicas e estudos de consumo de medicamentos
em pesquisa ou recém-lançados;
❖ Sugerir medidas que possibilitem a disponibilidade de
recursos materiais e humanos, assegurando a
viabilidadeda política de medicamentos dentro da
instituição;
❖ Disciplinar a ação dos representantes da indústria farmacêutica dentro do
hospital;
❖ Estudar medicamentos sob o ponto de vista clínico, biofarmacêutico e
químico, emitindo parecer técnico sob sua eficácia terapêutica como critério fundamental
de escolha;
❖ Divulgar informações relacionadas a estudos clínicos relativos aos
medicamentos incluídos e excluídos do formulário farmacêutico;
❖ Fazer estudos e/ou revisões bibliográficas sobre medicamentos;
❖ Elaborar programas de notificação e acompanhamento de reações
adversas.

ESTRUTURA DAS COMISSÕES DE SELEÇÃO DE MEDICAMENTOS

As comissões de padronização e de farmácia e terapêutica têm a mesma estrutura


básica, garantindo um caráter multidisciplinar e dinâmico ao processo de seleção de
medicamentos.
Devem ser compostas de:
22

✓ Um médico que atuará como presidente;


✓ Um médico de cada especialidade (Clínica Médica, Clínica
Pediátrica, Clínica Cirúrgica e/ou outras clínicas de acordo com as
características do hospital);
✓ Um membro da Comissão de Controle de Infecção
Hospitalar (CCIH);
✓ Um farmacêutico;
✓ Um enfermeiro

O farmacêutico deve ser o secretário da comissão, os demais membros não devem


ser escolhidos em função de motivação e experiência na área de terapêutica e
farmacológica. Torna-se bastante interessante ter como membro permanente desta
comissão, um representante da comissão de controle de infecção hospitalar (CCIH).
A equipe de saúde deve ser rotineiramente comunicada das decisões da CFT por
meio de reuniões ou informativos. É recomendável que a CFT se reúna pelo menos seis
vezes ao ano.

FORMULÁRIO FARMACÊUTICO

O Formulário Farmacêutico é uma publicação, geralmente em forma de manual,


que traz a relação atualizada de medicamentos selecionados para uso no hospital e
informações essenciais sobre medicamentos. O formulário deve ser completo e de fácil
consulta, e sua revisão deve ser periódica.
O sistema de formulário é um processo contínuo por meio do qual a farmácia e a
equipe de saúde em conjunto com a CFT ou equivalente avalia e seleciona os
medicamentos necessários para assistência aos pacientes. Os produtos selecionados
devem estar disponíveis na farmácia.
O objetivo primário da CFT é garantir o uso racional de medicamentos e reduzir
os custos sociais e institucionais, ao se implementar o sistema de formulário. Estes dois
objetivos aparentemente conflitantes representam um desafio para o sucesso da
implementação do sistema de formulário.
A atuação do farmacêutico, sugerindo ao médico substituição terapêutica ou
farmacêutica e prescrição de medicamentos incluídos no formulário, implementa o
sistema e reduz custos.
23

A capacidade dos membros da CFT para escolher os melhores fármacos e


conscientizar os médicos sobre a relevância da seleção é importante para o êxito da
implementação do formulário. Os profissionais da equipe de saúde devem ser
incentivados a participar do processo de seleção de medicamentos. A ampla divulgação
da revisão do formulário é importante para permitir que os profissionais do hospital
enviem sugestões. As sugestões devem ser encaminhadas por meio do formulário de
inclusão e exclusão de medicamentos à secretaria da CFT (Figura 6), que pode ser
realizada a qualquer tempo, fato que pode trazer a necessidade de mais uma reunião da
comissão para rever a padronização realizada.

TABELA - ALTERNATIVAS E TIPOS DE SUBSTITUIÇÃO DE


MEDICAMENTOS

Definição de Alternativas e Tipos de Substituição de Medicamentos


Alternativa Farmacêutica: medicamentos que contêm o mesmo fármaco, a mesma dosagem
e diferem em relação ao sal, éster, forma farmacêutica ou via de administração.
Alternativa Terapêutica: medicamentos que contêm diferentes fármacos, mas que pertencem
à mesma classe farmacológica. Apresentam os mesmos efeitos terapêuticos quando
administrados em doses terapeuticamente equivalentes.

Substituição Farmacêutica: ato de fornecer uma alternativa farmacêutica no lugar do


medicamento prescrito.
Ex.: Estolato de eritromicina por estearato de eritromicina. Sulfato de codeína por fosfato de
codeína. Ampicilina suspensão por ampicilina cápsula.
Substituição Terapêutica: ato de fornecer uma alternativa no lugar do medicamento prescrito.
Ex.: Enoxiparina por Fraxiparina, Omeprazol por Pantoprazol

FONTE: Adaptado de Gomes, M. J. V. M. Ciências Farmacêuticas: Uma


Abordagem em Farmácia Hospitalar, 2006.

O uso de medicamentos não incluídos no formulário (conhecidos como


medicamentos não padrão) deve ser controlado pela CFT. Estes medicamentos só devem
ser liberados para utilização, após a solicitação contendo justificativa avaliada e aprovada
pela CFT. Essas medidas visam inibir o uso de medicamentos não incluídos no formulário
e incentivar o uso de padronizados, com intuito de controlar a prescrição médica e reduzir
custos.
O farmacêutico que atua na dispensação de medicamentos do hospital deve estar
24

consciente do importante papel da padronização de medicamentos devendo estar


capacitado e disposto a interagir com os médicos em um esforço de evitar a utilização de
medicamentos não padronizados. As decisões da CFT devem confirmar a prática clínica
da instituição para o sistema de formulário ser efetivo. Contato direto com os médicos,
distribuição de boletins e informações ajudam a motivar os médicos a prescreverem
apenas medicamentos padronizados.

FORMULÁRIO DE PADRONIZAÇÃO OU DESPADRONIZAÇÃO DE


MEDICAMENTOS À LISTA DE MEDICAMENTOS PADRONIZADOS
25

REALIZAÇÃO DE SELEÇÃO DE MEDICAMENTOS

SELEÇÃO QUALITATIVA DE MEDICAMENTOS: REVISÃO DE


CLASSE TERAPÊUTICA

O método de revisão de classe terapêutica consiste na avaliação comparativa de


fármacos de uma determinada classe terapêutica. O farmacêutico, com o suporte do
Centro de Informações de Medicamentos (CIM), elabora uma monografia dos fármacos
da classe terapêutica em análise. Os aspectos mais relevantes a serem abordados na
monografia estão dispostos na Tabela 6. A monografia deve ser realizada com base em
uma ampla revisão da literatura. Um informativo técnico sintético deve ser encaminhado
à CFT visando subsidiar as deliberações. Neste informativo, é recomendável incluir
tabelas para facilitar a comparação e dar enfoque, principalmente, às indicações, eficácia
clínica, posologia reações adversas, ensaios clínicos, níveis de evidência do uso
terapêutico e custo.
O método de revisão de classe terapêutica pode ser empregado tanto nas revisões
como na elaboração inicial da padronização. A maior vantagem deste método é propiciar
avaliação sistemática de cada classe terapêutica organizando o processo de seleção e
assegurando uma análise adequada dos fármacos disponíveis para o arsenal terapêutico
do hospital.
Os métodos qualitativos, como a revisão de classe terapêutica em situações que
envolvem fármacos com características muito semelhantes, muitas vezes, não permitem
uma escolha adequada.
TABELA - ASPECTOS IMPORTANTES PARA AVALIAÇÃO DE
MEDICAMENTOS
Informações Importantes para Avaliação de Medicamentos
Identificação do medicamento: denominação comum brasileira e/ou denominação comum
internacional especialidades farmacêuticas formas farmacêuticas fornecedores

Classe farmacológica (o ideal é empregar a classificação anatômico- terapêutica clínica —


ATC)

Indicações terapêuticas do medicamento autorizadas no país e outras indicações do


medicamento aprovadas em outro país de referência (geralmente são utilizadas como
referência as autorizações do FDA)
26

Farmacologia clínica
Farmacocinética

Reações adversas
Cuidados, precauções e contraindicações
Esquemas posológicos, inclusive em situações especiais: neonatologia, pediatria, geriatria
gestação, insuficiência renal ou hepática e outras

Ensaios clínicos publicados na literatura e, se disponíveis, metanálises

Comparação com alternativas terapêuticas incluídas na padronização

Custo do tratamento e análise do impacto econômico na instituição

FONTE: Adaptado de Gomes, M. J. V. M. Ciências Farmacêuticas: Uma


Abordagem em Farmácia Hospitalar, 2006.

MÉTODO QUANTITATIVO PARA A SELEÇÃO DE MEDICAMENTOS

Os medicamentos novos, frequentemente, oferecem poucas vantagens em relação


aos antigos, mas podem diferir em segurança, esquema de administração e custo. Em
consequência dessa homogeneidade das características dos fármacos, a seleção de
medicamentos pode se tornar subjetiva. Na seleção de medicamentos é necessário um
método objetivo e quantitativo que abranja todas as variáveis que influenciam na seleção
do fármaco adequado, como por exemplo, a análise de decisão clínica, um método que
auxilia a tomada de decisões definindo o modo mais efetivo de lidar com problemas
específicos.
A seleção de medicamentos empregando o método de análise de decisão envolve
as etapas detalhadas a seguir.

Definição do problema, dos objetivos e identificação das alternativas

O primeiro passo deve ser a definição do problema em questão, o objetivo


pretendido e a partir disto identificar as alternativas, isto é, os possíveis fármacos para o
tratamento pretendido, como exposto no exemplo abaixo:

Problema — seleção de um inibidor da bomba de prótons.


27

Objetivo — escolher o fármaco inibidor da bomba de prótons de maior eficácia,


segurança e de baixo custo para o tratamento de úlcera.
Alternativas — omeprazol e pantoprazol.

Definição dos critérios de avaliação

O segundo passo é definir critérios com o objetivo de quantificar a eficácia, a


segurança e o custo de tratamento com os fármacos em estudo. Os critérios são definidos
especificamente para um determinado problema.
Por exemplo, na seleção de um inibidor de bomba de prótons da histamina podem
ser adotados os seguintes critérios:
❖ Eficácia em úlcera duodenal;
❖ Eficácia X custo;
❖ Farmacocinética;
❖ Interação medicamentosa;
❖ Reações adversas;
❖ Ensaios clínicos com o fármaco e outros.

Caracterização das informações necessárias à análise de decisão

Os critérios de avaliação recebem certo peso e então são classificados em ordem


crescente do peso. Em seguida, um grupo de médicos e farmacêuticos escolhidos pela
CFT estabelece o valor utilitário de cada critério. O valor utilitário é a expressão
quantitativa do valor relativo do critério. É definido também o valor probabilístico do
fármaco que é uma estimativa numérica de como o fármaco preenche o critério de
avaliação. A próxima etapa é a multiplicação do valor utilitário de cada critério pelo
respectivo valor probabilístico e a realização da soma dos critérios. O fármaco com a
maior pontuação final é o selecionado.
O que pode ser aplicado ao nosso caso: omeprazol X pantoprazol. A partir da
determinação dos pesos de cada critério a ser analisado, são dados os valores referentes a
cada fármaco baseado em evidências científicas e somados os pontos, um dos fármacos
pode então ser selecionado como o mais adequado, dentre os critérios priorizados pela
CFT desta unidade hospitalar em particular.
28

Análise de decisão

Podem ser introduzidos na avaliação alguns erros, pois determinados valores


numéricos, especialmente os utilitários, podem ser subjetivos. Portanto, é necessário
realizar uma análise estatística empregando análise de sensibilidade. A análise de
sensibilidade avalia a estabilidade das conclusões em relação a uma faixa de valores
plausíveis para o valor probabilístico e o utilitário. Ausência de alteração significativa da
conclusão em função das variações dos valores indica que a alternativa de maior valor
preenche melhor os critérios de avaliação.
Os resultados de uma análise de decisão são aplicáveis apenas no hospital onde
foi realizada. As conclusões de análise de decisão variam de uma instituição para outra,
principalmente devido às diferenças na definição dos critérios e na definição da
importância.
A importância da análise de decisão consiste em forçar os membros da CFT a
considerar os critérios e as alternativas objetivamente antes de chegar a uma decisão. A
quantificação de todos os atributos dos fármacos permite um processo de seleção lógico
e racional, evitando longas discussões e minimizando erros pessoais.

SELEÇÃO DE MEDICAMENTOS REALIZADA POR SISTEMA DE


ANÁLISE DE AVALIAÇÃO POR OBJETIVO – SYSTEM OF OBJECTIFIED
JUDGMENT ANALYSIS (SOJA)

A Seleção racional de medicamentos é um fator essencial na elaboração do


formulário farmacêutico. Além dos critérios racionais de seleção de medicamentos
(eficácia clínica, custo, tolerância, esquema de administração etc.), fatores emocionais,
financeiros e relacionados ao marketing farmacêutico interferem na seleção de
medicamentos. O processo de tomada de decisão é uma alternativa para excluir a
interferência desses fatores.
O Sistema de Análise de Avaliação por Objetivo (SOJA) é um método de tomada
de decisão para seleção de medicamentos. Este método consiste na definição prospectiva
de critérios de avaliação para uma determinada classe terapêutica. A extensão com que
cada fármaco preenche o critério é analisada. A cada critério é atribuído um peso relativo;
quanto maior a relevância do critério, maior o peso. Um painel de especialistas escolhidos
29

pela CFT estabelece o peso relativo de cada critério e o valor relativo para o fármaco
frente ao critério.
No método SOJA os seguintes critérios de avaliação do fármaco devem ser
incluídos:
A pontuação total do SOJA é de no máximo mil pontos, que são divididos entre
os critérios considerados relevantes para classe terapêutica em estudo. A principal
vantagem do SOJA é selecionar os medicamentos empregando exclusivamente critérios
racionais. O método subsidia as decisões da CFT tornando o processo de tomada de
decisão mais concreto.
Esse método tem limitação de ser tempo-dependente, pois sofre alteração em
virtude das publicações de ensaios clínicos, estudos de farmacovigilância e do registro e
do tempo de comercialização. Para superar essa limitação, o método deve ser atualizado
periodicamente, daí a necessidade de reunião da CFT.

SELEÇÃO DE MEDICAMENTO PARA REDUZIR CUSTOS COM


ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA

A CFT possui uma meta em especial, reduzir as despesas com medicamentos,


evitando gastos que resultam em elevação desnecessária do custo do tratamento, sem
contribuir com retorno à saúde do paciente. A CFT para atingir esta meta deve adotar as
seguintes estratégias:
❖ garantir, por meio de medidas educativas e programas de estudo de
utilização de medicamentos (EUM), que os medicamentos selecionados estão sendo
adequadamente prescritos;
❖ incentivar o uso do medicamento de baixo custo quando a eficácia e a
segurança não foram alterados;
❖ elaborar revisões periódicas das diversas classes de fármacos, fazendo
alterações visando garantir que os medicamentos usados no hospital irão refletir a
terapêutica mais econômica;
❖ promover a utilização eficiente dos medicamentos, adotando mecanismos
de restrição de fármacos para serviços específicos, situações clínicas determinadas e
credenciamento de médicos autorizados a prescrever.
Nos últimos anos, administradores hospitalares e farmacêuticos têm observado
que uma grande parte da elevação das despesas dos hospitais nos últimos anos é devida
30

às farmácias. Entretanto, muitas das causas são por fatores externos e a CFT é vista como
um instrumento com capacidade para controlar os fatores internos. O sistema de
formulário oferece excelente controle dos fármacos utilizados no tratamento dos
pacientes. O reconhecimento deste controle pelos administradores frequentemente resulta
em pressão para CFT priorizar a redução de custos devido aos enormes gastos com
medicamentos. Mas a CFT deve conscientizar os administradores que a redução dos
gastos não pode ocorrer em detrimento da qualidade da farmacoterapia prestada ao
paciente.
Tradicionalmente, a CFT tem avaliado a inclusão de medicamentos nos
formulários com base na eficácia, segurança e custos de aquisição. A utilização de
informações de análise farmacoeconômica nos processos de tomada de decisão sobre os
medicamentos a serem incluídos ou excluídos do formulário irá auxiliar a CFT a garantir
a redução de custos e a seleção de medicamentos eficazes. A farmacoeconomia é uma
área em desenvolvimento dentro das ciências farmacêuticas de grande importância, que
pode ser também realizada pela própria unidade hospitalar com seus próprios dados e, por
isto, as CFTs e as CPMs devem se conscientizar da importância da farmacoeconomia e
capacitar profissionais para atuar nessa área nos hospitais.
Podemos concluir após a exposição deste tema que o processo de seleção de
medicamentos visa:
❖ Facilitar a escolha de fármacos seguros, eficazes e baratos;
❖ Promover a utilização racional de medicamentos;
❖ Custo do medicamento;
❖ Eficácia clínica;
❖ Incidência e intensidade de efeitos adversos;
❖ Esquema posológico;
❖ Interações medicamentosas;
❖ Estudos clínicos, indicações aprovadas;
❖ Tempo de comercialização;
❖ Farmacocinética;
❖ Aspectos farmacêuticos;
❖ Reduzir o custo da assistência farmacêutica
Portanto, a padronização de medicamentos de um hospital é um instrumento
facilitador da implementação de um programa de uso racional de medicamentos e por este
motivo o serviço de farmácia hospitalar deve incentivar a implantação de uma comissão de
31

seleção de medicamentos atuante.


E quaisquer que sejam os critérios empregados, a forma de planejar este trabalho,
a divulgação, o formato, a denominação, a facilidade em se encontrar as informações de
forma rápida e objetiva, nada será válido se não for utilizado efetivamente e se os resultados
desta tarefa não forem revertidos de forma satisfatória para trazer benefícios ao elemento
mais importante de todo este processo: o paciente.

INFECÇÕES HOSPITALARES E COMISSÃO DE CONTROLE DE


INFECÇÕES HOSPITALARES (CCIH)

As infecções hospitalares é problema antigo, havendo relatos desde 325 d. C., quando
foram criados hospitais nas catedrais, confinando os doentes em ambientes restritivos que
propiciavam a transmissão das moléstias da época.
Com a descoberta da penicilina, no início do século XX, houve uma redução
significativa das infecções. Para tanto, a partir dos anos 50, começaram a aparecer
bactérias resistentes e as infecções hospitalares passaram a despertar maior interesse e
atenção.
Embora existam centros de excelência em controle de infecção hospitalar, uma
grande parte dos hospitais brasileiros ainda não possui uma comissão ou serviço de
controle de infecção hospitalar funcionando de maneira efetiva, indicando a necessidade
de reavaliação da política de controle de infecções hospitalares.
As infecções hospitalares são geralmente associadas aos diversos procedimentos
invasivos, como os cirúrgicos, os cateterismos, a ventilação mecânica, entre outros.
De acordo com os critérios gerais, as infecções hospitalares são definidas e
descritas da seguinte forma:
❖ Quando na mesma topografia em que for diagnosticada infecção
comunitária, for isolado um germe diferente, seguido do agravamento das condições
clínicas do paciente;
❖ Quando se desconhecer o período de incubação do microrganismo e não
internação, convenciona-se infecção hospitalar toda manifestação clínica que se
apresentar a partir de 72 horas após a admissão;
❖ Quando se manifestam antes de 72 horas de internação, sendo associadas
a procedimentos diagnósticos e/ou terapêuticos realizados durante este período;
❖ Em recém-nascidos, com exceção das transmitidas de forma
32

transplacentária e aquelas associadas à bolsa rota superiores a 24 horas;


❖ Os pacientes provenientes de outro hospital que se internam com
infecção são considerados portadores de infecção hospitalar do hospital de origem.

As principais causas das infecções hospitalares são:


❖ Condição clínica do paciente;
❖ Falta de vigilância epidemiológica adequada;
❖ Uso irracional de antimicrobianos;
❖ Utilização excessiva de procedimentos invasivos;
❖ Métodos de proteção anti-infecciosa, ineficazes ou inexistentes;

As características do programa de controle de infecções hospitalares são:


❖ Possuir vigilância epidemiológica ativa, sistemática e contínua das
infecções, buscando ações oportunas de prevenção e controle;
❖ Racionalizar o uso dos antimicrobianos e de outros medicamentos que
possam favorecer o desenvolvimento de infecções hospitalares;
❖ Monitorar e controlar os procedimentos invasivos;
❖ Utilizar métodos de proteção anti-infecciosa efetivos;
Promover a educação continuada sobre o controle de infecções hospitalares;

COMISSÃO DE CONTROLE DE INFECÇÃO HOSPITALAR (CCIH)

A portaria 196, de 24 de junho de 1983, foi a primeira legislação sobre infecções


hospitalares no Brasil que estabeleceu conceitos e parâmetros para o controle de infecção
nos hospitais. Esta portaria determinou que todos os hospitais do país, independentemente
da natureza da entidade mantenedora, deveriam possuir uma Comissão de Controle de
Infecções hospitalares (CCIH).
Em 1992, foi publicada a portaria 930, que determinou a constituição, em todos
os hospitais do país, dos Serviços de Controle de Infecções (SCIH), mantendo a exigência
de existir também a CCIH.
A CCIH é um órgão colegiado obrigatório, subordinado à Diretoria Clínica, com
papel deliberativo. Já o SCIH apresenta papel executivo das tarefas emanadas pela
CCIH.
33

Todas as reuniões e providências tomadas pela CCIH/SCIH devem ter seu registro
feito de forma adequada e estes documentos devem ficar arquivados para posterior
verificação pela fiscalização ou possível utilização se houver algum processo judicial.
A participação do farmacêutico nas comissões de controle de infecção é
importante não somente no aspecto técnico, como está prevista legalmente no Brasil, por
meio da portaria 2.616/1998, do Ministério da Saúde, que define o farmacêutico como
membro consultor e executor da CCIH. Segundo a portaria 2.616/1998, a farmácia tem
participação importante no controle de infecções hospitalares:

✓ Promovendo o uso racional de antimicrobianos, germicidas e materiais


médico-hospitalares;
✓ Definindo políticas de utilização de antimicrobianos, germicidas e
materiais médico-hospitalares;
✓ Cooperando com o setor de treinamento ou responsabilizar-se pelo
treinamento de funcionários e profissionais no que diz respeito ao CCIH.(MINISTÉRIO
DA SAÚDE, 1998)

Funções da CCIH

- Revisão da padronização do elenco de antibióticos;


- Elaboração de protocolos clínicos para tratamento de infecções;
- Elaboração de relatórios com perfil de utilização, demanda e custos
dos tratamentos;
- Monitoramento de pacientes em uso de antimicrobianos, por meio
das fichas de controle;
- Definir critérios para seleção e aquisição de desinfetantes,
antissépticos, saneantes, produtos para saúde e medicamentos.

MANIPULAÇÃO DE MEDICAMENTOS NÃO ESTÉREIS

Dentro das ciências farmacêuticas, a manipulação em hospital é uma atividade


especial. Envolve áreas da farmácia que não são comuns em estabelecimentos de
atendimento ao público.
A manipulação de medicamentos não estéreis é um serviço que propicia grande
34

economia para a instituição, disponibilizando medicamentos e soluções que o mercado


não possui ou que têm alto custo, em diferentes concentrações, quantidades e volumes.
O hospital leva a vantagem de poder controlar precisamente a administração de
medicamentos preparados exclusivamente para um paciente, por possuir laboratórios de
manipulação especializados.

A importância da manipulação de medicamentos não estéreis é vista nas


seguintes ocasiões:

❖ É de extrema importância para o Sistema de Distribuição de Doses


Unitárias (SDDU), podendo ser considerada uma área pré-requisito para Dose Unitária;
❖ Proporciona a qualquer momento medicamentos com qualidade
aceitável, adaptados à necessidade da população que atende;
❖ Permite fracionar ou reenvasar medicamentos a fim de racionalizar sua
administração e distribuição.
❖ Permite preparar, diluir ou “reenvasar” germicidas necessários para
realização de antissepsia, limpeza, desinfecção e esterilização.

FORMAS FARMACÊUTICAS NÃO ESTÉREIS DE


IMPORTÂNCIA NA MANIPULAÇÃO HOSPITALAR

Há algumas formas farmacêuticas não estéreis que podem ser produzidas na


farmácia hospitalar como:
❖ Comprimidos;
❖ Cápsulas;
❖ Papéis;
❖ Soluções;
❖ Xaropes;
❖ Suspensões.
E algumas que são obtidas no mercado farmacêutico, já manufaturadas, que
podem ser submetidas ao fracionamento na farmácia hospitalar, como:
❖ Comprimidos;
❖ Líquidos orais (soluções, xaropes e suspensões).
O número de farmácias onde existe a manipulação de medicamentos não estéreis
35

vem crescendo significativamente por apresentar inúmeras vantagens, como:


❖ Medicamento personalizado satisfazendo às necessidades do paciente;
❖ Associações benéficas;
❖ Vínculo entre paciente / médico / farmacêutico fortalecido;
❖ Custo reduzido.

Algumas observações na manipulação de medicamentos não estéreis


que devem ser levadas em consideração:
❖ Os equipamentos a serem utilizados na manipulação devem estar
devidamente calibrados e aferidos;
❖ Vidrarias e materiais de porcelana devem estar íntegros;
❖ Deve haver um termostato nos refrigeradores
permitindo monitoramento da temperatura;
❖ Os insumos devem ser armazenados de acordo com as orientações do
fabricante;
❖ A embalagem deve garantir a estabilidade do produto.

ESTRUTURA FÍSICA LABORATORIAL PARA


MANIPULAÇÃO DE MEDICAMENTOS NÃO ESTÉREIS

❖ Sala de paramentação com lavatório.


❖ Interior subdividindo os laboratórios de líquidos, semissólidos, sólidos
e controle de qualidade, com acesso independente para evitar a contaminação cruzada.

❖ Piso liso e lavável, cantos e rodapés arredondados, paredes lisas pintadas de


cor clara com tinta acrílica ou epóxido, sistema de circulação de ar.
❖ Sistema de circulação de ar composto pó: ventilador insuflador de ar e
exaustor. Presença de pré-filtros HEPA para proporcionar ambiente classe 100 mil, com
20 trocas de ar por hora.
❖ Bancadas com tampo de material liso e lavável, pia de aço inoxidável,
fonte de água potável e de água purificada, box de pesagem com balança eletrônica,
armários para estoque de vidrarias e utensílios de manipulação.
36

QUIMIOTERAPIA E AS ATRIBUIÇÕES DO FARMACÊUTICO


ONCOLÓGICO

Nos Estados Unidos, depois da doença cardíaca, o câncer constitui a principal


causa de morte. Aproximadamente uma em cada cinco pessoas no mundo desenvolvido
poderá morrer de câncer nas próximas décadas.
De acordo com estatísticas apresentadas em todo mundo, o aumento crescente da
incidência do câncer é consequência do crescimento demográfico, da longevidade e
provavelmente da entrada de novos fatores cancerígenos causais ou concausais cuja
natureza é pouco conhecida.
O câncer é um distúrbio celular caracterizado por alterações no processo de
duplicação do DNA, resultado em proliferação celular alterada, de forma desordenada.
A terapia oncológica consiste no tratamento dos pacientes portadores de câncer,
por meio de qualquer das modalidades disponíveis à prática médica. Atualmente, o
recurso mais empregado é o da quimioterapia, o qual utiliza os medicamentos
antineoplásicos, por intermédio de protocolos de um ou mais medicamentos, dependendo
do tipo e do estágio do tumor.

ATENDIMENTO ÀS PRESCRIÇÕES MÉDICAS

Conjunto de solicitações escritas pelo médico ao farmacêutico, para a preparação


e entrega de um ou mais medicamentos, a prescrição ou receituário médico é redigida
contendo informações direcionadas ao farmacêutico, visando ao atendimento do doente.
Um receituário médico contém partes imprescindíveis, que o torna personificado e
específico para cada paciente:
❖ Nome do paciente;
❖ Fármacos;
❖ Vias de administração;
❖ Forma farmacêutica;
❖ Indicações de uso;
❖ Forma de administração do medicamento.
O farmacêutico ao receber uma prescrição deve se certificar de que todas as
37

informações, necessárias a dispensação do medicamento, estão claras e de acordo com o


protocolo predefinido pelo médico. Os fármacos devem ser prescritos pelo médico em
letra legível de forma explícita, indicando as concentrações desejadas para o tratamento.
Cabe ao farmacêutico conferir as doses prescritas de acordo com a superfície corporal do
paciente. Caso as doses estejam aparentemente elevadas, o médico deverá sublinhar a
dose desejada, demonstrando consistência do fato. Em se tratando de agentes
antineoplásicos, estes dados devem ser cuidadosamente avaliados devido às suas
características citotóxicas.
O atendimento da prescrição médica inclui a confecção de rótulo, o qual deve
conter todas as informações necessárias à identificação do paciente, características
referentes à reformulação preparada à orientação para a enfermagem na assistência ao
paciente.
Seguindo o protocolo de cada paciente, o esquema posológico deve estar claro na
prescrição médica. Formulado pelo médico, o protocolo quimioterápico combina diversos
medicamentos antineoplásicos destinados ao paciente oncológico e enviados ao
farmacêutico para execução das diluições.
O tratamento é repetido a um dado intervalo de tempo, denominado ciclo, de
acordo com a evolução do paciente.
O protocolo deve expressar com clareza:
❖ Os fármacos;
❖ O veículo;
❖ A concentração;
❖ A posologia;
❖ Via de administração;
❖ Tempo de infusão;
❖ Informações sobre sequência e duração do tratamento;
❖ Periodicidade dos ciclos;
❖ Altura;
❖ Peso;
❖ Superfície corporal;
❖ Diagnóstico do paciente.
Para os esquemas de altas doses, é importante que o farmacêutico certifique-se
junto ao médico de que a dose prescrita é a desejada.
A via endovenosa é a mais utilizada, no entanto, outras vias podem ser utilizadas,
38

como tópica, oral, muscular, intratecal, intraperitoneal, intrapleural, intravesical e


intrarretal.

CENTRAL DE MANIPULAÇÃO DE ANTINEOPLÁSICOS

Setor onde são realizadas todas as atividades envolvendo a operação farmacêutica


de preparo das soluções parenterais destinadas ao tratamento do câncer. As soluções são
manipuladas de acordo com a prescrição médica destinada a cada paciente, de forma
individual e personalizada.
São extremamente complexas as técnicas empregadas para diluir os
antineoplásicos, tornando-se aconselhável a centralização das atividades de
manipulação desses fármacos. A manipulação centralizada apresenta as seguintes
vantagens:
❖ Melhor controle dos riscos decorrentes da exposição dos trabalhadores
envolvidos com agentes antineoplásicos e meio ambiente;
❖ Garantia de qualidade das soluções parenterais e dos serviços prestados
aos pacientes oncológicos;
❖ Redução dos cistos com recursos humanos, fármacos e material utilizado
na manipulação dos antineoplásicos;
❖ Melhor gerenciamento do setor, visando a alcançar eficácia, eficiência e
efetividade nos serviços prestados.
É necessária a elaboração de um projeto claro, conciso e coerente com a realidade
de cada hospital ou clínica, para a implementação de uma Central de Manipulação de
Antineoplásicos. Cada parte do projeto deve ser explicada com argumentos técnicos para
justificar os equipamentos, a área física e os recursos humanos apresentados.
A central de manipulação deve ser bem planejada, buscando atender a
característica de cada hospital e visando a proporcionar segurança ao trabalhador.
Em linhas gerais, deve possuir os seguintes espaços físicos:

❖ Área de limpeza do material a ser utilizado


Este espaço destina-se ao armazenamento de limpeza de todo material utilizado
na manipulação.
Esta sala é composta por duas áreas separadas por um banco corrido ou por uma
porta. Na primeira parte, são deixadas as vestes, sapatos, joias e outros acompanhamentos
39

de uso pessoal. Na segunda área, o trabalhador faz a antissepsia das mãos com água e
sabão neutro e se equipa com os equipamentos de proteção.

❖ Sala contendo a câmara de segurança biológica


Nesta área, além da câmara de segurança biológica classe II tipo B2, instalam-se as
bancadas onde são colocados os materiais necessários às atividades de manipulação
farmacêutica (Figura 9). São também colocadas nas bancadas as soluções já preparadas
para processar a rotulagem. As paredes devem ser laváveis, com as bordas arredondadas e
pelo menos uma das divisórias deve ser de vidro para manter contato visual com a área
externa. O ar de dentro da sala deve ser filtrado.

❖ Área de transferência
Após a limpeza, o material é colocado nesta área de onde é transferido para a sala
de manipulação e para receber dessas as soluções já preparadas para serem conduzidas às
clínicas. Na divisória de vidro que separa as duas salas há uma janela com sistema
corrediço por onde é feita a transferência dos produtos. É uma sala que impede a formação
de correntes de ar que irão influenciar decisivamente na estabilidade do fluxo de ar da
câmara. Esta sala tem contato com a sala de limpeza por meio de uma porta.

Deve ainda fazer parte do planejamento de implantação e reestruturação das


centrais de manipulação de antineoplásicos, um espaço destinado a recepção, cálculos e
análises das prescrições. Nesta área, devem-se localizar as estantes com as fichas dos
pacientes oncológicos, o registro com a lista dos agentes desativadores de cada
antineoplásico, as normas e procedimentos adotados em caso de acidentes, cópia dos
certificados de manutenção da câmara e fichas contendo os dados de cada trabalhador,
tais como dados pessoais e exames do programa de controle médico e saúde ocupacional
(PCMSO), cadastro de cada paciente e um terminal de computador para processamento
de dados.

Câmara de segurança biológica

As câmaras de segurança biológica (CSB) classe II B 2, são sistemas


eletromecânicos, com pressão negativa de exaustão e filtragem absoluta do ar
40

descendente e ou ascendente capazes de criar ambiente de fluxo laminar vertical, em


pequenas áreas de trabalho, independentemente das condições do meio. As câmaras de ar
classe II são as que possuem fluxo laminar vertical.
As CSBs são desenhadas especificamente para o trabalho com agentes de risco
biológico e adaptadas para o manuseio de agentes antineoplásicos. Portanto, é de suma
importância a obediência rigorosa de técnicas de manipulação, a fim de minimizar os
riscos de exposição a esses agentes.
A ventilação, a temperatura do ambiente e o controle microbiológico, dentro da
área de manipulação da câmara, devem ser rigorosamente monitorados. Para limpeza dos
equipamentos devem-se utilizar agentes adequados e em intervalos regulares de tempo,
observando-se as técnicas de procedimentos recomendadas pelo fabricante. Os
desinfetantes devem ser trocados periodicamente para não devolver formas de
microrganismos resistentes.
A limpeza da câmara deve ser feita por pessoal devidamente treinado e
conhecedor do risco a que está expondo seguindo as instruções do fabricante. O
certificado contendo o laudo de manutenção da câmara deve ser fornecido por empresa
idônea. A câmara deve ser instalada em uma área sem turbulência e sem frequente
tráfego de pessoas.
A movimentação excessiva das mãos, o excesso de materiais, ou objetos de
grandes volumes distribuídos no espaço destinado à manipulação dos fármacos, dificulta
a circulação do ar e gera um ambiente de ventilação instável, que prejudica a eficiência
da câmara.

PROCEDIMENTOS TÉCNICOS PARA MANIPULAÇÃO


DE ANTINEOPLÁSICOS

Os antineoplásicos para uso oral não são prescritos com muita frequência, e muito
embora os fármacos nesta apresentação já estejam prontos para a dispensação, são
necessários alguns cuidados ao manuseá-los. A operação mecânica de fracionamento dos
comprimidos ou individualização das cápsulas para dispensação faz liberar pó, cuja
composição é semelhante a das formas farmacêuticas que lhes deram origem. Quando o
fracionamento requer ajuste da dose, a operação farmacêutica envolve atividades
minuciosas, como pulverização, pesagem e/ou dissolução de fármaco. É conveniente que
41

se tenha um local exclusivo, com ventilação natural adequada para esta operação, dotado
de um sistema exaustão de tal forma que as partículas não contaminem o ambiente de
trabalho. É indispensável que o trabalhador esteja equipado com o EPI adequado.
Na execução das atividades de manipulação de quimioterapia é aconselhável que
o farmacêutico tenha auxiliares, tendo como atribuições:
❖ Ligar e preparar CSB;
❖ Separar o material;
❖ Suprir a sala de manipulação com todos os materiais necessários ao
preparo das soluções, rotulá-las e acondicioná-las adequadamente;
❖ Limpar e desligar a câmara;
❖ Adicionar adequadamente todos os resíduos de antineoplásicos.
Essas atribuições possibilitam maior segurança ao manipulador, uma vez que este
não precisa se levantar ou se movimentar muito enquanto manipula podendo desenvolver
sua atividade com destreza e a rapidez que a técnica exige. Além disso, viabiliza um
trabalho mais racional, evitando erros, desperdícios e diminuindo custos.
São necessárias algumas precauções para minimizar a formação de aerossol no
ambiente de trabalho, tais como: a diluição deve ser rápida, cuidadosa e com rigorosa
técnica asséptica; deve-se ter cuidado de não deixar ar dentro da seringa, colocando o
bisel em contato com o líquido de dentro do frasco-ampola; afim de não aspirar o ar
existente; a seringa deve ser selecionada de acordo com o volume a aspirar.
A sequência para a manipulação dos antineoplásicos segue, em linhas gerais, os
seguintes passos:
❖ Análise das prescrições, realização dos cálculos e confecção dos rótulos;
❖ Separação e limpeza do fármaco e da bolsa de diluente. Conduzi-los à
sala de transferência e desta à sala de manipulação;
❖ Após se desfazer de todos os adornos pessoais, faz-se a antissepsia das
mãos e antebraços. Segue-se a paramentação com os EPIs;
❖ Cubra a bancada com um campo de plástico e, sobre este, outro campo
de papel absorvente, ambos estéreis;
❖ O auxiliar vai distribuindo o material sobre a bancada à medida que
forem sendo desenvolvidas as atividades de manipulação;
❖ Posicionar-se junto à câmara e calçar as luvas cirúrgicas;
❖ Proceder à reconstituição do fármaco e à sua diluição de acordo com as
técnicas de manipulação farmacêutica, observando a dose prescrita pelo médico;
42

❖ Conectar o equipo e verificar a ocorrência de vazamento;


❖ Entregar ao auxiliar para a rotulagem;
❖ A utilização de gazes estéreis é sempre recomendada para dar mais
segurança, no momento de quebrar a ampola, aspirar a solução do frasco- ampola e ao
adicionar o medicamento reconstituído à bolsa de sistema fechado, contendo soro
fisiológico, glicosado ou outro diluente.

SEGURANÇA NA MANIPULAÇÃO DE QUIMIOTERAPIA

Diante da evidência do risco de exposição ocupacional em que ocorre a


possibilidade dos antineoplásicos causarem mutação e câncer em trabalhadores expostos,
muitos países têm elaborado recomendações para a manipulação segura destes agentes.
Alguns trabalhadores se expõem desnecessariamente a esses agentes, porque não
são devidamente treinados e educados para trabalhar com agentes potencialmente tóxicos.
Técnicas perfeitas de manipulação são muito difíceis de serem executadas, os
equipamentos de manipulação não são absolutamente infalíveis. Por isso, é muito
importante que seja adotado um programa bem estruturado para a proteção do meio
ambiente e do trabalhador que manuseia antineoplásicos.
Os agentes antineoplásicos devem ser preparados em CSB classe II, tipo B2, de uso
exclusivo, obtida de empresa idônea, instalada por pessoal devidamente habilitado e
treinado. Deve ser instalada em uma área sem turbulência, com ar filtrado, devendo ser
ligada de 15 a 30 minutos antes de iniciar os trabalhos e desligada de 15 a 30 minutos após
terminá-los, ou conforme orientação do fabricante.
Deve-se incluir na manutenção da câmara a troca de pré-filtro e do filtro HEPA,
seguindo rigorosamente as orientações do fabricante, de forma a garantir a eficiência
operacional e a integridade dos processos eletromecânicos. O tempo de duração dos filtros
de alta eficiência (HEPAs) é, em média, de três anos, dependendo dos cuidados utilizados
na técnica de manipulação dos produtos.
A limpeza da área crítica deve ser feita com produto apropriado, antes do trabalho
e após o término das atividades, em concordância com as boas práticas da Farmácia. A
parte externa da câmara deve ser limpa com detergente suave e a parte interna com álcool
70%, lembrando que este produto em excesso pode danificar as borrachas de vedação. O
trabalhador deve utilizar capote de tyvec com gorro e botas, fechado na frente, com
mangas longas e punhos. Deve usar ainda luvas cirúrgicas, óculos panorâmico de
43

segurança e respirador classe P3.


As soluções preparadas devem ser colocadas em recipientes impermeáveis
rígidos, com tampa, e transportados até o local de administração em carrinhos, de modo
a prevenir quebra e/ou vazamentos. O trabalhador deve estar adequadamente equipado.
O lixo contendo antineoplásicos deve ser coletado em lixos resistentes à
perfuração e a vazamentos de líquidos ou vapores, os quais são colocados em sacos de
plástico grosso, identificados como lixo tóxico e conduzidos à incineração. O lixo
contaminado com esses agentes não deve ser misturado com outro material a ser
descartado.
A desativação química do material contendo resíduos de antineoplásicos só deve
ser feita por pessoal habilitado e devidamente treinado. A estocagem deve ser feita em
prateleiras com proteção frontal, desenhadas especificamente para produtos perigosos,
para prevenir quebras e vazamentos. Os agentes termolábeis devem ser guardados em
geladeira, separados dos demais medicamentos e devidamente identificados.
As normas escritas de manipulação e procedimentos técnicos de segurança devem
ser colocadas em local de fácil acesso aos trabalhadores de antineoplásicos e sempre que
houver dúvidas, as mesmas devem ser dirimidas.
Deve-se desenvolver uma política de aderência dos trabalhadores ao programa de
segurança do trabalho.
A farmácia deve possuir documentos que contenham informações sobre a
toxicidade aguda, tratamento em caso de exposição acidental, inativadores químicos e
características fisioquímicas dos antineoplásicos manuseados.
É preciso desenvolver atividades de treinamento e educação de todos os
trabalhadores envolvidos com antineoplásicos.
Os trabalhadores expostos devem relatar, em fichas individuais, os acidentes de
trabalho, nomeando os antineoplásicos envolvidos e a forma de exposição.

CARACTERÍSTICAS E CLASSIFICAÇÃO DOS ANTINEOPLÁSICOS

Agentes químicos usados no tratamento do câncer para inibir o crescimento


celular, atuando sobre as moléculas que controlam a divisão e o desenvolvimento das
44

células.
O grupo farmacológico dos antineoplásicos inclui diversos agentes que atuam por
mecanismos complexos, por meio de interações desses com o ácido desoxirribonucleico
(DNA), ácido ribonucleico (RNA) e proteínas. Apesar do processo de interação não estar
bem esclarecido, sabe-se que os agentes antineoplásicos atuam de forma semelhante à
irradiação ionizante. Eles não destroem diretamente as células cancerígenas, porém,
impedem e/ou diminuem a habilidade de replicação do DNA, não possuindo ação seletiva
sobre os tecidos neoplásicos e apresentando efeitos cumulativos.
O efeito antineoplásico é dependente da ação citotóxica, afetando indistintamente
tanto as células normais quanto às células alteradas, especialmente aquelas que se dividem
rapidamente, como as da medula óssea, epitélio gastrointestinal, pele folículo piloso,
epitélio germinativo das gônadas e as estruturas embrionárias. Os pacientes
terapeuticamente expostos a esses agentes podem apresentar reações adversas, como
náuseas, vômitos, alopecia, hiperpigmentação, reações cutâneas e efeitos tóxicos em
diversos órgãos: coração, rins e pulmões.
A classificação dos antineoplásicos é feita de forma empírica, com base no
mecanismo de ação sobre o ciclo de reprodução celular.
Estão distribuídos entre os grupos:

❖ Agentes Alquilantes
Constituem um grupo de várias substâncias químicas, cuja característica comum
é a alquilação do DNA. As células expostas a um agente alquilante têm átomos de
hidrogênio substituídos por um radical alquil, resultando em ligação cruzada e formação
de bases anormais nas moléculas de ácido desoxirribonucleico (DNA). Entre esses estão
mostarda nitrogenada, ciclofosfamida, ifosfamida, bussulfano, carmustina, estreptozocin,
dacarbazina.
Todos os antineoplásicos da classe dos alquilantes apresentam reações adversas
sobre o sistema reprodutivo, causando amenorreia muitas vezes permanente,
particularmente em mulheres com idade próxima à menopausa e, no homem, pode causar
azospemia irreversível e oligospermia. Podem causar efeitos irritantes por contato direto
com a pele e, dependendo da intensidade da lesão, podem produzir efeitos sistêmicos. São
agentes de atuação inespecífica, isto é, atuam em qualquer fase do ciclo de reprodução
celular.
45

❖ Agentes antimetabólicos
Constituído por fármacos que interferem em diversos processos metabólicos
celulares, resultando em interrupção da síntese de ácidos nucleicos.
Podem agir por duas maneiras: por incorporação do fármaco em substituição a
um constituinte normal da célula; ou por inibição de uma enzima do metabolismo celular.
Os efeitos tóxicos originados da ação dos antimetabólitos se manifestam por meio
de náuseas, mielossupressão grave, estomatite e alopecia moderada.
Entre os agentes antimetabólicos estão o metotrexate, 5-fluorouracil, citarabina,
tioguanina, mercaptopurina.
Estes agentes são tóxicos para todas as células normais, especialmente as que se
dividem rapidamente, com potencial teratogênico e mutagênico, e quando administrados
por tempo prolongado pode levar à cirrose e a fibrose hepática.

❖ Antineoplásicos naturais
O grupo dos antineoplásicos naturais é formado por alcaloides derivados da vinca,
etoposido e teniposido, antibióticos e paclitáxel.
Estas substâncias são agentes ciclocelulares específicos que bloqueiam as células
em mitose. As atividades biológicas desses fármacos estão na capacidade de ligar-se
tubulina, interferindo no funcionamento dado pelo sistema de microtúbulos, que é um dos
componentes do fuso mitótico. Por meio da destruição dos microtúbulos, a divisão celular
é detida na metástase. A ação tóxica mais importante é a mielossupressão e toxicidade
neurológica. O etoposido e o teniposido estão classificados dentro do grupo dos agentes
antineoplásicos naturais, por serem fármacos semissintéticos derivados da podofilotoxina.
Esses agentes ligam-se à tubulina em locais diferentes daqueles usados para interação com
os alcaloides da vinca. Seu mecanismo de ação parece estar relacionado com a ruptura da
alça dupla do DNA. Seu efeito principal ocorre na fase terminal S e inicial G2 do ciclo de
reprodução celular. Foram observadas duas diferentes respostas em função da dose:
▪ Em altas concentrações – foi observado lise das células entrando em
mitose;
▪ Em baixas concentrações – foi observado que as células são inibidas ao
iniciar a fase de prófase.
O etoposido e o teniposido têm a sua ação citotóxica manifestada por leucopenia,
trombocitopenia, neurotoxicidade, toxicidade hepática, febre, flebite, dermatite e reações
alérgicas.
46

Os antineoplásicos classificados como antibióticos resultaram da triagem de


produtos antimicrobianos, que levaram à descoberta de diversos inibidores de
crescimento celular, os quais se mostraram úteis no tratamento do câncer. Todos os
antibióticos antineoplásicos, clinicamente úteis, são produtos semissintéticos, derivados
de várias cepas, do fungo streptomyces.
Os antibióticos antineoplásicos dactininicina-D, daunorrubicina, doxorrubicina,
bleomicina e mitomicina se ligam fortemente à dupla hélice do DNA, por meio da
intercalação entre as bases púricas e pirimidínicas, interrompendo o prolongamento da
cadeia de DNA e causando graves distorções cromossômicas. Essas distorções bloqueiam
a síntese de novo RNA, do DNA ou ambos, provocando a ruptura das fitas de DNA e
impedindo a duplicação celular. Os efeitos tóxicos são imunossupressão,
cardiotoxicidade (aguda e acumulativa) e alopecia; e são vesicantes ao entrar em contato
direto com a pele. Outros efeitos adversos são náuseas, estomatite e nefrotoxicidade.
O paclitaxel promove formação e agrupamento anormal e a instabilização dos
microtúbulos formados. Liga-se à subunidade beta-tubulina antagonizando a desmontagem
dessa proteína, fazendo com que estruturas aberrantes apareçam nas células. Segue-se a
parada da mitose podendo ocorrer morte celular. A ação citotóxica é manifestada por
reações de hipersensibilidade ao fármaco, como rubor, dispneia, hipotensão, taquicardia,
neurotoxicidade, cardiotoxicidade e hepatixicidade.

❖ Agentes diversos
O grupo de agentes diversos é composto pelos antineoplásticos cisplatina,
carboplatina, hidroxiureia, procarbazina, dacarbazina e mitutano, L-asparaginási. Esses
compostos possuem um mecanismo de ação variado e pouco elucidado, agindo em fase
inespecífica do ciclo celular. Interferem na duplicação do DNA, inibindo a multiplicação
das células por meio de alterações cromossômicas em tecidos neoplásicos e em tecidos
normais. Podem causar toxicidade neurológica, com efeitos cumulativos, como
formigamento e entorpecimento das extremidades, náuseas, vômitos, anorexia,
hiperuricemia, granulocitopenia, nefrotoxicidade, desequilíbrio eletrolítico e neutropenia.
Inclui ainda leucopenia e trombocitopenia e imunossupressão. A procarbazina é
altamente carcinogênica, mutagênica e teratogênica. Tem sido relacionada também
infertilidade, particularmente em homens. O agente antineoplástico L-asparaginasi é uma
enzima que, ao catalisar a hidrólise da asparagina circulante, priva essas células da
asparagina necessária à síntese de proteína, podendo levar à morte celular. Os efeitos
47

tóxicos mais significantes são de hipersensibilidade, hiperglicemia, anormalidades de


coagulação e supressão da função imune.

ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA AO PACIENTE ONCOLÓGICO

A eficácia dos fármacos antineoplásicos é alcançada mediante o seu potencial


citotóxico, indicando que pequenas variações nas doses podem gerar graves danos ao
paciente. Se forem preparadas doses ligeiramente menores do que as prescritas, poderão
não produzir o efeito esperado e, se as doses forem ligeiramente maiores, poderão gerar
um quadro de toxicidade, que pode ser letal. As doses prescritas devem ser
rigorosamente atendidas. Deve-se ainda considerar que os doentes portadores de câncer
são imunossuprimidos, quer pela doença de base, quer pelo fármaco que lhe está sendo
administrado. É necessário, portanto, a utilização de uma técnica rigorosamente
asséptica para o preparo das soluções parenterais, contribuindo dessa maneira para
evitar quadros de infecção e septicemia.
O farmacêutico que atende ao paciente oncológico ajuda na detecção de sintomas
indicativos de sobreposição de toxicidades. É aconselhável que o farmacêutico sugira a
diminuição das doses de pelo menos um dos componentes do esquema terapêutico. É
também aconselhável que o farmacêutico em qualquer situação acompanhe a evolução
clínica do paciente se inteirando das reações colaterais significantes, verificar se o
medicamento está sendo administrado no tempo prescrito pelo médico e a forma como
está sendo acondicionado na clínica.
48

REFERÊNCIAS

BRASIL. Portaria nº 3.616/MS/GM, de 30 de outubro de 1998. Aprova a Política


Nacional de Medicamentos.
Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993. Institui normas para licitações e contratos
de administração pública.
Lei nº 10.520, de 17 de julho de 2002. Institui a modalidade de licitação
denominada pregão, para a aquisição de bens e serviços comuns.
GOODMAN & GILMAN. As bases farmacológicas da Terapêutica. Rio de
Janeiro: Mcgraw-Hill Interamericana, 2007.
GOMES, M. J. V. M.; REIS, A. M. M. Ciências farmacêuticas: uma abordagem
em farmácia hospitalar. São Paulo: Atheneu, 2006.
NETO, J. F. M. Farmácia Hospitalar e suas interfaces com a saúde. São Paulo:
RX, 2005.
49

http://www.ineves.com.br

Você também pode gostar