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A importância da farmacoeconomia |
Colunista

Farmacêutico da Sanar
Leitura de 9 min
• 12/05/2021

Farmacoeconomia: o que é, de onde veio, sua relevância e desafios


para o futuro

A farmacoeconomia pode ser caracterizada como a união da teoria econômica com


o setor da saúde, e constitui uma subdivisão da área da Economia em Saúde, a qual
é responsável por otimizar as ações como forma de assegurar a melhor assistência
e condições de saúde da população. Posto isso, a farmacoeconomia procura
descrever e analisar os custos da terapia médica para o sistema de saúde e para a
sociedade (AREDA; BONIZIO; FREITAS, 2011).

O termo “Farmacoeconomia” surgiu no final da década de 80 com a publicação do


estudo “Post Marketing Drug Research and Development” de Townsend.
Entretanto, os conceitos de análise de custo-benefício e custo-efetividade dentro
da área farmacêutica já estavam sendo discutidos desde a década de 70 por meio
de publicações de pesquisadores da Universidade de Minnesota (SECOLI et al., 2005).

A importância dos estudos farmacoeconômicos reside no fato de que os resultados


obtidos por meio destes contribuem tanto para o uso racional de medicamentos,
como também para uma melhor distribuição dos recursos e serviços disponíveis
na área da saúde. Isto porque as análises farmacoeconômicas relacionam o custo
das terapias disponíveis com tópicos como segurança, eficácia e qualidade das
diferentes terapias médicas (AREDA; BONIZIO; FREITAS, 2011).

A utilização desses estudos no gerenciamento de recursos no setor da saúde ganha


ainda mais relevância diante do atual contexto mundial de aumento dos gastos
com saúde, em decorrência da introdução de novas tecnologias no setor,
envelhecimento e alterações no perfil de morbimortalidade da população e, mais
recentemente, da Pandemia de COVID-19 (SECOLI et al., 2005).

Segundo Vieira (2018), as despesas com medicamentos no Sistema Único de Saúde


(SUS) passaram de R$ 14,3 bilhões em 2010 para quase R$ 20 bilhões em 2015,
com um crescimento de 40%. Além disso, a autora aponta que do período de 2010
a 2016 as despesas com medicamentos e com ações e serviços públicos de saúde
cresceram em 52,9% e 6,3%, respectivamente.

Os medicamentos são tidos como insumo fundamental para os serviços de saúde e


relevante produto comercial, e dentro dos gastos com saúde representam uma
expressiva parcela dos custos, sendo que no contexto hospitalar são capazes de
gerar um aumento de 15 a 25% na conta hospitalar. A alta dos custos com esse
insumo, por vezes chega a ser o dobro ou o triplo ao da inflação, requerendo assim
uma atenção especial dos administradores nessa área, principalmente no setor
público devido à escassez de recursos, o que torna necessário a racionalização de
medicamentos, de maneira que a população não seja prejudicada pela falta de
medicamentos essenciais (HERRERA, 2004; RASCATI, 2013; RIBEIRO; SECOLI, 2008).

A equipe clínica e demais profissionais da saúde visam sempre que seus pacientes
recebam o melhor tratamento com os resultados clínicos mais favoráveis
associados, ao passo que o governo e as operadoras de planos de saúde e seguros
buscam alcançar tal objetivo por meio do gerenciamento dos custos. Nesse âmbito,
a farmacoeconomia pode atuar como uma boa ferramenta que relaciona tais
objetivos por meio da estimativa do valor dos resultados clínicos obtidos pelos
insumos (medicamentos e serviços) utilizados (RASCATI, 2013).
Assim, o campo para aplicação dos estudos farmacoeconômicos é bem amplo e
abrange tanto o setor público (podendo ser usado, por exemplo, no
desenvolvimento de políticas públicas na área da saúde e na gestão de serviços de
saúde públicos) quanto o setor privado (na gestão de hospitais privados, na
negociação de preços e na indústria farmacêutica para a decisão de
desenvolvimento e precificação de novos fármacos).

O uso de análises farmacoeconômicas para a avaliação de novas tecnologias em


saúde já é rotina em países como Canadá e Austrália, os quais a utilizam no
momento de decisão para incorporação de medicamentos nos formulários
terapêuticos de seus sistemas de saúde. Na Inglaterra, o National Institute for
Health and Clinical Excellence (NICE), organização independente do governo e
responsável por prover diretrizes sobre o uso de tecnologias em saúde, utiliza
todas as evidências clínicas e econômicas disponíveis em suas avaliações de
adoção de novas tecnologias para o NHS (Sistema Nacional de Saúde do Reino
Unido) (STARKIE; BRIGGS; CHAMBERS, 2008).

Nesses e nos demais países desenvolvidos, tais estudos além de auxiliar no


controle de gastos e decisões clínicas, podem ser aplicados como forma de
melhorar a eficiência (melhor efetividade pelo menor custo) do tratamento. Ao
passo que em países em desenvolvimento, as análises farmacoeconômicas
apresentariam como foco a seleção de medicamentos, para a composição de
formulários nacionais, de modo que seja garantido o uso racional (prescrição
adequada, disponibilidade, acesso e uso correto dos medicamentos) para toda a
população, mesmo na presença de um orçamento para saúde limitado (HERRERA,
2004).

Entretanto, o desenvolvimento e uso de estudos farmacoeconômicos ainda é


incipiente, em função da falta de conhecimento sobre essa disciplina relativamente
nova, a falta de padronização e guias voltadas para a farmacoeconomia e a escassez
de profissionais da saúde com expertise nessa área. Além disso, os estudos
individuais e as revisões sistemáticas já existentes na literatura dessa área
apresentam escassez de detalhes em suas avaliações, bem como o emprego de
diferentes metodologias, o demonstra falta de padronização metodológica e acaba
por impactar na qualidade de tais estudos, assim como na confiança em seus
resultados por parte dos agentes responsáveis por decisões na área da
saúde (IBRAHIM et al., 2019; MIN et al., 2021; SANCHO; VARGENS, 2009).

No Brasil, com a instituição da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias


no SUS (CONITEC) em 2011, a análise econômica se tornou parte dos critérios
utilizados para avaliação de tecnologias a serem incorporadas no SUS. No entanto,
mesmo com a CONITEC e com a criação de diretrizes metodológicas para a
realização de análises econômicas, ainda existem diversos desafios a serem
superados para a consolidação do uso da farmacoeconomia como ferramenta para
uso racional dos recursos na área da saúde no Brasil, por conta da pouca
familiaridade tanto da academia como dos gestores com esse tema
econômico (ANTONINI RIBEIRO et al., 2016; SANCHO; VARGENS, 2009).

É perceptível que a farmacoeconomia é um campo com grande potencial e ainda


com diversos pontos a serem explorados e padronizados, visando uma
popularização do uso de tais estudos nos processos de tomada de decisões para a
saúde, tanto na esfera pública como na privada.

Principais estudos farmacoeconômicos

Os estudos farmacoeconômicos realizam uma comparação entre o custo total e a


qualidade (efeitos clínicos e humanísticos) das diversas terapias, esta relação
implicada na utilização de uma terapia é expressa pela eficiência. A classificação
dos custos pode ser vista na Figura 1. A qualidade de uma terapia, também
conhecida como outcome, é acessada por meio do seu resultado ou desfecho
clínico apresentado pelo paciente frente à morbidade tratada, por exemplo, na
análise farmacoeconômica de um novo medicamento possíveis outcomes são os
eventos adversos, índice de cura, adesão do paciente ao tratamento, dentre
outros (AHMAD et al., 2013; RIBEIRO; SECOLI, 2008).
Figura 1 – Classificação dos custos.

Fonte: Autoria própria (2021).

Existem 4 tipos principais de análises farmacoeconômicas, sendo


elas:

• Minimização de custo: avaliação mais simples, realizada para comparar


somente custos de terapias com benefícios semelhantes; os resultados são
expressos em unidades monetárias;
• Custo-benefício: análise mais completa que compara as terapias e seus
outcomes tendo a unidade monetária como referência. No entanto, não
abrange os custos intangíveis; pode ser utilizada para a comparação de
procedimentos médicos e não-médicos e verificar opções de investimento;
• Custo-efetividade: demonstra seus resultados em custo por unidades
clínicas (anos de vida ganho, dias sem dor, etc.) como forma de permitir a
comparação de diferentes intervenções terapêuticas. Análise mais utilizada
na farmacoeconomia; pode avaliar opções terapêuticas que resultem em
diferentes níveis de benefícios a saúde.
• Custo-utilidade: análise mais complexa que as anteriores, além dos dados
referentes aos outcomes e custo, a satisfação obtida pelo alvo da
intervenção (o paciente, por exemplo) também é considerada no resultado
da avaliação, os quais são expressos em custo por Anos de Vida Ajustados
por Qualidade – AVAQ (sigla em inglês: QALY); pode ser utilizada para a
análise de qualquer terapia (AHMAD et al., 2013; BODROGI; KALÓ, 2010; SECOLI et
al., 2005).

Tais métodos podem ser aplicados em análise de porte individual ou local até
mesmo pesquisas de porte nacional. Além disso, é importante assegurar a
qualidade dos dados que serão utilizados em tais estudos, por meio do uso de
padronização e validação dos dados recolhidos como forma de não invalidar os
resultados obtidos, nem gerar estimativas equivocadas (RASCATI, 2013).

Ademais, é preciso lembrar que durante um processo de tomada de decisão, além


dos resultados dos estudos da área da Economia em Saúde, aspectos sociais, legais,
éticos e políticos também são levados em consideração, sendo incorporados nesse
processo (RASCATI, 2013).

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