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Aula 06 - Provas
Aula 06 - Provas
DISCIPLINA
ASPECTOS PROCESSUAIS PENAIS
CONTEÚDO
Provas - Parte I
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Sumário
Sumário------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 3
1 Teoria Geral da Prova ------------------------------------------------------------------------------------ 5
1.1 A Construção da Verdade ---------------------------------------------------------------------------------------------- 6
2 Princípios Norteadores da Teoria Geral da Prova ------------------------------------------------ 8
2.1 Princípio da identidade física do juiz ------------------------------------------------------------------------------- 8
2.1.1 Exceções ao princípio da identidade física do juiz -------------------------------------------------------------------------- 9
2.2 Princípio da inadmissibilidade das provas obtidas por meios ilícitos------------------------------------ 10
2.2.1 Provas ilícitas ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 12
2.2.2 Provas ilegítimas ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 13
2.2.3 Consequências da distinção entre prova ilícita e ilegítima ------------------------------------------------------------- 15
2.2.4 Exceções ao Desentranhamento e Destruição de Provas -------------------------------------------------------------- 16
2.3 Prova ilícita por derivação (fruto da árvore envenenada) -------------------------------------------------- 18
2.3.1 Entendimento do STJ quanto às autorizações expressas de entrada ----------------------------------------------- 20
2.4 Limitações da prova ilícita por derivação ----------------------------------------------------------------------- 20
2.9 Princípio da Comunhão da Prova ---------------------------------------------------------------------------------- 25
2.10 Princípio da Liberdade Probatória--------------------------------------------------------------------------------- 26
2.10.1 Restrições quanto ao momento da prova ------------------------------------------------------------------------------ 26
2.10.2 Restrições no Julgamento em Plenário do Tribunal do Júri -------------------------------------------------------- 27
2.10.3 Restrições quanto aos meios de prova ---------------------------------------------------------------------------------- 28
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A prova judiciária tem um objetivo claramente definido: a reconstrução dos fatos investigados
no processo, buscando a maior coincidência possível com a realidade histórica, isto é, com a
verdade dos fatos, tal como efetivamente ocorridos no espaço e no tempo. A tarefa, portanto,
é das mais difíceis, quando não impossível: a reconstrução da verdade (PACELLI, 2019).
À luz dessa explicação, vemos que a prova existe para possibilitar a reconstrução dos
fatos investigados, buscando sempre se aproximar ao máximo da realidade histórica,
embora esta não seja uma tarefa muito fácil. Neste sentido, corrobora Nucci (2020) ao
dizer que, “quando se busca provar um fato juridicamente relevante, na investigação
ou no processo, deve-se ter a noção de que a busca findará em torno de algo
supostamente verdadeiro (que tenha ocorrido na realidade), levando à presunção de
credibilidade em outro fato, juridicamente importante para o feito”.
A lógica que se perseguia então era que, se o objeto do processo penal era a busca
pela verdade real, isto é, chegar ao fato que ocorreu, à forma e ao locam em que
realmente ocorreu, não deveriam ser medidos os esforços para alcançar este objetivo.
E, nesse contexto, ao verificar alguma deficiência probatória no processo, o juiz podia
intervir para determinar medidas de ofício, caracterizando-se como um dos agentes
que efetivamente saia em busca dessa verdade e que investigava os fatos; daí a
presença do traço inquisitório e centralizador na figura do juiz no nosso Código de
Processo Penal, que vem sendo superado pouco a pouco.
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Atualmente, a busca pela verdade ainda persiste, mas a ideia de que, no processo
penal, essa busca é pela “verdade real” já foi desconstruída, tendo em vista que a
verdade produzida no processo, como afirma Nucci (2020), é fruto de uma tarefa
quase impossível, que, se fosse perseguida a todo custo, poderia ser utilizada como
justificativa para diversas práticas reprováveis, tais como a tortura, a escuta ilegal, a
violação de domicílio, entre outras.
Essa busca pela verdade real, que um dia foi perseguida no processo penal, precisou
ser esquecida em nome do processo penal acusatório adotado pela Constituição
Federal e pelo Código de Processo Penal e da produção probatória, observada toda a
legalidade e personalidade.
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No Código de Processo Civil de 1973, revogado pelo novo Código de Processo Civil
de 2015, existia a previsão, no art. 132, do princípio da identidade física do juiz. Esse
princípio estabelece como obrigação que o julgamento de determinada causa seja
feito pelo juiz que procedeu a instrução, pois entende que o juiz que está em melhor
condição de proceder ao julgamento de determinada causa é o juiz que teve contato
com a produção probatória durante todo o processo penal. Embora este princípio não
esteja presente no Código de Processo Civil de 2015, foi incluído, em 2008, no Código
de Processo Penal
CPP. art. 399, § 2º. O juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença .
Antes da positivação desse princípio no Código de Processo Penal, não era raro que
um processo passasse por diversos juízes após a instrução, que os interrogatórios
fossem concedidos por mais de um juiz, que fosse removido de um local para o outro
e julgado por um juiz substituto. Contudo, agora o juiz que instrui o processo é o
mesmo que ouve as testemunhas, procede o interrogatório do réu, analisa o processo
para poder conduzir a audiência de instrução e julgamento e profere a sentença.
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É importante ressaltar, todavia, que o Código de Processo Penal não trouxe nenhuma
exceção à aplicação do princípio da identidade física do juiz, o que fez com que alguns
autores levantassem diversas questões relacionadas, por exemplo, à situação do
processo em caso de férias, aposentadoria ou remoção do juiz. Estes ficariam parados
durante as férias esperando o retorno do juiz? Deveriam ser todos concluídos antes
do juiz se aposentar? E, em caso de remoção, deveriam ser encaminhados ao seu novo
gabinete? Todas essas questões não possuem muito fundamento, assim passaram a
ser consideradas algumas exceções, não previstas no CPP, ao princípio da identidade
física do juiz. São elas:
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A nossa Constituição Federal estabelece, no art. 5º, inciso LVI, que são inadmissíveis
as provas obtidas por meios ilícitos, embora não defina o que é uma prova ilícita. Essa
disposição está prevista na Constituição, em primeiro lugar, porque ela não adota a
premissa de que os fins justificam os meios, logo não admite que se tenha contato
com uma prova sem que seja observada a forma adequada para se chegar a ela.
Isso não significa que não temos a possibilidade de aplicar os direito e garantias
fundamentais nas relações entre particulares. Mas, especialmente em se tratando de
matéria de Processo Penal, ainda que levado a efeito por um particular, o processo
penal é centralizado pelo Estado, pois o poder de punir é do Estado. Assim, sempre
que uma tutela penal precisar ser implementada, ela o será por meio do Estado. Neste
caso, especificamente em relação às provas obtidas por meios ilícitos, o fato de o
destinatário ser o Estado ganha especial relevância, dada a possibilidade de utilização
da prova ilícita a favor do réu.
Com isso é oportuno apontar que, embora a Constituição não faça qualquer ressalva
ao contexto em que o destinatário da vedação à utilização de provas ilícitas é
essencialmente o Estado, é possível inferir que existe a possibilidade da utilização da
prova ilícita caso ela seja favorável ao réu.
Isso não significa, por óbvio, que o particular possa usar qualquer prova ilícita, uma
vez que o interesse do Estado de efetivar uma tutela penal está sempre presente,
mesmo que a produção de prova seja do particular. Mas, neste caso, o
posicionamento da doutrina (já adotado pela jurisprudência) é de que o princípio da
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Por exemplo, uma gravação que foi feita sem autorização judicial deixa claro que não
foi aquele réu que praticou o crime, mas sim outra pessoa. Essa prova pode ser
utilizada para absolver o réu que está sendo acusado, mas não pode ser utilizada para
justificar a condenação da outra pessoa, ou mesmo para ser juntada ao processo
contra a outra pessoa. Quando o princípio da proporcionalidade entra em choque
entre dois direitos individuas, deve sempre prevalecer o que melhor protege o
indivíduo.
Por fim, é impossível utilizar a prova ilícita em favor da sociedade. Isto é, não podemos
ter o Estado comentando práticas ilícitas para qualquer finalidade, ainda que seja para
condenar o culpado. Entende-se que é melhor absolver o culpado do que condenar o
inocente, e quando ocorrer a condenação do culpado, que ocorra com a observância
do devido processo legal e da obtenção das provas por meios unicamente lícitos.
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No caso da lava jato, existe uma tendência à decisão do Supremo Tribunal Federal
pelo reconhecimento da parcialidade do Juiz Sérgio Moro, por conta de conversas
interceptadas entre ele e os integrantes do Ministério Público da operação lava jato
no aplicativo Telegram. É fato incontroverso que essas conversas foram obtidas por
meio criminoso, mas, diante da situação concreta do processo em análise, também
não temos uma prova cabal da inocência do ex-presidente Lula, pelo contrário, em
relação a ele, temos a condenação do juiz, que seria parcial, a confirmação por uma
turma do TRF da 4ª Região, composta por três desembargadores, e a confirmação
pelo STJ, composta por vários ministros.
A pergunta que vem sendo feita é a seguinte: seria possível utilizar a extração de
conversas obtidas por meio criminoso para reconhecer a parcialidade do juiz e, com
isso, anular o processo e fazê-lo recomeçar? Para essa questão ainda não temos
resposta, mas o caminho que o Supremo está trilhando parece indicar ser possível
sim, uma vez que a turma já julgou com base no conhecimento dessas conversas
obtidas por meio criminoso.
Segundo Renato Brasileiro, outra característica da prova ilícita é que ela normalmente
pressupõe que a violação ocorra no momento da colheita da prova e seja externa ao
processo, independentemente de ocorrer em momento anterior ou concomitante a
ele. Além disso, pontua, quanto à possibilidade da produção de prova ilícita em juízo,
o seguinte:
Apesar de, em regra, a prova ilícita ser produzida externamente ao processo, nada impede que
sua produção ocorra em juízo. Basta imaginar, v.g., que o magistrado obtenha a confissão do
acusado em seu interrogatório judicial, sem prévia e formal advertência quanto ao seu direito
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ao silêncio (CF, art. 5º, LXIII). Nesse caso, é possível concluir-se pela presença de prova ilícita
produzida no curso do próprio processo (LIMA, 2020).
Para contextualizar esse exemplo, é importante entender que, antes da reforma trazida
pela Lei n. 11.690 de 2008, a inquirição das testemunhas ocorria da seguinte maneira:
primeiramente o juiz fazia as perguntas, e então abria para as partes fazerem
perguntas, sendo que tudo o que era dito por elas passava pelo filtro do juiz, ou seja,
a parte perguntava para o juiz, que perguntava para a testemunha, que respondia ao
juiz, e assim por diante. Após a reforma, o juiz inicia a inquirição abrindo diretamente
para as partes fazerem perguntas (a parte arrolada pergunta primeiro), e caso restem
esclarecimentos a serem tomados pelo magistrado, então ele fará perguntas, mas
somente de forma residual.
No informativo 1012/2021 consta um caso de uma juíza que ainda adotava o método
antigo na inquirição de testemunhas, entendendo que não havia problema nisso. O
Supremo reconheceu que este caso consistia em uma causa de nulidade e que a prova
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era uma espécie de prova ilegítima, pois violava uma noma de direito processual ao
não observar a formalidade prevista em lei. Observe o julgamento a seguir.
Informativo 1012/2021
1.2 PRIMEIRA TURMA
DIREITO PROCESSUAL PENAL – PROVAS
RESUMO:
Não cabe ao juiz, na audiência de instrução e julgamento de processo penal, iniciar a
inquirição de testemunha, cabendo-lhe, apenas, complementar a inquirição sobre os
pontos não esclarecidos.
Assim dispõe o art. 212 do Código de Processo Penal (CPP) (1) o qual prevê a possibilidade
de o próprio juiz veicular perguntas apenas se verificados, ante o questionamento das
partes, pontos não esclarecidos (2).
Não pode o magistrado, em substituição à atuação das partes, ser o protagonista do ato
de inquirição e tomar para si o papel de primeiro questionador das testemunhas, mesmo
porque compete às partes a comprovação do quanto alegado (3).
Com base nesse entendimento, a Primeira Turma, por maioria, deferiu a ordem de habeas
corpus, para reconhecer a nulidade do processo-crime a partir da audiência de instrução,
com a necessária renovação do ato. Vencidos os ministros Alexandre de Moraes e Luís
Roberto Barroso.
(1) CPP: “Art. 212. As perguntas serão formuladas pelas partes diretamente à testemunha,
não admitindo o juiz aquelas que puderem induzir a resposta, não tiverem relação com a
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(2) Precedente: HC 111.815/SP, redator do acórdão Min. Luiz Fux (DJe de 14.2.2018).
(3) CPP: “Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado
ao juiz de ofício:”
A principal razão para se fazer a distinção entre provas ilícitas e provas ilegítimas é
compreender a consequência que cada uma apresenta dentro do processo. No caso
da prova ilícita, por exemplo, o resultado é o desentranhamento imediato da prova
dos autos, ou seja, a sua retirada do processo. Em um processo físico, por exemplo, a
prova é fisicamente retirada do processo e guardada para ser posteriormente
destruída, nos conformes do art. 157, § 3º do Código de Processo Penal (Preclusa a
decisão de desentranhamento da prova declarada inadmissível, esta será inutilizada
por decisão judicial, facultado às partes acompanhar o incidente).
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Por fim, acerca da possibilidade de existência de provas obtidas por meios ilícitos e
ilegítimos, simultaneamente, Renato Brasileiro explica:
Há doutrinadores que apontam, ainda, a existência da prova obtida por meios ilícitos e
ilegítimos, simultaneamente. Nessa hipótese, a prova é obtida mediante violação simultânea à
norma de direito material e processual. É o que ocorre, a título de exemplo, com uma busca e
apreensão domiciliar cumprida por uma autoridade policial, independentemente de prévia
autorização judicial, nem tampouco situação de flagrante delito. Em tal situação, haverá
violação de norma legal, na medida em que a conduta é prevista como crime de abuso de
autoridade (Lei nº 13.869/19, art. 22, caput), assim como de norma processual que prevê os
requisitos para a realização de busca e apreensão domiciliares (CPP, art. 240 a 250, c/c art. 5º,
XI, da Constituição Federal)
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esta será inutilizada por decisão judicial, facultado às partes acompanhar o incidente.
(Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)
Mas existem dois casos que, mesmo sem previsão no Código de Processo Penal, são
apontados pela doutrina como exceções à possibilidade de destruição da prova ilícita.
São eles:
Suponha que a polícia invada a casa de uma pessoa durante uma busca e apreensão
e lá efetue a apreensão de uma arma de fogo, e depois se reconheça a ilicitude dessa
prova, porém fica constatado que aquela arma de fogo era, na verdade, propriedade
de um terceiro de boa-fé, que demonstrou que morava na mesma casa. A arma estava
devidamente registrada em nome da pessoa, e não apresentava nenhuma ilegalidade.
Nesse caso, não há necessidade de destruir a prova, pois é um objeto que pertence a
um terceiro de boa-fé. O mesmo ocorre com o telefone celular que pertence a um
terceiro e é apreendido na residência sem a ordem judicial competente, não há motivo
para destrui-lo. Ou seja, casos em que a prova obtida de forma ilícita pertence a um
terceiro de boa-fé são uma exceção à destruição da prova.
Caso o material que tenha sido ilicitamente produzido sirva de corpo de delito para
um outro crime, também não deve ser destruído. Por exemplo, em um interrogatório
realizado na polícia os policiais começam a proceder à tortura do investigado, o que
resulta na confissão do investigado, a qual é juntada ao processo. Posteriormente,
descobre-se que a gravação sofreu uma edição e, ao chegar à mídia original, a tortura
também é descoberta; o juiz então reconhece a ilicitude dessa prova e determina o
seu desentranhamento. Para aquele processo, essa gravação não pode mais ser
utilizada como prova, porque ficou demonstrado que a confissão foi obtida por meio
ilícito. Mas essa mídia contém a agressão dos policiais ao particular e as cenas de
tortura, assim vai servir de corpo de delito para apuração do crime de abuso de
autoridade, de tortura e de qualquer outro crime que possa ser imputado aos policiais
que foram gravados naquela determinada situação.
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Toda teoria que envolve as limitações das provas ilícitas foi desenvolvida no direito
norte-americano e, dentre elas, uma das mais difundidas é a chamada teoria da prova
ilícita por derivação, ou teoria dos frutos da árvore envenenada (em inglês, Fruit of the
poisonous tree).
Essa teoria se utiliza da metáfora dos frutos para explicar que os frutos de uma árvore
envenenada, por mais que pareçam sadios, lindos e suculentos, também seguem o
mesmo destino da árvore, ou seja, também estão envenenados e contaminados.
Imagine, por exemplo, que alguém coloque um grampo ilegal em uma pessoa de
quem desconfia e por meio disso fique sabendo que será efetuado um transporte de
drogas. A polícia se posiciona estrategicamente, aborda o veículo que está
transportando os entorpecentes e efetua a prisão dos suspeitos, mas ao prestar o
depoimento, diz que havia recebido uma denúncia anônima. Se posteriormente for
descoberto que aquela informação foi obtida através de uma escuta ilegal, a prova
será considerada ilícita, e a prisão que foi realizada num contexto de criminalidade
evidente, que tem flagrante, que tem drogas, que foi confirmada, que aparentemente
seria lícita, por decorrer diretamente de uma informação obtida de maneira ilícita,
também será igualmente ilícita. Daí a metáfora: se a árvore estiver envenenada, o fruto
também estará.
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Essa ilicitude pode ocorrer também quando a polícia decide invadir uma residência,
apreender vários objetos, e dizer no depoimento que houve autorização expressa do
indivíduo para a entrada. Se ficar demonstrado que os policiais entraram sem
autorização, essa prova é ilícita e tudo o que foi apreendido lá dentro (mesmo que
seja um corpo) será também considerado ilícito. Isso ocorre porque se verifica nexo
causal entre as provas obtidas mediante essa prova ilícita.
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O STJ unificou o entendimento das suas duas turmas de direito penal e processual
penal dizendo que a autorização expressa de entrada à polícia tem que ser feita por
escrito e deve ser gravada.
Com isso, tem-se a priorização da versão do réu, que não tem a obrigação de falar a
verdade, que está na posição de defendido no processo, e afasta, com base nela, a
versão dos policiais, que são servidores públicos e têm presunção de veracidade no
que dizem. Não é que descartemos a possibilidade dos policiais se valerem da sua
condição para violar direitos e garantias fundamentais, mas, de modo geral, essa
ordem acaba causando uma inversão no processo.
Quando tudo isso é feito de maneira casuística, dificilmente consegue-se manter esse
padrão em outros casos, e não será sempre possível priorizar a palavra do réu em
detrimento da palavra dos policiais. Nesse sentido, esse processo pode acabar sendo
uma armadilha que o julgador cria para si mesmo.
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§ 1º São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não
evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas
puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras. (Incluído pela Lei nº
11.690, de 2008)
Embora pareça óbvio que uma prova derivada de outra estabeleça, necessariamente,
um nexo de causalidade em relação àquela, o legislador prevê uma exceção para a
inadmissibilidade da prova derivada da ilícita quando esta não apresentar nexo de
causalidade ou quando puder ser obtida por fonte independente das provas ilícitas.
Na sequência vamos falar sobre essas limitações.
Ainda, segundo Renato Brasileiro, de acordo com esta teoria “se o órgão da
persecução penal demonstrar que obteve, legitimamente, novos elementos de
informação a partir de uma fonte autônoma de prova, que não guarde qualquer
relação de dependência, nem decorra da prova originariamente ilícita, com esta não
mantendo vínculo causal, tais dados probatórios são admissíveis, porque não
contaminados pela mácula da ilicitude originária” (LIMA, 2020).
Por exemplo, suponha que duas testemunhas estão sendo ouvidas em sede policial.
Cada uma das testemunhas está em uma sala sendo interrogada por uma equipe
diferente. Durante o interrogatório, a testemunha A é torturada e, em razão da tortura,
indica prontamente o local do crime onde também se encontra o corpo da vítima. Essa
equipe se dirige rapidamente até o local e apreende o corpo. Do outro lado, a
testemunha B estava sendo ouvida regularmente e, ao final, também indica o local do
corpo, mas quando essa equipe chega até o local, o corpo já havia sido apreendido
com base em uma prova ilícita.
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§ 2º Considera-se fonte independente aquela que por si só, seguindo os trâmites típicos
e de praxe, próprios da investigação ou instrução criminal, seria capaz de conduzir ao
fato objeto da prova. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)
Conforme aponta Renato Brasileiro (2020), parece ter havido um equívoco por parte
do legislador na redação deste artigo, pois, “ao empregar o verbo no condicional, o
conceito aí fornecido (seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova) refere-se ao
da limitação da descoberta inevitável”, e não da fonte independente, uma vez que esta
se refere a uma fonte paralela, diferente da ilícita, e não à uma fonte que por si só
conduziria ao fato objeto da prova.
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paradeiro do corpo da vítima de homicídio escondido em uma vala à beira de uma estrada.
No entanto, apesar de a localização do cadáver só ter sido possível a partir de uma declaração
obtida de maneira ilegal, demonstrou-se que, no caso concreto, um grupo de duzentos
voluntários já estava procurando pelo cadáver conforme um plano que, inevitavelmente, teria
levado à descoberta do local em que o corpo foi encontrado.
A Suprema Corte americana entendeu que a teoria dos frutos da árvore envenenada não
impediria a admissão de prova derivada de uma violação constitucional, se tal prova teria sido
descoberta “inevitavelmente” por meio de atividades investigatórias lícitas sem qualquer
relação com a violação, bem como que a “descoberta inevitável” não envolve elementos
especulativos, mas concentra-se em fatos históricos demonstrados capazes de pronta
verificação (LIMA, 2020).
A descontaminação do julgado é uma outra limitação que foi imposta pelo Código
Processual Penal atual. Esse dispositivo estava inicialmente previsto na Lei n. 11.690,
de 2008, mas foi vetado pelo Presidente da República. A redação consiste no seguinte:
Art. 157, § 5º O juiz que conhecer do conteúdo da prova declarada inadmissível não
poderá proferir a sentença ou acórdão.
O argumento que fundamentou o veto deste dispositivo é o seguinte: uma vez que o
juiz seria afastado do processo ao ter contato com prova ilícita, surgiria a
oportunidade de serem implantadas provas ilícitas nos processos com a intenção de
causar o afastamento do juiz. Nisso haveria uma violação ao princípio do juiz natural,
pois permitiria a manipulação do juiz da causa.
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2. Nos termos da pacífica jurisprudência das Turmas de Direito Penal do Superior Tribunal
de Justiça, a interceptação telefônica vale não apenas para o crime ou para o indiciado,
objetos do pedido, mas também para outros delitos ou pessoas, até então não
identificados, que vierem a se relacionar com as práticas ilícitas. É que a autoridade policial,
ao formular o pedido de representação pela quebra do sigilo telefônico, não pode
antecipar ou adivinhar tudo o que está por vir. Desse modo, se a escuta foi autorizada
judicialmente, ela é lícita e, como tal, captará licitamente toda a conversa.
2.2. Na hipótese, embora a interceptação telefônica tenha sido efetivada para identificar a
autoria de crime de homicídio, descobriu-se fortuitamente a prática do crime de injúria
racial, em razão das diversas palavras ofensivas de conotação racista proferidas pelo
recorrente quando se referia ao Delegado de Polícia responsável pela investigação, ora
recorrido.
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(RESP 1780715/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em
23/03/2021, DJe 30/03/2021)
É oportuno explicar que, nos termos da lei, a interceptação telefônica só pode ser
deferida no caso de crimes punidos com reclusão, vide o julgado do STJ citado
anteriormente como exemplo, trata-se de um crime de homicídio punido com
reclusão. Contudo, o elemento produzido na interceptação telefônica pode ser
utilizado para apurar, e eventualmente punir, crimes apenados com detenção. O
importante é apenas que a medida inicial seja deferida de forma correta para apuração
de crime punido com reclusão.
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Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em
contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos
elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não
repetíveis e antecipadas. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)
De modo geral, a liberdade probatória no processo penal possibilita que a prova seja
produzida a qualquer momento no processo, com exceção dos casos expressamente
previstos em lei (art. 231 do CPP). Uma das exceções a essa regra diz respeito à
apresentação das testemunhas, cujo momento é determinado pelo próprio Código de
Processo Penal nos arts. 41 e 396-A. De acordo com o dispositivo, a acusação deverá
apresentar o rol de testemunhas na peça acusatória, e a defesa deverá fazê-lo na
apresentação da defesa preliminar em resposta à acusação.
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Art. 479. Durante o julgamento não será permitida a leitura de documento ou a exibição
de objeto que não tiver sido juntado aos autos com a antec edência mínima de 3 (três)
dias úteis, dando-se ciência à outra parte. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
Ou seja, em plenário do Tribunal do Júri não se admite que a outra parte seja
surpreendida com a apresentação de uma prova nova, sem que tenha sido juntada ao
processo com antecedência mínima de três dias, a fim de se garantir o conhecimento
e a apreciação pela parte contrária. Neste sentido, a regra quanto à possibilidade de
juntada de documentos a qualquer momento do processo penal não se aplica ao
julgamento em plenário do Tribunal do Júri.
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Ônus da Prova
Quanto aos meios de prova, a regra da amplitude probatória não se aplica a provas
obtidas por meios ilícitos, isto é, provas obtidas da violação de regra de direito
material ou de direito processual ou por meios imorais e antiéticos.
Além disso, embora exista uma ampla liberdade de produção probatória, o parágrafo
único do art. 155 cita que, em algumas poucas hipóteses, a lei estabelece formas
adequadas para a realização das provas. Uma dessas exceções é a comprovação do
“estado das pessoas”, que exige, para tanto, a lei civil. Isto é, só é possível provar o
nascimento, idade, casamento ou óbito de uma pessoa, por exemplo, mediante os
registros civis (certidão de nascimento, documento de identidade válido, certidão de
casamento, certidão de óbito etc.), a exemplo do art. 62 do Código de Processo Penal,
segundo o qual, no caso de morte do acusado, somente à vista da certidão de óbito
o juiz declarará extinta a punibilidade
Isto posto, passemos ao próximo tópico no qual falaremos sobre o ônus da prova,
tema este muito importante para a compreensão do processo penal.
3 Ônus da Prova
Uma parte da teoria do ônus da prova é importada do Direito Civil, para o qual, o
termo “ônus” é utilizado para determinar a quem compete provar determinada
situação em determinado processo. O termo ônus (do latim onus) significa carga ou
peso, e é utilizado também para tratar daquilo que é incumbência, dever ou encargo
de alguém, dessa forma, o ônus da prova remete incumbência de provar. Assim, no
processo civil, aquele que alega (o autor da petição) tem o ônus de provar os fatos
constitutivos do seu direito; e o réu tem o ônus de provar os fatos impeditivos,
modificativos e extintivos desses mesmos direitos.
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Ônus da Prova
Neste sentido, o ônus da prova é uma regra de julgamento dada para facilitar e
orientar a decisão do juiz diante da produção probatória no processo, a despeito de
existir provas ou não, assim, mesmo diante do descumprimento do ônus da prova, o
juiz não pode alegar non liquet e descumprir sua tarefa de julgar. Conforme explica
Renato Brasileiro:
No aspecto objetivo, o ônus da prova funciona como uma regra de julgamento a ser aplicada
pelo juiz quando permanecer em dúvida no momento do julgamento. Como o juiz não está
autorizado a pronunciar um non liquet, se ao final do processo resultar um estado de incerteza
acerca de determinada afirmação feita por uma das partes, há necessidade de regras
disciplinando em que sentido deverá ser proferida a decisão (LIMA, 2020, p. 676).
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Ônus da Prova
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Ônus da Prova
Dolosa
Conduta
Culposa
Nexo de
causalidade
Tipicidade Naturalístico
Resultado
Jurídico
Tipicidade
A prova do dolo e da culpa é feita pelo Ministério Público através das circunstâncias
objetivas verificadas no caso concreto, contrapondo-se aos elementos subjetivos, que
não podem ser comprovados. Por exemplo, em um caso em que o indivíduo compra
um aparelho por um preço muito abaixo daquele praticado no mercado, em um
ambiente que se popularizou a venda de produtos roubados, é possível, por meio das
circunstâncias objetivas, verificar que aquela pessoa sabia que estava comprando um
aparelho roubado, por mais que alegue desconhecimento. Nesse caso, fica
demonstrado que o indivíduo agiu com dolo. Não conseguimos averiguar os
elementos subjetivos (se o sujeito praticou o crime por dolo ou culpa), mas podemos,
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Ônus da Prova
por meio das circunstâncias objetivas, verificar a situação e inferir por meio dela a
conduta.
Outro exemplo que podemos citar é o do indivíduo que dispara vários tiros contra o
outro e alega que não tinha a intenção de matar. As circunstâncias objetivas mostram
que ninguém dispara tantos tiros mirando outra pessoa se não for com o ânimo de
matar, assim, afirmamos que as circunstâncias objetivas do caso concreto deixam claro
que ele agiu com dolo.
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Ônus da Prova
Existe, ainda, um outro elemento que, segundo a doutrina, precisa ser provado pela
defesa, o álibi, que é uma prova indireta do não cometimento da infração (por não
estar o réu no contexto criminoso). Ele não dá certeza ou nenhuma demonstração
diferente em relação aos fatos ocorridos, mas mostra que o acusado não estava no
contexto desses fatos, e o ônus da prova do álibi é da defesa também.
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No entanto, o juiz não precisa justificar ou fundamentar sua decisão. Estando ele
convencido, basta dar a sentença. Ele não precisa explicar como seu convencimento
foi sendo construído até ele proferir a sentença, e isso gera algumas implicações, tais
como se valer de elementos de fora do processo, por exemplo, pois se ele não precisa
dizer como ele chegou a determinado resultado, ele não precisa garantir para as
partes e para a sociedade que todos os elementos que influenciaram na sua decisão
estão contidos e foram produzidos naquele processo, podendo, inclusive, se valer de
uma prova ilícita. Outra implicação é um problema de legitimidade da decisão, por
não permitir que as pessoas possam combater o resultado, caracterizando o
cerceamento de defesa, uma vez que fica impedido o manejo e a utilização dos
recursos de maneira adequada. Dessa forma, como regra, esse sistema não é utilizado
no Brasil, exceto no julgamento proferido pelos jurados no Tribunal do Júri (porque
estes não precisam fundamentar a sua convicção).
Nesse sistema, a prova produzida tem um peso pré-definido; afirma-se, inclusive, que
a confissão é a rainha das provas. Por exemplo, no Direito Previdenciário existe um
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método matemático (método lógico fuzzy) para dizer se determinada pessoa é ou não
deficiente para que possa receber aposentadoria específica. Esse método afere a
existência ou não de deficiência com base critérios objetivos respondidos por dois
tipos de perícia: a perícia médica e a perícia social. É feito um balanceamento
qualitativo entre as graduações e pontuações das atividades constatadas pelo médico
e o assistente social para determinar a existência da deficiência, seu início, grau e
eventuais mudanças. Essa é uma espécie de prova tarifada.
No julgamento, seria como se houvesse uma média a ser atingida para a condenação,
e a confissão valesse 100 pontos, não sendo necessário complementá-la com qualquer
outra prova. Nesse sistema, o juiz apenas faz cálculos com base na pontuação daquilo
que está sendo produzido no processo.
Vale enfatizar que não temos adotamos o sistema de prova tarifada no nosso sistema
processual penal atual, mas existem alguns dispositivos que, segundo a doutrina,
representam resquícios de prova tarifada no processo penal.
CPP. Art. 155, Parágrafo único. Somente quanto ao estado das pessoas serão
observadas as restrições estabelecidas na lei civil. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)
CPP. Art. 158. Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame
de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri -lo a confissão do acusado.
CPP. Art. 62. No caso de morte do acusado, o juiz somente à vista da certidão de óbito,
e depois de ouvido o Ministério Público, declarará extinta a punibilidade.
O art. 155, parágrafo único, embora não estabeleça uma pontuação para as provas,
determina uma exigência pré-definida para que a prova de determinados fatos seja
produzida de forma específica. Isso impede que o julgador aprecie livremente a prova.
Por exemplo, o juiz não poderá se convencer da morte de uma pessoa por outros
meios que não sejam a certidão de óbito, ainda que seja apresentada uma foto do
cadáver. O mesmo consta no art. 62 do CPP. Logo, vemos que a apreciação da prova
não é livre em alguns casos determinados no nosso Código de Processo Penal,
apresentando resquício da prova tarifada.
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Outro exemplo é o art. 158 do CPP, que estabelece a exigência do exame de corpo de
delito quando a infração penal deixar vestígios, não podendo ser suprido nem pela
confissão do acusado.
Esse sistema tem influência do sistema da íntima convicção, à medida que o juiz pode
apreciar livremente a prova para formar seu convencimento, mas aqui ele precisa
construir, na decisão judicial, o caminho que ele seguiu para chegar à determinada
conclusão, conforme disposto no art. 155 do CPP.
Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em
contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos
elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não
repetíveis e antecipadas. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)
É com base na convicção pela livre apreciação da prova, por exemplo, que o juiz pode
afastar a conclusão de um laudo pericial; mas, para refutar as conclusões de um laudo
redigido por um expert, o juiz precisa, de uma maneira fundamentada e com ônus
argumentativo muito maior, afastar aquilo de maneira justificada. Em todo causo, o
juiz não fica vinculado às conclusões do laudo pericial, uma vez que ele forma a sua
convicção pela livre apreciação da prova.
O art. 93, inciso IX, da Constituição Federal estabelece a exigência de que todas as
decisões do Poder Judiciário sejam fundamentadas, e o art. 315, §2º do Código de
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Processo Penal, que é basicamente uma cópia do art. 489 do Código de Processo Civil,
explica o que é uma decisão não fundamentada.
CPP. Art. 315. A decisão que decretar, substituir ou denegar a prisão preventiva será
sempre motivada e fundamentada. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
[...]
III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão; (Incluído pela Lei
nº 13.964, de 2019)
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Sabemos que a busca pela verdade real, que predominava nos sistemas inquisitórios
antigos, já foi superada e, com isso, o juiz pôde assumir sua devida posição dentro do
processo, uma posição de imparcialidade, que não se compromete com a busca e
investigação do que é alegado pela acusação ou pela defesa.
Em regra, essa posição imparcial do juiz impede que ele tenha uma atuação efetiva na
produção da prova, porém isso não significa que ele não terá nenhuma atuação
probatória, apenas que esta será somente subsidiária, competindo às partes a
produção das provas (o ônus da prova) e, ao juiz, a eventual determinação de alguma
prova necessária para o esclarecimento das provas produzidas pelas partes, conforme
dispõe o art. 156 do Código de Processo Penal.
Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao
juiz de ofício: (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)
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É importante notar que o inciso I do art. 156 estabelece que será facultado ao juiz
ordenar a produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes,
observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida, mesmo antes
de iniciada a ação penal. Contudo, a doutrina aponta este inciso como sendo
tacitamente revogado pela alteração promovida pelo Pacote Anticrime (Lei 13.964 de
2019), que veda ao juiz qualquer tipo de atuação na fase preliminar (fase de
investigação processual) que precede a ação penal.
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Na sequência veremos alguns exemplos que nos elucidarão a diferença entre o grau
de convencimento exigido para cada situação.
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Na sentença de mérito já não há mais lugar para indícios, dúvidas ou para a verificação
da dúvida pró sociedade. Assim, o standard probatório da sentença condenatória é
um juízo de certeza acima de qualquer dúvida razoável. Pois, havendo dúvida
razoável, o caminho é a absolvição e o que vigora é o princípio do in dubio pro reo.
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Terminologia da Prova
▪ Indício de autoria
▪ Requisitos para comprovação de periculum libertatis
▪ Condenatória: juízo de certeza acima de qualquer
Sentença de mérito dúvida razoável
▪ Absolvição: princípio do in dubio pro reo
Fonte: Núcleo Editorial Focus.
6 Terminologia da Prova
Neste tópico, abordaremos alguns conceitos de termos recorrentes na teoria geral da
prova.
Renato Brasileiro explica, ainda, que os “meios de prova são os instrumentos através
dos quais as fontes de prova são introduzidas no processo. Dizem respeito, portanto,
a uma atividade endoprocessual que se desenvolve perante o juiz, com o
conhecimento e a participação das partes, cujo objetivo precípuo é a fixação de dados
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Terminologia da Prova
A seguir, observe o quadro comparativo elaborado por Renato Brasileiro Lima, em seu
Manual de Processo Penal (2020), que apresenta a distinção entre os meios de
obtenção de prova e os meios de prova.
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Terminologia da Prova
Tabela 2 - Quadro comparativo entre os meios de obtenção de prova e os meios de prova
A prova direta é aquela que teve um contato imediato com a situação que se
pretende provar ou, nas palavras de Renato Brasileiro, “é aquela que permite conhecer
o fato por meio de uma única operação inferencial”. Por exemplo, se um crime de
homicídio é cometido na presença de testemunhas oculares, essas testemunhas serão
consideradas provas diretas daquele determinado crime, porque tiveram uma
cognição imediata em relação à situação que se pretende provar. Não há
intermediários ou elementos de dedução.
Já a prova indireta é aquela que não teve contato imediato com a situação, mas que,
por meio de dedução veio a servir de prova.
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Terminologia da Prova
A prova é considerada indireta quando, para alcançar uma conclusão acerca do fato a provar,
o juiz se vê obrigado a realizar pelo menos duas operações inferenciais. Em um primeiro
momento, a partir da prova indireta produzida, chega à conclusão sobre a ocorrência de um
fato, que ainda não é o fato a ser provado. Conhecido esse fato, por meio de um segundo
procedimento inferencial, chega ao fato a ser provado (LIMA, 2020).
Por exemplo, frente a um crime de homicídio cometido dentro de uma sala fechada,
sem testemunhas no local, em que pessoas na redondeza apenas ouviram os disparos
e viram o homem sair da sala com as mãos ensanguentadas, por meio de uma
operação de dedução a partir daquilo que viram, essas pessoas podem vir a servir de
prova. Em outros termos, a prova indireta se caracteriza pela necessidade de mais de
uma operação cognitiva para se chegar ao resultado. Não obstante, essas provas
podem ser usadas para condenação e eventual punição.
6.5 Indícios
A doutrina aponta uma dupla acepção para a palavra “indícios” no Código de Processo
Penal, que pode ser utilizada ora como sinônimo de prova indireta (art. 239) ora como
sinônimo de prova semiplena (arts. 126 e 312), caracterizando um juízo de
probabilidade.
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Terminologia da Prova
A condenação com base em indícios poderá ocorrer quando a o termo for utilizado
no sentido de prova indireta, uma vez que caracteriza, neste caso, uma certeza a
respeito de uma circunstância que permite concluir a existência de outra.
Ora, se isso não fosse possível seria inviável a condenação da pessoa que comete um
fato criminoso, como um crime sexual contra vulnerável, por exemplo, sem que haja
testemunhas oculares ou a presença de elementos que caracterizem uma prova direta
da infração. É claro que um decreto condenatório não poderá ser fundamentado em
um único indício isolado e frágil, conforme explica Renato Brasileiro, devendo a prova
indiciária estar sujeita, para tanto, às seguintes condições:
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Terminologia da Prova
a) os indícios devem ser plurais (somente excepcionalmente um único indício será suficiente,
desde que esteja revestido de um potencial incriminador singular);
b) devem estar estreitamente relacionados entre si;
c) devem ser concomitantes, ou seja, univocamente incriminadores – não valem as meras
conjecturas ou suspeitas, pois não é possível construir certezas sobre simples probabilidades;
d) existência de razões dedutivas – entre os indícios provados e os fatos que se inferem destes
deve existir um enlace preciso, direto, coerente, lógico e racional segundo as regras do critério
humano (LIMA, 2020).
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Terminologia da Prova
O objeto da prova são “os fatos que as partes pretendem demonstrar (NUCCI, 2020),
isto é, aquilo que deverá ser provado no processo. Assim, a análise do objeto da prova,
por sua vez, consiste na verificação da veracidade de determinada afirmação que seja
relevante para o deslinde do processo penal.
c) Regulamentos e portarias: caso seja invocado perante o juízo, esse tipo de direito
também precisa ser provado, pois nem sempre será conhecido pelo juiz. Salvo quando
se tratar de complemento de norma penal em branco, situação em que a própria Lei
Penal remete ao regulamento ou à portaria a definição de elementos constitutivos do
tipo, por exemplo, a Lei de Drogas tem como complemento para a fixação das
substâncias que causam dependência física ou psíquica e que são consideradas
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Terminologia da Prova
drogas a portaria n. 344/98 MS, logo essa portaria complementa a norma penal em
branco (a Lei 11.343/06), não precisando ser provada.
Outro exemplo retirado do processo civil é a “revelia”, cujo efeito mais conhecido é a
presunção de que são verdadeiros os fatos alegados na inicial. No processo penal,
entretanto, à revelia simplesmente permite o prosseguimento do feito sem a presença
do acusado, conforme dispõe o art. 367 do CPP, “O processo seguirá sem a presença
do acusado que, citado ou intimado pessoalmente para qualquer ato, deixar de
comparecer sem motivo justificado, ou, no caso de mudança de residência, não
comunicar o novo endereço ao juízo”. Ou seja, o não comparecimento do acusado ao
processo não presumirá que são verdadeiros os fatos narrados na inicial.
a) Fatos notórios: são fatos e situações tão óbvias que dispensam a ocorrência de
provas (ex.: não é necessário provar a morte do cadáver, pois é notória; não é
necessário provar que o Natal é feriado nacional ou que o fogo queima ou a chuva
molha).
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7.3 Requisitos
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Além disso, grande parte dos autores apontam também como requisito que sejam
constatadas no outro processo as mesmas partes que estavam envolvidas no processo
em que a prova foi originalmente produzida. No entanto, é importante destacar que
a jurisprudência têm afastado esse posicionamento, conforme podemos constatar no
julgado apresentado a seguir.
(...)
(...)
(RHC 131.406/CR, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em
09/02/2021, DJe 18/02/2021).
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Por exemplo, o mesmo fato que originou um processo penal pelo crime de corrupção
passiva, pode originar uma ação de improbidade administrativa, um processo
administrativo disciplinar, e uma ação cível ao erário. Digamos que na investigação
que antecedeu a ação penal foi decretada uma interceptação telefônica com o
preenchimento de todos os requisitos da Lei n. 9296/96. Como prova lícita, essa
interceptação telefônica poderá ser utilizada como prova emprestada para todos os
outros processos citados.
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Referências Bibliográficas
8 Referências Bibliográficas
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 8. ed.
Salvador: Ed. JusPodivm, 2020.
LOPES-JUNIOR, Aury. Direito processual penal. 18 ed. São Paulo: Saraiva Educação,
20201.
NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Processual Penal. 17. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2020.
PACELLI, Eugênio. Curso de processo penal. 25. Ed. São Paulo: Atlas, 2021.
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Referências Bibliográficas
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