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Aspectos Processuais Penais |

Provas em Espécie

DISCIPLINA
ASPECTOS PROCESSUAIS PENAIS

CONTEÚDO

Provas - Parte II

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Aspectos Processuais Penais |

Provas em Espécie

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Provas em Espécie

Sumário
Sumário------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 3
1 Provas em Espécie ----------------------------------------------------------------------------------------- 5
1.1 Do Exame de Corpo de Delito e Outros Exames Periciais ----------------------------------------------------- 5
1.2 Laudo Pericial ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 6
1.2.1 Momento Para A Juntada Do Laudo Pericial --------------------------------------------------------------------------------- 6
1.3 Exame de Corpo de Delito Direto e Indireto---------------------------------------------------------------------- 8
2 Meios de Prova e Meios de Obtenção de Prova em Espécie ----------------------------------- 9
2.1 Perito ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 9
2.2 Perito Não Oficial ------------------------------------------------------------------------------------------------------ 10
2.3 Assistente Técnico ----------------------------------------------------------------------------------------------------- 11
2.4 Da Cadeia de Custódia da Prova ----------------------------------------------------------------------------------- 11
2.4.1 Etapas da Cadeia de Custódia -------------------------------------------------------------------------------------------------- 12
2.5 Centrais de Custódia -------------------------------------------------------------------------------------------------- 14
2.6 Do Interrogatório Judicial-------------------------------------------------------------------------------------------- 16
2.6.1 Natureza Jurídica Do Interrogatório ------------------------------------------------------------------------------------------ 17
2.6.2 Necessidade do Interrogatório ------------------------------------------------------------------------------------------------ 20
2.6.3 Reinterrogatório ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 21
2.6.4 Momento do Interrogatório ---------------------------------------------------------------------------------------------------- 22
2.7 Características do Interrogatório ---------------------------------------------------------------------------------- 24
2.7.1 Ato em Contraditório ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 24
2.7.2 Ato Público -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 25
2.7.3 Ato Personalíssimo ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 26
2.7.4 Ato Individual ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 26
2.8 Local do Interrogatório ----------------------------------------------------------------------------------------------- 27
2.9 Interrogatório por videoconferência ----------------------------------------------------------------------------- 28
2.10 A Oralidade do Interrogatório -------------------------------------------------------------------------------------- 31
2.11 A Espontaneidade do Interrogatório ----------------------------------------------------------------------------- 32
2.12 Direito ao Silêncio Seletivo ------------------------------------------------------------------------------------------ 32
2.13 Da Confissão ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 32
2.13.1 Classificação Da Confissão -------------------------------------------------------------------------------------------------- 33
2.13.2 Características da Confissão ------------------------------------------------------------------------------------------------ 36
2.13.3 Valor Probatório Da Confissão --------------------------------------------------------------------------------------------- 36
2.14 Da Prova Testemunhal ----------------------------------------------------------------------------------------------- 36
2.14.1 As Proibições de Testemunhar Em razão da Função ----------------------------------------------------------------- 39
2.14.2 Dever De Comparecimento ------------------------------------------------------------------------------------------------- 40
2.14.3 Testemunha de Fora da Jurisdição---------------------------------------------------------------------------------------- 41
2.14.4 Testemunha de Fora do País ----------------------------------------------------------------------------------------------- 43
2.14.5 Prerrogativas de Autoridades ---------------------------------------------------------------------------------------------- 44
2.14.6 Testemunha e o Dever de Dizer a Verdade ---------------------------------------------------------------------------- 45

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2.14.7 Substituição da Testemunha ----------------------------------------------------------------------------------------------- 46
2.14.8 Desistência da Testemunha ------------------------------------------------------------------------------------------------ 47
2.14.9 Receio Provocado pela Presença do Acusado ------------------------------------------------------------------------- 49
2.14.10 Procedimento para a Oitiva de Testemunhas ------------------------------------------------------------------------- 49
2.15 Reconhecimento de Pessoas e Coisas ---------------------------------------------------------------------------- 51
2.16 Da Busca e Apreensão ------------------------------------------------------------------------------------------------ 52
2.16.1 Objeto da Busca---------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 53
2.16.2 Espécies de Busca ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 54

3 Referências Bibliográficas ------------------------------------------------------------------------------ 61

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1 Provas em Espécie
1.1 Do Exame de Corpo de Delito e Outros Exames Periciais

O perito no sistema inquisitório é benéfico para o sistema judicial, sendo um órgão


que auxilia o juiz e aponta premissas necessárias para o debate acusatório (LOPES JR.
2020).

Gradativamente o perito torna a prova robusta e traz ferramentas mais fidedignas,


facilitando a aplicação da justiça. Nos meios de prova a perícia se destaca em 1941 é
inserido no Código de Processo Penal em ser art. 158 o exame de corpo de delito em
crimes que deixas vestígios. O art. 158. Estabelece que quando a infração deixar
vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não
podendo supri-lo a confissão do acusado.

Saiba o conceito de Corpo de Delito: É todo e qualquer vestígio sensível deixado por
uma infração penal. Já o Exame de Corpo de Delito: é a realização de uma perícia
sobre este vestígio sensível, isto é, a análise por um perito do vestígio.

Lima (2020) explicita que:


Corpo de delito é o conjunto de vestígios materiais ou sensíveis deixados pela infração penal.
A palavra corpo não significa necessariamente o corpo de uma pessoa. Significa sim o
conjunto de vestígios sensíveis que o delito deixa para trás, estando seu conceito ligado à
própria materialidade do crime (LIMA, 2020, p.725, grifo nosso).

O delito se divide em Transeunte e não transeunte, o delito transeunte é a modalidade


de crime que não deixa vestígios. A contrário sensu, o não-transeunte deixa vestígios
e possui a obrigatoriedade do exame de corpo de delito, seja direto ou indireto.

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ATENÇÃO! não confunda o exame de corpo de delito com as perícias em geral. O


exame de corpo de delito é a perícia realizada sobre elementos que constituem a
materialidade do crime (LOPES JR, 2020).

1.2 Laudo Pericial

O laudo pericial é a peça técnica elaborada pelo Perito/Expert como resultado do


exame feito. Este laudo se divide geralmente em 4 partes:

1. Preâmbulo (apresentação do perito e informações preliminares);


2. Exposição (narrativa do que foi analisado, é informado o método utilizado);
3. Fundamentação (motivos que levaram à conclusão);
4. Conclusão (resposta aos quesitos elaborados pela defesa e juiz);

1.2.1 Momento Para A Juntada Do Laudo Pericial

Em regra, não há um momento para a juntada do laudo pericial, este laudo poderá
ser juntado a qualquer momento, contudo, lima (2020) ressalta que:
Como o acusado deve ter conhecimento de tudo que contra ele foi produzido ou venha a ser
utilizado, a fim de que possa exercer o seu direito de fazer a contraprova, apresentando
elementos probatórios para se contrapor ao trazido aos autos pelo exame pericial, queremos
crer que o laudo pericial deve ser juntado aos autos antes da audiência una de instrução e
julgamento, com antecedência mínima de 10 (dez) dias (LIMA, 2020, p.727, grifo nosso).

Isto é, a doutrina traz o prazo de no máximo 10 dias antes da audiência de instrução


e julgamento. Todavia, existem exceções em relação a alguns crimes em que o laudo
deve ocorrer para constatação preliminar, por exemplo:

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• Crimes contra a propriedade imaterial


CPP Art. 525. No caso de haver o crime deixado vestígio, a queixa ou a
denúncia não será recebida se não for instruída com o exame pericial dos
objetos que constituam o corpo de delito.

Súmula 574 – STJ: Para a configuração do delito de violação de direito autoral


e a comprovação de sua materialidade, é suficiente a perícia realizada por
amostragem do produto apreendido, nos aspectos externos do material, e é
desnecessária a identificação dos titulares dos direitos autorais violados ou
daqueles que os representem.

Um exemplo do exposto na súmula 574 do Supremo Tribunal Federal são as


operações policiais realizadas em locais que concentram-se os indivíduos que
vendem DVD’s e CD’s reproduzidos irregularmente. Os produtos a serem
apreendidos, constituem o corpo de delito e são examinados por peritos, que
constatam se realmente há falsificação.

• A Lei de Drogas 11.343/06 (art. 50, §1º)

Art. 50. Ocorrendo prisão em flagrante, a autoridade de polícia judiciária fará,


imediatamente, comunicação ao juiz competente, remetendo-lhe cópia do auto
lavrado, do qual será dada vista ao órgão do Ministério Público, em 24 (vinte e
quatro) horas.

§ 1º Para efeito da lavratura do auto de prisão em flagrante e estabelecimento


da materialidade do delito, é suficiente o laudo de constatação da natureza e
quantidade da droga, firmado por perito oficial ou, na falta deste, por pessoa
idônea.

§ 2º O perito que subscrever o laudo a que se refere o § 1º deste artigo não


ficará impedido de participar da elaboração do laudo definitivo.

Observando os dispositivos acima, são dois laudos que deverão ser elaborados. O
primeiro é chamado de laudo de constatação, o qual deverá indicar se o material
apreendido, é uma droga, apontando sua quantidade, este é um exame provisório
feito para comprovar a materialidade do delito. A par deste, há o laudo definitivo, mais
complexo, o qual traz a certeza quanto à materialidade do delito, definindo o material
pesquisado.

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1.3 Exame de Corpo de Delito Direto e Indireto

O exame de copo de delito direto é realizado quando há vestígios, mas ocorre por
vezes, casos em que o exame não é realizado por razões diversas ou os vestígios
desaparecem. Por tais razões o exame de corpo de delito indireto surge conforme o
art. 167 que compreende:
Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os
vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta.

No exame de corpo de delito indireto duas correntes doutrinarias surgem, ambas


trazem a forma de ser realizado:

• A primeira corrente defende a perícia a ser realizada com base em elementos


outros que não os vestígios.
Ex: Maria sofre uma lesão corporal leve, mas não vai diretamente a delegacia,
invés disso vai ao médico, ela possui exames médicos como prova.

Lembre-se que esta não é a corrente que prevalece.

Lima (2020) exemplifica e cita exemplos da primeira corrente, como:


[...] se constarem dos autos documentos que comprovem a materialidade, tais como
fotografias dos vestígios sensíveis ou o prontuário médico do atendimento da vítima no posto
de saúde, também será possível a prolação de um decreto condenatório, visto que nosso
ordenamento adota o sistema da persuasão racional do juiz (CPP, art. 155, caput). Perceba-se
que, para essa primeira corrente, o exame de corpo de delito indireto não é propriamente um
exame, mas sim a prova testemunhal ou documental suprindo a ausência do exame direto,
em virtude do desaparecimento dos vestígios deixados pela infração penal (LIMA, 2020, p. 729,
grifo nosso).

• A segunda corrente é a que prevalece e defende que a prova testemunhal


supre a falta do exame de corpo de delito.

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Meios de Prova e Meios de Obtenção de Prova em Espécie

2 Meios de Prova e Meios de Obtenção de Prova em Espécie


2.1 Perito

O perito é o auxiliar do juízo e especialista técnico em determinada área do


conhecimento, sendo de confiança do juiz. Já o perito oficial ocupa o cargo público
específico de perito, observe que o perito não oficial pode ocupar cargo público, mas
não é um cargo específico.

Basicamente é um profissional que possui conhecimentos científicos, técnicos e


artísticos, dependendo da área de atuação. Quando é nomeado para assumir a função,
possui o dever de se apropriar de seu conhecimento, buscando embasar por meio de
laudo pericial ao parecer final do juiz.

Lima (2020) compreende que são aplicáveis aos peritos:


[...] as regras de impedimento e suspeição (CPP, art. 280), sendo que as partes não podem
intervir na escolha do perito, mesmo em se tratando de crime de ação penal privada, tal qual

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Meios de Prova e Meios de Obtenção de Prova em Espécie

dispõe o art. 276 do CPP (LIMA, 2020, p. 736).

2.2 Perito Não Oficial

Disposto no art. 159. o exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados
por perito oficial, portador de diploma de curso superior, esta é uma redação dada
pela Lei nº 11.690, de 2008. Ainda em seu § 1º na falta de perito oficial, o exame será
realizado por duas pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior
preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habilitação técnica
relacionada com a natureza do exame.

Portanto existem peritos oficiais e não-oficiais, o §1º traz a possibilidade de ser peritos
não-oficiais, mas deverão ser duas pessoas idôneas.

No sistema de apreciação das perícias duas situações ocorrem, sendo:

O sistema liberatório (o qual é adotado pelo nosso Código em relação às perícias)


está disposto no art. 182. onde o juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo
ou rejeitá-lo, no todo ou em parte. Já no sistema vinculatório, o juiz deve aceitar a
perícia, de acordo com o princípio da hegemonia das provas.

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Meios de Prova e Meios de Obtenção de Prova em Espécie

2.3 Assistente Técnico

Diferentemente do perito, o assistente técnico é de confiança das partes, e este perito


das partes não possui a obrigação de ser imparcial.

Foi com a Lei nº 11.690, de 2008 que a figura do assistente técnico foi introduzida no
processo penal. Disposto no art. 159, §5º, II, compreende que durante o curso do
processo judicial, é permitido às partes, quanto à perícia, indiquem assistentes
técnicos que poderão apresentar pareceres em prazo a ser fixado pelo juiz ou ser
inquiridos em audiência. Ainda em seu § 6º cita que:
Art. 159, §6º (...)- havendo requerimento das partes, o material probatório que serviu de base
à perícia será disponibilizado no ambiente do órgão oficial, que manterá sempre sua guarda,
e na presença de perito oficial, para exame pelos assistentes, salvo se for impossível a sua
conservação.

Há uma tendencia de se admitir assistentes técnicos na fase de investigação


preliminar, mesmo com a suspensão realizada pelo Supremo Tribunal Federal no art.
3º-B, XVI do Código de Processo Penal:
3ºB, XVI (...)- deferir pedido de admissão de assistente técnico para acompanhar a produção
da perícia.

ATENÇÃO! Assistentes técnicos não podem ser considerados funcionários públicos,


pois não exercem função pública ou cargo.

2.4 Da Cadeia de Custódia da Prova

A Lei nº 13.964, de 2019 (mais conhecida como pacote anticrime) traz o art. 158-A,
que considera a cadeia de custódia como o conjunto de todos os procedimentos
utilizados para manter e documentar a história cronológica do vestígio coletado em

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Meios de Prova e Meios de Obtenção de Prova em Espécie

locais ou em vítimas de crimes, para rastrear sua posse e manuseio a partir de seu
reconhecimento até o descarte.

Em seu § 1º cita que o início da cadeia de custódia dá-se com a preservação do local
de crime ou com procedimentos policiais ou periciais nos quais seja detectada a
existência de vestígio. O agente público que reconhecer um elemento como de
potencial interesse para a produção da prova pericial fica responsável por sua
preservação prevê o § 2º.

A respeito do vestígio, o § 3º traz a definição como todo objeto ou material bruto,


visível ou latente, constatado ou recolhido, que se relaciona à infração penal.

O autor Lima (2020) traz a compreensão de que:


[...] a cadeia de custódia não está restrita apenas à perícia criminal. Na verdade, a depender do
caso concreto, pode ter início muito antes, quando o Delegado de Polícia apreende
determinado objeto, ou quando um policial civil (ou militar) receber algum objeto material que
possa guardar relação com determinado delito, oportunidade em que deverão observar com
rigor todas as etapas da cadeia de custódia. Aliás, as preocupações em questão podem ir além
da Polícia e dos órgãos periciais, estendendo-se inclusive ao momento de trâmite dessas
evidências na fase do processo criminal, tanto no âmbito do Ministério Público quanto no
próprio Poder Judiciário (LIMA, 2020, p. 722).

2.4.1 Etapas da Cadeia de Custódia

O código traz as etapas da cadeia de custódia, devendo ser respeitada e realizada na


ordem do art. 158-B. Este cita que a cadeia de custódia compreende o rastreamento
do vestígio nas seguintes etapas: (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

• reconhecimento: ato de distinguir um elemento como de potencial interesse


para a produção da prova pericial;

• isolamento: ato de evitar que se altere o estado das coisas, devendo isolar e
preservar o ambiente imediato, mediato e relacionado aos vestígios e local de
crime;

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Meios de Prova e Meios de Obtenção de Prova em Espécie

• fixação: descrição detalhada do vestígio conforme se encontra no local de


crime ou no corpo de delito, e a sua posição na área de exames, podendo ser
ilustrada por fotografias, filmagens ou croqui, sendo indispensável a sua
descrição no laudo pericial produzido pelo perito responsável pelo
atendimento;

• coleta: ato de recolher o vestígio que será submetido à análise pericial,


respeitando suas características e natureza;

• acondicionamento: procedimento por meio do qual cada vestígio coletado é


embalado de forma individualizada, de acordo com suas características físicas,
químicas e biológicas, para posterior análise, com anotação da data, hora e
nome de quem realizou a coleta e o acondicionamento;

• transporte: ato de transferir o vestígio de um local para o outro, utilizando as


condições adequadas (embalagens, veículos, temperatura, entre outras), de
modo a garantir a manutenção de suas características originais, bem como o
controle de sua posse;

• recebimento: ato formal de transferência da posse do vestígio, que deve ser


documentado com, no mínimo, informações referentes ao número de
procedimento e unidade de polícia judiciária relacionada, local de origem, nome
de quem transportou o vestígio, código de rastreamento, natureza do exame,
tipo do vestígio, protocolo, assinatura e identificação de quem o recebeu;

• processamento: exame pericial em si, manipulação do vestígio de acordo com


a metodologia adequada às suas características biológicas, físicas e químicas, a
fim de se obter o resultado desejado, que deverá ser formalizado em laudo
produzido por perito;

• armazenamento: procedimento referente à guarda, em condições adequadas,


do material a ser processado, guardado para realização de contraperícia,
descartado ou transportado, com vinculação ao número do laudo
correspondente;

• descarte: procedimento referente à liberação do vestígio, respeitando a


legislação vigente e, quando pertinente, mediante autorização judicial.

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Meios de Prova e Meios de Obtenção de Prova em Espécie

2.5 Centrais de Custódia

O pacote anticrime determinou a criação das centrais de custodia, disposto no art.


158-C, a coleta dos vestígios deverá ser realizada preferencialmente por perito oficial,
que dará o encaminhamento necessário para a central de custódia, mesmo quando
for necessária a realização de exames complementares.

Segundo o §1º, todos vestígios coletados no decurso do inquérito ou processo devem


ser tratados como descrito nesta Lei, ficando órgão central de perícia oficial de
natureza criminal responsável por detalhar a forma do seu cumprimento. É PROIBIDA
a entrada em locais isolados bem como a remoção de quaisquer vestígios de locais
de crime antes da liberação por parte do perito responsável, sendo tipificada como
fraude processual a sua realização, dispõe o §2º.

Lima Jr (2020, p. 649) cita que “[...] note-se a importância de se respeitar a cadeia de
custódia, vez que este parágrafo demonstra a possibilidade de haver coleta durante a
instrução”.

O art. 158-D. compreende que o recipiente para acondicionamento do vestígio será


determinado pela natureza do material. Assim, todos os recipientes deverão ser
selados com lacres, com numeração individualizada, de forma a garantir a
inviolabilidade e a idoneidade do vestígio durante o transporte.

Em seus parágrafos cita que o recipiente deverá individualizar o vestígio, preservar


suas características, impedir contaminação e vazamento, ter grau de resistência
adequado e espaço para registro de informações sobre seu conteúdo. Ele só poderá
ser aberto pelo perito que vai proceder à análise e, motivadamente, por pessoa
autorizada.

Após cada rompimento de lacre, deve se fazer constar na ficha de acompanhamento


de vestígio o nome e a matrícula do responsável, a data, o local, a finalidade, bem

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como as informações referentes ao novo lacre utilizado. Desta maneira, o lacre


rompido deverá ser acondicionado no interior do novo recipiente.

O que consta neste art. e seus parágrafos, deverá ser exigido pelo juiz das garantias,
na fase do inquérito e pelo juiz da instrução na fase judicial, segundo Lopes Jr (2020).
Este é um artigo importante, pois o processo é instruído de forma precária em alguns
Estados, por vezes, existem apenas testemunhas e nenhuma prova pericial, gerando
perigo de produzir erro judiciário por falta de provas!

O art. 158-E. é uma solução em que traz a concentração dos vestígios em um só local,
conferindo segurança devida e acesso controlado ao local:
art. 158-E. Todos os Institutos de Criminalística deverão ter uma central de custódia destinada
à guarda e controle dos vestígios, e sua gestão deve ser vinculada diretamente ao órgão central
de perícia oficial de natureza criminal. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 1º Toda central de custódia deve possuir os serviços de protocolo, com local para
conferência, recepção, devolução de materiais e documentos, possibilitando a seleção, a
classificação e a distribuição de materiais, devendo ser um espaço seguro e apresentar
condições ambientais que não interfiram nas características do vestígio.
§ 2º Na central de custódia, a entrada e a saída de vestígio deverão ser protocoladas,
consignando-se informações sobre a ocorrência no inquérito que a eles se relacionam.
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 3º Todas as pessoas que tiverem acesso ao vestígio armazenado deverão ser identificadas e
deverão ser registradas a data e a hora do acesso. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 4º Por ocasião da tramitação do vestígio armazenado, todas as ações deverão ser registradas,
consignando-se a identificação do responsável pela tramitação, a destinação, a data e horário
da ação. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

O art. 158-F. dispõe que todo material periciado será encaminhado à central de
custódia, ou seja, após a realização da perícia, o material deverá ser devolvido à central
de custódia, devendo nela permanecer. Em seu parágrafo único, cita que caso a central
de custódia não possua espaço ou condições de armazenar determinado material,
deverá a autoridade policial ou judiciária determinar as condições de depósito do
referido material em local diverso, mediante requerimento do diretor do órgão central
de perícia oficial de natureza criminal.

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Meios de Prova e Meios de Obtenção de Prova em Espécie

2.6 Do Interrogatório Judicial

Antes de iniciarmos o assunto do material, lhe darei uma dica! Tenha atenção aluno,
priorize o que for relevante/relacionado com o cargo que você está se preparando.
Não deixe de estudar os tópicos, para que assim, seja aprovado em sua tão sonhada
vaga. Diante do exposto, iniciaremos o conteúdo! Você sabe o que é um interrogatório
Judicial?

Interrogatório judicial: é o ato pelo qual o acusado, comparece perante uma


autoridade judicial, para prestar esclarecimentos sobre os fatos que estão sendo
apurados. Este é um ato processual de grande relevância, pois constitui a
oportunidade por excelência de o réu dar a sua versão dos fatos, negando ou
admitindo a acusação feita. Este é um instrumento de defesa importante, mas também
um meio de prova.

O interrogatório judicial se divide em duas partes, em um primeiro momento o juiz


irá realizar perguntas sobre a pessoa do acusado, e no segundo momento será
perguntado sobre os fatos. A Lei nº 10.792, de 1º.12.2003 alterou o art. 187 do Código
de Processo Penal, sendo este artigo o que detalha este procedimento do
interrogatório.

Na primeira parte o interrogando será perguntado sobre a residência, meios de vida


ou profissão, oportunidades sociais, lugar onde exerce a sua atividade, vida pregressa,
notadamente se foi preso ou processado alguma vez e, em caso afirmativo, qual o
juízo do processo, se houve suspensão condicional ou condenação, qual a pena
imposta, se a cumpriu e outros dados familiares e sociais. Já na segunda parte será
perguntado sobre:

• Ser verdadeira a acusação que lhe é feita;


• Não sendo verdadeira a acusação, se tem algum motivo particular a que atribuí-
la, se conhece a pessoa ou pessoas a quem deva ser imputada a prática do

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Meios de Prova e Meios de Obtenção de Prova em Espécie

crime, e quais sejam, e se com elas esteve antes da prática da infração ou depois
dela;
• Onde estava ao tempo em que foi cometida a infração e se teve notícia desta;
• As provas já apuradas;
• Se conhece as vítimas e testemunhas já inquiridas ou por inquirir, e desde
quando, e se tem o que alegar contra elas;
• Se conhece o instrumento com que foi praticada a infração, ou qualquer objeto
que com esta se relacione e tenha sido apreendido;
• Todos os demais fatos e pormenores que conduzam à elucidação dos
antecedentes e circunstâncias da infração;
• Se tem algo mais a alegar em sua defesa.

Nucci (2020) cita que na primeira etapa há a finalidade de obter os dados de


identificação do réu. Essa colheita deveria ser realizada pelo juiz, contudo, acaba sendo
transferida ao funcionário da sala de audiências. O autor ainda prevê que nesse ato o
sujeito acusado não utilizara direito ao silêncio e nem poderá mentir sem
consequência.

Já na segunda etapa, que garante a colheita de elementos importantes para a fixação


da pena, ele poderá utilizar o direito ao silêncio, pois não se pode exigir que fale o
que não deseja. Segundo Nucci (2020) o acusado não é obrigado a narrar a verdade,
mesmo que condenado, poderá omitir do juiz por exemplo que é um esposo ruim ou
um pai ruim, declarando-se como tal visando se apresentar da melhor forma ao
magistrado.

2.6.1 Natureza Jurídica Do Interrogatório

As principais correntes doutrinarias divergem, pois, um lado considera o interrogatório


como meio de prova e o outro como meio de defesa. A primeira corrente considera o
depoimento do réu como meio de prova, possui como principal fundamento a
localização topográfica no Código De Processo Penal. Já a segunda corrente,
considera o interrogatório como meio de defesa (esta é a corrente majoritária), mas
observe que o interrogatório poderá se caracterizar como meio de prova, pois
dependendo do que for dito no interrogatório, o juiz pode formar sua convicção.

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Meios de Prova e Meios de Obtenção de Prova em Espécie

Ao observar a ampla defesa compreende-se que se divide em defesa técnica e


autodefesa (que possui três expressões), o interrogatório é expresso no direito de
audiência, onde o acusado é interrogado.

Ao considerar o interrogatório como meio de defesa surge a possibilidade de “Nemo


tenetur se detegere” (Direito a permanecer em silêncio, direito de não produzir prova
contra si) e a impossibilidade de condução coercitiva para o interrogatório, pois o não
comparecimento perante a autoridade judicial é um direito (não pode resultar em
prejuízo para defesa como o reconhecimento da revelia).

Quando o sujeito não permanece em silêncio, se mentir não será condenado por crime
de perjúrio, contudo, se a testemunha mente a lei prevê prisão de um a três anos,
além de multa para o infrator. Isto ocorre, pois na legislação brasileira, o perjúrio
cometido pelo acusado não é crime, pois no Brasil ninguém é obrigado a produzir
prova contra si mesmo.

Você sabe o que é revelia? A revelia está expressa no art.344 do Código de Processo
Civil, ela ocorre com a ausência de contestação e, como consequência, gera presunção
de veracidade dos fatos alegados pelo autor.

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A respeito da condução coercitiva o art. 260. fundamenta e compreende que se o


acusado não atender à intimação para o interrogatório, reconhecimento ou qualquer
outro ato que, sem ele, não possa ser realizado, a autoridade pode mandar conduzi-
lo à sua presença. (Vide ADPF 395) (Vide ADPF 444)

Contudo, o Supremo Tribunal Federal no julgamento da ADPF 395 e ADPF 444


compreendeu pela impossibilidade de condução de acusado para prestar
interrogatório, mas isto não significa que a condução coercitiva acabou, se for para
outra finalidade, como por exemplo em caso de necessidade de identificação do
acusado.

Lopes Jr cita que:


Mas, se feito reconhecimento com as devidas cautelas legais (inclusive respeitando o direito
do réu de não participar), deverá o juiz (ou autoridade policial, se for o caso) providenciar que
o imputado seja colocado ao lado de outras pessoas fisicamente semelhantes (LOPES JR, 2020,
p.772).

Por outro lado, existe a condução coercitiva da testemunha onde estão obrigadas a
comparecer em audiência, pois diferentemente do interrogatório do acusado que é
simultaneamente um meio de prova e meio de defesa, a inquirição de testemunha é
exclusivamente um meio probatório.

ATENÇÃO! A condução coercitiva se caracteriza como uma espécie de medida


cautelar de natureza pessoal, cláusula de reserva de jurisdição, ou seja, sua
determinação fica adstrita a ordens judiciais.

Portanto, a condução coercitiva, na atualidade é cabível para submeter as


testemunhas, não cabendo, falar em condução coercitiva do acusado para fins de

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interrogatório, pois, há o prevalecimento dos princípios da presunção de inocência e


da não autoincriminação.

2.6.2 Necessidade do Interrogatório

Lembre-se que o interrogatório é considerado como meio de prova e como meio de


defesa. A primeira corrente considera o depoimento do réu como meio de prova, já
a segunda corrente, considera o interrogatório como meio de defesa (esta é a
corrente majoritária), mas observe que o interrogatório poderá se caracterizar como
meio de prova, pois dependendo do que for dito no interrogatório, o juiz pode formar
sua convicção.

Ao considerar o interrogatório como meio de defesa surge a possibilidade de “Nemo


tenetur se detegere” (Direito a permanecer em silêncio, direito de não produzir prova
contra si) e a impossibilidade de condução coercitiva para o interrogatório, pois o não
comparecimento perante a autoridade judicial é um direito (não pode resultar em
prejuízo para defesa como o reconhecimento da revelia).

Quando o sujeito não permanece em silêncio, se mentir não será condenado por crime
de perjúrio, contudo, se a testemunha mente a lei prevê prisão de um a três anos,
além de multa para o infrator. Isto ocorre, pois na legislação brasileira, o perjúrio
cometido pelo acusado não é crime, no Brasil ninguém é obrigado a produzir prova
contra si mesmo.

Relembrado isto, sobre a necessidade do interrogatório, não é um ato obrigatório


do processo, mas precisa ser disponibilizado, a possibilidade de o acusado vir a se
apresentar perante o juiz e dar sua versão dos fatos deve ocorrer, é um ato obrigatório.

Sabemos que o interrogatório apresenta dúplice natureza, sendo meio de defesa e


meio de prova. Quando há a sua falta e presente o réu, se induz à nulidade do feito.
Devido o princípio da ampla defesa a nulidade absoluta deverá ser decretada quando
não realizado interrogatório do réu no processo.

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Isto pode ocorrer com o réu preso que está respondendo um processo (próprio
processo) e é acusado em outro, ao não encontrar o suspeito a citação por edital será
realizada.

O interrogatório se qualifica como meio de defesa e deve ser assegurado o seu


exercício, o sujeito deve ser citado pessoalmente, é a regra, mas caso não seja
encontrado em seu endereço e esgotadas todas as possibilidades no sentido de o
localizar, a citação por edital é possível, a qual possui prazo de quinze dias. Entretanto,
é dever do Estado saber a localização do preso para citá-lo pessoalmente, e caso tenha
sido realizada por edital deverá ser considerada nula. Isto está previsto na Súmula
351, do Supremo Tribunal Federal, o qual compreende que “É nula a citação por edital
de réu preso na mesma unidade da federação em que o juiz exerce a sua jurisdição”.

Em relação a nulidade, não existe consenso sobre qual tipo de nulidade será gerada,
assim duas correntes emergem, sendo:

• Nulidade Absoluta; a norma violada tutela interesse público.

• Nulidade Relativa; esta nulidade só será decretada ao comprovar a ocorrência


de efetivo prejuízo.

2.6.3 Reinterrogatório

Ao longo de uma instrução existem razões passíveis em que causam outro


interrogatório. O art. 196. do Código de Processo Penal prevê que a todo tempo o
juiz poderá proceder a novo interrogatório de ofício ou a pedido fundamentado de
qualquer das partes.

• Isto se aplica inclusive em grau de recurso.

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Contudo para que ocorra uma renovação de interrogatório, deve ser fundamentado.
Nucci (2020) traz as hipóteses em que a renovação do interrogatório pode ocorrer:

• Quando o juiz sentenciante não é o mesmo que realizou o ato, precisando


ouvir/ver para formar o seu convencimento;
• Quando o juiz constata pobreza de interrogatório;
• Quando o juiz que interroga entra em confronto com o acusado, havendo
parcialidade;
• O réu, que confessou no primeiro interrogatório, mas deseja retratar-se;
• Surge prova nova e o réu quer se manifestar sobre seu depoimento, o qual até
então era desconhecido; e entre outras hipóteses que podem surgir.

2.6.4 Momento do Interrogatório

O art 400 trata da audiência de instrução e julgamento a qual é idealmente una, cita
que na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo máximo de 60
dias, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, à inquirição das
testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o
disposto no art. 222 deste Código, bem como aos esclarecimentos dos peritos, às
acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida,
o acusado. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).

Segundo Lima (2020):


[...] todas as provas orais são colhidas de forma concentrada, sendo que o interrogatório
judicial passou a ser o último ato da instrução processual. Logo, se ao acusado é assegurado
o direito de acompanhar os atos da instrução, consectário lógico do direito de presença, deve-
se assegurar a ele a possibilidade de acompanhar os demais atos da audiência, antes da
realização de seu interrogatório, tais como o depoimento do ofendido, das testemunhas
arroladas pela acusação e pela defesa, etc (LIMA, 2020, p.757).

O ofendido pode de ser conduzido coercitivamente? Sim, já o acusado para prestar


suas declarações não poderá ser conduzido coercitivamente. UMA DICA! Não

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confunda ofendido com acusado, pois o ofendido é a vítima, mas lembre-se que o
ofendido também não é obrigado a dizer a verdade.

O art. 400 cita o art 222, este artigo traz sobre as testemunhas que residem em
Comarca diversa de onde deva ser ouvida, a lei buscando evitar o deslocamento da
testemunha, determina que seja expedida a carta precatória, assim, a testemunha é
ouvida em sua cidade. A carta precatória gradativamente vem sendo menos utilizada,
devido a vídeo conferência.

O art. 222 cita que:


A testemunha que morar fora da jurisdição do juiz será inquirida pelo juiz do lugar de sua
residência, expedindo-se, para esse fim, carta precatória, com prazo razoável, intimadas as
partes.

No que se refere ao interrogatório será o último ato da instrução, isto ocorreu a partir
de 2008, mas existem procedimentos especiais em que o interrogatório ocorreria no
início da instrução, disposto nos seguintes procedimentos:

• Lei 11343/06 (drogas);


• Lei 8038/90 (competência originaria dos tribunais);
• Código de Processo Militar (CPPM); e
• Lei 8666/93 lei de licitações (atual 14.133/2021).

ATENÇÃO! É importante ressaltar que o Supremo Tribunal Federal orientou no HC n.


127.900/AM que a norma no art. 400 do CPP aplica-se aos processos penais eleitorais,
processos penais militares e todos os procedimentos penais regidos por legislação
especial. Assim, incidindo apenas nas ações penais cuja instrução não tenha
encerrado.

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2.7 Características do Interrogatório


2.7.1 Ato em Contraditório

O interrogatório judicial, segundo Lima (2020, p. 742) é “o ato processual por meio do
qual o juiz ouve o acusado sobre sua pessoa e sobre a imputação que lhe é feita.” O
interrogatório possui características e vamos elencá-las.

O interrogatório era um ato privativo do juiz e foi com a entrada em vigor da Lei nº
10.792/03 que o interrogatório passou a se submeter ao princípio do contraditório (o
que traz a possibilidade de interferência das partes).

O art. 185. do Código de Processo Penal, dispõe que o acusado que comparecer
perante a autoridade judiciária, no curso do processo penal, será qualificado e
interrogado na presença de seu defensor, constituído ou nomeado.

O artigo cita a presença do defensor constituído, obrigatoriamente haverá defensor,


pois o Código de Processo Penal assegura a defesa de qualquer sujeito que esteja
sendo julgado, assim como a Constituição Federal garante a assistência jurídica aos
menos abastados, sendo o Advogado Dativo indicado nos casos em que a defensoria
pública não é capaz de agir.

SAIBA A DIFERENÇA entre o defensor constituído ou nomeado, defensor público e


defensor dativo. O defensor constituído ou nomeado é o de confiança ou
contratado pelo próprio réu do processo. Já o defensor público realiza a orientação
jurídica e a defesa dos necessitados, em todos os graus de jurisdição. Contudo, nem
sempre o defensor público atende à demanda, assim surge a nomeação do defensor
dativo. O defensor dativo exerce o papel de defensor público, mas não pertence à
defensoria pública, ele ajuda o cidadão por indicação da Justiça, mas atente-se que o
código de processo penal compreende que se o acusado não possuir baixa renda,

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deverá pagar os honorários do defensor, arbitrados pelo juiz.

Portanto, é necessário o acompanhamento do defensor no interrogatório ( o qual é


conduzido pelo juiz), depois é possibilitado que as partes realizem perguntas e
esclareçam alguns fatos. No que se refere ao contraditório e a ampla defesa, a
pergunta do que representa o acusado será realizada por último.

Lima (2020, p. 746) prevê que:


[...] o interrogatório continua submetido ao sistema presidencialista, devendo o juiz formular
as perguntas antes das reperguntas das partes. Apesar de a maioria da doutrina entender que
o interrogatório tem natureza jurídica de meio de defesa, tem prevalecido o entendimento de
que quem repergunta primeiro é a acusação (Ministério Púbico, querelante ou assistente),
seguindo-se as perguntas da defesa. Havendo dois ou mais acusados no processo, deve-se
possibilitar a qualquer dos litisconsortes penais passivos formular reperguntas aos demais
corréus, notadamente se as defesas de tais acusados se mostrarem colidentes, sob pena de
violação à ampla defesa.

2.7.2 Ato Público

Em regra, a publicidade do interrogatório judicial deve ser observada (amplo acesso),


no entanto, dependendo da situação existem restrições. O art 5º da Constituição
Federal cita em seu inciso LX, que a lei só poderá restringir a publicidade dos atos
processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem.

O art. 93º inciso IX da Constituição Federal também compreende que todos os


julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas
as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados
atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais
a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o
interesse público à informação.

No que se refere ao interrogatório de réu preso, o art. 185 em seu § 1º do Código


De Processo Penal cita que o interrogatório do réu preso será realizado, em sala
própria, no estabelecimento em que estiver recolhido, desde que estejam garantidas

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Meios de Prova e Meios de Obtenção de Prova em Espécie

a segurança do juiz, do membro do Ministério Público e dos auxiliares bem como a


presença do defensor e a publicidade do ato.

Nucci (2020) dispõe que o interrogatório passou a ser realizado no estabelecimento


penal, pois evita-se o deslocamento do preso sob escolta (gera o risco de fuga). Assim
com a pandemia houve um aumento do uso de videoconferência, existem dois
prismas para adotar a videoconferência, mas abordaremos em outro material.

2.7.3 Ato Personalíssimo

O interrogatório deve ser exercido pelo acusado, é um ato pessoal, pois não é possível
colocar o outro para falar no lugar. Quando é uma pessoa jurídica, quem será
interrogado será o representante legal ou o detentor de carta de proposição (preposto
da empresa).

Você sabe o que é carta de preposição? A carta de preposição é um documento em


que se utiliza para nomear um preposto, ou seja, um sujeito vai comparecer e
representar outro na Justiça. Isto é muito comum no âmbito trabalhista, por exemplo,
quando o empregador nomeia um empregado para representá-lo.

2.7.4 Ato Individual

O art. 191. prevê que havendo mais de um acusado, serão interrogados


separadamente. Este é um meio de defesa em que cada sujeito exerce de maneira
separada.

Lima (2020, p. 748) dispõe que:


Nesse caso, [...] deve-se possibilitar ao advogado do corréu a possibilidade de formular
reperguntas aos demais acusados, notadamente se as defesas de tais acusados se mostrarem

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colidentes, sob pena de violação à ampla defesa. O fato de o acusado advogar em causa
própria não é suficiente para afastar a regra contida no art. 191 do CPP, já que o acusado pode
constituir outro defensor para acompanhar especificamente o interrogatório do corréu.

Abaixo há um esquema para facilitar em seu estudo, são as características que


elencamos do interrogatório judicial:

2.8 Local do Interrogatório

Em regra, o local é perante o juízo do processo (da causa). O art. 399. entende que ao
ser recebida a denúncia ou queixa, o juiz designará dia e hora para a audiência,
ordenando a intimação do acusado, de seu defensor, do Ministério Público e, se for o
caso, do querelante e do assistente. Portanto, o acusado preso será requisitado para
comparecer ao interrogatório, devendo o poder público providenciar sua
apresentação e o juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença (art. 399. §1
º e §2º).

A regra traz o local perante o juízo, contudo, é possível a expedição de carta precatória
este é um ato a ser realizado no processo buscando evitar o deslocamento,
determinando que seja expedida a carta precatória, assim, o indivíduo é ouvido em
sua cidade. O art. 222 compreende que a testemunha que morar fora da jurisdição do
juiz será inquirida pelo juiz do lugar de sua residência, expedindo-se, para esse fim,
carta precatória, com prazo razoável, intimadas as partes.

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ATENÇÃO! A carta precatória gradativamente vem sendo menos utilizada, devido a


vídeo conferência.

Quando o acusado está solto, o interrogatório ocorre na sala de audiência no Fórum,


já quando está preso, existem três maneiras de realizar o interrogatório, sendo:

• Por videoconferência;
• Pessoalmente, no fórum (prevê o §7º do art. 185 CPP); e
• Pessoalmente, dentro do presídio que se encontra, com segurança para os
envolvidos no ato.

2.9 Interrogatório por videoconferência

Lopes Jr (2020) aponta que a videoconferência é aplicável nas hipóteses do art. 185
para o interrogatório do réu preso, não sendo justificável quando o réu estiver em
liberdade, ou seja, a videoconferência é uma medida excepcional.

Foi em 2005 no Estado de São Paulo que a Lei nº 11.819 com um texto composto por
4 artigos possibilitou a realização de interrogatórios por videoconferência nos
procedimentos judiciais destinados ao interrogatório e à audiência de presos (LIMA,
2020). O objetivo era o de tornar mais célere o trâmite processual, assim, vários
interrogatórios por videoconferência passaram a ser realizados no Estado de São
Paulo e por conseguinte no restante do Brasil.

Disposto no art. 185. §2º prevê que excepcionalmente, o juiz, por decisão
fundamentada, de ofício ou a requerimento das partes, poderá realizar o
interrogatório do réu preso por sistema de videoconferência ou outro recurso
tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real, desde que a medida
seja necessária para atender a uma das seguintes finalidades:

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• prevenir risco à segurança pública, quando exista fundada suspeita de que o


preso integre organização criminosa ou de que, por outra razão, possa fugir
durante o deslocamento;
• viabilizar a participação do réu no referido ato processual, quando haja
relevante dificuldade para seu comparecimento em juízo, por enfermidade ou
outra circunstância pessoal;
• impedir a influência do réu no ânimo de testemunha ou da vítima, desde que
não seja possível colher o depoimento destas por videoconferência, nos termos
do art. 217 deste Código;
• responder à gravíssima questão de ordem pública (ex: Covid).

Para facilitar a sua compreensão, abaixo há um esquema:

ATENÇÃO! Com a pandemia surgiu a resolução 329/20 do CNJ a qual “regulamenta


e estabelece critérios para a realização de audiências e outros atos processuais por
videoconferência, em processos penais e de execução penal, durante o estado de
calamidade pública, reconhecido pelo Decreto Federal nº 06/2020, em razão da
pandemia mundial por Covid-19’, ou seja, traz a possibilidade de realização de
audiências por videoconferências, mas note que o Código restringe a vídeo
conferência ao réu preso e em hipóteses excepcionais (lembre-se que a oitiva de
testemunha também pode ser realizada por videoconferência).

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O § 3º e 4º do art. 185 preveem que da decisão que determinar a realização de


interrogatório por videoconferência, as partes serão intimadas com 10 dias de
antecedência e antes do interrogatório por videoconferência, o preso poderá
acompanhar, pelo mesmo sistema tecnológico, a realização de todos os atos da
audiência única de instrução e julgamento de que tratam os arts. 400, 411 e 531 do
Código de Processo Penal.

Em qualquer modalidade de interrogatório, o juiz garantirá ao réu o direito de


entrevista prévia e reservada com o seu defensor; se realizado por videoconferência,
fica também garantido o acesso a canais telefônicos reservados para comunicação
entre o defensor que esteja no presídio e o advogado presente na sala de audiência
do Fórum, e entre este e o preso, cita o § 5º.

Observe que o juiz garante ao réu a entrevista prévia ao interrogatório e não uma
entrevista previa a audiência.

Lima (2020,p.758) cita que:


passou a ser obrigatório que o acusado possa se entrevistar reservada e separadamente com
seu defensor, antes da realização do interrogatório. Logicamente, com a colocação do
interrogatório ao final da audiência una de instrução e julgamento em virtude da reforma de
2008, é intuitivo que o acusado já tenha se entrevistado com seu defensor antes da realização
de seu interrogatório.

A respeito do local a ser realizado a videoconferência, o §6º prevê que a sala


reservada no estabelecimento prisional para a realização de atos processuais por
sistema de videoconferência será fiscalizada pelos corregedores e pelo juiz de cada
causa, como também pelo Ministério Público e pela Ordem dos Advogados do Brasil.

Quando o interrogatório não for realizado no previsto do §1º e §2º, será requisitada a
apresentação do réu preso em juízo compreende o §7º.

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Meios de Prova e Meios de Obtenção de Prova em Espécie

ATENÇÃO! Aplica-se o disposto nos §§ 2º, 3º, 4º e 5º do art. 185, no que couber, à
realização de outros atos processuais que dependam da participação de pessoa que
esteja presa, como acareação, reconhecimento de pessoas e coisas, e inquirição de
testemunha ou tomada de declarações do ofendido. Também fica garantido o
acompanhamento do ato processual pelo acusado e seu defensor.

Por fim, o § 10. cita que do interrogatório deverá constar a informação sobre a
existência de filhos, respectivas idades e se possuem alguma deficiência e o nome e o
contato de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa
presa.

2.10 A Oralidade do Interrogatório

O interrogatório geralmente é feito oralmente, mas existem casos excepcionais que


são apresentados pelo art. 192, o interrogatório do mudo, do surdo ou do surdo-
mudo será feito pela forma seguinte:

• ao surdo serão apresentadas por escrito as perguntas, que ele responderá


oralmente;
• ao mudo as perguntas serão feitas oralmente, respondendo-as por escrito;
• ao surdo-mudo as perguntas serão formuladas por escrito e do mesmo modo
dará as respostas.

O parágrafo único prevê que caso o interrogando não saiba ler ou escrever,
intervirá no ato, como intérprete e sob compromisso, pessoa habilitada a entendê-lo.

Já o art. 193. cita que quando o interrogando não falar a língua nacional, o
interrogatório será feito por meio de intérprete. Mesmo que o juiz fale a língua do
acusado, um intérprete será utilizado.

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Meios de Prova e Meios de Obtenção de Prova em Espécie

Nucci (2020) traz sobre o intérprete e prevê que:


[...] é, para todos os fins, equiparado ao perito (art. 281, CPP), razão pela qual será nomeado
pelo magistrado, devidamente compromissado e estará sujeito às regras da suspeição
aplicáveis aos juízes. Por isso, segundo cremos, não deve ser nomeado parente do depoente,
que dificilmente terá imparcialidade suficiente para proceder à tradução do que lhe for dito
(NUCCI, 2020, p. 755).

2.11 A Espontaneidade do Interrogatório

O interrogatório é um ato espontâneo, ou seja, é livre de pressões e constrangimentos.


Lembre-se que é crime de abuso de autoridade prosseguir o interrogatório do
indivíduo que manifesta a vontade de permanecer em silêncio.

2.12 Direito ao Silêncio Seletivo

O princípio nemo tenetur se detegere traz que o indivíduo não pode sofrer nenhuma
espécie de prejuízo jurídico por não colaborar com a atividade probatória da acusação
ou por exercer o direito ao silêncio no interrogatório (LOPES JR, 2020).

Assim surge o direito ao silencio seletivo, isto ocorre quando o acusado reponde
apenas aos questionamentos formulados por seu defensor. Esta é uma prática comum,
que advogados orientarem seus clientes a responderem as perguntas exclusivamente
da defesa, alguns juízes podem não admitir, mas este é um termo que pode aparecer
em sua prova.

2.13 Da Confissão

A confissão é o ato de assumir a responsabilidade penal de um fato delituoso, ou


seja, pode ser compreendida como o reconhecimento pelo acusado, dos fatos
imputados de forma desfavorável. Lima (2020, p. 759) conceitua como “[...] a aceitação
por parte do acusado da imputação da infração penal, perante a autoridade judiciária

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Meios de Prova e Meios de Obtenção de Prova em Espécie

ou policial.”

O art. 197. do Código de Processo Penal prevê que o valor da confissão se aferirá pelos
critérios adotados para os outros elementos de prova, e para a sua apreciação o juiz
deverá confrontá-la com as demais provas do processo, verificando se entre ela e estas
existe compatibilidade ou concordância.

A confissão basicamente é a admissão como verdadeiro os fatos contidos na acusação,


sendo necessário É preciso fundamentar a confissão se ter mais elementos de prova,
pois existem situações em que um indivíduo possa assumir a culpa de algo que não é
dele.

Lopes Jr (2020) compreende que todas as provas são relativas e nenhuma delas terá
valor decisivo ou de maior prestígio, pois a confissão não é mais a rainha das provas
(como no processo inquisitório medieval), o valor é relativo e não possui maior
prestígio que as demais provas.

2.13.1 Classificação Da Confissão

A confissão pode ser classificada da seguinte forma:

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• Confissão Judicial

A confissão judicial é realizada na ação penal, ou seja, dentro do juízo. A confissão


é realizada perante a autoridade competente, sendo meio de prova direto.

• Confissão Extrajudicial

A confissão extrajudicial ocorre fora do juízo, ou seja, não é realizada no âmbito


judicial, sendo um meio de prova indireto (um indício).

Ex: inquérito policial, por vídeo etc.

A condenação não pode ser fundamentada exclusivamente nos elementos


informativos produzidos durante a fase de investigação preliminar, isto é, a
confissão extrajudicial não poderá ser o único fator de convicção invocado pelo
juiz na sentença. Se o juiz utiliza a confissão extrajudicial para fundamentar a
condenação, deverá aplicar a atenuante. Portanto, em casos de confissão
extrajudicial, ela deverá ser reproduzida nos autos do processo para que venha a
surtir efeitos.

Lima (2020, p.760) argumenta e conclui que:


[...] uma confissão extrajudicial não pode, de per si, fundamentar um decreto condenatório,
sob pena, aliás, de violação ao preceito do art. 155, caput, do CPP. Em duas situações,
todavia, a jurisprudência tem admitido a valoração da confissão extrajudicial: a) no plenário
do júri, em virtude do sistema da íntima convicção do juiz, que vigora em relação à decisão
dos jurados; b) quando a confissão extrajudicial é feita na presença de defensor.

• Confissão Simples

A confissão simples ocorre quando o acusado confessa que a prática do fato é


verdadeira, ou seja, admissão dos fatos descritos. Contudo o acusado não invoca
excludente da ilicitude ou culpabilidade a seu próprio benefício.

• Confissão Qualificada

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A confissão qualificada surge quando o acusado confessa a prática do fato


delituoso, porém tenta justificar sua conduta, isto é, alega que praticou acobertado
por uma excludente da culpabilidade ou ilicitude.

Para complementar, Nucci (2020, p. 778) prevê que “ [...] chama-se qualificada a
confissão que apresenta a admissão de culpa, acompanhada de uma justificativa
qualquer benéfica ao acusado. É a hipótese de admitir a prática do fato, invocando
alguma excludente de ilicitude ou culpabilidade”.

• Confissão Expressa (EXPLÍCITA)

Na confissão expressa ou explícita há a descrição de conduta. Segundo Lima (2020)


a confissão é feita de maneira evidente, o acusado confessa a prática do fato
delituoso sem dubiedades.

• Confissão Tácita (OU FICTA)*

A confissão é tácita ou ficta quando não há impugnação específica dos fatos, ou


seja, ocorre quando o acusado não contesta os fatos imputados.

ATENÇÃO! No âmbito do processo penal não se admite esta modalidade de


confissão em virtude da regra probatória, a qual deriva do princípio da presunção
de inocência

• Confissão Implícita

A confissão implícita decorre da prática de ato incompatível com a negativa dos


fatos. De forma implícita se admite a prática dos atos, um exemplo é quando o
acusado paga a indenização. Segundo Lima (2020), no âmbito do processo penal,
essa confissão possui qualquer valor.

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• Confissão Delatória

O acusado reconhece a prática da infração, mas aponta outros agentes que


concorreram para a prática do crime. Esta confissão é mais conhecida como a
delação premiada.

2.13.2 Características da Confissão

Ato Divisível E Retratável

Diferentemente do processo civil, no âmbito do processo penal a confissão será


divisível e retratável, o art. 200 do Código de Processo Penal compreende ser sem
prejuízo do livre convencimento do juiz, fundado no exame das provas em conjunto.

Nucci (2020) traz sobre a divisibilidade da confissão, o juiz pode aproveitá-la por
partes, acreditando em um trecho e não tendo a mesma impressão quanto a outro,
sendo comum o réu admitir o que lhe é acusado para levantar, em seu benefício, causa
de exclusão de culpabilidade. Note que o réu pode confessar só uma parte dos fatos.

No que se refere a ser retratável, a lei dispõe expressamente admitir a possibilidade


de o acusado se retratar, a qualquer momento, trazendo a versão correta dos fatos,
em sua visão. Entretanto, a possibilidade de se retratar não significa que o magistrado
é obrigado a crer na nova versão do réu.

2.13.3 Valor Probatório Da Confissão

Segundo Lima (2020) a confissão possui o mesmo valor probatório dos demais meios
de prova. É um valor relativo e meio de prova como qualquer outro, ou seja, será
valorado em conjunto com os demais elementos.

2.14 Da Prova Testemunhal

Antes de iniciarmos o conteúdo da prova testemunhal, é importante que você saiba o


que é uma testemunha, Távora e Alencar conceituam e citam que:

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Testemunha é a pessoa desinteressada que declara em juízo o que sabe sobre os fatos, em
face das percepções colhidas sensorialmente. Ganham relevo a visão e a audição, porém, nada
impede que a testemunha amealhe suas impressões através do tato e do olfato. Quanto à
natureza jurídica, é mais um meio de prova, que conta com a colaboração daqueles que,
escolhidos pelo destino, acabam tendo conhecimento do acontecimento delitivo” (TÁVORA,
ALENCAR, 2017, p.715)

Em outras palavras, a testemunha em si é meio de prova (natureza jurídica), é uma


pessoa desinteressada. Contudo, diferentemente do réu, a testemunha possui a
obrigação de dizer a verdade, ela não pode se calar ou omitir.

Quem pode ser testemunha? Em regra, segundo o art. 202 toda pessoa poderá ser
testemunha.

Nucci (2020) traz a diversidade nas testemunhas, pois a norma é clara ao estipular que
toda pessoa pode ser testemunha, portanto não se pode excluir pessoas consideradas
de má reputação como: drogados; prostitutas; marginais; e entre outras). Nucci (2020)
ainda compreende que interessados no deslinde do processo (inimigos ou amigos do
réu, policiais que realizaram a prisão em flagrante, entre outras) também podem ser
testemunhas, pois o juiz possui liberdade para avaliar a prova produzida, algumas
pessoas podem ser consideradas “uma testemunha não ideal” e embora narre, com
imparcialidade, o juiz não pode colocar impedimento gratuito a qualquer pessoa para
atuar como testemunha, salvo quando a lei determina.

ATENÇÃO! As testemunhas possuem o dever de falar a verdade sob pena de crime.


O art. 342. do Código Penal prevê que fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a
verdade como testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo
judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral terá pena de reclusão,
de 2 a 4 anos, e multa. O § 1º traz que as penas serão aumentadas de um sexto a um
terço, se o crime é praticado mediante suborno ou se cometido com o fim de obter
prova destinada a produzir efeito em processo penal, ou em processo civil em que for

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parte entidade da administração pública direta ou indireta. O fato deixa de ser punível
se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou
declara a verdade (§ 2º).

As exceções estão contidas no art. 206, a testemunha não poderá eximir-se da


obrigação de depor. Poderão, entretanto, recusar-se a fazê-lo o ascendente ou
descendente, o afim em linha reta, o cônjuge, ainda que desquitado, o irmão e o pai,
a mãe, ou o filho adotivo do acusado, salvo quando não for possível, por outro modo,
obter-se ou integrar-se a prova do fato e de suas circunstâncias.

O art. 206 basicamente traz que os parentes podem se recusar a atuar como
testemunha em nome da proteção familiar, mas caso não for possível obter a prova
de outra forma deverão depor. Contudo, mesmo com as exceções, Távora e Alencar
(2017, p.717, grifo nosso) dispõem que “[...] os parentes do réu estarão obrigados a
colaborar. Ainda assim, não prestarão compromisso de dizer a verdade, e caso
mintam, não praticam falso testemunho”. Já os parentes da vítima são obrigados a
depor sob compromisso e se faltarem com a verdade, praticam crime (TÁVORA,
ALENCAR, 2017).

No que se refere a vítima o (ofendido) não é considerada testemunha, pois possui


interesse. Lopes Jr (2020) compreende que a vítima não presta compromisso de dizer
a verdade e não é responsabilizada pelo delito de falso testemunho, mas pelo crime
de denunciação caluniosa, poderá ser responsabilizado (disposto no art. 339 do
Código Penal).

O art. 207. Também traz exceções e cita que são proibidas de depor as pessoas que,
em razão de função, ministério, ofício ou profissão, devam guardar segredo, salvo
se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar o seu testemunho.

Ex: médico; psicólogo; qualquer tipo de terapeuta; padre; policial; advogado


etc.

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Figura 1-O Efeito Da Vedação Legal

Fonte 1- Adaptado de Távora, Alencar, 2017.

O indivíduo que, em razão de função, ministério, ofício ou profissão quiser dar o


testemunho, deverá ocorrer a liberação do interessado no sigilo e a própria vontade
do profissional.

2.14.1 As Proibições de Testemunhar Em razão da Função

2.14.1.1 Advogado

O advogado possui a proteção do sigilo profissional a Lei 8906/1994 traz o art. 7º do


Estatuto da OAB (...) XIX o qual dispõe que recusar-se a depor como testemunha em
processo no qual funcionou ou deva funcionar, ou sobre fato relacionado com pessoa
de quem seja ou foi advogado, mesmo quando autorizado ou solicitado pelo
constituinte, bem como sobre fato que constitua sigilo profissional;

Isto é, os advogados estão impossibilitados de figurar como testemunha, e mesmo


quando autorizados pelo interessado, poderão recusar-se.

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ATENÇÃO! Não interprete o exposto como “jamais o advogado poderá ser


testemunha”, a proibição está relacionada a confidência. Portanto, se ausente a
proibição de depor prevista no art. 207 do Código de Processo Penal e inaplicável o
disposto no art. 7º XIX da Lei nº 8.906/94, o advogado possui o dever de depor.

2.14.1.2 Deputados E Senadores

A Constituição Federal em seu art. 53. (...) §6º prevê que os Deputados e Senadores
não serão obrigados a testemunhar sobre informações recebidas ou prestadas em
razão do exercício do mandato. Nem sobre as pessoas que lhes confiaram ou deles
receberam informações.

De maneira semelhante, juízes e membros do Ministério Público não podem atuar em


processo em que foram testemunhas, dispõe o art. 252, inciso II, c/c art. 258, ambos
do Código de Processo Penal (LIMA, 2020).

2.14.2 Dever De Comparecimento

A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas


circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa
identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas (art.
41). Assim, quando é necessário o rol das testemunhas, a testemunha terá o dever de
comparecimento.

Se a testemunha é intimada, ela possui o dever de comparecer em juízo para prestar


depoimento no local. Caso deixe de comparecer sem motivo justificável, o juiz poderá
requisitar condução coercitiva, ou seja, “[...] poderá requisitar à autoridade policial a
sua apresentação ou determinar seja conduzida por oficial de justiça, que poderá
solicitar o auxílio da força pública (LIMA, 2020, p.767)”.

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Outra consequência do não comparecimento é a imposição de multa no valor de 1 a


10 salários-mínimos, disposto no art. 458, c/c art. 436, §2º.

O acusado na resposta poderá argüir preliminares e alegar tudo o que interesse à sua
defesa, oferecer documentos e justificações, especificar as provas pretendidas e
arrolar testemunhas, qualificando-as e requerendo sua intimação, quando necessário
disposto no art. 396-A.

Figura 2- O Não Comparecimento Da Testemunha

Fonte 2 – Núcleo Editorial Faculdade Focus.

2.14.3 Testemunha de Fora da Jurisdição

Saiba que alguns processos abarcam múltiplas jurisdições, podendo ser dentro do país
ou fora dele e para que a eficácia ocorra na ação, em alguns atos é necessário recorrer
à carta precatória. O juiz responsável nem sempre consegue dirimir as diligências e
assim precisam ser supridos em outras jurisdições.

Por exemplo: se a autoridade de Itajaí necessite cumprir ordem de citação na


comarca de Cascavel, precisará pedir que a autoridade deste foro cumpra esse
determinado pedido. Para que assim a realização do ato ocorra, assim, é através de
carta precatória que o juiz responsável pela ação em sua jurisdição correspondente
solicita a outro juiz, ocorrendo a tramitação do processo ocorra.

A testemunha de dentro da jurisdição é aquela que reside no mesmo local em que o


juízo ocorre, portanto a que está fora de jurisdição reside em outra comarca. O

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depoimento por carta precatória, de ordem ou rogatória ocorre para evitar o


deslocamento da testemunha, vamos diferenciar:

• Na carta precatória a solicitação é realizada a juiz de igual nível;


• Na carta de ordem a determinação é realizada por magistrado (instância
superior) a outro de instância inferior, quando, segundo Nucci (2020), na
espécie o ato poderia ser realizado diretamente pelo competente.
• Na carta rogatória é o pleito realizado pelo juiz nacional a magistrado
estrangeiro.

Disposto no art. 222. do Código de Processo Penal, prevê que a testemunha que morar
fora da jurisdição do juiz será inquirida pelo juiz do lugar de sua residência,
expedindo-se, para esse fim, carta precatória, com prazo razoável, intimadas as partes.

• a expedição da precatória não suspenderá a instrução criminal.


• Findo o prazo marcado, poderá realizar-se o julgamento, mas, a todo tempo, a
precatória, uma vez devolvida, será junta aos autos.
• A oitiva de testemunha poderá ser realizada por meio de videoconferência ou
outro recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real,
permitida a presença do defensor e podendo ser realizada, inclusive, durante a
realização da audiência de instrução e julgamento.

No que se refere a prova testemunhal, existe uma ordem em que as testemunhas


devem ser ouvidas! Primeiramente serão as testemunhas da acusação e em sequência
as testemunhas da defesa. Entretanto quando a carta precatória e realizada para as
testemunhas da acusação e as testemunhas da defesa, se a oitiva da testemunha da
defesa ocorrer primeiro, não será causa de nulidade.

O art. 400 compreende que na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no


prazo máximo de 60 dias, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, à
inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem,
ressalvado o disposto no art. 222, bem como aos esclarecimentos dos peritos, às
acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o
acusado.

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Meios de Prova e Meios de Obtenção de Prova em Espécie

OBSERVE que com o crescente uso de tecnologias a oitiva por carta precatória é
menos frequente, pois com a Lei nº 11.900/09 que entrou em vigor no dia 9 de janeiro
de 2009, foi permitido a testemunha que resida fora da jurisdição do juiz, a oitiva por
videoconferência ou outro recurso tecnológico, não será necessária a carta precatória.
Contudo, será necessário a presença de outro defensor no juízo da causa além da
presença do defensor na localidade em que reside a testemunha.

O Supremo Tribunal Federal em sua Súmula 155 compreende que é relativa à


nulidade do processo criminal por falta de intimação da expedição de precatória para
inquirição de testemunha. Portanto, a parte precisa comprovar a ocorrência do
prejuízo. Já a Súmula 273, STJ entende que intimada a defesa da expedição da carta
precatória, torna-se desnecessária intimação da data da audiência no juízo deprecado.
Assim, torna-se desnecessária a intimação da data designada para a audiência no Juízo
deprecado.

2.14.4 Testemunha de Fora do País

As testemunhas residentes no exterior serão ouvidas em seu país por carta rogatória,
diferentemente da testemunha que reside em outra comarca que a oitiva é feita por
meio de carta precatória.

O art. 222-A. cita que as cartas rogatórias só serão expedidas se demonstrada


previamente a sua imprescindibilidade, arcando a parte requerente com os custos
de envio. Em seu parágrafo único entende que às cartas rogatórias aplicam-se ao
disposto nos §§ 1ºe 2º do art. 222 do Código de Processo Penal.

A Lei nº 11.900/09 se refere apenas à oitiva de testemunha que more em outra


comarca, mas há a compreensão de que nada impede que uma testemunha que reside
em outro país seja ouvida por videoconferência também (LIMA, 2020).

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Meios de Prova e Meios de Obtenção de Prova em Espécie

O julgado do STJ prevê que:


(...)
3. O art. 368, do CPP, embora seja claro ao estabelecer a suspensão do prazo prescricional pela
expedição de carta rogatória para citação do acusado no exterior, não é preciso quanto ao
termo final da referida suspensão, devendo ser interpretado de forma sistemática, com o art.
798, §5º, “a”, do CPP, bem como com a Súmula 710, do STF, voltando a correr o lapso
prescricional da data da efetivação da comunicação processual no estrangeiro, ainda que haja
demora para a juntada da carta rogatória cumprida aos autos.

(REsp 1882330/PR, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 06/04/2021,
DJe 09/04/2021)

2.14.5 Prerrogativas de Autoridades

Existem testemunhas que realizam a função pública, estas testemunhas possuem o


direito de agendamento prévio para testemunhar, ou seja, será previamente marcado.
O art. 221. Cita que o Presidente e o Vice-Presidente da República, os senadores e
deputados federais, os ministros de Estado, os governadores de Estados e Territórios,
os secretários de Estado, os prefeitos do Distrito Federal e dos Municípios, os
deputados às Assembléias Legislativas Estaduais, os membros do Poder Judiciário, os
ministros e juízes dos Tribunais de Contas da União, dos Estados, do Distrito Federal,
bem como os do Tribunal Marítimo serão inquiridos em local, dia e hora
previamente ajustados entre eles e o juiz.

O § 1º prevê que o Presidente e o Vice-Presidente da República, os presidentes do


Senado Federal, da Câmara dos Deputados e do Supremo Tribunal Federal poderão
optar pela prestação de depoimento por escrito, caso em que as perguntas,
formuladas pelas partes e deferidas pelo juiz, lhes serão transmitidas por ofício.

ATENÇÃO! O previsto no art. 221 CPP se aplica quando o indivíduo figura como
testemunha e não como investigado ou acusado. O indivíduo que realiza a função

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pública quando acusado ou investigado não terá o direito de agendamento prévio,


pois o art. restringe-se às hipóteses de testemunha, este é um entendimento do STJ,
5ª Turma, HC 250.970/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, j. 23/9/2014.

2.14.6 Testemunha e o Dever de Dizer a Verdade

A testemunha deve se comprometer a narrar de forma sincera o que sabe sobre os


fatos indagados pelo juiz, este é um compromisso em que o magistrado, deixa claro
a testemunha, sob a pena de ser processada por falso testemunho previsto no art. 342
do Código Penal.

Segundo o art. 203. do Código de Processo Penal a testemunha fará, sob palavra de
honra, a promessa de dizer a verdade do que souber e Ihe for perguntado,
devendo declarar seu nome, sua idade, seu estado e sua residência, sua profissão,
lugar onde exerce sua atividade, se é parente, e em que grau, de alguma das partes,
ou quais suas relações com qualquer delas, e relatar o que souber, explicando sempre
as razões de sua ciência ou as circunstâncias pelas quais possa avaliar-se de sua
credibilidade.

A exceção está prevista no art. 208. onde não se deferirá o compromisso de dizer a
verdade (que alude o art. 203) aos doentes e deficientes mentais e aos menores de
14 (quatorze) anos, nem às pessoas referidas no art. 206, ou seja, também poderão
recusar-se a testemunhar:

• O ascendente ou descendente;
• O afim em linha reta;
• O cônjuge, ainda que desquitado; e
• O irmão e o pai, a mãe, ou o filho adotivo do acusado.

ATENÇÃO! Poderão se recusar, exceto quando não for possível, por outro modo,

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obter-se ou integrar-se a prova do fato e de suas circunstâncias.

Quando a testemunha realiza afirmação falsa, cabe ao magistrado remeter a cópia


do depoimento à autoridade onde será apurado a prática do crime em tese do 342
do Código Penal o qual compreende que fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a
verdade como testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo
judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral.

A pena será de 2 a 4 anos, e multa, esta pena será aumentada de um sexto a um terço,
se o crime for praticado mediante suborno ou se cometido com o fim de obter prova
destinada a produzir efeito em processo penal, ou em processo civil em que for parte
entidade da administração pública direta ou indireta. O fato deixará de ser punível se,
antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara
a verdade.

2.14.7 Substituição da Testemunha

No que se refere a substituição de testemunhas, há uma ausência de previsão desta


possibilidade de substituição de testemunhas no Código de Processo Penal (LIMA,
2020). Considerando a importância da prova testemunhal no processo penal, há a
aplicação analógica do Art. 451 do Código de Processo Civil.

O próprio Código Processual Penal em seu Art 3º traz a possibilidade da aplicação da


lei processual civil de maneira subsidiaria. Compreende-se que a lei processual penal
admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos
princípios gerais de direito.

O Art. 451 do CPC dispõe que, depois de apresentado o rol de que tratam os §§ 4º e
5º do Art. 357, a parte só pode substituir a testemunha:

• que falecer;
• que, por enfermidade, não estiver em condições de depor;
• que, tendo mudado de residência ou de local de trabalho, não for encontrada.

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O rol deve ser apresentado antes de substituir a testemunha:


(...) §§ 4º e 5º do art. 357 CPC
§ 3º Se a causa apresentar complexidade em matéria de fato ou de direito, deverá o juiz
designar audiência para que o saneamento seja feito em cooperação com as partes,
oportunidade em que o juiz, se for o caso, convidará as partes a integrar ou esclarecer suas
alegações.
§ 4º Caso tenha sido determinada a produção de prova testemunhal, o juiz fixará prazo comum
não superior a 15 dias para que as partes apresentem rol de testemunhas.
§ 5º Na hipótese do § 3º, as partes devem levar, para a audiência prevista, o respectivo rol de
testemunhas.

OBSERVE que, para substituir a testemunha uma fundamentação deve ocorrer, a


substituição não ocorrerá apenas por vontade de uma das partes.

2.14.8 Desistência da Testemunha

Anteriormente a reforma processual de 2008, as partes podiam desistir do


depoimento de qualquer das testemunhas arroladas ou deixar de arrolar por
considerar as provas já suficientes (redação do art. 404 do CPP).
A despeito da mudança do art. 404 do CPP, subsiste a possibilidade da parte desistir do
depoimento de testemunha por ela anteriormente arrolada, podendo fazê-lo inclusive durante
o curso da audiência una de instrução e julgamento, ressalvada, logicamente, a hipótese em
que o depoimento já tenha tido início. Daí a importância de o advogado de defesa, desejando
ouvir testemunha arrolada pela acusação, também incluí-la no seu rol de testemunhas. Afinal,
caso não o tenha feito, poderá o Ministério Público desistir da oitiva de testemunha por ele
arrolada sem necessidade de anuência da defesa (LIMA, 2020, p.775).

A desistência da oitiva de testemunha está previsto no Código Processual Penal Art.


401 §2º, o qual prevê que a parte poderá desistir da inquirição de qualquer das
testemunhas arroladas, ressalvado o disposto no art. 209 do CPP. O Art. 209
compreende que quando o juiz julgar necessário, poderá ouvir outras testemunhas,
além das indicadas pelas partes. Caso ao juiz pareça conveniente, serão ouvidas as

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pessoas a que as testemunhas se referirem e se a testemunha nada souber de


interesse a causa, não será computada como testemunha.

A desistência deve ocorrer antes do início da inquirição e segundo Lima (2020, p. 775)
“Iniciada a sessão de julgamento, a desistência da oitiva de testemunha estará
condicionada à aquiescência do juiz-presidente, dos jurados e da parte adversa.”

ATENÇÃO! A parte pode querer desistir, mas se o juiz observa a testemunha como
importante para a elucidação dos fatos, ele poderá determinar a oitiva de oficio, não
restando opção a não ser depor. Nucci (2020) cita que a parte que arrolou a
testemunha pode desistir, contudo, o magistrado pode ouvir quem bem quiser, para
formar o seu convencimento, sendo natural que mantenha a testemunha, passando a
ser testemunha do juízo.

2.14.8.1 Contradita e Arguição de Parcialidade

Contraditar e arguir está disposto no art. 214 o qual compreende que “antes de
iniciado o depoimento, as partes poderão contraditar a testemunha ou argüir
circunstâncias ou defeitos, que a tornem suspeita de parcialidade, ou indigna de fé. O
juiz fará consignar a contradita ou argüição e a resposta da testemunha, mas só
excluirá a testemunha ou não Ihe deferirá compromisso nos casos previstos nos arts.
207 e 208”.

Saiba diferenciar a contradita da arguição, a contradita é a alegação de causa


proibitiva da prestação do testemunho, ou seja, impugnar o depoimento com o intuito
de que uma testemunha proibida de depor seja ouvida. Já a arguição de parcialidade
a parte que contradita leva a conhecimento do juiz que a testemunha presente ali
possui um contato com o acusado e tenta demonstrar parcialidade.

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2.14.9 Receio Provocado pela Presença do Acusado

O art. 217. traz a proteção a testemunha e ao ofendido, se o juiz verificar que a


presença do réu poderá causar humilhação, temor, ou sério constrangimento à
testemunha ou ao ofendido, de modo que prejudique a verdade do depoimento, fará
a inquirição por videoconferência e, somente na impossibilidade dessa forma,
determinará a retirada do réu, prosseguindo na inquirição, com a presença do seu
defensor.

Quando se trata de testemunhas anônimas, ocorrerá a restrição à publicidade do ato


processual, devido a proteção às testemunhas, evitando o risco ou intimidação ao
depoente. No entendimento de Nucci:
[...] se o Estado não tem condições de garantir, totalmente, a segurança da vítima e das
testemunhas que vão depor, é preciso que o magistrado tome tais providências, valendo-se
dos princípios gerais de direito e do ânimo estatal vigente de proteger as partes envolvidas
num processo criminal [...](NUCCI, 2020, p. 781)

ATENÇÃO! O réu que atua em causa própria (advogado), ainda assim será aplicado o
art. 217, basta um substabelecimento para que outro advogado venha e represente
os interesses do acusado na audiência.

É possível elencar que o art. 217 busca garantir que o depoente fale sem
constrangimento. Contudo, é necessário a presença do defensor do réu.

2.14.10 Procedimento para a Oitiva de Testemunhas

O procedimento para a oitiva das testemunhas, a regra, se dá da seguinte maneira:

1) Intimação Para Depor;


2) Oitiva Separada;
3) Compromisso de Dizer a Verdade;

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4) Contradita/Arguição de Parcialidade; e
5) Depoimento Oral, com pergunta das partes e esclarecimentos do juiz.

A respeito da ordem para as perguntas é aplicado o sistema cross examination


(“exame cruzado”), isto é, as perguntas são realizadas pelas partes diretamente às
testemunhas e o juiz participará após as perguntas das partes.

Disposto no art. 212 “as perguntas serão formuladas pelas partes diretamente à
testemunha, não admitindo o juiz aquelas que puderem induzir a resposta, não
tiverem relação com a causa ou importarem na repetição de outra já respondida”. O
parágrafo único inclui os pontos não esclarecidos, os quais poderão ser
complementados na inquirição pelo juiz.

O art. 473. compreende que prestado o compromisso pelos jurados, será iniciada a
instrução plenária quando o juiz presidente, o Ministério Público, o assistente, o
querelante e o defensor do acusado tomarão, sucessiva e diretamente, as declarações
do ofendido, se possível, e inquirirão as testemunhas arroladas pela acusação.

• Para a inquirição das testemunhas arroladas pela defesa, o defensor do


acusado formulará as perguntas antes do Ministério Público e do assistente,
mantidos no mais a ordem e os critérios estabelecidos neste artigo.
• Os jurados poderão formular perguntas ao ofendido e às testemunhas, por
intermédio do juiz presidente.
• As partes e os jurados poderão requerer acareações, reconhecimento de
pessoas e coisas e esclarecimento dos peritos, bem como a leitura de peças que
se refiram, exclusivamente, às provas colhidas por carta precatória e às provas
cautelares, antecipadas ou não repetíveis.

No que se refere a ordem das testemunhas, primeiramente irá depor as testemunhas


da acusação, consecutivamente serão as testemunhas da defesa, as testemunhas do
Juízo e por último ocorrerá o interrogatório do réu.

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Essa ordem deve ser observada a qual está disposta no art. 400 CPP, mas há a exceção
em carta precatória/rogatória (art. 222 CPP), esta não gerará nulidade.

2.15 Reconhecimento de Pessoas e Coisas

Segundo Távora e Alencar (2017, p. 731) o reconhecimento de pessoas e coisas “[...]


eventualmente pode ser fundamental para o deslinde da causa que algum objeto, ou
alguém vinculado direta ou indiretamente ao evento delitivo, seja reconhecido”.

O reconhecimento de pessoas e coisas está elencado no art. 226. do Código de


Processo Penal, o qual prevê que quando houver necessidade de fazer-se o
reconhecimento de pessoa, proceder-se-á pela seguinte forma:

• A pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será convidada a descrever a


pessoa que deva ser reconhecida;
• A pessoa, cujo reconhecimento se pretender, será colocada, se possível, ao lado
de outras que com ela tiverem qualquer semelhança, convidando-se quem tiver
de fazer o reconhecimento a apontá-la;
• Se houver razão para recear que a pessoa chamada para o reconhecimento, por
efeito de intimidação ou outra influência, não diga a verdade em face da pessoa
que deve ser reconhecida, a autoridade providenciará para que esta não veja
aquela (isto não terá aplicação na fase da instrução criminal ou em plenário de
julgamento);
• Do ato de reconhecimento lavrar-se-á auto pormenorizado, subscrito pela
autoridade, pela pessoa chamada para proceder ao reconhecimento e por duas
testemunhas presenciais.

Lima (2020) argumenta que no dia a dia de uma delegacia e fórum, é corriqueiro que
autoridades não se atenham às disposições do art. 226, o que, em tese, poderia trazer
a defesa o questionamento da legalidade do procedimento probatório, todavia, o
entendimento jurisprudencial é o de que no sentido tais irregularidades não ensejam
nulidade, pois o disposto no art. 226 do CPP funciona como mera recomendação legal.

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Meios de Prova e Meios de Obtenção de Prova em Espécie

O art. 227. dispõe que no reconhecimento de objeto, proceder-se-á com as cautelas


estabelecidas no artigo 226, no que for aplicável. Em continuidade, se várias forem
as pessoas chamadas a efetuar o reconhecimento de pessoa ou de objeto, cada
uma fará a prova em separado, evitando-se qualquer comunicação entre elas (art.
228).

Acerca do reconhecimento fotográfico, é muito utilizado, mas deve ser observado


o art. 226. Nucci (2020) debate que apesar de ter sido admitido como prova, deve ser
analisado com cautela, pois o reconhecimento de coisa ou identificação de pessoa por
intermédio da visualização de fotografia pode não espelhar a realidade, gerando
margem a muitos equívocos. Portanto, se mostra essencial que a autoridade judicial
ou policial busque seguir o disposto nos incisos do art. 226.

ATENÇÃO! O reconhecimento por meio de fotografias não possui previsão legal,


contudo, há a admissão pela doutrina e jurisprudência, sendo considerado como
espécie de prova inominada (LIMA, 2020).

Segundo Lopes Jr (2020) o reconhecimento por fotografia deve ser evitado, pois a
memória do ser humano pode ser contaminada e poluída. Ademais, o reconhecimento
pessoal também é frágil, pois deve ser considerado a pressão judicial ou policial (até
manipulação). Existe uma constante necessidade de corresponder à expectativa criada,
especialmente se o nível sociocultural da testemunha ou vítima não dá a autonomia
psíquica suficiente para se descolar do desejo inconsciente de atender o pedido da
autoridade

2.16 Da Busca e Apreensão

É comum que ambas sejam citadas como se fossem uma só, mas a busca e a
apreensão não devem ser confundidas, pois são coisas distintas. A busca é uma
diligência realizada com a finalidade de localizar objetos/instrumentos/pessoas que

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sirvam à elucidação dos fatos em análise. Já a apreensão é a custódia do elemento


relevante e a sua vinculação aos autos.

Lima (2020, p. 793) traz o conceito de apreensão e compreende como “[...]medida de


constrição, colocando sob custódia determinado objeto ou pessoa”.

2.16.1 Objeto da Busca

Compreenderemos mais a respeito do objeto da busca, pois a apreensão é o ato de


formalização da busca! As pessoas e coisas sujeitas à busca constam no art. 240 do
Código De Processo Penal, a busca será domiciliar ou pessoal quando:

❖ Proceder-se-á à busca domiciliar, quando fundadas razões a autorizarem, para:


• Prender criminosos;
• Apreender coisas achadas ou obtidas por meios criminosos;
• Apreender instrumentos de falsificação ou de contrafação e objetos
falsificados ou contrafeitos;
• Apreender armas e munições, instrumentos utilizados na prática de
crime ou destinados a fim delituoso;
• Descobrir objetos necessários à prova de infração ou à defesa do réu;
• Apreender cartas, abertas ou não, destinadas ao acusado ou em seu
poder, quando haja suspeita de que o conhecimento do seu conteúdo
possa ser útil à elucidação do fato;
• Apreender pessoas vítimas de crimes;
• Colher qualquer elemento de convicção.

❖ Proceder-se-á à busca pessoal quando houver fundada suspeita de que alguém


oculte consigo arma proibida ou objetos mencionados.

No que se refere ao momento da busca, poderá ser realizada a qualquer tempo,


podendo ser antes do início formal da investigação, durante o inquérito policial,
durante a ação penal ou até mesmo em série de execução penal a doutrina traz essa
possibilidade.

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2.16.2 Espécies de Busca

2.16.2.1 Busca Domiciliar

O art. 240 disposto no Código de Processo Penal compreende que a busca será
domiciliar ou pessoal. Proceder-se-á à busca domiciliar, quando fundadas razões a
autorizarem, para:

• Prender criminosos;
• Apreender coisas achadas ou obtidas por meios criminosos;
• Apreender instrumentos de falsificação ou de contrafação e objetos falsificados
ou contrafeitos;
• Apreender armas e munições, instrumentos utilizados na prática de crime ou
destinados a fim delituoso;
• Descobrir objetos necessários à prova de infração ou à defesa do réu;
• Apreender cartas, abertas ou não, destinadas ao acusado ou em seu poder,
quando haja suspeita de que o conhecimento do seu conteúdo possa ser útil à
elucidação do fato;
• Apreender pessoas vítimas de crimes; e
• Colher qualquer elemento de convicção.

A busca domiciliar também possui previsão na Constituição Federal em seu Art. 5º (...)
inciso XI, a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem
consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para
prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;

Lima (2020, p.799) compreende o conceito de domicílio mais amplo e cita que “[...]
domicílio seria o lugar onde a pessoa natural estabelece sua residência com ânimo
definitivo (CC, art. 70, caput). O conceito de casa é tradicionalmente extraído pela
doutrina e pela jurisprudência do art. 150, § 4º, do Código Penal”.

É necessário destacar que a busca domiciliar somente poderá ser realizada


mediante mandado judicial (em regra), sob pena de crime de abuso de autoridade
e o resultado considerado prova ilícita (LOPES JR, 2020).

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2.16.2.1.1 Conceito de Casa

O primeiro problema ao analisar a possível busca domiciliar é definir o conceito de


casa, no Código Penal. Art. 150 (...) § 4º a expressão "casa" compreende:

• qualquer compartimento habitado (casa, sobrado, apartamento, barraca, trailer,


motorhome e iate);
• aposento ocupado de habitação coletiva (hotel, motel, cabine);
• compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou
atividade (escritórios e consultórios).

No que se refere ao compartimento não aberto ao público, o Estatuto da Advocacia


e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em sua Lei de nº 8.906, traz a proteção ao
advogado e em seu art. 7º inciso II (...), são direitos do advogado:

• A inviolabilidade de seu escritório ou local de trabalho, bem como de seus


instrumentos de trabalho, de sua correspondência escrita, eletrônica, telefônica
e telemática, desde que relativas ao exercício da advocacia.

OBSERVE QUE deve ser relativo ao exercício da advocacia, o advogado não poderá
manter objetos em seu escritório para a prática de crimes. Por exemplo, se existe uma
suspeita de envolvimento com atividade criminosa a busca e apreensão poderá ser
determinada.

Neste quesito, surge o Inquérito. 2424 em que o Supremo Tribunal Federal


compreendeu como licita a instalação de escuta ambiental em escritório de
advocacia a noite mediante ordem judicial, note:
PROVA EMPRESTADA. Penal. Interceptação telefônica. Escuta ambiental. Autorização judicial e
produção para fim de investigação criminal. Suspeita de delitos cometidos por autoridades e
agentes públicos. Dados obtidos em inquérito policial. Uso em procedimento administrativo
disciplinar, contra outros servidores, cujos eventuais ilícitos administrativos teriam despontado
à colheira dessa prova. Admissibilidade. Resposta afirmativa a questão de ordem. Inteligência

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do art. 5º, inc. XII, da CF, e do art. 1º da Lei federal nº 9.296/96. Precedente. Voto vencido.
Dados obtidos em interceptação de comunicações telefônicas e em escutas ambientais,
judicialmente autorizadas para produção de prova em investigação criminal ou em instrução
processual penal, podem ser usados em procedimento administrativo disciplinar, contra a
mesma ou as mesmas pessoas em relação às quais foram colhidos, ou contra outros servidores
cujos supostos ilícitos teriam despontado à colheita dessa prova .
(STF - Inq-QO-QO: 2424 RJ, Relator: CEZAR PELUSO, Data de Julgamento: 20/06/2007, Tribunal
Pleno, Data de Publicação: DJe-087 DIVULG 23-08-2007 PUBLIC 24-08-2007 DJ 24-08-2007
PP-00055 EMENT VOL-02286-01 PP-00152)

De maneira oposta, o § 5º traz o que não é compreendido como "casa", sendo:

• hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto aberta,


salvo a restrição do n.º II do parágrafo anterior;
• taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero.

2.16.2.1.2 Consentimento Do Morador

Do art. 5º, inciso XI, da Constituição Federal, também se desprende o consentimento


do morador, o qual deve autorizar que se ingresse em casa alheia, seja durante o dia
ou durante a noite. Resta saber quem possui legitimidade para dar ou negar o
consentimento, a Constituição se refere a morador, portanto se compreende como
todos aqueles que habitam a casa (LIMA, 2020).

Lopes Jr (2020, p. 805) cita que a busca domiciliar possui pressupostos alternativos e
prevê que basta que um destes esteja presente:

• com consentimento válido do morador, durante o dia ou noite;


• em caso de flagrante delito, durante o dia ou noite;
• com ordem judicial, somente durante o dia.

A Lei 13.869 de 2019 trata a respeito dos crimes de abuso de autoridade e em seu
art. 22 pressupõe que invadir ou adentrar, clandestina ou astuciosamente, ou à revelia
da vontade do ocupante, imóvel alheio ou suas dependências, ou nele permanecer
nas mesmas condições, sem determinação judicial ou fora das condições
estabelecidas em lei. Sob pena de detenção, de 1 a 4 anos, e multa.

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Meios de Prova e Meios de Obtenção de Prova em Espécie

O § 1º compreende que incorre na mesma pena, na forma prevista, quem:

• coage alguém, mediante violência ou grave ameaça, a franquear-lhe o acesso a


imóvel ou suas dependências;
• cumpre mandado de busca e apreensão domiciliar após as 21h ou antes das 5h.

Nos mesmos termos Lima (2020) argumenta que o ingresso em domicílio por
determinação judicial ocorrerá apenas durante o dia, sendo considerado lícito o
cumprimento de mandado de busca domiciliar após as 21h ou antes das 5h, desde
que presente à luz do sol.

ATENÇÃO! Não haverá crime se o ingresso for para prestar socorro, ou quando
houver fundados indícios que indiquem a necessidade do ingresso em razão de
situação de flagrante delito ou de desastre, cita o § 2º do art. 22.

O Superior Tribunal de Justiça realizou um julgado referente ao morador, que teve


como relator o ministro Rogerio Schietti Cruz, observaremos a decisão (HC
608.405/PE):
HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. FLAGRANTE. DOMICÍLIO COMO EXPRESSÃO
DO DIREITO À INTIMIDADE. ASILO INVIOLÁVEL. EXCEÇÕES CONSTITUCIONAIS.
INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA. EXIGÊNCIA DE JUSTA CAUSA.

AUSÊNCIA DE CONSENTIMENTO VÁLIDO DO MORADOR. COMPROVAÇÃO DA


VOLUNTARIEDADE. ÔNUS ESTATAL. NULUIDADE DAS PROVAS OBTIDAS. TEORIA DOS
FRUTOS DA ÁRVORE ENVENENADA. ANULAÇÃO DA DEMANDA PENAL. ORDEM
CONCEDIDA.

1. O art. 5º, XI, da Constituição da República, consagrou o direito fundamental à


inviolabilidade do domicílio, ao dispor que “a casa é asilo inviolável do indivíduo,
ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de

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flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação
judicial”.

2. O Supremo Tribunal Federal definiu, em repercussão geral (Tema 280), a tese de que: “A
entrada forçada em domicílio sem mandado judicial só é lícita, mesmo em período
noturno, quando amparada em fundadas razões, devidamente justificadas a
posteriori” (RE n. 603.616/RO, Tribunal Pleno, Rel. Ministro Gilmar Mendes, DJe
8/10/2010).

3. Por ocasião do julgamento do HC n. 598.051/SP (Rel. Ministro Rogério Schietti, DJe


2/3/2021), a Sexta Turma desta Corte Superior de Justiça, à unanimidade, propôs nova
e criteriosa abordagem sobre o controle do alegado consentimento do morador para o
ingresso em seu domicílio por agentes estatais. Na ocasião, foram apresentadas as
seguintes conclusões:

a) Na hipótese de suspeita de crime em flagrante, exige-se, em termos de standard


probatório para ingresso no domicílio do suspeito sem mandado judicial, a existência de
fundadas razões (justa causa), aferidas de modo objetivo e devidamente justificadas, de
maneira a indicar que dentro da casa ocorre situação de flagrante delito;

b) O tráfico ilícito de entorpecentes, em que pese ser classificado como crime de natureza
permanente, nem sempre autoriza a entrada sem mandado no domicílio onde
supostamente se encontra a droga. Apenas será permitido o ingresso em situações
de urgência, quando se concluir que, do atraso decorrente da obtenção de mandado
judicial, se possa, objetiva e concretamente, inferir que a prova do crime (ou a própria
droga) será destruída ou ocultada;

c) O consentimento do morador, para validar o ingresso de agentes estatais em sua casa


e a busca e apreensão de objetos relacionados ao crime, precisa ser voluntário e livre
de qualquer tipo de constrangimento ou coação;

d) A prova da legalidade e da voluntariedade do consentimento para o ingresso na


residência do suspeito incube, em caso de dúvida, ao Estado, e deve ser feita com
declaração assinada pela pessoa que autorizou o ingresso domiciliar, indicando-se,
sempre que possível, testemunhas do ato. Em todo caso, a operação deve ser registrada
em áudio-vídeo e preservada tal prova enquanto durar o processo;

e) A violação a essas regras e condições legais e constitucionais para o ingresso no


domicílio alheio resulta na ilicitude das provas obtidas em decorrência da medida, bem
como das demais provas que dela decorrerem em relação de causalidade, sem prejuízo
de eventual responsabilização penal do(s) agente(s) público(s) que tenha(m) realizado a
diligência.

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Meios de Prova e Meios de Obtenção de Prova em Espécie

4. O contexto fático delineado nos autos não serviu de suporte para justificar a ocorrência
de uma situação de flagrante que autorizasse a violação de domicílio. Em outros termos,
as circunstâncias que antecederam o ingresso dos policiais na residência do réu não
evidenciaram, quantum satis e de modo objetivo, as fundadas razões que justificassem a
entrada na sua morada, de maneira que a simples avaliação subjetiva dos agentes
estatais era insuficiente para conduzir a diligência de ingresso no domicílio.

5. As regras de experiência e o senso comum, somadas às peculiaridades do caso concreto,


não conferem verossimilhança à afirmação dos servidores castrenses de que o paciente
ou os pedreiros, que trabalhavam no local, ou o locatário do sítio (este, inclusive, declarou
a propriedade de todo o material lá encontrado) teriam autorizado, livre e
voluntariamente, o ingresso no domicílio do acusado, franqueando àqueles a apreensão
de drogas e, consequentemente, a formação de prova incriminatória em desfavor do réu.

6. Como decorrência da proibição das provas ilícitas por derivação (Art. 5º, LVI, da
Constituição da República), é nula a prova derivada de conduta ilícita – no caso, a
captura de crack, após invasão desautorizada da residência do paciente-, pois evidente
o nexo causal entre uma e outra conduta, ou seja, entre o ingresso no domicílio
(permeado de ilicitude) e a apreensão das substâncias entorpecentes.

7. Justifica-se a anulação da demanda judicial, se são ilegais os elementos de convicção


colhidos por meio da entrada ilícita no domicílio do réu, se eles deram suporte à peça
acusatória ofertada e contaminaram todas as evidências daí decorrentes. A falta de
persecução criminal, assim como todas as provas que dela se sucederam.

8. Ordem concedida para reconhecer a ilicitude das provas obtidas pelo ingresso no
domicílio do paciente, sem o seu consentimento válido, e as que dela decorreram e, em
consequência, anular, ab initio, a ação penal, sem prejuízo do oferecimento de nova
denúncia, desde que apoiada em dados supervenientes, obtidos com atenção aos limites
definidos no art. 5º, XI, da Constituição da República, e com estrita observância aos
ditames previstos no art. 41 do Código de Processo Penal. (HC 608.405/PE, Rel.
Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 06/04/2021, DJe
14/04/2021)

2.16.2.1.3 Conceito De Dia

Lima (2020, p. 796) cita que:


Durante o dia, é possível o ingresso em domicílio nas seguintes hipóteses: com o
consentimento do morador, em caso de flagrante delito, desastre, para prestar socorro, ou
mediante determinação judicial. Durante a noite, o ingresso em domicílio alheio só pode
ocorrer nos seguintes casos: com o consentimento do morador, flagrante delito, desastre, ou
para prestar socorro.

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Meios de Prova e Meios de Obtenção de Prova em Espécie

A legislação não traz um conceito de dia, há uma certa inconstitucionalidade do


conceito de noite e dia.

ATENÇÃO! No que se refere a forma de cumprimento do mandado, deverá o


mandado ser apresentado, sendo informado ao sujeito que entregue o objeto da
busca e se não houver ninguém no domicílio a busca será realizada e um vizinho
deverá testemunhar a diligência.

2.16.2.2 Busca Pessoal

A busca pessoal, proceder-se-á quando houver fundada suspeita de que alguém


oculte consigo arma proibida ou os seguintes objetos mencionados:

• Apreender coisas achadas ou obtidas por meios criminosos;


• Apreender cartas, abertas ou não, destinadas ao acusado ou em seu poder,
quando haja suspeita de que o conhecimento do seu conteúdo possa ser útil à
elucidação do fato; e
• Colher qualquer elemento de convicção.

O Art. 244. do Código de Processo penal, prevê que a busca pessoal independerá de
mandado, no caso de prisão ou quando houver fundada suspeita de que a pessoa
esteja na posse de arma proibida ou de objetos ou papéis que constituam corpo de
delito, ou quando a medida for determinada no curso de busca domiciliar. A busca
em mulher será feita por outra mulher, se não importar retardamento ou prejuízo da
diligência (art. 249).

Cara aluna e caro aluno, abaixo estão elencados dois julgados para que aumente seu
conhecimento:
HABEAS CORPUS – ATO INDIVIDUAL – ADEQUAÇÃO. O habeas corpus é adequado em se
tratando de impugnação a ato de colegiado ou individual.

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Referências Bibliográficas

APREENSÃO – AUTOMÓVEL – BUSCA PESSOAL – AUTORIZAÇÃO JUDICIAL - DESNECESSIDADE.


A apreensão de elementos de convicção em automóvel, a teor do artigo 240, § 2º, do Código de
Processo Penal, constitui caso de busca pessoal, que, uma vez havendo fundada suspeita da
existência de provas, prescinde de prévia autorização judicial.

PRISÃO PREVENTIVA – FLAGRANTE – LATROCÍNIO. O flagrante, considerada a criminosa,


sinaliza a periculosidade do envolvido.

HC 168754, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 11/05/2020,


PROCESSO ELETRÔNICO DJe-155 DIVULG 19-06-2020 PUBLIC 22-06-2020

HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. PROVA ILÍCITA. REVISTA PESSOAL.

AUSÊNCIA DE FUNDADAS SUSPEITAS. ILEGALIDADE. OCORRÊNCIA. ABSOLVIÇÃO.

HABEAS CORPUS CONCEDIDO

1. Considera-se ilícita a revista pessoal realizada sem a existência da necessária justa causa
para a efetivação da medida invasiva, nos termos do art. §2º do art. 240 do CPP, bem
como a prova derivada da busca pessoal.

2. Se não havia fundadas suspeitas para a realização de busca pessoal no acusado, não há
como se admitir que a mera constatação de situação de flagrância, posterior à revista do
indivíduo, justifique a medida. Assim, o fato de o acusado se amoldar ao perfil descrito
em denúncia anônima e ter empreendido fuga ante a tentativa de abordagem dos
policiais militares, não justifica, por si só, a invasão da sua privacidade, haja vista a
necessidade de que a suspeita esteja fundada em elementos concretos que indiquem,
objetivamente, a ocorrência de crime no momento da abordagem, enquadrando-se,
assim, na excepcionalidade da revista pessoal.

3. Habeas corpus concedido para reconhecer a nulidade das provas obtidas a partir da
busca pessoal realizada, bem como as delas derivadas, anulando-se a sentença para que
outra seja prolatada, com base nos elementos probatórios remanescentes. (HC
625.819/SC, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em
23/02/2021, DJe 26/02/2021)

3 Referências Bibliográficas
LIMA, R. B. de. Manual de processo penal: volume único / Renato Brasileiro de Lima
– 8. ed. rev., ampl. e atual. – Salvador: Ed. JusPodivm, 2020.

LOPES. JR, A. Direito processual penal / Aury Lopes Junior. – 17. ed. – São Paulo:
Saraiva Educação, 2020.

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Referências Bibliográficas

NUCCI, G. de. S. Código de Processo Penal Comentado / Guilherme de Souza Nucci.


– 19. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2020.

TÁVORA, N. ALENCAR, R. R. Curso de direito processual penal/ Nestor Távora,


Rosmar Rodrigues Alencar - 12. ed. rev. e atu<~L- Salvador: Ed. JusPodivm. 2017.

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Referências Bibliográficas

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